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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL PLATAFORMA BUILDING INFORMATION MODELING (BIM): ESTUDO DE CASO EM PROJETOS DE INSTALAÇÕES HIDROSSANITÁRIAS TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO EDUARDO DE VARGAS LEWISKI Santa Maria, RS, Brasil 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

PLATAFORMA BUILDING INFORMATION MODELING (BIM): ESTUDO DE CASO EM PROJETOS DE INSTALAÇÕES

HIDROSSANITÁRIAS

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

EDUARDO DE VARGAS LEWISKI

Santa Maria, RS, Brasil

2018

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PLATAFORMA BUILDING INFORMATION MODELING (BIM): ESTUDO DE CASO EM PROJETOS DE INSTALAÇÕES

HIDROSSANITÁRIAS

por

Eduardo de Vargas Lewiski

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Engenharia Civil da

Universidade Federal de Santa Maria, como Trabalho de Conclusão de Curso.

Orientadora: Profª. Drª. Rutineia Tassi

Santa Maria, RS, Brail

2018

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Universidade Federal De Santa Maria - UFSM

Centro de Tecnologia - CT

Curso de Graduação em Engenharia Civil

A Comissão Examinadora, abaixo assinada,

aprova o Trabalho de Conclusão de Curso

PLATAFORMA BUILDING INFORMATION MODELING (BIM): ESTUDO DE CASO EM PROJETOS DE INSTALAÇÕES

HIDROSSANITÁRIAS

elaborado por

EDUARDO DE VARGAS LEWISKI

Como requisito parcial para a obtenção do título de

Bacharel em Engenharia Civil

COMISSÃO EXAMINADORA

Profª. Drª. Rutineia Tassi (UFSM) – Presidente/Orientadora

Prof. Dr. André Lubeck (UFSM)

Prof. Me. Geraldo Rampelotto (UFSM)

Santa Maria, 13 de julho de 2018

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, pelo carinho e apoio incondicional nos objetivos e metas traçados

por mim, e por me guiarem sempre rumo a um caminho próspero.

À minha namorada, pelos incentivos, pela força nos momentos de dificuldade e

pelo companheirismo de sempre.

Aos meus irmãos, pelo apoio moral e pelos ensinamentos passados, não apenas na

graduação, mas também ao longo da vida.

Aos amigos e familiares que de alguma forma, contribuíram na minha graduação.

À minha orientadora, Professora Doutora Rutineia Tassi, pelo incentivo ao estudo

dos temas abordados, e pela atenção dedicada às revisões e sugestões no desenvolvimento

deste trabalho.

Ao Engenheiro Marcos Antônio Filippon e todos os funcionários da Filippon

Engenharia, pela disponibilização das informações que fundamentaram o presente estudo

de caso.

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RESUMO

Trabalho de Conclusão de Curso Engenharia Civil

Universidade Federal de Santa Maria

PLATAFORMA BUILDING INFORMATION MODELING (BIM): ESTUDO DE CASO EM PROJETOS DE INSTALAÇÕES

HIDROSSANITÁRIAS

Autor: Eduardo de Vargas Lewiski

Orientadora: Rutineia Tassi Santa Maria, 13 de julho de 2018.

A era digital tem revolucionado de forma surpreendente o dia a dia da humanidade. Impulsionadas pela busca incessante de resolução de problemas, ou da facilitação do nosso cotidiano, as tecnologias evoluem de forma rápida e interativa. Desta forma, o presente estudo buscou fazer uma análise prática acerca da utilização do BIM como plataforma tecnológica na solução de projetos de engenharia e, mais especificamente, de instalações hidrossanitárias através de um estudo de caso. Serviram como base de análise, projetos desenvolvidos por uma empresa especializada em projetos de instalações elétricas e hidrossanitárias utilizando a plataforma BIM. A análise foi composta por um estudo sobre procedimentos gerais de projeto hidrossanitário e, posteriormente, sobre os procedimentos específicos de um projeto de edificação multifamiliar. Buscou-se desenvolver uma abordagem geral sobre a utilização da tecnologia, suas principais ferramentas na execução de projetos hidrossanitários, análise do fator “custo versus tempo”, formas mais eficientes de utilização da tecnologia, fluxo de trabalho e compatibilização. Observou-se, com este estudo, que a tecnologia pode representar uma ferramenta muito valiosa para a melhoria do desempenho das edificações e suas instalações. No entanto, faz-se necessária uma mudança de cultura por parte dos profissionais, entendendo que a fase de projeto é essencial para o bom resultado da obra e o tempo dedicado a esta fase deve ser respeitado e valorizado.

Palavras-chave: Projeto Hidrossanitário. Building Information Modeling. BIM. Tecnologia. Construção Civil. Engenharia.

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ABRSTACT

The digital age has revolutionized, in a surprising way, the daily life of humanity. Driven by the barriers of our day by day, technologies evolve quickly and interactively. In this way, the present study aimed to develop a practical review about the use of BIM as a technological platform in the solution of engineering projects and, more specifically, of hydrosanitary installations based on a case study. The basement for analysis, were some projects developed by a company specialzed in electrical and hydrosanitary instalations projects, using BIM platform. The analysis consists of a study on general procedures of hydrosanitary projects and furthermore, on the specific procedures of a Multi-family Building project. The goal was to develop a general approach on the use of this technology, its main tools in the execution of hydrosanitary projects, analysis of the factor "cost versus time", more efficient ways of using this technology, workflow and compatibilization. It was observed with this study that technology can represent a very valuable tool for improving the performance of buildings and their facilities. However, it’s required to change the culture on the part of the professionals, who need to understand that the project phase is essential to get good result as well as to know that the time dedicated to this phase must be respected and valued.

Keywords: Hydrosanitary Project. Building Information Modeling. BIM. Tecnology. Construction. Engeneering.

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LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 2

Figura 2.1. Evolução do BIM...........................................................................................14

Figura 2.2. Processos do BIM..........................................................................................17

Figura 2.3. Curva de distribuição de Esforço e Custo no Tempo....................................19

Figura 2.4. Várias disciplinas visíveis em 3D..................................................................21

Figura 2.5. Exemplo de objeto BIM e seus parâmetros...................................................22

Figura 2.6. Vistas geradas a partir do modelo...................................................................23

Figura 2.7. Gráfico de Gantt pelo Navisworks.................................................................24

Figura 2.8. Detecção automática de conflitos...................................................................25

Figura 2.9. Detecção e classificação de interferências.....................................................26

Figura 2.10. Análise estrutural representando esforços através de cores..........................27

Figura 2.11. Arranjos de equipes......................................................................................28

Figura 2.12. Interoperabilidade de dados.........................................................................28

Figura 2.13. Análise de alinhamento de prumo com captura de realidade........................30

Figura 2.14. Função do sistema hidrossanitário predial....................................................31

Figura 2.15. Etapas de elaboração do projeto hidrossanitário...........................................32

2.16. Origem percentual de falhas em edificações............................................................33

CAPÍTULO 3.

Figura 3.1. Fluxograma da metodologia do estudo de caso..............................................35

CAPÍTULO 4.

Figura 4.1. Família de Caixa Sifonada, desenvolvida pela empresa.................................40

Figura 4.2. Janela de gerenciamento de links do projeto...................................................42

Figura 4.3. Gerenciamento de worksets...........................................................................43

Figura 4.4. Sequência de modelagem com worksets........................................................43

Figura 4.5. Utilização de plug-in para a organização de projetos....................................44

Figura 4.6. Modelagem de tubulações..............................................................................44

Figura 4.7. Notificações de erro de modelagem...............................................................45

Figura 4.8. Vista tridimensional do projeto arquitetônico do Edifício Multifamilair........46

Figura 4.9. Vista 3D do sistema de distribuição de água fira e quente..............................47

Figura 4.10. Detalhe dos reservatórios superiores............................................................48

Figura 4.11. Aquecedor de água por acumulação.............................................................49

Figura 4.12. Detalhe da Bacia de Detenção de água da chuva..........................................50

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4.13. Detalhe do poço pluvial...........................................................................................50

4.14. Vista geral do sistema de esgoto sanitário................................................................51

4.15. Trecho do relatório de compatibilização..................................................................53

4.16. Compatibilização de Alvenaria Estrutural x Hidrossanitário...................................54

4.17. Modelo tridimensional de Instalações Hidrossanitárias..........................................55

4.18. Quantitativo de materiaiais relativo à etapa de execução.........................................55

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11 1.1. Justificativa ...................................................................................................... 12

1.2. Objetivos .......................................................................................................... 13

1.2.1. Objetivo Geral .......................................................................................... 13

1.2.2. Objetivos Específicos ............................................................................... 13 2. REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................... 14

2.1. Histórico do Desenho Digital na Engenharia .................................................. 14

2.2. A tecnologia BIM ............................................................................................ 17

2.3. Principais funcionalidades do BIM .................................................................. 20 2.3.1. Visualização Tridimensional do modelo .................................................. 20

2.3.2. Parametrização dos componentes ............................................................. 21

2.3.3. Diferentes visualizações do modelo ......................................................... 23

2.3.4. Quantificações e cronogramas (4D e 5D)................................................. 23

2.3.5. Identificação automática de erros e interferências ................................... 25 2.3.6. Simulações e análises (6D) ....................................................................... 26

2.3.7. Sistemas colaborativos ............................................................................. 27

2.3.8. Tecnologias complementares ................................................................... 29

2.4. O projeto Hidrossanitário ................................................................................. 30 3. METODOLOGIA ................................................................................................... 34

3.1. ANÁLISE GERAL .......................................................................................... 34

3.1.1. Informações gerais da empresa................................................................. 34

3.1.2. Aplicaões gerais do BIM .......................................................................... 35 3.2. ANÁLISE ESPECÍFICA ................................................................................. 35

3.2.1. Seleção do projeto .................................................................................... 35

3.2.2. Informações gerais e técnicas ................................................................... 35

3.2.3. Aplicações específicas do BIM ao projeto Multifamiliar ......................... 35 3.2.4. Avaliação de Resultados ........................................................................... 36

4. ESTUDO DE CASO ............................................................................................... 37

4.1. Utilização do BIM na empresa ........................................................................ 37

4.1.1. Sistema Organizacional ............................................................................ 37 4.1.2. Aplicações gerais do BIM ........................................................................ 40

4.2. Aplicações específicas do BIM ao projeto Multifamiliar ................................ 46

4.2.1. Informações Gerais e técnicas do projeto ................................................. 46

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4.2.2. Alimentação e distribuição de água potável ............................................. 47

4.2.3. Sistema de Água Quente........................................................................... 49

4.2.4. Sistema de Esgotamento de Águas Pluviais ............................................. 49

4.2.5. Sistema de Esgotamento Sanitário ........................................................... 51 4.2.6. Fluxo entre diferentes projetos ................................................................. 52

4.2.7. Compatibilização ...................................................................................... 52

4.2.8. Resultados ................................................................................................. 53

5. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 56

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1. INTRODUÇÃO

Os projetos de engenharia são historicamente alavancados por inovações

tecnológicas, com o objetivo de facilitar e otimizar os processos de representação gráfica,

resultando em produtos cada vez mais qualificados e com melhor desempenho. A

indústria automobilística e aeronáutica foram precursoras neste quesito e acabam

servindo de modelo para setores como o da construção civil que, por ser munida de

investimentos menos expressivos, acaba aderindo de forma tardia às novas tecnologias

em relação a outros ramos da engenharia (AMARAL, 2010).

A ideia de simulação virtual de um protótipo já é uma prática habitual para a

criação de um automóvel ou de uma aeronave. A indústria da construção civil, no entanto,

já conta com ferramentas que possibilitam a elaboração de projetos com simulação de

todas as fases de execução da obra, os softwares que operam na plataforma BIM, do inglês

“Building Information Modeling”, e que pode ser traduzido para a Modelagem da

Informação da Construção. Esta plataforma é uma metodologia relativamente nova para

o setor que vem sendo utilizada com maior abrangência a partir do início dos anos 2000,

e que hoje ganha, cada vez mais, espaço em empreendimentos do mundo inteiro.

(EASTMAN, 2014).

São características próprias dos sistemas hidráulicos prediais a sua complexidade

funcional e a inter-relação dinâmica entre os seus diversos subsistemas, além da enorme

variedade de materiais, componentes e equipamentos constituintes. Estas peculiaridades

podem dar origem a uma grande diversidade de manifestações patológicas nas

edificações, que vão desde simples falhas frequentes em certos equipamentos até

intrincadas flutuações de pressões, vazões e temperaturas, decorrentes de falha de

concepção sistêmica no projeto (GNIPPER, 2007).

Dentro deste contexto, o presente trabalho abordou a utilização de ferramentas

BIM na elaboração de projetos hidrossanitários, através de um estudo de caso na Filippon

Engenharia, escritório especializado em projetos de instalações hidrossanitárias e

elétricas, situado na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Para este fim, foi

proposto uma análise sobre um dos projetos elaborados pela empresa, do tipo Edificação

Residencial Multifamiliar. Sobre este projeto, foi realizada uma avaliação sobre

facilidades e dificuldades enfrentadas, formas de trabalho e organização dos projetos de

diferentes disciplinas envolvidas, relação de custos e tempo, entre outras.

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1.1. Justificativa

O grande lema da engenharia baseia-se no princípio da obtenção de melhores

resultados com o menor custo possível. Quando se fala em projeto, tangencia-se um ponto

fundamental para o êxito no exercício da engenharia. Este deve abranger todas as

informações técnicas, visando a excelência no desempenho, aliadas às estratégias

financeiras com o objetivo de uma economia eficiente (MACHADO, 1997).

Com um mercado cada vez mais exigente na construção civil, há uma crescente

complexidade nas edificações com técnicas construtivas diversificadas, buscando maior

aproveitamento de espaço e desempenho sustentável. O BIM entra neste contexto como

uma excelente ferramenta para atender à exigência de um alto nível de detalhamento nos

projetos, afim de proporcionar uma troca de informações clara, rápida e precisa. Além

disso, como a metodologia permite uma análise sistêmica e completa da edificação,

podem ser inseridas, ainda na fase de projeto, diferentes verificações de desempenho e

requisitos de sustentabilidade, o que gera uma maior assertividade e flexibilidade ao

projetista e consequentemente uma execução de obra mais segura, econômica e

sustentável (COELHO, 2008).

Nesse sentido, projetos hidrossanitários cada vez mais desafiadores se impõem no

mercado. A utilização da tecnologia BIM na produção deste tipo de projeto favorece a

produção de produtos com maior qualidade e menor índice de incompatibilidades

identificadas apenas na fase de construção. Como as tubulações e conexões são

parametrizadas e definidas como objetos munidos de informação, a produção do projeto

assemelha-se a um processo de montagem real (COSTA, 2013).

Uma análise baseada em dados compilados por Maged Abdelsayed da Tardif,

Murray & Associates, empresa de construção localizada em Quebec, Canadá, demonstra

que a grande maioria dos projetos de grande escala despendem de aproximadamente 420

empresas (incluindo todos os fornecedores e subempreiteiros), 850 indivíduos, 50 tipos

de documentos diferentes que chegam a 56 mil páginas e, consequentemente, uma boa

estrutura que comporte este material (aproximadamente 6 armários médios) e um

significativo consumo de recursos naturais (em média 6 árvores grande porte). Em

compensação, toda esta documentação pode ser guardada de forma digital com 3000 MB,

equivalente a 6 CDs (EASTMAN, 2014).

Apesar disso, a indústria da construção civil ainda sofre com a inércia perante altos

índices de desperdícios, soluções emergenciais em obra que acarretam no mal

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desempenho e/ou patologias que desvalorizam e por vezes invalidam empreendimentos

do setor. Com isso, considera-se fundamental uma renovação na cadeia produtiva deste

setor, de modo que as novas tecnologias sirvam também para promover obras de maior

qualidade, primando pelo conforto e segurança dos usuários e por um eficiente

desempenho sustentável (EASTMAN, 2014).

1.2. Objetivos 1.2.1. Objetivo Geral

Este trabalho teve como objetivo geral realizar um estudo de caso sobre a

utilização da tecnologia “Building Information Modeling” na elaboração de projetos de

instalações hidrossanitárias.

1.2.2. Objetivos Específicos

-Fazer um levantamento das diferentes ferramentas BIM aplicadas a projetos

hidrossanitários, bem como suas vantagens e desvantagens;

-Desenvolver uma análise de custo versus tempo na elaboração de projetos de

instalações hidrossanitárias;

-Analisar as formas de utilização do BIM, fluxo de informação e compatibilização

de projeto;

-Identificar principais problemas resultantes de uma má compatibilização de

projetos e de uma utilização equivocada dessa tecnologia.

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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Histórico do Desenho Digital na Engenharia O mercado mundial da construção civil, assim como o da engenharia como um

todo, é historicamente sinônimo de evolução. Isto porque, a partir do momento em que a

humanidade passa a se organizar como sociedade, inúmeros problemas e desafios vêm a

tona. A partir destes desafios, o homem vem buscando diversas soluções para que o

aumento populacional seja correspondido com a garantia de infraestrutura, segurança e

conforto para a humanidade.

Antes da era virtual, quando os computadores eram equipamentos inexistentes ou

inacessíveis, todos os processos envolvidos no planejamento de uma obra como projetos,

orçamentos, cronograma de execução entre outros, dependiam exclusivamente de

documentos produzidos manualmente. A informação passou a uma nova (figura 2.1) era,

após o surgimento dos computadores e, com eles, ganhou força a ideia de reproduzirmos

de forma virtual e cada vez mais fiel, processos manuais utilizados no cotidiano humano.

(AMARAL e PINA FILHO, 2010).

Figura 2.1. Evolução do BIM. Fonte: adaptado.

Catelani (2016) define projeto como “as instruções para construir, organizadas por

alguns, num determinado momento, para que sejam ‘lidas e interpretadas’ por outros,

num momento posterior, podem também ser vistas como um grande conjunto de dados e

informações que precisam ter um adequado nível de detalhamento e organização, a fim

de que esse processo de comunicação possa ser realizado de forma satisfatória.” Em

outras palavras, podemos dizer que as informações impostas pelo projeto deverão

significar a maior ou menor qualidade do produto, na medida em que haja riqueza e

sincronia destas informações. Portanto, fica evidenciado a importância da boa qualidade

dos projetos em qualquer tipo de implantação dentro da construção civil.

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Segundo Amaral e Pina Filho (2010), um dos grandes marcos no setor de projetos

de engenharia foi o surgimento dos desenhos auxiliados por computador, através da

utilização dos softwares CAD, do inglês Computer Aided Design. Pode-se dizer que a era

CAD teve início na década de 60, quando Ivan Sutherland desenvolveu um editor gráfico

chamado “Sketchpad”. Este sistema proporcionava a interação entre usuário e

computador, através da chamada “Light pen”, uma espécie de caneta luminosa utilizada

diretamente na tela para a realização de desenhos auxiliado por ferramentas de criação e

edição de objetos em 2D.

A evolução dos projetos na engenharia é historicamente alavancada pelos setores

aeroespacial e automobilístico, aos quais era restringida a utilização de ferramentas

computacionais na época, principalmente em função do custo das mesmas que, além do

mais, eram desenvolvidos para atender à demanda destes setores, especificamente.

Apenas na década de 70, os softwares CAD deixaram de ser objetivos de pesquisa

passando a ser comercializados livremente. Ao final desta década, já existiam programas

para modelagens tridimensionais, como o "Computer Aided Three Dimensional

Interactive Application” (CATIA), da Avions Marcel Dassault e o “SynthaVision” do

Mathematics Application Group, Inc. (MAGI) (AMARAL e PINA FILHO, 2010).

A partir de 1980, após o desenvolvimento do Personal Computer (PC), a empresa

Autodesk, fundada em 1982, lançou o “AutoCAD Release 1”, primeiro software CAD

para PCs, enquanto a segunda versão do CATIA era lançada, ambos compatíveis com o

sistema operacional da época, o UNIX. Já na década de 90, a empresa SolidWorks lançou

o revolucionário “SolidWorks 95 3D CAD”, compatível com o sistema operacional

Windows NT e com um surpreendente custo benefício. A partir de então, o

desenvolvimento de softwares CAD se deu de forma generalizada, com ofertas feitas por

diversas empresas do ramo (AMARAL e PINA FILHO, 2010).

Neste momento, a computação já dominava o setor de projetos na engenharia.

Telas, mouses e teclados substituíram as pranchetas de desenhos e o papel vegetal. Os

desenhos passam a ser realizados em camadas (layers), possibilitam a separação dos

componentes do desenho por suas respectivas funções representativas, que podem ser

ligados e desligados, ficando visíveis ou não, a gosto do usuário. Com o tempo, grande

parte dos softwares de desenho passaram a voltar-se também para a representação gráfica

tridimensional, alavancada principalmente pela demanda do mercado cinematográfico.

Foi, portanto, no início de 2000 que veio à tona a metodologia Building Information

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Modeling, o BIM. De uma metodologia fragmentada, onde as disciplinas continham

interdependência limitada, passamos para um formato de projeto integrado, que busca

compatibilizar e simular elementos construtivos tridimensionalmente, ricos em

informações parametrizadas. Adquirimos, com isso, a possibilidade de manipular de

forma prévia, fatores como conflitos construtivos, incompatibilidades, ou ainda promover

análises de desempenho, quantitativos de material, entre outros (CATELANI, 2016).

Apesar de ainda não ser uma ferramenta amplamente difundida, o BIM não é uma

tecnologia tão recente. Existem países que já utilizam a ferramenta há anos e possuem,

inclusive, exigências com relação a sua utilização. Segundo Artur Feitosa, Engenheiro

Civil e consultor BIM, países como Reino Unido, Holanda, Dinamarca, Finlândia,

Noruega e Estados Unidos da América já exigem o uso do BIM em projetos custeados

pelo governo. No Brasil, já existem incentivos por parte de alguns órgãos como, por

exemplo, o Exército Brasileiro, o governo estadual de Santa Catarina, o BNDES, a caixa

econômica federal, etc. (FEITOSA, 2016).

Conforme apresenta a página oficial do Ministério da Indústria, Comércio Exterior

e Serviços (MDIC), no dia 05 de junho de 2017, o Governo brasileiro assinou o decreto

que cria o Comitê Estratégico de Implementação do Building Information Modelling

(BIM), com o objetivo de propor, no âmbito do Governo Federal, a Estratégia Nacional

de Disseminação do BIM. O comitê é presidido pelo próprio Ministério da Indústria,

Comércio Exterior e Serviços e integrado por vários outros órgãos públicos como a Casa

Civil da Presidência da República, Ministério da Defesa, do Planejamento, do

Desenvolvimento e Gestão, entre outros. Em sua publicação na página oficial, o MDIC

define o BIM como um modelo de gestão de informação que aumenta a produtividade e

reduz custos e riscos na construção civil, além de promover a transparência de processos

licitatórios e compras públicas devido a precisão nas informações qualitativas e

quantitativas do projeto.

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2.2. A tecnologia BIM

O BIM (figura 2.2) destaca-se de fato a partir do início dos anos 2000, porém, os

primeiros debates sobre o conceito já ocorriam na década de 70, passando por um

processo de adaptação de nomenclatura ao longo das décadas seguintes até fixar-se como

o acrônimo conhecido atualmente. Na obra “Manual de BIM” de 1975, o exemplo de

documento mais antigo encontrado, é apresentado o conceito conhecido hoje por BIM

(EASTMAN et al., 2014). Neste documento, é apresentado um protótipo de trabalho, o

“Building Description System”, publicado no Jornal AIA por Charles M. “Chuck”

Eastman, na época atuando como professor na Universidade Carnegie-Mellon, onde o

conceito era:

Definir elementos de forma interativa... derivando seções, planos isométricos ou

perspectivas de uma mesma descrição de elementos... Qualquer mudança no arranjo teria

que ser feita apenas uma vez para todos os desenhos futuros. Todos os desenhos derivados

da mesma disposição de elementos seriam automaticamente consistentes... qualquer tipo

de análise quantitativa poderia ser ligada diretamente à descrição... estimativas de custos

ou quantidades de material poderiam ser facilmente geradas... fornecendo um único banco

de dados integrado para análises visuais e quantitativas... verificação de código de

edificações automatizado na prefeitura ou no escritório do arquiteto. Empreiteiros de

grandes projetos podem achar esta representação vantajosa para a programação e para os

pedidos de materiais. (EASTMAN, 1975).

Figura 2.2. Processos do BIM. Fonte: https://sustentarqui.com.br/dicas/o-que-e-o-bim/

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A tecnologia BIM não possui uma definição única que seja amplamente aceita. A

M.A. Mortenson Company, construtora americana que utiliza a tecnologia BIM em suas

incorporações, define a mesma como uma “simulação inteligente da arquitetura” que,

para produzir uma implementação integrada, deve exibir seis características principais:

ser digital, espacial (3D), mensurável (quantificável, dimensionável e consultável),

abrangente (incorporando e comunicando a intenção de projeto, o desempenho da

construção, a construtibilidade, e incluir aspectos sequenciais e financeiros de meios e

métodos), acessível (a toda a equipe do empreendimento e ao proprietário por meio de

uma interface interoperável e intuitiva), durável (utilizável ao longo de todas as fases da

vida de uma edificação). (EASTMAN, 2014)

A Câmara Brasileira da Industria da Construção (CBIC) apresenta, na sua

coletânea “Implementação do BIM para Construtoras e Incorporadoras”, definições para

o BIM segundo vários autores diferentes. Uma delas, elaborada pelo National Building

Information Modeling Standards – NBIMS, apresenta o BIM como:

Uma representação digital das características físicas e funcionais de uma instalação. Um

modelo BIM é um recurso para o compartilhamento de informações sobre uma instalação

ou edificação, constituindo uma base de informações organizada e confiável que pode

suportar tomada de decisão durante o seu ciclo de vida; definido como o período desde

as fases mais iniciais de sua concepção até a sua demolição. Uma das premissas básicas

do BIM é a colaboração entre os diferentes agentes envolvidos nas diferentes fases do

ciclo de vida de uma instalação ou edificação, para inserir, extrair, atualizar ou modificar

informações de um modelo BIM para auxiliar e refletir os papéis de cada um destes

agentes envolvidos. (CATELANI, 2016)

De forma resumida e simplificada, o BIM é um processo que possibilita a

modelagem, a troca, a consolidação e o fácil acesso aos diferentes grupos de objetos e

informações sobre uma edificação que se deseja construir, usar e manter, utilizando

ferramentas (softwares) que possibilitam que os processos atuais, baseados apenas em

documentos, sejam realizados de outras maneiras (baseados em modelos) muito mais

eficazes (CATELANI, 2016).

O engenheiro eletricista Francisco Gonçalves Junior, autor do e-book da AutoQi

“BIM - O que você precisa saber sobre essa ferramenta de inovação”, aponta que entre os

principais diferenciais competitivos proporcionados pelo BIM, estão a integração e o

intercâmbio de informações entre todas as disciplinas de projeto envolvidas,

levantamentos de custos mais precisos e controlados, a possibilidade de avaliações de

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eficiência energética, sustentabilidade e retrofit1. É um conceito que já se consolidou em

vários países do mundo e tem apresentado excelentes resultados em obras públicas.

A figura 2.3 apresenta uma análise de custo (eixo vertical) com relação as

diferentes fases de uma obra (eixo horizontal). Temos na linha 1 o fator “Capacidade de

impactar custos e performance”, que está relacionado à flexibilidade do projeto em sofrer

adaptações. A linha 2 representa o custo que acarretam tais alterações. Já as linhas 3 e 4

representam as fases em que se concentram as operações (alterações, adaptações ou

correções) no processo tradicional e no processo BIM, respectivamente. Como é possível

notar, no processo tradicional as operações concentram-se em fases mais custosas e

enrijecidas, enquanto que no processo BIM as operações estão localizadas em fases

iniciais do projeto. Isto significa que o processo, como um todo, assume maior esforço no

planejamento, com menor custo e alivia operações complexas e custosas na execução.

Figura 2.3. Curva de distribuição de Esforço e Custo no Tempo de MacLeamy. Fonte:

http://www.hok.com/thought-leadership/patrick-macleamy-on-the-future-of-the-building-industry

Também, vale observar alguns equívocos com relação ao que não é BIM de fato.

Alguns softwares possibilitam a modelagem e visualização tridimensional de elementos,

no entanto, objetos que não incluem outras informações além da sua própria geometria

não podem ser considerados BIM. Os objetos devem ser paramétricos e inteligentes,

visando facilitar processos de lançamento e alterações, assegurar a detecção de erros,

conflito, entre outras opções tratadas de forma aprofundada no item 2.2.2. Soluções que,

utilizando múltiplas referências 2D (desenhos ou documentos), emulam modelos

1 Processo de modernização de algum equipamento já considerado ultrapassado ou fora de norma.

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tridimensionais, porém não permitem extração automática de quantidades, atualizações

simultâneas, tampouco simulações e análises não devem ser elencadas como BIM. O BIM

deve oferecer, além da demonstração gráfica, outras formas de visualização dos dados

como listas, planilhas, tabelas, etc. Quando alguma informação é alterada em uma das

formas de visualização, todas as demais são simultaneamente atualizadas (CATELANNI,

2016).

2.3. Principais funcionalidades do BIM

2.3.1. Visualização Tridimensional do modelo

A forma tradicional de representação de projetos, muito utilizada nas ferramentas

CAD, inclui plantas baixas, elevações, cortes, etc. Esta forma de representação de projeto

acaba mostrando-se bastante confusa e de difícil interpretação, não apenas para

responsável pela execução da obra, mas também para o próprio projetista que trabalha

sem a perfeita convicção daquilo que desenvolve. A disposição tridimensional do que é

representado em planta, depende exclusivamente da interpretação de quem lê ou

desenvolve o projeto, o que pode ocasionar diversas inconformidades percebidas apenas

no momento da execução da obra (CATELANI, 2016).

Com a visualização tridimensional do modelo (figura 2.4), as ilustrações se tornam

muito mais claras e precisas. É claro que, ainda assim, as vistas em planta não deixam de

ser uma importante forma de representação, principalmente pela sua praticidade. Porém,

a análise tridimensional torna-se um excelente complemento sempre que surgirem

dúvidas com relação a proposta do projeto. Isto possibilita aos projetos, soluções bem

mais elaboradas, com maior grau de complexidade e assertividade.

O modelo 3D gerado pelo software BIM é projetado diretamente em vez de ser gerado a

partir de múltiplas vistas 2D. Ele pode ser usado para visualizar o projeto em qualquer

etapa do processo, com a expectativa de que terá dimensões consistentes em todas as

vistas (ESTMAN, 2016)

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Figura 2.4. Várias disciplinas visíveis em 3d. Fonte: Projelet ECOM e Dávila:

http://projelet.com.br/projelet-ecom-e-davila-projeto-bim/

É importante salientar que a representação tridimensional por si só, não se

configura como solução BIM. Como já descrito anteriormente, é indispensável que a

ferramenta utilizada possibilite a inserção de informações e parâmetros no modelo

tridimensional e com isso, se possa utilizá-las para enriquecer o detalhamento, aprimorar

as análises e levantamentos. Como ilustra a figura 2.3, a visualização fica extremamente

confusa quando reúne todas as disciplinas do projeto. Com um modelo munido de

parâmetros, podemos realizar aplicações de vista como, por exemplo, desativar certas

disciplinas, aplicar transparência, filtrar elementos. Isto irá favorecer o desenvolvimento

do projeto, facilitar alterações futuras e evitar retrabalhos.

2.3.2. Parametrização dos componentes

No projeto paramétrico, objetos são definidos utilizando parâmetros que envolvem

distâncias, ângulos e regras como “vinculado a”, “paralelo a” e “distante de”. Essas

relações permitem que o elemento se altere conforme os valores que seus parâmetros

assumem. Os valores ainda podem ser restringidos a requisitos que o elemento deve

satisfazer, promovendo uma interação entre projetista e ferramenta, no momento em que

o primeiro executa as modificações e o segundo verifica as condições e alerta quando

alguma regra está sendo infringida (EASTMAN, 2014).

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Os objetos BIM são considerados objetos inteligentes pois, além de conterem

todas as informações importantes sobre si mesmos, podem ter informações sobre a sua

relação com outros objetos e componentes de um modelo. Na prática, isso se materializa,

por exemplo, quando um projetista insere uma janela, e esta integra-se apenas à família

das paredes e nunca a elementos de outras famílias (CATELANI, 2016).

Como pode-se observar na Figura 2.5, ao selecionarmos o objeto, são mostradas

diversas informações e parâmetros, que somados definem o objeto em si e as condições

nas quais ele se encontra no projeto. Neste exemplo temos um lavatório sanitário, da

família “componentes hidráulicos”, do tipo “Pia com pedestal – Com base na parede”,

localizada no pavimento térreo, a uma cota de 2cm abaixo, a uma distância da parede de

19cm.

Figura 2.5. Exemplo de objeto BIM e seus parâmetros. Fonte: sienge.com.br/blog/voce-sabe-o-que-e-bim-

entenda-o-conceito-e-suas-aplicacoes

Segundo Catelani (2016), a parametrização dos elementos geram reações

automáticas que contribuem para a garantia da consistência e da integridade das soluções

projetadas, e também de toda a documentação do projeto (desenhos, detalhes, tabelas),

diferentemente do que acontece nos processos baseados em desenhos CAD. Neste último,

a integridade da documentação depende exclusivamente da atenção humana, que precisa

replicar mudanças em diversos documentos: plantas, cortes e detalhes.

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2.3.3. Diferentes visualizações do modelo

Para revisões e alterações realizadas numa determinada vista, alguns softwares que não

são BIM não provocam automaticamente a atualização das demais vistas e relatórios de

um mesmo projeto ou trabalho em desenvolvimento. Neste caso, o usuário precisa

executar comandos específicos, e, se por um descuido isso não acontecer, parte do seu

trabalho poderá apresentar inconsistências e erros (CATELANI, 2016).

Como pode-se notar na Figura 2.5, o mesmo projeto aparece em três formas

distintas de visualização. Em planta, em vista tridimensional e em forma de planilha, nas

quais pode-se notar uma integração simultânea, sendo que ao selecionar o elemento em

uma das vistas, o mesmo aparece automaticamente selecionado nas outra, além da

planilha agrupar e quantificar automaticamente os elementos (ferramenta tratada no

próximo tópico). Com isso, podemos perceber a forma integrada com que as ferramentas

BIM operam, sendo que as vistas são geradas a partir do modelo (Figura 2.6) e não ao

contrário, como ocorre nas ferramentas CAD, com desenhos sendo aplicados a

determinadas vistas sem interdependência. Pode-se dizer que as vistas se comportam

como se fossem espelhos que o projetista facilmente posiciona em determinados locais

do modelo, a fim de gerar as projeções esperadas.

Figura 2.6. Vistas geradas a partir do modelo. Fonte: www.e53.arq.br

2.3.4. Quantificações e cronogramas (4D e 5D)

O orçamento de uma obra pode ser definido como uma estimativa ou previsão

expressa em termos quantitativos físicos ou monetários que visa auxiliar o gerenciamento

e a tomada de decisões, seja para a empresa como um todo ou apenas para uma obra. Os

quantitativos físicos referem-se, por exemplo, a: quantidades de materiais de escritório,

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materiais de construção, horas de mão-de-obra, horas de equipamentos. Os quantitativos

monetários referem-se a: receitas, despesas, custos, recebimentos e desembolsos

(SANTOS, 2010).

A extração automática de todas as quantidades de serviços e componentes dos

modelos BIM é uma das funcionalidades mais utilizadas por aqueles que utilizam a

plataforma. Ela garante consistência, precisão e agilidade de acesso às informações das

quantidades, que poderão ser divididas e organizadas de acordo com as fases definidas

no planejamento e na programação da obra (CATELANI, 2016). A Figura 2.4 mostra

uma planilha simplificada, que quantifica os diferentes “Elementos Hidráulicos” do

projeto.

Segundo Catelani (2016), alguns softwares como o MS-Project e Primavera,

possibilitam também o controle da execução da obra com base nos modelos BIM, tendo

seus objetos constituintes associados (linkados) com as atividades de um cronograma

desenvolvido por estes softwares. Desta forma, as extrações automáticas de quantidades

dos modelos BIM, baseados nas fases planejadas, podem agilizar e garantir a precisão das

comparações entre serviços previstos e efetivamente realizados. Com elaboração de

cronogramas em forma de gráfico como o de Gantt (Figura 2.7.), por exemplo, pode-se

prever os tempos e a duração das atividades e planejar, programar e ajustar suas relações

de precedência, bem como seu sequenciamento lógico. Esse recurso facilita bastante a

análise de construtibilidade, que passa a ser visual e, também, o dimensionamento das

equipes. Estas ferramentas nos possibilitam entrar nas dimensões conhecidas por 4D e

5D, que são relacionadas com a análise temporal e de custo, respectivamente.

Figura 2.7. Gráfico de Gantt pelo Navisworks (Autodesk). Fonte: Autodesk

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2.3.5. Identificação automática de erros e interferências

Os relatórios das interferências localizadas em um modelo BIM em

desenvolvimento podem ser extraídos automaticamente e compartilhados com as equipes

responsáveis por cada uma das diferentes disciplinas. Alguns softwares oferecem

formatos padronizados de listas de interferências que já incluem a imagem do problema

e referências da sua localização no modelo. Isso é bastante útil nos casos de modelos

muito extensos ou complexos, em que há muitas repetições de trechos de instalações

(CATELANI, 2016).

Figura 2.8. Detecção automática de conflitos. Fonte: http://inttegraengenharia.com/compatibilizacao-bim/

Conforme estudo apresentado por Costa (2013), algumas ferramentas de

compatibilização apontam interferências desprezíveis e acumulam um relatório de erros

exagerado e consequentemente indesejável. Logo, é muito importante a capacidade do

profissional em filtrar os resultados realmente relevantes. Krieger (2013) atenta para a

diferença entre "boa modelagem" e "modelagem perfeita". Segundo ele, seguir os

relatórios de detecção de conflitos como regra pode ocasionar a perda de muitas horas de

trabalho com a limpeza do modelo, contrariando as premissas do BIM de economia no

tempo de projeto.

Além da localização automática, algumas soluções também classificam as

interferências como leves, moderadas ou críticas (Figura 2.9). Uma interferência leve,

representada na imagem pela exclamação amarela, seria o caso em que, por exemplo, uma

tubulação de pequeno diâmetro interfere em outra também de pequeno diâmetro. Ou seja,

seria uma interferência de fácil solução, porque não é muito difícil desviar uma tubulação

de pequeno diâmetro, que, na maioria das vezes, pode ser feita utilizando conexões

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padronizadas. Já a interferência de uma tubulação de grande diâmetro com um

componente da estrutura, por exemplo, um pilar ou uma viga estrutural, seria considerada

como crítica, representada na imagem pela exclamação vermelha. A exclamação laranja

representa uma interferência moderada (CATELANI, 2016).

Figura 2.9. Detecção e classificação automática de interferências. Fonte: Nemetschek (Solibri)

2.3.6. Simulações e análises (6D)

Essa é uma das áreas do BIM que mais vêm recebendo investimentos dos

desenvolvedores de softwares nos últimos anos. Dentre as principais análises e

simulações viabilizadas pelo BIM, estão as estruturais, energéticas, termodinâmicas, de

ventilação natural, poluição, luminotécnicos e de insolação. Estas análises são

ferramentas valiosas para a tomada de decisões que podem tornar o empreendimento mais

ou menos viável. A Figura 2.10 ilustra uma análise estrutural, destacando com cores

avermelhadas as regiões de maior esforço, e em verde as de menores esforços

(CATELANI, 2016).

Figura 2.10. Análise estrutural representando os esforços através de cores. Fonte: Autodesk.

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2.3.7. Sistemas colaborativos

Quando falamos em tecnologia BIM, um dos principais diferenciais concentra-se

na forma interativa com que os projetos devem ser desenvolvidos. Para que isso ocorra

de forma correta, é necessário que o projeto Arquitetônico, modelado

tridimensionalmente, sirva como base para a modelagem dos projetos complementares e

estes entre si, como o Estrutural, Hidrossanitário, Elétrico, Telecomunicação, entre

outros, através de um ambiente colaborativo. Porém, a simples modelagem

tridimensional, de nada serviria sem que houvessem parâmetros que classifiquem todos

estes projetos e seus componentes, de modo que seja possível a análise conjunta da

interação entre eles (EASTMAN, 2014).

Os sistemas colaborativos voltados para a construção civil surgiram na segunda

metade da década de 1990, através de empreendimentos conjuntos de grandes

companhias de construção civil, com o objetivo de promover maior produtividade e

eficiência no setor. A tecnologia para colaboração pode ser definida como a combinação

de tecnologias que em conjunto criam uma interface entre duas ou mais pessoas

interessadas, proporcionando‐lhes participação no processo criativo em que partilham as

competências coletivas, expertise, entendimento e conhecimento para atingir a melhor

solução encontrada (COELHO, 2008). Conforme a Figura 2.11, no arranjo tradicional de

equipes de trabalho, percebe-se que o arquiteto é responsável por atender às exigências

legais e dar diretrizes aos demais projetistas. As informações são produzidas de maneira

linear e paralela, com pouca integração horizontal e baixo controle de arquivos ou

desenhos utilizados como referência em cada disciplina. Já no arranjo baseado na

metodologia BIM, a interação dos projetistas ocorre de forma muito mais rápida e

assertiva, já que a troca de informações se baseia em um modelo BIM que atua como uma

base comum a todos os envolvidos através de um sistema colaborativo. (COSTA, 2013).

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Figura 2.11. Arranjos de equipes. Fonte: Costa, 2013.

A colaboração entre os membros das equipes de projeto passa a girar em torno de um

modelo baseado nas informações necessárias para o planejamento e construção de um

edifício. Nesse contexto, o envolvimento dos profissionais durante as fases de orçamento

e concepção de projetos, de planejamento e de construção mostra‐se adequado à formação

de um modelo consistente do edifício (COELHO, 2008).

Como normalmente utilizam-se diferentes softwares para cada projeto, além de

cada empresa hospedar seus arquivos em seus respectivos servidores, a sistema de links

acaba tornando-se bastante utilizado. Neste sistema, o projeto a ser desenvolvido

corresponde a um arquivo central ou hospedeiro, onde os demais projetos são inseridos

como links, que servirão como base para a modelagem do hospedeiro. Os links são

arquivos inseridos com dependência, isto é, caso haja alteração no arquivo, esta será

atualizada de forma automática no arquivo central, através de sincronizações ou

carregamentos. Além disso, os links não são editáveis dentro do arquivo central e sim,

apenas no próprio arquivo. Para tal, é necessária a cooperação entre os projetistas,

consultores, empreendedores e construtores, com as devidas preocupações quanto à

interoperabilidade dos dados (Figura 2.12), tendo em vista permitir o intercâmbio das

informações entre os diversos participantes (COELHO, 2008).

Figura 2.12. Interoperabilidade de dados. Fonte: revittemplate.com.br/bim/aula-bim-05-interoperabilidade/

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O sistema Revit, desenvolvido pela Autodesk, oferece suporte à colaboração

multiusuário, utilizando o recurso Worksharing Monitor, que permite acesso simultâneo

a um modelo do edifício compartilhado entre vários usuários. A solução exige a adoção

do software Revit por todos os profissionais envolvidos no desenvolvimento dos projetos,

os quais são elaborados localmente no sistema do usuário e disponibilizados no modelo

compartilhado através de sincronizações (COELHO, 2008).

2.3.8. Tecnologias complementares

O BIM já conta com inúmeras tecnologias extremamente inovadoras que,

futuramente, irão proporcionar ainda mais qualidade e assertividade nas informações dos

projetos.

Uma das ferramentas que está ganhando muito espaço é a captura de realidade. O

escaneamento a laser é uma prática cada vez mais comum nas construções. Este tipo de

escaneamento possibilita a captura de realidade com escaneamento de objetos reais. A

captura de realidade também tem evoluído com a utilização de drones, que realizam

sequências de fotografias a partir das quais pode-se gerar modelos 3D manipuláveis.

Outra tecnologia inovadora é a utilização de uma estação total capaz de retirar

informações de um modelo BIM em obra, para a locação de elementos (CATELANI,

2016).

Desta forma, a captura de realidade tem sido utilizada dentro do BIM para

identificação e separação dos seus subsistemas constituintes e, a partir daí, para permitir

que sejam projetadas modificações ou ampliações. A realidade capturada também pode

ser comparada e combinada com modelos BIM, para estudo de desvios de prumo e

alinhamento ou para a realização de simulações. A Figura 2.13 apresenta uma

comparação entre o modelo estrutural proveniente da captura de realidade com o modelo

virtual, de modo que a cor vermelha aponta os maiores desvios de prumo e a verde os

menores. (CATELANI, 2016).

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Figura 2.13. Análise de alinhamento e prumo com captura de realidade. Fonte: Autodesk.

Outra inovação em ascensão no mundo inteiro é a utilização da impressão 3D na

construção civil. Segundo CBIC (2017), a Impressão 3D, também conhecida como

fabricação aditiva, é o processo pelo qual objetos físicos são criados pela disposição de

materiais em camadas, com base em um modelo digital. Todos os processos de impressão

em 3D requerem trabalho conjunto de software, hardware e materiais. Para Klavdianos a

utilização do BIM para a impressão em 3D é fundamental. “Por trás dessa tecnologia tem

que ter toda uma parte de projetos e sistemas e o BIM é muito importante para dar suporte

tecnológico para o 3D”, reforça o diretor da MRV Engenharia, Flávio Vidal Cambraia.

(CBIC, 2017).

2.4. O projeto Hidrossanitário

Segundo a norma NBR 13531(ABNT, 1995), o sistema de instalações hidráulico-

sanitárias é composto por água fria, água quente, esgotos sanitários e industriais, captação

e escoamento de águas pluviais, gás combustível, prevenção e combate a incêndio e

algum outro sistema hidráulico que por ventura seja necessário na edificação. Esse

sistema tem a função de desempenhar determinadas funções de condução de gases,

líquidos e sólidos (Figura 2.14).

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Figura 2.14. Função do sistema hidrossanitário predial. Fonte: Arantes, 2003.

Segundo Borges (1992), as instalações prediais têm como finalidade fazer a

distribuição da água, em quantidade suficiente, e promover o afastamento adequado das

águas servidas e esgotamento dos resíduos, visando atenuar os efeitos negativos causados

por um lançamento descontrolado de resíduos, como contaminações e proliferação de

doenças. Impõe-se como fator importante, portanto, que as populações e os governos

adotem critérios nos quais as atividades sanitárias sobreponham às de ordem econômica.

Arantes (2003) define a elaboração de projetos hidrossanitários em etapas,

conforme o esquema da Figura 2.15. O estudo preliminar, tem-se o programa de

necessidades, o levantamento de dados, a verificação de viabilidade técnica e relatório

das demandas necessárias à execução dos projetos. Já na etapa de anteprojeto, tem-se a

análise do projeto de arquitetura, o desenho gráfico unifilar dos elementos e a pré-

compatibilização com os demais projetos. Esta é uma fase crucial do projeto e requer

grande atenção da coordenação de projetos em função das modificações que deverão

ocorrer advindas de atividades dissociadas entre os projetistas (ARANTES, 2003).

A etapa de projeto legal requer o desenho gráfico e documentos, como memoriais

de cálculo, nos moldes exigidos pelo órgão local para que haja a aprovação da

implantação. Na etapa de projeto executivo, por sua vez, faz-se necessário desenvolver o

desenho gráfico detalhado de todos os elementos construtivos do sistema predial,

memorial descritivo, especificação e listagem de materiais. Por último, a etapa “as built”,

elaborada ao final da obra, faz-se o levantamento das alterações ocorridas no transcorrer

da obra, a adequação do projeto original com representação gráfica das mudanças

constatadas, o relatório descritivo das mudanças efetuadas e ainda o manual de operação

e manutenção do sistema hidrossanitário predial. (ARANTES, 2003).

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Figura 2.15. Etapas de elaboração do projeto hidrossanitário. Fonte: Arante (2003).

Os projetos de instalações prediais precisam ser integrados aos projetos estruturais

e as interferências devem ser analisadas e reduzidas ao mínimo. O nível de detalhamento

deve garantir o entendimento do projeto e a correta execução em obra, evitando

improvisações. Segundo o autor, na prática, verifica-se um certo desprezo para com os

projetos de instalações prediais e, mais tarde, após a implantação da obra, vários

problemas surgem relacionados com a hidráulica, o que poderia ser eliminado caso

recebesse a devida importância (BORGES, 1992).

Um levantamento realizado nos anos 70 em diversos países com longa tradição de

construção, realizou uma avaliação de desempenho de edificações já colocadas em uso

(GNIPPER,2007). Os resultados mostram (Figura 2.16) que entre as principais causas de

patologias de origem endógena em edificações, os erros de projetos ficam como os

maiores percentuais (de 36% a 49%), seguido de falhas de execução (19% a 30%), falha

de materiais (11% a 25%) e de má utilização (9% a 11%).

Na fase de projeto dos sistemas prediais, os vícios podem ocorrer por falhas de concepção

sistêmica, erros de dimensionamento, ausência ou incorreções de especificações de

materiais e de serviços, insuficiência ou inexistência de detalhes construtivos, etc.

(GNIPPER, 2007).

As patologias e inconformidades também podem decorrer de falhas no processo

de produção do projeto, tais como falhas de comunicação com projetistas de outros

sistemas prediais (estrutural, elétrico, telefônico, ar condicionado, etc.) e da inexistência

de coordenação ou compatibilização com os diversos outros subsistemas da edificação

(vedações, circulação horizontal e vertical, etc.) (GNIPPER, 2007).

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Figura 2.16. Origem percentual de falhas em edificações. Fonte: GNIPPER, 2007.

Arantes (2003) cita a apresentação do projeto como um importante problema

causador de alterações em obra, e apresenta uma lista de ações essenciais para que o

projeto hidrossanitário tenha um bom desempenho e facilite sua compreensão:

a) Padronizar da apresentação;

b) Definir padrão de detalhes construtivos, com apresentação de forma separada,

porém devidamente referenciada;

c) Gerar documentos de dimensões moderadas, que facilitem o manuseio em obra;

d) Fornecer especificação técnica dos materiais e componentes para facilitar compra;

e) Desenvolvimento de um manual do usuário;

f) Elaboração do projeto “as-built” ao final da obra;

g) Proporcionar diferentes formas de visualização, afim de proporcionar maior

facilidade de compreensão do projeto (plantas com elevações cotadas,

perspectivas isométricas e vistas frontométricas);

h) Facilitar ao máximo o entendimento do projeto, evitando definições em obra.

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CAPÍTULO 3

3. METODOLOGIA

O presente trabalho foi realizado conforme esquematicamente representado no

fluxograma da Figura 3.1.

Figura 3.1. Fluxograma da metodologia do estudo de caso.

3.1. ANÁLISE GERAL

3.1.1. Informações gerais da empresa

Nesta etapa, elaborou-se um levantamento geral das características da empresa,

incluindo um breve histórico desde a sua fundação, a evolução e a sua situação atual.

Foram abordadas informações sobre suas áreas de atuação no mercado, formas de

desenvolvimento de projetos utilizadas pelos profissionais, estrutura organizacional para

a elaboração de projetos, abordando brevemente o modelo de gestão das equipes de

trabalho utilizado pela empresa, analisando as formas de fluxo de informação, divisão e

controle de tarefas e cronogramas, além de atividades de desenvolvimento interno. Estes

dados são importantes para entender melhor o processo de implantação e utilização do

BIM.

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3.1.2. Aplicações gerais do BIM

Primeiramente, o estudo voltou-se para as ferramentas utilizadas pela empresa de

forma geral e procedimentos padrão aplicados a todos os projetos desenvolvidos em BIM.

Esta análise incluiu softwares utilizados, preparação de base de dados para elaboração de

projetos, ferramentas e formas de modelagem, organização informacional e interação com

projetos externos.

3.2. ANÁLISE ESPECÍFICA

3.2.1. Seleção do projeto

Para a fase de análise específica, foi escolhido um projeto do tipo Edificação

Residencial Multifamiliar, desenvolvido em BIM. O projeto escolhido deverá ser de

médio porte, apresentando soluções de engenharia que possam representar, na prática, as

aplicabilidades do BIM em projetos hidrossanitários, gerando como resultado, aspectos

positivos e negativos observados no estudo.

3.2.2. Informações gerais e técnicas

A apresentação do projeto escolhido foi dada através do levantamento das

informações gerais do projeto, como número de pavimentos, área de construção, número

de apartamentos, entre outras informações. Posteriormente, o estudo aprofundou-se nos

levantamentos técnicos do projeto hidrossanitário, apresentando condições de

distribuição de água potável, esgotamento de águas servidas e captação de águas pluviais.

3.2.3. Aplicações específicas do BIM ao projeto Multifamiliar

Descreveu-se de forma aprofundada as soluções adotadas especificamente para o

projeto analisado, apontando dados sobre o projeto como informações gerais de projeto,

dados técnicos, tipos de sistemas projetados, análise de compatibilização e resultados,

apontando formas de entrega e observações finais sobre o projeto.

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3.2.4. Avaliação de Resultados

Após concluído o projeto, buscou-se avaliar os resultados do projeto estudado e

da utilização do BIM por parte da empresa, como um todo. Para isso, buscou-se alguns

relatos por parte dos profissionais envolvidos, tanto clientes quanto fornecedores,

salientando os pontos positivos e negativos da metodologia utilizada para a elaboração de

projetos hidrossanitários, e com isso, apontando fatores que ainda precisam ser

aprimorados, tanto na utilização da tecnologia quanto na mudança de cultura na

construção civil, que compete aos profissionais do ramo.

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CAPÍTULO 4 4. ESTUDO DE CASO

4.1. Utilização do BIM na empresa

4.1.1. Sistema Organizacional

A empresa estudada neste trabalho é a Filippon Engenharia, situada na cidade de

Porto Alegre no Estado do Rio Grande do Sul. Fundada em 1981 pelo Eng. Marcos

Antônio Filippon, inicialmente com a razão social M.A. FILIPPON & CIA LTDA. e

posteriormente alterada para FILIPPON ENGENHARIA, a empresa iniciou suas

atividades realizando de projetos instalações elétricas e hidrossanitárias, desenvolvidos

de forma manual. A partir de 1996 a empresa passou a desenvolver seus projetos

utilizando a plataforma CAD, formato com o qual atuou até ano de 2013, quando deu

início à elaboração de procedimentos e famílias para a implantação da tecnologia BIM na

empresa, bem como a replicação dos projetos CAD em plataforma BIM. Em 2015 foi

elaborado o primeiro projeto de instalações elétricas e hidrossanitárias completo na

plataforma BIM.

Os principais serviços desenvolvidos pela empresa são:

-Assessoria técnica para elaboração de projetos de instalações;

-Consultoria técnica nas áreas de engenharia elétrica, telecomunicações e civil;

-Acompanhamento da execução dos projetos em obra;

-Projetos de instalações elétricas, telecomunicações (credenciada Furukawa) e

hidrossanitárias residenciais, comerciais e industriais.

Atualmente, o escritório desenvolve projetos nas duas plataformas, conforme a

demanda dos clientes. Porém, é notório o crescimento da preferência por projetos em

plataforma BIM, já que, cada vez mais, os clientes percebem a importância do projeto e

o impacto da sua qualidade no resultado da obra e, também, no seu orçamento.

A empresa conta com uma equipe de aproximadamente 20 funcionários entre

engenheiros, técnicos, projetistas, estagiários e recursos humanos. O escritório é equipado

com aproximadamente 20 computadores e possui a instalação de um servidor, utilizado

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para o armazenamento de todos os projetos e recursos utilizados para o mesmo, como

famílias, projetos externos, catálogos, documentos, procedimentos, normas, etc.

Para promover o suporte informacional aos projetos desenvolvidos em BIM, a

empresa possui dois profissionais que desempenham tanto a função de técnico em

informática, quanto a de BIM Manager, ou Gerente BIM. O BIM manager acumula

tarefas como:

-Atividades e soluções providas por recursos de computação e gerenciamento de

informação, visando viabilizar todas as demandas geradas pelos projetos em BIM;

-Dominar e promover a implantação da metodologia BIM;

-Aplicar ferramentas e solucionar as demandas dos projetos para com a tecnologia

BIM;

-Desenvolver as famílias, objetos e processos padrão, com os devidos parâmetros

visando solucionar demandas, agilizar processos e assegurar assertividade aos projetos.

Para que haja qualificação dos projetistas na utilização das ferramentas, o

escritório promove treinamentos frequentes sobre determinadas utilidades do BIM. Isto

permite, além da aprendizagem, uma padronização nos processos desenvolvidos pelos

projetistas, de forma que todos passem a adotar técnicas parecidas na elaboração de

projetos.

Os projetos hidrossanitários em análise neste estudo, foram desenvolvidos com

base nas seguintes normas:

a) ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

-NBR-5626/98 - Instalação Predial de Água Fria;

-NBR-7198/93-Projeto e Execução de instalações Prediais de Água Quente;

-NBR-8160/99 - Sistemas Prediais de Esgoto Sanitário - Projeto e Execução;

-NBR-10844/99 - Instalações Prediais de Águas Pluviais;

-NBR 15575/13 – Edificações habitacionais – desempenho

-NBR 5651 - Recebimento de Instalações Prediais de Água Fria - Especificação

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-NBR 5657 - Verificação da Estanqueidade à Pressão Interna de Instalações

Prediais de Água Fria - Método de Ensaio

-NBR 5658 - Determinação das Condições de Funcionamento das Peças de

Utilização de uma Instalação Predial de Água Fria - Método de Ensaio

-NBR 10067 - Princípios Gerais de Representação em Desenho Técnico

-NBR 8130 - Aquecedores de Água a Gás Tipo Instantâneo - Especificação

-NBR 5899 - Aquecedor de Água a Gás Tipo Instantâneo – Terminologia

-NBR 10067 - Princípios Gerais de Representação em Desenho Técnico

-NBR 5688 - Tubo e Conexões de PVC Rígido para Esgoto Predial e Ventilação

– Esp.

-NBR 8160 - Instalações Prediais de Esgotos Sanitários NBR 10067 - Princípios

Gerais de Representação em Desenho Técnico

-NBR 5680 - Tubo de PVC Rígido, Dimensões – Padronização

-NBR 9793 - Tubo de Concreto Simples de Seção Circular para Águas Pluviais -

Especificação

-NBR 9794 - Tubo de Concreto Armado de Seção Circular para Águas Pluviais –

Especificação

-NBR 9814 - Execução de Rede Coletora de Esgoto Sanitário - Procedimento

-NBR 10067 - Princípios Gerais de Representação em Desenho Técnico

-NBR 10843 - Tubos de PVC Rígido para Instalações Prediais de Águas Pluviais

- Especificação

-NBR 10844 - Instalações Prediais de Águas Pluviais

b) Normas Municipais

-Decreto Nº 9369/88 - Código de Instalações Prediais de Água e Esgoto do DMAE

-Decreto Nº15371/06 Regulamenta o controle da drenagem urbana

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4.1.2. Aplicações gerais do BIM

4.1.2.1. Famílias e template

Os projetos realizados em BIM dependem da disponibilidade das famílias que o

projeto irá exigir, como a tubulação, conexões, peças e equipamentos mecânicos. No

presente caso em estudo, os BIM Managers da empresa foram responsáveis pelo

desenvolvimento de todas as famílias (Figura 4.1) utilizadas. Apesar de existirem

algumas empresas que disponibilizam famílias de seus produtos conforme seus catálogos,

como a Tigre, a experiência da Filippon Engenharia com estas famílias concluiu que elas

possuem muitas informações desnecessárias, o que acaba tornando os projetos

extremamente pesados e pouco trabalháveis. Deste modo, a empresa desenvolveu

famílias com apenas as informações compatíveis com as necessidades reais de projeto,

resultando em objetos mais leves e de melhor trabalhabilidade.

Figura 4.1. Família de Caixas Sifonadas, desenvolvida pela empresa. Fonte: Filippon Engenharia.

Outro recurso desenvolvido pela própria empresa é o template de projeto

hidrossanitário. O template, que pode ser traduzido como “modelo”, nada mais é do que

a pré-configuração de projeto, ou seja, um ponto de partida utilizado para todos os

projetos, que carrega todas as informações referente a um procedimento padrão de

desenvolvimento de projetos. A Filippon Engenharia desenvolveu seus próprios

templates, compatíveis com as necessidades de projetos apresentada pela empresa. Este

carrega previamente, as famílias de tubulações e conexões com os materiais

costumeiramente utilizados, como PVC Classe 15, PVC para Esgoto série normal, PPR

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para água quente, entre outros. Quando o projeto apresenta alguma necessidade

específica, como tubulação PEX (flexível), Esgoto com PVC reforçado, ou da série

“Silentium”, por exemplo, estas famílias, que ficam armazenadas no servidor, são

carregadas posteriormente no projeto.

4.1.2.2. Colaboração e interação entre projetos

Como descrito no item 2.3.1, a tecnologia BIM exige que todos os projetos sejam

modelados tridimensionalmente e contenham parâmetros que possibilitem a análise

conjunta da interação entre estes projetos e seus componentes.

No caso analisado neste estudo, a elaboração do projeto hidrossanitário utiliza o

software Autodesk Revit MEP (Mechanical, Eletrical and Plumbing) designado para a

modelagem de instalações prediais, como hidráulicas, elétricas e de climatização. A

interação entre os diferentes projetos é feita através do sistema de links. O projeto a ser

desenvolvido, neste caso o hidrossanitário, corresponde a um arquivo central ou

hospedeiro, onde os demais projetos são inseridos como link, e servem como base para o

desenvolvimento do projeto hidrossanitário (Figura 4.2). Desta forma, pode-se trabalhar

com modelos tridimensionais dos demais projetos sem tornar o projeto em um arquivo

tão pesado.

Para o caso dos projetos Elétricos, que estão armazenados e são alterados

diretamente no servidor, mesmo local dos projetos Hidrossanitários, a atualização ocorre

de forma automática, toda vez que os projetos são sincronizados. Já no caso dos projetos

desenvolvidos externamente, esta atualização não ocorre de forma automática, pois os

projetos são alterados em outros servidores e enviados por etapa por cada empresa. A

cada nova versão recebida pela Filippon Engenharia, estes projetos são salvos no servidor

e recarregados no arquivo central, substituindo o arquivo referente à versão anterior. Isto

exige atenção e comprometimento dos projetistas em conferir e notificar os demais

projetistas sobre novas versões, semelhante ao que ocorre no processo tradicional.

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Figura 4.2. Janela de gerenciamento de links do projeto. Fonte: Filippon Engenharia.

Outra forma de colaboração observada neste estudo foi a colaboração

multiusuário, através do recurso Worksharing Monitor. Este recurso é utilizado quando

há a necessidade de dois ou mais projetistas trabalharem simultaneamente no mesmo

arquivo. Como há um arquivo para cada disciplina de projeto, isto aconteceu sempre que

as atividades do projeto hidrossanitário tiveram de ser divididas entre dois ou mais

projetistas.

Para a organização interna de cada projeto, os elementos do projeto são designados

em Worksets. Esta divisão assemelha-se a dos Layers, utilizada nos projetos CAD. Os

worksets têm como objetivo primário, gerar um ambiente organizado de trabalho quando

o sistema Worksharing é utilizado, ou seja, quando mais de um projetista trabalha no

mesmo arquivo. Além disso, pode-se ativar ou desativar os elementos do projeto, em cada

vista, conforme sua designação (Figura 4.3).

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Figura 4.3. Gerenciamento de Worksets. Fonte: Filippon Engenharia.

No entanto, assim como os layers, os worksets dependem da atenção do projetista

para a sua aplicação correta em cada elemento. O ideal é que a marcação do workset

anteceda a inserção dos elementos, e que esta inserção seja feita de forma agrupada,

conforme a sequência mostrada na Figura 4.4.

Figura 4.4. Sequência de modelagem com worksets.

Muitas vezes a modelagem não segue esta sequência e o projeto acaba ficando

desorganizado, com elementos de esgoto designados para worksets de água fria, por

exemplo. Para isto, a empresa utiliza uma rotina de programação desenvolvida no

software Dynamo, que funciona como um plug-in do Revit (Figura 4.5) e possibilita a

elaboração de rotinas programadas, que realizam tarefas de forma automática, como

organização do projeto para documentação, visualização, etc., e que se fossem feitas de

forma manual, demandariam de tempo excessivo.

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Figura 4.5. Utilizaçao de plug-in para organização de projeto. Fonte: Filippon Engenharia

4.1.2.3. Modelagem

As tubulações podem ser modeladas de diversas formas, e em múltiplas vistas,

como planta-baixa, 3D e elevações. Porém, a forma mais habitual utilizada é o traçado

inicial em planta-baixa e posteriormente os ajustes em 3D e cortes. Quando uma

tubulação é traçada, as devidas conexões são formadas automaticamente (Figura 4.6).

Figura 4.6. Modelagem de tubulação. Fonte: Filippon Engenharia.

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Nos casos em que as conexões existentes não permitem um determinado traçado

por motivos de inviabilidade de espaço ou inexistência de peças, o software gera um aviso

(Figura 4.7) que, por vezes, quando há risco de perda de elementos já existentes, sugere

ao projetista o cancelamento do comando.

Figura 4.7. Notificações de erros de modelagem. Fonte: Filippon Engenharia.

4.1.2.4. Documentação

Para a fase de documentação, que normalmente segue padrões normativos e

padrões particulares da empresa, o arquivo aberto a partir do template da empresa já se

encontra configurado para gerar uma documentação dentro dos padrões. Os elementos

conhecidos como “tags”, que geram as anotações com informações dos elementos, são

configurados para ler automaticamente as informações e representá-las conforme os

padrões da NBR 10067 - Princípios Gerais de Representação em Desenho Técnico. Isso

torna bastante rápido e assertivo o processo de anotação do projeto, pois as informações,

como material do elemento, inclinação, diâmetro ou dimensões, numeração de colunas,

entre outros, já constam nas propriedades dos elementos e são apenas lidas e

representadas pelas tags, o que gera anotações com informação confiável. O template

também disponibiliza as folhas para a geração de pranchas, com o selo padrão utilizado

pela Filippon Engenharia. O selo também é pré-configurado para apresentar as

informações de forma automática, como nome do projeto, escala, revisão em número e

data.

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4.2. Aplicações específicas do BIM ao projeto Multifamiliar 4.2.1. Informações Gerais e técnicas do projeto

O projeto Residencial Multifamiliar selecionado para o estudo é o Edifício Império

(Figura 4.8), executado na cidade de Porto Alegre e concebido pela incorporadora

DIB&DIB, de Porto Alegre, RS. Trata-se de um edifício com 6214,66 m² de área total,

construído em concreto armado, alvenaria convencional e alvenaria estrutural. Conta com

18 pavimentos sendo 1 cobertura, 14 pavimentos tipo com 1 apartamento por pavimento,

1 térreo e 2 subsolos. O edifício conta com 56 dormitórios, portanto, a população estimada

para efeitos de cálculos de dimensionamento é de 112 pessoas, seguindo a

proporcionalidade de 2 pessoas por dormitório.

Figura 4.8. Vista tridimensional do projeto arquitetônico do Edifício Multifamiliar. Fonte: Filippon

Engenharia.

A elaboração dos projetos para esta edificação iniciou como um estudo de

viabilidade para a utilização o BIM como plataforma de projeto. Para isso, foi

desenvolvido apenas o projeto da Guarita do prédio, através do qual os projetistas

buscaram demonstrar os benefícios da tecnologia para o cliente em questão. Através deste

estudo inicial, concluiu-se que há eficácia do BIM, e o projeto passou a ser desenvolvido

por completo. A contratação deste projeto envolveu os sistemas hidrossanitários descritos

no próximo item. Todos estes sistemas foram modelados em plataforma BIM,

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dimensionados através de planilhas de cálculos e projetados conforme normas da ABNT

e leis municipais vigentes.

4.2.2. Alimentação e distribuição de água potável

O consumo de água potável estimado para esta edificação é de 22.400 Litros/dia,

considerando-se um consumo de 200 Litros/dia por morador. Para alimentar o prédio,

foram utilizados 2 reservatórios de 10.000 Litros cada, em fibra de vidro, situados no 2º

subsolo. Estes alimentam, através de bombas de recalque, 2 reservatórios de 12.000 litros

de capacidade cada, localizados na cobertura, onde 4.800 litros de cada são destinados ao

combate a incêndio, que totaliza um volume de 9.600 litros. A Figura 4.9 apresenta uma

vista geral do sistema de distribuição de água fria e quente do prédio.

Figura 4.9. Vista 3D do sistema de distribuição de água fria e quente. Fonte: Filippon Engenharia.

A ligação à rede pública utilizada foi um ramal em tubo PEAD Ø25mm, conforme

os padrões do DMAE, e a partir deste ponto a tubulação é em PVC Soldável. A

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alimentação dos reservatórios inferiores tem diâmetro de Ø32mm. O recalque para os

reservatórios superiores (Figura 4.10) adotou tubulação de sucção de Ø32mm e um

conjunto de 2 motobombas com vazão de 2,88m³/h, altura manométrica de 65 m.c.a. e

potência do motor de 2CV, com comando por chaves de boia localizadas nos reservatórios

superiores.

Figura 4.10. Detalhe dos reservatórios superiores. Fonte: Filippon Engenharia.

A distribuição geral do prédio é dada por colunas em PVC classe 15 que derivam

do barrilete, de diâmetro Ø60mm e conta com pressurizador no 15º pavimento, atendendo

aos 2 últimos pavimentos. A medição de consumo é individualizada para cada

apartamento, que conta com hidrômetro de Ø3/4”. A distribuição interna dos

apartamentos utilizou tubulação PEX Multicamada.

Todos os dimensionamentos para o sistema de água fria foram feitos conforme a

norma da ABNT, NBR-5626, e leis municipais regidas pelo Decreto Nº 9369/88 (Código

de Instalações Prediais de Água e Esgoto, do Departamento Municipal de Agua e Esgoto

- DMAE). Para o dimensionamento foram utilizadas planilhas eletrônicas de cálculo.

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4.2.3. Sistema de Água Quente

O aquecimento de água do edifício é feito de forma individualizada para cada

apartamento, de modo que há um aquecedor por apartamento por andar. Cada economia

conta com um aquecedor de acumulação a gás (Figura 4.11), com capacidade de 250

litros. O dimensionamento da distribuição de água quente, feito através de planilhas de

cálculo baseadas na norma da ABNT, NBR-7198, incluiu a alimentação de lavatórios,

chuveiros, duchas higiênicas, bidês, tanques e pias de cozinha. Para impedir a que a água,

ao não ser utilizada fique parada na tubulação e, portanto, perca calor para as tubulações,

o sistema foi projetado com retorno para circulação. A distribuição de água quente para

consumo é feita em tubos de PEX Multicamadas.

Figura 4.11. Aquecedor de água por acumulação. Fonte: Filippon Engenharia.

4.2.4. Sistema de Esgotamento de Águas Pluviais

O sistema pluvial deste projeto foi desenvolvido prevendo Bacia de

Amortecimento (Figura 4.12), exigida por lei municipal de Porto Alegre (Decreto

Nº15371/06) para terrenos com mais de 600m² (exceto para edificações unifamiliares),

de modo que a vazão de saída para a rede pública não deve exceder 20,8 l/s por hectare.

Desta forma, foi previsto neste projeto, conforme dimensionamento considerando a área

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total impermeável da edificação, uma bacia de amortecimento com capacidade de 25,06

m³, onde a área impermeável total considerada é de 1.197m².

Parte do escoamento pluvial da edificação é levado até um poço pluvial (Figura

4.13), que fica abaixo do nível da rede pública. Neste caso, a água recebida pelo poço é

recalcada através de um sistema de bombeamento, de modo a conduzir as águas pluviais

para a rede pública dentro da vazão preconizada pela lei municipal. Todos os dispositivos

de captação, como calhas, ralos e tubulações, foram dimensionados através de planilhas

eletrônicas de cálculo, de acordo com a norma da ABNT, NBR-10844, e com as leis

vigentes do Departamento de Esgotos Pluviai (DEP).

Figura 4.12. Detalhe da Bacia de Detenção de água da chuva. Fonte: Filippon Engenharia.

Figura 4.13. Detalhe do poço pluvial. Fonte: Filippon Engenharia.

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4.2.5. Sistema de Esgotamento Sanitário

O sistema de esgoto sanitário (Figura 4.14.) da edificação foi projetado com

tubulação de PVC Mineralizado, material utilizado visando reduzir ruídos originados pelo

escoamento do esgoto, e dimensionado pelo método das Unidades Hunter de

Contribuição, através de planilhas de cálculos em conformidade com a norma da ABNT,

NBR-8160, e as leis do DMAE. O sistema promove o esgotamento de águas servidas

originária de vasos sanitários, bidês, pias de cozinha, águas servidas de lavatórios,

chuveiros, tanques, máquinas de lavar roupa e máquinas de lavar louça. As caixas

sifonadas que recebem as águas servidas de equipamentos como lavatórios, tanques e

ralos lineares utilizados para os chuveiros, também são de PVC Mineralizado (silencioso)

e contam com sistema de amortecimento acústico.

Figura 4.14. Vista geral sistema de esgoto sanitário. Fonte: Filippon Engenharia.

Os rejeitos com presença de substâncias gordurosas são conduzidos por tubos de

queda exclusivos até a caixa de gordura especial, localizada no pavimento térreo com

capacidade de 384 litros. O esgoto cloacal levado até o térreo por tubos de queda, passa

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por caixas de inspeção de concreto (60x60cm) e é conduzido para o coletor público

cloacal por uma tubulação de Ø200mm enterrado sob o piso do térreo.

4.2.6. Fluxo entre diferentes projetos

Este projeto foi caracterizado por um fluxo de projetos bem próximo do ideal, isto

é, a partir do projeto arquitetônico, os demais foram desenvolvidos de forma conjunta e

cronologicamente equalizados. O compartilhamento de informações deu-se de forma

objetiva, de modo que, além das trocas de informações via internet, ocorreram reuniões

esporádicas entre todos os projetistas envolvidos, registrando em ata as questões

discutidas e as tarefas designadas, visando uma boa integração entre os projetos. O

ambiente colaborativo utilizado pelos projetistas foi o compartilhamento em nuvem,

possibilitando o acesso de todos os membros aos arquivos atualizados de todas as

diferentes áreas. Este modelo de colaboração exigiu comprometimento e atenção dos

usuários em organizar, de forma clara e padronizada, as versões atualizadas de cada

projeto, além de emitir um alerta aos demais profissionais envolvidos, quando uma versão

mais recente era carregada.

4.2.7. Compatibilização

O processo de compatibilização deste projeto foi elaborado por uma empresa

especializada. Esta recebia os projetos, analisava as interferências utilizando o software

Navisworks da Autodesk e, posteriormente, gerava os relatórios de interferências aos

responsáveis. Os relatórios de compatibilização foram gerados por etapas, pré-estipuladas

em reuniões gerais e, por disciplina, como por exemplo, “Hidrossanitário x Estrutura”. A

Figura 4.15, mostra uma interferência extraída de um relatório gerado para

“Hidrossanitário x Estrutura” no pavimento térreo, na qual está sendo alertado um

desencontro entre a tubulação e o furo na laje previsto para ela. Este relatório contou com

um total de 182 interferências.

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Figura 4.15. Trecho de relatório de compatibilização. Fonte: Filippon Engenharia.

Como o projeto desta edificação prevê, em algumas partes, a presença de alvenaria

estrutural, a compatibilização foi um fator de extrema importância, já que esta técnica

exige grande precisão na previsão das instalações. A figura 4.16 ilustra um detalhe de

compatibilização, utilizado em uma análise de compatibilização do projeto hidráulico

com a modulação da alvenaria estrutural. Além da compatibilização principal, citada

anteriormente, uma pré-compatibilização é realizada pela Filippon Engenharia para cada

fase de entrega, principalmente entre projetos Hidrossanitários e Elétricos, sobre os quais

a empresa acumula as responsabilidades. Vale salientar que no próprio lançamento das

tubulações já existe um certo grau de compatibilização, já que o projetista trabalha com

os links dos demais projetos. No entanto, torna-se inviável trabalhar com todos esses links

visíveis na fase de desenvolvimento, assim, a compatibilização final por uma empresa

especializada torna-se indispensável.

4.2.8. Resultados

4.2.8.1. Entrega de projeto

O projeto foi entregue ao cliente em formas de pranchas e detalhes, além de um

modelo geral em 3D. Este modelo foi entregue em formato ".rvt", que refere-se a um

arquivo Revit. No modelo (Figura 4.17) ficam apenas os elementos referentes ao projeto

hidrossanitário em si, sem a presença dos links. Este modelo também é utilizado pela

empresa responsável pela compatibilização, e diversas revisões foram entregues após

passarem por correções originadas pelos relatórios de compatibilização, sendo a última a

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de número 24. A representação em prancha foi composta por 35 pranchas, entre Plantas

Baixas, Esquemas Verticais e Detalhes.

Figura 4.17. Modelo tridimensional de Instalações Hidrossanitárias. Fonte: Filippon Engenharia.

O projeto ainda prevê a elaboração de Listas de Materiais que, pelo fato de o

projeto encontrar-se em andamento na ocasião desta defesa, ainda não foram

completamente entregues. Estas listas podem ser geradas agrupadas de diversas formas,

dependendo da forma como o cliente deseja efetuar a aquisição dos materiais. Neste caso,

os materiais foram divididos por fase de projeto (Figura 4.X), que foram estabelecidas

pelo cliente conforme suas demandas de obra.

Figura 4.18. Quantitativo de materiais relativo a etapa de execução. Fonte: Filippon Engenharia

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4.2.8.2. Observações finais

O projeto foi classificado pelos profissionais envolvidos como uma experiência

bastante positiva em relação à aplicação do BIM. Em fase de ajustes finais, o projeto que

iniciou no final de 2015, como estudo de viabilidade, será entregue totalmente finalizado

em um prazo de quase 3 anos, o que aparentemente representa muito tempo para um

mercado acostumado com prazos menores. No entanto, segundo a arquiteta Bruna Milán

Gonçalves, do Departamento de Engenharia e Projetos da Construtora DIB&DIB, a

previsão para a execução da obra é de que as atividades correrão de uma maneira mais

fluida e sem muitos contratempos devido a erros de projeto, já que a obra foi intensamente

estudada e os problemas, funcionais ou de compatibilização, foram corrigidos ainda na

fase de projetos. Mensurar a economia de tempo devido a utilização do BIM, segundo a

arquiteta, é muito difícil, mesmo após a conclusão da obra. Contudo, a expectativa é de

uma obra fiel ao cronograma previsto para a mesma, com qualidade construtiva e sem

imprevistos por erros graves de projeto.

Pode-se dizer que isto só ocorreu de forma realmente efetiva, pelo fato de que as

empresas de projeto envolvidas e, principalmente a cliente DIB&DIB, aderiram por

completo à metodologia BIM. Segundo Fábio Sato, engenheiro e gerente BIM da Filippon

Engenharia, este é o melhor exemplo BIM com o qual a empresa já trabalhou, pois o

tempo de projeto foi respeitado e valorizado e todos os projetistas atuaram visando a obra

como produto final. Nota-se a conformidade deste projeto com a curva de MacLeamy

(Esforço vs. Custo no tempo), já que o tempo investido foi maior na fase de projeto e,

consequentemente, será relativamente menor na fase de execução da obra.

O projeto hidrossanitário foi um dos que mais apresentou revisões, assim como

normalmente ocorre na maioria dos casos. Um dos fatores negativos relatado pelos

projetistas foi que o andamento do projeto, muitas vezes, é prejudicado por problemas em

famílias utilizadas. Os problemas ocorrem principalmente na modelagem das tubulações

de esgoto, que possuem declividade; alguns destes problemas foram perda da declividade

em algumas tubulações, perda de conexões, dificuldade em realizar traçados, etc. Isto

acabou gerando alguns retrabalhos e retardando a produção da empresa. Porém, ao

surgirem estes entraves, cresceu a atuação dos gerentes BIM da empresa, buscando

solucioná-los e aperfeiçoar as famílias para um melhor andamento do trabalho.

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5. CONCLUSÃO

O estudo demonstrou a ferramenta BIM como uma excelente evolução na forma

de produzir projetos de engenharia na construção civil. Experimentalmente, sabe-se que

são inúmeros os problemas construtivos originados por inconsistências de projeto e estes,

muitas vezes, são solucionados de forma tecnicamente inviável e originam patologias

após algum tempo de uso e prejuízos para os futuros usuários.

Dentro deste estudo, um dos principais fatores observados foi que o projeto

hidrossanitário desenvolvido em BIM possibilitou e exigiu maior atenção às questões

técnicas do projeto, e menor atenção às questões gráficas. O resultado desta distribuição

cronológica evidenciou uma maior demora na elaboração do projeto, já que o mesmo

contou com diversas modificações embasadas em análises de viabilidade técnica e de

compatibilização. Como consequência disto, o projeto ganhou muito em termos

qualitativos, apresentando soluções assertivas e executáveis.

Um ponto a ser salientado é o excelente fluxo de projeto, observado especialmente

no projeto analisado neste estudo. A colaboração entre os profissionais envolvidos foi um

ponto decisivo para que a aplicação do BIM apresentasse efetividade. Como a elaboração

do projeto e as alterações devem ser feitas com grande embasamento técnico e cada

projeto serve como base para o outro, é extremamente importante que todos eles estejam

em sintonia, as versões atualizadas e que, a cada correção, todos sejam devidamente

notificados. Por parte da empresa incorporadora, são essenciais o respeito e a valorização

ao projeto e o tempo exigido pelo mesmo.

As instalações hidrossanitárias compõem uma parte das obras que normalmente

enfrenta diversos problemas, principalmente em relação aos sistemas de esgotamento

sanitário e pluvial. Estes sistemas requerem tubulações de diâmetros maiores, que variam

de 40mm até 200mm, e declividade favorecendo o fluxo do esgoto, que normalmente

situa-se entre 0,5% e 2%. Estes são os principais fatores que tornam a execução das

instalações hidrossanitárias, pouco flexíveis e, consequentemente, tornam-se um

importante foco de problemas em obras. A utilização do BIM para este tipo de projeto,

mostrou-se efetiva neste ponto pois, problemas como estes, puderam ser vistos com

clareza na fase de projeto, possibilitando um estudo técnico mais elaborado e soluções,

que ficam a cargo do projetista, sem grandes custos de operação.

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Buscando evitar erros de interpretação de projeto, as pranchas foram entregues

com uma vasta gama de detalhamentos e vistas em diferentes perspectivas, o que

proporciona a representação clara e robusta das informações. Com a redução dos

problemas de projeto e, consequentemente, os de obra, reduzem também os a presença de

patologias futuras nas edificações, como vazamentos, infiltrações, mal funcionamento ou

entupimento de tubulações, estes que, muitas vezes, advêm de improvisações da obra que

comprometem o funcionamento do sistema.

Apesar de ser uma técnica já bastante conhecida, a utilização do BIM ainda não se

encontra plenamente difundida e está em fase de adaptação para a maioria dos que já a

utilizam. O presente estudo proporcionou um contato com outros casos de projetos

hidrossanitários utilizando o BIM, além deste apresentado neste trabalho. Em alguns

deles, observou-se que muitas construtoras contratam projetos em BIM, entusiasmados

com os benefícios apresentados e, posteriormente, adotam técnicas incompatíveis com

diretrizes básicas da implementação BIM. Uma delas é iniciar a obra antes da conclusão

dos projetos, precipitando a entrega, reduzindo o tempo dedicado ao projeto e,

consequentemente, a qualidade do mesmo. Outro problema observado em alguns casos é

que, quando os projetistas visam como produto, apenas a entrega do seu respectivo

projeto, sem valorizar a qualidade final da obra, a colaboração é extremamente afetada e

isto, muitas vezes, é agravado por questões contratuais.

Com relação às ferramentas BIM observadas neste estudo, conclui-se que o acervo

ainda é bastante limitado e encontra-se em evolução, principalmente na área de

instalações prediais. Observou-se que o software Autodesk Revit MEP, utilizado pela

empresa, apresenta inúmeras dificuldades para a modelagem de projetos hidrossanitários,

apesar de funcionar de forma excelente em termos de armazenamento de informação.

Segundo o BIM Manager da Filippon Engenharia, Fábio Sato, a disponibilidade de

softwares BIM voltadas para esta área ainda é pequena e, apesar de o Autodesk Revit

MEP apresentar vários entraves de modelagem, ainda é a opção mais utilizada e

provavelmente a melhor disponível no mercado.

Um fator bastante relevante observado é que, diferente da plataforma CAD, o BIM

exige um processo organizacional muito maior e torna-se extremamente importante a

assessoria técnica de um gerente BIM, para que o processo funcione de forma efetiva.

Durante o desenvolvimento dos projetos, diversos entraves e dúvidas com relação às

ferramentas foram relatados diariamente pelos projetistas. Com a presença dos gerentes

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BIM, estes entraves puderam ser resolvidos de forma rápida e sistêmica, de modo que

não viessem a se repetir, ou ainda, tornassem o projetista apto a resolver, futuramente,

eventuais problemas originados por motivos semelhantes. A estrutura computacional

também é muito mais exigida pelo BIM. Por armazenarem grandes quantidades de

informação, os projetos normalmente geram arquivos de trabalho extremamente pesados

que exigem máquinas de alto padrão para suportar a manipulação destes arquivos.

Apesar das dificuldades observadas na implementação do BIM no mercado da

construção civil e, mais especificamente, na elaboração de projetos de instalações

hidrossanitárias, conclui-se que esta ferramenta está em crescente desenvolvimento. É

notório que a adesão a esta tecnologia só aumenta, visto que os profissionais que aderem

ao BIM, de forma quase unânime, descartam a possibilidade de retrocederem para o

sistema tradicional, e buscam alternativas para contribuir com o desenvolvimento do

mesmo.

Alavancado por medidas governamentais que vêm sendo elaboradas em alguns

estados brasileiros e no âmbito federal, o BIM deve inserir-se gradualmente nas obras

públicas, favorecendo ainda mais a consagração desta união entre tecnologia e realidade,

como uma forma revolucionária de projetar, construir e manter nossas futuras

construções.

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