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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS RESISTÊNCIA DE LINHAS DE SOLDA EM MOLDADOS POR INJEÇÃO DE COMPÓSITOS DE POLIPROPILENO COM FIBRA DE VIDRO, TALCO E REFORÇO HÍBRIDO DE FIBRA DE VIDRO / TALCO Carolina Lipparelli Morelli São Carlos 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E

ENGENHARIA DE MATERIAIS

RESISTÊNCIA DE LINHAS DE SOLDA EM MOLDADOS POR INJEÇÃO DE COMPÓSITOS DE POLIPROPILENO COM FIBRA DE VIDRO, TALCO E REFORÇO HÍBRIDO DE FIBRA DE VIDRO / TALCO

Carolina Lipparelli Morelli

São Carlos 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E

ENGENHARIA DE MATERIAIS

RESISTÊNCIA DE LINHAS DE SOLDA EM MOLDADOS POR INJEÇÃO DE COMPÓSITOS DE POLIPROPILENO COM REFORÇO DE FIBRA DE VIDRO, TALCO E REFORÇO HÍBRIDO DE FIBRA DE VIDRO / TALCO

Carolina Lipparelli Morelli

Dissertação apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Ciência

e Engenharia de Materiais como requisito

parcial à obtenção do título de MESTRE

EM ENGENHARIA DE MATERIAIS

Orientador: Prof. Dr. José Alexandrino de Sousa

Co-orientador: Prof. Dr. António Sérgio Pouzada

Agência Financiadora: CNPq

São Carlos 2006

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Dedicatória Aos meus pais, que tanto influenciaram o caminho trilhado até aqui, por

me instruírem, investirem na minha educação e me ensinarem valores e

determinação na vida.

VITAE DO CANDIDATO

Engenheira de Materiais pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar (2004).

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MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

DE:

CAROLINA LIPPARELLI MORELLI

APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS E

ENGENHARIA DE MATERIAIS, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO

CARLOS, EM 11 DE AGOSTO DE 2006.

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. José Alexandrino de Sousa

Orientador

DEMA - UFSCar

Profa Dra Rosário Elida Suman Bretas

DEMA - UFSCar

Prof. Dr. Carlos Alberto Corrêa

Universidade São Francisco

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Agradecimentos

Ao meu orientador Prof. Dr. José Alexandrino de Sousa pelos incontáveis

ensinamentos, o incansável apoio todo o tempo e a confiança em mim depositada.

Ao meu co-orientador Prof. Dr. António Sérgio Pouzada, por me receber, apoiar e

ajudar em meu período na Universidade do Minho e no que se seguiu.

A todos do DEMa que me auxiliaram no decorrer do trabalho, como Mário,

Cybele, Amauri, Michelle, Robinson, Ricardo, Edson, Prof. Alberto, Militão, Helena,

Alessandra, Walter; entre outros.

A todos da Universidade do Minho que tanto me foram prestativos em minha

estadia por lá, como Profa. Jovita, Prof. Pontes, Maurício, Sampaio, João Paulo, Manuel,

Patrícia, Cristina, Cibeli, entre outros.

Enfim, a todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a

conclusão deste trabalho, sem as quais tudo seria mais difícil. Obrigada!

Ao CNPQ, pela bolsa concedida.

Às empresas que disponibilizaram materiais utilizados no presente projeto de Mestrado:

Magnesita, Vetrotex, Braskem e Borealis.

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Resumo

A presença de linhas de solda (LS) em moldados por injeção de termoplásticos

reforçados contribui para redução nas propriedades mecânicas, devido à baixa coesão

molecular e à orientação desfavorável do reforço no plano fraco da LS. Fibras de vidro

(FV) fornecem alta eficiência de reforçamento porém, devido a sua alta razão de

aspecto, geram elevada anisotropia e aumentam o efeito depreciativo da LS nas

propriedades mecânicas. O talco, carga mineral lamelar, apesar de não ser tão efetivo no

incremento da resistência e rigidez de polímeros, fornece reduzida anisotropia ao

moldado, atenuando a depreciação da LS nas propriedades mecânicas. No presente

trabalho procurou-se investigar o comportamento resultante da combinação desses dois

tipos de reforços em moldados com LS; uma vez que existe pouca bibliografia sobre

esse assunto. A hibridização de FV e talco em matriz de copolímero de propileno

(PPcop) mostrou-se positiva na presença de LS, devido à sinergia ocorrida entre os

reforços empregados, que levou ao incremento da rigidez e da resistência à tração em

comparação aos compósitos com um único tipo de reforço. As propriedades de tração e

flexão em corpos de prova sem LS foram intermediárias às dos compósitos com apenas

talco ou FV, apresentando, contudo, um comportamento superior ao que seria esperado

com a simples regra de misturas. A qualidade da LS formada é também governada pela

geometria da peça e pelas condições de injeção utilizadas, que influenciam a coesão

molecular na LS, a cristalinidade da matriz e a orientação dos reforços, entre outros

aspectos. Assim, foi feito também um estudo da influência da temperatura e do tempo

de injeção na resistência de LS em moldados complexos de PPcop reforçado com talco e

foi verificado que menores tempos de injeção levaram ao aumento da resistência da LS

sob impacto-tracional, especialmente quando empregados em temperaturas de injeção

inferiores.

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WELD LINE STRENGTH IN POLYPROPYLENE INJECTION

MOULDINGS WITH GLASS FIBER, TALC AND HYBRID

REINFORCEMENT OF GLASS-FIBER / TALC

Abstract

Weld lines (WL) in injection mouldings of reinforced thermoplastics contribute to

the mechanical properties reduction, as a result of the low molecular cohesion and the

unfavourable reinforcement orientation in the weak plane of the weld line. Glass-fibers

(GF) induce high reinforcement efficiency, but, in consequence of its high aspect ratio,

generate big anisotropy and enhance the depreciative effect of the WL in the mechanical

properties. A lamellar mineral filler as talc provides small anisotropy to the mouldings

and attenuates the depreciative WL effect on the mechanical properties, although

supplies a not so significant increment on the strength and modulus of the composites.

The present work investigated the resultant behaviour of the combination of these two

kinds of reinforcements in mouldings with WL; once there is little bibliography around

the theme. The hybridization of GF and talc in the matrix of propylene copolymer

(PPcop) was shown to be beneficial in the presence of WL and promoted a synergistic

effect of the reinforcements on the mechanical properties, resulting in the increment of

modulus and tensile strength. The tensile and flexural properties of bodies without WL

were intermediate to the properties of the composites with a single reinforcement and

superior to the properties expected with the rule of additivity. The quality of the WL is

also governed by the sample geometry and the injection conditions applied, that affect

the molecular cohesion in the WL region, the matrix crystallinity and the reinforcement

orientation. Thus, it was studied also the influence of the injection temperature and time

on the WL strength of PPcop / talc complex mouldings and was verified that smaller

injection times led to an increase in the WL strength under tensile-impact test,

especially when lower injection temperatures were used.

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PUBLICAÇÕES

- MORELLI, C.L.; POUZADA, A.S.; SOUSA, J.A. Influence of hybridization of

glass-fiber and talc on the mechanical performance of polypropylene

composites. In: ANNUAL TECHNICAL CONFERENCE (ANTEC), Charlotte,

North Carolina, EUA, 2006. Anais…, 2006. CD-ROM.

- MORELLI, C.L.; POUZADA, A.S.; SOUSA, J.A. Assessment of the weld line

performance of PP/talc mouldings produced in hot runner injection moulds. In:

ANNUAL TECHNICAL CONFERENCE (ANTEC), Charlotte, North Carolina,

EUA, 2006. Anais…, 2006. CD-ROM.

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SUMÁRIO Pág.

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BANCA EXAMINADORA ...................................................................................................

AGRADECIMENTOS .........................................................................................................

RESUMO ...........................................................................................................................

ABSTRACT ........................................................................................................................

PUBLICAÇÕES …………………………………….. ............................................................

SUMÁRIO ..........................................................................................................................

ÍNDICE DE TABELAS ........................................................................................................

ÍNDICE DE FIGURAS .......................................................................................................

1 INTRODUÇÃO…….........................................................................................................

2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS.........................................................................................

2.1 Compósitos Poliméricos...............................................................................................

2.2 A Matriz Polimérica: Copolímero de Propileno.............................................................

2.3 A Carga Mineral: Talco.................................................................................................

2.4 O Reforço Fibroso: Fibra de Vidro................................................................................

2.5 Interface........................................................................................................................

2.6 Fluxo e Orientação na Moldagem por Injeção………………………..............................

2.7 Microestrutura “pele-núcleo”………………………………………………………………...

2.8 Influência dos Parâmetros de Injeção na Morfologia dos Moldados……………………

2.9 Linhas de Solda……………………………………………………………………………....

2.10 Propriedades Mecânicas de Compósitos Poliméricos................................................

2.10.1 Módulo Elástico........................................................................................................

2.10.1.1 Empacotamento de Partículas..............................................................................

2.10.2 Comportamento de Resistência………....................................................................

2.10.3 Comportamento Deformacional…………………......................................................

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................................

4 MATERIAIS E MÉTODOS…………................................................................................

4.1 Materiais…………….....................................................................................................

4.2 Métodos………………...................................................................................................

4.2.1 Caracterização das matérias-primas..........................................................................

4.2.1.1 Determinação do Tamanho e Distribuição de Tamanhos das lamelas dos Talcos..

4.2.1.2 Determinação da Área Superficial Específica.........................................................

4.2.1.3 Determinação das Densidades dos Materiais Utilizados........................................

4.2.1.4 Razão de Aspecto..................................................................................................

4.2.1.5 Determinação do Comprimento e Distribuição de Comprimentos da Fibra de

Vidro………………………………………………………………………………………………..

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4.2.2 Preparação das Composições...................................................................................

4.2.3 Injeção dos corpos de prova ASTM...........................................................................

4.2.4 Determinação da Concentração de Reforço.............................................................

4.2.5 Microscopia Eletrônica de Varredura em gravatas de Tração...................................

4.2.6 Ensaio de Tração.......................................................................................................

4.2.7 Ensaio de Flexão……………………………………………………………………………

4.2.8 Ensaio de Impacto Izod…………………………………………………………………….

4.2.9 Calorimetria Diferencial de Varredura........................................................................

4.2.10 Estudo em Caixas Retangulares com Linha de Solda………………………………..

4.4.10.1 Caracterização dos materiais para análise em Moldflow…………………………..

4.2.10.2 Simulação da Injeção em Moldflow……………………………………………………

4.2.10.3 Moldagem por Injeção…………………………………………………………………..

4.2.10.4 Obtenção das amostras para Impacto-Tracional…………………………………….

4.2.10.5 Análise por Microscopia………………………………………………………………..

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO………………………………………….............................

5.1 Densidades dos Reforços e Matriz Polimérica Empregados……………………………

5.2 Concentração dos Reforços………………………………………………………………..

5.3 Caracterização de Tamanho, Área Superficial e Razão de Aspecto dos Talcos……..

5.3.1 Método de Análise por Sedimentação Simples: Distribuição de Tamanhos de

Partículas……………………………………………………………………………………………

5.3.2 Determinação da Área Superficial dos Talcos por BET………………………………..

5.3.3 Tamanho, Espessura e Distribuição das Lamelas dos Talcos: Método por Análise

de Fotomicrografias……………………………………………………………………………….

5.3.4 Razão de Aspecto………………………………………………….…………….…………

5.4 Determinação do Comprimento e Distribuição de Comprimentos da Fibra de Vidro…

5.5 Microscopia Eletrônica de Varredura das Gravatas de Tração ASTM – Orientação e

LS.. …………….…………….…………….…………….…………….…………….…………….

5.6 Análise Térmica Calorimétrica (DSC)………………………………………………………

5.7 Propriedades Mecânicas em Tração …………………….…………….…………………..

5.8 Propriedades Mecânicas em Flexão………………………………………………………..

5.9 Resistência ao Impacto Izod…………………………………………………………………

5.10 Resultados obtidos em Peças Complexas (caixas retangulares)………………..

5.10.1 Caracterização Reológica e tratamento para análise em Moldflow…………………

5.10.2 Simulação em Moldflow de estudos prévios…………………………………………..

5.10.3 Injeção em Molde de canais quentes……………………………………………….….

5.10.4 Microscopia Óptica de Luz Polarizada ………………………………………………..

5.10.5 Microscopia Eletrônica de Varredura……………………………………………….....

5.10.6 Microdureza………………………………………………………………………………. 169

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5.10.7 Impacto-Tracional………………………………………………………………………..

6 CONCLUSÕES…………………………………………………………………………………

7 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS…………………………………………….

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................

APÊNDICE A………………………………………………………………………………………

APÊNDICE B………………………………………………………………………………………

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ÍNDICE DE TABELAS

Pág.

Tabela 2.1 – Formas e razões de aspecto dos principais tipos de reforços/cargas

utilizados em compósitos poliméricos………………………………………………………......... 5

Tabela 2.2 – Composição química aproximada da fibra de vidro do tipo E…….................... 15

Tabela 2.3 – Fração de empacotamento máximo de algumas cargas………………………. 41

Tabela 2.4 – Resultados de empacotamento encontrados por Milewski…………………. 42

Tabela 3.1 – Espessuras da camada pele encontradas para os diferentes grades

comerciais de PP moldados por injeção sem (α-PP) e com nucleante da fase β (β-PP) 56

Tabela 4.1 – Propriedades físicas da FV tipo E fornecida pela Vetrotex…………………….. 84

Tabela 4.2 – Composições extrudadas…………………………………………………………... 91

Tabela 4.3 Condições de extrusão utilizadas…………………………………………………… 94

Tabela 4.4 – Condições de injeção utilizadas…………………………………………………… 96

Tabela 4.5 – Simulações feitas em Moldflow com combinações de variáveis de injeção….. 105

Tabela 4.6 – Condições de injeção utilizadas para moldagem das caixas…………………... 107

Tabela 5.1 – Densidades dos reforços utilizados nos compósitos de PPcop…………………. 111

Tabela 5.2 – Percentual em massa e em volume dos reforços nos compósitos de PPcop

estudados……………………………………………………………………………………………. 112

Tabela 5.3 - Diâmetros esféricos equivalentes dos dois tipos de talcos utilizados………….. 114

Tabela 5.4 – Valores da área superficial específica dos talcos utilizados……………………. 115

Tabela 5.5 – Maior dimensão das lamelas de talco obtida por microscopia, comparada

aos valores de diâmetro médio obtidos por sedigrafia…………………………………………. 116

Tabela 5.6 – Média das espessuras dos talcos, medidas em compósitos (μm)…………… 118

Tabela 5.7 – Razão de aspecto dos talcos e de FV (μm) dos diversos compósitos de

PPcop utilizados……………………………………………………………………………………… 119

Tabela 5.8 – Dados obtidos por análise em DSC para PPcop e compósitos de PPcop

reforçados com FV e/ou talco…………………………………………………………………….. 129

Tabela 5.9 – Fator de depreciação de linha de solda (FLS) na resistência à tração e no

módulo de compósitos de PPcop. 141

Tabela 5.10 – Parâmetros ajustados do Modelo Cross-WLF (equações 4.19 e 4.20) e

inseridos no programa Moldflow para simulação de injeção………………………………….. 155

Tabela 5.11 – Resultados de simulações feitas em Moldflow…………………………………. 157

Tabela 5.12 – Temperatura da massa Tb e tempo de congelamento tf………………………. 162

Tabela 5.13 – Dados de Resistência ao Impacto obtidos para a amostra wc……………….. 175

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ÍNDICE DE FIGURAS

Pág.

Figura 2.1 – Estrutura molecular do copolímero de propileno………………………………. 10

Figura 2.2 – (a) estrutura cristalina do talco, (b) plano idealizado das folhas de sílica…… 11

Figura 2.3 – Estrutura amorfa do vidro – rede estrutural de um vidro de

sílica………………………………………………………………………………………………... 15

Figura 2.4 – Principais fatores que afetam a resistência mecânica dos compósitos de

termoplásticos reforçados com fibras de vidro curtas………………………………………… 15

Figura 2.5 – Equilíbrio das forças em sistema consistindo de uma gota sobre substrato

sólido………………………………………………………………………………………………. 19

Figura 2.6 – Efeitos de diferentes tipos de fluxos sobre a orientação molecular e de

reforços anisotrópicos……………………………………………………………………………. 21

Figura 2.7 – Escoamento de material fundido através de uma cavidade retangular com

entrada lateral…………………………………………………………………………………….. 23

Figura 2.8 – Modelo de orientação molecular na frente de fluxo avançando entre paredes

paralelas frias……………………………………………………………………………………… 23

Figura 2.9 – Componente do tensor orientação das partículas ou fibras ao longo da

espessura do moldado…………………………………………………………………………… 24

Figura 2.10 – Empenamento da peça injetada devido orientação

diferencial………………………………………………………………………………………...... 25

Figura 2.11 – Representação esquemática do perfil de orientação de reforços fibrosos ao

longo da espessura do moldado por injeção, no corte paralelo à espessura…………….... 26

Figura 2.12 – Estrutura shish-kebab……………….…………………………………………… 27

Figura 2.13 – Formação de LS de encontro frontal conseqüente de fluxo polimérico

advindo de duas entradas opostas…………………..…………………………………………. 30

Figura 2.14 – Posição das frentes de fluxo em diferentes frações do tempo de

preenchimento……………………………………………………………………………………. 30

Figura 2.15 – Formação de LS de encontro lateral, devido à recombinação de fluxos

divididos por obstáculos…………………………………………………………………………. 31

Figura 2.16 – Jato direto do fundido para dentro da cavidade do molde…………………… 32

Figura 2.17 – Orientação das fibras no plano da linha de solda, perpendiculares à direção

de fluxo preferencial………………………………………………………………………………... 35

Figura 2.18 – a) modelo em “paralelo” com tensão aplicada na direção longitudinal, b)

modelo em “série” com tensão aplicada na direção transversal…………………………….. 37

Figura 2.19 – Módulos elásticos longitudinal EL (modelo em paralelo) e transversal ET

(modelo em série) de compósito unidirecional segundo equações de Takayanagi, em 38

24

função da concentração em volume de fibras (φfibras)………………………………………..

Figura 2.20 – Curvas típicas de resistência à tração relativa versus concentração da

carga, mostrando os limites superior e inferior……………………………………………… 43

Figura 2.21 – Equilíbrio de forças de um comprimento infinitesimal de uma fibra

descontínua alinhada paralelamente à carga aplicada…………………………………….. 45

Figura 2.22 – Variação da tensão de tração no reforço com diferentes razões de aspecto 46

Figura 2.23 – Distribuição de tensão de tração no reforço e tensão de cisalhamento

interfacial………………………………………………………………………………………….. 47

Figura 2.24 – Curvas teóricas para a deformação relativa na ruptura de polímeros

carregados em função da concentração de carga, para a condição de adesão perfeita e

sem adesão……………………………………………………………………………………….. 49

Figura 3.1 – Micrografias (a) do copolímero heterofásico de propileno e (b) da blenda

mecânica de PP com EPR………………………………………………………………...…….. 52

Figura 3.2 – Curva de DSC do copolímero de propileno heterofásico; picos de

cristalização no resfriamento (a uma taxa de 10 ºC / min)…………………………………… 53

Figura 3.3 Fotomicrografias de MEV tiradas de uma superfície de fratura da amostra α-H7

moldada com vinj = 6 mm/s e rompida em ensaio de impacto-tracional: a) superfície total

de fratura com as setas indicando a zona de cisalhamento, de início da fratura e b) região

do núcleo………………………………………………………………………………………….. 58

Figura 3.4 – (a) Influência da temperatura do molde (T molde) no módulo de (•)PP, ( )PP

com 10% de talco, (♦) PP com 20% de talco e ( )PP com 40% de talco; (b) Influência da

temperatura do molde na densidade da fase amorfa do PP com taxa de injeção de (—)

20,36 cm/ s e de (- - -) 1,68 cm/s…………………………………………………………………. 60

Figura 3.5 – Modelo esquemático das amostras microtomadas para análise em

Microscópio: (a) paralela à espessura da barra de tração – P e (b) plano perpendicular à

espessura – T……………………………………………………………………………………… 62

Figura 3.6 – (a) Micrografia Óptica da região reta de linha de solda em amostras T e (b)

esquema da linha de solda curvada com sua zona de orientação de amostras P………... 62

Figura 3.7 – (a) Esquema da cavidade do molde com inserto retangular e posições de

onde os corpos de prova de tração foram retirados; (b) Orientação da FV ao longo da

espessura da peça moldada, próxima à parede do molde (camada pele), estimada por

simulações numéricas …………………………………………………………………………… 65

Figura 3.8 – Tensão máxima das amostras de 1 a 8: (a) PBT puro, e (b) PBT com 32% wt.

de FV………………………………………………………………………………………………… 65

Figura 3.9 – Variação da tensão máxima com (a) a pressão de empacotamento e com (b)

a velocidade de injeção para duas espécies: (○) espécie 2 e (■) espécie 8; uma vez que

as demais amostras seguiram omesmo padrão de comportamento…………………………. 67

Figura 3.10 – FLS na resistência de compósitos de PP com diversos reforços (12,7% em 70

25

volume), em função do parâmetro de superfície da área equivalente (a.e.s.p.)…………...

Figura 3.11 – Perfil de orientação das fibras de vidro na direção de fluxo de

preenchimento do molde ao longo da espessura do moldado………………………………. 77

Figura 4.1 – Fluxograma da Metodologia utilizada no programa experimental……………. 86

Figura 4.2 – Perfil de rosca utilizado e local de alimentação dos materiais na preparação

dos compósitos: (a) com talco, (b) com fibra de vidro e (c) dos compósitos híbridos fibro-

particulados……………………………………………………………………………................... 93

Figura 4.3 – Aspecto dos moldados: a) com LS e b) sem LS…………………………………. 95

Figura 4.4 Planos paralelos à espessura observados em MEV em corpos de prova: (a)

sem LS e (b) com LS. ……………………………………………………………………………. 98

Figura 4.5 – (a) Fotografia da caixa injetada, mostrando a ferramenta cortante e o corpo

de prova de impacto-tracional e (b) esquema da caixa injetada, mostrando a localização

dos pontos de injeção (•), assim como as regiões de onde foram extraídos corpos de

prova para análise em impacto-tracional (wc, wm, we, wl e R)……………………………….. 108

Figura 4.6 – Máquina de impacto-tracional com o detalhe da fixação do corpo de prova

ampliado……………………………………………………………………………………………. 109

Figura 5.1 – Curvas de distribuição granulométrica obtidas por sedigrafia para os talcos

GM-10 e PMT-12000 virgens e extraídos de compósitos……………………………………… 114

Figura 5.2 – Micrografias dos talcos PMT-12000 e GM-10 com ampliação de a) 10.000 X

e b) 20.000 X, mostrando as partículas de talco……………………………………………….. 116

Figura 5.3 – Distribuição de tamanho (diâmetro) das lamelas dos talcos obtida por análise

de imagens de fotomicrografias de MEV a) GM-10 e b) PMT-12000………………………… 117

Figura 5.4 – Micrografia do compósito criofraturado de PPcop + 10% talco GM-10,

mostrando as lamelas de talco…………………………………………………………………… 118

Figura 5.5– Distribuição de espessuras dos talcos a) GM-10 e b) PMT-12000…………… 118

Figura 5.6 – Histogramas com respectivas curvas de distribuição normal representando a

influência do aumento da concentração de FV na distribuição de seus comprimentos nos

compósitos com 10%, 20%, 30% e 40% em peso de FV……………………………………… 121

Figura 5.7 Diminuição do comprimento ponderal médio da FV com o aumento da

concentração total de FV………………………………………………………………………….. 122

Figura 5.8– Histogramas com respectivas curvas de distribuição normal representando a

influência da hibridização de reforços pela substituição parcial da FV por talco na

distribuição de comprimentos de FV nos compósitos com teor total de reforço constante:

40FV, 30FV10T, 20FV20T, 10FV30T……………………………………………………………. 122

Figura 5.9 – Histogramas com respectivas curvas de distribuição normal representando a

influência da adição de talco na distribuição de comprimentos de FV nos compósitos com

teores de FV constante: 20FV, 20FV10T, 20FV20T, 20FV30T………………………………. 123

Figura 5.10– Micrografias do PPcop não reforçado……………………………………………… 124

26

Figura 5.11 – Micrografias de compósitos criofraturados exibindo a estruturação pele-

núcleo ao longo da espessura: a) Camada superficial (pele) do compósito 20GM; b)

Região central (núcleo) do compósito 20GM; c) Orientação ao longo da espessura do

compósito 30FV, mostrando toda a espessura do CP; d) Orientação ao longo da

espessura do compósito híbrido 20FV20T, mostrando toda a espessura do CP. As setas

indicam a direção do fluxo…………………………………………………………….…………… 125

Figura 5.12 – Micrografia do compósito híbrido 10FV30T……………………………………... 127

Figura 5.13 – Micrografias seqüenciais tiradas do compósito 20GM, andando

horizontalmente na peça (na superfície da espessura) e passando pela região de LS

(micrografia central). As setas indicam a direção de escoamento do fundido proveniente

de entradas opostas………………………………………………………………………………... 127

Figura 5.14 – Micrografia do compósito 40FV exibindo a região de LS de orientação

perpendicular à direção de escoamento das frentes provenientes de entradas opostas

(indicadas pelas setas)…………………………………………………………………………….. 128

Figura 5.15 – Micrografia do compósito 30FV exibindo a região de LS “curvada”…………. 128

Figura 5.16 – Grau de cristalinidade (%) da matriz de PPcop induzida pela presença dos

diferentes reforços…………………………………………………………………………………. 130

Figura 5.17 – Temperaturas de Fusão Cristalina das diferentes composições…………….. 130

Figura 5.18 – Curvas de aquecimento (vermelho), resfriamento (roxo) e re-aquecimento

(preto), feitas em intervalo de 50 a 200oC, a taxas de 10oC/min, apresentando os pico de

fusão e cristalização do PPcop……………………………………………………………………... 131

Figura 5.19 – Ampliação da curva de resfriamento do PPcop, indicando a existência de

um possível pico de cristalização de PE……………………………………………………….. 132

Figura 5.20 – Curvas tensão-deformação do PPcop não reforçado, com e sem LS………… 132

Figura 5.21 – Curvas tensão-deformação de compósitos de PPcop com talcos GM-10 e

PMT-12000, com e sem linha de solda…………………………………………………………. 133

Figura 5.22 – Curvas tensão-deformação de compósitos de PPcop com FV e com reforços

híbridos de FV e talco GM-10, com e sem linha de solda……………………………………… 134

Figura 5.23 – Resistência à tração de compósitos de PPcop em função da concentração

em volume dos reforços utilizados, em corpos de prova sem linha de solda……………….. 135

Figura 5.24 – Resistência à tração de compósitos de PPcop em função da fração mássica

relativa de fibra de vidro na concentração total de reforços, em corpos de prova sem linha

de solda……………………………………………………………………………………………… 138

Figura 5.25– RT dos compósitos de PPcop em função da concentração em volume dos

reforços utilizados, em corpos de prova com linha de solda………………………………… 139

Figura 5.26 – Fator de depreciação da linha de solda na resistência à tração dos

compósitos de PPcop com reforço “referência” de FV e de talco e reforço híbrido de 139

27

FV+talco. …………………………………………………………………………………………….

Figura 5.27 – Módulo elástico sob tração dos compósitos de PPcop em função da

concentração em volume dos reforços utilizados, em corpos de prova sem linha de solda.. 143

Figura 5.28 – Módulo Elástico de compósitos de PPcop em função da fração mássica

relativa de fibra de vidro na concentração total de reforços, em corpos de prova sem linha

de solda……………………………………………………………………………………………… 144

Figura 5.29 – Módulo elástico sob tração dos diversos compósitos de PP em função da

concentração em volume dos diferentes reforços utilizados, em corpos de prova com linha

de solda……………………………………………………………………………………………… 145

Figura 5.30 – Fator de Depreciação de Linha de Solda no módulo elástico para as

diferentes composições..………………………………………………………………………… 145

Figura 5.31 – Deformação na tensão máxima sob tração das composições estudadas em

função da concentração em volume dos reforços utilizados, em corpos de prova sem linha

de solda.. …………………………………………………………………………………………… 147

Figura 5.32 – Deformação na ruptura das composições estudadas em função da

concentração em volume dos reforços utilizados, em corpos de prova com linha de solda. 147

Figura 5.33 – Resistência à flexão de compósitos de PPcop em função da concentração

em volume dos reforços utilizados……………………………………………………………….. 148

Figura 5.34 – Módulo sob flexão de compósitos de PPcop em função da concentração em

volume dos reforços utilizados…………………………………………………………………….. 149

Figura 5.35 – Deformação sob flexão de compósitos de PPcop em função da concentração

em volume dos reforços utilizados……………………………………………………………….. 149

Figura 5.36 – Resistência ao impacto Izod com entalhe das composições estudadas em

função da concentração em volume dos reforços utilizados………………………………….. 151

Figura 5.37 – Curvas de viscosidade em função da taxa de cisalhamento em três

diferentes temperaturas de ensaio para os materiais estudados……………………………..

152

Figura 5.38 – Ajuste ao modelo de Cross dos dados experimentais de viscosidade do

PPcop em função da taxa de cisalhamento a 180oC……………………………………………. 154

Figura 5.39 – Ajuste dos dados do PPcop para obtenção dos parâmetros da equação 4.21. 154

Figura 5.40 – a) Simulação em Moldflow da forma e do tempo de preenchimento da caixa

e b) subseqüente previsão de localização da LS para a amostra de PPcop simulada na

condição 5 de injeção………………………………………………………………………………. 158

Figura 5.41 – Variação da temperatura de frente de fluxo ao longo da prevista região de

formação da linha de solda para a amostra de PPcop simulada na condição 5 de injeção.

Cada ponto marcado sobre a peça corresponde a um ponto na curva traçada, iniciando

no ponto azul na parte lateral e inferior (Y = 0) até o ponto vermelho na parte lateral e

superior (Y = 73 mm) da peça…………………………………………………………………….. 159

28

Figura 5.42 – Vetores indicando a velocidade do fundido polimérico e a provável

orientação das lamelas de talco na camada superficial da caixa (pele), simulada para a

amostra PPcop injetada na condição 5……………………………………………………………

160

Figura 5.43– a) Esquema da caixa mostrando a localização real da LS (---), os pontos de

injeção (•) e as posições analisadas ao longo da peça (wc, wm, we, wl e R); b) Foto da

caixa injetada com 30% de talco, exibindo a LS real formada………………………………… 161

Figura 5.44 – Microscopia de luz polarizada da amostra de PPcop retirada da posição wc,

injetada a 210 oC e 2s exemplificando: a) as diferentes fases da morfologia formada e b)

uma visão completa da secção transversal à espessura………………………………………. 163

Figura 5.45 – Morfologia do PPcop observada por microscópio de luz polarizada em

diferentes condições de injeção e diferentes posições: (a) 210ºC / 2s, (b) 210ºC / 1s, (c)

250ºC / 1s, (d) 250ºC / 2s…………………………………………………………………………. 164

Figura 5.46 – Superfícies de fratura de amostras com 30% de talco retiradas em

diferentes posições do corpo de prova injetado com Ti = 250ºC e ti = 2s…………………… 165

Figura 5.47 – Superfície de fratura da amostra com 30% de talco retirada da posição wc

do corpo de prova injetado com Ti = 250ºC e ti = 2s, mostrando a superfície lisa da região

de reentrância do núcleo…………………………………………………………………………… 167

Figura 5.48 – Superfície de fratura da amostra com 30% de talco retirada da posição wc

do corpo de prova injetado com Ti = 250ºC e ti = 2s, mostrando a superfície lisa da

camada pele………………………………………………………………………………………… 167

Figura 5.49 – Esquema do perfil de tensões residuais característico presente em uma

peça moldada por injeção………………………………………………………………………….. 167

Figura 5.50 – Região do núcleo da superfície de fratura de amostras com 30% de talco

retiradas de diferentes posições do corpo de prova injetado com Ti = 250ºC e ti = 2s. 168

Figura 5.51 – Variação da resistência ao impacto em função das posições extraídas da

caixa injetada com os três tipos de materiais estudados………………………………………. 171

Figura 5.52 – Fator de Depreciação de Linha de Solda em impacto-tracional……………… 173

Figura 5.53 – Variação da resistência ao impacto em função da temperatura e do tempo

de injeção para a amostra wc…………………………………………………………………….. 175

29

1. INTRODUÇÃO

Termoplásticos de uso geral normalmente possuem baixos valores de

módulo de elasticidade devido a sua estrutura macromolecular, o que, em

diversas ocasiões, faz com que sejam inviáveis para aplicações estruturais.

Mas devido a suas características de baixa densidade, baixo custo e facilidade

de processamento, ou mesmo outras propriedades como resistência química,

busca-se a incorporação de reforços para aumentar a sua rigidez, com o intuito

de manter as suas boas e desejadas características no compósito final. A

incorporação de fibras e partículas sólidas de alto módulo e resistência em

matrizes poliméricas, em geral, restringe a mobilidade das cadeias e a

deformação sob carga mecânica, o que eleva o módulo elástico, apesar de ser

necessária uma avaliação por compósito, uma vez que o formato e a razão de

aspecto (relação entre a maior dimensão e a menor dimensão) de cargas e

reforços, bem como o seu tamanho médio e a distribuição de tamanhos

possuem grande influência nas propriedades mecânicas finais de compósitos

termoplásticos [1,2].

Fibras de vidro (FV) e cargas minerais reforçantes como o talco são

bastante utilizadas para reforçar matrizes termoplásticas [3,4]. As fibras de vidro

curtas com elevada razão de aspecto são chamadas de elementos reforçantes

devido a elevada rigidez e resistência mecânica que promovem nos compósitos

termoplásticos. Já cargas minerais como o talco, que apresentam uma

estrutura lamelar, além de serem utilizadas como cargas de enchimento,

diminuindo o custo do produto final, geralmente aumentam a rigidez, a

temperatura de distorção térmica, a resistência à fluência e contribuem para

redução do encolhimento de moldados.

Um dos processos mais empregados na indústria de transformação de

produtos finais de termoplásticos e compósitos poliméricos é a moldagem por

injeção, sendo caracterizado por altas taxas de produção, precisão dimensional

e versatilidade em produzir peças simples ou complexas, com pequenas ou

grandes dimensões. Apesar das diversas vantagens da moldagem por injeção,

o polímero passa por uma severa história termomecânica durante seu

30

processamento, que introduz tensões residuais e orientação preferencial no

material, tanto macromolecular como dos reforços, o que acaba resultando em

substancial anisotropia de propriedades no compósito.

Sendo assim, em compósitos moldados por injeção, a presença de

reforços de alta razão de aspecto como fibras de vidro tende a produzir um

material com elevada anisotropia de propriedades físicas e mecânicas, sendo

que um dos mais severos e prejudiciais resultados dessa anisotropia é o

empenamento da peça, ocasionado por contrações diferenciais durante o

resfriamento. Essa anisotropia decorre da orientação que as fibras adquirem na

direção do fluxo preferencial de preenchimento do molde durante o processo

de moldagem por injeção e do conseqüente congelamento dessa orientação

preferencial das fibras dentro do material quando este se solidifica.

Em se tratando do talco, apesar da menor razão de aspecto de suas

partículas lamelares, estas não possuem uma forma isotrópica tridimensional.

Assim, as partículas de talco também têm a tendência de ficarem orientadas de

acordo com o tipo de escoamento do fundido polimérico através da cavidade

do molde, durante o processo de moldagem por injeção [5], ainda que essa

orientação se dê de maneira muito menos crítica do que no caso da FV, de alta

razão de aspecto.

As propriedades mecânicas são amplamente dependentes da orientação

dos reforços, principalmente quando existe a formação de linhas de solda na

peça injetada, o que é muito comum na injeção de peças de maior

complexidade ou dimensão. A linha de solda é formada quando se tem o

encontro de frentes de fluxo do fundido polimérico durante o preenchimento da

cavidade do molde. Devido à baixa difusão molecular nessas frentes de fluxo,

após o congelamento do material é obtida uma interface de baixa resistência

mecânica. Quando a peça moldada consiste de um compósito de

termoplástico reforçado com fibras ou partículas de alta razão de aspecto,

estas tendem a ficar orientadas paralelamente ao plano fraco da linha de solda,

debilitando ainda mais o moldado nas características mecânicas desejadas

inicialmente com o reforçamento. Essa orientação preferencial e conseqüente

anisotropia de propriedades pode também levar ao empenamento da peça

31

moldada, devido ao encolhimento não homogêneo do compósito na cavidade

do molde de injeção.

A combinação ou hibridização de cargas minerais e reforços fibrosos

tende a reduzir a anisotropia do material e o efeito depreciativo da linha de

solda nas propriedades mecânicas de compósitos reforçados, bem como

reduzir o custo dos mesmos, já que o preço da carga é inferior ao da fibra. A

redução da anisotropia decorrente da combinação de cargas e reforços em

compósitos moldados por injeção pode advir da substituição parcial de um

reforço com elevada razão de aspecto (fibra), que devido a sua geometria e

orientação induz a anisotropia no compósito, por uma carga particulada de

baixa razão de aspecto (como o talco). Devido ao seu formato lamelar e à sua

razão de aspecto relativamente baixa, essa carga lamelar de talco poderá

ocasionar um menor efeito depreciativo nas propriedades mecânicas do

compósito híbrido na presença da linha de solda.

Porém a resistência da linha de solda não depende apenas das

características de reforçamento (tipo de reforço, concentração, etc) empregado

no compósito, mas também das condições de processamento utilizadas

durante a moldagem por injeção. Uma maior temperatura de injeção, por

exemplo, fornece maior energia para mobilidade molecular e melhora a coesão

molecular na região da linha de solda, o que tende a incrementar a resistência

mecânica da peça moldada. Entretanto, é necessária uma avaliação por

sistema compósito estudado, uma vez que fatores como orientação e

cristalinidade também são regidos pelas condições de processamento e

influenciam as propriedades finais do moldado.

Compósitos híbridos já têm sido produzidos industrialmente e estudos

envolvendo compósitos de polipropileno com reforços híbridos foram realizados

anteriormente pelo grupo de pesquisa orientado pelo Prof. José Alexandrino de

Sousa no Departamento de Materiais da UFSCar [6,7,8], com o objetivo principal

de investigar os efeitos da hibridização na anisotropia mecânica desses

compósitos. No entanto, nesses estudos não foi verificada a influência da

hibridização de reforços na resistência da linha de solda em moldados

injetados, que é o objetivo do presente trabalho em compósitos de copolímero

32

de propileno heterofásico reforçado com talco e/ou fibra de vidro. Uma

avaliação da influência das condições de injeção na resistência da linha de

solda também foi feita em compósitos com talco, uma vez que através da

alteração das variáveis de processamento também se pode minimizar o efeito

depreciativo da linha de solda.

33

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Nesta seção buscou-se apresentar os fundamentos relacionados ao

projeto de pesquisa em questão. Ou seja, são apresentados os conhecimentos

básicos necessários para o maior entendimento de cada propriedade estudada,

de cada material envolvido e do processamento utilizado.

2.1 – Compósitos Poliméricos

Polímeros reforçados têm sido amplamente utilizados em aplicações nas

quais leveza e baixo custo devem combinar com ótimas propriedades

mecânicas.

Quanto à geometria dos reforços/cargas, estes podem ser divididos

basicamente em três classes, apresentadas na Tabela 2.1.

Tabela 2.1 Formas e razões de aspecto dos principais tipos de

reforços/cargas utilizados em compósitos poliméricos [9].

Forma Globular/Granular Lamelar Fibrosa/Acicular

Representação

Razão de

aspecto (l/d)

1-5 5-100 >100

Exemplos Giz, Microesferas,

Óxido de Silício,

CaCO3

Grafite,

Caulim,

Mica, Talco

Amianto, Fibra de

Carbono, Fibra

Mineral, FV

Com relação à eficiência do reforço mecânico, as cargas e fibras podem

ser classificadas como [10] :

i) Fibras de reforço: fibras de alto módulo e resistência tais como as

fibras de vidro, carbono e aramida.

ii) Cargas reforçantes: alguns minerais de estrutura fibrosa/acicular ou

lamelar tais como mica, wolastonita, talco e caulim.

34

iii) Cargas de enchimento / funcionais: cargas minerais ou sintéticas de

partículas com formato esferoidal como carbonato de cálcio (CaCO3) natural e

precipitado, alguns tipos de talco, caulim, sílica, quartzo, alumina trihidratada,

feldspato e esferas de vidro; dentre os objetivos principais dessas cargas está

o de abaixar o custo de resinas plásticas.

Em termos comparativos, a matriz polimérica é o componente de rigidez e

resistência relativamente baixas, razoavelmente tenaz ou dúctil, de baixa

densidade e coeficiente de expansão térmica superior ao do componente de

reforço, que, por sua vez, tende a possuir módulo e resistência relativamente

altos e a ser normalmente frágil. Portanto, é a fibra ou carga que deve,

idealmente, suportar a maior parte da carga mecânica ou tensão aplicada ao

sistema, enquanto é função da matriz polimérica transmitir e distribuir as

tensões para as fibras ou partículas de reforço individualmente. Este é o

princípio básico que determina a eficiência de reforçamento de compósitos

poliméricos, desde que a adesão interfacial polímero-reforço seja mantida

integralmente.

De forma geral, as principais vantagens da utilização de fibras e cargas

reforçantes em termoplásticos podem ser resumidas da seguinte maneira [10] :

aumento substancial no módulo de elasticidade / rigidez do compósito;

aumento expressivo na resistência mecânica (tração, flexão ou

compressão) e nas propriedades de tenacidade / resistência ao impacto do

compósito, dependendo do tipo de carga e matriz polimérica em questão;

melhoria substancial na resistência à fluência (isto é, deformação

lenta), alterando às vezes levemente as características viscoelásticas da matriz

polimérica;

melhoria na resistência mecânica a longo prazo (durabilidade e

resistência à fadiga), dependendo do tipo de reforço e da natureza das

interações na interface polímero-reforço;

aumento expressivo na temperatura de termo-distorção (HDT);

35

aumento na estabilidade dimensional, redução da expansão térmica e

do encolhimento de moldados;

modificação nas características reológicas, elétricas e de

permeabilidade dos compósitos.

Porém, a real influência de um reforço ou carga em um termoplástico deve

ser analisada individualmente, caso a caso, uma vez que as propriedades finais

de um compósito polimérico dependem essencialmente de [11] :

Propriedades características individuais dos seus componentes (forma,

tamanho, distribuição de tamanhos, razão de aspecto, propriedades

mecânicas, etc);

Concentração relativa dos seus componentes;

Natureza da interface polímero-reforço ou polímero-carga e da região

interfacial;

Eficiência e condições do processo de mistura (compounding; ex.

extrusão) e de conformação (ex: injeção), assegurando a melhor morfologia

desejada no compósito final (dispersão e distribuição das cargas e reforços,

molhabilidade, tensões residuais, orientação, linha de solda, etc).

Compósitos poliméricos convencionais geralmente envolvem uma alta

quantidade de reforços (mais que 10% em massa) para alcançar as

propriedades mecânicas desejadas. Esse alto teor de reforço mecânico

(normalmente entre 20/30% em massa) também pode trazer desvantagens nas

propriedades do compósito, tais como aumento na densidade do produto e

perda de tenacidade, devido inclusive à possível incompatibilidade interfacial

entre o polímero e o reforço. Além disso, a processabilidade do compósito

torna-se mais difícil, necessitando, geralmente, de altos níveis de torque no

equipamento de mistura e havendo certa dificuldade de dispersão do reforço,

com o aumento do teor do mesmo [12]. Nas últimas décadas, com o

desenvolvimento da nanotecnologia, tem havido um crescimento e, portanto,

um interesse no campo dos nanocompósitos devido a suas propriedades

especiais: não apenas por estes possibilitarem a obtenção de propriedades

36

equivalentes às dos compósitos tradicionais, mas também por exibirem

propriedades ópticas, elétricas e magnéticas únicas [13]. Nanocompósito é um

material onde pelo menos uma dimensão de um dos componentes está numa

faixa de 1-100nm [14]. Para preparação de nanocompósitos têm sido

comumente adicionadas argilas do tipo montmorilonita a diferentes matrizes

poliméricas. Os nanocompósitos poliméricos apresentam propriedades

mecânicas e térmicas muitas vezes superiores às dos compósitos

convencionais, mesmo com uma quantidade pequena de argila (menor que

10% em massa), devido à área de contato maior entre o polímero e a argila. O

caminho para obtenção de tal desempenho consiste na habilidade em esfoliar e

dispersar, individualmente, as camadas de silicato, com alto fator de forma,

dentro da matriz polimérica [15, 16].

2.2 – A Matriz Polimérica: Copolímero de Propileno

O polipropileno (PP) é o termoplástico estereorregular mais importante no

mercado, substituindo diversos materiais em inúmeras aplicações, e esta

situação deve se estender no futuro pelas seguintes razões [17]:

Baixo custo relativo do produto, devido ao baixo custo do monômero e

eficiente tecnologia de polimerização, quando comparada com outros

termoplásticos em geral;

Pode ser modificado para a utilização em uma grande variedade de

aplicações através da copolimerização, orientação molecular, tenacificação

com elastômeros olefínicos ou preparação de compósitos com reforços ou

cargas reforçantes;

Sua processabilidade permite seu uso na maioria das técnicas

comerciais de fabricação.

Em adição, PP homopolímero tem excelentes e desejáveis propriedades

físicas, mecânicas e térmicas. É relativamente rígido, tem alto ponto de fusão e

baixa densidade [18], o que faz com que tenha importância significativa em

aplicações automotivas, dentre outras.

37

O parâmetro de grande importância para polímeros semi-cristalinos é sua

morfologia cristalina, ou seja, grau de cristalinidade, tamanho dos esferulitos,

espessura das lamelas e orientação cristalina. Em geral, a cristalinidade

intrínseca dos polipropilenos depende de sua isotaticidade. Um aumento na

isotaticidade resulta num aumento na cristalinidade, na temperatura de fusão e,

em adição, estruturas esferulíticas mais empacotadas, mais densas, podem ser

obtidas (embora o tamanho dos esferulitos não seja alterado pela

isotaticidade). Porém, polipropilenos homopolímeros de alta e baixa

cristalinidade exibem resistências ao impacto inadequadas a baixas

temperaturas, o que restringe seu uso [19].

A adição de borracha de etileno-propileno (EPR ou EPDM) em

polipropileno tende a melhorar a resistência ao impacto do PP em temperaturas

sub-ambiente. Existem dois modos de se adicionar EPR ao PP. Um deles é

através da preparação de blenda de EPR com PP [20]. O outro modo é pela

preparação de copolímeros de PP e polietileno (PE) através da

copolimerização in situ dos monômeros diretamente, resultando em um sistema

heterofásico com partículas de borracha dispersas na matriz de PP.

PP de alto impacto, produzido tanto pela copolimerização de multi-estágio

do PP com outra α-olefina, quanto através da formação de uma blenda de PP

com vários elastômeros, apresenta morfologia bifásica ou multifásica. Durante

o processamento [21] ocorrem mecanismos de quebra e coalescência dos

domínios elastoméricos, dependendo da distribuição inicial, da razão entre as

viscosidades dos componentes e das condições de processamento. Ou seja, o

tamanho e a forma dos domínios dependem do comportamento reológico, da

tensão interfacial, assim como da taxa de cisalhamento aplicada no

processamento do fundido. O comportamento reológico do copolímero é

majoritariamente influenciado pela fase de etileno, que é altamente viscosa e

está dispersa em uma matriz de PP menos viscosa, modificando suas

propriedades viscoelásticas. Numa escala a curta distância, detalhes da

morfologia dependem também da compatibilidade entre os componentes [22].

Copolímeros em bloco ou aleatórios de propileno com baixo teor de

etileno (geralmente 7% ou menos) são extremamente importantes

38

comercialmente, uma vez que aumentam a tenacidade do PP, como

comentado. Entretanto, a introdução de micropartículas de borracha

geralmente diminui a rigidez [20] do polímero, assim como a tensão de

escoamento [23]. As taxas de nucleação e de cristalização também diminuem,

uma vez que o monômero de etileno se manifesta como um defeito na

regularidade das cadeias de PP, dificultando a cristalização. Conforme a

concentração de etileno aumenta, a espessura dos cristalitos é gradualmente

diminuída, o que é refletido em um menor ponto de fusão. O ponto de fusão do

copolímero aleatório de propileno é de cerca de 145ºC [18]. Essa alteração na

cristalinidade também afeta as propriedades mecânicas e o tempo de

moldagem. O copolímero heterofásico de propileno utilizado neste trabalho é formado

por uma matriz de polipropileno, na qual existem domínios de partículas

microscópicas de elastômero etileno-propileno (EPR), além de uma provável

terceira fase de polietileno de alta densidade (PEAD), dispersa tanto na matriz

de polipropileno como na fase elastomérica das partículas de EPR [24,25]. A

estrutura molecular do copolímero de propileno é mostrada na Figura 2.1 [25].

Figura 2.1 Estrutura molecular do copolímero de propileno [25] .

Geralmente copolímeros são preferidos para aplicações a baixas

temperaturas de serviço, mas sua baixa resistência mecânica, como a do

copolímero de etileno-propileno, tende a restringir seu uso na indústria

automotiva [21]. Uma solução [26] tem sido preparar compósitos de copolímero

de propileno (PPcop) com fibras ou cargas de maior resistência, como no caso

da fabricação de pára-choques que emprega PPcop com talco.

39

2.3 – A Carga Mineral: Talco

Talco é um silicato de magnésio hidratado, 3MgO4.SiO2.H2O, com

composição típica de 31,7% MgO4, 63,5% SiO2 e 4,8% H2O [18]. É um silicato

lamelar que consiste de camadas de magnésio em coordenação octaedral,

similar à brucita Mg(OH)2, intercaladas entre camadas de sílica na

coordenação tetraedral, como apresentado na Figura 2.2. As camadas

alternadas de brucita, com 19 Å de espessura, permanecem unidas por fracas

forças de Van der Waals, o que contribui para a baixa dureza (1 - 1,5 na escala

Mohs) e a facilidade de escorregamento das lamelas do talco. O talco tem uma

densidade em torno de 2,78 g/cm3 e sua rigidez é estimada como sendo 170

GPa [27].

(a)

(b)

Figura 2.2 (a) estrutura cristalina do talco, (b) plano idealizado das folhas de

sílica [28].

40

Talco perde sua água de hidratação a cerca de 1000ºC. Nessa

temperatura ele se reestrutura para formar o mineral enstatita (MgSiO3), bem

mais duro que o talco (dureza Mohs de 5-6) e menos lamelar. O talco é inerte à

maioria dos produtos químicos.

Normalmente o minério de talco é processado por moinhos de bolas (roller

mills), de martelo (hammer mills) ou a jatos de ar (jet mills), dependendo da

finura do pó que se quer alcançar [18]. Talcos processados por moinhos de

bolas são usados em aplicações de baixo impacto, como pás de ventiladores.

Os outros dois tipos de moinhos são usados quando a resistência ao impacto é

importante no produto final. A pulverização/moagem do talco é geralmente feita

por mecanismos de cisalhamento para aumentar a delaminação do mesmo e,

assim, aumentar a sua razão de aspecto.

A natureza química da superfície do talco é anisotrópica. As faces

externas das folhas de sílica, que compõem a quase totalidade de área do

mineral, quando moídas são apolares e hidrofóbicas, altamente inertes e não

reativas. Nas extremidades das lamelas estão os sítios hidrofílicos polares

criados pela ruptura das fortes ligações covalentes durante a moagem.

Num compósito de PP reforçado com talco, as lamelas do talco tendem a

se orientar no sentido do fluxo durante a moldagem, aumentando a rigidez e a

temperatura de distorção térmica (HDT) do compósito. Conforme o tamanho de

partícula do talco diminui, a resistência à tração tende a aumentar suavemente [13]. O aumento na concentração de talco também tende a aumentar o módulo

em flexão [13]. Um talco de alta razão de aspecto fornecerá maior rigidez. Como

o resultado de HDT está relacionado à rigidez, ele aumenta com o aumento da

concentração de talco no PP. Representando uma fase descontínua na matriz

polimérica, o talco, como outros minerais, diminui a resistência ao impacto do

polímero. Quanto maior seu tamanho de partícula, menor essa resistência e

menor o módulo em flexão. Talcos pobremente dispersos na matriz

termoplástica formam aglomerados que contribuem para falhas frágeis devido à

baixa resistência sob impacto. O talco em PP também reduz a contração

térmica no molde e o coeficiente de expansão térmica. PP com talco de

41

granulometria fina apresenta uma boa qualidade superficial em peças

moldadas.

Cargas minerais como o talco também são utilizadas como cargas de

enchimento, diminuindo o custo do produto final. Como vantagens adicionais

podem ser citadas a fácil processabilidade, reduzida ação abrasiva nos

equipamentos de processamento e, principalmente, obtenção de um material

com baixa anisotropia de propriedades devido ao formato lamelar da carga

mineral.

O talco tende a agir como agente nucleante em alguns polímeros

cristalinos, aumentando o grau de cristalinidade do polímero. A orientação

preferencial do talco na direção de injeção induz a orientação preferencial das

moléculas de PP localizadas próximas, levando à sua cristalização [29].

Tratamento superficial convencional empregado em cargas minerais

visando incrementar a adesão com a matriz não tem resultado efetivo no talco,

devido ao fato de ter baixa concentração de hidroxilas na superfície das suas

lamelas e à sua característica apolar [3]. Mas a sua superfície possui natureza

oleofílica, o que facilita a sua dispersão em solventes orgânicos inclusive

polímeros, facilitando a sua molhabilidade e interação com monômeros ou

polímeros apolares como PP sem a necessidade de agente de acoplagem

interfacial [30].

A superfície química do talco pode levar a interações talco-polímero e

talco-estabilizante que podem causar descoloração e despolimerização sob

aquecimento (150-160ºC) por um longo tempo. Óxido de ferro é

freqüentemente um contaminante do talco [18]. Alto teor de impurezas de ferro

no talco também pode influenciar na estabilidade termo-oxidativa do PP.

2.4 – O Reforço Fibroso: Fibra de Vidro

As fibras de vidro (FV) são fabricadas a partir da fiação de uma

composição de óxidos, sendo a sílica o óxido predominante (50-65% de SiO2).

Outros óxidos como, por exemplo, óxido de cálcio, de boro, sódio e alumínio

42

contribuem para algumas propriedades da fibra. O tipo de vidro obtido depende

da composição da mistura dos diversos óxidos e a qualidade desejada do

material formado é alcançada pelo controle da temperatura e da taxa de

resfriamento. O vidro do tipo E, cal-alumina-borosilicato, é muito utilizado para

fabricação de fibras e é um bom isolante elétrico. Sua composição química

aproximada está exibida na Tabela 2.2. O vidro do tipo S tem elevado módulo e

resistência sob tração (minoritárias impurezas), além de resistência a altas

temperaturas, devido ao maior teor de sílica. Porém, a FV ainda apresenta

baixo módulo de elasticidade, quando comparada com as fibras de carbono e

de boro.

O vidro tem uma estrutura amorfa, isto é, não existe ordem a longa

distância para o posicionamento espacial de seus átomos, como mostrado na

Figura 2.3.

Compósitos poliméricos reforçados com fibras têm sido muito

proeminentes pois a maioria dos materiais é mais rígido e resistente na forma

de fibra do que em qualquer outra forma (na direção de orientação da fibra). O

uso de fibras como materiais de engenharia de alto desempenho é baseado em

três importantes características:

Um diâmetro pequeno da fibra, pois isso diminui a probabilidade de

existirem imperfeições no material;

Uma alta razão de aspecto, que permite, através da boa adesão na

interface fibra-matriz, uma alta transferência da carga mecânica aplicada para a

fibra;

Um alto grau de flexibilidade no processamento, que permite o uso de

variadas técnicas de fabricação de compósitos poliméricos.

43

Tabela 2.2 Composição química aproximada da fibra de vidro do tipo E.

Figura 2.3 Estrutura amorfa do vidro - rede estrutural de um vidro de sílica [26].

Os principais parâmetros materiais que influenciam em maior ou menor

grau a eficiência de reforço mecânico dos termoplásticos reforçados com fibras

de vidro curtas (TPRFVc) estão resumidos na Figura 2.4.

Figura 2.4 Principais fatores que afetam a resistência mecânica dos compósitos

de termoplásticos reforçados com fibras de vidro curtas [32].

Fibra de Vidro do tipo E

Constituintes % em peso

SiO2 55,2

Al2O3 14,8 CaO 18,7

MgO 3,3

Na2O 0,3

K2O 0,2 B2O3 7,3 Fe2O3 0,3

F2 0,3

44

Como apresentado, a resistência mecânica do compósito está relacionada

a parâmetros como: comprimento, orientação e concentração da FV e adesão

interfacial polímero-reforço. Maiores teores de fibra ou uma maior orientação

levam ao deslocamento da curva para cima, fornecendo uma maior resistência

mecânica para um mesmo comprimento da fibra. Já uma melhor adesão

possibilita alcançar um mesmo valor de resistência com a utilização de fibras

mais curtas, deslocando a curva para a esquerda. A variação do comprimento

da fibra (fibras curtas ou longas) altera o comportamento mecânico do

compósito ao longo da curva em S, sendo que fibras longas tendem a fornecer

maiores valores de resistência.

Para um determinado grau de adesão interfacial alcançado no compósito,

o comprimento médio (LN) da fibra no compósito deve ser maior que o seu

comprimento mínimo crítico (lc) necessário para uma eficiente transferência de

tensão da matriz para as fibras de reforço, segundo a equação de Kelly e

Tyson descrita na literatura [10]:

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛

τσ2

fc

dl

(2.1)

sendo σf a resistência máxima da fibra; τ a resistência ao cisalhamento

interfacial fibra-polímero ou a resistência ao cisalhamento da matriz, qualquer

uma das duas que for alcançada primeiro, e d o diâmetro da fibra. Pela

equação, quanto maior for o valor de τ obtido pelo aprimoramento da adesão

interfacial, menor será o valor da razão de aspecto crítica lc/d da fibra

necessária para um reforçamento eficiente do compósito, deslocando a curva

em S da figura para valores de LN menores da fibra.

As condições de mistura necessárias para assegurar uma boa

incorporação da FV curta na matriz polimérica durante o processo de mistura

(compounding) numa extrusora requerem alimentação da FV num estágio

avançado da extrusora, com o polímero devidamente fundido, assim como

suficiente trabalho de mistura dispersiva e distributiva visando: causar um

debulhamento dos fios (rovings) picotados da FV em filamentos de fibras

individuais; promover a molhabilidade efetiva da superfície da FV pelo polímero

para assegurar boa adesão interfacial; induzir a distribuição homogênea da FV

45

na matriz e propiciar interações interfaciais em função da afinidade polímero-

reforço resultante do tratamento superficial da FV com agentes de acoplagem

(ex. silano), sem, entretanto, ocasionar a quebra excessiva no comprimento da

fibra.

A resina de PP tem que molhar e encapsular as fibras de vidro. PP é um

material apolar e orgânico, enquanto que o vidro é inorgânico. Esses dois

materiais são naturalmente incompatíveis e não formam ligações estáveis. Um

agente de acoplagem é necessário para que haja boa interação entre os dois

componentes.

O principal agente de acoplagem utilizado em fibras de vidro é o agente

silano. Esses agentes têm, em um final, grupos químicos hidrolizáveis que

propiciam interação com a superfície do vidro. Na outra ponta existem grupos

organofuncionais que podem interagir com o polímero. O tipo de grupos

organofuncionais utilizado depende da estrutura química do polímero. Para

polímeros com grupos funcionais de alta reatividade presentes em suas

cadeias é fácil selecionar um agente silano com grupo organofuncional

específico para interagir com o polímero. No entanto o PP não possui esses

grupos funcionais, de modo que a interação com o agente silano na superfície

da fibra, com real melhora da adesão, tende a ocorrer de maneira mais efetiva

quando o PP é previamente funcionalizado com grupos que reagem com o

siloxano na superfície da FV como, por exemplo, o anidrido maleico.

O agente silano é incorporado durante a fiação e além de atuar como

agente de acoplagem protege a superfície da FV contra o manuseio e a ação

da água, que pode fragilizar as fibras não protegidas, degradando suas

propriedades mecânicas.

A resistência a tração e flexão, o módulo elástico em tração e flexão e a

viscosidade aumentam com o teor de fibra de vidro, sendo que a resistência a

tração e flexão e o módulo tangente de tração tendem a aumentar linearmente

com o teor de FV [18].

46

2.5 – Interface

É largamente aceito que além da dimensão, formato e módulo do reforço,

a adesão entre este e a matriz polimérica representa um importante fator na

rigidez e tenacidade do material [29]. Em qualquer compósito polimérico, a

adesão reforço-matriz é provavelmente um dos fatores que mais fortemente

influenciam as propriedades mecânicas do produto final, uma vez que a região

interfacial é a principal responsável pela transferência da solicitação mecânica

da matriz para o reforço. A adesão inadequada entre as fases envolvidas na

interface poderá provocar o início de falhas, comprometendo o desempenho do

compósito.

Apesar do sucesso comercial do polipropileno, sua natureza apolar limita

significativamente seus usos. Agentes de acoplagem são compostos que

proporcionam boas ligações químicas ou físicas entre as superfícies do reforço

e da matriz polimérica e têm sido usados para melhorar a interação interfacial,

como visto anteriormente.

A interação entre os componentes na região interfacial depende na

prática de dois fatores: o grau de contato (molhabilidade) das superfícies na

interface e as forças coesivas (adesividade) nessa região. Quanto menor a

tensão superficial do líquido molhante, melhor a molhabilidade sobre o sólido e

melhor seu espalhamento. O aumento da temperatura favorece essa

diminuição. A tensão superficial do sólido depende das forças interatômicas ou

intermoleculares na superfície. Essas forças podem ser modificadas através de

tratamentos superficiais como oxidação, recobrimento, reação química, etc.

Para que ocorra molhamento a tensão superficial da matriz deve ser

menor que a do reforço. O líquido se espalha sobre a superfície sólida até que

um balanço de forças seja atingido, como mostrado na Figura 2.5. Ou seja, até

que [31]:

svlvsl γθγγ =+ cos (2.2)

sendo:

- γ a energia específica superficial na interface do sólido com o líquido (γsl),

do líquido com o ar (γlv) ou do sólido com o ar (γsv);

47

- θ o ângulo de contato da gota do líquido com a superfície sólida. Se esse

ângulo é 180º, a gota assume uma forma esférica e não existe molhamento

algum. Se é 0º, o molhamento é perfeito. Se está entre 0 e 90º, tem-se

molhamento parcial. Quanto menor esse ângulo melhor a molhabilidade

(rugosidade superficial diminui esse ângulo).

Figura 2.5 Equilíbrio das forças em sistema consistindo de uma gota sobre

substrato sólido [31].

Se ocorrer adesão perfeita na interface a falha catastrófica não

acontecerá na região interfacial, mas sim no constituinte que possuir menor

força interatômica ou intermolecular. Na prática, a adesão dificilmente é perfeita

e a falha do plástico reforçado tende a ocorrer por cisalhamento na região

interfacial, devido à debilidade das ligações atômicas ou intermoleculares entre

a superfície da matriz e do reforço.

Um dos fatores que favorece a interação interfacial é o fenômeno de

contração que a matriz polimérica sofre durante a sua cura ou solidificação,

proporcionando um estado de pressão quase isostática sobre o reforço. Esse

estado induz a aproximação do reforço com a matriz e aumenta a interação

intermolecular ou interatômica. O ancoramento mecânico é o único processo

de interação presente se não houver a formação de ligações intermoleculares

fortes ou interatômicas, mas ele por si só não é suficiente pois tem baixa

resistência. Em temperaturas mais elevadas ou sob carga, as diferenças de

expansão entre a fibra ou a carga e a matriz podem aliviar esse ancoramento.

A penetração da matriz nas cavitações/ rugosidades da superfície do reforço,

por fluxo viscoso ou difusão a alta temperatura, leva ao ancoramento mecânico

também. A matriz deve preencher os poros e as rugosidades do reforço; caso

contrário, ela deixará vazios interfaciais, concentradores de tensão.

Líquido

48

Outro tipo de ancoramento que pode ocorrer é o ancoramento físico, que

é definido [31] como qualquer ancoramento envolvendo forças fracas,

secundárias, de Van der Waals, interações dipolares e pontes de hidrogênio.

No caso do ancoramento químico, com ligação química, pode ocorrer a

formação de uma solução sólida ou de um composto na interface, resultando

numa zona interfacial. Existe uma reação interfacial entre reforço e matriz

(metálica, iônica ou covalente), com difusão atômica ou molecular.

2.6 – Fluxo e Orientação na Moldagem por Injeção

No compósito polimérico moldado por injeção, as moléculas poliméricas e

as partículas ou fibras de reforço ficam orientadas conforme o sentido de

escoamento do material fundido pela cavidade, dependendo também da ação

do fluxo de compactação e da relaxação ocorrida durante o tempo de

resfriamento e congelamento do fundido. O grau de orientação das fibras e

partículas é uma função da sua razão de aspecto e concentração, além de

parâmetros de injeção como temperatura do fundido, pressão e tempo de

compactação, pressão e velocidade de injeção, espessura da cavidade, forma

da entrada, campo de escoamento e temperatura do molde [2].

O campo de escoamento aplicado ao material tem uma forte implicação

na orientação. Quando se tem um escoamento divergente (Figura 2.6-a), as

partículas tendem a se alinhar perpendicularmente à direção do escoamento.

Um escoamento convergente (Figura 2.6-b) orienta as partículas paralelamente

à direção principal de escoamento. Quando se tem um escoamento invariável,

tem-se uma variação na orientação das partículas através da espessura

(Figura 2.6-c).

49

Figura 2.6 Efeitos de diferentes tipos de fluxos sobre a orientação molecular e

de reforços anisotrópicos [2].

Segundo o modelo de Tadmor [33,34], durante o enchimento na cavidade

do molde de injeção, o escoamento apresenta três regiões distintas: a entrada,

a região de fluxo cisalhante plenamente desenvolvido e a região da frente de

fluxo na onda frontal, onde ocorre o “efeito chafariz” (fountain), conforme

mostrado na Figura 2.7.

Ao entrar no molde, o fundido polimérico é inicialmente sujeito a um fluxo

compressional. As linhas de fluxo tornam-se divergentes e os elementos de

fluido e as fibras assumem uma orientação preferencial ortogonal ao eixo da

parede do molde (eixo x, Figura 2.7). Simultaneamente, o polímero fundido ao

entrar em contato com a parede fria do molde se solidifica, formando uma

camada congelada.

O fluxo do fluido entre as camadas solidificadas perde o caráter de

compressão e assume um perfil de velocidades de um fluido não-newtoniano.

O perfil de velocidades depende, entre outros fatores, das características

reológicas do fluido. Para polímeros com fibras este perfil é bastante achatado

e, conseqüentemente, pela ausência de cisalhamento na região central da

peça moldada, a orientação final das fibras nessa região tende a ser

praticamente a mesma daquela orientação transversal ao eixo x desenvolvida

Orientação Variável

a

b

c

Orientação Transversal

Orientação Axial

Orientação Axial

50

na região de entrada. Alguma alteração nessa orientação transversal das fibras

na região central da peça moldada pode advir do maior tempo de resfriamento

e, portanto, do maior tempo de relaxação disponível para o material do centro.

À medida que o fluido avança, o perfil de velocidades muda

consideravelmente e o fluido e as fibras passam a sofrer o “efeito chafariz” na

região do fluxo frontal. A frente de fluxo avança com uma velocidade média, ao

longo do comprimento da cavidade do molde. Uma molécula do polímero ou

uma partícula de reforço que avança pelo centro do escoamento, junto com o

fluxo frontal, sofre uma desaceleração axial e é lançada contra a parede do

molde, por um fluxo elongacional (vide Figura 2.8). Nesse momento, as

moléculas poliméricas estiram e as partículas de alta razão de aspecto sofrem

uma rotação, ficando ambas orientadas paralelas à parede do molde. Como a

parede do molde está “fria”, o material fundido congela, formando uma camada

superficial altamente orientada na “pele” da peça final.

Além do fluxo elongacional, há a contribuição do fluxo cisalhante na

orientação das fibras. Como pode ser observado na Figura 2.8, a taxa de

cisalhamento tem seu valor máximo entre o centro e a parede do molde, porém

em uma região mais próxima da parede. Isso explica a maior orientação

molecular ou de fibras numa região próxima à parede, mas não junto à mesma.

Ou seja, o fluxo cisalhante plenamente desenvolvido que ocorre após a

passagem da onda frontal induz alta orientação, pelo fato de que as partículas

em contato com a camada congelada superficial passam por altas taxas de

cisalhamento, ficando também orientadas após o congelamento. O material da

região central, como fica um tempo maior no estado fundido, tem um período

maior para relaxar e perder a orientação que venha a obter durante a injeção

do compósito fundido.

51

Figura 2.7 Escoamento de material fundido através de uma cavidade retangular

com entrada lateral [34].

Figura 2.8 Modelo de orientação molecular, ao longo da espessura, na frente

de fluxo avançando entre paredes paralelas frias [33].

Fazendo uma análise do perfil de orientação ao longo da espessura da

peça, após o resfriamento e congelamento do compósito, é obtido um gráfico

semelhante ao apresentado na Figura 2.9. O componente do tensor a11 fornece

a orientação na direção do fluxo, sendo 1 (um) a orientação máxima paralela

ao fluxo de preenchimento da cavidade do molde e zero para partículas

orientadas transversalmente ao fluxo.

Camada solidificada

Perfil da taxa de cisalhamento

Parede do molde

Fluxo frontal

)( yy

dv x

Perfil de velocidade

Parede do molde

)(yvx

Entrada Região de fluxo cisalhante plenamente desenvolvido

Fluxo na onda frontal

Espessura

52

Figura 2.9 Componente do tensor orientação das partículas ou fibras ao longo

da espessura do moldado [28].

Como conseqüência desse perfil de orientação gerado na moldagem por

injeção é formado [35], no caso de um polímero semi-cristalino, um arranjo em

camadas típico ao longo da espessura, comumente referido como

microestrutura pele-núcleo (skin-core), que é comentado na seqüência, no item

2.7.

A orientação cria na peça moldada uma grande quantidade de problemas

como tensões residuais não-simétricas, deformação e empenamento da peça

devido ao encolhimento diferencial [36]. As cargas minerais e reforços fibrosos

inorgânicos possuem menores coeficientes de expansão térmica em relação à

matriz polimérica e quando orientados ao longo de uma placa de material

compósito injetado tem-se, na direção do fluxo, uma menor variação da

dilatação térmica em relação às outras direções, pois as partículas ou fibras

orientadas atuam como imobilizadores dos deslocamentos da matriz

polimérica. Com isso estruturas podem se curvar, deformar, perdendo suas

dimensões e formas ideais à finalidade para a qual foram projetadas, conforme

apresentado na Figura 2.10.

CentroCom

pone

nte

do te

nsor

or

ient

ação

das

par

tícul

as (a

11)

0

1

.0

Espessura do moldado

53

Figura 2.10 Empenamento da peça injetada devido orientação diferencial [37].

2.7 – Microestrutura “pele-núcleo”

Conforme discutido acima, durante a moldagem por injeção o fundido

polimérico é submetido a condições termomecânicas críticas, de altas taxas de

resfriamento e campos de tensões característicos. Essas condições variam ao

longo do comprimento do fluxo e da espessura do moldado. Como

conseqüência, um moldado polimérico apresenta uma microestrutura intrínseca

heterogênea, caracterizada por uma variação gradual da morfologia

desenvolvida na peça.

No caso de um polímero semi-cristalino, um arranjo em camadas típico é

formado ao longo da espessura, comumente referido como microestrutura pele-

núcleo (skin-core), podendo ser observado em microscópio óptico de luz

polarizada. O número de camadas identificadas depende da resolução da

técnica experimental utilizada e do grau de discriminação considerado.

Algumas análises simples e usuais assumem um modelo de três camadas –

duas peles externas e um núcleo interno. Outro modelo bastante utilizado é o

de 5 camadas, que considera a existência de camadas de orientação

intermediária entre a região central desorientada (núcleo) e as regiões de

máxima orientação próximas às superfícies do molde (peles).

Em se tratando de materiais compósitos, os reforços presentes na matriz

também sofrem, durante a injeção, a influência dos fluxos elongacional e

cisalhante, como já comentado, e contribuem para a definição da estrutura

Contorno final

Contorno original

54

pele-núcleo, apresentada na Figura 2.11 em um modelo de 5 camadas,

facilmente visualizada em microscópio eletrônico de varredura.

Figura 2.11 Representação esquemática do perfil de orientação de reforços

fibrosos ao longo da espessura do moldado por injeção, no corte paralelo à

espessura [28].

A pele começa a ser formada durante o estágio de preenchimento devido

ao resfriamento rápido do fundido quente e orientado nas paredes “frias” do

molde. Estudos morfológicos [38] comprovaram que para o PP e outras

poliolefinas, acima de uma taxa de cisalhamento crítica, a formação de uma

estrutura shish-kebab orientada da fase cristalina da matriz polimérica é

favorecida na camada pele, resultante da cristalização rápida (altas taxas de

resfriamento) do fundido altamente cisalhado. Devido à sua arquitetura, os

shish-kebabs (Figura 2.12) podem sustentar altas tensões na direção de

tracionamento e na direção transversal à mesma. A estrutura shish consiste de

cristais fibrosos orientados na direção da solicitação que são responsáveis pela

resistência na direção de tracionamento. Os kebabs são estruturas lamelares

Pele

Pele

Núcleo

Intermediária

Intermediária

Principal direção de escoamento do fundido (eixo x).

55

ao redor do shish e suportam altas forças transversais à direção principal de

solicitação.

Figura 2.12 Estrutura shish-kebab [39].

Em se tratando do polipropileno, nas proximidades da formação dessa

morfologia shish-kebab, é comum também a formação de β-esferulitos,

resultantes da cristalização induzida por cisalhamento.

Para uma dada taxa de fluxo, a formação da pele é essencialmente

governada pelo balanço entre o tempo de resfriamento (para congelar a

estrutura orientada induzida pelo campo de tensões) e o tempo de relaxação

do material [40]. No caso de corpos de prova de tração moldados por injeção,

uma correlação direta entre a espessura da pele e seu grau de orientação tem

sido encontrada [41,42], sendo que camadas da pele mais espessas incluem

material mais orientado (cadeias poliméricas e reforços, caso presentes,

orientados na direção principal de preenchimento da cavidade).

O núcleo dos moldados por injeção de PP apresenta essencialmente uma

cristalização esferulítica do tipo alfa (α-esferulitos), típica de fundidos que

cristalizam sob condições praticamente quiescentes. A camada pele

previamente formada age como uma barreira de isolamento devido à baixa

condutividade térmica do polímero, o que leva a uma baixa taxa de

resfriamento no núcleo e a um alto grau de cristalinidade resultante. Um

gradiente do tamanho dos esferulitos também é formado, aumentando no

56

sentido da região central [40]. O núcleo apresenta um baixo grau de orientação

(molecular e de reforços) e, portanto, normalmente possui rigidez menor e

deformação na ruptura maior do que a camada pele.

Desta forma, as propriedades da pele são governadas por seu grau de

orientação, enquanto que as do núcleo são determinadas por sua morfologia

cristalina [26]. Três aspectos morfológicos principais podem ser utilizados para

caracterizar a estrutura em camadas pele-núcleo [26]: i) o quociente pele-núcleo,

relacionado à espessura da camada pele; ii) o grau de orientação da pele, e iii)

o arranjo semi-cristalino do núcleo. A natureza molecular do polímero, a

magnitude das camadas pele e núcleo e suas morfologias têm influência direta

no comportamento mecânico de peças moldadas por injeção. Também devem

ser consideradas as condições de injeção utilizadas, por influenciarem

fortemente a morfologia resultante da peça moldada, como discutido na

seqüência.

2.8 – Influência dos Parâmetros de Injeção na Morfologia de Moldados

As condições de processo utilizadas na moldagem por injeção, tais como

temperatura, velocidade e pressão de injeção, temperatura do molde e pressão

de empacotamento, têm grande influência na microestrutura resultante do

polímero moldado.

O perfil de temperatura ao longo da espessura do moldado durante o

resfriamento é resultante do balanço entre: o calor trazido pelo fundido,

proporcional à temperatura de injeção; o calor perdido pelo fundido,

proporcional à diferença entre as temperaturas do fundido e do molde; e o calor

gerado por dissipação viscosa durante preenchimento, que é função da

velocidade de injeção. Tem sido verificado [43,44] em PP homopolímero que o

aumento da temperatura de injeção tende a reduzir a magnitude da camada

pele e aumentar o tamanho dos esferulitos do núcleo e o grau de cristalinidade.

Uma baixa velocidade de injeção (taxa de fluxo), que causa cisalhamento

moderado, tende a gerar altos graus de orientação no produto acabado, devido

57

ao pequeno tempo para relaxação. Quando altas velocidades de injeção são

utilizadas, o fundido polimérico é submetido a um elevado campo de tensões,

que induz alta orientação, mas também alta dissipação térmica, o que aumenta

a temperatura do fundido e, conseqüentemente, a relaxação das moléculas. O

resultado final na magnitude da camada pele é dependente da importância

relativa de cada um desses fenômenos. Caso o efeito do aquecimento viscoso

seja predominante, é possível notar a redução da espessura da camada pele.

Tanto a pressão de injeção quanto a pressão de empacotamento

influenciam a formação da morfologia resultante [43,44]. O nível de orientação e a

espessura da camada pele são elevados com a pressão de injeção. Porém, a

relaxação dessa orientação é altamente dependente da pressão de

empacotamento. A orientação do material não congelado durante a fase de

preenchimento é drasticamente reduzida se baixos valores de pressão de

empacotamento são utilizados.

As propriedades mecânicas de moldados poliméricos também dependem

do tipo de solicitação e da taxa de deformação imposta, sendo que o efeito da

microestrutura nessas variáveis de processo é ainda uma questão que requer

maiores estudos. Entretanto, já é bem estabelecido que em um carregamento

de tração à velocidade constante, tanto as propriedades da pele quanto as do

núcleo controlam o comportamento da peça como um todo, e que a influência

da microestrutura dessas camadas nas propriedades mecânicas aumenta a

taxas de deformação maiores [40].

2.9 – Linhas de Solda

O termo linha de solda (LS) é utilizado para designar a interface ou plano

criado quando duas frentes de fluxo se encontram e é reconhecida como sendo

uma região distinta, na qual muitas características estruturais da peça moldada

diferem daquelas distantes da linha de solda [45]. Essas diferenças são

particularmente importantes e significativas em sistemas poliméricos

multifásicos (blendas poliméricas, termoplásticos reforçados, etc).

58

A linha de solda é indesejável quando a resistência, a durabilidade a longo

prazo e a qualidade superficial são parâmetros importantes.

No processo de moldagem por injeção, a LS pode ocorrer:

i) em moldes com múltiplas entradas/ pontos de injeção:

Nesse caso pode ocorrer a formação de linha de solda de encontro frontal

(butt weld line), quando duas frentes de fluxo se encontram, frontalmente, sem

fluxo adicional após a combinação, como esquematizado na Figura 2.13.

Figura 2.13 Formação de LS de encontro frontal conseqüente de fluxo

polimérico advindo de duas entradas opostas.

A linha de solda, nesse caso, forma-se do centro para as paredes da

cavidade do molde, conforme demonstrado na Figura 2.14, que exibe a posição

das frentes de fluxo em diferentes tempos de preenchimento.

Figura 2.14 Posição das frentes de fluxo em diferentes frações do tempo de

preenchimento [45].

Linha de Solda

Entrada Entrada

59

Na interface, quando as duas frentes de fluxo se encontram, o fluxo muda

de direção e continua a se movimentar ao longo da espessura. Nesse tempo

interdifusão pode ocorrer. O tempo de contato do polímero na região central de

formação da linha de solda, acima da temperatura de solidificação, é maior do

que próximo às paredes, de modo que um maior grau de interdifusão molecular

pode ocorrer nessa região. Nas camadas próximas às paredes o tempo de

contato é muito curto, uma vez que o material irá congelar imediatamente. Isso

resulta numa camada superficial de baixa coesão molecular [45]. A LS tem a

extensão da largura do corpo moldado.

ii) em cavidades com insertos ou obstáculos que separam o fluxo do

material:

Nesse caso forma-se a linha de solda de encontro lateral (streaming weld

line), como apresentado na Figura 2.15, com a recombinação dos fluxos que

foram divididos para fluírem em torno dos obstáculos. O efeito debilitante da

linha de solda de junção lateral na resistência mecânica de moldados é

normalmente inferior ao da LS resultante do encontro frontal de frentes de

fluxo, uma vez que ocorre fluxo adicional das frentes recombinadas após

passarem pelo inserto, o que facilita o emaranhamento das cadeias.

Figura 2.15 Formação de LS de encontro lateral, devido à recombinação de

fluxos divididos por obstáculos.

iii) em cavidades com diferentes espessuras:

Nesse caso frentes de fluxo percorrendo espessuras mais finas da peça

tendem a ter maior velocidade. O diferencial de velocidade existente entre

massas poliméricas que fluem na mesma cavidade pode ocasionar a formação

de uma linha de solda.

Entrada Linha de Solda

60

iv) a partir do efeito de jateamento:

O jateamento normalmente ocorre quando a velocidade de injeção é muito

alta ou quando o canal de entrada é muito estreito, fazendo com que o fluxo

inicial de preenchimento da cavidade seja espirrado para a extremidade oposta

da cavidade, como esquematizado na Figura 2.16. Posteriormente, a pressão

de injeção tende a decair e o enchimento da peça então ocorre em direção

oposta, formando linhas de solda.

Figura 2.16 Jato direto do fundido para dentro da cavidade do molde.

No presente trabalho o estudo foi realizado sobre as linhas de solda

formadas por encontro frontal das frentes de fluxo, que são as mais críticas.

Deste modo, a discussão a seguir será centrada nesse tipo de linha de solda.

A resistência da peça moldada é diminuída substancialmente com a

ocorrência das LS, reduzindo a qualidade e deixando marcas na superfície da

peça que, muitas vezes, não são toleradas esteticamente. A presença de LS é

um dos mais significantes problemas associados com o projeto de peças de

material plástico para aplicação estrutural. Linhas de solda de baixa resistência

mecânica são responsáveis por uma larga porcentagem de falhas de peças.

A falta de resistência de uma linha de solda é conseqüência de vários

fatores, que incluem [45,46]:

Emaranhamento ou difusão molecular incompleto;

Orientação molecular (ou de fibras, reforços) congelada na direção

desfavorável;

Presença de substâncias estranhas ou de microvazios na interface;

Canal de alimentação

Ponto de injeção

Jato turbulento e livre, sem encostar nas paredes da cavidade

61

Existência de “entalhe em V” (Figura 2.17) na superfície da linha de

solda, por formação do “fluxo de estagnação” e também pelo aprisionamento

de gases.

Quanto maior o comprimento de fluxo que o fundido tiver que percorrer

até o encontro de duas frentes e conseqüente formação da linha de solda,

piores serão as propriedades dessa LS, uma vez que as frentes se encontrarão

com menores temperaturas e, portanto, com menor mobilidade das moléculas

para emaranhamento [46]. Na luz visível a LS muitas vezes aparece como uma

zona mais opaca que o resto do corpo.

O efeito da presença de linhas de solda nas propriedades mecânicas de

termoplásticos pode ser quantitativamente expresso em termos do fator de

depreciação de linha de solda FLS [33]:

semLS

comLSLS P

PF = (2.3)

Sendo:

- Pcom LS - o valor da propriedade medida para a espécie com linha de

solda;

- Psem LS - o valor da mesma propriedade medida para a espécie sem linha

de solda.

A extensão da mudança nas propriedades físicas e químicas ocasionadas

pela presença da linha de solda depende de:

Habilidade das duas frentes de fluxo se encontrarem

homogeneamente;

Tipo e propriedades da resina base/matriz (viscosidade, calor

específico, cristalinidade, etc);

Espessura da peça moldada (quanto maior a espessura se espera que

o efeito depreciativo da LS seja menor);

Parâmetros de injeção como temperatura do polímero fundido,

temperatura do molde, pressão de empacotamento, tempo de compactação e

de resfriamento;

62

Presença de cargas, reforços e modificadores de impacto.

Para minimizar os efeitos da presença da LS pode-se [47]:

a) Variar as condições de processamento: O aumento na temperatura do

fundido tem se mostrado eficaz para reduzir os efeitos da linha de solda. Porém

deve ser considerado que existe um limite até o ponto no qual o polímero

começa a degradar e também que o aumento na temperatura do fundido

resulta num aumento no tempo do ciclo de moldagem. Outro fator que

influencia a LS é a temperatura do molde; no entanto, não é possível fazer uma

generalização como no caso da temperatura do fundido, sendo necessária uma

avaliação por material. A resistência da LS também é dependente do tempo e a

pressão de injeção. Tem-se comprovado que a diminuição do tempo de injeção

aprimora as propriedades. Parâmetros como a pressão e o tempo de

empacotamento também podem afetar a qualidade da linha de solda formada.

b) Redesenhar o molde: Nos casos em que essa possibilidade é viável,

pode-se modificar o molde visando deslocar a formação da LS para uma região

não crítica, onde as tensões não são muito altas ou onde a LS não é visível.

c) Modificar o design da máquina: Visando induzir fluxo transiente após a

formação da LS para haver mobilidade da LS formada e, com isso, melhora

das propriedades.

O efeito mais negativo da presença de linha de solda nas propriedades

mecânicas é observado para termoplásticos amorfos [46, 48] que exibem fratura

frágil nas condições ambientes (ex. PS, SAN). Em polímeros semicristalinos,

fatores adicionais como o grau de cristalinidade e o tamanho e distribuição dos

cristalitos também influenciam a resistência da linha de solda. O efeito

depreciativo da LS na deformação de ruptura de polímeros semicristalinos

aumenta com a diminuição da temperatura do fundido, visto que isso leva a

uma taxa de resfriamento mais lenta, resultando na formação de esferulitos

grandes. Temperaturas de molde mais altas também levam a uma taxa de

resfriamento mais lenta e, portanto, a esferulitos grandes.

63

Em polímeros carregados ou reforçados, a perda de resistência do

compósito na presença da LS está ligada à razão de aspecto da fase dispersa.

Enquanto a LS formada em compósitos com esferas de vidro e aditivos

aproximadamente esféricos como CaCO3 tem resistência praticamente idêntica

à do material sem LS, uma perda significativa ocorre nos materiais reforçados

com fibras ou aditivos lamelares. Essa perda de resistência é atribuída à

orientação das fibras ou lamelas paralelas à LS, como mostrado na Figura

2.17.

Figura 2.17 Orientação das fibras no plano da linha de solda, perpendicular à

direção de fluxo preferencial [28].

Num ensaio de tração, a tensão é transmitida para as fibras através de um

mecanismo de cisalhamento ao longo do comprimento da fibra. Assim, fibras

alinhadas perpendicularmente à direção da força aplicada, como acontece na

LS, têm pouco efeito de reforçamento [35].

2.10 – Propriedades Mecânicas de Compósitos Poliméricos

2.10.1 – Módulo Elástico

Uma das propriedades mais importantes na caracterização do

comportamento mecânico de um material é o seu módulo de elasticidade. Este

64

é caracterizado pela intensidade da resistência mecânica que o material

oferece ao se deformar elasticamente sob alguma solicitação mecânica, que

pode vir a ser de tração, compressão, flexão ou cisalhamento, considerando

que deformação elástica é uma deformação totalmente recuperável. A

incorporação de partículas sólidas de alto módulo e resistência em matrizes

poliméricas, em geral, restringe a mobilidade das cadeias poliméricas e a

deformação sob tensão aplicada, o que eleva o módulo elástico, mas é

necessária uma avaliação específica por tipo de compósito. Esse grau de

restrição aumenta em função do aumento da fração volumétrica da carga ou

reforço, considerando as outras variáveis constantes. É possível explicar esse

fenômeno pelo fato de que, tendo-se uma menor quantidade de matriz

polimérica livre para deformar, é necessário um maior esforço para causar uma

deformação e, conseqüentemente, um módulo elástico mais elevado é obtido.

A forma da partícula também influencia o módulo final. Reforços com razão de

aspecto maior que 1 (um), tendem a se orientar na direção do fluxo, dando

maior valor de módulo elástico paralelo à sua orientação [2].

O módulo de compósitos pode ser estimado através dos seguintes

modelos definidos por:

I) Takayanagi: prevê o comportamento dos compósitos desde que as

partículas presentes no mesmo: estejam orientadas na mesma direção do

compósito, possuam o comprimento do compósito moldado, estejam

distribuídas uniformemente e possuam uma boa adesão com a matriz

polimérica. São apresentadas duas situações distintas [49]:

A primeira situação ocorre para uma tensão aplicada em paralelo aos

componentes, de modo que todos tenham a mesma deformação. Esse modelo

é chamado de combinação de efeitos em “paralelo” e representa o limite

superior do módulo do compósito:

)1( fmffc EEE φφ −+= (2.4)

sendo:

65

- Ec o módulo elástico sob tração do compósito, Em o módulo elástico sob

tração da matriz polimérica e Ef o módulo elástico sob tração do reforço;

- φf → a fração volumétrica do reforço.

De agora em diante os sufixos c, m e f dirão respeito a propriedades do

compósito, da matriz e do reforço, respectivamente.

A segunda situação assume que as tensões aplicadas são iguais em

qualquer componente (em série) e as deformações se somam, representando o

limite inferior do modelo de Takayanagi:

f

f

m

f

c EE1

E1 φφ

+−

= (2.5)

Figura 2.18 a) modelo em “paralelo” com tensão aplicada na direção

longitudinal, b) modelo em “série” com tensão aplicada na direção transversal.

No entanto, para compósitos reais nas situações referidas anteriormente,

os valores dos módulos se situam entre esses limites, amplos demais, de modo

que surgiram outros modelos, apresentados na seqüência, que predizem com

maior precisão o módulo elástico de compósitos poliméricos.

a) b)

66

Figura 2.19 Módulos elásticos longitudinal EL (modelo em paralelo) e

transversal ET (modelo em série) de compósito unidirecional segundo equações

de Takayanagi, em função da concentração em volume de fibras (φfibras).

II) Kerner [50]:

)1(151

)108()57(

)1(151

)108()57(

_

_

__

_

_

__

υφ

υυφ

υφ

υυφ

f

fm

fm

f

fm

ff

m

c

GGG

GGG

GG

++

++

= (2.6)

onde, ν é o coeficiente de Poisson da matriz e G é o módulo elástico sob

cisalhamento.

A razão do módulo de cisalhamento (Gc/Gm = Gr) pode ser relacionada

com a razão do módulo elástico (Ec/Em = Er) através da relação:

( )ν+= 12GrEr (2.7)

III) Halpin e Tsai: desenvolveram equações empíricas que dão resultados

satisfatórios, e que poderiam generalizar essa equação de Kerner [50]:

67

f

fErφηφηξ

+=

11

(2.8)

sendo:

- ξ um fator empírico que depende da razão de aspecto e da distribuição

do reforço, das condições de carregamento e do coeficiente de Poisson da

matriz→ para o módulo longitudinal pode-se estimar ξ = 2 (l / d), sendo l/d a

razão de aspecto do reforço;

η+

=

1 -

m

f

m

f

EEEE

Quanto maior o valor do módulo do reforço, maior será η e maior o

módulo do compósito.

IV) Lewis e Nielsen: com o conceito da fração de empacotamento

máximo (φfmax), generalizaram ainda mais a equação de Kerner, obtendo [49,50]:

f

f

BAB

Erψφφ

+=

11

(2.9)

sendo:

- A

EEEE

B

m

f

m

f

+=

1 - ;

- A - uma constante relacionada ao coeficiente de Einstein (KE).

O fator empírico ψ depende da fração de empacotamento máximo da

carga (φfmax) e pode ser dado por:

- f2maxf

maxf11 φ

⎟⎟⎟

⎜⎜⎜

φ

φ−+=ψ

68

2.10.1.1 – Empacotamento de Partículas

Uma vez que o conceito de empacotamento de partículas foi citado acima,

cabe criar um sub-item para explicá-lo.

O empacotamento de partículas diz respeito à disposição ou arranjo

espacial mais eficiente destas partículas, de forma a ocuparem o menor volume

possível. Muitos arranjos de partículas são estudados para que se possa obter

a disposição de uma maior quantidade de material dentro de um mesmo

volume, reduzindo os vazios criados entre as partículas. Com isso é possível,

por exemplo, utilizar uma menor quantidade de matriz polimérica para uma

mesma quantidade de reforço, o que reduziria o custo do compósito. Reduziria

também a viscosidade durante o processamento da peça moldada, já que a

quantidade de polímero para conseguir molhar satisfatoriamente o reforço seria

menor. Distribuições granulométricas largas resultam em altos valores de

fração volumétrica de empacotamento máximo (φfmax) das partículas, o que

conseqüentemente reduz a viscosidade (ηr) do plástico carregado e reforçado,

como demonstrado na equação de Mooney abaixo:

fff

Er

φφη ⎟

⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

−=

max/1 (2.10)

onde KE é o coeficiente de Einstein, relacionado à restrição ao fluxo

ocasionado pela presença de partículas rígidas. Esse coeficiente tem seu

menor valor para partículas esféricas e tem maior influência em compósitos

com baixa concentração de reforços.

Tendo um compósito onde a fração em volume de reforço permaneça

constante (φf) e o valor da fração de empacotamento máximo seja aumentado

(φfmax) através da variação das características das partículas, o módulo

diminuirá, pois é obtida menor restrição elástica ao deslocamento sob

carregamento. Conseqüentemente a deformação do compósito vai aumentar

(εc). Isso pode ser vantajoso quando o compósito é constituído de cargas de

baixo custo, pois maiores quantidades dessas cargas serão acrescentadas

para se atingir um determinado valor de módulo, o que tende a baratear o

69

produto. Alguns valores de fração de empacotamento máximo estão expostos

na Tabela 2.3.

Tabela 2.3 Fração de empacotamento máximo de algumas cargas [51].

Formato da carga Geometria de Empacotamento φf max

Esferas Hexagonal 0,74

Esferas Cúbica de face centrada 0,74

Esferas Cúbica de corpo centrado 0,60

Esferas Cúbica simples 0,52

Esferas Aleatória 0,637

Irregular Aleatória 0,637

Fibras Aleatória (l/d = 5:1) 0,52

Fibras Aleatória (l/d = 20:1) 0,20

Fibras Aleatória em uma direção 0,637

Flocos Aleatória (l/d = 56:1) 0,33

Os estudos sobre empacotamento são de grande importância, pois é

possível otimizar a utilização de sistemas híbridos, tanto no que diz respeito às

propriedades mecânicas e processabilidade, quanto em relação à quantidade

de resina necessária para formulação do produto. Aumentando a eficiência de

empacotamento de um reforço híbrido fibro-particulado, por exemplo, como o

do presente estudo, é possível reduzir a viscosidade do fundido polimérico, que

contribuirá para maior mobilidade e coesão molecular caso ocorra a formação

de uma LS, assim como para redução do grau de orientação nessa região de

encontro das frentes, reduzindo a anisotropia e, conseqüentemente, o efeito

deletério da LS nas propriedades mecânicas do compósito.

Milewski [51] desenvolveu estudos para otimizar a combinação de fibras e

esferas no que diz respeito ao empacotamento. Esses estudos apresentaram a

dependência do empacotamento máximo de um sistema híbrido com:

A razão de aspecto (l/d) da fibra;

A razão (R) entre o diâmetro da esfera e o diâmetro da fibra;

A concentração de cada componente.

70

Alguns dos valores máximos de empacotamento encontrados

experimentalmente e previstos por Milewski estão expostos na Tabela 2.4.

Milewski apresenta seus valores de empacotamento como valores de

densidade relativa à densidade de um sistema 100% sólido. Ou seja, quanto

mais próximo de 100 for o resultado apresentado por Milewski, maior é o

empacotamento do sistema.

Tabela 2.4 Resultados de empacotamento encontrados por Milewski [51]. Valores de R

l/d Fibra

% de Fibra

0 0,11 0,45 0,94 1,95 3,71 6,96 14,30 17,40 ∞

25 68,5 68,5 65,4 61,7 61,0 64,5 70,0 74,6 76,4 82,0

3,91 50 76,4 74,6 67,2 61,7 60,2 64,1 67,5 72,5 74,5 75,7

75 78,2 69,5 64,5 61,0 59,5 62,5 64,2 66,7 67,2 67,1

25 68,5 68,5 64,5 61,0 58,5 59,9 64,5 73,5 74,6 80,6

7,31 50 76,4 71,4 67,5 58,8 55,5 56,6 58,8 65,4 67,1 67,1

75 66,3 61,7 60,0 55,0 52,8 53,5 54,6 57,2 58,2 57,4

25 68,5 66,7 63,7 59,9 54,6 50,3 50,5 54,1 57,5 65,0

15,52 50 61,7 55,6 51,8 50,7 45,5 42,0 42,4 44,3 44,3 48,1

75 41,0 40,4 37,9 38,2 37,3 35,7 35,5 36,0 36,8 38,2

25 68,5 66,5 61,5 55,5 47,5 45,5 40,2 42,7 44,7 50,5

24,50 50 40,0 39,0 38,0 36,0 34,0 32,7 30,3 31,8 31,8 33,5

75 26,4 26,3 26,2 25,8 25,5 25,2 24,3 25,0 25,6 26,2

25 50,0 48,0 45,0 42,0 39,4 37,7 33,8 33,1 39,2 41,3

37,10 50 25,7 --- --- --- --- --- 22,6 22,6 22,6 25,6

75 ---- --- --- --- --- --- --- --- --- ---

2.10.2 – Comportamento de Resistência

Grande parte das cargas apresentam uma curva de resistência à tração

relativa versus concentração da carga decaindo, intermediária a duas curvas

limites que também decaem, sendo uma com derivada decrescente e outra

com derivada crescente, como mostrado na figura abaixo [50].

71

Figura 2.20 Curvas típicas de resistência à tração relativa versus concentração

da carga, mostrando os limites superior e inferior.

O limite inferior da resistência à tração de um polímero carregado pode

ser estimado pela equação de Nicolais e Nicodemo [50]:

)1( bfmc aφσσ −= (2.11)

sendo “a” uma constante relacionada à concentração de tensão, “b” a

constante relacionada à geometria da carga e φf a fração volumétrica da carga

no compósito.

Para cargas de partículas esféricas sem nenhuma adesão com a matriz

polimérica “a” é igual a 1,21. Quando existe alguma adesão, “a” é menor que

1,21, pois existe uma menor tensão induzida no polímero pela carga. Isso se

manifesta como uma menor perda na resistência à tração com o aumento da

concentração da carga. O fator ‘b’ é 2/3 quando a fratura ocorre aleatoriamente

ao longo da amostra, e é igual a 1 para fratura plana.

O limite superior da resistência à tração para polímeros carregados com

partículas esféricas foi estimado por Leidner e Woodhams como sendo [50]:

)1()( fmfmIc C φσφτσσ −++= (2.12)

onde σI é a resistência à tensão interfacial entre o polímero e a carga, C é

uma constante determinada (0,83) e τm é a resistência ao cisalhamento do

polímero.

Muitos sistemas apresentam uma modesta melhora no reforçamento a

pequenas concentrações de carga e, depois, uma perda na resistência à tração

a cargas maiores. Uma representação alternativa, que apresenta o formato

côncavo do limite superior (crescimento seguido de queda), com o

aparecimento de um máximo, é dada por [50]:

1σcompósito / σpolímero

Concentração volumétrica

Limite superior

Limite inferior

72

)1( df

bfmc ca φφσσ +−= (2.13)

Essa equação não é uma predição teórica, não pode ser usada para

predizer o comportamento de amostras não testadas. Mas as constantes

devem ser determinadas a partir de dados experimentais. Os valores de “a” e

“b” não devem ser muito diferentes dos encontrados para o limite inferior. Os

valores de “c” e “d” devem ser indicadores mais fortes da adesão polímero-

carga [50]. O tamanho da partícula influencia também na resistência à tração do

compósito. Quando aumentamos o tamanho médio de partículas a resistência

diminui. Esse fato pode ser explicado por alguns fatores [31,37,3]:

Com uma mesma fração de partículas, diminuindo o tamanho das

mesmas, a área superficial aumenta e a distância entre as partículas diminui.

Desta forma, existirá uma menor quantidade de regiões poliméricas (que se

deformam mais) entre as partículas para resistir à tensão aplicada, havendo

ainda uma distribuição mais uniforme de tensão, e conseqüentemente, de

deformação, levando a um aumento na resistência à tração;

Considerando que o campo de tensões perto de uma partícula

independe do tamanho desta, e como com partículas menores existirão

menores volumes de polímero, a probabilidade de se encontrar uma trinca será

menor;

Durante a tração de um compósito existe a tendência de ocorrer o

desacoplamento (debonding) das cargas. Com partículas menores, os vazios

(defeitos) deixados pelo desmolhamento são menores, sendo menos

prejudiciais à resistência da peça moldada;

Partículas com menores tamanhos concentram menores tensões, e o

seu desmolhamento é reduzido pelo arraste viscoso, evitando que se atinjam

altos níveis de tensão.

Assim, durante a “compostagem” é necessária uma boa dispersão para se

evitar a formação de aglomerados, pois estes irão funcionar como partículas

grandes que quebram facilmente quando tensionadas; além de reterem ar e

vazios nos seus interiores. Vale aqui a diferenciação entre agregados e

aglomerados quando é relacionado com reforços minerais: agregado é a

73

junção entre partículas formada por ligações fortes, que sendo rompidas irão

formar partículas menores da mesma espécie. No caso da carga mineral de

talco, a quebra de agregados é a delaminação das lamelas maiores em

lamelas menores. Já aglomerados são formados por ligações fracas possuindo

vazios entre os constituintes [3].

Tem sido demonstrado também que para ocorrer um reforçamento

mecânico eficiente dos materiais poliméricos, os reforços têm que possuir uma

maior razão de aspecto para que possa existir uma transferência efetiva da

carga aplicada sob a forma de deformações em cisalhamento na matriz, junto à

interface matriz-reforço.

A distribuição da tensão ao longo de uma fibra pode ser compreendida

considerando o equilíbrio de forças em um pequeno elemento volumétrico da

fibra.

Figura 2.21 Equilíbrio de forças de um comprimento infinitesimal de uma fibra

descontínua alinhada paralelamente à carga aplicada [31].

Fazendo o equilíbrio das forças envolvidas, é obtido:

rdxd f τσ 2

= (2.14)

sendo:

- σf = resistência à tração da carga ou reforço;

- τ = tensão cisalhante interfacial entre o polímero e o reforço;

- r = dimensão sob a qual atua a carga (raio da fibra, para este caso);

- dx= distância infinitesimal da extremidade da partícula.

x dx

74

A transferência da tensão aplicada da matriz para o reforço se dá através

de deformações em cisalhamento na matriz, ao longo da interface. A tensão

cisalhante interfacial é um fator determinante na resistência final do compósito.

Quando seu valor é superior à resistência de um dos componentes ou da

interface, ocorre a falha mecânica do sistema.

A Equação 2.14 acima é resolvida para diversos modelos de matrizes e

reforços (em relação ao comportamento elasto-plástico de cada componente).

Para o caso de uma matriz com deformação plástica e reforço com deformação

elástica tem-se:

rxy

σ2

= (2.15)

Sendo necessário um comprimento crítico mínimo (lc) para qual se possa

atingir uma transferência máxima de carga da matriz ao reforço, com valores

que se aproximem da tensão de ruptura do reforço.

τ2fσ

dcl = (2.16)

Para se obter um reforço e não um enchimento, a razão de aspecto

mínima ( )cdl deve ser elevada a um nível onde as partículas participem do

carregamento do compósito sob tensão mecânica, de modo que a tensão seja

efetivamente transferida da matriz para as partículas.

A tensão no reforço irá crescer linearmente até atingir o valor máximo ao

centro do comprimento do reforço, se ele for suficientemente longo será

possível carregar até a sua tensão de ruptura ( *fσ ). A distribuição da tensão

tracional ao longo do reforço elástico e matriz plástica será conforme a Figura

2.22.

Figura 2.22 Variação da tensão de tração no reforço com diferentes razões de

aspecto [31].

75

Para reforço e matriz com comportamentos elásticos, a transferência de

tensão de tração na fibra e tensão de cisalhamento interfacial não será linear e

se dará conforme ilustrado na Figura 2.23.

Figura 2.23 Distribuição de tensão de tração no reforço e tensão de

cisalhamento interfacial [31].

Uma equação válida para fibras longas (ou contínuas), estando todas

alinhadas em uma única direção, com aplicação da tensão de tração ao longo

do comprimento das fibras é dada pela “Regra de Mistura”, que apresenta, em

uma primeira aproximação, a resistência à tração do compósito na direção

paralela às fibras:

)1('fmffc φσφσσ −+= (2.17)

onde σ’m é a tensão na matriz correspondente à deformação de ruptura das

fibras.

No caso de fibras curtas (ou descontínuas), a tensão irá variar, existindo

regiões nas suas extremidades onde a tensão vai ser inferior àquela verificada

na fibra contínua. Calcula-se então a tensão média da fibra:

∫=l

0dxfσl

1fσ (2.18)

Matriz

Fibra

76

Com valores superiores à razão de aspecto mínima cd

l⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ :

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−=

N

cff

Ll

21σσ (2.19)

onde LN é o comprimento médio da fibra presente no compósito.

Inserindo na Equação 2.17 a tensão média para fibra curta (Equação

2.19) e um fator de correção para o alinhamento (η), obtém-se uma equação

para fibras curtas:

)1(2

1 'fm

N

cffc L

l φσηφσσ −+⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−= (2.20)

O valor de η muda de acordo com a orientação das fibras com o sentido

de aplicação da tensão. Quando:

η = 1 → as fibras estão totalmente alinhadas e são testadas na direção

de alinhamento;

η = 1/3 → distribuição aleatória em um só plano das fibras;

η < 1/6 → fibras totalmente alinhadas aleatoriamente nas três

dimensões espaciais.

2.10.3 – Comportamento Deformacional

Cargas minerais e reforços fibrosos de alto módulo normalmente

aumentam o módulo elástico do compósito para pequenas deformações. Mas

causam também uma diminuição drástica na deformação de ruptura, devido à

restrição da movimentação da matriz, ocasionada pela presença das partículas.

A teoria para o comportamento deformacional do compósito sob

carregamento mecânico é bastante complexa, sendo que os resultados

esperados dependem do mecanismo exato de fratura. Entretanto, modelos

simples fornecem resultados qualitativos e, freqüentemente, um conhecimento

semi-quantitativo dos resultados experimentais [50]. A Equação 2.21 de Nielsen [49] é uma boa aproximação para sistemas onde existe uma boa adesão

interfacial:

77

)1( 31fmc φεε −≈ (2.21)

sendo ε a deformação na ruptura.

0.0 0.2 0.4 0.6 0.80.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

Adesão perfeita

Baixa adesão interfacialD

efor

maç

ão R

elat

iva

na R

uptu

ra

Fração Volumétrica da Carga Figura 2.24 Curvas teóricas para a deformação relativa na ruptura de polímeros

carregados em função da concentração de carga, para a condição de adesão

perfeita e sem adesão [49].

Ferrigino [5,7,8] apresentou uma equação (2.22) onde a deformação do

compósito é obtida em função da fração volumétrica máxima de

empacotamento das partículas da carga. Esta é muito consistente com muitos

dados experimentais, apesar de desconsiderar fatores como a adesão entre a

matriz e carga, razão de Poisson da matriz, coeficiente de Einstein, dentre

outros.

⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡⎟⎠⎞⎜

⎝⎛−=

31

max1 ff

mc φφεε (2.22)

O tamanho das partículas também influencia na deformação dos

compósitos. Para baixas concentrações de carga, mantendo constante a

adesão interfacial, é observado que partículas menores contribuem para uma

maior alongamento até a fratura, por possuírem uma inércia menor que

partículas maiores e poderem se movimentar junto com a matriz polimérica à

medida que esta se deforma plasticamente [49].

78

79

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A revisão bibliográfica foi feita em bases de dados como Capes

Periódicos, Probe, Web of Science, Dedalus (acervo bibliográfico da USP),

entre outras. Muitos livros que tratam de assuntos referentes a compósitos

poliméricos e linhas de solda também foram consultados. Os principais tópicos

pesquisados, que se relacionam, de alguma forma, com o projeto de Mestrado

em questão foram:

Copolímero de propileno;

Compósitos poliméricos reforçados com fibra de vidro ou talco;

Relação existente entre características da carga ou reforço

(granulometria, razão de aspecto, efeito nucleante, orientação

preferencial, concentração, etc) e as propriedades dos compósitos;

Linhas de solda;

Compósitos com reforços híbridos em geral;

Influência dos parâmetros de processamento nas propriedades finais

do moldado;

Morfologia de moldados por injeção e sua influência nas propriedades

mecânicas.

• Ojeda et al. [25] estudaram a influência do teor de etileno (0 a 5,4% em

peso) nas propriedades físicas de copolímeros de propileno-etileno. Foi

verificado que a elevação do teor de etileno além de 3% dá origem à formação

de borracha propileno-etileno (EPR) e que as partículas de borracha dispersas

na matriz cristalina (visíveis apenas no microscópio eletrônico) conferem um

eficiente mecanismo de absorção de energia mecânica por deformação

elastoplástica, o qual deve causar um aumento da resistência ao impacto do

material. Em relação ao homopolímero, os copolímeros apresentaram

estruturas esferulíticas de menor tamanho, de contornos mais irregulares e

indefinidos e de estrutura interna mais irregular; devido à perturbação do

processo de cristalização pelas partículas borrachosas.

80

• Jang et al. [52] estudaram copolímero de propileno heterofásico em

comparação com a blenda de PP com EPR, ambos contendo 15% de EPR.

Numa análise do PPcop em Microscopia à Sonda (Scanning Probe Microscopy),

acoplada a uma sonda térmica, a borracha de EPR foi facilmente identificada

como áreas escuras na matriz de PP. Áreas mais claras também foram

observadas nas regiões de EPR, o que, segundo os autores, tende fortemente

a ser fase de polietileno (PE) dentro da região de EPR, como apresentado na

Figura 3.1. A morfologia da blenda mecânica foi completamente diferente,

sendo que os domínios de EPR foram bem menores e bem distribuídos na

matriz de PP e não foi vista uma região mais clara dentro desses domínios.

Nas micrografias de luz polarizada do PPcop os esferulitos aparecem

pequenos e densos e o crescimento esferulítico é muito rápido, enquanto na

blenda mecânica os esferulitos são grandes e crescem a uma taxa lenta.

Segundo os autores, durante a cristalização do fundido tanto difusão por

cristalização quanto difusão na interface de cada fase ocorrem: é formado um

EPR cristalino sob cristalização na interface da matriz de PP ou do domínio de

PE, resultando num aumento da miscibilidade na interface e um espessamento

da camada interfacial segmental. A cristalização da matriz de PP é seguida

pela migração de PP atático e EPR amorfo de alto peso molecular da região

cristalina para a região amorfa (interface do esferulito ou domínio de EPR).

Com esse estudo confirmou-se que o copolímero de propileno é formado por

múltiplas fases: PP, PE e EPR (amorfo e cristalino).

(a) (b)

Figura 3.1 Micrografias (a) do copolímero heterofásico de propileno e (b) da

blenda mecânica de PP com EPR [52].

81

O termograma de cristalização do PPcop (com 15% de EPR) apresentou

dois picos de cristalização: do PP (113,6 ºC) e do PE (100,6 ºC), como

mostrado abaixo.

Figura 3.2 Curva de DSC do copolímero de propileno heterofásico; picos de

cristalização no resfriamento (a uma taxa de 10 ºC / min) [52].

O PPcop apresentou melhores propriedades mecânicas, como resistência

à tração, temperatura de distorção térmica e dureza Rockwell, do que a blenda

mecânica, devido, provavelmente, à presença de PE no copolímero, enquanto

não há fase de PE na blenda mecânica.

• Viana [35] estudou as condições de moldagem por injeção que afetam o

desenvolvimento da camada superficial pele (skin) em diferentes geometrias de

moldados feitos com copolímero de propileno-etileno. As condições

termomecânicas envolvidas no processo foram avaliadas através da

temperatura local da massa de fundido (Tb) e da tensão de cisalhamento

máxima no final do preenchimento, simuladas por software de injeção C-Mold.

O estudo mostrou que a Tb do material é governada pelas temperaturas de

injeção e do molde e pela taxa de fluxo, sendo que um incremento nos valores

dessas variáveis leva a um aumento em Tb. A taxa de injeção Qinj controla a

taxa de cisalhamento imposta ao material durante o estágio de preenchimento.

Fluxo de calor (w/g)

Temperatura (oC)

82

Uma maior Qinj levou a um aumento (ou menor redução) em Tb no final do

preenchimento, devido a uma provável maior dissipação de calor.

A formação da camada pele foi relacionada a duas variáveis de tempo:

tempo tR necessário para se atingir a temperatura de cristalização, durante o

qual pode ocorrer a relaxação da orientação induzida por fluxo, e tempo de

relaxação do material, λ. As principais conclusões foram:

Para todos os moldados a espessura da pele diminuiu com o aumento

dos níveis térmicos e de tensão de cisalhamento, embora tenham sido

observados diferentes graus de contribuição de cada variável com as diferentes

geometrias estudadas.

Variações na temperatura de injeção têm uma forte influência no

desenvolvimento da camada pele. O aumento nessa temperatura resulta em

um incremento no tempo tR, para alcançar a temperatura de cristalização, e

numa redução no tempo λ de relaxação do material, ambos os efeitos

contribuindo para a diminuição da espessura da pele.

O efeito da temperatura do molde se manifesta de dois modos

opostos. A diminuição da temperatura do molde leva a um aumento da taxa de

resfriamento e, portanto, a uma diminuição do tempo para atingir a temperatura

de cristalização, o que tende a levar à formação de uma camada pele mais

espessa. Por outro lado, a temperatura de cristalização também é diminuída

com o aumento da taxa de resfriamento, o que acaba aumentando o tempo tR e

induzindo à formação de uma camada pele mais fina (maior tempo para

relaxação). Assim, segundo o trabalho, essa variável tem, em geral, uma

pequena contribuição no desenvolvimento da pele.

O aumento da taxa (velocidade) de injeção aumenta a temperatura e o

nível de cisalhamento do fundido. O aumento do cisalhamento imposto leva a

dois efeitos competitivos: aumento da temperatura de cristalização, reduzindo o

tempo tR para atingir essa temperatura (pele mais espessa) e diminuição do

tempo de relaxação λ do material (pele mais fina). A formação da pele é

dependente da magnitude dos dois efeitos. Entretanto, o aumento

concomitante da temperatura do fundido imposto por taxas de fluxo maiores

83

levou ao afinamento da pele. O balanço final foi a redução da espessura da

pele com o aumento da taxa de injeção.

A geometria do molde teve grande influência no nível de tensão de

cisalhamento e, portanto, no desenvolvimento da pele.

• Viana, Cunha e Billon [40] estudaram as relações existentes entre a

microestrutura formada (avaliada pela espessura da pele e pelo tamanho dos

esferulitos do núcleo) e as propriedades mecânicas de um copolímero de

propileno-etileno moldado por injeção. As variações na microestrutura foram

obtidas através de variações sistemáticas das condições de processamento,

que incluíram as temperaturas de injeção e do molde e a taxa de injeção.

Foram realizados ensaios de tração, a baixas velocidades (2 mm/min) e

ensaios de impacto-tracional, a altas velocidades (3 m/s), sendo que foram

obtidos e analisados valores de tensão de escoamento (σy), módulo inicial (E),

deformação na ruptura (eb) e energia de ruptura (ub) por área transversal do

corpo de prova.

Segundo o trabalho, o tamanho dos esferulitos do núcleo, ao menos

quando esses esferulitos apresentam pequenas dimensões (1,5 a 3,5 μm), não

se mostrou um parâmetro microestrutural determinante para as propriedades

encontradas em ambas as velocidades de ensaios de tração. Em se tratando

da espessura da pele, seu aumento levou a um aumento no módulo E e na

tensão de escoamento, devido à formação de uma maior quantidade de

material orientado na direção de tracionamento, nas duas velocidades

estudadas. Por outro lado, esse aumento no grau de orientação também levou

a uma diminuição na deformação de ruptura do material com camada pele mais

espessa. Com relação à energia de quebra por área de material, a influência da

espessura da camada pele e do tamanho dos esferulitos do núcleo nessa

propriedade foi pequena.

• Karger-Kocsis et al. [26] estudaram a influência das fases α e β no

comportamento de moldados de três grades comerciais de PP homopolímero

de diferentes índices de fluidez (MFI) em ensaio de impacto-tracional. A

84

moldagem por injeção levou à formação natural da estrutura que foi

denominada de α-PP, enquanto a formação do β-PP foi induzida através da

adição de um nucleante específico da fase β antes da injeção. Com o intuito de

se verificar também o efeito da estrutura pele-núcleo nas propriedades, duas

velocidades de injeção foram adotadas: vinj = 6 e 150 mm/s.

Foi demonstrado que o aumento do peso molecular do polímero

(diminuição do MFI) leva a um aumento na espessura da camada pele. Em se

tratando do efeito da velocidade de injeção, o aumento de vinj praticamente não

influenciou a espessura da pele dos polímeros de maior índice de fluidez (5,5 e

13,4 g/10min). Porém, no caso do polímero de baixíssimo MFI (0,76 g/10min),

a elevação de vinj resultou em uma diminuição da espessura da camada pele,

de maior orientação, como exposto na Tabela 3.1.

A partir do tratamento dos dados obtidos do ensaio de impacto-tracional

foram derivados os valores de módulo (E), de deformação na ruptura (εb) e de

energia de impacto (Wf).

Tabela 3.1 Espessuras da camada pele encontradas para os diferentes grades

comerciais de PP moldados por injeção sem (α-PP) e com nucleante da fase β

(β-PP).

Espessura da

pele (μm)

vinj (mm/s) PP

MFI (g/10min)

Mw

(kg/mol)

6 150

α-H3 60-70 60-70

β-H3 13.8 219

60 60

α-H5 130 110

β-H5 5.5 268

120 100

α-H7 350-400 250

β-H7 0.76 441

250-300 200

85

Pôde ser observado que a rigidez do α-PP é superior à do β-PP, enquanto

a energia de impacto Wf do β-PP foi consideravelmente superior à encontrada

para o α-PP. Esses comportamentos são coerentes com o conhecimento de

que um aumento na rigidez geralmente está correlacionado a uma diminuição

na tenacidade e vice-versa.

A avaliação do efeito da estrutura pele-núcleo no comportamento sob

impacto-tracional foi feita em cima dos resultados encontrados para a amostra

α-H7 e β-H7, uma vez que esse grade de alto peso molecular foi o que

apresentou variação significativa da espessura da pele com a velocidade de

injeção.

O módulo do sistema α-H7 diminuiu com o aumento de vinj, enquanto que

para o sistema β-H7 houve um aumento do módulo com a mesma variação de

velocidade. Segundo os autores, esses comportamentos resultam de um efeito

complexo combinado da morfologia pele-núcleo, da espessura e orientação da

pele e do estado de tensões interno do moldado.

Com relação a Wf, foi observado um aumento significativo na energia de

impacto com o aumento da velocidade de injeção para o sistema α-H7. Porém,

no caso da deformação na ruptura houve uma tendência oposta e o aumento

de vinj resultou em uma diminuição de εb.

De acordo com os autores, considerando a proximidade dos resultados e

os desvios incorporados, a energia ao impacto e a deformação de ruptura do

sistema β-H7 mostrou-se insensível à variação da velocidade de injeção.

No trabalho em questão também foi analisada a superfície de fratura dos

corpos de prova por Microscopia Eletrônica de Varredura e foi verificado que o

início da fratura em amostras α-H7 ocorre na zona intermediária às camadas

pele e núcleo (zona de cisalhamento), que atua como uma região fraca na

estrutura, conforme mostrado na Figura 3.3. Essa zona de transição está

sujeita à formação de vazios devido à contração volumétrica diferencial

induzida pela densidade cristalina diferencial pele-núcleo. De acordo com os

autores, o aumento da velocidade de injeção torna essa zona de cisalhamento

mais pronunciada e leva à fratura prematura. O núcleo apresentou aparência

rugosa, deformada.

86

Figura 3.3 Fotomicrografias de MEV tiradas de uma superfície de fratura

da amostra α-H7 moldada com vinj = 6 mm/s e rompida em ensaio de impacto-

tracional: a) superfície total de fratura com as setas indicando a zona de

cisalhamento, de início da fratura e b) região do núcleo.

• Martinatti e Ricco [27] estudaram sistemas de PP com EPR, com talco

ou carbonato de cálcio. A adição de talco em PP se mostrou mais efetiva para

aumento do módulo do que a adição de CaCO3. No estudo a adição de 10%

em volume de talco aumentou 58% o módulo do PP puro, contra 34% de

aumento para a adição do mesmo teor de CaCO3. Esse efeito, segundo os

autores, pode ser atribuído principalmente à rigidez do talco (~ 170 GPa) ser

maior que a do carbonato (~35 GPa). No caso da resistência à tração, o

formato lamelar das partículas de talco e a conseqüente orientação também

foram considerados nesse trabalho como fatores responsáveis pelo

aprimoramento da resistência à tração do PP com essa carga,

comparativamente ao carbonato de cálcio. A adição da fase elastomérica

causou uma diminuição no módulo.

• No estudo de Leong et al. [53] em matriz de PP, o aumento do teor de

talco aumentou o módulo, diminuiu a deformação de ruptura e a resistência à

tração apresentou um máximo na concentração de 30% de talco. O aumento

da resistência do compósito a baixos teores de carga pode ser atribuído,

segundo os autores, à dispersão homogênea das partículas de talco, uma vez

que partículas bem dispersas fazem com que o caminho percorrido pela trinca

seja mais longo, aumentando a deformação plástica. Assim, a energia de

fratura aumenta com o aumento do teor de carga, para baixas concentrações,

aumentando a resistência do compósito. Porém, com um aumento no teor de

87

talco, segundo comentado no trabalho, ocorre maior desacoplamento das

partículas de talco da matriz polimérica, gerando vazios, que crescem para

formar a trinca. Em adição, o maior teor de aglomerados diminui a resistência

mecânica, devido à baixa resistência dos próprios aglomerados.

• Alonso, Velasco e Saja [29] estudaram compostos de PP isotático com

2, 5, 10, 20 e 40% de talco e verificaram que a orientação preferencial das

partículas lamelares de talco na direção da injeção, verificada por MEV, foi

mais perfeita nos compósitos de baixa concentração do que nos de alta

concentração de talco. Uma porcentagem maior de talco aumentou a

temperatura de cristalização. O efeito nucleante do talco aumentou para

concentrações até 10% e depois estabilizou.

• Guerrica-Echevarría et al. [52] avaliaram compósitos de PP com 10, 20

e 40% de talco e verificaram que o módulo elástico aumenta aproximadamente

de forma linear com a concentração de talco (aumento de cerca de 40% no

módulo para cada 10% de carga adicionada), pois o PP é substituído por

partículas mais rígidas que retêm a sua mobilidade e deformação. A tensão de

escoamento apresentou um suave crescimento para teores de talco até 5% em

volume, e depois um suave decréscimo, mantendo-se praticamente constante.

A deformação na ruptura caiu drasticamente com o aumento de talco, devido

ao efeito de reforço das partículas rígidas e da concentração de tensão na

interface entre as partículas não deformáveis e a matriz polimérica.

Os mesmos autores estudaram também a influência das condições de

processamento nas propriedades mecânicas dos compósitos e verificaram que

a velocidade de injeção não alterou as propriedades significativamente,

provavelmente devido à alta taxa de cristalização e alta cristalinidade do PP,

que influenciou mais as propriedades mecânicas do que os diferentes graus de

orientação. A variação do módulo com a temperatura do molde está

apresentada na Figura 3.4. Embora suave, uma tendência de aumento do

módulo com a temperatura do molde se repetiu. Isso não era esperado, uma

vez que, conforme a temperatura do molde aumenta, uma menor camada

88

congelada “pele” (skin) com orientação favorável à direção de solicitação em

tração deve ser formada. Então um menor valor de módulo era esperado.

Desta forma, outros fatores devem ter contribuído para o aumento do módulo.

Conforme a temperatura do molde aumenta, aumenta o tempo de resfriamento

e de empacotamento do polímero no estado fundido, de forma que uma maior

cristalinidade e/ou um estado amorfo mais compactado são esperados,

resultando num material mais rígido e, conseqüentemente, com menor

deformação na ruptura também (diminuiu com o aumento da temperatura do

molde). Os autores dizem que, na análise em Calorimetria Diferencial de

Varredura (DSC), não foi observada uma mudança significativa na

cristalinidade com o aumento da temperatura do molde, de modo que o

aumento do módulo deve ser referente à formação de uma fase amorfa mais

compactada. Essa hipótese foi comprovada pelo aumento da densidade da

fase amorfa com o aumento da temperatura do molde, sendo que a densidade

da fase amorfa foi calculada a partir de dados de cristalinidade obtidos por

DSC, valores de densidade experimentalmente obtidos e valores de densidade

extraídos da literatura para o PP 100% cristalino. Foi observado que o efeito da

diminuição da deformação de ruptura com o aumento da temperatura do molde

foi mais acentuado nos compósitos com baixo teor de talco, uma vez que

nesses a fração de PP é maior e, portanto, a compactação de sua fase amorfa

tem mais influência.

(a) (b)

Figura 3.4 (a) Influência da temperatura do molde (T molde) no módulo de

(•)PP, ( )PP com 10% de talco, (♦) PP com 20% de talco e ( )PP com 40%

de talco; (b) Influência da temperatura do molde na densidade da fase amorfa

do PP com taxa de injeção de (—) 20,36 cm/ s e de (- - -) 1,68 cm/s.

Mód

ulo

(MPa

)

Dens

idad

e (g

/ cm

3 )

T molde (ºC) T molde (ºC)

89

Porém, os mesmos autores verificaram que o aumento da temperatura do

fundido (200 para 250 ºC) diminuiu o módulo (diminuiu em média 110 MPa) e a

tensão no escoamento (diminui em média 1,6 MPa) e aumentou a ductilidade.

Esse resultado eles atribuíram à menor orientação das cadeias de PP e mesmo

das partículas de talco na direção de fluxo e de solicitação mecânica. Mas eles

não conseguiram verificar essa orientação por contração, birrefringência ou

microscopia eletrônica de varredura (MEV). Maiores temperaturas do fundido

também tendem a fornecer menores tensões internas e pontos de

concentração de tensão, de modo a fornecer maiores deformações.

Foi notado também que as condições de processamento têm pouca

influência no efeito nucleante do talco e que a presença de 10% de talco

aumentou a temperatura de cristalização do PP de 115 para 123 ºC, que se

manteve praticamente constante para teores maiores de talco.

A pesquisa em cima de linhas de solda também foi feita de maneira

aprofundada, com o intuito de se conhecer sua influência em diversos sistemas

polímero/reforço.

• Tjader et al. [55] investigaram o efeito da linha de solda de encontro

frontal nas propriedades de tração e de impacto-tracional de diferentes

amostras de polipropileno (não nucleado – PP1, e nucleado – PP2). O

comportamento mecânico foi correlacionado às propriedades do material e à

morfologia da região de linha de solda. As amostras foram analisadas em

Microscópio Óptico de Luz Polarizada e em Microscópio de Transmissão em

dois diferentes planos, com relação à posição da linha de solda, como

apresentado na Figura 3.5.

90

Figura 3.5 Modelo esquemático das amostras microtomadas para análise em

Microscópio: (a) paralela à espessura da barra de tração – P e (b) plano

perpendicular à espessura – T.

Em Microscópio Óptico de Luz Polarizada a LS foi observada como uma

reta, em amostras cortadas transversalmente à espessura (amostras T), e de

maneira curva, circundada por uma zona de orientação escura, em amostras

cortadas paralelamente à espessura (amostras P). A Figura 3.6 exibe uma

fotomicrografia da LS em amostras T (aparência reta da linha de solda) e um

esquema da área de linha de solda aparente em amostras P. Essa

característica curva de intrusão do material através da zona da linha de solda

foi causada, segundo os autores, pelo fluxo de compactação após a união das

duas frentes de fluxo provenientes de entradas opostas.

Figura 3.6 (a) Micrografia óptica da região reta de linha de solda em amostras T

e (b) esquema da linha de solda curvada com sua zona de orientação de

amostras P.

91

A linha de solda do PP1 (não nucleado) só foi vista até 80 μm distante da

superfície (amostras T). Essas amostras apresentaram uma estrutura

esferulítica bem desenvolvida e uma região de LS não esferulítica. Essa região

de linha de solda foi contornada, na matriz de esferulitos α-monoclínicos, por

muitos esferulitos do tipo β-hexagonais bem desenvolvidos. A uma distância de

500 μm ou mais da LS a mesma característica esferulítica foi observada, porém

com esferulitos β presentes em menor número e menor dimensão. Segundo os

autores, a alta concentração de esferulitos do tipo β ao redor da LS pode ser

causada pelas forças de cisalhamento sofridas pelo fundido quando as duas

frentes de fluxo provenientes de entradas de injeção opostas se encontram.

Amostras foram investigadas também por Microscopia Eletrônica de

Transmissão (MET). A LS cria um entalhe em V na superfície, que pôde ser

observado por MET. Esse entalhe atua como concentrador de tensão e reduz a

resistência mecânica de amostras com LS. A LS afetou apenas a morfologia da

camada superficial “pele” do PP1 (não nucleado). Abaixo da camada pele e do

entalhe em V uma morfologia esferulítica homogênea foi observada em

amostras T. Em amostras P (paralelas à espessura) esferulitos do tipo α bem

desenvolvidos foram encontrados. O tamanho dos esferulitos na região ao

redor da LS foi menor do que o encontrado no restante da matriz. A amostra de

PP2 (nucleado) teve um entalhe em V mais profundo na superfície. Nas

amostras T, em torno do entalhe em V as lamelas ficaram orientadas paralelas

à LS até uma certa distância. Mais distante do entalhe nenhuma mudança na

morfologia pôde ser detectada. Nas amostras P, amontoados de lamelas

orientadas paralelamente e perpendicularmente e também estruturas cruzadas

foram vistos nas proximidades da LS. Algumas amostras T foram cortadas a

700 μm da superfície, mas nem a interface da LS nem nenhuma orientação

significante foram observadas nessa profundidade.

Em se tratando da análise das propriedades mecânicas, as amostras de

impacto-tracional não entalhadas romperam em diferentes lugares: na LS, na

matriz distante da mesma ou na garra. De acordo com os autores, devido à

baixa confiabilidade nesses resultados eles não foram usados. As amostras de

PP2 fraturaram de maneira frágil. Micrografias de MEV revelaram que as

92

fraturas das espécies não entalhadas foram iniciadas por um defeito, que atuou

como um concentrador mais forte do que a própria LS. No caso das amostras

PP2, esse defeito concentrador de tensão foi o entalhe em V, onde as fraturas

foram iniciadas, enquanto que para o PP1, de entalhe em V superficial, pouco

perceptível, a fratura se originou aleatoriamente ao longo do corpo de prova. A

orientação nas proximidades da LS para a amostra PP2 enfatizou o efeito

concentrador de tensão do entalhe em V.

A presença da LS não afetou a resistência mecânica do PP em ensaio de

tração. A deformação na ruptura do PP2 sofreu uma queda de 62% na

presença da LS. A amostra com LS rompeu sem empescoçamento, enquanto

que a referência manteve esse fenômeno. Porém, no caso do PP1, a

deformação continuou ultrapassando os limites da máquina (maior que 400%),

de modo que não pôde ser avaliada.

No caso do ensaio de impacto-tracional feito em corpos de prova com

entalhe, a LS induziu uma queda de 16% na resistência ao impacto do PP1, e

de 35% no caso do PP2. A fratura não se iniciou no entalhe feito nas amostras,

mas sim no entalhe em V formado no processo de moldagem por injeção. O

polipropileno nucleado (PP2) teve piores propriedades de resistência ao

impacto do que o PP1, devido ao entalhe em V apenas superficial das

amostras de PP1, que resultou em uma LS mais resistente. O polipropileno é

muito sensível a defeitos superficiais, como o entalhe em V.

Diante dos resultados, os autores concluíram que o efeito do entalhe em V

nas propriedades mecânicas foi predominante sobre o efeito da morfologia que,

na análise em MET, se mostrou homogênea abaixo da camada de

cisalhamento.

• Kim et al. [48] investigaram o efeito de linhas de solda de encontro lateral

na morfologia e nas propriedades mecânicas de poli(butileno tereftalato) (PBT)

puro e reforçado com fibra de vidro (32% em peso). A pressão de

empacotamento e a velocidade de injeção foram variadas com o intuito de se

investigar também o efeito das variáveis de processamento nas propriedades

mecânicas sob tração.

93

A peça injetada e as posições das amostras retiradas para ensaio de

tração estão expostas na Figura 3.7(a). A Figura 3.7 (b) apresenta o perfil de

orientação das FV próximas à camada pele do moldado, deduzido por

simulações numéricas. A linha de solda formou-se na região central da largura

W. Os resultados do teste de tração estão apresentados na seqüência, na

Figura 3.8.

Figura 3.7 (a) Esquema da cavidade do molde com inserto retangular e

posições de onde os corpos de prova de tração foram retirados; (b) Orientação

da FV ao longo da espessura da peça moldada, próxima à parede do molde

(camada pele), estimada por simulações numéricas.

Figura 3.8 Tensão máxima das amostras de 1 a 8: (a) PBT puro, e (b) PBT com

32% em peso de FV.

Da Figura 3.8 (a) pode-se perceber que a tensão máxima do moldado de

PBT puro varia sutilmente de uma amostra (ou posição) para a outra, mas a

(a) (b)

94

tensão máxima foi observada na amostra 6, sendo inclusive superior à

encontrada para a amostra 8, localizada antes do inserto. Diante desses

resultados os autores concluíram que a tensão máxima de artigos moldados

por injeção de PBT puro não é influenciada pela presença de linha de solda,

sendo a variação encontrada provavelmente resultante do desvio-padrão

associado ao teste.

A partir da Figura 3.8 (b) para o PBT reforçado com FV pode-se perceber

um suave decréscimo da tensão máxima quando se caminha da amostra 1

para a 5, e que os valores encontrados nessas posições foram

consideravelmente inferiores aos das amostras 6 e 7, sem linha de solda

central. Porém, o maior valor de tensão máxima dentre as amostras com FV foi

o da posição 8, sem LS.

Segundo os autores, a grande depreciação na tensão máxima ocasionada

pela presença da LS nos polímeros reforçados é resultante da orientação

assumida pela FV na região de LS (direção x), perpendicular à direção de

solicitação mecânica, apresentada na Figura 3.7 (b).

Da Figura 3.7 (b) pode-se concluir que a maior parte das fibras das

amostras de 1 a 5 próximas à região y = W/2 (região de LS) estão orientadas

perpendicularmente à direção y, de solicitação mecânica. Isso explica a baixa

tensão máxima encontrada para essas espécies. Na região da amostra 1,

como é possível notar, mais fibras estão orientadas paralelas à direção y,

comparada às amostras de 2 a 5, o que justificaria a tensão máxima sutilmente

maior encontrada para a amostra 1 com relação às demais com LS. Na

amostra 8, como era de se esperar, quase todas as fibras estão orientadas

paralelas à direção de tracionamento, enquanto que algumas fibras nas

amostras 6 e 7 estão orientadas transversalmente a essa mesma direção, o

que resultaria numa maior resistência da amostra 8.

A Figura 3.9 (a) exibe a variação da tensão máxima com a pressão de

empacotamento para as amostras 2 e 8 do PBT com FV, indicando que a

tensão máxima aumenta suavemente com a pressão de empacotamento de

360 a 600 bar, e depois praticamente estabiliza (de 600 a 750 bar). O efeito da

95

velocidade de injeção nas tensões máximas das mesmas espécies 2 e 8 com

FV está exibido na Figura 3.9 (b).

(a) (b) Figura 3.9 Variação da tensão máxima com (a) a pressão de empacotamento e

com (b) a velocidade de injeção para duas espécies: (○) espécie 2 e (■)

espécie 8; uma vez que as demais amostras seguiram o mesmo padrão de

comportamento.

A tensão máxima não variou muito com a velocidade de injeção quando

esta mudou de 38,5 para 115,7 cm3/s. Segundo os autores, esse resultado é

consistente com os obtidos em trabalhos anteriores que demonstraram que a

orientação das fibras em moldados de polipropileno e polietileno reforçados

depende fortemente da espessura da cavidade do molde e não da velocidade

de injeção, da temperatura do fundido ou da concentração de FV empregadas.

Entretanto, segundo os mesmos autores, outros trabalhos demonstraram que a

orientação das fibras de vidro no centro da espessura de moldados poliméricos

é muito dependente da velocidade de injeção utilizada, se o tempo de injeção

(inverso da velocidade) é consideravelmente variado (de 0.2 a 11s).

Os autores concluíram que, nesse trabalho com PBT reforçado com FV, o

principal fator determinante da tensão máxima encontrada foi a orientação das

fibras, relacionada ao posicionamento das amostras, e não a pressão de

empacotamento ou a velocidade de injeção.

• Sélden [56] estudou o efeito das variáveis de injeção (pressão de

empacotamento, velocidade de injeção, temperatura do fundido e temperatura

96

do molde) na resistência de linhas de solda (de encontro frontal e lateral) em

diferentes termoplásticos de engenharia (PA6 com 35%FV, PPS com 40% FV,

PP com 40% talco, PPO e ABS). Foram realizados ensaios de flexão, tração e

impacto sob queda de dardos.

De um modo geral, segundo o autor, mudanças nos parâmetros de

injeção não produziram nenhuma grande mudança no fator de depreciação de

linha de solda encontrado para as amostras. Porém, em suma, foi possível

observar que alta pressão de compactação, alta temperatura do fundido e

baixa temperatura do molde fornecem os maiores fatores de depreciação de LS

(mais próximos de 1); ou seja, a menor queda no valor das propriedades

mecânicas decorrente da presença da LS. O efeito da velocidade de injeção no

fator de depreciação da LS mostrou-se tanto positivo quanto negativo,

dependendo do material. Os mesmos autores ressaltaram inclusive, diante dos

resultados encontrados, que é necessária uma avaliação: por material, por tipo

de ensaio mecânico realizado, por posição da amostra extraída da peça

injetada e por efeito das variáveis de injeção combinadas.

No caso do PP carregado com talco, o aumento da pressão de

empacotamento elevou a resistência à flexão e o fator de depreciação de LS

das amostras. Porém, o aumento conjunto da velocidade de injeção ou da

temperatura do fundido atenuou esse efeito positivo da pressão de

empacotamento.

O trabalho também mostrou uma baixa correlação entre os resultados

obtidos nos ensaios de flexão e nos ensaios de impacto, com relação ao fator

de depreciação de LS. Esse fator de depreciação da LS obtido através de

ensaio de impacto para LS de encontro frontal também foi algumas vezes

maior do que 1.

• O trabalho de Dairanieh et al. [47] avaliou a sensibilidade do Moldflow

quanto à análise de linhas de solda de encontro lateral quando propriedades

materiais e condições de processamento são variadas. A simulação foi feita em

um pacote de Moldflow que já fornecia a severidade da linha de solda. Os

autores concluíram que, qualitativamente, o algoritmo do Moldflow foi capaz de

97

predizer corretamente os efeitos das mudanças na viscosidade, densidade e na

relação PVT na resistência da linha de solda do PMMA. O algoritmo também foi

eficaz na predição da influência da variação no tempo de injeção na resistência

da LS. Entretanto as predições com relação às mudanças na temperatura do

molde e do fundido não foram coerentes com o observado experimentalmente.

• Ersoy e Nugay [57] prepararam compósitos, com e sem LS de encontro

frontal, de PP e de poliamida 6 (PA) com 10, 20 e 30% de talco. Conforme se

aumentou a porcentagem de talco nos compósitos com PP sem LS, um

aumento no módulo elástico foi observado, enquanto a resistência à tração

permaneceu praticamente inalterada, apresentando uma suave queda de, no

máximo, 5% apenas. Com o aumento da concentração da carga, a

deformação se tornou mais frágil e a formação do pescoço não foi observada.

Por outro lado, a resistência à tração do PA aumentou suavemente (até 8%)

com a porcentagem de talco, provavelmente devido à interação entre os grupos

polares do PA e os OH nas extremidades das lamelas do talco. Porém, a

resistência da LS tanto do PP quanto do PA tendeu a diminuir com o aumento

da carga, provavelmente devido à orientação das lamelas de talco na região da

linha de solda perpendicular à direção de solicitação mecânica.

• Giusti e Cintra Filho [58] estudaram corpos de prova de PP carregado

com 20 e 30% de fibra de vidro, com e sem linha de solda de encontro frontal.

Sem a formação de linha de solda a resistência (tensão na ruptura) dos

compósitos aumentou de forma proporcional à porcentagem de fibra no

material. Já a resistência dos corpos de prova com linha de solda foi tanto

menor quanto maior foi a concentração de fibras, porque além da orientação

das fibras na interface da solda ser desfavorável, a matriz de PP não

apresentou boa adesão fibra-matriz, diminuindo assim a tensão máxima

suportada pelo material.

• Savadori, Pelliconi e Romanini [22] estudaram a influência da presença

da LS de encontro frontal em compósitos de PP com esferas de vidro, com

98

carbonato de cálcio, com talco e com FV, e chegaram à conclusão que o

compósito com talco foi o que apresentou a maior queda na resistência à

tração na presença da LS. O compósito com esferas de vidro foi o que

apresentou maior manutenção da resistência na presença da LS, seguido pelo

compósito com carbonato de cálcio e, depois, pelo compósito com FV. Os

autores afirmam que os valores de resistência à tração são regidos por fatores

de forma e tamanho do reforço para a presença ou ausência da LS. Na Figura

3.10 é apresentado um gráfico do fator de depreciação da linha de solda (FLS)

na resistência à tração em função do parâmetro de superfície da área

equivalente (a.e.s.p.) do reforço, definida como a razão entre a área de uma

partícula e a área de uma esfera de mesmo volume; sendo que os valores de

a.e.s.p. foram: 1 para as esferas de vidro, 1,24 para CaCO3; 2,9 FV e 3,9 para

o talco.

1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,00,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

Esferas de Vidro CaCo3

FV Talco

Fato

r de

Dep

reci

ação

da

LS n

a R

esis

tênc

ia à

Tra

ção

(σco

mLS

/σse

mLS

)

a.e.s.p.

Figura 3.10 FLS na resistência de compósitos de PP com diversos reforços

(12,7% em volume), em função do parâmetro de superfície da área equivalente

(a.e.s.p.) [18].

• Sena Neto [28] estudou diferentes propriedades mecânicas em

compósitos de PPcop com talco ou fibra de vidro com linhas de solda de

encontro frontal. A presença da LS contribuiu para uma redução na resistência

à tração de todos os compósitos em relação ao PPcop não-reforçado, em função

do aumento do teor de reforço. Esta queda na resistência da LS foi mais

99

pronunciada nos compósitos com FV, de forma que seus valores se

aproximaram dos valores dos compósitos com talco. Ou seja, menores valores

de FLS na resistência foram obtidos para os compósitos reforçados com FV (de

0,34 a 0,23) em relação aos compósitos com talcos (de 0,84 a 0,53). Estes

dados de FLS na resistência à tração dos compósitos de PPcop reforçados com

FV e talcos contradizem os dados anteriormente publicados por Savadori et al.,

que atribuíram ao talco um efeito debilitante maior que o da FV na resistência

da LS de compósitos moldados de PP. A resistência do PPcop não-reforçado se

manteve inalterada na presença da LS, devido suficiente coesão e difusão

molecular na região da LS para assegurar entrelaçamento macromolecular. A

presença da LS nos moldados também teve influência insignificante na redução

do módulo do PPcop não-reforçado, assim como nos compósitos reforçados

com talcos. Entretanto, a presença da mesma LS contribuiu para uma redução

significativa do módulo do compósito com FV, aproximando o valor absoluto do

seu módulo ao dos compósitos com talco. Esta queda maior no valor do

módulo está associada à orientação desfavorável das fibras de vidro, de alta

razão de aspecto, na região da LS. A presença da LS em moldados de PPcop

reforçados com FV e talco contribuiu para eliminação do ponto de escoamento

sob tração em todos os compósitos de PPcop e antecipou a sua deformação na

ruptura, em função da concentração volumétrica do reforço. Segundo o autor,

as propriedades de deformação foram as mais debilitadas dentre todas as

propriedades mecânicas de tração avaliadas em moldados de compósitos de

PPcop com LS.

No mesmo trabalho também foram estudados talcos de granulometria

distinta (grossa, média e fina) e foi verificado que a redução na granulometria

das partículas/lamelas da carga nos compósitos com talco contribuiu para um

ligeiro aumento no módulo elástico, devido à maior área de interação interfacial

polímero-reforço. A resistência à tração nos compósitos com talco também

aumentou com a redução do diâmetro médio das partículas da carga mineral,

assim como com o aumento do grau de cristalinidade da matriz polimérica.

100

Trabalhos sobre compósitos de PP carregados com um único tipo de

reforço ou carga, como os citados, são abundantes e podem ser encontrados

em muitos periódicos sobre compósitos e polímeros. Os efeitos dessas cargas

nas propriedades do PP são relativamente conhecidos, inclusive na presença

de linha de solda, como apresentado em alguns trabalhos citados acima. Como

mostrado, a introdução de talco tem sido conhecida por aumentar algumas

propriedades do PP tais como rigidez, resistência, estabilidade dimensional e

cristalinidade; em detrimento de outras propriedades como resistência ao

impacto e deformabilidade. A fibra de vidro, por sua vez, fornece maior

aprimoramento na resistência e rigidez, mas fornece anisotropia ao compósito.

Porém, esses estudos foram focados na caracterização de sistemas

compósitos com um único reforço, e ainda não existem muitos estudos na

combinação de diferentes cargas numa mesma matriz, ou seja, em compósitos

com reforços híbridos. Compósitos com reforços híbridos têm se tornado cada

vez mais competitivos comercialmente por uma série de razões: i) existe uma

vantagem econômica em diluir reforços mais caros, como fibras, com cargas de

menor custo; ii) um espectro mais abrangente de propriedades físicas e

mecânicas pode ser alcançado [19], facilitando o design de materiais com

características específicas, principalmente quando se busca a diminuição da

anisotropia do compósito que pode levar à deformação (empenamento) da

peça; iii) híbridos são usados para se atingir efeitos sinérgicos e aperfeiçoar

características mecânicas e propriedades funcionais.

• Hartikainen et al [59] prepararam compósitos híbridos de PP com fibras

de vidro longas (FVL) e carbonato de cálcio. Para isso foram preparados

concentrados de PP com 40% de CaCO3, que depois foram misturados

fisicamente com concentrados de PP com 60% de fibra longa e com PP

virgem, em diferentes quantidades, para se obter as diversas concentrações

desejadas de PP, fibra e CaCO3. As devidas misturas físicas foram então

injetadas. Foi verificado que a adição de carbonato de cálcio tem pequeno

efeito na orientação das fibras longas e na cristalização do polipropileno

reforçado com fibras longas, mas o comprimento médio das fibras diminuiu. Foi

101

demonstrado também que a presença da carga causou desacoplamento

(debonding) antecipado das fibras quando o compósito foi submetido a uma

baixa taxa de deformação (1mm/min) sob tração o que culminou no

arrancamento (pull-out) das fibras, que pôde ser verificado nas micrografias de

MEV pela maior quantidade de vazios deixados na matriz. Esse

desacoplamento sob tensão induzido prematuramente pela presença de cargas

pode ser devido aos vazios formados em torno das partículas nas proximidades

das fibras, ou devido ao contato direto partícula/fibra. Ainda nesse estudo, o aumento da concentração de fibras longas no

compósito com apenas PP causou um aumento no módulo e na resistência,

mas diminuiu a deformação de ruptura, o que é explicado pela restrição que as

fibras impõem à deformação da matriz. Conforme carbonato foi acrescentado,

o formato da curva tensão/deformação não mudou, mas tanto a resistência

quanto a deformação diminuíram. No entanto, o módulo aumentou. A adição

apenas de carbonato de cálcio ao PP elevou em 5% o módulo do compósito

comparado ao da resina virgem. Mas, na presença de fibras longas, a adição

de carbonato resultou num aumento de 10 a 15%, o que demonstra um efeito

de sinergia. Os efeitos de cristalização que poderiam ter sido induzidos pelo

carbonato e, assim, melhorado as propriedades mecânicas, foram

desconsiderados pois análises de calorimetria diferencial de varredura (DSC)

mostraram que o carbonato não atua como agente nucleante.

• Leong, Ishak e Ariffin [19] estudaram compósitos híbridos de copolímero

de propileno com diferentes teores relativos de talco/carbonato de cálcio,

sempre resultando numa concentração total de carga de 30% no PPcop.

O módulo elástico sob tração diminuiu com a substituição de talco por

CaCO3, devido ao baixo módulo deste último. Porém, o módulo dos compósitos

foi sempre maior que o da resina virgem, devido à rigidez das cargas. Em

adição, o talco, sendo uma partícula lamelar, tem a habilidade de se orientar no

sentido do fluxo polimérico durante o processamento, fornecendo maior efeito

de reforço à matriz. Cargas lamelares, com maior razão de aspecto, têm maior

molhabilidade pela matriz e criam menos microvazios, aumentando a interação

102

carga/polímero, o que contribui para transferência de tensão durante

carregamento externo. A resistência à tração também diminuiu com a

substituição de talco por carbonato, o que pode ser atribuído à formação de

cavidades em torno das partículas de carbonato, conforme discutido no artigo.

Quando foram adicionadas cargas minerais ao PPcop a deformação na ruptura

caiu drasticamente. Essa diminuição foi ainda maior conforme se aumentou o

teor de talco no compósito híbrido. O módulo sob flexão também aumentou

com o aumento do teor de talco, porém a resistência à flexão dos compósitos

híbridos foi menor que a da resina pura. Apenas no caso do compósito

unicamente com talco (30%) houve um suave aumento na resistência

comparada à do polímero puro. Esse aumento para o compósito apenas com

talco pode ser atribuído à formação de camada superficial (pele), de alta

orientação, na moldagem, uma vez que a tensão de flexão é bastante sensível

a essa camada. No caso dos compósitos híbridos ou apenas com carbonato, a

menor resistência à flexão pode ser resultante das cavidades induzidas pela

presença do carbonato, de baixa adesão com a matriz.

A resistência ao impacto tem relação direta com a adesão da carga à

matriz, sendo que nesse caso a diminuição da adesão levou ao aumento da

resistência ao impacto. Os híbridos apresentaram uma resistência ao impacto

muito maior que a do PPcop puro e do PPcop com talco. Esse resultado sugere

que a presença de carbonato (adesão ruim com a matriz) é determinante na

melhora da resistência ao impacto dos compostos.

Embora o talco costume ser conhecido pela habilidade de deslizamento

de suas partículas, umas sobre as outras, durante a aplicação de forças

cisalhantes devido ao seu formato lamelar, o que ocasiona um aumento no

fluxo plástico, essa habilidade apenas se aplica a cargas em determinadas

partes do compósito que se situam próximas às paredes do molde. Portanto,

esse efeito não foi sentido no ensaio de MFI e o aumento do teor de talco nos

compósitos híbridos causou uma diminuição do fluxo.

• Leite [6] estudou dois tipos de compósitos híbridos com matriz de PPcop,

sendo um deles um sistema bi-particulado de talco / carbonato de cálcio natural

103

(em concentrações totais de carga de 10, 30 e 50% e composição relativa de

1:1); e o outro um sistema fibro-particulado de fibra de vidro / talco (T) (nas

concentrações de 10FV10T, 10FV30T, 20FV10T, 20FV20T, 20FV30T,

30FV10T, 30FV20T). O principal enfoque deste trabalho foi avaliar o

empacotamento dos sistemas híbridos e o efeito desta variável nas

propriedades físicas medidas. Os empacotamentos das combinações de talco

com carbonato de cálcio, em diferentes proporções, seguiram uma regra de

mistura; enquanto os empacotamentos das combinações de FV e talco

apresentaram sinergismo, ultrapassando os valores de empacotamento

encontrados para sistemas só com talco ou só com fibra. Módulos sob tração e

sob flexão, resistência ao impacto e tensões no escoamento e na ruptura das

composições de PPcop com talco/ carbonato de cálcio seguiram uma regra de

mistura. Ligeiros desvios dessa regra de mistura devem ser atribuídos,

segundo o autor, à delaminação do talco e a um provável efeito nucleante

deste sobre a cristalização do PPcop, embora maiores estudos para a

comprovação disso não tenham sido feitos. A deformação na ruptura do

mesmo compósito (PPcop com talco / carbonato de cálcio), como era de se

esperar, não seguiu uma regra de mistura, estando mais próxima dos valores

para os compósitos apenas com talco, devido à maior interação do talco com a

matriz e conseqüente menor deformação. Nas composições de PPcop com FV /

talco, os melhores empacotamentos fibras / lamelas obtidos reduziram o

módulo de elasticidade e melhoraram a resistência ao impacto do termoplástico

em composições com alto teor carga+reforço. A composição de PPcop com 20%

de FV e 30% de talco foi definida como a melhor devido ao seu balanço

otimizado entre custo e propriedades mecânicas.

• Sahão Júnior [7] estudou compósitos híbridos de PP com FV / carbonato

de cálcio em diferentes concentrações totais do reforço híbrido (30 e 40%) e

concentrações relativas FV / carbonato de cálcio (30/70, 50/50 e 70/30). Para

os compósitos de PP reforçados com sistema fibro-particulado, nas

composições relativas de 30/70, 50/50, 70/30 de FV / carbonato de cálcio, os

valores relativos (compósito / resina pura) de módulo sob tração e sob flexão, e

104

de resistência ao impacto seguiram aproximadamente a simples regra de

mistura para as concentrações de 30 e 40% em peso total de reforço híbrido.

Para os sistemas híbridos a resistência à tração foi elevada a valores

superiores à regra de mistura à medida que aumentamos o teor de fibra de

vidro nas composições (ficaram mais próximos dos valores para os compósitos

só com FV). A deformação na ruptura não seguiu a regra de mistura para os

híbridos; os valores foram muito baixos, próximos aos encontrados para os

compósitos só com FV.

• Cintra, Pouzada e Sousa [60] estudaram o módulo em flexão e a

anisotropia em placas moldadas por injeção de compósitos híbridos de PP, FV

e CaCO3, comparados ao compósito referência de PP apenas com FV. A

orientação das fibras foi medida ao longo da espessura das amostras de PP +

20%FV; PP + 20%FV + 10% CaCO3 e PP + 20%FV + 20% CaCO3. Foi

observado que a orientação das fibras de vidro na direção de preenchimento

(componente de tensor orientação a11) aumentou consideravelmente com o

aumento da concentração de CaCO3 e a variação da orientação ao longo da

espessura foi reduzida (a diferença entre as orientações médias do núcleo e da

pele diminuiu).

• Ferro [5] estudou um compósito de polipropileno (PP) com reforço híbrido

de FV curta e carbonato de cálcio natural (CaCO3) e analisou a influência da

adição da carga mineral particulada na alteração do campo de orientação das

fibras na peça moldada e na anisotropia dos módulos sob flexão

(longitudinal/tranversal: EfL/EfT). Em compósitos híbridos com teores constantes

de FV, foi verificado um aumento na anisotropia mecânica e na orientação da

FV na direção de preenchimento da cavidade do molde (longitudinal) com o

aumento da concentração de CaCO3. Porém, a substituição de parte da FV por

carga mineral contribuiu para uma redução desse perfil de orientação e da

subseqüente anisotropia mecânica.

105

• Oliveira [61] estudou compósitos híbridos de PP com FV curta e talco

(T) e também verificou o aumento da orientação das FV conforme maiores

teores de talco são acrescentados no compósito com concentração de FV

constante, conforme apresentado na Figura 3.11. O tensor a11 mostra o grau de

alinhamento das FV na direção do fluxo de preenchimento do molde. Seu valor

varia entre 0 e 1, sendo que quanto mais próximo de 1, maior o alinhamento da

FV na direção de fluxo.

-1.0 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.00.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

a 11

Posição - Espessura da amostra

20FV 20FV10T 20FV20T 20FV30T

Figura 3.11 Perfil de orientação das fibras de vidro na direção de fluxo de

preenchimento do molde ao longo da espessura do moldado.

Nesse trabalho foi medida também a orientação dos cristalitos de PP e do

talco por técnica de difração de raio-x de alto ângulo (WAXD) e foi observado

que a presença de talco reforça a orientação preferencial dos cristalitos de PP,

formando um padrão mais definido de orientação. Em adição, verificou-se que

o aumento da concentração do talco leva a um aumento da orientação das

lamelas de talco paralelamente à superfície do moldado.

• Zipper, Chernev, Schnetzinger e Lederer [62] utilizaram técnica de

difração de raio-x de alto ângulo (WAXD) em placas injetadas de PP com baixa

concentração de talco e comprovaram, por meio da análise das reflexões

características dos cristalitos de PP e do talco, que a adição de talco acentua a

preferência orientacional dos cristalitos de PP. Notaram também que as

106

lamelas do talco estão orientadas paralelamente a direção de fluxo, ou seja,

paralelas à superfície. Esse efeito de orientação é reduzido à medida que se

afasta do ponto de injeção.

• Cloud, McDowell e Gerakaris [35] estudaram alguns compósitos com e

sem linha de solda, inclusive alguns híbridos. Em compósitos com matrizes de

nylon 66 (PA66) e policarbonato (PC), quanto maior a concentração de fibra de

vidro, maiores foram os valores absolutos de resistência à tração para os

corpos de prova com e sem LS; porém, maior foi o fator depreciativo, ou seja, a

porcentagem de queda entre a propriedade do corpo de prova sem LS e do

corpo de prova com LS. Porém, no caso de compósitos de PP, as resistências

à tração do corpo com LS contendo 20% e 30% de FV foram menores que a

resistência do PP sem fibra; embora a resistência desses corpos sem LS

contendo FV tenha sido maior que a do PP puro. Isso ocorreu, segundo

comentado no artigo, devido à porcentagem de queda crescente com a

concentração de FV: Quanto maior a quantidade de FV, maior a queda da

propriedade no corpo com LS, o que acaba fazendo com que a resistência do

corpo com LS contendo 30% de FV seja menor que a de um corpo com LS

contendo 20% de fibra. Isso se deve, segundo os autores, à adesão não ótima

das fibras com o PP. Assim, a resistência do PP reforçado fica quase

totalmente dependente do comprimento das fibras (transferência mecânica por

cisalhamento) e de sua orientação. Em um compósito de PA66 com uma carga particulada (foi usado

poli(tetrafluor-etileno - PTFE)), a presença da linha de solda ocasionou apenas

uma suave queda na resistência mecânica, quando comparada a essa

propriedade medida no compósito sem linha de solda. Quando a carga e a FV

foram combinadas, a queda resultante na resistência do corpo com LS foi

aproximadamente uma somatória dos efeitos das duas cargas separadamente.

FV na concentração de 30% fizeram cair em 42% (FLS = 0,58) a resistência do

compósito (CP com fibra sem LS comparado ao corpo com FV com LS), e 20%

da carga particulada fizeram cair em 8% (FLS = 0,92) a resistência do

compósito; enquanto o CP contendo 30% de FV + 15% de carga perdeu 48%

107

(FLS = 0,52) da resistência, quase uma somatória exata (e fator de

depreciação da linha de solda foi ainda menor do que o encontrado para o

compósito só com FV).

• Kagan [63] estudou a presença de linha de solda em compósitos de nylon

6 (PA6) carregados com fibra de vidro curta e carga mineral, em diferentes

concentrações. No trabalho não foi especificada qual a carga mineral utilizada.

Para PA6 não reforçado a resistência da linha de solda foi praticamente igual

(apenas 0,8% menor) à resistência do material base (sem LS). Enquanto a

resistência à tração do nylon (sem LS) aumentou 262% quando se aumentou o

teor de FV de 0 a 63% em peso, a resistência absoluta da linha de solda

praticamente não mudou (sendo aproximadamente igual à resistência do nylon

sem FV). O fator de depreciação da LS (FLS) foi de 0,99 para o nylon 6 sem FV

e 0,40 para o PA 6 com 63% em peso de FV. A resistência do PA 6 carregado

com 40% de carga mineral praticamente não mudou comparada à do polímero

puro, enquanto a resistência da LS diminuiu 10% e o fator depreciativo diminuiu

de 0,99 com 0% de carga para 0,85 com 40% de carga. Quando foram

combinados 15% de FV com 25% de carga mineral, observou-se que a

resistência à tração do CP sem LS (126 MPa) foi intermediária à encontrada

para as amostras com apenas 40% de carga (90 MPa) e com 33% de FV

(192,9 MPa). Já, no caso da mesma composição, a resistência do compósito

híbrido com linha de solda (90 MPa) foi praticamente igual à da amostra com

apenas 33% de FV (89,2 MPa), sendo, portanto, maior do que a da amostra só

com 40% de carga (77 MPa). O fator depreciação (0,71) também foi

intermediário ao encontrado para a amostra só com 40% de carga (0,85) e a

amostra só com 33% de FV (0,46).

Como foi possível perceber da bibliografia revisada, apesar de existirem já

alguns trabalhos realizados com reforços híbridos fibro-particulados, existe

muito pouco ainda quanto ao comportamento desses reforços na presença de

linhas de solda. Foram apresentados dois trabalhos que buscaram

correlacionar reforços híbridos fibro (FV)-particulados (PTFE [35] e carga mineral

108

não especificada [62]) com LS, sendo que em um deles [35] a adição de carga

(PTFE) ao compósito com fibra fez cair ainda mais a resistência mecânica,

influenciando negativamente; enquanto no outro [62] encontrou-se um valor de

fator de depreciação de linha de solda (FLS) intermediário ao encontrado nos

compósitos referência com apenas FV e apenas com carga mineral, com

manutenção da resistência, mostrando um efeito benéfico da adição da carga

no compósito com fibra. O presente trabalho de Mestrado pretende esclarecer

essa questão.

Tentou-se, em adição, fazer uma caracterização da resistência da linha de

solda através de técnica de microdureza, baseado na revisão bibliográfica dos

trabalhos que se seguem.

• Nguyen-Chung, Menning, Boyanova, Fakirov e Baltá Calleja [64]

utilizaram técnica de microdureza para caracterizar a qualidade da linha de

solda em placas retangulares (100 X 80 X 2 mm) de poliestireno (PS) moldadas

por injeção. A LS foi formada ao longo do comprimento do corpo de prova,

devido à presença de um inserto metálico de 12 mm de diâmetro na cavidade

do molde (próximo à entrada do fundido), constituindo uma linha de solda de

encontro lateral. Para avaliação da microdureza foi empregado um indentador

Vickers de base de diamante e foi aplicada uma força de 25 mN em ciclos de

carregamento de 6 s. Caminhando-se transversalmente à LS, ao longo da

largura da placa, descobriu-se que a microdureza encontrada na superfície do

moldado apresentava uma queda de cerca de 30% quando medida sobre a

linha de solda. No entanto, essa queda no valor da microdureza na LS só

ocorreu a distâncias (ao longo do comprimento da placa retangular) não

excedentes ao diâmetro do obstáculo. A distâncias maiores não foi possível

encontrar diferenças entre os valores de microdureza medidos sobre a LS e

aqueles obtidos em regiões afastadas da mesma. Isso é resultante, segundo os

autores, da melhor interdifusão das cadeias poliméricas ocorrida em regiões

distantes do obstáculo, uma vez que este estava a uma temperatura baixa,

igual à do molde (50 oC), enquanto que a temperatura do fundido injetado era

de 250 oC.

109

• Em outro estudo, Boyanova, Baltá Calleja e Fakirov [65] avaliaram,

através da técnica de microdureza, a influência da temperatura do fundido na

qualidade da linha de solda de encontro frontal formada em dois polímeros

rígidos: policarbonato (PC) e poliestireno (PS). Foi utilizada uma força de 250

mN aplicada em ciclos de carregamento de 6 s. Verificou-se que as amostras

injetadas com maiores temperaturas do fundido apresentaram menores quedas

nos valores de microdureza medidos sobre a LS, devido à maior interdifusão

molecular ocorrida no encontro das frentes de fluxo. A queda perceptível nos

valores de microdureza encontrados aconteceu numa extensão de 0,1mm,

caminhando perpendicularmente à linha de solda.

• Gamba, Pontes, Oliveira e Pouzada [65] utilizaram a técnica de

microdureza para caracterizar a linha de solda de compósitos de polipropileno

com altos teores de FV (20, 30 e 40% em peso) injetados em diferentes

temperaturas (250 e 280oC) e tempos de injeção (0,5; 1,0 e 1,5 s). Foi possível

observar uma tendência ao aumento do valor de microdureza encontrado na

região de linha de solda com a diminuição do tempo de injeção e o aumento da

temperatura de injeção, provavelmente devido ao maior calor que induziu maior

coesão molecular no encontro das frentes de fluxo provenientes de entradas

opostas.

110

111

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 – Materiais

Os materiais utilizados no projeto foram, basicamente:

I) Copolímero de propileno-etileno heterofásico (PPcop):

Utilizado como matriz polimérica, foi fornecido na forma de grânulos

(pellets) pela Braskem, sob o código PX1955 e MFI de 4,71g/10min.

O copolímero de propileno foi estabilizado com 0,17% de anti-oxidante

primário (Irganox 1010) e 0,33% de anti-oxidante secundário (Irgafos 168)

antes da preparação com a carga de talco, com o reforço fibroso e com o

reforço híbrido FV/talco, assim como no estado puro, para controle.

II) Tipos de talcos com granulometria distintas:

Os talcos utilizados na pesquisa foram fornecidos pela Magnesita S.A. sob

os códigos GM-10 (talco fino) e PMT-12000 (talco ultra-fino), ambos

preparados através de moinhos a jato em espiral (spiral jet mills), mas com

granulometrias distintas.

Resina epóxi Araldite foi acrescentada ao talco (1% em massa de talco)

antes da preparação do compósito com PPcop para evitar a adsorção dos anti-

oxidantes do PPcop na superfície das partículas de talco, que são oleofílicas.

III) Fibra de Vidro curta:

A fibra de vidro (FV) empregada como reforço foi fornecida pela Vetrotex

do Brasil, sob o código 968. É uma fibra do tipo E picada (chopped strands),

com diâmetro e comprimento nominais de 13 μm e 4,5 mm, respectivamente.

Esta FV é tratada com agente de acoplagem silano e otimizada para utilização

em poliolefinas, especialmente em PP, fornecendo boas características de

processamento e alto desempenho mecânico. Algumas caracterizações de

fábrica da FV tipo E fornecida pela Vetrotex constam na Tabela 4.1.

112

Tabela 4.1 Propriedades físicas da FV tipo E fornecida pela Vetrotex.

Densidade 2,60 g / cm3

Resistência à tração – Filamento virgem 3400 MPa

Resistência à tração – Fio impregnado em um compósito 2400 MPa

Módulo sob tração 73 GPa

Deformação na ruptura 4,5 %

Coeficiente de dilatação térmica linear entre 20 e 100 ºC 5 . 10-6 m/m/K

4.2 – Métodos

Inicialmente, dois tipos de talco de diferentes granulometrias foram

caracterizados. Compósitos de PPcop com esses dois tipos distintos de talco,

assim como com fibra de vidro (FV), foram preparados em uma extrusora

dupla-rosca co-rotacional com concentração de reforços variada. Corpos de

prova (CP) com e sem linha de solda (LS) foram injetados para ensaios

mecânicos de tração. Também foram injetados corpos de prova para ensaios

de flexão e impacto.

Uma vez definido o tipo de talco que conferia as propriedades mecânicas

mais vantajosas ao compósito com PPcop, mesmo na presença de linha de

solda, compósitos híbridos fibro-particulados também foram preparados em

extrusora dupla-rosca e injetados para ensaios de tração, flexão e impacto.

Uma verificação da concentração dos reforços nos compósitos injetados

foi efetuada através da perda ao fogo em forno de microondas. Os ensaios de

tração (com e sem LS), flexão e impacto foram realizados com o objetivo de

analisar as propriedades mecânicas alteradas com a presença de reforços e da

linha de solda.

Análise por calorimetria diferencial de varredura (DSC) dos compósitos de

PPcop com talco e reforço híbrido FV/talco foi feita visando a avaliação da

influência da presença de reforços na cristalinidade da matriz do copolímero de

propileno-etileno e subseqüente correlação com as propriedades mecânicas.

113

Análises por microscopia eletrônica de varredura (MEV) foram realizadas

em amostras dos CP de tração na região da LS e distante dela, para uma

avaliação qualitativa dos perfis de orientação preferencial das fibras de vidro e

das lamelas de talco nos corpos de prova injetados com e sem linha de solda.

As propriedades mecânicas de moldados, inclusive na presença de linha

de solda, estão intrinsicamente ligadas à microestrutura formada e esta, por

sua vez, é influenciada também pelas condições de injeção utilizadas. Assim,

foi desenvolvido um estudo complementar durante 6 meses na Universidade do

Minho em Portugal para investigar a influência das condições de injeção e da

geometria da peça moldada na morfologia e nas propriedades mecânicas de

corpos com LS. Esse estudo foi feito em caixas retangulares com linha de

solda de compósitos de PPcop com talco previamente extrudados no Brasil.

Microscopia Óptica de Luz Polarizada foi feita para observação da morfologia

formada durante a injeção. Testes de microdureza e ensaios mecânicos de

impacto-tracional foram realizados para se avaliar a qualidade da LS formada e

análises por MEV permitiram a observação da superfície de fratura dos corpos

de prova de impacto-tracional. As condições de processamento analisadas

nesse estudo foram simuladas no programa de injeção Moldflow.

A metodologia seguida no projeto de mestrado está esquematizada no

fluxograma da Figura 4.1 e descrita na sequência, de forma detalhada.

114

Caracterização das

Matérias-Primas

Preparação das

Composições

Injeção dos CPs de

tração, flexão e impacto

Queima

Ensaios mecânicos de Tração, Flexão

e Impacto

MEV

DSC

Injeção das Caixas

Retangulares

Simulação em Moldflow

Microscopia Óptica de Luz

Polarizada

Microdureza

Ensaio de Impacto-Tracional

MEV

Caracterização das

Matérias-Primas

Preparação das

Composições

Injeção dos CPs de

tração, flexão e impacto

Queima

Ensaios mecânicos de Tração, Flexão

e Impacto

MEV

DSC

Injeção das Caixas

Retangulares

Simulação em Moldflow

Microscopia Óptica de Luz

Polarizada

Microdureza

Ensaio de Impacto-Tracional

MEV

Figura 4.1 Fluxograma da Metodologia utilizada no programa experimental.

4.2.1 – Caracterização das matérias-primas

Essa etapa consistiu basicamente de:

Determinação do tamanho e distribuição de tamanhos de partículas

das cargas minerais de talco;

Determinação da área superficial específica dos talcos;

Determinação das densidades por picnometria dos talcos, da FV e da

matriz de PPcop;

Determinação da razão de aspecto dos talcos e da FV;

Caracterização de comprimentos da FV nos compósitos.

4.2.1.1 – Determinação do Tamanho e Distribuição de Tamanhos das lamelas dos Talcos.

Para cada talco virgem e extraído do compósito foi feita a determinação

do tamanho médio e da distribuição de tamanhos das partículas. Para tanto, foi

115

utilizada uma técnica de sedimentação por gravidade (Lei de Stokes), que se

baseia no princípio de que tamanhos diferentes de partículas têm velocidades

diferentes de sedimentação na suspensão. O ensaio foi realizado no

Laboratório de Cerâmicas Especiais (LCE-DEMa), utilizando um equipamento

Sedigraph 5000D da Micromeritics, que mede a transmitância de feixes de

raios-X através de uma suspensão particulada; sendo que esta transmitância

varia de acordo com a concentração das partículas que, por sua vez, varia com

o tempo em uma região da suspensão.

O percentual da massa acumulada (P) é calculado através da variação

da transmitância [67]:

100lnln

0∗⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

TTP (4.1)

sendo:

- T a transmitância depois de determinado tempo;

- T0 a transmitância inicial.

O tamanho de partícula determinado por esta técnica é conhecido como

diâmetro esférico equivalente, ou seja, o diâmetro de uma esfera de mesma

densidade que exibiria exatamente a mesma velocidade de sedimentação. A

técnica fornece uma curva do diâmetro esférico equivalente versus a

porcentagem em massa cumulativa de partículas com diâmetro menor ou igual

ao indicado.

Esta técnica normalmente é utilizada para medir partículas de tamanho

entre 50 e 0,1 μm. Possíveis fontes de erro incluem impedimento de

sedimentação devido à interação entre partículas, arraste de partículas mais

finas por mais grossas e aglomeração causada pelo movimento browniano.

Dispersão incompleta e aglomerados durante sedimentação também afetam os

resultados.

Os principais resultados avaliados através dessa técnica são o diâmetro

esférico equivalente de 50% (d50) das partículas, tomado como o diâmetro

médio, e de 95% (d95) das partículas, que fornece a fração de grossos.

116

4.2.1.2 – Determinação da Área Superficial Específica

A área superficial específica é a área superficial de partículas por unidade

de massa do material. Pode ser determinada pela adsorção física de um gás a

uma temperatura criogênica, como o nitrogênio.

A área superfícial específica AS foi estimada pelo equipamento analisador

Gemini 2370 da Micromeritics, segundo a equação [68]:

As = (NA VM AM ) / (VMOL MS) (4.2)

Sendo:

- NA o número de Avogadro;

- AM a área ocupada por uma molécula adsorvida (16,2 x 10-20 m2 para o N2);

- VMOL o volume de um mol do gás na T e P do ensaio;

- MS a massa da amostra;

- VM o volume de gás necessário à formação de uma monocamada adsorvida,

estimado, segundo a equação de BET (Brunauer, Emmett e Teller) por [68]:

(P/PS) / [VA (1 – P/PS)] = 1 / (VMC) + [(P/PS) (C - 1)] / (VMC) (4.3)

Sendo:

- P a pressão do sistema;

- PS a pressão de vapor de saturação na temperatura do sistema;

- VA a quantidade de gás adsorvida na superfíce das partículas;

- C uma constante relacionada à energia de adsorção.

Através da técnica de BET de análise superficial é observada a

quantidade de nitrogênio adsorvida pela amostra. Quanto maior a área

superficial das partículas, maior é a adsorção de nitrogênio. O volume de gás

adsorvido por massa do sólido depende também da pressão do gás, da

temperatura absoluta e da natureza do gás e do sólido.

117

4.2.1.3 – Determinação das Densidades dos Materiais Utilizados

As densidades dos talcos e FV foram obtidas através da técnica de

picnometria a hélio, utilizando um picnômetro AccuPyc 1330 da Micromeritics.

A principal vantagem desta técnica sobre a picnometria com líquido advém do

poder de penetração do hélio que, devido a sua dimensão atômica, consegue

penetrar em poros com diâmetros de até 1 Å.

O PPcop teve sua densidade determinada através da técnica de

picnometria em líquido [69], empregando um líquido (álcool) com uma densidade

menor que a densidade provável do polímero. Para tanto, amostras retiradas

de corpos de prova injetados foram pesadas e colocadas no picnômetro com o

líquido de densidade conhecida, fazendo o líquido transbordar. Pesando-se o

sistema picnômetro+líquido+amostra foi possível calcular a densidade do

polímero pela seguinte equação:

ascs

slpol mmm

m−+

=ρρ (4.4)

- ρpol = densidade do polímero;

- ρl = densidade do líquido utilizado; - ms = massa da amostra do polímero; - mc = massa do picnômetro mais o líquido; - mas = massa do picnômetro mais o líquido e a amostra do polímero.

4.2.1.4 – Razão de Aspecto

Devido à influência do formato e da razão de aspecto do reforço no seu

grau de orientação e nas propriedades mecânicas de compósitos poliméricos

injetados, inclusive na resistência de LS, foi efetuada uma caracterização da

razão de aspecto dos reforços empregados. A quantificação das dimensões

dos reforços foi feita utilizando o programa Image Pro-Plus, em imagens

obtidas de Microscópio Óptico, no caso da FV, ou em Microscópio Eletrônico

de Varredura, no caso dos talcos. A maior (“diâmetro”) e a menor (espessura)

118

dimensão das lamelas dos talcos foram medidas através de fotomicrografias

dos corpos de prova criofraturados. A FV teve sua razão de aspecto calculada

através dos seus valores de comprimentos médios medidos em fibras extraídas

dos compósitos. Para o diâmetro da FV foi adotado o valor nominal de 13 µm,

fornecido pelo fabricante.

Deste modo, a razão de aspecto dos reforços foi calculada segundo a

equação abaixo:

)()(dim

)()(dimdl=A

diâmetrofibraouespessuralameladaensãomenorocomprimentfibraoudiâmetrolameladaensãomaior

= (4.5)

4.2.1.5 – Determinação do Comprimento e Distribuição de Comprimentos da Fibra de Vidro

Para avaliação da distribuição dos comprimentos da FV, foram retiradas

amostras de corpos de prova injetados, calcinadas em forno microondas para

remoção da matriz polimérica e dispersas em mistura de álcool e água (1:1)

sobre uma lâmina. Seus tamanhos foram então avaliados em um Microscópio

Óptico e foram calculados o comprimento médio numérico (LN), comprimento

médio ponderal ou volumétrico (LW) e a polidispersividade (PD) para a

construção do histograma com a distribuição dos comprimentos [28]:

∑∑

=

==

1

1

ii

iii

N n

nlL (4.6)

∑∑

=

==

1

1

2

iii

iii

W nl

nlL (4.7)

N

NW

LLL

PD)-(

= (4.8)

sendo:

- li = comprimento da fibra de um determinado tamanho.

119

- nI = número de fibras com comprimento li.

4.2.2 – Preparação das Composições

A preparação das composições foi realizada em uma extrusora dupla-

rosca co-rotacional, interpenetrante, modelo ZSK-30, da Werner-Pfleiderer,

tornando o material em forma de grânulos (pellets). O cilindro da extrusora

possui onze segmentos/barris, sendo que ao último é acoplado o cabeçote, no

qual é encaixada a matriz. Ao longo do cilindro de extrusão existem seis zonas

de aquecimento por resistência elétrica. As composições preparadas estão

apresentadas na Tabela 4.2.

Tabela 4.2 Composições extrudadas.

Compósitos com

Fibra de Vidro (FV)

Compósitos

Híbridos

Compósitos

com Talco (T)

10FV ---- 10T

20FV ---- 20T

---- ---- 25T *

30FV 20FV10T 30T

30FV10T

20FV20T 40FV

10FV30T

40T

---- 20FV30T ----

* Composição preparada apenas com o talco GM-10.

Com relação aos compósitos híbridos, as formulações foram escolhidas

com o objetivo de:

Verificar como a adição crescente do teor de talco a uma concentração

fixa de FV (20%) influencia nas propriedades mecânicas, em geral, e

especificamente na resistência da LS: 20FV, 20FV10T, 20FV20T,

20FV30T;

120

Verificar como a substituição parcial da FV por talco, numa

concentração total fixa de carga + reforço (40%), influencia nas

propriedades mecânicas, em geral, e especificamente na resistência da

LS: 40FV, 30FV10T, 20FV20T, 10FV30T, 40T.

A rosca dupla da extrusora possui elementos empregados para diversas

funções de fusão/plasticização, mistura e transporte do fundido polimérico, que

podem ser variados ou posicionados de acordo com as características

específicas de mistura desejadas no extrudado. O perfil e os elementos da

rosca utilizada estão expostos na Figura 4.2, assim como o local (barril) da

alimentação de cada um dos materiais empregados na preparação dos

compósitos.

(a)

(b)

PPcop Talco degasagem

FV PPcop degasagem

121

(c)

Figura 4.2 Perfil de rosca utilizado e local de alimentação dos materiais na

preparação dos compósitos: (a) com talco, (b) com fibra de vidro e (c) dos

compósitos híbridos fibro-particulados.

Na preparação dos compósitos apenas com talco inicialmente foram feitos

concentrados de PPcop com 40% em peso dos talcos (GM-10 e PMT-12000),

conforme apresentado na Figura 4.2 (a). Numa segunda etapa de extrusão,

esses concentrados foram diluídos em PPcop puro para se obter as

concentrações de 10, 20, 25 e 30% de talco. Para obtenção da formulação com

40% de talco o concentrado inicial foi apenas repassado na extrusora para se

padronizar o histórico de processamento de todas as composições (duas

passadas na extrusora). Para a preparação dos compósitos híbridos, o

compósito previamente preparado de PPcop com 40% de talco foi misturado

manualmente a quantidades variáveis de PPcop puro, dependendo da

concentração final de talco que se buscava no híbrido, e adicionado ao primeiro

barril de alimentação, enquanto a FV foi adicionada no oitavo barril. Para a

preparação dos compósitos com talco e híbridos, optou-se por esse

procedimento de alimentação do talco já incorporado à matriz de PPcop, ao

invés da alimentação do talco em pó no quinto barril, devido às seguintes

razões:

Oscilação na vazão de alimentação do talco em pó, devido a sua

granulometria fina, o que afetaria a concentração final dessa carga nos

compósitos;

FV degasagem

122

Melhor molhamento das partículas de talco pela matriz do que o que

seria obtido com o incorporamento do talco em pó no quinto barril e o seguido

incorporamento de FV no oitavo, no caso dos híbridos;

Nova indução à dispersão e distribuição das partículas de talco na

matriz, passando o compósito novamente na rosca-dupla, o que favoreceria

ainda mais as propriedades mecânicas finais, sem ocorrer degradação

significativa da matriz polimérica.

No caso dos compósitos apenas com FV, todas as formulações (10, 20,

30 e 40% de FV) foram feitas em uma única etapa, conforme apresentado na

Figura 4.2 (b), para se evitar a quebra excessiva das FV.

As condições de extrusão utilizadas estão apresentadas na Tabela 4.3.

Tabela 4.3 Condições de extrusão utilizadas.

Perfil de Temperatura (oC)

Zona 1 Zona 2 Zona 3 Zona 4 Zona 5 Zona 6

210 230 250 260 260 260

Rotação = 200 rpm

Vazão concentrados 1 = 6 kg/h

Vazão formulações FV 2 = 10 kg/h

Vazão diluídos e híbridos 3 = 12 kg/h

1 = PPcop + 40% GM-10 e PPcop + 40% PMT-12000;

2 = PPcop + 10, 20, 30 e 40% FV;

3 = PPcop + 10, 20, 30 e 40% (repassada) GM-10 e PMT-12000;

Híbridos: 10FV30T, 20FV20T, 30FV10T, 20FV10T, 20FV30T.

4.2.3 – Injeção dos corpos de prova ASTM

A injeção dos corpos de prova para ensaios de tração, flexão e impacto

foi realizada, a partir dos grânulos dos compósitos obtidos anteriormente por

extrusão, no Departamento de Engenharia de Materiais da UFSCar, numa

injetora Arbug 270V com capacidade de força de fechamento do molde de 300

123

KN. O material foi moldado em corpos de prova de tração do tipo I, segundo

norma ASTM D 638, com e sem linha de solda, conforme o esquema da Figura

4.3. Para a injeção dos CP de tração foi utilizado um molde que permite a

injeção do material fundido por uma única ou por duas entradas nas

extremidades da cavidade do molde. Com a injeção simultânea através das

duas extremidades foi possível introduzir uma linha de solda formada pela

junção frontal das frentes de fluxo (butt weld line) na seção central do CP de

tração.

Figura 4.3 Aspecto dos moldados: a) com LS e b) sem LS.

As condições utilizadas no processo de moldagem por injeção foram,

dentro do possível, as mesmas para o PPcop não carregado e para os

compósitos reforçados com talco, FV ou reforço híbrido, independente das

frações de reforço empregadas. Com isso, buscou-se, nesse caso, uma

redução das variáveis em estudo, direcionando para a avaliação da influência

das características materiais envolvidas. Em particular, a manutenção do

tempo de injeção permite garantir que as taxas de cisalhamento sejam

mantidas em todos os casos. Os parâmetros de injeção utilizados estão

expostos na Tabela 4.4.

a)

b)

Linhas de Solda

124

Tabela 4.4 Condições de injeção utilizadas.

Zonas

1 2 3 4 5 Perfil de Temperatura (ºC)

180 200 220 240 240

Temperatura do fundido (ºC) 240

Velocidade de Injeção (cm3/s) 12

Pressão de Injeção (MPa) 64

Pressão de Empacotamento (MPa) 46

Tempo de Empacotamento (s) 15

PPcop e Compósitos com

FV e Reforço Híbrido

Compósitos com

Talco

Contra-Pressão (MPa) 0 (para evitar a quebra

excessiva da FV)

4 (para favorecer a

dispersão das

lamelas de talco)

Temperatura do Molde (ºC) 40

4.2.4 – Determinação da Concentração de Reforço

A determinação da concentração em peso dos reforços foi realizada em

amostras retiradas de corpos de prova injetados para ensaios de tração,

objetivando a constatação das porcentagens de talco e fibra existentes em

diferentes compósitos de polipropileno preparados no processo de extrusão e

posterior injeção. O intuito de se conhecer essas porcentagens reais foi poder

correlacioná-las com as propriedades mecânicas dos compósitos, também

avaliadas. A concentração de reforço foi obtida a partir de um tratamento por

30 minutos em forno de microondas modelo AIR WAVE 7000 da marca CEM, à

temperatura de 620ºC, em atmosfera ambiente. Para isso, amostras retiradas

dos CP foram colocadas em cadinhos de alumina previamente pesados

(medida A), sendo que este conjunto (cadinho + amostra) também foi pesado

(medida B), de modo que, após o tratamento no forno microondas, a medição

da nova massa de cadinho + “cinzas” restantes (medida C) pudesse fornecer o

125

percentual em peso de reforço presente (φf) através de cálculos simples abaixo

demonstrados.

φf = [(C – A) / (B – A)] x 100 (4.9)

Isso é possível pois, com o tratamento a 620ºC, todo o PPcop é retirado da

amostra, de modo que apenas a massa de reforço presente no compósito

(“cinzas”) permanece.

4.2.5 – Microscopia Eletrônica de Varredura em gravatas de Tração

A análise em MEV feita nos corpos de prova de tração tipo I ASTM foi

realizada em Microscópio Eletrônico de Varredura Zeiss (poder de resolução

nominal de 4,5 nm), o que permitiu obter alguns resultados quanto à

caracterização física das partículas de talco e da FV. Análises em todas as

composições também foram feitas com o intuito de se conseguir uma avaliação

qualitativa do perfil de orientação das cargas e fibras ao longo da espessura do

CP, na região de LS e distante dela.

Visando caracterização física, os talcos em pó foram retirados dos

diversos compósitos da matriz de PPcop por calcinação de corpos de prova

moldados por injeção, a 620 °C por 30 minutos em forno de microondas,

conforme descrito no item anterior. Em seguida foram passados por peneiras

de malha 150 mesh, para desfazer os aglomerados presentes, dispersos em

uma suspensão de água destilada/álcool (1:1) e gotejados sobre o porta-

amostra. Após secagem foi feita uma deposição de ouro para permitir

condução eletrônica e a observação em microscópio eletrônico de varredura.

Para observação e estudo dos moldados por injeção, foram cortadas

amostras de CP, entalhadas, mantidas sob N2 líquido por mais de duas horas e

rompidas sob ação de carga brusca. Na sequência, recobrimento com uma

camada de ouro foi feito nas amostras já fixadas nos porta-amostras e

circundadas com tinta de prata condutora. Os planos dos corpos de prova de

tração, sem e com LS, observados em MEV estão representados na Figura

4.4.

126

(a) (b)

Figura 4.4 Planos paralelos à espessura observados em MEV em corpos de

prova: (a) sem LS e (b) com LS.

4.2.6 – Ensaio de Tração

Os ensaios de tração foram realizados em uma máquina universal de

ensaios mecânicos instrumentada da Instron, modelo 5569, com célula de

carga máxima de 50 kN (capacidade de carregamento máxima), segundo a

ASTM D 638M-96.

Através do ensaio de tração foram obtidos a tensão máxima de tração ou

a resistência à tração (σmax), o módulo de elasticidade (E), calculado pela

inclinação do segmento de reta traçado entre 0,05 e 0,25% de deformação, e a

deformação (ε) na tensão máxima e na ruptura.

0A

Wmaxσ = (4.10)

%100(%)0∗

Δ=

LLε (4.11)

εσ

=E (4.12)

sendo :

- W = carga máxima suportada pelo corpo de prova;

- A0 = área inicial do corpo de prova;

- ΔL = variação do comprimento de referência do corpo de prova;

- L0 = comprimento de referência inicial.

Os valores de uma determinada propriedade mecânica (resistência e

módulo) obtidos em tração em corpos de prova com e sem LS foram

127

confrontados através da equação abaixo, para se avaliar o fator de depreciação

da LS (FLS). Esse índice correlaciona a propriedade de um corpo com linha de

solda (PcomLS) com a mesma propriedade de um corpo sem linha de solda

(PsemLS) e informa o quanto a presença da LS debilita essa determinada

propriedade. Quanto maior o FLS (varia entre zero e um), menor é a influência

depreciativa da LS na propriedade em questão.

semLS

comLSLS P

PF =

4.2.7 – Ensaio de Flexão

Os ensaios de flexão em 3 pontos também foram realizados na máquina

universal de ensaios mecânicos instrumentada da Instron, modelo 5569, com

célula de carga de capacidade máxima de 500 N, segundo o Procedimento A

da ASTM D 790-00.

Através desse ensaio foram obtidos a tensão máxima de flexão ou a

resistência à flexão (σf), o módulo de elasticidade em flexão (Ef) e a

deformação em flexão (εf) na máxima carga.

223bdPL

f =σ (4.13)

3

3

4bdmLE f = (4.14)

2

6LDd

f =ε (4.15)

sendo :

- P = carga aplicada na camada externa e central do corpo de prova;

- L = distância entre os apoios de base;

- b = largura do corpo de prova;

- d = espessura do corpo de prova;

- m = inclinação da tangente a 0,5% de deformação;

128

- D = deflexão máxima d centro do corpo de prova.

Os ensaios de flexão eram interrompidos no momento de ruptura do

corpo de prova ou quando o limite de 5% de deformação era alcançado, como

sugere a norma.

4.2.8 – Ensaio de Impacto Izod

Os ensaios de impacto pendular Izod com entalhe padrão (raio do cume =

0,25 mm) foram feitos segundo a norma ASTM D256-90b, utilizando pêndulo

Ceast de 2,0 J para os compósitos híbridos e com FV, martelo de 2,75 J para

compósitos com talco e de 4 J para o polímero puro. A troca de pêndulos foi

necessária pois a norma especifica que os valores de energia encontrados

devem estar compreendidos no intervalo de 15% (mínimo) a 85% (máximo) da

energia nominal de queda do pêndulo.

A resistência ao impacto das amostras (RI) foi determinada segundo a

equação 4.17.

Area

EERI arcp −= (4.16)

sendo:

- Ecp = energia para ruptura da amostra;

- Ear = energia dispensada pela resistência do ar, dada pela queda livre do

pêndulo, sem atingir o CP;

- Area = área referente à seção transversal do CP após o entalhe: (espessura x

largura útil).

4.2.9 – Calorimetria Diferencial de Varredura

Como visto na Revisão Bibliográfica, o talco pode funcionar como um

agente nucleante para o polipropileno, alterando a sua estrutura cristalina e o

129

seu grau de cristalinidade. Como o grau de cristalinidade e a morfologia

cristalina influenciam as propriedades mecânicas de termoplásticos

semicristalinos, uma avaliação da influência da presença de talco no grau de

cristalinidade da matriz de PPcop fornece maior segurança na avaliação dos

resultados de propriedades mecânicas nos moldados por injeção destes

compósitos.

Para a realização dos ensaios utilizou-se um calorímetro de fluxo de

calor Netzch 204 por fluxo de calor. Nesta técnica por fluxo de calor, a amostra

e a referência inerte são colocadas em panelas sobre plataformas situadas

sobre um disco, onde são conectados os termopares. O calor é transferido a

uma taxa constante para a amostra e a referência. O princípio básico para esse

tipo de DSC é o registro das diferenças de temperatura (ΔT) geradas entre a

amostra e a referência com as ocorrências de transformações na amostra. As

transformações ocorridas na amostra durante a análise geram uma diferença

de taxa de fluxo de calor entre o forno e amostra e entre o forno e a referência.

A quantidade de energia liberada ou consumida pela amostra (Q) é obtida

através da seguinte equação:

TmcQ Δ= (4.17)

sendo:

- mxc a capacidade calorífica da amostra;

- ΔT a diferença instantânea de temperatura entre a amostra e referência.

Assim, a técnica DSC registra os calores consumidos e/ou liberados pela

amostra comparados a uma referência. Com os valores de entalpia de fusão

(ΔHf) das amostras de compósitos e o valor teórico de entalpia de fusão do PP

isotático 100% cristalino (PP100%c) foi calculado o grau de cristalinidade (%C)

presente na amostra, conforme a equação 4.19 [70]. Esse valor deve então ser

normalizado com relação ao teor real de PP presente na amostra, uma vez que

é a matriz polimérica que sofre o processo de cristalização. Como valor de

referência para a entalpia de fusão de um polipropileno isotático teoricamente

130

100% cristalino foi considerado o valor de 209 J/g [71] para a massa de um

grama de PP totalmente cristalino.

100*%%100 cf

f

PPH

amostraHC

Δ

Δ= (4.18)

Durante o ensaio de DSC as amostras foram submetidas a um ciclo de

aquecimento, resfriamento e aquecimento de 50 a 200 ºC, com taxa de

aquecimento e resfriamento de 10 ºC/min.

4.2.10 – Estudo em Caixas Retangulares Moldadas com Linhas de Solda

Visando avaliar a influência dos parâmetros de injeção nas propriedades

de moldados por injeção, foi feito um estudo em caixas retangulares moldadas

com linhas de solda. Os materiais das caixas estudados comparativamente

foram: PPcop puro (referência), PPcop + 20% talco (20T) e PPcop + 30% talco

(30T).

Para esse estudo, inicialmente foram feitas simulações do processo de

injeção com diferentes condições, utilizando o programa Moldflow Plastic

Insight 5.0 (MPI). Para isso foram implementadas, na base de dados do

programa, propriedades térmicas e reológicas das formulações, obtidas em

análises prévias, conforme descrito na seqüência.

4.2.10.1 – Caracterização dos materiais para análise em Moldflow Visando análise no programa de simulação de injeção Moldflow foram

realizados os passos, descritos na seqüência, de obtenção de dados de

caracterização dos materiais em estudo (PPcop, 20T e 30T), com o intuito de se

ter uma maior confiabilidade na análise.

131

I) Obtenção da curva de viscosidade a baixas taxas de cisalhamento

Para obtenção da curva de viscosidade em regime permanente a baixas

taxas de cisalhamento foi utilizado reômetro rotacional ARES de deformação

controlada. Para tanto se empregou a geometria cone-placa de diâmetro de

25mm, com distância entre o cone e a placa de 0,051 mm e ângulo do cone de

5,73o. O ensaio foi realizado numa faixa de taxas de cisalhamento de 0,01 a

100 s-1 e nas temperaturas de 180, 210 e 240 oC.

II) Obtenção da curva de viscosidade a altas taxas de cisalhamento

A curva de viscosidade a altas taxas de cisalhamento foi obtida no

reômetro capilar de marca Instron, com um capilar de comprimento (L) de

25,52 mm e diâmetro (d) de 0,76 mm (L/d = 33). A faixa de taxas de

cisalhamento explorada foi de 15 a 10000 s-1 e as temperaturas de ensaio

foram de 180, 210 e 240 oC.

III) Ajuste da curva de viscosidade ao Modelo Cross-WLF

O programa Moldflow Plastic Insight 5.0 (MPI) reconhece os dados de

caracterização reológica introduzidos em seu banco de dados segundo o

modelo de Cross-WLF [72], dado pela equação 4.20.

)1(

*

.

0

0

1

n−

⎟⎟⎟

⎜⎜⎜

⎛+

=

τγη

ηη (4.19)

onde:

- η : viscosidade (Pa.s);

- .γ : taxa de cisalhamento;

- τ* : está relacionado ao tempo de relaxação do material;

- n : índice de pseudoplasticidade

- η0 = viscosidade com a taxa tendendo a zero, dada por:

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

−+−−

=)()(

exp *2

*1

10 TTATTA

Dη (4.20)

sendo:

132

- PDDT 32* += e D2 = Tg ;

- P : pressão (Pa);

- T : temperatura (K).

É possível inserir no banco de dados do programa Moldflow os valores de

D1, A1, A2, T*, n e τ* do material em estudo, fornecendo maior confiabildade

no comportamento do fluxo durante a simulação de injeção. Esses dados foram

encontrados procedendo da seguinte maneira:

Através das curvas de η X .γ obtidas por reometria para cada material

foram encontrados os valores de η0, para a taxa de cisalhamento tendendo a

zero. Os valores de τ* e n foram então obtidos através de um processo iterativo

aplicando a equação 4.19 sobre os mesmos dados das curvas η X .γ .

Como o comportamento reológico de cada material estudado foi

analisado em três temperaturas (180, 210 e 240 oC), foram construídas curvas

de η0 X T. Na análise, o efeito da pressão P foi desconsiderado (D3 = 0), de

modo que T* iguala-se a D2, tomada como a temperatura de transição vítrea

(Tg) do material. As variáveis D1 e A1 da equação 4.20 são obtidas por

processo iterativo.

Cabe comentar aqui a vulnerabilidade do programa de simulação

Moldflow quanto à análise de polímeros semi-cristalinos, uma vez que utiliza,

na descrição do comportamento do fundido polimérico, uma equação (Cross-

WLF) originalmente deduzida para polímeros amorfos. No caso de polímeros

semi-cristalinos a mobilidade do material é drasticamente reduzida durante o

resfriamento ao atingir sua temperatura de cristalização, muito acima da Tg do

material. Por isso, alguns trabalhos [73] feitos em polímeros semi-cristalinos

assumem a variável T* como sendo a temperatura de não-fluxo do material

(temperatura na qual a viscosidade do material tende ao infinito – aumento

abrupto – partindo do resfriamento do fundido). Porém, outros mantêm a

utilização de T* = Tg e o próprio programa Moldflow recomenda o uso de Tg.

No banco de dados de materiais do Moldflow, todos os materiais apresentam T*

como sendo a Tg e o valor da variável A2 da equação 4.20 também é sempre

133

mantido constante e igual a 51.6. O que diferencia as constantes reológicas de

cada material inseridas no Moldflow são as demais variáveis (D1 e A1),

encontradas por processo de iteração a partir da equação 4.20; além das

variáveis τ* e n obtidas por iteração da equação 4.19, como já comentado.

Assim, diante das diferentes interpretações existentes quanto ao

tratamento das variáveis a serem inseridas no Moldflow e considerando que, no

presente estudo, era buscada apenas uma análise comparativa dos materiais

estudados (PPcop, 20T e 30T), optou-se por utilizar T* = Tg e A2 = 51,6

(constante); como feito para todos os materiais presentes no banco de dados

do Moldflow.

4.2.10.2 – Simulação da Moldagem por Injeção em Moldflow

Com base em estudos anteriormente desenvolvidos [46, 56, 67] foram feitas

simulações com as combinações de variáveis de injeção apresentadas na

Tabela 4.5.

Tabela 4.5 Simulações feitas em Moldflow com combinações de variáveis de

injeção.

A = Temperatura de Injeção – Ti : ⎯ (baixo) = 210 ºC + (alto) = 250 ºC

B = Temperatura do Molde – Tm : ⎯ (baixo) = 30 ºC + (alto) = 50 ºC

C = Pressão de Empacotamento (P2) : ⎯ (baixo) = 8 MPa + (alto) = 13 MPa

D = Tempo de Injeção (ti) : ⎯ (baixo) = 0,5 s + (alto) = 1,5 s

134

Simulações A B C D

1 ⎯ ⎯ ⎯ ⎯

2 + ⎯ ⎯ ⎯

3 ⎯ + ⎯ ⎯

4 ⎯ ⎯ + ⎯

5 ⎯ ⎯ ⎯ +

6 + + + +

Com esse procedimento foi possível escolher as condições de injeção a

serem variadas para análise da sua influência na resistência da LS e na

morfologia da peça final.

4.2.10.3 – Moldagem por Injeção

Caixas retangulares de 1,4 mm de espessura, apresentadas na Figura

4.5, foram moldadas, no Departamento de Engenharia de Polímeros da

Universidade do Minho, em uma injetora Klöckner Ferromatic FM20, com força

de fechamento de 20kN, utilizando injeção de canal quente, com os parâmetros

listados na Tabela 4.6. As condições de injeção variadas (Ti = 210 e 250 ºC e ti

= 1 e 2 s) estão em negrito. As demais condições foram mantidas constantes

ou sofreram mudanças decorrentes dessas variações. Novas simulações em

Moldflow foram posteriormente feitas usando as condições de injeção

realmente utilizadas para moldagem da peça.

135

Tabela 4.6 Condições de injeção utilizadas para moldagem das caixas.

Zonas

1 2 3 4 1 2 3 4 Perfil de Temperatura (ºC)

180 200 210 210 180 210 230 250

Temperatura do fundido (ºC)

210 250

Pressão de Injeção (MPa) 60 40

Pressão de Empacotamento

(MPa)

49 29

Tempo de injeção (s) 1 2

Velocidade de Injeção (mm/s) 75 40

Tempo de Empacotamento

(s)

10

Contra-Pressão (MPa) 1

Temperatura do Molde (ºC) 40

4.2.10.4 – Obtenção das amostras para Impacto-Tracional

Na seqüência, corpos de prova em forma de gravata, com área da secção

transversal de 4X1,4 mm2 foram extraídos da caixa moldada, de diferentes

posições, também apresentadas na Figura 4.4. Isso foi feito pressionando-se

uma ferramenta cortante com a geometria do CP desejada sobre a região da

peça a ser analisada. Ensaios de impacto-tracional (Figura 4.6) foram

realizados nesses CP, à temperatura ambiente, com um pêndulo Ceast de

7,5J.

136

(a)

(b)

Figura 4.5 (a) Fotografia da caixa injetada, mostrando a ferramenta cortante

e o corpo de prova de impacto-tracional e (b) esquema da caixa injetada,

mostrando a localização dos pontos de injeção (•), assim como as regiões

de onde foram extraídos corpos de prova para análise em impacto-tracional

(wc, wm, we, wl e R).

137

Figura 4.6 Máquina de impacto-tracional com o detalhe da fixação do corpo de

prova ampliado.

4.2.10.5 – Análise por Microscopia

Com o intuito de se avaliar a influência dos parâmetros de injeção na

morfologia resultante, microscopia óptica de luz polarizada foi realizada em

amostras de PPcop. Para tanto, tiras da amostra de cerca de 15 μm de

espessura foram cortadas com um micrótomo Leitz 1401 e observadas em um

microscópio de luz polarizada Olympus BH2.

Também buscando melhor avaliação da superfície de fratura e elucidação

de comportamentos mecânicos, microscopia eletrônica de varredura (MEV) foi

efetuada na superfície de fratura dos CP utilizados nos ensaios de impacto-

tracional. As amostras receberam recobrimento de uma fina camada de ouro e

foi utilizado um microscópio eletrônico de varredura Leica Cambridge, modelo

S360.

Paralelamente, realizaram-se ensaios de microdureza nos compósitos,

utilizando um microdurômetro Leica VMHT 30A, com identador Vickers de base

quadrada de diamante, com o objetivo de verificar se seria possível, com isso,

138

buscar uma correlação entre a dureza superficial e a resistência da LS,

baseado em estudos anteriormente desenvolvidos [55, 65, 66].

139

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 – Densidades dos Reforços e Matriz Polimérica Empregados

Os seguintes valores médios de densidade, determinados por picnometria

à hélio foram obtidos para os talcos e a FV conforme Tabela 5.1.

Tabela 5.1 Densidades dos reforços utilizados nos compósitos de PPcop.

Material/Especificação Densidade ρf (g/cm3)

Talco GM-10 2,784

Talco PMT-12000 2,666

Fibra de vidro E - 968 2,579

O PPcop empregado em todas as composições teve sua densidade

medida por picnometria a líquido, tendo sido obtido um valor de 0,866 g/cm3.

5.2 – Concentração dos Reforços

Os valores médios corrigidos da concentração de reforços determinada

por calcinação nos diversos compósitos investigados estão na Tabela 5.2. A

conversão da concentração (fração) em massa para concentração em volume

(φf) foi efetuada através das equações 5.1 para compósito com reforço singular

e 5.2 para os compósitos híbridos.

m

f

f

f

fff MM

M

ρρ

ρφ

)1( _

+

= (5.1)

140

m

cf

c

c

f

f

c

c

f

f

cf MMMM

MM

ρρρ

ρρφ

))(1( _ +++

+

=+ (5.2)

Onde M e ρ representam a fração em massa e a densidade dos materiais

e os sufixos f, c e m são referentes ao reforço fibroso (FV), à carga de talco e à

matriz termoplástica, respectivamente.

Tabela 5.2 Percentual em massa e em volume dos reforços nos compósitos de

PPcop estudados.

Tipo de Reforço

Compósito % Nominal do Reforço

em Peso

% Real do Reforço em Peso

% Real do Reforço

em Volume

10GM 10 10,10 ± 0,05 3,38

20GM 20 20,05 ± 0,11 7,23

25GM 25 24,55 ± 0,01 9,19

30GM 30 29,26 ± 0,19 11,40 Talc

o

GM

-10

40GM 40 38,26 ± 0,38 16,16

10PMT 10 9,02 ± 0,40 3,12

20PMT 20 18,33 ± 0,50 6,79

30PMT 30 27,81 ± 0,54 11,11 Talc

o

PMT-

1200

0

40PMT 40 36,31 ± 0,73 15,61

10FV 10 10,81 ± 0,16 3,91

20FV 20 20,72 ±0,14 8,06

30FV 30 30,96 ± 0,05 13,09

Fibr

a de

Vidr

o

40FV 40 40,54 ± 0,07 18,62

20FV10T 30 30,45 ± 0,19 12,53

20FV20T 40 40,30 ± 0,01 17,91

20FV30T 50 50,39 ± 0,08 24,86

10FV30T 40 39,67 ± 0,04 17,25 Híb

ridos

:

FV +

talc

o G

M-1

0

30FV10T 40 40,44 ± 0,05 18,28

141

Embora alguns valores apresentem diferença entre o valor nominal e o

real na concentração dos reforços, essas desigualdades foram pequenas e não

influenciaram o desenvolvimento do estudo. Os compósitos com talco PMT-

12000 apresentaram maior variabilidade no teor de talco incorporado (média

inferior ao valor nominal e desvio-padrão maior) devido à difícil alimentação

deste talco ultra-fino durante o processo de compostagem por extrusão.

Durante este processo, o talco ultra-fino PMT-12000 tendia a aglomerar-se no

funil de alimentação vertical ou na rosca do alimentador lateral, que conduz

carga em pó à extrusora dupla-rosca, devido a seu grande volume aparente e

elevada área superficial.

Essa dificuldade de processamento do talco PMT-12000, que torna

inviável seu uso em escala industrial sem compactação prévia, aliada à

pequena diferença nas propriedades mecânicas encontradas para os dois tipos

de talco avaliados, como será demonstrado adiante, levou à escolha do talco

GM-10 para a hibridização com o reforço fibroso. Portanto, a letra “T” presente

na indicação dos compósitos híbridos, como feito na Tabela 5.2, refere-se ao

talco GM-10.

5.3 – Caracterização de Tamanho, Área Superficial e Razão de Aspecto dos Talcos

Trabalho experimental foi realizado com o objetivo de se obter uma boa

caracterização granulométrica dos talcos empregados de modo a correlacioná-

la com as propriedades mecânicas dos compósitos moldados.

5.3.1 – Método de Análise por Sedimentação Simples: Distribuição de Tamanhos de Partículas

Os resultados dos diâmetros esféricos equivalentes d95 , d84 , d50 e d05

dos talcos estudados estão apresentados na Tabela 5.3 e as curvas de

sedigrafia obtidas estão expostas na Figura 5.1.

142

Tabela 5.3 Diâmetros esféricos equivalentes dos dois tipos de talcos utilizados.

Tipo de Talco d95

(μm)

d84

(μm)

d50

(μm)

d05

(μm)

Talco GM-10 virgem 6,70 5,00 2,60 1,00

Talco GM-10 extraído do compósito 6,20 4,00 2,10 0,21

Talco PMT-12000 virgem 1,60 1,10 0,76 0,31

Talco PMT-12000 extraído do compósito 1,50 0,51 0,45 0,31

100 10 1 0,10

20

40

60

80

100

Diâmetro Esférico Equivalente (μm)

Mas

sa C

umul

ativ

a P

erce

ntua

l

GM-10 virgem PMT-12000 virgem GM-10 extraído do compósito PMT-12000 extraído do compósito

Figura 5.1 Curvas de distribuição granulométrica obtidas por sedigrafia para os

talcos GM-10 e PMT-12000 virgens e extraídos de compósitos.

Os resultados acima apresentados confirmaram a granulometria

consideravelmente mais fina do talco PMT-12000 comparado ao talco GM-10.

O talco PMT-12000 apresenta também uma curva de distribuição

granulométrica mais estreita, o que pode ser concluído pela queda mais

abrupta no percentual de massa encontrado com a variação do diâmetro

esférico equivalente medido. A fração de grossos do talco GM-10 (d95) é cerca

de 4 vezes maior do que a do talco PMT-12000, indicando seu maior efeito

concentrador de tensão, como será visto mais adiante.

143

Nota-se também, observando as curvas dos talcos extraídos dos

compósitos presentes na Figura 5.1, o refinamento da granulometria dos talcos

resultante dos processos de extrusão e injeção aos quais foram submetidos.

5.3.2 – Determinação da Área Superficial dos Talcos por BET

Através da técnica de adsorção de nitrogênio de Brunauer, Emmett e

Teller (BET) foram determinados os valores de área superficial específica para

os talcos utilizados. Os valores apresentados na Tabela 5.4 são para os talcos

virgens. Analisando os dados de tamanho de lamela e área superficial percebe-

se que a área superficial específica dos talcos é inversamente proporcional ao

tamanho médio das partículas, aumentando mais acentuadamente com a

contribuição do tamanho e a fração dos finos.

Tabela 5.4 Valores da área superficial específica dos talcos utilizados.

Tipo de Talco Área superficial (m2/g)

Talco GM-10 8,32

Talco PMT-12000 17,10

5.3.3 – Tamanho, Espessura e Distribuição das Lamelas dos Talcos: Método por Análise de Fotomicrografias

Através das fotomicrografias retiradas dos talcos puros extraídos dos

compósitos por calcinação, expostas na Figura 5.2, já é possível verificar,

visualmente, a maior dimensão das partículas do talco GM-10 comparadas ao

talco PMT-12000.

As fotomicrografias obtidas por microscopia eletrônica de varredura dos

talcos puros e de compósitos reforçados com talcos foram avaliadas utilizando

o programa analisador de imagens Image Pro-Plus. Com essas

fotomicrografias calibradas através de suas respectivas escalas, foi possível

144

dimensionar o “diâmetro” (maior dimensão) e a espessura (menor dimensão)

das lamelas dos talcos nos compósitos. Através da análise por microscopia,

mais uma vez foi comprovado o menor tamanho de partículas do talco PMT-

12000, comparado ao talco GM-10, conforme apresentado na Tabela 5.5 e nos

histogramas apresentados na Figura 5.3.

Figura 5.2 Micrografias dos talcos PMT-12000 e GM-10 com ampliação de

a) 10.000 X e b) 20.000 X, mostrando as partículas de talco.

Tabela 5.5 Maior dimensão das lamelas de talco obtida por microscopia,

comparada aos valores de diâmetro médio obtidos por sedigrafia.

Maior dimensão dos talcos (μm) Tipo de

talco Sedigrafia

d50

MEV

Diâmetro dos talcos

GM-10 2,60 2,18

PMT-12000 0,76 1,6

145

Confrontando os resultados obtidos através da análise por sedimentação

e os valores medidos pelas fotomicrografias é perceptível a diferença, já que os

métodos são bastante diferentes e cada qual apresenta as suas deficiências. O

valor obtido como medida da maior dimensão da partícula do talco também é

diferente: na sedigrafia obtém-se o diâmetro esférico equivalente e no MEV

mede-se a maior dimensão da lamela, que não é perfeitamente esférica. Mas

os dois métodos indicaram o talco PMT-12000 como sendo o mais fino.

1 2 3 4 5 60

5

10

15

20

25

Freq

üênc

ia P

erce

ntua

l (%

)

Maior dimensão das partículas de talco (μm)

GM-10

a)

1 2 3 4 5 60

10

20

30

40

50

Freq

üênc

ia P

erce

ntua

l (%

)

Maior dimensão das partículas de talco (μm)

PMT-12000

b)

Figura 5.3 Distribuição de tamanho (diâmetro) das lamelas dos talcos obtida

por análise de imagens de fotomicrografias de MEV a) GM-10 e b) PMT-12000.

Através dos histogramas da figura acima também é possível constatar a

distribuição mais estreita de tamanhos de partículas do talco PMT-12000,

indicando maior homogeneidade.

Os valores de espessura das lamelas também foram coletados de

amostras criofraturadas e subseqüentes fotomicrografias dos compósitos,

como a apresentada na Figura 5.4, para posterior estimativa da razão de

aspecto. Os resultados obtidos estão demonstrados na Tabela 5.6 e na Figura

5.5. Vale ressaltar que, devido à pequena dimensão das lamelas de talco, a

medição da espessura é difícil e a própria técnica empregada, de medição

individual das lamelas através do programa Image Pro-Plus aplicado em

fotomicrografias, envolve um certo grau de subjetividade. Deste modo, o valor

146

da espessura encontrado e subseqüente valor de razão de aspecto gerado

devem ser usados apenas para análise comparativa/qualitativa dos talcos.

Figura 5.4 Micrografia do compósito criofraturado de PPcop + 10% talco GM-10,

mostrando as lamelas de talco.

Tabela 5.6 Média das espessuras dos talcos, medidas em compósitos (μm).

Tipo de talco Espessura dos talcos (μm)

GM-10 0,77

PMT-12000 0,41

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,00

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

Espessuras das lamelas de talco (μm)

GM-10

Freq

üênc

ia P

erce

ntua

l (%

)

a)

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,00

5

10

15

20

25

30

35

40

PMT-12000

Espessuras das lamelas de talco (μm)

Freq

üênc

ia P

erce

ntua

l (%

)

b)

Figura 5.5 Distribuição de espessuras dos talcos a) GM-10 e b) PMT-12000.

147

5.3.4 – Razão de Aspecto

O valor da razão de aspecto (A) foi calculado com os valores obtidos da

análise das fotomicrografias, feitas em MEV no caso dos talcos nos compósitos

e em Microscópio Óptico no caso das FV calcinadas, sendo:

dl=A (5.3)

onde l representa a maior dimensão e d a menor dimensão do reforço

fibroso ou carga analisados.

Através dos resultados apresentados na Tabela 5.7 é possível afirmar que

os dois talcos não apresentam diferença considerável nos valores de razão de

aspecto, calculados com os valores médios obtidos das fotomicrografias, para

cada concentração utilizada.

Tabela 5.7 Razão de aspecto dos talcos e de FV (μm) dos diversos compósitos

de PPcop utilizados.

Tipo de

Reforço

Maior Dimensão *a

(μm)

Menor Dimensão *b

(μm)

Razão de Aspecto

GM-10 2,18 0,77 2,8

PMT-12000 1,60 0,41 3,9

10FV 612,7 13 47,1

20FV 549,4 13 42,3

30FV 418,6 13 32,2

40FV 376,2 13 28,9

10FV30T 472,6 13 36,3

20FV10T 484,3 13 37,2

20FV20T 452,8 13 34,8

20FV30T 445,4 13 34,3

30FV10T 404,9 13 31,1

*a comprimento médio da FV ou “diâmetro” da lamela de talco.

*b diâmetro da FV ou espessura da lamela de talco.

148

5.4 – Determinação do Comprimento e Distribuição de Comprimentos da Fibra de Vidro

A quebra da FV na extrusão e injeção é induzida por dois tipos de

interação: tensão de flexão induzida na fibra pelo fluxo cisalhante do compósito

fundido e tensão resultante da interação fibra-fibra (colisões, atrito e

impedimento espacial). Em se tratando de um compósito com reforço híbrido

de FV e talco, o aumento da viscosidade do fundido (η) resultante do

acréscimo de talco tende a induzir ainda mais a quebra da fibra. A flexão

provocada pela interação da fibra com o fluxo cisalhante do fundido antes dos

filamentos serem molhados e encapsulados pela matriz é a maior responsável

pela quebra da fibra. Porém, mesmo após o encapsulamento a quebra da fibra

continua ocorrendo durante o processamento do compósito. A tensão de flexão

crítica para a quebra da FV devido ao fluxo cisalhante é proporcional ao

produto 2η.L..

γ . Isto sugere que quanto maior o comprimento (L) da FV, maior

a probabilidade de quebra, e que a taxa de quebra é uma função da taxa de

cisalhamento (γ) do processo, como era de se esperar [2]. As etapas de

calcinação e preparação para análise do tamanho da FV não interferem de

modo determinante na redução dos comprimentos da mesma. Os

comprimentos de FV medidos para cada composição estão apresentados nos

histogramas e curvas de ajuste com distribuição normal de comprimentos

apresentados nas Figuras 5.6, 5.8 e 5.9.

149

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 18000

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200Fr

eqüê

ncia

Per

cent

ual (

%)

Comprimento (μm)

10FVLn = 612,7Lw = 750,5PD = 0,22

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 18000

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

20FVLn = 549,4Lw = 654,5PD = 0,19

Comprimento (μm)

Freq

üênc

ia P

erce

ntua

l (%

)

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 18000

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

30FVLn = 418,6Lw = 508,7PD = 0,21

Comprimento (μm)

Freq

üênc

ia P

erce

ntua

l (%

)

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 18000

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

40FVLn = 376,2Lw = 451,0PD= 0,17

Comprimento (μm)

Freq

üênc

ia P

erce

ntua

l (%

)

Figura 5.6 Histogramas com respectivas curvas de distribuição normal

representando a influência do aumento da concentração de FV na distribuição

de seus comprimentos nos compósitos com 10%, 20%, 30% e 40% em peso

de FV.

Observando os valores médios de comprimentos LN e Lw nos

histogramas apresentados na Figura 5.6 pode-se concluir que o aumento da

fração da fibra presente no compósito diminui os seus comprimentos médios,

sendo que essa diminuição foi praticamente linear com o aumento do teor de

FV, como pode ser comprovado na Figura 5.7. Esse aspecto pode ser

explicado pelo comportamento reológico de polímeros carregados, uma vez

que a viscosidade do compósito fundido é proporcional à fração volumétrica do

reforço presente, fazendo com que a tensão induzida sobre a FV pelo fluxo do

fundido aumente [2,49,74]. Aumentando a fração da FV aumenta-se também a

tensão resultante da interação entre fibras devido à maior probabilidade de

contato entre elas.

150

10 15 20 25 30 35 40 45

450

500

550

600

650

700

750

30FV

40FV

20FV

Compósitos com FV

Teor real em peso de FV (%)

L W (μ

m)

10FV

Figura 5.7 Diminuição do comprimento ponderal médio da FV com o aumento

da concentração total de FV.

0 200 400 600 800 1000 1200 14000

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

10FV30TLn = 472,6Lw = 548,9PD= 0,16

Comprimento (μm)

Freq

üênc

ia P

erce

ntua

l (%

)

0 200 400 600 800 1000 1200 14000

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

20FV20TLn = 452,8Lw = 521,8PD= 0,15

Freq

üênc

ia P

erce

ntua

l (%

)

Comprimento (μm)

0 200 400 600 800 1000 1200 14000

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

30FV10TLn = 404,9Lw = 466,7PD= 0,15

Freq

üênc

ia P

erce

ntua

l (%

)

Comprimento (μm)

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 18000

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

40FVLn = 376,2Lw = 451,0PD= 0,17

Comprimento (μm)

Freq

üênc

ia P

erce

ntua

l (%

)

Figura 5.8 Histogramas com respectivas curvas de distribuição normal

representando a influência da hibridização de reforços pela substituição parcial

da FV por talco na distribuição de comprimentos de FV nos compósitos com

teor total de reforço constante: 40FV, 30FV10T, 20FV20T, 10FV30T.

151

Como é possível perceber da Figura 5.8, existe uma tendência de

aumento gradual no valor de comprimento médio (LN e LW) da FV com a

gradual substituição da mesma por talco nos compósitos com concentração

total fibra+talco constante. Esse comportamento é resultante do fato da

presença da FV aumentar bem mais a viscosidade do compósito fundido do

que a presença do mesmo teor de talco. Esse aumento de viscosidade do

compósito fundido aumenta a tensão de flexão nas FV. As interações fibra-fibra

também levam à quebra da FV. O aumento do comprimento médio da FV com

a hibridização terá influência direta nas propriedades mecânicas dos híbridos,

conforme será discutido mais adiante.

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 18000

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

20FVLn = 549,4Lw = 654,5PD = 0,19

Comprimento (μm)

Freq

üênc

ia P

erce

ntua

l (%

)

0 200 400 600 800 1000 1200 14000

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

20FV10TLn = 484,3Lw = 569,9PD= 0,18

Freq

üênc

ia P

erce

ntua

l (%

)

Comprimento (μm)

0 200 400 600 800 1000 1200 14000

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

20FV20TLn = 452,8Lw = 521,8PD= 0,15

Freq

üênc

ia P

erce

ntua

l (%

)

Comprimento (μm)

0 200 400 600 800 1000 1200 14000

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

20FV30TLn = 445,4Lw = 515,0PD= 0,16

Freq

üênc

ia P

erce

ntua

l (%

)

Comprimento (μm)

Figura 5.9 Histogramas com respectivas curvas de distribuição normal

representando a influência da adição de talco na distribuição de comprimentos

de FV nos compósitos com teores de FV constante: 20FV, 20FV10T, 20FV20T,

20FV30T.

152

No caso dos compósitos híbridos com teores de FV constantes, o

acréscimo de 10% de talco diminuiu consideravelmente o comprimento médio

das fibras, que depois decaiu de maneira mais sutil com o acréscimo de teores

maiores de talco (20 e 30% em peso) e subseqüente aumento da concentração

total de reforço na matriz. Essas quedas nos valores de LN e LW são

provavelmente decorrentes do aumento da viscosidade do fundido polimérico

com a adição de partículas rígidas de talco.

5.5 – Microscopia Eletrônica de Varredura das gravatas de Tração ASTM– Orientação e LS

Não foi possível identificar a formação do perfil parabólico do fundido nem

a região de LS em micrografias tiradas de amostras criofraturadas da matriz de

PPcop não reforçado, como a apresentada na Figura 5.10. Em se tratando de

compósitos, essas características são realçadas e foram perceptíveis nas

micrografias. Micrografias de compósitos com talco, com FV e híbridos, sem

LS, criofraturados paralelamente à espessura do moldado, estão expostas na

Figura 5.10. Nos compósitos com talco foi necessária a utilização de uma

ampliação maior para a visualização das lamelas de talco.

Figura 5.10 Micrografia do PPcop não reforçado.

Através das micrografias apresentadas abaixo é possível identificar

claramente, tanto nos compósitos carregados apenas com talco ou FV, quanto

nos híbridos: i) a presença de uma camada de alta orientação (pele) na direção

153

de fluxo, próxima às superfícies dos moldados; ii) uma camada de orientação

perpendicular à direção principal de escoamento (núcleo), na região central da

espessura; iii) camadas de transição pele-núcleo, com orientação “angular” em

relação à direção de fluxo.

a) b)

c)

d)

Figura 5.11 Micrografias de compósitos criofraturados exibindo a estruturação

pele-núcleo ao longo da espessura: a) Camada superficial (pele) do compósito

espessura

154

20GM; b) Região central (núcleo) do compósito 20GM; c) Orientação ao longo

da espessura do compósito 30FV, mostrando toda a espessura do CP; d)

Orientação ao longo da espessura do compósito híbrido 20FV20T, mostrando

toda a espessura do CP. As setas indicam a direção do fluxo.

Essa estruturação ao longo da espessura é decorrente do perfil

parabólico de escoamento do fundido no preenchimento da cavidade (fountain

flow) e das diferenças de temperaturas e de tensões cisalhantes às quais o

material é submetido ao longo da espessura, como explicado nos

Fundamentos Teóricos (item 2.6). As cadeias do PP e as lamelas de talco ou

as fibras de vidro da frente de fluxo passam por uma desaceleração axial e

uma rotação e são lançadas por um fluxo elongacional contra a parede “fria” do

molde, onde congelam orientadas paralelamente à superfície do molde. Existe

também a contribuição do fluxo cisalhante na orientação das moléculas e

reforços. Como a taxa de cisalhamento é maior perto da parede do molde,

como já explanado, a orientação na direção de fluxo nessa região também é

favorecida. Na região do núcleo as cadeias têm mais tempo e energia (maior

temperatura) para relaxar a orientação induzida no preenchimento, de modo

que, nessa região, as cadeias e reforços assumem direções de orientação

diversas daquela preferencial de preenchimento, como apresentado na Figura

5.11.

Uma micrografia de maior magnificação do compósito híbrido 10FV30T,

exposta na Figura 5.12, permite observar, como exemplo, a relação de

tamanhos entre as fibras de vidro e as lamelas de talco (partículas brancas) na

matriz de PPcop.

155

Figura 5.12 Micrografia do compósito híbrido 10FV30T.

A região de encontro das frentes de fluxo provenientes de entradas

opostas que levou à formação da linha de solda de encontro frontal também

pôde ser identificada através da orientação característica das lamelas de talco

ou fibras de vidro no plano da LS, como apresentado nas Figuras 5.13 e 5.14.

(a) (b) (c)

Figura 5.13 Micrografias seqüenciais tiradas do compósito 20GM,: (a) frente de

fluxo proveniente de uma entrada de injeção; (b) região da LS; (c) frente de

fluxo proveniente da entrada oposta de injeção. As setas indicam a direção de

escoamento do fundido.

Na Figura 5.13 é possível notar a orientação das lamelas de talco e do

fluxo congelado da matriz de PP no plano da LS, ou seja, transversal à direção

principal de preenchimento e solicitação mecânica. Essa orientação

desfavorável incrementa o efeito depreciativo da presença da LS na resistência

à tração dos moldados. Na Figura 5.14 o mesmo comportamento se repete

para o compósito com 40% de FV e é possível identificar o formato parabólico

das frentes de fluxo provenientes de entradas opostas e a região de encontro

156

das mesmas e formação da LS, com orientação das fibras de vidro

perpendicular à direção de escoamento.

Figura 5.14 Micrografia do compósito 40FV exibindo a região de LS de

orientação perpendicular à direção de escoamento das frentes provenientes de

entradas opostas (indicadas pelas setas).

No entanto, nos compósitos avaliados foi comum observar a formação de

uma linha de solda como a apresentada na Figura 5.15, curvada na região

central da espessura do corpo de prova e não perfeitamente transversal à

direção de fluxo ao longo de toda a espessura. Essa curva de intrusão do

material de uma frente de fluxo em outra foi causada, provavelmente, pelo fluxo

de compactação após a união das duas frentes de fluxo provenientes de

entradas opostas. Ainda assim existe uma predominânica da orientação das

fibras na direção perpendicular e desfavorável à de solicitação mecânica

principal no ensaio de tração.

Figura 5.15 Micrografia do compósito 30FV exibindo a região de LS “curvada”.

157

5.6 – Análise Térmica Calorimétrica (DSC)

Os valores da temperatura de cristalização (Tc), da temperatura de fusão

(Tf), dos intervalos de temperaturas de “super-resfriamento” (ΔT = Tf – Tc) e do

grau de cristalinidade da matriz (%C) dos diversos compósitos de PPcop estão

apresentados na Tabela 5.8.

Os valores de ΔT podem ser relacionados à ação nucleante do talco de

modo que quanto menor esse valor maior é o poder de nucleação das

partículas de talco na matriz polimérica e mais cristalitos de menores

dimensões tendem a ser formados.

Tabela 5.8 Dados obtidos por análise em DSC para PPcop e seus compósitos.

Concentração Mássica

Nominal do reforço (%) Tc

(ºC)

Tf

(ºC)

%C

de PPcop

ΔT

(ºC)

Sem

Refoço 0 121,0 ± 0,26 166,9 ± 0,7 28,36 ± 0,62 45,9

10 125,0 ± 0,0 167,0 ± 0,8 29,80 ± 1,40 42,0

20 125,4 ± 0,2 167,3 ± 0,8 28,90 ± 2,00 41,8

30 125,9 ± 0,7 167,2 ± 0,6 28,79 ± 1,45 41,3

Talco

PMT-

12000 40 125,5 ± 0,2 168,0 ± 0,1 28,50 ± 2,25 42,5

10 124,5 ± 0,3 167,0 ± 0,1 29,60 ± 0,47 42,5

20 125,3 ± 0,4 167,3 ± 1,0 28,45 ± 2,38 42,0

30 125,5 ± 0,6 167,5 ± 0,6 28,13 ± 0,91 42,0

Talco

GM-10 40 125,6 ± 0,2 167,6 ± 0,1 28,77 ± 1,80 42,0

20FV10T 127,4 ± 0,2 166,8 ± 0,3 28,44 ± 1,58 39,3

20FV20T 128,3 ± 0,1 167,5 ± 0 29,88 ± 0,28 39,1

20FV30T 128,8 ± 0,1 167,8 ± 0 30,54 ± 0,23 38,9

30FV10T 128,2 ± 0,2 167,5 ± 0,1 30,50 ± 0,13 39,3

Híbridos

FV + T

10FV30T 128,2 ± 0,1 167,5 ± 0,1 29,96 ± 0,09 39,3

A variação do grau de cristalinidade da matriz com a concentração do

reforço adicionado pode ser visualizada na Figura 5.16.

158

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 2623

24

25

26

27

28

29

30

31

32

33

Fraç

ão C

rista

lina

da M

atriz

(%)

Concentração em Volume do Reforço (%)

Talco GM-10 20FV10T 20FV20T 20FV30T 10FV30T 30FV10TTalco PMT-12000

Figura 5.16 Grau da cristalinidade (%) da matriz de PPcop induzida pela

presença dos diferentes reforços.

Os resultados apresentados na Figura 5.16 e na Tabela 5.8 levam à

conclusão de que não houve um efeito nucleante significativo dos reforços

empregados na matriz de PPcop, uma vez que os valores de cristalinidade

encontrados para as diferentes formulações estão muito próximos e dentro do

desvio-padrão do ensaio de DSC.

Com relação à temperatura de fusão cristalina (Tf), também não houve

influência da presença dos reforços e essa se manteve praticamente constante,

em torno de 167 ºC, como representado na Figura 5.17.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24150

160

170

180

190 Talco GM-10 20FV10T 20FV20T 20FV30T 10FV30T 30FV10TTalco PMT-12000

Tem

pera

tura

de

Fusã

o (o C

)

Concentração em Volume do Reforço (%)

Figura 5.17 Temperatura de fusão cristalina das diferentes composições.

159

Cabe comentar a complexidade da matriz polimérica dos compósitos em

estudo, que consiste de um copolímero heterofásico de propileno que,

conforme consulta bibliográfica [24, 25, 51], pode apresentar fases cristalinas de

PP, PE e mesmo EPR. Na curva de DSC do PPcop, apresentada na Figura

5.18, foi possível notar, no resfriamento, um pequeno abaulamento da linha

base, após a cristalização do PP, o que sugeriu a existência de um segundo

“pico” de cristalização. Ampliando essa região, vista na Figura 5.19, é possível

identificar realmente a formação de um pico, a 90oC, provavelmente relativo à

cristalização do polietileno. A formação de um pico de polietileno em

temperatura semelhante na curva de DSC do PPcop foi previamente identificada

no trabalho de Carvalho [75]. Entretanto, no presente estudo, devido à pequena

dimensão desse pico, sua observação é muito difícil, de modo que não foi

possível diferenciá-lo no polímero carregado com FV ou talco. Provavelmente

com a variação das taxas de resfriamento e dos intervalos de temperaturas

trabalhados seria possível aprofundar o estudo da formação desse pico de PE

e, eventualmente, observar a existência de um pico de EPR cristalino [51]. No

entanto, trabalho nesse sentido não foi realizado e é deixado como sugestão

de continuação para trabalhos futuros.

Figura 5.18 Curvas de aquecimento (vermelho), resfriamento (roxo) e re-

aquecimento (preto), registradas no intervalo de 50 a 200oC, a taxas de

10oC/min, apresentando os pico de fusão e cristalização do PPcop.

160

Figura 5.19 Ampliação da curva de resfriamento do PPcop, indicando a

existência de um possível pico de cristalização de PE.

5.7 – Propriedades Mecânicas em Tração

As curvas de tensão-deformação no ensaio de tração dos materiais

estudados com e sem linha de solda estão apresentadas na Figura 5.20, 5.21 e

5.22.

0 50 100 150 200 250 300 350 4000

2

4

6

8

10

12

14

16

Tens

ão (M

Pa)

Deformação (%)

PPcop com LS PPcop sem LS

Figura 5.20 Curvas tensão-deformação do PPcop não reforçado, com e sem LS.

161

Através da Figura 5.20 é possível constatar a elevada ductilidade do PPcop

puro sem LS, cuja deformação alcança o limite da travessa da máquina de

tração sem que ocorra a ruptura do corpo de prova (εruptura > 400%). Nota-se

também o fenômeno de enrijecimento do material durante o estiramento a frio

ao qual o material é submetido no ensaio de tração, que promove a orientação

das cadeias poliméricas na direção de tracionamento. Esse fenômeno é

identificado quando, após ter sido atingida a tensão máxima e ter ocorrido uma

queda subseqüente até um valor de tensão inferior (σi), a tensão ainda é

mantida por longas deformações sem que haja a ruptura do corpo de prova.

Ocorreu, inclusive, um aumento sutil gradativo dessa tensão σi até o final do

teste de tração (limite do equipamento).

A presença da linha de solda reduz drasticamente a deformação do PPcop.

No entanto, os valores de módulo e resistência são minimamente alterados.

Figura 5.21 Curvas tensão-deformação de compósitos de PPcop com talcos

GM-10 e PMT-12000, com e sem linha de solda.

0 50 100 150 200 250 300 350 4000

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Tens

ão (M

Pa)

Deformação (%)

10GM 20GM 25GM 30GM 40GM

Talco GM-10 / sem LS

0 50 100 150 200 250 300 350 4000

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Tens

ão (M

Pa)

Deformação (%)

10 PMT 20 PMT 30 PMT 40 PMT

Talco PMT-12000 / sem LS

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,00

2

4

6

8

10

12

Tens

ão (M

Pa)

Deformação (%)

10GM 20GM 25GM 30GM 40GM

Talco GM-10 / com LS

0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 2,4 2,8 3,20

2

4

6

8

10

12

14

Tens

ão (M

Pa)

Deformação (%)

10 PMT 20 PMT 30 PMT 40 PMT

Talco PMT-12000 / com LS

162

Figura 5.22 Curvas tensão-deformação de compósitos de PPcop com FV e com

reforços híbridos de FV e talco GM-10, com e sem linha de solda.

A ruptura dos compósitos sem LS apenas com talco (GM-10 e PMT-

12000) também ocorreu de forma dúctil (Figura 5.21), com considerável

deformação plástica, sendo que em algumas composições o limite da máquina

Instron utilizada foi alcançado antes da ruptura do corpo de prova (10 e 20PMT;

10, 20 e 25GM). O talco PMT-12000, por ser mais fino, concentra menores

tensões, permitindo uma maior deformação para um mesmo teor de carga

adicionado. Ocorreu também o fenômeno de enrijecimento do material durante

o estiramento a frio. Com a introdução da LS no corpo de prova a ruptura

acontece precocemente, sendo que maiores deformações são alcançadas com

teores menores de talco.

Nos compósitos híbridos e com FV sem linha de solda, como apresentado

na Figura 5.22, a fratura ocorreu após um pequeno grau de deformação dos

0 1 2 3 4 5 6 70

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Tens

ão (M

Pa)

Deformação (%)

10FV 20FV 30FV 40FV

Fibra de Vidro / sem LS

0 1 2 3 4 5 60

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Tens

ão (M

Pa)

Deformação (%)

20FV10T 20FV20T 20FV30T 10FV30T 30FV10T

Híbridos / sem LS

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,50

2

4

6

8

10

12

14

16

Tens

ão (M

Pa)

Deformação (%)

10FV 20FV 30FV 40FV

Fibra de Vidro / com LS

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,60

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Tens

ão (M

Pa)

Deformação (%)

20FV10T 20FV20T 20FV30T 10FV30T 30FV10T

Híbridos / com LS

163

corpos de prova, sendo que a tensão máxima se igualou à tensão de ruptura

do material, caracterizando um comportamento tipicamente frágil associado a

compósitos de termoplásticos com reforço de FV. O mesmo pôde ser

observado para todas as amostras na presença da linha de solda que, por ser

um macro-defeito de alto poder concentrador de tensão, leva à fratura precoce

extremamente frágil dos materiais, como pode ser confirmado através dos

valores consideravelmente baixos de deformação atingidos até a ruptura.

A resistência à tração de corpos de prova moldados por injeção sem a

formação de linha de solda está apresentada na Figura 5.23, em função da

concentração em volume do reforço utilizado (fibra de vidro, talcos GM-10 e

PMT-12000 e reforço híbrido de FV com talco GM-10).

0 5 10 15 20 250

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Res

istê

ncia

à T

raçã

o (M

Pa)

Concentração em Volume do Reforço (%)

20FV10T 20FV20T 20FV30T FV Talco GM-10 10FV30T 30FV10T Talco PMT-12000

sem LS

Figura 5.23 Resistência à tração de compósitos de PPcop em função da

concentração em volume dos reforços utilizados, em corpos de prova sem linha

de solda.

Como era de se esperar, em corpos de prova sem linha de solda a adição

de fibra de vidro à matriz polimérica aprimorou sua resistência à tração de

maneira significativa. O fato da elevação dessa propriedade não ocorrer de

forma linear com a concentração em volume da fibra é resultante da grande

164

quebra de FV ocorrida em compósitos com altos teores desse reforço (30 e

40% em massa), o que foi acusado pela queda no comprimento médio

ponderal (LW) das fibras recuperadas por queima dos CP, que foi de 750,5 μm,

para o compósito com 10% de FV, até 451,0 μm para o compósito com 40% de

FV.

A adição da carga mineral de talco, por sua vez, não influenciou muito a

resistência à tração da matriz de PPcop, apesar de ser possível notar uma

tendência ao crescimento dessa propriedade com o aumento do teor de talco.

A diferença na granulometria dos dois talcos empregados não foi determinante

na resistência à tração (RT) dos compósitos, uma vez que os valores de RT

encontrados para o talco fino GM-10 e o talco ultra-fino PMT-12000 foram

muito próximos.

Em se tratando dos compósitos com reforços híbridos, os valores de RT

encontrados para todas as composições foram intermediários aos valores

encontrados para os compósitos “referência” com apenas talco ou FV, ficando

mais próximos dos valores de FV. Isso se deve ao fato de que a substituição

parcial de FV por talco, devido à redução da viscosidade do sistema fundido,

eleva o comprimento ponderal médio (Lw) da fibra, aumentando sua eficiência

de reforçamento. Nos compósitos de reforço híbrido com teor total de carga

constante (40% em massa), a substituição gradual de fibra de vidro por talco

fez com que os valores de resistência à tração encontrados se distanciassem

da RT do compósito com 40% de FV. No caso dos compósitos híbridos com

teor de FV constante em 20%, o acréscimo de talco resultou numa suave

queda na RT. Essa queda na RT pode ser atribuída à progressiva queda no

comprimento ponderal médio da FV com o aumento do teor de talco, resultante

do aumento na viscosidade do fundido devido ao aumento do teor total de

reforço. Assim, nesse caso, considerando o fato de que a presença de talco

pouco influencia a resistência à tração dos compósitos de PP em análise, a

diminuição da razão de aspecto da FV foi determinante nessa propriedade,

resultando no decaimento da resistência mecânica. Essa diminuição no

comprimento da FV também justificaria a menor RT do compósito 30FV10T

comparado ao compósito 30FV.

165

Na Figura 5.24 observa-se a variação da RT com a concentração relativa

de FV nos compósitos. Comparando-se as composições com a mesma

concentração total em massa de reforço, é possível perceber que os

compósitos híbridos apresentaram RT superior à esperada através da simples

regra de misturas, que seria dada pelas linhas traçadas entre as composições

“referência” só com talco e só com FV. Um desvio natural dessa regra de

misturas já seria esperado devido à diferença de densidades existentes entre a

FV e o talco, que resulta em diferentes concentrações em volume de

compósitos de mesma concentração nominal em massa. Em adição, devido a

limitações na determinação experimental precisa dos teores relativos de FV e

talco nos compósitos híbridos, a curva foi construída baseada em valores de

concentração em massa nominal do reforço híbrido, e é sabido que as

propriedades mecânicas variam com a concentração em volume dos mesmos.

Além disso, em se tratando dos compósitos híbridos com concentração de FV

constante (20%), ocorre um aumento no grau de orientação das fibras na

direção de solicitação mecânica com a adição de partículas de talco, conforme

citado na revisão bibliográfica [8, 60, 61], elevando a sua resistência à tração. No

caso dos compósitos híbridos com concentração total de reforço constante

(40% FV + talco) esse comportamento acima do esperado com a regra de

misturas pode ser decorrente do aumento no comprimento ponderal médio das

FV com a substituição parcial destas por lamelas de talco. A transferência de

tensão da matriz para a fibra é mais efetiva com comprimentos (Lw) maiores de

FV, conforme citado no item sobre micromecânica de reforçamento em

fundamentos teóricos (equação 2.20). O aumento no grau de orientação [61, 62]

preferencial das cadeias de PP na direção de preenchimento (e de solicitação

mecânica) com a adição de partículas de talco também pode ter tido sua

parcela de contribuição, embora maiores estudos nesse sentido não tenham

sido realizados e são propostos como sugestão para trabalhos futuros.

Portanto, em compósitos fibro-particulados não se pode considerar a

contribuição de cada um dos reforços isoladamente, uma vez que a presença

da carga de talco afeta o reforço de FV presente (sua orientação, degradação

do comprimento médio, etc), e mesmo o sistema matricial sofre mudanças

166

(cristalinidade, viscosidade, orientação dos cristalitos, etc.). Nos compósitos

híbridos de FV e talco estudados houve um efeito de sinergia entre os dois

reforços, que acabou levando a um desempenho nas propriedades mecânicas

dos compósitos híbridos superior ao que seria esperado pela simples regra de

misturas da combinação de FV e talco.

14

19

24

29

34

39

-0,1 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1

Fração mássica relativa de FV na concentração total de reforço

Res

istê

ncia

à T

raçã

o (M

Pa)

40 T30 T20 T10 T

40 FV

30 FV

20 FV

10 FV

10FV30T

20FV20T

30FV10T

20FV30T

20FV10T

Figura 5.24 Resistência à tração de compósitos de PPcop em função da fração

mássica relativa de fibra de vidro na concentração total de reforços, em corpos

de prova sem linha de solda.

A resistência à tração na presença da linha de solda está apresentada na

Figura 5.25 e o fator de depreciação de linha de solda (FLS) na resistência está

exposto na Figura 5.26, lembrando que quanto maior for este valor (mais

próximo de 1), menor é o efeito negativo da presença da LS na propriedade

mecânica estudada.

167

0 5 10 15 20 250

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

22

24

26 20FV10T 20FV20T 20FV30T FV Talco GM-10 10FV30T 30FV10T Talco PMT-12000

Res

istê

ncia

à T

raçã

o (M

Pa)

Concentração em Volume do Reforço (%)

com LS

Figura 5.25 RT dos compósitos de PPcop em função da concentração em

volume dos reforços utilizados, em corpos de prova com linha de solda.

0 5 10 15 20 250,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0 20FV10T 20FV20T 20FV30T FV Talco GM-10 10FV30T 30FV10T Talco PMT-12000

Fato

r de

Dep

reci

ação

de

Linh

a de

Sol

da

Concentração em Volume do Reforço (%)

na Resistência

Figura 5.26 Fator de depreciação da linha de solda na resistência à tração dos

compósitos de PPcop com reforço “referência” de FV e de talco e reforço híbrido

de FV+talco.

A linha de solda pode ser vista como um macro-defeito na peça moldada,

onde não existe adequado emaranhamento das moléculas poliméricas devido à

“baixa” temperatura do fundido no encontro das frentes de fluxo, o que acaba

gerando um plano fraco, concentrador de tensão. Essa baixa coesão

168

molecular, em função das condições de injeção utilizadas, ficou evidenciada

pelo fator de depreciação da resistência na linha de solda ter sido menor do

que 1 mesmo para o polímero referência sem reforço (PPcop). Quanto menor

esse fator de depreciação, maior o efeito debilitante da linha de solda na

propriedade mecânica em questão.

No caso do polímero reforçado com FV tem-se também, como fator

depreciativo da resistência na linha de solda, a orientação desfavorável das

fibras de vidro, de alta razão de aspecto, paralela ao plano da linha de solda;

ou seja, perpendicular à principal direção de solicitação mecânica. Isso faz com

que o fator de depreciação da linha de solda caia muito nos compósitos com

FV (Tabela 5.9); isto é, o efeito negativo da presença da linha de solda se torna

ainda mais intenso na presença desses reforços de alta razão de aspecto.

No caso de compósitos com cargas de baixa razão de aspecto, como os

talcos, o fator de depreciação de linha de solda não apresentou uma queda

intensa, como comprovado na Figura 5.26. Isso fez com que o valor absoluto

da resistência à tração dos compósitos com talco não caísse muito na

presença da linha de solda, apesar de existir uma queda. O talco de menor

granulometria PMT-12000 apresentou maior FLS, uma vez que tem um menor

efeito concentrador de tensão. Os valores de FLS dos compósitos podem ser

comparados na Tabela 5.9.

A queda mais acentuada na resistência à tração dos compósitos com FV,

devido à presença de linha de solda, fez com que os valores de RT desses

compósitos se aproximassem dos valores de RT dos compósitos com talco,

com LS. Isso fez com que, na presença de LS, a RT do compósito com 40% FV

fosse inferior à dos compósitos com talco, devido à alta concentração de FV

orientada no placo fraco da LS, perpendicular à direção de solicitação

mecânica.

169

Tabela 5.9 Fator de depreciação de linha de solda (FLS) na resistência à tração

e no módulo de compósitos de PPcop.

Composições FLS na RT FLS no E

PPcop 0,93 0,91

10PMT 0,77 0,91

20PMT 0,76 0,97

30PMT 0,75 0,85

40PMT 0,66 0,91

10GM 0,75 0,95

20GM 0,71 0,89

25GM 0,69 0,82

30GM 0,69 0,82

40GM 0,64 0,85

20FV10T 0,45 0,69

20FV20T 0,45 0,63

20FV30T 0,40 0,62

10FV30T 0,45 0,73

30FV10T 0,37 0,56

10FV 0,52 0,73

20FV 0,40 0,59

30FV 0,32 0,53

40FV 0,21 0,41

A hibridização do reforço, por sua vez, resultou num efeito de sinergia

entre o talco e a FV, de modo que os valores da resistência à tração desses

compósitos na presença da LS foram maiores do que os encontrados para os

compósitos apenas com FV ou talco. Esse aprimoramento na resistência à

tração na presença de linha de solda pode ser conseqüência da diminuição de

170

viscosidade decorrente do maior empacotamento conseguido com a

combinação das fibras de vidro com as lamelas de talco (mesmo superior ao

empacotamento do sistema apenas com talco), como comprovado no trabalho

de Leite [6] (ver item 2.10.1.1 e equação 2.10). Essa redução na viscosidade do

fundido implica no encontro mais rápido das frentes de fluxo e numa

temperatura do fundido maior que contribui para o emaranhamento molecular

das cadeias de PP nesta região, formando uma LS mais coesa e resistente.

Em adição, a menor viscosidade e conseqüente maior mobilidade molecular

permite a maior relaxação da orientação desfavorável na LS, perpendicular à

direção de solicitação mecânica.

O efeito nucleante do talco na matriz polimérica de PP dos compósitos

híbridos, que levou a valores de cristalinidade inclusive superiores, em alguns

casos, aos encontrados para os compósitos apenas com talco (item 5.6)

também pode ter contribuído para a sinergia ocorrida nos compósitos híbridos

quanto à resistência mecânica.

Embora os valores absolutos de RT dos compósitos híbridos com linha de

solda tenham sido maiores do que os valores dos compósitos “referência”, os

valores de FLS dos híbridos foram todos intermediários aos valores dos

compósitos “referência” com apenas um tipo de reforço.

Ainda considerando os valores de RT dos compósitos híbridos com linha

de solda, é possível notar uma diminuição nessa propriedade com o aumento

do teor total de reforço. Esse comportamento pode ser resultante do aumento

da viscosidade decorrente do aumento da concentração total de reforços. Uma

maior viscosidade resulta em uma menor mobilidade molecular na região de

linha de solda, o que, por sua vez, leva à redução na RT da linha de solda.

O comportamento do Módulo Elástico sob Tração com a variação da

concentração em volume dos diferentes reforços utilizados está apresentado

na Figura 5.27.

171

0 5 10 15 20 250

1

2

3

4

5

6

Concentração em Volume do Reforço (%)

20FV10T 20FV20T 20FV30T FV Talco GM-10 10FV30T 30FV10T Talco PMT-12000

Mód

ulo

Elá

stic

o so

b Tr

ação

(GP

a)

sem LS

Figura 5.27 Módulo elástico sob tração dos compósitos de PPcop em função da

concentração em volume dos reforços utilizados, em corpos de prova sem linha

de solda.

Novamente, é possível observar claramente a diferença na eficiência de

reforço no módulo elástico do compósito de PPcop com aumento no teor de FV

(reforço de alta razão de aspecto) em comparação com os talcos (reforço de

baixa razão de aspecto). Os compósitos híbridos mais uma vez apresentaram

valores de módulo intermediários aos dos compósitos “referência” com apenas

talco ou FV, sendo estes mais próximos dos valores com FV, seguindo a

mesma justificativa e o comportamento observado para a resistência mecânica.

Quando se substitui parte da FV por talco, mantendo a proporção de reforço

constante em 40% em peso, também é notado um distanciamento do valor de

módulo encontrado para o compósito 40FV. No entanto, em se tratando dos

compósitos híbridos com concentração fixa de FV em 20% em peso é possível

perceber uma melhora no módulo com o aumento gradativo do teor de talco

(20FV, 20FV10T, 20FV20T, 20FV30T), oposto ao que foi observado na

resistência à tração. Isso se deve ao fato de que, no caso do módulo elástico,

medido em baixos níveis de deformação, o efeito do aumento da concentração

total do reforço híbrido predomina sobre o efeito da variação da razão de

aspecto (quebra) das fibras. Além disso, a influência da presença de talco na

172

matriz de PPcop foi maior no caso do módulo elástico do que no caso da

resistência mecânica.

A Figura 5.28 exibe os valores de Módulo Elástico sob tração em função

da concentração relativa de fibra de vidro no teor total de reforço na matriz.

Mais uma vez observa-se que o comportamento mecânico dos compósitos

híbridos, quanto à rigidez, ultrapassou o que seria esperado com a regra de

misturas, devendo esse comportamento ser atribuído a fenômenos já

comentados na análise da resistência à tração, como: aumento da orientação

das fibras na direção de solicitação mecânica com a adição de talco em

compósitos com teor de FV constante (20%) e aumento do comprimento médio

das fibras com a substituição de FV por talco em compósitos com teor total de

reforço constante (40%).

0

1

2

3

4

5

6

-0,1 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1Fração mássica relativa de FV na concentração total de reforço

Mód

ulo

Elás

tico

sob

Traç

ão (M

Pa)

40 T

30 T

20 T

10 T

40 FV

30 FV

20 FV

10 FV

10FV30T

20FV20T

30FV10T20FV30T

20FV10T

Figura 5.28 Módulo Elástico de compósitos de PPcop em função da fração

mássica relativa de fibra de vidro na concentração total de reforços, em corpos

de prova sem linha de solda.

173

As Figuras 5.29 e 5.30 apresentam o Módulo Elástico na presença de

linha de solda e o FLS dos compósitos, respectivamente. Nota-se o efeito

debilitante da orientação desfavorável dos reforços no plano da LS, sendo este

efeito mais significativo no caso do reforço de maior razão de aspecto (FV).

0 5 10 15 20 250,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

20FV10T 20FV20T 20FV30T FV Talco GM-10 10FV30T 30FV10T Talco PMT-12000

Concentração em Volume do Reforço (%)

Mód

ulo

Elá

stic

o so

b Tr

ação

(GP

a) com LS

Figura 5.29 Módulo elástico sob tração dos diversos compósitos de PP em

função da concentração em volume dos diferentes reforços utilizados, em

corpos de prova com linha de solda.

0 5 10 15 20 250,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

20FV10T 20FV20T 20FV30T FV Talco GM-10 10FV30T 30FV10T Talco PMT-12000

Concentração em Volume do Reforço (%)

Fato

r de

Dep

reci

ação

de

Linh

a de

Sol

da no Módulo

Figura 5.30 Fator de Depreciação de Linha de Solda no módulo elástico para

as diferentes composições.

174

Em se tratando das composições híbridas com LS, ocorreu novamente

um efeito de sinergia, provavelmente devido à redução da viscosidade

resultante do maior empacotamente do reforço fibro-lamelar (equação de

Mooney – 2.10). Porém, no caso do módulo elástico, medido a baixas

deformações, mesmo na presença da LS, a adição de partículas rígidas de

talco reduz a movimentação da matriz, o que acabou resultando num aumento

do módulo elástico com o aumento do teor total de reforço (20FV10T, 20FV20T

e 20FV30T).

Como pôde ser comprovado na Tabela 5.9, os compósitos com FV

apresentaram os menores valores de FLS para o módulo elástico e uma grande

dependência da concentração de reforço, enquanto os compósitos com talco

exibiram uma pequena dependência neste parâmetro. Os FLS dos compósitos

híbridos foram intermediários aos dos compósitos referência, só com FV ou só

com talco.

O comportamento dos materiais quanto à deformação na tensão máxima

sob tração (corpos sem LS) e deformação na ruptura (corpos com LS) está

exposto nas Figuras 5.31 e 5.32. Como era de se esperar, o aumento da

concentração de partículas rígidas na matriz polimérica diminuiu a sua

deformação. O talco ultra-fino apresentou menor queda na deformação de

ruptura, uma vez que sua inércia é menor, podendo escoar mais livremente

com a matriz, concentrando menor tensão. A fração de grossos do talco GM-

10, medida por Sedigrafia e acusada pelo diâmetro esférico equivalente a 95%

(d95 → 95% das partículas têm um diâmetro menor do que o indicado por esse

valor) foi 4 vezes maior do que a do talco PMT-12000, comprovando mais uma

vez o maior efeito concentrador de tensão do talco GM-10 (d95 GM-10 = 6,2 μm e

d95 PMT-12000 = 1,5 μm).

175

0 5 10 15 20 250

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

20FV10T 20FV20T 20FV30T FV Talco GM-10 10FV30T 30FV10T Talco PMT-12000

Concentração em Volume do Reforço (%)

Def

orm

ação

na

Máx

ima

Tens

ão (%

) sem LS

Figura 5.31 Deformação na tensão máxima sob tração das composições

estudadas em função da concentração em volume dos reforços utilizados, em

corpos de prova sem linha de solda.

0 5 10 15 20 25

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

Def

orm

ação

na

Rup

tura

(%)

20FV10T 20FV20T 20FV30T FV Talco GM-10 10FV30T 30FV10T Talco PMT-12000

Concentração em Volume do Reforço (%)

com LS

Figura 5.32 Deformação na ruptura das composições estudadas em função da

concentração em volume dos reforços utilizados, em corpos de prova com linha

de solda.

176

É válido comentar a complexidade morfológica de sistemas híbridos e do

próprio material utilizado como matriz nos compósitos estudados (PPcop).

Pouco ainda se sabe, e não foi investigado no projeto de Mestrado em questão,

quanto a estruturação e manifestação das diferentes fases existentes no PPcop

(PP, PE, EPR) nas propriedades mecânicas, e de que forma estas são

afetadas e agem na presença de reforços singulares ou híbridos. A influência

do talco na orientação da fibra de vidro e das cadeias de PP também não foi

estudada no presente trabalho de Mestrado, de modo que considerações foram

feitas em cima de trabalhos prévios, já realizados.

5.8 – Propriedades Mecânicas em Flexão

Nas Figuras 5.33, 5.34 e 5.35 é possível observar o comportamento

mecânico sob flexão dos diferentes compósitos estudados.

0 5 10 15 20 25 30

20

30

40

50

60

70

80

Res

istê

ncia

à F

lexã

o (M

Pa)

Concentração em Volume do Reforço (%)

FV Talco GM-10 Talco PMT-12000 20FV10T 20FV20T 20FV30T 10FV30T 30FV10T

Figura 5.33 Resistência à flexão de compósitos de PPcop em função da

concentração em volume dos reforços utilizados.

177

0 5 10 15 20 250

1

2

3

4

5

6

7

Mód

ulo

sob

Flex

ão (M

Pa)

Concentração em Volume do Reforço (%)

FV Talco GM-10 Talco PMT-12000 20FV10T 20FV20T 20FV30T 10FV30T 30FV10T

Figura 5.34 Módulo sob flexão de compósitos de PPcop em função da

concentração em volume dos reforços utilizados.

0 5 10 15 20 250,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

5,0

5,5

6,0

Def

orm

ação

na

Máx

ima

Tens

ão (%

)

Concentração em Volume do Reforço (%)

FV Talco GM-10 Talco PMT-12000 20FV10T 20FV20T 20FV30T 10FV30T 30FV10T

Flexão

Figura 5.35 Deformação sob flexão de compósitos de PPcop em função da

concentração em volume dos reforços utilizados.

178

Como é possível perceber através das figuras acima, o comportamento

mecânico quanto à resistência e ao módulo elástico em flexão foi similar ao

observado na tração dos compósitos sem linha de solda. Novamente o

incremento da FV na resistência e no módulo foi significativo, enquanto a

influência dos talcos não foi tão determinante, apesar de ser possível notar o

aprimoramento dessas propriedades.

A resistência à flexão e o módulo dos compósitos híbridos também foram

intermediários aos valores encontrados para os compósitos “referência”. A

substituição gradual de FV por talco, mantendo a concentração total de reforço

constante em 40%, diminui a resistência à flexão e o módulo elástico,

distanciando os valores daqueles encontrados para o compósito com 40% de

FV. No caso dos híbridos com concentração constante de FV igual a 20%,

notou-se uma queda na resistência à flexão com a adição de talco, o que deve

ser decorrente também da quebra da FV. Com relação ao módulo elástico,

medido a pequenas deformações, a adição gradual de talco no compósito com

concentração constante de 20% de FV levou ao incremento dessa propriedade,

uma vez que dificultou a movimentação da matriz polimérica, enrijecendo-a.

5.9 – Resistência ao Impacto Izod

Na Figura 5.36 é possível ver o resultado do teste de resistência ao

impacto pendular com geometria Izod de CP com entalhe padrão (raio do cume

= 0,25 mm) feito para as diferentes composições.

A resistência ao impacto diminuiu com o acréscimo de talco ou de FV

devido ao efeito concentrador de tensão desses reforços na matriz de PPcop, de

grande ductilidade. A maior dimensão das FV comparativamente ao talco fez

com que esse efeito concentrador de tensão também fosse superior. A

presença da FV também nos compósitos híbridos foi determinante para sua

baixa resistência ao impacto.

179

Embora o talco ultra-fino PMT-12000 forneça uma cristalinidade

sutilmente maior do que a induzida pela presença do talco GM-10, enrijecendo

a matriz, o efeito concentrador de tensão decorrente da dimensão das

partículas de talco foi predominante, depreciando a resistência ao impacto de

compósitos com talco GM-10, principalmente a elevadas concentrações.

0 5 10 15 20 25 300

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

Res

istê

ncia

ao

Impa

cto

Izod

(J /

m2 )

Concentração em Volume do Reforço (%)

20FV10T 20FV20T 20FV30T 30FV10T 10FV30T FV Talco GM-10 Talco PMT-12000

Figura 5.36 Resistência ao impacto Izod com entalhe das composições

estudadas em função da concentração em volume dos reforços utilizados.

Diante de todos os resultados apresentados até aqui, visualiza-se a

composição híbrida 20FV30T como tendo forte capacidade para aplicação

comercial, devido a sua ótima relação custo-benefício, especialmente em

peças moldadas com LS.

5.10 – Resultados obtidos em Peças Complexas (caixas retangulares)

Um estudo complementar sobre a influência das condições de injeção e

da geometria da peça na morfologia e propriedades de caixas retangulares

moldadas em canais quentes foi realizado, como será descrito na seqüência,

180

nas composições de: PPcop, PPcop + 20% talco GM-10 (20T) e PPcop + 30%

talco GM-10 (30T)

5.10.1 – Caracterização Reológica e tratamento para análise em Moldflow

As curvas completas da variação da viscosidade aparente com a taxa de

cisalhamento, obtidas por reometria “cone-placa” (torque a baixas taxas) e

capilar (fluxo de pressão a altas taxas), estão apresentadas na Figura 5.37

para os três materiais, analisados nas temperaturas de 180, 210 e 240 oC.

0,1 1 10 100 1000 1000010

100

1000

10000

Visc

osid

ade

(Pa.

s)

Taxa de Cisalhamento (s-1)

PPcop 20T 30T

180ºC

0,1 1 10 100 1000 1000010

100

1000

10000

PPcop 20T 30T

Taxa de Cisalhamento (s-1)

Visc

osid

ade

(Pa.

s)

210ºC

0,1 1 10 100 1000 1000010

100

1000

10000

PPcop 20T 30T

Taxa de Cisalhamento (s-1)

Visc

osid

ade

(Pa.

s)

240ºC

Figura 5.37 Curvas de viscosidade em função da taxa de cisalhamento em três

diferentes temperaturas de ensaio para os materiais estudados.

Das curvas de η X .γ apresentadas acima é possível perceber a tendência

à formação de um plateau Newtoniano (a viscosidade tende a um valor

constante igual a η0) a baixas taxas de cisalhamento, para os diferentes

materiais estudados. A diminuição da temperatura (240 → 180oC), como era

181

esperado, deslocou as curvas para cima devido ao aumento da viscosidade do

fundido (diminuição da mobilidade molecular do polímero), que se refletiu no

aumento de η0.

A presença de partículas rígidas de talco também levou a um aumento da

viscosidade a baixas taxas de cisalhamento, o que tende a piorar a adesão

molecular na região da linha de solda, constituída a baixas velocidades/taxas.

O efeito benéfico de indução de emaranhamento das cadeias na região de LS

pela pressão de compactação também é diminuído com o aumento da

viscosidade do fundido.

O aumento da taxa de cisalhamento faz com que as lamelas de talco

sejam, cada vez mais, forçadas a se orientarem no sentido do fluxo, de modo

que é diminuída a resistência ao escoamento e a viscosidade cai,

aproximando-se da viscosidade do polímero não carregado a altas taxas de

cisalhamento.

Diante desses resultados foi possível fazer o ajuste da curva de

viscosidade versus taxa de cisalhamento segundo a equação de Cross-WLF

(Equação 4.20), que é o único modelo de viscosidade disponível no programa

Moldflow, e obter os parâmetros desconhecidos, apresentados no item 4.2.10.1

(τ* e n), por iterações computacionais feitas no programa Origin 7.0. Para cada

temperatura de ensaio foram obtidos valores diferentes de τ* e n, de modo que

se optou por inserir no programa Moldflow a média dos valores encontrados.

Um exemplo de ajuste da curva ao modelo de Cross é apresentado na Figura

5.38 para o PPcop ensaiado a 180oC.

182

0,1 1 10 100 1000 10000

100

1000

10000

Taxa de cisalhamento (s-1)

Vis

cosi

dade

(Pa-

s)

R2 = 0,99

Figura 5.38 Ajuste ao modelo de Cross dos dados experimentais de

viscosidade do PPcop em função da taxa de cisalhamento a 180oC.

A partir dos valores de η0 obtidos para cada temperatura de ensaio e se

fixando os valores de A2 e T* (comentado na seção 4.2.10.1) foi feito o ajuste

da equação 4.20 para a determinação dos parâmetros D1 e A1, como mostra a

Figura 5.39 para o PPcop.

450 460 470 480 490 500 510 5203000

4000

5000

6000

700080009000

1000011000

Temperatura (K)

η o (Pa-

s)

R2= 1

Figura 5.39 Ajuste dos dados do PPcop para obtenção dos parâmetros da

equação 4.20.

183

Os parâmetros inseridos na simulação em Moldflow estão expostos na

Tabela 5.10.

Tabela 5.10 Parâmetros ajustados do Modelo Cross-WLF (equações 4.19 e

4.20) e inseridos no programa Moldflow para simulação de injeção.

PPcop T

(oC) T (K) D1(Pa.s) A1 A2(K) T*(K) n τ* (Pa)

180 453 0,42 5831,60 210 483 0,43 4354,54 240 513 0,45 2980,77

Parâmetros inseridos

1,50 x 1012 23,85 51,6 263,15 0,43 4354,54

20T T

(oC) T (K) D1(Pa.s) A1 A2(K) T*(K) n τ* (Pa)

180 453 0,45 2937,57 210 483 0,49 1809,04 240 513 0,50 1084,79

Parâmetros inseridos

5,11 x 1011 22,13 51,6 263,15 0,49 1809,04

30T T

(oC) T (K) D1(Pa.s) A1 A2(K) T*(K) n τ* (Pa)

180 453 0,30 15854,72 210 483 0,39 5310,65 240 513 0,43 2565,14

Parâmetros inseridos

9,76 x 107 13,85 51,6 263,15 0,39 5310,65

Os valores encontrados acima foram bem próximos dos presentes na

base de dados do programa Moldflow para PP e PPcop puros e carregados com

talco em diferentes concentrações.

5.10.2 – Simulação em Moldflow de estudos prévios

Antes da injeção da peça foram feitas simulações em Moldflow variando-

se parâmetros de injeção, para observar a sua influência sobre a LS. Buscando

uma avaliação indireta da qualidade da LS foram analisados parâmetros que se

184

relacionassem com o emaranhamento molecular na região de LS e com a

orientação das moléculas e das partículas de talco, como:

Temperatura da frente de fluxo (Tff) – quanto maior essa temperatura,

maior é a mobilidade molecular no momento de encontro das frentes

provenientes de diferentes pontos de injeção, e maior tende a ser o

emaranhamento resultante na formação da LS;

Temperatura da massa (Tb) – também fornece energia para a

“cicatrização” da LS;

Pressão no final do preenchimento (Pend) – também tende a induzir um

maior entrelaçamento das cadeias poliméricas;

Tempo de congelamento (tf) – quanto maior esse tempo, mais tempo

as moléculas terão para se emaranharem e/ou recuperarem a orientação

desfavorável formada na LS;

Orientação das partículas de talco – as partículas de talco tendem a

ficar orientadas no plano fraco da LS, o que leva a uma maior depreciação das

propriedades mecânicas quando este plano é perpendicular à direção de

solicitação mecânica.

Na Tabela 5.11 estão expostos alguns dos resultados dessas simulações

e esses dados foram utilizados para avaliar a qualidade da LS formada,

comparativamente (melhor ou pior). Os dados apresentados e utilizados para

comparação foram retirados do primeiro ponto (nó) teórico de encontro das

frentes de fluxo, na formação da LS. Embora os dados de caracterização

reológica dos materiais tenham sido previamente obtidos e introduzidos na

base de dados do programa Moldlfow, não se tinham outros dados também

significativos, como a curva PVT, e também foram desconsiderados na

resistência da LS fenômenos importantes como a cristalização da matriz

polimérica e a orientação dos domínios cristalinos induzida pelo talco. Os

valores em negrito correspondem às expectativas de melhor desempenho da

LS. Os números das simulações correspondem aos já apresentados no item

4.2.10.2 da Metodologia.

185

Tabela 5.11 Resultados de simulações feitas em Moldflow.

PPcop

Simulações Tff (ºC) Tb (ºC) Pend (MPa) tf (s)

1 210,1 193,9 6,00 3,05

2 250,1 232,4 13,00 3,40

3 210,1 198,2 7,20 3,70

4 210,1 197,4 10,15 2,94

5 207,0 159,8 7,92 1,95

6 246,0 188,1 11,00 3,20

30T

Simulações Tff (ºC) Tb (ºC) Pend (MPa) tf (s)

1 210,0 196,9 7,25 2,912

2 250,0 230,8 6,00 3,400

3 210,0 197,4 7,00 3,650

4 210,0 196,9 7,25 2,900

5 207,7 161,6 6,85 1,900

6 245,5 188,4 5,21 3,150

Comparando as demais condições com a Condição 1, “referência”, é

possível perceber como atuam os diferentes parâmetros de injeção variados.

Como já era de se esperar, o aumento da temperatura do fundido (simulação 2

versus 1) eleva a temperatura de frente de fluxo Tff e a temperatura da massa

Tb. O aumento da temperatura do molde (simulação 3 versus 1) teve efeito

mais acentuado no aumento do tempo de congelamento tf, enquanto que o

aumento da pressão de empacotamento (simulação 4 versus 1) resultou no

aumento da pressão no final do preenchimento Pend. No caso do tempo de

injeção, o seu aumento (simulação 5 versus 1) levou a uma deterioração no

valor de todos os parâmetros analisados na simulação para o compósito 30T e

da maioria dos parâmetros para o PPcop puro. Uma vez que a influência da

temperatura do molde e da pressão de empacotamento na LS já foram

abordados em muitos trabalhos [45, 76, 77], optou-se por não explorar esses

186

parâmetros. Assim, foram variados a temperatura de injeção Ti e o tempo de

injeção ti (que varia com a velocidade de injeção), considerando que a

temperatura de injeção é um dos fatores que mais influenciam a resistência da

LS, e que a influência do tempo de injeção na qualidade da LS ainda não está

tão clara e estabelecida. A forma de preenchimento simulada da peça pelas

frentes de fluxo provenientes dos dois pontos de injeção, localizados no topo

da caixa, e a formação da LS que se esperaria observar estão expostas na

Figura 5.40, para o PPcop.

(a)

(b)

Figura 5.40 a) Simulação em Moldflow da forma e do tempo de preenchimento

da caixa e b) subseqüente previsão de localização da LS para a amostra de

PPcop; simuladas na condição 5 de injeção.

Tempo de Preenchimento

187

Devido à geometria da peça e localização dos pontos de injeção, algumas

diferenças nos valores apurados podem ser encontradas ao longo da peça,

dependendo da posição investigada. A Figura 5.41 apresenta a variação de

temperatura da frente de fluxo (Tff) ao longo da linha de solda formada, também

para o PPcop simulado na condição 5.

Figura 5.41 Variação da temperatura de frente de fluxo ao longo da prevista

região de formação da linha de solda para a amostra de PPcop simulada na

condição 5 de injeção. Cada ponto marcado sobre a peça corresponde a um

ponto na curva traçada, iniciando no ponto azul na parte lateral e inferior (Y =

0) até o ponto vermelho na parte lateral e superior (Y = 73 mm) da peça.

A orientação das moléculas e partículas de talco ao longo da caixa

injetada está associada ao campo de velocidades de fluxo, representado na

Figura 5.42, sendo possível perceber, claramente, a orientação desfavorável na

região da LS, perpendicular à direção de solicitação mecânica à qual os corpos

de prova de impacto-tracional extraídos da peça foram submetidos.

Temeratura da frente de fluxo

Coordenada Y (mm)

188

Figura 5.42 Vetores indicando a velocidade do fundido polimérico e a provável

orientação das lamelas de talco na camada superficial da caixa (pele),

simulada para a amostra PPcop injetada na condição 5.

5.10.3 Injeção em Molde de canais quentes

As condições utilizadas para injeção das caixas foram apresentadas na

seção 4.2.10.3. Porém, devido a problemas de diferenças de pressões de

enchimento entre os dois bicos de injeção, o preenchimento real da peça não

se deu de maneira simétrica, como a apresentada na Figura 5.40, e a linha de

solda formada foi deslocada do centro. Buscando a avaliação da influência da

presença da linha de solda e do modo com o qual ela foi formada nas

propriedades da peça foram retiradas amostras de diferentes posições, como

exibido na Figura 5.43.

189

73 mm

152 mm 16 mm

we wl

wm

wc

R

a)

b)

Figura 5.43 a) Esquema da caixa mostrando a localização real da LS (---), os

pontos de injeção (•) e as posições analisadas ao longo da peça (wc, wm, we,

wl e R); b) Foto da caixa injetada com 30% de talco, exibindo a LS real

formada.

A injeção do fundido polimérico é feita em dois pontos no topo da caixa e

o escoamento é do tipo radial e divergente. O desbalanceamento de pressão

de um dos bicos de injeção, devido a um provável entupimento parcial do bico,

fez com que um lado da peça fosse preenchido mais rapidamente do que o

outro, de forma que o encontro das duas frentes de fluxo não se deu no meio

da caixa e, portanto, a LS formada foi deslocada do centro. Em adição, a LS

resultante não foi reta, ao longo da largura da peça (73 mm), mas formou um

arco, com ângulos cada vez mais inclinados, conforme se caminha da posição

wc, no centro, para a posição wl, na lateral.

190

No caso da amostra wc o encontro das frentes de fluxo é frontal, a

aproximadamente 180º. Em conseqüência, espera-se que nesta posição as

moléculas e cargas congelem transversalmente à direção de solicitação

mecânica. No caso das amostras retiradas das posições wm, we e wl, devido à

existência de um “ângulo inclinado” de encontro das frentes de fluxo, o fundido

polimérico e as lamelas de talco congelam, na região da linha de solda,

obedecendo a essa inclinação. Isso resulta numa orientação das moléculas de

PP e das lamelas de talco não perfeitamente transversal à direção de

solicitação mecânica, o que pode aliviar o efeito depreciativo da LS formada

nessas regiões.

Tendo em vista que a temperatura do fundido e o tempo para o

congelamento do mesmo influenciam a qualidade da LS formada, como já

comentado, estes resultados simulados em Moldflow para as condições de

injeção utilizadas estão expostos na Tabela 5.12, para a amostra de

posicionamento mais crítico, wc.

Tabela 5.12 Temperatura da massa Tb e tempo de congelamento tf

É possível notar pelos dados expostos acima que há um aumento na

temperatura e, conseqüentemente, no tempo de resfriamento, com a

diminuição do tempo de injeção (aumento da velocidade). Isso é,

provavelmente, resultante de um aquecimento por dissipação viscosa induzido

a altas velocidades / taxas de cisalhamento. Mantendo o tempo de injeção

constante também pode-se notar, como era de se esperar, um aumento em Tb

e tf com o aumento da temperatura de injeção de 210 para 250oC.

191

5.10.4 Microscopia Óptica de Luz Polarizada

A morfologia formada nas amostras de PPcop observadas por microscópio

de luz polarizada está exemplificada na Figura 5.44 e as diferenças nas

estruturas das amostras de PPcop moldadas em diferentes condições de injeção

estão apresentadas na Figura 5.45. Próxima à superfície fria do molde, uma

camada congelada é formada, seguida por uma estrutura shish-kebab

desenvolvida na região de máxima taxa de cisalhamento. Nas proximidades

dessa região, β-esferulitos resultantes da cristalização sob cisalhamento

podem ser encontrados. A essa região altamente orientada dá-se o nome de

pele. No núcleo não orientado, como esperado, α-esferulitos se formam sob

condições de cristalização quiescente.

Figura 5.44 Microscopia de luz polarizada da amostra de PPcop retirada da

posição wc, injetada a 210 oC e 2s exemplificando: a) as diferentes fases da

morfologia formada e b) uma visão completa da secção paralela à

espessura.

Na Figura 5.45 é possível observar a diminuição da espessura da camada

“pele” com o aumento da temperatura de injeção. Pode também ser verificado

um suave decréscimo na espessura da pele com a diminuição do tempo de

injeção, significando que o efeito do aquecimento viscoso foi, nesse caso,

192

predominante para a relaxação da estrutura orientada formada. A redução da

espessura da pele com a diminuição de ti foi mais pronunciada em Ti menores

(210ºC).

A posição da amostra extraída da caixa injetada e sua respectiva

distância dos pontos de injeção também influenciam a morfologia resultante.

Assim, foi possível verificar a redução da espessura da pele das amostras wl,

distantes dos pontos de injeção, quando comparadas às amostras wc e R.

A morfologia dos compósitos de PPcop/talco deve seguir as mesmas

tendências, uma vez que a presença da carga aumenta a orientação original

dos domínios cristalinos [61, 62] e atua como agente nucleante da estrutura

cristalina do PP.

Figura 5.45 Morfologia do PPcop observada por microscópio de luz polarizada

em diferentes condições de injeção e diferentes posições: (a) 210ºC / 2s, (b)

210ºC / 1s, (c) 250ºC / 1s, (d) 250ºC / 2s.

193

5.10.5 Microscopia Eletrônica de Varredura

Buscando analisar o modo de fratura das amostras retiradas de diferentes

regiões do corpo de prova injetado (R, wl, we e wc), as superfícies rompidas no

ensaio de impacto-tracional foram analisadas em MEV, após receberem

recobrimento de ouro. A Figura 5.46 apresenta a superfície de fratura de

amostras retiradas do compósito com 30% de talco.

Figura 5.46 Superfícies de fratura de amostras com 30% de talco retiradas em

diferentes posições do corpo de prova injetado com Ti = 250ºC e ti = 2s.

194

Observando as fotomicrografias das superfícies de fratura dos corpos de

prova de impacto-tracional percebe-se a formação de uma reentrância (ou

sobressalência, dependendo da metade analisada) na região central da

espessura do corpo de prova. Ampliando essa região central, como exposto na

Figura 5.47, é possível ver uma superfície lisa, pouco deformada. Esse

comportamento de fratura leva à interpretação de que essa seria uma possível

zona de nucleação da fratura. Sabe-se que durante a moldagem por injeção o

material é submetido a um perfil de preenchimento característico e a uma

história termo-mecânica intensa, que acabam por gerar diferenças

consideráveis no material ao longo da espessura quanto à orientação, ao

resfriamento (contração), à cristalização, etc. O resultado é a formação de um

perfil de tensões residuais parabólico [78] dentro do moldado (Figura 5.49), que

tem por característica a compressão da camada pele e o tracionamento da

região do núcleo. Esse perfil é decorrente da diferença existente nos tempos de

congelamento dessas duas camadas: o núcleo leva mais tempo para congelar

por estar distante das paredes do molde e acaba sofrendo resistência na sua

contração por parte da camada pele, já congelada e mais rígida, o que gera

uma tensão de tracionamento neste ponto. Essa tensão residual de tração

pode ter culminado na fratura no núcleo.

Também podem ser vistas superfícies lisas nas zonas próximas à parede

do molde (pele) da amostra wc, indicando também uma fratura mais frágil,

como apresentado em ampliação na Figura 5.48. Esse comportamento tende a

ser decorrente do formato da frente de fluxo e do efeito fountain flow. No caso

da amostra wc, as frentes provenientes de diferentes pontos de injeção,

avançando em sentidos opostos, primeiramente se encontram na região

central. Nas extremidades da amostra o emaranhamento molecular é deficiente

e a contração diferencial pode gerar a formação de um entalhe em V, que

favorece a fratura precoce do corpo de prova. Neste caso esta região também

pode ter sido a responsável pelo início da fratura do corpo de prova.

No caso da camada superficial “pele”, de alta rigidez e orientação, a

fratura total se deu de maneira frágil, de modo que uma superfície lisa e plana

pode ser observada nessa região, como apresentado na Figura 5.48. O núcleo

195

em toda a sua extensão apresenta um baixo grau de orientação e uma textura

esferulítica geralmente grosseira e, portanto, normalmente possui rigidez

menor e deformação maior do que a camada pele. Isso poderia explicar a

formação de uma superfície de fratura deformada na região ao redor da zona

de reentrância central de provável início da fratura, o que levou ao

aparecimento dessa deformação “cônica” no corpo de prova.

100 µm0,5 mm20 μm100 µm100 µm100 µm0,5 mm20 μm20 μm20 μm

Figura 5.47 Superfície de fratura da amostra com 30% de talco retirada da

posição wc do corpo de prova injetado com Ti = 250ºC e ti = 2s, mostrando a

superfície lisa da região de reentrância do núcleo.

0,5 mm100 µm 20 μm0,5 mm100 µm100 µm100 µm 20 μm20 μm20 μm

Figura 5.48 Superfície de fratura da amostra com 30% de talco retirada da

posição wc do corpo de prova injetado com Ti = 250ºC e ti = 2s, mostrando a

superfície lisa da camada pele.

Figura 5.49 Esquema do perfil de tensões residuais característico presente em

uma peça moldada por injeção.

196

É importante ressaltar também que a presença da linha de solda faz com

que o estado de tensões gerado se torne mais complexo e mais crítico, devido

ao perfil de orientação diferencial imposto nessa região, o que aumenta ainda

mais a anisotropia do moldado. Por essa razão, nos corpos de prova com linha

de solda e naqueles em que houve maior quantidade de moléculas e partículas

congeladas transversalmente à direção de solicitação, a fratura se manifestou

de forma frágil, com pouca ou nenhuma deformação do corpo de prova. Isso

explica a diferença nas superfícies de fratura da Figura 5.46 e a transição de

fratura dúctil (superfície deformada, com rugosidades) para frágil (superfície

mais lisa e plana) quando se vai da amostra R, sem LS, para a amostra wc,

com a presença mais crítica e evidente da LS, passando pelas amostras de

situações intermediárias wl e we. Esse comportamento é ainda mais evidente

quando se observa a região central (núcleo) com uma maior ampliação, como

apresentado na Figura 5.50.

R

wl

we

wc

Figura 5.50 Região do núcleo da superfície de fratura de amostras com 30% de

talco retiradas de diferentes posições do corpo de prova injetado com

Ti = 250ºC e ti = 2s.

197

É válido ressaltar que o formato das amostras analisadas, perceptível na

Figura 5.45, não perfeitamente retangular, é conseqüência do método de

extração das amostras a partir da caixa injetada. A ferramenta cortante, no

formato do corpo de prova de impacto-tracional a ser ensaiado, era

pressionada contra a peça de cima para baixo e acabava gerando uma

pequena “abertura” na parte inferior, devido à ductilidade do polímero.

Todas as amostras de PPcop não carregado romperam de forma

extremamente dúctil no ensaio de impacto-tracional, o que não permitiu a

visualização e análise de suas superfícies de fratura em MEV por não se ter

uma superfície plana, mas extremamente deformada e irregular.

5.10.6 Microdureza

Considerando que a medida de microdureza é obtida através de um

ensaio relativamente simples e rápido e que estudos anteriores apresentaram a

existência de uma correlação entre essa medida e a qualidade da linha de

solda formada [61, 65, 66], fez-se uma tentativa, neste trabalho, de caracterizar os

materiais e a linha de solda através da microdureza medida sobre a LS e

afastada da mesma.

Porém, embora o emprego da técnica de microdureza tenha sido

apresentado, nos trabalhos citados acima, como eficiente na caracterização da

qualidade da LS de polímeros rígidos (PS, PC e PP com alto teor de FV), o

mesmo não foi comprovado no polímero estudado, de alta ductilidade (PPcop).

Devido à baixa rigidez do PPcop, mesmo na presença de talco, não foi possível

obter uma marca de indentação nítida, bem definida, de modo a fornecer

repetibilidade e conseqüente confiabilidade nas medições dos comprimentos

das diagonais da impressão. Isso compromete o cálculo da microdureza

Vickers (HV), que é dada pela equação abaixo [79].

22 8544,12sin

2dF

dF

AFHV

s

===

α

(5.4)

sendo:

198

- F = carga aplicada (gf);

- As = área da superfície de impressão (μm2);

- d = média dos comprimentos das diagonais da impressão (μm);

- α = ângulo entre as faces opostas, do indentador Vickers piramidal de base

quadrada (136º).

Mesmo aumentando-se a carga aplicada F e o tempo da indentação, a

baixa nitidez da marca projetada sobre o material não permitiu uma análise

apurada, de modo que o ensaio de microdureza não se mostrou uma técnica

adequada para a caracterização dos materiais estudados. Além da marca

inicial formada não ser nítida, a recuperação da deformação induzida pelo

indentador se dava de maneira muito rápida, prejudicando ainda mais a

visualização e subseqüente análise.

No caso da tentativa de caracterização da LS e avaliação de sua

qualidade, foram feitas medidas de microdureza sobre a LS e afastada da

mesma. Para isso buscou-se aplicar uma carga menor de modo a não formar

uma impressão maior do que a linha de solda aparentemente formada. Porém,

mais uma vez, o alto erro da medição associado à imprecisão na visualização

das diagonais da impressão, não permitiu que fossem encontradas

diferenciações nos resultados obtidos de zonas próximas ou afastadas da LS.

Os dados de microdureza Vickers encontrados para o PPcop puro e com

20 e 30% de talco ficaram em torno de 3HV, e os valores dos comprimentos

das diagonais encontrados para F de 49,03 mN e tempo de indentação de 99 s

oscilaram em torno de 60 μm. Sabendo-se que a profundidade de indentação

do marcador Vickers piramidal de base quadrada utilizado pode ser dada [73]

por d/7, chega-se a uma profundidade de indentação em torno de 8,6 μm.

Devido também à ductilidade e dificuldade de fazer uma marca nítida no

material, utilizando essa técnica não foi possível apurar diferenças na

orientação das moléculas de polímero e partículas de talco ao longo da

espessura dos corpos de prova. Essa diferença seria, teoricamente, dada pela

diferença do tamanho das diagonais formadas na indentação, longitudinal e

transversal à direção escolhida. Alguns estudos [80] em polímeros rígidos

199

haviam apresentado essa diferenciação encontrada através de medidas de

microdureza devido à maior densificação da camada pele próxima às paredes

do molde.

5.10.7 Impacto-tracional

O ensaio de impacto-tracional é um ensaio no qual o corpo de prova é

submetido a um tracionamento à velocidade de impacto (~ 3m/s). Logo, existe

uma combinação do comportamento do material que seria esperado num

ensaio de tração e do que seria esperado num ensaio simples de impacto.

Entretanto, no ensaio de impacto-tracional a solicitação mecânica é imposta no

corpo de prova longitudinalmente, paralela à principal direção de fluxo,

enquanto que, no impacto Izod convencional, o pêndulo atinge a amostra

transversalmente a essa direção.

A Figura 5.51 exibe o comportamento de resistência ao impacto-tracional

em diferentes posições da caixa retangular injetada com os três materiais em

estudo. Os resultados obtidos de todas as condições de injeção apresentaram

a mesma tendência, de forma que foi tirada uma média dos valores

encontrados.

0123456789

10

0 1 2 3 4 5 6Res

istê

ncia

ao

Impa

cto-

Trac

iona

l (1

05 J/m

2 )

PPcop20T30T

wc wm we wl R

Figura 5.51 Variação da resistência ao impacto em função das posições

extraídas da caixa injetada com os três tipos de materiais estudados.

200

Verifica-se que a adição de partículas rígidas de talco diminui a

resistência ao impacto da matriz de PPcop. O mesmo comportamento foi

observado no ensaio de impacto Izod feito em corpos de prova ASTM. Essa

diminuição mostrou-se mais acentuada na presença de linha de solda

(amostras wc, wm, we), uma vez que as partículas de talco tendem a ficar

orientadas no plano fraco da mesma, perpendicular à direção de solicitação

mecânica. Em adição, o aumento da viscosidade do fundido resultante da

presença de reforços dificulta o emaranhamento das cadeias (coesão

molecular) na linha de solda, que permanece como uma região frágil do corpo

de prova.

Na ausência de linha de solda (amostra R) os valores de resistência ao

impacto dos compósitos com talco foram muito próximos dos valores do

polímero puro. Isso pode ser resultante do fato de que, apesar da presença de

partículas rígidas de talco diminuírem a resistência ao impacto, existe um

aprimoramento na resistência à tração com a adição de talco (apresentado no

teste de tração em CP ASTM), gerando um balanceamento dos efeitos na

propriedade final.

No caso da amostra wl, percebe-se que a queda da resistência ao

impacto na presença de talco, comparativamente ao polímero não carregado,

não foi tão intensa, comprovando que, nessa região, a linha de solda formada

foi menos crítica. Em adição, nos compósitos, a resistência ao impacto da

amostra retirada da posição wl foi consideravelmente superior à encontrada

para as demais posições com LS. Isso resulta da formação de uma linha de

solda inclinada em relação ao eixo de solicitação mecânica, devido ao

preenchimento ligeiramente desbalanceado da cavidade em decorrência das

diferentes pressões de entrada dos fluxos provenientes dos dois bicos de

injeção. Deste modo, as partículas de talco no plano da linha de solda também

estão orientadas com um ângulo inferior a 90º, o que atenua o efeito

depreciativo da LS.

No caso do polímero não carregado, não foi possível diferenciar a

qualidade da linha de solda formada nas diferentes posições do corpo de prova

com o ensaio de impacto-tracional à temperatura ambiente sem entalhe. Isso é

201

decorrente da ductilidade do PPcop e da formação de uma linha de solda de boa

qualidade nas condições de injeção trabalhadas de modo que, mesmo nas

amostras wc, a fratura dos corpos de prova foi dúctil, com considerável

deformação plástica. Esse comportamento do polímero, além da própria

característica do ensaio de impacto-tracional sem entalhe, levou a uma

dispersão significativa dos resultados, com desvios-padrão consideráveis.

A partir dos dados expostos na Figura 5.51 foi possível calcular o Fator

de Depreciação de Linha de solda (FLS), exposto na Figura 5.52, para todas as

posições analisadas, sendo que, no caso do impacto-tracional:

(5.5)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5Fato

r de

Dep

reci

ação

de

Linh

a de

Sol

da

PP20T30T

wc wm we wl

Figura 5.52 Fator de Depreciação de Linha de Solda em impacto-tracional.

É possível perceber na Figura 5.52 que o valor de FLS foi muito próximo a

1 no caso do PPcop não carregado, comprovando o baixo impacto negativo da

presença da LS na resistência ao impacto-tracional do polímero puro. Nota-se

também, ainda para o polímero puro, uma tendência de crescimento de FLS

para valores acima de 1 no caso das amostras wm, we e wl. Esse crescimento

pode ser decorrente de uma eventual diminuição de orientação molecular (e

diminuição da rigidez) na direção de solicitação mecânica (direção de

preenchimento da cavidade) induzido durante o fluxo complexo na cavidade do

Resistência obtida na posição analisada (wc, wm, we ou wl)

Resistência obtida na posição referência R FLS IT =

202

molde. No caso das amostras retiradas da posição R, grande parte da

orientação induzida durante o fluxo foi provavelmente mantida (Figura 5.45,

página 164). No entanto, maiores estudos para verificação desse

comportamento não foram realizados.

No caso dos compósitos com talco, o efeito debiltante da LS na

resistência ao impacto-tracional foi maior devido à orientação desfavorável das

lamelas de talco no plano fraco da LS e à maior viscosidade do fundido, que

prejudica o emaranhamento molecular. Esses efeitos levaram a menores FLS,

sendo que o mais baixo foi encontrado para a condição wc.

Na Figura 5.53 e na Tabela 5.13 pode-se notar, para a amostra wc de

condição mais crítica, a influência do tempo de injeção ti na resistência ao

impacto de materiais injetados à temperatura de injeção baixa (Ti = 210 oC),

sendo que menores tempos de injeção forneceram maiores resistências ao

impacto. Esse comportamento é provavelmente consequência do maior

emaranhamento molecular (maior mobilidade) ocorrido na região da LS devido

ao aquecimento viscoso gerado a altas velocidades de injeção.

Outro aspecto que pode ter influenciado é a diferença nas estruturas

“pele-núcleo” dos moldados, apresentadas na avaliação morfológica feita por

microscopia óptica de luz polarizada. Como mostrado, altas velocidades de

injeção (baixos ti) levaram a uma diminuição da camada pele, de alta

orientação, devido ao maior aquecimento viscoso gerado durante o

preenchimento da cavidade (aumento de Tb e de tf dado por Moldflow).

Trabalhos anteriores [26, 39] demonstraram que o aumento da espessura da

camada pele leva a um aumento na rigidez do material, uma vez que mais

moléculas estarão orientadas na direção de solicitação mecânica. Essa alta

orientação é refletida na maior resistência do material à deformação,

principalmente quando esta deformação é imposta a altas velocidades, como

no caso do ensaio de impacto. Assim, a presença de uma camada pele mais

espessa resultante do maior tempo de injeção utilizado implicaria na diminuição

da resistência ao impacto do material, o que é coerente com os resultados

encontrados por Varga et al. [26] .

203

No caso da alta temperatura de injeção estudada (250 oC), não foi

possível identificar diferenças consideráveis na espessura da camada pele

formada em diferentes tempos de injeção. Isso foi refletido no comportamento

mecânico sob impacto-tracional, uma vez que os valores de resistência

encontrados a 1 e 2 s mantiveram-se muito próximos.

0

1

2

3

4

5

6

7

1

Tempo de Injeção (s)

Res

istê

ncia

ao

Impa

cto-

Trac

iona

l (1

05 J/m

2 )

PPcop / 210CPPcop / 250C20T / 210C20T / 250C30T / 210C30T / 250C

1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2

Figura 5.53 Variação da resistência ao impacto em função da temperatura e do

tempo de injeção para a amostra wc.

Tabela 5.13 Dados de Resistência ao Impacto obtidos para a amostra wc.

Resistência ao Impacto (105 J/m2)

Ti → 210 ºC 250 ºC

ti → 1 s 2 s 1 s 2 s

PPcop 5,17 4,75 5,52 5,60

20T 2,39 1,70 2,26 2,06

30T 2,04 1,64 1,68 1,70

Perante as pequenas diferenças encontradas nos valores de resistência

ao impacto-tracional com a variação dos parâmetros de injeção, é possível

perceber que o principal fator determinante dessa propriedade foi a orientação

das lamelas de talco formada na região de linha de solda (transversal à

solicitação mecânica). Isso também se deve ao fato de que tanto a temperatura

204

quanto o tempo de injeção estudados afetam o comportamento do material

quanto a cristalização, nucleação, crescimento de esferulitos, formação da

camada pele, emaranhamento molecular na linha de solda, dentre outros

aspectos, fazendo-os variar de forma competitiva ou compensatória algumas

vezes, dificultando uma análise isolada através de poucos ensaios.

Além disso, o uso de um molde de canais quentes no presente trabalho

provavelmente minimizou os problemas de baixa adesividade da região de

linha de solda, tornando-a mais resistente.

205

6. CONCLUSÕES

Conforme esperado, a fibra de vidro curta (FV), reforço de alta razão de

aspecto, atuou de forma mais eficiente e determinante nas propriedades

mecânicas de compósitos de copolímero heterofásico de propileno (PPcop)

quando comparada à carga lamelar de talco. Em moldados por injeção sem

linha de solda, foram observados aumentos mais evidentes na resistência

mecânica e no módulo sob tração e sob flexão com o incremento do teor de

FV. A variação dessas propriedades com o teor de talco acrescentado foi

pequena e a granulometria do talco empregado, nesse caso, não se mostrou

um fator determinante.

Em se tratando da resistência ao impacto, houve uma diminuição da

mesma com o aumento da concentração de reforços devido ao efeito

concentrador de tensão dos mesmos na matriz altamente dúctil de PPcop.

Nesse caso, a menor granulometria do talco PMT-12000, e subseqüente menor

efeito concentrador de tensão, foi decisiva para menor perda dessa

propriedade em relação ao polímero não-reforçado.

Na presença da linha de solda (LS) ocorre a deterioração da resistência à

tração e do módulo elástico dos moldados injetados, principalmente no caso

dos compósitos, expressa pelo fator de depreciação de linha de solda (FLS).

Essa depreciação é decorrente da orientação desfavorável dos reforços na

região de LS, comprovada por MEV, e da baixa coesão molecular na LS

resultante do aumento da viscosidade com a adição dos reforços. Essa queda

no módulo e na resistência à tração na presença da LS é maior em compósitos

com FV, comparativamente aos compósitos com talco; sendo mais acentuada

quanto maior o teor de FV adicionado.

A hibridização dos reforços de FV e talco nos compósitos de PPcop

mostrou-se uma alternativa vantajosa quando se deseja alcançar um espectro

de propriedades variadas com custos viáveis. Em se tratando de moldados

injetados sem LS, os compósitos híbridos de FV e talco apresentaram

resistência e módulo sob tração e flexão intermediários aos dos compósitos

206

com reforços singulares, apenas com FV ou talco, e com desempenho superior

ao que seria esperado com a simples regra de misturas, devido a fatores como:

Aumento provável da orientação das fibras de vidro na direção da

solicitação mecânica devido ao aumento da viscosidade com o teor de talco em

compósitos com concentração de FV constante em 20%;

Aumento do comprimento médio da FV, comprovado por análise

microscópica, com a substituição parcial de FV por talco, em compósitos

híbridos com reforço total de carga+fibra constante em 40%.

Com relação aos moldados com LS, a hibridização da FV com talco se

mostrou ainda mais vantajosa, por apresentar um efeito de sinergia, que

resultou em propriedades de resistência e módulo em tração superiores às dos

compósitos com reforços singulares. Esse comportamento foi uma provável

consequência da otimização do empacotamento do reforço fibroso com as

lamelas de talco, que causou uma diminuição na viscosidade do fundido

durante a moldagem por injeção, permitindo maior emaranhamento e coesão

molecular na região de LS formada. Entretanto, os compósitos híbridos de FV e

talco apresentaram resistências ao impacto inferiores às dos compósitos com

um único tipo de reforço.

Também é possível melhorar a qualidade da linha de solda formada

através da mudança nas condições do processo de moldagem por injeção

empregadas, como demonstrado no presente trabalho. Maiores velocidades de

injeção geram uma linha de solda de melhor qualidade, sendo que este efeito é

ainda mais sentido se menores temperaturas de injeção são utilizadas. Porém,

é necessária uma avaliação por compósito e por tipo de geometria trabalhada.

207

7. SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS

• Estudo morfológico aprofundado de compósitos do copolímero de

propileno com FV e/ou talco, visando constatar os domínios cristalinos

presentes, as diferentes fases e de que forma os reforços estão distribuídos

nesses domínios e como influenciam a cristalinidade total e as propriedades

mecânicas finais.

• Aplicação da técnica de difração de raio-X de alto ângulo (WAXD) em

compósitos híbridos fibro-particulados de polipropileno com LS para avaliação

da influência dos reforços na orientação dos domínios cristalinos do PP na

região da LS e sua influência nas propriedades mecânicas finais.

208

209

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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217

APÊNDICE A: Dados do ensaio de Tração

Resistência à Tração

(σmax - MPa)

Deformação na Máxima Tensão

(ε - %)

Deformação na Ruptura (εR - %)

Módulo Elástico (Ε - GPa) % em Peso do

Reforço Sem LS Com LS

FLS

na σ Sem LS Sem LS Com LS Sem LS Com LS

FLS

no Ε

PPcop s/reforço 0 14,84

±0,18 13,75 ±0,30 0,93 8,21

±0,14 > 400 7,02 ±0,94

0,86 ±0,03 0,78 ±0,07 0,91

10 15,43 ±0,06 11,94 ±0,10 0,77 5,94 ±0,13 > 400 1,89 ±0,06 1,38 ±0,06 1,26 ±0,13 0,91 20 16,04 ±0,09 12,21 ±0,16 0,78 5,14 ±0,15 > 400 1,46 ±0,07 1,74 ±0,04 1,69 ±0,11 0,97 30 17,42 ±0,09 13,01 ±0,16 0,75 4,23 ±0,18 ~400 ±9,6 1,27 ±0,08 2,21 ±0,19 1,88 ±0,13 0,85

Talco PMT-1200 d50=0,76

40 17,61 ±0,32 11,58 ±0,53 0,66 3,80 ±0,25 128,11 ±21,99 0,77 ±0,08 2,46 ±0,09 2,24 ±0,09 0,91 10 14,95 ±0,17 11,17 ±0,14 0,75 4,22 ±0,02 > 400 1,64 ±0,24 1,33 ±0,01 1,26 ±0,14 0,95 20 15,59 ±0,14 11,03 ±0,06 0,71 4,35 ±0,08 > 400 1,13 ±0,01 1,84 ±0,08 1,63 ±0,03 0,89 25 16,05 ±0,10 11,05 ±0,09 0,69 3,78 ±0,16 > 400 0,98 ±0,01 2,17 ±0,18 1,77 ±0,06 0,82 30 16,94 ±0,32 10,85 ±0,16 0,69 3,27 ±0,14 263,12±127,83 0,79 ±0,05 2,47 ±0,27 2,09 ±0,19 0,82

Talco GM-10 d50=2,6

40 18,03 ±0,15 10,86 ±0,26 0,64 2,70 ±0,09 36,37 ±14,35 0,61 ±0,04 2,84 ±0,09 2,33 ±0,16 0,85

20FV10T 35,61 ±0,29 16,09 ±1,79 0,45 ----- 3,29 ±0,06 0,96 ±0,09 4,14 ±0,16 2,86 ±0,21 0,69

20FV20T 33,66 ±0,27 15,11 ±1,27 0,45 ----- 2,41 ±0,06 0,76 ±0,06 5,00 ±0,24 3,13 ±0,18 0,63 20FV30T 30,99 ±0,25 12,54 ±1,15 0,40 ----- 1,89 ±0,09 0,60 ±0,11 5,39 ±0,30 3,35 ±0,22 0,62 10FV30T 27,04 ±0,18 12,13 ±0,97 0,45 ----- 1,89 ±0,09 0,57 ±0,09 3,93 ±0,20 2,89 ±0,21 0,73

Híbridos FV + GM-10

30FV10T 37,41 ±0,31 13,86 ±2,87 0,37 ----- 2,60 ±0,15 0,74 ±0,12 5,49 ±0,18 3,08 ±0,36 0,56 10 25,75 ±0,26 13,38 ±0,22 0,52 ----- 6,39 ±0,31 1,47 ±0,07 2,19 ±0,05 1,6 ±0,09 0,73 20 34,85 ±0,26 13,34 ±0,62 0,40 ----- 5,32 ±0,14 1,01 ±0,09 3,62 ±0,10 2,12 ±0,08 0,59 30 39,32 ±0,19 12,53 ±0,71 0,32 ----- 4,62 ±0,18 0,78 ±0,09 4,74 ±0,13 2,5 ±0,17 0,53

FV

40 42,08 ±0,62 8,77 ±0,86 0,21 ----- 3,46 ±0,17 0,51 ±0,13 5,71 ±0,21 2,35 ±0,20 0,41

218

219

APÊNDICE B

• Dados de resistência ao impacto Izod

J/m2 PPcop 10GM 20GM 25GM 30GM 40GN 10PMT 20PMT 30PMT 40PMT

Resistência ao Impacto Izod 65528,8 56306,0 49900,7 42352,5 34066,7 16937,3 63070,42 61183,11 56232,57 50002,05

J/m2 10FV 20FV 30FV 40FV 20FV10T 20FV20T 20FV30T 10FV30T 30FV10T

Resistência ao Impacto Izod 15086,2 14275,9 12938,8 10803,1 9990,2 7751,0 6036,2 7258,9 9473,4

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