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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO NÚCLEO DE DOENÇAS INFECCIOSAS Carla Couzi Marques Strongyloides stercoralis e Alcoolismo crônico Vitória 2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO NÚCLEO DE DOENÇAS INFECCIOSAS

Carla Couzi Marques

Strongyloides stercoralis e Alcoolismo crônico

Vitória 2005

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Carla Couzi Marques

Strongyloides stercoralis e Alcoolismo crônico

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Doenças Infecciosas da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Medicina - Doenças Infecciosas. Orientador: Prof. Dr. Fausto Edmundo Lima Pereira.

VITÓRIA 2005

Aos meus pais, que me deram a vida e aos meus irmãos pelo carinho e apoio.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Idade e sexo de pacientes alcoolistas crônicos e respectivos controles, atendidos no Programa de Atendimento ao Alcoolista do HUCAM, no ano de 2003, nos quais os exames parasitológicos de fezes foram feitos com o método de Baermann............................................................................... Tabela 2: Idade e sexo em 156 alcoolistas crônicos atendidos no Programa de Atendimento ao Alcoolista do HUCAM e não alcoolistas tomados aleatoriamente pelo levantamento de prontuários do mesmo hospital, nos quais o exame parasitológico de fezes foi feito pelo método de sedimentação...................................................................................................... Tabela 3: Idade e sexo em 504 alcoolistas crônicos atendidos no Programa de Atendimento ao Alcoolista do HUCAM, nos anos de 2001 e 2002 e de 591 não alcoolistas tomados aleatoriamente pelo levantamento de prontuários do mesmo hospital, no mesmo período................................................................... Tabela 4: Idade e sexo de 49 pacientes alcoolistas crônicos e 129 controles não alcoolistas atendidos na Unidade Regional de Saúde Feu Rosa (município de Serra), no ano de 2003, nos quais os exames parasitológicos de fezes foram realizados pelo método de sedimentação................................. Tabela 5: Prevalência de parasitas intestinais em 7112 exames parasitológicos de fezes, realizados pelo método de sedimentação, no laboratório de Análises Clínicas do HUCAM, no ano de 2003...........................

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LISTA DE FIGURAS Figura 1: Ciclo evolutivo do S. stercoralis........................................................... Figura 2: Prevalência de S. stercoralis em alcoolistas crônicos e não alcoolistas nas quatro diferentes amostras......................................................... Figura 3: Prevalência de S. stercoralis em alcoolistas crônicos e não alcoolistas nas quatro amostras, nos dois sexos................................................ Figura 4: Relação entre a quantidade de etanol ingerida e a prevalência de exame de fezes positivo para S. stercoralis........................................................ Figura 5: Prevalência de exame positivo para S. stercoralis em alcoolistas crônicos com e sem cirrose hepática................................................................................ Figura 6: Níveis de cortisol plasmático em 23 alcoolistas com exame de fezes positivo para S. stercoralis e em 23 pacientes alcoolistas, com exame de fezes negativo para o parasita. Os resultados mostram as medianas, os quartis e os percentis 5 e 95 (Teste de Mann-Whitney, p=0,602).......................

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LISTA DE SIGLAS

ACTH: hormônio adreno-corticotrófico AIDS: Síndrome da imuno-deficiência adquirida CDC: Centers for disease control DP: desvio padrão ELISA: enzima imuno ensaio EPF: exame parasitológico das fezes HIV: vírus da imunodeficiência humana HTLV-1: vírus linfotrófico das células T de adultos HUCAM: Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes IC: imunocompetente IFI: imunofluorescência IFN gama: interferon gama IgE: imunoglobulina E IgG: imunoglobulina G IgG 4: imunoglobulina G4 IL-4: interleucina 4 IL-5: interleucina 5 IL-12: interleucina 12 IL-13: interleucina 13 N= número ND: não determinado NS: não significativa OR: razão de chance SPSS= Statistical Package for the Social Sciences t= teste de Student URSFR= Unidade Regional de Saúde Feu Rosa X: média χ²= Qui quadrado

SUMÁRIO 1-Introdução.................................................................................................

2-Revisão de literatura.................................................................................

2.1-Strongyloides stercoralis e estrongiloidíase........................................

2.1.1-Histórico...........................................................................................

2.1.2-Morfologia........................................................................................

2.1.3-Ciclo Biológico.................................................................................

2.1.4-Auto-infecção (interna e externa) e hiperinfecção...........................

2.1.5-Modelos experimentais....................................................................

2.1.6-A resposta imunitária na infecção pelo Strongyloides

stercoralis.....................................................................................................

2.1.7-Os mecanismos envolvidos nas formas disseminadas da

estrongiloidíase..............................................................................................

2.1.8-Strongyloides stercoralis e infecção com o vírus HTLV-1................

2.1.9-Anatomia patológica e patogênese das lesões na infecção pelo S.

stercoralis.......................................................................................................

2.1.10-Quadro clínico..................................................................................

2.1.11- Diagnóstico da infecção..................................................................

2.1.12-Tratamento......................................................................................

2.1.13-Profilaxia.........................................................................................

2.2-Efeitos do uso abusivo do etanol sobre o sistema imunitário...............

2.3-Uso abusivo de etanol e prevalência de Strongyloides stercoralis......

3-Objetivos...................................................................................................

3.1-Objetivos gerais..................................................................................

3.2-Objetivos específicos..........................................................................

4-Pacientes e métodos..................................................................................

4.1-Amostras estudadas.............................................................................

4.1.1-Amostras para estudo da prevalência do S.stercoralis em

alcoolistas crônicos........................................................................................

4.1.2-Amostras para avaliação da prevalência de S. stercoralis nos

exames parasitológicos do HUCAM..............................................................

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4.1.3-Amostra utilizada para avaliação dos níveis séricos de cortisol........

4.2-Exames parasitológicos de fezes.........................................................

4.3-Avaliação do cortisol plasmático...........................................................

4.4-Critérios para diagnóstico de alcoolismo..............................................

4.5- Critérios de exclusão de pacientes e controles...................................

4.6-Informações aos pacientes e controles................................................

4.7-Análise estatística dos resultados........................................................

5-Resultados..................................................................................................

5.1-Idade, sexo e procedência das amostras estudadas...........................

5.2-Prevalência de S. stercoralis nos exames parasitológicos de fezes

realizados no laboratório de rotina do HUCAM.............................................

5.3-Prevalência de S. stercoralis nas diferentes amostras de alcoolistas

e controles.....................................................................................................

6-Discussão...................................................................................................

6.1-Análise crítica das amostras.................................................................

6.1.1-Justificativa para a utilização de diferentes amostras.......................

6.1.2-Análise crítica de cada amostra.........................................................

6.1.3-Análise crítica da utilização de amostras onde o exame

parasitológico de fezes foi realizado com métodos de diferentes

sensibilidades para identificar o S. stercoralis...............................................

6.2-Prevalência do S. stercoralis nos alcoolistas........................................

6.3-Possíveis mecanismos envolvidos na relação entre uso crônico do

etanol e aumento da freqüência de exame parasitológico positivo para S.

stercoralis.......................................................................................................

7-Conclusões.................................................................................................

7.1-A análise dos resultados permite concluir que....................................

8-Referências bibliográficas..........................................................................

Anexo I .......................................................................................................

Anexo II......................................................................................................

Anexo III.....................................................................................................

Anexo IV.....................................................................................................

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Anexo V......................................................................................................

Anexo VI.....................................................................................................

Anexo VII....................................................................................................

Anexo VIII......................................................................................................................

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RESUMO

stercoralis. Conclusões: Os resultados demonstraram que: (a) é significativa a

prevalência de exame coprológico positivo para S. stercoralis em alcoolistas

crônicos de ambos os sexos; (b) houve relação direta entre a quantidade média de

etanol ingerida e a freqüência do S. stercoralis no exame coprológico; (c)

alcoolismo crônico foi um fator independente, associado à presença de S.

stercoralis no exame coprológico; (d) as variáveis analisadas não permitiram

identificar se a maior freqüência do exame positivo está relacionada à maior

prevalência do parasita ou se a uma facilitação na produção e eliminação de

larvas; (e) não houve relação entre cortisol plasmático e prevalência do S.

stercoralis nos alcoolistas crônicos onde o hormônio foi avaliado; (f) a prevalência

significativa de exame positivo para S. stercoralis no laboratório de rotina do

HUCAM, em pacientes do sexo masculino foi possivelmente relacionada com a

alta freqüência de pacientes alcoolistas (a maioria do sexo masculino) atendidos

no HUCAM.

Palavras-chaves: alcoolismo; Strongyloides stercoralis; cortisol

ABSTRACT

Introduction: High prevalence of S. stercoralis has been reported in chronic

alcoholic abusers. Objectives: To study (a) the prevalence of S. stercoralis in

chronic alcoholic patients and in non-alcoholic, using the Baermann and

sedimentation methods; (b) the prevalence of alcoholism in patients with S.

stercoralis detected in stools in a routine laboratory of a General Hospital;(c) the

plasma level of cortisol in alcoholic patients with and without S. stercoralis.

Patients and Methods: (1)190 alcoholic patients and 111 nonalcoholic (Baermann

method for detection of S. stercoralis, three stool samples ); (2) 156 alcoholic

patients and 591 non-alcoholic (sedimentation method for identification of S.

stercoralis, three stool samples); all alcoholic and non-alcoholic patients (controls)

attended at the University Hospital Cassiano Antônio de Moraes (HUCAM), belong

to the same socioeconomic class and lived in the same neighborhoods of the

Metropolitan Vitória. Evaluation of plasma cortisol was done in 46 alcoholic

patients, 23 with S. stercoralis. (3) 49 alcoholic patients and 129 non-alcoholic from

the out patient unit Feu Rosa in the municipal district of Serra; (4) file review of

504 alcoholic patients attended at a special unit for alcoholism in the out patients

unit of the HUCAM (during 2001 and 2002) and 591 non alcoholic patients

attended at the same Hospital. Both, the alcoholic and control groups, belong to

the same socioeconomic class and lived in similar neighborhoods of Metropolitan

Vitória; (5) review of records of patients with S. stercoralis diagnosed by stool

examination at the routine laboratory of HUCAM from January to December 2003.

Results: The prevalence of S. stercoralis was significantly higher in alcoholic

patients than in controls in all samples studied (OR from 3,41 to 4,92 with 95% CI

from 1,58 to 8,36). In the sample obtained by file review of 504 alcoholic patients,

the difference was significant for males and females, that was not observed in

other samples from HUCAM and in sample from Serra, because the small

number of alcoholic women in these groups. Among 188 patients (129 males and

59 females; p<0,05) with S. stercoralis detected in the routine laboratory of

HUCAM during 2003, chronic alcoholism was diagnosed in 41,17% of 51 patients

whose records presented a sure diagnosis of alcohol abuse. There was not

difference in the plasma cortisol levels in alcoholic patients with or without S.

stercoralis. Conclusion: Results demonstrated: (a) there was a significant

prevalence of S. stercoralis in male or female alcoholic patients; (b) there was a

significant correlation between the daily amount of ingested alcohol and the

prevalence of S. stercoralis; (c) chronic alcoholism was an independent factor

associated to the detection of S. stercoralis in stool examination; (d) the higher

prevalence of S. stercoralis in males, observed in stool examinations at the

HUCAM’s routine laboratory, probably was due to the high prevalence of alcoholic

patients (most of them males) that had medical treatment at this Hospital; (e) there

was not relation between the plasma cortisol levels and the prevalence of S.

stercoralis in the alcoholic patients in which the hormone was evaluated.

Key words: alcoholism; Strongyloides stercoralis; cortisol

INTRODUÇÃO

A estrongiloidíase é uma helmintíase primordialmente intestinal causada

pelo Strongyloides stercoralis e pelo Strongyloides fulleborni, nematódeos da

família Rhabdiasidae. Desta superfamília, um único gênero interessa à medicina:

gênero Strongyloides, e, no Brasil, a única espécie diagnosticada é o S.

stercoralis.

Segundo alguns cálculos devem existir 200 milhões de pessoas infectadas

com o S. stercoralis em todo o mundo (WHO, 1992).

O S. stercoralis é um parasita que tem como habitat o intestino delgado

mas pode disseminar-se por todo o organismo, como conseqüência da

imunossupressão natural ou adquirida, quando então pode tornar-se

potencialmente fatal. Acomete indivíduos de qualquer idade, predominando em

zonas de clima tropical ou sub-tropical (CUNHA, 1988 e GENTA, 1989).

Condições precárias de higiene, tratamento inadequado das fezes e poluição do

solo favorecem a infecção. É necessário que o terreno seja poroso, que tenha

certo grau de umidade e temperaturas favoráveis entre 25º a 30º C. Isso explica o

predomínio desta helmintíase nos trópicos (CUNHA , 1988).

No Brasil, a estrongiloidíase distribui-se por todo o país, sendo mais

freqüente nas áreas mais quentes. Os dados brasileiros sobre a prevalência desta

helmintíase são variáveis de acordo com a região, em função das condições

sócio-econômicas. A prevalência do S. stercoralis em crianças com idade variando

de 4 meses a 7 anos foi de 13%, na cidade de Uberlândia - estado de Minas

Gerais, e de 5,5% em população de adultos não alcoolistas (MACHADO e

COSTA-CRUZ, 1988; OLIVEIRA et al, 2002). No Espírito Santo, existe pouca

informação sobre a prevalência desse nematóide. Em uma amostra de 190

crianças internadas no Hospital Nossa Senhora da Glória, tomada aleatoriamente,

nas quais exames parasitológicos das fezes foram realizados em 4 amostras pelo

método de Baerman-Morais, 16 (8,4%) foram positivas para o S. stercoralis

(MOREIRA-SILVA, 1998).

A dependência do álcool, além de ser um problema médico e social,

representa um sério problema de saúde pública acometendo em torno de 11,2%

da população adulta brasileira (CARLINI et al, 2002). O uso crônico e até mesmo

agudo, pode aumentar a susceptibilidade do indivíduo a infecções (MAC

GREGOR, 1986; ROSELLE et al,1995; SZABO, 1999 ). De fato, observações em

pacientes alcoolistas crônicos ou com intoxicação aguda e em modelos

experimentais de intoxicação etílica mostram que o álcool altera a resposta

imunológica, tanto nos seus mecanismos inespecíficos ou inatos como nos seus

mecanismos específicos ou adaptativos (MAC GREGOR, 1986).

Existem poucos relatos na literatura sobre os possíveis efeitos do etanol na

evolução de parasitas intestinais, sendo todos baseados em observações

experimentais. STEVEN et al (1990) mostraram que a eliminação de Trichinella

spiralis foi retardada em ratos tratados com etanol. NA et al (1997) demonstraram

que ratos infectados com T. spiralis e tratados com etanol têm redução da

resposta inflamatória mediada por células com aumento da produção de citocinas

do tipo TH2. A baixa produção de IFN gama e o subseqüente aumento na

produção de citocinas TH2 se correlacionou com a maior sobrevivência e

fecundidade do parasita. Avaliaram os níveis séricos de corticosterona e eles

foram semelhantes nos dois grupos. Os autores admitiram que a redução nas

citocinas do tipo TH1, produzidas no início da infecção, possa ter sido o fator

fundamental na facilitação da proliferação e no retardo da eliminação do parasita.

GABURRI et al (1997) estudando pacientes cirróticos em Juiz de Fora -

Minas Gerais observaram prevalência significativamente maior de S. stercoralis

em pacientes cirróticos, especialmente nos de etiologia alcoólica. No entanto, não

teceram considerações sobre os possíveis mecanismos envolvidos, admitindo

inclusive que a doença hepática e não o etanol seria o fator mais importante na

facilitação da helmintíase.

OLIVEIRA et al (2002) avaliaram a freqüência de S. stercoralis em

alcoolistas. Foram avaliados 145 indivíduos, dos quais 45 eram dependentes do

álcool (27 alcoolistas sem cirrose hepática e sem pancreatite, 9 com cirrose

hepática e 9 com pancreatite crônica), 10 eram portadores de cirrose hepática

não-alcoólica e 90 eram indivíduos não alcoolistas assintomáticos. Foram feitos

três exames parasitológicos das fezes em dias alternados pelos métodos de

Baermann-Moraes e Lutz. A freqüência da estrongiloidíase no grupo total de

alcoolistas foi 33,3% e no subgrupo de alcoolistas com cirrose hepática, 44,4%.

Com pancreatite, 33,3% e naqueles sem cirrose hepática e sem pancreatite,

29,6%, o que foi estatisticamente mais alto que o encontrado nos controles (5,5%).

Nenhum dos indivíduos com cirrose hepática não alcoólica tinha infecção pelo S.

stercoralis. Estes resultados mostram que o álcool é um importante fator que

predispõe à estrongiloidíase.

Observação semelhante foi feita no Serviço de Gastroenterologia do

HUCAM, onde a freqüência de S. stercoralis em alcoolistas crônicos foi

significativamente maior do que em não alcoolistas atendidos no mesmo hospital

(ZAGO-GOMES, et al 2002).

Há portanto evidências de que o consumo excessivo de etanol possa estar

relacionado com um exame parasitológico positivo para o S. stercoralis, razão pela

qual planejamos a presente investigação com o objetivo de verificar a prevalência

de S. stercoralis em alcoolistas crônicos atendidos em dois diferentes serviços da

Região Metropolitana de Vitória e comparar com amostras de pacientes não

alcoolistas atendidos nos mesmos serviços.

REVISÃO DE LITERATURA

2.1- Strongyloides stercoralis e estrongiloidíase

2.1.1- Histórico

Este helminto foi descoberto em julho de 1876 por Louis Normand, um

médico do Hospital Naval em Toulon, França, nas fezes de soldados franceses

que retornavam da Cochinchina (Vietnam) razão pela qual, no passado, a doença

humana ter sido conhecida como diarréia da Cochinchina (PESSOA, 1978;

GROVE, 1996; NOLAN, GENTA, e SCHAD, 1998; CAMPOS e FERREIRA, 1999).

Os vermes foram enviados a Bavay, um colega de Normand e professor de

farmácia no Hospital Naval em Toulon, que os descreveu com o nome de

Anguillula stercoralis, no mesmo ano. Ele também reconheceu que quando as

larvas eram mantidas nas fezes por poucos dias sob condições favoráveis, estas

se desenvolviam em vermes adultos de vida livre (machos e fêmeas). Na

necropsia de alguns destes soldados que retornavam da Cochinchina e que

faleceram devido à diarréia, Normand encontrou larvas por todo o intestino, canais

biliares e pancreático e fêmeas adultas nos intestinos que, aparentemente,

diferiam dos primeiros vermes adultos de vida livre observados. Pensando tratar-

se de uma nova espécie, descreveu-os com o nome de Anguillula intestinalis.

Durante muito tempo foram assim conhecidos e até hoje os clínicos dão o nome

de “anguilulose” à moléstia determinada pelo Strongyloides, e de “anguílulas” às

larvas rabditóides encontradas nas fezes. Isso se justifica pelo fato de que fêmeas

parasitas diferem marcadamente dos adultos de vida livre e os primeiros foram

considerados uma espécie diferente. Fortaleceu esta dedução, a descoberta de

um segundo tipo de larva, a larva filarióide (posteriormente identificada como a

forma infectante) que, na história da estrongiloidíase, foi considerada a larva da

segunda espécie, A. intestinalis. Houve muita confusão com essas descobertas

nos anos que se seguiram, pois parecia que havia duas espécies com diferentes

ciclos de vida chamados de A. stercoralis, no qual a larva rabditóide aparecia nas

fezes e os vermes adultos no meio externo, e A. intestinalis, no qual os vermes

adultos eram parasitas intestinais e que geravam as larvas filarióides (NOLAN,

GENTA e SCHAD, 1998 )

Grassi e Parona (1878) mostraram que a fêmea parasita chamada de A.

intestinalis põe ovos que se rompem rapidamente, aumentando o número de

larvas rabditóides que foram conhecidas como A. stercoralis. Aparentemente, eles

tinham uma cepa homogônica do parasita porque todas as larvas rabditóides se

desenvolviam em larvas filarióides infectantes tal como foi descrito para A.

intestinalis. Isto permaneceu até que Perroncito (1881) mostrou que a larva

rabditóide se transforma em machos e fêmeas de vida livre e que estes produzem

a larva filarióide, esta última representando o estágio infectante do parasita.

Perroncito não se deu conta de que os vários estágios eram partes de um

complexo ciclo de vida alternando vida parasitária e gerações de vida-livre

(GROVE, 1996).

A correta relação entre esses estágios foi resolvida por Grassi e Parona na

Itália em 1878 (GROVE, 1996). Grassi, em 1879, criou uma nova classe que ele

chamou de Strongyloides (de strongylos, redondo, e eidos, semelhante) e

chamou o parasita de Strongyloides intestinalis. Perroncito, em 1881, cultivou o

verme adulto de vida-livre (que ele chamou de Pseudorhabditis stercoralis) a partir

da larva (agora chamada rabditóide) idêntica à do A. stercoralis, descrita por

Normand. Leuckart (1883) demonstrou que todas essas formas eram diferentes

fases no ciclo de vida de uma único parasita. Finalmente, em 1902, Stiles e Hassal

demonstraram que o parasita deveria ser chamado de Strongyloides stercoralis

(GROVE,1996 ).

Os franceses, Normand e Bavay, descobriram a doença e descreveram o

parasita; os italianos, Perroncito, Grassi e Parona elucidaram o ciclo de vida livre

e subseqüentemente, os parasitologistas alemães Looss, em 1905, e Fulleborn,

em 1914, mostraram, respectivamente, que a infecção ocorria pela penetração

pela pele e que a larva poderia migrar da pele para intestinos, via circulação,

pulmões e traquéia. Em 1911, Gage mostrou a ocorrência da auto-infecção

(NOLAN, GENTA e SCHAD, 1998).

Durme (1902), Looss (1905), Ranson (1907) e Fulleborn (1914) verificaram

que a larva de Strongyloides faz migração pulmonar e que as formas infectantes

penetram pela pele. Até recentemente, só se tinha conhecimento da existência de

formas femininas parasitas e assim eram elas consideradas partenogenéticas,

porém como Sandgroun (1926) encontrou nestas formas, espermatozóides,

considerou-as hermafroditas. Kreis (1932) descreveu o que considerou machos

parasita do gênero Strongyloides e Faust (1933-1935) assinalou a presença de

machos adolescentes no pulmão os quais inseminavam as fêmeas antes delas

alcançarem o intestino. Cram (1936-1939), trabalhando com S. ratti, concluiu que

as fêmeas do S. ratti são partenogenéticas (PESSOA, 1978).

Para alguns autores, os machos parasitas vivem no intestino delgado

profundamente encravados na mucosa. Para outros, a fêmea adolescente é

fertilizada pelo macho nos brônquios ou na traquéia antes que penetre no epitélio

intestinal. Outros pesquisadores não consideram o macho um parasita do tecido,

sendo expulso nas fezes após curto estágio no corpo. Finalmente, a maioria

considera a fêmea parasita como partenogenética, devido à impossibilidade de se

encontrar formas masculinas nas infecções experimentais ou espermatozóides

nas fêmeas, bem como pelo estudo dos cromossomos do Strongyloides. De

acordo com Chang e Grahm (1957), os cromossomos da fêmea parasita são

triplóides, sendo derivados de um ovo diplóide da fêmea de vida livre (devido à

falta de redução na divisão) que é fertilizado por um espermatozóide haplóide do

macho de vida livre (PESSOA, 1978).

Atualmente, considera-se uma forma feminina partenogenética parasita e

formas masculinas e femininas de vida livre.

Espécies do gênero Strongyloides têm sido descritas em aves, répteis,

anfíbios e mamíferos. São conhecidas pelo menos 52 espécies (GROVE, 1996;

CAMPOS e FERREIRA, 1999), entre elas o S. canis, que parasita o cão,

descoberto por Fulleborn em 1914. O rato pode ser parasitado pelo S. ratti e os

primatas pelo S. fulleborni. O S. fulleborni foi encontrado no homem por Blackie

(1932), na Rodésia, e por Wallace (1948), nas Filipinas. Pampligione e Riccard

(1972), demonstraram que esta espécie não é parasita acidental do homem,

porém parasita os habitantes de uma região da África. No Brasil esta espécie foi

estudada por Rego (1972) em macacos Rhesus naturalmente infectados.

Verificou-se que o S. fulleborni é incapaz de infectar macacos do Novo Mundo,

não conseguindo infectar rato, camundongo e cobaia. S. fulleborni “símile” tem

sido encontrado infectando crianças na Ilha de Nova Guiné (GROVE, 1996;

CAMPOS e FERREIRA, 1999; COSTA-CRUZ, 2000).

Uma característica das espécies do gênero Strongyloides é a uniformidade

morfológica, considerada como possível marcador da natureza primitiva do

parasita (Sandground, 1926).

Em resumo, a família Strongyloididae (Classe Secernentasida, Ordem

Rhabditida, Superfamília Rhabditoidea) é formada somente por três gêneros,

Strongyloides Grassi, 1879; Parastrongyloides, Morgan, 1928; e Leipernema, Sing,

1976. Os membros desta família, também chamados vermes filiformes, são

heterogônicos, com geração parasítica, de vida-livre e compreende pelo menos 52

espécies. A grande maioria das espécies não infecta o homem. Infecções patentes

não foram encontradas após infecção experimental de humanos com S. canis, S.

cebus, S. felis, S. myopotami, S. planiceps, e S. simiae (GROVE, 1996).

2.1.2- Morfologia

A fêmea parasita partenogenética é semitransparente, filiforme, medindo

aproximadamente 2,2 mm de comprimento por 0,04mm de diâmetro; parede do

corpo delicadamente estriada; extremidade anterior dotada de pequena abertura

oral que se comunica com o esôfago longo, cilíndrico, e em seguida ao intestino,

reto e ânus. Tem o aparelho genital constituído por ovário, oviduto, útero, vagina e

vulva; esta se localiza no terço posterior do corpo do verme, diferencia-se em uma

pequena vagina que se comunica com o útero; este, dirige-se tanto para a região

anterior como para a região posterior; no útero, observa-se uma fileira única de

ovos transparentes de casca fina; as alças uterinas, anterior e posterior,

diferenciam-se em ovidutos e ovários. O ovário duplo caracteriza o nematóide

como anfidelfo; ovário anterior dirige-se até próximo ao esôfago. Não há

receptáculo seminal. A fêmea parasita de S. stercoralis é considerada ovovivípara,

pois os ovos expulsos contêm uma larva no seu interior. A oviposição ocorre nas

criptas da mucosa intestinal.

Os ovos apresentam uma casca fina. Medem cerca de 50 a 58 µm de

comprimento por 30 a 34 µm de largura, em sua maioria, embrionados no

momento da postura. No interior dos ovos, encontram-se as larvas de primeiro

estágio (rabditóides). Raramente, os ovos são encontrados nas fezes do indivíduo

infectado, uma vez que as larvas eclodem muito rapidamente, nas criptas de

Lieberkuhn.

As larvas de primeiro estágio (rabditóides) eclodem dos ovos e se

insinuam no epitélio glandular e caem na luz intestinal, sendo assim encontradas

nas fezes nos infectados com S. stercoralis. Medem entre 200 a 300 µm de

comprimento por 14 a 16 µm de diâmetro. A forma em bastão do esôfago, neste

estágio, deu origem ao nome da larva. Esta larva tem o esôfago dividido em três

porções: corpo, istmo e bulbo. Ao esôfago seguem-se: intestino, reto e ânus.

Apresenta o vestíbulo bucal curto (2 a 3 µm) e o primórdio genital conspícuo. O

vestíbulo bucal corresponde à região que se inicia na cutícula da extremidade

anterior da larva até o início do esôfago; mede aproximadamente 2 µm

de comprimento. O primórdio genital corresponde a um conjunto de células

situado ao lado do intestino e no terço posterior do corpo da larva. A extremidade

posterior (cauda) termina bruscamente.

Em laboratório clínico há necessidade de se estabelecer o diagnóstico

diferencial entre larvas rabditóides de S. stercoralis com larvas de

ancilostomídeos. As larvas de ancilostomídeos apresentam um vestíbulo bucal

longo (10 µm de comprimento), o esôfago é menos nitidamente dividido em três

porções e o primórdio genital é menor do que nas larvas de Strongyloides

stercoralis. A extremidade posterior afila-se lentamente.

Antes de alcançar a fase infectante, as larvas de primeiro estágio de S.

stercoralis passam por uma fase intermediária que corresponde ao segundo

estágio ou fase pré-infectante: o esôfago perde a sua forma rabditóide, torna-se

alongado e surge uma cutícula que caracteriza a ocorrência da primeira muda

larval.

As larvas filarióides são encontradas no meio externo (fezes e solo); são

oriundas de um processo de diferenciação e segunda muda larval, a partir das

larvas rabditóides pré-infectantes. Medem aproximadamente 500 µm de

comprimento por 10 µm de largura. O tubo digestivo e constituído de esôfago,

intestino, reto e ânus. O esôfago é longo, filiforme e ocupa 40% do comprimento

do corpo da larva. A boca é provavelmente fechada e impermeável a pequenas

partículas e talvez a líquidos. A extremidade posterior termina sob forma de um

entalhe, uma estrutura típica deste estágio: a de vida livre é uma larva auto-

infectante, surgindo no hospedeiro infectado, tornando-se maior em diâmetro,

menor em comprimento e tendo um esôfago mais estrongiliforme que a larva

infectante de vida livre, conforme descreveram SCHAD et al (1993).

As fêmeas do ciclo de vida livre são encontradas no meio externo.

Medem cerca de 1mm de comprimento por 50 a 75 µm de largura. Apresentam o

esôfago do tipo rabditóide, semelhante ao da larva de primeiro estágio. Possuem o

aparelho genital do tipo anfidelfo. Os ovários, anterior e posterior, situam-se do

lado aposto à vulva. Ambos os ovários, após um certo trajeto, diferenciam-se em

oviduto, receptáculo seminal e útero. A fêmea madura apresenta o útero repleto

de ovos.

Os machos do ciclo de vida livre medem cerca de 0,7 mm de

comprimento por 40 µm de largura. Os vermes machos tem a cauda pontiaguda

que se curva anteriormente e dá ao verme uma forma de J. Possuem esôfago

rabditóide. O aparelho genital consiste de testículos, vesícula seminal e vaso

deferente que desemboca na cloaca. Quando mortos, os vermes machos

apresentam a extremidade posterior recurvada ventralmente. Nesta região, há

dois espículos iguais sustentados por uma pequena estrutura conhecida como

gubernáculo, que é uma estrutura na parede dorsal da cloaca que guia os

espículos durante sua extrusão.

2.1.3- Ciclo Biológico

O habitat das fêmeas partenogenéticas são vilosidades do duodeno e

porção posterior do jejuno, local em que depositam seus ovos e encontram

alimento. Em infecções maciças podem ser encontradas no piloro, íleo, intestino

grosso, ductos biliares e pancreáticos. Os ovos já contém as larvas no momento

da postura ao nível das criptas mucosas, onde a fêmea parasita vive. Os ovos

podem ser vistos nas mucosidades que acompanham o líquido obtido por

intubação duodenal. Como as larvas são muito ativas, elas saem dentro de

poucos instantes rompendo a fina casca do ovo.

O ciclo evolutivo do S. stercoralis é complexo. Apresenta uma fase no

hospedeiro humano (ciclo parasitário, ciclo direto ou homogônico) e uma fase no

meio externo (ciclo indireto ou heterogônico ou ciclo de vida livre).

Figura 1- Ciclo evolutivo do S. stercoralis (Copiado do CDC).

O ciclo direto ou desenvolvimento homogônico representa a

diferenciação de larvas filarióides a partir de larvas rabditóides eclodidas no

duodeno. Isso pode acontecer no meio externo ou no intestino. No meio externo,

as larvas rabditóides, alimentando-se de bactérias, sofrem duas ecdises e, após

24 a 36 horas, dão origem a larvas filarióides infectantes. Estas não se alimentam,

sobrevivem do glicogênio armazenado sob forma de reserva; permanecem na

superfície do solo ou em vegetações que lhes forneçam umidade por uma ou duas

semanas, a menos que encontrem um hospedeiro susceptível. As larvas filarióides

infectantes após atravessar a pele, circulação venosa e linfática do hospedeiro,

chegam nos pulmões via coração direito. Rompem os alvéolos pulmonares,

ascendem por via brônquica até a faringe, podendo ser expulsas com as

secreções pulmonares ou deglutidas. Ao serem deglutidas, chegam no intestino

delgado onde se transformam em fêmeas adultas, entre 17 e 21 dias após a

penetração através da pele do hospedeiro. Em seguida, inicia-se a oviposição pela

fêmea parasita. Segundo GROVE (1996), as duas ecdises do ciclo homogônico

ocorrem no intestino delgado.

Neste ciclo direto há quatro mudas ou ecdises, sendo que as duas

primeiras (L1→L2→L3) ocorrem no solo ou no intestino e as duas últimas

(L3→L4→fêmea parasita) no intestino delgado do hospedeiro, o habitat definitivo

da fêmea partenogenética.

No ciclo indireto ou heterogônico, as larvas rabditóides, oriundas da

fêmea parasita, sofrem quatro mudas dentro de 36 horas e se diferenciam em

vermes adultos machos e fêmeas sexualmente maduros. Tanto as larvas como os

vermes adultos apresentam o esôfago do tipo rabditóide. No meio ambiente, os

vermes adultos podem dar uma ou mais gerações de vida livre, antes de haver a

transformação da larva rabditóide em larva filarióide infectante. Estas podem

permanecer no solo durante muitas semanas e só continuarão o seu

desenvolvimento após alcançar o hospedeiro favorável. A larva infectante

depende de alimento armazenado para sobreviver no solo. Como não possui

cápsula envolvente, naturalmente resiste menos às agressões do meio externo do

que as larvas infectantes dos ancilostomídeos. Segundo Watson (1960), no

laboratório, a larva vive durante cinco semanas, mas no meio externo supõe-se

sobreviver menos tempo (PESSOA, 1978).

A infecção do homem ocorre com a penetração das larvas filarióides

através da pele, nas regiões menos espessas, como os espaços interdigitais ou,

menos freqüentemente, segundo de Langen (1936), através da mucosa bucal,

esofágica ou gástrica, com alimentos ou água contaminados com larvas

infectantes. A penetração da pele é rápida e, segundo Brumpt (1936), em uma

hora as larvas estariam na espessura da derme, atingindo os linfáticos ou vênulas

ou, então, na impossibilidade de atingirem estas estruturas, sucumbiriam. Através

dos vasos atingem o coração direito e daí até os capilares pulmonares. Após isso,

rompem os capilares septais e chegam à luz alveolar e bronquiolar. Ascendem por

via brônquica até a faringe, onde, deglutidas, caem no trato digestivo (PESSOA,

1978).

No homem, parece que o período pré-patente é em torno de 17 dias

(Brumpt, 1949). Admite-se em média um período entre 15 a 25 dias, tempo

necessário para a fêmea começar a expelir os ovos embrionados e larvas

rabditóides serem observadas nas fezes (PESSOA, 1978).

As larvas filarióides maduras do gênero Strongyloides, como as do

Ancylostoma e Necator, podem ocasionalmente ser ingeridas e, após

atravessarem o estômago, vão ao intestino em cuja mucosa podem penetrar,

desenvolvendo-se diretamente para dar os vermes adultos (PESSOA, 1978).

Os fatores que determinam se as larvas rabditóides do S. stercoralis vão se

desenvolver direta ou indiretamente são pobremente entendidos. Possíveis fatores

incluem diferentes cepas geneticamente determinadas, condições do organismo

do hospedeiro e a fase de vida-livre. O potencial para controle genético do

desenvolvimento é talvez melhor visto no S. ratti, no qual cepas têm sido bem

selecionadas para predizer o desenvolvimento homogônico ou heterogônico.

Segundo Berezhnaia, citado por Grove (1996, p.263), coproculturas isoladas de

diferentes áreas geográficas mostraram que as cepas tropicais desenvolvem

predominantemente de maneira indireta, em todas temperaturas, enquanto cepas

isoladas de áreas temperadas tendem a se desenvolver diretamente,

particularmente em temperaturas baixas.

Alguns autores têm estudado o papel de fatores ambientais influenciando o

S. stercoralis. Nem a temperatura nem o grau de diluição das fezes tem qualquer

efeito significativo no número de vermes adultos machos que se desenvolvem. O

número de vermes adultos fêmeas foi máximo a 20 a 30° C e o número de larvas

filarióides foi grande em temperaturas acima de 30° C. Os números de vermes

adultos fêmea caiu enquanto as larvas filarióides aumentaram quando as fezes

foram diluídas progressivamente. Estes resultados podem indicar que o sexo

masculino é estabelecido no estágio de ovo mas que o potencial de ovos com

embriões fêmeas se desenvolverem em vermes adultos fêmea ou larva filarióide

depende de circunstâncias ambientais (SHIWAKU et al, 1988).

Dos fatores do hospedeiro parece que a resposta imunitária, especialmente

anticorpos, pode influenciar no direcionamento da larva rabditóide para o ciclo

direto ou indireto: maiores taxas de IgG anti-epitopos da larva favorecem o ciclo

indireto (HARVEY et al, 2000).

Tanto no ciclo direto como no indireto as larvas filarióides migram nos

tecidos até chegar ao duodeno. Sabe-se que a larva infectante do S. stercoralis

secreta uma metaloprotease que pode facilitar a penetração na pele e a migração

através dos tecidos. Esta protease tem atividade de elastase e catalisa a

degradação da matriz extra-celular. Tem peso molecular de 40KD e é

imunogênica (BRINDLEY et al, 1995). A invasão da pele pela larva é prevenida

pelos inibidores de metaloproteases, enfatizando a importância desta enzima

como um fator de virulência do S. stercoralis (MCKERROW et al,1990).

Entretanto, não há razão para se admitir que infecção patente não se

desenvolverá se a larva infectante for ingerida; isso de fato já foi mostrado por

Wilms (1897).

Um ponto importante nessa migração é a rota, ou as rotas, que a larva

infectante segue. Os primeiros estudos foram feitos em cães traqueostomizados,

tendo sido demonstrado que a maioria das larvas passam da corrente sangüínea

para os pulmões, ascendendo para a árvore respiratória, onde são deglutidas,

chegando no intestino delgado onde elas completam o seu desenvolvimento

(Fulleborn,1914).

2.1.4- Auto-infecção (interna e externa) e hiperinfecção

A auto-infecção é uma característica que separa o S. stercoralis de quase

todos os outros vermes que infectam os humanos, possibilitando a replicação do

verme dentro do hospedeiro. Devido a isso, a infecção pode persistir por muitas

décadas; a persistência mais longa registrada é de 65 anos (GILL e BELL, 1979;

GROVE, 1980; PELLETIER et al, 1988; LEIGHTON e MACSWEEN, 1990). A

primeira suspeita da existência da auto-infecção foi em 1911, quando Gage

publicou um caso de infecção protraída e postulou que auto-infecção poderia

ocorrer por duas rotas, interna e externa.

Observações posteriores à de Gage têm reforçado a idéia de auto-

infecção. Representa forte argumento a favor da auto-infecção a comprovação da

parasitose em pacientes por longo prazo, durante o qual eles não tiveram acesso

a fontes externas de infecção. É também pouco provável a sobrevivência da

fêmea parasita por longo período. Os casos de parasitismo muito intenso podem

ser explicados por constantes auto-infecções (GENTA, 1989; LIU E WELLER,

1993; GROVE, 1996; ADEDAYO, GRELL e BELLOT, 2002).

É antiga a discussão sobre as rotas da auto-infecção na estrongiloidíase.

Fulleborn (1916) admitiu a auto-infecção, a qual se faria através da pele da região

perianal de indivíduos infectados, em cujos pêlos das margens do ânus seriam

abrigadas as larvas rabditóides, posteriormente transformadas em larvas

filarióides infectantes. Faust (1930) admitiu ainda a auto-infecção interna ou

hiper-infecção, quando as larvas rabditóides, na luz do intestino, se

metamorfoseiam em larvas filarióides durante seu trânsito intestinal. Tais

organismos infectantes podem produzir re-infecções pela invasão da mucosa do

íleo ou do cólon e alcançar o pulmão, via veia porta. Esse autor admitiu que, em

indivíduos com resistência diminuída, as larvas rabditóides, mesmo sem a

metamorfose em filarióides, poderiam invadir a parede intestinal, cair nas veias

mesentéricas e iniciar uma re-infecção. Alguns autores têm argumentado que a

rota pulmonar é justamente uma das muitas rotas possíveis para a larva atingir o

duodeno (SCHAD, AIKENS, SMITH, 1989).

Baseado em estudo de cães infectados, SCHAD et al (1993) descreveram o

que chamaram de “explosão auto-infectante”. Confirmaram que em infecções

crônicas, a maioria das larvas intestinais não atingem a infectividade mas são

eliminadas nas fezes como larva rabditóide. Em infecções primárias, em animais

imunologicamente virgens, o desenvolvimento segue adiante sem prejudicar o

hospedeiro e muitas larvas atingem o estágio infectante. Há um espectro de taxa

de desenvolvimento da larva e aquelas que se tornam infectantes podem ser uma

das que se desenvolveriam mais rapidamente. Por um curto período, há uma

hiper-infecção durante a qual ocorre aumento da população de vermes adultos no

intestino até o nível no qual o intestino suporta e o desenvolvimento é retardado.

Postula-se que, durante a auto-infecção, as larvas atravessam os linfáticos

intestinais para o ducto torácico, daí passam, via corrente sangüínea, para os

pulmões, penetrando nos alvéolos e ascendendo para vias respiratórias.

A exacerbação dos mecanismos de auto-infecção é de fundamental

importância na patogenia da estrongiloidíase humana, especialmente nas formas

graves ou fatais. Este fenômeno originou os termos estrongiloidíase sistêmica,

disseminada ou hiperinfecção. Nestas circunstâncias há disseminação de larvas

para as circulações pulmonar e sistêmica. Nas formas graves, fêmeas

partenogenéticas podem alcançar a maturidade sexual e realizar oviposição nos

pulmões. A exacerbação do ciclo auto-infectante pode resultar no aumento da

carga parasitária com agravamento do quadro intestinal, às vezes seguido de

óbito, sem disseminação de larvas pela circulação sistêmica.

2.1.5-Modelos Experimentais

Atualmente, S. stercoralis infectando cães (GROVE, 1980; SCHAD,

HELMMAN e MUNCEY, 1984) e macacos (Erythrocebus patas) (GENTA, 1984;

BARRET et al, 1988 ) são usados como modelos para estudo da estrongiloidíase

humana. Embora estas espécies sejam hospedeiros naturais para o S. stercoralis,

eles não são ideais como hospedeiros de laboratório pois são animais

relativamente grandes e caros para se comprar e manter. Outra possibilidade de

modelo laboratorial são os gatos, que toleram apenas infecções transitórias e o

furão (Mustela putorius furo), que desenvolve infecções importantes somente após

imunossupressão (DAVIDSON, 1988). Roedores investigados (camundongo, rato,

cobaios) e coelhos não desenvolvem infecções sustentadas pelo S. stercoralis.

A incapacidade do S. stercoralis desenvolver-se na maioria dos animais

pequenos tem sido o principal impedimento na obtenção de informações sobre a

patogênese dessa parasitose.

Foi mostrado que os gerbilos (Meriones unguiculatus) podem ser infectados

com S. stercoralis (NOLAN et al, 1993), mas os mesmos são resistentes a re-

infecção (NOLAN et al, 1995). Quando são infectados com quantidade suficientes

de larva infectante ( L3i ) e em idade adequada, estas irão em curto espaço de

tempo amplificar a população de vermes adultos, como ocorre em cães. Isso faz

dos gerbilos o modelo de escolha para investigações laboratoriais de infecções

pelo S. stercoralis (KERLIN, NOLAN e SCHAD, 1995; NOLAN, BHOPALE e

SCHAD, 1999).

Larva rabditóide e vermes adultos foram recuperados de gerbilos machos

por pelo menos 131 dias após a infecção. No caso de gerbilos fêmeas, vermes

intestinais não foram vistos após 70 dias da infecção. Os autores interpretaram

que em gerbilos machos a duração da vida de vermes adultos é 131 dias, pois

eles não encontraram nenhuma larva auto-infectante circulando. Pode ser que a

auto-infecção ocorra em baixos níveis, abaixo da sensibilidade da necropsia em

encontrar larvas migrando (NOLAN et al, 1993).

Gerbilos tratados com acetato de metilpredinosolona tiveram auto-infecção,

mimetizando uma característica da infecção em humanos. Auto-infecção nunca

ocorreu em gerbilos não tratados com corticóides (NOLAN et al, 1993).

KERLIN, NOLAN e SCHAD (1995) estudaram a histopatologia na

estrongiloidíase não complicada e na hiper-infecção em gerbilos. Gerbilos com

hiper-infecção desenvolveram grave hemorragia pulmonar, com vários graus de

pneumonia eosinofílica intersticial sub-aguda, associada com numerosas larvas

nos alvéolos, no interstício e no compartimento vascular. Hiper-infecção induzida

por corticosteróides, dado antes da inoculação de larvas do S. stercoralis ou após

a infecção crônica pelo S. stercoralis, produziu lesões semelhantes. Vermes

adultos não estavam associados com inflamação e não foram mais comuns em

gerbilos tratados com corticosteróides. De modo diverso, pulmões de gerbilos com

estrongiloidíase não-complicada tinham grave vasculite e peri-vasculite

eosinofílica com pouca hemorragia, sem pneumonia e sem larvas.

Transmissão trans-mamária em gerbilos, lactentes de fêmeas parasitadas

foi demonstrada (NOLAN et al, 1993).

Os ovos raramente são encontrados em fezes frescas, lembrando a

infecção humana com S. stercoralis, onde as larvas rabditóides (L1) são

caracteristicamente expelidas.

Furão (Mustela putorius furo) não parece ser suscetível à infecção sob

condições normais. Entretanto, após tratamento com metilprednisolona, tem

infecção importante, mas disseminação da infecção não foi vista

(DAVIDSON,1988). Pode ser infectado com cepas humanas de S. stercoralis e ser

usado como fonte para larvas.

Sabe-se que os cães são susceptíveis à infecção com S. stercoralis e,

durante algum tempo, foram utilizados como modelo experimental, tendo SCHAD,

HELLMAN e MUNCEY (1984) re-introduzido o seu uso nos últimos 20 anos. Eles

estudaram hiperinfecção em cães imunossuprimidos e observaram que auto-

infecção ocorre em cães infectados com S. stercoralis e que, se esta infecção

persiste por um longo tempo em hospedeiros imunossuprimidos, hiperinfecção

maciça e mesmo infecção disseminada, podem ocorrer, demonstrando que a

infecção do cão pode ser um excelente modelo para hiper-infecção humana e

estrongiloidíase disseminada (GROVE, HEENAN e NORTHERN, 1983; SCHAD,

HELLMAN e MUNCKEY, 1984; GENTA, SCHAD e HELLMAN, 1986).

Deficiência de IgA em cães, aparentemente, não afeta o curso ou gravidade

da infecção com S. stercoralis. Resultados de estudos em cães mostraram que

elevações da IgA no soro e nas fezes não estão correlacionadas com a resistência

ao parasita. Níveis aumentados de IgA, publicados em alguns estudos, pode ser

meramente um resultado da estimulação policlonal pelo parasita e não ter papel

funcional na resistência (MANSFIELD e SCHAD, 1992).

Transmissão trans-mamária e trans-placentária do S. stercoralis não foi

observada em uma cadela infectada (MANSFIELD e SCHAD, 1995). Como este

experimento envolveu apenas um animal, os resultados são meramente

especulativos, mas servem como preliminar para estudos adicionais sobre

transmissão vertical do parasita em modelos animais.

O macaco (Erythrocebus patas) é um excelente modelo para se estudar

estrongiloidíase. Doença disseminada pode ser produzida agudamente durante a

infecção primária em animal virgem, ou pelo uso de esteróides para converter

infecção crônica assintomática em doença fulminante letal. O espectro patológico

mimetiza o visto em humanos, incluindo graves lesões pulmonares e colônicas

pela hiper-infecção larval (HAPER et al 1984).

2.1.6- A resposta imunitária na infecção pelo Strongyloides stercoralis

O problema central na estrongiloidíase humana é a capacidade do parasita

se reproduzir e persistir no hospedeiro, indefinidamente (BARRET et al,1988).

Essa infecção crônica é usualmente silenciosa, mas, se o sistema imunitário é

alterado, o nematóide pode se multiplicar rapidamente e disseminar para órgãos

distantes, geralmente causando morte (GENTA, 1984) ou estrongiloidíase grave,

como citada na publicação de dois casos de estrongiloidíase grave em pacientes

portadores de hepatite C, após início da terapia com interferon e ribavirina, onde

postulou-se que a ação imunossupressiva ou imunomoduladora da ribavirina

poderia estar associada à estrongiloidíase grave pela alteração da resposta

imunitária celular e/ou humoral (PARANA et al, 2000).

Os pontos nos quais os mecanismos efetores de defesas atuariam para

controlar o número de vermes incluem: (1) diminuição da duração da vida de

vermes adultos no intestino; (2) diminuição da fecundidade de vermes adultos no

intestino; (3) prejuízo da transformação de larva rabditóide em larva infectante in

vivo; (4) diminuição da sobrevida da larva infectante no lúmen intestinal; (5)

destruição da larva filarióide migrando através dos tecidos; (6) indução de falha no

desenvolvimento da larva de terceiro-estágio para vermes parasitas adultos

fêmeas.

O mecanismo imunitário que confere proteção à disseminação não é bem

entendido, mas existem evidências de que a resposta Th2, através da síntese de

IL-4, IL-5, e conseqüente produção de IgE, eosinofilia e mastocitose está

envolvida na destruição do parasita. Em modelos experimentais há associação

entre a resposta Th2 e a proteção contra helmintos. A produção de IL-4 é

importante para essa proteção, limita a gravidade da infecção e age na fisiologia

do intestino, aumentando o conteúdo de fluidos no trato digestivo, além de ativar

mastócitos. O acúmulo de fluidos decorre do aumento da permeabilidade intestinal

e redução da absorção de líquidos. IL-12 e IFN-γ inibem a imunidade protetora

contra estes parasitos (FINKELMAN et al, 1994 e 1997).

A avaliação da resposta imunitária no indivíduo infectado mostra resultados

variáveis. A resposta “in vitro” de células mononucleares de sangue periférico a

antígenos do parasita pode ser pequena ou ausente. A avaliação de anticorpos

IgG, IgE total e específica contra antígenos do S. stercoralis não mostrou

correlação entre essas imunoglobulinas e as formas clínicas na estrongiloidíase

humana. É possível que mecanismos de resposta imunitária na mucosa e não os

que se manifestam perifericamente, sejam responsáveis pela proteção contra a

doença disseminada (BADARÓ et al, 1987 ; ROSSI et al 1993; NAWA et al, 1994).

Estudo em macacos demonstrou que os mastócitos podem degranular em

resposta aos antígenos dos parasitas e que este evento tem um papel na proteção

do hospedeiro. BARRET et al (1988) avaliaram o número de mastócitos e a

reatividade destas células aos antígenos do parasita em macacos (Erythrocebus

patas) infectados com cepas humanas de S. stercoralis. Tanto a infecção inicial

como a re-infecção estavam associadas com aumento de histamina e aumento do

número de mastócitos no jejuno e que estas células liberavam histamina em

resposta aos antígenos parasitários. Durante a fase crônica da infecção, o número

de mastócitos retornava ao normal. Após tratamento com esteróides, as células

perdiam a capacidade de responder à estimulação antigênica. Curso mais

prolongado de tratamento com esteróides foi associado com reativação da

infecção crônica para doença disseminada fatal e com marcada diminuição do

número de mastócitos e histamina no jejuno. Se os mastócitos se tornam

seletivamente dessensibilizados aos antígenos do parasita, isso pode representar

um mecanismo permissivo para que o parasita permaneça no intestino. Estes

dados são consistentes com a hipótese de que os mastócitos ativados podem

representar um importante mecanismo efetor na contenção da infecção inicial e re-

infecções por S. stercoralis em macacos e uma proteção contra doença

disseminada. Os mecanismos mediados pelos mastócitos podem ser diretos,

devido a capacidade dos mediadores destas células em lesar diretamente os

helmintos, ou indiretos, via capacidade desses mediadores em atrair e modular a

função de outras células “helmintocidas”, como os eosinófilos.

O mecanismo efetuador da resistência contra o S. stercoralis pode se

manifestar através de destruição do verme adulto ou das larvas durante a auto-

infecção. Em torno das larvas observa-se infiltrado de eosinófilos e tem sido

demonstrado que os grânulos liberados dos eosinófilos são tóxicos para as larvas

infectantes (L3) de S. stercoralis . Devido a isso, tem sido aventada a possibilidade

de que o mecanismo de citotoxicidade celular dependente de anticorpo (ADCC)

seja uma forma de defesa contra este helminto. Além do aumento do número de

eosinófilos, tem sido demonstrado, em pacientes infectados por helmintos, um

aumento da sua capacidade helmintotóxica (PORTO et al, 2002). “In vitro”, tem

sido mostrado que o parasita pode ativar a cascata do complemento, resultando

na produção da C5a e C3a que ativariam os eosinófilos e neutrófilos, causando

sua degranulação (TAKAFUJI et al, 1994).

Pacientes com formas leves e assintomáticas de estrongiloidíase

apresentam níveis elevados de IgE total e IgE específica contra antígenos do

parasita e pacientes com forma grave da doença apresentam-se com níveis

baixos destas imunoglobulinas (ROSSI et al 1993; PORTO et al, 2002).

2.1.7- Os mecanismos envolvidos nas formas disseminadas da

estrongiloidíase

A estrongiloidíase pode cronificar-se, devido à auto-infecção interna ou

externa, mas o indivíduo pode perder esta capacidade de limitar o tamanho

populacional do parasita quando se encontra imunossuprimido, em particular

quando usa corticosteróides. Sendo assim, ocorre um grande aumento da carga

parasitária, podendo as larvas filarióides ser encontradas em diversos órgãos do

organismo (CAMPOS e FERREIRA, 1999). Em estados de imunossupressão, até

as fêmeas partenogenéticas podem disseminar-se para diferentes órgãos (p.ex:

pulmões) e neles realizar a oviposição. A disseminação ocorre mais

freqüentemente em indivíduos com depressão da imunidade celular por drogas ou

doenças. Os corticóides, usados em transplantes de órgãos, tratamento de

neoplasias hematológicas e doenças auto-imunes, são as drogas mais

freqüentemente associadas à síndrome de hiperinfecção (IGRA-SIEGMAN et al,

1981). Enquanto linfoma, leucemia crônica, tumores sólidos, infecção por

micobactérias, a desnutrição e o alcoolismo são as doenças mais freqüentemente

a ela associadas. Em torno de 13% dos casos de disseminação e hiperinfecção,

não é possível identificar depressão da imunidade (IGRA-SIEGMAN et al, 1981).

Os mecanismos exatos envolvidos na disseminação da infecção pelo S.

stercoralis não são totalmente compreendidos (GENTA et al, 1983; GENTA, 1984;

NEVA, 1986; BARRET et al, 1988; LIU e WELLER, 1993). A existência de casos

de estrongiloidíase disseminada sem evidência de imunossupressão (GENTA et

al, 1983) e a baixa prevalência da disseminação do S. stercoralis em pacientes

com AIDS (Síndrome da imuno-deficiência adquirida) mostram serem muito

complexos os fatores envolvidos no processo. Seria esperado que indivíduos

infectados pelo HIV apresentassem freqüente disseminação do parasito. Porém

isso não ocorre, havendo poucos relatos de casos de disseminação em pacientes

HIV positivos. A prevalência de S. stercoralis em pacientes HIV positivos, avaliada

em diferentes regiões, não diferiu da observada, em pacientes pareados, HIV

negativos (VIEIRA et al, 1985; COURA, 1987; PETITHORY e DEROUIN, 1987;

DIAS et al, 1992; COSTA-CRUZ, FERREIRA, ROSSIN, 1996; TRIONE et al, 2001;

KIM e LUPATKIN, 2004). No Brasil, um estudo realizado por DIAS et al (1992), em

São Paulo, mostrou que a prevalência de larvas nas fezes de pacientes com AIDS

foi semelhante a de pacientes não-infectados pelo HIV (respectivamente 9,75% e

10,56%). No entanto, FEITOSA et al (2001), na Bahia, verificaram que a

prevalência S. stercoralis e G. lamblia foi maior em indivíduos HIV positivos. A

presença de infecção parasitária não foi associada a uma progressão mais rápida

da doença. Outras observações feitas em regiões endêmicas para parasitoses

intestinais e HIV, como na África, mostraram que a associação do S. stercoralis e

HIV parece não ser freqüente, e como não há evidências clínicas e

epidemiológicas que sustentem a hipótese que a infecção pelo HIV predispõe à

estrongiloidíase extra-intestinal, foi sugerido que esta parasitose não deveria ser

incluída na definição clínica de AIDS (PETITHORY e DEROUIN, 1987).

Uma explicação do motivo pelo qual a infecção pelo HIV não leva à

estrongiloidíase disseminada foi aventada recentemente, com base em estudo

realizado em africanos HIV positivos. Nos indivíduos HIV positivos, com função

imunitária deficiente, identificada pela contagem baixa de linfócitos CD4+ e pelo

estadiamento clínico, o desenvolvimento do S. stercoralis pelo ciclo indireto foi

mais freqüente, quando comparado com indivíduos HIV positivos com função

imunitária preservada. Como a auto-infecção é facilitada pelo ciclo direto do

desenvolvimento da larva, aquela seria menos freqüente nos pacientes com AIDS

(VINEY et al, 2004).

Estudos experimentais em ratos infectados com S. ratti, têm sugerido

importante papel da IgG na resposta protetora contra a migração larvar. A

ausência ou baixos títulos de anticorpos anti-S. ratti favorece o desenvolvimento

da larva no ciclo direto e a presença dos anticorpos favorecem o desenvolvimento

do ciclo indireto, em machos e fêmeas de vida livre (HARVEY et al, 2000).

A ausência de relação entre resposta IgG anti-S. stercoralis e contagem

de células CD4 e CD8 ou relação CD4:CD8, observada no estudo de VINEY et al

(2004), sugere que no estadio avançado da doença, a resposta IgG ao S.

stercoralis não estaria alterada, apesar da profunda depressão da imunidade

celular. De fato, na infecção pelo HIV a resposta Th1 está prejudicada e há

evidência que a resposta Th2 predomina. Portanto os níveis de IgG anti-

Strongyloides existentes mesmo nas formas avançadas da AIDS ainda mantêm o

estímulo para a diferenciação das larvas para machos e fêmeas e não para larvas

filarióides infectantes (VINEY et al, 2004).

Argumenta-se que a imunodepressão iatrogênica, responsável pela maior

parte dos casos de disseminação, é diferente daquela induzida pelo HIV. Isso

reforça a teoria de que a limitação da infecção está ligada, ao menos em parte, a

mecanismos de defesa de mucosa, como foi observado em estudo realizado em

macacos tratados com prednisona (BARRET et al, 1988). Nesses animais, a

disseminação ocorria independente da resposta sistêmica, tanto humoral quanto

celular, que se encontravam adequadas, porém estava fortemente ligada com a

dessensibilização de mastócitos e diminuição da produção de histamina à nível de

mucosa. Isso levanta a hipótese de que a defesa local mediada por mastócitos

pode ser responsável pelo controle da intensidade da infecção, tanto diretamente,

pela capacidade dessas células de lesar os vermes, quanto indiretamente, através

da habilidade de substâncias liberadas pelos mastócitos em atrair e modular a

função de células “helmintocidas” como os eosinófilos.

Embora falha imunitária tenha sido admitida como a base das infecções

graves, complicadas, com S. stercoralis (IGRA-SIEGMAN et al, 1981; GENTA,

1986; GROVE, 1989), recentemente, GENTA (1992) tem argumentado contra a

hipótese de a imunidade ser importante nessa disseminação, pelos seguintes

motivos: (1) tem havido poucas publicações de infecção disseminada em má

nutrição protéico-calórica (uma causa admitida como importante de falha de

imunidade); (2) infecção disseminada não é comum em lepra lepromatosa,

condição com depressão de resposta celular, a menos que os pacientes tenham

recebido corticosteróides; (3) infecção disseminada tem sido incomum em

transplante renal desde a introdução da ciclosporina A; (4) infecção disseminada

não é proeminente em AIDS ou em infecção pelo HTLV.

Parece que há razões para estas aparentes contradições. Estrongiloidíase

grave, complicada no contexto de má nutrição protéico-calórica é provável ocorrer

em áreas onde serviços médicos são precários e publicações são raras;

ciclosporina utilizada nos transplantados renais pode ter efeito anti-Strongyloides

(SCHAD, 1986) e disseminação do parasita pode ocorrer em infecções retro-

virais, mas pode ser pouco relatada em áreas endêmicas para HIV e S.

stercoralis, por razões já citadas acima.

NEVA (1986) levantou a possibilidade de um efeito direto dos

corticosteróides sobre as fêmeas partenogenéticas, levando a um aumento da

oviposição, ou sobre as larvas rabditóides, acelerando a sua transformação em

larvas filarióides como uma tentativa de justificar a forte ligação entre esse grupo

de drogas, em particular, e as formas graves de infecção pelo S. stercoralis.

GENTA (1992) propôs que a administração de corticosteróides e seu

subseqüente metabolismo pode resultar em aumento na produção de moléculas

semelhantes a ecdisteróides. Esses são hormônios de muda, relacionados ao 20-

hidroxi-ecdisona, que controlam a muda em insetos e possivelmente em

helmintos. Podem ser encontrados no soro e urina de pacientes infectados com

helmintos. Presume-se que essas substâncias são produzidas pelos parasitas e

podem ser usadas como marcador de infecção parasitária e na avaliação pós-

tratamento com anti-parasitários. Quantidades aumentadas destas substâncias

podem aumentar a taxa de muda levando ao ciclo direto e disseminação da

infecção. Esta é uma teoria que merece ser investigada, pois até o momento

permanece como especulativa. LANSOUD-SOUKATE et al (1990), pesquisaram

compostos semelhante a ecdisteróides no soro e urina de pacientes africanos

infectados com dois tipos de microfilárias Loa loa e Mansonella perstans e viram

que os títulos de ecdisteróides foram estatisticamente maiores em pacientes

microfilariêmicos, mas eles não se correlacionaram com a concentração da

microfilária no sangue. Pode ser que esta substância não tenha sido produzida

pela microfilária. Uma outra possibilidade é que níveis anormalmente altos de

ecdisteróides possa ser um efeito indireto da infecção, ou derivar do

desenvolvimento da larva, como ocorre com Schistosoma mansoni em que uma

larva de 11 dias tem maiores níveis de ecdisteróides que uma schistosomulo

infectante, ou ser devido a uma doença indetectável associada com os parasitas.

Devemos também considerar a possível contribuição da fonte dietética de

ecdisteróides.

Além disso, NEVA (1993) observou muitos casos de estrongiloidíase grave

no Caribe em pacientes que não receberam corticosteróides e especulou que a

hiperinfecção foi provavelmente devido a co-infecção com HTLV-1, naqueles que

tinham imunidade suprimida. Estas duas teorias não são mutuamente exclusivas e

é possível que ambas, imunidade e ação de ecdisteróides, sejam importantes.

2.1.8- Strongyloides stercoralis e infecção com o vírus HTLV-1

O HTLV (vírus linfotrópico para células T humanas tipos 1 e 2, sub-família

Oncovirinae, família Retroviridae) é retro-vírus que tem relação causal com

leucemia de células T em adultos e paraparesia espástica tropical (também

chamada de mielopatia associada ao HTLV-1)(MARSH, 1996). Infectam células T

CD4+, com integração do genoma viral ao genoma da célula hospedeira. Os

modos de transmissão são sexual, parenteral (via transfusão de sangue e

compartilhamento de seringa) e, vertical (transplacentária e via aleitamento

materno). As áreas de maior prevalência são o Caribe (4 a 9%) e ilhas do

sudoeste do Japão (37%). No Brasil é variável de 0,08 a 1,35%, sendo a maior

prevalência na cidade de Salvador (GABBAI et al, 1993; BROUTET et al, 1996;

CHIEFFI et al, 2000; GALVÃO LOURES E RODRIGUES,1997).

Foi estabelecido que HTLV-1 causa imunossupressão em pacientes com

leucemia de células T de adultos ou linfoma (ATL), mas imunossupressão sub-

clínica tem sido postulada para infecções não malignas. Infecção com HTLV-1 tem

sido associada com alteração da função dos linfócitos “in vitro” e com diminuição

significativa dos níveis séricos de IgE em pessoas saudáveis (MATSUMOTO et al,

1990).

A co-infecção S. stercoralis e HTLV-1 parece ser freqüente embora haja

resultados discrepantes nos relatos de diferentes regiões. Uma associação

significativa tem sido descrita em Okinawa e nas Ilhas do Caribe (NAKADA et al,

1984 e 1987; SATO et al, 1994; TERRY et al, 1989; ROBINSON et al, 1994). Às

vezes existe forte associação quando se avalia a infecção com S. stercoralis

através da detecção de larvas nas fezes, fato não observado quando se usa teste

sorológico (ROBINSON et al, 1994). A não associação entre as duas infecções foi

não co-infectados com HTLV-1 (TERRY et al, 1989; TOMA et al, 2000; SATO et

al, 1994; TERASHIMA et al 2002).

Trabalho realizado em doadores de sangue no estado de São Paulo –

Brasil (CHIEFFI et al, 2000), estudando doadores de sangue co-infectados com

HTLV-1 e S. stercoralis verificou que a freqüência do S. stercoralis foi

significativamente maior no grupo infectado com HTLV-1 (12,1% x 1,6%). Estes

resultados sugerem que pacientes infectados com HTLV-1 mesmo quando

assintomáticos, devem ser considerados como um grupo de alto risco para

infecção com S. stercoralis na municipalidade de São Paulo.

A associação entre HTLV-1 e S. stercoralis pode ser explicada pelo

estímulo da célula Th1 pelo vírus, com a redução de resposta Th2 favorecendo

assim a instalação da parasitose. De fato, indivíduos infectados pelo HTLV-1

apresentam redução na produção de IL-4, IL-5, IL-13 e IgE, componentes

participantes dos mecanismos de defesa contra S. stercoralis. Ocorre também

aumento do IFN-gama e IL-10. Estas alterações constituem a base para maior

freqüência e maior gravidade da estrongiloidíase em pacientes infectados pelo

HTLV-1 (NEVA et al, 1998; PORTO et al, 2001; PORTO et al, 2002; CARVALHO e

PORTO, 2004).

2.1.9- Anatomia patológica e patogênese das lesões na infecção pelo S.

stercoralis

Este helminto estimula resposta imune vigorosa, a qual pode, em muitos

indivíduos, erradicar por completo a infecção na ausência de qualquer tratamento

específico. No entanto, a maioria dos infectados não consegue eliminar o parasita,

tornando-se portador de uma forma crônica da infecção, na maior parte das vezes

assintomática ou oligossintomática.

As lesões devidas ao S. stercoralis relacionam-se com a penetração da

larva no hospedeiro, com sua migração durante o ciclo pulmonar e com sua

permanência e multiplicação na mucosa intestinal ou em locais ectópicos (REY,

1992).

Lesões cutâneas: em geral são discretas e podem ser vistas como pontos

ou placas eritematosas nos locais de penetração das larvas infectantes, tanto na

pele como na mucosa bucal, que desaparecem dentro de uma a duas semanas

(PESSOA, 1978). Quando ocorre auto-infecção externa, surgem em torno do ânus

ou regiões adjacentes lesões urticariformes transitórias, recorrentes (REY, 1992).

Lesões pulmonares: as larvas produzem hemorragias petequiais ou

profusas, quando passam dos capilares para os alvéolos pulmonares, onde

realizam suas mudas e aumentam de tamanho. As lesões inflamatórias são as de

uma pneumonite difusa que podem complicar-se com fenômenos alérgicos,

determinando infiltrados pulmonares transitórios, configurando a síndrome de

Loeffler, ou então broncopneumonia por invasão bacteriana secundária. As larvas

podem ser encontradas no escarro e em derrames pleurais (REY, 1992).

Lesões intestinais: no duodeno e no jejuno, a presença e atividade das

fêmeas, sua oviposição, bem como a eclosão e migração das larvas, na

espessura da mucosa, produzem lesões mecânicas, histolíticas e irritativas que

levam a uma inflamação catarral. As fêmeas raramente ultrapassam a muscular

mucosa; alojam-se, via de regra, no interior das glândulas de Lieberkuhn onde é

feita a postura dos ovos e posterior liberação das larvas. As larvas exercem ação

traumática e provavelmente tóxica na mucosa intestinal que mostra uma

inflamação catarral crônica. Pontos hemorrágicos e ulcerações de vários

tamanhos podem ser vistos em quantidade dependente da carga parasitária.

Congestão e edema, que tornam as paredes do duodeno e jejuno espessas, as

pregas mucosas tumefeitas e as vilosidades alargadas e achatadas, completam o

quadro da duodeno-jejunite catarral. O edema pode atingir a submucosa. Nas

infecções maciças, pode ocorrer espessamento da parede do intestino,

transformando-o num tubo rijo. Assim ocorre estreitamento da luz do intestino,

simulando uma obstrução do segmento atingido, que pode ser confundido com

neoplasia ou outras afecções do delgado, ao exame radiológico. A invasão

bacteriana secundária determina a formação de úlceras grosseiras e organização

fibrosa, caracterizando as formas graves da doença. Nesta forma ocorre também

a obstrução linfática devida à migração de larvas que determina um quadro de

endo e perilinfangite granulomatosa. Devido a isto, ocorre a linfangiectasia e o

edema da mucosa e submucosa (de PAOLA, 1962).

2.1.10- Quadro clínico Na estrongiloidíase não complicada, a maioria dos pacientes são

assintomáticos ou apresentam discretos sinais e sintomas cutâneos, pulmonares

e/ou abdominais de forma intermitente (GENTA, 1987; LIU e WELLER 1988;

PELLETIER et al, 1988; LIU e WELLER, 1993; GROVE, 1996).

A pequena freqüência de detecção da fase aguda da infecção pelo S.

stercoralis em áreas endêmicas sugere que essa fase é assintomática ou mal

diagnosticada (CARVALHO FILHO, 1978).

A penetração cutânea é geralmente assintomática, mas pode acompanhar-

se de eritema, prurido, edema local e manifestações urticariformes. Estas são

intensas em pacientes que desenvolvem hipersensibilidade aos produtos

parasitários.

Urticária recorrente, com freqüência envolvendo as nádegas, tronco e os

punhos, é a manifestação cutânea mais comum. As larvas que estão migrando

podem evocar um erupção urticariforme, migratória e serpiginosa, patognomônica,

denominada larva currens – uma lesão que avança rapidamente, 5 a 10 cm/hora,

o que pode ser perceptível durante o exame físico (LIU e WELLER, 1993;

GROVE, 1996).

O quadro pulmonar inicia-se poucos dias depois da penetração das larvas.

Os sintomas pulmonares são raros na estrongiloidíase não complicada. Pode se

manifestar como tosse, expectoração, febre e mal-estar. Por vezes, os sintomas

são os de uma broncopneumonia ou de uma pneumonia atípica (LIU e WELLER,

1993; GROVE, 1996).

A sintomatologia mais importante é a relacionada com o aparelho digestivo,

que pode variar desde quadros mais benignos ou assintomáticos até formas

graves e dramáticas. Pode ocorrer dor abdominal, principalmente mesogástrica,

que simula a dor da úlcera péptica, exceto por ser agravada pela ingestão

alimentar.

Surtos de diarréia com três a seis evacuações/dia, com fezes ora pastosas

ora líquidas, sem muco ou sangue, que intercalam-se com períodos de

constipação intestinal. As crises de disenteria com fezes muco-sanguinolentas

devem corresponder às formas agudas da doença. Os pacientes são

assintomáticos entre os surtos (CARVALHO FILHO, 1978).

Os pacientes queixam-se de desconforto abdominal ou dores vagas, tipo

cólica, em crises de 1 a 2 dias, com intervalos variáveis de mais ou menos uma

semana, além de náuseas e anorexia (LIU e WELLER, 1993; GROVE, 1996).

Podem ocorrer sintomas gerais como febre, emagrecimento, astenia,

desidratação, palpitações, sonolência, tonturas, irritabilidade e depressão.

2.1.11- Diagnóstico da infecção

O diagnóstico definitivo da estrongiloidíase é usualmente feito com base na

detecção das larvas nas fezes (GROVE, 1994; SIDDIQUI e BERK, 2001). Na

estrongiloidíase não complicada, a carga parasitária no intestino é geralmente

pequena e a eliminação das larvas é mínima e irregular (GENTA, 1986; NEVA,

1986; LIU e WELLER, 1993; SILVA et al, 2003).

Larvas rabditóides nas fezes são geralmente esparsas, com a maioria dos

pacientes eliminando 100-2000 larvas/dia, sendo o equivalente a 0-20 larvas por

grama de fezes. Cada verme adulto tem, em média, uma dúzia de ovos mas a

taxa de eliminação não é conhecida.

Pesquisa de Larvas em Amostras Fecais. Em fezes frescas são

encontradas as larvas rabditóides de S. stercoralis mas não os ovos, que eclodem

logo depois da oviposição, ainda na mucosa intestinal (LIU e WELLER, 1988). Em

fezes envelhecidas (eliminadas há mais de 24 horas) ou quando o trânsito

intestinal é muito demorado ou ainda, no caso de hiper-infecção, larvas filarióides

podem ser detectadas nas fezes (FERREIRA, 1991).

Infelizmente, as larvas rabditóides são difíceis de serem vistas nas fezes,

pois são excretadas em pequena quantidade e de forma intermitente (VAN DER

FELTZ et al, 1999).

O diagnóstico pode ser feito pelo exame microscópico direto, pelos métodos

de concentração com formol-éter (LIU e WELLER, 1993), mas o método de

Baermann é o mais sensível (PESSOA, 1978; FERREIRA, 1991; LIU e WELLER,

1993; CAMPOS e FERREIRA, 1999).

Para extração de larvas, recomenda-se o método de Baermann-Moraes

sete dias. No ciclo biológico do S. stercoralis exacerbações agudas são

intercaladas com períodos de remissão de 4 a 6 meses. Nesse período, é difícil

demonstrar a excreção larvar. Mesmo um tratamento ineficaz pode inativar

temporariamente o parasita e então, após o mesmo, o parasita pode ganhar

vitalidade e as larvas reaparecerem nas fezes.

Técnicas de coprocultura aumentam a possibilidade de se diagnosticar

infecções por S. stercoralis. É feita pelo método de Harada-Mori (em tubos de

ensaio) ou pelo método de Baermann de cultivo sobre carvão ativado em placas

fechadas, que requerem menores quantidades de fezes e se adaptam melhor aos

inquéritos parasitológicos de massa (REY, 1992).

SATO et al (1995) compararam a eficácia de quatro métodos de exames

coprológicos em diagnosticar S. stercoralis. A maior taxa de detecção foi obtida

pela cultura em placa de Agar (+96%) quando comparada com o exame direto,

concentração éter-formalina e método de cultura Harada-Mori, que são métodos

convencionais para detecção das lavras nas fezes. Esses métodos convencionais

não são sensíveis o suficiente para diagnosticar os casos crônicos pois, nestes

casos, as larvas estão presentes em pequena quantidade. A cultura em placa de

Agar usa mais fezes que os métodos convencionais e é duas a três vezes mais

efetiva que tais métodos. Embora a cultura em placa de Agar seja mais sensível

que o método de Baermann, esse tem vantagens em termos custo-efetividade e

tempo para se obter os resultados.

KAMINSKY (1993) avaliou três métodos (método direto, Baermann

modificado e cultura em placa de Agar) para o diagnóstico laboratorial da infecção

pelo S. stercoralis e mostrou que a cultura em placa de Agar é 4,4 vezes mais

eficiente que o método direto e 0,8% mais eficiente que o método de Baermann.

Os médicos devem ficar alertas quando o laboratório libera um resultado de

exame parasitológico positivo para larva de ancilostomídeo pois pode haver a

possibilidade de enganar-se e ser a larva de S. stercoralis (LIU e WELLER, 1993).

É importante dar-se conta de que resultados negativos não

necessariamente indicam ausência de infecção de forma inequívoca (SATO et al,

1995; SATO, KOBAYASHI e SHIROMA, 1995; VAN DER FELTZ et al, 1999;

CAMPOS e FERREIRA, 1999).

Pesquisa de larvas em material de conteúdo duodenal. Temos o

Os testes sorológicos apresentam os seguintes problemas: (1) falta de

antígenos padronizados, já que se usam extratos brutos de larvas ou de vermes

adultos; (2) necessidade de se ter antígenos de outros helmintos para adsorver os

soros antes do teste para minimizar as reações cruzadas; (c) os métodos

sorológicos de rotina identificam os anticorpos mas não indicam se resultam de

infecção presente ou passada (LIU e WELLER, 1993; GROVE 1996).

Os exames sorológicos têm utilidade nos inquéritos epidemiológicos para

separar os que tem reação positiva e neles fazer repetidos exames parasitológicos

(SATO, KOBAYASHI e SHIROMA, 1995). De modo semelhante, em casos com

suspeita clínica, mas com exame parasitológico negativo, um teste ELISA positivo

indica necessidade de repetir a pesquisa da larva e o teste ELISA negativo,

nesses casos, quase que elimina a possibilidade da infecção.

A sorologia pode ser útil na monitorização do tratamento. A permanência

dos títulos de anticorpos observados antes do tratamento é fortemente sugestivo

de insucesso terapêutico e requer repetidas pesquisas da larva nas fezes para

confirmação.

Uma outra ferramenta útil na definição do diagnóstico da estrongiloidíase,

em casos nos quais a sorologia deixa dúvida, é o Western blotting, utilizando

antígeno do S. ratti (SILVA et al, 2003).

Testes cutâneos de hipersensibilidade imediata com extratos da larva

infectante do parasita têm sido testados experimentalmente. Co-infecção com

HTLV-1 diminuiu a sensibilidade dos testes cutâneos (NEVA et al, 2001; PORTO

et al, 2001).

O diagnóstico presuntivo de estrongiloidíase pode ser suspeitado através

da eosinofilia que é uma alteração laboratorial não-específica, geralmente pouco

intensa (5 a 15%), encontrada em 50 a 80% dos indivíduos infectados,

especialmente se são sintomáticos (BERK et al, 1987; GENTA, 1989; LIU e

WELLER, 1993; GROVE, 1996). Apesar disso, a eosinofilia é um indicador útil de

estrongiloidíase, particularmente em pacientes recentemente infectados. Nas

infecções crônicas, como de prisioneiros de guerra (GIL e BELL, 1979) ou em

pacientes recebendo terapia imunossupressora (IGRA-SIEGMAN et al, 1981), a

contagem de eosinófilos é baixa ou normal.

2.1.12- Tratamento

A estrongiloidíase, mesmo quando assintomática, deve ser tratada por

causa do potencial de hiperinfecção fatal. Somente a completa erradicação do

parasita remove o perigo potencial da doença. Devido a isso, o anti-helmíntico

ideal deve matar todas larvas auto-infectivas L3, que são relativamente resistentes

aos agentes químicos (LIU e WELLER, 1993; GROVE, 1996). Dentre as

medicações disponíveis temos:

Tiabendazol: derivado imidazólico introduzido na terapêutica da estrongiloidíase

nos anos 60, constituiu a droga de escolha na erradicação desta helmintíase,

apesar dos efeitos colaterais e da alta taxa de recidiva (GROVE, 1996; ZAHA et al,

2000; KEISER e NUTMAN, 2004) . Administrado via oral (VO), é rapidamente

absorvido. A dose indicada é de 50mg/Kg/dia, dividida em duas tomadas, de

preferência às refeições, por dois ou três dias. Não se deve ultrapassar 3g/dia.

Nas formas disseminadas, o tempo de tratamento deve ser prolongado para 10 ou

mais dias ou até que os parasitos sejam erradicados. É eficaz contra as formas

adultas, mas não é larvicida. Por isso, deve-se levar em conta a possibilidade da

auto-infecção (PESSOA, 1978). Os efeitos colaterais mais freqüentes são

tonturas, cefaléia, sonolência, náuseas, vômitos e dor abdominal. Também pode

ocorrer hepatoxicidade e leucopenia. Seu uso é contra-indicado em mulheres

grávidas e durante a lactação. Os índices de cura ultrapassam 90% (CAMPOS e

FERREIRA, 1999).

Cambendazol: derivado imidazólico, com eficácia semelhante ao tiabendazol

(>90%). É administrado em dose única, na dose de 5mg/Kg, após a refeição.

Raramente observa-se dor abdominal, náuseas, vômitos e diarréia (CAMPOS e

FERREIRA, 1999).

Albendazol: imidazólico de amplo espectro, ativo inclusive na forma larvária,

porém não demonstra bons resultados na terapêutica da estrongiloidíase. A dose

preconizada é de 400mg/dia, VO, por três dias; nessa posologia, o índice de cura

é de apenas 40 a 50% (CAMPOS e FERREIRA, 1999). A dose recomendada é

de 800mg/dia, dividida em duas tomadas, durante três dias, e a cura

parasitológica pode chegar a 80 a 90% (VAN DER FELTZ et al, 1999). Não é

recomendado o uso desta medicação em casos graves ou disseminados desta

parasitose (CAMPOS e FERREIRA, 1999). Efeitos colaterais são cefaléia, tonturas

e desconforto gastro-intestinal. É contra-indicado na gestação.

Ivermectina: utilizada na dose de 150 a 200 µg/kg. É uma droga bem tolerada,

com poucas reações clínicas e bioquímicas (ADENUSI, 1997). Estudos recentes

têm mostrado que a ivermectina é a melhor droga para o tratamento da

estrongiloidíase não complicada (SALAZAR et al, 1994; SIDDIQUI e BERK, 2001;

KEISER e NUTMAN, 2004). Seu uso parece ser seguro na gravidez (VAN DER

FELTZ et al, 1999). ASHRAF, GUE e BADDOUR (1996) publicaram relato de caso

de estrongiloidíase refratária ao tratamento com ivermectina em treze cursos de

dois dias, em paciente com hipogamaglobulinemia. Isso reforça a necessidade de

pesquisa de outros agentes anti- S. stercoralis.

Em caso de estrongiloidíase disseminada ou grave, em especial em

pacientes imunodeprimidos, a ivermectina tem sido empregada em esquemas de

multidoses, ou seja, 200µg/kg nos dias 1, 2, 15 e 16, com altos índices de cura

clínica e parasitológica (CAMPOS e FERREIRA, 1999).

A eficácia terapêutica pode ser avaliada através de exames parasitológicos

de fezes realizados nos dias 7º, 14º e 21º após o tratamento. O método de

Baermann-Moraes deve ser o utilizado nestes exames para controle de cura desta

helmintíase (CAMPOS e FERREIRA, 1999).

Recentemente, a ivermectina foi registrada como a droga de escolha na

lista da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o tratamento de S. stercoralis

(ALBONICO, CROMPTON e SAVIOLI, 1999).

Nas formas graves da doença, com disseminação larvária a múltiplos

órgãos, o uso de antimicrobianos com cobertura para bactérias Gram-negativas é

mandatório. Neste caso, deve-se usar as cefalosporinas de terceira ou quarta-

geração, os aminoglicosídeos, o aztreonam ou quinolonas.

2.1.13- Profilaxia

Atenção especial deve ser dada aos hábitos higiênicos. O uso de calçados,

a limpeza e a higiene adequada dos alimentos crus a serem ingeridos são pontos

cruciais na prevenção desta helmintíase. Em pacientes imunodeprimidos, exames

parasitológicos devem ser realizados periodicamente utilizando-se o método de

Baerman-Moraes. Em pacientes com AIDS, está indicado o uso profilático

secundário do tiabendazol por dois ou três dias, mensalmente, para evitar

recidivas da doença (CAMPOS e FERREIRA, 1999).

2.2- Efeitos do uso abusivo do etanol sobre o sistema imunitário

Devido a um aumento da freqüência e gravidade das infecções em

alcoolistas crônicos, existe uma convicção que o etanol inibe diretamente os

mecanismos imunitários inatos e adaptativos do organismo (MAC GREGOR,

1986).

Granulocitopenia tem sido observada em 4 a 8% dos alcoolistas admitidos

em hospital, especialmente naqueles com infecção (LIU, 1980). Exame da medula

óssea tem mostrado uma marcada diminuição no número de granulócitos

maduros, com vacuolização de mielócitos precursores. A injeção de endotoxicina

nos pacientes alcoolistas não causa um aumento na contagem de

polimorfonucleares, indicando uma diminuição da reserva medular. A diminuição

da produção parece ser a base para a granulocitopenia (MACGREGOR, 1986).

Isso pode ser devido à diminuição da produção de fatores estimuladores de

colônia, mais do que ao efeito tóxico direto do etanol em precursores mielóides.

Ainda não está bem definida a causa da diminuição do “pool” de reserva medular

de granulócitos em alcoolistas, embora os possíveis responsáveis sejam a má

nutrição, a doença hepática e a toxicidade pelo etanol (ADAMS e COLIN, 1984).

O mecanismo responsável pela diminuição da mobilização de

polimorfonucleares em indivíduos agudamente intoxicados é a diminuição da

aderência, impedindo a célula de sair do compartimento vascular (MACGREGOR,

GLUCKMAN e SENIOR, 1978).

Para avaliar o efeito imunossupressor do etanol na ausência de fatores

complicadores como cirrose hepática e má nutrição, foi estudada a ingestão

crônica do etanol, em um ambiente controlado, demonstrando-se inibição da

quimiotaxia de granulócitos que melhorou com a abstinência. A resposta de

anticorpos a novos antígenos não se alterou e o número de linfócitos no sangue

periférico não foi afetado pelo consumo de etanol em alcoolistas voluntários não

cirróticos (GLUCKMAN, DVORAK e MACGREGOR, 1977).

O etanol prejudica a resposta Th1 e aumenta a resposta Th2

(WALTENBAUGH, VASQUEZ e PETERSON, 1998). Esses autores, em modelo

animal, demonstraram que o etanol afeta diretamente as células apresentadoras

de antígeno, que têm papel central em determinar se o padrão predominante da

resposta será Th1 ou Th2.

O efeito do etanol na resposta imunitária é dose dependente . Em ratos

demonstrou-se que ingestão de etanol em baixa dose (0,5 a 2g/kg) estimulou a

resposta imunitária celular e doses maiores (6g/kg) suprimiram a resposta

imunitária basal (DEHNE et al 1989). Resultado semelhante foi observado in vivo:

pequenas doses de etanol aumentaram e doses mais elevadas de etanol

diminuíram significativamente a resposta intradérmica à fitohemoglutinina

(MENDENHALL et al 1977).

No entanto, outros tem demonstrado efeito deletério na resposta imunitária

com a ingestão de pequenas quantidades de etanol, tanto em animais de

laboratório (ALDO-BENSON, 1989) como em humanos (BOUNDS et al, 1994) .

Ainda que haja relatos de que o consumo moderado de etanol possa ter

impacto positivo sobre o sistema imunitário (DIAZ et al, 2002), a definição de

consumo moderado de álcool é muito variável. Segundo GONZÁLES-GROSS,

LEBRÓN e MARCOS (2000), consumo moderado pode ser definido em termos de

10-12g dia para mulheres e 20-24g dia para homens.

COOK (1998) mostrou que o consumo crônico do etanol altera a função

imunitária humoral. Embora o número de células B tenha sido normal ou

discretamente diminuído em alcoolistas sem doença hepática, elas são

significantemente diminuídas em pacientes com doença hepática alcoólica.

Alcoolistas crônicos em síndrome de abstinência têm aumento do nível

sérico de IgE, além do aumento de citocinas tipo TH2 (GONZÁLES-QUINTELA, et

al, 1999). Foi hipotetizado que o aumento dos níveis séricos de IgE em alcoolistas

seria devido ao etanol e seus metabólitos, e que o etanol atuaria como um

alergeno ou antígeno (DOMÍNGUEZ-SANTALLA et al, 2001).

O alcoolismo crônico é considerado como a causa mais comum de má

nutrição em países ricos ocidentais, havendo alto risco de imunossupressão

nutricional em alcoolistas crônicos. A ingestão crônica do etanol é associada com

uma alta ingestão de energia derivada do mesmo e uma inadequada ingestão de

proteínas, vitaminas e minerais (WATZL e WATSON, 1992). No entanto, fica difícil

incluir ou excluir o papel da nutrição na alteração imunitária induzida pelo etanol,

porque essas são observadas em animais de laboratório ou humanos, submetidas

ao etanol, mas com bom estado nutricional.

Além das numerosas doenças associadas com o consumo excessivo de

etanol, também ocorre aumento da atividade do eixo hipotálamo-pituitário-adrenal,

com aumento dos níveis plasmáticos de ACTH (hormônio adreno-corticotrófico) e

corticosterona. Em trabalho experimental com ratos, OGILVIE et al (1998)

introduziram etanol intragástrico por 3 dias, e, re-expuseram esses animais à

droga 3 a 12 dias mais tarde. Ratos pré-tratados com diluente do etanol e

injetados com etanol, 3 a 12 dias mais tarde, mostraram um marcado aumento

nas concentrações plasmáticas de ACTH e corticosterona. Ao contrário, animais

pré-tratados com etanol exibiram uma diminuição da resposta hormonal e

hipotalâmica durante a segunda exposição à droga. Esses animais mantiveram

uma resposta endócrina normal a outros sinais como eletro-choque ou injeção de

citocinas. Fica portanto difícil interpretar a participação do eixo hipotálamo-

hipofisário-adrenal nas alterações imunitárias induzidas pelo etanol.

Em resumo, os dados da literatura indicam que: (1) consumo baixo e

moderado de etanol, ou não altera ou até pode potencializar a resposta imunitária;

(2) consumo excessivo, de modo geral, altera quase todos os mecanismos

imunitários inatos e adaptativos, especialmente em alcoolistas com doença

hepática associada; (3) quanto aos mecanismos da interferência do etanol no

sistema imunitário, se diretos ou indiretos , há ainda pouca informação.

2.3- Uso abusivo de etanol e prevalência de Strongyloides stercoralis

Além de alterações nos mecanismos imunitários causados pelo alcoolismo

(MACGREGOR, 1986; COOK, 1996), as infecções são mais freqüentes e graves

em alcoolistas também devido ao prejuízo da função mental, que leva à menor

cuidado com a higiene pessoal e maior exposição aos patógenos, à quebra das

barreiras protetoras nas mucosas, à maior facilidade de aspiração e à má nutrição

(MACGREGOR, 1986).

Em trabalho prospectivo realizado em 35 pacientes cirróticos e 45 pacientes

não-cirróticos submetidos a três amostras de exames parasitológicos das fezes

pelos métodos de Hoffman, Pons-Janner, Baermann e Willis, GABURRI et al,

(1997) observaram que 14/35 cirróticos tinham exame parasitológico positivo para

S. stercoralis, sendo que nenhum caso de estrongiloidíase foi diagnosticado nos

45 pacientes (grupo controle 1). Quanto à etiologia da cirrose hepática temos:

álcool em 19 (54,3%), hepatite por vírus B (HBV) em 3 (8,6%), hepatite por vírus C

(HCV) em 5 (14,3%), HBV + HCV em 2 (5,7%), outras causas 6 (17,2%). No grupo

controle 2, representado por 1411 indivíduos que fizeram exames parasitológicos

das fezes no mesmo hospital, a prevalência de S. stercoralis foi de 27/1411

(1,91%). O S. stercoralis foi diagnosticado em 10/19 cirróticos alcoólicos, o que

comparado com portadores de cirrose hepática não alcoólica, não houve diferença

estatisticamente significante. Segundo os autores, “tal observação se reveste de

suma importância, sugerindo que estes resultados estariam relacionados a

alterações geradas pela própria cirrose hepática e não apenas ao alcoolismo”. Os

mesmos ainda citam que “à primeira vista, parece-nos não ser o álcool o fator

diretamente implicado em tal ocorrência, mas talvez razões de ordem imunológica,

geradas pela própria doença hepática, favoreçam tal associação”.

AVEDAÑO et al (1999) estudaram a freqüência da estrongiloidíase em 106

pacientes alcoolistas crônicos da Costa Rica internados em um Instituto Nacional

para Dependência de Fármacos e Alcoolismo que foi feita pelos métodos cultura

em placa de Agar, Baermann e exame direto das fezes, em apenas uma amostra

de fezes e S. stercoralis foi diagnosticado em 5,7%. Essa prevalência foi muito

maior do que a observada em inquérito nacional (0,1%) feito com exame através

de sedimentação. No entanto as amostras, como observou o autor, não são

comparáveis.

OLIVEIRA et al (2002) avaliaram a freqüência de S. stercoralis em

alcoolistas. Foram avaliados 145 indivíduos, dos quais 45 eram dependentes do

álcool, 10 eram portadores de cirrose hepática não alcoólica, e 90 eram indivíduos

não alcoolistas assintomáticos, que serviram como controle. Foram feitos três

exames parasitológicos das fezes em dias alternados pelos métodos de

Baermann-Moraes e Lutz. A freqüência da estrongiloidíase, no grupo total de

alcoolistas, foi de 15/45 (33,3%) e no subgrupo de alcoolistas com cirrose hepática

foi de 4/9 (44,4%), com pancreatite foi de 3/9 (33,3%) e naqueles sem cirrose

hepática e sem pancreatite foi de 8/27 (29,6%), que foi significativamente

(p<0,0001) mais alta que a encontrada nos controles 5/90 (5,5%). Nenhum dos

indivíduos com cirrose hepática não alcoólica tinham infecção pelo S. stercoralis.

Embora o número de pacientes alcoolistas seja pequeno, para conferir força

estatística dos resultados. Há indicação de que a prevalência de S. stercoralis seja

maior em alcoolistas.

ZAGO-GOMES et al (2002) realizaram um estudo retrospectivo da

freqüência de nematóides intestinais em 198 alcoolistas e em 440 controles, não

alcoolistas, atendidos no HUCAM em Vitória - Brasil. O grupo controle foi formado

por 144 pacientes não alcoolistas, pareados por procedência com o grupo de

alcoolistas e 296 pacientes atendidos no Hospital, com diferentes procedências.

Todos os pacientes foram submetidos a três exames parasitológicos de fezes pelo

método de sedimentação. Houve uma freqüência significativamente maior de

nematóides intestinais no grupo de alcoolistas do que no grupo controle (35,3% e

18,7%, respectivamente), devido à maior freqüência de S. stercoralis (21,7 e 4,1%,

respectivamente). Não houve diferença significante na freqüência de nematóides

entre alcoolistas com ou sem cirrose hepática (37,9% e 34,2%, respectivamente

para pelo menos um nematóide e 25,8% e 20% para S. stercoralis,

respectivamente). A freqüência dos outros nematóides foi semelhante entre os

alcoolistas quando comparado com o grupo controle. Para os autores, essas

observações indicam que o etanol está relacionado com o aumento do risco para

infecção pelo S. stercoralis e não com cirrose hepática, como admitida por

GABURRI et al (1997).

ADEDAYO, GRELL e BELLOT (2002) relataram 27 casos de

estrongiloidíase hiper-infectiva diagnosticados e internados em enfermaria médica

durante 5 anos (18 homens e 9 mulheres, de 26 a 91 anos de idade). Vinte e

quatro pacientes foram testados para HTLV-1, e 17 (71%) tiveram resultado

positivo. É interessante observar que 12/27 (44%) tinham história de alcoolismo

crônico. Desses 12 alcoolistas três eram HTLV-1 positivos. Com a freqüência de

alcoolistas nessa série de casos, sem infecção com o HTLV-1, os autores

chamaram a atenção para o possível papel do alcoolismo como indicador de pior

prognóstico nas formas graves de estrongiloidíase.

Quanto aos possíveis mecanismos dessa maior prevalência, nada se

conhece e admitindo-se que seja a redução dos mecanismos imunitários e/ou um

possível aumento de corticóides circulantes induzidos pelo uso do etanol, os

fatores mais importantes. No entanto, os alcoolistas, devido aos distúrbios do

comportamento, estão mais sujeitos à infecção com o parasita, fato difícil de ser

descartado.

Conclui-se, pelos dados da literatura, que o alcoolismo crônico parece ser

um fator de risco para ocorrência de um exame parasitológico de fezes positivo

para S. stercoralis. Nenhum dos autores, que relataram a maior prevalência do S.

stercoralis em alcoolistas, apresentaram dados sugerindo possíveis mecanismos

para explicar essa associação. Só apresentaram algumas especulações sobre o

assunto.

OBJETIVOS

3- Objetivos:

Tendo em vista dados da literatura apontando para uma associação entre

alcoolismo crônico e parasitismo pelo S. stercoralis e considerando alguns

mecanismos propostos para explicar a maior prevalência do S. stercoralis em

alcoolistas crônicos planejamos a presente investigação com os seguintes

objetivos:

3.1- Objetivos gerais

Estudar a prevalência de S. stercoralis em três diferentes amostras

de alcoolistas crônicos, atendidos em dois diferentes serviços da Região

Metropolitana de Vitória e comparar com amostras de pacientes não alcoolistas,

atendidos nos mesmos serviços, nas mesmas condições.

3.2- Objetivos específicos

1- Avaliar a prevalência do S. stercoralis em alcoolistas crônicos e

não alcoolistas, através do método de sedimentação ou método de Baermann,

atendidos no Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes, em 2003.

2- Avaliar a prevalência de S. stercoralis através da revisão de

prontuários de pacientes alcoolistas crônicos atendidos no PAA (Programa de

Atendimento ao Alcoolista) do HUCAM nos anos de 2001 e 2002 e em controles

não alcoolistas atendidos no mesmo Hospital, no mesmo período.

3- Avaliar a prevalência de S. stercoralis em alcoolistas crônicos e

não alcoolistas, atendidos em uma Unidade de Saúde do Município de Serra,

através do método de sedimentação realizado no mesmo laboratório, no ano de

2003.

4- Avaliar os níveis séricos de glicocorticóides em pacientes

alcoolistas crônicos com e sem infecção com o S. stercoralis, para identificar

possível participação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal na maior prevalência da

infecção pelo S. stercoralis em alcoolistas crônicos, atendidos no HUCAM.

5-Verificar a freqüência de S. stercoralis nos exames parasitológicos

do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes, que atende alcoolistas

crônicos em serviço especializado, e avaliar, naqueles pacientes com S.

stercoralis, a prevalência de alcoolismo crônico.

PACIENTES E MÉTODOS

4.1-Amostras estudadas

Para atingir os objetivos propostos foram estudadas diferentes amostras no

sentido de fazer avaliação da prevalência com utilização de método mais sensível

para identificar o S. stercoralis, como também em amostras estudadas

rotineiramente, onde os exames parasitológicos são realizados pelo método de

sedimentação. Embora utilizando métodos com sensibilidade diferente, os

controles para cada amostra eram submetidos ao mesmo método de exame

parasitológico.

4.1.1- Amostras para estudo da prevalência do S. stercoralis em alcoolistas

crônicos

Foram estudadas três amostras de pacientes alcoolistas crônicos nos quais

foi pesquisada a prevalência de S. stercoralis:

A- Amostra constituída de 346 alcoolistas crônicos, atendidos no Programa

de Atendimento ao Alcoolista do HUCAM, nos quais foi feita a pesquisa do S.

stercoralis, pelo método de Baermann, em 190 pacientes. Em 156 pacientes o

exame parasitológico foi feito pelo método de sedimentação. Para controle, foram

usados 111 pacientes, não alcoolistas, procedentes das mesmas regiões e

atendidos no mesmo Hospital, submetidos a três exames parasitológicos de fezes

também pelo método de Baermann. A amostra controle, para os 156 alcoolistas

com exame parasitológico de fezes por método de sedimentação, foi tomada

aleatoriamente por revisão de prontuários, de 591 pacientes não alcoolistas,

atendidos no HUCAM, com exame parasitológico de fezes realizados no mesmo

laboratório, nos anos de 2001 e 2002.

B- Amostra obtida pela revisão dos prontuários de pacientes alcoolistas

crônicos, formada por 504 pacientes atendidos no Programa de Atendimento ao

Alcoolista no HUCAM, durante os anos de 2001 e 2002, e que tinham sido

submetidos a exame parasitológico de fezes. Para controle, foi tomada uma

amostra de pacientes atendidos no mesmo Hospital, formada por 591 pacientes

não alcoolistas, atendidos nos anos de 2001 e 2002, com procedência

semelhante, tomada aleatoriamente pela revisão de prontuários de pacientes

atendidos no HUCAM e que tenham o resultado do exame parasitológico anotado

no prontuário. Nos dois grupos, alcoolistas e controles, o exame parasitológico de

fezes foi realizado no Laboratório de Análises Clínicas do HUCAM, no mesmo

período, pelo método de sedimentação, em três amostras.

C- Amostra tomada na Unidade Regional de Saúde Feu Rosa, município de

Serra, formada por 49 alcoolistas crônicos e 129 não alcoolistas, atendidos no

mesmo serviço, no ano de 2003. Nos dois grupos os exames parasitológicos

foram realizados no mesmo laboratório, em três amostras de fezes, pelo método

de sedimentação.

4.1.2- Amostra para avaliação da prevalência de S. stercoralis nos exames

parasitológicos do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes

Foi feita a avaliação da prevalência de S. stercoralis em 7112 exames

parasitológicos realizados no ano de 2003, no laboratório de Análises Clínicas do

HUCAM. Dos casos positivos para S. stercoralis, tentou-se levantar os prontuários

e verificar a informação sobre história pregressa de alcoolismo crônico.

4.1.3- Amostra utilizada para avaliação dos níveis séricos de cortisol

Em 46 alcoolistas crônicos, sendo 23 com exame parasitológico de fezes

positivo, para S. stercoralis e 23 negativos, foi feita a dosagem do cortisol

plasmático. Essa amostra foi obtida dos pacientes atendidos no ano de 2003 no

HUCAM.

4.2- Exames parasitológicos de fezes

Os exames parasitológicos de fezes foram realizados pelos métodos de

Baermann e sedimentação conforme descrito resumidamente a seguir:

O método de Baermann (1917), modificado por Moraes (1948) foi realizado

conforme técnica padrão. Cerca de 8 a 10 g de fezes sobre uma gaze eram

colocadas em um funil de vidro de 10 a 12 cm ligado a um tubo de látex fechado,

com uma pinça de Mohr. O funil era parcialmente preenchido com água de

torneira, aquecida a 40 a 44°C, de modo que a água aquecida entrasse em

contacto com a gaze. Após 60 minutos, a pinça era aberta e parte do líquido era

coletado em tubo cônico, centrifugado rapidamente e o sedimento examinado

entre lâmina e lamínula.

O método de Sedimentação (Lutz, 1919) foi realizado conforme técnica

tradicional. As fezes eram diluídas com água de torneira, bem misturadas e, em

seguida, filtradas em gaze e transferidas para cálices cônicos de sedimentação.

Entre duas e quatro horas após, o sedimento era examinado entre lâmina e

lamínula.

Sempre foram examinadas três amostras de cada paciente, em dias

alternados.

4.3- Avaliação do cortisol plasmático

A dosagem do cortisol foi feita no soro pelo método de imunoensaio

competitivo por quimioluminescência direta, utilizando o sistema ADVIACentaur

(Bayer Health Care LLC). Nesse método, o cortisol da amostra compete com o

cortisol marcado com éster de acridina pela ligação ao anticorpo policlonal de

coelho anti-cortisol preso na fase sólida. O anticorpo policlonal de coelho está

ligado ao anticorpo anti Ig de coelho, monoclonal, obtido em rato, o qual está

ligado covalentemente a partículas paramagnéticas. O sangue de todos os

pacientes foi coletado pela manhã (7:30 às 8:00 hs), após um repouso de trinta

minutos. Para esse método os valores de referência são 5 a 25 µg/dL.

4.4- Critérios para o diagnóstico de alcoolismo crônico

O diagnóstico de Síndrome de Dependência do Álcool, foi feito de acordo com

a Classificação Internacional de Doenças (CID -10).

4.5- Critérios de exclusão de pacientes e controles

Foram excluídos todos os indivíduos HIV positivos.

4.6- Informações aos pacientes e controles

Todos os pacientes e controles foram convidados a participar do estudo em

caráter voluntário. Os que concordaram em participar, assinaram um termo de

consentimento (ANEXO I), após receberem as informações referentes ao

protocolo de pesquisa e responderem um questionário (ANEXO II).

4.7- Análise estatística dos resultados

Os resultados foram analisados utilizando-se o programa SPSS, versão 10.0

(Statistical Package for the Social Sciences). As comparações de variáveis

quantitativas foram feitas pelo teste t de Student ou pelo teste de Mann-Whitney.

As comparações de variáveis qualitativas foram feitas pelo teste χ² ou teste exato

de Fisher. A associação entre a presença de alcoolismo e o exame parasitológico

de fezes positivo para S. stercoralis foi feita pelo cálculo da razão de chances

(Odds-Ratio, indicado como OR nas tabelas de resultados). A força da

associação, foi calculada pelo teste do χ². Análise de regressão logística binária foi

utilizada para verificar a interferência de diferentes variáveis com o alcoolismo, na

ocorrência de exame parasitológico positivo para S. stercoralis. Foram

considerados significantes os valores de p menores do que 0,05, admitindo-se

todos como testes bi-caudal.

RESULTADOS

5.1- Idade, sexo e procedência das amostras estudadas

Os principais dados sobre idade e sexo das amostras estudadas para

verificação da prevalência do S. stercoralis estão resumidos nas Tabelas 1 a 4.

Como esperado a maior prevalência do alcoolismo foi no sexo masculino, o

que foi observado em todas as amostras. Houve uma diferença estatisticamente

significativa na média de idade dos alcoolistas em relação aos controles não

alcoolistas, tanto no sexo masculino como no sexo feminino na amostra do

HUCAM onde a pesquisa do S. stercoralis foi feita pelo método de Baermann

(Tabela 1) e no sexo feminino na amostra estudada na Serra (Tabela 4) .

Tabela 1- Idade e sexo de pacientes alcoolistas crônicos e respectivos controles, atendidos no

Programa de Atendimento ao Alcoolista do HUCAM, no ano de 2003, nos quais os exames

parasitológicos de fezes foram feitos com o método de Baermann.

Variáveis Alcoolistas (N=190) Controles (N=111) p

Sexo

Masculino

Feminino

Idade

Sexo masculino

Média ± DP

Mediana

Sexo feminino

Média ± DP

Mediana

171 (90%)

19 (10%)

42,1 ± 9,8

44,5

39,5 ± 7,8

41,0

50 (45%)

61 (55%)

48,3 ± 13,1

41,0

45,15 ± 12,15

37,5

0,000*

<0,001**

<0,001**

*χ² ; **Teste t de Student

Tabela 2- Idade e sexo em 156 alcoolistas crônicos atendidos no Programa de Atendimento ao

Alcoolista do HUCAM e não alcoolistas tomados aleatoriamente pelo levantamento de prontuários

do mesmo hospital, nos quais o exame parasitológico de fezes foi feito pelo método de

sedimentação.

Variáveis Alcoolistas (N=156) Controles (N=591) p

Sexo

Masculino

Feminino

Idade

Sexo masculino

Média ± DP

Mediana

Sexo feminino

Média ± DP

Mediana

141 (92,1%)

15 (7,9%)

46,4 ± 9,1

46

41,3 ± 7,3

42,5

465 (78,6%)

126 (21,4%)

44,8±16,1

45

41,6±13,2

43

0,020*

N.S.**

N.S.**

*χ ²; ** Teste t de Student; N.S. (não significativa)

Tabela 3- Idade e sexo em 504 alcoolistas crônicos atendidos no Programa de Atendimento ao

Alcoolista do HUCAM, nos anos de 2001 e 2002, e de 591 não alcoolistas tomados aleatoriamente

pelo levantamento de prontuários do mesmo Hospital, no mesmo período.

Variáveis Alcoolistas (N=504) Controles (N=591) p

Sexo

Masculino

Feminino

Idade

Sexo masculino

Média ± DP

Mediana

Sexo feminino

Média ± DP

Mediana

447 (88,6%)

57 (11,4%)

44,6 ± 9,3

44

43,2 ± 8,9

42

465 (78,6%)

126 (21,4%)

44,8 ± 16,1

41,6 ± 13,2

43

0,000*

N.S.**

N.S.**

* χ²; ** Teste t de Student; N.S. (não significativa)

A procedência de alcoolistas crônicos e de controles atendidos no Hospital

Universitário foi semelhante. Entre os alcoolistas, 86% eram provenientes da

periferia urbana que formam a Região Metropolitana da Grande Vitória (Vitória,

Cariacica, Serra, Vila Velha e Viana) e o restante, de outros municípios do estado.

Entre os controles a procedência era bem semelhante: 73,8% eram provenientes

da Região Metropolitana da Grande Vitória. A grande maioria dos pacientes

alcoolistas, atendidos no Programa de Atendimento ao Alcoolista do HUCAM, é

residente nos Municípios da Região Metropolitana de Vitória. Os controles

escolhidos aleatoriamente têm procedência semelhante.

Tabela 4- Idade e sexo de 49 pacientes alcoolistas crônicos e 129 controles não alcoolistas

atendidos na Unidade Regional de Saúde Feu Rosa (município de Serra), no ano de 2003, nos

quais os exames parasitológicos de fezes foram realizados pelo método de sedimentação.

Variáveis Alcoolistas (N=49) Controles (N=129) p

Sexo

Masculino

Feminino

Idade

Sexo masculino

Média ± DP

Mediana

Sexo feminino

Média ± DP

Mediana

46 (93,8%)

3 (6,2%)

45,5 ± 10,1

42

36,0 ± 6,2

38,0

98 (75,9%)

31 (24%)

44,5 ± 16,0

45,5

41,6 ± 14,4

42,0

0,012*

N.S.**

0,002**

*χ²; ** Teste t de Student; N.S. (não significativa)

5.2- Prevalência de S. stercoralis nos exames parasitológicos de fezes

realizados no laboratório de rotina do Hospital Universitário Cassiano

Antônio de Moraes

A prevalência dos parasitas intestinais diagnosticados em 7112 exames,

realizados no ano de 2003, no Laboratório de Análises Clínicas do HUCAM, está

resumida na tabela 5, separada por sexo.

Tabela 5- Prevalência de parasitas intestinais em 7112 exames parasitológicos de fezes, realizados pelo método de sedimentação, no laboratório de Análises Clínicas do HUCAM, no ano de 2003.

Parasitas Sexo

Masculino (N=3147) Feminino (N=3965)

Nematóides

Ascaris lumbricoides

Trichuris trichiura

Ancilostomídeos

Enterobius vermicularis

Strongyloides stercoralis

Schistosoma mansoni

Taenia sp

384 (12,2%)

161 (5,11%)

41 (1,30%)

20 (0,63%)

55 (1,74%)

129 (4,09%)

7 (0,22%)

1 (0,03)

372 (9,38%)

193 (4,86%)

44 (1,10%)

17 (0,42%)

59 (1,48%)

59 (1,48%)

6 (0,15%)

2 (0,05)

A tabela nos mostra que o único parasita para o qual houve uma diferença

significante entre os sexos é o S. stercoralis: respectivamente para o sexo

masculino e feminino: 4,09%, IC a 95% 3,33 a 4,84% e 1,48%, IC a 95%: 1,11 a

1,85%. Dos 188 casos (129 do sexo masculino e 59 do sexo feminino) de infecção

com S. stercoralis, no Laboratório do HUCAM, foram levantados os prontuários de

76 pacientes, dos quais, em 51 havia anotação confiável sobre o uso do etanol.

Desses, 21 eram alcoolistas crônicos, representando 41,17% dos 51 exames. Se

considerarmos a amostra válida para os 188 casos positivos, aproximadamente 77

casos positivos para S. stercoralis eram alcoolistas crônicos. Se subtrairmos os

alcoolistas do sexo masculino, a prevalência do parasita fica semelhante nos dois

sexos.

5.3- Prevalência de S. stercoralis nas diferentes amostras de alcoolistas e

controles

As prevalências da infecção com S. stercoralis e de outros nematóides nas

diferentes amostras estudadas estão resumidas nas Figuras 2 e 3 e nas Tabelas

1, 2, 3,4 dos ANEXOS (III,IV,V,VI).

Em todas as amostras a prevalência do S. stercoralis é maior no grupo de

alcoolistas, quando comparado com controles não alcoolistas. A chance de o

alcoolista crônico ter um exame de fezes positivo para S. stercoralis foi no mínimo

3,4 vezes maior do que os controles não alcoolistas, exceto na amostra da

Unidade Regional de Saúde Feu Rosa (URSFR) onde o número de casos não

permitiu o cálculo adequado da razão de chances, pelo ausência de casos

positivos para S. stercoralis no grupo controle (Figura 2). Mas nessa última

amostra o teste exato de Fisher mostra ser a prevalência do parasita

significativamente maior nos alcoolistas crônicos (Tabela 4 do ANEXO VI).

Quando separamos as amostras pelo sexo (Figura 3) observa-se que

apenas na amostra maior, dos casos analisados pela revisão dos prontuários dos

pacientes alcoolistas do Programa de Atendimento ao Alcoolista e controles

atendidos no HUCAM, a diferença é significativa nas mulheres. Provavelmente,

isso se deveu ao fato de ter nessa amostra um número de mulheres alcoolistas

muito maior do que nas demais amostras estudadas.

Figura 3- Prevalência de S. stercoralis em alcoolistas crônicos e não alcoolistas nas quatro

amostras, nos dois sexos. NS (não significativa); URSFR (Unidade Regional de Saúde Feu Rosa)

Nas amostras estudadas durante o ano de 2003 foram anotados os dados

sobre condições sanitárias (rede de esgoto, água encanada e tratada e hábito de

andar descalço) dos pacientes alcoolistas e controles. A tabela 6 mostra uma

análise de regressão logística, para avaliar o impacto do uso crônico do etanol

como fator de risco para infecção com S. stercoralis, levando em consideração as

condições sanitárias e hábitos dos pacientes do sexo masculino. Verifica-se que o

álcool é fator de risco significativo, mesmo quando ajustado para os co-fatores

citados. Foi feita a análise no sexo masculino porque a prevalência de alcoolismo

é significativamente maior nos homens e o sexo aparece como co-fator que

interfere no alcoolismo. Não foi feita nas mulheres devido ao pequeno número de

casos.

sexoAlcoolistas crônicos Nâo alcoolistas

0

5

10

15

20

25

M F M F M F M F

% d

e ca

sos

BaermannHUCAM

HUCAM2003

HUCAM2001/02

USFRSerra

S e d i m e n t a ç ã o

ns ns

ns

*

* *

**

* =p<0.005

sexoAlcoolistas crônicos Nâo alcoolistas

0

5

10

15

20

25

M F M F M F M F

% d

e ca

sos

BaermannHUCAM

HUCAM2003

HUCAM2001/02

USFRSerra

S e d i m e n t a ç ã o

ns ns

ns

*

* *

**

* =p<0.005

quantidade de etanol ingerida com a prevalência de S. stercoralis estão resumidos

na figura 4 e Tabela 5 (ANEXO VII). Há correlação positiva entre a quantidade de

etanol ingerida e a prevalência de S. stercoralis.

0

20

40

60

80

100

120

140

0 48-150 151-300 301-450 451-600 >600

Quantidade média de etanol/dia

Pre

valê

nci

a d

e S

. ste

rco

ralis (

IC 9

5%)

N= 548; método de sedimentação; Coeficiente de correlação: 0,949; p= 0,014 Figura 4- Relação entre a quantidade de etanol ingerida e a prevalência de exame de fezes

positivo para S. stercoralis.

Para verificar se a cirrose hepática induzida pelo etanol tem relação com a

prevalência do S. stercoralis em alcoolistas foram separados os casos de

alcoolistas com cirrose e sem cirrose e comparadas as prevalências do S.

stercoralis, na amostra obtida pelo levantamento dos prontuários dos pacientes

atendidos no Programa de Atendimento ao Alcoolista nos anos de 2001 e 2002.

Em 461 pacientes alcoolistas, entre os 504 dessa amostra, havia informação

segura sobre o diagnóstico de cirrose a qual foi diagnosticada em 76 pacientes. A

prevalência do exame positivo para S. stercoralis nos 385 alcoolistas sem cirrose

os 76 com cirrose não mostrou diferença significativa (Figura 5 e Tabela 6 do

ANEXO VIII).

Figura 5- Prevalência de exame positivo para S. stercoralis em alcoolistas crônicos com e sem cirrose hepática.

Os resultados da dosagem do cortisol plasmático nos 46 pacientes

alcoolistas crônicos, 23 com S. stercoralis positivo no exame parasitológico de

fezes e 23 com exame parasitológico de fezes negativo para o parasita, estão na

figura 6. Não há diferença estatisticamente significativa entre as medianas do

cortisol plasmático nos alcoolistas com ou sem S. stercoralis detectado no exame

parasitológico de fezes.

S. stercoralis

negativo positivo

CO

RT

ISO

L ug

/ dL

40

30

20

10

0

Figura 6- Níveis de cortisol plasmático em 23 pacientes alcoolistas, com exame de fezes positivo

para S. stercoralis, e em 23 pacientes alcoolistas, com exame de fezes negativo para o parasita.

Os resultados mostram as medianas, os quartis e os percentis 5 e 95 (Teste de Mann-Whitney,

p=0,602)

0

5

10

15

20

25

Sem cirrose Com cirrose

% d

e ca

sos

76/385 19,5%

9/76 11,8%

p= 0,144

DISCUSSÃO

6.1- ANÁLISE CRÍTICA DAS AMOSTRAS

6.1.1- Justificativa para a utilização de diferentes amostras

Nessa pesquisa foram utilizadas diferentes amostras de pacientes,

alcoolistas e não alcoolistas, para comparação entre os grupos, além de

comparações de médias de variáveis quantitativas ou ainda para avaliação de

prevalência de um ou mais desfechos de interesse. A utilização de diferentes

amostras foi decidida tendo em vista o objetivo principal da pesquisa: o de

verificar a força da associação entre etilismo crônico e parasitismo pelo S.

stercoralis. Desse modo, foram utilizadas amostras coletadas prospectivamente,

sendo que, em uma amostra, o diagnóstico da parasitose foi feito por método mais

sensível (Baermann), e, em duas amostras, o diagnóstico foi feito pelo método de

sedimentação. O uso dessas duas últimas amostras, ainda que com pesquisa do

parasita por método menos sensível, foi escolhido porque eram de dois serviços

diferentes (em dois municípios distintos da Região Metropolitana de Vitória) o que

possibilitaria o aumento do número de casos e a validação das observações. Uma

amostra tomada pela revisão de prontuários do Programa de Atendimento ao

Alcoolista foi utilizada porque representava um grande número de alcoolistas que

poderiam ser comparados com um grande número de controles, atendidos no

mesmo Hospital. A análise da prevalência do S. stercoralis nos exames

parasitológicos realizados no HUCAM, no ano de 2003, foi feita no sentido de se

tentar verificar a prevalência de etilismo crônico em pessoas com o exame

parasitológico positivo para o helminto, ou seja, uma confirmação da associação

entre alcoolismo crônico e o parasita a partir da identificação do uso crônico do

etanol em pessoas com exame parasitológico positivo para S. stercoralis.

6.1.2- Análise crítica de cada amostra

A amostra com a pesquisa do parasita pelo método Baermann, realizada

em 2003, tentou ser pareada, especialmente pelo local de residência. A

dificuldade de se ter um controle do mesmo sexo, levou a um grande número de

controles do sexo feminino e fez com que o número de controles ficasse reduzido:

111 controles para 190 casos, relação próxima de 2 casos para 1 controle. Se

considerarmos a prevalência de 8,75% de S. stercoralis nos exames realizados

pelo método de Baermann, em amostra de 190 crianças do Hospital Infantil Nossa

Senhora da Glória em Vitória, com procedência muito semelhante a dos pacientes

atendidos no HUCAM (73% provenientes dos municípios da Região Metropolitana

de Vitória), e considerando que observamos prevalência média de S. stercoralis

nos alcoolistas próxima de 25%, o número ideal de pacientes para comparação

do tipo caso controle, na relação de 2 casos para 1 controle, com erro beta de

20% e erro alfa de 5%, seria de 223 casos e 112 controles. Na amostra

estudada, os controles estão em número adequado (111) e o número de casos é

ligeiramente inferior, mas não tão inferior a ponto de reduzir muito a força

estatística da associação observada. A diferença entre a proporção de homens e

mulheres e as diferenças nas médias de idade não são relevantes, já que a

prevalência do parasitismo pelo S. stercoralis parece não ser influenciada pela

idade em adultos, e que tal prevalência tende a se estabilizar entre a terceira e

quarta décadas da vida.

Quanto ao sexo, alguns autores relatam uma predominância da parasitose

no sexo masculino, relacionada possivelmente a hábitos e condições de vida que

aumentam o risco de contacto com as larvas infectantes (MILDER et al, 1981;

WALZER et al, 1982; DAVIDSON, FLETCHER e CHAPMAN, 1984;

VANNACHONE et al, 1988). Alguns modelos experimentais sugerem influência

dos hormônios sexuais na resistência aos helmintos. Em trabalho experimental em

S. ra

maturação sexual ela era semelhante mas aumentava nos machos e diminuía nas

fêmeas, na medida em que os níveis séricos dos hormônios sexuais aumentavam

(RIVERO et al, 2002). No entanto, WIDJANA e SUTISNA (2000) não se referem a

diferenças importantes na prevalência desta parasitose entre homens e mulheres.

Na amostra controle de não alcoolistas, obtida da revisão de prontuários no

Hospital Universitário, a prevalência de S. stercoralis em homens foi maior do que

em mulheres, mas a diferença não foi significativa. Como será discutido a seguir,

maior prevalência do parasita em homens pode estar associada ao fato de que o

alcoolismo crônico é significativamente mais prevalente em homens.

Das duas amostras obtidas no ano de 2003, onde o exame parasitológico

foi feito por sedimentação, a da Unidade Feu Rosa é pequenas em relação aos

casos, mas suficiente se considerarmos as prevalências de S. stercoralis

observadas. Por outro lado, têm controles bem pareados pela procedência. A

outra, do HUCAM é numericamente satisfatória e foi comparada com controles

atendidos no mesmo Hospital.

A amostra oriunda da revisão dos prontuários tem a vantagem do número

de casos e controles, tendo inclusive um número razoável de mulheres nos dois

grupos, o que permitiu comparações da prevalência do S. stercoralis em

alcoolistas dos dois sexos. O grupo controle dessa amostra é adequado porque

tem procedência semelhante e foi tomado no mesmo Hospital onde foram

atendidos os alcoolistas.

A análise dos resultados dos exames de fezes no Laboratório de Análises

Clínicas do HUCAM, durante um ano, permitiu a identificação de um bom número

de casos com resultados positivo para S. stercoralis. Embora não tenhamos

conseguido informações completas nos prontuários sobre o uso do etanol em

todos os casos, em 51 isso foi possível, número que nos permitiu algumas

considerações.

6.1.3- Análise crítica da utilização de amostras onde o exame parasitológico

de fezes foi realizado com métodos de diferentes sensibilidades para

identificar o S. stercoralis

O fato de terem sido utilizadas amostras nas quais a pesquisa do S.

stercoralis foi feita pelo método de sedimentação não invalida os resultados, tendo

em vista que para cada amostra o método utilizado foi o mesmo nos alcoolistas e

respectivos controles e não se tomaram inferências comparando amostras em que

o parasita nos casos (alcoolistas) e controles foram investigados com metodologia

diferente. Apenas na análise de regressão logística para avaliar o alcoolismo como

fator independente associado a um exame positivo para S. stercoralis foram

utilizados pacientes e controles que tiveram o diagnóstico feito ou pelo método de

Baermann ou pelo método de sedimentação.

No que se refere à sensibilidade dos métodos, confirmou-se o que é muito

conhecido: o método de Baermann é muito mais sensível do que um exame por

sedimentação, detectando de duas a três vezes mais casos positivos do parasita.

6.2- Prevalência do S. stercoralis nos alcoolistas

A prevalência de S. stercoralis nos alcoolistas crônicos em todas as

amostras estudadas foi significativamente maior do que nos controles,

independente do método utilizado para identificar o parasita.

Quando analisamos os grupos separados por sexo a prevalência mantém-

se significativa em todas as amostras, no sexo masculino. No entanto, nas

amostras coletadas no ano de 2003 a diferença não foi observada nas mulheres.

Isso se explica, pelo pequeno número de casos de mulheres alcoolistas. O

etilismo é muito mais prevalente no sexo masculino, e no PAA do HUCAM a

relação masculino/feminino é de 11:1 (MACIERA, ZAGO-GOMES e GARCIA,

1993). No entanto, quando analisamos a amostra obtida pelo levantamento de

prontuários do Programa de Atendimento ao Alcoolista, que tem um número maior

de mulheres, permitindo avaliação estatística mais segura, a prevalência do S.

stercoralis é significativamente maior nas mulheres alcoolistas do que no grupo

controle.

Podemos concluir, ainda que levando em consideração possíveis falhas de

amostragem, que a prevalência do S. stercoralis em alcoolistas de ambos os

sexos é significativamente maior do que em não alcoolistas, confirmando e

ampliando observações anteriores de ZAGO-GOMES et al (2000) e OLIVEIRA et

al (2002).

A análise da relação entre a quantidade de etanol ingerida diariamente e a

presença do exame de fezes positivo para S. stercoralis mostrou correlação

significativa. Isso demonstra que quanto maior a ingestão do etanol maior o risco

de se albergar o parasita, o que indica uma possível participação direta do etanol

nos mecanismos envolvidos na relação do parasita com o hospedeiro.

Os dados sobre a prevalência do etilismo crônico em pacientes com S.

stercoralis identificados nos exames parasitológicos de fezes no laboratório do

HUCAM, ainda que incompletos, confirmam que o etilismo crônico é importante

fator associado à existência de exame positivo para S. stercoralis. Se

considerarmos os 51 pacientes nos quais houve possibilidade de identificar com

segurança o diagnóstico de etilismo crônico, 41,17% eram alcoolistas. Como o

HUCAM atende grande número de alcoolistas, a maioria do sexo masculino, se

explica a significativa maior prevalência de exame positivo para S. stercoralis nos

homens em relação às mulheres, no laboratório de rotina daquele hospital. Esta

observação é reforçada pelo fato de que nos controles não etilistas, com exame

feito no mesmo laboratório, a diferença de prevalência de S. stercoralis entre os

dois sexos não é significativa, ainda que maior no sexo masculino: 4,8% (IC a

95%: 2,94 a 6,86%) nos homens e 3,30% (IC a 95%:1,4 a 6,20%) nas mulheres

(p=0,620).

Outro dado importante que mostra a relação entre ingestão crônica de

etanol e presença de exame parasitológico positivo para S. stercoralis é a

demonstração de que o uso crônico do etanol é fator independente, associado à

existência de exame positivo para S. stercoralis mesmo eliminando a influência de

co-fatores como idade, andar descalço, usar água tratada e ter esgoto sanitário.

Nas amostras estudadas, não observamos diferença significativa na

prevalência do S. stercoralis em pacientes etilistas com ou sem cirrose hepática.

Essa observação difere da relatada por OLIVEIRA et al (2002) que encontraram

prevalência significativamente maior em cirróticos, mas confirma a de ZAGO-

GOMES et al (2000) que também não encontraram tal diferença. É possível que a

observação de OLIVEIRA et al (2002) seja resultante do tamanho da amostra (45

casos de alcoolistas sendo 9 cirróticos alcoólicos e 10 pacientes com cirrose não

alcoólica, onde nenhum dos pacientes tiveram resultado positivo para o helminto).

Embora GABURRI et al (1997) tenham admitido que a cirrose seja fator de risco

para exame positivo para S. stercoralis, nos seus casos, a maioria dos cirróticos

eram alcoolistas crônicos.

De modo semelhante ao observado por ZAGO-GOMES et al (2000), não

houve diferença significativa na prevalência de outros nematóides, considerados

em conjunto.

6.3- Possíveis mecanismos envolvidos na relação entre uso crônico do

etanol e aumento da freqüência de exame parasitológico positivo para S.

stercoralis

Quanto aos possíveis mecanismos que possam relacionar o etilismo

crônico com a maior prevalência de S. stercoralis, há muita discussão. Primeiro é

necessário saber se (i) a prevalência é maior ou seja, o alcoolista tem maior

chance de se infectar ou se uma vez infectado, a sobrevivência do verme é

facilitada; (ii) se a carga parasitária é maior porque há facilitação da auto-

infecção ou se a fecundidade das fêmeas em produzir larvas é maior, o que

aumentaria o número de larvas nas fezes facilitando e aumentando o diagnóstico

de casos positivos.

Se a prevalência é realmente maior ela poderia ser independente de efeitos

do etanol nos mecanismos que regulam a relação parasita hospedeiro mas, seria

dependente de alterações do comportamento que favoreceriam uma maior

exposição ao parasita. De fato, os alcoolistas tendem a ter hábitos de higiene mais

precários, e nesse caso, a larva rabditóide presente na região perianal, de

indivíduos infectados transforma-se em larva filarióide infectante penetrando

através da pele dessa região (GROVE, 1996). Isso pode ser favorecido devido a

higiene deficiente acompanhando a evacuação. Por outro lado, os indivíduos

alcoolizados podem cair com freqüência, entrando em contacto com o solo, e às

vezes aí permanecer por maior tempo, ficando assim mais expostos às larvas

infectantes. Nas amostras aqui estudadas, não foi possível avaliar esses hábitos

de higiene. No entanto, quando analisamos alguns hábitos de higiene (andar

descalço, disponibilidade de esgoto e água tratada) como co-fatores em relação

ao etilismo, como fator associado à um exame parasitológico positivo para S.

stercoralis, embora a inexistência de rede de esgoto seja significante, a

significância para o uso do etanol persiste. Essa observação indica que os hábitos

de higiene avaliados não explicariam isoladamente a maior prevalência do exame

positivo para S. stercoralis nos alcoolistas.

Quanto ao uso abusivo do etanol poder alterar os mecanismos de

resistência à infecção, as possibilidades existem podendo ser múltiplas e

complexas.

Relata-se que o uso do etanol reduza a resposta Th1 e aumenta ou altera

pouco a resposta Th2 e a produção das citocinas IL-3, IL-4, IL-5, IL-6, IL-10 e IL-

13 (WALTENBAUGH, VASQUEZ, PETERSON, 1998; SZABO, 1999). A resposta

Th1 nas helmintíases parece importante nos mecanismos de indução da reação

inflamatória na mucosa envolvida nos mecanismos de expulsão, como

demonstram alguns trabalhos experimentais (NA et al, 1997). É possível portanto,

que a resposta Th2 esteja presente, mas os mecanismos efetuadores iniciais que

envolvem as duas respostas podem estar comprometidos prejudicando assim a

eliminação da infecção.

Por outro lado, pouco conhecemos sobre os efeitos do etanol nos

mecanismo inatos de defesa, importantes na montagem da resposta imunitária,

nos primeiros contatos com o parasita. Pode ser que o reconhecimento de

antígenos pelas células dendríticas e a ação de células NK possam estar

comprometidas, impedindo uma resposta TH2 adequada, favorecendo a infecção.

Pode ainda haver alteração dos mecanismos executores da resposta Th2

na mucosa, por efeitos crônicos do etanol sobre os mastócitos, por exemplo,

importantes células executoras da resistência aos helmintos intestinais e na

infecção com o S. stercoralis (FINKELMANN et al, 1994 e 1997; BARRET et al,

1988; NAWA et al, 1994).

Outra possibilidade seria uma alteração, induzida pelo etanol, na produção

de anticorpos, com mudança quantitativa na produção dos diferentes isotipos

necessários para a resistência. Os anticorpos das classes IgE , IgG4 e IgA anti-S.

stercoralis têm papel importante na resistência ao parasita: IgA é importante no

controle da fecundidade das fêmeas parasitas, IgE é importante na ativação dos

mastócitos e IgG4 atua como contra-reguladora da IgE (COSTA-CRUZ, 2000;

ATKINS et al, 1999).

Nas circunstâncias descritas nos quatro parágrafos anteriores pode haver

facilitação da infecção e da sobrevivência do parasita o que justificaria um real

CONCLUSÕES

7.1- A análise dos resultados permite concluir que:

1- É significativa a maior prevalência de um exame de fezes positivo para

S. stercoralis em alcoolistas crônicos de ambos os sexos.

2- Há uma correlação significativa entre a quantidade média diária ingerida

de etanol e a prevalência do exame parasitológico de fezes positivo

para S. stercoralis.

3- O uso crônico de etanol é fator significativamente associado, de modo

independente, a um exame de fezes positivo para S. stercoralis no sexo

masculino, devendo ser considerado um fator de risco importante para

se albergar o parasita.

4- Nas amostras estudadas as variáveis analisadas não permitiram

identificar se a maior freqüência do exame positivo está relacionada à

maior prevalência do parasita ou se a uma facilitação na produção e

eliminação de larvas, aumentando a chance de seu achado nas fezes.

5- Não houve diferença nos níveis de cortisol plasmático em alcoolistas

com ou sem S. stercoralis, o que demonstra ser pouco provável a

participação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal na gênese das

modificações imunitárias ou outros efeitos relacionados à facilitação da

infecção, ao aumento da carga parasitária e /ou à eliminação de larvas

nas fezes.

6- A prevalência significativa de exame positivo para S. stercoralis no

laboratório de rotina do HUCAM, em pacientes do sexo masculino foi

possivelmente relacionada com alta freqüência de pacientes alcoolistas

(a maioria do sexo masculino) atendidos no HUCAM.

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ANEXO I

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Venho por meio deste solicitar a permissão para usar os dados contidos no seu prontuário do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes nas consultas realizadas no ambulatório de atendimento ao alcoolista e ambulatório de fígado , no trabalho denominado “ Strongyloides stercoralis e Alcoolismo”. Todas as informações obtidas no seu prontuário serão analisadas em conjunto com aquelas obtidas com outros pacientes, resguardando, desta forma, a confidencialidade, mesmo se a pesquisa vier a ser publicada em revista científica. Cada participante deste projeto deverá fazer três amostras de exame parasitológico das fezes, que será realizado no laboratório do Núcleo de Doenças Infecciosas ou no Laboratório de Análises Clínicas do HUCAM. Sua participação é isenta de despesas. Você tem o direito de recusar participar deste estudo, sem penalidades ou prejuízos no seu atendimento neste Serviço. ___________________________________ Assinatura do paciente/representante legal ____________________________________ Assinatura da testemunha Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste paciente ou representante legal para participação neste estudo. _________________________________ Dra Carla Couzi Marques HUCAM ( Casa 3 – Núcleo de Doenças Infecciosas- 33357319 / 33357210 )

ANEXO II

Strongyloides stercoralis Nome: Idade: Cor: Sexo: ( ) M ( ) F Prontuário: Estado conjugal: Endereço: Telefone: Rede de esgoto: ( ) S ( ) N Água encanada: ( ) S ( ) N Ocupação ( ofício exercido ): Andar descalço: ( ) S ( ) N Grau de instrução: Uso etanol: ( ) sim ( ) não Cortisol: Tempo de uso:................................ Quantidade estimada:............................ Data da última ingestão:....................... EPF: S. stercoralis ( ) sim ( ) não Outros:............................................. Hemograma: FA: GGT: TGO: TGP: HbsAg: Anti-VHC: Albumina: Cirrose: ( ) sim ( ) não Etiologia: ( ) álcool ( ) B ( ) C ( ) outros

ANEXO III

Tabela 1- Prevalência de S. stercoralis em pacientes alcoolistas crônicos atendidos no Programa

de Atendimento ao Alcoolista do HUCAM e controles não alcoolistas, nos quais os exames

parasitológicos das fezes foram feitos pelo método de Baermann, no ano de 2003.

Variáveis Alcoolistas

(N=190)

Controles

(N= 111)

OR* (IC 95%) p**

Todos os casos

S. stercoralis

Positivo

Negativo

Outros nematóides

Positivo

Negativo

Sexo masculino

S. stercoralis

Positivo

Negativo

Outros nematóides

Positivo

Negativo

Sexo feminino

S. stercoralis

Positivo

Negativo

Outros nematóides

Positivo

Negativo

48 (25,2%)

142 (74,7%)

22 (11,5%)

168 (88,4%)

45 (26,3%)

126 (73,6%)

20 (11,6%)

151 (88,3%)

3 (15,7%)

16 (84,2%)

2 (10,5%)

17 (89,4%)

10 (9%)

101 (90,9%)

13 (11,7%)

98 (88,2%)

4 (8%)

46 (92%)

6 (12%)

44 (88%)

6 (9,8%)

55 (90,1%)

7 (11,4%)

54 (88,5%)

3,41 (1,58-7,57)

0,99 (0,40-1,49)

4,11 (1,32-14,2)

0,91 (0,34-2,89)

1,72 (0,50-9,11)

0,91 (0,72-5,14)

0,000

N.S.

0,010

N.S.

N.S.

N.S.

*OR (razão de chances); **χ² e Teste de Fisher quando n<5; N.S. (não significativa)

ANEXO IV

Tabela 2- Prevalência de S. stercoralis em 156 pacientes alcoolistas atendidos no Programa de

Atendimento ao Alcoolista do HUCAM e nos controles, nos quais o exame parasitológico de fezes

foi feito pelo método de sedimentação.

Variáveis Álcool (N=156) Controle

(N=591)

OR*(IC 95%) p**

Todos os casos

S.stercoralis

Positivo

Negativo

Outros nematóides

Positivo

Negativo

Sexo masculino

S. stercoralis

Positivo

Negativo

Outros nematóides

Positivo

Negativo

Sexo feminino

S. stercoralis

Positivo

Negativo

Outros nematóides

Positivo

Negativo

27 (17,3%)

129 (82,6%)

7 (4,4%)

149 (95,5%)

27 (19,1%)

114 (80,8%)

6 (4,2%)

135 (95,7%)

0 (0%)

15 (100%)

1 (6,6%)

14 (93,3%)

26 (4,3%)

565 (95,6%)

42 (7,1%)

549 (92,8%)

22 (4,7%)

443 (95,2%)

31 (6,6%)

434 (93,3%)

4 (3,2%)

121 (96,8%)

11 (8,8%)

114 (91,2%)

4,55 (2,48 – 8,36)

0,95 (0,36 – 2,39)

4,21 (2,23 –7,97)

0,62 (0,28 – 1,60)

N.D.

N.D.

0,000

N.S.

0,000

N.S.

N.S.

N.S.

*OR (razão de chances); **χ² e Teste de Fisher quando n<5; N.S. (não significativa); N.D. (não

determinada)

ANEXO VI

Tabela 4- Prevalência de S. stercoralis em pacientes alcoolistas crônicos e controles atendidos na

Unidade de Saúde Feu Rosa (Município de Serra), nos quais o exame parasitológico foi feito pelo

método de sedimentação.

Variáveis Alcoolistas

(N=49)

Controle (N=129) OR* (IC 95%) p**

Todos os casos

S. stercoralis

Positivo

Negativo

Outros nematóides

Positivo

Negativo

Sexo masculino

S. stercoralis

Positivo

Negativo

Outros nematóides

Positivo

Negativo

Sexo feminino

S. stercoralis

Positivo

Negativo

Outros nematóides

Positivo

Negativo

6 (12,2%)

43 (87,7%)

6 (12,2%)

43 (87,7%)

6 (13%)

40 (86,9%)

6 (13%)

40 (86,9%)

0 (0%)

3 (100%)

0 (0%)

3 (100%)

0 (0%)

129 (100%)

10 (7,7%)

119 (92,2%)

0 (0%)

98 (100%)

7 (7,1%)

91 (92,8%)

0 (0%)

31 (100%)

3 (9,6%)

28 (90,3%)

indefinido

1,66 (0,50- 5,36)

indefinido

1,95 (0,54-7,01)

indefinido

indefinido

0,001

N.S.

0,001

N.S.

N.S.

N.S.

*OR (razão de chances); **χ² e Teste de Fisher quando n<5; N.S.(não significativa)

ANEXO VII

Tabela 5- Relação entre a quantidade de etanol ingerida e a prevalência do exame de fezes

positivo para S. stercoralis. Dados tomados de 548 alcoolistas crônicos nos quais o exame

parasitológico foi feito pelo método de sedimentação.

Quantidade média diária

de etanol ingerida (g)

Strongyloides stercoralis

Positivo Negativo

(IC a 95%)

48-150

151 – 300

301 – 450

451 – 600

>600

Todos

17

30

24

11

8

90

124

197

104

25

8

458

11,9 (6,6-17,2)

13,2 (8,7-16,6)

22,6 (15,3-29,8)

30,5 (15,6-45,7)

50 (26,4-70,4)

19,6 (16,3-22,9)

Freqüência de S. stercoralis em 591 controles, não alcoolistas: 4,3%(IC 95%:2,7 –6,1)

ANEXO VIII

Tabela 6- Prevalência de exame positivo para S. stercoralis em 385 alcoolistas crônicos sem

cirrose e em 76 com cirrose hepática

Grupos S. stercoralis

Positivo Negativo

p

Alcoolistas sem cirrose (N=385)

Alcoolistas com cirrose (N=76)

Total = 461

76 (19,7%)

9 (11,8%)

309 (80,2%)

67 (88,1%)

N.S.

N.S. (não significativa)

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