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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES ESCOLA DE MÚSICA LICENCIATURA PLENA EM MÚSICA OSIEL LÔBO DE MIRANDA ESCOLA CÔNEGO JONAS TAURINO: LAR DA BANDA SINFÔNICA JUVENIL DE PERNAMBUCO E O MAESTRO GERALDO JOSÉ DOS SANTOS NATAL - RN 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

ESCOLA DE MÚSICA

LICENCIATURA PLENA EM MÚSICA

OSIEL LÔBO DE MIRANDA

ESCOLA CÔNEGO JONAS TAURINO: LAR DA BANDA SINFÔNICA JUVENIL DE

PERNAMBUCO E O MAESTRO GERALDO JOSÉ DOS SANTOS

NATAL - RN

2010

OSIEL LÔBO DE MIRANDA

ESCOLA CÔNEGO JONAS TAURINO: LAR DA BANDA SINFÔNICA JUVENIL DE

PERNAMBUCO E O MAESTRO GERALDO JOSÉ DOS SANTOS

Monografia apresentada à Unidade Acadêmica

Especializada em Música da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte, como requisito parcial para

obtenção do título de Licenciado em Música.

Orientador: Prof.Ms. João Paulo Araújo

Co-orientador: Ms. João Evangelista dos Santos Neto

Natal - RN

2010

Catalogação da Publicação na Fonte

Biblioteca Setorial da Escola de Música

M672e Miranda, Osiel Lôbo de.

Escola Cônego Jonas Taurino: lar da Banda Sinfônica Juvenil de Pernambuco e o

maestro Geraldo José dos Santos / Osiel Lôbo de Miranda. – Natal, 2010.

xx f.: il.

Orientador: João Paulo Araújo.

Monografia (Graduação) – Escola de Música, Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, 2010.

1. Educação musical. I. Banda Sinfônica Juvenil de

Pernambuco. II. Santos, Geraldo José dos. III. Araújo, João Paulo. IV.

Título.

CDU 78:37

OSIEL LÔBO DE MIRANDA

ESCOLA CÔNEGO JONAS TAURINO: EM BUSCA DE MELHORIAS SÓCIO-CULTURAIS

NA PERIFERIA DE OLINDA ATRAVÉS DA MÚSICA

Monografia apresentada à Unidade Acadêmica Especializada

em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

como requisito parcial para obtenção do título de Licenciado

em Música.

Orientador: Professor Ms. João Paulo Araújo

Co-orientador:Ms. João Evangelista dos Santos Neto

Aprovado em: _____ / _____ / _____

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________

Prof. Ms. João Paulo Araújo

Orientador

__________________________________________________

Profa. Ms. Ranilson Faria

1º Examinador

__________________________________________________

Prof. Ms. Amandy Bandeira de Araújo

2º Examinador

Natal, 21 de setembro de 2010.

Em memória de Daniel Lobo de Miranda...

AGRADECIMENTOS

Como dizer “obrigado” quando há tantos a quem agradecer?

A meu Deus que é digno de receber toda honra, toda glória e todo louvor...

A minha esposa Joseane Maria lobo de Miranda pelo apoio constante e sua companhia

nas horas boas e difíceis, pelo seu amor e compreensão em todas as horas.

Aos meus pais Humberto lobo de Miranda e Odineide Maria de França Miranda pelos

estimulo constante, por seus cuidados, pelas suas orações e suas presenças nas horas de dificuldades

e alegrias.

Aos meus irmãos Oséias, Humberto e Samuel que tem mim ajudado muito nessa longa

estrada sempre prontos em todos os momentos.

A Joseilton Tavares Guimarães por sua paciência comigo e por haver me ajudado em

todos os momentos.

A minha eterna professora Misaildes de lima Cavalcante pelo acompanhamento pelas

intervenções pelo seu cuidado e carinho.

A meu amigo e irmão professor João Evangelista pelo acompanhamento, por seu

empenho e paciência e por suas orações.

A Cecília filha do professor Geraldo, pelo apoio e por coloca à disposição o material

deixado pelo maestro.

Ao professor Ademir Araújo pelos seus conselhos e sua disposição.

A todos os alunos e ex-alunos da Banda Sinfônica Juvenil de Pernambuco que têm carregado esse

estandarte dentro dos seus corações.

Ao meu amigo Denis Nascimento com quem juntamente enfrentei todas as dificuldades do curso,

ajudando e sendo ajudado.

"É melhor tentar e falhar,

que preocupar-se e ver a vida passar;

é melhor tentar, ainda que em vão,

que sentar-se fazendo nada até o

final. Eu prefiro na chuva caminhar,

que em dias tristes em casa me

esconder. Prefiro ser feliz, embora

louco, que em conformidade viver"

Martin Luther King

RESUMO

Esse trabalho é um relato de experiência vivida pelo próprio autor, no qual é abordado o modelo de

ensino/aprendizagem musical realizado pela Escola Estadual Cônego Jonas Taurino através da

Banda Sinfônica Juvenil de Pernambuco. Trata-se de um modelo considerável na periferia de

Olinda e que formou inúmeros músicos e apreciadores musicais ainda na década de 1970.

Palavras Chaves: Banda de Música, Educação Musical, Relevância Sócio/Cultural.

ABSTRACT

This work is the author’s report of his life experience at the Pernambuco Estate Young Symphonic

Band of Estate School “Cônego Jonas Taurino” thru the scope of theteaching/learning model. This

significant model, applied at the outskirts of Olinda city, produced many musicians and music

appreciators during the 70’s.

Key Words: Wind Ensemble, Concert Band, Music Education, Social Work.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1- Área verde de Aguazinha pouco depredada na parte posterior......... 19

FIGURA 2 - Avenida Senador Nilo Coelho.......................................................... 20

FIGURA 3 - Vista Panorâmica do Lixão de Aguazinha........................................ 21

FIGURA 4 - Escola Estadual Cônego Jonas Taurino............................................ 25

FIGURA 5 - Banda Sinfônica Juvenil de Pernambuco.......................................... 29

FIGURA 6 - Hino da Escola Cônego Jonas Taurino (Letra)................................. 31

FIGURA 6b- Hino da Escola Cônego Jonas Taurino (Partitura)........................... 32

FIGURA 7 - Fotografia do maestro Geraldo José dos Santos............................... 38

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Orquestra Sinfônica do Recife..................................................... 33

QUADRO 2- Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte............................... 33

QUADRO 3 - Banda da Cidade do Recife.......................................................... 33

QUADRO 4 - Banda Municipal do Paulista ....................................................... 34

QUADRO 5 - Banda Municipal de Jaboatão....................................................... 34

QUADRO 6 - Banda da Aeronáutica ................................................................. 34

QUADRO 7 - Banda do Exército........................................................................ 35

QUADRO 8 - Banda da Marinha........................................................................ 35

QUADRO 9 - Banda da Policia Milita de Pernambuco...................................... 35

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................................ 13

2. METODOLOGIA........................................................................................................................ 15

2.1 PROCEDIMENTOS PRELIMINARES..................................................................................... 15

2.2 INSTRUMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS................................................... 16

3. A COMUNIDADE DE AGUAZINHA....................................................................................... 18

4. EDUCAÇÃO MUSICAL NA ESCOLA CÔNEGO JONAS TAURINO ATRAVÉS DA

BANDA SINFÔNICA JUVENIL DE PERNAMBUCO............................................................... 25

4.1. A ESCOLA CÔNEGO JONAS TAURINO E SUA ESCOLHA PARA ABRIGAR O

PROJETO DA BANDA SINFÔNICA JUVENIL DE PERNAMBUCO.......................................... 25

5. MAESTRO GERALDO JOSÉ DOS SANTOS: EXEMPLO DE DETERMINAÇÃO E

SOLIDARIEDADE......................................................................................................................... 38

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................... 44

BIBLIOGRAFIA................................................................................................................................ 45

ANEXOS............................................................................................................................................ 46

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1. INTRODUÇÃO

Esta monografia é um relato de experiência sobre o impacto social causado pelo

trabalho do Maestro e arte-educador Geraldo José dos Santos no âmbito da Banda Sinfônica

Juvenil de Pernambuco, localizada na Escola Estadual Cônego Jonas Taurino, na periferia da

cidade de Olinda-PE, mais precisamente no bairro de Aguazinha.

O objetivo geral desse trabalho é descrever como ocorreu o processo de

ensino/aprendizagem musical e a relevância sócio/cultural que essa banda teve e tem sobre a

comunidade em questão, evidenciando a importância do trabalho musical realizado naquela

comunidade e apontando os problemas enfrentados pela mesma, desde o seu inicio. O foco

dessa pesquisa será a própria Banda de Música, mostrando os resultados sociais obtidos pela

mesma, frente à comunidade.

A Banda Sinfônica Juvenil de Pernambuco, bem como a escola onde está sediada

desde sua formação, enfrenta muitos problemas em diversas áreas, entre esses problemas

estão o da falta de estrutura física do local, falta de professores concursados para algumas

disciplinas e falta de saneamento básico. Além de todos esses problemas, a banda ainda utiliza

os mesmos instrumentos desde sua inauguração e vem sofrendo com o desinteresse e

abandono do poder público. Esses problemas são refletidos diretamente sobre o aprendizado

dos alunos, uma vez que nunca houve melhorias na estrutura da banda e nem do bairro.

O interesse em abordar esse tema nasceu principalmente pela experiência pessoal do

autor desse trabalho que também foi personagem dessa história e também da necessidade de

se evidenciar que processos de desenvolvimento musicais podem ser vivenciando mesmo em

realidades adversas a exemplo da Comunidade de Aguazinha, conseguido através da sua

banda musical, apesar de todos os problemas enfrentados pelos estudantes e demais

moradores.

As principais referências bibliográficas que deram fundamentação para o

desenvolvimento desse relato de experiência foram os autores: Maura Penna (2008), Jose

ramos tinhorão (2005), Leonardo Dantas silva (1998), Cap. Dalmo da Trindade Reis (1962) e

Paulo Freire (1996). Na organização e preparação da metodologia cientifica foram utilizados

os autores Lakatos e Marconi.

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No primeiro capitulo discorre sobre a metodologia utilizada em na pesquisa, os

instrumentos de coleta e análise de dados, em busca de compreender a motivação para a

criação e manutenção dessa banda numa comunidade tão carente.

No segundo capitulo descreve sobre o bairro no qual está situada a escola, sua

comunidade e os seus problemas sociais, educacionais, econômicos e de saúde pública.

No terceiro capítulo apresenta a escola e a Banda Sinfônica Juvenil de Pernambuco:

Como se deu a fundação da banda, os professores, os alunos, os problemas enfrentados pelos

mesmos e o maestro Geraldo Jose dos Santos, regente, arte-educador e professor dessa banda

por vários anos; bem como a situação do ensino de musica na escola atualmente e a Banda

Sinfônica Juvenil de Pernambuco hoje.

Na conclusão, são apresentados comentários relacionados ao processo de

ensino/aprendizagem realizado nessa instituição e as impressões obtidas durante o período em

que o Maestro Geraldo esteve trabalhando com essa comunidade como também a situação

atual do projeto Banda Sinfônica Juvenil de Pernambuco na Comunidade de Aguazinha

(Olinda-PE)

Nos anexos constarão entrevistas com alunos e ex-alunos da escola, o hino da escola

como ilustração, fotografias, Discografia, programas e outros.

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2. METODOLOGIA

2.1 PROCEDIMENTOS PRELIMINARES.

Neste capítulo, procuramos tecer, com base em referências teóricas, o percurso

teórico-metodológico utilizado na coleta e análise dos dados de nossa investigação.

A nossa pesquisa é de cunho qualitativo e seu resultado histórico e analítico acerca

dos procedimentos adotados no processo de ensino e aprendizagem musicais na Banda

Sinfônica Juvenil de Pernambuco.

Visando um melhor desempenho e orientado pelo objetivo de realizar uma análise

mais apurada da história e ensino de música na Escola Cônego Jonas Taurino, onde está

sediada a banda, buscamos fundamentar nossa metodologia de busca e análise nos autores

Lakatos e Marconi (1992, 1999), que tratam especificamente dos procedimentos para

realização desse tipo de trabalho, reconhecendo o trabalho de alguns teóricos mais atuais em

pesquisa qualitativa - tais como Oliveira (2007), Gil (2002) e Minayo (1993).

Entendeu-se, entretanto, que as orientações teóricas citadas acima satisfazem as

necessidades teórico/metodológicas para realização desse trabalho preferiu-se seguir os

procedimentos indicados por esses autores.

A metodologia foi apresentada no primeiro capítulo, fundamentada no fato de que

além de apresentarmos detalhes específicos sobre todos os passos e recursos materiais

empregados para a realização desse estudo, além de referências, bem como os locais, pessoas

e materiais encontrados, sentimos também a necessidade de colocarmos algumas observações

pontuais sobre a história da Banda Sinfônica Juvenil de Pernambuco, servindo assim de

prelúdio para o segundo capitulo.

Inicialmente, foi realizado um levantamento sobre a história da comunidade de

Aguazinha e uma pesquisa sobre os inúmeros problemas que se arrastam por muitos anos

nessa comunidade. No capitulo seguinte mais detalhes são explicitados como também as

soluções encontradas pela comunidade.

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Na pesquisa realizada, foram abordados problemas que não só afetam o bairro de

Aguazinha, mais também bairros vizinhos, que foram relatados em entrevistas com os

moradores.

No âmbito da Escola Estadual Cônego Jonas Taurino o foco da pesquisa foi à música

e a história sobre a fundação da Banda e o desenvolvimento do ensino de música nessa

comunidade e a importância alcançada por esse projeto.

Percebeu-se entre os músicos, estudantes de música e moradores locais, que existe

uma necessidade de estudos mais aprofundados das representações que as pessoas do local

fazem dos problemas sociais, ambientais e do lixo.

Descrevemos e reproduzimos algumas histórias pessoais, que consideramos

relevantes sobre como a Banda Sinfônica Juvenil de Pernambuco serviu como marco e ponto

de partida para muitos dos músicos que, anos após participarem dessa banda se tornaram

músicos de destaque nacional e internacional, buscando identificar os elementos que tornaram

esse modelo de ensino de música num modelo bem sucedido apesar dos graves problemas

logísticos e estruturais.

2.2. INSTRUMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

Inicialmente foram realizadas pesquisas bibliográficas, buscando textos que

remetessem á temática banda de música. Entre os autores encontrados inicialmente em nossa

pesquisa, destacamos: ANDRADE (2003), BINDER (2006), DANTAS (1998), REIS (1962),

e PIMENTA (2010). Após leituras dos textos citados, percebemos que os processos de ensino

e aprendizagem musicais existentes nessa modalidade de grupo musical deveriam ser o

norteador de nossa pesquisa.

Assim, guiados pelo intuito de compreender o desenvolvimento dos processos de

ensino/aprendizagem musicais, buscamos autores como PENNA (2008), FREIRE (1997),

SOUZA (2008), entre outros.

A seguir, Iniciamos nossa pesquisa de campo, a fim de realizar o levantamento

acerca dos dados sobre a História da Banda, a história do bairro e a história do seu arte-

educador Geraldo José dos Santos, que pode ser considerado protagonista dessa história.

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Elegeu-se como objeto dessa pesquisa a própria banda, definindo como recorte a

história da banda e seus processos de ensino e aprendizagem musical. O senhor Geraldo José

dos Santos foi eleito o principal agente multiplicador como também todos aqueles que foram

participantes direta ou indiretamente dos rumos da Banda Sinfônica Juvenil de Pernambuco.

Para coleta de dados foi utilizados máquina fotográfica, filmadora e gravador de

áudio. Foram registradas fotos da escola onde está sediada a Banda, do bairro onde está

localizada a escola e fotos antigas de moradores e componentes e ex-componentes da banda.

Foram realizadas entrevistas do tipo semi-estruturadas e abertas com moradores,

alunos e ex-alunos daquela localidade, no intuito de obter mais dados que pudessem comparar

versões da mesma história, uma vez que não há bibliografia que relate a história dessa banda.

Para análise dos dados obtidos, realizamos a análise direta dos dados levantados,

através das entrevistas, fotos e filmagens conseguidas em nossa pesquisa de campo.

Comprovamos, através das entrevistas, que ainda hoje a banda continua a ser um marco

referencial da música naquela comunidade, recebendo de todos os moradores respeito e

admiração. Comprovamos também que há um descaso por parte das autoridades competentes

em relação à manutenção do bem-estar do bairro, da Escola Estadual Cônego Jonas Taurino e

em relação à Banda Sinfônica Juvenil de Pernambuco, que podem ser vistos nos capítulos a

Seguir.

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3. A COMUNIDADE DE AGUAZINHA

Aguazinha localiza-se na cidade de Olinda, no estado de Pernambuco, essa

comunidade abrangia uma vasta área predominantemente formada por sítios. O bairro tem

esse nome devido a um desses sítios, que se chamava Sítio Aguazinha. Naturalmente, o bairro

de Aguazinha encontrava-se em uma região bastante privilegiada de clima agradável, cercado

de áreas verdes, fontes de águas, e localização que permitia fácil acesso a várias localidades,

tanto ao centro de Recife como para o Centro Antigo de Olinda.

Era um reduto de pessoas humildes e pacatas e possuía ares de cidade do interior,

com diversas moradias construídas de sapê, com casas esparsas. Entretanto, não havia

saneamento básico, asfalto ou qualquer beneficiamento do poder público.

Na região do bairro, existem duas nascentes, antigamente eram três: Duas em

Aguazinha e outra no vizinho bairro de Sapucaia, que se chama “a bica de Sapucaia”.

Os moradores, durante um período muito longo de tempo se utilizavam dessas fontes

de água para consumo. Essas fontes de água eram puras e potáveis, sendo muito comum no

período a comercialização do serviço de abastecimento pelos próprios moradores, atividade

também conhecida como “Água de Ganho”, onde pessoas entregam água em vasilhames ou

latas diretamente nas casas dos moradores.

Segundo nos conta o Sr. Martins, um antigo morador do bairro de Aguazinha, a área

era rica em recursos naturais, especialmente em água: “[... Aguazinha antigamente era um

lugar muito bonito... é por isso que tem esse nome: Aguazinha...]”

Atualmente a vegetação local foi bastante degradada devido ao desmatamento e à

construção de uma avenida que liga Olinda a Recife1, além de uma ponte sobre o Rio

Beberibe.

1 Avenida Senador Nilo Souza Coelho

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FIGURA 1. Área verde de Aguazinha ainda pouco depredada na parte posterior

Fonte: Dados de campo, 2010

Essa construção, que deveria servir para melhorar a vida dos moradores, dando-lhe

mais acesso ao centro de Recife e de Olinda, serviu como facilitador para a implantação de

problemas para todo o bairro.

A falta de estudos mais aprofundados de impacto ambiental causou alem de

degradação da flora do bairro o desvio do fluxo natural de afluentes do Rio Capibaribe,

causando enchentes em toda região do bairro de Aguazinha. Foram realizadas tentativas de

sanar o problema com a implantação de um duto subterrâneo, mas que não funcionou.

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FIGURA 2. Avenida Senador Nilo Coelho

Fonte: Dados de campo, 2010

Posteriormente, por se tratar de uma comunidade que dispunha de poucos recursos

políticos e financeiros, a localidade foi escolhida para abrigar o aterro sanitário de Olinda, que

na realidade é um “Lixão a céu aberto”.

Diversos motivos foram usados para se escolher Aguazinha para abrigar o LIXÃO:

A área foi escolhida por ser um bairro pobre, no alto de um morro (tendo assim

muito espaço para colocar lixo) e onde viviam poucas pessoas, um local com muitos sítios,

com casas espaçadas. Dessa forma, mesmo havendo protestos seria mais fácil fazê-lo.

Inicialmente, tentaram colocar o Lixão bem no inicio de uma rua que leva a escola

Cônego Jonas Taurino, mas como houve muita confusão com os moradores, a prefeitura de

Olinda decidiu encontrar outro lugar para colocar o lixo, porém no mesmo bairro. Decidiu-se,

contra a vontade da população local, colocar numa área de uma barreira próxima, onde estava

a principal fonte de água. Dessa forma, como se pensou, mesmo sobre protestos, a população

foi obrigada pelo poder público a aceitar o lixo.

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À medida que a lixeira era imposta aquela comunidade, intensificaram-se os

protestos e tentativas de retirada do lixão, havendo passeatas, reportagens em jornais,

fechamentos de acesso à área, através de atos como queima de pneus na pista, que

interrompiam o trafego de veículos. No inicio, os moradores esboçaram reações mais não

tinham condição de impedir por completo a imposição de um lixão no lugar aonde eles

viviam.

A principal fonte de degradação no bairro é causada por um duto que absorve o

“chorume” 2 do lixo, que foi instalado pela Prefeitura Municipal de Olinda. Trata-se de uma

tubulação por baixo do Lixão, que capta o chorume do lixo e o conduz por via subterrânea até

o rio Beberibe. Como a tubulação deve ter vazamentos, esse chorume se alastra sem ser visto,

contaminando o lençol freático.

E, com a falta de saneamento do bairro e do lixão, vieram os problemas com os quais

a população tem que conviver: contaminação do solo e das águas superficiais e subterrâneas;

liberações de gases, principalmente o metano; mudança de relevo e extinção da vegetação,

dando uma contribuição com a alteração da drenagem superficial e do micro clima local,

crescimento demográfico entre os catadores residentes e expansão da violência.

FIGURA 3: Vista Panorâmica do Lixão de Aguazinha. Acervo do Autor

Fonte: Dados de campo, 2010

22

Segundo a definição da Revista Brasileira de Geofísica, chorume é o resíduo proveniente da decomposição do

lixo, geralmente em forma líquida. Vol.27. n3. Julho/setembro 2009.

22

As mazelas produzidas pela implantação desse Lixão em Aguazinha são inúmeras.

Em algumas publicações periódicas e de caráter informativo, Sisinno e Moreira (1999)

discorrem sobre o que é o lixo: É o Composto de detritos de “objetos utilizados no dia-a-dia”.

Os autores explicam que há lixos de vários tipos, pois “o lixo produzido fora do ambiente

residencial, por exemplo, em hospitais, não é composto exatamente das mesmas coisas que

um lixo doméstico.

Segundo esses autores, lixo acumulado sem nenhum controle é lixão, e, esses focos

trazem problemas sérios, uma vez que o meio ambiente sofre as pessoas também sofrem com

os vários problemas de saúde, decorrentes, e, discorrem sobre outros problemas que os Lixões

podem causar, se for depositado da forma arbitrária e irregular.

Isso é o que ocorre no bairro de Aguazinha: A poluição do ar pelos gases gerados

pelo lixo, principalmente o metano, e este, por ser inflamável, provoca fogos nos lixões.

Aumentando ainda mais a poluição; há ainda o cheiro desagradável e a poeira, que juntos

provocam sérios problemas respiratórios, além de doenças de pele.

Moradores citam ainda que a poluição das águas através do chorume é constante,

havendo o perigo de contaminação dos vegetais. Há ainda, os vetores (Mosquitos, pernilongos

e outros insetos) que o deposito de lixo atrai, que podem causar outras doenças: diarréia,

malária, dengue, febre amarela, leptospirose, toxoplasmose, entre outras.

Com a instalação do lixão no local a área sofreu grande desvalorização imobiliária.

Várias famílias, que dispunham de condições financeiras mais favoráveis se mudaram e outras

de menor recurso se viram obrigadas a conviver com a mudança abrupta na qualidade de vida,

situação de segurança, saúde pública, acessibilidade e cidadania.

Um caso comum é o ocorrido à mãe de um ex-integrante da Banda Sinfônica Juvenil

de Pernambuco: Seu filho tirou-a do bairro, pois a mesma estava com vários problemas de

saúde, devido às mazelas provocadas pelo lixão.

Além de todos esses inconvenientes, quando chove o bairro se transforma em uma

maré, pois a água da chuva, juntamente com o chorume invade o bairro por completo. Esse

curso d’água entra nas maiorias das casas, colégios inclusive no Jonas Taurino, em igrejas, no

campo e o rio Beberibe, que já assoreado, não suporta tanta água, uma vez que ele já vem

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trazendo uma quantidade bastante significante de outros bairros sem contar com a obstrução

do mesmo pelo lixo trazido do lixão (O lixo desce da encosta e barra partes do Rio).

Pouco tempo depois da instalação do Lixão de Aguazinha, a região já estava

recebendo o ingresso de catadores de lixo, estes por retirarem do lixo seu sustento já fixavam

residência próximos ao Lixão. Além do Lixão, houve a transferência de uma favela para a

área do Bairro de Aguazinha. Ao invés da construção de casas saneadas, a Prefeitura de

Olinda transferiu os moradores para a área que antigamente se chamava Campo do Pingüim,

onde os antigos moradores realizavam suas vespertinas partidas de futebol.

Aguazinha é hoje uma área carente de urbanização, saneamento entre outros

serviços, houve aproximadamente oito anos atrás a transferência de uma das favelas de um

bairro vizinho para próximo do Campo do Pinguim, essa favela, conhecida como Favela do

V8, que ficava no Complexo Salgadinho foi remanejada para a ampliação do Complexo de

Salgadinho. Porém, a Favela, que recebeu o nome de Conjunto Vila Nova, acarretou um

aumento na violência do bairro. Essa atitude da Prefeitura de Olinda descreve o abandono do

poder publico e o crescimento da violência no bairro de Aguazinha.

Aguazinha é atualmente um bairro que inspira cuidados, tanto pela fragilidade do seu

ecossistema, como pelos latentes problemas sócio/econômicos existente na sua comunidade,

além, é claro, dos problemas trazidos pelo lixo. Uma atitude positiva do poder público foi a

implantação de um posto de saúde no bairro, que era um sonho de um antigo e primeiro

vereador do bairro, O Sr. João Gomes, que não viveu para ver sua instalação acontecer.

Morreu antes, mas, pelo menos o posto recebeu o seu nome. Entretanto, esse posto hoje não é

suficiente para atender a demanda da região, que se agrava diariamente pela proximidade do

lixão, além dos problemas de saúde trazidos pela ausência de saneamento básico.

Com relação à educação formal regular, existem algumas escolas na localidade: A

Escola Estadual Professor Estevão pinto, que teve sua sede invadida pelos “sem terras” (não

se trata do MST) e funciona hoje em prédios alugados. Outras escolas na região são: A Escola

Municipal Dom Azeredo Coutinho, e a Escola Cônego Jonas Taurino (onde esta sediada a

banda de musica objeto de nossa pesquisa).

Essa última escola foi construída praticamente dentro de uma várzea, sofrendo ao

longo de sua historia varias inundações (mesmo com as reformas que foram realizadas).

24

Atualmente, a escola não inunda mais, pois na última reforma, a escola teve seu nível

do solo elevado. Entretanto, as chuvas que inundavam a escola agora inundam a área em volta

a escola, impossibilitando quem está dentro de sair e quem está fora de entrar. Assim, na

maioria das vezes quando chove não tem aula.

Enfim, todos esses problemas o bairro vem enfrentando, sem nunca receber

melhorias. Como comenta FREIRE (1996) [... as escolas não trabalham com essa realidade

uma vez que os saberes a ser empregado ao alunado já vem construído em livros muitas das

vezes fora da realidade do local onde são aplicados...]. Ele ainda sugere:

[... Discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em

relação com o ensino de conteúdos. porque não aproveitar a

experiência que tem os alunos de viver em áreas descuidadas pelo

poder publico para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos e dos

córregos e os baixos níveis de bem-estar das populações, os lixões e

os riscos que oferecem à saúde das gentes. Por que não há lixões no

coração dos bairros ricos e mesmo puramente remediados dos centros

urbanos?...]. (FREIRE, 1996).

Em meio a todos esses problemas, encontra-se desde 1977, na Escola Cônego Jonas

Taurino, um projeto de Educação Musical através da atividade banda de música. Esse projeto,

encabeçado inicialmente pelo então Secretário de Educação do Estado Leonardo Dantas,

visava à fundação da Banda Sinfônica Juvenil de Pernambuco, e essa foi a escola escolhida.

Leonardo Dantas buscava a realização desse projeto em uma comunidade carente, e esta se

mostrou muito promissora do ponto de vista do interesse e da quantidade de alunos formados.

Hoje, muitos desses alunos são profissionais da área de música reconhecidos no

cenário musical pernambucano, e também nos cenários Nacional e Internacional, fato que

também motivou nossa pesquisa.

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4. EDUCAÇÃO MUSICAL NA ESCOLA CÔNEGO JONAS TAURINO ATRAVÉS DA

BANDA SINFÔNICA JUVENIL DE PERNAMBUCO

4.1 A ESCOLA CÔNEGO JONAS TAURINO E SUA ESCOLHA PARA ABRIGAR O

PROJETO DA BANDA SINFÔNICA JUVENIL DE PERNAMBUCO

No meio de uma rua cheia de buracos, por trás de um muro sem identificação fica a

Escola Cônego Jonas Taurino, localizada no loteamento Tamandaré, S/N, Bairro de

Aguazinha, Cidade de Olinda/PE.

FIGURA 4: Escola Estadual Cônego Jonas Taurino

Fonte: Dados de campo, 2010

Essa escola foi construída sobre uma várzea e teve sua inauguração no ano de 1974.

O nome da escola foi muito questionado pela população da época, uma vez que os moradores

queriam colocar o nome do Monsenhor José Ayrton Guedes que atuou como professor na

comunidade de peixinhos e fundou a Escola Dom Bosco.

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Após um ano da inauguração da escola Cônego Jonas Taurino ocorreu uma reunião

ordinária da primeira sessão legislativa ordinária da oitava legislatura na assembléia

legislativa do Estado de Pernambuco em dez de (Março) de mil novecentos e setenta e cinco

(1975), no qual o deputado Roberval Lins Pinto fala de uma reivindicação do povo de

Peixinhos.

O Deputado recebeu em sua residência uma comissão composta de pessoas

residentes no bairro de Peixinhos, tendo à frente a psicóloga Dra. Carmem Celso Silva

Martins. Ela estava à frente de um protesto, junto à população daquele bairro, pelo fato de ter

sido escolhido um nome diferente do que desejava a comunidade para o novo grupo escolar

inaugurado naquela localidade. Outro fato que reforçou o pedido foi o remanejamento de

professores da Escola Dom Bosco, localizada na região de Peixinhos, para compor o quadro

da escola que recebeu o nome do Cônego Jonas Taurino.

A professora Carmem Celso Martins também explicitou seu direito de protesto

dizendo que as autoridades constituídas não tinham uma boa memória frente a historia da

educação de Pernambuco. Ela fala, nesse protesto, que o senhor Cônego Jonas Taurino foi um

grande sacerdote e professor do Ginásio Pernambucano, mas que nunca conheceu e nunca fez

nada por Peixinhos e defende monsenhor José Ayrton Guedes que, esse sim, dedicou-se ao

máximo pelo bairro. Toda essa movimentação do protesto infelizmente não levou a nada, pois

o nome da escola continua sendo, até hoje o mesmo: Escola Cônego Jonas Taurino

(Referência sobre Pedagogia do Oprimido)

Desde a sua inauguração a escola apresenta diversos problemas, um deles é o de ter

sido construída em um local íngreme e insalubre, que devido à proximidade da várzea, tinha

muitos bichos e insetos, os mais comuns entre eles eram: cobras, sapos, rãs, muriçocas, e

outros, que assustavam alunos e professores, ou melhor, todos que conviviam na escola.

Diante de todos esses problemas e seus agravantes, muitos professores pediam transferências.

Com o passar do tempo o bairro foi crescendo e alguns pontos foram invadidos e

aterrados, transformando-se o local, em uma favela situada em um dos lados da escola. A

favela fez com que o bairro se tornasse perigoso e com muitos conflitos. Um fato que

consideramos peculiar entre alguns vizinhos da escola, é que algumas pessoas, por não

disporem de sanitários em suas residências, passaram a pular o muro da escola para fazerem

necessidades fisiológicas.

27

Com o desaparecimento da várzea, a instituição de ensino passou a ter um grave

problema com as águas das chuvas, pois em todos os invernos as chuvas, que anteriormente

se acumulavam na várzea e desciam em direção ao rio Beberibe já não encontravam mais seu

caminho natural, devido ao aterramento da várzea bem como dos braços do rio. Sem ter para

onde ir, as águas inundavam a escola e seus arredores, o que impedia o acontecimento das

aulas.

Nas décadas de 80 e 90 o governo passou a fazer a reconstrução da escola, e durante

esse período, as atividades de ensino do primeiro e segundo turno passaram a acontecer em

uma escola próxima que tem por nome: Escola Professor Estevão Pinto, a qual em tempos de

chuva também inundava. A sede desta outra escola não tinha espaço suficiente para abrigar

os novos alunos, com isso, foram feitos algumas divisórias de madeira dentro da escola para

comportá-los e ainda assim as aulas aconteciam intercaladas – dia sim dia não, para cada

série. O turno da noite, da escola em construção, em que funcionavam as aulas de músicas e

os ensaios da Banda Sinfônica Juvenil de Pernambuco foi transferido para a escola Costa

Azevedo, que fica no bairro de Peixinhos. Assim, a banda teve que reduzir suas apresentações

devido às dificuldades trazidas pela distância que os alunos deveriam percorrer para irem ao

outro bairro.

Dessa forma, os alunos tinham duas opções: pegar um transporte ou ir a pé, e, essa

caminhada durava vários minutos para uns e horas para outros, com dificuldades nessa

locomoção. Depois da reforma e o retorno dos alunos à “nova escola”, o problema virou-se

contra a população. As águas da chuva que antes inundavam a escola agora passam a inundar

as ruas e as casas.

Nesse período os moradores sem terem para onde ir, se abrigam na escola Estevão

Pinto. Assim, durante o período das chuvas, as aulas na escola Jonas Taurino também acabam

por serem suspensas, pois o bairro no qual ela se localiza fica inundado, impossibilitando os

alunos de terem aula, complicando novamente o ano letivo dos mesmos.

Em 1977, quando foi inaugurada, a banda recebeu um grupo de professores

convidados pela Secretaria Estadual de Educação para organizar a seleção dos alunos e fazer

caminhar o projeto. Os alunos escolhidos eram submetidos ao critério de estarem na faixa

etária entre 12 a 15 anos, matriculados entre a 5ª e 6ª séries do ensino fundamental (Primeiro

28

Grau), estudantes das escolas Cônego Jonas Taurino, Cândido Pessoa Monsenhor Arruda

Câmara e Escola Padre Francisco Carneiro.

O então Secretário Leonardo Dantas alocou recursos oriundos do Salário Educação

para a compra do instrumental da banda, entretanto, foram doados pelo Consulado Geral da

Alemanha no Recife uma Trompa, um fagote e um oboé. Os demais instrumentos foram

comprados com recursos do próprio Departamento de Cultura do Estado. Na época a escola

era dirigida pelo Prof. José de Sá Albuquerque.

Quanto ao planejamento do curso, percebe-se que os planos de aulas eram

individuais, ou seja, cada professor tinha seu próprio plano de curso. Esse fato reflete a

realidade pedagógica da época e também a inexistência de orientações acerca do ensino de

música nas escolas, Como nos mostra Maura Penna, “... A Presença da arte no currículo

escolar tem sido marcada por indefinições, ambigüidades e multiplicidade...”, pois nesse

período vigorava a LDB 5692/71 (A LDB da Ed. Artística), PENNA (2008).

As aulas de música eram ministradas no turno da noite, sendo que nesse turno eram

oferecidas as seguintes disciplinas: Aulas de Iniciação Musical, Teoria e Solfejo, Percepção

Musical, História da Música, Princípios Básicos de Harmonia, Canto Coral, Violão, Clarinete,

Saxofone, Flauta Doce e Transversal, Oboé, Fagote, Trompa, Trompete, Trombone,

Bombardino, Tuba, Baixo Elétrico e Acústico e Percussão.

Inicialmente, as aulas eram ministradas em função de atingir o objetivo proposto, que

era a formação da banda. Os professores tinham com a prerrogativa de criar o seu próprio

plano de aula e preferiam dar aulas coletivas.

O sistema de aulas coletivas foi utilizado nessa modalidade de ensino devido o fato

de os professores disporem de pouco tempo para a efetivação da banda. Acreditava-se que o

sistema de aulas coletivas de instrumentos daria melhores resultados, tendo em vista que a

clientela era muita heterogenia.

Esse sistema promovia, inclusive, maior interação entre os alunos pertencentes a

escolas diferentes, os quais recebiam estímulos e referências sonoras de seus professores e dos

outros alunos mais adiantados. Assim, nessa dialética, foi que as aulas de instrumento e de

teoria se desenvolviam e que os alunos foram sendo formados.

29

A teoria era apresentada muitas vezes junto com a prática, por uma questão de

tempo, entretanto, acreditamos que essa forma de ensino funcionou justamente porque teoria e

prática caminharam juntas e de forma indissociável. Como nos fala SWANWICK: “... querer

pensar a relação entre teoria e prática, onde a prática não seja concebida como um domínio

destituído de teoria nem como aplicação ou concretização de uma teoria anterior a ela. A

prática, ao contrário, consiste em teoria em ação; a teoria, por sua vez, depende da existência

de uma prática, a partir da qual é construída e transformada” SWANWICK (1992).

Seguindo nessa dinâmica pedagógica, em seis meses a banda fez sua primeira

apresentação, ainda com a ajuda dos professores, que também tocaram junto com os alunos.

FIGURA 5: Banda Sinfônica Juvenil de Pernambuco

Fonte: Dados de Campo, 2010

A Banda tinha o Repertório composto de arranjos elaborado pelos próprios

professores. Destacaram-se como arranjadores Ademir Araújo e Edson Rodrigues, que

também eram professores nesse projeto; músicas sempre de acordo com o nível

técnico/musical dos alunos. Apesar de bastante variado, o repertório utilizado pelos

professores, era também parte da cultura dos alunos. Na sua maioria, as obras eram de caráter

nordestino e outras músicas conhecidas do povo. Como por exemplo, o Frevo (Vassourinhas).

30

A primeira apresentação oficial da banda aconteceu no Campo das Princesas, na

tarde de 13 de Setembro de 1978, à presença do Governador José Francisco de Moura

Cavalcante. A Banda recebeu visita de um compositor brasileiro de destaque, Marlos Nobre,

que na ocasião Fez a doação de quatro trompetes, cedidos pelo Instituto Nacional de Música.

A banda também recebeu visitas de Guerra-Peixe e Mário Tavares, que saíram entusiasmados

com o trabalho.

Segundo entrevistas realizadas, obtivemos a informação que infelizmente, algum

tempo depois, muitos dos professores saíram da escola e a banda passou por um período de

relativa instabilidade. Apenas um professor ficou responsável por dar continuidade ao projeto,

o professor Geraldo José dos Santos, que passou a ensaiar a banda e dar aula de música aos

garotos. Não havia um plano de aula, o professor costumava copiar algumas lições para os

alunos levarem pra casa, e, conforme o desenvolvimento dos alunos, ele seguia mudando os

alunos de lição e os alunos mais antigos passaram a ser monitores.

O Professor Geraldo conseguiu também uma bolsa para esses alunos que por sua vez

tinha que dividi-la com os outros. Havia também a prática de regência, que era feita na banda

e os alunos se reuniam aos sábados uma vez que o professor Geraldo marcava com eles para

fazer aulas e limpeza nos instrumentos.

A Banda Sinfônica Juvenil Pernambucana gravou, em 1982, o disco promocional

sob a regência do Maestro Geraldo José dos Santos. Na época o grupo reunia cerca de 70

alunos, da Escola Jonas Taurino e de outras Unidades do ensino oficial comentadas

anteriormente.

Em 1985, a DERE (Departamento Regional de Educação) enviou a professora Vera

Lúcia Gomes (Secretária da Banda) para organizar o curso, foram enviados também vários

professores de teclado, Canto, Violão, e teoria. Contudo, alunos dos de instrumentos de

sopros não tinham professores, então começou uma corrente entre os alunos antigos que

estavam já empregados, ou não, que sempre vinha dar aulas aos meninos da banda, e, essa

corrente continuou por muitos anos. Nesse mesmo ano, a escola passou a ter em seu currículo

o curso de música, que era ministrado aos alunos da quinta a oitava séries, entretanto, o ensino

de música não era uma disciplina obrigatória. Alguns professores da área teórica costumavam

31

inclusive a dar aulas nos sábados e domingos, com o objetivo de ajudar na preparação de

vários alunos para concursos, uma vez em que seu objetivo era formar profissionais.

Atualmente, a escola conta com apenas três professores de música, nas áreas de

teoria e solfejo, violão e guitarra.

HINO DA ESCOLA CÔNEGO JONAS TAURINO

Autores: Maria Lucidalva F. Dias e Patrício G. de Almeida

Cônego, sacerdote e educador

De ovelhas condutor

Com os seus ensinamentos

Formando bom cidadão

Conduzindo à salvação.

Escola seleiro ativo

Onde se cultiva o saber

Lutou com toda firmeza

Para isto acontecer.

Escola Jonas Taurino

Com respeito e gratidão ESTRIBILHO

Sendo o teu nome lembrado

Em feliz ocasião.

Serás sempre altaneiro

Minha escola querida

Com um farol luminoso

A brilhar na minha vida.

Alunos, avante, prossigam!

Não se deixe esmorecer

A vida é luta renhida

Não devemos perecer

Escola Jonas Taurino

Com respeito e gratidão ESTRIBILHO

Sendo o teu nome lembrado

Em feliz ocasião.

Seguir com muita presteza

O sublime ideal

E chegada triunfante

Ao imenso pedestal.

Porque assim procedendo

Muito temos a ganhar

Pois o saber é uma dádiva

Como o sol, sempre a brilhar.

FIGURA 6 – Hino da Escola Cônego Jonas Taurino

Fonte: Arquivo pessoal de: Maria Lucidalva F. Dias e Patrício G. de Almeida, 2010

32

FIGURA 6b – Hino da Escola Cônego Jonas Taurino

Fonte: Arquivo pessoal do Maestro Ivanildo Maia, 2010

33

Lista dos Ex-Alunos da Banda Sinfônica Juvenil de Pernambuco (Dados de 2002)

QUADRO 1 - Orquestra Sinfônica do Recife

Armando de Oliveira e Silva (Clarinete)

Joseilton Tavares Guimarães (Trompa)

Misaildes de Lima Cavalcante (Trompa)

Paulo Sérgio Guimarães (Oboé)

Davi Ribeiro Vidal (Oboé)

Fonte: Dados de Campo, 2010

QUADOR 2- Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte

Misaildes de Lima Cavalcante (Trompa)

Osiel lobo de Miranda (Trompa)

José Jerônimo Duarte (Trompa)

Fonte: Dados de Campo, 2010

QUADRO 3 - Banda da Cidade do Recife

Adelmo Apolônio da Silva (Regente assistente)

Carmen Lúcia de Lemos Cunha (Clarinete)

Elizabete Bezerra de Souza (Clarinete)

Ivaneide Pereira do Nascimento (Clarinete)

Weidson Fernandes Luis (Clarinete)

Ivaneide Pereira do Nascimento (Flauta)

Ana Késia Ferreira (Flauta)

Eliel Ferreira da Silva (Bombardão)

José Inaldo da Silva (Bombardão)

Fonte: Dados de Campo, 2010

34

QUADRO 4 - Banda Municipal do Paulista

Claudivânia Ferreira de Souza (Clarinete)

Roseane Alves de Silva (Clarinete)

Joseane Fialho (Clarinete)

Luiz Paulo da Silva (Trompete)

Leonildo fausto de Araújo (Trombone)

Eliel Ferreira da Silva (Souza fone)

Eduardo José da Silva (Percussão)

Fonte: Dados de Campo, 2010

QUADRO 5 - Banda Municipal de Jaboatão

Ivanise Silva Santana (Clarinete).

Márcia Maria de Oliveira (Clarinete)

Valéria Francisca de Oliveira (Clarinete)

Marilene (Flauta transversal)

Rinaldo Francisco Mendes (Saxofone)

Marcos José da Silva (Trombone)

Misael Paulo da Silva (Trompete)

Sílvio Paulo da Silva (Percussão)

Fonte: Dados de Campo, 2010

QUADRO 6 - Banda da Aeronáutica

Abdias de Oliveira e Silva (Clarinete)

José Adilson Apolônio (Clarinete)

Aluizio Sales de Oliveira (Saxofone)

Carlos Antonio de Oliveira (Trombone)

Flávio Ferreira (Sax alto)

Sinézio Rodrigues dos Santos Filho (Trompete)

Fonte: Dados de Campo, 2010

35

QUADRO 7 - Banda do Exército

Maciel José da Silva (Trompete)

Nilton Calazans de Moraes (Saxofone)

Esdras Campos – cabo- (Trompa)

Renan Félix de Lima (Percussão)

Fonte: Dados de Campo, 2010

QUADRO 8 - Banda da Marinha

Hildelaures Alves da Silva – oficial (Sax tenor)

Alexandre Pereira – sargento - (Bombardino)

André da Silva Ferreira – sargento - (Trombone)

Daniel F. da Silva - sargento - (Trombone)

Célio André Cândido – sargento - (Trompete)

Eduardo Francisco Mendes – sargento - (Saxofone)

Eugênio José da Silva – sargento - (Trombone)

Fernando Francisco Mota - sargento - (Trompete)

Genivaldo Ferreira de Souza – sargento - (Trompa)

Geovane Santana de Albuquerque - sargento - (Trompa)

José Caetano da Silva – sargento - (Trombone)

Vanilson Guedes Moreno - sargento - (Trombone)

Andre Silva – sargento - (Trompa)

Fonte: Dados de Campo, 2010

QUADRO 9 - Banda da Policia Milita de Pernambuco

Eli José da Silva – oficial - (Clarinete)

Jerônimo Alves da Silva - sargento - (Saxofone)

Ronildo de Oliveira e Silva – sargento (Fagote)

José Gleibson de Souza – sub - tenente (Trompete)

Claúdio Ferreira da Silva – sargento - (Trompete)

Alexandre da Silva Ferreira - sargento (trombone)

Fonte: Dados de campo, 2010

36

Dentre os ex-alunos da banda sinfônica destacamos alguns professores. São eles:

Adelmo Apolônio da Silva

Misaildes de Lima Cavalcante - professora de Trompa (professores do centro de

educação musical de Olinda - CEMO

Cláudia Lúcia da Silva (professora do conservatório pernambucano de musica)

Entre os ex-componentes da Banda Sinfônica Juvenil de Pernambuco destacamos as

seguintes referências internacionais, que são: Isaque Jerônimo Duarte, que é oboísta co-solista

e corne inglês da Orquestra da Tonhalle de Zurique (Suíça). Natural de Olinda, (Pernambuco -

Brasil), estudou na Universidade Federal da Paraíba. Foi primeiro oboísta da Orquestra

Sinfônica do Recife (Pernambuco - Brasil) e professor do Centro de Criatividade Musical de

Pernambuco, antes de se aperfeiçoar com Peter Fuchs no Conservatório e Escola Superior de

Música de Zurique. Atuou como solista sob a batuta de vários regentes, como David Zinman,

Marek Janowsky e Claus Peter Flor. Gravou os concertos para oboé e orquestra de W. A.

Mozart, J. Haydn, J. Fiala, assim como o Concerto para violino, oboé e orquestra de cordas,

de J. S. Bach, com a Orquestra de Câmera Brixi de Praga, sob a regência de Christoph

Meister. O trabalho com estudantes e jovens músicos ocupa um lugar importante em sua vida

profissional. Participou do corpo docente do “Festival de Inverno de Campos do Jordão” (SP),

do “Festival Instrumenta” (Oaxaca, México), além de ministrar cursos de oboé no Nordeste

do Brasil, na “Oficina de Música de Curitiba” (PR) e no “Curso de Férias para

Instrumentistas, Compositores e Regentes de Banda” em Tatuí (SP)

Paulo Barreto iniciou seus estudos na Escola Cônego Jonas Taurino - Olinda, onde

passou a integrar a Orquestra Sinfônica do Recife, a regência do maestro Eleazar de Carvalho.

Desde 1987, é integrante da Orquestra Sinfônica do Paraná, e como primeiro oboé solista

desde 1989. Após concluir o curso superior na Escola de Música e Belas Artes do Paraná,

especializou-se em Berlim, na Alemanha, como bolsista do governo alemão (DAAD), de

1995 a 1999, sob orientação dos professores Ricardo Rodrigues (Hochschule für Musik

37

“Hanns Eisler”) e Dominik Wollenweber (Orquestra Filarmônica de Berlim).

Durante este período, atuou sob a regência do maestro Helmut Rilling e do Prof. Karl Leister.

Também participou como solista com a Singakademie de Frankfurt e com a Orquestra

Filarmônica de Frankfurt, com a qual realizou tournées pela Europa e apresentou-se junto ao

violoncelista Mstislav Rostropovich. No Brasil é detentor de vários primeiros prêmios como

solista, onde atuou sob a regência de maestros como Eleazar de Carvalho, Isaac

Karabtchesvky, Alceo Bocchino, entre outros, e em grupo de câmara, destacando-se o

primeiro lugar no Concurso Nacional Santa Marcelina (São Paulo) com o Quinteto de Sopros

de Curitiba, do qual é membro fundador. Desde 1993 é professor no curso superior da

EMBAP

38

5. MAESTRO GERALDO JOSÉ DOS SANTOS: EXEMPLO DE DETERMINAÇÃO E

SOLIDARIEDADE

O maestro Geraldo Jose dos Santos nasceu em Limoeiro, no estado de Pernambuco,

iniciou seus estudos no Liceu de Artes e Ofícios.

FIGURA 7: Fotografia do maestro Geraldo José dos Santos

Fonte: Dados de campo, 2010

39

A formação do maestro Geraldo inclui, também, cursos na Faculdade Olindense de

Formação de Professores - FOFOP, onde cursou a Licenciatura plena em historia e pedagogia;

No Conservatório Pernambucano de Música, com o professor Manuel Augusto participou;

Participou do Curso preparatório,

Curso de interpretação e estilo, na Universidade Federal de PE com o maestro Nelso

Hack. E ainda, o Curso de Regência de banda de mestre de banda de música, com o professor

Antonio Benvenuto; e também, do Curso de regência de orquestra e corais, com o professor

Gonzaguinha.

Geraldo José dos Santos era conhecido também como exímio instrumentista.

Participando como Baterista das mais renomadas orquestras e banda de Pernambuco durante

os anos de sua atuação profissional. Como por exemplo, as Orquestras citadas abaixo:

Orquestra Pernambucana de Frevos

Maestro Nelson Ferreira

Maestro Clovis Pereira TV jornal do comércio, canal 2

Maestro Jose Meneses festival

Jazz Band Acadêmica TV canal 6

Conjunto Mário Griz e seus Melodistas

Maestro Duda e sua Orquestra

Maestro Guedes Peixoto

40

Banda da Prefeitura do Recife – baterista 1964-1981

Orquestra Sinfônica do Recife percussionista 1970-2000

Orquestra Romançal do Recife 1970-1974

Professor de Música habilitado, na escola Cônego Jonas Taurino de 1977-2007

fundador e Regente

Professor do Colégio São Bento 1982-1985

Diretor e maestro da “Geraldo Santos e sua Orquestra 2001”de 1989 até 2007

Ministrou cursos de capacitação para Regente de Bandas de musicas e orquestra

de pau e cordas e frevos, sendo um no centro de criatividade do Recife, outro no

centro de treinamento em carpina PE

Membro da academia pernambucana de musica

Conselheiro da ordem dos músicos do Brasil (OMB)

Presidente do sindicato dos músicos profissionais de Pernambuco

Geraldo José dos Santos teve uma vida de produção musical bastante relevante,

dentro do cenário pernambucano. Ficaram como prova de sua vida musical atuante,

composições, gravações e artigos acadêmicos. Como por exemplo, alguns que citamos

abaixo:

Lançamento do LP da banda sinfônica juvenil de Pernambuco

Compacto duplo com hinos cívicos com a banda sinfônica juvenil

Compacto duplo com música popular brasileira com a banda sinfônica

juvenil

41

Artigo sobre ritmos nordestinos publicado na coletânea “cancioneiro

Pernambucano”

Compositor da música “Batendo a Biela” Frevo de Rua que entregou o LP

“Álbum de música popular do nordeste” premiado pelo museu da imagem e

do som do Rio de janeiro

Receptor do troféu Noel Rosa da Associação dos críticos da Imprensa de são

Paulo

Duas composições, gênero frevo, em dois CD´s, publicados pelo museu

Livino Ferreira, Recife: “Epilogo” e “Capivara”

Diplomas:

Ordem dos músicos do Brasil

Força Área Brasileira

14º Batalhão de infantaria do exercito

Ordem 3ª Matriz dos Militares

Sua vida musical lhe rendeu a admiração por parte das autoridades pernambucanas

da época, tendo recebido inclusive, como reconhecimento por seu incessante trabalho musical

medalhas e placas de honra ao mérito das seguintes instituições:

MEC - Ministério de educação em Brasília

Governo do estado de Pernambuco - melhor professor do ano de 1990

42

Secretaria de Educação de Pernambuco

Secretaria do Trabalho e Ação Recife

Colégio padre Nicolau Limoeiro

Colégio militar do Recife

Colégio Salesiano

Colégio São Bento

Colégio Marista

Escola cônego Jonas taurino

Departamento de Recursos Tecnológicos de Pernambuco - DERTE

Departamento de Assuntos Culturais Recife

Departamento Regional do Vale do Capibaribe Limoeiro - PE

Departamento de educação Regional de Vitoria de Santo Antão – PE

Departamento de Educação Regional Arcoverde

Departamento de Educação Regional Palmares

Departamento de Educação Regional do Grande Recife

Rotary Club

Faculdade de Ensino Superior de Pernambuco - FESP

Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

Museu de Arte Contemporânea de Olinda

Centro de Educação Musical de Olinda – CEMO

43

TÍTULO HONORÁRIO

do ano de 1990 – Olinda

Cidadão Olindense 1999

Reiteramos que após a saída dos demais professores do Projeto da Banda Sinfônica

Juvenil de Personalidade Pernambuco, o único professor que desejou a assumir a direção do

projeto foi o Maestro Geraldo.

Sob sua supervisão e regência a banda alcançou o Status atual dentro da cidade de

Recife e em sua comunidade.

O Respeito e admiração pelo maestro Geraldo e os componentes da banda eram

tantos, que os próprios indivíduos considerados perigosos pela população às vezes escoltavam

o Maestro até a parada de ônibus e permaneciam ao seu lado até que o maestro pegasse sua

condução.

Além de professor, Geraldo José dos Santos era um grande incentivador do estudo de música.

Ele sempre realizava palestras com seus alunos, sobre o mercado de Trabalho, exemplos de

ex-alunos que se destacavam no meio musical, e graças ao seu trabalho e orientação, a grande

maioria dos alunos do Projeto jamais se envolveu com as Drogas, que começavam a proliferar

em meio àquela comunidade carente.

Outra atividade extraclasse utilizada pelo Maestro Geraldo para com os alunos do

projeto era a visita dos alunos ao Teatro Santa Isabel e Teatro do Parque, para assistir

concertos da Orquestra Sinfônica do Recife, Banda Sinfônica do Recife e outros grupos

musicais que viessem a se apresentar. Na aula seguinte, era comum a realização de

questionamentos acerca dos concertos assistidos, criando noções de crítica musical e ética,

observados nos músicos daqueles grupos.

Essas estratégias de ensino, além de estimularem os alunos, mantinha em suas mentes a visão

do que deveriam se tornar no futuro e que suas possibilidades poderiam ser ainda maiores do

que eles visualizavam. Fato que ocorreu realmente com muitos desses ex-alunos.

44

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao final desse relato de experiência com a certeza de que tal trabalho

teve uma importante contribuição no que se refere a um esboço de uma realidade vivenciada

pelos estudantes da escola Cônego Jonas Taurino, bem como da Banda Sinfônica Juvenil de

Pernambuco. Além disso, o presente trabalho oferecerá ao público um documento que traz à

tona uma discussão político-social-cultural de relevante importância no contexto

etnomusicológico do estado de Pernambuco, tendo em vista que tais atividades realizadas bem

como os frutos produzidos por tal projeto musical teve um significativa repercussão nos

cenários nacional e internacional.

45

BIBLIOGRAFIA

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Edição. São Paulo-SP, 2003.

BINDER, Fernando Pereira. Banda Militares no Brasil: Difusão e Organização entre

1808-1889. São Paulo – SP. Dissertação de Mestrado, UNESP, 2006.

CARDOSO, André. A música na Corte de d. João VI, 1808-1821 / André Cardoso;

coordenador Paulo Roberto Pereira. – São Paulo: Martins, 2008.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa / Paulo

Freire. – São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura)

GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo – SP, Ed. Atlas,

2002.

HOLANDA Filho, RENAN Pimenta de. O papel das bandas de música no contexto social,

educacional e artístico / Renan Pimenta de Holanda Filho. – Recife: Caldeira Cultural

Brasileira, 2010. 106p

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do Trabalho

Científico: Procedimentos Básicos, Pesquisa Bibliográfica, Projeto e Relatório,

Publicações e Trabalhos Científicos. 4ª Edição, Ed. Atlas. São Paulo – SP, 1992.

PENNA, Maura. Música(s) e seu ensino/Maura Penna.-Porto Alegre: Sulina, 2008. 230p.

.

SISINNO, Cristina Lucia e MOREIRA, Josino Costa. Revirando o lixo. In ciência hoje das

crianças, SBPC, ano 12, nº 97, novembro de 1999.

46

ENTREVISTAS3

Entrevista com Avilá Alves da silva, ex-integrante da Banda Sinfônica Juvenil de

Pernambuco

“Nasci em 22 de abril de 1987, estudava na escola professor Estevão Pinto, depois que

me interessei por música, foi conhecer o Jonas Taurino e nesse percurso fiquei sabendo que

meus irmãos tinham uma vertente muito boa de música. Várias pessoas perguntam qual seria

o segredo porque nos destacamos tanto no cenário musical, acho que na nossa família tem um

pouco de talento, não sei de onde vem; da origem do meu pai muito humilde não sei de onde

ele tirou tanta inspiração para passar pra gente.

Mais tem um segredo muito forte no Jonas Taurino. Quando eu entrei na banda eu

tinha mais ou menos 12 anos de idade, até os 14 anos eu já tocava o instrumento pois meu pai

já me ensinava em casa. Hoje tenho 23 anos e tenho realmente mais de 10 anos de saxofone;

de música eu tenho menos tempo, pois eu entrei no Jonas Taurino realmente para conhecer a

teoria, porque aqui em casa eu tocava. Interessei-me mais quando o pessoal vinha conversar e

me perguntavam o que é música? Eu não sabia responder o que era, lia um livro que era muito

superficial, só para aprender a dividir.

Quando eu entrei no Jonas Taurino fui começando a estudar teoria, isso na época do Geraldo,

excelente professor que cobrava muito quando entrei na banda de música. A diretora Mônica

não queria que eu entrasse na banda dizendo que eu era muito novo e não iria agüentar a

pressão por causa da fama da banda, daí meu pai foi falar com Geraldo, nesse dia ele estava

dando ensaio, e saiu da sala da banda e disse: eu quero esse menino aqui, ele vai ficar e disse

ao professor Evandro que ele não iria ensinar a mim (Evandro professor de saxofone) e me

colocou na banda. O interessante é que eu não sei se foi bom ou se foi ruim, creio que tenha

sido bom porque meus irmãos já tocavam muito e dizia: Ávila faz isso aqui; eu dizia: não

estou estudando, e ficavam falando que eu tinha que ser melhor que eles. Coisa difícil! Mais

tem que honrar o nome da família.

O professor Geraldo passava algumas lições para mim, nesse tempo todo da minha

vida até a época que Geraldo faleceu sempre tive boas referências dele.

3 Optamos, ao redigir as entrevistas, por não corrigirmos os equívocos relacionados à linguagem dos

entrevistados. Uma vez que achamos importante registra de forma fiel e original as informações recolhidas.

47

Cheguei a estudar com meus irmãos: Júnior e Hilquias, mais os estudos com eles eram

assim: você tem que melhorar aqui, ali, eles sempre tiveram um pensamento muito avançado

do que eu sobre música, e eu ficava dizendo: como é como vou conseguir, era uma

dificuldade, chorava muito pra poder fazer uma embocadura, pra tentar tirar um som da forma

que eles tiravam, então eu coloquei na minha cabeça, eu vou estudar até consegui chegar

aonde eu quero.

Mais para o professor Geraldo nunca era o suficiente toda vez quando eu chegava pra

passar lição com ele. Graças a Deus que eu tive esse tempo com Geraldo oportunidade que

muitos não tiveram, ele chegava e dizia: não está bom não; eu tocava, e ele: não está bom. Daí

fui estudando, desenvolvendo as técnicas e quando eu consegui passa pro primeiro alto da

banda ele mim dizia que ainda não estava bom, estudei muito e consegui entrar na Orquestra

2001 Geraldo Santos orquestra do próprio professor Geraldo, fazendo terceira estante de

saxofone ao lado de Roberto, às vezes, de outros como Edson Rodrigues e ficava muito

ansioso tocando com um mestre do meu lado, depois passei a fazer primeira estante de sax

alto, depois de ser o sub do sub do sub consegui ser titular.

Antes de o professor Geraldo ficar doente, o último carnaval eu toquei com ele e

estudava bastante porque ele sempre mim testava, me mandava fazer toda vez variações de

vassourinha. Ele sempre dizia: faça aquela e balançava a cabeça dizendo que não estava boa; -

parece que ele estava adivinhado o último carnaval que toquei com ele -, quando terminou a

tocada ele chegou pra mim e falou Avilá, hoje chegou, gostei! Você fez! e o professor

fazendo aquele sorriso que só agente conhece, isso mim deu um orgulho e disse: finalmente

eu fiz!

Daí foi quando ele ficou mais cansado, interessante é que na medida em que ele ia perdendo

as forças, por causa da doença, a banda também ia sofrendo até a sua morte.

Todos nós que passamos pela mão de Geraldo temos mais é que agradecer, pois ele nunca

deixou de criticar, elogiar e dizer que nós tínhamos muito que aprender, por isso, ele nunca

estava satisfeito, pois acreditava que poderíamos mais e mais. “Foi isso o que ele conseguiu

deixar em mim essa marca.”

48

Entrevista com o Sr. Reginaldo Olímpio do Amaral, morador da rua da Escola Cônego

Jonas Taurino

Quando eu vim morar aqui tinha uma várzea aqui de lado tinha cacimba, eu colocava

os cavalos aí, não tinha ainda a escola era uma várzea, a gente colocava a boiada aqui dentro,

o colégio veio depois, faz trinta e sete anos que moro aqui, na época não tinha água nem luz

nós íamos busca água da bica ali em cima, aqui era tudo terreno da Fábrica Fosforita. Eu moro

na frente do Jonas Taurino e quando eu vim morar não tinha o colégio não. Quando começou

a banda aqui foi muito bom e o professor Geraldo era uma figura muito comunicativa

conversava muito comigo e agente ia sempre ouvir aí na escola a banda tocar quando a banda

era boa.

Toda vez que chovia não tinha aula, pois a água dava na cintura dentro do colégio, e

teve uma época que veio um grandão olhar pra fazer a reformar foi bem na hora que deu uma

chuvarada e ele ficou em pé sobre uma cadeira aí no colégio, foi quando ele disse que teria

que fazer a reforma de todo jeito. A escola vinha sofrendo há muito tempo, foi Deus quem

mandou ele vir bem na hora da chuva.

Os alunos sofriam aqui demais, entravam com água no meio das canelas para estudar,

quando a chuva era muita não tinha aula. Teve uma noite que choveu bastante e o vigia teve

que ficar aqui em minha casa porque na escola a água chegou ao nível das tomadas de energia

e ele estava com medo. Ficamos eu e ele a noite toda acordados. Hoje não entra mais água na

escola mais aqui na rua fica tudo inundado. Nas duas entradas principais da rua é muita água é

preciso tirar os sapatos para entrar.

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Me lembro muito bem dos meninos que cresceram aqui no bairro e hoje são músicos; o Renan

que hoje é sargento, o André. Esses meninos todos eu vir crescer aqui e hoje estão todos bem,

viviam numa situação difícil passando privações, depois que Geraldo veio e abriu a banda

melhorou a vida de muita gente. Hoje tem músico na Espanha, na polícia e em muito lugar, e

tudo graças ao colégio. Os meus filhos, hoje em dia, são professores é músicos, eu agradeço ai

a escola e ao professor Geraldo que tanto ajudou a comunidade.

Entrevista realizada em 10 de novembro de 2010, em sua casa Rua Líbano, nº 181,

Aguazinha - Olinda - PE

Entrevista com o Sr. Martins José Correia, morador do bairro de Aguazinha

“Faz quarenta e sete anos que eu moro aqui em Aguazinha quando cheguei não existia

água encanada, não tinha energia, as casas eram cobertas de capim e o povo daquele local

eram da Fábrica Fosforita, não tinha ninguém de fora. A água para usos gerais pegávamos na

cacimba da casa de Sr. Caboco, a água de beber íamos buscar numa fonte de água potável,

onde agora se encontra o lixão de Agrazinha. Passamos doze anos assim, sem água e energia,

depois chegou a água encanada entre 1968 / 1969, foi a maior festa, ainda assim continuou

outro problema, parou de vir a água encanada mais vinha a conta para pagar durante algum

tempo, foi quando o povo se mobilizaram e foram na COMPESA (a distribuidora da água

encanada) reclamar essa situação trazendo a água de volta. Passados anos veio a estrada e o

lixão; prejudicando primeiro o Sr. Humberto da barraca e o Sr. Manuel. Disseram que a

prefeitura queria trazer benefícios mais a população não queria, como é que um lixão é

benefício pra alguém? Gostaria muito que o bairro melhorasse, mais o povo tem que tomar

consciência das coisas e procurar limpar e não sujar. As autoridades precisam fazer muita

coisa, pois esse bairro é esquecido, administração da prefeitura não olha para nós.

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alunos mais antigos eram quem ensinavam aos mais novos. Os que nos ensinavam

eram Glebson, Cláudio, Sinésio entre outros que no momento não lembro. O professor

Geraldoera quem comandava a banda o que facilitou nossa entrada nela estudamos e fizemos

muitos concertos. O que mim marcou nesse período foi um concerto que fizemos no Teatro

Santa Isabel e as viagens, fomos para São Luiz do Maranhão e vários interiores de

Pernambuco.

O professor Geraldo era um pouco difícil de a gente entender, pois era muito exigente e de

certa forma era bom pra gente porque ele falava assim: quando vocês partirem daqui pra fora

é que vocês vão ver a realidade da vida, então se vocês não fizerem um trabalho bem feito,

não estudar bem o instrumento e as aulas teóricas e intelectuais não irão consegui nada na

vida e lá fora vocês vão ver o resultado que agente esta fazendo aqui. Ele sempre aplicava

aulas teóricas de divisão e solfejo, tudo isso contribuiu para que hoje não só eu como vários

colegas estarem bem sucedidos, uns em Orquestras Sinfônicas, outros em Bandas Militares,

bandas de prefeituras, tudo isso que o professor passou ajudou.

O nome dessa banda foi que levou muitos alunos a estarem bem e terem estabilidade

de um emprego. Pelo que eu tenho visto há uma grande diferença da minha época para a atual,

porque hoje em dia tem mais professores do que na minha época, porém no meu tempo os

alunos estudavam mais, se empenhavam mais, davam o melhor de si até porque nós passamos

muitas dificuldades e tínhamos que enfrentar. Comia a merenda do colégio, faziam-se

contribuições pra comprar um pão pra gente seguir em frente batalhando, no final de semana a

gente se reunia, batia uma bolinha na quadra e estudava o instrumento, aulas teóricas,

intelectuais pra enfrentar os concursos lá fora e conseguir qualquer coisa.

Muitas vezes eu e outros colegas íamos sem comer pra escola pra estudar o

instrumento e pedindo a Deus que tivesse merenda porque não tínhamos o que comer dentro

de casa. Quando íamos pras tocadas pedíamos a Deus que lá tivesse comida porque não

tínhamos o que comer em casa. Hoje, faço parte da Banda Municipal da Prefeitura de

Jaboatão dos Guararapes – PE, que vai fazer agora em dezembro, dezessete anos que trabalho

na prefeitura.

Entrevista realizada em 12 de novembro de 2010, às 09h30minh, em sua residência, Rua José

Carolino, Aguazinha – Olinda - PE

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Entrevista com o Sr. Jerônimo Alves da Silva, morador e pai de ex-alunos da Banda

Sinfônica Juvenil de Pernambuco

OSIEL: O senhor Jerônimo Começou a morar em Aguazinha em 1962.

SR. JERÔNIMO: O bairro chamava-se Beco do Governo, era um local muito atrapalhado,

muito ruim, e ainda hoje continua precisando de muita coisa, pois nunca foi feito calçamento

nem coisa desse tipo, no entanto está dando pra viver.

OSIEL: Como apareceu a música na sua vida?

SR. JERÔNIMO: Foi quando eu estava em Paudalho (cidade pequena do interior de

Pernambuco), havia uma banda lá, na época eu trabalhava naquela ponte, aquela ponte ali fui

eu quem fez, e quando eu estava lá, ia pra banda e tinha um saxofone. Eu pegava o sax tenor,

depois peguei o sax alto; e fui mim saindo e mim saindo, aí eu gostei da história, e continuei,

e deu certo. Tempo depois, fui morar em Pernambuco – Aguazinha.

Os meus filhos começaram todos aqui comigo no sax tenor e eles foram bem, depois

levei-os para o Jonas para bater lição com Geraldo, Evandro e quando terminavam a lição

colocava no carro e trazia pra casa, depois que eles cresceram mais continuaram indo

sozinhos.

Hilquias foi um dos primeiros, depois vieram Hildelarque, Júnior, todos passaram por

Geraldo e todos se saíram bem.

OSIEL: Qual é a visão que o senhor tem da banda?

SR. JERÔNIMO: É boa né! Agora que Geraldo morreu! Os que vão pra lá eu não sei, porque

fazem aquele trabalho e não deu pra desenvolver mais. O bom era que ela fica-se com uma

pessoa que assumi-se mesmo, pra sair aqueles dobrados que Geraldo botava pros meninos

fazerem, e fazer a banda crescer, ficar como era antes. Era muito boa aquela banda.

Precisamos que ela se desenvolva pra voltar ao mesmo timbre que era na época de Geraldo.

O Hildelarque foi o primeiro, ele tocou muito e hoje é professor de educação física e

criou uma banda pra ele toca muito JAZZ, Lá no bairro de Boa Viajem. Tem uma patroa que

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segurou ele e ele está mesmo na medida, toca tudo pelo mundo a fora. Já o Hildelares

é capitão e também tocou na banda um sax tenor, raçudo, seguro, eu disse: o menino vai. Hoje

ele já está reformado e dirigiu a Banda Sinfônica Naval. Mais só você vendo o Jurandir

(maestro Jurandir florentino) chegou lá e disse teu menino enricou a banda que não tem uma

banda mais rica que a dele lá no Rio, foi aquela beleza eu tenho até uns trabalhos dele aí,

coisa bonita! você escutando fica muito satisfeito.

Hiltamir está no Belém do Pará, amanhã ele vai passar umas horas aqui pra depois viajar.

Hilquias também foi aquele sucesso, lá na frevioca ele arrastava banda toda e ficava muito

preocupado, uma vez que era evangélico e sua religião não permitia. Mais hoje, graças a Deus

ele estar em campinas - SP, e um pastor ajudou e ele gravou muitas músicas, ainda hoje a

gente tem CDs dele que ele mandou.

O Jedaía a gente pelejou pra ele aprender a tocar mais não teve jeito, não aprendeu nada,

nada, nada, aí eu tinha um tantã (instrumento de percussão) peguei e coloquei-o no tantã, eu

ficava tocando saxofone e Júnior também, e o garoto no tantã, não errou uma, eu disse:é da

família, tem que ser alguma coisa.

Ao Júnior também ensinei aqui em casa, todos começavam comigo e depois ia pra lá, pro

Cônego Jonas Taurino. Ele hoje está muito bem, é sargento da polícia.

Avilá, que também começou aqui comigo depois foi embora pra lá pra Geraldo e está tudo

tranqüilo.

Entrevista feita em 15 de novembro de 2010, às 15h em sua residência, Rua Nigéria, nº142,

Aguazinha – Olinda - PE

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Entrevista com a Sra. Vera Lúcia Gomes de Sousa, ex-secretária da Banda Sinfônica

Juvenil de Pernambuco

No ano de 1985 eu fui chamada pelo DERE que é o Departamento Regional de Educação, que

hoje é o GERE. Fui convidada pela secretaria de educação para implantar o currículo de

música lá, porque não tinha. As aulas que os professores davam eram soltas, não tinha um

acompanhamento, cada um dava sua aula de teoria musical de acordo com o que queriam dá.

O professor Geraldo e o professor Caetano, não sei como eles conseguiam fazer aquilo, eles

davam aula a todos instrumentos praticamente ao mesmo tempo, em uma só sala, separavam

os naipes de cada instrumento em grupos e eles davam suas aulas, cada um professor em salas

diferentes, foi assim que eu encontrei quando lá cheguei.

A secretaria de educação mim convidou porque eles queriam uma pessoa que tivesse o curso

de pedagogia e também tivesse o curso de música, daí me fizeram esse convite. Precisava-se

de alguém que coordenasse o curso de música que na época não tinha certificado, era preciso

ser feito de acordo com o acompanhamento curricular do aluno, os professores davam teoria

musical de acordo com o nível escolar de cada aluno. O certificado era preciso, pois alguns

alunos precisavam dele para apresentar na marinha, aeronáutica, exercito.

Consegui fazer esses currículos. Havia seis professores e chegaram mais outros que formaram

um grupo maior para dá assistência. Eu ainda cuidava das apresentações da banda que era

muito solicitada para tocar em diversos lugares, um deles foi vários concertos no Estado do

Maranhão durante uma a duas semanas. Essa banda tocou em inúmeras inaugurações de

novas escolas e até fez uma tocada no Palácio do Governo. O professor Geraldo era o mentor

desse trabalho porque era o professor mais antigo da escola, desde 1977. Ele e o professor

Caetano davam suporte para a formação dos meninos.

Então, organizaram-se os currículos de cada curso em cada semestre e as disciplinas que eram

utilizadas. Os alunos começavam a estudar música aos 12 anos de idade. Os estudos escolares

aconteciam durante o dia e à noite voltavam à escola para assistirem aula de música. Nessa

época, os alunos tinham a disciplina de música implantada no currículo escolar, com isso

Incluímos apresentações musicais que aconteciam constantemente na escola de acordo com as

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datas comemorativas do ano letivo como: dia da música, das crianças e até mesmo

aniversários de professores entre outros. Os professores preparavam os alunos para essas

apresentações; professores de violão, de teclado, o coral da escola, que era coordenado pela

professora Evenilde Veras. Eram preparados os repertórios de acordo com as festividades

decorrentes ao ano eletivo e eram convidadas todas as escolas da comunidade e até pessoas de

fora como maestro Jurandir Florentino (maestro) e outos.

Agora em 2006, mais ou menos, deixei o Jonas Taurino para me aposentar, nesse tempo

procurei deixar tudo organizado deixando o currículo pronto para o curso técnico em música.

Para isso foram dadas as orientações aos professores, nós tínhamos reuniões da didática da

música; eram feitos esses acompanhamentos com os professores. Já saí deixando a escola em

ordem foi quando a escola entrou nessa nova participação: o curso passou a ser de dois anos.

Acho pouco tempo para a aprendizagem, na maioria das vezes o aluno chega ao curso de

música sem saber nada sobre o assunto.

A banda, para mim, era um verdadeiro laboratório onde os alunos estudavam e eram

orientados pelos professores Geraldo e o Caetano. Os alunos iam chegando e entravam logo

na banda para fazerem prática de grupo e esses professores acompanhavam individualmente

os alunos nas horas dos ensaios.

Eram três ensaios semanais: segunda quarta e sexta feira. As Terças e quintas eram aulas de

teoria musical, o professor Geraldo dava oportunidade aos alunos para os mesmos fazerem

práticas de regência na banda sobre a sua orientação.

Já fiz um levantamento, na época, e contei mais ou menos 300 profissionais até 2006, foram

alunos que saíram da escola. Eu sabia por causa das fichas escolares deles. São ex-alunos que

estão espalhados por todo o Brasil e até no exterior, como o Israel. Acho interessante a atitude

dele porque quando ele vem a sua cidade natal tem prazer em dizer que começou seus estudos

de música na banda.

Ele vendia estrumo foi quando ouviu os sons dos instrumentos e foi até lá, e quis se

matricular. As primeiras notas musicais ele aprendeu no Jonas, depois foi selecionado para o

projeto espiral e logo após, para o Conservatório Pernambucano de Música. Ele veio agora

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dar um recital e trouxe uma orquestra, fez questão de dizer que saiu do Jonas. A orquestra

espanhola era muito boa. Ele também participou do caso verdade (meninos do Recife).

E tudo era por amor à escola. Tinha aquele problema de difícil acesso: uma certa vez, Geraldo

estava ensaiando a banda e se empolgava com isso, com tudo, esquecia da hora e já era mais

ou menos umas dez horas da noite quando começou a chover. E a chuva foi aumentando e

aumentando, daí eu decidi ir embora para casa, quando eu pensei nisso não dava mais pra sair

da escola, uma vez que a água já estava na cintura, mais resolvi sair de todo o jeito. Pensava

que se demorasse mais um pouco poderia morrer afogada, e era aquela correnteza tão grande

mais eu saí dali sem pensar no perigo que estava correndo: de cair e ser levada pela

correnteza, de uma cobra mim morder (como ali era uma várzea haviam muitas cobras) ou

ainda cair em um buraco. Felizmente consegui.

Muitas vezes a escola estava depredada, à noite a escola não tinha nem uma lâmpada a não ser

da sala da banda. Um dia, lembro-me muito bem, como se fosse hoje, o vigia da escola não

usava armas e num certo dia ele veio apresado com um olhar de desespero e disse: professora

está havendo um assalto! E eu estava sozinha na escola porque saia o turno do dia e eu

continuava na escola para assistir a banda à noite. Então pedi para o guarda fechar os portões

e também para que ficasse calmo, porém a escola estava completamente no escuro, e como já

falei, só restava, em toda a escola a luz da sala da banda. O engraçado é que só ficava a luz da

sala da banda acessa porque sempre respeitaram a banda. Então assaltaram o barraqueiro que

ficava em frente à escola, levaram todo o apurado que o homem tinha feito naquele dia, o bom

é que eles não entraram na escola.

O DPCA (delegacia de policia da criança e do adolescente) fazendo uma palestra na escola

disse que o bairro tinha um índice muito baixo de violência. A banda e os alunos foram

sempre respeitados pelos vândalos a prova é tanta que nunca houve nenhum incidente.

Uma aluna, certa vez, chegou à escola se queixando de uma dor no estômago e procurei um

remédio, mais não tinha. Ela disse que estava com problemas em casa, mais resolveu ficar

para o ensaio. Ao término ela chegou para mim e disse que não precisou de remédios porque a

música serve até para passar dor Da banda saíram muitos profissionais como: Carmem,

Elizabete que estão trabalhando na Banda da Cidade do Recife, os meninos que estão na

polícia, no exército, na marinha, se fosse para dizer todos eu não saberia. A escola sempre

exportou músicos

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Eu não me esqueço do trabalho da banda, pensei até em escrever um livro sobre ela. Tenho

que para um pouco para escrever esta história porque merece, principalmente sobre o

professor Geraldo que realmente amou o próximo.

Entrevista realizada em 15 de novembro de 2010, às 20h28minh em seu apartamento, Ed.

Francisco Melo, nº 307, Rua da Hora, Espinheiro – Recife-PE.

Entrevista com José Jerônimo Duarte, ex-aluno realizada em Natal RN na sua

residência no dia 5 de novembro de 2010

Nasci no bairro de Sapucaia de dentro, subúrbio de Olinda, bairro vizinho de aguazinha. A

vida de subúrbio é aquela vida sofrida de ter que botar água de ganho porque não tinha água

potável, tinha que pega água pra encher tonel de um tonel de outro, catar quenga de coco pra

trocar por bolo de goma, não tinha água corrente. Água só tinha no cacimbão da olha a três

quilômetros de distância da minha casa, ia buscar água todo dia no galão para tomar banho,

beber e fazer comida.

Eu não conhecia muito o bairro de Aguazinha, só passei a conhecê-lo quando fui estudar no

caranguejo (apelido dado a Escola Cônego Jonas Taurino) e então passei a freqüentar o

Campo de Aguazinha quando tinha campeonato. Se a escola não tivesse sido sorteada com a

banda aquele bairro teria passado em branco para mim.

O que me levou a estudar música foi a vontade de ser alguma coisa na vida porque pobre não

tem muita opção é estudar e trabalhar; estudar e trabalhar e se dé sorte na vida consegue

alguma coisa. Como a profissão de músico é abençoada noventa por cento dos meus colegas

que estudaram comigo estão todos empregados inclusive eu que estou aqui na Orquestra

Sinfônica do Rio Grande do Norte. Naquele tempo o caminho que eu percorria para ir à escola

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de Sapucaia para Aguazinha, virgem Maria era uma caminhada braba viu uma estrada de

barro quando não chovia agente ia pelo barreiro cortando caminho pelo massapé, e quando

chovia não tinha alternativa, tinha que ir pela pista mesmo, pela Avenida Presidente Kennedy,

mais era aquela vida sofrida não era uma vida boa não, era vida de sacrifício mesmo,

caminhar 5 quilômetros para poder chegar no colégio. E quando tinha apresentação e concerto

da banda tínhamos que depender de um colega mais velho, no meu caso, o meu anjo da

guarda era Caetano trombonista da banda que se comprometia em deixar agente em casa eu e

Isaaque, meu irmão. Desse modo mamãe deixou agente ir tocar na banda, mais se não fosse

assim nem isso nós teríamos.

Na escola nós só tínhamos um professor que era José Geraldo, e tinha os monitores que eram

os alunos mais antigos. Quando entrei na banda os professores que estavam lá no período da

inauguração já não se encontravam mais: professor Ademir Araújo, professor José Amaro e o

professor Caetano, esses já tinham ido embora. No início da banda, esses professores eram

responsáveis cada um por um naipe: Caetano pelas madeiras, o Zé Amaro pelos metais e o

Ademir era nosso regente, dava aula de teoria, regia a banda e escrevia arranjos de acordo

com o nosso nível. Quando eles saíram quem assumiu a banda foi Geraldo que dava aula com

os alunos mais antigos que ganhavam bolsas. Eu tive aula com a Misaildes que era a primeira

trompa, Quem dava aula de trombone já era Caetano, ai quem dava aula de percussão já era o

pessoal de percussão e assim por diante. Os bolsistas também davam aula de teoria, ai depois

foi na sua época que vieram professores para dar aula de instrumento. Nas proximidades da

escola tinha muita lama, muita várzea, era um bairro que quando chovia era um desmantelo

porque alagava tudo. Já entrei na escola com água nos peito, com um metro e meio de água

para poder salva os instrumentos, chegou umas duas enchentes dessas, assim, brabas, quando

não enchia desse jeito a escola, enchia as ruas, ai você tinha que caminhar quinhentos metros

dentro da lama para poder chegar no colégio. quando a banda ia tocar a gente tirava os

sapatos, colocava debaixo do braço, passava pela lama e chegava na pista, o ônibus estava lá

para pegar a gente, calçávamos os sapatos e entravamos no ônibus. Passa-se quantos anos na

banda? Eu passei pouco tempo, só quatro anos na banda. Estudei teoria musical e pratica de

instrumento, ai quando eu comecei a tocar, como trompa é um instrumento sinfônico tinha

bastante vaga pra trabalhar e com dois anos eu estava trabalhando, trabalhei na orquestra

sinfônica de Olinda.

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Hoje na sua vida, o que representou a escola Jonas Taurino em sua opinião? Jonas taurino pra

mim foi a luz, justamente aquela luz no fim do túnel onde nós tínhamos nenhuma perspectiva

de crescimento intelectual e nem sabia o que era musica e foi graças ao Jonas com essa banda

sinfônica que mim fez a ter o que tenho hoje a minha profissão, minha vida.

E ao se mencionar a expressão “banda sinfônica juvenil de Pernambuco”, o que você senti?

Virgem Maria da aquele friozinho na coluna é porque são coisas que comecei lá menino com

12 anos de idade nem barba tinha então passa um filme das caminhadas dos riscos que nós

tínhamos que passa pra poder chega na banda e pra chega em casa era tudo muito arriscado.

Entrevista realizada 05 de novembro de 2010, em sua residência, Rua Açude Ouro Branco, nº

28, Conjunto Brasil Novo, Natal