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1 UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE TORÁ – MAIS QUE UMA LEI 1 : Significado e uso nas Escrituras, para os judeus e para a Igreja. Wesley de Almeida Franco RESUMO O presente artigo se propõe a investigar o significado da palavra torá nas Escrituras e no Judaísmo, objetivando resgatar seu verdadeiro sentido que se perdeu para a ideia comum de lei. Para tanto, iremos averiguar algumas formas de uso e seu contexto no Antigo Testamento e como ela é empregada e reconhecida no Judaísmo, bem como suas implicações no Novo Testamento e para a Igreja. Este estudo consistiu em uma pesquisa a importantes obras e autores disponíveis no meio acadêmico que analisam nas Escrituras e na Teologia muitos aspectos da relação entre Lei e a Graça, Jesus e a Lei, a teologia de Paulo e a Lei, a história da interpretação bíblica, a história do Judaísmo, etc. Nos pontos em que há mais debates e divergências buscou-se fornecer diferentes opiniões acerca da questão, procurando conciliar tais respostas com o objetivo deste trabalho. Palavras-chave: Torá. Lei. Lei de Moisés. Instrução. Ensino. Direção. Significado. ABSTRACT This work aims to investigate the meaning of the word torah both in the Scriptures and in Judaism by bringing back the original meaning that has deviated to the common idea of law. For this purpose its usage has been investigated within the context of the Old Testament and how it is acceptedly used in Judaism, as well as the 1 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Educação, Filosofia e Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Teologia. Orientador: Prof. Dr. Jonathan Luis Hack.

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

TORÁ – MAIS QUE UMA LEI1: Significado e uso nas Escrituras, para os judeus e para a Igreja.

Wesley de Almeida Franco

RESUMO

O presente artigo se propõe a investigar o significado da palavra torá nas

Escrituras e no Judaísmo, objetivando resgatar seu verdadeiro sentido que se

perdeu para a ideia comum de lei. Para tanto, iremos averiguar algumas formas de

uso e seu contexto no Antigo Testamento e como ela é empregada e reconhecida no

Judaísmo, bem como suas implicações no Novo Testamento e para a Igreja.

Este estudo consistiu em uma pesquisa a importantes obras e autores

disponíveis no meio acadêmico que analisam nas Escrituras e na Teologia muitos

aspectos da relação entre Lei e a Graça, Jesus e a Lei, a teologia de Paulo e a Lei, a

história da interpretação bíblica, a história do Judaísmo, etc. Nos pontos em que há

mais debates e divergências buscou-se fornecer diferentes opiniões acerca da

questão, procurando conciliar tais respostas com o objetivo deste trabalho.

Palavras-chave: Torá. Lei. Lei de Moisés. Instrução. Ensino. Direção. Significado.

ABSTRACT

This work aims to investigate the meaning of the word torah both in the

Scriptures and in Judaism by bringing back the original meaning that has deviated to

the common idea of law. For this purpose its usage has been investigated within the

context of the Old Testament and how it is acceptedly used in Judaism, as well as the

1 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Educação, Filosofia e Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Teologia. Orientador: Prof. Dr. Jonathan Luis Hack.

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implications thereof on both the New Testament and the Church.

The material for this study was collected from renowned works and authors

available in the academic environment that thoroughly analyse Scriptures

and theology in many different aspects of the relationship between the

Grace, Jesus, the theology of Paul and the Law, as well as the history of

biblical interpretation, the history of Judaism etc. Where debatable and/or

controversial topics arise, different views have been provided on the issue

in an attempt to settle a common ground to match the overall objectives of

this work.

Keywords: Torah. Law. Law of Moses. Instruction. Education. Direction. Meaning.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Pentateuco ou Lei de Moisés são as expressões mais conhecidas no contexto

cristão para se referir à Torá, isto é, os cinco primeiros livros da Bíblia atribuídos a

Moisés. Estes livros, especialmente Deuteronômio, formam a base para a teologia e

historiografia do Antigo Testamento (AT). São tão importantes que, segundo explica

Lopes (2007, p. 36-38), a divisão do cânon hebraico do AT forma um edifício

hermenêutico, cuja base é a Torá, as demais partes, os Profetas e os Escritos,

repousam sobre ela, e o Novo Testamento (NT), sobre ambos. Deste modo, a Torá

influencia e determina todo o edifício.

Contudo, na história da Igreja, houve uma tendência, baseada no Novo

Testamento, especialmente nos escritos de Paulo, em generalizar todo o Antigo

Testamento sob a ideia de “Lei” em contraposição ao Evangelho, em termos de

“Graça”, e assim impondo uma relação dualista entre Torá (como Antigo Testamento)

e Evangelho, perfazendo uma dicotomia “lei/graça”. Entretanto, a palavra torá, no AT,

tem implicações maiores que a ideia de lei, sendo que tal relação é indevida.

Assim, iremos primeiramente buscar o significado etimológico do termo torá e

seu uso no AT, a fim de resgatar seu verdadeiro sentido. Posteriormente iremos

trabalhar o que o termo representava para o judaísmo do primeiro século depois de

Cristo e seu uso no NT, buscando um meio de conciliar aquela dualidade. E por fim,

verificaremos o que ele representa no judaísmo atual e para a Igreja brasileira.

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1. ETIMOLOGIA E USO NO ANTIGO TESTAMENTO

Entre as bibliografias consultadas neste trabalho, há certo consenso, embora

haja discussões quanto a isso, de que o substantivo תורהה, conhecido na sua forma

transliterada “torá” ou “torah”2, pode ser derivado do verbo que na sua (yarah) יהרהה

forma verbal qal significa: lançar, atirar, jogar; e na forma hifil significa: ensinar

(HARRIS, 1998, p. 660), apontar, guiar, instruir (PFEIFFER, 2006, p.1953). Ela é

encontrada em todos os períodos do idioma hebraico e também no ugarítico antigo

com o significado de “Atirar”. Ocorre cerca de 80 vezes no AT, sendo a primeira em

Gn 31.51, no qual o significado de “lançar” aparece: “[...] aqui estão este monte de

pedras e esta coluna que coloquei [lancei] entre mim e você” (NVI). Também está

relacionado ao tiro de flechas, como, por exemplo, em 1Sm 20.36,37. “O hebraico

moderno usa a palavra para expressar o disparo de uma arma” (VINE, 2007, p. 103).

Em Gn 46.26 aparece com o sentido de “mostrar a direção”, “guiar”: “ora, Jacó

enviou Judá à sua frente a José, para saber como ir a Gósen...”(NVI). Outra forma

interessante em que o verbo aparece está em Dt 11.14, “primeiras chuvas”, chuvas

que aconteciam entre outubro e dezembro, vistas como providência de Deus para a

colheita, águas que Deus lançava na terra para regá-la (HARRIS, 1998, p. 660).

Assim, os usos mais frequentes da raiz deste verbo são no sentido de atirar

flechas, enviar chuvas e ensinar. Há uma ideia de controle nesta ação por parte de

seu agente (HARRIS, 1998, p. 660), por exemplo, antes de atirar a flecha se faz

pontaria para a direção que se pretende atingir, ou ainda, Deus é aquele que

controla a chuva e a envia a seu tempo (Jl 2.23). Semelhantemente, aquele que

ensina, não só dá a direção, instruindo no caminho a seguir, na verdade e na vida,

como seu ensino lhe confere certo controle sobre aquele a quem ensina.

Os usos desta raiz no livro de Provérbios mostram a importância da instrução

que os pais devem manter sobre seus filhos e os mestres sobre seus alunos para

que eles andem na ”direção correta” (Pv 4.4,11). Do mesmo modo, os sacerdotes e

juízes tinham a responsabilidade de ensinar o povo nos estatutos e juízos de Deus,

2 Usaremos a forma “torá” quando em referência ao termo e “Torá” quando em referência ao Pentateuco ou ao AT, salvo outras formas indicadas no texto.

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de modo que as instruções dadas por eles deviam ser criteriosamente obedecidas

(Dt 17.10,11; 33.10). Entretanto, os profetas denunciaram as práticas corruptas

destes quando passaram a ensinar coisas falsas ao povo e a buscar lucros com

essa tarefa (Is 9.14,15; Mq 3.11).

O substantivo “torá” é geralmente traduzido como “lei”, mas este significado

está aquém de sua representação no contexto vetero-testamentário. Ele aparece

cerca de 220 vezes no AT (VANGEMEREN, 2011, v.4, p.868). Na literatura

sapiencial, na qual é usado sem o artigo definido, ele tem o significado de ensino.

Pode ser a instrução da mãe (Pv 1.8), do pai (Pv 4.1-2) ou dos sábios (Pv 13.14) a

fim de orientar os filhos em suas relações com a vida ou adverti-los sobre os perigos

que há no mundo. Era papel dos sábios e mestres instruir seus discípulos no temor

do Senhor (Pv 1.7):

A “instrução” dos sábios de Israel, que estavam encarregadosda educação dos jovens, era designada a cultivar nos jovens umtemor do Senhor, de forma que eles vivessem conforme asexpectativas de Deus. (VINE, 2007, p.165)

O dicionário Wycliffe (PFEIFFER, 2006, p. 1953) nos informa dos vários usos

de torá no AT:

O termo torá é usado no singular 172 vezes para se referir atoda lei de Deus ou de Moisés, e no plural 11 vezes com o mesmosignificado. É usada em Levítico 15 vezes, em Números 7 vezes, eem outras passagens 26 vezes para se referir a uma lei específica nocódigo. Em Provérbios ela é usada seis vezes para se referir às leisou regras dos pais (1.8; 3.1), ou aos traços de caráter, como, porexemplo, a bondade (31.26).

Com isso, podemos começar a dizer que torá é um tipo de instrução,

orientação ou ensino daqueles responsáveis pela tarefa de educar e orientar o ser

humano na vida. E também podemos afirmar que ela é a Instrução dada por Deus a

seu povo Israel através de Moisés, para guiá-los num compromisso com Ele e com o

próximo. Foi esta instrução que passou a se chamar “a Lei” - neste caso, com o

artigo definido (ha-torah). Vários usos, neste sentido, são encontrados no AT, como:

“livro da lei” (sepher hattorah, Dt 28.61); “lei de Moisés” (torat mosheh,1Re 2.3);

“livro da lei de Moisés” (sepher torat mosheh, Js 8.31); “livro da lei de Deus” (sepher

torat elohim, Js 24.26); “lei do Senhor [Javé]” (torat Yahveh, Sl 1.2).

Contudo, este sentido não se limita a um conjunto de normas e

determinações expressas a fim de regulamentar a vida social e/ou religiosa:

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Em termos gerais, torá designa um padrão de conduta divinapara o povo de Deus. O termo não se limita a questões culturais oucerimoniais, tampouco à lei civil/social e, em certas ocasiões, àspartes narrativas do Pentateuco. (VANGEMEREN, 2011, v. 4, p. 868).

O termo abrange tanto as determinações cerimoniais - sacrifícios, ofertas, as

festas, os rituais do templo, a páscoa, etc - quanto às determinações civis no âmbito

da vida comunitária - do juizado, do homicídio, do escravo, do estrangeiro, dos

pobres, etc. Apesar de haver essa diferenciação nestes aspectos, os quais podem

ser vistos como a esfera do sagrado e a do secular, isto é, das práticas que orientam

para um perfeito relacionamento com Deus, e das práticas que regulam a vida social

nas relações para com as pessoas da comunidade, não está se falando de nível de

importância ou de separação, pois ambos os casos estão sob o peso da mesma

autoridade que os instituiu, isto é, Deus. Além disso, o AT não faz essa

categorização. Ela é possível apenas para fins de análise.

O Salmo 78 fornece um exemplo importante do uso de torá no AT, no verso 1

o salmista convida o povo a escutar sua “torá”, isto é, sua instrução, seu ensino. O

que se segue é um relato, o qual o salmista informa ser algo que era transmitido de

pai para filho (v. 4-5) e refere-se a isto como “enigmas dos tempos antigos” (v.2).

Nos versos seguintes ele fala dos seus antepassados e do que Deus havia feito a

eles, ou seja, o conteúdo deste ensino que ele pretende passar é a história do povo

de Israel e de seu fracasso por não observarem a vontade de Deus. Neste uso,

portanto, percebe-se, que torá também inclui a história do povo, as narrativas que

contém a história de Israel.

Uma referência curiosa no uso deste termo é Gn 26.5, na qual ele é

empregado no plural (torot): “porque Abraão me obedeceu e guardou meus

preceitos, meus mandamentos, meus decretos e minhas leis" (NVI). O texto não

especifica o que são essas “leis” que Abraão obedeceu, e apesar de seu contexto

ser anterior à torá entregue a Moisés, pode haver relação entre ambos, como alguns

estudiosos sugerem, que o texto tenha sido escrito num período pós-mosaico

(VANGEMEREN, 2011, v. 4, p. 870). Entretanto, havendo está relação ou não, o

mais importante é termos em mente que o originador destas leis é o mesmo que

instruiu a Moisés, isto é, Deus, e sabemos que na sua imutabilidade tais leis ou

instruções que, entre outras coisas, orientam para um relacionamento com Ele, não

seriam diferentes em sua essência. Assim, o aparecimento do termo nesta

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passagem é importante para demonstrar que seu significado e suas implicações

transcendem o contexto mosaico.

Fica evidente que, com todos esses usos, o termo vai além do significado de

“lei”, como geralmente é traduzido e entendido, ainda mais no conceito atual de lei

que temos (ver seção 3.2 abaixo) onde o componente de governo divino,

geralmente, está ausente. Mas no caso de torá, é algo que tem relação direta com

Deus, pois Ele é a finalidade, pela qual a torá (instrução, lei) foi dada.

Seguindo nesta busca do significado de torá, VanGemeren diz:

A fim de captar a essência de torá no AT, os termos “instrução”ou “ensinamento” com suas conotações modernas particularespodem ser mais apropriados para fazer jus à variedade de formas deuso, torá é instrução, quer cultual ou civil, quer na forma de estatutoslegais específicos ou palavras menos formais de orientação de umpai para o filho, quer um conjunto claramente definido de leis comoDeuteronômio[...] (VANGEMEREN, 2011, v. 4, p. 871).

Vine (2007, p. 103) expressa que o termo torá não trata de leis que se

resumem a restringir ou impedir o homem, mas um meio de se alcançar uma meta

ou ideal, ou seja, que a torá foi dada a Israel para capacitá-lo a permanecer o povo

especial de Deus. Contudo, ao invés de Israel usá-la desta forma, transformou-a

num legalismo que resultou na forma como era usada no período do NT, a qual

Paulo tenta combater em suas cartas. Assunto que trataremos mais adiante.

Assim podemos perceber que o termo torá tem um significado bem mais

abrangente que a ideia de lei entendida num sentido normativo e regulamentar

apenas. Embora não seja confirmado, seus variados usos indicam, de fato, uma

forte relação com o verbo yarah, nos fornecendo a ideia de algo que é dirigido,

direcionado, lançado, como a flecha que aponta para o alvo, ou como o ensino do

mestre para seu aluno ou a orientação dos pais para os filhos, a fim de mantê-los na

meta, no objetivo.

Portanto, torá, mais do que lei, é ensino, instrução, orientação que Deus

dirigiu a seu povo para guiá-lo em sua vontade e mantê-lo como povo da aliança.

Ela também é a história do povo de Deus que serve de exemplo para ensinar e

instruir as gerações posteriores para uma vida de piedade. Para que conheçam

como seus antepassados reagiram a Deus e como Deus respondeu a eles, a fim de

que não cometam os mesmos erros.

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Na divisão hebraica do cânon do AT, torá passou a ser o termo usado para

designar os cinco primeiros livros atribuídos a Moisés, isto é, o Pentateuco, de modo

que os judeus se referiam a eles como “A Torá”. Em um período mais recente, Torá

passou a ser usado para se referir a todo o Antigo Testamento, mas não somente na

sua forma escrita, pois para os judeus a Torá integral consiste também de uma

versão “oral”, criada e transmitida pela tradição, como veremos na próxima seção.

2. TORÁ E O NOVO TESTAMENTO

2.1. Significado de torá para os judeus do período do NT.

Por muito tempo os judeus somente consideraram como Torá os escritos de

Moisés, mas no período do Segundo Templo houve a necessidade de traduzir as

escrituras para o aramaico, porque o uso do hebraico havia declinado em função do

exílio. Acontecia, que Após a leitura do texto em hebraico era feito um resumo

explicativo em aramaico (cf. Ne 8.8). A partir desta necessidade surgiu a chamada

Torá oral. Acreditava-se que Deus havia dado a Israel no Sinai uma lei escrita e uma

oral, ambas com o mesmo valor e importância, e ambas consistindo em uma só Torá

(LOPES, 2007, p. 50).

A partir da reforma de Esdras e Neemias, neste período, a Torá ganha nova

atenção do povo. A realidade em que Israel se encontrava em razão de sua

desobediência que o levou ao exílio, alertou para uma postura diferente em relação

à Torá, inclusive, elaboraram um acordo, assinado por seus líderes, no qual todo o

povo se comprometia com juramento a obedecer à lei do Senhor (Ne 9.38 – 10.39).

Assim, se foi pela negligência à Torá que Deus os relegou à servidão e perda da

terra prometida, então o que tinham de fazer como meio de manter a promessa de

Deus era observá-la de acordo com os preceitos que ela apresentava:

A partir do exílio na Babilônia, os autores da Torá reformulam aHistória de Israel para ajustá-la à história da existência condicionalde seu povo. Tudo dependia da execução de um acordo articulado,por exemplo, em Levítico 26 e Deuteronômio 32-4: faça isso, consigaaquilo; não faça isso, não consiga aquilo. (NEUSNER, 2004, p. 64)

Surge daí um interesse em estudar e entender a torá para fins de aplicação,

e isto era feito por aqueles que tinham condições de ensiná-la e interpretá-la ao

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povo (cf. Ne 8.13). A partir disto, essa prática tornou-se uma atividade exegética de

aplicação da lei que era passada adiante a cada geração, transformando-se numa

tradição. “Na parte aramaica de Esdras, o hebraico torah torna-se o aramaico dath

que significa “lei” (7,12.14.21.26)” (DUNN, 2003, p. 171).

Assim, a Torá oral consistiu das interpretações feitas por aqueles que ficavam

incumbidos de ensinar as Escrituras ao povo, semelhante aos sacerdotes e levitas

antigos, e que foram transmitidas oralmente pela tradição rabínica. Os rabinos

passaram a acreditar que eram sucessores dos sacerdotes na tarefa de ensinar e

interpretar a lei para o povo (LOPES, 2007, p. 50). Com o tempo, essas

interpretações foram se expandindo a ponto de ganhar uma versão por escrito

depois da revolta de Bar Kochba, no segundo século depois de Cristo. Falaremos

dela na terceira parte deste trabalho, abaixo.

Este modo tradicional de interpretar e aplicar a lei de acordo com as

necessidades e desafios do momento é mencionado no NT como a “tradição dos

anciãos” (Mt 15.1; Mc 7.3). Jesus, de certo modo, demonstra uma rejeição a essa

tradição, ou parte dela, porque seu ensino invalidava a lei do Senhor (Mt 15.6; Mc

7.13) (DUNN, 2009, p. 141).

Como o uso do hebraico declinou em função do exílio, com o advento do

império grego de Alexandre e sua política helenista, o uso do aramaico também

declinou em muitos centros helenísticos em favor do grego. Nestes centros, muitos

judeus tiveram a dificuldade de ler as Escrituras hebraicas, assim, no terceiro século

antes de Cristo, em Alexandria, a Torá, isto é, o Pentateuco, fora traduzida para o

grego, versão que ficou conhecida como Septuaginta (LXX). O restante do AT, assim

como os apócrifos, foram traduzidos no século seguinte (PFEIFFER, 2006, p. 1994).

Na LXX, o termo torá foi traduzido pelo grego nomos (νόμος), cujo significado

principal é “lei”. Acerca do termo nomos, Vine (2007, p.743) nos diz:

Significava primariamente “aquilo que é prescrito”; porconseguinte, “uso, costume”, e, portanto, “lei, lei prescrita porcostume ou por estatuto”; a palavra ethos, “costume”, foi retida paradesignar “lei” não escrita, enquanto que o termo nomos tornou-se onome estabelecido para apontar “lei” decretada por estado eestabelecida como padrão para a administração da justiça.

Coenen (2000, v. 1, p. 1153) nos informa que na antiguidade não havia

distinção entre os significados jurídico, ético e religioso de nomos. Acreditavam que

toda lei tinha relação com os deuses que regiam o universo. Inclusive, a acusação

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contra Sócrates que resultou na sua morte partiu daí: violou o nomos do Estado

quando deixou de reverenciar os deuses de acordo com o costume. Ele coloca ainda

(p. 1154) que o termo foi muito usado na literatura extra-canônica do período

intertestamentário, indicando a importância da lei no pensamento judaico nos três

últimos séculos antes de Cristo. Além disso, como Dunn (2003, p.171) nos informa

que em textos da época do Segundo Templo, torá, assim como nomos, “continuam a

ser usados para denotar ordens divinas que devem ser 'cumpridas'”, por exemplo:

Salmos de Salomão 14.1-2; Eclesiástico 45.5; Baruc 4.1.

Com essas definições e o que vimos acima acerca da tradição iniciada a partir

do período do Segundo Templo, com o advento do helenismo, da LXX e mudanças

tão drásticas que aconteceram no mundo, sobretudo para os judeus, podemos

começar a entender o que torá passou a significar para os judeus no período do NT.

Fica evidente que o AT já não era a única fonte de autoridade para o judaísmo do

primeiro século depois de Cristo, mas também a tradição que emergiu do

desenvolvimento histórico do pensamento e dos costumes judaicos a partir do

Segundo Templo. Como resultado dela, surgiram as sinagogas e o Sinédrio, além

dos partidos religiosos como os fariseus e saduceus, e também festas que não

constam no AT como a Hannukah (Festa da Dedicação). Josefo nos conta que esses

partidos tinham maneiras diferentes de encarar a Torá. Segundo ele a tradição oral

fora difundida pelos fariseus, sendo que ela era rejeitada pelos saduceus que

compreendiam que a únicas leis válidas são as escritas por Moisés (JOSEFO, 2004,

p.611).

Além disso, o mundo contemporâneo ao NT era fortemente influenciado pela

cultura helênica, marcado pela unidade da língua e tolerância à diversidade cultural

e religiosa herdadas da política grega, o que, no passado, por um lado, forçou a uma

reação judaica como no caso da resistência macabeia, cujo “zelo pela Lei” foi marca

da identidade do povo da aliança (DUNN, 2011, p.222), e por outro, tal reação foi a

razão de ser dessas instituições e celebrações de que falamos acima.

Portanto, a partir do período do Segundo Templo a Torá foi se tornando um

conjunto de regras rígidas, embora não estritamente num sentido legal, mas em um

modo de vida judaico orientado pela tradição, porém como norma divinamente

outorgada e, consequentemente, absoluta. Como Schlesinger (1985, p. 16) coloca:

“A Lei contém os fatos passados, o código de vida material e espiritual, a

organização da vida e, enfim, a tradição”. O significado de torá para o judeu da

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época do NT deve ser compreendido nesses moldes. A Lei, então, era uma espécie

de mediadora entre eles e Deus que devia regular toda a vida, que lhes conferia

identidade como povo da aliança e distinção dos demais povos. Os ritos quais se

apegavam com rigor eram tudo que lhes denominavam (DUNN, 2011, p. 200 ss.).

Em outras palavras, não há Judeu, no sentido mais religioso e étnico da palavra,

sem a Torá.

2.2. Torá no Novo Testamento

No ministério de Jesus e nos primórdios da igreja o modo como a Torá era

usada e aplicada foi um tema muito debatido. Como vimos na seção anterior (2.1),

as autoridades religiosas judaicas tinham seu modo próprio de lidar com a Lei do AT,

herdado de séculos de tradição e de dominação política e cultural greco/romana.

Para a maior parte deste público, os ensinamentos de Jesus, principalmente aqueles

que faziam referência à Lei, eram bastante heterodoxos, deixando-os extremamente

ofendidos e ameaçados (por exemplo, Mt 12; Mc 7.1-23), assim diversos confrontos

foram inevitáveis, de modo que a única solução para os líderes era matá-lo (Mt 21 -

26; Mc 11-14; Lc 20-22). Mais tarde, a igreja, em sua própria esfera, também

enfrentou problemas relacionados ao modo de encarar as exigências da Lei de

Moisés mediante a Graça, a qual contemplara também os gentios. Em resumo,

tiveram que responder à questão: os cristãos, sobretudo os gentios, devem observar

a Lei do AT? O capítulo 15 de Atos é um dos principais exemplos de como

enfrentaram este problema.

Só com isso, podemos ver que o pensamento neotestamentário referente à

Torá era bastante contrastante em relação ao tradicional. Contudo, sabe-se que o

NT foi, originalmente, escrito em grego e que a principal fonte de conteúdo do AT

para os primeiros cristãos era a Septuaginta (HALE, 1983, p. 24), assim, o termo

usado para se referir à Torá é o substantivo nomos.

Mounce (2013, p. 430) nos dá exemplo de referências dos usos de nomos no

NT e o que representam: “lei, Rm 4.15, 1Tm 1.9; a lei mosaica, Mt 5.17; as escrituras

do AT, Jo 10.34; um vinculo legal, Rm 7.2,3; lei, regra, norma, Rm 3.27; uma regra

de vida e conduta, Gl 6.2, Tg 1.25”. Vemos que o termo é usado tanto para

representar à Torá ou Lei de Moisés quanto o AT como um todo. No exemplo de Jo

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10.34, onde Jesus diz: “não está escrito na vossa Lei... vós sois deuses?”, trata-se

de uma referência que se encontra no livro dos Salmos (82.6).

Nomos é usado 191 vezes no NT, das quais, 119 só nos escritos de Paulo,

com mais frequência na Carta aos Romanos, onde é empregado 72 vezes, seguido

por Gálatas, 32 vezes e 1ª aos Coríntios, 9 vezes. Nos demais livros ocorre 17 vezes

em Atos, 14 em João, 14 aos Hebreus, 10 em Tiago, 9 em Lucas e 8 em Mateus

(COENEN, 2000, p.1157).

Essa predominância do uso de nomos por Paulo indica que o apóstolo teve

que enfrentar em grande escala os problemas relacionados à questão colocada no

primeiro paragrafo desta seção, visto que seu ministério era direcionado aos gentios,

e por isso, forçado a fazer apologia contra a doutrina dos chamados judaizantes.

Antes de falar sobre isto, vamos verificar o que a Lei representa no ensino de Jesus.

Holwerda (2005, p. 89), em sua discussão sobre Jesus e a Lei, coloca a

seguinte questão: “que acontece com a lei quando Jesus vem?”.

Embora, para alguns, possa haver a noção de que Jesus descartou a Lei do

AT, a verdade não é bem esta. Logo no capítulo 5 de Mateus e versos 17 e 18,

Jesus declara que não veio abolir a Lei (refere-se à Lei de Moisés), mas cumpri-la, e

que o menor traço dela não deixaria de se cumprir. E no verso 20, adverte aos seus

ouvintes que a justiça deles deveria exceder em muito a dos fariseus e mestres da

Lei. Trata-se de uma reorientação acerca da compreensão e aplicação da Lei

naquela época. Isto é indicado pelos versos seguintes onde a fórmula "ouvistes o

que foi dito aos antigos... eu porém vos digo” é usada contrastando o ensino que

fora difundido naquela época com a nova realidade da revelação de Deus em Jesus.

Como exposto na primeira seção deste trabalho, Deus é a finalidade, a meta da

Torá, e essa meta se cumpre em Cristo, concordando com Romanos 10.4, que

trataremos um pouco mais adiante.

Jesus não apresenta outra Lei, antes faz uma radicalização da mesma,

contudo, não em termos de observância ritual, mas de uma atitude mais elevada

baseada naquela justiça que devia exceder a dos fariseus. Justiça que consistia de

uma observância à Lei com base no amor, cuja inclinação é para a misericórdia e

para o bem. É para esta “direção” que ele aponta no final do capítulo quando diz

para amar até aos inimigos e orar pelos perseguidores (v.44), porque assim eles

seriam identificados como pertencentes (filhos do) ao Pai (v.45), concordando com

as bem-aventuranças do início do discurso (v.3-10). Na compreensão dos fariseus e

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mestres da lei, os filhos do Pai eram os “filhos de Abraão”, ou seja, os judeus, os

descendentes de Abraão (Jo 8.33-42). E ser judeu naquela época, como vimos na

seção 2.1, era observar meticulosamente a Torá. Contudo, quando Jesus diz que a

“justiça devia exceder a dos fariseus e mestres da lei”, se referia a isto, a ser judeu

na forma como aqueles homens estavam sendo, isto é, meticulosos cumpridores da

Lei que, no fundo, não amavam verdadeiramente nem a Deus nem ao próximo.

Nos versos 39 ao 42 do capítulo 8 do Evangelho de João, Jesus esclarece

que a mera descendência étnica não os tornavam verdadeiros filhos de Abraão, nem

de Deus, pois os verdadeiros filhos de Abraão fazem a obras que Abraão fez. E que

obras são essas? Talvez estivesse se referindo a Gênesis 26.5, como vimos acima

em Etimologia e uso no AT, Abraão cumpriu as torot de Deus, mas sabemos que

estas “leis” não podiam ser as “Leis de Moisés”, porque seria anacrônico, então, fica

evidente nas palavras de Jesus, que as obras de Abraão consistiam no amor que ele

demonstrou a Deus, uma vez que deu ouvidos e obedeceu ao Senhor. É incrível o

paralelo que Jesus faz aqui: ele contrasta a resposta de Abraão a Deus com a

resposta daqueles homens a ele, “vocês querem matar-me, sendo que falei a

verdade que ouvi de Deus; Abraão não agiu assim” (v.40). Aqui, Jesus se coloca na

posição de Deus, tendo em vista o fato que Abraão respondeu com fé ao Senhor,

mas aqueles homens responderam com ódio a Jesus. Assim, ele prossegue: “vocês

estão fazendo as obras do pai de vocês”, mas eles afirmavam que Deus era o Pai

deles, então Jesus completa: “se Deus fosse o Pai de vocês, me amariam, pois eu

vim de Deus” (v.42). A ideia agora fica clara, os verdadeiros filhos de Abraão amam a

Jesus e obedecem às suas palavras, mas os filhos do diabo adoram a mentira e o

homicídio (v.44). A obediência sem amor é obra externa, a fim render o louvor dos

homens (Mt 6, cf. Rm 2.28,29).

Devemos recordar o caso do jovem rico (Lc 18.18-29). Obediente a Torá, mas

seu amor estava direcionado ao seu status, o que é sugerido pelo fato de ter-se

entristecido, talvez pensando em tudo que perderia, sem considerar o que ganharia

diante Deus. Visto de outra forma, “um verdadeiro filho de Abraão” teria dado suas

riquezas aos pobres quando Jesus pediu, teria olhado para a recompensa divina

futura (Hb 11). Assim, Jesus nos revela que a obediência à Lei não deve ser fruto

meramente de alguma ação externa, antes, deve partir do coração, dos sentimentos.

Para os mestres judeus a finalidade da Lei consistia de cumprir, a rigor, certas

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práticas, mantendo uma pureza ritual. Até mesmo Paulo, antes de sua conversão,

assumia este zelo judaico, como Dunn (2011, p.76) aponta:

O "zelo" pré-cristão de Paulo estava orientado para preservar ostatus "imaculado" dos judeus, inclusive uma santidade nãomaculada pelo contato com outras nações, e para perseguir aspessoas que ameaçavam essa separação sagrada (Fl 3.4-6).

Contudo, Jesus enfatizou o lado altruísta da Lei (Mt 7.12; Lc 10.25-37), além

da misericórdia e amor, que culminou no seu excepcional resumo em dois grandes

mandamentos, dos quais dependem toda a Lei e os Profetas: o amor a Deus e ao

próximo (Mt 22.34-40; Mc 12.28-34). Entretanto, é errado concluir daí que o amor

invalida a Lei, como se, havendo amor, tudo se torna aceitável. Antes, a obediência

deve ser motivada pelo amor, não pelo orgulho ou interesses escusos como aponta

Jesus no restante do sermão do monte (Mt 6-7).

Na igreja primitiva do livro de Atos o centro do pensamento agora é Cristo,

todavia, algumas ideias acerca da Lei são confrontadas, como, por exemplo, no

discurso de Estevão a ênfase no Templo, que era crucial para o judaísmo, sobretudo

para o farisaico, é enfraquecida (7.47-50). Na visão de Pedro sobre os alimentos

impuros, concluiu que alimentos e pessoas não devem mais ser considerados

impuros (10.9-16,28 cf Mc 7.19). Ainda, o Concílio de Jerusalém decidiu que os

gentios não precisavam observar os rituais da Lei (At 15.1-29).

Na Carta aos Hebreus vemos que o sacerdócio levítico, com seus sacrifícios

de animais, é revogado em função do sacrifício e sacerdócio eterno de Cristo (7.11-

18; 9.11-14).

Percebe-se com tudo isso que há certa tendência em prescrever aqueles

elementos da Lei que consistem de rituais, que no meio judaico se tornaram obras

vazias, despidas de sentido e de verdadeira piedade (Is 29.13; Ez 33.31; Mc 7.6-7),

pois faltava-lhes o elemento misericórdia (Mt 12.7). Colocavam sua pureza acima de

coisas mais importantes como fazer o bem (Mt 12.10-13; Lc 13.10-17), algo que até

um samaritano demonstrou, na ocasião em que um sacerdote e um levita deixaram

de fazer (Lc 10.30-37). Em resumo, esqueciam de praticar o amor, a maior obra e o

principal dos mandamentos a cumprir, como um próprio escriba judeu declarou:

“Amá-lo de todo o coração, de todo o entendimento e de todas as forças, e amar ao

próximo como a si mesmo é mais importante do que todos os sacrifícios e ofertas”

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(Mc 12.33). Sendo que ao dizer isto, Jesus lhe respondeu: “Você não está longe do

Reino de Deus” (v. 34).

Portanto, o amor deve ser a base de toda obra, pois dele depende toda a Torá

(Mt 22.40). Semelhantemente, Holwerda (2005, p.96) nos afirma:

Qualquer interpretação de qualquer mandamento que não sejainformada pelo mandamento do amor deixa de lado a vontade deDeus expressa no mandamento específico. O cumprimento da leideve ser avaliado pela conformidade com essa “ideia-raiz”.

Mas já que a verdadeira justiça somente pode ser alcançada através de

Cristo, uma vez que, como afirma Paulo aos Romanos 8.2-4, as exigências da Lei

foram plenamente satisfeitas em nós através do sacrifício dele, será que, para

Paulo, a Lei nada tem a ver com o Evangelho? Paulo escreve aos Gálatas dizendo:

“Vocês, que procuram ser justificados pela Lei, separam-se Cristo; caíram da graça”

(5.4) e aos Romanos 6.14: “Pois o pecado não os dominará, porque vocês não estão

debaixo da Lei, mas debaixo da graça”. Foi refletindo em textos como estes que

muitos chegaram à conclusão de que a Lei se opõe ao Evangelho, surgindo daí uma

dicotomia Lei/Graça.

James Dunn (2011, p. 387), no capítulo 11 de seu livro “A Nova Perspectiva

Sobre Paulo”, se dedica a responder a questão: “Paulo era contra a Lei?”. Em nível

primário, a questão é fácil de ser respondida, ele não era contra a Lei, ele a

considerava santa e seu conteúdo justo e bom (Rm 7.12); também afirmou que ela é

espiritual (7.14) e boa (7.16); disse que a fé não anula a Lei mas a confirma (3.31);

colocou que ela é a expressão da vontade de Deus para a vida (8.4,7); Paulo

também resumiu a Lei no mandamento do amor, concluindo que este é o

cumprimento da Lei (13.8-10; Gl 5.14).

Com isso, podemos perceber que Paulo não era contra a Lei, pois de algum

modo atribui valor a ela. Contudo, a maior parte das suas declarações a respeito da

Lei é num sentido negativo. Para ele a Lei era, de certo modo, temporária (Gl 3.19-

25); Também frisou que ela era incapaz de salvar (Rm 8.3), antes ela criou

oportunidade para o pecado e a morte (7.7-13); e por ela ninguém será justificado

diante de Deus (Gl 3.11).

Há um ponto conflitante neste ultimo texto acima. Ele afirma aos gálatas que

ninguém é justificado pela Lei, mas aos Romanos 2.13 ele diz que não são os que

ouvem a Lei que são justificados, mas os que obedecem a ela que serão declarados

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justos. Será que Paulo estava se contradizendo? Ambos os versos são melhores

compreendidos à luz de outros dois textos nas mesmas cartas, Rm 3.20 e Gl 2.16,

nas quais o apóstolo declara que ninguém será justificado pelas “obras da Lei”. Em

todo conteúdo de ambas as cartas fica evidente que Paulo quer eliminar o equívoco

introduzido entre os crentes daquelas regiões em se conceber a justificação por

meio das obras, quando ela é só possível mediante a fé em Cristo.

Mas o que quer dizer “obras da Lei”? Podemos compreender o que isto

significa considerando o que temos falado até aqui acerca da observância tradicional

judaica da Torá. Em relação a isto, Dunn argumenta:

"Obras da Lei" denota tudo que a Lei exige do judeu devoto.Contudo, exatamente porque se trata aqui da Lei como identidade emarcadora de fronteiras, a Lei como a Lei de Israel enfoca naquelesritos que expressam da maneira mais clara a distinção judaica [...]Por causa do fato de desempenharem um papel tão crucial em definiro "ser judeu", a participação no povo da aliança, a circuncisão e asleis alimentares são tão proeminentes na discussão sobre as obrasda Lei e sobre a justiça. (DUNN, 2011, p. 200)

Assim, explica que aquilo que Paulo tinha em mente quando usava esta

expressão era a circuncisão e as regras alimentares, embora certamente tivesse

outras, mas principalmente estas se sobressaiam, porque elas eram fundamentais

para a prática do judaísmo, pelo menos, desde o período dos macabeus. E podemos

concordar com ele tendo em vista a quantidade de referências que Paulo faz a elas

em suas cartas, principalmente em Romanos e em Gálatas. Também aponta que o

contexto da passagem em Rm 2.13 é escatológico, é acerca do Juízo Final,

reforçado por 3.20 que afirma que “nenhuma carne será justificada diante de Deus”.

Assim, não há contradição em Paulo nestes pontos. Não é a Lei que ele quer

eliminar, mas o equívoco da justificação com base nos méritos, pois reforça em

muitos pontos de suas cartas que é pela fé em Cristo que o crente é justificado (Rm

4.16, 9.32; Gl 5.5; Fp 3.9).

Que ideia de Lei Paulo tem em mente quando escreve sobre ela? A palavra

aqui é, mais uma vez, nomos. VanGemeren, na obra organizada por Gundry sobre

cinco pontos de vista sobre a Lei e Evangelho, sustenta que a ideia que Paulo

trabalha quando fala de nomos é a legislação sinaítica, mas há ocasiões que se

refere ao AT, ao Pentateuco ou até a “princípio” (GUNDRY, 2003, p. 43). Coenen

(2000, p. 1158) concorda com essa postura, ressaltando que Paulo emprega o termo

especialmente para a Lei Mosaica.

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Ao longo da história da interpretação bíblica muitos entenderam que a

declaração de Paulo aos Romanos 10.4: “Cristo é o fim [telos] da Lei”, expressa que

o “fim”, neste caso, significa término, encerramento ou revogação.

O grego τέλος, de acordo com o Dicionário Internacional de Teologia do Novo

Testamento, significa “fim, conclusão, término, alvo” (COENEN, 2000, p. 94), e

ocorre nesta forma 41 vezes no NT, sendo que em Rm 10.4 tem o significado de

cessação, isto é, “em Cristo, a Lei cessou de ser o caminho da salvação” (p. 96);

Mounce (2013, p. 590) apresenta uma ideia diferente para telos nesta passagem:

“plena performance, perfeita execução”; já Vine (2007, p. 868) diz que o verso é

melhor explicado a luz de Gálatas 3.23-26, o que concorda com Coenen.

Mas a interpretação que parece fazer mais justiça à passagem é a de

Holwerda, que nos orienta para um entendimento de telos no sentido de “alvo” com

base em duas perspectivas da Lei em Paulo, na mesma carta, uma no capitulo 6,

cuja ideia se expressa em que “estar livre do pecado em Cristo, é estar livre da lei”,

uma vez que o crente morreu para o pecado, e neste sentido apenas, o termo

significaria cessação. Porém, chama a atenção para a outra perspectiva baseado no

capitulo 8.2-4:

Em Romanos 8, depois de focalizar mais uma vez o que a leinão podia realizar por causa do pecado, o apóstolo ensina que aobra de Cristo e a vida no Espírito têm como sua meta ocumprimento das justas exigências da lei (Rm 8.2-4). Para o apóstoloPaulo, há um real sentido em que a justiça exigida pela lei não foiterminada pela morte e ressurreição de Cristo. Ao contrário, essajustiça articulada e requerida pela lei realizou cumprimento em Cristo,e, agora, em Cristo e por meio do Espírito, essa justiça descreve emodela a vida cristã (HOLWERDA, 2005, p.123).

Ele explica que “alvo” nos dá condições de falar tanto do que cessa,

pensando em termos do alvo sendo atingido, como do que continua, tendo em vista

a harmonia essencial que há entre o que aponta ou prepara para o alvo e o próprio

alvo. Assim, Holwerda coloca que o sentido disto é porque o apóstolo Paulo não

admitiria uma ideia de observância da Torá que não tivesse relação com a obra de

Cristo.

Kaiser, participando do debate sobre a Lei e o Evangelho, concorda com a

ideia de “alvo”:

O termo telos em Romanos 10.4 significa “alvo” ou conclusãopropositada. A lei não pode ser adequadamente compreendida a nãoser que aponte para o grande alvo ao indicar o crente para o

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Messias, Cristo. A lei permanece a lei de Deus, não a lei de Moisés(Rm 7.22; 8.7). Ela ainda é santa, justa, boa e espiritual (Rm7.12,14), tanto para o israelita quanto para o gentio crente (GUNDRY,2003, p. 202).

Vemos, portanto, que assim como demonstrado sobre o ensino de Cristo

acima, Paulo não dá a Torá por encerrada, mas aponta para o seu cumprimento e

seu valor enquanto vontade de Deus a ser perseguida pelo crente em Cristo, não

pelas obras, mas pela fé; não para justificação, mas por amor.

Então, se a Torá ainda tem valor para o crente, de que forma isto se dá? Que

aspectos da Lei o crente deve observar? Todos eles? Como seria então no caso da

circuncisão ou sacrifícios, que inclusive Paulo e o autor aos Hebreus rechaçaram?

A teologia reformada fala sobre três aspectos da Lei: moral, civil e cerimonial.

Meister, em seu artigo: “Lei e Graça: uma visão reformada”, explica cada umas

delas:

(a)Lei Civil ou Judicial – representa a legislação dada àsociedade israelita ou à nação de Israel; por exemplo, define oscrimes contra a propriedade e suas respectivas punições. (b) Leireligiosa ou cerimonial – representa a legislação levítica do VelhoTestamento; por exemplo, prescreve os sacrifícios e todo osimbolismo cerimonial. (c) Lei moral – representa a vontade de Deuspara o ser humano, no que diz respeito ao seu comportamento e aosseus principais deveres (MEISTER, 1999).

Assim, explica que o aspecto civil da lei não é aplicável a nossa sociedade,

pois foi dada para regulamentar a vida na sociedade teocrática de Israel. A

cerimonial também não é aplicável, uma vez que foi cumprida em Cristo. Por outro

lado, coloca que a Lei moral é aplicável a qualquer época, porque ela é uma

expressão da graça de Deus e revela de forma objetiva a sua vontade. Os dez

mandamentos são o resumo da Lei moral. Estudiosos como Willen VanGemeren e

Walter Kaiser defendem essa divisão. Kaiser defende que a Lei moral tinha

precedência sobre a civil e cerimonial porque ela é “baseada no caráter de Deus”

(GUNDRY, 2003, p.204). Sendo baseada no caráter de Deus, é imutável, por isso,

nunca perde o valor. Assim, é o aspecto moral da lei que tem aplicação e que é

obrigatória para o crente.

Contudo, outros estudiosos argumentam que essa ideia é moderna, pois tal

divisão não é encontrada nas escrituras. Defendem que a Torá é uma unidade

indivisível, e mesmo Paulo quando pensa em nomos não enxerga essa divisão.

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Estudiosos como Wayne Strickland e Douglas Moo colocam que essa divisão carece

de argumentos bíblicos mais sólidos, pois nem Cristo, nem Paulo, nem os judeus da

época, faziam essas distinções quando falavam da Lei, sendo que um dos

argumentos diz que Cristo não cumpriu somente a Lei cerimonial na cruz, ele

cumpriu toda a Lei. Assim, se a crucificação encerrou o aspecto cerimonial da lei,

também encerrou o moral (GUNDRY, 2003, p. 228-245).

Longe de chegarmos a uma conclusão3 acerca desses aspectos da Torá aqui

neste trabalho, podemos considerar que, de fato, a Bíblia não faz nenhuma dessas

categorizações, contudo, elas são proveitosas para delinear as bases para uma

compreensão acerca de elementos da Lei que diferem entre si em nível de

aplicabilidade, sobretudo para o cristão. Elas nos permitem enxergar que a Torá,

verdadeiramente, tem elementos que o cristão não pode desprezar, cujo resumo é o

amor. Não cometer idolatria, não tomar o nome de Deus em vão, honrar pai e mãe,

não roubar, não matar, e muitos outros preceitos, são plenamente atuais para todo e

qualquer cristão.

3. A TORÁ HOJE

3.1. A Torá para os judeus atuais

Antes de se verificar o que a Torá é para o judeu nos dias atuais, é importante

tentar definir o que é um judeu ou o que é ser judeu. Chegar a esta definição não é

tão fácil como o é, por exemplo, o brasileiro. O artigo 12 da Constituição Federal de

1988, em resumo, define que são brasileiros os: “natos” – nascidos no país ou de

pais brasileiros no estrangeiro – e os “naturalizados” – sob determinadas condições

e enquadramentos legais. Neste exemplo, a definição é uma questão de

nacionalidade, conferida pelo lugar de nascimento, pela ancestralidade ou pelo

Estado.

No caso do judeu, a questão vai além da nacionalidade, pois há também o

caráter religioso. Pode se pensar que o judeu é aquele nascido no Estado de Israel,

3 As discussões acerca destes pontos são extensas, para aprofundamento consulte as bibliografias citadas, em especial a obra organizada por Stanley Gundry: “A Lei e o Evangelho: 5 pontos de vista.”

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mas como afirma um site judaico4, em toda história do povo judeu, com poucas

exceções, “a esmagadora maioria dos judeus não viveu ou sequer colocou os pés

no país judaico”. Outro equívoco é pensar que os judeus são uma raça. A própria

Bíblia, no livro de Rute, por exemplo, desmonta essa hipótese, visto que Rute era

uma moabita da qual descendeu Davi e Cristo. Há judeus de diversas cores de peles

e línguas e em diversos países. Quando olhamos para a Bíblia identificamos os

judeus com o “Israel de Deus”, o povo que recebeu a promessa. Mas hoje, que

relação há entre o Israel de Deus e os judeus?

O rabino Neusner (2004, p. 282) nos explica que há três tipos de “Israel” nos

dias atuais: um é o “Estado de Israel”, nação política e secular, outro é o “povo de

Israel”, o povo judeu como um grupo étnico de ancestralidade judia, e o terceiro é a

“comunidade sagrada de Israel”, os praticantes do judaísmo. É este último que nos

interessa neste trabalho. O rabino ainda explica que “nem todos os judeus, do

Estado de Israel ou os étnicos, praticam algum tipo de Judaísmo” ou vivem de

acordo com a Torá. Há inclusive judeus ateus ou confessos de outras religiões (p.

282-283). Porém há muitos Israelenses que praticam o Judaísmo, e também há

pessoas que não são de nenhum dos dois primeiros casos, mas fazem parte do

terceiro. Estes são aqueles que se converteram ao Judaísmo.

Pra resumir, há dois meios pelos quais alguém pode fazer parte da

comunidade sagrada de Israel, isto é, ser um judeu praticante do judaísmo e que

observa a Torá: por nascimento e por conversão (ASHERI, 1995, p. 3). No caso de

nascimento, somente aqueles que nasceram de mãe judia é que são considerados

judeus de nascimento. No outro caso, qualquer pessoa pode se tornar um judeu,

convertendo-se ao judaísmo e seguindo a Torá.

Assim, a definição que buscamos e que importa para este trabalho quanto a

ser judeu, está na palavra Judaísmo, ou seja, a religião judaica. Há diversos

aspectos de caráter nacional, étnico e secular do povo judeu, mas é no aspecto

religioso que buscamos o que a Torá representa.

Michael Asheri explica que no judaísmo a Torá constitui-se de duas partes: a

Torá Escrita (Torá Shebiktav) e a Torá Oral (Torá Sheb´al peh), ambas tem o mesmo

valor e autoridade. A Torá Escrita é o que conhecemos por Pentateuco, ela contém

4 PT.Chabad.ORG, disponível em: http://www.pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/2229172/jewish/O-que-ser-judeu.htm (acessado: 20/11/2014)

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613 mandamentos (mitzvot) identificados pelos rabinos, o primeiro, por exemplo, em

Gn 1.28 (“multiplicai-vos e enchei a Terra”), o último em Dt 31.19 (tem a ver com a

obrigação de todo judeu possuir um rolo da Torá). A Torá oral são interpretações

legais de sábios e rabinos judeus, transmitidas oralmente pela tradição desde o

Segundo Templo. No segundo século depois de Cristo essa tradição foi compilada e

depois expandida.

Essa transcrição da tradição oral, terminada por volta do ano 219 d.C,. é

chamada de Mishiná. Posteriormente recebeu um complemento elaborado das

discussões dos rabinos acerca de seu conteúdo, consistindo numa espécie de

jurisprudência, e é chamada de Guemará. Ambas formam “a fonte básica para todas

as decisões legais que afetam a existência de um judeu”, conhecida como Talmud,

este foi completado no século quinto (ASHERI, 1995, p. 31).

Até o século XIX predominou o judaísmo rabínico, no qual os judeus se

consideravam completamente separados das nações onde viviam. Era como uma

nação entre as nações, um grupo que se distinguia por suas práticas religiosas,

vestes e dieta diferenciada. A Torá era tida como de origem divina e de validade

eterna (tanto a escrita quanto a oral), era a regra de fé de todo judeu. Mas a partir do

século XIX outros sistemas de judaísmo surgiram como resultado de uma

emancipação política do povo judeu no ocidente: o judaísmo reformista, o ortodoxo e

o conservador5. Estes sistemas discutiram questões acerca de ser judeu no mundo

moderno e sua relação com a Torá. Passaram a defender a ideia de judeus como

comunidade religiosa, não mais como nação. Começaram a se integrar

politicamente nas sociedades onde viviam e inserir seus filhos na educação secular.

Passaram a ter direitos de cidadãos das nações onde se encontravam, isto é, sem

aquela distinção de povo estranho à nação, mas como compatriotas. Assim,

passaram também a ser alemães, americanos, holandeses, etc (NEUSNER, 2004,

p. 250 ss.).

Com esse envolvimento secular, surgiram questionamentos acerca de quais

princípios da Torá eram válidos. Os reformistas, por exemplo, defendiam o

cumprimento somente das leis morais e os rituais que podiam ser adaptados à vida

moderna. Também rejeitaram a ideia de revelação e validade eterna da Torá, algo

que os ortodoxos mantiveram, expressando reação ao reformismo, assumindo uma

5 Para aprofundamento, veja o capitulo 11 da obra de Jacob Neusner, “Introdução ao Judaísmo”.

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tendência ao tradicionalismo. O conservador assumiu uma posição central entre a

tradição e a mudança.

Assim o conceito de Torá sofreu alterações no meio judaico, contudo ela

continua sendo a instrução, o ensinamento de Deus a seu a povo, embora

reinterpretada e aplicada ao contexto de cada grupo e região. Para a maior parte do

judaísmo hoje, o fiel deve observar todos os 613 mandamentos dela. Asheri explica

que a Torá funciona como uma lei jurídica de muitos países:

Em certo sentido, a Torá escrita pode ser comparada àConstituição do país. Ela é o esqueleto do corpo da lei judaica, tal comoa Constituição é o esqueleto do corpo da lei civil. E assim como muitasdas decisões das cortes de justiça – o direito casuístico – adicionamcarne ao esqueleto da Constituição, assim também o Talmud dá carneaos ossos da Torá Escrita. É a Torá Oral, tal como encontrada naMishiná e nas decisões dos rabinos sobre a aplicação exata das leis,tanto na Mishiná como em sua conclusão, a Guemará, que nos fornecea lei judaica, tal como é hoje observada (ASHERI, 1995, p. 32).

Assim, além desse aspecto normativo, prevalece também o entendimento de

que ela contém a história do povo escolhido de Deus, de modo que aqueles que

seguem o Judaísmo se identificam com ela, acham sua história na Torá.

Consideram-se parte do povo que foi livre da escravidão do Egito e que fez aliança

com Deus no deserto e recebeu a Torá através de Moisés.

3.2. A Torá e os Cristãos

O que os cristãos de hoje pensam acerca da Torá? Certamente, a grande

maioria não compreende todo o significado e implicações das quais falamos até

aqui. Além disso, geralmente, seu contato com o termo torá se dá na forma de “lei”

(ou “Lei”), presente em todas as traduções mais correntes. Por que será que tais

traduções, invés de usarem “lei”, não usaram “Instrução” ou “ensino”, como

demonstramos? É claro que “lei” também é um dos significados do termo, mas,

como vimos, às vezes não faz justiça a ele. Por que não “Instrução de Moisés” ou

“Ensinamento do Senhor”? Talvez seja por causa do caráter coercitivo dos

mandamentos que impunham punições à sua não observância. Além disso, é

provável que a opção por “Lei” seja influenciada pelo fato do judaísmo, tanto na

época do NT, quanto hoje, dar uma aplicação profundamente normativa a ela. Outra

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possibilidade é seu uso no NT, a exemplo de Paulo, que expressa a liberdade cristã

em contraposição às obras da Lei. Os reformadores foram acusados de

antinomistas, porque enfatizaram sobremodo a Graça e a justificação pela fé em

resposta ao entendimento da igreja medieval de uma justificação meritória. Embora

os reformadores tenham tido a preocupação de expressar certa continuidade da Lei

no Evangelho (MATOS, [200-]), principalmente Calvino (outrora acusado

injustamente de legalista), surgiram daí muitos movimentos que criaram uma relação

antagônica entre a Lei e a Graça, como o dispensacionalismo, no qual a Lei é o

método de salvação ou dispensação do AT, e a Graça a do NT. (MEISTER, 1999).

Deste modo, no entendimento de muitos cristãos atualmente é que a Torá, ou

Lei, só tem a ver com o Antigo Testamento, e a Graça somente com o Novo.

Entretanto, como demonstrado nas seções acima, há uma evidente

continuidade entre o AT e o NT, entre a Torá e o Evangelho, e por que não, entre a

Lei e a Graça? Jeremias profetizou: “porei a torati (subst. fem. construto + sufixo

pron. 1ªp sg: “minha lei”) no seu interior e a escreverei no seu coração” (31.33b).

Apesar do substantivo torá estar presente, não se pode ter certeza que essa torá é a

Torá de Moisés. Contudo, alguns argumentam que não há razão para considerar

outra lei neste texto, primeiro porque a expressão “minha lei” aparece em outros

textos do discurso de juízo de Jeremias (6.19; 9.12; 16.11), ressaltando a

desobediência do povo (GUNDRY, 2003, p. 310). E segundo, pelo fato de que Deus

prometeu escrever a “minha lei”, não uma “nova lei”. Significa que ao ter dito “minha

lei” a audiência de Jeremias não pensaria em outra lei, senão a Lei de Moisés (p.

319). Além disso, a interiorização da Lei nos corações, no contexto de Jeremias, é

importante porque ele denunciou insistentemente a rebeldia e desprezo por parte do

povo pela Lei do Senhor (3.17; 7.24; 11.8; 13.10; 23.17).

Assim a promessa dessa Nova Aliança (Jr 31.33a) envolve, de algum modo, a

Torá. Sua relação com a Graça, como vimos anteriormente, se expressa como

vontade de Deus revelada, embora não aplicável em todos seus pormenores, mas

sempre válida para os cristãos, ao menos em seus aspectos morais.

Deus sempre quis que sua vontade estivesse no íntimo de seu povo e esta

seria a sua Nova aliança, diferente da antiga, que seu povo invalidou (v. 32). Se a

Antiga Aliança pudesse fazer isso, não haveria necessidade de uma Nova (Hb 8.7).

Considerando o advento de uma Nova Aliança, espera-se que a Antiga seja

suplantada e esquecida, como faz o autor aos Hebreus (8.13). Cristo é o mediador

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da Nova Aliança que é superior à Antiga (v. 6) que estabeleceu por meio do seu

sangue, como ele próprio confirma na ocasião da Ceia (1Co 11.25). O autor aos

Hebreus ensina que foi a morte de Cristo que estabeleceu a Nova Aliança (Hb. 9.15;

12.24). Apesar disto, ele quer mostrar tanto uma continuidade quanto

descontinuidade entre ambas. Continuidade porque Deus, em ambos os casos, é

quem toma a iniciativa, e também ambas as Alianças são baseadas no sacrifício. A

descontinuidade se da no fato de que o sacrifício de Cristo foi definitivo e não seria

repetido. Assim, como Cristo mesmo afirmou, ele não encerrou a Lei, a cumpriu. E

se ele a cumpriu ela permanece nele através de seu cumprimento integral (Rm 8.4)

e sacrifício eterno (Ef. 5.2; Hb 9.12; 10.10,12), tendo em vista que ele vive

eternamente e é Sumo-Sacerdote desta Nova Aliança (Hb 6.20; 7.24).

Mas ainda falta responder se a tradução “lei” é a melhor opção para o cristão

brasileiro. Que entendimento o cristão brasileiro tem de torá neste sentido de lei?

Um dicionário da língua portuguesa pode nos dar o significado inicial de lei no

contexto brasileiro. O dicionário Michaelis define lei da seguinte forma:

sf (lat lege) 1 Preceito emanado da autoridade soberana. 2Prescrição do poder legislativo. 3 Regra ou norma de vida. 4 Relaçãoconstante e necessária entre fenômenos ou entre causas e efeitos. 5Obrigação imposta. 6 Preceito ou norma de direito, moral etc. 7Religião fundada sobre um livro [...] L. antiga: o código de Moisés.[...] L. mosaica: a registrada no Pentateuco. [...] L. nova: a doutrinado Evangelho de Jesus Cristo.6

Vemos que o conceito abarca significados ligados ao Direito (1,2), à ética

(3,6), à natureza (4) e à religião (7 ss.). Interessante como a designação “mosaica” e

a dicotomia antiga/nova aparece na definição apresentada por um dicionário laico.

Isto demonstra como a influência desta relação entre a Lei e o Evangelho está

presente no cotidiano. Lima, sintetiza uma definição:

Lei designa a norma ou causa exemplar a que as coisas sedevem conformar em todos os domínios: físicos, da arte e doscostumes. Significa, portanto uma ordenação da razão destinada aassegurar a realização da ordem. De uma parte, visa umprocedimento a realizar; de outra, emite um mandado. Em ambos ossentidos é obra da razão (LIMA, 2006, p. 100).

6 Dicionário eletrônico on-line, disponível em: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=lei (acesso: 21/11/2014)

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Iamundo (2012, p. 99-103) nos explica a relação e a diferença entre norma,

direito e lei na sociologia. A norma, diferente da lei, não expressa o caráter

coercitivo, mas o “dever-ser”, limites que refletem o comportamento esperado e

desejado socialmente, e sofrem alterações na medida em que a sociedade se

transforma. O direito é uma estrutura que constitui instrumentos de controle social, e

exerce este controle por meio de lei, e a efetivação deste controle se da porque

antes de ser lei, é uso, costume, prática social. No caso da lei, ela se apresenta de

duas formas: das ciências naturais e do direito. Das ciências naturais são as

generalizações que descrevem os fenômenos naturais, como a física, a matemática,

química, etc. A lei do direito é uma prescrição de padrões de comportamento que, de

certo modo, expressam as demandas de valores sociais e culturais, e tem caráter

coercitivo.

Percebemos, com isso, que o papel que a lei exerce numa sociedade Estado

como a do Brasil, com suas estruturas jurídicas, sociais e educativas, é o de

regulamentar, impor e controlar a dinâmica social, além de proteger a estrutura

social contra violações, em outras palavras, para manter a harmonia social.

Embora não seja possível determinar o que torá significa para cada cristão do

país, podemos concluir pelo que vimos que aquele significado de Instrução,

orientação, ensino, não se enquadra nas características gerais de lei neste contexto.

Mesmo que as leis possam ser encaradas como orientações quanto ao modo de

agir, é o sentido de norma, regra, que prevalece.

A partir daí, podemos refletir o porquê de algumas denominações cristãs

empregarem como regra de fé, por exemplo, o uso do véu, a guarda do sábado,

costumes alimentares, etc. Pois levam esse entendimento de lei para a leitura do

texto das Escrituras. Assim, o significado de Torá, quando traduzido por lei, fica

comprometido. Contudo para que esta opção não fosse usada nas traduções, a LXX

não poderia apresentar nomos em lugar de torá, pois o NT acaba por ressaltar esta

característica normativa da Torá com seu uso de nomos, pela influência do judaísmo

da época e da LXX, embora não a descarte, como vimos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho tentamos mostrar que o significado da palavra torá possui

outros sentidos além daquele presente nas traduções desde a Septuaginta,

geralmente, aparecendo na forma de “lei”. Mostramos que seu significado ultrapassa

esse sentido, pois também significa instrução, ensino, direção e história do Povo de

Deus. Entretanto, a partir do período do Segundo Templo, seu sentido ficou

resumido numa ideia de regras, normas ou prescrições práticas. Também foi usado

para designar o Pentateuco, o Antigo Testamento ou parte deles.

No Novo Testamento e no Judaísmo da época, esse significado resumido já

estava presente na sua forma grega nomos e nas práticas ritualísticas dos judeus.

Havia a tradição oral que também foi chamada de Torá. Jesus demonstrou certa

rejeição à esta tradição, mas não às Escrituras do Antigo Testamento, revelando ser

seu cumprimento e dando continuidade a ela no mandamento do amor. A igreja

discutiu acerca do uso da Torá em seu contexto dando ênfase à morte e ressurreição

de Jesus. Semelhantemente, Paulo rejeita as práticas dos judaizantes que queriam

impor a Lei aos gentios, observando-as na forma da tradição, todavia ele não

descartou a Lei, mas reorientou-a, focalizando-a em Cristo.

No contexto atual, vimos que nem todo judeu é observador da Torá, mas que

todo, ou quase todo, praticante do Judaísmo precisa atentar para as suas regras,

consistindo não só da parte escrita da Torá entregue a Moisés, como das

transcrições orais da tradição rabínica, da Mishiná ao Talmud, e nela encontram sua

história e se identificam com o povo escolhido por Deus.

Por fim, vimos que a igreja brasileira, de certa forma, emprega a dicotomia

Lei/Graça na relação entre a Torá e o Novo Testamento, e que o conceito que ela

tem de lei obscurece a amplitude do significado de torá, não permitindo uma

compreensão mais assertiva da sua relação com a Torá.

Assim, aprendemos que a “flecha” atingiu seu “alvo”, mas ela não foi

removida. Ela continua em Cristo, e através dele, também nos atinge e continua com

seus efeitos de instrução, ensino e direção, pelo menos em seus aspectos morais,

por meio do Espirito Santo. Torá, neste sentido, se expressa na vontade revelada de

Deus para todo aquele que crê. E devemos responder com fé a essa vontade, a

exemplo de Abraão, pois é a Graça de Deus e está presente na Nova Aliança.

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