UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE …§ão mestrado - PÓS DEFESA.pdfF. magnificens...
Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE …§ão mestrado - PÓS DEFESA.pdfF. magnificens...
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
FACULDADE DE VETERINÁRIA
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA
MAGDA ANTONELLO TERRANA BEZERRA DE MELO BRITO
ESTUDO DE ECTOPARASITOS DE FRAGATAS (Fregata magnificens Mathews,
1914) PROVENIENTES DE CENTROS DE REABILITAÇÃO ANIMAL NO
LITORAL DO RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO – BRASIL
NITERÓI
2018
MAGDA ANTONELLO TERRANA BEZERRA DE MELO BRITO
ESTUDO DE ECTOPARASITOS DE FRAGATAS (Fregata magnificens Mathews, 1914)
PROVENIENTES DE CENTROS DE REABILITAÇÃO ANIMAL NO LITORAL DO RIO
DE JANEIRO E SÃO PAULO – BRASIL
Disertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Microbiologia e Parasitologia
Aplicadas da Universidade Federal Fluminense como
requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre.
Área de concentração: Parasitologia.
Orientadora: Prof. Dr. BEATRIZ BRENER DE FIGUEIREDO
NITERÓI
2018
MAGDA ANTONELLO TERRANA BEZERRA DE MELO BRITO
ESTUDO DE ECTOPARASITOS DE FRAGATA (Fregata magnificens Mathews, 1914)
PROVENIENTES DE CENTROS DE REABILITAÇÃO ANIMAL NO LITORAL DO RIO
DE JANEIRO E SÃO PAULO – BRASIL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Microbiologia e Parasitologia
Aplicadas da Universidade Federal Fluminense como
requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre.
Área de concentração: Parasitologia.
Aprovado em fevereiro de 2018.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________________
Profa. Dra. PATRÍCIA RIDDELL MILLAR
Universidade Federal Fluminense
_____________________________________________________________________
Prof. Dr. RODRIGO CALDAS MENEZES
Fundação Oswaldo Cruz
______________________________________________________________________
Profa. Dra. TERESA CRISTINA BERGAMO DO BOMFIM
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
NITERÓI
2018
Dedico este trabalho à minha
família, principalmente aos meus
pais, irmãos, e primos que, com
muito carinho е apoio, não
mediram esforços para que eu
chegasse até aqui.
AGRADECIMENTOS
Agradeço inicialmente à minha família por ter me dado o suporte necessário para a conclusão
deste curso. Meu amor por vocês é inestimável.
Aos meus queridos animais que tornam meus dias mais alegres e não me deixam desanimar
quando as coisas não vão bem. Em especial ao Farrapo e à Bolha que me deixaram no decorrer
destes dois anos de mestrado. Vocês foram importantes para mim e estão guardados com
carinho nas minhas lembranças.
Aos meus amigos do mestrado, Cinthya Domingues, Juliana Dias, Robson Santos, Joylson de
Jesus e todos os outros que fizeram destes dois anos muito mais agradáveis e divertidos que o
normal. Obrigada por serem sempre animados e por “fazerem feira” na copa do Biomédico.
À Gleice Azevedo, por ser uma pessoa especial. Agradeço por estar sempre levantando o meu
astral e pelo apoio nas horas difíceis.
Ao Otto Lehmann, que esteve ao meu lado nas horas que chorei e nas horas que sorri, nas horas
que me lamentei nas horas que demonstrei total alegria.
À minha querida orientadora, Dra Beatriz Brener, pelo suporte, apoio е confiança, pelas suas
correções e incentivos, sempre de maneira gentil, porém firme. Muito obrigada por ser essa
ótima orientadora e pessoa maravilhosa.
À Profa Dra Daniela Leles pela paciência e dedicação em me ensinar passo a passo os
procedimentos da Biologia molecular.
Ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres, ao Jeferson Pires e todos que me auxiliaram
nas coletas e me responderam de bom grado todas as tantas vezes que perguntei se havia
chegado fragata.
Ao Instituto Argonauta e todos os veterinários, biólogos e funcionários que fizeram as coletas
para mim de bom grado, mesmo estando fora da rotina de trabalho deles.
Aos bolsistas de iniciação científica do programa pibic, Eduardo e Mariana por terem me
ajudado tanto durante esses dois anos nas coletas e no processamento das amostras. Não sei o
que teria feito sem a ajuda de vocês.
À Elisa Pucu pela paciência em me explicar e me auxiliar no processamento dos piolhos na
biologia molecular.
Ao Programa de Pós Graduação em Microbiologia e Parasitologia Aplicadas, pela oportunidade
do mestrado e pela bolsa concedida através da Capes.
“Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o
mar seria menor se lhe faltasse uma gota”.
Madre Teresa de Calcutá
RESUMO
As aves marinhas são reservatórios naturais de patógenos, podendo favorecer o transporte
destes para locais distantes. Agentes infecciosos e parasitários exercem pressões ecológicas e
evolutivas importantes sobre seus hospedeiros. Grandes populações de aves marinhas e
migratórias agregadas podem tornar o ambiente que ocupam favoráveis ao desenvolvimento de
parasitoses. A Família Fregatidae Deglang & Gerbe, 1840 possui cinco representantes dentro
do gênero Fregata. No Brasil temos a ocorrência de três espécies, Fregata. minor, Fregata.
ariel e Fregata. magnificens, sendo esta última a mais abundante e presente em toda a costa
brasileira. Os estudos de parasitos em aves marinhas são escassos, principalmente os de
identificação taxonômica. Este estudo teve por objetivo avaliar a ocorrência de ectoparasitos de
F. magnificens (Aves: Suliformes: Fregatidae) residentes no litoral do Rio de Janeiro e São
Paulo, recolhidas por centros de reabilitação. Foram estudados 15 exemplares de F. magnificens
que chegaram ao Centro de Reabilitação e Triagem de Animais Aquáticos (CRETA) em
Ubatuba - SP e ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) em Vargem Pequena
- RJ. A coleta dos ectoparasitos foi efetuada através do uso de talco ectoparasiticida. A
morfometria permitiu a identificação de três espécies distintas de piolhos mastigadores, duas
pertencentes à subordem Amblycera (Fregatiella aurifasciata e Colpocephalum spineum) e
outra à subordem Ischnocera (Pectinopygus fregatiphagus). Não se registrou qualquer outro
artrópode nos animais utilizados nas coletas. Com este estudo relatamos pela primeira vez no
Brasil a presença das espécies F. aurifasciata e C. spineum e a primeira ocorrência no Rio de
Janeiro da espécie P. fregatiphagus. Os resultados obtidos contribuirão para um melhor
atendimento das Fragatas que chegam a centros de reabilitação e para um diagnóstico
diferenciado em relação a possíveis patologias envolvendo estes animais, auxiliando assim na
ecologia e conservação das espécies e ecossistemas brasileiros.
Palavras-chave: Piolho, Aves marinhas, Amblycera, Ischnocera
ABSTRACT
Seabirds are natural reservoirs of pathogens, and may favour the transport of these to distant
sites. Infectious and parasitic agents exert significant ecological and evolutionary pressure on
their hosts. Large aggregated seabird and migratory bird populations can make the environment
they occupy conducive to the development of parasitic diseases. The Family Fregatidae
Deglang & Gerbe, 1840 has five species within the genus Fregata. In Brazil we have an
occurrence of three species, Fregata minor, Fregata ariel and Fregata magnificens, the latter
being the most abundant and present in the entire Brazilian coast. Studies of parasites in seabirds
are scarce, especially those of taxonomic identification. The objective of this study was to
evaluate the occurrence of ectoparasites of F. magnificens (Aves: Suliformes: Fregatidae) living
on the coast of Rio de Janeiro and São Paulo, rescued by wild animal rehabilitaton centers.
Fifteen specimens of F. magnificens were studied, which arrived at the Center for Rehabilitation
and Triage of Aquatic Animals (CRETA) in Ubatuba - SP and the Wild Animals Rehabilitation
Center (CRAS) in Vargem Pequena - RJ. The ectoparasites were collected through the use of
ectoparasiticide talc. Morphometry allowed the identification of three distinct species of
chewing lice, two belonging to the suborder Amblycera (Fregatiella aurifasciata and
Colpocephalum spineum) and another to the suborder Ischnocera (Pectinopygus fregatiphaus).
No other arthropod was registered in the animals used in this study. With this study, we report
for the first time in Brazil the presence of the species F. aurifasciata and C. spineum and the
first occurence in Rio de Janeiro of P. fregatiphagus. The results obtained will contribute to a
better care of frigatebirds arriving at rehabilitation centers and to a differentiated diagnosis to
possible pathologies involving these animals, thus helping in the ecology and conservation of
Brazilian species and ecosystems.
Keywords: Frigatebird, Louse, Seabirds, Amblycera, Ischnocera
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES ------------------------------------------------------------------- Pág 10
LISTA DE TABELAS --------------------------------------------------------------------------- Pág 12
1. INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------------------------------- Pág 13
2. REVISÃO DE LITERATURA ------------------------------------------------------------- Pág 15
2.1. AVES MARINHAS ----------------------------------------------------------------- Pág 15
2.2. FAMÍLIA FREGATIDAE E SUA MORFOLOGIA ------------------------------------- Pág 16
2.3. ECTOPARASITOS ------------------------------------------------------------------ Pág 21
2.3.1. PIOLHOS ------------------------------------------------------------------ Pág 22
2.3.1.1. ASPECTOS MORFOLÓGICOS GERAIS ----------------- Pág 22
2.3.1.2. COLONIZAÇÃO NO HOSPEDEIRO ---------------------- Pág 25
2.3.1.3. COEVOLUÇÃO PIOLHO-HOSPEDEIRO ---------------- Pág 27
2.3.2. HIPOBOSCÍDEOS ------------------------------------------------------- Pág 28
2.3.2.1. CLASSIFICAÇÃO E ASPECTOS MORFOLÓGICOS
GERAIS --------------------------------------------------------------------------- Pág 28
2.3.2.2. COLONIZAÇÃO NO HOSPEDEIRO E TRANSMISSÃO DE
AGENTES INFECCIOSOS ---------------------------------------------------- Pág 29
2.4. ECTOPARASITOS EM Fregata magnificens ----------------------------------- Pág 30
2.5. DIAGNÓSTICO DOS ECTOPARASITOS -------------------------------------- Pág 31
3. OBJETIVOS ------------------------------------------------------------------------------------ Pág 33
3.1. OBJETIVOS GERAIS -------------------------------------------------------------- Pág 33
3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ------------------------------------------------------- Pág 33
4. MATERIAL E MÉTODOS ------------------------------------------------------------------ Pág 34
4.1. LOCAIS DE COLETA -------------------------------------------------------------- Pág 34
4.2. MÉTODO DE COLETA ------------------------------------------------------------ Pág 35
4.3. PROCESSAMENTO DE AMOSTRAS ------------------------------------------- Pág 38
4.3.1. ESTUDO MORFOMÉTRICO EM MICROSCOPIA DE LUZ ----- Pág 38
4.3.2. DIAGNÓSTICO MOLECULAR --------------------------------------- Pág 39
5. RESULTADOS --------------------------------------------------------------------------------- Pág 42
5.1. DIAGNÓSTICO POR MICROSCOPIA DE LUZ ------------------------------ Pág 44
5.2. DIAGNÓSTICO MOLECULAR -------------------------------------------------- Pág 51
6. DISCUSSÃO ------------------------------------------------------------------------------------ Pág 58
7. CONCLUSÕES -------------------------------------------------------------------------------- Pág 66
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ---------------------------------------------------- Pág 67
9. ANEXOS ---------------------------------------------------------------------------------------- Pág 75
9.1 APROVAÇÃO DA COMISSÃO DE ÉTICA NO USO DE ANIMAIS DA
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ------------------------------------------------ Pág 75
9.2 AUTORIZAÇÃO PARA COLETA DE AMOSTRAS – INSTITUTO
ARGONAUTA ------------------------------------------------------------------------------------- Pág 76
9.3 AUTORIZAÇÃO PARA COLETA DE AMOSTRAS – CRAS --------------- Pág 77
9.4 FICHA PARA COLETA DE AMOSTRAS -------------------------------------- Pág 78
9.5 CERTIFICADO DE APRESENTAÇÃO DE TRABALHO NO XXV
CONGRESSO BRASILEIRO DE PARASITOLOGIA -------------------------------------- Pág 79
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Fragata (Fregata magnificens) macho com plumagem totalmente negra e saco gular
inflado de cor vermelha.
Fonte: https://www.allaboutbirds.org/guide/Magnificent_Frigatebird/id. ------------------ Pág 18
Figura 2: Fragata (Fregata magnificens) fêmea com plumagem do peito branca.
Fonte: https://www.allaboutbirds.org/guide/Magnificent_Frigatebird/id. ------------------ Pág 19
Figura 3: Fragata (Fregata magnificens) juvenil com cabeça e ventre brancos.
Fonte: http://www.darwinfoundation.org/datazone/checklists/5085/. ---------------------- Pág 19
Figura 4: Mapa representando em vermelho a distribuição de todas as espécies da família
Fregatidae.
Fonte: http://www.hbw.com/family/frigatebirds-fregatidae. --------------------------------- Pág 21
Figura 5: As quatro subordens de piolhos (Insecta: Phthiraptera), seus hospedeiros e relações
filogenéticas. Fonte: adaptado de SMITH, 2003. ----------------------------------------------- Pág 23
Figura 6: Esquema ilustrando algumas estruturas morfológicas dos piolhos mastigadores.
Fonte: adaptado de SMITH, 2001. --------------------------------------------------------------- Pág 24
Figura 7: Observação de ectoparasitos na plumagem da fragata antes do início da coleta. -- Pág 36
Figura 8: Fragata em recipiente plástico após aplicação de ectoparasiticida. ------------ Pág 37
Figura 9: Macho de Colpocephalum spineum (subordem Amblycera). A) Visão geral. Barra
lateral: 243,3 μm. B) Foco na cabeça para melhor visualização das estruturas. ------------ Pág 45
Figura 10: Fêmea de Colpocephalum spineum (subordem Amblycera). A) e B) Visão geral
mostrando variação de tamanho dos piolhos. Barra lateral: 243,3 μm. C) Foco em último tergito
para visualização das estruturas. D) e E) Foco em abdômen mostrando Tergito II com divisões
incompletas (setas vermelhas), diferentemente de demais tergitos, que apresentam divisões
completas (seta preta). ----------------------------------------------------------------------------- Pág 46
Figura 11: Fregatiella aurifasciata (subordem Amblycera). A) Visão geral da fêmea. Barra
lateral: 314,6 μm. B) Setas apontando para a constrição da antena entre o 3° e o 4° segmento.
C) Protórax apresentando uma barra de quitina transversal evidente e duas barras longitudinais
curvas em suas extremidades. D) Visão geral do macho. Barra lateral: 314,6 μm. -------- Pág 47
Figura 12: Pectinopygus fregatiphagus (Subordem Ischnocera). A) Visão geral do macho.
Barra lateral: 467,3 μm B) Setas apontando para apêndice no 3° segmento da antena do macho.
C) Visão geral da Fêmea. Barra lateral: 467,3 μm. --------------------------------------------- Pág 48
Figura 13: Eletroforese em gel de agarose a 2 % mostrando amplificações para os alvos COI e
EF-1ɑ de espécimes de piolhos de fragata (Fregata magnificens). Coluna 1 e 17: 100pb Ladder
(Ludwig). Colunas 2-11 amplificações para o alvo COI; coluna 2 (amostra 014-P1); coluna 3
(amostra 014-C1), coluna 4 (amostra 015-P1), coluna 5 (amostra 015-P2), coluna 6 (amostra
015-P3), coluna 7 (amostra 015-C1), coluna 8 (amostra 015-C2), coluna 9 (amostra 015-F1),
coluna 10 (controle negativo da extração) e coluna 11 (controle negativo da PCR). Colunas 12-
16, 18-21 e 29 amplificações para o alvo EF-1ɑ; coluna 12 (amostra 014-P1); coluna 13
(amostra 014-C1), coluna 14 (amostra 015-P1), coluna 15 (amostra 015-P2), coluna 16 (amostra
015-P3), coluna 18 (amostra 015-C2), coluna 19 (amostra 015-F1), coluna 20 (controle
negativo da extração), coluna 21 (controle negativo da PCR) e coluna 29 (amostra 015-C1).
Observação: Colunas 22-28 se referem a outro experimento, e nas colunas 30-32 nada foi
aplicado. --------------------------------------------------------------------------------------------- Pág 52
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Espécies de piolhos mastigadores já descritos na família Fregatidae. --------- Pág 30
Tabela 2: Descrição e codificação das amostras usadas no ensaio molecular. ------------ Pág 40
Tabela 3: Relação de fragatas (Fregata magnificens) analisados com separação por sexo,
motivo da reabilitação, presença ou não de outros animais no mesmo recinto e tempo em
cativeiro no momento da coleta dos ectoparasitos, provenientes do CRETA em São Paulo e do
CRAS no Rio de Janeiro no período de outubro de 2016 a outubro de 2017. -------------- Pág 43
Tabela 4: Espécies e quantidade de piolhos mastigadores coletados de 15 fragatas (Fregata
magnificens) provenientes do CRAS - RJ e do CRETA – SP no período de outubro de 2016 a
outubro de 2017, relacionadas de acordo com o hospedeiro e frequência de positividade de
piolhos nos animais. -------------------------------------------------------------------------------- Pág 49
Tabela 5: Espécies de piolhos mastigadores e quantidades mínimas, máximas e médias
encontradas em 15 fragatas (Fregata magnificens), provenientes do CRAS – RJ e do CRETA
– SP no período de outubro de 2016 a outubro de 2017. -------------------------------------- Pág 49
Tabela 6: Morfometria das espécies de piolhos encontradas, separados por machos e fêmeas,
relacionada com o descrito em literatura. ------------------------------------------------------- Pág 50
Tabela 7: Análise das sequências nucleotícidas obtidas para os alvos COI e EF-1ɑ de espécimes
de piolhos recuperados de fragata, comparando-se com as sequências depositada no Genbank
usando o parâmetro de maior similaridade. ----------------------------------------------------- Pág 53
13
1. INTRODUÇÃO
O parasitismo tem grande importância na ecologia e conservação das espécies e exerce
certa pressão evolutiva nas populações (LOYE; CARROL 1995). Os ectoparasitos acometem
uma vasta gama de espécies animais de todas as classes taxonômicas. Sua presença pode
ocasionar nos animais diversos processos patológicos, desde mudanças de comportamento,
alteração de pelagem ou plumagem, até lesões de pele, alterações reprodutivas, anemia e
enfraquecimento, além de serem potenciais vetores de doenças virais, bacterianas e mesmo
parasitárias (STORNI et al., 2005).
O ectoparasitismo é comumente observado em aves, não somente domésticas, mas
também silvestres. Diversos estudos discutem sobre a filogenia e taxonomia de ectoparasitos,
mas são poucos os trabalhos amplos realizados sobre a biologia e a ação destes em seus
hospedeiros silvestres (DAVIS et al., 1977). Os ectoparasitos encontrados em aves abrangem
uma diversidade de insetos e ácaros que muitas vezes infestam a pele, penas e vias aéreas de
seus hospedeiros, podendo ainda infestar os ninhos, sendo capazes de provocar nas aves um
estado grave de anemia e/ou stress, tornando estas mais suscetíveis ao desenvolvimento de
infecções secundárias (PHILIPS, 1990).
Estudos têm apontado em animais domésticos mortes por debilidade causadas por
pulgas, piolhos, carrapatos e moscas. Porém estes não são dados simples de se obter em animais
silvestres no seu ambiente natural, principalmente nas aves, já que estes animais muitas vezes
vivem em ambientes de difícil acesso e precisam ser capturados para a obtenção de tais dados
(DAVIS et al., 1977).
As aves marinhas são reservatórios naturais de patógenos importantes, podendo
favorecer o transporte destes para locais distantes (HUBÁLEK, 2004). O potencial de
transmissão de patógenos é aumentado nos períodos de reprodução, quando as aves marinhas
congregam-se em grande número e a transmissão horizontal de agentes etiológicos pode ocorrer
(SERAFINI; LUGARINI, 2014), inclusive podendo haver transmissão entre diferentes espécies
de aves que fazem seus ninhos nas mesmas ilhas (CAMPOS et al., 2004).
14
Os sítios de nidificação de diversas aves marinhas incluem a costa continental e
interior do continente, ilhas costeiras e ilhas oceânicas. Das 53 espécies de aves marinhas que
nidificam no Brasil, 20 (38%) o fazem exclusivamente em ilhas, como é o caso da Fregata
magnificens Mathews, 1914, que nidifica somente em ilhas oceânicas e costeiras (VOOREN;
BRUSQUE, 1999).
Os piolhos mastigadores, bem como os ácaros plumícolas (Acari: Acarina) são os
parasitos mais recorrentes em aves silvestres (VALIM et al., 2005). A Ordem Phthiraptera
atualmente é dividida em quatro subordens, cujos espécimes encontrados em aves estão restritos
à apenas duas subordens: Ischnocera e Amblycera (DAVIS et al., 1977; CATÃO-DIAS, 2003).
Estas duas subordens, anteriormente classificadas em conjunto como Subordem Mallophaga,
englobam todos os piolhos mastigadores, dentre os quais estão aqueles que têm como seu
hospedeiro as aves (CATÃO-DIAS, 2003).
Aves agregadas em locais de alta densidade são particularmente vulneráveis à
propagação de doenças, tanto por contato direto quanto pela contaminação de alimentos e fontes
de água por indivíduos doentes (RAPPOLE; HUBA’LEK, 2006).
Estas infestações e infecções podem levar os programas de manejo e recuperação de
animais silvestres ao insucesso, apenas devido ao desconhecimento de tais parasitismos ou
desconhecimento de formas eficazes de combatê-los.
Considerando a escassez de dados sobre ectoparasitos de aves marinhas publicados no
Brasil, informações adicionais sobre a presença e prevalência destes parasitos são necessárias
(VALIM et al., 2005).
15
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. AVES MARINHAS
As aves marinhas são naturalmente predadoras e necessitam de águas com abundância
de peixes e outros organismos para garantir sua sobrevivência e assegurar a reprodução. Por
isso, é comum encontrar estas aves em associação com cardumes de peixes (SCHREIBER;
BURGER, 2002).
Aves marinhas apresentam uma dinâmica um tanto diferente das demais espécies de
aves. São animais com uma expectativa de vida relativamente maior que as aves terrestres;
apresentam ninhadas de poucos filhotes (muitas vezes apenas um filhote por ninhada); passam
mais tempo chocando os ovos e alimentando seus filhotes e estes tem um crescimento mais
lento que os de aves não marinhas. Estes fatores provavelmente estão relacionados à falta de
predadores diretos sobre essas populações, o que permitiu a evolução das aves marinhas dessa
forma (SCHREIBER; BURGER, 2002).
Embora seja possível observar a presença de diversas espécies de aves marinhas na
costa continental brasileira, a maioria destas espécies passa longos períodos de suas vidas em
alto mar, em locais remotos. Isso torna o estudo destes animais um tanto difícil, envolvendo
grandes limitações (SCHREIBER; BURGER, 2002).
Mais de 96% das aves marinhas de todo o mundo são animais de colônia, ou seja, se
agregam em grandes grupos que podem variar de 150 a mais de 100.000 indivíduos dependendo
da espécie. Esse comportamento representa um componente importante na biologia e na
reprodução dessas aves (SHREIBER; BURGER, 2002).
As colônias de aves marinhas apresentam comportamento de resposta a mudanças
climáticas e do ambiente e podem ser importantes bioindicadores da produtividade das
atividades pesqueiras bem como da poluição dos oceanos (FURNESS; CANPHUYSEN, 1997).
Além disso, o comportamento gregário da grande maioria das espécies (colônias reprodutivas
da mesma ou de várias espécies no mesmo local) favorece a transmissão de doenças entre os
indivíduos. Por estas e outras características, as aves marinhas são consideradas sentinelas
16
importantes da saúde ambiental deste ecossistema (FURNESS; CANPHUYSEN, 1997;
SHREIBER; BURGER, 2002).
Agentes infecciosos e parasitários exercem pressões ecológicas e evolutivas
importantes sobre seus hospedeiros. Grandes populações de aves marinhas e migratórias
agregadas podem tornar o ambiente que ocupam favoráveis ao desenvolvimento de parasitoses.
Contudo a presença do parasito não resulta necessariamente em doença (SERAFINI;
LUGARINI, 2014). No entanto, a reutilização pelos animais do mesmo local reprodutivo todos
os anos pode levar ao acúmulo de um grande número de parasitos, como carrapatos e ácaros,
que também podem atuar como vetores de vírus e outros microorganismos (SHREIBER;
BURGER, 2002).
A maioria das aves marinhas vivem e constroem seus ninhos em locais relativamente
seguros de predadores mamíferos por serem, em sua maioria, inacessíveis a estes últimos.
Porém, o surgimento de atividades humanas bem como a introdução de mamíferos predadores
em regiões costeiras e oceânicas vem afetando diretamente as populações de aves marinhas,
gerando certa mortalidade de indivíduos, já que estes não evoluíram sob este tipo de pressão
ecológica (SCHREIBER; BURGER, 2002).
Um exemplo que pode ser citados é o do vison-americano (Mustela vison), introduzido
no Reino Unido, que causou grande impacto nas populações de aves marinhas da região,
principalmente em trinta-réis (Sterna sp.) e gaivotas comuns (Larus canus) (CRAIK 1995,
1997). No nordeste dos Estados Unidos várias espécies de mamíferos foram registradas se
alimentando de ovos, filhotes e adultos de trinta-réis e talha-mar (Rynchops niger). Estes
incluíram esquilos cinzentos (Sciurus carolinensis), guaxinins (Loter procyon), raposa
vermelha (Vulpes fulva), cães e gatos domésticos (BURGER; GOCHFELD, 1991).
O Brasil dispõe do litoral inter e subtropical mais extenso do mundo, chegando a 8.000
km (AB'SABER, 2001). Aqui encontram-se aproximadamente 180 espécies de aves marinhas
(CBRO, 2014), tendo-se registro de pelo menos 53 destas nidificando na costa brasileira
(VOOREN; BRUSQUE, 1999). Apesar deste número de espécies, a ornitofauna brasileira
oceânica e costeira é insuficientemente estudada, dada a extensão de litoral que o país possui
(VALIM et al. 2005).
2.2. FAMÍLIA FREGATIDAE E SUA MORFOLOGIA
As relações taxonômicas da família Fregatidae Deglang & Gerbe, 1840 por muito tempo
foram tópico de discussão entre pesquisadores devido à dificuldade de enquadrar suas
17
características em grupos mais próximos. Anteriormente esta família estava alocada na Ordem
Pelecaniformes devido a algumas características em comum como: os quatro dedos conectados
por membrana natatória; glândula de sal completamente fechada dentro da órbita (enquanto na
maioria das aves marinhas a glândula de sal encontra-se numa cavidade no topo do crânio);
bolsa gular nua, com exceção das aves tropicais onde esta é discreta e emplumada; narinas
externas podem ser em fenda (aves dos trópicos), quase fechadas (cormorões e anhingas), ou
ausentes (pelicanos, fragatas e sulídeos) (SCHREIBER; BURGER, 2002).
Mesmo com essa breve descrição é possível perceber que a relação entre os grupos de
aves dentro da ordem Pelecaniformes é incerta e a família Fregatidae se mostrava ainda mais
distante do resto da ordem (KENNEDY et al., 1996; SCHREIBER; BURGER, 2002).
Em função das diversidades e após análises filogenéticas (VAN TUINEN et al., 2001;
ERICSON et al., 2006; HACKETT et al., 2008) demonstrando sua história evolutiva e a maior
proximidade com os membros da Ordem Suliforme, a família Fregatidae foi remanejada para
esta ordem junto às famílias Sulidae, Phalacrocoracidae e Anhingidae (CBRO, 2014).
A família Fregatidae abrange aves conhecidas popularmente como fragatas, animais
com algumas características marcantes. Possuem asas longas e uma cauda profundamente
bifurcada em formato de “V”, lembrando uma tesoura (Figuras 1 e 2). Por essa característica
são comumente conhecidos como “tesourão” (DEL HOYO et al., 1992; SCHREIBER;
BURGUER, 2002). São aves longevas, podendo chegar a 30 anos de idade (JUOLA et al.,
2006). Medem de 90 a 114 cm de comprimento e apresentam de 225 a 260 cm de envergadura
da asa (SVENSSON, 2010). O peso médio é de 1,5 kg (SIBLEY, 2016).
A família Fregatidae é a única família de aves marinhas com evidente dimorfismo sexual
na plumagem. Também há diferença de tamanho entre os sexos, sendo as fêmeas ligeiramente
maiores e mais pesadas que os machos (DIAMOND, 1973; OSORNO, 1996). Os machos são
completamente negros com penas brilhantes e lustrosas na região do pescoço e possuem um
saco gular inflável (Figura 1), que se torna vermelho brilhante no período de reprodução, sendo
utilizado para atrair fêmeas para o acasalamento (MURPHY 1936; DEL HOYO et al., 1992;
SICK, 1997; NELSON, 2005). Por sua vez, as fêmeas possuem a plumagem do peito branca e
não apresentam saco gular (Figura 2). Os juvenis apresentam todo o ventre e a cabeça brancas,
mudando a cor da plumagem conforme crescem e atingem a idade reprodutiva (SVENSSON,
2010) (Figura 3). A maturidade sexual se da por volta dos cinco anos de idade (VALLE et al.,
2006). No entanto com 100 dias de vida já é possível determinar o sexo do juvenil através do
peso e do comprimento do bico, onde as fêmeas são mais pesadas e possuem o bico mais longo
que os machos (DIAMOND, 1973).
18
As fragatas são aves filopátricas, ou seja, costumam voltar ao local onde nasceram para
se reproduzirem (METZ; SCHREIBER, 2002; DEARBORN et al., 2003). Estes animais se
agrupam em grandes e densas colônias onde indivíduos em ninhos adjacentes podem alcançar
e tocar seu vizinho (DIAMOND; SCHREIBER, 2002).
O período de reprodução e criação de filhotes da família Fregatidae é
excepcionalmente longo. Os filhotes são alimentados pela mãe até um ano de idade. Os machos
abandonam os cuidados parentais e deixam a colônia após aproximadamente 6 meses da eclosão
dos ovos. Retornam no ano seguinte para nova tentativa de acasalamento, com uma nova
companheira, enquanto a fêmea fornece cuidados prolongados para o juvenil da temporada
anterior até que este se torne independente. Desse modo os machos são capazes de procriar
anualmente, enquanto as fêmeas só se reproduzem em anos alternados (DIAMOND, 1973). Em
nenhuma outra espécie de ave marinha existe essa diferença de ciclo reprodutivo entre os sexos
(DIAMOND; SCHREIBER, 2002).
Figura 1: Fragata (Fregata magnificens) macho com plumagem
totalmente negra e saco gular inflado de cor vermelha.
Fonte: https://www.allaboutbirds.org/guide/Magnificent_Frigatebird/id
19
Figura 2: Fragata (Fregata magnificens) fêmea com plumagem do peito
branca.
Fonte: https://www.allaboutbirds.org/guide/Magnificent_Frigatebird/id
Figura 3: Fragata (Fregata magnificens) juvenil com cabeça e ventre
brancos.
Fonte: http://www.darwinfoundation.org/datazone/checklists/5085/
20
A idade mínima na primeira reprodução é de 5 a 8 anos na família Fregatidae. Em
espécies longevas, essa idade tardia é geralmente considerada necessária para que os jovens
obtenham habilidades de forrageamento semelhantes às dos adultos, devido à complexidade
destas habilidades e ao alto valor reprodutivo das aves jovens. Apesar de se estimar um longo
período de vida para as fragatas (idade máxima já registrada de 34 anos), ainda não se sabe a
longevidade média em vida livre das espécies da família Fregatidae (SCHREIBER; BURGER,
2002).
As fragatas, utilizando seu bico longo de extremidade encurvada, são capazes de
capturar peixes na superfície marinha ou “peixes voadores”. Também é comum observar estes
animais “roubando” peixes de outras aves marinhas durante o voo, comportamento conhecido
como “pirataria aérea” (GIBSON-HILL, 1947; NELSON, 1968; DIAMOND, 1975). Essas aves
se especializaram neste comportamento para obtenção de alimentos pois, devido à glândula
uropigial reduzida, não possuem uma boa impermeabilização de sua plumagem que as permita
entrar na água. Quando acidentalmente caem na água, suas penas ficam encharcadas, o que as
impede de levantar voo novamente, representando um risco à sua vida (PENNYCUICK, 1987;
DEL HOYO et al., 2005; SCHREIBER; BURGUER, 2002). Este comportamento de evitar a
água junto a algumas características como corpo grande, alta longevidade e preferência por
ambientes tropicais torna estas aves bons hospedeiros para ectoparasitos (FELSO; ROZSA,
2006).
Fragatas são aves tropicais e podem ser avistadas no litoral da maioria dos países
tropicais ou sobrevoando ambientes pelágicos, principalmente próximo às ilhas onde
estabelecem seus sítios de nidificação (SCHREIBER; BURGUER, 2002). Possuem
envergadura de asa de quase 2 metros e são capazes de voar durante semanas em alto mar,
podendo chegar a altitudes de até 4000 metros, onde ocorrem condições de congelamento
(WEIMERSKIRCH et al., 2016).
Hoje tem-se conhecimento de cinco espécies dentro do gênero Fregata. Duas espécies,
Fregata minor (Tesourão-grande) e Fregata ariel (Tesourão-pequeno) , têm distribuição e
sobreposição de regiões de ocorrência no Indo-Pacífico, também podendo ser encontradas no
Atlântico Sul. A Fragata-comum ou Tesourão (Fregata magnificens) é encontrada no Atlântico
tropical, e no leste do Pacífico tropical, enquanto duas espécies, Fregata aquila e Fregata
andrewsi, são endêmicas de algumas ilhas do Atlântico (SCHREIBER; BURGUER, 2002)
(Figura 4).
21
Durante o período de reprodução as diferentes espécies de fragatas constroem seus
ninhos em galhos e copa de árvores presentes nas ilhas, nunca diretamente no solo, embora
algumas espécies tenham preferência por árvores mais baixas enquanto outras sempre procurem
as copas altas (DIAMOND, 1973; 1975). Estas aves também podem se valer da pirataria aérea
para obtenção de material para a construção de seus ninhos (DIAMOND, 1975).
No Brasil há ocorrência de três espécies: Fregata minor, nidificando na Ilha da
Trindade, Fregata ariel, nidificando nas Ilhas da Trindade e Martim Vaz e, Fregata
magnificens, com colônias na Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e
Fernando de Noronha. As ilhas de Trindade e Martin Vaz são os únicos locais onde as espécies
F. minor e F. ariel realizam nidificação no Oceano Atlântico, e ocorrem ali como as subespécies
endêmicas Fregata ariel trinitatis e Fregata minor nicolli. No hemisfério sul do oceano
Atlântico a espécie F. magnificens nidifica somente nas ilhas oceânicas e costeiras do Brasil
(VOOREN; BRUSQUE, 1999; SCHREIBER; BURGUER, 2002).
2.3. ECTOPARASITOS
Sabe-se que as aves de modo geral são acometidas por grande número de artrópodes
parasitos, como ácaros plumícolas (Acari: Acaridida), carrapatos (Acari: Ixodida), pulgas
Figura 4: Mapa representando em vermelho a distribuição de todas as
espécies da família Fregatidae.
Fonte: http://www.hbw.com/family/frigatebirds-fregatidae
22
(Insecta: Siphonaptera) e piolhos mastigadores (Insecta: Phthiraptera) (SILVA, 2009), além de
alguns tipos de insetos que podem ter parte de seu ciclo parasitando as aves, como as moscas
da família Hippoboscidae (CLAYTON; WALTHER, 1997).
Aves marinhas são comumente parasitadas por piolhos mastigadores e podem também
ser alvo de insetos hematófagos como os hipoboscídeos. Algumas espécies podem ainda ser
parasitadas por pulgas e ácaros, embora não se tenha registros destes últimos em nenhuma
espécie de fragata até o momento (SILVA, 2009).
2.3.1. PIOLHOS
2.3.1.1. ASPECTOS MORFOLÓGICOS GERAIS
Os ectoparasitos de aves de vida livre, marinhas ou continentais, mais comumente
descritos são os piolhos mastigadores (Classe: Insecta, Ordem: Phthiraptera, Subordens:
Amblycera e Ischnocera). Entretanto, outros grupos de ectoparasitos também são amplamente
relatados (DURDEN, 2002).
Os piolhos mastigadores, bem como os hematófagos, surgiram a partir de um ancestral
primitivo não-parasito relacionado à ordem Psocoptera (DURDEN, 2002) (Figura 5). Acredita-
se que seus ancestrais viveram provavelmente em cascas de árvores se alimentando de matéria
orgânica. Passaram gradualmente a se alimentar dos restos de pele dos répteis. Quando estes
começaram a apresentar penas no processo de evolução para aves, os piolhos puderam dispor
de um novo meio de abrigo e proteção, co-evoluindo com seus hospedeiros (DAVIS et al.,
1977).
Posteriormente, entre o fim do período Jurássico e início do Cretáceo, há 100 – 150
milhões de anos, se diferenciaram dando origem aos dois grupos que existem hoje, os
hematófagos e os mastigadores (DURDEN, 2002; DAVIS et al., 1977).
Atualmente os piolhos são classificados em quatro subordens distintas pertencentes à
ordem Phthiraptera: Anoplura, Amblycera, Ischnocera e Rhynchoptirina, sendo a primeira a
subordem dos piolhos hematófagos e, as demais, subordens que incluem os piolhos
mastigadores, anteriormente classificados em conjunto como “subordem Mallophaga”
(BOWMAN, 2010).
23
Existem aproximadamente 4000 espécies conhecidas de piolhos mastigadores
parasitando aves e mamíferos, em contraste com cerca de 500 espécies de piolhos hematófagos,
estes parasitando somente mamíferos. Aves não apresentam piolhos hematófagos, sendo todos
seus piolhos mastigadores (BOWMAN, 2010).
As subordens Amblycera e Ischnocera reúnem todos os piolhos mastigadores parasitos
de aves e compartilham algumas características. São pequenos, variando de 1,5 a até 10 mm de
comprimento, tendo a grande maioria um comprimento de até 4 a 5 mm. A largura varia em
torno de 1 a 2 mm (KELLOGG, 1913).
Os piolhos das subordens Ischnocera e Amblycera (Figura 6) são ápteros, de corpo
achatado dorso-ventralmente. O abdômen em geral possui placas esclerotizadas dorsais,
ventrais e laterais e, na maioria dos piolhos, apresenta um grande número de cerdas
(KELLOGG, 1913; DURDEN, 2002). A cabeça é grande, mais larga que o tórax,
diferentemente das subordens Anoplura e Rhyncophthirina. Possuem aparelho bucal
mastigador, com grandes mandíbulas na face ventral da cabeça. Alimentam-se de grande
variedade de materiais epidérmicos como descamações epidérmicas, pêlos ou penas, de acordo
com o hospedeiro e secreções sebáceas. Os indivíduos da subordem Ischnocera são geralmente
mastigadores de penas e se nutrem em zonas claramente definidas. Já os da subordem
Amblycera, além de penas, podem chegar a perfurar o canhão das penas em crescimento para
se alimentar do sangue da polpa (DAVIS et at., 1977).
Figura 5: As quatro subordens de piolhos (Insecta: Phthiraptera),
seus hospedeiros e relações filogenéticas. Fonte: adaptado de
SMITH, 2003.
24
Alguns piolhos parasitos de aves da subordem Amblycera podem eventualmente se
alimentar de exsudatos sanguíneos secos ou frescos (COSTA, 1938; BOWMAN, 2010). Os
olhos são ausentes ou rudimentares (ocellos) e estão situados atrás da inserção antenal (COSTA,
1938). As antenas apresentam diferenças entre as duas subordens. Em Amblycera estas
normalmente se apresentam em formato de “taco de golfe”, são divididas em quatro segmentos,
ficam ligeiramente escondidas na fosseta antenal sob a cabeça e não possuem diferenças entre
os sexos. Já para Ischinocera, as antenas podem apresentar de três a cinco segmentos, são
delgadas e bem visíveis na lateral da cabeça e podem se mostrar consideravelmente diferentes
Figura 6: Esquema ilustrando algumas estruturas morfológicas
dos piolhos mastigadores. Fonte: adaptado de SMITH, 2001.
25
entre os sexos dependendo da espécie. Posuem três pares de patas. O corpo pode variar entre as
espécies de esbranquiçado, castanho claro, castanho escuro e até preto amarronzado.
Normalmente a coloração indica o nível de quitinização do exoesqueleto (KELLOGG, 1913;
BOWMAN, 2010).
Os piolhos desenvolvem-se por hemimetabolia. Os adultos realizam a cópula e a fêmea
é capaz de gerar de um a dois ovos por vez no abdômen (BOWMAN, 2010). Os ovos são postos
nas penas do hospedeiro, preferencialmente em locais relativamente a salvo do bico do
hospedeiro. A localização dos ovos varia com a espécie (DAVIS et at., 1977). A eclosão ocorre
em 4 a 7 dias, da qual surge a ninfa. Esta sofre até 3 ecdises se tornando então um parasito
adulto sem sofrer nenhuma transformação marcante (KELLOGG, 1913; BOWMAN, 2010). A
duração total do ciclo é de aproximadamente 30 a 36 dias (DAVIS et at., 1977).
A grande maioria das espécies de piolhos mastigadores é parasita de aves, embora
também existam espécies parasitando mamíferos. As espécies que parasitam aves possuem duas
garras tarsais na extremidade de todos os seis membros, enquanto as espécies parasitas de
mamíferos, em sua maioria, são distinguidas por possuírem apenas uma garra tarsal. Esta é uma
adaptação relacionada à diferença entre pelos e penas do habitat destes parasitos (KELLOGG,
1913).
Observa-se uma notável diferença na velocidade de deslocamento dos indivíduos com
relação às subordens sobre as penas ou pelos de seus hospedeiros, sendo os pertencentes à
subordem Amblycera os mais ativos (COSTA, 1938).
2.3.1.2. COLONIZAÇÃO NO HOSPEDEIRO
Estudos desenvolvidos com piolhos em diversos países quanto à localização destes no
corpo de seus hospedeiros mostraram que os mesmos podem se localizar em uma zona corporal
ou região bem definida (ASH, 1960; TRIVEDI et al., 1991; GUERRA, 2008).
Em aves de produção, é comum a infestação dos animais por ectoparasitos,
principalmente piolhos. Espécies como Menacanthus stramineus e Menopon gallinae, piolhos
comuns nas galinhas domésticas, são observadas localizando-se no corpo e nas asas de seus
hospedeiros, respectivamente (GARCIA et al. 2001; FERRERO et al, 2004).
Os piolhos mastigadores normalmente passam toda sua vida num mesmo hospedeiro,
no entanto, podem infestar outro indivíduo quando os dois animais mantêm contato, durante
acasalamento, criação dos filhotes nos ninhos ou em casos de muitos indivíduos juntos no
mesmo local (KELLOGG, 1913; DAVIS et at., 1977). Também pode ocorrer destes piolhos
26
serem transportados de um indivíduo a outro por moscas da família Hippoboscidae
(THOMPSON, 1936; COSTA, 1938; DAVIS et at., 1977). Existem ainda registros de piolhos
mastigadores se fixando a pulgas, mosquitos, libélulas e mariposas (DAVIS et at., 1977).
Espécies que se transportam desta forma pertencem usualmente à subordem Ischnocera,
habitualmente a menos ativa e que dificilmente passa para outro hospedeiro por conta própria
(THOMPSON, 1936). Os piolhos mastigadores das aves tendem a ser muito mais ativos que
seus semelhantes que parasitam mamíferos. Isso ocorre pois estão sujeitos ao comportamento
de autolimpeza constante típicos das aves e podem ser predados dessa forma (BOWMAN,
2010).
Raramente ocorrem transmissões interespecíficas e isso se deve a fatores como:
estrutura física das penas, composição química do sangue, diferença de temperatura corporal
do hospedeiro, competição com populações já estabelecidas de outras espécies de piolhos
(DAVIS et at., 1977).
Os piolhos são parasitos bem adaptados e na maioria dos casos não representam um
risco a seus hospedeiros, apenas um inconveniente, embora existam exceções importantes como
o piolho humano do corpo, Pediculus humanus humanus, grande responsável pela propagação
da bactéria Rickettsia prowazekii, causadora do tifo epidêmico. No foco veterinário temos o
exemplo do piolho mastigador do cão Trichodectes canis, hospedeiro intermediário e vetor do
Dipylidium caninum, parasito intestinal de cães e gatos (BOWMAN, 2010).
Uma grande população de piolhos em um hospedeiro é um indicativo de que este
animal não está em boas condições de saúde. Fatores como estresse, nutrição deficiente ou
superpopulação de animais podem ser agravantes nos casos de doença clínica relacionada à alta
infestação por piolhos (BOWMAN, 2010).
Aves com uma infestação muito intensa de piolhos apresentam manifestações clínicas
não muito distintas da época de muda. Apesar de não gerar graves danos, os piolhos
mastigadores, quando presentes em grande número, podem causar intenso prurido, depreciação
da plumagem e quebra de penas. O movimento dos piolhos é irritante ao animal e este pode
causar danos a si mesmo pelo excesso de autolimpeza e arrumação das penas. Além disso,
espécies de piolhos que se alimentam do sangue dos canhões de penas jovens podem prejudicar
o desenvolvimento posterior da pluma (CLAYTON; ADAMS; BUSH, 2008; DAVIS et at.,
1977). Essas condições podem causar mudanças na performance das aves em disputas,
termorregulação, peso, capacidade de sobrevivência e seleção sexual (CLAYTON; ADAMS;
BUSH, 2008).
27
Quando ocorre o óbito do hospedeiro, os piolhos deixam o corpo do animal na tentativa
de encontrarem outro hospedeiro. No entanto, não conseguem se manter vivos por longo tempo,
morrendo dentro de algumas horas, ou, no mais tardar, em alguns dias (WILSON, 1934; DAVIS
et at., 1977). Alguns piolhos podem permanecer no corpo do animal, se fixando a uma bárbula
das penas com suas fortes mandíbulas, sendo então encontrados ali após a morte (KELLOGG,
1913). A morte destes parasitos se deve principalmente à falta de irradiação de calor do corpo
do hospedeiro (WILSON, 1934).
2.3.1.3. COEVOLUÇÃO PIOLHO-HOSPEDEIRO
Embora saiba-se que, via de regra, piolhos são altamente espécie específicos
(BOWMAN, 2010), é possível encontrar uma mesma espécie em distintos hospedeiros, que
apresentam entre si relações mais ou menos estreitas, quer ocupando o mesmo território, quer
povoando locais distantes ou isolados. A distribuição dos piolhos mastigadores em seus
hospedeiros apresenta uma certa fidelidade ao gênero ou família destes hospedeiros, sendo
pouco afetada pela distribuição geográfica ou condições climáticas às quais essas aves estão
submetidas (KELLOGG, 1913; DAVIS et at., 1977).
Kellogg (1913) explica que tal cenário está relacionado com o surgimento da espécie
de piolho antes da diferenciação de seu hospedeiro. Primeiramente surgem as espécies de
piolho. Estas se mantêm nas condições de temperatura e umidade que o corpo de seu hospedeiro
oferece. Quando há diferenciação de espécie da ave hospedeira, estes parasitos acompanham a
nova espécie hospedeira, porém não passam por grandes necessidades de adaptação e co-
evolução. A plumagem, a temperatura do corpo do hospedeiro, praticamente todo o ambiente
dos parasitos continua o mesmo. Nenhum fator externo atua no sentido de modificar a espécie
do parasito, portanto este consegue se manter em sua forma primitiva, comum aos novos
descendentes do antigo hospedeiro.
No entanto, o fator evolucionário do isolamento também tem influência na formação
das espécies de piolhos. Em diversas espécies tem-se uma descrição bastante flexível devido a
pequenas variações que ocorrem em espécimes coletados de diferentes hospedeiros da mesma
espécie, mesma região e até da mesma colônia (KELLOGG, 1913). Isso ocorre porque, apesar
do ambiente destes parasitos não exercer uma pressão para que estes evoluam de determinada
forma, não é possível eliminar mutações espontâneas que venham a ocorrer. Logo, estando estes
parasitos formando uma colônia fechada em sua ave hospedeira, isolados de seus semelhantes
28
pelos limites do corpo da própria ave, estas mutações serão facilmente propagadas nas gerações
seguintes de piolhos geradas naquele hospedeiro (KELLOGG, 1913).
2.3.2. HIPOBOSCÍDEOS
2.3.2.1. CLASSIFICAÇÃO E ASPECTOS MORFOLÓGICOS GERAIS
A família Hippoboscidae Samouelle, 1819 é uma família de moscas (Insecta: Diptera)
constituída por espécies hematófagas parasitos obrigatórias de diversas espécies de mamíferos
e aves (HARBISON et. al., 2009; HARBISON; CLAYTON, 2011). Os membros desta família
compreendem espécies aladas, com boa ou mediana capacidade de voo e, espécies com asas
vestigiais ou ausentes (HUTSON, 1984).
A família Hippoboscidae pertence à super-família Hippoboscoidea. Esta agrupa quatro
famílias de moscas exclusivamente hematófagas na fase adulta. São elas Hippoboscidae,
Nycteribiidae, Streblidae e Glossinidae. A família Hippoboscidae hoje apresenta três
subfamílias (Ornithomyinae, Hippoboscinae e Lipopteninae), 21 gêneros, e 213 espécies
aproximadamente (DICK, 2006). Recentemente constatou-se que as subfamílias
Hippoboscinae e Lipopteninae são grupos monofiléticos (descendentes de um ancestral
comum) (PETERSEN et al., 2007).
Todos os hipoboscídeos são morfologicamente adaptados para uma existência
ectoparasita, com exoesqueletos modificados para tal função. Os adultos podem variar de 1,5 a
12mm de comprimento dependendo da espécie. Apresentam um achatamento dorso-ventral
com função de facilitar o deslocamento entre pelos e penas do hospedeiro. O aparato bucal é
direcionado à frente e não para baixo, com sua probóscide intensamente esclerotizada. A base
da probóscide é parcialmente retraída para dentro de uma bolsa na parte ventral da cabeça
quando não está sendo usada. As patas são robustas com o fêmur largo, tíbia achatada e tarso
compacto (LLOYD, 2002). Espécies que infestam aves usualmente apresentam patas adaptadas
para correndo rapidamente para frente, para trás e para os lados no meio da pluma macia,
enquanto espécies parasitando mamíferos apresentam patas adaptadas para agarrar a pele e
pêlos grossos (BEQUAERT, 1953). Os olhos normalmente são bem desenvolvidos nas espécies
que apresentam asas funcionais, enquanto nas espécies com asas vestigiais ou ausentes os olhos
são bastante reduzidos. As antenas são pequenas e imóveis, localizadas no sulco antenal
(LLOYD, 2002).
29
Hipoboscídeos tem uma estimativa de vida de aproximadamente 80 a 100 dias de vida
(NELSON et al, 1975). Pouco se sabe sobre a biologia reprodutiva destas moscas, porém, ao
contrário da maioria dos insetos, os hipoboscídeos apresentam uma particularidade quanto ao
desenvolvimento larvar. Nesta família, grande parte do desenvolvimento das larvas ocorre
dentro do abdômen materno e a pupação ocorre quase imediatamente após a fêmea realizar a
postura das larvas (HUTSON, 1984). O estágio de pupa é o único que ocorre fora do hospedeiro
(NELSON et al., 1975) .
2.3.2.2. COLONIZAÇÃO NO HOSPEDEIRO E TRANSMISSÃO DE AGENTES
INFECCIOSOS
Diversas espécies de animais sofrem espoliação sanguínea pelos hipoboscídeos. Estas
moscas podem se alimentar em seu hospedeiro várias vezes durante o dia e, dependendo da
quantidade infestante, este hospedeiro pode ter sua saúde significativamente prejudicada,
podendo apresentar anemia (JONES, 1985) ou, no caso de filhotes, retardo em seu
desenvolvimento (BISHOPP, 1929).
Além de efeitos diretos sobre o hospedeiro, estes dípteros também são vetores de agentes
infecciosos (protozoários, helmintos, bactérias e possivelmente vírus). São responsáveis pela
transmissão de alguns tripanossomatídeos para mamíferos (BAKER, 1967; OYIEKE; REID,
2003) e é provável que também transmitam tripanossomas aviários (KUCERA, 1983). Além
disso, as moscas da família Hippoboscidae são os únicos vetores conhecidos do hemosporídeo
Haemoproteus (LEVIN et al., 2011) e, uma vez infectadas por hemosporídeos, aves podem
permanecer infectadas por muitos anos ou por toda a vida (GARNHAM, 1966; VALKIUNAS,
2005).
Populações de vida livre normalmente apresentam baixa susceptibilidade a doenças
causadas por hemoparasitos (Haematozoa). No entanto, tem-se observado que hematozoários
exercem certa influência na estrutura e conservação de comunidades de aves (QUILLFELDT
et al, 2010).
Embora a maioria dos hippoboscídeos seja capaz de voar e passar de um hospedeiro a
outro, ainda pouco se sabe sobre sua capacidade de dispersão. É admissível que o movimento
das aves marinhas hospedeiras seja o grande responsável pela dispersão destas moscas entre
ilhas (LEVIN; PARKER, 2013). Em relação às fragatas, mesmo que estas sejam filopátricas ao
local onde nasceram (METZ; SCHREIBER, 2002; DEARBORN et al., 2003), o movimento
dos juvenis até que atinjam a idade reprodutiva por volta dos cinco anos é desconhecido e
30
poderia estar facilitando a dispersão destes e de outros parasitos para outros locais (LEVIN;
PARKER, 2013).
2.4. ECTOPARASITOS EM Fregata magnificens
Existem até o momento seis espécies descritas em literatura de piolhos mastigadores
encontrados na família Fregatidae, sendo que destes, quatro possuem registro em Fregata
magnificens Mathews, 1914. São eles: Colpocephalum spineum Kellogg, 1899, Fregatiella
aurifasciata Kellogg, 1899, Pectinopygus fregatiphagus Eichler, 1943, e Pectinopygus
gracilicornis Piaget, 1880. Apesar de se saber que piolhos de modo geral são espécie
específicos, algumas destas espécies de piolhos já foram registrados em diferentes hospedeiros
da família Fregatidae (Tabela 1).
No Brasil, Tendeiro (1989) documentou a presença da espécie Colpocephalum
ehrhardti em Santa Catarina. No entanto, posteriormente esta nomenclatura foi invalidada por
ser sinonímia de C. spineum (PHTHIRAPTERA.INFO).
Tabela 1: Espécies de piolhos mastigadores já descritos na família Fregatidae.
Espécies de piolho Espécies de fragata hospedeira
1. Colpocephalum angulaticeps Fregata ariel
Fregata minor
2. Colpocephalum spineum Fregata aquila
Fregata magnificens
3. Fregatiella aurifasciata Fregata andrewsi
Fregata aquila
Fregata ariel
Fregata magnificens
Fregata minor
4. Pectinopygus crenatus Fregata aquila
5. Pectinopygus fregatiphagus Fregata magnificens
6. Pectinopygus gracilicornis Fregata minor
Fregata ariel
Fregata magnificens
31
A espécie Pectinopygus fregatiphagus, foi relatada em fragatas do Zoológico do estado
de São Paulo por Valim e colaboradores em 2005.
Além de piolhos mastigadores, outros ectoparasitos já descritos em fragatas são
exemplares da Família Hippoboscidae (GRACIOLLI; CARVALHO, 2003). Estudos em
Galápagos mostram que os dípteros desta família pertencentes ao gênero Olfersia
frequentemente parasitam fragatas e outras espécies marinhas, como por exemplo atobás. A
espécie Olfersia spinifera Leach, 1817 já foi registrada em todas as espécies de fragatas e até o
momento se mantém exclusiva a estas aves, nunca tendo sido documentada parasitando outras
espécies de aves marinhas (LEVIN; PARKER, 2013). No Brasil tem-se registro deste díptero
em Fregata magnificens, no estado do Paraná (GUIMARÃES, 1945; GRACIOLLI;
CARVALHO, 2003).
A mosca O. spinifera, é apontada como principal responsável pela transmissão do
protozoário hemoparasito Haemoproteus iwa para membros da família fregatidae (LEVIN et
al., 2011). As aves marinhas em geral são normalmente pouco afetadas por parasitos
sanguíneos, mesmo quando potenciais vetores estejam presentes. No entanto, fragatas parecem
ser mais suscetíveis a adquirir estes parasitos. Quatro das cinco espécies conhecidas de fragatas
(F. andrewsi, F. minor, F. magnificens, e F. aquila) já foram encontradas infectadas por
Haemoproteus (MADSEN et al., 2007; MERINO et al., 2012). Fragatas da espécie F.
andrewsi, residentes da Ilha do Natal (Christmas Island), parte do território australiano, foram
documentadas apresentando uma alta prevalência (56%) de Haemoproteus (QUILLFELDT et
al., 2010).
Um outro estudo realizado com Fregata minor nas Ilhas Galápagos apontou que
aparentemente todas as fragatas de vida livre desta espécie residentes das ilhas apresentam pelo
menos um exemplar desta mosca parasitando seu corpo. Este mesmo estudo também utilizou
alguns exemplares de Fregata magnificens residentes das ilhas para comparação, informando
que foi encontrada a mesma espécie de mosca nas duas espécies de fragata, no entanto os
autores colocam F. magnificens como um hospedeiro alternativo de O. spinifera (LEVIN;
PARKER, 2013).
2.5. DIAGNÓSTICO DOS ECTOPARASITOS
A pesquisa de ectoparasitos em animais, tanto domésticos como selvagens, é de
fundamental importância para a saúde e bem-estar destes animais, visto que os ectoparasitos
32
são em sua maioria prejudiciais a seu hospedeiro e podem atuar como vetores de
microorganismos patogênicos, desencadeando processos infecciosos diversos.
Embora existam diversas formas de diagnóstico parasitológico, o diagnóstico de
amostras de ectoparasitos coletadas a campo é primariamente realizado baseando-se na
morfologia observada. Para uma identificação mais precisa do agente pode-se lançar mão de
vários artifícios disponíveis, desde a utilização de microscopia ótica (PALMA, 1978), um dos
métodos mais antigos usados na identificação e classificação de organismos, até métodos mais
avançados como microscopia eletrônica de varredura (UBELAKER et al., 1973) ou biologia
molecular (RIVERA-PARRA, et al., 2015).
A técnica correta a ser escolhida para o diagnóstico dos parasitos depende de vários
fatores, como qualidade do material, modo como foi coletado, armazenamento e preservação.
Para técnicas como a microscopia óptica ou microscopia eletrônica é importante que o
ectoparasito coletado esteja inteiro, sem quebras ou amassados, pois será analizada a morfologia
e características de superfície do espécime, não podendo estas estarem alteradas ou danificadas.
Já para técnicas como a biologia molecular não há a preocupação com a integridade do
espécime, mas sim com seu armazenamento, preservação e possíveis contaminações. Neste
caso, a técnica utiliza o código genético do parasito, portanto podem ser utilizados espécimes
danificados ou mesmo apenas partes dos espécimes. O importante para esta técnica é que o
material genético seja devidamente conservado, preferencialmente congelado e longe de
contaminações.
33
3. OBJETIVOS
3.1. OBJETIVOS GERAIS
Avaliar a ocorrência de ectoparasitos de Fregata magnificens (Aves: Suliformes:
Fregatidae) provenientes do litoral do Rio de Janeiro e São Paulo recolhidas por centros de
reabilitação de animais silvestres.
3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Identificar as espécies de ectoparasitos de fragatas de centros de reabilitação de animais
silvestres através de microscopia óptica.
Identificar os locais de predileção dos ectoparasitos no corpo do hospedeiro (tegumento,
penas, plumas e região corporal);
Avaliar a intensidade de infestação dos ectoparasitos nas aves.
Verificar associação entre estado geral e sinais clínicos apresentados pelo hospedeiro e
intensidade de infestação por ectoparasitos neste.
Utilizar técnicas de biologia molecular para auxiliar na identificação e/ou confirmação
das espécies de ectoparasitos.
34
4. MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da
Universidade Federal Fluminense sob o n° 846 (Anexo 1). Foram avaliadas amostras de
fragatas da espécie F. magnificens em dois centros de reabilitação de animais silvestres no
período de outubro de 2016 até outubro de 2017.
4.1. LOCAIS DE COLETA
Os animais utilizados neste estudo foram animais resgatados em seu ambiente natural
nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo e encaminhados para o Centro de Reabilitação e
Triagem de Animais Aquáticos (CRETA) e para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres
(CRAS).
Em Ubatuba, São Paulo, o Instituto Argonauta para Conservação Costeira e Marinha,
em parceria com o Aquário de Ubatuba, gerencia o CRETA. Este recebe animais marinhos
debilitados, entre aves, mamíferos e quelônios, resgatados do litoral de Ubatuba e redondezas.
Este trabalho de recolhimento dos animais é realizado pela equipe do Programa de
Monitoramento de Praias (PMP), que percorrem faixas litorâneas da redondeza fazendo este
resgate e eventualmente recolhendo também carcaças de animais quando estas são encontradas.
O objetivo do CRETA é atender aos encalhes de fauna, com ênfase para mamíferos aquáticos,
peixes, quelônios e aves, realizando a reabilitação e posterior reintrodução destes à natureza
(INSTITUTO, 2014).
O outro local colaborador do projeto foi o CRAS, parte da Universidade Estácio de Sá,
localizado em Vargem Pequena no Rio de Janeiro. O CRAS recebe todo tipo de animal da fauna
brasileira, inclusive animais marinhos, resgatados pela patrulha ambiental do estado do Rio de
Janeiro ou provenientes de clinicas veterinárias que não possam dar suporte aos animais.
35
Tanto o CRETA quanto o CRAS se interessaram pela parceria proposta por
entenderem que este estudo objetivou enriquecer seus conhecimentos e auxiliá-los no processo
de reabilitação dos animais. Ambos os centros mencionados disponibilizaram os parasitos das
fragatas que chegaram à reabilitação durante o período do estudo.
Todas as amostras analisadas e dados coletados foram cedidos por meio de doação
pelos centros de reabilitação participantes do estudo (Anexos 2 e 3).
4.2. MÉTODO DE COLETA
Foram coletadas amostras de fragatas da espécie Fregata magnificens provenientes do
CRETA em São Paulo e do CRAS no Rio de Janeiro.
Embora as coletas tenham, em sua maioria, sido coletadas pelos responsáveis por este
estudo, algumas tiveram de ser executadas pelos veterinários e funcionários dos centros de
reabilitação. Nestes casos, nem sempre elas se desenvolviam da forma ideal, muitas vezes
faltando dados a serem anotados na ficha de coleta de amostras e algumas vezes não se
preocupando em coletar todos os ectoparasitos possíveis.
Todos os animais que chegavam aos centros de reabilitação eram avaliados pelos
veterinários de plantão quanto ao escore corporal, grau de atividade de acordo com a espécie,
presença de ferimentos ou infecções notáveis e estado geral para determinação de sua condição
clínica. As fragatas eram julgadas para definir se estavam em condições de passar pelo
procedimento de coleta dos ectoparasitos sem que isso prejudicasse sua saúde. Caso o animal
estivesse extremamente debilitado, em condições de saúde bastante comprometida, não era
permitida a realização da coleta, já que o objetivo primário das instituições é a preservação da
vida e reabilitação dos animais para sua devolução à natureza. No entanto, nenhum animal se
encontrou nestas condições durante o período de coleta.
Todas as aves utilizadas foram previamente identificadas nos centros de reabilitação.
Foi elaborada uma ficha para a coleta das amostras com informações pertinentes ao estudo
como: sexo, idade, peso, local onde animal foi encontrado, tempo em que animal ficou em
cativeiro até a realização da coleta, se o recinto do animal era solitário ou se havia outros
animais da mesma espécie ou de outras espécies, estado geral do animal e região corporal onde
foi observada a presença de ectoparasitos (Anexo 3).
A plumagem e partes do corpo (cabeça, pescoço, corpo, asas, cauda, bico, pés) de
todas as aves foram verificadas visualmente durante aproximadamente dois minutos em busca
36
de locais de predileção dos ectoparasitos. Esta informação foi registrada na ficha antes do início
das coletas (Figura 7).
A coleta dos ectoparasitos foi efetuada através de um método simples desenvolvido
durante o período da pesquisa para se adequar ao tamanho da ave e às condições de trabalho
oferecidas pelas instituições. O animal era colocado em um recipiente plástico de tamanho
compatível e então era polvilhado com talco ectoparasiticida à base de Carbaryl e Cipermetrina
da marca Talfon top®. Em aproximadamente 5 minutos os parasitos presentes nas penas e pele
das aves começavam a cair no fundo do recipiente, podendo então ser coletados (Figura 8).
Após a queda dos parasitos a fragata era devolvida a seu recinto. A caixa cheia de pó
ectoparasiticida e com os ectoparasitos era então vertida cuidadosamente para que todo seu
conteúdo caísse dentro de um recipiente plástico de tampa rosqueada. Evitava-se a utilização
de pinças para a coleta pois poderiam danificar os espécimes. Não se adicionava nenhum tipo
de conservante à amostra neste momento para não prejudicar os diferentes experimentos a se
seguir. As amostras eram apenas refrigeradas até este material ser levado ao laboratório de
parasitologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), geralmente no dia seguinte à coleta
ou no máximo dois dias após a coleta (nestes casos o material coletado era mantido congelados).
Figura 7: Observação de ectoparasitos na
plumagem da fragata antes do início da coleta. Seta
aponta presença de um piolho.
37
Algumas das fragatas que chegaram aos centros de reabilitação estavam muito
debilitadas e acabaram indo a óbito ou sendo submetidas a eutanasia sem que a coleta dos
ectoparasitos fosse feita. Nos casos em que a carcaça havia sido congelada logo em seguida ao
óbito do animal, foram realizadas coletas post-mortem. A carcaça era então verificada em busca
dos locais de predileção dos parasitos, semelhantemente ao realizado nos animais in vivo.
Quando um parasito era encontrado este era coletado com uma pinça e também acondicionado
em um recipiente plástico de tampa rosqueada. Nestes casos não era possível executar o mesmo
procedimento realizado nos animais in vivo pois as carcaças estavam congeladas e úmidas, bem
como os parasitos, ficando estes aderidos às penas, não sendo possível fazer com que os
mesmos caíssem sozinhos das penas para um recipiente. Sendo assim, fez-se necessária a
utilização de uma pinça para as coletas.
Após serem levados ao laboratório, o material coletado era lavado com água destilada
em uma peneira de 0,150 mm de malha para separar os parasitos do pó e das sujidades. Os
espécimes de ectoparasitos coletados eram então divididos em duas amostras. Uma amostra era
Figura 8: Fragata em recipiente plástico após
aplicação de ectoparasiticida.
38
conservada em álcool 70% para clarificação e identificação morfométrica por microscopia de
luz. A outra era congelada para processamento por técnicas de Biologia Molecular.
No total foram coletadas amostras de cinco fragatas do CRETA, em São Paulo, estas
todas pelos veterinários do local, e dez do CRAS, no Rio de Janeiro, todas pelos responsáveis
deste estudo.
4.3. PROCESSAMENTO DE AMOSTRAS
4.3.1. ESTUDO MORFOMÉTRICO EM MICROSCOPIA DE LUZ
O processamento dos piolhos foi realizado nos Laboratórios da Disciplina de
Parasitologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Instituto Biomédico, Niterói, RJ. Os
parasitos passaram por técnicas de clarificação e montagem em lâminas e foram analisados
morfometricamente para identificação.
Em análise macroscópica observou-se diferenças entre os piolhos coletados, a começar
por sua coloração, que correspondia ao seu nível de quitinização. Em função desta diferença de
quitinização o protocolo utilizado, descrito por PALMA (1978), foi modificado. Os piolhos
mais escuros eram retirados do álcool e colocados em solução de Hidróxido de Potássio (KOH)
a 10% onde ficavam por no mínimo 24hs para clarificação. Os mais claros foram submetidos à
solução de KOH a 5% também por 24hs.
Após as 24hs os piolhos eram retirados do KOH e passavam por um processo de
lavagem para retirar completamente os resíduos desta solução. Para isso ficavam em água
destilada por 30 minutos e, então, em ácido acético por mais 30 minutos com o intuito de
neutralizar a substância alcalina remanescente. Em seguida passava-se para a fase de
desidratação, onde os parasitos eram colocados em álcool 70% por 24 horas e, após este
primeiro período, passavam álcool 80% e em seguida para o 90% ficando por 30 min em cada
um. Finalmente passavam para álcool absoluto, sendo deixados por 24hs. Após a desidratação
os parasitos eram imersos em Creosoto de Faia para a etapa de diafanização, onde ficaram por
mais 24h, o que os conferia um contraste adequado para a observação no microscópio óptico.
Por fim, os piolhos eram retirados do creosoto para serem finalmente montados em lâminas
permanentes.
Os piolhos foram montados em lâminas de microscopia, junto com um pouco do
creosoto onde estavam imersos. Pingava-se então de uma a três gotas de Bálsamo do Canadá
Natural sobre o piolho, em seguida ajustando-o na lâmina para evidenciar melhor todas as
39
estruturas importantes para sua identificação. Posicionava-se então a lamínula sobre a amostra,
esta espalhando o Bálsamo uniformemente e mantendo o piolho na posição desejada. As
lâminas eram observadas rapidamente ao microscópio para verificar se a técnica prosseguiu
corretamente, fazendo ajustes da lamínula quando necessário. Em seguida eram guardadas para
a secagem do Bálsamo. Todo o processo para a montagem das lâminas foi realizado em
temperatura ambiente. A secagem das lâminas levava de três semanas a um mês, podendo então
ser analisadas.
As lâminas foram observadas em microscópio óptico Zeiss Primo Star. Os piolhos
foram medidos com micrômetro ocular. Para identificação dos gêneros seguiu-se as chaves de
identificação de PRICE et al. (2003). A identificação das espécies foi baseada em Price (1967),
Ryan e Price (1969), Eichler, (1943) e Kellogg (1899).
4.3.2. DIAGNÓSTICO MOLECULAR
As amostras foram analisadas no Laboratório de Biologia Molecular de Parasitos da
Universidade Federal Fluminense e o sequenciamento foi realizado na Plataformas de
Sequenciamento Sanger (RPT01-A) da rede de plataformas tecnológicas - Fiocruz.
Selecionaram-se algumas amostras para este ensaio: da amostra coletada da fragata 12
- 014-RJ, utilizou-se um espécime de Pectinopygus fregatiphagus e um espécime de
Colpocephalum spineum; da amostra coletada da fragata 13 - 015-RJ, utilizou-se dois
espécimes de Pectinopygus fregatiphagus, dois espécimes de Colpocephalum spineum e um
espécime de Fregatiella aurifasciata. Para esta amostra também foi feito um pool com 5
espécimes de Pectinopygus fregatiphagus. Foi dada uma codificação para o ensaio molecular,
totalizando 8 amostras analisadas (Tabela 2).
As oito amostras de piolhos foram maceradas com auxílio de grau e pistilo usando-se
nitrogênio líquido. No macerado foi extraído o DNA com o kit comercial Purelink Genomic
DNA Kits (Invitrogen) segundo o protocolo do fabricante para extração de tecido. Para PCR
foram usados dois pares de primers distintos.
40
Tabela 2: Descrição e codificação das amostras usadas no ensaio molecular.
Amostra Espécime Código para o ensaio
molecular.
12-014-RJ Pectynophygus fregatiphagus 014-P1
Colpocephalum spineum 014-C1
13-015-RJ
Pectynophygus fregatiphagus 015-P1
Pectynophygus fregatiphagus 015-P2
Pool de Pectynophygus fregatiphagus 015-P3
Colpocephalum spineum 015-C1
Colpocephalum spineum 015-C2
Fregatiella aurifasciata 015-F1
Para amplificar um fragmento do gene COI, um marcador mitocondrial da subunidade
I da Citocromo Oxidase, comumente usado em insetos, foram utilizados os primers L6625 (5'-
COG GAT CCT TYT GRT TYT TYG GNC AYC C-3') e H7005 (5' –CCG GAT CCA CAN
CRT ART ANG TRT CRT G-3') descritos por Hafner et al., 1994 com a seguinte condição:
tampão [1X], Mg [1.5mM], dNTP [0.2mM], [200ng] de cada primer; 2.5U de Taq platinum
(Invitrogen) e 5µl de DNA. A ciclagem usada foi: 94°C durante 2 minutos, seguido de 35 ciclos
à 94°C durante 30 segundos, 46°C durante 30 segundos e 72°C durante 30 segundos, e uma
extensão final a 72°C por 7 min.
Para amplificar a região EF1- α foram utilizados os primers EF1-For3 (5'-GGN GAC
AAY GTT GGY TTC AAC G-3') e Cho 10 (5'-AC RGC VAC KGT YTG HCK CAT GTC-3')
descritos por Danforth e Ji (1998), com as mesmas concentrações dos reagentes descritos
anteriormente. Contudo, a ciclagem usada foi: 4 minutos a 94°C, seguido de 35 ciclos de 94°C
durante 20 segundos, 45°C durante 30 segundos e 72°C durante 50 segundos, e então uma
extensão final à 72°C durante 5 min.
Os produtos da PCR foram analisados por eletroforese em gel de agarose a 2% em
tampão TAE 1X, acompanhadas de marcador molecular de 100pb (Ludwig Biotecnologia®).
Posteriormente à amplificação, os geis foram corados com Brometo de Etídio e as amplificações
visualizadas e fotodocumentadas (L-Pix, Loccus®). Os produtos amplificados foram
purificados com o KitWizards SVGel and PCR Clean-Up System (Promega), seguindo o
protocolo do fabricante. As amostras foram preparadas para sequenciamento direto com o kit
Big Dye Terminator (Applied Biosystems®). O sequenciamento foi realizado na Plataformas
41
de Sequenciamento Sanger (RPT01-A) da rede de plataformas tecnológicas - Fiocruz. As
sequências foram editadas e analisadas com o auxílio do programa de Bioinformática Chormas
v.2.1.1 e Bioedit v.7.1.9. As sequências obtidas foram comparadas com aquelas depositadas no
Genbank através da ferramenta BLAST (https://blast.ncbi.nlm.nih.gov).
42
5. RESULTADOS
Das 15 fragatas da espécie Fregata magnificens analisadas, 14 (93,3%) foram
positivas para a presença de ectoparasitos. Duas das 15 (13,3%) coletas foram realizadas post-
mortem coletando-se os parasitos da carcaça congelada pois os animais vieram a óbito antes
que pudesse ser realizada a coleta in vivo. Das 13 coletas in vivo, apenas ums ave (6,67%) se
apresentou negativa para a presença de ectoparasitos.
Das 15 fragatas que foram encaminhadas aos centros de reabilitação, oito (53,3%)
apresentavam ferimentos em asa. Três (20%) foram encontradas encharcadas. As demais
fragatas (quatro animais, 26,7%) não possuem um histórico muito elucidativo e chegaram aos
centros por estarem debilitadas, conforme pode ser observado na Tabela 3.
Não se conseguiu estabelecer uma relação entre estado geral e sinais clínicos
apresentados pelo hospedeiro e intensidade de infestação por ectoparasitos pois a coleta de
dados nos centros de reabilitação foi deficiente. As fichas dos animais nos centros, em sua
maioria não descrevia os sinais clínicos que o animal apresentava, apenas fazia breves
comentários sobre estado geral no momento de sua chegada ao centro. Porém, observou-se que
mesmo os animais debilitados e com estado geral ruim não apresentaram grande quantidade de
ectoparasitos e, o animal que apresentou uma quantidade de ectoparasitos muito acima dos
demais tinha estado geral ótimo e foi posteriormente reabilitado e devolvido à natureza.
Ao todo foram coletados 238 espécimes de piolhos. Não se observou nenhum outro
ectoparasito além de piolhos mastigadores.
43 Tabela 3: Relação de fragatas (Fregata magnificens) analisados com separação por sexo, motivo da reabilitação, presença ou não de outros animais
no mesmo recinto, tempo em cativeiro no momento da coleta dos ectoparasitos, e quantidade de ectoparasitos coletados, provenientes do CRETA
em São Paulo e do CRAS no Rio de Janeiro no período de outubro de 2016 a outubro de 2017.
Amostra e
origem
Sexo da
Fragata
Motivo da reabilitação Estado
geral
Companheiros de recinto Tempo em
cativeiro
Quantidade de
ectoparasitos
1 - 000 SP Juvenil Debilidade Ruim Nenhum 7 dias 13
2 - 001 RJ Macho Encharcado Bom 1 Fragata 17 dias 27
3 - 002 RJ Macho Fratura em asa Ruim 1 Fragata 7 dias 1
4 - 003 RJ Fêmea Debilidade Regular 1 Fragata 2 dias 20
5 - 004 RJ Macho Ferimento em asa Regular 1 Fragata 2 dias 8
6 - 005 SP Fêmea Ferimento em asa e encharcado Ótimo 1 Fragata + 1 Gaivota + 1 Biguá 11 dias 3
7 - 006 SP Macho Ferimento em asa Regular 1 Fragata + 1 Gaivota + 1 Biguá 32 dias 8
8 - 007 RJ Fêmea Debilidade Regular Nenhum 2 dias 37
9 - 008 RJ Macho Fratura em asa Regular Nenhum 1 dias 25
10 - 009 RJ Fêmea Ferimento em asa Bom Nenhum Necrópsia 24
11 - 012 RJ Macho Ferimento em asa Regular Nenhum 3 dias 0
12 - 014 RJ Macho Debilidade Regular Nenhum Necrópsia 9
13 - 015 RJ Fêmea Ferimento em asa Ótimo 1 Atobá pardo 2 dias 63
14 - 016 SP Fêmea Encharcada Bom Nenhum 6 dias 4
15 - 017 SP Juvenil Encharcado Ótimo Nenhum 2 dias 4
44
5.1. DIAGNÓSTICO POR MICROSCOPIA DE LUZ
Na microscopia de luz, os piolhos com a antena escodida e palpos maxilares presentes
foram identificados como pertencentes à subordem Amblycera. Já os com a antena livre e
ausência de palpos maxilares foram identificados como pertencentes à subordem Ischnocera.
Os espécimes foram identificados como 3 espécies distribuídas em 3 gêneros distintos.
Para identificação dos gêneros dos piolhos seguiu-se a as chaves de identificação de
Price e colaboradores (2003). Para chegar-se à nomenclatura das espécies baseou-se em Price
(1967), Ryan e Price (1969), Eichler, (1943) e Kellogg (1899). Foram identificadas as espécies
Colpocephalum spineum (Figuras 9 e 10), Fregatiella aurifasciata (Figura 11) e Pectinopygus
fregatiphagus (Figura 12).
As características morfológicas que permitiram a identificação de tais espécies de
acordo com suas descrições em literatura foram:
Colpocephalum spineum: Machos – Cabeça com largura média de 0,48mm,
formato quase quadrangular. Antenas e palpos levemente projetados para além
da margem da cabeça. Temporas largas com margens laterais plana e convexa
com várias cerdas de vários comprimentos, pelo menos dois longos. Margem
occipital amplamente côncava. Borda occipital marrom dourada pálida com
faixa marrom escura terminando em triângulos marrons enegrecidos nas bases
das bandas occipitais. Manchas oculares grandes e manchas distintas em cada
lado do “rami” dianteiro das mandíbulas que se estendem diagonalmente para
a margem frontal. Corpo com comprimento médio de 1,28mm. Corpo
alongado, estreito, com lados subparalelos. Cor marrom dourado pálido.
Marcas laterais castanhas no abdomen bastante características. Protórax curto,
com espinho e cerdas longas em cada ângulo lateral. Metatórax mais longo do
que protórax, quase tão largo quanto abdômen. Vários espinhos em uma linha
dupla ao longo das margens laterais. Tórax de cor marrom pálido. Pernas de
mesma cor do tórax, com marcações marrom escuro perto das extremidades
distai do fêmur e das tíbias. (Figura 9).
45
Fêmeas – Cabeça com largura média de 0,46mm, mais estreita e mais
arredondada anteriormente com um par de placas ventroanterior menos
evidente que o do macho. Abdomen com cerdas marginais de comprimento
uniforme, exceto cerdas pós espiraculares. Cerdas pós espiraculares bastante
longas nos tergitos II, III e VIII. Nos demais tergitos (I e IV – VII) são bem
curtas. Último tergito com 1 cerda bem longa em cada lado, com um total de 4
cerdas curtas latero-anteriormente a estas e 1 cerda posterior interna curta.
Divisões incompletas do Tergito II. Tergitos III a VIII completamente
tripartidos. Comprimento total 1,51mm. Demais estruturas em sua maioria
semelhantes ao macho (Figura 10).
Figura 9: Macho de Colpocephalum spineum (subordem Amblycera). A) Visão geral. Barra
lateral: 243,3 μm. B) Foco na cabeça para melhor visualização das estruturas. Barra lateral:
69,2 μm.
A B
46
Fregatiella aurifasciata: Fêmeas – Cabeça com largura média de 0,63mm.
Formato de meia lua com bordas suaves e convexas. Antenas com uma
constrição definida entre o 3° e o 4° segmento. Quatro cerdas bem longas e
várias curtas em cada têmpora. Margem occipital côncava com seis cerdas
relativamente longas. Cor branco-amarelada com manchas oculares escuras e
pequenas manchas marrons dentro das cavidades antenais. Comprimento total
médio de 1,99mm. Corpo de cor esbranquiçada com bandas abdominais
transversais amareladas. Superfície dorsal do abdomen apresenta muitas cerdas
em séries transversais. Protórax bem grande, com três espinhos curtos e uma
longa cerda na margem arredondada dos ângulos laterais. Cinco cerdas longas
em cada metade da margem posterior do protórax. As margens laterais são
mais escuras do que o resto do segmento. Apresenta uma barra de quitina
transversal evidente e de mesma cor do resto da estrutura e duas barras
longitudinais curvas em suas extremidades de cor mais escura. Metatórax tão
curto quanto ou mais curto que protórax. Ângulo posterior apresentando vários
pequenos espinhos. Margem posterior ligeiramente convexa, quase plana
apresentando, da lateral para o centro, duas longas cerdas, um espinho e então
mais oito longas cerdas em cada metade. Patas de cor pálida com marcas
marginais mais escuras.
A B C
Figura 10: Fêmea de Colpocephalum spineum (subordem Amblycera). A) e B) Visão geral
mostrando variação de tamanho dos piolhos. Barra lateral: 243,3 μm. C) Foco em abdômen
mostrando Tergito II com divisões incompletas (setas vermelhas), diferentemente de demais
tergitos, que apresentam divisões completas (seta preta). Barra lateral: 98,8 μm.
47
Machos – Cabeça com largura média de 0,58mm. Comprimento total médio
de 1,74mm. Último tergito com deslocamento de cerdas dorsalmente. Demais
estruturas em sua maioria semelhantes às da fêmea (Figura 11).
Pectinopygus fregatiphagus: Machos - Largura média da cabeça 0,39mm.
terceiro segmento da antena com um apêndice. Comprimento total médio de
3,12mm. Metatórax apresenta seis longas cerdas, cinco próximas e uma
afastada.
Figura 11: Fregatiella aurifasciata (subordem Amblycera). A) Visão geral da
fêmea. Barra lateral: 314,6 μm. B) Setas apontando para a constrição da antena
entre o 3° e o 4° segmento. Barra lateral: 94,8 μm C) Protórax apresentando
uma barra de quitina transversal evidente e duas barras longitudinais curvas em
suas extremidades. Barra lateral: 110,0 μm D) Visão geral do macho. Barra
lateral: 314,6 μm
A B
C D
48
Fêmeas – Largura da cabeça 0,50mm. Comprimento total médio de 3,10mm.
(Figura 12).
As espécies, quantidade, intensidade média de infestação e os respectivos hospedeiros
dos piolhos encontrados está relacionada nas Tabelas 4 e 5. A morfometria dos espécimes está
relacionada na tabela 6.
As amostras coletadas nas fragatas do CRETA, em São Paulo, apresentaram apenas
duas das três espécies encontradas: Fregatiella aurifasciata e Pectinopygus fregatiphagus. Já
nas amostras coletadas no CRAS, Rio de Janeiro, foram encontradas as três espécies de piolho.
Identificou-se uma predileção das três espécies pelas penas da região de dorso e ventre
do animal. As três espécies foram observadas nesta região. Alguns poucos exemplares foram
observados caminhando em direção ao pescoço das aves, porém não parecia ser um local de
preferência destes parasitos. Não se observou piolhos no tegumento, apenas nas plumas.
Também não foram observados piolhos em bico, patas ou extremidades (penas das asa ou da
cauda).
Em 2 animais observou-se no dorso a presença dos piolhos em maior quantidade, mas
estes se encontravam com facilidade por todo o corpo, exceto nos locais sem penas (pés, face e
bico) e nos locais onde as penas já não eram aquecidas pela irradiação do calor corporal (penas
das asas e penas da cauda).
Figura 12: Pectinopygus fregatiphagus (Subordem Ischnocera). A) Visão geral do macho.
Barra lateral: 154,6 μm B) Setas apontando para apêndice no 3° segmento da antena do
macho. Barra lateral: 467,3 μm C) Visão geral da Fêmea. Barra lateral: 467,3 μm
A B C
49
Tabela 4: Espécies e quantidade de piolhos mastigadores coletados de 15 fragatas (Fregata
magnificens) provenientes do CRAS - RJ e do CRETA – SP no período de outubro de 2016 a
outubro de 2017, relacionadas de acordo com o hospedeiro e frequência de positividade de
piolhos nos animais.
Amostra e
origem
Colpocephalum
spineum
Fregatiella
aurifasciata
Pectinopygus
fregatiphagus
Total
1 - 000 – SP - 3 10 13
2 - 001 – RJ - 15 12 27
3 - 002 – RJ - - 1 1
4 - 003 – RJ 5 1 14 20
5 - 004 – RJ - 1 7 8
6 - 005 – SP - - 3 3
7 - 006 – SP - 2 6 8
8 - 007 – RJ 2 5 30 37
9 - 008 – RJ 2 1 22 25
10 - 009 – RJ 8 5 11 24
11 - 012 – RJ - - - -
12 - 014 – RJ 2 3 4 9
13 - 015 – RJ 9 3 51 63
14 - 016 – SP - - 4 4
15 - 017 - SP - - 4 4
Total 28 39 171 238
Frequência de
positividade
6 (40%) 10 (66,7%) 14 (93,3%) 14 (93.3%)
Tabela 5: Espécies de piolhos mastigadores e quantidades mínimas, máximas e médias
encontradas em 15 fragatas (Fregata magnificens), provenientes do CRAS – RJ e do CRETA
– SP no período de outubro de 2016 a outubro de 2017.
Espécie de piolho Mínimo Máximo Média
Colpocephalum spineum 0 9 1,87
Fregatiella aurifasciata 0 15 2,6
Pectinopygus fregatiphagus 0 51 11,4
50
Colpocephalum spineum Fregatiella aurifasciata Pectinopygus fregatiphagus
Média encontrada Literatura Média encontrada Literatura Média encontrada Literatura
M F M F M F M F M F M F
Comprimento
total
1,28mm 1,51mm 1,53mm Sem
dados
1,74mm 1,99mm Sem
dados
2,19mm 2,89mm 2,76mm 2,50mm -
3,12mm
2,40mm -
3,10mm
Largura total 0,43mm 0,57mm 0,44mm Sem
dados
0,71mm 0,99mm Sem
dados
1,03mm 0,28mm 0,49mm 0,29mm -
0,37mm
0,53mm -
0,69mm
Comprimento
da cabeça
0,34mm 0,34mm 0,34mm Sem
dados
0,34mm 0,35mm Sem
dados
0,31mm 0,68mm 0,72mm 0,58mm -
0,66mm
0,63mm -
0,69mm
Largura da
cabeça
0,48mm 0,46mm 0,47mm Sem
dados
0,58mm 0,63mm Sem
dados
0,70mm 0,36mm 0,48mm 0,29mm -
0,39mm
0,41mm -
0,50mm
Tabela 6: Morfometria das espécies de piolhos encontradas, separados por machos e fêmeas, relacionada com o descrito em literatura.
51
Observou-se que as três espécies de piolhos coletadas são bastante ativas, movendo-se
rapidamente pelo corpo do animal quando este era revistado.
Não foram encontrados Hippoboscídeos ou outros tipos de ectoparasitos além dos
piolhos nas fragatas avaliadas.
Os piolhos serão depositados na Coleção de Artrópodes Vetores Ápteros de
Importância em Saúde das Comunidades, inserida na Coleção Entomológica da Fundação
Oswaldo Cruz.
5.2. DIAGNÓSTICO MOLECULAR
Para o alvo COI das 8 amostras analisadas, 5 amostras resultaram em amplificações
únicas na altura aproximada de 400-450 pares bases (pb) (Figura 13). Para o alvo EF-1ɑ todas
as amostras mostram amplificações únicas também na altura aproximada de 400-450 pb (Figura
13). O controle negativo da PCR (todos os reagentes menos o DNA, foi usado água nucelase
free) e extração do DNA (todos os reagentes menos o DNA, foi usado água nucelase free) não
mostraram amplificações para ambos os alvos.
Embora as amostras tenham apresentando amplificações únicas, a qualidade do
sequenciamento foi ruim, e para algumas amostras não foi possível definir a espécie, portanto,
para uma análise mais robusta novas reações deverão ser realizadas. Os resultados das
amplificações estão descritos na Tabela 7. As amostras que não amplificaram (015-P1, 015-P3
e 015-C2) não foram incluídas na tabela.
A amostra 015-F1 demonstrou Query coverage de 77% e similaridade de 100% com
Fregatiella aurifasciata para o alvo EF1-For3. Ou seja, dos 347 pares de base foi possível
comparar 268 pares de base com uma sequência já depositada no Gen Bank (número de acesso
KT238712), cobrindo 77% da sequencia. Dos 268 comparados os 268 foram identicos. A
sequência obtida foi depositada no Genbank sob o número de acesso MH183161.
52
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
Figura 13: Eletroforese em gel de agarose a 2 % mostrando amplificações para os alvos COI e
EF-1ɑ de espécimes de piolhos de fragata (Fregata magnificens). Coluna 1 e 17: 100pb Ladder
(Ludwig). Colunas 2-11 amplificações para o alvo COI; coluna 2 (amostra 014-P1); coluna 3
(amostra 014-C1), coluna 4 (amostra 015-P1), coluna 5 (amostra 015-P2), coluna 6 (amostra
015-P3), coluna 7 (amostra 015-C1), coluna 8 (amostra 015-C2), coluna 9 (amostra 015-F1),
coluna 10 (controle negativo da extração) e coluna 11 (controle negativo da PCR). Colunas 12-
16, 18-21 e 29 amplificações para o alvo EF-1ɑ; coluna 12 (amostra 014-P1); coluna 13
(amostra 014-C1), coluna 14 (amostra 015-P1), coluna 15 (amostra 015-P2), coluna 16 (amostra
015-P3), coluna 18 (amostra 015-C2), coluna 19 (amostra 015-F1), coluna 20 (controle
negativo da extração), coluna 21 (controle negativo da PCR) e coluna 29 (amostra 015-C1).
Observação: Colunas 22-28 se referem a outro experimento, e nas colunas 30-32 nada foi
aplicado.
53 Tabela 7: Análise das sequências nucleotídicas obtidas para os alvos COI e EF-1ɑ de espécimes de piolhos recuperados de fragata, comparando-
se com as sequências depositada no Genbank usando o parâmetro de maior similaridade.
Código Alvo COI Alvo EF-1 ɑ
Primer
L6625
Primer
H7005
Análise Primer
EF1-For3
Primer
Cho10
Análise
014-P1 321pb.
Não foi
possível editar
a sequência
devido à baixa
qualidade do
cromatograma.
319pb.
Não foi
possível editar
a sequência
devido à baixa
qualidade do
cromatograma.
L6625:
Query coverage 76% e
similaridade de 84% com
P. fregatiphagus. (número
de acesso DQ489433).
H7005:
Query coverage 88% e
similaridade de 79% com
P. fregatifagus (número de
acesso DQ489433).
300pb.
Não foi possível
editar a sequência
devido à baixa
qualidade do
cromatograma.
293pb.
Não foi possível
editar a sequência
devido à baixa
qualidade do
cromatograma.
EF1-For3:
Query coverage 65% e
similaridade de 90%
com P. fregatiphagus.
(número de acesso
DQ489433).
Cho10:
Sem similaridade
54 Tabela 7: (Continuação) Análise das sequências nucleotídicas obtidas para os alvos COI e EF-1ɑ de espécimes de piolhos recuperados de fragata,
comparando-se com as sequências depositada no Genbank usando o parâmetro de maior similaridade.
Código Alvo COI Alvo EF-1 ɑ
Primer
L6625
Primer
H7005
Análise Primer
EF1-For3
Primer
Cho10
Análise
014-C1 360pb.
Não foi possível
editar a
sequência
devido à baixa
qualidade do
cromatograma.
362pb.
Não foi possível
editar a
sequência
devido à baixa
qualidade do
cromatograma.
L6625:
Apresenta alguma
similaridade com vários
outros artrópodes.
H7005:
Apresenta alguma
similaridade com vários
outros artrópodes.
336pb.
Não foi possível
editar a
sequência
devido à baixa
qualidade do
cromatograma.
Não foi
possível
analisar a
sequência.
EF1-For3:
- 1º: Query coverage 93%
e similaridade de 97%
com Kurodaia sp.
(número de acesso
AF320417).
- 2°: Query coverage 93%
e similaridade de 96%
com Colpocephalum sp.
(número de acesso
AF545779).
Cho10:
Sem análise
55 Tabela 7: (Continuação) Análise das sequências nucleotídicas obtidas para os alvos COI e EF-1ɑ de espécimes de piolhos recuperados de fragata,
comparando-se com as sequências depositada no Genbank usando o parâmetro de maior similaridade.
Código Alvo COI Alvo EF-1 ɑ
Primer
L6625
Primer
H7005
Análise Primer
EF1-For3
Primer
Cho10
Análise
015-P2 320pb.
Não foi possível
editar a
sequência devido
à baixa qualidade
do
cromatograma.
311pb.
Não foi possível
editar a
sequência
devido à baixa
qualidade do
cromatograma.
L6625:
Query coverage 83% e
similaridade de 94%
com P. fregatiphagus.
(número de acesso
DQ489433).
H7005:
Query coverage 94% e
similaridade de 99%
com P. fregatifagus
(número de acesso
DQ489433).
325pb.
Foi possível
editar a
sequência.
Não foi possível
analisar a
sequência.
EF1-For3:
Query coverage 96% e
similaridade de 97%
com P. fregatiphagus.
(número de acesso
DQ489433).
Cho10:
Query coverage 94% e
similaridade de 80%
com P. fregatiphagus.
(número de acesso
DQ489433).
56 Tabela 7: (Continuação) Análise das sequências nucleotídicas obtidas para os alvos COI e EF-1ɑ de espécimes de piolhos recuperados de fragata,
comparando-se com as sequências depositada no Genbank usando o parâmetro de maior similaridade.
Código Alvo COI Alvo EF-1 ɑ
Primer
L6625
Primer
H7005
Análise Primer
EF1-For3
Primer
Cho10
Análise
015-C1 357pb.
Não foi
possível editar
a sequência
devido à baixa
qualidade do
cromatograma.
364pb.
Não foi
possível editar
a sequência
devido à baixa
qualidade do
cromatograma.
L6625:
Apresenta alguma
similaridade com vários
outros artrópodes
H7005:
Query coverage 97% e
similaridade de 80%
com Mysidea nesomini
(número de acesso
JF734282).
332pb.
Foi possível
editar a
sequência.
289pb.
Não foi possível
editar a
sequência
devido à baixa
qualidade do
cromatograma.
EF1-For3:
-1°: Query coverage 96% e
similaridade de 95% com P.
fregatiphagus. (número de
acesso AF3220417).
- 2°: Query coverage 96% e
similaridade de 94% com
Colpocephalum sp. (número
de acesso AF545779).
Cho10:
Sem similaridade
57 Tabela 7: (Continuação) Análise das sequências nucleotídicas obtidas para os alvos COI e EF-1ɑ de espécimes de piolhos recuperados de fragata,
comparando-se com as sequências depositada no Genbank usando o parâmetro de maior similaridade.
Código Alvo COI Alvo EF-1 ɑ
Primer
L6625
Primer
H7005
Análise Primer
EF1-For3
Primer
Cho10
Análise
015-F1 Não amplificou
Não amplificou Não foi possível
analisar a sequência
347pb.
Foi possível
editar a
sequência.
320pb.
Não foi possível
editar a sequência
devido à baixa
qualidade do
cromatograma.
EF1-For3:
Query coverage 77% e
similaridade de 100%
com Fregatiella
aurifasciata. (número
de acesso KT238712).
Cho10:
Sem similaridade
Legenda:
QUERY COVERAGE: Porcentagem da sequência submetida ao programa BLAST que é coberta pelo alinhamento (https://blast.ncbi.nlm.nih.gov)
58
6. DISCUSSÃO
De acordo com os dados de ambos os centros de reabilitação, tradicionalmente o número
de fragatas que chegam para serem reabilitadas anualmente é relativamente alto, em torno de
20 a 30 animais por ano em cada centro. Porém, infelizmente durante o período de coleta de
amostras para a realização deste estudo, a quantidade de fragatas que chegaram aos centros de
reabilitação foi incomumente abaixo do esperado. Ao questionar os veterinários e funcionários
dos centros de reabilitação a respeito do motivo do baixo número de animais, estes não
souberam explicar a razão exata, mas afirmaram que diversos fatores inclusive mudanças
climáticas podem interferir na quantidade de animais resgatados. O período de coleta das
amostras foi de outubro de 2016 até outubro de 2017. No ano de 2016 o Brasil foi afetado no
início do ano pelo fenômeno climático “El niño” e no final de 2016 e início de 2017 pelo
fenômeno “La niña”. Estes são fenômenos opostos de aquecimento e resfriamento anormal das
águas do oceano pacífico na região equatorial que contribuem para o deslocamento de massas
de ar quente e frio, respectivamente, pela América do Sul, alterando o clima dos países por
longos períodos de tempo. Estas mudanças climáticas podem estar relacionadas ao baixo
número de fragatas resgatadas, já que estes são animais pelágicos e estariam sob influência
direta das mudanças climáticas nos oceanos e no continente.
Embora não se tenha observado nenhum outro ectoparasito além de piolhos
mastigadores nas fragatas participantes do estudo, a literatura cita a presença de moscas da
família Hippoboscidae (Diptera) em várias espécies de fragatas, incluindo F. magnificens
(MAA, 1969; GRACIOLLI; CARVALHO, 2003; LEVIN; PARKER, 2013). No entanto, a
maioria das descrições em literatura foram realizadas coletando-se dos animais em seus
ambientes naturais, onde a concentração de parasitos é maior. Os hipoboscídeos são dípteros,
ou seja, são capazes de voar e não ficam todo o tempo no animal, podendo trocar de hospedeiro
facilmente ou ser encontrado no ambiente das colônias destes animais. Deve-se considerar
também que o número de animais analisados foi baixo, portanto, mesmo não tendo se observado
a presença de hippoboscídeos nos animais resgatados pelos centros, não se pode descartar a
possibilidade de outros ectoparasitos estarem ocorrendo nos animais em vida livre.
59
Durante a revisão de literatura notou-se que a maioria estudos sobre ectoparasitas de
fragatas são separados em estudos em piolhos mastigadores ou estudos em Hippoboscídeos.
Embora alguns livros e artigos mencionem que piolhos podem ser transportados de um
hospedeiro a outro por hippoboscídeos em diversas espécies de aves (THOMPSON, 1936;
DAVIS et at., 1977; CLAYTON; WALTHER, 1997; SILVA, 2009), nenhum deles explora
com profundidade a relação entre estes parasitos ou faz menção ao encontro de ambos em uma
mesma colônia de fragatas ou em um mesmo hospedeiro. Por isso não está muito claro na
literatura se as fragatas apresentam os dois tipos de ectoparasitos ao mesmo tempo e em que
momento isso acontece.
As espécies de piolho diagnosticadas, Fregatiella aurifasciata, Colpocephalum spineum
e Pectinopygus fregatiphagus, já eram esperadas pois todas já possuíam registro de ocorrência
em Fregata magnificens em outros países tropicais, sendo uma já registrada no Brasil (P.
fregatiphagus em São Paulo) e outra com um registro de 1989 levando outra nomenclatura (C.
spineum foi registrado em Santa Catarina como C. ehrhardti, nomenclatura hoje inválida).
Duas das espécies de piolho encontradas não estão restritas a apenas uma espécie de
hospedeiro. A espécie F. aurifasciata também possui registro de ocorrência nos hospedeiros
Fregata minor, Fregata ariel, Fregata aquila e Fregata andrewsi. A espécie C. spineum já foi
registrada também em F. aquila. A espécie P. fregatiphagus até o momento é parasito exclusivo
de F. magnificens (KELLOG, 1899; EICHLER, 1943; RYAN; PRICE, 1967; AMERSON;
EMERSON, 1971; PRICE et al, 2003). Este tipo de registro é incomum pois, de maneira geral,
os piolhos apresentam alta especificidade de hospedeiro, não sendo encontrados em outras
espécies hospedeiras, exceto por uma eventual transmissão acidental, onde usualmente o piolho
não consegue sobreviver.
A predileção observada dos parasitos pelas plumas da região de dorso e ventre do
hospedeiro provavelmente está relacionada à irradiação de calor corporal da ave. É possível
compreender que os piolhos escolham estes locais para se abrigar, já que as fragatas possuem
uma grande envergadura das asas que as permite planar por tempo prolongado. Isso faz com
que elas estejam constantemente expostas ao vento, o que mantém as extremidades das asas
sempre a uma temperatura mais baixa que o eixo do corpo do animal.
A maior parte das aves participantes do estudo chegaram aos centros de reabilitação
por apresentarem lesões em asas, quase todas causadas por linhas de pipa, provavelmente
banhadas em cerol (mistura cortante de vidro moído e cola). Uma das fragatas participantes do
estudo chegou à reabilitação apenas por estar encharcada. Esta foi retirada da água por um
pescador que informou que a ave havia se enrolado em sua linha de pesca e acabou por cair na
60
água. Como estas aves não possuem impermeabilização natural das penas como outras aves
marinhas, elas não podem entrar na água, pois ficam encharcadas e não conseguem levantar
vôo, representando assim um risco à sua vida.
A maioria dos estudos de ectoparasitos em aves de vida livre, tanto marinhas como
silvestes, mostram uma quantidade pequena de piolhos, com uma variabilidade entre 0 e 46
exemplares de cada espécie de piolho por hospedeiro (CLAYTON; WALTHER, 2001;
GONZÁLEZ-ACUÑA et al. 2011; SILVA et al., 2014; TOMÁS et al. 2016). As aves
analisadas neste estudo apresentaram uma quantidade de piolhos dentro desta faixa. Houve
apenas um animal que apresentou um número de piolhos de uma espécie um pouco acima do
encontrado em literatura (51 exemplares da espécie Pectinopygus fregatiphagus). Essa fragata
foi também a que apresentou maior quantidade total de piolhos, somando-se as três espécies,
totalizando 63. Apesar da maior quantidade de parasitos coletados, este animal estava saudável,
com ótimo escore corporal, tendo sido reabilitado e devolvido à natureza sem maiores
dificuldades.
A razão desta ave ter apresentado uma quantidade maior de parasitos pode ter diversas
explicações. Primeiramente deve-se considerar que a técnica utilizada para a coleta dos
parasitos em seus hospedeiros consegue recolher boa parte destes ectoparasitos, porém não
todos. Outros estudos semelhantes que realizam coletas de ectoparasitos não são muito claros
quanto à metodologia utilizada, portanto é difícil realizar uma comparação com os demais
métodos para avaliar a eficácia, o que pode comprometer os resultados.
Outro ponto a ser considerado é o fato desta ave, durante seu tratamento no centro, ter
sido mantida no mesmo recinto que um atobá-pardo (Sula leucogaster), uma ave comumente
encontrada nos mesmos locais de nidificação e alimentação das fragatas. Dessa forma pode-se
pensar em uma possível transmissão cruzada destes parasitos entre as duas espécies, muito
embora os parasitos identificados nunca tenham sido identificados em outros hospedeiros que
não do gênero Fregata.
Uma terceira opção a ser considerada, provavelmente a mais plausível, seria a
possibilidade deste animal estar em uma fase reprodutiva diferenciada. As fragatas, uma vez
iniciado o período reprodutivo, passam aproximadamente 50 dias chocando seus ovos e mais
de 160 dias alimentando os filhotes no ninho enquanto estes ainda não estão emplumados
(DIAMOND 1973). Os machos, contudo, abandonam os cuidados parentais cedo, muitas vezes
antes do filhote completar seis meses, enquanto a fêmea se mantém na tarefa mesmo após a
saída do filhote do ninho, com aproximadamente 180 a 190 dias (DIAMOND, 1972;
CARMONA et al, 1995; OSORNOS, 1999; BRANCO, 2011). Sabe-se que no período de
61
incubação dos ovos e crescimento dos filhotes de aves a população de ectoparasitos nestes
animais tende a crescer pois estes se acumulam no ninho destes animais e podem inclusive ser
quantificados de forma mais precisa através do ninho ao invés de no hospedeiro (LEE;
CLAYTON, 1995; CLAYTON;WALTHER, 1997).
As fragatas são aves que nidificam durante quase todo o ano e, no período de incubação
dos ovos o crescimento populacional dos piolhos nestes animais pode aumentar
consideravelmente. Portanto é possível se considerar que este animal estivesse nesta fase de
incubação antes do acidente que o levou à reabilitação.
O primeiro registro de ectoparasitos em Fregata magnificens no Brasil foi realizado
por Tendeiro (1989), que registrou o Colpocephalum ehrhardti, seguido de Valim et al. (2005),
que registraram o Pectinopygus fregatiphagus. Em ambos os registros, os pesquisadores
realizaram a coleta em apenas uma fragata em cada um de seus respectivos estudos e
encontraram apenas um indivíduo das respectivas espécies de piolho. Além disso, em ambos os
registros, as fragatas utilizadas eram animais de cativeiro.
Em nosso estudo, como as aves eram recolhidas da natureza e avaliadas pouco depois,
pôde se ter um melhor conhecimento dos ectoparasitos que ocorrem nas fragatas em seu
ambiente natural, bem como a frequência em que estes são observados nas aves. A espécie P.
fregatiphagus esteve presente em praticamente todas as aves analisadas (14/15, ou, 93,3%),
enquanto as outras duas espécies. F. aurifasciata e C. spineum, se apresentaram menos
frequentes (10/15, ou, 66,7% e 6/15, ou, 40% respectivamente).
Diferentemente do afirmado por Thompson (1936), que cita a subordem Ischnocera
como usualmente menos ativa que as demais, observou-se que os piolhos identificados neste
estudo como Pectinopygus fregatiphagus, pertencente à subordem Ischnocera, são tão ativos
quanto os outros dois gêneros identificados. Apesar deste registro de Thompson, a variedade
de espécies existentes em cada subordem é extensa e cada uma possui suas próprias
características, portanto podem haver variações dentro da subordem.
Quanto à morfometria dos espécimes coletados, muitas informações em literatura são
incompletas ou equivocadas devido ao registro errôneo de espécimes de determinada espécie
ou devido a várias mudanças em nomenclatura durante os anos. Podemos citar o exemplo do
Colpocephalum spineum, que teve seu primeiro registro no Brasil por Tendeiro (1989) como
uma nova espécie chamada de Colpocephalum ehrhardti, tendo sido esta nomenclatura
posteriormente invalidada por se tratar da mesma espécie. A espécie Fregatiella aurifasciata
era classificada anteriormente como Gênero Menopon e teve diferentes nomenclaturas, como
Menopon intermedium Piaget 1880, Menopon auri-fasciatum Kellog 1899 e Menopon
62
intermissum Harrison 1916, até que foi remanejada para um novo gênero chamado Fregatiella,
ganhando seu nome atual (RYAN; PRICE, 1969). Já a espécie Pectinopygus fregatiphagus
inicialmente foi descrita como Lipeurus gracilicornis Piaget 1880. Em seguida, Kellog em 1899
descreveu uma nova variação, conhecida como Lipeurus gracilicornis var. major, que
posteriormente se tornou sinonímia por se tratar da mesma espécie. No entanto posteriormente
foi evidenciado por Ferris (1932) que as descrições da espécie estavam equivocadas, pois Piaget
havia descrito o macho desta espécie, pareando-o com a fêmea de outra espécie de piolho
(Pectinopygus sulae Rudow, 1869) e este erro foi perpetuado pelos autores subsequentes.
Apesar destas inconstâncias na definição morfológica dos espécimes, estes
apresentaram características dentro do descrito em literatura para cada espécie, embora com
algumas pequenas variações. As medidas de largura de cabeça e comprimento total do corpo
foram exatamente iguais ao descrito em literatura por Kellogg em 1899, para a espécie
Pectinopygus fregatiphagus, tanto para machos como para fêmeas, embora esta tenha sido a
descrição mais sucinta encontrada em literatura dentre as três espécies. As demais espécies
apresentaram variações nas medidas encontradas, porém próximas ao descrito em literatura
(KELLOGG, 1899; PRICE, 1967; RYAN; PRICE, 1969).
As descrições morfológicas de cada espécie de piolho neste estudo foram feitas
comparativamente com o encontrado em literatura, portanto em certos momentos houve grande
dificuldade de se fazer a comparação e a descrição de características próprias da espécie. Os
registros de tais espécies são muito antigos e alguns possuem informações equivocadas e dados
obsoletos, além de diversas mudanças em nomenclatura o que em alguns momentos dificultou
o entendimento das características da espécie e tornou sua identificação dificultada. Por este
motivo decidiu-se complementar a identificação utilizando-se biologia molecular.
Na análise molecular, embora nenhuma das amplificações tenha resultado em um
sequenciamento ideal, aparentemente ambos os alvos (COI e EF-1ɑ) foram mais sensíveis e
específicos para detectar P. fregatiphagus, apresentando Query coverage e similaridade acima
de 90% com quase todos os primers utilizados, o que proporciona uma segurança para a
confirmação de que realmente trata-se desta espécie, assim como identificado na morfometria.
Para a espécie F. aurifasciata embora tenha se obtido amplificação com apenas um
dos alvos, o EF-1α, e apenas para uma das fitas analisada (EF1-For3) esta foi a sequência com
melhor qualidade dando uma margem para assegurar que de fato se trate desta espécie.
Já para C. spineum em ambas as amostras (14-C1 e 15-C1) foi possível a análise para
apenas um dos alvos e uma das fitas. O alvo COI foi inespecífico, dando baixa similaridade
com outros artrópodes variados nas duas amostras. O alvo EF-1α sequenciou a fita EF1-For3
63
dando similaridade com dois gêneros, o gênero Kurodaia e o gênero Colpocephalum. No
sequenciamento da outra fita, Cho10, não houve similaridade ou não foi possível analisar a
sequência devido à baixa qualidade do sequenciamento.
O gênero Kurodaia é um gênero de Colpocephalidae, e foi criado em 1926 por Uchida,
quando este observou que o piolho Colpocephalum halieeti Denny 1842 possuía diferenças
significativas para a criação de um novo gênero, nomenando-o então de Kurodaia halieeti,
sendo esta a primeira espécie do gênero (UCHIDA, 1926). Hoje o gênero tem diversas espécies
que parasitam principalmente Falconiformes e Strigiformes.
A amostra 13 - 015 utilizada para a biologia molecular foi proveniente do CRAS, que
também recebia falcões e corujas de diversas espécies para a reabilitação, o que pode levar a
crer em uma possível contaminação, embora os recintos destes animais fossem separados. No
entanto, como o gênero Kurodaia é extremamente próximo do gênero Colpocephalum, e, as
análises moleculares não foram muito precisas, é plausível a ocorrência de tamanha
similaridade. Deve-se, portanto, refazer as análises moleculares para a confirmação do gênero.
No entanto, mesmo se em nova análise molecular for confirmado o gênero Colpocephalum, a
espécie não poderá ser confirmada por este método pois não existe depósito no Genbank da
espécie Colpocephalum spineum, identificada na microscopia de luz.
Como a maioria das aves (11/15) chegou aos centros por terem sofrido acidentes, já
era de se esperar que a população parasitária destes animais estivesse em níveis brandos, de
acordo com o observado em literatura, já que, a princípio, estes animais estariam saudáveis até
o momento do acidente, portanto, com suas populações parasitárias em níveis controlados.
No entanto, observou-se que, mesmo os animais que chegaram com um quadro de
debilidade (4/15), apresentaram níveis normais de ectoparasitismo para aves de vida livre.
Esperava-se uma população parasitária um pouco mais elevada nestes casos. Porém, não se
sabe o histórico destas aves, já que eram de vida livre e não foi possível obter o registro de
sinais clínicos dos animais, já que essa informação não era corretamente preenchida nas fichas
dos centros de reabilitação. Portanto não foi possível estabelecer uma relação entre estado geral,
sinais clínicos e nível de infestação do hospedeiro por ectoparasitos.
As aves que vieram a óbito e não foram congeladas logo em seguida, não fizeram parte
deste estudo devido às características dos piolhos e outros ectoparasitos de normalmente
deixarem seu hospedeiro quando este morre, indo para o ambiente na tentativa de encontrar
outro hospedeiro próximo (WILSON, 1934; DAVIS et at., 1977). Se estas carcaças fossem
utilizadas no estudo, provavelmente não seriam encontrados ectoparasitos e isso traria um dado
errôneo para o estudo.
64
A introdução pelo homem de cães, gatos e outros mamíferos domésticos em regiões
costeiras e oceânicas vem afetando diretamente as populações de aves marinhas, gerando certa
mortalidade de indivíduos, principalmente entre aves menores que estão facilmente presentes
na região litorânea e praias do continente. Aves maiores como as fragatas são menos afetadas
pois não são tão frequentes nas praias e locais abertos de fácil acesso (SCHREIBER; BURGER,
2002). São aves que pousam apenas em locais altos, sendo raramente encontradas no chão e
nidificam em ilhas costeiras e oceânicas (VOOREN; BRUSQUE, 1999). No entanto, com a
expansão progressiva da espécie humana em ilhas costeiras, cada vez mais essas aves entram
em contato com ambientes domésticos e estão suscetíveis ao impacto causado por estes animais.
Assim como outros autores afirmam, em nosso país a introdução de cães e gatos nas
ilhas e regiões costeiras pode estar interferindo indiretamente na população de fragatas, pois
estas são aves que roubam alimentos de outras aves marinhas (GIBSON-HILL, 1947;
NELSON, 1968; DIAMOND, 1975), logo, a diminuição das populações que convivem com
elas poderia causar algum tipo de impacto na população de fragatas.
Neste estudo é possível perceber como a presença da espécie humana influencia
negativamente nas populações destes animais, pois a maioria das fragatas que chegaram aos
centros de reabilitação devido a interferências antrópicas direta ou indiretamente no ambiente
onde estes animais circulam. No entanto, não se pode concluir que humanos tenham total
responsabilidade pela debilidade de todas as aves desta espécie que chegam aos centros de
reabilitação, pois não é possível fazer uma avaliação concisa a este respeito com uma amostra
tão pequena de animais. Entretanto, é possível observar um padrão de interferência humana na
vida destas aves.
Uma das fragatas que chegou ao CRAS (n° 11 - 012 – RJ) surpreendentemente não
apresentou nenhum ectoparasito. Os veterinários e funcionários do centro de reabilitação
confirmaram que o animal não havia sido tratado para ectoparasitas antes da coleta. Este animal,
um macho, chegou ao centro por apresentar ferimento em asa esquerda e estava em condição
geral de saúde regular. Ficou em reabilitação por três dias e então pôde ser devolvido à natureza.
Este foi um resultado inesperado, pois sendo um animal de vida livre que vive em colônias com
outros da mesma e de outras espécies, é de se esperar que esteja infestado, ainda que com uma
quantidade baixa de parasitos (SERAFINI; LUGARINI, 2014).
Os resultados obtidos neste estudo foram inéditos na região onde foram realizados,
podendo contribuir para um melhor atendimento das Fragatas que chegarem a centros de
reabilitação e para um diagnóstico diferenciado em relação a possíveis patologias envolvendo
65
estes animais, auxiliando assim na ecologia e conservação das espécies e ecossistemas
brasileiros.
A espécie Fregata magnificens ainda é pouco estudada no país, mesmo tendo
ocorrência desde a América do Norte, Cabo Verde, Ilhas Galápagos até a Costa Norte da
América do Sul e Caribe (DIAMOND, 1973) e, sendo o Brasil um dos países com maior área
de ocorrência destes animais. Portanto, faz-se necessário aprofundar os conhecimentos sobre
estes animais, realizando novos estudos sobre biologia e patologias que os acometem, se
possível, comparando os resultados com colônias de outras regiões.
As perspectivas para novos estudos seriam a realização do sequenciamento dos alvos
das espécies encontradas, sobretudo do Colpocephalum spineum para depósito no GenBank,
além da realização de microscopia eletrônica de varedura para uma descrição morfológica mais
apurada de tais espécies.
66
7. CONCLUSÕES
Primeiro relato de Fregatiella aurifasciata e primeiro relato de Colpocephalum spineum
com a devida nomenclatura no Brasil em aves de vida livre resgatadas por centros de
reabilitação, nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. E primeiro relato de
Pectinopygus fregatiphagus no Rio de Janeiro.
Observou-se predileção de infestação das espécies de piolhos encontrados pela região
de dorso e ventre do hospedeiro, em suas plumas, não sendo observados parasitos em
tegumento ou em outras regiões corporais (cabeça, pescoço, patas, bicos e asas).
As aves F. magnificens apresentaram alta ocorrência de piolhos mastigadores, porém
baixa intensidade de infestação. A espécie de maior ocorrência e intensidade foi
Pectinopygus fregatiphagus, seguido de Fregatiella aurifasciata e por último
Colpocephalum spineum.
Não foi possível estabelecer uma relação entre estado geral, sinais clínicos e nível de
infestação do hospedeiro por ectoparasitos devido à falta de informações no registro das
fichas dos animais nos centros de reabilitação.
Embora existam poucas sequências destes ectoparasitos depositadas no Genbank, e o
sequenciamento deva ser melhorado em sua qualidade, com estes resultados
preliminares da biologia molecular pode-se supor que o diagnóstico morfológico está
correto. Porém maiores estudos devem ser realizados com relação a ensaios moleculares
para se estabelecer uma maior concordância entre esta e os achados na microscopia
ótica.
67
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AB'SABER, A. N. Litoral do Brasil. São Paulo: Metalivros, 287 p., 2001
AMERSON, A. B. Jr.; EMERSON, C. K. Records of Mallophaga from Pacific Birds. Atoll
Research Bulletin. n° 146, 1971.
ASH, J. S. A. Study of the Mallophaga of birds with particular reference to their ecology.
Ibis. n° 102, p. 93-110, 1960.
BAKER, J. R. A review of the role played by the Hippoboscidae (Diptera) as vectors of
endoparasites. Journal of Parasitology. n° 53, p. 412–418, 1967.
BEQUAERT, J. The hippoboscidae or louse-flies (Diptera) of mammals and birds Part I.
Structure, physiology and natural history. Entomologica Americana, News, Series, v.32,
p.1-208, 1953.
BISHOPP, F. C. The pigeon fly – an important pest of pigeons in the United States. Journal
of Economic Entomology n° 22, p. 947–987, 1929.
BOWMAN, D.D. Georgis – Parasitologia Veterinária. Tradução da 9a edição, Rio de
Janeiro: Elsevier, p. 4 – 80, 2010.
BRANCO, J. O. Observação sobre a reprodução de Fregata magnificens nas Ilhas
Moleques do Sul, Santa Catarina, Brasil. Revista Brasileira de Ornitologia, vol. 19, n° 4, p.
514-519, 2011.
BURGER, J.; GOCHFELD, M. The Common Tern: Its Breeding Biology and Social
Behavor. Columbia University Press, New York, 1991.
CAMPOS, F. P.; PALUDO, D.; FARIA, P. J.; MARTUSCELLI, P. Aves insulares marinhas,
residentes e migratórias, do litoral do Estado de São Paulo. p. 57-82 in BRANCO J. O. Aves
marinhas insulares brasileiras: bioecologia e conservação. Itajaí: Editora da UNIVALI,
2004.
CARMONA, R.; GUZMAN, J.; ELORDUY, F. J. Hatching, Growth and Mortality of
Magnificent Frigatebird Chicks in Southern Baja Califórnia. Wilson Bull., n°107, p. 328-
337, 1995.
CATÃO-DIAS, J. L. Doenças e seus impactos sobre a biodiversidade. Ciência e Cultura. São
Paulo, vol. 55, n° 3, p. 32-34, 2003.
CBRO. Listas das aves do Brasil. 11ª Edição, 1 de janeiro de 2014. Comitê Brasileiro de
Registros Ornitológicos, Sociedade Brasileira de Ornitologia. Disponível em
<http://www.cbro.org.br>. Acesso em: 28/10/2016.
68
CLAYTON, D. H.; ADAMS, R. J.; BUSH, S. E. Phthiraptera, the chewing lice, in: N. J.
Thomas, D. B. Hunter, C. T. Atkinson (Eds.), Parasit Dis Wild Birds. 1st ed. Wiley-Blackwell,
Iowa, EUA, p. 515-526, 2008.
CLAYTON, D. H.; WALTHER, B. A. Collection and quantification of arthropod parasites of
birds. pp 419-440. In D. H. Clayton and J. Moore (eds.), Host-parasite evolution: general
principles and avian models, Oxford University Press, Oxford, United Kingdom, 473 p., 1997.
CLAYTON, D. H.; WALTHER, B. A. Influence of host ecology and morphology on the
diversity of Neotropical bird lice. Oikos, n° 94, p. 455–467, 2001.
COSTA, L. Insetos do Brasil. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Agronomia, p 351 – 378,
1938.
CRAIK, J. C. A. Aspects of the biology of the Common Gull Larus canus from remains left
by predators. Ringing and Migration. n°18 p. 84–90, 1997.
CRAIK, J. C. A. Effects of North American Mink on the breeding success of terns and
smaller gulls in West Scotland. Seabirds. n° 17 p. 3-11, 1995.
DANFORT, B. N.; JI, S. Elongation factor-1 alpha occurs as two copies in bees:
implications for phylogenetic analysis of EF-1 alpha sequences in insects. Molecular
Biology and Evolution. n° 14 p. 381-390, 1998.
DAVIS, J. W.; ANDERSON, R. C.; KARSTAD, L.; TRAINER, O. D. Enfermidades
Infecciosas y Parasitarias de Las Aves Silvestres. Espanha: Editorial Acribia. p 351, 1977.
DEARBORN, D. C.; ANDERS, A. D.; SCHREIBER, E. A.; ADAMS, R. M. M.; MUELLER,
U. G. Inter-island movements and population differentiation in a pelagic seabird.
Molecular Ecology. n°12 p. 2835–2843, 2003.
DEL HOYO, J., ELLIOTT, A., SARGATAL, J. Handbook of the birds of the World. Lynx
Edicions, Barcelona. n°1, 1992.
DEL HOYO, J., ELLIOTT, A., SARGATAL, J. Handbook of the birds of the World. Lynx
Edicions, Barcelona. n°10, 2005
DIAMOND, A. W. Biology and behaviour of frigatebirds Fregata spp. On Aldabra Atoll.
Ibis, vol 117, n°3, p 302-323, 1975.
DIAMOND, A. W. Notes on the breeding biology and behavior of the magnificent
frigatebird. The Condor, n° 75, p 200-209, 1973.
DIAMOND, A. W. Sexual dimorphism in breeding cycles and unequal sex ratio in
Magnificent Frigatebirds. Ibis, vol 114, n°3, p. 395-398, 1972.
DIAMOND, A. W., SCHREIBER, E. A. Magnificent Frigatebird (Fregata magnificens). Em:
A. Poole e F. Gill (eds.). The birds of North America, Philadelphia. n°. 601, 2002.
DICK, C. W. Checklist of world Hippoboscidae (Diptera: Hippoboscoidea). Department of
Zoology, Field Museum of Natural History, Chicago, 7 p. 2006.
DURDEN, L. A. Lice (Phthiraptera). In: MULLEN G., DURDEN L. Medical and Veterinary
Entomology. USA: Elsevier Science, p 45-65, 2002.
69
EICHLER, V. W. Notulae Mallophagologicae. IX. Oedicnemiceps nov. gen. un andere
interessante Federlinge von bemerkenswerten Wirten. In: Zoologicher Anzeiger. n°141, p.
57-61, 1943.
ERICSON, P. G. P.; ANDERSON, C. L.; BRITTON, T.; ELZANOWSKI, A.; JOHANSSON,
U. S.; KALLERSJO, M.; OHLSON, J. I.; PARSONS, T. J.; ZUCCON, D.; MAYR, G.
Diversification of Neoaves: Integration of molecular sequence data and fossils. Biology
Letters. n°2, p. 543-547, 2006.
FELSO, B.; ROZSA, L. Reduced taxonomic richness of lice (Insecta: Phthiraptera) in
diving birds. Journal of Parasitology n° 92, p. 867–869, 2006.
FERRERO, A. A.; GUTIÉRES, M. M.; GARCIA, S. H.; CASTRO, D. Phthiraptera
(Arthropoda, Insecta) en Gallus gallus (Galliformes, Phasianidae) en criaderos de áreas
urbanas y suburbanas de la ciudad de Bahia Blanca, província de Buenos Aires,
Argentina. Entomologia y Vectores, vol 11, n° 2, p. 297-303, 2004.
FERRIS, G. F. New Species and Other Records of Mallophaga from the Marquesas.
Bulletin of the Bernice P. Bishop Museum, vol 98, pag 53-72, 1932.
FURNESS, R. W.; CAMPHUYSEN, K. C. J. Seabirds as monitors of the marine
environment. ICES Journal of Marine Science, vol 54, p. 726-37, 1997.
GARCIA, S. H.; GUTIERREZ, M. M.; CASTRO, D. Presencia de Phthiraptera en Gallus
gallus en la ciudad de Bahia Blanca, Argentina. Jornal Brasileiro de Patologia, vol. 37,
n°229, 2001.
GARNHAM, PCC. Malaria parasites and other haemosporidia. Oxford: Blackwell, 1966.
GIBSON-HILL, C. A. Notes on the birds of Christmas Island. Bull. Raffles Museum, n°18,
87-165 p., 1947.
GONZÁLEZ-ACUÑA, D.; CORVALAN, F.; BARRIENTOS, C.; DOUSSANG, D.;
MATHIEU, C.; NILSSON, L.; CASANUEVA, M. E.; PALMA, R. L. Community structure
of lice (Insecta: Phthiraptera) from two sympatric gull species: kelp gull (Larus
dominicanus) and Franklin's Gull (Larus pipixcan) in Talcahuano, Chile. Neotropical
Entomology, Londrina, vol. 40, n° 3, p. 300-304, 2011.
GRACIOLLI, G.; CARVALHO, C. J. B. Hippoboscidae (Diptera, Hippoboscoidea) no
Estado do Paraná, Brasil: chaves de identificação, hospedeiro e distribuição geográfica.
Revista Brasileira de Zoologia, vol. 20 n°4, p. 667-674, 2003.
GUERRA, R. de M.S.N. de C.; CHAVES, E. P.; PASSOS, T. M. G.; SANTOS A. C. G.
Espécies, Sítios de Localização, Dinâmica e Estrutura de Populações de Malófagos em
Galinhas Caipiras (Gallus gallus L.) Criadas na Ilha de São Luis, MA. Neotropical
Entomology, vol. 37, n°3, p. 259-264, 2008.
GUIMARÃES, L.R. Sobre alguns ectoparasitos de aves e mamíferos do litoral paranaense.
Arquivos do Museu Paranaense, Curitiba, n° 4, p. 179-190. 1945.
HACKETT, S. J.; KIMBALL, R. T.; REDDY, S.; BOWIE, R. C. K.; BRAUN, E. L.; BRAUN,
M. J.; CHOJNOWSKI, J. L.; COX, W. A.; HAN, K-L.; HARSHMAN, J.; HUDDLESTON, C.
J.; MARKS, B. D.; MIGLIA, K. J.; MOORE, W. S.; SHELDON, F. H.; STEADMAN, D. W.;
70
WITT, C. C.; YURI, T. A phylogenomic study of birds reveals their evolutionary history.
Science, n° 320, p. 1763-1768, 2008.
HAFNER, M. S.; SUDMAN, P. D.; VILLABLANCA F. X.; SPRADLING, T. A.;
DEMASTES, J.W.; NADLER, S. A.; Disparate rates of molecular evolution in cospeciating
hosts and parasites. Science, n° 265. p. 1087-1090, 1994.
HARBISON C. W., CLAYTON D. G. Community interactions govern host-switching with
implications for host–parasite coevolutionary history. Proceedings of the National Academy
of Sciences, USA, n°108, p. 9525–9529, 2011.
HARBISON C. W., JACOBSEN M. V., CLAYTON D. H. A hitchhiker's guide to parasite
transmission: the phoretic behavior of feather lice. International Journal for Parasitology n°
39, p. 569–575, 2009.
HARRISON, L. The Genera and Species of Mallophaga. London: Cambridge University
Press, vol. 9, n°1, p. 168, 1916.
HUBÁLEK, Z. An annotated checklist of pathogenic micro-organisms associated with
migratory birds. Journal of Wildlife Diseases, vol. 40, n°4, p 639-59, 2004.
HUTSON A. M. Diptera: Keds, flat-flies and bat-flies (Hippoboscidae and Nycteribiidae).
Handbooks for the identification of British insects. Royal Entomological Society of London,
vol. 10, n°7, 84 p., 1984.
INSTITUTO Argonauta para conservação costeira e marinha. Ubatuba, 2014. Disponível em
<http://institutoargonauta.org/>. Acesso em 27 de janeiro de 2016
JONES, C. Heavy hippoboscid infestations on buzzards. British Birds n° 78, 592p., 1985.
JUOLA, F. A.; HAUSSMANN, M. F.; DEARBORN, D. C.; VLECK, C. M. Telomere
shortening in a long-lived marine bird: cross-sectional analysis and test of an aging tool. The Auk, vol. 123, n°3, p.775-783, 2006.
LLOYD, J. E. Louse flies, keds and related flies (Hippoboscoidea). In: MULLEN, G. R.;
DURDEN, L. A. Medical and Veterinary Entomology. Academic press, second edition, p.
349–362, 2002.
KELLOGG, V. L. Distribution and species forming of ectoparasites. The American
Naturalist, vol. 47, p.129-158, 1913.
KELLOGG, V. L. New Mallophaga III. Mallophaga from Birds of Panama, Baja
California and Alaska. Ocasional Papers of the California Academy of Sciences, vol VI, 1899.
KENNEDY, M, H. G. SPENCER, AND R. D. GRAY. Hop, step and gape: do the social
displays of the Pelecaniformes reflect phylogeny? Animal Behaviour, n°51, p. 273-291,
1996.
KUCERA, J. Incidence and some ecological aspects of avian trypanosomes in
Czechoslovakia. Folia parasitological, n°30, vol 3, p. 209-222, 1983.
LEE, P. L. M.; CLAYTON, D. H.; Population biology of swift (Apus apus) ectoparasites in
relation to host reproductive success. Ecological Entomology, n°20, p. 43-50, 1995.
71
LEVIN, I. I.; PARKER, P. G. Comparative host–parasite population genetic structures:
obligate fly ectoparasites on Galapagos seabirds. Parasitology, Cambridge University,
n°140, p. 1061–1069, 2013.
LEVIN, I. I.; VALKIUNAS, G.; SANTIAGO-ALARCON, D.; CRUZ, L. L.; IEZHOVA, T.
A.; O'BRIEN, S. L.; DEARBORN, D.; SCHREIBER, E. A.; FLEISCHER, R. C.; RICKLEFS,
R. E.; PARKER, P. G. Hippoboscid-transmitted Haemoproteus parasites (Haemosporida)
infect Galapagos Pelecaniform birds: evidence from molecular and morphological
studies, with a description of Haemoproteus iwa. International Journal for Parasitology, n°41,
p. 1019–1027, 2011.
LOYE, J. & S. CARROL. Birds, bugs and blood: avian parasitism and conservation. Trends
in Ecology and Evolution, Amsterdam, vol. 10, n°6, p. 232-235, 1995.
MAA, T. C. A revised Checklist and Concise Host Index of Hippoboscidae (Diptera).
Pacific Insects Monograph, n°20, p. 261-299, 1969.
MADSEN, V., G. VALKIU¯NAS, T. A. IEZHOVA, C. MERCADE, M. SA´ NCHEZ, AND
J. L. OSORNO. Testosterone levels and gular pouch coloration in courting magnificent
frigatebird (Fregata magnificens): Variation with age-class, visited status and blood
parasite infection. Hormones and Behavior n°51, p. 156–163, 2007.
MERINO, S.; HENNICKE, J.; MARTÍNEZ, J.; LUDYNIA, K.; TORRES, R.; WORK, T. M.;
STROUD, S.; MASELLO, J. F.; QUILLFELDT, P. Infection by Haemoproteus parasites in
four species of Frigatebirds and the description of a new species of Haemoproteus
(Haemosporida: Haemoproteidae). Journal of Parasitology, vol. 98, n°2, p. 388–397, 2012.
METZ, V. G.; SCHREIBER, E. A. Great frigatebird (Fregata minor). In: The Birds of North
America, No. 681 (ed. Poole A. and Gill F.). The Academy of Natural Sciences, Philadelphia,
PA, USA and The American Ornithologists’ Union, Washington, DC, USA., 2002
MURPHY, R. C. Oceanic birds of South America. American Museum of Natural History,
vol. 2, p.1243, 1936.
NELSON, J. B. Galapagos: islands of birds. London: Longmans, 1968.
NELSON, J. B. Pelicans, cormorants and their relatives: The Pelecaniformes. Oxford
University Press, Oxford, 2005.
NELSON, W. A.; KEIRANS, J. E.; BELL, J. F.; CLIFFORD, C. M. Host–ectoparasite
relationships. Journal of Medical Entomology, n°12, p.143–166, 1975.
OSORNO, J. L. Evolution of breeding behavior in the magnificent frigatebird: copulatory
pattern and parental investment. Gainesville, Tese de Doutorado - Florida University,
Gainesville, 1996.
OSORNO, J. L. Offspring desertion in the Magnificent Frigatebird: are males facing a
trade-off between current and future reproduction? Journal of Avian Biology, vol. 30, n°4,
pp. 335-341, 1999.
OYIEKE, F. A.; REID, G. 2003. The mechanical transmission of Trypanosoma evansi by
Haematobia minuta (Diptera: Muscidae) and Hippobosca camelina (Diptera:
72
Hippoboscidae) from an infected camel to a mouse and the survival of trypanosomes in
fly mouthparts and gut (a preliminary record). Folia Veterinaria, n°47, p. 38–41, 2003.
PALMA, R. L. Slide-mounting of Lice: a detailed description of the Canada Balsam
technique. The New Zealand Entomologist, n°6, p.432-436, 1978.
PENNYCUICK, C. J. Flight of auks (Alcidae) and other northern seabirds compared with
southern Procellariiformes: ornithodolite observations. Journal of Experimental Biology,
vol. 128, n°1, p. 335-347, 1987.
PETERSEN, F. T.; MEIER, R.; KUTTY, S. N.; WIEGMANN, B. M. The phylogeny and
evolution of host choice in the Hippoboscoidea (Diptera) as reconstructed using four
molecular markers. Molecular Phylogenetics and Evolution, vol. 45, n°1, p. 111–122, 2007.
PHILIPS, J. R. What's bugging your birds? Avian parasitic arthropods. In: D.R. Ludwig
(Ed.). Wildlife Rehabilitation. Minnesota, Burgess Publishing, vol. 8. p. 155-203, 1990.
PHTHIRAPTERA.INFO. Disponível em: <http://phthiraptera.info/category/chewing-
lice/menoponidae/colpocephalum/colpocephalum-ehrhardti>. Acesso em: 10 set. 2017.
PIAGET, É. Les Pédiculines: Essai monographique. E. J. Brill. p714, 1880.
PRICE, R. D. The Colpocephalum (Mallophaga: Menoponidae) of the Pelecaniformes. In: The
Canadian Entomologist, vol. 99, n° 3, 1967.
PRICE, R. D.; HELLENTHAL, R.A.; PALMA, R.L.; JOHNSON, K.P.; CLAYTON, D.H. The
chewing lice: world checklist and biological overview. Illinois, Illinois Natural History
Survey Special Publication, vol. 24, 501p, 2003.
QUILLFELDT, P.; MARTÍNEZ, J.; HENNICKE, J.; LUDYNIA, K.; GLADBACH, A.;
MASELLO, J. F.; RIOU, S.; MERINO, S. Hemosporidian blood parasites in seabirds—a
comparative genetic study of species from Antarctic to tropical habitats.
Naturwissenschaften, vol. 97, n°9, p. 809-817, 2010.
RAPPOLE, J. H. & HUBA´ LEK, Z. Birds and influenza H5N1 virus movement to and
within North America. Emerging Infectious Diseases n°12, p. 1486–1492, 2006.
RIVIERA-PARRA, J. L.; LEVIN, I. I.; JOHNSON, K. P.; PARKER, P. G. Lineage Sorting in
Multihost Parasites: Eidmanniella Albescens and Fregatiella Aurifasciata on Seabirds
from the Galapagos Islands. Ecology and Evolution, vol. 5, n° 16, pp. 3264–3271, 2015.
RYAN, S. O.; PRICE, R. D. The New Genus (Mallophaga: Menoponidae) for Menopon
aurifasciatum from the Frigate-Bird. In: Annals of Entomological Society of America. vol.
62. n° 4. pp 823-825, 1969.
SCHREIBER, E. A.; BURGER, J. Biology of marine birds. CRC Press, Boca Raton, FL.
722p., 2002.
SERAFINI, P. P.; LUGARINI, C. Procellariiformes e outras Aves de Ambientes Marinhos
(Albatroz, Petrel, Fragata, Atobá, Biguá e Gaivota). In: CUBAS, Z. S. et al., Tratado de
Animais Selvagens: Medicina Veterinária. São Paulo: Roca. p. 417-440, 2014.
SIBLEY, D. A. Sibley Birds West: Field Guide to Birds of Western North America.
Editora: Knopf; 2nd edition, 2016.
73
SICK, H. Ornitologia Brasileira. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1997.
SILVA, S. O.; OLIVEIRA, H. H.; TEIXEIRA, R. H. F.; AMORIM, M. Malófagos
(Phthiraptera, Amblycera, Ischnocera) em aves cativas no sudeste do Brasil. Revista
Brasileira de Entomologia, vol. 53, n°3, p. 495–497, 2009.
SMITH, S. V. Avian louse phylogeny (Phthiraptera: Ischnocera): a cladistic study based
on morphology. Zoological Journal of the Linnean Society, n°132, p. 81–144, 2001.
SMITH, S. V. Lousy Phylogenies: Phthiraptera Systematics and the Antiquity of Lice.
Entomologische Abhandlungen, vol. 61, n°2, p. 150-151, 2003.
STORNI, A.; ALVES, M. A. S.; VALIM, M. P. Ácaros de penas e carrapatos (Acari)
associados a Turdus albicollis Vieillot (Aves, Muscicapidae) em uma área de Mata
Atlântica da Ilha Grande, Rio de Janeiro, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, vol. 22,
n°2, p.419-423, 2005.
SVENSSON, L.; MULLARNEY, K.; ZETTERSTRÖM, D.; GRANT, P. J. Collins Bird
Guide: The Most Complete Guide to the Birds of Britain and Europe, 2° ed, 2010.
TENDEIRO, J. Une Nouvelle espèce de Colpocephallum Nitzsch, 1818 (Mallophaga,
Menoponidae): Colpocephallum (superspecies angulaticeps) ehrhardti n. sp., parasite
d'une Frégate superbe, Fregata magnificens Mathews, au Brésil. Garcia de Orta, Sér. Zool.,
Lisboa, vol. 14, n°2, p. 61-69, 1989.
THOMPSON, G. B. Some additional records of an association between Hippoboscidae and
Mallophaga together with a bibliography of the previous records. Annals and Magazine of
Natural History. Ser. 10, vol. 18, p. 309-312, 1936.
TOMÁS, A.; PALMA, R. L.; REBELO, M. T.; FONSECA, I. P. Chewing lice (Phthiraptera)
from wild birds in Southern Portugal. Parasitology Internacional n° 65, p 295-301, 2016.
TRIVEDI, M. C.; RAWAT, B. S.; SAXENA, A. K. The distribution of lice (Phthiraptera)
on poultry (Gallus domesticus). International Journal of Parasitology, vol. 21, n°2, p.247-9,
1991.
UBELAKER, J. E.; PAYNE, E.; ALLISON, V. F.; MOORE, D. V. Scanning Electron
Microscopy of the Human Pubic Louse, Pthirus pubis (Linnaeus, 1758). The Journal of
Parasitology, vol. 59, n°5, pp. 913-919, 1973.
UCHIDA, S. Studies on Amblycerous Mallophaga of Japan. Journal of the College of
Agriculture, vol. IX, N°1, 1926.
VALIM, M. P. TEIXEIRA, R. H. F.; AMORIM. M.; SERRA-FREIRE. N. M. Malófagos
(Phthiraptera) recolhidos de aves silvestres no Zoológico de São Paulo, SP, Brasil. Revista
Brasileira de Entomologia, vol. 49, n°4, p. 584-587, 2005.
VALKIUNAS, G. Avian malaria parasites and other haemosporidia. Boca Raton: CRC,
2005.
VALLE, C. A.; de VRIES, T.; HERNANDEZ, C. Plumage and sexual maturation in the
Great Frigatebird Fregata minor in the Galapagos Islands. Marine Ornithology, n°34, p.
51–59, 2006.
74
VAN TUINEN, M.;BUTVILL, D. B.; KIRSCH, J. A. W.; HEDGES, S. B. Convergence and
divergence in the evolution of aquatic birds. Proceedings of the Royal Society of London,
Series B, n°268, p. 1345-1350, 2001.
VOOREN, C. M.; BRUSQUE, L. F. Biodiversidade e Status das Espécies. In: As Aves do
Ambiente Costeiro do Brasil: Biodiversidade e Conservação. Rio Grande: Funbio, p 134-
146, 1999.
WEIMERSKIRCH H.; BISHOP C. M.; JEANNIARD DU DOT T.; PRUDOR A.; SACHS G.
Frigate birds track atmospheric conditions over months-long trans-oceanic flights.
Science, n°353, p. 74-78, 2016.
WILSON. F. H. The life cycle and bionomics of Lipeurus heterographus Nitzsch. Journal
of Parasitology, n°20, p. 304-311, 1934.
75
9. ANEXOS
9.1 APROVAÇÃO DA COMISSÃO DE ÉTICA NO USO DE ANIMAIS (CEUA) DA
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
9.2 AUTORIZAÇÃO PARA COLETA DE AMOSTRAS – INSTITUTO ARONAUTA
76
9.3 AUTORIZAÇÃO PARA COLETA DE AMOSTRAS – CRAS
77
9.4 FICHA PARA COLETA DE AMOSTRAS
78
9.5 CERTIFICADO DE APRESENTAÇÃO DE TRABALHO NO XXV CONGRESSO
BRASILEIRO DE PARASITOLOGIA
79