UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm...

46
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO ANIMAL VALOR NUTRITIVO DO MANDACARU SEM ESPINHOS, PALMA ORELHA DE ELEFANTE MEXICANA E MIÚDA NA ALIMENTAÇÃO DE OVINOS MARIA VITÓRIA SERAFIM DA SILVA MACAÍBA/RN- BRASIL AGOSTO/2017

Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm...

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO ANIMAL

VALOR NUTRITIVO DO MANDACARU SEM ESPINHOS, PALMA

ORELHA DE ELEFANTE MEXICANA E MIÚDA NA ALIMENTAÇÃO

DE OVINOS

MARIA VITÓRIA SERAFIM DA SILVA

MACAÍBA/RN- BRASIL

AGOSTO/2017

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

MARIA VITÓRIA SERAFIM DA SILVA

VALOR NUTRITIVO DO MANDACARU SEM ESPINHOS, PALMA

ORELHA DE ELEFANTE MEXICANA E MIÚDA NA ALIMENTAÇÃO

DE OVINOS

Dissertação apresentada à Universidade

Federal do Rio Grande do Norte – UFRN,

Campus Macaíba, como parte das exigências

para a obtenção do título de Mestre em

Produção Animal.

MACAÍBA/RN- BRASIL

AGOSTO/2017

Orientador: Prof. Dr. Emerson Moreira de Aguiar

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.
Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Silva, Maria Vitória Serafim da. Valor nutritivo do mandacaru sem espinhos, palma orelha de

elefante mexicana e miúda na alimentação de ovinos / Maria

Vitória Serafim da Silva. - 2017. 47 f.: il.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Escola Acadêmica Especializada em Ciências Agrárias, Pós

Graduação em Produção Animal. Macaíba, RN, 2017. Orientador: Prof. Dr. Emerson Moreira de Aguiar.

1. Nutrição de ruminantes - Dissertação. 2. Cereus

hildmannianus - Dissertação. 3. Forrageiras estratégicas -

Dissertação. 4. Nopalea cochenillifera - Dissertação. 5. Opuntia

stricta - Dissertação. 6. Semiárido - Dissertação. I. Aguiar,

Emerson Moreira de. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 591.13:599.735

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

Ao meu Deus fiel, minha fortaleza.

Aos meus pais amados, Paulo Serafim e Francisca André, por todos valores

passados, amor e incentivo.

Ao meu esposo Túlio Renato, companheiro sempre presente, parceria forte.

Aos sábios professores, Dr. Emerson Moreira de Aguiar e José Geraldo

Medeiros da Silva, que tive a oportunidade de conviver e trabalhar.

DEDICO

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

“Tudo o que fizerem, façam de todo o coração,

como para o Senhor, e não para os homens”. (6ª Colossenses 3.23)

“ E o sertão é um vale fértil

É um pomar vastíssimo, sem dono” (Euclides da Cunha em os sertões)

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo entusiasmo, fé e saúde que me foi dado para realização do

experimento.

Aos meus pais Paulo Serafim e Francisca André, aos meus irmãos, ao meu

sobrinho afilhado Murilo Ricardo, pelo amor e alegrias transmitidos, tornando os dias mais

especiais, a toda minha família.

Ao meu esposo Túlio por todo amor, incentivo e coragem e a sua família, os quais

tenho grande carinho. A todos vocês FAMÍLIA, obrigado pela torcida constante, incentivo,

orações, confiança, e compreensão nos momentos de ausência.

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), ao Programa de Pós-

graduação em Produção Animal- PPGPA e a todos os professores do programa pelos

conhecimentos compartilhados em sala de aula.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Emerson Moreira de Aguiar pela orientação

profissional e para a vida, pela amizade e confiança no meu trabalho.

A José Geraldo Medeiros da Silva, pelo apoio, motivação, sempre disponível para

que o trabalho fosse produzido com todo zelo. A sua esposa Joalda, por me receber com

alegria e tão bem em sua residência.

A Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio Grande do Norte

(EMPARN) pela parceria com a UFRN.

Ao professor Marcone Geraldo Costa, a quem pude contar para todos

esclarecimentos sobre a digestibilidade, agradeço a sua atenção e disponibilidade.

Ao professor Luís Henrique Borba e ao professor Hamilton pela orientação na

parte estatística.

Ao amigo Paulo Victor, Zootecnista, pela “ponte” para aquisição e fornecimento

do Mandacaru sem espinhos no Haras Aroeira, localizada no município de Parelhas/RN,

que foi decisivo na realização dessa pesquisa.

Ao senhor Eduardo Patriota, pelo fornecimento dos animais.

A toda equipe do Laboratório de Nutrição Animal, obrigado pelo apoio! Lourdes

Tavarez, Yuri Barreto, Lucas Dias, Naúa Churiran, Maximilla Claudino, Claúdio, Maria

Gessica, Edvaldo funcionário, Ana Luíza, Luís Barros, Chico, Adriana e Bruna.

A minha amiga Clara Costa, sempre disponível.

Aos amigos Laura Laíse, Joederson Dantas e Iasmism Mangabeira, pelo apoio e

convívio.

A minha querida turma de mestrado!

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

Ao GEFOR, professor Gelson Difante, pela disponibilidade da área aos animais

reserva.

Ao Banco do Nordeste do Brasil (BNB) pelo suporte financeiro ao projeto e a

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de

Mestrado.

A todos que de forma física ou em oração me ajudaram a conquistar mais um

sonho!!!

A todos meu muito obrigada!

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

VALOR NUTRITIVO DO MANDACARU SEM ESPINHOS, PALMA

ORELHA DE ELEFANTE MEXICANA E MIÚDA NA ALIMENTAÇÃO

DE OVINOS

SILVA, Maria Vitória Serafim. VALOR NUTRITIVO DO MANDACARU SEM

ESPINHOS, PALMA ORELHA DE ELEFANTE MEXICANA E MIÚDA NA

ALIMENTAÇÃO DE OVINOS. 2017. 47f. Dissertação (Mestrado em Produção Animal)

- Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Macaíba-RN, 2017.

Resumo: Objetivou-se determinar o valor nutricional das cactáceas: mandacaru sem espinho

(Cereus hildmannianus K. Schum), palma Orelha de Elefante Mexicana (Opuntia stricta Haw.)

e palma Miúda (Nopalea cochenillifera Salm Dyck) na alimentação de ovinos. Foram

utilizados 15 ovinos mestiços (½Soinga x ½ Santa Inês), não castrados, com quatro meses de

idade e peso corporal inicial médio de 17,27 kg ± 1,05 kg, alojados em gaiolas de metabolismo,

distribuídos em um delineamento experimental inteiramente casualizado, com três tratamentos

e cinco repetições. As dietas experimentais foram compostas por 430,9 g Kg -1 da matéria seca

de mandacaru sem espinhos, 525,7 g Kg -1 de palma Orelha de Elefante Mexicana e 492,1 g

Kg -1 de palma Miúda, 194,7 a 233,8 g Kg -1 de feno de sabiá, 279,5 a 313,3 g Kg -1 de

concentrado e 18,4 a 22,0 g Kg -1 de sal mineral. O período experimental teve duração de 21

dias – 14 dias para adaptação às dietas e sete dias para coleta de dados. Não houve diferença

(P>0,05) para os consumos de matéria seca, matéria orgânica, extrato etéreo, fibra em

detergente neutro, carboidratos totais, carboidratos não fibrosos, nutrientes digestíveis totais e

água voluntária entre as dietas experimentais. O consumo de proteína bruta foi influenciado

(P<0,05) pelas dietas experimentais, havendo maior ingestão pelos animais que receberam o

tratamento composto pelo mandacaru sem espinhos, com 145,10 g dia-1. Os animais que

consumiram palma Orelha de Elefante Mexicana apresentaram maior ingestão de água via dieta

e total, com média de 4.478,61 g de água dia-1 e 4.625,94 g água dia-1, respectivamente. Não

foram verificadas diferenças (P>0,05) para os coeficientes de digestibilidade da matéria seca,

matéria orgânica, fibra em detergente neutro, carboidratos totais, carboidratos não fibrosos e

nutrientes digestíveis totais entre as dietas experimentais, com valores médios de 68,10%;

69,78%; 56,37% e 65,57%, 73,27%, 84,68% e 65,57% respectivamente. As variáveis

comportamentais, tempo de ruminação, eficiência de alimentação e ruminação não foram

influenciadas pelas dietas (P>0,05). O tempo gasto com alimentação foi maior (P<0,05) pelos

animais alimentados com a dieta composta por palma Orelha de Elefante Mexicana. As

cactáceas, mandacaru sem espinhos, palma Orelha de Elefante Mexicana e palma miúda

apresentam valor nutritivo semelhante podendo ser utilizadas na alimentação de ovinos.

Palavras-chave: Cereus hildmannianus, forrageiras estratégicas, nutrição de ruminantes,

Nopalea cochenillifera, Opuntia stricta, semiárido

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

ABSTRACT

SILVA, Maria Vitória Serafim. NUTRITIVE VALUE OF MANDACARU WITHOUT

SPINES, PALM MEXICAN ELEPHANT EAR AND PALM YIELDED IN SHEEP

FEED. 2017. 47f. Master Thesis (Graduate Diploma in Animal Production: sustainable

production systems in semiarid) – Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN),

Macaíba - RN, 2017.

This study aimed to evaluate the nutritional value of forage cactus: mandacaru without spine

(Cereus hildmannianus K. Schum), mexican elephant ear (Opuntia stricta Haw.) and palm

yielded (Nopalea cochenillifera Salm Dyck) in sheep feed. Fifteen crossbred (½ Soinga x ½

Santa Inês) sheep, uncastrated, four months old and average initial body weight of 17.27 kg ±

1.05 kg, housed in metabolism cages, were distributed in a completely randomized

experimental design with three treatments and five replicates. Experimental diets were

composed of 430.9 g Kg -1 of mandacaru without spines, 525.7 g kg -1 of mexican elephant

ear and 492.1 g kg -1 of palm yielded, 194.7 to 233.8 g Kg -1 sage hay, 279.5 to 313.3 g kg -

1 concentrate and 18.4 to 22.0 g kg -1 mineral salt. The experimental period lasted 21 days -

14 days for diet adaptation and seven days for data collection. There was no difference (P>

0.05) for dry matter intake, organic matter intake, ethereal extract intake, neutral detergent fiber

intake, total carbohydrates intake, non - fiber carbohydrates intake, total digestible nutrients

intake and voluntary water intake between experimental diets. The crude protein intake was

influenced (P <0.05) by the experimental diets, with a higher intake by the animals that received

the mandacaru treatment without spines (145.10 g day -1). The animals fed palm mexican

elephant ear showed higher water intake via the diet and total, averaging 4478.61 g of 1-day

water and 4625.94 g water day-1, respectively. There were no differences (P> 0.05) in the

digestibility coefficients of dry matter, organic matter, neutral detergent fiber, total

carbohydrates, non-fiber carbohydrates and total digestible nutrients between the experimental

diets, with mean values of 68.10 %; 69.78%; 56.37%; 65.57%; 73.27%; 84.68% and 65,57%

respectively. Behavioral variables, rumination time, feeding efficiency and rumination were

not influenced by diets (P> 0.05). Feeding time was higher (P <0.05) by animals fed with the

diet composed of mexican elephant ear. Cactaceae, mandacaru without spines, mexican

elephant ear and palm yielded have similar nutritive value and can be used in sheep feed.

Key words: Cereus hildmannianus. Nopalea cochenillifera. Opuntia stricta. Ruminant

nutrition. Semi-arid. Strategic forages.

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Composição química da palma forrageira, gênero Opuntia e Nopalea

cochenillifera...................................................................................................................14

Tabela 2: Composição química dos ingredientes das dietas

experimentais...................................................................................................................31

Tabela 3: Composição percentual e química das dietas experimentais com base na

matéria seca......................................................................................................................33

Tabela 4: Consumo de nutrientes por ovinos alimentados com diferentes espécies de

cactáceas..........................................................................................................................35

Tabela 5: Consumo de água por ovinos alimentados com diferentes espécies de

cactáceas..........................................................................................................................37

Tabela 6: Coeficiente de digestibilidade aparente dos nutrientes em função dos

tratamentos.......................................................................................................................39

Tabela 7: Comportamento ingestivo de ovinos alimentados com diferentes espécies de

cactáceas..........................................................................................................................40

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

SUMÁRIO

1. REFERENCIAL TEÓRICO....................................................................................11

1.1 Aspectos gerais sobre cactáceas e sua importância para o semiárido.......................11

1.1.1 Nopalea cochenillifera Salm Dyck e Opuntia stricta (Haw.) ...............................13

1.1.2 Mandacaru sem espinhos........................................................................................15

1.2 Consumo voluntário de nutrientes e comportamento ingestivo................................16

1.3 Digestibilidade aparente dos nutrientes.....................................................................18

REFERÊNCIAS.............................................................................................................20

2. INTRODUÇÃO.........................................................................................................27

3. MATERIAL E MÉTODOS......................................................................................29

3.1 Local e período experimental....................................................................................29

3.2 Manejo dos animais e delineamento experimental....................................................29

3.3 Manejo alimentar.......................................................................................................30

3.4 Coletas e análises laboratoriais..................................................................................31

3.5 Metodologia estatística..............................................................................................33

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO...............................................................................34

5. CONCLUSÕES..........................................................................................................40

REFERÊNCIAS.............................................................................................................41

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

11

1. REFERENCIAL TEÓRICO

1.1. Aspectos gerais sobre cactáceas e sua importância para o semiárido

O futuro das regiões áridas e semiáridas do mundo depende do desenvolvimento de

sistemas agrícolas sustentáveis, e do cultivo de espécies vegetais que tolerem à seca, a

altas temperaturas e baixa fertilidade natural do solo (BEN SALEM & NEFZAOUI,

2002). Comentaram os autores, que nesses ambientes, dentre as espécies, o destaque das

cactáceas consiste na sua eficiência no uso da água, produzirem forragem e prevenirem a

degradação em ecossistemas frágeis.

Segundo Silva et al. (2016) na região do semiárido brasileiro em períodos de grandes

secas, a palma e outras cactáceas são utilizadas como volumosos forrageiros estratégicos

nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas

de produção animal dessa área.

Silva & Santos (2007) relataram que a palma forrageira sem espinho não é nativa

do Brasil, e foi introduzida por volta de 1880, em Pernambuco, através de sementes

importadas do estado do Texas-Estados Unidos. O seu cultivo no Nordeste do Brasil com

a finalidade forrageira começou no início do século XX, o mesmo acontecendo nas

regiões áridas e semiáridas dos Estados Unidos, África e Austrália (TEIXEIRA et al.,

1999). Lira et al. (2006) cita que inicialmente o valor forrageiro da palma no Nordeste

não foi reconhecido, só despertando o interesse para este fim em Pernambuco e Alagoas

em 1902.

Segundo Rocha Júnior (2012), os fatores determinantes para o incentivo ao cultivo

de palma são a preocupação ambiental com a conservação da biodiversidade forrageira

da Caatinga, ofertando alternativas de alimento para os animais; a lucratividade da

atividade pecuária para garantir a segurança alimentar das populações que vivem em áreas

marcadas pela instabilidade e os indicadores de alterações climáticas previstas para os

próximos anos.

Essas plantas destacam-se em sistema de sequeiro em consequência de seu

mecanismo fotossintético especializado MAC (Metabolismo Ácido das Crassuláceas),

tendo como mecanismo principal o fechamento estomático diurno e abertura noturna,

apresentando elevada eficiência no uso da água (NOBEL, 2001). Segundo, Ben Salem &

Nefzaqui (2002) este mecanismo possibilita a maximização do uso eficiente da água,

produzindo continuamente forragem e prevenindo degradação de ecossistemas frágeis.

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

12

De acordo com Ferreira et al. (2008), palma é até 11 vezes superior em termos de

eficiência no uso da água à observada nas plantas de mecanismo C3, característica que

faz com que a palma se adapte ao semiárido de maneira incomparável a qualquer outra

forrageira.

Sendo atualmente as espécies mais cultivadas no Nordeste brasileiro: a Opuntia

stricta com as variedade palma orelha de elefante mexicana e a espécie Nopalea

cochenillifera Salm Dyck, cuja denominação comum palma miúda ou doce e o clone IPA-

20. No início do cultivo da palma no Nordeste, o gênero Opuntia fícus indica Mill com

as variedades gigante e redonda eram as mais cultivadas, porém por serem suscetíveis a

cochonilha do carmim seus cultivos não são mais recomendados.

As duas estações climáticas bem definidas no Nordeste brasileiro, uma seca e outra

chuvosa, comprometem a oferta regular de alimento. Como cita Lopes et al. (2005), no

período das chuvas, a oferta de forragem é quantitativa e qualitativamente satisfatória,

porém, na época seca que representa a maior parte do ano, além da escassez de pastagens,

o seu valor nutricional é baixo, prejudicando a produção de carne e leite. Este grande

problema da pecuária do Nordeste brasileiro, que é a oferta irregular de forragem, causa

um grande prejuízo a este segmento da economia.

A constância no aparecimento de anos secos faz da palma forrageira um alimento

classificado como estratégico para esses períodos, quando o crescimento de outras

forrageiras é limitado pelo baixo índice pluviométrico (CAVALCANTI et al., 2008;

ROMO et al., 2006). Característica alcançada em meio a sequeiro por seu metabolismo

fotossintético MAC (Metabolismo Ácido das Crassuláceas), como cita Souza (2015), é

mais eficiente em relação ao uso da água comparada as plantas de mecanismo

fotossintético C3 e C4.

A palma forrageira é uma planta suculenta e bem adaptada aos extremos

climatológicos e as condições edáficas do semiárido, sua elevada eficiência do uso da

água a faz produzir mesmo em condições severas de seca (BEN SALEM, 2010). Segundo

Silva et al. (2014), observaram no período de 12 anos, altas produções de biomassa em

plantios adubados, superiores a 160 t ha-1. Experimentalmente, produções anuais de

aproximadamente 17 t ha-1 de matéria seca em condições de sequeiro foram observadas

para palma na região semiárida da Paraíba (SALES et al., 2013).

Conforme a Portaria 295, de 05 de agosto de 2011, do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento – MAPA, para o cultivo da palma forrageira, em condições de

baixo risco climático, no Estado do Rio Grande do Norte, os seguintes critérios:

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

13

temperatura média anual (16,0 a 27,0ºC), temperatura máxima (28,5 a 33,0ºC),

temperatura mínima (8,5 a 22,0ºC) e precipitação média anual (360 a 800 mm/ano).

A palma forrageira confirma sua importância no uso em dietas para ruminantes por

apresentar alto teor de carboidratos não fibrosos (CNF), fonte de energia prontamente

disponível para fermentação microbiana, porém apresenta baixos teores de fibra em

detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) quando comparada a

alimentos volumosos, podendo ser fatores determinantes na utilização da mesma na dieta

animal, pois têm importante papel na manutenção das condições normais do rúmen

(Melo, 2006).

Em determinadas localidades da Caatinga, onde as palmas forrageiras (Opuntia e

Nopalea) não se adaptam ou apresentam baixas produtividades, as espécies mandacaru e

xiquexique são utilizadas como suportes forrageiros dos ruminantes (SILVA et al., 2013).

Por outro lado, no arraçoamento animal da Caaatinga, essas espécies apresentam alto

custo na eliminação dos espinhos e preparo de forragem (SILVA et al., 2010).

Sobre o cultivo das cactáceas colunares, Silva et al. (2013) relataram suas

produtividades, sendo o plantio por estacas do mandacaru no espaçamento de 2,0 x 1,5 m

com 13 toneladas de MS ha-1 em 10 anos, e o xiquexique no espaçamento 1,0 x 1,0 com

média de 1,2 toneladas de MS ha-1 em 6,5 anos.

1.1.1 Nopalea cochenillifera Salm Dyck e Opuntia stricta (Haw.) Haw.

Os gêneros Opuntia e Nopalea destacam-se como opções alimentares estratégicas

para os ruminantes no semiárido brasileiro por apresentar elevado potencial de produção

de fitomassa. Produções de 35 t ha-1 de matéria seca de palma foram constatados por Sales

et al. (2013), colhida aos 710 dias após o plantio, em sequeiro, nas condições

edafoclimáticas do Cariri paraibano. Santos et al (2008), registraram 90% de

sobrevivência e produtividades média de 37 t ha-1 de matéria seca em dois anos com

população de 20.000 plantas.ha-1 do genótipo forrageiro IPA-200016 Opuntia stricta

(Haw.) Haw.

Além de características produtivas favoráveis os gêneros em estudo, Nopalea

cochenillifera Salm Dyck, denominada miúda ou doce e a Opuntia stricta (Haw.) Haw.,

denominada orelha de elefante mexicana são resistentes à cochonilha do carmim

Dactylopius opuntiae (NEVES et al., 2010; VASCONCELOS et al., 2009), suscetíveis a

cochonilha de escama (Diaspis echinocacti) (SANTOS et al., 2006).

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

14

Os baixos teores de matéria seca e proteína bruta da palma implicam na ingestão de

grandes quantidades desse alimento para que sejam atendidas as necessidades desses

nutrientes. Além disso, é bom lembrar que animais alimentados com quantidades

elevadas de palma, comumente, apresentam distúrbios digestivos, o que, provavelmente,

está associado à baixa quantidade de fibra dessa forrageira. Por isso a importância de

complementá-la com volumosos ricos em fibra, a exemplo de silagens, fenos, capins

secos, palhadas e bagaço de cana-de-açúcar. Independente do gênero, a palma apresenta

baixos teores de matéria seca, proteína bruta, fibra em detergente neutro e fibra em

detergente ácido (MELO, 2006).

Ramos et al. (2015), demonstra teores médio de matéria seca (9,15%), extrato etéreo

(1,74 %), proteína bruta (4,50%), fibra de detergente neutro (27,53%) e fibra de

detergente ácido (16,47%). Entretanto, são consideráveis os teores de carboidratos totais

(81,92%), carboidratos não-fibrosos (50,5%) e matéria mineral (12,57%)

(WANDERLEY et al., 2012), apresentando, ainda, elevada aceitabilidade, alta

digestibilidade de matéria seca e alto consumo voluntário (FERREIRA et al., 2011).

Conforme descrito por Melo (2006), a palma forrageira apresenta em média 64,66%

de NDT, quantidade bastante superior à maioria dos alimentos volumosos utilizados na

ração animal na região semiárida. Superior até mesmo à silagem de milho, volumoso

considerado dos melhores na alimentação de vacas em lactação, evidenciando a palma

forrageira como fonte de energia na dieta animal (Tabela 1).

Tabela 1. Composição química da palma forrageira, das espécies Opuntia stricta e

Nopalea cochenillifera.

MS = matéria seca; MM = matéria mineral; PB = proteína bruta; FDN =fibra em detergente neutro;

FDA = fibra em detergente ácido; CHT = carboidratos totais; CNF = carboidratos não fibrosos.

Nutrientes (%)

Espécies MS MM PB FDN FDA CHT CNF Referência

Opuntia Stricta 13,0 11,0 3,5 19,8 - 83,9 64,1 Guerreiro (2017)

Opuntia Stricta 10,3 20,3 4,9 39,4 12,2 72,8 38,1 Goés Neto (2014)

Opuntia Stricta 9,0 13,0 6,1 24,0 10,7 - - Moraes (2012)

N. cochenillifera 12,8 17,1 7,9 35,0 14,9 73,2 47,5 Goés Neto (2014)

N. cochenillifera 9,2 11,5 6,3 21,7 - 80,7 59,0 Maciel et al. (2015)

N. cochenillifera 9,5 18,6 3,0 22,3 11,4 - - Moraes (2012)

N. cochenillifera 12,5 10,3 3,7 23,5 15,8 84,9 61,6 Valadares Filho et al. (2010)

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

15

Oliveira (2017), avaliou o efeito da substituição da cana de açúcar por palma miúda

(0; 33; 66 e 100%) na dieta de ovinos Santa Inês, registrando consumo de MS máximo

de 1,31 g Kg-1 com 42,5 % de palma. As digestibilidade de nutrientes da MS, MO, PB e

EE aumentaram linearmente, porém a FDN apresentou digestibilidade máxima de 500 g

Kg-1ao nível de 64,2% de substituição.

Moraes (2012), trabalhando com as espécies Opuntia stricta e Nopalea

cochenillifera com média 82,38% de palma, farelo de soja, sal mineral e ureia, não

observou diferenças para os consumos de MS, MO, FDN, com médias de 827, 32 g.dia-1

(3,4% de PV); 708,87 g.dia-1; 175,25 g.dia-1, respectivamente. Os coeficientes de

digestibilidade da MS e da MO foram mais altos nas dietas compostas por OEM e IPA-

Sertânia, em comparação a dieta composta pela espécie Miúda, com média de 73,7 g dia-

1 e 80,4 g dia-1 para OEM e 73,2 g dia-1e 79,10 g dia-1 para IPA-Sertânia. As

digestibilidades de MS e MO para dietas contendo palma miúda foram de 62,2 g.dia-1 e

70,5 g.dia-1, respectivamente. Os coeficientes de digestibilidade da FDN não foram

influenciados pelas espécies de palma com média de 46,3%.

1.1.2 Mandacaru sem espinhos

De acordo com Moreira et al. (2015), o mandacaru variedade sem espinho apresenta

importância para a sustentabilidade e conservação do bioma Caatinga crescendo em

vários tipos de solos, incluindo o solo do Rio Grande do Norte.

O mandacaru sem espinhos (Cereus hildmannianus K. Schum.), é encontrado

principalmente no Rio Grande do Norte, sua vantagem de não ter espinhos facilita o

manejo e a utilização na alimentação dos animais na seca (CAVALCANTI E REZENDE,

2006), evitando acidentes ao produtor rural e aos animais. Esses autores relataram que o

mandacaru sem espinhos encontrado no entorno da cidade de Natal/RN, tem apresentado

altura variando de 3,5 a 5,3 m com copa bastante desenvolvida. Todavia, algumas plantas

desta espécie têm sido cultivadas em áreas de climas mais seca, como o sertão da Paraíba

e Pernambuco.

Cavalcanti e Resende (2006) identificaram altura das plantas variando de 3,75 a

6,54m, com seu tronco ou caule principal desenvolvendo brotações laterais com número

médio de 13,5 por planta.

Os seus frutos servem como alimentos para pássaros e animais silvestres da

Caatinga (CAVALCANTI & RESENDE, 2007), sendo uma alternativa para a fabricação

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

16

de vinho. A sua polpa é doce e comestível e, semelhante a outras cactáceas, pode ser

utilizada na alimentação humana (ALBUQUERQUE & ANDRADE, 2002;).

Uma das vantagens do mandacaru sem espinhos é a pequena perda de água para a

atmosfera devido à forma do seu caule desprovido de folhas, o que reduz a superfície de

evaporação do vegetal e por causa da presença de uma espessa cutícula que reveste os

folículos, possuindo ainda tecidos mucilaginosos, que absorvem e armazenam grande

quantidade de água. Por isso, na estiagem, quando todas as plantas secam e perdem suas

folhas, o mandacaru e outras cactáceas mantêm-se verde, contrastando com a paisagem

(ARAÚJO et al., 2009).

Segundo Cavalcanti & Resende (2006), essa espécie surgi como mais uma opção

forrageira, por seu potencial forrageiro e valor nutritivo apropriado em função do seu teor

proteico, em torno de 10,7%, de acordo com Sampaio et al. (2001). De fácil manejo por

não possuir espinhos, dispensa o processo da queima, não havendo a emissão de gases

poluentes, trazendo também como vantagem melhor palatabilidade aos animais. Em

conformidade com Cavalcanti & Resende (2006), no processo de extração dos caules, os

pecuaristas queimam os espinhos, pois estes dificultam o manejo e a utilização do

mandacaru na alimentação dos animais. Adicionalmente, a queima dos espinhos pode

causar danos ao meio ambiente e é um desafio enfrentado pelo agricultor

(CAVALCANTI & RESENDE, 2007).

O mandacaru sem espinhos apresenta grande quantidade de fibras que são formadas

por polímeros de elevada massa molar, como o amido, hemicelulose, pectina e lignina. É

um substrato rico em açúcares simples como glicose, frutose e sacarose, além de outros

mono e dissacarídeos que são utilizados pelos microrganismos para síntese de proteínas

(ARAÚJO et al. 2009).

Cavalcanti e Ribeiro (2008) encontraram valor nutricional para o mandacaru sem

espinhos de: 7,61% MS, 12,19% PB, 1,04% EE, 14,85% FB, 3.404 cal/g EB, 18,69%

MM e 81,31% MO, e para o mandacaru com espinhos os valores registrados foram de:

18,77% MS, 6,64% PB, 2,03% EE, 3,74% FB, 3.114 cal/g EB, 22,57% MM e 77,43%

MO. Araújo et al (2009) encontraram 9,17% PB na base seca

1.2 Consumo voluntário de nutrientes e comportamento ingestivo

O conhecimento sobre o consumo e a digestibilidade da matéria seca dos alimentos

é essencial para a nutrição animal, pois através destes parâmetros é possível estabelecer

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

17

as quantidades precisas de nutrientes que irão atender ás exigências nutricionais para

mantença, crescimento e produção de ruminantes.

O consumo de matéria seca pode ser controlado por fatores físicos, fisiológicos ou

psicogênicos, como tipo e qualidade dos alimentos, nível de produção e manejo

(RODRIGUES et al., 2007; SNIFFEN et al.,1993). O fator físico refere-se à distensão

física do rúmen-reticulo, o fisiológico é regulado pelo balanço energético ou nutricional

e a regulação psicogênica envolve o comportamento animal em resposta a fatores

inibidores ou estimuladores no alimento ou ao manejo alimentar, que não são

relacionados ao valor energético dos alimentos ou ao efeito de repleção (MERTENS,

1994).

Segundo Gomes et al. (2012), relataram que o consumo e a digestibilidade aparente

da matéria seca são influenciados por vários fatores, como padrão genético dos animais,

teor de nutrientes da dieta, pelos efeitos associativos entre os alimentos, pela relação

volumoso concentrado, e também, pelo processamento dos alimentos. Entre os

componentes da dieta, a energia é o que mais se relaciona ao consumo de alimento pelo

animal (SILVA, 2014), observação oposta para a fibra em detergente neutro (FDN).

Segundo Pereira et al. (2003), o consumo de alimento é essencial para avaliar uma

determinada dieta, pois determina a resposta animal, através do nível de ingestão de

nutrientes. Contudo, se a dieta ofertada restringir o consumo alimentar, este limitará

também o desempenho animal e consequentemente reduzirá a eficiência do processo

produtivo.

O consumo voluntário pode ser definido como a quantidade de matéria seca

ingerida espontaneamente por um animal ou um grupo de animais durante dado período

de tempo com acesso livre ao alimento (FORBES,1995).

Silva et al. (2010), utilizando cactáceas nativas associadas a fenos de flor de seda e

sabiá na alimentação de borregos obtiveram consumo médio de 3,26% PV para o

mandacaru associado ao feno de Sabiá, confirmando a aceitação da dieta pelos animais,

pois de acordo com Pessoa et al. (2013), consumos de matéria seca superiores a 3,0% do

peso vivo em ovinos podem ser considerados satisfatórios por proporcionar ingestão

adequada de nutrientes quando em dietas bem balanceadas.

Vários trabalhos com ruminantes têm demonstrado que a utilização de palma e

outras cactáceas na dieta tem reduzido a ingestão voluntária de água (COSTA et al., 2012;

SILVA et al., 2010; CAVALCANTI et al., 2008; VIEIRA et al., 2008; BISPO et al.,

2007), em virtude da alta umidade, aproximadamente 90%, confirmando sua importância

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

18

para as regiões áridas e semiáridas, onde é considerada fonte de água de boa qualidade e

fonte de MS de alta digestibilidade.

O comportamento ingestivo é compreendido como o estudo das variáveis acerca da

alimentação do animal, podendo ser caracterizado pela distribuição desuniforme de uma

sucessão de períodos definidos e discretos de atividades, comumente classificadas como

ingestão, ruminação e descanso ou ócio (PENNING et al., 1991). Seu estudo contribui

para a busca do melhor desempenho animal, através da avaliação das dietas, orientando

para possíveis ajustes de manejo alimentar.

Fischer et al. (1998), relataram que os ruminantes intercalam o período de ingestão

de alimentos com um ou mais períodos de ruminação ou de ócio e o fornecimento de

alimento influência o ritmo da ruminação, o qual é mais elevado durante a noite.

O tempo gasto com alimentação é um dos fatores limitantes do consumo, varia em

função do teor de fibra das dietas por causa do número de movimentos mastigatórios.

Segundo Albright (1993), o maior consumo de nutrientes está associado, primeiramente,

com o menor tempo gasto na ingestão e na ruminação (DESWYSEN et al., 1993).

A distribuição das atividades ingestivas (ingestão, ruminação e repouso) são

influenciadas por vários fatores como o horário, a frequência e o intervalo de tempo entre

os arraçoamentos, situação aplicada em animais confinados, de acordo com Deswysen et

al. (1993), o fornecimento de ração induz o animal a ingerir. Concordando com os esses

autores e Souza (2004), indicam que a quantidade de alimento consumido por um

ruminante, em determinado período, depende do número de refeições, da duração e da

taxa de alimentação de cada refeição.

1.3 Disgestibilidade aparente dos nutrientes

Entende-se por digestão como sendo o processo de conversão de macromoléculas

em moléculas menores até que possam ser absorvidas no trato gastrointestinal. E como

forma de conhecer os nutrientes que foram absorvidos pelos animais, tem-se a

digestibilidade.

A digestibilidade é um parâmetro nutricional imprescindível para formulação de

dietas que atenda com precisão as exigências dos animais, representando em porcentagem

a quantidade de nutrientes que não foi excretado nas fezes.

Considerada um dos principais parâmetros para a avaliação do valor nutritivo, a

digestibilidade é fundamental quanto à qualificação dos alimentos; e medidas de

coeficiente de digestibilidade permitem indicar a quantidade percentual de cada nutriente

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

19

do alimento que o animal tem condição de utilizar (VAN SOEST, 1994). A

digestibilidade pode ser aparente ou verdadeira, a primeira corresponde à diferença entre

os nutrientes contidos nos alimentos e os presentes nas fezes, já a digestibilidade

verdadeira considera resíduos de bactérias e substâncias endógenas, por isso de acordo

com Van Soest (1994) o coeficiente de digestibilidade verdadeira é sempre mais alto que

o da digestibilidade aparente, com exceção para a fibra.

Para as fibras não há perdas metabólicas nas fezes, pois não há produção endógena

no organismo animal, por essa razão os coeficientes de digestibilidade aparente e

verdadeira são iguais. Resíduos alimentares que ultrapassam o trato digestivo intacto são

chamados de verdadeiramente indigestíveis. Em dietas totais, proteínas e lipídios sempre

tem perdas metabólicas nas fezes (VAN SOEST, 1994).

Nos ensaios de digestibilidade é possível determinar a digestibilidade aparente e a

digestibilidade verdadeira, sendo baseado na diferença entre a quantidade de matéria seca

ou nutriente ingerido e respectiva quantidade nas fezes. A diferença é que a

digestibilidade verdadeira considera no cálculo resíduos de bactérias oriundas do

processo fermentativo e substâncias endógenas do organismo animal, como enzimas

digestivas, células de descamação do trato gastrintestinal, sais de cálcio e de magnésio

sob forma de sabão combinado com lipídeos, que são consideradas da fração fecal

(SALMAN et al., 2010).

Quando se trabalha com digestibilidade aparente não existe a preocupação em fazer

distinção entre nutrientes que apareceram nas fezes, originários da fração indigerível do

alimento e aqueles originados do próprio corpo do animal que são secretados no trato

digestivo na forma de enzimas e outras secreções endógenas e descamações da mucosa.

Após o conhecimento da composição química dos alimentos, a estimativa dos valores de

digestibilidade é essencial para determinar o valor nutritivo dos alimentos

(VALADARES FILHO, 2000).

De acordo com Silva e Leão (1979), geralmente na avaliação de alimentos para

ruminantes, utiliza-se o coeficiente de digestibilidade aparente, definido como parte do

nutriente do alimento que não é excretado nas fezes, por meio da formula:

CD= (Kg de nutriente ingerido – Kg de nutriente excretado) x 100

kg de nutriente ingerido

Existem dois métodos utilizados para estimar a digestibilidade dos alimentos: o

método direto ou método tradicional da coleta total de fezes, que consiste em um rigoroso

controle de ingestão e excreção diária, necessitando de animais adaptados à gaiola de

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

20

metabolismo e a bolsas coletoras; e o método indireto dos indicadores ou marcadores

(internos ou externos), os quais apresentam certas vantagens sobre o da coleta total de

fezes devido à simplicidade e conveniência de utilização, proporcionando informações

como a quantidade ingerida de alimentos ou nutrientes específicos, a taxa de passagem

da digesta por todo trato digestivo e a digestibilidade de todo alimento ou nutriente

específico (ZEOULA et al., 2001).

REFERÊNCIAS

ALBRIGHT, J.L. Nutrition, feeding and calves: feeding behaviour of dairy cattle.

Journal of Dairy Science, v. 76, p. 485-498, 1993.

ALBUQUERQUE, U. P.; ANDRADE, L. H. C. Uso de recursos vegetais da Caatinga: o

caso do agreste do estado de Pernambuco (nordeste do Brasil). INCI 27:336- 346, 2002.

ARAÚJO, L. F.; SILVA, F. L. H.; OLIVEIRA, L. S. C.; MEDEIROS, A. N. M.; NETO,

A. P. Bioconversão do mandacaru sem espinhos (Cereus jamacaru) em alimento

alternativo para ruminantes. Tecnol. &Ciên. Agropec., João Pessoa, v.3, n.1, p.53-57,

fev. 2009.

BEN SALEM, H. Spineless cactos (Opuntia spp.) in low-input production systems in dry

areas. In: FAO. 2011. Successes and failures with animal nutrition practices and

technologies in developing countries. Proceedings of the FAO Electronic Conference,

Rome, Italy. Edited by Harinder P.S. Makkar. FAO Animal Production.1-30 September

2010.

BEN SALEM, H.; NEFZAOUI , A. Opuntia ssp. – a estrategic fodder and efficient tool

to combat desertification in the Wana region. In: MONDRAGON-JACOBO , C.;

PÉREZGONCALÊZ, S. E. (eds.) Cactus (Opuntia spp.) as forage. Roma: FAO,

2002.p.73-90.

BISPO, S. V.; FERREIRA, M. A.; VÉRAS, A. S. C. et al. Palma forrageira em

substituição ao feno de capim-elefante. Efeito sobre consumo, digestibilidade e

características de fermentação ruminal em ovinos1. Revista Brasileira de Zootecnia,

v.36, n.6, p.1902-1909, 2007.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

21

CAVALCANTI, C. V. A.; FERREIRA, M. A.; CARVALHO, M. C.; et al. Palma

forrageira enriquecida com uréia em substituição ao feno de capim tifton 85 em rações

para vacas da raça Holandesa em lactação. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa,

v.37, n.4, p.689-693, 2008.

CAVALCANTI, M. B. D. A., & RIBEIRO, N. M. Avaliação nutricional do mandacaru

com e sem espinhos. In: II CONGRESSO NORTE-NORDESTE DE QUÍMCA, João

Pessoa/PB, 2008.

CAVALCANTI, N.B.; RESENDE, G.M. Efeito de diferentes substratos no

desenvolvimento de mandacaru (Cereus jamacaru P. DC.), facheiro (Pilosocereu

spachycladus RITTER), xiquexique (Pilosocereus gounellei (A. WEBWR EX K.

SCHUM.) BLY. EX ROWL.) e coroa-de-frade (Melocactus bahiensis BRITTON &

ROSE). Rev. Caatinga. v. 20, p. 28-35, 2007.

CAVALCANTI, N. de B.; RESENDE, G. M. de. Efeito de diferentes substratos no

desenvolvimento do mandacaru sem espinhos (Cereus hildemannianus K. Schum).

Revista Caatinga. Mossoró, v.19, n.3, p. 255-260, 2006.

COSTA, R. G.; TREVIÑO, I. H.; MEDEIROS, G.R.; MEDEIROS, A.N.; PINTO, T.F.;

OLIVEIRA, R. L. Effects of replacing corn with cactos pear (Opuntia fícus indica Mill)

on the performance of Santa Inês lambs. Small Ruminant Research, v.102, n1, p. 13-

17, 2012.

DESWYSEN, A.G.; DUTILLEUL, P.A.; GODFRIN, J.P. et al. Nycterohemeral eating

and ruminating patterns in heifers fed grass or corn silage: analysis by finite Fourier

transform. Journal of Animal Science, v.71, n.10, p.2739-2747, 1993.

FERREIRA, M.A. Utilização da Palma forrageira na alimentação de ruminantes. In:

CONGRESSO BRASILEIRO DE PALMA E OUTRAS CACTÁCEAS, 2; 2011,

Garanhuns, PE. Anais ...Garanhuns, 2011. CD-ROM.

FERREIRA, M.A., Pessoa, R.A.S. & Silva, F.M. Produção e utilização da palma

forrageira na alimentação de ruminantes. Anais I Congresso Brasileiro de Nutrição

Animal, Fortaleza, CE. 2008.

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

22

FISCHER, V. et al. Padrões nictemerais do comportamento ingestivo de ovinos. Revista

Brasileira de Zootecnia, v.27, n.2, p.362- 369, 1998.

FORBES, J.M. Voluntary food intake and diet selection by farm animals. 1.ed. Leeds:

CabInternational, UK,. 532 p,1995.

GUERREIRO, A. L. Palma Miúda e Orelha de Elefante Mexicana em dietas para

cordeiros de dois grupamentos genéticos. 2017. 41f. Dissertação (Mestrado em

Produção Animal – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Macaíba –

RN, 2017.

GOÉS NETO, P. E. de. Desempenho de cabras leiteiras alimentadas com diferentes

espécies de cactáceas. 2014. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, Macaíba, RN, 2014.

GOMES, S. P., BORGES, A. L. C. C., BORGES, I., JUNIOR, G. D. L. M., SILVA, A.

G. M., & PANCOTI, C. G. Efeito do tamanho de partícula do volumoso e da freqüência

de alimentação sobre o consumo e a digestibilidade em ovinos. Revista Brasileira de

Saúde e Produção Animal, v.13, n.1, p.137-149, 2012.

LIRA, M.A., SANTOS, M.V.F., DUBEUX Jr, J.C.B., FARIAS, I., CUNHA, M.V. &

SANTOS, D.C. Meio século de pesquisa com a palma forrageira (Opuntia e Nopalea) -

ênfase em manejo. Anais XVI Congresso Brasileiro de Zootecnia, Recife, Pernambuco,

2006.

LOPES, J. S.; JAEGER, S. M. P. L.; TAVARES, J. T. Q. et al. Composição

bromatológica da palma forrageira (Nopalea cocchenilifera Salm Dyck) amonizada.

Revista Magistra, v. 17, n. 3, p. 107-113, 2005.

MACIEL, M. V.; CARVALHO, F. F.R.; BATISTA, Â. M.V.; GUIM, A.; SOUZA, E.

J.O.; MACIEL1, L. P.A.A.; PEREIRA NETO, J. D.; LIMA JUNIOR, D. M. Carcass and

non-carcass characteristics of sheep fed on cassava (Manihot pseudo glaziovii Pax & K.

Hoffm.). Chile an jornal of agricultural research, v. 75, n. 3, p. 307-312, 2015.

Mapa. 2011. Portaria 295 - Aprovar o Zoneamento Agrícola de Risco Climático para a

cultura de palma forrageira no Estado do Rio Grande do Norte. Disponível em:

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

23

http://www.jusbrasil.com.br/diarios/29278897/dou-secao-1-05-08-2011-pg-40.Acesso

em: 20 mai. 2016.

MELO, A.A.S. Palma forrageira na alimentação de vacas leiteiras. 2006. Disponível

em: http://www.abz.org.br/files.php?file=documentos/Airon_Melo_417110279.pdf.

Acesso em: 20 de maio. 2016.

MERTENS, D.R. Regulation of forage intake. In: FAHEY, G.C. (Ed.) Forage quality,

evaluation, and utilization. Madison: American Society Agronomy, 1994. p.450-493.

MORAES, A. C. A. Valor nutritivo de diferentes variedades de Palma forrageira

resistentes à cochonilha do carmim. 2012. 68 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) –

Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, PE, 2012.

MOREIRA, A. A. D.; SANTOS, S. J. A.; ARAÚJO, M. J. S.; DANTAS, F. A.; MELO,

D. A. Propagação do Mandacaru (Cereusjamacuru) variedade sem espinho sob uso de

técnicas agroecológicas no Seridó Paraibano. Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-

7934 – Vol 10, Nº 3, 2015.

NEVES, A. L. A.; PEREIRA, L. G. R.; SANTOS, R. D. dos; VOLTOLINI, T. V.;

ARAÚJO, G. G. L. de; MORAES, S. A. de; ARAGÃO, A. S. L. de; COSTA, C. T. F.

Plantio e uso da palma forrageira na alimentação de bovinos no semiárido brasileiro. Juiz

de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2010. 7 p. (Embrapa Gado de Leite. Comunicado

Técnico, 62). Disponível em: < http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/

42960/1/Salete-Meta-2011.pdf>. Acessoem: 30 abr. 2016.

NOBEL, P. S. Cacti: biology and uses. Berkeley Los Angeles London: University of

California Press, 289p. 2001.

OLIVEIRA, J. P. F. Palma forrageira em substituição à cana de açúcar para ovinos em

terminação. 2017. 94f. Tese doutorado – Universidade Federal Rural de Pernambuco,

Universidade Federal do Ceará, Universidade Federal da Paraíba, Programa de doutorado

integrado em Zootecnia, Recife – PE, 2017.

PENNING, P.D.; ROOK, A.J.; ORR, R.J. Patterns of ingestive behavior sheep

continuously stocked on monocultures of ryegrass or white clover. Applied Animal

Behavior Science, v.31, n.3, p.237-250, 1991.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

24

PEREIRA, E. S.; ARRUDA, A. M. V. de.; MIZUBUTI, I. Y.; SILVA, L. das D. da.

Consumo voluntário em ruminantes. Semina: Ciências Agrárias, v. 24, n. 1, p. 191-196,

2003.

PESSOA, R. A. S.; FERREIRA, M. de A.; SILVA, F. M. da.; BISPO, S. V.;

WANDERLEY, W. L.; VASCONCELOS, P. C. Diferentes suplementos associados à

palma forrageira em dietas para ovinos: consumo, digestibilidade aparente e parâmetros

ruminais. Revista Brasileira Saúde Produção Animal. v.14, n.3, p.508-517, 2013.

RAMOS, A.O.; FERREIRA, M.A.; SANTOS, D.C.; VÉRAS, A.S.C.; CONCEIÇÃO,

M.G.; SILVA, E.C.; SOUZA, A.R.D.L.; SALLA, L.E. Associação de palma forrageira

com feno de maniçoba ou silagem de sorgo e duas proporções de concentrado na dieta de

vacas em lactação. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. vol.67

no.1 Belo Horizonte Feb. 2015.

RODRIGUES, C.A.F., RODRIGUES, M.T., BRANCO, R.H. et al. Consumo,

digestibilidade e produção de leite de cabras leiteiras alimentadas com dietas contendo

diferentes níveis de proteína bruta e energia líquida. R. Bras. Zootec., v.36, n.5, p.1658-

1665, 2007.

ROCHA JÚNIOR, E.S. 2012. Palma forrageira no Brasil: o Estado da arte.

EMBRAPA Caprinos e Ovinos. 40p. (Documentos, 106).

ROMO, M. M.; ESTRADA, G. T.; HARO, I. M. et al. Digestibilidad in situ de dietas con

harina de nopal desidratado conteniendo un preparado de enzimas fibrolíticas exógenas.

Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 41, n. 7, p. 1173-1177, 2006.

SALES, A. T.; LEITE, M. L. M. V.; ALVES, A. Q.; RAMOS, J. P. de F.;

NASCIMENTO, J. P. do. Crescimento vegetativo de palma forrageira em diferentes

densidades de plantio no Curimataú Paraibano. Tecnologia & Ciência Agropecuária,

João Pessoa, v.7, n.1, p.19-24, 2013.

SALMAN, A. K. D.; FERREIRA, A.C.D.; SOARES, J. P. G.; SOUZA, J. P. S.

Metodologia para avaliação de ruminantes. Porto Velho, RO: Embrapa Rondônia, 2010.

21p.

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

25

SAMPAIO, O. B.; OLIVEIRA, W.N.; SONDA, C.; VIEGAS, R.A.; VASQUEZ, S. F.

Propagação vegetativa de brotos de mandacaru sem espinhos. In.: CONGRESSO

NACIONAL DE BOTÂNICA, 52. 2001, João Pessoa. Anais...João Pessoa: Sociedade

Botânica do Brasil/UFPB, p.79, 2001.

SANTOS, D. C., LIRA, M. A., SILVA, M. C., CUNHA, M. V., PEREIRA, V. L. A.,

Farias, I, FELIX, A. C. Características agronômicas de clones palma resistentes a

cochonilha do carmim em Pernambuco In: Congresso Nordestino de Produção Animal,

2008, Aracaju. Anais do V Congresso Nordestino de Produção Animal. Aracaju: SNPA,

2008.

SANTOS, D. C.; LIRA, M. A.; FARIAS, I.; DIAS, F. M.; COSTA, A. F.; PEREIRA, V.

L. A; SILVA, D. M. P. Seleção de clones de palma forrageira resistentes à cochonilha do

carmim (Dactylopiussp), em condições de campo. In: REUNIÃO ANUAL DA

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 43, João Pessoa, 2006. Anais ... SBZ,

João Pessoa, 2006.

SILVA, M. G. da T. Efeito do uso da palma forrageira e fenos de leguminosas na

alimentação de ovinos em confinamento. 2014. 48f. Dissertação (Mestrado em

Produção Animal: Nutrição de Ruminantes) – Universidade Federal do Rio Grande do

Norte (UFRN), Macaíba-RN, 2014.

SILVA, A.G.; COSTA, F.B. Os estabelecimentos rurais de menor porte econômico do

semiárido nordestino frente às novas tendências da agropecuária brasileira. In:

BUAINAIN, A.M.; ALVES, E.; SILVEIRA, J.M. et al. (eds). O mundo no Brasil do 29

século 21: a formação de um novo padrão agrário e agrícola. Brasília: Embrapa. p. 950-

977, 2014.

SILVA, J. G. M.; AGUIAR, E. M. de.; LIMA, G. F. da C.; RÊGO, M. M. T.; SILVA, H.

P. da.; GÓES NETO, P. E. de.; CATUNDA, K. L. M. Desempenho de cabras leiteiras

no semiárido brasileiro alimentadas com cactáceas nativas e introduzidas. Natal, RN,

EMPARN, 2016. 24p. (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 38).

SILVA, J.G.M.; LIMA, G.F.C.; REGO, M.M.T. Cactáceas nativas na alimentação de

ruminantes. Revista Científica de Produção Animal, V.15, n.1, p. 53-62. 2013.

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

26

SILVA, J. G. M.; LIMA, G. F. C.; AGUIAR, E. M.; MELO, A. A. S.; RÊGO, M. M. T.

Cactáceas nativas associadas a fenos de flor de seda e sabiá na alimentação de borregos.

Revista Caatinga, Mossoró, v.23, n.3., p.123-129, 2010.

SILVA, C. C. F.; SANTOS, L. C. Palma Forrageira (Opuntia Fícus-Indica Mill) como

alternativa na alimentação se ruminantes. REDVET. Revista Electrónica de

Veterinária, v. 8, n. 5, p. 1-11, 2007.

SILVA, J.F.C.; LEÃO, M.L. Fundamentos de nutrição de ruminantes. Piracicaba, Ed.

Livro ceres, 348p.,1979.

SNIFFEN, C.J., BERVERLY, R.W., MOONEY, C.S. Nutrient requirements versus

supply in the dairy cow: strategies to account for variability. Journal of Dairy Science.

In: Symposium: Management in the 21st century. 1993.

SOUZA, E. J. O. GUIM, A.; BATISTA, A. M. V.; ALBUQUERQUE, D. B.;

MONTEIRO, C.C.F.; ZUMBA, E. R. F.; TORRES, T. R. Comportamento ingestivo e

ingestão de água em caprinos e ovinos alimentados com feno e silagem de Maniçoba.

Revista Brasileira de Saúde e Produção animal, v.11, n. 4, 2010.

SOUZA, J. S.R. Caracterização bromatológica de espécies com potencial forrageiro

disponíveis para ruminantes no semiárido. 2015. 89f. Dissertação (Mestrado em Ciência

Animal e Pastagens - Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), 2015.

TEIXEIRA, J. C.; EVANGELISTA, A. R.; PEREZ, J. R. O. et al. Cinética da digestão

ruminal da palma forrageira (Nopalea cochenillifera (L.) Lyons- Cactáceae) em bovinos

e caprinos. Ciência e Agrotecnologia, v. 23, n. 1, p. 179-186, 1999.

VALADARES FILHO, S.C., MACHADO, P.A.S., CHIZZOTTI, M.L., et al. Tabelas

Brasileiras de composição de alimentos para bovinos. 3ª Ed. Viçosa, MG: UFV/DZO.

VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. 2.ed. Ithaca: Cornell University

Press, 1994. 476 p, 2010.

VALADARES FILHO, S. de C. "Nutrição, avaliação de alimentos e tabelas de

composição de alimentos para bovinos." Reunião Anual da Sociedade Brasileira de

Zootecnia 37, p 267-337, 2000.

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

27

VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. 2.ed. Ithaca: Cornell University

Press, 476p,1994.

VASCONCELOS, A. G. V. de; LIRA, M. de A.; CAVALCANTI, V. L. B.; SANTOS,

M. V. F. dos WILLADINO, L. Seleção de clones de palma forrageira resistentes à

cochonilha do carmin (Dactylopius sp) Revista Brasileira Zootecnia, Viçosa, MG, v.

38, n. 5, p. 827-831, 2009.

VIEIRA E.L., BATISTA A.M.V., MUSTAFA A.F., ARAÚJO R.F.S., SOARES P.C.,

ORTOLANI E.L. & Mori C.S. Effects of feeding high levels of cactus (Opuntia fícus

indica Mill) cladodes on urinary output and electrolyte excretion in goats. Livest. Sci.

114:354-57, 2008.

WANDERLEY, W. L., FERREIRA, M. D. A., BATISTA, A. M. V., VERAS, A. S. C.,

BISPO, S. V., SILVA, F. M. D., & dos SANTOS, V. L. F. Consumo, digestibilidade e

parâmetros ruminais em ovinos recebendo silagens e fenos em associação à palma

forrageira. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, 13(2), 2012.

ZEOULA, L.M.; KASSIES, M.P.; FREGADOLLI, F.L. et al. Uso de marcadores na

determinação da digestibilidade parcial e total em bovinos. Acta Scientiarum, v.22, n.3,

p.771-777, 2000.

2. INTRODUÇÃO

A região semiárida do Brasil é de, aproximadamente, 10% do território nacional e

mais da metade do território nordestino, caracterizada por baixa e irregular pluviosidade,

temperaturas elevadas, baixa umidade relativa do ar, alta insolação, solos

predominantemente, rasos, pedregosos e de baixa fertilidade, com baixa capacidade de

armazenamento de água. A vegetação dessa área é a caatinga, composta por arbustos e

árvores pequenas, geralmente espinhosas e decíduas, plantas anuais, cactos, bromélias e

um componente herbáceo composto de gramíneas e dicotiledôneas (SANTOS et al.,

2010).

Na Caatinga, a pecuária é uma atividade de menor risco em relação à agricultura,

por possibilitar a utilização de plantas xerófilas (nativas da caatinga ou introduzidas) na

alimentação animal, bem como a adoção de práticas de conservação de forragem (feno e

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

28

silagem) para que se possa programar o período de utilização dessa forragem (SANTOS

et al., 2013).

Segundo Silva et al. (2016), em períodos de grandes secas na caatinga, a palma e

outras cactáceas são utilizadas como volumosos forrageiros estratégicos na composição

das dietas dos bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos

sistemas de produção animal dessa área.

Nutricionalmente a palma é rica em água, carboidratos não-fibrosos, considerada

fonte energética, com boa aceitabilidade e elevada digestibilidade da MS, no entanto,

apresenta baixas concentrações de FDN comparada com alimentos volumosos (MELO,

2006). Além dessas características, os gêneros Nopalea cochenillifera (miúda) e Opuntia

stricta (orelha de elefente mexicana) são resistentes à cochonilha do carmim Dactylopius

opuntiae (VASCONCELOS et al., 2009).

O mandacaru sem espinhos (Cereus hildmannianus) é encontrado em alguns

Estados do Nordeste, principalmente nos Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e

Pernanbuco, e é uma opção alimentar, por seu potencial forrageiro, e por não possuir

espinhos, facilitando o manejo no arraçoamento dos ruminantes (CAVALCANTI &

RESENDE, 2006).

Segundo Melo (2006), as cactáceas quando utilizadas como alimento exclusivo não

atendem às exigências nutricionais dos ruminantes por suas limitações quanto ao valor

proteico e de fibra. Portanto, deve ser fornecida associada a uma fonte de fibra fisicamente

efetiva, e entre as espécies arbustivas da caatinga, a espécie sabiá pode ser uma opção de

volumoso por proporcionar feno de bom valor nutritivo (SILVA et a., 2010).

Segundo Ben Salem (2010), a produção de pequenos ruminantes é a principal fonte

de renda dos agricultores que vivem em regiões áridas e semiáridas. Ovinos e caprinos

criados nessas áreas geralmente enfrentam severas deficiências nutricionais durante o

período de escassez de alimentos, que comprometem a sua saúde e, consequentemente,

resultam em baixo desempenho produtivo e reprodutivo.

A eficiência produtiva na ovinocultura é reflexo da oferta regular de forragem com

o fornecimento de dietas bem balanceadas, sendo fundamental pesquisas com alimentos

adaptados a regiões semiáridas, para que a oferta de alimento seja constante, revertendo

o quadro de escassez alimentar enfrentado pelas secas.

Objetivou-se determinar o valor nutricional das cactáceas mandacaru sem espinho,

palma orelha de elefante mexicana e miúda na alimentação de ovinos.

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

29

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Local e período experimental

O experimento foi realizado no período de 06 a 26/04/ 2017, galpão experimental

do Laboratório de Nutrição Animal, situado na Unidade Acadêmica Especializada em

Ciências Agrárias da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, localizado

no município de Macaíba/RN, com as coordenadas geográficas latitude 05°53’ 35.12’’

sul e longitude de 35°21’47.03’’oeste. O clima da região de acordo com Thornthwaite

(1948), é sub - úmido seco, com excedente hídrico de maio a agosto. As médias de

temperaturas mínima, média e máxima foram obtidas no banco de dados do INMET –

Instituto Nacional de Meteorologia, com valores de 26ºC, 28,5 º C e 31º C,

respectivamente. A precipitação pluviométrica registrada no mês de abril foi de 70mm,

monitorada em pluviômetro tipo Ville de Paris em aço inox, instalado nas proximidades

da área experimental, localizado no campo do grupo de estudo GEFOR.

O período de experimentação teve duração de 21 dias, sendo 14 dias para a

adaptação dos animais ao tratamento e às gaiolas de metabolismo e os últimos sete dias

destinados à coleta de dados. Os ovinos foram mantidos em gaiolas individuais de

metabolismo (1,2 m comprimento x 0,8 m largura), contendo comedouros e bebedouros,

acopladas com bandejas para coleta de fezes. As gaiolas foram dispostas lado a lado no

mesmo sentido e no centro do galpão, mantendo os animais na sombra e protegendo-os

da chuva.

3.2 Manejo dos animais e delineamento experimental

Foram utilizados 15 ovinos machos, mestiços (½ Soinga x ½ Santa Inês), com

quatro meses de idade e peso vivo inicial de 17,27 kg ± 1,05 kg, distribuído em

delineamento inteiramente casualizado, composto por três tratamentos e 5 repetições.

Os animais foram pesados no início e final do experimento, vermifugados e

receberam dose de suplemento vitamínico (ADE) uma semana antes do início do período

de adaptação.

3.3 Manejo alimentar

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

30

Foram seguidos os mesmos procedimentos descritos por MOORE (1981), para o

manejo geral dos animais, para a coleta e o processamento das amostras para

determinação do consumo voluntário e da digestibilidade dos nutrientes.

O manejo alimentar seguiu o modelo descrito por AGUIAR (2005), que consiste

no fornecimento duas vezes ao dia, às 8 horas (50%) e 16 horas (50%), constituindo-se

da mistura de uma das cactáceas, feno de sabiá, concentrado (milho e soja), e sal mineral

na forma de dieta completa. A composição química dos ingredientes é apresentada na

Tabela 2.

Os animais passaram por um período de adaptação de 14 dias ao manejo e

instalações, onde receberam alimentação à vontade, de maneira a ser estimado o consumo

voluntário em função da sobra referente ao dia anterior, a qual foi controlada para que

fosse mantida em torno de 10% do total de matéria seca (MS) ofertada, realizando-se o

ajuste a cada dois dias.

As dietas experimentais com base na matéria seca foram compostas de uma

cactácea (mandacaru sem espinho, palma orelha de elefante e palma miúda, e), feno de

sabiá, milho, soja e sal mineral (Tabela 3).

As dietas foram formuladas para atender às exigências de cordeiros para ganho de

peso de 100 g/dia, segundo recomendações do NRC (2007).

A palma miúda foi colhida a cada dois dias, oriunda do palmal existente na Escola

Agrícola, Macaíba/RN. Os outros cactos foram colhidos uma única vez para o

experimento, a palma orelha de elefante mexicana foi colhida de cultivo irrigado da Base

Física da Estação Experimental de Terras Secas/Emparn no município de Pedro

Avelino/RN, e o mandacaru sem espinho colhido do município de Parelhas/RN.

O feno de sabiá utilizado foi composto de folhas e ramos tenros, triturados em

máquina forrageira, distribuídos em camadas de 10 cm para desidratação a sombra. O

ponto de feno foi controlado através do forno micro-ondas, sendo atingido com três dias

de desidratação, em seguida armazenados em sacos de polipropileno sob estrados de

madeira.

Tabela 2. Composição química dos ingredientes das dietas experimentais.

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

31

MS = matéria seca; MO =matéria orgânica; PB = proteína bruta; EE = extrato etéreo; FDN = fibra em

detergente neutro; FDNc = fibra em detergente neutro corrigido para cinzas e proteínas; FDA = fibra em

detergente ácido; CHOT = carboidratos totais; CNF = carboidratos não fibrosos; LIG = Lignina; NIDA =

nitrogênio indigestível em detergente ácido; NIDIN = nitrogênio indigestível em detergente neutro; NDTe

= nutrientes digestíveis totais estimado.

Os cactos ofertados foram fatiados manualmente com auxílio de facas, tendo o

cuidado para padronização do tamanho das partículas (3 cm). No mandacaru sem espinho

foi feito o corte manual das costelas, separando-se do caule lenhoso. As costelas foram

fatiadas em partículas de 3 cm.

A água ofertada diariamente por animal foi de 4000g, em balde individual, pesando-

se às 7 h, a oferta e a sobra do dia anterior. Através da diferença entre a oferta, sobra e

evaporação determinou -se a ingestão de água voluntária.

Para cálculo de evaporação foram dispostos três baldes equidistantes entre as

gaiolas de metabolismo com a mesma quantidade de água ofertada aos animais. No dia

seguinte os baldes foram pesados e por diferença obtinha-se a água evaporada, a média

da evaporação dos três baldes foi subtraída do total de água ofertada.

3.4 Coletas e análises laboratoriais

Diariamente, durante o período de coleta, foi retirado uma amostra representativa

(300 g) dos alimentos fornecidos para caracterização dos alimentos e também pesadas as

sobras total das dietas, na qual formaram uma amostra composta por unidade

experimental.

Alimentos

Nutrientes

(g kg-1MS)

Mandacaru

sem espinhos

Palma orelha de

elefante mexicana Palma miúda Feno de sabiá Milho Farelo de soja

MS 104,1 79,0 118,3 887,4 882,2 883,7

MO 842,0 781,9 876,8 942,6 983,6 927,4

MM 158,0 218,1 123,2 57,4 16,4 72,6

PB 154,4 65,7 25,8 152,9 92,2 529,9

EE 13, 15,1 14,4 52,6 44,4 15,4

FDN 374,1 252,8 311,8 495,9 113,4 144,9

FDNcp 316,1 179,3 282,6 371,1 146,8 134,0

FDA 246,7 147,5 128,9 457,0 56,1 123,9

CHOT 674,5 701,1 837,4 738,0 847,0 382,1

CNF 300,4 448,2 518,4 242,1 733,6 237,2

LIG 9,2 16,3 47,0 158,0 27,0 15,2

NIDA 1,0 0,9 0,9 2,1 1,3 2,5

NIDIN 8,2 4,4 2,4 4,1 2,9 3,8

NDTe 646,7 600,8 697,5 555,8 862,2 781,1

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

32

As fezes foram coletadas durante as 24 horas de cada dia e pesadas sempre às 7 h

do 15º ao 21º dia. Após a homogeneização do material foi retirado uma alíquota diária de

10% para preparação de uma amostra composta por animal. Feito isso, as amostras

compostas eram acondicionadas em bandejas, devidamente pesadas e colocada em estufa

de ventilação forçada a 55º C por 72 horas.

As amostras de sobras e alimentos ofertados foram mantidas em freezer (-5 a -10 °C). Ao

término do ensaio, as amostras foram descongeladas à temperatura ambiente para

posteriormente realizar–se a pré-secagem em estufa de ventilação forçada a 55º C, por 72

horas. As amostras foram trituradas em moinho tipo Willey, com peneira de 1 mm para

determinação dos teores de MS, cinzas, PB e EE, conforme descrito por Silva & Queiroz

(2002).

A determinação dos valores de FDN foi realizado de acordo com o método descrito por

Van Soest et al. (1991). A correção da FDN para cinzas e proteína (FDNcp) foi efetuada

usando as metodologias para análises de PB e MM.

O consumo de alimentos foi mensurado diariamente através da diferença entre a

quantidade de alimento ofertado e a quantidade de sobras, com base na MS.

Os valores que compõem os CHOT; CNF e NDT foram estimados conforme

Sniffen et al. (1992), conforme as equações 1; 2 e 3.

1- CHOT = 100 - (%PB + %EE + %CZ)

2- CNF = 100 - (%PB + %EE + CZ + %FDN)

3- NDT = PBD + FDND + CNFD + (EED X 2,25) em que: PBD = PB

digestível; FDND = FDN digestível; CNFD = CNF digestível e EED = EE digestível.

O coeficiente de digestibilidade dos nutrientes foi calculado pela fórmula segundo

Silva e Leão (1979): Coeficiente de digestibilidade = (Kg nutriente ingerido - Kg

nutriente excretado) dividido por (Kg nutriente ingerido) x 100.

Para os parâmetros comportamentais ingestivo foi realizado a metodologia de

varredura instantânea com intervalo de dez minutos por 24 horas (Johnson & Combs,

1991). Nos intervalos de observação foram determinados os seguintes parâmetros: tempo

de ingestão de alimentos e tempo de ruminação. Os resultados para o comportamento

ingestivo foram obtidos pelas equações propostas por Polli et al (1996): EAL= CMS/TAL

(g MS/h) e ERU= CMS/TRU (g/ MS/h), onde EAL (g/ MS/hora) = eficiência de

alimentação; CMS (g MS/dia) = consumo de matéria seca; TAL= (horas/dia) = tempo de

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

33

alimentação; ERU (g MS/hora) = eficiência de ruminação; TRU (horas/dia) = tempo de

ruminação.

Tabela 3. Composição química das dietas experimentais, com base na matéria seca

Dietas

Mandacaru sem

espinhos

Palma orelha de

elefante mexicana Palma miúda

Ingredientes

(g kg-1)

Cactácea 430,9 525,7 492,1

Feno de sabiá 233,8 194,7 208,7

Farelo de milho 199,6 166,2 178,1

Farelo de soja 113,7 94,7 101,4

Mistura mineral 22,0 18,4 19,7

Composição Química

MS 271,4 154,3 240,0

MO 885,0 845,9 897,4

MM 115,0 154,10 102,6

PB 180,9 129,8 114,8

EE 28,3 26,8 27,3

FDN 316,3 262,0 291,8

FDA 238,4 187,6 181,4

LIG 48,0 45,3 41,6

NIDA 1,5 1,3 1,4

NIDIN 5,5 4,0 2,9

CHOT 675,7 689,2 755,7

CNF 359,4 427,1 460,3

NDTe 670,0 641,7 692,4

MS = matéria seca; MO =matéria orgânica; PB = proteína bruta; EE = extrato etéreo; FDN = fibra em

detergente neutro; FDNc = fibra em detergente neutro corrigido para cinzas e proteínas; FDA = fibra em

detergente ácido; CHOT = carboidratos totais; CNF = carboidratos não fibrosos; LIG = Lignina; NIDA

= nitrogênio indigestível em detergente ácido; NIDN = nitrogênio indigestível em detergente neutro;

NDT = nutrientes digestíveis totais.

3.5 Metodologia estatística

O experimento foi instalado em delineamento inteiramente casualizado, com três

tratamentos e cinco repetições. Os tratamentos corresponderam às três variedades de

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

34

cactos utilizadas na alimentação dos animais e a parcela experimental a um animal por

gaiola.

Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo método de modelos

lineares generalizados e as médias comparadas pelo Teste de Tukey a 5% de significância

utilizando o programa R (R Project, 2017).

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As dietas compostas pelas diferentes variedades de cactos não apresentaram

diferenças significativas (P>0,05) para os consumos de matéria seca (CMS) expressos em

g/dia, %PV e PV0,75, consumo de matéria orgânica (CMO), consumo de extrato etéreo

(CEE), consumo de fibra em detergente neutro (CFDN) em g/dia, %PV e PV0,75, consumo

de carboidratos totais (CCHOT) em g dia-1, consumo de carboidratos não fibrosos

(CCNF) e o consumo de nutrientes digestíveis totais (CNDT) em g dia-1. O consumo de

proteína (CPB) em g dia-1variou (P < 0,05) entre as dietas experimentais (Tabela 4).

O CMS médio de 4,36% entre os tratamentos demonstra a elevada palatabilidade

dos animais às dietas experimentais, provavelmente pela baixa concentração de FDN e

elevada concentração de CNF apresentados pelas dietas experimentais (Tabela 3), porém

dentro do limite mínimo de fibra na dieta de 25%, de acordo com Mertens (1997), e

necessária para manutenção das condições fisiológicas normal do rúmen. Segundo

Moraes (2012), devido a palma apresentar baixo teor de FDN, essa característica somada

a rápida degradabilidade da MS permite que o efeito de repleção ruminal seja retardado,

ou não ocorra, promovendo maior consumo.

Outro componente que pode alterar a saúde do rúmen é a concentração de

carboidratos não fibrosos. De acordo com Van Soest (1991), o tipo e a quantidade de

CNF, FDN e FDA afetam a fermentação e a eficiência microbiana.

Pessoa et al. (2013), afirmaram que consumos de matéria seca superiores a 3,0% do

peso vivo em ovinos podem ser considerados satisfatórios por proporcionar ingestão

adequada de nutrientes quando em dietas bem balanceadas.

Segundo Moraes (2012), utilizando as variedades miúda, Orelha-de-Elefante-

Mexicana (OEM), cv. IPA-Sêrtania (Nopalea sp) e F-21 (Nopalea sp) compondo a dieta

de ovinos com 79,5 a 86,5% de palma, mais farelo de soja, uréia e sal mineral, observou

CMS de 827,3 g dia-1 e 3,3% PV.

Tabela 4. Consumo de nutrientes por ovinos alimentados com diferentes espécies de

cactáceas.

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

35

Variável Dietas

MSE P. OEM P. MIÚDA CV (%)

CMS (g dia-1) 777,50a 780,00a 843,33a 15,53

CMS (%PV) 4,13a 4,33a 4,61a 13,42

CMS (PV0,75) 85,93a 89,09a 95,28a 13,81

CMO (g dia-1) 692,68a 669,03a 759,23a 15,98

CPB (g dia-1) 145,10a 109,94ab 100,09b 22,09

CEE (g dia-1) 23,50a 23,41a 24,29a 13,43

CFDN (g dia-1) 247,59a 207,76a 240,05a 15,67

CFDN (%PV) 1,32a 1,15a 1,31a 12,72

CFDN (PV0,75) 27,41a 23,77a 27,19a 13,35

CCHOT (g dia-1) 537,01a 547,96a 648,64a 17,94

CCNF (g dia-1) 289,42a 340,15a 405,13a 22,49

CNDT (g dia-1) 502,39a 518,73a 552,83a 16,98

P. MIUDA = palma miúda; P. OEM = palma orelha de elefante mexicana; MSE = mandacaru sem espinhos;

CV = Coeficiente de variação; CMS = consumo de matéria seca; CMO = consumo de matéria orgânica;

CPB = consumo de proteína bruta; CEE = consumo de extrato etéreo; CFDN = consumo de fibra em

detergente neutro; CCHOT = consumo de carboidratos totais; CCNF = consumo de carboidratos não

fibrosos; CNDT = consumo de nutrientes digestíveis totais.

Médias seguidas de letras distintas nas linhas diferem (P<0,05) pelo teste de Tukey.

Tegegne et al. (2007), utilizando 60% de palma gigante na dieta de ovinos

registraram 4,3% de consumo de matéria seca em relação ao peso vivo, dado semelhante

ao presente estudo.

Na dieta de caprinos, Cavalcanti e Resende (2006 a), utilizando o mandacaru como

suplementação da caatinga, observaram consumo diário de MS de 890 g, e Silva et al.

(2010), utilizando 30% do cacto e 30% de feno de sabiá em borregos confinados

apresentaram consumo diário de MS de 667,88 g.

As médias encontradas para os consumos de MS e outros nutrientes entre as dietas

experimentais, demonstra o valor nutritivo do mandacaru sem espinhos em comparação

as duas espécies de palmas forrageiras.

A média para o CMO nas dietas foi de 706, 98 g dia-1, a ausência de significância

desse parâmetro é explicada pelo comportamento semelhante para o CMS.

O consumo de PB entre as dietas experimentais foi superior para os animais que

receberam dieta com o MSE, em relação ao consumo dos animais que receberam a dieta

composta por palma miúda (Tabela 4). Esse resultado pode ser justificado pela maior

concentração de PB na dieta com o MSE, comparado à dieta da palma miúda (Tabela 3).

Silva et al. (2010), encontraram 82,77 g dia-1 de PB ingerida por borregos

alimentados com mandacaru associado ao feno de sabiá, valor inferior ao presente

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

36

trabalho (Tabela 4). Nessa pesquisa, os referidos autores trabalharam com base na MS

com 30% de mandacaru e 12,39% de PB na dieta experimental, o que justifica o menor

CPB na pesquisa quando comparada a atual, com 43% da cactácea e 18,09% de PB na

dieta experimental.

Os consumos médios de FDN, CHOT e CNF foram respectivamente de 231,80 g

dia -1, 577,87 g dia -1, 344,90 g dia -1. Silva et al. (2010) registraram para essas variáveis

na mesma ordem 255,63 g dia -1, 474,58 g dia -1, 272,37 g dia -1, trabalhando com 30%

de mandacaru + 30% de feno de Sabiá + 40% de algaroba na dieta de ovinos Morada

Nova, com ganhos de peso de 86g dia-1.

A utilização de 60% de palma orelha de elefante na alimentação de ovinos e

caprinos, promoveu um consumo de 262,79 g dia-1de FDN, 460,08 g dia-1de CHOT e

197,29 g dia-1de CNF, conforme Cavalcanti et al. (2008). Silva (2014), utilizando 67,6%

de palma Opuntia fícus indica Mill cv. Gigante, observou CFDN e CCNF de 287,27 g dia

-1 e 291,64 g dia -1, respectivamente.

Não foi observado diferenças (P>0,05) de consumo de NDT entre as dietas

experimentais, com média de 524,65 g dia-1, retratando o mesmo comportamento

observado para ingestão de MS. Silva et al. (2010), em experimento com mandacaru,

observaram CNDT por ovinos de 447, 73 g dia-1.

Houve diferença (P<0,05) para ingestão de água via alimento entre as dietas

compostas por palma OEM e MSE (Tabela 5). A maior ingestão de água via alimento foi

observado para a dieta palma OEM, 4.478,61g dia-1 de água, em virtude de apresentar

menor teor de matéria seca (Tabela 2); e a menor ingestão de água via alimento foi

observado pela dieta com MSE, comprovado pelo seu menor teor de água.

Essa ingestão de água via alimento ressalta a importância dos cactos também

como fonte de água para os animais no semiárido. Araújo et al. (2010) comentaram que

o suprimento de água adicional via palma forrageira, mandacaru e outros alimentos

suculentos é mais importante para animais criados em regiões com acesso limitado à água,

como ovinos e caprinos no semiárido brasileiro.

Segundo a NRC (2007), a exigência hídrica de borrego é estimada em 3.190 mL

dia-1, em função do consumo de MS. A ingestão de água varia conforme as características

climáticas do ambiente, MS da dieta, categoria do animal e estado fisiológico.

Resultado próximo ao presente estudo foi observado por Moraes (2012), em que

consumo total de água e de água via alimento pelos ovinos com média de 21 Kg de peso

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

37

vivo, diferiu em função das dietas (P<0,05), não observando efeito para ingestão

voluntária. Segundo a autora, para dieta contendo palma OEM a ingestão de água via

alimento e total foram 6307,6 mL dia-1 e 6326,8 mL dia-1, e para a dieta com palma miúda

os valores foram de 5936,6 mL dia-1 e 5952,9 mL dia-1, respectivamente.

Silva et al. (2010) observaram ingestão de água voluntária pelos borregos que

receberam dieta composta de mandacaru e feno de flor de seda, com média de 1.731,53

g dia -1; e para dieta mandacaru mais feno de Sabiá, ingestão de água voluntária de

1.150,17 g dia -1.

Apesar dos cactos apresentarem elevadas concentrações de água nos seus conteúdos

celulares, os animais também procuraram água no bebedouro, o que pode estar

relacionado com o efeito diurético da palma e outras cactáceas. De acordo com Morais

(2012), o efeito diurético/aquarético e laxativo da palma forrageira aumenta a exigência

hídrica dos animais devido à maior produção de urina e umidade das fezes, levando-os a

procurarem por água. O gênero de cacto não influenciou na ingestão voluntária de água

(Tabela 6). Esses resultados divergem das pesquisas de Silva et al. (2010) e Silva et al.

(2011), que apresentaram (P<0,05) nos consumos de água voluntária em ovinos e cabras

alimentados com mandacaru ou xiquexique e feno de sabiá em condições experimentais

e climáticas específicas.

Tabela 5. Consumo de água por ovinos alimentados com dietas contendo

diferentes espécies de cactáceas.

Consumo de

Água (g dia-1)

Dietas

MSE P. OEM P. MIÚDA CV (%)

Via alimento 2.827,12 b 4.478,61a 3.164,57ab 27,06

Voluntária 403,12ª 147,33 a 666,38 a 14,69

Total 3.230,24 b 4.625,94 a 3.830,95ab 20,23

P. MIUDA = palma miúda; P. OEM = palma orelha de elefante mexicana; MSE = mandacaru sem espinhos;

CV = Coeficiente de variação.

Médias seguidas de letras distintas nas linhas diferem (P<0,05) pelo teste de Tukey.

Para a ingestão de água total, os animais que receberam palma OEM ingeriram

maior quantidade de água em relação aos animais que receberam a dieta com MSE

(Tabela 5).

Vários trabalhos na literatura comprovam a redução do consumo voluntária de água

em ovinos a medida que se eleva os níveis de palma na dieta (Costa et al., 2012; Bispo et

al., 2007; Ben Salem et al., 1996).

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

38

Nesta pesquisa, não foram observadas diferenças (P> 0,05) para os coeficientes de

digestibilidade da matéria seca (CDMS), matéria orgânica (CDMO), fibra em detergente

neutro (CDFDN), carboidratos totais (CDCHT), carboidratos não fibrosos (CDCNF) e

nutrientes digestíveis totais (NDT) entre as dietas experimentais.

Houve diferença (P<0,05) para o CDPB. O CDPB da dieta com a palma OEM foi

superior à dieta com palma miúda, mas não diferiram da dieta com MSE (Tabela 6).

O maior CDPB de 64,05% (Tabela 6) apresentado pela dieta composta por palma

OEM, pode estar relacionado pela relação CNF/PB da dieta experimental, pois a relação

proteína: energia é um dos fatores que influenciam a digestibilidade (Mac Donald et al.,

1993; Van Soest, 1994; Orskov, 2000). Segundo Fregadolli et al. (2001), de acordo com

a disponibilidade de nitrogênio, os carboidratos afetam o metabolismo e a multiplicação

microbiana, e por consequência, a digestão dos alimentos, a produção de proteína

microbiana e a quantidade de aminoácidos e peptídeos disponíveis para a absorção no

intestino delgado.

Moraes (2012), encontrou médias de 62,2%, 70,5%, 69,8% e 46,3% para as

digestibilidades da MS, MO, PB e FDN respectivamente, utilizando 79,5% de palma

miúda na dieta de ovinos. Em experimento com 30% de palma orelha de elefante

mexicana, também na dieta de ovinos, Guerreiro (2017) observou 74,62% de CDMS,

77,74%de CDMO, 79,15% de CDPB e 51,79% de CDFDN.

O CDFDN deste trabalho são próximos a literatura revisada. De acordo com Silva

(2014), os componentes fibrosos representam uma fração significante da dieta dos

ruminantes, fundamentais para o bom funcionamento do rúmen, por promover estímulos

à ruminação e consequentemente na produção de saliva e produção de substâncias

tamponantes. Os resultados dos coeficientes de digestibilidade das palmas OEM e miúda

da presente pesquisa, estão entre aos valores apresentados por Moraes (2012) e Guerreiro

(2017), estudando a digestibilidade aparente dessas espécies na dieta de ovinos. Na

espécie MSE os valores das digestibilidades dos nutrientes encontrados também estão

entre os valores das digestibilidades das espécies de palma dessa pesquisa, e resultados

apresentados por Moraes (2012) e Guerreiro (2017) com as mesmas espécies de palmas

forrageiras.

O NDT das dietas experimentais demonstra a proximidade dos valores do

mandacaru sem espinhos com as palmas em estudo, comprovando o seu valor nutritivo.

Os tempos despendido com alimentação (TAL) e ruminação (TRU) obtidos nesse

estudo estão de acordo com Van Soest (1991) e Church (1993), onde o primeiro autor

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

39

relata que a atividade de ruminação ocupa de 4 a 9 horas por dia e é influenciado pela

natureza da dieta, principalmente pelos níveis de FDN, e o segundo autor afirma que os

ruminantes, sob condições de confinamento, alimentados com forragem, destinam de 2 a

7 horas para alimentação.

Segundo Van Soest (1994), o tempo gasto em ruminação é proporcional ao teor de

parede celular dos alimentos. Assim, ao se elevar o nível de FDN das dietas, haverá

aumento no tempo despendido com ruminação.

A dieta composta por palma OEM promoveu diferença significativa (P<0,05) para

a variável TAL (Tabela 7), esses animais passaram mais tempo alimentando-se devido a

menor concentração de MS apresentado por esta dieta (Tabela 2).

Oliveira (2017), utilizando níveis crescentes de palma na dieta de ovinos, encontrou

tempo médio de ruminação de 5,07h/dia, próximo ao presente estudo. E Moraes (2012),

encontrou para TAL e TRU, 3,07 h e 3,66 h média respectivamente entre os tratamentos

miúda e orelha de elefante mexicana, valores abaixo do encontrado nesse estudo, tendo

em vista que esta autora utilizou maior porcentagem de palma na dieta, em média 83%.

Tabela 6. Coeficiente de digestibilidade aparente dos nutrientes por ovinos alimentados

com diferentes espécies de cactáceas.

Variável Dietas

MSE P. OEM P. MIÚDA CV (%)

CDMS 67,02a 70,74a 66,55a 4,28

CDMO 68,66a 72,40a 68,28a 4,09

CDPB 59,26ab 64,05a 49,12b 11,66

CDFDN 55,80a 59,36a 53,95a 8,23

CDCHT 71,04a 75,29 a 73,48a 3,95

CDCNF 84,09a 85,03a 84,93a 2,24

NDT 64,66 66,51 65,53 3,13

P. MIUDA = palma miúda; P. OEM = palma orelha de elefante mexicana; MSE = mandacaru sem espinhos;

CV = Coeficiente de variação; CDMS = Coeficiente de digestibilidade da matéria seca; CDMO =

Coeficiente de digestibilidade da matéria orgânica; CDPB = Coeficiente de digestibilidade da proteína

bruta; CDFDN = coeficiente de digestibilidade da fibra em detergente neutro; CDCHOT = Coeficiente de

digestibilidade dos carboidratos totais; CDCNF = Coeficiente de digestibilidade dos carboidratos não

fibrosos. NDT = Nutrientes digestíveis totais.

Médias seguidas de letras distintas nas linhas diferem (P<0,05) pelo teste de Tukey.

Naquele estudo, os animais consumiram mais a dieta pelo baixo teor de FDN,

aumentando a taxa de passagem, tornando-a mais rápida com o aumento no nível de

palma, reduzindo, deste modo, o tempo de ruminação.

As variáveis TRU, EAL e ERU não sofreram influência do cacto utilizado. Oliveira

(2017), registrou médias de 389,0 e 236,70 g MS/hora, respectivamente.

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

40

Tabela 7. Comportamento ingestivo de ovinos alimentados com dietas contendo

diferentes espécies de cactáceas.

Variável

Dietas

MSE P. OEM P. MIÚDA CV

(%)

TAL h/dia 4,5b 6,05a 3,83b 28,18

TRU h/ dia 6,34a 5,33a 5,00a 24,04

EAL (g MS/h) 191,53a 128,64a 221,19a 28,42

ERU (g MS/h) 129,31a 146,85a 168,70a 22,65

P. MIUDA = palma miúda; P. OEM = palma orelha de elefante mexicana; MSE = mandacaru sem espinhos;

CV = Coeficiente de variação; TAL = Tempo de alimentação; TRU = tempo de ruminação; EAL =

Eficiência de alimentação; ERU = Eficiência de ruminação.

Médias seguidas de letras distintas nas linhas diferem (P<0,05) pelo teste de Tukey.

Moraes (2012), encontrou diferenças significativas para eficiência de ruminação

entre a palma miúda e a palma OEM, apresentando ERU de 5,65 e 3,10 g MS/min,

respectivamente. A citada autora relata que a alta eficiência de ruminação apresentada

pela palma miúda justifica-se por sua baixa concentração de FDN, e que o tempo

necessário para re-mastigação e re-deglutição foi menor, o que resulta em maior

quantidade de material ruminado/unidade de tempo. Para EAL, esta autora não observou

diferenças significativas entre as palmas relatadas, sendo de 5,76 g MS/min para miúda e

4,34 g MS/min para palma OEM.

5. CONCLUSÕES

As dietas contendo mandacaru sem espinhos, palma orelha de elefante mexicana

e miúda apresentam valor nutritivo semelhante, podendo ser utilizadas na alimentação de

ovinos.

REFERÊNCIAS

AGUIAR, E.M. Produção, valor nutritivo e consumo voluntário de fenos triturados de

gramíneas tropicais. Recife: Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2005.

114p.Tese (Doutorado em Zootecnia) - Universidade Federal Ruralde Pernambuco, 2005.

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

41

ARAÚJO, G. G. L. VOLTOLINI, T. V.; CHIZZOTTI, M. L.; TURCO, S. H. N.;

CARVALHO, F. F. R. Water and small ruminant production. RevistaBrasileira de

Zootecnia, v.39, p.326-336, 2010.

BEN SALEM, H. Nutritional management to improve sheep and goat performances in

semiarid regions. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, MG, v.39, p.337-347, 2010.

(Supl. Especial).

BEN SALEM, H., NEFZAOUI,A . & ORSKOV, E.R. Effect of increasing level of

spinelles cactos (Opuntia fícus indica var. inermis) on intake and digestion by sheep

given straw- based diets. Animal Science. 62, 293-299, 1996.

BISPO, S. V.; FERREIRA, M. A.; VÉRAS, A. S. C. et al. Palma forrageira em

substituição ao feno de capim-elefante. Efeito sobre consumo, digestibilidade e

características de fermentação ruminal em ovinos1. Revista Brasileira de Zootecnia,

v.36, n.6, p.1902-1909, 2007.

CAVALCANTI, N. de B.; RESENDE, G. M. de. Efeito de diferentes substratos no

desenvolvimento do mandacaru sem espinhos (Cereus hildemannianus K. Schum).

Revista Caatinga. Mossoró, v.19, n.3, p. 255-260, 2006.

CAVALCANTI, M.C.A., BATISTA, A.M.V., GUIM, A., LIRA, M.A., RIBEIRO, V.L.

& RIBEIRO Neto, A.C. Consumo e comportamento ingestivo de caprinos e ovinos

alimentados com palma gigante (Opuntia ficus-indica Mill) e palma orelha-de-elefante

(Opuntia sp.). Acta Scientiarum Animal Sciences. V.30, n 2, p.173-179, 2008.

CAVALCANTI, N. de B.; RESENDE, G. M. de. Consumo do mandacaru (Cereus

jamacaru DC.) por Caprinos na época seca no semi-árido de Pernambuco. Revista

Caatinga. Mossoró, v. 19, n.4, p.402-408, 2006a.

CHURCH, C.D. El ruminante: fisiologia digestive y nutricíon. Editora:Acribia, Zaragoza,

1993.

COSTA, R. G.; TREVIÑO, I. H.; MEDEIROS, G.R.; MEDEIROS, A.N.; PINTO, T.F.;

OLIVEIRA, R. L. Effects of replacing corn with cactos pear (Opuntia fícus indica Mill)

on the performance of Santa Inês lambs. Small Ruminant Research, v.102, n1, p. 13-

17, 2012.

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

42

FREGADOLLI, F.L.; ZEOULA, L.M.; PRADO, I.N. et al. Efeito das fontes de amido e

nitrogênio de diferentes degradabilidades ruminais. 1. digestibilidades parcial e total.

Rev. bras. zootec., v.30, n.3, p. 858-869, 2001.

GUERREIRO, A. L. Palma Miúda e Orelha de Elefante Mexicana em dietas para

cordeiros de dois grupamentos genéticos. 2017. 41f. Dissertação (Mestrado em

Produção Animal – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Macaíba –

RN, 2017.

JOHNSON, T.R. & COMBS, D.K. Effects of prepartum diet, inert rumen bulk, and

dietary polyethylene glycol on dry matter intake of lactating dairy cows. Journal of

Dairy Science, v.74, p.933-944, 1991.

MACDONALD, P.; EDWARDS, R.A.; GREENHALGH, J.F.D. et al. Animal nutrition.

4.ed. Zaragoza: Acribia, 1993. 442p.

MELO, A.A.S. Palma forrageira na alimentação de vacas leiteiras. 2006. Disponível

em: http://www.abz.org.br/files.php?file=documentos/Airon_Melo_417110279.pdf.

Acesso em: 20 de maio. 2016.

MERTENS, D.R. Regulation of forage intake. In: FAHEY, G.C. (Ed.) Forage quality,

evaluation, and utilization. Madison: American Society Agronomy, 1994. p.450-493.

MERTENS, D.R. Creating a system for meeting the fiber requirements of dairy cows. J.

Dairy. Sci. 80:1463- 1481, 1997.

MOORE, J.E. Procedure for determining voluntary intake and nutrient digestibility

of hay with sheep. Gainesville:Universityof Florida, 1981. 8p.

MORAES, A. C. A. Valor nutritivo de diferentes variedades de Palma forrageira

resistentes à cochonilha do carmim. 2012. 68 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) –

Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, PE, 2012.

NRC, National Research Council. Nutrients requirements of sheep. Washington: 389

National Academies Press, 2007. 362p.

OLIVEIRA, J. P. F. Palma forrageira em substituição à cana de açúcar para ovinos em

terminação. 2017. 94f. Tese doutorado – Universidade Federal Rural de Pernambuco,

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

43

Universidade Federal do Ceará, Universidade Federal da Paraíba, Programa de doutorado

integrado em Zootecnia, Recife – PE, 2017.

ØRSKOV, E.R. New concepts of feed evaluation for ruminants with emphasis on

roughages and feed intake. Asian-Australasian. Journal of Animal Science, v.13, p.128-

136, 2000.

PESSOA, R. A. S.; FERREIRA, M. de A.; SILVA, F. M. da.; BISPO, S. V.;

WANDERLEY, W. L.; VASCONCELOS, P. C. Diferentes suplementos associados à

palma forrageira em dietas para ovinos: consumo, digestibilidade aparente e parâmetros

ruminais. Revista Brasileira Saúde Produção Animal. v.14, n.3, p.508-517, 2013.

POLLI, V.A.; RESTLE, J.; SENNA, D.B. et al. Aspectos relativos à ruminacão de

bovinos e bubalinos em regime de confinamento. Revista Brasileira de Zootecnia, v.25,

n.5, p.987-993, 1996.

SANTOS, M.V.F., LIRA, M.A., DUBEUX JÚNIOR, J.C., GUIM, A., MELLO, A.C.L.,

CUNHA, M.V. Potential of Caatinga forage plants in ruminant feeding. Revista

Brasileira de Zootecnia, Viçosa, MG, v.39, p.204-215. 2010. (Supl. Especial).

SANTOS, D. C. dos.; SILVA, M. C.; DUBEUX JÚNIOR, J. C. B..; LIRA, M. A.; SILVA,

R. M. Estratégias para Uso de Cactáceas em Zonas Semiáridas: Novas Cultivares e Uso

Sustentável das Espécies Nativas. Revista Científica de Produção Animal, v. 15, n. 2,

p. 111-121, 2013.

SILVA, J. G. M. et al. Desempenho de cabras leiteiras no semiárido brasileiro

alimentadas com cactáceas nativas e introduzidas. Natal, RN, EMPARN, 2016. 24p.

(Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 38).

SILVA, M. G. da T. Efeito do uso da palma forrageira e fenos de leguminosas na

alimentação de ovinos em confinamento. 2014. 48f. Dissertação (Mestrado em

Produção Animal: Nutrição de Ruminantes) – Universidade Federal do Rio Grande do

Norte (UFRN), Macaíba-RN, 2014.

SILVA, J. G. M.; MELO, A. A. S.; RÊGO, M. M. T.; LIMA, G. F. C.; AGUIAR, E. M.

Cactáceas nativas associadas a fenos de flor de seda e sabiá na alimentação de cabras

leiteiras. Revista Caatinga, Mossoró, v.24, n.2., p.158-164, 2011.

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · nas dietas de bovinos, caprinos e ovinos, e têm contribuído para a viabilidade dos sistemas de produção animal dessa área.

44

SILVA, J. G. M.; LIMA, G. F. C.; AGUIAR, E. M.; MELO, A. A. S.; RÊGO, M. M. T.

Cactáceas nativas associadas a fenos de flor de seda e sabiá na alimentação de borregos.

Revista Caatinga, Mossoró, v.23, n.3., p.123-129, 2010.

SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. Análises de alimentos (métodos químicos e biológicos).

Viçosa, MG: Editora UFV, 2002. 253p.

SILVA, J.F.C.; LEÃO, M.L. Fundamentos de nutrição de ruminantes. Piracicaba, Ed.

Livro ceres, 348p.,1979.

SNIFFEN, C.J.; O’CONNOR, J.D.; Van SOEST, P.J. A net carbohydrate and protein

system for evaluating cattle diets. II. Carbohydrate and protein availability. Journal of

Animal Science, v.70, p.3562-3577, 1992.

TEEGEGNE, F.; KIJORA, C.; PETERS, K. J. Study on the optimal level of cactos pear

sheep and its contribuition as source of water. Small Ruminant Research, V. 72, p. 157-

164, 2007.

THORNTHWAITE, C.W. Na approach toward a rational classification of climate.

Geographical Review, 38: 55-94, 1948.

VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. 2.ed.Ithaca: Cornell University

Press, 1994. 476p.

VAN SOEST, P.J.; ROBERTSON, J.B.; LEWIS, B.A. Methods for dietary fiber neutral

detergent and nonstarch polysaccharides in relation to animal nutrition. Journal of Dairy

Science, v.74, n.10, p.3583-3597, 1991.

VASCONCELOS, A. G. V. de; LIRA, M. de A.; CAVALCANTI, V. L. B.; SANTOS,

M. V. F. dos WILLADINO, L. Seleção de clones de palma forrageira resistentes à

cochonilha do carmin (Dactylopius sp). Revista Brasileira Zootecnia, Viçosa, MG, v.

38, n. 5, p. 827-831, 2009.