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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS RENATA CAROLINE COSTA DE FREITAS AVALIAÇÃO DA EXPRESSÃO DE miRNAs EXOSSOMAIS NA TOXICIDADE HEPÁTICA INDUZIDA PELO CLOPIDOGREL EM CÉLULAS HepG2 NATAL-RN 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

RENATA CAROLINE COSTA DE FREITAS

AVALIAÇÃO DA EXPRESSÃO DE miRNAs EXOSSOMAIS NA TOXICIDADE

HEPÁTICA INDUZIDA PELO CLOPIDOGREL EM CÉLULAS HepG2

NATAL-RN

2017

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RENATA CAROLINE COSTA DE FREITAS

AVALIAÇÃO DA EXPRESSÃO DE miRNAs EXOSSOMAIS NA TOXICIDADE

HEPÁTICA INDUZIDA PELO CLOPIDOGREL EM CÉLULAS HepG2

Dissertação apresentada ao Programa de

Ciências Farmacêuticas da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, como

requisito para obtenção do título de Mestre

em Ciências Farmacêuticas.

Orientador:

Prof. Dr. André Ducati Luchessi

NATAL-RN

2017

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde

- CCS

Freitas, Renata Caroline Costa de.

Avaliação da expressão de miRNAs exossomais na toxicidade hepática

induzida pelo clopidogrel em células HepG2 / Renata Caroline Costa de Freitas. - Natal, 2017.

54f.: il.

Dissertação (Mestrado)-Programa de Pós-Graduação em Ciências

Farmacêuticas, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Orientador: Prof. Dr. André Ducati Luchessi.

1. Terapia antiplaquetária - Dissertação. 2. In vitro -

Dissertação. 3. Biomarcadores - Dissertação. 4. Hepatotoxicidade -

Dissertação. I. Luchessi, André Ducati. II. Título.

RN/UF/BSCCS CDU 615.011

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DEDICATÓRIA

A Deus, que em sua infinita bondade me deu a vida e uma família maravilhosa. Somente Nele

por muitas vezes encontrei forças para vencer os desafios dessa jornada.

À minha família, em especial aos meus pais (Carlos e Cristina), meus irmãos (Eduardo e

Leonardo) e meu lindo Raul e seus familiares, pelo amor incondicional, pela presença em

todos os momentos da minha vida, que mesmo em todos meus estresses, decepções e vitórias,

sempre se fizeram presentes e essenciais.

Amo vocês!!!

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. André Ducati Luchessi, que ao longo destes dois anos de convivência

tanto me ajudou, me orientando tanto no âmbito profissional quando pessoal, sempre abrindo

caminhos para a realização deste e de outros trabalhos. Ressaltando sua contribuição, integral

e de forma única, para me tornar uma grande e vitoriosa profissional. Agradeço infinitamente

ainda, a possibilidade que me proporcionou em poder realizar o doutorado em um grande

centro de pesquisa, junto ao seu orientador.

À Profa. Dra. Vivian Nogueira Silbiger por dar todo apoio e incentivo desde o

primeiro momento em que estive em sua presença. Agradeço ainda, assim como o Prof.

André, todos os ensinamentos repassados ao longo dessa minha trajetória.

Ao Prof. Dr. Augusto Ducati Luchessi, pela contribuição fundamental para a

realização deste trabalho, pela abertura de seu laboratório onde pude realizar um estágio

acadêmico e de todo o conhecimento transmitido durante minha estadia junto ao seu grupo de

pesquisa.

Ao Prof. Tit. Mario Hiroyuki Hirata e a Profa. Tit. Rosario Dominguez Crespo

Hirata, pelo financiamento disponibilizado, e assim a possibilidade de executar o presente

projeto. Além disso, agradeço todo o aprendizado repassado na forma de correções e

discussões do presente manuscrito, que me possibilitou dar um grande passo científico. Por

fim, agradeço a oportunidade de me receber em seu laboratório para a continuidade da minha

carreira acadêmica e assim realizar o doutorado.

As minhas duas grandes amigas Letícia Tamborlin e Letícia Meneguello, que fiz

durante minha estadia na UNICAMP-Limeira, São Paulo, que são amigas para todos os

momentos. Pois foram presentes nas dificuldades e nas alegrias. Devo muito desse sucesso a

vocês minhas amigas.

Aos meus amigos que me apoiam desde a graduação, em especial, Geovana,

Kimênia, Elaine, Luciana, Joaquim, Iago e Mariana.

À família LBBM, meus amigos e companheiros de pesquisa, Ananília, Marina,

Jeane, Diego, Mariana, Jessica Nayara, Jéssica Santos, Isabelle, Victor Hugo, Carolinne,

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Lara, Marília, Mychelle, Ana Paula, Ayda, Conceição, Giovana, Ronald, Thâmila,

Juliane, Beatriz.

Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas pela contribuição na

minha formação profissional.

À ao CNPq e a CAPES pelo apoio financeiro para a realização deste estudo,

incluindo minha bolsa integral de estudo.

A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Mecanismo de ação do Clopidogrel. Fonte: Adaptado de Angiolillo et al. p. 1507,

2007 (ANGIOLILLO et al., 2007). .......................................................................................... 17

Figura 2. Biogênese e atividade dos miRNAs. Fonte: Adaptado de Luo et al., p. 82, 2015

(LUO; YANG; NATTEL, 2015) .............................................................................................. 20

Figura 3. Transferência funcional de microRNA por exossomos. Fonte: Adaptado de

Stoorvogel, p. 647, 2012 (STOORVOGEL, 2012). ................................................................. 22

Figura 4. Rede regulatória entre miRNAs e mRNAs alvo envolvidos na terapia

antiplaquetária. Esta rede representa a relação entre miRNAs de GSE59488 e os mRNAs de

GSE59488. A cor verde indica os genes com alta expressão e a cor vermelha os genes pouco

expressos. .................................................................................................................................. 30

Figura 5. Fragmentação do DNA e ciclo celular de células HepG2 expostas ao clopidogrel

(6,25, 12,5, 25, 50 e 100 µM) por 24 h e 48 h comparado com o veículo (controle). Azul –

Fase G0/G1; Vermelho – Fase S; Verde – Fase G2 e M .......................................................... 33

Figura 6. Porcentagem de fragmentação do DNA de células HepG2 expostas ao clopidogrel

(6,25, 12,5, 25, 50 e 100 µM) por 24h e 48 h comparado com o controle. Dados são mostrados

como média ± SEM de três experimentos independentes e comparados pelo Kruskal-Wallis

ANOVA e a comparação em pares pelo teste Mann-Whitney. * p < 0,05 comparado com 0

µM ............................................................................................................................................ 34

Figura 7. Expressão de miRNAs exossomais (miR-26a-5p, miR-145-5p, miR-4701-3p, miR-

15b-5p) em sobrenadante de HepG2 após 24 e 48 horas expostas ao clopidogrel (0, 12,5, 25,

50, 100 µM). Dados são apresentados como fold-change verso o grupo controle (veículo, 0

µM de clopidogrel) e comparado pelo Kruskal-Wallis ANOVA e a comparação em pares pelo

teste Mann-Whitney. * p < 0,05 comparado com 0 µM. .......................................................... 35

Figura 8. Expressão de mRNAs derivados de células HepG2 (EIF4G2, HMGA2, PLOD2,

STRADB, SENP5 e TLK1) depois de 24 horas de exposição ao clopidogrel (0, 12,5, 25, 50,

100 µM). Dados são apresentados como fold-change verso o grupo controle (veículo, 0 µM

de clopidogrel) e comparado pelo Kruskal-Wallis ANOVA e a comparação em pares pelo

teste Mann-Whitney. * p < 0,05 comparado com 0 µM. .......................................................... 37

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Figura 9. Expressão de mRNAs derivados de células (EIF4G2, HMGA2, PLOD2, STRADB,

SENP5 e TLK1) depois de 48 horas de exposição ao clopidogrel (0, 12,5, 25, 50, 100 µM).

Dados são apresentados como fold-change verso o grupo controle (veículo, 0 µM de

clopidogrel) e comparado pelo Kruskal-Wallis ANOVA e a comparação em pares pelo teste

Mann-Whitney. * p < 0,05 comparado com 0 µM. .................................................................. 38

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Sequência de iniciadores para expressão de mRNA pela RT-qPCR ....................... 28

Tabela 2. Interações entre miRNAs e mRNAs associados à toxicidade da terapia

antiplaquetária. ......................................................................................................................... 31

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LISTA DE ABREVIATURAS

°C – Graus Celsius

µg – Micrograma

µM – Micromolar

AAS - Ácido acetilsalicílico

ADP – Adenosina difosfato

Arfip1 - fator 1 de ribosilação do ADP

BaP - Benzo[a]pireno

BCL2 – regulador de apoptose

cDNA – DNA complementar

CsA - ciclosporina A

Ct – limiar do ciclo

CYP – Citocromo P450

CYP1A2 – Citocromo 1A2

CYP2B6 – Citocromo 2B6

CYP2C19 – Citocromo P450 2C19

CYP3A4 – Citocromo P450 3A4

DCV - Doenças cardiovasculares

DMSO – Dimetilsulfóxido

DNA – Ácido desoxirribonucléico

EIF4G2 - fator de iniciação da tradução eucariótica 4 gama 2

GAPDH - gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase

h – horas

HepG2 - Linhagem humana derivada de carcinoma hepatocelular

HMGA2 – Grupo 2 de alça proteica de alta mobilidade

IPA - Ingenuity Pathways Analysis

IR - radiação ionizante

mg - miligrama

miRNA – microRNA

mL – mililitro

mRNA – RNA mensageiro

NCBI - Centro Nacional de Informações Biotecnológicas

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nm – nanômetro

NRQs - Quantidades Relativas Normalizadas

P2RY12 - Receptor purinérgico P2Y, acoplado a proteína G, 12

PBC - Células do sangue periférico

PI – Iodeto de Propídeo

PLOD2 - Pró-Colágeno-Lisina 2-Oxoglutarato 5-Dioxigenase

pre-miRNA – miRNA precursor

pri-miRNA – miRNA primário

RISC - Complexo de Silenciamento Induzido por RNA

RNA – Ácido ribonucleico

RPMI - Roswell Park Memorial Institute medium

RQs – Quantidades Relativas

SCA - Síndrome coronária aguda

SENP5 - Peptidase específica SUMO1 / sentrin 5

STRADB - Adaptador de quinase relacionado ao STE20 beta

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SUMÁRIO

RESUMO ....................................................................................................................... 12

ABSTRACT .................................................................................................................. 13

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 14

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................... 16

2.1. Trombose Arterial e Tratamento ........................................................................... 16

2.2. MicroRNA: biogênese e funções .......................................................................... 18

2.3. miRNA exossomais como biomarcadores ............................................................ 20

3. OBJETIVOS ............................................................................................................. 24

3.1. Objetivo Geral ....................................................................................................... 24

3.2. Objetivos específicos ............................................................................................ 24

4. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 25

4.1. Seleção dos miRNAs através da análise de banco de dados ................................. 25

4.2. Condições de cultivo e tratamento ........................................................................ 26

4.3. Análise do DNA fragmentado ............................................................................... 26

4.4. Extração do RNA total e RT-qPCR de miRNAs .................................................. 27

4.5. Extração de RNA e RT-qPCR de mRNAs ............................................................ 28

4.6. Análises estatísticas ............................................................................................... 29

5. RESULTADOS ........................................................................................................ 30

5.1. miRNAs regulatórios e mRNAs alvos selecionados através de analises in silico 30

5.2. Fragmentação do DNA ......................................................................................... 32

5.3. Expressão de miRNAs em exossomos circulantes em sobrenadante de HepG2 .. 34

5.4. Expressão de mRNA em células HepG2 .............................................................. 36

6. DISCUSSÃO ............................................................................................................. 39

7. CONCLUSÃO .......................................................................................................... 44

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 45

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RESUMO

O clopidogrel é um fármaco utilizado na terapia para prevenção de trombose e aterosclerose.

Contudo, a hepatotoxicidade induzida por clopidogrel é um potencial efeito adverso

relacionado com lesões hepáticas e resposta antiplaquetária. Considerando a falta de

diagnóstico precoce para esse efeito adverso, miRNAs derivados de exossomos podem ser

úteis para contribuir para o monitoramento da resposta antiplaquetária e na predição do risco

de hepatotoxicidade. Portanto, primeiramente objetivamos investigar as interações miRNA-

mRNA com a toxicidade do fármaco in silico utilizando dados de microarrays disponíveis e

software Ingenuity Pathways Analysis 6 (IPA). Em seguida, o perfil de expressão exossomal

dos miR-26a-5p, miR-145-5p, miR-15b-5p e miR-4701-3p, bem como os mRNAs alvos

(PLOD2, SENP5, EIF4G2, HMGA2, STRADB e TLK1) derivados de células foram avaliadas

in vitro, uma vez que estes foram os alvos moleculares principalmente associados ao efeito

adverso. Assim, células HepG2 foram incubadas com clopidogrel a 6,25, 12,5, 25, 50 e 100

μM durante 24 e 48 h. A citotoxicidade foi avaliada por citometria de fluxo pela análise da

fragmentação do DNA e do ciclo celular. A expressão de miRNA derivados de exossomos e

de mRNA derivados de células foi avaliado pela RT-qPCR. As células tratadas com

concentrações mais elevadas de 50 e 100 μM causaram maior fragmentação do DNA após 24

e 48 h sugerindo ser uma concentração tóxica. A expressão do miR-26a-5p foi elevada e a

expressão do miR-15b-5p foi diminuída na concentração tóxica 100 μM em relação ao

controle em 24 e 48 h. HMGA2, EIF4G2, STRADB e SENP5 alvos do miR-26a-5p foram

pouco expressos nas concentrações tóxicas em 24 h e o HMGA2 se manteve pouco expresso

depois de 48 h de tratamento, em relação ao controle. TLK1, alvo do miR-15b-5p, teve

expressão diminuída em 24 h na concentração tóxica. Os resultados sugerem que

concentrações tóxicas de clopidogrel podem modular a expressão de miR-26a-5p e miR-15b-

5p e seus alvos de mRNA. Além disso, o miR-26a pode representar um marcador importante

para prever a hepatotoxicidade induzida por clopidogrel

Palavras chaves: Terapia antiplaquetária, in vitro, Biomarcadores, Hepatotoxicidade

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ABSTRACT

Clopidogrel is an essential therapy for prevention of thrombosis and atherosclerosis.

However, clopidogrel-induced hepatotoxicity is a potential adverse effect related to liver

damage and antiplatelet response. Considering the lack of diagnostic for this adverse effect,

new exosomes-derived miRNAs may be useful for improve the monitoring of response and

hepatotoxicity risk. Therefore, we first aimed to investigate the miRNA-mRNA interactions

with drug toxicity by in silico using available microarray data and Ingenuity Pathways

Analysis 6 (IPA) software. After, the exosomal-expression profile of miR-26a-5p, miR-145-

5p, miR-15b-5p and miR-4701-3p, as well as the cell-derived mRNAs target PLOD2, SENP5,

EIF4G2, HMGA2, STRADB and TLK1 were evaluated in vitro, once they were the molecular

targets mainly associated with the adverse effect. Thus, HepG2 cells were incubated with

clopidogrel at 6.25, 12.5, 25, 50, and 100 µM for 24 and 48 h. The cytotoxicity was evaluated

by flow cytometry to analyze DNA fragmentation and cell cycle. Profile expression of

exosomes-derived miRNAs obtained by column methods and cell-derived mRNAs was

evaluated by RT-qPCR. Cells treated with higher concentrations of 50 and 100 µM caused an

increased DNA fragmentation after 24 and 48 h suggesting a toxic concentration for the cells.

The miR-26a-5p upregulation in toxic concentration of 100 μM of clopidogrel and a

downregulation of miR-15b-5p in comparison to control were observed in both period of 24

and 48 h. HMGA2, EIF4G2, STRADB and SNP5 targets of miR-26a-5p were downregulated

in toxic concentrations at 24 h and HMGA2 remains downregulated after 48 h of clopidogrel

treatment. TLK1, a target of miR-15b-5p, was downregulated at 24 h in toxic concentration.

The results are suggestive that toxic concentrations of clopidogrel may modulate the miR-

26a-5p and miR-15b-5p expression and their mRNA targets. Moreover, miR-26a may

represent an important marker to predict clopidogrel-induced hepatotoxicity.

Keyword: Antiplatelet therapy, in vitro, Biomarkers, Hepatotoxicity

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1. INTRODUÇÃO

Aterosclerose é uma doença inflamatória crônica complexa caracterizada por lesões

arteriais, formação de placas ateroscleróticas e alterações dos fenótipos das células vasculares

(BADIMON; VILAHUR, 2014; WILDGRUBER; SWIRSKI; ZERNECKE, 2013). A

arteriosclerose é ainda prevista como a principal causa de morte em todo o mundo para o ano

de 2020 (MURRAY; LOPEZ, 1997). Portanto, a terapia antiagregante plaquetária tem

emergido como essencial para prevenção de sua progressão, bem como no tratamento das

complicações tromboembólicas (FINTEL, 2012).

Dentre os antiagregante plaquetários, destaca-se o clopidogrel, um pró-farmaco

ativado hepaticamente por diversas enzimas do citocromo P450 (CYP), e apresenta

farmacodinâmica associada a inibição irreversível do receptor P2RY12 (Receptor purinérgico

P2Y, acoplado a proteína G, 12), impedindo assim a formação do trombo (FITZGERALD;

FITZGERALD, 2013; SANGKUHL; KLEIN; ALTMAN, 2010; YANG et al., 2015). No

entanto, apesar da sua eficácia farmacológica, tem sido observada uma grande variabilidade

na sua resposta, levando ao desenvolvimento de eventos trombóticos recorrentes e eventos

adversos, que representam problemas clínicos importantes na medicina cardiovascular

(LEWIS; VOORA; BEITELSHEES, 2015; YANG et al., 2015).

O uso do clopidogrel também está associado a efeitos adversos comuns, incluindo

distúrbios gastrointestinais, hemorragias, púrpura trombocitopênica trombótica, neutropenia e

anemia aplástica (KAPILA et al., 2015; OCHOA-CORTES et al., 2014). A hepatotoxicidade

é um efeito raro, porém potencialmente grave, relacionado com estes fármacos, que pode

levar a hepatite fulminante se o fármaco não for interrompido (GOYAL; SRIVASTAVA;

LESSNAU, 2009; MONTEIRO et al., 2011; ZAHNO et al., 2013). Porém, os mecanismos

associados a este potencial efeito adverso não são completamente elucidados. Estudo recente

mostrou que a incubação de clopidogrel com a isoforma CYP3A4 está associada à formação

de metabólitos tóxicos para os precursores de granulócitos (MASENENI et al., 2012). Além

disso, pacientes com aumento da produção de tais metabolitos e/ou sistemas de defesa

diminuídos podem, por conseguinte, apresentar riscos aumentados de toxicidade hepática

associada ao clopidogrel (ZAHNO et al., 2013).

Nesse contexto, os avanços nas análises moleculares, particularmente aqueles

associados a análise da expressão gênica, podem ser úteis para avaliar mudanças que, podem

estar ligadas a disfunção orgânica (apoptose) ou toxicidade (dano ao DNA). As alterações na

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expressão gênica podem ainda explicar a resposta às drogas e os mecanismos subjacentes

associados aos efeitos colaterais do fígado (VICKERS; ULYANOV; FISHER, 2017).

A expressão de microRNAs (miRNAs) tem sido proposta como ferramenta a ser

utilizada como novos biomarcadores da hepatotoxicidade induzida por clopidogrel

(FONTANA, 2014; NELSON HAYES; CHAYAMA, 2016; WEILER; MERZ; KULLAK-

UBLICK, 2015). Os miRNAs são RNAs curtos, não codificantes, constituídos de 18-25

nucleotídeos, que são complementares aos RNA mensageiros (mRNA), e a ligação dos

miRNAs suprimem a tradução destes mRNAs alvos ou promove a degradação destes,

desempenhando assim um papel crucial na regulação pós-transcricional da expressão gênica,

como por exemplo o silenciamento gênico (NELSON HAYES; CHAYAMA, 2016;

STROYNOWSKA-CZERWINSKA; FISZER; KRZYZOSIAK, 2014).

Os miRNAs têm sido identificados em exossomos, que são pequenas vesículas de 40-

100 nm, liberadas de diversos tipos celulares para o espaço extracelular, onde são envolvidos

na comunicação célula-célula (HUANG et al., 2013; ZHANG et al., 2015). Além disso, tem

sido sugerido que os exossomos desempenham um papel importante na liberação precoce de

miRNAs durante lesões hepáticas induzidas por fármacos (BALA et al., 2012; MCGILL;

JAESCHKE, 2015).

Nesse contexto, recentemente nosso grupo de pesquisa sugeriu através de um estudo in

silico que alguns miRNAs (miR-26a-5p, miR-145-5p, miR-15b-5p, miR-4701-3p e miR-107)

e seus mRNA alvos são alterados em resposta ao clopidogrel e nos efeitos adversos, incluindo

hepatotoxicidade (FREITAS et al., 2016).

Portanto, devido à importância da terapia com clopidogrel como antiagregante

plaquetário e à necessidade de identificar seus efeitos adversos, particularmente a

hepatotoxicidade, objetivamos avaliar a expressão dos miRNAs exossomais em cultura de

células HepG2 incubadas com altas doses de clopidogrel, simulando assim hepatotoxicidade.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Trombose Arterial e Tratamento

A trombose arterial manifestada nas doenças cardiovasculares (DCV) representa uma

das principais causas de morte em todo o mundo. De acordo com a Organização Mundial,

cerca de 17,5 milhões de pessoas morreram por comprometimentos cardiovasculares no ano

de 2012, representando uma média de 46% de todas as mortes por doenças não transmissíveis.

Estima-se que a mortalidade anual aumente para 22,2 milhões em 2030 (WHO, 2014). Dados

para o Brasil, estimam que as doenças circulatórias representem aproximadamente 30% de

todas as mortes do país (MS/SVS/DASIS, 2012).

As plaquetas desempenham um papel essencial na formação do trombo, na

homeostase, na inflamação e em particular na lesão aterosclerótica (BADIMON; VILAHUR,

2014; FRANCO; CORKEN; WARE, 2015; PANICCIA et al., 2015). Após a ruptura da placa

aterosclerótica, a matriz subendotelial é exposta seguida pela ativação e agregação plaquetária

que conduzem a formação do trombo e oclusão vascular (CAMICI et al., 2012; CHEN et al.,

2016; OTSUKA et al., 2016; WILDGRUBER; SWIRSKI; ZERNECKE, 2013). Portanto, os

fármacos antiplaquetários tornaram-se essenciais para a prevenção e tratamento da doença

aterotrombótica (FINTEL, 2012; FREYNHOFER et al., 2015).

A utilização de diversos fármacos que inibam a agregação plaquetária através de ação

em diferentes vias da cascata de ativação plaquetária tem sido usada na prevenção e no

tratamento de complicações tromboembólicas, bem como inibição da progressão da

aterosclerose (CAMICI et al., 2012; CANNON et al., 2004; LOPES, 2011). Dentre os quais,

destaca-se o clopidogrel, que é um pró-fármaco administrado via oral, que necessita ser

metabolizado através de CYPs, principalmente CYP2C19. Aproximadamente 85% do pró-

fármaco é hidrolisado por esterases no sangue para um derivado de ácido carboxílico inativo,

e apenas 15% é metabolizado pelo CYP450 no fígado para gerar um metabolito ativo. O

metabólito ativo atua de forma irreversível, inibindo o receptor de ADP (adenosina di-fostato)

chamado de P2RY12 (Purinergic Receptor P2Y, G-Protein Coupled, 12), impedindo assim a

formação do trombo, pois impede a agregação plaquetária (Figura 1) (ANGIOLILLO et al.,

2007; SANGKUHL; KLEIN; ALTMAN, 2010; SIASOS et al., 2015; TRENK;

HOCHHOLZER, 2014).

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Figura 1. Mecanismo de ação do Clopidogrel. Fonte: Adaptado de Angiolillo et al. p. 1507,

2007 (ANGIOLILLO et al., 2007).

Apesar da sua eficácia farmacológica comprovada, o clopidogrel não está

completamente livre de efeitos secundários, sendo a toxicidade um problema clínico

importante na medicina cardiovascular (HOSHINO et al., 2009; LEWIS; VOORA;

BEITELSHEES, 2015; TOPÇUOGLU; ARSAVA; AY, 2011). Nos últimos 10 anos, esforços

significativos para compreender os fatores clínicos que afetam a variabilidade na resposta aos

fármacos, produzindo uma resposta alterada com consequente aumento na taxa de efeitos

adversos (LEWIS; VOORA; BEITELSHEES, 2015).

O clopidogrel está associado a efeitos adversos comuns que incluem erupção cutânea,

distúrbios gastrointestinais, hemorragia, neutropenia, anemias (KAPILA et al., 2015), além

disso, a hepatotoxicidade tem sido relatada como um secundário, porém potente efeito

adverso relacionado com o uso do clopidogrel, podendo levar a morte do paciente se a terapia

não for descontinuada (GOYAL; SRIVASTAVA; LESSNAU, 2009; ZAHNO et al., 2013).

Os mecanismos de indução da hepatotoxicidade pelo clopidogrel ainda não são

totalmente elucidados. Poucos relatos tem sido associada seu surgimento à biotransformação

hepática por CYPs, como em estudo prévio utilizando células HepG2 co-incubadas com

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CYP2B6 e CYP2C19 e em cultura primária de hepatócitos de ratos mostrou que o clopidogrel

causou hepatotoxicidade significativa em elevadas concentrações de 100 µM e 300 µM,

sugerindo que o clopidogrel é hepatotóxico após biotransformação pelas enzimas CYP2B6 e

CYP2C19 (ZHAI et al., 2015). Outro estudo mostrou que a incubação do clopidogrel com

CYP3A4 está associada com a formação de metabólitos que são tóxicos para precursores de

granulócitos (MASENENI et al., 2012).

Portanto, considerando a falta de mecanismo elucidativos e consequentemente um

diagnóstico precoce ineficaz do efeito adverso, avanços associados a ferramentas moleculares

representa uma condição emergente na terapia deste antiagregante plaquetário.

2.2. MicroRNA: biogênese e funções

Os microRNAs (miRNAs) são moléculas de pequenos RNAs não codificante, os quais

são compostas por cerca de 22 nucleotídeos, que foram descobertos pela primeira vez em

Caenorhabditis elegans no início da década de 1990 (LEE; FEINBAUM; AMBROS, 1993).

Os miRNAs desempenham importante papel em reprimir a expressão do gene alvo a nível

pós-transcricional (VAN ROOIJ; PURCELL; LEVIN, 2012).

A transcrição de miRNAs das suas sequências genômicas é controlada pelo complexo

de RNA polimerase II e por fatores de transcrição presentes no núcleo (Figura 2) (LUO;

YANG; NATTEL, 2015). Os nucleotídeos dos transcritos primários dos miRNAs (pri-

miRNAs) formam estruturas secundárias como as regiões “stem”, em que dois segmentos de

RNA com bases complementares são pareados, e as regiões “loop”, nas quais os pares de

bases não são complementares, constituindo, assim, alças circulares (stem-loop). Três tipos de

miRNAs podem ser identificados de acordo com a localização genômica das suas sequências

primárias de codificação: miRNAs intergênicos, miRNAs intrônicos e miRNAs exônicos. Os

miRNAs intergênicos tem seus próprios promotores para a transcrição direta das suas

sequências de pri-miRNA, a transcrição de miRNAs intrônicos e exônicos é regulada pelos

promotores dos seus genes hospedeiros (BEREZIKOV, 2011; LUO; YANG; NATTEL,

2015).

No núcleo, os pri-miRNAs são processados por clivagem endonucleolítica gerando

estruturas designadas como miRNA precursores (pre-miRNA). O processamento dos pre-

miRNAs para sequências de miRNAs intergênica é mediado pela ribonuclease 3 (um

complexo protéico RNase tipo III, conhecido como Drosha), enquanto que o processamento

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de miRNAs intrônicos e exônicos geralmente requer a modulação adicional por splicing. Um

subtipo de miRNAs intrônicos, chamado 'mirtron', produz seus pre-miRNAs de uma maneira

independente de Drosha usando apenas o splicing (BEREZIKOV, 2011). O pre-miRNA

gerado é exportado para o citoplasma por meio da proteína transportadora exportina-5

(BRONZE-DA-ROCHA, 2014; DANGWAL; THUM, 2012; LUO; YANG; NATTEL, 2015).

No citoplasma, os pré-miRNAs são processados pelo complexo enzimático Dicer

(RNase tipo III), que remove a alça na estrutura stem-loop, resultando na formação de um

duplex de miRNA. Este dúplex de miRNA é incorporado ao Complexo de Silenciamento

Induzido por RNA (RISC), no qual as duas fitas de miRNA são separadas. Uma destas fitas

permanece associada ao RISC e constitui o miRNA maduro, ao passo que a fita complementar

pode sofrer degradação (BRONZE-DA-ROCHA, 2014; DANGWAL; THUM, 2012; LUO;

YANG; NATTEL, 2015).

Os miRNAs maduros atuam regulando os vários processos celulares, como apoptose,

proliferação e diferenciação, estando ainda associados ao acometimento de diversas doenças,

pois regulam negativamente a expressão gênica por ligar-se nas sequências complementares

do RNAs mensageiros (mRNA), induzindo a desestabilização ou degradação do mRNA,

bloqueando a etapa de tradução (Figura 2) (LIU; LI; CAIRNS, 2014; LUO; YANG;

NATTEL, 2015; VAN MIL; DOEVENDANS; SLUIJTER, 2009).

A especificidade do miRNA está ligada principalmente a uma pequena sequência de

nucleotídeos, de aproximadamente 8 pares de base, chamada de seed sequence. Como essa

região apresenta um pequeno número de pares de base, um miRNA poderia se ligar em um

grande número de mRNAs, regulando a expressão de um grande número de genes (LEE et al.,

2016; LIM et al., 2005).

Um dos principais mecanismos dos miRNAs é através do transporte célula a células

pelos exossomos, os quais atuam como “mensageiros intercelulares”, transferindo informação

e sinais entre células (ZHANG et al., 2015). Assim, um melhor entendimento da função deste

miRNAs, particularmente os exossomais, no desenvolvimento de patologias ou alterações

morfofisiológicas, como aquelas observadas no fígado mediante o tratamento com clopidogrel

podem representar uma estratégia promissora na busca de uma terapia eficaz e segura.

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Figura 2. Biogênese e atividade dos miRNAs. Fonte: Adaptado de Luo et al., p. 82, 2015

(LUO; YANG; NATTEL, 2015)

2.3. miRNA exossomais como biomarcadores

A comunicação intercelular mediada por exossomos, tem sido reportada como uma

potencial via de comunicação entre as células (YU; ODENTHAL; FRIES, 2016). A

descoberta dos exossomos representou um novo mecanismo de regulação da expressão

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gênica. Estes achados foram primeiramente demonstrados através da adição de exossomos de

mastócitos murinos a cultura contendo mastócitos humanos. Após incubação, foi observada a

presença de proteínas murinas em células humanas (VALADI et al., 2007).

Exossomos são vesículas membranosas que possuem em torno de 40 a 100 nm de

diâmetro de origem endocítica, liberadas por uma variedade de células para o espaço

extracelular (HUANG et al., 2013), sendo encontrado também em diferentes fluidos corporais

como, plasma sanguíneo, urina, saliva, leite materno, lavado bronquial, fluido cerebral, fluido

amniótico (CLARK et al., 2012). Nos últimos anos, os exossomas emergiram como moléculas

importantes para a comunicação intercelular envolvidas em condições normais e

fisiopatológicas, como a resposta imune (ADMYRE et al., 2007), a função neuronal (JANAS

et al., 2016), no desenvolvimento e progressão de doenças como a doença hepática

(MASYUK; MASYUK; LARUSSO, 2013), doenças neurodegenerativas (HOWITT; HILL,

2016) e câncer (BEACH et al., 2014; SOUNG et al., 2017).

Os exossomos podem ser liberados por diversas células, incluindo os hepatócitos e

podem ser transferidos para outras células receptoras para regular os perfis de expressão

nestas células, sugerindo que os exossomos desempenham um papel importante na

comunicação entre células hepáticas (LOOSEN et al., 2017). Os exossomos tem sido

demonstrado por transportar diferentes ácidos nucleicos, incluindo miRNAs, que regulam

significativamente o crescimento celular e o metabolismo pela inibição pós-transcricional da

expressão gênica (YU; ODENTHAL; FRIES, 2016).

Os miRNAs são incorporados seletivamente em corpos multivesiculares, que se fundem

com a membrana plasmática, secretando assim as suas vesículas para o meio extracelular.

Assim, os exossomos podem ligar-se à membrana plasmática de uma célula alvo ou podem

ser endocitados e depois fundidos com a membrana que irá delimitar um compartimento

endocítico. Ambas as vias resultam no influxo do miRNA exossomal ao citoplasma da célula

alvo onde irá associar-se e silenciar um mRNA alvo, regulando a sua expressão gênica

(Figura 3) (STOORVOGEL, 2012). Os miRNAs envolvidos nestas vesículas estão bem

protegidos contra a degradação, realçando assim, o potencial papel dos miRNAs exossomais

como biomarcadores (SATO et al., 2016).

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Figura 3. Transferência funcional de microRNA por exossomos. Fonte: Adaptado de

Stoorvogel, p. 647, 2012 (STOORVOGEL, 2012).

Os miRNAs exossomais tem sido associados a promoção do silenciamento gênico

similar aos miRNAs celulares e ainda intensificam evidências de que o envelopamento do

miRNA exossomal ocorre de forma não randômica, baseado na expressão diferencial do

miRNA exossomal comparado ao de células doadoras (VALADI et al., 2007).

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Além disso, a associação de miRNAs com exossomos tem sido descrita como

característica para identificar lesões que causam dano hepático, pois os exossomos podem

desempenhar um papel importante na liberação precoce de miRNAs durante a lesão hepática

induzidas por fármacos (BALA et al., 2012; MCGILL; JAESCHKE, 2015). Recentemente, o

miRNA-122 que é abundante em hepatócitos e os miR-155, -146a e -125b, que regulam a

inflamação em células imunes, foram testados em modelos animal de doença hepática

alcoólica, de lesão hepática induzida por drogas (acetaminofeno), e de lesão hepática mediada

por receptores Toll-like (BALA et al., 2012). Os resultados indicaram que o miR-122 sérico

foi diretamente correlacionado com o aumento da ALT nos modelos estudados. O miR-155

teve sua expressão aumentada no soro nos modelos de lesões hepáticas alcoólicas e

inflamatórias, sugerindo que miRNAs circulantes podem servir como biomarcadores para

diferenciar os tipos possíveis de lesão hepática e fornecer mais especificidade para os

mecanismos da fisiopatologia.

Recente revisão também relatou as possíveis funções dos miRNAs nos mecanismos

fisiopatológicos da toxicidade induzida por drogas, bem como identificou perfis circulantes de

miRNA como promissores para a detecção e diagnóstico desta condição em situações clínicas.

Foi mostrado ainda que os possíveis mecanismos, através dos quais as espécies de miRNA

contribuem para hepatotoxicidade induzida por drogas, são emergentes e novos

biomarcadores baseados em miRNA têm potencial de contribuir para a melhora do

diagnóstico e prevenção da lesão hepática (MCGILL; JAESCHKE, 2015). Nesse contexto, a

detecção de miRNAs presente nos exossomos podem representar potenciais biomarcadores de

hepatotoxicidade associada com o clopidogrel.

Portanto, a análise da expressão de miRNAs exossomais e seus mRNAs alvos poderá

representar uma abordagem promissora, como ferramenta de análise de efeitos adversos em

órgãos alvos e não alvos, como a hepatotoxicidade relacionada a terapia com clopidogrel.

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3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo Geral

Avaliar a expressão dos miRNAs exossomais na hepatotoxicidade induzida pelo

clopidogrel obtidos de sobrenadante de células HepG2 tratadas com o antiagregante

plaquetário.

3.2. Objetivos específicos

Identificar, através de estudo in silico em banco dados de estudos de “chip” de DNA

disponíveis em bases de dados públicas, potenciais miRNAs e seus mRNAs alvos envolvidos

com a resposta antiagregante e com os efeitos adversos do clopidogrel

Avaliar o perfil de toxicidade do clopidogrel através da análise da fragmentação do

DNA por citometria de fluxo.

Avaliar a expressão dos miRNAs identificados in silico, em exossomos obtidos do

sobrenadante de cultura de célula HepG2 tratadas com clopidogrel;

Avaliar a expressão dos mRNAs alvos dos miRNAs exossomais diferentemente

expressos em célula HepG2 tratadas com clopidogrel, em diferentes concentrações.

Associar o perfil de expressão dos miRNAs e seus mRNA alvos com a citotoxicidade in

vitro induzida pelo clopidogrel.

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4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1. Seleção dos miRNAs através da análise de banco de dados

Os dados do perfil de expressão dos acessos GSE59488 e GSE32226 foram obtidos a

partir do NCBI (National Center for Biotechnology Information), através de Gene Expression

Omnibus (GEO, http://www.ncbi.nlm.nih.gov/geo/). GSE59488 avaliou a expressão global de

miRNAs em plaquetas de pacientes com síndrome coronária aguda (SCA), com alta

reatividade plaquetária e baixa reatividade plaquetária. A expressão dos miRNAs foram

analisadas pelo sistema de microarranjos utilizando a plataforma Agilent GPL18402-046064

Unrestricted_Human_miRNA_V19.0_Microarray (miRNA versão ID).

GSE32226 representa um conjunto de dados de análises de expressão global de

mRNAs em células do sangue periférico (PBC) de pacientes com doença coronariana aguda

mediante a uma resposta diferencial a drogas antiplaquetárias e foi analisado usando a

plataforma Affymetrix Exon Human 1.0 ST Array. Os pacientes com doença coronária aguda

foram tratados continuamente com ácido acetilsalicílico (AAS) (100 mg/dia) e o clopidogrel

(75 mg/dia). Os dados também foram previamente publicados, na forma de artigo cientifico,

por nosso grupo de pesquisa a revista Clinica Chimica Acta (LUCHESSI et al., 2013).

Os perfis de expressão dos miRNAs de plaquetas (GSE59488) e expressão global dos

mRNAs em PBC (GSE32226) foram analisados utilizando a ferramenta de bioinformática

GEO2R (disponível em http://www.ncbi.nlm.nih.gov/geo/geo2r/) e foram selecionados

aqueles com expressão diferencial superior à mudança de Log2-fold change (LogFC) e valor

de p < 0,05.

Os alvos de mRNAs dos miRNAs diferencialmente expressos em plaquetas foram

selecionados por análise in silico utilizando os bancos de dados: microRNA

(http://microrna.org), miRBase (http://www.mirbase.org), miRDB (http://mirdb.org/miRDB/),

Target Scan Human (http://www.targetscan.org/) e miRTarBase

(mirtarbase.mbc.nctu.edu.tw). Foram selecionados mRNAs (n = 75), com alta pontuação para

as interações fortes miRNA-mRNA (Score ≤ 1,0).

As interações entre os miRNAs e mRNAs alvo foram analisados usando o software

Ingenuity Pathways Analysis v.6 (IPA, Ingenuity® Systems, Ca., Redwood City, EUA), o que

gerou uma rede de regulação miRNA e as metas de mRNA relacionados. Os mRNAs

diferencialmente expressos em PBC (20 mRNA) e os mRNAs alvo previsto por bases de

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dados de miRNA (75 mRNAs) foram rastreados para identificar os alvos de 20 miRNAs

utilizando IPA. Nós ainda realizada uma interação IPA entre mRNAs expressos

diferencialmente em PBC e os miRNAs regulamentares em plaquetas. Interações miRNA-

RNA significativa foram considerados quando LogFC (FC> 2,0), pontuação mirSVR ≤ 1,0 e

p <0,05. A metodologia detalha esta apresentada no artigo previamente publicado e anexado

no item ANEXO 2 deste documento

4.2. Condições de cultivo e tratamento

A linhagem humana derivada de carcinoma hepatocelular (HepG2) foi obtida do

Banco de células do Rio de Janeiro, e mantida em meio Roswell Park Memorial Institute

medium (RPMI) (pH7,4) com 5% de soro fetal bovino livre de exossomos, a 37º C, em estufa

umidificada com atmosfera de 5% de gás carbônico. O meio de cultivo foi suplementado com

L-glutamina 2 mmoles/L, bicarbonato de sódio 44 mmoles/L, estreptomicina 10.000 UI/mL e

penicilina 10.000 UI/mL. O meio foi trocado duas vezes por semana e as células foram

tripsinizadas (solução de tripsina 0,2%) e subcultivadas uma a duas vezes por semana. Células

HepG2 foram cultivadas na ausência (controle DMSO) e na presença de concentrações

variáveis (6,25, 12,5, 25, 50 e 100 µM) de clopidogrel.

4.3. Análise do DNA fragmentado

A quantificação de DNA fragmentado foi realizada em citometria de fluxo

(NICOLETTI et al., 1991). As células foram mantidas por 24h e 48h em tratamento com

clopidogrel usando as concentrações de 6,25, 12,5, 25, 50 e 100 µM. Brevemente 1,5 x 105

células foram ressuspendidas em 0,2 mL de tampão de lise (0,1% de citrato de sódio e 0,1%

de Triton X-100) contendo 50 µg/mL de iodeto de propídio (PI). As células lisadas foram

incubadas, no escuro durante 1 h a 4°C, e utilizadas para a análise de fragmentação do DNA.

As células foram avaliadas em citômetro de fluxo BD Accuri™ C6 Plus (BD Biosciences)

utilizando o software fornecido pelo fabricante. Para cada teste foram avaliados dez mil

eventos. A citotoxicidade foi avaliada em triplicata.

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4.4. Extração do RNA total e RT-qPCR de miRNAs

Para a extração do RNA total, incluindo os miRNAs, dos exossomos do sobrenadante

das culturas de HepG2 tratadas com clopidogrel nas concentrações de 0 (veiculo), 12,5, 25, 50

e 100 µM foi utilizado o protocolo do conjunto de reagentes do exoRNeasy Serum/Plasma

Maxi kit (QIAGEN, Hilden, Alemanha), seguindo as recomendações do protocolo pré-

estabelecido para extração em cultura celular e com adição do controle externo de

oligonucletideos C. elegans miR-39 Spike-in control (QIAGEN, Hilden, Alemanha). A

quantificação e pureza foram analisadas por espectrofotometria utilizando Nanodrop ND-

1000 (NanoDrop Technologies). Os miRNAs extraídos foram armazenados a -80°C até a

realização das próximas etapas.

A síntese do cDNA obtida a partir dos miRNAs extraídos foi realizada utilizando-se o

miScript II RT Kit (QIAGEN, Hilden, Alemanha), de acordo com a metodologia descrita pelo

fabricante, em termociclador Veriti™ 96-Well (Applied Biosystems, Carlsbad, CA, EUA). Os

cDNAs sintetizados foram armazenados a -20°C até a realização da PCR em tempo real.

Para a realização dos estudos da PCR em tempo real foram utilizados os ensaios pré-

validados miScript® Primer Assays (QIAGEN, Hilden, Alemanha) dos seguintes miRNAs:

Hs_miR-26a_2 (MIMAT0000082), Hs_miR-107_2 (MIMAT0000104), Hs_miR-145_1

(MIMAT0000437), Hs_miR-15b_2 (MIMAT0000417), Hs_miR-4701-3p_1

(MIMAT0019799). A amplificação foi realizada no sistema automatizado ABI 7500 Fast

(Applied Biosystems, Carlsbad, CA, EUA). Para a normalização das diferenças dos níveis de

expressão destes miRNAs, foi calculado a Quantidades Relativas Normalizadas (NRQs)

obtidas por escalonamento dos valores de expressão Ce_miR-39_1 miScript Primer Assay

(QIAGEN, Hilden, Alemanha) e a média geométrica da Quantidades Relativas (RQs) de

todos miRNAs analisados por amostras, conforme descrito anteriormente (MARABITA et al.,

2016). Os resultados estão apresentados como fold-change em relação aos valores médios do

grupo controle (veículo, 0 µM de clopidogrel).

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Tabela 1. Sequência de iniciadores para expressão de mRNA pela RT-qPCR

4.5. Extração de RNA e RT-qPCR de mRNAs

A extração de RNA total de células HepG2 com 80-90% de confluência foi realizada

usando reagente Trizol (Invitrogen, EUA) de acordo com o protocolo do fabricante. A

quantificação e a pureza foram realizadas pelo espectrofotômetro usando Nanodrop ND-1000

(NanoDrop Technologies). O cDNA foi sintetizado com 2 μg de RNA total usando o

SuperScript® III First-Strand Synthesis System (Invitrogen, EUA), de acordo com o

protocolo do fabricante e no termociclador Veriti™ 96-Well (Applied Biosystems, Carlsbad,

CA, EUA). RT-qPCR foi realizada usando QuantiTect SYBR Green PCR Kit (QIAGEN,

Hilden, Germany, Cat. Number: 204145), conforme recomendações do fabricante. RT-qPCR

Gene Sequência

PLOD2 Sense: 5´ GGCAAAGCCAGAGCTAAGAAT 3´

Anti-sense: 5´ CAGCCATTATCCTGTGTCCAT 3´

SENP5 Sense: 5´ ATGGCAGTTTGGTTCCACTC 3´

Anti-sense: 5´ CGTCCATATCCAGCATGTGT 3´

EIF4G2 Sense: 5´ CCACAAGTGACAACTTCATGC 3´

Anti-sense: 5´ TCTGAAATGCTCACCAGCTCT 3´

HMGA2 Sense: 5´ ACTTCAGCCCAGGGACAAC 3´

Anti-sense: 5´ GGTCTCTTAGGAGAGGGCTCA 3´

STRADB Sense: 5´ ACTCCCACAGGAACACTGGT 3´

Anti-sense: 5´ CAGCTGCCAACAGTGAAAAC 3´

TLK1 Sense: 5´ AAGAGGCATACCTCCTGCAA 3´

Anti-sense: 5´ AATGCAGTAGGAGAAGGGCTA 3´

GAPDH Sense: 5´ GCTGAGTACGTCGTGGAGTC 3´

Anti-sense: 5´ CTGATGATCTTGAGGCTGTTG 3´

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foi realizada no equipamento 7500 Fast Real-Time PCR System (Applied Biosystems). A

expressão relativa foi calculada usando o método 2−ΔΔCt

(LIVAK; SCHMITTGEN, 2001), e os

resultados estão apresentados como fold-change em relação aos valores médios do grupo

controle (veículo, 0 µM de clopidogrel), normalizado com GAPDH que não apresentou

variações significativas de Ct entre os grupos tratados com clopidogrel e grupo controle.

4.6. Análises estatísticas

Foi desconsiderado os testes de avaliação da normalidade da distribuição das variáveis

contínuas, devido o reduzido número amostral, uma vez que o teste foi falho. Assim, as

variáveis foram analisadas pelos testes não-paramétricos de Kruskall-Wallis ANOVA seguido

de comparação em pares pelo teste de Mann-Whitney. O programa utilizado nestas avaliações

foi o SPSS versão 22.0 (SPSS Inc., Chicago, IL, EUA). Para todas as análises estatísticas

realizadas, foram considerados estatisticamente significativos os resultados cujos níveis

descritivos (valores de p) forem inferiores a 0,05.

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5. RESULTADOS

5.1. miRNAs regulatórios e mRNAs alvos selecionados através de analises in silico

A análise in silico entre os bancos de dados GSE59488 e GSE32226 indicaram cinco

miRNAs diferentemente expressos: hsa-miR-107 (miR-103-3p), hsa-miR-4701-3p (miR-

1262), hsa-miR-145-5p (miR-145-5p), hsa-miR-15b-5p (miR-16-5p) e hsa-miR-26a-5p (miR-

26a-5p), os quais estão associados com a variabilidade na resposta do clopidogrel, bem como

com sua toxicidade renal e hepática. A rede de regulação, realizada com auxílio do software

IPA, envolvendo os miRNAs diferentemente expresso em GSE59488 e as mRNAs alvos do

banco de dados GSE32226 está representada na Figura 4.

Figura 4. Rede regulatória entre miRNAs e mRNAs alvo envolvidos na terapia

antiplaquetária. Esta rede representa a relação entre miRNAs de GSE59488 e os mRNAs de

GSE59488. A cor verde indica os genes com alta expressão e a cor vermelha os genes pouco

expressos.

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A análise in silico realizada, ainda revelou que estes miRNAs e seus respectivos

mRNAs alvos estão associados tanto com a variabilidade na reatividade de plaquetas, quanto

com a resposta do clopidogrel. Interessantemente, ainda observamos que estes miRNAs estão

envolvidos com a toxicidade, principalmente a hepatotoxicidade, induzida por drogas,

incluindo o clopidogrel (Tabela 2).

Tabela 2. Interações entre miRNAs e mRNAs associados à toxicidade da terapia

antiplaquetária.

Categorias Moléculas p-valor

Fibrose hepática RPGRIP1L, GOLM1 5,78E-03-1,42E-02*

Aumento dos

níveis de LDH

CFD 9,5E-03*

Dano hepático hsa-miR-15b-5p (miR-16-5p), hsa-miR-143-3p

(miR-143-3p)

1,08E-02-1,08E-02*

Inflamação

hepática/Hepatites

hsa-miR-15b-5p (miR-16-5p), hsa-miR-143-3p

(miR-143-3p)

1,08E-02-1,08E-02*

Cirrose hepática CD80, hsa-miR-15b-5p (miR-16-5p), hsa-

miR-143-3p (miR-143-3p)

2,98E-02-3,65E-01*

Inflamação renal hsa-miR-30c-5p (miR-30c-5p), hsa-miR-15b-

5p (miR-16-5p)

3,42E-02-3,42E-02*

Nefrite renal hsa-miR-30c-5p (miR-30c-5p), hsa-miR-15b-

5p (miR-16-5p)

3,42E-02-3,42E-02*

Carcinoma

hepatocelular

hsa-miR-30c-5p (miR-30c-5p), hsa-miR-107

(miR-103-3p), hsa- miR-106b-5p (miR-17-5p),

hsa-miR-15b-5p (miR-16-5p), hsa-miR-143-3p

(miR-143-3p)

1,22E-01-1,22E-01*

Hiperplasia

hepática/

Hiperproliferação

ILF3, hsa-miR-107 (miR-103-3p), RPGRIP1L,

hsa-miR-143-3p (miR-143-3p), DICER1,

ADIPOR1, EIF4G2, CHN2, MEX3B, TET2,

HMGA2, C1QL3, MED12L, UPF2, SCN1A,

AXIN2, KCNH8, MECOM, USP15, LRP2, hsa-

miR-30c-5p (miR-30c-5p), hsa- miR-106b-5p

(miR-17-5p), SLC7A8, CLASP2, MSI2,

1,22E-01-1,42E-01*

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32

GOLM1, ARIH1, STRADB, DERL1, GLMP,

hsa-miR-15b-5p (miR-16-5p), TLK1,

FAM98A, CLINT1

Hipertensão

pulmonar

SCN1A 1,54E-01*

Estenose cardíaca hsa-miR-30c-5p (miR-30c-5p) 1,82E-01*

Arritmia cardíaca SCN1A 2,38E-01*

Insuficiência

cardíaca

DICER1 5,31E-01*

Arteriopatia

cardíaca

MECOM 1E00*

5.2. Fragmentação do DNA

A fragmentação do DNA e o ciclo celular da cultura de HepG2 após tratamento com

clopidogrel com concentrações de 0, 6,25, 12,5, 25, 50 e 100 μM, durante 24 e 48 horas estão

ilustrados nas figuras 5 e 6.

Os resultados indicam uma diminuição do número de células na fase G0/G1

dependente da concentração, mas não dependente do tempo (Figura 5), o que se reflete pela

fragmentação do DNA elevada e significativa produzida pelas concentrações de clopidogrel

50 e 100 μM em comparação com o grupo controle a 24 (p = 0,001 e p = 0,002,

respectivamente; Figura 6) e 48 horas (p = 0,001 e p = 0,002, respectivamente; Figura 6) após

tratamento com clopidogrel, indicando concentrações potencialmente tóxicas.

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33

Figura 5. Fragmentação do DNA e ciclo celular de células HepG2 expostas ao clopidogrel

(6,25, 12,5, 25, 50 e 100 µM) por 24 h e 48 h comparado com o veículo (controle). Azul –

Fase G0/G1; Vermelho – Fase S; Verde – Fase G2 e M

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Figura 6. Porcentagem de fragmentação do DNA de células HepG2 expostas ao clopidogrel

(6,25, 12,5, 25, 50 e 100 µM) por 24h e 48 h comparado com o controle. Dados são mostrados

como média ± SEM de três experimentos independentes e comparados pelo Kruskal-Wallis

ANOVA e a comparação em pares pelo teste Mann-Whitney. * p < 0,05 comparado com 0

µM

5.3. Expressão de miRNAs em exossomos circulantes em sobrenadante de HepG2

Os miRNAs relacionados com a toxicidade induzida pelo clopidogrel em exossomos de

sobrenadantes de HepG2, após 24 horas e 48 horas de tratamento, estão apresentados na

figura 7. No experimento de 24 horas, observou-se um aumento da expressão do miR-26a-5p

na concentração tóxica de 100 μM de clopidogrel quando comparada com o veículo (0 μM, p

= 0,016). Em relação ao miR-15b-5p, na concentração tóxica de clopidogrel de 100 μM a

expressão apresentou-se reduzida em relação ao veículo (0 μM, p = 0,029). Interessantemente,

após 48 horas de tratamento com clopidogrel, o miR-26a-5p continuou aumentado na

concentração de 100 μM em comparação com o veículo (p = 0,038), assim como a expressão

do miR-15b-5p também permaneceu reduzida na concentração de 100 μM quando comparado

com o controle (p = 0,029). Para todos os períodos estudados, os miR-145-5p e miR-4701-3p

não tiveram alterações estatisticamente significativas.

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Figura 7. Expressão de miRNAs exossomais (miR-26a-5p, miR-145-5p, miR-4701-3p, miR-

15b-5p) em sobrenadante de HepG2 após 24 e 48 horas expostas ao clopidogrel (0, 12,5, 25,

50, 100 µM). Dados são apresentados como fold-change verso o grupo controle (veículo, 0

µM de clopidogrel) e comparado pelo Kruskal-Wallis ANOVA e a comparação em pares pelo

teste Mann-Whitney. * p < 0,05 comparado com 0 µM.

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5.4. Expressão de mRNA em células HepG2

A expressão relativa dos mRNA derivados das células e relacionadas com a

hepatotoxicidade induzida por clopidogrel após 24 horas e 48 horas de tratamento estão

representadas nas Figuras 8 e 9, respectivamente. Observou-se uma reduzida expressão do

gene EIF4G2 nas concentrações tóxicas (50 e 100 μM) quando comparada com 0 μM (p =

0,014 e p = 0,021, respectivamente). A expressão de HMGA2 também foi reduzida nas

concentrações tóxicas de 50 e 100 μM em comparação com o controle (p = 0,034 e p = 0,021,

respectivamente). A expressão de gene STRADB foi reduzida na concentração toxica de 50 e

100 μM em relação ao veículo (p = 0,021 e p = 0,014). O SENP5, assim como os demais

genes apresentados, também apresentou uma baixa expressão nas concentrações toxicas (50 e

100 μM), porém também foi menos expresso nas demais concentrações do clopidogrel (12,5 e

25 μM) em relação aos 0 μM (p = 0,034, p = 0,020, p = 0,039 e p = 0,025, respectivamente).

A expressão de TLK1 foi reduzida em 50 e 100 μM quando comparado com o controle (p =

0,034 e p = 0,021, respectivamente). O PLOD2 não apresentou alterações estatisticamente

significativas. Após 48 horas, a expressão de HMGA2 permaneceu reduzida nas

concentrações tóxicas (50 e 100 μM) quando comparada ao veículo (50 μM: p = 0,021 e 100

μM: p = 0,034). Os EIF4G2, PLOD2, STRADB, SENP5 e TLK1 não apresentaram alterações

estatisticamente significativas, após 48 h de tratamento.

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Figura 8. Expressão de mRNAs derivados de células HepG2 (EIF4G2, HMGA2, PLOD2,

STRADB, SENP5 e TLK1) depois de 24 horas de exposição ao clopidogrel (0, 12,5, 25, 50,

100 µM). Dados são apresentados como fold-change verso o grupo controle (veículo, 0 µM

de clopidogrel) e comparado pelo Kruskal-Wallis ANOVA e a comparação em pares pelo

teste Mann-Whitney. * p < 0,05 comparado com 0 µM.

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Figura 9. Expressão de mRNAs derivados de células (EIF4G2, HMGA2, PLOD2, STRADB,

SENP5 e TLK1) depois de 48 horas de exposição ao clopidogrel (0, 12,5, 25, 50, 100 µM).

Dados são apresentados como fold-change verso o grupo controle (veículo, 0 µM de

clopidogrel) e comparado pelo Kruskal-Wallis ANOVA e a comparação em pares pelo teste

Mann-Whitney. * p < 0,05 comparado com 0 µM.

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6. DISCUSSÃO

A falta de potenciais biomarcadores moleculares para o diagnóstico precoce dos

efeitos adversos associados a terapia com clopidogrel tem reduzido a segurança e a resposta

deste fármaco antiplaquetário utilizado na medicina cardiovascular (UEHARA; WANG;

TONG, 2015; ZAHNO et al., 2013). Os miRNAs tem uma função importante na regulação da

expressão gênica a nível pós-transcricional. Além disso, podem também reduzir ou inibir

mRNA quando regulada positivamente e a diminuição da expressão de um miRNA específico

pode aumentar os níveis de mRNA (ARORA; SIMPSON, 2008; LU; CLARK, 2012).

No presente estudo, através de uma análise in silico, evidenciamos que cinco miRNAs

(miR-26a, miR-145, miR-15b, miR-4701 e miR-107) e seus mRNAs alvos podem estar

potencialmente associados à variabilidade na reatividade plaquetária, resposta ao clopidogrel

e especialmente com a toxicidade hepática e renal induzida pelo fármaco (FREITAS et al.,

2016). A relação entre os miRNAs e seus alvos com a toxicidade induzida pela droga, indica

que estes podem representar potenciais e importantes biomarcadores de resposta do

clopidogrel, bem como um fator de predição da hepatotoxicidade, que é um raro efeito

adversos deste fármaco (MONTEIRO et al., 2011).

Assim, mediante estes resultados promissores, avaliamos a relação dos miRNAs e seus

genes alvos com a hepatotoxicidade induzida pelo clopidogrel in vitro. Nossos resultados

indicaram um perfil de fragmentação do DNA de células hepáticas, condizente com uma alta

apoptose celular após a incubação com clopidogrel nas concentrações de 50 e 100 μM,

indicando doses tóxicas que se refletiram em menor número de células na fase G0/G1 do ciclo

celular.

No entanto, os mecanismos associados a este efeito adverso não são totalmente

elucidados. Estudo relatou que o clopidogrel é tóxico nas concentrações de 10 e 100 μM para

culturas primárias de hepatócitos humanos, quando combinado com rifampicina (indutor de

CYP3A4) (ZAHNO et al., 2013). Outro estudo utilizando dois desenhos experimentais, um

com hepatócitos primários de rato e um com linhagem de células HepG2 co-incubadas com

CYP2B6- e CYP2C19-recombinante mostrou que clopidogrel causou hepatotoxicidade

significativa nas concentrações de 100 μM e 300 μM à hepatócitos primários de rato e que

esta toxicidade foi dependente de metabolitos produzidos pelas CYPs. Além disso, nas células

HepG2, o clopidogrel co-incubado com as enzimas CYP2C19 e CYP2B6 foi associado à

formação de metabólitos tóxicos para os hepatócitos, sugerindo que o clopidogrel é

hepatotóxico após biotransformação pelas enzimas CYP2C19 e CYP2B6 (ZHAI et al., 2015).

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É provável que a biotransformação pelas isoformas de CYP produza metabólitos que

possam causar mais toxicidade do que o clopidogrel pró-fármaco (MAFFRAND, 2012). No

entanto, as células HepG2 têm baixa atividade de CYPs, particularmente CYP1A2, CYP2B6

e CYP3A4 (GERETS et al., 2012; WESTERINK; SCHOONEN, 2007), sugerindo que o

clopidogrel pode causar lesão hepatocelular neste modelo celular. A nossa hipótese de que a

toxicidade hepatocelular pode estar relacionada ao pró-fármaco é apoiada por outros estudos,

que mostraram que o clopidogrel carboxilado, principal metabólito do clopidogrel (85% dos

metabólitos), não é tóxico para células HepG2 até 100 μM (ZAHNO et al., 2013).

Estes resultados são sugestivos que em doses elevadas de clopidogrel, como as doses

de 300 e 600 mg, a variabilidade genética associada aos CYPs, alterando sua atividade, pode

levar à toxicidade hepatocelular relacionada ao pró-fármaco. Além disso, 10 μM de

clopidogrel tem sido relatado ser uma concentração que pode ser atingida no fígado de

pacientes tratados com a dose de manutenção de 75 mg por dia (ZAHNO et al., 2010, 2013).

Portanto, as concentrações tóxicas observadas em nosso estudo, 50 e 100 μM, podem ser

consideradas equivalentes as altas dosagens (dose de ataque de 600 mg seguida de 150 mg

uma vez por dia) e dose padrão (dose de ataque de 300 mg seguida de 75 mg por dia)

utilizado no protocolo de angioplastia. Essa informação é importante, especialmente porque o

fígado pode ser afetado diretamente, de forma previsível e dose-dependente, ou

idiossincrática, independente da dose e, portanto, imprevisível (WEILER; MERZ; KULLAK-

UBLICK, 2015).

O miR-26a exossomal foi regulado positivamente na concentração tóxica (100 μM) de

clopidogrel. Este resultado está de acordo com os resultados da análise in silico sugerindo que

o miR-26a desempenha um papel importante na resposta ao clopidogrel e sua hepatoxicidade

(FREITAS et al., 2016). Na função hepática, a regulação positiva de miR-26a induzida pela

exposição ao benzo[a]pireno (BaP) de HepG2 também foi relatada como potencial marcador

inovador envolvido na resposta tóxica de BaP, um hidrocarboneto aromático policíclico

utilizado como genotóxico/carcinogênico (LIZARRAGA et al., 2012). O aumento da

expressão do miR-26a em fígado de camundongos foi descrita como proteção contra lesões

hepáticas induzidas pelo etanol (HAN et al., 2015). O miR-26a também desempenha um

papel importante na proliferação de hepatócitos durante a regeneração hepática em

camundongos machos de linhagem C57BL/6J (ZHOU et al., 2012).

Zhu et al. mostrou que a associação funcional de membros da família miR-26 e seus

genes hospedeiros fornecem novas perspectivas sobre a rede reguladora da transição de fase

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G1/S em células HepG2, sugerindo que miR-26a/b pode bloquear a transição G1/S por

ativação da proteína pRb (ponto de verificação da progressão do ciclo celular), interferindo

nos processos fisiológicos e patológicos. Os alvos previstos de miR-26 incluíram quatro genes

relacionados com a transição G1/S, são eles o CDK6, a ciclina E1, a ciclina D2 e a ciclina E2.

O aumento da expressão da família miR-26 resultou no acúmulo da população de células

HepG2 na fase G1 (ZHU et al., 2012).

Os principais mRNAs alvos do miR-26a (HMGA2, EIF4G2, STRADB e SENP5)

também foram também avaliados (FREITAS et al., 2016). Foi observada uma baixa expressão

desses genes em células HepG2 quando expostas ao clopidogrel, na concentração tóxica (100

μM).

HMGA2 é uma proteína arquitetônica que participa de vários processos celulares,

incluindo crescimento e desenvolvimento descontrolados, ligando-se a regiões ricas em AT

no DNA, alterando a estrutura da cromatina (SUN et al., 2013). Sua expressão foi reduzida na

concentração tóxica tanto em 24 como 48 h após o tratamento com clopidogrel. Estudo prévio

avaliou o miR-26a como um supressor tumoral, inibindo a proliferação de células de câncer

de vesícula biliar, e mostrou que os níveis de HMGA2 foram negativamente correlacionados

com níveis miR-26a (ZHOU et al., 2014). Portanto, a regulação negativa de HMGA2 pode

estar envolvida no mecanismo hepatotóxico do clopidogrel.

A expressão EIF4G2 foi regulada negativamente nas concentrações tóxicas, após 24 h

de tratamento com clopidogrel. EIF4G2 é um importante fator de tradução membro da família

eIF4G e seu silenciamento aumenta parcialmente a sensibilidade aos danos ao DNA induzidos

pela radiação ionizante (IR), em células de câncer de mama (BADURA et al., 2012). Além

disso, um estudo mostrou que a tradução celular é especificamente desligada durante a

apoptose de células HeLa por um mecanismo envolvendo a clivagem de EIF4G

(MARISSEN; LLOYD, 1998). Estes dados são sugestivos de que a baixa expressão de

EIF4G2, que é um alvo miR-26a, pode estar relacionada com a crescente fragmentação do

DNA em resposta ao tratamento com clopidogrel.

STRADB foi regulada negativamente nas concentrações tóxicas de 50 e100 µM, após

24 h de exposição ao clopidogrel. Estudos anteriores sugeriram que o STRADB desempenha

um papel crucial na indução da bloqueio do ciclo celular, produzindo inibição do crescimento

através da translocação de LKB1 (proteína quinase serina/treonina) do núcleo para o

citoplasma (BAAS et al., 2003; BOUDEAU et al., 2006; ZHONG; SUN; DONG, 2013),

corroborando com os nossos dados da fragmentação do DNA e ciclo celular.

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42

SENP5 está envolvido com importantes processos biológicos, como divisão e

proliferação celular (DI BACCO et al., 2006). Os expressão reduzida de SENP5 após o

tratamento com clopidogrel foi observado em todas as concentrações de tratamento, sugerindo

que o clopidogrel pode afetar sua expressão, em baixas ou altas doses de tratamento,

provavelmente não associada à via de regulação pelo miR-26a. Estudo prévio em células de

osteossarcoma, sugeriu que o SENP5 é necessário para o crescimento celular e apoptose, e sua

inibição suprimir a célula de crescimento e induzir apoptose (WANG; ZHANG, 2014).

A baixa expressão do miR-15b na concentração tóxica (100 μM) foi mais evidente

após 48 h de tratamento com clopidogrel. Nosso estudo in silico relacionou o miR-15b com a

toxicidade induzida pelo clopidogrel, especialmente danos hepáticos, inflamação

hepática/hepatite, cirrose hepática, carcinoma hepatocelular (FREITAS et al., 2016). Além

disso, o miR-15b demonstrou influenciar a sobrevivência celular e a regulação do ciclo

celular (VAN ROOIJ; PURCELL; LEVIN, 2012). A baixa expressão do miR-15b também foi

descrito em células TM4 tratadas com Nonilfenol, um composto xenobiótico com efeito

citotóxico, dependente da dose, após 24 horas de tratamento (CHOI et al., 2011).

Similarmente, observou-se a redução do miR-15b em um estudo que avaliou os efeitos

precoce e tardios da doxorrubicina em cardiomiócitos derivados de células-tronco humanas

pluripotentes (HOLMGREN et al., 2016). Por outro lado, estudos relataram que o aumento da

expressão de miR-15b pode ser essencial para a apoptose por ligação e direcionamento de

transcritos de BCL2 (gene anti-apoptótico), na insuficiência hepática aguda induzida em

camundongos (AN et al., 2012; GUO et al., 2009). As divergências de resultados sobre o

miR-15b sugere que a sua expressão na função hepática não é completamente elucidada,

indicando a necessidade de novos estudos para melhor elucidar seu efeito regulador na via da

apoptose.

O miR-15b foi descrito no estudo de análise in silico, ser um miRNA regulador do

mRNA TLK1 (FREITAS et al., 2016). No entanto, a expressão de TLK1 também diminuiu nas

concentrações tóxicas de clopidogrel após 24 h de tratamento, sugerindo um possível aumento

no consumo deste miRNA pelas células, causando a sua concentração reduzida nos

exossomos. Apesar disso, um estudo mostrou que a repressão de TLK1 resultou em

progressão tardia da fase S, sugerindo um papel importante deste mRNA na regulação do

ciclo celular (KIM et al., 2016), o que corrobora com os presentes resultados descritos. Além

disso, outro estudo mostrou o papel do TLK1 na parada do ponto de checagem induzido por

dano do DNA após sua inibição pelo efeito da radiação (TIMIRI SHANMUGAM et al.,

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2016), e isso é sugestivo de que TLK1 possa estar envolvido na hepatotoxicidade induzida

pelo clopidogrel.

O aumento da apoptose em altas concentrações de tratamento com clopidogrel

associada a alta expressão de miR-26a e a baixa expressão de miR-15b, bem como à

regulação de mRNAs específicos, são sugestivos de que estes miRNAs podem ser úteis como

uma ferramenta epigenética inovadora para a detecção de hepatotoxicidade induzida por

clopidogrel.

Além do mais, os exossomos desempenham um papel fundamental no processo de

comunicação célula a célula e os miRNAs exosomais tem atraído muita atenção devido aos

seus papéis reguladores da expressão gênica, sendo descritos como potenciais biomarcadores

(ZHANG et al., 2015).

Nesse contexto, os efeitos das doses tóxicas na expressão de mRNA mais

pronunciados em 24 h após o tratamento em comparação com 48 h, sugerem um importante

papel dos miRNAs exossomais na regulação de mRNAs intracelulares neste período.

Interessantemente, as mudanças na expressão de miRNAs derivados de exossomos

permaneceram em 48h, apoiando o papel dos exossomos na comunicação célula a célula e no

agravamento dos efeitos adversos em células distintas.

Similarmente, um estudo utilizando cultura de hepatócitos primários de ratos avaliou

os efeitos de muitos miRNAs e os níveis de mRNAs e proteínas em 24 h e 48 h após o

tratamento com ciclosporina A (CsA). Observou-se uma regulação significativamente positiva

de Arfip1 após 24 h de tratamento, enquanto que em 48 h a proteína arfaptina-1 foi regulada

negativamente e o Arfip1 não foi diferencialmente expresso (VAN DEN HOF et al., 2014).

Além disso, a dose de 50 mM de CsA e incubando as células durante 48 h resultou em

miRNAs expressos de forma mais significativa e interagindo com o Arfip1, suportando os

nossos dados sobre a variação na expressão de mRNA derivada de células associada ao tempo

de tratamento. Esses achados reforçam a importância de estudos em momentos diferentes para

a elucidação de mecanismos relacionados à hepatotoxicidade induzida por fármacos.

Vale ressaltar que, é provável que os efeitos tóxicos do clopidogrel em HepG2 sejam

diferentes dos hepatócitos humanos primários e estudos adicionais são necessários para

confirmar estes resultados. No entanto, este é o primeiro estudo que se atentou em avaliar a

função de miRNAs derivados de exossomos na hepatotoxicidade induzida pelo clopidogrel,

suportando a importância dos presentes resultados, uma vez que servirá como base para

confirmação em pacientes.

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7. CONCLUSÃO

Em conclusão, as concentrações tóxicas de clopidogrel modularam a expressão dos

miR-26a e miR-15b e seus mRNAs alvo (PLOD2, EIF4G2, HMGA2, STRADB e TLK1) em

células HepG2, que estão envolvidos na apoptose celular e na regulação do ciclo celular que

podem representar um importante mecanismo de toxicidade hepática induzida por

clopidogrel. Além disso, os resultados sugerem que o perfil de expressão do miR-26a pode ser

útil como uma ferramenta epigenética inovadora para a detecção de hepatotoxicidade induzida

por clopidogrel.

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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acute liver failure. Apoptosis, v. 17, n. 7, p. 702–716, 2012.

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