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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DO TRAIRI GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA VALÉRIA LIDYANNE SILVA GOMES Impacto do tipo de parto sobre a mobilidade toracoabdominal de recém-nascidos Santa Cruz 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DO TRAIRI

GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA

VALÉRIA LIDYANNE SILVA GOMES

Impacto do tipo de parto sobre a mobilidade toracoabdominal

de recém-nascidos

Santa Cruz

2016

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VALÉRIA LIDYANNE SILVA GOMES

Impacto do tipo de parto sobre a mobilidade toracoabdominal de recém-

nascidos

Artigo científico apresentado à

Faculdade de Ciências da Saúde do

Trairi da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte, para obtenção

do título de Bacharel em

Fisioterapia.

Orientador: Prof. Dra. Silvana Alves

Pereira

Co-orientador: Gentil Gomes da

Fonseca Filho

Santa Cruz

2016

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VALÉRIA LIDYANNE SILVA GOMES

Impacto do tipo de parto sobre a mobilidade toracoabdominal de recém-

nascidos

Artigo científico apresentado à

Faculdade de Ciências da Saúde do

Trairi da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte, para obtenção

do título de Bacharel em

Fisioterapia.

Aprovado em: _____ de__________________de__________

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________. Nota: _____

Prof. Dra. Silvana Alves Pereira - Orientador

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

__________________________________________. Nota: _____

Danielle Cristina Gomes – Membro da banca

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

___________________________________________. Nota: _____

Gabriele Natane de Medeiros Cirne – Membro da banca

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

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AGRADECIMENTOS

O espaço limitado desta seção de agradecimentos, seguramente, não

me permite agradecer, como devia, a todas as pessoas que, ao longo da

graduação me ajudaram, direta ou indiretamente, a cumprir os meus objetivos

e a realizar esta etapa da minha formação acadêmica. Desta forma, deixo

algumas palavras, poucas, mas com um sentido de profundo sentimento de

reconhecimento e agradecimento.

Agradeço a Deus por me amparar nos momentos difíceis, pela força e fé

renovadas diariamente, por todas as superações durante a graduação, pelo

discernimento contínuo ao longo de toda trajetória, pelos livramentos e

proteção a mim concebidos.

Aos meus Pais, Arimateia e Vera, obrigada por acreditarem sempre em

mim e por todos os ensinamentos de vida. Espero que esta etapa possa de

alguma forma, retribuir e compensar todo o carinho, apoio e dedicação que,

constantemente, me oferecem. A eles, dedico todo este trabalho. À minha irmã

Veruska, por ser meu exemplo acadêmico, minha luz e incentivo! Por toda

força e coragem que me foi depositada e pelos auxílios e orientações no lattes.

Ramon, um agradecimento especial pelo apoio, companheirismo, amor e

carinho diários, pelas palavras doces e pela transmissão de confiança e força,

em todos os momentos. Minha enorme gratidão!

Minha madrinha Marta, pela escuta, palavras e incentivo a não desistir

dos meus sonhos, por acreditar em mim e por compartilhar de muitas das

minhas angústias e conquistas. Obrigada por sua presença e participação

incansável em todas as fases da minha vida.

A Prof. Dra. Silvana Alves Pereira, expresso o meu profundo

agradecimento pela orientação e apoio incondicional que muito elevaram os

meus conhecimentos científicos e, sem dúvida, muito estimulou o meu desejo

de querer, sempre, saber mais e a vontade constante de querer fazer melhor.

Pelo ensinamento e demonstração de carinho e amor pela a área da

neonatologia.

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Ao co-orientador Gentil Fonseca, agradeço pela disponibilidade e

solicitude a mim prestadas, que foram de grande importância ao longo da

produção deste trabalho.

Pedro Henrique Farias, muito obrigada pelo profissionalismo,

colaboração e pela total disponibilidade que sempre revelou para comigo. O

seu apoio foi determinante na elaboração deste trabalho.

As amigas que a graduação me permitiu conviver, Máyra, Laíze,

Vanessa, Risonety e em especial Sarah, obrigada pela vossa amizade,

companheirismo e ajuda. Vocês me permitiram dias mais leves!

Aos amigos “extra academia”, agradeço pela atenção aos meus

intermináveis desabafos, pela compreensão na ausência de alguns

compromissos e principalmente pelos momentos de descontração.

Expresso também a minha gratidão e solidariedade a todos os

participantes do projeto de pesquisa, em especial a Vanessa Karoline, Júlia

Guerra e Dani (Danielle Gomes), pela contribuição fundamental para que este

estudo fosse possível e para o avanço da investigação científica nesta área do

conhecimento.

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Sumário

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10

MÉTODO.......................................................................................................... 11

Tipo de Estudo .............................................................................................. 11

Recrutamento da amostra ............................................................................. 11

Procedimentos para Coleta de Dados .......................................................... 11

Aquisição dos Vídeos .................................................................................... 12

Interpretação dos Vídeos .............................................................................. 13

Análise dos Dados ........................................................................................ 13

RESULTADOS ................................................................................................. 13

DISCUSSÃO .................................................................................................... 15

CONCLUSÃO ................................................................................................... 17

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 18

PARECER DO CEP ............................................ Erro! Indicador não definido.

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IMPACTO DO TIPO DE PARTO SOBRE A MOBILIDADE

TORACOABDOMINAL DE RECÉM-NASCIDOS

IMPACT OF TYPE OF DELIVERY ON THORACOABDOMINAL MOBILITY OF

NEWBORNS

IMPACTO DEL TIPO DE PARTO SOBRE LA MOVILIDAD

TORACOABDOMINAL DE LOS RECIÉN NACIDOS

RESUMO

Objetivo: Nos recém-nascidos de parto cesáreo ocorre menor compressão torácica e

pouca quantidade de líquido é drenada por ação da gravidade, o que diminui,

transitoriamente, a mobilidade toracoabdominal, por isso o objetivo do estudo é avaliar

o impacto do tipo de parto na mobilidade toracoabdominal em recém-nascidos.

Método: Estudo transversal pragmático com recém-nascido de idade gestacional entre

37 a 41 semanas, de ambos os sexos, com até 72 horas de vida, respirando em ar

ambiente e nascidos de parto normal ou parto cesáreo. A mobilidade toracoabdominal

foi avaliada pela videogrametria por meio do Software MATLAB e considerada, em

unidades métricas (cm2), como a diferença da maior e menor expansibilidade

toracoabdominal para cada ciclo respiratório. Resultados: Dos 26 bebês inclusos, 11

são do sexo masculino, e 50% nascidos de parto cesáreo. A mobilidade

toracoabdominal não apresentou diferença estatística entre os dois tipos de parto (p =

0,08). Conclusão: Os dados indicam que o tipo de parto parece não influenciar a

mobilidade toracoabdominal, quando o padrão de progressão é espontâneo, para os

partos vaginal ou cesáreo. Entretanto, serão necessários novos estudos, com inclusão de

cesáreas com indução eletiva e estudos longitudinais para confirmação dos resultados.

DESCRITORES: Mecânica respiratória; Fotogrametria; Recém-nascido; Parto;

Trabalho de parto.

ABSTRACT

Objective: In newborns by cesarean delivery, occurs less chest compression and a small

amount of liquid is drained by gravity, which reduces transiently the Mobility

Thoracoabdominal therefore, the objective is to evaluate the Mobility

Thoracoabdominal by videogrammetry in newborns by spontaneous vaginal and

cesarean delivery. Method: Pragmatic cross-sectional study with newborn of

gestational age between 37 to 41 weeks, both sexes, up to 72 hours of life, breathing in

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room air and borns with spontaneous vaginal or cesarian delivery. The Mobility

Thoracoabdominal was evaluated by videogrammetry through software MATLAB and

considered in metric units (cm2) as the difference between the highest and lowest

thoracoabdominal expandability for each respiratory cycle. Results: Of the 26 included

babies, 11 are male, and 50% born by cesarean delivery. The Mobility

Thoracoabdominal showed no statistical difference between the two types of delivery (p

= 0.08). Conclusion: The data indicate that the type of delivery does not influence the

Mobility Thoracoabdominal, when the progression is spontaneous onset of labor.

However, a longitudinal study is required, with electively induced labor for cesareans

delivery to confirm the results.

DESCRIPTORS: Respiratory mechanics; Photogrammetry; Newborn; Parturition;

Labor Obstetric.

RESUMEN

Objetivo: Em los recién nacidos por cesárea, se produce una menor compresión en el

pecho y pouco líquido es drenado por gravedad, lo que reduce transitoriamente la

Movilidad toracoabdominal. El objetivo es evaluar la movilidad toracoabdominal por

videogrametría en los recién nacidos por parto vaginal y por cesárea. Método: Estudio

transversal pragmático con el recién nacido de edad gestacional entre 37 a 41 semanas,

ambos sexos, de hasta 72 horas de vida, respirando aire ambiente y nace con el parto

vaginal o cesárea espontánea. La movilidad toracoabdominal se evaluó por

videogrametría través de MATLAB software y considerado en unidades métricas (cm2)

como la diferencia entre la capacidad de expansión mayor y menor toracoabdominal

para cada ciclo respiratorio. Resultados: De los 26 bebés, 11 son hombres, y el 50% de

los nacidos por cesárea. La movilidad toracoabdominal mostró ninguna diferencia

estadística entre los dos tipos de administración (p = 0,08). Conclusión: Los datos

indican que el tipo de envío no influye en la movilidad toracoabdominal, cuando la

progresión es el inicio espontáneo de la mano de obra. Sin embargo, se requiere un

estudio longitudinal, con mano de obra inducida de forma electiva para la entrega de

cesáreas para confirmar los resultados.

DESCRIPTORES: Mecánica respiratoria; Fotogrametría; Recién Nacido; Parto;

Trabajo de parto.

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INTRODUÇÃO

Para sustentar a vida, ao nascimento os pulmões sofrem uma transição rápida de

um órgão cheio de líquido incapaz de realizar troca suficiente por um órgão cheio de ar

que é capaz de realizar toda troca gasosa (1)

.

Entretanto, vários mecanismos trabalham juntos para reduzir e eliminar a

quantidade desse líquido pulmonar. Nessa transição, a maior parte do líquido é

eliminado através das vias aéreas superiores e cavidade oral, e o restante, pelo processo

do trabalho de parto e a passagem pelo canal vaginal. O líquido residual, que fica nos

pulmões, é absorvido por intermédio dos capilares pulmonares (2)

.

Nos neonatos nascidos de parto cesáreo, ocorre menor compressão torácica e

pouca quantidade de líquido é drenada por ação da gravidade, persistindo assim,

grandes volumes de líquido, intersticial e alveolar, nas primeiras horas de vida,

diminuindo transitoriamente a mobilidade toracoabdominal (3)

.

Estima-se que a não absorção desse líquido no parto cesárea, pode levar ao

desconforto respiratório e ocasionar uma alteração na mobilidade toracoabdominal, com

maior gasto de energia e piora clínica progressiva. No entanto, muitos destes estudos se

limitam a dados retrospectivos, o que pode comprometer a avaliação da progressão do

desconforto e mobilidade respiratória (4-6)

.

Essa alteração na mobilidade toracoabdominal é um achado comumente

perceptível em doenças respiratórias e em disfunções dos músculos respiratórios, sendo

comprovado clinicamente como um sinal de desconforto respiratório e avaliado,

subjetivamente, pelo número de incursões respiratórias e qualidade da expansibilidade

toracoabdominal, quanto menor a mobilidade e maior a frequência respiratória, pior a

condição clínica do recém-nascido (5,7)

. A avaliação da mobilidade toracoabdominal tem

relação direta com a expansibilidade pulmonar, e pode ser avaliada através de vários

métodos, principalmente os não invasivos (8)

.

Na prática clínica, sua medida é utilizada com o objetivo de avaliar parâmetros

como amplitude torácica, volumes e capacidades pulmonares, complacência pulmonar,

mecânica toracoabdominal, entre outros (8-10)

, podendo ser comumente inserida como

método avaliativo na rotina diária da equipe multidisciplinar.

Considerando que o parto cesáreo pode ser um fator dificultoso na

evolução respiratória de neonatos, e que a mobilidade toracoabdominal tem relação

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direta com a condição clínica do recém-nascido, o presente estudo se propõe avaliar o

impacto do tipo de parto na mobilidade toracoabdominal em recém-nascidos (RNs).

MÉTODO

Tipo de Estudo

Trata-se de um estudo transversal pragmático, com a proposta de avaliar a

influência do tipo de parto na mobilidade toracoabdominal de recém-nascidos a termo.

A pesquisa foi realizada na unidade de alojamento conjunto do Hospital Universitário

Ana Bezerra (HUAB), no período de Janeiro à Novembro de 2015. Os procedimentos

utilizados neste estudo foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte (FACISA/UFRN) - nº 851.215, atendendo a resolução 466/2012 do Conselho

Nacional de Saúde.

Recrutamento da amostra

O recrutamento da amostra foi realizado entre Janeiro a Novembro de 2015 à

partir das admissões do Hospital Universitário Ana Bezerra (Santa Cruz – RN). A

decisão de realizar um estudo pragmático foi devido a sua praticidade e a possibilidade

de complementar pesquisas anteriores (4-6)

.

Foram incluídos no estudo, recém-nascidos com idade gestacional entre 37 a 41

semanas, de ambos os sexos, com até 72 horas de vida, respirando em ar ambiente, no

estágio comportamental 4 da escala de Brazelton (estágio de alerta inativo) e nascidos

de parto normal ou cesárea. Os recém-nascidos com malformação congênita, síndrome

genética, insuficiência cardíaca, doenças respiratórias ou que tivessem sido alimentados

em um intervalo inferior a 30 minutos, não foram incluídos no estudo, aquelesque

evoluíram para o estágio 5 ou 6 da escala de Brazelton, durante a avaliação foram

excluídos da análise.

Procedimentos para Coleta de Dados

A coleta de dados foi realizada na sala de banho da enfermaria de Alojamento

Conjunto do HUAB, com os recém-nascidos sobre uma bancada fixa, com a distância

de 120 cm do chão, rotineiramente utilizada para cuidados gerais do recém-nascido.

Para a captação dos vídeos os recém-nascidos foram deitados em posição supina sobre

uma bancada de apoio com a superfície revestida de uma folha de EVA na cor preto em

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função da leitura do software, para contrastar com o bebê, sendo hipoalérgica e

descartável, com aproximadamente 50 cm de comprimento e 0,2 mm de espessura.

(Figura 1). Após o posicionamento, foram alocados marcadores adesivos nos seguintes

pontos: (1) espinhas ilíacas ântero-superiores e (2) nível da linha axilar anterior. Tais

referências serviram de âncora para a delimitação geométrica do compartimento

toracoabdominal nas imagens adquiridas durante a realização dos vídeogramas (10)

,

como representado na Figura 1.

Figura 1 – Posicionamento do recém-nascido durante o experimento, alocação dos

marcadores adesivos e delimitação do compartimento toracoabdominal no momento da

análise das imagens. Sendo (1) espinhas ilíacas ântero-superiores e (2) nível da linha

axilar anterior – Santa Cruz, RN, Brasil, 2016 (Fonte: arquivo dos autores).

Aquisição dos Vídeos

Para a captação dos vídeos, foi utilizada a câmera fotográfica digital (Sony

Cyber-shot DSC-H20® 10.1 Megapixels), fixada por um tripé com altura de 120 cm e

posicionada em uma distância de 30 cm do recém-nascido. Após os ajustes dos

marcadores, o recém-nascido foi filmado durante 120 segundos. O tempo de captação

de 120 segundos foi determinado para garantir a análise do ciclo respiratório em 1

minuto, visto que os recém-nascidos têm frequentes pausas na respiração.

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Interpretação dos Vídeos

Os vídeos foram tratados pelo Software MATLAB (10)

e a mobilidade foi

considerada, em unidades métricas (cm2), como a diferença da maior e menor

expansibilidade toracoabdominal para cada ciclo respiratório.

Análise dos Dados

Os dados estatísticos foram analisados no programa SPSS 20. Para o teste de

normalidade foi utilizado o Shapiro-wilk, teste t-student para avaliação das médias da

mobilidade toracoabdominal entre os dois tipos de parto e o teste de correlação por

postos de Pearson, para avaliar a correlação dos tipos de partos com as características

individuais dos recém-nascidos; significância aos resultados para p<0,05.

RESULTADOS

Foram avaliados 35 recém-nascidos no Software MATLAB, porém, 09 foram

excluídos na fase de análise do vídeo, devido à má qualidade na fase de interpretação.

Dos 26 recém-nascidos inclusos, 11 são do sexo masculino e 50% nascidos de parto

cesáreo. A Tabela 1 apresenta os dados descritivos da amostra e a homogeneidade entre

os grupos, exceto para a variável frequência respiratória que foi diferente entre eles.

Tabela 1 – Características da população estudada (n=26). Santa Cruz, RN, Brasil, 2016.

VARIÁVEIS Tipo de parto

NORMAL CESÁREO p

IG (sem) 39 ±0,62 39±1,04 0,32

Peso (gramas) 3152±5,23 3369±5,20 0,16

Apgar 1 min 7±1,92 7±1,05 0,40

Apgar 5 min 8±1,05 9±0,55 0,69

PC (cm) 34±1,82 34±2,15 0,55

Comp. (cm) 48±1,74 49±1,90 0,36

FR (ipm) 48±11,88 57±9,98 0,03

IG: idade gestacional; sem: semanas; min: minuto; PC: perímetro cefálico; cm:

centímetro; Comp: comprimento; FR: frequência respiratória; irpm: incursões por

minuto; h: horas.

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A mobilidade toracoabdominal não apresentou diferença estatística entre os dois

tipos de parto (p = 0,99) e a frequência respiratória foi maior no grupo nascido de parto

cesárea (p = 0,03). A figura 2 apresenta esses resultados.

Figura 2 – Apresentação dos valores médios e intervalo de confiança da mobilidade

toracoabdominal (barras cinzas) e frequência respiratória (barras pretas) no parto

cesáreo e vaginal - Santa Cruz, RN, Brasil, 2016.

A correlação da mobilidade toracoabdominal com as variáveis dos recém-

nascidos (peso de nascimento, notas de Apgar, comprimento, frequência respiratória e

horas de vida) também não apresentou diferença significativa. A tabela 2 apresenta esse

resultado.

Tabela 2 – Correlações entre a mobilidade toracoabdominal e as variáveis estudadas -

Santa Cruz, RN, Brasil, 2016.

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Correlação

Peso Comprimento Apgar

1’

Apgar

5’

Frequência

Respiratória

Horas de

Vida

r 0,26 -0,26 0,13 0,009 -0,10 -0,19

p 0,19 0,19 0,52 0,96 0,62 0,35

* A correlação é significativa quando p≤ 0,05.

DISCUSSÃO

Os resultados demonstraram que o tipo de parto não altera a mobilidade

toracoabdominal em recém-nascidos e que a frequência respiratória no parto cesáreo é

maior quando comparada ao parto vaginal. (11-13)

Estudos que investigam os tipos de partos cesáreos e normais de gestantes

secundigestas demonstram que os recém-nascidos de parto cesáreo necessitaram com

mais frequência dos cuidados intensivos neonatais, em virtude de terem apresentado

maior ocorrência de taquipnéia transitória, disfunções respiratórias inespecíficas e sepse

(12).

Além disso, um estudo retrospectivo, com mais de 3000 cesarianas eletivas

realizadas com idade gestacional superior ou igual a 37 semanas, demonstra que o parto

cesárea com progressão eletiva, mesmo no período a termo, aumenta o risco de

morbidade respiratória (11)

.

Esses dois estudos demonstram que o risco de morbidade respiratória neonatal é

significativamente maior em recém-nascidos por cesárea com progressão eletiva,

quando comparado aos nascidos por parto normal (11-13)

. Entretanto, a progressão

espontânea, ou processo de parturição, parece ser um fator protetor para complicações

respiratórias neonatais (3,14-15)

. Os mediadores hormonais, pertinentes às situações do

trabalho de parto, ajudam na remoção rápida do fluido pulmonar fetal estabelecida

através da condução de íons por meio do epitélio pulmonar (16)

.

Os recém-nascidos por parto cesáreo com progressão eletiva tiveram uma maior

prevalência de taquipnéia transitória neonatal, quando comparados a recém-nascidos por

parto cesáreo com progressão espontânea (12,3%), o que pode justificar nossos

resultados (17)

.

Os recém-nascidos do nosso estudo são provenientes de um hospital escola que

incentiva o parto cesáreo apenas com a gestante já em progressão espontânea. Essa

peculiaridade foi importante para interpretação de nossos resultados.

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Estudos diversos (18-19)

demonstram, por modelos retrospectivos, que o parto

cesáreo é um complicador na transição do feto para a vida extrauterina no que reflete a

adaptação respiratória, entretanto, em nossa amostra, apesar de apresentarmos um

modelo algoritmo (MATLAB) para quantificar a mobilidade toracoabdominal não

demonstramos essa variação. Acreditamos que esse resultado se resume ao processo de

parturição pertinente ao perfil do hospital. Além disso, nossa idade gestacional média

para o parto cesáreo foi de 39 semanas, o que possibilita uma maturação pulmonar, pois

a condição de parto cesárea tardia, realizado com 39 semanas, diminui as admissões

neonatais por complicações respiratórias (18)

.

Como confirmado com os estudos de (6,16)

onde o parto cesáreo, em recém-

nascidos já maduros (≥ 39 semanas) não induz a alterações respiratórias.

Imediatamente após o parto, o padrão respiratório pode ser irregular, mas logo se

torna rítmico através da modulação de quimiorreceptores e receptores de estiramento,

obtendo de 40 a 60 incursões respiratórias por minuto e depois de chorar, o recém-

nascido estabelece o volume pulmonar adequado (16)

. O líquido pulmonar diminui

próximo ao parto para proporcionar a ventilação respiratória, isto ocorre por meio de

uma combinação da drenagem mecânica e absorção de líquido através do epitélio do

pulmão, principalmente quando submetido ao parto vaginal, pela ocorrência da

compressão torácica (3)

. Vários outros estudos (18-21)

têm mostrado que a incidência de

disfunção respiratória é inversamente proporcional à idade gestacional. Entretanto,

muitas pesquisas têm concluído suas hipóteses, a partir de dados retroativos ou

subjetivos, o que pode comprometer sua interpretação.

A metodologia de análise da mobilidade toracoabdominal proposta nesse estudo

atingiu com primazia o objetivo de avaliar a mobilidade toracoabdominal em recém-

nascidos em diferentes tipos de parto. O método é objetivo e configurado dentro de uma

sequência matemática no software MATLAB, o que demonstra objetividade e precisão

na análise dos resultados. Demonstrou ser um recurso útil na avaliação de pacientes que

não controlam, voluntariamente a sinergia do trabalho muscular durante a respiração.

O emprego da fotogrametria para análise do movimento respiratório permite

estabelecer evidências da relação volume-movimento e esta informação pode ser

utilizada para inferir comportamentos mecânicos respiratórios de relevante utilidade

clínica para a equipe multiprofissional (8,10)

.

Entretanto, algumas limitações devem ser consideradas. Apresentamos um

estudo transversal sem um grupo de partos cesáreos com progressão eletiva e perdemos

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25% da nossa amostra durante a fase de interpretação das imagens. Precisaríamos

acompanhar longitudinalmente um grupo maior de recém-nascidos de partos cesáreos

com progressão eletiva (sem o processo de parturição) e com idade gestacional diferente

das que incluímos nesse estudo.

Apesar de ser imprescindível às adaptações descritas como limitações nesse

estudo, a avaliação da mobilidade toracoabdominal pelo MATLAB nos diferentes tipos

de parto apresentou-se efetiva em recém-nascidos. Demonstrando eficiência na

quantificação das mudanças na mecânica respiratória, o que pode servir como uma

ferramenta objetiva e prática, de mensuração para os profissionais da equipe

multiprofissional, além de ser um método avaliativo de baixo custo e fácil

aplicabilidade.

CONCLUSÃO

Os dados indicam que o tipo de parto parece não influenciar a mobilidade

toracoabdominal, quando o padrão de progressão é espontâneo, para os partos vaginal

ou cesáreo. Entretanto, serão necessários novos estudos, com inclusão de cesáreas com

indução eletiva e estudos longitudinais para confirmação dos resultados.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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