Universidade Federal do Tocantins -...
Transcript of Universidade Federal do Tocantins -...
Universidade Federal do Tocantins - UFT Curso de Pós-graduação Lato Sensu em Coordenação Pedagógica
Programa Escola de Gestores
DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA INDISCIPLINA ESCOLAR1
Salete Aparecida G. de Moraes2
Resumo
O relato em questão está sendo estabelecido a partir do método de pesquisa-ação objetivando
ponderar os ensinamentos sobre a indisciplina na sala de aula e suas implicações na
aprendizagem demonstradas por atitudes intolerantes e de não aceitação do outro. Visa ainda
distinguir algumas de suas causas que tem se apresentado como o descumprimento dos
preceitos definidos pela escola e demais legislações aplicadas, ressaltando a importância da
definição de regras claras para a convivência dentro do espaço escolar que deve se apresentar
favorável ao aprendizado, tendo como função primordial formar o aluno-cidadão, autônomo,
democrático e crítico. Ainda realça o papel do professor nesse processo como agente
articulador e a necessidade de repensar a sua prática enquanto mediador do conhecimento.
Optou-se por trabalhar com os alunos do 9º ANO “A”, do Colégio Estadual “DOM ALANO”,
por apresentarem tais dificuldades. Para a realização da pesquisa foram distribuídos aos
educandos questionários contendo perguntas abertas e fechadas, o mesmo ocorrendo com
alguns representantes de pais que estiveram presentes a reunião e os professores. Os
resultados fundamentam-se nas contribuições de 100% (cem por cento) do corpo docente e
discente presentes que responderam ao questionário. As respostas evidenciaram que
educadores e educandos possuem a mesma percepção sobre indisciplina e tanto um grupo
quanto outro crê que os problemas indisciplinares está arrolado a três focos principais: o
ajuste didático pedagógico, o processo ensino e aprendizagem e as relações interpessoais entre
os atores educacionais.
Palavras Chave
Indisciplina; Espaço Escolar; Família; Alunos; Aprendizagem.
___________________________________
1Relatório analítico apresentado como exigência parcial para conclusão do curso sob a orientação da professora
Menissa Bessa Carrijo. 2Sou graduada em Matemática; Especialista em Planejamento Educacional; Atuando como Coordenadora
Pedagógica no Colégio Estadual “DOM ALANO’ de Peixe – TO.
1. Introdução
Este trabalho presta-se em apresentar os resultados obtidos pelo desenvolvimento de
um projeto executado no Colégio Estadual “DOM ALANO”, da cidade de Peixe, no 9º ano
“A” tendo como tema os “Desafios e Perspectivas da Indisciplina Escolar”, objetivando
realizar possíveis intervenções através da coerência das ações tomadas.
A necessidade emergiu a partir do contato diário com os professores especialistas
evidenciando que os mesmos apresentam-se insatisfeitos em relação à indisciplina escolar a
qual abrange: agitação dos alunos em relação às atividades propostas, perturbação causada
pela conversa incessante, gargalhadas em tom elevado e comportamentos agressivos
ocasionando danos ao trabalho em sala de aula.
Tais problemas recaem na sala da Coordenação Pedagógica com solicitações de
intervenção junto aos alunos e seus respectivos comportamentos indisciplinados conforme
afirma Vasconcelos (2004): “... questionamentos, angústias e inquietações docentes são
constantes com relação à postura do educador frente às questões de indisciplina”.
Outrora a luta educacional brasileira era para que todos tivessem acesso à
escolarização, atualmente procura-se manter o aluno na escola. Tal fato deve ser considerado
quando pensamos em indisciplina, pois há uma heterogeneidade que gera muitas vezes
conflitos, pois são diferentes personalidades convivendo em um único lugar, a sala de aula.
O escopo da pesquisa não é obter uma resposta concreta, mas sim permitir maior
compreensão sobre o tema veiculado, tendo por objetivo entender como a indisciplina é
percebida pelos educadores, alunos e pais, além de identificar por meio de tal investigação, os
fatores responsáveis por ela. Visa ainda, apontar qual é a relação atual com a crise da
autoridade docente, o que confirma a relevância social do tema.
Tiba (1996) define disciplina como: “(O) conjunto de regras éticas para se atingir um
objetivo. A ética é entendida, aqui, como o critério qualitativo do comportamento humano
envolvendo e preservando o respeito ao bem estar biopsicossocial”. Mas a definição fornecida
por La Taille (1996) esclarece: “... se entendermos por disciplina comportamentos regidos por
um conjunto de normas, a indisciplina poderá se traduzir de duas formas: 1) a revolta contra
estas normas; 2) o desconhecimento delas”. Nesse instante deve-se intervir e conhecer o que
acontece no espaço escolar, visto que a rebelião/revolta não acontece se houver regulamentos
claros de convivência.
Uma participação ativa na sociedade pressupõe uma conscientização dos educandos
quanto aos seus deveres na sociedade. Assim, a educação também tem o objetivo de
desenvolver no indivíduo o interesse na vida coletiva para assumir o compromisso de buscar
ações que beneficiem o desenvolvimento da capacidade crítica de julgamento.
Para tanto foi desenvolvido como procedimento metodológico para a construção do
presente artigo, técnicas de abordagem bibliográfica e uma pesquisa-ação no sentido de focar
a prática do professor como condição de manter a disciplina na sala de aula. Tal
fundamentação teórica foi entrelaçada à clareza dos autores: Alves (1994), Cury (2003),
Furlani (1987), Freller (2002), Guzzoni (1995), Groppa (1996) (1998a) (2008), La Taille
(1996), Parrat-Dayan (2008), Parolim (2007), Perrenoud (2000), Rêgo (1995), Tiba (1996),
Vasconcellos (1997) (2004), Zagury (2001).
A investigação ficou constituída, além da introdução e conclusão com um
desenvolvimento contendo as sessões: A indisciplina no âmbito escolar; Estratégia
metodológica e procedimento; Concepções de indisciplina: visão dos docentes, discentes e
pais; A relação estabelecida entre indisciplina e o processo ensino aprendizagem.
Sendo a sala de aula um espelho da sociedade, pois o aluno contextualiza em sua
existência os saberes que ali aprende, examinamos as obras que propagam o caráter da
disciplina e assinala soluções a fim de orientar professores e profissionais da área educacional
a conversar e a modificar esta verdade existente no cotidiano da vida escolar.
Para tanto, refletimos sobre as causas que levam os alunos a tornarem-se
indisciplinados nas escolas além de propormos um ambiente em que os discentes aprendam a
noção de limites e perceba a existência de direito e deveres de todos.
2. A indisciplina no âmbito escolar
Atualmente, a família e a escola parecem que perderam o poder e o espaço que já
apresentaram no sentido da formação do indivíduo. Os alunos estão sendo encaminhados para
a escola com menos idade em virtude das fortes mudanças ocorridas através da incorporação
da figura materna no mercado de trabalho, da desestruturação familiar transformando-se em
mono parentais ou mesmo devido a agressões físicas sofridas no próprio lar.
Nessa conjunção o estudante pode chegar a uma instituição escolar que ignora todo o
contexto de valores trazido por ele passando a receber aprendizagem acadêmica
compartilhada, fracionando a realidade e o desenvolvimento global, impondo uma ordem
hierárquica com normas de comportamento autoritário que foge ao real papel institucional que
é dialogar, ser pacifista, democrática, amigável, incorporada a um currículo integrado baseado
aos interesses e vivências de sua clientela.
Desse modo quando aparecem os fracassos, a instituição escolar os aponta em direção
aos pais culpando-os por não manterem relacionamentos saudáveis com seus filhos, fato que
acenderá alunos com problemas de aprendizagem e relacionamentos.
Cabe a sociedade e não só aos setores referidos (família e escola), pequenas ações de
conscientização para que todo o “seio familiar” compreenda a seriedade dos objetivos
institucionais educativos. Aquino (1998a, p. 10) aponta como funções da família e da escola:
O trabalho familiar diz respeito à moralização da criança, função
primordial dos pais e seus substitutos. A tarefa do professor, por
sua vez, não é moralizar a criança. O objeto do trabalho escolar
é fundamentalmente o conhecimento sistematizado, e seu objetivo,
a recriação deste. O resto é efeito colateral, indireto, mediato.
A escola, por si só, já traz encravado o conceito de ordem e a necessidade de
disciplina. Para tanto, elaboram-se acordos, regimentos escolares, os quais se utilizam de
certas punições para que seja exercido o que ficou acordado entre as partes envolvidas.
Para tanto, Aquino (1998a) comprova pontos chaves abrangentes as relações dentro da
sala de aula, de todos os agentes desse processo, a importância da reflexão sobre determinadas
atitudes do professor, além de uma mudança de posicionando frente à realidade escolar.
Furlani (1987 apud GUZZONI 1995, p. 24), elucida que “a relação de autoridade, que
se dá na instituição escolar, decorre, sobretudo da competência do professor, competência
essa que compreende o domínio teórico e prático dos princípios e conhecimentos que regem a
instituição escolar”. Dessa maneira, o professor agindo com responsabilidade, terá autoridade
frente aos alunos sendo que “o maior estímulo para ter disciplina é o desejo de atingir um
objetivo” segundo afirma Tiba (1996, p.173).
Entende-se, portanto que se mantém a disciplina quando a conduta de uma pessoa
corresponde a valores e maneiras mais ou menos internalizados. Admite-se, portanto que a
indisciplina pode ser entendida de várias maneiras.
Para Rêgo (1996, p. 84)
As normas disciplinares que pautam a educação das crianças e dos jovens, assim
como os critérios adotados para identificar um comportamento indisciplinado, não
somente se transformam ao longo do tempo como também se diferenciam no interior
da dinâmica social.
Isto quer dizer que a disciplina está sujeita ao contexto histórico, dos valores éticos
que lhe são atribuídos nas relações escola e sociedade.
É necessário que pais e educadores amadureçam juntos com seus filhos e alunos, pois
segundo Tiba (1996, p.144): “Na escola, o desempenho escolar na fase pubertária, pode
complicar quando surgem as questões que requer do aluno o pensamento abstrato”.
É ressaltado por Zagury (2001, p.146) que: “é necessário ter clareza sobre as
características normais da idade, compreendê-las ajuda a estabelecer limites na adolescência”.
Assim é importante os educadores conhecerem as fases de desenvolvimento humano para
poder distinguir possíveis distúrbios quando estes ocorrerem.
Cury (2003, p. 90) salienta que “... o diálogo é uma ferramenta educacional
insubstituível. Pois a verdadeira autoridade é conquistada com inteligência e amor, (...) por
traz de cada aluno arredio, de cada jovem agressivo, há uma criança que precisa de afeto”.
Valendo-se disso, vários autores refletem sobre os problemas que interferem no
ambiente escolar e dificultam o processo ensino aprendizagem. Teoricamente um dos maiores
obstáculos pedagógicos atuais é a indisciplina na sala de aula, pois o que é considerado para
um educador como ato indisciplinado acaba sendo para outro professor um deslize de
comportamento, algumas vezes aceitável segundo Parrat-Dayan (2008, p. 8)
O conceito de indisciplina não apenas se traduz de múltiplas maneiras, mas é
também objeto de múltiplas interpretações. Assim, a questão pode ser observada a
partir de diferente marcos de referência: do aluno, professor, da escola e da família.
[...] a indisciplina escolar não é um fenômeno estático nem um fenômeno abstrato
que mantém sempre as mesmas características. As expressões da indisciplina são
susceptíveis de mudança em função da época e do contexto.
Um conceito tão real no cotidiano escolar deve ser fruto de reflexão que permeie a
mediação na busca por melhores condições nas relações existentes no âmbito escolar o que
salienta Groppa (1996, p. 124)
O existir e o fazer cotidianos, enquanto manifestação imediata de toda a atividade
humana apresenta momentos de sujeição e momentos de resistência e contestação,
que precisam ser compreendidos enquanto momentos igualmente presentes no
cotidiano escolar. Estes momentos, quando criticamente refletidos, possibilitam a
transformação da realidade e o surgimento de uma nova cultura escolar.
Philippe Perrenoud (2000), ventila que o conflito é inerente à vida, faz parte de nossas
relações sociais propiciando-nos através do confronto o crescimento, empreendedorismo. Para
isso, deve ser utilizado construtivamente.
A transformação da educação para que a mesma possa atingir os seus objetivos
ocorrerá a partir da tomada de consciência e do esforço de todos, tanto dos responsáveis pela
educação como também, pelos próprios alunos no sentido de passarem a considerar o estudo a
principal ferramenta de desenvolvimento.
Portanto, a responsabilidade integral da educação não é da escola, embora algumas
funções adicionais que ultrapassam a esfera pedagógica lhes estão sendo atribuídas. Cabem às
instituições escolares (re) estabelecem a responsabilidade familiar exigindo da equipe escolar
conforme afirma Groppa (1996, p. 80): “mais energia com as questões psíquico-morais do
aluno do que com a tarefa epistêmica fundamental”.
O mesmo autor revela que (p. 50)
A saída possível está no coração mesmo da relação professor-aluno, isto é, nos
nossos vínculos cotidianos e, principalmente, na maneira como nos posicionamos
perante o nosso outro complementar. Afinal de contas, o lugar de professor é
imediatamente relativo ao de aluno, e vice-versa Vale que, guardadas as
especificidades das atribuições de agente e clientela, ambos são parceiros de um
mesmo jogo. E o nosso rival é a ignorância, a pouca perplexidade e o conformismo
diante do mundo.
Dizendo depois que (p.53): “é preciso, pois, reinventar continuamente os conteúdos, as
metodologias, a relação. E isto também é conhecimento!”. O professor deve conhecer muito
bem seus alunos para saber usar, da melhor forma, suas estratégias de ensino conforme
confirma Alves (1993, p. 100), “Se os professores entrassem nos mundos que existem na
distração de seus alunos eles ensinariam bem melhor. Tornar-se-iam companheiros de sonhos
e invenções”.
A educação é um privilégio assegurado por lei, com o comprometimento do Estado e
da família garantirem este bem no sentido de promover o desenvolvimento intelectual
conforme afirma a Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988), no
Capítulo III Da Educação, da Cultura e do Desporto, Seção I Da Educação, Art. 205: “A
educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
Portanto, segundo GROPPA (1996), “a escolarização, já é exercício de cidadania”. De
acordo com Tiba (1996, p. 165), o aluno que não respeita os outros precisa ser educado ou ser
tratado. O que deve ser considerado é que os problemas “de convivência” abrolharão sempre,
porém o importante não é só evitá-los, mas manejá-los de maneira educativa.
Da mesma forma Groppa (1996, p.46) enfatiza que:
[...] a estruturação escolar não poderá ser pensada apartada da familiar. Em verdade,
são elas as duas instituições responsáveis pelo que se denomina educação num
sentido amplo. Só que o processo educacional depende da articulação destes dois
âmbitos institucionais que não se justapõem. Antes, são duas dimensões que, na
melhor das hipóteses, complementam-se, articulam-se.
Portanto, é necessário e urgente que sejam criados mecanismos de formação e
aperfeiçoamento do “novo profissional” da área educacional, para que ele possa perceber e
mediar às situações indisciplinares juntamente com a equipe escolar, pois o educador é o
primeiro sujeito a vivenciá-las em sala de aula.
Há alguns autores que busca entender a indisciplina a partir do seu avesso, a
disciplina, que deriva do latim disceree significa aprender, discípulo. De acordo com o
Minidicionário de Língua Portuguesa de HOUAISS (2009, p. 253), o termo disciplina refere-
se à “obediência ás regras e aos superiores; ordem, bom comportamento; método,
regularidade; ramo do conhecimento, matéria”.
Na escola o termo disciplina implica em outra ideia, estabelecida em uma ordem fixa e
imutável de procedimentos comportamentais relacionados ao ensino-aprendizagem das
diversas ciências, artes e outras áreas da cultura.
A partir da investigação da pesquisa realizada e da aplicação de questionário aos
sujeitos efetivados ao objetivo comum, elaborou-se a análise, identificação de situações
problemas e a busca de recursos coletivos que implicam em modificação, abrangência e
concepção respectiva a dificuldade indisciplinar.
O estudo tem se efetivado desde o mês de dezembro envolvendo os funcionários do
Colégio Estadual “DOM ALANO” por meio da indagação e reflexão do tema indisciplina,
onde se salienta que esse problema na escola é grave e angustiante.
Após a realização de reuniões, debates e leituras específicas ao tema abordado foi
assumida diante do problema detectado uma nova postura, ou seja, a indisciplina passou a ser
reconhecida como um aviso, uma maneira de alertar que “alguma coisa” não está indo bem na
escola, mais precisamente na sala de aula que é considerada um espaço de múltiplos
significados, alguns já definidos e outros a serem construídos, pois segundo Freller (2002, p.
18): “por trás de uma guerra de papel, pode estar problemas psíquicos ou familiares. Ou um
aviso de que o estudante não está integrado ao processo de ensino aprendizagem”.
3. Estratégia metodológica e procedimento
A instituição escolhida como Universo da Pesquisa é o Colégio Estadual “DOM
ALANO”, localizado no centro da cidade de Peixe - TO, pois tem apresentado dificuldades
em lidar com a questão disciplinar.
Dos 526 (quinhentos e vinte e seis) alunos, a pesquisa constou com uma amostra de 6
representantes de pais, 5 (cinco) professores cuja média de idade é de 30 (trinta anos), todos
da rede pública estadual, 35 (trinta e cinco) alunos da série final do Ensino Fundamental (9º
Ano A), na faixa etária entre 12 e 14 (doze e catorze) anos. Esse quantitativo de professores
foi escolhido porque somente eles têm carga horária completa na Unidade Escolar, sendo que
os demais ministram apenas algumas aulas e nem sempre lecionam nessas turmas.
Como forma de auxiliar todo o trabalho foi realizada uma revisão bibliográfica sobre o
tema indisciplina na sala de aula, a fim de subsidiar o método pesquisa-ação propagado, onde
o participante é conduzido à produção do seu próprio conhecimento, tornando-se sujeito dessa
produção, ou seja, torna-se um investigador. Este procedimento aponta e encaminha a
elaboração de diagnósticos, identificação de dificuldades e saídas coletivas dos problemas
deparados.
A pesquisa-ação foi realizada in loco, através de programadas reuniões sendo utilizada
para a coleta de dados a aplicação de questionário com os sujeitos institucionais, ou seja,
alunos, professores, precedidos por sessões de observações no âmbito escolar.
Os encontros sempre foram iniciados com uma oração, as boas vindas aos presentes e
uma dinâmica ou mensagem, seguida por reflexão. Após as ponderações do grupo era
apresentado o tema do encontro, com posterior discussão sobre o assunto arrolado. Para o
final ficava uma questão para reflexão em casa, a qual era abordada no encontro seguinte.
Tais reuniões foram realizadas mensalmente, com previsão aproximada de 50
(cinquenta) minutos de duração cada uma, com a participação dos 5 (cinco) professores
regentes da referida classe, juntamente com a pesquisadora.
Contudo, o primeiro encontro foi estrategicamente planejado e realizado na sala da
Biblioteca Escolar intitulado como Formação Continuada em Serviço e estiveram reunidos:
equipe escolar, diretora, professores, estagiárias do curso EAD de Inglês e alguns
Conselheiros Escolares para a exposição do Projeto de Pesquisa real. Todos os presentes
acolheram plenamente tal Projeto, reconhecendo sua importância e necessidade.
Para esta primeira oportunidade, a pesquisadora convidou a psicóloga e palestrante
Maria Miranda Menegon, a qual trouxe ao grupo uma dinâmica intitulada “quebra gelo” e,
iniciou seu diálogo expondo sobre a psicologia cognitiva e comportamental que pode
desempenhar um fundamental papel auxiliando o educador em situações de indisciplina.
Mas, segundo a Sra. Maria Miranda as técnicas comportamentais ou cognitivas
dependerão da personalidade do aluno, da gravidade da situação e das características da
turma. Não existindo “receitas prévias” que possibilitem determinar quais devam ser
utilizadas, caberá ao educador, conhecedor da turma e de cada um de seus membros em
particular, usá-las convenientemente num espaço complexo como a sala de aula, um lugar de
acontecimentos e de (des) encontros permanentes e complexos. Assim, o educador deverá
sempre optar por considerar a sala de aula um espaço de diálogo, de vivência e de
convivência.
No segundo encontro do grupo, reuniram-se em horário das horas atividade apenas a
pesquisadora com os 5 (cinco) específicos professores participantes da investigação. Desse
modo, retomamos o assunto da reunião anterior, chegando a um consenso de que, embora haja
evidências de que os agentes externos têm grande influência sobre os comportamentos
indisciplinares, este é o aluno que temos e é com ele que temos que trabalhar.
É lógico que trazer a família para participar da vida escolar dos filhos é um trabalho
que deve ser realizado com persistência. Porém, precisamos ir além das lamentações e eterna
busca de culpados. Sendo assim, neste encontro debatemos a questão das percepções sobre
disciplina e indisciplina escolar e a transferência da função educativa da família para a escola,
além dos aspectos contraditórios sobre os conceitos de autoridade e autoritarismo.
Um ponto focado unanimemente foi que o aluno disciplinado de hoje não é mais
aquele que entra mudo e sai calado da sala. Mas, disciplinado é o aluno que se envolve de
maneira ativa nas atividades que são propostas pelo professor. Foi distribuído aos professores
um questionário para os mesmos responderem.
Como o ambiente escolar é um espaço de relações sociais e de trocas, no dia seguinte
pela manhã, foi apresentado e aplicado como instrumento para coleta de dados na escola
campo o questionário aos alunos da “sala piloto” (9º Ano A). No período vespertino
realizamos uma reunião com os pais de tais alunos evidenciando o projeto de pesquisa
denominado Indisciplina na sala de aula revelando aos mesmos o enriquecer do fazer
pedagógico e a finalidade desse trabalho.
No terceiro encontro foi realçada a importância da participação dos pais na vida
escolar de seus filhos desde o momento que deles se prepararem para se dirigirem a escola,
até o acompanhamento dos deveres escolares e de estudo em suas residências. O fundamento
da reunião brotou da necessidade reflexiva em relação à disciplina e a organização das
atividades em sala de aula bem como estabelecer a diferença existente entre autoridade e
autoritarismo escolar mediante a estruturação de regras claras.
Vale ressaltar ainda que desde a coleta dos dados houve utilização de uma
abordagem qualitativa para a análise das informações por meio da técnica de triangulação
visto que a Indisciplina não ocorre isoladamente. Assim, as respostas foram analisadas
revelando os pontos divergentes e convergentes entre os três grupos de sujeitos: alunos,
professores e pais com vistas a colaborar no enfretamento da questão indisciplinar.
4. Concepções de indisciplina
A análise dos dados foi realizada após a leitura de todos os questionários. Estes foram
separados mediante as relações de definições em função da convergência dos conceitos dos
participantes do estudo. Desse processo de análise emergiram três categorias as quais se
encontram relatadas a seguir.
4.1. Percepções disciplinares: visão dos docentes
O questionário dos professores foi dividido em 3 (três) etapas. Na primeira etapa de
perguntas, 60% (sessenta por cento) dos docentes admitiram que a indisciplina interfere no
adequado desenvolvimento de suas aulas e que as normas e regulamentos escolares são
expostos claramente aos alunos. Em relação a aulas serem interessantes e bem planejadas
60% dos educadores afirmaram que às vezes elas são, sendo que apenas 40% (quarenta por
cento) dos professores afirmaram que sim.
Na segunda etapa de perguntas 40% (quarenta por cento) dos professores afirmaram
que seus alunos raramente participam de suas aulas, deixando de cumprir com suas atividades
em sala de aula, outros 40% (quarenta por cento) afirmaram que os alunos participam
simplesmente quando o professor convoca e 20% (vinte por cento) dos professores afirmaram
que os alunos participam ativamente apenas durante as aulas.
A terceira etapa continha perguntas abertas e os professores deveriam indicar melhoras
em suas aulas visando à aprendizagem em sala de aula. Sobre essa percepção, 20% (vinte por
cento) dos professores afirmaram que deveria ocorrer maior envolvimento da família nas
atividades propostas para os alunos, outros 20% (vinte por cento) haver mais rigidez da
direção diante das normas propostas para os alunos indisciplinados, 40% (quarenta por cento)
dos educadores questionados responderam a respeito da redução do número de alunos na
turma, e um percentual de 20% (vinte por cento) de professores disseram que deveria vigorar
as regras existentes para os trinta e cinco alunos frequentes.
Na coleta de dados obtidos por meio do questionário aplicado aos professores ficou
evidenciada a necessidade de algumas adequações para minimizar os problemas originados: a
necessidade de um planejamento mais ordenado, identificação/envolvimento do docente com
a disciplina, segurança e clareza em relação ao que deve ser realizado.
4.2. Percepções disciplinares: visão dos discentes
O questionário dos alunos foi dividido em 2 (duas) fases (uma feminina: fase A, e
outra masculina: fase B) e cada uma delas dividida em 3 (três) partes. O referido trabalho
conta com 35 (trinta e cinco) alunos compondo o seu universo de pesquisa, ou seja, o 9º Ano
“A”.
A primeira parte do trabalho versa a respeito das integrantes que compõem a fase A,
sexo feminino, perfazendo um total de 21 (vinte e uma) alunas, totalizando 60% (sessenta por
cento) da sala de aula. Destas apenas uma possui idade acima de 14 (catorze) anos,
representando 4,76% (quatro vírgula setenta e seis por cento) do grupo analisado. Dessa
forma são 95,23% (noventa e cinco vírgula vinte e três por cento) de alunas que estão na faixa
etária entre os 12 (doze) e 14 (catorze) anos.
Os integrantes que compõem a fase B, sexo masculino, totalizam 14 (catorze) alunos,
totalizando 40% (quarenta por cento) da sala de aula. Destes apenas um possui idade acima de
14 (catorze) anos, representando 7,14% (sete vírgula catorze por cento) do grupo observado.
Assim, são 92,85% (noventa e dois vírgula oitenta e cinco por cento) de alunos
compreendidos na faixa etária entre os 12 (doze) e 14 (catorze) anos.
A segunda parte do trabalho constou com 9 (nove) perguntas, sendo tabuladas
mediante as respostas evidenciadas. Nas questões 1 (um) e 2 (dois) quando as alunas foram
questionadas se já receberam advertências disciplinares 6 (seis) delas, ou seja, 28,56%
afirmaram positivamente, assim distribuídos os motivos: 2 (duas) o que corresponde a 9,52%,
não conseguiam ficar quietas em sala de aula, 2 (duas) também corresponde a 9,52% estava
sempre distraída, 1 (uma) 4,76% das alunas reagia violentamente quando eram procuradas e 1
(uma), 4,76% das educandas mostrava-me desinteressada.
Em relação às advertências disciplinares 2 (dois) alunos já foram advertidos
verbalmente e posteriormente por escrito pelos motivos a seguir: “não conseguia ficar quieto” e
“estava quase sempre distraído”, consequentemente provocando bagunça na sala de aula.
Quadro1: Diferentes graus de indisciplina feminina (fase A) e masculina (fase B).
QUESTÕES
1– Nada grave 2 – Pouco grave 3 – Grave 4 – Muito grave
F
fase A
M
fase B
F
fase A
M
fase B
F
fase A
M
fase B
F
fase A
M
fase B
Falar em voz alta;
Percentual (%)
5
23,8
1
7,14
7
33,33
9
64,28
6
28,57
2
14,28
3
14,28
2
14,28
Trocar mensagens e
papeizinhos
Percentual (%)
2
9,52
1
7,14
11
53,38
3
21,42
6
28,57
8
57,14
2
9,52
2
14,28
Zombar os colegas
Percentual (%)
1
4,76
-
-
1
4,76
-
-
5
23,8
4
28,57
14
66,66
10
71,42
Zombar o (a) professor
(a);
Percentual (%)
-
-
-
-
3
14,28
-
-
5
23,8
3
21,42
13
61,9
11
78,5
Fazer perguntas pouco
adequadas às aulas;
Percentual (%)
2
9,52
-
-
9
42,85
6
42,15
8
38,09
7
50
2
9,52
1
7,14
Não acatar as ordens
do (a) professor (a);
Percentual (%)
1
4,76
-
-
4
19,04
2
14,28
11
52,38
9
64,28
5
21,8
3
21,42
Recusar-se a fazer os
deveres escolares;
Percentual (%)
-
-
-
-
3
14,28
3
21,42
10
47,61
4
28,57
8
38,09
7
50
Agredir os colegas
Percentual (%)
-
-
-
-
1
4,76
1
7,17
1
4,76
21
14,28
19
90,47
11
78,57
Agredir o (a)
professo(a)
Percentual (%)
-
-
4
28,57
-
-
-
-
1
4,76
-
-
20
95,23
10
71,42
Legenda: 1- Nada grave; 2- Pouco grave; 3- Grave; 4- Muito grave;F – Feminino (fase A); M – Masculino
(fase B).
Fonte: Pesquisa direta, MORAES, 2011.
A partir das respostas obtidas a respeito do grau de gravidade indisciplinar
apresentadas pelas alunas, observou-se uma variação considerável entre as respostas conforme
consta no Quadro 1.
Em relação às estratégias de combate a indisciplina na sala de aula utilizada pela
escola às alunas poderiam escolher duas opções das que lhe foram disponibilizadas, e todas
(100%) afirmaram que são realizadas palestras e reuniões com a presença de pais, equipe
gestora e alunos; 85,71 % opinaram sobre a promoção de jogos esportivos; 90,47%
ressaltaram a realização de gincana pedagógica; 95,23 % frisaram serem os combinados
realizados em sala de aula; 80,95% admitiram que a indisciplina diminui quando há
intervenção do professor (padrinho de sala) e 90,47% destacaram os encaminhamentos dos
alunos para o serviço de orientação educacional ou coordenação pedagógica.
Neste item os alunos (fase B) pontuaram um quantitativo de 100% as reuniões com a
presença de pais, equipe gestora e alunos, bem como, o encaminhamento do aluno para a
coordenação pedagógica; 92,85% frisaram os jogos esportivos; 85,71% ressaltaram as
palestras realizadas e a gincana pedagógica; 78,57% opinaram sobre os combinados
realizados em sala de aula e o acompanhamento da turma por um professor (padrinho de sala).
Semelhantemente em relação às medidas adotadas pela escola segundo as respostas
das alunas nos processos disciplinares observa-se que a instituição escolar adotou um número
considerável de suspensões. Igualmente estimáveis foram os percentuais referentes às
repreensões verbais e escritas. Nota-se ainda, que os combinados de sala de aula são pouco
considerados, assim como, a taxa dos que não sabiam ou não quiseram opinar.
Gráfico 1: Medidas disciplinares adotadas pela escola segundo as alunas
Fonte: Pesquisa direta, MORAES, 2011.
Em relação a este mesmo item 64,28% dos alunos indicaram como processo
disciplinar mais adotado na instituição escolar é a repreensão verbal, enquanto 14,28% relatou
ser a repreensão escrita e a suspensão e com 7,14% ressaltaram os combinados de sala.
Vale ressaltar que todas as alunas (100%) foram unânimes em afirmar que concordam
com as medidas disciplinares adotadas pela escola. Em relação à suspensão escolar como a
melhor maneira de se controlar a indisciplina depois de esgotadas todas as opções anteriores e
legais, 85,71% das alunas concordam, enquanto que 14,28% discordam pelos seguintes
motivos alegados: “o aluno acha bom ficar em casa sem ter que vir a escola” (A1), “às vezes
conversar vale mais que um castigo” (A4), “às vezes não adianta nada” (A11).
Houve uma variação nas respostas dos alunos quando foi tratado o quesito que arrolou
as medidas adotadas pela instituição em favor da disciplina escolar, com 78,57% dos alunos
concordaram; 14,28% não aceitaram tais medidas e 7,14% responderam sim e não (não
tinham opinião a respeito), alegando “que a escola deve ter rigidez nesta parte”.
A respeito da suspensão escolar como a melhor maneira de se controlar a indisciplina
depois de esgotadas todas as opções anteriores e legais eles, 64,28% dos alunos, admitiram
que sim, sendo que 35,71% não concordam em virtude dos motivos: “porque não resolve”
(A4), “muitos alunos levariam tantas suspensões que acabariam por ser expulsos” (A6), “é
muito pouco, deveria ter mais expulsões” (A30), “o aluno fica em casa e nada se resolve” (a
25), “porque diminui o rendimento” (A18).
A terceira parte do trabalho constou com 5 (cinco) perguntas. Em relação à
indisciplina intervir no adequado desenvolvimento da sala de aula 85,71% das alunas
concordam e 14,28% não aceitam tal afirmação. De acordo com as normas escolares se são
23,8%
23,8% 38,09%
4,76%
9,52%
repreensão verbal
repreensão escrita
suspensão
combinados de aula
não
claras 90,47% das alunas alegaram que sim e 9,52% negaram. Ao serem questionadas se as
aulas são bem interessantes e bem planejadas 23,8% concordam que sim e 76,19 afirmam
negativamente. Nas questões abertas os participantes puderam de dar mais de uma resposta,
por isso, na apresentação dos resultados alguns números não fecham em 100%.
Nesta mesma fase do estudo desenvolvido quando indagadas sobre suas participações
nas aulas 33,33% responderam que realizam todas as atividades; 19,04% opinaram que
raramente cumprem com suas atividades em sala de aula; 14,28% relataram que participam
ativamente simplesmente quando o professor as convoca; 28,59% declararam que participam
ativamente apenas durante as aulas; 4,76% alegaram que participa ativamente além de auxiliar
seus colegas.
Com base nas respostas do questionário aplicado aos alunos nota-se o quanto que os
adolescentes carecem de orientações claras a respeito de suas mudanças comportamentais a
fim de se conseguir reverter o quadro indisciplinar de sala de aula, o qual revela falta de
maturidade e respeito nas relações interpessoais.
E, quando indagados a respeito de como as aulas podem se melhoradas para se atingir
uma aprendizagem adequada responderam conforme o Quadro 2 a seguir atesta.
Quadro 2: Sugestões das alunas para que as aulas sejam melhoradas e atinjam uma aprendizagem
adequada
fase A e
fase B
Sugestões dadas pelos alunos
F1 M1
Aulas mais divertidas têm dias que são chatas. Maior participação dos alunos.
F2 M2
Aulas mais alegres e com gincanas interdisciplinares. Aulas com mais dinâmicas.
F3 M3
Havendo colaboração dos alunos, diálogo entre professor e aluno. Mais educação dos alunos e comando dos professores.
F4 M4
Professores mais educados e aulas com gincanas. Mais participação dos alunos.
F5 M5
Separando alguns alunos que conversam muito. Melhorar a bagunça do fundo da sala.
F6 M6
Mais amizade ente alunos e professores. As aulas estão boas, basta a gente estudar.
F7 M7
Melhorar a conversa na sala. Acabar com a conversa na sala.
F8 M8
Parar as conversas paralelas. Mais atividades físicas.
F9
M9
Cooperação dos alunos na hora da explicação do professor; Professores mais
abertos. Mais aulas práticas.
F10 M10
Professores com mais autoridade na sala. Separa os mal educados num canto da sala.
F11 M11
Professores mais atentos ao afirmar quem está conversando. Maior participação dos alunos.
F12 M12
Maior participação dos professores e interesse dos alunos. Mais educação dos alunos e comando dos professores.
F13 M13
Mais atitudes dos professores; Silêncio na sala. Acabar com a conversa na sala.
F14 M14
Aulas práticas; Filmes relacionados aos conteúdos, Mais educação dos alunos e comando dos professores.
F15 Professores interagindo mais com os alunos; Organização das filas. F16 Organização.
F17 Professores com mais experiência.
F18 Professores melhor preparados.
F19 Professores conversarem mais com a gente e mais educados.
F20 Professores com maior controle da sala; Melhor comportamento dos alunos. F21 Professores mais legais, pacientes, que saibam conversar com os alunos e tratá-
los com educação (nem todos tratam os alunos com educação). Legenda: F – Feminino (fase A – 21 alunas); M – Masculino (fase B – 14 alunos). Fonte: Pesquisa direta, MORAES, 2011.
A fundamentação dos resultados foi realizada diante a contribuição de 100% (cem por
cento) do corpo docente e discente presentes no momento de aplicação do questionário. Tais
respostas evidenciam que os docentes e os discentes apresentam a mesma percepção sobre
indisciplina e tanto um como outro acham que ela interfere no processo de ensino e
aprendizagem, no relacionamento professor-aluno e aluno-aluno.
Para uma minoria da clientela masculina que representa um percentual de 7,14% (sete
vírgula catorze por cento), a indisciplina não interfere no processo ensino aprendizagem e
nem nos relacionamentos escolares. Tais alunos justificam seu parecer dizendo que “o
aprendizado é individual”.
Observando a relação estabelecida entre a indisciplina e o processo ensino
aprendizagem nota-se que todos os professores participantes do estudo, reconhecem que a
indisciplina interfere no processo educativo.
Em relação aos alunos distingue-se que a grande maioria considera a indisciplina
como a geradora de maiores prejuízos, dificultando o aprendizado do aluno, o desempenho do
professor e interferindo nas relações estabelecidas entre eles.
4.3. Percepções disciplinares: visão dos pais/responsáveis
O questionário pertinente aos pais/responsáveis foi dividido em 3 (três) fases, a
primeira constituída por perguntas, os indagavam se: a indisciplina intervêm no
desenvolvimento das aulas, os regulamentos e normas escolares são claros, e quais
comentários seus filhos fazem em relação às aulas serem planejadas e interessantes Conforme
atesta o Quadro 3.
Quadro 3: Respostas dos pais/responsáveis
PERGUNTAS REALIZADAS % DAS RESPOSTAS OBTIDAS SIM NÃO ÀS VEZES
OUTRAS
A indisciplina intervém no desenvolvimento das
aulas?
67 16 17 -
Os regulamentos e normas escolares são claros? 100 - - -
Seus filhos consideram aulas ministradas
planejadas e interessantes?
50 - 50 -
A conversa durante as aulas incomoda seu filho(a)? 50 - - -
Seu filho comenta sobre brigas e discussões,
obscenidade e palavrões, além de falta de respeito
com o professor?
50 - - -
Fonte: Pesquisa direta, MORAES, 2011.
A segunda fase de perguntas visou questionar os pais a respeito da participação de seu
filho na escola, e 100% (cem por cento) deles responderam que os educandos não só
participam totalmente como realizam todas as atividades propostas para casa.
Tal fato não condiz com a realidade, pois se constata grande omissão familiar na
escola (segundo foi revelado por meio das respostas obtidas) e em relação aos afazeres
determinados pelos educadores aos quais têm sugerido aos pais que pelo menos determine um
horário fixo de estudo em casa. Segundo Parolim (2007, p. 69) o educando tem que se
assenhorear que, “possui compromissos e necessita aprender a realizá-los”.
Na terceira fase de perguntas, os pais puderam sugerir mudanças no processo escolar e
foi constatado por meio das respostas obtidas que os professores precisam melhorar o modo
de tratar seu aluno, ter mais domínio da sala de aula e do conteúdo (em casos específicos dos
recém-contratados), dinamizar as aulas, decrescer o número de alunos por sala.
5. Propostas para intervenção
A escola pública não tem desenvolvido uma ação integradora dos alunos por se
mostrar despreparada em relação aos múltiplos problemas (e de graves proporções) que tem
enfrentado prejudicando o ensino aprendizagem e a construção de uma escola com boa
qualidade.
Para tanto, devemos discutir e propor estratégias que sanem tal dificuldade, por meio
da contratação de profissionais capacitados e preparados para o exercício pedagógico junto
aos professores e demais educadores.
5.1. A relação estabelecida entre indisciplina e o processo ensino aprendizagem
Quase todos os envolvidos na pesquisa (com exceção de pouquíssimos alunos)
reconheceram que a indisciplina interfere no processo escolar prejudicando o seu fluir, pois
sem disciplina perde-se tempo, ocorrendo abalos na relação professor/aluno, desgaste físico e
emocional dos envolvidos.
Um fator mencionado como gerador de indisciplina foi à conversa paralela em sala de
aula (100% dos alunos e professores admitiram) que termina por motivar falta de educação e
bagunça prejudicando a atenção dos alunos; 37,14% das respostas obtidas nos questionários
aplicados revelam que tais fatores prejudicam o bom desenvolvimento dos alunos que não
ficam atentos à explicação do professor.
O percentual de 14,28% das respostas obtidas desponta que se faz necessário o
professor ter mais atitude em sala de aula estabelecendo um inesgotável diálogo com os
educandos e para 5,71% dos alunos o professor precisa ser mais preparado para exercer o
ofício da função. Vale ressaltar que este percentual deve-se ao fato da posse de professores
novatos assumirem recentemente as salas de aulas.
Em função desse motivo obteve-se um percentual de 2,85% de respostas evidenciando
que os professores devem ser mais atentos ao se manifestarem em sala, o mesmo quantitativo
foi confirmado em relação aos professores serem mais acessíveis.
De acordo com os elementos coletados e apresentados na análise dos dados, foram
mencionadas algumas sugestões, tais como: necessidade de revisão de alguns métodos de
ensino a serem aplicados de maneira significativa utilizando dinâmicas específicas, jogos
pedagógicos, gincanas, intensificar aulas no Laboratório de Informática (LABIN), Palestras
Educativas visando à relação professor-aluno.
6. Conclusão
Um dado interessante que emergiu da pesquisa diz respeito à maneira de tratar a
disciplina, pois ao mesmo tempo em que os alunos pedem que haja diálogo e compreensão
por parte dos professores, eles mudam sua versão e reclamam das normas e medidas tomadas,
além de indicá-las como maneira para refrear a indisciplina.
Alguns docentes afirmaram que trabalham mediante os combinados estabelecidos em
sala de aula. Neste sentido, a literatura colabora para sugerir caminhos para que o educador
consiga sustentar a disciplina atuando com flexibilidade e como mediador do conhecimento.
As evidências desse estudo confirmam a percepção de que a indisciplina intervém
negativamente no processo ensino aprendizagem, bem como o ajustamento do ambiente de
sala de aula às necessidades e interesses vinculados à realidade dos alunos, sem esquecer as
necessidades de planejamento e condições apropriadas ao trabalho docente, possibilitando
influências mútuas saudáveis e motivadas entre todos os sujeitos envolvidos.
Outra particularidade destacada pelos autores pesquisados foi a dos pais/responsáveis,
os quais desempenham uma ação importantíssima em relação à vida escolar de seus filhos,
incentivando-os antes mesmo de saberem reunir e interpretar os símbolos, desta forma,
percebe-se também que a família complementa o processo educacional dos alunos.
Em relação ao questionamento a respeito da responsabilidade dos comportamentos
indisciplinados, além do consenso chegado durante os encontros de professores com a
pesquisadora, observou-se que, em muitos casos, procedimentos de intervenção punitiva
foram, em parte, substituídos por trabalhos preventivos, como a adoção de ações
metodológicas diferenciadas, conscientização da turma quanto à necessidade da disciplina e
construção coletiva de regras de convivência em sala de aula.
Percebeu-se também uma significativa mudança na percepção de que a coordenadora
pedagógica é a única responsável pelas questões disciplinares, constatando-se a redução da
chamada da mesma em sala de aula para intervir em condutas indisciplinadas.
A turma, cujo projeto ainda encontra-se implantado, tem apresentado resultados
positivos em relação ao comportamento disciplinar nas aulas. Tal fato tem sido notado
mediante as observações realizadas na escola campo e depoimentos dos professores regentes,
pois compete a tais educadores estabelecer com seus alunos real afinidade, a fim ajudá-los na
superação de seus problemas contribuindo para a efetivação de uma aprendizagem escolar
qualitativa.
Referências
ALVES, Rubem. A Alegria de Ensinar. São Paulo: ARS Poética, 1994.
AQUINO, Julio Groppa. Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus,
1996.
_________. A indisciplina e a escola atual. Revista da Faculdade de Educação, São Paulo, v. 24, n.
181-204, jul. 1998a.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.
CURY. Augusto Jorge, Pais brilhantes, professores fascinantes /Augusto Cury, - Rio de Janeiro:
Sextante. 2003.
FURLANI, Lúcia Teixeira. Autoridade do professor: meta, mito ou nada disso? 5.
ed. São Paulo: Cortez, 1997.
FRELLER, Cíntia – In: Revista Nova Escola (jan/fev - 2002, Nº 149, p. 18).
GUZZONI, Margarida Abreu. A autoridade na relação educativa. São Paulo: Annablume, 1995.
HOUAISS, Antônio e Villar. Minidicionário de língua portuguesa de HOUAISS. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2009.
PAROLIN, Isabel Cristina Hierro. Pais e Educadores: quem tem tempo de educar? PortoAlegre:
Mediação, 2007.
PARRAT-DAYAN, Silvia. Como enfrentar a INDISCIPLINA na sala de aula. São Paulo:
Contexto, 2008.
PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul,
2000.
REGO, Teresa Cristina R. A indisciplina e o processo educativo: uma análise na perspectiva
vygotskiana. In: AQUINO, Julio G. (org). Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. 11ª
edição, São Paulo: Summus Editoria, 1996.
TAILLE, Yves de La. A indisciplina e o sentimento de vergonha. In: AQUINO, Júlio Groppa. (Org.)
Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas.São Paulo: Summus, 1996.
TIBA, Içami. Disciplina – Limite na medida certa. 8ª edição. São Paulo: Editora Gente, 1996.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Os desafios da indisciplina na sala de aula. São Paulo: Fde, 1997.
_________________________ (IN) Disciplina: Construção da disciplina consciente e
interativa em sala de aula e na escola. 15ª ed. São Paulo: Libertad Editora, 2004.
ZAGURY, T. Limites sem trauma: construindo cidadãos. 33ª ed. Rio de Janeiro: Record. 2001.