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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Adriane Aparecida da Silva Higuchi Tecnologias móveis na educação São Paulo 2011

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Adriane Aparecida da Silva Higuchi

Tecnologias móveis na educação

São Paulo

2011

ADRIANE APARECIDA DA SILVA HIGUCHI

Tecnologias móveis na educação

Dissertação apresentada à banca examinadora como

exigência parcial da obtenção do título de MESTRE

em Educação, Arte e História da Cultura pela

Universidade Presbiteriana Mackenzie, sob

orientação da professora Dra. Jane de Almeida.

São Paulo

2011

H683t Higuchi, Adriane Aparecida da Silva Tecnologias móveis na educação. / Adriane Aparecida da Silva

Higuchi – 2011. 90 f. ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da

Cultura) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2011.

Bibliografia: f. 61-67.

1. Mobile learning. 2. Aprendizagem móvel. 3. Tecnologia móvel. 4. Dispositivos móveis. 5. Aparelho celular. I. Título.

CDD 371.33

ADRIANE APARECIDA DA SILVA HIGUCHI

Tecnologias móveis na educação

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Presbiteriana Mackenzie do Estado de São Paulo, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação, Arte e História da Cultura.

Aprovada em _____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

Profª Drª Jane de Almeida – Orientadora Universidade Presbiteriana Mackenzie

Profª Drª Maria de los Dolores Jimenez Peña Universidade Presbiteriana Mackenzie

Profª Drª Lucila Maria Pesce Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP

3

Dedico este trabalho aos meus queridos pais que muito me ensinaram.

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus familiares, colegas, professores e a todos que contribuíram para o

desenvolvimento desta pesquisa.

5

RESUMO

O uso da tecnologia móvel tem provocado mudanças em vários segmentos da sociedade.

Inseridos no cotidiano das pessoas, os dispositivos móveis digitais transformam a cada dia a

maneira como as pessoas se comunicam, se relacionam, trabalham, consomem, se divertem e

aprendem. Em busca de maior flexibilidade, comodidade e mobilidade, a sociedade se

apropria cada vez mais da linguagem digital e imprime novas características às relações

emissor-receptor, consumidor-empresa, trabalhador-empregador, imprensa-leitor e até a de

cidadão-Estado. A chamada ―geração digital‖ nasce, cresce, aprende e vive conectada a um

mundo digital repleto de informações circulantes e mutantes, disponibilizadas por meio de

dispositivos digitais móveis, como aparelhos celulares, netbooks, tablets etc. Diferentemente

de gerações passadas, a atual geração demonstra habilidades para navegar em movimento nas

informações de inúmeros canais e veículos, tudo ao mesmo tempo. Nesse contexto, a

educação também não está imune aos efeitos da tecnologia móvel. De que maneira ocorre a

apropriação desta tecnologia nas escolas? Como a educação ―formal‖ percebe e lida com os

aparelhos celulares dentro da sala de aula? Quais são os desafios? Este trabalho de pesquisa

inicia uma reflexão interdisciplinar, que envolve tecnologia da informação e comunicação e

educação, em busca de respostas para esses questionamentos. Com ênfase no aparelho celular,

busca-se aqui saber se e como o ambiente escolar incorpora a tecnologia móvel no processo

educacional. Este trabalho apresenta o estudo exploratório que foi realizado em uma escola

pública da cidade de Mogi das Cruzes, localizada na Grande São Paulo, com alunos do 9º ano

do curso Ensino Fundamental e 2º ano do curso Ensino Médio, que utilizam o aparelho

celular como auxiliar em atividades pedagógicas desenvolvidas, de forma pontual e

esporádica, pela educadora na área de conhecimento em História.

PALAVRAS-CHAVE

Mobile learning. Aprendizagem móvel. Tecnologia móvel. Dispositivos móveis. Aparelho

celular.

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ABSTRACT

The use of the mobile technology has caused several changes in all segments of society. Due

to their being inserted in people‘s lives, the digital mobile devices cause changes in the way

people communicate, interact, work, purchase, entertain and learn. In search for greater

flexibility, convenience and mobility, society has increasingly taken control of the digital

language and sets new characteristics on the sender-receiver, consumer-supplier, employee-

employer, media-reader and even State – citizen relationships. The so-called digital

generation is born, grows, learns and lives being connected to a digital world full of ―rotating

and mutant‖ pieces of information, available through mobile digital devices, like cell phones,

net books, tablets, etc. Unlike past generations, today‘s one shows skills to browse through

various web channels, all at the same time and on the go. In this context, education is not

immune to the effects of the mobile technology as well. How does the appropriation of this

technology occur in schools? How does the traditional education system perceive and cope

with cell phones inside the classroom? What are the challenges? This research starts up an

interdisciplinary reflection, which involves information technology, communication and

education, in search for answers to these questions. Keeping focus on the mobile device, we

seek to learn whether and how the school environment incorporates the mobile technology in

its educational process. This research presents the exploratory study accomplished in a public

school in the city of Mogi das Cruzes, located in the metropolitan area of Sao Paulo,

concerning students of the 9th year of the elementary school and 1st year of high school levels,

using the mobile device as an aid in the pedagogical activities punctually and intermittently

accomplished by the history teacher. The study shows and encourages thinking on how the

mobile device is being incorporated as an apparatus to assist the pedagogical practice in the

formal education environment.

KEYWORDS

Mobile learning. Mobile technology. Mobile devices. Cell phone.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................ 08 1. EDUCAÇÃO, TECNOLOGIA E LINGUAGEM............................................... 10 1.1. Educação................................................................................................................. 10 1.1.1. Educação – conceituação................................................................................... 10 1.1.2. Educação Formal, Não-Formal e Informal........................................................ 12 1.1.3. Tecnologia na educação – Novas competências e novas metodologias?.......... 14 1.2. Teorias de aprendizagem........................................................................................ 16 1.2.1. Algumas teorias de aprendizagem..................................................................... 16 1.3. Tecnologia da comunicação................................................................................... 20 1.3.1. Linguagem e meios de comunicação................................................................. 20 1.3.2. Comunicação e mudanças sociais...................................................................... 22 1.3.3. Tecnologia da comunicação............................................................................... 23

2. DISPOSITIVOS MÓVEIS.................................................................................... 26 2.1. Evolução dos dispositivos móveis.......................................................................... 26 2.2. Breve histórico de dois ―importantes‖ representantes da tecnologia móvel.......... 27 2.2.1. Aparelhos celulares............................................................................................ 27 2.2.2. Tablets................................................................................................................ 31

3. MOBILE LEARNING – APRENDIZAGEM MÓVEL..................................... 34 3.1. Introdução à aprendizagem móvel.......................................................................... 34 3.2. Aprendizagem móvel – Tecnologia ―transparente‖, ―ubíqua‖ e ―pós-massiva‖... 37 3.3. Mobile Learning – Variáveis envolvidas................................................................ 42 3.4. Pesquisas sobre Aprendizagem Móvel................................................................... 43

4. PESQUISA REALIZADA – ESTUDO EXPLORATÓRIO.............................. 49 4.1. Material e Método.................................................................................................. 49 4.2. Discussão................................................................................................................ 54

CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 59 BIBLIOGRAFIA......................................................................................................... 61 ANEXOS...................................................................................................................... 68 Anexo I – Linha do Tempo – Algumas invenções que contribuíram com o desenvolvimento dos dispositivos móveis.................................................... 68 Anexo II – Mogi das Cruzes......................................................................................... 73 Anexo III – Escola........................................................................................................ 74 Anexo IV - Registro de Entrevistas.............................................................................. 75 Anexo V - Modelo do Questionário ............................................................................ 88

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INTRODUÇÃO

As transformações vividas pela sociedade a partir dos avanços tecnológicos, principalmente

dos dispositivos móveis, têm provocado mudanças significativas no contexto social.

Conforme avalia Don Tapscott (1999, p. 07), a geração nascida e criada no ambiente digital,

está revolucionando a realidade a nossa volta e nos impõe uma nova cultura, reformulando o

modo como a sociedade e os indivíduos interagem.

Com a disponibilidade de tecnologias móveis, como tablets, smartphones, netbooks, vivemos

em um período de mudanças, tanto na forma como as pessoas se comunicam, como também

na maneira como se relacionam, aprendem, trocam e acessam informação, se divertem, se

locomovem, se apropriam dos espaços ―reais‖ e ―virtuais‖, participam e contribuem na

construção da história.

O presente estudo se propõe a iniciar algumas reflexões sobre se e como os dispositivos

móveis, principalmente o aparelho celular tem sido incorporado no contexto educacional,

dentro da sala de aula para auxiliar no processo de ensino e aprendizagem. O aparelho celular

foi escolhido por permitir acesso a diferentes mídias, ser acessível a uma parcela significativa

da polulação, de acordo com as estatísticas1 há 3 celulares para cada 2 habitantes no Brasil,

por permitir sua utilização mesmo em locais que não possuam redes convencionais de

telecomunicações e por não necessitar de grandes investimentos para ser aplicado na

educação. Além disto, este trabalho busca encontrar alternativas e situações que favoreçam a

utilização da tecnologia móvel no ambiente educacional, com o intuito de aproveitar a

tecnologia móvel disponível para motivar e contribuir na construção do conhecimento.

Os objetivos do presente trabalho são traçar um panorama preliminar do que representa e

envolve a aprendizagem móvel; relacionar pesquisas e experiências que utilizam ou já fizeram

uso de dispositivos móveis para auxiliar o processo de ensino e aprendizagem e, por fim,

apresentar um exemplo em que o aparelho celular foi utilizado como auxiliar no processo

educacional. Trata-se, portanto, de uma pesquisa qualitativa - exploratória.

Para alcançar esses objetivos, foi efetuado um levantamento na bibliografia existente, tanto na

impressa como on-line, para abordar os diferentes tópicos e os principais conceitos que

compõem a aprendizagem móvel. Também foi feito um levantamento sobre algumas

experiências/pesquisas que estão sendo feitas com base na aprendizagem móvel, tanto no

1 Anatel - Agência Nacional de Telecomunicações. Disponível em

http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do. Acessado em 19/05/2010.

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Brasil como em outros países. Além disto, foi realizado um estudo exploratório, em uma

escola da rede pública do estado de São Paulo para compreender se e como o ambiente

educacional brasileiro tem incorporado os dispositivos móveis.

Espera-se demonstrar com este estudo que a educação não pode ignorar o fato de que a

tecnologia tem provocado mudanças também no processo tradicional de ensino-

aprendizagem. Sem julgar se isto é bom ou ruim, a proposta é refletir sobre o tema e tentar

compreender as implicações que estas mudanças trazem para o cotidiano escolar, tanto para

professores como para os alunos.

Desta forma, o presente trabalho foi estruturado em 4 capítulos que buscam apresentar tanto

os conceitos que envolvem a incorporação dos dispositivos móveis em sala de aula, como

apresentar um estudo exploratório realizado em uma escola pública da cidade de Mogi das

Cruzes, na grande São Paulo.

O primeiro capítulo aborda sobre a educação, tecnologia e linguagem, pilares que compõem a

formação do aluno e pela proximidade que estes temas estabelecem com o foco da pesquisa.

O segundo capítulo discorre sobre o desenvolvimento dos dispositivos móveis e as mudanças

que eles têm provocado na sociedade. No terceiro capítulo apresentamos o conceito e as

características da aprendizagem móvel e algumas pesquisas realizadas nesta área, por se

constituir no objetivo principal desta pesquisa. No quarto capítulo, apresenta-se o estudo

exploratório em que uma professora de história usa o celular eventualmente para desenvolver

atividades pedagógicas com alunos de uma escola pública do 9º ano do curso Ensino

Fundamental e 2º ano do Ensino Médio. É neste momento que se pretende analisar, com base

na bibliografia estudada, como o celular vem sendo incorporado no ambiente escolar.

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1. EDUCAÇÃO, TECNOLOGIA E LINGUAGEM

1.1. Educação

1.1.1. Educação - Conceituação

―A criança é criança, um ser que nasceu para crescer, isto é, nasceu imaturo, para vir a criar-se a si mesmo pelo amadurecimento, ou seja, pela educação.‖ (KANT apud PRADO, 1991, p. 37).

O homem ao nascer, se comparado a outros animais, é o mais desprovido de dons. Desde o

seu nascimento ele precisa do apoio/ajuda dos outros - é um ser educável. Como observa

Lourenço de Almeida Prado, em seu livro: ―Educação: ajudar a pensar, sim: conscientizar,

não‖, de 1991, em que aborda questões educacionais e propõe reflexões sobre a formação do

homem como ser de cultura e não simplesmente como um ser ―robotizado‖, considera que

educação é um processo interior, ou seja, o desdobramento de potencialidades e a aquisição

de qualidades. Para Prado (1991, p. 71), a simples e automática repetição não é educação, pois

segundo ele a ―verdadeira‖ educação deve ampliar a capacidade e a liberdade de agir livre e

criativamente. ―Os animais são, no máximo, domesticáveis ou domináveis, já o homem é o

único ser realmente educável.‖ (Prado, 1991, p. 71).

Desde o nascimento, independente de nossa condição socioeconômica, estamos a todo

momento vivenciando um processo educacional e, geralmente, agimos de acordo com as

regras morais imposta pela sociedade. Isto abrange desde o modo como nos comportamos

fisicamente (atitudes) até como conduzimos nossas relações pessoais com amigos, família,

educadores etc. Como define Prado (1991), a educação é um processo universal e, por isso,

varia de sociedade para sociedade, de um grupo social a outro. Desta forma, ressalta o autor, a

educação segue as concepções que cada sociedade e cada grupo social tenha do mundo, de

homem, de vida social e do próprio processo educativo. Enfim, a educação é um processo

dinâmico, histórico, e por isso mesmo mutável.

A palavra educação pode assumir diferentes sentidos, como apresenta Prado (1991). No

sentido ―vulgar‖: educação refere-se a exterioridades, ou seja, a adaptação a modelos de boas

maneiras, aos costumes da vida civilizada, ou até mesmo a um certo grupo (convivência

cordial). No sentido etimológico: educação exprime algo que vem de dentro – ex + duco, que

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acontece no sentido pessoal, ou seja, na procura de cada um de tirar de dentro de si as suas

virtualidades, ou no sentido de ajuda prestada pelos outros para que cada um consiga mais

facilmente e com maior segurança chegar a esse resultado. No sentido real: educação é o

processo vital, que com o apoio e convívio social vai desdobrando as suas energias germinais

interiores, que traz ao nascer, e conduzindo-as à plenitude atuante. Por meio dela é possível

tomar posse do patrimônio cultural acumulado pelas gerações precedentes e, ao mesmo

tempo, inserir-se como membro vivo e participante na comunidade em que se vive.

Assim, Prado (1991) define educação como sendo a ajuda2 prestada pelo mais velho para que

a criança e o adolescente possam mais fácil e seguramente chegar ao seu pleno

desenvolvimento como pessoa livre e inserida na vida social. A educação, portanto, tem o

papel de auxiliar/ajudar e deve considerar as influências espontâneas de um sobre o outro na

convivência social, que passa pelas expressões da arte e dos meios de comunicação. Para o

autor, o processo educativo deve buscar a ―verdade‖ e é uma condição necessária da vida do

homem: ―só é homem pela educação.‖ (Kant apud Prado, 1991, p. 34).

Desta forma, o direito à educação é um direito natural, um direito que decorre da exigência da

natureza, pois o propósito da educação deve ser a conquista da liberdade interior, como

observa Prado (1991, p. 70), toda criança nasce ―escrava‖ e se torna ―livre‖ pela educação. A

educação, portanto, passa a ser um direito do cidadão. A legislação brasileira garante este

direito por leis e portarias, como por exemplo, por meio da Constituição Brasileira e mais

recentemente pela Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, mais conhecida como LDB/96,

que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

De acordo com a definição da LDB/96, artigo 1º, a educação é um processo formativo que se

desenvolve na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e

pesquisa, nos movimentos sociais e demais organizações e manifestações culturais. Esta lei

estabelece, em seu artigo 2º, que a educação é um dever, tanto do Estado como da família, e

tem como finalidade o pleno desenvolvimento do educando, preparando-o para o exercício da

cidadania e sua qualificação para o trabalho. Além disto, a legislação assegura em seu artigo

3º, inciso X e XI, que o ensino deverá ser ministrado com base na valorização da experiência

extra-escolar e na vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

2 Para Prado (1991, p. 78), a palavra “ajuda” deve ser entendida no sentido de cooperação, ou seja, “a educação não é a

transmissão material de algo do educador ao educando, como o calor de um corpo quente se transfere para outro que é aquecido, mas um auxílio exterior que provoca o espírito do educando: é ele que aprende”.

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Em suma, a legislação brasileira prevê que as práticas de ensino devem considerar o contexto

social e cultural do aluno. E entendemos que pelo menos para uma grande parcela de jovens,

este ambiente sociocultural está imerso ao ―mundo digital‖ por meio de diferentes

dispositivos eletrônicos como: computadores, celulares, videogames etc. Como aponta o

pesquisador Don Tapscott (1999), em seu livro: ―Geração Digital – A crescente e Irreversível

Ascensão da Geração Net‖, os jovens nascem na era da computação, dos aparelhos celulares,

das telas sensíveis ao toque, dos vídeos games e não há como não considerar este contexto na

formação sociocultural do aluno. Para Tapscott, a geração nascida e criada na tecnologia

digital, está revolucionando os acontecimentos à nossa volta, está se desenvolvendo e nos

impondo sua cultura, reformulando o modo como a sociedade e os indivíduos interagem. Mas

como o autor alerta, é exigida uma boa administração por parte de empresários, educadores,

pais e legisladores para orientar sua utilização.

―Acalmem-se todos. As crianças estão bem. Elas estão aprendendo, Elas precisam de melhores ferramentas, melhor acesso, mais serviços e mais liberdade para explorar, não o contrário. Em vez de hostilidade e desconfiança por parte dos adultos, precisamos de mudanças na maneira de pensar e no comportamento dos pais, educadores, legisladores e empresários.‖ (TAPSCOTT, 1999, p. 07, grifo nosso).

Assim, como observa Tapscott (1999), estamos diante de jovens que já nascem na era da

tecnologia digital e mais do que nunca, precisam de orientação para que seus recursos sejam

utilizados de forma segura, eficiente e com respeito à cidadania.

1.1.2. Educação Formal, Não-Formal e Informal

A educação geralmente é dividida em três categorias: a educação ―formal‖, ―não-formal‖ e

―informal‖. A educação ―formal‖ ocorre quando se desenvolve sistematicamente planos para

se atingir um determinado objetivo, com conteúdos e meios previamente traçados. É o que

geralmente acontece nas escolas.

Já a educação ―não-formal‖, como observam Park, Fernandes e Carnicel, organizadores do

livro ―Palavras-chave em educação não-formal‖, de 20073, constitui-se pela sua maior

flexibilidade em relação à estrutura dos programas, da maneira como os conteúdos são

abordados, da duração e do local, dos métodos utilizados, dos participantes envolvidos e de

3 PARK, Margareth Brandini; FERNANDES, Renata Sileiro. Para saber a diferença entre a educação não-formal e a educação informal. Jornal da UNICAMP. Universidade Estadual de Campinas. 13/08/2007. p. 12.

13

seu objetivo. Como ressaltam os autores, a educação ―não-formal‖ exerce um papel

complementar e alternativo ao ―sistema formal-escolar‖.

Assim, as principais diferenças entre a educação ―formal‖ e ―não-formal‖, como observa

Afonso (1989 apud PARK; FERNANDES, 2007, p. 12), podem ser pontuadas em termos de

oposição, ou seja, ―por educação formal entende-se o tipo de educação organizada com uma determinada sequência (prévia) e proporcionada pelas escolas, enquanto que a designação ‗não-formal‘, embora obedeça a uma estrutura e a uma organização (mesmo que não seja essa a finalidade), diverge ainda da educação formal no que respeita a não-fixação de tempos e locais e a flexibilidade na adaptação dos conteúdos de aprendizagem a cada grupo concreto.‖

Além da educação ―formal‖ e ―não-formal‖, temos ainda a educação ―informal‖ que é aquela

que conhecemos desde o nosso nascimento, em que são aprendidos nossos deveres sociais, a

relação de respeito, a convivência, a higiene, o respeito mútuo etc. Como observa Trilla (1996

apud PARK, FERNANDES, 2007, p. 12), a ―educação informal é toda gama de

aprendizagens que realizamos (tanto no papel de ensinantes como de aprendizes), e que

acontece sem que haja um planejamento específico e, muitas vezes, sem que nos demos

conta.‖. Faz parte desta aprendizagem a percepção gestual, moral, comportamental,

proveniente da relação com a família, amigos, colegas de trabalho, etc. (PARK,

FERNANDES, 2007, p. 12).

Para Prado (1991) a educação ―informal‖ acontece geralmente por meio da convivência

social, da vida em comum, não existindo um processo sistemático, intencional que nos

conduza a elas. Desta forma, Prado (1991) aponta que tanto a educação formal como a

informal podem ocorrem simultaneamente. Ou seja, não há momentos em que só aprendemos

formalmente e outros em que só aprendemos informalmente. As duas formas de educação

coexistem dentro e fora da escola.

Logo, verifica-se, como apontam Marçal; Andrade; Rios (2005, p. 02), que a aprendizagem

móvel, pode ocorrer tanto na educação formal, não-formal e na informal, pois ela permite

ampliar os espaços de aprendizagem para além dos muros restritos da escola. Utilizando-se

dos dispositivos móveis, é possível acessar e trocar informações a qualquer hora e em

qualquer lugar e isto para os autores, amplia as oportunidades de aprendizagem.

Ainda em relação à educação formal, Arnaldo Niskier, membro do Conselho Nacional de

Educação e da Academia Brasileira de Letras, apresenta em seu livro: ―LDB – A nova lei da

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educação‖, de 1997, que a estrutura da educação formal no Brasil é bastante hierarquizada, ou

seja, está dividida em dois grupos: educação básica, que abrange a educação infantil, o

ensino fundamental e o ensino médio e a educação superior. A LDB/96 define as finalidades

e os objetivos de cada educação, como por exemplo, a educação infantil tem como finalidade

o desenvolvimento integral da criança (físico, psicológico, intelectual e social) até seis anos

de idade, complementando a ação da família e da comunidade. Já o ensino fundamental terá

como objetivo a formação básica do cidadão, que envolve desde o desenvolvimento da

capacidade de aprendizagem; da compreensão do meio social, da tecnologia, das artes até o

fortalecimento dos vínculos de família, laços de solidariedade e das relações sociais. O ensino

médio, que compõe a etapa final da educação básica, a legislação define que ela terá como

finalidade a consolidação/aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino

fundamental para que o educando possa prosseguir com seus estudos e que busque a formação

ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico do aluno. Além

disto, assegura que o aluno deve ter uma compreensão dos fundamentos científicos e

tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria e a prática. Destaca-se ainda que

o currículo do ensino médio, conforme o artigo 35 da LDB/96, deverá também abranger a

educação tecnológica e as transformações sociais e culturais. E por fim, a educação superior

tem por finalidade estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do

pensamento reflexivo, formando alunos para atuarem em diferentes áreas de conhecimento.

Assim, como prevê a legislação, os conteúdos e as metodologias deverão ser organizados de

forma que o aluno possa ter conhecimento tanto dos princípios científicos e tecnológicos da

produção moderna, como das formas contemporâneas de linguagem. Portanto, entende-se

aqui que os dispositivos móveis fazem parte das formas contemporâneas de comunicação e

têm sido incorporados por diferentes setores da sociedade, em um processo contínuo de

adaptação entre tecnologia e sociedade, e não poderá ficar fora das questões educacionais.

1.1.3. Tecnologia na educação – Novas competências e novas metodologias?

―Em uma sociedade na qual todos se habituaram a votar, a comprar, a informar-se, a divertir-se, a procurar uma moradia, um emprego ou um sócio na Internet, talvez fosse melhor armar as crianças e os adolescentes nesse domínio, para reforçar sua identidade, sua capacidade de tomar distância, de resistir às manipulações, de proteger sua esfera pessoal, de não ‗embrarcar‘ em qualquer aventura duvidosa.‖ (PERRENOUD, 2000, p. 136).

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Para Philippe Perrenoud (in: PERRENOUD et al, 2002, p. 56), professor e pesquisador na

área de psicologia e educação da universidade de Genebra, a prática didático-pedagógica vai

muito além do conteúdo, ou seja, o professor deve lembrar que o simples domínio dos saberes

disciplinares não dispensa saberes pedagógicos. Portanto, a metodologia é indispensável para

o ensino. Assim, diante das possibilidades do uso de dispositivos móveis na educação,

percebe-se a necessidade de ―criar‖ ou ―adaptar‖ práticas de ensino a este ―novo‖ ambiente

educacional, em que educação e tecnologia se relacionam e interconectam.

―Formar para as novas tecnologias é formar o julgamento, o senso crítico, o pensamento hipotético e dedutivo, as faculdades de observação e de pesquisa, a imaginação, a capacidade de memorizar e classificar, a leitura e a análise de textos e de imagens, a representação de redes, de procedimento e de estratégias de comunicação. (...) A alternativa seria, evidentemente, desenvolver o julgamento e a autonomia.‖ (PERRENOUD, 2000, p. 128).

Como aponta Monica Gather Thurler (in: PERRENOUD et al, 2002, p. 83), que também é

professora e pesquisadora na área de psicologia e educação da universidade de Genebra, os

avanços de novas metodologias ocorrem com maior fluidez quando os professores passam a

refletir sobre suas atividades diárias e se tornam pesquisadores no interior de sua prática. Isto

contribui, segundo a autora, para que as novas metodologias de ensino sejam efetivamente

adotadas no processo educacional.

Sabe-se que a incorporação da tecnologia na educação ainda é um desafio, pois requer

mudanças nas práticas pedagógicas. De acordo com Guimarães (2005 in: OLIVEIRA;

VIGNERON (orgs), 2005, p. 21), coordenador do programa de Educação Continuada e a

Distância – UMESP, é preciso considerar que as pessoas vivenciam de forma diferenciada os

processos de mudanças, pois ―gente não é máquina‖ e as emoções, o corpo e a mente somam-

se para avaliar o que se propõe a mudar. Portanto, para o autor, a ênfase para sua incorporação

deve ser dada não na tecnologia, mas sim nas pessoas. Ele propõe que a tecnologia deve

praticamente ―desaparecer‖ no ambiente educacional, ou seja, deve ser utilizada como

qualquer outro recurso para favorecer a aprendizagem. Assim, de acordo com o autor, o uso

da tecnologia exige ética, organização, planejamento, condições tecnológicas e

principalmente, pessoas capacitadas. ―A diferença é que a tecnologia amplia os espaços

físicos de atuação e permite uma nova racionalidade do tempo de estudo, tanto para o docente

quanto para o discente.‖ (GUIMARÃES in: OLIVEIRA; VIGNERON (orgs), 2005, p. 21)

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Em outras palavras, Fullan (1999 apud THURLER in: PERRENOUD et al, 2002, p. 97),

apresenta que o destino para a inovação educacional depende ―do que os professores pensam

e fazem‖, pois são eles que colocam em prática, junto com os alunos, as novas idéias

pedagógicas. Desta forma, conforme estes autores, as transformações dependem tanto dos

objetivos, conteúdos e da técnica a ser adotada, como também na forma como os atores

envolvidos neste processo (escola, professor, aluno) irão captar e engajar nas novas propostas

pedagógicas.

Além disto, faz-se necessário que os dispositivos tecnológicos que podem proporcionar

diferentes situações de aprendizagem, devem ter por objetivo garantir aos alunos a coerência e

a continuidade do processo de aprendizagem. ―O ofício do professor redefine-se: mais do que

ensinar, trata-se de fazer aprender.‖ (PERRENOUD, 2000, p. 138). Como sugere Perrenoud

(2002), o aluno deve ser incentivado a ―aprender-a-aprender‖, pois ―não adianta observar se

não se sabe interpretar. Não adianta saber interpretar se não se sabe decidir. E não adianta

decidir se é incapaz de concretizar suas decisões.‖ (PERRENOUD in: PERRENOUD et al,

2002, p. 56).

―A verdadeira incógnita é saber se os professores irão apossar-se das tecnologias como um auxílio ao ensino, para dar aulas cada vez mais bem ilustradas por apresentações multimídia, ou para mudar de paradigma e concentrar-se na criação, na gestão e na regulação de situações de aprendizagem.‖ (PERRENOUD, 2000, p. 139).

1.2. Teorias de aprendizagem

1.2.1. Algumas teorias de aprendizagem

Este capítulo foi baseado no livro: ―Ensino: as abordagens do processo‖, da professora Maria

da Graça Nicoletti Mizukami (1986), que apresenta um panorama geral das teorias de

aprendizagem que mais influenciaram a educação brasileira. Para a educadora, a prática diária

do professor é o resultado de suas próprias experiências e condições vividas, a partir do filtro

que ele mesmo faz das diferentes teorias de aprendizagem. De acordo com Mizukami (1986),

podemos partir do pressuposto de que no Brasil tenham sido cinco as abordagens que mais

possam ter influenciado a didática adotada pelo professor, são elas: ―Tradicional‖;

―Comportamentalista‖; ―Humanista‖; ―Cognitivista‖ e ―Sócio-cultural‖.

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Assim, este capítulo busca elencar estas teorias de aprendizagem, na tentativa de tentar

entender as práticas pedagógicas que mais são aplicadas dentro da sala de aula e em quais

situações o dispositivo móvel seria mais eficientemente incorporado. Este capítulo não tem a

pretensão de esgotar os significados de cada uma das teorias de aprendizagem, apenas tecer

um panorama geral.

Na abordagem ―tradicional‖, o ensino em todas as suas formas, está centrado no professor, no

programa e nas disciplinas. O aluno apenas executa prescrições que lhe são fixadas. O

homem, nesta abordagem, é considerado como inserido em um mundo que irá conhecer

através de informações que serão oferecidas a partir do que se decidiu serem as mais

importantes e úteis para ele. Portanto, o homem é considerado como sendo uma espécie de

tábua rasa, na qual são impressas, progressivamente, imagens e informações fornecidas pelo

ambiente. Como observa Mizukami (1986), o aluno é um ―receptor passivo‖ e o sistema de

ensino é baseado na ―educação bancária‖ (FREIRE, 1975c apud MIZUKAMI, 1986, p. 10),

ou seja, se caracteriza por ―depositar‖ no aluno, informações, dados, fatos etc. Assim, o aluno

nada mais é do que ―um ser passivo, um receptáculo de conhecimentos escolhidos e

elaborados por outros para que ele deles se aproprie.‖ (MIZUKAMI, 1986, p. 18).

Na abordagem ―comportamentalista‖, o conhecimento é o resultado direto da experiência e da

descoberta. Porém, o que foi descoberto pelo indivíduo, já se encontrava presente na realidade

exterior. O ensino é composto por padrões de comportamento que podem ser mudados através

de treinamento, conforme os objetivos previamente fixados. Um dos grandes pesquisadores

desta abordagem e que muito influenciou o Brasil, foi Burrhus Frederic Skinner (1904 –

1990). A educação, na visão comportamentalista, deverá transmitir informações, assim como

comportamentos éticos, práticas sociais, habilidades consideradas básicas para a manipulação

e controle do mundo/ambiente (cultural, social, etc.). Os comportamentos desejados dos

alunos serão instalados e mantidos por condicionantes, tais como elogios, notas, prêmios,

reconhecimentos do mestre e dos colegas, prestígio etc. Enfim, nesta abordagem considera-se

que o meio pode ser controlado e manipulado e, consequentemente, o homem também.

Na abordagem ―humanista‖ a ênfase é dada no papel do sujeito como principal elaborador do

conhecimento humano. O ensino é centralizado no aluno, nas relações interpessoais e no

crescimento que delas resultam. O professor, nesta abordagem, não transmite conteúdo, mas

dá assistência, sendo um facilitador da aprendizagem. O conteúdo advém das próprias

experiências dos alunos e a atividade é considerada um processo natural realizada por meio da

18

interação com o meio. O professor não ensina: apenas cria condições para que os alunos

aprendam. ―Não existem, portanto, modelos prontos nem regras a seguir, mas um processo de

vir-a-ser.‖ (MIZUKAMI, 1986, p. 38). Nesta abordagem, o homem é consciente da sua

incompletude, tanto no que se refere ao mundo interior – self, quanto ao mundo exterior e

também tem consciência que é um ser em transformação e responsável em transformar a

realidade. Portanto, ―o mundo é algo produzido pelo homem diante de si mesmo‖ (Idem, p.

41). Além disso, nenhum indivíduo conhece realmente, pois se conhece apenas o que por ele é

percebido - o homem só conhece pela experiência. Assim, nesta abordagem, a educação é

centrada no aluno (que é o principal responsável pela aprendizagem) e o professor tem um

papel de facilitador da aprendizagem.

Na abordagem ―cognitivista‖ são consideradas as formas pelas quais as pessoas lidam com os

estímulos do ambiente, organizam os dados, resolvem os problemas, adquirem conceitos e

usam símbolos verbais. Apesar de haver preocupação com relações sociais, a ênfase é dada na

capacidade do aluno de integrar informações e processá-las. Esta abordagem é

predominantemente interacionista, ou seja, o homem e o mundo são analisados

conjuntamente. Um dos seus principais representantes é o suíço Jean Piaget (1896-1980) que

considera o conhecimento um produto da interação entre homem e mundo, entre sujeito e

objeto, não se enfatizando pólo algum da relação. O núcleo do processo de desenvolvimento é

baseado em um modelo progressivo de adaptação – ―assimilição‖ e ―acomodação‖; na

superação contínua em direção a novas e complexas estruturas. O conhecimento, portanto se

dá por meio de uma construção contínua e é essencialmente ativo. A aquisição do

conhecimento pode ocorrer em duas fases: ―exógena‖ – (assimilação), fase da simples

constatação, da cópia, da repetição, e fase ―endógena‖ – (acomodação), fase da compreensão

das relações, das combinações. Considera-se como verdadeiro conhecimento a fase endógena,

pois pressupõe uma abstração. O processo educacional tem um papel importante nesta

abordagem, pois pode provocar situações de ―desequilíbrio‖ no aluno, ou seja, criar atividades

para a solução de problemas e desafios, quebrando a rotina, incentivando o diálogo e o debate

adequados ao nível de desenvolvimento do aluno. Assim, o objetivo da educação, não

consistirá na simples transmissão de informações, mas sim em que o aluno aprenda a buscar

por si próprio. O ensino, portanto, deverá priorizar as atividades do sujeito, considerando-o

inserido numa situação social e ser baseado em atividades de ensaio e erro, pesquisa,

investigação, solução de problemas por parte do aluno. Enfim, é necessário incentivar o aluno

a ―aprender a aprender‖, a respeitar o outro, trocar de informações e pontos de vista.

19

Na abordagem ―sociocultural‖, considera-se a relação homem e mundo, embora a ênfase seja

dada no sujeito como elaborador e criador do conhecimento. Um importante representante

brasileiro desta abordagem foi Paulo Freire (1921-1997). O objetivo da ação educativa é

promover o próprio indivíduo, ou seja, a educação deve levar em conta tanto a vocação do

homem quanto às condições nas quais ele vive (contexto). O homem chegará a ser sujeito por

meio da reflexão sobre seu ambiente, pois quanto mais o indivíduo reflete sobre a sua

realidade, sobre sua situação, mais ele se torna progressivamente e gradualmente consciente

para mudar sua realidade. Para reconhecer o objeto, o homem precisa passar do abstrato para

o concreto, da parte para o todo, para depois voltar novamente às partes. Nesta abordagem,

não há receitas ou modelos de respostas, mas busca encontrar tantas respostas quantos forem

os desafios, sendo possível encontrar respostas/caminhos diferentes para resolver o mesmo

tipo de problema. O conhecimento é elaborado e criado a partir do pensamento e da prática. O

processo e o resultado devem superar a dicotomia sujeito-objeto. Toda ação educativa, nesta

abordagem, deve necessariamente ser precedida de reflexão sobre o homem e como é o seu

meio de vida. Assim, o homem se torna o sujeito da educação. Para Paulo Freire, a educação

assume caráter amplo, não restrito à escola ou a um esquema de educação formal. A

verdadeira educação consiste na educação problematizadora que ajudará a superar a relação

opressor-oprimido. Esta educação, ao contrário da educação bancária, busca o

desenvolvimento da consciência crítica e da liberdade do indivíduo. Portanto, o aluno deverá

assumir desde o início do processo, um papel criativo e o professor deverá desenvolver

atividades que promovam o diálogo, a cooperação, a união, a organização, a solução dos

problemas. Nesta abordagem, ―ninguém educa ninguém, ninguém se educa; os homens se

educam entre si, mediatizados pelo mundo.‖ (FREIRE, 1975c, p. 63 apud MIZUKAMI, 1986,

p. 98).

Percebe-se que a tecnologia móvel pode ser incorporada no ambiente escolar em qualquer

uma destas abordagens, porém o desafio é utilizá-la em situações que estimulem a

participação ativa do aluno. O simples fato de se usar uma tecnologia móvel, como o aparelho

celular, não garante mudanças na relação aluno x professor. O aluno poderá continuar tendo

uma posição passiva no processo de ensino-aprendizagem ao usar, por exemplo, os recursos

de fotografia para captar imagens de uma lousa. Neste exemplo, podemos evidenciar que

mesmo tendo utilizado um recurso tecnológico móvel – a câmera fotográfica do aparelho

celular, isto não propiciou mudança em seu processo de aprendizagem, pois ele continua

tendo uma posição passiva.

20

Em outras palavras, podemos supor que ao fazer uso da tecnologia móvel apenas para

armazenar e acumular informações desconexas e sem significado para o aluno, estamos diante

de uma ―abordagem tradicional‖ de aprendizagem. Agora se o uso do dispositivo for apenas

para transmitir informações, buscando o treinamento do aluno (condicionamento cultural,

social, comportamental etc.) para atingir um objetivo previamente traçado, sem haver a

preocupação com a aprendizagem, isto já nos remete para uma ―abordagem

comportamentalista‖. Por outro lado, ao criarmos situações que permitam ao aluno trazer para

dentro do ambiente escolar o seu contexto sociocultural, fazendo conexões entre o que está

sendo aprendido e o que já se sabe, buscando inclusive interligar a realidade do aluno ao

conteúdo trabalho em sala de aula e ainda incentivando a troca/colaboração/cooperação entre

os alunos, nos faz presumir que estamos trabalhando dentro de uma ―abordagem cognitivista‖.

E é a partir desta abordagem que acredita-se que a tecnologia móvel pode contribuir, de forma

eficiente e eficaz, para auxiliar o processo educacional.

Em outras palavras, é preciso criar mecanismos para que estes dispositivos sejam

incorporados no ambiente escolar para desenvolver atividades que busquem a participação

ativa, colaborativa e criativa do aluno. E esta incorporação seja baseada, no mínimo, em uma

abordagem ―humanista‖, ―cognitivista‖ ou ―sociocultural‖.

1.3. Tecnologia da comunicação

1.3.1. Linguagem e meios de comunicação

―A educação num mundo de comunicação é, certamente, um desafio a todos, professores, alunos, pais, porque precisa buscar a formação do ser humano em mutação, preparando-o para viver plenamente esta sociedade que se modifica velozmente. Uma educação que não desconheça a realidade de cada um dos seus partícipes, que não desconheça a realidade maquínica do mundo contemporâneo. Que não espere receitas prontas (...).‖ (PRETTO, 1996, p. 131)

Sabe-se que é por meio da linguagem que nos comunicamos e quando novos meios surgem o

processo de comunicação é diretamente afetado. Isto significa dizer que ―toda mudança

tecnológica pressupõe mudança do código e, por conseguinte, mudança também no caráter e

entendimento da natureza da linguagem‖ (CARAMELLA et al., 2009, p. 26). Para que a

comunicação se efetive é preciso que tanto emissor como receptor se entendam. Assim, é

preciso haver um código comum. Este código precisa ser padronizado e homogenizado para

21

ser entendido. Surge então a mensagem, que é a organização dos signos, ou seja, diz respeito

ao modo de organização e de construção do código para que este tenha sentido no processo

comunicacional. (CARAMELLA et al., 2009, p. 26).

Percebe-se que a educação precisa tanto da linguagem como dos meios de comunicação. Pode

ser oral, escrita, audiovisual, mas ela precisa destes meios para se propagar. Isto acontece

desde a época dos desenhos da caverna, passando pela escrita, pelo advento da imprensa,

pelos meios de comunicação de massa e, atualmente, pelo advento da internet, a comunicação

que Lemos (2007, p. 126) denomina como ―pós-massiva‖.

Para as organizadoras Elcie F. Salzano Masini e Maria de los Dolores J. Peña, do livro

―Aprendendo significativamente: uma construção colaborativa em ambientes de ensino

presencial e virtual‖, de 2010, que registra as condições que propiciaram aos alunos e

professores do curso de mestrado da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de registrar e

compartilhar as reflexões sobre aprendizagem humana a partir de diferentes enfoques

teóricos, ressaltam que ―nas diferentes épocas ou eras por onde o homem passou durante a sua

evolução, as formas de aprender e o propósito da aprendizagem, sempre estiveram imbricados

ao desenvolvimento da tecnologia.‖ (PEÑA in: MASINI; PEÑA, 2010, p. 38)

Lucila Pesce & Vera Barros de Oliveira (in: OLIVEIRA; VIGNERON (orgs), 2005, p. 30),

também observam que desde a história grega a relação de educação e comunicação está

entrelaçada e é indissolúvel, pois comunicar está para os gregos vinculado à ideia de

educação, como mecanismo de transmissão de bens morais e éticos. (CAMPOS, 1996, p. 14

apud PESCE in: OLIVEIRA; VIGNERON (orgs), 2005, p. 30).

Desta forma, existe uma relação direta entre educação e linguagem. Como destaca Prado

(1991, P. 96), a ―linguagem é o mais misterioso e significativo produto do espírito humano e é

ela que abre acesso ao pensamento‖. O autor observa que é pelo sinal (palavra é um sinal),

que o homem recolhe as coisas, dentro de si, e estabelece o relacionamento entre elas. ―O

direito de comunicar livremente conhecimentos assegura a cada cidadão o direito de dar, na

hora e no lugar oportuno, notícias de suas descobertas.‖ (PRADO, 1991, p. 44)

Logo, o desenvolvimento e o aprimoramento da linguagem exprimem o próprio

desenvolvimento da pessoa, à plenitude de sua humanidade - ―pessoa livre, criadora e

comunicativa‖ (PRADO, 1990). Para Kant (apud Prado, 1990), o homem só é homem pela

educação e isto só se manifesta com a linguagem amadurecida. Sem sua língua evoluída e

22

aprimorada, possuída com segurança e riqueza, o homem é um ser mutilado ou um ser

primitivo que não atingiu a perfeição humana para a vida civilizada.

Portanto, a linguagem tem um papel importantíssimo na educação - estão entrelaçadas,

intrínsecas. Linguagem e educação influenciam-se mutuamente e a tecnologia não está fora

desta relação, pois cria novos meios e novas linguagens.

Segundo Pretto (1996), estamos em um mundo da comunicação e é preciso buscar a formação

do ser humano em mutação, preparando-o para viver nesta sociedade em constante mudança.

Como observa o autor, é necessária uma ―educação que não desconheça a realidade

maquínica do mundo contemporâneo. Que não espere receitas prontas [...]‖. (PRETTO, 1996,

p. 131)

1.3.2. Comunicação e mudanças sociais

É possível pontuar alguns momentos importantes da evolução da comunicação e da

linguagem que mudaram a sociedade. Segundo Prado (1991), antes da escrita, não havia

diferencialização entre alfabetizado e não-alfabetizado. Era uma época pré-civilizada. Todos

eram iguais. O homem era pouco ―vivo‖ nas suas comunicações. Após o advento da escrita

(sem acesso ao livro), existiam bibliotecas graças ao trabalho paciente dos copistas. Poucos

sabiam ler e poucos tinham acesso ao livro. O livro não circulava. A sociedade era muito mais

auditiva – silenciosa para ouvir. O professor era a lente (que lia) e o aluno era o ouvinte. O

analfabeto nesta época, não era necessariamente o inculto. A partir da imprensa, o livro se

difunde. Houve quem falasse do fim da escola, pois o livro dispensava o professor. Mas

alguns profetas perceberam que o livro era uma ajuda – ajuda ao professor, ajuda ao aluno.

Assim, ocorre a difusão da escola. Era preciso saber ler. Posteriormente, surge a

comunicação de massa, como a televisão e o rádio. É a comunicação que se efetiva de ―um‖

para ―todos‖, que Lévy (in: MARTINS; SILVA (orgs.), 1999), chama de ―esquema de

estrela‖, ou seja, é acentuada a posição passiva do ouvinte. Para Prado (1991), a ―televisão

entrega as coisas mastigadas e digeridas, suscitando uma posição passiva” (PRADO, 1991, p.

94). Porém Manuel Castells (2006), em seu livro: ―A sociedade em rede‖, sugere que esta

posição passiva do ouvinte, foi alterada com o controle remoto, pois deu ―poderes‖ ao

indivíduo de ―zapear‖ pelos canais disponíveis. É possível filtrar o que se deseja assistir. Isto

fez com que surgissem programações específicas por temas, gerando grupos e subgrupos

neste tipo de comunicação de massa.

23

Após o advento da internet, André Lemos aponta em seu artigo ―Cibercultura e mobilidade‖,

de 2007, apresentado no Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da

Comunicação, que atualmente temos a comunicação ―pós-massiva‖. Para o autor a

comunicação pós-massiva, é a das mídias digitais que disponibilizam acesso à internet e seus

diversos softwares, como blogs, wikis, redes sociais, telefones celulares multifuncionais etc.

Nestas mídias, a função pós-massiva funciona a partir de redes em que qualquer pessoa pode

produzir informação, o que significa dizer que é liberado o pólo centralizador da emissão da

informação. O fluxo da informação não é mais de ―um para muitos‖, mas sim de ―muitos para

muitos‖. Diferentemente dos meios de comunicação de massa, os meios de função pós-

massiva permitem que a informação seja personalizada e sua disseminação acaba não sendo

controlada por um órgão ou mesmo pelo Estado.

1.3.3. Tecnologia da comunicação

―A ampliação das possibilidades de se contar diversas histórias começa a se viabilizar a partir da segunda metade deste século (século XX), com a explosão dos meios de comunicação.‖ (PRETTO, 1996, p. 37)

As tecnologias de comunicação ampliaram e acentuaram as capacidades humanas de falar,

ouvir e ver. Estas experiências aprimoradas pelo surgimento e evolução dos artefatos técnicos

propiciaram um ambiente favorável à criação de mecanismos diferentes para a comunicação –

tanto real (frente a frente) como virtual (imaterial). (CASTELLS, 2006)

O acesso a estes meios de comunicação tornou mais fácil aproximar pessoas que, devido à

distância geográfica, dificilmente poderiam se conhecer ou mesmo as que já se conhecem,

manter um contato mais presente. Como observa Castells (2006, p. 51), o surgimento de

novos sistemas eletrônicos de comunicação, aliado pelo alcance global e pela integração de

todos os meios de comunicação e pela interatividade, está mudando e mudará para sempre

nossa cultura.

Castells (2006, p. 420) também aponta que a partir 1995 um novo sistema de comunicação

eletrônica começou a ser formado a partir da fusão da mídia de massa globalizada com a

―comunicação mediada por computadores‖ – ―CMC‖. Como apresenta o autor, governos e

empresas do mundo inteiro empenhavam-se em uma corrida para a instalação do novo

sistema, considerado uma ferramenta de poder, fonte de lucro e de modernidade. Na

―comunicação mediada pelo computador, o céu não é o limite.‖ (CASTELLS, 2006, p. 420).

24

Desta forma, a interação social, antes realizada por meio de relações face a face, foi se

transformando devido às inúmeras e diversificadas formas de mediação. A internet, como

aponta Castells (2006 p. 431), é a ―espinha dorsal da comunicação global mediada por

computadores: é a rede que liga a maior parte das redes.‖

Para o pesquisador Pierre Lévy, a internet é uma imensa rede

―loucamente complicada, que pensa de forma múltipla, cada nó da qual é por sua vez um entrelace indiscernível de partes heterogêneas, e assim por diante em uma descida fractal sem fim. Os atores desta rede não param de traduzir, de repetir, de cortar, de flexionar em todos os sentidos aquilo que recebem de outros. Pequenas chamas evanescentes de subjetividade unitária correm na rede como fogos fátuos no matagal das multiplicidades. Subjetividades transpessoais de grupos.‖ (LÉVY, 2000, p. 173)

Percebe-se portanto que o uso da internet tem provocado mudanças nas relações entre as

pessoas e na forma como elas lidam com a informação. Estas mudanças vão desde a

possibilidade de termos múltiplas histórias geradas e publicadas a partir do mesmo fato,

passando pela mudança na relação do papel do leitor – de passivo para ativo (co-autor) e na

individualização e personalização que estes dispositivos disponibilizam. De acordo com Lévy

(2000), a internet permite a multiplicidade de pontos de vista e assim garante espaço para

todas as culturas e todas as singularidades.

Porém Zygmunt Bauman (2001), alerta que a individualização traz para um número crescente

de pessoas uma liberdade sem precedentes de experimentações, mas também traz junto, a

tarefa sem precedentes de enfrentar as suas consequências. Percebe-se aqui que a educação

tem um papel importante neste processo, pois os jovens precisam ser orientados de todas as

implicações, tanto positivas como negativas, de sua aplicação.

Para Umberto Eco, em entrevista dada em mar/20104, o problema central da internet é que a

navegação depende da capacidade de quem a consulta e diante da infinidade de informações

disponíveis, o estudante deverá ser capaz de escolher entre o site ―correto‖ a ser pesquisado.

Para Eco (2010), este é um grande problema para o futuro, pois não existe ainda uma ciência

para resolver isso. ―Depende apenas da vivência pessoal. Esse será o problema crucial da

educação nos próximos anos.5

4 Brasil, UBIRATAN. Entrevista Umberto Eco. Eletrônicos duram 10 anos; livros, 5 séculos. Reproduzido do caderno ―Sabático‖ do Estado de S. Paulo, 13/03/2010. Disponível no site Observatório da Imprensa em 16/03/10, http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=581AZL001. Acessado em 22/03/2010) 5 Ibid.

25

Assim, é necessário o entendimento das implicações que as mídias prenunciam. Não é

possível ficar a margem das novas descobertas. Como observa Niskier (1997, p 608),

―professor e máquina não competem, mas se completam. Um não poderá prescindir do outro,

na educação do futuro.‖

26

2. DISPOSITIVOS MÓVEIS

2.1. Evolução dos dispositivos móveis

A tecnologia dos dispositivos móveis surgiu por volta dos anos 90 e o recurso mais utilizado

era das agendas eletrônicas e calculadoras. Com a evolução de processadores cada vez mais

potentes e miniaturizados, ocorreu um acelerado desenvolvimento de dispositivos digitais

móveis, como os atuais smartphones e os tablets.

Os dispositivos móveis, são chamados por alguns autores como:

TIMS – ―Tecnologias de Informação Móveis e Sem Fio‖ (SACCOL;

REINHARD, 2004);

TMSF - ―Tecnologias Móveis e Sem Fio‖ (SCHLEMMER et al., 2007);

―Tecnologias Móveis‖ (SCANLON et al., 2005 e LEMOS, 2007)

Santaella (2007) e Pretto (1996) observam que a aproximação e a fusão de diversas empresas,

como de comunicação, equipamentos, eletrônica, informática, telefone, satélites,

entretenimento, entre outras, têm acelerado e ampliado o desenvolvimento das tecnologias

móveis. Este movimento, de acordo com Pretto (1996), teve início aproximadamente em

1989, época em que houve a fusão de duas grandes empresas: uma de comunicação, a Time

Inc. e outra de entretenimento, a Warner Communications. Para os autores, este movimento

de fusão e aproximação das empresas, tem permitido que elas continuem atuantes em um

mercado extremamente competitivo e em franca evolução.

―Mesmo com todas as disparidades regionais, o mundo das comunicações avança de forma singular neste final de milênio e o que diferencia este momento histórico dos outros [...] é que, em associações sem precedentes na história das corporações, fazem alianças as ―indústrias‖ eletrônicas, de equipamentos, cabos, telefones, computadores, a publicidade, as emissoras broadscating, os estúdios cinematográficos, produtores e artistas.‖ (PRETTO, 1996, p. 93-94)

Assim, hoje a tecnologia móvel oferece uma ampla variedade de modelos e recursos tanto de

hardware como de software, como smartphones, tablets, netbooks, i-pad etc. e pode se dizer

que o aparelho celular está no centro desta expansão tecnológica móvel, pois poucas

tecnologias tiveram uma curva de difusão tão rápida. No Brasil, em 2011, as pesquisas

apontam que há mais do que um celular por habitante, segundo a Teleco – Inteligência em

27

Telcomunicações6, para um grupo de 100 mil habitantes, 104,7 mil possuem aparelhos

celulares7. Conforme a ANATEL - Agência Nacional de Telecomunicações, em 2009, o país

já era considerado como o quinto no mercado mundial e a maioria dos usuários costuma

utilizar o sistema pré-pago (82%).

2.2. Breve histórico de dois “importantes” representantes da tecnologia móvel

Percebe-se que atualmente há dois importantes representantes da tecnologia móvel, ou seja, os

aparelhos celulares e os tablets. Estes dois dispositivos estão em constante evolução e estão

sendo incorporados, como mostram as estatísticas, rapidamente pela sociedade. Desta forma,

apresentamos abaixo, algumas de suas principais características.

2.2.1. Aparelhos celulares

O primeiro aparelho celular surgiu em 1973 e era chamado de Dynatac 8000X. Segundo

Moura; Mantovani (2009), este celular pesava, aproximadamente, um quilo e tinha 25 (vinte e

cinco) centímetros de comprimento, 7 (sete) centímetros de largura e 3 (três) de espessura.

Porém, somente em 1982, a Comissão Federal de Comunicações (FCC) norte-americana,

autorizou sua comercialização.

Os aparelhos celulares surgiram de forma muito semelhante ao da internet, ou seja, ambos

foram criados com propósitos militares, o que evidencia a forte presença governamental. A

origem do telefone celular deu-se em 1947, nos laboratórios Bell, onde foi desenvolvido um

sistema que fazia o uso de várias antenas interligadas. Como apontam Moura; Mantovani

(2009), cada antena em sua área seria uma ―célula‖, por isso, o nome telefone celular.

No Brasil, os celulares chegaram a partir de 1990 e a abertura do mercado de telefonia móvel

para o capital privado incentivou grandes investimentos no setor. Como observam Moura;

Mantovani (2009), isto permitiu um aumento significativo na produção de aparelhos e na

oferta de novos serviços, numa ampla disputa pelos consumidores.

Com a evolução tecnológica e o advento dos telefones digitais, os aparelhos celulares

passaram por constantes aperfeiçoamentos, alterando o seu design e ampliando suas 6 Teleco – Inteligência em Telecomunicações. Relatório de 2010. Disponível em http://www.teleco.com.br/estatis.asp. Acessado em 10/fevereiro/2011. 7 Anatel - Agência Nacional de Telecomunicações. Disponível em http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do. Acessado em 19/05/2010

28

funcionalidades. Atualmente o telefone celular conta com recursos não só de voz, mas

também de dados, ou seja, tudo foi transformado em dado. Oferecem serviços de e-mail,

mensagens de texto e até mesmo imagens e vídeo.

Com estas transformações, o aparelho celular agrega funções compatíveis com as de um

computador de mesa, o que permite disponibilizar recursos que há pouco tempo eram apenas

acessados em um computador desktop, fixo em um determinado lugar. Anderson &

Blackwood (2004), em artigo publicado com o tema Mobile and PDA technologies and their

future use in education, em que abordam a situação da tecnologia móvel na educação e traçam

um mapa das direções futuras, definem os aparelhos celulares como sendo um dispositivo

portátil que usa uma rede sem fio e é um híbrido de recursos. Lemos (2005, p. 06), aponta que

o celular passa a ser um ―teletudo‖, ou seja, um equipamento que é ao mesmo tempo telefone,

máquina fotográfica, televisão, correio eletrônico etc. e expressa a convergência das mídias.

Diante da variedade de recursos disponíveis, alguns estudos apontam que o aparelho celular é

incorporado de forma diferente pelos países. A pesquisadora Adriana Araújo de Souza e Silva

(2004, p. 321), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que desenvolveu um amplo

trabalho de pesquisa sobre interfaces móveis e comunicação, com o título: ―Interfaces móveis

de comunicação e subjetividade contemporânea‖, observa que o uso que cada sociedade faz

de determinada tecnologia (interface) está estritamente ligada a fatores culturais e

econômicos. Para a pesquisadora, a incorporação da tecnologia afeta e é afetada pela

sociedade e transforma padrões sociais e de comunicação — é uma via de mão dupla.

Percebe-se ainda que cada sociedade define diferentes ―significados‖ para uma nova

tecnologia e sua incorporação também é diferenciada. Assim, por estar diretamente ligada ao

seu uso social e à aceitação cultural, atribui a ela nomes diferentes. Souza e Silva (2004, p.

201) observa que nos países onde o celular possui maior índice de penetração, o aparelho

celular adquiriu nomes que não estão relacionados diretamente à tecnologia em si, mas

principalmente à relação humana com este dispositivo. Para exemplificar como as tecnologias

são absorvidas diferentemente pelos países, Souza e Silva (2004) apresenta como o aparelho

celular é chamado no mundo. Na Finlândia, por exemplo, o aparelho celular é chamado de

kännykkä ou känny, o que se refere a uma extensão da mão. Na Alemanha, os aparelhos

celulares são chamados de handy. Na Espanha, o chamam de le movil. Para os árabes,

segundo a pesquisadora Sadie Plant (apud SOUZA & SILVA, 2004), o celular é chamado de

el mobile, mas geralmente, recebe o nome de sayaar, ou makhmul (ambos os quais se referem

29

a carregar). Na Tailândia, é um moto. No Japão, é keitai denwa, um telefone transportável ou

simplesmente keitai ou apenas ke-tai. Na China, é sho ji, ou ―máquina de mão‖.

Além da forma diferente em que cada sociedade absorve as tecnologias, percebe-se que os

recursos utilizados também diferem de acordo com o país. Diferentemente do Brasil, os

recursos do celular que são mais utilizados nos outros países, segundo Souza e Silva (2004),

são mensagens de texto, jogos, internet e serviços de posicionamento, em detrimento da fala.

No Brasil, em 2004, o celular era um aparelho para ―falar‖, porém segundo a autora, já

podemos observar algumas mudanças nesse perfil com a chegada das mensagens de texto

(SMS), dos jogos e do acesso à internet. Souza e Silva (2004, p. 191) também observa que no

Brasil ocorre um fenômeno peculiar: em vez de adquirirem funções diferenciadas, como

plataforma de jogos e internet, os celulares cada vez mais substituem o telefone comum.

Outro dado importante em relação ao uso do aparelho celular, foi apontado por Lasen (2002,

2004 apud SACCOL; REINHARD, 2004, p. 189), pois apresenta que o aparelho celular tem

provocado certas mudanças de comportamento nos seus consumidores, ou seja, têm gerado

uma relação de afetividade, apego e personalização, principalmente, com os mais jovens. Para

os autores, isto ocorre por causa da estreita relação entre a tecnologia e a comunicação

humana e pelo fato desses dispositivos serem hoje, praticamente, uma extensão do próprio

corpo. Esta relação de afetividade, apego e personalização pode ser observada pela forma com

os jovens se preocupam em escolher o modelo e a cor do aparelho celular, o uso de diferentes

toques de chamadas para identificar quem está ligando, no repertório de músicas; nas fotos

utilizadas como protetores de tela; no uso de adesivos, capas protetoras, enfeites etc.

O artigo: ―Impactos psicológicos do uso de celulares: uma pesquisa exploratória com jovens

brasileiros‖, publicado em 2004 por Ana Maria Nicolaci da Costa, que desenvolve pesquisas

na área de psicologia na PUC - Rio de Janeiro, apresenta algumas mudanças comportamentais

causadas pelo uso constante do celular. De acordo com a pesquisa, desenvolvida com jovens

da cidade do Rio de Janeiro, foi observado que é possível identificar um aumento na sensação

de privacidade, de liberdade e de segurança. A autora aponta que os jovens costumam deixar

o celular sempre por perto e ligado 24 horas, porque querem estar sempre disponíveis e isto dá

a eles sensação de não estarem sozinhos. Para a pesquisadora, os jovens não vagam

solitariamente ou têm seus horizontes sociais limitados, a pesquisa revela exatamente o

contrário, ou seja, a rede de sociabilidade foi potencialmente ampliada. Qualquer que seja o

itinerário, o usuário carrega consigo sua rede social e pode acessá-la e ampliá-la a qualquer

momento. Diante da sensação de liberdade, de autonomia e de privacidade proporcionada pela

30

telefonia celular, os jovens consideram seu uso indispensável para suas vidas e se sentem

isolados quando por algum motivo estão privados de utilizá-lo. Sem eles, perdem o acesso a

redes sociais, sentem-se excluídos do convívio com amigos, parentes etc.

Ainda sobre as mudanças comportamentais provocadas pelo uso dos dispositivos móveis,

dada a sensação de ―segurança‖ e ―afetividade‖ proporcionada pelo aparelho celular,

poderíamos pensá-lo como um ―objeto transicional‖ da teoria de Donald Woods Winnicott

(1990 apud SILVA; FRIDMAN, 2007, p. 64). Para explicar este conceito, este psicanalista

inglês explica que: o bebê, nas primeiras semanas, pensa que ele é o próprio seio da mãe, pois

quando mama a sua satisfação é total, é uterina, de plena satisfação e portanto, o seio seria a

extensão do seu próprio corpo. Aos poucos, com o distanciamento da mãe, ele começa a

perceber que o seio materno não está sempre à disposição e não faz parte dele. Então, o bebê

faz inúmeras tentativas para preencher a angústia causada tanto pelo distanciamento da mãe

como pela espera do seio, e ―inventa‖, ―cria‖ algum ―substituto‖ para diminuir o seu

sofrimento, ou seja, se contenta com uma mamadeira, uma chupeta, um paninho ou até

mesmo com o seu dedo. São estes objetos que Winnicott (1990 apud SILVA; FRIDMAN,

2007, p. 64) chama de ―objetos transicionais‖. Ou seja, são objetos que solucionam a angústia

da separação e isto ocorre tanto na fase infantil como também por toda vida do indivíduo.

Assim, para Winnicott (1990 apud SILVA; FRIDMAN, 2007, p. 57), a ―criatividade‖ aliada à

―confiança‖ são condições mínimas para estabelecer um clima afetivo e social adequado

também para o ensino e a aprendizagem. De acordo com ele, para o ser humano crescer

saudável é preciso ―criar e produzir objetos transicionais‖ (WINNICOTT, 1990 apud SILVA;

FRIDMAN, 2007, p. 64). E é neste ambiente que pensamos se o celular não poderia ser

considerado um ―objeto transicional‖ no processo educacional, pois colocaria o professor

dentro de um grupo de relações do qual ele poderia se ausentar. Por meio do aparelho celular

o aluno poderia conhecer tanto coisas antigas como também coisas que não fazem parte da

sua vida cotidiana e mesmo assuntos contemporâneos.

Assim, a sensação de ―segurança‖ e a exploração da ―criatividade‖ que o celular disponibiliza

poderiam ser indicativos para considerá-lo como um ―objeto transicional‖. Logo, por meio do

celular o aluno poderia continuar aprendendo sem a presença constante do professor, o que

seria benéfico para continuar aprendendo ao longo de sua vida. Ressalta-se que a função do

professor neste processo também seria fundamental, pois como observa Winnicott (1990 apud

SILVA; FRIDMAN, 2007, p. 66), é o professor que precisa se preocupar em explorar o

espaço potencial entre ele e seu aluno, sendo confiável e fidedigno, podendo instaurar um

31

espaço lúdico, seguro, apresentando informações onde o educando esteja pronto para recriá-

las.

Porém, esta pesquisa não avança neste caminho, e sim no celular como um fator de motivação

para auxiliar o ensino e a aprendizagem dentro do ambiente escolar.

2.2.2. Tablets

O primeiro tablet surgiu em 1968, porém somente a partir de 1980 ele começou a ser

desenvolvido com a intenção de se tornar um computador-prancheta. Atualmente, os tablets

são portáteis, permitem conectividade, multimídia e as telas são sensíveis ao toque.

Acompanhando a linha do tempo8 do seu desenvolvimento, podemos perceber como eles

estão cada vez mais agregando funcionalidades que antes eram possíveis apenas a

computadores de mesa. O primeiro computador em formato de tablet, foi criado em 1968, por

Alan Kay, e foi chamado de Dynabook. Para a época ele era um grande desafio, pois teria que

ter o tamanho de um caderno, pesar no máximo 1,8 quilo, ter tela gráfica capaz de mostrar

pelo menos 4 mil caracteres em ―qualidade de impressão‖ com contraste similar ao do papel

impresso, além de disponibilizar memória suficiente para 500 páginas de texto ou para várias

horas de vídeo. Tudo isso com custo não superior a $500 dólares.

Somente após 15 anos, em 1983, a Apple contratou a empresa Frog Design para dar vida ao

conceito de um tablet computer. O protótipo, que logo foi engavetado, recebeu o apelido de

Bashful (dengoso). Era um tablet quadrado, com uma grande moldura preta ao redor. A

máquina seria acoplada a uma base com teclado, drive de disquetes e alça para transporte, e

uma caneta seria usada para a seleção de objetos na tela.

Passados quatro anos, em 1987, a Apple cria o tablet Knowledge Navitor - o navegador do

conhecimento. Este tablet tinha reconhecimento de voz e com a interface multitoque não era

exigido conhecimento técnico para ser utilizado. Dois anos mais tarde, em 1989, chega o

primeiro tablet no mercado, o GridPad Pen, da empresa Grid Systems, empresa pioneira que

também foi responsável pelo primeiro laptop. Este tablet pesava pouco mais de 2 quilos e

trazia um chip 386 de 20 MHz e tela de 10 polegadas monocromática. Tinha tudo o que um

bom computador daquela época deveria ter, como modem e unidade de disquete.

8 Rainer BROCKERHOFF; Sérgio MIRANDA. Bom, barato e mágico. IPad é a aposta da Apple para mudar o

mundo, de novo. Revista MAC+. Ilakazam! iPad é o computado de amanhã, hoje. no. 45, p. 20-21. 2009

32

A partir de 2001, as empresas começaram a investir mais no mercado de tablets. Neste

período, a Microsoft lançou a ideia da Tablet PC, dispositivos portáteis equipados com telas

sensíveis ao toque, preparada para ser utilizada com uma caneta apropriada. Em 2005, a

Nokia lança o Nokia 770, que nada tem a ver com celulares, pelos quais a empresa é

conhecida. É um tablet para acesso à internet equipado com uma tela de 4.1 polegadas. Foi

desenvolvido para navegar na web, ler e-mails, tocar música, exibir imagens como um leitor

digital, porém nunca foi comercializado em larga escala. Na verdade, foi uma espécie de

laboratório para um investimento futuro. Gerou três descendentes e foi o primeiro a

incorporar recursos de telefonia, o que o torna uma espécie de híbrido de smartphone com

tablet.

Em 2006, a Microsoft lançou o Origami, que tinha baixo poder de processamento, mas

disponibilizava uma tela de 7 polegadas, geralmente sensível ao toque. Em 2007, surge o

primeiro Mac ―tablet‖ produzido pela Apple, chamado de Modbook. Como sugere o nome,

era uma ―modificação‖ dos notebooks da Apple. A empresa comprava os computadores,

desmontava-os e remontava os componentes em um novo chassi, eliminando o teclado e

adicionando uma tela sensível ao toque (com caneta). Era conhecido como ―prancheta

eletrônica‖. E, por fim, em 2009 a Apple apresenta o iPad. Este tablet possui uma tela grande,

com interface touch e teclado virtual.

Atualmente o mercado de tablets encontra-se em crescente expansão e várias empresas estão

desenvolvendo e lançando produtos com diferentes funcionalidades. Isto tem permitido sua

incorporação em diferentes setores da sociedade, como na educação, no mundo coorporativo,

no setor de entretenimento, na imprensa, entre outros.

Um debate importante tem sido direcionado para a relação entre tablets e o futuro do livro, os

chamados e-books. Para Marília Levacov (in: MARTINS; SILVA, 2000), que desenvolve

estudos na área de tecnologia e mídia, estamos diante da transformação do livro e não, como

muitos apontam, de sua morte. Para a pesquisadora, ―estamos em uma etapa além do livro, da

mesma forma como existiu uma etapa além do papiro, apenas que desta vez em ritmo mais

acelerado‖ (LEVACOV in: MARTINS; SILVA, 2000, p. 280). Levacov observa que somente

podemos afirmar que as tecnologias móveis apresentam novas formas de comunicação e de

construção, compartilhamento e de classificação da informação, o que implicará em novas

formas de se mostrar o mundo e provavelmente, em novas maneiras de se produzir o

conhecimento. Como a questão sobre o futuro do livro não faz parte do objetivo principal

deste trabalho, não daremos continuidade neste questionamento.

33

Desta forma, esta pesquisa busca compreender como os recursos disponíveis nas tecnologias

móveis, principalmente no aparelho celular, podem contribuir para o processo de ensino-

aprendizagem. Porém, com o intuito de ampliar a pesquisa sobre os diferentes dispositivos

móveis, incluímos também o tablet, por ser um dispositivo representativo da tecnologia móvel

e devido à sua crescente incorporação nos diferentes setores da sociedade, inclusive pelo

ambiente educacional.

34

3. MOBILE LEARNING – APRENDIZAGEM MÓVEL

3.1. Introdução à aprendizagem móvel

Mobile Learning ou Aprendizagem Móvel teve sua origem no desenvolvimento da

aprendizagem por meios eletrônicos (MENDES, 2006 apud SILVA, 2007) e se caracteriza

por utilizar os dispositivos digitais móveis e sem fio, mais conhecidos como PDA –

Assistentes Digitais Pessoais ou computadores de mão – handheld. O pesquisador Hugo

Duarte Valentim, da Universidade Nova de Lisboa, em seu trabalho de pesquisa de mestrado

de 2009, com o título: ―Para uma compreensão do mobile learning”, aponta que não há como

se prever uma data específica para o início do mobile learning, porém é possível apontar um

aumento significativo no uso da expressão a partir da virada do milênio (VALENTIM, 2009).

Uma das principais características que diferencia o mobile learning do electronic learning é

sua emergente portabilidade. Segundo Valentim (2009), não é a tecnologia por si só que

confere originalidade, o dado ―novo‖ que as tecnologias móveis oferecem é que elas surgem

integradas, convergentes e disponíveis no bolso da maioria dos cidadãos.

Alguns pesquisadores, como Eliane Schlemmer, que desenvolve pesquisas na área de

convivência digital virtual e na aprendizagem com mobilidade, na Universidade Federal do

Rio Grande do Sul, em artigo publicado em 2007: ―M-learning ou aprendizagem com

mobilidade: casos no contexto brasileiro‖, ressalta que o uso de rede sem fio proporciona um

importante diferencial entre a ―aprendizagem móvel‖ e a ―educação a distância ‗‖fixa’, pois o

usuário pode acessar as informações fora de espaços privados (casa, trabalho, escola, lan

house etc.), e isto amplia o acesso e a troca de informações em diferentes lugares e a qualquer

tempo.

André Lemos (2007, p. 127), autor do artigo: ―Cidade e mobilidade. Telefones celulares,

funções pós-massivas e territórios informacionais‖, aponta que o grande diferencial da

tecnologia móvel é que ela permite a mobilidade informacional, ou seja, é a passagem do

acesso da internet fixa por cabo para um novo ambiente generalizado de conexão – sem fio e

desplugado de tomadas elétricas. Assim, hoje temos disponíveis na palma das mãos e ao

alcance dos dedos, recursos que antes eram apenas viabilizados por computadores de mesa –

PC. Esta mudança de paradigma, também é apontada por Pollyana Ferrari, que desenvolve

pesquisa na área de comunicações com ênfase em jornalismo digital, em seu livro:

―Hipertexto, Hipermídia: as novas ferramentas de comunicação digital‖, de 2007. Para a

35

autora, o software e o hardware não importam mais, o que realmente importa é ter à

disposição a informação no momento e na hora desejada.

―Se usarmos um computador pessoal, notebook, palm, celular ou uma geladeira inteligente, o importante é ter a informação ao alcance das mãos, ou seja, onde você precisa, na hora em que precisa.‖ (FERRARI, 2007, p. 08).

Desta forma, os dispositivos móveis se caracterizam pela sua ―portabilidade‖ (layout pequeno

e leve) e ―mobilidade‖ (sem fio). Porém vale lembrar, que estas características de mobilidade

e portabilidade não são exclusivas desta tecnologia, pois outras mídias, como os jornais,

revistas e rádio também permitem o acesso à informação em movimento. Valentim (2009)

ressalta que Aristóteles já cultivava o hábito de caminhar com seus alunos, experimentado a

primeira forma de ―mobilidade‖ aplicada ao ensino. Porém, o que realmente diferencia a

tecnologia móvel é sua possibilidade de interação, ou seja, permite o acesso a diferentes

formas de informação, como textos, vídeos, imagens, gráficos, etc., além de permitir a

emissão, circulação e troca em pleno movimento do usuário.

Desta forma, diante deste ―novo‖ ambiente tecnológico, a questão que se levanta é se estes

dispositivos móveis serão capazes de alterar e favorecer o ambiente formal de aprendizagem,

proporcionando atividades que estimulem o acesso e a troca da informação, a colaboração, a

criatividade, enfim, a participação ativa do aluno na construção do seu próprio conhecimento.

Para Schlemmer et al. (2007) isto é possível, pois os dispositivos móveis propiciam não

apenas a mobilidade física, mais também a mobilidade temporal e contextual. De acordo com

a pesquisadora, a informação pode ser atualizada dentro do contexto, do espaço e do tempo

em que for acessada. Assim, tanto a pessoa que acessa como a informação que é acessada,

estão em pleno movimento e isto facilita a troca de informação, além de possibilitar a

interação entre alunos, professores e contexto social.

Os pesquisadores Marçal; Andrade; Rios (2005, p. 01), também apontam que as

características de mobilidade e portabilidade aliadas à evolução dos dispositivos móveis e à

oferta de serviços de telecomunicações, permitem maior mobilidade aos diferentes

participantes do ambiente educacional e ampliam as oportunidades de desenvolver pesquisas

no campo da tecnologia móvel aplicadas à educação para criar situações que estimulem a

aprendizagem. Porém como observa Valentim (2009), é preciso assumir que não se trata de

36

uma nova invenção da forma de aprender, mas somente de uma evolução das formas

anteriores.

Assim, a aprendizagem móvel está relacionada à situações de aprendizagem flexível, que

pode envolver tanto o ensino presencial como o ensino a distância. Nesta modalidade, a

aprendizagem é centrada no aluno e deve proporcionar a ele uma posição ativa e co-

responsável de sua aprendizagem, colaborativa e construtiva (VALENTIM, 2009). Esta

possibilidade de aprendizagem colaborativa também é reforçada por Graziola Junior (2009),

participante do Grupo de Pesquisa Educação Digital da Universidade do Vale do Rio dos

Sinos, Rio Grande do Sul, em seu artigo: ―Aprendizagem com mobilidade na perspectiva

diagógica: reflexões e possibilidades para práticas pedagógicas‖, por permitir que o aluno

acesse, troque, faça mixagens, recortes, trabalhe de forma colaborativa em um ambiente que

estimula a interação e o diálogo para a construção do conhecimento.

A aprendizagem móvel também é apontada como sendo uma forma de proporcionar

aprendizagem por toda vida, por colaborar com a aprendizagem informal, focada nas

necessidades do indivíduo e colaborativa (Reinhard et.al., 2005). Para os autores, a tecnologia

móvel permite ampliar os espaços formais da escola e possibilita sua utilização nos chamados

tempos mortos, gastos em filas, sala de espera e transporte (CHRISTOPHER VON

KOSCHEMBAHR, 2005 apud REINHARD et.al., 2005). Estes momentos podem ser ideais

para acessar materiais didáticos, interagir, trocar informações no momento em que a dúvida

surgir. Desta forma, os espaços de aprendizagem não ficam mais restritos a uma sala de aula

ou a um determinado momento formal de educação (REINHARD et.al., 2005).

Para Valentim (2009), esta oportunidade de se ampliar os espaços de aprendizagem é uma

forma de proporcionar a aprendizagem individualizada e progressiva, podendo ocorrer sem

predeterminação de local ou hora, e respeitando-se a idiossincrasia de cada sujeito. O acesso a

informação, portanto, pode ocorrer em contextos variáveis ao longo do dia e permite que o

indivíduo participe de vários grupos, com flexibilidade na gestão do tempo. Além disto, o

ensino não ficará mais centralizado e unificado na ―voz do mestre‖ ou nos livros, é possível a

exploração de conteúdos em múltiplos formatos e diferentes linguagens, respeitando-se as

diferenças de níveis de aprendizagem (VALENTIM, 2009).

Para alguns autores como Horace Dedeiu, criador do site Asymco9 e apontado como um dos

melhores analistas de mídas móveis pela revista Fortune10, estamos em um momento

9 Site http://www.asymco.com/. Acessado em 10/05/11.

37

importante, o chamado de era pós-PC11. Após o advento da invenção do alfabeto e

posteriormente o da imprensa, que desencadearam mudanças significativas em todos os

segmentos da sociedade, hoje temos as mudanças provocadas/proporcionadas pelas

tecnologias móveis. Para Dedeiu, diferentemente da era pós-mainframe12 marcada pela

criação do computador pessoal, a era pós-PC pode ser considerada como uma nova revolução,

pois permite que a comunicação se realize em contextos inéditos, e se torne cada vez mais

individualizada, alterando a relação de consumo e de comunicação. Para Dedeiu, os

dispositivos móveis serão vistos mais como uma ―companhia‖ do que apenas como um

―instrumento‖, pois as pessoas tem migrado para esta tecnologia em busca de mais interação

social e entretenimento. Porém o autor observa que a era pós-PC não significa o fim do

computador pessoal, apenas que ele será redirecionado para atividades mais específicas, como

ocorreu com os mainframes.

Enfim, mobile Learning, mLearning ou aprendizagem móvel como costuma ser chamado,

refere-se a processos de ensino-aprendizagem que se utilizam das tecnologias móveis como

recurso tecnológico (MENDES 2006 apud SILVA 2007) e sua aplicação pode envolver tanto

usuários que estão física e geograficamente distantes entre si, como também usuários que

estão dentro do mesmo espaço físico formal de educação, como salas de aula, salas de

treinamento ou locais de trabalho (MARÇAL; ANDRADE; RIOS, 2005). Assim,

considerando os pontos positivos, esta pesquisa pretende refletir sobre se e como o aparelho

celular vêm sendo incorporado no processo educacional.

3.2. Aprendizagem móvel – Tecnologia “transparente”, “ubíqua” e “pós-massiva”

Os dispositivos móveis aliados à TICs (Tecnologia da Informação e Comunicação) abrem um

leque de possibilidades para sua utilização. Surgem diferentes aplicações, tanto no mundo

coorporativo como no acadêmico, em que a tecnologia móvel é utilizada para criar ambientes

e situações de aprendizagem. Abre-se assim, um novo cenário em que a relação de tempo e

espaço; emissor e receptor; virtual e real; público e privado; se modificam.

10 Bruno FERRARI. É como brinquedo de criança. Os tablets prometem uma computação tão fácil e divertida que você pode acabar aposentando o notebook. Revista Época. A nova infância do computador. 25/04/2011. Edição 675. Editora Globo. p. 56-67 11 PC - Personal Computer - computador pessoal, que se destina ao uso pessoal ou por um pequeno grupo de pessoas. 12 Mainframe: computador de grande porte, dedicado normalmente ao processamento de um volume grande de informações e para milhares de usuários por meio de milhares de terminais conectados.

38

Para alguns autores como Valentim (2009), Schlemmer et.al. (2007), Lemos (2005, 2007),

Scanlon et al. (2005), Reinhard et.al. (2005), Graziola Junior (2009), Saccol; Reinhard

(2007), estamos vivendo um momento histórico em que surgem novos valores e novos

desafios se apresentam. As possibilidades que as tecnologias móveis proporcionam como

mobilidade (tempo/espaço/contexto), portabilidade, acesso rápido as informações,

flexibilidade, troca, entre outras, nos remete a questionamentos, como por exemplo, de como

a sociedade se apropria destes novos recursos e como isto afetará as relações sócio-político-

econômico, principalmente a questão da aprendizagem.

Os professores Amarolinda Zanela Saccol e Nicolau Reinhard (2007, p. 179-180), no artigo:

―Tecnologias de informação móveis, sem fio e ubíquas: definições, estado-da-arte e

oportunidade de pesquisa‖, apresentam que um novo ―espaço‖ é criado e o mundo ―virtual‖ e

―real‖ se misturam, ou seja, é possível estar ao mesmo tempo conectado e em movimento,

presente tanto no espaço ―virtual‖ como no ―real‖, que os autores denominam como

―ubiquidade13‖. A grande questão a respeito do "real" e do "virtual" não será aqui levada

adiante, pois seria exaustivo e não apresentaria muitos ganhos a esta pesquisa. Portanto o real

e virtual estão sendo citados apenas em seu sentido mais direto: o real como "concreto" e o

"virtual" como informação abstrata e digitalizada. A questão de ―ubiquidade‖ presente nos

dispositivos móveis, também é apontada por Lemos (2005, p. 05) em seu artigo: ―Cibercultura

e mobilidade. A era da conexão‖, de 2005. Para o autor, a tecnologia móvel pode

proporcionar ao usuário a sensação de estar em vários lugares ao mesmo tempo, ou seja,

mesmo estando presente fisicamente em um determinado local ele pode interagir com uma ou

mais pessoas ao mesmo tempo, que podem estar presentes no mesmo local ou em locais

diferentes. Além disto, o usuário pode navegar entre os dois mundos - ―real‖ e ―virtual‖, em

movimento, de forma quase simultânea, podendo mesclar as informações do mundo real com

as informações acessadas virtualmente. Ressalta-se que tanto o usuário como a informação

estão em pleno movimento.

Além disto, Lemos (2005, p. 06) também observa que os dispositivos digitais, principalmente

os aparelhos celulares, estão tão incorporados à nossa vida, que praticamente os utilizamos

sem nos darmos conta da existência deles. O autor denomina isto como ―tecnologia

transparente‖, ou seja, os dispositivos que usamos praticamente como se fossem uma extensão

do próprio corpo. Há outros exemplos de tecnologias consideradas ―transparentes‖, como é o 13

O termo ubiquidade, conforme aponta VALENTIM (2009), foi utilizado pela primeira vez por Orígenes no contexto teológico como sinônimo da onipresença de Deus.

39

caso do automóvel. Quando estamos dirigindo, é algo tão automático que nem percebemos

que estamos alterando a marcha, apertando os pedais do freio/embreagem/acelerador, girando

o volante, ou seja, a tecnologia praticamente ―desaparece‖. Outro exemplo, é a escrita, como

observa o filósofo Régis Debray (1999 in: MARTINS; SILVA, 2000, p.152-153), a escrita é

uma extensão do próprio cérebro e isto permite que o sujeito se supere, se multiplique, se

intensifique e se prolongue.

Vilém Flusser (2011) também aborda esta questão do prologamento do corpo, quando em seu

livro ―Filosofia da caixa preta‖, observa que ―instrumentos são prolongações de órgãos do

corpo: dentes, dedos, braços, mãos prolongados.‖ (FLUSSER, 2011, p. 39). Para o autor, os

instrumentos ―simulam o órgão que prolongam‖, o que pode resultar em uma maior eficiente

ao ser utilizada.

Assim, a tecnologia móvel está se tornando crescentemente ―onipresente‖, ―despercebida‖ e

praticamente ―invisível‖ (LEMOS, 2005, p. 124). Está presente, simultaneamente, em

diferentes lugares e permite integrar por meio da internet, o particular ao todo e acessar

informações dos lugares mais remotos possíveis. Busca-se, portanto, refletir como estas

características podem contribuir para o processo de ensino-aprendizagem dentro da sala de

aula. Como observa Lemos (2007, p. 123), estamos vivendo uma fase em que entra em jogo a

relação entre sujeito, espaço geográfico, cultura, política, economia etc.

Sabe-se que isto não é exclusividade da era digital. Em todas as fases da história houve

mudanças nos meios de comunicação e linguagem, na relação tempo, espaço e meios de

transporte, de tecnologias disponíveis, entre outas. Mas para o autor estamos vivendo uma

fase que ele define como ―cibercidade‖. Estamos imersos em uma nova relação com o tempo,

com o espaço e os diversos territórios, e as cidades estão se tornando cada vez mais

desplugadas (sem fio), conectadas (interligando máquinas) e envolvendo pessoas em plena

mobilidade. As cidades contemporâneas, segundo Lemos (2007), estão se transformando em

lugares totalmente interligados e permanentemente conectados.

Desta forma, Lemos (2007, p. 125) aponta que estamos diante de uma nova cultura, que

denomina como ―pós-massiva‖. Para o autor, a cultura pós-massiva refere-se as novas formas

de comunicação e interação proporcionada, principalmente, pela internet (blogs, wikis,

podcasts, redes sociais etc.) e pelas tecnologias móveis. Lemos (2007, p. 126) observa que a

grande diferença entre a cultura ―massiva‖ (da era industrial - da impressa, da televisão, do

rádio etc.), para a cultura ―pós-massiva‖ (internet e demais aplicativos), está em como a

informação é transmitida. Na cultura massiva as informações são dirigidas por um pólo

40

centralizador para uma massa, o chamado formato estrela, ou seja, ―de um para muitos‖, para

pessoas que não se conhecem, que não estão juntas espacialmente e que têm pouca

possibilidade de interagir. Já na cultura pós-massiva, a informação pode ser produzida por

qualquer pessoa, liberando o pólo da emissão e ampliando a interação - a informação assume

um carater bidirecional, ―de muitos para muitos‖. Diferentemente do meios de comunicação

de massa, a cultura pós-massiva permite a personalização, a publicação e disseminação da

informação não controlada por empresas.

Portanto, a atual configuração comunicacional aliada à tecnologia móvel, permite

emitir/transmitir, acessar/trocar e se mover ao mesmo tempo. Enfim, os atuais dispositivos

móveis, principalmente o aparelho celular, tem sido caracterizado como uma tecnologia

―transparente‖, ―ubíqua‖ e ―pós-massiva‖ (SACCOL; REINHARD, 2007; LEMOS, 2005,

2007; VALENTIM, 2009; SCHLEMMER et.al., 2007). Porém, ainda com todas estas

caracterísitcas, não podemos deixar de considerar outros pontos de vista, em busca de uma

reflexão sem demagogias sobre este ambiente informacional. Como sugere Perrenoud (2000,

p. 126),

―Entre adeptos incondicionais e céticos de má-fé, talvez haja espaço para uma reflexão crítica sobre as novas tecnologias, que, de saída, não seja suspeita de se pôr a serviço, seja, da modernidade triunfante, seja da nostalgia dos bons e velhos tempos em que se podia ainda viver no universo do papel e lápis.‖

A análise crítica apontada por Paul Virilio, em seu livro: ―A bomba informática‖, de 1999,

nos faz refletir sobre o perigo dos extremos entre o otimismo e o pessismo. Virilio (1999),

apresenta nesta obra seus ensaios e reflexões sobre o desenvolvimento tecnológico e seus

reflexos na sociedade. O autor lança luz sobre a questão da relação entre público e privado,

colocada à prova com as possibilidades do mundo digital constantemente conectado – ―alguns

usuários da internet chegam a viver em transmissão direta. Por meio dos circuitos fechados da

WEB eles exibem sua intimidade a todos‖ (VIRILIO, 1999, p. 23). Isto nos faz refletir sobre a

questão da superexposição da imagem, pois é comum jovens exporem a intimidade (sexual,

relacionamentos, conflitos, angústias, dramas etc.) na internet, sem pensar nas consequências

e nos riscos que isto pode acarretar. Percebe-se que a educação tem um papel importante nesta

questão, pois os jovens devem ser orientados sobre as implicações que uma publicação

indevida, como de racismo, atentado ao pudor, bullying, entre outras, podem resultar.

41

Para Virilio (1999, p. 30-31) a tecnologia é o nosso ―destino‖ e a única ―liberdade‖ que os

aparelhos de tecnologia nos dão é de poder dizer ―sim‖ a seu ―potencial‖. Porém para o autor

(1999, p. 37), ―a questão agora é justamente saber se temos a liberdade de dizer NÃO a este

século (...).‖ Para ele, vivemos em um mundo de ―cada um por si, o salve-se quem puder

(...)‖, pois estamos diante de um bombardeio de imagens, uma superficialidade de informação

e de substituição das palavras. Assim, o autor (1999, p. 68) recomenda que a crítica da

técnica não pode nunca desaparecer e aponta que o slogan ―mais rápido, menor, mais barato

da NASA”, ao invés de permitir conquistar outros espaços, na verdade resulta somente na

compressão do tempo. Além disto, o autor questiona a ideia de otimismo ―cego‖ das pessoas

que põem todas as esperanças no progresso técnico. Para Virilio (1999, p. 106), a internet é a

―melhor‖ e a ―pior‖ coisa do mundo, ou seja, representa o progresso de uma comunicação sem

limites e o desastre e a colisão dos saberes individuais e coletivos, pois resulta não em

informação, mas sim em ―desinformação virtual‖. Para ele, o analógico cede lugar ao digital,

e isto permite a compressão dos dados e acelera a troca de informações, porém o preço pago

para isto, de acordo com o autor, é o empobrecimento das informações. Esta era anunciada

por dispositvos que permitem ―interatividade‖, ―imediatez‖ e ―ubiquidade‖, para o autor, pode

apenas reduzir a importância dos conteúdos e supervalorizar a velocidade da transmissão.

―(...) utilizar como prioridade os engodos de redes que lançam mão da rapidez absoluta de impulsos eletrônicos, supostamente capazes de dar instantaneamente o que o tempo só concede pouco a pouca, signfica não apenas reduzir a quase nada as dimensões geográficas do mundo real como o faz a aceleração dos veículos rápidos já há mais de um século, mas principalmente dissimular o futuro na duração ultracurta de uma transmissão direta telemática – fazer com que o futuro, chegando agora, pareça não mais existir (...)‖ (VIRILIO, 1999, p. 94)

O filósofo Giorgio Agamben (2005), em seu artigo: ―O que é um dispositivo?‖, também

questiona a constante exposição dos indivíduos aos dispositivos14. Para o autor, ―não haveria

um só instante na vida dos indivíduos que não seja modelado, contaminado ou controlado por

algum dispositivo‖. Quanto aos aparelhos celulares, Agamben (2005) acredita que eles

deixam ―abstratas‖ as relações entre as pessoas e é ingênuo quem acredita no discurso que o

problema dos dispositivos pode ser facilmente resolvido ―pelo seu uso correto‖. Para o autor,

estes discursos ignoram que o uso do dispositivo corresponde a um determinado processo de

subjetivação, o que torna quase impossível que o sujeito use o dispositivo de modo correto ou

justo, ou seja, a questão que se apresenta é: como se define o modo correto ou justo para sua

14 O autor chama de dispositivo qualquer coisa que tenha de algum modo a capacidade de capturar, orientar, determinar, assegurar as opiniões e os discursos dos indivíduos, e também a caneta, o computador, os telefones, a literatura, a filosofia, o cigarro, e até mesmo a linguagem (AGAMBEN , 2005, p. 11).

42

utilização? Ele também questiona a dimensão que estes dispositivos tomam na vida dos

indivíduos, pois muitas vezes as pessoas deixam que eles controlem e executem tarefas do seu

cotidiano, como saúde, divertimento, ocupações, alimentação, desejos etc. Além disto,

segundo Agamben (2005), é preciso se preocupar com a super vigilância que estes

dispositivos proporcionam, pois para ele as ―video-câmara transformam os espaços públicos

das cidades em áreas internas de uma imensa prisão. Aos olhos da autoridade - e talvez esta

tenha razão - nada se assemelha melhor ao terrorista do que o homem comum.‖ (AGAMBEN,

2005, p. 11).

Assim, como apresentam Virilio (1999) e Agamben (2005), a crítica da técnica não pode

desaparecer. É preciso estar sempre atento para olhar e analisar os dispositivos de todos os

lugares, de todos os ângulos, buscando uma reflexão crítica e sem fanatismo.

3.3. Mobile Learning – Variáveis envolvidas

Mobile learning, como mencionado anteriormente, é a possibilidade de se criar situações de

aprendizagem usando os dispositivos móveis e tirando partido da permanente conectividade

facultada pelas redes sem fios. É importante ressaltar que a aprendizagem móvel não está

envolvida apenas a parte técnica, mas sim a todo o contexto que envolve o processo de

ensino-aprendizagem, como: as características do indivíduo que aprende; sua dimensão social

e o dispositivo mediador.

O pesquisador Valentim (2009) apresenta o estudo desenvolvido por Laouris & Eteokleous

(2005 apud VALENTIM, 2009) que elaboraram uma equação para representar as variáveis

envolvidas no processo de aprendizagem móvel, ou seja: tempo, espaço, ambiente de

aprendizagem, método, conteúdo, tecnologia e capacidade mental do aluno. Para estes autores

há um conjunto de fatores transdisciplinares de saberes relacionados ao mLearning (MLearn).

A função destas sete grandes variáveis que se exponenciam, segundo Laouris & Eteokleous

(2005 apud VALENTIM, 2009), indicam a ocorrência do fenômeno mobile learning.

MLearm = f{ t, s, LE, c, IT, MM, m}, sendo:

t = tempo; s = espaço; LE = Ambiente de Aprendizagem;

m = método; c = conteúdo; IT = tecnologias da informação;

MM = capacidade mentais do aprendente

43

Observa-se desta forma, que a tecnologia (TI – tecnologia da informação) equivale apenas a

1/7 da dimensão para análise da aprendizagem móvel, e coloca no mesmo patamar de

importância o método pedagógico, o conteúdo que se deseja ensinar, a questão do tempo e do

espaço, entre outras variáveis. Para o autor é preciso ter como meta principal adaptar as reais

necessidades da aprendizagem ao objetivo que se deseja atingir.

Assim, a aprendizagem móvel depende tanto do contexto, ou seja, do que ―está em volta‖,

quanto da disponibilidade de artefatos culturais e materiais e deve priorizar atividades ativas

do aluno (VALENTIM, 2009). Deve-se incentivar atividades que busquem gerar

conhecimentos em contextos colaborativos, proporcionando interação entre os participantes e

respeitando o contexto social do aluno (VALENTIM, 2009).

3.4. Pesquisas sobre Aprendizagem Móvel

Os dispositivos móveis vêm sendo utilizados em diferentes segmentos da sociedade, tanto

para auxiliar na parte administrativa como na pedagógica. De acordo com Marçal; Andrade;

Rios (2005), as pesquisas sobre aprendizagem móvel têm priorizado dois grupos de usuários:

crianças e profissionais que exercem suas atividades em ambientes externos.

Para as crianças as tecnologias móveis fornecem uma nova e motivadora forma de interação e

para os profissionais externos, cuja rotina é bastante dinâmica e desenvolvida em diferentes

lugares, a preocupação é fornecer um ambiente de aprendizagem que disponibilize a

informação o mais atualizada possível.

Desta forma, apresentamos abaixo algumas iniciativas de pesquisa que foram desenvolvidas

com o uso de dispositivos móveis, principalmente com o aparelho celular, para auxiliar o

processo de ensino-aprendizagem, em ambientes formais ou informais de educação.

Segundo o artigo apresentado por Schlemmer et.al (2007), ―m-Learning ou aprendizagem

com mobilidade: casos no contexto brasileiro‖, em que foi pesquisado as práticas de m-

learning, no contexto brasileiro, especialmente no ambiente acadêmico, revela que o m-

learning está sendo adotado de forma experimental no ambiente acadêmico, especialmente no

ensino superior. Segundo o artigo, os desafios para o seu desenvolvimento são tanto de ordem

social/cultural – resistências à adoção de novas tecnologias e desenvolvimento de uma cultura

para o uso destes dispositivos, como de ordem didático-pedagógica – da necessidade de

inovação nas práticas didático-pedagógicas, além é claro, da questão econômica. Como foi

apresentado no artigo, foram levantados 25 casos no Brasil em que se usava o termo mobile

44

learning para definir iniciativas de projetos, pesquisas, trabalhos, etc. Segundo os resultados

da pesquisa, a maioria dos casos indicam que o m-Learning não foi adotado como uma prática

rotineira, ou seja, incorporado de fato aos processos de ensino-aprendizagem. Além disto,

segundo a pesquisa, os casos apresentados geralmente tem um enfoque mais tecnológico –

poucos são os que tratam da questão didático-pedagógica ou dos aspectos sociais envolvidos

na adoção da aprendizagem móvel.

Um outro trabalho de pesquisa desenvolvido foi o realizado pelo professor Kumaras Pillay, da

escola da província de KwaZulu Natal, no leste da África do Sul. Este trabalho15 foi

desenvolvido com a utilização do aparelho celular no ambiente escolar. O professor

transformou arquivos com informações complementares às aulas para acesso por meio do

celular, onde era possível aos alunos assistarem a aulas, discutirem temas com os colegas e até

fazer provas. Além disto, o professor formou grupos entre os estudantes e pediu a eles que

fizessem pesquisas e interagissem pelo celular. Este trabalho ganhou o prêmio mundial da

mais inovadora iniciativa no uso da tecnologia no contexto educacional, oferecido pela

Microsoft em um evento em Helsinque, na Finlândia, em 200716. O professor Kumaras Pillay

afirma que o interesse nas aulas aumentou e aponta que em seu país, só 20% da população

tem energia elétrica e menos ainda tem computador. No entanto, mais de 80% têm aparelho

celular, principalmente os jovens.

Adelina Moura, pesquisadora de aprendizagem móvel, Universidade de Ninho/Portugal,

também apresenta em seu artigo: ―Geração Móvel: um ambiente de aprendizagem suportado

por tecnologias móveis para a ‗geração polegar‘‖, de 2009, uma outra iniciativa realizada com

tecnologias móveis desenvolvida também na África, onde o acesso a computadores é limitado

mas, os dispositivos móveis são mais baratos e acessíveis à população. Segundo o conselho

nacional nigeriano, a tecnologia móvel começou a ser adotada nos planos de estudo do ensino

básico e os relatórios preliminares indicam maior alfabetização das povoações abrangidas.

Neste projeto os estudantes podem usar a câmara fotográfica, reproduzir áudio, calendário,

calculadora, e acessar programas informáticos educativos.

15 Renata CAFARDO. Uso do celular na educação ganha prêmio internacional. Jornal O Estado de São Paulo. 2 de novembro de 2007. Disponível em http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20071102/not_imp74434,0.php. Acessado em 12/04/2011. 16 Renata CAFARDO. Uso do celular na educação ganha prêmio internacional. Jornal O Estado de São Paulo. 2 de novembro de 2007. Disponível em http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20071102/not_imp74434,0.php. Acessado em 12/04/2011.

45

Outros trabalhos apresentados na Conferência Internacional sobre Mobile Learning,

organizada pela IADIS – Internacional Association for Development of the Information

Society, em março/11, realizada em Ávila/Espanha, também mostraram diversas iniciativas de

pesquisas utilizando-se dispositivos móveis. Esta conferência, que acontece anualmente em

diferentes países, visa proporcionar um fórum para a discussão e apresentação de pesquisas

sobre aprendizagem móvel.

Destacamos abaixo, algumas pesquisas apresentadas em que o uso do dispositivo móvel teve

um papel relevante para a aprendizagem:

O projeto M-Ubuntu desenvolvido em 2009, na África do Sul, apresentado pela pesquisadora

Lucy Haagen, da Universidade de Duke University Program in Education – EUA, com o

título M-Ubuntu a case study of mobile phones & literacy instruction in two south african primary

schools, utilizou aparelhos celulares reciclados, doados pela Samsung, como ferramenta para

auxiliar a alfabetização em duas escolas primárias do sul africano. A pesquisa partiu da

hipótese de que em escolas com poucos recursos, os aparelhos celulares poderiam ser uma

alternativa, acessível e sustentável para a alfabetização de crianças. O projeto equipou as duas

escolas, que tem alto índice de pobreza, com aparelhos celulares, projetor e um notebook. A

pesquisadora aponta que de modo geral os professores envolvidos neste projeto apresentavam

entusiasmo e que houve melhora tanto na leitura, na escrita, na interação e no comportamento

dos alunos. A maioria das crianças envolvidas neste projeto eram de baixa renda, sendo

algumas soropositivo. Em uma das atividades desenvolvidas, a pesquisadora relata que o

celular foi utilizado para fotografar e gravar entrevistas de mulheres que se destacam na

África em comemoração ao Dia Nacional da Mulher (09 de agosto). As imagens e os vídeos

capturados foram posteriormente utilizados na sala de aula, por meio do laptop. Para a

pesquisadora os dados obtidos foram positivos, pois os professores manifestaram que o uso do

celular pode ajudar a motivar e a desenvolver a leitura, a escrita e a criatividade dos alunos e

professores.

O artigo Listening to an educational podcast while walking or jogging. Can students really

multitask?, apresentado por Joke Coens, Ellen Degryse, Marie-Paul Senecaut e Geraldine

Clarebout, da Universidade de Katholieke Universiteit Leuven Campus Kortrijk – Bélgica,

mostra os resultados obtidos a partir de dois experimentos que visa analisar o efeito de

executar duas tarefas ao mesmo tempo. A pesquisa foi realizada a partir da comparação de

dois grupos para verificar o nível de aprendizagem quando se está realizando somente uma

tarefa (estudar) e quando se está realizando duas tarefas ao mesmo tempo, como estudar e

46

correr/andar. O estudo foi realizado a partir de dois grupos, sendo um grupo formado por

pessoas que teriam de apenas executar a tarefa de aprender algo e outro grupo formado por

pessoas que teriam de aprender algo por meio de um dispositivo móvel e ao mesmo tempo

executar uma tarefa secundária, como caminhar ou correr. O artigo indica que não houve

diferenças significativas entre o desempenho de aprendizagem dos dois grupos, porém os

alunos que estudaram sem realizar outra tarefa se saíram melhor no teste do que os alunos que

estudaram e correram ao mesmo tempo.

Uma outra pesquisa And the development of self-regulated learning skills, apresentada pelos

pesquisadores Mutsumi Kondo, Yasushige Ishikawa, Craig Smith, Kishio Sakamoto,

Hidenori Shimomura e Norihisa Wada Tezukayamagakuin, da universidade Imakuma

Osakasayama-shi, do Japão, Osaka, mostrou os resultados da pesquisa que buscou criar um

software denominado de MALL – Mobile Assisted Language Learning (MALL), para ajudar os

alunos a se prepararem para o teste de proficiência em inglês TOEIC, nas habilidades

específicas de escuta e leitura. Participaram desta pesquisa estudantes que estavam cursando o

primeiro ano da universidade. O software foi desenvolvido para o dispositivo móvel -

Nintendo DS, com o propósito de avaliar se o uso deste dispositivo beneficiava aprendizagem

dos alunos. O estudo demonstrou que os alunos que participaram deste projeto obtiveram um

aumento significativo em sua nota e declaram que gostariam de continuar estudando com o

Nintendo DS17.

Os pesquisadores Gerald C. Gannod and Kristen M. Bachman, da University Miami, Oxford,

Ohio, apresentaram os resultados obtidos em sua pesquisa Integrating m-learning in a broad

context: issues and recommendations , que tinha como propósito levantar dados, por meio de

observação e reflexão em consultas a especialistas e na literatura atual, com o objetivo de

elaborar um conjunto de recomendações de como a computação móvel pode facilitar a

aprendizagem. A partir da análise dos dados levantados, os pesquisadores apresentaram seis

principais recomendações: 1) os aparelhos celulares não devem ser vistos como um substituto

para as atuais técnicas de aprendizagem, mas sim como um complemento; 2) a aprendizagem

móvel deve ser utilizada para facilitar as diferentes dimensões da aprendizagem, pois oferece

uma experiência personalizada, autêntica e situada (Traxler, 2007); 3) os dispositivos móveis

proporcionam um ambiente favorável a colaboração, tendo em vista seus inúmeros

aplicativos, como twitter e MSN que facilitam a comunicação e a troca de informação; 4) a

aprendizagem móvel deve envolver todos os participantes de um mesmo grupo, evitando-se a

17 Dispositivo portátil que disponibiliza jogos eletrônicos, acesso à internet, fotografia etc.

47

exclusão ou o constrangimento de membros que não possuam o dispositivo móvel. 5)

desenvolver políticas para a adoção da aprendizagem móvel, evitando-se o abuso na sua

utilização, como o acesso a conteúdos inapropriados, cyber-bullying, roubo ou perda de

aparelhos etc.; 6) A adoção da aprendizagem móvel deve ser acompanhada de uma

preparação/formação dos componentes principais que envolve este processo, ou seja: os

estudantes, os educadores, o pessoal de apoio e os pais.

Destacamos também a pesquisa High school teachers face the challenge of integrating the

mobile phone in the classroom, apresentada por Francisco Brazuelo Grund, da UNED –

Universidade Nacional de Ensino a Distância, Madri, Espanha, com o objetivo de identificar

quais são as crenças e atitudes dos professores sobre o telefone celular como uma tecnologia

educacional. A pesquisa partiu do pressuposto de que o celular é um recurso com um grande

potencial educativo, tanto no ensino em sala de aula como na gestão de escolas, e oferece

múltiplos benefícios para a comunicação. Porém, como o pesquisador ressalta, o uso do

celular é praticamente insignificante para o processo educacional. Esta pesquisa foi realizada

na Espanha, envolvendo um total de 53 professores, com idade entre 30 e 60 anos. A partir

dos dados apurados por meio de questionário, a pesquisa concluiu que: as atitudes dos

professores são geralmente pró-integração do aparelho celular como um recurso educativo, no

entanto há incertezas ou ignorância em relação à sua aplicação. Para o pesquisador seria

desejável divulgar experiências de aprendizagem móvel para os professores, promover

projetos de inovação educacional em sala de aula com o apoio do celular e oferecer

treinamento para professores sobre a sua utilização como ensino, educação e gestão de

recursos nas escolas. Em relação à receptividade dos professores para a telefonia móvel como

um recurso educacional, foram identificados três grupos: uma maioria de professores,

representada por 67%, demonstraram altamente receptivos e dispostos a incorporar o telefone

celular como um recurso educacional. Um segundo grupo, 26%, manifestou que ainda não

sabia o que pensar e que precisam "ver para crer", ficando em uma polaridade neutra. Um

terceiro grupo, ou seja, 7% dos professores, apresentaram-se céticos e convencidos de que o

aparelho celular é apenas um mero brinquedo e não mostraram interesse em incluir o telefone

móvel como uma tecnologia educacional. Além disto, o estudo apresentou que dos 53

professores entrevistados, 94,3% disseram que nunca tinham usado o aparelho celular na sala

de aula e, 92,5% não tinham conhecimento de qualquer experiência semelhante. Para o autor

este dado revela que um dos motivos da barreira do uso do aparelho celular na escola pode ser

pelo fato do desconhecimento desta aplicação. O autor acrescenta ainda que os dados obtidos,

48

por meio de questionários, mostraram que 28,3% dos docentes discordam da proibição do

aparelho celular na sala de aula e que 40,9% não temem a possibilidade de serem fotografados

ou filmados durante a aula.

Desta forma, podemos perceber que há várias iniciativas de pesquisas que buscam entender

como as tecnologias móveis podem auxiliar efetivamente o processo de ensino-aprendizagem,

tanto no ambiente ―formal‖ ou ―não-formal‖ de educação. Os dados apresentados acima

indicam que as pesquisas têm sido mais concentradas na questão de como a tecnologia está

sendo incorporada no processo educacional e também na tentativa de se encontrar formas

eficazes para sua incorporação. A pesquisa de Schlemmer et al. (2007), revela um dado

importante, pois identifica que a aprendizagem móvel no Brasil tem sido voltada mais para

questões técnicas do que para os aspectos sociais e didático-pedagógicos, e isto equivale a

dizer que pouco se tem avançado no Brasil em tornar a tecnologia, tanto ―móvel‖ como

―fixa‖, como um dispositivo que faz parte da prática rotineira da sala de aula. Percebe-se,

portanto que apesar dos avanços e das iniciativas, ainda não conseguimos que a tecnologia

realmente faça parte do dia a dia do ambiente escolar.

Percebe-se, ainda, que a maioria das pesquisas realizadas fora do Brasil e apresentadas na

conferência internacional IADIS/2011 sobre mobile learning, buscam compreender como os

dispositivos móveis podem auxiliar a aprendizagem, seja ao disponibilizar vídeos para acesso

aos alunos, seja incentivando a interação/troca de informação, ou ainda ao usar o aparelho

celular para auxiliar o processo de alfabetização, entre outras iniciativas.

Destacamos, por fim, as iniciativas que buscam utilizar a tecnologia móvel para minimizar a

desigualdade social e buscar alternativas para diminuir o problema ambiental, como no

projeto M-Ubuntu na África do Sul, que utilizou aparelhos celulares reciclados e doados por

uma empresa de telecomunicações. Este projeto envolveu um trabalho de reciclagem de

aparelhos celulares que são geralmente jogados no lixo e tratou também dos aspectos sociais

que envolvem, tanto o acesso à informação como à tecnologia.

49

4.PESQUISA REALIZADA – ESTUDO EXPLORATÓRIO

4.1. Material e Método

Por se tratar de um fenômeno contemporâneo, adotamos o método de estudo exploratório, na

tentativa de compreender o contexto da situação que buscamos investigar. Como observa Gil

(1991, p. 45), o estudo exploratório permite ao investigador aumentar a sua experiência,

aprofundando seu estudo e adquirindo um maior conhecimento a respeito de um problema.

A pesquisa foi realizada entre os meses de junho e outubro de 2010, em uma escola da rede

pública da cidade de Mogi das Cruzes, localizada na Grande São Paulo, capital de um dos

estados mais desenvolvidos do país. O colégio de ensino fundamental e médio foi escolhido

por ser o único, entre cinco pesquisados na região, a utilizar, de forma pontual e eventual, o

aparelho celular em algumas práticas pedagógicas.

Este caso foi considerado representativo e pertinente ao estudo exploratório, por permitir o

levantamento dos dados com as pessoas que tem experiências práticas com o problema

pesquisado e oferecer dados para análise e compreensão do objeto estudado. Como observa

Gil (1999, p. 43), o estudo exploratório visa proporcionar uma visão geral de um determinado

fato, para que o pesquisador tenha condições de formular problemas mais precisos ou criar

hipóteses que possam ser pesquisadas por estudos posteriores.

Em busca de identificar se e como o aparelho celular está sendo incorporado pelo ambiente

escolar, visitamos aleatoriamente no início da pesquisa, quatro escolas públicas e uma

particular nas cidades de Mogi das Cruzes e Suzano, região metropolitana de São Paulo.

Constatamos que em quatro delas, o aparelho celular “nunca” foi usado para auxiliar no

processo de ensino-aprendizagem. Durante as visitas, também constatamos que o assunto é

um tema praticamente desconhecido da maioria dos educadores com os quais tivemos

contato, 10 profissionais, entre eles, coordenadores e professores. Das conversas informais

com estes profissionais, a maioria se manifestou contrária à possibilidade de usar o celular

em atividades pedagógicas ou declararam que nunca tinham pensado na hipótese. Segundo

as principais alegações, o aparelho celular dispersaria a atenção dos alunos e assim se

perderia o controle da sala. Alguns ainda afirmaram que o celular poderia ser usado pelos

alunos como uma nova alternativa de “colar” durante as provas.

50

Desta forma, a escola escolhida para este estudo exploratório foi a única entre as cinco

visitadas em que uma professora demonstrou, na primeira abordagem realizada, certa

familiaridade com o assunto e descreveu, prontamente e espontaneamente, um exemplo em

que o aparelho celular foi utilizado para auxiliar o processo de ensino e aprendizagem dentro

da sala de aula.

A pesquisa, portanto, foi realizada com base nos relatos desta professora de história de 50

anos, 22 deles dedicados à educação e com os alunos envolvidos nestas atividades, ou seja,

alunos do 9º ano do Ensino Fundamental (37 estudantes) e do 2º ano do Ensino Médio (15

estudantes). A maioria dos alunos pertence, conforme a classificação do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), à chamada classe D e C, ou seja, com renda familiar entre 2 e

6 salários mínimos.

A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas (face a face, algumas com pauta,

registradas e gravadas, formais e informais) com a professora, em um total de seis entrevistas

realizadas na própria escola, nos dias 2 e 28 de agosto e nos dias 5, 7, 19 e 25 de

outubro/2010, e com questionários com questões abertas e fechadas, aplicados aos alunos pela

professora. As principais questões abordadas foram sobre fatos (idade, sexo, renda familiar),

sobre as atitudes (como usam o aparelho celular, o que acham do dispositivo aplicado em sala

de aula, etc) e sobre sentimentos (como se sentem ao usar o aparelho celular, como foi a

experiência de usá-lo em sala de aula, etc). Os alunos do ensino médio responderam ao

questionário na primeira semana de setembro e os alunos do ensino fundamental, na primeira

semana de outubro. Alguns alunos selecionados pela educadora, três estudantes no total,

também foram entrevistados no dia 7 de outubro, com perguntas relacionadas à atividade

descrita pela professora.

A pesquisa buscou captar de que forma o aparelho celular foi utilizado dentro do ambiente

escolar e como professor e aluno lidam, percebem, sentem, se comportam diante da

experiência. Para tanto, as principais questões foram: ―quantas horas você costuma deixar o

celular disponível/ligado diariamente?‖; ―você leva o celular para...‖; ―quando estou com

aparelho celular me sinto...:‖, ―o que você achou em usar o celular na aula de história?‖;

―você gostaria de usá-lo novamente em outras atividades na escola?‖, ―usar o aparelho celular

durante a aula foi: muito motivador, motivador, pouco motivador e desnecessário‖, e por fim,

na tentativa de saber os principais recursos usados pelos alunos no celular: ―uso meu celular

para ...:‖.

51

Os primeiros dados levantados foram com os alunos do 2º ano do ensino médio, na faixa

etária entre 16 e 19 anos, sendo 5 do sexo feminino e 10, do masculino. Dos 15 alunos,

somente 1 não possui celular e apenas 1 não utiliza o sistema pré-pago. De acordo com as

respostas, a maioria dos estudantes costuma levar o celular para todos os lugares e deixa o

aparelho ligado, à disposição, 24 horas. Além disto, 9 alunos - o que representa 60% do

grupo, informaram que ―nunca‖ acessaram a internet pelo celular e apenas 2 alunos (13%),

declaram que acessam ―frequentemente‖ a internet pelo celular e 4 alunos deixaram em

branco esta questão. Chama atenção aqui, o fato de que, mesmo pertencendo à classe de baixa

renda, 93% do grupo pesquisado possuem um aparelho e 13% com acesso à internet.

A professora de história relata que o aparelho celular foi utilizado com esta turma de forma

não programada. Na tentativa de atrair a atenção da classe para os conflitos religiosos entre

católicos e protestantes da Irlanda do Norte, aula programada para o dia, ela teve a ideia de

levar para a sala um ―clip‖ da música ―Sunday, Bloody, Sunday‖ da banda irlandesa U2. Por

falta de intimidade com o manuseio de aparelhos eletrônicos, principalmente computadores,

ela não conseguiu baixar o vídeo do site Youtube, razão pela qual resolveu levar apenas a

letra da canção traduzida para a sala. Durante a aula, diante da curiosidade dos alunos em

ouvir a música, a professora decidiu pedir que um dos estudantes baixasse a canção no

celular.

Para a educadora, o rápido acesso à música permitiu que o grupo fizesse uma ligação com o

conteúdo trabalhado em classe e isto os motivou a saber mais sobre o tema. A experiência

mostrou também, segundo ela, que os alunos ficaram motivados a participar mais da aula e

isto contribuiu para a realização das outras atividades programadas, como pesquisa na

internet, debates e produção de textos sobre o tema.

Nas respostas ao questionário, os alunos aprovaram o recurso, pois ―todos‖ assinalaram ―sim‖

na questão: ―você gostou em utilizar o aparelho celular como recurso pedagógico para a aula

de história?‖ e quando perguntados ―por quê‖, responderam que o uso do celular ajudou a

despertar o interesse sobre o assunto de uma forma prazerosa. Alguns depoimentos relatam:

Aluno 1: ―Além de ser prático, a aula saiu da mesmice ...‖; Aluno 2: ―É proibido usar celular

na sala, mas na hora, apareceu um aparelho, nós já tínhamos a letra e colocamos a música‖;

Aluno 3: ―Foi bem no improviso, e o celular foi visto de maneira positiva na escola‖; Aluno

4: ―Quanto mais acessórios para desenvolver uma aula diferente, melhor‖.

Ao contrário do que pensam alguns educadores entrevistados, a professora não teve

problemas com falta de disciplina durante a atividade desenvolvida com o celular. A

52

professora explica que partiu de um aluno que mais apresenta problemas de indisciplina, a

iniciativa de emprestar o celular e colaborar com aula. Entrevistado, o adolescente afirma:

―foi legal que todo mundo prestou atenção; a música é da banda U2 que trata sobre violência‖.

Na questão aberta sobre como se sentem quando estão com o celular, os estudantes

confirmaram as constatações de Lasen (2002, 2004 apud SACCOL; REINHARD, 2004),

quando os autores dizem que o uso do celular têm gerado uma relação de afetividade, apego e

personalização e que estão se tornando praticamente uma extensão do próprio corpo. Na

maioria das repostas, os alunos usaram as expressões: Aluno 1: ―seguro‖; Aluno 2: ―mais

seguro‖, Aluno 3: ―tranqüilo‖; Aluno 4: ―feliz‖; Aluno 5: ―pessoa normal – já faz parte da

rotina‖; Aluno 6: ―acessível‖.

A segunda sala pesquisada foi a dos alunos do 9º do Ensino Fundamental, na faixa etária entre

13 e 16 anos, sendo 22 do sexo feminino e 15, do masculino. Dos 37 alunos, somente sete

alunos não têm celular, o que representa 18% do grupo, e apenas um não utiliza o sistema pré-

pago. De acordo com as respostas, a maioria deste grupo também costuma levar o celular

para todos os lugares e deixa o aparelho ligado, à disposição, 24 horas. Quanto ao acesso à

internet, 13 alunos (35%) informaram que ―nunca‖ acessaram a internet pelo celular e 24

alunos (64%) declaram que acessam. Destes 24 alunos, 8 (33%) acessam ―raramente‖, 7

(29%) acessam ―às vezes‖ e 9 (37%) acessam ―frequentemente‖ ou ―sempre‖ a internet pelo

aparelho celular. Neste caso, também constatamos que o baixo poder aquisitivo não é

impedimento para se ter um aparelho, pois 81% da sala têm celular e 64% já acessam a

internet por este dispositivo.

Assim como no caso anterior, a maioria do grupo declarou sentir-se ―seguro‖ ou ―protegido‖

quando está com o celular. No questionário a palavra ―seguro‖ ou ―protegido‖ foi registrada

por 11 alunos – 29% do grupo. Alguns declararam: Aluno 1: ―Segura, pois haja o que houver

poderei me comunicar‖; Aluno 2: ―Mais segura, pois tenho mais acesso ao mundo, eu não me

sinto sozinha‖.

Neste segundo exemplo, a professora declara que o aparelho celular também foi utilizado de

forma não programada. De acordo com a educadora, o dispositivo foi usado pela turma no

projeto de ―Prevenção à Dengue‖, realizado no 1º bimestre de 2010. Dividida em equipes, a

classe saiu pelo bairro para registrar imagens de possíveis focos do mosquito transmissor da

doença. Como a escola dispõe de apenas uma máquina fotográfica, os alunos tiveram a ideia

de usar os próprios celulares para captar as imagens. O celular também foi usado no projeto

para a criação de paródias sobre o tema da dengue. Alguns alunos declararam: Aluno 1: ―Nós

53

fizemos a letra da paródia, mas não tínhamos a música (ritmo), então alguém tinha uma

música no celular e a ouvimos‖; Aluno 2: ―foi muito divertido, toda a sala participou‖.

Na questão aberta sobre se gostariam de utilizar o aparelho celular em outras atividades

escolares, os alunos responderam: Aluno 1: ―Sim, porque é um recurso a mais, para uma aula

diferente‖; Aluno 2: ―Ás vezes, não temos nenhum outro recurso na aula fora a lousa e o giz‖;

Aluno 3: ―Sim, pela facilidade e comodidade que isso traria‖; Aluno 4: ―Sim, porque nós

interagimos mais com a atividade [...]‖.

Vale ainda ressaltar que apesar da boa aceitação da classe, para usar o celular como recurso

pedagógico, a professora depende de autorização da diretoria da escola. Isto porque a lei

estadual nº 12.730, de 11/10/2007, proíbe o uso do aparelho celular em sala de aula em todo o

Estado de São Paulo. É preciso observar, no entanto, que quando a lei foi criada, o celular era

utilizado basicamente para ―falar‖ – os recursos de multimídia ainda não eram tão explorados

no Brasil.

Apesar das dificuldades, inclusive legais, as experiências com o dispositivo têm ajudado a

diminuir a distância entre aluno e professor, segundo relatos da educadora. Para ela, ao usar

um recurso que o próprio estudante oferece, amplia-se a possibilidade de interagir com ele e,

sobretudo, dialogar. O grande desafio do professor hoje, aponta a educadora, é fazer com que

o aluno transforme informação em conhecimento. ―Acredito que a tecnologia possa ser uma

aliada do professor e do aluno na construção deste conhecimento”, diz.

Para a professora, o uso do recurso em sala também significa aprendizado para o próprio

educador na medida em que ajuda a quebrar algumas resistências. Pouco familiarizada com a

tecnologia, ela conta, que começa a enxergar os dispositivos digitais de forma menos

conservadora e a reconhecer que hoje, eles fazem parte da vida de uma geração que já nasceu

imersa nesta realidade. ―perto dos alunos eu sou uma analfabeta digital, definitivamente eu

tenho que reconhecer que tenho dificuldades com isto, mas a cada dia estou aprendendo muito

com eles‖, declara.

54

4.2. Discussão

Busca-se neste trabalho reunir o máximo de informações sobre a possível aplicação dos

dispositivos móveis, em particular o celular, no processo de construção do conhecimento

durante o período escolar. Apoiada na bibliografia existente sobre o tema, apresentam-se

várias abordagens sobre o assunto, além de pesquisas e experiências realizadas no Brasil e no

exterior.

Com um estudo exploratório, a proposta da discussão é tentar compreender se e como o

ambiente educacional brasileiro vem incorporando os dispositivos móveis no cotidiano de

alunos e professores em sala de aula. Neste estudo, procurou-se pautar pelo máximo de

imparcialidade, porém, sabe-se que como observa Smith (1984 apud LÜDKE; ANDRÉ,

1986, p. 12), não há como ter critérios absolutos e neutros para determinar o que é válido e o

que não é em uma pesquisa qualitativa, pois o máximo que se pode garantir é que ela

demonstre um certo consenso, em um determinado momento, sobre a veracidade daquilo que

foi apreendido e relatado.

O estudo exploratório mostra que o aparelho celular vem sendo incorporado em situações de

improviso e a partir da iniciativa pessoal e individual de professor e alunos. Verifica-se que

das cinco escolas visitadas, apenas uma utiliza o aparelho celular em algumas práticas

didáticas. Ainda assim, por apenas uma professora. Percebe-se, portanto, que o aparelho

celular não está sendo incorporado no ambiente educacional, salvo algumas iniciativas

pontuais e esporádicas de alguns professores.

Observa-se que, durante as visitas realizadas, o tema ―aprendizagem móvel‖, ―mobile

learning‖ ou ―tecnologias móveis aplicadas à educação‖ é praticamente desconhecido da

maioria dos professores e coordenadores. Contatados por esta pesquisadora a maioria dos

educadores entrevistados mostra-se contrária à aplicação ou admite nunca ter pensado na

possibilidade de usar o celular como auxiliar de práticas pedagógicas. De acordo com a

opinião destes educadores pesquisados, o uso do aparelho celular em atividades pedagógicas

provocaria a dispersão da ―atenção‖ do aluno e comprometeria o controle disciplinar da sala,

além de estimular atitudes indesejáveis, como novas alternativas de ―colas‖ durante as provas.

Diante disto, pode-se deduzir que a primeira dificuldade para a adoção do celular como

auxiliar em práticas pedagógicas estaria na resistência dos educadores. Como afirma Fullan

(1999 apud THURLER, in: PERRENOUD et al, 2002), o destino da educação depende muito

do que os professores pensam e fazem, pois são eles que colocam em prática, junto com os

55

alunos, as novas ideias pedagógicas. De acordo com as declarações dos professores

entrevistados, o aparelho celular é considerado mais um ―problema‖ do que um possível

―aliado‖ no ambiente escolar. Um dos grandes desafios, assim, seria desenvolver uma cultura

de inclusão dos dispositivos nas atividades pedagógicas. Esta constatação também é

apresentada na pesquisa de Schlemmer et al. (2007), sobre as práticas de m-learning no

contexto brasileiro.

Faz-se necessário pontuar que a escola escolhida para este estudo exploratório foi a única

entre as cinco visitadas em que uma professora demonstrou, na primeira abordagem realizada,

certa familiaridade com o assunto e descreveu, prontamente e espontaneamente, um exemplo

em que o aparelho celular foi utilizado para auxiliar o processo de ensino e aprendizagem

dentro da sala de aula. Assim como observa Castells (2006, p. 51), as novas tecnologias não

são simplesmente ferramentas a serem aplicadas, mas antes de tudo, processos a serem

desenvolvidos.

Além do professor, percebe-se também que os alunos têm um papel fundamental no processo

de incorporação da tecnologia na educação. Esta geração, que Tapscott (1999) chama de

―geração digital‖, não pode ser excluída deste processo, pois muitas vezes, são os próprios

jovens que encontram e sugerem possibilidades para aplicação destes dispositivos tanto na

escola como fora dela. É só observar como os jovens se apropriam destas tecnologias e a

utilizam nas mais variadas formas e objetivos, como por exemplo: organização de

manifestações políticas, fórum de discussão sobre um determinado tema, participação de

redes sociais, ―smart mobs‖18, entre outros. Como lembra Levacov (in: MARTINS; SILVA

(orgs), 2000, p. 283), ―são as novas gerações que conseguirão fazer um uso prático da

tecnologia de modo verdadeiramente original, resolvendo também as dificuldades legais e

financeiras (...).‖

É preciso esclarecer, no entanto, que o simples uso de um celular como apoio a uma atividade

em sala de aula, não significa que ele ―efetivamente‖ foi usado na construção do

conhecimento. Como observa Piaget para a aquisição do conhecimento é preciso haver trocas,

mixagens, criação e colaboração.

No primeiro exemplo do estudo exploratório apresentado, o celular foi usado apenas para

ouvir a música relacionada ao tema da aula, o que não garante a participação ativa dos alunos. 18

Termo criado por H. Rheingold (2002 apud LEMOS, 2005, p. 11) para descrever as novas práticas de agregação social que usam tecnologias móveis para ações que reúnem muitas pessoas, às vezes multidões, que são capazes de agirem juntas mesmo sem se conhecerem, e que rapidamente se dispersam.

56

Porém, percebe-se que ao baixar e ouvir a música pelo celular, a professora pode

contextualizar e relacionar o assunto e incentivar a pesquisa a outros elementos importantes

sobre o tema trabalhado. Para a professora, escutar a música pelo aparelho celular permitiu

um momento de descontração e maior participação do grupo. Segundo ela, o celular foi um

elemento motivador para dar continuidade às outras atividades programadas, como pesquisa

na internet no laboratório de informática, produção de texto e debates.

Já no segundo caso, o aparelho celular foi utilizado de forma mais significativa, porque diante

da dificuldade de captar imagens com apenas uma máquina fotográfica disponível na escola,

os alunos tiveram a iniciativa de usar o próprio celular para o trabalho. E isto foi possível

porque o celular estava disponível no momento e no lugar em que era preciso, ou seja, no

bolso da maioria dos alunos e com o recurso necessário para o momento. O exemplo nos

remete às características de mobilidade e portabilidade apontadas por Ferrari (2007),

Anderson & Blackwood (2004) e Valentim (2007) presentes nos dispositivos móveis.

Percebe-se que ao desenvolverem a atividade, localizar e registrar possíveis pontos de focos

do mosquito transmissor da dengue no bairro, os alunos interagiram com o ambiente social e a

realidade deles, como sugere a abordagem cognitivista, ou seja, o conhecimento se dá pela

interação do sujeito com o meio, sendo necessária a postura ativa do aluno para aprender.

Segundo Piaget (1973, p. 17), compreender é

―[...] é inventar, ou reconstruir através da reinvenção, e será preciso curvar-se ante tais indivíduos capazes de produzir ou de criar, e não apenas de repetir.‖

Desta forma, podemos considerar que o aparelho celular, neste caso, propiciou ao aluno uma

participação mais ativa e criativa no desenvolvimento do projeto, pois a percepção do aluno

foi estimulada e considerada. Destaca-se ainda, que a interação e a colaboração entre os

alunos foi potencializada, porque eles puderam trocar entre eles as imagens captadas e ter

acesso a um repertório diferenciado de músicas. Como observa Schlemmer et al. (2007), os

dispositivos móveis dispositivos móveis propiciam não apenas a mobilidade física, mais

também a mobilidade temporal e contextual, pois a informação pode ser atualizada dentro do

contexto, do espaço e do tempo em que for acessada e isto facilita a troca de informação, além

de possibilitar a interação entre alunos, professores e contexto social.

Além da questão motivacional que este estudo apresenta, podemos ainda perceber algumas

mudanças comportamentais provocadas pelo uso dos dispositivos móveis, apontadas pelos

pesquisadores Lasen (2002, 2004 apud SACCOL; REINHARD, 2004) e Costa (2004). De

57

acordo com estes autores, estes dispositivos têm gerado uma relação de ―afetividade‖,

―apego‖, ―personalização‖ e um aumento na sensação de ―privacidade‖, de ―liberdade‖ e de

―segurança‖, principalmente com o mais jovens. Nesta pesquisa, observa-se que a maioria dos

alunos usam o aparelho celular 24 horas e o levam para todos os lugares, além de declararem

que se sentem mais ―seguros‖, ―protegidos‖ e ―tranqüilos‖ quando estão com seus aparelhos.

Isto também nos remete a teoria de Donald Woods Winnicott (1990 apud SILVA;

FRIDMAN, 2007, p. 64) sobre o conceito de ―objetos transicionais‖, ou seja, como já foi

mencionado antes, o celular poderia também cumprir a função de ―substituição‖. Neste caso

específico, o que se busca pontuar é que o celular poderia ser considerado um ―objeto

transicional", pois colocaria o professor dentro de um grupo de relações do qual ele poderia se

ausentar. Por meio do aparelho celular o aluno poderia conhecer tanto coisas antigas como

também coisas que não fazem parte da sua vida cotidiana e mesmo assuntos contemporâneos.

Logo, a sensação de ―segurança‖ e a exploração da ―criatividade‖ que o celular disponibiliza

poderiam ser indicativos para considerá-lo como um ―objeto transicional‖. Para Winnicott

(1990 apud SILVA; FRIDMAN, 2007, p. 57), a ―segurança‖ oferecida pelo ―meio ambiente‖

é fundamental para o processo de aprendizagem, pois o ser humano precisa ter confiança no

―meio‖ para se desenvolver.

Nota-se também que nos dois casos relatados pela professora, o uso do celular em sala

proporcionou maior interação entre o professor e aluno. A educadora reconheceu que diante

da pouca familiaridade com a tecnologia, o auxílio dos alunos, muito mais habilidosos em

lidar com os dispositivos, foi uma oportunidade de trocar conhecimentos. ―Eu tenho o

conteúdo e eles, a tecnologia‖, declarou. Isto nos remete a abordagem cognitivista de Piaget

(1896-1980), que considera o conhecimento um produto da interação entre homem e mundo,

entre sujeito e objeto, não se enfatizando pólo algum da relação.

É importante ressaltar que para adotar o celular em atividades pedagógicas não é necessário

aparelhos de última geração, pois recursos básicos como ―tocar‖ uma música, fotografar e

gravar são funções que hoje já estão disponíveis em aparelhos populares e baratos. Como

observa Valentim (2009), o celular é um dispositivo que se mostra convergente e disponível

no bolso da maioria dos cidadãos.

Considerando a questão de disponibilidade de celulares e recursos, lembramos que há

algumas alternativas interessantes que não requerem grandes investimentos. O projeto de M-

Ubuntu desenvolvido na África do Sul pela pesquisadora Lucy Haagen, relatado neste

trabalho no capítulo 3 - ―Pesquisas sobre aprendizagem móvel‖, é um bom exemplo. Este

58

projeto envolveu tanto a questão social como ambiental, pois usou aparelhos celulares

reciclados e doados por uma empresa de telecomunicação em escolas públicas que

apresentam sérios problemas de desigualdade social. A pesquisadora relata que com pouco

investimento, o projeto permitiu que os alunos tivessem acesso à tecnologia e apresentou uma

boa alternativa de reutilização para inúmeros celulares que são frequentemente descartados.

Outro ponto importante que deve ser ressaltado é que a aprendizagem móvel não envolve

apenas a questão técnica, é preciso considerar a questão do tempo, do espaço, do ambiente de

aprendizagem, do método, do conteúdo, da tecnologia e da capacidade do aluno, variáveis que

foram propostas por Laouris & Eteokleous (2005 apud Valentim, 2009). Isto significa dizer

que a tecnologia por si só não faz ―milagres‖, é preciso levar em consideração todo o contexto

que envolve a aplicação dela e o papel do professor na liderança deste processo é

fundamental. Neste estudo, percebe-se que a condução das atividades pela professora foi

fundamental, pois a educadora levou em consideração não só a tecnologia em si, mas também

soube equacionar as questões de conteúdo, de tempo, de espaço, de ambiente, etc.

Assim, percebe-se que caberá ao professor dar os primeiros passos rumo a novas experiências

e descobrir e coordenar novas metodologias que levem em conta o perfil das novas gerações

digitais. Talvez, este seja o maior desafio dos educadores neste século.

―Tudo dependerá da maneira como o professor enquadrar e dirigir as atividades. Sua habilidade técnica facilita as coisas, mas aqui se trata de habilidade didática e de relação com o saber!‖ (PERRENOUD, 2000, p. 136).

59

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este é um estudo preliminar que busca refletir sobre se e como o aparelho celular tem sido

incorporado nas práticas pedagógicas e de que maneira ocorre esta apropriação. Justifica-se

pela escassez de bibliografia legitimada e pela percepção de que poucas experiências efetivas

tem sido desenvolvidas nesta temática.

O estudo teve como base as entrevistas realizadas com professores da rede pública e particular

e por questionários e entrevistas realizadas com alunos na faixa etária de 13 a 19 anos da

cidade de Mogi das Cruzes, localizada na Grande São Paulo.

Os resultados apresentados demonstram que apesar da popularização dos aparelhos celulares

no país, principalmente entre os jovens, a aplicação deles em atividades pedagógicas é

considerada algo incompatível com o ambiente escolar tradicional, segundo os depoimentos

dos educadores ouvidos por esta pesquisadora. Observa-se desconhecimento sobre as

possibilidades de aplicação do dispositivo em aulas e ainda resistência por parte dos

profissionais em considerar a hipótese.

A recusa em incluir o dispositivo como auxiliar no processo de educação formal fundamenta-

se entre outros motivos, de acordo com os relatos, na questão de que o uso do equipamento

dissipe a atenção do aluno, contribua para a indisciplina na sala de aula e estimule fraudes

durante as provas. Isto nos faz pensar sobre a ideia da sala de aula ―sob controle‖, ou seja, o

―silêncio‖ do aluno e a ―voz‖ do professor como padrões de ensino eficiente. Indicativos da

―abordagem tradicional‖ em que o ensino está centrado no professor, no programa e nas

disciplinas. Assim, o aluno apenas executa prescrições que lhe são fixadas e nada mais é do

que ―um ser passivo, um receptáculo de conhecimentos escolhidos e elaborados por outros

para que ele deles se aproprie.‖ (MIZUKAMI, 1986, p. 18).

O estudo exploratório apresentado, no entanto, mostra iniciativa isolada e individual de uma

professora que aplica o dispositivo em algumas atividades, resultando em maior participação e

envolvimento do aluno. Além do estudo exploratório, também relatamos neste trabalho,

outras experiências semelhantes apresentadas por educadores de outros países em março/2011

60

na conferência internacional de Mobile Learning - IADIS em Ávila/Espanha, no qual também

tivemos a oportunidade de apresentar um artigo19 sobre o tema.

É consenso entre educadores de várias partes do mundo que a tecnologia sozinha não faz

milagres. O simples uso de um celular como apoio a uma atividade em sala de aula, não

significa que ele ―efetivamente‖ foi usado na construção do conhecimento. Como observa

Piaget para a aquisição do conhecimento é preciso haver trocas, mixagens, criação e

colaboração. Portanto, o desafio é usar os dispositivos móveis para favorecer este processo.

Para Valentim (2009), a mobilidade proporcionada pelos celulares pode ser uma aliada. Diz

ele ―por meio da mobilidade a aprendizagem é centrada no aluno e deve proporcionar a ele

uma posição ativa e co-responsável de sua aprendizagem, colaborativa e construtiva‖.

Diante de uma geração que nasceu imersa no ambiente 2.0 e chega a adotar os dispositivos

digitais como extensão do próprio corpo, é inegável que a educação tradicional terá de

enfrentar novos desafios. O primeiro deles, talvez, seja o desenvolvimento de novas

metodologias que considerem o contexto em que vive o novo aluno. Na era da velocidade da

informação não há mais longas distâncias, mas é preciso dar o primeiro passo para aprofundar

o diálogo, sem medos ou preconceitos. E o papel do professor, mais uma vez, será

fundamental nesta descoberta.

É preciso avançar em novas linhas de pesquisas, como por exemplo, na questão sobre se o

aparelho celular poderia ser considerado um objeto transicional. Como trabalho futuro,

planeja-se caminhar nesta investigação e aprofundar a pesquisa em ―novas‖ experiências para

utilizar a tecnologia móvel disponível para o processo educacional.

Como sugere Perrenoud (2000, p. 126),

―Entre adeptos incondicionais e céticos de má-fé, talvez haja espaço para uma reflexão crítica sobre as novas tecnologias, que, de saída, não seja suspeita de se pôr a serviço, seja, da modernidade triunfante, seja da nostalgia dos bons e velhos tempos em que se podia ainda viver no universo do papel e lápis.‖

Afinal, a educação é um processo dinâmico, histórico, e por isso mesmo mutável.

19 Uso de tecnologia móvel como auxiliar no processo de ensino-aprendizagem – Estudo de caso em uma escola da rede pública do estado de São Paulo/BRASIL - Alunos do curso ensino médio‖. IADIS/2011.

61

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VIRILIO, Paul. A bomba da informática. Tradução Luciano Vieira Machado. São Paulo: Estação Liberdade, 1999.

ZÓBOLI, Graziella Bernardi. Práticas de ensino. Subsídios para a atividade docente. São Paulo: Editora Ática, 1999.

68

ANEXOS I

Linha do Tempo – Algumas invenções que contribuíram com o desenvolvimento dos

dispositivos móveis

Pretto (1996), em seu livro ―Uma escola sem/com futuro‖, apresenta um amplo levantamento

sobre as invenções tecnológicas que contribuíram para o desenvolvimento dos atuais

dispositivos móveis.

Invenção Descrição Período

Telégrafo e

código Morse

Foram inventados pelo americano Samuel Finley Bresse

Morse.

séc. XIX

Telefone O fisiólogo americano de origem inglesa Alexander

Graham Bell patenteou em Boston um aparelho que

possibilitava transmitir e receber a voz, viabilizando

assim o falar e o ouvir simultaneamente

séc. XIX

(1876)

Televisão Primeiras tentativas de transmissão de imagens. Mais

precisamente em 1883, com Paul Nipkon, estudante de

ciências naturais em Berlim, com apenas 23 anos.

Final do

século XIX

Primeiras

transmissões de

televisão

Primeiras transmissões regulares de televisão pela BBC

de Londres

Em 02 de

novembro de

1936

Primeiro Salélite

é lançado

O primeiro satélite foi o Sputinik, lançado pelos

soviéticos. (Esta ideia de satélite ocupar uma órbita ao

redor da terra e poder ser utilizado para retransmissão de

sinais havia sido proposta e desenvolvida por Arthur C.

Clarke no seu romance 2001: Um odisséia no espaço,

escrito em 1945

Em 1957

Sinal via Satélite Surgi o sinal via satélite (Satcom I) Em 1975

Primeira grande

rede mundial de

comunicações

É criada a Cable News network (CNN), a primeira

grande rede mundial de comunicações

Em 1976

Revolução no O desenvolvimento dos satélites de comunicação A partir de

69

sistema de

comunicação

global

promoverá uma nova revolução no sistema de

comunicação global, com a possibilidade de recepção

direta de uma programação transmitida por satélites de

alta frequência

1980

Invensão do

transistor

Invenção do transistor, a partir de pesquisas em

semicondutores. Os cientistas receberam o Prêmio

Nobel de Física

Em 1947

Primeiro

Videoregistrador

(Ampex)

Foi desenvolvido o primeiro videoregistrador (Ampex)

do mundo, por Alexander Poniatoff. O primeiro Ampex

tinha quase a dimensão de um automóvel, funcionava

com válvulas.

Em 1956

Primeiro

vídeorregistrador

Primeiro vídeorregistrador transistorizado para a

televisão, lançado pela Sony japonesa.

Em 1961

Sistema

helicoidal

(helical scan)

Sony lança o sistema helicoidal (helical scan), ―a partir

desse momento, abre-se perspectiva para a produção de

videorregistradores cada vez mais portáteis

Em 1964

Régua de cálculo Surge a primeira régua de cálculo, inventada pelo inglês

Edmund Gutner

Em 1624

Primeira máquina

de calcular

eletrônica do

mundo

É projetada e construída no Massachusetts Institute of

Techonology (MIT), nos Estados Unidos, por uma

equipe liderada pro Vannenar Bush a differential

analyzer, considerada a primeira máquina de calcular

eletrônica do mundo

Em 1925

Indústria da

informática

Surge no Vale do Silício (Sillicon Valley), a pioneira

Hewelet Pachard (HP), nascendo assim a chamada

indústria da informática

Em 1930

Primeira

calculadora

mecânica

O filósofo e matemático francês Blaise Pascal, com

apenas 19 anos, percursor do cálculo infinitesimal,

inventa, realiza e aperfeiçoa uma máquina para acelerar

o trabalho de seu pai Etienne, cobrador da alfândega em

Rouen. A máquina, que em 1945 passou a se chamar

pascalina, constitui-se no primeiro modelo de

Em 1642

70

calculadora mecânica

O primeiro

computador

eletrônico do

mundo

Entra em funcionamento no Centro de Pesquisas

Secretas Code and Cypher School de Bletchley Park

(Inglaterra) o primeiro computador eletrônico do mundo

– o Colossus – realizado com projeto de Max Newman

Em dezembro

de 1943

Computadores

transistorizados

Surgem os computadores de segunda geração, agora já

totalmente transistorizados

Em 1950

Circuito

Integrado

As pesquisas científicas e tecnológicas na área

impulsionaram o desenvolvimento dos computadores e,

em 1959, surge o primeiro circuito integrado (LC –

Integrated Circuit) desenvolvido pelo americano Kurt

Lehovec.

Em 1959

Linguagem de

computador

São criadas as principais linguagens de computador

(Cobo, Fortran, Basic, Pascal) e surge o primeiro

processador de texto (Word processor), vendido pela

IBM nos Estados Unidos em 1964

Entre as

décadas de

1950 e 1970

Princípios

básicos da

Informática

Philippe Dreyfus denominou informática, a alusão aos

termos information e automatique. Neste período houve

uma preocupação da humanidade para o

desenvolvimento de método cada vez mais rápido de

contar e de processar as informações numéricas. Esses

princípios básicos da informática levam-nos a 1.100

anos antes de Cristo. Segundo escritos de Won Sang

(1182-1133 a.C.), os chineses já conheciam o sistema de

numeração binária que seria adotado 30 séculos depois

nos computadores‖ (Bozzo, abril de 1993, p. 73, apud

Pretto, p. 73, 1996)

Em 1962

Personal

Computer

A informática deixa os grandes laboratórios e

velozmente passa a ser mais um objeto de consumo -

Personal Computer

Em 1970

Primeiro É lançado pela Canon no Japão o primeiro computador Em 1970

71

computador de

bolso –

Pocketronic

de bolso, o Pocketronic

Microprocessador

– Intel

Surge o microprocessador (micro processing unit)

criado pela Intel [...]. Estava criada a Central Processing

Unit que se constituiu o cérebro do computador

Em 1971

Videogame O primeiro videogame da história, o Pong foi criado por

Nolam Buschnell, por intermédio da então recém-

nascida Atari

Em 1972

Nintendo

Entertainmente

System

Surge o Nintendo Entertainment System e em 1989 é

lançado o primeiro console para videogames, na verdade

um computador

Em 1983

Surge a Internet Quando o Departamento de Defesa dos Estados Unidos,

por intermédio de pesquisas conduzidas pela Advanced

Research Project Agency (ARPA), desenvolve um

projeto para interconectar uma rede de quatro nós (daí

seu nome, de internetwork)

Em 1969

Cyberspace A ideia de se construir um espaço virtual, no qual as

pessoas possam encontrar-se sem estar presentes, foi

antecipada em 1984 pelo escritor americano William

Gibson no seu romance Neuromancer (1991), em que

ele concebeu o chamado cyberspace (ciberespaço)

Em 1984

Multimídia Surge a multimídia. A multimídia começa a significar

um conceito convergente específico, que engloba todo o

espectro audiovisual‖. (Screen Digest, nov. de 1992, p.

249, apud. Pretto, p. 73, 1996)

Em 1980

Surge o primeiro

videodisco

Surge o primeiro videodisco, pela Philips de

Eindhoven/Holanda, apesar de ainda registrado de

forma analógica, porém utilizando-se da tecnologia do

laser para a leitura.

Em 1970

CDs-Áudio Os primeiros CDs-Áudio, que introduziram o registro

digital do som

Em 1980

72

A partir desta fase, as indústrias eletrônicas de informática passam a trabalhar muito mais

próximas - o mundo vai se transformando de analógico para digital.

―Zero e um passa a ser a palavra de ordem destes novos tempos.‖ (Pretto, p. 84, 1996)

CDs-Áudio Os primeiros CDs-Áudio, que introduziram o registro

digital do som

Em 1980

CD Interative

(CD-I)

A Philips e a Sony lançam o CD-Interative (CD-I), que

é um produto que combina vídeo, gráficos, áudio, textos

e dados

Em 1987

Videogames em

CD

Começam a surgir os videogames em CD, utilizando-se

dos computadores e dos leitores CD-ROM. Eles ganham

uma perspectiva mais real, com imagens

cinematrográficas.

Em 1992

Player portátil A Sony lança o player portátil chamado multimídia

portátil (MCDD). O MCDD é a segunda geração dos

chamados Electronic Books (livros eletrônicos),

lançados inicialmente no Japão em 1990

Em 1992

Nessa etapa do desenvolvimento histórico do mundo das comunicações, os caminhos das

indústrias eletrônicas, informática, da comunicação e de entretenimento começam a

convergir e, provavelmente, a dar início a uma nova etapa na História da humanidade, às

vésperas de novo milênio. (Pretto, p. 87-88, 1996)

1ª fusão

anunciada

Ocorre a primeira fusão entre as indústrias de

comunicação e de entretenimento – Time Inc. com a

Warner Communications

Em 1989

[..] entre 1987 e 1992, a tendência do trabalho em casa (por meio de computadores,

modems, fax-modems e telefones celulares) no chamado virtual office (escritório virtual)

significou 45% dos novos empregos na América [...]. (Pretto, p. 90, 1996)

73

ANEXOS II

Mogi das Cruzes

A cidade de Mogi das Cruzes está localizada na região leste da Grande São Paulo. Foi

fundada em 1º de setembro de 1560 com um povoado que servia como um ponto de repouso

aos bandeirantes e exploradores que viajavam ―de‖ ou ―para‖ São Paulo. Está localizada a

menos de 50 quilômetros de São Paulo e próxima à região do ABC paulista, Vale do Paraíba e

Baixada Santista. Em 2009, sua população foi estimada em 375 mil habitantes e possui uma

área territorial de 721 quilômetros quadrados (Km2) de extensão. A palavra Mogi é uma

alteração de Boigy que, por sua vez, vem de M'Boigy, o que significa "Rio das Cobras",

denominação que os índios davam a um trecho do Tietê. Quando a Vila foi criada em 1611,

devido ao costume de adotar o nome do padroeiro, passou a ser denominada ―Sant‘Anna de

Mogy Mirim‖. Na língua indígena, mirim quer dizer pequeno. Provavelmente, uma referência

ao riacho Mogi Mirim. A linguagem popular tratou de acrescentar o termo "cruzes" ao nome

oficial da Vila. Era costume dos povoadores sinalizar com cruzes os marcos que indicavam os

limites da Vila20. Apesar da ortografia de alguns dicionários e do próprio IBGE constar Mogi

com ―j‖ e não com ―g‖, a cidade adotou a grafia Mogi com ―g‖, que é considerada correta

devido sua tradição histórica, mesmo sabendo que a palavra Mogi tem origem tupi-guarani. A

cidade acolhe colônias de todas as partes do mundo, com destaque especial para a colonização

japonesa, com uma grande quantidade de japoneses e seus descendentes.

Localização no Estado de São Paulo / Brasil21

20 Dados obtidos do site da prefeitura de Mogi das Cruzes. Disponível em Vide site mogidascruzes.sp.gov.br. Acessado em 20/10/10 21 Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:SaoPaulo_Municip_MogidasCruzes.svg. Acessado em 20/10/10

74

ANEXOS III

Escola

A escola está localizada na periferia de Mogi das Cruzes e pertence à Diretoria de Ensino da

Região de Mogi das Cruzes. A escola tem estrutura simples, com aparência limpa e

organizada. Não apresenta pichações. As salas de aulas possuem em média 40 cadeiras,

dispostas em fileiras, além do quadro negro, prateleiras e armários. Possui uma sala de

informática com equipamentos novos e bem conservados, acesso à internet, equipamento

multimídia, como: projetor, caixas de som, máquina fotográfica, DVD e televisão.

Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo

Conforme dados do IDESP22 – Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São

Paulo, que faz parte do Programa da Qualidade da Escola, da Secretaria de Educação do

Estado de São Paulo, a escola pesquisada apresentou boas médias nas últimas avaliações

efetuadas. Em 2009, obteve média de 2,33 para o curso do 3º Ensino Médio, sendo que o

Município e o Estado tiveram 1,98. Em 2008, foi avaliada em 2,43 e o Município 1,84 e o

Estado 1,95. Em 2007, a escola obteve 1,87, o Município 1,26 e o Estado 1,41. Pela avaliação

do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) recebeu

272,7 na disciplina de Língua Portuguesa e a rede estadual 274,6; em geografia recebeu 281,2

contra 276,9 da rede Estadual.

22 O IDESP tem como objetivo avaliar as competências e habilidades requeridas para a série do aluno no seu respectivo ano letivo. O IDESP é composto por dois critérios: o desempenho dos alunos nos exames de proficiência do SARESP (o quanto aprenderam) e o fluxo escolar (em quanto tempo aprenderam).

75

ANEXOS IV

Registro de Entrevistas

Identificação : Professora de História - 50 anos

Local : Escola Gabriel Pereira / Mogi das Cruzes/SP

Obs: ―...‖ o sinal de reticência foi utilizado para indicar o tempo de pensamento/pausa do entrevistado

Dia: 02/08/2010

1. Como você usa a tecnologia na sala de aula?

Eles têm a técnica, mas nós temos o conteúdo.

2. Já usou o celular em sala de aula?

No 2º Ano, eu estava trabalhando a questão do conflito da Irlanda Norte. A disputa religiosa

envolvendo a política. Eu preparei a aula, nós preparamos, falamos muito do domingo

sangrento. ... Na internet, no youtube, tem muitos vídeos relatando este episódio. Tem a banda

irlandesa “Y2”, eles têm uma música referente a este conflito ... e conversando com eles, os

alunos se interessaram ... então eu tentei, porque eu não sou muito boa nisso não ... (rsrsrs) ...

eu tentei tirar o vídeo do youtube, mas eu tive muita dificuldade .. e é assim no estado e eu

acredito que na particular também, você tem chegar já preparado ... se você ficar pensando ...

então na hora eu falei bom ... eles estavam muito curiosos né ... porque eles gostam da banda

.. então tudo bem quem tem um celular legal aí que eu possa puxar a música, porque eu

trouxe a letra né pra sala de aula, nós trabalhamos ... falei então vamos ouvir a música então

já que eu não tenho o vídeo ... no momento ali não tinha ninguém com um celular que, se

tivesse seria melhor ainda, com vídeo né, porque tem os vídeos para acessar, então um aluno

falou ah professora dá pra eu puxar a música, ah então a música nós vamos ouvir ... um som

legal do celular, então qual foi o questionamento ... professora mas nós vamos usar o celular

em sala de aula? Aí eu expliquei toda aquela parte, que a tecnologia nós temos que tirar, não

é, o melhor possível, se eles acessam ... só precisa ser direcionado ... a sala de informática né

pra trabalhar, com orientação do professor, eu disse que ali não seria proveitoso, aí eles

acharam o máximo, aí o aluno acessou, ouvíamos a música várias vezes ... nós fizemos a

atividade em cima da letra ... então pra eles ... o que os alunos acham disso ... ele acha muito

proveitoso, porque ele está contribuindo, não é? Então não é só a proibição ... não é o proibir

pelo proibir ... é acessar na hora certa, né.

76

3. Você tem problemas com alunos usarem o celular na aula? Você tem que pedir para pararem

de usar?

Veja bem, o aluno usa hoje muito o celular para ouvir música, né ... por exemplo se tem o

futebol, como nós tivemos agora o período da Copa, né ... jogos que eles não assistiam porque

eles não foram dispensados, e se eles estivessem na minha aula, eu sei o que é isto, porque eu

também adoro futebol, a questão é você vai para uma sala de aula, você não pode esquecer

que você já teve aquela idade que eles têm hoje, né e que você tenha as suas vontades e os

seus anseios, então eu sempre negociei com eles, então hoje a aula vai ser assim, esta

atividade vocês vão fazer em casa, vão seguir orientação e vão me entregar e nós vamos ouvir

... e depois eu aproveitava o futebol, nós discutíamos as condições econômicas, a localização,

algumas coisas relacionadas ... eu tive que fazer isto ... porque senão, você tem que ter o

aluno do seu lado, né. Mas a gente continuava com a aula ...

4. O que você acha da internet?

A internet está aí hoje a disposição de todos, só que ela traz informações diversas ... tem que

procurar as informações, você tem que está comparando com outros sites, né e o professor

tem a obrigação de estar orientado, porque só falar para o aluno pesquise, eh ... o primeiro

site que ele entra ele ... ele vai fazer o estudo a pesquisa ele traz, ele não compara ... então

nós na de sala de informática, quando você leva os alunos, nós temos condições de fazer isto

né, então o que é legal na sala, como você trabalha em duplas, eles eh ... um aluno orienta o

outro, então há aquela troca, ajuda mesmo na pesquisa.

5. E da sua dificuldade em tecnologia que não é só sua, é minha que trabalho com isto, da

maioria dos adultos, isto te amedronta ou é um desafio?

Não, não, pra mim é um desafio, porque eu tenho muita resistência. Eu sou muito resistente ...

ao uso da tecnologia o que eu acho que passou muito na cabeça de muitos professores, né ...

mas quando você ... eu não trabalho só isto, eu acho que a internet a tecnologia é legal mas

tem que ter a teoria .... o seu conhecimento da disciplina, ela é o complemento, não uma coisa

única, o professor vai para a sala de aula ele tem que usar como ele usa outros recursos ...

como recurso didático, como uma ajuda, eu não dispenso livros, eu falo para os alunos como

eu sou apaixonada, né, o cheiro do livro, a página rsrsrsrs, mas eu passo pra eles, mas eu não

posso confrontar desta maneira como um momento que nós estamos vivendo, isso é bobagem,

é um retrocesso, eu tenho que acompanhar de alguma forma, entendeu ... eu valorizo muito eu

sou resistente, se você falar você lê o jornal na internet, eu não leio, eu assino o jornal e leio

... porque eh eh, foi meu hábito, você vem de uma cultura, mas eu fui resistente mas eu sei que

não há possibilidade de entrar numa sala de aula e manter esta resistência, é o momento

deles, é o momento que nós estamos vivendo, você tem que acompanhar. A educação ela já

77

está num retrocesso terrível, né, a lousa o giz, então você vai ficar resistindo a isto, é um

mecanismo, não é uma coisa única, mas é um recurso legal, que direcionado tem assim, você

atinge muitos objetivos, é muito legal.

Dia: 28/08/2010

1. Qual a sua formação:

Sou formada no Magistério com Especialização em Pré-Escola, Graduação em História e

Pedagogia pela Universidade Braz Cubas (UBC), Pós-Graduada em História pela Puc, Pós

Graduada em História Contemporânea pela Universidade Braz Cubas (UBC). O 1º e 2º graus

foram estudados em escola pública.

2. Há quanto tempo trabalha como professora?

Há 22 anos estou no magistério

3. Como você trabalha com os alunos?

Olha, eu sou muito honesta com os alunos, eu tenho um compromisso com os meus alunos,

procuro interagir com eles, achar um meio para que eles possam contribuir com o assunto.

Não é deixar o aluno no piloto automático, ou seja, ele está quieto e olhando para você, mas

está pensando em outra coisa, não está prestando atenção na aula. Não é isto. Você precisa

motivar o aluno para aprender, buscar um meio para eles interagirem na aula. É preciso

também não ter uma postura de superioridade, eu sempre falo para os meus alunos, olha a

única diferença é que eu li um pouco mais que vocês, mas nada impede que vocês não possam

aprender também. Eu aprendo muito com eles e vice-versa. É preciso criar uma confiança

mútua, fazer um trabalho sério. É preciso ter humildade para aprender e ensinar. Deve haver

um respeito mútuo. Fazer sempre acordos e ter compromisso.

4. Você costuma preparar suas aulas?

Eu sempre procuro preparar minhas aulas, o aluno percebe quando você não está preparado,

claro que às vezes, é preciso improvisar alguma coisa, mas há um limite. Eu não improviso

tudo, procuro ligar um assunto ao outro, saber exatamente o que foi trabalhado na última

aula. Como por exemplo, semana passada eu estava afastada, licença-prêmio, e eu ia

retornar na segunda. No domingo eu já comecei a me organizar, ver o último conteúdo

trabalhado, como tinha sido a última aula...

5. Qual a diferença do aluno da escola pública para a particular

Olha, os alunos da escola pública tem mais experiência de vida, vivência do dia a dia, sabem

das dificuldades dos pais

78

6. Como é a relação com os outros professores?

É um grupo muito bom, por isso a escola está entre as cinco melhores. No ensino fundamental

não temos muita rotatividade e isto facilita o trabalho, pois conhecemos o método de trabalho

de cada um, fazemos a interdisciplinaridade com mais facilidade.

7. E a relação com à direção?

É ótima, a diretora e a coordenadora são muito participativas, interessadas.

8. Você trabalha interdisciplinarmente, desenvolve projetos?

Olha, eu trabalho sim. Por exemplo, fizemos o trabalho da Prevenção da Dengue; da Copa.

Eles foram desenvolvidos com os outros professores. Foi muito bom. Fizemos trabalho de

campo, teatro, paródia envolvendo várias disciplinas.

9. Como você faz para que o aluno participe mais das aulas?

Por exemplo, eu precisava trabalhar um filme com eles. Era sobre a guerra. Mas eu não trago

o filme que eu acho que é legal. Eu deixo eles escolherem. É assim, eu falo pra eles que vamos

trabalhar sobre determinado assunto e eles deverão apresentar sugestões de filmes que tratam

sobre o tema. Aí eles trazem a sinopse do filme e fazem a propaganda dele para a turma. O

filme que for mais votado será assistido por todos. Desta forma, eles participam do processo

todo e não apenas assistem o filme. O filme não é o que eu acho legal, quando você deixa a

turma decidir, eles gostam muito. É do colega, não é imposto, isto motiva muito.

10. E com projetos?

Olha, quando vamos desenvolver algum projeto, os alunos sempre dão ideias. Aí você olha e

aproveita os recursos que são apropriados.

11. Já usou o aparelho celular para alguma dinâmica?

Ah, claro. Por exemplo, no trabalho da dengue, nós saímos pelo bairro para conversar com

as pessoas. Os alunos entregavam um “marca página”. Eu estava com a minha máquina para

fotografarmos. Mas como havia vários grupos, pois nós mapeamos o bairro para poder

dividir os grupos. Teve uma hora que um grupo me chamou para mostrar um terreno baldio

que estava com lixo jogado, havia pneus, garrafas etc. Como naquele momento eu não estava

com a minha máquina, um dos alunos teve a ideia de fotografar com o celular dele. Ele

fotografou e depois baixou as fotos no computador da coordenação. Utilizamos estas fotos

para trabalharmos em sala de aula.

79

Dia: 05/10/2010

Neste encontro a professora Maria Salete relatou sobre o projeto “Prevenção da Dengue”

desenvolvido no 1º bimestre de 2010, com os alunos do 9º. Ano. A professora lecionava 3 aulas

semanais, sendo que em 2 aulas ministrava o conteúdo normal da aula e em 1 aula desenvolvia o

projeto. Este projeto foi desenvolvido com o apoio da coordenação pedagógica (Sra. Márcia) e

dos professores da turma. Foi proposto aos professores fazerem um levantamento junto aos

alunos das possibilidades de trabalharem com o tema. Conforme relatado por Maria Salete, foi

uma surpresa, os alunos foram falando e sugerindo várias coisas... a turma se envolveu tanto que

eles fizeram praticamente tudo. Este projeto envolveu 42 alunos, eu criei possibilidades de não ter

desculpas para não participarem, eles podiam desenvolver diferentes trabalhos. Os alunos criaram

paródias e teatro sobre o tema. Eu apenas ajudei, eles fizeram tudo, a roupa, o cenário, o texto, a

letra da paródia etc. Eu me empolgo muito com o meu trabalho e procuro incentivar os alunos, eu

falo ... gente, o que podemos fazer neste trabalho? O celular é igual ao violão, não podemos

utilizar todo dia na escola, para quando há a necessidade, quando é preciso utilizar para a aula,

por que não? Por que o aluno não pode filmar uma atividade se ele quiser guardar como

lembrança? Mas tem que direcionar. Quando peço uma pesquisa, o aluno tem que criar um texto,

não é apenas copiar, tem que haver o diálogo, quando você registra a sua opinião, quando você

participa da conversa, você está aprendendo. Nunca fiquei esperando, eu sou movida por desafios.

Procuro utilizar o que eu tenho em mãos. Eu odeio nota vermelha, procuro envolver o aluno, ele

tem que participar de alguma forma.

Dia: 07/10/2010

Neste encontro foi deixado com a professora o questionário para ser aplicado à turma do 2º

Ensino Médio, referente ao uso do aparelho celular na aula de História O aparelho foi utilizado

para ouvir a música do grupo de rock U2. Eu não tenho esta habilidade para informática. Você não

precisa ter. Os alunos têm. Eu tenho o conteúdo. Eles cuidam desta parte pra mim. Você combina

com eles e vai. Um tem que está sempre ajudando o outro.

Data: 19/10/2010

Neste último encontro as perguntas foram feitas segundo o roteiro abaixo:

1. Por que você escolheu a escola pública?

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Eu não escolhi a escola pública, a escola pública me escolheu (rs)... eu acabei prestando

concurso, começando como eventual, comecei substituindo, adquirindo pontos, eu tive uma

experiência na escola particular, mas como prestei concurso, eu fiz a opção, aí eu fiz a opção de

ficar na escola pública, porque eu me senti mais confortável para trabalhar na escola pública.

Por que mais confortável? Mais confortável pela possibilidade de criação, nós não tínhamos

ainda todo este estudo direcionado como tem estas apostilas hoje, então você criava o seu

programa, tinha até uns livros para orientar, né, mas quando eu comecei em História nós

tínhamos uma proposta que era um caderno cinza, a gente trabalhava com eixos temáticos,

isso me encantava, eu era fascinada em trabalhar com eixos temáticos, né. Eu gostava muito,

com o eixo temático eu me sentia mais livre para criar com meus alunos. Aí veio esta nova

proposta, não é mais o eixo temático, eu me adaptei, eu tenho críticas, mas dentro desta

proposta eu procuro criar formas diferentes de trabalhar com eles.

2. Quais são suas principais dificuldades?

Dificuldades ... eu tenho dificuldades ... o aluno ... tá faltando a educação em casa, então a

escola tem de dar conta disto, outro problema a sociedade está violenta, a escola vai ser

reflexo desta sociedade, nós não somos algo isolado, vai refletir dentro da escola a violência

que está na sociedade, né ... a falta de valores, a individualidade, então todas estas coisas

refletem dentro da escola. Então você tem um material para trabalhar, mas você tem que está

trabalhando outras questões, que é o educar mesmo, não só o formar, né, tem horas que a

gente fala assim em reuniões, mas que hora nós vamos dar aula? (rs) Porque você tem que

ensinar o aluno a se comportar, a respeitar o outro, são coisas que ele já deveriam trazer de

casa, o próprio respeito com o professor, o linguajar em sala de aula, então o descaso de

alguns, principalmente dos adolescente, eu tenho mais dificuldade com o Ensino Médio, por

causa mesmo da falta de respeito, e agente tem que estar todo dia superando isto. Eu falo,

olha dá aula é matar, antes eu falava que era um leão por dia, hoje eu falo que é um leão por

aula. (rs) Para você conseguir realizar, dá o seu recado, assim ... é com muita insistência,

porque se você não for insistente você abre mão.

3. Por que você utiliza o aparelho celular?

Na verdade o aparelho celular, pra mim ... é uma briga muito grande, porque mexer com o

aparelho celular, nós estamos lidando com a geração dos botões, né, que eu tenho dificuldade,

muita, ele não, a criança nasce, eu tenho uma netinha de 4 anos que ela chega em casa ela

domina qualquer aparelho, né, não precisa nem de manual, ó vó mexe aqui põe lá, é incrível.

Então eu percebo isto dentro da minha casa. Eu sou uma analfabeta né, eu falo.

81

Então, o que eu percebi qualquer tecnologia encanta o aluno, você fala sala de informática, ah

professora vamos, então a gente vai. Você fala vamos trabalhar com o vídeo, ótimo. Vamos

trabalhar com a música, também. E o celular hoje ele tem todos estes recursos. Só que é assim,

da mesma forma que eu digo para usar um violão, a gente vai fazer uma paródia, tá, você

fazer recitar alguma coisa, ou participar de um teatro, você não vai usar o violão o tempo todo,

mas vai ter momentos que você vai utilizar, então se você não direcionar e se você não

aproveitar isto, vai ser pior, você vai criar um conflito, e aí vai ser um contra o outro, e eu não

posso, eu falo pra eles eu não sou contra vocês e vocês não podem ser contra mim, senão não

dá certo (rs). A gente tem que trabalhar juntos.

4. É difícil?

É, porque se você falar assim, nós vamos usar o celular pode pegar, nós vamos puxar uma

música ou se você tem gravado alguma coisa... tem alguns que vão acessar outras coisas, se

você deixar um vídeo lá ou assistir um programa na televisão ou um documentário, eles

também vão mudar de canal, quando você trabalha com a música, eles querem o que? Ouvir a

música deles, não querem a música que você levou para trabalhar, você tem que fazer,

convencer e até fazer acordos, nós vamos trabalhar depois eu deixo vocês ouvirem a música de

vocês. São acordos, é negociar. Não tem outro jeito.

5. Por que você começou a usar o aparelho celular na sala de aula?

Por que eu comecei? Ah foi por acaso. Eu estava lá na sala de aula, precisava de um recurso

que eu não tinha que era a música gravada e aí um aluno, meio receoso, porque o uso do

celular não pode mesmo em sala de aula e aí ele disse, ah professora se você quiser eu posso

conectar meu celular e dá para ouvir, eu disse ótimo, eu já estava com a letra, era sobre a

questão religiosa na Irlanda, a música referente ao domingo sangrento do grupo U2, ele puxou

nós ouvimos, eles estavam com a letra, a tradução, o contexto ali, e tudo bem, guardou o

celular e foi ótimo. Eles ficaram todos orgulhosos. Ah, eles acham ... eu estou sendo útil. (rs)

6. Quais resultados você pretende alcançar?

Os resultados ... seria assim a satisfação. O aluno está ali consciente daquela ferramenta que

ele tem, que pode ser lazer, que pode ser para construir algo maior em sala de aula,

conhecimento e que ele tem o conhecimento em alguma coisa sim, eu não tenho o

conhecimento da tecnologia, mas ele tem e ele vai me ajudar com isto. O aluno precisa saber

da importância dele. Ele não um algo vazio, ele tem como me ajudar na aula e ele ajuda desta

forma, com a tecnologia. Eu levo um vídeo para a sala de aula, por exemplo, eu tenho

dificuldades em conectar cabo (rs), mudar de capítulo e eles vão rapidinho, então eu nem me

82

preocupo quando eu vou para sala de aula de tecnologia, sala de informática, porque eles me

ajudam em tudo, eu não conheço, eu sou mesmo ruim no uso da informática (rs), mas eles

dominam e eles me ajudam, mas eu direciono, tá certo. É uma parceria, eu com os alunos, aí

dá certo.

7. Mudou alguma coisa quando você deixou o aluno usar o aparelho celular naquela aula de

história para escutar a música do grupo de rock U2?

Mudou ... muda, porque esta relação de distanciamento entre aluno e professor eu vejo que é

grave esta situação, você tem que chegar no aluno, porque para o aluno você está em um

degrau a mais, é você que tem que chegar, não é que eu vou permitir tudo que eu vou usar da

linguagem do aluno, mas eu formada, eu que estudei eu tenho condições de dialogar com meu

aluno, de me aproximar dele. Então quando eu uso um recurso em que ele me ofereceu eu crio

esta possibilidade de interagir, não é ... então agente percebe o que? o aluno se sente a

vontade, eu faço parte disto, ela não está fazendo algo que só ela tem condições de fazer, e aí

é legal por causa disto, a interação é importante, o aluno fazer parte daquilo. Quando você dá

uma aula, por exemplo, o Projeto da Dengue, fui para sala o objetivo é este, o que nós

podemos fazer? A lousa ficou cheia de sugestões, aí eles criaram, quando eles criam, eles dão

as ideias, eles têm mais responsabilidade de cumprir, porque a ideia foi deles, não fui eu, ele

que sugeriu, como ele vai sugerir alguma coisa e não vai cumprir? Então isto foi legal nesta

sala que eu trabalhei, desta forma, legal.

8. O que você achou em utilizar o aparelho celular?

Eu achei tranquilo, porque o que acontece hoje, criou-se até a lei estadual da proibição do uso

do celular em sala de aula, como poderia criar a proibição do uso do violão, a proibição do uso

sei lá (rs) que eles trouxessem. Mas não é bem a proibição, é que hoje o aluno, o celular que ele

possui ele acessa a internet, ele assiste televisão, você sabe que tem este recurso, proibir pelo

proibir não adianta, então você tem que direcionar isto, eu permito o uso do celular quando eu

estou em uma aula expositiva? Não, eles têm que estar prestando atenção em mim, têm que

estar interagindo, é para consultar aí pode, aí o que eu faço? Todos têm, não. Então eu vou

para sala de informática, porque senão tem que ter pelo menos um por grupo para pesquisar e

infelizmente eles não têm o celular com todos os recursos. Em alguns relatórios, sabe eu

percebi, eu dei uma lida, eles estão escrevendo com a linguagem da internet, né eles escrevem

lá “nahum”, eles ficam tanto, é o mundo deles, eles acabam trazendo. Ah mas é errado, é claro

tem que ter a norma culta, eu também acho, mas pega isto e fala olha você tem que tomar

este cuidado, aqui você não escreve deste jeito, mas a forma de você se comunicar na escrita

com outras pessoas é assim, você tem que utilizar tudo. Então é imprescindível, não mais para

83

você ... o proibir, porque teve de proibir, porque nós não demos conta, o professor também não

compreendeu o momento de utilizar o recurso. Então, a partir do momento que nós passarmos

a criar meios de trabalharmos com este recurso essa medida não vai precisar mais do proibido,

entendeu? Por que ele sabe que a qualquer momento ele pode usar, está ali, ele não precisa

ficar extrapolando, porque você vai direcionar. Aí pronto, são normas, aí você cria com os

alunos.

9. E a reação dos alunos?

A reação é boa né, eles gostam demais. É o que eles têm acesso, é o que eles sabem manusear

muito bem, eles se acham importantes, eles se acham importantes quando usam estes

recursos. Tanto a internet lá na sala de informática, como um vídeo, como um recurso do

celular.

10. Você não tem medo de perder a sua autoridade em deixá-los explorarem este conhecimento

deles?

Não, não tenho. Porque eu não tenho esta questão da autoridade, porque, eu tenho muito

claro com eles o meu objetivo, eles sabem os limites que nós podemos, se extrapolar, vai ser

com todos, não, se extrapolar então eu vou tomar a providência que tiver de tomar com eles. É

igual esta matéria da revista que eu mostrei pra você sobre comunidades fazendo chacota com

professores, o que você vai fazer? Se for comigo, se eu me senti ofendida, denegrir a minha

imagem eu vou abrir um processo, ou boletim de ocorrência, se é menor, se está sendo

orientado, eu não sei? São estes recursos que me cabem, eu não vou me deixar me abater por

simplesmente o aluno ter acesso a algo, manusear muito bem e eu perder esta oportunidade

de trazer o aluno para trabalhar comigo, eu não vou, de maneira alguma.

11. Deseja fazer uma declaração final?

Declaração final ... que o medo é natural, que a insegurança é muito natural, de fato o novo

assusta, né ? Como eu vou lidar, a minha vida tá tão organizada desta forma e agora eu vou

ter que mudar, como eu vou fazer isto? E é natural, a mudança, ela ocorre do desejo de você

alcançar algo, você chuta o pau da barraca, não é. (rs) Olha, eu vou fazer isto e pronto. Mas,

na questão do uso da tecnologia foi algo tão natural e prazeroso, eu não me programei pra

isto, eu só procurei utilizar os recursos que estavam ali. Então foi natural e não foi uma coisa,

eu vou fazer um curso eu vou me preparar, não. Eu digo pra você, perto dos alunos eu sou uma

analfabeta, eu não sei lidar com isto, eu estou aprendendo muito com eles. Então foi muito

natural, mas eu tenho receio. Agente fica ansioso, esta coisa de perder o controle, a

autoridade, eles vão abusar, agora eles acham que vai poder isto toda hora, não houve sabe

84

por que? Porque eu falei vocês preferem a proibição ou vocês preferem que seja usado nos

momentos adequados. Ah professora é isto. Pronto, então o receio vai existir, são mudanças,

né. Eu sempre penso eu quero me divertir com eles, eu quero construir algo com eles, então

essa é maneira de eu me aproximar deles, de uma grande maioria eu consigo, ainda bem.

12. E algum conselho?

Conselho eu não daria, mas eu diria assim, façam a tentativa. E aí relatem as experiências.

Porque a partir do momento que você fez uma tentativa e relatou a experiência, pode ter sido

diferente com outros colegas. Bole uma atividade e perceba como os alunos vão ficar, a

reação, como é interessante. E os relatos são importantes, aí é assim, deu certo com você,

mais ou menos, não, não deu certo comigo, e aí a gente pensa porque deu certo com um e não

deu certo com o outro, é trocar, e aí a gente tem que ter isto entre professores, um trocar com

o outro mesmo o que deu certo, o que não deu, talvez não foi um momento feliz, um outro

momento vai acontecer, mas não precisa ser todo dia é claro, nem deve. Nós temos outros

recursos, mas que tente pelo menos, e não desista se não se der bem na primeira. (rs) Mas

façam esta tentativa, esta experiência é interessante.

13. O que te motiva a continuar na profissão?

O que me motiva em estar tentando, em procurar caminhos, em não desisitir, é a paixão. Eu

tenho paixão pelo o que eu faço. Quando eu escolhi fazer história, eu tinha uma série de

perguntas e não tinha as respostas, mas não encontrei ainda. Mas a todo momento, eu adoro

o que eu faço, eu gosto muito, eu adoro preparar a aula, hoje eu estava na 7ª série aí eu falei

que pena acabou a minha aula, ontem e hoje, agora eu só vou vê-los semana que vem, porque

eu queria continuar o assunto, tudo estava muito bom, porque eu gosto do que faço, eu não

me canso de falar de história. Você consegue que eles participem mesmo não usando nenhum

recurso tecnológico? Nossa ... eu queria que você assistisse uma aula minha, é muito legal. Eu

dou a aula sem recurso nenhum, acabei de sair de uma aula na 7ª série trabalhando a questão

germinal e internacional, né, que são as organizações internacionais, os pensamentos de

mudanças da sociedade, e a formação de sindicatos, eles nossa ... eu não dou as respostas, eu

fico cutucando, aí eles vão me fornecendo, depois eu amarro tudo é claro, mas o aluno faz um

comentário que não tem nada a ver, eu procuro falar legal, você falou isso daqui a pouco nós

vamos usar isso, para ele não ficar assim, puxa eu não vou falar mais, porque senão não tem

importância. Eu gosto muito, eu gosto de falar com as pessoas, eu gosto de criar, eu gosto do

que eu faço, pena que não é reconhecido. (rs) Até que uma grande parte dos alunos, às vezes,

eu vejo um reconhecimento. É muito cansativo, um número muito grande de aulas para gente

85

ter um salário, como eu queria poder me dedicar mais, mas é isso o que eu tenho eu procuro

fazer.

Data: 25/10/2010

Como foi a atividade com o celular com os alunos do 2º ano?

Olha, como eu já falei, eu estava trabalhando o conflito político e religioso da Irlanda do Norte.

Há vários vídeos no youtube que apresenta este conflito com a música do grupo “You2” (sic),

“Domingo Sangrento” e as imagens da época. Mas você sabe eu tenho muita dificuldade e não

consegui baixar o vídeo. Na sala de aula, o aluno falou que conseguiria baixar a música. Ele

baixou e nós cantamos umas duas vezes. Depois conversamos um pouco sobre a banda e sobre a

música. Eu ressaltei que os cantores são influenciados pelo contexto histórico em que estão

vivendo. A música reflete bem isto. A música foi utilizada somente para introduzir o conteúdo,

mas foi muito legal. Eles ficaram motivados sobre o assunto. O texto da música foi amarrado ao

contexto a ser trabalho. Com a música ficou mais gostoso trabalhar o assunto. E eu não tive

problemas com o uso do celular, após escutarmos a música o aluno desligou o celular. Depois de

ouvirmos a música, continuamos a atividade. Os alunos fizeram uma pesquisa na internet sobre o

assunto, é claro que direcionada. Eles trabalharam em dupla, em trio, ou até mesmo em quatro

por máquina, nosso laboratório é pequeno. A pesquisa eu tendo direcionar, senão o aluno se

perde com tantas informações. Depois da pesquisa, nós voltamos para a sala de aula e

começamos a debater sobre o que foi levantado. O aluno consegue trazer informações para a

sala discutir, ele complementa a matéria. Muitas vezes, o aluno traz informações que eu não vi

ainda, mesmo assim, eu falo que vou pesquisar sobre isto e voltamos a trabalhar. A música ficou

como uma introdução, foi muito legal pois teve alunos que pesquisaram em suas casas o vídeo e

depois comentavam comigo. O trabalho foi conduzido portanto da seguinte forma: O tema foi

introduzido pela música, depois houve a pesquisa pela internet, os alunos apresentaram as

dúvidas, o que achou de mais interessante, trouxeram informações e debatemos sobre o assunto.

86

Registro de Entrevistas com alunos selecionados pela professora

Identificação : Estudante - 17 anos - masculino Data: 07/10/2010

Local : Escola Gabriel Pereira / Mogi das Cruzes/SP

Aluno aparentemente tímido, aparentando constrangimento ao falar. Se diz bagunceiro e costuma

responder ao professor quando é ofendido. “Eu não fico quieto quando me xingam”. Mora com a

mãe e o padrasto. Diz que a mãe e o padrasto gostam de ler.

Como você estuda na sua casa? Eu não estudo não.

Você gosta de estudar? Não.

Gosta de ler? Eu não. Só leio o que me interessa.

E na escola? Eu só leio quando vale ponto positivo. Se não valer ponto positivo eu não leio.

E a professora de história? Ela faz a gente aprender. Ela fala muito e ela é brava.

Para ela você lê? Eu leio, por causa do respeito para a professora. Ela põe disciplina na sala.

O que você achou em usar o celular naquela aula de história? Legal. Achei legal.

Identificação : Estudante - 17 anos - masculino Data: 07/10/2010

Local : Escola Gabriel Pereira / Mogi das Cruzes/SP

Um pouco tímido, mas muito disposto a falar. O celular deste aluno foi utilizado na aula de História.

Diz que gosta de estudar quando o assunto lhe interessa. Pais separados, mora com a mãe, diz que o

pai é muito inteligente.

Como você costuma estudar? Em casa, eu não estudo não.

E nas provas? Às vezes, mas eu vou bem.

E quando o assunto é de seu interesse? Ah, aí eu estudo, eu faço Senai e lá a minha menor nota é 8 e

aqui a maior é 7.

Então você não estuda? Só quando é para nota.

Que tipo de aula você mais gosta? Eu gosto de aula que todo mundo participa.

87

O que você achou em usar o celular naquela aula de história? Eu achei muito interessante. Foi legal

que todo mundo prestou atenção na aula. Ficou concentrado, né. Eu tinha a música na hora. É a

banda do U2, a música trata sobre violência.

Identificação : Estudante - 17 anos - feminino Data: 07/10/2010

Local : Escola Gabriel Pereira / Mogi das Cruzes/SP

É extrovertida. Diz que gosta de conversar.

Como você costuma estudar? Ah, eu não estudo muito, mas costuma estudar sim. Eu estudo mais no

quarto. Em um ambiente tranquilo.

Do que você mais gosta da escola? Ah, eu gosto da rapaziadinha da escola, da turminha toda.

O que você achou em usar o celular naquela aula de história? Achei legal. Pessoal diz que não pode

celular na sala de aula, mas na hora não tinha nada, aí na hora apareceu o celular lá, agente já

tínhamos letra, aí colocamos a música.

88

ANEXO V

Questionário

Nome (Campo não obrigatório)

Idade Sexo

[ ] Fem [ ] Masc Curso Atual ou Escolaridade

Série/Ano Escola: [ ] Pública [ ] Particular

Nome da Escola:

Cidade onde reside

Renda Familiar (R$)

[ ] Até 560,00 [ ] Mais de 560,00 até 1.120,00 [ ] Mais de 1.120,00 até 2.800,00 [ ] Mais de 2.800,00

Possui Aparelho Celular?

[ ] Sim [ ] Não

Se Sim, há quanto tempo?

(anos/meses)

Se Sim, Quantos? Qual Plano Atual?

[ ] Pré-Pago [ ] Pós-Pago

Por que você tem ou gostaria de ter um aparelho celular? ______________________________ ______________________________________________________________________________

Quantas horas você costuma deixar o aparelho celular disponível/ligado diariamente?

[ ] 24 hs [ ] 16hs ou mais [ ] 12hs ou mais [ ] 8hs ou mais [ ] 4hs ou mais [ ] menos 4 hs Você leva o celular para?

[ ] Todos dos lugares [ ] Somente Lugares em que é permitido [ ] Somente quando acho que vou precisar

Quando estou com aparelho celular me sinto: __________________________________________ _______________________________________________________________________________

Como foi participar do Projeto sobre a Dengue: ________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________

Qual foi a sua participação no projeto (O que você fez?):_________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________

Você utilizou o aparelho celular no Projeto sobre a Dengue? Se sim, você gostou ?

[ ] Sim [ ] Não Gostou? ____________________________________________________

89

_______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________

Você gostaria de utilizar o aparelho celular em atividades escolares?

[ ] Sim [ ] Não Por quê? _________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________

Se você usou o aparelho celular no Projeto da Dengue, responda “Utilizar o aparelho celular foi:

[ ] Muito Motivador [ ] Motivador [ ] Pouco Motivador [ ] Desnecessário

Uso meu celular para:

Nunca Raramente Às vezes Frequentemente Sempre

Falar

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

Enviar Torpedos - SMS

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

Ouvir Música

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

Rádio / Televisão

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

Fotografar

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

Jogar

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

Gravar Vídeos ou voz

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

Organizador de tarefas (calendário; agenda; notas, etc)

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

Calculadora

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

Alarmes/Despertador

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

Cronômetro

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

Acessar ainternet

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

Outros recursos (especifique)

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

Na sua opinião os itens abaixo são: Desnecessário Pouco

Necessário Necessário Muito

Necessário Indispensável

Aparelho celular

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

90

Telefone Fixo

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

Internet

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

Televisão

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

Rádio

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

Livros

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

Computador

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]

[ ]