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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE ARTES E COMUNICAÇÃO SOCIAL CURSO DE ARQUIVOLOGIA THAMIRES ASSIS DE SOUZA COSTA Arquivo do Estaleiro XX: Análise da Gestão de seus Documentos NITERÓI 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE ARTES E COMUNICAÇÃO SOCIAL

CURSO DE ARQUIVOLOGIA

THAMIRES ASSIS DE SOUZA COSTA

Arquivo do Estaleiro XX: Análise da Gestão de seus Documentos

NITERÓI

2016

THAMIRES ASSIS DE SOUZA COSTA

Arquivo do Estaleiro XX: Análise da Gestão de seus Documentos

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Universidade Federal Fluminense como requisito para obtenção do Grau de Bacharel. Área de concentração: Arquivologia.

Orientadora: Profª Drª Clarissa Moreira dos Santos Schmidt

NITERÓI 2016

Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá

C839 Costa, Thamires Assis de Souza. Arquivo do Estaleiro XX: Análise da Gestão de seus

documentos/ Thamires Assis de Souza Costa. – 2016.

f.43

Orientador: Clarissa Moreira dos Santos Schmidt. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Arquivologia) – Universidade Federal Fluminense, 2016. Bibliografia: f.42-43. 1.Gestão de documentos. 2. Arquivologia. 3.

Classificação. 4. Avaliação. I. Schmidt, Clarissa Moreira

dos Santos. II. Universidade Federal Fluminense. Instituto

de Arte e Comunicação Social. III.Título.

CDD 651.5

THAMIRES ASSIS DE SOUZA COSTA

Arquivo do Estaleiro XX: Análise da Gestão de seus Documentos

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Universidade Federal Fluminense como requisito para obtenção do Grau de Bacharel. Área de concentração: Arquivologia.

Aprovada em ______ de Julho de 2016

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________________ Profª Clarissa Moreira dos Santos Schmidt (orientadora) UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

___________________________________________________________ Profª Lindalva Rosinete Silva Neves UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

___________________________________________________________ Profª Raquel Louise Pret Coelho

UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Dedico este trabalho ao meu

esposo Raphael, aos meus

pais Henny e Georgina, a

minha irmã Thaymara, aos

meus avós Henny, Dídima in

memorian e Arlete e José com

todo amor e carinho.

AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus, pois sem Ele não sou nada e até aqui

tem me sustentado e me direcionado nas decisões a seguir. Obrigada por tua

fidelidade Senhor!

Ao meu esposo Raphael, obrigada por entender minhas horas de estudo, me

apoiar e incentivar a não desistir de tentar, obrigada por me esperar, enquanto

terminava mais um parágrafo e este nunca findava. Obrigada por acreditar em mim.

Aos meus pais Henny e Georgina, minha irmã Thaymara por me apoiarem

sempre, por me incentivarem, por me ajudarem, por apenas me aguardarem chegar

da faculdade e só depois dormir, por entenderem que estava buscando o meu

futuro. Obrigada por sempre acreditarem em mim.

A minha orientadora Clarissa, que percebeu minhas dificuldades e me ajudou

o máximo que pode. Obrigada por tudo.

Agradeço a todos que torceram por minha conquista.

RESUMO

O tema do presente estudo é sobre a Gestão de Documentos e sua aplicação. Com

o crescimento da produção documental nas instituições, a Gestão de Documentos

tornou-se essencial para administrar documentos. Apresentou as atividades

existentes no Estaleiro XX e sugestões dentro dos preceitos arquivísticos para

inserir a Gestão de Documentos de forma adequada, obtendo resultados positivos.

PALAVRAS-CHAVE: Gestão de Documentos. Estaleiro XX. Arquivologia

ABSTRACT

The theme of this study is about Document Management and its application. With the

growth of document production in institutions Document Management has become

essential to manage documents. Presented the existing activities in the Shipyard XX

and suggestions within archival precepts to insert the Document Management

appropriately with positive results.

KEYWORDS: Document Management. Shipyard XX. Archivology

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Ciclo vital do documentos..................................................................19

Quadro 2 - Ciclo vital: valores, frequência e arquivamento.................................20

Quadro 3 - Fases da Gestão...............................................................................22

Quadro 4 - Plano de Classificação......................................................................38

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Série documental......................................................................................28

Figura 2 - Termo de eliminação................................................................................30

Figura 3 - Controle de Eliminação............................................................................30

LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS

ANTAQ - Agência Nacional de Transportes Aquaviários

CCAD – Comissão Central de Avaliação de Documentos

CEDOC - Controle de Documentos

EDMS - Sistema Eletrônico de controle de documentos

FPSO - Unidade Flutuante de produção, armazenamento e transferência

GRD - Guia de Remessa de Documentos

LRF – Formulário de Logística

TED - Termo de Eliminação de Documentos

TUP - Terminal de Uso Privado

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...................................................................................................14

1.1 OBJETIVO GERAL..........................................................................................16

1.1.1 Objetivos específicos ...................................................................................16

1.2 JUSTIFICATIVA...............................................................................................17

1.3 METODOLOGIA..............................................................................................17

2. GESTÃO DE DOCUMENTOS...........................................................................18

2.1 A GESTÃO DE DOCUMENTOS NA ARQUIVOLOGIA...................................20

2.2 TEORIA DAS TRÊS IDADES...........................................................................21

2.3 OBJETIVOS E FASES DA GESTÃO DE DOCUMENTOS..............................22

2.4 CLASSIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE DOCUMENTOS...................................23

2.4.1 Classificação.................................................................................................23

2.4.2 Avaliação.......................................................................................................26

3. ESTALEIRO E SEU ARQUIVO.........................................................................32

3.1 ARQUIVO DO ESTALEIRO XX.......................................................................33

3.1.1 QA-I 4.3 - Sistema de Gestão/Instrução de Trabalho - Elaboração,

Revisão e Aprovação de Documentos..................................................................34

3.1.2 PR-P 12 - Sistema de Gestão/Procedimento de Trabalho –

Gerenciamento de Documentos ...........................................................................35

3.1.3 QA-P 4 - Sistema de Gestão/Procedimento de Trabalho – Controle de

Documentos..........................................................................................................35

4. PROPOSTAS PARA GESTÃO DE DOCUMENTOS........................................37

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................41

6. REFERÊNCIAS.................................................................................................42

14

1. INTRODUÇÃO

A partir do século XX, com a proibição da destruição arbitrária e aleatória dos

documentos, houve um crescimento absurdo do acumulo do papel. Com isso foram

criadas comissões e ações para que a eliminação fosse possível.

Após a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial, foram criados outros

atos legislativos e outras comissões para conter e organizar a massa documental

produzida e acumulada: as comissões Hoover,que estabeleciam as práticas da área

como ações para controle da produção do documental e a racionalização das

eliminações, a conservação econômica, guarda intermediária e a difusão de

manuais de procedimentos; e Records Managers Act de 1975, que define a gestão

de documentos, exige a prestação de contas de gestão de documentos através de

um relatório anual ao Arquivo Nacional Americano.

A Gestão de Documentos está atrelada a práticas diversas nos diferentes

países e sistemas existentes, sendo necessária economia, eficácia, eficiência,

produtividade, padronização dos procedimentos, e a capacitação dos profissionais

que servem como base da administração da informação e dos arquivos.

Sendo uma operação arquivística capaz de reduzir a massa documental e

conservar os documentos, para Jardim (1987) a gestão envolve o ciclo de existência

dos documentos desde a sua produção até serem eliminados ou recolhidos para

arquivamento permanente tratando de todas as atividades, nas três idades dos

documentos. A Gestão de Documentos veio a contribuir para que as políticas

governamentais fossem documentadas, diminuindo a reprodução excessiva de

cópias, melhor organização dos documentos, dentre outras questões.

Nesse sentido, a Gestão de Documentos corroborou para garantir que as

políticas e atividades dos governos fossem documentadas corretamente, garantindo

o corte na eliminação de documentos de valor permanente; a organização desses

documentos e definição dos documentos constituídos do patrimônio arquivístico de

um país. Para tanto, é fundamental a elaboração de um conjunto de normas e

procedimentos técnicos para produção, uso e arquivamento dos documentos

durante seu ciclo vital, prazos de guarda e destinação final.

Isto posto, Ieda Bernardes afirma que através da gestão de documentos é

possível:

15

Assegurar o pleno exercício da cidadania; agilizar o acesso aos arquivos e às informações; promover a transparência das ações administrativas; garantir economia, eficiência e eficácia na administração pública ou privada; agilizar o processo decisório; incentivar o trabalho multidisciplinar e em equipe; controlar o fluxo de documentos e a organização dos arquivos; racionalizar a produção dos documentos; normalizar os procedimentos para avaliação, transferência, recolhimento, guarda e eliminação de documentos; preservar o patrimônio documental considerado de guarda permanente. (BERNARDES, 2008, p.8).

Muitas instituições não fazem o uso da Gestão de Documentos

adequadamente, pois não acham necessário registrar o caminho percorrido pelos

documentos até sua destinação final. Algumas se utilizam das prerrogativas:

burocracia demais, os documentos demoram a chegar ao destinatário, entre outras.

A UNESCO definiu através do projeto RAMP2, mais especificamente com o

trabalho de James Rhoads (1983), que a gestão de documentos é a gestão

administrativa, assegurando o devido cumprimento das operações desde a criação

até a destinação final dos documentos. Esse programa permitiu que

James Rhoads falasse sobre a função da gestão de documentos. Para ele, o

sistema integral da gestão engloba o ciclo de vida do documento do início até o

fim, ou seja, eliminação ou guarda permanente. Para isso dar certo é necessário que

haja bons programas de gestão de documentos possibilitando a recuperação da

informação e a manutenção correta desses documentos.

Para alguns autores a informação produzida de todos os tipos, está atrelada a

explosão documental, sendo intitulada Gestão de Documentos. Outros tem se

atentado para as mudanças e quebras de paradigmas, buscado sentido nas

disciplinas próximas para a definição e uso dos suportes e preservação dos

mesmos, com vistas a efetivar o trabalho no controle do ciclo de vida dos

documentos independentemente do suporte físico ou eletrônico, para assegurar a

recuperação devida das informações.

O presente trabalho abordará as práticas da Gestão de Documentos em um

estaleiro. O Estaleiro XX é uma empresa brasileira que emprega mão de obra local

buscando soluções para o setor de construção exploração de petróleo e gás,

fazendo parte do desenvolvimento tecnológico do país.

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É especializado na construção de módulos de Topsides1 e na integração de

FPSO2, oferecendo aos clientes flexibilidade na execução e na entrega de seus

projetos.

Fundado em 2012 para atender à crescente demanda do setor de petróleo e gás,

o Estaleiro XX é o único a nível nacional dedicado totalmente a construção de

módulos de Topsides e integração de FPSOs.

A documentação que constitui o Arquivo do Estaleiro é referente à estrutura do

Estaleiro, ou seja, as plantas, desenhos, listas, que identificam a estrutura do prédio;

certificados de equipamentos e máquinas utilizadas nas obras; batimetrias3 dos cais;

documentos relacionados aos projetos: desenhos, certificados, ordem de trabalhos,

guias e remessas de documentos, entre outros.

Com o trabalho diário no Arquivo, identificamos problemas com a Gestão de

Documentos e a falta de interesse em criar mecanismos facilitadores da

recuperação da informação. A ausência de plano de classificação e tabela de

temporalidade permite uma liberdade aos funcionários de criarem as datas

mediantes ao uso corrente daquele documento; a duplicidade de informações da

rede da empresa e a falta de uma rastreabilidade do documento em si.

1.1 OBJETIVO GERAL

Identificar as dificuldades que o Arquivo da empresa XX apresenta em

promover a Gestão de Documentos na instituição e apresentar possíveis soluções.

1.1.1 Objetivos Específicos

• Compreender objetivos, definições e fases da Gestão de Documentos;

• Analisar as atividades do Arquivo na empresa;

• Conhecer as práticas de Gestão de Documentos da empresa;

• Propor diretrizes para a Gestão de Documentos na Instituição.

1Tubulações para manuseio de óleo e gás, nas extrações das plataformas de petróleo. 2Unidade flutuante de produção, armazenamento e transferência 3 Medição da profundidade dos oceanos, lagos e rios.

17

1.2 JUSTIFICATIVA

A importância desse trabalho se dá para que os documentos administrados

pela empresa possam ser geridos de maneira eficaz.

Os procedimentos internos dizem como fazer as emissões dos desenhos e

plantas dos documentos pelo olhar técnico da engenharia, porém quanto a

classificação do Arquivo, a temporalidade e guarda, não possui especificidade.

Existe um quadro padrão onde ficam estabelecidos prazos de guarda de cinco anos,

independente do documento, não havendo pesquisas sobre o valor que aquele

documento pode ter para os outros setores da empresa ou de acordo com as

normas.

Percebemos a necessidade de identificar, avaliar e selecionar os documentos

vigentes dos que já podiam ser descartados. O trâmite dos documentos

digitais também foi um item importante a considerar: documentos duplicados na rede

e arquivos renomeados com um sequencial de um escaner ou uma

máquina dificultam a recuperação da informação ali registrada, elevando o tempo de

busca.

Para uma empresa onde os prazos de entrega definem os valores a receber,

a busca eficaz da informação desejada, precisa ser o mais pontual possível,

evitando o gasto de homens-hora, desperdício de materiais e tudo que possa gerar

um gasto desnecessário.

1.3 METODOLOGIA

A metodologia constituiu o levantamento bibliográfico preliminar,

possibilitando a identificação do problema. Possibilitou que controvérsias e

pensamentos distintos fossem analisados e chegássemos a um pensamento próprio

e concreto.

Um estudo de campo de cunho exploratório sobre a empresa foi feito

comparando o que se faz em termos de Gestão de Documentos e o que deveria ser

feito no Arquivo, possibilitando sugestões, futuras adequações, procedimentos e

ações a serem tomadas. Por questões éticas, chamaremos a empresa de Estaleiro

XX, o Arquivo de CEDOC.

18

2. GESTÃO DE DOCUMENTOS

A Gestão de Documentos tem sua disseminação a partir do século XIX.

Para Jardim (1987, p.35), o conceito de Gestão de Documentos acontece após

a Segunda Guerra Mundial com a explosão documental e com ela a necessidade de

controlar o volume de informação até ali registrado.

Para alguns autores, a Gestão tem o papel de reduzir seletivamente a grande

massa de documentos a um nível possível de manuseio e a aplicação de

administração científica com fins de eficiência e economia. Assim, a Gestão de

Documentos engloba o ciclo dos documentos desde a produção até a eliminação ou

guarda permanente.

Na primeira parte o século XIX foram criadas comissões governamentais nos

E.U.A e Canadá para encontrar soluções para a melhoria dos padrões no uso dos

documentos. No mesmo período, a função das instituições arquivísticas públicas

servia como apoio à pesquisa e conservação aos documentos de valor histórico. Os

documentos administrativos, por sua vez, mantinham os problemas exclusivos à

administração pública de produção interna.

A lei Federal n° 8.159 que regulamenta a política nacional de arquivos

públicos e privados diz que gestão de documentos é “o conjunto de procedimentos e

operações técnicas referentes à sua produção, tramitação, uso, avaliação e

arquivamento em fase corrente e intermediária, visando a sua eliminação ou

recolhimento para guarda permanente”.

No dicionário brasileiro de terminologia arquivística , a Gestão de

Documentos é "o conjunto de procedimentos e operações técnicas referentes

à produção, tramitação, uso, avaliação e arquivamento de documentos em fase

corrente e intermediária, visando sua eliminação ou recolhimento". Em ambos os

conceitos a Gestão de Documentos está atrelada a várias ações para que se chegue

a um resultado positivo na guarda e controle das informações registradas.

A Gestão de documentos não tem um conceito único para aplicação, visto que

fatores diversos determinaram a sua criação na tradição arquivística.

Os elementos economia, eficácia e eficiência são vistos na maioria de

conceitos também atrelada a administração científica advinda do Taylorismo4; além

4 Sistema de organização do trabalho concebido pelo engenheiro norte-americano Frederick Winslow Taylor, com o qual se pretende alcançar o máximo de produção e rendimento com o mínimo de tempo e de esforço.

19

do planejamento, controle, padronização de procedimentos, especialização do

trabalho e capacitação da mão de obra para modernização dos processos.

A Gestão de Documentos é o

Conjunto de medidas e rotinas que garante o efetivo controle de todos os documentos de qualquer idade desde sua produção até sua destinação final (eliminação ou guarda permanente), com vistas à racionalização e eficiência administrativas, bem como à preservação do patrimônio documental de interesse histórico-cultural. (BERNARDES, 1998)

A Gestão pressupõe uma ação no ciclo de vida dos documentos desde sua

produção até serem eliminados ou recolhidos permanentemente.

Quadro 1 – Ciclo Vital dos Documentos

1ª. idade

ARQUIVO

CORRENTE

Documentos vigentes,

com utilização

constante

2ª. Idade

ARQUIVO

INTERMEDIÁRIO

Documentos que

aguardam prazos

longos de precaução e

prescrição

Aguardam destinação

final e são poucos

utilizados

3ª. Idade

ARQUIVO

PERMANENTE

Documentos que

perderam a vigência,

mas possuem valor

histórico ou cultural

Fonte: Elaborada pela autora

20

Quadro 2 - Ciclo Vital: Valores, frequência e Arquivamento

Fonte: BERNARDES, 1998, p. 13

2.1 A GESTÃO DE DOCUMENTOS NA ARQUIVOLOGIA

Schellenberg (2006, p.57 - 58), vai dizer que o aumento crescente da

produção documental está relacionado ao aumento populacional desde XVIII, e aos

avanços tecnológicos. Mediante ao crescimento documental, e processos

tecnológicos atualizados, os documentos também começam a se tornar complexos

para manutenção.

A Gestão de Documentos surge na Arquivologia quando a administração

começa a pensar na finalidade da criação dos documentos, quando é necessário

que sejam localizados rapidamente, sejam preservados para que seu prazo seja

cumprido, e que não mantenham os documentos por tempos além do

21

necessário. Schellenberg(2006) utiliza os termos de controle de natalidade para a

criação de documentos, inferno e céu para descarte ou arquivamento

permanente. Com esta publicação, abre-se a discussão sobre os arquivos correntes

e a sua gestão, apesar de poucos a atentarem como prioridade.

A definição de procedimentos é de extrema importância para implantação de

um sistema de Gestão

2.2 TEORIA DAS TRÊS IDADES

Com teoria das três idades dos documentos na arquivística, ampliou seu

campo de atuação. Na primeira idade, os documentos fazem parte dos arquivos da

gestão e o uso diário. Na Segunda idade, o documento deve ser conservado, sendo

objeto de consulta ou de uso menos frequente. E na terceira idade, o documento

adquire valor permanente, tendo seu uso para valor cultural e conservação

definitiva.

Os documentos arquivísticos em função de seu uso para

organização podem servir de objeto de intervenção nas fases corrente, intermediária

e permanente.

Para que exista uma eficiente Gestão de Documentos é necessário que ela

seja realizada em quatro níveis:

• Nível mínimo: estabelece que os órgãos devem contar, ao menos, com programas de retenção e eliminação de documentos e estabelecer procedimentos para recolher à instituição arquivística pública aqueles de valor permanente;

• Nível mínimo ampliado: complementa o primeiro, com a existência de um ou mais centros de arquivamento intermediário;

• Nível intermediário: compreende os dois primeiros, bem como a adoção de programas básicos de elaboração e gestão de formulários e correspondências e a implantação de sistemas de arquivos;

• Nível máximo: inclui todas as atividades já descritas, complementadas por gestão de diretrizes administrativas, de telecomunicações e o uso de recursos da automação. (ARQUIVO NACIONAL, Brasil, 1993, p. 15-16)

22

2.3 OBJETIVOS E FASES DA GESTÃO DE DOCUMENTOS

Após quatro anos da promulgação da Lei de 8159, Lei de Arquivo, o Arquivo

Nacional publica um artigo onde objetivou-se conceder aos arquivos públicos de

recursos técnicos, materias e humanos para implantação da Gestão de

Documentos.

Para tanto, publica em 1995 um manual que menciona a existência de três

fases básicas para a Gestão de Documentos: a produção de documentos; utilização

de documentos e destinação de documentos. Esse manual foi buscado na obra de

James Rhoads “La función de la gestión de documentos y archivos en los sistemas

nacionales de información:un estudio del RAMP”. Ele identificou elementos teóricos

e metodológicos que serviram de base para os sistemas e serviços de gestão de

arquivos pelo ciclo vital. Para Rhoads (1983) as três fases da gestão de documentos

são elaboração, utilização e manutenção.

Quadro 3 – Fases da Gestão

Fonte: SCHMIDT, 2015

Na Fase 1, a produção de Documentos Tanto para o Arquivo Nacional quanto

para Rhoads, a importante questão é otimizar a criação dos documentos, para que

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somente o essencial seja produzido e posteriormente tratado, possibilitando o

aproveitamento correto para a reprografia e automação.

Na Fase 2, o Arquivo Nacional refere-se apenas a utilização dos documentos

no decorrer das funções administrativas, Rhoads complementa com a palavra

conservação, indicando que durante o fluxo percorrido pelo documento, deve-se

armazenar de forma correta.

Na Fase 3, o Arquivo Nacional indica a Destinação dos Documentos e as

atividades envolvidas como a análise, inclusão dos prazos de guarda para uma

eliminação futura ou um arquivamento permanente; Rhoads indica eliminação de

documentos na terceira fase, como o principal ação, e nesse nível mais difícil, deve-

se escolher quais documentos descrevem o passado histórico do lugar, quais sejam

destruídos por não terem mais valia e ele diz que deve-se estabelecer o prazo de

guarda por questões administrativas

2.4 CLASSIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE DOCUMENTOS

Há duas principais operações/funções arquivísticas que estão inseridas na

Gestão de Documentos:

2.4.1 Classificação

A classificação é destinada aos documentos de arquivo, e está a serviço da

organização dos documentos. O objetivo da classificação é “dar visibilidade às

funções e as atividades do organismo produtor do arquivo, deixando claras as

ligações entre os documentos”. (GONÇALVES, 1998, p. 44)

A classificação analisa o produtor documental, assim classes genéricas são

criadas para abranger as funções detectadas. Um exemplo: o Departamento

financeiro é subdividido em dois, contabilidade e tesouraria, esses apresentam

subclasses que descreve a movimentação bancária e os pagamentos

correspondentes.

Os esquemas de classes e subclasses se materializam no chamado plano de

classificação.

24

Para organizar as informações, a ordenação por sua vez, tem o papel de

facilitar a busca pelos documentos, pois uma atividade pode apresentar um grande

volume documental. Os variados critérios de ordenação facilitam a busca da

informação desejada de maneira ágil e otimizada.

A ordenação abrange os tipos documentais do ponto de vista das consultas

feitas, o processo de classificação os articula entre si, considerando o porquê da

existência desses documentos.

No Brasil, a maior parte das instituições tem seus documentos organizados

por pessoas que não possuem o conhecimento técnico adequado e acabam

ordenando por ordem cronológica/numérica, porém não é suficiente para uma

ligação entre o organismo produtor e a documentação ali registrada ou mantida.

Sem a classificação, fica nebulosa a característica que torna os documentos de arquivo peculiares e diferenciados em relação aos demais documentos: a organicidade. Nenhum documento de arquivo pode ser plenamente compreendido isoladamente e fora dos quadros gerais de sua produção – ou expresso de outra forma, sem o estabelecimento de seus vínculos orgânicos. (GONÇALVES, 1998).

Os documentos de arquivo ficam condicionados a classificação para sua

compreensão, além de uma localização rápida e precisa, feita através da ordenação.

É necessário identificar os documentos de arquivo para que haja organização

e guarda eficaz.

Partindo da classificação e ordenação, podemos estabelecer o plano de

classificação da empresa. Para isso é vital adotar o critério que melhor se enquadra

naquele conjunto documental e pode ser estrutural ou funcional.

A classificação estrutural é a mais aceita, mas apresenta problemas quando

não há uma totalidade das funções e atividades da entidade, quando as funções são

misturadas ou quando há mudanças frequentes em sua estrutura.

A classificação funcional é menos utilizada, porém a que atende melhor à

área arquivística, assim o profissional deve estudar a melhor opção e decidir o

procedimento correto.

Ao elaborar o plano de classificação, a utilização do mesmo deve ser

colocada em primeiro lugar. Esse plano deve obter um nível de generalidade

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contendo simplicidade, flexibilidade e expansibilidade, permitindo adaptações

imprevistas, inclusão de novos documentos e sem dificuldades de aplicação.

É importante verificar se o plano de classificação espelha o conjunto de

atividades da entidade, se é possível a identificação do seu perfil, e se a

hierarquização das classes foi dividida sem sobrepor a outra.

O documento de arquivo de uma instituição é criado ou encaminhado para

atender às funções e atividades daquela empresa. Com isso, esses documentos

tramitam dentro dos diversos setores cumprindo o seu papel até chegarem ao

arquivamento. O protocolo e a expedição de documentos estão ligados a esse

trâmite.

É comum alguns órgãos expedirem documentos em sua maioria de forma

descentralizada, criando uma diversidade de controles, arquivos derivados dos

setores que expediram a documentação,

O protocolo apresenta problemas similares de descentralização de

documentos. As instituições devem apresentar atividades básicas de um protocolo

como receber, identificar e distribuir os documentos.

Quando há uma tramitação inicial pelo protocolo, a classificação pode ser

feita durante esse caminho já preparando para o arquivamento posterior, além de

auxiliar na inclusão do plano de classificação. Assim, será um instrumento

fundamental na Gestão de Documentos.

O plano de classificação na fase corrente deve englobar todos os documentos

da instituição, organizando e classificando, servindo de base para os planos de

destinação e tabela de temporalidade, essenciais para a avaliação de documentos.

Posteriormente, o plano de classificação ajudará na confecção dos planos de

destinação, pois os documentos permanentes são os documentos correntes que

sofreram alterações de seus valores primários e secundários.

Para organizar esses documentos de caráter permanente, é necessário

estudar a história e o funcionamento da instituição que nessa fase é chamada de

arranjo. Caso na fase corrente já tenha sido feita essa classificação, o que seria

ideal, na fase permanente uma revisão e adaptação serão necessárias durante essa

transição de fases, além da ordenação que deve ser refeita de acordo com as

mudanças identificadas.

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No campo empírico a ausência de uma classificação é um problema

detectável, resulta em documentos ordenados de forma errada, repetidos e

armazenados em lugares diversos, não havendo uma preocupação em buscar

conhecimento para um devido arquivamento. Alguns técnicos arquivam por ordem

cronológica, sem identificar corretamente a lombada das pastas, ou apenas

etiquetando as caixas que vão para o depósito externo.

Há uma descentralização da expedição dos documentos, percebendo

diversos controles com a mesma informação. Os documentos que são recebidos

pelo arquivo, são inseridos na planilha sem uma devida descrição do tipo

documental correspondente, fazendo com que o usuário e até mesmo o profissional

tenha que procurar em diversas pastas até conseguir a informação.

A empresa não possui um plano de classificação, e há uma dificuldade por

parte das lideranças em entender a importância de organizar, classificar e criar um

plano contendo toda a hierarquia funcional da empresa, visando uma correta

organização.

2.4.2 Avaliação

A avaliação de documentos é importante para realizar a gestão de

documentos, ela visa liberação de espaço físico através da eliminação de

documentos obsoletos ou cópias desnecessárias. O processo deve contar com as

tabela de temporalidade, porque após um determinado período o acúmulo tornará a

acontecer.

A avaliação, segundo Bernardes é:

Trabalho interdisciplinar que consiste em identificar valores para os documentos (imediato e mediato) e analisar seu ciclo de vida, com vistas a estabelecer prazos para sua guarda ou eliminação, contribuindo para racionalização dos arquivos e eficiência administrativa, bem como para a preservação do patrimônio documental (BERNARDES, 1998).

A Avaliação consiste em identificar valores definir os prazos de guarda para

os documentos. Ela deve ser feita no momento de sua produção, juntamente com a

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classificação já descrita nesse trabalho, a fim de evitar o acumulo excessivo e

desordenado da produção.

Um grande problema encontrado nas administrações privadas e

principalmente públicas e seus depósitos é o arquivamento cronológico que é feito

logo na autuação dos protocolos, isso resulta numa multiplicidade de documentos

com funções diversas e que dificultam a recuperação completa dessa informação.

A avaliação dos documentos arquivados em ordem cronológica ou numérica

repercute em analisar cada arquivo por vez, em uma massa documental acentuada,

levando um tempo de análise maior.

Percebemos que por conseqüência desse trabalho uma eliminação

desordenada e sem critério, reprodução em outros suportes sem a avaliação

adequada são realizados visando à liberação do espaço físico.

O gasto com recursos técnicos e humanos para esse tipo de trabalho é- por

vezes inútil, pois breve ocorrerá o mesmo problema e com isso novamente gasto

desnecessário para resolver a situação. É importante realizar uma devida avaliação

onde os resultados obtidos possam resolver o problema de espaço, mas com o

devido estudo e análise da informação ali registrada e arquivada.

A avaliação visa à redução da massa documental, agilidade em recuperar

informações, melhor conservação dos documentos, racionalização do trâmite

documental, liberação de espaço físico.

Para implementarmos o processo de avaliação de documentos é necessário:

1) constituição da Comissão de Avaliação de Documentos garantindo legitimidade

ao grupo; 2) Elaboração de textos normativos e procedimentos para avaliação;

3) Estudo da estrutura administrativa e análise de suas funções e atividades;

4) Levantamento da produção documental; 5) Análise do fluxo documental;

6) Identificação dos valores documentais seja administrativo, histórico entre outros;

7) Definição dos prazos de guarda e arquivamento.

Será feito, uma análise da empresa, suas funções e documentos para poder

traçar as metodologias que serão adotadas na classificação e avaliação dos

documentos e seus prazos de guarda.

A avaliação deve ser feita nos conjuntos documentais e não na unidade,

apesar de ser difícil reunir todo o contexto após separações não criteriosas e longe

de um estudo concreto. Os documentos constituem séries documentais, devem-se

identificar seus valores e definições de guarda. O\profissional por sua vez deve

28

conhecer bem as idades e funções do produto para determinar o tratamento e

destino de cada um.

Figura 1– Série Documental

Fonte: BERNARDES, 1998, p. 19

A competência para avaliar os documentos exige das comissões de avaliação

uma responsabilidade de identificar valores primários e secundários dos

documentos.

As comissões de avaliação deverão ser compostas por profissionais com conhecimentos das funções, atividades e estrutura organizacional de seus respectivos órgãos, sendo recomendável que faça parte da comissão um técnico de nível superior da área específica de competência do órgão, um procurador ou assessor jurídico e um arquivista. (BERNARDES, 1998, p. 20)

As comissões são divididas em Comissão Central de Avaliação de

Documentos e Comissões Setoriais de Avaliações de Documentos, a primeira tem

por funções coordenar e orientar as atividades desenvolvidas pelas Comissões

Setoriais, avaliar as propostas de Tabelas de Temporalidade, orientar as decisões

das Tabelas como eliminação e transferência, supervisionar as eliminações dos

documentos ou recolhimentos ao Arquivo Permanente, provar as amostragens,

propor critérios para organização, racionalização controle da Gestão de

29

Documentos; a segunda por sua vez, deve promover o levantamento e identificação

das séries documentais produzidas e ou acumuladas, elaborar proposta de Tabela

de temporalidade e encaminhar para a CCAD5·, solicitar mão de obra para auxiliar,

acompanhar a rotina de organização, eliminação ou guarda permanente, propor

medidas para a atualização sempre que possível da Tabela de temporalidade,

elaborar a lista dos documentos para eliminação ou guarda permanente, preparar os

conjuntos a serem eliminados, presenciar a eliminação dos documentos, registrando

em ata ou termo de eliminação.

Tudo isso precisa ser apresentado pelo profissional responsável como

importante para uma devida avaliação e futuramente uma eliminação ou guarda

permanente, pois em muitas empresas ainda não percebem a importância desse ato

e fazem sem critérios e com uma agilidade preocupante.

A tabela de temporalidade é um instrumento muito importante para a

avaliação, é nela que será registrado o ciclo de vida dos documentos, deve conter os

prazos de arquivamento na fase corrente, a transferência para o Arquivo

Intermediário e sua destinação final seja eliminação ou guarda permanente. Para

que possa ser aplicada, a Tabela deverá ser aprovada por um responsável da

empresa, e ela deve ser constantemente revisada de forma que não fique estática e

se torne obsoleta e sem utilidade perante a lei. Em caso de Instituição pública a

Tabela deverá ser encaminhada para a instituição arquivística competente.

Após avaliação e seleção dos documentos a serem eliminados, é importante

lembrar que não se pode fazer sem constar na Tabela de temporalidade com a

devida aprovação. E cabe a cada instituição definir o modo mais correto para

eliminar.

A eliminação deve ser registrada através de um TED - Termo de Eliminação

ou Ata lavrada onde conste o órgão, a série, as datas limite, o quantitativo a ser

eliminado, a data de eliminação, e assinatura dos responsáveis.

5Comissão Central de Avaliação de Documentos

30

Figura 2 – Termo de Eliminação

Fonte: BERNARDES, 1998, p. 31

Figura3 – Controle de Eliminação

Fonte: BERNARDES, 1998, p. 31

31

Conservar amostragens dos documentos eliminados é recomendável para

guarda permanente.

No estudo realizado, percebeu-se a ausência de uma avaliação criteriosa. Há

uma necessidade de avaliar para liberar o espaço físico de forma correta, e não

resolveremos o problema se por um critério eliminamos hoje, e posteriormente

eliminamos por outro. É necessário realizar um estudo pra isso, e no Estaleiro a

mentalidade é que “separa e joga fora” literalmente, não há uma preocupação em

estudar a história da empresa, o contexto histórico, os documentos e suas funções,

definir prazos de guarda adequados.

Os recursos utilizados são desperdiçados, por vezes preferem fazer errado

por conta de prazos, do que fazer correto uma vez e posteriormente atualizar o

processo.

O pensamento geral é que apenas que rasgando o papel e colocando no lixo,

o espaço estaria liberado, que não há necessidade de mobilizar vários profissionais

para assinar um Termo de Eliminação, e que um quadro com uma temporalidade

padrão resolve o problema.

É necessária uma identificação, avaliação criteriosa para eliminar os

documentos e que os prazos definidos sejam estabelecidos na Tabela de

Temporalidade.

32

3 - ESTALEIRO E SEU ARQUIVO

O Estaleiro XX foi fundado em 2012 para atender à crescente demanda

do setor de petróleo e gás. As atividades principais são construção de navios e

estruturas navais, o primeiro navio construído na empresa entrou em operação em

novembro de 2014.

A missão do Estaleiro é fornecer soluções para os mercados Navais, de

Energia, de Operações Portuárias e de Apoio Offshore, atendendo os prazos e

cumprindo requisitos com Segurança e Qualidade. Sua visão engloba ser a

referência nos mercados de atuação e seus valores englobam a segurança,

disciplina, liderança e engajamento.

As políticas que os norteiam são o comprometimento em planejar, gerenciar e

executar atividades de apoio para as indústrias petrolíferas, e outros serviços do

setor de óleo e gás, naval, de energia, operações portuárias.

A empresa atua nos mercados nacionais e internacionais potencializando

oportunidades de ampliar os negócios; tem a segurança como um valor para que

seus empregados atuem de maneira correta. Possui uma mão de obra em países da

Ásia, e outra parte fica no Brasil.

Desde sua criação, o Estaleiro se comprometeu a assegurar o foco na

satisfação dos clientes, através da prestação de serviços com qualidade e

segurança; atender requisitos legais, contratuais; implementação de ações de

proteção ao meio ambiente, de combate à poluição, redução de resíduos entre

outros. Ele visa à segurança de seus profissionais, e evitando ao máximo os riscos

de acidentes, porém ainda falta um olhar mais específico para a documentação ali

mantida, um incentivo que comece nas políticas e atinja toda a mão de obra do

mesmo.

O ministério do trabalho, classifica o estaleiro com nível quatro em relação a

periculosidade, e por isso os requisitos de segurança na área industrial são

altamente cobrados e monitorados.

O Estaleiro agora possui o TUP - Terminal de Uso Privado autorizado pela

Secretaria e Portos da Presidência da República juntamente coma ANTAQ - Agência

Nacional de Transportes Aquaviários, podendo assim, atuar como plataforma de

apoio logístico à indústria naval; de petróleo e às atividades offshore, consolidando

em seu complexo industrial serviços e facilidades portuárias. Isso possibilita ser

33

considerado Porto de Niterói e faz com que as atividades da empresa sejam

expandidas e requisitadas por outros públicos.

3.1 ARQUIVO DO ESTALEIRO XX.

O Arquivo intitulado CEDOC, fica situado em um container no terceiro andar

do estaleiro. Ele custodia documentos em uma extensão de 15 metros

lineares contendo estantes de ferro, pastas com quatro furos, caixas arquivos e

pastas dois furos com bailarinas.

Os documentos arquivados estão nos formatos A0, A1, A2, A3 e A4; incluem

documentos dos projetos e desenhos da estrutura do estaleiro como:

sites instructions6·; desenhos de engenharia (tubulação, elétrica, estrutura e

instrumentação) plantas do canteiro de obras, batimetria do cais, LRF7 de ações

marítimas, normas técnicas de engenharia e qualidade entre outros. Alguns desses

documentos estão dentro de sacos plásticos de quatro furos, outros estão furados e

anexados as pastas.

O CEDOC possui uma arquivista, duas administradoras e duas auxiliares de

arquivo. A sala possui cinco computadores duas impressoras sendo uma copiadora

e escaner, uma impressora ploter para os desenhos maiores. Os documentos

eletrônicos estão mantidos na rede do estaleiro, divididos e subdivididos em pastas,

por projetos navais, assuntos e data; as informações estão duplicadas em vários

tipos de pastas Contem três aparelhos de ar-condicionado e das oito janelas

existentes apenas duas possuem uma proteção contra o sol.

O Arquivo possui um espaço e material bom, porém é necessário que haja

procedimentos adequados para que possa conservar os documentos ali mantidos; é

preciso manter uma temperatura estável, e o controle de umidade e luz que entra no

arquivo, e hoje todas as luzes e ar condicionado são desligados ao fim do

expediente e só religados no dia seguinte.

Há procedimentos do sistema de Gestão para a maioria das atividades

exercidas, ainda faltam alguns serem elaborados para atingir a empresa como um

todo. O CEDOC possui três procedimentos para receber a documentação para

6 Documentos que os engenheiros criam para vistoria das obras, alterações nos desenhos e que futuramente serão cobrados ao cliente. 7 Formulário de Logística.

34

emissão, revisão e aprovação dos documentos e gerenciamento de documentos

técnicos.

3.1.1 QA-I 4.3 - Sistema de Gestão/Instrução de Trabalho - Elaboração, Revisão e

Aprovação de Documentos

Esse procedimento visa estabelecer e definir critérios para elaboração,

análise crítica, aprovação e atualização dos documentos requeridos pelo Sistema de

Gestão do Estaleiro XX, garantindo que as atualizações e alterações sejam feitas de

maneira correta e constante no prazo da obra. Ele diz que as atualizações são de

responsabilidade do originador e que existem padrões simbológicos para alterações

de revisões do documento, exemplo |A2|. Todas as etiquetas possuem formulários

padrão, cada setor possui uma sigla, cada tipo de documento e seu seqüencial para

que quando emitirmos, possamos controlar a entrada e saída dos mesmos.

Exemplo: QA- I - 4 - 1

QA - Setor da Qualidade

I - Instrução de Trabalho

4 - Seqüencial numérico do procedimento

1 – Seqüencial numérico do formulário

O procedimento dita exatamente como devem ser preparados os documentos

para emissão pelo CEDOC, o Arquivo define os códigos juntamente com a

engenharia. Importante que seja, identificados os números correspondentes aos

projetos de plataformas que o estaleiro possui, em caso de desenhos, plantas, entre

outros.

O Estaleiro XX possui vários clientes para atender e o principal deles o Cliente

1, disponibilizou um sistema para inclusão de documentos chamado EDMS, porém

além de ser confuso, difícil o acesso, os documentos não estão atualizados. Os

profissionais se utilizam da rede por ser mais rápida e constantemente atualizada.

35

3.1.2 PR-P 12 - Sistema de Gestão/Procedimento de Trabalho - Gerenciamento de

Documentos Técnicos

Esse procedimento define a sistemática e critérios adotados no controle de

gerenciamento de documentos técnicos. Possui definições de sistemas de

informação em que o cliente atual disponibilizou para o Estaleiro XX. Os documentos

que são relacionados são os desenhos técnicos emitidos pela engenharia. Podem

ser desenhos do canteiro de obras, desenhos da parte interna o navio, das

tubulações, parte elétrica entre outros.

Exemplo: DE-6001- E-001-000 - A2

DE – Desenho

6001 – Projeto do Estaleiro

E - Disciplina de Elétrica

001 – Sequencial do documento

000 - Sequencial do anexo

A2 – Aprovado, na revisão 2

Quando há a necessidade de criar um documento, o engenheiro solicita a

responsável do CEDOC e ela libera um seqüencial para emissão.

3.1.3 QA-P 4 - Sistema de Gestão/Procedimento de Trabalho – Controle de

Documentos

O principal procedimento para o CEDOC define o controle para os

documentos a fim de garantir que os documentos sejam analisados e atualizados

quando necessário; que as versões atualizadas estejam disponíveis para o uso e a

distribuição controlada; evitar o uso de documentos obsoletos8 e aplicar identificação

adequada nos casos de serem retido por algum propósito. Os tipos de documentos

podem ser desenhos, normas técnicas, planos específicos e consulta técnicas a

alguma peça que pode estar diferente do desenho original.

Para colaboradores que não possuem acesso ao computador, pode-se

solicitar cópia controlada dos documentos através de um e-mail para registro. Após 8 Termo utilizado para indicar que algum documento sofreu revisão, alteração e não pode mais ser utilizado.

36

isso a impressão e um carimbo indicando cópia controlada são feitos e notificados

aos solicitantes.

O procedimento diz que os documentos devem ser armazenados e

controlados de forma ordenada e facilmente rastreável, a armazenagem deve

preservar a integridade dos documentos, que devem estar acondicionados em

pastas suspensas e/ou arquivos com gavetas ou armários.

Todo documento impresso como cópia controlada, acompanha uma GRD –

Guia de Remessa de Documentos identificando o documento, sua revisão,

quem solicitou e quem emitiu. Caso o colaborador precise permanecer com a cópia

obsoleta, é necessário informar ao CEDOC para identificar o documento.

O Arquivo ainda não custodia toda a massa documental, os documentos

do Recursos Humanos, Departamento Financeiro e Jurídico são ainda mantidos em

suas próprias salas. Após um período, colocam em caixas numeradas e enviam para

uma empresa de guarda externa de documentos; não possuem um arquivista

para organizar, identificar o conteúdo dos documentos, que não passam pelo crivo

do CEDOC.

37

4. PROPOSTAS PARA GESTÃO DE DOCUMENTOS

O Arquivo apresenta problemas com limpeza precária, não possuem

máscaras, jalecos, equipamentos necessários para uma higienização e proteção

contra agentes inapropriados como insetos e bactérias. A climatização da sala é

deficiente, onde ao final do expediente o ar condicionado e as luzes são

desligados oscilando a temperatura do ambiente e contribuindo para oxidação do

papel. As janelas precisam de proteção contra raios ultravioleta, e vedação das

portas contra insetos; além da visita constante de dedetizadores para limpeza dos

ambientes.

Analisando e vivendo um pouco da realidade da instituição, percebe-se a

necessidade de uma avaliação de toda a documentação, criação de diretrizes para o

devido arquivamento, buscando a preservação e recuperação da informação de

maneira correta e ágil; criação de um plano de classificação e a tabela de

temporalidade para que seja possível estabelecer o tempo necessário de guarda de

cada tipo documental. Nos procedimentos internos é vital que haja padronização da

emissão de documentos, a diminuição de contato do papel e produtos que oxidem

mais rápido (grampos, clips).

Como sugestão e avaliação da documentação existente no CEDOC, o Plano

de classificação ficaria assim:

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Quadro 4 - Plano de classificação

Certificados XX

Certificados de Equipamentos

Certificados de Teste de Carga

Descarte

TED

Documentos do Estaleiro

Batimetrias

Certificados

Documentos do Estaleiro

Documentos de Fornecedores

GRD

Manuais

Planilhas de Controle

FPSO

Documentos de Cliente

Documentos de Engenharia

Documentos do Fornecedor

Documentos do Projeto

Documentos Pasta de teste hidrostático

GRD

Lombadas

Planilhas de controle

Logística

LRF – XX

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Normas e Procedimentos

Normas Técnicas

Normas Técnicas Engenharia

Normas Técnicas Qualidade

Procedimentos

Offshore

GRD

Lombadas

Planilhas de controle

TUP

Documentos de Cliente

Documentos de Engenharia

GRD

Lombadas

Planilhas de controle

Fonte: Elaborado pela autora

Possibilitando assim nortear o que tem arquivado e como deve ficar a partir de

agora, visando uma futura confecção da tabela de temporalidade, e inclusão de

novos assuntos.

Toda a documentação que tramita no Estaleiro, existe uma GRD9 como

instrumento de controle de saída de documentos, porém há uma necessidade de

que haja uma utilização por parte dos departamentos para enviar os seus

documentos para emissão.

Os procedimentos existentes indicam algumas atividades, mas não

especificam com clareza a Gestão de Documentos adequada, todo o quadro de

temporalidade mantém a mesma informação que todos os documentos são

arquivados por cinco anos e depois arquivamento permanente; não há um estudo

adequado para o documento específico, apenas uma cópia para todos os

procedimentos mudando apenas o título do documento.

Quanto ao meio eletrônico, é necessário que seja implementado um bom

sistema de gerenciamento eletrônico, para manter de forma segura, correta, eficaz

9 Guia de remessa de documentos

40

os documentos ali gerados. O controle é feito por meio de planilhas de Excel onde

há campos desnecessários e falta de outros importantes como controle de

empréstimos de normas técnicas. Apesar de existir o EDMS10, ele é muito difícil de

entender, não tem como pesquisar revisões obsoletas para comparação, não há

uma forma de busca facilitadora.

Existe um trabalho manual de carimbar os documentos a serem impressos

para colaboradores, porém na rede local não há um controle indicando que se a

cópia não sair do CEDOC esse cópia seja controlada ou não. Com isso há um

desperdício de papel e tempo desnecessário sem controle. Há também uma

necessidade de inserir campos com um informativo aos interessados que o

documento "y" foi revisado e atualizado, de forma que esteja sempre garantindo a

eficácia do serviço.

Faz-se também necessária a criação de comissão de avaliação e de seleção

por meio dos principais setores da empresa como jurídico, financeiro, arquivo,

engenharia para averiguar o descarte ou guarda daquele documento, evitando

problemas posteriores; criação de TED - Termo de Eliminação de Documentos para

quando for decido a eliminação legal dos arquivos.

Tudo isso dependerá dos profissionais da área demonstrarem

a importância do arquivo e suas funções para os outros setores através de

seminários, apresentando de forma dinâmica e atrativa a economia de recursos

humanos e financeiros que a empresa terá, o trabalho inicial de identificar, registrar,

será colhido rapidamente na busca correta e eficaz do documento em questão.

Acertar, corrigir, identificar os problemas, preocupando-se com uma Gestão

de Documentos, permitirá um conhecimento dos documentos e um devido controle

documental respeitando a classificação e temporalidade realizada.

10 Sistema Eletrônico de Documentos

41

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Estaleiro possui uma ótima estrutura técnica de produção, porém precisa

rever prioridades com a sua documentação. Por mais que possuam alguns

procedimentos indicadores de atividades e funções, é necessário um olhar mais

atencioso para o Arquivo a fim de identificar e filtrar a documentação ali produzida e

acumulada.

O CEDOC precisa ser reconhecido como o Arquivo da empresa, sendo parte

importante na tomada de decisões, arquivando a documentação existente pensando

na recuperação da informação de maneira correta e eficaz para seu usuário.

Os profissionais da área devem demonstrar através da boa execução do

trabalho, as propostas futuras e suas melhorias através de uma classificação e

avaliação adequadas. Feito isso a elaboração de um plano de classificação e

futuramente uma tabela de temporalidade servirão de espelho documental para a

empresa e saberá o que realmente é necessário produzir e reproduzir, evitando o

desperdício de trabalho e recursos. Faz-se necessário uma implementação de um

Sistema de Gerenciamento Eletrônico de Documentos para administrar melhor a

informação hoje tramitados na rede local.

A Gestão de Documentos é fundamental para melhorar a manutenção,

guarda e recuperação da informação, corroborando para que as atividades sejam

registradas de maneira correta.As instituições necessitam dar atenção para isso.

A Gestão de Documentos em uma empresa precisa estar fundamentada na

teoria arquivística e precisa garantir o controle, acesso à informação, guarda e

recuperação dos documentos, respeitando as fases e a temporalidade do

documento estabelecida na avaliação, otimizando recursos e espaço.

Os profissionais de arquivo precisam vencer as barreiras de massas

documentais acumuladas e não arquivadas corretamente, realizando um estudo

adequado para o não acumulo excessivo de documentos sem avaliação e o

descarte sem uma devida necessidade, mantendo sempre a ética profissional.

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6. REFERÊNCIAS

Arquivo Nacional [AN] (1995). Gestão de documentos; conceitos e procedimentos básicos. Rio de Janeiro (Publicações Técnicas, 47). BERNARDES, Ieda Pimenta; DELATORRE, Hilda. Gestão documental aplicada. São Paulo: Arquivo Público do Estado de São Paulo, 2008. BERNARDES, Ieda Pimenta. Como avaliar documentos de arquivo. São Paulo: Arquivo doEstado, 1998. (Projeto Como Fazer, 1). BRASIL. Lei n º 8159, de 8 de janeiro de 1991. Dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados e dá outras providências. GONÇALVES, Janice. Como classificar e ordenar documentos de arquivo. São Paulo: Arquivodo Estado, 1998. (Projeto Como Fazer, 2). INDOLFO, Ana Celeste. Gestão de documentos: uma renovação epistemológica no universo da arquivologia. Arquivística.net, v. 3, n. 2, p. 28-60, 2007. Disponível em: <http://www.brapci.ufpr.br/brapci/v/5190>. Acesso em: 05 dez 2015. JARDIM, José Maria. Caminhos e perspectivas da gestão de documentos em cenários de transformações. Rio de Janeiro: Acervo. v.28, n.2, p. 19-50, jul./dez., 2015. JARDIM, José Maria. O conceito e a prática da gestão de documentos. Rio de Janeiro: Acervo. v.2, n. 2, p. 35-42, 1987. LOPES, Uberdan dos Santos. Arquivos e a organização da gestão Documental. Santa Catarina: ACB, v.9, p. 113-122, 2004. Disponível em:<http://revista.acbsc.org.br/ racb/article/view/412/523>Acesso em 02 mar. 2016. PAES, Marilena Leite. Arquivos: teoria e prática. Rio de Janeiro: FGV, 2002. 228 p. RHOADS, James B. La función de la gestión de documentos y archivos en los sistemas nacionales de información:un estudio del RAMP/Programa General de Información y UNISIST y UNESCO – Paris, 1983. – 54 p. RIO DE JANEIRO. Lei nº 5562, de 20 de outubro de 2009 – Dispõe sobre a política de arquivos públicos e privados do Estado do Rio de Janeiro e dá outras providências. RODRIGUES, Ana Célia. Gestão de documentos: uma abordagem conceitual. 2007. (Apresentação de Trabalho/Conferência ou palestra). Disponível em: <http://www.ejef. Tjmg.jus.br/home/files/publicações/gest_arqui/palestra_ana_celia_rodrigues.pdf> Acesso em: 02 mar 2016.

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RODRIGUES, Ana Márcia Lutterbach. A Teoria dos arquivos e a gestão de documentos. Belo Horizonte: Perspectivas em Ciência da Informação, v.11, n.1, p.102-117, jan/abr.2006. RONCAGLIO, Cyntia; SZVARÇA, Décio Roberto; BOJANOSKI, Silvana de Fátima. Arquivos, Gestão de Documentos e Informação. Florianópolis: Encontros Bibli, 2004. Disponível em:<https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/viewFile/518924. 2004v9nesp2p1/5486> Acesso em 02 mar 2016. SCHELLENBERG, Theodore Roosevelt. Arquivos modernos: princípios e técnicas. 6. ed. Rio de Janeiro, RJ: FGV, 2006 SCHMIDT, Clarissa Moreira dos Santos. Documento arquivístico digital e gestão de documentos: considerações na perspectiva da Arquivística.In: EDICIC, 7, 2015, Madri. Disponível em:<http://edicic2015.org.es/ucmdocs/actas/art/393-Schmidt_Documento-arquivistico-digital.pdf> Acesso em 28 jun 2016.