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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DO TRAIRI
CURSO FISIOTERAPIA
MAYARA AYSLA COSTA DE ARAÚJO
FUNÇÃO MOTORA GROSSA EM CRIANÇAS COM MICROCEFALIA POR ZIKA VIRUS
SANTA CRUZ – RN 2017
MAYARA AYSLA COSTA DE ARAÚJO
FUNÇÃO MOTORA GROSSA EM CRIANÇAS COM MICROCEFALIA POR ZIKA VIRUS
Artigo Científico apresentado a Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Bacharel em Fisioterapia.
Orientador: Profº. Drº. Klayton Galante de Sousa.
SANTA CRUZ – RN 2017
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial da Faculdade de Ciências da Saúde do
Trairi - FACISA
Araújo, Mayara Aysla Costa de.
Função motora grossa em crianças com microcefalia por Zika Vírus / Mayara Aysla
Costa de Araújo. - 2017. 40f.: il.
Artigo Científico (Graduação em Fisioterapia) - Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi. Santa Cruz, RN, 2017. Orientador: Klayton Galante de Sousa.
Coorientador: Gentil Gomes da Fonseca Filho.
1. Desenvolvimento Infantil - Artigo científico. 2. Microcefalia - Artigo
científico. 3. Atividade Motora - Artigo científico. I. Sousa, Klayton Galante de.
II. Fonseca Filho, Gentil Gomes da. III. Título.
RN/UF/FACISA CDU 613.95
MAYARA AYSLA COSTA DE ARAÚJO
Função motora grossa em crianças com microcefalia por zika vírus
Artigo Científico apresentado a Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Bacharel em Fisioterapia.
Aprovado em: _____de___________de______.
BANCA EXAMINADORA
Profº. Drº. Klayton Galante de Sousa - Orientador Universidade Federal Do Rio Grande Do Norte
Especialista Gentil Gomes da Fonseca Filho Centro de educação e pesquisa em saúde Anita Garibaldi
Prof.º Thaíssa Hamana de Macedo Dantas Universidade Federal Do Rio Grande Do Norte
AGRADECIMENTO
À Deus, por Ele ter me dado a sabedoria suficiente de ver que a estrada ia
muito além do que eu pensava, que buscando sempre se encontra aquilo que tanto
almejamos e por não ter me deixado desistir em nenhum momento.
À minha família, por ser minha base e estarem sempre ao meu lado quando
eu precisei, principalmente a minha mãe que não mediu esforços para eu chegar
onde estou hoje, por ter desempenhado seu papel da melhor forma. E meus irmãos
que me ajudaram nos momentos de angustias e desesperos.
Ao Prof.º Klayton Galante Sousa, orientador e mais que isso, uma pessoa que
tenho total admiração, que me ajudou a superar todos os meus medos e obstáculos,
que foi tão paciente e prestativo, me auxiliando de todas as formas para que esse
trabalho tivesse êxito.
Aos participantes da banca, que colaboraram de alguma forma com minha
formação e ajudaram na elaboração desse estudo.
Aos meus amigos (Leilan, Evânia, Karol, Hugo, Robison e Pedro) e
namorado, pela maneira que cada um colaborou e me apoiou, com gestos ou
palavras, pela compreensão em todos os momentos dessa etapa, por me
acompanharem, acreditarem em mim e dividirem comigo mais essa vitória.
Por último, mas não menos importante gostaria de aqui deixar e expressar
minha gratidão à UFRN, mas especificamente a FACISA, por ter me ofertado tantas
formas de crescimento e amadurecimento tanto pessoal como profissional. Por
todas as oportunidades, por cada obstáculo, por cada experiência, que só assim me
fizeram ser mais forte.
À todos aqueles que de forma direta ou indireta contribuíram para que esse
sonho fosse possível.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 5
2 MÉTODOS ............................................................................................................. 7
3 RESULTADOS ....................................................................................................... 10
4 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 13
5 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 16
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 17
ANEXO A – Questionário-Formulário de coleta de dados ......................................... 20
ANEXO B – Escala de Bayley ................................................................................... 21
ANEXO C – Termo de Consentimento Livre Esclarecido .......................................... 23
5
FUNÇÃO MOTORA GROSSA EM CRIANÇAS COM MICROCEFALIA POR ZIKA VÍRUS
Mayara Aysla Costa de Araújo
Resumo
Objetivos: Investigar o desempenho da função motora grossa em crianças com diagnóstico de microcefalia por Zika Vírus (ZIKV) na 5ª região de saúde do estado do RN. Métodos: Trata-se de um estudo observacional, analítico e transversal, com abordagem quantitativa. Amostra foi composta por 8 crianças com microcefalia por ZIKV. Na coleta de dados foram realizadas avaliações antropométricas do perímetro cefálico, estatura e peso, e da atividade motora grossa através da Escala Bayley de desenvolvimento III. Os dados foram analisados utilizando-se o programa estatístico SPSS (versão 20.0). Resultados: Todas as crianças do estudo apresentaram-se abaixo da média para população (P50) no quesito PC, peso e comprimento por idade. E apresentaram valores composto (46,75 ± 2,12) e escalonado (1,12 ± 0,35) abaixo da média, sugerindo um desempenho extremamente baixo na avaliação do componente motor grosso. Conclusão: Todas as crianças encontram-se com baixo desempenho da função motora grossa, que pode estar associado com o atraso do crescimento físico.
Palavras-chave: Microcefalia, Desenvolvimento Infantil, Atividade Motora
1 INTRODUÇÃO
O Zika Vírus (ZIKV) é membro da família Flaviviridae, gênero Flavivirus e foi
isolado pela primeira vez, em abril de 1947, a partir do sangue de macacos rhesus
na floresta Zika em Uganda, por esse motivo recebe esta denominação1.
A sua presença em seres humanos foi relatada inicialmente em 19512. O
primeiro grande surto do ZIKV fora da África ocorreu nas ilhas Yap, Micronésia, no
Oceano Pacífico, onde 108 casos foram confirmados entre abril e agosto de 2007, e
o segundo surto ocorreu na Polinésia Francesa em 2014 com mais de 30.000
casos3. Em virtude de sua manifestação em diversas áreas geográficas presume-se
que este possui uma alta capacidade de adaptação.
No Brasil, os primeiros relatos do vírus foram em maio de 2015, quando a
Organização Panamericana de Saúde (OPAS) emitiu um alerta sobre as primeiras
infecções confirmadas4. Com o aumento, nesse período, do número de novos casos
do vírus, observou-se também a maior incidência de bebês nascidos com
microcefalia congênita.
6
O último boletim epidemiológico, divulgado pela Secretaria de vigilância em
saúde informou na Semana Epidemiológica (28/2017), 14.258 casos suspeitos de
alterações no crescimento e desenvolvimento possivelmente relacionadas à infecção
pelo ZIKV, dos quais 3.063 permanecem em investigação, 2.869 foram confirmados
e 6.248 foram descartados5. A maioria dos casos em monitoramento concentram-se
na região Nordeste do país (46,7%). O estado do Rio Grande do Norte ocupa a 7ª
posição no ranking de notificações, apresentando 512 casos suspeitos de
microcefalia e/ou outras malformações relacionadas às infecções congênitas.
Desses, 126 estão sob investigação, 147 foram confirmados e 239 foram
descartados6.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a microcefalia é
caracterizada por uma condição neurológica, onde o perímetro cefálico do recém-
nascido é menor que menos dois (-2) desvios-padrões abaixo da média específica
para o sexo e idade gestacional. Caso configure medida menor que menos três (-3)
desvios-padrões é definida como microcefalia grave7.
A infecção congênita pelo ZIKV pode ocasionar sérios danos aos recém-
nascidos (RNs) além da microcefalia, como retardo no desenvolvimento cognitivo e
motor, além do comprometimento das funções visuais e auditivas8, disfagia,
artrogripose e achados neurológicos anormais, como espasticidade, hiperreflexia
tremores e convulsões9.
Os exames de neuroimagem disponíveis revelam ainda uma malformação do
desenvolvimento cortical fetal, tais como distúrbios na migração neuronal no 3º-5º
mês de gestação, ventriculomegalia, lissencefalia e calcificações difusas9,10,11.
Geralmente, as lesões não progressivas que ocorreram no sistema nervoso
central (SNC) fetal ou infantil em desenvolvimento resultam em um grupo de
desordens permanentes, entre outras, aquelas relativas ao desenvolvimento e à
postura caracterizado por alterações sensório-motoras, que por sua vez afetam a
aquisição das habilidades motoras típicas e dos marcos do desenvolvimento12.
O desenvolvimento das habilidades motoras se dá principalmente através das
experiências sensório-motoras nos primeiros anos de vida da criança, que abrange o
período de zero a 3 anos. Esse período é considerado crítico para o processo de
maturação do sistema nervoso central e para plasticidade neural, por ser mais
suscetível a transformações provocadas pelo ambiente externo13.
7
Diante do impacto ocasionado pela microcefalia, surge a necessidade de um
acompanhamento do desenvolvimento neuropsicomotor dessas crianças, e
investigação de suas condições clínicas, para que se possa atuar de forma
preventiva na detecção das alterações fisiológicas relacionadas à doença9.
Para a avaliação do desenvolvimento, existem instrumentos que auxiliam
tanto a triagem quanto no planejamento de intervenções que serão realizadas caso
alguma anormalidade seja detectada. Dentre elas, destacamos a escala de
desenvolvimento infantil de Bayley (BSID) que possui três diferentes versões, sendo
elas a BSID I, BSID II, e a mais atualizada a BSID III14.
A BSID III é indicada para avaliar o desenvolvimento global de crianças de 1 a
42 meses de idade. Sendo dividida em domínios: cognitivo (91 itens); linguagem,
subdividida em comunicação receptiva (49 itens) e comunicação expressiva (48
itens); e motora, subdividida em motora grossa (72 itens) e motora fina (66 itens)14.
Na avaliação da subescala motora grossa, ela irá determinar como a criança
movimenta seu corpo em relação à gravidade, fazendo uma análise sentado, em pé,
de locomoção e equilíbrio15.
No entanto, apesar da BSID III ser reconhecida pela comunidade científica
como uma das ferramentas mais abrangentes para avaliação de crianças nos
primeiros anos de vida, em virtude de avaliar vários domínios do desenvolvimento,
até o momento são escassas as publicações que tem utilizado esta ferramenta15,16.
Devido à importância deste instrumento para avaliar o desenvolvimento da
criança, o objetivo deste estudo foi investigar o desempenho da função motora
grossa em crianças com diagnóstico de microcefalia por Zika Vírus na 5ª região de
saúde do estado do RN.
2 MÉTODOS
Trata-se de um estudo observacional, analítico e transversal, com abordagem
quantitativa. A pesquisa ocorreu nas dependências da Clínica Escola de
Fisioterapia, na Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi (FACISA), localizada no
município de Santa Cruz – Rio Grande do Norte (RN) entre julho e agosto de 2017.
Na existência de incompatibilidade para a realização da avaliação na faculdade,
optou-se em avaliar na residência dos participantes.
8
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas (CAAE n°
58715316.3.0000.5568), seguindo as normas estabelecidas pela Resolução nº
466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta a pesquisa com seres
humanos. As autorizações foram obtidas por meio do Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE) dos responsáveis por cada criança.
O recrutamento da amostra ocorreu por contato telefônico e visitas
domiciliares para coletas de assinaturas do TCLE dos responsáveis por cada
criança, além de esclarecimento sobre a importância dos dados para o meio
científico e para identificação precoce de atraso no desenvolvimento.
Foram incluídas dez crianças entre 17 e 23 meses de idade, com diagnóstico
confirmado de microcefalia por ZIKV, residentes em municípios que compõem a 5ª
Região de Saúde do Rio Grande do Norte (5ª USARP), a saber, Boa Saúde, Bom
Jesus, Jaçanã, Japi, Santa Cruz, Santa Maria, São José de Campestre e Tangará.
Como critérios de exclusão foi estabelecido a desistência do responsável da criança
em participar do estudo, diagnóstico não confirmado para infecção congênita por
ZIKV e mudança de endereço para outro município que não abrangesse a 5ª
USARP, conforme figura 1.
Figura 1- Fluxograma do monitoramento dos casos de microcefalia
9
Na coleta de dados foram utilizados questionários socioeconômicos, bem
como todas as crianças foram submetidas a exame antropométrico de peso, altura e
perímetro cefálico (PC), além da coleta das medidas antropométricas ao nascimento
disponíveis na caderneta de saúde da criança.
Para verificação do peso, foi usada balança digital eletrônica (Líder balanças
portátil P150M), na aferição da estatura, foi empregado o antropômetro horizontal de
madeira (Indaiá R1M), e para aferição do PC baseou-se em recomendações da
Organização Mundial de Saúde (OMS), utilizando-se uma fita métrica inelástica
colocada na região anterior do crânio, logo acima dos supercílios, passando pelo
ponto mais proeminente da região occipital do crânio17. A avaliação do crescimento
constituiu posteriormente na interpretação dos gráficos da Organização Mundial da
Saúde (OMS).
Na avaliação da atividade motora grossa foi utilizada a Escala Bayley de
desenvolvimento. Para a classificação do desempenho da criança, uma pontuação
total bruta foi calculada para cada criança, pela soma das pontuações dos itens.
Através do escore bruto, é possível se obter o escore escalonado e o escore
composto usando as tabelas do Manual de Administração Bayley III18.
Os escores escalonados são derivados das pontuações totais brutas em cada
um dos subtestes. Suas pontuações variam de 1 a 19, com um valor de 10
representando a média de desempenho de uma determinada faixa etária. As
pontuações de 7 e 13 são equivalentes a 1 DP abaixo e acima da média,
respectivamente, e as pontuações escalonadas de 4 e 16 equivalem a 2 DPs da
média18.
Já as pontuações compostas são baseadas em várias somas de escores
escalonados que variam entre 40 e 160, classificado como: muito superior (>130),
superior (120-129), médio alto (110-119), médio (90-109), médio baixo (80-89),
limítrofe (70-79) e extremamente baixo (< 69)18.
A avaliação foi realizada durante uma única sessão por quatro avaliadores
proficientes na administração da Escala Bayley de desenvolvimento infantil – III. O
tempo de administração de toda a escala foi de aproximadamente 90 min. Enquanto
um pesquisador aplicava a BSID III, todo o processo foi gravado por outro
pesquisador, para posterior análise inter-examinador.
10
Os dados foram analisados utilizando-se o programa estatístico SPSS (versão
20.0). Foi realizada estatística descritiva com distribuição de frequência, medidas de
tendência central e dispersão. A normalidade de todas as variáveis numéricas foi
testada pelo Teste Shapiro Wilk. O nível de significância adotado foi p<0,05, com
intervalo de confiança de 95%.
3 RESULTADOS
A Tabela 1 resume dados do nascimento e da avaliação, bem como os dados
socioeconômicos. A amostra foi composta por oito crianças, sendo duas do sexo
masculino e seis do sexo feminino. As crianças nasceram todas a termo, com idade
gestacional média de 39,84 semanas (DP=1,57), e 56,25% dos pais apresentaram
como grau de escolaridade, ensino fundamental incompleto.
Tabela 1 - Caracterização da amostra do estudo (n=8)
Variáveis Média ± DP
Peso do Nascimento 2780,71 (439,69)
Peso da Avaliação 9198,13 (1084, 238)
PC do Nascimento 31 (1,41)
PC da Avaliação 40,19 (2,235)
Estatura do Nascimento 46 (3,57)
Estatura da Avaliação 77,94 (3,351)
Idade Gestacional 39,84 (1,57)
Idade de avaliação Meses 20,63 (2,11)
PC=Perímetro Cefálico, DP = Desvio padrão Fonte: Dados da pesquisa.
As tabelas 2 e 3, comparam os valores de peso, estatura e perímetro cefálico
do nascimento e da avaliação, a partir dos valores de P50 das curvas de
crescimento disponibilizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de acordo
com o sexo.
Tabela 2 - Valores de peso, estatura e perímetro cefálico de crianças do sexo feminino
11
FEMININO Nascimento Avaliação
PESO kg (p50)
PC cm (p50)
ESTATURA cm (p50)
PESO kg (p50)
PC cm (p50)
ESTATURA cm (p50)
1
3.185kg (3.2)
33cm (33.9)
48cm (49.1)
8.900kg (11.3)
42cm (47)
78,7cm (85.5)
2 2.116kg
(3.2) 29cm (33.9)
38cm (49.1)
9.245kg (10.2)
36,5cm (46.2)
73cm (80.7)
3 2.610kg
(3.2)
32cm (33.9)
47cm (49.1)
9.800kg (11.1)
42cm (46.9)
82cm (84.6)
4 3.020kg
(3.2) 30cm (33.9)
47,5cm (49.1)
9.700kg (10.9)
39cm (46.7)
78,5cm (83.7)
5 3.000kg
(3.2) -
-
7.000kg (10.0)
38cm (46.1)
73cm (79.7)
6 2.344kg
(3.2) 31cm (33.9)
46,5cm (49.1)
8.700kg (10.9)
41cm (46.7)
78cm (83.7)
PC=Perímetro Cefálico, P50 = percentil 50 das curvas de crescimento WHO
Fonte: Dados da pesquisa; WHO, 2017.
Tabela 3 - Valores de peso, estatura e perímetro cefálico de crianças do sexo masculino
MASCULINO Nascimento Avaliação
PESO kg (P50)
PC cm(P50)
ESTATURA cm (P50)
PESO kg (P50)
PC cm(P50)
ESTATURA cm (P50)
1
3.295kg (3.3)
32cm (34.5)
47cm (49.9)
10.730kg (11.8)
43cm (48)
81,3cm (86)
2 2.895kg
(3.3) 30cm (34.5)
48cm (49.9)
9.510kg (10.9)
40cm (47.4)
79cm (82.3)
PC=Perímetro Cefálico, P50 = percentil 50 das curvas de crescimento WHO
Fonte: Dados da pesquisa; WHO, 2017.
De acordo com escore escalonado e o escore composto obtidos nas tabelas
do Manual de Administração Bayley III. No estudo, segundo os valores escalonados,
12
todas as crianças apresentaram valores inferiores a 4, com média de 1,12 ± 0,35,
sugerindo um desempenho extremamente baixo, conforme a figura 2.
Figura 2 – Pontuação escalar da motricidade grossa
Fonte: Dados da pesquisa.
De acordo com o escore composto, como mostra na figura 3, os dados
indicam que o componente motor apresentou desempenho extremamente baixo,
com valores inferiores a 55 e média de 46,75 ± 2,12.
13
Figura 3 – Pontuação composta da motricidade grossa
Fonte: Dados da pesquisa.
4 DISCUSSÃO
A avaliação antropométrica e o uso de gráficos e tabelas são recursos
usualmente utilizados para avaliar o crescimento infantil. Em crianças, é considerado
um dos melhores indicadores de saúde e nutrição, refletindo a interação de
inúmeros fatores intrínsecos e extrínsecos19. No nosso estudo, tais ferramentas
foram utilizadas com intuito de acompanhar como as crianças com microcefalia
estão se desenvolvendo, segundo as curvas de crescimento da Organização
Mundial da Saúde (OMS).
Como visto nas tabelas 2 e 3, tratando-se do perímetro cefálico (PC) ao
nascer, todas as crianças, de ambos os sexos do presente estudo, se mostraram
com média do perímetro cefálico de 31cm, ou seja, abaixo do recomendado para o
percentil 50, que seria de 33,9 cm para meninas e 34,5 cm para os meninos. E após
avaliadas, as mesmas ainda permaneceram abaixo da média (40cm) para idade,
justificando o quadro de microcefalia.
14
Esse crescimento é bastante pronunciado de acordo com a Organização
Mundial de Saúde. No primeiro ano de vida, os valores adequados para o ganho
esperado do perímetro cefálico são de 2 cm/mês no primeiro trimestre, 1 cm/mês no
segundo trimestre e 0,5 cm/mês no terceiro e quarto trimestre. Já a partir de 1 a 3
anos, o crescimento é de 0,25 cm/mês, de 4 a 6 anos o crescimento é de 1cm/ ao
ano. Esses valores são válidos para crianças nascidas a termo20.
Um estudo de coorte com 35 recém-nascidos com microcefalia, de oito
estados do Brasil, mostraram que 71% das crianças apresentaram microcefalia
grave (circunferência da cabeça > 3 DP abaixo da média para o sexo e idade
gestacional) e 49% tiveram pelo menos uma anormalidade neurológica. Todas as
mães relataram ter vivido ou visitado áreas afetadas pelo ZIKA vírus durante a
gravidez21.
Em relação aos parâmetros estatura e peso para idade, todas as crianças de
ambos os sexos apresentaram no nascimento e na avaliação valores abaixo do
percentil 50, porém no nascimento mais da metade das crianças apresentaram
valores próximos ao padrão ideal, já na avaliação a amostra demonstrou
crescimento reduzido com valores abaixo do percentil 15.
Dentre as avaliadas, duas crianças do sexo feminino apresentaram baixo
peso ao nascer (<2500g). No estudo com recém-nascidos de baixo peso, ele aborda
que esse é o fator de risco mais importante para a morbidade e mortalidade na
infância, podendo inibir o crescimento e o desenvolvimento cognitivo, trazendo
assim surgimento de doenças crônicas ao longo da vida9.
Na avaliação do desenvolvimento, a Bayley-III fornece escore escalonado e o
escore composto para o componente motor. Diante disso, a criança passa a ser
classificada em um dos sete níveis (extremamente baixo, limite, baixa média, média,
alta média, superior e muito superior)22.
Como ainda são escassas as publicações que tem utilizado esta ferramenta
com crianças diagnosticadas com microcefalia, os resultados obtidos foram
comparados a estudos que utilizaram a mesma ferramenta, porém em diferentes
populações.
No presente estudo, todas as crianças de ambos os sexos apresentaram
pontuações média de 46,75 e 1,12 para os escores composto e escalonado,
respectivamente, classificando com desempenho extremamente baixo (figuras 1 e
2). No entanto, estudos que avaliaram o perfil de desenvolvimento de recém-
15
nascidos prematuros, obtiveram pontuações significativamente maiores, como
demonstrado a seguir.
O estudo realizado por Velikos et al. (2015) apresentou valores médio do
escore composto para componente motor de 88 e para o escore escalonado de
7.823. Já o estudo apresentado por Greene et al. (2012) demostrou pontuações
média de 94 para o componente motor e 7.4 para o escore escalonado da subescala
motora grossa24.
Em outro estudo que compararam o desenvolvimento de crianças pré-termo e
a termo, demostraram pontuações superiores em relação ao presente estudo. Para
as crianças pré-termo os valores do escore composto foram de 94 e escore
escalonado de 8.4, e as crianças a termo foram de 107 o escore composto e 10.5 o
escore escalonado25.
Em um estudo retrospectivo e longitudinal de um coorte de 131 prematuros,
predominantemente de muito baixo peso ao nascer, obtiveram na avaliação em 8
meses escore composto de 93 e escalonado de 7.18, e de 20 meses obtiveram
pontuações de 92.23 e 7.65 para os escores composto e escalonados,
respectivamente26.
Em um estudo proposto por Lee et al. (2013), a versão coreana da escala de
desenvolvimento infantil de Bayley II (BSID-II) demostrou uma ótima correlação com
o instrumento de Medida da Função Motora Grossa (GMFM), indicando a validade
desta medida pra crianças com paralisia cerebral em base clínica27.
A versão de Bayley III foi padronizada em uma população pediátrica
americana28. Diante disso, alguns artigos estão questionando a validade dessa
escala na população australianas29,30, em bebês de extremos baixo peso26 e
crianças prematuras31, sugerindo que esta versão pode estar subestimando o atraso
no desenvolvimento.
O estudo original utiliza uma amostra estratificada de 1.700 crianças (28),
enquanto que no presente estudo foi utilizada uma amostra de conveniência, cujos
participantes tinham que residir em municípios que compõem a 5ª Região de Saúde
do Rio Grande do Norte. Esta é uma das principais limitações do estudo,
especialmente em relação à generalização e comparação de resultados.
16
5 CONCLUSÃO
Por meio desta amostra identificou-se que as crianças com microcefalia
congênita por ZIKV apresentam crescimento físico abaixo do esperado para idade. E
os resultados preliminares permitem concluir um severo atraso no desenvolvimento
motor dessas crianças, conforme avaliados pela Bayle - III.
Apesar desse instrumento ser reconhecida pela comunidade científica como
uma das ferramentas mais abrangentes para avaliação de crianças nos primeiros
anos de vida, até o momento são escassas as publicações que tem utilizado esta
ferramenta com crianças diagnosticadas com microcefalia. Dessa forma, seriam
necessários mais estudos com esse público alvo.
Com isso sugere-se como forma de continuidade dessa pesquisa o
acompanhamento longitudinal do desenvolvimento, por meio deste instrumento,
visando auxiliar a equipe de reabilitação na intervenção precoce e,
consequentemente, minimizar as limitações funcionais.
17
REFERÊNCIAS
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6. Secretaria de saúde. MONITORAMENTO DOS CASOS DE MICROCEFALIA E/OU ALTERAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL NO RIO GRANDE DO NORTE ATÉ A SEMANA 32/2017 [Internet]. 2017. p. 1–6. Available from: http://www.adcon.rn.gov.br/ACERVO/sesap/DOC/DOC000000000158851.PDF
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ANEXO A – Questionário-Formulário de coleta de dados
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ANEXO B – Escala Bayley
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ANEXO C – Termo de Consentimento Livre Esclarecido
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REGRAS PARA FORMATAÇÃO DO ARTIGO, SEGUNDO AS NORMAS DA REVISTA
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