UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROANA BERNADETE LIMA FRAGOSO Rio de Janeiro, 13 de dezembro de...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
MUSEU NACIONAL
ANA BERNADETE LIMA FRAGOSO
ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS E PATOLÓGICAS EM
ESQUELETOS DE BOTO-CINZA Sotalia fluviatilis (GERVAIS, 1853)
DO LITORAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
Dissertação apresentada à Coordenação de Pós-Graduação em Zoologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências Biológicas - Zoologia.
Rio de Janeiro - 2001 -
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
MUSEU NACIONAL
LABORATÔRIO DE MASTOZOOLOGIA
Orientador:
LUIZ FLAMARION B. DE OLIVEIRA
Museu Nacional/ UFRJ
Co-orientadora:
SHEILA M. FERRAZ MENDONÇA DE SOUZA
Escola Nacional de Saúde Pública/ FIOCRUZ Museu Nacional/ UFRJ
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
MUSEU NACIONAL
ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS E PATOLÓGICAS EM ESQUELETOS DE
BOTO-CINZA Sotalia fluviatilis (GERVAIS, 1853) DO LITORAL DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO.
ANA BERNADETE LIMA FRAGOSO
Rio de Janeiro, 13 de dezembro de 2001.
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Dissertação apresentada à Coordenação de
Pós-Graduação em Zoologia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do grau de
Mestre em Ciências Biológicas - Zoologia.
Prof. Lúiz Flamarion B. de Oliveira ( ·dente da Banca)- Museu Nacional/ UFRJ
Prof. Adilson Dias Salles - Instituto de Ciências Biomédicas/ UFRJ
fv:� IP.� Prof8. Lílian Paglarelli Berqvist- Instituto de Geociências/ UFRJ cr�,,.___� Prof. Joã:Alvesde Oliveira (Suplente)- Museu Nacional/ UFRJ
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FICHA CATALOGRÁFICA
FRAGOSO, ANA BERNADETE L. Alterações Morfológicas e Patológicas em Esqueletos de Boto-cinza Sotalia fluviatilis (Gervais, 1853) do Litoral do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. UFRJ, Museu Nacional, 2001. 136 p. Tese: Mestre em Ciências Biológicas (Zoologia) 1. Cetacea 2. Alteração óssea 3. Sola/ia fluviatilis 4. Rio de Janeiro 1. Universidade Federal do Rio de Janeiro - Museu Nacional
li. Teses
IV
AGRADECIMENTOS
- Ao Prof. Luiz Flamarion de Oliveira pela oportunidade, confiança e orientação;
- À Prof8. Sheila pelo auxílio na determinação das anomalias, sugestões, críticas e
co-orientação;
- Ao Museu Nacional, em especial à comissão da Pós-Graduação e à equipe do
laboratório de mastozoologia
- À CAPES;
- Ao Instituto de Geociências e Departamento de Oceanografia da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, em especial aos professores lzabel Gurgel e Marcos
Bastos;
- Ao Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, em especial ao Prof. Mário
de Vivo e à equipe do laboratório de mastozoologia;
- À Fundação Brasileira para Conservação da Natureza;
- Ao Laboratório de Radiologia e Faculdade de Veterinária da Universidade Federal
Fluminense, em especial aos professores Maria Antonio Romão, Francisco Carlos
de Lima e Sávio Freire Bruno;
- Ao Setor de Radiologia do Hospital da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em
especial à Prof8. Elise Tonomura;
- Aos amigos e companheiros de trabalho José Lailson Brito Jr. e Alexandre
Azevedo pela ajuda na coleta dos dados, incentivo, sugestões ao trabalho;
- À Renata Ramos e Ana Paula Di Beneditto, pelo acesso à coleção osteológica de
cetáceos do norte fluminense, estadia e hospitalidade durante análise da coleção.
V
- À Valéria Silva Bráz e Adilson Dias Saltes pelo auxílio no cálculo das áreas das
epífises;
À Haydée Cunha; Marcos Soares; Orjana Carvalho e Katia Pinheiro pela ajuda na
coleta dos dados e companheirismo;
- A Salvatore Siciliano pelas sugestões e cessão de bibliografia;
- Ao Biol. Carlos Magno Abreu pelo auxílio nas análises estatísticas;
- À Paulino Souza pela estadia (e paciência) durante análise da coleção da LISP;
- Ao Prof. Becker pela tradução dos textos em alemão;
Aos meus familiares, em especial aos meus pais, por todo apoio e amor
dispensados;
E a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para este estudo.
Vl
RESUMO
Sotalia f/uviatilis (Gervais, 1853) (Mammalia, Cetacea, Delphinidae), o boto
cinza, é o delfinídeo mais freqüente na costa do Estado do Rio de Janeiro. Contudo,
informações osteológicas sobre esta espécie são bastante restritas. Com o intuito de
ampliar o conhecimento referente às alterações em esqueletos da espécie foi
realizado um estudo em 75 exemplares. A amostra constou de esqueletos
depositados em acervos de instituições e oriundos de coletas a partir de encalhes e
capturas acidentais na costa do Rio de Janeiro. Objetivou-se identificar os tipos de
alterações e relacionar a sua freqüência com o sexo, idade, tamanho, maturidade
física, ocorrência por áreas da coluna vertebral e região de procedência dos
indivíduos. As peças ósseas foram medidas e examinadas quanto à ocorrência,
localização e grau de desenvolvimento de alterações morfológicas e patológicas. As
alterações foram categorizadas em traumáticas, degenerativas, infecciosas e de desenvolvimento. A maioria dos espécimens (77,3%) apresentou algum tipo de
alteração no esqueleto, fosse esta de origem traumática (n=47), degenerativa (n=25),
infecciosa (n=24) ou de desenvolvimento (n=22). Um pequeno número (n=4)
apresentou lesões abrangendo todas as categorias. O número de peças afetadas por
lesões variou de uma a 25, sendo que a maioria (50,7%) possuía de seis a dez ossos
com alterações. As regiões mais afetadas da coluna vertebral foram a cervical e a
torácica. De maneira geral, o número de alterações ósseas e de peças afetadas
tendeu a aumentar com o avanço da idade dos exemplares, relacionando-se com o
tamanho dos mesmos. O número de ossos afetados por lesões não diferiu entre os
sexos. Indivíduos oriundos da área central do litoral fluminense apresentaram uma
maior incidência de alterações e de peças afetadas. O estudo das alterações ósseas
se mostra uma ferramenta importante na obtenção de dados patológicos em
exemplares em que a necropsia não é possível. As freqüências de ocorrência de
alterações morfológicas e patológicas na espécie podem, potencialmente, estar
associadas tanto às características do indivíduo quanto às particularidades dos ossos
do esqueleto.
Vll
ABSTRACT
Sola/ia fluviatílis (Gervais, 1853) (Mammalia, Cetacea, Delphinidae), the tucuxi dolphin, is the most common delphinid on Rio de Janeiro coast. However, osteological information about this species are very limited. To increase the knowledge about bony changes in skeletals of this species, a study was realized on 75 specimens. The
material consisted of skeletals remains stored in institutional collections that resulted from strandings and incidental caught on fisheries along the coast of Rio de Janeiro. This research had the objective of identify the bony changes and relate its frequency considering sex, age, size, physical maturity, presence by vertebral column region and
individual localities. The bones were measured and examined to identify the presence, localization and development degrees of morphological and pathological changes. The lesions was distinguished in traumatic, degenerative, infectious and developmental categories. Most of specimens (77,3%) had some bone lesion sort of traumatic (n=47), degenerative (n=25), infectious (n=24) or developmental (n=22) origin. A reduced number of specimens (n=4) had all lesion categories. The number of affected bones reach one to twenty-five, although the most of specimens (50, 7%) had six to ten bones with lesions. The most affected regions of vertebral column was the cervical and
thoracic. ln general, the number of lesions and the affected bones had tendency to increase with aging of specimens and was related with the individual size too. The number of affected banes was similar between sex. Individuais from central area of Rio de Janeiro state had more incidence of lesions and bone affected by changes. The study of bony changes is a important tool for access pathological information on
specimens that the necropsy is not possible. The frequency of occurrence of
morphological and pathological changes in this species could be associated to particularities from region, the form of natural resources use and other interference
occasioned by human activity.
VIII
ÍNDICE Página
1 -Introdução ................................................................................................................ 1
1.1 -O boto-cinza (Sola/ia fluvialilis) ....................................................................... 1
1.2 -Alterações ósseas em cetáceos ..................................................................... .4
1.3 -Estudos sobre alterações ósseas em Sola/ia fluviali/is ................................... 5
1.4 -Objetivos ......................................................................................................... 6
2 -Material e Métodos .................................................................................................. 7
2. 1 -Material osteológico analisado ........................................................................ 7
2.2-Informações referentes aos espécimens ........................................................ 8
2.3 -Análises morfológicas e patológicas . ............................................................ 11
2.4 -Análises osteométricas ................................................................................. 16
2.5 -Análises estatísticas e de ordenação ............................................................ 17
3 -Resultados ............................................................................................................. 22
3.1 -Análise Descritiva ......................................................................................... 22
3.1.1 -Informações referentes aos espécimens ............................................ 22
3.1.2 -Análises osteométricas ........................................................................ 23
3.1.3 -Alterações ósseas ............................................................................... 24
3.1.4 -Número de categorias de alterações ósseas (NAL T) .......................... 25
3.1.5 -Número de peças afetadas por alterações ósseas (NPAF) ................. 25
3.1.6 -Alterações ósseas por região da coluna vertebral. .............................. 26
3.1. 7 - Número de categorias de alterações nas vértebras cervicais ............. 27
IX
3.1.8 -Alterações ("dobras") nas epífises vertebrais ...................................... 28
3.1.9 -Alterações traumáticas ......................................................................... 29
3.1.1 O -Alterações infecciosas ................................................................ ....... 34
3.1.11 -Alterações degenerativas ......................................................... ......... 38
3.1.12 -Anomalias da morfogênese ou do desenvolvimento ....................... .41
3.1.13 -Descrição de espécimen com severas anomalias ............................. 48
3.2 -Análise Estatística ........................................................................................ 52
3.2.1 -Número de peças afetadas por alterações ósseas (NPAF) ................. 52
3.2.2 -Número de categorias de alterações ósseas (NAL T) .......................... 53
3.2.3 -Alterações ósseas ................................................................................ 54
3.2.4 -Número total de "dobras" em.epífises vertebrais ................................. 55
3.2.5 -Associações entre categorias de alterações ósseas ........................... 57
3.2.6 -Alterações ósseas por região da coluna vertebral. .............................. 57
3.2. 7 -Número de categorias de alterações nas vértebras cervicais ............. 62
3.2.8 -Número de "dobras" por epífise vertebral. ........................................... 68
4 -Discussão .............................................................................................................. 75
4.1 -Alterações ósseas ........................................................................................ 75
4.2 -Ocorrência de alterações ósseas e características dos espécimens ............ 76
4.3 -Associações entre categorias de alterações ósseas ..................................... 79
4.4 -Alterações ósseas por região da coluna vertebral. ....................................... 80
4.5 -Número de categorias de alterações em vértebras cervicais ........................ 82
X
4.6 - Alterações ("dobras") em epífises vertebrais ................................................. 83
4. 7 -Alterações traumáticas .................................................................................. 85
4.8 - Alterações infecciosas ................................................................................... 92
4. 9 -Alterações degenerativas ........................................................................... 104
4.1 O -Anomalias da morfogênese ou do desenvolvimento ................................ 107
5 -·conclusões .......................................................................................................... 116
6 -Referências Bibliográficas ................................................................................... 118
XI
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Exemplares de boto-cinza (Sotalia fluviatilis) na Baía de Guanabara, RJ .................................................................................................................................. 2
Figura 2 - Estado do Rio de Janeiro e limites das áreas de procedência dos espécimens analisados de S. f/uviatilis ...................................................................... 1 O
Figura 3 - Esquema do esqueleto de boto-cinza (Sotalia fluviatilis) e medidas realizadas no crânio, bloco cervical e vértebras: a) esqueleto axial (vista lateral), hióide, escápula e vestígio de ossos pélvicos; b) vista dorsal do crânio; c) vista posterior do crânio; d) vista ventral do bloco cervical; e) vista anterior de vértebra torácica; f) vista lateral de vértebra torácica; g) ossos da nadadeira peitoral esquerda ..................................... .......................................... ............................... ....... 12
Figura 4 - Ocorrência das categorias de alterações ósseas de natureza traumática (TRA), de desenvolvimento (DES), infecciosa (INF) e degenerativa (DEG) em esqueletos de S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro ............................................... 24
Figura 5 - Número de categorias de alterações ósseas (NALT), abrangendo as dobras registradas nas epífises vertebrais e as lesões de natureza traumática, de desenvolvimento, infecciosas e degenerativas, encontradas em esqueletos de S.
fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro ........................................................................... 25
Figura 6 - Freqüência de ocorrência de alterações ósseas nas reg1oes cervical, torácica, lombar e caudal da coluna vertebral de exemplares de S. f/uviatilis do litoral do Rio de Janeiro ........................................................................................................ 26
Figura 7 - Freqüência de ocorrência de alterações ósseas nas vértebras cervicais (C1-C7) de exemplares de S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro ................. .......... 27
xii
Figura 8 - Alterações nas epífises ("dobras"), possivelmente associadas ao esforço
vertebral em S. fluviatilis: a) Vista anterior da 7ª. vértebra cervical do exemplar
MN50104; b) Vista anterior da 1ª. vértebra torácica (UERJ-MQ 71) . . . .. . . . .. . . . . .. . . ..... . . . 28
Figura 9 - Fraturas em costelas e vértebra cervical de S. fluviatilis do litoral do Rio de
Janeiro: a) radiografia de costelas do exemplar UERJ-MQ 71; b) vista anterior da 3ª.
cervical do exemplar UERJ-MQ 23 .. . . . . . . . .. ... . . . . . . . . . .. . ....... . . . . .. .. . .. ... . .... . . . . . . . . . ......... . . .. . . . 31
Figura 1 o - Alterações ósseas em nadadeira peitoral e rostro de S. fluviatilis
provocadas por artefatos de pesca. a) vista ventral do úmero, rádio e ulna esquerdos
do exemplar UERJ-MQ 27, mostrando o fio de nylon e as lesões ósseas; b) maxilas e
mandíbulas do exemplar MZUSP 25611, mostrando as alterações e a trajetória dos
filamentos . . .. . . . ... ...... . ..... . ... . . . .. . . . . . . .... . ... . . . ....... . .. . . .. .. . . . . . . . . .. .. .. . ... . . . . .. . .. . . . . . . . . . ..... . . ... ... . . . 33
Figura 11 - Alterações de origem infecciosa em crânios de S. fluviatilis do Rio de
Janeiro. a) porção proximal da mandíbula direita do exemplar UERJ-MQ 71,
mostrando evidências de abcessos nos alvéolos dentários; b) Vista ventral do crânio
do exemplar MZUSP 25618 com sinais reacionais do tecido ósseo provocado pela
presença de parasitas na região dos pterigóides . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . .. . . . . . . .. . . . . .. . . . . . . ........ 35
Figura 12 - Alterações de origem infecciosa em vértebras de S. f/uviatilis do Rio de
Janeiro: a) vista ventral das vértebras lombares (L6 - L9) do exemplar MZUSP 25625
com lesões; b) vista lateral das vértebras (Ca 5 - 7) e arcos hemais fusionados do
exemplar BB 13 . .. . . . ... ........ .. . . .. . . .... . . .. . . . . . .. . . . .. . ... . ... . . . ... . .. . . . . . . . . .. .. . .. ... .. . . ..... .. . ... . . . ... . . .. . . 36
Figura 13 - Alterações de origem infecciosa em escápulas de S. fluviatilis do Rio de
Janeiro. a) escápula esquerda do exemplar UERJ-MQ 127 com lesões no bordo
posterior; b) fossa glenóide da escápula esquerda do exemplar UERJ-MQ02,
mostrando sinais de artrite infecciosa, comparada a fossa glenóide direita com padrão
normal. . . . ..... .. . . .. . . . . . . . . . . . .... . . .. . . .. . . . . . .. . . . . .. . . .. . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ....... . .. . . . . . .. . ... . .. . . .. .. . ... . . . . ... . 37
Xlll
,, Figura 1 4 - Artrose em S. f/uviatilis do Rio de Janeiro. a) Vista anterior de vértebra
cervical (C3) de exemplar (UERJ-MQ 7 1 ) com sinais de zigartrose; b) Vista anterior de
vértebra torácica (T7) de S. f/uviatilis (UERJ-MQ 1 1 1 ) com sinais de
discartrose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Figura 1 5 - Discartrose associada à espondiloartrite em exemplar de S. fluviatilis (UERJ-MQ 33) do Rio de Janeiro. a) Vista posterior da 8ª . vértebra lombar com sinais
de discartrose; b) Vista ventral de vértebras lombares (L9-L 1 2) com espondi loartrite,
mostrando as pontes ósseas formadas por sindesmófitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
Figura 1 6 - Anomal ias de morfogênese em crânios de S. fluviatilis do Rio de Janeiro.
a) Vista lateral do supraoccipital do exemplar MZUSP 25626, mostrando elevação; b)
Côndilos occipitais com alterações de forma e tamanho do exemplar
MN501 1 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Figura 1 7 - Anomal ias de morfogênese em vértebras torácicas de exemplar de S.
fluviatilis do Rio de Janeiro (UERJ-MQ 33). a) Vista lateral de vértebras torácicas (T5-
T7) , mostrando falha de segmentação em neuroapófises e hipoplasia hemi
metamérica na 6ª . torácica; b) Vista anterior da 8ª . vértebra torácica com aplasia da
diapófise d ireita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Figura 1 8 - Anomalias de desenvolvimento em costelas e esterno de S. fluviatilis do
Rio de Janeiro. a) 2°. par de costelas do exemplar UERJ-MQ 1 22 com alargamento
nas extremidades distais; b) Vista dorsal do esterno do exemplar UERJ-MQ 33 com
alterações em esternebras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45
Figura 1 9 - Curvatura devido à hipoplasia em esqueletos de S. fluviatilis do Rio de
Janeiro. a) Vista dorsal do crânio (UERJ-MQ 7 1 ) com maxi las encurvadas para a
direita; b) Vista ventral da 5ª . e 6ª . vértebras torácicas do exemplar BB 37, mostrando
os corpos encurvados para a esquerda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .46
XIV
n Figura 20 - Escoliose em exemplares de S. fluviatilis oriundos da Baía de Guanabara, " RJ. a) Vista dorsal de porção da coluna vertebral do exemplar MN50112,
compreendida entre o atlas e a 7ª. vértebra torácica, mostrando sinais de escoliose; b)
Vista ventral da meia vértebra extra numerária entre a 2ª. e 3ª. lombares do exemplar
r
UERJ-MQ 33 ... . . . . ... . .. . . . . . . .. . . . . . . . . .... .. . . . . . . . . . . . . . . . .... . . ... . . . . . . . . . . .. . .... .... . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Figura 21 - Vista ventral de porção da coluna vertebral (T3 - L5) de S. fluviatilis
(UERJ-MQ 33) oriundo da Baía de Guanabara (RJ), mostrando evidências de
escoliose . . . . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . ... . .. . . . . .. . . .. .. . . . . . . . . . . . . . . .. . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . .............. . .. 49
Figura 22 - Alterações ósseas em exemplar de S. fluviatilis (UERJ-MQ 33) oriundo da
Baía de Guanabara, RJ. a) Vista lateral da 9ª. vértebra torácica com fratura na base
da neuroapófise; b) Vista anterior de costelas esquerdas com alterações de
desenvolvimento (2ª. costela, 5ª e 6ª costelas) . . . . . . .. . . . . ... . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Figura 23 - Distribuição do número de peças afetadas (NPAF) por alterações ósseas
comparado às variáveis sexo (a), maturidade física (b}, área de procedência (c},
classes de idade (d) e tamanho (e) dos botos S. fluviatilis do litoral do Rio de
Janeiro . . . . .. . . . . ..... . . . . . .... . . .. . .. . . .. . . .. . . .. .. ..... ... . .. ... . ... . .... .. . . . . . .. . . .. . ..... . . . . . . .. . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... 52
Figura 24 - Distribuição do número de categorias de alterações ósseas (NAL T)
comparado às variáveis sexo (a), maturidade física (b), área de procedência (c),
classes de idade (d) e tamanho (e) dos botos S. fluviatilis do litoral do Rio de
Janeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . .. . .... . . . . . .... . ....... . . . . . . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . ... . .. . . . . . . . . . . . .. 53
Figura 25 - Freqüências de ocorrência de alterações ósseas de natureza traumática
(TRA), de desenvolvimento (DES), infecciosa (INF) e degenerativa (DEG) em relação
ao sexo e maturidade física dos espécimens de S. fluviatilis do litoral do Rio de
Janeiro . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... . . . ..... .... . .. . . . ....... .... . . . . . . . . .. . . . . . . .. . .. . . . . . .. . ... . .. . .. . . . . . . . .. . . . .. 54
XV
''1
Figura 26 - Freqüências de ocorrência das categorias de alterações ósseas
traumáticas (TRA), de desenvolvimento (DES), infecciosas (INF) e degenerativas
(DEG) em relação à área de procedência dos espécimens de S. fluviatilis do litoral do
Rio de Janeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Figura 27 - Distribuição do número total de "dobras" nas epífises vertebrais do bloco
cervical e 1 ª . vértebra torácica (NTDR) comparado às variáveis sexo (a) , maturidade
física (b), área de procedência (c), classes de idade (d) e tamanho (e) dos botos S.
fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . : . . . . . . 56
Figura 28 - Análise de similaridade considerando as distâncias Euclidianas entre o
número de categorias de alterações nas regiões da coluna vertebral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Figura 29 - Análise de Componentes Principais considerando o número de categorias
de alterações nas regiões da coluna vertebral. a) Exemplares de S. fluviatilis do litoral
do Rio de Janeiro; b) Relação entre as variáveis e os componentes principais
(eixos) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1
Figura 30 - Distribuição dos escores dos indivíduos no 1 ° . eixo do PCA baseado no
número de categorias de alterações nas regiões da coluna vertebral comparados ao
sexo (a) , maturidade física (b) , área de procedência (c), classes de idade (d) e
tamanho (e) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Figura 31 - Similaridade considerando as distâncias Euclidianas entre o número de
categorias de alterações nas vértebras cervicais de exemplares de S. fluviatilis do
litoral do Rio de Janeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Figura 32 - Análise de Componentes Principais considerando o número de categorias
de alterações em vértebras cervicais (NAC 1 a NAC7): a) exemplares de S. fluviatilis
do litoral do Rio de Janeiro; b) elação das variáveis com os fatores (eixos) .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
XVI
Figura 33 - Distribuição dos escores dos indivíduos no 1 º. eixo do PCA baseado no
número de categorias de alterações em vértebras cervicais comparados ao sexo (a), maturidade física (b), área de procedência (c), classes de idade (d) e tamanho (e) de
exemplares de S. fluviatílis do l itoral do Rio de Janeiro .... . . . . ... . . . . . ......... ... ...... . .. .. . ...... 66
Figura 34 - Análise de similaridade considerando as distâncias Euclidianas entre o
número de dobras nas epífises das vértebras cervicais (ND2P a ND7P) e 1 ª. torácica
(ND8A e ND8P) de exemplares de S. fluviatilis do litoral do Rio de
Janeiro . . . . . . .. . .. . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. .. .. .... . . . . . .. . .. . . .. . .. . . . . .. . .. . . . . . . . .. . . . . . . . .. . . . . . . . .. . . . . . . . . .. 68
Figura 35 - Análise de Componentes Principais considerando o número de dobras em
epífises das vértebras cervicais (ND2P a ND7P) e a 1 ª. torácica (ND8A e ND8P): a)
Análise dos exemplares de S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro; b) Relação das
variáveis com os fatores 1 e 2 (eixos) . . . .... . ... . . . .. . .. . .. .. . . .... . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . .. . ..... . . ... ... . . . . 70
Figura 36 - Anál ise de Componentes Principais considerando o número de dobras em
epífises das vértebras cervicais (ND2P a ND7P) e a 1ª. torácica (ND8A e ND8P): a)
Análise dos exemplares de S. fluviatilis do l itoral do Rio de Janeiro; b) Relação das
variáveis com os fatores 2 e 3 (eixos) . . . . . . . . . . ... . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . .. .... . . . . . .. . . . . . . . . .. . .. . . . . . . . . . . . . . . 72
Figura 37 - Distribuição dos escores dos indivíduos no 1 º. eixo do PCA baseado no número de dobras nas epífises das vértebras cervicais e 1ª. torácica comparados ao sexo (a), maturidade física (b), área de procedência (c), classes de idade (d) e tamanho (e) de exemplares de S. fluviatilis do l itoral do Rio de
Janeiro . . . . . . .. ... . . . . .. . . . ... . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ...... . .... .... .. . . .. . . . . . . . . . .. ... . . . . . . ... ... .. . . .. . . .. ... . .. . . .. . ... . . .. 73
XVI I
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Variáveis, referentes aos espécimens de S. fluviatilís do litoral do Rio de
Janeiro, utilizadas na estruturação da base de dados para as análises
estatísticas . . ... . . . . . . .... . ... . . . . . . . .... . .. .. . . . . . ... .. . . . . .. . ..... ... . . . . . . ..... .. . .. . . . . . . . .. . . . . . . . . . .. . ..... . . . . . . . . . .. .. . 21
Tabela 2 - Informações quanto à área de procedência, sexo, maturidade física,
classes de tamanho e idade dos espécimens de S. fluviatilis do litoral do Rio de
Janeiro analisados neste estudo . . ........ ... . ... . . . . . . ... .. . . ... . . . . . . . .. . . . . . . . . .. ..... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .... . . 22
Tabela 3 - Dados relativos às medidas de comprimento, índice de volume e área das
epífises das vértebras cervicais e 1 ª. vértebra torácica de S. fluviatilis do litoral do Rio
de Janeiro . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... . . . . . .. .. . . .. . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . ... .. . . . . .. . .. .. .... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Tabela 4 - Registros de alterações ósseas em 75 espécimens de S. fluviatilis do
litoral do Estado do Rio de Janeiro . .. . .. . . . . .. . .. . ... . ....... . . ... . . ... . ....... ....... .. ...... .. .... .. . .. . . . . .. . . 24
Tabela 5 - Dados referentes ao número de "dobras" registradas nas epífises
anteriores e posteriores das vértebras cervicais e da 1ª. torácica (C2 a T1) de S.
fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro .. . . ... . .. ....... . . . . ............... . . . . ....... . .. .. . . . . . . . . . . .. . .. .. .... . . . . 29
Tabela 6 - Freqüências de alterações traumáticas registrados em distintas regiões do
esqueleto de S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro ... . ... . . . . .. ... .. . . . . . . . .. . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . 30
Tabela 7 - Freqüências de alterações de natureza infecciosa registrados em distintas regiões do esqueleto de S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro . . . . ....... . . .. . . . . . . ........ .. 34
Tabela 8 - Freqüências de alterações de natureza degenerativa registrados em
distintas regiões do esqueleto de S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro . ..... . . . . .. . . . . . 38
XV111
Tabela 9 - Freqüências de Ocorrência de ossos afetados por anomalias da
morfogênese e respectivos campos de desenvolvimento, registrados em esqueletos de S. fluviatilis do Rio de Janeiro ... . . .. . ..... . ... ...... .... . ... ...... ... . ..... .. . ... . ....... . . . . . .. . . . ... ... . .. .42
Tabela 1 O -Valores de Associação entre os t ipos de alterações ósseas encontradas em S. f/uviatilis do l itoral do Rio de Janeiro .... ... . . . . .. .. . ... . ... . . ... . .. ... ........... . ..... .... . . . .... . . 57
Tabela 11 -Cargas dos Fatores considerando o número de categorias de alterações nas regiões cervical (NACE), torácica (NATO) , lombar (NALO) e caudal (NACA) . .. . . 59
Tabela 12 - Cargas dos Fatores considerando o número de categorias de alterações em vértebras cervicais (NAC1 a NAC?) . .............. .... ....... .... . ....... ... ... . . .. ...... . ...... . . .. ... . . 65
Tabela 13 -Sumário da Regressão Múltipla (via backward) dos escores do 1°. eixo da PCA considerando o número de categorias de alterações em cervicais (NAC1 a NAC7) com a variável comprimento do bloco torácico (CBTO) ....... .. ..... ...... ...... . .. . ... . 67
Tabela 14 - Cargas dos Fatores considerando o número de dobras em ep ífises das vértebras cervicais (2P a 7P) e 1ª. torácica (8A e BP) ........ ... ......... . . . . .... ......... ........... 69
Tabela 15 - Sumário da Regressão Múltipla considerando o número de dobras da epíf ise com as variáveis posição da epíf ise (EPIF) , volume do corpo vertebral (VOL V) e comprimento do corpo vertebral (COMPV) . . . .................... . ........ . ..................... ..... . . . 74
XIX
1
1 - INTRODUÇÃO
Muitas informações sobre a biologia dos cetáceos são obtidas através de
estudos de carcaças de animais mortos (Geraci & Lounsbury, 1993). Análises
osteológicas são importantes ferramentas na ampliação deste conhecimento, por
fornecerem tanto dados referentes aos exemplares, tais como idade, maturidade física
e crescimento (Perrin, 1975; de Smet, 1977a), como informações resultantes de
interações com o ambiente, atividades humanas e relações inter ou intra-específicas
(p. ex. Slijper, 1936; de Smet, 1977a; Kompanje, 1994; Fernandez-Rodriguez et ai. ,
1999), que podem ser observadas através de lesões ósseas. Contudo, devido ao
reduzido número de esqueletos pós-craniais tombados em acervos, a maioria dos
estudos osteológicos são basicamente restritos a análises cranianas (Kompanje,
1999).
1 .1 - O Boto-Cinza ( Sotalia fluviatilis)
O boto-cinza (Fig. 1 ), Sotalia fluviatilis (Gervais, 1853) é um odontoceto
representante da família Delphinidae, com uma forma marinha e outra, menor, fluvial
(da Silva & Best, 1996). Diferenças entre ambos os ecótipos foram evidenciadas
através de variações no tamanho do corpo e em medidas cranianas (Borobia, 1989).
O ecótipo dulcícola, também conhecido como tucuxi, é encontrado nas bacias dos rios
Amazonas e Orinoco (da Silva, 1986; Borobia et ai. , 1991; da Silva & Best, 1994; da
Silva & Best, 1996). O ecótipo marinho da espécie distribui-se em águas costeiras
desde Honduras, na América Central (da Silva & Best, 1996), até a região de
2
Florianópolis, no sul do Brasil (Simões-Lopes, 1 987), ocupando, ao longo de sua
distribuição, áreas estuarinas, baías e enseadas (Borobia et ai. , 1 99 1 ; da Silva & Best,
1 996). A ocorrência da espécie no litoral fluminense foi registrada, no século XIX, por
van Bénéden (1 873), nas águas da Baía de Guanabara.
O comprimento total dos adultos de S. fluviatilis é de aproximadamente 1 80 cm
no ecótipo marinho (Ramos et ai. , 2000b), tendo sido registrado o maior espécimen,
com 2 10 cm, no litoral do Rio de Janeiro (Oliveira et ai. , 1 996). Ramos (1 997) estimou,
para os exemplares de S. fluviatilis do norte do Rio de Janeiro, o alcance da
maturidade física por volta dos seis anos e comprimento total em tomo de 1 83,3 cm.
Figura 1 - Exemplares de boto-cinza (Sotalia fluviatilis) na Baia da Guanabara, RJ.
3
O crânio de Sotalia pode ser distinguido do de outros golfinhos pelo
afastamento dos pterigóides, além da caixa craniana bem desenvolvida e o rostro
relativamente largo (Flower, 1884; Miranda-Ribeiro, 1936; Carvalho, 1963; da Silva &
Best, 1994). A mandíbula possui uma sínfise curta (Miranda-Ribeiro, 1936; Silva &
Best, 1994). Os dentes, cônicos e pontiagudos, variam de 26 à 36 em cada hemi-arco
(Borobia, 1989; Simões-Lopes & Ximenes, 1990; da Silva & Best, 1996). A coluna
vertebral, como em outros cetáceos, apresenta uma única curvatura de convexidade
dorsal e está correlacionada ao desaparecimento da cintura pélvica (de Smet, 1977b);
sendo composta por vértebras cervicais (C), torácicas (T), lombares (L) e caudais
(Ca). A fórmula vertebral é normalmente de C7, T12, L 12, Ca 22-25, para um total de
53 a 56 vértebras (da Silva & Best, 1996). As sete vértebras cervicais são altamente
comprimidas, estando o atlas e o áxis normalmente fusionados (da Silva & Best,
1986). As quatro ou cinco primeiras costelas verdadeiras são bi-articuladas, por
possuírem capítulo e tubérculo, e se ligam ao esterno através das costelas esternais,
que são ósseas (Carvalho, 1963).
O boto-cinza, devido a seu hábito costeiro, vem sofrendo vários tipos de
ameaças derivadas de atividades antrópicas tais como, captura em artefatos de
pesca, poluição, destruição do habitat e molestamento intencional (Brito et ai., 1994;
da Silva & Best, 1994; Lailson et ai. , 1999; Lodi & Capistrano, 1991; Oi Beneditto et
a/. , 1998). S. fluviatilis é uma das espécies de cetáceos mais capturadas em redes
artesanais de pesca no litoral brasileiro (Siciliano, 1994; Di Beneditto et ai. , 1998).
Provavelmente a costa fluminense, mais especificamente a Baía de Guanabara,
4
represente a área mais degradada de sua área de distribuição, nos dias atuais
(Lailson-Brito et ai. , 1999).
Informações quanto aos parâmetros biológicos de S. fluviatilis ainda são
escassas, sobretudo no que diz respeito às condições de saúde dos exemplares (da
Silva & Best, 1996). A categoria de ameaça da espécie é indeterminada, até o
momento, por insuficiência de dados que permitam uma avaliação ( IBAMA, 1997).
Planos de ação recomendam um incremento de estudos sobre parâmetros biológicos
da espécie (IBAMA, 1997).
1 .2 - Alterações Ósseas em Cetáceos
Alterações ósseas em esqueletos de cetáceos vêm sendo relatadas desde o
� século XIX e referem-se a fraturas e a doenças congênitas, infecciosas e
degenerativas (p. ex. Murie, 1865; Slijper, 1936; Kompanje, 1995b; Kompanje, 1999).
As lesões observadas têm sido relacionadas a envolvimentos com artefatos de pesca,
choques com embarcações, comportamento agressivo entre indivíduos, contaminação
ambiental, endocruzamento em populações pequenas, infecções bacterianas e
envelhecimento dos indivíduos, dentre outras causas (Slijper, 1936; Paterson, 1984;
Cowan et ai. , 1986; Johnston & Me Crea, 1992; Kompanje, 1994, 1999; Siebert et ai. ,
1997; Fernandez-Rodriguez et ai. , 1999; Turnbull & Cowan, 1999; Macnie & Goodal,
2000b; Ortega-Ortiz et ai. , 2000).
Os estudos sobre lesões em peças ósseas de cetáceos geralmente estão
restritos a descrições patológicas (Kompanje, 1999). Porém, comparações com
fatores biológicos e relações com o ambiente são escassas (Kompanje, 1994), não
5
havendo normalmente o emprego de métodos quantitativos para verificação da
significância dos resultados encontrados.
Segundo Barnes (1994), a detecção de padrões de defeitos de
desenvolvimento, dentro de uma população de esqueletos humanos, permite fazer
projeções interpretativas sobre a ocorrência dos principais defeitos, afinidades
biológicas, assim como influências culturais e ambientais. Diferenças na ocorrência de
anomalias ósseas têm sido relacionadas à áreas de ocorrência em certas espécies de
� pinípedes (Bergman et ai., 1992; Mortensen et ai. , 1992).
1
Muitos termos têm sido utilizados para descrever alterações ósseas em
cetáceos (Kompanje, 1999). Isto tem resultado em certa confusão, havendo tanto o
uso de neologismos como de termos obsoletos, sendo urgente a padronização da
terminologia a partir da classificação mais segura das alterações, principalmente
considerando o seu uso na língua portuguesa.
1 .3 - Estudos sobre Alterações Ósseas em Sotalia fluviatil is
Registros esporádicos e análises realizadas com reduzido número amostral
reúnem as poucas informações sobre a ocorrência de alterações ósseas em S.
fluvíatílís (Slijper, 1936; Simões-Lopes & Ximenes, 1990; Ferigolo et ai. , 1996;
Fragoso, 1997; Fragoso & Lima, 1997, 1998; Furtado & Simões-Lopes, 1999; Lavick,
2000; Ramos et ai. , 2000d; Menezes & Simões-Lopes, 2000). Esses registros incluem
casos de natureza traumática, infecciosa, degenerativa e erros de morfogênese.
Kompanje (1999) em sua revisão sobre alterações patológicas na coluna vertebral de
cetáceos não registrou nenhum caso nos exemplares de S. fluvíatílis analisados.
6
As informações sobre alterações ósseas em espécimens de S. fluviatilis, na
costa do Estado do Rio de Janeiro, restringem-se a análises preliminares em
esqueletos (Fragoso, 1997; Fragoso & Lima; 1997, 1998) e crânios (Lavick, 2000) de
alguns indivíduos, além de um caso resultante de interação com artefato de pesca
(Ramos et ai . . , 2000d).
1 .4 - Objetivos
Com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre a ocorrência de alterações
ósseas em S. fluviatilis da costa fluminense e, baseado em pressupostos teóricos, que
relacionam a ocorrência de tais lesões com características do indivíduo bem como do
meio onde vivem (de Smet, 1977; Johnston & Me Crea, 1992; Rothschild et ai. , 1993;
Sarnes, 1 994; Kompanje, 1994, 1995b, 1999; Mendonça de Souza, 1995; Siebert et
ai. , 1997), este trabalho tem como objetivos:
• Identificar e analisar as alterações ósseas em esqueletos de boto-cinza Sotalia
fluviatilis no litoral do Estado do Rio de Janeiro;
• Relacionar a freqüência de alterações ósseas considerando tamanho, sexo, idade,
maturidade física e área de procedência dos indivíduos;
• Comparar as freqüências de ocorrência das alterações ósseas em diferentes áreas
da coluna vertebral;
• Relacionar as lesões nas porções mais afetadas da coluna vertebral com as
características dos indivíduos.
7
2 - MATERIAL E MÉTODOS
2.1 - Material Osteológico Analisado
O presente trabalho está baseado na análise patocenótica de 75 esqueletos
de exemplares de boto-cinza, Sotalia fluviatilis (Fig. 1 ), depositados em acervos de
instituições de pesquisa do sudeste do Brasil e oriundos de encalhes e capturas
acidentais na costa do Estado do Rio de Janeiro, entre 1985 e 1999. As instituições
visitadas foram: Museu Nacional - Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN);
Museu de Zoologia - Universidade de São Paulo (MZUSP); Projeto Mamíferos
" Aquáticos/ Deptº . de Oceanografia - Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ-MQ); e Projeto Cetáceos/ Base de Atafona - Fundação Brasileira para a
r Conservação da Natureza (BB).
Os esqueletos tombados nas coleções foram anteriormente processados
através de maceração ou, na maioria das vezes, recolhidos após permanecerem
enterrados por alguns meses.
Os espécimens incluídos na amostra analisada (n=75) constaram de
esqueletos completos ou parcialmente completos e em bom estado de
conservação. Alguns destes espécimens haviam sido estudados anteriormente em
outros trabalhos (Lodi & Capistrano, 1990; Borobia et ai., 1991; Siciliano, 1994;
Oliveira et ai., 1996; Azevedo et ai., 1996; Fragoso & Lima, 1998; Oi Beneditto et
a/. , 1998; Ramos et ai. , 2000a) .
Esqueletos com mais de seis vértebras caudais (terminais) ausentes foram
considerados incompletos e, portanto, não foram incluídos neste estudo . O número
e localização de peças ausentes foi estimado através de comparação com uma
série vertebral intacta da espécie, como sugerido por Heyning & Perrin (1994). As
8
costelas vertebrais e esternais foram pareadas para verificação de ausência de
peças. O número de peças limitante para inclusão na série foi estabelecido com
base nos registros de alterações ósseas na região caudal por estudos prévios
sobre a coluna vertebral do boto-cinza (Ferigolo et ai. , 1996; Fragoso, 1997;
Furtado & Simões-Lopes, 1999) e outras espécies de delfinídeos (Slijper, 1936;
Kompanje, 1995a, 1995b, 1999).
Dezenove exemplares da amostra apresentavam os ossos referentes à 33
nadadeiras peitorais associados a seu material osteológico. Devido à rara
presença nos acervos de séries completas dos carpos e falanges, somente foram
incluídos neste estudo os exemplares que apresentavam o úmero, o rádio e a ulna
de pelo menos uma das nadadeiras peitorais.
Além disso, foram analisadas as nadadeiras peitorais de oito espécimens
encontrados mortos na costa f luminense e recolhidos pelo Projeto MAQUA (Depto.
Oceanografia-UERJ). As nadadeiras peitorais de cada indivíduo , após
identificação, foram embaladas em sacos plásticos e acondicionadas em freezer.
Essas foram radiografadas em projeção dorso-ventral e posteriormente maceradas
em água para recuperação dos ossos. As nadadeiras peitorais de fi lhotes foram
preservadas em solução de formol , álcool e glicerol (Menezes & Simões-Lopes,
1996).
2.2 - Informações Referentes aos Espécimens
Os dados biológicos dos espécimens (comprimento total do corpo, sexo e
procedência) foram obtidos nos registros institucionais das próprias coleções
citadas acima. O comprimento total do corpo dos animais foi medido segundo
Norris ( 1 961 ) , da extremidade da maxila até o entalhe da nadadeira caudal.
9
A maturidade f ísica dos indivíduos foi determinada através do grau de
fusionamento das epífises dos corpos vertebrais, segundo Oshumi et ai. (1958) e
Kato (1988). Os espécimens foram considerados fisicamente maturas quando
todas as epífises vertebrais estavam fusionadas ao corpo vertebral correspondente
(Perrin, 1975).
Os dados referentes à idade estimada dos exemplares (em anos) foram
oriundos dos resultados obtidos por Ramos et ai. (2000a, 2000c), cujos trabalhos
abrangeram os mesmos exemplares. As idades foram determinadas pela
contagem das camadas de crescimento de dentina nos dentes, segundo Perrin &
Myrick (1980) e Hohn et ai. (1989), de tal maneira que os exemplares que
apresentaram somente a linha neonatal foram considerados recém-nascidos,
sendo cada grupo de camadas de dentina adicional considerado como
correspondente à um ano de vida do indiv íduo.
Os valores absolutos das variáveis contínuas, referentes à idade e
comprimento total do corpo dos botos foram agrupados em categorias discretas,
para fins de análises estatísticas e interpretação. As classes de idade foram
relacionadas ao grau de maturidade física dos indivíduos e correspondem à: classe
1 = O a 7 anos (imaturos), classe 2 = 8 a 15 anos (imaturos ou recém-maturos), ·
classe 3 = 16 a 23 anos (adultos) e classe 4 = 24 a 31 anos (velhos). As classes
de tamanho correspondem a: pequeno = 1105.0 a 1436.6 mm , médio = 1436.7 a
1768.3 mm e grande = 1768.4 a 2100 mm.
A série estudada foi subdividida em três grupos, de acordo com as
localidades de procedência dos indivíduos, correspondentes às áreas norte, central
e sul fluminense (Fig. 2), tendo em vista diferenças na forma de coleta dos
exemplares nas áreas, além da possibil idade da origem estar associada à
'
10
diferentes exposições a patologias e alterações ósseas . A maioria dos espécimens
da área norte fluminense foram oriundos de capturas acidentais em redes de pesca
na região entre São João da Barra (21 °37' S , 41 °01 ' W) e Macaé (22º23'S,
41 °47W) , além dos casos (n=6) de encalhes ocorridos na região norte até
Armação de Búzios (22º44'S, 41 °52W). Os exemplares oriundos de encalhes na
região da Baia de Guanabara e Barra da Tijuca (22°56'S , 43°1 5W) foram
agrupados como da região central do l itoral fluminense. Os espécimens referentes
à área sul fluminense foram oriundos de encalhes na Baia de Ilha Grande
(23º1 0'S , 44º20'W), Baía de Sepetiba (22°58'S, 44°02W) e Restinga da
Marambaia.
Devido à diferenças quanto ao número amostral nos distintos grupos, optou
se por se considerar somente os espécimens das áreas norte e central nas
anál ises que consideraram a área de procedência dos exemplares como variável
do estudo.
45' -W
SUL
FLUMINENSE
44" w
CENTRAL
FLUMINENSE
OCEANO ATLÂNTICO
43' W 42' W
NORTE
FLUMINENSE
n· w
22" S
21' '!:
Figura 2 - Estado do Rio de Janeiro e l imites das áreas de procedência dos espécimens analisados de S. f/uviatilis.
1 1
2.3 - Análises Morfológicas e Patológicas
Os esqueletos dos botos-cinza (Fig. 3) foram inicialmente analisados do
ponto de vista da normalidade osteológica, tendo por base critérios comparativos a
partir do que é considerado na literatura (van Beneden, 1864, 1875; Carvalho,
1963; da Silva & Best, 1996) como padrão anatômico normal. Lesões ou alterações
ósseas identificadas como resultantes de processos pós-mortem dos espécimens,
sejam estas produzidas durante processamento ou armazenagem do material
osteológico, não foram incluídas nas análises.
Para a identificação e caracterização das lesões ou anormalidades, cada
osso dos esqueletos dos indiv íduos foi examinado quanto à ocorrência, localização
e grau de desenvolvimento de alterações. As lesões foram fotografadas e
registradas em fichas com desenhos confeccionadas para esqueletos de S.
fluviatilis (Anexo 1 ) , modificadas a partir das sugeridas por Buikstra & Ubelaker
(1994) para paleopatologia em humanos. Cores distintas foram utilizadas para
registro de fraturas, "dobras", destruição e neo-formação óssea.
Alterações de forma, tamanho e posição, além das evidências de
descontinuidade, destruição e neo-formação ósseas observadas nos esqueletos,
foram identificadas e registradas para posterior diagnóstico diferencial das lesões e
anormalidades. Quando necessário, as peças foram radiografadas posteriormente
para um diagnóstico diferencial mais preciso.
As lesões encontradas foram identificadas e descritas, de acordo com
Ortner & Putschar (1981), Zimmerman & Kelley (1982), Íscan & Kennedy (1989),
Barnes (1994), Buikstra & Ubelaker (1994) e Kompanje (1995b, 1999). Uma chave
de classificação baseada nas informações de Kompanje ( 1 999) para patologias
ósseas em colunas vertebrais de cetáceos foi confeccionada para facilitar os
,..
-
a
ROSTRO
VÉRTEBRAS e,�=� VÉRTEBRAS TORÁCICAS
HIÔIDE ESTERNO
COSTELAS
MANDIBULA
b . .
LARGURA NOS PARIETAIS
' �Jl: .-1 ·
� ; ' --·,
:
e
- ' ' '
COMPRIMENTO CÔNDILO-BASAL
H LARGURA DO
CORPO
,,. NEUROAPÓFISE
COMPRIMENTO DO CORPO
VÉRTEBRAS LOMBARES
VÉRTEBRAS CAUDAIS
RESQUÍCIOS PELVICOS
PIFISE
ALTURA DA CAIXA CRANIANA
g ÚMERO
ARCOS
HEMAIS
d
COMPRIMENTO DO BLOCO CERVICAL
FALANGES
/ D o
D D oe • RAD1ol 1 ;o L:7 t:l t:1 n º
CARPOS
NADADEIRA PEITORAL
12
Figura 3 - Esquema do esqueleto de boto-cinza ( Sotalia fluviatilis) e medidas realizadas no crânio, bloco cervical e vértebras: a) esqueleto axial (vista lateral) , hióide, escápula e vestígio de osso pélvico; b) vista dorsal do crânio; c) vista posterior do crânio; d) vista ventral do bloco cervical; e) vista anterior de vértebra torácica; f) vista lateral de vértebra torácica; g) ossos da nadadadeira peitoral esquerda.
1 3
diagnósticos nesta região (Anexos 2 e 3). Foram consideradas , para fins do
presente trabalho, quatro categorias de doenças na coluna vertebral: (disco ou
zigo) artrose, espondilite infecciosa, espondiloartrite, e DISH (Diffuse ldiopathic
Skeletal Hyperostosis), hiperostose idiopática difusa.
A artrose é uma condição patológica progressiva relacionada ao esforço
,..._ crônico e repetit ivo das articulações, geralmente associada ao envelhecimento.
Como sugerido por François et ai. (1995) e Kompanje (1999), os casos de artrose
observados nas epífises dos corpos vertebrais foram denominados de discartrose,
enquanto que aqueles encontrados nas zigapófises das vértebras foram
denominados de zigartrose. A discartrose está associada à degeneração do disco
intervertebral, podendo se observar na fase mais avançada a formação de
osteófitos verticais marginais, além de esclerose e erosão da epífise (Kompanje,
1999).
A espondilite é uma doença inflamatória que afeta uma ou mais vértebras
devido à um processo infeccioso associado, ocorrendo geralmente formação de
neoformações ósseas bizarras e a destruição das facetas articulares na fase mais
avançada (Kompanje, 1999). Segundo Kompanje (1999), a espondilite infecciosa é
um processo geralmente localizado, sem relação com- a idade do animal e que
pode também estar associada a trauma.
A espondiloartrite ou espondartrite é um termo usado para um grupo de
doenças inflamatórias que afetam as articulações e que englobam a artrite reativa
e a espondiloartrite associada a doenças inflamatórias do intestino, entre outras
(François et ai. , 1995). Segundo Kompanje ( 1999) a espondiloartrite está mais
relacionada a ativação do sistema imunológico desencadeada por infecções no
organismo do que propriamente a processos degenerativos ligados ao
14
envelhecimento do indiv íduo. Sinais característicos da doença incluem a
ocorrência de sindesmófitos não-marginais , oss ículos para-discais e ausência de
sinais de degeneração do disco intervertebral (Kompanje, 1999).
A hiperostose idiopática difusa (DISH) têm como principais características a
calcificação dos ligamentos e ossificação da região anterolateral da coluna
vertebral , envolvendo geralmente três ou quatro vértebras com crescimento ósseo
de aspecto de "vela derretida", não havendo degeneração do disco intervertebral
(Kompanje, 1999).
Para facilitar a associação das prevalências de lesões nos esqueletos do
boto-cinza às suas prováveis causas, as alterações ósseas foram agrupadas, de
acordo com sua natureza, em quatro categorias: alterações de desenvolvimento,
alterações traumáticas, alterações degenerativas e alterações infecciosas; sendo
posteriormente quantificadas e submetidas à um tratamento estatístico. Quando a
lesão no osso apresentava distintas naturezas, mesmo que secundárias, todas as
categorias envolvidas foram consideradas nas análises.
As anomalias de morfogênese encontradas nos esqueletos foram incluídas
na categoria de alterações de desenvolvimento, sendo seus respectivos campos
de desenvolvimento registrados segundo Sarnes (1994) para localização das áreas
mais suscetíveis à tais anomalias. Segundo este autor é mais apropriado enfocar
as análises em defeitos de desenvolvimento do que defeitos congênitos, pois este
último implica em desordem de desenvolvimento identificada no recém-nascido e
nem todos os defeitos de desenvolvimento são detectáveis ao nascer.
Evidências de descontinuidade devido à fraturas, calos ósseos, depressões
por esforço, bem como alterações de forma provocadas por ferimentos foram
consideradas como de natureza traumática.
1 5
Sinais de cavitação, labiamento e osteofitose característicos de artroses
foram considerados na categoria de alterações degenerativas, sendo utilizados os
termos sugeridos por François et ai. ( 1 995) e Kompanje (1 999) .
Como as análises se processaram sobre peças de coleções osteológicas,
não foi possível o exame da região intervertebral de tal forma que, para o
diagnóstico das alterações infecciosas, foram considerados apenas as alterações
ósseas sugeridas por Kompanje (1 995b, 1 999) e Ortner ( 199 1 ).
Um tipo especial de alteração foi observada nas epífises anteriores (A) e
posteriores (P) das vértebras cervicais e primeira torácica (C2P a T1 P) dos
exemplares. Trata-se de uma alteração ainda não descrita e apenas observada em
um trabalho monográfico anterior (Fragoso, 1 997). Para esta lesão foi mantida a
denominação provisória de "dobras" epifiseais. As alterações são sulcos de
disposição radial observados nas bordas das epífises das vértebras cervicais e
primeira torácica que parecem estar associadas ao esforço ocasionado pela
compressão dos corpos vertebrais nesta região (Fragoso, 1 997). As "dobras" ,
observadas nas vértebras do bloco cervical e 1 ª vértebra torácica, foram
registradas em fichas específicas, sendo analisadas à parte. Informações
referentes à ocorrência (presença ou ausência) e ao número de "dobras" (ND2P
ND8P) foram coletadas nas epífises vertebrais de cada exemplar e posteriormente
somadas para obtenção do número total de "dobras" por espécimen (Tab. 1 ) .
Posteriormente, as informações sobre as lesões nos ossos foram reunidas
para obtenção do número de peças afetadas no esqueleto (NPAF), número de
categorias de alterações no esqueleto (NAL T), número de tipos de alterações por
região da coluna vertebral (cervical = NACE, torácica = NATO, lombar = NALO,
caudal = NACA) e o número de categorias de alterações por vértebra cervical
1 6
(NAC1 -NAC7), bem como a identificação das áreas do esqueleto mais afetadas
por lesões e anormalidades (Tab. 1 ). Devido a quantidade reduzida de ossos das
nadadeiras peitorais depositadas em acervos, suas informações não foram
incluídas nas análises do número de peças afetadas por alterações ósseas.
2.4 - Análises Osteométricas
As análises osteométricas foram realizadas com o intuito de se verificar
possíveis relações entre dimensões anatômicas e lesões (além das "dobras"). Para
tal , foi selecionado um conjunto de medidas que fornecesse informações sobre o
tamanho do animal (comprimento total) , dimensões de diferentes componentes do
esqueleto (módulo de crânio , comprimento do bloco cervical , comprimento do bloco
torácico) e que pudessem estar relacionados às lesões. Adicionalmente foram
obtidas medidas para as vértebras (comprimento, índice de volume) e epífises
(área) lesionadas.
O módulo do crânio foi calculado pela equação que extrai a média aritmética
---- · da soma do comprimento, largura e altura: (C+L +A)/3, tal como feito em
craniometria humana (Pereira & Mello Alvin, 1979). As medidàs cranianas (Fig. 3)
(comprimento côndi lo-basal , largura do crânio nos parietais e altura da caixa
craniana) foram obtidas de acordo com Perrin ( 1975), com o auxílio de uma régua
de 400 mil ímetros e paquímetros de 8 e 20 polegadas.
Os índices para a estimativa do volume dos corpos das vértebras cervicais e
1 ª vértebra torácica foram calculados através da raiz cúbica do valor obtido pela
multiplicação do comprimento, altura e largura de cada corpo vertebral :
3�(C x A x L), como sugerido por Omura ( 1 97 1 ). Os corpos das vértebras foram
medidos (Fig. 3), com auxílio de paquímetro de precisão (0,0 1 ) , de acordo com
1 7
Crovetto ( 1986, 1991 ). Devido ao fusionamento atlas-áxis nesta espéc ie , as
medidas referentes à altura e largura dos corpos vertebrais foram padronizadas
uti l izando-se como partes de referência as extremidades das ep ífises distais dos
,....,._ corpos vertebrais. O comprimento do conjunto atlas-áxis foi medido em sua porção
ventral. O comprimento dos blocos cervical e torácico foram obtidos através da
soma dos comprimentos das vértebras referentes à cada região.
As áreas das epifíses das vértebras cervicais e 1 ª torácica foram calculadas
através do programa SCION IMAGE (National lnstitutes of Health, 1998) após a
,.....__ digital ização dos contornos das ep ífises obtidos em papel vegetal.
Os dados métricos (variáveis contínuas), bem como os dados relativos à
ocorrência e quantidade de categorias de alterações ósseas (variáveis discretas) e
caracter ísticas da série estudada (sexo, idade, tamanho, maturidade e área de
procedência) foram submetidos à uma série de testes estatísticos, estocásticos e
anál ises de agrupamentos. Os resultados foram interpretados a partir das
associações significativas entre as variáveis e da consideração de fatores
biológicos e ambientais.
2.5 - Análises Estatísticas e de Ordenação
As variáveis uti l izadas na estruturação da base de dados para as anál ises
estat ísticas estão l istadas na Tabela 1. As distribuições das variáveis foram
aval iadas previamente, quanto a sua normalidade e para a determinação dos
métodos a serem apl icados (Siegel, 1975; Zar, 1999). As relações entre as
------ variáveis foram avaliadas, inicialmente via correlações e regressões l ineares.
O número de categorias de alterações no esqueleto (NAL T), o número de
peças ósseas afetadas (NPAF) e o número total de "dobras" nas epífises vertebrais
,,
1 8
(NTDR) dos exemplares foram avaliados quanto ao sexo, maturidade física e área
de procedência via o teste de Mann-Whitney e , quanto às classes de tamanho e
idade, através do teste de Kruskal-Wallis. As relações de NALT, NPAF e NTDR
,.....,_ com os valores absolutos da idade e comprimento do corpo dos indivíduos foram
evidenciadas através do coeficiente de correlação de Spearman.
A ocorrência das diferentes categorias de alterações ósseas (traumática,
infecciosa, de desenvolvimento, degenerativa) e sua dependência em relação à
maturidade física, sexo e área de procedência dos indiv íduos, foram avaliadas
separadamente através de teste qui-quadrado corrigido de Yates (x2c) via tabela
de contingência (2x2), considerando-se a ausência (O) e presença (1) de cada
categoria de lesão (Zar, 1999) ,
o
1
o 1
n
onde : fij = a freqüência observada na linha i e na
coluna j, Ri = total das freqüências na linha i, Cj = total das freqüências na coluna j.
A associação entre as categorias de alterações ósseas foi verificada, via
tabela de contingência (2x2), através dos coeficientes de contingência de Cramér
(phi) : <1>2 = (f1 1 f22 - f12 f21 ) / --./C1 C2 R1 R2 , equivalente ao coeficiente de correlação
de Sperman (rs), e do coeficiente de lves & Gibbons (rn) como sugerido por Zar
( 1 999): rn = [(f1 1 + f22) -(f1 2 + f21 )] / [(f1 1 + f22) + (f12 + f21 )] .
As relações entre as variáveis utilizadas nas análises de fatores, foram
avaliadas via distâncias Euclidianas, considerando-se separadamente os critérios:
(i) número de categorias de alterações nas regiões da coluna vertebral (cervical,
1 9
torácica, lombar e caudal) , ( i i) número de categorias de alterações nas vértebras
cervicais (C 1-C7) e ( i i i) número de dobras nas epífises das vértebras cervicais e da
1 ª torácica. As matrizes resultantes foram evidenciadas em dendogramas
estruturados via o método aglomerativo UPGMA (Unweighted Pair-Group Method
using Aríthmetic averages) (Sneath & Sokal, 1973). Os dendogramas facilitaram a
visualização das relações entre as distintas variáveis analisadas. As relações entre
as matrizes originais e as cofenéticas foram avaliadas através do coeficiente de
correlação cofenética (rcs).
Análises de Fatores, através da Análise de Componentes Principais (PCA;
via rotação varimax normalizada), foram efetuadas na amostra considerando e
avaliando separadamente os critérios: (i) número de categorias de alterações
encontradas nas regiões da coluna vertebral (cervical, torácica, lombar e caudal),
( i i) número de categorias de alterações nas vértebras cervicais (C 1-C7) e (i i i)
número de dobras nas ep ífises das vértebras cervicais e da 1 ª torácica.
A determinação dos grupos nas anál ises de fatores levou em conta os
valores de cada espécimen com relação as variáveis utilizadas em cada um dos
critérios considerados nas análises de fatores: (i) número de categorias de
alterações encontradas nas regiões da coluna vertebral (cervical, torácica, lombar
e caudal), ( i i) número de categorias de alterações nas vértebras cervicais (C1-C7)
e (i i i) número de dobras nas epífises das vértebras cervicais e da 1 ª torácica, bem
como informações referentes aos indivíduos tais como idade, maturidade física,
sexo, tamanho e área de procedência.
Os escores dos espécimens em relação ao 1° eixo da análise de
componentes principais foram aval iados quanto ao sexo, maturidade física e área
de procedência via o teste de Mann-Whitney. A análise dos escores quanto às
20
classes de tamanho e idade foram realizadas através do teste de Kruskal-Wallis.
,,-., Os escores dos espécimens em relação ao 1 ° eixo da anál ise de componentes
principais, baseado no número de alterações nas vértebras cervicais (C 1 -C7),
foram avaliados quanto à idade, comprimento do corpo, módulo do crânio,
comprimento do bloco cervical e comprimento do bloco torácico através de
Regressão Múltipla (via seleção de variáveis - backward).
Os dados referentes ao número de "dobras" nas epífises dos indivíduos
foram reordenados em uma única variável (n=845) e anal isados através de
regressão múltipla (via backward) , em relação à área (AREP) e posição (EPIF) da
epífise, além do comprimento (COMPV) e volume (VOL V) do corpo vertebral, com
o intuito de se avaliar possíveis relações entre a ocorrência de dobras e as
características das epífises e corpos vertebrais correspondentes. As estimativas
das probabil idades foram calculadas via equação da Regressão Múltipla: Yj = a +
J31X1 + J32X2 + . . . . . + J3n Xn + E , sendo X i as variáveis independentes, í3i os
coeficientes parciais de regressão, a a interseção e E o erro da estimativa. A
significância dos coeficientes parciais de regressão e da interseção foram testados
através de teste t. As sign ificâncias das regressões múltiplas foram verificadas
através de Análise de Variância (ANOVA). O percentual de explicação da variância
das variáveis independentes no modelo foi obtido através do coeficiente de
determinação corrig ido (Rc2) , como sugerido por Zar ( 1 999). As relações entre as
variáveis separadamente foram analisadas através de correlação de Pearson (r).
As anál ises estatísticas e de ordenação foram realizadas através do
programa_ STATISTICA (STATSOFT, 1 993).
r"I
,....,,_ ,-._
r-,
�
r-.
�
�
,....,,_ ,�
/"\
2 1
Tabela 1 - Variáveis, referentes à espécimens de S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro, utilizadas na estruturação da base de dados para as análises estatísticas.
1 ÁREA ea de Procedência do exemplar 1= Norte Fluminense; 2= Sul Fluminense 2 SEXO Sexo do exemplar O = Fêmea; 1 = Macho 3 MTF Maturidade Física do exemplar O = Imaturo; 1 = Maturo 4 1D Idade do exemplar (anos) 5 1D1-4 Classe de Idade do exemplar 1 = O a 7; 2= 8 a 1 5; 3=16 a 23; 4= 24 a 31 anos 6 CT Comprimento Total do exemplar (mm) 7 CT1-3 Classe de Tamanho do exemplar 1=1105,0-1436,6; 2=1 436,7-1768,3; 3=1768,4-2100,0 mm 8 MODCR Módulo do crânio [(c + 1 + a)/ 3] 9 CBCE Comprimento do Bloco Cervical (mm) 10 CBTO Comprimento do Bloco Torácico (mm) 1 1 NALT Nº de Alterações ósseas no esqueleto O= sem lesões; 1 = 1 ; 2= 2; 3=3; 4=4; 5=5 tipos de lesões 12 NPAF Nº de peças afetadas por alterações 13 DES Alteração de Desenvolvimento O = Ausência; 1 = Presença 14 INF Alteração Infecciosa O = Ausência; 1 = Presença 1 5 DEG Alteração Degenerativa O = Ausência; 1 = Presença 16 TRA Alteração Traumática O = Ausência; 1 = Presença 17 NTDR Nº total de dobras em eplfises de C2P a T1 P O = Ausência; 1 = Presença 18 NACE Nº de tipos de lesões no bloco cervical O= sem lesões; 1 = 1 ; 2= 2; 3=3; 4=4; 5=5 tipos de lesões 19 NATO Nº de tipos de lesões no bloco torácico O= sem lesões; 1 = 1 ; 2= 2; 3=3; 4=4; 5=5 tipos de lesões 20 NALO Nº de tipos de lesões no bloco lombar O= sem lesões; 1 = 1 ; 2= 2; 3=3; 4=4; 5=5 tipos de lesões 21 NACA Nº de tipos de lesões no bloco caudal O= sem lesões; 1 = 1 ; 2= 2; 3=3; 4=4; 5=5 tipos de lesões 22 NAC1 N° de tipos de lesões em C1 O= sem lesões; 1 = 1 ; 2= 2; 3=3; 4=4; 5=5 tipos de lesões 23 NAC2 Nº de tipos de lesões em C2 O= sem lesões; 1 = 1 ; 2= 2; 3=3; 4=4; 5=5 tipos de lesões 24 NAC3 Nº de tipos de lesões em C3 O= sem lesões; 1 = 1 ; 2= 2; 3=3; 4=4; 5=5 tipos de lesões 25 NAC4 Nº de tipos de lesões em C4 O= sem lesões; 1 = 1 ; 2= 2; 3=3; 4=4; 5=5 tipos de lesões 26 NAC5 Nº de tipos de lesões em C5 O= sem lesões; 1 = 1 ; 2= 2; 3=3; 4=4; 5=5 tipos de lesões 27 NAC6 Nº de tipos de lesões em C6 O= sem lesões; 1 = 1 ; 2= 2; 3=3; 4=4; 5=5 tipos de lesões 28 NAC7 Nº de tipos de lesões em C7 O= sem lesões; 1 = 1 ; 2= 2; 3=3; 4=4; 5=5 tipos de lesões 29 ND2P Nº de dobras na epífise posterior de C2 30 ND3A Nº de dobras na epífise anterior de C3 31 ND3P Nº de dobras na epífise posterior de C3 32 ND4A Nº de dobras na epffise anterior de C4 33 ND4P Nº de dobras na epífise posterior de C4 34 ND5A N° de dobras na epífise anterior de C5 35 ND5P Nº de dobras na epífise posterior de C5 36 ND6A N° de dobras na epffise anterior de C6 37 ND6P Nº de dobras na eplfise posterior de C6 38 ND7A Nº de dobras na epffise anterior de C7 39 ND7P Nº de dobras na eplfise posterior de C7 40 ND8A Nº de dobras na epífise anterior de T1 41 ND8P Nº de dobras na eplfise posterior de T1 42 NDR Nº de dobras na epífise 43 EPIF Posição da eplfise 1 = 2P a 13 = BP 44 AREP Área da epífise (mm2) 45 COMPV Comprimento do corpo vertebral (mm) 46 IVOLV Índ. de volume do corpo vertebral (3v(c X a X I)]
22
3 - RESULTADOS
� 3.1 - Análise Descritiva
----.,.
-
,....._,
3.1 . 1 - Informações Referentes aos Espécimens
Este estudo constou da análise patocenótica de esqueletos referentes a 59
indivíduos imaturos e 16 indivíduos maturas fisicamente (n=75), abrangendo 35
machos e 35 fêmeas de S. f/uviatilis, provenientes das áreas norte (n=5 1 ) , central
(n= 1 8) e sul (n=6) do litoral do Estado do Rio de Janeiro (Tab. 2) . O comprimento
total do corpo dos indivíduos (n=72) variou entre 1 1 05 mm e 2 1 00 mm (X ± o ;
1 695,65 ± 21 6 ,55) e a idade (n=69) entre zero (neonatos) e 30 anos (8,20 ± 7,85).
Os espécimens machos (n=33) possuíam idades entre zero e 2 1 anos (5,82 ±
4,86), enquanto as fêmeas (n=3 1 ) possuíam de um a 30 anos de idade (1 1 ,26 ±
9,76). A distribuição dos espécimens em relação às classes de tamanho (nt1 = 1 1 ,
n12 = 29, nt3 = 32) e idade (ni1 =44, ni2 = 1 2, ni3 =7, ni4 =6) encontra-se listada na
Tabela 2.
Tabela 2 - Informações quanto à área de procedência, sexo, maturidade física, classes de tamanho e idade dos espécimens de S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro analisados neste estudo. (Tamanho: pequeno = 1 105.0-1436.6 mm, médio = 1436.7-1768.3 mm, grande = 1 768.4-2100.0 mm).
Sexo
Maturidade Física
Classes de Tamanho
Classes de Idade
ÁREA NORTE ÁREA CENTRAL ÁREA SUL (n=51 ) (n=1 8) (n=G)
Machos = 25 Machos = 7 Machos = 3 Fêmeas = 24 Fêmeas = 1 1
Imaturos = 45 Imaturos = 1 0 Imaturos = 4 Adultos = 6 Adultos = 8 Adultos = 2
Pequeno = 9 Pequeno = 2 Pequeno = O Médio = 22 Médio = 5 Médio = 2
Grande = 1 8 Grande = 1 1 Grande = 3
O a 7 anos = 36 O a 7 anos = 6 O a 7 anos = 2 8 a 1 5 anos = 5 8 a 1 5 anos = 4 8 a 1 5 anos = 3
1 6 a 23 anos = 4 1 6 a 23 anos = 2 1 6 a 23 anos = 1 24 a 31 anos = 1 24 a 31 anos = 5 24 a 31 anos = o
\
23
3.1 .2 - Análises Osteométricas
O módulo do crânio dos exemplares (n=72) apresentou valores entre 165,34
e 217,61 mm (201, 10 ± 12,30). O comprimento dos bloco cervical (n=73) variou
entre 35,96 mm e 65, 12 mm (52, 12 ± 7,64), enquanto o comprimento do bloco
torácico (n=75) apresentou valores no intervalo de 122,74 a 342,50 mm (249,97 ±
56,38).
As medidas relativas ao comprimento e índice de volume das vértebras
cervicais e 1 ª vértebra torácica, bem como os valores calculados das áreas de
suas epífises encontram-se listados na tabela 3. A vértebra que apresentou as
menores médias relativas ao seu comprimento e índice de volume foi a 4ª cervical,
enquanto o conjunto formado pelo atlas-áxis apresentou os maiores valores. As
epífises vertebrais que apresentaram as menores áreas foram as referentes à 1 ª
vértebra torácica. As epífises anteriores da 6ª e 7ª vértebras cervicais e a epífise
posterior do áxis (C2) possuíam as maiores áreas.
Tabela 3 - Dados relativos às medidas de comprimento, índice de volume e área das epífises das vértebras cervicais e 1 ª vértebra torácica de S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro. (Valores: Média ± Desvio Padrão, Mínimo e Máximo, n = Tamanho Amostral)
VÉRTEBRA Comprimento Índice de Volume Área da Epifise Área da Epífise
C1 +C2
C3
C4
C5
C6
C7
T1
Anterior Posterior (mm) (mm) (mm2) (mm2 )
24,43 ± 2,82 26,64 ± 2,88 5,41 ± 1 ,16 1 7,49 a 30,40 1 9,24 a 32,80 2,95 a 8,96
(n=75) (n=75) (n=73)
5,07 ± 0,96 1 5,92 ±1 ,93 5,34 ± 1 , 1 5 5,27 ± 1 ,1 0 2,86 a 7,36 1 1 ,26 a 20,29 3,05 a 8,92 3,24 a 8,60
(n=74) (n=74) (n=71) (n=72)
4,87 ± 0,93 1 5,50 ± 1 ,77 5,34 ± 1 ,04 5,28 ± 1 ,02 2,77 a 6,76 1 1 ,25 a 1 8,71 3,33 a 8,55 3,07 a 8,07
(n=74) (n=74) (n=73) (n=73)
5,1 0 ± 1 ,05 1 5,67 ± 1 ,98 5,39 ± 1 ,25 5,22 ± 1 ,09 2,90 a 7,61 1 0,50 a 19,62 2,94 a 9,12 2,87 a 8,1 5
(n=75) (n=75) (n=74) (n=74)
5,69 ± 1 ,29 1 6,38 ± 2,1 7 5,51 ± 1 ,30 5,29 ±1 ,07 2,90 a 8,36 1 0,72 a 20,03 2,87 a 8,19 3,01 a 7,43
(n=75) (n=75) (n=74) (n=74)
6,75 ± 1 ,64 1 7,04 ± 2,43 5,42 ± 1 ,12 4,95 ± 0,95 3,44 a 9,92 1 1 ,29 a 20,48 3,18 a 7,76 2,58 a 6,92
(n=75) (n=75) (n=74) (n=74)
8,88 ± 2,57 1 8,44 ± 2,83 4,75 ± 1 ,05 4,69 ± 1 ,04 4,02 a 14,23 1 1 , 12 a 23,43 2,74 a 6,59 2,48 a 6,47
(n=75) (n=75) (n=71) (n=71)
,_
24
3.1.3 - Alterações Ósseas
A maioria dos espécimens (77,3%) de boto-cinza (S. fluviatilís) apresentou
,--, alguma alteração óssea no esqueleto (Fig. 4), fosse esta de origem traumática
(n=47), infecciosa (n=24), degenerativa (n=25) ou de desenvolvimento (n=22).
Apenas 17 indivíduos (22, 7%) não possuíam lesões ósseas destas naturezas.
" Somente quatro indivíduos possuíam lesões ósseas abrangendo todas as
categorias. As alterações de desenvolvimento e degenerativas não ocorreram
isoladamente nos exemplares, havendo sempre a ocorrência associada de outros
tipos de lesões no esqueleto (Tab. 4).
60
20
o TRA DES INF DEG
fãnl �
Figura 4 - Ocorrência das categorias de alterações ósseas de natureza traumática (TRA), de desenvolvimento (DES), infecciosa (INF) e degenerativa (DEG) em esqueletos de S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro.
Tabela 4 - Registros de alterações ósseas em 75 espécimens de S. fluviatilís do litoral do Estado do Rio de Janeiro. TRA = Traumática; INF = Infecciosa; DES = Desenvolvimento; DEG = Degenerativa.
Alterações Ósseas N % Sem Alterações
TRA INF
TRA - INF TRA - OES TRA - DEG INF - OES INF - DEG DES - DEG
TRA - DES - DEG TRA - INF - DEG TRA - DES - INF DES - INF - DEG
TRA - DE,S - INF - DEG
1 7 1 6 3 6 6 3 1 4 2 8 3 1 1 4
22,67 21 ,33 4,00 8,00 8,00 4,00 1 ,33 5,33 2,67
1 0,67 4,00 1 ,33 1 ,33 5 33
25
3.1 .4 - Número de Categorias de Alterações Ósseas (NAL T)
O número total de categorias de alterações (NAL T), englobando a
ocorrência de "dobras" nas epifises vertebrais e de lesões de naturezas distintas
(Fig. 5), variou entre zero (n=6) e cinco (n=4). As "dobras" observadas nas epífises
vertebrais, consideradas neste estudo como uma categoria à parte, foram
" registradas na maior parte da amostra (n=69). Onze indivíduos apresentavam
somente um tipo de alteração óssea correspondente às "dobras", enquanto os
demais, além das "dobras" nas epifises vertebrais, apresentavam também um
(n= 1 9) , dois (n=22), três (n= 1 3) ou quatro (n=4) tipos de lesões de outra natureza
(Tab. 4).
1111 m 3 4 5
NALT
Figura 5 - Número de Categorias de Alterações Ósseas (NAL T), abrangendo as dobras registradas nas epífises vertebrais e as lesões de natureza traumática , de desenvolvimento, infecciosas e degenerativas, encontradas em esqueletos de S. fluviatilis do l itoral do Rio de Janeiro.
3.1 .5 - Número de Peças Afetadas por Alterações Ósseas (NPAF)
Alterações de forma , tamanho e posição, além de casos de destruição, neo
formação e descontinuidade foram observados nos ossos. O número de peças
ósseas afetadas por alterações morfológicas ou patológicas variou em geral de um
a 25 (8,76 ± 6,39), com exceção de um espécimen (UERJ-MQ 33), proveniente da
Bala de Guanabara com severas alterações de desenvolvimento . O mesmo
apresentava 42 peças afetadas por lesões (1 ,3%). Enquanto a maioria (50,7%)
26
possuía de seis a dez ossos com alterações, dez indivíduos (1 3,3%) apresentavam
1 a 5, treze indivíduos (1 7,3%) de 1 1 a 1 5 e sete indivíduos (9,3%) de 1 6 a 25
peças ósseas lesionadas . Apenas seis individuos (8,0%) não apresentavam seus
ossos afetados por "dobras" nas epífises vertebrais ou outras alterações.
3.1 .6 - Alterações Ósseas por Região da Coluna Vertebral
A região da coluna vertebral mais afetada por lesões (Fig. 6) foi o bloco
cervical (n=69) que apresentou de um a quatro tipos de alterações ósseas de
natureza traumática, de desenvolvimento, degenerativa, além da ocorrência de
"dobras" nas epífises vertebrais. O bloco torácico foi igualmente afetado (n=65) por
um a quatro tipos de alterações envolvendo, além das "dobras" nas epifises
vertebrais, lesões de quatro naturezas . A maioria dos exemplares com lesões na
região lombar (n=1 3) , com exceção do exemplar (UERJ-MQ 33) com três tipos de
alterações , apresentava de um a dois tipos de lesões abrangendo alterações de
natureza degenerativa, infecciosa, de desenvolvimento e, sobretudo, traumática.
Somente nove indivíduos possu íam algum tipo de lesão óssea de origem
traumática , degenerativa ou infecciosa, na região caudal da coluna vertebral .
70
60
50 84 alt
40 03 alt
30 DiD2 alt
20 lilll 1 alt
Torácica Lom bar Caudal
Figura 6 - Freqüência de ocorrência de alterações ósseas nas reg iões cervical , torácica, lombar e caudal da coluna vertebral de exemplares de S. f/uviatilis do l itoral do Rio de Janeiro (n=75) .
"
27
As vértebras mais atingidas por região da coluna vertebral corresponderam
à 7ª cervical (n=68) , a 1 ª torácica (n=65) , a 6ª l ombar (n=7) e a 1 ª caudal (n=3) .
3.1 . 7 - Número de Categorias de Alterações nas Vértebras Cervicais
A anál ise do número de categorias de alterações nas vértebras do bloco
cervical (Fig. 7) , á rea mais afetada por lesões, mostrou que a porção mais atingida
correspondia à 7ª cervical (n=68) . Esta apresentou até quatro tipos de lesões,
seguida da 6ª vértebra cervical (n=67) . De maneira geral , há um n itido incremento
do número de peças afetadas de acordo com a proximidade das vértebras
cervicais ao bloco torácico. As vértebras menos afetadas por alterações ósseas
foram o atlas (n=9) e o áxis (n=22) . A 3ª cervical foi afetada por um a três tipos de
lesões (n=58) , enquanto que a 4ª apresentou um a três tipos em 54 casos e a 5ª
de um a três tipos de lesões em 60 casos. N ota-se que a 3ª vértebra cervical
apresentou um número superior de casos com dois tipos de alterações ósseas
(n= 1 6) quando comparada à C4 (n=4) , CS (n=4) , C6 (n=3) e C7 (n= 1 3) .
80
70
60
50 o sem alt Cl 4 alt
40 D 3 alt
30 liD 2 alt lill 1 alt
20
10
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7
Figura 7 - Freqüência de ocorrência de alterações ósseas nas vértebras cervicais (C1 -C7) de exemplares de S. f/uviati/is do l itoral do Rio de Janeiro (n=75) .
'
'LlS
3.1 .8 - Alterações ("Dobras") nas Epífises Vertebrais
A maioria dos indivíduos (n=69) apresentou sulcos ou invaginações com
aspecto de "dobras" nas epífises das vértebras cervicais e 1 ª torácica (Fig. 8).
Indivíduos (n=4) com um ano de idade, apresentaram de 2 a 27 "dobras" nas
epífises vertebrais. Somente em um exemplar (UERJ-MQ 33) , com severas
anomalias em seu esqueleto, as "dobras" nas epífises vertebrais estendiam-se até
a 2ª vértebra torácica. Tais modificações parecem estar associadas ao esforço nas
epífises ocasionado pela compressão dos corpos vertebrais. Alterações na forma e
tamanho das epífises, além de osteófitos ventrais nas vértebras, foram também
observados em alguns casos.
Apenas seis espécimens (BB 89, BB 1 62, MZUSP 256 1 0, MZUSP 25628,
MZUSP 25629, MZUSP 25630) provenientes da área norte fluminense com idades
entre zero (neonatos) e um ano de vida, não apresentavam ossos afetados por
"dobras" nas epífises vertebrais.
Figura 8 - Alterações nas epífises ("dobr�s") , possivelmente associadas ao esforço vertebral em S. f/uviatilis: a) vista anterior da 7ª vértebra cervical do exemplar MN501 04; b) vista anterior da 1 ª vértebra torácica (UERJ-MQ 7 1 ) . Escala = 1 cm.
29
O número de "dobras" registrado em cada epífise vertebral variou entre zero
e 15 (Tab. 5). A epífise posterior do áxis (C2P) foi a que apresentou o menor valor
médio no número de dobras (X ± a ; 0,41 ± 0,94), enquanto a posterior da 7ª
cervical foi a mais afetada (7,40 ± 3,92). O somatório do número de "dobras" por
indivíduo (NTDR), abrangendo o bloco cervical e a 1 ª vértebra torácica, variou de
duas registradas em C4 (BB 12) a 79 "dobras" nas treze epífises analisadas
(UERJ-MQ71 ).
Tabela 5 - Dados referentes ao número de "dobras" registradas nas epífises anteriores e posteriores das vértebras cervicais e da 1ª torácica (C2 a T1) de S. f/uviatilis do litoral do Rio de Janeiro. (Valores: Média ± Desvio Padrão, Mínimo e Máximo, n = Tamanho Amostral)
VÉRTEBRA Nº de Dobras Nº de Dobras
C2
C3
C4
C5
C6
C7
T1
Epífise Anterior Epífise Posterior
0,41 ± 0,94 (n=73) o a 4 dobras
2,37 ± 2,60 (n=71) 0,86 ± 1,25 (n=72) o a 12 dobras o a 5 dobras
1 ,04 ± 1,39 (n=74) 0,72 ± 1,10 (n=74) o a 6 dobras O a 6 dobras
2,04 ± 2,22 (n=74) 1 ,55 ± 1,71 (n=74) O a 8 dobras o a 7 dobras
2,32 ± 2, 16 (n=74) 4,05 ± 2,90 (n=74) O a 9 dobras O a 11 dobras
4,26 ± 3,90 (n=73) 7,40 ± 3,92 (n=74) o a 15 dobras O a 14 dobras
4,57 ± 3,93 (n=74) 3,72 ± 3,46 (n=74) o a 15 dobras O a 12 dobras
3.1 .9 - Alterações Traumáticas
Alterações de origem traumática foram observadas em 47 indivíduos
(62,7%), englobando tanto casos de fratura (n=40) como casos de traumas
ocasionados por esforço, corte ou perfuração (n= 17). As costelas e as vértebras
'""' · cervicais foram os ossos mais afetados por tais alterações (Tab. 6).
,,-._
"'
30
Tabela 6 - Freqüências de alterações traumáticas registrados em distintas regiões do esqueleto de S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro.
Região Afetada por Traumatismo N. de Casos %
Crânio 2 2,67
Vértebras: Cervicais 22 29,33
Torácicas 10 13,33
Lombares 11 14,67
Caudais 7 9,33
Costelas 22 29,33
Escápulas 2 2,67
Ossos das Peitorais 3 4,00
Os casos de fraturas (54,7%) envolviam quase sempre mais de um osso e
r"'\ mostravam-se cicatrizados ou em cicatrização, sendo encontrados diversos calos
ósseos bem formados (Fig. 9).
As alterações de natureza traumática registradas em costelas englobaram
evidências de fratura em costelas verdadeiras (UERJ-MQ 33, UERJ-MQ 39, UERJ
MQ 63, UERJ-MQ 71, UERJ-MQ 97, UERJ-MQ 127, BB 28, BB 52, BB 140,
MZUSP 25608, MZUSP 25613, MZUSP 25618, MZUSP 25621, MZ 25625) e nas
costelas esternais do 1 ° par (UERJ-MQ 06, UERJ-MQ 72, MZUSP 25605, MZUSP
25614, MZUSP 25627), além de alterações de forma (MZUSP 25606, MZUSP
25622) e tamanho (MZUSP 25616) de costelas esternais, devido à esforço próximo
à região de articulação com as costelas ou o esterno. Na maioria dos indivíduos, as
evidências de traumatismo foram observadas em apenas uma costela, com
exceção de quatro indivíduos que apresentavam duas de suas costelas com sinais
de fratura.
31
A região cervical de 22 espécimens apresentou evidências de traumatismo
possivelmente em decorrência da compressão dos corpos vertebrais. As fraturas
na região cervical foram registradas em corpos vertebrais de oito indivíduos (Fig.
r---.. 9), envolvendo a C3 (UERJ-MQ 16, UERJ-MQ 23, UERJ-MQ 33, UERJ-MQ 61,
UERJ-MQ 97, MZUSP 23811, MZUSP 25607), C5 (UERJ-MQ 33 e UERJ-MQ 61)
e a C6 (MN 50112). Além disso, três exemplares apresentaram fraturas no arco
neural (na altura do pars articulares) em C7 (MN 50104, BB 208, BB 209) (Fig. 8).
O espécimen MZUSP 25625 apresentava a epífise posterior do áxis com
alargamento lateral , indicando aumento de esforço na região. Outros indivíduos
apresentaram sinais de esforço e desgaste nas epífises da 3ª vértebra cervical
1 �1 7
7
(UERJ-MQ 72, MZUSP 25606, MZUSP 25611) e na região de fixação do capítulo
da 1ª costela na porção postero-lateral da última cervical (UERJ-MQ60, BB 140,
BB 155, BB 167, MZUSP 25613, MZUSP 25626, MZUSP 25734).
Figura 9 - Fraturas em costelas e vértebra cervical de S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro: a) radiografia de costelas do exemplar UERJ-MQ 71; b) vista anterior da 3ª cervical do exemplar UERJ-MQ 23. Escala = 1 cm.
32
As vértebras torácicas de seis indiv íduos apresentaram sinais de fratura na
pré-zigopófise T7 (UERJ-MQ 33) e neuroapófises das últimas torácicas (UERJ-MQ
33, UERJ-MQ 45, UERJ-MQ 71, UERJ-MQ 127, MZUSP 25609, MZUSP 25734). O
exemplar UERJ-MQ 33 apresentou evidências de fratura no corpo da 12ª vértebra
torácica . Outros três indivíduos apresentaram sinais de desgaste devido à esforço
na pós-zigopófise de T1 (88 52) e T2 (88 167) e na região posterior da
neuroapófise de T8 (UERJ- MQ 97). Além disso, a 5ª vértebra torácica de um
boto-cinza (MZUSP 25621) , possuía a porção referente ao capítulo da costela
direita fusionada à sua diapófise. A referida costela apresentava fratura sem sinais
de calos ósseo nesta região.
A região lombar da coluna vertebral de 11 indivíduos apresentou fraturas,
envolvendo neuroapófises de L6 a L8 (88 194) e diapófises (UERJ-MQ 122,
MN49872, MN501 04, MZUSP 25606, MZUSP 25609, MZUSP 25615 , MZUSP
25616, MZUSP 25620, MZUSP 25625 , MZUSP 25734) das vértebras.
A região caudal de quatro espécimens possuía fraturas nas diapófises da 1ª
vértebra (UERJ-MQ 97, MN49872, MZUSP 25613) e da 3ª vértebra (UERJ-MQ71 ).
" Sinais de destruição óssea do corpo vertebral com aspecto compat ível à fratura por
esmagamento foram registradas em Ca11 (BB 176) , Ca12 (MN 50104) e Ca13
(MZUSP 25615), que apresentavam evidências de processo inflamatório. Um outro
exemplar adulto (UERJ-MQ 71) apresentava as ep ífises de Ca13 e Ca14 com
evidências de traumatismo por esforço, além de sinais de destruição ósseas na
ep ífise anterior de Ca 15.
Dois indiv íduos apresentavam linhas de fratura localizadas no bordo da
escápula esquerda (UERJ-MQ 33) e próximo à base do coracóide da escápula
direita (MZUSP 25607).
33
Três indivíduos apresentaram sinais de traumatismo nas nadadeiras
peitorais (UERJ-MQ 1 6, UERJ-MQ 27, UERJ-MQ 1 27). Em um dos casos (UERJ
MQ 27), um pedaço de fio de nylon estava associado ao ferimento (Fig. 1 0).
Alterações na forma das peças ósseas podem ser observadas sobretudo na região
do úmero, rádio e ulna. Um dos indivíduos (UERJ-MQ 1 27) apresentava sinais de
recuperação de um profundo corte na base da nadadeira peitoral esquerda,
provavelmente ocasionado por filamento oriundo de artefato de pesca. Em outro
indivíduo (MZUSP 2561 1 ), pode-se notar a trajetória de dois fios na forma de
estreitos canais no osso remodelado de suas mandíbulas (Fig. 1 O). O traumatismo
deixou como seqüela outros ferimentos na região tais como a perda de dentes e a
remodelação óssea tanto na mandíbula como na maxila esquerda. O trauma se
deu provavelmente vários anos antes de sua morte, considerando-se as extensas
remodelações ósseas e dentárias apresentadas pelo animal.
Figura 1 O - Alterações ósseas em nadadeira peitoral e rostro de S. fluviatilis provocadas por artefatos de pesca: a) vista ventral do úmero, rádio e ulna esquerdos do exemplar UERJ-MQ 27, mostrando o fio de nylon e as lesões ósseas; b) maxilas e mandíbulas do exemplar MZUSP 2561 1 , mostrando as alterações e a trajetória dos filamentos. Escala = 1 cm.
\
'
....... , r
34
Um exemplar (BB 33) apresentava sinais de reação periosteal na região do
palato, na maxila esquerda. Esta lesão sugere um trauma por perfuração,
possivelmente ocasionado por restos de presas.
3.1 .10 - Alterações Infecciosas
Indícios de alterações de origem infecciosa foram observados em 24
espécimens (32,0%), sendo as mandíbulas as áreas mais afetadas (Tab. 7). Três
indivíduos apresentavam mais de uma região do esqueleto afetada por lesões
desta natureza. Estas que incluíam vértebras (MZUSP 25625) ou escápulas (88
194, UERJ-MQ 127), além dos alvéolos dentários das mandíbulas.
Tabela 7 - Freqüências de alterações de natureza infecciosa registrados em distintas regiões do esqueleto de S. f/uviatilis do litoral do Rio de Janeiro.
Região Afetada por Infecção N. de Casos %
Crânio: Ossos do Pterigóide 1 1,33 Maxilas 5 6,67
Mandíbulas 12 16,00
Ossos do hióide 1 1,33
Vértebras: Torácicas 1 1,33
Lombares 3 4,00
Caudais 1 1,33 Escápulas: 7 9,33 úmero 1 1,33
Evidências de abcessos nos alvéolos dentários foram observadas 14
indivíduos. A porção mais atingida foi a região proximal. Formação de cavidades,
alterações nos diâmetros de alvéolos e remodelação das paredes alveolares foram
35
também registradas (Fig. 11 ). Na maioria das vezes os indícios foram observados
nas mandíbulas dos indivíduos (UERJ-MQ71, UERJ-MQ 72, UERJ-MQ 127, BB
45, BB 140, BB 167, BB 194, BB 207, BB 209, MZUSP 25612, MZUSP 25620,
MZUSP 25625), havendo três casos (UERJ-MQ71, MZUSP 25612, MZUSP 25620)
de evidências também nos alvéolos maxilares. Somente dois indivíduos (MN49872,
UERJ-MQ 97) possuíam as lesões restritas às maxilas.
Um único exemplar, um macho adulto proveniente do norte fluminense,
(MZUSP 25618) apresentou sinais reacionais devido a infestação primária por
parasitos na região dos ossos pterigóides do crânio (Fig. 11 ).
Figura 11 - Alterações de origem infecciosa em crânios de S. fluviatilis do Rio de Janeiro: a) porção proximal da mandíbula direita do exemplar UERJ-MQ 71, mostrando evidências de abcessos nos alvéolos dentários; b) vista ventral do crânio do exemplar MZUSP 25618 com sinais reacionais do tecido ósseo provocado pela presença de parasitos na região dos pterigóides. Escala = 1 cm.
r
'
36
Um indivíduo imaturo oriundo da região norte fluminense (BB 36) apresentou
lesões acentuadas no estilohial que alteraram substancialmente a forma do osso.
Alterações de origem infecciosa também foram registradas em vértebras
torácicas (UERJ-MQ 1 1 1 ) , lombares (UERJ-MQ 33, UERJ-MQ 1 1 1 , MZUSP
25625) e caudais (BB 1 3) podendo-se notar tendências à anquilose dos ossos e,
na maioria das vezes, sinais de destruição nos corpos vertebrais.
Em um indivíduo (MZUSP 25625) foi encontrada espondilite infecciosa entre
a 6ª e a 9ª vértebras lombares, que apresentavam remodelação e destruição óssea
nos corpos e diapófises. As vértebras L7, L8 e L9 estavam parcialmente
anquilosadas, havendo canais ou cloacas de drenagem (Fig. 1 2) .
Figura 12 - Alterações de origem infecciosa em vértebras de S. fluviatilis do Rio de Janeiro: a) vista ventral das vértebras lombares (L6 - L9) do exemplar MZUSP 25625 com lesões; b) Vista lateral das vértebras (Ca 5 - 7) e arcos hemais fusionados do exemplar BB 1 3. Escala = 1 cm.
-�
37
Em outro caso, o indivíduo (BB 1 3) apresentou um bloco de 3 vértebras
caudais fusionadas (Ca5-7) juntamente com dois arcos hemais (Fig. 12). O
processo foi localizado e considerado como de provável origem infecciosa, embora
não houvesse cavidades sugestivas de processo séptico. As vértebras estavam
unidas por pontes ósseas completas que apresentavam pequenas extensões
verticais, semelhantes à espículos. Não foram observados sinais de degeneração
do disco intervertebral, estando os corpos preservados, assim como os espaços
entre as vértebras. Não havia linha de fratura ou sinal de compressão que
indicasse trauma, sendo a lesão provavelmente causada por fungos.
Casos de alterações no bordo escapular foram observados em 6 indivíduos
(UERJ-MQ 24, UERJ-MQ 39, UERJ-MQ 126, UERJ-MQ 127, BB 194, MZUSP
25607). Os bordos possuíam sinais de espessamento, neo-formação e
remodelação óssea (Fig. 13). Um dos exemplares (UERJ-MQ 126) apresentou
reabsorção óssea na porção distal da escápula. Os casos estavam provavelmente
relacionados a infecção do tecido cartilaginoso do bordo escapular.
Figura 13 - Alterações de origem infecciosa em escápulas de S. fluviatilis do Rio de Janeiro: a) escápula esquerda do exemplar UERJ-MQ 127 com lesões no bordo posterior; b) fossa glenóide da escápula esquerda do exemplar UERJ-MQ02, mostrando sinais de artrite infecciosa, comparada a fossa glenóide direita com padrão normal. Escala = 1 cm.
Um caso de artrite infecciosa foi registrado na fossa glenóide da escápula
esquerda de um exemplar (UERJ-MQ 02). A fossa apresentava áreas de lise
/)
r
38
óssea, estando a maior parte da lesão revestida por neo-formação óssea, porém
sem osteófitos em sua borda. A comparação com a fossa glenóide da escápula
direita mostrou um aumento do tamanho da área articular da fossa afetada por
artrite (Fig. 1 3). A radiografia das nadadeiras peitorais evidenciou lesões graves na
faceta articular do úmero esquerdo, confirmando o comprometimento da junta
sinovial no processo infeccioso. Este exemplar apresentava ainda periostite
reacional bem evidente na porção ventral do esterno.
3.1 . 1 1 - Alterações Degenerativas
Alterações de natureza degenerativa, envolvendo sinais de artrose, foram
registradas em 25 indivíduos (33,3%). Vinte três exemplares apresentavam sinais
de alterações degenerativas na coluna vertebral (Tab. 8). Somente dois
exemplares (UERJ-MQ 24 e UERJ-MQ 1 22) não apresentavam evidências em
vértebras, apresentando sinais de artrose em costelas esternais e fossas
glenóides.
Tabela 8 - Freqüências de alterações de natureza degenerativa registrados em distintas regiões do esqueleto de S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro.
Reg ião Afetada por Artrose N. de Casos %
Crânio: Côndilos Occipitais 1 1 ,33
Vértebras: Cervicais 1 8 24,00
Torácicas 1 6 21 ,33
Lombares 2 2,66
Caudais 3 4,00 Costelas 1 0 1 3,33 Esterno 1 1 , 33
Escápulas: Fossas Glenóides 1 2 1 6,00 úmero 1 1 ,33
39
Casos de artrose, com sinais de cavitação, labiamento e osteofitose, foram
evidenciados em facetas articulares de côndilos occipitais (UERJ-MQ 97), esterno
(UERJ-MQ 33), costelas esternais (MN50112, UERJ-MQ 02, UERJ-MQ 24, UERJ
MQ 33, UERJ-MQ 61, UERJ-MQ122, MZUSP 25605, MZUSP 25616, MZUSP
25618, MZUSP 25625), fossas glenóides (MN50104, MN50112, UERJ-MQ 24,
UERJ-MQ 27, UERJ-MQ 33, UERJ-MQ 71, UERJ-MQ 97, UERJ-MQ111, BB 37,
MZUSP 25605, MZUSP 25618, MZUSP 25625) e úmero (UERJ-MQ 61).
A região cervical apresentou sinais de artrose nas facetas articulares do
atlas (UERJ-MQ 97, MZUSP 23811, MZUSP 25612) e porção latero-caudal da C7,
local de apoio do capítulo da 1ª costela (MN50104, UERJ-MQ 33, UERJ-MQ 97,
MZUSP 25618). Alguns exemplares possuíam sinais de osteofitose na porção
ventral da C3 (MZUSP 25616), C5 (MN 49872), C6 (UERJ-MQ 06). Além disso,
dez indivíduos (MN50112, UERJ-MQ 71, UERJ-MQ 72, UERJ-MQ 76, UERJ-MQ
111, BB 13, BB 28, BB 37, MZUSP 25605, MZUSP 25618) apresentaram
evidências de zigartrose na articulação entre a 2ª e 3ª vértebras cervicais (Fig. 14).
Casos de zigoartrose foram também evidenciados na região torácica de oito
indivíduos (MN49872, MN50112, UERJ-MQ 27, UERJ-MQ 72, UERJ-MQ 76,
UERJ-MQ 97, MZUSP 25611, MZUSP 25625) envolvendo, sobretudo, as
zigapófises das primeiras vértebras. Sinais de osteofitose foram observados em
vértebras da região torácica de sete exemplares (MN50104, UERJ-MQ 02, UERJ
MQ 61, UERJ-MQ 33, MZUSP 25605, MZUSP 25616, MZUSP 25618).
Casos de discartrose (Fig. 14), com destruição óssea resultante da
degeneração do disco intervertebral ou evento traumático, foram registradas em
vértebras das regiões torácica (MN50112, UERJ-MQ 111), lombar (UERJ-MQ 33,
40
UERJ-MQ 111) e caudal (MN50104, UERJ-MQ 71) de cinco indivíduos, estando
associada à outras alterações.
Figura 14 - Artrose em S. fluviatilis do Rio de Janeiro: a) vista anterior de vértebra cervical (C3) de exemplar (UERJ-MQ 71) com sinais de zigartrose; b) vista anterior de vértebra torácica (T7) de S. fluviatilis (UERJ-MQ 111) com sinais de discartrose.
Em dois casos (MN50104, UERJ-MQ 71 ), a discartrose estava associada à
trauma por esmagamento na vértebra caudal, enquanto em outro exemplar (MN
50112) os sinais de lise óssea na região torácica (T2, T 4, T5 T6, T7), ocasionados
pela discartrose, estavam associados à alterações de desenvolvimento presentes
nesta região. A associação de discartrose com espondiloartrite foi observada em
vértebras torácicas (UERJ-MQ 111) e lombares (UERJ-MQ 33 • UERJ-MQ 111),
havendo a presença de sindesmófitos formando pontes entre as vértebras (Fig. 15)
A espondiloartrite num dos espécimens (UERJ-MQ 33) foi registrada através
de sindesmófitos ventrais que formavam pontes entre a 9ª e 12ª vértebras
lombares (Fig. 15). Sinais de destruição óssea, devido a discartrose foram
observados nos corpos das 8ª, 9ª e 1 Oª vértebras lombares. Neo-formações
41
ósseas devido à espondilo-artrite também estavam presentes nos corpos
vertebrais da 1 ª a 3ª vértebras caudais.
Figura 1 5 - Discartrose associada à espondiloartrite em exemplar de S. fluviatilis (UERJ-MQ 33} do Rio de Janeiro: a) vista posterior da 8ª vértebra lombar com sinais de discartrose; b) vista ventral de vértebras lombares (L9-L 1 2) com espondiloartrite, mostrando as pontes ósseas formadas por sindesmófitos. Escala = 1 cm.
Em um exemplar, UERJ-MQ 1 1 1 , a espondiloartrite foi registrada entre a 5ª
e 9ª vértebras torácicas e entre a 5ª e 6ª vértebras lombares, observando-se sinais
de discartrose na região afetada, além da anquilose entre a T7 e a T8 através de
sindesmófitos ventrais.
03.1 . 12 - Anomalias da Morfogênese ou do Desenvolvimento
Anomalias da morfogênese ou do desenvolvimento, como são geralmente
chamadas, foram encontradas em diversas áreas do esqueleto axial de 22
indivíduos (29,3%). Alterações da forma dos ossos foram evidenciadas em 1 8
indivíduos, enquanto alterações do tamanho foram observadas em dez, seis deles
com os dois tipos.
42
As alterações atingiram principalmente o campo de desenvolvimento do
mesoderma paraxial (Tab. 9) sendo, principalmente, ocasionadas por hipoplasia
(sub-desenvolvimento) de estruturas ósseas no decorrer da morfogênese.
Tabela 9 - Freqüências de Ocorrência de ossos afetados por anomalias da morfogênese e respectivos campos de desenvolvimento, registrados em esqueletos de S. fluviatilis do Rio de Janeiro.
Campo de Reg ião Afetada por Anomalia N. de %
Desenvolvimento Casos
Mesoderma Paraxial: Crânio: Supraoccipital 1
Exoccipitais (côndilos) 2
Coluna: Cervicais 7
Torácicas 9
Lombares 1
Costelas 9
Placas Esternais: Esterno 7
Arco Branquial 1 : Maxilas 6
Arco Branquial l i : Ossos de Hióide 1
1,35
2,70
9,33
12,00
1,33
12,00
9,33
8,00
1,33
Dos 7 4 crânios analisados, três apresentaram alterações de morfogênese. O
exemplar MZUSP 25626 apresentou elevação na região mediana do
supraoccipital, provavelmente resultante de centro de ossificação aberrante no
segmento durante o estágio blastemal do esqueleto. Aparentemente, tal alteração
de forma não prejudicou o desempenho ou a sobrevivência do indivíduo (Fig. 16).
Os côndilos occipitais de dois exemplares (MN50112, MZUSP 25618) possuíam
alterações de tamanho e forma, devido à hipoplasia. Podendo-se notar em um dos
casos (MN50112), alteração na forma do foramen magno (Fig. 16).
43
Figura 1 6 - Anomalias de morfogênese em crânios de S. fluviatilis do Rio de Janeiro: a) vista lateral do supraoccipital do exemplar MZUSP 25626, mostrando elevação; b) côndilos occipitais com alterações de forma e tamanho do exemplar MN501 1 2. Escala = 1 cm.
Alterações de tamanho do atlas foram observadas em facetas articulares
(MZUSP 2561 8, MN501 1 2) e diapófises (UERJ-MQ 27, MZUSP 2561 3), além das
alterações de forma do espinho neural (UERJ-MQ 06, MN501 1 2).
Casos de falha na segmentação dos esclerótomos foram registradas na
região cervical e torácica de seis indivíduos (BB 37, UERJ-MQ 33, UERJ-MQ 60,
UERJ-MQ 76, UERJ-MQ 1 22, MZUSP 2381 1 ). O exemplar UERJ-MQ 1 22 possuía
a 3ª vértebra cervical parcialmente unida ao áxis. Um caso de falha de
segmentação foi observado na 7ª cervical e 1 ª torácica (UERJ-MQ 76), que
apresentavam as extremidades das neuroapófises unidas, com fr�tura secundária
na região. Um dos indivíduos (MZUSP 2381 1 ) possuía a 1 ª e 2ª vértebras torácicas
muito próximas e o arco neural direito de T1 não estando fusionado à
neuroapófise. O exemplar UERJ-MQ 60 apresentava uma extensão óssea na
diapófise direita da 5ª vértebra torácica em direção ao arco neural da vértebra
anterior. Falhas de segmentação (Fig. 1 7) foram também observadas entre corpos
(BB 37) e neuroapófises (UERJ-MQ 33) das 5ª e 6ª vértebras torácicas.
Casos de hipoplasia hemi-metamérica (Fig. 1 7) foram registrados em corpos
de vértebras cervicais (MN501 1 2) e de vértebras torácicas (BB 37, UERJ-MQ 33,
44
MN50112). Um exemplar (MZUSP 25607) possuía hipoplasia na 10ª vértebra
torácica que apresentava o lado esquerdo da neuroapófise menor. Dois indivíduos
(UERJ-MQ 06, UERJ-MQ 33) apresentavam a 1 2ª vértebra torácica sem faceta
articular em uma das diapófises.
Figura 17 - Anomalias de morfogênese em vértebras torácicas de exemplar de S. fluviatilis do Rio de Janeiro (UERJ-MQ 33): a) vista lateral de vértebras torácicas (T5 -T7), mostrando falha de segmentação em neuroapófises e hipoplasia hemimetamérica na 6ª torácica; b) vista anterior da 8ª vértebra torácica com aplasia da diapófise direita. Escala = 1 cm.
Outras alterações foram registradas na região torácica envolvendo
alterações de tamanho de zigopófises (UERJ-MQ 16) e aplasia (Fig. 17) de
diapófise (UERJ-MQ 33).
Somente um indivíduo (UERJ-MQ 33) apresentou alterações de
morfogênese na região lombar, estando associada a ocorrência de hemi-vértebra
extra numerária, descrita posteriormente (Fig. 20).
Alterações de tamanho foram observadas na 1ª costela direita (UERJ-MQ
61), 5ª costela direita (UERJ-MQ 76), 2ª costela esternal direita (BB 37) e 6ª
costela esternal esquerda (MN 50104), que apresentavam tamanho reduzido.
45
Alterações de forma foram observadas nas costelas de seis indivíduos (BB
37, UERJ-MQ 16, UERJ-MQ 23, UERJ-MQ 33, UERJ-MQ 71, UERJ-MQ 122). Dois
casos (UERJ-MQ 16, UERJ-MQ 33) apresentavam articulação ou ponte parcial na
2ª costela esquerda. O 2° par de costelas de um outro indivíduo (UERJ-MQ 122)
apresentava-se curvado e com alargamento ("flaring") das extremidades (Fig. 18).
Este exemplar também possuía as costelas esternais com sinais de alargamento
(1° par) e curvatura (2° par). Casos de fusão foram observados tanto em costelas
verdadeiras (UERJ-MQ33) quanto em costelas esternais do 2° e 3° pares (UERJ
MQ 33, UERJ-MQ 71). O exemplar UERJ-MQ 23 apresentava uma exostose na
faceta de articulação da 1 ª costela esternal em direção ao esterno, enquanto BB 37
apresentava a 2ª costela esternal com parte do esterno fusionado em sua
articulação.
Sete indivíduos apresentaram alterações quanto à forma envolvendo o
manúbrio (MZUSP 25616) e principalmente as 1ª e 2ª esternebras (MN50112,
B837, UERJ-MQ 02, UERJ-MQ 33, UERJ-MQ 71, UERJ-MQ 76) do esterno
(Fig. 18).
Figura 18 - Anomalias de desenvolvimento em costelas e esterno de S. fluviatilis do Rio de Janeiro: a) 2° par de costelas do exemplar UERJ-MQ 122 com alargamento nas extremidades distais; b) vista dorsal do esterno do exemplar UERJ-MQ 33 com alterações em esternebras. Escala = 1 cm.
46
Seis espécimens (UERJ-MQ 02, UERJ-MQ 06, UERJ-MQ 71 , UERJ-MQ 97,
BB 37, MZUSP 2561 6) apresentavam curvatura lateral na porção distal das
maxilas, pré-maxilas e mandíbulas, possivelmente devido a hipoplasia (Fig. 1 9) .
Num dos casos (MZUSP 2561 6) as mandíbulas também estavam encurvadas
dorsalmente. Todos os espécimens possuíam curvatura para o lado esquerdo, com
exceção do exemplar UERJ-MQ 71 , em que a curvatura ocorria para o lado direito.
O osso basihial do exemplar BB 45 apresentava alteração de forma e
encurvamento.
Figura 1 9 - Curvatura devido à hipoplasia em esqueletos de S. fluviatilis do Rio de Janeiro: a) Vista dorsal de maxilas encurvadas para a direita (UERJ-MQ 71 ) ; b) Vista ventral da 5ª e 6ª vértebras torácicas do exemplar BB 37, mostrando os corpos encurvados para a esquerda. Escala = 1 cm
Curvaturas laterais da coluna vertebral foram observadas em exemplares da
região norte fluminense (BB 37) e Baía de Guanabara (MN 501 1 2, UERJ-MQ33).
Tratam-se de casos de escoliose secundárias à anomalias da morfogênese da
coluna vertebral.
O exemplar BB 37 apresentava os corpos da 4ª a 7ª vértebras torácicas
encurvados para a esquerda, devido à hipoplasia hemi-metamérica. A anomalia
47
está relacionada à falha de segmentação dos esclerótomos entre os corpos da 5ª e
6ª vértebras torácicas, parcialmente unidos (Fig. 1 9) .
A escoliose do exemplar MN501 1 2, encontrado na Baía de Guanabara foi
resultado de anomalias de desenvolvimento das vértebras cervicais e torácicas
(Fig.20). O exemplar MN501 1 2 possuía alterações de tamanho e forma dos
côndilos occipitais. A assimetria dos côndilos bem como as alterações no bloco
cervical ocasionaram uma faceta de articulação anômala, lateral ao côndilo
occipital esquerdo. Quatro cervicais não apresentavam a porção direita do corpo
vertebral, estando três delas (C3, C4, CS) parcialmente fusionadas por pontes
ósseas ventrais. A curvatura da coluna atingiu quinze vértebras (C1 -T8), onde
observou-se alterações de forma, desenvolvimento de anquilose, linhas de fratura
e pontes ósseas completas, ou em progressão.
Figura 20 - Escoliose em exemplares de S. fluviatilis oriundos da Baía de Guanabara, RJ: a) vista dorsal de porção da coluna vertebral do exemplar MN501 1 2, compreendida entre o atlas e a r vértebra torácica, mostrando sinais de escoliose; b) vista ventral da meia vértebra extra numerária entre a 2ª e 3ª
lombares do exemplar UERJ-MQ 33. Escala = 1 cm.
48
3.1 . 13 - Descrição de Espécimen com Severas Anomalias Ósseas
Um exemplar macho de 8 anos de idade (UERJ-MQ 33), proveniente de
encalhe na Baía de Guanabara, apresentou severas alterações em seu esqueleto,
que englobavam tanto "dobras" nas epífises vertebrais como alterações de
natureza traumática, de morfogênese, infecciosa e degenerativa. As alterações
traumáticas e degenerativas observadas no esqueleto axial deste exemplar são
secundárias à severas anomalias congênitas. O crânio do exemplar apresentava
padrão anatômico normal.
A região cervical da coluna vertebral apresentava indícios de esforço
ocasionado pela compressão dos corpos vertebrais, tais como osteofitose no bordo
ventral dos corpos da 3ª a 7ª vértebra cervicais e a ocorrência de "dobras" nas
epífises do áxis, CS, C6 e C7. As epífises do áxis e da 3ª vértebra cervical
possuíam alterações quanto à forma e tamanho devido a expansão lateral das
mesmas. Fraturas foram registradas nos corpos da 3ª e 5ª cervicais. A região de
apoio do capítulo da 1 ª costela verdadeira na J8 vertebra cervical apresentava
sinais de artrose, indicando grande tensão na região. Os sinais de esforço também
foram observados na 1 ª e 2ª vértebras torácicas, que apresentavam "dobras " em
suas epífises, expansão lateral do corpo vertebral (T1 ) e aumento de tamanho da
faceta articular da pós-zigopófise (T2).
A coluna vertebral possuía curvaturas laterais, escoliose, ocasionada por
uma meia vértebra lombar extra-numerária do lado direito da coluna, situada entre
a segunda e terceira lombares (Fig. 20). A escoliose atingia a região torácica e
lombar (T3-L5) e as quinze vértebras apresentavam os seus corpos encurvados
(Fig.2 1 ) . Várias destas, possuíam sinais de osteofitose (T3P, T4 , T5P, T6P, T7P,
T9P, T1 0, T1 1 , T1 2A), deslocamento lateral da epífise (T3P, T6P, T?P, T8A, T9P,
. �· . 49
T1 0A, T1 2P) ou depressões como resultado do esforço aumentado entre
vértebras.
Figura 2 1 - Vista ventral de porção da coluna vertebral (T3 - LS) de S. fluviatilis (UERJ-MQ 33) oriundo da Baía de Guanabara (RJ), mostrando evidências de escoliose. Escala = 1 cm.
A 5ª e a 6ª vértebras torácicas estavam unidas através das neuroapófises, e
seus corpos eram encurvados para a esquerda devido a hipoplasia hemi
metamérica, mais evidente em T6 que apresentou o lado esquerdo do corpo com
menor comprimento e a diapófise sub-desenvolvida (Fig. 1 7). A porção referente à
metapófise esquerda da 7ª vértebra torácica estava fusionada ao bloco anterior
(T5-T6) e separada de sua respectiva vértebra devido à uma fratura (Fig 1 7) . A 7ª
vértebra torácica apresentava também notáveis alterações de forma e tamanho
envolvendo as diapófises. A 8ª e a 9ª vértebras torácicas não possuíam,
respectivamente, a diapófise e a metapófise direitas. Sinais de esforço aumentado,
tais como depressões foram observados na base das neuroapófises {T8 a T1 0) de
vértebras torácicas, havendo fratura na base da neuroapófise da 9ª vértebra
torácica (Fig. 22). A 1 Oª vértebra torácica apresentava a diapófise esquerda de
50
maior tamanho que a direita. Pontes ósseas incompletas foram registradas entre a
1 1 ª e 1 2ª vértebra, esta última apresentando fratura por esmagamento na porção
anterior de seu corpo vertebral. As facetas articulares das diapófises das vértebras
torácicas apresentaram de leve (T4) a severas (T7) evidências de artrose,
indicando o alto esforço na articulação costo-vertebral (Fig. 17).
As alterações nas costelas estavam muitas vezes relacionadas às
anomalias nas vértebras torácicas. A 1 ª costela direita possuía aumento de
tamanho na porção entre o tubérculo e a área de maior curvatura. A 2ª costela
esquerda apresentava ponte com articulação com a 1 ª costela esquerda (Fig. 22).
A 6ª costela esquerda, apresentando anormalmente cap ítulo, estava parcialmente
fusionada à Sª costela desde a região do tubérculo (Fig. 22). A 8ª costela direita,
sem tubérculo, se fundiu à 9ª costela na porção próxima a articulação costo
vertebral, havendo posteriormente fratura das duas na região distal da área de
fusionamento (Fig. 22). A 2ª e a 3ª costelas esternais esquerdas encontravam-se
unidas na região da faceta da articulação com o esterno, que apresentava também
alterações de forma e tamanho nas esternebras correspondentes à esta região,
além de sinais de artrose em suas facetas articulares.
A hemi-vértebra extra numerária (Lx), fusionada à 2ª e a 3ª vértebras
lombares, apresentava meio corpo, arco neural direito, diapófise direita e lado
direito da neuroapófise (Fig. 20). A neuroapófise da 2ª vértebra lombar e o lado
direito da 3ª vértebra lombar apresentavam-se bem mais estreitas que o normal. O
lado direito da neuroapófise da Lx fusionou-se com o lado esquerdo da
neuroapófise da 3ª vértebra lombar. O lado direito, mais estreito , da neuroapófise
de L3 apresentou-se unido à estas somente na extremidade. A 2ª vértebra lombar
estava notadamente deslocada para o lado esquerdo.
5 1
Figura 22 - Alterações ósseas em exemplar de S . fluviatilis (UERJ-MQ 33) oriundo da Baía de Guanabara, RJ: a) vista lateral da 9ª vértebra torácica com fratura na base da neuroapófise; b) vista anterior de costelas esquerdas com alterações de desenvolvimento (2ª costela, 5ª e 6ª costelas). Escala = 1cm.
As vértebras na região que compreende desde a 6ª vértebra lombar até a 3ª
vértebra caudal apresentavam neo-formações ósseas de textura diferencial,
envolvendo seus corpos vertebrais, não aparentando padrões normais de
osteofitose semelhante à processo reativo do periósteo. Grandes sindesmófitos
ventrais (Fig. 15) foram evidenciados formando pontes ósseas entre as vértebras
L9- L 12 (lado direito) e L9-L 10 (lado esquerdo). Lesões ósseas com perfurações,
características de discartrose, foram observadas nos espaços entre as vértebras
do bloco fusionado e na epífise posterior da 8ª vértebra lombar (Fig. 15). Tais
evidências foram identificadas como espondiloartrite com associação com
discartrose e possível associação infecciosa. Sinais de osteofitose foram
observados também na região lombar (L 1A, L4P, L6P, L7, L8A).
O exemplar apresentava ainda uma fratura em cicatrização na região
posterior do bordo da escápula esquerda.
52
3.2 - Análise Estatística
3.2.1 - Número de Peças Afetadas por Alterações Ósseas (NPAF)
O número de peças afetadas por alterações ósseas (NPAF) não foi
significativamente diferente entre fêmeas e machos (Zc = - 1,423; n1 = 35; n2 = 35; p =
O, 155) (Fig. 23) e tendeu a ser maior em indivíduos maturos fisicamente (Zc = -5,007;
n1 = 59; n2 = 16; p = 0,000) e naqueles oriundos da área central fluminense (Zc =
-3, 164; n1 = 51; n2 = 18; p = 0,002) (Fig. 23).
a 30 25 20 15
\l: 10 z 5
o .5
-10
1
,, b
I *1.96"Std. º""· m *1.00ºStd. °""·
Flmea Macho SEXO
28
d 24
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\? 16
� 12 8
4
o
M6dia
T 1 2 3 4
CLASSES DE IDADE
35 30 25 20
� 15
t z 10
5 o
-5 lrreturo Matu,o
MATURIDADE FÍSICA
:r: *5td. Dev. *Std. Err. . Média
e 35 30
i' 25 20
\l: 15 n. 10 z 5
I ti .96-Stx:t. Oev. o :C *1.96"Stx:t. Oev. DBI t1.00"Stx:t. oav. -5 • *1 .00"S1d. Oev. . Média ·10
NorlB Central . Média ÁREA
24
e 20 1
16
�Tf \? 12 8 z 4
o :e *std. Dev,
1 liiiiil *std. Err. -4
1 2 3 Média
CLASSES DE TAMANHO
Figura 23 - Distribuição do número de peças afetadas por alterações ósseas (NPAF) comparado às variáveis sexo (a), maturidade física (b), área de procedência (c), classes de idade (d) e tamanho (e) dos botos S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro. Classes de idade: 1 = O a 7 anos; 2 = 8 a 15 anos; 3 = 16 a 23 anos; 4 = 24 a 31 anos. Classes de tamanho: 1 = 1105,0 a 1436,6 mm ; 2 = 1436,7 a 1768,3 mm ; 3 = 1768,4 a 2100,0 mm.
O número de peças ósseas afetadas apresentou-se correlacionado à idade (rs
= 0,789; n = 69; P = 0,000) e ao comprimento total (rs = 0,689; n = 72; P = 0,000) dos
indivíduos mas diferiu entre as classes de idade (H=32,472 ; gl = 3; n = 69; p = 0,000)
e de tamanho (H = 31,866 ; gl = 2; n = 72; p=0,000) (Fig. 23).
53
3.2.2 - Número de Categorias de Alterações Ósseas (NAL T)
O número de tipos de alterações ósseas (NAL T) não foi significativamente
diferente entre fêmeas e machos (Zc=- 1 ,41 1 ; n1 = 35; n2 = 35; p = O, 1 58) de boto
cinza (Fig. 24) e tendeu a ser superior em indivíduos fisicamente maturos (Zc =
-5,255; n1 = 59; n2 = 1 6; p = 0,000) e espécimens oriundos da área central fluminense
(Zc = -3,590; n1 = 51 ; n2 = 1 8; p = 0,000).
a 6 b 6.5 e 8,5
5
,, 5.5
't 4.5
.... 3 ,-. 3.5 3.5
� 2 � 2.5 1 2 1 1.5
0.5 I :i:1.96.511:1. ºª" 0.5 :C •• .9S-Std. Oev. o ::C •1.86"S1d. OeY. 1111 .,.oo·S1d. o.-. 1m •1.00"S1d. Oov. -0.5 _, & •1 DO"S1d. O... _, Imaturo Maruro M6dl1
Ftmo1 Macho . M6dla Norte Central • M6<:N1 MATURIOI\DE FISICA ÁREA SEXO
5.5 5.5
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!'� 3.5
Tf 3.5
� 2.5 � 2.5 z
1.5 1.5 :C 2:Sld.O.v. 0.5 � ::C •S1d. Oev.
g :tStd. Err. BIB •S1d. Err. 0.5 -0.5 1 2 3 . M<dio 2 3 . M6dla CLASSES DE IDADE CL.A.SSES DE TAMANHO
Figura 24 - Distribuição do número de categorias de alterações ósseas (NAL T) comparado às variáveis sexo (a), maturidade física (b) , área de procedência (c), classes de idade (d) e tamanho (e) dos botos S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro. Classes de idade: 1 = O a 7 anos; 2 = 8 a 1 5 anos; 3 = 1 6 a 23 anos; 4 = 24 a 3 1 anos. Classes de tamanho: 1 = 1 1 05,0 a 1436,6 mm ; 2 = 1 436,7 a 1 768,3 mm ; 3 = 1 768,4 a 21 00,0 mm.
O número de categorias de alterações apresentou-se correlacionado à idade (rs
= 0,8 1 7; n = 69; P = 0,000) e ao comprimento total (rs = 0,725; n = 72; p = 0,000) e
diferiu entre as classes de idade (H = 35,035; gl = 3; n = 69; p = 0,000) e de tamanho
(H = 35,304; gl = 2; n = 72; p= 0,000) (Fig. 24).
54
O número de tipos de alterações (NAL T) e de peças afetadas por lesões
(NPAF) tenderam a aumentar de acordo com o avanço da idade e aumento de
tamanho dos espécimens havendo uma proporção maior de individuas da área central
� fluminense com os esqueletos mais afetados por alterações de natureza distinta . �
3.2.3 - Alterações ósseas
As ocorrências de alterações traumáticas ('x;2c = 0,241 ; gl = 1 ; p = 0,623), de
desenvolvimento (x.2c =1 ,750; gl= 1 ; p = 0 , 186) e infecciosas (x2c = 1 ,036; gl = 1 ; p =
0 ,309) ocorreram de maneira independente do sexo dos indivfduos {nF =35, nM =35) ,
ao contrário das alterações degenerativas (x2c = 4 ,1 44 ; g l = 1 ; p = 0,042) que
ocorreram com maior freqüência nos espécimens de sexo feminino (Fig. 25) .
70% . .
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0% TRA DES INF DEG
m! Macho !!D Fêmea
100%
80%
60%
40%
20% H:
0% ,;, TRA DES INF DEG
m lmaturo mMatlJ"O
Figura 25 - Freqüências de ocorrência de alterações ósseas de natureza traumática {TRA) , de desenvolvimento {DES) , infecciosa (INF) e degenerativa (DEG) em relação ao sexo (nM =35, nF =35) e maturidade flsica (n,m =59, nMt = 1 6) dos espécimens de S. fluviatilis do l itoral do Rio de Janeiro.
As alterações traumáticas (x.2c = 0,737, gl = 1 ; p = 0,391 ) e infecciosas (x.2c =
2 ,068 ; g l = 1 ; p = O, 1 50) não estiveram associadas à maturidade física dos bbtos (n 1m
= 59, nM = 1 6) . Porém, a ocorrência de alterações de desenvolvimento (x.2c= 1 7,757;
55
gl= 1 ; p = 0,000) e degenerativas ('x;2c = 36,954; gl=1 ; p=0,000) foram relacionadas à
maturidade fisica dos individuos (Fig. 25) .
As alterações traumáticas (x.2c = 2,041 ; g l = 1 ; p = 0,1 53) e infecciosas Cx.2c =
0,029; gl = 1 ; p = 0,864) ocorreram independentemente das áreas delimitadas para a
constituição das amostras norte fluminense (nNF = 51 ) e central fluminense (ncF = 1 8) ,
ao contrário das anomal ias de desenvolvimento (r:c =1 1 ,576; gl= 1 ; p= 0,00 1 ) e
alterações degenerativas (x2c = 8,953; gl = 1 ; p = 0,003) que apresentaram-se
associadas à área de procedência dos indivlduos (Fig. 26) . As alterações de natureza
degenerativa e de morfogênese foram registradas com maior freqüência nos
exemplares oriundos da área central fluminense e em indivfduos maturos.
80%
70% 60%
50% 40% m Norte
30% m central
20%
1 0% 0%
TRA DES INF DEG
Figura 26 - Freqüências de ocorrência das categorias de alterações ósseas traumáticas (TRA) , de desenvolvimento (DES) , infecciosas (INF) e degenerativas (DEG) em relação à área de procedência (nNF =51 , ncF = 1 8) dos espécimens de S. fluviatilis do l itoral d o Rio de Janeiro.
3.2.4 - Número Total de "Dobras" em Epífises Vertebrais
O número total de "dobras" nas epífises vertebrais não foi significativamente
d istinto em relação ao sexo (Zc= -0,426; n 1 =34; n2
= 35; p = 0,670) e maturidade
56
física (Zc = -1 , 9 17; n1 =59; n2 = 1 5; p = 0,055) dos indivíduos (Fig. 27). Porém, o
número tendeu a ser maior em indivíduos oriundos da área central fluminense (Zc = -
3,905; n1 =51 ; n2 = 1 7; p = 0,000).
O número total de "dobras" nas epífises vertebrais do bloco cervical e 1 ª .
vértebra torácica (NTDR) nos espécimens analisados apresentou-se correlacionado à
idade (rs = 0,486; n = 68; p = 0,000) e ao comprimento total (rs = 0,521 ; n = 7 1 ; p =
0,000) dos indivíduos. O número de "dobras" diferiu entre as classes de idade (H
= 10 227· gl = 3· n =44· n = 12· n =6· n =6· p =O 01 7) e de tamanho (H = 20 781 · gl= , , , 1 , 2 , 3 , 4 , , , ,
2; n1 =1 1 ; n2 =28; n3 =32; p= 0,000) (Fig. 27) .
100 .------�
a ªº 60
2í 40 z 20
Fêmea Macho
b
:C z1.96"5"1. Ot
i:iiJ •1.00-Sld. Ot . M6dla
"'
100
80
' 60
40
20
o
·20 Imaturo MabJro
SEXO MATURIOADE FÍSICA
d 80 .--------, 70
5 : !i � : T 10 :C ±Sld. OOY. o�-----� nm ±Sld. Err.
1 2 3 4 ° M6dia CLASSES DE IOADE
e
e 80
80
� .... 20 z :t: •1.96"5"1. Oev. :t: z1.96"5':I. Oev. liiiJ >1.00ºSld. Oev. 11111 >c1.00'S1d. Oev. . M6dla
-20 Nortlt Central . M6dla
ÁREA
70 60 50
5 30 � 20
10 o :C •Sld. De..
-10 L____.L ____ _... 1111 ±Sld. Err.
1 2 3 CLASSES DE TAMANHO
· -
Figura 27 - Distribuição do número total de "dobras" nas epífises vertebrais do bloco cervical e 1 ª . vértebra torácica (NTDR) comparado às variáveis sexo (a), maturidade física (b), área de procedência (c) , classes de idade (d) e tamanho (e) dos botos S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro. Classes de idade: 1 = O a 7 anos; 2 = 8 a 1 5 anos; 3 = 1 6 a 23 anos; 4 = 24 a 3 1 anos. Classes de tamanho: 1 = 1 1 05,0 a 1 436,6 mm ; 2 = 1 436,7 a 1 768,3 mm ; 3 = 1 768,4 a 2 1 00,0 mm.
57
3.2.5 - Associações entre Categorias de Alterações
Com relação às freqüências de ocorrência, as alterações de natureza
degenerativa e de desenvolvimento tiveram um elevado grau de associação (<h. =
0,476; r0 = 0,547) entre si. As alterações degenerativas e infecciosas apresentaram
um grau de associação mais baixo (<h. = 0,242 ; rn = 0,333), assim como as alterações
de desenvolvimento e traumáticas (<h. = 0,255 ; rn = 0, 1 20) . As demais alterações não
apresentaram valores expressivos dos coeficientes de contingência (Tab. 1 0 .
Tabela 1 0 - Valores de Associação entre os tipos de alterações ósseas encontradas em S. fluviatilis da costa do Rio de Janeiro. Des. = Desenvolvimento; Deg = Degenerativa; Tra = Traumática; lnf = Infecciosa. ( </>2= Coeficiente de Contingência de Cramér (Phi) ; r n = Coeficiente de Correlação de lves & Gibbons ; rs = Coeficiente de Correlação de Spearman)
Alterações <h, rn r5
Des x Deg 0,476 0,547 0,476 (t = 4,628 ; p = 0,000)
Deg X l nf 0,242 0,333 0,242 (t = 2, 1 36 ; p = O, 036)
Tra X Des 0,255 0, 1 20 0,255 (t = 2,254; p = 0,027)
Tra X Deg 0, 1 36 0,040 0, 1 36 (t = 1 , 1 77; p = 0,243)
Des x lnf -0,002 0, 1 47 -0,002 (t = -0,02 1 ; p = 0,983)
Tra X lnf -0,002 -0,093 -0,002 (t = -0,020; p = 0,984)
3.2.6 - Alterações por Reg ião da Coluna Vertebral
A análise de agrupamentos, levando-se em consideração o número de
categorias de alterações nas quatro regiões da coluna vertebral, evidenciou uma
maior similaridade entre o bíoco l'ombar e caudal (Fig. 28). Essas áreas apresentaram
58
baixas freqüências de lesões e, geralmente, restritas à traumatismos. As regiões
cervical e torácica, com um número maior de alterações e localizadas na porção de
maior volume dos indivíduos, foram reunidas em um grupo distinto, sugerindo uma
unidade funcional sujeita a fatores de stress similares. O coeficiente de correlação
cofenético foi expressivo (rcs = 0,971; p < 0 ,001) entre a matriz cofenética e de
distâncias .
Figura 28 - Análise de similaridade considerando as distâncias Euclidianas entre o número de categorias de alterações nas regiões da coluna vertebral. NACE = Nº de alterações na região cervical; NATO = N º de alterações na região torácica; NALO = N º
de alterações na região lombar; NACA = Nº de alterações na região caudal. (rcs = 0,971 ; p < 0,001 )
As relações entre os indivíduos e seus respectivos grupos, levando-se em
consideração o número de categorias de alterações nas diferentes regiões da coluna
vertebral foram evidenciadas através da análise de componentes principais (Fig. 29).
Os blocos cervical e torácico, com um número maior de alterações ósseas, foram os
principais responsáveis pela variabilidade observada (Tab. 11 ). Os 1 ° e 2°
componentes representaram 75,0% da variância da amostra. As alterações nas
regiões caudal e lombar, responsáveis por 32, 7% da variação, apresentaram-se
59
associadas ao segundo eixo. Ambos os componentes separaram as distintas
amostras evidenciando unidades de stress de acordo com o número de lesões. O 1 °
eixo separou as amostras em dois extremos, de acordo com o número de lesões no
bloco cervical e torácico, separando espécimens com alta freqüência de lesões
daqueles mais jovens pouco lesionados. O 2° dividiu as amostras em dois extratos de
acordo com o número de alterações na região lombar e caudal da coluna (Fig. 29),
sendo uma expressão da área posterior do corpo que apresenta um menor diâmetro.
Tabela 11 - Cargas dos Fatores considerando o número de categorias de alterações nas regiões cervical (NACE), torácica (NATO), lombar (NALO) e caudal (NACA). Expl. de Var. = Variância Explicada; Prop. Total = Proporção Total de Variância Explicada; * Valores com carga maiores do que O, 70.
NACE
NATO
NALO
NACA
Autovalor
Expl. de Var. Prop. Total
Fator Fator
1 2 0,906* O, 117 0,890* 0,248 0,272 0,720* 0,068 0,846*
2, 111 0,891 1,692 1,309 0,423 0,327
As relações dos grupos e indivíduos com relação aos eixos (Fig. 29) mostraram
uma forte influência das variáveis tamanho, maturidade física, idade e área de
procedência. A existência de um gradiente em ambos os eixos evidenciou a
predominância de indivíduos mais novos, geralmente da área norte, separados de
indivíduos mais velhos predominantes na área central fluminense.
Os indivíduos com poucas dobras nas epífises das vértebras cervicais (n=4) ou
torácicas (n= 18), ou sem lesões (n=6), corresponderam à imaturos com até 5 anos
60
provenientes da área norte fluminense (Grupo 1 , n = 28). Este grupo também
englobou cinco indivíduos com até 1 O anos oriundos das áreas norte e central
fluminense. Um indivíduo adulto com severas anomalias ao longo da coluna e oriundo
da área central constituiu um grupo bastante distinto (Grupo 7, n = 1 ). Indivíduos
adultos com mais de 1 5 anos de idade (Grupos 5 e 6) ou de tamanho superior a 1 90
cm, a maioria oriunda da área central, caracterizaram-se por altas freqüências de
alterações nas regiões cervical e torácica. O Grupo 5 (n = 6) incluiu indivíduos
apresentando três a quatro tipos de lesões no bloco cervical, dois a três tipos no bloco
torácico e nenhuma alteração nas regiões lombar e caudal. O Grupo 6 (n = 3) reuniu
indivíduos que apresentavam dois a três tipos de alterações na região cervical , três
tipos no bloco torácico e a região lombar ou caudal com alteração. Indivíduos imaturos
com 2 a 7 anos de idade (Grupo 2, n = 5), provenientes da área norte, caracterizaram
se por apresentarem os blocos ceI " ,. 1 e torácico com um ou dois tipos e as demais
regiões com um tipo de lesão. A maioria dos indivíduos imaturos das duas áreas
(Grupos 3 e 4) caracterizaram-se por apresentarem poucas lesões em vértebras
cervicais e torácicas. O Grupo 3 (n = 23), composto por indivíduos sem lesões nos
blocos lombar e caudal e com mais de um tipo de alteração nas regiões cervical e
torácica, incluiu imaturos de três a 1 1 anos (n = 1 7), além de maturas com mais de 20
anos das áreas norte (n = 3) e central (n = 3) fluminense. O Grupo 4 (n = 9) abrangeu
exemplares imaturos com mais de quatro anos de idade e dois adultos oriundos das
áreas norte e central fluminense que apresentavam dois a três tipos de lesões no
bloco cervical, um a dois tipos na região torácica e a região lombar e/ou caudal com
uma alteração. Grande parte dos indivíduos com lesões na região lombar ou caudal
'--
61
(grupos 2, 4 e 6) apresentavam um tipo de alteração, geralmente de natureza
trau mática.
0.Q
lb
º
f
s O.O MACA : M ALO '
� º' •
·ª f o.e
< à º" � 4 .5
+- g o.• z ,- 03 : MATO
� Q,2 •
MACE 3 .5
o., • ºo 0.2 M 0,t º·' 1 - FATO/l 1 ("2.31') '*' •
r- 2 .5 • •
N 1 .5
• ' o:: • & Ai
0 .5 • lL • • e Grupo 1 Grupo 2
o Grupo 3 -0 .5 o �
i � • Grupo 4 A A Gru po 5 õ
-1 .5 .. Gru po 6
-2.5 -1 .5 -0.5 0 .5 1 .5 2 .5 3 .5 + Grupo 7 .. FATOR 1 (42,3%)
NACE, NATO 1
Figura 29 - Anál ise de componentes principais considerando o número de categorias de alterações nas regiões da coluna vertebral: a) exemplares de S. fluviati/is do l itoral do Rio de Janeiro (n = 75) ; b) relação entre as variáveis e os componentes principais (eixos). NACE = Número de alterações na região cervical ; NATO = Número de alterações na região torácica ; NALO = Número de alterações na região lombar; NACA= Número de alterações na região caudal.
A anál ise dos escores dos indivlduos no 1 º fator da anál ise de componentes
principais, baseada no número de categorias de alterações nas regiões da coluna
vertebral , não apresentou associação com o sexo (Zc = - 1 ,91 4; n1 = 35; n2 = 35; p =
0,056) dos indivlduos (Fig . 30). Contudo, os valores do primeiro eixo foram
significativos para a separação dos grupos quanto à maturidade ffsica (Zc = -4,567; n1
= 59; n2 = 1 6; p = 0,000) , área de ocorrência (Zc = -3,329; n1 = 51 ; n2 = 1 8; p = 0,001 ),
62
classes de idade (H = 23,055 ; gl = 3; n = 69; p = 0,000) e classes de tamanho (H =
24,382 ; gl = 2; n = 72; p = 0,000) indicando uma relação destas variáveis com as
alterações no bloco cervical e torácico (Fig. 30).
a 3.5 �----�
2.5
1.5
g 0.5
� -0.5
b 3.5
2.5
1 .5
3 0.5
� -0.5
e 3.5
2.5
1 .5
0.5
-0.5
-1.5 I •1.96'S<!. O,,,,. -1.5 I •1.96"St!. °""· -1.5 I •1.96"St!. Dev. ,..__ ____ _J - •1.00'S1d. O,,,,. •2.5 ��---� 8 *1.00"St!. O,,,, . • 2.5 ______ - •1.00'8111. Dev.
•2·5 Ftme1 Macho • - lmaluro Maturo • M6dill Norte Central • M6dill sexo MATURDAOE FISICA ÁREA
d 2.5
2
f,,� 1.5 1
� 0.5 � o u.
-0.5 -1
-1.5 1 2 3 4
CLASSES OE DAOE
e
:::r:: zSll:I. Dev. 111B zSll:I. Etr. . >Mdia
2 1.5
1 0.5
� o
� -0.5 u. -1
-1.5 -2
-25 �
ff 2 3
CLASSES OE TAMANHO
I zSll:I. O,,,,. 11111 tsll:I.En. . -..
Figura 30 - Distribuição dos escores dos indivíduos no 1 ° eixo do PCA baseado no número de categorias de alterações nas regiões da coluna vertebral comparados ao sexo (a), maturidade física (b), área de procedência (c), classes de idade (d) e tamanho (e). Classes de idade: 1 = O a 7 anos; 2 = 8 a 1 5 anos; 3 = 1 6 a 23 anos; 4 = 24 a 31 anos. Classes de tamanho : 1 = 1 1 05,0 a 1436,6 mm; 2 = 1 436,7 a 1 768,3 mm ; 3 = 1 768,4 a 2 100,0 mm.
3.2.7 - Número de Categorias de Alterações nas Vértebras Cervicais
A análise de agrupamentos, levando-se em consideração o número de
categorias de alterações nas vértebras cervicais, evidenciou blocos funcionais (Fig.
3 1 ), tais como o formado pelo complexo atlas-áxis com características distintas das
demais vértebras e baixa freqüência de ocorrência de lesões. As demais vértebras
(C3 a C7) constituem um grande grupo de similaridade. Nesse grupo a análise
evidenciou uma maior similaridade entre a 5ª e a 6ª cervicais (Fig. 3 1 ) . Essas estão
localizadas na região central do bloco cervical e apresentam os corpos vertebrais com
63
dimensões semelhantes, como descrito anteriormente (Tab. 3) . A terceira vértebra
(C3) é a primeira de comprimento reduzido no bloco cervical e apresenta freqüências
de alterações distintas das demais por ocupar uma posição de transição entre os
blocos funcionais da região cervical.
r-"'--"=----'--=-------,---------..----""'j &.5 &
75 ..
j�;' 8.5
.8 .
i�
Figura 31 - Similaridade considerando as distâncias Euclidianas entre o número de categorias de alterações nas vértebras cervicais de exemplares de S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro. Acrônimos de acordo com a Tabela 1. (rcs = 0,859; p < 0,001) .
As relações entre os indivíduos e seus respectivos grupos, levando-se em
consideração o número de categorias de alterações nas vértebras cervicais, foram
evidenciadas através da Análise de Componentes Principais (Fig. 32) . Os 1 º e 2°
componentes representam 67,5% da variância dos dados. As alterações em C3, C5 e
C7 são as principais responsáveis pela disposição dos espécimens ao longo do 1 º
eixo (Tab. 1 2) . Essas vértebras estão localizadas nos extremos e na posição central
do bloco funcional formado pelo conjunto C3-C7. O segundo componente (30,9%) é
determinado principalmente por alterações no atlas (C1 ) , vértebra cervical de maior
volume (Tab. 3).
64
A distribuição dos indivíduos e grupos estava mais relacionada à idade e
maturidade física, havendo um gradiente em ambos os eixos. Os indivíduos com
dobras nas epífises ou sem lesões (Grupo 1, n = 16) correspondiam à jovens com até
4 anos de idade, a maioria proveniente da área norte fluminense. O grupo ainda
incluiu um adulto da área norte fluminense e dois espécimens imaturos da área central
fluminense. O Grupo 2 (n = 5) reuniu quatro indivíduos imaturos e um adulto de 17
anos da área central fluminense sem lesões em C2 ou C3 e que apresentavam um
tipo de alteração no atlas e em C5 a C7. O Grupo 4 (n = 49) reuniu indivíduos sem
alterações no atlas e com até dois tipos de lesões no áxis. Adicionalmente, os
indivíduos apresentavam duas das vértebras que incluem C3, CS, C7 com mais de um
tipo de a lteração óssea. A maioria dos exemplares eram imaturos, além de nove
adultos com idades entre nove e 30 anos oriundos das áreas norte (n = 4), central (n =
3) e sul (n = 2) fluminense. Os indivíduos adultos geralmente apresentavam um
número superior de alterações em C3, C5 e C7 (Grupos 5, 6 e 7). O Grupo 5 (n = 2)
reuniu dois adultos com 19 e 25 anos provenientes das áreas norte e central
fluminense. Esses apresentavam uma lesão no atlas, um ou dois tipos de alterações
no áxis e dois tipos de lesões em C3 e C7. O Grupo 6 englobou um adulto de 8 anos
da área central que possuía o atlas sem lesões, o áxis com um tipo de lesão, além de
C3,C5,C7 com duas ou três lesões. O Grupo 7 englobou um exemplar maturo da área
central , com 20 anos de idade, que apresentava dois tipos de lesões no atlas e CS,
três tipos de alterações no áxis, três ou quatro tipos de lesões em C3 e C7. Um
indivíduo adulto, com 27 anos da área central fluminense, sem alterações em C3 e
65
C5, e apresentando um tipo de lesão em C1 , C2, C4, C6 (Grupo 3) se destacou dos
demais. O exemplar apresentou ainda dois tipos de alterações em C7.
Tabela 1 2 - Cargas dos Fatores considerando o número de categorias de alterações em vértebras cervicais (NAC1 a NAC7) . Expl . de Var. = Variância Explicada; Prop. Total = Proporção Total de Variância Explicada ; * Valores com carga maiores do que 0,700.
C1
C2 C3
C4
C5
C6
C7
Autovalor
Expl. de Var. Prop. Total
N 2 o:: � 1 LL
+
r.fl 9:i ! a
-0,006 0,31 5 0,750* 0,504 0,883* 0,592 0,71 8*
3,745 2 ,562 0,366
o
o•
N O�
• 2 "' .. ... 02
"':i'
�0.1 O O 1
0,903* 0,627 0, 1 91 0,545 0,070 0,665 0,420
0,982 2,1 65 0,309
HIIIC2 j N1'C& : . ·t· . : NÂt:7 ... tvc, . . .,,,. .
b
o.s o.a 0.1 o.o 1.,
rATOft 1
•• 1 .. � i o -- • • • : .--1-4 • ; ..... ·---------
• • • ;ri. .l
• Grupo 1 a Grupo 2 + Grupo 3 A Grupo 4 o Grupo 5 • Grupo 6 � Grupo 7
:: · · · · · · · · · · · r i r ' -2.5 -1 .5 -0.5 0.5 1 .5 2.5
FATOR 1 (36 .6%)
•
3.5 4.5 .. NAC6, NAC3,NAC7
Figura 32 - Análise de componentes principais considerando o número de categorias de alterações em vértebras cervicais (NAC1 a NAC7): a) exemplares de S. f/uviatilis do l itoral do Rio de Janeiro ; b) relação das variáveis com os fatores (eixos) (n=75).
66
A análise dos escores dos exemplares no 1 ° componente principal, baseada no
número de categorias de alterações em vértebras cervicais (Fig. 33), demonstrou que
estes valores não estão associados ao sexo (Zc = -2,892; n1 = 35; n2 = 35; p = 0,772)
e à área de procedência dos indivíduos (Zc = - 1 ,371 ; n1 = 51 ; n2 = 1 8; p = 0, 1 70).
Porém as diferenças foram significativas quanto às variáveis maturidade física (Zc =
-2 727· n = 59· n = 1 6· p = O 006) idade (H = 1 2 736 · gl = 3· n = 69· p = O 005) e ' ' 1 , 2 , 1 ' , t , , ,
tamanho (H = 20,305 ; gl = 2; n = 72; p = 0,000) dos indivíduos, indicando associação
com o número de alterações nas 3ª , 5ª e 7ª cervicais.
a 2.5 b 3.5
1 .5 2.5
1.5 i'i: 0.5
� 0.5 < -0.5 < u. u. -0.5
-1.5 I t1.96·- Dev. -1.5 lllJI .,1.00ºSld. Dev. -2.5 -2.5
Fêmea Macho . Mtdla Imaturo Maturo
SEXO MATURIDADE FÍSICA
2.2
d 1 .6
' ir
! 0.4 <
u. -0.2
-0.8 :C ±Sld. Dev. 1111D .Sld. Err. -1.4
2 3 4 . M«fia CLASSES DE IDADE
e 3.5
2.5
,, 1.5
§ 0.5 < u. -0.5
.I t1 .96-Sld. De\ -1.5 IBB ±1 .OOºSld. De\
-2.5 -· Nor11t Central ÁREA
2
e 1.5 1
Tf 0.5
ir < -0.5 u. -1
-1.5 -2 �
-2.5 2 3
CLASSES DE TAMANHO
I ±1.96"Sld. Dev. 11111 t1.00-Sld. Oev. . M.ito
:r: tSld. Dev. 1111 .Sld. Etr, . Média
Figura 33 - Distribuição dos escores dos indivíduos no 1 º eixo do PCA baseado no número de categorias de alterações em vértebras cervicais comparados ao sexo (a) , área de procedência (b), maturidade física (c), classes de idade (d) e tamanho (e) de exemplares de S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro. Classes de idade: 1 = O a 7 anos; 2 = 8 a 1 5 anos; 3 = 1 6 a 23 anos; 4 = 24 a 31 anos. Classes de tamanho: 1 = 1 1 05 ,0 a 1 436,6 mm ; 2 = 1 436,7 a 1 768,3 mm ; 3 = 1 768,4 a 21 00,0 mm.
A regressão múltipla (n=63) dos escores no 1 ° eixo do PCA, baseado no
número de categorias de alterações em cervicais (NAC1 a NAC7), com as variáveis
67
idade, comprimento do corpo, módulo do crânio, comprimento do bloco cervical e do
bloco torácico, demonstrou um coeficiente de determinação relativamente baixo (Rc2 =
0,31 5) (R = 0,571 ; F1 , s1 = 29,502; p < 0,001) e um erro padrão de estimativa
expressivo (0,809). As variáveis comprimento do bloco cervical (P = O, 1 91 ; t = 1 , 007; p
= 0,31 8), comprimento total (P = 0,376; t = 1 ,700; p = 0,094), idade (P = -0,325; t =
-1,837; p = 0,071) e módulo do crânio (P = 0,293; t = 1,842; p = 0,070) foram
removidas da análise (backward ; F para remoção = 3,39), por apresentarem
coeficientes parciais de regressão (P) não significativos (p > 0,05). O comprimento do
bloco torácico (CBTO) foi a única variável que apresentou o coeficiente parcial de
regressão (P) significativo (Tab. 1 3), indicando que as alterações em C3, C5 e C7
estão, de alguma maneira, associadas à pressão exercida pelo bloco torácico. As
variáveis que apresentaram isoladamente maior correlação com os escores do 1 °
eixo foram o comprimento do corpo (r =0,59) e o comprimento do bloco torácico
(r=0,57).
Tabela 1 3 - Sumário da regressão múltipla (via backward) dos escores do 1 ° eixo da PCA considerando o número de categorias de alterações em cervicais (NAC1 a NAC7) com a variável comprimento do bloco torácico (CBTO). ex. = interseção da reta de regressão; p = coeficiente de regressão.
N = 63 11 Erro pad rão B Erro padrão t (61 ) p
CBTO 0,571
de 1\ de B
0,1 05
- 2,434
o,_010
0,475
0,002
-5, 1 25
5 ,432
0, 000
0 ,000
68
3.2.8 - Número de Dobras por Epífise Vertebral
A análise de agrupamento, levando-se em consideração o número de dobras
em epífises vertebrais, evidenciou uma maior similaridade entre as epífises
posteriores da 3ª (ND3P) e 4ª (ND4P) cervicais (Fig. 34). A epífise posterior da 7ª
vértebra (ND7P), localizada na região de transição entre os blocos cervical e torácico,
se destaca das demais por apresentar um número superior de dobras (Tab. 5). A
epífise anterior da 7ª cervical (ND7A) e as referentes à 1 ª vértebra torácica (ND8A,
ND8P) , próximas a região de transição entre os blocos, também se distinguem com
relação ao número de dobras das demais, constituindo um grupo à parte. As outras
epífises constituem um grande grupo de s imilaridade, havendo um certo destaque
para a epífise posterior da 6ª cervical (ND6P). Em geral as epífises mais anteriores se
distinguem das posteriores com relação a freqüência de dobras. O número de
"dobras" na epífise anterior de C3 foi mais similar às anteriores de CS e C6, situadas
numa porção mais posterior do bloco cervical.
$ ���=·�-��---=-��-��-��--�-���-� �
45
21 ,95
!50
30
25,.
Figura 34 - Análise de similaridade considerando as distâncias Euclidianas entre o número de dobras nas epífises das vértebras cervicais (ND2P a ND7P) e 1 ª torácica (ND8A e ND8P) de exemplares de S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro. Acrônimos de acordo com a Tabela 1 . (rcs = 0,906).
69
As relações entre os indivíduos e os grupos, levando-se em consideração o
número de dobras em epífises vertebrais, foram evidenciadas através de Análise de
Componentes Principais (Fig. 35). Os dois primeiros eixos representam 42,3% da
variância dos dados. O número de dobras nas epífises da 7ª cervical (7 A e 7P) e 1 ª
torácica (8A e 8P) são os principais responsáveis pela variabi l idade do primeiro
componente (Tab. 14). O segundo eixo (15,6%) é determinado principalmente pelo
número de dobras nas epífises posteriores da 2ª e 5ª cervicais, além da posterior da
6ª cervical. O terceiro eixo (19,4%) é determinado principalmente pelo número de
dobras nas epífises anteriores da 4ª e 5ª vértebras cervicais (Fig. 36). Os três eixos
em conjunto representam 61,7% da variância dos dados.
Tabela 14 - Cargas dos Fatores considerando o número de dobras em epífises das vértebras cervicais (2P a 7P) e 1 ª torácica (8A e 8P). Expl. de Var. = Variância Explicada; Prop. Total = Proporção Total de Variância Explicada; * Valores com carga maiores do que O, 700.
Nº Dobras Fator Fator Fator
2P
3A
3P
4A
4P
SA
SP
6A
6P
7A
7P
8A
8P
Autovalor
Expl. de Var. Prop. Total
1 2 3
0, 1 69 0,759* -0, 1 34 0 ,441 0,262 0,435 0 ,547 0, 1 85 0,268 0 ,025 0, 1 41 0,794* 0,248 -0, 1 64 0,6 1 9 0, 1 66 0, 1 63 0,791 * 0,085 0,800* 0, 1 85 0,356 0, 1 50 0,634 0, 1 34 0,645 0,220 0,798* 0 , 147 0,261 0,773* 0,348 0 , 1 38 0,890* 0, 1 93 0, 1 09 0 ,823* -0 , 1 46 0, 1 38
4,971 1 ,560 1 ,489 3,468 2,032 2,521 0,267 0 , 1 56 0 , 1 94
,r 3 ,,......,
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FATOR 1 (26,7%)
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FATOR 1 (26.7%)
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. . . . . . . . + . . . . + . . . . . • GRUP0=2 .. GRUP0=3 ... GRUP0=4
2 3 + GRUP0=5 ,.. ND5P, N D2P 1
Figura 35 - Aná lise de componentes principais considerando o número de dobras em eplfises das vértebras cervicais (ND2P a ND7P) e a 1 ª torácica (ND8A e ND8P) : a) anál ise dos exemplares de S. fluviati/is do l itoral do Rio de Janeiro ; b) relação das variáveis com os fatores 1 e 2 (eixos) .
A maioria dos indivfduos do Grupo 2 (n = 33) apresentava poucas dobras na
região de transição entre os blocos cervical e torácico (ND7, ND8) e na região central
(ND5P) , não possuindo dobras no áxis (ND2P) . O grupo foi composto principalmente
por imaturos da área norte, que não possutam dobras no áxis e com até três dobras
nas epifises posteriores da 5ª e 6ª cervicais; além de apresentarem até uma das
epífises da 7ª ou 8ª vértebra com mais de sete dobras. Alguns indivíduos jovens da
área norte (Grupo 1) apresentavam algumas dobras na região central do bloco
cervical e no áxis. O grupo (n=6) agregava indivtduos imaturos com mais de dois anos
de idade procedentes da área norte , apresentando até uma das epifises da 7ª ou 8ª
í'
71
vértebra com mais de cinco dobras, além de dobras (1 a 2) no áxis ou mais de seis
dobras na epífise posterior da 6ª cervical. Outros, além disso, apresentavam (Grupo 3)
dobras na zona de transição entre os blocos (ND7, ND8). Este grupo (n=9) reuniu
indivíduos de dois a 26 anos, que apresentavam duas ou três ep ífises das 7ª e 8ª
vértebras com mais de cinco dobras; além de possuírem dobras no áxis (2 a 4) ou
sete dobras em CSP. O Grupo 4 (n=16) foi composto por indiv íduos de um a 27 anos
oriundos das áreas norte e sul, que apresentavam uma a três epífises das 7ª e 8ª
vértebras com mais de sete dobras, além não possuírem dobras no áxis e até três
dobras em C5P . O Grupo 5 (n = 3) reuniu três indivíduos da área central, com mais de
oito anos, que apresentavam mais de oito dobras nas epífises da 7ª e 8ª vértebras,
além de apenas uma dobra na ep ífise posterior da 5ª cervical.
Dois indiv íduos imaturos pertencentes aos Grupos 2 e 4, relacionaram-se
fortemente com o 3° eixo da análise (Fig. 36) que caracteriza altas freqüências de
dobras nas ep ífises anteriores da 4ª e 5ª vértebras cervicais. O integrante do Grupo 2
é um jovem de 5 anos da área sul fluminense. O outro pertence ao Grupo 4 e é
oriundo da área norte fluminense. Os indiv íduos do 1 ° e 3° grupos destacam-se dos
demais. Estes apresentavam dobras no áxis e na 5ª cervical. Um espécimen com 3
anos de idade, oriundo da área norte, e que apresentava alterações traumáticas no
bloco cervical, foi o mais relacionado ao 2° eixo. Isso sugere uma trajetória de
poss íveis relações entre a presença de dobras e alterações traumáticas de diversas
ordens.
4.5
ii a
![ ND4A >3 " • ... 3.5 ND5A >4
2.5 ....... ! " ,t.
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FATOR 2 (1 5,6%)
1
oe ND4A ND5A .. ND4P ND6A
'i os . ;; N03A ,:; OA ., NOOP � ND7A • • =i 02 · ·NtJSP· " · · ' ' N�;o: · ND!P " " ' .. •
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-02 .o., .o , º·' 03 o.s � l'JOft 2 (15,g%)
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/ ND5P=6 ND2P=4 •
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• 3 4 5 +
> ND5P, ND2P
b
NOOP; NDSP . . . ... ' : . . . •. . '
:ND2P • ª' o.a
GR U P0=1 GRUP0=2 GRUP0=3 GRUP0=4 GRUPO=S
l
72
Figura 36 - Análise de componentes principais considerando o número de dobras em epifises das vértebras cervicais (ND2P a ND7P) e a 1 ª torácica (ND8A e ND8P): a) aná lise dos exemplares de S. fluviatilis do l itoral do Rio de Janeiro; b) relação das variáveis com os fatores 2 e 3 (eixos).
A análise dos escores dos exemplares no 1 ° eixo, baseada no número de
dobras nas epifises das vértebras cervicais e 1 ª torácicas (Fig. 37) , demostrou que os
valores não estavam associados ao sexo (Zc = -0,762 ; n1 = 31 ; n2 = 34; p = 0,446) .
Porém, o número de dobras (principalmente em C7 e T1 ) apresentou-se relacionado à
maturidade fisica (Zc = -2 ,785; n1 = 55; n2 = 1 5; p = 0,005) , á rea de procedência (Zc =
-4,986; n1 = 49; n2 = 1 5; p = 0,000), idade (H = 1 4,996 ; gl = 3; n = 64; p = 0,002) e
tamanho (H = 1 8,726 ; gl = 2 ; n = 67; p = 0,000) dos indivlduos.
73
81 2.5 b 3.5 �-----, e 3.5 �----�
2.5 1 .5
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-1 .5 :T :t1.96"Sld. Dev.
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MATURIDADE FISICA ÁREA
e 1 .8
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CLASSES DE IDADE CLASSES DE TAMANHO
Figura 37 - Distribuição dos escores dos indivíduos no 1 ° eixo do PCA baseado no número de dobras nas epífises das vértebras cervicais e 1 ª torácica comparados ao sexo (a), maturidade física (b), área de procedência (e), classes de idade (d) e tamanho (e) de exemplares de S. fluviatilis do litoral do Rio de Janeiro. Classes de idade: 1 = O a 7 anos; 2 = 8 a 15 anos; 3 = 16 a 23 anos; 4 = 24 a 31 anos. Classes de tamanho: 1 = 1105,0 a 1436,6 mm ; 2 = 1436,7 a 1768,3 mm ; 3 = 1768,4 a 2100,0 mm.
A análise da regressão múltipla (n=845) confrontando o nº de dobras de cada
epífise com as variáveis posição da epífise (EPIF), área da epífise (AREP), volume
(VOL V) e comprimento (COMPV) do corpo vertebral correspondente, demonstrou um
coeficiente de determinação relativamente baixo (Rc2= 0,307) e um erro padrão de
estimativa muito alto (2,658). A variável área da epífise (AREP) foi removida da
análise (backward ; F para remoção = 3,63; 13 = O, 115; t (841) = 1,906; p = 0,057). As
demais, como a posição da epífise (EPIF), volume (VOL V) e comprimento (COMPV)
do corpo vertebral correspondente, apresentaram seus coeficientes significativos
(Tab. 15), indicando que a presença de dobras também está relacionada às
características das vértebras quanto a sua posição e dimensões (R= 0,556; F3, 841 =
'
,..
74
1 25,407; p < 0 ,00 1 ) . A posição da epífise foi a variável que apresentou isoladamente o
maior grau de correlação com o número de dobras (r = 0 ,47; p < 0,001 ) .
Tabela 15 - Sumário da Regressão Múltipla considerando o número de dobras da epífise com as variáveis posição da epífise (EPIF) , volume do corpo vertebral (VOLV) e comprimento do corpo vertebral (COMPV). a = interseção da reta da regressão; 13 = coeficiente parcial de regressão.
N = 845 13 Erro padrão B Erro padrão t (841 ) p
a
EPIF VOLV
COMPV
0,430 0,751 -0,61 3
d e 13 de B
0,030 0,074 0,076
- 8,470
0,367 0,655 -0, 367
0 ,81 7
0,026 0,065 0,045
-1 0,371
1 4,341 1 0,086 -8,093
0,000
0,000 0 ,000 0,000
75
4 - DISCUSSÃO
4. 1 - Alterações Ósseas
A maioria dos espécimens (n=58) de boto-cinza (S. fluviatilis) examinados
apresentaram alterações de naturezas diversas: traumáticas, infecciosas,
degenerativas e de morfogênese, registradas no esqueleto axial, ossos do h ióide,
escápulas e ossos das nadadeiras peitorais. O percentual de indivíduos
apresentando alterações ósseas (77,33%), neste estudo, foi superior aos valores
encontrados em outras espécies de delfinídeos (Macnie & Goodal l , 2000a). Macnie
& Goodall (2000a) analisando material osteológico, incluindo esqueletos
incompletos e vértebras isoladas d.e 59 exemplares de golfinho-austral ,
Lagenorhynchus australis, observaram que somente 20% destes apresentavam
algum tipo de alteração óssea restrita às costelas e vértebras. Siebert et ai. (1 997),
anal isando 1 72 esqueletos de toninha-do-porto (Phocoena phocoena) e golfinho
de-bico-branco (Lagenorhynchus albirostris) , registraram percentuais de lesões de
origem infecciosa, degenerativa ou traumática bem inferiores (6%) aos registrados
neste estudo.
Devido à dificuldade de obtenção de material osteológico de cetáceos,
muitos estudos incluem somente parte dos esqueletos em suas análises quanto às
alterações (Kompanje, 1 995b; Kompanje, 1 999; Furtado & Simões-Lopes, 1 999;
Macnie & Goodall , 2000a). Os resultados encontrados neste estudo alertam sobre
a possiblidade de subestimativa das lesões ósseas nos indivíduos e a importância
de anál ises em esqueletos completos em estudos com inferência populacional ,
pois alguns dos indivíduos analisados apresentaram alterações em ossos do
hióide, escápulas e nadadeiras peitorais, que não compõem o esqueleto axial.
76
4.2 - Ocorrência de Alterações Ósseas e Características dos Espécimens
O número de categorias de alterações e de peças afetadas por lesões não
apresentaram-se associados ao sexo dos exemplares analisados. Possivelmente
isso se deva a ausência de dimorfismo sexual na forma marinha de S. f/uvíatilis, já
observada por Borobia (1989) e Ramos et ai. (200Gb). Não havendo dimorfismo
sexual importante em relação à morfologia, as probabilidades de ocorrência dos
eventos causadores de tais lesões poderiam ser similares para ambos os sexos, o
que parece corroborado pelos resultados. Informações quanto a possíveis
diferenças comportamentais relacionadas ao sexo dos indiv íduos, que pudessem
resultar em probabilidades distintas de lesões ósseas, até o momento são
inexistentes para esta espécie.
As análises considerando isoladamente as categorias, demonstraram que
alterações traumáticas, infecciosas e de desenvolvimento não se apresentaram
associadas ao sexo dos indivíduos. A maior frequência de fêmeas com alterações
degenerativas possivelmente esteja relacionada à diferenças nas idades dos
indivíduos nas amostras de cada sexo. Os exemplares machos da série possuíam
idades inferiores às das fêmeas. Kompanje (1995b), analisando casos de
spondilosís deformans em pequenos cetáceos, registrou diferenças de ocorrências
das lesões quanto ao sexo dos exemplares, porém as diferenças, assim como os
resultados em S. fluviatilís, não foram significativas.
O número de peças afetadas por lesões apresentou, como o esperado,
associação com os fatores idade, maturidade física e tamanho. Indícios de alguns
tipos de lesões, tais como calos ósseos, podem permanecer vários anos nos
ossos. Isso confere um teor cumulativo destes no decorrer da vida do animal.
Porém, o número de peças afetadas também está relacionado a outros fatores, tais
77
� como natureza e origem da lesão, o que pode explicar diferenças nas médias
registradas nas últimas classes de idade; enquanto a espondilite infecciosa é um
processo localizado na coluna vertebral (Kompanje, 1 999), traumatismos
ocasionados por choques com embarcações podem ocasionar múltiplas fraturas
(Kompanje, 1994). A maioria dos indivíduos possuía de seis a dez ossos afetados
por alterações, sendo que aqueles que não apresentaram nenhuma lesão
correspondiam à espécimens com até um ano de vida. Valores inferiores à média
de peças afetadas por alterações em espécimens com idades entre 24 a 30 anos,
podem também estar associados à morte de indivíduos com lesões extremamente
severas antes de alcançarem tal faixa etária. O número notável de ossos com
lesões em alguns indivíduos, possivelmente seja o resultado de tensões sofridas
pelo sistema musculo-esquelético, promovidas pelas severas anomal ias de
desenvolvimento ao longo da vida.
O aumento do número de categorias de alterações está associado ao
aumento da idade dos animais, uma vez que os mais velhos possuem maiores
chances de alterações senil-degenerativas e de. exposição a traumatismos e
infecções devido a um período mais longo de interação com o meio. Além disso,
anomalias de morfogênese podem, ao logo da vida do animal, dependendo de sua
gravidade, ocasionar regiões de maior esforço que resultem em outros tipos de
lesões nos ossos (Barnes, 1994), tais como traumáticas ou degenerativas. O
número de tipos de alterações também apresentou-se associado a maturidade
física e tamanho dos indivíduos, fatores de certa forma relacionados também com
a idade. A maioria dos exemplares, além da ocorrência de modificações ("dobras")
nas epífises vertebrais, apresentaram dois tipos de alterações ósseas. Os
exemplares sem tais alterações ósseas correspond iam aqueles com até um ano de
('
1
78
vida. Animais jovens apresentaram menores chances de lesões no esqueleto, e
estas estão . restritas geralmente a seqüelas de traumatismos ou malformações
congênitas, ou ainda, a modificações nas epífises vertebrais.
Embora, as alterações traumáticas e infecciosas tenham sido mais
freqüentes em ossos dos indivíduos adultos, tais lesões não apresentaram
associação significativa em relação à maturidade física dos indivíduos. Os
resultados demonstram que espécimens imaturos de boto-cinza do litoral
fluminense também estão expostos a traumas e infecções.
As alterações degenerativas, como o esperado, apresentaram relação com
a maturidade física dos indivíduos, havendo indícios de artrose em todos os
adultos da série estudada. Alterações degenerativas foram também registradas em
espécimens adultos de cetáceos (Kompanje, 1 995b, 1 999; Furtado & Simões
Lopes, 1 999).
As anomalias de morfogênese apresentaram relações com a maturidade
física dos indivíduos, havendo um número maior de espécimens adultos com as
mesmas. Embora os defeitos de desenvolvimento sejam oriundos de processos
ocasionados durante a formação do indivíduo, nem todos são detectáveis ao
nascer. Permanecem muitas vezes indetectáveis até serem exacerbados pelo
crescimento do animal ou devido ao stress funcional, bem como trauma na fase
adulta (Sarnes, 1 994). Os resultados reforçam a necessidade de enfoque em
defeitos de desenvolvimento, como sugerido por Sarnes (1 994) para humanos, ao
invés de defeitos congênitos.
Os exemplares oriundos das áreas norte e central fluminense apresentaram
diferenças significativas quanto ao número de categorias patológicas e ossos
afetados por lesões. Os provenientes da área central apresentaram maior
79
prevalência de malformações e alterações degenerativas. As diferenças
encontradas entre as duas áreas, podem estar ,em parte, relacionadas a
particularidades das amostras, uma vez que o percentual de espécimens maturos
,,....., f isicamente oriundos do l itoral norte f luminense (12%) eram bem inferiores aos
oriundos da região central (44%). Porém, a taxa de anomal ias de morfogênese
encontrada em botos na região central fluminense, referente à Baía de Guanabara,
foi superior à registrada em outros trabalhos (Barnes, 1994; Sl ijper, 1936; Siebert
et ai. , 1997; Gorzelany et ai., 1999) e s inal iza a importância de futuras anál ises em
séries que considerem variações quanto à idade e número amostral.
'
A ocorrência de a lterações traumáticas e infecciosas não apresentaram
relações significativas com as áreas de procedência dos indivíduos. Tal como em
populações humanas e de outros mamíferos na natureza (Slijper, 1936; Bjotvedt &
Turner, 1976; de Smet, 1977a; Zimmerman & Kel ley, 1982; íscan & Kennedy,
1989), as lesões oriundas de traumatismo foram as mais freqüentes nos indivíduos
anal isados das duas áreas. A razão de sua prevalência e levada é a mult ip l icidade
de causas, a persistência das seqüelas e seu caráter cumulat ivo, o que as torna
muito visíveis no estudo de esqueletos.
Casos de indiv íduos apresentando lesões de naturezas distintas no
esqueletos, tais como as descritas no boto-cinza neste estudo, constam na
l iteratura abrangendo várias espécies de odontocetos (p. ex. De Smet, 1977a; De
Guise et ai., 1994, 1995; Kompanje, 1995a, 1995c, 1999; Gorzelany et ai. , 1999).
4.3 - Associações entre Categorias de Alterações Ósseas
Possivelmente a associação entre alterações de desenvolvimento e
degenerativas se deva a menor hidrodinâmica de exemplares anômalos,
. - --
'\
80
ocasionando um maior esforço nas regiões afetadas e podendo resultar em sinais
de artrose. A ocorrência de alterações de desenvolvimento bem como
degenerativas também foi evidenciada em esqueletos de outros delfin ídeos
(Nutman & Kirk, 1 988; Slijper, 1 936; Kompanje, 1 995b) .
A relativa associação entre alterações infecciosas e degenerativas pode ser
resultante do aumento de chances de estabelecimento de focos infecciosos com a
idade o que é também observado nas lesões degenerativas. A ocorrência de tais
lesões já foram observadas simultaneamente em esqueletos de cetáceos (De
Smet, 1 977a; De Guise et ai. , 1 994; Kompanje, 1 999; Gorzelany et ai. , 1 999).
Alterações de desenvolvimento e degenerativas não foram observadas
isoladamente nos indivíduos. As razões podem se dever ao fato de que as
anomalias de morfogênese, por exemplo, costumam ocasionar outras lesões,
sejam elas traumáticas e/ou degenerativas, como uma conseqüência secundária.
Alterações de origem degenerativa do tipo artrose, envolvem animais de idade
avançada que, por sua vez, tem também maior chance de apresentarem sinais de
outros tipos de lesões adquiridas ao longo da vida.
4.4 - Alterações Ósseas por Região da Coluna Vertebral
As regiões mais afetadas da coluna vertebral pelas alterações foram os
bloco cervical e torácico. A maioria dos exemplares apresentam uma ou duas
lesões no bloco cervical e torácico, nenhuma ou uma alteração no bloco lombar e
nenhum tipo de lesão na região caudal (n=44). As regiões lombar e caudal, com
um menor número de tipos de alterações, na maioria das vezes de origem
vértebras mais afetadas, em cada uma das regiões da coluna vertebral ,
\
8 1
corresponderam aquelas localizadas em zonas de transição entre blocos
funcionais da coluna (C7, T1, Ca1) ou com processos vertebrais de maior tamanho
(L6). O mesmo foi observado para outras espécies (Korschelt, 1932; Slijper, 1936;
Ortner & Putschar, 1981).
As lesões registradas nos blocos cervical e torácico não apresentaram-se
associadas ao sexo dos indivíduos, embora estivessem relacionadas à idade,
maturidade física, tamanho e área de procedência dos espécimens. O aumento do
tamanho durante o crescimento possivelmente incremente à tensão exercida na
coluna vertebral. As chances de ocorrência de artrose, sobretudo envolvendo as
articulações das zigapófises (ausentes nas demais regiões da coluna vertebral)
aumentam nas regiões cervical e torácica conforme o indivíduo envelhece. Os
indivíduos da área central fluminense apresentaram um maior número de tipos de
lesões no bloco cervical, provavelmente fruto da maior idade e maior incidência de
lesões degenerativas e de desenvolvimento.
A região torácica foi afetada por lesões das quatro naturezas, porém a
maioria dos exemplares apresentavam somente um tipo de alteração óssea,
correspondente a modificações nas epífises vertebrais da primeira vértebra. As
lesões no bloco torácico podem estar relacionadas ao impacto absorvido pelas
primeiras vértebras, pois é o primeiro grande bloco depois das vértebras cervicais.
Além disso, o bloco corresponde a uma área de constante tensão, devido à menor
flexibil idade do conjunto formado pela caixa torácica e sua l igação com as costelas.
Essas possivelmente são mais suscetíveis a impactos por sua local ização na
região de maior circunferência do animal.
A maioria dos indivíduos apresentavam dois ou três tipos de lesões na
região cervical, não havendo casos de alterações infecciosas. As lesões neste
82
bloco, possivelmente, estejam relacionadas a um maior impacto absorvido e por
apresentar maior fragilidade devido à sua compressão nos cetáceos. A sua
localização, entre a caixa craniana e o bloco torácico, leva a uma maior freqüência
de alterações de origem traumática e degenerativa, além das modificações em
suas epífises vertebrais.
4.5 - Número de Categorias de Alterações Ósseas em Vértebras Cervicais
Quanto às alterações nas vértebras cervicais, pode-se notar um número
menor de lesões no complexo atlas e áxis. Provavelmente o complexo seja mais
resistente aos impactos sofridos, em consequência de suas características quanto
ao tamanho e volume derivados do fusionamento das vértebras. O número de
casos com alterações parece aumentar à medida que as vértebras exibem uma
posição mais caudal no bloco, sendo a 7ª vértebra cervical a mais afetada por
alterações (com exceção da 3ª vértebra cervical que apresenta um número
superior de peças afetadas quando comparada à 4ª cervical). A 3ª vértebra cervical
apresentou uma freqüência maior de dois ou três tipos de alterações do que as três
vértebras mais posteriores. Possivelmente isto se deva ao fato de que esta
corresponda à primeira vértebra comprim ida do bloco após o conjunto atlas-áxis. A
7ª vértebra cervical, área mais afetada por lesões, corresponde a zona de
transição entre os blocos funcionais, além de constar como região de apoio para os
capítulos do primeiro par de costelas verdadeiras.
Embora o coeficiente de determinação múltiplo seja relativamente baixo, a
análise mostra a relação do comprimento do bloco torácico com o número de
lesões em C3, C5 e C7. Pode-se notar que o aumento do número de alterações
nestas vértebras está correlacionado ao maior comprimento do bloco torácico. Isso
83
possivelmente exerça pressão principalmente sobre as vértebras localizadas em
zonas de transição. A 5ª cervical corresponde a vértebra localizada na região
central do bloco funcional entre C3 e C7. Como o comprimento do bloco torácico
está de certa forma relacionado à maturidade f ísica, idade e sobretudo ao tamanho
do indivíduo, nota-se a associação, em algumas análises , do número de alterações
/"""\ em determinadas vértebras cervicais com esses parâmetros.
_,....._
4.6 - Alterações ("Dobras") em Epífises Vertebrais
Alterações semelhantes a sulcos de disposição radial , registradas nos
bordos das epífises vertebrais do bloco cervical e 1 ª vértebra torácica, foram
observadas primeiramente em um trabalho monográfico anterior (Fragoso, 1997),
sendo provisoriamente denominadas como "dobras" epifiseais. Tais modificações
não foram constatadas anteriormente na literatura osteológica ou patológica de
cetáceos. Sua ocorrência parece estar associada ao esforço nas epífises ,
possivelmente ocasionado pela compressão dos corpos vertebrais da região
cervical. Embora, haja a possibilidade de tais modificações serem uma
caracter ística de S. fluviatilis, inferências sobre estes aspectos somente poderão
ser realizadas após análises abrangendo esqueletos de outras espécies.
Na amostra estudada somente seis indivíduos com até um ano de idade não
apresentavam modificações em suas epífises vertebrais. Aparentemente as
"dobras" ocorrem já nos primeiros anos de vida do boto-cinza, aumentando em
número com o avanço da idade, pois indivíduos com um ano de idade já
apresentavam de duas à 27 "dobras" em suas epífises vertebrais. Em geral , a
,-... média do número de dobras é maior na epífise anterior do que na posterior de
cada vértebra, com exceção da 6ª e 7ª vértebras cervicais que apresentavam mais
84
alterações nas epífises posteriores. Aparentemente, o número de "dobras" parece
aumentar em direção às vértebras localizadas na zona de transição entre o bloco
cervical e o torácico, sendo a epífise posterior da 7ª vértebra cervical a mais
afetada por tais modificações. A epífise anterior da 3ª vértebra cervical
apresentava número de dobras superior às epífises anteriores de C4, CS e C6,
possivelmente isso decorra da sua localização e de características quanto à
tamanho e volume do corpo vertebral.
O número de "dobras" nas epífises vertebrais, principalmente da r cervical
e 1 ª torácica, apresentou-se associado à idade, maturidade física, tamanho e área
de procedência dos indivíduos. A ocorrência de um número superior de "dobras"
nas epífises vertebrais dos indivíduos oriundos da área central fluminense,
provavelmente esteja associada às d iferenças nas idades dos indivíduos nas
amostras, já discutidas anteriormente. Possivelmente, diferenças nos valores
médios do número de "dobras" em relação às classes de idade estejam
relacionadas à variações do comprimento dos indivíduos, pois alguns desses, entre
oito e 15 anos, eram maiores que exemplares mais velhos. Não foram observadas
diferenças significativas no número de "dobras" epifiseais em relação ao sexo dos
exemplares, como registrado em análises abrangendo outros tipos de lesões
ósseas. Quanto às características das vértebras, o número de "dobras" apresentou
maior correlação com a posição das epífises. O número de "dobras" nas epífises
vertebrais também estavam associados ao volume e ao comprimento dos corpos
vertebrais. As relações geralmente observadas entre as lesões ósseas e as áreas
dos ossos que absorvem o impacto, citadas na literatura, não foram observada
neste estudo. Isso se deve, provavelmente, à grande semelhança dos valores de
área entre as epífises vertebrais da região cervical.
' ·---
85
4. 7 - Alterações Traumáticas
Lesões oriundas de traumatismos foram as mais freqüentes (n=47; 62,67%)
nos esqueletos de boto-cinza. Registros de traumatismos em cetáceos resultantes
de interações com o ambiente, atividades humanas (interações com pesca,
choques com embarcações, etc.), relações inter- e intraespecíficas, são
constantemente relatados na literatura (Cockrill, 1 960; Dixon, 1984; Gallo-Reynoso
& Aguilar , 1 989; Odell et ai., 1 994; Me Fee et ai., 1997; Kendall et ai., 1998;
Fernandez-Rodriguez et ai., 1 999; Gorzelany et ai. , 1 999; Macnie & Goodall,
2000a, 2000b; Ramos et ai., 2000d), o que torna o presente resultado coerente
com o estado do conhecimento sobre o grupo. Contudo os registros de
traumatismos no esqueleto de cetáceos são muitas vezes omitidos na literatura por
não se tratarem, geralmente, de lesões que levem à morte dos animais (Baker &
Martin, 1 992; Deiter, 1 99 1 ), devendo, assim, o número de indiv íduos afetados por
tais lesões ser superior ao reportado.
Os casos de fraturas (n=40) formaram a maior parcela das alterações
traumáticas, sendo as costelas (n=22) a porção mais afetada do esqueleto.
Possivelmente essas estejam mais propensas à impactos devido a sua localização
na região de maior circunferência do animal. Casos de fraturas cicatrizadas ou
pseudo-artroses em costelas vêm sendo observados em diferentes espécies de
� cetáceos, incluindo delfinídeos de idades diversas (Slijper, 193 1 , 1 936, 1938;
Korschelt, 1932; Cowan, 1 966; de Smet, 1977a; Robineau, 1 98 1 ; Baker & Martin,
1992; Kompanje, 1 994; Kompanje, 1995a, 1995b; Siebert et ai. , 1997; Fernandez
Rodriguez et ai. , 1 999). Contudo, nenhum registro na literatura foi encontrado para
o boto-cinza. A ausência de registros se deve, provavelmente, ao pequeno número
86
de estudos osteológicos nesta espécie terem sido basicamente restritos ao crânio
(Borobia, 1989; da Silva, 1994).
Segundo De Smet (1977a) , fraturas em costelas de golfinhos parecem
ocorrer com certa frequência, geralmente derivadas de choques com animais ou
objetos de tamanho maior que não são capazes de perfurar a derme (Kompanje ,
1994). Contudo, casos de traumatismos penetrantes envolvendo costelas, oriundos
de colisões com hélices de embarcações e armas de fogo também podem ocorrer
(Kompanje, 1994).
""' O comportamento agressivo entre espécies distintas de golfinhos têm sido
citado como causa de freqüentes fraturas de costelas em toninha-do-porto (P.
phocoena) em águas escocesas (Kompanje, 1994). Indícios de lesões torácicas
derivadas de interações interespecíficas violentas entre cetáceos também foram
registradas em espécimens de golfinho-listrado ( Stenella coeruleoalba) e em
golfinho-pintado-pantropical (Stenella attenuatta) , Os indiv íduos apresentavam
fraturas em costelas e inflamações na região torácica, tais como pleurite
(Fernandez-Rodriguez et ai. , 1999).
Sinais de fratura em costela esternal foram observados em golfinho-nariz
de-garrafa, Tursiops truncatus, por De Smet (1977a). Casos de pseudo-artrose
semelhantes ao observado na oitava costela de um exemplar de S. fluviatilis da
Baía de Guanabara, também já foram registrados anteriormente em outras
espécies (Korschelt , 1932; Kompanje, 1995b).
O percentual de indivíduos com fraturas em costelas (29,33%; n=75)
registrado neste estudo difere dos encontrados por De Smet (1977a) em T.
truncatus (50%; n=12) e por Kompanje (1995a) em L albirostris (4,65%; n=43). As
,., diferenças encontradas podem ser o resultado da natureza das séries analisadas,
87
tanto em relação ao número amostral quanto à idade dos exemplares, além de
possíveis diferenças na suscetibilidade de distintas populações de cetáceos a
traumatismos.
Registros de fraturas em escápulas de odontocetos foram anteriormente
descritas no bordo escapular direito de um golfinho-pintado-do-Atlântico, Stenella
fronta/is, (Soto et ai, 1994) e de baleia-bicuda-de-cabeça-plana-do-sul, Hiperoodon
planifrons, (Barcellos, 1 997) no sul do Brasil.
As fraturas encontradas nos esqueletos dos exemplares com escoliose na " ,....,._ coluna vertebral são, provavelmente, resultado da pressão e atrito exercidos nas
peças ósseas devido aos movimentos anômalos causados pelo encurvamento da
coluna, o que pode ter alterado o padrão locomotor básico dos animais. Lesões
associadas ao encurvamento anômalo da coluna vertebral também foram
registradas por Kompanje (1 995a) em esqueleto de L albirostris.
As fraturas nas vértebras dos botos-cinza analisados no presente trabalho
estavam geralmente localizadas nas diapófises e neuroapófises vertebrais. A
localização das fraturas esteve relacionada ao tamanho dos processos (diapófises
e neuroapófises) e a exposição de cada região à impactos nas vértebras. As
fraturas na região torácica se restringiram às neuroapófises das últimas vértebras
do bloco, que apresentam os processos espinhosos mais longos que as primeiras.
Contudo as fraturas nas regiões lombar e caudal, que não apresenta a proteção
das costelas, predominaram nas diapófises vertebrais. O bloco lombar foi o que
apresentou um número maior de casos de fraturas em processos vertebrais
(n=1 O). Isso já era esperado, pois esta é a região da coluna vertebral cujas
vértebras possuem os processos espinhosos e transversos de maior tamanho. As
88
fraturas na região caudal se restringiram às d iapófises das primeiras vértebras, que
....-, possuem o comprimento superior às demais.
Casos de fraturas em neuroapófises e d iapófises de vértebras de cetáceos
foram registrados anteriormente (Slijper, 1931, 1936; de Smet, 1977a; Robineau,
1981; Soto et ai. , 1994; Kompanje, 1995c; Macnie & Goodall , 2000a, 2000b). Soto
et ai. (1994) também registraram fraturas nas neuroapófises das últimas vértebras
torácicas (T12, T13) de S. fronta/is. Fraturas nas diapófises de vértebras lombares
foram observadas em um esqueleto de T. truncatus (de Smet, 1977a), e em
diapófises de vértebras caudais em um exemplar de orca, Orcinus orca (Kompanje,
1995c). Ambos apresentaram fraturas nas costelas, como alguns casos registrados
neste estudo. Macnie & Goodall (2000a) citam que aparentemente as fraturas em
apófises são relativamente comuns e não causam muitos problemas aos animais.
Tal afirmação parece ser coerente com os resultados encontrados para S. f/uviatilis
no Estado do Rio de Janeiro.
As vértebras; por vezes, são sujeitadas à altas pressões. A capacidade da
vértebra resistir a estas forças, normalmente depende da estrutura do osso, da
forma e tamanho da mesma, bem como das condições das junções, l igamentos e
músculos que se unem a vértebra, sobretudo, no disco intervertebral , com sua
estrutura altamente especializada (Nathan, 1962).
Alguns indivíduos apresentavam indícios de fratura por esmagamento em
corpos vertebrais na região entre Ca 11 e Ca 14. Isso se deve, possivelmente pela
proximidade com o centro de rotação anal da região caudal, que constitui um ponto
de mobilidade. Os centros de -rotação da caudal são áreas de grande tensão que
podem estar propensas à traumas, embora possuam discos intervertebrais mais
89
espessos (Sl ijper, 1946). Sweeney (1990) também observou fraturas envolvendo
corpos vertebrais da região caudal de pequenos cetáceos.
O bloco cervical em S. fluviatilis mostrou um número alto de lesões, o que
: sugere que esta região seja mais suscet ível a traumatismos. Os cetáceos, devido à
compressão apresentada durante a evolução do bloco cervical (De Smet , 1977b),
apresentam vértebras cervicais bem finas. Na amostra estudada, a maioria das
fraturas em corpos de vértebras cervicais foram observados na 3ª. vértebra. A
maior fragilidade de C3 pode ser resultante do fato de esta corresponder à primeira
vértebra com comprimento reduzido na coluna vertebral a absorver os impactos
sofridos pela coluna. S. fluviatilis, como outros delfinídeos, apresenta o atlas e o
áxis fusionados (Carvalho, 1963; da Silva & Best, 1996) numa robusta peça, o que
pode conferir uma maior resistência aos impactos. Geralmente os estudos de
lesões em esqueletos não incluem análises das vértebras cervicais (Kompanje,
1995b), entretanto os resultados deste trabalho sugerem que esta seja uma área
crít ica do ponto de vista da biomecânica locomotora do animal.
Os casos de fratura na região da "pars interarticularis" da 7ª. cervical ,
registrados em três indivíduos, possivelmente estão relacionados à suscet ibilidade
desta área a traumatismos, por ser uma região de transição para o bloco torácico,
com menos flexibil idade devido ao complexo formado pelas costelas e o esterno.
Evidências de esforço também foram encontradas na região de apoio do cap ítulo
da 1ª . costela sobre a r. vértebra cervical. Casos de lesões na região da "pars
interarticularis" , denominados espondilolise, também foram observados em
material osteológico de humanos (Buikstra e Ubelaker, 1994).
De um modo geral, tal como em outras espécies e no ser humano (Slijper,
1936, 1946; Ortner & Putschar, 1981), foram as vértebras local izadas em zonas de
90
transição entre blocos funcionais da coluna vertebral de S. f/uviatilis, tais como a
3ª. cervical, últimas cervicais, primeiras torácicas, a última lombar e a 1 ª. caudal , as
que mais apresentaram sinais de traumatismo. Uma análise detalhada da
distribuição dos traumatismos no caso de S. fluviatilis só pode ser feita a partir da
correlação com movimentos executados por esta espécie na natureza.
Um boto-cinza jovem do norte fluminense apresentava sinais reacionais à
trauma no palato. A lesão pode ter sido ocasionada pela perfuração de alguma
parte dura (p. ex. espinha) de um peixe no palato do indivíduo. A dieta dos
exemplares desta região é predominantemente composta por teleósteos (Oi
Beneditto, 2000), sendo o peixe-espada ( Trichiurus lepturus) a espécie mais
registrada nos conteúdos estomacais de espécimens jovens e adultos. Pescadores
relatam que em muitas ocasiões as cabeças de peixes-espada e tainhas são
descartadas pelo boto-cinza antes que os peixes sejam engolidos (Di Beneditto,
2000), o que poderia resultar em lesões na região bucal.
Traumatismos em ossos de cetáceos devido à interação com peixes já
foram registrados. Espinhos de raias já foram constatados na escápula de T.
truncatus (Me Fee et ai, 1997) e na vértebra lombar de um golfinho-comum,
Delphinus delphis (Gallo-Reynoso & Aguilar, 1 989). Odell et ai. (1994)
evidenciaram um pedaço do rostro de espadarte (Xiphias gladius) que havia
penetrado na região ventral do crânio de um cachalote-pigmeu (Kogia breviceps)
na Flórida.
-. O diagnóstico das lesões nas peitorais, no presente trabalho, foi auxiliado
por radiografias, que constituem importante ferramenta na análise osteopatológica.
Exames nesta região anatômica são de grande importância numa análise
patocenótica, pois trata-se de uma das áreas mais suscetíveis a ferimentos
.------,
91
derivados de interação com artefatos de pesca ou com o meio (Ogden et ai., 198 1 ;
Deiter, 1 99 1 ). Walsh & Bossart ( 1999) estudando os peixes-bois (Trichechus
manatus) constataram que a seqüela mâis comum em traumas derivados de
interação com artefatos de pesca é o estrangulamento e amputação das
nadadeiras peitorais. Fragmentos destes artefatos podem permanecer enrolados
em torno das áreas lesionadas, tal como em um exemplar de cachalote, P.
macrocephalus, que apresentava um pedaço de rede em sua mandíbula amputada
(Casinos et ai., 1977).
As lesões encontradas em mandíbulas e nadadeiras peitorais de quatro
exemplares de S. fluviatilis foram derivadas de interações com aparatos de pesca
ou seus fragmentos. As nadadeiras e o rostro do boto-cinza são regiões que se
entrelaçam com facil idade nas redes (Lodi & Capistrano, 1 990). As lesões nas
nadadeiras peitorais se concentraram na base destas, o que confirma a h ipótese
de interação com atividades de pesca. As lesões cicatrizadas registradas nas
mandíbulas de uma fêmea (MZUSP 2561 1 ), morta devido à captura acidental em
rede de espera (Lodi & Capistrano, 1 990) , indicam uma interação com material
proveniente de atividades pesqueiras em um momento bem anterior à morte do
animal. Apesar da extensão de algumas lesões, estas não chegaram a inviabil izar
a locomoção e alimentação dos indiv íduos , pois os indícios ósseos mostram que
esses viveram alguns anos após o traumatismo. Contillo et ai. ( 1999) monitoraram,
através de foto-identificação, um filhote de L truncatus com lesões na mandíbula
devido à envolvimento com artes de pesca, por mais de dois anos. Aparentemente ,
o indivíduo, que apresentava remodelação óssea nas mandíbulas devido à
osteomielite cicatr izada, se comportou normalmente até sua morte que foi causada
por estrangulamento ocasionado por l inha de pesca.
92
Um caso similar aos registrados neste estudo, foi observado anteriormente
na região norte fluminense, em um macho de boto-cinza de seis anos de idade que
apresentava lesões no rostro derivadas de envolvimento com atividades
pesqueiras (Ramos et ai., 2000d). Lesões na região rostral, resultantes de emalhe
com rede de pesca, foram também observadas em um boto-cinza do litoral
catarinense (Simões-Lopes & Xímenez, 1990). S. fluviatilis é uma das espécies
mais capturadas em operações artesanais na costa brasileira (Siciliano, 1994). O
envolvimento do boto-cinza com atividades pesqueiras, no l itoral do Estado do Rio
de Janeiro, vêm sendo relatado e monitorado nos últimos anos (Lodi & Capistrano,
1990; Siciliano, 1994; Brito et ai. , 1994; Di Beneditto et ai., 1998). Di Beneditto et
a/. (1998) relataram que as redes de espera são uma grande ameaça à espécie,
pois são colocadas em seu habitat preferencial.
4.8 - Alterações Infecciosas
Indícios de alterações ósseas de origem infecciosa foram relativamente
comuns (n=24; 32%) nos esqueletos de S. fluviatilis analisados. A maioria dos
casos (n=14) correspondem às lesões observadas nos alvéolos dentários. Os
alvéolos das porções proximais das mandíbulas foram os mais atingidos por
abcessos. Provavelmente, isto está relacionado ao modo de alimentação destes
animais. Segundo Sweeney (1978) , a osteomielite de alvéolo dentário, ocorre
secundariamente à infecções dentárias e é a alteração de natureza infeciosa mais
freqüente em esqueletos de cetáceos.
Sinais de doenças periodontais, abcessos alveolares, assim como lesões no
dentário são freqüentemente observados em odontocetos, sobretudo nos de idade
mais avançada (de Smet, 1977a). Há registros em cachalotes Physeter
( , 93
macrocephalus (Cockrill, 1960), belugas Delphinapterus leucas (De Guise et ai.,
1994, 1995), toninha-do-porto P. phocoena (Siebert et ai. , 1997), orcas O. orca
(Kompanje, 1995c), golfinho-de-Risso Grampus griseus (Toussaint , 1977),
golfinho-de-dentes-rugosos Steno bredanensis (Fragoso, 1998), golfinhos-de-bico
branco L. albirostris (Van Bree & Nijssen, 1964; Baker, 1992), golfinho-nariz-de
garrafa T. truncatus (de Smet, 1977a), S. coeruleoalba (Toussaint, 1977) e
golfinho-comum D. delphis (de Smet, 1977a; Toussaint, 1977; Robineau, 1981).
Casos de osteomielite registrados a partir de alvéolos dentários também foram
evidenciados em odontocetos (Sweeney & Ridgway, 1975; Geraci, 1986; Baker,
1992).
Lesões alveolares, assim como observado neste estudo, foram registradas
em exemplares de odontocetos com idade avançada (De Smet, 1977a; Toussaint,
1977; De Guise et ai. , 1995, Kompanje, 1995c, Siebert et ai., 1997). De Smet
(1977), também registrou abcessos na porção proximal da mandíbula em T.
truncatus.
Alterações em alvéolos dentários de boto-cinza foram observados
anteriormente por Lavich (2000) (n=18) porém, nos oito casos com alterações , a
maioria das lesões era de origem traumática. Foi observada uma proporção maior
de alterações na porção proximal das mandíbulas e a maior proporção de adultos
afetados por alterações em alvéolos dentários, sendo tais achados semelhantes
aos registrados no presente estudo.
Kompanje (1995c), analisando 26 espécimens de O. orca, evidenciou uma
grande frequência de alterações dentárias, que englobaram casos de infecção e
desgaste dos dentes, representando as principais lesões observadas nos
esqueletos.
94
Segundo Hillson (1986) as alterações patológicas ocorridas em qualquer
parte do périodonto repercutem com maior ou menor intensidade em todas as suas
estruturas, que correspondem ao cimento, alvéolo dentário, ligamentos e gengiva
(Della & Ferreira, 1981).
O desgaste dos dentes, que é mais severo nos indiv íduos velhos, é
apontado como a principal causa de lesões periodontais em cetáceos (De Smet,
1977a; Kompanje, 1995c), pois a exposição da cavidade pulpar abre o caminho
para infecção e osteomielite secundária. Dentes quebrados (De Smet, 1977a) e
ferimentos causados por lutas ou durante a alimentação (Cokril, 1960), permitem a
entrada de patógenos e iniciam o processo inflamatório.
Kompanje (1995c) em seu trabalho sobre orcas discute a poss ível relação
das lesões dentárias, muito comuns em algumas espécies de cetáceos, com a
disseminação de patógenos no organismo. Funcionam tais lesões como focos ou
portas de entrada para os agentes infecciosos. Porém, nos animais analisados no
presente estudo, não foi encontrada uma relação direta entre as ocorrências de
abcessos alveolares e alterações ósseas infecciosas em outras regiões do
esqueleto, pois somente três indivíduos apresentavam tais registros. Os registros
de doenças periodontais e outras lesões ósseas infecciosas também são raros em
outras espécies de golf inhos (Baker & Martin, 1992; De Guise et ai. , 1994).
Casos de lesões compatíveis com as derivadas por infecção são registrados
em esqueletos de várias espécies de cetáceos e geralmente são descritos como
osteomielites (Sweeney & Ridgway, 1975; Andersen, 1978; Morton, 1978; Foley,
1979; Kompanje, 1991, 1993a, 1993b, 1994, 1995a, 1995b, 1995c; Ferigolo et ai. ,
1996; Siebert ct ª'' 1997; Fragoso, 1998; Macnie e Goodall , 2000a; Meneze� &
Simões-Lopes, 2000). Segundo Kompanje ( 1994), infecções bacterianas,
/'
95
causadoras de osteomielite e periosteite, são encontradas em mandíbulas,
vértebras, costelas e ossos das nadadeiras peitorais de cetáceos, podendo serem
resultantes de um trauma penetrante (osteomiel ite piogênica por infecção direta)
ou não (osteomielite hematogênica). Geraci (1986) e Sweeney (1990) citam a
ocorrência de osteomiel ite como provável resultado da infecção de fraturas
expostas ou outras lesões abertas. De acordo com Alexander et ai. (1989), o modo
de infecção dos organismos patogênicos nos cetáceos seria via hematogênica.
Nesse caso, as infecções no trato urinário também funcionariam como focos
primários levando por exemplo à osteomiel ite vertebral.
Possivelmente, os agentes infecciosos poderiam alcançar as estruturas
ósseas afetadas via corrente sangüínea, vasos l infáticos ou pela implantação direta
de microorganismos (Turnbul l & Cowan, 1999).
Osteomielites secundárias devido a traumatismos foram registrados em
mandíbulas de P. phocoena (Andersen, 1978; Kompanje, 1993) e L albirostris
(Kompanje, 1995a), porém as mandíbulas dos indivíduos anal isados de boto-cinza
não apresentavam tais indícios.
----
Assim como os resultados encontrados neste trabalho, de Smet (1977a) e
Siebert et ai. (1997) não observaram casos de infecção em costelas. A ocorrência
de osteomiel ite em costelas é rara em odontocetos (Kompanje, 1994, 1995c),
embora tenham sido registrados casos de osteomielite em costelas de golfinhos
do-porto (Kompanje, 1994) e de orcas (Kompanje, 1995c).
O caso de artrite infecciosa observada na junta sinovial humero-escapular
de uma fêmea de S. fluviatilis assemelha-se àqueles descritos nesta mesma região
� por Turnbull & Cowan (1999) em T. truncatus e L. albirostris. Segundo Turnbull &
Cowan ( 1 999), o envolvimento axial é dominante nos casos de artrite em cetáceos.
96
Devido à redução no número de articulações a articu lação úmero-escapular é a
única passível de artrite forà do esqueleto axial . Exames feitos em exemplares
foram positivos para microorganismos incluindo bactérias (Turnbul l & Cowan,
1 999). A existência de grande quantidade de l íquido na junta sinovial da articulação
úmero-escapular, pode favorecer o estabelecimento de focos infecciosos nestas
áreas.
Aparentemente, a região cartilaginosa das escápulas também pode ser
suscetível às infecções. Seis dos exemplares de boto-cinza com alterações
infecciosas possuíam lesões no bordo escapular. Um destes espécimens (UERJ
MQ 1 27) apresentava sinais de regeneração de um profundo corte na base da
nadadeira peitoral esquerda.
Casos de lesões infecciosas em escápulas foram registrados em baleia
minke Balaenoptera acutorostrata (Van Beneden, 1 870), orca (Kompanje, 1 995c) e
golfinho-de-dentes-rugosos S. bredanensis (Fragoso, 1 998). Um adulto de S.
bredanensis estudado por Fragoso ( 1 998) apresentava l ise periodontal , enquanto o
adulto de orca possuía a nadadeira peitoral deformada apresentando dois grandes
ferimentos.
As causas dos focos infecciosos instalados na região escapular podem estar
relacionadas a ferimentos e traumatismos sofridos tanto nas proximidades das
escápulas como nas nadadeiras peitorais. As escápulas, devido a sua localização
anatômica próxima à área de maior circunferência no animal , presumivelmente
estariam, assim como as nadadeiras peitorais, suscetíveis a ferimentos e traumas
ocasionados por relações inter ou intraespecíficas, assim como interações com
artefatos de pesca. Estes ferimentos serviriam como porta de entrada para
patógenOs. Casos de osteomielite em nadadeiras peitorais de delfin ídeos foram
97
anteriormente registrados por Foley (1 979) e Kompanje (1 995c). A maioria desses
relacionados à ferimentos e traumas sofridos pelos animais. Van Nie (1 989)
registrou um exemplar de P. phocoena com abcessos nas nadadeiras peitorais,
além da coluna vertebral (van Nie, 1 989).
Casos de focos de infecção na coluna vertebral de golfinhos foram
registrados por vários autores, tais como Morton ( 1 978), van Nie ( 1 989) e
Kompanje (1 995b). Kompanje (1 999), em sua revisão sobre patologias em colunas
vertebrais de cetáceos, cita casos de espondilite infecciosa em vértebras de várias
espécies, incluindo delfinídeos. Alguns destes casos foram descritos anteriormente
como spondilosis deformans ou osteomielite vertebral (Slijper, 1 931 , 1 936; Morton,
1 978; Alexander et ai. , 1 989). Outros casos, citados como osteomielite, foram
registrados em P. phocoena (Siebert et ai. , 1 997) e L. australis (Macnie & Goodall,
2000a).
Espondilite infecciosa é uma doença inflamatória que afeta uma ou mais
vértebras devido à um processo infeccioso associado. Geralmente há a destruição
das facetas articulares na fase mais avançada e a formação de neoformações
ósseas bizarras (Kompanje, 1 999) e constitui-se em um processo localizado, sem
relação com a idade do animal, mas que pode estar associada a trauma
(Kompanje, 1 999).
A identificação dos patógenos das lesões ósseas é restrita a poucos
trabalhos, pois a maioria dos estudos é realizada através de análises em
esqueletos depositados em coleções. Bactérias do gênero Streptococcus foram
isoladas de um caso de espondi lite na região torácica (T2-T3) em P. phocoena
(Kompanje, 1 999) e de um filhote de leão-marinho-da-Califórnia, Zalophus
californianus, com espondilite na região cervical (Thomas-Baker, 1 986). Morton
98
(1 978) registrou um caso de osteomielite piogênica na região caudal de um T.
truncatus que morreu devido à septicemia por Staphylococcus. Siebert et ai. ( 1 997)
relatam casos de osteomielite em P. phocoena, devido a infecção por
Staphylococcus aureus e J3-haemolitic Streptococcus em que alguns dos indivíduos
apresentavam múltiplos abcessos nos músculos. Frye & Herald (1 969)
identificaram a presença de Streptococcus sp., Proteus vulgaris, P. morganii,
Edwardsiella spp. e Clostridium perfringens em material coletado de abcessos
situados na região lombar de um peixe-boi amazônico (Trichechus inunguis) de
cativeiro, que apresentava três vértebras lombares (L3 a LS) com lesões
osteolíticas.
O caso de espondilite registrado na região lombar (L6-L9) de um boto-cinza
neste estudo, assemelha-se a outros descritos na literatura para a espécie
(Ferigolo et ai, 1 996; Menezes & Simões-Lopes, 2000), embora Kompanje (1 999)
não tenha observado nenhum caso nos 20 esqueletos de S. fluviatilis analisados
quanto às lesões. Ferigolo et ai. (1 996) relatam um exemplar de S. f/uviatilis, do
litoral catarinense, com sinais de osteomielite no bloco cervical e lombar (L4 e L5).
Um outro indivíduo com osteomielite, oriundo da mesma região, apresentava dois
abcessos apoiados dorsalmente nas diapófises da 6ª. vértebra lombar e um
terceiro situado abaixo da coluna vertebral (Menezes & Simões-Lopes, 2000). A
região lombar nos humanos é igualmente afetada por infecções (Henriques, 1 958).
A região lombar de dois botas-cinzas analisados neste estudo foi afetada
'"' por espondiloartrite. Ambos apresentavam sindesmófitos bem desenvolvidos
semelhantes aos casos descritos na literatura (Kompanje, 1 999). Em um exemplar
com escoliose (Fragoso & Lima, 1 998) , quatro vértebras lombares (L9 a L 1 2)
I'""\ estavam anquilosadas devido às pontes formadas pelos sindesmófitos. Os indícios
99
de espondiloartrite se estendiam até as primeiras vértebras caudais. Em outro
caso, além da região lombar (LS a L6), a região torácica (TS a T9) também foi
afetada pela espondiloartrite.
A espondiloartrite, embora seja uma doença que afete as articulações, está
mais relacionada a ativação do sistema imunológico desencadeada por infecção no
organismo do que propriamente a processos degenerativos ligados ao
envelhecimento dos indivíduos (Kompanje, 1999).
Na literatura, até a recente revisão de Kompanje (1999) os casos de
espondiloartrite em cetáceos eram citados na maioria das vezes como spondilosis
ou spondylifis : deformans (Slijper, 1931, 1936; Paterson, 1984; Kompanje, 1995b;
Fragoso & Lima, 1997, 1998). Casos de espondiloartrite foram registrados em
várias espécies de odontocetos, incluindo delfinídeos (Yamada, 1954; Van Bree &
Duguy, 1970; De Guise et ai., · 1994; Kompanje, 1995b, 1999). Casos afetando
simultaneamente as regiões torácica, lombar e caudal da coluna vertebral foram
registrados em esqueletos de B. physa/us e L. albirostris (Slijper, 1936; Kompanje,
1999). Um exemplar de L. albirostris que possuía curvatura na coluna vertebral,
como um dos casos de boto-cinza analisados, apresentava igualmente a região
lombar com sindesmófitos. As pontes intervertebrais horizontais observadas na
região lombar de um dos casos descritos (UERJ-MQ 33) eram semelhantes
àquelas ilustradas por Van Bree & Duguy (1970) na região torácica de um L
albirostris com espondiloartrite.
Casos de espondiloartrite associados à doenças inflamatórias do intestino
são registrados em humanos (François et ai., 1995), levando-se a crer na
possibilidade de infecções intestinais servirem de focos primários de lesões de
origem infecciosa em vértebras da coluna vertebral. Casos de enterite foram
100
registrados anteriormente em várias espécies de pequenos cetáceos, incluindo
delfinídeos (Sweeney & Ridgway, 1975, Andersen, 1978; Sweeney 1978; Baker,
1992; de Guise et ai. , 1994, 1995; Di Guardo et ai. , 1995). Um dos exemplares (O.
leucas) apresentava espondiloartite na região torácica (T1 0-T11) da coluna
vertebral (de Guise et ai., 1994, 1995). A bactéria Pasteurella multocida foi
identificada como causa da enterite hemorrágica em T. truncatus (Sweeney &
Ridgway, 1975).
Indícios infeciosos na região caudal, foram somente observados em um
único exemplar de S. fluviatilis, que apresentava três vértebras caudais (Ca5 a
Ca7) fusionadas juntamente com dois arcos hemais. A ausência de lesões
traumáticas e osteolíticas, bem como a ausência de cavidades sugestivas de
processo séptico indicam a possibilidade de infecção por fungos.
Casos de infecção na região caudal de odontocetos, já foram registrados
anteriormente (Morton, 1978; Alexander et ai. , 1989; Kompanje, 1995a, 1995c,
1999). Como o descrito neste estudo, alguns envolviam anquilose de arcos
hemais, como o observado em uma fêmea adulta de baleia-bicuda-de-Sowerby
(Mesoplodon bidens) com espondilite (Ca3 a Ca5) (Kompanje, 1995a, 1999) e em
dois botos-cinzas do litoral catarinense (Ferigolo et ai , 1996), que apresentavam
lesões envolvendo Ca4 a Ca5 e Ca7 a Ca10. Ferigolo et ai. (1996), sugerem que
as lesões sejam consideradas como oriundas de processos infecciosos crônicos,
devido a ação bacteriana ou micótica que pode ter sido ocasionada por
tuberculose, coccidioidomicose, nocardiose e equinococcose.
Patógenos identificados em abcessos de lesões infecciosas em esqueletos
de mamíferos marinhos, tais como, Streptococcus sp. , Proteus morganii e
C/ostridium perfringens (Frye & Herald, 1 969; Morton, 1 978; Thomas-Baker, 1 986;
10 1
Kompanje, 1 995b; Siebert et ai., 1 997), já foram registrados anteriormente em S.
fluviatilis (Grenwood & Taylor, 1 979b).
Casos de infecções por bactérias e fungos em S. fluviatilis, a maioria
registrada em espécimens de cativeiro, já foram citados na literatura, atingindo a
pele, trato respiratório e digestivo dos indivíduos, variando de sintomas leves à
causas de septicemia fatal (Grafton, 1 968; Bandoli, 1 968; Bandoli & Oliveira, 1 977;
de Vries & Laarman, 1 973; Greenwood & Taylor, 1 979b).
As micoses, tanto em humanos como em animais, representam somente
uma pequena, mas importante, fração das doenças infecciosas (Nicholls, 1 993).
Cordes ( 1 982) cita que as lesões cutâneas ocasionadas por fungos nos golfinhos
ocorrem primeiramente na região dos orifícios (narinas, boca, genitália) e então se
espalham pelo corpo do animal, podendo levar . o mesmo à morte. Num destes
casos foi registrado um exemplar com candidiase que apresentava osteomielite na
coluna vertebral. Um exemplar de orca foi registrado com Aspergillus fumigatus na
medula vertebral (Reidarson et ai. , 1 999).
Bandoli ( 1 968) registrou a presença de hifas e esporos, provavelmente do
gênero Aspergi/Jus, nos pulmões de um boto-cinza jovem oriundo da Baía de
Guanabara. De Vries & Laarman ( 1 973), além de Loboa loboi, registraram
Glenospora grahii e Torulopsis haemalonii, fungos considerados não patogênicos,
na pele de S. fluviatilis.
A ocorrência de microorganismos que possam atuar como potenciais
patógenos já foram descritos em análises de água do litoral fluminense (Hagler &
Mendonça-Hagler, 1 981 ; Araújo et ai., 1 990; Guimarães et ai., 1 993), o que dá
suporte a hipótese de origem infecciosa nas lesões ósseas observadas em S.
fluviatilis neste estudo.
102
Um exemplar adulto de boto-cinza do norte fluminense apresentava a região
dos ossos pterigóides com sinais reacionais sugestivos de infestação por parasitos
nos sinus craniais. Infestações de parasitos nos sinus craniais são comuns na
maioria das espécies de pequenos cetáceos (Dailey & Brownell, 1973). As lesões
observadas na região dos pterigóides são semelhantes às descritas anteriormente
para crânios de delfinídeos infestados com parasitos (Dailey & Perrin, 1973;
Robineau, 1975; Dailey & Stroud, 1976; Perrin & Power, 1980; Raga et ai., 1982;
Walker et ai., 1986). O diagnóstico diferencial , tal como em outras lesões
osteolíticas, entretanto, afasta a hipótese de processo tafonômico ou lesões pós
morte provocadas por outros organismos.
A identificação do agente etiológico nem sempre é possível, já que, na
maioria das vezes, as lesões são registradas através de áreas erodidas
observadas em crânios depositados em museus (Lopez-Fernandez et ai. , 1999).
As lesões líticas no crânio envolvem infecções da mucosa e das cavidades, tais
como sinusite purulenta e também osteítes (Raga et ai., 1982). Espécies de
nematódeos do gênero Crassicauda e trematódeos do gênero Nasitrema são
frequentemente encontrados em sinµs cran iais de delfin ídeos (Perrin & Powers,
1980; Geraci, 1986; Thurman, 1987) causando processos inflamatórios e
infecções. A maioria das lesões encontradas nos sinus do pterigóide de delfin ídeos
são associadas à presença de tais nematódeos, embora outras espécies do grupo
possam também estar envolvidos (Dailey & Perrin, 1973; Cowan et ai., 1986).
Segundo Sweeney & Ridgway (1975), as infecções bacterianas que
geralmente acompanham infestações de Nasitrema sp. predispõem os cetáceos
afetados para recorrência de doenças do trato respiratório. Espécies de fungos do
103
gênero Candida também já foram registradas em sinus craniais de delfinídeos
(Reidarson et ai, 1999).
Dailey & Perrin (1973), examinando 129 espécimens de S. attenuata,
encontraram lesões no crânio devido a infestação por parasitos em somente 13,2%
da amostra (n=17). O percentual de infestação encontrado por Dailey & Powers
(1980) foi baixo (7,81%) nos 704 crânios analisados. A taxa de infestação para a
amostra de S. fluviatilis no presente trabalho foi também extremamente baixa
(1,35%, n=74).
Casos de infestação por Nasitrema attenuata nas cavidades nasais foram
registrados em exemplares de cativeiro de S. fluviatilis, provenientes do litoral da
Colômbia (Bossenecker, 1978 ; Gibson & Harris, 1979; Greenwood & Taylor,
1979a) . Não há, no entanto, registros de infestação de tais parasitas para a
espécie na costa brasileira. Registros de parasitos no trato respiratório de S.
fluviatilis já foram realizados anteriormente em exemplares do litoral sul e sudeste
brasileiro (Uns de Almeida, 1933; Santos et ai., 1996; Marigo et ai, 2000). Santos
et ai. (1996) não constataram parasitas em sinus craniais dos exemplares de boto
cinza analisados do norte fluminense. Contudo, Nasitrema sp. foi registrado em
cavidades craniais de um espécimen dentre quatro de T. truncatus analisados,
sugerindo a presença do parasito na região. O exemplar aqui estudado é o
primeiro relato sugestivo de infestação de parasitas em sinus craniais de S.
fluviatilis na costa brasileira . O fato de ser um achado único na série corrobora o
que sabemos sobre o comportamento dessa infestação, a qual, se existente, deve
ocorrer em baixíssima prevalência nesta espécie na costa fluminense.
104
4.9 - Alterações Degenerativas
Alterações chamadas degenerativas são encontradas em indivíduos de
idade avançada e são comumente chamadas de artrose. A artrose está
relacionada ao esforço crônico e repetitivo, sendo uma condição patológica
progressiva associada ao envelhecimento. Os casos de artrose observados nas
epífises dos corpos vertebrais são denominados de discartrose, enquanto aqueles
encontrados nas zigapófises das vértebras são chamados de zigartroses (François
et ai. , 1995). A maioria dos registros de artrose nos cetáceos envolve a coluna
vertebral, geralmente resultante de um processo avançado de degeneração dos
discos intervertebrais (Kompanje, 1995a, 1999), porém outras articulações do
esqueleto podem também ser afetadas por artrose (de Smet, 1 977a; Siebert et ai,
1996; Terasawa et ai., 1997; Turnbull & Cowan, 1999).
Alterações ósseas de origem degenerativa foram registradas em um terço
dos espécimens de S. fluviatilis analisados. A maioria desses apresentavam sinais
de artrose na coluna vertebral (31%, n=75), sendo as regiões cervical e torácica as
mais afetadas.
Furtado & Simões-Lopes (1999) analisando alterações senil degenerativas
na coluna vertebral de odontocetos, incluindo espécimens de S. f/uviatilis do litoral
catarinense, também registraram lesões em diferentes regiões da coluna vertebral,
sendo a região torácica a mais afetada por casos de discartrose.
Os casos de discartrose encontrados em S. fluviatílis neste estudo (6,67%,
n=75), estavam tanto relacionados ao envelhecimento do animal como ao aumento
de esforço na coluna vertebral, oriundo de traumatismos ou anomalias de
morfogênese, além daqueles associados à espondiloartrite. Os sinais de artrose
1 05
foram observados nas facetas craniais e caudais de vértebras torácicas, lombares
e caudais. Fragoso & Lima (1997) também registraram casos de alterações
degenerativas em colunas vertebrais de indivíduos imaturos, alguns inclusos na
presente série analisada, associadas a traumatismo ou anomalia congênita.
Os resultados mostram que alterações degenerativas, mesmo ocorrendo em
maior frequência em animais de idade avançada, podem ocorrer associadas à
outros tipos de lesões em indivíduos mais jovens. Kompanje (1999) afirma que a
discartrose por ser uma doença relacionada não só a idade, mas também ao
aumento de esforço na região de articulação entre as vértebras, distribui-se
preferencialmente nos locais onde a coluna sofre grande tensão. Tal patologia
pode ser diagnosticada como uma degeneração do disco intervertebral com
discartrose secundária. Certas espécies, tais como L albirostris, parecem ser mais
vulneráveis a degeneração do disco intervertebral com discartrose que outras
espécies de cetáceos (Kompanje, 1996). Segundo Kompanje (1995a), durante a
necrópsia de alguns delfinídeos da espécie L albirostris foram observados sinais
de degeneração do disco intervertebral. Casos de discartrose foram descritos em
espécies de odontocetos, a maioria referentes a delfinídeos (Omura, 1972; Wells &
Lawrence, 1976; Robineau, 1981; Walker et ai, 1986; Soto et ai., 1994; Fragoso,
1998; Fragoso & Lima, 1998; Furtado & Simões-Lopes, 1999; Kompanje, 1999),
alguns citados como osteocondrose ou espondilose. Siebert et ai (1997) e Macnie
& Goodall (2000a), citam entre alterações ósseas, observadas em pequenos
cetáceos, casos de espondilose, com ou sem anquilose das vértebras, que
provavelmente devem incluir discartrose. Kompanje (1999) registrou, assim como
no presente estudo, um caso de discartrose associado à espondiloartrite na região
lombar em delfinídeo da espécie L albirostris.
106
Em S. f/uviatilis, a maioria dos casos de zigoartrose estão relacionados à
região cervical e torácica, como observado para outras espécies de delfínideos por
Kompanje ( 1 999). Isso se deve, provavelmente, ao número reduzido de vértebras
com articulação zigapofisária bem desenvolvida em outras regiões da coluna. A
região mais atingida no bloco cervical foi a articulação zigapofisária entre o áxis de
C3, que corresponde à uma zona de alto impacto devido à diferenças de volume e
comprimento entre as peças. A maioria das lesões no bloco torácico
corresponderam as juntas das primeiras torácicas que são mais desenvolvidas,
com uma maior área de encaixe.
O percentual de indivíduos com alterações degenerativas na coluna
vertebral (31%; n=75) registrado neste estudo, difere dos encontrados por Furtado
& Simões-Lopes (1999) em indivíduos da mesma espécie oriundos do litoral
catarinense (10%; n=20). Kompanje (1999) não registrou nenhum caso de
alteração óssea nos esqueletos de S. fluviatilis em seu estudo (n=20). As
diferenças encontradas podem ser o resultado de diferenças na natureza das
séries estudadas, tanto em relação ao número amostral quanto à idade dos
exemplares. Furtado & Simões-Lopes (1999), analisando outras espécies de
odontocetos, registraram a maior o porcentagem de alterações degenerativas
(62,5%, n=8) no golfinho-pintado-do-Atlântico (Stenella fronta/is).
Os dois espécimens de S. fluviatilis que não apresentavam evidências de
artrose na coluna vertebral eram indiv íduos imaturos com 8 anos de idade. As
alterações degenerativas encontradas nas facetas articulares das fossas glenóides
e articulações costo-esternais estavam provavelmente relacionadas à anomalias
de desenvolvimento ou esforço sofridos pelos exemplares o que deve ter acelerado
o processo de desgaste das articulações nas regiões afetadas.
107
Há poucos registros de alterações e doenças encontradas nas articulações
sinoviais de cetáceos, embora casos de artrite não inflamatória, uma doença
degenerativa, sejam relativamente comuns em várias espécies de mamíferos
silvestres (Turnbull & Cowan, 1999). Casos de artrose em juntas das articulações
do atlas-occipital e/ou úmero-escapular, assim como os descritos neste estudo,
foram registrados em outras espécies de pequenos cetáceos (de Smet, 1977;
Siebert et ai, 1996; Terasawa et ai. , 1997; Turnbull & Cowan, 1999). Em um dos
casos o indivíduo, uma fêmea com dentes bastante desgastados, apresentava
sinais claros de artrose nas facetas articulares dos côndilos occipitais.
4. 1 O - Anomalias de Desenvolvimento
Anomalias de morfogênese ou do desenvolvimento foram as menos
freqüentes (n=22; 29,33%) nos esqueletos de boto-cinza do litoral fluminense.
Essas atingiram principalmente o campo de desenvolvimento do mesoderma
paraxial, havendo um número de casos superior de alterações de forma dos ossos.
A região torácica correspondeu a região da coluna vertebral mais atingida.
As doenças congênitas dos ossos incluem uma grande variedade de
anomalias restritas a um osso ou presentes em vários ossos. Anomalias de
morfogênese como as alterações do formato das vértebras, alterações numéricas
das mesmas, formação de vértebras incompletas, fusionamento de costelas e em
forma de Y, V ou X, são casos relatados na clínica veterinária (Robbins, 197 4;
Robbins & Cotran, 1983) e humana (Barnes, 1994).
Aparentemente o percentual de anomalias de desenvolvimento nos
indivíduos estudados foi superior ao encontrado em ossos de outras espécies de
cetáceos (Dailey, 1985; Sielbert et ai. , 1997; Gorzelany et ai, 1999), que costumam
,,.
1 08
ser citados como raros em ocorrência. Defeitos de desenvolvimento podem ocorrer
em qualquer tecido do corpo e geralmente afetam de 1 a 5% de todos os
nascimentos da população (Sarnes, 1994).
Alterações de morfogênese foram registradas na caixa craniana de três
exemplares (4%) de S. fluviatilis. Num dos casos a anomalia na região mediana do
supraoccipital provavelmente foi resultante de centro de ossificação aberrante no
segmento durante o estágio blastemal. Alterações semelhantes são observadas na
caixa craniana de humanos (Sarnes, 1994). Alteração de morfogênese foi
anter iormente registrada no osso bassioccip ital de um crânio de D. delphis (Dixon,
1 984).
As alterações de forma e tamanho registradas nos côndilos occip itais
provavelmente foram ocasionadas devido a hipoplasia, durante o processo de
reorganização dos esclerótomos formadores dos côndi los e das primeiras
vértebras cervicais, assim como os registrados em humanos (Sarnes, 1994). Os
indivíduos, adicionalmente, apresentavam anomalias de desenvolvimento
envolvendo as facetas articulares do atlas.
Anomalias na região dos côndilos occipitais de cetáceos já foram
anteriormente registrados na literatura, havendo casos de ocorrência de côndilo
tertius (remanescente do hipocentro do proatlas) em espécies de odontocetos
(Robineau, 1968; Van Bree & Trebbau, 1974; Casinos & Puigdefàbregas, 1981),
além de casos de falha na segmentação entre côndilos occip itais e do atlas em T.
truncatus, que permanecem unidos durante a vida do animal (Gorzelany et ai. ,
1999). Casos de fusão do atlas aos côndilos occipitais foram citados na mesma
espécie por Flower (1879) e Van Sree & Duguy (1970), que relacionaram à
provável luxação. Contudo, um destes casos (Van Sree e Duguy, 1970), parece
\
109
semelhante aos de origem congênita. Gorzelany et ai. (1 999) consideraram tal
anomal ia como de rara ocorrência pois em mais de 600 exemplares anal isados nas
duas últimas décadas somente quatro indivíduos apresentaram as citadas
alterações.
Dois exemplares de boto-cinza apresentavam alterações de tamanho das
diapófises do atlas. Slijper ( 1 936) i lustra a 7ª . vértebra cervical (p. 281 ) de um
exemplar da mesma espécie, tombado no Museu de Chicago e oriundo do
Suriname. Este apresentava a diapófise direita maior que a esquerda, como
provável ocorrência de costela rudimentar. Alterações no comprimento de
diapófises também foram registradas em G. melas (Cowan, 1 966) e B. musculus
(Crovetto, 1 982).
Falha de fechamento do arco neural , como a registrada na 1 ª . vértebra
torácica de um exemplar, também já foi registrada em vértebras de G. melas,
sendo a região torácica a mais afetada (Cowan, 1 966) .
Os casos de falha na segmentação dos esclerótomos na região cervical e
torácica de alguns espécimens de boto-cinza do l itoral fluminense são semelhantes
aos descritos na l iteratura em outras espécies de odontocetos (Slijper, 1 936;
Cowan, 1 966; Robineau, 1 98 1 ; Gallo-Reynoso & Agui lar, 1 989; Ortega-Ortiz,
2000). A maioria das falhas envolve neuroapófises. Cowan ( 1 966) também
registrou casos de blocos de vértebras unidos devido à causas congênitas em G.
melas.
As alterações encontradas em costelas de alguns exemplares de S.
fluviatilis analisados, são semelhantes às citadas na l iteratura paleo-patológica
(Sarnes, 1 994). Essas alterações encontradas nas costelas podem estar
correlacionadas a anomalias nas vértebras torácicas (Nieberle & Cohrs, 1 970) ,
' '
\
1 1 0
como foi evidenciado em um dos indivíduos que apresentava anomalia na costela
correspondente à vértebra torácica com aplasia da diapófise. Anomalias
observadas em costelas esternais também parecem estar correlacionados a
alterações presentes no esterno. Anomal ias em costelas foram evidenciadas
anteriormente em cetáceos por Sl ijper ( 1 936). Yamada ( 1 954) reg istrou expansão
nas diapófises de vértebra torácica referente à costela, semelhante a um dos casos
descritos neste estudo. Korschelt ( 1 932) cita alterações no esterno de um exemplar
de orca; as possíveis causas não foram determinadas. A existência de poucas
informações quanto às anomal ias em costelas, esternos e hióides em cetáceos,
provavelmente se deva ao fato dos estudos patológicos se concentrarem na coluna
vertebral dos animais (Kompanje, 1 995a).
Caso de escoliose em S. fluviatilis foi somente relatado anteriormente por
Fragoso & Lima ( 1 998). Outros dois casos foram descritos no presente trabalho e
todos eles estão relacionados à má formação dos sômitos. Durante o
desenvolvimento dos animais houve também formação de pontes e l igações
ósseas entre as peças ósseas nas áreas de curvatura anômala. Nos exemplares
anal isados, assim como nos casos relatados em golfinhos de bico branco (Slijper,
1 936; Kompanje, 1 995b) , as anomal ias devem ter se desenvolvido durante a
morfogênese do animal , como pode ser deduzido através de deformações e
fraturas das apófises espinhosas e metapófises devido a tração muscular. Os
botas provavelmente viveram muitos anos com estas anomalias, a ju lgar pelas
mudanças patológicas da coluna.
Casos documentados de má-formação da coluna vertebral em cetáceos têm
sido associados a um d iverso leque de fatores causais. Existem poucos
detalhamentos de alterações em colunas vertebrais de cetáceos devido à
-- - --· . -- - ----
1 1 1
anomalias de morfogênese (Berghan & Visser, 2000), sendo descritos casos em
narval Monodon monocerus (Korschelt, 1932), G. griseus (Nutman & Kirk, 1988), L
albirostris (Slijper, 1936; Kompanje, 1995b) e S. fluviatilis (Fragoso & Lima, 1998),
além do caso em feto de baleia fin B. physalus (Slijper, 1949). Um exemplar de L.
albirostris (ZMA 17232), analisado por Kompanje (1995b), apresentava cifose
atingindo a região entre L 12 a Ca17, deformações em diapófises e neuroapófises,
além de severa espondiloartrite na região lombar, como um dos casos descritos no
presente estudo (UERJ-MQ 33). Caso de escoliose congênita devido a hipoplasia
do corpo vertebral, como os apresentados em boto-cinza, foi registrado em um
narval por Korschelt (1932).
Desvios e alterações na coluna vertebral também podem ser causados por
doenças ósseas resultantes de infecção bacteriana (Kompanje, 1995a), geralmente
seguinte a trauma como reportado em Tursiops (Alexander et ai, 1989) e orca
(Kompanje, 1995c). Contudo desvios traumáticos da coluna vertebral, resultantes,
por exemplo, de choque com embarcação, podem ocorrer sem espondilite
infecciosa, como registrado em Tursiops (Kompanje, 1999).
Casos de desvios ou encurvamento da coluna vertebral já foram observados
em cetáceos em ambiente natural ou em cativeiro, envolvendo jubarte (Osmond &
Kaufman, 1998), cachalote (Berzin, 1971; Dailey, 1985), beluga (Johnston &
McCrea, 1992), P. phocoena (Andersen, 1978), além de delfinídeos (Sweeney &
Ridgway, 1975; Wells & Scott, 1997; Berghan & Visser, 2000), não havendo a
determinação das prováveis causas das alterações. Berghan & Visser (2000)
observaram casos de escoliose associados ou não à cifose ou lordose em O. orca,
T. truncatvs e golfinho de Hector C�pha/Qrhynchu� hectori em ambiente natural e
em cativeiro.
-
1 12
A l�ngevidade de delfinídeos com anomalias na coluna vertebral não é
conhecida. Contudo, o registro de dois indiv íduos com tais deformidades,
monitorados em ambiente natural por mais de 8 e 20 anos (Berghan & Visser,
2000), sugerem que alguns animais são capazes de sobreviver por vários anos e
até mesmo alcançar a idade adulta , como nos casos descritos em boto-cinza neste
estudo. A longevidade de delfinídeos com má-formação dependerá largamente da
extensão e complicações resultantes da anomalia (Berghan & Visser, 2000).
As alterações encontradas nas porções distais de maxilas e mandíbulas de
espécimens de boto-cinza do litoral fluminense, provavelmente constituem
anomalias de desenvolvimento do tipo hipoplasia unilateral. A ausência de sinais
de traumatismo, bem como a ocorrência de anomalias em outras regiões do
esqueleto na maior parte dos indivíduos, reforçam a hipótese de alterações de
morfogênese.
A maioria dos animais com curvatura no rostro são provenientes da região
da Baía de Guanabara. Porém, uma análise futura com um maior número de
crânios deve ser realizada para possíveis inferências quanto a relação de tais
alterações e as regiões de ocorrência dos animais. Aparentemente, tais alterações
não afetaram o desempenho dos indiv íduos.
Slijper ( 1 976) ressalva que as alterações nas mandíbulas, devem causar
efeitos sobre o desempenho na alimentação e locomoção dos cetáceos, mas que
geralmente os indivíduos chegam a fase adulta ou vivem por muitos anos.
Exemplares de cachalotes examinados com deformidades nas mandíbulas,
possuíam conteúdo estomacal (Nakamura, 1 968), o que sugere que os animais
alimentavam-se normalmente.
1 13
Casos de encurvamento do rostro foram relatados anteriormente em
pequenos cetáceos, envolvendo exemplares de golfinho-listrado Stenella
coeruleoalba (Tobayama & Uchida, 1964), boto-rosa lnia geoffrensis (Casinos &
Puigdefàbregas, 1981), franciscana Pontoporia blainvillei (Ott et ai. , 1996). Um
exemplar de S. fluviatilis do litoral catarinense também apresentava alterações na
região rostral (Menezes & Simões-Lopes, 2000) . Casos de alterações relacionados
ao tamanho do rostro foram observados em botos-rosas (Kendall et ai, 1998).
As causas das alterações de maxilas e mandíbulas estão geralmente
ligadas a remodelação assimétrica após traumatismos ou à anomalias de
morfogênese (Nakamura, 1968; Sarnes, 1994; Ott et ai. , 1996). Porém descrições
detalhadas muitas vezes não constam nos trabalhos sobre cetáceos (Nakamura,
1968), o que dificulta uma análise causal. Casos de anomalias de
desenvolvimento, assim como encurvamento de maxilas e mandíbulas têm sido
reportados em fetos de misticetos (Nishiwaki, 1957; Cockrill, 1960; Kawamura,
1990). Embriões de S. coeruleoalba com severas má-formações têm sido relatados
(Kawamura & Koshita, 1971; Kamiya & Miyazaki, 1974), havendo a descrição de
um feto com dicefalia que apresentava uma das cabeças com mandíbula
encurvada (Kamiya et ai., 1981).
A maioria (90%) dos defeitos de desenvolvime�nto é causada por influências
genéticas (Patton, 1987), que podem ser resultantes de desordens num único
gene, desordens cromossômicas ou desordens multifatoriais. As desordens
multifatoriais, as mais freqüentes, são o resultado da interação entre fatores
genéticos (intrínsecos) ou de fatores genéticos e ambientais (extrínsecos), cujos
efeitos destes últimos são conhecidos como interação epigenética. Os fatores
1 14
extrínsecos podem ser mecânicos, químicos, nutricionais, desequilíbrios hormonais
da mãe, variações na pressão do oxigênio, radiação ou infecção (Sarnes, 1994).
Grande parte das desordens multifatoriais ocorrem quando um determinado
processo limiar de desenvolvimento, determinado geneticamente, em essência, é
atingido durante a morfogênese (Sarnes, 1994). Geralmente tais distúrbios
ocorrem quando células recém-formadas estão se proliferando, diferenciando ou
migrando. O distúrbio mais comum está relacionado ao atraso no tempo de um
evento limiar o que pode levar a distintos graus de subdesenvolvimento
(hipoplasia) ou ausência (aplasia) de elemento ou estrutura em desenvolvimento
(Barnes, 1994).
Casos de anomalias ósseas de desenvolvimento encontrados em espécies
de cetáceos têm sido relacionados à baixa variabilidade genética (Kendal l et ai,
1998; Ortega-Ortiz et ai., 2000). Porém estudos genéticos recentes em vaquitas,
Phocoena simus (Ortega-Ortiz et ai. , 2000), indicam que a baixa variabilidade
genética nos indivíduos está mais relacionada a fatores filogenéticos,
provavelmente deriva gênica, do que à redução populacional das últimas décadas.
Watson & Bonde ( 1986) postulam que má-formações congênitas em
esqueletos de mamíferos marinhos podem ser um indicador de contaminação
ambiental pois contaminantes geralmente se acumulam e ficam concentrados em
predadores de topo de cadeia alimentar, como cetáceos e pinípedes. Possíveis
relações entre a contaminação por organoclorados e doenças, incluindo anomalias
ósseas, vêm sendo investigadas nos últimos anos nas belugas do estuário do Rio
St. Lawrence no Canadá (Johnston & Me Crea, 1992), porém os estudos não são
ainda conclusivos (O'Shea & Geraci, 1999).
t'
1 1 5
A potencialidade d e considerar a ocorrência de assimetria, possível
indicativo de desvios do programa genético básico, como um critério de avaliação
do stress ambiental em populações de mamíferos têm sido reconhecida
recentemente (Leary & Allendorf, 1 989). Porém o termo stress ambiental é
bastante genérico e engloba possivelmente impactos gerados por naturezas
distintas.
As causas de desordens e anomalias de desenvolvimento não podem ser
determinadas através das observações osteológicas. Portanto investigações
futuras, abordando aspectos tais como contaminação e fluxo gênico, devem ser
realizadas nas populações de S. fluvíatilís da costa fluminense para verificação de
possíveis relações com as anomalias de desenvolvimento encontradas no presente
estudo.
A escassez de descrições detalhadas a respeito das lesões encontradas em
esqueletos de cetáceos e de trabalhos que incluam informações quanto às
características dos espécimens analisados, além do uso de terminologias distintas,
dificultam a comparação entre os achados osteo-patológicos neste grupo. Porém,
os resultados encontrados neste trabalho retratam um panorama geral das lesões
em esqueletos de boto-cinza do litoral fluminense facilitando comparações futuras
com amostras de outras regiões. Os poucos trabalhos de osteopatologia em
cetáceos que abordam as características dos indivíduos (Kompanje, 1 995b) muitas
vezes não utilizam uma perspectiva estatística para avaliar os resultados
encontrados. Tal perspectiva, particularmente considerando as características
biológicas do grupo, podem futuramente, constituir uma importante ferramente na
avaliação da suscetibilidade de populações de cetáceos a impactos sofridos nos
..----. ambientes onde vivem.
1 16
5 - CONCLUSÕES
A maioria dos espécimens de S. f/uviatilis (77,3%) da costa do Estado do
Rio de Janeiro apresentou algum tipo de alteração no esqueleto, fosse esta de
.-----. natureza traumática (n=47), degenerativa (n=25), infecciosa (n=24) ou de
desenvolvimento (n=22). Um pequeno número (n=4) apresentou lesões
abrangendo todas as categorias. As lesões traumáticas foram as alterações
ósseas mais freqüentes (62,7%) nos espécimens.
O número de categorias de alterações ósseas e de ossos afetados
geralmente tendeu a aumentar com o avanço da idade do animal e também com o
tamanho deste, sendo fortemente influenciado pelas categorias de lesões
traumáticas e degenerativas, que são cumulativas com a idade. Os indivíduos de
sexos distintos, de maneira geral, apresentaram freqüências similares de
alterações ósseas e número de ossos afetados por lesões.
Os indivíduos oriundos da área central do litoral fluminense (Baía de
Guanabara) apresentaram uma maior incidência de alterações ósseas
degenerativas e de desenvolvimento, e de outras lesões ósseas. Alterações
degenerativas estiveram relacionadas à idade, maturidade física e ao tamanho dos
indivíduos, embora casos associados a outras lesões tenham sido registrados
também em jovens de S. fluviatilis.
As freqüências de anomalias de desenvolvimento registradas em
espécimens de S. fluviatilis do litoral fluminense, sobretudo da região da Baía de
Guanabara, foram superiores em indivíduos adultos. Lesões degenerativas,
quando associadas às alterações de desenvolvimento, estão correlacionadas ao
aumento de esforço nas regiões anômalas da coluna vertebral.
1 1 7
As freqüências de ocorrência de lesões de origem traumáticas e infecciosas
aumentaram com o aumento da idade e tamanho dos indivíduos, embora
indivíduos imaturos também apresentem tais lesões.
Em toda a coluna vertebral, as vértebras localizadas em zonas de transição
entre blocos funcionais foram as mais afetadas por lesões; destas, a região mais
atingida foi a cervical, sugerindo que esta seja uma área crítica do ponto de vista
da biomecânica locomotora do animal.
As alterações ósseas registradas nas vértebras cervicais, resultantes
principalmente de processos traumáticos e degenerativos, estavam diretamente
relacionadas aos impactos sofridos pelo bloco torácico, bem como pelo tamanho,
maturidade física e idade dos indivíduos.
As modificações observadas nas epífises vertebrais do bloco cervical e na
1 ª vértebra torácica estavam associadas à idade, maturidade física e ao tamanho
dos indivíduos, bem como à posição e características (volume e comprimento) dos
corpos vertebrais.
O estudo das alterações ósseas se mostrou uma ferramenta importante no
acesso a informações sobre espécimens de pequenos cetáceos em ambiente
natural, sendo possível, inclusive, a obtenção de dados patológicos em exemplares
encontrados mortos em adiantado estado de decomposição, quando a necrópsia
não teve a possibilidade de ser realizada.
1 1 8
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(
- ANEXOS
)
n
Anexo 1 - Exemplo de plani lha confeccionada para registros g'ráficos das
alterações em ossos do boto-cinza (Sola/ia f/uviatilis) .
VÉRTEBRAS CERVICAIS
Acervo: ___ _ Vista Posterior
Vista Anterior
Vista Dorsal
Vista Ventral
)
n
Anexo 2 - Chave de classificação das alterações patológicas em colunas vertebrais
(baseada em Kompanje, 1 999).
1 a. Alteração em vértebra relacionada ao incremento da idade do animal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1 b. Alteração em vértebra sem relação com a idade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . 3
2 a. Alteração do disco vertebral devido ao aumento de esforço e idade do animal; presença de osteofitos verticais, robustos marginais; esclerose e erosão das faces articulares (inicia-se no disco vertebral}; de natureza traumática e degenerativa; generalizada, atingindo geralmente várias vértebras; pode associar-se às demais patologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . DISCARTROSE
2 b. Alteração da zigopófise vertebral devido ao aumento de esforço e idade do animal; presença de osteofitos verticais, robustos marginais; esclerose e erosão das faces articulares; de natureza traumática e degenerativa; generalizada, atingindo geralmente várias vértebras; pode associar-se às demais patologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ZIGARTROSE
3 a. Alteração afeta de forma generalizada a coluna vertebral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 3 b. Alteração afeta de forma localizada a coluna vertebral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
4. Alteração sem relação com a idade; afeta de forma generalizada a coluna vertebral (disco vertebral e/ou zigopófise); faces articulares das vértebras preservadas; formação de sindesmofitos horizontais marginais ao redor do anel fibroso do disco intervertebral; pode estar associada a ativação do sistema imunológico (desencadeada por infecção no organismo) como em humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ESPONDILOARTRITE
5 a. Alteração com formação de osteofitos bizarros e exuberantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 5 b. Alteração com formação de osteofitos não marginais com aspecto de cera escorrendo . . . . . . . . . . . 7
6. Alteração localizada; sem relação com a idade, podendo ter relação com esforço/trauma na coluna vertebral; formações de osteofitos bizarros e exuberantes; destruição das duas faces articulares contíguas no estágio avançado; localização variável na coluna; de natureza infecciosa, com registros de relação com Streptococcus haemo/iticus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ESPONDILITE INFECCIOSA
7. Alteração sem relação com a idade; idiopática; com ossificação dos ligamentos paravertebrais, osteofitos não marginais com aspecto de cera de vela escorrendo; faces articulares preservadas (salvo quando associada com discartrose); corpo vertebral afetado (raramente zigapófise); localizada, em geral afeta 3 ou mais vértebras contíguas em cada região . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . DISH ou HIPEROSTOSE DIFUSA
}
Anexo 3 - Características dos tipos de alterações patológicas na coluna vertebral
(baseado em Kompanje, 1 999).
1 . DISCARTROSE ou ZIGARTROSE:
• Aumento da idade e esforço;
• osteofitos verticais, robustos, marginais;
• esclerose, erosão das faces articulares (inicia-se no disco intervertebral);
• corpo e/ou zígapófise afetados;
• natureza traumática e degenerativa;
• generalizada;
• pode associar-se às demais patologias.
2. ESPONDILITE INFECCIOSA :
• sem relação com a idade;
• pode ter relação com esforço/ trauma;
• formações de osteofitos bizarras e exuberantes;
• destruição de duas faces articulares contíguas no estágio avançado;
• natureza infecciosa, havendo registros de Streptococcus haemoliticus;
• localização variável;
• localizada.
3. HIPEROSTOSE DIFUSA (DISH) :
• sem relação com a idade;
• idiopática;
• ossificação dos ligamentos paravertebrais, osteofitos não marginais, aspecto cera de vela
escorrendo;
• faces articulares preservadas (salvo quando associada com discartrose);
• corpo vertebral afetado (raramente zigapófise);
• localizada (em geral 3 ou mais vértebras contíguas em cada região afetada).
4. ESPONDILOARTRITE :
• sem relação com a idade;
• pode estar associada a ativação do sistema imunológico ( desencadeada por infecção no
organismo);
• sindesmofitos, marginais, horizontais, (externos ao ânulo fibroso);
• faces articulares preservadas;
• corpo vertebral e zigapófises afetados;
• generalizada: