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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA
INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO
FIBRADOS QUASE-PARABÓLICOS
SOBRE A RECTA PROJECTIVA
Lígia Isabel Marques Carvalho(Licenciada)
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Matemática Aplicada
DOCUMENTO PROVISÓRIO
Janeiro 2005
UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA
INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO
FIBRADOS QUASE-PARABÓLICOS
SOBRE A RECTA PROJECTIVA
Lígia Isabel Marques Carvalho(Licenciada)
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Matemática Aplicada
DOCUMENTO PROVISÓRIO
Janeiro 2005
Resumo
Nesta dissertação pretende-se descrever o conjunto das classes de isomor�smo dos �brados
vectoriais algébricos quase-parabólicos simples de característica 2 sobre P1 com n (n > 0)
pontos marcados. Este conjunto tem uma cobertura por um número �nito de espaços
projectivos e tem a propriedade universal de um espaço de moduli grosseiro. No entanto não
é Hausdor�. Será estudado com detalhe o caso de P1 com 4 pontos marcados. Identi�car-
se-á explicitamente o espaço moduli para o problema de moduli da classi�cação das classes
de isomor�smo de �brados quase-parabólicos simples sobre P1 com 4 pontos marcados, com
o mínimo de identi�cações adicionais que permite obter um espaço quociente Hausdor�.
Palavras-chave:
Fibrados Vectoriais, Fibrados Vectoriais Quase-Parabólicos, Feixes, Cohomologia, Recta
Projectiva, Espaço Moduli.
i
ii
Abstract
In this dissertation we intend to describe the set of the isomorphism classes of simple quasi-
parabolic algebraic vector bundles of rank 2 over P1 with n (n > 0) marked points. This set
has a covering by a �nite number of projective spaces and has the universal property of a
coarse moduli space. However it is not Hausdor�. The case of P1 with 4 marked points will
be studied in detail. We will explicitly identify the moduli space for the moduli problem of
classifying the isomorphism classes of simple quasi-parabolic vector bundles of rank 2 over
P1 with 4 marked points, with the minimum of additional identi�cations needed to obtain
a Hausdor� quotient space.
Key-words:
Vector Bundles, Quasi-Parabolic Vector Bundles, Sheafs, Cohomology, Projective Line,
Moduli Space.
iii
iv
Agradecimentos
Agradeço em primeiro lugar aos meus Pais todo o apoio, carinho e paciência com que
sempre me acompanham. O seu incentivo e as suas palavras são muito importantes.
Ao Professor Peter Gothen, que propôs o tema de estudo desta dissertação, estou
imensamente reconhecida pela disponibilidade para orientar a sua preparação. Agradeço a
sua importante ajuda na escolha de referências apropriadas, nas sugestões e esclarecimentos
que permitiram a realização deste trabalho.
Esta dissertação foi co-orientada pelo Professor Carlos Florentino a quem quero agra-
decer a disponibilidade e compreensão que sempre demonstrou e as sugestões que muito
enriqueceram este trabalho.
Agradeço aos meus colegas de mestrado a excelente camaradagem.
v
Conteúdo
Resumo i
Abstract iii
Agradecimentos v
Introdução 1
1 Fibrados Vectoriais Algébricos 3
1.1 De�nições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Fibrados Vectoriais e Feixes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.3 Cohomologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.4 Fibrados Vectoriais sobre Curvas Algébricas . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2 Fibrados Vectoriais Quase-Parabólicos 21
3 Fibrados Vectoriais sobre P1 31
4 Fibrados Quase-Parabólicos de Característica 2 sobre P1 37
5 Caso de P1 com 4 Pontos Marcados 51
5.1 Conjunto dos Fibrados Quase-Parabólicos Simples . . . . . . . . . . . . . . 52
5.2 Conjunto das Classes de Isomor�smo dos Fibrados Quase-Parabólicos Simples 53
5.3 Espaço Moduli dos Fibrados Quase-Parabólicos Simples . . . . . . . . . . . 57
vii
viii CONTEÚDO
Bibliogra�a 62
Introdução
Nesta dissertação estudamos os �brados vectoriais algébricos quase-parabólicos simples de
característica 2 sobre P1 com n (n > 0) pontos marcados. Dada uma curva algébrica C
não singular com n pontos marcados (n > 0), um �brado vectorial sobre C diz-se um �-
brado quase-parabólico se está munido de uma estrutura quase-parabólica, que consiste em
considerarmos bandeiras nas �bras correspondentes aos pontos marcados. Se além disso
considerarmos alguns pesos associados a estas bandeiras, munimos o �brado de uma estru-
tura parabólica, obtendo-se assim um �brado parabólico sobre C. A associação de pesos às
bandeiras permite de�nir grau parabólico e consequentemente atribuir sentido às noções de
�brados vectoriais parabólicos semi-estáveis e estáveis, generalizando as correspondentes
noções em �brados vectoriais, que assumem importância na construção do espaço moduli
em geral. Os �brados parabólicos assumiram especial importância na generalização do
Teorema de Narasimhan e Seshadri, [NS 65], a curvas algébricas perfuradas, por Mehta e
Seshadri, [MS 80].
Os �brados vectoriais quase-parabólicos são úteis no estudo das propriedades que não
dependem dos pesos associados às bandeiras. O objectivo deste trabalho é averiguar até
que ponto é possível descrever o espaço moduli sem recorrer à estrutura fornecida pela
associação de pesos às bandeiras. O ponto de partida para este estudo foi a secção 8 do
artigo de Furuta e Steer [FS 92], onde é feito um estudo do espaço moduli dos �brados
quase-parabólicos simples de característica 2 sobre P1 com n (n > 0) pontos marcados.
Pretendemos, neste trabalho, descrever o conjunto das classes de isomor�smo destes �bra-
dos. Este conjunto tem, de facto, a propriedade universal de um espaço de moduli grosseiro
1
2 CONTEÚDO
(proposição 4.6) mas, embora admita uma cobertura por um número �nito de espaços pro-
jectivos não é, em geral, um espaço Hausdor�. Se considerarmos P1 com quatro pontos
marcados, podemos veri�car que o espaço Hausdor� obtido deste conjunto, considerando
três identi�cações adicionais, é homeomorfo a P1. Este estudo será feito no último capítulo
da dissertação.
Apresentamos de seguida um breve resumo de cada capítulo.
No capítulo 1 é introduzida notação e são enunciados alguns resultados importantes
da teoria dos �brados vectoriais sobre uma curva algébrica não singular.
No capítulo 2 são apresentados os objectos de estudo desta dissertação, os �brados
vectoriais algébricos quase-parabólicos, e são demonstrados alguns resultados que nos per-
mitem conhecer melhor esta classe de �brados vectoriais.
No capítulo 3 é feita a classi�cação dos �brados vectoriais sobre a recta projectiva P1.
Esta classi�cação é feita num teorema conhecido por Teorema de Birkho�-Grothendieck
ou Teorema de Grothendieck. Terminamos o capítulo com a descrição do grupo de auto-
mor�smos de um �brado vectorial de característica 2 sobre P1.
O capítulo 4 é o capítulo mais importante desta dissertação. Neste capítulo é descrito o
conjunto das classes de isomor�smo dos �brados quase-parabólicos simples de característica
2 sobre P1 com n (n > 0) pontos marcados. Terminamos o capítulo com um resultado que
a�rma que este conjunto tem a propriedade universal de um espaço de moduli grosseiro.
O capítulo 5 aplica a teoria apresentada no capítulo anterior ao estudo do caso de
P1 com 4 pontos marcados. Vemos que, considerando três identi�cações adicionais no
conjunto das classes de isomor�smo de �brados quase-parabólicos simples, obtemos um
espaço Hausdor� homeomorfo a P1. Construimos assim o espaço moduli para o problema
de moduli da classi�cação de �brados quase-parabólicos simples a menos de isomor�smo,
com essas identi�cações adicionais.
Capítulo 1
Fibrados Vectoriais Algébricos
Neste capítulo vamos introduzir notação e enunciar alguns resultados que serão usados
mais tarde.
Ao longo de toda a dissertação consideraremos como corpo base o corpo dos números
complexos, C, e todas as variedades serão munidas da topologia complexa (Hausdor�).
As principais referências para este capítulo são [P 97], [Mi 97] e [Hart 77].
1.1 De�nições
Seja X uma variedade algébrica.
De�nição 1.1. Um �brado vectorial algébrico de característica r sobre X é uma variedade
algébrica E com uma aplicação regular sobrejectiva p : E → X de variedades algébricas
que veri�ca:
• Para cada x ∈ X, a �bra sobre x, p−1(x), tem a estrutura de um espaço vectorial
complexo de dimensão r. Denotaremos a �bra sobre x por Ex.
• Para cada x ∈ X existe uma vizinhança aberta U de x e um isomor�smo de variedades
ϕ : p−1(U) → U × Cr a que chamamos trivialização, tal que para cada x ∈ U a
3
4 Fibrados Vectoriais Algébricos
aplicação induzida ϕx : Ex → Cr é linear, e o seguinte diagrama é comutativo:
p−1(U)ϕ−→ U × Cr
↘ ↙
U
Um �brado vectorial de característica 1 é chamado um �brado linha.
Identi�caremos por vezes, cometendo um abuso de notação, o �brado vectorial E com
o mor�smo p : E → X.
Denotamos a característica de E por rk(E).
Para cada conjunto aberto U ⊂ X, escrevemos E|U para indicar a restrição de E a U ,
p−1(U) → U .
Se ϕi : E|Ui→ Ui × Cr e ϕj : E|Uj
→ Uj × Cr são duas trivializações sobre os
subconjuntos abertos Ui e Uj respectivamente, então a aplicação de�nida sobre Uij = Ui∩Ujpor
ϕi ◦ ϕ−1j : Uij × Cr → Uij × Cr
(x, v) 7→ (x, gij(x)v)
onde gij : Uij → GL(r,C) é uma aplicação de variedades algébricas. As aplicações gij são
chamadas funções de transição. Elas satisfazem as seguintes condições:
a) gij(x) · gji(x) = IdCr , ∀x ∈ Uij.
b) gij(x) · gjk(x) = gik(x), ∀x ∈ Uijk = Ui ∩ Uj ∩ Uk. (1.1)
Seja U = {Ui}i∈I uma cobertura aberta de X. Suponhamos que é dada uma colecção
de funções gij : Uij → GL(r,C), para Uij 6= ∅, satisfazendo as condições a) e b) acima.
Podemos então construir um �brado vectorial sobre X com funções de transição {gij}.
Consideremos o quociente
E =
(∐i∈I
Ui × Cr
)/ ∼
sob a relação de equivalência ∼ que identi�ca os pontos (x, v) ∈ Ui × Cr com (x′, v′) ∈
Uj ×Cr quando x = x′ e v′ = gij(x)v. Consideremos neste conjunto a topologia quociente.
1.1 De�nições 5
Temos então uma projecção contínua p : E → X e um homeomor�smo sobre Ui:
E|Ui
∼→ Ui × Cr. (1.2)
Podemos assim dar ao espaço topológico quociente E a estrutura de variedade algébrica
induzida da estrutura de variedade algébrica de Ui×Cr. Sobre Uij as estruturas induzidas
de Ui × Cr e Uj × Cr coincidem. Podemos também transportar a estrutura de espaço
vectorial das �bras: esta estrutura de espaço vectorial em Ex não depende do i. Obtemos,
assim, um �brado vectorial E → X e por de�nição, o isomor�smo 1.2 dá uma trivialização.
Vimos então que o �brado vectorial E �ca de�nido pelo seu sistema de funções de
transição.
De�nição 1.2. Um mor�smo entre dois �brados vectoriais E e F sobre X, de caracte-
rísticas r e s respectivamente, é dado por uma aplicação regular de variedades algébricas
f : E → F tal que o seguinte diagrama é comutativo:
Ef−→ F
↘ ↙
X
e para cada x ∈ X, fx = f |Ex : Ex → Fx é uma aplicação linear de espaços vectoriais.
O mor�smo f diz-se um isomor�smo entre os dois �brados vectoriais E e F se é um
isomor�smo entre as variedades algébricas E e F tal que para cada x ∈ X, a aplicação fx
é um isomor�smo linear de espaços vectoriais. Dois �brados vectoriais dizem-se isomorfos
se existe um isomor�smo entre eles.
Se ϕ : E|U → U × Cr e ψ : F |U → U × Cs são trivializações dos �brados E e F sobre
o mesmo conjunto aberto U , então as aplicações f = ψfϕ−1 : U × Cr → U × Cs são as
expressões locais de f nas cartas ϕ e ψ, e são escritas como
(x, v) 7→ (x, g(x)v),
onde g : U → L(Cr,Cs) é uma aplicação de variedades algébricas, de U para o espaço
vectorial L(Cr,Cs) das aplicações lineares Cr → Cs.
6 Fibrados Vectoriais Algébricos
É imediato que f é um isomor�smo se e só se todas as suas expressões locais, f , são
isomor�smos.
De�nição 1.3. Um �brado vectorial p : E → X diz-se um �brado vectorial trivial de
característica r se é isomorfo a X × Cr, com a estrutura de espaço vectorial standard em
Cr, que não depende de x ∈ X.
De�nição 1.4. Um sub�brado F de característica m de um �brado p : E → X de carac-
terística r (r ≥ m) é uma subvariedade F ⊂ E tal que, para cada x ∈ X, a intersecção
F ∩ Ex é um subespaço vectorial de Ex de dimensão m e tal que o mor�smo induzido
p|F : F → X
é localmente trivial.
Nota 1.5. A inclusão i : F → E é um mor�smo de �brados.
De�nição 1.6. Seja p : E → X um �brado vectorial de característica r sobre X. Uma
secção regular de E sobre um conjunto aberto U é uma aplicação s : U → E de variedades
algébricas tal que p(s(x)) = x para todo x ∈ U .
Localmente, ou seja, composta com uma trivialização ϕi : E|Ui→ Ui × Cr, s �ca
de�nida por uma aplicação
ϕi(s) = (id, si) : Ui → Ui × Cr
x 7→ (x, si(x))
em que si : Ui → Cr é uma função regular em Ui.
Seja U um conjunto aberto de X. Designemos por O(U) a álgebra das funções regulares
em U e por Γ(U,E) o conjunto das secções regulares de E sobre U . Podemos dar ao
conjunto Γ(U,E) a estrutura de um módulo sobre a álgebra O(U). As operações são
de�nidas por
(s+ t)(x) = s(x) + t(x) e (αs)(x) = α(x)s(x)
1.1 De�nições 7
onde s, t ∈ Γ(U,E) e α ∈ O(U).
Nota 1.7. Seja p : E → X um �brado vectorial de característica r sobre X e s : X → E
uma secção regular global de E. Numa trivialização local ϕi : E|Ui→ Ui × Cr do �brado
vectorial, a secção �ca:
ϕi(s) : Ui → Ui × Cr
x 7→ (x, si(x))
e é então de�nida por uma função regular si : Ui → Cr. No conjunto Uij = Ui ∩ Uj, estas
funções locais estão relacionadas por
si = gijsj,
e podemos pensar numa secção global s como uma colecção de funções locais {si} que se
relacionam desta forma. O espaço de todas as secções globais de E é um espaço vectorial
sobre C, que denotamos por Γ(X,E) ou H0(X,E).
Exemplo 1.8. Consideremos C = P1 com a cobertura usual:
U0 ={[z0 : z1] ∈ P1 : z0 6= 0
}= {[1 : z1] ∈ P1} e
U1 ={[z0 : z1] ∈ P1 : z1 6= 0
}= {[z0 : 1] ∈ P1}
A função de transição g01([z0 : z1]) =(z1z0
)nem U0 ∩ U1 de�ne um �brado linha que se
denota geralmente por O(n). Uma secção deste �brado linha é dada pelas funções s0 e s1
em C relacionadas por
s0 = g01s1
em U0 ∩ U1. Expandindo estas funções como polinómios de Laurent nas suas respectivas
coordenadas locais, z0 e z1, e usando o facto de z0 = 1z1, temos, em U0 ∩ U1∑
k≥0
akzk1 = zn1
∑k≥0
bk
(1
z1
)k.
Equacionando os coe�cientes, encontramos ak = bk = 0 para k > n e a0 = bn, a1 = bn−1,
..., an = b0. Então a secção global será dada porn∑k=0
akzn−k0 zk1 ,
8 Fibrados Vectoriais Algébricos
que é um polinómio homogéneo de grau n. Assim, para n ≥ 0 a dimensão de H0(P1,O(n))
é n+ 1. Em particular, para n < 0 a única secção global é a secção nula.
Construções:
1. Sejam L e L dois �brados linha sobre X. Podemos formar o seu produto tensorial
L ⊗ L, que é um �brado linha com funções de transição gij(L ⊗ L) = gij(L)gij(L).
Podemos construir o �brado dual L∗, também denotado L−1, tendo este funções de
transição gij(L∗) = g−1ij (L). Note-se que L ⊗ L∗ ∼= I, onde I denota o �brado linha
trivial (isomorfo a X × C).
2. Dados dois �brados vectoriais sobreX, E e E de características r e s respectivamente,
podemos formar a sua soma directa E ⊕ E, tendo este �brado como funções de
transição gij(E⊕E) : Uij → GL(Cr⊕Cs) de�nidas pela matriz
gij(E) 0
0 gij(E)
.
Note-se que a característica de E ⊕ E é r + s.
3. Dados dois �brados vectoriais sobre X, E e E, podemos construir os �brados E⊗ E,
Hom(E, E), o �brado dual E∗ := Hom(E, I), o produto exterior∧k(E). Temos os
isomor�smos Hom(E, E) ∼= E∗ ⊗ E, (E ⊕ E)∗ ∼= E∗ ⊕ E∗ e (E ⊗ E)∗ ∼= E∗ ⊗ E∗.
4. Sejam p : E → X um �brado vectorial de característica r sobre X e f : Y → X um
mor�smo de variedades algébricas. De�nimos o �brado vectorial pullback de E via
f , f ∗E, por
f ∗E := {(y, q) ∈ Y × E : f(y) = p(q)}.
Este �brado tem característica r e tem funções de transição gij(f ∗E) = gij(E) ◦ f .
5. Seja E um �brado vectorial de característica r sobre X. O produto exterior mais
alto forma um �brado linha denominado �brado linha determinante de E: det(E) =∧r(E). Este �brado linha tem como funções de transição det(gij(E)).
1.2 Fibrados Vectoriais e Feixes 9
1.2 Fibrados Vectoriais e Feixes
Vimos que as secções de �brados vectoriais são dadas por funções regulares si em Ui e que
�brados vectoriais são também dados por funções de transição gij em Ui ∩Uj. Iremos usar
a tecnologia da teoria de feixes e da sua cohomologia para trabalharmos globalmente com
estas noções.
De�nição 1.9. Seja X um espaço topológico. Um pré-feixe de grupos F em X é uma
colecção de grupos F(U), um para cada subconjunto aberto U ⊆ X, e uma colecção de
homomor�smos de grupos ρUV : F(U) → F(V ) para V ⊆ U , tal que
• F(∅) é o grupo trivial com um elemento,
• ρUU = id em F(U), e
• se W ⊆ V ⊆ U , então ρUW = ρVW ◦ ρUV .
Os homomor�smos ρUV são chamados as aplicações restrição do pré-feixe. Os elementos de
F(U) são geralmente chamados as secções de F sobre U . Os elementos de F(X), que são
as secções de F sobre todo o espaço X, são chamados as secções globais de F .
Podemos também considerar a noção de pré-feixe de anéis, onde cada grupo F(U) é,
de facto, um anel, e as aplicações restrição são homomor�smos de anéis.
De�nição 1.10. Um feixe sobre um espaço topológico X é um pré-feixe F sobre X que,
para cada aberto U de X e cobertura aberta {Ui} de U , satisfaz o axioma de feixe, ou seja,
dados si ∈ F(Ui) tais que ρUiUij
(si) = ρUj
Uij(sj) para todos i e j, onde Uij = Ui ∩ Uj, então
existe uma única secção s ∈ F(U) tal que ρUUi(s) = si para cada i.
Exemplo 1.11. Seja X é uma variedade algébrica. O feixe OX sobre X, com OX(U) =
{f : U → C regulares}, chamado feixe de estrutura ou feixe de funções regulares em X, é
um feixe de C-álgebras, em particular é um feixe de anéis. Quando não existir dúvida na
variedade considerada, representaremos este feixe simplesmente por O.
10 Fibrados Vectoriais Algébricos
De�nição 1.12. Sejam F e G dois pré-feixes sobre um espaço topológico X. Um mor�smo
φ : F → G entre os pré-feixes F e G é uma colecção de homomor�smos
φU : F(U) → G(U),
para todo o subconjunto aberto U de X, que comuta com as aplicações restrição dos dois
pré-feixes, ou seja, o diagrama
F(U)φU−→ G(U)
ρUV ↓ (ρ
′)UV ↓
F(V )φV−→ G(V )
comuta, onde V ⊂ U é um subconjunto aberto, ρ e ρ′são as aplicações restrição de F e G
respectivamente. Se F e G são feixes em X, a aplicação φ diz-se um mor�smo de feixes.
De�nição 1.13. Seja φ : F → G um mor�smo de pré-feixes sobre um espaço topológico
X. O pré-feixe núcleo, K, de φ é o pré-feixe dado por K(U) = ker(φ(U)) e o pré-feixe
imagem, I, de φ é o pré-feixe dado por I(U) = im(φ(U)), para U subconjunto aberto de
X.
Note-se que se φ : F → G é um mor�smo de feixes, então o pré-feixe núcleo de φ é
um feixe, mas o pré-feixe imagem de φ não é, em geral, um feixe. Podemos considerar, no
entanto, um feixe associado ao pré-feixe imagem de φ. Remetemos o leitor para a referência
[Hart 77].
De�nição 1.14. Uma sequência de feixes de grupos abelianos
F1ϕ1−→ F2
ϕ2−→ F3 −→ . . . −→ Fiϕi−→ Fi+1 −→ . . .
diz exacta se imϕi = kerϕi+1 para todo i.
Uma sequência exacta de feixes da forma
0 −→ F1ϕ1−→ F2
ϕ2−→ F3 −→ 0 (1.3)
diz-se uma sequência exacta curta.
1.2 Fibrados Vectoriais e Feixes 11
De�nição 1.15. Dizemos que a sequência exacta ( 1.3) se cinde se qualquer uma das
seguintes condições equivalentes é satisfeita:
i) Existe uma aplicação α : F3 → F2 tal que ϕ2 ◦ α = idF3 .
ii) Existe uma aplicação β : F2 → F1 tal que β ◦ ϕ1 = idF1 .
iii) O feixe F2 é isomorfo à soma directa de F1 e F3.
De�nição 1.16. Seja A um feixe de anéis num espaço topológico X. Um feixe de A-
módulos é um feixe de grupos abelianos M tal que para qualquer subconjunto aberto U
de X o conjunto M(U) é um A(U)-módulo e a restrição respeita a multiplicação, isto é,
(a ·m)|V = a|V ·m|V para V aberto em U .
De�nição 1.17. Um feixe de A-módulos isomorfo ao feixe Ak, a soma directa de A consigo
próprio k vezes, chama-se feixe livre de característica k.
De�nição 1.18. Um feixe de A-módulos, M, diz-se localmente livre se existe uma co-
bertura aberta X =⋃Ui tal que os feixes restrição M|Ui
são feixes de A|Ui-módulos
livres. Um feixe de A-módulos localmente livre diz-se de característica k se todos osM|Ui
têm característica k. Um feixe de A-módulos localmente livre de característica um diz-se
invertível.
Exemplo 1.19. Se E é um �brado vectorial de característica r sobre uma variedade algébrica
X, o feixe de OX-módulos sobre X, OX(E), com OX(E)(U) = Γ(U,E), é localmente iso-
morfo a OrX , pelo que é um feixe localmente livre de característica r. Em particular, tendo
em conta a nota 1.7, OX(I) ∼= OX , onde I denota o �brado linha trivial sobre X. Quando
não existir dúvida na variedade considerada representaremos este feixe simplesmente por
O(E) e designá-lo-emos por feixe das secções regulares de E sobre X.
Proposição 1.20. O functor que associa o feixe de módulos de secções regulares a um
�brado vectorial E é uma equivalência de categorias entre a categoria dos �brados vectoriais
algébricos sobre X e a categoria dos feixes localmente livres de característica �nita em X.
12 Fibrados Vectoriais Algébricos
A demonstração deste resultado pode ser encontrada em [P 97, Capítulo 1 (1.8)].
Tendo em conta o exemplo 1.19 e a proposição 1.20 anteriores, vemos que dado um
feixe localmente livre de característica r em X, podemos identi�cá-lo com um �brado
vectorial algébrico de característica r sobre X. Em particular, os �brados linha sobre
X podem ser identi�cados com os feixes invertíveis em X. Por causa disto, e quando
não resultar qualquer confusão, usaremos indiferentemente as palavras "�brado vectorial"e
"feixe localmente livre", identi�cando o �brado vectorial E com o feixe das secções regulares
de E sobre X, O(E).
1.3 Cohomologia
Se X é um espaço topológico eM é um feixe de grupos abelianos em X, podemos construir
os grupos de cohomologiaHp(X,M) com coe�cientes emM. Consideremos uma cobertura
aberta U = {Ui}i∈I de X, com I totalmente ordenado. Para qualquer colecção de índices
(i0, . . . , ip), com p ≥ 0, denotemos a intersecção dos correspondentes subconjuntos abertos
por
Ui0,...,ip = Ui0 ∩ . . . ∩ Uip
e consideremos
Ui0,...,ik,...,ip = Ui0,...,ik−1,ik+1...,ip .
Sejam
C0(U,M) =∏i
M(Ui)
C1(U,M) =∏i<j
M(Ui,j)
...
Cp(U,M) =∏
i0<i1<...<ip
M(Ui0,i1,...,ip).
Nota 1.21. Um elemento σ de Cp(U,M) é determinado dando um elemento
σi0,...,ip ∈M(Ui0,i1,...,ip),
1.3 Cohomologia 13
para cada (i0, . . . , ip) onde i0 < . . . < ip são elementos de I.
Pode de�nir-se, de forma natural, σi0,...,ip para (i0, . . . , ip) que não satisfazem i0 < . . . <
ip. Se existe um índice repetido no conjunto {i0, . . . , ip}, de�nimos σi0,...,ip = 0. Se os
índices são todos distintos, de�nimos σi0,...,ip = (−1)τστi0,...,τ ip , onde τ é a permutação para
a qual τi0 < . . . < τip.
De�nição 1.22. Um elemento σ de Cp(U,M) é chamado uma p-cocadeia de M sobre a
cobertura aberta U .
De�nição 1.23. O operador cobordo é a aplicação
δ : Cp(U,M) → Cp+1(U,M)
de�nido pela fórmula
(δσ)i0,...,ip+1 =
p+1∑j=0
(−1)j ρUi0,...,ij ,...,ip+1
Ui0,...,ij ,...,ip+1(σi0,...,ij ,...,ip+1
)
Em particular, se σ = {σi,j} ∈ C1(U,M), (δσ)i,j,k = σi,j + σj,k − σi,k em Ui,j,k.
De�nição 1.24. Uma p-cocadeia σ ∈ Cp(U,M) é chamada um p-cociclo se δσ = 0 e é
chamada um p-cobordo se σ = δτ para algum τ ∈ Cp−1(U,M).
Um cálculo simples demonstra a seguinte proposição.
Proposição 1.25. δ2 = 0.
Como δ2 = 0, vemos que um cobordo é um cociclo. Podemos então fazer a seguinte
de�nição.
De�nição 1.26. O p-ésimo grupo de cohomologia de M em relação a U é
Hp(U,M) :=Zp(U,M)
im(δ : Cp−1 → Cp)
onde Zp(U,M) = ker(δ : Cp → Cp+1).
14 Fibrados Vectoriais Algébricos
Estes grupos de cohomologia dependem da cobertura considerada. A de�nição de gru-
pos de cohomologia que sejam independentes da cobertura pode ser feita considerando o
limite directo sobre o conjunto de todas as coberturas de X parcialmente ordenado por
re�namento. Denotamos o p-ésimo grupo de cohomologia de M sobre X por
Hp(X,M) := lim−→U
Hp(U,M).
Para uma exposição mais detalhada remetemos o leitor a [Mi 97] ou a [Hart 77].
Exemplo 1.27. Consideremos uma curva algébrica não singular C e uma cobertura aberta
de C, U = {Ui}. Sejam L um �brado linha sobre C e O(L) o feixe das secções regulares de
L.
1. Seja f = {fi} ∈ C0(U,O(L)). Então (δf)ij = fj−fi em Ui∩Uj. Assim, δf é nula se as
secções locais fi se juntam para dar uma secção global, ou seja, H0(C,O(L)) = kerδ
é o espaço das secções regulares globais de L, Γ(C,O(L)) (conferir nota 1.7).
2. Suponhamos agora que L tem funções de transição {gij}, relativamente a {ϕi}, onde
ϕi : L|Ui→ Ui × C são as trivializações locais de �brado. As funções de transição
{gij ∈ O∗(Ui∩Uj)} representam uma 1-cocadeia de O∗, o feixe das funções regulares
não nulas em C. Considere-se o grupo O∗(U) com a operação multiplicação. As
condições( 1.1) satisfeitas pelas funções de transição dizem-nos apenas que δ ({gij}) =
1, isto é, {gij} é um 1-cociclo, {gij} ∈ Z1(U,O∗).
As trivializações ϕi não são únicas. Considere-se trivializações alternativas de L sobre
U :
ϕ′i = hiϕi
para hi ∈ O∗(Ui) uma qualquer colecção de funções regulares não nulas. Temos
funções de transição g′ij para L relativamente a {ϕ′i} dadas por:
g′ij = ϕ′i(ϕ′j)−1 = higijh
−1j (1.4)
Como qualquer trivialização de L sobre U pode ser obtida da maneira acima, vemos
que colecções {gij} e {g′ij} de funções de transição de�nem o mesmo �brado linha se
1.4 Fibrados Vectoriais sobre Curvas Algébricas 15
e só se existem funções hi ∈ O∗(Ui) satisfazendo 1.4, isto é, g′ijg−1ij = hih
−1j = (δh)ij,
ou seja, a diferença {g′ij · g−1ij } é um 1-cobordo. Consequentemente, vemos que as
classes de isomor�smo de �brados linha numa curva algébrica não singular são dadas
por elementos do grupo de cohomologia de feixes H1(C,O∗). Assim, H1(C,O∗) é o
grupo de Picard, Pic(C), das classes de isomor�smo dos �brados linha (a estrutura
de grupo de Pic(C) é dada pelo produto tensorial, propriedade 1 da página 8).
Enunciaremos agora, sem demonstrar, um teorema que iremos usar no nosso estudo.
Teorema 1.28. Seja X um espaço topológico paracompacto e seja
0 −→ F1 −→ F2 −→ F3 −→ 0
uma sequência exacta curta de feixes de grupos abelianos sobre X. Então existe uma
sequência exacta longa de grupos de cohomologia associada:
0 −→ H0(X,F1) −→ H0(X,F2) −→ H0(X,F3) −→ H1(X,F1) −→ . . .
. . . −→ Hp(X,F1) −→ Hp(X,F2) −→ Hp(X,F3) −→ Hp+1(X,F1) −→ . . .
1.4 Fibrados Vectoriais sobre Curvas Algébricas
Neste trabalho vamos focar o estudo essencialmente em �brados sobre a variedade P1, que
é uma curva algébrica não singular de género 0. Vejamos alguns resultados conhecidos de
�brados sobre curvas algébricas não singulares.
Seja agora C uma curva algébrica não singular de género g ≥ 0.
Pretendemos de�nir o grau de um �brado vectorial de característica r sobre C. Iremos
enunciar alguns resultados que nos conduzirão a esta de�nição.
Não vamos expor detalhadamente a teoria de divisores numa curva algébrica, remetemos
o leitor a [Mi 97].
Denotemos por Div(C) o grupo dos divisores de C (a estrutura de grupo é dada pela
soma de divisores).
16 Fibrados Vectoriais Algébricos
Seja k(C) o corpo das funções racionais em C. Representemos por div(f) o divisor de
uma função racional não nula, f ∈ k(C)×:
div(f) =∑p
ordp(f) · p.
Qualquer divisor desta forma é chamado um divisor principal em C.
Cada divisor, D, na curva C determina um feixe invertível, OC(D), em C. Seja
D =∑p∈C
D(p) · p
um divisor na curva C. O feixe OC(D) é o feixe das funções racionais com pólos limitados
por D:
OC(D)(U) = {f ∈ k(C)× : div(f) ≥ −D em todos os pontos de U} ∪ {0}
ou seja, f ∈ OC(D)(U) se, para todo o p ∈ U , f tem um pólo em p com multiplicidade
menor ou igual a D(p) se D(p) > 0, e f tem um zero com multiplicidade maior ou igual
a −D(p) se D(p) ≤ 0. Desta forma, OC(D)(U) é um OC(U)-módulo, e se U ⊂ U ′ então
OC(D)(U ′) ⊂ OC(D)(U). De�nimos a aplicação restrição por esta inclusão. Assim, OC(D)
é um feixe de OC-módulos. Suponhamos que D é um divisor principal num subconjunto
aberto U ⊂ C, seja D|U = div(g) para alguma função racional não nula g. Então
OC(D)(U) = {f ∈ k(C)× : div(fg) ≥ 0 em U} ∪ {0}.
Portanto temos um isomor�smo
OC(D)(U) → OC(U)
f 7→ fg.
Estes isomor�smos comutam com as aplicações restrição para U ′ ⊂ U , pelo que obtemos
um isomor�smo
OC(D)|U∼=→ OC|U .
Como qualquer divisor D é localmente principal, concluimos que OC(D) é localmente iso-
morfo a OC, ou seja, é um feixe invertível. Se D é mesmo um divisor principal, então
OC(D) é trivial.
1.4 Fibrados Vectoriais sobre Curvas Algébricas 17
Tendo em conta a proposição 1.20 concluímos que cada divisor, D, na curva C determina
um �brado linha, LD, identi�cado com o feixe invertível OC(D).
O número
deg(D) =∑p
Dp
é chamado o grau de D.
Lema 1.29. Todo o �brado linha L sobre uma curva C é isomorfo a LD para algum
D ∈ Div(C).
A demonstração deste resultado pode ser encontrada em [Mu 03, Capítulo 9 (9.2)].
Nota 1.30. Os �brados LD e LD′ são isomorfos se e só se D e D′ são linearmente equiva-
lentes, isto é, diferem por um divisor principal.
De�nição 1.31. Seja L um �brado linha sobre C. O grau de L, denotado por deg(L), é
deg(L) = deg(D)
onde L ∼= LD.
De�nição 1.32. Seja E um �brado vectorial de característica r sobre C. O grau de E é
de�nido por
deg(E) = deg(det(E)).
Propriedades:
1. Sejam LD e LD′ dois �brados linha de C associados aos divisores D e D′ respectiva-
mente. Então
LD ⊗ LD′ ∼= LD+D′ , L−1D∼= L−D. (1.5)
Daqui segue que dados dois �brados linha sobre C, L e L, o grau satisfaz
deg(L⊗ L) = degL+ degL, degL−1 = −degL.
18 Fibrados Vectoriais Algébricos
Os isomor�smos ( 1.5) permitem-nos de�nir um homomor�smo de grupos:
Div(C) → Pic(C)
D 7→ LD.
Como LD ∼= I, onde I é o �brado linha trivial, se e só se D é um divisor principal,
concluimos que
Pic(C) ∼= Div(C)/PDiv(C)
onde PDiv(C) denota o subgrupo dos divisores principais em C.
2. Se um �brado linha L sobre C tem uma secção s ∈ H0(C,O(L)) que se anula nos
pontos p1, . . . , pn com multiplicidade m1, . . . ,mn então L ∼= LD onde D = div(s) =∑mi · pi, pelo que degL = degD =
∑mi. O grau de L é independente da secção
considerada.
3. Sejam E e E dois �brados vectoriais sobre C, com características r e r respectiva-
mente. Então
det(E ⊗ E) = det(E)⊗ det(E),
det(E ⊗ E) = (detE)⊗r ⊗ det(E)⊗r.
Daqui segue que o grau satisfaz
deg(E ⊕ E) = degE + degE,
deg(E ⊗ E) = rdegE + rdegE.
Exemplo 1.33. No exemplo 1.8, construímos o �brado linha O(n) em P1, com n ≥ 0, usando
a função de transição(z1z0
)nem U0 ∩ U1 onde P1 = U0 ∪ U1 é a cobertura usual. Além
disso, vimos que uma secção s ∈ H0(P1,O(n)) é dada por um polinómio homogéneo de
grau n. Consideremos uma secção global deste �brado, por exemplo, a secção s = zn0 . O
divisor associado a esta secção é D = n · p, com p = [0 : 1], pelo que O(n) ∼= LD, e assim
deg(O(n)) = deg(D) = n. Denotemos O(n)∗ por O(−n). Note-se que deg(O(−n)) =
deg(O(n)∗) = −n.
1.4 Fibrados Vectoriais sobre Curvas Algébricas 19
Seja E um �brado vectorial de característica r sobre C. Usando a identi�cação de E
com o feixe das secções regulares de E sobre C, O(E), o grupo de cohomologia H i(C,O(E))
será escrito H i(C, E).
Usaremos a notação hi(E) = dimH i(C, E).
Enunciaremos agora, sem demonstração, dois teoremas fundamentais na teoria dos
�brados vectoriais sobre curvas algébricas não singulares.
Denotemos por K o �brado cotangente das 1-formas sobre C, chamado �brado linha
canónico.
Teorema 1.34 (Dualidade de Serre). Se E é um �brado vectorial numa curva algébrica
não singular C, então existe um isomor�smo natural
H1(C, E) ∼= H0(C, K ⊗ E∗)∗.
Para a demonstração deste teorema remetemos o leitor a [Hart 77, Capítulo III (7)].
Teorema 1.35 (Riemann-Roch). Se C for uma curva algébrica não singular de género
g e E um �brado vectorial de característica r sobre C, temos:
h0(E)− h1(E) = degE + r(1− g).
A demonstração deste teorema pode ser encontrada em [Mu 03, Capítulo 10 (10.1)].
20 Fibrados Vectoriais Algébricos
Capítulo 2
Fibrados Vectoriais Quase-Parabólicos
Neste capítulo são apresentados os �brados vectoriais quase-parabólicos e alguns resultados
que nos permitem conhecer melhor esta classe de �brados vectoriais. Terminamos o capítulo
com a de�nição de �brados vectoriais parabólicos, uma noção importante que é necessária
para a construção do espaço moduli em geral.
De�nição 2.1. Seja V um espaço vectorial complexo de dimensão r. Uma bandeira des-
cendente de V é uma �ltração por subespaços vectoriais:
V = V1 ⊃ V2 ⊃ . . . ⊃ Vk ⊃ Vk+1 = {0},
com k ∈ N. Chamamos tipo da bandeira ao vector −→m = (m1, . . . ,mk) onde a multiplicidade
mi é mi = dimVi − dimVi+1, para 1 ≤ i ≤ k. Designemos por F(V,−→m) o conjunto das
bandeiras de V de tipo −→m, a que chamamos uma variedade bandeira.
Esta terminologia é justi�cada pelo facto de poder ser dada uma estrutura de variedade
a F(V,−→m). ([Harr 92])
Exemplo 2.2. O espaço projectivo de dimensão r sobre C, Pr, pode ser interpretado como
o conjunto das bandeiras de Cr+1 de tipo (r, 1):
Cr+1 = V1 ⊃ V2 ⊃ {0},
onde V2 é um subespaço vectorial complexo de dimensão 1. A variedade bandeira F(Cr+1, (r, 1))
pode então ser vista como Pr.
21
22 Fibrados Vectoriais Quase-Parabólicos
Exemplo 2.3. Sejam B = (e1, . . . , er) a base canónica de Cr e −→m = (m1, . . . ,mk), com
k ∈ N e mi ∈ N para todo 1 ≤ i ≤ k. Podemos de�nir em Cr uma bandeira ξ(B), de tipo−→m, dada por:
ξ(B) = ξ(B)1 ⊃ ξ(B)2 ⊃ . . . ⊃ ξ(B)k ⊃ {0},
onde ξ(B)j = Ce1 ⊕ . . . ⊕ Ceβjpara βj = dimξ(B)j = mj +mj+1 + . . . +mk, 1 ≤ j ≤ k.
Vamos designar esta bandeira por bandeira standard de tipo −→m em Cr .
Seja C uma curva algébrica não singular de género g.
De�nição 2.4. Seja {pi}ni=1 um conjunto �nito não vazio de pontos distintos de C. Um
�brado quase-parabólico E de característica r sobre C com pontos marcados pi é um �brado
vectorial algébrico E0 sobre C equipado com uma estrutura quase-parabólica, ou seja, para
cada ponto pi temos uma bandeira descendente de (E0)pi, isto é, (E0)pi
está munida de
uma �ltração por subespaços vectoriais:
(E0)pi= Epi,1 ⊃ Epi,2 ⊃ . . . ⊃ Epi,rpi
⊃ Epi,rpi+1 = {0}.
Denotamos o tipo da bandeira sobre pi pelo vector ~mpi= (mpi,1, . . . ,mpi,rpi
) onde a
multiplicidade mpi,k é mpi,k = dim(Epi,k)− dim(Epi,k+1), para 1 ≤ k ≤ rpi.
Chamamos dados quase-parabólicos do �brado ao sistema (~mpi)i=1,...,n.
Cometeremos, por vezes, o abuso de notação de identi�car E e E0.
De�nição 2.5. Sejam E e F dois �brados quase-parabólicos sobre C com pontos marcados
p1, . . . , pn. Dizemos que um isomor�smo de �brados vectoriais algébricos ψ : E → F é um
isomor�smo quase-parabólico se para todo o ponto marcado pi com a estrutura quase-
parabólica sobre E dada por
Epi= Epi,1 ⊃ Epi,2 ⊃ . . . ⊃ Epi,rpi
⊃ {0}
e a estrutura quase-parabólica sobre F dada por
Fpi= Fpi,1 ⊃ Fpi,2 ⊃ . . . ⊃ Fpi,rpi
⊃ {0}
temos que ψ(Epi,j) = Fpi,j, para todo 1 ≤ j ≤ rpi.
23
Proposição 2.6. Sejam p1, . . . , pn pontos marcados de C e seja E um �brado vectorial algé-
brico de característica r sobre C, com o sistema de dados quase-parabólicos (−→mpi)i=1,...,n. As
estruturas quase-parabólicas de E são parametrizadas pelo produto de variedades bandeira
R =n∏i=1
(Iso (Cr, Epi) /Bi) ,
onde Iso(Cr, Epi) é o conjunto dos isomor�smos de Cr para Epi
e Bi é o subgrupo parabólico
de GL(r,C) que deixa invariante a bandeira standard de tipo −→mpiem Cr.
Demonstração. Consideremos a �bra Epimunida de uma �ltração por subespaços vec-
toriais:
Epi= Epi,1 ⊃ Epi,2 ⊃ . . . ⊃ Epi,rpi
⊃ {0}.
Seja
βj = dimEpi,j = mpi,j +mpi,j+1 + . . .+mpi,rpi, 1 ≤ j ≤ rpi
.
Consideremos uma base de Epi, ε = (ε1, . . . , εr). Seja
ξ(ε)j = Cε1 ⊕ . . .⊕ Cεβj
e denotemos por ξ(ε) a bandeira de tipo −→mpiem Epi
associada à base ε:
ξ(ε) = ξ(ε)1 ⊃ ξ(ε)2 ⊃ . . . ξ(ε)rpi⊃ {0}.
Note-se que qualquer bandeira de Epié desta forma para alguma base de Epi
. Sejam
B = (e1, . . . , er) a base canónica de Cr e g ∈ Iso(Cr, Epi). Podemos construir a aplicação
Iso(Cr, Epi) → F(Epi
,−→mpi)
g 7→ ξ(εg)
onde εg = (g(e1), . . . , g(er)) é a base de Epiassociada ao isomor�smo g. Esta aplicação é
sobrejectiva mas não é injectiva. Vejamos que induz uma aplicação injectiva. Consideremos
o grupo GL(r,C) = {f : Cr∼=→ Cr} e a acção à direita deste grupo em Iso(Cr, Epi
) dada
por
g · f := g ◦ f, (2.1)
24 Fibrados Vectoriais Quase-Parabólicos
com g ∈ Iso(Cr, Epi) e f ∈ GL(r,C). Esta acção induz uma acção à direita de GL(r,C)
em F(Epi,−→mpi
):
ξ(εg) · f := ξ(εg·f ). (2.2)
Seja g ∈ Iso(Cr, Epi) e consideremos a bandeira associada a g, ξ(εg) ∈ F(Epi
,−→mpi). O
estabilizador, pela acção ( 2.2), de ξ(εg) é
Stab(ξ(εg)) = {f ∈ GL(r,C) : ξ(εg·f ) = ξ(εg)} .
Logo temos F(Epi,−→mpi
) ∼= Iso(Cr, Epi)/Stab(ξ(εg)). Note-se que g−1(ξ(εg)) é a bandeira
standard de tipo −→mpiem Cr, ou seja, g−1(ξ(εg)) = ξ(B), onde
ξ(B) = ξ(B)1 ⊃ ξ(B)2 ⊃ . . . ⊃ ξ(B)rpi⊃ {0},
com ξ(B)j = Ce1 ⊕ . . . ⊕ Ceβj. Temos que ξ(B) ∈ F(Cr,−→mpi
). Consideremos a acção à
direita, análoga à acção ( 2.2), de GL(r,C) em F(Cr,−→mpi) dada por
ξ(εg) · f := ξ(εg·f ),
onde f, g ∈ GL(r,C) e εg = (g(e1), . . . , g(er)) é a base de Cr associada ao isomor�smo g.
Note-se que ξ(B) = ξ(εId), Id ∈ GL(r,C). Assim,
Stab(ξ(B)) = Stab(ξ(εg)), (2.3)
considerando as respectivas acções de GL(r,C). Além disso, Stab(ξ(B)) é o subgrupo das
matrizes invertíveis r × r da forma
Arpi∗ . . . ∗
0 Arpi−1 . . . ∗
. . . 0...
. . .. . . ∗
0 . . . 0 A1
onde Aj ∈ GL(mpi,j,C). Tal grupo de matrizes é o subgrupo parabólico de GL(r,C) que
deixa invariante a bandeira standard de tipo −→mpiem Cr e, por ( 2.3), em Epi
. Denotamos
25
este subgrupo parabólico por Bi. Assim, considerando o espaço quociente Iso(Cr, Epi)/Bi,
onde g ∼ h se e só se existe algum f ∈ Bi tal que h = g ◦f , para g, h ∈ Iso(Cr, Epi), temos
um isomor�smoIso(Cr, Epi
)/Bi → F(Epi,−→mpi
)
g 7→ ξ(εg).
Concluimos então que Iso(Cr, Epi)/Bi é a variedade das bandeiras de tipo
−→mpiem Epi
, pelo
que as estruturas quase-parabólicas de E com o sistema de dados parabólicos (−→mpi)i=1,...,n
são parametrizadas pelo produto de variedades bandeira:
R =n∏i=1
(Iso (Cr, Epi) /Bi) .
�
Nota 2.7. O grupo dos automor�smos algébricos de E, Aut(E), age em R. O espaço
quociente é o conjunto das classes de isomor�smo de todos os �brados quase-parabólicos
com o sistema de dados parabólicos (−→mpi)i=1,...,n cujo �brado subjacente é E (comparar
com a de�nição 2.5).
Corolário 2.8. Sejam p1, . . . , pn pontos marcados de C e seja E um �brado vectorial
algébrico de característica 2 sobre C tal que as bandeiras em p1, . . . , pN são do tipo (1, 1)
e as bandeiras em pN+1, . . . , pn são do tipo (2). As estruturas quase-parabólicas em E são
parametrizadas por
R =N∏i=1
(Iso
(C2, Epi
)/B) ∼= (P1)N ,
onde Iso(C2, Epi) é o conjunto dos isomor�smos de C2 para Epi
e
B =
M ∈ GL(2,C) : M =
a b
0 c
com a, b, c ∈ C
é o subgrupo parabólico de GL(2,C) que deixa invariante a bandeira standard de tipo (1, 1)
em C2.
Demonstração. Como a característica de E é 2, cada �bra de E é isomorfa a C2 e
portanto podemos ter dois tipos de bandeiras, correspondentes às duas possíveis �ltrações
descendentes de C2:
26 Fibrados Vectoriais Quase-Parabólicos
• C2 ⊃ C ⊃ 0, de tipo (1, 1)
• C2 ⊃ 0, de tipo (2).
A cada tipo de bandeira corresponde o subgrupo parabólico de GL(2,C), B, que deixa
invariante a bandeira standard do mesmo tipo em C2:
• B =
M ∈ GL(2,C) : M =
a b
0 c
com a, b, c ∈ C
,
• B = GL(2,C),
respectivamente. Por hipótese, temos N bandeiras do primeiro tipo em E e estamos a
considerar os pontos p1 . . . , pn ordenados de modo que as bandeiras em p1, . . . , pN sejam
do primeiro tipo e as bandeiras em pN+1, . . . , pn sejam do segundo tipo. Vimos na propo-
sição 2.6 que as estruturas quase-parabólicas de E são parametrizadas por um produto de
variedades bandeira
R =N∏i=1
(Iso
(C2, Epi
)/B)×
n∏j=N+1
(Iso
(C2, Epj
)/GL(2,C)
)onde
N∏i=1
(Iso
(C2, Epi
)/B)
parametriza as bandeiras do tipo C2 ⊃ C ⊃ 0 e
n∏j=N+1
(Iso
(C2, Epj
)/GL(2,C)
)parametriza as bandeiras do tipo C2 ⊃ 0 e, portanto, é trivial. Assim,
R =N∏i=1
(Iso
(C2, Epi
)/B)
onde
B =
M ∈ GL(2,C) : M =
a b
0 c
com a, b, c ∈ C
27
é o subgrupo parabólico de GL(2,C) que deixa invariante a bandeira standard de tipo
(1, 1) em C2.
Tendo em conta a demonstração da proposição 2.6, vemos que qualquer bandeira de
tipo (1, 1) em Epié da forma
Epi= ξ(ε)1 ⊃ ξ(ε)2 ⊃ {0},
onde
ξ(ε)1 = Cε1 ⊕ Cε2
ξ(ε)2 = Cε1
para alguma base ε = (ε1, ε2) de Epi. Seja (e1, e2) a base canónica do espaço vectorial
complexo C2. Fixemos uma base (ε1, ε2) de Epie seja g : Epi
→ C2 o isomor�smo de�nido
por g(ε1) = e1 e g(ε2) = e2. Consideremos a aplicação
Iso(C2, Epi) → C2\{0}
f 7→ g (f(e1)).
Esta aplicação não é injectiva mas, pelo que vimos anteriormente, induz o isomor�smo
Iso(C2, Epi)/B
∼=→ (C2\{0}) /C∗ ∼= P1
[f ] 7→ [g (f(e1))].
Concluimos então que
R =N∏i=1
(Iso
(C2, Epi
)/B) ∼= (P1)N .
�
De�nição 2.9. Consideremos a curva C com um número �nito de pontos marcados p1, . . . , pn.
Seja T uma variedade algébrica irredutível não singular. Uma família algébrica de �bra-
dos quase-parabólicos de característica r e dados quase-parabólicos (~mpi)i=1,...,n sobre C
parametrizados por T é dada por:
28 Fibrados Vectoriais Quase-Parabólicos
• um �brado vectorial algébrico E → C × T de característica r sobre C × T , tal que
considerando as aplicações
ϕi : T → C × T
t 7→ (pi, t)
com i = 1, . . . , n, temos que E|{pi}×T∼= ϕ∗i E → T é um �brado vectorial de caracte-
rística r sobre T .
• para cada i = 1, . . . , n, uma �ltração
ϕ∗i E = Ei,1 ⊃ . . . ⊃ Ei,rpi⊃ {0}
onde Ei,k → T ,para 2 ≤ k ≤ rpi, é um sub�brado vectorial algébrico de ϕ∗i E de
característica r −∑k−1
j=1 mpi,j.
Quando não houver perigo de confusão (da família com o �brado) designaremos a
família algébrica por E → C × T .
Nota 2.10. Seja t ∈ T . Consideremos a aplicação
ψt : C → C × T
x 7→ (x, t)
Temos que E|C×{t} ∼= ψ∗t E → C é um �brado quase-parabólico de característica r e sistema
de bandeiras (~mpi)i=1,...,n sobre C, que designaremos por Et. A bandeira em pi é dada por:(
ψ∗t E)pi
=(ϕ∗i E
)t=(Ei,1
)t⊃(Ei,2
)t⊃ . . . ⊃
(Ei,rpi
)t⊃ {0}.
Nesta dissertação não nos vamos referir aos �brados parabólicos. No entanto, parece-
nos relevante terminar este capítulo com a de�nição de �brados parabólicos pois esta noção
é necessária para a construção do espaço moduli em geral. ([MS 80])
De�nição 2.11. Seja {pi}ni=1 um conjunto �nito não vazio de pontos distintos de C. Um
�brado parabólico E ′ de característica r sobre C com pontos marcados pi é um �brado
vectorial algébrico sobre C equipado com uma estrutura parabólica, ou seja, é um �brado
29
quase-parabólico E sobre C com bandeiras pesadas, isto é, para cada ponto pi associamos
à bandeira descendente
Epi= Epi,1 ⊃ Epi,2 ⊃ . . . ⊃ Epi,rpi
⊃ Epi,rpi+1 = {0}.
uma sucessão de números reais:
0 ≤ api,1 < api,2 < . . . < api,rpi< 1.
Chamamos a cada api,k o peso associado ao subespaço vectorial Epi,k.
Designamos o sistema (api,k)1≤i≤n,1≤k≤rpipor sistema de pesos para E ′.
Dizemos que mpi,k é a multiplicidade do peso api,k.
De�nição 2.12. Sejam E e F dois �brados parabólicos sobre C com pontos marcados
p1, . . . , pn. Um mor�smo parabólico entre E e F é uma aplicação de �brados vectoriais
algébricos ψ : E → F , que respeita as estruturas parabólicas, isto é, para todo o ponto
marcado pi com a estrutura parabólica sobre E dada por
Epi= Epi,1 ⊃ Epi,2 ⊃ . . . ⊃ Epi,rpi(E)
⊃ {0}
0 ≤ api,1(E) < api,2(E) < . . . < api,rpi(E)(E) < 1
e a estrutura parabólica sobre F dada por
Fpi= Fpi,1 ⊃ Fpi,2 ⊃ . . . ⊃ Fpi,rpi(F )
⊃ {0}
0 ≤ api,1(F ) < api,2(F ) < . . . < api,rpi(F )(F ) < 1
temos que
api,j(E) > api,k(F ) ⇒ ψpi(Epi,j) ⊆ Fpi,k+1.
Dizemos que ψ é um isomor�smo parabólico se é um isomor�smo de �brados vectoriais
algébricos e se ψ−1 é um mor�smo parabólico.
Tendo em conta a de�nição 2.5, vemos que se dois �brados parabólicos são isomorfos
como �brados parabólicos então têm o mesmo sistema de pesos e são isomorfos como
30 Fibrados Vectoriais Quase-Parabólicos
�brados quase-parabólicos. Vemos também que se dois �brados parabólicos são isomorfos
como �brados quase-parabólicos e têm o mesmo sistema de pesos então são isomorfos como
�brados parabólicos.
Nota 2.13. Dado um �brado parabólico E sobre C com pontos marcados p1, . . . , pn, de-
notemos por ParAut(E) o grupo dos automor�smos parabólicos de E. Consideremos um
desses automor�smos, ψ : E → E. Como ψ é um mor�smo parabólico, devemos ter
ψpi(Epi,j) = Epi,j. Assim, concluímos que ParAut(E) é independente dos pesos, isto é,
depende apenas da estrutura quase-parabólica de E.
De�nição 2.14. Um �brado parabólico E é um �brado parabólico simples se ParAut(E) =
C∗.
Tendo em conta a nota 2.13, vemos que a de�nição anterior é independente dos pesos,
pelo que faz sentido a noção de �brado quase-parabólico simples.
Capítulo 3
Fibrados Vectoriais sobre P1
Neste capítulo pretendemos classi�car os �brados vectorias sobre a recta projectiva P1.
Esta classi�cação é feita num teorema conhecido por Teorema de Birkho�-Grothendieck
ou Teorema de Grothendieck, que demonstramos de seguida. A nossa demonstração do
teorema segue a referência [HSW 99, Capítulo 2.4].
Teorema 3.1. Se E é um �brado vectorial algébrico de característica m sobre P1, então
E ∼= O(a1)⊕ . . .⊕O(am)
para alguns ai ∈ Z.
Demonstração. Iremos provar este teorema por indução na característica de E.
Comecemos por considerar rk(E) = 1, ou seja, E é um �brado linha sobre P1. Tendo
em conta a Propriedade 1 da página 17, sabemos que Pic(P1) ∼= Div(P1)/PDiv(P1). Além
disso, em P1, um divisor D é principal se e só se deg(D) = 0. Assim temos um isomor�smo
de grupos Div(P1)/PDiv(P1) → Z, pelo que concluimos que Pic(P1) ∼= Z e então o grau
classi�ca os �brados linha em P1, a menos de isomor�smo algébrico. Logo, tendo em conta
o exemplo 1.33, E é isomorfo a O(n) para n = deg(E).
Suponhamos agora que E é um �brado vectorial de característica m. Consideremos
E(n) = E ⊗O(n). Usando Teorema de Riemann-Roch, vemos que para n su�cientemente
31
32 Fibrados Vectoriais sobre P1
grande E(n) terá secções regulares globais. Consideremos a sequência exacta curta
0 −→ O(E(n− 1))sp·−−→ O(E(n)) −→ S −→ 0, (3.1)
onde S é o feixe quociente, p ∈ P1 e localmente em torno de p temos sp(z) = z. Se consi-
derarmos a sequência exacta longa associada podemos deduzir que a aplicação induzida
H0(P1, E(n− 1))sp·−−→ H0(P1, E(n))
é injectiva. Notemos que esta aplicação ou é apenas injectiva ou é um isomor�smo. Su-
ponhamos que estes grupos têm a mesma dimensão. Então a aplicação acima deve ser
um isomor�smo, o que implica que todas as secções globais de E(n) devem anular-se em
p. Uma vez que isto é verdade para todos os pontos p ∈ P1, temos uma contradição (só
teríamos a secção nula). Assim, h0(E(n− 1)) < h0(E(n)), e então existe um inteiro n tal
que
H0(P1, E(n− 1)) = 0 e H0(P1, E(n)) 6= 0.
Considerando este inteiro n, a sequência exacta longa aparece agora como
0 −→ 0−→H0(P1, E(n))−→H0(P1,S) −→ H1(P1, E(n− 1)) −→ . . .
Se s é uma secção global não trivial de E(n), então, tendo em conta a sequência exacta
( 3.1), a aplicação para H0(P1,S) é dada por avaliando s no ponto p (o feixe S é um feixe
arranha céus). Pela exactidão, esta aplicação é injectiva e assim s(p) 6= 0 para todo o
ponto p ∈ P1, pelo que s é uma secção não nula. Assim, podemos de�nir uma inclusão do
�brado linha trivial O em E(n) por:
O = P1 × C → E(n)
(m,λ) 7→ λs(m).
Então temos uma sequência exacta
0 −→ O −→ E(n)α−→ Q −→ 0, (3.2)
onde Q é o �brado quociente e α ∈ H0(P1,Hom(E(n), Q)). Para que E(n) seja decompo-
nível, a partir de O, numa soma directa, requeremos uma cópia de Q dentro de E(n) que
33
é complementar a O. Isto é a cindição da sequência exacta ( 3.2), ou seja, a existência de
um homomor�smo Q → E(n) que dá a identidade em Q quando composto com α. Para
mostrarmos que este homomor�smo existe, consideremos a sequência exacta curta obtida
da ( 3.2) fazendo o produto tensorial com Q∗
0 −→ Q∗ = Hom(Q,O) −→ Hom(Q,E(n)) −→ Hom(Q,Q) −→ 0,
e a correspondente sequência exacta longa
0 −→ H0(P1, Q∗) −→ H0(P1,Hom(Q,E(n)))α◦−−→ H0(P1,Hom(Q,Q)) −→ H1(P1, Q∗) −→ . . .
Existe claramente uma secção global não nula de Hom(Q,Q) dada pela aplicação identi-
dade deQ paraQ, idQ. Gostaríamos de mostrar que idQ é enviada para zero emH1(P1, Q∗),
uma vez que isto signi�caria que ela se levantaria a uma secção global de Hom(Q,E(n)),
que é o que queremos. Pela nossa hipótese de indução, como rk(Q) = m − 1, Q cinde-se
numa soma directa de �brados linha
Q = O(b1)⊕ . . .⊕O(bm−1).
Consideremos a sequência exacta curta
0 −→ O(−1) −→ O(E(n− 1)) −→ O(Q(−1)) −→ 0,
que se obtém da sequência exacta ( 3.2) fazendo o produto tensorial com O(−1), e a
correspondente sequência exacta longa
0 −→ H0(P1,O(−1)) −→ H0(P1, E(n−1)) −→ H0(P1, Q(−1)) −→ H1(P1,O(−1)) −→ . . .
Como O(−1) tem grau negativo, o primeiro destes grupos é nulo. O segundo grupo é nulo
devido à maneira como escolhemos n. Aplicando o Teorema de Riemann-Roch a O(−1),
vemos que
h1(O(−1)) = h0(O(−1))− deg(O(−1))− 1 = 0,
e assim concluimos que o quarto grupo é também nulo. Logo
H0(P1, Q(−1)) =m−1⊕i=1
H0(P1,O(bi − 1)) = 0,
34 Fibrados Vectoriais sobre P1
e segue que bi − 1 deve ser negativo para todo o i, uma vez que para n ≥ 0, O(n) tem
um espaço de secções de dimensão n+ 1 (conferir exemplo 1.8). Assim bi ≤ 0. Aplicando
agora o Teorema de Riemann-Roch a O(−bi), vemos que
h1(O(−bi)) = h0(O(−bi))− deg(O(−bi))− 1 = 0
pois as secções de O(−bi) são polinómio homogéneos de grau −bi. Daqui vem que
H1(P1, Q∗) =m−1⊕i=1
H1(P1,O(−bi)) = 0.
Assim, idQ levanta-se a H0(P1,Hom(Q,E(n))), ou seja, existe uma secção global de
Hom(Q,E(n)) que quando composta com α dá idQ, o que signi�ca que E(n) cinde-se
como O ⊕Q, ou seja,
E(n) ∼= O ⊕O(b1)⊕ . . .⊕O(bm−1).
Então, fazendo o produto tensorial com O(−n), temos
E ∼= O(−n)⊕O(b1 − n)⊕ . . .⊕O(bm−1 − n),
o que conclui a demonstração. �
Nota 3.2. Seja E um �brado vectorial algébrico de característica m sobre P1. Então, pelo
teorema anterior,
E ∼= O(a1)⊕ . . .⊕O(am)
para alguns ai ∈ Z. Sem perda de generalidade, assumamos que a1 ≤ a2 ≤ . . . ≤ am.
Temos que (a1, . . . , am) é unicamente determinado por E. Chamemos a (a1, . . . , am) o tipo
de E.
O principal objectivo deste trabalho é descrever o conjunto das classes de isomor�smo
dos �brados vectoriais algébricos quase-parabólicos simples de característica 2 sobre P1
com n (n > 0) pontos marcados, o que será feito no próximo capítulo. Nesse sentido,
o lema seguinte descreve o grupo de automor�smos de um �brado vectorial algébrico de
característica 2 sobre P1, que pelo Teorema 3.1 é da forma O(a1) ⊕ O(a2), para alguns
a1, a2 ∈ Z.
35
Lema 3.3. Consideremos E = O(a1)⊕O(a2) um �brado vectorial algébrico de caracterís-
tica 2 sobre P1.
1. Se a1 = a2, então o grupo de automor�smos de E é Aut(E) = GL(2,C).
2. Se a1 < a2, então o grupo de automor�smos de E é
Aut(E) =
c1 0
s c2
: c1, c2 ∈ C∗ e s ∈ Γ(O(a2 − a1))
.
Demonstração. Seja f ∈ Aut(E) = Γ (Hom (O(a1)⊕O(a2),O(a1)⊕O(a2)))
f : O(a1)⊕O(a2) → O(a1)⊕O(a2)
(x, y) 7→ f(x, y) = (f1(x, y), f2(x, y)).
Temos que
f(x, y) = f(x, 0) + f(0, y)
= (f1(x, 0), f2(x, 0)) + (f1(0, y), f2(0, y))
= (f11(x) + f12(y), f21(x) + f22(y))
com fij : O(aj) → O(ai), i, j = 1, 2, de�nidas por f11(x) = f1(x, 0), f12(y) = f1(0, y),
f21(x) = f2(x, 0) e f22(y) = f2(0, y). Podemos representar f matricialmente:
f(x, y) =
f11 f12
f21 f22
x
y
=
f11(x) + f12(y)
f21(x) + f22(y)
.
1. Neste caso, como Aut(E) = Γ (Hom (O(a1)⊕O(a1),O(a1)⊕O(a1))), vem que para
i, j = 1, 2, fij ∈ Γ (Hom (O(a1),O(a1))) ∼= Γ (O(a1)∗ ⊗O(a1)) ∼= Γ (O(0)) ∼= C∗,
pelo que dada f ∈ Aut(E), f pode ser representada matricialmente por a b
c d
com a, b, c, d ∈ C∗, ou seja Aut(E) = GL(2,C).
36 Fibrados Vectoriais sobre P1
2. Pelo que vimos antes, neste caso temos
f11 ∈ Γ (Hom(O(a1),O(a1))) ∼= C∗
f22 ∈ Γ (Hom(O(a2),O(a2))) ∼= C∗
f12 ∈ Γ (Hom(O(a2),O(a1))) ∼= Γ (O(a1 − a2)) ∼= 0
f21 ∈ Γ (Hom(O(a1),O(a2))) ∼= Γ (O(a2 − a1)) .
Logo
Aut(E) =
c1 0
s c2
: c1, c2 ∈ C∗ e s ∈ Γ(O(a2 − a1))
.
�
Capítulo 4
Fibrados Quase-Parabólicos de
Característica 2 sobre P1
Um espaço moduli é, grosso modo, uma variedade que parametriza alguma classe de ob-
jectos geométricos. Problemas de moduli em Geometria Algébrica estão ligados com a
classi�cação de certos objectos (por exemplo curvas algébricas, �brados vectoriais numa
variedade algébrica �xa, conjuntos de pontos de Pn) sob uma relação de equivalência (por
exemplo isomor�smo de curvas, isomor�smo de �brados, equivalência projectiva).
Pretendemos descrever o conjunto das classes de isomor�smo dos �brados vectoriais
algébricos quase-parabólicos simples de característica 2 sobre P1 com pontos marcados
p1, . . . , pn. Podemos ver que este conjunto tem uma cobertura por um número �nito de
cópias de P1 com mudanças de carta algébricas mas não é Hausdor�, pelo que não é um
espaço moduli. O caso de P1 com quatro pontos marcados será tratado no último capítulo.
A principal referência para este capítulo é [FS 92, secção 8].
Denotemos por 0, 1 e ∞ os pontos [0 : 1], [1 : 1] e [1 : 0] de P1, respectivamente.
Consideremos o grupo projectivo PGL(n,C) = GL(n,C)/C∗, onde C∗ = C \ {0} é
considerado o subgrupo dos múltiplos escalares da matriz identidade.
Começamos por enunciar um teorema conhecido de que vamos precisar mais à frente.
Teorema 4.1. Se p1, p2, p3 são três pontos distintos de P1, então existe um único T ∈
37
38 Fibrados Quase-Parabólicos de Característica 2 sobre P1
PGL(2,C) tal que T (p1) = 0, T (p2) = 1 e T (p3) = ∞.
A demonstração deste teorema pode ser encontrada em [JS 87].
Sejam agoraM o espaço projectivo P1 com pontos marcados p1, . . . , pn, e E um �brado
vectorial algébrico de característica 2 sobre M .
Pelo teorema 3.1, como E é um �brado vectorial algébrico sobre P1 então tem a de-
composição
E ∼= O(a1)⊕O(a2)
para alguns a1, a2 ∈ Z.
Podemos supor, sem perda de generalidade, que E = O(a1)⊕O(a2) para alguns a1, a2 ∈
Z.
Vejamos como pode ser considerada uma estrutura quase-parabólica em E. Como a
característica de E é 2, cada �bra de E é isomorfa a C2 e portanto podemos ter dois tipos
de bandeiras, correspondentes às duas possíveis �ltrações descendentes de C2:
• C2 ⊃ C ⊃ 0, de tipo (1, 1)
• C2 ⊃ 0, de tipo (2).
Seja N o número de bandeiras do primeiro tipo em E. Consideremos os pontos p1 . . . , pn
ordenados de modo que as bandeiras em p1, . . . , pN sejam do primeiro tipo e as bandeiras
em pN+1, . . . , pn sejam do segundo tipo.
Vimos no corolário 2.8 que, neste caso, as estruturas quase-parabólicas em E são pa-
rametrizadas por (P1)N .
Queremos estudar o conjunto das classes de isomor�smo dos �brados quase-parabólicos
simples (conferir de�nição 2.14) que têm E como �brado subjacente.
Comecemos por identi�car o conjunto dos �brados quase-parabólicos simples que têm
E como �brado subjacente.
Lema 4.2. Consideremos E = O(a1)⊕O(a2), como antes.
39
1. Se a1 = a2, então os �brados quase-parabólicos simples que têm E como �brado
subjacente formam o conjunto
S(a1, a1) :={(X1, . . . , XN) ∈ (P1)N : |{X1, . . . , XN}| ≥ 3
}.
2. Se a1 < a2, então os �brados quase-parabólicos simples que têm E como �brado
subjacente formam o conjunto
S(a1, a2) :={(X1, . . . , XN) ∈ (P1)N : |{i : Xi 6= 0}| ≥ a2 − a1 + 2 e Xi 6= 0,∞ para algum i
}.
Demonstração. Vimos no lema 2.8 que as estruturas quase-parabólicas em E são para-
metrizadas por (P1)N .
1. Vimos no lema 3.3 que, neste caso, o grupo de automor�smos de E é GL(2,C).
Um elemento de (P1)N representa um �brado quase-parabólico simples se e só se o
estabilizador desse elemento é C∗ ⊂ GL(2,C), considerando a acção de Aut(E) =
GL(2,C) em (P1)N , ou seja, o estabilizador é a Id, considerando a acção de PGL(2,C)
em (P1)N .
Seja P = (X1, X2, . . . , XN) ∈ S(a1, a1). Suponhamos, por conveniência de notação,
que X1 6= X2 6= X3 6= X1 (nos outros casos o raciocínio é análogo). Seja g ∈
PGL2(C). Temos que g · (X1, . . . , XN) = (g · X1, . . . , g · XN). Pelo teorema 4.1,
sabemos que existe um único h ∈ PGL2(C) tal que h ·X1 = 0, h ·X2 = 1, h ·X3 = ∞.
Se g ∈ Stab(P ) então, pela unicidade de h, vem que h · g = h, o que implica
que g = Id. Logo Stab(P ) = {Id}, pelo que P é um �brado quase-parabólico
simples. Inversamente, suponhamos agora que P ∈ (P1)N não tem pelo menos três
coordenadas distintas, seja, por exemplo, P = (X1, X2, X1, . . . , X1) com X1 6= X2.
Considerando o teorema 4.1 temos que para cada X ∈ P1 existe um único f ∈
PGL2(C) tal que f(X1) = X1, f(X2) = X2 e f(X) = ∞, pelo que f ∈ Stab(P ).
Além disso, se X 6= ∞, então f 6= Id. Logo Stab(P ) 6= {Id} pelo que P não é um
�brado quase-parabólico simples. De modo análogo vemos que se P = (X1, . . . , X1),
então P não é um �brado quase-parabólico simples.
40 Fibrados Quase-Parabólicos de Característica 2 sobre P1
2. Como vimos no lema 3.3, neste caso o grupo de automor�smos de E é
Aut(E) =
c1 0
s c2
: c1, c2 ∈ C∗ e s ∈ Γ(O(a2 − a1))
.
Um elemento de (P1)N representa um �brado quase-parabólico simples se e só se o
estabilizador desse elemento é C∗ ⊂ Aut(E), considerando a acção de Aut(E) em
(P1)N .
Fixemos um isomor�smo f : P(Epi)
∼=→ P1, tal que a linha O(a1)pié enviada para
∞ = [1 : 0] ∈ P1 e a linha O(a2)pié enviada para 0 = [0 : 1] ∈ P1. Assim, para
1 ≤ i ≤ N , como as bandeiras em Episão da forma
Epi= Epi,1 ⊃ Epi,2 ⊃ {0}
onde Epi∼= C2 e Epi,2
∼= C, então são de�nidas por pontos Xpi= [a : b] ∈ P1, com
(a, b) ∈ C2\{(0, 0)}, onde Epi,2 corresponde a Xpivia a função f .
Consideremos as funções injectivas da forma
σ : {1, . . . , a2 − a1 + 2} → {1, . . . , N}
com σ(1) < . . . < σ(a2 − a1 + 2), e os subconjuntos de S(a1, a2) dados por
Uσ = {(X1, . . . , XN) : Xσ(1), . . . , Xσ(a2−a1+1) 6= 0 e Xσ(a2−a1+2) 6= 0,∞}.
Temos assim que
S(a1, a2) =⋃σ
Uσ.
Seja P ∈ S(a1, a2). Consideremos que P = (X1, . . . , Xa2−a1+1, Xa2−a1+2, . . . , XN)
comX1, . . . , Xa2−a1+1 6= 0 eXa2−a1+2 6= 0,∞ (nos outros casos o raciocínio é análogo).
Sejam, para 1 ≤ i ≤ a2 − a1 + 1, as bandeiras em pi dadas por Xi = [1 : bi] com
bi ∈ C e a bandeira em pa2−a1+2 dada por Xa2−a1+2 = [1 : ba2−a1+2] com ba2−a1+2 ∈ C∗.
Existe g ∈ Aut(E) tal que gXi = ∞ para 1 ≤ i ≤ a2− a1 +1 e gXa2−a1+2 = 1. Note-
se que o �brado linha O(a2 − a1) tem grau (a2 − a1) pelo que uma sua secção �ca
41
de�nida se for conhecido o seu valor em (a2 − a1 + 1) pontos. Assim, em particular,
existe um único g ∈ Aut(E) da forma
g =
c 0
s 1
tal que gXi = ∞ para 1 ≤ i ≤ a2 − a1 + 1 e gXa2−a1+2 = 1, pois a secção s �ca
de�nida por s(pi) = −bi para 1 ≤ i ≤ a2− a1 +1 e c = s(pa2−a1+2)+ ba2−a1+2. Temos
que Stab(P ) = g−1Stab(gP )g pelo que Stab(P ) = C∗ se e só se Stab(gP ) = C∗.
Vejamos então que o estabilizador de gP = (∞, . . . ,∞, 1, gXa2−a1+3, . . . , gXN) é C∗.
Seja
f =
c1 0
h c2
∈ Aut(E).
Como temos (a2 − a1 + 1) pontos em que a bandeira é de�nida por ∞ = [1 : 0],
para que f ∈ Stab(gP ), a secção h ∈ Γ(O(a2 − a1) tem que ser a secção nula. Logo
temos que Stab(gP ) ⊆ C∗ × C∗. Além disso, para que f preserve a bandeira em
pa2−a1+2, que é de�nida por 1 = [1 : 1], temos que ter c1 = c2. Concluimos então
que Stab(gP ) = C∗. Logo Stab(P ) = C∗, pelo que P é um �brado quase-parabólico
simples. Assim, temos que S(a1, a2) é um subconjunto dos �brados quase-parabólicos
simples. Queremos ver que S(a1, a2) é, de facto, o conjunto de todos os �brados
quase-parabólicos simples que têm E como �brado subjacente.
Comecemos por ver que um �brado quase-parabólico dado por (X1, . . . , XN) ∈ (P1)N
tal que |{i : Xi 6= 0}| ≤ a2 − a1 + 1, não é um �brado quase-parabólico simples.
Notemos que Aut(E) preserva O(a2) ⊂ E = O(a1) ⊕ O(a2), pelo que nos pontos
pi ∈ M onde Xi = 0, ou seja, Epi,2 = O(a2)pi, a bandeira é preservada por qualquer
automor�smo de E. Consideremos agora um ponto pi ∈ M tal que Xi 6= 0, ou seja,
a bandeira em Epié de�nida por Xpi
= [1 : bi] ∈ P1, com bi ∈ C. Seja
g =
c1 0
s c2
∈ Aut(E),
42 Fibrados Quase-Parabólicos de Característica 2 sobre P1
com c1, c2 ∈ C∗ tal que c1 6= c2. Para que g preserve a bandeira em Epitemos que
ter gpi(Epi,2) = Epi,2, isto é, tem que existir λ ∈ C∗ tal que
gpi
1
bi
=
c1 0
s(pi) c2
1
bi
= λ
1
bi
,
ou seja, λ = c1 e s(pi) = (c1−c2)bi. Note-se que se forem dados valores em (a2−a1+1)
ou menos pontos de M , existe pelo menos uma secção s ∈ Γ(O(a2 − a1)) que toma
esses valores. Em particular, se forem conhecidos valores em exactamente (a2−a1+1)
pontos, então existe uma única secção s ∈ Γ(O(a2 − a1)) que toma esses valores.
Como estamos a considerar que |{i : Xi 6= 0}| ≤ a2 − a1 + 1, então existe uma
secção s ∈ Γ(O(a1 − a2)) tal que g preserva as bandeiras em Epipara todo i. Ainda
que s �que de�nida como a secção nula, como estamos a supor que c1 6= c2, temos
que g 6= k · Id, k ∈ C∗, e g preserva as bandeiras em Epipara todo i, pelo que
o estabilizador de (X1, . . . , XN) não é C∗ e assim (X1, . . . , XN) não representa um
�brado quase-parabólico simples.
Por outro lado, um �brado quase-parabólico dado por (X1, . . . , XN) ∈ (P1)N onde
para todo o i temos Xi = 0 ou Xi = ∞, não é um �brado quase-parabólico simples
pois o estabilizador de um �brado de�nido desta forma contém C∗ × C∗.
Logo os �brados quase-parabólicos simples formam o conjunto
S(a1, a2) ={(X1, . . . , XN) ∈ (P1)N : |{i : Xi 6= 0}| ≥ a2 − a1 + 2 e Xi 6= 0,∞ para algum i
}.
�
Considerando o lema anterior, vemos que quando E = O(a1) ⊕ O(a1), se N < 3, ou
seja, se M tem menos de três pontos marcados com bandeiras do tipo C2 ⊃ C ⊃ 0, então
S = ∅, isto é, não existem �brados quase-parabólicos simples que têm E como �brado
subjacente. De forma análoga vemos que quando E = O(a1) ⊕ O(a2) com a1 < a2, se
N < a2 − a1 + 2 então não existem �brados quase-parabólicos simples que têm E como
�brado subjacente.
43
Nota 4.3. Seja E = O(a1)⊕O(a2) como anteriormente.
1. Suponhamos que a1 = a2. Consideremos as funções injectivas da forma
σ : {1, 2, 3} → {1, . . . , N}
com σ(1) < σ(2) < σ(3), e os conjuntos dados por
Uσ = {(X1, . . . , XN) : Xσ(1) 6= Xσ(2) 6= Xσ(3) 6= Xσ(1)}.
Tendo em conta a proposição anterior temos que
S(a1, a1) =⋃σ
Uσ,
ou seja,⋃σ Uσ forma uma cobertura do conjunto dos �brados quase-parabólicos sim-
ples que têm E = O(a1)⊕O(a1) como �brado subjacente.
2. Suponhamos que a1 < a2. Consideremos as funções injectivas de�nidas na demons-
tração da proposição anterior
σ : {1, . . . , a2 − a1 + 2} → {1, . . . , N}
com σ(1) < . . . < σ(a2 − a1 + 2), e os conjuntos dados por
Uσ = {(X1, . . . , XN) : Xσ(1), . . . , Xσ(a2−a1+1) 6= 0 e Xσ(a2−a1+2) 6= 0,∞}.
Tendo em conta a proposição anterior temos que
S(a1, a2) =⋃σ
Uσ,
ou seja,⋃σ Uσ forma uma cobertura do conjunto dos �brados quase-parabólicos sim-
ples que têm E = O(a1)⊕O(a2) como �brado subjacente.
O grupo dos automor�smos de E, Aut(E), age em S(a1, a2). Como já foi referido na
nota 2.7, temos que o espaço quociente é o conjunto das classes de isomor�smo de todos
os �brados quase-parabólicos simples que têm E como �brado subjacente. Denotemos este
espaço quociente por
S(a1, a2) := S(a1, a2)/Aut(E).
44 Fibrados Quase-Parabólicos de Característica 2 sobre P1
Proposição 4.4. Seja E = O(a1)⊕O(a2), como anteriormente.
1. Se a1 = a2, então o conjunto S(a1, a1) tem uma cobertura por um número �nito de
cópias de (P1)N−3.
2. Se a1 < a2, então o conjunto S(a1, a2) é, de modo semelhante, coberto por um número
�nito de cópias de (P1)N−(a2−a1+2).
Demonstração.
1. Vimos no lema 4.2 que neste caso os �brados quase-parabólicos simples formam o
conjunto
S(a1, a1) ={(X1, . . . , XN) ∈ (P1)N : |{X1, . . . , XN}| ≥ 3
}.
Vimos também no lema 3.3 que quando E = O(a1)⊕O(a1) então Aut(E) = GL(2,C).
Assim, o conjunto das classes de isomor�smo dos �brados quase-parabólicos simples
é dado por
S(a1, a1)/GL(2,C).
Na nota 4.3 foi dada uma cobertura do conjunto dos �brados quase-parabólicos sim-
ples que têm E como �brado subjacente, seja essa cobertura {Uσ}σ. Consideremos
um elemento dessa cobertura, o raciocínio é análogo nos restantes casos. Por conve-
niência de notação, consideremos o conjunto
{(X1, . . . , XN) : X1 6= X2 6= X3 6= X1} .
Temos que o quociente de
{(X1, . . . , XN) : X1 6= X2 6= X3 6= X1}
por GL(2,C)/C∗ = PGL(2,C) é identi�cado com
{(0, 1,∞, X4, . . . , XN)} ∼= (P1)N−3.
Tendo em conta a cobertura dada na nota 4.3 concluimos que conjuntos quociente
semelhantes a este cobrem o espaço todo.
45
2. Vimos no lema 4.2 que neste caso os �brados quase-parabólicos simples formam o
conjunto
S(a1, a2) ={(X1, . . . , XN) ∈ (P1)N : |{i : Xi 6= 0}| ≥ a2 − a1 + 2 e Xi 6= 0,∞ para algum i
}.
O conjunto das classes de isomor�smo dos �brados quase-parabólicos simples é dado
por
S(a1, a2)/Aut(E).
Na nota 4.3 foi dada uma cobertura do conjunto dos �brados quase-parabólicos sim-
ples que têm E como �brado subjacente, seja essa cobertura {Uσ}σ. Consideremos
um elemento dessa cobertura, o raciocínio é análogo nos restantes casos. Considere-
mos, por conveniência de notação, o conjunto
{(X1, . . . , XN) : Xi 6= 0 para 1 ≤ i ≤ a2 − a1 + 1 e Xa2−a1+2 6= 0,∞} .
Tal como vimos na demonstração do lema 4.2, existe um único g ∈ Aut(E) da forma
g =
c 0
s 1
tal que gXi = ∞ para 1 ≤ i ≤ a2−a1+1 e gXa2−a1+2 = 1. Note-se que apenas elemen-
tos de C∗ ⊆ Aut(E) levam um elemento da forma (∞, . . . ,∞, 1, Xa2−a1+3, . . . , XN)
noutro da mesma forma. Assim, temos que o quociente de
{(X1, . . . , XN) : Xi 6= 0 para 1 ≤ i ≤ a2 − a1 + 1 e Xa2−a1+2 6= 0,∞}
por Aut(E) é identi�cado com
{(∞, . . . ,∞, 1, Xa2−a1+3, . . . , XN)} ∼= (P1)N−(a2−a1+2).
Tendo em conta a cobertura dada na nota 4.3 concluimos que conjuntos quociente
semelhantes a este cobrem o espaço todo. �
Nota 4.5. Pode provar-se que as aplicações mudança de carta entre os conjuntos da co-
bertura vista na proposição anterior para S(a1, a2), para alguns a1, a2 ∈ Z, são aplicações
46 Fibrados Quase-Parabólicos de Característica 2 sobre P1
algébricas. Isto será visto no capítulo 5 para o caso dos �brados quase-parabólicos simples
de característica 2 sobre P1 com quatro pontos marcados. Tendo em conta a proposição
anterior, note-se ainda que os conjuntos quociente que formam a cobertura para S(a1, a1),
com a1 ∈ Z, têm como maior subconjunto comum
{(X1, . . . , XN) : X1, . . . , XN todos distintos} /GL(2,C).
No caso de S(a1, a2), se considerarmos por exemplo os conjuntos quociente da sua cobertura
{(∞, . . . ,∞, 1, Xa2−a1+3, Xa2−a1+4, . . . , XN)}
e
{(∞, . . . ,∞, Xa2−a1+2, 1, Xa2−a1+4, . . . , XN)} ,
vemos que estes têm como maior subconjunto comum
{(∞, . . . ,∞, Xa2−a1+2, . . . , XN) : Xa2−a1+2, Xa2−a1+3 6= 0,∞} /(C∗ × C∗).
Consideremos o espaço S(a1, a2) equipado com a topologia quociente. A proposição
anterior poderia levar-nos a pensar que podemos de�nir uma estrutura de variedade em
S(a1, a2). No entanto tal não é possível porque S(a1, a2) não é, em geral, Hausdor�. Isto
será visto com detalhe no capítulo 5 para o caso dos �brados quase-parabólicos simples de
característica 2 sobre P1 com quatro pontos marcados.
Seja T uma variedade algébrica irredutível não singular. Suponhamos que E →M ×T
é uma família algébrica de �brados quase-parabólicos simples de tipo (a1, a2), característica
2 e dados quase-parabólicos (−→mpi)i=1,...,N sobre M parametrizados por T (conferir de�ni-
ção 2.9 na página 27). Note-se que estamos a considerar apenas os pontos com bandeiras
não triviais, ou seja, para todo i = 1, . . . , N temos que −→mpi= (1, 1). Consideremos a
aplicação f , no sentido da teoria de conjuntos, que classi�ca as classes de isomor�smo dos
�brados parametrizados
f : T → S(a1, a2)
t 7→ [Et],
47
onde Et é o �brado sobreM de�nido na nota 2.10. Vamos ver, na proposição seguinte, que
esta aplicação é localmente algébrica, mostrando assim que S(a1, a2) tem a propriedade
universal de um espaço de moduli grosseiro ([N 78]).
Proposição 4.6. A aplicação f é localmente algébrica.
Demonstração. Tendo em conta a de�nição 2.9, temos que E é um �brado vectorial
algébrico de característica 2 sobre M × T , pelo que O(E) é um feixe localmente livre de
característica 2 sobre M × T . Consideremos a projecção π2 : M × T → T sobre T . Sejam
(M × T )t = π−12 (t) = M × {t} e O(E)t = O(E)|(M×T )t = O(E)|M×{t}, onde t ∈ T .
1. Suponhamos que a1 = a2. Podemos assumir, sem perda de generalidade, que a1 =
a2 = 0 pois existe uma identi�cação
S(0, 0) → S(a1, a1)
[E] 7→ [E ⊗O(a1)].
Vejamos que existe U ⊆ T subconjunto aberto tal que E|M×U ∼= (M × U) × C2.
Temos que
dimCH0((M × T )t,O(E)t
)= h0
(M × {t},O(E)|M×{t}
)= 2,
pois O(E)|M×{t} = O(E|M×{t}
), que corresponde ao �brado Et ∼= O(a0) ⊕ O(a0).
Assim, o feixe sobre T , R0(π2)∗E, de�nido por R0(π2)∗E(U) = H0(π−12 (U), E) onde
U é um aberto de T , é um feixe localmente livre de característica 2 (conferir [K 93,
Prop. 9.5.2]). Logo existe uma cobertura aberta de T , U = {Ui}i, tal que
R0(π2)∗E|Ui∼= OT (Ui)⊕OT (Ui).
Temos que OT (Ui) ⊕ OT (Ui) representa o �brado trivial de característica 2 sobre
T restrito a Ui, isto é, OT (Ui) ⊕ OT (Ui) ∼= Ui × C2. Assim, podemos obter uma
trivialização de R0(π2)∗E em Ui:
ϕi : R0(π2)∗E|Ui→ Ui × C2
48 Fibrados Quase-Parabólicos de Característica 2 sobre P1
que nos dá uma trivialização algébrica de E em M × Ui:
ψi : E|M×Ui→ (M × Ui)× C2.
Temos que
R0(π2)∗E(Ui) = H0(π−1(Ui), E
)= H0
(M × Ui, E
),
e como ϕi é uma trivialização, podemos de�nir
ϕ−1i : Ui × C2 → R0(π2)∗E|Ui
(t, (a, b)) 7→ ϕ−1i (t, (a, b)) : M × Ui → E|M×Ui
.
Assim, podemos de�nir a aplicação
ψ−1i : (M × Ui)× C2 → E|M×Ui
((x, t), (a, b)) 7→ ϕ−1i (t, (a, b))(x, t),
que é um isomor�smo, ou seja, temos uma trivialização algébrica, ψi, de E emM×Ui.
Logo existe um subconjunto aberto de T , U , tal que E|M×U ∼= (M × U)× C2.
Vimos no lema 2.8 que as estruturas quase-parabólicas emM×C2 são parametrizadas
por P1 × . . . × P1 = (P1)N . Neste caso, o subconjunto aberto de T , U , parametriza
�brados quase-parabólicos simples de tipo (a1, a1), característica 2 e dados quase-
parabólicos (−→mpi)i=1,...,N sobre M . Temos então, uma aplicação
Uf1→ P1 × . . .× P1
t 7→ (X1(t), . . . , XN(t)),(4.1)
com f1(U) ⊆ {(X1, . . . , XN) : |(X1, . . . , XN)| ≥ 3}. Pela segunda parte da de�ni-
ção 2.9, a aplicação ( 4.1) é algébrica em cada coordenada, pelo que é uma aplicação
algébrica. Podemos supor, sem perda de generalidade, que para cada t ∈ T temos
uma ordenação dos pontos pi ∈ M de modo que X1(t) 6= X2(t) 6= X3(t) 6= X1(t).
Basta assim mostrar que a aplicação quociente
{(X1, . . . , XN) : X1 6= X2 6= X3 6= X1} → {(Y4, . . . , YN)} = (P1)N−3 (4.2)
49
que envia (X1, . . . , XN) em (gX4, . . . , gXN) para g ∈ PGL(2,C) tal que gX1 = 0,
gX2 = 1 e gX3 = ∞ é algébrica. Temos que a aplicação ( 4.2) é a composta de
aplicações algébricas:
{(X1, . . . , XN) : X1 6= X2 6= X3 6= X1}f2→ {(0, 1,∞, Y4, . . . , YN)} f3→ (P1)N−3
(X1, . . . , XN) 7→ (0, 1,∞, gX4, . . . , gXN) 7→ (gX4, . . . , gXN).
Note-se que f2 é algébrica porque a aplicação g é algébrica e, pela forma como
é construída, g varia algebricamente com X1, X2 e X3. Concluimos então que a
aplicação ( 4.2) é algébrica e assim a aplicação f = f3 ◦ f2 ◦ f1 é algébrica em U , ou
seja, f é localmente algébrica.
2. No caso a1 < a2 o raciocínio é análogo. Remetemos o leitor a [FS 92, Prop. 8.2].
�
50 Fibrados Quase-Parabólicos de Característica 2 sobre P1
Capítulo 5
Caso de P1 com 4 Pontos Marcados
Seja M o espaço projectivo P1 com pontos marcados p1, p2, p3, p4. Seja E um �brado
vectorial algébrico de característica 2 sobre M . Pelo teorema 3.1, E tem a decomposição
E ∼= O(a1)⊕O(a2)
para alguns a1, a2 ∈ Z. Vamos considerar que a1 = a2. Suponhamos que, dada uma
estrutura quase-parabólica em E, a bandeira em cada ponto marcado de M é da forma
C2 ⊃ C ⊃ {0},
já que as bandeiras do outro tipo possível, C2 ⊃ {0}, são triviais.
Pelo lema 2.8 temos que as estruturas quase-parabólicas em E são parametrizadas por
R =4∏i=1
(Iso
(C2, Epi
)/B) ∼= (P1)4
onde B é o subgrupo parabólico de GL(2,C) que deixa invariante a bandeira standard de
tipo (1, 1) em C2.
Queremos estudar o espaço moduli dos �brados quase-parabólicos simples que têm E
como �brado subjacente.
51
52 Caso de P1 com 4 Pontos Marcados
5.1 Conjunto dos Fibrados Quase-Parabólicos Simples
Pelo lema 4.2, vemos que os �brados quase-parabólicos simples que têm E como �brado
subjacente formam o conjunto
S ={(X1, X2, X3, X4) ∈ (P1)4 : |{X1, X2, X3, X4}| ≥ 3
}⊆ (P1)4.
Vamos considerar P1 munido da topologia complexa (Hausdor�), (P1)4 munido da topo-
logia produto e o subespaço S ⊆ (P1)4 munido da topologia induzida. Consideremos os
conjuntos:
S12 = {(X,X, Y, Z) : X, Y, Z ∈ P1 e X 6= Y 6= Z 6= X}
S13 = {(X, Y,X,Z) : X, Y, Z ∈ P1 e X 6= Y 6= Z 6= X}
S14 = {(X, Y, Z,X) : X, Y, Z ∈ P1 e X 6= Y 6= Z 6= X}
S23 = {(X, Y, Y, Z) : X, Y, Z ∈ P1 e X 6= Y 6= Z 6= X}
S24 = {(X, Y, Z, Y ) : X,Y, Z ∈ P1 e X 6= Y 6= Z 6= X}
S34 = {(X, Y, Z, Z) : X, Y, Z ∈ P1 e X 6= Y 6= Z 6= X}
S0 = {(X, Y, Z,W ) : X, Y, Z,W ∈ P1, todos diferentes}.
O conjunto S é dado por:
S = S12 ∪ S13 ∪ S14 ∪ S23 ∪ S24 ∪ S34 ∪ S0.
Podemos também considerar uma cobertura aberta de S:
S = U1 ∪ U2 ∪ U3 (5.1)
onde
U1 = S \ (S12 ∪ S13 ∪ S23) = {(X, Y, Z,W ) ∈ (P1)4 : X 6= Y 6= Z 6= X}
U2 = S \ (S23 ∪ S24 ∪ S34) = {(X, Y, Z,W ) ∈ (P1)4 : Y 6= Z 6= W 6= Y }
U3 = S \ (S13 ∪ S14 ∪ S34) = {(X, Y, Z,W ) ∈ (P1)4 : X 6= Z 6= W 6= X}.
5.2 Conjunto das Classes de Isomor�smo dos Fibrados Quase-Parabólicos Simples 53
5.2 Conjunto das Classes de Isomor�smo dos Fibrados
Quase-Parabólicos Simples
Pelo lema 3.3 temos que Aut(E) = GL(2,C). Assim, o conjunto das classes de isomor�smo
dos �brados quase-parabólicos simples é dado por
S = S/GL(2,C),
ou seja, S é o espaço das órbitas da acção de GL(2,C) em S. Consideremos a aplicação
sobrejectiva
π : S → S = S/GL(2,C)
(X, Y, Z,W ) 7→ [(X, Y, Z,W )] = {g · (X,Y, Z,W ) : g ∈ GL(2,C)} .(5.2)
Temos que o espaço das órbitas da acção de GL(2,C) em S, S, é dado por:
S = π(S) = S12/GL(2,C) ∪ S13/GL(2,C) ∪ S14/GL(2,C) ∪ S23/GL(2,C) ∪
∪S24/GL(2,C) ∪ S34/GL(2,C) ∪ S0/GL(2,C),
e tendo em conta o teorema 4.1, vem que
S = {[(0, 0, 1,∞)], [(0, 1, 0,∞)], [(0, 1,∞, 0)], [(0, 1, 1,∞)], [(0, 1,∞, 1)],
[(0, 1,∞,∞)], [(0, 1,∞, X)] : X 6= 0, 1,∞}.
Por ( 5.1), considerando o espaço S munido da topologia quociente e tendo em conta que
U1, U2 e U3 são invariantes pela acção de GL(2,C), temos também uma cobertura aberta
para S:
S = π(U1) ∪ π(U2) ∪ π(U3),
54 Caso de P1 com 4 Pontos Marcados
onde
π(U1) = U1/GL(2,C)
= S14/GL(2,C) ∪ S24/GL(2,C) ∪ S34/GL(2,C) ∪ S0/GL(2,C)
= {[(0, 1,∞, X)] : X ∈ P1}
π(U2) = U2/GL(2,C)
= S12/GL(2,C) ∪ S13/GL(2,C) ∪ S14/GL(2,C) ∪ S0/GL(2,C)
= {[(X, 0, 1,∞)] : X ∈ P1}
π(U3) = U3/GL(2,C)
= S12/GL(2,C) ∪ S23/GL(2,C) ∪ S24/GL(2,C) ∪ S0/GL(2,C)
= {[(0, X, 1,∞)] : X ∈ P1},
ou seja, S tem uma cobertura por três cópias de P1.
Proposição 5.1. As aplicações mudança de carta entre π(U1), π(U2) e π(U3) são algébri-
cas.
Demonstração. Comecemos por ver que
ϕ12 : π(U1)|π(U2) → π(U2)|π(U1)
(0, 1,∞, X) 7→ (g(0), 0, 1,∞)
é algébrica, onde g ∈ PGL(2,C) é tal que g(1) = 0, g(∞) = 1 e g(X) = ∞. Vejamos qual
é a (única) aplicação g ∈ PGL(2,C) nestas condições. Seja X = [x1 : x2]. Note-se que
X 6= 1,∞ pois (0, 1,∞, X) ∈ π(U1)∩ π(U2), pelo que x2 ∈ C∗ e x1 6= x2. Suponhamos que
g é representada matricialmente por
G =
a b
c d
,
com a, b, c, d ∈ C tais que ad− bc 6= 0. Temos que
G
1
1
=
0
λ1
,
5.2 Conjunto das Classes de Isomor�smo dos Fibrados Quase-Parabólicos Simples 55
com λ1 ∈ C∗, pelo que a+ b = 0
c+ d = λ1
.
Também temos
G
1
0
=
λ2
λ2
,
com λ2 ∈ C∗, pelo que vem
a = c.
Temos ainda que
G
x1
x2
=
λ3
0
,
com λ3 ∈ C∗, pelo que vem a = λ3
x1−x2
d = − λ3x1
x2(x1−x2)
.
Assim, g é representada matricialmente (a menos da multiplicação por um número com-
plexo não nulo) por:
G =
1x1−x2
− 1x1−x2
1x1−x2
− x1
x2(x1−x2)
,
e g(0) é dado por
G
0
1
= − 1
x1 − x2
1
x1
x2
.
Logo
ϕ12 : π(U1)|π(U2) → π(U2)|π(U1)
(0, 1,∞, [x1 : x2]) 7→ ([x2 : x1], 0, 1,∞),
pelo que é uma aplicação algébrica. De modo análogo vemos que ϕ13 é dada por
ϕ13 : π(U1)|π(U3) → π(U3)|π(U1)
(0, 1,∞, [x1 : x2]) 7→ (0, [x2 : x2 − x1], 1,∞),
pelo que é uma aplicação algébrica, e ϕ23 é dada por
ϕ23 : π(U2)|π(U3) → π(U3)|π(U2)
([x1 : x2], 0, 1,∞) 7→ (0, [x1 : x1 − x2], 1,∞),
56 Caso de P1 com 4 Pontos Marcados
pelo que é uma aplicação algébrica. �
O espaço S é um espaço localmente Hausdor�, ou seja, cada ponto de S pertence
a um aberto U ⊂ S que é Hausdor�. Vejamos que o espaço S não é, no entanto, um
espaço Hausdor�. Sejam U e V subconjuntos abertos de S tais que [(0, 0, 1,∞)] ∈ U e
[(0, 1,∞,∞)] ∈ V . Vejamos que U ∩ V 6= ∅. O conjunto S está munido da topologia
quociente, pelo que como U é aberto de S então p−1(U) = U é aberto de S tal que
S12 = {(g · 0, g · 0, g · 1, g · ∞) : g ∈ GL(2,C)} ⊆ U ,
e como V é aberto de S então p−1(V ) = V é aberto de S tal que
S34 = {(g · 0, g · 1, g · ∞, g · ∞) : g ∈ GL(2,C)} ⊆ V .
Além disso, é óbvio que U e V são invariantes pela acção de GL(2,C).
Por hipótese, temos que (0, 0, 1,∞) ∈ S12 ⊆ U ⊆ S ⊆ (P1)4 e (0, 1,∞,∞) ∈ S34 ⊆ V ⊆
S ⊆ (P1)4. Assim, para x ∈ C su�cientemente perto de 0 ∈ C, vem que
(0, [x : 1], 1,∞) ∈ U , (5.3)
e para y ∈ C su�cientemente perto de 0 ∈ C, vem que
(0, 1, [1 : y],∞) ∈ V . (5.4)
Seja x = y 6= 0 tal que ( 5.3) e ( 5.4) se veri�cam, isto é, consideremos os pontos
(0, [x : 1], 1,∞) ∈ U e (0, 1, [1 : x],∞) ∈ V .
Seja g ∈ GL(2,C) a aplicação representada matricialmente por 1 0
0 x
.
Temos que
g · (0, [x : 1], 1,∞) = (0, 1, [1 : x],∞)
pelo que, como
GL(2,C) · U = U e GL(2,C) · V = V ,
5.3 Espaço Moduli dos Fibrados Quase-Parabólicos Simples 57
vem que
(0, [x : 1], 1,∞) ∈ U ∩ V e
g · (0, [x : 1], 1,∞) = (0, 1, [1 : x],∞) ∈ U ∩ V ,
isto é,
∅ 6= U ∩ V = p−1(U) ∩ p−1(V ) ⊆ S
e logo
U ∩ V 6= ∅
pois existe X 6= 0 tal que [(0, X, 1,∞)] ∈ U ∩V . Concluimos assim que S não é Hausdor�.
Note-se que as aderências em (P1)4 das órbitas de (0, 0, 1,∞) e (0, 1,∞,∞) se intersec-
tam em (0, 0,∞,∞).
De modo análogo, vemos que dados U e V subconjuntos abertos de S tais que [(0, 1, 1,∞)] ∈
U e [(0, 1,∞, 0)] ∈ V temos que U ∩ V 6= ∅, e dados U e V subconjuntos abertos de S tais
que [(0, 1, 0,∞)] ∈ U e [(0, 1,∞, 1)] ∈ V temos que U ∩ V 6= ∅.
5.3 Espaço Moduli dos Fibrados Quase-Parabólicos Sim-
ples
Vimos na secção anterior que o espaço S não é Hausdor�. Queremos agora identi�car o
espaço Hausdor�, SH , obtido de S:
SH = S/ ∼ (5.5)
onde dados P,Q ∈ S temos P ∼ Q se e só se UP ∩UQ 6= ∅ para todas as vizinhanças UP e
UQ de P e Q, respectivamente. Tendo em conta o estudo anterior do espaço S, concluimos
que são necessárias três identi�cações:
[(0, 0, 1,∞)] ∼ [(0, 1,∞,∞)]
[(0, 1, 1,∞)] ∼ [(0, 1,∞, 0)]
[(0, 1, 0,∞)] ∼ [(0, 1,∞, 1)]
(5.6)
58 Caso de P1 com 4 Pontos Marcados
Consideremos o espaço SH = S/ ∼, onde a relação ∼ é de�nida pelas identi�cações ( 5.6),
munido da topologia quociente dada pela aplicação:
π : S → SH[(X, Y, Z,W )] 7→ [(X, Y, Z,W )]∼
(5.7)
onde [(X, Y, Z,W )]∼ = {[(X ′, Y ′, Z ′,W ′)] ∈ S : [(X ′, Y ′, Z ′,W ′)] ∼ [(X, Y, Z,W )]}. Que-
remos ver que estas são, de facto, as únicas identi�cações que devem ser feitas em S para
obtermos o espaço SH . Note-se que
S = π(U1) ∪ {[(0, 1, 0,∞)], [(0, 0, 1,∞)], [(0, 1, 1,∞)]}
e que em SH estamos a identi�car cada um dos pontos [(0, 1, 0,∞)], [(0, 0, 1,∞)] e [(0, 1, 1,∞)]
com um ponto de π(U1), pelo que
SH = {[(0, 1,∞, X)]∼ : X ∈ P1}.
Seja (X, Y, Z,W ) ∈ U1. Pelo teorema 4.1 temos que existe um único g = g(X, Y, Z) ∈
PGL(2,C) tal que g · (X, Y, Z,W ) = (0, 1,∞, g · W ). Considerando X = [X1 : X2],
Y = [Y1 : Y2], Z = [Z1 : Z2], W = [W1 : W2], com X1, X2, Y1, Y2, Z1, Z2,W1,W2 ∈ C, e
fazendo alguns cálculos, vemos que, a menos do produto por uma constante complexa, g é
representada matricialmente, por:
g(X, Y, Z) =
− X2
X1Y2−X2Y1
X1
X1Y2−X2Y1
Z2
Y1Z2−Y2Z1− Z1
Y1Z2−Y2Z1
.
Note-se que X1Y2 −X2Y1 6= 0 e Y1Z2 − Y2Z1 6= 0 porque, por hipótese, (X, Y, Z,W ) ∈ U1
pelo que X 6= Y 6= Z 6= X. Seja h : U1 → P1 a aplicação de�nida por
h((X, Y, Z,W )) = g(X, Y, Z) ·W
=
[−X2W1 +X1W2
X1Y2 −X2Y1
:Z2W1 − Z1W2
Y1Z2 − Y2Z1
](5.8)
= [(Y1Z2 − Y2Z1)(−X2W1 +X1W2) : (X1Y2 −X2Y1)(Z2W1 − Z1W2)] .
Temos que h é uma aplicação contínua.
5.3 Espaço Moduli dos Fibrados Quase-Parabólicos Simples 59
Consideremos agora a aplicação ψ : S → P1 de�nida por
ψ(X, Y, Z,W ) =
h(X, Y, Z,W ) se (X, Y, Z,W ) ∈ U1,
0 se (X, Y, Z,W ) ∈ S23,
1 se (X, Y, Z,W ) ∈ S13,
∞ se (X, Y, Z,W ) ∈ S12.
(5.9)
Proposição 5.2. A aplicação ψ : S → P1 é contínua.
Demonstração. A restrição de ψ ao aberto U1 ⊂ S é contínua pois h é uma aplicação
contínua. Basta então provar que ψ é contínua nos pontos de S \ U1 = S12 ∪ S13 ∪ S23.
Vamos provar a continuidade em S12. Seja (X,X,Z,W ) ∈ S12. Consideremos uma sucessão
em S, Pn = (Xn, Yn, Zn,Wn), com limPn = (X,X,Z,W ). Vejamos que limψ(Pn) =
ψ(X,X,Z,W ) = ∞. Note-se que ψ((Xn, Xn, Zn,Wn)) = ∞, pelo que podemos assumir
que Xn 6= Yn, sem perda de generalidade. Mas então temos que, a partir de determinada
ordem n, (Xn, Yn, Zn,Wn) ⊂ U1 e assim
ψ((Xn, Yn, Zn,Wn)) = h(Xn, Yn, Zn,Wn) −→n→∞
∞,
pelo modo como de�nimos a aplicação h em ( 5.8). Logo ψ é contínua em S12. De modo
análogo vemos que ψ é contínua em S13 e em S23. �
Corolário 5.3. A aplicação induzida
ψ : SH → P1
[(0, 1,∞, X)]∼ 7→ X(5.10)
é contínua.
Demonstração. Considerando as aplicações π, em ( 5.2), π, em ( 5.7), e ψ, em ( 5.9)
Sψ−→ P1
π◦π ↓ ↗
SH
60 Caso de P1 com 4 Pontos Marcados
temos que
ψ = ψ ◦ π−1 ◦ π−1.
Seja [(0, 1,∞, X)]∼ ∈ SH . Temos que
ψ((π−1 ◦ π−1) ({[(0, 1,∞, X)]∼})
)= {X},
ou seja, ψ é constante em cada conjunto (π−1◦π−1) ({[(0, 1,∞, X)]∼}), para [(0, 1,∞, X)]∼ ∈
SH . Seja U um subconjunto aberto de P1. A continuidade de ψ implica que
ψ−1(U) =(π−1 ◦ π−1
) (ψ−1(U)
)é aberto em S. Como π e π são aplicações quociente então ψ−1(U) tem que ser aberto em
SH , concluindo-se assim que ψ é contínua. �
Corolário 5.4. O espaço SH é Hausdor�.
Demonstração. Sejam P,Q ∈ SH e consideremos as suas imagens ψ(P ) e ψ(Q). O espaço
P1 com a topologia complexa é Hausdor�, pelo que existem abertos U, V ⊂ P1 tais que
ψ(P ) ∈ U , ψ(Q) ∈ V e U ∩ V = ∅. A aplicação ψ é contínua (corolário 5.3) pelo que
ψ−1(U) e ψ−1(V ) são subconjuntos abertos de SH tais que P ∈ ψ−1(U) e Q ∈ ψ−1(V ).
Além disso, como ψ é uma aplicação injectiva, temos que ψ−1(U) ∩ ψ−1(V ) = ∅. Logo o
espaço SH é Hausdor�. �
Concluimos deste modo que as identi�cações ( 5.6) feitas em SH são as identi�cações
necessárias e su�cientes para obtermos o espaço Hausdor� SH descrito em ( 5.5), pelo que
SH = SH .
Consideremos agora a aplicação de�nida por:
ϕ : P1 → SHX 7→ [(0, 1,∞, X)]∼
.
Temos que ϕ = π ◦ π ◦ ϕ, onde π é a aplicação de�nida em ( 5.7), π é a aplicação de�nida
em ( 5.2) e ϕ é a aplicação:
ϕ : P1 → S
X 7→ (0, 1,∞, X),
5.3 Espaço Moduli dos Fibrados Quase-Parabólicos Simples 61
pelo que, como as aplicações π, π e ϕ são contínuas, concluimos que ϕ é uma aplicação
contínua. Além disso, temos que
ψ ◦ ϕ = IdP1
ϕ ◦ ψ = IdSH,
ou seja, ϕ é a aplicação inversa de ψ. Temos então a seguinte proposição,
Proposição 5.5. Os espaços SH e P1 são homeomorfos.
Vimos, deste modo, que o espaço moduli SH dos �brados quase-parabólicos simples que
têm E ∼= O(a1)⊕O(a1), a1 ∈ Z, como �brado subjacente é homeomorfo a P1. De�nimos
assim SH ∼= P1 como variedade.
Proposição 5.6. O espaço SH é um espaço moduli grosseiro para o problema de moduli
da classi�cação dos �brados quase-parabólicos simples a menos de isomor�smo, com as
identi�cações adicionais dadas em ( 5.6).
Demonstração. Tendo em conta a proposição 4.6 vemos que SH tem a propriedade uni-
versal de um espaço moduli grosseiro. �
62 Caso de P1 com 4 Pontos Marcados
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