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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL ÉRISSON LIMA FERREIRA EDUCAÇÃO PARA A MORTE NA FORMAÇÃO TEOLÓGICA PASTORAL DA IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA DO BRASIL: IMPORTÂNCIA PARA UM ACONSELHAMENTO EFICAZ Canoas 2005

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL

ÉRISSON LIMA FERREIRA

EDUCAÇÃO PARA A MORTE NA FORMAÇÃO TEOLÓGICA PASTORAL DA IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA DO BRASIL:

IMPORTÂNCIA PARA UM ACONSELHAMENTO EFICAZ

Canoas

2005

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ÉRISSON LIMA FERREIRA

EDUCAÇÃO PARA A MORTE NA FORMAÇÃO TEOLÓGICA

PASTORAL DA IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA DO BRASIL: IMPORTÂNCIA PARA UM ACONSELHAMENTO EFICAZ

Trabalho de Conclusão de Curso para a obtenção do título de Bacharel em Teologia Universidade Luterana do Brasil Curso de Teologia

Orientador: Prof. Ms. Thomas Heimann

Canoas

2005

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AGRADECIMENTOS

AGRADEÇO...

... a minha família que tem me sustentado financeira e emocionalmente durante todos esses anos: Célio, Lourdes, Eduardo e

Wesley

... aos meus amigos do seminário pela paciência comigo,

... ao meu orientador que soube ser muito paciente e amigo. Sem ele as dificuldades seriam maiores.

Agradeço ao Senhor Jesus Cristo,

por seu amor e sacrifício na cruz, por quem me dedico nos estudos teológicos e que pretendo servir no ministério;

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Autor: Érisson Lima Ferreira

Título do Trabalho: Educação para a morte na formação teológica pastoral da Igreja Evangélica Luterana do Brasil: importância para um aconselhamento eficaz

Trabalho de Conclusão do Curso de Bacharelado em Teologia

ULBRA - Universidade Luterana do Brasil

Canoas, 28 de Novembro de 2005.

Professor Orientador: Thomas Heimann, S.T.M. Professor do curso de teologia na

ULBRA. _______________________ Thomas Heimann Banca Examinadora: Paulo P. Weirich, S.T.M. Professor de Teologia na ULBRA e

no Seminário Concórdia.

_______________________

Paulo P. Weirich Ronaldo Steffen, S.T.M. Professor do curso de Teologia na ULBRA.

_______________________

Ronaldo Steffen

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RESUMO

Este trabalho apresenta um estudo sobre a educação para morte na formação pastoral da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Através de pesquisa de campo e pesquisa bibliográfica o estudo procura por vestígios de um preparo pastoral para trabalhar com a realidade da morte e do morrer. Também procura apontar possíveis contribuições de uma educação para a morte dentro do aconselhamento pastoral. O afastamento da morte é um problema da vida urbana pós-moderna. Pastores e demais profissionais que lidam com a morte e o morrer no seu cotidiano são influenciados por esse afastamento e sofrem prejuízos no desempenho de suas funções. A busca por um contato mais próximo e refletido com sofrimento e a dor, causados pela morte, leva o indivíduo a reavaliar e valorizar a vida. A “rehumanização” da morte proporciona um melhor desempenho nas funções desses profissionais e favorece a obtenção de melhores resultados no cuidado direto e indireto.

Palavras-chave: Educação teológica – Morte – Aconselhamento

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ABSTRACT

This work presents a study about the education for death in the pastoral formation of the Evangelical Lutheran Church of Brazil. Through a field research and a bibliographical research this work search for tracks of a pastoral preparation to work with the reality of death and of dying. It also tries to point some possible contributions of an education about death in the pastoral counseling. To withdraw from death is a problem of the post-modern urban life. Pastors and other professionals that deal with death and dying in their daily life are influenced by this withdrawal and suffer in their functions. The search for a closer and pondered contact with suffering and the pain, caused by the death, takes one to revalue and to value life. The “rehumanization” of death provides a better performance in those professionals' functions and it favors the obtaining of better results in the direct and indirect care.

Key-words: Theological education – Death - Counseling

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 07 1 FORMAÇÃO TEOLÓGICA PASTORAL DA IELB ..................................................... 10

1.1 História da Formação Pastoral na IELB ................................................................... 10 1.1.1 O início de uma formação pastoral na IELB ..................................................... 10 1.1.2 A abertura do segundo seminário: EST – ICSP ................................................. 12 1.1.3 Seminário Concórdia: implantação do convênio IELB-ULBRA ....................... 15

1.2 O Programa de Formação Teológica-Pastoral ......................................................... 17

2 EDUCAÇÃO PARA A MORTE ................................................................................... 24 2.1 O que é a morte ....................................................................................................... 24

2.1.1 O tabu da morte ................................................................................................ 28 2.1.2 O medo da morte............................................................................................... 29 2.1.3 A influencia da morte na formação pastoral....................................................... 33

2.2 O que é educação para a morte................................................................................. 36 2.2.1 Educação para a morte na formação pastoral ..................................................... 38

3 IMPLICAÇÕES PARA UM ACONSELHAMETO EFICAZ ........................................ 46 3.1 A Importância do Aconselhamento no Ministério Pastoral ....................................... 49

3.1.1 A eficácia do aconselhamento no cuidado pastoral ............................................ 45 3.2 A Contribuição de uma “Educação para a Morte” para um Aconselhamento Eficaz . 51

CONCLUSÃO .................................................................................................................. 55 REFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 58 OBRAS CONSULTADAS .............................................................................................. 61 ANEXOS ......................................................................................................................... 62

Anexo A – Entrevista com o Professor responsável pela Formação Prática Anexo B – Entrevista com o Deão Acadêmico do Seminário Concórdia Anexo C – Questionário aplicado aos alunos Anexo D – Gráficos de resultado da pesquisa com os alunos Anexo E – Ementário das Disciplinas para formação pastoral

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INTRODUÇÃO

O assunto abordado neste trabalho é Educação para a morte. Delimitando o

estudo à investigação da importância de uma educação para a morte na formação

pastoral, sua contribuição para um aconselhamento eficaz dentro do processo de

formação pastoral da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB).

Esse estudo tem o objetivo de verificar na formação teológico-pastoral da

IELB vestígios, carências e virtudes que apontem uma preocupação existente com a

educação para a morte e o morrer na formação de seus pastores.

Lutero em seu “sermão sobre a preparação para a morte”, de 1519,

recomenda que “durante a vida deveríamos ocupar-nos com a idéia da morte e

confrontar-nos com ela enquanto ainda está distante e não nos atormenta”.1 Para

Lutero, o maior poder e força da morte está no medo, na pusilanimidade (fraqueza

moral) da natureza humana frente a ela e no “fato de ser encarada ou contemplada

de modo excessivo e em época inoportuna”.2

1 LUTERO, Martinho. Um Sermão sobre a preparação para a morte. In: Obras Selecionadas, v. 1,

Porto Alegre/ São Leopoldo: Editoras Concórdia/ Sinodal, 1987. p. 388. 2 Idem, ibdem.

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A morte confronta pessoas diariamente, contudo, contrário à recomendação

de Lutero, não há uma reflexão antecipada sobre a realidade da morte. A sociedade

do séc. XXI vive o que alguns autores neste trabalho chamam de tabu da morte.

Profissionais da saúde e da educação que lidam com a realidade da morte no seu

cotidiano de trabalho têm demonstrado preocupação pelo despreparo de seus

profissionais no cuidado com as demais pessoas. Wanderley M. Lange3 observou

que uma reflexão sobre a realidade da morte e o morrer pode habilitar a pessoa a

lidar com aqueles que obrigatoriamente enfrentam o morrer pessoal ou do outro. No

exercício do ministério e principalmente no aconselhamento, o pastor exerce essa

função de orientar e preparar pessoas para a morte. Mas por vezes, o pastor ou o

que exerce essa função pastoral não é preparado para cumprir o papel que se

espera. O autor desse estudo passou por experiências dessa categoria diante de

pacientes terminais. Esse sentimento de incapacidade e despreparo atrelado à

recomendação de Lutero foram os motivos que impulsionaram esse estudo.

A partir dessa motivação surgiram questionamentos: Será que esse

sentimento de despreparo é isolado ou não? Ele prejudica o ministério pastoral ou o

bom resultado no aconselhamento as pessoas? A instituição de ensino e preparação

dos pastores da Igreja Evangélica Luterana do Brasil tem conhecimento dessas

preocupações e possíveis ansiedades de seus alunos? De que maneira a IELB tem

se preocupado com o tema da “morte e o morrer” na formação de seus pastores?

3 Atualmente é pastor da IELB. Artigo In: Vox Concordiana – v. 15, n.2, 2000., p .56.

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A realização deste estudo se faz através de pesquisa bibliográfica em

literatura relacionada com o tema. Também de uma análise panorâmica ao currículo

de formação teológica pastoral dos alunos. Além disso, uma pesquisa de campo

através de entrevistas a professores no Seminário Concórdia, em São Leopoldo, e

questionário de natureza quantitativa e qualitativa aplicado aos alunos que já tenham

passado pelo Estágio Ministerial. Os alunos escolhidos para essa amostragem são

provenientes da Escola Superior de Teologia em São Paulo, fechada no fim de

2002, e que desde 2003 desenvolvem seus estudos no Seminário Concórdia.

Essa pesquisa é desenvolvida em três capítulos. No primeiro capítulo se

verifica a preocupação com a formação pastoral na IELB através de sua existência

no país e o seu atual programa de formação teológica pastoral. No segundo capítulo

se procura os referenciais de uma educação para a morte e a sua constatação

dentro da formação pastoral. O último capítulo procura mostrar a importância do

aconselhamento dentro do ministério pastoral e as contribuições de uma educação

para a morte para a eficácia dessa função.

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1 FORMAÇÃO TEOLÓGICA PASTORAL DA IELB

Este capítulo vai trilhar pelos caminhos da formação teologia da Igreja

Evangélica Luterana do Brasil e verificar sua preocupação com o tipo de formação

de seus pastores conforme as mudanças sociais de cada período no tempo. Para

isso será feito uma busca histórica para então, no fim, analisar o currículo

acadêmico atual.

1.1 HISTÓRIA DA FORMAÇÃO PASTORAL NA IELB

1.1.1 O Início de uma formação pastoral na IELB

A história da formação teológica pastoral da Igreja Evangélica Luterana do

Brasil4 confunde-se com a sua própria história de existência no Brasil. Em 1903,

antes da fundação oficial da IELB (24.06.1904) o seminário para a formação de seus

pastores já estava em funcionamento5.

A principal razão para essa preocupação foi de ordem missionária

confessional. Atendendo a proposição em 1Tm 3.2 6 é que a igreja forma pastores7.

Entre as comunidades alemãs que colonizavam o sul do Brasil havia muitos

4 A partir daqui será abreviada por IELB sempre que necessário. 5 SEMINÁRIO CONCÓRDIA. Catálogo Acadêmico. São Leopoldo – RS, 2005. p. 18. 6 1Tm 3.2: “É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher,

temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar”. Segundo a tradução de Almeida revista e atualizada, 1999.

7 Congregação de Professores do Seminário Concórdia. O projeto de formação teológica do Seminário Concordia em convêncio com a Universidade Luterana do Brasil. In: Vox Concordiana, v. 17; n. 1, 2002., p. 5.

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pseudopastores.8 O chamado a pastores americanos era muito caro e a demanda

era maior que a oferta. Além disso, havia o interesse de se formar uma “igreja

nativa”9. O Dr. Rudi Zimmer10 fez um estudo histórico da educação teológica na IELB

e afirmou:

Para o Rev. W. Mahler, ter um seminário era questão de consciência. Se ele e outros pastores fossem indiferentes em relação a educação teológica seriam corretamente acusados no futuro por sério descuido com a missão e o futuro da Igreja11.

O Rev. Mahler realmente preocupou-se com a missão da igreja12 e também

com a formação pastoral dessa igreja. Mas não chegou a ver a formação dos

primeiros pastores13.

Sob a direção do professor Johannes F. Kunstmann, em 1915 foram

formados os primeiros pastores da IELB com seu “treinamento teológico completo

em um seminário na América do Sul”.14 O exame final era composto de uma etapa

com provas escritas e outra com o exame oral perante “pastores e outros

convidados”.15

8 Pseudopastores: “líderes religiosos” sem formação teológica nem conduta moral para assumirem o

ofício pastoral. 9 Cf. REHFELDT, Mário L. . Um grão de mostarda: A história da Igreja Evangélica Luterana do

Brasil. trad. Dieter Jagnow. Porto Alegre: Concórdia, 2003. Essa é uma expressão usada por Rehfeldt a respeito da intenção de se desenvolver uma igreja com a liderança totalmente local.

10 ZIMMER, Rudi. História da formação teológica na IELB. In: Vox Concordiana, v. 17; n. 1, 2002. p. 27-43.

11 ZIMMER, op.cit, p. 29. 12 REHFELDT, op. cit., p. 75.

13 Idem, p. 75, 84. Por razões de doença a família do pastor Mahler voltou para os EE.UU. em agosto de 1914. A primeira turma de pastores se formou em dezembro de 1915.

14 Idem, p. 84. 15 Idem, ibidem.

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Em seu artigo Zimmer (2002) faz uma descrição do desenvolvimento

histórico da formação teológica pastoral da IELB e dele destacamos alguns fatos:

em 1940 houve melhoria no currículo e um aumento da duração do curso para

atender as novas necessidades da igreja;16 em 1953 aconteceu uma reorganização

da educação teológica aproximando-a ao modelo americano com o objetivo de

melhorar o currículo. Até aqui a igreja tinha apenas um campus, em Porto Alegre.

Até aqui nada foi encontrado que pudesse indicar que a igreja tinha algum

cuidado ou preocupação direta em formar seus pastores para lidarem com a morte e

o morrer. Talvez porque, segundo a entrevista com Weirich, até a década de 70 a

maior preocupação do pastor era oferecer uma doutrina correta através da pregação

e a assistência e serviço social da comunidade era oferecido pelos próprios

membros em suas famílias e vizinhanças17.

1.1.2 A abertura do segundo seminário: EST – ICSP

De acordo com Zimmer18, uma série de fatores de políticas externa (Governo

Federal) e internas (LC-MS; IELB), geraram uma movimentação para uma melhoria

na formação teológica que veio a acontecer somente na década de 80. A igreja está

na cidade. Uma realidade distinta da existente até a década 70. A partir dos anos 80

uma série de documentos surgidos na igreja buscava resgatar a filosofia educacional

na igreja, atualizar e adaptar às novas realidades19. A IELB passou a avaliar seu

16 REHFELDT, op.cit., apresenta mais detalhes dessa melhoria na formação teológica, p. 161-162. 17 WEIRICH, entrevista em anexo, Anexo A, p. 3. 18 ZIMMER,op. cit., p. 33-35. 19 ZIMMER, op.cit, p.36

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plano de formação pastoral e atitudes nesta realidade urbana e multicultural e

constatou que precisava mudar o perfil de seus pastores.20

Nestor Beck, teólogo da IELB, afirmou que o perfil pastoral no final dos anos

70 era:

[...] firmeza na doutrina, ênfase na ortodoxia em detrimento da realidade brasileira, conhecimento inseguro da Bíblia e superficial das Confissões, pouca profundidade e reflexão teológica […] bom preparo acadêmico-teórico e pouco preparo prático em administração paroquial, aconselhamento pastoral e comunicação ao homem contemporâneo.21

Dentro do espírito missionário expansionista a igreja propõe um “basta” ao

trabalho pastoral de apenas arrebanhar luteranos dispersos – que caracterizou a

missão da igreja até aqui. Procuravam, então, no perfil do novo pastor, um

evangelista, para falar para além dos muros da própria igreja dentro da cidade; um

pastor educador, capaz de formar, preparar e liderar pessoas na congregação para

o serviço e para a missão.22

De sua preocupação missionária expansionista a igreja elaborou planos e

decidiu abrir uma Escola Superior de Teologia (EST) no Instituto Concórdia de São

Paulo (ICSP). O Dr. e professor Erní Seibert trabalhou nessa nova unidade de

ensino e formação teológica e afirmou:

20 BECK, Nestor. Igreja, Sociedade & Educação: estudos em torno de Lutero. Porto Alegre:

Concórdia, 1988. p. 117 21 BECK, op. cit. p. 120. 22 BECK, op.cit., p. 117.

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A preocupação da IELB, ao estabelecer a EST no Instituto Concórdia de São Paulo, foi que a escola se preocupasse com missão. Isso estava explícito nos documentos que orientam a criação deste seminário.23

Nesta época o professor Rudi Zimmer foi chamado e instalado como diretor

da nova “escola de pastores” em São Paulo. Paralelamente à preocupação de se

montar um plano de formação pastoral hábil para a realidade urbana, outras forças

tentavam impedir que o projeto da EST-ICSP desse certo. Não é objeto desse

trabalho discutir essas decisões, apenas fica o seu relato:

“Como pode ela [a igreja] chamar um sujeito, dar-lhe a responsabilidade de implantar o que foi aprovado e, logo em seguida, ameaçá-lo com o fechamento !?” [Reclamou de sua] “luta desgastante para fazer ver a IELB que a decisão tomada visava o crescimento real da igreja, através do avanço em sua missão”.24

A EST-ICSP procurou, dentro da filosofia de educação luterana e em seu

enfoque missionário, formar uma gama de habilitações para servir na missão

urbana. Além da formação pastoral voltada à missão, oferecia formação a

professores de ensino religioso, um programa de educação teológica por extensão

(ETE), um programa de Diaconia em Música, cursos de reciclagem e atualização a

pastores e o Centro Internacional de Treinamento Missionário (CITM).25

A Escola Superior de Teologia no Instituto Concórdia de São Paulo – ICSP

atuou como escola de formação teológica pastoral até o fim de 2002. Por decisão do

Conselho Diretor da IELB a formação teológica foi unificada26 no Seminário

23 SEIBERT, Erni W. Centro Internacional de Treinamento Missionário. In: Vox Concordiana v. 13,

n. 1, 1998. p. 71. 24 ZIMMER, op. cit. p. 40. 25 SEIBERT, Erni. Por que um curso de teologia? In: Vox Concórdiana. v. 13, n. 1, 1998. p. 64-65. 26 Para maiores esclarecimentos recomendamos a leitura da Vox Concórdiana, v. 17; n. 1, 2002. Há

uma argumentação justificativa em torno da educação teológica na IELB e as suas implicações

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Concórdia em São Leopoldo, onde a igreja mantém um programa de parceria com a

Universidade Luterana do Brasil desde 1994.

O autor desse estudo conheceu a realidade educacional da EST-ICSP

pessoalmente como aluno. A ênfase missionária da escola proporcionava aos

alunos um contato direto com moradores de uma favela próxima. Nesse local era

desenvolvido de assistência espiritual às famílias e integração social entre a escola

e os moradores ligados ao projeto missionário. Não havia disciplinas específicas

para uma educação para a morte, mas a cultura da escola, através dos programas

de missão, proporcionava essa sensibilização estudante com a realidade e

sofrimento daqueles moradores.

1.1.3 Seminário Concórdia: implantação do convênio IELB-ULBRA

Em 1984, “após traumática transferência do curso”27 de teologia, do Bairro

Mont’ Serrat, em Porto Alegre28, o Seminário Concórdia foi para São Leopoldo. Por

razões de ordem financeira,29 em 1994, a IELB firmou um acordo com a ULBRA pelo

documento chamado Convênio de Mútua Cooperação IELB-ULBRA, do qual, até o

ano de 2000, permitia a ULBRA formar alunos em Licenciatura em Teologia e ao

Seminário Concórdia a formatura em Bacharel.30 A partir de então a ULBRA passou

para a igreja. Segundo palavras do, então, editor Dr. Deomar Roos: “em vista da atual contingência da IELB, as reflexões contidas nestes artigos são muito relevantes”.

27 Congregação de Professores do Seminário Concórdia. O projeto de formação teológica do Seminário Concórdia em convênio com a Universidade Luterana do Brasil. In: Vox Concórdiana, v. 17; n. 1, 2002. p.9.

28 REHFELDT, op.cit., p. 113. 29 Congregação de Professores do Seminário Concórdia. op.cit., 2002. p. 9. 30 Idem, ibidem.

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a conceder o bacharelado aos alunos e o Seminário a graduação como especialistas

em teologia com Habilitação ao Ministério Pastoral.31

O processo de formação pastoral pelo Convênio IELB-ULBRA vêm sofrendo

constantes alterações, também com a decisão de unificação dos dois Seminários

2002, numa busca permanente de excelência na formação de seus futuros

pastores.32

É possível dizer que o Convênio de Mútua Cooperação proporcionou de

imediato uma experiência prática obrigatória bastante benéfica a todos os alunos do

Seminário quando lhes propôs a convivência com um ambiente universitário. O Dr.

Laino Schneider faz uma reflexão sobre realidade e projeção envolvendo

universidade e a vida fora dela. Segundo ele “o ambiente universitário reproduz o

que vemos na sociedade como um todo, [...] a micro sociedade (ULBRA) reflete a

macro (sociedade como um todo). Naquela as estruturas se reproduzem, pois os

parâmetros são trazidos por cada indivíduo”33. Desta forma o convívio do estudante

dentro desse ambiente incentiva-o a refletir sobre as realidades de trabalho que o

aguardam fora da universidade após sua formatura a fim de que possa responder

sempre com uma teologia mais vívida aos que o ouvem e recebem como agente de

Deus entre eles.

31 Idem., p. 11 32 SEMINÁRIO CONCÓRDIA. Catálogo Acadêmico. São Leopoldo – RS, 2004. p. 5 33 CHINAZZO, Cosme Luiz; SCHNEIDER, Laino. Metodologia Científica. Canoas: editora ULBRA,

2005. [cadernos universitários; 272]. p. 36.

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1.2 O PROGRAMA DE FORMAÇÃO TEOLÓGICA-PASTORAL

O programa de formação pastoral envolve duas realidades, conforme nos

afirma Raymann34:

[...] o seminário se constitui de alunos e professores que se vêem envolvidos com uma atividade teológica acadêmica e uma atividade teológica prática. Teologia é um habitus practicus. Por esse motivo, o seminário tem balizado a formação de seus pastores pela via desses dois parâmetros35.

Uma formação acadêmica sem perder de vista a sua aplicação prática na

vida das pessoas. É assim que Weirich36 entende “habitus practicus” na formação

teológica:

A teologia que o Seminário faz se dirige especificamente a realidade humana [... e] o que se faz é preparar pastores para o ministério, para o serviço [...] porque não se faz teologia sem realidade.37

Sobre a teologia impressa na realidade humana Weirich acrescenta que um

dos compromissos maiores da formação acadêmica é ensinar aos futuros pastores o

que chama de teologia nos três Artigos:

O ser humano sofre dentro do primeiro artigo. Ele precisa ser resgatado dessa morte que se instalou nessa criação. E por isso o segundo artigo é fundamental, para que se diga que o primeiro artigo pode ser reconstruído.38

Por essa razão a tarefa da Igreja na pregação é:

34 Deão Acadêmico no Seminário Concórdia. 35 Cf. Entrevista em Anexo B. p. 1. 36 Professor responsável pela formação prática dos alunos no Seminário Concórdia. 37 Cf. Entrevista em Anexo A, p. 1. 38 Anexo A, p. 2.

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[...] denunciar o pecado no primeiro artigo, anunciar o resgate no segundo artigo, mas voltar para o primeiro artigo com o consolo da presença do Espírito Santo e ajudar as pessoas a ver como Deus reconstrói a vida na expectativa da vida eterna, mas aqui.39

Até aqui vimos a definição dos professores com respeito ao objetivo da

formação teológica pastoral. Vamos buscar então a observação dessas afirmações

no quadro acadêmico que se concretiza em dois ambientes distintos: a universidade

e o seminário. Para isso dividiremos as disciplinas em quadros conforme a área

teológica.

O catálogo acadêmico do Seminário Concórdia – ULBRA não traz a divisão

de disciplinas por áreas teológicas, por isso, nos pautamos no Catálogo Acadêmico

do Instituto Concórdia de São Paulo40. Neste catálogo acadêmico se afirma: “O

currículo de Teologia contempla as quatro áreas da teologia: Bíblica, Histórica,

Sistemática e Prática. Também dá ao aluno formação na área das ciências

humanas”41.

Teologia Exegética:

ULBRA Arqueologia do Mundo Bíblico Exegese do AT Exegese do NT Grego Hebraico História e Literatura do AT História e Literatura do NT

Teologia Sistemática

ULBRA Doc. Confessionais da Reforma Luterana Ética Teológica Filosofia da Religião I Introdução à Teologia Sistemática Movimento Ecumênico Seminário de Teologia e Filosofia Seminário de Teologia em Lutero Sistemática: Doutrinas Básicas da Igreja

39 Anexo A., p. 1. 40 O Catálogo Acadêmico foi editado para os anos letivos 2000-2003. 41 Instituto Concórdia de São Paulo – Escola Superior de Teologia. Catálogo Acadêmico. 2000 -

2003. p.29.

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Princípios de Interpretação Bíblica

SEMINÁRIO CONCÓRDIA Exegese do Antigo Testamento II Exegese do Novo Testamento II Grego II Hebraico II, III

Cristã Sistemática: Teologia dos Sacramentos Sistemática: Tópicos de Teologia

Escatológica SEMINÁRIO CONCÓRDIA Confissões Luteranas II Denominações Religiosas no Brasil Introdução aos Catecismos de Lutero

Teologia Histórica

ULBRA História da Igreja Antiga e Medieval História da Igreja Moderna e

Contemporânea SEMINÁRIO CONCÓRDIA História do Luteranismo

Teologia Prática

ULBRA Culto e Música no Contexto Cristão Metodologia do Ensino Religioso Princípios Teológicos do Acons. Cristão Retórica e Anúncio da Palavra Teologia da Missão da Igreja Teoria e Prática do Estudo Bíblico SEMINÁRIO CONCÓRDIA Aconselhamento Pastoral Evangelismo Institucional Evangelização na Congregação Formação e Pessoa do Missionário Homilética I, II, III Introdução à Missiologia Litúrgica Música I, II, III Planejamento e Administração Eclesiástica Pré-estágio Preparação para o Estágio Regência Coral Teologia e Prática da Mordomia Teologia Pastoral

Ciências Humanas

ULBRA Antropologia Cultura Religiosa Introdução à Filosofia Língua Portuguesa: da oralidade à escrita Lógica Metodologia Científica Psicologia

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SEMINÁRIO CONCÓRDIA Inglês Teológico

Figura 1: Distribuição das disciplinas para a formação pastoral conforme as áreas de conhecimento.

Em função do plano de unificação dos seminários em 2002, parte dos alunos

que vieram de São Paulo permaneceram no mesmo currículo acadêmico. Em 2005

a última turma com o currículo de São Paulo conclui sua formação. O quadro abaixo

é colocado para informação.

Primeiro semestre Segundo semestre

Ética Teológica 30h Exegese Bíblica (Optativa) 30h

História da Igreja Moderna e Contemporânea

60h Teologia Patrística 30h

Homilética III 30h Simbólica Comparativa 30h

Teologia Pastoral 60h Estudos na Teologia de Lutero 30h

Missiologia II 30h Optativa 30h

História das Missões 30h Optativa 30h

História da LC-MS e IELB 30h Exame Final de Teologia 30h

Optativa 30h

Optativa 30h

Figura 2: Programa Curricular para os estudantes vindos do ICSP (este programa desenvolve-se apenas no Seminário Concórdia)

Vale lembrar, segundo os professores do Seminário Concórdia, que:

[...] o bacharelado na ULBRA, embora densamente teológico, não visa a formação de pastores da IELB. A formação de pastores é feita via Seminário Concórdia. Disciplinas, em especial da área prática, sem falar do conjunto de programas e atividades formativas, são ministradas e desenvolvidas no Seminário Concórdia e apenas no seminário42.

Isso é importante para que se possa delimitar a pesquisa às disciplinas da

área prática da formação pastoral no Seminário. 42Congregação de Professores do Seminário Concórdia. op.cit., 2002. p. 11.

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Dentro do que é próprio em cada disciplina é possível dividi-las em três sub-

áreas de atuação no ministério público pastoral: A área da missiologia e

evangelização; A área do culto e vida cristã; A área do aconselhamento e pessoa do

pastor.43

A área da missiologia e evangelização se caracteriza pelas disciplinas de

Introdução à Missiologia, Formação e Pessoa do Missionário, Evangelismo

Institucional e Evangelização na Congregação. São disciplinas que buscam

desenvolver as habilidades do aluno a fim de cumprir um dos maiores propósitos da

Igreja que é pregar o evangelho a toda criatura (Mc 16.15), dentro e fora da

comunidade cristã. Essa pregação envolve uma série de métodos44 e o fundamento

principal na compreensão da missio Dei.45 A importância em conhecer o fator cultural

descrito como base tricultural na evangelização46 para o desenvolvimento prático do

trabalho e preparação de outros.

A área do culto e vida cristã abarca as disciplinas de Homilética, Litúrgica,

Música e Regência, Administração e Planejamento Eclesiástico, Teologia e Prática

da Mordomia.47 O culto não se restringe a um momento semanal de duração

prescrita, mas que encontra nesses momentos a sua concretização comunitária.

43 Estas observações se referenciam pelas descrições das disciplinas no Ementário das Disciplinas,

em Anexo E. 44 Cf. Manual de Evangelização. Porto Alegre: Concórdia, 2000. Há uma série de outros autores

nesse ponto, mas citamos apenas um FLOR, Paulo, Assim com eu vos amei: Manual de evangelização. Porto Alegre: Concórdia. 19??.

45 Cf.VICEDOM, Georg. A missão como obra de Deus: introdução a uma teologia da missão. São Leopoldo: Sinodal, 1996.

46 Conceito missiológico apresentado por HESSELGRAVE, David J. A Comunicação Transcultural do Evangelho. v.1. Comunicação Missões e Cultura. São Paulo: Editora Vida Nova, 1994. 3.vol.

47 Cf. Anexo E, esta disciplina não está descrita no Ementário oficial das Disciplinas do Seminário.

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Planejar, administrar e servir são características de uma vida cristã motivada em

Cristo. Essas qualidades são desenvolvidas pela comunidade e também pelo pastor,

principalmente no que é próprio de seu ofício: administração da Palavra e dos

Sacramentos para anúncio do perdão dos pecados e reconciliação divina.48

A terceira área se caracteriza pelas disciplinas de Teologia Pastoral e

Aconselhamento Pastoral. Elas contemplam em si tudo o que é próprio do ministério

pastoral (pregação da Palavra - distinção de lei e evangelho; administração dos

sacramentos; aplicação do ofício das chaves) de uma maneira bem individual e

íntima. Nessas disciplinas também é conversado sobre o universo do ministério

pastoral com suas implicações para a pessoa do pastor, sua família e a comunidade

na qual são inseridos.49 Como é descrito no ementário,50 a disciplina de

Aconselhamento Pastoral51 estuda os “princípios de Psicologia aplicados à prática

pastoral” em situações bem específicas como:

[...] aconselhamento com pessoas ansiosas, deprimidas, iradas, solteiras, drogadas, alcoólicas, doentes, enlutadas, traumatizadas. Aconselhamento a pessoas com sentimento de inferioridade, com sentimento de culpa e com problemas espirituais, [...] para a escolha de um cônjuge, aconselhamento pré-matrimonial.

Essas disciplinas são aplicadas respectivamente antes do Estágio e após o

Estágio e podem contribuir para uma valorização das teorias e técnicas às situações

semelhantes experimentadas durante o Estágio.

48 Cf. MUELLER, Norbert H.; KRAUS, Georg. Pastoral Theology. Saint Louis, MO: CPH, 1990. p. 71-

107. 49 Cf. MUELLER, op.cit., É recomendado como livro texto complementar às aulas. 50 Cf. Anexo E. 51 O livro de COLLINS, Gary R. Aconselhamento Cristão. Tradução de Lucília Marques Pereira da

Silva. São Paulo: Vida Nova, 2004, é usado como livro texto para orientação das técnicas aplicadas a grande parte das situações de aconselhamento pastoral.

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Além das disciplinas oferecidas na área prática, há também um programa de

atividades formativas que acompanham os alunos desde o primeiro ano até a sua

formatura final.52 São programas ligados ao curso de Serviço Social como a

assistência espiritual à famílias carentes enlutadas, nos cemitérios de Porto Alegre53,

e atendimento à crianças vítimas de abusos e violências diversas54. Também um

programa ligado à capelania hospitalar da ULBRA, onde alunos do 2º ano teológico

são expostos à realidade da morte nos hospitais e incentivados a pesquisar dentro e

fora de si mesmos, suas atitudes como pastores e conselheiros55. Com todos esses

programas o Seminário objetiva “trazer o aluno para dentro de uma experiência

ministerial num estágio de preparação”56 com início no 2º ano teológico perpassando

por todos os estágios até a sua formação final.

Por causa da diferença de currículos, parte dos os alunos provindos de São

Paulo em 2003 e que se mantêm no currículo anterior não têm esse programa de

atividades como parte obrigatória. A participação em qualquer atividade prática é de

interesse voluntário do aluno.

A exposição deste capítulo sobre a formação pastoral remete em seguida

para a investigação de um ponto específico a ser discutido no próximo capítulo - A

Educação para a morte na formação pastoral.

52 Ao final da entrevista com o professor responsável pela formação prática dos alunos, em Anexo A,

há um esboço do programa de pré-estágio. Esse programa, em sua atual formatação, teve início em 2002.

53 Cf. Anexo A, p. 5. Esse programa funcionou no 1º semestre 2005. Foi suspenso temporariamente por questões políticas.

54 Cf. Anexo A, p. 6. 55 Idem, p. 5. 56 Idem, ibdem.

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2 EDUCAÇÃO PARA A MORTE

Neste capítulo se abordará algumas definições relacionadas à educação

para a morte e de grande relevância para o contexto atual. Também se verificará

como esse tema tem se relacionado com a formação pastoral através dos resultados

da pesquisa de campo.

2.1 O QUE É A MORTE?

A morte é a única certeza que se tem dentre todas as possibilidades incertas

da existência humana. Desde o nascimento já se é velho o suficiente para morrer.57

Mas isso não é definição de morte, apenas uma constatação óbvia que por vezes se

torna esquecida ou oculta pela consciência comum. Barbarin58 aposta em uma visão

mais doce da morte. Ele afirma que a “morte é o sono definitivo da consciência

humana e a cessação das percepções do cérebro,... o momento no qual o

pensamento humano não tem mais o conhecimento das coisas que o cercam e

cessa definitivamente de ‘sentir’”.59 Nessa perspectiva é possível dizer que a morte é

experimentada a cada noite, e que por essa razão, segundo Barbarin, não há razão

para temê-la. Assim como o sono, a morte é marca da humanidade.60

57 COMO ENFRENTAR a Morte. Porto Alegre: Concórdia, 1970. p. 5. 58 BARBARIN, Georges. O livro da morte doce: como não temer mais o instante da morte.

Tradução de Benôni Lemos. São Paulo: Paulus, 1997. 59 Idem., p. 32 60 A morte como o principal distintivo entre Deus e os homens é a definição de BRAKEMEIER,

Gottfried. O Ser humano em busca de Identidade: contribuições para uma antropologia teológica. São Leopoldo: Sinodal; São Paulo: Paulus. 2002. “O ser humano em sua finitude e temporalidade, não se iguala a Deus” p. 175.

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Sob um outro ponto de vista Manfred Seitz61, teólogo luterano, afirma que a

morte é implacável, inegável, impera de forma absoluta usando meios visíveis como

doenças, falha humana e contra a qual não há arma62. Uma declaração fria e brutal

que bate de frente contra todo o avanço tecnológico da auto afirmação da

medicina.63

Cientificamente nada se declara sobre a morte, exceto, como Bayard, “opô-

la à vida” porque “ninguém voltou para nos trazer certeza e não podemos afirmar

nem negar nada, apenas aclamar a nossa fé”.64 Apesar disso muitos fazem das

respostas hipotéticas da ciência sua religião.65

A certeza da morte impulsiona o indivíduo a assumir uma postura diante da

vida, valoriza-la, preservá-la ou não fazer nada disso. A morte pode ser

compreendida como alívio, com prazer. Pode ser vista com sofrimento, com dor,

ódio, com negação ou fuga. A maneira como se percebe a morte muda e influencia o

comportamento durante a vida. Brakemeier fala de três grupos: os imanentistas; os

reencarnacionaistas; e os cristãos.66

61 SEITZ, Manfred. Prática da fé: culto, poimênica e espiritualidade. São Leopoldo: Sinodal, 1990. 62 Idem., p. 108. 63 WESTPHAL, Euler. O discernimento ético: As estruturas religiosas nas ciências biomédicas. In:

Identidade evangélico-luterana e ética: Anais do III Simpósio sobre Identidade Evangélico-Luterana. São Leopoldo: EST, 2005.

64 BAYARD, Jean-Pierre. O sentido oculto dos ritos mortuários: morrer é morrer? Tradução de Benôni Lemos. São Paulo: Paulus, 1996. p. 37

65 CASSORLA, Roosevelt M. S. Como lidamos com o morrer – Reflexões suscitadas no apresentar este livro. In: CASSORLA R.M.S. (org.) Da morte: estudos brasileiros. Campinas: Papirus, 1991. p. 17.

66 BRAKEMEIER, op.cit. 2002, p. 180-187.

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Do primeiro grupo se afirma que a morte é o ponto final. Cumpre-se o ciclo

da vida da gestação ao túmulo. “Todas as criaturas estão predestinadas a

completarem seu ciclo natural. Uns tornam-se extintos, outros fósseis, e alguns

humanos deixam rastros de inteligência e descoberta”.67

Os reencarnacionistas são representados expressivamente pelas doutrinas

do espiritismo, ensinados por Allan Kardec. Eles têm grande representação nacional.

Segundo essas doutrinas o corpo é mera casca que abriga o indivíduo enquanto

permanece neste plano cósmico. Na morte há apenas uma separação temporária

entre o corpo e a alma até que o está volte novamente em outro corpo. Um artigo

espírita confirma esta constatação:

Urge desvalorizar o ritual da morte, encarando-a como o despir (apenas isso) do corpo físico, numa demanda de outras paragens, outros planos vibratórios em que a vida se manifesta, outras dimensões existenciais, tal como na Terra abandonamos um casaco velho que usamos durante muito tempo e sem qualquer tipo de nostalgia, pois outro mais moderno e consentâneo foi por nós adquirido.68

Segundo Brakemeier, essa concepção é problemática, pois descarta o valor

do corpo limitando a mero utensílio descartável69. Há também a partir dessa ótica,

uma negação da morte, conforme a conhecemos, e há a chance de sempre tentar

de novo gerando uma busca talvez angustiante de sempre fazer o bem para ter

melhor status na próxima oportunidade de estar nesse plano terrestre.

67 PARISI, Mariana; e FRANÇA, Cláudia. Morte: ela faz parte do ciclo da vida. Disponível em:

<http://eaprender.ig.com.br/jornal_materia_ver.asp?IdMateria=1232> Acesso em: 09 out. 2005. 68 LUCAS, José. A vida e a morte. Revista de Espiritismo n. 41, out./dez 1998. Disponível

em:<http://www.espirito.org.br/portal/artigos/fep/a-vida-e-a-morte.html> acesso em: 09 out. 2005. 69 Cf. BRAKEMEIER, op.cit. p. 185.

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Por fim a visão teológica cristã. Nesta, a identidade humana é respeitada em

sua integralidade. Corpo e alma compõem o ser humano. Na morte do indivíduo há

uma separação: o corpo permanece na terra e a alma ou espírito, segundo a

teologia luterana, vai para o céu ou para o inferno. Separados, corpo e alma

aguardam até o dia em que todos os mortos ressuscitarão em seus próprios corpos

para receber, publica e eternamente o veredito de Cristo para a salvação ou para a

condenação. Essa certeza se fundamenta na ressurreição de Cristo e é prometida a

toda a humanidade.70

A morte, segundo a confissão cristã, é conseqüência direta do pecado

humano, o pagamento merecido (Rm 6.23) pela desobediência a Deus (Gn 2.17;

3.6) e que recai sobre toda a humanidade. Todo o ser humano é corrompido e

mau,71 e a morte que lhe é inerente por natureza se desenvolve à medida que este

cresce72 e se estabelece comum a todos. Isto torna ainda mais significante a morte

voluntária de Cristo, na medida em que não possuía pecado algum e, mesmo assim,

se entregou a morrer para o benefício da humanidade (2Co 5.21; Is 53.4,5; 1Jo 2.2).

A morte não é uma definição dogmática, mas uma constatação

experimentação. Nesse sentido só é possível falar de morte à medida que se

experimenta e isso, de forma grosseira, acontece apenas uma vez e não permite

testemunhos. Pode-se, contudo, experimentá-la em doses homeopáticas a partir da

morte e do morrer de outras pessoas. Weirich, em entrevista, afirma: 70 Cf. BRAKEMEIER, op. cit. p. 186-187. 71 Concepção antropológica luterana comentada por WEIRICH, Paulo P., sobre as 14 consolações de

Lutero (1519), palestra apresentada In: Fórum ULBRA de Teologia, 4. Lutero, o pastor. Canoas: 05 e 06 out. 2005.

72 SEITZ, Manfred. Prática da fé: culto, poimênica e espiritualidade. São Leopoldo: Sinodal, 1990. p. 106.

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Só é possível dizer o que é morte quando se confronta a morte ou quando a morte nos confronta. E ela nos confronta de maneiras diferentes – graças a Deus – Não precisamos sofrer a morte cada vez que precisamos lidar com a morte [...] Apenas sabemos da morte quando ela atinge a nossa vida, o nosso íntimo. E mesmo assim, ela tem nuances diferentes conforme o caso, seja com parentes, familiares ou integrantes de nossa família. Essas experiências determinam nossa atitude diante da morte.73

2.1.1 O TABU DA MORTE

Diversos pesquisadores como Ariès, Kübler-Roos, Kovács, Cassorla e

outros demonstram por suas obras que há um tabu da morte em nosso século.

Morrer é um processo solitário, distante da família, em hospitais e asilos. Não há

mais a participação comunitária no luto. Sofrer pela morte do outro não é aceitável

em uma sociedade “pró-vida”. O tabu da morte se faz não pela ocultação da morte

no cotidiano das pessoas, mas pela falta de uma reflexão para a vida. A mídia se

encarrega de mostrar milhares de pessoas morrendo diariamente por diversas

maneiras, em acidentes e catástrofes. A morte escancarada e não refletida é um dos

temas do tabu da morte que a psicóloga e pesquisadora Kovács critica:

A imagem da morte veiculada – como uma enxurrada e repetição à exaustão, acompanhada de um texto que na maioria das vezes não leva à reflexão. Enfatizo o quanto é assustador que, imediatamente após um noticiário envolvendo guerras, tragédias ou morte de pessoas ilustres, seja inserida uma propaganda ou notícia que muda totalmente de assuntos, levando à banalização da morte. 74

73 Anexo A, p.6 74 KÓVACS, Maria Júlia. Educação para a morte: desafio na formação de profissionais da saúde

e educação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. p. 160.

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Um artigo no jornal Aprender75 traz uma observação sobre um dos malefícios

do tabu da morte e aponta para a importância de um educar para a morte:

O ser humano não está preparado para encarar essa última fase do ciclo da vida. Ainda é um tabu falar sobre essa temática. Porém, de acordo com a especialista, refletir sobre a morte é importante, principalmente, em relação à questão do luto. “Poder falar deste assunto possibilita que sentimentos em relação ao ocorrido sejam expressos o que é muito importante para um processo de luto saudável”.

Kovács encontra nos meios de comunicação e no avanço tecnológico da

medicina a favor da vida, aliados para justificar uma educação para a morte a

pessoas simples e profissionais da saúde e educação, que estão em contato direto

com o tema da morte:

[...] o prolongamento da vida pelo avanço da medicina traz a possibilidade de maior convívio com o processo de morrer, alguns com intenso sofrimento tanto para familiares como para profissionais da área de saúde e educação.76

Busca-se então a possibilidade de se “abrir espaços de compartilhamento

sobre o tema, pela maior convivência com ela, tanto na esfera privada quanto na

pública”.77

2.1.2 O MEDO DA MORTE

“É rara a pessoa capaz de enfrentar a morte sem temor e tremor íntimo”.78

Segundo Raymann, o medo da morte tem causa existencial: “Desde que o ser

75 PARISI, Mariana; e FRANÇA, Cláudia. Morte: ela faz parte do ciclo da vida. Jornal Aprender.

Disponível em: <http://eaprender.ig.com.br/jornal_materia_ver.asp?IdMateria=1232> acesso em: 09 out. 2005.

76 KOVACS, op.cit. 2003, p.155. 77 KOVACS op.cit. 2003, p. 155.

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humano deixou de manter comunhão direta com Deus a morte o amedronta”.79 A

partir dessa afirmação pode-se dizer também, no próprio da teologia cristã, que a

morte não é o fim, e que por Cristo ela não tem mais domínio eterno sobre os

cristãos(Jô 3.16; Rm 6.4; 2Co 5.18). Mas, conforme Weirich, “isso não anula o

sofrimento que a morte traz, nem o medo que ela provoca em nós”.80 C.F.W.

Walther, teólogo luterano, traz uma complementação muito significativa quando diz

que o medo, assim como a morte, é algo natural e agressivo aos seres humanos,

até mesmo entre cristãos:

A grande maioria dos cristãos tem medo diante da morte. Se um cristão não tem medo da morte e afirma que está pronto para morrer a qualquer hora, então estamos diante de uma pessoa que recebeu um dom especial de Deus. Alguns se expressaram assim antes de ter ouvido, da parte do médico, que aquela seria sua última noite. Mas, depois disso, foram tomados por um medo terrível.81

Barbarin82 acredita que o temor a morte vem por causa da morte dos outros.

Segundo ele, processos do sofrimento de pessoas próximas que antecipam a morte

são a causa dessa repugnância ao morrer. Sem a experiência da própria morte,

resta aos homens a imagem da morte de pessoas próximas. Teme-se não a morte,

mas o morrer. De acordo com as idéias de Barbarin a morte por asfixia é a mais

temida, no entanto, ele complementa, morrer é como dormir. Não se percebe,

apenas dorme:

Chegamos ao cerne do grande temor físico. Os que temem a última hora temem-na por causa da asfixia, da sufocação. Louvemos, ao

78 COMO ENFRENTAR a Morte. op.cit., p.7 79 Anexo B, p. 1 80 Anexo A, p. 7 81 WALTHER, C.F.W. A correta distinção entre Lei e Evangelho. Marie Luize Heimann, trad. Porto

Alegre: Concórdia, 2005. p. 273. 82 BARBARIN, op. cit. p. 15.

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contrário, a benéfica asfixia, a qual, instalando-se gradualmente, obscurece nossas faculdades. Normalmente é sob anestesia carbônica que o homem é entregue a morte. É pelo cérebro que ele mergulha no inconsciente.83

Ainda segundo Maeterlink:

[...] o que mais tememos é a abominável luta do fim,principalmente a luta suprema, o momento terrível da ruptura, que veremos talvez avançar durante longas horas impotentes e que de repente nos precipitará, nus, desarmados, abandonados de todos e despojados de tudo, em um desconhecido que é o lugar dos únicos terrores invencíveis já experimentados pela alma humana.84

O Dr. Voivenel, citado por Barbarin, acredita que o terror no processo de

morte é algo para os vivos enquanto esta ainda está distante, ou seja, o medo do

morrer é para os vivos e saudáveis. No encontro final, quando as forças se esvaem,

tudo acontece de maneira natural e sem temor.

Devo concluir que em todas as doenças, em todas as idades, os

últimos momentos são menos temíveis do que se crê. No fim de uma doença, há esgotamento e anestesia. O sofrimento ainda é sinal de luta indecisa.85

Isso é um exemplo que vemos na experiência de vida do reformador Lutero.

Sua fragilidade, e por que não dizer revolta, diante da morte de suas filhas, contrasta

com a tranqüilidade diante de sua própria morte86. Como foi dito acima, a imagem

que se tem da morte, positiva ou negativa, influencia sobre a própria morte. O

contato com ela, através e experiências e reflexões, define a postura perante a

mesma.

83 Idem, p.19. 84 apud BARBARIN, op.cit., p23. 85 apud BARBARIN, op.cit., p.26. 86 BAUKAT, Érico Helmut. Lutero sobre a morte do ser humano: como a mensagem de Lutero

pode nos ajudar hoje frente à negação da morte. São Leopoldo: EST [trabalho interno, não publicado] 2003, p. 20-22

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Philippe Ariès87 (1914-1984) escreve sobre o comportamento do homem

ocidental diante da morte através do tempo.88 Ele identifica que na Idade Média a

morte era mais compartilhada pelos integrantes da família. Havia uma familiarização

com a morte devido ao seu constante contato com ela.89 Isso foi se rompendo

através dos séculos na medida em que a sociedade evoluía para uma urbanização.90

Alois Hann91 analisou o fenômeno da morte no envolvimento social e

constatou um menor contato direto com a morte nas sociedades complexas. Devido

a violência urbana e os meios de comunicação em massas, as pessoas são

bombardeadas com notícias sobre morte e o morrer diariamente sem que venham a

refletir sobre o assunto. Em sociedades simples, o número de notícias é bem menor

e atinge a todos de maneira bem mais direta. Há um contato maior entre vivos e

mortos. Isso nos remete as observações de Weirich. Há aproximadamente três

décadas a IELB era tipicamente rural, atuando em colônias e outros recantos onde

havia a proximidade com a morte e o mútuo apoio e consolo. De lá para cá a igreja

integrou-se à cidade e dessa desestruturação restou o fim das comunidades

terapêuticas do ambiente rural.92

A recusa por tratar a morte como um assunto cotidiano na formação da

consciência humana é alimento para que a realidade da morte tome a muitos

87 Philippe Ariès é referência para todos os pesquisadores sobre o comportamento do homem diante

da morte. Ele é autor de obras clássicas como História da morte no Ocidente, 1975; e O homem diante da morte, 1977.

88 Cf. ARIES, Philippe. História da morte no ocidente. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. 89 BAUKAT, op.cit., fez um estudo sobre o reformador Lutero e o seu contexto no contato com a

morte. Neste estudo constata-se que o ambiente histórico cultural de Lutero cheirava a morte, ela era realidade evidente no cotidiano de todos.

90 Idem, p. 157-159. 91 apud JUNGEL, E. Morte. 2.ed. São Leopoldo: Sinodal, 1980. p. 37. 92 Cf. Anexo A, p. 3.

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desavisados mortais de surpresa e os deixem sem chão. Barbarin, ao citar

Maeterlink diz que:

quanto mais a tememos, mais temível ela é. Porque se alimenta dos nossos temores [...] obrigamos nossa atenção a dar-lhes as costas,[...] na tentativa de distanciar dela a nossa vontade [...] nós a entregamos nas mãos escuras do instinto e não lhe concedemos uma hora de nossa inteligência.93

Embora seja algo inerente a nós, ela se torna ilusoriamente ausente no

momento em que a negamos à nossa consciência.

2.1.3 O MEDO DA MORTE: SUA INFLUENCIA NA FORMAÇÃO PASTORAL

Partimos do pressuposto que o pastor é um educador e cuidador de pessoas

na sua comunidade,94 um “agente [de Deus] dentro de uma realidade onde as

pessoas estão desorientadas”.95 Como tal, ele tem funções que o põe em contato, às

vezes diários, com a morte. Kovács fez essa investigação com profissionais da

saúde e educação e confirmou que a morte causava mal a muitos e influenciava no

desempenho de suas funções. Usamos essa experiência de Kovács também como

motivação para essa pesquisa.

Segundo Raymann, os alunos de teologia, assim como todo cristão tem, em

Cristo, através do batismo, a certeza de vitória contra os temores da morte. Isso

pode dar ao pastor uma vantagem diante de outros profissionais. Diz Raymann:

93 apud BARBARIN, 1997, p. 22. 94 MUELLER, Norbert H.; KRAUS, George. Pastoral Theology. St. Louis: CPH, 1990. Obra traduzida

por Paulo e Ivonelde Teixeira em 1997, ainda não publicado no país. 95 Avaliação de Weirich sobre o papel do pastor na sociedade. Anexo A, p. 3.

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Em Cristo a morte não é mais problema, muito menos mistério ou ameaça. Os alunos têm essa convicção. Não significa que se fica indiferente à presença da morte. Ela, por mais natural que seja, sempre surpreende.96

Na pesquisa feita junto aos alunos que já passaram pelo estágio ministerial de

um (01) ano, 54% deles responderam que o medo da morte não influencia no

ministério. Desses alunos, apenas 50% tiveram experiência no estágio e afirmam

estar preparados para lidar com a realidade da morte no cuidado com as pessoas.

Observem seus comentários:

[...] quando se tem certeza da vida eterna esse medo não existe.97 Se for somente medo. Embora algumas pessoas talvez acham

que é a mesma coisa, gosto de diferenciar "medo" de "pavor". Acredito que medo de morrer todo mundo tenha, pois o ser humano não foi feito para morrer; sendo a morte conseqüência do pecado. Não vejo problema em que o pastor sinta medo, pois o medo em si não o impede de aceitar a morte. O problema é o pavor da morte, a não aceitação sob hipótese alguma da realidade da morte e o total desespero frente à mesma.98

Para mim não; sou um servo e estou a serviço até Deus achar

necessário.99

Ainda nessa observação, 16.5% afirmam que, embora o medo possa não

influenciar no ministério, no momento sentem-se despreparados para lidar com

enlutados. Comentam: “Não estou totalmente preparado, apesar de que já tenho

alguma bagagem, mas é muito pouco aquilo que tenho, por isso há dificuldades ao

abordar um enlutado”.100

No total da pesquisa101, 36,4% dos alunos responderam que o medo da

morte influencia negativamente no ministério. Desses, apenas 25% tiveram

96 Anexo B, p.1. 97Anexo C, ficha 2 98 Idem, ficha 3. 99 Idem, ficha 11. 100 Idem, ficha 8. 101 Cf. resultados em gráficos comparativos, Anexo D.

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experiência no estágio e sentem-se despreparados para esse tipo de cuidado

pastoral. Comentam: “Se o futuro ministro ou o próprio ministro estiver inseguro,

provavelmente terá dificuldades em tratar do assunto”.102 Sobre o sentimento de

despreparo no cuidado à pessoas diante da morte comentam:

Eu tenho comigo que cada caso é um caso. A formação teológica sabe que isso dependerá da realidade em que você se encontra. Quanto mais você conhece o seu membro, ou a pessoa que se encontra em situação terminal, ou faleceu, mais difícil será encarar o ofício.103

Na entrevista, o professor Weirich citou que há pastores que se aposentam

sem conseguirem visitar enfermos104 em hospitais devido ao “pavor da morte”. Nem

por isso deixaram de ser pastores. Mas em outro ponto da entrevista diz Weirich:

Qualquer pessoa que vai a um médico examinar uma mancha na pele não volta a mesma se receber a notícia de um câncer. O medo não é por causa da doença, mas em função da perspectiva da morte. Quando saudável, é possível não pensar na morte, mas nesses casos a perspectiva dela se instala e a morte se põe diante dos olhos da pessoa. Como pastores, conselheiros, ministros de Deus para essas pessoas, precisamos saber lidar com isso105.

O medo da morte é natural porque a morte, conforme Weirich, “é sempre

traumática”,106 independente de quem morra. Isso está presente até mesmo em

profissionais que lidam com a morte no seu cotidiano.

O pastor também tem que defrontar-se com a morte no seu cotidiano e

precisa saber dos seus medos e procurar maneiras de superá-los, ou buscar

102 Idem, ficha 5. 103 Idem, ibidem. 104 Anexo A, p. 4. 105 Idem., p. 8. 106 Idem, ibidem.

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alternativas viáveis que não prejudiquem o seu trabalho. O trabalho pastoral é

diferente de qualquer outra atuação profissional, mesmo as que envolvem vida e

morte. Conforme as considerações de Raymann:

O pastor tem vantagens sobre outros profissionais da área, digamos assim, na medida em que ele recebe toda a confiança das pessoas nessa questão. O pastor não é apenas uma pessoa ou um profissional, ele é um símbolo. O campo está aberto para o que o pastor tem a dizer. Ao se falar da morte ou se presenciar a morte ou então “educar” para a morte o horizonte está naturalmente aberto para se tratar sobre a vida na perspectiva cristã.107

2.2 O QUE É EDUCAÇÃO PARA A MORTE?

A sociedade, de forma geral, vive uma mudança de atitude frente a realidade

da morte. A sociedade pós-moderna vê na morte o símbolo do fracasso108, e em

decorrência disso há certo incentivo natural à negação da morte.

A negação da morte é uma das formas de não entrar em contato com

experiências dolorosas109, e embora se afirmem com a negação à morte uma atitude

de bravura, a realidade mostra sérias conseqüências com a maior incidência de

problemas de saúde, dentre eles a depressão.110

O que acontece de forma genérica entre as pessoas comuns é

acentuadamente constatado entre os profissionais que lidam constantemente com a

realidade da morte no desempenho de suas funções. A falta de um preparo, de

orientação para esses profissionais tem levado pesquisadores e pesquisadoras a

107 Anexo B, p. 2. 108 KOVACS, op.cit., p. 24. 109 Idem, p. 23. 110 Idem, p. 24.

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repensarem a morte na formação desses profissionais. Kovács escreveu diversas

obras que buscam promover uma educação para a morte principalmente entre

profissionais da saúde e educação. Para este trabalho tem sido usada uma de suas

obras mais recentes que falam sobre os desafios da educação para a morte na

formação desses profissionais111.

Nesta obra ela tem detectado as diversas sensações de despreparo de

professores, psicólogos, médicos e enfermeiros para lidarem com seus próprios

medos e sentimentos de perda diante da morte e muito mais despreparados para

contribuírem na redução do sofrimento e dor daqueles com quem trabalham. E

recomenda que o contato com a dor e o sofrimento, a busca por um ombro amigo

quando necessário, são medidas úteis para uma educação para a morte dentro de

um processo de rehumanização da morte como parte integrante da vida112.

O COREN113 elaborou uma síntese do conceito de educação para a morte

que expressa muito bem a idéia de teóricos como Cassorla (1991) e Kovács (2003).

Entende-se que esse educar não é doutrinação rígida e imposta, mas que se

preocupa com o desenvolvimento humano, a ampliação de sua sensibilidade e

consciência dessa realidade.

Educar para a morte é reconhecer nossa vulnerabilidade, conviver com o mistério, com o silêncio e com o vazio, que está repleto de possibilidades. Envolve as interações consigo, com os outros e com a vida diante das perdas significativas, que acarretam dores, enfrentamento dos limites e o confronto com a própria morte. Educar para a morte é articular estas turbulências às várias possibilidades de ser criativo para se conectar

111 KÓVACS, Maria Júlia. Educação para a morte: desafio na formação de profissionais da

saúde e educação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. 112 KOVACS, op.cit. , p. 39. 113 COREN é a sigla de identificação do Conselho Regional de Enfermagem de Minas Gerais.

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com os recursos disponíveis, favorecendo a superação das adversidades e assumindo-se como sujeito da própria vida.114

2.2.1 EDUCAÇÃO PARA A MORTE NA FORMAÇÃO PASTORAL

Ao responder sobre educação para morte e a sua prática na formação dos

pastores, Raymann disse:

Trabalho com a educação para a vida - e vida no seu sentido pleno e escatológico. O ministério pastoral não lida com a morte, mas com a vida. O pastorado é por definição pró-vida. Os alunos do seminário são levados a viver experiências que os tornem mais familiarizados em como enfrentar momentos em que a morte está presente seja em situação própria ou em situações de crise que atingem pessoas de suas relações. Além de toda a carga teológica que se fundamenta na educação para a Vida, os alunos são confrontados com situações de morte tanto na sua experiência de pré-estágio em hospitais como especialmente no seu estágio onde, juntamente com seu conselheiro, são orientados na sua sensibilidade, empatia e controle de emoções.115

Como entender a afirmação de Raymann de um ministério pastoral que não

trabalha com a morte, tendo em vista que a teologia aplica a Palavra de Deus à vida

de seres humanos pecadores? A teologia trabalha sim com a morte, com a desgraça

e com o desespero de seres humanos naturalmente mortos (Rm 5.12; 6.23; Ef 2.1) e

que são chamados para uma nova vida por Cristo, através do Batismo (Rm 6.4;

8.11; Ef 2.5). Se não houver a realidade da morte na pregação, não há sentido

anunciar sobre a vida que está em Cristo.116

114 CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE MINAS GERAIS. Curso de formação em

tanatologia: Educação a para a morte no novo milênio. Disponível em: <http://www.coren-mg.org.br/noticias.detalhes.asp?noticia=214> acesso em: 09/10/2005.

115 Anexo B, p.2. 116 Cf. WALTHER, op.cit., 2005.

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Weirich afirma que toda a formação teológica é aplicada à realidade e nesse

sentido a formação pastoral “se faz tendo em vista o luto, a morte, as conseqüências

do pecado. Teologia que se faz não tendo em vista isso não se faz aqui no

seminário”.117 Ainda nesse ponto, Weirich afirma que os professores têm procurado

afirmar uma teologia aplicada aos três Artigos da fé cristã, ao invés de concentrar-se

unicamente no 2º Artigo – da Redenção. Nesse sentido levar ao reconhecimento de

uma teologia na realidade humana ainda em pecado, mas também chamada a

comunhão com Deus pelo Espírito Santo e re-significada por causa de Cristo.118

Desde 2002, Weirich é o coordenador do programa de pré-estágio, um

programa de atividades complementares à formação teórica. Segundo ele, todas as

atividades têm por objetivo questionar o aluno e levá-lo a pensar sua atuação

teológica e pastoral dentro da realidade humana corrompida. Mas dentre as diversas

atividades ele destaca a capelania hospitalar como a mais voltada para esta

educação para a morte.

A experiência tem sido excelente. Esse choque que a pessoa leva logo no início do curso de teologia é pesquisa. O aluno tem que pesquisar não só fora, mas também dentro de si. Verificar o tipo de ministério que o aguarda [...] cotidianamente diante da doença, diante da morte119.

Weirich e Raymann citam o programa de Estágio Ministerial como um

instrumento prático para a educação para a morte na formação dos alunos. Weirich

apresentou a possibilidade de falhas120. Ao questionar a eficácia desse instrumento

junto aos alunos obteve-se um resultado preocupante. Apenas 54% dos alunos

117 Anexo A, p. 1. 118 Idem, p. 2. 119 Idem, p. 5. 120 Os alunos entrevistados tiveram apenas a experiência prática com a morte no Estágio Ministerial.

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tiveram alguma experiência que os colocassem diante da realidade da morte na vida

das pessoas. E 66% desses pesquisados afirmam, com ressalvas, sentirem-se

preparados para trabalho semelhante no ministério.

A resposta é afirmativa em parte. Ainda não vivi tal situação, mas acredito que teria dificuldades no aconselhamento de pacientes terminais e aos parentes dos mesmos.121

Posso dizer que me sinto preparado em termos técnicos e

teológicos, e sem dúvida isso não é tudo. É apenas uma parte da essência do aconselhamento.122

Com aconselhamento. Mas dependendo da situação, pois cada

caso é um caso123. Obviamente cada situação é diferente e cada situação envolve

choque e reações diferentes. Mas quando o pastor sente que a vida eterna é uma realidade para ele, fica mais fácil demonstrar isso às pessoas124.

Uma outra via de análise é verificar o que argumentam aqueles que não

tiveram oportunidades no Estágio:

O pouco que sei desses temas é a partir da experiência pessoal.125

Não me sinto preparado, pois se tratando de morte ninguém se

sente seguro ou tranqüilo. E além do mais, cada pessoa reage de maneira diferente quando se depara com situações deste tipo.126

Cada caso é um caso. Diante da morte as pessoas têm reações

diferentes. A forma como a pessoa irá morrer ou morreu também influencia no tratamento do paciente terminal ou familiares enlutados. Fala-se da morte de maneira geral, não em casos específicos. Somente o tempo e a experiência podem preparar alguém.127

É uma realidade única trabalhar com a morte. Não me acho

totalmente preparado, mesmo porque, na prática, não passei por nenhuma situação. O preparo para mim é o momento que você vai lidar com ela (situação).128

121 Anexo C, ficha 3. 122 Idem., ficha 4. 123 Idem., ficha 11. 124 Idem., ficha 2. 125 Idem., ficha 7. 126 Idem., ficha 6. 127 Idem., ficha 9. 128 Idem., ficha 10.

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É na prática que se descobre o quanto se está preparado, ou não. Este “lidar” é “habitus practicus”. Não se pode afirmar nenhuma teoria categoricamente. Ter algum preparo não significa estar apto para lidar em dimensões que envolvem o luto.129

O programa de Estágio não cumpre seu papel como instrumento para

preparar alunos para trabalharem com a realidade da morte na vida das pessoas.

Não há como monitorar os alunos, apoiá-los em suas dúvidas e muito menos ter a

certeza de que todos passarão pela experiência de contato próximo à morte nas

comunidades onde estiverem trabalhando. A sensibilidade que muitos adquirem vêm

muito mais de experiências particulares do que de uma orientação específica para

essa realidade.

Weirich cita, a partir de Lutero e Walther, que teologia cristã é teologia

aplicada à prática cotidiana e que ela é aprendida na escola da experiência. Logo

em seguida fala da idade de formação. Experiência de fato não é apenas idade,

embora seja contribuinte, mas é experimentação prática em situações reais. Então,

segundo essa afirmação de Walther130 sobre o discernimento na aplicação de Lei e

Evangelho e a aprendizagem pela experiência prática não chegam a sua plenitude

durante a formação no Seminário, mas podem, dentro do possível, serem aplicadas

a todos os alunos com o máximo de aproveitamento para cada um.

Outra das perguntas do questionário aplicado aos alunos foi a respeito da

conceituação pessoal dos mesmos sobre a educação para a morte na formação

pastoral e como eles avaliam a formação que receberam até o momento. Pensam

129 Idem., ficha 1. 130 WALTHER, op.cit, 2005, afirma na 3ª Tese que: “Distinguir corretamente lei e evangelho é mais

difícil e a suprema arte que se apresenta aos cristãos em geral e em especial aos teólogos. Esta arte é ensinada exclusivamente pelo Espírito Santo, na escola da experiência”

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que é mostrar que a morte não é o fim, mas um caminho pelo qual todos devem

passar131. Que é algo que o pastor certamente encontrará no ministério132, e por isso,

deve preparar-se para não ser pego de surpresa e preparar também aos membros

para o próprio encontro com a morte.133 Essa preparação pode se processar por

diálogos134 mais dirigidos ou por uma disciplina específica:

Penso que esta cadeira deveria começar abordando a questão mais prática como: a morte física; a imortalidade; onde a pessoa fica após a morte - estado intermediário; a ressurreição dos mortos partindo desses tópicos para prática expondo como se deve abordar o sujeito que passa por essas situações no aconselhamento pastoral. 135

Educar para a morte é oferecer ferramentas para efetivar um processo

contínuo nas comunidades.

Por ser um processo, a formação teológica deveria dar mais ênfase neste educar, munindo o estudante para que ele possa melhor ajudar suas ovelhas no que diz respeito às coisas temporais e eternas, para que o pastor eduque os seus desde o nascimento, a morte não escolhe por idade136.

Na pesquisa feita, 54% dos alunos afirmaram que a formação teológica não

fornece ferramentas que preparem o pastor adequadamente para o trabalho junto a

pessoas que sofrem com a perda e a morte. Desses entrevistados, 83% afirmam

não estar preparados para lidarem com essa realidade no ministério, mesmo que

entre eles, 40% tenham passado por uma experiência no estágio. É importante

verificar o que eles dizem sobre isso:

131 Anexo C, fichas 2, 4 - 6. 132 Idem, ficha 3. 133 Idem, fichas 7 e 9. 134 Idem, ficha 3. 135 Idem., ficha 8. 136 Idem, ficha 1.

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Muito pouco; e às vezes em que foram comentadas em sala de aula não foram abordados a fundo estes dois tópicos. Eu estou convicto que deveria se abordar assuntos que são tão importantes no aconselhamento pastoral em sala de aula. 137

Eu tenho comigo que cada caso é um caso. A formação teológica

sabe que isso dependerá da realidade em que você se encontra. Quanto mais você conhece o seu membro, ou a pessoa que se encontra em situação terminal, ou faleceu, mais difícil será encarar o ofício. 138

Em relação a opinião contrária. Quem são e o que dizem? 45% do total de

entrevistados afirmam que a formação pastoral oferece ferramentas aos seus

pastores. Dentre eles 60% tiveram experiência no estágio e sentem-se preparados

para atuarem no ministério.

Aprendemos algo (talvez pouco) sobre aconselhamento e luto (o livro “Terapia do luto”). Recebemos ferramentas, mas por vezes não sabemos usar.139

Principalmente nas aulas de Teologia Pastoral, nas quais

discutimos situações da vida pastoral, as várias reações das pessoas e as melhores maneiras de tratar cada caso.140

Mas não poderia deixar de dizer que grande parte das ferramentas

oferecidas são técnicas, superficiais e tão somente teológicas e acadêmicas. Na prática só há sentido quando é levada para o ser humano de uma forma tal que o indivíduo se sinta dentro da própria realidade diante do aconselhamento, ou seja, quando o conteúdo da mensagem deixa de ser sobrenatural sendo mais prático e próximo do aconselhado. Acredito que esta seja (é) uma das grandes dificuldades na formação teológica pastoral.141

Outros 40% afirmam que há uma preparação, embora não tenham

experiência no estágio nem sintam-se preparados.

137 Idem, ficha 8. 138 Idem, ficha 5. 139 Idem ficha 2. 140 Anexo C, ficha 3. 141 Idem, ficha 4.

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De certa forma nos capacitam a entendermos a morte à luz das Sagradas Escrituras que nos servem de consolo. E é este consolo que passamos para outras pessoas. 142

De maneira geral a morte e o morrer são comentados. Talvez

pudesse dedicar uma cadeira especial neste assunto, mais especificamente na assistência a pacientes terminais e mortes trágicas visto que é nesse momento que o diabo usa de toda a sua astúcia para afastá-los da vida eterna com Deus. 143

Em todos os grupos há evidências de uma insatisfação pelo que lhes é

oferecido como formação pastoral no cuidado aos que sofrem por causa da morte,

antes ou depois. Não se discute aqui a preocupação com a centralidade em Cristo.

Como Raymann afirma: “O foco da vida e mensagem do pastor não é a morte, mas

a vida em Cristo”144. Há uma carência por experiências práticas. Situações que os

ponham diante da morte para que possam experimentar seus medos e descobrirem

o que conseguiram absorver da teologia pastoral.

No currículo acadêmico há cadeiras específicas que trabalham a educação

para a morte? Não. Mas há reflexões indiretas e esporádicas em algumas disciplinas

na área de Teologia Prática como: Aconselhamento Pastoral, Teologia Pastoral e

mais indiretamente em outras disciplinas145. Mas isso é o que se evidencia no

ementário e nas colocações dos próprios alunos aqui relacionados.

Weirich, professor e responsável por boa parte da formação prática dos

alunos do Seminário, fala de seus objetivos e desafios para a formação de pastores,

não apenas diante da morte, mas para uma realidade urbana desorientada. Ele

afirma buscar, através das disciplinas que leciona, fundamentos de uma nova

consciência de vida comunitária na área urbana. Não existe a mesma realidade que 142 Idem, ficha 6. 143 Idem, ficha 9. 144 Anexo B, p. 3. 145 Cf. Anexo E, p. 2.

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a igreja praticava há vinte ou trinta anos atrás – época, aliás, onde houve grande

discussão sobre a igreja e a realidade urbana e que, entre outras coisas, decidiu-se

pela abertura de um segundo seminário com uma ênfase missionária (EST – ICSP).

Segundo ele, o Seminário tem procurado oferecer ferramentas de caráter prático e

teórico aos alunos, através de pesquisas bibliográficas, discussões em sala de aula

e desde 2002 com exposição direta do aluno em quartos de hospital para

desenvolverem sua prática na capelania hospitalar. Esse programa de pré-estágio é

ótima ferramenta para a orientação e formação dos novos alunos levando a uma

reflexão pessoal e permitindo, pela experiência do contato com o morrer do outro,

uma sensibilização para o cuidado pastoral. Os alunos entrevistados não cumprem

essa exigência acadêmica devido ao plano curricular que seguem. Eles estão

limitados às experiências de Estágio Ministerial.

A exposição direta dos alunos a realidades de morte traz vantagens, mas

também traz perigos Pode-se despertar traumas ao quais esses alunos não estão

preparados para resolver, mas, segundo Weirich, esse choque, dentro de um

ambiente protegido e de pesquisa, permite ao aluno buscar solução para seus

medos – pesquisa pessoal, educar-se para a morte. A educação para a morte tem

acontecido dentro do aspecto voluntário do aluno, na sua busca por respostas às

dúvidas e medos.

Até aqui foi visto a educação para a morte e a formação pastoral na IELB.

No terceiro capítulo será investigado a importância do aconselhamento pastoral e as

possíveis contribuições que uma educação para a morte pode proporcionar para um

trabalho pastoral mais eficaz.

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3 IMPLICAÇÕES PARA UM ACONSELHAMENTO PASTORAL EFICAZ

Em uma realidade social onde a morte é negada ou escancarada, sem

tempo para reflexão,146 é importante que o pastor exerça seu ministério também com

vistas a um educar para a morte no sentido de conversar, refletir com a congregação

sobre o fato de que a morte e o morrer são fenômenos da vida humana. Ela

permanece como a última inimiga147 e não permite ser esquecida ou ignorada. “A

morte significa o fim da vida, mas já não mais o fim do ser”.148 Educar para a morte

implica em sensibilidade e equilíbrio do orientador para não falar o que não deve em

momento inoportuno.

Em seu “Sermão sobre a Preparação para a Morte”149, Lutero recomenda

que se converse e discuta sobre a realidade da morte no cotidiano da

comunidade150. É a sua maneira de compreender a educação para a morte. Não

limitar-se à morte, mas revelá-la como algo que realmente é, o último desafio no

qual o diabo tenta, com todas as forças, afastar cristãos da segurança e da fé em

Jesus Cristo. Lutero (1987) argumenta:

Durante a vida, deveríamos ocupar-nos com a idéia da morte e confrontar-nos com ela enquanto ainda está distante e não nos atormenta. Mas ao morrer, quando a morte, por si mesma, já é forte

146 Cf. nota 56. 147 1Co 15.26: “O ultimo inimigo a ser destruído é a morte”. Cf. LUTERO, Martinho. Obras

Selecionadas, v. 9, Porto Alegre, São Leopoldo: Concórdia, Sinodal, 2005.p 353-361. “A morte ele chama de última inimiga, pela razão de todos os outros levarem a ela. E, quando já nos livramos de todos os outros, ela permanece e nos mantêm presos. [...] Nosso consolo, porém, é crermos que temos um Senhor que pode e quer anular também esta última inimiga, rasgando suas amarras e, ainda, eliminando-a”.

148 Cf. BRAKEMEIER, op.cit. p. 179. 149 LUTERO, Martinho, Obras Selecionadas, v.1, Porto Alegre; São Leopoldo: Concórdia; Sinodal,

1987. p. 385-398. 150 Cf. BAUKAT, op.cit. O autor analisa o contexto histórico de Lutero – a morte na realidade das

pessoas.

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demais, ocupar-se com ela é perigoso e de nada serve. Então devemos afastar sua imagem de nossa mente e recusar-nos a vê-la, como iremos ouvir. Portanto, a morte possui seu poder e sua força na pusilanimidade [fraqueza] de nossa natureza e no fato de ser encarada ou contemplada de modo excessivo e em época inoportuna.151 [grifo nosso]

A realidade da morte é algo que a Igreja deve assumir como assunto de vida

e para a vida. Porque o ministério de Cristo não se limita a morte, mas passa por

ela. O terror e temor da morte são as últimas grandes tentações a serem vencidas

pelo cristão. É a tentativa final do diabo para fazer com que o plano de Deus não se

realize. Por essa razão ele usa de artimanhas para que a vida humana se ocupe e

prenda-se o bastante apenas a essa realidade. Então, no momento final, revela a

carta da morte, com seu terror e insegurança, levando até mesmo cristãos ao

desespero pelo pecado e fechando-lhes os olhos para a salvação em Cristo. Lutero,

no mesmo texto acima, alerta sobre isso:

O diabo quer induzir a natureza pusilânime [fraca] ao temor da morte, ao amor pela vida e a preocupação com ela, de sorte que o ser humano, sobrecarregado com tais pensamentos, se esqueça de Deus, fuja da morte e a odeie e, assim, no final se revele e permaneça desobediente a Deus.152

E ainda:

O espírito maligno nos distorce tudo: em vida quando deveríamos ter constantemente diante dos olhos a imagem da morte, do pecado e do inferno [...] ele nos fecha e nos oculta estas imagens. Na hora da morte, quando deveríamos ter diante dos olhos apenas a vida, graça e salvação então é que ele nos abre os olhos e nos amedronta com imagens vindas em época inoportuna, para que não vejamos as imagens certas.153

151 LUTERO, op.cit. (1987), p. 388. 152 LUTERO, op.cit. (1987), p. 388. 153 LUTRO, op.cit. (1987), p.389.

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Por se tratar de algo tão sério não é possível que esse assunto passe

despercebido no ensino constante do pastor a aqueles que lhes foi entregue por

Cristo para cuidado. Todo o ministério pastoral é um educar os cristãos para a

morte, à medida que lhes é confrontado a morte – estado natural humano fora de

Cristo – e a vida – garantida a todos por meio do dom gratuito de Deus em Cristo

Jesus.

Isso acontece tanto no ministério comunitário quanto no ministério individual,

através da pregação da Palavra, na administração dos sacramentos ou na confissão

e absolvição dos pecados – ofício das chaves. Lutero (1987) vê nesses elementos

da liturgia do culto grandes instrumentos para auxílio e educação. Ele reconhece nos

Sacramentos a sustentação para a fé de que em Cristo não há mais razão para se

temer a morte, o inferno e o diabo.154

De forma semelhante acontece no ministério individual do aconselhamento

pastoral155, com uma diferença muito especial: há uma “situação mais específica de

crise” em que a pessoa atendida “deverá receber atendimento especial e

individualizado [e] onde o pastor tem a grande oportunidade de ouvir, ser empático

e, acima de tudo, oferecer pessoalmente e em particular o consolo da Palavra de

Deus”.156

154LUTERO, op.cit. (1987), p. 393-395. 155 Segundo Schneider-Harpprecht (1998, p.293), o ministério do aconselhamento faz parte da vida

da comunidade e não se limita apenas ao pastor. Mas é de se entender que ele é o responsável por iniciar essa compreensão à comunidade e, portanto, deve ter uma consciência prévia de tudo o que se vem discutindo neste trabalho.

156 Cf. Anexo B, p. 1.

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3.1 A IMPORTÂNCIA DO ACONSELHAMENTO NO MINISTÉRIO PASTORAL

O ministério do aconselhamento tem seu destaque pelo que se objetiva:

Descobrir com as pessoas em diferentes situações da sua vida e especialmente em conflitos e crises o significado concreto da liberdade cristã dos pecadores cujo direito de viver e cuja auto-aceitação vêm da graça de Deus.157

Quando uma situação de desgraça ou a morte é evidenciada sem prévio

aviso na vida, muitas pessoas podem questionar a sua fé, a segurança da salvação

ou questionar a Deus. Espera-se do pastor a presença de Deus com respostas para

os problemas e as dúvidas. No entanto, o pastor pode sentir-se tão despreparado

quanto a outra pessoa e ser tentado a oferecer respostas que ele não tem. Seitz,

cita um caso desses onde um pastor acompanha a trajetória de sofrimento, dor e

perdas de um comerciante e sua família158. É no aconselhamento pastoral que o

ministro de Deus descobre a sua teologia. A teologia que não se forma nele, mas

que através dele pode levar consolo ao que chora. Esse consolo, muitas vezes, não

está em palavras, mas nas atitudes que o conselheiro toma diante do aconselhando.

Teologia para a morte se descobre no momento em que se encontra com a

morte e sabe-se do que ela é capaz de fazer quando toma alguém despercebido. É 157 SCHNEIDER-HARPPRECHT, op.cit., p. 292. 158 SEITZ, op. cit. 107. “Eu praticamente não sei o que dizer depois desse acontecimento. Quando eu

cheguei em casa depois da visita ao pai do acidentado, só consegui chamar minha mulher para contar-lhe rapidamente – e aí eu estava no fim. É tudo inconcebível. Faz dez anos, aproximadamente, que a família fugiu da Turíngia, depois que o pai saiu da cadeia. Queriam desestruturá-lo com comerciante autônomo. Como ele conhece bem seu ofício e sua esposa era uma excelente comerciante, a família conseguiu levantar-se aqui de novo. [...] Então a mulher adoeceu com câncer no estômago. [...] Tivemos que assistir ao definhamento daquela senhora e ao vai-vem da família entre esperança e desespero. Ela morreu, [...] na idade de 42 anos [...] E agora morre de forma trágica o único filho homem, que deveria assumir a loja. [...] Na lápide da família, debaixo da qual descansam agora mãe e filho, estão inscritas as palavras: ‘Não sabemos por quê’. Eu também não posso dar uma resposta”.

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ali que pela graça, e somente pela graça, também se descobre o imenso amor de

Deus capaz de tirar da “sombra da morte” até mesmo os que têm a sua confiança

abalada. Seitz comenta sobre a “morte da teologia”159 teórica e o encontro com

teologia prática que acontecem no aconselhamento, principalmente quando se olha

a realidade da morte sobre a impotência humana em contraste com a soberania

divina.

3.1.1 A Eficácia do Aconselhamento no cuidado pastoral

A eficácia do aconselhamento está na obtenção dos objetivos. Sidnei Noé,

teólogo luterano, traz em sua definição funcional do aconselhamento o que acredita

ser a grande meta do serviço pastoral no cuidado às pessoas. Ele define o

aconselhamento como uma arte divina potencialmente conferida a cada cristão.

Aconselhamento Pastoral é a arte de ajudar a fazer ver as coisas que não podem ser vistas. O que pode ser visto, disso as pessoas, mesmo em situações de crises, que afetam sua dignidade, têm relativa consciência. É, no entanto, no fazer ver as coisas ocultas aos olhos dos que sofrem que está a arte de ajudar. Ali está o tesouro: não na incapacidade, na falta, nas poucas possibilidades reais de cura ou salvação. E sim, na potencialidade conferida a cada um de nós por Deus. Revelá-la é tarefa de parto e equivale a afirmar o triunfo da vida, em relação aos sinais de morte.160 [grifo nosso]

Essa tarefa de parto para o conselheiro é conduzir o aconselhando à fé de

que o ser humano, não de si, mas em si, tem dignidade perante Deus. Não por

causa dele mesmo, mas por causa de Cristo. “Isso o vocaciona a ser de Deus e para

Deus”.161

159 SEITZ, op.cit., p. 108-110 160 NOÉ, Sidnei V. Antropologia Teológica e Aconselhamento Pastoral, (manuscrito), 2003.

Disponível em: <http://geocites.yahoo.com.br/sidnoe/antropologia.pdf> Acesso em: 09 out. 2005. 161 Cf. NOÉ, op.cit. 2003.

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Buscar a eficácia do aconselhamento depende primeiramente da graça de

Deus. Porque o consolo provém do Espírito Santo e não do próprio homem. Para

efetivar o seu consolo o Espírito pode agir diretamente ou por meios, dentre os quais

também se encontra o conselheiro. Ele foi escolhido e chamado por Deus para ser

cooperador com o Espírito Santo no cuidado às ovelhas de Cristo. Assim, no

aconselhamento, vive-se um paradoxo. Pelo lado humano – no desenvolvimento de

experiências e habilidades, é preciso fazer todas as coisas possíveis, como se tudo

dependesse do homem. Por outro lado – no consolo sincero, é preciso entregar tudo

nas mãos de Deus, como se tudo dependesse única e exclusivamente Dele.162

3.2 A CONTRIBUIÇÃO DE UMA “EDUCAÇÃO PARA A MORTE” PARA UM

ACONSELHAMENTO EFICAZ

Rubem Alves 163 propõe uma nova visão de caráter poético sobre a realidade

da morte. Ele afirma que se “nos tornássemos discípulos e não inimigos da morte”164

seria possível encontrar o verdadeiro sentido da vida. Com isso ele pretende

informar que a realidade da morte, quando discutida e repensada, pode auxiliar

muito em uma educação para a Vida. Na descrição da morte como conselheira há

algo que assemelhasse muito ao ideal do trabalho pastoral no aconselhamento.

Alves diz: A morte não é algo que nos espera no fim. É companheira silenciosa que

fala com voz branda, sem querer nos aterrorizar, dizendo sempre a verdade e nos

convidando a sabedoria de viver165.

162 Reflexão a partir dos apontamentos de NOÉ, Sidnei V. Lutero, o pastor: contribuições para o

aconselhamento. In: Fórum ULBRA de Teologia, IV, 2005, Canoas. Anais (não publicado). 163 ALVES, Rubem. A morte como conselheira. In: Da morte: Estudos brasileiros. Roosevelt Cassorla

(coord). 1991. 164 ALVES (1991), p. 15. 165 Idem., p. 12.

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Diante da morte não há como usar máscaras. Ela desnuda toda a natureza

humana e revela o que realmente se tem de próprio para oferecer. Quando esse

encontro acontece sem preparo, o choque revela a imagem aterradora da morte – a

caçadora. Mas se há um preparo prévio, como Lutero recomenda, à luz do consolo

que há em Cristo, a morte age como educadora para a vida. “Não há lugar para

mentiras. E a gente se defronta então com a verdade, aquilo que realmente

importa”166.

Todo encontro com a morte gera no indivíduo um encontro consigo mesmo.

Ele é levado a repensar suas atitudes, seus valores e buscar disso um novo

caminho a trilhar. Quando isso acontece com o conselheiro ele é conduzido a

repensar o seu discurso, ou melhor, a sua postura teológica frente a realidade

humana. Weirich chama isso de pesquisa interna para “o tipo de ministério que o

aguarda” e cita casos de alunos que já lhe confessaram essa mudança.167

Educar para a morte contribui, segundo HEIMANN (2003), contra um

consolo pastoral barato. Ele entende como consolo barato a ...

... prática pastoral na qual o capelão/assistente espiritual faz uso de um receituário verbal para amenizar a dor do outro. Pode ser exemplificado pelo uso repetitivo dos mesmos versículos bíblicos nas diferentes situações de perda e dor.

O consolo barato “ao invés de confortar pode gerar uma raiva ainda maior

em quem ouve”. E demonstra ignorância ou menosprezo do conselheiro com a dor

166 ALVES, op. cit. p. 14. 167 Anexo A, p. 9.

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e não aceitação de determinados acontecimentos na vida das outras pessoas.

Lutero e Catarina não foram capazes de agradecer a Deus quando perderam sua

filha Madalena, de modo que pediram a seus amigos que o fizessem por eles168.

Na pesquisa feita com os alunos que já tiveram seu Estágio, 90,9% deles

acreditam que a educação para a morte na formação pastoral possa contribuir para

um aconselhamento eficaz, independentemente da experiência de Estágio. Eles

acreditam que uma disciplina ou programa que trabalhe esse tema de forma prática

e vivencial possa contribuir bastante para o ministério pastoral, principalmente no

aconselhamento. A educação para a morte é uma ótima ferramenta para auxílio169 no

ministério, pois propicia, “sem agredir a essência da Palavra, uma compreensão

maior dos sentimentos e das necessidades humanas”170. Além disso, ela auxilia para

que se dê “menos cabeçadas”171.

Um dos entrevistados disse:

Se as pessoas soubessem o que significa a morte para o cristão, eu particularmente acho que elas dariam um churrasco no dia em que um ente querido for daqui para junto de Cristo. Pretendo trabalhar esta questão com meus membros em especial com a família.172

A morte causa tristeza, tira o chão para aqueles que ficam enlutados. A

reflexão do aluno, em última análise, tem razão de acontecer, mas, de fato, não é

recomendada à família. Uma festa pode ser feita no sentido de uma reunião fraterna

168 BAUKAT, op. cit., p. 21. 169 Anexo C, ficha 6. 170 Idem., ficha 4. 171 Idem., ficha 2. 172 Idem., ficha 8

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entre irmãos. Estimular a criação de comunidades terapêuticas que apóiem

enlutados e enfermos nos hospitais é um trabalho de educação para a morte

possível de se desenvolver nas comunidades. Na explanação e prática de uma

teologia atrelada à realidade humana173 é possível mostrar que no aparente terror da

morte há alegria, há festa e fim do sofrimento. Por causa de Cristo a morte pode ser

vista como um desejo para o cristão. E Paulo a compreendia assim174. Ela é a última

barreira que o impede de estar nos braços de Cristo.

Outro estudante afirmou: “É importante para que o pastor tenha consciência

do que irá encontrar. Vale lembrar que a prática, e somente ela, preparará o pastor

para cada novo encontro com o morrer”. 175 Não é necessário que o estudante tenha

experiência somente no Estágio. Já foi visto, pelo resultado das pesquisas, que as

oportunidades não são para todos. Simulações de aconselhamento, exposição real

ao sofrimento humano e apoio especializado, a exemplo do que é feito no curso de

Serviço Social176 são experiências muito importantes aos alunos.

A educação para a morte durante a formação pastoral não é tudo. Um dos

entrevistados respondeu: “o aconselhamento pastoral é muito amplo e a morte é

apenas uma fatia do bolo”177. Há muitas outras coisas a serem vistas, contudo, “uma

vez que esse grande inimigo é encarado pela fé em Cristo, [...] os demais inimigos e

medos que se agregam, começam a diminuir de tamanho para o futuro pastor.178

173 Cf. Anexo A. 174 Cf. Fp 1.23; 2Tm 4.6. 175 Anexo C, ficha 9. 176 Anexo A, p. 5-6. 177 Anexo C, ficha 11. 178 Anexo A, p.9. A afirmação de Weirich corrobora a compreensão expressa por Lutero (2005) acerca

da morte na realidade humana.

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CONCLUSÃO

Lutero, em seu sermão sobre a preparação para a morte, sugere que haja

uma orientação preventiva com respeito ao medo da morte e do morrer para todos.

Por outro lado profissionais que lidam com a realidade da morte e do morrer em

outras áreas de conhecimento procuram melhor formação por sentirem uma falta de

preparo no cuidado consigo e com demais pessoas. A partir desses motivos fomos

perguntar pelo nível de qualidade e preocupação que a IELB tem, nesse aspecto,

com a formação de seus pastores.

Através dessa pesquisa não foi possível concluir nada com respeito a

qualidade de formação por falta de parâmetros confiáveis. Verificou-se, no entanto,

que há uma preocupação considerável com respeito a educação para a morte

durante a formação pastoral. A pretensão inicial desse estudo foi obtida com a

verificação de vestígios virtudes e carências de uma educação para a morte e o

morrer na formação pastoral.

No que se refere ao cuidado às pessoas que estão sob o terror da morte ou

em processo de morrer a teologia tem um papel diferencial muito importante com

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relação as outras áreas de profissionais. No aconselhamento cristão a morte não é

apresentada como o fim. Há a esperança de um caminho de Vida após a morte para

os que confiam em Cristo e o confessam como salvador. A morte é descanso para

os que estão em Cristo. Fim de uma vida onde os inimigos de Deus tentam o

homem para afastarem-no da salvação.

O trabalho de educação pastoral para a morte no serviço de

aconselhamento visa proporcionar experiências ao pastor/aluno de maneira que o

mesmo possa despertar e/ou desenvolver sensibilidades que o permitam “sentir a

dor do outro” e assim, com maior eficiência, exercerem o papel que lhes cabe como

consoladores em nome de Cristo. Constatamos nesse estudo que há a possibilidade

de alunos se formarem sem ter a experiência de dirigirem um sepultamento, sem

acompanharem pacientes terminais e sem a experiência de assistência à pessoas

enlutadas. Isso causa preocupação em boa parte dos próprios alunos entrevistados.

Não podemos afirmar o quanto isso representa dentro da realidade total, mas

desperta uma possibilidade...

O programa de pré-estágio179, desenvolvido entre os alunos desde 2002,

está demonstrando o início de uma nova realidade mais comprometida com o

educar para a morte. O programa de capelania hospitalar, o qual o autor desse

estudo participou, oferece oportunidades muito importantes para uma sensibilização

do aluno e o leva a refletir sobre o papel do consolador (pastor) diante da morte.

179 O Programa de pré-estágio está em anexo junto a entrevista com o professor Paulo Weirich,

Anexo A.

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Seria interessante que, a partir daqui, uma outra pesquisa buscasse saber

junto as comunidade luteranas como elas têm percebido a formação de seus

pastores no cuidado aos doentes, aos enlutados, aos idosos e como têm trabalhado

o tema da morte e do morrer na realidade das pessoas no culto e nas visitações.

Simulações de aconselhamento sob monitoração também contribuem para que o

aluno possa perceber realidades do campo pastoral em um ambiente de pesquisa

imediato. Encontros e debates junto com profissionais de outras áreas preocupados

e envolvidos com esse tema permitem uma reflexão crítica e envolvimento

participativo aos alunos como agentes de Deus na sociedade.

Os resultados coletados das entrevistas falam de duas realidades diferentes

devido aos planos curriculares, Isso foi um deslize dentro de nossas propostas

metodológicas e na escolha do público participante. A falta de experiência nesse tipo

de pesquisa foi responsável pelos resultados. Mas, estamos certos de que o mesmo

despertou o interesse para uma verificação futura no programa acadêmico prático da

formação pastoral em busca de sempre oferecer uma melhor formação aos pastores

desta igreja.

Fica o incentivo à leitura de outros trabalhos que abordam a educação para

a morte de forma mais aplicada no cuidado direto a pacientes terminais e que

envolvem a postura e a mensagem pastoral no acompanhamento aos pacientes.180

Além disso há profissionais da teologia oferecendo ótimos trabalhos e encontros que

contribuem para uma educação para a morte na formação pastoral por um cuidado

mais eficaz.

180 Alunos da teologia têm desenvolvido bons trabalhos de fim de curso nos últimos três anos.

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ANEXOS

ANEXO A – ENTREVISTA COM O PROFESSOR DE TEOLOGIA PRÁTICA E RESPONSÁVEL PELO PROGRAMA DE FORMAÇÃO PRÁTICA NO SEMINÁRIO CONCÓRDIA

ANEXO B – ENTREVISTA COM O DEÃO ACADÊMICO DO SEMINÁRIO

CONCÓRDIA ANEXO C – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS ANEXO D – GRÁFICOS COM RESULTADOS DA PESQUISA ANEXO E – EMENTÁRIO DAS DISCIPLINAS DA FORMAÇÃO TEOLÓGICA

PASTORAL