UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO ... século XIX teve como características a expansão do...

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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES URI ERECHIM ALAN ASTURIAN ASSOCIAÇÃO ITALIANA VENETA MODESTO E NICOLA TALIANI CONTENTI DE VIADUTOS-RS UMA EXPERIÊNCIA DE SUCESSO ERECHIM 2012

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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E

DAS MISSÕES – URI ERECHIM

ALAN ASTURIAN

ASSOCIAÇÃO ITALIANA VENETA MODESTO E NICOLA TALIANI

CONTENTI DE VIADUTOS-RS

UMA EXPERIÊNCIA DE SUCESSO

ERECHIM

2012

ALAN ASTURIAN

ASSOCIAÇÃO ITALIANA VENETA MODESTO E NICOLA TALIANI

CONTENTI DE VIADUTOS-RS

UMA EXPERIÊNCIA DE SUCESSO

Trabalho de Conclusão de Curso, Curso de Letras,

Departamento de Linguística, Letras e Artes da

Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai

e Das Missões – Erechim.

Orientadora: Profª Dra. Helena Confortin

ERECHIM

2012

À minha família e às pessoas que, com sinceridade,

contribuíram para o desenvolvimento desse estudo.

AGRADECIMENTOS

Agradeço, sobretudo, a Deus.

Devo um agradecimento especial à minha orientadora, Professora Doutora Helena

Confortin, pela presteza, laboriosa orientação e, principalmente, pelos inúmeros

questionamentos, que foram imprescindíveis para a elaboração deste trabalho.

Agradeço aos meus professores de graduação em Letras, Inglês e Respectivas

Literaturas, pelo respeito e consideração que tiveram nesse período de desenvolvimento da

pesquisa, principalmente aos professores Ana Maria Dal Zott Mokva, por abrandar o

estado de espírito de todos os graduandos durante a elaboração desse trabalho; Elcemina

Lúcia Balvedi Pagliosa, por colaborar com ideias e indicações bibliográficas e, Paulo

Antônio Molossi, por permitir minhas saídas durante suas aulas, a fim de sanar dúvidas

com a orientadora.

Agradeço aos meus colegas que, verdadeiramente contribuíram com o

desenvolvimento deste trabalho, principalmente aos colegas Aline Koproski, pelas

incessantes trocas de informação no que diz respeito ao cronograma e desenvolvimento

metodológico desta pesquisa, e Thomas Rocha, pelas prolíferas conversas e cedência de

materiais.

Agradeço à Prefeitura Municipal de Viadutos, Associação Veneta Modesto e Nicola

Taliani Contenti de Viadutos/RS e à professora Idione Isabel Detoffol pela

disponibilização de documentos e fotos.

À professora Gladis Helena Wolff, pelo empréstimo de materiais e indicações

bibliográficas que foram fundamentais para o andamento da pesquisa.

À minha família, Adilson, Naldi e Marcos Jovino. Pelo carinho, dedicação e

ensinamentos que vão muito além das bancas escolares.

Aos informantes: Almir Antônio Piovesan, Celso Vilmar Demarco, Idione Isabel

Detoffol, Marcos Jovino Asturian, Odete Ângela Ortigara Soccol e Pe. Valdemar Zapellini

pela inestimável contribuição para o desenvolvimento deste trabalho, minha infindável

gratidão.

A linguagem é a base mais profunda da sociedade humana.

Louis Hjelmslev

A Cultura é aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a

moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem

como membro da sociedade.

Edward B. Tylor

Cultivar a língua é semear cultura para a pessoa e para o grupo social em que se vive.

Elvo Clemente

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo averiguar a importância da Associação Veneta

Modesto e Nicola Taliani Contenti para o município de Viadutos/RS e região, no que diz

respeito aos aspectos sociais, políticos, econômicos, culturais e religiosos e para a

manutenção da Língua Talian ou Vêneta, através de suas ações artístico-culturais. Para

tanto, foi realizado um estudo de caso: a constituição do trabalho está embasada na coleta

de dados primários – relato oral de informantes, e, na coleta de dados secundários –

documentos, jornais e revistas. O grupo estudado tem como premissa o resgate sócio-

étnico-cultural dos descendentes de imigrantes italianos e contribui, de forma inestimável,

para a manutenção do patrimônio cultural imaterial através das ações e manifestações

culturais arraigadas no idioma Talian.

Palavras–chave: Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti. Cultura e

Patrimônio. Terceiro Setor. Língua Talian ou Veneta. Viadutos/RS.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................9

2 ASPECTOS HISTÓRICOS ..........................................................................................12

2.1 A IMIGRAÇÃO ITALIANA NO BRASIL E NO RIO GRANDE DO SUL .............. 12

2.2 O MUNICÍPIO DE VIADUTOS/RS .............................................................................15

2.2.1 Aspectos Geográficos sobre o Município de Viadutos ...........................................17

2.3 A ASSOCIAÇÃO VENETA MODESTO E NICOLA TALIANI CONTENTI ..................18

3 ASPECTOS TEÓRICOS ...............................................................................................22

3.1 LÍNGUA E CULTURA .................................................................................................22

3.2 PATRIMÔNIO CULTURAL ........................................................................................23

3.3 TERCEIRO SETOR ......................................................................................................25

3.4 ESTUDO DE CASO ......................................................................................................27

4 MÉTODO E MATERIAIS ............................................................................................29

4.1 INFORMANTES ...........................................................................................................29

4.2 DESCRIÇÃO DO MATERIAL ....................................................................................30

4.2.1 Dados de origem primária ........................................................................................30

4.2.2 Dados de origem secundária ....................................................................................30

4.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DO MATERIAL .............................31

5 ESTUDO DE CASO - ASSOCIAÇÃO VENETA MODESTO E NICOLA TALIANI

CONTENTI .........................................................................................................................32

5.1 COMPREENSÃO DA SITUAÇÃO-FATO DA ASSOCIAÇÃO VENETA MODESTO E

NICOLA TALIANI CONTENTI ...........................................................................................32

5.1.1 Influência Política e Econômica ...............................................................................33

5.1.2 Influência nas Manifestações Culturais ..................................................................36

5.1.2.1 O Filó .......................................................................................................................37

5.1.2.2 Os Jogos ...................................................................................................................39

5.1.2.3 A Indumentária ........................................................................................................41

5.1.2.4 A Culinária ...............................................................................................................42

5.1.3 Influência nas Manifestações Religiosas .................................................................43

5.1.4 Influência nas Manifestações Linguísticas .............................................................45

5.1.4.1 „Talian‟ ....................................................................................................................48

5.1.5 Descrição das Ações do Grupo .................................................................................50

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................56

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................59

INFORMANTES ...............................................................................................................62

ANEXOS .............................................................................................................................63

9

1. INTRODUÇÃO

A Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti de Viadutos/RS tornou-se,

para o município de Viadutos/RS e região, referência no que diz respeito ao resgate étnico-

cultural. A mesma, através de suas manifestações artísticas e culturais, busca no tempo, a

história, a cultura, os costumes, os falares, enfim a identidade étnica, essência dos

descendentes de italianos.

Devemos compreender que somos seres que estabelecem relações e

comportamentos alicerçados em experiências passadas, e ou transmitidas por nossos

antepassados. Dessa forma, o resgate sócio-cultural de nossos ascendentes é a forma de nos

tornarmos seres pertencentes a um meio, conhecedores de nossa base cultural,

estabelecendo relações entre as mais variadas culturas, sem perder a nossa identidade

étnica.

Além disso, mais que a identificação étnica, é de extrema importância o

conhecimento de nossa raiz cultural, pois é pautado nela, que estabelecemos as relações

interpessoais no presente e projetamos ações futuras. Nesse entremente, devemos valorizar

os agentes que buscam, através de pesquisas e ações, recuperar o patrimônio étnico-cultural

da sociedade, que atualmente sofre uma grave crise de valores.

Este trabalho objetiva averiguar qual a importância que a Associação Veneta

Modesto e Nicola Taliani Contenti detêm no que tange aos aspectos sociais, políticos,

econômicos, culturais e religiosos para o município de Viadutos/RS e região; além disso,

investigar, através de relatos orais e documentações, quais as ações do grupo na

manutenção da língua Talian ou Vêneta, registrando todo esse amálgama cultural a fim de

transmiti-lo às gerações futuras.

A língua Talian ou Vêneta é a forma de comunicação utilizada pela maioria dos

imigrantes italianos que se instalaram no Rio Grande do Sul e é a linguagem utilizada pelos

ítalo-brasileiros e seus descendentes em nossa região. O grupo cultural, já nominado, tem

como base a utilização dessa língua em todas as suas manifestações artísticas, contribuindo,

dessa forma, para a manutenção dessa linguagem impregnada de costumes, histórias e

cultura do velho mundo.

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No trabalho, foram observados apenas os aspectos que possuíam maior relevância;

também os documentos utilizados e os relatos orais foram reduzidos devido à exiguidade

temporal, porém, partimos da ideia de que estudando uma parcela, teremos a noção do

todo. Ou seja, abordando os aspectos principais do grupo, demonstrando uma parte de suas

ações e das pessoas envolvidas direta e ou indiretamente, conseguiremos ter um

conhecimento geral da importância que a Associação Veneta possui.1

O presente trabalho está dividido em quatro seções. A primeira, por ser um trabalho

socioetnolinguístico, faz a contextualização histórica, social, cultural e estrutural da

imigração italiana, da instalação dos imigrantes em solo riograndense, da migração dos

mesmos até a região norte do Estado do Rio Grande do Sul, da instalação no município de

Viadutos/RS. Além desses aspectos, é abordado o histórico do município de Viadutos/RS e

da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti.

A segunda seção expõe os aspectos teóricos, onde está fundamentado esse trabalho,

a fim de demonstrar que a linguagem, forma de expressão verbal e não-verbal, está

intimamente ligada às manifestações culturais. Assim, quando analisamos o grupo cultural

em questão, através de apresentações artísticas, verificamos quanto está contribuindo para o

resgate cultural e para a manutenção da língua Talian ou Vêneta.

Também são feitas as reflexões sobre a linguagem e a cultura como patrimônio

cultural imaterial da humanidade, propagada, no caso em questão, pela Associação Veneta,

que é uma instituição voltada para o bem público, de natureza privada, quem tem como

premissa o resgate étnico-histórico-cultural dos descendentes de italianos e das pessoas que

foram influenciadas por essa cultura.

Na terceira seção, encontram-se os métodos e materiais utilizados para o

desenvolvimento deste trabalho de conclusão de curso. Nela está exposto como foi

arquitetado o trabalho, desde a coleta de relatos orais – dados de origem primária até o

desenvolvimento do texto final embasado em documentos, revistas, jornais, pôsteres –

dados de origem secundária.

Na quarta e última seção, está o estudo de caso, onde é analisada a Associação

Veneta, sua efetiva participação e, principalmente, sua relação com todos os aspectos já

1 “O estudo das minorias [...] permite melhor compreender os problemas gerais da comunidade, e é através

dos fatos particulares, menos complexos, que se esclarecem os fatos e as leis gerais.” (BONATTI, 1974, p.89)

11

mencionados, foco principal deste trabalho. Além disso, são descritas algumas ações do

grupo a fim de ilustrar sua participação na sociedade.

A problemática central deste trabalho é, portanto, demonstrar a importância do

grupo em estudo no que tange aos aspectos já mencionados, para o município de

Viadutos/RS e região, observando a relevância do mesmo, no resgate, perpetuação cultural,

e, por conseguinte, na manutenção da linguagem utilizada desde os primórdios da

imigração italiana no Brasil. As considerações finais resumem tal importância.

12

2 ASPECTOS HISTÓRICOS

2.1 A IMIGRAÇÃO ITALIANA NO BRASIL E NO RIO GRANDE DO

SUL

O século XIX teve como características a expansão do grande capital, o

crescimento demográfico e a exploração do trabalho agrícola, propiciando grandes ondas

de migração e emigração da população explorada, que buscava encontrar novos espaços

para sobreviver (TEDESCO, 2004).

Com a chegada da família real ao Brasil, em 1808, o país iniciou uma política forte

de imigração não-lusitana. Face à sua grande dimensão territorial, o país precisava buscar,

na imigração, uma forma de auferir mão de obra agrícola barata e ocupar espaços, a fim de

proteger o território de nações estrangeiras, de escravos rebelados e de índios (MAESTRI,

2000).

O Rio Grande do Sul foi uma das primeiras regiões a receber levas de imigrantes

europeus não-lusitanos. A ideia não era de substituir mão de obra escrava, mas, segundo

Maestri (2010, p. 208), “de formar populações de pequenos proprietários agrícolas que

abastecessem as capitais provinciais de gêneros alimentícios, fornecessem filhos aos

exércitos reais, constituíssem contraponto à população servil, ocupassem territórios

estratégicos”.

Os primeiros imigrantes colonos a ocupar as terras, no Brasil, foram os de origem

germânica. Tal preferência não está ligada, somente, à simpatia da imperatriz alemã

Leopoldina pelo seu povo, mas, também, às dificuldades econômicas pelas quais a

Alemanha passava, onde havia grande número de cidadãos que não possuíam terras

(MAESTRI, 2000).

Porém, com alguns fatos ocorridos, tais como a Revolta dos Parceiros e o caso

Mucker, a idealização do colono alemão foi abalada; de imigrantes vetores do

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desenvolvimento no país, os alemães passaram a ser taxados como elementos de difícil

assimilação e, desordeiros (POSSOMAI, 2004).

O governo brasileiro, os grandes produtores rurais e a Igreja Católica, que

desejavam a vinda de católicos ao país, se opuseram à entrada de novas levas de imigrantes

alemães e foram buscar, na Itália, a saída para o problema da imigração. Além disso, a

maioria dos estados alemães limitou a imigração ao Brasil.

Em virtude de o governo brasileiro buscar, na Itália, a solução para os problemas

imigratórios, iniciou, na década de 1870, uma ação para emigrar italianos ao Brasil. As

principais ações se concentraram no norte da Itália, principalmente na região de Vêneto,

Lombardia e Trentino, uma vez que esses possíveis imigrantes eram pessoas dóceis,

trabalhadoras, ordeiras e católicas (POSSOMAI, 2004).

Na época, a Itália passava por uma crise econômica grave: os pequenos

proprietários eram massacrados pelos altos impostos que o governo impunha e pelo

burguês citadino; milhares de famílias precisavam abandonar suas terras, pois não

conseguiam pagar os impostos, ocasionando o êxodo rural que sobrecarregava as cidades,

ocasionando um avultado número de desempregados.

Os que conseguiam empregos, nas cidades, eram explorados pelo grande capital,

vivendo em situação de miséria. As famílias que não abandonavam suas terras sofriam com

a exploração dos grandes proprietários e do governo italiano e, se não bastasse, eram

afetadas pelas intempéries e doenças. Além disso, o país sofria com o serviço militar

obrigatório, forçando os jovens a servirem por períodos longos.

No norte da Itália, região onde as campanhas de imigração foram mais fortes, as

famílias, nos invernos rigorosos, viviam em choupanas, alimentavam-se apenas com

polenta e encontravam na caça de passarinhos, hábito condenado social e legalmente pela

sociedade atual, a única fonte de proteína animal (MAESTRI, 2000).

Assim, a única forma de escapar de tal situação foi emigrando de seu país. De

acordo com Maestri (2000, p. 108),

O abandono da terra natal constituiu saída para a crise vivida por multidões de

camponeses. Partiu-se para a América para fugir da fome, do trabalho fatigante,

da desnutrição, do salário irrisório, do alto aluguel da terra, do serviço militar. A

14

emigração era forma de revolta surda e silenciosa contra os donos da terra. Ela

prometia um futuro risonho, no qual todos seriam signori.

Nesse contexto imigratório, o Rio Grande do Sul foi uma região que recebeu um

grande número de imigrantes italianos do norte da Itália, que se acomodaram nos oito mil

quilômetros quadrados de terra, imprestáveis para a produção pastoril, formando as três

primeiras colônias imperiais sulinas, localizadas na encosta superior do nordeste rio-

grandense.

Essas terras formavam as colônias de Conde d‟Eu (hoje, Garibaldi), Dona Isabel

(depois, Bento Gonçalves) e Caxias, conhecidas como as colônias velhas que foram

desbravadas e ocupadas pelos colonos italianos, que, ao chegar ao país, encontraram

adversidades relativas à natureza - clima, tipo de solo - e, sobretudo, nas relações com o

homem (conflito com o nativo caboclo e indígena).

Os primeiros colonos imigrantes italianos financiavam suas terras com as

companhias particulares e/ou governamentais da época e tinham prazos longos para pagar

pela terra ocupada. Os imigrantes viviam, principalmente, do cultivo de gêneros agrícolas,

tais como milho, soja e trigo; também cultivavam videiras e criavam animais, em sua

maioria, para a própria subsistência (MAESTRI, 2000).

Com o tempo, foram criadas novas colônias pela região; porém, a dificuldade de

escoar os produtos produzidos e a escassez de terras, começavam a alarmar o governo e os

colonos. Dessa forma, conforme Maestri (2010, p. 210), “Novas colônias foram abertas ao

norte do rio das Antas, no Planalto Médio, no Alto Uruguai e nas Missões, sobretudo

quando estradas de ferro permitiram escoar a produção [...]”.

Em relação ao norte do Rio Grande do Sul, principalmente a região do Alto

Uruguai, a colonização aconteceu não só pela escassez que as colônias velhas começaram a

apresentar, mas, também, pela possibilidade de trabalhar na construção da ferrovia (São

Paulo – Rio Grande) e pelo desejo de auferir lotes de terra ao longo da via férrea.

“O traçado da futura ferrovia e mão de obra barata dos colonos que chegavam para

sua construção, combinando-se com o esgotamento de terras das Colônias Velhas, foram os

fatores diferenciadores na ocupação da região estudada” (WOLFF, 2005, p.145). Assim,

15

começaram a se formar povoados, ao longo da via férrea, como os atuais municípios de

Erechim, Gaurama, Viadutos, Marcelino Ramos e outros.

Esses municípios do Alto Uruguai consolidaram-se após a conclusão da estrada de

ferro São Paulo – Rio Grande, que impulsionava a economia e formava núcleos

populacionais, formados por caboclos, alemães, poloneses e, sobretudo, por migrantes e

imigrantes italianos.

2. 2 O MUNICÍPIO DE VIADUTOS2

O povoado de Viadutos iniciou por volta de 1908 com as pessoas que vieram

acompanhando a construção da estrada de ferro São Paulo – Rio Grande, sobretudo o trecho

que liga o município de Santa Maria a Marcelino Ramos. Os operários que trabalhavam na

construção da ferrovia foram se estabelecendo às margens da estrada, formando pequenos

núcleos populacionais.

Com o término da construção da ferrovia, aumentou o fluxo imigratório: chegavam

levas de italianos, alemães, poloneses, suecos, russos entre outras etnias, além de índios e

caboclos que já habitavam a região. As levas eram constituídas, geralmente, pelas famílias

dos operários da estrada de ferro, seus parentes e amigos.

A versão para a origem do topônimo “Viadutos” é de que os ferroviários que

construíram o trecho da ferrovia que liga Gaurama até o local, “batizaram” o povoado de

Viaductos, como era grafado no português da época, devido aos vários viadutos construídos

ao longo da ferrovia, em consequência da declividade e dos vales da região (ZERO

HORA).3

Foram surgindo as primeiras casas comerciais para atender às necessidades dessa

população. Ao mesmo tempo em que aumentava o povoado na sede, seguindo a ferrovia, no

2 Considerações gerais sobre a história do município de Viadutos estão integralmente embasadas nas

informações coletadas na Prefeitura Municipal de Viadutos e Histórico do Município de Viadutos. 3 Informação encontrada no Caderno Especial do jornal Zero Hora, de 30 de setembro de 2010.

16

interior, instalavam-se imigrantes, italianos em sua maioria, provenientes das “Colônias

Velhas”, abrindo estradas a foice e machado.

A grande atividade econômica do povoado constituiu-se na derrubada da mata para a

construção de casas e para o início do cultivo de cereais (milho e trigo), bem como a criação

de animais que serviriam, essencialmente, para a subsistência. O que restava da madeira era

vendido aos engenhos de serra - dessa forma, proliferaram serrarias na região.

Por volta de 1915, começaram a se instalar, no povoado, lojas de tecidos, calçados,

ferramentas, materiais de construção, „fabriquetas‟ de salame e produtos do gênero,

refinarias de banha e moinhos. Além das casas comerciais, a estação ferroviária, construída

no ano de 1910, foi responsável por alavancar o desenvolvimento social da localidade,

aumentando assim, o povoado e o fluxo de pessoas que se deslocavam para o interior do

mesmo.

Viadutos foi elevada à categoria de vila em 31 de março de 1938, pelo Decreto nº

7.199; dessa forma, a sociedade começava a se organizar nos aspectos educacionais,

econômicos e políticos. Além disso, Viadutos, então segundo distrito de Marcelino Ramos,

contava com significativa representação política no legislativo marcelinense, bem como

cresciam os anseios emancipacionistas de sua comunidade.

O movimento emancipacionista contou com a participação fundamental da Igreja

Católica, representada pelo Padre Pedro Argemiro Dallaméa, responsável por unir forças e

iniciar as mobilizações, demonstrando o forte poder da Igreja católica sobre a comunidade

local. Consequentemente, foi criada a Comissão Emancipacionista, representada pelo

Presidente - Isidoro José Brancher, Vice-presidente - Arnaldo Zordan, Secretário - Alcides

Alegretti, Tesoureiro - Lino Thomé e os conselheiros, Padre Pedro Argemiro Dallaméa e o

tabelião João Maliz.

A campanha pelo “Sim” à emancipação local ganhou grande dimensão, envolvendo

a comunidade, ansiosa pela oportunidade de ver seu povoado se tornar município, e por

colaboradores de destaque como Eleuthério José Caon, Dr. José Mário Carvalho, João Orso,

Cândido Munaro, Mekitar Asturian e Augustin Tapia Sanches.

Todo o esforço da comunidade local foi devidamente compensado pela vitória do

“Sim” no plebiscito ocorrido em 30 de novembro de 1958. Dessa forma, pela Lei Estadual

n° 3.728 de 18 de fevereiro de 1959, foi criado o município de Viadutos, instalando-se,

17

oficialmente, no dia 28 de maio de 1959, data em que é comemorado o aniversário do

município.

2.2.1 Aspectos Geográficos sobre o Município de Viadutos4

O município de Viadutos ocupa a parte leste da região do Alto Uruguai, situado ao

norte do Rio Grande do Sul, com uma área de 286 km². Sua posição geográfica é

determinada pelo paralelo 27° 34‟ 21” de latitude sul, 52° 01‟ 17” de longitude oeste e uma

altitude de 645 metros acima do nível do mar.

Ao norte, Viadutos têm como municípios limítrofes Marcelino Ramos e Severiano

de Almeida; ao sul, Áurea e Carlos Gomes; a leste, Maximiliano de Almeida e Marcelino

Ramos e, a oeste, Gaurama e Três Arroios.

O município está localizado no Planalto Meridional e seu território está modelado

em rochas basálticas da formação Serra Geral. O relevo é formado por patamares oriundos

de derrames basálticos, com topografia variando desde ondulada até acidentada,

destacando-se a cordilheira da Vila Rica.

Predominam, na região, os solos da associação ciríaco-charrua. Constituem,

respectivamente, estas unidades solos desenvolvidos a partir de rochas eruptivas,

ligeiramente ácidas, de boa fertilidade e solos desenvolvidos a partir de rochas basálticas,

pouco desenvolvidas, rasas, suscetíveis à erosão, ligeiramente ácidos e de média a alta

fertilidade natural.

O município se insere na zona climática subtropical, cuja temperatura média anual

varia em torno de 18°C e a temperatura do mês mais quente variando entre 23°C e 25°C.

Apresenta chuvas frequentes, as quais reduzem a frequência e intensidade de geadas. Pode

haver ocorrência de neve.

4 Considerações gerais sobre os aspectos geoeconômicos do município de Viadutos estão integralmente

embasadas nas informações coletadas na Prefeitura Municipal de Viadutos e Histórico do Município de

Viadutos.

18

Os rios que banham o município pertencem à Bacia do Alto Uruguai. Destacam-se

como rios principais o Apuaê ou Ligeiro, o Suzana, o Apuaê Mirim ou Ligeirinho e o rio

Teixeira Soares.

No que concerne à vegetação, o município, em sua maioria, apresentava uma

floresta subtropical com matas onde havia as araucárias. A floresta era densa e

caracterizada por espécies como a grápia, louro, canjerana, angico vermelho e outros. A

floresta nativa apresenta uma diversidade muito grande e, apesar da devastação, ainda

fornece madeiras para as novas habitações. Atualmente 10% do território viadutense é

coberto por matas.

A economia do município é de base marcadamente agrícola e se caracteriza pela

pequena propriedade rural. Produz milho, soja, trigo, erva-mate, além da cultura de

subsistência. Merecem destaque os investimentos na criação de gado leiteiro e, em menor

escala, a pecuária de corte, a avicultura e a apicultura. Há destaque, também, para as

médias e pequenas empresas, indústrias de móveis, esquadrias, erva-mate, mel e

metalurgia.

2.3 ASSOCIAÇÃO VENETA MODESTO E NICOLA TALIANI CONTENTI5

A Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti teve início em setembro de

1997.6 Ao final de uma festa na Linha São Brás, interior do município de Viadutos, um

grupo de descendentes de italianos estavam reunidos, contando histórias e cantando

músicas típicas italianas. Ao longo da conversa, surgiu a ideia de formar um grupo que

revivesse a história de seus ascendentes italianos que vieram com a imigração ao Brasil.

Assim surgiu um grupo cultural, de descendentes italianos que, levados pela

saudade de seus pais, nonos e bisnonos, tiveram como objetivo reviver a tradição italiana e

relembrar a memória, a fala, os valores, a história, enfim os costumes e a cultura dos

5 A história e informações referentes à Associação Modesto e Nicola Taliani Contenti, estão embasadas no

Histórico da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti, Viadutos-RS, 2012. 6 Anexo 01.

19

imigrantes que deixaram sua pátria mãe e instalaram-se em um país longínquo, progredindo

através da força de vontade e do lavoro maçante.

O grupo carrega, em seu nome, o local de origem de seus ascendentes que

imigraram da região do Vêneto, norte da Itália, e se instalaram no Brasil, Rio Grande do

Sul e, no caso em questão, no município de Viadutos/RS, região do alto Uruguai, bem

como o nome de grandes amigos que inspiraram o grupo, Modesto Zonin e Nicola

Detoffol.7

O grupo, como já referido, iniciou com alguns amigos e, hoje, conta com mais de

vinte integrantes ativos e algumas pessoas que assessoram ou contribuem, de alguma

forma, com o mesmo. Tem, em seus membros, realidades distintas, tanto cultural quanto

socialmente: é formado por professores, funcionários públicos, agricultores entre outros; a

idade dos participantes varia muito: há crianças de cinco anos até adultos com mais de

oitenta anos.

A Associação em questão é uma instituição pública, de natureza privada, ou melhor,

é uma organização que não visa lucro e tem um capital particular, mantido por seus

integrantes, que não têm interesse em auferir lucro, e sim, transmitir e preservar a história e

cultura dos antepassados italianos.

Hoje, este grupo artístico-cultural mantêm-se, financeiramente, pela mensalidade de

seus integrantes, por promoções de festas e jantares típicos italianos, além da contribuição

financeira da Prefeitura Municipal de Viadutos para custear o transporte, quando o grupo

participa de festivais e encontros italianos, ocasiões em que promove não só a cultura

italiana, mas o nome do município de Viadutos/RS.

O grupo tem, em seu patrimônio material, o que constitui material de estudo, um

livro com mais de cento e quarenta cantos resgatados e registrados, um acervo com mais de

quinhentas fotografias, cinquenta horas de filmagens, cem fitas cassete, mais de cinquenta

troféus, além das diversas menções honrosas, revistas, jornais, fôlderes e um uniforme

típico, que é usado nas apresentações.

O grupo armazena todo esse material em um porão alugado, no município de

Viadutos/RS, lugar pouco apropriado e pouco seguro. Por não ter sede própria, o grupo

7 Anexos 02; 03 e 04.

20

intercala, entre as residências dos seus integrantes, o local para fazer seus encontros e

ensaios, dificultando o andamento dos trabalhos e a remoção do material em cada encontro.

Nesses encontros, que são realizados semanalmente, os componentes do grupo

revivem os antigos filós, além de trocar ideias, contar histórias, jogar jogos típicos - tais

como o bespon, a mora e outros jogos de cartas – cantar, planejar as próximas atividades,

ensaiar os cantos e preparar outras apresentações artísticas. O interessante e inédito nestes

encontros é que neles é utilizado somente o dialeto talian, dialeto utilizado pelos imigrantes

que vieram do Vêneto.

A Associação em análise não objetiva apenas a reconstituição da memória dos

antepassados, mas, também, recuperar, potencializar e tutelar os dialetos originários dos

seus descendentes que aqui chegaram e toda a cultura transmitida por essa linguagem.

Além disso, há a pretensão de congregar e favorecer o intercâmbio cultural entre as outras

associações ítalo-brasileiras e/ou italianas, auxiliar no reencontro familiar e individual das

origens, inclusive na busca de informações para recuperação da própria identidade

originária e subsequente promoção da cidadania italiana.

Dessa forma, o grupo busca, com suas atividades, contribuir para o resgate da

italianidade dos descendentes, recuperando a linguagem e toda a cultura e os costumes que

a ela subjaz, para que, dessa forma, a memória, a cultura e as ações realizadas pelos

antepassados não se percam com o transcorrer do tempo, mas que sejam transmitidas de pai

para filho e que sejam registradas para, dessa forma, eternizá-las.

Para cumprir todos esses objetivos, o grupo tem uma incessante programação, que

vai desde simples encontros até representações oficiais. O grupo realiza, no mês de abril de

cada ano, um encontro italiano, com a participação de vários corais ítalo-brasileiros e

ilustres visitas de autoridades locais, regionais e nacionais, até visitas de turistas italianos e

representantes de entidades culturais italianas.

Nesse encontro, que é o ápice cultural do grupo, são realizadas atividades religiosas,

apresentações artístico-culturais, tais como apresentação de filós, teatros e corais, além de

entrega de troféus para personalidades que contribuíram ou contribuem, de alguma forma,

para o resgate e transmissão histórico-cultural, não só em relação à cultura italiana, mas,

também, em relação à formação do Município de Viadutos/RS.

21

O troféu, que leva o nome de Il Larin, foi criado oficialmente pelo grupo, em 1998,

fruto de um projeto realizado pela coordenadora da Associação, Idione Isabel Detoffol,

responsável pela iniciativa e pela montagem do troféu que representa o antigo fogão de

terra – il larin, utilizado pelos primeiros imigrantes que aqui se instalaram.

Além dessa festa anual, o grupo promove filós, participa de eventos religiosos,

sociais, fúnebres, culturais, cívicos, organiza e profere palestras, participa de mais de vinte

festivais italianos que acontecem ao longo do ano na região sul do país, além de participar

de inaugurações de espaços culturais e aberturas oficiais de feiras locais e regionais.

O grupo é vetor do desenvolvimento e propagação cultural italiana na região e país;

as ações e o reconhecimento obtidos não se restringem ao município, mas tomam

proporções regionais, nacionais e até internacionais, tendo vínculo forte de amizade e

intercâmbios sócio-culturais com cidades localizadas na região norte da Itália.

A Associação foi destaque nos 125 anos de imigração italiana no Rio Grande do

Sul, sendo recebida pelo governador do estado, na época, Olívio Dutra, no Palácio Piratini

em Porto Alegre. Além dessa homenagem, o grupo orgulha-se por ter sido homenageado

pelos 135 anos de imigração italiana no estado, em sessão na Assembléia Legislativa do

Rio Grande Do Sul e na comemoração aos 139 anos de imigração italiana no Brasil, em

sessão solene na Câmara do Senado Federal de Brasília, no ano de 2010.

Enfim, a Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti, vem colhendo

frutos de sua trajetória de propagação cultural que completa, neste ano de 2012, 15 anos de

formação. O grupo se mantém ativo, disseminando os costumes, a cultura e a história dos

imigrantes que aqui chegaram, além de propagar o nome do município de Viadutos/RS,

berço de seus antepassados.

22

3 ASPECTOS TEÓRICOS

3.1 LINGUA E CULTURA

Vemos, no estudo da linguagem, a oportunidade de entender o homem e seu meio,

haja vista que a essência do mundo é a língua. Para Louis Hjelmslev (apud CLEMENTE,

1993, p.102), a linguagem é o “instrumento graças ao qual o homem modela seu

pensamento, seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade e seus atos, o

instrumento graças ao qual ele influencia e é influenciado, a base mais profunda da

sociedade humana”.

Todas as relações humanas dão-se pelo uso da linguagem, responsável direta pelas

interrelações sociais de uma comunidade. Vivemos em um mundo onde cada vez mais a

utilização e o conhecimento das diversas linguagens são facilitadores das relações sociais,

políticas, econômicas, culturais entre pessoas e países.

Nós, seres humanos, assim como dizia Aristóteles, possuímos a palavra, o que nos

diferencia dos animais; essa palavra, que é utilizada para exprimir o bom e o mau, o justo e

o injusto, é também utilizada para expressar nossos sentimentos, saberes, ações e,

principalmente, para caracterizar nossa existência e cultura.

Dessa forma, o estudo da linguagem é de grande importância para se compreender o

homem e o mundo, pois a cultura de um povo, ou seja, o que os identifica e torna

integrantes de uma sociedade, é apresentada através do uso da linguagem. Em consonância

com Rousseau (1998, p.109), “a linguagem distingue as nações entre si, não se sabe de

onde é um homem antes que ele tenha falado”.

A cultura, segundo Edward B. Tylor (apud MARCONI; PRESOTTO, 2001, p. 42),

é “aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os

costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da

sociedade”.

Para Confortin (1998, p. 21), a “cultura, exprime toda a herança sócio-cultural de

uma comunidade transmitida pelo convívio entre novas e velhas gerações; que (ela) é a

23

soma de conhecimentos que se repetem tradicionalmente [...].” Dessa forma, faz-se

relevante o estudo e a preservação da cultura de um povo.

Porém a cultura, para não ser esquecida, necessita de meios e agentes que possam

preservá-la e repassá-la às gerações futuras. Nesse viés, a linguagem torna-se de

fundamental importância, pois ela é ferramenta indispensável para se propagar uma

determinada cultura.

Mais que isso, a língua é a própria cultura em essência. De acordo com Celso Cunha

(1984, p. 36), o estudo de uma língua é de certa maneira o estudo da cultura de que ela é

arte, forma e produto, ou seja, a linguagem é o molde de uma determinada cultura e se

torna produto da mesma quando a propaga.

A linguagem é uma espécie de sistema cultural, sofisticado, disponível à sociedade,

não apenas uma forma de pensar e agir, mas sim uma prática cultural. Ou seja, o papel da

língua precisa ir além do seu estudo gramatical e entrar no mundo da ação social, onde as

palavras constituem atividades culturais. (DURANTI, 2000)

Nessa perspectiva, entendemos língua e cultura, assim como a dicotomia

Saussureana, “Significado x Significante”, onde ambas se complementam, estão ligadas

inseparavelmente e quando ocorre a ação de uma, consequentemente, a outra ganha

importância e se torna forma e sentido.

3.2 PATRIMÔNIO CULTURAL

Concebemos patrimônio cultural como um conjunto de bens que guardam em si,

referências identitárias, de ação e memória de um povo, podendo ser tangíveis como

pinturas, esculturas, prédios históricos entre outros, ou intangíveis como as lendas,

músicas, a língua, entre outros (SPISSO, 2008).

O patrimônio cultural é importante para a promoção do bem-estar social,

contribuindo para a recuperação e manutenção da identidade de um povo, desde a

reconstituição de sua arquitetura até suas formas de expressão.

24

“Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e

imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à

identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade

brasileira, nos quais se incluem: as formas de expressão; os modos de criar,

fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos,

documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-

culturais.” (BRASIL, C., 2001. Art. 216.)

Dessa forma, todo o estudo da linguagem, forma de expressão, torna-se de alta

relevância para a preservação de nosso Patrimônio Cultural, e deve ser estudada,

preservada e registrada, para que nossa língua, e dessa forma nossa cultura, não se perca

levando consigo a nossa identidade.

Segundo Hobsbawn (1998, p. 50),

[...] passado, presente e futuro constituem um continuum.

Todos os seres humanos e sociedades estão enraizados no passado – o de suas

famílias, comunidades, nações ou outros grupos de referências, ou mesmo de

memória pessoal – e todos definem sua posição em relação a ele, positiva ou

negativamente. Tanto hoje como sempre: somos quase tentados a dizer “hoje

mais que nunca”. E mais, a maior parte da ação humana consciente, baseada em

aprendizado, memória e experiência, constitui um vasto mecanismo para

comparar constantemente passado, presente e futuro.

O ser humano torna-se vazio, sem sentido e demasiado subjetivo quando está ligado

somente com o presente e estabelecendo relações incertas com o futuro; há a necessidade

de sermos conhecedores do nosso passado, da nossa história, da nossa cultura, de

entendermos nossa essência transmitida por nossos ascendentes.

Conforme Spisso et al. (2008), “A destruição dos bens herdados das gerações

passadas acarreta o rompimento da corrente do conhecimento, levando-nos a repetir

incessantemente experiências já vividas.”

Somos agentes socioculturais de um meio, seres presos ao passado, nossos hábitos,

nossos costumes, nossa crença têm base na transmissão cultural de nossos antepassados.

Através dessa base é que construímos nossa identidade e desenvolvemos nossas ações

interpessoais e sociais, tanto no tempo presente quanto para com o futuro.

25

Em concordância com a célebre frase de George Santayana “aqueles que não podem

lembrar o passado, estão condenados a repeti-lo”, devemos ter conhecimento da nossa

cultura, da nossa história, nos orgulhar das mesmas, pois é através desse conhecimento que

nos tornamos seres completos, pertencentes a um espaço e imunes a erros futuros.

3.3 TERCEIRO SETOR

Na intenção de reconstituir e preservar a própria identidade étnica, surgem os mais

variados grupos culturais, preocupados em perpetuar a amálgama cultural existente em

nossa sociedade, grupos considerados do Terceiro Setor, que surgem da necessidade de

manutenção e perpetuação de uma cultura existente, através de cantos, danças, culinária,

artesanato, jogos, costumes e outras formas de atividades artístico-culturais.

Terceiro Setor, conforme Ioschpe et al. (2005), é uma expressão pouca utilizada no

Brasil, traduzida do inglês (third sector), e faz parte do vocabulário sociológico corrente

nos Estados Unidos, uma expressão que se assimila muito às mais comuns como entidades

filantrópicas e ONGs (organizações sem fins lucrativos).

Tendo a noção que há um Terceiro Setor, infere-se que há a existência de outros

dois setores. O “Primeiro Setor”, constituído pelo próprio governo, suas instituições e

autarquias, e o “Segundo Setor”, esse composto pelo capital privado, pelo mercado

econômico.

Havendo a existência de dois setores, um representado pela união e estados, ou seja,

o poder público, outro representado por indústrias e comércios, ou seja, o capital privado,

temos um “Terceiro Setor”, esse composto por instituições públicas de natureza privada, ou

melhor, organizações que não visam lucros, porém que têm um capital particular, mantido

por um voluntariado que tem como premissa apenas a contribuir para sanar determinada

falha (IOSCHPE, 2005).

O objetivo do “Terceiro Setor” é o de tentar superar e sanar as falhas dentro da

sociedade, deixadas pelos outros dois setores já mencionados. Nesse caso, mais

26

especificamente, trataremos de uma das formas de manifestação de um “Terceiro Setor”,

que são os grupos culturais, instituições que têm como finalidade a propagação e

manutenção das mais variadas culturas.

Grupos culturais contam com a participação de pessoas que têm o interesse de

preservar uma determinada cultura, ou muitas vezes, estão preservando a sua própria

cultura. São pessoas civis que participam desses grupos, em um determinado local,

buscando o desenvolvimento embasado nas crenças, ideias e valores.

Ao encontro desse conceito está a Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani

Contenti, um grupo cultural, atuante principalmente no município de Viadutos/RS, formado

por filhos, netos e bisnetos de imigrantes italianos, que veem na formação desse grupo a

oportunidade de manter viva a história de seus antepassados a fim de perpetuar uma

cultura, uma linguagem de fundamental importância para a sociedade.

Uma cultura que surge em nosso país, estado e, no caso em questão, no município

de Viadutos, com a imigração e está ligada diretamente com a formação social e histórica

do mesmo. Dessa forma, a associação já mencionada, toma frente para a manutenção e

perpetuação de toda uma amálgama cultural que é a própria raiz do município e de grande

parte da população.

É a sociedade civil se organizando, legitimamente para, dessa forma, articular-se

entre as esferas públicas e privadas, propondo novas alternativas de desenvolvimento com

base em valores que implica na ação atrelada à proteção de bens culturais (ANDION,

2003).

Porém, grupos que não visam lucros dependem da força de vontade do seu

voluntariado; além disso, dentro de uma sociedade capitalista, voltada principalmente para

os bens materiais, perde-se a noção do quão é importante preservar uma cultura, uma

língua, ou melhor, o próprio passado.

27

3.4 ESTUDO DE CASO

De acordo com o item anterior, existem alguns problemas que dificultam a

formação de instituições sem fins lucrativos. Dessa forma, há a necessidade de estudá-las e

pesquisá-las, haja vista que a passagem temporal é constante e um número menor de

pessoas interessam-se em participar de entidades, grupos, organizações ou instituições que

não visam lucros.

Nesse sentido, a pesquisa se alicerça em um estudo de caso, pois esse método tem

como foco a compreensão e a relevância que agentes institucionais e/ou pessoais

desempenham dentro de uma determinada sociedade. Não há interesse na quantificação, e

sim, a importância qualitativa (YIN, 2005).

Pesquisas dessa natureza também carregam em si, características de estudos não-

experimentais, pois todos os dados obtidos, através de documentos escritos, fotográficos e

relatos orais não são coletados de forma aleatória (KERLINGER, 1980).

Nesse ínterim, devemos compreender relatos orais como a reconstituição de fatos,

através da memória, que são construídos e constituídos por lembranças, esquecimentos,

ideias, ideologias.

Conforme Tedesco (2004, p. 39),

Além da questão do conhecimento histórico-cultural, memória é cidadania.

Fazer aflorar a lembrança e a sociabilidade dos simples é fazer aparecer formas

de vivências determinadas pelo lugar social e pelos referenciais significativos e

imaginários de um determinado grupo étnico-social em períodos históricos e

espaços variados.

Dessa forma, há a necessidade de se registrar toda uma cultura, expressa pela

linguagem, pelas crenças, pelas expressões artísticas (canto e danças) e por ações que

influenciam, de forma muito significativa, nos aspectos políticos, econômicos, sociais,

históricos, religiosos dentro de uma determinada sociedade.

28

Conforme o provérbio latino “Verba volant, scripta manent”, (Palavras voam, a

escrita permanece), torna-se necessário o registro escrito de toda essa cultura mantida e

divulgada pela Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti, principalmente no

que diz respeito à sua influência social e histórica no meio em que desenvolve atividades.

Enfim, de acordo com Gnerre (1998, p.14), “materiais são e pode-os tempo gastar,

pero não gastará a doutrina, costumes e a linguagem”, ou seja, a presença física dos

imigrantes que aqui se instalaram, há dezenas de anos, não mais existe, porém enquanto o

grupo transmitir, pelo uso da linguagem, a cultura deixada pelos imigrantes, sua presença e

nosso passado estarão intactos.

29

4 MÉTODO E MATERIAIS

O presente trabalho constitui-se de um “estudo de caso” da Associação Veneta

Modesto e Nicola Taliani Contenti, entidade enquadrada no Terceiro Setor, que não visa

lucros e que tem sua sede na cidade de Viadutos/RS.

O trabalho investigou a situação de uma entidade no contexto em que ela se insere e

buscou enfocar o estudo mais na compreensão da situação-fato do que na sua

quantificação. A pesquisa é não-experimental, pois não há escolha aleatória de informantes

e todas as informações obtidas são materiais de estudo.

4.1 INFORMANTES

Para este trabalho, de cunho socioetnicocultural, os informantes foram selecionados

pelo pesquisador de acordo com critérios estabelecidos no projeto. A escolha foi baseada

em diversos aspectos e levou em conta requisitos como: conhecer o grupo; participar ou ter

participado do grupo; exercer cargo de chefia no grupo; exercer cargo de liderança no

município, sobretudo em cargos educacionais, políticos e religiosos; colaborar com o

grupo.

Foram selecionados, para os dados de origem primária, ou seja, os relatos orais, seis

informantes: Celso Vilmar Demarco - Prefeito Municipal; Marcos Jovino Asturian -

Secretário Municipal de Educação Cultura de Desporto; Padre Valdemar Zapellini – Pároco

local da Igreja Católica Sagrado Coração de Jesus de Viadutos/RS; Idione Isabel Detoffol –

Coordenadora da Associação Veneta Modesto e Nicola - Taliani Contenti; Odete Ângela

Ortigara Soccol – Secretária da Associação Veneta Modesto e Nicola - Taliani Contenti e

Almir Antônio Piovesan, colaborador da associação e pesquisador de etnia italiana.

30

A relação completa dos informantes, com algumas informações sobre os mesmos é

apresentada no final desta pesquisa. No trabalho, os informantes serão identificados pelo

sobrenome.

4.2 DESCRIÇÃO DO MATERIAL

Por ser um estudo de caso, foram utilizados dois instrumentos para a coleta de

dados: o primeiro, que são os dados de origem primária e, o segundo, que são os dados de

origem secundária.

4.2.1 Dados de origem primária

Para coleta de dados em todos os aspectos previstos neste trabalho, foram colhidos

dados orais, com dirigentes, participantes e colaboradores do grupo e outras lideranças

locais. Em cada relato foram abordados aspectos distintos: Prefeito Municipal – aspectos

políticos, sociais e econômicos; Secretário Municipal de Educação, Cultura e Desporto –

aspectos culturais; Pároco da Igreja Católica – aspectos religiosos e culturais; Dirigentes do

grupo – características e ações do grupo; Colaborador da Associação – aspectos

linguísticos.

4.2.2 Dados de origem secundária

Os dados de origem secundária - documentos, fotos, livros, artigos em jornais e

revistas, fôlderes, entre outros, coletados nos arquivos da Prefeitura Municipal de Viadutos,

31

e, sobretudo, no acervo do grupo e no acervo pessoal dos informantes, forneceram a base

para a elaboração do histórico da Associação e do quinto item deste trabalho.

4.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DO MATERIAL

A coleta dos relatos orais que constituem os dados primários, foi realizada nos

meses de janeiro a março de 2012, pelo pesquisador. Foram gravadas, conversas informais,

seguindo os aspectos que se enquadravam de acordo com o perfil do informante. Os

roteiros utilizados para a coleta de dados constam no Anexo 17.

Os relatos foram transcritos e aplicados no corpo do texto, a fim de ilustrar,

acrescentar e expor a visão dos agentes que participam, direta ou indiretamente, para o

andamento dos trabalhos do grupo. Dessa forma, sempre que necessário, foram feitas

transcrições de „falas‟ para ilustrar o texto final. As falas são apresentadas em itálico e em

destaque.

Os dados secundários foram escaneados ou duplicados e serviram como subsídios

na elaboração do texto. São documentos fidedignos que registram a verdadeira história do

grupo objeto deste estudo de caso. Todos os documentos têm sua fonte citada e constituem

lista de documentos/ilustrações.

Os relatos serviram como subsídio para a elaboração do texto; não foram

especificamente analisados, mas sim, utilizados de acordo com a necessidade em tornar

verídicas as informações, haja vista que os informantes que participaram estão intimamente

ligados à Associação.

32

5 ESTUDO DE CASO - ASSOCIAÇÃO VENETA MODESTO E NICOLA

TALIANI CONTENTI

5.1 COMPREENSÃO DA SITUAÇÃO-FATO ASSOCIAÇÃO VENETA

MODESTO E NICOLA TALIANI CONTENTI

O grupo cultural Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti vem

influenciando, desde sua criação, o município de Viadutos/RS e região, nos mais variados

aspectos, através da linguagem, crenças, expressões artísticas tais como cantos e danças,

enfim pelo resgate histórico-cultural do povo italiano, que há tempos emigrou da Itália para

aqui se instalar e formar seus novos lares.

Criado, como já referido, com o objetivo de reviver, manter e repassar os costumes

e tradições dos descendentes de imigrantes, o grupo buscou uma identidade própria que lhe

é característica até os dias de hoje. Uma identidade étnica pautada na linguagem e toda a

cultura que a ela subjaz, transmitida por seus antepassados.

O grupo que assumiu fortes características culturais, busca reviver a tradição

italiana e relembrar a memória, a fala, os valores, a história, enfim os costumes e a cultura

dos imigrantes.

A cultura transmitida pela Associação Veneta surgiu em nosso país, e no caso em

questão, no município de Viadutos/RS, com a imigração e está ligada à formação sócio-

histórica do mesmo, pois toda a amálgama cultural transmitida pelo grupo é a própria raiz

do município e de grande parte da população.

O homem é agente sociocultural de um meio, preso ao passado todas as suas ações

e perspectivas estão embasadas na transmissão cultural dos antepassados. É dessa forma

que constrói sua identidade e se sente ser pertencente a um espaço, estabelecendo relações

interpessoais com a comunidade na qual está inserido.

É nesse viés, que surge a Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti,

responsável direta pela reconstituição e perpetuação da linguagem, e, por conseguinte, da

33

cultura e da história manifestadas pela mesma. Esse grupo cultural torna-se um patrimônio

cultural de imensurável importância dentro da comunidade de Viadutos/RS.

O nome registrado decorre do local de origem de seus ascendentes - a região do

Vêneto, norte da Itália e o cognome dos dois amigos que inspiraram a criação do grupo:

Modesto Zonin e Nicola Detoffol. Taliani Contenti é a alcunha que se dá aos italianos

que vivem no interior e que buscam, de todas as formas, demonstrar sua descontração e

alegria, peculiaridade da etnia italiana.

Como já referido, o grupo teve e continua tendo importância e forte influência em

todas as atividades do município e região, podendo-se afirmar que o município

Viadutos/RS está estreitamente associado à Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani

Contenti.

Por esta relação, a situação-fato deste estudo de caso, será analisada em vários

aspectos: sua influência no âmbito político-econômico, nas manifestações culturais, sociais,

religiosas e linguísticas, sempre buscando relacionar cultura italiana – município de

Viadutos – grupo em estudo.

Em toda a análise não se deverá perder de vista a concepção de que todas as

manifestações culturais e sociais dão-se pelo uso da linguagem. A língua Talian é a base de

toda a cultura, história e ações da Associação em questão, tornando-se, intrinsecamente,

expressão cultural quando a difunde.

5.1.1 Influência Política e Econômica

A política é um componente que está presente nas mais variadas relações humanas

que se estabelecem numa determinada sociedade, tornando-se um aglomerado de ações

imbuídas de poder, além de abranger experiências humanas, cultura, economia e social.

(RÉMOND, 1996).

Dessa forma, orientaremos nossa abordagem, a partir dessa concepção que

considera a política como um elemento que tange as relações humanas dentro de um

34

espaço, servindo como ferramenta de desenvolvimento de uma determinada sociedade,

tendo o cuidado de não confundir essa noção com a de politicagem e partidarismo.

Entendemos, aqui, a função da Associação Veneta, como instrumento de extrema

importância para o município de Viadutos/RS, elevando e difundindo o nome do mesmo,

estabelecendo relações interpessoais entre os integrantes do grupo e a comunidade, e assim

contribuindo para o desenvolvimento do bem cultural e social.

A Associação Veneta é a única organização cultural étnica do município de

Viadutos/RS, apartidária, que está organizada legalmente e que participa, ativamente, de

ações da municipalidade. Dessa forma, esse grupo cultural torna-se de imensurável

relevância para o município, pois é ícone cultural e agente responsável por levar e elevar o

nome do município no qual tem sua sede.

Conforme o Prefeito Municipal de Viadutos/RS, Demarco8,

Todas as associações e outras formas de organizações são de extrema

importância; [...] porém, o grupo Modesto e Nicola Taliani Contenti, formado

por pessoas maduras, simples e humildes, devido a seu trabalho, dedicação e

persistência, consegue no dia a dia, através do canto, das vestes, dos costumes,

superar barreiras, encarar desafios, e, sobretudo, encantar e surpreender um

número crescente de fãs.

O grupo desenvolve diversas atividades, tais como festas, jantares típicos,

apresentações artístico-culturais, missas, palestras entre outras. Essas atividades contribuem

para a propagação do município de Viadutos/RS, demonstrando a importância cultural do

mesmo no que diz respeito à preservação da cultura regional.

Como já exposto na primeira seção, o município de Viadutos/RS é pequeno, com

pouca visibilidade nacional e que tem sua economia baseada principalmente na atividade

agrícola. Nesse contexto, a Associação Veneta, através das atividades desenvolvidas,

conseguiu tornar-se ícone divulgador e símbolo desse município.

8 Celso Vilmar Demarco – Prefeito Municipal de Viadutos/RS. Os dados foram obtidos através de conversas

informais.

35

A Associação sempre é convidada a participar de eventos solenes dentro do

município, tais como recepção de autoridades políticas (como deputados e governadores),

aberturas de festivais, feiras e festas tradicionais. Essa função sociopolítica do grupo, não

se restringe ao município, perpassando as fronteiras do mesmo.9

As participações estendem-se aos municípios da região e de outros estados, quando

convidados a promover atividades artísticas, culturais em aberturas dos mais variados

eventos. O grupo, também, representou a etnia italiana na Assembléia Legislativa do

Estado do Rio Grande do Sul, referente aos 135 anos de imigração italiana no Rio Grande

do Sul e participou da sessão solene alusiva aos 139 anos de imigração italiana no Brasil,

realizada no Congresso Nacional.10

O município ganhou visibilidade, no cenário nacional, por sediar umas das

principais associações culturais italianas do Brasil que, através de sua peculiaridade,

encanta e emociona os descendentes de italianos que tem no grupo um espelho de seus

antepassados.

Além disso, no que diz respeito à perspectiva econômica, o grupo, através da

realização de festas típicas, gastronômicas e apresentações artísticas, movimenta a

economia municipal. A importância não fica apenas nesses aspectos, pois fora do grupo

cada membro contribui de maneira efetiva no desenvolvimento econômico local.

Conforme o Prefeito Municipal, Demarco,

Os Membros do Grupo Modesto e Nicola Taliani Contenti herdaram de seus

antepassados a fé, os costumes, a cultura e a vontade de trabalhar,

principalmente nas atividades relacionadas com a terra, fator gerador do

desenvolvimento econômico de um povo.

Isso demonstra que a Associação Veneta, através de seus membros, não apenas

resgata o passado cultural, como também vivencia, no dia a dia, os costumes dos seus

antepassados, pois permanecem nas comunidades, residindo e trabalhando nas terras que

9 Anexo 05.

10 Anexos 06 e 07.

36

eram de seus pais, nonos, trabalhando com o cultivo da terra e instigando outras famílias a

permanecerem nas áreas rurais.

Demarco afirma que,

Ao vivenciar todos esses ensinamentos, automaticamente estão mantendo ativa

a vontade de viver bem, com qualidade de vida, comendo produtos produzidos

na propriedade, bebendo vinho feito com uvas caseiras, cuidando das suas

casas, dos espaços comunitários, organizando festas, passeando, trocando

experiências e levando essa forma de viver a outros tantos.

Demarco complementa afirmando que “tudo isso, além de bem estar, de forma

sutil, acaba gerando riqueza social, cultural, religiosa e econômica para Viadutos e

região, motivo de orgulho a toda a municipalidade”. Enfim, isso demonstra o quão é

relevante o estudo, propagação, manutenção e perpetuação desta Associação.

5.1.2 Influência nas Manifestações Culturais

Esse é o aspecto mais importante do grupo na divulgação do município de

Viadutos/RS e região, pois é a partir das manifestações culturais que ocorre o resgate

histórico-cultural, ou seja, a recuperação da identidade étnica para os descendentes de

italianos e para as pessoas das mais variadas etnias que sofreram qualquer tipo de

influência da cultura italiana.

De acordo com Asturian11

,

A Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti, é fundamental no que

concerne à preservação da cultura local e regional. As manifestações culturais

expressas pelo grupo estão permeadas pelo processo histórico de imigração e

migração italiana, reconstituindo elementos da história presentes em nosso

cotidiano. Além disso, num contexto globalizado onde os padrões homogêneos

11

Marcos Jovino Asturian - Secretário Municipal de Educação, Cultura e Desporto do Município de

Viadutos. Dados obtidos através de conversas informais.

37

trazem implicações negativas ao reconhecimento e respeito da diversidade

cultural, o grupo destaca-se como baluarte das especificidades identitárias.

Dessa forma, é insofismável a presença do grupo no município e região, pois o

mesmo recupera e mantém viva as raízes socioculturais do povo que aqui reside. Nós nos

tornamos vazios e subjetivos quando estamos ligados somente com o presente e criando

relações incertas com o futuro.

Assim, este grupo, quando recupera nossas crenças, nossos costumes, nosso falar,

enfim, nossa identidade cultural, está recuperando e mantendo viva a essência transmitida

por nossos ascendentes, e nos tornando seres completos, pertencentes a um espaço

biossociocultural.

Dentre as manifestações culturais, foram elencados alguns itens, devido à sua

importância e à exiguidade temporal, que impediu que fosse contemplado um número mais

abrangente de ações sociais e culturais.

5.1.2.1 O Filó

Quando os imigrantes chegaram da Itália, no final do século XIX, trouxeram

consigo muitos dos comportamentos vivenciados lá. Dentre estes, um que marcou

profundamente a vida do italiano no Brasil, foi o Filó. A origem do termo e do costume

provém da Itália.

Após rotinas maçantes de trabalho, os imigrantes italianos que aqui se instalaram

viam no Filó, espécie de reuniões familiares e entre vizinhos, um momento para estarem

juntos, não só mantendo a tradição que traziam, mas, também, como símbolo de união,

lazer e trabalho.

Na Itália, as famílias se reuniam para se defender dos invernos rigorosos,

prepararem alimentos diversos, utensílios e vestimentas, além de ter um momento de lazer

38

e fé entre as famílias da localidade. Já no Brasil, o inverno não era tão rigoroso, mas a

tradição se manteve como símbolo máximo da tradição italiana.

Aqui as famílias, após o anoitecer, encontravam-se para conversar, rezar, cantar,

jogar baralho e outros jogos típicos, preparar alimentos e contar sobre o lavoro do dia e

lembrar-se de sua terra natal, a Itália. Devemos entender o Filó, como característica ímpar

do povo italiano, atividade que reproduz fidedignamente a vida dos imigrantes.

Nesse aspecto, a Associação Veneta, tem como peculiaridade, a reprodução, através

da teatralização, do Filó, esse, totalmente reconstituído, através da própria vivência de

integrantes do grupo, como também do que era repassado a eles por seus antepassados.

Conforme Detoffol12

o Filó,

[...] representa um todo, é tudo o que se vivia; no filó você canta, você fala,

você desenvolve atividades que fazem parte, tipo remendar roupa, costurar,

fazer „dressa‟, fazer chapéu, comida, enfim, ali se faz um pouco de tudo, a palha

para os colchões, que se fazia nos Filó.

Essa atividade é realizada pelo grupo com maestria, tudo é ensaiado com rigor;

dentro do filó, os papéis são distribuídos entre os integrantes do grupo. Nessa apresentação,

existe uma família, constituída pelos nonos, pelos pais e uma filha; após anoitecer, chegam

outras famílias, além do padre local.

Nesse contexto, todo organizado, com o cenário e roupas da época, o grupo canta,

joga vários jogos típicos, reza, conta histórias, piadas, além de iniciar romances, primeiros

namoros, entre vizinhos. Porém, dentre todos esses aspectos, o que mais chama atenção é a

reconstituição do ambiente e a língua Talian, utilizada durante toda a encenação.

O Filó é apresentado, anualmente, na festa típica italiana promovida pelo grupo, que

acontece no mês de março, além de outras apresentações quando o grupo é chamado para

7 Idione Isabel Detoffol - Filha de Nicola Detoffol e Coordenadora da Associação Vêneta Modesto e Nicola

Taliani Contenti do Município de Viadutos/RS. Os dados foram obtidos através de conversas informais.

39

se fazer presente, em solenidades e datas comemorativas. Essa atividade é marca registrada

do grupo.13

De Boni e Costa (1995) dizem que pelo filó é mantida viva a grande experiência de

socialização, de solidariedade e de educação, a grande síntese da vida do homem em

família, em vizinhança e em relação com Deus.

5.1.2.2 Os Jogos

Conforme foi exposto anteriormente, o Filó, é a atividade que mais contempla os

costumes italianos; porém, dentro dessa prática, estavam inseridas diversas atividades, por

exemplo, os jogos típicos italianos. Desde a imigração até os dias atuais, os jogos são a

marca cultural do povo italiano.

Os imigrantes que aqui se instalaram trouxeram consigo o costume de se divertir

através dos jogos, tais como os de cartas, „Quatrilho‟ e „Três Sete‟, o jogo de bocha e o que

mais marca o povo italiano, a „Mora‟.

Em um tempo, onde as práticas de lazer eram escassas e a vida era resumida entre o

trabalho e o aconchego do lar, surgia a necessidade de criar estratégias para romper com a

monotonia diária. Assim, os imigrantes que aqui se instalaram, e depois seus descendentes,

reuniam-se para jogar cartas e outros jogos manuais, a fim de ter um momento de união,

descontração e alegria.

Porém, os jogos eram atividades apenas para os homens; poucas vezes as mulheres

jogavam, e quando participavam era somente jogos de cartas. As mulheres tinham como

atividade, o preparo dos alimentos, a costura de roupas e a fabricação manual de utensílios

domésticos.

Dentre os jogos preservados pelo grupo, um deles é o Bespon, jogo criado pelos

imigrantes que aqui se instalaram e que chama atenção.14

É um jogo que consiste na

13

Anexo 08. 14

Anexo 09.

40

disputa, entre dois adversários: um deles deixa sobre sua mão uma vara, e o oponente,

imitando o som e o vôo de uma vespa, tenta distrair o adversário e, com rapidez, busca

roubar essa vara e acertar-lhe na mão – com a própria vara. Nas palavras da Coordenadora

da Associação, Detoffol, o

Bespon é um jogo que, aparentemente, não tem muita criatividade; se as

pessoas observarem não tem muita lógica, mas na verdade ele foi feito para

passar o tempo, pois na época em que vieram os primeiros imigrantes, quando

chegaram, eles não tinham lazer nenhum, então eles inventavam certos jogos

para poder passar o tempo. E esse Bespom é um jogo que eles inventaram aqui.

Mas, dentre os jogos típicos italianos, o mais divertido e o que mais chama a

atenção é o jogo da „Mora‟, símbolo da etnia italiana.15

O jogo consiste em acertar a soma

dos dedos que os contendores vão estender à mesa. Certas formas de mora são tão rápidas

que só são compreendidas e interpretadas pelos bem entendidos no assunto e capazes de,

em questão de poucos segundos, calcular a soma.

O jogo todo é falado em italiano, onde dois oponentes gritam a soma dos dedos,

tentando acertar e, existe um juiz, que fiscaliza os acertos. A „Mora‟ é um jogo complexo,

pela agilidade que é proporcionada, tornando-se não somente prática prazerosa para os

jogadores, como também treino matemático, devido ao cálculo mental que deveriam fazer

em poucos segundos.

Porém, mesmo que esse jogo seja o símbolo maior da cultura esportiva dos italianos

que aqui chegaram, ele está desaparecendo e, consigo, uma grande parte da cultura e da

memória do povo italiano. A coordenadora da Associação, Detoffol, comenta que a

„Mora‟, “é muito tradicional e são poucos os que ainda sabem jogar. Em Viadutos, acho

que não dá dez pessoas que ainda sabem jogar”.

Ainda nas palavras de Detoffol, “no nosso grupo nós temos uma equipe, que

quando a gente sai, para fazer Filó, são convocados e eles vão; então a „Mora‟ ainda é um

dos mais importantes, o que mais se cultiva”.

15

Anexo 10.

41

Enfim, é um jogo que reproduz a vida dos imigrantes italianos quando chegaram a

nosso país, e que esse grupo cultural está tentando manter viva, quando mantêm pessoas

dentro do grupo que sabem esse jogo, e que fazem apresentações artístico-culturais.

5.1.2.3 A Indumentária

A indumentária, ou vestimentas de uma nação, não só é uma carta de apresentação

do povo, como também uma identidade singular do mesmo. Dessa forma, as vestes de um

povo, transmitem a cultura e a história impregnadas nessa comunidade, são uma linguagem

não-verbal de extrema valia, pois comunicam, tanto quanto a fala.

Hoje, mesmo que os mercados globais estejam tão „atrelados‟, ainda existem

especificidades em relação à moda, à vestimenta, criando peculiaridades entre os diversos

países do globo. Porém aqui teremos o cuidado de expor apenas sobre os trajes típicos

italianos, mais especificamente no que diz respeito aos trajes utilizados pelos imigrantes

que aqui se instalaram.

A Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti é um grupo cultural que

tem como premissa o resgate e a transmissão histórico-cultural dos seus ascendentes

italianos; dessa forma, houve a preocupação, por parte dos integrantes do grupo, em recriar,

o mais parecido possível, o ambiente e os costumes vividos pelos imigrantes.

Assim, quando o grupo definiu sua indumentária, a preocupação não era de criar um

traje para eventos, e sim, para cumprir sua meta de recriar o ambiente tal qual seus

antepassados viviam. Dessa forma, foram criadas vestimentas de acordo com as usadas

pelos pais e, principalmente, pelos nonos e bisnonos, a fim de, através dessa linguagem

não-verbal, expor um pouco mais sobre a cultura italiana.

A coordenadora do grupo, e criadora da indumentária, Detoffol, lembra que,

o uniforme que o grupo usa, eu tinha ele na cabeça há muitos anos, tipo aquela

roupa que as nonas usavam, as pessoas mais velhas da época [...]. O vestuário

é um projeto que eu fiz e que deveria ser o mais parecido possível com que as

42

nonas e as mães usavam, as cores deveriam ser as cores do vinho e o branco

seria o símbolo da paz, assim se fez e deu certo por que a nossa vestimenta tem

tudo a ver com o nosso jeito de ser e bate com o nosso passado.

A roupa utilizada pelo grupo é constituída, para as mulheres, de saia franzida cor de

vinho e camisa xadrez nas cores vinho e branco, um avental branco com bolso e um xale

preto. Na cabeça, as mulheres usam chapéu feito de palha de trigo, nos pés, chinelos de

couro cru. Carregam, nas mãos, uma cesta de palha, chamada „sporta‟, feita artesanalmente

com palha de trigo. Os homens vestem-se com calça preta, camisa xadrez nas cores vinho e

branco, chinelos de couro cru e chapéu de palha, além de carregarem em suas mãos

„ciaaretos‟, nome utilizado para se referir a lampiões. É uma indumentária típica de colono

italiano e não de grupos folclóricos ou de regiões, fortalecendo o objetivo do grupo, na

reconstituição cultural de seus antepassados.16

Ou seja, o grupo, além de utilizar a linguagem italiana e todos os costumes que

estão enraizados na mesma, busca, através das vestimentas, internalizar ainda mais, a

identidade étnica italiana, e passá-la aos jovens de hoje, que nunca tiveram contato com

toda essa bagagem cultural.

5.1.2.4 A Culinária

Nesse item, o objetivo não é o de especificar os alimentos produzidos pelos

italianos, ou melhor, quais os alimentos por eles produzidos, e sim, o de demonstrar, que

indiferente do alimento, o preparo do mesmo é reconstituído tal qual, como era feito pelos

antepassados.

Dentre os jantares típicos italianos que o grupo realiza, o encontro anual, no mês de

abril, pela sua grandeza, merece destaque.17

É realizado um encontro de Corais Italianos,

16

Anexo 11 17

Anexo 12

43

onde ocorre uma missa, várias apresentações artístico-culturais e, por fim, um jantar com a

participação de centenas de pessoas.

Detoffol comenta que,

os alimentos são preparados pelas mulheres mais velhas do grupo e tudo é feito

exatamente como se faz nas nossas casas, como faziam as nonas, as bisnonas

dentro das casas. Os temperos são plantados nas hortas das pessoas do grupo,

e no dia, as mais velhas vão lá fazer o tempero dos alimentos, tudo baseado na

tradição que as nossas mães, nonas e bisnonas passaram.

Nesse aspecto, o que chama atenção é que os alimentos preparados são típicos

italianos e que o preparo dos mesmos segue, à risca, os costumes italianos. No jantar típico,

o grupo busca preservar o preparo da polenta, do „codeguim‟ cozido na água, da „fortaia‟

feita com queijo, ovos e salame, do „radicci cotti‟ (almeirão cozido na água, cortado e

temperado com bacon), da abóbora cristalizada, da cuca e do pão feitos no forno a lenha,

além das carnes de aves e porco.

5.1.3 Influência nas Manifestações Religiosas

A Itália é um país predominantemente católico e que carrega junto de si uma

religiosidade e devoção exacerbadas. Os imigrantes que aqui se instalaram trouxeram

consigo essa fé em Deus e na Igreja Católica, influenciando as pessoas aqui já radicadas e

também, passando os ideais católicos de pai para filho.

A religiosidade dos imigrantes italianos e de seus descendentes não foi apenas uma

auto-afirmação espiritual, um refúgio e uma busca, devido às inúmeras dificuldades que

eles passaram quando chegaram no país, mas também, de acordo com Possamai (2004, p.

44

105) “a preservação da fé católica estava estreitamente ligada à manutenção da língua, da

cultura e dos costumes italianos pelos imigrantes”.

Quando a fé católica é mantida, através de cultos, orações, encontros, enfim em

qualquer manifestação religiosa, a linguagem e a cultura também permanecem vivas;

mantendo a religiosidade viva, a cultura e a língua dos imigrantes e seus descendentes está

preservada (POSSAMAI, 2004).

Nesse sentido, é que a Associação Veneta, composta integralmente por católicos,

busca, através de rezas em capelas do interior, hospitais, aniversários, velórios e nas

missas, levar a fé católica, tão presente nos imigrantes, através de cânticos religiosos no

idioma italiano.

Dessa forma, o grupo não só preserva a cultura linguística italiana, como também

propaga a fé católica entre os munícipes, tão importante para a perpetuação da cultura e

revitalização de nossa memória e, por conseguinte, nossa história.

Para Zapellini18

, a Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti,

É um exemplo de como conservar a fidelidade, o amor a Deus, o amor à Igreja,

aqueles princípios trazidos de Vêneto, da Europa, da Itália. E para nós é muito

importante que haja esse grupo na comunidade, pois ele diferencia todos os

demais grupos pela religiosidade que eles têm, no sentido de que fazem isso com

muito amor, e não só por um amor humano, uma auto-afirmação, mas fazem

isso por causa de um amor dentro de si mesmo, a Deus, à comunidade, à Igreja.

Para nós, parece-me muito importante esse grupo que mantém o aspecto

religiosos, de vida espiritual, e também no sentido de divulgar os cânticos

religiosos e também profanos da Itália. Isso também é importante para que não

se percam as raízes, de onde essas pessoas procedem.

Na festa anual da igreja, o grupo participa ativamente, organizando e apresentando

diversas manifestações religiosas características da cultura e fé italianas. Exemplificando: a

Associação Veneta promoveu, em edições passadas da festa, uma procissão em

18

Valdemar Zappellini - Pároco da Igreja Católica Apostólica Romana, Paróquia Sagrado Coração de Jesus do

Município de Viadutos/RS. As informações foram obtidas através de conversas informais.

45

homenagem à Virgem Maria, reconstituindo tal qual eram as procissões realizadas pelos

imigrantes italianos, desde os cantos utilizados até a forma de organização do cortejo

sacro.19

Enfim, como já mencionado, o grupo italiano através da religiosidade, transmite à

toda população a cultura, a história, os costumes, a fala italiana, berço do município de

Viadutos/RS.

5.1.4 Influência nas Manifestações Linguísticas

Devemos, nesse aspecto, compreender que a linguagem é a utilização da língua

como forma de expressão e comunicação entre as mais variadas pessoas. Porém, a

linguagem tem que ser entendida, não somente por uma manifestação falada ou escrita, mas

também através de cores, gestos entre outras.

Linguisticamente o grupo é rico, pois engloba a linguagem verbal, através dos

cantos, piadas, rezas, das falas teatralizadas no Filó e, principalmente, quando reúnem-se

para conversar na língua Talian. Além disso, o grupo transpõe os horizontes da fala e da

escrita e entra no mundo não-verbal, através do uso das indumentárias, jogos, encenações e

a própria culinária.

A Associação Veneta utiliza a linguagem em sua função, pois todas as ações

culturais e sociais do grupo estão embasadas sobre o alicerce da linguagem italiana, mais

precisamente sobre o Talian.

Nos aspectos não-verbais, o grupo influencia quando prepara seus alimentos, utiliza

sua indumentária com suas cores simbólicas e, principalmente, através dos jogos; por outro

lado, o grupo, pela linguagem verbal, através de rezas, encenações e principalmente do

canto, contribui de forma inestimável à perpetuação da linguagem italiana no município, e

assim, de toda a cultura que ela traz enraizada.

19

Anexo 13

46

Dentre todas as manifestações citadas, daremos mais atenção ao canto, marca

registrada do grupo, que o tornou conhecido regional e nacionalmente. A Associação

Veneta orgulha-se por ter como sua principal atividade o canto, e, dessa forma, reviver a

memória dos seus antepassados.

Conforme a coordenadora Detoffol,

O mais importante que tem no nosso grupo é o canto, mas não é o canto como

arte, que a gente queira mostrar que é artista, que sabe cantar, tem voz boa;

não é isso, é por que no canto a gente traz a fala; a comunicação mais perfeita

que acontece entre o grupo é no canto. No canto há o vocabulário e o que você

não sabe, não lembrava, você relembra e o que você relembra você não esquece

mais e quem houve também aprende, por que muitas pessoas ouvem os cantos e

eles vão buscar saber o que quer dizer o significado dessa ou daquela palavra

[...] o canto é mais importante.

De acordo com a coordenadora e a secretária do grupo, foi feito um serviço intenso

e persistente de resgate dos cantos; eram marcadas reuniões com os senhores mais velhos

do grupo, para que eles cantassem e fossem gravadas todas as canções que eles conheciam;

após, todas as gravações foram transcritas, e por fim, as palavras desconhecidas foram

pesquisadas para a finalização do trabalho.

A Secretária da Associação, Soccol20

, comenta que quando ingressou nesse grupo

cultural, o mesmo “já tinha um grande acervo de cantos, hoje se tem, aproximadamente

duzentos cantos resgatados e transcritos, além de um CD gravado”.21

O grupo reproduz as músicas de acordo com os costumes antigos, e por isso, é tão

prestigiado e ganhou tanta importância cultural; ele não canta através de partituras, e sim,

através da memória, das experiências e da reconstituição que realizou com as pessoas de

idade avançada, que conheciam e cantavam essas músicas.

Soccol comenta que,

20

Odete Ângela Ortigara Soccol - Secretária da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti do Município de

Viadutos/RS. Informações foram obtidas através de conversas informais. 21

Anexo 14 e 15.

47

O resgate pelos cantos é diário, é sempre; a gente houve um canto que acha que

o grupo tem condições de cantar [...] transcreve e faz a pessoa cantar para

gravar. Como nós não cantamos em partitura, é importante que se diga aqui,

que o nosso cantar de grupo é igual ao cantar de antigamente, como nossos

nonos e bisnonos faziam.

Além disso, os cantos, para os italianos, têm uma importância fundamental, pois

estão permeados de histórias e vivências, e quando se cantam as músicas outrora cantadas

pelos imigrantes, está-se resgatando o passado e a memória dos imigrantes e materializando

sua presença nos dias atuais.

Para Soccol, o canto italiano contempla três aspectos:

Ele canta a guerra, ele canta o amor e ele canta a religiosidade. Quando se

ouve as histórias do grupo italiano, das musicas italianas, percebe-se que

muitas delas falam de guerra, do sofrimento da vinda da Itália para o Brasil,

falam do amor que deixaram na Itália, da família que deixaram lá. e falam de

Deus, que só com Deus no coração e muita fé, eles conseguiram fazer tudo isso.

A coordenadora do grupo Detoffol completa dizendo que,

O canto é o maior documento que existe em termos de herança da nossa

cultura; se não fosse o canto, não existiria mais nada, porque é através dos

cantos que as pessoas se juntam, é no canto que eles se entendem, é no canto

que entra a saudade, que entra a nostalgia, que você consegue identificar de

que região eles vieram [...] o canto é fundamental, é o elo de ligação entre tudo,

por que no filó tu cantas, nos velórios tu cantas, na igreja tu cantas, nas festas

tu cantas, então saber os cantos é saber a história.

48

Enfim, cada canto tem uma história, cada canto é impregnado de costumes,

tornando-se uma das maiores heranças que os descendentes de italianos possuem, pois ele é

o elo entre o passado e o presente; além disso, o canto é uma forte ferramenta para expor,

ensinar e aprender a língua Talian, base de todos os cantos reconstituídos pelo grupo.

5.1.4.1 „Talian‟

Para melhor compreender o Talian ou Língua Vêneta, devemos compreender um

pouco da formação dessa língua falada em nossa região pelos descendentes de italianos que

se instalaram no Rio Grande do Sul, e no caso em questão, na região norte.

A nossa região, como exposto na primeira seção, foi em grande parte colonizada por

imigrantes italianos que moravam no norte da Itália, provenientes do Vêneto, do Trentino-

Alto Ádige, do Friuli-Venezia Giulia e da Lombardia. Desses imigrantes a maioria detinha

a cultura e o dialeto vêneto, mas havia falares diferentes e sotaques distintos.

(LUZZATTO, 1994)

Quando os imigrantes se instalaram, não foram respeitadas as diversidades sociais,

culturais, regionais e linguísticas, o que ocasionou uma mistura entre costumes, cultura e

falares. Havia a necessidade de comunicação entre as famílias vizinhas, devido aos

aspectos sociais e econômicos.

Então, para que houvesse comunicação, a linguagem começou a sofrer

modificações, através de uma mescla linguística, também chamada de koiné. Dessa forma,

a koineização, ou seja, a mistura dos dialetos italianos, juntamente com influências da

língua portuguesa, indígena, polonesa, alemã, formou uma língua veicular, conhecida como

Talian ou Língua Vêneta (CARBONI, 2004).

De acordo com Frosi e Mioranza (1975 apud CARBONI, 2004, p.51), as condições

que favorecem as mesclas linguísticas são as “afinidades dos dialetos em contato; relativo

isolamento, associado a eventuais sentimentos nacionalistas e regionalistas de seus

49

habitantes; contatos determinados pelas necessidades econômicas e de subsistência;

casamentos interétnicos.”

Formou-se, assim, uma língua que serviu como veículo de comunicação aos

primeiros imigrantes, língua essa responsável pelas relações econômicas, culturais e

sociais. Uma linguagem que é impregnada de história e costumes que traz consigo a vida e

a história de um povo, essência de nossa história.

Conforme Piovesan22

, “a importância que tem essa língua, Talian, é cultural,

porque ela traz consigo muitas informações socioculturais, ambiente, valores, costumes,

hábitos, traz toda uma história de vida desse povo.” Isso faz com que valorizemos, ainda

mais, a Associação Veneta, pois é responsável pela recuperação, manutenção e perpetuação

dessa linguagem.

O grupo étnico-cultural em estudo, através do uso do „talian‟, tenta manter vivo o

falar de seus antepassados, e dessa forma, preservar a história e a cultura dos mesmos, pois

a língua está intimamente ligada à história do homem, tornando-se indissociável de sua

vida.

Dessa forma, evidencia-se o quão é importante o estudo e o registro desse grupo,

pois no município de Viadutos/RS e na nossa região, ele se tornou referência no que diz

respeito à manutenção da língua „talian‟, e sua propagação, pois essa linguagem vem

desaparecendo, em decorrência da falta de estímulos e interesse dos jovens em mantê-la

viva.

Conforme Piovesan, o desaparecimento dessa língua denota uma perda muito

grande de “cultura, muita história, muito conhecimento.” Nessa realidade, devemos

observar a inestimável importância que esse grupo possui, por ser agente ativo no resgate

linguístico-histórico de nosso município e região.

Enfim, a língua „Talian‟, “traz consigo a seiva cultural do velho mundo, a história

de vida de nossos ancestrais e a história de vida do ítalo-brasileiro” (FROSI, 2004, p.132).

Possui forma e função própria, responsável por manter viva a identidade étnica dos

descendentes de italianos e das pessoas que foram influenciadas, por essa cultural secular.

22

Almir Antônio Piovesan - Mestre em Letras, Estudos Linguísticos, colaborador da Associação Vêneta

Modesto e Nicola Taliani Contenti do Município de Viadutos/RS. As informações foram obtidas através de

conversas informais.

50

5.1.5 Descrição das Ações do Grupo

Após, a abordagem dos aspectos que nortearam o trabalho, descrevemos neste item

as atividades que a Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti, desenvolveu no

ano de 2010, a fim de ilustrar o quão é ativo o grupo na sociedade. Este trabalho, não

objetiva elaborar o histórico do grupo em questão, porém devemos tornar fidedignas as

colocações nos itens anteriores, através da descrição das atividades que o grupo vem

desempenhando.

O ano de 2010 foi escolhido entre tantos, pois foi o ano em que a Associação

Veneta, ganhou visibilidade nacional, quando representou a etnia italiana em Sessão Solene

no Congresso Nacional na homenagem aos 135 anos da Imigração Italiana no Rio Grande

do Sul e 139 anos no Brasil.

Foi um ano intenso, cheio de atividades culturais de grande importância para o

grupo. Houve participação do mesmo em diferentes eventos no âmbito cultural, social,

gastronômico e histórico. A descrição das atividades segue ordem cronológica, e foi

retirada, na integra, dos relatórios anuais de atividades da Associação, respeitando a

descrição feita pela própria coordenação do grupo.

Janeiro de 2010

- 30/01- Filó e Missa no 3º Encontro da Família Bevilacqua –Viadutos/RS.

Fevereiro de 2010

- 03/02- Cantos, Missa e Liturgia, Paróquia Nossa Senhora da Luz – Áurea/RS.

- 07/02- Missa e Festa, Capela São Bráz –Viadutos/RS.

- 21/02- Visita ao Lar do Velhinhos – Erechim/RS.

Março de 2010

- 27/03- Encontro de Corais – Barra do Rio Azul/RS.

51

- 28/03- Apresentação na Rádio Gaurama, tendo como finalidade a divulgação da XII

Festa de nossa Associação – Gaurama/RS.

Abril de 2010

- 10/04- XII Festa Italiana, promoção de nossa Associação aqui em Viadutos/RS,

participação de aproximadamente 1000 pessoas, 15 corais, onde durante os festejos

desenvolvemos várias atividades como: Filó onde participaram os corais visitantes;

pioneiros de Viadutos; ex – viadutenses; população que simpatiza conosco e com a nossa

cultura. Neste evento em especial tivemos a presença de diversas autoridades como o

Prefeito Municipal – Celso Vilmar Demarco, Vice-Prefeito – Paulo Sérgio Lazzaroto,

vereadores, Vice-Presidente do CEPERGS – Neiva Lazzarotto, Deputado Federal – Vilson

Covatti, Deputado Estadual - Ivar Pavan, Deputado Estadual – José Sperotto,

representante de Jerônimo Goergen, Deputado Federal Marco Maia, Padre Valdemar

Zapellini, Dirigente de Cultura – Marcos Jovino Asturian, familiares do 1º Prefeito de

Viadutos/RS, falecido Isidoro José Brancher. Senhor Hermes Bonett pioneiro de

Viadutos/RS hoje proprietário da Madeireira Bonett em Santa Cecília/SC e que foi

agraciado com o Título de Cidadão Viadutense, também a pedido e por sugestão de nossa

Associação foi aprovado pela Câmara de Vereadores e concedido o nome para a “Praça

Central que passou a se chamar Praça da Matriz - Isidoro José Brancher”. Estiveram

também, muitas pessoas engajadas na busca por suas origens e empenhadas na

preservação de nossas raízes e com laços afetivos a sua e a nossa “terra natal” e que se

personificam através desta festa onde ocorrem reencontros de viadutenses e ex-viadutenses

juntamente com os grupos e corais que fazem parte de nossas relações de amizade e

parceiros na preservação de nossa língua (dialeto) de nossos cantos e costumes.

Nesta noite recebemos dois convites muito importantes para nosso grupo, um do Deputado

Ivar Pavan para irmos a Porto Alegre na Sessão Solene alusiva aos 135 anos da

Imigração, e o outro do Deputado Marco Maia para irmos à Brasília participar da Sessão

Solene que será realizada no dia 21 de junho em homenagem aos 135 anos da Imigração

Italiana no RS e 139 anos da Imigração Italiana no Brasil.

- 17/04-IV-Festa do Grupo Ricordi De Trento de São João da Urtiga/RS.

52

- 23/04-Recebemos a visita de Giovani Foltran de Roncade-Itália que é Presidente dos

Trevisanos Associação Nel Mondo.

- 24/04- II Note de La Associação Veneta Culturale Alegria del Cuore-Cruzaltense.

- 29/04-Jantar, despedida de Giovani Foltram – Presidente dos Trevisani Nel Mundo de

Treviso – Itália, realizada no Restaurante Panorâmico Grill – Viadutos/RS.

Maio de 2010

- 16/05-Missa e Festa (canto e liturgia) Capela Linha 9, interior de Gaurama/RS.

- 19/05-Participação nas homenagens dos 135 anos da Imigração Italiana no Rio Grande

do Sul, em Sessão Solene na Assembléia Legislativa proposta pelo deputado Ivar Pavan e

pela Deputada Marisa Formolo, com projeção do Filme “Se Milagres Desejais” - gravado

em Antônio Prado. Como culminância do Evento um grande “Filó” na Igreja Pompéia

onde participaram também o Coral Colle dei Fiori de São Valentim/RS; Vozes do Prado de

Antônio Prado; Grupo Avanti de Erechim; Coral Stela Alpina de Erechim. Todas as

festividades foram programadas pelo Deputado Ivar Pavan e pela Deputada Marisa

Formolo, com o apoio do Prefeito de Antônio Prado e Viadutos.

- 22/05-Participação na Festa Nacional do Boi Recheado – Viadutos/RS.

- 26/05- Participação no evento de entrega do Centro Cultural José David Gemeli aos

munícipes na Semana do Município de Viadutos/RS.

- 28/05-Missa Aniversário do Município 51 anos – Viadutos/RS.

Junho de 2010

- 03/06-Participação, Missa e Festa, Linha São Paulo – Marcelino Ramos/RS.

- 05/06- XXI Notte Taliana, Grupo Nostra Gente – Ibiaça/RS.

- 20 e 21/06- Viagem à Brasília, Sessão Solene no Congresso Nacional na homenagem aos

135 anos da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul e 139 anos no Brasil, promovida

pelo Deputado Marco Maia, pelo Senador Paulo Paim. Participamos da Sessão, onde

acompanhados pelo Prefeito Municipal Celso Demarco e sua esposa, pelos convidados de

honra do Grupo Jovelino José Baldissera e Oslen Chaves, juntamente com Vânia Signor,

uma viadutense que assessora o Senador Pedro Simon. Foi um evento cívico sem sombra

de dúvidas, inédito para nós, pois ocupamos um espaço que até então não havia sido

53

ocupado pela nossa etnia. Lá durante as cerimônias transmitidas em Rede Nacional

através da TV Senado, pudemos refletir e nos transportar ao passado tão recente, mas

cheio de lutas, fé, trabalho e dignidade daqueles que nos antecederam com coragem,

acreditando que este país era sim, a possibilidade de fugir da fome, miséria e acima de

tudo a prosperidade para os descendentes. Marcos Maia e Paulo Paim passaram através

desse evento a protagonizar um capítulo, talvez, o mais importante para a história de

nossas vidas e da singela trajetória de Modesto e Nicola Taliani Contenti, pois é

impossível descrever o que sentimos naquele “local”, onde se decide o destino do país,

podermos reverenciar nossos antepassados: Graccie Marco Maia e Paulo Paim.

-30/06- Brodo, Aniversário de Pedro Baldissera, Gaurama/RS.

Julho de 2010

- 04/07- Brodo - São Bráz – Viadutos/RS, Residência: Evaristo e Gema Zonin.

- 05/07- Festa de aniversário, Maria Cristina Zonin – Viadutos/RS.

- 06/07 -Reunião FAINORS – Erechim/RS.

- 10/07 -Jantar e Missa – APAE – Gaurama/RS.

- 11/07-XXII Festa Italiana, “Transando Culturas” – Marau/RS.

- 31/07-Jantar Italiano, Sociedade São Pelegrino – Viadutos/RS.

Agosto de 2010

- 07/08-IX Festivale Del Formaggio e Del Vino-Grupo de Danças I Bellunezzi Nel Mondo,

Concórdia/SC.

- 10/08-Recebemos a visita de nossa conterrânea Yara Bergâmo que reside em Mapelo,

Itália.

- 13/08- Participação, Centro Cultural em Sessão Solene, realizada pela Câmara de

Vereadores, Homenagem 100 anos de vida de Dona Rosa Beber Veronese. Entrega dos

Prêmios do Concurso de Fotografias –“Viadutos Olhares”- 1º e 3º lugar Idione Isabel

Detoffol, integrante do grupo.

- 14/08 -Notte Culturale da Associação Veneta Italiana de Nova Erechim/SC.

- 22/08- Festa de Aniversário de Alzira e Artemio Zortéa, Linha São Pedro – Viadutos/RS

54

Setembro de 2010

- 04/09-III Encontro da Cultura Italiana, apresentado pelo Coral Fratelli D‟Itália –

Joaçaba/SC.

- 11/09-Encontro de Corais, Coral La Montanara – Jacutinga/SC.

- 18/09- Encontro de Corais, Associação Italiana Trivêneta – Pinhalzinho/SC.

- 19/09- Desfile Temático-100 anos da Ferrovia, promovido pela Secretaria De Educação

do Município e CTG Fogo de Chão, 135 anos da Imigração Italiana no RS e 139 anos de

Imigração Italiana no Brasil – Viadutos/RS.

Outubro de 2010

- 15/10- Formatura do ALFA, Centro Cultural – Viadutos/RS.

- 16/10- Encontro de Corais, Coral São Caetano - Severiano de Almeida/RS.

- 17/10- Missa e Festa, Capela Nova União – Viadutos/RS.

- 22/10-Encontro com o Deputado federal Marco Maia e Deputado estadual Altemir

Tortelli - Prefeitura Municipal – Viadutos/RS.

- 29/10 -Jantar de Confraternização, Residência de Adelmo Pasquali – Gaurama/RS.

- 30/10 –Jantar, Clube de Mães Linha 4 – Viadutos/RS.

Novembro de 2010

- 06/11 -IV Encontro de Corais, Coral São José – Sertão/RS.

- 13/11- Encontro da Família Zonin, Missa e Confraternização Linha Taitetu –

Viadutos/RS.

- 15/11 -Apresentação na Frinape, Stander da AMAU (Associação dos Municípios do Alto

Uruguai) – Erechim/RS.

- 28/11- Filó na residência de Sônia Refatti com a presença de Gianpietro e Paola Nezello,

Giancarlo Scopel e Ileana Grecco de Sédico, Beluno, Itália e Moacir Dalcastel de Monte

Belo do Sul/RS.

Dezembro de 2010

- 03/12- Noite Cultural, Centro de Cultura do município de Viadutos, lançamento do

documentário “Dormentes do Tempo” – Viadutos/RS.

55

- 26/12- Filó surpresa na casa de Aquiles Sacomori, interior de Viadutos/RS.

-Relatamos aqui parte de nossas atividades desenvolvidas no ano, em todos os eventos

cantamos, participamos dos almoços, jantares, colaboramos na elaboração dos cantos e

liturgia de cultos e missas, levamos também nossa solidariedade com cantos e orações em

velórios (neste ano fomos em 19), visitamos doentes e fizemos em média dois filós por mês,

onde organizamos nossa pauta de atividades previstas e compromissos que assumimos.

Neste ano também recolhemos peças para nosso museu, e fizemos a gravação de 64 DVDs

- copiados das fitas de vídeo cassete onde filmamos tudo que realizamos desde a fundação

do grupo até os dias de hoje, esse trabalho se fez necessário, pois algumas fitas estavam se

deteriorando pelo passar do tempo. Nelas estão filmadas imagens de ensaios, festas,

festivais e filós em diferentes locais. Também organizamos nosso arquivo fotográfico com

fotos dos eventos e viagens. Foi um ano de intensas atividades e de fortes emoções, pois

poucos tiveram a oportunidade de participar de solenidades como as que nós tivemos o

privilégio de presenciar e atuar com nosso jeito de ser e fazer.

56

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A linguagem é responsável por todas as relações interpessoais de uma sociedade,

modelando emoções, sentimentos, pensamentos, gerando ações, tornando-se essência do

ser humano e, por conseguinte, de toda a comunidade.

Nesse viés, este estudo, que está pautado sobre o prisma da linguagem e de suas

manifestações, torna-se de fundamental importância para entender o próprio homem e a

sociedade que o circunda. A história, os costumes, a cultura são expressas, propagadas e

eternizadas através da linguagem.

A linguagem torna-se vetor de propagação de uma determinada cultura, dificultando

a tentativa de separá-las, pois ambas são ligadas intimamente. Quando estudamos as

manifestações culturais, de qualquer natureza, estamos em contato com a linguagem em

função.

A cultura abrange toda a história, as crenças, a moral, os costumes, enfim os hábitos

do homem como membro de uma comunidade. Porém, ela necessita da linguagem,

ferramenta imprescindível para a sua propagação, demonstrando assim, o quão ambas

necessitam reciprocamente uma da outra, pois a cultura de um povo é ele próprio e sua

linguagem.

Nesse sentido, a linguagem e a cultura são bens que uma pessoa ou um povo

possuem, são patrimônios culturais de uma comunidade, e por serem intangíveis, tornam-se

patrimônios imateriais. Ou seja, é o conjunto de bens, no caso em questão imateriais, que

guardam em si, referências identitárias, expressas pelo idioma, danças, músicas, lendas

entre outras.

Precisamos conhecer nossa história, nosso passado, preservar o nosso patrimônio

cultural, pois é através dessa base, que constituímos nossa identidade e desenvolvemos

ações interpessoais tanto no tempo presente, quanto para com o tempo futuro. A

conservação e o estudo de nosso patrimônio cultural é a tentativa de não romper com a

corrente de conhecimentos que foram construídas por nossos antepassados, evitando,

assim, a repetição constante de experiências já vividas.

57

Nesse sentido, grupos culturais, tais como a Associação Veneta Modesto e Nicola

Taliani Contenti contribuem, de forma inestimável, para com a sociedade local e regional,

quando, através de suas pesquisas, e consequentemente ações, contribuem para manter viva

a linguagem Talian e toda a cultura que a ela subjaz.

A Associação Veneta, objeto de estudo deste trabalho, mostra o quanto contribuiu, e

vem contribuindo, para o desenvolvimento e manutenção de aspectos culturais na sua

região de abrangência - município e região. O grupo cultural, através da reconstituição de

vida dos imigrantes italianos, do seu falar, dos seus costumes, contribui, de forma

significativa, recuperando a identidade étnico-cultural de seus ascendentes, desenvolvendo

os aspectos culturais, sociais e religiosos no município de Viadutos/RS.

Além disso, com as ações realizadas pela Associação, há a colaboração da mesma

no desenvolvimento político-econômico do município, pois a cidade de Viadutos/RS

ganhou visibilidade, tornando-se referência no que diz respeito à manutenção do

patrimônio cultural, desenvolvendo assim, a própria economia local. O grupo transformou-

se em símbolo do município, uma espécie de cartão de visitas, levando o nome de Viadutos

para outros municípios e estados.

Percebeu-se, no desenvolvimento do trabalho, como o grupo é atuante e trabalha de

maneira sistemática para recuperar a cultura dos antepassados que emigraram da Itália,

preservando, assim, a linguagem trazida por eles. Fica claro, o quanto as ações do grupo

estão permeadas pela língua Talian, quando os integrantes a utilizam como linguagem em

função.

A sociedade atual passa por uma crise de valores, distanciando-se de sua própria

história, perdendo assim, sua identidade étnico-cultural, desmantelando seu patrimônio

cultural; além disso, devido à efemeridade cronológica, as pessoas vão envelhecendo e todo

o seu trabalho vai se perdendo no tempo. Dessa forma, fica mais evidente a importância em

registrar o papel e a contribuição que a Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani

Contenti tem para o município de Viadutos/RS e região. Registro esse que tenta, de alguma

forma, influenciar e propagar, num futuro próximo, o quão valioso é esse grupo cultural.

Além disso, busca-se valorizar e eternizar os agentes que fazem parte dessa associação e

que tanto contribuem para recuperar a essência social, histórica, cultural e linguística dos

munícipes viadutenses.

58

Conclui-se, não pelo assunto estar exaurido, mas sim pela necessidade de finalizá-

lo, que a Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti de Viadutos/RS contribui,

de forma imensurável, para o desenvolvimento social, político, econômico, religioso e

cultural para o município, além de contribuir para a manutenção da língua Talian, base de

todas as suas ações. Talian, língua que carrega toda a seiva cultural dos imigrantes italianos

e de seus descendentes.

59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Administração Pública. v. 37, n. 5, p. 1033-1054, set/out 2003.

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YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3° ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.

62

INFORMANTES23

Almir Antônio Piovesan – Graduado em Letras pelo Centro de Ensino Superior de

Erexim, Mestre em Letras Estudos Linguísticos pela Universidade de Passo Fundo,

Professor de Língua Portuguesa da Escola Estadual de Educação Básica Viadutos, é neto

de imigrantes italianos e teve como língua materna o Talian, vindo a apreender a Língua

Portuguesa apenas na escola.

Celso Vilmar Demarco – Prefeito Municipal de Viadutos – gestão 2009-2012, é bisneto

de imigrantes italianos e em sua gestão, uma de suas metas é a valorização e

desenvolvimento da educação e cultura local.

Idione Isabel Detoffol – Graduada em Letras pela Universidade Regional Integrada do

Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim, professora aposentada da Escola

Estadual de Educação Básica Viadutos, neta de imigrantes italianos, filha de Nicola

Detoffol, do qual o Grupo leva o nome; coordenadora da Associação Veneta Modesto e

Nicola Taliani Contenti.

Marcos Jovino Asturian – Dirigente de Cultura do Município de Viadutos/RS, de junho

de 2009 até março de 2011, após esse período assumiu o cargo de Secretário Municipal de

Educação, Cultura e Desporto de março de 2011 até a presente data. Graduado em História

pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de

Erechim, Mestre em História pela Universidade de Passo Fundo é bisneto de imigrantes

italianos.

Odete Ângela Ortigara Soccol – Funcionária Pública da Prefeitura Municipal de

Viadutos/RS, bisneta de imigrantes italianos, integrante e secretária da Associação Veneta

Modesto e Nicola Taliani Contenti.

Valdemar Zappellini – Pároco da Igreja Católica Sagrado Coração de Jesus do município

de Viadutos, assumiu a função de pároco neste município, pela segunda vez, é bisneto de

imigrantes italianos.

23

Anexo 16

63

ANEXOS

ANEXO 01 – ATA DE CRIAÇÃO DO GRUPO.

Fonte: Acervo da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti.

ANEXO 02 – MODESTO ZONIN E NICOLA DETOFFOL.

Fonte: Acervo particular de Idione Isabel Detoffol.

ANEXO 03 – RELAÇÃO DOS FUNDADORES.

Fonte: Acervo da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti.

ANEXO 04 – RESPECTIVAMENTE AS PRIMEIRAS FOTOS E A FORMAÇÃO

ATUAL DO GRUPO.

Fonte: Acervo da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti.

ANEXO 05 – PARTICIPAÇÃO NO CURTA-METRAGEM, “PARTITURAS DO

TEMPO”, ESCRITO E DIRIGIDO POR GLADIS HELENA WOLFF.

Fonte: Acervo da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti.

ANEXO 06 – PARTICIPAÇÃO NA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO

RIO GRANDE DO SUL, REFERENTE AOS 135 ANOS DE IMIGRAÇÃO ITALIANA

NO RIO GRANDE DO SUL.

Viadutos presente nos 135 Anos da Imigração Italiana

O Grupo Taliani Contenti de Viadutos esteve presente ao evento promovido pelo Deputado

Ivar Pavan, em conjunto com Marisa Formolo na Assembléia Legislativa, para celebrar a

passagem dos 135 anos da chegada dos italianos ao Rio Grande do Sul. Apresentações,

músicas, lançamento de filme, sessão solene e o grande filó emocionaram e marcaram o dia

cheio de atividades. O ponto alto, porém, foi a preservação da cultura e costumes italianos.

Pobres e expulsos de suas terras na Itália, encontraram aqui um estado e país que os

acolheu e lhes deu oportunidades de hoje termos mais italianos aqui no Brasil do que no

país de seus antepassados.

Fonte: Viadutos Presente nos 135 anos de Imigração Italiana, Erechim/RS, 21 maio.

2010. Disponível em:<http://www.bomdiars.com/editorias/municipios/viadutos/viadutos-

presente-nos-135-anos-da-imigracao-italiana/>. Acesso em: 10 de jun. 2012.

Fonte: Acervo da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti.

ANEXO 07 – PARTICIPAÇÃO DA SESSÃO SOLENE ALUSIVA AOS 139 ANOS DE

IMIGRAÇÃO ITALIANA NO BRASIL, REALIZADA NO CONGRESSO NACIONAL.

Fonte: Congresso homenageia 139 anos da imigração italiana. Jornal da Câmara,

Brasília-DF, p. 02, 22 jun. 2010.

Fonte: Acervo da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti.

ANEXO 08 – ENCENANDO O „FILÓ‟.

Fonte: Acervo da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti.

ANEXO 09 – JOGO DO „BESPON‟.

Fonte: Acervo da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti.

ANEXO 10 – JOGO DA „MORA‟.

Fonte: Acervo da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti.

ANEXO 11 – UNIFORME.

Fonte: Acervo da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti.

ANEXO 12 – FOLDERS ALUSIVOS À FESTA ITALIANA REALIZADA

ANUALMENTE PELA ASSOCIAÇÃO VENETA.

Fonte: Acervo da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti.

ANEXO 13 – PROCISÃO REALIZADA PELA ASSOCIAÇÃO VENETA.

Fonte: Acervo da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti.

ANEXO 14 – PRIMEIRO CANTO RESGATADO PELA ASSOCIAÇÃO VENETA.

Fonte: Acervo da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti.

ANEXO 15 – CD GRAVADO PELA ASSOCIAÇÃO VENETA.

Fonte: Acervo da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti.

ANEXO 16 – TERMOS DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO,

ASSINADOS PELOS INFORMANTES.

ANEXO 17 – ROTEIRO DE QUESTÕES APLICADO AOS INFORMANTES.

- Prefeito Municipal do Município de Viadutos:

1) Qual a relevância da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti, nos

aspectos sociais e políticos, para o município de Viadutos?

2) Como chefe do Poder Executivo Municipal, pode-nos falar sobre a importância dessa

Associação no aspecto econômico do município?

- Secretário Municipal de Educação, Cultura e Desporto:

3) No que tange a cultura, qual a relevância da Associação Veneta Modesto e Nicola

Taliani Contenti, para o município de Viadutos e região?

4) Quais as estratégias que o poder público poderia lançar mão, a fim de, preservar a língua

“Talian”?

- Pároco local da Igreja Católica Apostólica Romana:

5) Quais as influências da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti, para a

manutenção dos costumes católicos dentro do município de Viadutos?

6) Quais as atividades que o grupo realiza para e com a Igreja?

- Integrantes da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti:

7) Nos jantares típicos italianos promovidos pelo grupo, o preparo dos alimentos seguem as

tradições e formas tais quais seus antepassados?

8) Quais os jogos típicos italianos, repassados de gerações em gerações, apresentados pelo

grupo?

9) O que representa para o grupo, e para as gerações futuras o resgate dos jogos típicos

utilizados pelos antepassados que aqui se instalaram?

10) A partir de quais aspectos deu-se a escolha da indumentária utilizada pelo grupo?

11) Quando o grupo desenvolve atividades, a linguagem usada é o dialeto “Talian”?

12) Dentre as atividades realizadas, qual na concepção do grupo, tem mais relevância, no

que consiste em demonstrar e privilegiar os traços sociais, culturais e linguísticos

repassados pelos imigrantes italianos que aqui se instalaram?

- Coordenadores (as) da Associação Veneta Modesto e Nicola Taliani Contenti:

13) Considerando as atividades que o grupo desenvolve, quais os objetivos pretendidos

pelo grupo?

14) Quais os principais problemas que o grupo passa, para manter fazendo apresentações

artístico-culturais?

15) O grupo promove atividades para instigar a participação de mais pessoas no mesmo?

16) Como foi realizado a reconstituição dos cantos utilizados pelo grupo? E qual a

relevância dos mesmos para a manutenção cultural?

- Colaboradores:

17) Qual a importância, cultural e linguística, no que diz respeito a manutenção do dialeto

“Talian”.

18) O que representaria, levando em consideração os aspectos culturais e linguísticos, o

desaparecimento da língua “Talian”, para o comunidade local?