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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ALFREDO PINTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM MESTRADO PRISCILA DE CASTRO HANDEM COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL COM O CLIENTE TRAQUEOSTOMIZADO/ENTUBADO: um estudo preliminar sobre os Signos Não- verbais para Entender e Cuidar em Enfermagem Rio de Janeiro 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

ESCOLA DE ENFERMAGEM ALFREDO PINTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM MESTRADO

PRISCILA DE CASTRO HANDEM

COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL COM O CLIENTE

TRAQUEOSTOMIZADO/ENTUBADO: um estudo preliminar sobre os Signos Não-

verbais para Entender e Cuidar em Enfermagem

Rio de Janeiro

2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

ESCOLA DE ENFERMAGEM ALFREDO PINTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM MESTRADO

PRISCILA DE CASTRO HANDEM

COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL COM O CLIENTE

TRAQUEOSTOMIZADO/ENTUBADO: um estudo preliminar sobre os Signos Não-

verbais para Entender e Cuidar em Enfermagem

Rio de Janeiro

2007

2

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

ESCOLA DE ENFERMAGEM ALFREDO PINTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM MESTRADO

COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL COM O CLIENTE

TRAQUEOSTOMIZADO/ENTUBADO: um estudo preliminar sobre os Signos Não-

verbais para Entender e Cuidar em Enfermagem

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro para a obtenção do título de Mestre em Enfermagem.

Orientadora: Profª. Drª. Nébia Maria Almeida de Figueiredo

Rio de Janeiro

2007

3

H236 Handem, Priscila de Castro. Comunicação não-verbal com o clientetraqueostomizado/entubado:

um estudo preliminar sobre os signos não-verbais paraentender e cuidar em Enfermagem./ Priscila de Castro Handem. –2007

76f.; 30cm. Orientador: Nébia Maria Almeida de Figueiredo Dissertação(Mestrado)– Universidade Federal doEstado do Rio de

Janeiro(2003). Centro de Ciências Biológicas e daSaúde. Programa de

Pós-graduação. Mestrado em Enfermagem. Bibliografia: f 68 70

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PRISCILA DE CASTRO HANDEM

COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL COM O CLIENTE

TRAQUEOSTOMIZADO/ENTUBADO: um estudo preliminar sobre os Signos Não-verbais

para Entender e Cuidar em Enfermagem

Dissertação apresentada à Universidade

Federal do Estado do Rio de Janeiro, como

requisito parcial para a obtenção do grau

de Mestre em Enfermagem.

Aprovada em

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ Profª. Drª. Nébia Maria Almeida de Figueiredo

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

______________________________________________ Profª. Drª. Silvia Tereza Carvalho de Araújo

Universidade Federal do Rio de Janeiro

______________________________________________ Profª. Drª. Maria Aparecida de Luca Nascimento

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

______________________________________________ Profª. Drª. Iraci dos Santos

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

_____________________________________________ Profª. Drª. Leila Maria Rangel

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

5

Dedicatória

A Deus pela força emanada e presente tanto nos momentos de

tranqüilidade quanto nos mais difíceis da minha vida.

Ao meu marido Ronilson, que é parte da minha vida e esteve o

tempo todo presente nesta construção, incentivando-me para

obter sempre o melhor.

Aos meus familiares, que demonstraram paciência nas minhas

ausências no período em que estive desenvolvendo este trabalho,

acreditando sempre nos bons frutos a serem colhidos.

6

AGRADECIMENTOS

À minha professora e amiga Dra. Nébia Maria Almeida de Figueiredo que nunca deixou

de incentivar seus alunos a buscarem conhecimentos novos e inovadores para si e para a

Enfermagem, sempre sonhando, acreditando e concretizando. Sua presença, sempre

marcante nestas construções, sem dúvida fazem diferença para as pessoas, para a

ciência e principalmente para os clientes da Enfermagem.

Ao meu marido Ronilson, mais uma vez, pela reciprocidade na construção das nossas

dissertações, pela dedicação à Enfermagem de um modo geral, sempre acreditando em

mudanças para melhorar tanto a prática como o ensino de Enfermagem.

À todos aqueles que de algum modo contribuíram para o meu sucesso, com palavras, gestos, e

por que não dizer sinais e signos, capazes de indicar afeto, esperança e amor tanto no campo

pessoal como no profissional.

Às professoras Drª. Maria Aparecida de Luca Nascimento e Drª. Silvia Tereza Carvalho de

Araújo que contribuíram e me apoiaram significativamente neste caminhar, ainda novo para a

Enfermagem.

Ao professor Dr. Renan Tavares que muito contribuiu no início desta construção, mostrando

que a interdisciplinaridade nada mais faz do que contribuir para o engrandecimento da

ciência.

Aos meus pais, irmão, amigos, parentes e àqueles que de algum modo acreditaram que eu

poderia vencer mais este desafio.

7

“Razão, observação e experiência – a trindade completa da ciência”.

(Robert G. Ingersoll)

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Handem, P.C. Comunicação não-verbal com o cliente traqueostomizado/entubado: um estudo preliminar sobre os signos não-verbais para entender e cuidar em enfermagem.

Dissertação(Mestrado) – Programa de Pós graduação em Enfermagem – Mestrado, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007. 76f

RESUMO

Este estudo trata de investigar aspectos relacionados ao cuidado de Enfermagem prestado aos clientes traqueostomizados/entubados, que estão impossibilitados de se

comunicar verbalmente através da fala, o que interfere no entendimento dos aspectos biológicos psicológicos e emocionais destes clientes pela equipe de Enfermagem. Os

objetivos foram: Identificar os signos não-verbais de conforto e desconforto emitidos pelo cliente traqueostomizado/entubado internado no Centro de Terapia Intensiva

durante o cuidado que a equipe de Enfermagem realiza; Caracterizar a comunicação não-verbal dos clientes traqueostomizados/entubados internados no CTI a partir dos signos não-verbais emitidos por eles e; Analisar as implicações da decodificação dos signos não-verbais utilizados na comunicação do cliente traqueostomizado/entubado

para a Enfermagem. É um estudo perspectivo, descritivo exploratório cuja proposta é a de investigar signos não-verbais de conforto e desconforto emitidos pelo cliente

traqueostomizado/entubado, através da abordagem quanti-qualitativa onde se buscou compatibilizar estas abordagens de modo que nos permitissem trabalhar e responder, tanto as questões implícitas, quanto àquelas mais claramente evidenciadas no estudo,

facilitando assim o trabalho de interpretação e identificação dos achados obtidos. Para investigar os signos não-verbais do cliente foi realizado um acompanhamento da evolução do seu estado clínico e de suas interações durante a comunicação com os

profissionais do CTI. Nos resultados foram evidenciadas duas categorias de análise: 1) Chamando a atenção da Enfermagem: agitando braços e mãos para chamar quem está

longe; 2) Explicando conforto e desconforto: o rosto e suas mímicas e gestos para dizer o que quer da Enfermagem – estar perto. Concluímos que sair dos modelos dominantes da produção de conhecimento que exige instrumentos diversos para captá-los em imagem – em movimento, foi um desafio, e pensar numa comunicação não-verbal que assume uma concretude esperada e acreditar que estamos num outro caminho, o da subjetividade, o da semiologia, se adequa ao que a Enfermagem atual pensa. A decodificação dos signos

associada ao que foi observado diz que o cuidado para clientes traqueostomizados depende de como as enfermeiras e sua equipe entendem e exercitam o ouvir e o olhar

para intervir – ação de atender a solicitação dos clientes feitas através das mãos fazendo sons nas grades, e, de saber ter na expressão do rosto, as mímicas e os gestos indicando que isso só pode acontecer pela proximidade da enfermeira e sua equipe, comunicação

(nessa situação de um que fala e do outro que não fala) se faz olhando no rosto. Finalmente, podemos dizer que os resultados deste estudo poderão ampliar as fronteiras sobre comunicação com clientes traqueostomizados/entubados em Centros de Terapias Intensivas, oferecendo subsídios para o aprofundamento dos conhecimentos sobre os

signos não verbais. Palavras-chave: Comunicação; Cliente-traqueostomia; Signos; Cuidado de Enfermagem.

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Handem, P.C. Not-verbal communication with tubed/tracheostomized customer: a preliminary study of the not-verbal signs to underestand and to take care in nursing. Dissertação(Mestrado) – Programa de Pós graduação em Enfermagem – Mestrado,

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007. 76f

ABSTRACT

This study treats to investigate aspects related to the care of Nursing given to the tubed/ tracheostomized customers, that they are disabled to communicate verbally through

speaks, what intervenes with the agreement of the psychological and emotional biological aspects of these customers for the team of Nursing. The objectives had been: To identify to the not-verbal signs of comfort and discomfort emitted by the interned tubed/ tracheostomized customers in the Center of Intensive Therapy during the care

that the team of Nursing carries through; To characterize the not-verbal communication of the interned tubed/ tracheostomized customers in the CTI from the not-verbal signs

emitted by them and; To analyze the implications of the decoding of the used not-verbal signs in the communication of the tubed/ tracheostomized customers for the Nursing. It

is a perspective study, descriptive exploratório whose proposal is to investigate not-verbal signs of comfort and discomfort emitted by the tubed/ tracheostomized

customers, through the quanti-qualitative boarding where if it searched to make compatible these boardings in way who allowed in them to work and to answer, as much the implicit questions, how much to that more clearly evidenced in the study, facilitating

the work of interpretation and identification of the gotten findings. To investigate the not-verbal signs of the customer a accompaniment of the evolution of its clinical state and its interactions during the communication with the professionals of the CTI was

carried through. In the results two categories of analysis had been evidenced: 1) Calling the attention the Nursing: agitating arms and hands to call who is far; 2) Explaining

comfort and discomfort: the face, mimic and gestures to say what it wants of the Nursing - to be close. We conclude that to leave the dominant models of the knowledge production that demands diverse instruments to catch them in image - in movement,

was a challenge, and to think about a not-verbal communication that assumes a waited concretude and to believe that we are in one another way, of the subjectivity, of the semiologia, if it adjusts what the current Nursing thinks. The decoding of the signs associated with what was observed says that the care for tubed/ tracheostomized

customers depends on as the nurses and its team understands and exercises hearing and the look to intervine - action to take care of to the request of the customers made

through the hands making sounds in the gratings, and, to know to have in the expression of the face, mimic and the gestures indicating that this only can happen for the

proximity of the nurse and its team, communication (in this situation of that it speaks and other that it does not speak) if makes looking in the face. Finally, we can say that the

results of this study will be able to extend the borders on communication with tubed/ tracheostomized customers in Centers of Intensive Therapies, offering subsidies for the

deepening of the knowledge on the not verbal signs.

Key –words: Communication; Customer-tracheostomy; Signs; Care of nursing

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 Similaridades de Cuidados ............................................................................... 15

Diagrama 1 Semiologia da linguagem do cliente traqueostomizado/ entubado ................. 31

Quadro 2 Signos expressos pelo Cliente 01 ...................................................................... 45

Quadro 2.1 Regiões Corporais do Cliente 01 que emitiram signos .................................. 45

Quadro 3 Signos expressos pelo Cliente 02 ..................................................................... 46

Quadro 3.1 Regiões Corporais do Cliente 02 que emitiram signos .................................. 46

Quadro 4 Signos expressos pelo Cliente 03 ...................................................................... 47

Quadro 4.1 Regiões Corporais do Cliente 03 que emitiram signos ................................ 47

Quadro 5 Signos expressos pelo Cliente 04 ..................................................................... 48

Quadro 5.1 Regiões Corporais do Cliente 04 que emitiram signos ............................... 48

Quadro 6 Signos expressos pelo Cliente 05 ..................................................................... 49

Quadro 6.1 Regiões Corporais do Cliente 05 que emitiram signos ............................... 49

Quadro 7 Signos expressos pelo Cliente 06 ...................................................................... 50

Quadro 7.1 Regiões Corporais do Cliente 06 que emitiram signos .............................. 51

Quadro 8 Os significantes ............................................................................................. 51

Quadro 9 Signos expressos por todos os clientes ......................................................... 52

Esquema 1 Regiões corporais utilizadas para a comunicação ........................................... 53

Diagrama 1 Comunicação entre Cliente Traqueostomizado e Equipe de Enfermagem ..... 66

11

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 01

1.1 OBJETIVOS .............................................................................................................. 08

1.2 RELEVÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO......................................................................... 08

2. REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 11

2.1 CUIDADO, ENFERMAGEM, COMUNICAÇÃO E SIGNOS ................................. 11

2.1.1 SOBRE O CUIDADO DE ENFERMAGEM ........................................................... 11

2.1.2 SOBRE A COMUNICAÇÃO NO CUIDADO DE ENFERMAGEM ...................... 21

2.1.3 SOBRE SIGNOS ....................................................................................................... 28

3. O CAMINHO METODOLÓGICO DA INVESTIGAÇÃO ................................. 35

3.1 O CENÁRIO ................................................................................................................ 36

3.2 SUJEITOS DO ESTUDO .......................................................................................... 37

3.3 PROCEDIMENTOS PARA COLETAR OS DADOS ............................................... 38

3.3.1 ASPECTOS ÉTICOS DA INVESTIGAÇÃO .......................................................... 38

3.3.2 SOBRE A FILMAGEM ........................................................................................... 39

3.3.3 SOBRE A OBSERVAÇÃO ...................................................................................... 41

4. RESULTADOS ............................................................................................................ 42

4.1 COMO TRABALHAMOS OS MATERIAIS CONTIDOS NA FILMAGEM ............ 42

4.2 O FILME E A OBSERVAÇÃO ..................................................................................... 43

4.3 CARACTERIZANDO A COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL E ANALISANDO

IMPLICAÇÕES ................................................................................................................... 54

4.3.1 PRIMEIRA CATEGORIA: CHAMANDO A ATENÇÃO DA ENFERMAGEM:

AGITANDO BRAÇOS E MÃOS PARA CHAMAR QUEM ESTÁ LONGE ..................... 54

4.3.2 SEGUNDA CATEGORIA: EXPLICANDO CONFORTO E DESCONFORTO: O

ROSTO E SUAS MÍMICAS E GESTOS PARA DIZER O QUE QUER DA ENFERMAGEM

– ESTAR PERTO ................................................................................................................... 60

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS – ENTENDENDO OS SIGNOS NÃO-VERBAIS NO CUIDADO DE ENFERMAGEM .............................................................................. 63

REFERÊNCIAS .......................................................................................... 68

ANEXO ................................................................................................................... 71

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1. Introdução Estudo desenvolvido a partir de reflexões durante a minha atuação como enfermeira

em um Centro de Terapia Intensiva (CTI) pela experimentação de diversas dificuldades

durante as tentativas de comunicação com os clientes traqueostomizados/entubados e

internados nestas unidades. Ressaltamos neste sentido que as dificuldades enfrentadas não se

restringiam exclusivamente à equipe de enfermagem, abrangendo também todos os membros

da equipe interdisciplinar.

Então, pensar nas dificuldades enfrentadas no dia-a-dia pela equipe de enfermagem ao

tentar estabelecer uma comunicação com este tipo de cliente, tornou-se uma motivação para

investigarmos e compreendermos o fenômeno da comunicação nesta situação. Desta forma

buscamos facilitar o entendimento sobre este fenômeno, para que pudéssemos ajudar os

profissionais de Enfermagem a compreender os signos não-verbais de conforto ou de

desconforto expressos pelo corpo dos clientes traqueostomizados, isto é, daqueles que estão

impossibilitados de se comunicar através da forma verbal oral.

Stefanelli et al (2005, p.29) nos traz o entendimento de que para o processo da

comunicação ocorrer faz-se necessário “compreender e compartilhar mensagens enviadas e

recebidas, e as próprias mensagens e o modo como se dá seu intercâmbio exercem influência

no comportamento das pessoas envolvidas”. Ampliando esta afirmativa em nosso estudo, o

intercâmbio de mensagens que trataremos ocorrerá de forma diferenciada, porque a equipe de

enfermagem pode utilizar a comunicação verbal ou a não-verbal para emitir mensagens,

enquanto o cliente traqueostomizado/entubado não consegue verbalizá-las, restringindo-se

somente a comunicação não-verbal.

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De acordo com Silva (2003, p.23) comunicar é “o processo de transmitir e receber

mensagens por meio de signos”, sendo assim acreditamos que para a Enfermagem se

comunicar com o cliente traqueostomizado/entubado será necessário compreender os signos

não-verbais emitidos por eles. Sobre os signos a autora complementa ainda dizendo que são

“estímulos que transmitem uma mensagem, qualquer coisa que faça referência a outra coisa

ou idéia... são convencionais e arbitrários”.

A comunicação não-verbal da qual trataremos, é referenciada por Silva (2003, p.28)

como aquela que “não está associada às palavras”, esta comunicação pode ocorrer através da

expressão facial, dos gestos, dos movimentos do corpo, da postura corporal, do toque, ou seja,

através das diversas formas de expressão corporal.

Entendemos as mensagens não-verbais emitidas pelo cliente

traqueostomizado/entubado como signos que necessitam ser decodificados para o

estabelecimento de uma comunicação efetiva, isto é, para que o enfermeiro compreenda o que

o cliente tenta transmitir. No que se refere ao signo, nos apoiamos em Epstein (1991, p.08)

quando afirma que o signo é “algo que está por outra coisa” para trazer à discussão os signos

de conforto ou desconforto emitidos pelo corpo do cliente traqueostomizado como forma de

comunicação com a Enfermagem.

Para Barthes (1971, p.43) o signo é composto por “um significante e um significado”.

O significante é o “elemento que impressiona nossos sentidos, é a expressão do signo”. Já o

significado é o “conteúdo”, “a interpretação de um signo, uma representação psíquica”.

Trazendo esses conceitos para a realidade do cliente traqueostomizado/entubado, internado no

CTI, poderíamos dizer que quando identificamos em sua face a “testa enrugada”,

compreendemos esta expressão como significante, que está sendo apresentado através da

expressão no rosto e que pode ser interpretado como uma manifestação de dor ou como

desconforto, que corresponde ao significado, ao conteúdo do signo.

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Sabemos que não é fácil compreender o que o outro expressa, podendo às vezes ser

confundido, e por isso, levar à uma interpretação errada sobre o significado do signo. Neste

sentido os enfermeiros e enfermeiras que cuidam do cliente traqueostomizado/entubado

precisam ter uma atenção ainda maior ao cuidar, ou seja, estabelecer uma interação, uma

sintonia ao lidar com este tipo de cliente. Reportamo-nos a Figueiredo (1999, p.25) quando

afirma que:

todas as ações humanas dependem de interações, e estas não acontecem simplesmente por acontecer. Elas acontecem porque existe um corpo, uma vida, um instrumento humano que funciona através de movimentos sensoriais. Estes movimentos são respostas do corpo a tudo o que os sentidos captam da natureza.

O corpo do cliente traqueostomizado/entubado pode então, expressar-se pela

linguagem não verbal, isto é, através das expressões em seu rosto, pela posição apresentada

pelo seu corpo no leito, por alterações em seus sinais vitais, como as variações de

temperatura, presença de tremores, calor, rubor, suor, dentre outras. Tudo isto pode ser

entendido como signo, mas é preciso que o enfermeiro tenha sensibilidade para

captar/decodificar nos mínimos detalhes o real significado do que o cliente tenta expressar.

Neste sentido traremos neste estudo ferramentas/instrumentos capazes de possibilitar o nosso

entendimento, através do corpo que está impedido, temporariamente ou permanentemente, de

se comunicar verbalmente.

Interpretando Weill e Tompakow (1986), entendemos que o corpo do cliente

traqueostomizado/entubado emite signos como “ferramentas da mente” e para decodificar,

para traduzir estes signos, precisamos entender que o corpo fala, pois ele é o “centro de

informações de uma linguagem que não mente, que estabelece uma dimensão na comunicação

pessoal”. Para tanto, relevamos a investigação do que o corpo do cliente

traqueostomizado/entubado fala, buscando o significado dos seus signos de conforto que ele

expressa através de estabilidade dos sinais vitais, da presença do sorriso, dos braços e pernas

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semi-flexionados, ou ainda de desconforto expressos através do choro, olhar cabisbaixo, testa

enrugada, elevação da freqüência cardíaca, dentre outros.

Durante a realização do curso de pós-graduação, Residência em Enfermagem,

desenvolvemos um estudo monográfico versando sobre como os enfermeiros e enfermeiras se

comunicavam com os clientes impossibilitados de expressarem verbalmente suas

necessidades, uma vez que estavam traqueostomizados. Na construção do referido estudo

monográfico observamos que os profissionais de Enfermagem, ao se aproximarem dos

clientes traqueostomizados, por não entenderem o que eles tentavam expressar, não

conseguiam cuidar integralmente, pois não decodificavam o que os seus corpos expressavam

através de signos.

Neste contexto, quando algum membro da equipe de Enfermagem se aproximava

destes clientes para prestar algum cuidado, a forma como buscavam interagir com eles

perpassava pelas questões a seguir destacadas: “Senhor! Vou fazer algumas perguntas e o

senhor poderá respondê-las piscando os olhos para dizer sim ou mantendo-os abertos quando

quiser dizer não. Então vamos lá: O senhor está bem? Está sentindo alguma dor? Dormiu

bem?”.

Então, quando os clientes piscavam os olhos sinalizando à equipe de Enfermagem de

modo afirmativo, “Sim!”, como por exemplo para responder que estava sentindo dor, então o

profissional dizia: “Tudo bem! Vou providenciar uma medicação para o senhor!”.

Percebemos então, que os profissionais atendiam às solicitações dos seus clientes sem fazer

maiores questionamentos, ou seja, não buscavam investigar a origem da dor que o cliente

expressava, não decodificavam as informações recebidas dos seus clientes de modo que

compreendessem melhor o significado do “sim” emitido através do piscar dos olhos de seus

clientes.

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As equipes de enfermagem utilizavam apenas medidas terapêuticas pré-determinadas,

como a administração de medicamentos prescritos em caso de dor, quando o motivo da dor

expressa através do piscar de olhos do cliente, poderia ser provocada pela dobra do lençol,

pela ausência de um travesseiro, pela presença da tampa de um equipo de soro entre o lençol e

seu corpo, pela roupa molhada ou mesmo pela sonda repuxando no local de fixação.

Estes problemas poderiam ser mais bem compreendidos se estes profissionais fossem

capazes de investigar o significado real da causa da dor, como por exemplo, buscar no corpo

do cliente signos que indicassem a origem do desconforto, podendo posteriormente agir na

origem do problema, seja providenciando um travesseiro, esticando a dobra do lençol ou

ainda retirando objetos que, porventura, pudessem estar sob o seu corpo.

A opção por estudar o corpo do cliente traqueostomizado/entubado internado no

Centro de Tratamento Intensivo ocorreu, por acreditar que existem cuidados específicos e

necessários no que se refere à comunicação não-verbal destes clientes com as demais pessoas

(familiares ou equipe interdisciplinar). Precisamos considerar que logo após a realização do

estoma no pescoço do cliente (a traqueostomia) ou após a introdução do tubo orotraqueal, ele

se percebe sem a possibilidade de se comunicar através da fala, fato que pode gerar

impaciência, raiva, angústia, medo e ansiedade por não ser compreendido (Smeltzer e Bare

(1999, p.412)).

O cliente então, fica impossibilitado de se comunicar através da linguagem verbal,

visto que apresenta a perda temporária ou definitiva da fala, às vezes, levando-o a vários

distúrbios emocionais, (em virtude da traqueostomia), e, além disso, a própria patologia de

base que apresenta pode estar relacionada com outros acometimentos que podem lhe impor

limitações físicas, como a diminuição da motricidade, a utilização de acesso venoso periférico

e a presença de edemas nos membros superiores. Tudo isto ainda é somado à necessidade do

cliente ter que permanecer em decúbito dorsal grande parte do tempo em que permanece no

17

CTI, gerando assim maiores dificuldades na utilização de recursos como papel e caneta ou da

lousa mágica, para se comunicarem através da linguagem escrita, o que seria mais fácil se

pudessem permanecer também em posição ortostática.

A lousa mágica consiste em um quadro branco magnético com pincel atômico

revestido por material plástico colorido, normalmente de forma retangular e com dimensões

variadas, que permite a escrita de palavras ou a realização de desenhos em sua superfície. A

vantagem que este quadro oferece é que se pode escrever em sua superfície inúmeras vezes,

sem a necessidade de descartá-lo, pois ele possui uma lâmina plástica em seu interior que

funciona como um apagador, ou seja, a lâmina plástica desorganiza as partículas magnéticas

aproximadas pelo pincel atômico, desmanchando as palavras ou desenhos de sua superfície e

possibilitando a escrita de novas palavras ou desenhos. Esta seria uma tecnologia aplicável na

comunicação enfermeiro – cliente que não verbaliza.

A princípio, este quadro foi disponibilizado nas lojas comerciais para servir como um

brinquedo educativo, mas sua utilização foi adaptada, como descrevem Smeltzer e Bare

(1999, p.412), para a comunicação verbal escrita do cliente que apresenta perda temporária ou

definitiva da fala, neste caso, àquele submetido à traqueostomia ou a entubação orotraqueal.

Percebemos no entanto, em nossa prática, que o fato do cliente

traqueostomizado/entubado não conseguir utilizar a comunicação verbal oral ou escrita para

transmitir mensagens, resultava em algumas escassas tentativas por parte da equipe de

enfermagem em estabelecer alguma forma de comunicação, na tentativa de obter quaisquer

informações destes clientes. Não que a equipe de enfermagem deixasse de falar com eles, mas

ao falar, por não receber o seu retorno verbal, não os compreendia, e por isso estas tentativas

não resultavam em comunicação, pois o cliente só conseguia responder às mensagens através

de expressões corporais que a equipe de enfermagem não entendia.

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É importante ressaltarmos neste estudo o que é entendido como comunicação, por isso

nos reportamos as informações de Stefanelli (2005 p. 29), sobre a definição de comunicação

como um processo que para ser desencadeado requer:

alguém (emissor) com uma necessidade de transmitir ou saber algo (mensagem), que precisa ser dito para outra pessoa. O emissor sente-se, então, estimulado a iniciar um contato interpessoal e pensa em como fazê-lo (codificação) e como enviá-lo (canal) a fim de tornar comum o conteúdo de sua informação ou idéia para outra pessoa(receptor).

Por isso voltamos nossa atenção para as expressões não-verbais emitidas pelo corpo do

cliente traqueostomizado/entubado, para desvendar tanto os aspectos objetivos quanto os

subjetivos que são expressos pelo corpo do cliente, e que, por vezes, não são valorizados

porque não se consegue decodificá-los, não se consegue entendê-los, e assim os signos

permanecem incompreensíveis no Centro de Terapia Intensiva. E por isso, não se consegue

satisfazer as necessidades destes clientes, porque o que seus corpos emitem como mensagens

não verbais não é compreendido. Corpos que são emissores de singulares expressões sígnicas

quando é cuidado pela Enfermagem no CTI.

Sobre o corpo, Figueiredo et al (1998, p. 145) corroboram com neste entendimento ao

conceituá-lo como “unidade psicossomática e espiritual que fala e se expressa ... revela-se em

tom, cor, postura, proporções, movimentos, tensões e vitalidade, entendidos como expressões

do interior de cada pessoa, que é energia em movimento, que é onda e partícula.”. O que

compreendemos é que o corpo do cliente traqueostomizado/entubado deve ser visto em sua

totalidade, pois expressa através de diversas formas não-verbais aspectos objetivos, como

uma elevação da temperatura corporal, e subjetivos, como o medo de não melhorar seu estado

de saúde.

Para nós, entender o que este corpo fala, o que ele expressa nesta condição particular

de estar traqueostomizado/entubado, torna-se mais difícil por estarmos mais acostumados,

mais treinados a utilizar, a tentar interpretar a linguagem verbal escrita ou falada. Acreditamos

que o profissional ao desenvolver o hábito de observar as expressões corporais dos seus

19

clientes, pode tornar-se capaz de identificar expressões que o emissor (cliente) está tentando

enviar ao receptor (equipe de enfermagem). Sejam mensagens informando que ele está bem,

em equilíbrio com o seu meio, ou que algo o incomoda e que está errado, pois sabe como é o

funcionamento natural do seu corpo.

Diante do exposto, pretendemos responder a seguinte questão norteadora: Quais

signos não-verbais de conforto e desconforto expressos pelo corpo do cliente

traqueostomizado/entubado podem ser utilizados na comunicação para cuidar em

Enfermagem?

Estabelecemos como objeto deste estudo os signos não-verbais de conforto e

desconforto emitidos pelo corpo do cliente traqueostomizado/entubado como forma de

comunicação com a Enfermagem.

1.1. OBJETIVOS

● Identificar os signos não-verbais de conforto e desconforto emitidos pelo cliente

traqueostomizado/entubado internado no CTI durante o cuidado que a equipe de Enfermagem

realiza;

● Caracterizar a comunicação não-verbal dos clientes traqueostomizados/entubados

internados no CTI a partir dos signos não-verbais emitidos por eles;

● Analisar as implicações da decodificação dos signos não-verbais utilizados na comunicação

do cliente traqueostomizado/entubado para a Enfermagem.

1.2. RELEVÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO

Este estudo integra a linha de pesquisa cadastrada no Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) denominada como: “Cuidado de

Enfermagem: o cotidiano da prática de cuidar e ser cuidado”. Sendo assim preocupa-se em

20

investigar aspectos relacionados ao cuidado de Enfermagem prestado aos clientes

traqueostomizados/entubados, que estão impossibilitados de se comunicar verbalmente

através da fala, o que interfere no entendimento dos aspectos biopsicoemocionais destes

clientes pela equipe de Enfermagem.

Desde a graduação em Enfermagem, através do programa de bolsas de iniciação

científica do CNPq, temos desenvolvido pesquisas voltadas ao cuidado de Enfermagem,

valorizando o cuidado sensível que se atém a aspectos que vão além das patologias que

eventualmente acometem o corpo físico do cliente, mas que preocupa-se em entender para

atender as questões subjetivas que envolvem cada cliente diante das dificuldades enfrentadas.

Neste momento, voltamos nossa atenção às formas não-verbais utilizadas pelo cliente

traqueostomizado/entubado, para que seja entendido por quem cuida de seu corpo.

Assim, a relevância está em trazer à tona a discussão sobre as estratégias que a

enfermagem precisa criar para se comunicar com o cliente traqueostomizado/entubado, sobre

que instrumentos podemos utilizar para facilitar o entendimento de nossos clientes durante a

prática de cuidar em Enfermagem. Investigar os signos do corpo deste cliente para comunicar

e cuidar em Enfermagem torna-se então essencial quando pensamos na Enfermagem como

área de conhecimento que busca fundamentar algumas de suas práticas, que emergem do

empírico, das experiências de cuidar, em bases científicas validadas a partir do

desenvolvimento e da construção de novos conhecimentos científicos.

Silva (2003, p.46) apóia este entendimento ao descrever uma analogia entre a

comunicação e um iceberg, referindo à sua porção superior como o que corresponde à

comunicação verbal, e o que há por debaixo da água, “debaixo das palavras pronunciadas” é

um vasto número de signos que correspondem a maior parte da expressão dos pensamentos. E

o que buscamos neste estudo é iniciar a decodificação da variedade de signos não-verbais

expressos pelo cliente traqueostomizados/entubados.

21

A escassez de estudos na área de enfermagem abordando a leitura dos signos corporais

dos clientes traqueostomizados/entubados, também foi algo provocador de estímulo para

mergulharmos nesta investigação, que poderá contribuir com os diversos alunos de

Enfermagem e profissionais de saúde que lidam com estes clientes em seu dia-a-dia.

Buscamos então, a partir da decodificação dos signos corporais destes clientes, desvendar os

significados das expressões de seus corpos, visando estabelecer uma comunicação com ele,

para em primeiro lugar entendê-lo, o que permitirá posteriormente a prestação de um cuidado

que se assemelhe àquele proposto por Waldow (1998, p.56), isto é, um cuidado humano, que

para a autora “é aquele que considera a essência humana como norteadora das ações de

cuidar em Enfermagem, um cuidado que considera a sensibilidade, o afeto, o amor, o medo, o

carinho, a atenção, o se colocar na condição do cliente e de sua família”.

Além disso, o exercício de investigar as expressões do corpo do cliente

traqueostomizado/entubado pode estimular a Enfermagem a exercitar a percepção dos signos

de conforto e desconforto no corpo de outros clientes, em outras unidades hospitalares. Sobre

este tema Tavares et al (2005, p.02) afirmam que:

...a capacidade sensível da leitura destes signos múltiplos pode vir a munir a Enfermagem de instrumentos capazes não só de por em questão todos os aspectos do mundo objetivo e descritivo externo, como também do mundo interno, ou seja, do homem considerado holisticamente.

Assim, queremos buscar e mostrar evidências de que o cuidado prestado com

sensibilidade aos clientes traqueostomizados deve estar na prática de Enfermagem,

independente da unidade em que o cliente esteja internado. E com esta mesma sensibilidade,

aguçar os sentidos para detectar o não dito, o não explícito objetivamente, isto é, aquilo que o

cliente deseja como forma de minimizar o seu sofrimento pela incapacidade de verbalizar o

que está sentindo e que pode ser resolvido, se os profissionais da prática de Enfermagem se

capacitarem e usarem instrumentos facilitadores desta prática.

22

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 CUIDADO, ENFERMAGEM, COMUNICAÇÃO E SIGNOS

2.1.1 Sobre o CUIDADO de ENFERMAGEM

Antes de iniciar a apresentação e sem querer nos aprofundar em um capítulo histórico

sobre o cuidado acreditamos ser necessário pontuá-lo, uma vez que estamos falando sobre ele,

assim trazemos conteúdos teóricos básicos a partir da leitura de Mota e Lopes (1995).

Acreditamos que falar sobre o cuidado é pertinente porque ele é uma das bases teóricas do

objeto deste estudo delimitado como os signos não-verbais de conforto e desconforto emitidos

pelo corpo do cliente traqueostomizado/entubado como forma de comunicação com a

Enfermagem.

Não é estranho a nenhum de nós que a história do cuidado está na origem do universo

e começa com as mães cuidando de seus filhos ou de animais não racionais cuidando de seus

filhotes, como é o caso dos macacos, dos felinos, dos pássaros, dentre outros, assim o cuidado

estava na natureza. Desde a época de que se tem o entendimento do que é o mundo, é possível

identificar cuidados através das manifestações de cuidar do corpo, do preparo de alimentos,

do preparo do ambiente (casa ou ninho), etc. Essa imagem de cuidar que facilmente

identificamos como expressão de uma ação para com o outro, também foi construída através

dos tempos, passando por informações de falas e/ou de desenhos “empíricos”, sobre coisas e

atos entendidos como cuidados.

23

Não temos dúvida de que o cuidado que abordamos nesta dissertação traz em sua

memória histórica a história do cuidado que não é deslocada de cada época, de cada ideologia

e de cada movimento social, que evolui a partir de seus autores/seguidores e que nessa

história e evolução existem signos e situações que não são estranhas a cada época em que

cuidar, provavelmente de cliente em condições iguais dos deste estudo, também aconteceu,

pelo menos no que diz respeito à comunicação.

Captar imagens de épocas tão remotas é um trabalho árduo e que não é nossa intenção.

Mesmo assim é possível encontrar em livros antigos imagens de cuidados com feridas, no

transporte de pessoas doentes, nos partos realizados. Tudo isso provavelmente era entendido

porque havia a emissão de signos e o cuidar tinha o sentido de aliviar, e/ou curar a dor.

O sentido mais presente na ação de cuidar envolve pessoas, ambientes e necessidades

de alguém ser cuidado. Assim é imprescindível pensar que CUIDAR implica em interação de

alguém com alguém e com o mundo, numa forma de entender e viver a vida nas situações de

saúde ou de doença.

Os estudos sobre o desenvolvimento humano independente de ser homem ou mulher

traziam em si o desejo de sobrevivência que exigia alimento, água e um local seguro para

morar. Assim um dos diversos cuidados era expresso na construção dos abrigos, que os

protegiam dos inimigos, contra o frio e também contra chuva. Tudo isso era seguido da

construção de tecnologias diversas que produziam artefatos, as peles para cobrir os corpos,

materiais para a pesca e utensílios para o preparo de alimentos.

Nestas atividades foram sendo utilizados os SENTIDOS de tocar, cheirar, conversar,

ouvir, ver, sentir cheiros diversos que identificavam pessoas, ambientes, alimentos e assim

iam ampliando a expressão do cuidado, ora registrado por homens ora registrado por mulheres

que foram as que mais criaram expressões, técnicas e modos de cuidar diversos, além da

utilização de chás ou ervas para tratar.

24

Desde as origens bíblicas acerca do cuidado até a atualidade, muitos séculos se

passaram, e é na bíblia que estão os códigos de moral, que continham regras de disciplina e

comportamento. Uma das figuras mais importantes desta época é Jesus, que se mostrou um

ser do cuidado, um restaurador de corpos (físico-espírito), marcando o cuidado com

sentimentos de compaixão, misericórdia, humildade e amor que perduram até hoje em

diversos discursos.

No entanto foi nas civilizações grega e romana que o mundo ocidental passou a ser

beneficiado pelos registros e experiências nos campos da ciência, da medicina, das artes além

da filosofia e literatura. De 800 anos D.C. até o século XIX o mundo passou por inúmeras

mudanças de evoluções e até de novas desconstruções. Este, sob diversos modelos de poder e

muito intensamente sob o domínio da Igreja, marcando os corpos através de princípios rígidos

e de extrema intolerância àqueles que não os seguiam. Assim as formas de cuidar, a quem

cuidar e quem cuidava, eram orientadas pelos religiosos que centravam suas preocupações à

família e à comunidade.

Nessa incursão, passeio que fizemos pela história da civilização é possível pesar de

fato, o cuidado (não definido) a partir do século XIV, quando a Europa foi devastada pela

peste bubônica e que com ela muitas pessoas morreram não só em casa, mas pelas ruas

lamacentas e sem cuidados específicos para eles. Acredita-se que, provavelmente, as mulheres

estavam cuidando nas casas mais simples ou nos castelos.

Os séculos que se seguiram até o XVII foram de novas descobertas de terras, de

aumento econômico, de tecnologias. Nesse período surgem as primeiras universidades, a

astrologia, as cartografias dos espaços e seus donos e os conhecimentos sobre tecnologia com

terapêutica e anatomia. No Brasil tudo isso foi introduzido pelos jesuítas, carregado de bases

religiosas em sua prática.

25

Até então a Enfermagem inexistia, mesmo após grandes descobertas na área do corpo

como o caso da descoberta da circulação sangüínea em 1628 por Harvey. Foi neste período

que iniciaram-se os questionamentos sobre poder não instituído das autoridades, dos donos

das terras por pessoas como Francis Bacon, Kepler, Galileu, Newton, Descartes e Pierre

Bayle.

Em 1798, Thomas Malthus alertava o mundo para o crescimento exagerado da

população e que suas conseqüências seriam desastrosas e atingiriam, principalmente os

pobres. Pobres que provavelmente necessitariam de cuidados individuais e/ou coletivos e

exigiriam casas e condições de sobrevivência.

No século XVIII anuncia-se uma nova era que foi marcada pela Revolução Industrial,

trazendo com ela novas tecnologias como as máquinas à vapor, exigindo do homem novos

hábitos e habilidades ao mesmo tempo que os sujeitavam a novos riscos individuais e

coletivos. Na mesma época Karl Marx e Frederich Engels (1848) passam a estimular os

trabalhadores a se organizarem, o que acabou desencadeando diversos movimentos gerando

problemas que se intensificaram principalmente nos Estados Unidos, que acabava de libertar

quatro milhões de pessoas da escravidão. Para piorar a situação a migração de europeus para

as Américas se tornou mais um problema, agravando-se após a 1a Guerra Mundial.

No meio da Guerra surge a Enfermagem através de Florence Nightingale que passou a

ser conhecida como aquela mulher que treinou e levou para a Turquia trinta e oito enfermeiras

que iriam para o Hospital Militar de Scutrari das bases militares daquela região onde de

desenrolava a Guerra da Criméia em 1854. Nesse momento Nightingale já praticava cuidados

de Enfermagem com um discurso que, apesar de não estar fundamentado nas propostas de um

fazer com emoção e sensibilidade, nem mesmo pautado exclusivamente na ciência e sim na

arte e no ideal, conseguira mostrar que através da organização e do planejamento, bem como

do conhecimento sobre aeração, iluminação, ambiente, dentre outros, ajudava os soldados

26

feridos em Guerra a se recuperarem, e com esta prática aumentou a sobrevida dos soldados

que eram cuidados por ela e por sua equipe. Essa experiência produziu novos conhecimentos

sobre higiene e administração que perduram no pensamento e na prática das enfermeiras além

de ter investido na prática de cuidar de clientes graves.

Foi a partir dos ideais e da prática de Nightingale que uma nova profissão foi

instituída para as mulheres e estes princípios foram detalhados no seu livro “Notas sobre

Enfermagem – o que é e o que não é”. Suas idéias migraram para os Estados Unidos, foram

implantadas e trazidas para o Brasil por enfermeiras americanas para atender políticas de

Saúde Pública propostas pelo cientista brasileiro Carlos Chagas.

Mais de um século depois da Guerra da Criméia é que enfermeiras norte americanas

começam a escrever sobre Enfermagem e cuidado, contaminadas pelas idéias dos

antropólogos Margaret Mead e Claude Leví-Strauss os quais centravam o foco de seus

estudos nos hábitos, tradições, mitos, tabus e práticas religiosas de saúde e de cuidado.

Em 1991, uma das pesquisadoras americanas da Enfermagem identificada por

LEININGER iniciou investigações sobre comportamentos de cuidar em Enfermagem em

diferentes culturas que representam os valores de cada cultura estudada. Vale destacar que

nesses estudos realizados em três culturas para comparar com a do Brasil, a autora encontrou

similaridades como apresentamos no quadro organizado por nós, disposto a seguir.

Quadro I - Similaridades de Cuidados

Cultura Américo-japonesa Cultura Américo-germânica Cultura Américo-italiana ▪ Respeito pela família ▪ Organização das coisas em

seus lugares ▪ Bem estar do familiar

▪ Preocupação com os outros ▪ Integridade do familiar ▪ Controle das emoções ▪ Limpeza e asseio ▪ Envolvimento com a

família ▪ Limpeza pessoal ▪ Ajuda dos outros ▪ Resistência à dor e ao estresse

▪ Obediência às regras e pontualidade

▪ Presença através de contatos e muitos toques

▪ Tranqüilidade e passividade ▪ Proteção aos outros contra danos

▪ Expressão livre (palavras e gestos) ▪ Interesse em relação às

queixas físicas ▪ Manutenção de auto controle

▪ Ingestão de comida fresca ▪ Valorização do trabalho grupal ▪ Alimentação correta

27

▪ Boa disposição, sorrir Fonte: Leininger (1991)

Esse quadro traz signos importantes para o cuidado, signos que foram se ampliando ao

longo dos séculos e que auxiliaram no entendimento do comportamento dos clientes a partir

da compreensão de suas crenças e valores, da forma que entendem o mundo e de como

interagem com este mundo.

É na Enfermagem que observamos, cuidamos, criamos, ensinamos, e nos envolvemos

com o cliente que apresenta restrições para o auto-cuidado. As preocupações dos profissionais

de Enfermagem são muitas e variadas, e somente através da experiência diária no fazer e no

lidar com seus clientes, é que se percebe o envolvimento, a aproximação, o doar-se para a

prestação de um cuidado sensível e ao mesmo tempo científico.

Lima (1994, p.22) descreve a Enfermagem “como uma ciência humana, de pessoas e

experiências, com um campo de conhecimentos, fundamentações e práticas que abrangem do

estado de saúde ao estado de doença e mediada por transações pessoais, profissionais,

científicas, estéticas, éticas e políticas do cuidar de seres humanos”.

Nas últimas décadas no Brasil o cuidado de Enfermagem tem sido muito estudado e

sobre ele várias teóricas dissertam abordando aspectos variados que contribuem para o seu

conhecimento e aplicabilidade na própria Enfermagem, neste sentido se destacam os

conceitos de Watson apud Talento (1993, p.254), a qual acredita que “o foco principal em

Enfermagem está nos fatores de cuidado que se derivam de uma perspectiva humanista,

combinada com uma base de conhecimentos científicos”. A autora entende ainda que o

cuidado é a essência da Enfermagem e conota sensibilidade entre a enfermeira e a pessoa, ou

seja, a enfermeira co-participa com a pessoa que está dependente de cuidados.

Para Figueiredo et al (1998, p. 144) num conceito ampliado sobre o cuidado de

Enfermagem, dizem que é:

28

Ação incondicional do trabalho de enfermagem que envolve movimentos corporais; impulsos de amor, de ódio, de alegria, de tristeza, de esperança, de desespero, de energia e disponibilidade para agir, para tocar e sentir os odores do corpo, ouvindo e vendo tudo que envolve o cliente e a enfermagem. É ato libertador que representa a essência da realidade da enfermagem, porque é a própria ação humana, e vai além da liberdade de dar vazão às emoções, que envolve o próprio desejo de viver ou de morrer. Também é ação política que pode ser revolucionária. O seu acontecer pode romper com o passado, com o que está estabelecido e tornar sua/seu executor(a) mais livre e feliz, sentindo prazer em cuidar do outro.

Para os autores, pela ampliação conceitual, os elementos/proposições contidas servem

para uma Enfermagem fundamental, porque podem ser utilizados em qualquer cliente, em

qualquer nação e, portanto, qualquer doença. É um conceito de cuidar para o cliente e para a

enfermagem, que não é único e nem o mais verdadeiro, tudo depende de quem cuida e de

quem é cuidado.

No caso deste estudo destacamos a importância de um cuidado capaz de satisfazer as

necessidades dos clientes de Enfermagem, que se preocupa com seus confortos e

desconfortos, onde se evidencie a necessidade de envolvimento, tanto do cliente, quanto do

profissional, durante a assistência, como numa relação-total, sem poderes, autoritarismos ou

submissão principalmente quando o cliente não fala. Rocha et al (2004).

Para a prestação de um cuidado adequado pelos profissionais de Enfermagem junto ao

cliente impedido de verbalizar é necessária a criação de condições mínimas para que este

cuidado flua naturalmente nas ações dos enfermeiros. Neste sentido vale destacar o que

afirma Guattarri (1993, p.161) sobre a necessidade de “criarmos um ambiente com uma

estética sensível do cuidado com o corpo. É importante perceber essa dimensão, pois a

subjetividade não é sinônimo, apenas, de uma psicologia do íntimo, mas também da própria

realidade considerada concreta”. Preocupações que fazem parte da história do agora, da

modernidade.

Trazendo para dentro do texto as questões de conforto e desconforto, acreditamos que

o ambiente hospitalar apresenta por si só, características indutoras de desconfortos, uma vez

29

que os clientes internados nos nosocômios encontram-se em um ambiente diferente daquele

que estão habituados a lidar em seu dia a dia. Alguns setores das unidades hospitalares pelas

suas características podem deixar o doente mais ou menos confortável, visto que múltiplos

fatores podem influenciar o seu bem estar, como é o caso das unidades fechadas (Unidades ou

Centros de Tratamento Intensivo – UTI / CTI) agravado pelas condições dos clientes

impedidos de falar por conseqüência de patologias ou traumas, contidos no leito, longe da

família e rodeado de pessoas estranhas.

Nunes e Arruda (1995, p. 143) afirmam que “confortar é um objetivo implícito e

explícito de Enfermagem inerente ao processo de cuidar. O objetivo de tornar alguém

confortável física e psicologicamente resulta, quando alcançado, na obtenção de um estado de

conforto”. Em se tratando do conforto e do desconforto em um centro de terapia intensiva,

local onde a utilização de equipamentos, instrumentos e tecnologias variadas são necessárias

ao tratamento dos clientes que ali se encontram, os sinais de desconforto são ainda maiores

porque apesar de necessárias para o auxílio da recuperação dos enfermos, as tecnologias

empregadas neste setor são geradoras de estresse e acabam levando ao desconforto.

Neste raciocínio encontro em Silva e Porto (2006, p.69) afirmativas sobre o cuidado e

a Enfermagem ao dizerem que ela tem um modo diferente de ser e agir. Dizem que o

ambiente é intermediado por relações diversas entre clientes e profissionais, por isso é

necessário que o profissional pare para pensar sobre o que acontece ali.

Nesse sentido, dizem que “o ambiente precisa ser limpo, tranqüilo, aconchegante,

arejado, com iluminação que respeite o ritmo circadiano do cliente, e ter toques suaves de

quem cuida, não só com as mãos, mas com palavras que confortem”. Tudo isso está

intimamente ligado a idéia de que todos precisam se sentir confortados para viver e os clientes

principalmente, pois faz parte de muitas intervenções um desconforto necessário, provocado

por elas, como é o caso da aspiração das vias aéreas superiores por exemplo.

30

No estudo de Silva e Porto (2006, p.80), quando discutem os achados sobre (des)

humanização afirmam que os enfermeiros têm idéias diferentes sobre o termo, e a

responsabilidade por ela recai sobre as condições de trabalho, pela dificuldade de

proporcionar ambiente terapêutico, e isso implica na dificuldade de proporcionar conforto.

É fundamental pensar o ambiente da UTI, dizem eles, porque “é o espaço do

sofrimento, da dor e do desconforto”, e porque está relacionado à utilização de tecnologias,

procedimentos invasivos, que são geradores de dor e desconforto.

Assim, torna-se importante para os profissionais que cuidam na Enfermagem, a

reflexão sobre o que é, de fato, o “conforto” que dão a estes clientes, ou se o conforto pode ser

entendido apenas como a ausência do desconforto, ou inclusive, se o conforto significa algo

mais, como por exemplo uma emoção positiva, a paz espiritual, o prazer de saber que está

sendo bem cuidado quando doente e por pessoas que não fazem parte do seu círculo de

relacionamentos.

A tecnologia neste contexto pode então ser vista como uma aliada para a recuperação e

cura dos clientes internados no CTI, porém os ruídos dos alarmes, os sons gerados pelos seus

funcionamentos e também os ruídos provocados pelo próprio corpo profissional que ali está

tornam-se naturalmente fontes estressoras para os clientes, e neste contexto, os enfermeiros e

enfermeiras devem se atentar para o fato de que os clientes ali internados precisam ser

confortados pela amenização dos sofrimentos e desconfortos causados pela própria limitação

de estar internado.

Neste ínterim, muitas ações de Enfermagem podem favorecer os clientes como a

redução dos ruídos dentro da unidade, evitar que outros profissionais conversem

desnecessariamente e em tom elevado, diminuindo o número de alarmes disparados

desnecessariamente na unidade, respeitar o horário de repouso dos clientes, respeitar o horário

do banho e da oferta de alimentos, dentre outros, capazes de pelo menos minimizar o

31

desconforto causado pelo próprio ambiente que rodeia o cliente. Sabemos que os ruídos em

excesso são fontes estressoras, desconfortantes e capazes de gerar distúrbios psíquicos, físicos

e biológicos. Sobre isto nos reportamos a Nightingale (1989) ao referir que o ruído

desnecessário é a mais cruel falta de cuidado que pode ser imposta a uma pessoa doente, ou

até mesmo a uma pessoa sadia.

Mussi (1996, p.258) apresenta em seu texto idéias da pesquisadora Katherine Kolcaba

e do marido, filósofo, onde procuraram formular teoricamente o que seria conforto –

pensando em quem mais necessita conforto: o enfermo. Nele, identifica diferentes contextos.

A um deles chama corporal (ausência de dor), a outro ambiental (luz tênue, ar fresco e outras

variáveis bem controladas), a outro sócio cultural (com a regalia do quarto privativo num

hospital) e, por fim, a outro ainda psico-espiritual (um telefonema amigo). E para ela o

conforto tem três níveis: o alívio (imediatamente depois que cessa o desconforto, como um

sapato apertado), a liberdade (que permanece, depois do alívio) e a transcendência, que é a

compensação de um desconforto inevitável mediante um valor destacadamente positivo

noutro aspecto ou outro contexto. Logo, conforto é um complexo, e não pode depender

somente daquilo que é mensurável.

Vale destacar que múltiplas ações de Enfermagem podem minimizar o desconforto do

cliente internado no CTI, dentre elas podemos destacar os seguintes: reduzir os barulhos ou

ruídos dentro da unidade; impedir a privação do sono do cliente atentando para o excesso de

luz; o excesso de intervenções em horários inadequados; busca pela redução da dor; a

interação e a orientação do cliente, sintonizando-o com informações do dia a dia; diminuindo

os sentimentos de medo, ansiedade e temor à morte; promovendo e estimulando o familiar a

visitar o ente internado sempre que possível para minimizar o sentimento de saudade e

solidão; corroborar para a promoção da privacidade do cliente, de modo que não sinta

vergonha ou pudor enquanto se realiza procedimentos de Enfermagem ou de outras áreas da

32

saúde; manutenção da confiança e satisfação do cliente ao se realizar procedimentos e

estimular a auto-confiança, além de outras maneiras de promover a satisfação do mesmo

quando inúmeros processos realizados dentro do CTI são impeditivos ou redutores do

conforto do cliente ali internado.

Ainda neste contexto, torna-se necessário destacar a afirmativa de Silva (2001, p.15)

ao dizer:

Cada paciente possui uma história, e para descobri-la é preciso voltar a prestar atenção em como ele se movimenta, se expressa, de forma mais inteira, pois é isso que nos dá a indicação de sua personalidade, emoções de reações a respeito da situação que ele vivencia, além dos vínculos que ele tem. O não verbal é que permite essa percepção. Tem-se dito que , quando recebemos mensagens contraditórias na dimensão verbal e não-verbal, cremos mais nas mensagens não verbais, pois sinais não verbais são espontâneos, mais difíceis de serem simulados.

Assim os enfermeiros e enfermeiras devem buscar uma sintonia com o cliente

assistido, tentando compreendê-lo e detectar suas necessidades de conforto, com o intuito de

manter um grau de relacionamento capaz de mostrar o que o cliente precisa para o

restabelecimento da saúde do seu corpo. Neste sentido, Mussi (1996, p. 263) noz traz a

relação existente entre conforto e cuidado de Enfermagem e afirma que “as ações de

Enfermagem devem procurar responder as expectativas e necessidades dos pacientes”. A

autora aponta para a importância das investigações que buscam o significado e as

necessidades de conforto “sob o ponto de vista dos clientes em uma variedade de situações”.

2.1.2 Sobre a COMUNICAÇÃO no CUIDADO de ENFERMAGEM

Consideramos a comunicação como instrumento essencial para a prática de

Enfermagem e por isso buscamos explorar seus processos para ofertar um cuidado que deve

estar voltado para o entendimento do cliente como ser que age e reage em um meio/espaço,

que é capaz de afetar e ser afetado, diante das diversas situações que envolvem o cuidado de

33

Enfermagem, principalmente em situações extremas, como por exemplo, quando o cliente não

fala.

A palavra comunicar está no latim (comunicare), cujo significado é (por em comum).

Segundo Eltz (1994, p.17) ela implica em compreensão, pressupõe entendimento das partes

envolvidas. Não existirá o entendimento se não houver anteriormente a compreensão, o que

acontece no cotidiano de cuidar da Enfermagem quando se trata de clientes com essa

limitação. No caso desse estudo os clientes compreendem mas não respondem às solicitações

verbais dos enfermeiros por estarem traqueostomizados/entubados.

No nosso dia-a-dia percebemos como a comunicação é importante para a realização de

nossas atividades, algo que quando não acontece da forma como deveria, tem na comunicação

a justificativa da não conformidade e não concordância, ou seja, quando acontecem falhas na

comunicação, a possibilidade de erros na realização das tarefas são potencializadas. Ainda,

segundo Eltz (1994, p.18) “temos o mau hábito de encarar a comunicação como conflito. Na

verdade, o conflito poderá surgir quando não houver um adequado processo de comunicação”.

Vale destacar, neste sentido, que a comunicação é a compreensão e a busca da

compreensão que pode facilitar um posicionamento, gerar uma aproximação e também um

vínculo mais estreito junto ao cliente, o que facilitará o seu entendimento. Neste sentido a

compreensão deve ser o primeiro passo para o entendimento, sendo fundamental uma

significação comum para cada ponto da comunicação.

Destacamos aqui a comunicação verbal e a comunicação não-verbal e nos reportamos

às seguintes definições:

• Comunicação verbal – a comunicação verbal é aquela associada às palavras

expressas, por meio da linguagem escrita ou falada. O primeiro aspecto a ser

considerado, na comunicação verbal, quando a fala é normal, é a clareza quanto àquilo

que desejamos informar. Quando interagimos verbalmente com alguém, estamos,

34

basicamente, tentando nos expressar (transmitir), clarificar um fato (entender um

raciocínio, uma idéia, uma postura, um gesto, um comportamento que esteja

acontecendo no momento) ou validar a compreensão de algo (verificar se a

compreensão está correta e se nos fizemos entender) (Silva (2003, p. 31-32)).

• Comunicação não-verbal – Segundo Davis (1979, p. 45) é aquela que ocorre na

interação pessoa-pessoa, exceto as palavras por elas mesmas. Também pode ser

definida como toda informação obtida por meio de gestos, posturas, expressões

faciais, orientações do corpo, singularidades somáticas, naturais ou artificiais,

organização dos objetivos no espaço e até pela relação de distância mantida entre os

indivíduos. Ainda para Davis (1979, p. 45), o estudo do não-verbal pode resgatar a

capacidade do profissional de saúde de perceber com maior precisão os sentimentos

do paciente, suas dúvidas e dificuldades de verbalização. Ajuda ainda a potencializar

sua própria comunicação, como elemento transmissor de mensagens.

Entendemos que para cada processo de comunicação é necessário uma técnica

adequada, definição de sinais específicos, não sendo diferente no processo de comunicação

que deve ocorrer entre os enfermeiros e os clientes que estão impossibilitados de verbalizar

como se encontram e se isso pode ser entendido como conforto e desconforto. Por isso

acreditamos que é importante para o enfermeiro encontrar estratégias eficazes e capazes de

facilitar o entendimento para com estes clientes, pois não existe uma técnica exclusiva para

todos, até porque cada cliente tem sua singularidade, suas formas de comunicar, o que exige

sem dúvida uma grande flexibilidade para a utilização daquela mais adequada às situações

enfrentadas em determinadas circunstâncias.

De acordo com Eltz (1994, p.31):

Toda comunicação existe com o sentido de aumentar a compreensão, transmitir idéias e sentimentos e promover o entendimento entre os homens. O conteúdo de um processo de comunicação é exatamente aquilo que queremos transmitir. É a mensagem que temos para passar. Não existe

35

comunicação sem conteúdo. Por mais apurada que seja a técnica, ela não se sustentará se não houver algo para comunicar.

Na Enfermagem, este processo não ocorre de modo diferente e os profissionais que

cuidam devem estar atentos para compreenderem o que o cliente ou o seu corpo tentam dizer

através de expressões não verbais, pois, somente assim, existirá a possibilidade dos

enfermeiros(as) responderem às necessidades de seus clientes. Interpretando Silva (2003, p.

14) concordamos com o fato de que é preciso estar atento aos sinais de comunicação verbal e

não verbal emitidos pelo cliente e pelo profissional durante a internação.

Ainda para Silva (2003, p. 14):

Somente pela comunicação efetiva é que o profissional poderá ajudar o paciente a conceituar seus problemas, enfrentá-los, visualizar sua participação na experiência e alternativas de solução dos mesmos, além de auxiliá-lo a encontrar novos padrões de comportamento.

Sabemos que não é fácil lidar com o cliente impossibilitado de verbalizar através da

linguagem falada, mas é exatamente por esta dificuldade que os enfermeiros precisam adquirir

técnicas para se comunicar com eles, visto que as dificuldades sempre existirão no processo

da comunicação, bem como as próprias barreiras existentes neste processo, dificultando o

entendimento entre aquele que emite a informação e aquele que a recebe.

Nos valemos da afirmativa de Stefanelli (2005, p.24) quando destaca como

componentes da comunicação “emissor, receptor, mensagem e contexto”, isto porque durante

o processo de comunicação acreditamos que o contexto em que a mensagem está sendo

enviada ao receptor influencia diretamente no entendimento do que está sendo dito ou

sinalizado.

Em relação às formas de comunicação voltamos a destacar a verbal, que se refere a

linguagem falada ou escrita, e não verbal que de acordo com Stefanelli (2005, p.36) “envolve

todas as manifestações de comportamento não expressos por palavras”

A classificação da comunicação não-verbal determinada por Araújo et al (2001, p.02),

se configura nas seguintes formas:

36

“proxêmica – relacionada com a posição mantida entre as pessoas na interação, que pode ser de aproximação ou de afastamento dos corpos; tacésica – refere-se ao toque afetivo e terapêutico durante a realização dos procedimentos ou ações de enfermagem; paralinguagem – todo som que é emitido pelo órgão fonador, mas que não traduz palavras, e que pode ser exemplificado pelo soluço, gritos, gemidos, roncos; cinésica – envolve os movimentos e está relacionada não só ao corpo, mas individualmente a cada uma das regiões que compõem (a cabeça, os membros, o tronco e cada grupamento muscular que os envolve)”.

No entendimento de que os enfermeiros precisam dominar este conhecimento para

cuidar de seus clientes, vimos a necessidade de nos aprofundarmos nele, como forma de

contribuir para o crescimento dos enfermeiros do cuidado, que através do seu domínio,

poderão ampliar suas possibilidades de cuidar dos clientes de maneira integral, porque

aguçam sua percepção ao lidar com eles, além do fato de que isto é uma forma de se

consagrar um conhecimento na Enfermagem que ao longo dos anos vimos percebendo ser

essencial para a prática de cuidar de clientes traqueostomizados, já que estão temporariamente

ou permanentemente impossibilitados de utilizar a linguagem verbal falada.

A comunicação, sendo um processo universal, foi e ainda é, uma preocupação de todas

as ciências, e sabemos que não é fácil conhecer o seu processo, no entanto não queremos

proferir afirmativas ou conclusões próprias que definam o que é a comunicação ou como ela

deve ocorrer, mas sabemos que alguns indícios nos levam a investigar seu processo para que

contribua com a nossa prática de cuidar em Enfermagem, principalmente quando cuidamos de

clientes traqueostomizados. Silva (2003, p. 14) nos chama a atenção para o fato de que:

...na descrição dos diagnósticos de Enfermagem, particularmente nas suas características definidoras, constatamos a necessidade de observar também as respostas não verbais, pois nesse item é solicitado do enfermeiro ou enfermeira habilidade em reconhecer sentimentos, condições e intenções dos pacientes e colegas de trabalho.

É neste contexto que queremos ainda, colocar em destaque a comunicação que ocorre

entre cliente e profissional, por envolver a comunicação não-verbal – do cliente para com

quem cuida, o que requer atenção redobrada, principalmente pelo fato de que a forma com

37

que estes clientes se expressam normalmente está carregada de sentimentos e emoções, que de

fato, não são fáceis de serem identificadas, já que exige uma percepção bastante aguçada para

detectá-las e interpretá-las corretamente. Sendo necessário, portanto, que o profissional seja

um elemento transformador e interpretador de mensagens no sentido de compreendê-las e,

conseqüentemente, entender o que o cliente que está sendo cuidado quer realmente expressar.

Quanto à percepção citada anteriormente, Stefanelli (2005, p.32) diz que esta “abrange

processos mentais, por meio dos quais dados emocionais, intelectuais e sensoriais são

organizados logicamente ou segundo seu significado”. Ainda segundo o entendimento da

autora “o enfermeiro tem de esforçar-se no desenvolvimento do conhecimento de si mesmo, o

que facilitará muito seu domínio na habilidade de percepção dos indícios verbais e não

verbais contidos nas mensagens”.

É extremamente relevante por parte do profissional de Enfermagem (receptor da

mensagem) procurar entender, e também dar respostas ao sujeito traqueostomizado/entubado,

pois o processo de comunicação só é estabelecido quando é emitida uma mensagem-resposta.

E isto, segundo Stefanelli (2005, p. 32), “envolve a decodificação da mensagem recebida e

sua interpretação”.

Nesse discurso sobre comunicação achamos adequado incluir o corpo de quem cuida e

o corpo de quem é cuidado porque ele é emissor de expressões e signos que falam por si só. É

o corpo de todos os sentidos e que se comunica através da visão, da audição, do olfato, do tato

e de expressões próprias impressas no jeito como se movimenta, como trabalha, como lida

com situações adversas.

Figueiredo et al (1998, p.140) refere-se ao corpo como “radar que tudo capta quando

uso os sentidos” e quando não pode se expressar através da fala cria signos e sentidos que são

lidos pelo outro corpo que cuida dele. Restabelecer comunicação verbal nesses clientes que

38

não falam tem sido o desafio da Enfermagem, que precisa se aprofundar na compreensão do

que é corpo.

A concepção mais antiga e difundida de corpo, segundo a filosofia é a que o considera

o instrumento da alma. E neste sentido todo instrumento pode receber apreço pela função que

exerce, sendo por isso elogiado ou exaltado, ou então pode ser criticado por não corresponder

a seu objetivo ou por implicar limites ou condições, pode ainda receber cuidados, como os da

Enfermagem, para que fique em condições normais e para que desenvolva sem restrições as

suas funções ou seja um corpo saudável.

Para Bornheim (1995, p.153) “o homem é corpo, e um corpo com a especificidade do

humano, que deseja não apenas suprir suas necessidades, como exige também sua

renovação”.

Quando falamos em corpo que é cuidado pela Enfermagem para voltar as suas

condições normais, nos reportamos a Rocha et al (2004, p.34), pois para os autores,

“fundamental é saber que este corpo é de um sujeito que sonha, que deseja e tem necessidades

e que podemos ajudá-lo mantendo e restaurando sua saúde”.

Ainda sobre o corpo que é cuidado, Figueiredo (2004, p. 70) o define amplamente

como:

Corpo que é psico-espiritual, que “fala” e a Enfermagem escuta e vê. Portanto, essa escuta pode ser física – uma anamnese que envolve um conhecimento sobre fisio-biologia do corpo como um todo, psicológica (que envolve uma pesquisa sobre nossos medos, nossa relação com o nosso corpo e com o corpo do outro, pois as doenças se manifestam e nele estão os seus sofrimentos) e espiritual, entendendo que o nosso corpo contem uma energia especifica, manifestações que se apresentam dentro de nós e como são expressadas exteriormente, como entusiasmo, alegria, vontade de viver e de ser, vivacidade no olhar, disponibilidade e abertura para viver novas experiências.

Conceito que contém signos e significados decorrentes não só dos sentidos anatômicos

do corpo, mas dos espirituais, sociais e profissionais.

39

Voltando nossa atenção para o corpo que cuida, ou seja, o corpo do enfermeiro como

“instrumento do cuidado”, é importante destacarmos que o auto-conhecimento destes

profissionais sobre seus próprios corpos é a condição primeira para entender e cuidar do

corpo do outro, pois esta é uma forma e uma fórmula de cuidar com qualidade dos clientes da

Enfermagem. E nesta perspectiva, Silva (2003, p.22) nos chama atenção quando afirma que

“em termos de qualidade no atendimento as pessoas, temos que voltar a prestar atenção no

que o nosso corpo está dizendo, como estamos nos expressando e também voltar a prestar

atenção no outro, de uma forma mais inteira: no seu corpo, nas suas expressões, nos seus

gestos”.

Johnson (1990, p.17) reforça esta afirmativa quando diz que não utilizamos os

recursos que nossos corpos possuem para conhecermos a nós mesmos e aos outros. Para o

autor “os muitos recursos sensoriais e emocionais de que dispomos para encontrar nosso

caminho integrado através de um mundo sensório, são empobrecidos pela maneira como o

nosso eu físico é moldado na cultura”. Por isso acreditamos que os enfermeiros precisam

estimular seus sentidos quando cuidam, pois agindo e reagindo de maneira positiva ao que se

apresenta quando estão cuidando de pessoas pode impedir que os moldes e modelos

negativos, marcados nos seus corpos, pela cultura ou por outras formas de imposição, podem

ser abolidos. Maneira pela qual se faz a Enfermagem criativa destacada por Lima (1998,

p.116) ao afirmar que:

O enfermeiro adepto da enfermagem criativa deve estar preparado para se manter estável e forte diante de uma pessoa que se sente sem forças ou desesperada na sua dor ou em suas necessidades. Cabe a nós pela conscientização do corpo, tanto do nosso, quanto da outra pessoa, ajudá-la a enquadrar e visualizar a promoção, manutenção e recuperação da saúde, assinalando possibilidades de êxito através da prestação de ações profissionais.

2.1.3 Sobre SIGNOS

40

Antes de qualquer “derrapagem” sobre esse tema é fundamental dizer que somos

iniciantes nesse discurso e em sua apropriação. Porém é preciso “escorregar” para encontrar

outros fundamentos quando tratamos de cuidado e de expressão não verbal.

Algo que já sabemos é que ao falarmos sobre sígnico, estamos falando de semiologia e

é “o lugar da língua nos fatos humanos” e Saussure (1965, p. 74) escreve do seguinte modo

sobre isso:

Pode-se, então conceber uma ciência que estude a vida dos signos no seio da vida social; ela constituiria uma parte da psicologia social e, por conseguinte, da psicologia geral.Chama-la-emos de semiologia (do grego semeion, signo), ela nos ensinará em que consistem os signos, que leis o regem. Como tal ciência não existe ainda não se pode dizer o que será, ela tem o direito, porém, à existência, seu lugar está determinado de antemão. A lingüística não é senão uma parte dessa ciência geral; as leis que a semiologia descobrir serão aplicáveis à lingüística e esta se achará vinculada a um domínio bem definido no conjunto dos fatos humanos...

Antes porém, é fundamental informar ao leitor que este texto sobre signo foi feito a

partir de três autores principais, o primeiro já identificado como Saussurre (1965), os demais

Santaella e Nöth (1999), além de Barthes (2001). Trata-se então de uma visão de entender

sobre o SIGNO possível de ser utilizado no cuidado de Enfermagem para clientes com

dificuldades de comunicação. Os esforços, feitos por muitos de nós, para nos utilizarmos

dessa semiótica, além de difícil, têm causado muitos desconfortos quando tenta buscar os

signos no corpo que cuidamos. A maioria de nossos críticos de Enfermagem tem achado que é

um desvio desnecessário.

Parece que precisamos estar tranqüilas, pois os fatos humanos fazem parte do

cotidiano da profissão Enfermagem e as enfermeiras e enfermeiros quando cuidam criam

sistemas sígnicos do mesmo modo que eles estão nos clientes que cuidam e estes sistemas são

verbais ou não. A língua utilizada, por nós e por eles, exprimem idéias que são compatíveis

com a escrita do alfabeto dos surdos-mudos, dos rituais simbólicos (e a Enfermagem é

povoada por eles em suas práticas e procedimentos). Para Saussure, esses sistemas sígnicos

41

são o Braille, o código de bandeiras marítimas, sinais militares de corneta, códigos cifrados e

mitos.

Para o autor, o SIGNO é dialético, e de um lado está a idéia de CONCEITO, o

SIGNIFICADO e a imagem acústica que não é fenômeno acústico em si, mas a imagem

psíquica acústica que temos das palavras – o SIGNIFICANTE (Saussure 1969, p.80).

Insistir no que o autor nos diz é encontrar um modo de compreender sua aplicabilidade

na Enfermagem tão afeita a identificar sinais e sintomas entendidos como semiologia médica.

Ao explicar a relação entre os dois lados ele diz que é uma típica relação arbitrária,

pois a “idéia de mar não está ligada por relação alguma interior a seqüências de sons m-a-r

que lhe serve de significante, pois poderia ser representada igualmente bem por outra

seqüência, não importa qual; como prova temos as diferenças entre as línguas e a própria

existência de línguas diferentes” (Saussure1969, p.81-82).

A Enfermagem ao se apropriar da semiologia médica que está baseada nas estruturas e

sentidos do corpo que racionalmente dá sentido a febre, ao calor do corpo, ao aumento ou

diminuição da pressão arterial, a cor das mucosas, dos sons do corpo; as eliminações do

corpo; descobre que é possível encontrar uma semiologia que dê conta dos sentidos e

significados que cada um tem de seus corpos, de suas doenças, de suas experiências e a

Equipe de Enfermagem precisa saber entender, interpretar (quando o cliente não fala) e fazer

suas leituras.

A partir da definição de semiologia de Silva e Silva (2004, p.570) como “estudo dos

sinais e sintomas das doenças”, buscamos adaptá-la à realidade da comunicação do cliente

traqueostomizado/entubado com a Enfermagem, onde observamos que este cliente não

consegue referir seus sintomas (o que está sentindo), mas consegue mostrá-los através dos

signos (sinais). Nascimento e Souza (2001, p.75) corroboram com estes fundamentos quando

afirmam que “a linguagem não-verbal é ao mesmo tempo sinal e sintoma para a

42

Enfermagem”. Elaboramos o diagrama 01, disposto a seguir para representar esta

interpretação.

Diagrama 1 – Semiologia da linguagem do cliente traqueostomizado/ entubado

SEMIOLOGIA

Cliente traqueostomizado

SINAIS SINTOMAS+

MOSTRA REFERE

Saussure (1969, p.113) diz que o sistema semiológico se baseia em estruturas

opositivas que determinam o valor de qualquer signo individual. O valor de um signo, diz ele,

“resulta tão somente da presença simultânea de outros” e seu conteúdo só é verdadeiramente

determinado pelo consenso do que existe fora dele.

Sabemos que o nosso trabalho diário de cuidar se desenvolve através de técnicas e

tecnologias coordenadas e movimentadas por corpos que emitem muitos signos sem que

estejamos atentos a eles. Eles são comunicações presentes quando conversamos, fazemos

nossos relatórios, identificamos problemas em nossos clientes ou em nosso trabalho e em

nossa equipe.

Nesse sentido Netto (1996, p.44) informa que o signo apresenta um diagrama com

quatro partes principais que pode ser assim descrita: 1) semiologia na tradição Saussureana;

2) a semiologia de C.S. Peirce; 3) a teoria da informação e 4) como breve teoria da

comunicação. O primeiro traz os conceitos básicos do signo definidos por Saussure ampliados

por seus sucessores, como: língua/fala; código/mensagem; signo, símbolo e semiologia,

significações e valor; denotação/conotação; sintagma/sistema, acrescenta depois pelo seu

seguidor Hjelmslev, que introduziu conceitos para esquema do uso do signo como

43

signo/figura, função semiótica: expressão conteúdo e semiologia/semiótica: expressão

conteúdo e semiologia/semiótica. Conceitos e posições aceitas e contestadas pelas teorias da

área.

Sobre a Teoria do Signo de Peirce, destacamos apenas para ilustração, como ele divide

os signos:

- primeiridade como ícone, índice e símbolo;

- segundidade como qualissigno, sinsigno e legissigno;

- terceiridade como rema, dicente e argumento.

Peirce também se preocupou com a teoria da informação onde introduziu conceitos de

informação, mensagem, repertório, audiência, originalidade, entropia, inteligibilidade e

redundância, código e informação, quantificação da informação , forma e estética.

Sobre a COMUNICAÇÃO, como uma semiologia do signo, trata de sinais, “fatos

perceptíveis ligados a estados de consciência e produzidos expressamente para dar a conhecer

esses estados” (Netto (1996, p.44)).

Barthes (2001, p.178), seguidor de Saussure nos traz maiores esclarecimentos quando

fala sobre a cozinha dos sentidos ao afirmar que: “uma roupa, um carro, uma iguaria, um

gesto, um filme, uma imagem publicitária, uma mobília, aparentemente são objetos

completamente heterogêneos, e quando nos movimentamos na vida ou na rua, os encontramos

e sem nos dar conta fazemos uma leitura sobre eles”. Lemos as imagens, lemos os gestos,

lemos os comportamentos.

Desse modo ao fazer a leitura dos movimentos dos clientes no leito na tentativa de

chamar nossa atenção, nas expressões do corpo, e, principalmente do rosto, fazemos leituras

importantes para poder cuidar, “e isso implica em valores sociais, morais, ideológicos para

que uma reflexão sistemática não tente assumi-las” e isso o autor chama de semiologia. Ou

seja, ciência das mensagens sociais, das mensagens culturais, das informações segundas.

44

Ao tentar encontrar o significante (a expressão) e o significado (o conteúdo) nas

expressões / gestos do corpo dos clientes que não falam, a Enfermagem precisa fazer a leitura

das mensagens contidas nelas. O que Barthes (2001, p.179) nos diz é que o importante é

“poder submeter uma massa enorme de fatos aparentemente anárquicos a um princípio de

classificação”, e é a significação que fornece esse princípio. Assim ao lado das diversas

determinações (econômicas, históricas, psicológicas) é preciso prever uma nova qualidade do

fato, o sentido.

Ao entrar no CTI para cuidar as enfermeiras entram num espaço de sentidos, o que

constitui uma empreitada difícil, pois segundo Barthes (2001, p. 180) decifrar os signos

significa sempre lutar com certa inocência, porque um sentido “não pode ser analisado de

modo isolado, e é preciso saber que eles são constituídos por diferenças”. As tarefas das

enfermeiras no CTI sobre o ponto de vista da Semiologia são imensas e aumentam

constantemente de acordo com as ações que desenvolvem quando estão cuidando, e ao

pensarem sobre o que acontece elas vão descobrindo a importância dos signos em seu mundo

do trabalho.

Portanto, para nós, a busca do signo e seu significado nas ações de cuidar é passageiro

e mutante para “aquele” momento do cuidado (filmado) onde foram captados, ele é móvel

como significado, nada o garante como definitivo, mas, é um signo e está ali, no ambiente e

nos movimentos de cuidar.

Além disso ele tem um valor (para nós) como diz Barthes (2001, p.173), ao longo da

cadeia falada de signos fechados sobre si mesmo, e de que é preciso outra coisa para que a

linguagem “pegue” e que se descubra o valor; saindo do impasse da significação; sendo

incerto, frágil. A relação com o significado (com o ouro), o sistema inteiro (da língua, da

saúde e da doença) se estabiliza pela sustentação dos significantes entre si (de saúde e da

doença). Um exemplo nos ajuda fazer analogias: ... nos lavabos da Universidade de Genebra

45

vê-se uma inscrição muito particular (embora muito oficial): as duas portas, cuja dualidade

obrigatória consagra geralmente a diferença entre os sexos, estão ali sinalizados, uma como

“cavalheiros”, a outra como “professores”. Reduzida a pura significação, a inscrição não tem

nenhum sentido: não seriam os professores cavalheiros? É no plano do valor que a oposição

tão aberrante quanto moral, se explica: dois paradigmas entram em colisão, dos quais só se

leva a ruínas: cavalheiros/senhoras/professores/estudantes: no jogo da língua é de fato o valor

(e não a significação) que detém a carga sensível, simbólica e social: neste caso, a da

segregação, docente e sexual. Analogamente, poderíamos dizer que uns doentes não se

expressam e outros não falam.

As enfermeiras ao cuidar, também têm uma linguagem sobre a profissão, sobre o

cuidado que pode ser falada e expressiva, que tem significado e pode ser sustentado,

decodificado de diversas formas – uma comunicação corporal ou verbal que produz signos.

Finalmente, é importante dizer que não somos, não poderíamos ser semióticos. A

busca de fundar o nosso objeto exige que, pelo menos compreendamos o que é signo e

significado para organizar e trabalhar o que vimos na filmagem produzida a partir do cuidado

prestado, pois sabemos que o signo é do campo da ciência semiótica que não dominados com

profundidade e nem queremos nos aprofundar na lingüística, mas, localizar o signo nas ações

de cuidar para o cliente traqueostomizado/entubado e identificá-lo em suas expressões não-

verbais.

46

3. O Caminho Metodológico da Investigação

É um estudo perspectivo, descritivo exploratório cuja proposta é a de investigar signos

não-verbais de conforto e desconforto emitidos pelo cliente traqueostomizado/entubado,

através da abordagem quanti-qualitativa, buscando realizar pesquisas que aparentemente

possam ter objetos (im)possíveis de serem mensurados.

Para investigar os signos não-verbais do cliente foi realizado um acompanhamento da

evolução do seu estado clínico e de suas interações durante a comunicação com os

profissionais do CTI. Isto porque nos fundamentamos em Lobiondo-Wood e Haber (2001,

p.115) quando nos traz os estudos perspectivos como aqueles que “exploram causas supostas,

diferenças supostas ou relações supostas e avançam no tempo para o efeito suposto”. E

completam dizendo ainda que “... pode levar muito tempo para que o fenômeno de interesse

se torne evidente em um estudo perspectivo”.

Nesta investigação, foi necessário acompanhar a evolução clínica dos clientes desde a

sua internação no CTI, para que a coleta das informações (os signos não-verbais durante a

comunicação) ocorresse no momento em que eles apresentassem um estado de cooperação,

com orientação espaço – temporal, o que não seria possível caso estivessem utilizando

sedativos em altas dosagens, necessários diante de descompensações ventilatórias.

Considerando que o presente estudo irá quantificar as expressões extraídas das

tentativas de comunicação não-verbal dos clientes traqueostomizados/entubados que irão

compor a população alvo, observa-se a sua característica quanti-qualitativa, porque as citadas

expressões podem ser consideradas como se fossem as suas falas, fato corroborado pelo

estudo de Nascimento e Souza (2001, p.75).

Acreditamos que investigar os signos do corpo do cliente através do método quanti-

qualitativo irá privilegiar sua compreensão, facilitando a interpretação destes signos, pois

conforme afirmam Polit et al (2004, p.277) a abordagem quanti-qualitativa é aquela que

47

“permite a complementação entre palavras e números, as duas linguagens fundamentais da

comunicação humana”.

Buscaremos neste sentido associar abordagens que nos ajudarão na interpretação dos

dados obtidos, favorecendo assim o entendimento das questões que emergirão naturalmente

ao interpretarmos os achados obtidos.

Pretendemos investigar os signos não-verbais de conforto e desconforto dos clientes

traqueostomizados/entubados utilizando a sua mensuração, e de forma complementar

apreender os significados destes signos para estes clientes. Goldenberg (2003, p.62) corrobora

com o nosso entendimento sobre esta questão quando afirma que:

Diferentes abordagens de pesquisa podem projetar luz sobre diferentes questões. É o conjunto de diferentes pontos de vista, e diferentes maneiras de coletar e analisar dados (quantitativo e qualitativo), que permite uma idéia mais ampla e inteligível da complexidade de um problema.

Quanto ao fato de se trabalhar os aspectos qualitativos e quantitativos no estudo,

decidimos nos aproximar do entendimento e posicionamento de Minayo (2002, p.96), pois

para a autora:

...a oposição entre o qualitativo e o quantitativo é dialética e complementar, ou seja, a quantidade se apresenta sempre como uma distinção no interior da qualidade, e a qualidade está sempre presente nas quantidades, sendo a quantidade em si mesma uma qualidade do objeto ou da realidade.

3.1 O cenário:

Este estudo foi desenvolvido no Centro de Terapia Intensiva (CTI) de um hospital

militar terciário, localizado no município do Rio de Janeiro. Para isso buscamos a autorização

da instituição para desenvolvermos o estudo, após obtenção do parecer de aprovação do

projeto de pesquisa pelo seu Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).

48

3.2 Sujeitos do estudo:

Para selecionar os sujeitos do estudo elegemos os seguintes critérios:

1. Estar internado no CTI durante a realização da pesquisa (critério de acessibilidade);

2. Possuir mais de 21(vinte e um) anos de idade;

3. Possuir comprometimento na capacidade da fala por ter sido submetido a traqueostomia ou

à entubação orotraqueal;

4. Apresentar estado de cooperação, com orientação espaço-temporal;

5. Não possuir comprometimento neurológico visto que a presença deste acometimento pode

determinar posturas peculiares ao corpo, o que poderia interferir na análise dos resultados do

estudo.

Foram selecionados 06 (seis) clientes com idade maior ou igual a 57 (cinqüenta e sete)

anos internados no CTI e que possuíam comprometimento na capacidade da fala, por terem

sido submetidos a traqueostomia ou à entubação orotraqueal. Dentre os 06 (seis) clientes, 04

(quatro) eram do sexo masculino e 02 (dois) do feminino, tendo como patologia de base em

comum a Infecção pulmonar, além de apresentarem outros acometimentos como Insuficiência

Cardíaca Congestiva; Tuberculose pulmonar (não bacilífero), Hipertensão Arterial Sistêmica

e Diabetes Melito (não insulino-dependente).

Destacamos ainda que dos 06 (seis) clientes participantes do estudo, 05 (cinco)

apresentavam edema em membros superiores, o que dificultava ainda mais sua comunicação,

pois necessitavam fazer um esforço ainda maior para movimentar os membros quando

queriam se comunicar através de gestos.

49

3.3 PROCEDIMENTOS PARA COLETAR OS DADOS

3.3.1 Aspectos éticos da investigação:

Com a aprovação deste projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa – CEP da instituição

onde foi realizado, buscamos o respeito às normas éticas da pesquisa envolvendo seres

humanos, para posteriormente dar início a coleta de informações e prosseguir com o

desenvolvimento do estudo. Destacamos ainda que este é um estudo que respeita as

exigências da Resolução de número 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que diz respeito

aos aspectos éticos legais da pesquisa envolvendo seres humanos.

Os passos seguidos para aprovação no CEP constaram de:

1- Solicitação de autorização para a realização da pesquisa na instituição (EM ANEXO);

2- Encaminhamento de cópia do projeto de pesquisa e do Termo de Consentimento Livre

e Esclarecido (TCLE) aplicado aos sujeitos participantes do estudo (EM ANEXO),

neste caso, todos os aspectos éticos foram seguidos conforme posicionamento do CEP.

Posteriormente, após a aprovação do projeto de pesquisa e de posse do parecer de

aprovação fornecido pelo Comitê de Ética, iniciamos a coleta das assinaturas para os Termos

de Consentimento. Assim, os responsáveis legais pelos sujeitos do estudo foram orientados

sobre o estudo e do que se trata, além de realizarmos a leitura completa do TCLE para

esclarecimento de dúvidas sobre o estudo. Disponibilizamos a eles todos os contatos possíveis

para localização do responsável pelo estudo, sendo que estas informações estavam impressas

no próprio termo de consentimento, onde uma cópia do mesmo permaneceu com o

responsável pelo sujeito de estudo.

Vale ressaltar que a opção por solicitar a autorização ao responsável legal pelo

cliente (sujeito do estudo) ocorreu visando não causar preocupações ou constrangimentos

posteriores que poderiam acontecer após o desmame ventilatório.

50

Assim sendo, mediante a autorização do responsável legal iniciamos a observação e

filmagem dos clientes, e após a coleta das informações esclarecemos aos clientes sobre a

pesquisa, e se ele concordava com a autorização dada pelo representante legal para participar

do estudo.Garantimos o anonimato de todos os participantes do estudo e estes foram ainda

informados de que a utilização das informações obtidas seriam exclusivamente para fins

científicos e que a divulgação dos resultados ocorreria em periódicos científicos da área de

enfermagem.

3.3.2 Sobre a FILMAGEM

Em se tratando da busca de significado de conforto e desconforto para o cliente

quando traqueostomizado – impedido de falar, de se comunicar com a enfermagem para

informar se está ou não em desconforto, entendemos que filmar esses clientes seria um modo

de captar signos indutores de informações acerca do que queriam comunicar.

A filmagem é bastante utilizada em pesquisas sociais por antropólogos, que não têm

dificuldades com relação ao anonimato dos informantes. Para nós os desafios enfrentados são

maiores do que é possível imaginar.

Pretendemos fazer um “filme exposição” onde a câmera ficou escondida no ambiente

onde os clientes se encontravam cuja intenção era a de captar imagens em determinados

momentos, identificar signos e produzir dados.

É uma experiência de campo e precisou que elaborássemos um roteiro para mapear os

movimentos dos clientes traqueostomizados. A hipótese era a de que os clientes emitem

signos quando tentam se comunicar e dão a esses signos significados; uma linguagem visual

que decodifica o que a imagem em movimento nos mostra e o roteiro foi:

- onde colocar a câmera

- o que queríamos filmar

51

- que leituras faríamos

Foi esclarecido aos responsáveis legais pelos participantes do estudo, e também aos

próprios clientes, que as imagens gravadas seriam utilizadas somente para o preenchimento

do formulário (instrumento deste estudo) e que seriam utilizadas tarjas sobre os olhos dos

clientes e sobre suas partes íntimas, se houvesse necessidade de analisar as imagens junto a

banca examinadora deste estudo, por volta da sua apresentação em público, e que em

momento algum seriam divulgadas em qualquer meio de comunicação ou evento científico.

Garantindo, neste sentido, o anonimato dos sujeitos do estudo.

Para executar a filmagem das imagens utilizamos uma câmera SONY DVD-203, onde

as imagens para análise foram registradas em DVD de 8 centímetros, com duração máxima de

60 minutos cada um. Objetivando não despertar a atenção dos sujeitos do estudo, para que

não se sentissem envergonhados, vigiados ou intimidados pela câmera, utilizamos uma caixa

de papelão com 30 centímetros de comprimento, 10 centímetros de altura e 15 centímetros de

largura, onde realizamos uma pequena abertura para posicionamento da lente, de modo a

cobri-la.

No momento em que as gravações das cenas eram realizadas a caixa era preparada

com a câmera dentro e posicionada na bancada do posto de Enfermagem, de forma que o

cliente não a percebesse.

Realizamos a coleta do material em um período de 06 (seis) meses onde conseguimos

filmar, a princípio, 08 (oito) clientes. Entretanto, no decorrer da coleta de dados duas famílias

que haviam autorizado a participação de 02 (dois) clientes solicitaram a retirada de suas

participações na pesquisa, o que nos levou a excluí-los, desprezando o material coletado.

Desta forma, foram participantes deste estudo 06 (seis) clientes e as gravações totalizaram

235 minutos (3 horas e 55 minutos), ou seja, um tempo de filmagem aproximado de 40

minutos para cada cliente.

52

3.3.3 Sobre a OBSERVAÇÃO

As informações foram coletadas a partir da observação sistemática dos clientes

traqueostomizados no período que estiverem internados no CTI. Realizamos um teste piloto a

partir do instrumento (formulário) construído para coletar as informações, esboçado no anexo

I, para realizarmos a testagem do instrumento e adequação para coleta de informações.

Assim as técnicas de observação foram utilizadas visando informações fidedignas

referentes ao cotidiano de uma realidade a ser observada, neste caso, a comunicação expressa

pelo cliente traqueostomizado através de signos. Polit et al (2004, p.265) consideram a

observação uma técnica valiosa para o enfermeiro, haja vista a possibilidade de investigar o

comportamento e/ou atividade de clientes, família e equipe, discretamente e de maneira

proveitosa e versátil. Esta técnica nos permitiu a construção, para posterior análise, de

relatórios sobre os fatos que desejamos estudar, ou seja, os signos expressos pelos clientes

traqueostomizados e impossibilitados de comunicar-se através da expressão verbal oral.

Registrando o que víamos poderíamos confrontar no filme o que vimos e o que de fato

significava.

Em experiências empíricas no CTI, os profissionais criam signos para se comunicar

com clientes que não podem falar e/ou movimentar as mãos. Normalmente eles pedem para

responder SIM a uma pergunta “fechando os olhos” e para responder NÃO “abrindo os

olhos”, no entanto essa comunicação tem sido muito limitada, as preocupações são sempre de

origem biológica – resposta da pele ao sinal doloroso “beliscão”, a presença de dor ou

raramente a vontade do cliente, uma vez que os sinais de vida são emitidos através de signos

por aparelhos – tecnologias avançadas que medem a temperatura em graus, o traçado do

eletrocardiograma, os sons do coração, o ritmo respiratório.

53

4. Resultados

4.1 Como TRABALHAMOS os materiais contidos na filmagem

Com todo material filmado iniciamos o exercício de olhar as imagens registradas, o

que fizemos várias vezes. Em seguida mostramos as filmagens para a equipe de enfermagem,

porque elas estavam na cena de cuidar, para saber se eles nos autorizavam a usar as imagens

de modo nítido ou se queríamos que não as identificássemos usando tarja preta e imagem

opaco/fosca. Elas optaram por não serem identificadas.

Retornamos novamente o filme para condensar signos que continham nas imagens,

fixando-as continuamente. Além do vai-e-vem da enfermagem, captamos falas (signos) –

palavras e começamos a fechar o círculo entre os movimentos corporais dos clientes e as falas

da equipe de enfermagem.

Nesse exercício de olhar, ver, escutar as imagens iam sendo filtradas a partir do que

queríamos saber – proposto no instrumento e confirmar ou não a nossa hipótese, isto é

traduzir a realidade e depois saber que significado ela tem para os clientes e para a

enfermagem.

Enquanto o antropólogo pesquisador tem intermediários para construir o texto do

filme, na enfermagem isso é impossível, mesmo que a câmera seja uma “co-participante”,

pois capta dados além daquilo que queríamos sobre cuidado solicitados por clientes que não

falam.

DESCOBRINDO a IMAGEM – ao olhar para ela fomos despertando para uma

variação de signos como possíveis de nos dar uma linguagem sobre a imagem captada. Fluía

em nós idéias, regras e possibilidades de argumento.

54

Descobrimos que a imagem captada dizia muito mais do que o que escrevemos nos

prontuários dos clientes ou quando falamos sobre eles com os outros, mesmo que

correspondam à mesma coisa – filme e nós.

Além disso há uma estética que expressa um estilo de cuidar que só é captado na

filmagem. A riqueza das imagens foram se revelando e nos agradava como pesquisadores de

enfermagem. As imagens estavam ali, pulsantes e respondendo às nossas questões.

4.2 O Filme e a Observação

Da análise das informações coletadas, a partir do registro das observações e da

interpretação das imagens em movimento, isto é, das gravações, utilizamos o instrumento

(Anexo 1) no qual preenchemos como o cliente se apresentava, a confirmação do signo pelo

cliente e como ele se apresentava após o cuidado realizado, que sugiram das imagens

assistidas e interpretadas dos sujeitos do estudo.

O surgimento dos signos naturalmente ocorreram quando o cuidado de enfermagem

era prestado aos sujeitos participantes, os quais respondiam às ações da nossa prática, que no

entendimento de Figueiredo et al (1998, p.143) é também “uma prática do sentir” ou seja uma

prática do “devir sensível”, que precisa ser entendida por quem a faz e, ao mesmo tempo, seja

reconhecida como prática científica. Sabemos que entender os signos não é fácil, mas

destacamos que este entendimento torna-se mais difícil ainda quando os profissionais de

enfermagem estão sobrecarregados com a quantidade de atividades diárias que devem

realizar.

Com o material da filmagem e identificados os SIGNOS (significantes e significados)

destacamos os significantes e significados dos signos expressos por cada cliente nos instantes

que a equipe de enfermagem realizava os cuidados. Desta análise, ainda seminal, construímos

quadros (Quadros 2; 2.1; 3; 3.1; 4; 4.1; 5; 5.1; 6; 6.1; 7; 7.1) a partir das observações e

55

interpretações das imagens em movimento sobre cada cliente. Assim identificamos que alguns

signos eram comuns entre os clientes, o que nos levou a elaborar dois novos quadros (Quadro

08 e 09) contendo todos os signos que surgiram e que eram ou não comuns durante a

comunicação dos clientes traqueostomizados. E, sempre lembrando, que o signo é composto

de significante e significado – o primeiro trata do plano da expressão e foram colocados na

primeira coluna do quadro e o segundo consiste no plano do conteúdo.

56

Quadro 02 – Signos expressos pelo Cliente 01

FIXANDO a IMAGEM - Signos expressos pelo cliente 01 SIGNIFICANTE / EXPRESSÃO SIGNIFICADO / CONTEÚDO

Chamar o profissional Bater a mão na grade da cama →Expressão na mão

Informar que necessita elevar cabeceira da cama

Mímica labial →Expressão no rosto

Indicar o local de desconforto Apontar com o dedo indicador →Expressão na mão

Movimentar a cabeça da direita para a esquerda e vice-versa → Expressão na cabeça

Indicar que não

Indicar que sim Movimentar a cabeça de cima para baixo → Expressão na cabeça

Busca a atenção do profissional Acompanhar movimento do profissional com o olhar → Expressão no rosto

Indicar que está desconfortável Fechar os olhos (apertando-os) e abrir a boca → Expressão no rosto

Movimentar a cabeça de cima para baixo e piscar os olhos →Expressão no rosto

Chamar o profissional

Chamar o profissional Acenar abrindo e fechando a mão → Expressão na mão

Solicitar atenção Segurar na mão do profissional → Expressão na mão

Necessita umedecer lábios Lábios ressecados → Expressão no rosto

Informa que sente dor Mímica labial → Expressão no rosto

Informa que quer ir embora Mímica labial → Expressão no rosto

Informa que está cansado de ficar deitado

Mímica labial → Expressão no rosto

Solicita água Mímica labial → Expressão no rosto Tenta informar o que quer

Mímica labial → Expressão no rosto

Fonte: instrumento de coleta de dados

Quadro 2.1 – Regiões corporais do Cliente 01 que emitiram signos

Região corporal que emitiu o signo Total de Signos Mão 04 Rosto 10

Cabeça 02 16

Fonte: instrumento de coleta de dados

57

Embora os significantes estejam concentrados em três partes do corpo

traqueostomizado, 6 significantes foram encontrados com significados diferentes que

envolviam desejo do cliente sobre conforto ou desconforto, cansaço, hidratação, tudo para

chamar o profissional.

Quadro 03 – Signos expressos pelo Cliente 02

FIXANDO a IMAGEM - Signos expressos pelo cliente 02 SIGNIFICANTE / EXPRESSÃO SIGNIFICADO /

CONTEÚDO Segurar as grades direita e esquerda da cama com as mãos (uma de cada lado), elevando tórax em direção à cabeceira. → Expressão no tórax e braços

Modificar a posição corporal no leito.

Indicar que não Movimentar a cabeça da direita para a esquerda e vice-versa → Expressão na cabeça

Indicar que sim Movimentar a cabeça de cima para baixo → Expressão na cabeça

Informar que sente calor Abanar-se com a mão → Expressão na mão Chamar o profissional Bater a mão na grade da cama → Expressão na mão Solicitar Papel Mímica labial → Expressão no rosto Solicitar que apague a luz Apontar com dedo indicador para o teto → Expressão na mão Solicitar mudança na altura da cabeceira da cama

Apontar com dedo indicador para a cabeceira da cama → Expressão na mão

Chamar o profissional

Acenar abrindo e fechando a mão → Expressão na mão

Fonte: instrumento de coleta de dados

Quadro 3.1 – Regiões corporais do Cliente 02 que emitiram signos

Região corporal que emitiu o signo Total de Signos Mão 05 Rosto 01

Cabeça 02 Tórax e Braços 01

09 Fonte: instrumento de coleta de dados

58

Quadro 04 – Signos expressos pelo Cliente 03

FIXANDO a IMAGEM - Signos expressos pelo cliente 03 SIGNIFICANTE / EXPRESSÃO SIGNIFICADO / CONTEÚDO

Chamar o profissional Acenar abrindo e fechando a mão → Expressão na mão

Movimentar a cabeça da direita para a esquerda e vice-versa → Expressão na cabeça

Indicar que não

Indicar que sim Movimentar a cabeça de cima para baixo→ Expressão na cabeça

Indicar que está com frio Puxar lençol com a mão para se cobrir → Expressão na mão

Apontar com dedo indicador para a cabeceira da cama → Expressão na mão

Solicitar mudança na altura da cabeceira da cama

Solicita parar de elevar a altura da cabeceira da cama

Erguer a mão aberta → Expressão na mão

Acompanhar movimento do profissional com o olhar → Expressão no rosto

Busca a atenção do profissional

Apontar com dedo indicador para a região lombar→Expressão na mão

Informar que sente dor na região lombar

Levar a mão imobilizada em direção ao rosto →Expressão na mão

Necessidade de tocar o rosto para sentir/entender os tubos inseridos no nariz e na boca Tenta informar o que quer

Mímica labial → Expressão no rosto

Fonte: instrumento de coleta de dados

Quadro 4.1 – Regiões corporais do Cliente 03 que emitiram signos

Região corporal que emitiu o signo Total de Signos Mão 06 Rosto 02

Cabeça 02 10

Fonte: instrumento de coleta de dados

59

Quadro 05 – Signos expressos pelo Cliente 04

FIXANDO a IMAGEM - Signos expressos pelo cliente 04 SIGNIFICANTE / EXPRESSÃO SIGNIFICADO /

CONTEÚDO Busca a atenção do profissionalAcompanhar movimento do profissional com o olhar →

Expressão no rosto

Chamar o profissional Bater a mão na grade da cama → Expressão na mão

Tenta informar o que quer Mímica labial → Expressão no rosto

Indicar que não Movimentar a cabeça da direita para a esquerda e vice-versa → Expressão na cabeça

Indicar que sim Movimentar a cabeça de cima para baixo → Expressão na cabeça

Indicar que posição está desconfortável

Agitado, tentando virar-se no leito → Expressão no tórax e braços

Indicar o local de desconforto

Apontar com o dedo indicador → Expressão na mão

Fonte: instrumento de coleta de dados

Quadro 5.1 – Regiões corporais do Cliente 04 que emitiram signos

Região corporal que emitiu o signo Total de Signos Mão 02 Rosto 02

Cabeça 02 Tórax e Braços 01

07 Fonte: instrumento de coleta de dados

60

Quadro 06 – Signos expressos pelo Cliente 05

FIXANDO a IMAGEM - Signos expressos pelo cliente 05 SIGNIFICANTE / EXPRESSÃO SIGNIFICADO / CONTEÚDO

Chamar o profissional Bater a mão na grade da cama → Expressão na mão Tenta informar o que quer Mímica labial →Expressão no rosto Indicar o local de desconforto Apontar com o dedo indicador → Expressão na mão

Movimentar a cabeça da direita para a esquerda e vice-versa → Expressão na cabeça

Indicar que não

Movimentar a cabeça de cima para baixo →Expressão na cabeça

Indicar que sim

Necessidade de tocar o rosto para sentir/entender os tubos inseridos no nariz e na boca

Levar a mão imobilizada em direção ao rosto → Expressão na mão

Solicitar que apague a luz

Apontar com dedo indicador para o teto → Expressão na mão

Quadro 6.1 – Regiões corporais do Cliente 05 que emitiram signos Fonte: instrumento de coleta de dados

Região corporal que emitiu o signo Total de Signos Mão 04 Rosto 01

Cabeça 02 07

Fonte: instrumento de coleta de dados

61

Quadro 07 – Signos expressos pelo Cliente 06

FIXANDO a IMAGEM - Signos expressos pelo cliente 06 SIGNIFICANTE/ EXPRESSÃO SIGNIFICADO /

CONTEÚDO Busca a atenção do profissional

Acompanhar movimento do profissional com o olhar → Expressão no rosto

Indicar que está desconfortávelTesta enrugada → Expressão no rosto Chamar o profissional Bater a mão na grade da cama → Expressão na mão Tenta informar o que quer Mímica labial → Expressão no rosto Indicar que está desconfortávelFechar os olhos (apertando-os) e abrir a boca → Expressão no

rosto Indicar o local de desconforto Apontar com o dedo indicador → Expressão na mão Indicar que não Movimentar a cabeça da direita para a esquerda e vice-versa →

Expressão na cabeça Indicar que sim Movimentar a cabeça de cima para baixo → Expressão na

cabeça Chamar o profissional Acenar abrindo e fechando a mão → Expressão na mão

Aproximar mão da boca com punho fechado e polegar apontando para os lábios e fazer gesto de sucção com a boca → Expressão no rosto e na mão

Indicar que está com sede

Solicitar mudança na altura da cabeceira da cama

Apontar com dedo indicador para a cabeceira da cama → Expressão na mão

Indicar que está com sede Colocar a língua para fora da boca → Expressão no rosto Indicar que está com frio Apontar com dedo indicador para o lençol → Expressão na mãoBusca o profissional Ergue o pescoço da cama e olha ao redor → Expressão na

cabeça Apontar com dedo indicador para as pernas e agitar a mão horizontalmente→ Expressão na mão

Indicar que quer que afaste as pernas Indicar que está sujo Apontar com dedo indicador para a fralda → Expressão na mão Solicita parar de elevar a altura da cabeceira da cama

Erguer a mão aberta → Expressão na mão

Arregala os olhos, fecha a boca e abre a mão (com a palma virada para cima)→ Expressão no rosto e na mão

Demonstrar surpresa

Aponta com dedo indicador para boca e faz movimentos circulares → Expressão na mão

Solicitar aspiração de vias aéreas superiores

Fonte: instrumento de coleta de dados

62

Quadro 7.1– Regiões corporais do Cliente 06 que emitiram signos

Região corporal que emitiu o signo Total de Signos Mão 09 Rosto 05

Cabeça 03 Rosto e Mão 02

19 Fonte: instrumento de coleta de dados

No quadro a seguir (quadro 08) apresentamos o número de vezes e o local onde os

signos foram localizados, indicados pelos clientes que não falam por estarem

traqueostomizado e diz respeito apenas ao significante.

Quadro 08- Os significantes

Regiões do Corpo

Cliente 01 Cliente 02 Cliente 03 Cliente 04 Cliente 05 Cliente 06 Total

Mão 04 05 06 02 04 09 30 Rosto 10 01 02 02 01 05 21

Cabeça 02 02 02 02 02 03 13 Tórax e Braços

00 01 00 01 00 00 02

Rosto e Mão

00 00 00 00 00 02 02

68 Fonte: instrumento de coleta de dados

Nos 06 clientes filmados captamos nas imagens 68 significantes expressos através de

regiões corporais, isto é, os conteúdos de expressão.

Em seguida trazemos o Quadro 09 que mostra o número de vezes em que o cliente se

expressou mais detalhadamente, o significante (plano da expressão) acompanhado dos

significados (plano do conteúdo).

63

Quadro 09 - Signos expressos por todos os clientes SIGNICANTE / EXPRESSÃO SIGNIFICADO / CONTEÚDO Cliente Vezes que

foi utilizado Bater a mão na grade da cama → Expressão na mão Chamar o profissional 1,2,4,5,6 05

Mímica labial → Expressão no rosto Informar que necessita elevar cabeceira da cama

1 01

Apontar com o dedo indicador → Expressão na mão Indicar o local de desconforto 1,3,4,5,6 05

Movimentar a cabeça da direita para a esquerda e vice-versa → Expressão na cabeça

Indicar que não 1,2,3,4,5,6 06

Movimentar a cabeça de cima para baixo → Expressão na cabeça Indicar que sim 1,2,3,4,5,6 06

Acompanhar movimento do profissional com o olhar → Expressão no rosto Busca a atenção do profissional 1,3,4,6 04

Fechar os olhos (apertando-os) e abrir a boca → Expressão no rosto Indicar que está desconfortável 1,6 02

Movimentar a cabeça de cima para baixo e piscar os olhos → Expressão no rosto

Chamar o profissional 1 01

Acenar abrindo e fechando a mão → Expressão na mão Chamar o profissional 1,2,3,6 04

Segurar na mão do profissional→ Expressão na mão Solicitar atenção 1 01 Lábios ressecados → Expressão no rosto Necessita umedecer lábios 1 01 Mímica labial → Expressão no rosto Informa que sente dor 1 01

Mímica labial → Expressão no rosto Informa que quer ir embora 1 01

Mímica labial → Expressão no rosto Informa que está cansado de ficar deitado

1 01

Mímica labial → Expressão no rosto Solicita água 1 01 Mímica labial → Expressão no rosto Tenta informar o que quer 1,3,4,5 04

Segurar as grades direita e esquerda da cama com as mãos (uma de cada lado), elevando tórax em direção à cabeceira. → Expressão no tórax e braços

Modificar a posição corporal no leito. 2 02

Abanar-se com a mão → Expressão na mão Informar que sente calor 2 02 Mímica labial → Expressão no rosto Solicitar papel 2 02 Apontar com dedo indicador para o teto → Expressão na mão Solicitar que apague a luz 2,5 02

Apontar com dedo indicador para a cabeceira da cama → Expressão na mão Solicitar mudança na altura da cabeceira da cama

2,3,6 03

Puxar lençol com a mão para se cobrir → Expressão na mão Indicar que está com frio 3 01 Erguer a mão aberta → Expressão na mão Solicita parar de elevar a altura da

cabeceira da cama 3,6 02

Levar a mão imobilizada em direção ao rosto → Expressão na mão Necessidade de tocar o rosto para sentir/entender os tubos inseridos no nariz e na boca

3,5 02

Agitado, tentando virar-se no leito → Expressão no tórax e braços Indicar que posição está desconfortável 4 01

Testa enrugada → Expressão no rosto Indicar que está desconfortável 6 01

Aproximar mão da boca com punho fechado e polegar apontando para os lábios e fazer gesto de sucção com a boca → Expressão no rosto e mão

Indicar que está com sede 6 01

Colocar a língua para fora da boca → Expressão no rosto Indicar que está com sede 6 01

Apontar com dedo indicador para o lençol → Expressão na mão Indicar que está com frio 6 01 Ergue o pescoço da cama e olha ao redor → Expressão na cabeça Busca o profissional 6 01

Apontar com dedo indicador para as pernas e agitar a mão horizontalmente → Expressão na mão

Indicar que quer que afaste as pernas 6 01

Erguer a mão aberta → Expressão na mão Solicita parar de elevar a altura da cabeceira da cama

6 01

Arregala os olhos, fecha a boca e abre a mão (com a palma virada para cima) → Expressão no rosto e mão

Demonstrar surpresa 6 01

Aponta com dedo indicador para boca e faz movimentos circulares → Expressão na mão

Solicitar aspiração de vias aéreas superiores

6 01

68

Fonte: instrumento de coleta de dados

64

Mediante a identificação e organização em quadros dos signos expressos durante a

comunicação dos clientes traqueostomizados optamos por criar uma imagem representativa

do corpo do cliente para localizar quais as regiões corporais utilizadas por eles para se

expressarem. Como podemos observar a seguir.

Esquema 01 – Regiões corporais utilizadas para a comunicação

Cabeça e Rosto – Emitir mímicas para tentar explicar confortos e desconfortos

Braço e Mão – Chamar os profissionais e indicar local de desconforto

Fonte: instrumento de coleta de dados

As imagens signos para expressar o que queriam ou sentia quando os enfermeiros

estão pertos estão todos localizados na CABEÇA-rosticidade-expressão facial e, quando as

enfermeiras estavam distantes os signos estão na MÃO, ora para chamar, fazer barulho ou

para apontar o local de desconforto ou outros desejos, como molhar os lábios, por exemplo e

assim vão dando significado às Expressões corporais.

65

A partir da associação das informações apresentadas neste esquema com as

informações obtidas no instrumento de coleta de dados e nas filmagens chegamos então As

categorias de análise denominadas: Chamando a atenção da enfermagem: agitando braços

e mãos para chamar quem está longe; Explicando confortos e desconfortos: o rosto e

suas mímicas e gestos para dizer o que quer da enfermagem – estar perto

4.3 Caracterizando a COMUNICAÇÃO não verbal e analisando implicações

4.3.1 Primeira categoria:

CHAMANDO a atenção da enfermagem: agitando BRAÇOS e MÃOS para

chamar quem está longe

Nesta categoria estão os signos expressos pelo corpo para chamar a atenção e eles são

emitidos pelos BRAÇOS e MÃOS responsáveis pelos SONS nas grades da cama. Ao ler o

filme congelando imagens, identificamos que o cliente traqueostomizado/entubado ao

apresentar algum desconforto buscava a atenção da equipe de enfermagem para ajudá-lo.

Diante da impossibilidade de utilizar a voz para chamar a equipe de enfermagem que

estava perto ou distante de seu leito, ao chamar com os braços e mãos provocavam ruídos que

despertavam a atenção do profissional que passava a observar suas ações, isto é, não atendiam

de imediato. Enquanto isso, os clientes permaneciam aguardando o momento em que o

profissional olhava na direção do seu leito para acenar com a mão e indicar que necessitava de

sua aproximação para atendê-lo, e nesse jogo de cuidar e ser cuidado-o bater-barulho-som-

agir-caracterizam que a comunicação não verbal funciona se a enfermagem estiver atenta para

decodificar os signos (significados e significantes) como aparecem nos quadros, como:

... bater com a mão para chamar a atenção...

movimentar a cabeça para cima e para baixo para dizer sim...

66

... quando fecha os olhos apertando-os...

... para dizer que estar desconfortável...

... apontar para um local do corpo para falar de desconforto...

Vale ressaltar que a necessidade de comunicação percebida sobre os clientes

traqueostomizados pode evidenciar outras necessidades, como por exemplo o fato de não cair

em solidão, isto porque o cliente internado no CTI, não tem o mesmo tempo de contato com

seus familiares, como seria no caso de estarem gozando de boas condições de saúde, e por

isso, muitas vezes se sentem sozinhos, isolados em seus leitos. E neste sentido destacamos a

afirmativa de Abbagnano 2003, p. 918 onde diz que “a solidão é a impossibilidade de

comunicação”, o que para os clientes traqueostomizados, internados no CTI pode ser o retrato

fiel do que realmente sentem.

Também identificamos a partir das imagens em movimento que somente 01 dos 06

clientes do estudo (Cliente 01) não se utilizou desta ação (bater com a mão na grade da cama)

para chamar a atenção do profissional, no entanto na análise da imagem sobre o mesmo

cliente foi identificado a ação de acenar, abrindo e fechando a mão para chamar o

profissional. Além de acenar o Cliente 01 utilizou também o movimento da cabeça de cima

para baixo piscando os olhos (apertando os olhos), repetindo esta ação por diversas vezes para

chamar o profissional que passava próximo ao seu leito.

Desta forma destacamos que vários sentimentos, principalmente em se tratando destes

clientes, podem estar aflorados. E a angústia, não só pela falta de toque, mas principalmente

pela falta de conversa, da falta de uma comunicação explícita, da presença contínua, pode ser

também evidenciada. Bebb apud Silva (2003, p.13) corrobora neste entendimento ao enfatizar

que “a comunicação é parte do tratamento do cliente e ficar conversando com ele, muitas

vezes é o próprio remédio”.

67

O que estes clientes querem quando batem nas grades para chamar a atenção, em

determinados momentos, talvez seja apenas a presença dos profissionais e isso pode mostrar

aos mesmos que ainda estão conectados à vida, que ainda estão em condições de viver ou que

o fato de estarem ali é temporário e por isso não podem ser esquecidos.

Além disto entendemos ser importante destacar outro fator imperativo nesta relação de

cuidado, o fator empatia, e sobre isto Silva (2003, p.16) esclarece que se queremos ou

precisamos mudar seus hábitos, posturas, ou até mesmo orientá-lo sobre algo, é necessário

estabelecer um vínculo de confiança, com base em um comportamento empático: olhar direto,

inclinação do tórax para frente, meneios positivos de cabeça ... além das palavras corretas.

Na categoria em questão está em jogo o ouvir e o olhar como signos indicadores de

ação, de um que chama e de outro que vai atendê-lo, numa comunicação que envolve o verbal

(a da enfermagem) e o não verbal (do cliente), envolve um apelo àquele que percebe (a

enfermagem) e àquele que é percebido (o cliente), que não fala mas expressa-se com o corpo-

como conteúdo de expressão. Ele produz sentido captado nas imagens em movimento. Se a

enfermeira não ouve, não percebe os signos expressos pelo cliente, e um problema se instala

para ele trazendo como implicação a angústia e o medo pelo fato de não ser percebido, ser

ouvido, por que as enfermeiras estão distante, ele que ser visto, e que quer alguém esteja por

perto para fazer as leituras.

Durante a interpretação das imagens, embora os sujeitos estivessem com a limitação

da voz, não podendo verbalizar, eles se utilizavam da linguagem expressiva, na forma de

gestos, movimentos repetidos com a cabeça, dentre outros. Esta forma de buscar uma

comunicação com o profissional fez também com que ele tentasse, através da linguagem

verbal e associada a linguagem não verbal, também pelo uso de gestos, manter uma

comunicação com os sujeitos, buscando interpretar o que desejavam no momento em que

tentavam se comunicar.

68

Isso é corroborado por Rodrigues (2001 p.67), quando diz que os processos

“comunicacionais abrangem domínios extremamente diversos, que compreendem atos

discursivos, assim como silenciosos, gestos e comportamentos, olhares e posturas, ações ou

omissões”. Diz ainda que se comunicar é da experiência humana, e abrange a dimensão

expressiva que diz respeito a elaboração de manifestações significativas, e a dimensão

pragmática que diz respeito a prossecução de transformações do mundo que nos rodeia, que

se trate do mundo físico natural quer do mundo institucional. Para ele os atos expressivos e

pragmáticos são explicitamente manifestados através de signos e comportamentos materiais.

Vale destacar que neste estudo a linguagem receptiva, ou seja, a capacidade de

compreensão assim como a linguagem expressiva, a capacidade de comunicação, estiveram o

tempo todo sendo evidenciadas, tanto pelos sujeitos quanto pelos profissionais que os

assistiam.

É importante destacar que muitas limitações foram identificadas nas tentativas de

comunicação dos profissionais com os clientes traqueostomizados, e o que observamos foi

que a sensibilidade do profissional que buscava a interpretação dos clientes estava

diretamente ligada à maior compreensão do que eles desejavam, ou seja, os profissionais que

mais se dedicavam à compreensão do que os sujeitos tentavam emitir através de gestos, eram

os que mais identificavam as necessidades dos clientes.

Isso quer dizer que existe também uma linguagem não-verbal naqueles que falam,

parece difícil de explicar, mas cuidar nestas condições onde um fala e o outro não, pode ser

estabelecido um diálogo, uma conversa que é significante e tem sentido. Às vezes as

expressões do cliente interessam à enfermagem, como ela acredita que não tem nada a dizer

porque não compreende o que o cliente quer, acabamos dizendo qualquer coisa, fazendo

qualquer pergunta e assim são fabricadas questões que podem ser um problema ou uma

solução.

69

No entanto, o que sabemos, empiricamente, é que as enfermeiras estão em busca de

resolver questões, sair da dificuldade de não saber se comunicar com o cliente que não fala,

principalmente nas unidades de terapia intensiva.

Os resultados desta categoria - usar as mãos para provocar sons para chamar a atenção

– pode ser um modo de criar um novo discurso ou uma nova produção de sentido no âmbito

do exercício do cuidado. Cuidar de clientes traqueostomizados / entubados exige das

enfermeiras e sua equipe, a compreensão e as implicações do entendimento dos signos

emitidos pelo corpo do cliente.

Precisamos estar atentas a que instâncias se encontram a construção de ações para

trabalhar com os signos e os jogos no ambiente do cuidado que também produzem sentido. A

implicação que está em jogo no entendimento de que o sentido expressado no corpo é uma

nova leitura, pela enfermagem, quando cuida da comunicação com esses clientes se as

enfermeiras se empenharem em aprender a explicitar o que o corpo diz e quer, quando não

pode se expressar.

A comunicação aqui é MÃO, aquela que tem sentido de toque, mas os clientes dão o

significado de CHAMAR fazer SOM (barulho), um percebido pelo olhar e sentido na pele, o

outro percebido pelo ouvido, nos indicando que cuidar destes clientes é estar atento à audição

e a visão – cuidar ouvir, cuidado ver, cuidado cuidar – a ação como interpretação e

intervenção.

Isso é decorrente de um cuidado “longe”, as enfermeiras estão no posto olhando os

monitores ou cuidando de outros clientes, às vezes mais graves que os traqueostomizados.

Cuidado MÃO/SOM indica aproximação, presença constante para que o cliente se

sinta seguro. Quando o SIGNIFICADO é expresso como desconforto pela dor no corpo por

muito tempo na mesma posição, sede, boca seca, roupa molhada e a necessidade de troca,

dentre outros, os clientes nos apontam que se a presença fosse constante e a fala permanente

70

com eles, o cuidado poderia ser uma intervenção preventiva e não curativa. A implicação é de

que precisamos criar novas linguagens a partir dos signos expressos pelos clientes, que

considere seus conteúdos e não as “interpretações” empíricas que temos feito ao longo do

tempo. Segundo Rodrigues (2001, p. 96) um dos aspectos mais complexos e controversos da

Teoria da Comunicação tem a ver com o estabelecimento das relações entre a comunicação

verbal e as modalidades restantes do processo comunicacional.

A implicação nessa comunicação que não é equilibrada entre enfermeira que fala e

cliente que não fala é a de que precisamos aprender OUVIR, aprender ESCUTAR. Segundo

Araújo (2000, p.36) a possibilidade de ver o novo (cuidar a partir dos signos) se traduz num

desejo de compartilhar, e esse olhar que é proposto, altera substancialmente o modo de

perceber as instituições, os agentes, as relações sociais envolvidas na prática comunicativa.

Olhar o novo, diz o autor, é um modo de transformar o mundo, e isso é transformar a

linguagem.

Nossas interpretações nos remeteram a entendimentos e questionamentos que

merecem ser destacados, como:

1 – podemos definir um instrumento único para auxiliar na interpretação das mensagens não

verbais emitidas por clientes traqueostomizados

2 – é possível estabelecer a conduta do profissional diante de determinadas expressões

corporais de clientes traqueostomizados

O que podemos indicar como critério na interpretação da linguagem não verbal

emitida através de gestos, por estes clientes, é que a sensibilidade associada à experiência do

profissional e a um instrumento de avaliação pode predizer necessidades de clientes

traqueostomizados. Desta forma, uma interpretação acurada sobre as expressões deste sujeitos

é um elemento importante na avaliação das suas necessidades, requerendo portanto, cautela

71

por parte do profissional na implementação, aplicação e interpretação dos signos emitidos por

clientes traqueostomizados.

Neste contexto torna-se relevante evidenciar um instrumento capaz de avaliar a

necessidade do cliente, sendo necessário o entendimento que a sua utilização sem critério não

permite uma avaliação mais compreensiva do sujeito, e que somente uma análise acurada

poderá permitir maior fidedignidade na avaliação.

4.3.2 A segunda categoria

EXPLICANDO CONFORTO e DESCONFORTO: o ROSTO e suas mímicas e gestos

para DIZER o que quer da enfermagem – estar perto.

Após os clientes conseguirem chamar a atenção da equipe de enfermagem,

despertando sua atenção sobre eles, fazendo com que o profissional se aproximasse, eles, em

um primeiro momento, tentavam expressar através de mímicas faciais o que estavam sentindo

ou querendo. Desta forma era necessário que a equipe de enfermagem dedicasse seu tempo

tentando entender o significado das mímicas expressadas, fazendo com que, em muitas

ocasiões, o profissional solicitasse a ajuda de outro da equipe para entender o cliente,

principalmente porque nenhum membro da equipe possuía conhecimento sobre a leitura

labial. Esse signo traz para a enfermagem a exigência de entender novas comunicações, uma

delas, a leitura de sinais labiais tão comuns para aqueles que lidam com surdos-mudos.

Estar diante dessas mímicas é instigar as enfermeiras e sua equipe a aprender as

regiões das faces e atender o que elas querem dizer, como no nariz, na testa, no movimento

dos braços e das mãos. A nossa prática tem sido de reconhecimentos de pedaços de expressão

e de inferências, nem sempre corretas pela forma com que são decodificadas, pelos próprios

expressores. Como diz Barthes (1984 p.99) ao olhar imagens de uma foto dizia: quando

olhava a foto não alcançava seu ser e, portanto, toda ela me escapava. A mulher que estava

72

nela, não era ela, todavia, não era nenhuma outra pessoa. Eu a teria reconhecido entre

milhares de outras mulheres, e no entanto não a “reencontrava”. Isso para ele era um trabalho

doloroso; voltado para essência de sua identidade e dizia que se debatia em meio a imagens

parcialmente verdadeiras e, totalmente falsas. Parece que é assim que nos sentimos, diante de

mímicas/ signos que podem ter diferentes significados.

As mímicas eram utilizadas pelos clientes para tentar informar algo que causava

desconforto, como a dor, o incômodo ocasionado pelo posicionamento no leito, a necessidade

de beber água, buscando sempre a ajuda dos profissionais, para, através do cuidado que

recebiam, voltar a sentir-se confortável. Assim, quando os clientes percebiam que não

estavam sendo compreendidos através da mímica labial utilizavam gestos, como apontar para

a região que não estava confortável ou para o objeto que estavam causando o desconforto.

Vale ressaltar que dentre os clientes filmados, apenas um (cliente 06) não utilizava

mímica labial, e quando abordado sobre os motivos da não tentativa em utilizar os lábios para

se comunicar, o cliente apontou para o tubo endotraqueal, questionamos então se sentia algum

desconforto ao utilizar a mímica labial e o cliente movimentou a cabeça verticalmente duas

vezes consecutivas indicando que sim, e então passamos a entender o porque de sua não

utilização. Isto indica que a comunicação de Enfermagem implica em perguntar para ir

assertivamente identificando qual o significado da expressão emitida. Essa é a categoria do

ROSTO, MÍMICA, GESTOS E ENTENDER o que eles querem dizer. Para que isso aconteça

a Enfermagem precisa ESTAR PERTO porque é uma questão de OLHAR para o ROSTO do

cliente que está traqueostomizado, que produz sentidos no universo de intervenção de

enfermagem.

Por isso acreditamos que os signos desta categoria nos impulsiona a investigar mais

para entender, decodificar, criar signos de comunicação entre clientes e enfermeiras e sua

equipe. Tudo isso começa pelo entendimento do corpo, como expressão da vida no sentido

73

biológico, mas o corpo da expressão como diz Buzzi (1996 p.103), “é corpo como lugar de

decisões de interações e conexão com o mundo”. As mãos são sempre um “eu”, um “tu”, um

“ele” que passa o entendimento de um “eu” ou um “tu” que ouve; um “eu”, um “tu” que vê. É

um grande enlaçamento cósmico que dá forma a todas as coisas.

Por ele indicamos o que é duro, o que é mole, angular, agudo, vermelho, leve, pesado,

firme, saboroso, sensitivo, mal cheiroso, grande, pequeno, dentre outros.

Para Deleuze e Parnet (1998. p32-33) esse rosto que faz mímica e gesto é a relação

linguagem rosto, e, como diz Guattarri (1993), “a linguagem é sempre indexada sobre traços

do rosto, traços de rosticidade”. A informação-rosto para o autor é o mínimo requerido para a

compreensão das ordens, que pode ser um grito, o silencio ou a gagueira, e que seria a linha

de fuga da linguagem. Falar em sua própria língua (de traqueostomizado) como um

estrangeiro (para a Enfermagem).

É na imagem-signo no rosto dos clientes que se encontram os pensamentos acerca de

sentir, ou não, o conforto.

Cuidar destes clientes é viver o cotidiano da enfermagem através de riscos e fugas para

entender, ou não, o que eles dizem através do rosto. Para aqueles que estão comprometidos

com os clientes esse cuidar é doloroso e delirante ao mesmo tempo, posto que há algo no e do

cuidado que foge de nossas mãos, de nossa compreensão e nos impede de intervir

adequadamente para fazer um cuidado “rosto”, um cuidado “mímica”, um cuidado “gesto”

que merece ser decodificado como se apresenta nas tabela que apresentamos sobre os signos

identificados no vídeo.

As implicações são a de ter que entender fenômenos indicadores de cuidado no rosto

dos clientes, que extrapolam a preocupação com a traqueostomia, mas pensar que ela é o lugar

da respiração, da vida.

74

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entendendo os SIGNOS NÃO VERBAIS no cuidado de Enfermagem

Neste momento retomamos os achados assumindo os riscos de construir dados a partir

da realização de um vídeo sobre os signos emitidos pelos clientes traqueostomizados e nos

permitir pensar “sensivelmente” sobre eles.

Sair dos modelos dominantes da produção de conhecimento que exige instrumentos

diversos para captá-los em imagem – em movimento, foi um desafio, pensar numa

comunicação não-verbal que assume uma concretude esperada e acreditar que estamos num

outro caminho, o da subjetividade, o da semiologia se adequa ao que a Enfermagem atual

pensa.

Com certeza não ficaremos só por aqui, há de se investigar mais sobre SIGNOS e

CUIDADOS a partir deles, assim como, sobre a Semiologia, para entender os fenômenos

que estão nos corpos que se expressam produzindo conteúdos como significados sobre o que

os clientes sentem, sobre o que querem.

Nightingale (1889, p.19) enfatiza ser papel da Enfermagem “colocar o paciente nas

melhores condições para que a natureza possa atuar sobre ele”, inferimos então que cabe aos

profissionais de Enfermagem minimizar em seus setores ou áreas de atuação os fatores

estressores para estes clientes, visto que é papel do enfermeiro oferecer conforto a eles, e

também porque entendemos que todos os seres humanos necessitam não apenas de ambientes

confortáveis, mas também de cuidados confortantes. Estes cuidados devem relacionar-se com

as condições físicas, espirituais e emocionais dos clientes que os recebem.

Para o cliente traqueostomizado/entubado internado no CTI, que vivencia a angústia

da ausência da comunicação verbal, colocá-lo nas melhores condições, como destaca

Nightingale, nos reporta à possibilidade de entendê-lo, trazendo-o de volta à nossa realidade,

conectando-o novamente ao mundo em que vivemos, ao compreendermos o que o seu corpo

75

fala através de signos. Silva (2003, p.23) apóia este entendimento quando destaca a

comunicação como uma forma de “entender o mundo, relacionar-se com os outros e

transformar a si mesmo e a realidade”.

Fazendo uma síntese, é possível dizer que os resultados (2 categorias de análise)

mostram que os clientes traqueostomizados/emitem SIGNOS (significante e significado)

através de 30 expressões com as MÃOS, 21 com o rosto e 13 com a cabeça, entendidos como

plano de expressão – o SIGNIFICANTE e 68 justificativas, entendido como plano de

conteúdo – o SIGNIFICADO.

A decodificação dos SIGNOS associada ao que foi observado diz que o cuidado para

clientes traqueostomizados depende de como as enfermeiras e sua equipe entendem e

exercitam o OUVIR e OLHAR para intervir – ação de atender a solicitação dos clientes feitas

através das MÃOS fazendo SOM nas grades, e, de saber ter na expressão do ROSTO as

mímicas e os gestos indicando que isso só pode acontecer pela PROXIMIDADE da

enfermeira e sua equipe, comunicação (nessa situação de um que fala e do outro que não fala)

se faz olhando no ROSTO.

Porque não dizer CUIDADOS de EXPRESSÃO – significantes e CUIDADO de

CONTEÚDO – significado, isto é, cuidados para um corpo que não fala a palavra, mas fala a

mensagem visual dos movimentos do corpo.

Os resultados deste estudo poderão ampliar as fronteiras sobre comunicação com

clientes traqueostomizados/entubados em CTI, oferecendo subsídios para o aprofundamento

dos conhecimentos sobre os signos não verbais. Sobre isso nos valemos da afirmativa de

Nightingale (1989, p.147), ao expressar que “o conhecimento não chega por inspiração e nem

decorre de benevolência natural. Como qualquer outra arte requer aprendizado, prática e

cuidadosa investigação”.

76

Para efeito ilustrativo destacaremos o fato de que o cliente traqueostomizado/entubado

ao chamar a Enfermagem indicava através de signos que ele apresentava uma necessidade,

que poderia ser desde uma necessidade fisiológica a ser resolvida com auxílio da Enfermagem

ou mesmo uma simples intervenção de Enfermagem, como uma mudança no posicionamento

do travesseiro no leito para aliviar a dor em seu pescoço. A dor expressa pelo cliente poderia

estar relacionada com o entendimento que possui de conforto. Neste caso, desconforto, por

estar muito tempo na mesma posição, ou porque estava com sede ou molhado ou porque a luz

intensa estava lhe incomodando.

Durante a observação do cliente traqueostomizado/entubado percebemos que há ainda

uma necessidade da Enfermagem treinar a leitura labial para identificar algumas informações

que o cliente tenta emitir através da mímica que não ficam muito claras. Isto porque

conseguimos através da decodificação dos signos corporais perceber que ele estava

desconfortável com algo que não dizia respeito a aspectos físicos, mas sim aos aspectos

psíquicos do seu corpo. Em uma destas tentativas de entender a leitura labial do cliente

identificamos que ele estava preocupado com a família e que gostaria de ir para sua casa.

Estas informações dizem respeito às questões subjetivas, que, para o cliente, são mais difíceis

de serem expressas por gestos e por isso a tentativa se expressar através da mímica labial.

Isso que estamos dizendo pode ser chamado de “conclusão” de “considerações finais”,

mas concluir, para nós é prematuro, é estabilizar algo que está em movimento, FECHAR o

próprio sentido do ESTUDO. Trazendo Rodrigues (2001, p.66) de volta para nos apropriar do

que ele diz pode ser adequado ao estudo como um referencial, quando fala do OLHAR

SEMIOLÓGICO: a visão dominante percebe o sujeito como ativo sobre língua, combinando

palavras e produzindo significados que atendam a seus interesses, mas cujas possibilidades

são definidas pelo significados que cada palavra traz em si, de forma eminente. A visão

semiológica também entende que o sujeito é aquele que trabalha sobre a matéria significante

77

para produzir enunciados mas que esse trabalho sofre coerções de duas ordens: uma, a de suas

singularidades e a outra, a do campo histórico (o destaque é nosso).

Vale destacar que os sentidos aqui identificados estavam constituídos num espaço

delimitado, o espaço do cuidado, dentro de uma determinada área da instituição onde a

pesquisa aconteceu. Por isso não afirmamos que eles foram constituídos em contexto social

onde os sentidos são modelados. Mas são resultantes do processo de relações das enfermeiras

com seus clientes e sua origem não é no processo discursivo, mas no processo da expressão.

Para melhor interpretar o que encontramos criamos uma imagem diagramática,

conforme apresentado a seguir:

Diagrama 2 – Comunicação entre Cliente Traqueostomizado/Entubado e Equipe de

Enfermagem

Cliente traqueostomizado/

entubado

Enfermagem que

está longe ou perto

Emite

SIGNOS para

CABEÇAMÃO ROSTO

SIGNIFICANTE

SIGNIFICADO

- CUIDADO / EXPRESSÃO

- CUIDADO / CONTEÚDO

78

O cuidado permeia toda a estrutura conforme evidenciado no diagrama 02, sendo

entendido como a essência do ser humano, seja na visão de quem oferta como na visão de

quem recebe. Boff (2003, p.82) corrobora com a nossa afirmativa ao entender que: “O ser

humano é fundamentalmente um ser de cuidado mais que um ser de razão e de vontade.

Cuidado é uma relação amorosa para com a realidade, com o objetivo de garantir-lhe a

subsistência e criar-lhe espaço para o seu desenvolvimento”.

Ainda segundo o autor, “em tudo os humanos colocam e devem colocar cuidado: na

vida, no corpo, no espírito, na natureza, na saúde, nas pessoa amada, em quem sofre e na casa.

Sem cuidado, a vida perece”.

Assim entendemos que o cuidar/cuidado para com o cliente

traqueostomizado/entubado deve buscar atender todas as necessidades dos mesmos,

transcendendo a essência da particularidade da Enfermagem, seja em seu contexto histórico

ou em seu contexto sócio-econômico-cultural presente.

79

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80

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81

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82

ANEXO

83

ANEXO I – Instrumento para observação dos signos expressos pelos clientes

traqueostomizados/entubados.

Nome: Idade: Sexo:

Como o cliente se apresenta?

Confirmação do signo junto ao cliente.

Como o cliente se apresenta após o cuidado?

*Guia de questionamentos

*Guia de questionamentos.

1. Está confortável? ( ) Sim ( ) Não

Em caso afirmativo investigar as razões

Em caso negativo seguir para a pergunta 2

2. Está com dor? ( ) Sim ( ) Não

- Caso a resposta seja sim, seguir para o item 2.1. Em caso contrário seguir para a questão nº3

2.1 Aonde está doendo...

3. Está triste? ( ) Sim ( ) Não

Em caso afirmativo seguir item 3.1

3.1 Está com saudade da família? ( ) Sim ( ) Não Atenção: atentar para história pregressa do cliente.

É saudade dos seus filhos? ( ) Sim ( ) Não

É saudade dos pais? ( ) Sim ( ) Não

É saudade dos irmãos? ( ) Sim ( ) Não

4. Está com fome ( ) Sim ( ) Não

5. Está com sede ( ) Sim ( ) Não

6. A luz está incomodando? ( ) Sim ( ) Não

7. A roupa está molhada? ( ) Sim ( ) Não

8. Está com frio? ( ) Sim ( ) Não

9. Está com calor? ( ) Sim ( ) Não

10. Quer mudar a posição? ( ) Sim ( ) Não

84

ANEXO II – AUTORIZAÇÃO PARA SUBMISSÃO DO PROJETO DE PESQUISA AO

COMITÊ DE ÉTICA DO HOSPITAL CENTRAL DO EXÉRCITO

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Escola de Enfermagem Alfredo Pinto Curso de Mestrado em Enfermagem Orientadora: Drª Nébia Maria Almeida de Figueiredo Projeto de Dissertação: Comunicação não-verbal com o cliente traqueostomizado/entubado: decodificando os signos não-verbais para entender e cuidar em enfermagem Autora: Priscila de Castro Handem

Ao Coordenador do Comitê de Ética do Hospital Central do Exército

Vimos por meio desta solicitar autorização para que a mestranda em enfermagem

Priscila de Castro Handem submeta seu projeto de pesquisa cujo titulo provisório é:

Comunicação não-verbal com o cliente traqueostomizado/entubado: decodificando os

signos não-verbais para entender e cuidar em enfermagem; como requisito obrigatório

para obtenção do grau de mestre pelo curso de pós-graduação em enfermagem da

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO.

Segue em anexo o Projeto de Pesquisa.

Certos de contar com a colaboração de vossa senhoria estamos a disposição para

maiores esclarecimentos.

Atenciosamente,

_____________________________

Priscila de Castro Handem

Priscila de Castro Handem – Rua Roberto Dias Lopes Nº111 Aptº 310 Leme – CEP 22010 –110 – RJ.

Telefones: (21) 31859618 ; (21)97322936; E-mail [email protected]

85

ANEXO III – AUTORIZAÇÃO PARA PESQUISA

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Escola de Enfermagem Alfredo Pinto Curso de Mestrado em Enfermagem Orientadora: Drª Nébia Maria Almeida de Figueiredo Projeto de Dissertação: Comunicação não-verbal com o cliente traqueostomizado/entubado: decodificando os signos não-verbais para entender e cuidar em enfermagem Autora: Priscila de Castro Handem

PROJETO DE PESQUISA

Projeto de pesquisa desenvolvido como requisito parcial para obtenção do grau de

mestre em enfermagem que tem como titulo provisório: Comunicação não-verbal com o

cliente traqueostomizado/entubado: decodificando os signos não-verbais para entender e

cuidar em enfermagem.

Esta pesquisa tem como objetivos: Identificar os signos não-verbais de conforto e

desconforto que são emitidos pelo cliente traqueostomizado/entubado internado no CTI

durante sua comunicação com a equipe de enfermagem; Caracterizar a comunicação não-

verbal dos clientes traqueostomizados/entubado internados no CTI a partir dos signos não-

verbais emitidos por eles; Analisar as implicações da decodificação dos signos não-verbais

utilizados na comunicação do cliente traqueostomizado/entubado internado no CTI com a

equipe de enfermagem.

Os sujeitos do estudo serão clientes maiores de 21(vinte e um) anos internados no CTI

que possuem comprometimento na capacidade da fala, por terem sido submetidos a

traqueostomia/entubação orotraqueal.

Será mantido o anonimato e não serão divulgadas as imagens filmadas dos sujeitos

participantes do estudo, tendo os mesmos total liberdade para recusa ou anulação do termo de

consentimento livre e esclarecido em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma e

sem prejuízos ao cuidado destinado aos clientes.

Atenciosamente,

___________________________ Priscila de Castro Handem

Priscila de Castro Handem – Rua Roberto Dias Lopes Nº111 Aptº 310 Leme – CEP 22010 –110 – RJ.

Telefones: (21) 31859618 ; (21)97322936; E-mail [email protected]

86

ANEXO IV – CARTA CONVITE

CARTA CONVITE

Projeto: Comunicação não-verbal com o cliente traqueostomizado/entubado:

decodificando os signos não-verbais para entender e cuidar em enfermagem

Seu familiar está sendo convidado a participar da pesquisa “Comunicação não-verbal

com o cliente traqueostomizado/entubado: decodificando os signos não-verbais para

entender e cuidar em enfermagem”, organizada pela pesquisadora mestranda, Priscila de

Castro Handem, que irá envolver cerca de 06 clientes traqueostomizados/entubados

internados em Centros de Terapia Intensiva.

É importante que você leia e compreenda totalmente as informações fornecidas neste

termo. Caso você não entenda alguma parte deste termo, pergunte à enfermeira responsável

pelo estudo antes de assiná-lo.

A autorização para participação de seu familiar neste estudo é totalmente voluntária!

Esta pesquisa acontecerá sob supervisão e orientação da Dra. Nébia Maria Almeida de

Figueiredo – pesquisadora do CNPq.

Atenciosamente

__________________________ Priscila de Castro Handem

Priscila de Castro Handem – Rua Roberto Dias Lopes Nº111 Aptº 310 Leme – CEP 22010 –110 – RJ.

Telefones: (21) 31859618 ; (21)97322936; E-mail [email protected]

87

ANEXO V – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Escola de Enfermagem Alfredo Pinto Curso de Mestrado em Enfermagem Orientadora: Drª Nébia Maria Almeida de Figueiredo Estamos realizando um estudo com o intuito de ampliar o conhecimento e a discussão na enfermagem sobre a comunicação com o cliente traqueostomizado internado nas unidades de terapia intensiva. Isto porque os clientes submetidos à traqueostomia/entubação orotraqueal apresentam comprometimento na capacidade da fala, dificultando o entendimento por parte da equipe de enfermagem do que o cliente está tentando transmitir. O título do nosso estudo é: Comunicação não-verbal com o cliente traqueostomizado/entubado: decodificando os signos não-verbais para entender e cuidar em enfermagem.

Nossos objetivos são: Identificar os signos não-verbais de conforto e desconforto que são emitidos pelo cliente traqueostomizado/entubado internado no CTI durante sua comunicação com a equipe de enfermagem; Caracterizar a comunicação não-verbal dos clientes traqueostomizados/entubados internados no CTI a partir dos signos não-verbais emitidos por eles; Analisar as implicações da decodificação dos signos não-verbais utilizados na comunicação do cliente traqueostomizado/entubado internado no CTI com a equipe de enfermagem. Para realizar este estudo faremos a observação sobre quais as expressões corporais os clientes traqueostomizados/entubado utilizam para transmitir mensagens à equipe de enfermagem. Utilizaremos ainda o recurso da filmagem para garantir o registro fidedigno das expressões do cliente, que está impossibilitado de verbalizar seus confortos ou desconfortos. Esclarecemos que as imagens obtidas através da filmagem servirão para o preenchimento do formulário da pesquisa, e portanto não serão divulgadas em quaisquer meio de comunicação. Além disso a filmagem será realizada apenas mediante a autorização do responsável legal pelo cliente, após explicitação dos objetivos do projeto.

Desse modo informamos e solicitamos de Vossa Senhoria a autorização para a realização da referida pesquisa, desejando sua valiosa colaboração.

Eu,....................................................................... RG nº........................ ciente das informações recebidas, concordo e autorizo a participação de ................................................................. na pesquisa intitulada “Comunicação não-verbal com o cliente traqueostomizado/entubado: a criação de signos para entender e cuidar em enfermagem”, que será realizada sob responsabilidade de Priscila de Castro Handem, aluna do curso de Mestrado em Enfermagem da EEAP/UNIRIO, pois, estou informado(a) que em nenhum momento meu familiar (participante do estudo) será exposto(a) a riscos devido a participação no estudo e que poderei a qualquer momento recusar ou anular o consentimento por mim assinado, sem nenhum prejuízo para meu familiar ou para minha pessoa. Estou ciente também que os resultados encontrados no estudo serão usados apenas para fins científicos. Fui informado que meu familiar ou eu não teremos nenhum tipo de despesa ou gratificação pela referida participação nesta pesquisa, e que teremos acesso aos resultados publicados em periódicos científicos. Pelo exposto, concordo voluntariamente em autorizar a participação do meu familiar no referido estudo. _____________________________ ____________________________ Assinatura do Responsável Assinatura do Pesquisador

Priscila de Castro Handem Priscila de Castro Handem – Rua Roberto Dias Lopes Nº111 Aptº 310 Leme – CEP 22010 – 110 – RJ. Telefones: (21) 31859618 ; (21)97322936; E-mail [email protected]

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