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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO MELHORIA DE PROCESSOS VIA DELINEAMENTO DE EXPERIMENTOS E GRÁFICOS DE CONTROLE: PROPOSTA PARA APLICAÇÃO EM MICRO E PEQUENAS EMPRESAS LYCIA NASCIMENTO RABELO MOREIRA NATAL/RN 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE

PRODUÇÃO

MELHORIA DE PROCESSOS VIA DELINEAMENTO DE

EXPERIMENTOS E GRÁFICOS DE CONTROLE: PROPOSTA

PARA APLICAÇÃO EM MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

LYCIA NASCIMENTO RABELO MOREIRA

NATAL/RN

2016

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LYCIA NASCIMENTO RABELO MOREIRA

MELHORIA DE PROCESSOS VIA DELINEAMENTO DE

EXPERIMENTOS E GRÁFICOS DE CONTROLE: PROPOSTA

PARA APLICAÇÃO EM MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de

Pós-Graduação em Engenharia de Produção da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como

requisito para obtenção do Título de Mestre em

Engenharia de Produção.

Orientadora: Carla Almeida Vivacqua, Drª.

Natal/RN

2016

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DEDICATÓRIA

Aos meus queridos e amados pais, Walter e

Dalvanira, e ao meu amado esposo André...

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por seu infinito amor ao me proporcionar saúde e guiar a minha vida em todos os

momentos, trazendo-me força e esperança diante das dificuldades.

Aos meus pais, Walter e Dalvanira, por um amor imensurável e inigualável a mim estimado,

por terem sido os meus primeiros mestres, cujos ensinamentos são os princípios base que

ministram minha vida. Obrigada por acreditarem em mim e no meu potencial mais do que eu

mesma acredito.

Ao meu esposo André, que preencheu os espaços que ainda estavam abertos na minha vida e

me ajudou a enfrentar todos os obstáculos encontrados ao longo do curso, sempre com

palavras de amor e de autoestima.

A todos os meus familiares, em especial a minha irmã, meus tios e primos, sempre tão

presentes desde o início de minha trajetória, evidenciando incessantemente a solidariedade e o

carinho a mim dedicados.

A minha orientadora, Carla Vivacqua, exemplo de competência e de dedicação ao trabalho

acadêmico. Obrigada por ajudar a ampliar os meus conhecimentos e a minha visão acerca do

assunto e por sempre me atender com bastante presteza.

A todos os funcionários da empresa que atuou como ambiente da pesquisa, me

disponibilizando todas as informações necessárias e atuando sempre com bastante

solidariedade.

A todo o corpo docente e colaboradores do curso de Pós Graduação da UFRN, por terem

corroborado de forma direta com essa conquista. Obrigada por terem feito parte de minha

formação ampliando os meus conhecimentos e a minha visão de mundo. E obrigada, em

especial, aos professores Marcus, Linda e Mariana que aceitaram gentilmente participar de

minha banca de defesa.

Obrigada a minha querida e amada turma da “sofrência” (Júlia, Tuíra, Vanessa, Izabelle,

Rafael, Luciano, Adriana, Iran e Mariana). A minha amiga de hoje e sempre Tâmara e a todos

os que não foram citados, mas que de alguma forma contribuíram para esta conquista.

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“Tenho a impressão de ter sido uma criança

brincando à beira-mar, divertindo-me em

descobrir uma pedrinha mais lisa ou uma concha

mais bonita que as outras, enquanto o imenso

oceano da verdade continua misterioso diante de

meus olhos.”

(Isaac Newton)

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RESUMO

Considerando as exigências cada vez mais estritas que o mercado impõe às empresas e o

poder de adaptação em tempos cada vez menores requeridos para que estas se mantenham

competitivas, faz-se necessário considerar abordagens que simultaneamente acompanhem os

processos-chave e procedimentos que busquem sua otimização. Face ao exposto, o objetivo

deste trabalho é propor um modelo de integração entre as ferramentas de experimentação e

controle estatístico de processo para fins de implementação em pequenas empresas. Para

tanto, realiza-se uma pesquisa bibliográfica para identificar os casos de aplicação integrada

destas ferramentas, de modo a servir de base na construção do modelo. Na sequência, o

modelo é aplicado para fins de verificação e validação, por meio de um estudo de caso em

uma pequena empresa responsável pela fabricação de embalagens manufaturadas em tecido

de polipropileno. Dentro deste contexto, realiza-se um experimento fatorial 2³ x 2²

aleatorizado em parcelas subdivididas com réplica e repetição. Para a análise do experimento

e interpretação dos resultados, fazem-se uso do software Minitab 17, o qual gera os gráficos

dos efeitos principais e das interações que são significativas ao nível 5% de significância.

Posteriormente, uma proposta conceitual de monitoramento via gráficos de controle é

sugerida a fim de manter as variáveis de saída sob estado de controle estatístico. Por fim, os

resultados mostraram que o uso conjunto destas duas ferramentas de qualidade, bem como as

parcerias estabelecidas com universidades, podem otimizar o processo de melhoria da

qualidade em pequenas empresas.

Palavras-Chave: Controle Estatístico de Processo; Experimentação; Pequenas empresas;

Qualidade;

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ABSTRACT

Considering the increasingly stringent requirements that the market imposes on businesses

and the ability to adapt in short times required for companies to remain competitive, it is

necessary to consider approaches that simultaneously monitor key processes and seek

optimization. Under this scenario, the objective of this study is to propose a model integrating

statistical process control and experimentation for small enterprises. Therefore, we carry out a

literature review to identify cases of applications of these tools in an integrated manner to

provide the basis for constructing a framework. Sequentially, the proposed framework is

applied for verification and validation, through a case study in a small company responsible

for manufacturing of packaging in polypropylene fabric. In this context, we employ a factorial

split-plot 2³ x 2² design with repetition and replication. For the analysis of the experiment, we

use Minitab 17, which generates main effects and interaction plots. A proposal for monitoring

via control charts is suggested to maintain the output variables in statistical control. Finally,

the results show that the combined use of design of experiments and statistical process

control, aligned with university-industry partnership, can optimize the quality improvement

process in small businesses.

Keywords: Statistical Process Control; Experimentation; Small business; Quality;

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fases do processo de inovação.................................................................................20

Figura 2 - Modelo de gráfico de controle de Shewart...............................................................29

Figura 3 - Formas de variação na distribuição de probabilidade devido a uma causa especial30

Figura 4 - Comportamento cíclico do uso combinado das ferramentas CEP e DOE...............37

Figura 5 - Evolução das taxas de empreendedorismo no brasil segundo o estágio do

empreendimento........................................................................................................................42

Figura 6 - Distribuição do número médio de empresas existentes em cada categoria dos anos

de 2009 a 2011..........................................................................................................................43

Figura 7 - Relação de troca entre instituição de ensino superior e empresa.............................47

Figura 8 - Caracterização da pesquisa.......................................................................................49

Figura 9 - Etapas adotadas para a execução da pesquisa..........................................................49

Figura 10 - Mapeamento das etapas para a implementação do modelo proposto.....................58

Figura 11 - Metas e ferramentas para o alcance da melhoria contínua de qualidade................59

Figura 12 - Principais modelos de big bags conforme os critérios: tipo de alça, de tampa e de

fundo.........................................................................................................................................69

Figura 13 - Esboço dos modelos básicos de big bags manufaturados pela empresa................69

Figura 14 - Fotos de alças de big bags com defeitos................................................................71

Figura 15 - Etapas do processo produtivo do big bag padrão...................................................73

Figura 16 - Diagrama de causa e efeito.....................................................................................75

Figura 17 - Dinamômetro tensolab 3000 mesdlan....................................................................77

Figura 18 - Modelos das amostras desenvolvidas.....................................................................78

Figura 19 - Diagrama do experimento fatorial Split Plot 2³ x 2² com 2 repetições e 2

réplicas......................................................................................................................................80

Figura 20 - Matriz de dispersão para as variáveis, força máxima média, alongamento máximo

médio e tempo médio................................................................................................................81

Figura 21 - Gráfico dos valores individuais da força máxima gerados no experimento...........82

Figura 22 - Gráfico de Pareto dos efeitos padronizados (de difícil mudança)..........................85

Figura 23 - Gráfico half normal dos efeitos padronizados (de difícil mudança)......................85

Figura 24 - Gráfico de Pareto dos efeitos padronizados...........................................................86

Figura 25 - Gráfico half normal dos efeitos padronizados........................................................86

Figura 26 - Gráfico de efeitos principais..................................................................................87

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Figura 27 - Gráfico de interação para a força máxima média...................................................87

Figura 28 - Histograma e Boxplot.............................................................................................90

Figura 29 - Gráfico normal Q-Q...............................................................................................91

Figura 30 - Gráfico da função de autocorrelação......................................................................92

Figura 31 - Gráfico EWMA......................................................................................................93

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Descrição das principais técnicas de planejamento e análise de experimentos.......22

Tabela 2 - Ferramentas/técnicas de melhoria de qualidade e seus respectivos estudos............40

Tabela 3 - Características dos estudos utilizados para a elaboração do modelo conceitual.....54

Tabela 4 - Especificações técnicas dos tecidos usados para cada componente do big bag......68

Tabela 5 - Fatores e níveis usados na fase de experimentação.................................................75

Tabela 6 - Valores médios para a força máxima e as demais variáveis referentes a cada

resposta......................................................................................................................................83

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

AFIPOL – Associação Brasileira de Fibras Poliolefínicas

ANOVA – Análise de Variância

ANPROTEC – Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de

Tecnologias Avançadas

BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEQ – Controle Estatístico de Qualidade

CEP – Controle Estatístico de Processo

CIF – Cost, Insurance and Freight

CUSUM – Cumulative Sums

DMAIC – Define, Measure, Analyze, Improve and Control

DOE – Design of Experiments

EBT – Empresas de Base Tecnológica

FMEA – Failure Mode and Effect Analysis

FOB – Free On Board

EWMA – Exponentially Weighted Moving Average

GEM – Global Entrepreneurship Monitor

ISO – International Organization for Standardization

LABCTEX – Laboratório de Caracterização de Materiais Têxteis

MEI – Microempreendedor Individual

MPE – Micro e Pequenas Empresas

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

PIB – Produto Interno Bruto

QFD – Desdobramento da Função Qualidade

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SPC – Statistical Process Control

TTE – Taxa Total de Empreendedorismo

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

VOC – Voz do Cliente

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SUMÁRIO

RESUMO...................................................................................................................................7

ABSTRACT...............................................................................................................................8

LISTA DE FIGURAS...............................................................................................................9

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS............................................................................11

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO...........................................................................................15

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO........................................................................................15

1.2 OBJETIVOS..............................................................................................................17

1.2.1 Objetivo Geral....................................................................................................17

1.2.2 Objetivos Específicos.........................................................................................17

1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO.............................................................................17

CAPÍTULO 2 – REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................19

2.1 EXPERIMENTAÇÃO..............................................................................................19

2.1.1 Processo de inovação e experimentação...........................................................19

2.1.2 Planejamento de Experimentos (DOE)............................................................21

2.2 CONTROLE ESTATÍSTICO DE PROCESSOS..................................................23

2.2.1 Evolução histórica do CEP...............................................................................24

2.2.2 Caracterização do CEP.....................................................................................26

2.2.3 Gráficos de controle...........................................................................................27

2.2.3.1 Carta de controle de Shewhart....................................................................28

2.2.3.2 Abordagens mais recentes............................................................................32

2.3 CAPACIDADE DO PROCESSO............................................................................33

2.4 USO INTEGRADO DE DOE E CEP......................................................................35

2.4.1 Evolução dos conceitos acerta deste tema........................................................35

2.5 MICRO E PEQUENAS EMPRESAS.....................................................................41

2.5.1 Características das MPE industriais referentes à gestão da qualidade........43

2.5.2 Parceria entre Micro e Pequenas empresas e universidades.........................45

CAPÍTULO 3 – MÉTODO DE PESQUISA.........................................................................48

3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA........................................................................48

3.2 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA.......................................................................49

3.2.1 Procedimentos para a definição do modelo conceitual................................50

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3.2.2 Procedimentos para a execução do estudo de caso.......................................52

CAPÍTULO 4 – MODELO CONCEITUAL........................................................................56

4.1 FASE PRELIMINAR...............................................................................................59

4.2 ESTUDO EXPERIMENTAL..................................................................................61

4.3 ANÁLISE DA CAPACIDADE DO PROCESSO..................................................64

4.4 MONITORAMENTO DO PROCESSO.................................................................64

CAPÍTULO 5 – ESTUDO DE CASO...................................................................................67

5.1 PANORAMA GERAL DA EMPRESA................................................................67

5.2 APLICAÇÃO DO MODELO PROPOSTO NO PROCESSO DE

FABRICAÇÃO DOS BIG BAGS.....................................................................................72

5.2.1 Fase Preliminar................................................................................................72

5.2.2 Estudo experimental........................................................................................76

5.2.2.1 Descrição das características do experimento............................................76

5.2.2.2 Condução do experimento............................................................................76

5.2.2.3 Análise do experimento................................................................................80

CAPÍTULO 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................94

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................96

ANEXO A - Gráfico referente à taxa de sobrevivência de empresas (criadas em 2007)

com até 2 anos para 15 países..............................................................................................102

ANEXO B - Setor Indústria - Variáveis –– 2009 a 2011....................................................103

ANEXO C - Resumo das recomendações para uso e manuseio ideal de contentores

flexíveis...................................................................................................................................104

ANEXO D - Tabela com os resultados gerados neste experimento pelo dinamômetro

TENSOLAB 3000 MESDLAN.............................................................................................105

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CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

Este primeiro capítulo apresenta a exposição do tema e a problemática do trabalho; o

delineamento dos objetivos (geral e específico); a relevância da pesquisa e a estrutura da

dissertação.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

Nos últimos tempos, as organizações se encontram inseridas em um panorama de

intensa competitividade. O rápido avanço tecnológico tem culminado em ciclos de vida dos

produtos cada vez mais curtos. Logo, a fim de se adequar às características deste novo

mercado e se manter competitivas, faz-se necessária a utilização, por parte das empresas, de

abordagens que simultaneamente acompanhem os seus processos-chave e busquem sua

otimização.

Face ao cenário atual, as empresas estão focando cada vez mais nos setores de

pesquisa e desenvolvimento (P&D) como forma de impulsionar o processo de inovação, o

qual, conforme Torkomian (1996), vem deixando de ser um fator diferencial para ser um fator

essencial à sobrevivência das organizações. Nesse contexto, Thomke (2003) afirma que as

incertezas inerentes ao desenvolvimento de novos produtos e serviços podem ser reduzidas

mediante a associação entre a tecnologia e o processo de experimentação. Ainda segundo o

autor, este processo atua como fator determinante da capacidade de inovar de cada

organização.

A experimentação trata-se de um método científico que pode ser utilizado pelos

integrantes da área de P&D das empresas, a fim de aperfeiçoar tanto os processos de inovação

radical, quanto os de inovação incremental. Para Thomke (1998), esse método atua como uma

forma de resolução de problemas e está associado a uma parte significativa do tempo e do

custo total despendido no processo de inovação.

Com vistas à otimização do processo de experimentação, deve-se associar ao

planejamento e análise de experimentos, o uso de ferramentas estatísticas, as quais buscam

minimizar o custo necessário para obter os resultados almejados, culminando com a redução

de tempo e recursos gastos durante a execução. Em suma, os experimentos devem ser

planejados a fim de maximizar o potencial de interpretação dos resultados e minimizar os

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recursos utilizados - técnica conhecida como “Planejamento de Experimentos” (ou do inglês,

“Design of Experiments - DOE”).

O Controle Estatístico do Processo (CEP), por sua vez, trata-se de uma ferramenta da

qualidade comumente utilizada no monitoramento dos processos de manufatura dos produtos.

O objeto de interesse do CEP é o processo e sua principal finalidade é manter os processos-

chave dentro dos seus limites de variações naturais (HARIDY et al., 2011), ou seja, isento de

causas especiais - anormalidades no processo, as quais podem ser corrigidas e eliminadas.

As cartas ou gráficos de controle (principais ferramentas do CEP) monitoram o

processo por meio do estabelecimento de parâmetros representativos - média do processo e a

dispersão ou desvio padrão do processo – os quais caracterizam o processo do ponto de vista

estatístico, em situações em que o processo esteja estatisticamente estável, fato que diminui os

riscos de alarmes falsos (ALENCAR et al., 2004). Sua utilização permite analisar o

comportamento do processo, detectar desvios de variabilidade em relação aos parâmetros

estabelecidos e a presença de causas especiais (ALENCAR et al., 2004).

Os métodos apresentados - controle estatístico de processos e planejamento de

experimentos - têm sido considerados separadamente na melhoria de produtos e processos ao

longo da história. Entretanto, seu uso integrado, como forma de maximizar seu resultado, é

defendido por alguns autores (MONTGOMERY, 1992; ABRAHAM, BRAJAC, 1997;

BISGAARD, 2008). Esta integração não tem uma etapa inicial padrão, podendo ter seu início

tanto no monitoramento quanto na experimentação (BISGAARD, 2008), de modo que cada

situação específica naturalmente estabelecerá seu ponto de partida, visando atender um ciclo

lógico.

Outro ponto discutido nesta pesquisa trata-se do crescente papel econômico

desempenhado por micro e pequenas empresas em vários países, em especial, no Brasil, onde

se tem observado uma gama de resultados econômicos satisfatórios em virtude da atuação

destas empresas.

As mudanças que vêm ocorrendo nas últimas décadas no contexto das políticas em

favor dos pequenos negócios têm atuado como um dos fatores responsáveis por esse

desempenho favorável crescente na conjuntura econômica brasileira. Entretanto, vários

fatores tem atuado com a mortalidade precoce destas empresas, dentre os quais, destaca-se

uma gestão deficiente de melhoria de qualidade, potencializada pela falta de recursos e know-

how.

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Tomando-se por base as considerações desenvolvidas para facilitar a compreensão do

tema e do problema, surge a seguinte problemática: Como otimizar o processo de melhoria

contínua de produtos e processos em empresas de pequeno porte, de modo a maximizar

seu resultado, com menor gasto de recursos?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

Este trabalho tem como objetivo geral propor uma abordagem de integração entre

ferramentas de monitoramento e melhoria de processos. Mais especificamente, o

monitoramento dos processos seria realizado via a utilização de gráficos de controle, já a

melhoria dos processos seria trabalhada via planejamento experimental.

1.2.2 Objetivos específicos

Sistematizar o conhecimento com base nos temas abordados nesta pesquisa;

Desenvolver uma abordagem de integração entre as ferramentas de Planejamento de

experimentos e Controle Estatístico de Processos, de modo que seja de fácil aplicação

para micro e pequenas empresas;

Aplicar o modelo conceitual proposto em uma pequena empresa, de modo a testar o

modelo desenvolvido na prática, e avaliar os benefícios advindos da parceria

“universidade-empresa”;

Realizar um diagnóstico acerca dos resultados gerados pelo estudo de caso;

1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO

Este trabalho está estruturado em seis capítulos e as referências, distribuídos da

seguinte forma:

O presente capítulo apresenta a exposição do tema; a definição do problema; os

objetivos; a justificativa e a estruturação da dissertação.

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18

O segundo capítulo aborda o referencial teórico sobre os temas relevantes que servirão

de base para o direcionamento desta pesquisa.

O terceiro capítulo expõe a classificação da pesquisa, bem como a trajetória

metodológica aplicada no decurso deste trabalho.

O quarto capítulo apresenta a descrição detalhada do modelo conceitual proposto nesta

pesquisa.

O quinto capítulo elucida como se procedeu a aplicação deste modelo em uma

empresa de pequeno porte, bem como os resultados gerados desta aplicação.

O sexto capítulo traz as considerações finais, bem como as limitações encontradas no

decorrer deste estudo e sugestões para pesquisas futuras.

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CAPÍTULO 2 – REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo são apresentados os fundamentos teóricos necessários acerca das

abordagens de experimentação e controle estatístico de processos, a fim de servirem de base

para o desenvolvimento de um modelo integrado destas ferramentas para impulsionar a

melhoria da qualidade de produtos e processos em micro e pequenas empresas, destacando a

importância da interação “universidade-empresa” durante esta implementação. Em face deste

contexto, procura-se buscar na literatura os aspectos principais de cada uma das ferramentas

citadas; relatos do uso integrado destas ferramentas e os aspectos relevantes da parceria entre

universidades e empresas.

2.1 EXPERIMENTAÇÃO

O processo de experimentação é trazido por alguns autores (THOMKE, 1998;

CARLOMAGNO, SCHERER, 2009) como sendo uma das etapas fundamentais do processo

de inovação tecnológica. Em meio a isso, será dada uma breve explanação acerca do processo

de inovação antes de adentrar no estudo da experimentação, propriamente dita.

2.1.1 Processo de inovação e experimentação

Atualmente, a crescente busca pela inovação vem impulsionando as atividades de

pesquisa e desenvolvimento dentro das organizações. As empresas investem no processo de

inovação visando o lançamento de novos produtos e serviços, desenvolvimento de novos

processos ou novas configurações organizacionais e atuação em novos mercados (BUENO,

BALESTRIN, 2012). Com isso, incrementando valor ao seu modelo de negócio. Entretanto,

existem riscos que são inerentes a este processo, os quais variam de acordo com a tecnologia

desenvolvida e com o contexto do mercado (consumidores e concorrentes) em que será

inserida. Logo, torna-se essencial o emprego de um modelo estruturado para gerir o processo

de inovação como forma de minimizar esse grau de incerteza. Para Carlomagno e Scherer

(2009), uma inovaçãode sucesso está associada a um processo contínuo de gestão e

planejamento de resultados.

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Carlomagno e Scherer (2009) propõem um modelo que separa o processo de inovação

em quatro fases: Idealização, Conceituação, Experimentação e Implementação. Ainda

conforme os autores, a experimentação antecede a fase de implementação como uma

ferramenta estratégica, reduzindo o percentual de incertezas e aumentando as chances de

sucesso da ideia durante a fase de implementação. A Figura 1 expressa as funções de cada

uma dessas fases dentro do processo de inovação.

Figura 1 - Fases do processo de inovação

Fonte: Carlomagno e Sherer (2009)

A experimentação trata-se de um processo de investigação científica, balizado pelo

uso de técnicas estatísticas, o qual pode ser desenvolvido pelos funcionários do setor de

pesquisa e desenvolvimento das organizações para dar suporte ao processo de inovação. Estas

inovações podem ser tanto do tipo radical, que estão geralmente associadas a mudanças

significativas em produtos, processos ou serviços (como o lançamento de um novo produto no

mercado), quanto incremental (foco desta pesquisa), a qual está associada ao conceito de

melhoria contínua de qualidade e também pode ser aplicada em produtos, processos ou

serviços. Thomke (1998) afirma que à fase de experimentação são demandadas as maiores

parcela de tempo e de recursos do total utilizado no processo de inovação.

A engenharia da qualidade tem se refugiado na experimentação, como forma de

incrementar melhorias ao produto e ao seu processo produtivo, de modo a minimizar os

desvios das características que determinam a qualidade do produto, em torno de seu valor-

alvo. Como a variabilidade nessa situação é ocasionada por causas comuns ao processo, sua

redução ou eliminação transcende as funções do controle estatístico de processos e deve ser

realizada pelo uso da experimentação.

• Aceleração das

iniciativas;

• Escala de

projetos;

• Avaliação pós

implementação.

• Prototipagem;

• Redução de

incertezas;

• Refinamento

final;

• Alocação de

recursos;

• Planejamento

mais profundo.

• Geração de

novas ideias;

• Oportunidades e

negócios;

• Insight de

clientes;

• Análise de

tendências;

• Reutilização de

novas ideias.

• Avaliação de

potencial;

• Aprimoramento

dos conceitos;

• Acompanhamento

e definição;

• Polinização

cruzada.

Idealização Conceituação Experimentação Implementação

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Parafraseando Werkema e Aguiar (1996), um experimento trata-se de um

procedimento que atua manipulando as variáveis de entrada de um sistema, com vistas a

avaliar as mudanças ocasionadas por estas alterações nas variáveis de respostas (saída), bem

como as causas destas mudanças. Pierozan (2001) acrescenta que os experimentos, quando

planejados, podem ser ferramentas importantes na identificação dos fatores que influenciam

os itens de controle de um processo ou projeto.

Face ao exposto, Lye (2005) categoriza o planejamento de experimentos (Design of

Experiments – DOE) como sendo um dos métodos mais eficazes para aplicação sistematizada

de técnicas estatísticas para o processo de experimentação. Galdamez e Carpinetti (2004)

reafirmam a importância do uso de experimentos planejados e técnicas estatísticas durante a

fase de experimentação, como forma de minimizar o uso de recursos ao longo do processo.

2.1.2 Planejamento de experimentos (DOE)

O DOE, de acordo com Montgomery (1991), trata-se de uma técnica sistemática de

planejamento de experimentos, responsável por determinar os tipos de dados, a quantidade e

em que condições estes dados devem ser coletados. Aranda et al. (2007) complementam esse

conceito, acrescentando que o DOE busca basicamente satisfazer dois objetivos principais:

maior precisão estatística possível nas variáveis de resposta e menor custo associado ao

método de investigação.

O DOE surgiu inicialmente em um contexto agrícola, cujo pioneiro foi o geneticista e

matemático inglês Sir Ronald Fisher. O maior interesse de Fisher estava voltado ao estudo de

sistemas complexos, cujo desempenho pode ser influenciado por um certo número de

parâmetros (fatores), podendo cada um operar a um número de níveis (STUART, 1996;

PIEROZAN, 2001). A principal contribuição de Fisher para a análise de experimentos foi

atestar que é mais eficiente variar os níveis de vários fatores simultaneamente durante o

desenvolvimento de um experimento, do que de apenas um fator por vez, indo de encontro à

abordagem tradicional da experimentação (STUART, 1996).

O planejamento de experimentos veio ampliar sua área de atuação após a segunda

guerra mundial, sendo introduzido em indústrias químicas americanas e no oeste da Europa

(PIEROZAN, 2001). Contudo, o uso de modelos estatísticos nas indústrias só ganhou força

após empresas de eletrônicos norte-americanas implementarem os métodos de engenharia da

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qualidade defendidos pelo engenheiro japonês Taguchi (STUART, 1996). A filosofia de

Taguchi alegava que um produto deve ser robusto em relação a todos os fatores perturbadores.

Para tal, este deve ser projetado de modo a apresentar um desempenho funcional satisfatório

com o mínimo de variabilidade.

Na literatura encontra-se uma série de ferramentas que são utilizadas durante o

desenvolvimento de experimentos planejados. A Tabela 1 resume as principais técnicas

utilizadas.

Tabela 1 - Descrição das principais técnicas de planejamento e análise de experimentos

Ferramenta Características Bibliografia

Planejamento

fatorial

Utilizada quando todas as combinações dos níveis dos fatores de

controle são realizadas.

Montgomery (1991),

Devor et al. (1992),

Chew (1957)

Planejamento

fatorial 2 k Técnica com dois níveis e 2 k número de combinações de k fatores.

Planejamento

fatorial

fracionado 2 k-p

Utilizado quando há vários fatores de controle e não é viável

economicamente para as empresas realizar todas as combinações

dos experimentos.

Metodologia de

superfície de

resposta

Response surface methodology (MSR) é um conjunto de técnicas

de planejamento e análise de experimentos usada na modelagem

matemática de respostas. Ou seja, procura-se identificar o

relacionamento que existe entre os parâmetros, representados por

variáveis quantitativas, como tempo, velocidade, pressão,

temperatura, etc., e as respostas do sistema analisado.

Hill & Hunter (1996),

Myers & Montgomery

(1995)

Planejamento

fatorial 2k com

pontos centrais

Esse método consiste em adicionar um ponto de experimentação

no nível intermediário aos níveis investigados para os k fatores de

controle.

Análise de

variância

Analysis of variance (ANOVA), é uma ferramenta que permite

estudar se há diferenças significativas entre as respostas

experimentais.

Montgomery (1991),

Devor et al. (1992)

Gráficos

Os gráficos de efeitos principais ilustram a variação média das

respostas em função da mudança no nível de um fator, mantendo

os outros fatores constantes.

Os gráficos de efeitos de interação descrevem a variação média de

um fator em função dos níveis de outros fatores.

O gráfico de probabilidade normal é utilizado nas situações em

que não é possível repetir um experimento e é importante obter

uma estimativa independente do erro experimental para julgar a

importância dos efeitos principais de interação.

Fonte: Galdamez e Carpinetti (2004)

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23

Para garantir o uso eficiente dos métodos estatísticos na análise de experimentos, a

equipe envolvida deve ter um conhecimento detalhado acerca do estudo. Para tal,

Montgomery (1991) lista uma sequência de procedimentos que devem ser seguidos a partir da

coleta dos dados:

Reconhecimento e afirmação do problema proposto;

Seleção da(s) variável(s) de resposta;

Escolha do projeto experimental;

Realização do Experimento;

Análise dos dados;

Conclusões e recomendações.

2.2 CONTROLE ESTATÍSTICO DE PROCESSOS

Montgomery (2001) associa o CEP como sendo uma das áreas abordadas pelo

Controle Estatístico e Melhoria de Qualidade (CEQ), sendo este último trazido pelo autor

como uma parte da estatística industrial que inclui, além do CEP, as áreas de inspeção por

amostragem, planejamento de experimentos e análise de capacidade.

O termo “qualidade” apresenta diversos conceitos associados a diferentes abordagens.

Em geral, a qualidade deve estar associada a requisitos mínimos exigidos para a aceitação do

item analisado. Entretanto, para o uso correto do termo em diferentes situações, é importante

distinguir qualidade de projeto de qualidade de conformação. A primeira está associada às

características ofertadas pelo produto ou serviço e é determinada na fase do projeto. Já a

segunda baseia-se na capacidade deste produto ou serviço atender as especificações

estabelecidas em seu projeto.

O CEP foca no controle e manutenção da qualidade de conformação. Para tal, segue a

linha de pensamento que associa esse conceito à análise da variabilidade de processos. Em

meio a esse contexto, qualidade e variabilidade são tratadas como inversamente

proporcionais. Confirmando essa afirmação, Montgomery (2001) define a melhoria da

qualidade como sendo produto da redução da variabilidade em produtos e processos.

Rungtusanatham et al. (1997) definem o CEP como sendo um conjunto de técnicas,

estatísticas e cognitivas, para a resolução de problemas, cuja implementação eficaz traduz-se

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em efeitos positivos na melhoria da qualidade dos processos de fabricação ou prestação de

serviços. Montgomery (2009) complementa o conceito dos autores, afirmando que o CEP se

trata de um conjunto de ferramentas responsáveis por garantir a estabilidade dos processos,

por meio da redução da variabilidade, culminando com a melhoria de sua capacidade. Neste

contexto, os autores Woodall e Montgomery (2014) ressaltam a importância do processo de

monitoramento para avaliar o estado atual de um processo e entender sua variação.

Detalhando os conceitos expostos pelos autores citados, pode-se afirmar que o CEP

parte da premissa que a qualidade de todo e qualquer bem produzido ou serviço prestado está

intimamente relacionada à estabilidade de seus processos. Partindo dessa alegação, atividades

voltadas para a melhoria da qualidade de produtos/serviços e processos devem estar

associadas à redução da variabilidade existente nos processos, oriundas de causa especiais –

fatores que alteram significativamente os parâmetros (média e dispersão) associados às

distribuições de probabilidade das características críticas, as quais definem a qualidade do

bem e/ou serviço produzido e/ou prestado. Em síntese, o objeto de interesse do CEP é o

processo e sua principal finalidade é manter os processos-chave dentro dos seus limites de

variações naturais (HARIDY et al., 2011).

2.2.1 Evolução histórica do CEP

Os primeiros pensamentos acerca do CEP iniciaram-se por volta de 1920, dentro dos

laboratórios da companhia Bell Telephone, nos Estados Unidos, por meio dos estudos do

estatístico Walter A. Shewhart, o qual foi responsável pelo desenvolvimento de um sistema de

controle estatístico de qualidade em processos industriais, permitindo, de forma simplista, que

os trabalhadores monitorassem os efeitos da variabilidade inerentes aos processos (STUART

et al., 1996; ALMAS, 2003; GOMES, 2004). Em 1924, Shewhart projetou o primeiro gráfico

de controle (STUART et al., 1996).

Ainda em meados da década de 20 do século passado, Harold Dodge desenvolveu os

planos de aceitação por amostragem, técnica empregada para a avaliação dos produtos

acabados em detrimento ao uso da inspeção a 100%, ocasionando uma economia de tempo e

recursos para os avaliadores. O foco nos produtos já manufaturados traziam a essas ideias um

comportamento reativo. Transcendendo às ideias de Dodge, Shewhart, transferiu o cerne

destas análises ao processo, proporcionando ao gráfico de controle um comportamento

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proativo, visto que permite a detecção de falhas durante o processo produtivo, antes da

elaboração do produto final (STUART et al., 1996).

A aplicação do CEP em processos industriais ganhou destaque significativo na

segunda guerra mundial, devido ao resultado satisfatório do uso de seus princípios nos

processos de fabricação dos materiais de guerra (GOMES, 2004). Após este período, as ideias

sobre o controle da qualidade de processos, inicialmente desenvolvidas por Shewhart, foram

difundidas pelo estatístico William Edwards Deming - especialmente a respeito da

importância do pensamento estatístico na resolução dos problemas de fabricação (STUART et

al., 1996).

Por meio de seus trabalhos, Deming teve grande influência no pensamento japonês

sobre sistemas de qualidade. Contudo, seu conceito a respeito da qualidade ainda era bastante

limitado, pois era associado apenas à conformidade com as especificações técnicas (GOMES,

2004). Este conceito recebeu as contribuições do engenheiro e consultor de negócios Joseph

Moses Juran, que complementou a sua definição com uma perspectiva voltada para o cliente

(GOMES, 2004).

A implementação de novas ideias como o controle de qualidade total; just-in-time de

fabricação; controle de qualidade off-line; entre outras, fez com que o Japão se tornasse uma

importante força econômica por volta dos anos 70 do século passado, fato que impulsionou a

indústria ocidental, alguns anos depois, a reimportar do Japão as ideias do pensamento

estatístico e da gestão da qualidade (STUART et al., 1996). Outra abordagem que vem

trazendo grandes influências, desde essa década até os dias atuais, sobre a prática do CEP, é a

experimentação industrial, difundida pelo estatístico Genichi Taguchi (STUART et al., 1996).

Este último acrescentou que o controle de qualidade deve iniciar na criação do produto – fase

de projeto.

Ao longo do século XX, até meados da década de 70, observam-se poucas publicações

científicas nesta área. Embora este período tenha sido marcado por grandes avanços nesse

tema, foram desenvolvidos por poucos pesquisadores e em locais demasiadamente restritos.

As pesquisas científicas cresceram extraordinariamente dos anos 80 em diante1. Pierozan

(2001) atribuiu a esse “boom” literário, a revolução da qualidade ocasionada pelo comércio

internacional.

1 Dados extraídos de consultas à base de pesquisa Google Acadêmico, acessada em 17 de Junho de 2015.

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Apesar de sua origem nos Estados Unidos e crescimento nas indústrias japonesas,

Rungtusanathan (2001) alegou em seu trabalho que o CEP já havia sido implementado em

diversas empresas ao redor do mundo. Hodienarmente, os Estados Unidos se destacam como

o responsável pelo maior número de pesquisas existentes nesta área, estando o Brasil entre os

dez países que mais publicam este tema desde a década de 80 do século anterior.2.

O CEP vem atuando em diversas áreas: engenharia, ciência da saúde, ciências sociais,

ciências agrárias, economia, astronomia, entre outras. Contudo, o campo da engenharia ainda

é a área mais utilizada para pesquisas científicas voltadas para a implementação do CEP².

2.2.2 Caracterização do CEP

Para Woodall e Montgomery (2014), o controle estatístico de processos pode ser

representado por três características principais:

Recolhimento dos dados em uma escala temporal;

Rápida detecção de mudanças ocasionadas no processo por causas especiais, em geral

representadas por mudanças nos parâmetros das distribuições de probabilidade das

características de interesse do processo;

Medição de desempenho do controle representado pela taxa de alarmes falsos ou

outras métricas.

A taxa de alarmes falsos mencionada pelos autores representa o percentual de vezes,

durante o monitoramento do processo, em que são detectados sinais equivocados de que o

processo está fora de controle estatístico. A reincidência de alarmes falsos diminui a

credibilidade do sistema de monitoramento, fazendo com que os usuários passem a ignorar os

próximos sinais. Logo, o processo de monitoramento deve ser desenvolvido por métodos de

controle que gerem o mínimo possível de alarmes falsos (ALENCAR et al., 2004;

WOODALL; MONTGOMERY, 2014).

De acordo com Woodall e Montgomery (2014), o processo de implementação do CEP

ocorre em duas fases distintas. Em um primeiro momento, deve ser realizado um estudo

detalhado do processo a fim de determinar as características de interesse e a ferramenta

2Dados extraídos de consultas à base de pesquisa Scopus Database, por meio do portal <capes.ufrn.br>, acessada

em 17 de Junho de 2015.

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apropriada para o monitoramento. A seguir, deve-se analisar a estabilidade do processo, de

modo a garantir que este esteja isento de causas especiais para, por fim, determinar os

parâmetros de controle. Na segunda fase é realizado o monitoramento, propriamente dito, por

meio de uma coleta sistemática dos dados para a análise das características críticas e posterior

comparação com os parâmetros pré-estabelecidos.

Alguns relatos foram encontrados na literatura a respeito de falhas nas aplicações do

CEP. Lightburn e Dale (1992) chegaram a afirmar que os casos existentes não atribuíam as

causas à metodologia do CEP, e sim a ineficácia no processo de implementação. Alguns anos

antes, Bushe (1988) solicitou que este processo de implementação fosse tratado, por parte dos

gestores, como uma questão não só tecnológica, mas de cunho social. Neste contexto, vale

ressaltar o trabalho de Rungtusanatham (2001) que, com base nos casos que foram analisados

em suas pesquisas, atesta que o CEP ao ser implementado e praticado de forma adequada

dentro dos ambientes de produção, atua como fator motivacional para os operadores de

processo, tornando-os mais satisfeitos com seu trabalho.

Antony e Taner (2003) elucidam alguns dos problemas associados a um processo de

implementação ineficaz. São estes: falha na interpretação dos padrões dos gráficos de

controle; falta de conhecimento a respeito de produtos e processos, podendo levar a ações

corretivas ineficazes, e ausência de foco nos recursos gastos na coleta dos dados e na análise

das cartas de controle.

Costa et al. (2004), seguindo a mesma linha de raciocínio dos autores citados

anteriormente, atrelaram as falhas no uso do CEP como ferramenta de monitoramento, ao seu

uso indiscriminado por operadores do “chão de fábrica” que, na maioria das vezes, não

possuem um conhecimento estatístico adequado, ideal para entender o funcionamento do

gráfico. Além disso, o autor também aponta para a necessidade de um conhecimento

detalhado acerca do processo, para que seja realizada uma intervenção adequada, quando

necessária.

2.2.3 Gráficos de controle

As cartas ou gráficos de controle são as principais ferramentas do CEP, os quais atuam

de modo a monitorar a variabilidade e a média dos processos, contribuindo para que

permaneçam sob controle estatístico (PIEROZAN, 2001). A carta de controle categoriza o

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processo em análise sob a ótica da estatística por meio dos parâmetros de média e dispersão,

partindo da premissa que o processo deve estar isento de causas especiais para traduzi-lo de

forma fidedigna com a realidade (ALENCAR, 2004).

Quanto maior o grau de precisão dos gráficos de controle, maior a velocidade de

detecção de falhas e de intervenção no processo. Os sinais de desvios emitidos pelos gráficos

podem levar a diferentes ações, dependendo do campo de aplicação (WOODALL;

MONTGOMERY, 2014). Inclusive, muitas empresas desenvolvem planos de ação, os quais

direcionam os operadores às ações que devem ser tomadas (WOODALL; MONTGOMERY,

2014).

Maccarthy e Wasusri (2002) citam uma série de aplicações associadas aos gráficos de

controle que transcendem o propósito convencional de monitoramento e controle de

processos, são estes: planejamento - planos e/ou cronogramas podem ser gerados como

produto da aplicação de gráficos de controle e ser utilizados para o agendamento de atividades

de manutenção; avaliação do grau de satisfação do cliente e otimização de modelos de

previsão, que ocorrem, em geral, por meio de aplicativos e vários tipos de software

estatísticos.

2.2.3.1 Carta de controle de Shewhart

O gráfico de controle desenvolvido por Shewhart foi uma importante contribuição

para o controle e a melhoria da qualidade de processos industriais e tem sido amplamente

utilizado, desde a época de sua criação até os dias atuais. Shewhart partiu de uma ideia

surpreendentemente simples, que alegava que se um processo de fabricação for acompanhado

regularmente pode-se prever como este processo deve se comportar e perceber quando isto

não ocorrer (STUART et al., 1996). Como forma de pôr em prática sua ideação, Shewhart

desenvolveu o gráfico de controle.

A operacionalização dos gráficos de controle envolve a medição de um parâmetro-

chave de qualidade, o qual é observado em vários itens de cada vez compondo subgrupos que

são avaliados em intervalos regulares de tempo. O valor médio de cada subgrupo é plotado

em um gráfico de linhas limitado por dois limites de controle (limite superior e inferior), os

quais foram determinados pela avaliação detalhada do processo sob condições estáveis. Cada

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um dos limites é calculado por meio de equações matemáticas, desenvolvidas com

fundamento na teoria estatística (BORGES, 2009).

Shewhart definiu estes limites como sendo espaçados a um nível de três desvios-

padrão a partir de uma linha central. Logo, a sinalização de desvios a partir da análise das

características de um único subgrupo equivale a um teste de significância estatística, com um

nível de significância de 0,0027 (STUART et al., 1996).

Em testes de significância estatística é comum a utilização de um nível de

significância de 5%. Stuart et al. (1996) atestam que caso esse nível de 5% fosse utilizado

para estimar os parâmetros do gráfico de controle, gerariam limites espaçados a

aproximadamente 2 desvios-padrão do valor-alvo, fato que culminaria com um número

demasiadamente alto de alarmes falsos. Face ao que foi exposto, alguns autores classificam

esses últimos como limites de advertência e os de Shewhart como limites de ação (STUART,

1996). A Figura 2 representa um exemplo de gráfico de controle de Shewhart, gerado com

base em dados fictícios pelo software estatístico R.

Figura 2 - Modelo de gráfico de controle de Shewhart

Fonte: Figura gerada pelo software R (2015)

Os limites de controle tomam por base distribuições de probabilidade pertinentes

(STUART et al., 1996). Em situações de estabilidade, normalmente as distribuições de

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probabilidade das características de interesse tomam a forma da distribuição normal

(STAPENHURST, 2005). Os valores médios de cada subgrupo tendem a oscilar em torno de

uma medida central, estabelecida como sendo a média do processo (valor-alvo). As causas

dessas oscilações - variações ínfimas no processo - foram classificadas por Shewhart como

causas comuns – devido a fenômenos aleatórios, os quais não podem ser evitados. Com base

nesse contexto, é importante ressaltar que os parâmetros – média (μ) e desvio padrão (σ) - que

categorizam o processo do ponto de vista estatístico, são estimados na realidade pela média

amostral do processo e pelo desvio padrão amostral (COSTA, 2004).

Shewhart também observou que em algumas situações a média dos valores coletados

em cada subgrupo ultrapassavam os limites de controle do gráfico, representando um estado

em que o processo está “fora de controle”, provavelmente devido à exposição de causas

especiais, que de acordo com o autor poderiam ter sido evitadas por um sistema eficaz de

gestão de qualidade.

Ao analisar o gráfico da Figura 1 nota-se a presença de alguns pontos que transcendem

os limites de controle, os quais, como dito anteriormente, sinalizam momentos de

instabilidade no processo devido à provável presença de causas não aleatórias (especiais).

Essa situação de instabilidade é caracterizada por alterações nos parâmetros das distribuições

de probabilidade das características de interesse. Stapenhurst (2005) alega que essas

distribuições podem variar de três maneiras distintas: na média, na forma e na dispersão. A

Figura 3 ilustra as três possibilidades listadas pelo autor.

Figura 3 - Formas de variação na distribuição de probabilidade devido a uma causa especial

Fonte: Adaptado Stapenhurst (2005)

Stuart et al. (1996) alegaram que um dos principais benefícios advindos das

informações emitas pelos gráficos de controle de Shewhart estavam na economia de tempo e

recursos com investigação de causas de desvios no processo, quando este se encontrar sob

controle estatístico, visto que estes não passam de desvios fortuitos inevitáveis. Por outro

lado, estes autores afirmam que deve ser utilizado um método racional eficaz para uma rápida

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detecção e posterior correção dos desvios que geram instabilidade ao processo. Estas causas

especiais (ou assinaláveis) são sinalizadas por um comportamento irregular da variabilidade

(BORGES, 2009). Tal comportamento deve ser eliminado por meio de medidas corretivas a

curto prazo, e ao processo devem ser instituídas medidas preventivas visando a não

reincidência desta irregularidade. Borges (2009) ainda acrescenta que as cartas de controle de

Shewhart são uma importante e poderosa ferramenta para a gestão e o monitoramento do

processo produtivo.

Segundo Borges (2009), o fenômeno da variabilidade pode ser traduzido, sob o ponto

de vista estatístico, em algumas assertivas, as quais resumem o que foi explanado até o

momento. A primeira afirmação trazida pelo autor assegura que a variabilidade está presente a

todo momento. Em meio a isso, é preferível que tal variação tenha caráter aleatório, originada

de várias fontes de pequena intensidade, a qual traz como característica a estabilidade e,

consequentemente, a previsibilidade do processo. Dentro desse contexto, o autor afirma que a

redução deste tipo de variabilidade estaria atrelada a mudanças em todo o processo produtivo.

A segunda assertiva trazida por Borges (2009) expressa que a variabilidade que não possui

caráter aleatório surge de pequenas fontes de grande intensidade, sendo responsável pela

instabilidade e, consequentemente, a imprevisibilidade do processo.

As cartas de controle podem ser classificadas em dois grupos, os quais diferem de

acordo com a forma de avaliação das características de interesse do processo. Caso a

caraterística seja avaliada numa escala pontual, geralmente caracterizada pela presença ou não

de itens defeituosos, fala-se em gráficos de controle por atributos. Já em situações em que as

características sejam mensuradas em uma escala contínua – medidas de altura, comprimento,

volume, entre outros, tem-se um grupo que engloba os gráficos de controle para variáveis.

Cada grupo mencionado apresenta uma gama de modelos de gráficos, que são utilizados em

situações específicas. Detalhes acerca das especificidades de cada gráfico e o modo de

operacionalização podem ser observados em Costa et al. (2004).

A seleção dos parâmetros que serão monitorados costuma ser uma das etapas mais

difíceis na implementação dos gráficos de controle. É importante que a determinação destes

parâmetros estejam associadas à análise dos custos envolvidos, tanto durante o método de

escolha, como nas falhas associadas às características selecionadas. Com base nisso, Tan-

Intara-Art e Rojanarowan (2013) propõem um método para priorizar e selecionar os

parâmetros do produto final para o controle. A priorização é baseada no custo de qualidade e

criticidade técnica desses parâmetros.

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2.2.3.2 Abordagens mais recentes

As críticas existentes na literatura acerca dos gráficos de controle de Shewhart estão

relacionadas à insensibilidade destes gráficos na detecção de pequenos desvios no processo

(STUART, 1996), na ordem de 1,5 desvios-padrão. Complementando o que foi dito pelos

autores, em trabalhos mais recentes, Walter et al. (2013) alegam que o grande fator

impulsionador do uso abrangente dos gráficos de controle foi a simplicidade do seu método

de operacionalização, cuja tomada de decisão se baseia apenas no último ponto observado,

entretanto, em algumas situações, seu método se torna também sua principal desvantagem,

visto que ignora qualquer informação disponibilizada pela sequência anterior dos pontos

(WALTER et al., 2013).

Traduzindo para a linguagem atual do CEP, Irianto e Juliani (2010) afirmam que o

projeto do gráfico de controle de Shewhart é determinado de modo a evitar o risco do

produtor (probabilidade de um lote bom ser rejeitado, devido à ocorrência de alarmes falsos).

Ainda conforme os autores, a incapacidade de detecção de pequenos desvios – usualmente

encontrados nos processos de fabricação atuais mais precisos - podem impulsionar o risco do

consumidor (probabilidade de lotes de produtos não conformes serem considerados de boa

qualidade), gerando um aumento no grau de insatisfação dos clientes.

Como forma de reverter essa situação foram desenvolvidos os gráficos de controle de

somas acumuladas (CUSUM) e média móvel ponderada (EWMA), cuja metodologia de

análise leva em consideração as informações acumuladas das amostras anteriores,

aumentando o grau de precisão da detecção de desvios no processo, bem como do momento

exato em que ocorreram as mudanças (WALTER et al., 2013). Contudo, existe uma razoável

resistência ao uso destes gráficos por serem mais difíceis de operacionalizar e interpretar,

quando comparados às tradicionais cartas de controle de Shewhart.

Conquanto, nenhum dos gráficos mencionados apresentarão um desempenho ideal

para toda e qualquer situação. Uma solução possível, trazida pelos autores Walter et al.

(2013), consistem na combinação de múltiplos gráficos para ampliar a abrangência das

mudanças que são detectadas. Partindo dessa ideação, esse autores aplicaram um modelo que

combinava os gráficos de Shewhart e CUSUM em um setor metal mecânico e analisaram as

vantagens dessa combinação.

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A fim de ampliar a capacidade dos gráficos de controle, outras alternativas foram

propostas na literatura. Com essa finalidade, os autores Irianto e Juliani (2010) aprofundaram

os estudos acerca de gráficos de amostragem dupla. Estes gráficos tomam por base as ideias

de tamanhos de amostra e intervalos de amostragem variáveis, de modo autilizá-las de

maneira combinada no monitoramento e na avaliação dos processos.

2.3 CAPACIDADE DO PROCESSO

Avaliar a capacidade ou capabilidade dos processos consiste em estudar a eficiência de

um dado processo produzir itens com base nas especificações do projeto. Tais requisitos

podem ser estabelecidos com base nas exigências dos clientes, nos riscos de multas e/ou nas

condições ideais para garantir a qualidade do produto durante o manuseio e transporte

(PIEROZAN, 2001; COSTA, EPPRECHT, CARPINETTI, 2009).

A medida de capacidade depende das próprias especificações determinadas no projeto

e da variabilidade natural inerente ao processo, por sua vez, para o seu cálculo é essencial o

conhecimento da distribuição da variável de interesse, bem como a média e a dispersão dos

valores individuais (PIEROZAN, 2001; COSTA, EPPRECHT, CARPINETTI, 2009). Neste

contexto, vale salientar que a comparação entre limites de especificação com limites de

controle, comumente observado na prática, trata-se de uma atitude bastante equivocada

(COSTA, EPPRECHT, CARPINETTI, 2009).

Pierozan (2001) afirma que para realizar esta análise o processo deve estar em estado

de controle estatístico. Para tal, o processo deve estar isento de perturbações oriundas de

causas especiais e a distribuição da característica de interesse deve se aproximar da

distribuição normal. Autores mais recentes como Woodall e Motgomery (2014) e Soni e

Somkunwar (2016) ratificam esta afirmação ao mencionarem que a garantia da estabilidade

deve preceder qualquer estudo de capacidade do processo. Ainda nessa perspectiva, Costa,

Epprecht e Carpinetti (2009) acrescentam que, caso o processo esteja sob controle, o ideal

seria que toda a distribuição da variável investigada estivesse entre os limites de

especificação.

Como forma de quantificar a capacidade do processo, a literatura traz algumas

medidas adimensionais intituladas por índices de capacidade, sendo os mais usuais: Cp, Cpk e

Cpm. De modo geral, quanto maior o valor do índice, maior será a capacidade de um dado

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processo de gerar valores da característica analisada, dentro das especificações. Costa,

Epprecht e Carpinetti (2009) elucidam que os Cp e Cpm só podem ser utilizados em

processos de especificação bilateral3. Quanto ao Cp, este ainda necessita estar centrado no

valor médio. Outra desvantagem do uso do Cpm trazida pelos autores trata-se do fato deste

índice ser mais sensível à ausência de centralidade do que ao número gerado de não

conformidades. Na sequencia, estão descritas as fórmulas utilizadas para estimar esses

índices.

Sendo LES e LIE os limites de especificação, superior e inferior; μ e σ, a média e o desvio

padrão do processo; e d, o valor alvo.

Como já foi abordado, não existe uma relação direta entre estabilidade e capacidade.

Contudo, a presença de uma causa especial implica na redução da capacidade do processo.

Desse modo, uma maior capacidade, se comporta como uma margem de segurança para o

surgimento de causas especiais, reduzindo a necessidade de intervenções no processo e,

consequente, o custo associado a estas intervenções (COSTA, EPPRECHT, CARPINETTI,

2009).

A análise de capacidade é uma técnica bastante utilizada em vários tipos de processos,

em especial, em operações industriais. Sua aplicação geralmente está associada ao emprego

do controle estatístico de processos, podendo ser observada em vários estudos de caso (DÍAZ

et al., 2009; ZENG et al., 2013; SONI e SOMKUNWAR, 2016) encontrados em publicações

científicas.

3 Quando uma característica de qualidade apresenta os dois limites de especificação (inferior e superior), diz-se

que esta apresenta especificação bilateral; caso a característica citada apresente apenas um dos dois limites, a

especificação será unilateral (COSTA, EPPRECHT, CARPINETTI, 2009).

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35

2.4 USO INTEGRADO DE DOE E CEP

No tocante à melhoria da qualidade em processos industriais, tem sido reconhecido a

importância do uso de métodos estatísticos, em especial, ferramentas como experimentos

planejados (DOE) e controle estatístico de processos (CEP) (LEITNAKER, 2005). Neste

contexto, embora enquadradas em um objetivo maior comum relacionado com o

aprimoramento da qualidade de produtos e/ou processos, estas ferramentas tem sido, na

maioria das vezes, aplicadas em operações industriais de forma separada.

Não obstante, essa temática vem ganhando mais força recentemente, posto que,

mesmo ainda prevalecendo na prática a aplicação separada destas abordagens, já constam na

literatura vários registros do seu uso integrado em estudos de casos diversos; salientando que

em algumas situações, essa combinação se deu também com outras ferramentas de melhoria

de qualidade. Como exemplos4, tem-se os estudos de Pierozan (2001); Cherfi, Béchard e

Boudaoud (2002); Nembhard e Valverde-Ventura (2003); Leitnaker e Cooper (2005); Thomas

e Barton (2006); Díaz et al. (2009); Thomas, Barton e Chuke-Okafor (2009); Behmanesh e

Rahimi, 2012; Zeng et at. (2013); Godoy (2014); Soni e Somkunwar (2016).

Devido ao enfoque dado a esta pesquisa, a maioria dos casos citados foram aplicados

em engenharia industrial. Entretanto, essa abordagem pode ser utilizada em várias áreas do

conhecimento científico. Um exemplo disso pode ser observado no estudo de Mandal (2015),

o qual fez uso combinado de gráficos de controle, projetos de experimentos, algoritmos de

aprendizagem de máquina e processo de avaliação “multimethod” com vistas a aumentar a

confiabilidade de um software usado para diagnóstico de transtornos na coluna - usando o

sistema de diagnóstico médico - e reforçar a viabilidade do tratamento preciso.

2.4.1 Evolução dos conceitos acerca deste tema

Montgomery (1992) já havia elucidado em sua publicação, a importância do uso

combinado de ferramentas on-line e off-line de melhoria da qualidade. O autor ainda propõe

um modelo conceitual que engloba as abordagens de controle estatístico de processos e

controle de processos de engenharia visto que, de acordo com o autor, apesar de ambas

objetivarem a redução da variabilidade, eram tratadas na realidade de forma isolada.

4Para mais detalhes acerca destes estudos, consultar a Tabela 3 na seção 3.2.1.

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36

Corroborando com os pensamentos de Montgomery (1992), Goh (2000) afirma que a

eficácia destas ferramentas aumenta quando utilizadas de forma integrada. Expandindo os

estudos acerca deste tema, o autor propõe três quadros os quais considera como norteadores

para o alcance da excelência da qualidade. Dentre estes quadros é apresentada uma

abordagem para uso combinado de várias ferramentas da engenharia estatística, contudo, não

foi apresentada uma metodologia com as etapas para esta integração.

He, Qi, Liu (2002) foram mais além em seus estudos nessa temática ao proporem um

modelo conceitual que roteirizava o uso das ferramentas QFD, FMEA, DOE e CEP, desde a

elaboração do projeto até a manufatura do produto, como forma de planejar, projetar e

controlar todo o processo de criação de qualidade, reduzir sistematicamente os gargalos de

qualidade e, por fim, alcançar a melhoria contínua da qualidade de produto/processo.

Neste estudo, as atividades de melhoria contínua são separadas em projeto e

fabricação, avaliados que os tipos de variáveis e a forma como deveriam ser monitoradas no

controle on-line de qualidade, podem ser identificadas por meio de um planejamento de

qualidade off-line. Os autores ainda destacam a importância para a eficácia desta integração,

do uso de bancos de dados compartilhados para todas as ferramentas de qualidade envolvidas,

os quais também seriam alimentados pelos requisitos dos clientes (VOC – Voz do Cliente) e

dados de concorrentes (benchmarking).

Ainda conforme o trabalho de He, Qi, Liu (2002), do ponto de vista estatístico, a

função do CEP seria controlar a variação dos processos, enquanto o DOE busca reduzir esta

variação, de modo a otimizar o produto/processo. Logo, o CEP detecta os gargalos e o DOE

ajuda a eliminá-los, todavia, o DOE também pode ser utilizado para identificar as

características de qualidade que devem ser controladas pelo CEP. Segundo estas afirmativas,

nota-se uma ideia, trazida pelos autores, de comportamento cíclico do uso combinado destas

duas ferramentas, sendo as variáveis de saída de uma, entradas no processo da outra (Figura

4).

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37

Figura 4 - Comportamento cíclico do uso combinado das ferramentas CEP e DOE

Fonte: Autora (2016)

De acordo com esse pensamento, o uso conjunto destas ferramentas não adotaria uma

etapa inicial padrão. Na própria literatura já existem registros em que a integração tanto se

inicia pela aplicação do CEP, como pelo DOE:

CEP DOE: Leitnaker e Cooper (2005); Díaz et al. (2009); Behmanesh e Rahimi

(2012); Zeng et at. (2013);

DOE CEP: Pierozan (2001); Cherfi, Béchard e Boudaoud (2002); Nembhard e

Valverde-Ventura (2003); Leitnaker e Cooper (2005); Thomas e Barton (2006);

Thomas, Barton e Chuke-Okafor (2009); Godoy (2014); Mandal (2015); Soni e

Somkunwar (2016);

Um problema acerca dessa ideação parte do pressuposto defendido por alguns autores,

o qual afirma que experimentos planejados só podem ser praticados se o processo estiver em

estado de controle estatístico. Bisgard (2008) se contrapõe a essa ideia e reafirma o

pensamento de He, Qi, Liu (2002), ao demonstrar em seu estudo que essa afirmação é

contraproducente ao argumento original de Ronald Fisher, o qual assegurou que o uso

adequado dos conceitos de aleatorização, blocagem e replicação durante a execução do

experimento, torna possível sua aplicação em processos que não estejam sob estado de

controle.

Leitnaker e Cooper (2005), em um trabalho apresentado a respeito da aplicação

integrada de CEP e DOE em quatro estudos de casos, trouxeram algumas contribuições

conceituais a este tema. Segundo os autores, o controle estatístico de processos deve ser

DOE

CEP

Variáveis de

Entrada

X1

X2

...

Xn

Variáveis de

Saída

Y1

Y2

...

Yn

Variáveis de

Entrada

Y1

Y2

...

Yn

Variáveis de

Saída

X1

X2

...

Xn

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38

empregado de forma proativa, atuando como um meio para entender as causas das variações

nos processos, ao invés do uso limitado de gráficos de controle para monitorar e manter o

processo atual. Para Leitnaker e Cooper, os engenheiros possuem consciência das principais

fontes de variação de seus processos. Partindo dessa ideia, os autores sugerem o uso de

diagramas de causa e efeito5 ou mapeamento de processos para a coleta destas informações.

Para os autores, quando isso não ocorre, ganhos adicionais ao processo são

impossibilitados, no entanto, no momento em que o CEP é usado de forma proativa, poderá

obter insights acerca do comportamento do processo, investigar os fatores essenciais e

conduzi-los à experimentação. Outra contribuição importante destacada nesse estudo foi que a

eficácia dos experimentos projetados está intimamente relacionada com um prévio estudo do

comportamento atual do processo, de modo que quanto mais completa for essa informação,

mais eficiente será o experimento.

Díaz et al. (2009) aplicaram esta abordagem combinando gráficos de controle, análise

capacidade, brainstorming6, diagrama de causa e efeito e projetos fatoriais em um estudo de

caso. Neste trabalho, os autores destacam a necessidade de uma fase preliminar que antecede

a experimentação, segundo a qual se fariam uso das técnicas diagrama de causa e efeito e

brainstorming, no processo de investigação dos principais fatores que afetam a variabilidade

do processo, de modo a servirem como variáveis de entrada para o DOE. Estes autores ainda

enumeraram uma sequência de etapas que devem roteirizar esta fase preliminar, são elas:

Apresentação do projeto e definição do problema;

Eleição de um coordenador geral para o projeto;

Atribuição de tarefas para cada membro da equipe;

Elaboração de um relatório individual;

Sessão de brainstorming para enumerar as causas responsáveis para o problema;

Desenvolvimento de um digrama de causa e efeito e posterior revisão do diagrama

desenvolvido;

Seleção das causas prioritárias;

No decorrer do tempo, outros autores sugeriram metodologias para integrar

ferramentas de melhoria de qualidade (PIEROZAN, 2001; NEMBHARD e VALVERDE-

VENTURA, 2003; THOMAS e BARTON, 2006; THOMAS, BARTON e CHUKE-

5 A literatura também faz uso de outras nomenclaturas para esta ferramenta como diagrama de ishikawa e

espinha de peixe. 6Técnica de dinâmica em grupo.

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39

OKAFOR, 2009; HARIDY, GOUDA e WU, 2011; GODOY, 2014). Entretanto, ainda são

limitados os números de publicações que contribuem com um roteiro de etapas estruturado e

sistematizado para esta integração.

Dentre os estudos citados, vale destacar o modelo proposto por Thomas e Barton

(2006), revisado e ampliado por Thomas, Barton e Chuke-Okafor (2009), devido ao enfoque

dado pelos autores a três tendências atuais: metodologia seis sigma (também abordada por

Godoy, 2014), abordagem lean e micro e pequenas empresas. Em seu estudo, os autores

propuseram uma metodologia para a integração de ferramentas de qualidade dentro do ciclo

DMAIC, no qual ferramentas como gráfico de pareto, brainstorming, diagrama de causa e

efeito, DOE e CEP, estão inclusas. De acordo com os autores, o modelo seria de baixo custo e

poderia atender as questões específicas de todos os tipos de MPEs. Contudo, esta metodologia

apresenta algumas falhas ao longo de sua trajetória, principalmente no que diz respeito à

aplicação do CEP, cujas etapas não foram postas de forma sequenciada.

Outra metodologia que merece destaque trata-se do estudo de Haridy, Gouda e Wu

(2011), uma vez que engloba técnicas e conceitos necessários a uma implementação mais

complexa de CEP e DOE, os quais tem sido uma tendência em estudos atuais mais

aprofundados dessas abordagens, como metodologia de superfície de resposta, gráficos de

controle multivariados, otimização multi-objetiva e correlação.

Balizado por alguns autores, pode-se ainda enumerar alguns conceitos chaves para que

a implementação CEP, quando utilizado tanto de forma isolada, como integrado com outras

ferramentas de qualidade, traga benefícios adicionais ao processo. São estes:

A aplicação do CEP para fins de controle do processo deve ser realizada em duas fases

distintas: a primeira é responsável pelo cálculo dos limites de controle, de modo que

deve ser executada em condições ideais que garantam ao processo um estado de

controle estatístico; e a segunda pelo efetivo monitoramento do processo7 (GODOY,

2014; SONI e SOMKUNWAR, 2016).

Esta aplicação deve estar atrelada a um estudo de capacidade do processo

(PIEROZAN, 2001; DÍAZ et al., 2009; ZENG et al., 2013; SONI e SOMKUNWAR,

2016).

7 Para a realização desta segunda fase, algumas informações são previamente exigidas, como: período entre

coletas, tamanho da amostra, colaboradores responsáveis pelo processo, forma de registro dos dados coletados,

entre outros.

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40

Ao longo deste estudo pode-se perceber que várias são as vantagens associadas ao uso

combinado de diversas ferramentas de qualidade, em especial CEP e DOE. Nesse contexto,

Haridy, Gouda e Wu (2011) tratam este processo de integração como um meio para melhorar

a estabilidade, o desempenho, a sensibilidade e a produtividade dos processos; aprimorar a

qualidade dos produtos; otimizar o tempo gasto nas atividades de projeto e fabricação, e

reduzir os custos. Dentre os benefícios citados, um fator relevante enfatizado por alguns

autores (THOMAS e BARTON, 2006; THOMAS, BARTON e CHUKE-OKAFOR, 2009;

DÍAZ et al., 2009; MANDAL, 2015) como produto de seus estudos de casos, trata-se da

redução dos custos, alvo de todas as organizações com fins lucrativos.

Em virtude da gama de ferramentas/técnicas de melhoria de qualidade elucidadas

pelos autores consultados durante esta pesquisa como forma de maximizar os resultados do

uso integrado de experimentos planejados e gráficos de controle, elaborou-se a Tabela 28 com

as mais citadas e seus os respectivos estudos.

Tabela 2 - Ferramentas/técnicas de melhoria de qualidade mais citadas e seus respectivos estudos

Bibliografia

Ferramentas e Técnicas

Diagrama

de causa e

efeito

Desdobramento

da função

qualidade -

QFD

Gráfico

de

Pareto

Análise do

Tipo e Efeito

de Falha -

FEMEA

Brainstorming Análise de

capacidade

Seis

sigma

Díaz et al., 2009 X X X

Godoy, 2014 X X X X

Goh, 2000 X X

He, Qi, e Liu, 2002 X X

Leitnaker e

Cooper, 2005 X

Pierozan, 2001 X X X X

Thomas e Barton,

2006 X X X X

Thomas, Barton e

Chuke-Okafor,

2009 X X X X

Soni e Somkunwar,

2016 X X X

Zeng et at., 2013 X X X

Fonte: Autora (2016)

8Este quadro foi elaborado com base nos estudos selecionados para a montagem do modelo conceitual desta

pesquisa, os quais podem ser encontrados na Tabela 3, seção 3.2.1 deste trabalho.

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41

2.5 MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

As Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, intituladas por Micro e Pequenas

Empresas (MPE), representam um papel significativo na economia de muitos países, sendo

responsáveis por uma parcela considerável da mão de obra empregada nos setores industrial,

comercial e de serviços, além de uma porção relevante do produto interno bruto (PIB) destes

países.

No Brasil, as MPE representam um papel socioeconômico de notória importância, o

qual só tem aumentado ao longo dos últimos 30 anos. Recentemente, compõem um universo

de cerca de nove milhões9 de empresas, cuja categorização baseia-se normalmente em dois

critérios: número de pessoas ocupadas10 e valor da receita/faturamento11, sendo este último

utilizado para fins fiscais (SEBRAE12, 2014b).

Em 2014, o SEBRAE publicou um estudo realizado no período de 2001 a 2011, cujos

resultados neste último ano apontaram para uma participação dos pequenos negócios de 27%

no PIB (Produto Interno Bruto Brasileiro); 44% dos empregos formais em serviços, e

aproximadamente 70% dos empregos gerados no comércio (SEBRAE, 2014b).

Com relação à atividade empreendedora (fator impulsionador para o surgimento de

boa parte das MPE), o Brasil apresentou uma Taxa Total de Empreendedorismo (TTE) de

39,3% em 2015, ainda maior que a TTE de 2014 de 34,4% (GEM13, 2015) que, de acordo

com Luiz Barreto (presidente do SEBRAE), havia colocado o país em primeiro lugar no

ranking dos países que compõem o BRICS14, em termos de maior taxa de empreendedorismo

(SEBRAE, 2015). A Figura 5 retrata a evolução das taxas de empreendedorismo no Brasil, de

2002 a 2015, segundo o estágio do empreendimento.

9Dados referentes ao ano de 2014. 10Neste quesito, classificam-se como microempresas aquelas nas atividades de serviços e comércio com até 9

pessoas ocupadas, e como pequena empresa as que tinham entre 10 e 49 pessoas ocupadas; na atividade

industrial, são microempresas aquelas com até 19 pessoas ocupadas, e pequenas empresas entre 20 e 99 pessoas

ocupadas (SEBRAE, 2014b). 11“Os valores-limite de faturamento anual para efeito de enquadramento das empresas como micro ou pequenas,

originalmente estabelecidos pela Lei Geral das MPE, foram elevados a partir de 1º de janeiro de 2012, passando

a ser de R$ 360 mil para microempresas e de R$ 3,6 milhões para as pequenas” (SEBRAE, 2014a). 12Serviço Brasileiro de apoio às Micro e Pequenas Empresas. 13Global Entrepreneurship Monitor. 14 O grupo BRICS é composto pelos seguintes países: Brasil, Rússia, Índia, China e África do sul.

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42

Figura 5- Evolução das taxas de empreendedorismo no Brasil segundo o estágio do empreendimento

Fonte: GEM Brasil (2015)

As mudanças que vem ocorrendo nas últimas décadas no contexto das políticas em

favor dos pequenos negócios tem atuado como um dos fatores responsáveis por esse

desempenho favorável crescente na conjuntura econômica brasileira. Em meio a este contexto

é importante ressaltar a criação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas15 em 2006, a

implantação do Microempreendedor Individual (MEI) em 2009, e a ampliação dos limites de

faturamento do Simples Nacional em 2012 (SEBRAE, 2013).

Os dados expostos apontam a importância que as MPE, inclusive os

microempreendedores individuais, representam para a economia. Contudo, a taxa de

mortalidade destas empresas ainda é alta. De acordo com uma pesquisa publicada pelo

SEBRAE (2013), em média 25% das MPE brasileiras constituídas nos anos de 2005, 2006 e

2007 com até dois anos de atividade, não conseguiram sobreviver. Ainda conforme a mesma

publicação pôde-se notar que esta mesma conjuntura afeta o cenário internacional, cujas taxas

de mortalidade calculadas para 15 países variaram de 22 a 50% (ANEXO A).

Face à situação abordada, Ferreira et al. (2012) enumeram alguns fatores de natureza

estratégica e organizacional, considerados pelos autores como principais condicionantes na

mortalidade precoce das MPE. São estes: ausência de planejamento ou plano de negócios;

falta de inovação, design ou desempenho dos produtos e serviços; dificuldade em conquistar e

manter clientes; nível elevado de concorrência; baixo nível de escolaridade do empreendedor;

e competência gerencial diminuta.

Dentre os fatores abordados, a deficiência na capacidade de inovação, tanto radical

quanto incremental, acentua a desvantagem destas empresas, sobretudo de cunho industrial,

em meio ao mercado atual caracterizado pela intensa competitividade e alta velocidade de

15Lei complementar nº 123de 14 de dezembro de 2006.

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43

mudança tecnológica, fazendo com que as MPE manufatureiras sejam constantemente

pressionadas por produtos de qualidade superior a um preço mais baixo, como forma de se

manter vivas e competitivas. Diante desse cenário, Pereira et al. (2009) ratificam que as

causas do sucesso desse tipo de organização, estão intimamente relacionadas com a habilidade

destas empresas inovarem em seu processo de gestão e no uso de novas tecnologias.

2.5.1 Características das MPE industriais referentes à gestão da qualidade

Mesmo apresentando uma capacidade produtiva limitada quando comparadas às

empresas de maior porte, o elevado número das MPE de base industrial as confere uma

atuação significativa na produção nacional de muitos países. No Brasil, segundo uma pesquisa

divulgada pelo SEBRAE (2014b), em torno de 95% do total de empresas enquadradas no

conjunto de atividades industriais nos anos de 2009 a 2011, são classificadas como micro e

pequenas empresas (Figura 6; ANEXO B).

Figura 6 - Distribuição do número médio de empresas existentes em cada categoria dos anos de 2009 a

2011

Fonte: Autor (2016)

A engenharia da qualidade, com o uso de suas ferramentas estatísticas, é determinante

no processo de melhoria de qualidade, bem como na garantia da competitividade deste tipo de

empresa. Thomas, Barton e Chuke-Okafor (2009) afirmam que técnicas de resolução de

problemas, benchmarking e melhoria contínua, entre outras, essenciais ao desenvolvimento de

uma empresa, devem ser aplicadas dentro de uma abordagem sistemática e apoiada segundo

dados estatísticos.

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44

Os autores, Thomas, Barton e Chuke-Okafor (2009), ainda acrescentam que conceitos

estatísticos como projetos experimentais, teoria de controle de processos e confiabilidade de

produtos, tem papel fundamental não apenas em indústrias de maior porte, mas também em

MPE, sendo que benefícios oriundos destes conceitos estão atrelados à formação e o

treinamento contínuo de sua força de trabalho. Neste contexto, Raghath e Jayathirtha (2013)

defendem, com base no pensamento estatístico, que todos os processos operam de forma

interligada e apresentam variações, de modo que a chave para o sucesso baseia-se na

compreensão e redução destas variações.

Nos últimos tempos, encontram-se na literatura diversas pesquisas voltadas para a

criação/implementação de um modelo eficiente de melhoria de produtos e processos em MPE

industriais (THOMAS e WEBB, 2003; COELHO, 2006; THOMAS, BARTON e CHUKE-

OKAFOR, 2009; THOMAS e BARTON, 2006; RAGHATH e JAYATHIRTHA; 2013). Não

obstante, a gestão da qualidade ainda encontra diversas limitações para o sucesso desta

implementação. Nesta situação, Thomas e Webb (2003) atrelaram à deficiência intelectual e a

limitação de recursos financeiros como sendo os principais obstáculos para este sucesso.

Complementando os autores, Thomas, Barton e Chuke-Okafor (2009) relatam sobre a

escassez do uso de ferramentas estatísticas no contexto industrial de MPE - fato que também

havia sido lamentado por Coelho (2006). Para os autores, além dos fatores abordados

anteriormente, estão a falta de recursos em termos de tempo e pessoal disponível, além de

limitações internas para fornecer treinamentos à equipe de trabalho. Coelho (2006) ainda

atenta para questões importantes como o estilo de gestão centralizada e não participativa

muitas vezes comandada pelo próprio proprietário do empreendimento; falta de recursos para

investir em metrologia e em pacotes de software já disponíveis no mercado para auxiliar nesse

processo de gestão.

Face aos fatos relatados, este trabalho apresentou como uma solução para reverter esse

quadro, o desenvolvimento de um modelo operacionalmente viável de gestão de qualidade

que utilizasse as ferramentas estatísticas DOE e CEP, de modo integrado com vistas a

melhorar a qualidade e reduzir a variabilidade de produtos e processos, de forma que possa

ser adaptável à realidade específica de cada MPE.

Devido às condições restritas inerentes às MPE, o modelo deve fazer uso dos métodos

de experimentação em sua forma menos complexa, conforme defendido por Thomas, Barton

(2006) e reafirmado por Thomas, Barton e Chuke-Okafor (2009). Outro fator fundamental

para o sucesso desta implementação seria o estabelecimento de parcerias destas empresas com

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45

universidades, os quais detém de recursos e knowhow necessários para a implementação

inicial deste modelo, evitando a necessidade de altos volumes de financiamento para a compra

de recursos e pagamento de empresas de consultoria.

2.5.2 Parceria entre Micro e Pequenas empresas e universidades

Hodiernamente, pode-se observar um projeto crescente de incubadoras de micro e

pequenas empresas em universidades, estimulando a transferência de

conhecimento/tecnologia, bem como o desenvolvimento socioeconômico da região. Essas

parcerias têm sido um fator impulsionador do processo de inovação, seguindo a lógica do

paradigma atual proposto por Chesbrough (2003), intitulado por “Open Innovation ou

Inovação aberta”.

O modelo de Chesbrough trata-se de uma nova forma de gestão estratégica da

inovação partindo de um modo de cooperação em rede, em que todos os integrantes da rede

de valor, formada por clientes, fornecedores, funcionários, instituições de ensino superior,

institutos de pesquisa, órgãos governamentais e outras organizações privadas, colaboram

mutuamente (CHESBROUGH, 2007). Entre os benefícios advindos desse modelo, destaca-se

a aquisição de um maior retorno financeiro decorrente tanto da diminuição dos custos de

desenvolvimento interno, quanto do aumento de receitas, oriundas do licenciamento da

propriedade intelectual (patentes) e do lançamento de novas empresas spin-off’s no mercado

(CHESBROUGH, 2006).

Nessa perspectiva, alguns autores na literatura sustentam a aplicação do modelo de

inovação aberta em MPEs como forma de aumentar o potencial competitivo dessas

organizações (PARIDA et al., 2012; SILVA e DACORSO, 2013). Em seu trabalho, Silva e

Dacorso (2013) destacam uma série de vantagens para as MPEs advindas dessa cooperação,

como uma maior facilidade de acesso a tecnologias, conhecimento e capital; possibilidade de

dispor de pessoal qualificado (consultorias, empresas júnior de universidades, órgãos de

incentivo do governo, entre outros) sem a necessidade de contratação; além de uma maior

liberdade de investimento em pesquisa e desenvolvimento, devido ao compartilhamento do

risco entre os integrantes da cooperação.

Dentre desse novo cenário, a inovação aberta pode ser vista como uma maneira de

inovar, embasada na busca pelo conhecimento extrínseco à organização (PARIDA et al.,

2012), sem que haja necessariamente a formação de redes de cooperação (SILVA e

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46

DACORSO, 2013). Balizado por essa nova perspectiva de inovação e considerando o

universo limitado das MPEs, este trabalho defende inicialmente o estabelecimento de

parcerias destas empresas com universidades, cuja missão, segundo Berni et al. (2015), vai

além da disponibilização de mão de obra qualificada para o mercado de trabalho, uma vez que

assumem diante da sociedade, o comprometimento com a pesquisa, o ensino e a extensão.

De acordo com um levantamento realizado nas publicações de alguns autores (SILVA

et al., 2011; CLOSS e FERREIRA, 2012; PUFFAL et al., 2012, apud BERNI et al., 2015),

alguns fatores dificultam essa interação, são estes:

Desconfiança com relação ao tempo necessário para a universidade finalizar a

pesquisa, quanto à segurança e confidencialidade das informações;

Demora na publicação dos resultados da pesquisa;

Possibilidade de negligência tanto dos setores de ensino e pesquisa, quanto das

empresas no tocante aos resultados do estudo;

Diferenças de cultura entre a academia e o meio empresarial;

Ausência de freqüentes reuniões formais;

Objetivos da cooperação não bem definidos ou desalinhados;

Incertezas inerentes ao resultado da parceria;

Resistência de alguns pesquisadores em atender a demanda identificada pelas

empresas;

Falta de recursos humanos destinados a gerenciar esse processo de cooperação;

Excessiva burocracia universitária;

Divergências quanto à propriedade intelectual;

Falta de uma política governamental de apoio à parceria universidade-empresa.

Diante das dificuldades listadas, percebe-se que a maioria parte de uma visão ainda

arcaica, balizada pela incerteza e desconfiança. De modo que o sucesso dessa cooperação está

atrelado às entidades envolvidas a virem como uma relação de troca mútua de benefícios

(Figura 7), balizada pela confiança e clareza dos objetivos da pesquisa; bem como pelo

comprometimento de ambas as partes envolvidas com o projeto.

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47

Os benefícios advindos dessa parceria na ótica da MPE já foram citados anteriormente

ao falar das vantagens oriundas da cooperação com atores externos à organização (modelo de

inovação aberta); já na visão das universidades, Berni et al. (2015) citam o auxilio à formação

de profissionais; as possibilidades de direcionamento dos estudos para aplicações práticas e o

aumento da interação com a comunidade. Com relação ao meio acadêmico, pode-se ainda

acrescentar as vantagens para a comunidade científica, por fazer da empresa uma espécie de

“laboratório real” para suas pesquisas e conseqüentes publicações.

Figura 7 - Relação de troca entre Instituição de Ensino Superior e Empresa

Fonte: Adaptado de Alessio (2004) apud Silva et al. (2011)

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48

CAPÍTULO 3 – MÉTODO DE PESQUISA

Neste capítulo são apresentados os procedimentos metodológicos e técnicas usadas no

transcorrer deste estudo; bem como a caracterização da pesquisa segundo critérios pré-

estabelecidos na literatura de metodologia científica.

A escolha mais adequada dos métodos e técnicas no tocante ao planejamento e

condução de um trabalho de pesquisa tende a torná-lo mais bem estruturado, ampliando as

chances de uma contribuição efetiva ao conhecimento, possibilitando sua replicação,

aperfeiçoamento e constante evolução por parte dos pesquisadores (MIGUEL, 2012).

3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

Tomando por base a classificação proposta por diversos autores já consagrados no

tema: metodologia científica; esta pesquisa foi categorizada de acordo com os seguintes

critérios: natureza, objetivo, abordagem e procedimento técnico utilizado. Esta classificação

pode ser visualizada de forma resumida na Figura 8.

Este estudo caracteriza-se quanto à natureza como básico e aplicado, devido ao

desenvolvimento de um modelo conceitual, balizado por estudos na literatura acerca do tema,

para uso generalizado em processos industriais, com foco em MPEs, e posterior aplicação

desse modelo em uma empresa de pequeno porte a fim de testar o modelo de forma prática,

bem como propor soluções ao problema relatado pela empresa em questão.

No que tange aos objetivos, a pesquisa é classificada como exploratória, visto que

primordialmente buscou proporcionar uma maior familiaridade com a temática do estudo, de

modo a direcionar o estabelecimento dos objetivos e hipóteses, e a formulação de um modelo

para solucionar o problema proposto. Quanto à abordagem, esta se enquadra como

quantitativa em virtude do uso de métodos e técnicas estatísticas para analisar os resultados

obtidos na aplicação do modelo.

Por fim, quantos aos procedimentos técnicos utilizados, a pesquisa apresenta tanto

aspectos de estudos de caso, devido à aplicação do modelo ter sido desempenhada em um

caso real, o qual foi estudado de forma detalhada com base na fundamentação teórica; quanto

de pesquisa experimental, dada a aplicação do DOE, cujos testes foram realizados em

laboratório, para determinar os fatores que influenciavam significativamente, do ponto de

vista estatístico, na resistência das alças dos big bags.

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49

Figura 8 - Caracterização da pesquisa

Fonte: Autora (2016)

3.2 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

Para a concretização desta pesquisa, adota-se uma série de etapas marcadas por duas

fases distintas: elaboração de um modelo conceitual para integração de ferramentas de

melhoria de qualidade, com foco em MPEs; e a aplicação deste modelo em uma empresa de

pequeno porte por meio de um estudo de caso. A Figura 9 permite a visualização destas etapas

de forma sucinta, com uma posterior descrição mais detalhada ao longo do texto.

Figura 9 - Etapas adotadas para a execução da pesquisa

Fonte: Autora (2016)

CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

NATUREZA ABORDAGEM OBJETIVOSPROCEDIMENTOS

TÉCNICOS

APLICADA QUALITATIVA EXPLORATÓRIAESTUDO DE

CASO

EXPERIMENTALQUANTITATIVA

ETAPA 1

Formulação do

Problema

ETAPA 2

Embasamento Teórico

DOE CEPPEQUENAS

EMPRESAS

ETAPA 3

Delineamento dos

objetivos

ETAPA 4

Elaboração do

Modelo

Conceitual

ETAPA 5

Etapa Preliminar

ETAPA 6

Projeto de

Experimentos

Aplicação Metodológica1- Cálculo da capacidade do

processo;

2- Cálculo dos limites de

controle;

3- Monitoramento do

processo;

ETAPA 9

Considerações Finais

ETAPA 7

Controle

Estatístico de

Processos

1- Descrição das características

do experimento;

2- Condução do experimento;

3-Análise dos resultados;

4- Definição da configuração

ideal;

5- Verificação dos resultados com

o real;

6- Implementar essa nova

configuração no processo;

ETAPA 8

Análise dos Resultados

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50

3.2.1 Procedimentos para a definição do modelo conceitual

Primeiramente, elaborou-se a problemática do estudo com base na relevância do tema

abordado para a economia brasileira, tendo em vista a lacuna ainda encontrada nos registros

acadêmicos. Posteriormente, foi realizada uma intensa busca nas diversas fontes de pesquisa

para montar o alicerce teórico necessário acerca das ferramentas estatísticas principais

utilizadas no modelo - DOE e CEP; do panorama geral das micro e pequenas empresas

brasileiras e das características advindas da cooperação “universidade-empresa”.

A montagem do modelo conceitual foi definida a partir das principais contribuições de

diversos autores sobre o tema. Para a realização desta etapa da pesquisa, utilizaram-se

inicialmente os descritores “controle estatístico de processos”, “projeto de experimentos” e

“integração”, bem como os seus sinônimos nos idiomas: português e inglês, os quais foram

colocados em várias combinações nas bases de dados Portal de periódicos Capes16 e Scopus

Database17; como também foi realizada pesquisa no Google Acadêmico.

Desta forma, foram selecionados 14 trabalhos científicos, os quais foram lidos na

íntegra, sendo 12 artigos publicados em revistas internacionais e 2 dissertações de mestrado

nacionais, sobre temas relacionados à melhoria de produtos e/ou processos por meio da

integração de ferramentas estatísticas, com foco em DOE e CEP. Vale salientar que os

trabalhos selecionados merecem destaque por terem tido participação direta da elaboração do

modelo conceitual, o qual foi estruturado a partir das principais contribuições de cada autor;

entretanto para montar o aporte teórico deste estudo foram consultadas diversas outras fontes

de autores.

No tocante a pesquisa, percebeu-se um aspecto recente do interesse da comunidade

científica a respeito deste tema, visto que as primeiras publicações ocorreram no final da

década de 80 e apesar de haver vários registros da aplicação combinada destas ferramentas,

poucos autores abordaram essa integração segundo um modelo estruturado e sistematizado.

16O Portal de Periódicos da Capes consolidou-se como uma das maiores bibliotecas virtuais do mundo,

disponibilizando mais de 37 mil publicações periódicas, internacionais e nacionais. Uma das suas maiores

vantagens é permitir o acesso a mais de 100 outras bases de dados que reúnem desde referências e resumos de

trabalhos acadêmicos e científicos até normas técnicas, patentes, teses e dissertações dentre outros tipos de

materiais, cobrindo diversas áreas do conhecimento (CAPES, 2016). 17 Conforme o seu site de acesso, a base de dados do Scopus, em termos de resumos e citações, é a maior da

literatura revista: revistas científicas, livros e anais de conferência. Apresentando uma série de ferramentas

inteligentes, além de várias possibilidades para filtrar e direcionar a pesquisa de forma simplificada. Esta base

permite o acesso a mais de 21.500 revistas e journals, dos quais 4.200 são de livre acesso; mais de 100.000

livros; 7,2 milhões de artigos de conferência em inúmeros eventos distribuídos em todo o mundo, além de mais

de 27 milhões de patentes (SCOPUS, 2016).

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51

Devido a esse aspecto não houve limitação no tempo durante a triagem dos trabalhos, com

vistas a avaliar a evolução desse tema até os dias atuais.

Para compreender melhor os trabalhos que despertaram interesse em meio ao escopo

desta pesquisa, foram coletadas as principais características, as quais estão dispostas na

Tabela 3: título do trabalho, tipo de documento, autores, ano, periódico (para o caso dos

artigos), objetivo da pesquisa, área onde o estudo foi aplicado, tipo de pesquisa realizada e

metodologia utilizada (dando enfoque as ferramentas de qualidade que foram aplicadas).

Com base na Tabela 3 pode-se observar que as pesquisas foram direcionadas para

publicações na área de engenharia, gestão e/ou negócios, de modo que retratassem estudos

baseados na melhoria de produtos e/ou otimização de processos, de preferência de base

industrial. Os artigos selecionados foram publicados em revistas variadas, sendo que apenas

as revistas “Quality Engineering” e “Journal of Manufacturing Technology Management”

tiveram mais de uma de suas publicações selecionadas. O mesmo se aplica aos autores das

publicações, mostrando que não há uma tendência desse tema para um único tipo de pesquisa

e/ou autor.

Com relação ao tipo de estudo, a grade maioria se concentra em pesquisas

bibliográficas e estudos de caso para a aplicação das ferramentas de qualidade. Dentre essas,

apesar do direcionamento dado às buscas nas técnicas de CEP e DOE, outras ferramentas de

melhoria de qualidade foram sugeridas pelos autores como forma de uso integrado, sendo as

mais citadas: diagrama de causa e efeito, QFD, FEMEA, brainstorming, gráfico de pareto,

análise de capacidade e seis sigma, as quais foram destacadas anteriormente no quadro 1,

seção 2.4.2.

Com base nos trabalhos dispostos na Tabela 3, percebe-se que os estudos que mais se

assemelham ao escopo desta pesquisa são dos autores Thomas e Barton (2006) e Thomas,

Barton e Chuke-Okafor (2009), sendo este último uma evolução do trabalho anterior realizado

em 2006. Vale destacar que apesar da última versão apresentada pelos autores ter sido

publicada a mais de seis anos, a metodologia proposta vem sendo aplicada com sucesso em

várias MPEs e seus estudos são bastante citados por autores contemporâneos. Em uma

consulta realizada no Google acadêmico constatou-se que os trabalhos de 2006 e 2009 foram

citados por 73 e 105 trabalhos científicos, respectivamente. Sendo que entre o período de

2015 e 2016, a versão mais recente (2009) foi citada em 28 estudos diferentes, dentre os quais

22 são artigos publicados em journals.

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52

3.2.2 Procedimentos para a execução do estudo de caso

Com o desenvolvimento do modelo, a etapa posterior consistiu na sua aplicação em

uma empresa de pequeno porte de razão social “Big Bag do Nordeste", situada no município

de São José do Mipibu, estado do Rio Grande do Norte, região metropolitana de Natal. A

escolha desta empresa ocorreu de forma intencional, não probabilística.

O estudo de caso foi realizado almejando, além da verificação do modelo de forma

aplicada, mostrar os benefícios advindos da parceria universidade-empresa. O relacionamento

que foi estabelecido entre estas entidades pode ser enquadrado como “relações pessoais

informais”, conforme a classificação de Bonaccorsi e Piccaluga (1994), visto que não foi

estabelecido um acordo formalizado entre as partes envolvidas, sendo este definido com base

numa relação de respeito e confiança mútua. Diante desse cenário, o compartilhamento das

informações sucedeu em várias situações mediante meios informais.

Na etapa preliminar da aplicação do modelo foram desenvolvidas técnicas como

brainstorming, mapeamento de processo e gráfico de causa e efeito como forma de conhecer

detalhadamente o processo estudado, a fim de identificar o problema caracterizado como

prioritário para o processo e suas possíveis causas, as quais serviram de base para a

determinação da variável resposta, os parâmetros de controle e seus níveis.

Na sequencia, realizou-se um experimento fatorial Split-Plot com restrição na

aleatorização, 2³ x 2² com repetição e réplica, totalizando 128 amostras, as quais foram

elaboradas, desde o corte à costura das peças, no período entre 2 e 10 de março de 201618.

Sobre estas amostras, desenvolveram-se testes de cunho destrutivo, realizados no dia 16 de

março de 2016, sendo estes desenvolvidos no laboratório de engenharia têxtil da UFRN, os

quais serão descritos mais detalhadamente no capítulo 5.

Para a análise de variância dos resultados do experimento (ANOVA) e determinação

dos parâmetros de entrada para a aplicação do CEP, utilizou-se o software Minitab 17, o qual

gerou os gráficos dos efeitos principais e das interações que foram significativas ao nível 5%

de significância. Por fim, uma proposta de monitoramento via gráficos de controle foi

sugerida a fim de garantir que as variáveis de saída sejam mantidas sob controle estatístico.

Em virtude de dificuldades enfrentadas para monitorar o processo na prática –

problemas com as coletas iniciais, prazo para a finalização da pesquisa e o contexto atual em

18Vale destacar, que essa mesma coleta já havia sido executada 2 vezes nos meses de setembro e dezembro de

2015, todavia, apresentaram problemas durante o seu desenvolvimento, os quais comprometeriam os resultados

da análise, necessitando dessa forma de uma nova coleta.

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53

que se encontra a empresa, caracterizado por uma queda brusca no volume de produção – a

proposta para a aplicação do CEP foi elucidada neste trabalho de forma conceitual.

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54

Tabela 3 – Características dos estudos utilizados para a elaboração do modelo conceitual

Título Tipo de

documento

Autores e

Ano Periódico Objetivo

Área(s)

de

aplicação

Tipo de

Pesquisa Metodologia

1

The use of statistical process control and design of

experiments in product and

process improvement

Artigo de

revista

Montgomery,

1992

IIE

Transactions

Este artigo revisa alguns desenvolvimentos

recentes em técnicas para melhoria de qualidade, de cunho estatístico, com base na

observação passiva (CEP), ou análise de

experimentação direta (DOE) em produtos e processos.

Engenharia/

Negócios, gestão

Pesquisa

Bibliográfica

Revisão de CEP e DOE e

proposta de integração

2 Operating frameworks for

statistical quality engineering Artigo de

revista Goh, T. N.,

2000

International Journal of

Quality &

Reliability Management

Fornecer uma visão sucinta de ideias

estatísticas, ferramentas e atividades em um contexto industrial, por meio da apresentação

de três quadros para a excelência da qualidade.

Engenharia/

Negócios,

gestão

Pesquisa Bibliográfica

Proposta de três quadros

para o uso integrado de ferramentas estatísticas da

engenharia da qualidade

3

Estabilização de processos: um

estudo de caso no setor de

pintura automotiva

Dissertação de mestrado

Pierozan, L., 2001

Não se aplica

Estabelecer um modelo conceitual para a

estabilização de processos através do uso integrado de ferramentas de engenharia de

qualidade.

Engenharia/

Negócios,

gestão

Pesquisa

Bibliográfica/ Estudo de

caso

Proposta de integração:

Desdobramento da qualidade (QFD), CEP,

DOE e Padronização

4

Continuous Improvement

Through Integration of Quality

Tools

Artigo de

revista

Zhen He, Ershi

Qi, Zixian Liu,

2002

Chinese Journal of Mechanical

Engineering

(English Edition)

Este artigo busca abordar a necessidade,

viabilidade e vantagens para integração de

ferramentas de qualidade para alcançar a

melhoria contínua de qualidade, bem como

apresentar um modelo para essa integração.

Engenharia/

Negócios,

gestão

Pesquisa

Bibliográfica

Proposta de integração:

QFD, FMEA, DOE e CEP

5

Integrating Experimental Design

and Statistical Control for Quality Improvement

Artigo de

revista

Nembhard, H. B., Valverde-

Ventura, R.,

2003

Journal of

Quality Technology

Este artigo propôs uma metodologia para o uso

combinado de DOE e gráfico de controle

Cuscore para controlar e monitorar um processo industrial sujeito a um esquema de

controle feedback.

Engenharia/ Matemática/

Negócios,

gestão

Pesquisa Bibliográfica/

Estudo de

caso

Proposta de integração:

DOE e gráfico de controle Cuscore

6 Using Statistical Thinking and

Designed Experiments to

Understand Process Operation

Artigo de

revista

Leitnaker, M., Cooper, A.,

2005

Quality

Engineering

Este artigo utiliza uma série de quatro estudos

de casos a fim de ilustrar o uso integrado de

controle estatístico de processos e experimentos planejados.

Engenharia/ Negócios,

gestão

Estudo de

multicasos

Uso integrado de CEP e

DOE em 4 estudos de casos

7 Developing an SME based six

sigma strategy Artigo de

revista

Thomas, A.,

Barton, R.,

2006

Journal of

Manufacturing Technology

Management

Este artigo busca desenvolver um modelo

integrado entre as ferramentas lean e seis sigma para aplicação em processos industriais, com

foco em MPE.

Engenharia/

Negócios,

gestão

Pesquisa

Bibliográfica/ Estudo de

caso

Proposta de integração: Seis

Sigma (DMAIC, Gráfico de pareto, Brainstorming,

Causa e efeito, DOE)

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55

8 Must a Process Be in Statistical

Control before conducting

Designed Experiments?

Artigo de

revista

Bisgaard, S.,

2008

Quality

Engineering

Este artigo busca rever e ampliar o argumento

original de Fisher, demonstrando que a necessidade de controle estatístico para a

realização de experimentos industriais é uma afirmação equivocada.

Engenharia/ Negócios,

gestão

Pesquisa

Bibliográfica

Revisão literária acerca dos

conceitos de DOE

9

Estudio de La Variabilidad de

Procesoenel Área de Envasado de unProductoen Polvo

Artigo de

revista

Díaz, E. et al.,

2009

Información

Tecnológica

Este artigo busca, por meio do uso de ferramentas estatísticas, otimizar a quantidade

de pó depositada em sacos na área de

embalagem de uma indústria de processamento de grãos e produtos em pó, de modo a atender

as especificações das normas de qualidade

mexicanas.

Engenharia/ Agricultura/

Negócios,

gestão

Estudo de

caso

Gráficos de controle,

análise capacidade,

brainstorming, diagrama de causa e efeito e projetos

fatoriais 25

10 Applying lean six sigma in a

small engineering company – a

model

Artigo de

revista

Thomas, A.,

Barton, R.,

Chuke-Okafor, C., 2009

Journal of

Manufacturing

Technology Management

Este artigo buscou desenvolver um quadro estratégico para o uso generalizado de seis

sigma nas PME.

Engenharia/ Negócios,

gestão

Pesquisa

Bibliográfica/

Estudo de caso

Proposta de integração:

Seis Sigma (DMAIC, Gráfico de pareto,

Brainstorming, Causa e

efeito, DOE, CEP) e Lean

11

An integrated framework of

statistical process control and

design of experiments for optimizing wire electrochemical

turning process

Artigo de

revista

Haridy, S.,

Gouda, S.A., Wu, Z., 2011

The International

Journal of

Advanced Manufacturing

Technology

Este trabalho propõe um quadro integrado de

SPC e DOE para executar os procedimentos

experimentais e para investigar um modelo matemático confiável para otimizar o processo

WECT.

Engenharia Pesquisa

Experimental

Proposta de integração:

Metodologia de superfície

de resposta; gráficos EWMA uni e multivariados;

Otimização multi-objetiva

12

Application of statistical process

control technology and quality tools in the process of series

motor production

Artigo de revista

Zeng, Q.Y. et at., 2013

Advanced Science Letters

Este trabalho buscou melhorar a capacidade de um processo de produção de motor em série,

usando ferramentas de controle estatístico de

processo e ferramentas de melhoria da qualidade.

Engenharia/

Negócios,

gestão

Estudo de caso

CEP (Estudo de capacidade), Brainstorming

(Método tempestade);

Diagrama espinha de peixe (causa e efeito) e DOE

13

Uma aplicação do planejamento

de experimentos e carta de controle em uma indústria de

cosméticos: ciclo DMAIC

Dissertação de mestrado

Godoy, C., 2014

Não se aplica

Oobjetivo deste trabalho foi propor uma abordagem detalhada de implementação do

Ciclo DMAIC para a Melhoria da Qualidade

num dos processos de uma indústria de cosméticos.

Engenharia/

Negócios,

gestão

Pesquisa

Bibliográfica/ Estudo de

caso

DMAIC (gráfico de pareto, carta de projeto, diagrama

de causa e feito, análise dos

5 porquês, matriz de esforço x impacto); CEP e DOE

14

Advancement of Experimental

Procedure for SPC

Implementation: A Step Ahead to Optimization as applied in

Process Industries

Artigo de

revista

Soni, P.,

Somkunwar, V., 2016

Global Journal of

Engineering,

Science & Social

Science Studies

Este trabalho buscou implementar técnicas de

CEP, por meio do auxílio do DOE, a fim de

melhorar o desempenho de um processo de moagem tornando-o mais capaz (aumento na

capacidade do processo).

Engenharia/

Negócios, gestão

Estudo de

caso

CEP (estudo de capacidade,

gráficos de controle), DOE

Fonte: Autora (2016)

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56

CAPÍTULO 4 – MODELO CONCEITUAL

Este capítulo elucida a proposição de um modelo para a aplicação combinada de

ferramentas estatísticas com o propósito de resolver problemas de qualidade em atividades de

manufatura, com foco em experimentos planejados e monitoramento via gráficos de controle.

Para poder atender as micro e pequenas empresas (público-alvo desta pesquisa), buscou-se

elaborar um modelo de fácil entendimento, que utiliza uma abordagem simples de DOE19,

além de outras ferramentas de melhoria de qualidade de fácil entendimento e aplicação, de

modo a fornecer o suporte necessário a uma aplicação eficiente de DOE e CEP.

O desenvolvimento desta metodologia baseou-se na análise detalhada de 14 trabalhos

científicos, conforme descrito na seção 3.2.1. Mediante este estudo, foram coletadas as

principais contribuições de cada autor para posteriormente concatenar essas ideias em uma

metodologia que permitisse a sua implementação em qualquer tipo de operação industrial, em

especial em MPEs. Suas etapas serão descritas segundo um guia “passo a passo”, de modo a

garantir que a deficiência intelectual encontrada em grande parte destas empresas,

principalmente quanto ao uso de ferramentas estatísticas, não seja um fator limitante para a

execução do modelo.

A ideia central desta metodologia partiu dos estudos de Thomas e Barton (2006) e da

sua versão mais atualizada, Thomas, Barton e Chuke-Okafor (2009). Tais autores propuseram

um modelo de uso integrado de ferramentas da qualidade para aplicação em processos

industriais, com foco em MPEs. Mesmo os autores focalizando em abordagens diferentes do

cerne deste trabalho, como a implementação das metodologias seis sigma e lean, sua proposta

principal se assemelha bastante com os objetivos desta pesquisa.

Em linhas gerais, a análise dos trabalhos selecionados trouxe várias contribuições

conceituais ao modelo de integração de DOE e CEP, as quais merecem destaque:

A ideia de um comportamento cíclico, em que não existe uma etapa inicial padrão,

podendo iniciar tanto pelo monitoramento, como pela experimentação (LEITNAKER

e COOPER, 2005; BISGAARD, 2008);

A importância da aplicação de CEP e DOE integrada com outras ferramentas da

qualidade como apoio nos processos de definição do problema a ser estudado e de

19Thomas, Barton (2006), reafirmado por Thomas, Barton e Chuke-Okafor (2009), alegaram que a complexidade

de aplicação das técnicas de DOE foi um dos motivos mais citados pelas MPEs pela sua resistência à aplicação

de técnicas de melhoria de qualidade, como o seis sigma.

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57

investigação das principais causas (fatores/níveis) deste problema (GOH, 2000;

PIEROZAN, 2001; HE, QI e LIU, 2002; THOMAS e BARTON, 2006; DÍAZ et al.,

2009; THOMAS, BARTON e CHUKE-OKAFOR, 2009; ZENG et al., 2013;

GODOY, 2014);

Um estudo detalhado acerca do comportamento do processo atual, o qual pode ser

realizado via mapeamento de processo e brainstorming, aumenta a eficiência da

aplicação das ferramentas DOE e CEP (LEITNAKER e COOPER, 2005; THOMAS e

BARTON, 2006; THOMAS, BARTON e CHUKE-OKAFOR, 2009; GODOY, 2014;

SONI e SOMKUNWAR, 2016)

O entendimento acerca do controle estatístico de processos como uma ferramenta

proativa, que pode ser empregada não só para controlar e manter o processo atual,

como também para investigar as causas das variações (LEITNAKER e COOPER,

2005; DÍAZ et al., 2009; ZENG et al., 2013);

A importância de uma análise de capacidade do processo antecedente à aplicação do

CEP, como forma de garantir que ganhos adicionais ao processo sejam obtidos

(PIEROZAN, 2001; DÍAZ et al., 2009; ZENG et al., 2013; SONI e SOMKUNWAR,

2016);

A aplicação CEP deve ser realizada em duas fases distintas: na primeira são calculados

os limites de controle com processo em estado de controle estatístico; e na segunda

ocorre o monitoramento efetivo do processo (GODOY, 2014; SONI e

SOMKUNWAR, 2016);

A importância da natureza de feedback das informações como forma de aumentar a

eficiência do processo de melhoria contínua de qualidade (NEMBHARD e HE, QI e

LIU, 2002; VALVERDE-VENTURA, 2003; THOMAS e BARTON, 2006;

THOMAS, BARTON e CHUKE-OKAFOR, 2009);

Para a concepção do modelo de integração enumerou-se uma série de etapas, as quais

podem ser enquadradas em quatro fases distintas: fase preliminar, estudo experimental,

análise da capacidade do processo e monitoramento do processo. Estas etapas estão ilustradas

de forma resumida na Figura 10, sendo descritas ao longo deste capítulo. Neste trabalho,

devido a algumas limitações impostas durante a pesquisa, a aplicação do estudo de caso será

realizada efetivamente apenas até a segunda fase, sendo as demais retratadas de forma

conceitual.

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58

Figura 10 - Mapeamento das etapas para a implementação do modelo proposto

Fonte: Autora (2016)

Como este processo de integração não apresenta uma etapa fixa como ponto de parte

de partida, conforme abordado na seção 2.3.1, sua implementação pode ocorrer em duas

circunstâncias distintas:

Durante a fase de projeto de produto/processo (DOE CEP): Nesta fase deve-se

fazer uso do projeto de experimentos para determinar a configuração ideal de um dado

produto e/ou processo e assim, elucidar as características de qualidade mais

significativas para o posterior monitoramento do processo.

SIM

Identificação das causas dos problemas

Priorização dos fatores mais

importantes (Brainstorming)

Descrição das características do

experimento

Condução do experimento

Análise dos resultados

Definição da configuração ideal

Implementação das mudanças

sugeridas no processo

Cálculo dos limites de controle

(Etapa I)

Processo capaz?

Delineamento do

Problema

- Feedback do cliente/serviço

- Brainstorming

Monitoramento do processo

(Etapa II)

Processo estável?

SIM

Verificação dos resultados com o real

Cálculo da capacidade do

processo

As causas podem

ser facilmente

identificadas e

eliminadas?

Eliminar as causas especiais

SIM

NÃO

NÃO

NÃO

Pla

nej

am

ento

de

Ex

per

imen

tos

-D

OE

Co

ntro

le Esta

tístico d

e Pro

cessos -

CE

P

1- Objetivos do

experimento;

2- Variável resposta;

4- Fatores de controle e

seus níveis;

5- Fatores de ruído;

6- Tratamentos;

7- Princípios da

experimentação;

8- Matriz experimental;

9- Sistema de medição;

1- Mapeamento do

processo-chave;

2- Brainstorming;

3- Diagrama de causa e

efeito;

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59

Durante a fase de fabricação (CEP DOE): Nesta fase o produto já está sendo

manufaturado e monitorado por meio de gráficos de controle. Em um determinado

instante, o processo pode sair do estado de controle estatístico em virtude do

surgimento de causas especiais. Nesta situação, deve-se aplicar o projeto de

experimentos a fim de investigar quais fontes de variação afetam significativamente o

processo, eliminá-las e novamente monitorar o processo.

A Figura 11 apresenta as metas e ferramentas utilizadas para o alcance da melhoria da

qualidade, utilizando o modelo proposto, desde a fase de planejamento e desenvolvimento de

produto/processo até a fase de fabricação.

Figura 11 - Metas e ferramentas para o alcance da melhoria contínua de qualidade

Fonte: Autora (2016), inspirado em Goh (2000)

4.1 FASE PRELIMINAR

O objetivo desta fase consiste em fornecer as informações necessárias, desde a

definição do(s) problema(s) até a identificação dos fatores principais, os quais servirão de

base para a aplicação das ferramentas de DOE e CEP. Esta fase engloba três etapas principais:

ProcessoProduto

METAS

Ferramentas

utilizadas

FASE I :

PROJETO

FASE II :

FABRICAÇÃO

Qualidade

Confiabilidade

Robustez

Feedback do serviço/

cliente*

Brainstorming

DOE

* Outras ferramentas podem ser empregadas nessa fase como FEMEA e QFD, porém, não entraram na

proposta deste modelo conceitual.

Capacidade

Estabilidade

Conformidade

com os requisitos

Mapeamento do processo

Brainstorming

Causa e efeito

DOE

Análise de capacidade

Gráficos de controle

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60

definição do problema, identificação das causas dos problemas e priorização dos fatores mais

importantes.

a) Delineamento do problema:

Neste modelo, os gargalos/problemas de qualidade no produto e/ou processo

apontados pelo serviço de campo e pelo feedback do cliente20 devem ser analisados por meio

de um levantamento de ideias (brainstorming) realizado por intermédio de uma equipe

multidisciplinar, envolvendo profissionais desde o setor de operação até a alta administração a

fim de elucidarem os problemas prioritários que merecem o tratamento devido.

Nesse contexto, Thomas, Barton e Chuke-Okafor (2009) afirmam que o uso do

brainstorming permite que sejam considerados os objetivos individuais de cada funcionário,

da empresa e os efeitos da melhoria esperada, de modo a otimizar a melhoria contínua de todo

o sistema. Quando essa etapa ocorre durante a fase de projeto e desenvolvimento de produto,

Díaz et al. (2009) destacam que esta técnica pode ser uma poderosa ferramenta para estimular

o pensamento criativo e consequentemente desenvolver ideias inovadoras para a resolução

do(s) problema(s) propostos. Alguns autores ainda defendem o uso de gráfico de pareto nessa

fase. Apesar desta ferramenta não ter entrado no escopo deste modelo em virtude de

simplificar sua implementação inicial, pode ser considerada para análises futuras da empresa.

Ainda nesta mesma etapa, os efeitos do problema devem ser mensurados, bem como

os benefícios advindos de sua solução, a fim de determinar o grau de necessidade da aplicação

deste modelo.

b) Identificação das causas do problema:

Após definido o problema, recomenda-se a realização de um processo de investigação

para determinar as causas de sua ocorrência. Para a concretezição desta etapa devem ser

aplicadas as seguintes ferramentas:

Mapeamento do processo-chave;

Brainstorming;

Diagrama de causa e efeito;

20Segundo os estudos de He, Qi, Liu (2006), quando o cliente não é ouvido pela empresa surgem problemas

como longo tempo de desenvolvimento de má qualidade, alto custo, perda de oportunidades de negócios e

divergências entre os departamentos.

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61

A ferramenta de mapeamento21 consiste em fazer um levantamento de todas as etapas

que compõe o processo e sequenciá-las em ordem de ocorrência. Na sequência, deve-se

elaborar um diagrama de causa-e-efeito por meio de brainstorming entre toda a equipe

envolvida. Este diagrama se apresenta no formato de uma espinha de peixe, o qual é

comumente divido em seis categorias gerais (materiais, métodos, mão de obra, medição,

máquinas e meio ambiente), sobre as quais são identificados os possíveis fatores (causas) que

influenciam na variável resposta (problema), e seus níveis.

c) Priorização dos fatores mais importantes22:

Para facilitar esta análise, a própria equipe que elaborou o diagrama deve chegar a um

consenso sobre quais são os fatores que mais influenciam na característica de interesse

(resposta) e posteriormente, conduzí-los a fase da experimentação.

4.2 ESTUDO EXPERIMENTAL

Esta fase consiste na aplicação do DOE23 com o intuito de determinar os fatores

(parâmetros) significativos e suas possíveis interações, os quais se comportarão como

variáveis de entrada para o processo de monitoramento24. Na sequência serão apresentadas as

etapas desta fase.

a) Descrição das características do experimento:

No início do projeto, ainda por intermédio da técnica brainstorming, deve-se fazer um

levantamento de todas as informações necessárias à posterior condução do experimento. Para

Godoy (2014), esta conduta evita a necessidade de repetições ou cancelamento do

experimento em virtude de possíveis alterações no decorrer da experimentação. Com base em

Pierozan (2001); Thomas e Barton (2006); Thomas, Barton e Choke-Okafor (2009); Godoy

(2014); as informações que devem ser pré-definidas são:

21Leitnaker e Cooper (2005) defendem o uso desta ferramenta como forma de auxiliar os engenheiros de

processos a entenderem o funcionamento do processo, bem como a relação entre suas variáveis e as

características dos resultados. 22 Para análises mais aprofundadas, a literatura destaca o uso do método Shainin como forma de identificar os

fatores prioritários ao processo (ver THOMAS e BARTON, 2006; THOMAS, BARTON e CHUKE-OKAFOR,

2009). 23Neste modelo foi sugerida a aplicação do DOE para priorizar os fatores que devem ser monitorados durante a

aplicação do CEP, entretanto, Godoy (2014) elucida a existência de outras técnicas para o mesmo fim, como

FEMEA e análise de regressão. 24 Sem a realização dos experimentos, existe a probabilidade do controle estatístico de processos ser

implementado baseado em suposições não verdadeiras (PIEROZAN, 2001).

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62

Objetivo(s) do experimento;

Variável(s) resposta25;

Fatores de controle e seus níveis;

Fatores de ruído26;

Tratamentos;

Princípios da experimentação – aleatorização, blocagem, replicação e repetição;

Tipo do experimento (Matriz experimental)27;

Sistema de medição28;

Antes da realização de qualquer estudo experimental, devem ser definidos todos os

objetivos almejados, de modo a planejar as etapas posteriores em consonância com estes

objetivos. Em geral, determinam-se os objetivos com base no(s) problema(s) proposto(s).29

Outro ponto que merece destaque trata-se da importância em se averiguar a eficiência

do equipamento utilizado durante a medição desta variável, a fim de reduzir as possíveis

falhas geradas nesta etapa, as quais contribuem para o erro experimental. Além do

equipamento de medição utilizado, também deve ser definida a escala de medida.

b) Condução do experimento:

Durante o desencadear do experimento, desde a coleta dos dados até a execução dos

testes, é importante que o experimentador garanta que sejam seguidas todas as instruções pré-

determinadas na fase de planejamento do experimento, de modo a minimizar os possíveis

erros. Ainda seguindo este objetivo de minoria de erros, faz-se necessário que sejam

registradas todas as informações pertinentes observadas no decurso deste experimento para

servir de consulta caso haja resultados incomuns; além disto, toda esta etapa deve ser

acompanhada e monitorada pelo responsável da pesquisa ou uma pessoa capacitada e

devidamente treinada para este fim.

25Montgomery (2008) relata acerca da importância de o experimentador estar certo que a variável resposta

fornece informações úteis para o estudo. 26A fim de facilitar a análise, Thomas e Barton (2006) aconselham que a equipe envolvida concentre-se em

reduzir o número de fatores de ruído a zero. 27Consultar Tabela 1. 28 Para uma análise mais aprofundada, consultar Costa, Epprecht e Carpinetti (2009, p.139-158). 29 Nesta etapa, Antony, J. (2014) atenta para a necessidade de traduzir um problema de engenharia/manufatura

para um problema estatístico, de modo a delimitar os objetivos do experimento do ponto de vista estatístico.

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63

Outra consideração importante foi trazida por Godoy (2014), que menciona a

importância de controlar todos os fatores externos de modo a evitar que interfiram nos

resultados da experimentação. Nesta etapa, vale destacar a frase mencionada por Bisgard

(2008) que diz: “[...] apenas um experimento cuidadosamente concebido e devidamente

aleatorizado pode evitar o risco de confundir causas especiais com correlação sem sentido.”

c) Análise dos resultados:

O objetivo principal desta etapa é utilizar ferramentas estatísticas para avaliar o grau

de influência dos fatores investigados na(s) variável(s) resposta, de modo a determinar quais

destes fatores são significantes do ponto de vista estatístico. Pierozan (2001) destaca a

importância da análise está detalhada em termos gráficos e numéricos, de modo a facilitar a

compreensão dos resultados.

Uma questão abordada no trabalho de Thomas e Barton (2006) que merece relevância

trata-se da possibilidade dos resultados apontados pela análise do experimento não indicarem

nenhum dos fatores/interações como estatisticamente significantes quanto ao efeito gerado na

variável resposta. Nesta situação, algumas condutas são indicadas por estes autores:

Selecionar um novo fator ou conjunto de fatores para um novo experimento;

Averiguar se a matriz experimental escolhida era adequada para o problema;

Verificar a eficiência dos equipamentos de medição;

Redefinir os objetivos do experimento.

d) Definição da configuração ideal:

De acordo com os resultados gerados durante a análise dos experimentos, pode-se

reconhecer os fatores de controle que são significativos, bem como a configuração ideal

destes fatores e seus níveis de modo a otimizar a variável resposta - maximizar ou minimizar,

dependendo da característica de interesse..

e) Verificação dos resultados com o real:

É importante que os resultados da experimentação estejam fidedignos com a realidade

abordada. Esta etapa pode ser desempenhada apresentando os resultados aos responsáveis do

processo e demais colaboradores envolvidos, de modo a atestarem sua conformidade com a

situação real. Nesse contexto, Pierozan (2001) elucida que a validação das conclusões geradas

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no experimento, deve ser desempenhada por meio de testes de acompanhamento e

verificação.

f) Implementação das mudanças sugeridas no processo

Após determinada a configuração ideal que otimiza a característica de interesse, deve-

se implementá-la no processo a fim de maximizar os resultados da empresa. Para uma

implementação eficiente, Pierozan (2001) atenta para a importância da padronização das

tarefas, como garantia que todos os colaboradores envolvidos irão trabalhar da forma pré-

estabelecida e na busca pelos mesmos objetivos.

4.3 ANÁLISE DA CAPACIDADE DO PROCESSO

Posteriormente à implementação das mudanças sugeridas, deve ser avaliada a

capacidade do processo atual em fornecer produtos conformes (dentro dos limites de

especificação). Esta avaliação se embasa na análise de índices de capacidade (Cp, Cpk e

Cpm), os quais foram abordados de forma mais detalhada na seção 2.3 deste trabalho.

Para a condução desta fase, as amostras devem ser coletadas sob condições ideais, de

modo a garantir que o processo esteja em estado de controle estatístico, ou seja, isento de

causas especiais, de modo que o resultado quanto à capacidade reflita apenas as características

específicas do próprio processo analisado. Nestas circunstâncias, caso o processo não seja

considerado capaz, deve ser reconduzido à fase inicial do fluxo para a investigação da(s)

possível(s) causa(s) e, logo após, seguir para a otimização experimental; caso contrário, segue

direto para a fase de monitoramento.

4.4 MONITORAMENTO DO PROCESSO

Nesta fase, a nova configuração (ideal) sugerida na fase de experimentação e

posteriormente implementada no processo se comportará como variável(s) de entrada para a

aplicação do CEP. Conforme elucidado por vários autores (MONTGOMERY, 2005;

GODOY, 2014; WOODALL e MONTGOMERY, 2014; SONO e SOMKUNWAR, 2016), a

eficiência desta fase está atrelada a sua concretização por meio de duas etapas principais

distintas, as quais serão descritas na sequencia, com base nos autores citados anteriormente.

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a) Etapa I:

Nesta etapa, o investigador deve inicialmente verificar a estabilidade do processo, de

modo a garantir que as amostras sejam coletadas sob condições de controle estatístico, ou

seja, submetidas apenas a variações naturais do processo. Após garantir a estabilidade,

devem-se determinar as características da coleta (número e tamanho das amostras), e o tipo de

gráfico de controle que será utilizado. Para esta situação, Montgomery (2005) recomenda que

sejam recolhidas entre 20 e 30 amostras, de modo a garantir que estas amostras representem

fidedignamente o processo real. Sequencialmente, deve-se calcular os limites de controle com

base nas amostras coletadas, os quais servirão de parâmetros para a fase de monitoramento.

Vale salientar que estes limites deverão ser avaliados e recalculados continuamente, de modo

a garantir a eficiência dos gráficos de controle.

A aplicação do DOE em uma das fases deste modelo, implica na escolha do gráfico de

controle, em virtude da existência de fatores que influenciam na característica de qualidade

em estudo, devendo ser levando em consideração no controle estatístico de processos, como

forma de evitar qualquer falsa interpretação (GODOY, 2014). Para esta situação, Godoy

(2014) defende o uso de cartas como EWMA, EWMAREG e gráfico de controle de regressão.

b) Etapa II:

Esta etapa é responsável pelo monitoramento efetivo do processo. Sua

operacionalização consiste na coleta de novas amostras, as quais terão os valores da

característica(s) de interesse plotadas no gráfico de controle cujos parâmetros foram

estabelecidos na etapa anterior. Nesta etapa, vale ressaltar que a melhor forma de determinar

as condições de elaboração da amostragem (número e tamanho das amostras, e intervalo entre

amostras) deve ser determinada pelos responsáveis do processo, uma vez que paradas no

processo para a coleta dos dados pode ser muito custoso para a organização. Outro fator

agravante é quando se necessita fazer uso de testes destrutivos para a avaliação da

característica de interesse. Entretanto, em algumas situações é mais custoso e/ou arriscado a

elaboração itens não conformes, como por exemplo, a fabricação de algum tipo de

medicamento. Face às questões relatadas, recomenda-se que exista um consenso para a

elaboração de uma amostragem de forma ciente e objetiva.

Dando continuidade ao fluxo, no momento em que for sinalizada a presença de causas

especiais no processo, devem ser identificadas e eliminadas e os limites do gráfico de controle

recalculados. Para situações em que a causa da variação não for facilmente identificada, o

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66

investigador deve retornar à fase inicial do modelo para a investigação da(s) possível(s)

causa(s), estudo experimental, implementação da configuração ideal, análise de capacidade e,

por fim, voltar a monitorar o processo, sendo que agora isento destas causas.

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67

CAPÍTULO 5 – ESTUDO DE CASO

Este capítulo traz a princípio o panorama geral da pequena empresa “Big Bag do

Nordeste”, ressaltando o produto analisado nesta pesquisa, bem como seu processo de

fabricação. Adiante, é exposto de forma detalhada como se desenvolveu a aplicação do

modelo conceitual proposto de integração de ferramentas de qualidade, com foco em DOE e

CEP no processo de fabricação do “big bag padrão”; bem como os resultados gerados. Vale

ressaltar que esta pesquisa se desenvolveu por meio da parceria estabelecida entre a pequena

empresa e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.

5.1 PANORAMA GERAL DA EMPRESA

A Big Bag do Nordeste iniciou suas atividades comerciais em 4 de setembro de 2013,

com foco na produção e comercialização de embalagens manufaturadas em tecido de

polipropileno, tais como: sacarias (sacos de ráfia), comumente fornecidas para o setor

alimentício; e contentores flexíveis intitulados por “big bags” (principal produto da empresa),

cujos principais clientes são salineiras, indústrias de mineração e agricultura. Atualmente, ela

atende as regiões do Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará.

Portadora de uma área de 800 m², a empresa em estudo possui uma capacidade

instalada apta para atender um volume de produção de até l.000 big bags por dia útil (cerca de

22 mil por mês). Entretanto, sua demanda média mensal girou em torno de 12 a 13 mil big

bags no ano de 2015, apresentando uma queda de cerca de 50% em 201630. Seu faturamento

atual é de aproximadamente R$ 100.000,00 por mês, chegando a atingir R$ 350.000,00 em

períodos de ascensão econômica. Em situações normais, o quadro de funcionários é composto

por até 24 colaboradores. Face às condições apresentadas e com base na lei complementar n°

123, de 14 de dezembro de 2006, a Big Bag do Nordeste se enquadra como empresa de

pequeno porte, tributada pelo regime do lucro presumido.

Os big bags são recipientes de volume médio utilizados para o transporte ou

armazenamento temporário de materiais fluidos, sólidos e granéis. Trata-se de um sistema de

embalagem que além de resistente e versátil, também é econômico, pois conforme o manual

de segurança (2013) não requer nenhuma embalagem secundária ou paletização. Em sua

30 Este período de recessão econômica é conseqüência de fatores como a crise econômica nacional e a entrada de

novos fornecedores desse tipo de produto na região em que a Big Bag do Nordeste atua.

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manufatura utiliza-se tecido reciclável de polipropileno, costurados com revestimento interno

de polietileno, sempre de acordo com os padrões da Norma NBR1602931. Este material é

conhecido como tecido de ráfia e é utilizado para a confecção de todos os componentes do big

bag: corpo, fundo, saia, válvula de carga e descarga, alça e cadarço, os quais diferem entre si

em termos de gramatura do tecido, conforme disposto na Tabela 4.

Tabela 4 - Especificações técnicas dos tecidos usados para cada componente do big bag

Componentes do big bag Especificações técnicas do tecido

Corpo 160 g/m²

Fundo 160 g/m²

Saia 64 g/m²

Válvulas de carga e descarga 64 g/m²

Alça 25 g/metro linear

Cadarço 6 g/metro linear

Fonte: Autora (2016)

Podendo ser fabricado sob encomenda, estes recipientes estão disponíveis em

diferentes dimensões e especificações, de acordo com as necessidades de operações de cada

cliente. Os principais modelos ofertados pela empresa variam de acordo com o tipo de alça, de

tampa e de fundo. As alças podem ser espalmadas ou vincadas (também conhecidas como

abraçadas); a tampa pode ser totalmente aberta ou com saia superior (com ou sem válvula de

carga); e o fundo pode ser totalmente fechado ou com válvula de descarga inferior. Estes

modelos podem ser visualizados na Figura 12.

31Embalagens - Contentores intermediários flexíveis (FIBC) para produtos não perigosos (ISO

21898:2004, MOD).

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Figura 12 - Principais modelos de big bags conforme os critérios: tipo de alça, de tampa e de fundo

Fonte: Adaptado de AFIPOL, 2013.

Com base na classificação apresentada, a Big Bag do Nordeste disponibiliza seis tipos

básicos de big bags, os quais estão dispostos na Figura 13. O modelo analisado nesta pesquisa

é o C4, com saia de enchimento superior e válvula de descarga, o qual é tido como “padrão”

por ser o mais comercializado. Este modelo costuma ser manufaturado nas dimensões de 90

cm x 90 cm x 120 cm (comprimento x largura x altura); com capacidade de aproximadamente

1.000 kg e está custando atualmente em torno de R$ 26,50 por unidade.

Figura 13 - Esboço dos modelos básicos de big bags manufaturados pela empresa

Fonte: Material disponibilizado pela empresa Big Bag do Nordeste, 2016.

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O PCP (Planejamento e Controle da Produção) da empresa fundamenta-se no modo de

produção puxada, uma vez que as ordens de produção são geradas e ordenadas conforme as

ordens de pedidos emitidas pelos clientes, não havendo fabricação de mais de um tipo de big

bag simultaneamente. Juntamente com o cliente são negociadas questões como prazo de

entrega, forma de pagamento e logística de entrega. O transporte do produto final ao cliente

pode ou não gerar custos à organização (modalidade CIF ou FOB)32, dependendo das pré-

negociações durante o lançamento do pedido.

A escolha de seus parceiros comerciais, em geral seus fornecedores, se dá pela

priorização dos critérios qualidade, preço e prazo de entrega dos produtos. Quanto à política

de pós-venda, a empresa procura sempre manter uma boa relação, visitando desde os seus

clientes diretos até os seus clientes indiretos33 para verificar se o seu produto apresenta

alguma não conformidade e se está sendo utilizado dentro das condições ideais de uso e

manuseio pré-estabelecidas pelo fabricante (ver ANEXO C).

Quanto à política de qualidade, a empresa faz uso do modo de inspeção visual, por

meio do qual se analisam todas as unidades dos produtos manufaturados ao final do processo

de fabricação, a fim de detectar a presença de alguma anomalia, seja no tecido, na costura ou

na pintura. No entanto, ao fazer esta análise apenas com os produtos finalizados, aumenta os

custos com refugo e retrabalho, além do tempo desperdiçado durante a produção. Logo,

percebeu-se que esta empresa não possui uma sistemática de melhoria contínua, nem desfruta

dos benefícios oriundos de ferramentas estatísticas de melhoria de qualidade, como DOE e

CEP.

Com base nas informações relatadas, pode-se observar a necessidade de implantação

de um modelo de melhoria de qualidade que acompanhe o processo na medida em que ele é

executado, a fim de evitar que problemas de qualidade cheguem ao produto final e,

principalmente, aos seus consumidores.

O interesse por parte da empresa nesta pesquisa surgiu, devido a reclamações recentes

de seus clientes quanto ao rompimento nas alças dos big bags durante a sua utilização.

Segundo informações do proprietário da empresa, esta situação é potencializada muitas vezes

32As siglas CIF e FOB vem do inglês “Cost, Insurance and Freight” e “Free On Board”, respectivamente. Caso

o cliente compre a mercadoria da empresa no modo CIF, o transporte desta mercadoria é de responsabilidade da

empresa, bem como os gastos com frete e seguro, caso necessário. Já a compra pela modalidade FOB, transfere

essa obrigação ao comprador da mercadoria. 33Clientes indiretos de uma empresa são aqueles que fazem uso de seu(s) produto(s) por comprá-lo(s) de clientes

diretos da empresa, como exemplo, tem-se a seguinte situação: quando a Petrobrás compra os fardos de sal de seu fornecedor, os quais são

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pelo cumprimento deficiente das recomendações exigidas por parte dos clientes, como o uso

de carga acima da máxima admitida; exposição dos contentores a condições ambientais

inadequadas para sua conservação; entre outros. A Figura 14 traz registros de alças rompidas,

realizados em visitas aos clientes.

Figura 24 - Fotos de alças de big bags com defeitos

Fonte: Fotos registradas pela Big Bag do Nordeste em um período de 2014-2015.

Acidentes ocasionais podem ser gerados em virtude do rompimento destas alças

durante operações de içamento e mobilização/transporte do big bag, quando este se encontra

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carregado. Perdas financeiras, acidentes de trabalho e até danos ambientais34 (em menor

risco), são algumas de suas possíveis consequências. A fim de minimizar esta situação, este

trabalho buscou aplicar o modelo conceitual proposto no processo de fabricação dos big bags,

a fim de determinar uma configuração ideal dos fatores e seus respectivos níveis, que afetam a

resistência das alças, para posteriormente aplicar as mudanças no processo e por fim, poder

implementar técnicas de controle estatístico para monitorar a produção. Como não foi

possível realizar na prática o monitoramento, este trabalho apresenta uma descrição, de forma

conceitual, a respeito da forma como esta fase deverá proceder.

5.2 APLICAÇÃO DO MODELO PROPOSTO NO PROCESSO DE FABRICAÇÃO

DOS BIG BAGS

Inicialmente, vale destacar a importância da parceria “universidade-empresa” no

tocante a esta pesquisa, possibilitando benefícios mútuos para ambas as partes envolvidas. A

universidade disponibilizou recursos como o laboratório para a realização dos testes durante o

estudo experimental, além de know-how necessário para que a aplicação se desempenhasse da

forma mais eficiente possível. Já a empresa forneceu possibilidades de avanços na pesquisa

científica para o curso de pós-graduação em engenharia de produção da UFRN, ao conceder

seu espaço e todos os recursos que foram precisos para que o modelo desenvolvido pudesse

ser testado na prática. Na sequencia, serão descritas todas as atividades que foram

desempenhadas em cada fase do modelo proposto, de modo que a fundamentação teórica para

a operacionalização desta parte da pesquisa foi retratada no Capítulo 4.

5.2.1 Fase Preliminar

Nesta fase foram coletadas todas as informações necessárias para o delineamento do

problema, investigação das suas possíveis causas (fatores envolvidos e seus níveis) e

determinação dos fatores mais importantes. Conforme relatado anteriormente, o problema de

qualidade que impulsionou este estudo trata-se do rompimento das alças dos big bags. Esta

questão foi priorizada pela empresa devido ao histórico de reclamações dos clientes acerca

deste caso, além da gravidade dos impactos gerados em possíveis acidentes.

34Quando o material que está sendo carregado pelo big bag é despejado no meio ambiente podendo contaminá-

lo.

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Para a identificação das causas potenciais ao problema, inicialmente levantaram-se

todas as informações necessárias ao entendimento do processo de manufatura do big bag

padrão – etapas desenvolvidas e suas principais características, como: equipamentos

utilizados, tipos de matéria prima, operadores envolvidos, métodos aplicados, entre outros.

Para a coleta destes dados, realizou-se entrevistas com profissionais de todos os níveis da

empresa (dono/diretor da organização, técnico de qualidade, supervisora de produção, as

próprias costureiras, etc.), além de pesquisa de campo. Com base nestas informações,

elaborou-se um mapa para este processo35 (Figura 15), cujas etapas estão descritas na

sequência.

Figura 15 - Etapas do processo produtivo do big bag padrão

Figura 15 - Etapas do processo produtivo do big bag padrão

Fonte: Autora (2016)

35O big bag padrão apresenta um lead time (tempo de processamento) que varia de 9 a 10 minutos por unidade.

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Etapa 1 – Corte: nesta etapa é realizado o corte de todo o material necessário à

fabricação do big bag. Para tal, utilizam-se duas máquinas paralelamente, sendo a

primeira responsável pelo corte do corpo do produto, do fundo, da válvula inferior e

da saia superior; e a segunda destina-se ao corte das alças e dos cadarços.

Etapa 2 – Impressão: o corpo do big bag segue para a máquina de impressão, sobre o

qual é impressa a logomarca do cliente.

Etapa 3 – Produção: esta etapa é subdividida em quatro estágios - preparação, costura

das alças no corpo do big bag, fixação do fundo ao corpo e, por último, fixação da saia

ao corpo. O estágio de preparação consiste na montagem da saia e da válvula inferior

por meio da costura dos cadarços e da fixação da válvula ao fundo.

Etapa 4 – Vistoria: os produtos finalizados passam por uma inspeção visual para evitar

que possíveis defeitos cheguem aos clientes. Dependendo do tipo de avaria, o big bag

pode retornar à produção para ser recuperado ou será transformado em refugo.

Etapa 5 – Prensa: os produtos aptos para serem vendidos são encaminhados para a

máquina de prensa para a formação dos lotes de big bags, os quais podem variar de 10

a 25 unidades por lote.

Etapa 6 – Expedição: após a formação dos lotes, estes ficam aguardando o transporte,

o qual pode ser de responsabilidade da empresa ou do cliente, conforme dito

anteriormente.

Analisando as etapas do processo e tomando por base o problema relatado, definiu-se

que o estudo seria direcionado à etapa de produção, mais especificamente, à atividade de

costura das alças dos big bags. Sendo assim, elaborou-se uma matriz de causa e efeito (Figura

16) com base na atividade destacada, levando-se em consideração as seis categorias gerais

propostas pela literatura: materiais, métodos, mão de obra, medição, máquinas e meio

ambiente, as quais possivelmente influenciam na característica de interesse – resistência das

alças.

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Figura 16 - Diagrama de causa e efeito

Fonte: Autora (2016)

Com base no diagrama proposto, realizou-se um brainstorming com uma equipe

multidisciplinar, contendo colaboradores da empresa, dois estudantes e uma professora de

pós-graduação da UFRN, a fim de determinarem quais os fatores e seus níveis, que

possivelmente mais influenciam na característica de interesse, e posteriormente conduzi-los a

fase de experimentação. Os fatores escolhidos, a partir de agora denominados fatores

controláveis, e seus respectivos níveis, estão dispostos na Tabela 5. Vale salientar que, a fim

de facilitar a análise estatística, optou-se por subdividir o fator experiência das costureiras em

dois fatores: experiência em alça espalmada e experiência em alça vincada. Isso se deve ao

fato de que uma mesma costureira pode ter experiência em ambos os tipos de alça, em apenas

um ou em nenhum dos dois.

Tabela 5 - Fatores e níveis usados na fase de experimentação

Fator Abreviatura Nível baixo (-1) Nível alto (1)

Velocidade da máquina de costura A Máquina lenta Máquina rápida

Experiência em vincada B Sem experiência Com experiência

Experiência em espalmada C Sem experiência Com experiência

Tipo de alça D Alça espalmada Alça vincada

Comprimento da costura E Comprimento menor Comprimento maior

Fonte: Autora (2016)

Medição Materiais Mão de obra

Método Meio ambiente Máquina

Máquinas de

costura com

velocidades

diferentes

Costureiras com

diferentes níveis de

experiência

Tecido de ráfia

Linha

Condições

ambientais

normais

Dinamômetro

(UFRN)

Resistência das

alças do big bag

padrão

Tamanho da

costura

Tipo de

costura

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76

5.2.2 Estudo experimental

Nesta fase aplica-se o DOE com o intuito de determinar quais fatores e suas possíveis

interações afetam significativamente a característica de interesse (resistência das alças) deste

estudo. A hipótese que surge a partir disto é de que ao se determinar os parâmetros

significativos poderá então estabelecer uma configuração ideal, de modo a otimizar a

atividade de costura destas alças.

5.2.2.1 Descrição das características do experimento

Inicialmente, foi realizado um levantamento de todas as informações necessárias à

condução do experimento. Neste contexto, observa-se um planejamento fatorial com 5 fatores

e 2 níveis cada, cuja coleta das amostras deve ser realizada com restrição na aleatorização

devido à presença de três fatores de difícil mudança: máquina, experiência em espalmada e

experiência em vincada. Diante disto, o experimentador optou pela realização de um

experimento fatorial Split Plot 2³ x 2² com 2 repetições e 2 réplicas, configurando 32

tratamentos distintos e 128 unidades observacionais. Não foram utilizados blocos neste

experimento. Sendo assim, os fatores citados como de difícil mudança estarão associados à

parcela, enquanto os outros dois (tamanho e tipo de alça) à sub-parcela. É importante ressaltar

que os fatores experiência em espalmada e experiência em vincada são observados em uma

mesma costureira. Neste processo não se observaram fatores de ruído que tivessem potencial

para afetá-lo de forma significativa, sendo assim, não foram considerados na análise do

experimento.

5.2.2.2 Condução do experimento

Em virtude da limitação encontrada quanto à inexistência de um equipamento

especializado para testes de resistência de alças de big bag nas localidades próximas, optou-se

para esta análise, utilizar um dinamômetro - TENSOLAB 3000 MESDLAN (Figura 17),

disponível no laboratório de caracterização de materiais têxteis da UFRN - LABCTEX. Por

meio deste equipamento, aplicou-se nas amostras um teste destrutivo de determinação de

resistência ao esgaçamento de costura, regido pela norma ISO 13935/2.

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77

Figura 17 - Dinamômetro TENSOLAB 3000 MESDLAN

Fonte: Foto registrada pela autora deste trabalho (2016)

Para garantir a eficiência dos resultados, a norma citada para este tipo de teste exige

que as amostras apresentem dimensões de 5cm x 20cm (largura x comprimento). Neste

contexto, como forma de adaptar o objeto real de estudo aos requisitos exigidos, as amostras

que foram desenvolvidas representam um recorte, em tamanho reduzido, da alça fixada ao

corpo do big bag por meio de um tipo de costura que pode ser espalmada ou vincada,

conforme mencionado anteriormente.

Para a confecção destas amostras foram selecionadas quatro costureiras, de modo a

reproduzir quatro situações distintas quanto ao nível de experiência. A primeira apresentava

experiência na confecção dos dois tipos de alças, a segunda apenas em alça vincada, a terceira

apenas em alça espalmada e a quarta não apresentava experiência em nenhuma das alças. As

costureiras foram antepostas de forma intencional, cuja indicação foi realizada pela

supervisora de produção da empresa. Quanto ao fator tamanho da costura, foram considerados

dois tamanhos distintos, 10 cm para o de maior comprimento e 6 cm para o de menor

comprimento. A Figura 18 ilustra os quatro diferentes modelos de amostra, quanto aos

fatores, tamanho e tipo de costura. As duas primeiras representam modelos de alça espalmada

e as outras duas, alças vincadas.

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78

Figura 18 - Modelos das amostras desenvolvidas

Fonte: Foto registrada pela autora deste trabalho (2016)

O processo de elaboração destas amostras foi conduzido e monitorado pela autora

deste trabalho, de modo a minimizar os possíveis erros oriundos deste procedimento. Foram

também registradas, em uma planilha física, todas as observações consideradas pertinentes,

durante o processo de coleta e após este (por meio da inspeção visual das amostras, já que os

testes são destrutivos), para servirem de consulta, caso apareça nos resultados gerados algum

dado incomum. As principais informações registradas foram: tempo de costura da unidade

amostral; necessidades de paradas no processo devido a problemas como quebras de máquina,

falta de material, entre outros; presença de defeitos nas amostras como costura diferentes do

padrão e/ou fora da marcação e avarias no tecido provocada pelo processo.

Durante a execução do estudo experimental, buscou-se assegurar que todos os fatores

externos que pudessem intervir no resultado do experimento fossem controlados. Um destes

fatores trata-se do fato de que o dinamômetro utilizado só pode ser manuseado por pessoas

qualificadas e autorizadas36; sendo assim, os testes foram conduzidos com o auxílio do

bolsista técnico do LABCTEX. Outro fator considerado externo trata-se da matéria prima

utilizada para a confecção das amostras, a qual foi previamente inspecionada para evitar que

36 Vale destacar, que esta mesma análise foi conduzida anteriormente sem o auxílio de uma pessoa treinada para

a condução destes testes, gerando problemas no decorrer do experimento que culminaram com a perda de um

lote de amostras.

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79

possíveis avarias no tecido pudessem comprometer os resultados, dado que foram utilizados

os retalhos dos tecidos do corpo e das alças do big bag para esta confecção. Por fim,

procurou-se garantir que o dinamômetro não estivesse apresentando falhas de funcionamento.

Ao final do teste, o equipamento utilizado gera os resultados em termos de força

máxima (N) necessária para o esgaçamento completo da costura, tempo necessário(s) e

máximo alongamento do tecido (%). Tais resultados, bem como as condições estabelecidas

para a realização do experimento como: condições de temperatura e umidade relativa do ar,

velocidade da garra, pré-tensão aplicada, entre outros; podem ser visualizados no ANEXO D.

A Figura 19 retrata o diagrama do experimento fatorial Split Plot realizado neste experimento,

na ordem em que foram coletadas as amostras e executados os testes, destacando a restrição

encontrada na aleatorização. Vale destacar que os resultados numéricos do diagrama

correspondem à força máxima média gerada em cada uma das repetições de cada teste.

Réplica 1

1 A+ B+ C+ D-E- D-E+ D+E- D+E+

2114 N 1787 N 2492 N 2763 N 2104 N 2089 N 2132 N 1814 N

2 A+ B+ C - D+E+ D-E+ D-E- D+E-

1918 N 1888 N 2035 N 2867 N 1595 N 2302 N 1746 N 2186 N

3 A+ B - C - D+E- D+E+ D-E+ D-E-

1408 N 1499 N 1864 N 2126 N 3034 N 2815 N 2251 N 1721 N

4 A+ B - C+ D-E- D+E+ D+E- D-E+

2439 N 2377 N 1856 N 1636 N 1750 N 1740 N 2759 N 2791 N

5 A- B+ C - D-E- D+E- D+E+ D-E+

1840 N 1889 N 1505 N 1184 N 1703 N 1756 N 2039 N 2168 N

6 A- B - C - D-E+ D-E- D+E- D+E+

2643 N 2116 N 233 N 1905 N 1142 N 1162 N 1743 N 2321 N

7 A- B+ C+ D-E+ D-E- D+E- D+E+

2844 N 2403 N 1784 N 1998 N 1379 N 1605 N 1971 N 1606 N

8 A- B - C+ D-E- D-E+ D+E+ D+E-

1490 N 2017 N 2363 N 2424 N 1852 N 1790 N 1370 N 1379 N

Réplica 2

1 A+ B+ C+ D+E- D-E+ D+E+ D-E-

1799 N 1717 N 3125 N 2829 N 1750 N 1744 N 1717 N 1707 N

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2 A+ B+ C - D-E+ D+E- D+E+ D-E-

2870 N 2737 N 1936 N 1888 N 2059 N 1899 N 1867 N 2533 N

3 A+ B - C - D-E- D-E+ D+E- D+E+

2221 N 1179 N 2452 N 2460 N 1545 N 1597 N 1758 N 1996 N

4 A+ B - C+ D-E- D-E+ D+E+ D+E-

2442 N 2624 N 2836 N 2799 N 2014 N 2105 N 1345 N 1613 N

5 A- B+ C - D+E- D+E+ D-E+ D-E-

1852 N 1465 N 2250 N 2154 N 2319 N 2302 N 1939 N 1948 N

6 A- B - C - D+E+ D-E- D+E- D-E+

1966 N 2071 N 1330 N 1900 N 1496 N 1245 N 2653 N 2269 N

7 A- B+ C+ D+E+ D-E+ D+E- D-E-

2189 N 2203 N 2340 N 2714 N 1368 N 1489 N 2074 N 1785 N

8 A- B - C+ D+E- D-E+ D+E+ D-E-

1554 N 1626 N 2977 N 2987 N 1774 N 2062 N 2021 N 1996 N

Figura 19 – Diagrama do experimento fatorial Split Plot 2³ x 2² com 2 repetições e 2 réplicas

Fonte: Autora (2016)

5.2.2.3 Análise do experimento

Para a análise dos resultados do experimento fez-se uso do software estatístico Minitab

17. Inicialmente, elaborou-se uma matriz de dispersão (Figura 20) para avaliar a relação

existente entre as variáveis, força máxima, tempo e máximo alongamento. Com base na

análise da matriz, percebe-se uma relação positiva forte entre o tempo e o alongamento

máximo, entretanto, ambas as variáveis não apresentam sinais de relação com a força

máxima.

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Figura 20 - Matriz de dispersão para as variáveis, força máxima média, alongamento máximo médio e

tempo médio

Fonte: A matriz foi gerada no software Minitab 17

Tal comportamento se dá pelo fato das estruturas têxteis serem flexíveis, de modo que

quando submetidas a uma dada força tendem a se acomodar entre as arestas até a sua ruptura.

Com base no que foi relatado e considerando que a velocidade aplicada na garra durante o

teste é constante (50 mm/min), pode-se inferir que quanto maior for o alongamento sofrido

pela amostra, maior será o tempo preciso para ela se romper, e vice-versa. Entretanto, a força

máxima necessária depende apenas da resistência associada às características da própria

estrutura do material, podendo estabelecer assim, uma relação direta desta variável com a

característica de interesse deste estudo. Logo, a variável resposta considerada para a análise

do experimento foi a força máxima, as demais foram desconsideradas.

Na sequencia, elaborou-se um gráfico com os valores individuais (Figura 21) gerados

para a força máxima, com o propósito de avaliar de forma visual a variabilidade existente

entre os dados de mesma repetição, a fim de determinar se é viável considerar a média entre

estas repetições na análise dos resultados.

3000

2000

1000

604020

604020

60

40

20

300020001000

60

40

20

Força Max Média

Alongamento Max. Médio

Tempo Médio

Matriz de Dispersão de Força Max Média; Alongamento Max.; Tempo Médio

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82

Figura 21 - Gráfico dos valores individuais de força máxima gerados no experimento

Fonte: O gráfico foi gerado no software Minitab 17

Pela análise do gráfico, pode-se perceber que os valores se comportam de forma

semelhante, com exceção da amostra 43 cujo valor gerado pela força máxima (233N) se

destoa bastante dos demais. Em virtude disso, foram consultadas as anotações realizadas

durante a coleta e identificou-se que nessa amostra ocorreu um problema na máquina durante

a costura, ocasionando a formações de um ponto solto37, o que provavelmente comprometeu

sua resistência. Sendo assim, essa amostra foi descartada e considerou-se apenas o resultado

gerado pela repetição. Para os demais valores, foram considerados os resultados das médias

das repetições, as quais foram organizadas e digitalizadas, juntamente com as demais

variáveis que foram também codificadas: fatores de controle e seus níveis, número da

repetição (agora se considera apenas a média) e o número da replicação, a fim de atender os

requisitos operacionais do software Minitab 17, e dar continuidade a esta análise. A Tabela 6

apresenta os valores médios para a força máxima, além das demais variáveis referentes a cada

resposta, de forma codificada.

37 Ocorre quando parte da linha fica fora do tecido.

Máquina (C)

Costureira

Tipo (D) + Tamanho (E)

1-1

43214321

D+E+

D+E-

D-E

+D-E

-

D+E+

D+E-

D-E

+D-E

-

D+E+

D+E-

D-E

+D-E

-

D+E+

D+E-

D-E

+D-E

-

D+E+

D+E-

D-E

+D-E

-

D+E+

D+E-

D-E

+D-E

-

D+E+

D+E-

D-E

+D-E

-

D+E+

D+E-

D-E

+D-E

-

3500

3000

2500

2000

1500

1000

500

0

Fo

rça M

ax [

N]

Gráfico de Valores Individuais de Força Max [N]

B+C+ B+C- B-C- B+C+B-C+ B+C- B-C+ B-C-

-1 1

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83

Tabela 6 - Valores médios para a força máxima e as demais variáveis referentes a cada variável

resposta.

N° da

Amostra

Força

Max

Média

Máquina

(A)

Exp.

Vincada

(B)

Exp.

Espalmada

(C)

Tipo de

Alça

(D)

Comprime

nto da

costura (E)

Repetição Replica-

ção

1 1950,50 1 1 1 -1 -1 1 1

2 2627,50 1 1 1 -1 1 1 1

3 2096,50 1 1 1 1 -1 1 1

4 1973,00 1 1 1 1 1 1 1

5 1903,00 1 1 -1 1 1 1 1

6 2451,00 1 1 -1 -1 1 1 1

7 1948,50 1 1 -1 -1 -1 1 1

8 1966,00 1 1 -1 1 -1 1 1

9 1453,50 1 -1 -1 1 -1 1 1

10 1995,00 1 -1 -1 1 1 1 1

11 2924,50 1 -1 -1 -1 1 1 1

12 1986,00 1 -1 -1 -1 -1 1 1

13 2408,00 1 -1 1 -1 -1 1 1

14 1746,00 1 -1 1 1 1 1 1

15 1745,00 1 -1 1 1 -1 1 1

16 2775,00 1 -1 1 -1 1 1 1

17 1864,50 -1 1 -1 -1 -1 1 1

18 1344,50 -1 1 -1 1 -1 1 1

19 1729,50 -1 1 -1 1 1 1 1

20 2103,50 -1 1 -1 -1 1 1 1

21 2379,50 -1 -1 -1 -1 1 1 1

22 1905,00 -1 -1 -1 -1 -1 2 1

23 1152,00 -1 -1 -1 1 -1 1 1

24 2032,00 -1 -1 -1 1 1 1 1

25 2623,50 -1 1 1 -1 1 1 1

26 1891,00 -1 1 1 -1 -1 1 1

27 1492,00 -1 1 1 1 -1 1 1

28 1788,50 -1 1 1 1 1 1 1

29 1753,50 -1 -1 1 -1 -1 1 1

30 2393,50 -1 -1 1 -1 1 1 1

31 1821,00 -1 -1 1 1 1 1 1

32 1374,50 -1 -1 1 1 -1 1 1

33 1758,00 1 1 1 1 -1 1 2

34 2977,00 1 1 1 -1 1 1 2

35 1747,00 1 1 1 1 1 1 2

36 1712,00 1 1 1 -1 -1 1 2

37 2803,50 1 1 -1 -1 1 1 2

38 1912,00 1 1 -1 1 -1 1 2

39 1979,00 1 1 -1 1 1 1 2

40 2200,00 1 1 -1 -1 -1 1 2

41 1700,00 1 -1 -1 -1 -1 1 2

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84

42 2456,00 1 -1 -1 -1 1 1 2

43 1571,00 1 -1 -1 1 -1 1 2

44 1877,00 1 -1 -1 1 1 1 2

45 2533,00 1 -1 1 -1 -1 1 2

46 2817,50 1 -1 1 -1 1 1 2

47 2059,50 1 -1 1 1 1 1 2

48 1479,00 1 -1 1 1 -1 1 2

49 1658,50 -1 1 -1 1 -1 1 2

50 2202,00 -1 1 -1 1 1 1 2

51 2310,50 -1 1 -1 -1 1 1 2

52 1943,50 -1 1 -1 -1 -1 1 2

53 2018,50 -1 -1 -1 1 1 1 2

54 1615,00 -1 -1 -1 -1 -1 1 2

55 1370,50 -1 -1 -1 1 -1 1 2

56 2461,00 -1 -1 -1 -1 1 1 2

57 2196,00 -1 1 1 1 1 1 2

58 2527,00 -1 1 1 -1 1 1 2

59 1428,50 -1 1 1 1 -1 1 2

60 1929,50 -1 1 1 -1 -1 1 2

61 1590,00 -1 -1 1 1 -1 1 2

62 2982,00 -1 -1 1 -1 1 1 2

63 1918,00 -1 -1 1 1 1 1 2

64 2008,50 -1 -1 1 -1 -1 1 2

Fonte: Autora (2016)

Posteriormente, foram gerados no Minitab 17, os gráficos de pareto dos efeitos

padronizados e semi-normal, para servirem de base na análise de quais efeitos influenciam na

variável resposta – força máxima. O primeiro gráfico ilustra uma linha de referência que serve

de base para esta análise, de modo que se um dado efeito ultrapassa essa linha, é

potencialmente importante. Já no segundo gráfico, a linha representada indica que quanto

mais próximos os pontos estiverem dessa linha, menor será o efeito sobre a variável resposta.

Tais gráficos foram gerados inicialmente para avaliar apenas os efeitos dos fatores de

difícil mudança: velocidade da máquina, experiência em espalmada e experiência em vincada

(Figura 22 e 23, respectivamente).

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Figura 22 - Gráfico de Pareto dos efeitos padronizados (de difícil mudança)

Fonte: O gráfico foi gerado no software Minitab 17

Figura 23 - Gráfico half normal dos efeitos padronizados (de difícil mudança)

Fonte: O gráfico foi gerado no software Minitab 17

Com base na análise dos gráficos ilustrados e nos critérios pré estabelecidos por estes

gráficos para este tipo de análise, abordados anteriormente, presume-se que o fator rapidez da

máquina gera um efeito significativo na variável resposta - força máxima. Na sequência, os

mesmos gráficos foram gerados analisando-se os efeitos de todos os fatores, os quais estão

ilustrados na Figura 24 e 25.

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86

Figura 24 – Gráfico de Pareto dos efeitos padronizados Fonte: O gráfico foi gerado no software Minitab 17

Figura 25 - Gráfico half normal dos efeitos padronizados Fonte: O gráfico foi gerado no software Minitab 17

A partir da análise do gráfico de pareto e semi-normal para os efeitos das interações

entre todos os fatores, pode-se notar que os fatores que mais afetam a variável resposta são o

tipo de costura (D) e o tamanho da alça (E). Os gráficos das figuras 22, 23, 24 e 25, são

complementes, de modo que os efeitos ativos são os que se destacam em cada gráfico – A, D

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87

e E. A partir desta afirmativa, geraram-se os gráficos para análise dos efeitos principais de

cada fator (Figura 26) e dos efeitos das interações dos fatores A, D e E (Figura 27), para por

fim, estabelecer qual a configuração ideal destes fatores, de modo a maximizar a variável

resposta.

Figura 26 - Gráfico de efeitos principais

Fonte: O gráfico foi gerado no software Minitab 17

O gráfico dos efeitos principais possibilita analisar o efeito individual que cada fator

exerce sobre a variável de resposta. Com base neste gráfico, a configuração ideal para cada

um dos fatores seria: máquina rápida (A+), tipo de costura espalmada (D-) e costura de maior

tamanho (E+); de modo que todos os resultados condizem com o esperado. Pode-se visualizar

no gráfico que os fatores experiência em vincada e espalmada não apresentam uma variação

significativa, reafirmando a hipótese de que não são estatisticamente significantes.

Figura 27 – Gráfico de interação para a força máxima média

Fonte: O gráfico foi gerado no software Minitab 17

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88

O gráfico de interação foi gerado com o intuito de analisar se o efeito de um dado fator

depende do nível de outro(s) fator(s). Esta análise foi direcionada para os fatores elucidados

como principais, com relação ao efeito sobre a variável resposta: rapidez da máquina, tipo de

costura e tamanho da costura. Desta forma, pode-se perceber que quando o tipo de alça

vincada é substituído pela alça espalmada, tanto a costura de menor tamanho, como de maior

tamanho, aumentam a força máxima aplicada, sendo que a de maior tamanho apresenta

melhor desempenho. Com base na mesma análise, ao partir do tipo de alça vincada para a alça

espalmada, e do menor tamanho para o maior tamanho da costura, tanto a máquina rápida

quanto a lenta apresentam melhor resultado, sendo que a máquina rápida se destaca em

relação à lenta.

Sintetizando os resultados deste experimento, conclui-se que os fatores prioritários são

a rapidez da máquina, o tipo e o tamanho da costura, e seus níveis ideais, que maximizam o

efeito da força máxima necessária para o rompimento das alças, são maior rapidez, espalmada

e de maior tamanho, respectivamente. Neste contexto, percebeu-se que os resultados quanto

aos níveis dos fatores D e E retratam o que já era esperado, uma vez que a alça espalmada já

foi uma evolução do modo de produção anterior com a finalidade de maximizar esses

resultados; e quanto ao tamanho da costura, espera-se que uma maior área de fixação entre a

alça e o corpo do big bag culmine com uma maior resistência. Outra consideração importante

a ser feita, é que esta análise foi desenvolvida para amostras de recortes de alças, de tamanho

reduzido, de modo que se espera que retratem o comportamento das alças dos big bags reais,

conforme citado por Montgomery (1992), “[...] o experimento deve ser projetado para obter a

inferência estatística mais precisa possível.”

5.2.3 Estudo da capacidade do processo

Para este processo, não foi possível realizar uma análise de capacidade, pois esta

análise exige o valor dos limites de especificação da característica de interesse, os quais não

foram possíveis de estimar em virtude de alguns fatores:

Conforme abordado, a característica de interesse deste estudo trata-se da resistência

das alças, que por sua vez, foi tratada como uma característica qualitativa, cuja análise

baseou-se no valor na força máxima necessária para o esgaçamento da costura das

amostras. Entretanto, o que ainda existe na prática é o limite mínimo exigido para a

carga suportada pelo big bag - 1.000 kg, e não foi encontrada uma equação para

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89

relacionar esse valor com a força máxima suportada, sendo necessário um estudo mais

aprofundado acerca do tema.

Outro fator que impediu esta análise está relacionado com as características das

amostras utilizadas no experimento, as quais se tratam de recortes do produto original

em tamanho reduzido. Dessa forma, ainda que tivesse sido possível estimar os valores

dos limites de especificação para a força máxima, necessitaria de estudos mais

aprofundados para ver a possibilidade de relacioná-los com os valores obtidos para as

amostras.

5.2.4 Monitoramento do processo – CEP

Para a implementação desta fase do modelo foram encontradas algumas restrições

como a impossibilidade de avaliar a resistência das alças do produto real, em virtude da

inexistência de um equipamento especializado nas localidades próximas. Desta forma, o

monitoramento só poderia ser realizado por meio da coleta de amostras, podendo tornar a

análise tendenciosa. Outra questão, é que mesmo que fosse possível realizar os testes nos

produtos reais, esta análise seria bastante custosa para a organização, em virtude de estes

testes serem destrutivos. E por fim, não foi possível realizar novas coletas na empresa devido

às limitações encontradas quanto ao prazo de execução desta pesquisa e da condição atual em

que a empresa se encontra, devido a uma queda significativa na demanda de seus produtos e,

consequentemente, no volume de produção.

Mesmo não sendo possível realizar esta análise da forma indicada, este trabalho

propôs um modelo de gráfico de controle como produto da primeira etapa da aplicação do

CEP, com base nos dados oriundos dos resultados das amostras coletadas na fase de

experimentação.

Explicitando de forma mais detalhada, foram coletadas 128 amostras, das quais 16

apresentam a configuração ótima proposta pela experimentação (confeccionadas na máquina

rápida, costura da alça espalmada e de maior tamanho). Como as amostras foram coletadas

sob condições ideais, acompanhadas e devidamente monitoradas, inferiu-se que o processo de

elaboração destas amostras estava sob controle estatístico, ou seja, isento de causas especiais.

Dessa forma, foram utilizados os resultados encontrados para a variável resposta (força

máxima) destas amostras, como entrada para o cálculo dos limites de controle e posterior

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90

construção do gráfico que seria utilizado na segunda etapa, que seria o monitoramento de

forma efetiva.

Conforme citado por Godoy (2014) e mencionado na seção 4.3 deste trabalho, um dos

gráficos de controle sugeridos para monitorar processos, quando a característica de qualidade

observada sofre influência de fatores de controle, é o EWMA, o qual foi utilizado neste

trabalho. Outra contribuição importante acerca deste gráfico se dá pelo seu poder de detecção

de pequenas variações no processo. Entretanto, anterior a fase de elaboração do gráfico,

necessita-se avaliar se as observações coletadas satisfazem as condições exigidas para o seu

uso: serem oriundas de sequência de variáveis aleatórias normal, independentes e

identicamente distribuídas. Na sequencia serão apresentados os testes que foram aplicados

para verificar estas suposições. Todos os resultados apresentados foram gerados e

reproduzidos do Software R (2015).

5.2.4.1 Estatísticas e testes

Para auxiliar na análise quanto à normalidade, elaboraram-se inicialmente os gráficos

de histograma e boxplot (Figura 28), os quais demonstraram certa simetria na distribuição dos

dados, indicando que estes dados provavelmente seguem uma distribuição normal.

Figura 28 – Histograma e Boxplot

Fonte: Gráficos gerados pelo software estatístico R (2015)

Além dos gráficos apresentados, gerou-se o gráfico Q-Q Plot38 (Figura 29) para

também auxiliar nesta avaliação de suposição de normalidade. Em virtude da distribuição de

pontos neste gráfico se aproximarem de uma reta, é sustentada a suposição de normalidade.

38 Para mais detalhes acerca deste gráfico, consultar Bussab e Morettin (2013).

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Figura 29 – Gráfico normal Q-Q

Fonte: Gráfico gerado pelo software estatístico R (2015)

Como forma de atestar os resultados apresentados pelos gráficos aplicou-se o teste de

Shapiro-Wilk39, sobre o qual obtivemos o seguinte valor para a estatística de teste: W= 0,9503

com o conseguinte P – value = 0,1469. Como a hipótese nula considera que os dados se

comportam segundo uma distribuição normal, então não rejeitamos esta hipótese ao nível de

5% de significância.

Já para testar se os dados são independentes, utilizou-se o gráfico da função de auto

correlação (ACF) (Figura 30). Este teste considera desprezível a suposição de autocorrelação

de ordem k, se o lag k estiver dentro dos limites do gráfico. Para este caso, observou-se que

todos os pontos permaneceram dentro dos limites. Logo, o teste sinaliza a ausência de

autocorrelação de todas as ordens e, portanto, consideram-se os dados independentes.

39 Mais detalhes sobre este teste podem ser observados em Siegel e Castellan (2006).

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92

Figura 30 – Gráfico da função de autocorrelação

Fonte: Gráfico gerado pelo software estatístico R (2015)

5.2.4.2 Elaboração do gráfico EWMA

Após verificar que são razoáveis as suposições de normalidade e independência das

observações, gerou-se o gráfico EWMA para m=32 (número de amostras) e n=1 (tamanho de

cada amostra), o qual se encontra ilustrado na Figura 31. Ao observar o gráfico, pode-se notar

que todos os 32 pontos estão dentro dos limites de controle e de forma aleatória. Logo, um

futuro monitoramento do processo poderá adotar estes limites. Vale ressaltar que o desvio

padrão utilizado na montagem deste gráfico difere do desvio padrão das amostras, visto que

neste caso específico utiliza-se o desvio padrão das médias móveis (MONTGOMERY, 2005).

A estatística do EWMA é dada por:

Zi = λXi + (1 – λ)Zi-1 , sendo comum adotar-se λ=2

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Figura 31 – EWMA

Fonte: Gráfico gerado pelo software estatístico R (2015)

Para um futuro monitoramento, a empresa pode adotar esta mesma política de coleta

de observações individuais, entretanto, seria preferível que não fossem coletadas todas em um

mesmo dia, sugerindo-se um espaçamento de tempo maior entre as coletas. Entretanto, os

mais indicados para elaborar as condições para a coleta são os próprios responsáveis pelo

processo, conforme abordado na seção 4.3 deste trabalho.

Para finalizar, vale ressaltar que o objetivo maior desta proposta seria detalhar os

conceitos de CEP, representando como essa análise deveria se proceder na prática, caso o

monitoramento pudesse ser desenvolvido da forma apropriada.

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CAPÍTULO 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve como propósito principal desenvolver uma metodologia estruturada

e sistematizada para a integração de ferramentas de melhoria da qualidade, com foco em

experimentos planejados e controle estatístico de processos, de forma que fosse de fácil

aplicação, podendo assim, ser implantada em micro empresas e empresas de pequeno porte.

Outro direcionamento complementar, não menos importante, dado a este estudo, foi analisar

as características, em especial, os benefícios advindos da parceria estabelecida entre empresas

e universidades para fundamentar a hipótese deste trabalho de que a implementação do

modelo conceitual proposto em pequenas empresas por meio do auxílio desta parceria

aumenta as chances de resultados satisfatórios.

Com base nisso, foi realizada uma intensa busca na literatura sobre os temas

relatados, como forma de balizar esta pesquisa por meio de conceitos, métodos/técnicas e

estudos de casos, trazidos por autores conceituados e publicações em periódicos. No tocante

ao tema “uso integrado de ferramentas de qualidade, com foco em CEP e DOE”, percebeu-se

uma forte tendência atual para esta ideação. Entretanto, ainda são limitados os números de

autores que trazem uma metodologia estruturada para este fim, impulsionando ainda mais este

estudo.

Outro fator impulsionador trata-se da tendência atual em investir em pequenos

negócios e o papel que estes empreendimentos tem gerado na conjuntura econômica

brasileira, aliado ao alto índice de mortalidade destas empresas. Na consulta à literatura

percebe-se que tal fato se dá em diversas situações pela deficiência na gestão da qualidade,

bem como em atividades de pesquisa e desenvolvimento de modo a seguir a linha atual

voltada para a inovação. Este cenário baliza os preceitos desta pesquisa em desenvolver um

modelo de fácil aplicação, com o mínimo de recursos, e por meio do estabelecimento de

parcerias.

Em se tratando da elaboração do modelo, foram utilizados um grupo de artigos

criteriosamente selecionados para a seleção dos principais conceitos acerca do tema, melhores

métodos, técnicas e comportamentos de casos de sucesso; para por fim, elaborar a proposta

principal desta pesquisa. Na sequencia deste trabalho, foi estabelecida uma parceria com uma

empresa de pequeno porte, onde foi possível tanto testar a aplicação do modelo, como os

benefícios desta parceria; mostrando na prática o papel de fundamental importância desta

pesquisa.

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Vale destacar que ao longo deste estudo foram encontradas diversas limitações,

podendo-se destacar as dificuldades apresentadas na consecução de experimentos sem o

devido planejamento prévio, uma vez que as amostras utilizadas nesta análise foram

elaboradas mais de uma vez, para enfim atender as especificações exigidas, de modo que os

resultados fossem o mais representativo possível. Outro fator que merece destaque trata-se do

prazo para a execução desta pesquisa, o que impediu estudos mais aprofundados em detalhes

técnicos específicos da área de engenharia têxtil; bem como o envio de unidades de big bags

para laboratórios mais distantes para uma análise mais apropriada em equipamentos

especializados para este fim.

Como sugestão para novas pesquisas, indica-se que este modelo seja aplicado em

outras empresas e/ou outros tipos de processos como forma de testar sua aplicabilidade em

situações diversas. Propõe-se ainda ampliar os estudos desta pesquisa usando como base

temas que são tendências atuais como metodologia seis sigma, para aumentar a eficiência

desta aplicação, e modelo de inovação aberta aplicado em MPEs, como forma de ampliar os

horizontes destas empresas, e garantir o seu desenvolvimento.

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ANEXO A – Gráfico referente à taxa de sobrevivência de empresas (criadas em 2007) com

até 2 anos para 15 países

Fonte: OECD (2013) apud SEBRAE (2013)

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103

ANEXO B - Setor Indústria - Variáveis –– 2009 a 2011

Fonte: Sebrae e FGV, a partir de dados do IBGE apud SEBRAE (2014b)

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104

ANEXO C - Resumo das recomendações para uso e manuseio ideal de contentores flexíveis

Fonte: AFIPOL, 2013.

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105

ANEXO D – Tabela com os resultados gerados neste experimento pelo dinamômetro

TENSOLAB 3000 MESDLAN

Teste de Tração Tecido com MesdanLab Dinamômetro

De acordo com o padrão ISO 13934/2-EN ISO 13934/2 Fabrictraction Grab Meth. – First Edition 1999-02-15/ Ref.Num. ISO

13934-2:1999

Tipo de teste: Determinação de Resistência ao Esgaçamento de Costura

Descrição da amostra Número de Amostras:128

Material:

Comprimento da amostra: 200 [mm] Célula de Carga ID/FS [kg]:5/500 X 1

Velocidade da garra: 50 [mm/min] Pré-tensão: 0[N]

Máquina de teste: TENSOLAB 3000 MESDLAN

Condições do teste:21°C, 65% UR

Observações: Método:Amostra seca /

Resultado de Amostras Únicas

Amostra # Força Max [N] Alongamento Max[%] Tempo [s]

1Urdume 2114 27,30 32,80

2Urdume 1787 34,50 41,40

3Urdume 2492 27,60 33,10

4Urdume 2763 37,50 45,00

5Urdume 2104 42,00 50,40

6Urdume 2089 38,70 46,40

7Urdume 2132 40,50 48,60

8Urdume 1814 43,80 52,60

9Urdume 1918 33,00 39,60

10 Urdume 1888 39,90 47,90

11 Urdume 2035 25,50 30,60

12 Urdume 2867 19,80 23,80

13 Urdume 1595 31,50 37,80

14 Urdume 2302 30,00 36,00

15 Urdume 1746 38,40 46,10

16 Urdume 2186 39,30 47,20

17 Urdume 1408 36,00 43,20

18 Urdume 1499 38,70 46,40

19 Urdume 1864 40,80 49,00

20 Urdume 2126 39,30 47,2

21 Urdume 3034 18,00 21,60

22 Urdume 2815 23,10 27,70

23 Urdume 2251 29,40 35,3

24 Urdume 1721 21,90 26,3

25 Urdume 2439 16,20 19,4

26 Urdume 2377 22,50 27

27 Urdume 1856 49,50 59,4

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106

28 Urdume 1636 36,30 43,6

29 Urdume 1750 38,10 45,70

30 Urdume 1740 45,60 54,70

31 Urdume 2759 23,10 27,70

32 Urdume 2791 21,30 25,60

33 Urdume 1840 12,90 15,5

34 Urdume 1889 12,90 15,5

35 Urdume 1505 32,70 39,20

36 Urdume 1184 30,30 36,40

37 Urdume 1703 29,70 35,6

38 Urdume 1756 38,70 46,4

39 Urdume 2039 17,40 20,90

40 Urdume 2168 24,00 28,80

41 Urdume 2643 21,00 25,20

42 Urdume 2116 18,00 21,60

43 Urdume 233 13,45 16,1

44 Urdume 1905 26,10 31,3

45 Urdume 1142 27,00 32,40

46 Urdume 1162 27,00 32,40

47 Urdume 1743 36,60 43,9

48 Urdume 2321 45,30 54,4

49 Urdume 2844 23,40 28,10

50 Urdume 2403 20,40 24,50

51 Urdume 1784 13,80 16,6

52 Urdume 1998 22,18 26,6

53 Urdume 1379 33,60 40,3

54 Urdume 1605 32,70 39,2

55 Urdume 1971 48,00 57,6

56 Urdume 1606 36,30 43,6

57 Urdume 1490 11,70 14

58 Urdume 2017 12,90 15,5

59 Urdume 2363 13,50 16,20

60 Urdume 2424 20,70 24,80

61 Urdume 1852 36,60 43,9

62 Urdume 1790 32,40 38,9

63 Urdume 1370 32,40 38,90

64 Urdume 1379 30,60 36,70

65 Urdume 1799 34,80 41,80

66 Urdume 1717 42,60 51,10

67 Urdume 3125 23,70 28,40

68 Urdume 2829 22,50 27,00

69 Urdume 1750 45,30 54,4

70 Urdume 1744 41,98 50,4

71 Urdume 1717 26,10 31,3

72 Urdume 1707 22,20 26,6

73 Urdume 2870 18,60 22,30

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74 Urdume 2737 24,00 28,80

75 Urdume 1936 36,60 43,90

76 Urdume 1888 34,80 41,80

77 Urdume 2059 47,70 57,2

78 Urdume 1899 46,20 55,4

79 Urdume 1867 28,20 33,8

80 Urdume 2533 22,20 26,6

81 Urdume 2221 22,80 27,4

82 Urdume 1179 24,00 28,8

83 Urdume 2452 28,50 34,20

84 Urdume 2460 21,60 25,90

85 Urdume 1545 38,10 45,70

86 Urdume 1597 33,90 40,70

87 Urdume 1758 42,90 51,5

88 Urdume 1996 39,90 47,9

89 Urdume 2442 17,40 20,9

90 Urdume 2624 20,40 24,5

91 Urdume 2836 19,50 23,40

92 Urdume 2799 20,40 24,50

93 Urdume 2014 42,90 51,5

94 Urdume 2105 46,80 56,2

95 Urdume 1345 27,60 33,10

96 Urdume 1613 32,40 38,90

97 Urdume 1852 35,40 42,50

98 Urdume 1465 29,70 35,60

99 Urdume 2250 57,90 69,5

100 Urdume 2154 54,00 64,8

101 Urdume 2319 26,40 31,70

102 Urdume 2302 15,90 19,10

103 Urdume 1939 14,10 16,9

104 Urdume 1948 34,80 41,8

105 Urdume 1966 45,90 55,1

106 Urdume 2071 41,70 50

107 Urdume 1330 16,74 20,1

108 Urdume 1900 21,60 25,9

109 Urdume 1496 30,60 36,70

110 Urdume 1245 22,50 27,00

111 Urdume 2653 23,10 27,70

112 Urdume 2269 16,20 19,40

113 Urdume 2189 44,70 53,6

114 Urdume 2203 51,60 61,9

115 Urdume 2340 21,00 25,20

116 Urdume 2714 24,60 29,50

117 Urdume 1368 28,20 33,80

118 Urdume 1489 32,70 39,20

119 Urdume 2074 23,10 27,7

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108

120 Urdume 1785 22,20 26,6

121 Urdume 1554 30,30 36,40

122 Urdume 1626 34,20 41,00

123 Urdume 2977 21,00 25,20

124 Urdume 2987 20,10 24,10

125 Urdume 1774 54,00 64,8

126 Urdume 2062 57,30 68,8

127 Urdume 2021 19,20 23

128 Urdume 1996 21,60 25,9

Fonte: Planilha gerada pelo dinamômetro TENSOLAB 3000 MESDLAN