Universidade Federal do Paraná Setor de Ciências Humanas ... · MAPA DE ZONEAMENTO APA DO IRAÍ...
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Universidade Federal do Paraná
Setor de Ciências Humanas
Curso de Ciências Sociais
Nicolly Campos Araújo
Para além da qualificação profissional: uma análise da percepção dos
egressos do Ensino Médio Integrado no Centro Estadual de Educação Profissional
(CEEP) Newton Freire Maia
Curitiba
2017
Universidade Federal do Paraná
Setor de Ciências Humanas
Curso de Ciências Sociais
Aluna: Nicolly Campos Araújo
Para além da qualificação profissional: uma análise da percepção dos
egressos do Ensino Médio Integrado no Centro Estadual de Educação Profissional
(CEEP) Newton Freire Maia
Monografia apresentada para a obtenção
do Grau de Licenciatura em Ciências
Sociais, área de Sociologia, da
Universidade Federal do Paraná.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Aparecida
Bridi. (Departamento de
Sociologia/DECISO - UFPR)
Curitiba
2017
Por todo amor que me deu enquanto
pôde, ao meu querido irmão, Pedro
Henrique Campos Araújo (in
memoriam)...
Dedico.
AGRADECIMENTOS
Começo agradecendo a minha família, minha mãe, Bernadete Lourenço de
Campos, que é a pessoa mais destemida e lutadora que conheço e me ensinou que
quando se tem fé em Deus nada é impossível de ser superado. Ao meu pai, Sérgio Luiz
Caetano de Araújo, que me ensinou que nada é inquestionável, me ensinou a ter
pensamento crítico sobre as coisas, foi por isso que escolhi Ciências Sociais. A minha
irmã, Ana Carolina Campos Araújo, que sempre me diz “tudo vai dar certo no final”
quando por algum motivo as coisas ficam difíceis e dá vontade de desistir. Ao meu
companheiro, Roberto Hentz, agradeço por todo apoio e compreensão para que esse
trabalho se concretizasse. Sem o amor de vocês eu não teria conseguido!
Agradeço a minha orientadora Professora Doutora Maria Aparecida Bridi, por
me apontar os caminhos que deveria seguir para que esse trabalho fosse possível.
Agradeço a Kelen Bernardo e Cândida Lima por aceitarem participar da banca e que a
partir de seus escritos me auxiliaram muito na construção dessa monografia. Agradeço
também a Marli Klein Valaski que me ajudou a partir da sua pesquisa com Ensino
Médio Integrado. Ao Setor de Ciências Humanas, ao Curso de Ciências Sociais e a
todos os professores que contribuíram com a minha formação, obrigada.
Sou grata pela equipe pedagógica e diretiva do CEEP Newton Freire Maia por
ter me cedido acesso aos documentos da escola e informações dos egressos para que
pudesse encontrá-los. Aos egressos que se dispuseram a me responder, muito obrigada
pela atenção e tempo de vocês.
Os amigos que estiveram comigo ao longo dessa caminhada: aos que conheci no
curso e vou levar para vida, vocês foram uma das melhores partes dessa experiência:
Melissa Andrade, Bianca Kaiser, Viviane Vidal, Luiza Maioli, Matheus Cedric e a
todos os amigos GRR2011. Ao grupo “Senhoras”, que me fazem gargalhar até mesmo
quando tudo está tão difícil... Vocês são os melhores amigos que alguém pode ter!
Muito obrigada! Sou grata especialmente a minha amiga Karoline Obal que tanto me
ajudou, em todos os sentidos, sem você esse trabalho não seria possível!
A todos aqueles os quais não citei o nome, mas que de alguma forma
contribuíram e incentivaram essa formação, sou grata!
“Nin Jitsu, Oxalá, capoeira, jiu jitsu
Shiva, Ganesh, Zé Pilin dai equilíbrio
Ao trabalhador que corre atrás do pão
É humilhação demais que não cabe
nesse refrão”.
Criolo, 2014
RESUMO
A presente pesquisa procurou refletir sobre a qualificação profissional do jovem egresso
do CEEP Newton Freire Maia, que teve acesso a essa formação a partir da Política
Pública do Ensino Médio Integrado, nos cursos Técnico em Meio ambiente e Técnico
em Sistemas de Energias Renováveis/Alternativas. Como objetivo, visamos identificar
como foi a saída do jovem depois do curso: como ele foi recebido pelo mercado de
trabalho flexível, se procurou dar continuidade aos seus estudos em cursos superiores na
mesma área em que fez o Técnico Integrado ou em outra área de conhecimento.
Procuramos saber também como os egressos avaliavam a formação que receberam no
CEEP. Essa análise se justifica pela sua contribuição à discussão da formação integrada,
e de como as políticas públicas de qualificação podem ser proveitosas e contribuírem
para as carreiras profissionais do jovem. Realizamos para a pesquisa um levantamento
bibliográfico que nos permitiu maior conhecimento sobre o Ensino Médio Integrado e
sobre o conceito de qualificação o que nos direcionou posteriormente em campo para a
aplicação dos questionários e entrevistas. Observamos que mesmo os jovens egressos
que decidiram por não seguir carreira na área ambiental fazem uma avaliação positiva
da experiência vivida, pois, o que aprenderam no curso os ajuda atualmente em suas
carreiras de alguma forma. Isso demonstra que a qualificação que receberam os
preparou para além de postos de trabalho específicos, e que obtiveram uma educação
integral, no sentido de que tiveram acesso ao aprendizado das técnicas específicas que
um profissional da área ambiental precisa ter, além de uma educação geral que é
mobilizada independente do posto de trabalho ou profissão.
Palavras-chave: Qualificação; Mercado de Trabalho; Educação Propedêutica.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 9
I - A POLÍTICA PÚBLICA DO ENSINO MÉDIO TÉCNICO INTEGRADO ..... 14
1.1 O TRABALHO EM TEMPOS DE FLEXIBILIZAÇÃO: POLÍTICAS PÚBLICAS
COMO MEIO PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL INTEGRAL ........................ 22
1.2 ENSINO MÉDIO INTEGRADO NO ESTADO DO PARANÁ E A CRIAÇÃO DO
CEEP NEWTON FREIRE MAIA .................................................................................. 27
II - A QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DO JOVEM NO CONTEXTO DE
ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL ..................................................................................... 33
2.1 AS CONDIÇÕES DE ACESSO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA À
ESCOLARIZAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL ....................................... 43
III - UMA ANÁLISE SOBRE A FORMAÇÃO INTEGRADA COM EGRESSOS
DO CEEP NEWTON FREIRE MAIA ....................................................................... 47
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 64
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 66
APÊNDICE ................................................................................................................... 70
ROTEIRO ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA .................................................. 70
QUESTIONÁRIO APLICADO PELO GOOGLE FORMULÁRIOS. ....................... 71
ANEXOS ....................................................................................................................... 73
DADOS GERAIS DOS CURSOS .............................................................................. 73
MAPA DE ZONEAMENTO APA DO IRAÍ ............................................................. 74
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Fases da Reforma Curricular no Paraná: diversos anos ................................ 30
Quadro 2: Síntese do perfil dos egressos dos Cursos Técnico em Meio Ambiente e
Energias Renováveis....................................................................................................... 50
Quadro 3: Pontos positivos e que poderiam ter sido melhores na formação, a partir da
percepção dos egressos: .................................................................................................. 52
Quadro 4: Contribuições dos cursos técnicos citados pelos egressos ............................ 54
Quadro 5: Situação dos egressos após o curso Técnico em Meio Ambiente e Energias
Renováveis ..................................................................................................................... 57
Quadro 6: Situação dos egressos do CEEP NFM em relação ao mercado de trabalho .. 59
LISTA DE MAPAS
Mapa 1: Localização do Centro Estadual de Educação Profissional Newton Freire Maia
– Pinhais/PR ................................................................................................................... 31
9
INTRODUÇÃO
Há “na literatura um forte debate em torno da qualificação, sobretudo no século
XX”, como analisam Ieger e Bridi (2014, p. 267). Compreendem as autoras que há um
campo “aberto à investigação empírica, tanto no que se refere à questão da
qualificação/desqualificação do trabalhador na ‘era informacional’, quanto ao efetivo
contexto de mutações nas formas de trabalhar, de produzir e do mercado de trabalho”.
No contexto dos anos 1970, em vista das transformações tecnológicas, dos debates em
torno das novas exigências para os trabalhadores, é reintroduzido a discussão sobre “as
funções sociais da qualificação da educação e do trabalho e das suas implicações na
relação capital trabalho” (PRESTES e VÉRAS, 2009, apud Bridi, 2011).
A formação do trabalhador passou a ocupar um lugar privilegiado nas agendas
internacionais, no quadro de modificações na forma de trabalhar e decorrentes das
transformações tecnológicas, políticas e sociais. E isso fez com que os governos se
organizassem para discutirem sobre como melhorarem as políticas públicas de educação
já existentes e/ou criando outras políticas de qualificação profissional. Demonstrando a
preocupação de gestores públicos quanto à necessidade do trabalhador de todos os
níveis de escolaridade terem qualificações para otimizar a atuação em máquinas que
passaram a ser adotadas nas fábricas e industrias em crescimento. Conforme Prestes e
Veras de Oliveira (2009), com as novas demandas de produção no capitalismo
internacional, contemporaneamente,
os investimentos dos Estados relativos à educação escolar ganharam realce e
visibilidade. A teoria do capital humano, de ampla repercussão nos modelos
de desenvolvimento da época e que teve nos economistas norte-americanos
Theodore Schultz (1974) e Frederick H. Harbison (1974) seus principais
expoentes, propiciou o surgimento de políticas educacionais voltadas para a
formação profissional relacionadas “às demandas e necessidades dos setores
mais organizados do capital e de suas necessidades técnico-organizativas”
(MANFREDI 2002 apud PRESTES e VÉRAS, 2009, p. 49)
Pensando na Educação e nessas “novas” demandas, cabe retomar os princípios
de uma formação de autores como Antonio Gramsci , que fazem debates em relação à
formação integral do homem, que promove “transformações sociais e para a
organização do dos processos democrático, sobretudos nos países latino-americanos.”
(PRESTES e VÉRAS, 2009, 49)
No decorrer da história, sobretudo do século XX, no caso do Brasil, a relação da
educação com o mundo do trabalho tem se baseado na independência entre formação
10
geral e formação profissional. Isso acontece por conta da divisão de classes que existe
em nossa sociedade e da perspectiva de uma formação diferenciada para, digamos, ricos
e pobres, em última instância. Essa separação se materializa a partir de políticas
públicas que, como escreve Valaski:
[...] apresentam como marca a legitimação da dualidade educação
propedêutica (destinada a preparar o educando para o acesso ao curso
superior) versus formação de caráter técnico-profissionalizante centrada no
ideário da preparação para atender o mercado de trabalho (VALASKI 2012,
p.7).
É nesse sentido que analisamos a educação profissional neste trabalho, “para
além da qualificação profissional” voltada essencialmente para a preparação do jovem
para o mercado de trabalho.
O tema da educação profissional pode ser estudado sob diferentes perspectivas,
entretanto, optamos em fazer esse estudo na fronteira entre o trabalho, educação e
políticas públicas: Buscamos analisar as percepções de estudantes egressos sobre o tema
da qualificação profissional e, e de que forma o Ensino Médio Técnico cursado,
contribuiu para a sua trajetória de vida e de trabalho pós conclusão dessa modalidade de
ensino.
Antes de apresentar a pesquisa de campo e partir para as discussões que dela
afloraram, é preciso tratar dos caminhos da pesquisa. A metodologia que utilizamos
neste trabalho diz respeito à pesquisa qualitativa que, para Minayo:
[...] responde a questões muito particulares, [pois] se preocupa [...] com um
nível de realidade que não pode ser qualificado. Ou seja, ele trabalha com o
universo de significados, motivos, aspirações, crenças valores e atitudes, o
que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos
fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.
(MINAYO, 1994, p.21)
A pesquisa empírica realizada no âmbito do presente TCC, teve como foco um
centro de educação profissional pertencente à região metropolitana norte de Curitiba:
CEEP Newton Freire Maia, uma escola técnica, mantida pela Secretaria de Estado de
Educação do Paraná (SEED) que oferece cursos na área ambiental, localizada no Parque
das Nascentes, município de Pinhais-PR, mais especificamente na Estrada da Graciosa.
Atualmente no CEEP NFM são ofertados 4 cursos profissionalizantes com foco
na área ambiental, na modalidade integrado (curso técnico e ensino médio, com duração
de 4 anos) e na subsequente (somente o curso técnico, com duração de 1 ano e meio):
11
Técnico em Meio Ambiente, Agropecuária, em Sistemas de Energias
Renováveis/Alternativas1 e Paisagismo.
O objetivo dessa pesquisa é contribuir para a discussão sobre a qualificação
profissional do jovem para o ingresso no mercado de trabalho e para discussão em torno
da Política Pública do Ensino Médio Integrado, cuja modalidade enquanto ensino
técnico objetiva de modo central preparar o jovem para o mercado de trabalho e uma
educação que o prepare também para a vida como cidadão, com senso crítico capaz de
promover transformações, e ser preparado para que seja possível o ingresso em cursos
superiores como consta de suas diretrizes educacionais.
Visamos ainda, traçar o perfil dos egressos que optaram por uma formação
técnica integrada e saber qual a avaliação que estes egressos fazem do curso, quais as
contribuições para vida pessoal e profissional, os pontos positivos vistos na formação
que receberam e aqueles que poderiam ter sido melhores.
Para isso, optamos por contatar alunos egressos, mais especificamente, de duas
turmas: Energias Renováveis/Alternativas e Técnico em Meio Ambiente2. Ambas se
formaram em 2013 e são da modalidade Ensino Médio Integrado. Procuramos saber
como estes ex-alunos foram recebidos pelo mercado de trabalho e se buscaram dar
continuidade aos seus estudos aprimorando seus conhecimentos na mesma área em que
se formaram ou em outra. E ou sobre a inclusão no nível superior e se a formação que
receberam no CEEP deu a eles essa possibilidade de inserção. Assim, temos como
problema de pesquisa analisar a passagem dos estudantes pela escola Newton Freire
Maia e a sua contribuição para uma qualificação com vistas não somente à inserção no
mercado de trabalho, mas também como meio motivador para as escolhas realizadas,
visando dar continuidade aos estudos em cursos de nível superior.
O motivo da escolha pelos dois cursos específicos se deu pelo fato de existirem
contatos estratégicos nas duas turmas, o que facilitou a aplicação dos questionários e as
entrevistas com os mesmos. Além disso, consideramos interessante o fato de haver um
intervalo de 4 anos do término do curso e o questionamento dos caminhos trilhados por
eles depois. O curso de Paisagismo é um curso novo na instituição, o qual formou
apenas uma turma, por conta disso consideramos que ainda é cedo para uma pesquisa
com estes egressos. Já o curso de Agropecuária geralmente é frequentado por alunos que
1
A partir deste momento iremos nos referir ao curso como “Técnico em Energias Renováveis/
Alternativas”. 2 Os Dados Gerais de cada curso se encontram nos anexos desse trabalho.
12
moram em municípios mais afastados do CEEP, por conta disso cogitamos que o
contato com estes ex-alunos seria muito mais difícil para participação na pesquisa.
A pertinência em se estudar a formação técnica no Brasil se deve, sobretudo, ao
avanço que este nível de ensino teve pela administração federal, nos governos petistas.
Nesse contexto foram criadas cerca de 500 escolas técnicas de 2003 a 2016 (LIMA,
2017). Contudo, já na publicação da lei 7.044/82, Frigotto, Ciavatta e Ramos (2010)
consideram que estas voltaram a ser valorizadas e continuaram a desempenhar a função
de formar técnicos com qualidade.
Consideramos necessários estudos de caso sobre profissionalização no ensino
médio, pois permitem aprofundar a discussão sobre a dualidade da educação, em torno
da preparação para o mercado de trabalho e a formação para a cidadania. A educação
deveria não só preparar o jovem para o mercado de trabalho, mas também para a vida
como cidadão, com senso crítico capaz de promover transformações. Não se pode
ignorar que pelo trabalho (e pela educação) muitos jovens podem modificar suas vidas,
e que a partir de uma boa oportunidade de emprego outros horizontes podem se abrir.
Neste estudo, utilizamos procedimentos qualitativos e quantitativos de análise
que nos permitiram uma aproximação com o objeto de estudo, traçar um perfil dos
egressos que tiveram a experiência de cursar o Ensino Médio Integrado no Paraná.
Nossa amostra se baseou nos egressos do ano de 2013 dos cursos de Técnico em Meio
Ambiente, no qual 18 alunos se formaram, sendo que 66% (10) participaram da
pesquisa; e Técnico em Energias Renováveis/Alternativas com 12 formandos no total,
com participação de 8 deles, totalizando 55%.
Para a coleta de dados foram utilizados dois procedimentos de investigação.
Primeiramente aplicamos questionários online a partir da ferramenta Google
Questionários. Após, fizemos entrevistas semiestruturadas com o intuito de aprofundar
aspectos importantes que podem ter sido comprometidos por conta da característica
objetiva do questionário.
Dessa forma foi possível levantarmos algumas questões que contribuem para
discussões como: a avaliação da Política Pública do Ensino Médio Integrado no Paraná;
a inserção do jovem no mercado, que é dificultada por diversos motivos, dentre eles a
flexibilização das relações de trabalho e estagnação econômica.
O presente estudo está organizado da seguinte forma: como ponto de partida, no
capítulo I, trouxemos o conhecimento sobre o Ensino Médio o que permitiu um
aprimoramento em relação ao conhecimento inicial. Em seguida, no capítulo II,
13
procuramos aprimorar o conhecimento quanto ao conceito de qualificação para nos
auxiliar na interpretação do que vimos em campo. Já no capítulo III, procuramos nos
debruçar sobre a pesquisa de campo em si, visando realizar a análise dos dados
empíricos coletados.
14
I - A POLÍTICA PÚBLICA DO ENSINO MÉDIO TÉCNICO INTEGRADO
Como já afirmamos, existe uma dualidade na educação, se para a inserção no
mercado de trabalho, se para a formação propedêutica. Essa dualidade, a nosso ver, é
equivocada, pois todo o processo educacional objetiva a formação para a vida e o
trabalho é uma das dimensões da vida. Discutimos, portanto, neste capítulo, sobre essa
dualidade da educação, pois este trabalho não dará ênfase somente para a qualificação
profissional recebida pelos jovens do CEEP Newton Freire Maia para atuarem no
mercado de trabalho, mas também sua contribuição como educação propedêutica, por
isso “para além da qualificação.” A forma como o Ensino Médio é organizado no Brasil
passa por mudanças que ficam a critério de quem está no comando político.
Desde os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2010) e Dilma Rousseff
(2011 a 2016), podemos observar uma ênfase maior quanto à preparação do jovem para
o mercado de trabalho, com o Ensino Médio Técnico Integrado. No quadro nacional, a
educação destinada a jovens e adultos, historicamente, oscila, entre uma formação
propedêutica e a formação geral, com cursos profissionalizantes, e formação específica,
o que mostra que existe uma indefinição de qual a melhor opção para a realidade do
Brasil (GARCIA e LIMA FILHO, 2010, p.21).
Existe uma necessidade de dar certa ênfase para o preparo do jovem para o
mercado de trabalho, afinal vivemos em uma sociedade capitalista, a qual precisa
aumentar e melhorar as atividades produtivas (CASTIONI, 2010). Além de
considerarmos a necessidade da ênfase para o trabalho, por conta das necessidades dos
indivíduos, tomamos, em nossa proposta, o trabalho como parte da condição juvenil,
conforme nos aponta Dayrell (2007). A juventude, para o autor em tela, é uma categoria
socialmente construída, portanto, está relacionada a diversidade de contextos
socioeconômicos, culturais, questões de gênero, entre outros aspectos. Trata-se,
portanto, de uma categoria dinâmica que se transforma junto com as mutações sociais
que acontecem com o passar do tempo.
Para Dayrell (2007), o trabalho para o jovem dentro da lógica capitalista tem
uma função muito clara, pois segundo ele, o jovem não está interessado em questões de
alienação do trabalho, exploração, mas sim nos benefícios que a venda da sua força de
trabalho lhe trará, como por exemplo, a de comprar aquele tênis de determinada marca,
ou ir ao cinema com os amigos. Evidente que isto nos remete a uma juventude de uma
determinada classe social, isto é, daquela que necessita trabalhar para viver, daqueles
15
filhos da classe trabalhadora que ocupam os empregos menos valorizados econômica e
socialmente.
Essa dimensão do trabalho para a juventude também é importante na medida em
que confere uma identidade social:
Um dos significados do trabalho nas sociedades ocidentais está em ter
passado a conferir uma identidade social ao homem e a ser um dos elementos
constitutivos do seu eu. Prova disso está em quando as pessoas nos
perguntam “quem somos” e temos a tendência de responder “o que
fazemos”, isto é , a nossa ocupação. (ARAUJO; BRIDI; MOTIM, 2011, p.
48)
Quando temos em mente o trabalho como parte da condição juvenil e como parte
da construção da identidade, assume-se a necessidade de pensar em programas de
auxílio à preparação dos jovens para sua inserção neste mundo. Em suma, sendo o
trabalho uma dimensão chave para os indivíduos e, sobretudo, para o foco deste estudo,
para o jovem, cabe à sociedade, ao Estado promover os meios para a sua formação e
inserção no trabalho.
O Ensino Médio Técnico Integrado é uma das políticas públicas que assume essa
responsabilidade quanto à profissionalização destinada aos jovens que representam mais
de 20% da população brasileira, e que ao terminarem esta etapa deverão estar
preparados para se inserir no mercado de trabalho.
Analisando dados da Secretaria de Estado da Educação (SEED) no ano de 2014
o número de matrículas na educação profissional vem crescendo. Entre os anos de 2011
e 2014, cerca de 244.300 alunos realizaram cursos técnicos na rede de ensino estadual.
Entre os dados destacam-se as 55 opções de cursos técnicos gratuitos, ofertados em
cerca de 355 escolas em 184 municípios paranaenses (AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DO
PARANÁ, 2014, s/n).
Os jovens paranaenses têm, portanto, uma série de novas oportunidades de
formação e inserção no mercado de trabalho, ou seja, aconteceram mudanças no cenário
da educação profissional. Conforme Valaski (2012) nos aponta:
Antes, a educação limitava-se à tarefa “antecipadora” do exercício do
trabalho. Após a entrada no mercado de trabalho, em geral, abandonava-se o
estudo, uma vez que o conhecimento adquirido no sistema educacional e nos
cursos de qualificação se mostravam suficientes para a atuação como
trabalhadores. (VALASKI, 2012, p.14)
A transição do sistema educacional para o mundo do trabalho, e o processo de
educação assumem, portanto, maior relevância para a conquista de novas oportunidades
de trabalho. O Ensino Médio Técnico Integrado permite, de certa maneira, que a entrada
16
do jovem no mercado do trabalho seja adiada, dando uma maior possibilidade para que
ele vislumbre a oportunidade de ingressar no ensino superior.3 Com o Ensino Médio o
jovem, consequentemente, cumpre um ciclo educacional mais longo, se preparando
mais, obtendo mais qualificação para melhores oportunidades de colocação no mercado
de trabalho e renda, podendo melhorar a inclusão social (POCHMANN, 2010).
A Agenda Nacional de Trabalho Decente (BRASIL, 2011, p.17) também afirma
que:
[...] parcelas expressivas da população juvenil [são] marcadas pelas situações
de desemprego, subemprego e trabalho precário, além de constituírem um
dos principais segmentos quando se analisa as diferentes formas de acesso e
busca por empregos formais.
O desemprego é apontado em estudos sobre desigualdade como um dos
principais motivos da má distribuição de renda, e os jovens ainda ocupam, apesar das
políticas de incentivo ao primeiro emprego, a maior taxa de desocupação do país
segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) feita em
2016.
Ainda segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)
em um levantamento também do ano de 2016, o desemprego é maior entre os jovens na
faixa etária de 18 a 24 anos chegando a 25,9%, sendo que a taxa de desemprego da
média geral é de 11,8%. Dentro deste número não estão somente jovens que tiveram
acesso a políticas de incentivo ao primeiro emprego, como a do Ensino Médio Técnico.
Contudo, acreditamos que um estudo de caso é válido para tentar compreendermos,
mesmo que parcialmente, o desemprego entre os jovens. Sobre o desemprego entre os
mais jovens, Cardoso (2008) analisa que:
De um ponto de vista sociológico, o desemprego dos jovens é especialmente
interessante por denotar os mecanismos que delimitam, simbólica e
praticamente, os espaços sociais onde se configuram e se negociam as
aspirações, os projetos, as oportunidades de vida e, sobretudo, as identidades
sociais das pessoas. (CARDOSO, 2008, p.570)
Nesse sentido, os governos têm investido na formação profissional dos jovens.
Surgem então as contínuas políticas de formação profissional mais sofisticadas, por
isso, mais dispendiosas que as oferecidas na década de 1970. Muitas vezes estas
políticas têm, inclusive, ultrapassado o montante mínimo de despesas determinados pela
lei (COUTROT, 20084 apud VALASKI, 2012).
3 Vamos observar esse fenômeno mais adiante neste trabalho, com os dados que obtemos.
4 COUTROT, Thomas. Trabajo, empleo, actividad. In: FRIGOTTO, Gaudêncio e GENTILI, Pablo. A
cidadania negada: politicas de exclusão na educação e no trabalho. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
17
Esse investimento é muito bem calculado, já que além de se tornar uma medida
efetiva na diminuição do desemprego, enriquece com um ensino preparatório (para
ingresso no ensino superior) como acrescenta Valaski:
A implantação de políticas públicas direcionadas ao atendimento das
demandas coletivas da sociedade como, por exemplo, preparar os jovens para
o mercado de trabalho ao mesmo tempo em que enriquece, com um ensino
propedêutico, pode tornar-se medida efetiva na diminuição do desemprego de
jovens no Brasil. (VALASKI, 2012, p.33)
Vamos observar em nosso campo que apesar das políticas públicas de formação
profissional serem efetivas na diminuição do desemprego entre os jovens são
necessários outros elementos para que a inserção do jovem ao mercado de trabalho
aconteça. Veremos mais adiante quais são estes outros elementos.
Nessa perspectiva, o Ensino Médio Técnico demonstra uma contribuição
importante para a inserção do jovem no mercado de trabalho, alcançando diversas
camadas populacionais, mesmo quando esse ensino é mais voltado para o ingresso na
universidade, pois essa modalidade de ensino está direcionada, também, para uma
formação profissional.
Segundo o Conselho Nacional da Juventude (CONJUVE), o Governo da gestão
Lula da Silva (2003 – 2010), elaborou políticas que procuravam relacionar qualificação
profissional e trabalho:
[...] confluem para duas espécies de soluções, não necessariamente
contraditórias: a primeira, mais tradicional, é de estímulo à educação formal
profissional e tecnológica, na qual não existem restrições de acesso a esta ou
aquela camada populacional específica, ou seja, não são focalizadas; a
segunda tenta proporcionar melhores oportunidades de inserção no mercado
de trabalho a jovens oriundos de setores populacionais que possuem
condições socioeconômicas desfavoráveis em curso de formação rápida [...]
(BRASIL, 2006, p.29)
O Conselho ainda salienta em seu documento que houve superação da
[...] primeira estratégia. Importante ação foi a revogação do Decreto nº
2.208/97, que dissociava o Ensino Médio da educação profissional.
Atualmente, a educação profissional pode ocorrer nas formas concomitante,
subsequente ou integrada ao ensino formal (BRASIL, 2006,p. 29) .
Historicamente, podemos observar que existe uma tensão quanto à educação
geral e a específica (profissionalizante), uma tensão que acontece em relação à
aproximação ou afastamento das duas concepções, o que têm amenizado ou
aprofundado esta dualidade (VALASKI, 2012, p. 16). A tensão mencionada é descrita
por Kuenzer (1990), como podemos acompanhar no trecho abaixo:
A história do ensino médio no Brasil sempre esteve atrelada ao
enfrentamento da tensão entre educação geral e educação específica, que tem
levado não à síntese, mas a polarização, fazendo da dualidade estrutural a
18
categoria de análise por excelência. Para a compreensão das propostas que
vêm se desenvolvendo ao longo da história, preciso considerar ainda que, dos
anos 40 para cá, o ensino secundário passou por nove reformas, e que estas
têm influenciado na identidade e no tipo de ensino. Sua característica mais
geral sempre foi a de ensino primário seguido pelo secundário propedêutico e
completado pelo superior, este sim dividido em ramos profissionais. E para
atingi-lo o estudante sempre teve de vencer inúmeras barreiras, exames de
admissão, para que ao final tivesse acesso ao certificado formal superior, que
pretensamente lhe abriria as portas do mercado de trabalho. (KUENZER,
1990, p.9)
Podemos observar, portanto, que a identidade do Ensino Médio, ao longo da
história, esteve focada ora privilegiando a formação do aluno para o mercado, ora
voltada para preparação de uma continuidade no Ensino Superior.
Essas duas possibilidades determinavam, para os diferentes indivíduos, a posição
a eles reservada, na divisão social e técnica do trabalho. “Esta dicotomia, portanto,
identifica historicamente o Ensino Médio e mantém atrelado à organização e à
permanência da sociedade de classes.” (PARANÁ, 2007, p. 9). A educação integral,
portanto tem o desafio de superar essa permanência de classes, já que a educação tem o
papel importante de transformação da sociedade.
Em 1961 o Congresso Nacional aprovou e sancionou a primeira Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 4.024/61) que organizou o Ensino Médio em
dois ciclos, sendo que o 2º ciclo compreendia o ensino secundário e o ensino técnico,
abrangidos, portanto, pelo mesmo objetivo, ou seja, ‘formação adolescente’. (GARCIA
e LIMA FILHO, 2010).
Em 1971 novamente houve uma mudança no Ensino Médio, com a Lei nº 5.692
que transformava o Ensino Médio em 2º grau, tendo um caráter de terminalidade, com
intuito de garantir uma educação completa. (PARANÁ, 2007). A ideia de terminalidade
era proposta para ser pensada como eixo final, para que não houvesse uma sequência
nos estudos.
5ª Reforma Lei de Diretrizes e Base do Governo Militar (1971) – A
equivalência entre os ramos secundário e propedêutico é substituída pela
obrigatoriedade da habilitação profissional para todos os que cursassem o
que passou a ser chamado de ensino de 2º grau. O objetivo geral do ensino
de 1º e 2º graus passa a ser “proporcionar ao educando a formação
necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de
auto-realização, qualificação para o trabalho e preparo para o exercício
consciente da cidadania. (art. 1º) (KUENZER, 1990, p. 16)
Kuenzer (1990) entende que esta proposta de Ensino Médio estava ligada ao
modelo econômico da ditadura, e atendia demandas marcadas por empresas de
organização taylorista e fordista, por meio de um currículo tecnicista, para atender a um
ideal de desenvolvimento econômico almejado na época.
19
Entretanto, a profissionalização obrigatória de jovens foi um fracasso para
educação brasileira, segundo Garcia e Lima Filho (2010). Por conseguinte, o ensino
técnico foi mantido apenas por escolas técnicas, mantendo a equivalência do Ensino
Médio, como já havia sido definido anteriormente na Lei n. 4024/61. De acordo com os
autores supracitados, uma das funções do ensino técnico industrial era conter o interesse
pelo acesso ao ensino superior, que na época estava em crescimento. Isso era necessário,
pois as vagas disponibilizadas nas universidades não eram suficiente para atender a
crescente demanda.
Mais tarde, a Lei n. 7.044/82 eliminou a escola única de profissionalização
obrigatória que, segundo a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (2007, p. 14)
“[...] não chegou a existir concretamente em sua plenitude.” Isso significa que, havia,
mesmo que de modo informal, uma educação propedêutica,
que preparava os estudantes para o ensino superior.
Depois da eliminação da profissionalização obrigatória do 2º grau, foi adotada
uma política de qualificação ou preparação para o trabalho, que trouxe uma nova
postura quanto à relação entre educação e trabalho. Mas essa nova mudança foi criticada
pelos educadores, isso porque novamente o ensino sofria alterações que procuravam
atender a um modelo econômico (GARCIA e LIMA FILHO, 2010).
Na tentativa de sanar essas críticas, formulou-se uma nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (Lei n. 9.394/96)
Chegamos à LDB n. 9.394/96 e, no ano seguinte, ao Decreto n. 2.208/97 e
à Portaria n. 646/97. Enquanto o primeiro projeto de LDB sinalizava a
formação profissional integrada à formação geral nos seus múltiplos
aspectos humanísticos e científico-tecnológicos, o Decreto n. 2.208/97 e
outros instrumentos legais (como a Portaria n. 646/97) vêm não somente
proibir a pretendida formação integrada, mas regulamentar formas
fragmentadas e aligeiradas de educação profissional, em função das
alegadas necessidades do mercado, o que ocorreu também por iniciativa do
Ministério do Trabalho e Emprego, por meio de sua política de formação
profissional. (BRASIL,2007,p.31)
Porém, com o Decreto 2.208/97 o que se percebeu na educação foi um perfil
neoliberal, pois antes existia uma proibição quanto ao Ensino Médio Integrado e uma
regulamentação quanto às formas mais rápidas de educação profissional. Esse decreto
tem um recorte neoliberal, pois visa formar o jovem direcionado ao mercado de
trabalho, isso faz com que exista mais força de trabalho qualificada disponível às
organizações produtivas de modo que essa mão de obra se torna mais barata, já que está
disponível em grande escala. O que alguns poderiam considerar uma evolução, pois os
jovens estavam sendo inseridos no ensino profissional no Brasil (VALASKI, 2012, p.
20
21). Porém, para Frigotto, Ciavata e Ramos (2005) vários setores da educação
contestaram esse modelo de ensino, pois ele pouco colaborava para a transformação da
realidade da classe trabalhadora.
Nesse sentido, o decreto anterior foi substituído pelo de n. 5.154, que tinha como
intuito garantir “[...] a pluralidade de ações a sistemas e instituições de ensino [...]” na
tentativa de mobilizar a Sociedade Civil em torno do assunto (FRIGOTTO, CIAVATA e
RAMOS, 2005, p. 1090). Contudo, segundo os mesmos autores, essa mobilização não
ocorreu.
Indício disso pode ser observado no terceiro dia de vigência desse decreto
quando foi anunciada a criação do Programa Escola na Fábrica, que focava na
aprendizagem profissional, sem dar a devida importância quanto à preparação a uma
educação para a vida.
Para Frigotto, Ciavata e Ramos (2005) não existia uma política de integração, se
existia não foi tratada como prioridade. Para eles, os princípios do trabalho somente
seriam consolidados na concepção de Ensino Médio e educação profissional se
existisse:
Primeiramente, seria necessário encaminhar ao Conselho Nacional de
Educação uma proposta de Diretrizes Operacionais e de revisão das
Diretrizes Curriculares Nacionais coerentemente com a nova concepção. Em
segundo lugar, o Ministério deveria fomentar a implantação do ensino médio
integrado em sua própria rede e nas redes estaduais. Como formulador e
coordenador da política nacional, um plano de implementação dessa
modalidade preveria um acompanhamento com discussão, avaliação e
sistematização das experiências a partir do que se reuniriam elementos
políticos e pedagógicos, além de força social, que fundamentariam um
projeto de revisão da LDB e a necessária proposição de novas Diretrizes
Curriculares Nacionais para o ensino médio e a educação profissional,
construídas de forma efetivamente democrática e participativa com os
educadores. (FRIGOTTO, CIAVATA e RAMOS, 2005, p. 1091)
Para estes autores, a educação, seja de modo Integrado ou não, precisa ter
sentido geral e precisa ser emancipatória, de modo que o Ensino Médio seja visto como
um diferencial. Portanto, o que se espera é um investimento no sentido de caracterizá-lo
como integrado, efetivo e democrático, produzindo conhecimento para além da
formação específica (FRIGOTTO, CIAVATA e RAMOS, 2005).
Foi em 2004 que houve abertura de cursos de Ensino Médio Integrado no estado
do Paraná, para atender as demandas regionais quanto a cursos profissionalizantes,
persistindo a dicotomia do ensino, o que mostra a necessidade de discussões nas
instâncias da Educação Pública, para que a dualidade entre formação geral e específica
21
seja ultrapassada em um projeto de Ensino Médio com direcionamento para a pessoa e
não para o trabalho (PARANÁ, 2007).
Nestas discussões deve se evidenciar a formação da cidadania dos jovens,
entendo que somente a inserção no mundo do trabalho não é o suficiente para habilitá-
los para “[...] compreender o mundo em que vive, em sua complexidade espaço
temporal, para que possa nele atuar com vistas à transformação” (PARANÁ, 2007, p.
17).
A dicotomia que aqui discutimos é reconhecida também pela Secretaria de
Estado da Educação do Paraná – SEED, Paraná (2007, p.18):
[...] a dicotomia estrutural do Ensino Médio deixa claro que o desafio a ser
enfrentado é a busca de um currículo para este nível de ensino que ofereça
uma formação humanista consistente e, também, possibilite uma
compreensão da lógica e dos princípios técnico-científicos que afetam as
relações sociais e de trabalho.
Nesse sentido, a SEED assume a importância de se discutir essa dicotomia no
Ensino Médio almejando “[...] uma formação pluridimensional, para além do
humanismo clássico e da profissionalização especifica”. O aluno, portanto, deve ser
educado para o mercado de trabalho, para a vida e para a continuação dos seus estudos
(PARANÁ, 2007, p. 18).
No Estado do Paraná o desafio para construir um ensino médio integrado
continuou, conforme os autores nos apontam:
Construir o ensino médio integrado em escolas de sua rede, por meio de um
processo sistemático de elaboração coletiva de princípios e diretrizes
éticopolíticas e pedagógicas sólidas, garantindo, simultaneamente, as
condições objetivas necessárias para sua realização. (FRIGOTTO, CIAVATA
e RAMOS, 2005, p. 1093)
O Ensino Médio tem caráter intermediário, segundo Kuenzer (1990), a discussão
e elaboração da proposta pedagógica deve contemplar a tensão que existe entre
educação geral e específica, considerando o contexto histórico para atender as
determinações que a infraestrutura política de cada momento (KUENZER, 1990).
Vimos até aqui como a educação no Ensino Médio esteve em alguns momentos
voltada a atender as demandas do mercado, e outras voltada a uma educação geral para
a construção da cidadania, além de preparatória para cursos superiores.
22
1.1 O TRABALHO EM TEMPOS DE FLEXIBILIZAÇÃO: POLÍTICAS PÚBLICAS
COMO MEIO PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL INTEGRAL
Considerando o contexto do mercado flexibilizado, sabemos que o mundo do
trabalho passou por transformações. Houve uma revolução tecnológica que exigiu das
empresas novas formas de organização. Essas mudanças “geram fortes impactos sociais,
modificando os hábitos dos cidadãos desta “sociedade digital”, que contribui para a
constituição de um novo paradigma organizacional que desestabiliza as economias e
demanda soluções imediatas para o mundo do trabalho, e que reflete em novas formas
de como os indivíduos irão se organizar” (POCHMANN, 2010, p.26).
Com o fenômeno da globalização num contexto de crise (como o atual) a
competitividade faz com que as empresas possam escolher entre o que tem mais
experiência e o que não tem5. Portanto, o jovem acaba sendo o mais prejudicado, pois
sem a oportunidade de um primeiro emprego fica sem possibilidade de ter experiência.
Nesse sentido:
[...] tornaram-se crescentes os requisitos de qualificação profissional e
elevação das habilidades para o exercício laboral, cada vez mais distante do
tradicional local de trabalho. Ao contrário do analfabetismo, tradicionalmente
identificado nos séculos XIX e XX com o desconhecimento pleno da língua
de origem, ganha destaque atualmente um novo tipo de analfabetismo
imposto pela mudança técnica informacional. (POCHMANN, 2010, p.69)
Nesse sentido, sabemos que existe uma necessidade em superar o ensino
fragmentado, como acrescenta Valaski:
[...] a escola precisa superar o ensino fragmentado, voltando-se para
conteúdos atuais que abranjam desde a tecnologia até os problemas e desafios
contemporâneos, como a urbanização crescente, o desenvolvimento das
comunicações, o fortalecimento do Estado, a luta pela democratização e
mesmo a crescente globalização da economia. Isto prepara o aluno
politicamente, capacitando-o para a cidadania e somente o ensino integrado
oferece essa possibilidade. (VALASKI, 2012, p.26)
Essa necessidade começou a ter mais atenção no Brasil a partir de 2003 quando
foi criado o Programa Nacional do Estímulo ao Primeiro Emprego (PNPE) com o
intuito de auxiliar na inserção dos jovens no mercado de trabalho. Para isso, foram
colocados em prática vários planos de ação, como: “a subvenção econômica, os
5 Neste aspecto, os apontamentos aqui esboçados não se constituem objetivo de nosso trabalho, contudo
lembremo-nos do conceito de Exército Industrial de Reserva, cunhado por Marx na segunda metade do
século XIX. Neste aspecto, há um excedente de força de trabalho, ou seja, não absorvido imediatamente
pelas forças produtivas, que, no entanto, estariam à disposição do mesmo. Sua função pode ser entendida
como controladora do valor da força de trabalho (SOUZA, 2005).
23
consórcios sociais da juventude, a juventude cidadã, o empreendedorismo e
responsabilidade social, bem como ações de reformulação da aprendizagem” (BRASIL,
2011, p. 18).
Em 2007 a subvenção econômica foi deixada de lado e o PNPE passou a dar
mais ênfase para qualificação profissional. Mais uma vez podemos perceber a educação
a serviço do mercado, nesse contexto houve uma adaptação ao mercado internacional, a
globalização. Nessa lógica, as empresas procuram melhorar suas vantagens
competitivas atualizando suas estratégias, uma delas é a contratação de pessoas com
conhecimento mais específico.
Nesse horizonte, há uma maior exigência a altos padrões de escolarização e
conhecimentos tecnológicos, mas também habilidades relacionadas à capacidade de
adaptação e comportamento proativo. De acordo com Castioni (2010, p.89), além dessas
exigências de conhecimento tecnológicos, “o trabalhador, nos atos de trabalho,
renormaliza as normas prescritas, antecipadoras do trabalho – o trabalho prescrito – ou
seja, ele reelabora, mesmo que minimamente ou de modo parcial”. Isso pressupõe que o
trabalhador tenha não somente o conhecimento prescrito, mas que ele vá mais além,
promovendo mudanças positivas em sua produção, de modo a aumentar a lucratividade
e a competitividade.
O jovem, portanto, precisa se preparar mais para se inserir no mercado de
trabalho cada vez mais matizado pela flexibilização e as demandas de uma economia
globalizada e marcadas pela “acumulação flexível”, nos termos de Harvey (1993). Para
os educadores do Ensino Médio que pretende ser integrado, na medida em que se
posicionam em favor das aprendizagens significativas6
para os estudantes. Nesse
sentido, conforme Machado (2006):
um bom ponto de partida é se perguntar sobre formas de articulação dos
conhecimentos que possibilitem a geração de aprendizagens significativas e
que criem situações que permitam saltos de qualidade no processo de ensino-
aprendizagem. (MACHADO, 2006, p.54)
Além da aprendizagem significativa, o estágio também é colocado como uma
boa forma para favorecer a inserção do jovem no mercado de trabalho, de modo que a
questão de disparidade de experiência possa ser sanada, pois o jovem poderia iniciar sua
6 Bridi, Araújo e Motim (2014, p 68-69) redimensionam o conceito de aprendizagem significativa de
Ausubel. Para as autoras, a aprendizagem significativa é “aquela que é relevante para quem aprende, no
contexto social em que está inserido. A aprendizagem pode adquirir sentido na medida em que o
professor busca responder: Por que determinado conteúdo será tratado na disciplina? Qual a sua
importância? Como será estudado? O que se espera com este conhecimento? Quando o aluno tem clareza
destas questões, a aprendizagem tem mais condições de ocorrer sem resistências”.
24
vida profissional dessa forma. Mas, para além da qualificação profissional, o jovem
precisa também indagar- se quanto ao conteúdo das informações recebidas,
evidenciando o caráter transformador da educação. (PARANÁ, 2008, p. 77). Contudo,
lembremo-nos, pois que o desafio de superar o caráter dual da educação ainda não foi
superado.
Para melhorar a realidade que vivemos na educação, o Plano Nacional da
Educação (PNE) orienta como objetivos sobre a relação educação e trabalho:
[...] ofertar educação profissional e tecnológica, como
processo educativo e investigativo, em todos os seus níveis e modalidades,
sobretudo de nível médio; orientar a oferta de cursos em sintonia com a
consolidação e o fortalecimento dos arranjos produtivos locais; estimular a
pesquisa aplicada, a produção cultural, o empreendedorismo e o
cooperativismo, apoiando processos educativos que levem à geração de
trabalho e renda, especialmente a partir de processos de autogestão.
(BRASIL, 2007, p. 33)
Nesse sentido, ações eficientes precisam ser implantadas, para dar conta dessa
realidade. É necessário um fortalecimento das políticas públicas, com aumento de
investimento para financiar a ampliação da educação e da formação ocupacional para a
vida toda. (POCHMANN, 2010). Nesse contexto, o estado do Paraná procura
corresponder a essas necessidades, considerando que o Ensino Médio deverá ser capaz
de “[...] levar o aluno a compreender que escritos abordam aspectos de um problema de
determinada realidade, evidenciando quais são os aspectos tratados e quais são os outros
possíveis” (PARANÁ, 2008, p. 97).
No entanto, a descontinuidade quanto ao Ensino Médio no Brasil, que ora é
profissionalizante, ora deixa de ser, acaba por prejudicar os jovens quanto a sua inserção
no mercado de trabalho, como comenta Davanço:
Em momentos diferentes da história da educação no Brasil estivemos às
voltas com a questão da dualidade estrutural e não foi diferente no contexto
de construção do decreto 2.208/97 que durante o período de 1997 a 2004
interrompeu a oferta da educação profissional e a educação geral na
mesma grade curricular. Este decreto abriu a possibilidade de se ter dois
sistemas paralelos, um destinado à formação acadêmica e outro destinado
à formação profissional, fortalecendo o aspecto dual que marca o nível
médio de ensino. (2008, p. 30)
O Parágrafo 1º do Art. 4º do Decreto 2208/97 torna obrigatório que instituições
que se dedicam ao Ensino Médio a ofertarem “cursos de nível básico em sua
programação, abertos a alunos das redes públicas e privadas de educação básica, assim
como trabalhadores com qualquer nível de escolaridade” (CRISTOPHE, 2005, p.12).
Posteriormente, outras mudanças no cenário político e econômico no Brasil,
levaram a um novo Decreto que, segundo Frigotto, Ciavatta e Ramos:
25
Um novo decreto seria um dispositivo transitório que, enquanto garantisse a
pluralidade de ações a sistemas de instituições de ensino mobilizasse a
sociedade civil em torno do assunto. O que se pretendia era a reconstrução de
princípios e fundamentos da formação dos trabalhadores para uma concepção
emancipatória dessa classe. Acreditava-se que a mobilização da sociedade
pela defesa do ensino médio unitário e politécnico, a qual conquanto
admitisse a profissionalização, integraria em si os princípios da ciência, do
trabalho e da cultura, promoveria um fortalecimento das forças
progressistas para a disputa por uma transformação mais estrutural da
educação brasileira. (2005, p. 1090)
Dessa forma, em 2004, outro Decreto veio para tentar sanar as expectativas de
uma profunda revisão da LDB, o decreto de n. 5.154 que definiu a formação inicial e
continuada dos trabalhadores, a educação profissional e técnica no Ensino Médio e
também a educação profissional tecnológica, na graduação e na pós-graduação.
No entanto, segundo os autores Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005, p. 1095)
apesar desse Decreto representar um avanço, pois devolveu o Ensino Médio Técnico
Integrado às escolas, o mesmo deu continuidade ““[...] à política curricular do governo
anterior [...]. Reforça-se, ainda, o viés adequacionista da educação aos princípios
neoliberais”. Ou seja, uma educação que busca antes de qualquer outro princípio a
formação de mão de obra qualificada destinada ao mercado de trabalho.
Segundo o Ministério da Educação, a ele cabe a função de apoiar os estados
quanto ao processo de implantação da modalidade de ensino e formação (BRASIL,
2006, p.3). Foi o que o governo do Presidente Lula (2003-2012) se propôs a fazer por
meio de uma nova concepção de política. Dessa forma nasceu o PDE – Plano de
Desenvolvimento da Educação.
O PDE oferece uma concepção de educação alinhada aos objetivos
constitucionalmente determinados à República Federativa do Brasil. Esse
alinhamento exige a construção da unidade dos sistemas educacionais
como sistema nacional – o que pressupõe multiplicidade e não
uniformidade. Em seguida, exige pensar etapas, modalidades e níveis
educacionais não apenas na sua unidade, mas também a partir dos
necessários enlaces da educação com a ordenação do território e do
desenvolvimento econômico e social, única forma de garantir a todos e a
cada um o direito de aprender até onde o permitam suas aptidões e
vontades. (BRASIL, s/d, p. 6)
Quanto à organização, discussão de como proceder quanto a essa implantação
cabe a cada estado fazer sua discussão. Sobre isso, Valaski (2012, p.33) escreve:
A compreensão da evolução do ensino no Brasil implica no entendimento dos
interesses que atendem as políticas públicas desde as suas primeiras
orientações. Todavia, é necessário um marco legal que oriente a formulação
das políticas de atendimento à educação como um todo.
26
Vale salientar que essa nova perspectiva quanto à política educacional no Brasil,
foi considerada um momento histórico, visto que, segundo Garcia (2009) a educação
básica passa a ser reconhecida como:
estratégica para a formação cidadã do indivíduo fazendo parte da agenda
prioritária do governo federal. Apresentam como primordial, a articulação
entre os programas do Ministério da Educação e, em particular, aquelas que
retomam a articulação entre as duas secretarias: Secretaria de Educação
Profissional e Tecnológica (SETEC) e Secretaria de Educação Básica
(SEB). (GARCIA, 2009, p. 95)
A educação básica, até então, considerada ruim, enquanto somente a educação
superior era considerada de boa qualidade, tem nessa nova política uma perspectiva de
renovação para essa visão, com a criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e
Tecnologia. Dessa forma, o ensino:
[...] voltou a ter seu estatuto de formação destinado à vida profissional, tanto
na educação de nível médio como de nível superior, de forma integrada e
não sob a influência das demandas estritamente empresariais, como
reivindicavam os setores ligados a essa modalidade de educação. (ABREU,
2010, p.134)
Segundo o Ministério da Educação, essa nova forma de ver a educação abriu:
“novas perspectivas para o Ensino Médio, por meio de uma combinação do ensino de
ciências naturais, humanidades e educação profissional e tecnológica” (BRASIL, 2008,
p.5).
Esse formato, segundo os autores Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005) o ideal da
educação como direito, junto com um projeto societário poderão colaborar para uma
inclusão social que emancipe o indivíduo, no caso de nossa pesquisa, poderá emancipar
o aluno.
Para o Ministério da Educação esse ideal de educação:
Trata-se de um projeto progressista que entende a educação como
compromisso de transformação e de enriquecimento de conhecimentos
objetivos, capazes de modificar a vida social e de atribuir-lhe maior sentido
e alcance no conjunto da experiência humana, proposta incompatível com
uma visão conservadora da sociedade. (BRASIL, 2008, p.21)
E ainda:
[...] a educação tecnológica no Brasil ganha o reconhecimento de que
dentro dela se estabelecia uma correlação de forças entre setores que a
tomaram como um braço a favor da acumulação capitalista e um movimento
interno que vislumbrava no trabalho educativo importante instrumento de
política social, assumida como aquela voltada para a criação de
oportunidades, para a redistribuição dos benefícios sociais, visando à
diminuição das desigualdades. (BRASIL, 2008, p. 23)
Observamos que há uma tendência a nível nacional de uma concepção de
educação concebida não só como objeto a favor da acumulação do capital, mas como
27
meio possível para a diminuição das desigualdades. Neste contexto observaremos a
seguir os desdobramentos dessa perspectiva de ensino no estado do Paraná.
1.2 ENSINO MÉDIO INTEGRADO NO ESTADO DO PARANÁ E A CRIAÇÃO DO
CEEP NEWTON FREIRE MAIA
Foi no contexto da busca por um ensino que aliasse a preparação ao mercado de
trabalho e uma educação que promovesse o senso crítico do aluno para a transformação
da sociedade, que o estado do Paraná promoveu a abertura de cursos de Ensino Médio
Integrado: “A partir de 2004, no Estado do Paraná, houve a abertura de cursos de
Ensino Médio Integrado, em atendimento a demandas regionais
relacionadas a cursos profissionalizantes” (PARANÁ, 2007, p. 17).
Podemos identificar, a partir das datas que analisamos quanto aos documentos
oficiais estaduais e federais que o Paraná tem uma característica de se adiantar quanto às
deliberações do Governo Federal. Como esclarece Davanço (2008):
O atual modelo de ensino médio, que retoma a possibilidade de articulação
entre a educação profissional e a educação geral na modalidade integrada no
âmbito do sistema regular de ensino tem início quando da realização do
primeiro encontro para tratar dos fundamentos e princípios curriculares que
fundamentaram a política da SEED – Secretaria de Estado da Educação – em
2003. (DAVANÇO, 2008, p. 72)
Graças ao respaldo legal que essa proposta de integração encontrou no Decreto
nº. 5.154/04 e a consequente revogação do Decreto nº. 2.208/97, essa discussão foi
constituída de uma “[...] fundamentação teórica que sustenta a proposta do atual modelo
de educação da Secretaria de Educação do Estado do Paraná, que toma o trabalho como
princípio educativo para o desenvolvimento de uma educação politécnica7” [...] na
tentativa de superação da dualidade histórica que analisamos até aqui. (DAVANÇO,
2008, p. 72).
Davanço (2008) considera que a proposta de ensino integrado da SEED-PR tem
sincronia com o contexto nacional de discussão nessa pauta.
O DET – Departamento de Educação e Trabalho – no âmbito da SEED-PR,
se adiantando à legislação nacional em vigência, constrói a proposta de
integração entre a educação geral e a educação profissional no seu sistema
estadual de ensino. Essa proposta ganharia respaldo um pouco depois com a
7 “Politecnia diz respeito ao domínio dos fundamentos científicos das diferentes técnicas que caracterizam
o processo de trabalho produtivo moderno” (SAVIANI, 2003, p. 140).
28
revogação do Decreto nº. 2.208/97, que desintegrou a formação em nível
médio no país. (DAVANÇO, 2008, p.74)
Os pareceres que demarcam a proposta do DET – Departamento de Educação e
Trabalho – no âmbito da SEED-PR estão expostas no documento: “Fundamentos
Políticos e Pedagógicos da Educação Profissional do Estado do Paraná”. Este
documento foi construído em conjunto por professores/pesquisadores da área de
Educação e Trabalho8. O documento, portanto foi construído de forma horizontal e
coletiva, levando em conta o conhecimento vasto desses pesquisadores para a
construção de uma nova proposta de educação profissional. A proposta de integração foi
assumida pelo DET/SEED-PR, na gestão 2003/2006 (DAVANÇO, 2008).
Com o subprograma Modernização da Educação Técnica Profissional do
PROEM em 1993, teve como objetivo designar os cursos de Educação Profissional em
centros específicos distribuídos pelo Estado. Segundo documento do PROEM, o
atendimento de educação profissional em escolas regulares passaria a ser de 13.000
(antes do programa o número era 185.718) quando os Centros de Educação Técnica
Profissional (CETEPs) atendessem com toda sua capacidade, indicando, portanto, uma
queda nos atendimentos de jovens nas escolas públicas do Paraná (DAVANÇO, 2008).
O PROEM apresentava crítica quanto à dualidade estrutural do ensino e por
conta disso, demonstrava preocupação em relação à classe trabalhadora ter uma
formação geral sólida juntamente com uma formação técnica específica, perante as
necessidades vinda das mudanças da reestruturação produtiva, que passou a demandar
outro tipo de formação para os trabalhadores (DAVANÇO, 2008).
Em meio a essa necessidade oriunda da reestruturação produtiva, temos também
uma importante discussão da relação estabelecida entre ciência e produção. Segundo
Vasquez, quando abordamos o tema ciência e produção precisamos nos atentar até que
ponto esse conhecimento deve estar a serviço do capital. Para Vasquez, quando
colocamos as necessidades de produção e reprodução capitalistas em primeiro plano a
ciência se distância do que historicamente deveria ser seu real objetivo “a satisfação das
necessidades humanas através do desenvolvimento, sistematização e transmissão dos
conhecimentos acerca do domínio da natureza. (VASQUEZ, 1968, p. 217 apud,
DAVANÇO, 2008, p.76/77).
8 Gaudêncio Frigotto, Acácia Z. Kuenzer, Marise N. Ramos, Lucília Machado, Domingos Leite Lima
Filho “no percurso de discussão e construção da nova proposta da educação profissional do DEP/SEED-
PR, esses autores são intelectuais de grande representatividade dentro do campo Trabalho Educação em
âmbito nacional” (DAVANÇO, 2008, p.77).
29
Nesse sentido, quando currículos são construídos com base na lógica do capital,
temos um problema quanto a superação da ideia de educação como mercadoria. A
formação integrada, na perspectiva assumida durante o percurso de revogação do
Decreto Nº. 2.208/97, estava relacionada à noção de totalidade social, para abarcar as
mediações históricas que concretizam os processos educativos (CIAVATTA, 2005).
Considerando essa discussão o DET/SEEDPR rompeu com a ideia de educação
profissional direcionada ao atendimento das demandas do mercado de trabalho e sua
instalação em sistema paralelo à educação regular. A partir daí se inicia um processo de
transição para uma nova legislação estadual que considera a educação profissional e a
educação integral (DAVANÇO, 2008).
Como podemos observar nesse trecho do documento fundamentado pela Lei nº.
9.394/96 a SEED-PR
a partir de 2003, assume uma concepção para essa modalidade que rompe
com a dimensão que articula diretamente ao mercado de trabalho e a questão
da empregabilidade e laboralidade, assumindo compromisso com a formação
humana dos alunos, a qual requer a apreensão dos conhecimentos científicos,
tecnológicos e históricos sociais pela via da escolarização pública.
(PARANÁ, 2005, p. 12)
A ideia da educação profissional integrada à educação geral é fundada a partir da
Escola Unitária de Gramsci (DAVANÇO, 2008). Segundo Gramsci, existe significativa
importância quanto à organização da escola como forma que pode contribuir ou não
para a consolidação da hegemonia do capitalismo. Isso considerando que, a escola é
uma instituição cultural produtora e propagadora de ideologia, na medida em que ela se
mantenha propedêutica, com a função de preparar o aluno para o nível superior ela esta
direcionada à classe dominante, e não à classe trabalhadora em geral. Davanço (2008)
ao realizar suas análises baseadas nas ideias de Gramsci afirma que quando houver
espaço para que a classe trabalhadora tenha acesso ao conhecimento acumulado pela
humanidade, a educação poderá intervir na transformação da realidade.
Nesse sentido a SEED-PR, para querer adotar os moldes idealizados por
Gramsci no que diz respeito à formulação de seus documentos:
O compromisso com uma educação profissional adequada aos interesses dos
que vivem do trabalho [...] implica em desenvolver um percurso educativo
em que estejam presentes e articuladas as duas dimensões, a teórica e a
prática, em todos os momentos da formação, contemplando ao mesmo tempo
uma sólida formação científica e a formação tecnológica de ponta, ambas
sustentadas em um consistente domínio das linguagens e dos conhecimentos
sócio-históricos. (PARANÁ, 2005, p. 12)
30
Segundo documentos da SEED-PR (2008), a reforma curricular foi organizada
em seis fases conforme o quadro 1:
Quadro 1: Fases da Reforma Curricular no Paraná: diversos anos
Fase Ano Ações
1ª 2003 Discussão e levantamento da situação concreta das diretrizes
curriculares da Rede Estadual de Ensino do Paraná/Seminários
e produção de documentos.
2ª 2003 e 2004 Discussões pedagógicas em cursos eventos e reuniões pelos
professores sobre os desafios curriculares nos diferentes níveis
e modalidades de ensino.
3ª 2004 e 2005 Processo de reformulação curricular com reflexões e
encaminhamentos realizados pelos próprios professores.
4ª 2004 e 2005 Sistematização das propostas curriculares por disciplina, nível
e modalidade de ensino.
5ª -- Preparo, elaboração, efetivação e avaliação do Projeto Político
Pedagógico
6ª Permanente e
contínua
Avaliação e acompanhamento das propostas que estão sendo
implementadas.
Fonte: SEED, 2008. Elaboração própria, 2017.
Observando o quadro acima podemos perceber que houve uma construção
horizontal junto aos professores, para revisão dos planos curriculares comprometida
com os diversos níveis e modalidades de ensino para uma educação critica com vistas à
intervenção e transformação da sociedade.
A partir da aprovação das propostas pedagógicas foi possível a abertura, em
2004, de 15 cursos do setor primário da produção, 05 no secundário e 06 no terciário,
além de mais 45 cursos de Formação de Docentes em Nível Médio (PARANÁ, 2008).
Depois da abertura desses cursos o Estado do Paraná investiu mais em aberturas
de cursos de formação profissional9. Nesse contexto, foi inaugurado o Centro Estadual
de Educação Profissional (CEEP) Newton Freire Maia em 2006, evidenciado no mapa
1, escola técnica, mantida pela Secretaria de Estado de Educação do Paraná (SEED) que
oferece cursos na área ambiental, localizada na Região Metropolitana Norte de Curitiba,
9 O cenário se deve as ações realizadas durante a gestão do governador Roberto Requião (2003 a 2010) no
estado do Paraná.
31
no Parque das Nascentes, município de Pinhais- PR, mais especificamente na Estrada da
Graciosa.
Mapa 1: Localização do Centro Estadual de Educação Profissional Newton Freire
Maia – Pinhais/PR
Fonte: CEEP NFM, 2017.
Ao refletirmos sobre a região no qual o colégio está inserido, evidenciamos que
inicialmente as atividades econômicas desenvolvidas eram voltadas a interesses da
cidade de Curitiba. Porém, atualmente esta região apresenta um significativo
desenvolvimento nos segmentos econômico, político e social. O processo de
crescimento que esta região sofreu trouxe maior oferta de trabalho, mas esse mesmo
processo também trouxe a degradação do ambiente, além das ocupações ilegais e falta
de infraestrutura para dar sustentação a tal crescimento (PPP CEEP NFM, 2015).
Os recursos hídricos, onde está localizado o CEEP, são alguns dos mais
relevantes da grande Curitiba, pois 40% do seu território são constituídos de mananciais
em uso e também com capacidade para futuros abastecimentos. Diante disso e junto
com a construção da barragem do rio Iraí, destinada ao abastecimento de água para
Curitiba e parte de sua Região Metropolitana Norte, foi necessário à criação de uma
área destinada à preservação ambiental que buscasse a sustentabilidade na região (PPP
CEEP NFM, 2015).
Nesta perspectiva, algumas adequações foram feitas, o Centro de Exposições
Agropecuária, denominado Parque Castelo Branco foi desativado, buscando a partir daí
uma nova vocação para esta área. Foi então que criou-se a Área de Proteção Ambiental
32
da Bacia do Rio Irai (APA do Irai) em 1996, a qual está localizada na porção nordeste
da Região Metropolitana Norte de Curitiba, com uma área de 11.536, abrangendo parte
dos municípios de Colombo, Pinhais, Piraquara, Quatro Barras e Campina Grande do
Sul.
Atualmente o espaço do qual o colégio faz parte se insere na Zona de Uso
Institucional Restrito – ZUIR, e na Zona de Parques – ZPAR, definidas como Áreas de
Ocupação Orientada, conforme evidenciado no anexo 1, onde consta o mapa de
zoneamento da APA do Iraí. Desta maneira, podemos compreender que existem
mecanismos de controle ambiental e orientação de ocupação deste espaço.
Portanto, além de objetivar inserir os jovens desses municípios no mercado de
trabalho e formar profissionais para área ambiental, essa escola de educação técnica foi
criada com intuito de oferecer uma educação com foco no desenvolvimento sustentável
em diversos âmbitos, incluindo o da agricultura familiar.
Atualmente são ofertados 4 cursos profissionalizantes com foco na área
ambiental, na modalidade integrado: Técnico em Meio Ambiente, Agropecuária,
Energias Alternativas e Paisagismo. O Técnico em Meio Ambiente é o único curso
oferecido na modalidade subsequente, o restante dos cursos são ofertados somente na
modalidade integrado.
Esse panorama da região justificou a criação dessa escola e dos cursos aí
ofertados. Isto nos motivou a pesquisar os estudantes de alguns desses cursos. Optamos
por entrevistar alunos egressos de duas turmas: Energias Renováveis/Alternativas e
Técnico em Meio Ambiente, ambas as turmas formadas em 2013 e da modalidade
Ensino Médio Integrado, como já destacamos na introdução. Nossas entrevistas e
aplicação de questionário objetivaram identificar, a partir da percepção dos egressos, se
os mesmos tiveram uma formação para além da qualificação profissional, uma educação
que abriu um leque de opções, entre elas a continuidade em seus estudos em cursos de
nível superior. As análises das informações nos permitiu problematizar a educação
profissional no Ensino Médio com base em nossa revisão bibliográfica mobilizada para
este estudo de TCC.
33
II - A QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DO JOVEM NO CONTEXTO DE
ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL
A partir da segunda metade do século XX, podemos observar mudanças
estruturais nas economias globais e dos Estados Nacionais. Há um relativo consenso
entre pesquisadores de que o sistema baseado no taylorismo-fordismo começou a entrar
em crise a partir de 1970, dando início a uma transição para um regime que ele chamou
de “acumulação flexível” (HARVEY, 1993). Em resposta a esse contexto de crise o
capital estabelece estratégias para resgatar a rentabilidade.
Umas das estratégias foi a adoção de princípios toyotistas na produção. O
toyotismo, que se originou no Japão, é um modelo de produção que foi implantado em
várias regiões do mundo, considerando as particularidades locais, tendo como base o
intuito de melhorar e agilizar a produção e consequentemente aumentar a lucratividade e
competitividade.
O processo de acumulação flexível se caracteriza por flexibilizar enfaticamente
todos os processos organizacionais, principalmente os de linha de produção. Segundo
Harvey (1993) o novo contexto de flexibilização não atingiu somente a área produtiva
das organizações, mas ela atinge também todas as esferas da vida social. Além da
flexibilização nas formas de contratação, nas relações de trabalho, houve também
mudanças a nível macroeconômico e político.
Nesse sentido, ocorreu uma reconfiguração do mercado de trabalho, houve uma
decadência do movimento sindical e de benefícios sociais, o que causou diversos
problemas, dentre eles o aumento do desemprego, o que favorece a desigualdade social
e gera uma massa de excluídos (ANDRADE, SANTOS e MACAMBIRA, 2013).
No fim dos anos de 1970, começo dos anos 1980, atores políticos e econômicos
de diversos países se aproveitam do contexto de crise para alegar que havia um déficit
orçamentário e fiscal, para então propor medidas de cunho neoliberal para equilibrar
suas economias internas. Essas medidas culminaram em um desmonte de conquistas
sociais dos trabalhadores, algo bem parecido com o que presenciamos atualmente no
Brasil, como exemplos, podemos citar: a reforma trabalhista ocorrida em 2017 pelo
governo de Michel Temer e a proposta em andamento da reforma da previdência.
A flexibilização de direitos dos trabalhadores trouxe impactos como a
desestabilização e precarização dos estáveis, graças a medidas de privatizações do setor
público, aumento da informalidade, e o aumento de trabalhos ditos “atípicos”, como
34
exemplo temos o trabalho temporário, de meio período, a domicilio, entre outros.
(CASTEL, 199810
).
As empresas continuaram buscando formas de diminuir custos, eliminando
níveis hierárquicos e processos considerados desnecessários de vários setores e
otimizando os que permaneciam. Essas mudanças também impactaram na forma como o
trabalhador deveria se portar, ou seja, ser flexível, polivalente, participativo, proativo,
etc.
As características supracitadas demandam qualificações, que podem ser
entendidas a partir das exigências resultantes do cargo a ser ocupado ou em função das
habilidades e qualidades (inatas ou aprendidas) do trabalhador (GUIMARÃES e
MOCELIN, 2011).
Para pesquisadores da sociologia foi no pós-guerra que a qualificação começa a
ser assunto de interesse acadêmico, principalmente em países da Europa, como França,
e também nos Estados Unidos, por conta da consolidação do sistema de produção
taylorista-fordista.
Até os dias atuais a definição de qualificação está relacionada a noção de postos
de trabalho, como uma espécie de estoque de saberes necessários para desenvolver
determinada função (TARTUCE, 2004). Por conseguinte, a educação sempre é algo
presente nas discussões de políticas públicas relativas à qualificação, assim como no
momento de recrutar e selecionar profissionais levando em conta requisitos mínimos de
escolaridade ou certificações.
A discussão em torno do que é qualificação atrela, portanto, posto de trabalho e
formação. Pierre Naville acrescenta à discussão a noção de que a qualificação é algo
construído socialmente, ou seja, os critérios pelos quais se avalia um trabalhador e sua
qualificação são produzidos socialmente (NAVILLE, 1956; 1963, apud LIMA, 2017).
Quais são as diversas maneiras de conceituar a qualificação? Qual o melhor
conceito que atende as especificidades do nosso objeto de estudo? Tais indagações nos
levam a, observar para além da qualificação profissional os jovens egressos de 2013 do
ensino profissionalizante no CEEP Newton Freire Maia dos cursos de Energias
Alternativas e Meio Ambiente. Para isso, recorremos a vários autores, pois a sua
10
Robert Castel analisa esse processo de construção, consolidação e desconstrução e rupturas da
sociedade salarial a partir da experiência histórica da França. Tomamos, portanto, cuidado a sua
capacidade explicativa de demonstrar o movimento que vem levando a crise e desconstrução dos direitos
do trabalho em diversas partes do mundo, inclusive do Brasil.
35
conceituação pode variar, assim como as formas pelas quais é possível medi-la (IEGER
e LIMA, 2017 apud LIMA, 2017).
A discussão que estabelecemos toma como base nas mudanças no mundo do
trabalho após a implantação do sistema taylorista-fordista de produção na década de
1970. O sistema de acumulação que estava em ascensão não tornou flexível apenas as
áreas produtivas das organizações (HARVEY, 1993), mas causou transformações
sociais, no modo de vida das pessoas.
Podemos observar as implicações desse processo para a educação e o trabalho
quando percebemos que com intuito de cumprirem acordos internacionais, os Estados
Nacionais usam o argumento da necessidade de redução de gastos públicos,
principalmente no que diz respeito a políticas sociais que foram conquistadas pelos
trabalhadores ao longo do século XX (ANDRADE; SANTOS e MACAMBIRA, 2013).
O conceito de qualificação esteve tradicionalmente ligado à noção de postos de
trabalho, como no taylorismo-fordismo e a formação necessária para ocupá-los, como
dissemos acima. Para Zarifian (2001) este conceito não daria conta de explicar a
formação e a preparação para o trabalho em um contexto de trabalho flexível e
competitivo, ambiente no qual o profissional precisa estar preparado para qualquer
mudança que vier, tendo em vista que as organizações produtivas precisariam de um
profissional com uma qualificação mais ampla do que apenas a qualificação específica a
um posto de trabalho restrito.
Sobre o debate da “competência” e da “qualificação” que se estabeleceu desde
então, autores, como Castioni (2010), Tartuce (2004), Lima (2017) acreditam que o
conceito de qualificação daria conta de abranger as mudanças que acontecessem,
portanto seria possível sua utilização.
Na França, segundo Tartuce (2004), um dos primeiros a voltar os olhos para o
conceito de qualificação na sociologia do trabalho foi George Friedmann. Para
Friedmann, “a qualificação está relacionada principalmente à complexidade da tarefa e à
posse de saberes exigidos para desenvolvê-la; ou seja, à qualidade do trabalho e ao
tempo de formação necessário para realizá-lo.” (Tartuce, 2004, p.361). É por conta
desses aspectos que a educação é um elemento presente nas discussões sobre políticas
públicas de qualificação.
Pierre Naville em suas pesquisas sobre qualificação e aprendizagem na França,
identificou que a educação era parte essencial para qualificação, quanto maior o tempo
de formação, mais qualificado o trabalhador seria. Ele afirma que “profissões, ofícios e
36
empregos se diversificam também de acordo com o tipo da formação necessária, a
duração da aprendizagem e o nível de qualificação que disso resulta.” (NAVILLE,
1973, p. 268 apud LIMA, 2017, p.38).
Nesse sentido, como trataremos no capítulo III, identificamos em nossa pesquisa
empírica, que existe uma relação estrita entre maior tempo de formação e mais
oportunidades no mercado de trabalho, visto que as vagas que deveriam ser destinadas a
técnicos ambientais acabam sendo ocupadas por profissionais com cursos superiores em
áreas correlatas. Tais considerações estão baseadas nas informações vistas na Lei
Estadual do Paraná nº 16.346/2009 sobre a obrigatoriedade da contratação de um
Técnico Ambiental em empresas potencialmente poluidoras11
.
No que diz respeito a qualificação como um status de reconhecimento social,
Touraine (1973) considera que:
o operário qualificado não se distingue do não-qualificado por
razões econômicas – escassez da oferta ou preço da formação –
nem diretamente profissionais – conhecimentos ou experiência –
mas, em primeiro lugar, por razões sociais: a sociedade ou os próprios
operários atribuem certo valor à posse de atributos como
o conhecimento técnico, a responsabilidade, a experiência. (TOURAINE,
1973, p. 465)
Isso significa que, o que determina o valor da força de trabalho do profissional
não necessariamente seja a qualificação ou a “não-qualificação”, nas palavras do autor,
mas sim questões sociais, que tendem a se modificar ao longo do tempo. Temos como
exemplo, nosso objeto de estudo, visto que existem períodos em que a sociedade
valoriza mais ou menos as questões de cunho ambiental e de sustentabilidade,
refletindo, por exemplo, na criação de leis que garantam medidas de preservação aos
recursos naturais disponíveis. Nessa direção, observamos que o ano em que o CEEP
Newton Freire Maia foi criado para ofertar cursos na área ambiental (2006) foi um
período em que os olhos da sociedade estavam mais voltados as questões de
sustentabilidade e meio ambiente.
Retornando a nossa discussão inicial sobre o do conceito de qualificação,
destacamos que o mesmo voltou a ser questionado após a crise do sistema de produção
taylorita-fordista, isso em meados da década de 1970, no contexto da flexibilização das
relações de trabalho. Além dos vários aspectos da flexibilização, evidencia-se também,
uma nova configuração internacional quando se trata da divisão do trabalho, com
estratégias como: escolha de locais baseado em baixos salários a fim de mudar as
11
Discutiremos detalhadamente sobre isso mais adiante no capítulo III
37
unidades de produção, entendidas aqui como realocações industriais; e ainda, tornando-
as menores com processos mais flexíveis para aumentar a produtividade (CARDOSO,
2004 apud, OBAL, 2017).
Segundo Benko (1996), a primeira estratégia usada pelos capitalistas para
recuperar a lucratividade foi a desvalorização da força de trabalho. O autor ainda
comenta sobre uma mudança no mercado de trabalho. Para ele, no crescimento do
fordismo a venda da força de trabalho estava mais ligada à ideia de bem-estar, já a
flexibilização acaba por desvalorizar essa mercadoria, na tentativa de sua
despolitização, ignorando o fato de que a força de trabalho é a mercadoria mais
importante para o capitalismo.
Dedicamos algumas páginas a explicação do modelo de competência e fazemos
uma síntese quanto à disputa em relação ao conceito de qualificação e competência,
lembrando que acreditamos que o conceito de qualificação dá conta de explicar a
contextos flexíveis de trabalho, como Lima (2017), Castioni (2010) e Tartuce (2004).
Para tanto, diante dos fatos ocorridos nas esferas de produção, tecnologia, social
e política, o conceito de qualificação volta a ser discutido na Europa, porém agora mais
centrada na noção de competência.
Zarifian (2001) sistematizou cientificamente a noção de competência na década
de 1980, identificando que muitos dos pressupostos discutidos já haviam se manifestado
nas empresas francesas analisadas por ele. Segundo o autor, as rotinas dos processos de
trabalho estariam cada vez menos sujeitas a algo preestabelecido, já que cada vez mais
os processos precisam de um entendimento recíproco para o qual o trabalhador
precisaria estar preparado para tomar decisões, independente da situação que surgisse na
produção, ou seja, o trabalhador precisaria estar preparado para ser assertivo em
situações inesperadas.
Portanto, neste caso, o trabalhador precisa estar preparado para seguir além de
prescrições, ter certa autonomia e espaço para tomar iniciativas. Nesse sentido, para o
autor o trabalhador que desenvolve essa capacidade de autonomia será melhor
remunerado. (ZARIFIAN, 2001). Quanto mais o trabalhador se dedica a sua formação
mais competências ele desenvolve para lidar com situações imprevisíveis. O que os
estudos no âmbito da Sociologia do Trabalho vêm mostrando, é que essas buscas agora
se dão muito mais no campo individualizado. A busca é do indivíduo que deve se
esforçar para se colocar o mais “empregável” possível (CARDOSO, 2003 apud BRIDI
e MOTIM, 2011).
38
Quanto à ideia de “imprevisibilidade” percebemos que esta ficou mais presente
nas políticas de educação a partir dos anos 1990 no Brasil. Dessa forma, a escola seria
responsável por possibilitar o desenvolvimento de competências genéricas e flexíveis
nos estudantes, de modo a prepará-los até mesmo para situações de instabilidades da
vida. Veremos essa condição no capítulo III, quando identificamos como a ideia de
desenvolver competências genéricas e flexíveis nos estudantes egressos do CEEP NFM
se concretizou, sendo observadas nas “falas” dos respondentes sobre contribuições que
o curso teve para a vida profissional.
Segundo Zarifian (2001), o que determina a competência do indivíduo são os
conhecimentos chamados por ele de conhecimentos sociais, os quais o indivíduo se
apropria ao longo da sua socialização e que se tornam produtivos quando colocados em
prática. O indivíduo competente deve ter a qualidade do nível de sua formação
correspondente ao seu diploma, no entanto, as empresas sabendo disso em determinadas
situações exigem mais diplomas do que o trabalhador vai usar no posto de trabalho,
tendo em vista que em “algum” momento, esse conhecimento será mobilizado.
Contudo, Zarifian (2010 apud LIMA, 2017) discorda deste ponto de vista, uma vez que
as empresas deveriam priorizar o aprendizado na própria atividade do trabalho para se
contextualizar a experiência, segundo ele.
Essa prática de preferência por profissionais graduados, com nível de ensino
maior ao necessário para o posto de trabalho, foi observado em nossa pesquisa de
campo, que profissionais nas áreas de Engenharia Ambiental, Biologia, Química e etc.
podem ocupar a função de Técnico em Meio ambiente, ou seja, se exige mais diplomas
do que a função realmente necessita.
Vale salientar, como demonstra Manfredi (1999) em seu trabalho, que as
empresas têm total autonomia no que diz respeito a criar novos cargos e funções, assim
como podem determinar quais requisitos compõe cada cargo com base nas
competências. Isso pode ser usado como forma de burlar as políticas de cargos e
salários, assim como não deixam claros os critérios de avaliação do trabalhador dentro e
fora da empresa, o que é muito pertinente para as organizações quando ocorre a
flexibilização dos direitos trabalhistas. (LIMA, 2017)
Sobre isto, Krein (2007) fez um balanço sobre a regulação do trabalho no Brasil
a partir dos anos 1990 com foco maior nas relações de emprego, dentre elas as formas
de contratação, remuneração e jornada de trabalho. Com está análise o autor pode
perceber que no Brasil existem diversas formas de contratação flexível dentre elas:
39
terceirização, sub-contratação, pessoa jurídica (PJ), cooperativa, sócio, parceria,
consórcio de empregadores, autônomo, contratação por prazo determinado, estágio,
contrato parcial, contrato de experiência, contrato por obra certa, contrato de safra,
empreitada, contrato temporário, moto-boy, caminhoneiro autônomo, integrado,
trabalhador avulso, trabalho em domicílio, tele-trabalho, consultoria, façonismo e free
lance.
Mas para essa pesquisa nos ativemos ao que Krein (2007) observou em relação
as contratações em forma de estágio, pois foi o que observamos em campo. Quanto a
esse tipo de contratação que a Lei 8859/94, lei da aprendizagem, que é justificada como
forma de completar a formação e aprendizagem do aluno, o autor constatou que os
trabalhadores nestas condições, em sua maioria, podem ser considerados trabalhadores
contratados, pois estas contratações embutem as características essenciais da relação de
emprego. O autor traz dados quanto à contratação de estagiários que passou de 74.997
em 1995 para 2638.323 em 2005 Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) e
esclarece que isso ocorre em todos os setores, inclusive o público (KREIN, 2007).
Do ponto de vista financeiro, isso para as empresas, torna-se muito atrativo,
visto que substituem trabalhadores permanentes por estagiários, com finalidade de
inserção no trabalho em geral, não como forma de aprendizagem como prevê a lei. Isso
faz com que os direitos trabalhistas sejam flexibilizados, pois um estagiário não goza
dos benefícios que um trabalhador com a carteira assinada teria. (KREIN, 2007)
Essas análises, dos autores supracitados, quanto às formas de flexibilizar as
relações de trabalho pode ser observada também no estudo de Bridi e Motim (2011)
com estagiários que estudavam e trabalhavam na UFPR. Elas identificaram, entre outras
questões, que existem várias funções que são assumidas sem distinguir estagiários ou
trabalhadores efetivos. Destacaram também dificuldades dos respondentes quanto à
definição do que era sua função, pois os mesmos desenvolviam variadas atividades em
seu cotidiano.
A diversidade de funções assumidas simultaneamente dificultam a delimitação
das atribuições e das rotinas de trabalho efetivas e também as ações dos próprios
estagiários e trabalhadores em geral, em estabelecer os limites das atribuições e em
relação aos salários (BRIDI; MOTIM, 2011). Isso demonstra que o estágio, como
verificado por Krein é mais uma forma de contratação flexível do que um espaço de
aprendizagem ao aluno.
40
É importante comentar que no Brasil, principalmente no final dos anos 1990,
quando houve uma crescente flexibilização das relações de trabalho e aumento do
desemprego, a ideia de competência passou a ser de domínio público, repercutindo nos
discursos governamentais, sendo sugerido como instrumento que solucionaria o
problema da empregabilidade, além de aumentar a produtividade beneficiando assim o
desenvolvimento econômico do país (TARTUCE, 2004). Mas esses benefícios já eram
prescritos pela Teoria do Capital Humano nos anos de 195012
.
Schutz (1973) é um dos principais representantes da Teoria do Capital Humano,
e argumenta que os investimentos na educação são justificados por motivos
econômicos, ou seja, uma forma de capital. Para ele, o capital humano tem valor
econômico especial, pois é um investimento que não pode ser vendido, somente
adquirido. Mesmo não sendo possível vendê-lo, o capital humano (a educação) serve na
produção e no consumo. O indivíduo, portanto, deve investir no seu próprio futuro,
investindo em sua educação. Nesse sentido, a educação passa a ser uma mercadoria
adquirida, quando possibilita melhor acesso a outras mercadorias, que podem ser
vendidas (CANDIOTTO, 2002).
Desta forma, os trabalhadores estão se tornando capitalistas à medida que
adquirem conhecimentos e capacidades que possuem valor econômico investindo em
educação que, consequentemente, seria responsável, junto com outros investimentos,
como saúde, pela superioridade produtiva de países mais avançados, no que diz respeito
a técnica (SCHULTZ,1973).
Segundo, Frigotto (1984) as políticas educacionais que foram desenvolvidas no
Brasil a partir de meados dos anos 1960 têm embasamento na Teoria do Capital
Humano. O autor tece algumas críticas a isso, pois para ele, o investimento em Capital
Humano passa a ser visto como uma das formas de aumentar a produtividade, do ponto
de vista macroeconômico, principalmente em relação ao acesso ao curso superior, para
superação do atraso econômico. Porém, quanto à esfera microeconômica, a teoria do
Capital Humano tenta justificar diferenças individuais de produtividade, renda e de
mobilidade social, ignorando a classe a qual o indivíduo pertence, como se isso não
importasse. (FRIGOTTO, 1984)
12
A origem dessa teoria está ligada a disciplina de Economia da Educação, nos Estados Unidos, nos anos
de 1950, e tem como seus principais representantes “Becker (1964), Schutz (1960, 1971), Mincer (1958
etc., ou seja, os autores que habitualmente se vinculam ao surgimento da denominada Teoria do Capital
Humano (TCH) (RAMOS, 2013, p. 141).
41
Manfredi (1999) chama atenção para a crença social da educação como forma de
conseguir posições mais qualificadas e alerta para o fato de isso disfarça outros
mecanismos sociais e organizacionais que acabam por condicionar o acesso e a
manutenção dos trabalhadores no mercado formal de trabalho. O nível de escolaridade é
apenas um requisito, dentre outros, como a empregabilidade que varia de acordo com o
setor econômico ou da formação social (LIMA, 2017).
Na sequencia, fazemos uma discussão visando embasar nosso posicionamento
quanto à qualificação como construção social, para auxiliar na analise do nosso objeto
de pesquisa.
Claude Dubar (1999) buscou fazer uma reflexão quanto aos usos do termo
competência, e de expressões semelhantes, na Sociologia do Trabalho francesa desde
1950, baseando-se na análise feita por Alain Touraine no início do mesmo ano com foco
maior no conceito de “qualificação social” que foi desenvolvido por ele mesmo.
Dubar (1999) afirma que, os pressupostos teóricos que na década de 1980 foram
atrelados ao modelo de competência já estavam na obra de Touraine. Um dos pontos
mais abordados na obra de Touraine é o momento em que ele analisa as primeiras
experiências da automatização nas fábricas da Renault, nos anos 1950, na qual se tem a
ideia da transformação ligada dos sistemas de trabalho e da definição do próprio
conceito de qualificação (DUBAR, 1999). Para Touraine, isso deve ser chamado de
“qualificação social” e pode ser definido como: “estatuto reconhecido num sistema
social de produção" associado a "um potencial de participação na vida técnica dos
ateliês (DUBAR, 1999, p. 2-3).
Para Touraine, conforme analisa Dubar (1999), esse tipo de qualificação depende
da política da empresa e também, principalmente, “da política social da nação
considerada” Não se tratando apenas de habilidades pessoais, nem somente de
exigências técnicas, “mas de um estatuto social definido por normas gerenciais.”
(DUBAR, 1999, p. 2-3).
Percebemos, então, que a “qualificação social” que é proposta por Touraine nos
anos 1950 e relembrada por Dubar no final dos anos 1990, trazem elementos que dão
conta de redimensionar o conceito de qualificação para mais além do que diz respeito
aos atributos que estão relacionados aos postos de trabalho ou a anos de estudo,
observando a qualificação como uma construção social, demonstrando que a ideia de
participação mais ativa do trabalhador para que as organizações produtivas alcancem
seus objetivos, não seria algo tão novo (LIMA, 2017).
42
Quanto à ideia de substituir o conceito de qualificação pelo conceito de
competência, Castioni (2010) também é contrário a ideia, pois afirma que as exigência
de caráter mais subjetivo já existiam no modelo taylorista-fordista, apesar de não serem
explícitas.Sobre isso Lima (2017) escreve:
No sistema de competências há uma revisão de tais pressupostos. (IEGER;
LIMA, no prelo). Assim, o “saber-ser” ou “saber-agir” se referem a uma
dimensão implícita no conceito de qualificação. Com o surgimento da noção
de competência e sua ampla divulgação e utilização nas práticas
empresariais, bem como na sua veiculação nos sistemas de ensino, tal
dimensão ganha destaque e se sobressai em relação ao “saber-fazer”.
(IEGER; LIMA 2017 apud LIMA, 2017, p. 51 )
Lima (2017) concorda com a posição de Castioni e Manfredi (1999), pois
acredita que, “há uma ampliação do conceito de qualificação e não uma ruptura com o
anterior”. (LIMA, 2017, p.51). Trata-se, portanto, de um processo de ressignificação do
conceito, que contempla a subjetividade do trabalhador para além das exigências que
estariam expressas no taylorismo-fordismo do “saber-fazer”.
Tartuce (2004) fez uma revisão dos clássicos da Sociologia do Trabalho,
Friedmann, Naville, para avaliar se seria necessária uma mudança na forma de medir e
avaliar exigências feitas aos trabalhadores para a ocupação de posto de trabalho. A
autora também valida o uso do conceito de qualificação, pois vê nele a flexibilidade
necessária para contemplar as mudanças que vem ocorrendo no mundo do trabalho.
(TARTUCE, 2004, p. 374).
A autora também argumenta quanto ao fato do conceito de qualificação, na visão
francesa, ser visto como algo socialmente construído que, por conseguinte, pode
perfeitamente ser usado como perspectiva teórica para analisar as formas pelas quais as
categorias profissionais são inseridas e permanecem, ou não, no mercado de trabalho
brasileiro (TARTUCE, 2004).
Portanto, na análise que fizemos neste trabalho levamos o conceito de
qualificação social que entende que a qualificação é algo socialmente construído, visto
que sua valorização varia com o tempo e espaço.
Nas próximas páginas abordamos de modo breve as condições do acesso que a
população brasileira à escolarização tem, a melhores postos de trabalho e, finalmente, a
qualificação profissional. Fazemos essa discussão, pois julgamos importante demonstrar
de que forma a qualificação profissional pode ser determinante para diminuir a
desigualdade social. Entretanto, não basta o investimento em educação. Junto a esse
investimento na educação para qualificação, deve se somar outros tipos de
43
investimentos, tais como o desenvolvimento econômico, industrial, de infraestrutura,
por exemplo, que precisam ser considerados, pois o mercado de trabalho precisa estar
aberto à contratação destes profissionais qualificados. Esse debate nos ajuda a entender
melhor nosso objeto, pois é uma das explicações que encontramos para a não inserção
dos egressos entrevistados ao mercado de trabalho na área de sua formação.
2.1 AS CONDIÇÕES DE ACESSO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA À
ESCOLARIZAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL
Cardoso (2010) faz uma analise das mudanças estruturais pelas quais passou a
sociedade brasileira entre 1940 e 2000, que causaram efeitos no mercado de trabalho e
observa que, de modo geral, existiram grandes transformações na economia
acompanhadas de uma inércia social quanto à renda e também quanto à distribuição
desigual dela. Para o autor, essa inércia aconteceu por conta do desenvolvimentismo ter
gerado riqueza, de forma concentrada, o que aumentou ainda mais a situação de
desigualdade e manteve um grande índice de pobreza no país.
Segundo Cardoso (2010), o que veio de fato colaborar para a mobilidade social
foi a migração do campo para a cidade, e, além disso, a redução da taxa de
analfabetismo, uma mudança de grande impacto entre trabalhadores do meio urbano e
do meio rural. A partir da metade dos anos 1980 houve uma mudança significativa
quanto à escolaridade média, entre trabalhadores urbanos, passando para quatro anos.
Em 2001 a taxa média de escolaridade entre trabalhadores chegou a 29% destes com
quatro anos ou mais de estudo e 36% com onze anos ou mais.
Cardoso (2010) faz uma análise da estruturação da sociedade do trabalho no
país, com ênfase na transição da escola para o trabalho, com base nos censos
demográficos desde 1970 e também as Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios
(PNADS) de 1981 a 2005. O autor verifica em seu trabalho que, os trabalhadores que
migraram do campo para a cidade melhoraram sua condição de classe, porém se
depararam com mercados de trabalho que não conseguiram suprir toda a demanda,
mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha se multiplicado por 15 em 40 anos.
Isso aconteceu, segundo Cardoso (2010), pois no Brasil se configurou um padrão
desenvolvimentista quanto à inserção de jovens no mercado de trabalho, que se
44
caracteriza por uma pequena participação da educação na oferta de oportunidades
iniciais.
O autor ainda afirma que, o padrão desenvolvimentista se diferencia do padrão
fordista de transição escola-trabalho, característico de países com capitalismo avançado
no qual existe um controle maior das famílias de migrantes, sendo que inicialmente o
estudo não era visto como uma forma de mobilidade social. Dessa forma, o Brasil não
se encaixa no sistema fordista de transição, visto que, para Cardoso, as taxas de evasão
sempre foram muito altas, os jovens começam a trabalhar muito cedo, deixavam a
escola e nem sempre conseguiam trabalho e, mesmo quando conseguiam não eram
necessariamente assalariados (CARDOSO, 2010).
O autor em tela destaca em seu trabalho que, a transição escola-trabalho que se
via nas décadas de 1960 até 1980, para os que conseguiam acesso ao sistema
educacional e permaneciam se instruindo por mais tempo, deixa de acontecer
automaticamente. Isso acontece não por conta da crise desenvolvimentista, mas sim por
conta do aumento do desemprego entre os jovens mais escolarizados e do aumento da
participação da mulher no mercado de trabalho. Não aconteceu o crescimento, na
mesma proporção, do número de vagas e de trabalhadores escolarizados, estes acabaram
por ocupar posições inferiores a sua qualificação, diferente do que acontecia a 10 ou 20
anos antes (CARDOSO, 2010).
Essa discussão de Cardoso embora se tratando de outro contexto histórico e do
déficit de inclusão social no Brasil, a partir da juventude, nos possibilita pensar sobre o
nosso objeto pesquisado, o egresso do CEEP NFM dos cursos Técnico em Meio
Ambiente e Técnico em Energias Renováveis/Alternativas que objetivam em última
instância ter uma mobilidade social a partir de sua inserção escolar e formação
educacional. A qualificação profissional precisa vir acompanhada de um
desenvolvimento econômico que comporte esses profissionais qualificados, dessa forma
a mobilidade social a partir da inserção escolar e formação educacional se torna mais
palpável.
Em nossa pesquisa junto aos egressos do CEEP NFM identificamos que o
mercado de trabalho para pessoas com qualificação profissional na área ambiental
também sofre com o crescimento desproporcional de pessoas com formação para atuar e
o número pouco significativo de vagas disponíveis no mercado. O que de certa forma,
contradiz o discurso sobre a falta de mão de obra qualificada como motivo do aumento
da produtividade e de desenvolvimento econômico.
45
O discurso do mercado sobre a falta de discussão da mão de obra é sempre
objeto de debate e de grandes dúvidas. Ramos (2016) discute que situação do Brasil é
um “enigma”, pois segundo ele, o diagnóstico aceito “consensualmente” de que a mão
de obra no país é pouco qualificada e constitui um obstáculo ao aumento da
produtividade e do desenvolvimento econômico, na realidade não dá conta dessa
explicação. O autor explica que, as empresas afirmam dificuldade em encontrar para
contratação, pessoas qualificadas, porém o que temos no Brasil atualmente são mais
pessoas com acesso a qualificação profissional em todos os níveis. Sobre isso ele
escreve:
Nos últimos 20 anos os retornos pela educação estão caído. Essa seria outra
fase da tão comentada queda de concentração dos rendimentos. Essa
dinâmica não está restrita ao Brasil, e, contrariamente seria um episódio
comum aos países da America Latina. (RAMOS, 2016, p.145)
Portanto, segundo o autor, há um consenso (teórico e empírico) entre
pesquisadores da área sobre um descompasso entre oferta e demanda de trabalho. Desta
maneira, em relação à dinâmica educacional e o mercado de trabalho:
Contrariando a teoria do Capital Humano, a elevação dos níveis de
escolaridade – num quadro de estagnação econômica, baixo investimento em
tecnologia e precarização do mercado de trabalho - acaba se mostrando
insuficiente para potencializar a geração de trabalho. Apesar disso,
prosseguem as vertentes daqueles que acreditam no papel independente e
autônomo da educação com relação à mobilidade social. (POCHMANN,
2004, p.387)
Em consonância com as afirmações de Pochmann (2004) e Ramos (2016),
evidenciamos que esse cenário - de elevada qualificação, porém pouca capacidade de
geração de trabalho - constitui-se uma realidade cada vez mais próxima dos brasileiros,
visto que na medida em que se amplia a oferta de cursos de qualificação nas mais
variadas modalidades e níveis, há estagnação econômica, reduzido investimento em
tecnologia e precarização do trabalho, conforme as novas tomadas de decisão de
reforma trabalhista13
; a qual somente teremos dimensão do verdadeiro impacto sobre o
trabalhadores qualificados futuramente. Porém, com base nas informações que já
possuímos em relação a flexibilização e precarização das relações de trabalho, podemos
dizer que esse resultado não será positivo.
Essa discussão é importante para nosso objeto de pesquisa, pois observamos em
campo que o que os autores acima destacaram em seus trabalhos acontece com mercado
de trabalho da área ambiental também, visto que existe um excedente de mão de obra
13
Implantadas no dia 11 de novembro de 2017.
46
qualificada que acaba se submetendo a ocupar as vagas de Técnicos em Meio Ambiente
e Energias Renováveis/Alternativas, profissionais com curso superior completo
ocupando vagas as quais não exigem tanta qualificação. E isso acontece por conta das
relações de trabalho que já são flexíveis o bastante no mercado de trabalho brasileiro
fazendo com que o trabalhador não tenha muitas opções diante de um cenário
desfavorável a ele, Enquanto isso é muito positivo para o empregador, visto que, para
ele, as opções de profissionais são muitas, dessa forma ele poderá escolher o
profissional que julga ser melhor para ocupar o posto de trabalho, já querendo um
profissional totalmente adequado ao seu negócio e sem nenhuma preocupação com
promoção da qualificação dos profissionais que contrata, dentro de suas empresas e para
atender suas necessidades específicas.
Faremos no próximo capítulo uma discussão mais detalhada sobre como o
excedente de mão de obra qualificada e uma economia estagnada pode favorecer a
flexibilização das relações de trabalho, trazendo elementos identificados em nossa
pesquisa que vão de encontro ao que os autores/as têm escrito sobre qualificação e
mercado de trabalho.
47
III - UMA ANÁLISE SOBRE A FORMAÇÃO INTEGRADA COM EGRESSOS
DO CEEP NEWTON FREIRE MAIA
Como demonstramos anteriormente, nossa investigação teve como ponto de
partida, no capítulo I, o conhecimento sobre o Ensino Médio o que permitiu uma
abordagem aprimorada em relação ao conhecimento inicial e os conceitos que se
relacionam ao nosso objeto. Em seguida, procuramos aprimorar o conhecimento quanto
ao conceito de qualificação, no capítulo II, visto que essa abordagem nos auxiliou na
interpretação do que vimos em campo, e iremos discutir neste terceiro capítulo.
Nossa pesquisa utilizou procedimentos qualitativos e quantitativos de análise
para permitir uma aproximação com o objeto de estudo e traçar um perfil dos egressos
que tiveram a experiência de cursar o Ensino Médio Integrado, por meio de uma
amostra.
Para a coleta de dados foram utilizados dois procedimentos de investigação. O
primeiro instrumento utilizado foi um questionário com perguntas fechadas e abertas,
aplicado online através de uma ferramenta disponibilizada pelo Google Formulários.
Antes de enviar para os ex-alunos, realizamos testes com colegas da graduação e um
egresso para analisar possíveis adequações.
Feito isso, enviamos o questionário para os trinta contatos que faziam parte do
universo da pesquisa, visto que optamos por analisar apenas com os formados em 2013
dos cursos Técnico em Meio Ambiente (dezoito ex-alunos) e Técnico em Energias
Renováveis/Alternativas (doze ex-alunos).
Fizemos esta primeira sondagem para ter noção de quantos destes alunos
realmente teríamos contato e disponibilidade de resposta. O resultado da primeira
“aproximação” foi de dezoito alunos respondentes sendo dez (55%) do Técnico em
Meio Ambiente e oito (66%) do Técnico em Energias Renováveis/Alternativas.
No que se refere à escolha dos cursos, optou-se por dois cursos diferentes para
que fosse possível observar mais de uma realidade. Para isso, escolhemos um curso
considerado mais “tradicional”, como Técnico em Meio Ambiente, que é ofertado em
diversas escolas do Ensino Médio público e o Técnico em Energias
Renováveis/Alternativas que é um dos cursos com maior procura atualmente, no CEEP
NFM (perdendo apenas para o Técnico em Agropecuária). Levamos em conta também o
fato de termos contatos estratégico nas duas turmas, o que facilitou a realização da
pesquisa com os respondentes do questionário/entrevistados.
48
O segundo instrumento utilizado foi a entrevista semiestruturada com quatro
egressos: dois do curso de Energias Renováveis/Alternativas e dois do curso Técnico
em Meio Ambiente. Destas entrevistas 3 foram realizadas presencialmente e uma foi
respondida por email. A realização destas entrevistas tem o intuito de aprofundar
aspectos importantes que podem ter sido comprometidos por conta da característica
objetiva do questionário. O objetivo dessa entrevista foi compreender a escolha do
egresso por cursar o Ensino Médio Integrado, perceber como o aluno avaliava sua
formação e as contribuições do curso para a vida profissional e pessoal, e por fim
analisar como foi para eles a saída do curso, se houve procura por inserção no mercado
de trabalho ou se buscaram o ingresso a cursos superiores.
Primeiramente, procuramos investigar qual o perfil do aluno que optou por fazer
o ensino médio integrado no CEEP, para tentar compreender se os mesmos estavam
interessados no curso profissionalizante em si ou se estavam mais interessados em
realizar o ensino médio numa instituição que é referência na região por sua estrutura e
qualidade no ensino, visando o ingresso em cursos superiores.
Depois, tentamos identificar como os egressos avaliavam sua formação, quais as
contribuições que eles percebiam à nível profissional e pessoal, tentando identificar se
os requisitos para uma educação integral estavam sendo atendidos, já que consta nos
documentos da escola como um dos principais objetivos, em consonância com o que
vimos nos documentos nacionais e estaduais que dizem respeito à educação.
Por fim, analisamos como foi à saída destes ex-alunos. Como foram recebidos
pelo mercado de trabalho, se procuraram se inserir em sua área de formação ou
procuraram emprego independente da formação que receberam no CEEP. Ou ainda, se
buscaram vagas em cursos superiores na área ambiental ou em outras áreas, procurando
compreender se a formação recebida no CEEP deu embasamento às escolhas feitas, aos
caminhos que foram seguidos.
Vale salientar, que sabemos que não será possível fazer muitas generalizações a
partir do número de egressos aos quais tivemos acesso, tanto via questionário quanto
entrevistas, pois constituíram quantidade reduzida, porém não temos aqui o
compromisso de esgotar as dúvidas em torno desse objeto, mas principalmente levantar
novas questões. Para Minayo (1999, p.89) “o conhecimento é uma construção que se faz
a partir de outros conhecimentos sobre os quais se exercita a apreensão, a crítica, a
dúvida”.
49
Partindo dessa premissa, foi possível levantar diversas informações a respeito
dos egressos em questão o que possibilitou algumas análises, incluindo a descrição do
perfil a ser descrito nos próximos parágrafos. Para tanto, podemos visualizar no quadro
2, no qual apresentamos uma síntese das informações sobre o perfil dos egressos,
traçado a partir da aplicação dos questionários pela ferramenta Google Formulários.
50
Quadro 2: Síntese do perfil dos egressos dos Cursos Técnico em Meio Ambiente e Energias Renováveis
Fonte: Pesquisa de Campo, 2017. Elaboração própria, 2017.
Egresso Idade Sexo Município de Residência Transporte Renda Familiar Motivo de escolha do curso
Téc
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Am
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nte
2 21 F Campina G. do Sul Van 1 a 2 salários Formação Técnica
4 24 M Quatro Barras Ônibus 1 a 2 salários Formação Técnica
5 21 F Colombo Carro 3 a 4 salários Localização
7 21 F Colombo Ônibus 1 a 2 salários Localização e Formação Técnica
8 21 M Campina G. do Sul Van 1 a 2 salários Escolha da Família
12 22 M Colombo Carro 3 a 4 salários Indicação de amigos
15 21 F Campina G. do Sul Van 1 a 2 salários Formação Técnica
16 21 M Campina G. do Sul Van 3 a 4 salários Formação Técnica
17 22 F Campina G. do Sul Van 1 a 2 salários Formação Técnica
18 23 M Colombo Bicicleta 3 a 4 salários Formação Técnica
Téc
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s
Ren
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eis
1 21 M Colombo Carro 4 a 5 salários Escolha da família
3 21 M Quatro Barras Van 3 a 4 salários Formação Técnica
6 21 M Colombo Bicicleta 3 a 4 salários Formação Técnica
9 22 F Curitiba Ônibus 4 a 5 salários Qualidade no ensino
10 22 M Campina G. do Sul Bicicleta 3 a 4 salários Localização e Formação Técnica
11 22 F Quatro Barras Ônibus 3 a 4 salários Indicação de amigos
13 21 M Colombo Não respondeu 4 a 5 salários Formação Técnica
14 21 M Colombo Van 3 a 4 salários Indicação de amigos
51
Conforme evidenciado no quadro 2, optamos por não citar os nomes dos ex-
alunos na pesquisa, os quais iremos chamar (quando nos referirmos aos dados
coletados via questionário) de Egresso 1, 2, 3, 4 e assim sucessivamente, de acordo com
o ordem de resposta no questionário. Quando nos referirmos aos dados coletados via
entrevista vamos nomear os egressos com as letras A, B, C e D.
Observamos no quadro acima, que os ex-alunos (egressos entrevistados) têm
entre 21 e 24 anos, 16 deles têm 21 anos, um tem 23 anos e o outro 24 anos. A maioria é
do sexo masculino somando 11 homens e 7 mulheres. Mas esse número diz respeito aos
que responderam, pois verificando a lista total da turma dos formados, identificamos
que 16 eram mulheres e 14 eram homens.
Vimos também que o CEEP atende alunos de vários municípios vizinhos, sendo
que, dos que responderam, a maioria mora no município de Colombo somando 8
egressos, seguido de 6 que disseram morar em Campina Grande do Sul, 3 que moram
em Quatro Barras e 1 que mora em Curitiba.
A maioria dos egressos (respondentes) utilizava van escolar somando 7 egressos,
seguido de 4 que iam de ônibus, 4 que usavam bicicleta e outros 2 que iam de carro e
um deles não respondeu como fazia para chegar até a escola (CEEP).
Quanto a renda média familiar (baseado no salário mínimo vigente, 2017, R$
937) na época do curso com objetivo de identificar o perfil econômico do aluno que
optava por estudar no CEEPNFM, identificamos que 9 egressos afirmaram ter renda
média entre 4 e 3 salários mínimos, seguidos de 6 que disseram ter renda média entre 1
e 2 salários, e os outros 3 afirmaram ter renda média de 4 a 5 salários mínimos.
Entre as razões que os egressos apresentaram para a escolha de estudarem no
CEEPNFM, 12 deles citaram a formação técnica como determinante na escolha que
fizeram, sendo que destes, 4 citaram a intenção de incrementar o currículo e se inserir
no mercado a partir desta formação. Além da escolha justificada pelo ensino técnico
profissional tivemos 1 ex-aluno que citou o motivo “qualidade no ensino”, outros 3
disseram ter tido indicação de amigos que já cursavam o ensino médio integrado na
mesma instituição. Tivemos como resposta também 2 egressos que disseram que quem
optou pelo curso foi a família e 1 que citou a localização como motivo da escolha.
Já no que tange à percepção posterior ao término do curso sobre os aspectos que
foram bons ou poderiam ser melhorados durante a realização do curso, nos utilizaremos
do quadro 3 a seguir:
52
Quadro 3: Pontos positivos e que poderiam ter sido melhores na formação, a partir
da percepção dos egressos:
Nº de
respostas Pontos positivos
Nº de
respostas
Pontos que poderiam ter sido
melhores e dificuldades
7 Professores capacitados e
atenciosos 2
Falta de saber onde de fato
atuariam no mercado
6 Amizades que fizeram
durante o curso 2
Produção do Trabalho de
Conclusão do Curso (TCC).
4 Aulas e viagens de campo 2
Grade do ensino médio ficou
prejudicada em virtude as
disciplinas do curso técnico
1 Estrutura do colégio 2 Localização do colégio
5 Conteúdo/conhecimento
sobre a questão ambiental 2 Despreparo dos professores
Fonte: Pesquisa de Campo, 2017. Elaboração própria, 2017.
Desta maneira, segundo os dados do questionário evidenciados no quadro 3,
sobre as experiências vivenciadas, no qual os egressos poderiam citar mais de uma
resposta, os pontos positivos e pontos que poderiam ter sido melhores, além das
dificuldades que os egressos perceberam quanto à formação que tiveram, as respostas
obtidas foram as seguintes: quanto aos pontos positivos foram citados: professores
capacitados e atenciosos (7 egressos), as amizades que fizeram durante o curso (6
egressos), as aulas e viagens de campo (4 egressos) , a estrutura do colégio, (1 egresso)
o conteúdo/conhecimento sobre a questão ambiental (5 egressos).
Em relação aos pontos que poderiam ter sido melhores e dificuldades
enfrentadas 7 egressos responderam que não tiveram dificuldades e não viam pontos a
melhorar em sua formação. Dos que citaram dificuldades, 2 egressos disseram que
sentiam falta de saber onde de fato atuariam no mercado e que isso se devia a
necessidade de mais aulas práticas para entenderem suas funções.
Quanto a esta problemática relatada pelos egressos em relação à dificuldade de
saber em que área poderiam atuar como futuros profissionais, acreditamos que ela esteja
mais relacionada com o fato da maioria destes trabalhadores, Técnicos em Meio
Ambiente e Técnicos em Energias Renováveis/Alternativas, não conseguirem se inserir
no mercado de trabalho, do que por falta de mais aulas práticas nos cursos em questão.
Pensamos assim, pois nesta pesquisa percebemos que existe uma real dificuldade de
inserção destes profissionais por motivos diversos os quais vamos descrever ao longo
deste capítulo.
53
Mais uma dificuldade citada por 2 egressos foi a produção do Trabalho de
Conclusão do Curso (TCC). Outros 2 disseram ter percebido que a grade do ensino
médio ficou prejudicada por conta da carga horária do técnico (disciplinas específicas)
afirmando que isso dificultou as provas de vestibular que fizeram. A localização como
algo que dificultou o curso foi apontado por 2 egressos, visto que moravam longe e
precisavam pagar van escolar já que o acesso de ônibus ao CEEP é difícil, pois existe
apenas uma linha de ônibus que passa perto do local e vem de Curitiba. O despreparo
dos professores, atribuído e justificado pelos egressos, se deveu, segundo eles, ao
pioneirismo do curso, como analisa um dos entrevistados:
Como minha turma foi a primeira do curso de Energias, ninguém estava
preparado [...] A nossa turma foi alvo de muitas experiências, como quais
conteúdos trabalhar no curso, se grade curricular era adequada, quais eram os
melhores métodos de ensino nesse curso, entre outros. Devido a isso meu
período letivo saiu um pouco prejudicado, tanto nas matérias do ensino
médio quanto nas específicas. (Egresso 12 do CEEP NFM)
A despeito da crítica à falta de preparo, chama a atenção o fato do próprio
estudante justificar o “despreparo”, referindo-se às condições em que foram
implantados o curso. A nosso ver, isso revela uma maturidade ímpar sobre o curso, a
formação e a própria condição do país, desta maneira trata-se de uma crítica construtiva
e não destrutiva.
Quanto a avaliação feita aos cursos em questão pelos ex-alunos, a maioria (28%)
avaliou com nota 10, seguidos de 17% que avaliaram o curso com nota 9. As demais
notas atribuídas estão no gráfico a seguir com a avaliação que os alunos fizeram do
curso considerando 0 como totalmente insatisfeito e 10 como totalmente satisfeito:
Gráfico 1: Nota atribuída pelos egressos ao curso técnico
Fonte: Pesquisa de Campo, 2017.
3
5% 5
17%
6
11%
7
17% 8
5%
9
17%
10
28%
54
Apesar de alguns egressos tecerem críticas sobre a formação que tiveram, a
maioria avalia como bom e ótimo o ensino que vivenciaram, como podemos notar no
gráfico 1.
Tivemos a informação de que o CEEPNFM dispunha de diversos projetos os
quais os professores desenvolviam com os alunos por isso perguntamos para os egressos
em questão se haviam participado de algum projeto. Dos 18 ex-alunos 13 tiveram
experiência com projetos que variam de cultivar hortas, projetar biodigestores, controlar
a qualidade da água do Rio Nhundiaquara e do Rio Canguiri, à geração de energia a
partir de exaustores eólicos.
Evidenciamos que a participação dos alunos em projetos desenvolvidos por eles
com o auxílio dos professores, faz com que os mesmo desenvolvam a capacidade de
agir de forma mais autônoma, mais independente e responsável, o que vai de encontro
com o que o mercado flexível almeja, um profissional considerado qualificado
atualmente é o que sabe agir diante de situação prevista e não prevista e esta capacidade
é desenvolvida a partir de uma formação que vislumbre isso.
Nossa análise das respostas dos egressos sobre o quanto a formação integrada
que receberam contribuiu para a vida profissional e pessoal, identificamos que apenas 2
egressos afirmaram que a formação que tiveram no CEEPNFM não contribuiu
profissional ou pessoalmente para suas vidas. Para tanto, segue o quadro 4 com
informações sobre as contribuições dos cursos segundo os egressos.
Quadro 4: Contribuições dos cursos técnicos citados pelos egressos
Contribuições
01 Enriquecimento do currículo
02 Desenvolvimento da capacidade de realizar trabalhos em equipe
03 Capacidade de desenvolver projetos
04 Escolha da carreira profissional
05 Ajuda na escolha da graduação que cursam atualmente
06 Maior facilidade nas atividades acadêmicas de graduação
07 Capacidade de trabalhar de maneira mais autônoma
Fonte: Pesquisa de Campo, 2017. Elaboração própria, 2017.
Conforme apontado no quadro 4, os demais egressos citaram diversas
contribuições como: enriquecimento do currículo, ajuda para escolher o curso de
55
graduação que fazem atualmente, trabalho em equipe, de desenvolvimentos de projetos,
escolha da carreira que queriam seguir para vida. Alguns afirmaram que o
conhecimento adquirido no CEEP facilitou a vida acadêmica superior, como esse
egresso escreveu: “facilitou minha vida na faculdade, pois já estava acostumado a
trabalhar de forma mais autônoma. Percebo que colegas que fizeram o ensino médio
regular tem mais dificuldade com isso” (Egresso 5); “percebo que o que aprendi no
curso de Energias me ajudou muito quando entrei na faculdade, pois alguma coisas do
meu curso de Agronomia eu já tinha tido um primeiro contato” (Egresso 7).
Observamos que para estes egressos, a educação profissional integrada à
educação geral possibilitou justamente o conhecimento técnico para desempenhar
determinada função, e uma educação propedêutica para uma possível mobilidade
social14
, visto que de certa maneira ela possibilita o ingresso destes alunos em cursos
superiores.
Pelo que percebemos os egressos têm um discurso que impera entre eles de que
o Ensino Médio Integrado é melhor do que cursar somente o Ensino Médio Regular,
como escreveu este egresso:
“o ensino técnico me permitiu adquirir conhecimentos além daquele que
seria proporcionado pelo ensino médio comum, ampliando a visão a cerca de
questões ambientais, energéticas e humanas.” (Egresso 13 do CEEP NFM)
Outro destacou que:
“no ensino médio técnico tive uma oportunidade de estágio que não teria no
ensino médio regular, essa oportunidade me ajudou a escolher meu curso de
graduação e saber o quero para minha vida profissional”. (Egresso 10 do
CEEP NFM)
Enquanto o egresso acima destacou a importância do estágio que pode realizar, o
outro, como podemos observar no trecho abaixo, reconhece a importância da formação
que teve para a consolidação de sua escolha profissional, inclusive no que se refere ao
acesso que teve em relação aos conteúdos.
“Ajudou a solidificar minha meta de estudar engenharia elétrica. Propiciou
também adquirir conhecimentos práticos da área relacionada a energias
alternativas, bem como meio ambiente, áreas estas que estão estreitamente
ligadas. Tive apoio de professores que me estimulavam a buscar aprender
mais, e que se tornaram amigos após a conclusão do curso. foram também
professores que acreditaram na ideia do projeto que consegui desenvolver
enquanto aluno da instituição. Poucos alunos têm a oportunidade de estudar
com professores assim”. (Egresso 6 de Energias Renováveis/Alternativas)
14
como sugere a Escola Unitária de Gramsci, ideal adotado pela SEED-PR, segundo os documentos
analisados no capitulo I.
56
Essas respostas nos levam a acreditar que, em contrapartida a não inserção no
mercado de trabalho, como veremos mais adiante, o CEEP NFM cumpriu, um papel
muito importante em relação ao ideal de educação, que é buscado como analisamos
(capítulo I) a partir dos documentos, tanto estaduais como federais de oferecer ao aluno
a possibilidade de cursar um ensino superior, além do conhecimento técnico para
desempenhar funções direcionadas ao atendimento das demandas do mercado de
trabalho.
Evidenciamos que até mesmo os ex-alunos que não seguiram carreira na mesma
área de conhecimento fazem uma avaliação positiva quanto à contribuição profissional:
“Ter feito o curso técnico me ajudou a desenvolver uma visão diferente,
principalmente na questão ambiental. As visitas técnicas e as viagens que fiz
para apresentação do meu projeto ajudaram muito no âmbito pessoal e
profissional, auxiliando nos conhecimentos acadêmicos. Na vida profissional,
apesar de não seguir exatamente na mesma área do curso, os conhecimentos
adquiridos me ajudaram em diversas atividades, como, por exemplo, no
desenvolvimento de projetos, devido ao conhecimento adquirido na parte de
metodologia cientifica, além do conhecimento na parte de geração de
energia”. (Egresso 11 do CEEP NFM)
Outro ex-aluno respondeu que o curso contribuiu positivamente para o seu
currículo:
“Profissionalmente o curso me ajudou muito, pois agrega muito valor ao
currículo, tratando-se de um curso técnico voltado a energia renovável,
muitas empresas prezam por esta qualificação, tendo em mente que o curso
ensina também sobre elaboração de projetos, o que em minha área de Análise
e desenvolvimento de sistemas é muito valorizado”. (Egresso 14 do CEEP
NFM)
Para estes egressos, portanto, houve uma contribuição importante da escola que,
segundo o que discutimos no capítulo II, a partir dos apontamentos feitos por Zarifian
(2001) seria responsável por possibilitar o desenvolvimento de competências genéricas
e flexíveis nos estudantes, de modo a prepará-los até mesmo para situações de
instabilidades da vida, ou seja, habilidades que serão empregadas por qualquer
profissão.
Apesar de nossa pesquisa ser de pequeno porte, esse dado não deixa de chamar
atenção, visto que quase 90% deles optaram por dar continuidade nos estudos,
considerando que um deles já está com curso superior completo. Isso demonstra que o
CEEP NFM tem feito diferença significativa na carreira dos alunos que passam por lá e
por isso construiu uma boa imagem e é visto como um colégio de referência no ensino
da região. Isso se deve a um corpo docente qualificado, a boa estrutura que o mesmo
dispõe, entre outros atributos. Acompanhemos o quadro 5:
57
Quadro 5: Situação dos egressos após o curso Técnico em Meio Ambiente e
Energias Renováveis
Fonte: Pesquisa de Campo, 2017. Elaboração própria, 2017.
Como uma de nossas questões de pesquisa era conhecer a trajetória desse
estudante após a sua formação na escola e cursos aqui selecionados, identificamos que
depois de terminar o curso técnico 15 dos 18 egressos estão fazendo faculdade. Um
deles já se formou em Jogos Digitais (tecnólogo15
) e um deles está fazendo outro curso
técnico no CEEP NFM (fez o curso o Ensino Médio Integrado Técnico em Energias
Renováveis/Alternativas e agora está cursando Técnico em Meio Ambiente na
modalidade subsequente). Dos 15 egressos que estão na faculdade 8 escolheram cursos
na área ambiental: Agronomia (2 ex- alunos), Gestão Ambiental, Medicina Veterinária,
15
“Os cursos superiores de tecnologia ou graduações tecnológicas são cursos de graduação plena como
quaisquer outros cursos de licenciatura ou bacharelado. Seus diplomas têm validade nacional.” (Portal do
MEC, 2017)
Egresso Graduação na mesma área de
conhecimento
Graduação em outra área de
conhecimento
Téc
nic
o e
m M
eio A
mbie
nte
2 Agronomia --
4 Gestão Ambiental --
5 -- Direito
7 Medicina Veterinária --
8 Zootecnia --
12 Agronomia --
15 -- Pedagogia
16 -- Administração
17 -- Administração
18 -- --
Téc
nic
o e
m E
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gia
s
Ren
ováv
eis
1 -- --
3 -- --
6 Engenharia Elétrica --
9 -- Jogos Digitais (concluído)
10 -- Logística
11 Engenharia Elétrica
17 Química --
18 -- Análise e Desenv. de Sistemas
58
Zootecnia, Engenharia Elétrica (2 ex-alunos) e Química. Dos que optaram por outra
área de conhecimento estão cursando: Direito, Administração (2 ex-alunos), Pedagogia,
Logística, Análise e desenvolvimento de Sistemas e Jogos Digitais.
Lima (2017) em sua pesquisa com egressos da área de TI do Instituto Federal do
Paraná (Ensino Médio Integrado) observou que grande parte deles deram continuidade
em seus estudos demonstrando que:
“o IFPR, mais do que configurar-se como escola de ensino técnico,
demonstra que, se houver por parte da gestão pública uma boa estrutura física
com investimentos adequados e principalmente um corpo docente
qualificado, é possível alcançar bons resultados.” (LIMA, 2017, p. 147 e 148)
Nesse ensejo, vale discutirmos o que Lima (2017) argumentou sobre o contexto
atual:
No contexto atual, contudo, quando no governo de Michel Temer se discute
as reformas no ensino médio brasileiro, especialmente as de ordem curricular,
pouco se fala sobre outras questões fundamentais como, por exemplo,
medidas para promover a efetiva qualificação e valorização salarial dos
professores e mais recursos para melhorar a precária infraestrutura de boa
parte das escolas brasileiras, especialmente da rede pública de ensino (escolas
estaduais e municipais) (LIMA, 2017, p. 148)
Assim como o governo federal, o atual governo do estado do Paraná16
, não tem
discutido medidas para promover a efetiva qualificação e valorização salarial dos
professores, ao contrário, está reduzindo custos com a educação. No Paraná, no início
deste ano houve a diminuição da Hora Atividade, uma conquista importante da
categoria, com vista a melhorar as condições de trabalho. Agora os professores passam
mais tempo em sala de aula e tem menos tempo para as atividades que o docente
desenvolve fora dela. Além disso, o estado do Paraná está discutindo a redução do
salário dos professores que são contratados pelo Processo Seletivo Simplificado (PSS) e
isso é possível graças a esse tipo de contratação que flexibiliza os direitos trabalhistas.
A educação no estado do Paraná está sofrendo um desmonte em relação a direitos que
foram conquistados a partir da luta da categoria dos professores e os efeitos disso sobre
a qualidade da educação poderão ser vistos futuramente.
Voltando a descrição dos dados de nossa pesquisa, apenas 6 ex-alunos
afirmaram que procuraram emprego logo após o término do curso, não somente na área
ambiental, mas em outras áreas também. Isso nos fez perceber que o foco maior desse
grupo que tivemos contato não era a inserção imediata no mercado de trabalho, mas sim
cursar uma graduação antes disso, como podemos observar no quadro 6 a seguir.
16
Carlos Alberto Richa (Beto Richa) do PSDB está na gestão do estado do Paraná desde 2011.
59
Quadro 6: Situação dos egressos do CEEP NFM em relação ao mercado de
trabalho
Egressos Função Remuneração
1 Não respondeu De 1 a 2 salários mínimos
3 Técnico em Segurança do Trabalho De 1 a 2 salários mínimos
4 Garçom De 1 a 2 salários mínimos
5 Estágio (escritório de advocacia) Menos de 1 salário mínimo
9 Artista Freelancer Menos de 1 salário mínimo
10 Secretária Não respondeu
15 Op. de Telemarketing De 1 a 2 salários mínimos
16 Metalúrgico (empresário) De 4 a 5 salários mínimos
17 Assistente administrativo De 1 a 2 salários mínimos
Fonte: Pesquisa de Campo, 2017. Elaboração própria, 2017.
Atualmente 9 deles estão inseridos no mercado de trabalho, nenhum deles na
área de formação técnica ambiental, como visualizamos no quadro 5, estão empregados
em cargos, os quais não precisariam dessa qualificação que tiveram, mas como não
conseguiram se inserir a partir dela estão trabalhando como: garçom (1 egresso),
Técnico em Segurança do trabalho (1 egresso), assistente administrativo (1 egresso),
estagiária em escritório de advocacia (1 egresso), secretária (1 egresso) artista freelancer
(1 egresso), operador de telemarketing (1 egresso) e 1 deles abriu seu próprio negócio,
uma oficina de metalúrgica, 1 egresso não respondeu a função em que trabalha. A
maioria deles tem renda média atual de 1 a 2 salários mínimos (5 egressos), 2 deles tem
renda menor que 1 salário mínimo e outro tem renda de 4 a 5 salários mínimos, 1
egresso não respondeu qual sua renda.
Apesar desse resultado aparentemente não favorável, no que diz respeito a
inserção no mercado de trabalho, lembremo-nos que a maioria deles optou por dar
continuidade aos estudos, portanto esse resultado se deve, em partes, ao fato desses
egressos ainda estarem buscando formação antes de se inserir no mercado de trabalho
de forma mais definitiva. Em sua maioria, eles não buscaram, portanto, a inserção na
área em que se qualificaram de forma imediata.
Dos ex-alunos que disseram ter procurado emprego na área, (não
necessariamente logo após o término do curso) 6 disseram que a maior dificuldade
60
encontrada foi a pouca oferta de vagas nos ramos de meio ambiente e energias
renováveis.
A partir dessa informação fomos à procura de vagas ofertadas nessa área para
entender do que os egressos estavam falando. A primeira informação relevante que
percebemos é que as vagas ofertadas, no momento da procura, não eram para o estado
do Paraná. No Site Nacional de Empregos (SINE), por exemplo, havia 133 vagas em
aberto para Técnico em Meio Ambiente, e destas apenas uma estava localizada no
Paraná, na cidade de Ponta Grossa.
Isso acontece, porque apesar de no Estado existir a Lei Estadual do Paraná nº
16.346/2009 que obriga empresas potencialmente poluidoras, segundo o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), a
contratarem um Técnico Ambiental, estas vagas podem ser preenchidas por
profissionais de: Engenharia Ambiental e Química, Biologia e Geografia. Portanto os
Técnicos em Meio Ambiente disputam o mercado de trabalho com vários profissionais
que as empresas julgam como superiores, ou capazes de desempenhar uma quantidade
maior de funções. Assim, elas ainda têm a possibilidade de flexibilizar suas
contratações, o que é bem mais interessante ao empregador. Essa informação foi
confirmada na entrevista concedida por egressos do Técnico em Meio Ambiente:
Tive uma experiência bem ruim quando fui procurar emprego, porque fui
numa entrevista em uma fábrica de químicos, [...] que fica perto do Angelina
Caron17
, e tinha um cara formado em Engenharia Química concorrendo a
mesma vaga que eu e ele se rebaixou a ganhar menos que um engenheiro
ganha pra poder ficar com a vaga. E eu entendo ele, porque ele tinha acabado
de se formar e precisava de experiência no currículo. As empregas preferem
contratar engenheiro do que contratar o técnico, porque o engenheiro tem
curso superior então tem mais conhecimento. (Egresso A do CEEP NFM)
Outra ex- aluna relatou:
As vagas de Técnico em Meio Ambiente geralmente são preenchidas por
pessoas com curso superior, tanto nas empresas como nos cargos públicos,
porque no concurso elas acabam se saindo melhor, já que eles têm mais
carga, mais conhecimento. Então as vagas nessa área já são reduzidas aí você
precisa disputar com engenheiros. Não dá pra competir. (Egresso B do CEEP
NFM)
Essa informação vai de encontro à discussão que fizemos no capítulo II, com
base no que Zarifian (2010 apud Lima 2017) constatou em campo, no que diz respeito à
exigência, das empresas, de mais diplomas do que o trabalhador de fato usa em seu
posto de trabalho, tendo em vista que em “algum” momento, o conhecimento que o
profissional adquiriu a partir de suas formações seriam mobilizados para solucionar
17
Hospital localizado na região metropolitana norte – Campina Grande do Sul.
61
imprevistos em sua produção. A lógica do mercado é essa, se há falta de mão de obra, o
mercado se adapta, faz formação de sua mão de obra, se há muito desemprego, as
empresas podem selecionar entre os mais escolarizados. Na falta de vagas no mercado
profissionais com curso superior se submetem a vagas que exigem menos qualificação.
Como já discutido também no capítulo II, Manfredi (1999), demonstrou que as
empresas possuem total autonomia no que diz respeito a determinar que requisitos cada
cargo necessita, assim como também podem criar novos cargos e funções. Segundo a
autora, isso pode ser usado como uma forma de burlar as políticas de cargos e salários
flexibilizando os direitos trabalhistas. Podemos relacionar essa constatação de Manfredi
(1999) com o que vimos em campo, como relatado pelo egresso A, visto que, o que
possibilita que um engenheiro venda sua força de trabalho por um preço menor do que
ela vale, além do desemprego, é a autonomia que as empresas têm em relação a como
preencher os cargos que devem existir dentro das organizações.
Outra forma que as empresas e os órgãos públicos têm de ocupar essas vagas é
pela contratação de estagiários. Como relatado por estes egressos:
Enquanto eu estava no curso de meio ambiente eu tinha emprego porque tem
bastante oportunidade de estágio na área, tive amigos que trabalhavam na
prefeitura,[...] eu tive oportunidade no CPRA18
, mas quando você vai pra
ingressar no mercado mesmo é difícil. Estágio tem muito, mas quando é pra
assinar a carteira mesmo... eu, pelo menos, não fui feliz e as pessoas com
quem ainda tenho contato que estudaram comigo também estão em outras
áreas no mercado. (Egresso B do CEEP NFM)
Outro ex-aluno relatou:
Tem muita oportunidade de estágio, e estágio remunerado mesmo, para
estudantes do Técnico em Meio Ambiente. O CEEP tem convênio com
prefeituras e com empresas o que facilita ainda mais pra gente, enquanto
você é estudante, mas depois de formado não consegui trabalhar mais na
área. (Egresso A do CEEP NFM)
Estes relatos vêm confirmar o que discutimos no capítulo I e que são
reconhecidas nas pesquisas do autor Krein (2007) e das autoras Bridi e Motim (2011).
Eles identificaram que as empresas e órgãos públicos dão preferência a contratação de
estagiários para diversas funções, visto que a contratação destes pode flexibilizar seus
direitos como trabalhadores. Portanto, o que era para ser um espaço de aprendizado
acaba se transformando em mais uma forma de burlar direitos trabalhistas.
Quanto aos egressos do Técnico em Energias Renováveis/Alternativas a situação
é um pouco pior, no que diz respeito à empregabilidade, pois o CEEP ainda não tem
convênio de estágio e por conta disso o estágio também não é obrigatório na grade,
18
CPRA - Centro Paranaense de Referência em Agroecologia.
62
como é no Técnico em Meio Ambiente19
. Isso dificulta muita a experiência prática dos
alunos quanto à suas funções no posto de trabalho propriamente dito.
Quando buscamos por vagas de Técnico em Energias Renováveis/Alternativas
os resultados de pesquisa são vagas para Engenheiro Elétrico ou Técnicos em
Manutenção de Energias Renováveis, como, por exemplo, manutenção de sistemas
Solares Térmicos. Um dos nossos egressos, depois de terminar o curso de Energias foi
em busca dessa segunda formação para trabalhar com manutenção de Sistemas Solares:
Dois anos depois que terminei o curso, fiz outro curso na mesma área, de
Implementação e Manutenção de Sistemas Fotovoltaicos (ou energia Solar).
Fiz o curso no Escritório Verde, uma filial da UTFPR. Eu estava interessado
na época em [...] me especializar na mesma área [...] Nesse curso foi
apresentado os modelos de sistemas fotovoltaicos, [...] as formas de uso,
como fazer a implementação, mas foi algo mais teórico, percebi que foi algo
mais voltado a quem já está inserido na área, quem faz um curso de
Engenharia Elétrica, por exemplo, ou um Arquiteto que está projetando algo
e pode incluir nesse projeto um sistema de energia alternativa. Na verdade eu
fiz o curso errado, o que eu queria era aprender a instalar mesmo, na prática.
(Egresso C do CEEP NFM)
A partir da fala do egresso C e da pesquisa que fizemos em busca de vagas de
emprego no ramo de energias renováveis tem mais chance quem vai se especializar
depois do curso de Energias Renováveis/Alternativas em formas específicas de
utilização de energias alternativas, ou ainda, quem faz a opção de ir para um curso na
mesma área de conhecimento como o curso de Engenharia Elétrica.
Uma ex-aluna do curso de Energias relatou que:
Eu procurei vaga de emprego na época em que terminei o curso, mas tem
pouca opção de trabalho, o que eu acho uma pena, porque tem tantas formas
de gerar energia, formas menos nocivas a natureza, formas mais baratas, mas
as pessoas, de modo geral não estão interessadas nisso, ou nem conhecem
essas opções. Eu penso que o que eu aprendi no curso de Energias vai ser
mais valorizado no futuro, quando as opções que temos hoje se esgotarem, ou
quando houver mais consciência sobre isso. (Egresso D do CEEP NFM)
Nessa resposta percebemos que, como discutimos no capítulo II a qualificação é
realmente construída socialmente, visto que entendemos que algumas profissões são
mais valorizadas em certos momentos. Quando o CEEP NFM foi criado (2006) as
questões relativas ao meio ambiente estavam mais em alta do que estão agora (isto é, em
um quadro nacional de baixos investimentos públicos e austeridade20
) havia um
discurso preocupado com a sustentabilidade, com a preservação do meio ambiente e dos
19
A grade dos dois cursos será anexada na versão final do trabalho. 20
Em economia austeridade é considerada como rigor teórico no controle de gastos.
63
recursos naturais e isso se deve ao perfil de gestão que estava no poder na época21
, uma
gestão mais preocupada com estas questões.
Todas estas constatações que fizemos em campo também tem relação com o fato
de o mercado de trabalho demonstrar atualmente escassez de empregos e elevado índice
de excedente de força de trabalho fazendo com que os trabalhadores com qualificação
se submetam a subempregos, ocupando vagas nas quais sua formação não fariam tanta
diferença. Sobre isso, Pochmann (2004) escreve:
[...] à medida em que se eleva a escolaridade da população de baixa renda,
acompanha, em indicadores mais expressivos, o desemprego. O mercado de
trabalho diante da enorme escassez de empregos e do elevado excedente de
mão de obra no país termina observando a manifestação mais evidente da
discriminação, sobretudo quando se trata da população de menor renda e
mais escolaridade. (POCHMANN, 2004, p. 388)
Em relação a isso Pochmann (2004), como vimos no capitulo II, afirma que “a
elevação dos níveis de escolaridade – num quadro de estagnação econômica, baixo
investimento em tecnologia e precarização do mercado de trabalho - acaba se mostrando
insuficiente para potencializar a geração de trabalho.” (POCHMANN, 2004, p. 387)
Portanto, é necessário mais do que simplesmente qualificar para que exista uma
mobilidade social ascendente. A estagnação econômica, o reduzido investimento em
tecnologia e a precarização do trabalho fazem com que o desenvolvimento econômico
fique prejudicado. Observamos que somente as políticas públicas de qualificação não
são o suficiente para sanar o problema do desemprego entre jovens.
21
Tanto no âmbito federal quanto no âmbito estadual – gestão Lula e Dilma (2003-2016) gestão Roberto
Requião (2003 a 2010).
64
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como proposta fazer uma análise da trajetória dos egressos
após o término do curso Técnico em Meio Ambiente e Técnico em Energias
Renováveis/Alternativas com egressos que tiveram acesso a essa formação profissional
oferecida pela Política Pública do Ensino Médio Integrado no CEEP Newton Freire
Maia. Interessava-nos saber como foi o ingresso destes alunos no mercado de trabalho e
como a formação que receberam contribuiu para além da qualificação voltada à postos
de trabalho específicos.
Evidenciamos que o CEEP NFM tem uma proposta que atende ao ideal de
educação que se busca para transformar a sociedade, ou seja, uma educação geral, para
além da qualificação técnica, dessa forma os egressos, a partir de uma educação
propedêutica, ter a possibilidade de dar continuidade aos seus estudos em cursos
superiores, isso mostra que de algum modo a formação que tiveram foi exitosa.
Outro objetivo da pesquisa era identificar se os egressos procuraram dar
continuidade em seus estudos, seja em cursos da mesma área, ou em cursos de outra
área de conhecimento. Vimos que, a maioria deles deu continuidade aos seus estudos
em cursos de graduação, boa parte deles na mesma área de conhecimento. O que
demonstra que o CEEP contribui significativamente para escolha de suas carreias
profissionais para além da qualificação profissional voltada para o mercado de trabalho.
Percebemos a partir dessa investigação, que para que o jovem consiga se inserir
no mercado de trabalho precisamos de mais do que políticas públicas de qualificação
profissional. É necessário mais do que simplesmente qualificar para que exista uma
mobilidade social ascendente. A estagnação econômica, o reduzido investimento em
tecnologia e a precarização e flexibilização das relações de trabalho fazem com que o
desenvolvimento econômico fique prejudicado e o jovem nesse contexto é o mais
lesado.
Um dos pontos de nossa proposta considerava também conhecer a avaliação que
o egresso fazia em relação a sua formação quais as contribuições profissionais e
pessoais que eles consideravam importantes. A pesquisa revelou que a maior parte dos
egressos, mesmo sem estar inseridos no mercado de trabalho - a partir da qualificação
que receberam – fazem uma avaliação positiva da experiência que tiveram, ou seja, a
educação que receberam lá contribui de forma importante para a vida deles, pois a partir
dali outras possibilidades foram vislumbradas.
65
É importante pontuar que esta pesquisa teve limitações, visto que, não foi
possível o acesso a alguns dados como: o número de Técnicos em Meio Ambiente e de
Técnicos em Energias Renováveis/Alternativas contratados atualmente e quantos
profissionais com curso superior ocupam as vagas de técnicos no mercado. Além disso,
analisamos apenas uma parte dos egressos que se formaram no CEEP NFM. Por conta
disso, poucas generalizações puderam ser feitas. O intuito aqui era analisar
pontualmente o que os egressos dos cursos em questão formados em 2013 e de que
forma o curso contribuiu para a vida deles.
Portanto, não conhecemos ao certo a totalidade da realidade destes
profissionais, mas levantamos questões importantes para eventuais futuras pesquisas. As
constatações que conseguimos fazer foram baseadas nas informações que tivemos
acesso em campo a partir das entrevistas, da aplicação dos questionários e das
informações de vagas de emprego na área, sendo assim, são verificações parciais.
As constatações que fizemos em campo também tem relação com o fato de o
mercado de trabalho demonstrar atualmente escassez de empregos e elevado índice de
excedente de força de trabalho fazendo com que os trabalhadores com qualificação se
submetam a subempregos, ocupando vagas nas quais sua formação não fariam tanta
diferença.
Percebemos que, como discutimos no capítulo II, a qualificação é de fato
construída socialmente, visto que entendemos que algumas profissões são mais
valorizadas em certos momentos. A valorização da qualificação profissional depende
de diversas questões como: o perfil de gestão e aos tipos de discursos que a sociedade
adota, que ora tendem a valorizar determinadas demandas, ora tendem a desvalorizá-las.
66
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70
APÊNDICE
ROTEIRO ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
Egressos CEEP Newton Freire Maia (2013)
Tendo como ponto de partida as informações que já tenho do questionário
aplicado anteriormente, perguntarei apenas o que não ficou esclarecido totalmente.
1. Por que você escolheu estudar no CEEP Newton Freire Maia?
2. Em relação ao curso, conte como foi sua experiência: pontos positivos e
o que poderia melhorar.
3. Quando o curso terminou você procurou emprego? Onde?
4. Teve dificuldades para ingressar no mercado de trabalho? Se sim, quais
dificuldades enfrentou? Por que você acha que isso acontece? (no caso de dificuldade,
quero identificar se essa dificuldade está relacionada a pouca oferta de vagas na área
ambiental ou outro motivo).
5. Você continua estudando? Se sim, qual o curso e a instituição?
6. Você acredita que ter estudado no CEEP influenciou na sua escolha de
curso de graduação (para os que estão na graduação).
7. O curso técnico ajudou a ingressar na graduação?
8. Você acha que o curso contribuiu de alguma forma para sua vida
profissional/pessoal?
9. Está trabalhando no momento? Onde? Qual função desempenha?
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QUESTIONÁRIO APLICADO PELO GOOGLE FORMULÁRIOS.
1. Nome (opcional)
2. Idade
3. Sexo
( ) Masculino ( ) Feminino
4. Município de residência (na época do curso)
5. Qual meio de transporte utilizado para ir à escola
( ) Carro ( ) Van ( ) Ônibus ( ) Bicicleta ( ) Outros
6. Renda média familiar (baseado no salário mínimo vigente, 2017, R$ 937)
( ) Menos de um salário ( ) De 1 a 2 salários
( ) De 3 a 4 salários ( ) Mais de 4 salários
7. Por que você escolheu estudar no CEEP Newton Freire?
8. Conte sobre sua experiência no curso. Quais os pontos positivos?
9. Enfrentou alguma dificuldade? Se sim, qual/quais?
10. Em qual curso você se formou?
( ) Técnico em Meio Ambiente ( ) Técnico em Energias Alternativas
11. Além das atividades das aulas, você fazia parte de algum projeto no CEEP
Newton Freire Maia? Se sim, qual?
12. Em uma escala de 0 a 10 com que nota você avalia o curso que fez no CEEP
Newton Freire Maia?
( ) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5 ( ) 6 ( ) 7 ( ) 8 ( ) 9 ( ) 10
13. Como o curso contribuiu para sua vida profissional e/ou pessoal?
15. Você continua estudando?
( ) Não ( ) Sim.
16. Se respondeu SIM a pergunta anterior. Que curso está fazendo e onde?
17. Depois de formado (a) você procurou emprego?
( )Não ( ) Sim.
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18. Se respondeu SIM a pergunta anterior. Onde procurou emprego?
19. Está trabalhando no momento?
( )Não ( )Sim.
20. Se respondeu SIM a pergunta anterior. Onde trabalha? Qual sua função?
21. Se está trabalhando, qual sua remuneração mensal (baseado no salário
mínimo vigente, 2017, R$ 937).
( ) Menos de um salário ( ) De 1 a 2 salários ( ) De 4 a 5 salários
( ) De 3 a 4 salários ( ) Mais de 5 salários
22. Você enfrentou dificuldades depois do término do curso, em relação a
mercado de trabalho?
( ) Sim ( ) Não
23. Se respondeu SIM a pergunta anterior. Quais dificuldades enfrentou?
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ANEXOS
DADOS GERAIS DOS CURSOS
Habilitação Profissional: Técnico em Sistemas de Energia Renovável/Alternativas
Eixo Tecnológico: Controle e Processos Industriais
Forma: Integrada
Carga Horária Total: 4000 horas/aula ou 3200 horas
Regime de Funcionamento: de 2ª a 6ª feira, no período da manhã.
Regime de Matrícula: Anual
Número de Vagas: 30 por turma. (Conforme m² - mínimo 30 ou 40)
Período de Integralização do Curso: mínimo 04 (quatro) anos
Requisitos de Acesso: Conclusão do Ensino Fundamental
Modalidade de Oferta: Presencial
Habilitação Profissional: Técnico em Meio Ambiente
Eixo Tecnológico: Ambiente, Saúde e Segurança
Forma: Integrado
Carga Horária Total: 4000 horas/aula - 3333 horas, mais 100 horas de Estágio
Profissional Supervisionado
Regime de Funcionamento: de 2ª a 6ª feira, no(s) período(s): (manhã, tarde e/ou
noite).
Regime de Matrícula: Anual
Número de vagas:____ por turma. (Conforme m² - mínimo 30 ou 40)
Período de Integralização do Curso: mínimo 04 (quatro) anos
Requisitos de acesso: Conclusão do Ensino Fundamental
Modalidade de oferta: Presencial
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MAPA DE ZONEAMENTO APA DO IRAÍ
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