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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE ANA CARLA FERREIRA SILVA DOS SANTOS ACIDENTES DE TRÂNSITO EM VEÍCULOS DE DUAS RODAS: AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE DAS VÍTIMAS E LESÕES ARACAJU 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

ANA CARLA FERREIRA SILVA DOS SANTOS

ACIDENTES DE TRÂNSITO EM VEÍCULOS DE DUAS RODAS:

AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE DAS VÍTIMAS E LESÕES

ARACAJU 2013

ANA CARLA FERREIRA SILVA DOS SANTOS

ACIDENTES DE TRÂNSITO EM VEÍCULOS DE DUAS

RODAS: AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE DAS VÍTIMAS

E LESÕES

Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Medicina da Universidade Federal de Sergipe como requisito à obtenção do grau de Mestre em Ciências da Saúde.

Orientadora: Profª Drª Edilene Curvelo Hora

ARACAJU-SE 2013

ANA CARLA FERREIRA SILVA DOS SANTOS

ACIDENTES DE TRÂNSITO EM VEÍCULOS DE DUAS

RODAS: AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE DAS VÍTIMAS

E LESÕES

Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Medicina da Universidade Federal de Sergipe como requisito à obtenção do grau de Mestre em Ciências da Saúde

Aprovada em: / /

Prof. Drª Edilene Curvelo Hora Presidente

Prof. Dr. José Antônio Barreto Alves 1º Examinador

Prof. Dr. Marco Antonio Prado Nunes

2º Examinador

PARECER

2

Dedicatória

A meus pais, José Carlos e

Maria de Fátima por propiciar-me o “dom

da vida” em consonância com a vontade do

Criador do Universo e por acreditarem na

minha capacidade de conquistar meus

objetivos e sonhos...

Aos meus queridos irmãos, Viviane

(amiga-irmã que tenho como meu porto

seguro) e Diego pelas palavras de incentivo

e acalento nos momentos de ansiedade e

medo...

A minha mestra Valmira dos Santos

(carinhosamente denominada de “minha

preta”), que ainda na graduação despertou

em mim a fascinação pelo mundo

acadêmico...

3

AGRADECIMENTOS

“Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4:13). Agradeço a Deus por estar comigo

no decurso dessa jornada e renovar hodiernamente as minhas forças nos momentos em que

eu mais preciso.

A minha querida orientadora, Edilene Curvelo Hora, por propiciar-me oportunidades

singulares no decorrer desses quatro anos. Sou muito grata por você fazer parte da minha

história, por sua amizade e ajuda abnegada.

Mariangela, meu anjo bom, obrigada por ter me estendido à mão quando a pesquisa era

visionada como algo incipiente no início da minha vida acadêmica. Para além disso, por

todos os momentos em que me ajudou quando mais precisei. A finalização deste mestrado

teve uma enorme contribuição sua do início ao fim!

José Antônio agradeço imensamente por sua presença indispensável desde o início da

graduação. Seu incentivo para o ingresso no mundo acadêmico começou desde cedo além da

sua ajuda para finalização dessa etapa! Esse agradecimento estava mais que pendente...

Aos professores: Maria do Carmo, Ricardo Fakhouri e Samuel Oliveira pessoas generosas as

quais Deus me dá a graça de conviver, dos ensinamentos não só para a vida profissional, mas

também para a vida...

Carol (Ana Caroline) obrigada por toda ajuda na pesquisa! Foram incansáveis 4 meses em

que tivemos convívio diário e pude contar com seu apoio durante 7 dias da semana além dos

feriados. Você faz parte desta vitória!

Ao Programa de Pós-Graduação em Medicina da Universidade Federal de Sergipe bem como

os professores que fazem parte do curso, em especial aos professores Ricardo Gurgel e

Marco Prado. Aos meus colegas de mestrado, em especial aos que hoje posso chamar de

amigos: Tânia Souza, Igor Larchert, Rachel Barreto e Ana Walesca Menezes. Obrigada por

compartilharem comigo esse momento e por terem deixado a minha caminhada mais leve.

4

Ao CNPq pela concessão da bolsa, primordial para a minha manutenção no mestrado de

forma exclusiva, além de proporcionar a aquisição de material necessário ao

desenvolvimento da pesquisa.

Aos amigos: Carine, Laís, Valéria, Deise, Cássia, Débora, Shirley (Juntas e unidas...),

Kalline, Lyvia, Tiago, Gizelle, Elizabeth, Marilene, Taynah, Tasso e Nicole por serem

presença constante na minha vida com demonstrações de amizade e apoio!

Aos familiares, em especial aos escolhidos pelo coração: Lourdes, Vinícius, Michele, Léo,

Eliene e família.

Aos meus primeiros alunos da Universidade Federal de Sergipe (Lagarto-SE) do Ciclo II. O

pouco tempo em que estive com vocês foi mais que necessário para confirmar que ensinar é

o que realmente quero fazer e com paixão!

Aos funcionários e pacientes do Hospital de Urgência de Sergipe os quais pude contar com o

apoio para a realização desse estudo! A todos o meu mais sincero: muito obrigada!

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SANTOS, A. C. F. S. Acidentes de trânsito em veículos de duas rodas: avaliação da gravidade

das vítimas e lesões [Dissertação]. Sergipe. Universidade Federal de Sergipe, Núcleo da Pós

Graduação em Medicina, 2013.

RESUMO

Os acidentes de trânsito têm se destacado com o crescimento do número de vítimas

envolvidas com veículos de duas rodas que podem ocasionar lesões graves e até a morte. O

estudo objetivou correlacionar às vítimas de acidentes de trânsito causados entre veículos de

duas rodas de alta e baixa potência, por meio da determinação da gravidade e lesões. Trata-se

de uma pesquisa descritiva, transversal, prospectiva e com abordagem quantitativa,

desenvolvida no serviço de urgência de um hospital público referência em trauma no estado

de Sergipe durante os meses de agosto a dezembro de 2012. Foram entrevistas 321 vítimas de

acidentes por veículos de duas rodas, sendo 83 que utilizavam veículos de duas rodas até 100

cilindradas (cc) e 229 acima de 100 cc. A idade média dessas vítimas foi de 32 anos com

maioria do sexo masculino (88% e 93%), sem habilitação (88% e 73%) e envolvimento prévio

em acidentes (52% e 55%) respectivamente. O mecanismo do trauma mais frequente foi à

derrapagem (25% e 31%), com uma pessoa no veículo no momento do acidente (62% e 69%),

uso para transporte de locomoção (65% e 69%), sem utilização do capacete (58% e 49%) e

suspeita de ingestão de álcool (48% e 35%) nos grupos respectivamente. A determinação da

gravidade realizada pelo New Injury Severity Score (NISS) foi maior nas regiões da cabeça e

pescoço e revelou ausência de associação entre o escore NISS e a potência do veículo

(p=0,01), ou seja, a gravidade do trauma nas vítimas independe do veículo possuir até 100 cc

(ciclomotores e motonetas) ou mais de 100 cc (motocicletas). Houve associação

estatisticamente significante entre o escore NISS e o número de regiões acometidas (p=0,001)

e regiões mais gravemente afetadas (p=0,002) para o grupo até 100cc e acima de 100cc

(p=0,001). Conclui-se que as vítimas mais gravemente afetadas e que possuíam maior número

de regiões acometidas tinham maior gravidade e essa não teve relação com a potência dos

veículos de duas rodas.

Palavras-chave: Acidente de trânsito; Ferimentos e Lesões, Motocicletas; Índice de

gravidade do trauma.

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SANTOS, A. C. F. S. Traffic accidents with two-wheel vehicles: evaluation severity of the

victims and injuries [Dissertation]. Sergipe. Federal University of Sergipe, Center of

Postgraduate Medicine, 2013.

ABSTRACT

Traffic accidents have excelled with the growth of the number of victims involved with two-

wheel vehicles which can cause serious injury and even death. This study aimed to correlate

the victims of traffic accidents caused from high and low power two-wheeled vehicles, by

means of determining the severity and injuries. This is a descriptive, cross-sectional,

prospective study with a quantitative approach developed in the emergency service of a

trauma reference public hospital in Sergipe state, Brazil during the months of August to

December 2012. There were 321 interviews for two-wheeled vehicle accident victims, and 83

who used two-wheeled vehicles up to 100 horsepower (cc) and 229 above 100 cc. The

average age of those victims was 32 years with a majority of males (88% and 93%), without

licenses (88% and 73%) and previous involvement in accidents (52% and 55%) respectively.

The most common trauma mechanism was slippage (25% and 31%), with a person on the

vehicle at the time of the accident (62% and 69%), used for locomotion transportation (65%

and 69%), without the use of a helmet (58% and 49%) and suspect of alcohol usage (48% and

35%) in the groups respectively. The determination of severity held by New Injury Severity

Score (NISS) was greater in the head and neck regions and revealed the absence of association

between the score NISS and the power of the vehicle (p=0.01), i.e. the severity of trauma on

victims is independent of the vehicle having up to 100 cc (mopeds and scooters) or more than

100 cc (motorcycles). There was a statistically significant association between the NISS score

and the number of regions affected (p=0.001) and regions most severely affected (p=0.002)

for the group up to 100cc and above 100cc (p=0.001). It is concluded that the more severely

affected victims which had a higher number of affected regions had greater severity and this

was not related to the power of two-wheeled vehicles.

Keywords: Accidents, Traffic; Wounds and Injuries; Motorcycles; Trauma Severity Indices.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Estatística descritiva das variáveis idade (anos) e tempo de internamento

(dias) das vítimas de acidentes com veículos de duas rodas. HUSE, Sergipe,

2013.

29

Tabela 2 Distribuição das vítimas por veículos de duas quanto ao sexo, faixa etária,

portador de habilitação, envolvimento prévio em acidente, número de vezes

em envolvimento em acidentes, potência do veículo e desfecho. HUSE,

Sergipe, 2013.

30

Tabela 3 Distribuição das vítimas por veículos de duas rodas quanto ao mecanismo

do trauma, número de pessoas no veículo, finalidade do transporte, uso do

capacete e ingestão de álcool. HUSE, Sergipe, 2013.

32

Tabela 4 Estatística descritiva das vítimas por acidentes com veículos de duas rodas

segundo o escore NISS. HUSE, Sergipe, 2013.

33

Tabela 5

Escore NISS X Potência do veículo em vítimas de acidentes por veículos de

duas rodas. HUSE, Sergipe, 2013.

34

Tabela 6 Escore NISS X Número de regiões acometidas em vítimas de acidentes por

veículos de duas rodas. HUSE, Sergipe, 2013.

34

Tabela 7 Escore NISS X Número de regiões acometidas em vítimas de acidentes por

veículos de duas rodas. HUSE, Sergipe, 2013.

35

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................10

2 OBJETIVOS ................................................................................................................................19

2.1 Objetivo Geral ........................................................................................................................19

2.2 Objetivos específicos ..............................................................................................................19

3 CASUÍSTICA E MÉTODOS .......................................................................................................20

3.1 Tipo de Estudo .......................................................................................................................20

3.2 Local do Estudo .....................................................................................................................20

3.3 Casuística ...............................................................................................................................21

3.4 Instrumentos do Estudo ..........................................................................................................22

3.4.1 Termo de Confidencialidade para a Direção do HUSE ......................................................22

3.4.2 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ......................................................22

3.4.3 Formulário para levantamento dos dados ..........................................................................23

3.5 Procedimento de coleta de dados ............................................................................................23

3.6 Tratamento e Análise dos dados .............................................................................................23

4 RESULTADOS ............................................................................................................................25

5 DISCUSSÃO ................................................................................................................................32

6 CONCLUSÃO ..............................................................................................................................38

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................39

REFERÊNCIAS ..............................................................................................................................40

APÊNDICE A .................................................................................................................................46

APÊNDICE B ..................................................................................................................................47

APÊNDICE C .................................................................................................................................48

ANEXOS .........................................................................................................................................49

10

1 INTRODUÇÃO

O trauma é um sério problema de saúde pública em todo mundo e constitui uma das

maiores causas de morte e deficiências adquiridas em pessoas com idade inferior a 45 anos,

com destaque para os acidentes de trânsito que estão associados a uma alta taxa de

mortalidade. Além disso, conduz dispensas de trabalho, baixa eficiência, distúrbios mentais e

incapacidade para retornar às atividades laborais de modo temporário ou permanente, com

limitações físicas e psicológicas importantes (SOBERG; BAUTZ-HOLTER; ROISE;

FINSET, 2007; DEBIEUX et al., 2010).

A lesão traumática é uma epidemia silenciosa que apresenta etiologia variada e

multissistêmica, sendo considerada uma doença. Para que ela ocorra, é necessária a presença

de três elementos da tríade epidemiológica: o agente, o hospedeiro e o ambiente para que os

dois primeiros possam agir. No caso do trauma, o hospedeiro é o ser humano que apresenta

fatores internos e externos para se tornar uma vítima, o agente do trauma é a energia

transferida a ele que pode ser mecânica, química, térmica, elétrica entre outras e o ambiente

que permite a interação dos dois supracitados e mudam com tempo e circunstância (PHTLS,

2007).

As causas externas de morbidade e mortalidade compreendem as lesões decorrentes

de acidentes (relacionados ao trânsito, afogamento, envenenamento, quedas ou queimaduras)

e de violências (agressões/homicídios, suicídios, tentativas de suicídio, abusos físicos, sexuais

e psicológicos), as quais se impõem como importante desafio às autoridades de saúde pública

(BRASIL, 2011).

Os dados apresentados pelo Ministério da Saúde em 2010 apontam que os acidentes

de transporte no Brasil foram responsáveis por 43.908 óbitos, o equivalente a 30,65% do total

de óbitos por causas externas, muitos dos quais poderiam ser evitados (BRASIL, 2010).

Observa-se ainda que no ano de 2010 houve 929.245 mil internações por causas externas

(BRASIL, 2010).

Os custos relacionados aos acidentes de trânsito representam um ônus econômico ao

sistema de saúde. Estima-se que perdas anuais devido a esses acidentes excedem mais de 500

bilhões de dólares. Esses elevados custos não são representados apenas no que se refere ao

internamento hospitalar da vítima, mas também as sequelas presentes que ainda no período de

hospitalização necessitam de atendimento especializado e no seu processo de reabilitação

(SOBERG; BAUTZ-HOLTER; ROISE; FINSET, 2007; WHO, 2008).

11

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o tráfego é um dos sistemas mais

complexos e perigosos com os quais as pessoas têm que lidar todos os dias. Além disso, as

estatísticas mundiais de acidentes de trânsito, cujas estimativas no decorrer dos anos

aproximam-se de 1,2 milhões de pessoas que chegam a óbito e 50 milhões que sofrem algum

tipo de lesão. É notório que, apesar de ser um grave problema de saúde pública, tais

causalidades não são acidentes sendo negligenciados e sua efetiva prevenção requer esforços

concentrados (PEDEN et al., 2002; WHO, 2004).

No estudo dos acidentes de veículo a motor, algumas definições são importantes para

o melhor entendimento, dentre eles a diferença do acidente de transporte e o de trânsito. O

primeiro é todo aquele que envolve um veículo destinado, ou usado, no momento do acidente,

em especial para o transporte de pessoas ou mercadorias de um lugar para o outro. Já o

segundo é aquele acidente com veículo ocorrido em via pública que compreende a largura

total entre dois limites de propriedade e terreno ou caminho aberto ao público para circulação

de pessoas ou bens de um lugar para o outro (WHO, 2009).

Nas últimas décadas, os acidentes de trânsito têm se destacado com o crescimento do

número de vítimas envolvidas em acidentes de motocicletas. Os condutores desses veículos

estão muito expostos aos riscos e possuem destaque nas estatísticas de acidentes que

provocam lesões graves e morte. Pesquisadores afirmam que os acidentes de trânsito

configuram-se como provocados por causas externas e tem a prevenção como a forma mais

eficaz de combate (CHAVAGLIA, 2008; SALLUM, DOMINGUES; NOGUEIRA, 2009).

O Brasil, nos últimos anos, encontra-se no ranking dos campeões mundiais em

acidente de trânsito, em razão do aumento crescente no número de veículos que circulam nas

ruas, da deficiência geral da fiscalização, do comportamento dos usuários que colocam em

risco as suas vidas e da impunidade dos infratores que cometem os acidentes. Observa-se que

nas ultimas décadas, houve um aumento no número de acidentes com o envolvimento de

veículo de duas rodas por ser um veículo ágil, econômico e de custo reduzido, porém esses

condutores estão muito expostos e se destacam nas estatísticas de lesões graves e morte

(OLIVEIRA; SOUSA, 2003; MELLO-JORGE; KOIZUMI, 2007; MELLO-JORGE;

KOIZUMI; TUONO, 2008; SALLUM, DOMINGUES; NOGUEIRA, 2009).

Esse fenômeno ocorre em função dessa modalidade de transporte possuir um custo

baixo, facilidade na obtenção de crédito para adquiri-lo e fiscalização precária, uma vez que

não são regidos por uma legislação específica. Esses condutores trafegam com veículos não

licenciados, sem capacete o que denota o descumprimento da Resolução 168 do Conselho

12

Nacional de Trânsito (CONTRAN) relacionado ao uso desse equipamento de proteção

individual (BRASIL, 2008).

Os dados supracitados estão em consonância com os obtidos mediante pesquisas

efetuadas pelo Ministério da Saúde em que a ausência de números oficiais dos veículos

ciclomotores foi evidenciada. Tais dados referenciam apenas os acidentes motociclísticos em

sua porcentagem total sem haver uma especificação precisa do número de cilindradas dos

veículos (BRASIL, 2010).

De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), os veículos de duas rodas

apresentam três categorias: a motocicleta que é um veículo automotor de duas rodas, com ou

sem side-car (acoplamentos laterais), dirigido por condutor na posição montada; a motoneta

que é um veículo automotor de duas rodas, dirigidos por condutor em posição sentada e o

ciclomotor, que é um veículo de duas ou três rodas, provido de motor a combustão interna,

cuja cilindrada não exceda a 50 centímetros cúbicos (3,05 polegadas cúbicas) e cuja

velocidade máxima de fabricação não exceda a 50 km/h (BRASIL, 2008).

Historicamente, considerou-se que os acidentes de veículos a motor eram eventos

aleatórios como uma consequência inevitável do transporte. O termo "acidente" remete a

impressão de inevitabilidade e imprevisibilidade, ou seja, evento impossível de controlar.

Entretanto, os acidentes são decorrentes de vários fatores evitáveis, como o número de

veículos que circulam nas vias, falta de organização do tráfego, imprudências dos usuários

que contribuem para as ocorrências de trânsito, em especial, a população de motociclistas

(LOIMER; GUARNIERI, 1996; BASTOS; GERBER; ANDRADE; SOARES, 2005).

Na faixa etária entre 16 a 24 anos os condutores de veículos de duas rodas tem o

risco aumentado em quatro vezes de envolver-se em acidente em detrimento aos ocupantes de

carro e oito vezes mais chance de ser acometido por lesões graves. Ademais, os condutores

jovens apresentam uma alta incidência no envolvimento dos acidentes motociclísticos devido

a sua inexperiência e falta de habilidade (BELLARY; LAWRENSON, 2001; DEBIEUX et

al., 2010).

Estudo realizado com 2488 famílias evidenciou 119 casos de acidentes de trânsito,

dos quais em 47,1% as motocicletas estavam envolvidas, em 40,3% havia o envolvimento de

pedestres e em 12,6% os ocupantes de carros (SAADAT; SOORI, 2011). A situação dos

acidentes de tráfego no Brasil entre os anos de 1998 a 2010 foi retratada em outro estudo que

revelou o crescimento absoluto das taxas de mortalidade, o rápido aumento do número de

motocicletas e a combinação entre a bebida alcoólica e a direção (BACCHIERI; BARROS,

2011).

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Os ciclomotores apresentam estreita relação com os acidentes de trânsito, pois ao

contrário das motocicletas convencionais classificadas de forma diferente devido a sua

potência, elas não apresentam controle do Estado, uma vez que, de acordo com o artigo 129

do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), o registro e o licenciamento desses veículos

obedecem à regulamentação estabelecida em legislação municipal do domicílio ou residência

do proprietário (BRASIL, 2008).

Observa-se, no entanto que, a maioria dos municípios do Brasil ainda não

regulamentou a fiscalização dos ciclomotores apesar da existência da lei para que o condutor

tenha a autorização para conduzir ciclomotor (ACC), use o capacete e seja penalmente

imputável (BRASIL, 2008). Logo, tais veículos podem ser guiados por menores de idade ou

por pessoas sem habilitação, ou seja, desconhecedoras das leis de trânsito.

Nos Estados Unidos, entre os anos de 2002 e 2008 ocorreram 5.660 acidentes com

ciclomotores, o que resultou em 18% de vítimas com lesão grave ou morte do condutor.

Houve predomínio de condutores habilitados para ciclomotores, entretanto, observou-se

30,8% de lesões graves nos que possuíam a ACC e 23% das lesões leves em condutores que

não tinham licença para conduzir o veículo. Os motoristas que tiveram as lesões mais graves

foram os que dirigiram sob efeito de álcool ou drogas quando comparados aos com lesões

menos graves (MIGGINS et al., 2011).

A heterogeneidade das vítimas de trauma, em especial aos que concernem os

veículos de duas rodas, tem incentivado pesquisadores ao estudo, criação e aprimoramento

dos chamados Índices de Trauma, que são valores matemáticos ou estatísticos, quantificados

por scores numéricos que variam de acordo com a gravidade das lesões resultantes do

traumatismo (CARVALHO; BEZ JUNIOR, 2004).

Para Nogueira et al. (2008), os índices de gravidade foram criados para possibilitar a

avaliação, comunicação objetiva, uniformização da linguagem das alterações fisiológicas,

gravidade das lesões e estimar a sobrevida das vítimas de trauma. Podem também ser úteis no

estudo de medidas de prevenção de lesões por causas externas, bem como na previsão de

assistência a essas vítimas (SOUSA et al., 2009).

Os índices de gravidade são classificados em fisiológicos, anatômicos e mistos, este

último associa os índices fisiológicos, anatômicos, mecanismos da lesão traumática e a idade

da vítima. Os índices fisiológicos estão fundamentados nos parâmetros funcionais que a

vítima apresenta com destaque para a resposta a estímulos, pressão arterial sistólica e

frequência respiratória; avaliam a resposta orgânica da vítima ao trauma e são usados na

triagem de vítimas no atendimento pré-hospitalar (SOUSA et al., 2009).

14

Os índices anatômicos avaliam a gravidade e a extensão das lesões em regiões

corpóreas que ocorreram no momento do trauma. Fazem uso da Abbreviated Injury Scale

(AIS) para descrever e pontuar as lesões traumáticas, por meio de escores numéricos (SOUSA

et al., 2009).

A AIS foi criada em 1971, nos Estados Unidos, por um comitê formado por um

grupo de especialistas composto pela American Association for Automotive Medicine

(AAAM) e pela Society of Automotive Enginneer, preocupados em diminuir a ocorrência e a

gravidade das lesões em acidentes com veículos e também em melhorar os projetos de

veículos automotores (CAMPOS, 2001). Desde sua publicação, em 1976, tem sido

amplamente usada por pesquisadores, sendo revisado periodicamente pela AAAM, o que

melhora a descrição das lesões traumáticas e ajusta a gravidade, mediante pesquisas em

vítimas de trauma, na qual a última revisão foi realizada em 2005, com aproximadamente

2.000 lesões codificadas (AAAM, 2005; SOUSA et al., 2009).

Neste contexto, a AIS consiste em um sistema de avaliação da gravidade em vítimas

de trauma que usa dados anatômicos para categorizar a lesão existente e baseia-se, sobretudo,

na ameaça à vida. Entretanto, Moore et al. (2008) relatam que a dissipação de energia, a

incapacidade permanente e o período de tratamento necessário devem ser considerados.

Conhecida mundialmente, a AIS classifica as áreas corpóreas em 9 regiões: cabeça

(crânio e cérebro), face, pescoço, tórax, abdome, coluna, membros superiores, membros

inferiores e superfície externa. As lesões são codificadas em escores, cujo último dígito varia

em uma escala ordinal de 6 pontos, na qual o escore 1 indica gravidade leve; 2 gravidade

moderada; 3 lesão grave que não ameaça a vida; 4 lesão grave que ameaça a vida, mas com

sobrevivência provável; 5 lesão crítica com sobrevivência incerta e 6 indica lesão máxima,

quase sempre fatal (SALLUM; KOIZUMI, 1999; STEVENSON et al., 2001; MEREDITH et

al., 2002; KILGO; OSLER; MEREDITH, 2003; AAAM, 2005; DOMINGUES, 2008;

NOGUEIRA et al., 2008; NOGUEIRA, 2008; SOUSA et al., 2009).

Entretanto, a AIS apresentava a fragilidade de classificar a gravidade do trauma

isoladamente, sem avaliar o efeito de múltiplas lesões nos vários segmentos corpóreos (IMAI;

KOIZUMI, 1996; NOGUEIRA et al., 2008; SOUSA et al., 2009). Desse modo, Baker et al.

(1974), identificaram a necessidade de um escore que pudesse melhor predizer a gravidade do

trauma e criaram o Injury Severity Score (ISS), um índice anatômico que classificava a

gravidade das vítimas de trauma contuso ou penetrante, usando, como referência, a AIS.

Segundo Nogueira et al. (2008), o ISS é baseado na Abbreviated Injury Scale (AIS)

que consiste em um manual de descritores anatômicos de ferimentos de vítimas de trauma

15

que fornece para cada lesão um número identificador composto por sete dígitos

representados a seguir: o primeiro identifica a região do corpo, o segundo representa o tipo de

estrutura anatômica, o terceiro e quarto dígitos identificam a estrutura anatômica específica

ou, nos casos de lesões de superfície externa, a natureza, a natureza específica da lesão, o

quinto e o sexto dígitos identificam o nível de lesão em região específica do corpo e estrutura

anatômica e o sétimo dígito, disposto à direita do ponto decimal, é o identificador do escore

de gravidade AIS. Este número pode variar de 1 (gravidade mínima) a 6 (gravidade máxima,

quase sempre fatal).

Durante anos, o ISS foi considerado “padrão-ouro” para classificar a gravidade das

vítimas de trauma, cujo cálculo do escore de gravidade era realizado apoiado na soma dos

quadrados dos escores AIS, identificado à lesão mais grave de três regiões diferentes do corpo

que foram traumatizadas. Neste índice, houve simplificação na divisão do corpo humano em

seis regiões: 1-cabeça ou pescoço; 2-face; 3-tórax; 4-abdome ou conteúdo pélvico; 5-

extremidades ou cintura pélvica e 6-superfície externa. O escore varia de 1 a 75 pontos que

indicam a gravidade do trauma, portanto, quanto maior o escore, maior a gravidade da vítima

(OSLER; BAKER; LONG, 1997; MEREDITH et al., 2002; LAVOIE et al., 2004; TAY et al.,

2004; HARWOOD et al., 2006; FOREMAN et al., 2007; NOGUEIRA et al., 2008; SOUSA et

al., 2009).

Uma exceção a este algoritmo acontece quando uma única região tem um AIS de 6

(gravidade máxima), sendo atribuído um ISS de 75 pontos, independente da gravidade de

outras lesões, conforme determina a regra de aplicação do ISS. O escore ISS maior ou igual a

16 pontos tem sido considerado como ponto crítico na avaliação do trauma (GENNARI;

KOIZUMI, 1995; STEVENSON et al., 2001; DILLON; WANG; BOURAMA, 2006;

FOREMAN et al., 2007; SOUSA et al., 2009) e, quando associado à idade, pode apresentar

taxa de mortalidade superior a 10% (MEREDITH et al., 2002), logo a vítima deve ser

encaminhada para um hospital de referência no atendimento ao trauma.

Para homogeneizar os grupos de vítimas de trauma, Copes et al. (1988),

preconizaram a distribuição do ISS em sete intervalos: 1-8, 9-15, 16-24, 25-40, 41-49, 50-74 e

75, o que permite a comparação entre estudos de gravidade (CHAMPION et al., 1990). O

intervalo entre 1 e 15 é classificado como trauma leve, entre 16 e 24, como trauma moderado

e, quando maior ou igual a 25, indica trauma grave (GENNARI; KOIZUMI, 1995;

WHITAKER; GUTIERREZ; KOIZUMI, 1998).

Após anos de uso, Osler et al. (1997) modificaram o ISS por considerarem que havia

subestimação da gravidade da vítima de trauma, pois o cálculo do escore considerava apenas

16

uma lesão mais grave de cada região, independente da existência de múltiplas lesões,

portanto, a gravidade da vítima de trauma era mensurada sem considerar a existência de

outras lesões na mesma região corpórea, especialmente em vítimas de ferimentos penetrantes.

Por conseguinte, foi criado o New Injury Severity Score (NISS), um novo escore,

cujo cálculo da gravidade baseia-se na soma do quadrado das três lesões consideradas mais

graves, independente da região corpórea. Desse modo, os pesquisadores buscaram a

simplificação do cálculo, a ampliação na capacidade em predizer o desfecho e corrigiram a

limitação que havia com o uso do ISS (OSLER; BAKER; LONG, 1997; BALOGH et al.,

2000; CHAMPION, 2002; MEREDITH et al., 2002; LAVOIE et al., 2004; TAY et al., 2004;

HARWOOD et al., 2006; AHARONSON-DANIEL et al., 2006; MOORE et al., 2008;

NOGUEIRA et al., 2008; BAUE, 2008; XIAO-GANG et al., 2008).

Quanto ao uso de proteção individual e a prevenção do trauma nos usuários dos

veículos de duas rodas, em consideração ao Código de Trânsito Brasileiro, o primeiro artigo

versa sobre a obrigatoriedade do uso do capacete pelo condutor e passageiro de motocicleta,

motoneta, ciclomotor, triciclo e quadriciclo motorizado (BRASIL, 2008). Embora seja

obrigatória a utilização dos equipamentos de proteção individual (EPI), há o descumprimento

da Lei por parte de muitos condutores.

Estudo que avaliou a relação do uso do capacete com acidentes em usuários em uma

comunidade composta por 451 motociclistas evidenciou que a prevalência do uso do capacete

foi de 40%, menor uso nas periferias da cidade. Ademais, quando a referência ao tipo de

veículo de duas rodas utilizado houve uma redução significativa do uso de capacete entre as

motocicletas específicas para uso em trilhas “off Road” e os ciclomotores (LEDESMA;

PELTZER, 2008).

Salienta-se que o uso do capacete, para todos os usuários de motocicletas, é um fator

importante que contribui para redução de acidentes fatais e prevenção de lesões graves.

Pesquisa relacionada ao uso do capacete revelou que apenas 40% dos condutores, em especial

as mulheres faziam o uso desse equipamento de proteção individual (EPI) em condições

climáticas desfavoráveis, sendo que o menor uso ocorre na periferia da cidade. Houve ainda

redução significante no uso do EPI entre os usuários de motocicletas estilo off-road e veículos

ciclomotores (LEDESMA; PELTZER, 2008).

Quando pesquisado a relação do uso do capacete com acidentes, estudo realizado na

Espanha em 2006 com ciclomotores mostrou a ocorrência de lesões em acidentes de trânsito

pela falta do uso do capacete em 20,7% entre esses usuários (PUMAROLA et al., 2009).

17

Com vistas a estimular esforços mundiais para reverter à tendência crescente das

fatalidades e lesões graves que os acidentes de trânsito provocam, foi oficializada pela

Assembleia Geral das Organizações das Nações Unidas (ONU) em 2011 à campanha decenal

compreendida pelo período de 2011 a 2020, ressaltada como a Década Mundial de Ações pela

Segurança no trânsito para redução das mortes no trânsito até 2020 (WHO, 2011). As

projeções indicam que os números de vítimas acometidas irão dobrar nos próximos 20 anos,

caso não existam estratégias e um compromisso com a prevenção desses acidentes (WHO,

2009).

Em Resolução editada pela ONU, os 192 países membros decidiram que a

Organização Mundial de Saúde (OMS) em conjunto com outros órgãos internacionais

empenhará esforços globais com o objetivo de reduzir a metade o número de fatalidades no

trânsito mundial além de outras organizações (WHO, 2009).

Há necessidade de reforçar ações preventivas em 178 países com maior incidência de

acidentes de trânsito, cujas leis ainda precisam de mudanças para uma fiscalização e

prevenção mais efetiva. Como proposta de prevenção foi elencada cinco pilares básicos na

campanha: fortalecimento da gestão da segurança no trânsito; infraestrutura viária adequada;

segurança veicular; comportamento e segurança dos usuários; atendimento ao trauma;

assistência pré-hospitalar, hospitalar e a reabilitação (WHO, 2009).

A segurança do trânsito é direito de todos e dever dos órgãos e entidades integrantes

que fiscalizam o sistema viário. As projeções demonstram que as mortes resultantes pelos

acidentes de trânsito terão um decréscimo em torno de 30% nos países que possuem renda

mais alta e aumentará de forma considerável em países de média e baixa renda social. Estima-

se que, se ações preventivas não forem efetuadas de forma relevante até 2020, às lesões

causadas pelo trânsito será a terceira causa de morbidade e mortalidade em nível mundial

(WHO, 2004).

Frente ao exposto surgiram os seguintes questionamentos: quem são as vítimas de

acidentes com veículos de duas rodas? Existem diferenças entre aquelas que foram

acidentadas com veículos de alta ou baixa potência quanto a lesões e gravidade do trauma?

A hipótese desse estudo é que as vítimas de acidentes de trânsito causadas por

veículos de baixa potência apresentam nível de gravidade e acometimento de lesões

semelhantes aquelas em uso de veículos de alta potência.

A motivação para esse estudo surgiu durante a vivência das práticas acadêmicas da

disciplina de emergência, por meio do contato frequente com vítimas de trauma, em especial

dos agravos acometidos pelos condutores de veículos de duas rodas.

18

Há evidências de pesquisa sobre a ocorrência de ferimentos graves ou fatais em

vítimas de acidentes com veículos de baixa potência, entretanto, não foi localizado estudo na

literatura que comparasse a gravidade entre veículos de alta e baixa potência.

Espera-se que os resultados evidenciados possam contribuir para a melhor

compreensão dessa problemática e direcionar, sobretudo os órgãos fiscalizadores do trânsito e

legislativo com medidas preventivas e políticas públicas que favoreçam um trânsito mais

seguro.

19

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Caracterizar as vítimas dos acidentes de trânsito causados entre veículos de duas rodas

de alta e baixa potência quanto à gravidade e lesões.

2.2 Objetivos específicos

Caracterizar as vítimas e os dados da ocorrência do trauma entre os grupos;

Determinar a gravidade do trauma pelo New Injury Severity Score (NISS);

Verificar a associação entre a gravidade do trauma pelo NISS e as variáveis: potência

do veículo, número de regiões corpóreas acometidas e região mais gravemente

afetada.

20

3 CASUÍSTICA E MÉTODOS

3.1 Tipo de Estudo

Caracteriza-se como descritivo, prospectivo e com abordagem quantitativa.

3.2 Local do Estudo

Foi desenvolvido no Hospital de Urgências de Sergipe – HUSE localizado no

município de Aracaju, estado de Sergipe. Trata-se de um hospital geral, de alta complexidade,

de ensino, vinculado a Fundação Hospitalar e centro de referência do atendimento hospitalar

ao trauma no Estado.

As vítimas de trauma comumente recebem o atendimento pré-hospitalar por meio do

Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU, municipal ou estadual, e são

encaminhadas ao serviço de urgência do HUSE.

O HUSE é organizado em sistema de Classificação de Risco para avaliar a gravidade

das vítimas, por meio de cores que compreendem as áreas: azul, verde, amarela e vermelha.

Na área azul, o atendimento é realizado a vítimas com prioridade baixa, ou seja, aquelas que

necessitam de medicação ou procedimentos especializados como sutura para pequenos

ferimentos e observação rápida. A área verde destina-se à observação de pacientes com

prioridade média e atendimento não crítico, mas com necessidade de observação. Quando a

vítima necessita de cuidados semi-intensivos, deve ser encaminhada à área amarela e na área

vermelha são encaminhados os pacientes considerados com risco iminente de vida,

necessidade de atendimento imediato, além da possibilidade de realização de procedimentos

complexos.

Após a classificação, as vítimas são encaminhadas a diversas unidades (Centro

Cirúrgico, Unidade de Terapia Intensiva, Unidade de Internamento, Unidade de Tratamento

de Queimaduras, entre outros), de acordo com o tratamento que necessitem, portando os seus

prontuários. Terminado o período de internação e feito todos os processos do serviço de

auditoria do hospital, os prontuários são encaminhados ao SAME (Serviço de Arquivo

Médico) localizado no centro da cidade de Aracaju.

21

3.3 Casuística

A casuística foi constituída de uma amostra não probabilística e de conveniência de

321 vítimas, de acordo com a demanda espontânea de vítimas de acidentes de motocicleta,

motonetas e ciclomotores atendidos no HUSE que atendiam aos seguintes critérios de

inclusão: ser admitida no serviço de urgência do HUSE, vítimas de acidente de trânsito por

motocicleta, motoneta e/ou ciclomotor, ambos os sexos, qualquer idade e que aceitassem

participar do estudo com assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

ou do responsável legal em casos de menores de idade ou impossibilidade de anuência verbal

e escrita da vítima. Foram exclusos do estudo aqueles que evadiram, foram transferidos,

permaneceram internados no período de finalização da coleta e os passageiros dos veículos.

Para o cálculo do tamanho mínimo amostral desse estudo, considerou-se o número

total de vítimas por acidentes com veículos de duas rodas utilizando-se a o Sistema de

Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS) do Ministério da Saúde na

categoria de Morbidade Hospitalar do SUS por causas externas cujo local de internação foi o

estado de Sergipe e grupo de causa de V20-V29 com o total de 998 internados. Vale ressaltar

que no referido sistema não existe o cadastro das vítimas de modo específico com respectiva

distinção entre motocicleta, motoneta e ciclomotor.

Considerou-se o tamanho mínimo da amostra, com um erro amostral E0

(BARBETTA, 2004), conforme discriminado a seguir:

n= N x n0 sendo que: n0 = 1/E02

N + n0

onde:

N = tamanho da população

n = tamanho da amostra

n0 = aproximação do tamanho da amostra

E0 = erro amostral tolerável

n0 = 1/(0,05)2 = 1/0,0025 = 400

Como o N= 998, então:

n= 998 x 400 = 399200 = 241 998 + 400 1398

22

Nesse contexto, o tamanho mínimo amostral do total de vítimas por acidentes com

veículos de duas rodas foi de 241. Houve uma extrapolação do cálculo mínimo amostral

porque no início da pesquisa foi realizado tendo-se como parâmetro o número de pacientes

internados no hospital no período de 2011 que perfazia o total de 321 vítimas, entretanto, no

final da coleta foi observada a necessidade de refazer os cálculos, a fim de seguir os dados

disponíveis no SIH/ SUS. Para esse estudo, foram constituídos dois grupos distintos quanto à

potência do veículo estratificado em até 100cc e acima de 100cc.

3.4 Instrumentos do Estudo

3.4.1 Termo de Confidencialidade para a Direção do HUSE

É um instrumento pré-coleta, enviado à Direção do HUSE, com o objetivo de obter

autorização para o acesso aos prontuários das vítimas de trauma que foram admitidas no

período definido na pesquisa. O Termo de Confidencialidade contém os dados da pesquisa e

da pesquisadora e assegura o direito ao esclarecimento e anonimato. Conforme a Resolução

196/96 do CONEP houve garantia de sigilo dos pesquisados. Foram encaminhadas duas vias

do referido termo ora mencionado, sendo que uma foi entregue ao Diretor do HUSE e a outra

via, após assinatura, foi mantida de posse da pesquisadora (Apêndice A).

3.4.2 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Tratou-se de um instrumento pré-coleta de dados, realizado em duas vias, uma

entregue a cada vítima ou responsável e a outra mantida sobre os cuidados das pesquisadoras

(Apêndice B). O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) assegurou o direito ao

esclarecimento e anonimato dos pesquisados, com garantia de sigilo e recusa em qualquer

momento, conforme a Resolução 196/96, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de

Saúde.

23

3.4.3 Formulário para levantamento dos dados

É um instrumento adaptado do autor Domingues (2008), usado na coleta dos dados

que referenciam vítimas de trauma (Apêndice C). Contêm três partes, a primeira compreende

a caracterização da vítima, a segunda da ocorrência e a última a descrição das lesões e cálculo

da gravidade do trauma.

3.5 Procedimento de coleta de dados

Após autorização da instituição para acesso aos prontuários das vítimas e aprovação

do Comitê de Ética em Pesquisa de Seres Humanos da Universidade Federal de Sergipe

(Anexo A-CAAE 00660312.6.0000.0058) iniciou-se a coleta de dados que foi realizada no

período de agosto a dezembro de 2012.

Inicialmente foram selecionadas as fichas de atendimento de emergência (FAE) ou

prontuários obedecendo à ordem de chegada do paciente na Área Vermelha e Área Verde

Trauma. Após anuência verbal das vítimas ou responsável e assinatura do TCLE foi aplicado

o formulário de coleta de dados por meio de entrevista estruturada de acordo com os critérios

de inclusão pré-determinados.

Após o desfecho do paciente foi analisado o prontuário para a identificação das

lesões por meio do manual AIS 2005 update 2008. (AAMM, 2005) e posterior cálculo da

gravidade do trauma.

3.6 Tratamento e Análise dos dados

As causas externas foram codificadas de acordo com a classificação da Organização

Mundial de Saúde (OMS) em que são expressos no manual de Classificação Estatística

Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10). Esse manual

considera como causas externas todos os casos de violência e acidentes, relacionadas ao

evento traumático (WHO, 1998).

Os códigos de gravidade das lesões foram classificados por meio do manual AIS-

24

2005, em sua versão mais recente da língua inglesa, constituído de 2.000 lesões (AAAM,

2005). O número identificador encontrado é composto por sete dígitos sendo o último

computado para o calculo da gravidade.

A pontuação das três mais graves lesões, ou seja, os três maiores escores AIS-2005

foram utilizadas para o cálculo da gravidade. O NISS foi obtido, portanto, pela soma dos

quadrados dos escores AIS das três lesões mais gravemente traumatizadas, independente da

região corpórea. A pontuação varia de 1 a 75 e o escore ISS maior que 16 tem sido

considerado como o ponto crítico.

O escore da Escala de Coma de Glasgow (ECGl), registrados no momento da

admissão da vítima de trauma no serviço de urgência, foram coletados por meio dos registros

médicos e de enfermagem existentes. A ECGl é uma escala neurológica que se constitui em

um método confiável e objetivo de registrar o nível de consciência de uma pessoa, para

avaliação inicial e contínua após um traumatismo craniano. Seu valor também é utilizado no

prognóstico do paciente e é de grande utilidade para previsão de sequelas eventuais. A escala

compreende três parâmetros avaliativos: resposta de abertura ocular, melhor resposta verbal e

melhor resposta motora e varia de 3 a 15 pontos (TEASDALE; JENNETT, 1974).

Os dados foram armazenados em banco de dados computadorizado em software do

programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 19.0 e apresentados sob a

forma estatística com tabelas.

Para a idade e tempo de internamento foi realizada estatística descritiva (média,

desvio padrão, mínimo, mediana e máximo). A associação entre a gravidade do trauma pelo

NISS e as variáveis idade, tempo de internamento, sexo e desfecho do trauma foram

realizadas, por meio do Teste Qui-Quadrado. Para todo o estudo, o risco alfa ≤ a 5 % de

cometer erro tipo I foi considerado.

25

4 RESULTADOS

4.1 Caracterização das vítimas

O estudo realizado com 321 vítimas de acidentes com veículos de duas rodas

internadas no Hospital de Urgência de Sergipe e selecionadas com base nos critérios de

inclusão preestabelecidos apresentou os resultados a seguir:

4.1.1 Quanto à idade e tempo de internamento hospitalar

A análise descritiva das variáveis idade e tempo de permanência está

apresentada nos dados da Tabela 1, que demonstra semelhanças entre a média de idade das

vítimas nos grupos de até 100 cc com 32,10±13,8 anos e tempo médio de internamento de

12,30±29,6 dias e nos grupos acima de 100 cc com 31,10±11,4 anos e tempo médio de

internamento de 13,30±20,7 dias.

Tabela 1– Estatística descritiva das variáveis idade (anos) e tempo de internamento (dias) das vítimas de acidentes com veículos de duas rodas. HUSE, Sergipe, 2013.

Potência do veículo Estatística descritiva Variáveis

Idade Tempo de internamento (dias)

Até 100 cc

Média 32,2 12,3

DP 13,8 29,6

Mínimo 14,0 0,0

Mediana 28,0 5,0

Máximo 77,0 248,0

Acima de 100 cc

Média 31,8 13,3

DP 11,4 20,7

Mínimo 12,0 0,0

Mediana 29,0 7,0

Máximo 71,0 182,0

* Nove vítimas não tiveram identificada a potência do veículo de duas rodas. DP= Desvio Padrão

26

4.1.2 Quanto ao sexo, faixa etária, portador de habilitação, envolvimento prévio em acidente,

número de vezes com envolvimento em acidentes, potência do veículo e desfecho.

Tabela 2– Distribuição das vítimas por veículos de duas rodas quanto ao sexo, faixa etária, portador de habilitação, envolvimento prévio em acidente, número de vezes em envolvimento em acidentes, potência do veículo e desfecho. HUSE, Sergipe, 2013.

VARIÁVEIS Potência do veículo (cc)

p valor Até 100 Acima de 100

Sexo n (%) n (%) Masculino 73 (88) 214 (93)

Feminino 10 (12) 15 (7) 0,014

Total 83 (100) 229 (100)

Faixa Etária n (%) n (%)

10-14 anos 1 (1) 3 (1)

15-19 anos 13 (16) 26 (11)

20- 29 anos 30 (36) 86 (38)

30-39 anos 16 (19) 64 (28)

40-49 anos 15 (18) 34 (15) 0,469

50-59 anos 4 (5) 9 (4)

60-69 anos 3 (4) 6 (3)

70-79 anos 1 (1) 1 (0,1)

Total 83 (100) 229 (100)

Portador de Habilitação n (%) n (%)

Sim 10 (12) 61 (27)

Não 73 (88) 168 (73)

Não informado 0 (0) 0 (0) 0,014

Total 83 (100) 229 (100)

Envolvimento prévio em acidente n (%) n (%) Sim 43 (52) 125 (55) Não 40 (48) 104 (45) 0,064 Total 83 (100) 229 (100)

Nº de envolvimento em acidentes n (%) n (%) Uma 13 (16) 25 (11) Duas 11 (13) 56 (25) Três 7 (8) 17 (7)

Quatro 4 (5) 11 (5)

Mais de quatro 8 (10) 16 (7) 0,992 Não informado 0 (0) 0 (0) Não se aplica 40 (48) 104 (45)

Total 83 (100) 229 (100) Desfecho do trauma n (%) n (%)

Alta 83 (100) 229 (100) Óbitos 0 (0) 0 (0) 0,001 Total 83 (100) 229 (100)

* Nove vítimas não tiveram identificada a potência do veículo de duas rodas.

27

Conforme os dados da Tabela 2, tanto no grupo de até 100 cc quanto o grupo acima

de 100 cc, a maioria das vítimas era do sexo masculino (88% e 93% respectivamente) com

faixa etária entre 20-29 anos (36% e 38% respectivamente). Do total de vítimas

pesquisadas, 88% dos condutores de veículos até 100 cc não possuíam habilitação e 73%

dos que conduziam veículos acima de 100 cc também não possuíam. Quanto ao

envolvimento prévio em acidentes nos grupos estudados, 52% e 55% relataram a

participação e 13% e 25% respectivamente em mais de um acidente. Não houve associação

significante entre as variáveis dos grupos, exceto quanto ao desfecho.

4.1.3 Distribuição das vítimas quanto ao mecanismo do trauma, número de pessoas no

veículo, finalidade do transporte, uso do capacete e ingestão de álcool.

O principal mecanismo de trauma apresentado na Tabela 3 foi a derrapagem (25% e

31%), seguidos de colisão veículo de duas rodas com automóvel, pick-up ou caminhonete (23% e

24%) e veículos de duas e três rodas (16% e 18% respectivamente). O estudo evidenciou que a

maioria dos acidentados nos dois grupos estudados (62% e 69%) estava sozinha no veículo.

Entretanto, houve relatos de ocupação de mais de três pessoas (2% e 17%) no mesmo veículo no

momento do acidente.

Quanto à finalidade do transporte, a maioria das vítimas nos dois grupos (65% e 69%)

utilizava como meio de locomoção, seguido de utilização como trabalho (motofrete ou

mototaxista) (12% e 14%). A não utilização do capacete nos grupos foi de 58% nos grupos de até

100cc e 49% naqueles acima de 100cc. Foi relatada a ingestão de álcool por 48% e 35% dos

grupos estudados respectivamente. Não houve associação significante entre as variáveis dos

grupos, exceto quanto à ingesta de álcool.

28

Tabela 3– Distribuição das vítimas por veículos de duas rodas quanto ao mecanismo do trauma, número de pessoas no veículo, finalidade do transporte, uso do capacete e ingestão de álcool. HUSE, Sergipe, 2013.

VARIÁVEIS Potência do veículo (cc)

p valor Até 100 Acima de 100

Mecanismo do Trauma n (%) n (%) Derrapagem 21 (25) 72 (31)

Duas rodas x Automóvel, Pick-Up ou Caminhonete 19 (23) 56 (24)

Duas rodas x Veículo de Duas ou Três Rodas 13 (16) 41 (18)

Duas rodas x Pedestre ou Animal 13 (16) 22 (10) 0,618 Duas rodas x Veículo de Transporte Pesado ou

Ônibus 7 (9) 15 (7)

Duas rodas x Veículo a Pedal 0 (0) 6 (3)

Duas rodas x Objeto Fixo ou Parado 2 (2) 5 (2)

Duas rodas x Veículo Não Motorizado 1 (1) 2 (1)

Não informado 7 (8) 10 (4)

Total 83 (100) 229 (100)

Nº de pessoas no veículo n (%) n (%)

Uma pessoa 51 (62) 158 (69)

Duas pessoas 30 (36) 31 (14)

Três pessoas 2 (2) 30 (13) 0,992

Mais de três pessoas 0 (0) 10 (4)

Não informado 0 (0) 0 (0)

Total 83 (100) 229 (100)

Finalidade do transporte n (%) n (%)

Transporte 54 (65) 158 (69)

Trabalho 10 (12) 31 (14)

Lazer 16 (19) 30 (13) 0,593

Transporte e lazer 3 (4) 10 (4)

Não informado 0 (0) 0 (0)

Total 83 (100) 229 (100)

Uso do capacete n (%) n (%)

Sim 35 (42) 116 (51)

Não 48 (58) 113 (49) 0,185

Não informado 0 (0) 0 (0)

Total 83 (100) 229 (100)

Ingestão de álcool n (%) n (%)

Sim 40 (48) 81 (35)

Não 43 (52) 148 (65) 0,04

Não informado 0 (0) 0 (0)

Total 83 (100) 229 (100)

* Nove vítimas não tiveram identificada a potência do veículo de duas rodas.

29

4.2 Determinação do nível de gravidade das vítimas pelo escore NISS.

4.2.1 Quanto ao Escore NISS

O escore NISS apresentou variação de 1 a 75 pontos nos dois grupos, média de 12,5

± 6,9 pontos naqueles até 100 cc e de 12,21 ± 7,4 pontos nos grupos acima de 100 cc,

conforme representado pelos dados da Tabela 4.

Tabela 4– Estatística descritiva das vítimas por acidentes com veículos de duas rodas segundo o escore NISS. HUSE, Sergipe, 2013.

Potência do veículo Estatística Descritiva Escore NISS

Até 100 cc

Média 12,5

DP 6,9

Mínimo 1,0

Mediana 12,0

Máximo 32,0

Acima de 100 cc

Média 12,21 DP 7,4

Mínimo 1,0

Mediana 11,0 Máximo 42,0

* Nove vítimas não tiveram identificada a potência do veículo de duas rodas. DP= Desvio Padrão

4.3 Escore NISS x Número de regiões corpóreas acometidas

4.3.1 Escore NISS x Potência do veículo (veículos de duas rodas até 100cc e acima de 100 cc)

A associação entre o escore NISS e a potência do veículo é representado nos dados

da tabela 5 e por meio do teste Qui-quadrado, observou-se o valor de p=0,45 o que indica a

ausência de associação entre o escore NISS e a potência do veículo nos dois grupos

pesquisados, ou seja, a gravidade do trauma independe da potência do veículo.

30

Tabela 5–Escore NISS X Potência do veículo em vítimas de acidentes por veículos de duas rodas . HUSE, Sergipe, 2013.

Potência do Veículo

ESCORE NISS p valor

1 - 8 9 - 15 16 - 24 25 - 40 41 - 49 50 - 74 75

Até 100 cc 21 36 20 6 0 0 0 0,45

Acima de 100 cc 69 103 37 18 2 0 0

*Nove vítimas não tiveram identificada a potência do veículo de duas rodas.

4.3.2 Escore NISS x Número de regiões corpóreas acometidas

Para avaliar uma possível relação entre o escore NISS e o número de regiões

acometidas nos grupos estudados foi realizado o teste Qui-quadrado (p=0,001) que indicou

associação entre essas variáveis conforme demonstrado na Tabela 6, ou seja, quanto maior o

número de regiões corpóreas acometidas pelo trauma por veículo de duas rodas, maior a

gravidade do trauma.

Tabela 6–Escore NISS X Número de regiões acometidas em vítimas de acidentes por veículos de duas rodas. HUSE, Sergipe, 2013.

Cilindrada Número de

regiões corpóreas

ESCORE NISS 1 - 8 9 – 15 16 – 24 25 - 40 41 - 49 50 - 74 75 p valor

Até 100

uma 18 12 3 3 0 0 0

0,001

duas 3 23 9 1 0 0 0

três 0 0 6 2 0 0 0

quatro 0 1 2 0 0 0 0

cinco 0 0 0 0 0 0 0

seis 0 0 0 0 0 0 0

Acima de 100

uma 40 40 8 2 1 0 0

0,001

duas 24 44 13 8 1 0 0

três 5 15 10 8 0 0 0

quatro 0 4 4 0 0 0 0

cinco 0 0 2 0 0 0 0

seis 0 0 0 0 0 0 0

*Nove vítimas não tiveram identificada a potência do veículo de duas rodas.

31

4.3.3 Escore NISS x região mais gravemente afetada

O estudo da associação entre o escore NISS e a região mais gravemente afetada está

apresentada nos dados da tabela 7, na qual mostra que as regiões mais gravemente afetadas

“cabeça e pescoço” e “extremidades ou cintura pélvica” apresentaram maiores número de

vítimas nos dois grupos assim como os maiores escores NISS, ou seja, maior gravidade. Por

meio do teste Qui-quadrado, encontrou-se p=0,002 para o grupo até 100 cc e p=0,001 para os

inseridos acima de 100cc.

Tabela 7–Escore NISS X Número de regiões acometidas em vítimas de acidentes por veículos de duas rodas. HUSE, Sergipe, 2013.

Cilindrada Região Gravemente Afetada ESCORE NISS

1-8 9- 15 16 - 24 25 - 40 41 - 49 50 - 74 75 p valor

Até 100

Cabeça e pescoço 2 13 11 4 0 0 0

0,002

Face 2 4 0 0 0 0 0

Tórax ou Cintura escapular 1 2 3 2 0 0 0

Abdome ou conteúdo pélvico 0 0 1 0 0 0 0

Extremidades ou cintura pélvica

8 17 5 0 0 0 0

Superfície externa 8 0 0 0 0 0 0

Acima de 100

Cabeça e pescoço 3 19 17 11 2 0 0

0,001

Face 10 3 2 0 0 0 0

Tórax ou Cintura escapular 1 11 3 4 0 0 0

Abdome ou conteúdo pélvico 0 3 1 1 0 0 0 Extremidades ou cintura

pélvica 46 66 14 1 0 0 0

Superfície externa 9 1 0 1 0 0 0

*Nove vítimas não tiveram identificada a potência do veículo de duas rodas.

32

5 DISCUSSÃO

O aumento das ocorrências de trânsito configura-se um importante problema social e

econômico devido à inserção dos veículos automotores no cotidiano das pessoas em que a

partir da segunda metade do século XX são confirmados pelo aumento das taxas de

mortalidade, as incapacidades temporárias e permanentes que acometem os usuários de todas

as nacionalidades (MARIM; MARCOS, 2000).

Os veículos de duas rodas tornou-se um dos principais meios de inclusão social por

serem mais acessíveis e possuírem uma manutenção econômica. São consideradas pelos

usuários como adequados para aqueles que buscam a primeira oportunidade de locomoção

própria como forma de autonomia ou substituição do transporte público.

As causas externas comprometem a saúde da população e tem destaque nas

estatísticas por ocupar patamares próximos aos das doenças cardiovasculares que hoje lideram

o grupo de morbimortalidade no Brasil. Tais eventos são multifatoriais, ou seja, uma série de

eventos e fatores que estão relacionados ao usuário, ao próprio veículo que não possui uma

manutenção adequada como também as condições da via pública (BRASIL, 2010; MELLO-

JORGE; KOIZUMI, 2007).

A análise da idade das vítimas de trauma por veículo de duas rodas que foram

admitidas no HUSE apresentou uma idade média de 32,10±13,8 anos com tempo médio de

internamento de 12,0±29,6 dias nos grupos até 100 cc e nos grupos acima de 100 cc foi de

31,10±11,4 anos com tempo médio de internamento de 13,30±20,7 dias. Ambas as medidas

nos grupos pesquisados apresentaram alto desvio-padrão que se justifica pela grande

variabilidade entre a idade mínima de 12 anos e máxima de 77 anos, bem como o valor

mínimo de (1) e máximo de (248) dias de internamento das vítimas.

Os dados estão de acordo com os registros do Ministério da Saúde realizada no ano

de 2012 e compatíveis com outros estudos, nos quais há maior proporção do adulto jovem

no que concerne ao trauma (BRASIL, 2012; MOSKAL; MARTIN; LAUMON, 2012;

VIEIRA; HORA; OLIVEIRA; VAEZ, 2011; NUNES et al., 2011). Evidenciou-se em estudo

no que se refere ao tempo de internamento hospitalar que quanto maior o escore NISS maior

foi o tempo de internamento da vítima (NUNES et al., 2011).

No Brasil, as vítimas por causas externas representam a terceira causa mais

frequente de morte e as internações apresentam um aumento progressivo de 7,7% em 2000

para 10,4% em 2010. Tal fato representou um crescimento de 19,1% na taxa de internação

33

com 929.245 internações por causas externas no ano de 2010 e, consequentemente, aumento

nos custos relacionados à saúde pública os quais representam, atualmente, 11,8% dos gastos

com todas as hospitalizações financiadas pelo SUS (BRASIL, 2010, 2011).

Nesta pesquisa, houve o predomínio de pacientes do sexo masculino (88% e 93%

em ambos os grupos estudados) com faixa etária predominante de 20-29 anos que

corroboram com estudos (VIEIRA; HORA; OLIVEIRA; VAEZ, 2011; NUNES et al.,2011;

MOSKAL; MARTIN; LAUMON, 2012) nos quais os homens se destacam ao maior

acometimento de lesões traumáticas e seu envolvimento com causas externas na produção

de acidente. Justificam-se também tais dados pelo maior número de condutores do sexo

masculino, segundo o Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN-SE) em cada dez

motoristas habilitados para dirigir apenas três são mulheres.

Quando investigados sobre possuírem habilitação obrigatória para conduzir

veículos de duas rodas, 88% dos condutores de até 100cc e 73% dos acima de 100cc não

tinham a documentação exigida. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, no artigo

140 do Capítulo XIV é obrigatório à habilitação para conduzir veículo automotor e elétrico

bem como a autorização para conduzir ciclomotor (ACC) nos casos de veículos de baixa

potência obtidos por meio de realização de exames junto aos órgãos e entidades executivas

do Estado cujo requisito é o candidato ser penalmente imputável, ou seja, maioridade penal

para responsabilização de seus atos (BRASIL, 2008).

Outro fato importante no que se refere aos veículos de baixa potência é que

segundo o artigo 129 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) o registro bem como o

licenciamento dos veículos de baixa potência como é o caso dos ciclomotores obedecem à

regulamentação estabelecida em legislação municipal do domicílio ou residência de seus

proprietários (BRASIL, 2008). A questão é que a fiscalização municipal necessita de leis

específicas e criação de órgão específico que praticamente não ocorre no país.

Uma correlação entre os fatores de riscos de motocicletas e ciclomotores

evidenciou que aqueles que conduziam sem a documentação exigida tiveram o dobro de

risco no envolvimento em um acidente (MOSKAL; MARTIN; LAUMON, 2012). A

percepção dos riscos em estudo sugere uma ligação com o aprendizado formal do condutor

(CRUNDALL; LOON; STEDMON; CRUNDALL, 2013).

Quanto ao envolvimento prévio em acidentes nos grupos estudados, foi relatada a

participação em dois acidentes ou mais em 21% no grupo até 100cc e 32% nos grupos

acima de 100cc. Em estudo realizado na região sul do Brasil acerca dos acidentes de trânsito

foi constatado reincidência nos que conduziam veículos de duas rodas em especial entre os

34

motoboys nos quais 40% referiram pelo menos um acidente nos últimos doze meses e 39,6

em dois ou mais acidentes (SOARES; MATHIAS; SILVA; ANDRADE, 2011).

Em relação ao desfecho do trauma, todas as vítimas pertences ao grupo de até

100cc sobreviveram ao trauma bem como das vítimas acima de 100cc, porém ocorreram 9

óbitos que não puderam ser categorizados nos grupos pesquisados devido a falta de

informação. Enfatiza-se que o conhecimento das lesões traumáticas sofridas pela vítima,

bem como a identificação da frequência de ocorrência tem importância na compreensão do

desfecho fatal e auxilia ao planejamento de uma assistência humanizada e individualizada

desses pacientes (OLIVEIRA; SOUSA, 2007).

Quanto ao tipo de mecanismo do trauma, observou-se em estudo que o mais

recorrente foi à derrapagem seguida das colisões com automóvel, pick up ou caminhonete.

Resultado semelhante foi encontrado em outro estudo que apresentava as categorias

supracitadas como formas predominantes (OLIVEIRA; SOUSA, 2012). Esse tipo de

ocorrência justifica-se pela dificuldade do condutor que trafega com outros veículos

perceber a aproximação de motocicletas, motonetas e ciclomotores e ter um tempo-resposta

reduzido para evitar uma colisão, além de ser um veículo de dimensões e faces reduzidas

que dificulta a visualização (PEEK-ASA; KRAUSS, 1996).

Em relação ao número de pessoas no veículo no momento do acidente houve

predomínio de apenas uma pessoa no momento do acidente nos grupos de até 100cc e acima

de 100cc (62% e 69% respectivamente) seguido de dois passageiros (36% e 14%). Em

estudo que verificou os fatores de riscos entre os veículos de baixa e alta potência foi

encontrado dado semelhante cujo percentual de pilotos de ciclomotores e motociclistas

envolvidos em acidentes enquanto carregavam passageiros foi o mesmo em torno de 13%

(MOSKAL; MARTIN; LAUMON, 2012). Pode existir uma tendência de menor número de

acidentes quando os condutores estão com passageiros no qual há sugestão de um

comportamento de menor risco e maior atenção no trânsito.

No presente estudo, a finalidade do transporte mostrou que tanto no grupo de até

100cc quanto no grupo acima de 100cc era utilizado para a locomoção (65% e 69%

respectivamente), seguido de lazer (19% e 13%) e os que utilizavam o veículo para trabalho

foi de 12% e 14% respectivamente. Resultado diverge de outra pesquisa na qual a maioria

dos acidentes de duas rodas ocorreu durante viagem de lazer e a utilização para o trabalho

representou 19,6% dos acidentes com veículos até 100cc e 31,4% no grupo acima de 100cc

(MOSKAL; MARTIN; LAUMON, 2012).

Em relação ao uso de capacete, a proporção de pilotos que não utilizam o

35

equipamento de proteção individual (EPI) foi maior entre os que conduziam veículos até

100cc do que os que faziam parte dos condutores acima de 100cc (58% e 49%

respectivamente). Resultado assemelha-se a estudo internacional em que os condutores até

100cc perfaziam o total de 95,3% com a utilização o EPI em detrimento aos do grupo acima

de 100cc com 98,8% na utilização (MOSKAL; MARTIN; LAUMON, 2012). Em relação ao

grupo até 100cc, estudo realizado apenas com esta categoria evidenciou que 80,5% das

injurias graves acometeram os que não utilizavam o equipamento de proteção (MIGGINS et

al., 2011).

A ingestão de álcool foi afirmada pelos participantes da pesquisa no momento da

entrevista na qual o grupo de condutores até 100cc totalizou 48% e os acima de 100cc 35%.

Esse resultado pode estar subestimado devido a não realização de exames sanguíneos ou

utilização de etilômetros no momento da pesquisa. Em estudo realizado na França, houve

um resultado semelhante cujos pilotos de veículos com menor potência tiveram maior

percentual no teor alcoólico sanguíneo (67,2% dos condutores até veículos de 100cc e de

70,2% dos acima de 100cc) com medição específica e registro em relatórios da polícia

francesa chamados de “Boletins de Análise de Acidentes de Trânsito e Corpo”.

Esses relatórios são versões computadorizadas de todos os acidentes e são

elaborados obrigatoriamente pela polícia nas ocorrências dos acidentes da França e possuem

dados fidedignos quanto às circunstâncias do acidente, características do veículo, dos

pilotos envolvidos e mensuração do nível alcoólico (MOSKAL; MARTIN; LAUMON,

2012). Segundo Miggins et al. (2011) o uso de álcool e drogas aumenta a chance em duas

vezes da ocorrência de uma lesão grave com ciclomotores e motonetas.

Foi possível verificar ainda que não houve associação entre o escore NISS e a

potência do veículo nos grupos de até 100cc e acima de 100cc, ou seja, a gravidade do trauma

na pesquisa realizada revelou que independe da potência do veículo. Estudo realizado acerca

das lesões do aparelho locomotor nos acidentes com motocicletas verificaram a relação do

tipo de lesões entre contusão, ferimento e fratura em detrimento ao aumento da velocidade

que observou uma diminuição do índice de contusões com a progressão da velocidade e um

aumento significativo do índice de fraturas cujo achado corrobora com as premissas

biomecânicas que envolvem o trauma (DEBIEX et al., 2010).

As motocicletas (acima de 100cc) e ciclomotores (até 100cc) trafegam em média

10% mais rápidos que os carros e outros tipos de veículos com uma maior probabilidade de

exceder o limite de velocidade numa proporção de até três vezes que outros veículos e dessa

36

forma é caracterizada como um fator de risco para a ocorrência de acidentes (WALTON;

BUCHANAN, 2012).

O trauma relacionado às vítimas com veículos de duas rodas tanto no grupo de até

100cc bem como o grupo acima de 100cc pode resultar de lesão única ou várias lesões, com

mudança do nível de gravidade a depender do local acometido assim como a necessidade de

um monitoramento das lesões produzidas no acidente. No grupo até 100cc com 83 vítimas,

43,3% tiveram apenas uma região acometida e 43,3% duas regiões. Em contrapartida, nas

vítimas do grupo acima de 100cc (n=229), 39,7% tiveram apenas uma região corpórea

acometida e 39,3% delas duas regiões. Nenhuma das vítimas apresentou as seis regiões

acometidas por lesões traumáticas.

Estudo realizado com 554 vítimas de trauma foi evidenciado que mais da metade das

vítimas foram acometidas de lesões nas regiões da cabeça, pescoço e face seguidos de lesões

em membros e pelve (VIEIRA; HORA; OLIVEIRA; VAEZ, 2011). Na associação entre o

escore NISS e o número de regiões traumatizadas, observou-se que, quanto maior o número

de regiões corpóreas acometidas pelo trauma por veículo de duas rodas, maior foi à gravidade

mensurada pelo NISS.

A associação entre o escore NISS e a região mais gravemente afetada revelou

significância e indicou que a região da “cabeça e pescoço” seguida de “extremidades e cintura

pélvica” parece ter maior relação com a gravidade do trauma. No que se concerne ao

acometimento das regiões da cabeça e pescoço em vítimas de acidentes com veículos de duas

rodas foi prevalente em variados estudos (VIEIRA; HORA; OLIVEIRA; VAEZ, 2011;

DEBIEX et al., 2010; SALLUM; DOMINGUES; NOGUEIRA, 2009; IMAI; KOIZUMI,

1996). Em estudo realizado em um hospital de referência ao trauma de Sergipe, as lesões mais

graves estiveram presentes em 61,5% na região da cabeça e pescoço das vítimas (NUNES et

al., 2011).

Ao se avaliar as consequências das vítimas de trauma cranioencefálico em um centro

de referência para vítimas de trauma no Brasil, a maioria das vítimas (58,7%) teve como

causa externa os acidentes de transporte com consequente incapacidade ou mortalidade

(SOUSA, 2006). Pesquisa revelou que as lesões dos membros inferiores contribuíram com

maiores índices de morbidade e aumento da permanência em dias no hospital com 18% a 80%

de todas as lesões (RITCHER; OTTE; JAHANYAR; BLAUTH, 2000).

Em 2001 o Ministério da Saúde implantou a Política Nacional de Redução da

Morbimortalidade por Acidentes e Violências por meio da Portaria nº 737, de 16 de maio de

2001, com o objetivo de dar maior sustentabilidade ao enfrentamento da problemática em

37

razão da elevação dos custos sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), e da necessidade de

implantar intervenções de vigilância, prevenção e promoção da saúde (BRASIL, 2011).

As ações na prevenção dos acidentes têm papel importante na redução da

morbimortalidade por causas externas. Nesse contexto, é fundamental que sejam estudadas e

divulgadas informações sobre as características e tendências da morbidade por causas

externas, sobretudo nos acidentes com veículos de duas rodas, a fim de contribuir para a

adoção de medidas de segurança no trânsito (BRASIL, 2011).

38

6 CONCLUSÃO

O estudo dos acidentes com veículos de duas rodas realizado com 321 vítimas

revelou que os homens jovens eram os mais acometidos. A maioria não possuía habilitação

para dirigir, informou relato de envolvimento prévio em acidentes, havia suspeita de ingestão

de bebida alcoólica, utilizou o veículo de duas rodas como meio de transporte para locomoção

e após internação hospitalar teve alta como desfecho. Assim, possibilitou as conclusões a

seguir:

A determinação da gravidade do trauma, segundo o escore NISS revelou que a

maioria das vítimas apresentou um escore < 16 pontos compatível com os

traumas leves e moderados;

Não houve associação entre o escore NISS e a potência do veículo nos dois

grupos pesquisados, ou seja, a gravidade das vítimas decorridas do trauma não

estava relacionada com a potência do veículo;

As associações entre o escore NISS e as variáveis: número de regiões

acometidas e região mais gravemente afetada para os grupos de até 100cc e

para os grupos acima de 100cc apresentaram significância estatística, ou seja,

havia diferença entre as vítimas dentro de cada grupo com maior acometimento

em uma ou duas regiões lesionadas na cabeça e pescoço e/ou extremidades ou

cintura pélvica, entretanto, não havia diferença entre os grupos.

39

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os acidentes de trânsito com veículos de duas rodas se configuram como um grave

problema de saúde pública mundial pelo seu número crescente e consequências adversas

provocadas na sociedade. Com a década de ação pela segurança no trânsito (2011-2020) urge

a necessidade de estudos que possam gerar conhecimentos sobre esses agravos, em especial

na área epidemiológica e de avaliação das vítimas, a fim de contribuir com políticas para

redução significativa dos acidentes em todo o mundo.

Nesse estudo foi possível traçar um perfil dessas vítimas em Sergipe com

determinação da gravidade e suas lesões, por meio da categorização dos veículos em “alta e

baixa potência” considerados de grande relevância científica, visto que no Brasil não foi

localizado nenhuma pesquisa com essa especificidade.

Uma das dificuldades encontradas para realização da pesquisa concerne que não há

uma categorização dos acidentes quanto à potência dos veículos. Todos os acidentes com

veículos de duas rodas são categorizados como “acidentes motociclísticos” logo dificulta a

realização de cálculo amostral fidedigno ainda na fase de realização do projeto de pesquisa.

A realidade encontrada no momento da coleta de dados traduz o verdadeiro sentido

de problema de saúde em que crianças acidentadas pilotavam veículos de alta potência e

muitas vítimas não possuidoras de carteira de habilitação colocam em risco não só a própria

vida, mas também a da comunidade o que denota a verdadeira de educação para o trânsito

bem como a segurança viária de todos.

Com base nos resultados obtidos, sugere-se:

Classificação das vítimas de acidentes com veículos de duas rodas em “alta

potência” ou “baixa potência” nos registros pré e intra hospitalar e DATASUS;

Regulamentação dos veículos de baixa potência em todos os municípios do

Brasil seguindo a determinação do Código de Trânsito Brasileiro;

Implementação de Programas de prevenção de trauma que abordem as lesões e

a gravidade do trauma produzidas nos acidentes com veículos de duas rodas.

40

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46

APÊNDICE A

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS GRADUAÇÃO EM MEDICINA MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE Termo de Confidencialidade para a Direção do Hospital de Urgência de Sergipe I–Dados sobre a pesquisa científica Título: Acidentes de trânsito com veículo de duas rodas: gravidade das vítimas e lesões. Pesquisadora: Ana Carla Ferreira Silva dos Santos Orientadora: Profa. Drª. Edilene Curvelo Hora II–Termo de Confidencialidade Estamos realizando uma pesquisa que tem como objetivo de comparar a gravidade das vítimas de acidentes de trânsito causados por motocicletas em relação às vítimas de acidentes por ciclomotores atendidos em serviço de referência ao trauma. O estudo não oferece qualquer risco, desconforto e despesas financeiras a vossa senhoria. Os resultados do estudo serão importantes para entender a gravidade do trauma em acidentes de trânsito causados por motocicletas e por ciclomotores, com os fatores correlacionados a esse. As informações obtidas serão confidenciais e utilizadas apenas com propósito científico, conforme recomenda a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Os resultados serão publicados com garantia de anonimato dos sujeitos da pesquisa. O Senhor (Sra) poderá ter acesso a qualquer tempo aos dados da pesquisa, eliminando possíveis dúvidas. III – Informações dos nomes, endereços e telefones dos responsáveis pelo acompanhamento da pesquisa. 1. Ana Carla Ferreira Silva dos Santos. Enfermeira e Mestranda em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Sergipe. Núcleo de Pós Graduação em Medicina- NPGME. Rua Cláudio Batista, SN - Bairro: Sanatório. Aracaju/Se. Telefones (79)2105-1783(comercial) / (79)9138-8934. 2. Edilene Curvelo Hora. Profª Drª do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Sergipe. Rua Cláudio Batista, SN - Bairro: Sanatório. Aracaju/Se. Telefones (79)2105-1812 (comercial). IV–Consentimento Declaro que após convenientemente esclarecido (a) pela pesquisadora, e, tendo entendido o que me foi explicado, consinto o acesso aos prontuários para a referida pesquisa. Aracaju/Se, ______ de _________________ de 2012 _______________________________________ ____________________________

Assinatura da Direção do HUSE Assinatura da pesquisadora

47

APÊNDICE B

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

I – Dados sobre a pesquisa científica

Título: Acidentes de trânsito com veículo de duas rodas: gravidade das vítimas e lesões Pesquisadora: Ana Carla Ferreira Silva dos Santos Orientadora: Profa Dra Edilene Curvelo Hora

II – Termo de Consentimento

Estamos realizando uma pesquisa que tem como objetivo de comparar a gravidade das vítimas de acidentes de trânsito causados por motocicletas em relação às vítimas de acidentes por ciclomotores atendidos em serviço de referência ao trauma. O estudo será realizado por meio de entrevista e análise do prontuário, o qual não oferece qualquer risco, desconforto e despesas financeiras a você ou sua família. As informações obtidas serão confidenciais e utilizadas apenas com propósito científico, conforme recomenda a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Os resultados serão publicados com garantia de anonimato dos sujeitos da pesquisa. Você poderá ter acesso, a qualquer tempo, aos dados da pesquisa, eliminando possíveis dúvidas. Além de que o senhor (a) tem a liberdade de desistir a qualquer momento, deixando de participar da pesquisa, sem qualquer prejuízo, e poderá ter acesso, a qualquer tempo, às informações sobre a pesquisa, eliminando possíveis dúvidas. Os resultados serão publicados com garantia de anonimato dos sujeitos da pesquisa. III – Informações dos nomes, endereços e telefones dos responsáveis pelo acompanhamento da pesquisa. 1. Ana Carla Ferreira Silva dos Santos. Enfermeira e Mestranda em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Sergipe. Núcleo de Pós Graduação em Medicina- NPGME. Rua Cláudio Batista, SN - Bairro: Sanatório. Aracaju/Se. Telefones (79)2105-1783(comercial) / (79)9138-8934. 2. Edilene Curvelo Hora. Profª. Drª do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Sergipe. Rua Cláudio Batista, SN – Bairro: Sanatório – Aracaju/Se. Telefones (79) 2105-1813 (comercial). IV – Consentimento pós-esclarecido Declaro que, após convenientemente esclarecido (a) pela pesquisadora, e, tendo entendido o que me foi explicado, consinto a referida pesquisa. Aracaju/Se, ______ de _________________ de 2012 ______________________________ ____________________________ Assinatura da vítima ou responsável Assinatura da pesquisadora

48

APÊNDICE C

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA NÚCLEO DE PÓS GRADUAÇÃO EM MEDICINA MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAUDE TÍTULO: Acidentes de trânsito com veículo de duas rodas: gravidade das vítimas e lesões Pesquisadora: Ana Carla Ferreira Silva dos Santos Orientadora: Profª Drª Edilene Curvelo Hora

Formulário para Levantamento de Dados

Parte I – Caracterização da vítima Nome: DN: Idade: Gênero: (1) Masculino (2) Feminino Endereço: Nº do prontuário: Nº da FAE: Data da internação: Data do Trauma: Já se envolveu em outro acidente com veículo de duas rodas? (1) Sim (2) Não Se sim, quantas vezes? ( 1 ) 1 vez ( 2 ) 2 vezes ( 3 ) 3 vezes ( 4 ) 4 vezes ( 5 ) > 4 vezes Unidades onde esteve internado: PS ( ) UTI ( ) CC ( ) Alas ( ) Tempo de permanência hospitalar: Data da alta: Data do óbito:

Parte II – Caracterização da ocorrência Tipo de veículo: Potência do veículo: (1) até 100cc ( 2 ) acima de 100cc Finalidade do uso: (1) transporte; (2) trabalho; (3) lazer (4) trabalho e lazer Uso do capacete? (1) Sim (2) Não Uso de outro equipamento de segurança? (1) Sim (2) Não

Se sim, especifique: Ingestão de bebida alcoólica? (1) Sim (2) Não Possui habilitação? (1) Sim (2) Não Se sim, especifique: (1) Categoria A Tempo de habilitação (ano): (1) < 1 ano (2) 1 a 3 anos ( 3 ) 4 a 6 anos ( 4 ) > 6 anos Quantas pessoas ocupavam o veículo? (1) uma (2) duas (3) três (4) >três pessoas Local do acidente: Dia da semana: Turno: Mecanismo do Trauma:

Parte III- Descrição das Lesões e Cálculo da Gravidade do Trauma Região

Corpórea Lesão Código

AIS Gravidade da

lesão Cabeça e pescoço

Face Tórax e Cintura escapular

Abdome ou conteúdo pélvico MMSS/MMII e Cintura escapular

Superfície externa Escore NISS= [( )2 +( )2 + ( )2]=

Adaptado de Domingues, Cristiane de Alencar. Probabilidade de sobrevida: comparação dos resultados do Trauma and Injury Severity Score (TRISS) com sua nova versão (NTRISS) [tese]. São Paulo (SP): Escola de enfermagem da USP, 2008.

49

ANEXOS

50

Acidentes de trânsito em veículos de duas rodas: caracterização das vítimas1

Traffic accidents with two-wheel vehicles: characterization of the victims

Acidentes de trânsito em veículos duas rodas

Traffic accidents two-wheel vehicles

Ana Carla Ferreira Silva dos Santos2

Edilene Curvelo Hora3

1 Baseada na Dissertação de Mestrado de Ana Carla Ferreira Silva dos Santos intitulada Acidentes de trânsito

com veículos de duas rodas: gravidade das vítimas e lesões do Programa de Pós Graduação em Medicina da

Universidade Federal de Sergipe defendida em 2013

2 Programa de Pós Graduação em Medicina da Universidade Federal de Sergipe. Núcleo de Pós Graduação em

Medicina. Campus da Saúde- Centro de Pesquisas Biomédicas, Rua Claudio Batista sn, bairro Sanatório,

Aracaju-Sergipe, Brasil CEP 49060-100, [email protected], tel 55 (79) 21051787

3 Programa de Pós Graduação em Medicina da Universidade Federal de Sergipe. Endereço para

correspondência: Núcleo de Pós Graduação em Medicina. Campus da Saúde- Centro de Pesquisas Biomédicas,

Rua Claudio Batista sn, bairro Sanatório, Aracaju-Sergipe, Brasil CEP 49060-100. [email protected], tel 55 (79)

21051787

51

INTRODUÇÃO

O trauma é um sério problema de saúde pública em todo mundo e constitui

uma das maiores causas de morte e deficiências adquiridas em pessoas com idade

inferior a 45 anos, com destaque para os acidentes de trânsito que estão associados

a uma alta taxa de mortalidade. Além disso, conduz dispensas de trabalho, baixa

eficiência, distúrbios mentais e incapacidade para retornar às atividades laborais,

com limitações físicas e psicológicas importantes 1-2.

Os dados apresentados pelo Ministério da Saúde em 2010 apontam que os

acidentes de transporte no Brasil foram responsáveis por 43.908 óbitos, o

equivalente a 30,65% do total de óbitos por causas externas, muitos dos quais

poderiam ser evitados. Observa-se ainda que no ano de 2010 houve 929.245 mil

internações por causas externas 3.

Nas últimas décadas, os acidentes de trânsito têm se destacado com o

crescimento do número de vítimas envolvidas em acidentes de motocicletas. Os

condutores desses veículos estão muito expostos aos riscos e possuem destaque

nas estatísticas de acidentes que provocam lesões graves e morte. Pesquisadores

afirmam que os acidentes de trânsito configuram-se como provocados por causas

externas e tem a prevenção como a forma mais eficaz de combate 4.

O Brasil, nos últimos anos, encontra-se no ranking dos campeões mundiais

em acidente de trânsito, em razão do aumento crescente no número de veículos que

circulam nas ruas, da deficiência geral da fiscalização, do comportamento dos

usuários que colocam em risco as suas vidas e da impunidade dos infratores que

cometem os acidentes. Observa-se que nas ultimas décadas, houve um aumento no

número de acidentes com o envolvimento de veículo de duas rodas por ser um

veículo ágil, econômico e de custo reduzido, porém esses condutores estão muito

expostos e se destacam nas estatísticas de lesões graves e morte 5-6.

De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), os veículos de duas

rodas apresentam três categorias: a motocicleta que é um veículo automotor de

duas rodas, com ou sem side-car (acoplamentos laterais), dirigido por condutor na

posição montada; a motoneta que é um veículo automotor de duas rodas, dirigidos

por condutor em posição sentada e o ciclomotor, que é um veículo de duas ou três

rodas, provido de motor a combustão interna, cuja cilindrada não exceda a 50

52

centímetros cúbicos (3,05 polegadas cúbicas) e cuja velocidade máxima de

fabricação não exceda a 50 km/h 7.

Historicamente, considerou-se que os acidentes de veículos a motor eram

eventos aleatórios como uma consequência inevitável do transporte. O termo

"acidente" remete a impressão de inevitabilidade e imprevisibilidade, ou seja, evento

impossível de controlar. Entretanto, os acidentes são decorrentes de vários fatores

evitáveis, como o número de veículos que circulam nas vias, falta de organização do

tráfego, imprudências dos usuários que contribuem para as ocorrências de trânsito,

em especial, a população de motociclistas 8.

Os ciclomotores apresentam estreita relação com os acidentes de trânsito,

pois ao contrário das motocicletas convencionais classificadas de forma diferente

devido a sua potência, elas não apresentam controle do Estado, uma vez que, de

acordo com o artigo 129 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), o registro e o

licenciamento desses veículos obedecem à regulamentação estabelecida em

legislação municipal do domicílio ou residência do proprietário 7.

Observa-se, no entanto que, a maioria dos municípios do Brasil ainda não

regulamentou a fiscalização dos ciclomotores apesar da existência da lei para que o

condutor tenha a autorização para conduzir ciclomotor (ACC), use o capacete e seja

penalmente imputável 7. Logo, tais veículos podem ser guiados por menores de

idade ou por pessoas sem habilitação, ou seja, desconhecedoras das leis de

trânsito.

Com vistas a estimular esforços mundiais para reverter à tendência

crescente das fatalidades e lesões graves que os acidentes de trânsito provocam, foi

oficializada pela Assembleia Geral das Organizações das Nações Unidas (ONU) em

2011 à campanha decenal compreendida pelo período de 2011 a 2020, ressaltada

como a Década Mundial de Ações pela Segurança no trânsito para redução das

mortes no trânsito até 2020 9. As projeções indicam que os números de vítimas

acometidas irão dobrar nos próximos 20 anos, caso não existam estratégias e um

compromisso com a prevenção desses acidentes 10.

Em Resolução editada pela ONU, os 192 países membros decidiram que a

Organização Mundial de Saúde (OMS) em conjunto com outros órgãos

internacionais empenhará esforços globais com o objetivo de reduzir a metade o

número de fatalidades no trânsito mundial além de outras organizações 10.

53

A segurança do trânsito é direito de todos e dever dos órgãos e entidades

integrantes que fiscalizam o sistema viário. As projeções demonstram que as mortes

resultantes pelos acidentes de trânsito terão um decréscimo em torno de 30% nos

países que possuem renda mais alta e aumentará de forma considerável em países

de média e baixa renda social. Estima-se que, se ações preventivas não forem

efetuadas de forma relevante até 2020, às lesões causadas pelo trânsito será a

terceira causa de morbidade e mortalidade em nível mundial 9.

Espera-se que os resultados evidenciados possam contribuir para a melhor

compreensão dessa problemática e direcionar, sobretudo os órgãos fiscalizadores

do trânsito e legislativo com medidas preventivas e políticas públicas que favoreçam

um trânsito mais seguro.

A hipótese desse estudo é que as vítimas de acidentes de trânsito causadas

por veículos de baixa potência apresentam características semelhantes aquelas em

uso de veículos de alta potência. Esse estudo, portanto, objetiva caracterizar as

vítimas de acidentes de trânsito causados por veículos de duas rodas entre os

grupos de baixa e alta potência.

MÉTODOS

Caracteriza-se como descritivo, prospectivo e com abordagem quantitativa.

Foi desenvolvido no Hospital de Urgências de Sergipe – HUSE localizado no

município de Aracaju, estado de Sergipe. Trata-se de um hospital geral, de alta

complexidade, de ensino, vinculado a Fundação Hospitalar e centro de referência do

atendimento hospitalar ao trauma no Estado que utiliza o sistema de Classificação

de Risco para avaliar a gravidade das vítimas.

Foi constituída de uma amostra não probabilística e de conveniência de 321

vítimas, de acordo com a demanda espontânea e que atendiam aos seguintes

critérios de inclusão: ser admitida no serviço de urgência do HUSE, vítimas de

acidente de trânsito por motocicleta, motoneta e/ou ciclomotor, ambos os sexos,

qualquer idade e que aceitassem participar do estudo com assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ou do responsável legal em casos de

menores de idade ou impossibilidade de anuência verbal e escrita da vítima. Foram

exclusos os “garupas” dos veículos.

54

Conforme a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa-

CONEP houve garantia de sigilo dos pesquisados e direito de recusa a qualquer

momento.

Após autorização da instituição para acesso aos prontuários das vítimas e

aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa de Seres Humanos da Universidade

Federal de Sergipe (CAAE 00660312.6.0000.0058) iniciou-se a coleta de dados que

foi realizada no período de agosto a dezembro de 2012.

Inicialmente foram selecionadas as fichas de atendimento de emergência

(FAE) ou prontuários obedecendo à ordem de chegada do paciente na urgência.

Após anuência verbal das vítimas ou responsável e assinatura do TCLE foi aplicado

o formulário de coleta de dados por meio de entrevista estruturada de acordo com os

critérios de inclusão pré-determinados.

Os dados foram armazenados em banco de dados computadorizado em

software do programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão

19.0 e apresentados sob a forma estatística com tabelas. Para a idade e tempo de

internamento foi realizada estatística descritiva (média, desvio padrão, mínimo,

mediana e máximo) e a associação entre as variáveis foi realizada por meio do

Teste Qui-Quadrado. Para todo o estudo, o risco alfa ≤ a 5 % de cometer erro tipo I

foi considerado.

RESULTADOS

A análise descritiva das variáveis idade e tempo de permanência está

apresentada nos dados da Tabela 1, que demonstra semelhanças entre a média de

idade das vítimas nos grupos de até 100 cc com 32,10±13,8 anos e tempo médio

de internamento de 12,30±29,6 dias e nos grupos acima de 100 cc com 31,10±11,4

anos e tempo médio de internamento de 13,30±20,7 dias. (Tabela 1)

Conforme os dados da Tabela 2, tanto no grupo de até 100 cc quanto o

grupo acima de 100 cc, a maioria das vítimas era do sexo masculino (88% e 93%

respectivamente) com faixa etária entre 20-29 anos (36% e 38% respectivamente).

Do total de vítimas pesquisadas, 88% dos condutores de veículos até 100 cc não

possuíam habilitação e 73% dos que conduziam veículos acima de 100 cc também

não possuíam. Quanto ao envolvimento prévio em acidentes nos grupos

estudados, 52% e 55% relataram a participação e 13% e 25% respectivamente em

55

mais de um acidente. Não houve associação estatisticamente significante entre as

variáveis dos grupos, exceto quanto ao desfecho. (Tabela 2)

O principal mecanismo de trauma apresentado na Tabela 3 foi a derrapagem

(25% e 31%), seguidos de colisão veículo de duas rodas com automóvel, pick-up ou

caminhonete (23% e 24%) e veículos de duas e três rodas (16% e 18%

respectivamente). O estudo evidenciou que a maioria dos acidentados nos dois grupos

estudados (62% e 69%) estava sozinha no veículo. Entretanto, houve relatos de

ocupação de mais de três pessoas (2% e 17%) no mesmo veículo no momento do

acidente.

Quanto à finalidade do transporte, a maioria das vítimas nos dois grupos (65% e

69%) utilizava como meio de locomoção, seguido de utilização como trabalho (motofrete

ou mototaxista) (12% e 14%). A não utilização do capacete nos grupos foi de 58% nos

grupos de até 100cc e 49% naqueles acima de 100cc. Foi relatada a ingestão de álcool

por 48% e 35% dos grupos estudados respectivamente. Não houve associação

estatisticamente significante entre as variáveis dos grupos, exceto quanto a ingesta

de álcool. (Tabela 3)

DISCUSSÃO

O aumento das ocorrências de trânsito configura-se um importante problema

social e econômico devido à inserção dos veículos automotores no cotidiano das

pessoas em que a partir da segunda metade do século XX são confirmados pelo

aumento das taxas de mortalidade, as incapacidades temporárias e permanentes

que acometem os usuários de todas as nacionalidades 11.

As causas externas comprometem a saúde da população e tem destaque

nas estatísticas por ocupar patamares próximos aos das doenças cardiovasculares

que hoje lideram o grupo de morbimortalidade no Brasil. Tais eventos são

multifatoriais, ou seja, uma série de eventos e fatores que estão relacionados ao

usuário, ao próprio veículo que não possui uma manutenção adequada como

também as condições da via pública 3,5.

Os dados dessa pesquisa relativos a idade e tempo de internamento estão

de acordo com os registros do Ministério da Saúde realizada no ano de 2012 e

compatíveis com outros estudos, nos quais há maior proporção do adulto jovem no

que concerne ao trauma 12-13.

56

No Brasil, as vítimas por causas externas representam a terceira causa mais

frequente de morte e as internações apresentam um aumento progressivo de 7,7%

em 2000 para 10,4% em 2010. Tal fato representou um crescimento de 19,1% na

taxa de internação com 929.245 internações por causas externas no ano de 2010 e,

consequentemente, aumento nos custos relacionados à saúde pública os quais

representam, atualmente, 11,8% dos gastos com todas as hospitalizações

financiadas pelo SUS 3,14.

Nesta pesquisa, houve o predomínio de pacientes do sexo masculino (88%

e 93% em ambos os grupos estudados) com faixa etária predominante de 20-29

anos que corroboram com estudos13-15 nos quais os homens se destacam ao maior

acometimento de lesões traumáticas e seu envolvimento com causas externas na

produção de acidente. Justificam-se também tais dados pelo maior número de

condutores do sexo masculino, segundo o Departamento Estadual de Trânsito

(DETRAN-SE) em cada dez motoristas habilitados para dirigir apenas três são

mulheres.

Quando investigados sobre possuírem habilitação obrigatória para conduzir

veículos de duas rodas, 88% dos condutores de até 100cc e 73% dos acima de

100cc não tinham a documentação exigida. De acordo com o Código de Trânsito

Brasileiro, no artigo 140 do Capítulo XIV é obrigatório à habilitação para conduzir

veículo automotor e elétrico bem como a autorização para conduzir ciclomotor

(ACC) nos casos de veículos de baixa potência obtidos por meio de realização de

exames junto aos órgãos e entidades executivas do Estado cujo requisito é o

candidato ser penalmente imputável, ou seja, maioridade penal para

responsabilização de seus atos 7.

Outro fato importante no que se refere aos veículos de baixa potência é

que segundo o artigo 129 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) o registro bem

como o licenciamento dos veículos de baixa potência como é o caso dos

ciclomotores obedecem à regulamentação estabelecida em legislação municipal do

domicílio ou residência de seus proprietários7. A questão é que a fiscalização

municipal necessita de leis específicas e criação de órgão específico que

praticamente não ocorre no país.

Uma correlação entre os fatores de riscos de motocicletas e ciclomotores

evidenciou que aqueles que conduziam sem a documentação exigida tiveram o

dobro de risco no envolvimento em um acidente 15. A percepção dos riscos em

57

estudo sugere uma ligação com o aprendizado formal do condutor16.

Quanto ao envolvimento prévio em acidentes nos grupos estudados, foi

relatada a participação em dois acidentes ou mais em 21% no grupo até 100cc e

32% nos grupos acima de 100cc. Em estudo realizado na região sul do Brasil

acerca dos acidentes de trânsito foi constatado reincidência nos que conduziam

veículos de duas rodas em especial entre os motoboys nos quais 40% referiram

pelo menos um acidente nos últimos doze meses e 39,6 em dois ou mais

acidentes 17.

Quanto ao tipo de mecanismo do trauma, observou-se em estudo que o

mais recorrente foi à derrapagem seguida das colisões com automóvel, pick up ou

caminhonete. Resultado semelhante foi encontrado em outro estudo que

apresentava as categorias supracitadas como formas predominantes18. Esse tipo

de ocorrência justifica-se pela dificuldade do condutor que trafega com outros

veículos perceber a aproximação de motocicletas, motonetas e ciclomotores e ter

um tempo-resposta reduzido para evitar uma colisão, além de ser um veículo de

dimensões e faces reduzidas que dificulta a visualização 19.

Em relação ao número de pessoas no veículo no momento do acidente

houve predomínio de apenas uma pessoa no momento do acidente nos grupos de

até 100cc e acima de 100cc (62% e 69% respectivamente) seguido de dois

passageiros (36% e 14%). Em estudo que verificou os fatores de riscos entre os

veículos de baixa e alta potência foi encontrado dado semelhante cujo percentual

de pilotos de ciclomotores e motociclistas envolvidos em acidentes enquanto

carregavam passageiros foi o mesmo em torno de 13%15. Pode existir uma

tendência de menor número de acidentes quando os condutores estão com

passageiros no qual há sugestão de um comportamento de menor risco e maior

atenção no trânsito.

No presente estudo, a finalidade do transporte mostrou que tanto no grupo

de até 100cc quanto no grupo acima de 100cc era utilizado para a locomoção

(65% e 69% respectivamente), seguido de lazer (19% e 13%) e os que utilizavam o

veículo para trabalho foi de 12% e 14% respectivamente. Resultado diverge de

outra pesquisa na qual a maioria dos acidentes de duas rodas ocorreu durante

viagem de lazer e a utilização para o trabalho representou 19,6% dos acidentes

com veículos até 100cc e 31,4% no grupo acima de 100cc 15.

58

Em relação ao uso de capacete, a proporção de pilotos que não utilizam o

equipamento de proteção individual (EPI) foi maior entre os que conduziam

veículos até 100cc do que os que faziam parte dos condutores acima de 100cc

(58% e 49% respectivamente). Estudo20 evidenciou que a prevalência do uso do

capacete foi de 40%, menor uso nas periferias da cidade. Ademais, quando a

referência ao tipo de veículo de duas rodas utilizado houve uma redução

significativa do uso de capacete entre as motocicletas específicas para uso em

trilhas “off Road” e os ciclomotores.

Em relação ao grupo até 100cc, estudo realizado apenas com esta

categoria evidenciou que 80,5% das injurias graves acometeram os que não

utilizavam o equipamento de proteção 21.

A situação dos acidentes de tráfego no Brasil entre os anos de 1998 a

2010 foi retratada em outro estudo que revelou o crescimento absoluto das taxas

de mortalidade, o rápido aumento do número de motocicletas e a combinação

entre a bebida alcoólica e a direção 22.

Esses relatórios são versões computadorizadas de todos os acidentes e

são elaborados obrigatoriamente pela polícia nas ocorrências dos acidentes da

França e possuem dados fidedignos quanto às circunstâncias do acidente,

características do veículo, dos pilotos envolvidos e mensuração do nível alcoólico

O uso de álcool e drogas aumenta a chance em duas vezes da ocorrência de uma

lesão grave com ciclomotores e motonetas 20.

Os acidentes de trânsito com veículos de duas rodas se configuram como

um grave problema de saúde pública mundial pelo seu número crescente e

consequências adversas provocadas na sociedade. Com a década de ação pela

segurança no trânsito (2011-2020) urge a necessidade de estudos que possam

gerar conhecimentos sobre esses agravos, em especial na área epidemiológica, a

fim de contribuir com políticas para redução significativa dos acidentes em todo o

mundo.

Com base nos resultados obtidos, sugere-se a classificação das vítimas de

acidentes com veículos de duas rodas em “alta potência” ou “baixa potência” nos

registros pré, intra-hospitalar e do Ministério da Saúde e regulamentação dos

veículos de baixa potência em todos os municípios do Brasil seguindo a

determinação do Código de Trânsito Brasileiro.

59

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60

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61

Tabela 1– Estatística descritiva das variáveis idade (anos) e tempo de internamento (dias) das vítimas de acidentes com veículos de duas rodas. HUSE, Sergipe, 2013.

Potência do veículo

Estatística descritiva

Variáveis

Idade Tempo de

internamento (dias)

Até 100 cc

Média 32,2 12,3

DP 13,8 29,6

Mínimo 14,0 0,0

Mediana 28,0 5,0

Máximo 77,0 248,0

Acima de 100 cc

Média 31,8 13,3

DP 11,4 20,7

Mínimo 12,0 0,0

Mediana 29,0 7,0

Máximo 71,0 182,0 * Nove vítimas não tiveram identificada a potência do veículo de duas rodas. DP= Desvio Padrão

62

Tabela 2– Distribuição das vítimas por veículos de duas rodas quanto ao sexo, faixa etária, portador de habilitação, envolvimento prévio em acidente, número de vezes em envolvimento em acidentes, potência do veículo e desfecho. HUSE, Sergipe, 2013.

VARIÁVEIS Potência do veículo (cc)

p valor Até 100 Acima de 100

Sexo n (%) n (%) Masculino 73 (88) 214 (93) Feminino 10 (12) 15 (7) 0,014

Total 83 (100) 229 (100) Faixa Etária n (%) n (%) 10-14 anos 1 (1) 3 (1) 15-19 anos 13 (16) 26 (11) 20- 29 anos 30 (36) 86 (38) 30-39 anos 16 (19) 64 (28) 40-49 anos 15 (18) 34 (15) 0,469 50-59 anos 4 (5) 9 (4) 60-69 anos 3 (4) 6 (3) 70-79 anos 1 (1) 1 (0,1)

Total 83 (100) 229 (100) Portador de Habilitação n (%) n (%)

Sim 10 (12) 61 (27) Não 73 (88) 168 (73)

Não informado 0 (0) 0 (0) 0,014 Total 83 (100) 229 (100)

Envolvimento prévio em acidente

n (%) n (%)

Sim 43 (52) 125 (55) Não 40 (48) 104 (45) 0,064 Total 83 (100) 229 (100)

Nº de envolvimento em acidentes

n (%) n (%)

Uma 13 (16) 25 (11) Duas 11 (13) 56 (25) Três 7 (8) 17 (7)

Quatro 4 (5) 11 (5) Mais de quatro 8 (10) 16 (7) 0,992 Não informado 0 (0) 0 (0) Não se aplica 40 (48) 104 (45)

Total 83 (100) 229 (100) Desfecho do trauma n (%) n (%)

Alta 83 (100) 229 (100) Óbitos 0 (0) 0 (0) 0,001 Total 83 (100) 229 (100)

* Nove vítimas não tiveram identificada a potência do veículo de duas rodas

63

Tabela 3– Distribuição das vítimas por veículos de duas rodas quanto ao mecanismo do trauma, número de pessoas no veículo, finalidade do transporte, uso do capacete e ingestão de álcool. HUSE, Sergipe, 2013.

VARIÁVEIS Potência do veículo (cc)

p valor Até 100 Acima de 100

Mecanismo do Trauma n (%) n (%) Derrapagem 21 (25) 72 (31)

Duas rodas x Automóvel, Pick-Up ou Caminhonete 19 (23) 56 (24)

Duas rodas x Veículo de Duas ou Três Rodas 13 (16) 41 (18)

Duas rodas x Pedestre ou Animal 13 (16) 22 (10) 0,618 Duas rodas x Veículo de Transporte

Pesado ou Ônibus 7 (9) 15 (7)

Duas rodas x Veículo a Pedal 0 (0) 6 (3) Duas rodas x Objeto Fixo ou Parado 2 (2) 5 (2)

Duas rodas x Veículo Não Motorizado 1 (1) 2 (1) Não informado 7 (8) 10 (4)

Total 83 (100) 229 (100) Nº de pessoas no veículo n (%) n (%)

Uma pessoa 51 (62) 158 (69) Duas pessoas 30 (36) 31 (14) Três pessoas 2 (2) 30 (13) 0,992

Mais de três pessoas 0 (0) 10 (4) Não informado 0 (0) 0 (0)

Total 83 (100) 229 (100) Finalidade do transporte n (%) n (%)

Transporte 54 (65) 158 (69) Trabalho 10 (12) 31 (14)

Lazer 16 (19) 30 (13) 0,593 Transporte e lazer 3 (4) 10 (4)

Não informado 0 (0) 0 (0) Total 83 (100) 229 (100)

Uso do capacete n (%) n (%) Sim 35 (42) 116 (51) Não 48 (58) 113 (49) 0,185

Não informado 0 (0) 0 (0) Total 83 (100) 229 (100)

Ingestão de álcool n (%) n (%) Sim 40 (48) 81 (35) Não 43 (52) 148 (65) 0,04

Não informado 0 (0) 0 (0) Total 83 (100) 229 (100)

* Nove vítimas não tiveram identificada a potência do veículo de duas rodas.

64

RESUMO

OBJETIVO: O estudo objetivou caracterizar as vítimas de acidentes de trânsito causados por veículos de duas rodas entre os grupos de baixa e alta potência. MÉTODOS:Trata-se de uma pesquisa descritiva, transversal, prospectiva e com abordagem quantitativa, desenvolvida no serviço de urgência de um hospital público referência em trauma no estado de Sergipe durante os meses de agosto a dezembro de 2012. Foram entrevistas 321 vítimas de acidentes por veículos de duas rodas, sendo 83 que utilizavam veículos de duas rodas até 100 cilindradas (cc) e 229 acima de 100 cc. RESULTADOS: A idade média dessas vítimas foi de 32 anos com maioria do sexo masculino (88% e 93%), sem habilitação (88% e 73%) e envolvimento prévio em acidentes (52% e 55%) respectivamente. O mecanismo do trauma mais frequente foi à derrapagem (25% e 31%), com uma pessoa no veículo no momento do acidente (62% e 69%), uso para transporte de locomoção (65% e 69%), sem utilização do capacete (58% e 49%) e suspeita de ingestão de álcool (48% e 35%) nos grupos respectivamente. Não houve associação estatisticamente significante entre as variáveis dos grupos, exceto o desfecho e ingestão de bebida alcoólica CONCLUSÃO: As características das vítimas de acidentes com veículos de duas rodas de baixa e alta potência se assemelham.

Palavras chave: Acidentes de trânsito; trauma; motocicletas; estudos

transversais

ABSTRACT

OBJECTIVE: This study aimed to characterize the victims of traffic accidents caused by two-wheelers vehicles among groups with low and high power METHODS: This is a descriptive, cross-sectional, prospective study with a quantitative approach developed in the emergency service of a trauma reference public hospital in Sergipe state, Brazil during the months of August to December 2012. There were 321 interviews for two-wheeled vehicle accident victims, and 83 who used two-wheeled vehicles up to 100 horsepower (cc) and 229 above 100 cc RESULTS: The average age of those victims was 32 years with a majority of males (88% and 93%), without licenses (88% and 73%) and previous involvement in accidents (52% and 55%) respectively. The most common trauma mechanism was slippage (25% and 31%), with a person on the vehicle at the time of the accident (62% and 69%), used for locomotion transportation (65% and 69%), without the use of a helmet (58% and 49%) and suspect of alcohol usage (48% and 35%) in the groups respectively. There was not a statistically significant association between the variables of the groups except the outcome and alcohol consumption CONCLUSION: The characteristics of the victims of accidents involving two-wheelers vehicles low and high power are similar. Keywords: Accident, Traffic; Wounds and injuries; motorcycles; Cross-Sectional Studies

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