UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado...

122
UNIVERSIDADE POTIGUAR - UNP PRÓ-REITORIA ACADÊMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO PPGA MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO MARCIA SUELY DA CUNHA ROCHA BARBOSA COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR E A REDEFINIÇÃO DO PERFIL PROFISSIONAL DO FARMACÊUTICO NO NOVO MERCADO NATAL/RN 2016

Transcript of UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado...

Page 1: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

UNIVERSIDADE POTIGUAR - UNP

PRÓ-REITORIA ACADÊMICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPGA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

MARCIA SUELY DA CUNHA ROCHA BARBOSA

COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR E A REDEFINIÇÃO DO PERFIL PROFISSIONAL DO FARMACÊUTICO NO NOVO MERCADO

NATAL/RN

2016

Page 2: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

MARCIA SUELY DA CUNHA ROCHA BARBOSA

COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR E A REDEFINIÇÃO DO PERFIL PROFISSIONAL DO FARMACÊUTICO NO NOVO MERCADO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Administração, da Universidade Potiguar, como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração na Área de Concentração Gestão Estratégica de Negócios.

ORIENTADORA: Profª. Drª. Nilda Maria

de Clodoaldo P. Guerra Leone.

CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. Manoel

Pereira da Rocha Neto.

NATAL/RN 2016

Page 3: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

Barbosa, Marcia Suely da Cunha Rocha

Comportamento empreendedor e a redefinição do farmacêutico no novo mercado / Marcia Suely da Cunha Rocha Barbosa. – Natal, 2016.

124f. Orientadora: Nilda Maria de Clodoaldo P. Guerra Leone. Co-orientador: Manoel Pereira da Rocha Neto. Dissertação (Mestrado em Administração). – Universidade Potiguar

Pró-Reitoria Acadêmica – Núcleo de Pós-Graduação. Bibliografia: f. 107 – 113 1. Característica do Comportamento Empreendedor – Dissertação 2. Modelo McClelland. 3. Farmácias. I. Título.

Page 4: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

MARCIA SUELY DA CUNHA ROCHA BARBOSA

COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR E A REDEFINIÇÃO DO PERFIL PROFISSIONAL DO FARMACÊUTICO NO NOVO MERCADO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Administração, da Universidade Potiguar, como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração na Área de Concentração Gestão Estratégica de Negócios.

Aprovada em: ___ /___ /________.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________ .

Profª. Drª. Nilda Maria de Clodoaldo P. Guerra Leone

Orientadora

_________________________________ .

Prof. Dr. Manoel Pereira da Rocha Neto - UnP

Co-orientador

_________________________________ .

Prof. Dr. Eduardo Pereira de Azevedo - UFRN

Membro Examinador Externo

Page 5: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

Dedico esse trabalho a minha mãe (in

memorian), a quem prometi cuidar de

mim, exatamente com o amor que ela

cuidava; ao meu pai, meu eterno porto

seguro; ao meu amado filho, fonte de

minha motivação; e ao meu marido, que,

nos momentos difíceis de indecisão e

insegurança, me incentivou, teve

paciência e trouxe normalidade e alegria

ao meu dia a dia.

Page 6: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus pelo privilégio que Ele me dar de sonhar e realizar

meus planos; por Ele cuidar de mim e da minha família; e por Ele permitir que eu

chegasse até aqui pelo seu amor, graça e misericórdia. Agradeço a Ele por ter me

dado condições de lutar e alcançar os objetivos pretendidos.

Aos meus pais e família, que tanto amo, pelo apoio incondicional que sempre

me deu para chegar onde cheguei.

À Genner Barbosa, por sempre torcer, puxar minha orelha, quando estive

desfocada, motivar, quando estive desanimada, e por fazer parte da minha vida em

todos os momentos.

À minha orientadora, Profª. Nilda Leone, pelo apoio necessário, pela

disposição e por não medir esforços para sempre me ajudar quando precisei.

Ao meu co-orientador Profª. Manoel Pereira, pelos conselhos importantes e

por ter me ajudado a crescer em conhecimento e como pessoa.

Aos meus professores, por terem guiado, sem dúvidas, muitos dos meus

passos.

Aos meus nobres colegas, pelos estudos, confraternizações, pela união em

sala. Foram muitas risadas, refeições, desabafos e aprendizados, nunca esquecerei

os bons momentos que estive com vocês.

Por fim, agradeço a todos que participaram direta ou indiretamente dessa

conquista. Agradeço a todas as pessoas que me ajudaram a vencer. Umas com

palavras, outras com tolerância, isso me fez encontrar a direção certa.

Page 7: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

“O sábio toma a fé e a inteligência para a

sua segurança na vida; esta é a melhor

das riquezas” (Buda, no Dhammapada).

Page 8: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

RESUMO

A presente pesquisa tem como objetivo analisar Características Comportamentais

Empreendedoras (CCEs), manifestações das necessidades motivacionais,

presentes nos profissionais farmacêuticos e avaliar se estes atendem às

expectativas do novo mercado ou se suas competências precisam ser redefinidas. O

empreendedorismo é a base fundamental para o desenvolvimento de um país,

gerando mais renda, empregos, avanço tecnológico, inovações e melhorias em

serviços e produtos. Na Era do Conhecimento, as organizações devem manter seus

funcionários, satisfeitos e motivados, pois eles são seu bem mais valioso para

alcançar o sucesso. Através de estudo em diversos países com diferentes culturas e

civilizações, McClelland (1961) afirma que empreendedores de sucesso possuem

características comportamentais distintas e, logo, empreendedorismo tem a ver com

os aspectos de atitudes do indivíduo empreendedor, como criatividade e intuição.

Essa pesquisa é um estudo de campo descritivo com abordagem quantitativa,

envolvendo um universo de 55 farmacêuticos do setor varejista de farmácia da

cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo

McClelland (1972). Um questionário com questões fechadas, cuja primeira parte

está relacionada ao perfil sociodemográfico dos entrevistados e das empresas onde

trabalham; e a segunda parte, às CCEs. Para análise dos resultados, foi utilizada a

“Escala Likert”, que corresponde a pontuação de 01 a 05, desde “Nunca” até

“Sempre”. Os resultados obtidos indicaram que os farmacêuticos possuem todas as

CCEs. Na análise por categoria de gênero foi encontrada diferença estatísticamente

significativa em apenas uma CCE, a busca de informação, menor nas mulheres.

Recomenda-se aprofundamento do estudo no tema por categoria de gênero e por

comparação com grau de satisfação pessoal como recompensa para as ações

empreendedoras do farmacêutico no setor.

PALAVRAS-CHAVE: Características de Comportamento Empreendedor. Modelo

McClelland. Farmacêuticos.

Page 9: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

ABSTRACT

The research aims to analyze Enterprising Behavioral Characteristics (EBC),

manifestations of motivational needs presented among pharmacists, and assess

whether these professionals meet the expectations of the new market or whether

their skills need to be redefined. Entrepreneurship is the fundamental pillar for the

development of a country, generating more income, jobs, technological advances,

innovations and improvement in services and products. In the Knowledge Age, the

organizations need to satisfy and motivate your employees, once they cooperate with

their knowledge, talents and skills providing dynamism and productivity that the

company needs to succeed. Through study in different countries with different

cultures and civilizations, McClelland (1961) argues that successful entrepreneurs

have different behavioral characteristics and, therefore, entrepreneurship has to do

with aspects of the enterprising individual attitudes such as creativity and intuition.

This work is a descriptive field study with quantitative approach, involving 55

pharmaceutical from retail sector from Natal/RN. The data collection instrument is

based on the model of McClelland (1972), a questionnaire with 65 objective

questions, the first part is related to the socio-demographic profile of the respondents

and the companies they work; and second part is related to the EBC. In order to

analyze the results it was used the “Likert Scale” which corresponds to the score

from 0 to 5, from “never” to “always”. In the analysis by gender category was found

statistically significant difference in one CCE. It is recommended to study the

deepening in the theme category by gender and by comparison with degree of

personal satisfaction as a reward for entrepreneurial activities in the pharmaceutical

sector.

KEY-WORDS: Enterprising Behavioral Characteristics. McClelland Model.

Pharmacists.

Page 10: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Divergências quanto a definição dos Serviços Farmacêuticos no âmbito das farmácias ............................................................. 23

Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo corporativo................................................................................... 33

Quadro 3 Princípios da inovação................................................................. 36

Quadro 4 Influências e manifestações comportamentais das necessidades motivacionais sobre um indivíduo....................................................................................... 39

Quadro 5 Relação entre atividades comportamentais do capital intelectual e do empreendedor.................................................... 40

Quadro 6 Evolução no estudo sobre as características comportamentais empreendedoras.......................................................................... 42

Quadro 7 Classificação dos empreendedores quanto aos estágios do processo empreendedor.............................................................. 45

Quadro 8 Dimensões das competências para gestão empreendedora............................................................................ 48

Quadro 9 Propensão e potencial de estudantes de farmácia para empreender.................................................................................. 51

Quadro 10 As CCEs traduzidas para o ramo farmacêutico........................... 53

Quadro 11 Aprimoramento de algumas competências farmacêuticas.......... 57

Quadro 12 Fluxograma para abertura de farmácia........................................ 59

Quadro 13 Publicações de estudos sobre perfil empreendedor de farmacêuticos............................................................................... 66

Quadro 14 Resultados referenciados de perfil empreendedor de farmacêuticos gerentes de uma mesma empresa....................... 67

Quadro 15 Resultados referenciados de perfil empreendedor de farmacêuticos responsáveis técnicos......................................... 67

Quadro 16 Resultados referenciados de perfil empreendedor de farmacêuticos gerentes de empresas distintas........................... 70

Quadro 17 Perfil sociodemográfico de empreendedores iniciais no Brasil. 71

Quadro 18 Fatores organizacionais internos de pequenas empresas que estimulam comportamento empreendedor................................ 72

Quadro 19 Limitações para o desenvolvimento empreendedor em pequenas empresas.................................................................. 73

Quadro 20 Diferenças entre os gêneros no empreendedorismo................. 74

Quadro 21 Classificação da pontuação das CCEs........................................ 80

Page 11: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

Quadro 22 Variáveis analíticas e suas respectivas representações no instrumento de pesquisa..............................................................

81

Quadro 23 Categorias de análise e respectivos objetivos............................. 83

Quadro 24 Porte da empresa de acordo com número de funcionários........ 86

Page 12: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Perfil sociodemográfico................................................................ 86

Tabela 2 Perfil do comportamento empreendedor...................................... 88

Tabela 3 Necessidades motivacionais de acordo com variáveis sociodemográficas....................................................................... 90

Tabela 4 Perfil sociodemográfico por cargos.............................................. 91

Tabela 5 Médias e desvios padrão das CCEs por cargo............................ 93

Tabela 6 Perfil sociodemográfico por porte da empresa............................ 95

Tabela 7 Médias e desvios padrão das CCEs por porte da empresa........ 97

Tabela 8 Perfil sociodemográfico por gênero............................................. 98

Tabela 9 Médias e desvios padrão das CCEs por gênero......................... 99

Page 13: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Cadeia de suprimentos da área farmacêutica............................. 63

Page 14: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

LISTA DE SIGLAS

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

ANPAD Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em

Administração

CCE(s) Característica(s) do Comportamento Empreendedor

CFF Conselho Federal de Farmácia

COMFAR Comissão de Farmácia

CRF Conselho Regional de Farmácia

ENANPAD Encontro da Assaociação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa

em Administração

EGEPE Encontro de Estudos sobre Empreendedorismo e Gestão de

Pequenas Empresas.

GEM Global Entrepreneurship Monitor

IES Instituição de Ensino Superior

IMS Instructinonal Management Systems

IMS Health Companhia de Estudos Farmacêuticos

MPT Ministério Público do Trabalho

MS Ministério da Saúde

OMS Organização Mundial de Saúde

OPAS Organização Pan Americana de Saúde

PIB Produto Interno Bruto

PNB Produto Nacional Bruto

RDC Resolução da Diretoria Colegiada

RT Responsável Técnico

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SINFARN Sindicato dos Farmacêuticos do Rio Grande do Norte

SUS Sistema Único de Saúde

UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UNP Universidade Potiguar

Page 15: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 16

1.1 HISTÓRIA DA FARMÁCIA ........................................................................... 16

1.1.1 Ambiente competitivo e novas competências para o trabalhador ......... 19

1.1.2 Divergências sobre a definição das competências farmacêuticas ........ 21

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ........................................................................ 24

1.3 OBJETIVOS ................................................................................................. 26

1.3.1 Geral ............................................................................................................ 26

1.3.2 Específicos .................................................................................................. 27

1.4 JUSTIFICATIVA............................................................................................ 27

1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ............................................................... 28

2 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................... 30

2.1 EMPREENDEDORISMO .............................................................................. 31

2.1.1 Conceitos .................................................................................................... 31

2.1.2 Diferentes abordagens ............................................................................... 32

2.2 EMPREENDEDOR ....................................................................................... 44

2.2.1 Conceitos .................................................................................................... 44

2.2.2 Motivações .................................................................................................. 45

2.2.3 Competências, conhecimentos, habilidades, atitudes e

comportamentos. .................................................................................................... 46

2.3 EMPREENDEDORISMO NO RAMO FARMACÊUTICO .............................. 50

2.3.1 Propensão e Potencial para o farmacêutico empreender ....................... 50

2.3.2 Características comportamentais empreendedoras necessárias no

ramo de farmácias ................................................................................................... 52

2.3.3 Barreiras para o desenvolvimento empreendedor .................................. 54

2.4 ESTUDOS RELACIONADOS AO TEMA ...................................................... 64

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................... 76

3.1 TIPO DE PESQUISA .................................................................................... 76

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA ............................................................................. 77

3.3 OPERACIONALIZAÇÃO DA COLETA DE DADOS...................................... 77

3.3.1 Instrumento de coleta de dados ................................................................ 79

3.4 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS ................................................... 81

3.4.1 Variáveis analíticas ..................................................................................... 81

Page 16: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

3.4.2 Tratamento dos dados ............................................................................... 82

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................. 85

4.1 RESULTADOS DO PERFIL PROFISSIONAL DOS FARMACÊUTICOS ..... 86

4.1.1 Perfil do comportamento empreendedor ................................................. 86

4.1.2 Perfil sociodemográfico ............................................................................. 87

4.1.3 Necessidades motivacionais de acordo com variáveis

sociodemográficas .................................................................................................. 89

4.2 RESULTADOS POR CATEGORIA DE CARGO........................................... 90

4.2.1 Alinhamento entre farmacêuticos proprietários, gerentes e

responsáveis técnicos ............................................................................................ 92

4.3 RESULTADOS POR CATEGORIA DE PORTE ........................................... 94

4.3.1 Organizações desenvolvedoras de comportamento empreendedor ..... 96

4.4 RESULTADOS POR CATEGORIA DE GÊNERO.......................................98

4.4.1 Semelhanças e disparidades entre os gêneros ....................................... 98

REFERÊNCIAS........................................................................................................104

ANEXOS ................................................................................................................. 111

ANEXO A – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA ........................................................ 112

ANEXO B – AVALIAÇÃO DO QUESTIONÁRIO ..................................................... 118

Page 17: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

16

1 INTRODUÇÃO

1.1 HISTÓRIA DA FARMÁCIA

No Brasil colônia, até o início do século XX, os medicamentos e outros

produtos farmacêuticos eram comprados nas boticas, denominação dada às

farmácias da época. Os boticários da época, hoje chamados de farmacêuticos,

manipulavam e produziam medicamentos de acordo com a Farmacopeia Brasileira1

e a prescrição dos médicos.

Segundo registros históricos da profissão no Brasil, na época predita, o

boticário e o padre eram as pessoas mais importantes da sociedade (SANTOS,

2003). Por ser sua a função de elaborar um produto capaz de acelerar o processo

de cura e por ser o profissional mais próximo e acessível à população, ele era a

própria encarnação da saúde, em um país cujos rincões sequer conheciam a figura

do médico.

Após a Primeira Guerra Mundial, a produção dos medicamentos passou a ser

em larga escala, efeito da Revolução Industrial, cuja cadeia produtiva nas indústrias

farmacêuticas, segundo Palmeira Filho e Pan (2003), tem como primeira etapa a

pesquisa e desenvolvimento para obtenção de um fármaco ativo seguro e eficaz,

para só então haver a produção do farmoquímico, sendo esta a segunda etapa da

linha de produção. Com a obtenção do princípio ativo a indústria realiza a terceira

etapa na produção do produto final, a fabricação em grande escala do medicamento.

A quarta etapa à cargo da indústria consiste na divulgação e comercialização do

medicamento.

As boticas tornaram-se obsoletas diante da cadeia produtiva das grandes

multinacionais da indústria farmacêutica. Enquanto nas primeiras, os clientes tinham

que aguardar o boticário manipular a fórmula magistral2, o que poderia levar horas, e

suas formulações estavam estagnadas às farmacopeias existentes e não

atualizadas. Nas indústrias, além da forte dinâmica centrada em pesquisa e

desenvolvimento, produção industrial e comercialização com altos investimentos e

1 Livro que ensina a compor e a preparar medicamentos; coleção de receitas de medicamentos

básicos e gerais. 2 Medicamento manipulado pelo farmacêutico e prescrito pelo médico, no qual se especifica os

componentes pelo nome químico, define a sua concentração e estabelece qual a forma apropriada e quantidade necessária.

Page 18: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

17

estratégia de competição focada na diferenciação de produtos, a segmentação das

etapas de produção do medicamento proporciona grandes avanços tecnológicos

destes produtos, desde evolução de formas farmacêuticas e ações terapêuticas, a

pesquisas de alta complexidade com consequente superioridade na sua eficácia.

Já neste período, a farmácia não era reconhecida como um direito do

farmacêutico. Sucumbida aos interesses econômicos a legislação brasileira permitia

que a instalação de uma farmácia fosse livre e pudesse ser aberta em qualquer

localidade, independente do número de farmácias existentes e da população a ser

atendida. Os critérios de abertura eram meramente comerciais e na maioria das

vezes os farmacêuticos só eram convocados para atender as exigências legais

(ZUBIOLI, 1992).

Rapidamente, as boticas deram lugar às farmácias, como as conhecemos

hoje, pontos de vendas das indústrias farmacêuticas. E os boticários, antes

proprietários do estabelecimento, passaram a ser chamados de farmacêuticos,

assumiram apenas a responsabilidade técnica do estabelecimento e sua atividade

passou a ser prioritariamente dispensar os medicamentos industrializados

(SANTOS, 2003).

Durante quase cinco décadas, o farmacêutico brasileiro teve que buscar

outras áreas de atuação, que também o inseriram no mercado de trabalho, a

exemplo de serviços voltados para as análises clínicas e de alimentos. Assim, houve

um certo distanciamento do profissional de sua função maior, que é a dispensação

individualizada do medicamento (ROCHA, 2006).

Enquanto os farmacêuticos distanciavam-se de sua atividade original, o

segmento da indústria farmacêutica continuou em franca ascensão. No plano

internacional, ela caracterizou-se como sendo uma das mais dinâmicas, seja pelo

volume de vendas, estimativa de 406 bilhões de dólares em 2002, seja pelo

desempenho em termos de lucro, seja pelo montante de recursos que destina à

geração de novos produtos, cerca de 15% do faturamento global (BARROS, 2004).

O Brasil, especificamente, representa o oitavo maior mercado do mundo em

faturamento, e isso é apenas 2% da fatia de mercado mundial. Na verdade, o predito

segmento, no Brasil, é quase que totalmente dependente de importações, etapas 3 e

4 da cadeia produtiva da indústria farmacêutica, segundo Palmeira Filho e Pan

(2003), como consequência há maior investimento no setor varejista do país do que

no industrial.

Page 19: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

18

Dentre as atividades econômicas desenvolvidas no Brasil, numa visão geral

sobre todos os ramos, o setor de varejo é a escolha mais popular entre os

empreendedores, porém, vem diminuindo em número de negócios devido ao

surgimento de grandes cadeias de farmácias. Essas redes varejistas, com a

vantagem de sua escala de compras, quando entram num bairro ou cidade,

oferecem mais escolha e melhores preços atraindo os clientes, desbancando as

micro e pequenas empresas e, consequentemente, provocando o encerramento de

suas atividades (DEGEN, 2009).

Ao afunilar a análise para o setor do varejo farmacêutico no país, o instituto

IMS3 Health, que audita o mercado farmacêutico mundial, destaca o aumento da

renda dos consumidores, a ampliação do acesso a planos privados de saúde e o

envelhecimento da população como fatores que devem fazer esse mercado mais do

que dobrar em cinco anos. Após crescimento de 19% em 2011, movimentando R$

38 bilhões em vendas, essa parte do mercado deve atingir R$ 87 bilhões em 2017

(DCI-SP, 2014).

Estes fatores também são responsáveis pelo aumento do nível de exigência

dos consumidores, que esperam dos produtos mais qualidade e eficiência com o

menor custo e das empresas mais conforto, praticidade e o melhor atendimento,

provocando, com isso, mudanças no aspecto das farmácias, como de organizações

pequenas e tradicionais para grandes redes.

As farmácias organizaram-se em redes; melhoraram seu aspecto visual e sua

logística; passando a operar 24 horas, realizar gestão de estoques, dispor de

softwares avançados, operar com depósitos racionalizados, por vezes

automatizados, oferecer entregas diárias, trabalhar com produtos com código de

barras para facilitar o controle de estoque (MACHLINE; AMARAL JÚNIOR, 1998).

O maior pilar das redes farmacêuticas é o just in time4, termo inglês que

significa literalmente “na hora certa” ou “momento certo”, um sistema de

administração da produção que determina que nada deve ser produzido,

transportado ou comprado antes da hora certa.

3 O IMS é a empresa que referencia os dados de vendas da indústria farmacêutica mundial,

notadamente para o varejo (venda em farmácias). Todos os anos, a empresa realiza as previsões para os anos seguintes, apontando áreas de maior interesse para investimento em diversos países ao longo do globo. 4 Adaptado ao varejo com a retirada da etapa de produção.

Page 20: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

19

Além da não obtenção do autêntico Just in time, subexistem outros

problemas, apontados por Machline e Amaral Júnior (1998), como a dificuldade de

prever a demanda, por exemplo, devido a limitação da capacidade dos bancos de

dados para registrar dados relativos a 5.000 apresentações em 100 lojas, o

entrosamento precário entre os setores de vendas e compras na empresa, a

frequência e rapidez ainda insuficientes de reposição dos produtos das distribuidoras

ou depósitos próprios para as lojas e a existência de numerosos medicamentos de

baixo giro.

Os exemplos preditos da dinâmica comercial são as dificuldades vivenciadas

pela maioria dos farmacêuticos atuantes no setor. E que pressupõe-se serem os

motivos das altas expectativas dos empreendedores proprietários para com o

farmacêutico, único profissional especializado para área, que incluem o

comportamento empreendedor deste profissional para que favoreça a organização

com avanço, crescimento e rentabilidade.

O bom profissional deve incorporar competências, ou aperfeiçoar as que já

possuem, de acordo com a sua vivência no ambiente de trabalho. Assim, percebe-se

que há uma troca entre a organização e as pessoas, em que os dois lados têm

participação efetiva no processo de crescimento profissional, gerando benefícios

para ambos, pois a melhor capacitação dos profissionais pode se traduzir num

melhor desempenho de seu trabalho, aumentando a produtividade (HEKIS et al.,

2014).

Por isso os órgãos relacionados aos profissionais farmacêuticos, bem como

universidades e empresas devem em identificar as características comportamentais

empreendedoras desses profissionais para mantê-los bem inseridos no setor

varejista de farmácia por merecimento e não por mera determinação legal.

1.1.1 Ambiente competitivo e novas competências para o trabalhador

A Revolução Industrial não teria sido possível sem o comércio internacional.

Mudanças iniciais, como a troca do mercantilismo pelo comércio livre,

desenvolvimento de novas tecnologias de transporte e o declínio constante de seus

valores ao longo do século, são exemplos do efeito da globalização que permitiu

muitos países escaparem da instabilidade gerada pelo crescimento da população

mais rápido do que o da produção.

Page 21: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

20

No final dos anos de 1990, o ambiente empresarial apresentou maiores

exigências nos preços e na qualidade dos produtos, competitividade na produção,

colocação no mercado de bens e serviços que atendessem as necessidades

humanas, proporcionando qualidade de vida com o mínimo de impacto ambiental e

de uso de recursos naturais. Isto é, as organizações enfrentaram rupturas de vários

modelos e padrões, até então inflexíveis, na gestão e nos valores sociais, causados

por rápido avanço tecnológico.

No declarado ambiente competitivo, no qual predominavam incertezas, as

sobreviventes eram aquelas organizações capazes de aprender, gerar e

compartilhar conhecimento necessário para promover transformação contínua, não

mais apenas esporádica. Com isso impulsionou a criação de um novo conjunto de

valores, atitudes e aptidões.

Logo, os aspectos comportamentais e o domínio de novas competências

eram características muito mais importantes que o conhecimento técnico. Exigindo

mais conhecimento em negócio, gerencial e social do que, propriamente, o

conhecimento técnico (DUTRA, 1996).

Os requisitos da nova economia que influenciaram as mudanças nos

aspectos comportamentais e nas competências foram: agilidade; senso de

urgência; flexibilidade; trabalho em equipe; compartilhamento de ideias e

conhecimentos; inovação; aprendizado contínuo; liderança; visão (DUTRA, 1996).

Com a constante necessidade de renovação, as habilidades deixaram de ser

manuais e passaram a ser intelectuais. Logo, o Capital Intelectual, que consiste no

conhecimento, na informação, experiência e habilidades dos funcionários, tornou-se

a mais segura vantagem competitiva (CARBONE et al., 2009).

Atualmente, o conhecimento, visto como uma habilidade, de conhecer, é um

dos principais fatores, junto com educação, desenvolvimento científico e tecnológico,

de superação de desigualdades, agregação de valor, criação de emprego qualificado

e propagação do bem estar (TAKAHASHI, 2000).

Segundo Carbone et al. (2009), na Era do Conhecimento, o Capital Intelectual

é o bem de maior valor para a organização, ele é intangível e está relacionado aos

estudos do conhecimento no ambiente organizacional.

O Capital Intelectual é composto pelo Capital Interno (a estrutura, cultura e

espírito da organização e as pessoas), Capital Externo (clientes, fornecedores,

Page 22: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

21

imagem e marcas da organização) e Capital Humano (talento e competência de

seus funcionários).

Apesar de o Capital Humano ser apenas uma parte integrante do Capital

Intelectual, as organizações que buscam o sucesso nos dias atuais investem em

seus funcionários, mantendo-os satisfeitos e motivados, pois sem eles a

organização não passaria de uma estrutura física sem propulsão.

Durante toda Era Industrial, as pessoas eram vistas como meros recursos das

organizações, fornecedoras de mão de obra. Agora como fornecedores de

conhecimento possuem uma gestão personalizada atuada pela organização para

seu contínuo desenvolvimento e valorização, além de novas competências com

atividades cada vez menos físicas e mais mentais e estarem inseridos em uma

equipe compartilhando de um objetivo comum o sucesso da empresa com garantias

para concretizar seus interesses pessoais.

A avaliação de um funcionário é uma análise importante sempre prevista nas

funções dos gestores e, pela organização ter sua administração participativa,

também realizada por outras pessoas (funcionários ou clientes). Quando o resultado

dessa avaliação é bom, significa que o funcionário é um membro fundamental para

sua equipe, e um bem valorizado para organização.

1.1.2 Divergências sobre a definição das competências farmacêuticas

Os funcionários são essenciais para adicionar valor a uma organização, pois

enquanto um capital físico se deprecia, o conhecimento se valoriza cada vez mais.

Não só fazem parte da organização, eles agem e decidem em seu nome, possuem

conhecimento, capacidade, habilidades e talento, isto é, possuem competências que

proporcionam o dinamismo necessário à organização.

Embora as competências farmacêuticas relacionadas à produção e

disponibilização de medicamentos tenham sido mantidas inalteradas, a partir da

industrialização da produção, bem como da incorporação de novas tecnologias no

setor, mudança na demanda por novos serviços nos sistemas de saúde e alteração

no índice de morbimortalidade (impacto das doenças e das mortes que incorrem em

uma sociedade), os propósitos da profissão evoluíram, incorporando novos

conhecimentos, tecnologias e redefinições de suas competências (CFF, 2013).

Page 23: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

22

No encarte sobre o exercício farmacêutico na farmácia comunitária

encontram-se as seguintes menções: “a Organização Mundial de Saúde (OMS), em

1997, definiu o perfil do farmacêutico no documento The role of the pharmacist in the

health care system (“Papel do farmacêutico no sistema de atenção à saúde”) e

apontou sete qualidades que o farmacêutico deve ter: ser prestador de serviços

farmacêuticos em uma equipe de saúde, ser capaz de tomar decisões, ser

comunicador, líder, gerente e educador, e manter-se atualizado, permanentemente.”

E que, para o CFF e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ANVISA, “são

atribuições somente competências técnicas” (COMFAR, 2008).

Em contrapartida, o CFF apresentou, em relatório, ações por ele realizadas

ao longo dos anos que mostraram sua sintonia com a mencionada necessidade de

transformação, enfatizando o componente “serviço” como mais importante

ampliação das atividades farmacêuticas. O serviço farmacêutico é por ele

denominado “Assistência Farmacêutica”. Destacou também ser membro de um

grupo de trabalho instituído pelo Ministério da Saúde com finalidade de propor

diretrizes e estratégias para a qualificação da Assistência Farmacêutica no Sistema

Único de Saúde, SUS (CFF, 2013).

A despeito de esforços de diferentes entidades para efetivar os serviços

clínicos farmacêuticos, o CFF afirmou, no mesmo relatório mencionado

anteriormente, que não houve uniformização dos conceitos relacionados aos

serviços, provavelmente devido a traduções inapropriadas ou adaptações de termos

de língua estrangeira.

Tais divergências nas publicações sobre conceito de serviços farmacêuticos,

em documentos oficiais de diferentes órgãos envolvidos com o tema (Quadro 1),

provocaram impactos negativos, como dificuldade no conhecimento do impacto real

dos efeitos dos serviços prestados e impossibilidade para comparar os resultados

obtidos de diversos estudos relacionados ao tema.

Page 24: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

23

Quadro 1 – Divergências quanto à definição dos serviços farmacêuticos no âmbito das farmácias.

CFF MS Órgãos

Regulamentadores

Resolução 357 (CFF, 2001) - dispensação -automedicação responsável - acompanhamento de paciente - aplicação de brincos e injetáveis - realização de pequenos curativos, nebulização - verificação de temperatura, pressão, parâmetros bioquímicos e fisiológicos

Portaria 3.916, 1998 (Política Nacional de Medicamentos) e Resolução do Conselho Nacional de Saúde 338, 2004 - busca por resultados concretos para melhoria da qualidade de vida da população - excluem da concepção de Assistência Farmacêutica: dispensação, acompanhamento e avaliação do uso de medicamentos

Lei nº 5.991 (BRASIL, 1973) - dispensação, como sinônimo de distribuição, entrega ou venda, de medicamentos por qualquer estabelecimento, mesmo não relacionados à saúde - faculta à farmácia a aplicação de injetáveis sob prescrição médica

Resolução 467, 2007 - dispensação de produtos manipulados independente de prescrição

Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (livro), 2002 - não usam denominação “serviços farmacêuticos” - dispensação - rastreamento, acompanhamento e orientação - avaliar resultados e, se necessário, suspender dispensação do medicamento.

Resolução 477, 2008 - dispensação visando resultado terapêutico - automedicação responsável - acompanhamento terapêutico

Diretrizes para Estruturação de Farmácias no SUS (BRASIL, 2009) - técnico-ger.: programação, solicit., armazen. e descarte de medic. - técnico-assist.: dispensação, orient. e acomp., educ. em saúde

RDC da ANVISA 44, 2009 - dispensação - aplicação de brincos - atenção farmacêutica: atendimento domiciliar, administração de medicamentos, verificação de parâmetros bioquímicos e fisiológicos, indicação de medicamentos isentos de prescrição

Resolução 546, 2011 - dispensação de fitoterápicos isentos de prescrição por indicação do farmacêutico

Caderno 25 da Atenção Básica, 2010 - dispensação - acompanhamento - educação em saúde

Resolução 499, 2008 - acompanhar, identificar, prevenir e solucionar problemas na terapêutica farmacológica - realizar educação em saúde - aplicação de brincos e injet. - fazer peq. curativos, nebuliz. - verificar temp., pressão, parâmetros bioq. e fisiológicos

Núcleo de Apoio à Saúde da Família, 2010 - dispensação - acompanhamento e orientação - visitas domiciliares

Resolução 505, 2009 (revoga Res. 499, 2008) - exclui: verificação de parâmetros bioquímicos e fisiológicos (colesterol e triglicérides)

FONTE: CFF (2013).

O CFF realizou a primeira oficina sobre serviços farmacêuticos em farmácias

comunitárias, cujo principal foco foi uniformizar esses conceitos no país, acreditando

que com isso contribuirá com a formação, padronização dos processos de trabalho e

Page 25: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

24

desenvolvimento de competências para atender a esse novo modelo de prática

profissional, bem como para o reconhecimento social da importância do trabalho do

farmacêutico (CFF, 2013).

Na referida oficina, para sistematização das apresentações dos grupos foram

utilizados três temas: reflexão sobre o modelo ideal de farmácia comunitária,

identificação dos serviços farmacêuticos necessários para atender às necessidades

da saúde do indivíduo, família e comunidade e proposição estratégica para alcançar

o modelo de farmácia ideal.

O resultado da oficina proporcionou diagnóstico e indicou necessidade da

descrição dos processos de trabalho para cada serviço, das competências e dos

requisitos para prestá-los com qualidade. Isto evidencia a característica exploratória

da presente consulta no que diz respeito ao uso da análise das CCEs para concluir

se há necessidade ou não da redefinição das competências dos farmacêuticos e

confirma sua importância em contribuir com estudo do tema.

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

O Brasil necessita de um modelo de prática farmacêutica que seja aplicável à

realidade, e que contribua, sobretudo, para transformá-la. Uma prática para cumprir

esse papel precisar estar ancorada em um processo educativo que, além de

contemplar as dimensões do conhecimento (“saber”) e das habilidades (“saber fazer”

e “mostrar como se faz”), também esteja preocupada em reduzir a lacuna existente

entre essas duas dimensões e o “fazer/agir” (FRADE, 2006).

Pereira, Gomes Filho e Alves (2012) pesquisaram a relação entre o perfil

empreendedor e gestão de conhecimento necessário ao farmacêutico (habilidades e

competências), concluíram que pode-se entender por habilidades o “saber fazer

algo” e por competências, o “resultado desse saber”.

Os autores identificaram em documentos direcionados especificamente ao

profissional farmacêutico habilidades relacionadas ao empreendedorismo, como:

conhecimento técnico; relacionamento interpessoal; busca de informações e

conhecimentos; planejamento e organização; observação dos objetos que serão

necessários para o funcionamento de uma farmácia; orientação por metas e

objetivos; avaliação do desempenho das atividades; a capacitação do pessoal; e a

satisfação dos usuários.

Page 26: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

25

Além dessas habilidades os autores também relacionaram como necessárias

ao farmacêutico as seguintes características de comportamento empreendedor: a

busca de oportunidade e iniciativa, comprometimento, persistência, correr riscos

calculados, exigência de qualidade e eficiência.

Segundo Degen (2009), o crescimento do preparo e a autoconfiança do

candidato a empreendedor se dá com o acúmulo de conhecimento, com o domínio

de tarefas complexas, com o desenvolvimento de sua capacidade gerencial, com o

domínio da complexidade do negócio que quer desenvolver e, principalmente, com a

experiência adquirida.

Um empreendedor precisa ter habilidades fundamentais como produzir,

administrar, empreender e integrar e a necessidade de “saber fazer” essas tarefas

básicas do negócio é, na maioria dos casos, uma das barreiras que muitos

aspirantes a empreendedor não conseguem transpor (DEGEN, 2009).

Em 2008, Blessa afirmou que muitas farmácias cujos proprietários não são

farmacêuticos comumente são bem sucedidas, enquanto a maioria dos

farmacêuticos proprietários de suas próprias farmácias não consegue manter-se no

mercado. E que o motivo disso poderia estar indicado nas inúmeras queixas dos

farmacêuticos em obter de suas universidades muito conhecimento técnico (por

exemplo, sobre farmacologia, propriedades, doses, efeitos colaterais, conservação,

como fabricar, como aplicar, como indicar), porém, pouco conhecimento em negócio,

gerencial e administrativo, como expor os produtos, estruturar uma loja, atender aos

clientes, enfim, como abrir um negócio próprio e vender.

Apesar dos efeitos da globalização, o empreendedorismo ainda é

compreendido como um fenômeno regional, isto é, o impulso à atividade

empreendedora apresenta uma relação direta com a cultura, as políticas

governamentais e a situação econômica. E um fator agravador, para a situação

mencionada na obra de Blessa (2008), foi que, entre o período de 2005 e 2007, as

ações de apoio ao empreendedorismo foram insuficientes, não tendo sido

percebidas políticas e programas nacionais nesse sentido, de modo que o apoio

governamental foi inexistente ou ineficaz (GUEDES, 2009).

Já Pereira, Gomes Filho e Alves (2012), mediante pesquisa bibliográfica na

área de farmácia sobre a relação entre as habilidades, competências e a gestão do

conhecimento, sugerem que o farmacêutico pode ser empreendedor na sua área,

como dono ou sócio de farmácia.

Page 27: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

26

Para essa exploração, a importância em saber se as competências do

profissional farmacêutico precisam ou não ser redefinidas foi além da capacidade

em criar uma nova empresa e de manter-se competitivo no mercado. Teve por

perspectiva atingir a complexa problemática: a “crise de identidade profissional” do

farmacêutico, definida pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e a

Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2002, como principal responsável pela

sua desvalorização profissional e social, por sua pouca inserção na equipe

multiprofissional de saúde e por não tornar o farmacêutico o profissional de saúde

referência nas farmácias.

A pesquisa comandada por McClelland (1961) durou 3 anos e foi realizado

em 34 países. Ele procurou em diferentes civilizações, com diferentes culturas, as

causas que justificassem o desempenho econômico das mesmas. A partir do

exploração realizada pelo predito autor obteve inúmeras conclusões, dentre elas é

que “não existe diferença de conhecimento significativa entre os empreendedores de

sucesso e os que fracassam”. Porém, ficou nítido para o autor que “o grupo bem

sucedido possui características comportamentais distintas” (GUEDES, 2009).

No panorama de que as características do comportamento empreendedor

possa ser uma variável que estabeleça um novo patamar para a valorização do

profissional farmacêutico, capaz de gerar resultados positivos para melhoria da

qualidade de vida e maior inserção deste profissional na equipe multidisciplinar de

saúde é que essa investigação principiou a busca através da seguinte indagação:

quais características do comportamento empreendedor estão presentes no

profissional do farmacêutico?

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Geral

Page 28: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

27

Identificar as características do comportamento empreendedor presentes no

perfil profissional do farmacêutico no novo mercado.

1.3.2 Específicos

Caracterizar o perfil dos farmacêuticos entrevistados através das

variáveis sociodemográficas;

Comparar o comportamento empreendedor entre cargos (proprietário,

gerente e responsável técnico);

Comparar a visão empreendedora dos farmacêuticos de acordo com o

porte da empresa onde atuam;

Comparar o comportamento empreendedor de acordo com o gênero.

1.4 JUSTIFICATIVA

O Brasil é o quarto mercado de consumo de medicamentos no mundo e o

país com maior número de farmácias do mundo, segundo o instituto IMS Health,

com uma proporção de 3,34 farmácias para cada 10 mil habitantes, cuja quota

recomendada pela OMS é de uma farmácia para cada 8 a 10 mil habitantes.

O setor farmacêutico tem uma significativa relevância no comércio varejista

nacional e a mais recente pesquisa realizada pela Global Entrepreneurship Monitor,

em 2015, apresentou taxa de 39,3% de empreendedorismo no país, o maior índice

dos últimos 14 anos. Porém, não se encontra um número significativo de trabalhos

publicados nos últimos anos que relacionem o perfil farmacêutico no setor de varejo

ao empreendedorismo, ainda mais escassos os com abordagem na escola

comportamentalista. Daí a maior relevância para a escolha do tema.

As definições para empreendedor são das mais variadas. Em sua maioria

envolvem: estar sempre atento às oportunidades e saber identificá-las, assumir

riscos inerentes ao seu projeto e trabalhar para a transformação dessas

oportunidades em resultados, por meio da coordenação dos recursos disponíveis,

criando novas empresas, produtos, serviços ou processos (GUEDES, 2009).

Como ser empreendedor não está, necessariamente, ligado à criação de um

novo negócio, pode-se tratar de pessoas que trabalham, com vínculo empregatício,

em organizações e realizam alguma inovação, seja num produto ou num processo.

Page 29: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

28

Além disso, iniciar a vida profissional como funcionário em uma organização

possibilita a aquisição de conhecimento, experiência e recursos úteis para o

desenvolvimento de seu próprio negócio.

O bom profissional deve incorporar competências, ou aperfeiçoar as que já

possue, de acordo com a sua vivência no ambiente de trabalho. Assim, percebe-se

que há uma troca entre a organização e as pessoas, onde os dois lados têm

participação efetiva no processo de crescimento profissional, gerando benefícios

para ambos, pois a melhor capacitação dos profissionais pode se traduzir num

melhor desempenho de seu trabalho, aumentando a produtividade (HEKIS et al.,

2014).

A avaliação de um funcionário é uma análise importante sempre prevista nas

funções dos gestores e, pela organização ter sua administração participativa,

também realizada por outras pessoas (funcionários ou clientes). Quando o resultado

dessa avaliação é bom, significa que o funcionário é um membro fundamental para

sua equipe, e um bem valorizado para organização.

1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Os elementos textuais estão estruturados da seguinte forma: No primeiro

capítulo, a introdução é composta pela contextualização do tema com a história da

farmácia, sua mudança após a globalização e as divergências para chegar às

definições das competências dos farmacêuticos no setor varejista farmacêutico,

além da problemática, dos objetivos geral e específicos e por fim a justificativa.

No segundo capítulo, aborda-se o referencial teórico que está dividido entre

os temas “empreendedorismo/empreendedor”, englobando conceitos, abordagens,

motivações, competências, conhecimento, habilidades, atitudes, comportamento,

bem como a tradução de ambos os temas ao ramo farmacêutico, com propensão e

potencial farmacêutico para empreender, as características necessárias e as

barreiras enfrentadas.

A metodologia utilizada está descrita no terceiro capítulo, com tipologia,

universo e amostra, os procedimentos e instrumentos de coleta de dados, as

variáveis analíticas, o tratamento dos dados e a caracterização do campo de

pesquisa.

Page 30: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

29

Por fim, as questões contextualizadas são tratadas no quarto capítulo, com a

apresentação e análise dos resultados, iniciado com um subtópico para a

caracterização da amostra estudada e sua relação com perfil sociodemográfico,

seguido com três outros subtópicos para a análise descritiva e comparativa dos

extratos (categorias de cargo, porte e gênero). Este alinhamento destina-se a

compartilhar uma visão estratégica global do setor e diminuir esta visão nos níveis

supracitados para permitir guiar a participação de cada subcategoria e colocá-los

aproximados o máximo possível com o embasado para todo setor.

Nesse sentido, através das conclusões, compartilhada a visão estratégica do

setor e divulgada através das camadas há a contribuição para a implantação

coordenada das competências no ramo, bem como o direcionamento da energia e

comprometimento dos indivíduos em torno de um projeto comum.

Page 31: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

30

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo discorre sobre aspectos relevantes para um melhor

entendimento do tema central do trabalho, através do conhecimento da evolução e

formação do conceito de empreendedorismo/empreendedor ao longo do tempo, e

em especial após a Revolução Industrial até os dias atuais, além de uma elucidação

sobre quais teóricos já discutiram o tema e um breve histórico sobre as barreiras

limitantes que alimentam a problemática.

Com este objetivo, essa pesquisa busca contextualizar as principais correntes

de pensamentos com o momento histórico em que alguns dos principais estudiosos,

envolvidos com a aludida temática, publicaram seus trabalhos e com isso

contribuíram para o desenvolvimento e a evolução teórica dos conceitos de

empreendedorismo/empreendedor.

O estudo de McClelland (1961) está em destaque como precursor da escola

comportamentalista. O referido autor foi um dos primeiros a relacionar o

empreendedorismo à necessidade de realização, o que iniciou seu trabalho da

identificação das características do comportamento empreendedor em vários países,

com diferentes civilizações e culturas. O referido autor conseguiu como resultado

identificar que os empreendedores de sucesso dessas diferentes culturas

apresentavam um mesmo elemento psicológico, o “impulso de melhorar” ou

“motivação da realização”.

A partir desse estudo, McClelland (1972) descreve as dez características

comportamentais que precisam estar presentes num indivíduo empreendedor de

sucesso, definidas como busca de oportunidade e iniciativa, persistência,

comprometimento, exigência de qualidade e eficiência, correr riscos calculados,

estabelecimento de metas, busca de informações, planejamento e monitoramento

sistemático, persuasão e rede de contatos e independência e autoconfiança. Seu

modelo de pesquisa ainda é bastante contemporâneo e utilizado até hoje como

instrumento de trabalho, inclusive por esse constructo.

Page 32: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

31

2.1 EMPREENDEDORISMO

2.1.1 Conceitos

O conceito de empreendedorismo foi popularizado no mundo pelo economista

Joseph Schumpeter, em 1942, com lançamento do livro “Capitalismo, Socialismo e

Democracia”, que contem a teoria da “Destruição Criativa” como tema base, e

descreve o processo de inovação numa economia de mercado em que novos

produtos destroem empresas velhas e antigos modelos de negócio.

Em 1970, Peter Drucker introduziu a esse conceito a ideia da necessidade de

arriscar em algum negócio para montar uma organização (DRUCKER, 1986).

Em seguida veio a corrente comportamentalista, sustentada por McClelland

(1972), em que o empreendedorismo tinha a ver com os aspectos de atitudes, como

criatividade e intuição, ou seja, o conceito de empreendedorismo passou a ser

relacionado ao empreendedor, na figura do indivíduo.

A partir daí, ao longo dos anos, a definição de empreendedorismo teve

significados distintos para inúmeros autores que aprofundaram o seu conhecimento,

através do estudo do mesmo. Porém, não existe um consenso sobre o significado

que o termo assume.

A evolução desse conceito chegou a uma das definições mais aceitas

atualmente, proposta por Hisrich e Brush (1985, p.18 apud FONSECA, 2010):

Empreendedorismo é um processo de criar algo diferente e com valor, dedicando o tempo e o esforço necessários, assumindo os riscos financeiros, psicológicos e sociais correspondentes e recebendo as consequentes recompensas da satisfação econômica e pessoal.

O empreendedorismo se configura quando a ideia de inovação é concebida, é

viável e se constitui em uma competência essencial. E esta inovação oferece

condições de exclusividade para a empresa por um período significativo, isto é, ela

não será copiada com facilidade, e, portanto, uma competência essencial que se

constitui em seu diferencial (CÂMARA; ANDALÉCIO, 2012).

Apesar de muitas pesquisas associarem o significado de empreendedorismo

à criação de um novo negócio ou um negócio próprio, isto não é um sinônimo.

Qualquer pessoa que disponha de recursos pode iniciar uma empresa com a

Page 33: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

32

finalidade de ser produtiva e obter lucros, mas somente as pessoas que são

movidas por um potencial realizador são reconhecidas por trazer inovações que

impulsionam a economia por meio dessa atividade, são chamadas de empreendedor

(GUEDES, 2009).

Ao abrirem novos negócios, os empreendedores geram mais empregos e

aumentam a competitividade no mercado, provocando em outras empresas o ímpeto

de criar algo com maior valor. Além disso, os investimentos em novas tecnologias

provocam aumento no Produto Interno Bruto (PIB), logo, pode-se concluir que

quanto maiores os níveis de empreendedorismo num país, maior será seu

crescimento econômico (PAIS, 2014).

Desse modo, o empreendedorismo é a base para um país se desenvolver,

proporcionando oportunidades de trabalho e facilitando o progresso tecnológico,

inovações e melhorias nos produtos e serviços (CÂMARA; ANDALÉCIO, 2012).

2.1.2 Diferentes abordagens

Como o empreendedorismo foi um tema de interesse por diversas áreas e

ciências, como Economia, Sociologia, Psicologia, Antropologia, Administração entre

outros, esses estudos resultaram em diferentes formas de definir e organizar os

consceitos contidos no empreendedorismo. Vários autores tentaram organizar os

constructos em escolas, sendo as mais divulgadas a Escola Econômica, Escola

Sociológica e Escola Comportamentalista (GUEDES, 2009).

Entretanto, essa exploração utiliza a orientação dada por Leite (2012), que

subdividiu tais teorias em três perspectivas distintas, a Econômica, a Psicológica e a

de Gestão, com intuito de contextualizar o modelo McClelland (1972) dentre as

demais teorias mais relevantes ao tema.

a) Na perspectiva econômica:

Schumpeter (1950), um dos primeiros teóricos a criticar os pressupostos

neoclássicos, ao introduzir o conceito de empreendedor e da ação para análise do

desenvolvimento econômico, foi o primeiro economista a teorizar os ciclos

econômicos e o desenvolvimento tecnológico.

Page 34: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

33

Mentor da Escola Econômica, Schumpeter (1950) associa o empreendedor à

capacidade de inovação. Ressalta a ação empreendedora como um processo,

sustentada nas relações sociais e institucionais, e não centrada no indivíduo

(CAMARGO; CUNHA; BULGACOV, 2008).

Para o autor supradito, o empreendedor é mais conhecido como aquele que

cria novos negócios, mas que também pode inovar dentro de negócios já existentes;

ou seja, é possível ser empreendedor dentro de empresas já constituídas, e, neste

caso, o termo que se aplica é o empreendedorismo corporativo (DORNELAS, 2005).

(Quadro 2).

Quadro 2 – Interpretações e variações para o termo empreendedorismo corporativo.

TERMOS

INTERPRETAÇÕES

Empreendimento

Corporativo

Novo negócio, criado pela empresa de forma isolada do resto da organização.

Intra-

empreendedorismo

Acontece quando atitudes individuais são valorizadas pela organização, não necessariamente por meios formais

Empreendedorismo Organizacional

Ocorre quando a empresa consegue se adaptar continuamente a

mudanças ambientais. Evidências mostram aumento da sobrevida da empresa quando há alinhamento entre pontos comuns dos objetivos

organizacionais e das aspirações pessoais dos funcionários.

Alianças Corporativas

Desenvolvimento da capacidade inovadora a partir do relacionamento

estreito com pequenos negócios em setores afins.

FONTE: Hashimoto (2006).

Segundo Schumpeter (1950), a “crise” representa uma oportunidade a ser

aproveitada por empreendedores. A instabilidade econômica de um país como o

Brasil e as constantes “crises”, consequência da falta de uma política econômica

consistente, são aceleladores do processo de destruição construtiva proposto por

Schumpeter (1950), no qual produtos e serviços mais caros e menos eficientes dão

lugar a produtos mais adaptados a novas situações econômicas e a concorrência

interna e internacional, isto é, por produtos mais baratos e mais eficientes (DEGEN,

2009).

Page 35: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

34

Isso explicaria porque o Brasil, em 2013, atingiu o nível mais elevado de

empreendedores por oportunidade dos últimos 12 anos, conforme último relatório

executivo do GEM (Global Entrepreneurship Monitor), com 71% dos

empreendedores em estágios iniciais (e 28% por necessidade), o país está à frente

dos cinco em desenvolvimento, pertenecentes ao também chamado grupo dos

BRIC’S, em que a proporção de empreendedores por oportunidades chegou a 61%

na Índia, 65% na Rússia, 66% na China e 70% na África do Sul (GEM, 2014).

Na visão de Schumpeter (1950), o empreendedorismo é o ato de realizar

novas combinações de recursos já existentes, isto é, consiste em fazer inovações e

não invenções. Ele exemplifica cinco maneiras pelas quais as inovações podem

ocorrer, como a introdução de um novo produto, um novo método de produção, um

novo mercado, uma nova fonte de matéria prima e uma nova organização ou

indústria.

Porém, ele submete o empreendedor, “agente do desenvolvimento”, à lógica

da economia de mercado com base no autoiteresse e desvinculado de mecanismos

que garantam resultados coletivos, em que denominador comum da motivação é a

moeda, gerando críticas, como a de Polanyi (2000, p.77):

Em vez de a economia estar embutida nas relações sociais, são as relações sociais que estão embutidas no sistema econômico. A importância vital do fator econômico para a existência da sociedade antecede qualquer outro resultado.

Não são ações de um empreendedor gerenciar, administrar e investir, da

forma em que o indivíduo toma decisões de rotina, faz o negócio crescer de forma

contínua, utiliza tecnologias e rotinas já existentes para lançar um novo negócio ou

investe sem causar pertubação do equilíbrio previamente existente na trajetória do

desenvolvimento (CAMARGO; CUNHA; BULGACOV, 2008).

Logo, um indivíduo é empreendedor no momento que está empreendendo,

alterando para sempre o estado do equilíbrio econômico, mas, quando para de fazê-

lo, volta a ser um mero administrador.

Page 36: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

35

b) Na perspectiva de gestão:

Drucker (1986) foi inovador ao abordar o termo empreendedorismo a partir da

capacidade de aproveitar as oportunidades e criar as mudanças (CÂMARA;

ANDALÉCIO, 2012).

Segundo autor exposto, a emergência de novas ideias e de oportunidades

para novos negócios possibilitam o surgimento de empreendedores, pois estes

indivíduos não se contentam em melhorar ou modificar o que já existe, eles criam

valores novos e diferentes, e satisfações novas e diferentes, transformando um

“material” em um “recurso” ou combinar recursos existentes em uma nova e mais

produtiva configuração. E é a mudança o que sempre proporciona a oportunidade

para o novo e o diferente.

De acordo com Drucker (1986, P.45), “A inovação sistemática, portanto,

consiste na busca deliberada e organizada de mudanças, e na análise sistemática

de oportunidades que tais mudanças podem oferecer para a inovação econômica e

social”. A inovação sistemática é, então, resultado da análise, sistema e trabalho

árduo e é tudo que pode ser discutido e apresentado (Quadro 3) como a prática da

inovação (DRUCKER, 1986).

Drucker (1986) chama esta inovação sistemática de “monitoramento das sete

fontes para uma oportunidade inovadora”. As sete fontes estão relacionadas a

fatores internos e externos às organizações e funcionam como indicadores de

mudanças.

Então, os empreendedores devem monitorar mudanças dentro da empresa,

como o sucesso ou o fracasso inesperado, entre a realidade como ela é e como

deveria ser (incongruência), inovação baseada na necessidade do processo e

mudanças não previstas na estrutura do setor comercial ou no mercado. E monitorar

as mudanças ambientais, como mudanças populacionais (demográficas), mudanças

em percepção, disposição e significado e surgimento de um novo conhecimento.

Numa perspectiva de gestão do empreendedorismo, não se pode ser um

empreendedor bem-sucedido se não sabe administrar o negócio e, ao tentar

administrar sem ter um mínimo de espírito empreendedor, corre-se o risco de virar

um burocrata (LEITE, 2012).

Enfatiza ainda que o termo “empreendedorismo” não é exclusivo para se

referir a abertura de um novo negócio, mas também, para grandes empresas já

Page 37: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

36

existentes que podem desenvolver o empreendedorismo como forma de alavancar

as inovações tecnológicas de seus produtos ou serviços.

Quadro 3 – Princípios da inovação.

“FAÇA”

“NÃO FAÇA”

CONDIÇÕES

Inovação deliberada e

sistemática começa com a análise de oportunidade.

Não tentar ser engenhoso, as inovações serão manipuladas por seres humanos normais.

Inovação é trabalho e requer conhecimento.

Inovação é perceptual, sair

para olhar, perguntar e escutar.

No início, não diversifique, não se disperse.

Para ter êxito, inovadores têm que usar seus pontos fortes.

Inovações eficazes começam pequenas, fazer uma coisa

específica.

Não tente inovar para o futuro, inove agora.

Inovação é um efeito na economia e sociedade,

mudança no comportamento das pessoas ou no processo, por isso precisa estar junto, concentrada e guiada pelo

mercado.

Inovação bem sucedida visa a

liderança, não precisa ser grande, mas terá que ser inovadora desde o início.

FONTE: Elaborado com base em Drucker (1986).

Inspirador para a maioria das teorias administrativas que o sucederam,

Drucker (1986) defende que, em uma sociedade empreendedora, o indivíduo deve

ter como oportunidade de inovação a necessidade por aprendizado e reaprendizado

continuados. A suposição é de que o que os indivíduos aprendem por volta de seus

vinte e um anos de idade ficará obsoleto de cinco a dez anos mais tarde e terá que

ser renovado ou substituído por novo aprendizado, novas habilidades, novo

conhecimento.

c) Na perspectiva comportamental:

Um dos primeiros a ter uma abordagem comportamental, também chamada

behaviorista, relacionada ao tema do empreendedorismo foi McClelland (1961). Com

tendências conservadoras, seus estudos centram no indivíduo, por entender que as

necessidades estão nesse importante personagem da organização, diferente das

Page 38: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

37

outras Psicologias preocupadas com conteúdos sociais e de grupo, o que ajudou a

economia a romper a concepção vigente de racionalismo ilimitado.

A concepção de “agente autônomo e único responsável por seu sucesso ou

fracasso” é uma perspectiva de adaptação social, em uma sociedade que exalta as

pessoas bem sucessididas e censura as que fracassam (CAMARGO; CUNHA;

BULGACOV, 2008).

De acordo com Camargo, Cunha e Bulgacov (2008), apesar de McClelland

(1961) considerar em suas pesquisas questões ideológicas, como níveis de

educação, valores e cultura, bem como um indivíduo inserido numa cultura, é falsa a

impressão de que seu estudo foge da psicologia individual, pois sugere que

questões econômicas complexas estão reduzidas às necessidades de realização

dos indivíduos.

Em seus estudos iniciais McClelland (1961) buscou explicações para a

existência de civilizações que funcionam melhor do que outras. Encontrou em

culturas o ensino de que lutar é uma ação infrutífera, pois cabe apenas ao destino o

resultado do êxito ou fracasso, em outras o ensino de que o indivíduo pode controlar

ou influenciar o resultado de sua vida.

Mas McClelland (1961) conseguiu encontrar na literatura e isolar na existência

de civilizações grandiosas um importante elemento: a presença de heróis.

Importante porque as gerações seguintes tomariam esses heróis como exemplos e

tenderiam a imitar seus comportamentos. De acordo com predito autor, o povo

treinado sob esta influência desenvolvia grande necessidade de realização e

associava essa necessidade aos heróis, empreendedores.

O estudo de Filion (1999) relaciona algumas críticas a teoria de McClelland

(1961): autores como Durande e Shea (1974), Hundall (1971), Scharage (1965),

Singh (1970), Singh, N. e Singh, K. (1972) pesquisaram sobre a necessidade de

realização e não encontraram conexão desta com o sucesso de empreendedores;

Gasse (1982) notou que McClelland (1961) restringiu sua pesquisa a certos setores

de atividade econômica, limitando sua análise pois é fato que a necessidade de

realização é expressa de acordo com os valores predominantes em uma dada

sociedade; Gasse (1982) também observou corretamente que a teoria de

McClelland (1961) sobre a necessidade de realização é inadequada, uma vez que

não identifica as estruturas sociais que determinam as escolhas de cada indivíduo;

Kennedy (1988), Rosemberg e Birdzell (1986), e Toynbee (1976) demonstraram a

Page 39: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

38

existência de grande variedade de fatores que explicam o desenvolvimento das

sociedades, o que recae sobre a teoria de McClelland (1961) uma ideia de

simplicidade por usar apenas dois fatores: a necessidade de realização e a

necessecidade de poder.

No entanto, McClelland realmente mostrou que o ser humano é um produto social. É razoável pensar que os seres humanos tendem a reproduzir os seus próprios modelos. Sabe-se que, em muitos casos, a existência de um modelo tem papel fundamental na decisão de fundar um negócio. Muitos autores têm mostrado que as pessoas apresentam mais chances de tornarem-se empreendedores se houver um modelo na família ou no seu meio (FILION, 1999, p.9).

Segundo Filion (1999), McClelland (1961) não definia empreendedores como

nos dias atuais, mas como alguém que exercia controle sobre uma produção que

não era só para o seu consumo pessoal. De acordo com Roncoletta (2011), só mais

tarde, McClelland (1972) indicou que o empreendedor possuía necessidades

próprias para ter sucesso, reconhecimento e desejo de poder e de controle, isto é,

necessidade de poder.

McClelland (1972) constatou ainda em seus estudos um terceiro fator: a

necessidade de afiliação. Um empreendedor dificilmente consegue ter sucesso

agindo de forma isolada, sem uma boa equipe para contribuir, por meio de interação

e colaboração, e atuar em conjunto com a necessidade de realização para

impulsionar a empresa ao alcance de seus objetivos (LEITE, 2012).

Com esses três fatores McClelland (1972) constrói a Teoria Motivacional que

busca explicar a motivação do indivíduo em seu trabalho a partir da satisfação de

suas necessidades, desenvolvidas pelo indivíduo através de suas experiências de

vida e de interações com outros indivíduos e ambientes.

Na concepção de McClelland (1972), a necessidade de realização é o que faz

o empreendedor se mover em busca de seus objetivos. O empreendedor poderá,

em alguns momentos de sua “vida empreendedora”, transitar pelas necessidades de

poder e afiliação, mas, segundo Fonseca (2010), é na necessidade de realização

que McClelland (1972) acredita estar o sucesso, individual ou organizacional, e o

desenvolvimento econômico.

Na visão de Leite (2012), a necessidade de realização a atenção dirigida pelo

indivíduo a suas tarefas, focadas em atingir seus objetivos e ser eficaz naquilo que

se propõe fazer, a necessidade de poder é a de dominar ou influenciar outras

Page 40: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

39

pessoas, e a necessidade de afiliação é a procura para construir fortes amizades,

resultando em bons relacionamentos interpessoais. No quadro 4 estão as

manifestações comportamentais contemporâneas definidas por Leite (2012) e

relacionadas as influências das necessidades motivacionais sobre os indivíduos,

apontadas por McClelland (1972).

Quadro 4 – Influências e manifestações comportamentais das necessidades motivacionais sobre um indivíduo.

NECESSIDADE INFLUÊNCIA SOBRE INDIVÍDUO

(MCCLELLAND, 1972)

MANIFESTAÇÕES

COMPORTAMENTAIS (LEITE, 2012)

Realização

Leva o empreendedor a agir conforme padrões de excelência, buscando

sempre o melhor e com grande desejo de sucesso.

Extrema independência e

autoconfiança, fixação de altos padrões de realização e visão voltada

à centralização das atividades.

Poder

Fazer as tarefas quando e como se quer, liderando a equipe em prol de um objetivo, procurando influenciar,

persuadir e argumentar.

Choques interpessoais, por

autoridade e por controle percebidos e ênfase nos símbolos status e ganho

de status pessoal.

Afiliação

Coloca-se o bem estar do todo a frente

do individual, preocupando-se mais com o elemento humano do que com

as tarefas e a produção.

Desejo de estar próximo a outras pessoas e alegra-se em relacionar-se

com outros indivíduos.

FONTE: Elaborado a partir de McClelland (1972); Leite (2012).

Com base na critividade e no intuitivo, McClelland (1972) traça o perfil do

empreendedor e cria um modelo com dez caractarísticas de comportamento

empreendedor, distribuidas nas três necessidades motivacionais. Na necessidade

de realização, McClelland (1972) descreve cinco características, a busca de

oportunidade e iniciativa (BOI), persistência (PER), comprometimento (COM),

exigência de qualidade e eficiência (EQE), correr riscos calculados (CRC). Na

necessidade de poder, aborda três comportamentos, o estabelecimento de metas

(EDM), busca de informações (BDI), planejamento e monitoramento sistemático

(PMS). E na necessidade de afiliação, relata duas manifestações, a persuasão e

rede de contatos (PRC) e independência e autoconfiança (IEA).

Page 41: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

40

Quadro 5 – Relação entre atividades comportamentais do capital intelectual e do empreendedor.

Carbone et al. (2009)

McClelland (1972)

Busca por inovação e criatividade.

Busca de oportunidade e iniciativa (BOI):

Realiza antes de ser solicitado ou forçado pelas circunstâncias; age para expandir negócio a novas áreas, produtos ou serviços; aproveita

oportunidades para iniciar negócio.

Sintonia com o ritmo e a natureza das

mudanças ambientais.

Persistência (PER):

Age diante de um obstáculo significativo; age persistentemente ou muda de estratégia para enfrentar um desafio ou superar um obstáculo; assume responsabilidade pessoal pelo desempenho, necessária ao atendimento

de metas e objetivos.

Agilidade, flexibilidade, dinamismo e pró-

atividade.

Correr riscos calculados (CRC):

Avalia alternativas e calcula riscos deliberadamente; age para reduzir os riscos ou controlar os resultados; coloca-se em situações que implicam

desafios ou riscos moderados.

Compromisso com a qualidade e a

excelência dos serviços.

Exigência de qualidade, eficiência e eficácia (EQE):

Encontra a melhor, mais rápida ou mais econômica forma de realizar; age para satisfazer ou exceder padrões de excelência; desenvolve ou utiliza

procedimentos para assegurar finalização de um trabalho no tempo certo e dentro dos padrões de qualidade.

Necessidade de atender usuários

(internos e externos) e, se possível, encantá-los.

Comprometimento (COM):

Faz sacrifício ou despende esforço p/completar uma tarefa; colabora com

empregados ou se coloca no lugar deles, se necessário, p/terminar um

trabalho; mantém clientes satisfeitos; tem boa vontade a longo prazo, acima do lucro a curto prazo.

Uma nova visão do homem, do trabalho e

da empresa.

Busca de Informações (BDI):

Dedica-se a obter informações de clientes, fornecedores e concorrentes; investiga como fabricar um produto ou fornecer um serviço; consulta

especialista para obter asses. Téc. ou comercial.

Organização voltada para processos e não

funcionários com funções isoladas e

especializadas.

Estabelecimento de metas (EDM):

Estabelece metas e objetivos que são desafiantes e possuem significado pessoal; define metas de longo prazo, claras e específicas; estabelece

objetivos de curto prazo mensuráveis.

Visão voltada para o futuro e o destino da

empresa e das pessoas.

Planejamento e Monitoramento Sistemático (PMS):

Dividi tarefas de grande porte em peq. c/prazos definidos; revisa seus

planos, levando em conta os resultados e as mudanças circunstanciais;

mantém registros financ. p/tomada de decisões.

Criação de condições para administração

participativa e baseada em equipes.

Persuasão e redes de contatos (PRC):

Usa estratégias p/ persuadir; usa pessoas-chave como agentes p/atingir

obj.; age p/desenv. e manter relações comerciais.

Compromisso com a qualidade e excelência

de seus serviços.

Independência e autoconfiança (IEA):

Busca autonomia em relação às normas e controles de outros; mantém seu ponto de vista, mesmo diante da oposição ou de resultados

desanimadores; expressa confiança na sua própria capacidade de complementar uma tarefa difícil ou um desafio.

FONTE: Elaborado com base em Carbone et al. (2009); Leite (2012).

Page 42: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

41

Na Era do Conhecimento, o conhecimento de um indivíduo é o bem mais

valioso das organizações, chamado de capital intelectual, tornando o estudo sobre o

comportamento desse personagem das incorporações algo primordial. O termo

“capital intelectual” pode ser dito como “intangível”, no sentido literal, porque

“conhecimento” não pode ser tocado, é impalpável. No sentido figurado, quer dizer

“que não apresenta características suficientes para ser percebido ou entendido; que

tende a enganar a percepção ou o entendimento” (BUENO, 2007).

Esse constructo correlaciona os componentes do Capital Intelectual,

apresentado por Carbone et al. (2009), às Características Comportamentais

Empreendedoras propostas por McClelland (1972), interpretadas por Leite (2012)

(Quadro 5), com intuito de apontar a semelhança entre as definições utilizadas por

estudos aludidos e, com isso, evidenciar o avanço alcançado pelos estudos

realizados por McClelland (1972). Para a presente busca, McClelland (1972) foi um

revolucionário ao possibilitar com seu modelo a “mensuração do intangível”, por isso

beneficia até hoje trabalhos relacionados ao tema.

Outras características comportamentais empreendedoras encontradas com

maior frequência nas obras de autores que seguiram as perspectivas

comportamentais propostas por McClelland (1972) são inovação, liderança, riscos

moderados, independência, criatividade, energia, tenacidade, originalidade,

otimismo, orientação para resultados, flexibilidade, iniciativa, envolvimento em longo

prazo, autoconfiança, agressividade, sensibilidade a outros, tendência a confiar nas

pessoas, dinheiro como medida de desempenho (CÂMARA; ANDALÉCIO, 2012).

Segundo Brauncher, Oliveira e Roncon (2012), existe um propósito de reunir

e conhecer as características comportamentais mais comuns encontradas em

empreendedores bem sucedidos, que é o de que seja possível aprender a agir

adotando comportamentos considerados adequados. E em seu estudo encontra-se

um comparativo entre as diferentes abordagens adotadas como foco de estudo das

características do comportamento empreendedor (Quadro 6).

A questão do “aprender a agir” é veementemente defendida por McClelland

(1961). Inclusive, este autor afima que os questionários devem ser projetados para

refletirem as mudanças no aprendizado do indivíduo, pois o conhecimento,

sabedoria, experiência e capacidade de executar de forma eficaz várias tarefas que

a vida apresenta para esse indivíduo aumentam, as pontuações desses testes

Page 43: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

42

também devem mudar, por isso não podem ser os questionários compostos apenas

por fatores puros de presença ou ausência de capacidade (MCClelland, 1973).

Quadro 6 – Evolução no estudo sobre características comportamentais empreendedoras.

DATA AUTOR

CCEs

1848 Mill

Tolerância ao risco

1917 Weber

Origem da autoridade formal

1934 Schumpeter

Inovação, iniciativa

1954 Sutton

Busca de responsabilidade

1959 Hartman

Busca de autoridade formal

1961 McClelland

Corre riscos e necessidade de realização

1963 Davids

Ambição, desejo de independência, responsabil. e autoconfiança

1964 Pickle

Relacionamento humano, habilidade de comunicação, conhec. téc.

1971 Palmer

Avaliador de riscos

1971 Hornaday e Aboud

Nec.de realização, autonomia, poder, reconhec., inovação, indep.

1973 Winter

Necessidade de poder

1974 Borland

Controle interno

1974 Liles

Necessidade de realização

1977 Gasse

Orientado por valores pessoais

1978 Timmons

Autoconf., controle e metas, riscos moderados, criativid., inovação

1980 Sexton

Enérgico, ambicioso, revés positivo

1981 Welsh e White

Nec. de controle, responsabil., autoconf., corre riscos moderados

1982 Dunkelberg e

Cooper

Orientado ao crescimento, profissionalização e independência

FONTE: Brancher, Oliveira e Roncon (2012).

McClelland (1973) dá alguns exemplos de variáveis de personalidade que

podem ser facilmente aprendidas, por serem relativamente estáveis ao longo do

tempo e ensinadas diretamente. Por exemplo, habilidade de comunicação por

palavras, olhar ou gesto, paciência, fixação de metas, e desenvolvimento do Ego,

cujo indivíduo na fase 1 tem pensamento conformista passivo e na fase 4, a mais

desenvolvida, toma iniciativa em nome de terceiros.

Page 44: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

43

A partir de experimentos empíricos, McClelland (1961) constata que

indivíduos que tem alta necessidade de realização escolhem enfrentar situações em

que correm riscos. Não escolhem situações de alto risco, que de acordo com sua

percepção há grande chance de não alcançar êxito, nem sem riscos, pois assim seu

sucesso não seria autêntico, mas situações com riscos moderados, compatíveis as

suas habilidades de efetuar de forma positiva e eficiente. Além disso, o autor relata

que essas pessoas buscam trabalhos em que possam ter feedback regular, para

monitorar seu desempenho em direção aos objetivos, e que exijam

responsabilidades, para exercitarem suas habilidades. Porém, preferem trabalhar

sozinhas à trabalhar em equipe, ou pelo menos trabalhar com outras pessoas que

tenham também alta necessidade de realização.

Já pessoas com baixa necessidade de realização tendem a procurar tarefas

fáceis, sem desafios ou, quando procuram tarefas difíceis, optam por situações de

alto risco, assim o fracasso é algo esperado e não uma falha de seu potencial.

Para indivíduos com alta necessidade em poder, McClelland (1961) aponta

que eles têm o desejo de possuir o controle dos meios de influenciar outros

indivíduos. Tendem a assumir riscos maiores para se destacarem ou causarem

impacto diante de outros, com o objetivo de trabalhar em algo que tenham melhor

desempenho. Buscam ou disputam cargos de liderança, nos quais suas ideias

possam prevalecer, mesmo que através de ordens e exigências que o cargo lhe

compete. Logo, esses indivíduos preferem a competitividade à cooperação, pois

anseio por status e prestígio pessoal.

Indivíduos com alta necessidade de afiliação desejam sentir-se queridos, é

uma necessidade diretamente relacionada ao fator emocional. Valorizam trabalhos

em equipe, que haja cooperação, apoio, coleguismo, concordância e coesão entre

os membros. Porém, não são bons para recrutar, pois tendem a escolher amigos

invés de especialistas, além disso, evitam tomar decisões que possam ser

impopulares diante da equipe, uma vez buscam por constante aprovação, para

manterem-se propensos ao sucesso na visão de seus colegas, por isso são

deficientes em posições de liderança.

Com o modelo McClelland (1972) e as conclusões alcançadas pela Teoria

Motivacional, esse constructo pressupõe ser capaz de apontar pontos fortes e

fracos, bem como quais características podem ser desenvolvidas para o crescimento

deste profissional no setor e na cidade do Natal, RN.

Page 45: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

44

2.2 EMPREENDEDOR

2.2.1 Conceitos

Há controvérsias quanto a gênese da palavra “empreendedor”. Autores

defendem derivar de entrepreneur (inglês), cujo sentido literal é “entre” e possui

interpretações como “indivíduo ousado e com gosto em assumir riscos”. Outros

acreditam vir de entreprendre (francês), que significa “comprador” ou “indivíduo que

inicia uma atividade ou projeto”. Poucos mencionam a formação a partir da junção

entre inter e preneur (latim), “intermediário”.

De acordo com estudo teórico de Camargo, Cunha e Bulgacov (2008), o

conceito empreendedor não aparece como categoria analítica da teoria clássica e da

econômica convencional. No período do sistema capitalista, os “agentes de

produção” eram automatizados, não tinham poder e atuação individual, eram regidos

pela “mão invisível do mercado” e tomavam decisões com total racionalidade e sem

correr riscos. No período neoclássico, o “agente coordenador da produção” era

homogêneo em suas relações de produção, o que eliminava a categoria de análise

de características individuais que os diferenciavam no mercado.

Nesses períodos, o empreendedor era passivo, sem autonomia, cujas

funções resumiam-se a transformar fatores em produtos e a otimizar as diferentes

variáveis de ação.

Ao introduzir em sua teoria o conceito de empreendedor, Schumpeter (1950)

define-o como o “indivíduo” que destrói a ordem econômica existente por meio da

introdução de novos produtos e serviços, criando novas formas organizacionais,

abrindo novos mercados ou explorando novos materiais.

Existe uma forte corrente a favor da adoção, em português, da tradução

“espírito empreendedor”, pois é a melhor que se adapta para explicar o emprego da

palavra supradita, distinguindo-a de empresário, executivo ou administrador. Ser um

representante do espírito empreendedor significa gerar negócios bem-sucedidos ao

transformar visões em realidades lucrativas (LEITE, 2012).

Qualquer indivíduo pode ser empreendedor como dono de uma nova

organização, como um funcionário, um professor, um chefe de família ou até mesmo

um estudante (HARTMAN, 2006).

Page 46: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

45

O empreendedor de sucesso possui características extras, além dos atributos

do administrador, e alguns atributos pessoais que, somados a características

sociológicas e ambientais, permitem o nascimento de uma nova empresa. De uma

ideia, surge a inovação, e desta, uma empresa (DORNELAS, 2005).

2.2.2 Motivações

A metodologia de pesquisa da GEM classifica os empreendedores de acordo

com estágio do processo empreendedor, como iniciais (nascentes e novos) e

estabelecidos (Quadro 7).

Quadro 7 – Classificação dos empreendedores quanto aos estágios do processo empreendedor.

CLASSIFICAÇÃO DOS EMPREENDEDORES

PROCESSO EMPREENDEDOR

Iniciais Nascentes

São proprietários, mas ainda não pagaram salários, pró-labores ou

qualquer forma de remuneração para os proprietários, por mais de 3 meses.

Iniciais Novos

São proprietários e já pagaram salários, pró-labores ou qualquer forma

de remuneração para os proprietários, por um período entre 3 meses e 3 anos e meio.

Estabelecidos

São proprietários e já pagaram salários, pró-labores ou qualquer forma

de remuneração para os proprietários, por mais de 3 anos e meio.

FONTE: Andreassi et al. (2014).

A motivação dos empreendedores iniciais é um dos elementos mais

importantes da pesquisa GEM e identifica se a decisão de empreender foi por

necessidade ou oportunidade.

Os empreendedores por necessidade decidem empreender por estarem

desempregados, por insegurança de serem demitidos a qualquer momento de

empresas privadas ou por não possuírem melhores condições de emprego. Os

países com altos níveis de empreendedorismo por necessidade apresentam

desenvolvimento econômico abaixo da média, por exemplo, na África (ANDREASSI

et al., 2014).

Page 47: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

46

Empreendedores por oportunidade identificam uma oportunidade de negócio

e decidem empreender, mesmo que isso signifique abrir mão do atual emprego e da

renda. Alto nível desse tipo de empreendedorismo serve como indicador de

desenvolvimento econômico no país, como nos Estados Unidos e a Alemanha

(ANDREASSI et al., 2014).

A pesquisa GEM (2014) aponta no Brasil e suas regiões um fortalecimento

por empreendedorismo por oportunidade, mas em setores muito específicos de

atuação, o que limita o potencial de crescimento desses empreendimentos, bem

como seu impacto na atividade econômica nacional.

O papel de identificar o potencial para empreender e seu posterior incentivo é

visto como uma oportunidade, ainda na universidade, através de ações que

estimulam o desenvolvimento desse potencial, visando futuras criações de

empreendimentos que possam gerar empregos, renda e desenvolvimento

econômico (SANTOS; CRUZ, 2010).

Segundo Sarturi, Gomes Filho e Moreira (2013), a educação empreendedora,

pode ocorrer através de formação complementar, como cursos de pós-graduação ou

de qualificação oferecidos por instituições que possuam know-how no assunto. A

formação complementar é apresentada pelos referidos autores como aquisição de

conhecimentos novos ou como atualização dos que já possui, a partir de um

interesse particular ou de uma necessidade gerada pelo próprio negócio.

Os referidos autores presumem com esse contexto que o indivíduo que

possuir CCEs melhora suas chances de se tornar empreendedor de sucesso,

aproveitando as oportunidades de negócios e sobrevivendo a um ambiente

competitivo e é nesta linha que o presente trabalho também se mantém.

2.2.3 Competências, conhecimentos, habilidades, atitudes e comportamentos

O conceito de competências, no aspecto comportamental, está relacionado ao

conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes. De acordo com McClelland

(1972), as competências têm sua base na inteligência e traços de personalidade,

podendo ser aprendido por meio de treinamento. As dez CCEs listadas por

McClelland (1972) são as competências empreendedoras, chamadas por alguns

autores, como Zampier e Takahashi (2011), de “Modelo de Competências de

McClelland”.

Page 48: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

47

O trabalho de Durand (2006), baseado na teoria de recursos, aponta que a

abordagem de gestão tem dado lugar gradativamente a abordagem baseada no

conhecimento. Na teoria de resursos, o conhecimento é intelectual (elemento

cognitivo) e corresponde a uma série de informações assimiladas e estruturadas

pelo indivíduo, que permite a organização compreender o mundo (“saber fazer”), a

habilidade é a capacidade de aplicar e fazer uso produtivo do conhecimento, de

forma manual ou intelectual (“como fazer”) e a atitude diz respeito a aspectos sociais

e afetivos relacionados ao trabalho (“querer fazer”).

Aém disso, o supracitado autor admite que habilidades intangíveis, como, por

exemplo, conhecimento, know-how, processos e rotinas, estrutura organizacional e

identidade (cultura ou partilha de valores, rituais, tabu), devem ser mais analisadas

do que a natureza concreta dos elementos ativos (equipamentos, edifícios,

produtos), pois estes são habilidades tangíveis, identificáveis e imitáveis, enquanto

aqueles são a essência para o conceito estratégico das competências, porque se há

vantagem competitiva sustentável é que há dificuldade em imitar e não pode ser

comprado.

Segundo Durand (2006), a responsabilidade individual e coletiva são dois

lados da mesma realizadade organizacional, isto é, cada um é uma leitura diferente

da mesma realidade e o comportamento organizacional é um elemento de

competência ou incompetência. O alegado autor utiliza três dimensões da

aprendizagem individual como eixos para construção de seu modelo de

competências para o empreendedor, que são o conhecimento (dados, informação,

saber), a prática (truques, técnicas, know-how) e a atitude (comportamento,

motivação, identidade, habilidades para vida), visualizadas no quadro 8 em paralelo

as necessidades motivacionais da abordagem comportamental, segundo

interpretação de Schimitz (2012).

Conhecimento não é uma variável utilizada nas análises desse constructo,

mas é um componente muito importante no conjunto das competências, portanto o

mesmo define o termo “conhecimento” como o acúmulo de habilidades intelectuais e

experiências no ramo, através de ações aprendidas, executadas e desenvolvidas

por interação ou intercâmbio, seja entre membros, entre indivíduo e organização, ou

entre membros, organização e ambiente, e que proporcionem uma estrutura de

avaliação e incorporação de novas experiências e informações. Por outro lado,

Page 49: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

48

“conhecimento técnico” refere-se nesse trabalho as atividades desempenhadas

exclusivamente por farmacêuticos, ou seja, competências estritamente técnicas.

Quadro 8 – Dimensões das competências para gestão empreendedora.

COMPORTAMENTO

HABILIDADE ATITUDES

REALIZAÇÃO

Condução de situações

BOI, PER, COM, CRC Ser rápido, ser tolerante à ambiguidade.

Identificar oportunidades

Ter visão e sonhos, enxergar tendências,

ser criativo e inovar, orientar-se para o futuro, estar na zona de desconforto.

Disposição para o trabalho

Ser otimista e tolerante, ter organização e motivação, buscar desafios, ser proativo,

orientar-se para resultados.

PODER

PRC

Conseguir convencer e motivar, controlar gestão, comunicar.

IEA

Ser independente, negociar, prover recursos.

AFILIAÇÃO Rede de relacionamento

Ter convencimento, comunicabilidade,

valores éticos e morais, criar valor, conduzir situação, gerir conflitos e saber

negociar.

PLANEJAMENTO

Gerenciamento

EDM, BDI, PMS

Usar recursos, pensar, planejar, executar e controlar estrategicamente.

Liderança

Tomar decisões e assumir

responsabilidades, identificar oportunidades, ter dedicação e

capacidade de adaptação à mudanças.

Sentido de obrigação com os outros

Trabalhar em equipe, partilhar, ter

integridade.

COGNITIVO Conhecimento Intelectual

Adquirir conhec. e capacitação, ter

capacidade de pesquisa e autoconhecimento, dominar processo,

apresentar ideias.

FILANTRÓPICO Voluntariado

Ter empatia e gostar de gente, doar-se, ouvir, compreender estado de espírito e

ser imparcial.

FONTE: Adaptado a partir de Durand (2006 apud Schimitz, 2012).

Page 50: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

49

Uma pessoa que possui características empreendedoras poderá desenvolver

melhor suas aptidões por meio de uma formação empreendedora, podendo alcançar

um alto nível de competências, que serão comprovadas através de negócio próprio e

lucrativo (PEREIRA; GOMES FILHO; ALVES, 2012). Em paralelo, a ideia de

sobrevivência das organizações está em criar uma relação harmoniosa com

ambiente através de uma efetiva e contínua aprendizagem conduzida por uma forte

liderança, traduzida em ação impulsionadora e adepta de inovação para que haja a

mudança. Expressando assim a interrelação membro e organização, em que o

indivíduo com suas competências proporciona a adaptação da qual a organização

necessita.

É muito comum uma organização propor ou adquirir um programa de

desenvolvimento de pessoas e aprendizagem, muitas vezes com investimentos

significativos, principalmente se comparados à proporção do faturamento de

microempresas, e depois não mensurar os resultados do programa, na prática

organizacional. Com isso, há uma grande perda de oportunidade de mensurar o

desempenho e comprometimento dos membros da organização.

A medição do desempenho beneficia os indivíduos ao informar como estão se

saindo na organização. E, segundo Harrington (1993, p.201), é fundamental para

entender o que está acontecendo, avaliar as necessidades de mundaças, avaliar o

impacto das mudanças, assegurar que os ganhos realizados não sejam perdidos,

corrigir situações fora de controle, estabelecer prioridades, decidir quando aumentar

as responsabilidades, determinar quando providenciar treinamento adicional,

planejar para atender novas expectativas do cliente, estabelecer cronogramas

realistas.

Portanto é importante observar qual deve ser o perfil dos profissionais, pois

somente com o perfil adequado terão condições de lidar com os novos desafios que

enfrentam as organizações diante de um contexto de mudanças. E, na busca pela

definição de conceitos nesse capítulo subentitulados, o presente constructo segue a

perspectiva comportamental e opta por definir “competências” como um conjunto de

conhecimento, habilidade e atitudes, que são descritas através de características

comportamentais presentes no indivíduo ou aprendidas, que orientam as ações dos

membros nos níveis estratégico, gerencial e operacional da organização. O presente

trabalho também utiliza os demais termos supracitados e outros mais como

sinônimos de “competências”, como “habilidades”, “atitudes”, “características

Page 51: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

50

comportamentais”, “manifestações comportamentais”, “modelo comportamental”,

“modelo de competências”, “conhecimento no ramo”.

2.3 EMPREENDEDORISMO NO RAMO FARMACÊUTICO

2.3.1 Propensão e Potencial para o farmacêutico empreender

As universidades são as instituições responsáveis por estimular o processo

de aprendizagem que conduzirá o estudante a tornar-se um empreendedor. E, de

acordo com McClelland (1973), o perfil de realização deve ser relatado não apenas

na entrada do aluno na instituição educacional, mas em vários pontos ao longo da

escolaridade, como forma de orientar a faculdade quanto a ter programas

educacionais que promovam crescimento em determinadas áreas de baixo

desempenho e aos alunos como um feedback sobre crescimento desejado e

características do realizado.

Partindo dessa premissa, para o presente constructo são válidos estudos

sobre a propensão e potencial ao empreendedorismo com estudantes, mesmo que o

público alvo do presente trabalho sejam farmacêuticos inseridos no mercado de

trabalho. Pressupondo encontrar diferença no resultado do perfil profissional dos

farmacêuticos ao comparar variáveis temporais como “tempo de formação” e “tempo

de atuação no ramo”, o presente constructo toma o resultado dos personagens

“estudantes” encontrados na literatura como o “marco zero” da análise de

desenvolvimento do perfil empreendedor na classe farmacêutica.

Através da pesquisa de Santos e Cruz (2010), pode-se ter uma ideia como os

estudantes de farmácia de diferentes países estão sendo influenciados pelas

instituições de ensino (Quadro 9). Além disso, Santos e Cruz (2010) detalham duas

pesquisas com o mesmo objetivo de analisar a propensão e potencial para

empreender, porém realizadas com profissionais já atuantes na área de farmácia.

Primeiramente, apresenta a pesquisa de Inegbenebor (2007), Nigéria, que afirma

que os farmacêuticos com maior escore de lócus de controle interno são mais

propensos a assumir uma carreira empreendedora e possuem mais disposição para

inovar. E em seguida o estudo de Broen et al. (2007), EUA, que mostra

farmacêuticos com atitudes favoráveis ao empreendedorismo, porém, com baixo

nível de interesse em abrir negócio próprio.

Page 52: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

51

Quadro 9 – Propensão e potencial de estudantes de farmácia para empreender.

DATA

LOCAL AUTOR PROPENSÃO E POTENCIAL

2003 África do

sul Louw et al.

Características mais fortes nos estudantes com propensão e potencial para empreender são de ir contra normas impostas, autoconfiança e saber lidar com erros (variáveis significativas

com o sexo, raça e idade).

2004 EUA Hermansen-Kobulnicky,

Moss

Afirmam que medir a orientação empreendedora pode ajudar na identificação de alunos inclinados ao empreendedorismo e

encorajados a empreender.

2006 Inglaterra Seston et al.

Apesar da área farmacêutica ser dominada pelas mulheres, verifica-se maioria dos homens na exploração de negócios.

2007 Nova

Zelândia Capstick, Beresford

Identificaram que um dos motivos para estudantes escolherem a carreira farmacêutico é um fator extrínseco, a possibilidade

de possuir uma farmácia e trabalhar por conta própria.

2007 Nova

Zelândia

Capstick, Green,

Beresford

Intenções de empreender mantêm-se altas entre os

estudantes de farmácia, durante todo o curso, com destaque ao gênero masculino.

2008 Portugal Teixeira

A propensão a correr riscos foi o potencial empreendedor

determinante. Já liderança, criatividade e inovação apresentaram baixos níveis nos estudantes de farmácia em

relação aos outros cursos.

2010 Brasil Santos, Cruz

Estudantes de farmácia apresentam grande potencial

empreendedor, com maior influência para empreender por pais empreendedores do que os não empreendedores.

Resultados que divergiram da literatura investigada foram que não há predominância dos homens nas atividades

empresariais farmacêuticas, a escolha pelo curso de farmácia não apresenta origem de pais empreendedores e desejo em abrir negócio próprio no futuro como fatores influenciadores.

FONTE: Santos e Cruz (2010).

Com a possibilidade de comparar resultados obtidos sobre o perfil

empreendedor de farmacêuticos enquanto estudantes de farmácia com os

farmacêuticos atuante pode-se analisar o desempenho das organizações em

desenvolver o potencial empreendedor em seus membros. Logo, a presente

pesquisa torna-se um dispositivo para ajudar aos farmacêuticos e organizações a

redesenhar o processo ensino-aprendizagem acordado a obter objetivos.

Page 53: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

52

2.3.2 Características comportamentais empreendedoras necessárias no ramo

de farmácias

Pereira, Gomes Filho e Alves (2012), Sarturi, Gomes Filho e Moreira (2013),

bem como dos órgãos reguladores do setor farmacêutico (subtítulo 1.1.2) partilham

da mesma concepção de que “conhecimento do ramo”, numa visão geral, apresenta

alguns conhecimentos a respeito do negócio, como conhecer a composição do

medicamento, indicação, cuidados necessários, condições de armazenamento,

prazo de validade, características macroscópicas para identificar possíveis

alterações ou degradações, garantindo a revenda do produto. Fica claro que esta

concepção não se distancia muito da definição de “conhecimento técnico”.

Divergindo, então, da definição optada pelo presente constructo, em que

“conhecimento no ramo” abrange informações nos níveis estratégico, gerencial e

operacional da organização, o presente trabalho apresenta no quadro 10 as dez

características comportamentais referenciadas no modelo McClelland (1972)

traduzidas ao ramo farmacêutico, adaptado com informações dos trabalhos Pereira,

Gomes Filho e Alves (2012) e Sarturi, Gomes Filho, Moreira (2013), porém sem os

dados sobre “conhecimento do ramo”.

Sobre habilidades gerenciais necessárias ao farmacêutico, Sarturi, Gomes

Filho e Moreira (2013) afirmam que não são diferentes daquelas exigidas em

qualquer outro setor e que a competência, no caso, baseada somente em

conhecimentos técnicos, é um componente de destaque para garantir uma boa

administração dos negócios.

Já Pereira, Gomes Filho e Alves (2012) identificam práticas de ações

gerenciais em hospitais e indústrias farmacêuticas. Nos hospitais, são tipicamente

práticas da gestão de conhecimento, como grupos de aprendizagem, times de

qualidade, treinamentos e educação continuada, monitoramento de mercado e

aprendizagem com o ambiente externo, marketing interno, pesquisas internas para

aprendizado com o cliente, programas de incentivos e benefícios. E nas indústrias,

pesquisa, desenvolvimento e investimento em profissionais especializados para

manter fluxo contínuo de lançamento de novos produtos e melhoramento da eficácia

dos medicamentos já existentes, marketing e comercialização através de promoções

de vendas e rede de relacionamentos com distribuidores e prescritores (médicos,

veterinários, dentistas).

Page 54: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

53

Quadro 10 – As CCEs traduzidas para o ramo farmacêutico.

CCEs

CARACTERÍSTICAS EMPREENDEDORAS NO RAMO FARMACÊUTICO

RE

AL

IZA

ÇÃ

O

BOI

Significa buscar novas tendências, quanto à existência de novos medicamentos e ofertar os mesmos ao consumidor final, através de

relacionamento c/fornecedores e c/os médicos que fornecem as receitas.

PER

O ramo farmacêutico é um dos setores c/mais regras governamentais, que causam dificuldades para inovar e regulam ganhos. Portanto exige do empreendedor persistência diante de dificuldades, reavaliando planos e estando em constante adaptação às normas.

COM

As farmácias podem contratar empresas que fornecem informações e disponibilizar nos terminais de computador para facilitar o trabalho o acesso a informações, equipe coesa, apta para inovar. Nesse ramo, quando não se possui conhecimento sobre gestão, está chamando para si a responsabilidade por sucessos ou fracassos no empreendimento criado.

EQE

Procura minimizar os custos, estar atento ao mercado, aos prazos e qualidade de entrega, procurar sempre surpreender seus clientes. Muitas drogarias disponibilizam entrega em domicilio com o intuito de prestar atendimento de qualidade e fidelizar o cliente.

CRC

Estar habilitado a abrir a uma nova farmácia, minimizando o risco, o profissional pode fazer isso de três formas: especialização em gestão, ter um sócio formado na área de gestão ou contratar um administrador.

PO

DE

R

EDM

]Estabelece e acompanha indicadores de resultados para seu negócio, com visão à longo prazo e conhecimento em investimentos. São abrangidos procedimentos periódicos de autoinspeções do desempenho das atividades, a capacitação do pessoal e a satisfação do consumidor, cujos resultados são registrados, orientando programas de treinamento.

BDI

As unidades farmacêuticas devem dispor de efetiva assist. farmacêutica,

além de instrumentos p/obter informações técnicas, como livros, manuais,

revistas téc. e acesso à banco de dados de medicamentos.

PMS

Conhecer os aspectos legais

5 e os objetos

6 que serão necessários para o

funcionamento de uma farmácia. Deve agir por etapas, cumprir seu plano de negócio, conhecer variáveis externas do mercado, buscar informações

financeiras do passado p/orientar o futuro.

AF

ILIA

ÇÃ

O PRC

Desenvolver rede de contatos, no caso, fornecedores e clientes. Ao farmacêutico cabe o zelo pelo perfeito acolhimento e adequada abordagem, aplicando as técnicas e procedimentos.

IEA -

FONTE: Elaborado a partir de Pereira, Gomes Filho e Alves (2012); Sarturi, Gomes Filho e Moreira (2013).

5 Registros na Junta Comercial, Receita Federal, Secretaria da Fazenda, Prefeitura Municipal, INSS,

Ministério da Saúde, Conselho Regional de Farmácia, Conselho Federal de Farmácia e alvarás na Vigilância Sanitária Municipal e Agência Nacional de Vigilância Sanitária, além da definição do Farmacêutico Responsável Técnico e Farmacêutico Técnico Auxiliar. 6 Material de expediente, definição de pessoal, serviços de terceiros, infraestrutura (energia elétrica,

telefone, internet, despesas jurídicas, com gráficas e outras).

Page 55: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

54

Vale ainda ressaltar que as pesquisas de Pereira, Gomes Filho e Alves (2012)

e Sarturi, Gomes Filho e Moreira (2013) não apontam nos manuais e documentos

oficiais farmacêuticos a característica comportamental empreendedora

“independência e autoconfiança”. Diante da caracterização deste comportamento

como buscar autonomia em relação às normas e controles de outros, manter seu

ponto de vista, mesmo diante da oposição ou de resultados desanimadores e

expressar confiança na sua própria capacidade de complementar uma tarefa difícil

ou um desafio, a presente pesquisa adota para esse trabalho o “Ato de Prescrição

Farmacêutica” como interpretação da “independência e autoconfiança no ramo

farmacêutico”. Ato preconizado pelo CFF como incremento dos serviços de

assistência farmacêutica.

Essa tradução das CCEs no ramo farmacêutico garante a ligação entre o

tema pesquisado, comportamento empreendedor, e as competências dos

farmacêuticos para o novo mercado. Isto é, ao analisar o perfil empreendedor do

profissional farmacêutico, junto a possibilita de convergir os resultados obtidos para

competências do farmacêutico, há uma releitura sobre o perfil desse profissional

para o novo mercado, especificando o estudo para o ramo estudado.

2.3.3 Barreiras para o desenvolvimento empreendedor

Segundo Pereira, Gomes Filho e Alves (2010), o empreendedor no ramo

farmacêutico realiza tarefas importantes e com alto grau de responsabilidade, pois

está ligado diretamente com a saúde dos clientes, por isto o empreendedor deve

desenvolver muito bem todas as habilidades necessárias para gerar competências

nessa área, especialmente a habilidade do conhecimento técnico.

a) Visão do CFF: farmácia como um ponto de saúde

Existem premissas de lucratividade nas organizações que chocam- se com as

leis e diretrizes sobre os serviços farmacêuticos, que aponta como problemática

para o âmbito da saúde o foco administrativo das organizações do segmento

tratado. Dentre essas premissas, há a dissociação entre os interesses econômicos e

os interesses da saúde coletiva, com predomínio dos primeiros, resultando na

caracterização da farmácia como estabelecimento comercial e do medicamento

Page 56: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

55

como um bem de consumo, desvinculados do processo de atenção à saúde

(OPAS/OMS, 2002). Outra é a prática profissional desconectada das políticas de

saúde e de medicamentos, com priorização das atividades administrativas em

detrimento da educação em saúde e da orientação sobre o uso de medicamentos

(OPAS/OMS, 2002).

Autores como Santos (2003) e Zubioli (1992), que também foram presidentes

do CFF, são portadores da visão que as farmácias são essencialmente pontos de

saúde, e que o medicamento é um bem social valioso e necessário na manutenção,

proteção e recuperação da saúde. Em suas publicações eles afirmam que o

esquema empresarial que rege a produção e comercialização distorce a utilização

desses produtos.

Uma mudança recente na legislação brasileira revigora a busca por um

modelo de competências para o farmacêutico atuante nesse setor. O artigo 3º da Lei

nº 13.021, publicada em 08 de Agosto de 2014, mudou o conceito de farmácia que

deixou de ser um mero estabelecimento comercial e passou a ser uma unidade de

prestação de assistência farmacêutica e à saúde, além de orientação sanitária

individual e coletiva (BRASIL, 2014a).

As aludidas publicações e inúmeras outras concretizam a falta de sincronia

dos órgãos reguladores do setor farmacêutico (conselhos e vigilância sanitária) e

demais órgãos relacionados ao setor no que diz respeito às competências do

farmacêutico, sendo para aqueles um perfil estritamente técnico.

Desde 1973, de acordo com a Lei n⁰ 5.991, a legislação brasileira exigia de

forma explícita a presença de um farmacêutico responsável em todas as farmácias

(BRASIL, 1973).

O artigo 6º da Lei nº 13.021, publicada em 08 de Agosto de 2014, reiterou a

obrigatoriedade da presença permanente de farmacêutico nas farmácias de

qualquer natureza. Porém, no mesmo dia de sua publicação a Presidência da

República lança a Medida Provisória nº 653, que permitiu uma diferente

interpretação para a permanência do farmacêutico em tempo integral nas farmácias.

As farmácias sob regime do supersimples terão como exigência mínima a presença

de um técnico sem nível superior, reacendendo assim o antigo embate entre

gestores de farmácia e a classe farmacêutica sobre a substituição desses

profissionais por técnicos de nível médio (BRASIL, 2014b).

Page 57: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

56

Medida Provisória nº 653/14 (BRASIL, 2014b, p.1), cujo prazo terminou em

dezembro de 2014, levantou questionamentos em sua interpretação quanto a

possibilidade de dispensar o profissional de nível superior em drogarias

enquadradas no Estatuto da Micro e Pequena Empresa e em seu lugar haver a

contratação de um técnico de farmácia, com o único objetivo em reduzir custos

destinados a pagamentos salariais.

Altera a Lei nº 13.021/14 para permitir que no interesse público,

caracterizado pela necessidade da existência de farmácia ou drogaria e na falta de farmacêutico, o órgão sanitário de fiscalização local licencie estabelecimentos que se caracterizem como microempresa sob a responsabilidade técnica de prático de farmácia, oficial de farmácia ou outro, igualmente inscrito no Conselho Regional de Farmácia.

As divergências entre órgãos governamentais e representantes da classe

farmacêutica, conselhos e sindicatos, quanto ao que devem ser as competências do

profissional farmacêutico, estão tratadas nesse constructo em tópico próprio,

anteriormente. Porém, diante dos recentes fatos acima mencionados tem-se que o

Estado continua a enxergar as farmácias como pontos comerciais, e não ponto de

saúde como preconizam entidades diretamente relacionadas ao sistema de saúde.

A realidade é que o Sistema Único de Saúde do Brasil (SUS) não recebe

integralmente os percentuais dos financiamentos predeterminados desde a sua

fundação, enquanto o sistema público atende 80% da população consumindo 45%

dos gastos com saúde no país, o sistema privado atende a minoria de 20% da

população gastando o restante dos custos totais do país em saúde, 55%. E Com a

falta de recursos não há como reequipar unidades de saúde, pagar bons salários

aos profissionais para obter a aderência destes de forma permanente, melhorar as

condições então precárias de trabalho, reajustar tabelas dos serviços terceirizados

por clínicas e hospitais, tornando o SUS inviável.

Em contrapartida, para resolver aquilo que o governo não resolve, a

população apela para as farmácias que são, ou deveriam ser, pontos de saúde e

porque o medicamento é o terceiro item mais importante no orçamento das famílias

brasileiras. Diante desse imenso mercado, a saúde torna-se um grande negócio

para as indústrias farmacêuticas e o poder financeiro dessas organizações precisam

ser regulados, para que a população, também carente de educação básica, seja

Page 58: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

57

respeitada independentemente de sua classe social ou condição fianceira

(BLESSA, 2008).

Por isso, o tratamento do governo para com as farmácias como ponto

comercial, uma vez que movimentam milhões em faturamento e a visão das

entidades envolvidas com a saúde da população das farmácias como ponto de

saúde, em prol do bem estar geral da população. Para a presente pesquisa esse

distanciamento no tratamento das organizações farmacêuticas é crucial para

direcionar a redefinição do perfil profissional farmacêutico, tornando esse

profissional o elo entre as duas culturas organizacionais (financeira e assistencial)

dentro da mesma entidade, a farmácia.

Quadro 11 – Aprimoramento de algumas competências farmacêuticas.

COMPETÊNCIA ATUAL APRIMORAMENTO

Controlar prazo de validade dos

produtos As universidades ensinam a regra do

“primeiro que entra é o primeiro que sai”, que explora apenas compromisso da

equipe para com o padrão de organização implantado.

Gerenciamento de espaço Otimiza a relação dos produtos com as prateleiras.

Colocar o produto certo, da maneira certa e na quantidade correta permite criação e visualização de seções, adição de produtos e prateleiras, análise de

desempenho, sugestão de melhor alocação de espaço.

Controlar entrada e saída das

mercadorias Registrar de acordo com leis

regulamentadoras a saída e entrada dos medicamentos e evitar que seu estoque

zere, fique abaixo do mínimo da demanda ou exceda demais a demanda,

aumentando riscos de perda por validade expirada.

Gestão do sortimento de produtos Estudar as necessidades do consumidor, a

rotatividade dos produtos e estoque, margem de lucro, espaço disponível e o mix pretendido de

produtos (análise do público-alvo).

Organizar e armazenar produtos de

acordo com normas regulamentadoras Produtos controlados em armário com

chave longe do alcance de pessoas não autorizadas a sua dispensação. Produtos sob prescrição médica atrás do balcão de

atendimento. Medicamentos livres de prescrição, produtos de higiene pessoal,

perfumaria e cosméticos na área de autoatendimento, devidamente sinalizados.

Gestão por categoria Categorias de destino (sinalizam a posição na loja

para o consumidor), rotina (itens de produtos que os consumidores encontram regularmente na loja), conveniência (itens geralmente comprados por impulso, que não são típicos para o ramo de atividade da loja) e sazonalidade (produtos

procurados apenas em períodos específicos do ano) impulsionam as vendas, garantem fidelização do

cliente e permite maior sucesso à farmácia.

FONTE: Elaborado a partir do banco de dados da Pesquisa (2016); Blessa (2008).

Page 59: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

58

Blessa (2008) aponta alguns aprimoramentos nas competências

farmacêuticas voltadas para atividades estratégicas, gerenciais e administrativas de

interesse da empresa sem esquecer o respeito pelo consumidor, que sempre foi, e

sempre será, o grande fortificador de marcas e o maior alavancador de negócios

(quadro 11).

De acordo com Blessa (2008), a união dos conceitos, pregados no quadro 11,

para aprimoramento de algumas competências farmacêuticas traz benefícios para

todos os elos da cadeia: o cliente fica satisfeito por ter suas necessidades atendidas,

a organização por ter aumento de rentabilidade e fidelização de seus clientes, a

indústria farmacêutica por ter crescimento sustentável de faturamento, o que permite

a continuidade de seus investimentos em pesquisa de novos produtos e

melhoramento da eficácia e eficiência dos já existentes, o sistema de saúde por ter

seus atendimentos supridos por uma organização que não cobrara custos pelos

serviços, mas dá retorno financeiro ao Estado através dos impostos retidos

circulação das mercadorias, desafogando a superlotação das unidades de triagem e

o pesado custo assistencial à população, e o farmacêutico, por ser o profissional que

presta a assistência que o paciente precisa, garantindo o bem estar geral da

população, preconizado pelos órgãos de saúde.

O farmacêutico precisa estar bem preparado não apenas para orientar

pacientes que se dirigem à farmácia para adquirir medicamentos, mas para prestar

informações gerais de saúde que o ajudarão a prevenir doenças, a estimular a visita

regular aos médicos para detecção precoce de possíveis enfermidades, a motivar a

continuidade de tratamentos com medicamentos de uso contínuo, bem como evitar

possíveis usos incorretos (dose, intervalo, esquecimento, suspensão) e interações

medicamentosas dos medicamentos comprados na loja ou que os pacientes já

possuem em suas residências. Isso mostra o enorme campo de atuação e

importância do farmacêutico dentro da farmácia e como é improvável a alusão de

que o dinamismo de suas atividades não exige a redefinição de suas competências,

bem como seu perfil profissional, de tempos em tempos.

b) Limitações legais

Pela natureza dos produtos que fabrica, o setor farmacêutico é o ramo

industrial mais regulado, sobre ele incidindo instrumentos legislativos diversificados,

Page 60: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

59

complexos e com tendência crescente a serem harmonizados por blocos de países,

com consequentes respostas reestruturadoras por parte dos fabricantes (BARROS,

2004). Por exemplo, em países desenvolvidos os medicamentos tarjados, isto é com

venda sob prescrição médica, só são dispensados por farmacêuticos e com

apresentação da prescrição médica para registro, em contrapartida nos países

subdesenvolvidos, grupo que o Brasil está inserido, esses mesmos produtos podem

ser dispensados por farmacêuticos ou balconistas e com ou sem apresentação da

prescrição médica, exceto os medicamentos com regime de controle especial.

Antes mesmo de existir, a farmácia enfrenta uma longa fila de processos

burocráticos para conseguir licenças e alvarás para seu funcionamento debilitando o

processo de abertura em tempo e recursos (quadro 12).

Quadro 12 – Fluxograma para abertura de uma farmácia.

LOCAL CONTRATOS/ CERTIFICADOS/

LICENÇAS/ ALVARÁS TEMPO ESTIMADO

Ponto comercial (área mínima 32m

2)

Contrato de locação Não é relevante para esse

fluxograma, pois até ser assinado o contrato de locação não há gastos.

Contador

Contrato social Cadastro no sistema integrado de gestão da administração tributária

Abertura dos livros fiscais (empregados, ponto e ocorrências)

Sem prazo para término, contrato definido pelo tempo de vida ativa da

farmácia.

Junta Comercial Cadastro nacional de pessoa jurídica

Inscrição estadual 1 a 4 meses

Empresa privada de centralização de

serviços dos bancos Certificado Digital 3 dias

Arquiteto

Planta baixa do prédio Memorial descritivo

Orçamento para construção ou reforma se houver financiamento

15 dias a 1 mês

Conselho Regional de Engenharia e

Arquitetura

Anotação de responsável técnico (arquiteto)

5 a 15 dias

Bombeiros Licença de “habite-se” 3 dias

Empresa privada de automação comercial

Lacre de equipamentos fiscais 15 dias

Secretaria Municipal de Meio Ambiente e

Urbanismo Alvará de funcionamento 1 a 4 meses

Vigilância sanitária municipal

Análise de projeto Alvará sanitário

1 a 2 meses

Conselho Regional de Farmácia (CRF)

Certidão de regularidade da empresa Certidão de habilitação profissional

(farmacêutico e farmacêutico auxiliar) 4 dias

Agência Nacional de Vigilância Sanitária

Licença de medicamentos sob regimento de controle especial

1 mês

FONTE: Pesquisa (2016).

Page 61: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

60

Ressalta-se que durante todo o processo de abertura, que pode variar entre 4

à 6 meses, se não houver outros impedimentos pontuais, além dos gastos com os

próprios documentos legais (certificados, licenças e alvarás), há gastos com contrato

de aluguel, água e luz do ponto comercial, honorários do contador, contrato com

arquiteto e pelo menos um mês de pagamento salarial do farmacêutico e

farmacêutico auxiliar, uma vez que só é liberado o alvará de funcionamento com a

apresentação da certidão de regularidade da empresa vinculada a habilitação

profissional.

Além das dificuldades para abrir a empresa, a farmácia sofre o efeito das

ações das rígidas regulamentações ao longo de toda sua vida ativa, como, por

exemplo, fixação dos preços de venda ao consumidor final, controle das margens de

lucro das empresas, intervenção governamental bastante intensa para incentivar a

prescrição de genéricos (grupo com menor margem de lucro), limitações sobre as

atividades de marketing, normatizações sobre as condições de segurança e eficácia

dos medicamentos, além de normas educativas para os profissionais de saúde.

Partindo para as limitações legais enfrentadas especificamente pelo

profissional farmacêutico, aborda-se o alcance atual da assistência farmacêutica.

São inegáveis os avanços alcançados no empenho em prevenir as reações

adversas ou para chegar-se ao uso mais adequado dos medicamentos realizados

pelo farmacêutico nas farmácias. No entanto, o dispêndio realizado pelas indústrias

de medicamentos em atividades promocionais amplas e cada vez mais sofisticadas,

associado à ausência de informações independentes que subsidiem a prática de

prescritores e consumidores, certamente continua contribuindo fortemente para o

uso irracional dos produtos medicamentosos (BARROS, 2004).

O médico, evidentemente, representa um agente muito importante para essa

dinâmica, uma vez que detém o poder de prescrever o medicamento que será usado

por seu paciente. Porém, é no balcão da farmácia que se realiza o momento da

efetiva compra do produto. E o farmacêutico é o profissional legalmente habilitado

para, no ato da dispensação, orientar o paciente e, atendendo seus interesses,

efetuar a substituição do medicamento prescrito, de acordo com a Resolução

349/2000 (CFF, 2000). Tornando esse personagem um grande alvo para o assédio

dos laboratórios farmacêuticos nas vendas de seus produtos nos pontos de venda.

Segundo Fiuza e Lisboa (2001), existe um problema de risco moral a ser

atacado. O risco moral é apontado como fator preponderante do crescimento dos

Page 62: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

61

gastos com medicamentos, e as políticas que têm sido aplicadas pautam-se por

transferir ao médico, ou a um grupo de médicos, responsabilidades em atender a

restrições orçamentárias dos pacientes, por exemplo.

A mesma transferência de responsabilidade ética poderia ser creditada ao

farmacêutico no ponto final de venda ao consumidor, afinal o setor regulamentador

não pode afirmar que os médicos são mais éticos do que os farmacêuticos.

Além das limitações as atividades assistências, o farmacêutico enfrenta

controle sobre seus ganhos e recompensas. Amparados por convenções coletivas

de trabalho, os balconistas e caixas de farmácias podem receber vantagens de

natureza econômica e é de conhecimento geral que as vantagens mencionadas são

materializadas em comissões, bonificações, gratificações e outros auxílios de forma

proporcional as suas vendas, bem como a existência de metas mensuradas em

quantidades e/ou valor total de vendas mensais de produtos como perfumaria,

cosméticos, produtos de higiene pessoal e, inclusive, medicamentos.

Porém, o Código de Ética Farmacêutico enfatiza que todas as ações da

farmácia são de responsabilidade do farmacêutico e que a formação de toda a

equipe de saúde que acompanha o farmacêutico deverá ser formada e capacitada a

trabalhar com saúde e não com vendas (MENDES et al., 2008). O que gera um

conflito entre visão do Conselho Federal de Farmácia que as farmácias são pontos

de saúde e o interesse financeiro das indústrias e empresas nas mesmas como

pontos de venda.

A fim de evitar que os farmacêuticos fossem manipulados pelas grandes

indústrias a perseguirem interesses em ganhos pessoais, invés de se dedicar

incondicionalmente ao bem estar e saúde da população, no Rio Grande do Norte,

como em tantos outros Estados brasileiros, foram implantadas nas convenções

trabalhistas desses profissionais, junto à cláusula de atribuições, informações sobre

desvios de função. Com isso eles ficam impedidos de realizarem vendas e obterem

ganhos com atendimentos aos clientes nos balcões de farmácia.

Em 2011, o Ministério Público do Trabalho do RN (MPT-RN) investigou

denúncia e constatou, dentre outras atribuições, que os farmacêuticos realizavam

vendas, eram caixas, integravam o grupo de funcionários que tinham que cumprir

metas de vendas e recebiam comissões por elas (SINFARN, 2011).

A Procuradora do MPT-RN da época, sob o entendimento de que tais práticas

representam desvios de função e que isto tem claros reflexos no atendimento à

Page 63: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

62

população, pois o farmacêutico, ao invés de atuar como orientador do consumidor

de produtos farmacêuticos passaria a assumir a função de promotor de consumo,

aumentando a prática da “empurroterapia”, com o objetivo de aumentar o

recebimento de comissão pela venda de produtos farmacêuticos, recomendou ao

Sindicato dos Farmacêuticos do Estado do RN (SINFARN) a inclusão de uma

cláusula, na Convenção Coletiva de Trabalho dos farmacêuticos do setor, sobre

desvios de função para ajuste de conduta (BRASIL, 2011).

Apesar de continuarem com o adicional de gerência (40% sobre o piso

salarial) em suas convenções, o que caracteriza a realização de uma atividade

administrativa e não de responsabilidade técnica, os farmacêuticos não têm a

recompensa financeira nem por suas vendas, por suas orientações ou por seus

serviços (aplicação de injetáveis, verificação de pressão e glicemia, outros).

Contudo, o constructo encontra na literatura um personagem com

competências idênticas a do farmacêutico e com igual responsabilidade em lidar

com medicamentos e saúde dos indivíduos, mas que não é submetido a tão rígida

regulamentação, são os propagandistas de medicamentos.

Antes do esclarecimento sobre a inserção desse personagem, o presente

trabalho apresenta a cadeia de suprimentos dos medicamentos, que se estende

desde os fornecedores de matérias primas (fármacos) até o consumidor final,

passando pelos fabricantes (laboratórios), que entregam medicamentos diretamente

às redes ou, indiretamente, por meio de distribuidores (Figura 1). O segmento

institucional (hospitais, centros de saúde, secretarias públicas estaduais e

municipais de saúde), área de atuação dos propagandistas, ao lado das farmácias,

constitui importante mercado comercial de medicamentos (MACHLINE; AMARAL

JÚNIOR, 1998).

De acordo Hekis et al. (2014), os propagandistas de medicamentos têm suas

atividades caracterizadas como propaganda, marketing e venda. Em sua conclusão,

os autores mencionados denotam a grande importância que os profissionais

propagandistas possuem para o alcance dos resultados das indústrias

farmacêuticas, que realizam grandes investimentos em pesquisa, desenvolvimento,

marketing. Nesse sentido, as indústrias acreditam na necessidade de aumentar os

investimentos em treinamento e capacitação de seus propagandistas, que segundo

Reis (2010) são temas indispensáveis para as visitas de propaganda aos médicos

os conhecimentos técnicos em anatomia, fisiologia, patologia e farmacologia.

Page 64: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

63

O objetivo das indústrias com a capacitação de seus propagandistas está

mais direcionado para torná-los cada vez mais capacitados e alinhados com as

novas realidades do mercado e com os objetivos organizacionais, e em especial o

aumento dos seus lucros e da sua participação no mercado do que com a

informação propriamente dita aos médicos sobre os benefícios, reações e interações

dos medicamentos para o bem estar geral de seus pacientes.

Figura 1 – Cadeia de suprimentos da área farmacêutica

FONTE: Machline e Amaral Júnior (1998).

Comparando farmacêuticos e propagandistas, o produto é o mesmo, o

medicamento, o público alvo é o mesmo, o consumidor, ainda que alcançados

indiretamente pelos propagandistas os pacientes dos médicos são consumidores

finais do medicamento, o conhecimento técnico necessário é o mesmo, não é a toa

que a maioria dos propagandistas contratados pelas indústrias mais conceituadas

são graduados em farmácia. Então, uma vez que o marketing dos propagandistas

sobre os médicos influência na escolha do medicamento prescrito ao consumidor

final que irá apenas receber das mãos dos farmacêuticos, deveria haver restrições

sobre os ganhos e recompensas dos propagandistas para que os mesmos não

deixem seus interesses pessoais passem informações superlativas à realidade do

produto.

Page 65: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

64

Sabe-se que as inúmeras regulamentações existentes sobre a farmácia e o

farmacêutico estão focadas em garantir o acesso da população geral aos

medicamentos de forma segura, racional e com bom custo-benefício. Porém, é fato

que rigidez intensa também leva ao engessamento diante de mudanças, ficando as

adaptações atreladas as liberações legais. Dificultando não apenas a abertura de

novas empresas, mas a sobrevivência das existentes e a permanência de seus

profissionais.

2.4 ESTUDOS RELACIONADOS AO TEMA

Falcone e Osborne (2005), afirmam que o caráter enigmático da pesquisa em

empreendedorismo se deve ao tema pesquisado ter se caracterizado como

multidisciplinar, multinacional, extenso e de difícil compreensão. Já para Antonioli

(2007), a heterogeneidade da definição do empreendedorismo gera como ponto

positivo a abertura nas possibilidades de pesquisa.

Por outro lado, diversos autores americanos afirmam que nas últimas cinco

décadas houve muita pesquisa e produção acadêmica na área, mas os resultados e

avanços obtidos ainda não foram capazes de identificar o perfil psicológico e

comportamental do empreendedor (NASSIF; SILVA et al., 2010).

O trabalho bibliométrico de Brancher, Oliveira e Roncon (2012), quanto às

referências bibliográficas dos estudos sobre empreendedorismo no Brasil,

analisados pelos autores, constata um equilíbrio em número de publicações

nacionais e internacionais utilizadas como base teórica.

O empreendedorismo no Brasil, como área de pesquisa é recente. O primeiro

encontro de profissionais a tratar especificamente sobre o tema do

empreendedorismo no Brasil, o Encontro sobre Empreendedorismo e Gestão de

Pequenas Empresas (EGEPE), só foi realizado em 2000 (NASSIF; SILVA et al.,

2010). Esse pode ser um dos motivos para maior procura por referenciais teóricos

internacionais. Outro motivo para esta constatação pode ser resultado da baixa

qualidade das publicações nacionais, que não são referenciadas como principais

nos trabalhos analisados. Dentre os autores internacionais mais citados, nos artigos

expostos, estão Louis Jacques Fillion (França), David C. McClelland (EUA) e

Schumpeter (República Tcheca).

Page 66: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

65

O estudo bibliométrico de Brancher, Oliveira e Roncon (2012), que analisa

artigos publicados no ENGEPE e no Encontro da Associação Nacional de Pós-

Graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD) com temática

“Comportamento Empreendedor”, no período de 2004 e 2008, enfatizam que não há

publicações com o mesmo assunto no EnANPAD, no período 2009 a 2012. E dentre

os assuntos usados para corelacionar a descrita temática, “Característica do

Comportamento Empreendedor” apresenta superioridade esmagadora quando

comparado a outros assuntos encontrados.

Na revisão bibliográfica realizada por Antonioli (2007) há o mapeamento de

diversos trabalhos, publicados no período de 2000 a 2006, que analisam

especificamente as CCEs e que, no geral, grande parte averigua a frequência da

incidência de CCEs apresentadas na literatura, sem a preocupação de descobrir se

o que está descrito na teoria reflete a realidade pesquisada. Constata também uma

prevalência de uso do questionário de McClelland (1972) que atribui a disseminação

por organismos oficiais, como o SEBRAE, e em função do interesse no mecanismo

de correção contido no instrumento.

Fonseca (2010) atualiza o mapeamento de Antonioli (2007), adaptando-o com

trabalhos que utilizaram em suas pesquisas o modelo McClelland (1972), publicados

no período de 2003 a 2009.

Em ambos os mapeamentos supracitados, os autores identificam trabalhos

que utilizam como instrumento o modelo McClelland (1972), mas o presente

constructo não identifica nesses estudos que abordagem particular ao perfil

intraempreendedor, nem muito menos um estudo voltado para mensurar

características comportamentais empreendedoras no ramo farmacêutico.

Ao relacionar trabalhos que utilizaram o modelo McClelland (1972) para

estudar o perfil empreendedor de farmacêuticos, essa consulta pretende estabelecer

um paralelo com os resultados e conclusões, atualizando e gerando um parâmetro

sobre o método utilizado.

Com foco em criar um banco de dados próprio e direcionado ao tema

“Características do Comportamento Empreendedor no Ramo Farmacêutico”, essa

consulta compõe esse capítulo com uso de três pesquisas realizadas que abordam a

mesma temática e também utilizam como ferramenta de pesquisa o questionário do

modelo McClelland (1972) (Quadro 13). Vale ressalvar que o presente constructo

Page 67: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

66

não localizou publicações que utilizassem qualquer outro instrumento de pesquisa

comportamental direcionada ao ramo farmacêutico.

Quadro 13 – Publicações de estudos sobre perfil empreendedor de farmacêuticos.

ANO

Revista/

IES7

AUTOR TÍTULO INSTRUMENTO

2010 FNH Fonseca

Empreendedorismo e

intraempreendedorismo: estudo de caso sobre o perfil McClelland em uma empresa

varejista farmacêutica

McClelland (1972)

2012 ANEGEPE Câmara; Andalécio

Características empreendedoras: um estudo de caso com farmacêuticos

utilizando o modelo McClelland

McClelland (1972)

2013 CONVIBRA

Sarturi; Gomes Filho;

Moreira

Empreendedorismo em farmácias: o perfil dos profissionais da cidade de Guarapuava

– PR

McClelland (1972)

adaptado ao programa

EMPRETEC8

(SEBRAE, 2001)

FONTE: Pesquisa (2016).

O trabalho de Fonseca (2010) procura desenvolver uma reflexão sobre a

existência de organizações com atuação empreendedora que sabem aproveitar e

valorizar pessoas com características comportamentais e sobre perfis específicos

que se colocam como empreendedores, tendo por objetivo avaliar a interação do

empreendedorismo com o intraempreendedorismo, através da análise das escolhas

dos gestores a partir dos valores do empreendedor proprietário.

Fonseca (2010) adapta um questionário a partir do modelo de McClelland

(1972) e o aplica ao corpo gerencial (47 respondentes) e ao empreendedor

proprietário de uma organização farmacêutica. O quadro de gestores é bastante

amplo quanto à hierarquia e não possui homogeneidade quanto ao nível de

escolaridade e graduação, porém farmacêuticos gerentes (FG) representam 13% do

quadro funcional de gestores e os dados coletados sobre estes demonstram forte

7 Instituição de Ensino Superior.

8 Programa de capacitação para desenvolvimento das características de comportamento

empreendedor e identificação de novas oportunidades de negócio, com metodologia da Organização das Nações Unidas (ONU), realizado no Brasil exclusivamente pelo SEBRAE.

Page 68: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

67

contingência com os exibidos na média geral da amostra de Fonseca (2010), logo,

seu estudo individualizado não traria novas percepções e avaliações.

O perfil da amostra de FG apresenta maioria no gênero feminino e, apesar da

comparação entre perfil FG e com o do empreendedor proprietário haver

alinhamento em apenas seis das dez características, Fonseca (2010) afirma que o

grupo FG possui manifestação comportamental empreendedora nas dez CCEs

propostas no modelo McClelland (1972).

A presente pesquisa opta por apresentar as pontuações encontradas por

Fonseca (2010) distribuídas em classificação própria para facilitar na comparação

com seus próprios resultados (quadro 14).

Quadro 14 – Resultados referenciados do perfil empreendedor de farmacêuticos gerentes de uma mesma empresa.

AUSENTE FRACA MODERADA FORTE

ALINHAMENTO

com empreendedor

proprietário

-

PER (17) EQE (17) CRC (16)

EDM (16) BDI (17) PMS (16)

PRC (15) IEA (17)

BOI (19) COM (20)

-

Diferenças

significativas

FG

EP

COM (20) EQE (17) CRC (16) PMS (16)

COM (23) EQE (23) CRC (20) PMS (20)

FONTE: Elaborado com base em Fonseca (2010).

Fonseca (2010) atribui o forte alinhamento entre as seis CCEs dos gestores

(inclusive FG) e o empreendedor proprietário aos mecanismos de seleção e

capacitação desenvolvidos pela organização. E, a partir da exposta constatação, o

autor discorre que há orientação empreendedora dentro da organização, bem como

esforço do empreendedor proprietário para criar mecanismos de seleção e

Page 69: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

68

capacitação desenvolvidos pela empresa, conforme quesitos orientados pelo

empreendedor proprietário.

As disparidades entre o alinhamento de perfil dos FG e o empreendedor

proprietário foram encontradas em quatro CCEs, o “Comprometimento”, “Exigência

de Qualidade e Eficiência”, “Correr Riscos Calculados” e “Planejamento e

Monitoramento Sistemático”. Mas Fonseca (2010) ressalta que após realização de

programa de capacitação houve incremento significativo no faturamento e

consequente abertura de novas lojas, além disso, as melhorias gerenciais diminuiu a

rotatividade dos funcionários.

O constructo de Câmara e Andalécio (2012) discute quais características

empreendedoras estão presentes em um grupo de farmacêuticos sob a perspectiva

do modelo McClelland (1972), motivado pela constatação de que a maioria dos

farmacêuticos funcionários opta por abrir negócio próprio, resultando, geralmente,

em microempresas, pequenas empresas ou empresas de médio porte. Desenvolve,

então, uma reflexão sobre a realidade social dos profissionais inseridos nesse

contexto.

De acordo com o perfil sociodemográfico no trabalho de Câmara e Andalécio

(2012), os farmacêuticos pesquisados (32 respondentes) têm faixa etária média de

29 anos e predominância no gênero feminino, 72% são farmacêuticos responsáveis

técnicos (FRT) e o restante, farmacêuticos proprietários (FP) de seus próprios

negócios, e a atividade comercial predominante das empresas é de drogaria. Na

separação por grupos FRT e FP, as médias identificadas nas variáveis idade e

gênero e as médias dos resultados das CCEs são muito próximas às encontradas

na amostra total, variando apenas em um ponto, no máximo.

Câmara e Andalécio (2012) apontam em seus resultados ausência de

comportamento empreendedor nos profissionais farmacêuticos em duas CCEs,

“Persuasão” e “Exigência de Qualidade e Eficiência” e sugerem o direcionamento de

programas de treinamento e capacitação e, principalmente, mudanças

comportamentais voltadas para o desenvolvimento específico destas características

empreendedoras (quadro 15).

Já na comparação entre os grupos FRT e FP, a CCE “Busca de Oportunidade

e Iniciativa” (BOI) foi a única diferença significativa encontrada. E, como o primeiro é

maioria esmagadora na amostra da pesquisa de Câmara e Andalécio, os resultados

Page 70: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

69

do grupo FRT são tomados pelo presente constructo como base referencial para

análise de seus resultados.

Quadro 15 – Resultados referenciados do perfil empreendedor de farmacêutico responsável técnico.

AUSENTE FRACA MODERADA FORTE

ALINHAMENTO

com farmacêutico proprietário

PER (14) EQE (11)

CRC (17)

EDM (16) BDI (16) PMS (16)

PRC (17) IEA (17)

BOI (20) COM (20)

-

Diferença

significativa

FRT

FP

BOI (20)

BOI (18)

FONTE: Elaborado a partir de Câmara; Andalécio (2012).

A pesquisa de Sarturi, Gomes Filho e Moreira (2013) tem por objetivo relatar o

perfil empreendedor de gestores de farmácias (51 respondentes), a maioria

farmacêuticos (71%), além de comparar os resultados encontrados no perfil de

gestores ao de estudantes de farmácia, com e sem experiência profissional no ramo

farmacêutico. A amostra total possui faixa etária média de 35 anos, predominância

no gênero feminino e formação superior no curso de farmácia.

Apenas a característica de “Busca de Informação” não recebe tratamento

estatístico pelos autores, mas é analisada a parte com aprofundamento sobre o

direcionamento da informação escolhida pelos gestores para aperfeiçoamento. A

maioria dos gestores (96%) tem curso de especialização, porém, o aperfeiçoamento

escolhido não foi em empreendedorismo, a grande maioria foi na área técnica de

farmácia. Em contrapartida, Sarturi, Gomes Filho e Moreira (2013) afirmam que essa

escolha de especialização é o motivo pelo qual os farmacêuticos gerentes

apresentam fortes pontuações em conhecimento no ramo, “Persistência” (PER),

“Comprometimento” (COM) e “Exigência de Qualidade e Eficiência” (EQE) (quadro

16).

Sobre a comparação entre o perfil de farmacêutico gerente (FG) e o perfil de

estudante de farmácia (EF) Sarturi, Gomes Fillho e Moreira (2013) obtêm resultado

Page 71: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

70

alinhado no “Planejamento e Monitoramento sistemático” (PMS) e na ausência de

quatro características comportamentais empreendedoras, “Correr Risco Calculado”,

“Estabelecimento de Metas”, “Persuasão e Rede de Contatos” e “Independência e

Auto confiança”. A ausência dessas características, segundo supracitados autores, é

atribuída a falta de treinamento, isto é, os farmacêuticos gerentes estão

acomodados no conhecimento adquirido apenas por experiência. A disparidade mais

intrigante está em “Comprometimento”, ausente apenas em estudantes de farmácia

sem experiência profissional (Quadro 16).

Quadro 16 – Resultados referenciados de perfil empreendedor de farmacêuticos gerentes de empresas distintas.

AUSENTE

FRACA MODERADA FORTE

ALINHAMENTO com estudantes

de farmácia

CRC (11) EDM (11)

PRC (14) IEA (14)

- PMS (19)

BOI (22) PER (22) COM (23) EQE (27)

Diferenças

significativas

FG

EF

COM (23)

COM (14)

FONTE: Elaborado a partir de Sarturi; Gomes Filho; Moreira (2013).

Outros trabalhos relacionados contribuem na construção desse trabalho

embora não possuam pesquisa direcionada para o setor farmacêutico, mas, no

âmbito do empreendedorismo, corroboram com outras vertentes desse estudo.

A pesquisa de Guedes (2009), muito citada nos três trabalhos anteriormente

relacionados no referencial teórico (quadro 13), tem como principal objetivo

investigar como o comportamento empreendedor desenvolve a carreira de um

indivíduo, além de levantar reflexões sobre a necessidade de desenvolver as

habilidades individuais em gestão de pessoas, necessidade de visão de

oportunidades e necessidade de realizar inovações.

Os dados coletados por Guedes (2009) sobre o perfil sociodemográfico do

empreendedor no Brasil são bastante válidos para a presente pesquisa, uma vez

Page 72: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

71

que os estudos escolhidos para referencial teórico não abordam outras variáveis

além de gênero e idade (quadro 17).

Quadro 17 – Perfil sociodemográfico dos empreendedores iniciais no Brasil.

CARACTERÍSITCAS INDIVIDUAIS

PREDOMINÂNCIA

Gênero

Feminino (52%)

Idade

18 a 24 anos (19%)

Local de Formação Acadêmica

Curso formal de 4 anos (25%)

Ano de Conclusão de Graduação

-

Tempo de atuação no ramo

Sem experiências anteriores (52%)

Cargo de Atuação na empresa

Autônomos, vínculo por prestação se serviços ou terceirização (33%)

Atividade da empresa

Alimentos e roupas no varejo (54%)

Porte da empresa

-

FONTE: Elaborado a partir de Guedes (2009).

Guedes (2009) atribui a alta taxa desemprego na faixa etária juvenil como a

causa de aumento de jovens empreendedores por necessidade, além do aumento

do nível de escolaridade. E o aumento representativo de mulheres empreendedoras

se dá pela decorrência de aumento das mulheres no mercado de trabalho, a

superação no nível de escolaridade em relação aos homens e assimilação gradativa

da função de provedora da renda familiar.

O trabalho de Roncoletta (2011) analisa se os fatores organizacionais internos

de pequenas empresas estimulam comportamentos empreendedores de gestores e

funcionários para o desenvolvimento de uma cultura intraempreendedora,

propiciando melhor compreensão de que os funcionários são capazes de

desenvolver de forma proativa o comportamento empreendedor e estão mais

abertos a desafios quando inseridos num ambiente empreendedor. Para que isso

Page 73: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

72

ocorra de forma positiva é necessário haver um ambiente organizacional com

cooperação, trabalho em equipe, incentivo e aberto para realização das atividades

de forma inovadora e desafiadora (quadro 18).

Quadro 18 – Fatores organizacionais internos de pequenas empresas que estimulam comportamento empreendedor.

FATOR DESCRIÇÃO GRAU DE

IMPORTÂNCIA

Suporte Administrativo

Está relacionado ao apoio que pode assumir muitas formas, o qual inclui o patrocínio de ideias, promoção de recursos ou expertise necessária para a atividade empreendedora dentro

da empresa.

41% CONCORDAM

Recompensas

A empresa deve oferecer um sistema eficiente de

recompensas que estimule a atividade empreendedora com ênfase na responsabilidade individual e baseada em

resultados.

60% CONCORDAM

Descrição de Trabalho

Refere-se à tomada de riscos,a qual indica a disposição dos gerentes de médio porte de arriscar e mostrar tolerância com

possíveis falhas.

37% CONCORDAM

Disponibilidade de Tempo

Funcionários devem perceber a disponibilidade de recursos para atividades inovadoras. Isso encoraja comportamentos

para experimentação e tomada de riscos.

36% CONCORDAM

Situações organizacionais

A estrutura fornece os mecanismos administrativos pelos

quais as ideias são avaliadas, escolhidas e implementadas.

60% CONCORDAM

Aspecto interno de

Comunicação

Refere-se a tudo que é divulgado, comunicado e disseminado entre os funcionários da empresa.

55% CONCORDAM

Aspecto interno de Processo

Decisório

Voltado para o longo prazo, para que as pessoas percebem

que os gestores têm visão de futuro.

Aspecto interno de Incentivos e

Motivações

Um plano de incentivos ao compartilhamento de ideias entre

os funcionários e a empresa.

Aspecto interno de Liderança

Todos os funcionários devem ser treinados para serem

lideres e para assumirem as funções de seus superiores imediatos, quando a necessidade surgir.

Aspecto interno de Equipe

Senso de comunidade, cooperação total entre todos,

formação de equipes multifuncionais para realizar vários projetos.

FONTE: Elaborado a partir de Roncoletta (2011).

Roncoletta (2011) afirma que o comportamento empreendedor é o que leva o

funcionário a agir com autonomia, trabalhar com liberdade e ser capaz de assumir

riscos e, conforme McClelland (1972) alcançar realização pessoal. E que os fatores

internos das organizações precisam estar alinhados a expectativa de resultado de

Page 74: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

73

desempenho dos funcionários. Exemplos de fatores internos que propiciam

resultados positivos são: premiação por ideias inovadoras ou planos de metas, que

tragam benefícios para a organização e também para os funcionários, reconhecer o

desempenho, proporcionar incentivos, ouvir funcionários.

Vale para o presente trabalho destacar assertivas do instrumento de pesquisa

de Roncoletta (2011) com maior pontuação negativa, de acordo com resultados dos

330 questionários respondidos por funcionários de 31 empresas de pequeno porte.

Quadro 19 – Limitações para o desenvolvimento empreendedor em pequenas empresas.

FATOR

DIFICULDADES ENFRENTADAS POR FUNCIONÁRIOS DE PEQUENAS EMPRESAS

Suporte Administrativo

Os funcionários que fazem os projetos não recebem permissão para tomada de

decisão sem justificativas e procedimentos de aprovação, não recebem promoção após desenvolvimento de ideias inovadoras, não recebem

recompensas adicionais por ideias e esforços inovadores bem sucedidos além da compensação tradicional, não são encorajados a correr riscos calculados

com suas ideias, não recebem tempo livre para desenvolver alguma boa ideia que teve e a empresa não apoia projetos pequenos e experimentais que podem

não obter sucesso.

Recompensas

Os funcionários não recebem recompensas proporcionais ao seu desempenho, nem reconhecimento especial por parte do gestor.

Descrição de Trabalho

Apesar de seus erros não resultarem em severas críticas e punições, não

possuem autonomia nas atividades que realizam, suas decisões devem ser checadas por alguém.

Disponibilidade de Tempo

Não sentem com frequência que estão com tempo restrito para trabalhar e que

a carga de trabalho os impediram de investir tempo no desenvolvimento de novas ideias.

Situações organizacionais

Não existem regras e procedimentos descritos para realização das principais tarefas e não seguem a risca processos e práticas operacionais padrão para

realizar principais tarefas.

Aspecto interno de

Comunicação A empresa não divulga e dissemina suas decisões para todos os funcionários.

Aspecto interno de Processo

Decisório -

Aspecto interno de Incentivos e

Motivações -

Aspecto interno de Liderança

Não são treinados para substituírem seus superiores imediatos, caso haja

necessidade.

Aspecto interno de Equipe

Não são formadas equipes multifuncionais para trabalhar com desenvolvimento

de novos projetos.

FONTE: Elaborado a partir de Roncoletta (2011).

Page 75: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

74

A mudança do comportamento empreendedor dos funcionários e gestores

não é fácil, pois depende da disponibilidade das pessoas, orientações estratégicas e

recursos, porém é um impulsionador de competitividade que poderá ser o fator

crucial para sobrevivência da organização.

Pais (2014) investiga diferenças entre os gêneros no empreendedorismo,

levando em consideração a existência de características e atitudes díspares para

cada gênero, fruto do contexto empresarial, social e cultural em que se inserem.

Através dessas diferenças típicas de cada gênero, o autor direciona a pesquisa para

a importância em realçar as mais evidentes no universo do empreendedorismo

(quadro 20).

Quadro 20 – Diferenças entre os gêneros no empreendedorismo.

ANÁLISE FEMININO MASCULINO

Motivação para se tornar empreendedor

Por oportunidade. Vontade de arriscar e querer mudar de

vida.

Por necessidade. Convite de

um amigo, familiares empreendedores ou falta de

emprego.

Motivos que levam a empreender

Conhecer e gostar da área do negócio ou por estarem

desempregadas.

Evitar desemprego ou por estar

na fase da vida ideal para arriscar, ter próprio negócio.

Características pessoais que ajudam sua carreira de

empreendedor

Persistência, dedicação e positividade.

Espírito aventureiro, facilidade

em resolver dificuldades, gostar de aprender, e eficiência.

Características pessoais que prejudicam sua carreira de

empreendedor

Emotividade e alta confiança

nas pessoas, desde fornecedores, funcionários e

clientes.

Falta de experiência.

Forma como a sociedade olha para os empreendedores

Com positividade, geram novos empregos, produtos e serviços.

Com positividade, geram novos empregos, produtos e serviços.

Dificuldades que enfrentam no

início da carreira empreendedora

Falta de financiamento e de clientes, medo de falhar, muita

burocracia.

Falta de tempo, de experiência e dificuldades monetárias.

Pessoas que ajudaram o

empreendedor na fase inicial Familiares. Familiares.

Relação com seus primeiros

funcionários Boa relação e alta confiança. Boa e informal relação.

Processo empreendedor Sente diferença no tratamento

recebido.

Sente que as mulheres têm a

vida facilitada, porém são discriminadas no mundo dos

negócios.

FONTE: Elaborado a partir de Pais (2014).

Page 76: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

75

A pesquisa de Pais (2014) contribui para alteração na visão organizacional no

que cabe à liderança das mulheres e permitir maios igualdade dentro das

organizações. Também auxilia na firmação cultural de passar mesma confiança para

sociedade entre empreendedorismo feminino e masculino.

Page 77: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

76

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A diversidade de abordagens e de metodologias distintas, utilizadas por áreas

e ciências com interesses específicos, dificultam as pesquisas de campo do

empreendedorismo, por não haver um consenso sobre o conceito do alegado tema.

A base de dados fomentada por Nassif et al. (2010), composta por todos os

artigos publicados nos dois maiores e mais relevantes eventos científicos do país, na

área de empreendedorismo, EGEPE e EnANPAD, aponta forte predominância de

estudos publicados com abordagens funcionalista ou interpretacionista9 (94,8%),

além da maioria também possuir perfil metodológico descritivo, teórico empírico e

qualitativo, o que tende a ser uma limitação para o avanço nos estudos sobre o

tema, pois pode gerar um risco dos trabalhos permanecerem apenas testando e

verificando teorias já existentes sem que se crie nada de novo.

As abordagens escolhidas pelos trabalhos analisados por Nassif et al. (2010),

levantam questionamentos importantes se é a própria essência da área que leva os

pesquisadores a esse tipo de abordagem escolhida e, principalmente, se é possível

fazer novas teorias a partir de refinamentos ou reduções mais detalhadas das

teorias antigas e não as substituir.

Diante da necessidade de equilibrar as abordagens para avançar e abrir

perspectivas de consolidar uma base teórica, que seja passível de generalização,

essa apuração opta pela mesma temática predominante no banco de dados de

Nassif et al. (2010), que aborda conceito, comportamento, atitude, perfil e

competências do empreendedor, porém, com o diferencial em ser um estudo

quantitativo, pois tem como aspiração buscar a padronização ou generalização das

competências do perfil profissional farmacêutico.

3.1 TIPO DE PESQUISA

Para a classificação da pesquisa, toma-se como base a taxionomia

apresentada por Vergara (2014), que qualifica em relação a dois critérios: quanto

aos fins e quanto aos meios.

9 Referidos autores utilizam a classificação de Burrell e Morgan (1979) para categorizar os artigos

analisados de acordo com a base epistemológica. Significam, respectivamente, “procura fornecer explicações sobre o status quo, ordem social, consenso, integração social, satisfação de necessidades”; “e ênfase na natureza essencialmente espiritual do mundo social”.

Page 78: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

77

A abordagem dessa pesquisa quanto aos fins é descritiva e exploratória.

Descritiva porque expõe características de determinada população, definindo sua

natureza e estabelecendo correlações com variáveis. Exploratória por haver pouco

conhecimento acumulado e sistematizado sobre empreendedorismo dentro do setor

farmacêutico. Quanto aos meios, a investigação é de campo, realizada à distância

por vias telefone, e-mail e redes sociais, como facebook e Whatsapp.

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA

A delimitação do universo e amostra dessa pesquisa segue taxionomia de

Vergara (2014). O universo da pesquisa de campo é composto apenas por

profissionais farmacêuticos, que atuem no comércio varejista de farmácia na cidade

do Natal, cujos cargos podem ser de proprietário, responsável técnico ou gerente.

A composição da amostra segue o critério dos entrevistados serem

graduados em farmácia e atuarem em organizações do tipo “drogaria” ou “farmácia

de manipulação”. Além do critério de acessibilidade para seleção dos entrevistados,

que não tem como base procedimento estatístico, mas alcança os elementos pela

facilidade de acesso a eles.

3.3 OPERACIONALIZAÇÃO DA COLETA DE DADOS

Para obter as informações sobre as características do comportamento

empreendedor (CCEs) presente nos farmacêuticos a presente consulta aplica

questionário adaptado a partir do modelo proposto por McClelland (1972) e

disponibilizado por Fonseca (2010) e realiza observação conforme Vergara (2014),

de forma simples, isto é, e sem interação com o respondente.

No planejamento inicial, coleta desses dados é feito de forma presencial,

porém, após visita a pontos de vendas das três maiores redes do Estado (Globo,

Pague Menos e Farmafórmula), surge a necessidade de haver consentimento prévio

da administração das empresas.

No segundo plano traçado, a presente pesquisa entrou em contato com

supervisores dos farmacêuticos de cada rede de farmácia para solicitar autorização.

Dentre as redes contatadas estão Globo, Pague Menos, Paiva, Irmã Dulce,

Farmaciaria (antiga Amadeus), Santa Fé, Farmafórmula e Companhia da Fórmula.

Page 79: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

78

Supervisores da Pague Menos e Companhia da Fórmula conseguem autorizações,

mas optam por não divulgarem os contatos pessoais dos farmacêuticos funcionários

e assumem a responsabilidade de encaminhar o questionário por mala direta e

enviar respostas recebidas ao e-mail da presente pesquisa. Destes contatos,

obteve-se dois questionários respondidos da Pague Menos e cinco da Companhia

da Fórmula.

Os supervisores das demais empresas não autorizam o emprego do

questionário de forma presencial ou por mala direta da empresa por não receberem

resposta da administração, porém, ressaltam que a pesquisa não está vetada e

outro caminho de contato com seus funcionários pode ser utilizado.

O presente constructo opta por acessar os farmacêuticos através de redes

sociais como plano complementar para obter dados. O grupo “Farmacêuticos do RN”

(grupo fechado do Facebook) permite contato inicial com 770 farmacêuticos

membros através de curta mensagem contendo o objetivo principal da pesquisa e

ressaltando-se a restrição do público-alvo (farmacêuticos atuantes em farmácias e

drogarias na cidade de Natal). Destes contatos, seis farmacêuticos não atuantes em

farmácia se prontificam a encaminhar o questionário para contatos pessoais que se

encaixavam ao público-alvo, que resulta em dois questionários respondidos. E sete

farmacêuticos atuantes em farmácias, que optam por seguir contato através de outra

rede social que consideram mais dinâmica para o pretendido repasse de informação

(Whatsapp). Estes passam os contatos dos colegas de trabalho a presente consulta,

que por sua vez aplica questionário após receber confirmação de aceitação para

participar da pesquisa e consequente envio do e-mail pessoal de contato. A

pesquisa aplica 223 questionários através dos contatos de Whatsapp, introduzidos

com curta mensagem expondo o objetivo geral da pesquisa, ressaltando o público-

alvo e fornecendo e-mail para retorno das respostas. Destes 223 contatados, 102

informam e-mail para envio do questionário e apenas 30 respondem, dentre os

quais há representantes das redes Saúde, Santa Fé, Farmafórmula, Globo,

Carrefour, Hiper Bom Preço, Farmácia do Trabalhador, Irmã Dulce, Farmaciaria,

entre outros.

Para obtenção de dados de farmacêuticos proprietários, a presente pesquisa

entra em contato com o Conselho Regional de Farmácia e o Sindicato de Farmácia.

Os quais, através de seus representantes, informam sobre a impossibilidade de

repassar contatos pessoais devido ao sigilo que garantem aos associados e optam

Page 80: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

79

por encaminhar o questionário através de mala direta. Destes contatos, a pesquisa

obtem oito questionários respondidos por farmacêuticos proprietários. Totalizando

assim em 55 questionários respondidos.

3.3.1 Instrumento de coleta de dados

A segunda parte do instrumento dessa busca por aprofundamento no tema

declarado é composta pelas assertivas do modelo McClelland (1972),

disponibilizadas por Fonseca (2010), bem como os cálculos para somatória e

correção dos dados apurados.

O Modelo McClelland (1972) é amplamente disseminado no Brasil através de

organizações envolvidas com empreendedorismo, como o SEBRAE, e por

programas de treinamento empreendedor, como o EMPRETEC. Validado pela

Fundação Nacional de Qualidade, esse instrumento é aplicado no prêmio MPE

Brasil, sendo uma importante base para pesquisas comportamentais.

O questionário comportamental é composto 55 afirmativas, que buscam

identificar as dez CCEs descritas no modelo McClelland como busca de

oportunidade e iniciativa (BOI), persistência (PER), comprometimento (COM),

exigência de qualidade e eficiência (EQE), correr riscos calculados (CRC),

estabelecimento de metas (EDM), busca de informações(BDI), planejamento e

monitoramento sistemático (PMS), persuasão e rede de contatos (PRC), e

independência e autoconfiança (IEA).

As respostas as afirmativas aludidas respeitam uma escala de pontuação de

1 a 5 pontos, sendo 1 a menor pontuação e 5 a pontuação máxima. A escala social

utilizada nesse trabalho é a Escala de Likert, que fornece um grau crescente de

discordância a concordância com as afirmativas, em que 1 = nunca, 2 = raras vezes,

3 = algumas vezes, 4 = usualmente e 5 = sempre.

Nesse mecanismo de pesquisa existe um fator de correção, também

desenvolvido por McClelland (1972), que evita que o entrevistado pratique a

supervalorização ou manipulação das respostas para evitar resultado de “pouco

empreendedor”. Este fator serve como controle para pontuação final e é um grande

diferencial diante de outros instrumentos desenvolvidos ao longo dos anos.

Page 81: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

80

O modelo McClelland (1972) possibilita estabelecer uma comparação entre o

perfil empreendedor e o desempenho do indivíduo, uma vez que a classificação

numérica das CCEs quantifica a análise.

O valor de cada CCEs é dado pela somatória de quatro itens e diminuição de

um item que tem efeito negativo à característica, exceto na característica EQE que o

valor é dado pela somatória dos cinco itens relacionados a cada característica,

predefinidos na “Folha de Avaliação do Questionário”.

A pontuação limítrofe para o indivíduo possuir ou não cada CCEs do modelo

McClelland (1972) é de 15 pontos. As CCEs que não atingem a pontuação mínima

de 15 pontos, não entram no perfil do empreendedor e, por essa pesquisa,

interpretadas como características que precisam ser aprendidas por meio de

treinamentos ao empreendedor (quadro 21).

Quadro 21 – Classificação da pontuação das CCEs.

AUSENTE

FRACA MODERADA FORTE

≤ 14 15 - 17 18 - 20

≥ 21

FONTE: Pesquisa (2016).

A CCE com pontuação entre 15 e 17 pontos é diagnosticada pela presente

investigação como fraca e alvo de sugestão para direcionamento de programas de

treinamento, curso e capacitação, bem como para mudança comportamental, a fim

de desenvolver característica empreendedora. Já a que pontuar entre 18 e 20 é

tratada pelo presente trabalho como manifestação empreendedora moderada e

portanto satisfatória, devendo apenas ser mantida.

Caso a somatória dos itens exceda 20 pontos, é aplicado o “Fator de

Correção” relacionado a pontuação atingida, como descrito na “Folha para Corrigir

Pontuação”. O método de cálculo do valor de cada CCEs pode ser visualizado no

Anexo B. Contudo, os resultados que ultrapassam 20 pontos, mesmo após uso do

fator de correção, são vistos como fortes CCEs e devem ser exploradas pelo

empreendedor para busca pelo sucesso.

Através dessas evidências coletadas, a pesquisa identifica quais CCEs

podem diferenciar grupos de empreendedores por categorias como cargos, porte da

empresa e gênero com maiores chances de sucesso.

Page 82: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

81

A pesquisa foi realizada no período de setembro de 2015 a fevereiro de 2016.

O questionário foi enviado via e-mail com texto de abertura contendo explicação

sobre o correto preenchimento dos itens, após contato prévio com entrevistado por

redes sociais e telefonemas.

O referido instrumento atinge os objetivos da pesquisa e mostra-se adequado

a mesma, uma vez que possibilita a identificação o perfil sociodemográfico dos

farmacêuticos atuantes no setor varejista de farmácias e analise quantitativa das

características do comportamento empreendedor do entrevistado.

3.4 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

3.4.1 Variáveis analíticas

As variáveis são elementos pré definidos e extraídos da população, utilizadas

para estimar propriedades dela. O presente trabalho associa as variáveis

sociodemográficas à incidência de características de comportamento empreendedor,

segundo McClelland (1972).

Quadro 22 – Variáveis analíticas e suas respectivas representações no instrumento de pesquisa.

Variáveis de caracterização da empresa

Parte I, Questões:

1.Tipo de empresa; 2. Enquadramento tributário; 3. Data de fundação; 4. Número de funcionários

Variáveis de caracterização do pesquisado

Parte I, Questões:

5. Gênero; 6. Idade; 7. Graduação em Farmácia; 8. Ano de Conclusão da Graduação em Farmácia; 9. Tempo de trabalho no comércio varejista de farmácia; 10. Sua atuação na empresa

Variáveis de caracterização do comportamento

empreendedor

Parte II, Questões:

1, 12, 23, 34 e 45. Busca de oportun./Iniciativa;

2, 13, 24, 35 e 46. Persistência; 3, 14, 25, 36 e 47. Comprometimento;

4, 15, 26, 37 e 48. Exig. de Qual./Eficiência;

5, 16, 27, 38 e 49. Correr Riscos Calculados; 6, 17, 28, 39 e 50. Estabelecimento de metas; 7, 18, 29, 40 e 51. Busca de informações;

8, 19, 30, 41 e 52. Planej./Monit. Sistemático;

9, 20, 31, 42 e 53. Persuasão/Rede de Contatos;

10, 21, 32, 43 e 54. Independ./Autoconfiança.

FONTE: Pesquisa (2016).

Page 83: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

82

As variáveis sociodemográficas são inicialmente analisadas como informação

principal para traçar o perfil sociodemográfico dos entrevistados e posteriormente

como controle na análise da relação com as outras variáveis, as características

empreendedoras (Quadro 22).

Os critérios para escolha das variáveis são a exatidão de suas medidas, a

capacidade de diferenciar grupos com características relevantes de comportamento

empreendedor e a possibilidade de testar as hipóteses dessas diferenças.

3.4.2 Tratamento dos dados

Como tratamento dos dados, a presente pesquisa utiliza a Análise Descritiva,

definida por Spiegel (1993, p.2) como “uma parte da estatística que procura somente

descrever e analisar um certo grupo, sem tirar quaisquer conclusões ou inferências

sobre um grupo maior”.

Utilizando-se da análise descritiva, para resumir toda a série de uma variável

a um valor representativo, essa apuração usa a “média aritmética” como medida de

posição, ou localização, que é a soma das observações dividida pelo número delas

(MORETTIN; BUSSAB, 2010).

A vantagem desta medida para esse constructo é que pode-se multiplicá-la

pelo número de profissionais farmacêuticos atuantes no setor pesquisado,

registrados no Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Norte, e obter o

total de empreendedores com determinado perfil em todo Estado.

Porém, uma única medida de localização esconde toda a informação sobre a

variabilidade do conjunto observado (MORETTIN; BUSSAB, 2010).

Além disso, a “média” tem valor mais alto do que outras medidas de posição,

porque elementos com valores altos elevam a “média”, mesmo que sejam pouco

elementos. Esta é uma desvantagem da “média” para descrever o centro de uma

distribuição, quando existem valores muito altos em relação aos demais (VIEIRA,

2009).

Para comparar conjuntos diferentes de valores, esse trabalho opta também

por calcular uma medida de dispersão em torno da “média”, chamada “desvio

padrão”, que indica o grau de afastamento de um conjunto de números em relação à

sua média (DOWNING; CLARK, 2006).

Page 84: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

83

Com o resultado do tratamento dos dados, essa pesquisa realiza,

primeiramente, uma análise univariada e depois uma bivariada. A univariada permite

a análise de cada variável separadamente, e bivariada, análise de duas variáveis

que podem ou não ter relação causa/efeito estabelecida entre elas.

A análise univariada permite traçar o perfil da amostra total e de suas

fragmentações. As comparações da análise bivariada visam atender aos objetivos

específicos, em que as informações sobre características comportamentais

empreendedoras dos farmacêuticos, segmentados por cargos, porte de empresa e

gênero, além comparar o alinhamento dos perfis encontrados.

Apura-se a relação com a análise univariada e bivariada através da

distribuição de frequência das respostas das partes I e II constituintes no

questionário, detalhadas no quadro 23.

Quadro 23 – Categorias de análise e respectivos objetivos.

OBJETIVOS DA PESQUISA

QUESTÕES NO INSTRUMENTO

TÉCNICA ESTATÍSTICA

Objetivo Geral

Identificar as características do comportamento empreendedor presentes nos profissionais

farmacêuticos.

Parte II Questões 1 a 55

Estatística Descritiva, univariada.

Objetivo Específico I

Caracterizar o perfil do profissional farmacêutico através das variáveis sociodemográficas;

Parte I Questões 5 a 10.

Estatística Descritiva, univariada.

Objetivo Específico II

Comparar o comportamento empreendedor entre farmacêuticos proprietários e não

proprietários.

Parte I

Questões 10 Parte II

Questões 1 a 55

Estatística Descritiva, bivariada ou comparativa.

Objetivo Específico III Comparar a visão empreendedora de acordo

com a empresa (pequeno e médio porte);

Parte I

Questão 1 e 4 Parte II

Questões 1 a 55

Estatística Descritiva, bivariada ou comparativa.

Objetivo Específico IV Comparar o comportamento empreendedor

entre farmacêuticos de acordo com o gênero.

Parte I

Questão 5 Parte II

Questões 1 a 55

Estatística descritiva, bivariada ou comparativa.

FONTE: Pesquisa (2016).

Page 85: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

84

A análise se fundamenta em uma interpretação minuciosa da amostra total e

das categorias, baseada no material produzido pelas entrevistas e na literatura

conhecida e adotada para o estudo do tema, a fim de dar coerência aos objetivos

propostos por essa pesquisa.

Page 86: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

85

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Nesse capítulo são apresentados os resultados da pesquisa, que foram

divididos em duas etapas. Primeiramente, uma análise univariada da amostra total,

para identificar o perfil sociodemográfico e o perfil empreendedor, e correlacionar

ambos. Após fracionar a amostra em três categorias, por cargo, por porte da

empresa e por gênero, realiza análise bivariada, comparativa, entre estas

diversidades e as CCEs, uma a uma.

Os conceitos a seguir são utilizados por esse constructo com finalidade de

padronizar e organizar a análise dos resultados.

O conceito técnico para a palavra “Farmácia”10 é um estabelecimento de

manipulação de fórmulas magistrais e oficinais, de comércio de drogas,

medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, compreendendo o de

dispensação e o de atendimento privativo de unidade hospitalar ou de qualquer

outra equivalente de assistência médica; e “Drogaria” é um estabelecimento de

dispensação e comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e

correlatos em suas embalagens originais (BRASIL, 1973).

Para a classificação do porte da empresa, micro e pequena empresa, o

critério utilizado é o da organização de Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e

Pequenas Empresas (SEBRAE, 2013), quanto ao número de funcionários, no

comércio e serviços, em que até 9 funcionários trata-se de uma microempresa; de

10 a 49 funcionários, pequena empresa; de 50 a 99 funcionários, empresa de porte

médio; e acima de 100 funcionários, grande empresa (quadro 24).

Quadro 24 – Porte da empresa de acordo com número de funcionários.

MICRO

PEQUENA MÉDIA GRANDE

≤ 9 10 - 49 50 - 99

≥ 100

FONTE: Pesquisa (2016).

10

A pesquisa utiliza o conceito “Farmácia” para referenciar as organizações do comércio varejista de farmácia, unificando neste conceito as denominações farmácia de dispensação, de manipulação, comercial e comunitária.

Page 87: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

86

4.1 RESULTADOS DO PERFIL PROFISSIONAL DOS FARMACÊUTICOS

4.1.1 Perfil do comportamento empreendedor

Para avaliar a percepção dos farmacêuticos sobre as características

empreendedoras manifestadas por seu comportamento no ambiente de trabalho, o

presente constructo expõem os resultados das médias encontradas em cada CCE

da amostra total (tabela 1). Para a análise comparativa com dados encontrados na

literatura (quadros 14, 15 e 16), o presente constructo opta por elaborar a média

esperada a partir dos três trabalhos referenciados em seu estudo teórico, a fim de

obter dados baseados numa amostra mais diversificada.

Tabela 1 – Perfil do comportamento empreendedor dos farmacêuticos.

NECESSIDADE MOTIVACIONAL

CARACTERÍSTICAS EMPREENDEDORAS

MÉDIA ESPERADA

MÉDIA DESVIO- PADRÃO

Realização

BOI 20 20 1,81

PER 18 17 1,83

COM 21 20 2,71

EQE 18 24 2,43

CRC 15 17 2,64

Poder

EDM 14 16 2,01

BDI 16 17 2,03

PMS 17 16 2,22

Afiliação PRC 15 16 1,76

IEA 16 16 2,28

FONTE: Elaborada a partir de dados da Pesquisa (2016); Fonseca (2010); Câmara; Andalécio (2012); Sarturi; Gomes Filho; Moreira (2013).

Com a análise univariada das médias coletadas pela presente pesquisa

imediatamente conclui que os farmacêuticos possuem comportamento

empreendedor em todas as características propostas no modelo McClelland (1972),

pois superam a pontuação limítrofe para presença ou ausência de manifestações

comportamentais empreendedoras.

Constata-se também pontuação forte Exigência de Qualidade e Eficiência

(24), pontuações moderadas nos itens de Busca de Oportunidade e Iniciativa (20),

Comprometimento (20) e menores pontuações, fracas mas não ausentes, nas

Page 88: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

87

características Persistência, Correr Risco Calculado e Busca de Informação (17),

Estabelecimento de Metas, Planejamento e Monitoramento Sistemático, Persuasão

e Rede de Contatos e Independência e Autoconfiança (16).

Quando comparados os dados coletados com os trabalhos anteriormente

referenciados, e de forma isolada, observa-se grande avança na classe farmacêutica

no que diz respeito a não mais apresentar ausência de comportamento

empreendedor em PER e EQE (CÂMARA; ANDALÉCIO, 2012), bem como em CRC,

EDM, PRC e IEA (SARTURI; GOMES FILHO; MOREIRA, 2013). Porém, com base

na média esperada, a presente consulta mostra superação de resultado apenas em

Estabelecimento de Metas, pois ultrapassa a linha limítrofe com distanciamento

significativo de dois pontos da média esperada.

A média esperada manteve-se em sete das dez características

comportamentais analisadas. Contudo, apresenta diferença significativa em

Exigência de Qualidade e Eficiência, Correr Risco Calculado e Estabelecimento de

Metas, superando a média esperada em todas.

4.1.2 Perfil sociodemográfico

Quanto a traçar o perfil sociodemográfico dos farmacêuticos entrevistados,

realiza-se análise descritiva univariada das questões denotadas na primeira parte do

questionário sobre as características individuais dos farmacêuticos entrevistados,

consolidadas na Tabela 2.

Nos três trabalhos anteriormente referenciados, de Fonseca (2010), Câmara e

Andalécio (2012) e Sarturi, Gomes Filho e Moreira (2013), observa-se a

predominância do gênero feminino na área farmacêutica, mas apenas Câmara e

Andalécio (2012) utilizam outras variáveis semelhantes as usadas pelo presente

constructo, como faixa etária, nível de formação, cargo assumido e tipo de atividade

comercial da organização. Por isso os dados sociodemográficos apresentados por

Câmara e Andalécio (2012) servem para o propósito da presente pesquisa como

“característica esperada” (tabela 2).

Como resultado das características individuais tem-se 62% dos entrevistados

são gênero feminino e 38% do masculino; 51% têm entre 21-28 anos de idade, 40%

entre 29-36 anos e 9% têm mais de 37 anos, sendo a idade média dos entrevistados

de 30 anos.

Page 89: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

88

Tabela 2 – Perfil sociodemográfico.

VARIÁVEIS

CARACTERÍSTICA ESPERADA

PREDOMINÂNCIA

Gênero

Feminino Feminino (62%)

Idade

Média 29 anos 21 a 28 anos (51%)

Local de Formação Acadêmica

- UFRN (71%)

Ano de Conclusão de

Graduação

- Após 2010 (56%)

Tempo de atuação no ramo

-

Com até 5 anos de atuação no ramo (64%)

Cargo de Atuação na empresa

Responsável Técnico não Gerente

Responsável Técnico não Gerente (85%)

Atividade da empresa

Drogarias Drogarias (87%)

Porte da empresa

- Grande (53%)

FONTE: Elaborada a partir de dados da Pesquisa (2016); Câmara; Andalécio (2012).

Por tratar-se de um grupo de farmacêuticos todos têm curso superior

completo, sendo 71% dos entrevistados formados pela universidade federal (UFRN),

20% pela Universidade Potiguar (UnP), universidade particular, e apenas 9% por

outras universidades.

Quanto ao período desde a formatura, numa escala de a cada 6 anos, em que

o primeiro período da escala é até 2003, há representatividade de 11%, o segundo

período abrange 2004 a 2010 e ocupa 33% dessa fração, e o último período

analisado engloba todos os demais anos, acima e igual a 2011, com a maioria de

participação na amostra, 56%.

Sobre o vínculo com a empresa, 15% dos farmacêuticos são proprietários e

85% responsáveis técnicos, destes 30% exercem atividade adicional de gerência.

As empresas analisadas estão distribuídas em farmácias de dispensação

(drogarias), com maioria significativa de 87%, e farmácias de manipulação

(magistrais), com 13% de representação.

Page 90: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

89

Segundo a classificação por porte, as organizações de grande porte

representam 53% da amostra total, 31% de microempresas, 11% de pequenas

empresas e apenas 5% empresas de médio porte.

4.1.3 Necessidades motivacionais de acordo com variáveis

sociodemográficas

A presente consulta faz uma análise exploratória ao relacionar as médias das

necessidades motivacionais de realização, poder e afiliação às variáveis

sociodemográficas. Observa-se que com a segmentação das variáveis

sociodemográficas há grande similaridade entre as frações dessas variáveis, quando

apresentam pontos inferiores a 15 pontos, como pelas médias decrescentes

seguirem mesma ordem, Realização, Poder e Afiliação (Tabela 3).

Curiosamente, e vale ressaltar, como mostra a Tabela 3, as maiores notas

atingidas pelas necessidades motivacionais de Realização e Poder pertencem a

variável “Local de Formação” (subgrupo “Outras universidades”), com respectivos

pontos de 21 e 18. Já a maior média por necessidade motivacional de Afiliação está

empatada pelas variáveis de “Idade” (subgrupo “Acima de 37 anos”) e de “Período

de Formação” (subgrupo “período até 2003”), ambas com médias iguais a 18 pontos.

Sugere-se para futuros trabalhos analisar os motivos de haver diferenças

significativas entre os ensinamentos dados por universidades sobre as necessidades

de realização, poder e afiliação, disparidades evidenciadas nos itens: “Local de

formação” e “período de formação do curso de graduação”.

Page 91: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

90

Tabela 3 – Necessidades motivacionais de acordo com variáveis sociodemográficas

CCE N MÉDIA DESVIO

PADRÃO

REALIZAÇÃO

Idade (Anos)

21 - 28 anos 28 20 2,75

29 - 36 anos 22 19 3,37

37 - 43 anos 5 19 3,04

Faculdade

UFRN 39 19 2,81

UnP 11 20 4,02

Outras 5 21 2,62

Formação (Período)

1998 – 2003 31 20 2,83

2004 – 2010 18 19 3,30

2010 – 2016 6 19 3,31

Tempo de Atuação no Ramo (Anos)

1 - 5 anos 35 20 2,79

6 - 10 anos 13 19 3,38

Acima de 11 anos 7 19 3,42

PODER

Idade (Anos)

21 - 28 anos 28 16 0,64

29 - 36 anos 22 16 0,84

37 - 43 anos 5 16 0,70

Faculdade

UFRN 39 16 0,38

UnP 11 16 1,64

Outras 5 18 0,23

Formação (Período)

1998 – 2003 31 16 0,76

2004 – 2010 18 16 0,59

2011 – 2016 6 16 0,25

Tempo de Atuação no Ramo (Anos)

1 - 5 anos 35 16 0,74

6 - 10 anos 13 16 0,76

Acima de 11 anos 7 16 1,07

AFILIAÇÃO

Idade (Anos)

21 - 28 anos 28 16 0,10

29 - 36 anos 22 16 0,39

37 - 43 anos 5 18 0,57

Faculdade

UFRN 39 16 0,02

UnP 11 16 0,84

Outras 5 16 0,00

Formação (Período)

1998 – 2003 31 16 0,02

2004 – 2010 18 16 0,35

2011 – 2016 6 18 0,47

Tempo de Atuação no Ramo (Anos)

1 - 5 anos 35 16 0,08

6 - 10 anos 13 17 0,27

Acima de 11 anos 7 16 0,30

FONTE: Pesquisa (2016).

4.2 RESULTADOS POR CATEGORIA DE CARGO

Os estudos relacionados estratificam a amostra de acordo com o cargo, com

objetivos variados, como comparar as CCEs farmacêuticos empreendedores, isto é,

proprietários de sua própria farmácia, com intraempreendedores, gestores ou

estudantes.

A representação de farmacêutico funcionário responsável técnico (FRT),

reconhecido por essa apuração como intraempreendedor, apresenta expressiva

Page 92: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

91

superioridade na amostra total, por isso seu perfil sociodemográfico é igual ao da

amostra total. Logo, essa apuração opta fazer do FRT o grupo alvo para

comparação com os demais cargos, farmacêutico gerente (FG) e farmacêutico

proprietário (FP), dos quais se esperam maiores médias por estarem exercendo

atividades diretas de administração.

O perfil sociodemográfico do FRT apresenta faixa etária média de 28 anos,

predominância no cargo por mulheres, formadas a menos de 5 anos, pela UFRN e

com pouco tempo de atuação no ramo, menos de 5 anos. As grandes empresas

detém a maior concentração de FRT (Tabela 4).

Tabela 4 – Perfil sociodemográfico por cargos.

CARACTERÍSITCAS INDIVIDUAIS

FP FG FRT

Gênero

MASC (63%)

FEM (64%)

FEM (67%)

Idade

29 – 36 anos

(75%)

29 – 36 anos (50%)

21 – 28 anos (64%)

Local de Formação Acadêmica

UnP e UFRN

(50%)

UFRN (57%)

UFRN (82%)

Ano de Conclusão de Graduação 2004 – 2010

(63%)

2004 – 2010 e

Após 2010 (43%)

Após 2010 (67%)

Tempo de atuação no ramo

Menos de 5 anos

e 6 – 10 anos (38%)

Menos de 5 anos (50%)

Menos de 5 anos (76%)

Porte da empresa

MICRO (88%)

GRANDE (64%)

GRANDE (61%)

FONTE: Pesquisa (2016).

O grupo FG assemelham-se ao FRT por ter maioria de mulheres no cargo e

por estas estarem empregadas predominantemente em grandes empresas. Porém,

a pesquisa aponta que as empresas preferem pessoas mais velhas e formadas há

mais tempo para delegar a gerência de suas organizações (Tabela 4), o que é

Page 93: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

92

esperado, pois pressupõe que com mais tempo de experiência o indivíduo possua

mais conhecimento no ramo e com mais idade espera-se maior maturidade e

responsabilidade para o qual o cargo exige. Destaca-se a parcela significativa de

homens como empreendedores de seu próprio negócio, no caso desse constructo,

uma microempresa.

Segundo Pais (2014), é enorme foco nas pessoas e não nas tarefas que

tornam as mulheres líderes mais eficientes, paralelamente gerentes com maior

aptidão para o cargo. E que existem estereótipos que podem conduzir os indivíduos

a criar negócios que se identificam com seu gênero, além de haver dificuldades

impostas pelo meio de forma distinta para cada gênero, como dificuldades para as

mulheres conseguirem financiamentos, bem como diferenças nos pensamentos

vivenciados no início da carreira empreendedora, para mulheres o medo de não

conseguir e a queixa de que existe muita burocracia, e para os homens a obstinação

para fazer tudo para ter sucesso e tentar se manter constantemente motivado.

4.2.1 Alinhamento entre farmacêuticos proprietários, gerentes e responsáveis

técnicos

A tabela 5 contém a análise comparativa entre os três grupos da categoria por

cargo. esse trabalho apresenta os resultados das pontuações das CCEs muito

próximos daqueles encontrados no resultado geral, tanto por não apresentarem

pontuações inferiores a 15 pontos, quanto por apresentarem pontuações médias

com mesma ordem crescente nas Necessidades Motivacionais, sendo a mais baixa

em Afiliação, seguida de Poder e de Realização.

De um modo geral, os três grupos apresentam semelhanças nos resultados,

no que se refere a análise isolada de cada CCE. Dentro dessa similaridade, além de

todos os cargos apresentarem médias significativamente altas na característica

EQE, sendo FRT e FG com 24 pontos e FP, com 25 pontos, eles possuem forte

alinhamento nas características de BOI (20) e de BDI (17).

As diferenças mais pontuais dos grupos estão na característica PMS e EDM.

Sendo a distinção com a EDM manifestada na análise isolada do grupo FG, em que

apresenta pontuação limítrofe (15). Já a disparidade na PMS é estatisticamente

significativa entre os grupos FP (15) e FG (17), na análise comparativa.

Page 94: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

93

Tabela 5 – Médias e desvios padrão das CCEs por cargo.

CCE

N MÉDIA Desvio-Padrão

BOI

FP 8 20 1,28

FG 14 20 1,89

FRT 33 20 2,14

PER

FP 8 16 1,98

FG 14 17 1,54

FRT 33 17 2,05

COM

FP 8 20 2,30

FG 14 20 2,26

FRT 33 19 3,27

EQE

FP 8 25 2,43

FG 14 24 2,82

FRT 33 24 2,45

CRC

FP 8 16 1,39

FG 14 16 2,94

FRT 33 17 2,83

EDM

FP 8 16 1,41

FG 14 15 2,48

FRT 33 16 2,05

BDI

FP 8 17 1,98

FG 14 17 2,38

FRT 33 17 2,09

PMS

FP 8 15 2,56

FG 14 17 1,86

FRT 33 16 2,45

PRC

FP 8 16 1,36

FG 14 17 1,55

FRT 33 16 2,13

IEA

FP 8 17 1,69

FG 14 17 1,72

FRT 33 16 2,87

FONTE: Pesquisa (2016).

Vale ressaltar que as duas pontuações limítrofes, anteriormente expostas, são

as únicas contidas na tabela 5, as demais estão acima do patamar.

Em comparação com o trabalho de Fonseca (2010), há a semelhança no

alinhamento entre FRT e FP de duas características (BOI e BDI). Uma diferença

entre essa pesquisa e a de Fonseca (2010) que se destaca é o fato da característica

EDM ser a única a estar no limite (15) e acometer apenas FG, na presente consulta.

Enquanto na pesquisa de Fonseca (2010) está exposta como a terceira CCEs mais

forte. Dado relevante e extrema importância para avaliação de um bom gerente,

principalmente na área farmacêutica, que por lidar com a saúde das pessoas é

essencial à precisão na realização de suas tarefas.

Page 95: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

94

Nessa consulta, quando comparadas as médias das CCEs dos

empreendedores (FP) e dos intraempreendedores (FG e FRT), não há escore médio

diferente entre ambos. Logo, não há relevância para análise de uma subcategoria.

A pesquisa leva em consideração a superioridade quantitativa do grupo FRT

em relação à somatória dos demais grupos, FP e FG.

Na análise de Câmara e Andalécio (2012), o foco é o grupo FRT e este

denota muitas disparidades com o FRT da presente apuração. No que se refere a

alinhamento, a primeira mostra uma diferença significativa entre FRT e FP na

característica BOI, enquanto na segunda consulta esta é uma CCEs fortemente

alinhada entre FRT, FG e FP.

Outra importante distinção entre os dois constructos é que o de Câmara e

Andalécio (2012) expõem ausência de duas CCEs no cargo FRT, a EQE e a PER, e

vale ressaltar que a primeira característica citada tem a mais alta média, no presente

trabalho.

Espera-se que farmacêuticos proprietários sejam empreendedores. Porém, o

estudo de Sarturi, Gomes Filho e Moreira (2013) traz resultados alarmantes ao expor

ausência de quatro CCEs no grupo, CRC, EDM, IEA e PRC. Apesar destas

características terem médias baixas, na presente apuração, estão todas no patamar

(16 a 17), logo comportamentos empreendedores presentes no grupo FP.

Em contrapartida, a única característica alinhada entre FP e estudantes na

pesquisa de Sarturi, Gomes Filho e Moreira (2013), a PMS, a presente investigação

informa que esta está no limítrofe para sua ausência no perfil empreendedor desse

grupo.

4.3 RESULTADOS POR CATEGORIA DE PORTE

O intuito em analisar uma amostra por categoria de porte da empresa está em

conhecer a força de sua influência sobre o desenvolvimento de comportamentos

empreendedores. As organizações podem influenciar nos resultados obtidos por

seus funcionários através dos critérios de seleção da equipe e profissionais

especializados, bem como por treinamentos e aprimoramentos proporcionados na

área de empreendedorismo.

Diante da tabela 6, tem-se o grupo das Grandes empresas (GRANDE) o com

maior representatividade, por isso suas características sociodemográficas são

Page 96: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

95

iguais, com maioria de farmacêuticas mulheres, com faixa etária média de 30 anos,

formadas pela UFRN há menos de 5 anos, com pouco tempo de atuação na área,

menos que 5 anos, e que ocupam em sua maioria cargos de FRT.

TABELA 6 – Perfil sociodemográfico por porte da empresa.

CARACTERÍSITCAS

INDIVIDUAIS

MICRO PEQUENA MÉDIO GRANDE

Gênero FEM (65%)

MASC (67%)

FEM (67%)

FEM (66%)

Idade 21 – 28 anos e 29 – 36 anos

(47%)

21 – 28 anos (50%)

21 – 28 anos (100%)

21 – 28 anos (48%)

Local de Formação Acadêmica

UFRN (53%)

UFRN (67%)

UFRN (100%)

UFRN (79%)

Ano de Conclusão de Graduação

Após 2010 (59%)

Após 2010 (50%)

Após 2010 (100%)

Após 2010 (54%)

Tempo de atuação no ramo

Menos de 5 anos (59%)

Menos de 5 anos (83%)

Menos de 5 anos

(100%)

Menos de 5 anos (59%)

Cargo FRT

(47%) FRT

(50%) FRT

(67%) FRT

(69%)

FONTE: Pesquisa (2016).

Com esta igualdade de dados, esse constructo opta pelo grupo GRANDE

como grupo alvo para comparação com os demais, farmacêuticos que atuam em

micro empresas (MICRO), em pequenas empresas (PEQUENA) e em empresas de

porte médio (MÉDIO).

Com essa comparação, no que se refere ao perfil sociodemográfico, as

semelhanças são muitas entre os grupos alegados. Na verdade, a única diferença é

a predominância de homens atuantes nas PEQUENAS.

A quantidade de novos empreendimentos é cada vez maior e a fração do

Produto Nacional Bruto (PNB) atribuído ao setor de pequenos negócios vem

crescendo em todos os países ano após ano.

Em estudo realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas

Empresas, SEBRAE, foi constatado que o número de microempresas, no período

entre 2009 e 2012, teve crescimento de 25,2%; no mesmo período, as empresas de

pequeno porte totalizaram uma elevação de 43,1%, superando a taxa de

crescimento de grandes empresas e empresas de porte médio, de 31,2% (SEBRAE,

2014).

Page 97: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

96

E de acordo com pesquisa realizada pelo instituto IMS Distribution Studies, as

farmácias gerenciadas pelas grandes redes detêm 61% do volume total de

faturamento do mercado em quatro anos, apesar de não superarem em pontos de

vendas as microempresas e pequenas empresas.

A amostra dessa pesquisa foge da representação predominante nas

estatísticas nacionais, em microempresas e pequenas empresas. Através desse

trabalho, a constatação de que a maioria das empresas é composta por

microempresas e empresas de grande porte levanta a reflexão para futuras análises

sobre o motivo da alteração dessa proporção. Se houve muitos fechamentos de

pequenas farmácias nos últimos anos, se houve mudança no ambiente Estadual

e/ou nacional que provocasse alegada alteração, ou se é uma característica pontual

do Estado do Rio Grande do Norte?

A pesquisa leva em consideração a escassa quantidade de pontos de vendas

classificados como de pequeno e de médio porte. Prioriza por fazer apenas a análise

comparativa entre os grupos MICRO e GRANDE.

4.3.1 Organizações desenvolvedoras de comportamento empreendedor

Na análise individual, ambos mostram semelhança entre eles, bem como com

a categoria analisada anteriormente nesse constructo, no que se refere a não haver

pontuações inferiores a 15 pontos, ausência de comportamento empreendedor, e na

ordem crescente da média das Necessidades Motivacionais. Porém, vale ressaltar

que há um maior distanciamento entre Realização (20) e Poder (16), passando, este

último, ao mesmo patamar de Afiliação (16).

A tabela 7 apresenta semelhanças a Tabela 5, como as maiores pontuações,

tanto no grupo GRANDE quanto no MICRO, continuarem presentes na característica

EQE, respectivamente 24 e 25 pontos. E que os grupos dessa categoria mostrarem

forte alinhamento nas mesmas duas características mencionadas na Tabela 5, BOI

(20) e BDI (17). Adicionalmente, essa categoria apresenta força para mais um

alinhamento, na característica PRC (16).

Page 98: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

97

Tabela 7 – Médias e desvios padrão das CCEs por porte da empresa.

CCE N MÉDIA DESVIO PADRÃO

BOI GRANDE 29 20 1,97

MICRO 17 20 1,52

PER GRANDE 29 17 1,57

MICRO 17 18 2,24

COM GRANDE 29 19 2,81

MICRO 17 20 2,83

EQE GRANDE 29 24 2,16

MICRO 17 25 2,95

CRC GRANDE 29 17 2,98

MICRO 17 16 2,26

EDM GRANDE 29 15 2,19

MICRO 17 16 1,49

BDI GRANDE 29 17 2,15

MICRO 17 17 1,91

PMS GRANDE 29 16 1,90

MICRO 17 15 2,32

PRC GRANDE 29 16 1,21

MICRO 17 16 2,23

IAC GRANDE 29 16 2,49

MICRO 17 17 2,03

FONTE: Pesquisa (2016).

Além disso, as mesmas duas características, identificadas anteriormente na

categoria por cargo como limítrofes para presença de comportamento

empreendedor, apresentam mesmo comportamento na categoria por porte. Sendo

no grupo GRANDE limítrofe na EDM e no MICRO, na PMS.

Apesar desses dois grupos da categoria de porte não apresentar diferenças

significativas em suas médias, têm dispersão em muitos conjuntos de CCEs. Essa

dispersão pode ser visualizada nas características BOI, PER, EDM e PRC, o que

implica num afastamento dos valores dos dados de suas médias (desvio padrão

superior a 1,90) ou grande proximidade (valor de desvio padrão inferior a 1,51).

De acordo com Roncoletta (2011) existe fatores organizacionais internos nas

microempresas que estimulam comportamentos empreendedores de gestores e

funcionários para o desenvolvimento de uma cultura intraempreendedora.

De fato, são problemas enfrentados organizações no ramo farmacêutico de

um modo geral, o encolhimento das margens de lucro e a necessidade de diminuir

custos, bem como manter e aumentar a participação de mercado, sendo

proporcionalmente mais pesados, com difíceis soluções, para as microempresas.

Page 99: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

98

4.4 RESULTADOS POR CATEGORIA DE GÊNERO

Segundo a literatura utilizada pelo presente constructo, cada gênero referido

possui característica e atitudes díspares, fruto do contexto empresarial, social e

cultural em que se inserem.

Tabela 8 – Perfil sociodemográfico por gênero.

CARACTERÍSITCAS INDIVIDUAIS FEM MASC

Cargo FRT

(65%) FRT

(52%)

Idade 21 – 28 anos e

(50%)

21 – 28 anos e 29 – 36 anos

(48%)

Local de Formação Acadêmica UFRN (76%)

UFRN (67%)

Ano de Conclusão de Graduação Após 2010

(53%) Após 2010

(62%)

Tempo de atuação no ramo Menos de 5 anos

(59%) Menos de 5 anos

(71%)

Porte da Empresa GRANDE

(56%) GRANDE

(48%)

FONTE: Pesquisa (2016).

Segundo Pais (2014), homens empreendem mais, isto é abrem suas próprias

empresas e, atualmente, tem-se um aumento no número de mulheres em funções

de elevada responsabilidade, como é o casa da gerência das farmácias.

No que diz respeito ao perfil sociodemográfico na categoria por gênero da

presente consulta, ambos os gêneros apresentam iguais variáveis, o que condize

com os resultados da amostra total. Tanto homens como mulheres atuam de forma

predominante como responsáveis técnicos em farmácias de grande porte, e são

formados pela UFRN há menos de cinco anos, com pouco tempo de atuação no

mercado farmacêutico, também inferior a cinco anos (Tabela 8).

4.4.1 Semelhanças e disparidades entre os gêneros

A separação por gênero não distancia os resultados já relatados na amostra

geral, no que diz respeito a não haver pontuação inferior a 15 pontos em qualquer

CCEs, isto é, os gêneros apresentam todas as dez manifestações comportamentais

proposta por McClelland (1972), além de se repetir a ordem crescente das médias

das Necessidades Motivacionais, sendo a de Afiliação (16) a menor, e idêntica às

Page 100: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

99

categorias anteriormente mencionadas, também, seguida por Poder (17) e depois,

com maior distanciamento, por Realização (20).

Apesar das grandes semelhanças com a amostra total, ao separar os gêneros

constate-se significativas distinções das demais partições já analisadas, como

demonstra a Tabela 9. Primeiramente, essa categoria foi a que apresentou mais

CCEs com alinhamentos fortes, a BOI (20), a PER (17), a COM (20) e PMS (16). E a

característica EQE (24) que além de estar fortemente alinhada também apresenta

maior pontuação, como acontece nas categorias cargo e porte, assim como na

amostra total.

Uma diferença estatística significativa aparece somente nessa categoria, na

BDI, feminino (16) e masculino (18). Vale ressaltar que as características

mencionadas apresentam forte alinhamento entre os grupos das categorias cargo e

porte, bem como com a amostra total.

A outra distinção que essa categoria mostra, frente às demais, é que há

redução das manifestações de características na linha limite. Nessa exposta

situação, apenas a EDM (15) apresenta pontuação limítrofe no grupo masculino.

Tabela 9 – Médias e desvios padrão das CCEs por gênero.

CCE N MÉDIA DESVIO

PADRÃO

BOI FEM 34 20 1,96

MASC 21 20 1,52

PER FEM 34 17 1,79

MASC 21 17 1,93

COM FEM 34 20 2,42

MASC 21 20 3,16

EQE FEM 34 24 2,44

MASC 21 24 2,48

CRC FEM 34 16 2,70

MASC 21 17 2,59

EDM FEM 34 16 1,88

MASC 21 15 2,19

BDI FEM 34 16 1,64

MASC 21 18 2,42

PMS FEM 34 16 2,02

MASC 21 16 2,56

PRC FEM 34 17 1,60

MASC 21 16 1,90

IAC FEM 34 16 2,14

MASC 21 17 2,51

FONTE: Pesquisa (2016).

Page 101: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

100

Na análise comparativa das demais CCEs não há diferenças nos escores

médios. Essa consulta leva em consideração que na amostra total há um número

significativamente superior de mulheres (62%).

Os resultados nessa apuração corroboram com as conclusões de Pais (2014),

em que o gênero feminino apresenta características pessoais muito emocionais e o

fato de confiarem demais nas pessoas como pontos negativos, e pontos para o

sucesso como persistência, dedicação e positividade.

Com os homens, de acordo com Pais (2014), há diferença quanto ao espírito

aventureiro, o gosto para aprender novas coisas e a frontalidade com a verdade e

eficiência, apesar de afirmarem em sua maioria ter pouca experiência.

Page 102: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

101

CONCLUSÕES

Resultados obtidos a partir de uma amostra com 55 farmacêuticos, escolhidos

de forma aleatória e entrevistados de acordo com a acessibilidade. O e modelo

teórico está consolidado pela literatura desde 1970 e ainda detém relevância para

estudo do comportamento empreendedor.

A pesquisa propicia a percepção de uma sutil mudança no perfil

empreendedor dos farmacêuticos ao comprovar quantitativamente a presença de

todas as características comportamentais de empreendedores nos entrevistados,

distanciando-se significativamente dos resultados encontrados na literatura, que por

sua vez apresentam ausência de comportamento empreendedor em algumas

características analisadas.

As altas médias encontradas nas características relacionadas a necessidade

de realização, tanto na amostra total como nas categorias por porte, cargo e gênero,

remete a capacidade acentuada do profissional farmacêutico em empreender,

procurando por tarefas desafiadoras para manter uma contínua melhora de

desempenho. Além disso, vale destacar uma importante característica

comportamental para o ramo farmacêutico, a “Exigência de Qualidade e Eficiência”,

pois esta é a principal responsável por garantir a segurança da vida dos

consumidores no ato de prescrição e dispensação farmacêutica. No presente

trabalho, essa característica não apenas supera as médias encontradas na

literatura, como representa uma das mais fortes pontuações entre as dez

características analisadas.

Pontuações moderadas nas características envolvidas com a “necessidade de

poder” podem indicar um perfil profissional com desejo de ter influência e controle

sobre outras pessoas e atingir cargos de liderança, mas correndo baixos riscos. E,

em contrapartida, as médias fracas em manifestações de desejo de estar próximo a

outras pessoas, isto é, “necessidade de afiliação”, expõem um profissional com

capacidade de trabalhar em equipe pouco desenvolvida e com maior foco em tarefas

e produtos, centralizando esforços.

O perfil sociodemográfico dos farmacêuticos apresenta predominância no

gênero feminino, faixa etária entre 21 e 28 anos, graduados na UFRN, com menos

de 6 anos de formação, menos de 5 anos de atuação no setor, responsáveis

técnicos em drogarias de grande porte, sem adicional de gerente.

Page 103: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

102

A presença de forte alinhamento entre os cargos de farmacêutico proprietário

e farmacêutico gerente sugere a mesma exposição de atividades empreendedoras

para ambos, bem como pressupor que foram submetidos a níveis de capacitação

idênticos. Apenas a disparidade na característica comportamental de planejamento e

monitoramento sistemático mostra a necessidade do grupo farmacêutico proprietário

estar melhor preparado do que os farmacêuticos gerentes. Isso sugere para

avaliações futuros a investigação sobre a forma de comunicação e delegação de

tomada de decisões fornecidas pelas organizações aos seus gestores.

Como não há ocorrência de diferenças significativas entre os grupos da

categoria porte da empresa, pressupõe-se que tanto as microempresas como as

grandes empresas prestam mesmo nível de treinamento, capacitação e cursos para

desenvolvimento empreendedor de seus funcionários.

Apesar de haver na literatura muitos dados sobre as diferenças enfrentadas

por homens e mulheres no intraempreendedorismo, as características

comportamentais desses dois grupos da categoria gênero apresentam grandes

semelhanças. A única diferença detectada está na característica de busca de

informação, menor nas mulheres do que nos homens. Essa diferença pode ser

perfeitamente explicada pela literatura, uma vez que os homens gostam mais de

aprender coisas novas e sentem que a falta de experiência é um grande limitador

para que empreendam, enquanto as mulheres sentem-se capazes de realizar as

tarefas, tendo apenas medo de não atingir o melhor resultado. Por isso apresentam-

se em maior número nos cargos de gerência da presente pesquisa. Porém, devido

aos homens se sentirem mais aventureiros e prontos para arriscar, o presente

trabalho apresenta dominância do gênero masculino nos cargos de proprietários.

De maneira geral, é possível verificar que cada característica comportamental

analisada possui uma contribuição intrínseca relevante para valorização do

farmacêutico no setor varejista de farmácia. Por exemplo, a excelência em:

encontrar maneiras de fazer coisas de um jeito melhor, mais rápido ou mais

econômico; agir de maneira a fazer coisas que satisfaçam ou excedam as

expectativas; desenvolver ou utilizar procedimentos para assegurar que o trabalho

seja terminado a tempo, ou que atenda aos padrões de qualidade previamente

combinados são comportamentos que abrem perspectivas para que os

farmacêuticos se relacionem melhor com seus gestores e, por consequência,

aumentem sua produtividade obtendo ganhos para si e para empresa.

Page 104: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

103

Dessa forma conclui-se que as farmácias precisam ficar atentas ao ambiente

de trabalho, analisar as atitudes e comportamentos dos farmacêuticos, como fatores

impulsionadores de competitividade. Essa pesquisa não tem um fim em si mesma,

mas seus resultados impulsionaram contribuições relevantes, sobre tudo, para

valorização do profissional farmacêutico.

A pesquisa apresentou algumas limitações. Vários farmacêuticos mostraram-

se interessados na pesquisa, mas não aderiram ao preenchimento e envio do

questionário. Isso acarretou um baixo retorno do instrumento, se comparado com a

quantidade de questionários enviados para os contatos individuais e para

distribuição auxiliada por supervisores em grandes empresas.

Os resultados obtidos serão úteis à classe farmacêutica do ramo varejista de

farmácia para identificar as características que precisarão ser desenvolvidas, além

das mudanças comportamentais que precisarão favorecer. E com isso direcionar o

CRF, órgão responsável por identificar as necessidades de seus associados e

mantê-los atualizados e preparados para atuação no novo mercado, para escolha de

temas para cursos, treinamentos e formações específicas para aprendizagem e

mudança comportamental.

Como sugestões para futuras pesquisas, acredita-se que o aprofundamento

na análise das características comportamentais empreendedoras em amostras

estratificadas por gênero poderiam propiciar novos conhecimentos setorizados.

Também, abre-se a perspectiva de separar grupos de farmacêuticos e seus

supervisores diretos para que se analisem diferentes visões sobre comportamento

empreendedor. O fato de existir esse avanço nos resultados, juntamente com a

informação de que ainda existem disparidades significativas entre subgrupos de

variáveis sociodemográficas relacionadas ao local de formação, sugere para futuras

investigações as modificações realizadas na capacitação profissional dos

farmacêuticos realizadas pelas universidades nos últimos 6 anos. Além disso,

acredita-se que o aprofundamento na análise sobre como as CCEs estão sendo

exploradas nas atribuições dos farmacêuticos nas farmácias poderia revelar outros

ganhos para consolidação do conhecimento.

Page 105: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

104

REFERÊNCIAS

ANDREASSI, T. et al. Global Entrepreneurship Monitor: empreendedorismo no Brasil. Curitiba: IBQP, 2014. Disponivel em: <http://www.ibqp.org.br/upload/tiny_mce/Download/Empreendedorismo_no_Brasil_-_GEM_Global_Entrepreneurship_Monitor_2014.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2015.

ANTONIOLI, R. M. Atitude empreendedora no interior das organizações: uma análise comparativa entre pessoas que participaram e não participaram do programa de gestão de proscesos da Algar (Dissertação). Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2007. Disponivel em: <http://hdl.handle.net/123456789/2961>. Acesso em: 01 maio 2016.

BARROS, J. A. C. D. Políticas Farmacêuticas: a serviço dos interesses da saúde? 1. ed. Brasília: UNESCO, 2004.

BLESSA, R. Merchandising farma: a farmácia do futuro. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2008.

BRANCHER, I. B.; OLIVEIRA, E. M. D.; RONCON, A. Comportamento empreendedor: estudo bibliométrico da produção nacional e a influência de referencial teórico internacional. Revista Eletrônica de Negócios Internacionais da ESPM, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 166-193, jan./jun. 2012. Disponivel em: <http://internext.espm.br/index.php/internext/article/view/136/132>. Acesso em: 5 maio 2016.

BRASIL. Lei nº 5.991, de 17/12/1973. Brasília: Presidência da República, 1973. Disponivel em: <http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=97851&norma=122030>. Acesso em: 10 set. 2014.

BRASIL. Diretrizes para estruturação de farmácias no âmbito do Sistema Único de Saúde. Ministério da Saúde, Brasília, 2009. Disponivel em: <http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=435&Itemid=>. Acesso em: 14 maio 2015.

BRASIL. "MPT-RN combate desvio de função de farmacêuticos". JusBrasil, 2011. Disponivel em: <http://mpt-prt22.jusbrasil.com.br/noticias/2762835/mpt-rn-combate-desvio-de-funcao-de-farmaceuticos>. Acesso em: 17 jun. 2015.

BRASIL. Lei nº 13.021, 08/08/2014. Brasília: Presidência da República, 2014a. Disponivel em: <http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=1000&pagina=1&data=11/08/2014>. Acesso em: 10 set. 2014.

BRASIL. Medida Provisória nº 653, de 08/08/2014. Brasília: Presidência da República, 2014b. Disponivel em: <http://www.jusbrasil.com.br/diarios/81484227/dosp-executivo-caderno-1-03-12-2014-pg-72?ref=topic_feed>. Acesso em: 10 set. 2014.

BUENO, F. D. S. Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. São Paulo: FTD, 2007.

Page 106: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

105

BURRELL, G.; MORGAN, G. Sociological paradigms and organisationa lanalysis: elements of the sociology of corporate life. London: Ashgale Publishing Company, 1979. Disponivel em: <http://sonify.psych.gatech.edu/~ben/references/burrell_sociological_paradigms_and_organisational_analysis.pdf>. Acesso em: 5 maio 2015.

CÂMARA, E. C.; ANDALÉCIO, A. M. L. Características Empreendedoras: um estudo de caso com farmacêuticos utilizando o modelo de McClelland. Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas - REGEPE, Belo Horizonte, v. 1, n. 3, p. 64 - 77, 2012. Disponivel em: <http://regepe.org.br/index.php/regepe/article/view/32>. Acesso em: 29 abr. 2015.

CAMARGO, D. D.; CUNHA, S. K. D.; BULGACOV, Y. L. M. A psicologia de McClelland e a economia de Schumpeter no campo do empreendedorismo. Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. 10, n. 17, p. 111-120, janeiro 2008. Disponivel em: <http://revistas.unifacs.br/index.php/rde/article/view/1032/810>. Acesso em: 03 abr. 2015.

CARBONE, P. P. et al. Gestão por competência e getão por conhecimento. 3. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2009. Disponivel em: <http://www.aedmoodle.ufpa.br/pluginfile.php?file=%2F190976%2Fmod_forum%2Fattachment%2F308966%2FCarbone%2C%20Brandao%2C%20Leite%2C%20Vilhena%20(2005).%20Gestao%20por%20competencias%20e%20gestao%20do%20conhecimento.pdf.>. Acesso em: 25 maio 2015.

CFF. Conselho Federal de Farmácia. Resolução n 349, 2000. Disponivel em: <http://www.cff.org.br/userfiles/file/resolucoes/349.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2016.

CFF. Resolução n. 357 de 2001. Brasília. 2001. Disponível em: http://www.cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/97/resolucao357.pdf. Acessado em: 17 jun 2015.

CFF. I Oficina sobre serviços farmacêuticos em farmácias comunitárias: Relatório. Conselho Federal de Farmácia - CFF. Brasília, p. 12 - 26. 2013.

COMFAR. O farmacêutico no exercício da farmácia comunitária (Manual I). Farmácia Comunitária, Brasília, 2008. Disponivel em: <http://www.cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/2/encartefarmaciacomunitaria.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2015.

DCI-SP. Portal do Farmacêutico. "Mercado Farmacêutico deve atingir R$87 bilhões em 2017", 2014. Disponivel em: <http://pfarma.com.br/noticia-setor-farmaceutico/922-mercado-farmaceutico-87-bilhoes-2017.html>. Acesso em: 14 maio 2015.

DEGEN, R. J. O empreendedor: empreender como opção de carreira. 1. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.

DORNELAS, J. C. A. Transformando ideias em negócios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

DOWNING, D.; CLARK, J. Estatística Aplicada. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

Page 107: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

106

DRUCKER, P. F. Inovação e espírito empreendedor (entrepreneurship): prática e princípios. 1. ed. São Paulo: Cengage Learning, 1986.

DURAND, T. L'alchimie de la competence. Revue Française de Gestion, França, n. 160, p. 261-292, 2006. Disponivel em: <www.cairn.info/revue-francaise-de-gestion-2006-1-page-261.htm. >. Acesso em: 01 maio 2016.

DUTRA, J. S. Administração de Carreiras: uma proposta para repensar a Gestão de Pessoas. São Paulo: Atlas, 1996.

FALCONE, T.; OSBORNE, S. Entrepreneurship: a diverse concept in a diverse world. Indiana University of Pennsylvania, Indiana, 2005. Disponivel em: <http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.529.2851&rep=rep1&type=pdf>. Acesso em: 5 maio 2015.

FILION, L. J. Empreendedorismo: empreendedores e proprietários-gerentes de pequenos negócios. Revista de Administração, São Paulo, v. 34, n. 2, p. 05-28, abril-julho 1999. Disponivel em: <http://www.rausp.usp.br/busca/artigo.asp?num_artigo=102>. Acesso em: 22 maio 2015.

FIUZA, E. P. S.; LISBOA, M. D. B. Bens Credenciais e Poder de Mercado: um estudo econométrico da indústria farmacêutica Brasileira. Brasília: [s.n.], 2001. Disponivel em: <http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/2136/1/TD_846.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2015.

FONSECA, G. C. Empreendedorismo e intraempreendedorismo: Estudo de caso sobre o perfil McClelland em uma empresa varejista farmacêutica (Dissertação). Faculdade Novos Horizontes, Belo Horizonte, 2010. Disponivel em: <http://unihorizontes.br/novosite/banco_dissertacoes/141220111509445819.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2015.

FRADE, J. C. Q. P. Desenvolvimento e avaliação de um programa educativo relativo à asma dedicado a farmacêuticos de uma rede de farmácias de Minas Gerais (Dissertação). ARCA- Fiocruz, Belo Horizonte, 2006. Disponivel em: <http://arca.icict.fiocruz.br/handle/icict/4028>. Acesso em: 25 abr. 2016.

GUEDES, S. A. A carreira do empreendedor (Dissertação). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. Disponivel em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12139/tde-18122009-101254/pt-br.php>. Acesso em: 28 maio 2015. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12139/tde-18122009-101254/pt-br.php. Acessado em: 28 maio 2015.

HARRINGTON, J. Aperfeiçoando processos empresariais. São Paulo: Makron Books, 1993.

HARTMAN, A. Avaliação da cultura intra-empreendedora: desenvolvimento e teste de uma metodologia (Dissertação). UTFPR, Ponta Grossa, 2006. Disponivel em: <http://pg.utfpr.edu.br/dirppg/ppgep/dissertacoes/arquivos/22/Dissertacao.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2016.

Page 108: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

107

HASHIMOTO, M. Espírito Empreendedor nas organizações: aumentando a competitividade através do intra-empreendedorismo. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

HEKIS, H. R. et al. Indústria Farmacêutica e a Importância Estratégica dos Propagandistas de Medicamentos: Estudo com colaboradores em Natal, RN. Revista Holos, Natal, v. 4, n. 30, 2014. Disponivel em: <http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/view/1341/pdf_71>. Acesso em: 13 jul. 2015.

HISRICH, R. D.; BRUSH, C. G. The woman entrepreneur: starting, financing and Managing a successful new business. Lexington: Lexington Books, 1985.

HISRICH, R. D.; PETERS, M. P. Empreendedorismo. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2004.

IBGE. As micro e pequenas empresas comerciais e de serviços no Brasil 2001. IBGE, 2003. Disponivel em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/microempresa/microempresa2001.pdf>. Acesso em: 14 maio 2015.

JUNIOR, M. C.; CARNEIRO, T. C. J. Análise de redes sociais na indústria farmacêutica: um estudo com farmácias e drogarias. Revista científica eletrônica de Engenharia de Produção, Florianópolis - SC, v. 12, n. 4, out.-Dez. 2012. Disponivel em: <http://producaoonline.org.br/rpo/article/view/1006>. Acesso em: 13 jul. 2015.

LEITE, E. O fenômeno do empreendedorismo. São Paulo: Saraiva, 2012.

MACHLINE, C.; AMARAL JÚNIOR, J. B. C. Avanços Logísticos no Varejo Nacional: o caso das redes de farmácias. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 38, n. 4, p. 63-71, out.-dez. 1998. Disponivel em: <http://www.scielo.br/pdf/rae/v38n4/a08v38n4.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2015.

MCCLELLAND, D. C. The achieving society. D. Van Nostrand Company, Princeton, p. 36-62, 1961. Disponivel em: <http://www.cla.csulb.edu/departments/hdev/facultyinfo/documents/McClelland_DC.pdf>. Acesso em: 03 abr. 2015.

MCCLELLAND, D. C. A sociedade competitiva: realização e progresso social. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1972.

MCCLELLAND, D. C. Testing for competence rather than for intelligence. American Psychologist, Cambridge, v. 28, n. 1, p. 1-14, janeiro 1973. Disponivel em: <https://www.therapiebreve.be/documents/mcclelland-1973.pdf>. Acesso em: 4 mar. 2015.

MENDES, A. B. D. F. et al. Farmacêutico: compromisso com a saúde ou com o comércio. Unieuro - Revista Calendária, Brasília, v. 02, n. 02, maio-novembro 2008. Disponivel em: <http://www.unieuro.edu.br/sitenovo/revistas/downloads/farmacia/cenarium_02_06.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2015.

Page 109: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

108

MORETTIN, P. A.; BUSSAB, W. O. Estatística Báscia. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

NASSIF, V. M. J. et al. Empreendedorismo: área em evolução? - Uma Revisão dos estudos e artigos publicados entre 2000 e 2008. Revista de Administração e Inovação, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 175-192, jan./mar. 2010. Disponivel em: <http://www.revistas.usp.br/rai/article/view/79164/83236>. Acesso em: 05 maio 2015.

OPAS/OMS. Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica. Ministério da Saúde. Brasília. 2002. Disponível em: bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/PropostaConsensoAtenfar.pdf. Acessado em: 29 set 2014.

PAIS, J. P. B. Diferenças entre Gêneros no empreendedorismo (Dissertação). Universidade Europeia, Lisboa, 2014.

PALMEIRA FILHO, P. L.; PAN, S. S. K. Cadeia farmacêutica no Brasil: avaliação preliminar e perspectivas. set. ed. Rio de Janeiro: BNDS setorial, v. 18, 2003. 3-22 p.

PEREIRA, C. D. L.; GOMES FILHO, A. C.; ALVES, C. R. Empreendedorismo e Gestão do Conhecimento no ramo farmacêutico: da formação empreendedora à vida profissional. Anais. Congresso Virtual Brasileiro de Administração, 2012. Disponivel em: <http://www.convibra.com.br/upload/paper/2012/31/2012_31_4819.pdf>. Acesso em: 25 maio 2015.

POLANYI, K. A grande transformaação, as origens da nossa época. 5. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000. Disponivel em: <http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/262942/mod_resource/content/2/A_grande_transformac%CC%A7ao_as_origens_de_nossa_epoca_Polanyi.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2016.

REIS, A. Pfarma. Portal Farmacêutico, 2010. Disponivel em: <http://pfarma.com.br/entrevista/214-propagandista-andre-reis.html>. Acesso em: 13 jul. 2015.

ROCHA, H. Farmacêutico, profissional a serviço da vida. Goiânia: Kelps, 2006.

RONCOLETTA, K. C. V. D. S. Atitude e comportamento empreendedor: atributos para uma cultura empreendedora nas pequenas empresas (Dissertação). FACCAMP, Campo Limpo Paulista, 2011.

SANTOS, J. D. S. Farmácia brasileira: utopia e realidade. 1. ed. Brasília: Conselho Federal de Farmácia, 2003.

SANTOS, P. D. C. F. D.; CRUZ, N. J. T. D. Propensão e potencial empreendedor em estudantes de farmácia. Revista ANEGEPE, Recife, p. 1-14, Abril 2010. Disponivel em: <http://www.anegepe.org.br/edicoesanteriores/recife/EMP112.pdf>. Acesso em: 01 maio 2016.

SARTURI, P. M.; GOMES FILHO, A. C.; MOREIRA, C. B. Empreendedorismo em farmácias e drogarias: o perfil dos profissionais da cidade de Guarapuava-PR.

Page 110: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

109

Revista CONVIBRA, São Paulo, v. 1, p. 1-18, 2013. Disponivel em: <http://www.convibra.org/2013.asp?ev=71&lang=pt&ano=2013>. Acesso em: 01 maio 2016.

SCHIMITZ, A. L. F. Competências empreendedoras: os desafios dos gestores de instituições de ensino superior como agentes de mudança (Dissertação), Florianópolis, 2012. Disponivel em: <http://btd.egc.ufsc.br/wp-content/uploads/2012/04/Ana-L%C3%BAcia-Ferraresi-Scmitz.pdf>. Acesso em: 01 maio 2016.

SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. 3. ed. São Paulo: Nova Cultura, 1988.

SEBRAE. Geração empresa: formação de novos empreendedores (apostila do aluno), Paraná, 2001. Disponivel em: <http://opetempreendedorismo.pbworks.com/f/ger%20aluno.pdf>. Acesso em: 01 maio 2016.

SEBRAE. Critérios e conceitos para classificação de empresas. SEBRAE, 2010. Disponivel em: <www.sebrae.com.br>. Acesso em: 01 jun. 2015.

SEBRAE. Anuário do Trabalho na Micro e Pequena Empresa. SEBRAE. Brasília, p. 17. 2013.

SEBRAE. Evolução das microempresas e empresas de pequeno porte, 2009 a 2012. Sebrae. Brasil. 2014.

SILVA, R. O. Teoria da Administração. 3. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2013. 6 p.

SINFARN. "Fique por dentro de sua profissão farmacêutica". Sindicato dos Farmacêuticos do RN, 2011. Disponivel em: <http://sinfarn.blogspot.com.br/2011_07_01_archive.html>. Acesso em: 17 jun. 2015.

SPIEGEL, M. R. Estatística. 3. ed. São Paulo: Makron Books, 1993.

STEWART, T. A. A riqueza de conhecimento. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

TAKAHASHI, T. Sociedade da Informação no Brasil: livro verde. Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000. Disponivel em: <http://www.mct.gov.br/upd_blob/0004/4795.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2016.

VERGARA, S. C. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

VIEIRA, S. Elementos de Estatística. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

ZAMPIER, M. A.; TAKAHASHI, A. R. W. Competências empreendedoras e processos de aprendizagem empreendedora: modelo conceitual de pesquisa. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 9, n. Especial (artigo 6), p. 564-585, Julho 2011. Disponivel em:

Page 111: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

110

<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/cadernosebape/article/view/5442/4176>. Acesso em: 13 jun. 2016.

ZUBIOLI, A. Profissão: farmacêutico. E agora? 1. ed. Curitiba: Lovise, 1992.

Page 112: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

111

ANEXOS

Page 113: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

112

ANEXO A – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA

Parte 1 – Características sociodemográficas

Questionário dirigido aos gestores e ao empreendedor da empresa

pesquisada.

-Características da empresa.

1. Tipo de empresa: ( ) Nuclear: pais e filhos ( ) Conjugal: marido e mulher

( ) Fraternal: irmãos ( ) Individual: Empresário sozinho

2. Enquadramento tributário: ( ) Simples ( ) Lucro Real ( ) Lucro Presumido

3. Data de fundação: ______________

4. Numero de funcionários: _________

-Características individuais:

5. Gênero: ( ) feminino ( ) masculino

6. Idade: _______

7. Graduação em Farmácia: ( ) UFRN ( ) UnP ( ) outra:_______

8. Ano de Conclusão da Graduação em Farmácia:___________

9. Tempo de trabalho no comércio varejista de farmácia (drogarias):________

10. Sua atuação na empresa:

( ) proprietário ( ) responsável técnico ( ) responsável técnico e gerente

Parte 2 – Questionário McClelland para perfil empreendedor

Orientações sobre as questões

A. Este questionário se constitui de 55 afirmações breves. Leia

cuidadosamente cada afirmação e decida qual descreve você da melhor forma

(considere como você é hoje, e não como gostaria de ser). Seja honesto consigo

mesmo. Lembre-se de que ninguém faz tudo corretamente, nem mesmo é desejável

que se saiba fazer tudo.

B. Selecione o número correspondente à afirmação que o descreve: 1 =

Nunca 2 = Raras vezes 3 = Algumas vezes 4 = Usualmente 5 = Sempre.

C. Anote o número selecionado na linha à direta de cada afirmação. Eis aqui

um exemplo: Mantenho-me calmo em situações tensas 2. A pessoa que respondeu

Page 114: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

113

neste exemplo selecionou o número “2” acima para indicar que a afirmação a

descreve apenas em raras ocasiões.

D. Algumas afirmações podem ser similares, mas nenhuma é exatamente

igual.

E. Favor designar uma classificação numérica para todas as afirmações.

F. Este questionário se constitui de diferentes etapas em sequência. Leia

atentamente as instruções.

Questionário McClelland para o perfil empreendedor N

un

ca

Rara

s

Ve

ze

s

Alg

um

as

Ve

ze

s

Usu

al-

me

nte

Se

mp

re

(1) (2) (3) (4) (5)

1. Esforço-me para realizar as coisas que devem ser feitas.

2. Quando me deparo com um problema difícil, levo muito tempo para encontrar a solução.

3. Termino meu trabalho a tempo.

4. Aborreço-me quando as coisas não são feitas devidamente.

5. Prefiro situações em que posso controlar ao máximo o resultado final.

6. Gosto de pensar no futuro.

7. Quando começo uma tarefa ou projeto novo, coleto todas as informações possíveis antes de dar prosseguimento a ele.

8. Planejo um projeto grande dividindo-o em tarefas mais simples.

9. Consigo que os outros me apoiem em minhas recomendações.

10. Tenho confiança que posso estar bem sucedido em qualquer atividade que me proponha executar.

Page 115: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

114

Questionário McClelland para o perfil empreendedor N

un

ca

Rara

s

Ve

ze

s

Alg

um

as

Ve

ze

s

Usu

al-

me

nte

Se

mp

re

(1) (2) (3) (4) (5)

11. Não importa com quem fale, sempre escuto atentamente.

12. Faço as coisas que devem ser feitas sem que os outros tenham que me pedir.

13. Insisto várias vezes para conseguir que as outras pessoas façam o que desejo.

14. Sou fiel às promessas que faço.

15. Meu rendimento no trabalho é melhor do que o das outras pessoas com quem trabalho.

16. Envolvo-me com algo novo só depois de ter feito o possível para assegurar seu êxito.

17. Acho uma perda de tempo me preocupar com o que farei da minha vida.

18. Procuro conselhos das pessoas que são especialistas no ramo em que estou atuando.

19. Considero cuidadosamente as vantagens e desvantagens de diferentes alternativas antes de realizar uma tarefa.

20. Não perco muito tempo pensando em como posso influenciar as outras pessoas.

21. Mudo a maneira de pensar se os outros discordam energicamente dos meus pontos de vista.

22. Aborreço-me quando não consigo o que quero.

23. Gosto de desafios e novas oportunidades.

24. Quando algo se interpõe entre o que eu estou tentando fazer, persisto em minha tarefa.

Page 116: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

115

Questionário McClelland para o perfil empreendedor N

un

ca

Rara

s

Ve

ze

s

Alg

um

as

Ve

ze

s

Usu

al-

me

nte

Se

mp

re

(1) (2) (3) (4) (5)

25. Se necessário não me importo de fazer o trabalho dos outros para cumprir um prazo de entrega.

26. Aborreço-me quando perco tempo.

27. Considero minhas possibilidades de êxito ou fracasso antes de começar atuar.

28. Quanto mais especificas forem minhas expectativas em relação ao que quero obter na vida, maiores serão minhas possibilidades de êxito.

29. Tomo decisões sem perder tempo buscando informações.

30. Trato de levar em conta todos os problemas que podem se apresentar e antecipo o que eu faria caso sucedam.

31. Conto com pessoas influentes para alcançar minhas metas.

32. Quando estou executando algo difícil e desafiador, tenho confiança em seu sucesso.

33. Tive fracassos no passado.

34. Prefiro executar tarefas que domino perfeitamente e em que me sinto seguro.

35. Quando me deparo com sérias dificuldades, rapidamente passo para outras atividades.

36. Quando estou fazendo um trabalho para outra pessoa, me esforço de forma especial para que fique satisfeita com o trabalho.

37. Nunca fico realmente satisfeito com a forma como são deitas as coisas. Sempre considero que há uma maneira melhor de fazê-las.

Page 117: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

116

Questionário McClelland para o perfil empreendedor N

un

ca

Rara

s

Ve

ze

s

Alg

um

as

Ve

ze

s

Usu

al-

me

nte

Se

mp

re

(1) (2) (3) (4) (5)

38. Executo tarefas arriscadas.

39. Conto com um plano claro de vida.

40. Quando executo um projeto para alguém, faço muitas perguntas para assegurar-me de que entendi o que quer.

41. Enfrento os problemas na medida em que surgem, em vez de perder tempo, antecipando-os.

42. Para alcançar minhas metas, procuro soluções que beneficiem todas as pessoas envolvidas em um problema.

43. O trabalho que realizo é excelente.

44. Em algumas ocasiões obtive vantagens de outras pessoas.

45. Aventuro-me a fazer coisas novas e diferentes das que fiz no passado.

46. Tenho diferentes maneiras de superar obstáculos que se apresentam para a obtenção de minhas metas.

47. Minha família e vida pessoal são mais importantes para mim do que as datas de entregas de trabalho determinadas por mim mesmo.

48. Encontro a maneira mais rápida de terminar os trabalhos, tanto em casa quanto no trabalho.

49. Faço coisas que as outras pessoas consideram arriscadas.

50. Preocupo-me tanto em alcançar minhas metas semanais quanto minhas metas anuais.

Page 118: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

117

Questionário McClelland para o perfil empreendedor N

un

ca

Rara

s

Ve

ze

s

Alg

um

as

Ve

ze

s

Usu

al-

me

nte

Se

mp

re

(1) (2) (3) (4) (5)

51. Conto com várias fontes de informação ao procurar ajuda para a execução de tarefas e projetos.

52. Se determinado método para enfrentar um problema não der certo, recorro a outro.

53. Posso conseguir que pessoas com firmes convicções e opiniões mudem seu modo de pensar.

54. Mantenho-me firme em minhas decisões, mesmo quando as outras pessoas se opõem energicamente.

55. Quando desconheço algo, não hesito em admiti-lo.

Page 119: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

118

ANEXO B – AVALIAÇÃO DO QUESTIONÁRIO

FOLHA DE AVALIAÇÃO DO QUESTIONÁRIO PADRÃO DE

AUTOAVALIAÇÃO DAS CCEs.

Instruções

1. Anote os valores que aparecem no questionário de acordo com os números

entre parênteses. Observe que os números são consecutivos nas colunas. Ou seja,

a resposta nº 2 encontra-se logo abaixo da resposta nº 1, e assim sucessivamente.

2. Atenção: faça as somas e subtrações designadas em cada fileira para

poder completar a pontuação de cada CCE.

3. Suas pontuações podem necessitar de correção. Verifique as últimas

instruções.

Avaliação das Afirmações (Pontuações das CCEs)

Busca de oportunidades e iniciativa

______ +______ +______ +______-______ + 6 =______

( 1 ) (12) (23) (34) (45)

Persistência

______+______+______-_____+_______ + 6 = ______

( 2 ) (13) (24) (35) (46)

Comprometimento

______+______+______+______-______ + 6 = ______

( 3 ) (14) (25) (36) (47)

Exigência de Qualidade e Eficiência

______ +______ +______ +______ +______ + 6 =______

( 4 ) (15) (26) (37) (48)

Page 120: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

119

Correr Riscos Calculados

______ +______ +______ +______ - ______ + 6 = ______

( 5 ) (16) (27) (38) (49)

Estabelecimento de metas

______ +______ +______ +______ - ______ + 6 = ______

( 6 ) (17) (28) (39) (50)

Busca de informações

______ +______ +______ +______ - ______ + 6 = ______

( 7 ) (18) (29) (40) (51)

Planejamento, Monitoramento Sistemático

______ +______ +______ +______ - ______ + 6 = ______

( 8 ) (19) (30) (41) (52)

Persuasão e Rede de Contatos

______ +______+______ +______ - ______ + 6 = ______

( 9 ) (20) (31) (42) (53)

Independência e Autoconfiança

______ +______ +______ +______ - ______ + 6 = ______

(10) (21) (32) (43) (54)

Fator de Correção

______ +______+______+______ - ______ + 6 = ______

(11) (22) (33) (44) (55)

Page 121: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

120

FOLHA PARA CORRIGIR A PONTUAÇÃO

Instruções

1. O Fator de Correção (que é igual à soma das respostas 11, 22, 33, 44 e 55)

é utilizado para determinar se a pessoa tentou apresentar uma imagem altamente

favorável de si mesma. Se o total dessa soma for igual ou maior a 20, então o total

da pontuação das 10 CCEs deve ser corrigido para poder dar uma avaliação mais

precisa da pontuação das CCEs do indivíduo.

2. Empregue os seguintes números para fazer a correção da pontuação:

Se o total do Fator de Correção for: Diminua o número abaixo da pontuação

de todas as CCEs

24 ou 25 7

22 ou 23 5

20 ou 21 3

19 ou menos 0

Page 122: UNIVERSIDADE POTIGUAR - unp.br · cidade do Natal-RN. O instrumento de coleta de dados é adaptado do modelo McClelland ... Quadro 2 Interpretações e variações para o termo empreendedorismo

121

FOLHA DE PONTUAÇÃO CORRIGIDA

Pontuação - Fator de = Total Corrigido

Correção Original

Busca de Oportunidade e Iniciativa __________ - __________ = __________

Persistência __________- __________ = __________

Comprometimento __________- __________ = __________

Exigência de Qualidade e Eficiência _________ - __________ = __________

Correr Riscos Calculados __________ - __________ = __________

Estabelecimento de Metas __________ - __________ = __________

Busca de Informações __________ - __________ = __________

Planejamento e Monitoramento Sistemático _______ - _______ = _________

Persuasão e Rede de Contatos __________ - __________ = __________

Independência e Autoconfiança __________ - __________ = _________