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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS COMUNICAÇÃO RELIGIOSA E INVESTIMENTO PROFISSIONAL: UMA INTERFACE DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS IURD, FRENTE À PRODUÇÃO MIDIÁTICA DO PROGRAMA NOSSO TEMPO EM CURITIBA CURITIBA 2013

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS

COMUNICAÇÃO RELIGIOSA E INVESTIMENTO PROFISSIONAL:

UMA INTERFACE DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS

– IURD, FRENTE À PRODUÇÃO MIDIÁTICA DO PROGRAMA

NOSSO TEMPO EM CURITIBA

CURITIBA

2013

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SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS

COMUNICAÇÃO RELIGIOSA E INVESTIMENTO PROFISSIONAL:

UMA INTERFACE DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS

– IURD, FRENTE À PRODUÇÃO MIDIÁTICA DO PROGRAMA

NOSSO TEMPO EM CURITIBA

Monografia apresentada ao MBA em Gestão e Produção em Rádio e TV, da Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas, da Universidade Tuiuti do Paraná como requisito avaliativo para obtenção do título de Especialista, sob a orientação da Profª Me. Patricia Brum

CURITIBA

2013

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TERMO DE APROVAÇÃO

SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS

COMUNICAÇÃO RELIGIOSA E INVESTIMENTO PROFISSIONAL:

UMA INTERFACE DA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS

– IURD, FRENTE À PRODUÇÃO MIDIÁTICA DO PROGRAMA

NOSSO TEMPO EM CURITIBA

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de

Especialista no curso de MBA em Gestão e Produção em Rádio e

TV da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 21 de agosto de 2013.

________________________________________

MBA em Gestão e Produção em Rádio e TV Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Prof.ª Me Patricia Leal de Brum UTP – FACSA Prof.ª Dra. Ana Paula Rosa UTP – FACSA Prof.ª Dra. Denise Regina Stacheski UTP – FACSA NOTA FINAL: 9,5

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Dedico este projeto aos meus pais, Pedro e Sirlene, que

me ensinaram a vida no caminho da verdade desde os

meus mais tenros passos, e ao meu irmão Flávio, que me

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ensina a cada dia a olhar com mais perspicácia para o

mundo ao meu redor.

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AGRADECIMENTOS

A minha professora e orientadora Me. Patricia Brum, que me ajudou a pontuar

este trabalho e acreditar em meus projetos.

As minhas amigas e colegas de profissão Patrícia Domingues e Eliane Muiniki,

que me apoiaram grandemente durante todos os momentos bons e difíceis

dessa caminhada.

A Me. Ana Lesnovski pela primeira revisão e pelas sugestões para um novo

projeto.

As minhas amigas Luísa Alasmar e Camila Nery pelo apoio e companhia.

E a todos que participaram e colaboraram direta ou indiretamente para o

desenvolvimento desse projeto.

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RESUMO

O objetivo deste projeto é fazer uma análise crítica e conceitual dos programas da Igreja Universal do Reino de Deus - IURD em Curitiba, especificamente o Nosso Tempo, apresentado pelo Bispo Wagner Negrão e exibido nas emissoras RIC/CNT/Mercosul/BAND. Foram analisados e confrontados dois programas em um período de um ano, exibidos na mesma emissora e no mesmo horário. Essa análise revelou uma fraca produção e baixa qualidade nos programas desenvolvidos. Analisou-se também a relação direta que existe entre a organização interna da Igreja, com seus cultos e rituais e o reflexo que isso gera em seus programas televisivos. Essa pesquisa também visa questionar se o investimento financeiro e profissional dado pelo empresário e Bispo Edir Macedo, presidente da Rede Record de Televisão e fundador da IURD, é o mesmo nos dois segmentos da mídia televisiva: gospel e secular.

Palavras-chave: neopentecostalismo, fé, religião, comunicação, mídia televisiva.

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ABSTRACT

The objective of this project is to make a critical and conceptual analysis of the programs of Universal Church of the Kingdom of God in Curitiba, specifically the program named Nosso Tempo, presented by Bishop Wagner Negrão and displayed in the TV stations RIC / CNT / Mercosul / BAND. We analyzed and compared two programs in a period of one year, shown in the same station and at the same time. This analysis revealed a weak production and low quality programs developed. We also analyzed the direct relationship that exists between the internal organization of the Church, with their worships and rituals and the reflection that it generates on their television programs. This research also aims to question if financial and professional investment given by businessman and Bishop Edir Macedo, President of Rede Record TV and founder of the Universal Church, is the same in two segments of television media: the gospel and secular.

Keywords: pentecostal doctrine, faith, religion, communication, television media.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 10

1 O ADVENTO DO NEOPENTECOSTALISMO NO BRASIL ........................................... 12

2 O MOVIMENTO PENTECOSTAL ...................................................................................... 13

3 MÍDIA, RELIGIÕES E DOUTRINAS .................................................................................. 17

4 O USO DA RETÓRICA NOS PROGRAMAS TELEVISIVOS ........................................ 20

5 A PRODUÇÃO TELEVISIVA ............................................................................................... 23

6 ORGANIZAÇÃO INTERNA DOS TEMAS DAS REUNIÕES DA IURD ........................ 25

7 PÚBLICO-ALVO DAS REUNIÕES ..................................................................................... 27

8 A IURD E AS MÍDIAS SOCIAIS .......................................................................................... 28

9 CARACTERÍSTICAS DOS TESTEMUNHAIS GRAVADOS PARA OS PROGRAMAS

..................................................................................................................................................... 32

10 DEFINIÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO ......................................................................... 37

11 ESTRUTURA DOS PROGRAMAS E PRODUÇÃO ...................................................... 38

11.1 ESPELHO – NOSSO TEMPO – 09/05/12 – Pr. Alexandre Mendes ....................... 39

11.2 ESPELHO 2 – NOSSO TEMPO – 01/05/13 – Bp. Wagner Negrão ........................ 49

12 CONFRONTO E AVALIAÇÃO .......................................................................................... 61

13 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 67

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 69

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INTRODUÇÃO

Nos últimos anos a TV brasileira tem presenciado um boom de

programas religiosos. São Católicos, Protestantes, Maçons, representantes da

Umbanda, do Candomblé, dentre vários outros. As religiões têm saído das

quatro paredes para pregar suas ideologias em massa. Para isso, utilizam-se

de todos os meios de comunicação.

Este projeto pretende abordar uma religião específica: a Cristã

Protestante, dentro da corrente Neopentecostal, que tem como principal

representante, a Igreja Universal do Reino de Deus, surgida na década de 70,

tendo como fundador o empresário e Bispo da Igreja, Edir Macedo, também

dono de uma das maiores empresas de telecomunicações no Brasil, a Rede

Record.

O objetivo principal deste projeto é analisar a extensa programação da

IURD tendo como corpus o programa Nosso Tempo em Curitiba¸ por ser

considerado pela entidade religiosa em questão o principal programa na região,

sendo este apresentado atualmente pelo representante estadual o Bispo

Wagner Negrão, responsável pela Igreja Universal do Reino de Deus no

Paraná.

Também queremos propor uma análise sobre o investimento profissional

que a IURD destina às suas programações e a produção de conteúdos, de que

forma esta visão profissional é utilizada pelos líderes da Igreja.

A IURD possui um sistema de rotação de pastores, ou seja, nenhum

pastor fica muito tempo na mesma igreja. Geralmente passam dois anos e se

mudam. Na análise dentro da nossa pesquisa, há uma mudança. O pastor

anterior, Alexandre Mendes, ficou por dois anos e foi transferido em 2012,

dando lugar ao Bispo Wagner Negrão, que até a conclusão deste trabalho

exerce as suas funções em Curitiba.

O Pr. Alexandre apresentou o programa analisado durante todo o tempo

em que esteve à frente da IURD em Curitiba.

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Assim, faremos uma análise de dois programas, em um intervalo de um

ano, a fim de perceber e pontuar as diferenças de condução e conteúdo de

acordo com a direção de cada um desses líderes religiosos.

O motivo de fazermos esta pesquisa foi o desejo de compreender de

que maneira a fé midiática é capaz de se manter. Mesmo com tantos

concorrentes caminhando ao lado quando se trata de programas evangélicos

televisivos, a IURD parece não temer a ascendência de tais programas e segue

em frente adquirindo novos canais e novos espaços na mídia.

Queremos mostrar que existe ainda um extenso caminho a ser

percorrido quando se fala em programas de TV evangélicos. Qualidade,

produção, direção e organização são assuntos que ainda não fazem parte dos

programas da IURD e diante da grandeza dessa Igreja, nos perguntamos se há

interesse em incluir esses assuntos no desenvolvimento de seu material ou se

será permanentemente uma característica ruim dessa Igreja, liderada pelo

empresário Edir Macedo, dono da Rede Record de Televisão, considerada uma

das mais conceituadas empresas de telecomunicação do país.

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1 O ADVENTO DO NEOPENTECOSTALISMO NO BRASIL

Em 31 de outubro de 1517, um homem chamado Martinho Lutero, afixou 95

teses na porta da capela de Wittemberg, Alemanha. Esse documento era uma

forma de protesto contra a venda de indulgências, realizada na época pelos

líderes da Igreja Católica Romana. A grande revolta de Lutero era devida o

incentivo que a Igreja dava à compra dessas indulgências assim como a

proposta de salvação através da doação de dinheiro para a construção da

Basílica de São Pedro em Roma. Lutero protestava contra esse “comércio”,

uma vez que frente ao que estava escrito na Bíblia Sagrada, os homens não

podiam e não podem comprar a graça de Deus. A partir do momento em que a

salvação é graça, dada gratuitamente por Deus, não mediante os atos ou

comportamentos do ser humano, é impossível comercializá-la, ou propor algo

para alcançar a salvação sem que seja mediante a graça.

Esse ato foi marcado como o ponto de partida da Reforma Protestante. As

idéias de Lutero geraram seguidores e é relevante destacarmos alguns nomes,

pois foram de grande importância na segunda fase da Reforma Protestante,

momento em que as Igrejas começam a se formar, após a excomunhão de

Martinho Lutero da Igreja Católica Romana, como é o caso de João Calvino

que originou o movimento Calvinista, na Europa. Os protestantes rechaçavam

a idéia de que a Igreja deveria se submeter a apenas um Líder no mundo

inteiro. Defendiam a opinião de que todos poderiam ter sua livre interpretação

de Bíblia e vários líderes responsáveis pelas Igrejas. Surgiriam então novas

doutrinas e denominações da Igreja Protestante: os luteranos, presbiterianos,

batistas e metodistas, todos esses denominados históricos.1

As Igrejas históricas possuem como característica, uma doutrina muito similar.

Seus líderes são teólogos e exigem o estudo da Teologia como nível superior.

São Igrejas que direcionam seu trabalho religioso para um público de classe

média a alta em sua maioria.

1 As Igrejas consideradas histórias são: Luterana, Batista, Presbiteriana e Metodista. Chegaram

ao Brasil no século passado e representam cerca de 33% dos 18 milhões de evangélicos do país (aproximadamente 6 milhões de pessoas). SANTOS, 2002, p. 21.

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2 O MOVIMENTO PENTECOSTAL

Nos idos de 1900, chega ao Brasil o movimento Pentecostal, cujo maior

representante é a Igreja Assembléia de Deus2. Os pentecostais apresentaram

uma nova linguagem às igrejas evangélicas e marcaram o início da

heterogeneidade das comunidades. A primeira igreja pentecostal que chegou

ao Brasil foi a Congregação Cristã, fundada pelo italiano Luigi Francescon.

Sua primeira sede foi construída em São Paulo, em 1910. Em 1911, a Igreja

fundada pelos suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, Assembléia de Deus, tem

seu início em Belém, no Pará. Observe que mesmo sendo seus fundadores

europeus, a Igreja não veio da Europa, mas sim de um grande movimento

pentecostal iniciado nos Estados Unidos, de onde vieram os dois europeus,

trazendo para o Brasil essa visão pentecostal e por conseqüência, a criação de

uma nova Igreja no norte do país.

A Igreja Pentecostal não trouxe apenas uma mudança no estilo de se

desenvolver quanto aos cultos e à formalidade própria das Igrejas históricas.

Além de sua grande informalidade – louvores altíssimos em volume, gritos de

exaltação e curas milagrosas – o fiel, pertencente a essas Igrejas, era

submetido a uma série de condutas, que compreendiam desde o seu falar até o

seu vestir. As mulheres deveriam usar apenas saias abaixo dos joelhos, não

podiam se maquiar e nem cortar os cabelos. Os homens deveriam estar

sempre de terno e gravata. Ambos deviam ter uma vida isolada do “mundo”,

evitando “contaminar-se com o pecado existente na terra”, isto é, possuir

acesso a meios de comunicação por eletrodomésticos com rádio e TV era

abolido. Assim, seu falar deveria ser moderado, tanto quanto suas atitudes

para com todos. Com o passar do tempo essa visão foi mudando. Atualmente

as Igrejas Assembléia de Deus permitem às mulheres usarem calças, cortarem

os cabelos e o acesso aos meios de comunicação foi liberado, seus líderes

inclusive aderiram à prática do televangelismo – apesar de ainda existirem

2Os pentecostais surgiram no Brasil a partir de 1910. O nome vem do dia de Pentecostes,

quando, de acordo com a Bíblia, o Espírito Santo se revelou aos apóstolos 50 dias depois da ressurreição de Cristo. A maior representante é a Assembléia de Deus. Dão ênfase a manifestações do Espírito Santo, principalmente à glossolalia, e a partir dos anos 50, às curas divinas. Realizam cultos baseados na emoção, mais informais que os das Igrejas Tradicionais. Os pentecostais e Neopentecostais são aproximadamente 12 milhões de pessoas (67% dos evangélicos). SANTOS, 2002, p. 21.

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muitas congregações pequenas que seguem à risca a doutrina inicial da Igreja

quando ao vestuário.

Dedicavam-se em sua maioria à evangelização das classes mais pobres e com

nível de instrução quase nulo. Diferente dos Católicos e Protestantes históricos,

que visavam pessoas pertencentes à alta classe social.

Essa é considerada a primeira fase do pentecostalismo.

Na década de 50 chega ao Brasil um novo pentecostalismo, mais liberal, com a

Cruzada Nacional de Evangelização, que era um braço da Igreja do Evangelho

Quadrangular3, regida pelos líderes norte-americanos Harold Willians e

Raymond Boatright, que trouxe uma visão mais aberta, como proposta de uma

abrangência ainda mais ampla. Esses missionários iniciaram uma nova

comunicação em massa, divulgando seu trabalho através de programas de

rádio, atraindo milhares de fiéis com suas curas excepcionais.

Segundo o autor Ricardo Mariano, da PUC-RS, a partir desse movimento

realizado pelas Cruzadas, surgiram novas igrejas pentecostais: Brasil Para

Cristo (São Paulo, 1955), Deus é Amor (São Paulo, 1962), Casa da Benção

(Belo Horizonte, 1964), e várias outras de menor porte. (1999, p. 30)

Podemos considerar esse momento, como a segunda fase do pentecostalismo.

A terceira fase do pentecostalismo vem com muitas mudanças. Os chamados

neopentecostais4 expressam aversão total às religiões afro-brasileiras e

3 A sua fundadora foi Aimme Elizabeth Kennedy. Em 1922, durante um culto na cidade de

Oakland, recebeu a visão do evangelho quadrangular, termo que daria à Igreja fundada por ela em janeiro de 1923, com a inauguração do Angelus Temple, em Los Angeles, California. A Igreja do Evangelho Quadrangular se concentra hoje em 107 países ao redor do mundo. É baseada na Bíblia e tem um enfoque profundamente Cristo-cêntrico e é uma das igrejas pentecostais pioneiras do avivamento carismático do início do século XX. Seus quatro temas predominantes se estabelecem na mesma Bíblia: Jesus Cristo o Salvador Enviado por Deus para Salvar o Mundo (Romanos 3:23); Jesus Cristo O Batizador Dando Poder e Unção do Espírito Santo (Atos 1:5 e 8); Jesus Cristo o Médico Tocando enfermos com o poder curador (Mateus 8:17) e Jesus Cristo o que Rei que voltará Vindo como o Rei dos reis (I Tessalonicenses 4:16 a 18). Mais em www.quadrangular.com.br 4 (...) De uma maneira geral, esse “neopentecostalismo” enfatiza exorcismo, cura divina, dons

espirituais, continuidade da revelação divina através de líderes carismáticos, e uma parte aceita a “teologia da Prosperidade” (...) A estrutura eclesiástica das igrejas se concentra na mão de um líder carismático. A liturgia dos cultos enfatiza o aspecto emocional, e por isso é mais descontraída. O mesmo enfatiza a demoniologia e a expulsão do mesmo. Estas igrejas vêem na mídia a forma mais rápida de expansão através do tele-evangelismo. (ROMEIRO, 2005)

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Espíritas, e pregam com afinco o seu total desprazer nessas religiões, além de

mudarem a linguagem de abordagem ao público, usando de maior

agressividade nas palavras com entonações imperativas e vocabulário

coloquial, sem cuidados gramaticais por parte de seus interlocutores.

Refazem o perfil de um Líder único a quem todos se submetem, iniciam o uso

massivo dos meios de comunicação (rádio, TV, jornais impressos e internet)

como principal fonte de comunicação da Igreja; perfazem um perfil único de

comportamentos de fiéis e líderes e de momentos que especificam as reuniões,

como manifestações extáticas, curas imediatas através da fé, a prática

contínua do exorcismo como fator único para libertação do mal, proveniente de

maldições lançadas pelo diabo e a disseminação da chamada Teologia da

Prosperidade5, onde se acredita que o ser humano é sócio de Deus e assim,

possuidor de tudo aquilo que Ele possui, ou seja, na visão da Teologia da

Prosperidade e das Igrejas que pregam tal teologia, a benção financeira é um

desejo de Deus para seu seguidor, e consequentemente uma obrigação para

com o homem, a partir do momento em que este toma a decisão de segui-lo.

Se determinada pessoa não é próspera financeiramente, a mesma deve estar

em pecado, ou não possui fé o suficiente para agradar a Deus. Contudo, nessa

idéia, também existe o princípio de que quanto mais você der a Deus, mais Ele

dará a você, assim, são feitas grandes doações financeiras e materiais com o

intuito de prosperar mais. Essas doações, segundo os líderes das Instituições,

são destinadas à manutenção dos templos e trabalhos missionários e

pagamento dos salários dos pastores.

A principal denominação desse novo grupo, sem dúvida, é a Igreja Universal do

Reino de Deus6, fundada em 1977, no Rio de Janeiro e o caminho percorrido

até a data de sua fundação é interessante: em 1975, Edir Macedo, Romildo

5 Teologia surgida após a Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos. Muito comum nos grupos

pentecostais e neopentecostais. Seu principal idealizador é Essek William Kenyon, considerado o Pai da Teologia da Prosperidade. Suas idéias consistem basicamente no fato de que doença e pecado estão diretamente atrelados e a salvação nos liberta da miséria e da pobreza, ou seja, a partir do momento em que alguém passa a seguir a Jesus, deverá enriquecer, conquistar bens materiais, pois a riqueza material está diretamente atrelada à salvação. 6 Os neopentecostais englobam as igrejas criadas a partir da década de 70. Nesse grupo se

inclui a Universal do Reino de Deus. Os neopentecostais destacam o dom do Espírito Santo que leva à cura divina e ao exorcismo (que chamam de libertação). A guerra entre Deus e o diabo ganha tons dramáticos. Na Universal, todos os movimentos que contrariam sua doutrina, como a umbanda, são considerados manifestações demoníacas. SANTOS, 2002, p. 22.

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Ribeiro Soares, Roberto Augusto Lopes e os irmãos Samuel e Fidélis Coutinho,

fundaram a Igreja Cruzada do Caminho. Dois anos depois, devido a

desentendimentos, o grupo se dividiu e Edir Macedo, Romildo Ribeiro Soares e

Roberto Augusto Lopes e Carlos Rodrigues deixaram a Cruzada do Caminho e

fundaram a Igreja Universal do Reino de Deus. Romildo Soares era o principal

líder da Instituição, contudo, não demorou muito para que um desentendimento

acontecesse. Aos poucos, o poder passou das mãos de Romildo Soares para

as mãos do seu cunhado, Edir Macedo, até chegar ao momento em que por

comum acordo, ambos se submeteriam a uma votação entre a liderança da

IURD, a fim de decidir quem ficaria no comando. Nessa votação, Edir Macedo

saiu vitorioso e R.R. Soares se desligou da IURD, fundando em 1980, a sua

própria Igreja: Internacional da Graça de Deus.

Vários homens chegaram a postos altos na IURD por seus próprios esforços e

merecimentos, mas um homem se destacou entre esses líderes. Foi obreiro,

pastor e chegou a obter o título de bispo. Seu nome: Valdemiro Santiago. Foi

bispo na IURD até o momento em que foi obrigado a desligar-se, quando se

tornou público um caso extraconjugal dele. Valdemiro nunca confirmou as

acusações, mas sua saída da IURD não foi amigável.

Figura 1 – Imagens de R.R. Soares, Edir Macedo e Valdemiro Santiago.

Valdemiro Santiago criou em 1998 a Igreja Mundial do Poder de Deus. Maior

rival da IURD. Em meio às suas reuniões, seus líderes deixam implícita a

aversão da Igreja frente à IURD, seus dogmas e liturgias e vice-versa.

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Dentre as principais Igrejas do grupo Neopentecostal, a IURD7 é a que possui

maior agressividade quanto à comunicação midiática, e no próximo capítulo

poderemos conhecer mais sobre as estratégias de comunicação da IURD.

3 MÍDIA, RELIGIÕES E DOUTRINAS

Quem nunca chegou em casa, ligou a TV e ao “zapear” os canais não se

deparou com algum programa religioso? Seja qual for: evangélico, espírita,

católico, umbandista dentre outros. É fato que as religiões têm invadido a

mídia, o que gera a impressão de que apenas o reunir-se nos templos com

seus participantes ativos já não é mais o bastante. É necessária uma inserção

midiática, a fim de atingir pessoas fora das quatro paredes de reuniões, e a

mídia parece de fato ser o melhor caminho para se obter sucesso com

angariação de seguidores. Seja no meio religioso ou secular8.

Segundo o autor Alexandre Fonseca,

[...] A cada dia novas igrejas alugam horários, compram rádios e buscam mais e mais espaços na mídia para que possam “dar seu recado” a todos. Atualmente cerca de 10% do que é transmitido semanalmente pela televisão brasileira é produzido por igrejas e organizações evangélicas. (p. 1, 1997)

Em 1929, durante a Segunda Guerra Mundial, na Califórnia, Estados Unidos, a

Igreja Adventista do Sétimo Dia criou o programa de rádio The Voice of

Profecy, programa de evangelismo. Em 1943, o programa traduzido A Voz da

Profecia começou a ser transmitido no Brasil, nas principais capitais brasileiras,

sob a direção do Pr. Roberto Rabello. Em 1956, os adventistas começaram a

produzir o programa de televisão Está Escrito, nos E.U.A.

7Seu crescimento, sobretudo a partir de meados dos anos 80, quando começa a adquirir as

primeiras rádios, tem sido impressionante. O número de templos chega a três mil, o de países atingidos supera cinco dezenas, o de fiéis ultrapassa um milhão. Sua forte inserção na mídia e na política partidária, sua competência administrativa, sua vertiginosa expansão no Brasil e no exterior, bem como sua capacidade de mobilizar miríades de fiéis em diversos Estados não encontra paralelo na história de nenhuma outra grande denominação brasileira. (MARIANO, 1999, p. 53-54) 8 Na linguagem evangélica, quando uma pessoa se converte, ela deixa o “mundo” para trás, ou

seja, tudo o que a levava a ter uma vida de pecado: sexo, drogas, orgias, brigas, traições, prostituição, etc., tudo o que é profano, mundano, tudo aquilo que é externo às práticas religiosas, é secular. Exemplo: músicas que não são gospel são seculares. Programas de TV que não são gospel são seculares, livros, tudo o que é externo à Igreja é secular.

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Em 1962, sob o comando do Pr. Alcides Campolongo e sua esposa Neide, os

adventistas deram início ao primeiro programa de TV brasileiro, na extinta TV

Tupi, Fé para Hoje, que continua sendo veiculado. Foi o primeiro de muitos

programas que se seguiriam após ele.

O advento dos programas de cunho religioso/protestante na mídia televisiva no

Brasil se deu praticamente junto com o advento da TV brasileira, que começou

sua jornada na década de 50.

A tabela abaixo, apresentada no artigo Programa Show da Fé: um retrato da

construção midiática da imagem religiosa evangélica, por Heinrich A. Fonteles

mostra os principais programas de TV, exibidos no país a partir da década de

60.

Programa Ano TV Igreja Apresentador /

Pastor

Fé para Hoje

1962

TV Tupi

Adventista

Alcides Campolongo

Café com Deus Década de 60 TV Tupi Igreja Nova Vida McAlister

Início: Jesus – A esperança das gerações Final: Pare e Pense

1974 / depois entre 1980 e 1999

Início: Amazonas TV Local: Rede Machete, Record / Final: TV VINDE

Início: Presbiteriana Depois: Interdenominacional

Caio Fábio

Encontro com Deus

Década de 60

Recife: TV Local

Presbiteriana

João Campos

Um pouco de Sol

Década de 60

SP: TV Local

Batista

Rubens Lopes

Reencontro

1975

1. Em rede nacional – TV rio / Bandeirantes

Batista

Nilson do Amaral Fanini

Início: Renascer – Depois: Vitória em Cristo

1982 1999 1999

Rede Nacional Rede TV! (atualmente)

Assembléia de Deus

Silas Malafaia

Movimento Pentecostal

1996 – 1998 Rede Manchete Assembléia de Deus

Institucional

Fonte: FONTELES. H.A. Programa Show da Fé: um retrato da construção midiática da imagem

religiosa evangélica. UNIP. São Paulo, 2007.

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Com o Golpe de 1964, teve início um período que perduraria por mais de 20

anos: a Ditadura Militar. Nesse período, a censura à mídia era muito grande.

Tudo era analisado, revisado e muito material não passava pela censura. Os

programas evangélicos ganharam força nessa época, pois respeitavam a

cartilha da Ditadura e não fomentavam o caos, com suas mensagens de

moralização, valorização da família, fé, espiritualidade e bons costumes. E foi a

partir daí que os programas religiosos começaram a ganhar força e espaço.

Ainda Fonteles afirma:

Se a censura era moralista, a religião também o era, o que não provocava nenhum mal estar neste sentido. O discurso dos programas religiosos vem enaltecer o espírito cívico, da ordem, da família e do serviço religioso, necessário para formar uma característica comportamental neste indivíduo: a passividade. Tal tipo de comportamento é um dos requisitos exigidos por aqueles que querem participar de um espetáculo e, neste sentido, as ações da nascente mídia evangélica atendiam aos critérios político-ideológicos do regime. (p. 6, 2008)

Na década de 80, os pentecostais começaram a fazer uso da ferramenta

televisiva para evangelismo. A partir daí, é notória a diferença. Enquanto os

evangélicos tradicionalistas se preocupavam com a qualidade do programa que

seria veiculado, os pentecostais começaram a se preocupar mais com a

quantidade divulgada e a audiência alcançada, que é medida através dos

próprios cultos. E isso continuou, com o advento do Neopentecostalismo. O

que torna muito clara a diferença entre os grupos: enquanto os evangélicos

tradicionalistas se preocupam com a qualidade do produto, da imagem, é

notória a produção que existe por detrás dos programas, o cuidado com que os

programas são feitos, também fica clara a falta de qualidade nos programas

pentecostais e neopentecostais. Muitas vezes a ausência de produção fica

evidente. São características bem marcantes dos 3 grupos, são eles: históricos,

pentecostais e neopentecostais.

O que é notoriamente evidente nos programas pentecostais e neopentecostais

é o uso massivo da retórica como poder de propagar o evangelho. No caso, a

Teoria da Prosperidade, a salvação, os males do diabo e a divulgação dos

milagres realizados nas reuniões. Como o nosso objeto de estudo são os

programas da IURD, vamos tomar por base o seu estilo de programação:

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ideias bem formuladas, identificação bem estabelecida com estratégias de

publicidade bem argumentadas.

4 O USO DA RETÓRICA NOS PROGRAMAS TELEVISIVOS

A retórica é o tipo de discurso sempre presente na mídia e com mais força no

campo da publicidade. No caso dos programas evangélicos, que também

podem ser vistos como mídia persuasiva, a retórica é muito utilizada e bastante

evidente.

Segundo Marcos da Silva Machado; Francisco Rodrigues Gomes e Marilene

Meira da Costa

[Retórica] do grego rhetor = orador numa assembléia. É a arte de bem falar, mediante o uso de todos os recursos da linguagem para atrair e manter a atenção e o interesse do auditório para informá-lo, instruí-lo e principalmente persuadi-lo das teses ou dos pontos de vista que o orador pretende transmitir. (Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo). (apud O Uso Persuasivo na Linguagem Publicitária e Mídia Impressa, p. 1, 2010).

Quando pensamos em público alvo para os programas da IURD, precisamos

compreender que é algo muito amplo. Consiste em todos aqueles que não são

fieis da própria Igreja, no caso: espíritas, umbandistas, muçulmanos e até

mesmo evangélicos de outras denominações que tenham algum problema a

ser identificado pelo interlocutor. De todas as raças, credos e níveis sociais.

Por outro lado, existe um outro público, que é muito fiel aos programas, que

são as personagens que compõe o programa, dando seus depoimentos,

contando suas histórias de vida. Essas pessoas assistem aos programas para

admirar o seu próprio material e acabam fazendo uma propaganda indireta

para os amigos, convidando-os a vê-los na televisão.

Os apresentadores utilizam-se da persuasão e da repetição para vender

anunciar os seus produtos, com frases de efeito, como “Você precisa mudar de

vida!”, “Para o seu problema, há solução! É preciso tomar uma atitude!”.

A publicidade secular segue bem esses estereótipos para a venda do produto.

Contudo, surge nesse meio, uma grande diferença na apresentação dos

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produtos. Uma vez que as inserções publicitárias durante os programas de

televisão são sinônimo de dinheiro, ou seja, vendas para manter o programa no

ar, nos programas evangélicos, isso não existe. Uma vez que são os próprios

fiéis quem mantém a programação no ar, os intervalos constituem-se em

vídeos institucionais e depoimentos de mudança de vida, gravados e

produzidos pela própria igreja,

Percebe-se, no entanto, que a Igreja não é apenas uma instituição religiosa.

Ela também promove dinheiro, assim, se auto promove, produzindo programas

de TV. Para que seus produtos sejam veiculados, tal arrecadação faz-se

necessária. Trata-se de uma publicidade institucional.

Assim sendo, esses comerciais tem uma linguagem própria argumentativa e

persuasiva, com trilhas sonoras bem determinadas para cada tema – seja

cura, libertação ou transformação de vida – que se utiliza de linguagem

visual diferenciada, com o propósito de convencer o telespectador, com

enquadramentos mais elaborados para tais temas.

Para que possamos entender melhor, vamos analisar os dois lados

independentes dos intervalos: para a mídia secular a publicidade apresenta um

sonho e vende uma frustração. Pois se ao apresentar um produto, o

consumidor não for convencido de que aquele produto realmente vai mudar a

sua vida, ele não irá adquiri-lo, afinal, a concorrência tem os mesmos produtos.

Logo, a publicidade busca fazer com que o telespectador acredite que aquele

produto é o ideal para resolver o seu problema e consequentemente lhe trazer

a felicidade.

Por exemplo: as propagandas da Coca-Cola; apresentam o sonho da vida feliz.

Sem problemas. É o elixir da paz, aquele que ao tomar, some com tudo o que

há de ruim na vida e traz a alegria instantaneamente. Leva o consumidor a

acreditar que aquilo é possível e verdadeiro. Pelo menos durante os segundos

em que dura o comercial. Porém, após a aquisição do produto, o consumidor

se depara com a frustração, pois percebe que o produto não trouxe a felicidade

apresentada. Os problemas continuam lá. A miséria continua lá. O marido

continua traindo a esposa. Independente dessas pessoas beberem ou não a

Coca-Cola.

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Como já dizia o poeta brasileiro Sebastião Nunes:

Todo mundo é feliz// nos anúncios de cigarro.// Todo mundo é feliz/ nos anúncios de bebida.// Todo mundo é feliz// nos anúncios de carro.// Todo mundo é feliz// nos anúncios de tudo.// A melhor garota propaganda// da publicidade// é a felicidade” (NUNES, 1995, p. 63).

Na publicidade secular não existe lugar para a tristeza e é aí que o cliente se

decepciona. Porque a felicidade não pode ser alcançada por meio de um

produto qualquer. O produto pode nos dar uma satisfação pessoal. E só. E é

disso que os programas evangélicos, mais especificamente os neopentecostais

se utilizam.

Já nos intervalos dos programas religiosos da IURD, a abordagem é diferente:

os vídeos apresentam primeiro uma frustração. Eles expõem durante mais de 2

minutos o problema que determinada pessoa enfrentou, com detalhes sobre as

dificuldades, o sofrimento, as tristezas. Tempo suficiente para que o

telespectador se identifique com o depoente. Feito isso, o depoente tem

aproximadamente um minuto, quando não menos, para dizer como a sua vida

mudou depois que começou a freqüentar a Igreja Universal. Ou seja, a Igreja

expõe a frustração, o fracasso e sugere uma solução, eles vendem algo que

passa a idéia de um efeito transformador. Assim, fica difícil o consumidor se

desiludir com a aquisição, afinal, ele foi apresentado à frustração

anteriormente. A angústia, o fracasso e a realidade desta pessoa estão bem

presentes na apresentação do produto. Assim, a venda da felicidade/solução e

prosperidade fica mais apresentável e crível.

A campanha dessa mídia é apresentar uma solução para todos os problemas

da sociedade pós moderna. Problemas a que todos estão suscetíveis e frente

aos quais é impossível lutar, pois são caracterizados por doenças que os

médicos não conseguem diagnosticar a causa/cura, depressão, medo,

nervosismo, vícios e desejo de suicídio. Ao chegar à igreja a pessoa não

recebe um diagnóstico, mas recebe a cura.

É importante destacar que dentro de propagandas publicitárias faz-se

necessário explicar para o cliente a razão pela qual ele precisa adquirir o

produto. Isso se faz ao explorar e potencializar o problema. No caso da mídia

religiosa, a exploração do problema é feita com a dor do cliente através dos

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testemunhais: doenças que os médicos não descobrem a causa, insônia,

abusos, angústia, tristeza, brigas, agressões. É necessário evidenciar cada um

desses problemas. Muitas vezes, o cliente pode até se sentir mal, mas é nesse

momento que há a virada na apresentação, ao mostrar a solução para o

problema: “Quando eu cheguei à Igreja Universal, a minha vida foi

transformada. Hoje eu não uso mais drogas, a minha casa é um pedacinho do

céu e eu sou feliz” e outras inúmeras combinações de felicidade.

Segundo Platão (428/27-347 a.C.), a retórica “consiste na faculdade de

descobrir todos os meios possíveis de se fazer acreditar, em relação a

qualquer assunto”. E é utilizando-se da retórica que a IURD consegue

convencer o telespectador e o próprio fiel a participarem de suas reuniões,

grupos e acreditarem fórmulas da felicidade que lhes são “vendidas” em seus

cultos e programas de televisão.

5 A PRODUÇÃO TELEVISIVA

Um ponto muito importante para ser analisado em qualquer programa de TV é

a sua produção, uma vez que não é possível fazer um bom programa sem um

bom produtor. Produção, direção e criação andam muito ligadas quando se fala

em televisão.

Ao se criar um programa de televisão, é importante que os seus criadores

tenham plena noção de quem é o seu público-alvo, como será formatado o

conteúdo desse programa, qual é o seu horário de veiculação e dia da semana,

qual é o objetivo deste programa ir ao ar e quais recursos operacionais e

financeiros serão necessários para o desenvolvimento do programa. Com

essas informações, é possível ter um projeto bem elaborado e uma vez

montada a equipe, é de extrema importância que os produtores e diretores

também tenham essas informações em mãos.

A montagem de um programa televisivo deve passar por algumas etapas antes

de sua veiculação: pré-produção, produção e pós-produção.

A pré-produção consiste em listar quais são as necessidades gerais para que o

programa possa ser executado. Contato com o roteirista, recepção e

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decupagem do roteiro, contato com atores, apresentadores, equipes e

solicitação de equipamentos necessários, verificação dos locais de realização

(estúdio ou externa), previsão de tempo de gravação, negociação de cachês e

alimentação, quando necessário. Nessa fase, os principais envolvidos:

diretores, produtores, equipe operacional técnica e de cenografia trabalham

juntos.

O segundo momento é a produção. É nesse momento em que o programa

começa a funcionar. Cabe a produtor a função de marcar os horários de

gravações, entrada das equipes, intervalos, provisão de materiais e

equipamentos necessários para as gravações, provisão de transporte se

necessário, solicitação de autorizações para gravação seja para locais ou para

participantes, confirmação da pauta, provisão das fitas para gravação, registro

do conteúdo das fitas, prepararão e organização do relatório de gravação para

entregar ao editor, entrega dos roteiros e espelhos para as equipes, controle do

tempo durante a gravação do programa dentre outras pequenas funções que

se façam necessárias durante as gravações.

Após o término da produção, é iniciada então a pós-produção, que consiste na

edição do material gravado e a inserção de computação gráfica e trilha sonora

caso se faça necessário.

O diretor comanda as fases de produção, é ele quem coordena as atividades

das equipes e determina quais planos e ângulos usar durante a gravação

assim como a posição do apresentador / ator / participantes no cenário. O

diretor também supervisiona a edição do programa.

Dessa forma, podemos perceber que diretor e produtor caminham juntos. E

sem essa equipe é impossível fazer um bom programa de televisão.

A lista de uma equipe de TV é enorme. Mas tudo começa com produtor,

roteirista e diretor. Sem essa equipe não há televisão.

Nos programas da IURD, é possível ver a ausência desses profissionais, como

falaremos mais adiante na análise dos conteúdos.

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6 ORGANIZAÇÃO INTERNA DOS TEMAS DAS REUNIÕES DA IURD

A IURD possui uma organização muito clara quanto a temas para as reuniões,

tipos de abordagem e tempo dedicado a cada tema, mas podemos dividi-los da

seguinte forma: Vida Financeira, Cura e Libertação, Busca do Espírito Santo,

Vida Sentimental e Família

Para uma melhor compreensão, vamos usar a tabela a seguir para descrever

cada reunião.

Esta é tabela da Igreja, consiste na forma como eles fazem a divisão das

reuniões e dos temas abordados durante os cultos, para administrarem a

maneira como farão a divulgação de cada assunto.

Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo

Vida

Financeira

Nação dos

318

Cura e

Libertação

Sessão do

Descarreg

o

Desafio

da Cruz

Jejum dos

Impossíveis

Vale do

Sal

Busca do

Espírito

Santo

Noite da

Mudança

Interior

Vida

Sentimental

Terapia do Amor

Família

Concentra

ção de Fé

e Milagres

Dentro das reuniões de Cura e Libertação, a Sessão do Descarrego

caracteriza-se por ser a principal reunião, por geralmente ser conduzida pelo

líder da Igreja em pelo menos um horário. Essas reuniões possuem um padrão

nos quase 200 países onde há uma IURD9: as reuniões acontecem no mesmo

dia em todos esses lugares.

9 Os EUA, onde a igreja possui mais de 190 templos, foram o ponto de partida para a

internacionalização. A Universal está presente em países distantes como: Letônia, Rússia,

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As outras reuniões possuem o mesmo foco, contudo, os pastores que as

conduzem são de menor impacto na liderança da Igreja e assim, não há uma

padronização dos cultos.

As reuniões da Noite da Mudança Interior abordam temas sobre a salvação: se

você morresse hoje, para onde iria a sua alma? Com vídeos apelativos que

mostram pessoas morrendo e indo para o inferno. Também acontece em todos

os países no mesmo dia.

A Terapia do Amor é voltada para pessoas que sofrem na vida sentimental –

sejam solteiros ou casados. Em Curitiba essa reunião já foi realizada às

quintas-feiras e agora voltou aos sábados. Na maioria das IURDs é aos

sábados.

E por fim, a Concentração de Fé e Milagres, é uma reunião voltada para a

transformação da família, com linguagem mais leve e temas específicos para

mães, filhos e casais. Em todos os países essa reunião acontece aos

domingos. E é considerada a mais importante da semana.

Sobre a estratégia da IURD quanto a evangelismo e abordagens, Mariano

afirma:

[...] para tirar proveito evangelístico da mentalidade e do simbolismo religiosos brasileiros, a Universal sincretiza crenças, ritos e práticas das religiões concorrentes. Faz isso de diferentes modos e em distintas ocasiões. Realiza “sessão espiritual do descarrego”, “fechamento de corpo”, “corrente da mesa branca”, retira „encostos‟, desfaz “mau-olhado”, asperge os fieis com galhos de arruda molhados em bacias com água benta e sal grosso, substitui fitas do Senhor do Bonfim por fitas com dizeres bíblicos, evangeliza em cemitérios durante o Finados, oferece balas e doces aos adeptos no dia de Cosme e Damião (MARIANO, p. 132 – 133, 2004).

Isso é visível nos rituais de todos os tipos. Essas apropriações de objetos

simbólicos, para reforçar a sua fé sobre a crença exercida. E na Igreja

Universal, também é feita essa apropriação durante as reuniões. Seja sobre a

vida financeira, cura e libertação ou transformação da família, o simbolismo é

muito forte e o uso de “patuás”, símbolos palpáveis, objetos que remetam e

Grécia, Inglaterra, Moçambique, Japão, Argentina, México, Equador, Itália e China. Tem 382 templos na África do Sul, dos quais 153 só em Johannesburgo. http://noticias.r7.com/brasil/noticias/expansao-da-igreja-universal-pelo-mundo-ja-atinge-quase-200-paises-20120818.html

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reforcem a fé exercida, são muito utilizados. Como o manto consagrado, do

qual os fiéis acreditam sair poder e assim, terem a possibilidade de resolver

tudo o que os aflige com um simples toque. Desde simples problemas em casa

até a cura de doenças terminais.

São distribuídas rosas consagradas, banho com arruda molhada na água

consagrada, fitinhas com promessas que substituem as fitas do Senhor do

Bonfim, azeite consagrado, água consagrada, dentre outros inúmeros símbolos

que reforçam a crença de que usando esses “patuás” os fiéis estarão

protegidos e poderão inclusive combater o mal, curando doenças ao beber da

água consagrada, ou usar o lenço consagrado etc.

O Vale do Sal, que é outro tipo de simbolismo, onde os fieis caminham sobre o

sal grosso para se libertar de todo o mal.

E esse simbolismo continua em todas as reuniões, são pulseiras de propósitos,

de incentivo, reforçadores da fé, que acabam sendo produtos de publicidade e

identificação, pois todos ao redor saberão que aquele que usa a pulseira da

Nação dos 318, ou do Jejum dos Impossíveis, ou a flor consagrada, é

freqüentadores/consumidores da Igreja Universal do Reino de Deus e

consequentemente, anunciadores grátis do produto que a Igreja está

vendendo, no caso, a solução para todos os problemas da sociedade pós-

moderna.

7 PÚBLICO-ALVO DAS REUNIÕES

O público das reuniões de libertação é formado por todos aqueles que

possuem algum tipo de sofrimento considerado pela denominação como

sintoma de possessão demoníaca, classificados em 10 pela doutrina da IURD.

1. Medo

2. Visão de Vultos e Audição de Vozes

3. Vícios

4. Desejo de Suicídio

5. Doenças que os médicos não descobrem a causa

6. Depressão

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7. Dores de cabeça constantes

8. Insônia

9. Nervosismo

10. Desmaios ou Ataques.

Esses sintomas são explorados exaustivamente nos cultos e programas de TV,

com depoimentos de pessoas que sofriam desses males e após começarem a

freqüentar as reuniões de libertação, foram libertas.

O público das reuniões voltadas para a família é todo aquele que precisa de

uma mudança dentro de casa. Sejam brigas, traições, desentendimentos,

problemas entre pais e filhos, entre irmãos, entre casais. O foco dessas

reuniões é a transformação da família e os depoimentos colhidos no altar

durante as reuniões, geralmente são de casais ou pais que tinham filhos

viciados e lutaram pela libertação deles.

Quando se trata de vida financeira, o público é amplo, pois se constitui de todo

aquele que precisa ganhar dinheiro. A reunião prega a idéia de que todos

podem ser empresários e atraem as pessoas que estão desiludidas porque não

conseguem ver um futuro promissor financeiramente. São empresários falidos,

pessoas desempregadas e claro, aqueles que já conseguiram constituir o

próprio negócio freqüentando a reunião dos empresários e continuam a ir, com

o intuito de agora ganhar mais do que já alcançaram.

É possível perceber que o público de cada reunião é diferente. Apesar de todos

os cultos serem voltados para aqueles que sofrem, as reuniões separam os

tipos de sofrimento e acabam formando um público único para cada reunião.

8 A IURD E AS MÍDIAS SOCIAIS

Temos visto o quanto às mídias sociais têm sido utilizadas nos últimos anos

para ampliar a divulgação de empresas, negócios, projetos e marcas. Pessoas

que vivem fora das redes sociais são consideradas desatualizadas, pois

atualmente os assuntos do momento estão nas mídias sociais.

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Uma pesquisa realizada pela Forrester Research mostrou que no Brasil, as

redes sociais e os sites de vídeo online têm obtido mais audiência do que os

canais de TV tradicionais. O uso da web como principal meio de informação e

entretenimento é de 48%. Para 2016, essa marcar deve chegar a 57%.10

E outra pesquisa apontou que o brasileiro que o brasileiro fica em média, 8

horas por dia conectado ao Facebook. Isso representa mais do que a média

mundial, que é de 6,3 horas.11

A IURD tem-se aproveitado desses números e decidiu investir nas mídias

sociais. Assim, os líderes da Igreja possuem sites, blogs, páginas no Facebook

e canais no Youtube, com o propósito de alcançar este público, ou pelo menos,

estar presente nas redes.

Em Curitiba, os mais divulgados são a página do líder do Paraná, onde são

postados vídeos, depoimentos de pessoas que tiveram suas vidas

transformadas e testemunhos de cura que diante dos olhos humanos, são

impossíveis de acontecer.

Um exemplo é o caso da moça que tinha uma doença pior do que a lepra, os

médicos não conseguiam descobrir qual era o prognóstico e ela estava cheia

de feridas, das quais saíam sangue e caíam pedaços da pele, ficando o corpo

na carne viva. A moça conta o depoimento dentro do estúdio e no altar de uma

das Igrejas do grupo Universal, enquanto fotos do tempo em que estava doente

aparecem no vídeo. Ela expõe o seu sofrimento, tudo o que perdeu devido à

doença, até chegar ao momento em que ela começou a ler a Bíblia e foi

curada. Usando vídeos como esses, eles convidam as pessoas para

participarem das reuniões, porque o mesmo milagre será visto da vida dessas

pessoas. Abaixo a divulgação deste vídeo na página da rede social:

10

http://www.3ax.com.br/brasil/brasileiro-fica-mais-tempo-na-internet-do-que-na-tv 11

http://tecnologia.terra.com.br/internet/brasileiro-fica-8-horas-por-mes-no-facebook-diz-estudo,7ba8201fd70ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html

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Figura 2: imagem extraída do Facebook do Bispo Wagner Negrão FONTE: https://www.facebook.com/BispoWagnerNegrao?fref=ts

É um trabalho em massa, com o objetivo de atingir o público por todas as vias.

A seguir vemos a página inicial do Facebook do Bispo Wagner Negrão.

Figura 3: imagem retirada da página inicial do Facebook do Bispo Wagner Negrão.

Fonte: https://www.facebook.com/BispoWagnerNegrao?fref=ts

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Figura 4: imagem retirada da página do perfil do Facebook do Bispo Wagner Negrão.

Fonte: https://www.facebook.com/BispoWagnerNegrao?fref=ts

O que se vê é um exemplo do material divulgado na rede social. Há um vídeo

de um depoimento de uma mulher que sofreu com câncer na língua. Ela

chegou inclusive a perder pedaços da língua. O depoimento mostra imagens

do antes e depois, combinados aos exames de doença e cura. Só este vídeo

teve 709 compartilhamentos. Também há um post com uma frase de Steve

Jobs, que eles utilizam como material motivacional, reforçando a força interior

de seus seguidores, uma forma de estar presente na rede e atualizado. Esse

post teve 522 compartilhamentos. É importante destacar isso porque podemos

perceber que há uma interatividade com os seguidores, que recebem este

conteúdo e passam pra frente. Não deixa de ser mais uma forma de divulgação

gratuita.

Outro ponto importante é o número de seguidores que o perfil possuía quando

foi feito o print da imagem: 10.648 pessoas seguindo o Bispo para ter suas

atualizações, receber suas mensagens, tentar ficar mais perto do seu líder

espiritual.

A seguir, há uma imagem da página inicial do Facebook do Pr. Alexandre

Mendes, antecessor do Bispo Wagner Negrão em Curitiba.

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Figura 5: Imagem retirada do página inicial do perfil do Facebook do Pr. Alexandre Mendes.

Fonte: https://www.facebook.com/PrAlexandreMendes?fref=ts

O Pr. Alexandre Mendes não é tão conhecido no Brasil quanto o Bispo Wagner

Negrão, mesmo assim, o seu perfil possui um total de 8.775 seguidores. Isso

mostra o quanto as pessoas estão conectadas e como é importante estar

atento à essas necessidades. E os líderes da IURD valem-se das redes sociais

como forma de atingir uma massa, sem precisar estar presente pessoalmente

para isso.

9 CARACTERÍSTICAS DOS TESTEMUNHAIS GRAVADOS PARA OS

PROGRAMAS

Os testemunhais também possuem diferença na linguagem audiovisual, quanto

a enquadramentos, cores, edição, trilhas e formato do depoimento.

Os 10 sintomas, citados anteriormente, são utilizados como temas de

persuasão para atrair o público até as reuniões. Assim, em todos os

depoimentos voltados para os programas de cura e libertação, pode-se

visualizar pelos menos um desses assuntos.

As trilhas sonoras geralmente são muito pesadas, sendo de filmes de suspense

ou terror. O depoente fala por uns 3 minutos sobre como a sua vida era

desgraçada, sobre como sofreu com esses sintomas e finaliza com 30 a 40

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segundos, dizendo o quanto a sua vida mudou depois que passou a freqüentar

a Igreja Universal do Reino de Deus. É importante que o problema seja sempre

mais evidente do que a solução, para que o ouvinte telespectador tenha tempo

para se identificar com a situação e assim, descobrir que a solução está

presente em um local específico. No caso, a IURD mais próxima da sua casa.

Essas produções geralmente têm um fundo “macabro”, seja na edição ou nos

efeitos de vídeo e áudio. Quando não são gravados no estúdio, com fundo

preto, são gravados em externa, mas editados com sombras e máscaras que

deixam o visual mais pesado.

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Figura 6: imagem retirada de depoimento utilizado em um programa Nosso Tempo, gravado em estúdio, geralmente em primeiro plano.

Fonte: Programa Nosso Tempo – IURD – 2013.

Figura 7: imagem retirada de depoimento gravado em externa. Enquadramentos bem trabalhados e efeitos visuais.

Fonte: Programa Nosso Tempo – IURD – 2013.

Quando o testemunhal é direcionado para a vida familiar, ou seja, focado para

reuniões como a Concentração de Fé e Milagres, pode-se ver uma diferença

em iluminação e trilhas. Enquanto o de libertação tem esse tema pesado,

geralmente com iluminação mais baixa, o de família, trabalha com trilhas

tristes, dramáticas, adequando-se às histórias de traições, brigas dentro de

casa, filhos que saíram de casa, gravidez na adolescência, abortos, agressões

físicas, abandono, mas sem demonizar o material, trabalhando com iluminação

mais clara, agradável, com uma narração que conta a história.

As produções são gravadas em parques, com simulações feitas por atores

contratados, feito por empresas terceirizadas, para enfatizar momentos tristes

da vida do depoente. Essas produções são maiores, tem entre 5 e 8 minutos e

deixam um tempo maior também para o depoente contar um pouco da sua

mudança de vida na IURD, dando takes na família reunida, abraçada,

mostrando imagens da casa, do carro. Contudo, o tempo que se dá para a

parte triste da história é sempre superior.

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Figura 8 – Imagem retirada de depoimento em parque, onde uma mulher dá o seu testemunho de vida.

Fonte: Programa Nosso Tempo – IURD – 2013.

Figura 9 – Imagem retirada de produção com simulação.

Fonte: Programa Nosso Tempo – IURD – 2013.

E por fim é importante lembrar aqueles que já fizeram parte da Igreja, mas se

afastaram, para eles, são produzidos depoimentos de pessoas que estavam na

Igreja e perderam tudo ao se afastar, tendo uma vida de desgraças e só

conseguiram voltar a ser felizes depois que voltaram para a IURD. Essas

produções são mais simples, sempre em estúdio, com trilhas suaves sem muita

invenção. Provavelmente porque não precisam convencer a pessoa a chegar

pela primeira vez, quem se afastou já conhece os procedimentos, então é só

reavivar aquilo que já foi vivido anteriormente.

Figura 10 – imagem retirada de depoimento “Eu Voltei”, gravado em estúdio.

Fonte: Programa Nosso Tempo – IURD – 2013.

Outra abordagem utilizada nos programas de libertação são os depoimentos

colhidos no altar, durante as reuniões, pelos pastores. As histórias são as

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mesmas, sempre envolvendo algum daqueles 10 sintomas, dando ênfase para

os depoimentos de cura, que assim, o poder curativo do líder, criando uma

apoteose que gera a impressão de que eles – os pastores - são os maiores

responsáveis pelos milagres. Quase deixando Deus em segundo plano. São

organizadas filas de depoimentos, com pessoas que sofriam desde a uma

simples dor de cabeça, passando por pessoas que tentaram se matar até

aquelas que tinham cânceres, tumores, que desapareceram por milagre, com

exames para confirmar a cura. E quando acontece o caso de alguém se

levantar de uma cadeira de rodas, ou largar as muletas, o testemunho é exibido

durante meses na televisão, sendo feitos vídeos especiais, colocando o ex-

paralítico em câmera lenta, com trilhas impetuosas para enfatizar a cura e atrair

mais fieis para a Igreja.

Figura 11: Imagem retirada de depoimento colhido no altar, de um casal que sofria com brigas em casa, reunião de domingo (transformação da família)

Fonte: Programa Nosso Tempo – IURD – 2013.

Todos esses testemunhais buscam atingir um segundo público, além daqueles

que não são da Igreja. No caso, os próprios fiéis. Pois os depoentes constituem

o modelo personagem de divulgação. Ou seja, são referências dentro da

própria Igreja, modelos a serem seguidos, objetivos a serem alcançados. Então

eles se assistem e pedem para outros assistirem a sua história contada na

televisão e assim, os fiéis configuram o principal grupo da audiência desses

programas.

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10 DEFINIÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

O nosso objeto de estudo são os programas da IURD. O corpus deste trabalho

são os programas NOSSO TEMPO, dos dias 09/05/12 e 01/05/13, veiculados

na emissora RIC – afiliada da Rede Record no Paraná – transmitidos de terça a

domingo, com duração de 30 minutos, no horário das 6h15 às 6h45 da manhã.

A partir desse corpus, vamos tomar por base as análises através do estilo de

programação. Isto é, questionar as idéias, identificar se as estratégias de

publicidade são bem formuladas, verificar de que forma a qualidade se alia ou

não ao conteúdo transmitido na emissora do fundador da Igreja Universal e

dono da segunda maior Rede de Televisão do Brasil, a Rede Record.

Os programas Nosso Tempo, são divididos por temas durante a semana, de

acordo com a reunião que acontece. O atual apresentador deste programa em

Curitiba é o líder da Igreja Universal do Reino de Deus no Paraná, Bispo

Wagner Negrão, tendo sido precedido pelo Pastor Alexandre Mendes.

Vamos analisar os programas em um intervalo de um ano, fazendo uma

comparação entre os apresentadores e o tipo de condução feita no programa,

assim como a qualidade do material produzido.

Os programas são transmitidos em 4 emissoras em Curitiba: RIC (afiliada Rede

Record), Canal 21 (Rede Mercosul), Tv Bandeirantes e CNT (essa última

adquirida em Maio pela IURD após uma negociação da Igreja Mundial do

Poder de Deus que não deu certo.)12

Na terça-feira, o programa aborda a reunião de libertação Sessão do

Descarrego.

Na quarta-feira, o programa aborda a reunião Noite da Mudança Interior.

12

A Igreja Mundial do Poder de Deus havia comprado a CNT por aproximadamente R$ 500 milhões. Contudo, o contrato entre a CNT e o bispo Valdemiro teria sido rompido após o não pagamento das locações, o que teria resultado em uma dívida de 18 milhões. Nesse meio tempo, a Igreja Universal já havia conseguido a locação de 11 horas de programação aos sábados e 14 horas aos domingos. Após o rompimento do contrato com a Mundial, a IURD terá ainda mais 11 horas diárias de programação que já começaram a valer na primeira semana de junho. Mais em http://natelinha.ne10.uol.com.br/noticias/2013/06/03/cnt-muda-de-ideia-e-igreja-universal-ocupara-grade-diaria-da-emissora-62073.php

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Na quinta, sexta, sábado e domingo, os programas abordam a reunião de

domingo: Concentração de Fé e Milagres.

Na maioria dos dias, os programas são ao vivo. Exceto no final de semana, que

sempre são gravados, sendo reprisado um dos programas feito durante a

semana.

11 ESTRUTURA DOS PROGRAMAS E PRODUÇÃO

Como já foi dito anteriormente, a IURD assim como as igrejas neopentecostais

não tem muita preocupação quanto à qualidade dos seus programas,

preocupando-se muito mais com quantidade: quantidade de materiais,

quantidade de emissoras, quantidade de horários. Assim, percebemos uma

produção pobre, fraca e descuidada indo ao ar todos os dias.

Os programas geralmente têm duração de 30 minutos. Podendo passar um

pouco ou diminuir. São realizados em cenários neutros, padrão em todo o

mundo, com fundo azul e detalhes brancos e púlpito cinza, com duas poltronas

brancas para participação de pastores das Igrejas de outras regiões da cidade

ou do estado. Esses pastores raramente aparecem nos programas e quando

aparecem, falam em torno de 15 segundos apenas.

Os caracteres aparecem durante o programa inteiro. Não há espaço para

respirar. Do começo ao fim há informação na tela. São caracteres para ligação

– destinado às pessoas que sofrem e precisam de ajuda – eles informam nos

programas que possuem uma central de atendimento, com pastores treinados

e preparados para atender aqueles que sofrem e precisam de ajuda. Através

desse número de telefone, é possível entrar em contato com algum deles. Eles

também colocam na tela o número do telefone celular que serve para enviar

mensagem pedindo ajuda além do página da rede social do líder da Igreja e o

email para contato.

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Figura 12: sequência de frames retirados de um programa Nosso Tempo, de maio de abril de 2013, para exemplificar o tipod e caracteres utilizados.

Fonte: Programa Nosso Tempo – IURD – 2013.

Além dessa parte de contatos e informações, também há os caracteres de

serviço, que informam qual reunião acontecerá no dia, quais os horários e qual

o endereço. Muitas vezes também são informados os endereços das Igrejas

Sede de outras cidades do estado. Assim, o GC13 é praticamente uma

ferramenta de serviço.

Como os programas já existem há muitos anos, vamos analisar os programas

exibidos no último ano. Nesse período, houve alteração dos apresentadores

devido a mudanças da própria Igreja. Assim faremos um comparativo.

É importante saber desde já, que mesmo havendo um padrão nas reuniões da

Igreja, na forma de tratamentos, os programas não são iguais. Com exceção

dos programas que são veiculados na internet em um site próprio da

Instituição, os programas dos canais de televisão, diferem um pouco na

concepção estética e no desenvolvimento de acordo com o perfil de cada

apresentador.

11.1 ESPELHO – NOSSO TEMPO – 09/05/12 – Pr. Alexandre Mendes

A partir de agora, faremos a análise do programa Nosso Tempo, exibido em

09/05/12, sob a apresentação do Pr. Alexandre Mendes.

13

GC: linguagem televisiva utilizada para nomear caracteres. Diz-se que o profissional que trabalha com isso é operador de GC – Gerador de Caracteres. O operador de caracteres escolhe as fontes, os títulos, subtítulos e créditos do programa, durante a edição ou transmissão ao vivo do programa. Neste projeto sempre que aparecer a sigla GC, estaremos nos referindo aos caracteres utilizados no programa.

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Será apresentado um espelho do programa analisado, com as entradas do

apresentador e o material utilizado no programa e abaixo da tabela, as

especificações de cada momento do programa.

GC Material

reutilizado?

Detalhes

Técnicos

VHa – 13” ---- Diariamente VH feita em After

VTa – Matéria

Puxa Saco –

3’58”

Apenas para

créditos

Sim Ilha não linear e

After Effects

CAB. 1 – 5’10” Sim Não Tela em wipe e

BG constante –

trilha de

suspense.

VTb - test. 1 –

2’30”

Sim Sim 1 câmera em PM,

BG.

VTb – test 2 –

1’30”

Sim Sim 2 câmeras. 1 em

PG fixa e a outra,

com grua,

fazendo

movimento sobre

toda a igreja. PG

também.

VTb – Test 3 –

54”

Sim Sim 1 câmera em PM,

Tem BG. Flash

frame na edição.

VTb – Test 4 - 1’26

Sim Sim 2 câmeras. 1 em

PG, fixa e a outra,

com grua,

fazendo

movimento sobre

toda a igreja. PG

também. Com

BG. Utilização de

After Effects.

VTb – Test 5 - 1’04”

Sim Sim 1 câmera em PM, BG.

VTb – Test 6 –

41”

Sim Sim 2 câmeras. 1 em

PG, fixa e a outra,

com grua,

fazendo

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movimento sobre

toda a igreja. PG

também. Sem

BG.

VHb – 1’35” Sim Sim VH em After, efeitos de áudio e

efeitos visuais. BG constante.

CAB 2 – 30” Não Não BG – trilha de suspense.

VHa – vinheta de abertura do programa, em After Effects, com a logo Nosso

Tempo. Locução “Entra no ar agora o programa Nosso Tempo em Curitiba, a

capital do Paraná”. Imagens aéreas da Curitiba cobrem a locução.

Figura 13: Sequência de frames retirados da VH de abertura do programa Nosso Tempo em 09/05/12.

Fonte: Programa Nosso Tempo – IURD – Curitiba - 2012.

VTa: O programa abre com uma matéria falando sobre pessoas puxa-saco,

pessoa que existe em todos os lugares, principalmente nas empresas. O puxa-

saco pode ser comparado ao invejoso? Entram enquetes com pessoas dando

suas opiniões a respeito do assunto. Para cobrir o off, são usadas cenas de

filmes.

Figura 14: Sequência de frames retirados da Matéria “Puxa-saco” do programa Nosso Tempo em 09/05/12

Fonte: Programa Nosso Tempo – IURD – Curitiba - 2012

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CAB 1 – (1ª entrada do apresentador) – Estúdio fundo azul e branco. Há uma

grande TV de Plasma com a frase: SEXTA FEIRA RITUAL SAGRADO escrita

em letras garrafais sobre fogo em movimento. Em frente à televisão, há um

púlpito prateado, maciço, sobre o qual há dois copos de água.

Entre o púlpito e o plasma, dois pastores, que comandam o programa.

Plano americano, ambos usam camisas claras, calça preta e microfones de

lapela. Falam entusiasticamente sobre o tema Inveja. Não há movimento de

câmera. É apenas uma câmera no estúdio. O BG é composto de trilha de filme

de suspense. O GC é constante: Você se sente invejado? Ligue Agora.

No momento em que os apresentadores falam sobre a reunião, a tela é dividida

em wipe com imagens de pessoas passando por uma cruz branca, no salão da

Igreja. Nesse momento, entra o GC de serviço, informando o dia, horário e

endereço da reunião.

Figura 15: Sequência de frames retirados do programa Nosso Tempo de 09/05/12, no momento em que os apresentadores estão conduzindo o programa.

Fonte: Programa Nosso Tempo – IURD – Curitiba – 2012.

O apresentador principal comenta a matéria, contextualizando-a com o assunto

do programa e da reunião que está sendo divulgada, no caso, um ritual

sagrado, que acontecia às sextas-feiras, com combate ferrenho à inveja. O

pastor apresenta soluções para acabar com a inveja, explicando que é preciso

ter proteção para se ver livre. Em determinado momento, entra uma tela que

fala sobre as características do invejoso e continua contextualizando, definindo

o que faz um invejoso, em quais áreas da vida ele age e o que pode destruir.

Cita trabalho, família – amante, elogios de graça em todas as áreas, familiar

com vícios.

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No momento em que o pastor cita a reunião, local solução onde a pessoa

invejada, que se identificou com os problemas explorados – pessoas invejadas

no trabalho, no casamento, na vida financeira, o diretor divide a tela em wipe

com imagens da reunião com as pessoas passando pela cruz, enquanto o

pastor fala que a solução para o problema está nesta reunião. Os caracteres

são alterados para informação, com os horários e dia da reunião, assim como o

endereço da igreja. É importante que as pessoas tragam uma peça de roupa

das pessoas invejadas para passar pela cruz e combater a inveja.

E os pastores continuam explorando os problemas, ressaltando as mesmas

situações já citadas anteriormente, usando de repetição. Eles fazem o serviço,

informando os horários das reuniões, que já estão informadas pelo GC,

convidando e convencendo as pessoas a participarem.

É interessante reparar em uma frase que o apresentador principal diz no final

da cabeça: Você quer a nossa ajuda? Nós vamos lhe ajudar. Acompanhe

agora depoimentos de pessoas que tiveram as suas vidas transformadas

participando dessa reunião.

VTb – testemunho 1 – plano médio, apenas 1 câmera faz a imagem; o

depoimento tem BG com áudio do teclado da Igreja, o tempo todo. Depoimento

na íntegra, sem cortes. Colhido no altar da Sede. GC alterna entre endereços

das igrejas e horários das reuniões.

O depoimento é de um rapaz que usou maconha, cocaína e crack. Começou a

usar drogas aos 13 anos e morou na rua. Está liberto das drogas há 4 meses.

O testemunho foi gravado com uma câmera apenas, em plano médio.

O CG é fixo durante todo o depoimento, alternando entre endereços das Igrejas

no estado.

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Figura 16: imagem retirada de depoimento colhido no altar, pelo Pr. Alexandre Mendes.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 09/05/12 – Curitiba.

VTb – testemunho 2 – plano geral e grua (geral). Duas câmeras, uma fixa e a

outra em movimento. Não tem BG. Colhido fora da Sede. Altar de outra IURD.

O depoimento é de um casal, que chegou à igreja com o casamento destruído,

com agressões físicas, miséria e brigas. Freqüentando a igreja tiveram o

casamento restaurado.

Figura 17: Sequência de frames retirados de depoimento colhidos no altar de uma IURD de um bairro de Curitiba, pelo Pr. Alexandre Mendes.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 09/05/13 – Curitiba.

VTb – testemunho 3 – plano médio, apenas 1 câmera faz a imagem; o

depoimento tem BG com áudio do teclado da Igreja, o tempo todo. Depoimento

editado. Colhido no altar da Sede. GC alterna entre endereços e horários das

reuniões.

A história é de uma mulher que conta que tinha 9 dos 10 sintomas de

possessão demoníaca e foi liberta participando da reunião.

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Figura 18: imagem retirada de depoimento colhido no altar, pelo Pr. Alexandre Mendes.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 09/05/12 – Curitiba.

VTb – testemunho 4 – plano geral e grua (geral). Duas câmeras, uma fixa e a

outra em movimento. Tem BG. Colhido fora da Sede. Altar de outra IURD. GC

alterna entre endereços das igrejas e horários das reuniões.

O depoimento é de uma mulher que sofreu um AVC hemorrágico e ficou com o

lado esquerdo do corpo inteiro paralisado, comprovado com exames que são

destacados no vídeo, e freqüentando as reuniões de libertação foi curada e não

ficou com nenhuma seqüela. Inserção dos exames que comprovam o antes e o

depois em After Effects.

Figura 19: Sequência de frames retirados de depoimento colhido no altar de uma IURD de um bairro de Curitiba, pelo Pr. Alexandre Mendes, com apresentação de exames.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 09/05/12 – Curitiba.

VTb – testemunho 5 – plano médio, apenas 1 câmera faz a imagem; o

depoimento tem BG com áudio do teclado da Igreja, o tempo todo. Depoimento

editado. Colhido no altar da Sede. GC alterna entre endereços e horários das

reuniões.

O depoimento é de uma mulher que sofria de osteoporose e foi curada.

Também foi curada de um mioma no útero, um linfoma no seio esquerdo,

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leucemia e de uma cegueira – ela havia ficado cega por 4 anos devido ao

glaucoma.

Figura 20: imagem retirada de depoimento colhido no altar, pelo Pr. Alexandre Mendes.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 09/05/12 – Curitiba.

VTb – testemunho 6 – plano geral e grua (geral). Duas câmeras, uma fixa e a

outra em movimento. Tem BG. Colhido fora da Sede. Altar de outra IURD. GC

alterna entre endereços das igrejas e horários das reuniões.

O próximo depoimento é de outra mulher que chegou à igreja com a vida

destruída, vivia na miséria, sofreu na vida sentimental e freqüentando as

reuniões teve a vida transformada.

Figura 21: Sequência de frames retirados de depoimento colhidos no altar de uma IURD de um bairro de Curitiba, pelo Pr. Alexandre Mendes.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 09/05/13 – Curitiba.

VTc – VH em After. Narrada em voz masculina imperativa. Edição com

máscara escura, nos tons preto e cinza. Imagens de pessoas discutindo,

chorando, desesperadas, sofrendo. BG é composto de trilhas de filmes de

terror e suspense. Sempre muito batido e pesado.

O assunto é inveja, explora tudo o que já foi falado anteriormente no programa

com o convite para todos os que já foram vítimas de inveja irem à reunião de

combate à inveja, informando dia, local e horários.

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Efeitos visuais são utilizados nesse VT. Entram frases específicas com letras

grandes e visíveis. Palavras como: Sofrimento, inveja, libertação.

No momento em que o locutor cita a reunião, entram imagens da Igreja,

Ao final, o locutor informa o dia e horários da reunião assim como o endereço

da igreja.

GCs utilizados na VH:

Você comprou um carro novo

Que bom!

Seu filho é muito educado

Um excelente menino

Você tem sorte de ter um marido assim

Você tem um bom emprego

Bom saber que a sua empresa está indo bem

Parabéns

Cuidado

Elogios

Carregados e inveja

Destruição

Perda

Frustrações

Morte

Você que é vítima de inveja

Elogiado

Conquista financeira

Casa

Carro

Empresa

Sexta-feira

Ritual sagrado contra a inveja

Você será livre deste mal

Horários e endereços

Figura 22: Sequência de frames retirados da VH sobre o Ritual Sagrado Contra a Inveja, do programa Nosso Tempo de 09/05/13.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 09/05/13 – Curitiba.

CABEÇA 2 (2ª entrada do apresentador) – Estúdio. Fundo azul com detalhes

brancos. Plano médio.

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O apresentador principal está sozinho. Ele mexe os braços entusiasticamente

enquanto fala.

Figura 23: Imagem retirada do programa Nosso Tempo de 09/05/12, no momento em que o apresentador encerra o programa o programa.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 09/05/13 – Curitiba.

O apresentador encerra o programa com as seguintes palavras: “Nesta sexta

nós vamos fazer este trabalho especial de libertação, eu tenho certeza que

você será livre definitivamente! Procure a Igreja Universal mais próxima, no

litoral, toda Curitiba e região metropolitana e também nos campos gerais,

aonde quer que você esteja, o senhor e a senhora têm a oportunidade de

mudar a sua vida. Tenha um ótimo dia e até amanhã!”

Dessa maneira, convidando o telespectador para estar presente em qualquer

uma das reuniões de libertação de sexta-feira, ele se despede do público. Após

a despedida, entra um clipe que fala sobre a grandeza de Deus.

Dando continuidade, no próximo capítulo vamos analisar o programa Nosso

Tempo, exibido no dia 01/05/13 e apresentado pelo Bispo Wagner Negrão.

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11.2 ESPELHO 2 – NOSSO TEMPO – 01/05/13 – Bp. Wagner Negrão

GC Material

reutilizado?

Detalhes

Técnicos

VTa1 – Prod. ‘Me

Libertei Destes

Sintomas’ -

3’27”

Apenas para

créditos

Sim Ilha não linear e

After Effects

VTa2 –

Produção ‘Me

Libertei Destes

Sintomas’ -

3’52”

Apenas para

créditos

Sim Ilha não linear e

After Effects

CAB. 1 – 2’13”

Sim Sim 1 câmera em PM,

VTb – Test 1 –

42”

Sim Sim 2 câmeras. 1 em

PG, fixa e a outra,

com grua,

fazendo

movimento sobre

toda a igreja. PG

também.

Utilização de

After Effects.

VTb – Test 2 –

1’44”

Sim Sim 1 câmera em PA,

Tem BG.

Utilização de

After Effects

Flash frame na

edição.

VTb – Test 3 - 41”

Sim Sim 2 câmeras. 1 em

PA, fixa e a outra,

com grua fazendo

movimento sobre

o altar e PG

também.

VTb – Test 4 – 1’37”

Sim Sim 1 câmera em PA. Flash frame na

edição.

VTb – Test 5 – 33”

Sim Sim 1 câmera em PA. Flash frame na

edição.

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VTb – Test 6 – 57”

Sim Sim 2 Câmeras, ambas em PG e fixas. Frontal e

lateral. Não mostram o

depoente, apenas o bispo.

VTb – Test 7 – 40”

Sim Sim 1 câmera em PG. Flash frame na

edição.

VTb – Test 8 – 1’20”

Sim Sim 1 câmera em PG. After Effects na

edição.

VTb – Test 9 – 33”

Sim Sim 1 câmera em PG – não mostra o

depoente, apenas o bispo.

VTb – Test 10 – 45”

Sim Sim 1 câmera em PG – não mostra o

depoente, apenas o bispo.

VTb – Test 11 – 08”

Sim Sim 1 câmera em PG – não mostra o

depoente, apenas o bispo.

VTb – Test 12 – 1’08”

Sim Sim 1 câmera em PG.

VTb – Test 13 – 2’21”

Sim Sim 1 câmera em PG e flash frame na

edição.

VTb – Test 14 – 1’30”

Sim Sim 1 câmera em PG.

CAB 2 – 1’00” Sim Sim 1 câmera em PM. Ao fundo, TV de

plasma com imagem em movimento.

VTa1 – O programa abre direto com VT, sem vinheta de abertura ou

identificação. Não tem mais nome. A vinheta do VT que abre o programa é “Me

libertei destes sintomas”.

A mulher conta sua experiência quando tinha alguns sintomas de possessão

demoníaca e foi liberta na IURD.

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A produção é gravada em externa, com muitos efeitos de áudio e vídeo, a fim

de deixar um mais “macabro”. Possui GC para enfatizar o assunto.

Enquadramentos bem trabalhados, iluminação bem feita e edição caprichada.

Figura 24: Imagem retirada de produção de libertação, gravada em Curitiba e utilizada no programa Nosso Tempo de 01/05/13, com apresentação do Bispo Wagner Negrão.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 01/05/13 – Curitiba.

VTa2 – Outro depoimento igual ao anterior, de libertação, colado em

sequência. A moça conta a sua história de libertação, de como possui alguns

dos 10 sintomas de possessão demoníaca e foi liberta freqüentando a IURD.

A única diferença é que este depoimento não tem GC. É todo intermediado

pela repórter que pergunta e conta a história. Possui menos trabalho nos

enquadramentos, mas mesmo assim são bem feitos. Iluminação boa e a edição

é bem feita também.

Figura 25: Imagem retirada de produção de libertação, gravada em Curitiba e utilizada no programa Nosso Tempo de 01/05/13, com apresentação do Bispo Wagner Negrão.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 01/05/13 – Curitiba.

CAB 1 – 1ª entrada do apresentador - Estúdio. Cenário de fundo azul com

detalhes brancos. Ao fundo, uma TV de plasma grande compõe o cenário. Nela

há a imagem de fogo ardente, em movimento. Em frente à televisão e atrás de

um púlpito cinza maciço, o apresentador veste terno preto e camisa cinza sem

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gravata, com um microfone de lapela. O plano é americano e há apenas uma

câmera.

GC de Serviço: Sessão do Descarrego com o Fogo Consumidor – horários e

endereço, alternando entre todos os horários das reuniões e apenas o horário

específico em o que apresentador/líder está presente.

Não há BG.

Figura 26: Imagem retirada do programa Nosso Tempo de 01/05/13, no momento em que o apresentador está conduzindo o programa.

Fonte: Programa Nosso Tempo – IURD – Curitiba – 2013.

O fogo representa mais um dos propósitos das reuniões. Neste caso, o bispo e

os pastores estavam em jejum, orando todas as madrugadas pelas pessoas

que precisavam de um milagre e queimando os pedidos na fornalha. Durante

as reuniões havia um momento em que o vídeo do fogo era colocado no telão –

um vídeo de fogo crepitando - e as pessoas ao olharem para essa imagem

eram imediatamente curadas. O apresentador explica que todas as noites eles

estarão orando e todo o mal espiritual será quebrado. Já são várias pessoas

que tem vivido esse milagre, com o poder do fogo em suas vidas. Contextualiza

novamente, falando sobre drogas, depressão, sintomas e chama no ar

testemunhos de pessoas que viram o milagre acontecer em suas vidas através

do fogo.

VTb – Test 1 - plano geral e grua (geral). Duas câmeras, uma fixa e a outra em

movimento. Não tem BG. Colhido no altar da Sede. GC alterna entre horários

das reuniões, serviço de rede social e número de telefone. Exames do antes e

depois inseridos em After Effects na edição.

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O depoimento é de uma senhora que afirma ter sido curada de câncer no útero.

Ela tinha 5 tumores no corpo. Na edição, mostra-se o exame da doença e o

exame da cura, com destaques nos resultados.

Figura 27: Sequência de frames retirados de depoimento colhido no altar da Catedral da IURD de Curitiba, pelo Bp. Wagner Negrão, com apresentação de exames.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 01/05/13 – Curitiba.

VTb – Test 2 – plano americano com 1 câmera fixa. Não tem BG. Colhido no

altar da Sede da IURD em Curitiba. GC alterna entre horários das reuniões,

serviço de rede social e número de telefone. Exames do antes e depois

inseridos em After Effects na edição.

O depoimento é de uma mulher que tinha um cisto na garganta e precisava ser

operado. Devido ao cisto ela cuspia sangue. Ela fez as correntes de terça-feira

e foi curada. Comprova-se a cura com exames de antes e depois.

Figura 28: Sequência de frames retirados de depoimento colhido no altar da Catedral da IURD de Curitiba, pelo Bp. Wagner Negrão, com apresentação de exames.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 01/05/13 – Curitiba.

VTb – Test 3 – Plano americano com câmera fixa e grua em plano geral. Não

tem BG. Colhido no altar da Sede da IURD em Curitiba. GC alterna entre

horários das reuniões, serviço de rede social e número de telefone

O depoimento é de uma mulher que freqüentava casa de encostos, ou seja,

terreiros de macumba, umbanda, qualquer religião afro. Tinha desejo de

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suicídio, insônia e pesadelos. Ao freqüentar as reuniões de libertação, teve a

vida transformada.

Figura 29: Sequência de frames retirados de depoimento colhido no altar da Catedral da IURD de Curitiba, pelo Bp. Wagner Negrão.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 01/05/13 – Curitiba.

VTb – Test 4 - Plano americano com uma câmera fixa. Edição com flash frame.

Não tem BG. Colhido no altar da Sede da IURD em Curitiba. GC alterna entre

horários das reuniões, serviço de rede social e número de telefone

O depoimento é de uma moça que chegou à igreja sofrendo com vícios e

álcool. Chegou a se envolver com traficantes e góticos. Entrou em coma

alcoólico. Tinha vontade de morrer. A mãe passou pela mesma situação, até

sofrer com câncer. Era um mal hereditário. Ela começou a beber com 12 anos.

Ao participar das reuniões de libertação, foi liberta e teve a vida transformada.

Figura 30: Imagem retirada de depoimento colhido no altar da Catedral da IURD de Curitiba, pelo Bp. Wagner Negrão.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 01/05/13 – Curitiba.

VTb – Test 5 – Plano americano com uma câmera fixa. Edição com flash

frame. Colhido no altar da Sede da IURD em Curitiba. GC alterna entre

horários das reuniões, serviço de rede social e número de telefone

O depoimento é de uma mulher que chegou a igreja com dores de cabeça

constantes, insônia, tomava calmantes mas não resolviam. Fumou durante sete

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anos, e era muito nervosa. Participando das reuniões de libertação, foi curada

e é feliz.

Figura 31: Imagem retirada de depoimento colhido no altar da Catedral da IURD de Curitiba, pelo Bp. Wagner Negrão.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 01/05/13 – Curitiba.

VTb – Test 6 – Testemunho colhido com duas câmeras, ambas fixas em plano

geral. Um frontal e outra lateral. O apresentador está em cima do altar

enquanto há um conglomerado de pessoas em frente ao altar e ele vai

colhendo o depoimento dessas pessoas. Nas imagens os depoentes não são

identificados.

No depoimento, uma senhora conta que o irmão estava com um tumor no cólon

e ela começou a lutar por ele na reunião. Ele foi curado. O tumor havia

desaparecido. GC alterna entre os horários das reuniões, o endereço da rede

social do apresentador e o telefone para ligação.

Figura 32: Imagem retirada de depoimento colhido em frente ao altar da Catedral da IURD de Curitiba, pelo Bp. Wagner Negrão.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 01/05/13 – Curitiba.

VTb – Test 7 - Plano geral com uma câmera fixa. Edição com flash frame. O

apresentador está em cima do altar enquanto há um conglomerado de pessoas

em frente ao altar e ele vai colhendo o depoimento dessas pessoas. Nas

imagens os depoentes não são identificados. GC alterna entre os horários das

reuniões, o endereço da rede social do apresentador e o telefone para ligação.

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No depoimento, uma mulher que conta que há meses fez exames e

apareceram cistos no ovário dela. Ela lutou pela cura na reunião do

descarrego, não aceitou e todos os cistos desapareceram.

Figura 33: Imagem retirada de depoimento colhido em frente ao altar da Catedral da IURD de Curitiba, pelo Bp. Wagner Negrão.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 01/05/13 – Curitiba.

VTb – Test 8 – Plano geral com uma câmera fixa. Exames do antes e depois

inseridos em After Effects na edição. Testemunho colhido no altar da Sede em

Curitiba. Caracteres alternam entre os horários das reuniões, o endereço da

rede social do apresentador e o telefone para ligação.

O depoimento é de uma senhora que conta que pegou hepatite B. Fez

correntes para ser curada porque não aceitava a doença. Foi curada e tem os

exames para confirmar a cura. O antes e o depois.

Figura 34: Sequência de frames retirados de depoimento colhido no altar da Catedral da IURD de Curitiba, pelo Bp. Wagner Negrão, com apresentação de exames.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 01/05/13 – Curitiba.

VTb – Test 9 - Plano geral com uma câmera fixa. O apresentador está em cima

do altar enquanto há um conglomerado de pessoas em frente ao altar e ele vai

colhendo o depoimento dessas pessoas. Nas imagens os depoentes não são

identificados. GC alterna entre os horários das reuniões, o endereço da rede

social do apresentador e o telefone para ligação.

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No depoimento, um marido conta que apareceu um nódulo no seio da mulher,

ele fez corrente, levou a foto da mulher e ela foi curada.

Figura 35: Imagem retirada de depoimento colhido em frente ao altar da Catedral da IURD de Curitiba, pelo Bp. Wagner Negrão.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 01/05/13 – Curitiba.

VTb – Test 10 - Plano geral com uma câmera fixa. O apresentador está em

cima do altar enquanto há um conglomerado de pessoas em frente ao altar e

ele vai colhendo o depoimento dessas pessoas. Nas imagens os depoentes

não são identificados. GC alterna entre os horários das reuniões, o endereço

da rede social do apresentador e o telefone para ligação.

O depoimento é de uma mulher que estava com gastrite. Colocou uma prece

de um propósito da reunião sobre o estômago e foi curada.

Figura 36: Imagem retirada de depoimento colhido em frente ao altar da Catedral da IURD de Curitiba, pelo Bp. Wagner Negrão.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 01/05/13 – Curitiba.

VTb – Test 11 - Plano geral com uma câmera fixa. O apresentador está em

cima do altar enquanto há um conglomerado de pessoas em frente ao altar e

ele vai colhendo o depoimento dessas pessoas. Nas imagens os depoentes

não são identificados. GC alterna entre os horários das reuniões, o endereço

da rede social do apresentador e o telefone para ligação.

No depoimento, uma senhora conta que tinha um caroço no pescoço que

desapareceu na hora da oração.

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Figura 37: Imagem retirada de depoimento colhido em frente ao altar da Catedral da IURD de Curitiba, pelo Bp. Wagner Negrão.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 01/05/13 – Curitiba.

VTb – Test 12 - Plano geral com uma câmera fixa. GC alterna entre os horários

das reuniões, o endereço da rede social do apresentador e o telefone para

ligação.

Mulher conta que chegou a igreja com dor de cabeça, depressão e insônia.

Frequentava outra igreja e continuava sofrendo. Vivia a base de

medicamentos. Ao participar das reuniões de libertação da IURD foi curada e

teve a vida transformada.

Figura 38: Imagem retirada de depoimento colhido no altar da Catedral da IURD de Curitiba, pelo Bp. Wagner Negrão.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 01/05/13 – Curitiba.

VTb – Test 13 - Plano geral com uma câmera fixa. Edição com flash frame. GC

alterna entre os horários das reuniões, o endereço da rede social do

apresentador e o telefone para ligação.

Moça conta que chegou a igreja com problemas no casamento, era viciada em

cigarro e desenvolveu problemas de saúde devido ao cigarro. Sofria com

enxaqueca, depressão, tristeza. Após freqüentar as reuniões de libertação, o

casamento foi restaurado, foi liberta do vício do cigarro e curada. É feliz.

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Figura 39: Imagem retirada de depoimento colhido no altar da Catedral da IURD de Curitiba, pelo Bp. Wagner Negrão.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 01/05/13 – Curitiba.

VTb – Test 14 - Plano geral com uma câmera fixa. GC alterna entre os horários

das reuniões, o endereço da rede social do apresentador e o telefone para

ligação.

Uma senhora conta que sofria com depressão e desejo de suicídio. Ao

participar das reuniões de libertação, foi curada.

Figura 40: Imagem retirada de depoimento colhido no altar da Catedral da IURD de Curitiba, pelo Bp. Wagner Negrão.

Fonte: Programa Nosso Tempo – 01/05/13 – Curitiba.

É importante destacar que em todos os depoimentos o entrevistador está

vestido de branco, que é o que identifica a reunião da Sessão do Descarrego,

na qual todos os pastores se vestem de branco, propositalmente, fazendo uma

alusão aos centros de umbanda, onde os organizadores também se vestem de

branco. Assim, eles também fazem trabalhos, mas para o bem, ou seja, eles

desfazem os trabalhos realizados nesses centros.

CAB 2 – 2ª Entrada do Apresentador - Estúdio. Cenário de fundo azul com

detalhes brancos. Ao fundo, uma TV de plasma grande compõe o cenário. Nela

há a imagem de fogo ardente, em movimento. Plano médio, o apresentador se

movimenta e está em frente ao cenário, fora do limite plasma/púlpito.

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GC de Serviço: Sessão do Descarrego com o Fogo Consumidor – horários e

endereço, alternando entre todos os horários das reuniões e apenas o horário

específico em o que apresentador/líder está presente.

Não há BG.

Figura 41: Imagem retirada do programa Nosso Tempo de 01/05/13, no momento em que o apresentador faz o encerramento do programa.

Fonte: Programa Nosso Tempo – IURD – Curitiba – 2013.

O programa já atingiu mais de 24 minutos, somente com depoimentos e uma

cabeça de abertura. O apresentador aparece mais uma vez e encerra o

programa: “Sete de Setembro, 3.341, no centro aqui de Curitiba, nessa quarta-

feira. No Alto Maracanã, Rua Abel Scuissiato, 413 no mesmo horário. Bom, a

nossa rádio, 24 horas a programação, 88,5. Ponta Grossa... é Curitiba e

metropolitana. Em Ponta Grossa é 93,1 é isso? 93,1. Aliás, vamos estar sexta-

feira agora dia 3 em Ponta Grossa com a Caravana da Fé no ginásio Oscar

Pereira, na Rua Balduíno Taques, número 1717. Sexta-feira agora então, a

Caravana da Fé em Ponta Grossa e na outra sexta-feira em Paranaguá, no

ginásio Albertina Salmón, Rua João Estevão, do lado ali do aterro se não me

falha a memória. Sete e meia da noite nesses dois lugares. Tá (siq) bom? Que

Deus abençoe a todos então e até logo mais.

Após o encerramento, o programa encerra-se com um clipe que fala sobre o

fim dos tempos. Percebe-se que o Bispo não falou o horário da reunião. Essa

informação apareceu apenas no GC.

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12 CONFRONTO E AVALIAÇÃO

É interessante avaliarmos a condução de um mesmo programa, por

apresentadores com o mesmo peso dentro da instituição.

Vamos iniciar pela análise técnica dos programas para seguir depois com as

outras perspectivas.

Primeiro Programa:

No primeiro programa, há uma condução que leva o telespectador a participar,

o apresentador fala diretamente com o público, abordando as suas fraquezas e

se colocando à disposição para ajudar, pessoalmente, pedindo para as

pessoas ligarem para o programa, sendo uma mão de apoio, um consolo. Ao

dividir a apresentação com outro pastor, ele dá a chance de argumento e

reforço do assunto ali abordado. O BG no estúdio dá movimento ao programa e

o caracteriza, assim como a vinheta de abertura no início do programa.

Neste programa, entram 6 depoimentos em sequência, mas a variação entre as

igrejas da região, chamam atenção para os moradores da região, tentando

evitar a repetição. Mesmo sendo o mesmo pastor a colher os testemunhos há

mudança no espaço físico, mostrando que os milagres não são restritos

apenas a um lugar. Essa estratégia de usar depoimentos de Igrejas de outros

bairros gera uma proximidade com o público, mostrando que o apresentador

não está restrito à TV ou à Catedral, mas se preocupa com toda a região,

enfatiza a sua liderança sobre o estado.

Ao usar uma matéria secular para abrir o programa, é possível alcançar um

público maior, que se identifique com o assunto, e assim preparar o

telespectador para o assunto que será abordado durante o programa.

Segundo Programa

O segundo programa sofre com a falta de identificação. Não há nome, não há

vinheta de abertura, nada que o identifique como um programa. O VT entra

direto no ar, sem preparar o telespectador para o conteúdo. O estúdio sem BG

também produz certo desconforto. O programa é maçante e cansativo, com

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apenas 2 cabeças – uma de introdução e a outra encerramento e no meio, uma

cascata de depoimentos parecidos. Não há variação e esse espaço sem

apresentador para fazer uma chamada, acaba facilitando para uma mudança

de canal.

Os dois programas possuem baixa qualidade de produção e direção. Não há

movimentação de câmera no estúdio, o espaço é limitado e os assuntos são

redundantes, usando-se sempre da repetição para reforçar o tema abordado.

Fica bem clara a característica da igreja: não há preocupação quanto à

qualidade, mas sim, quanto à quantidade. Assim, não faz diferença se o

programa tem qualidade técnica e de produção. O que importa é em quantas

emissoras ele está sendo transmitido e quantos fiéis estão sendo abarcados

para o templo, ou seja, quantas pessoas estão comprando o produto.

As idéias apresentadas nos programas são praticamente as mesmas, eles

enfatizam a “cartilha” dos 10 sintomas e baseiam o programa nesses tópicos.

Quanto à condução do programa e à sua produção, podemos enumerar

algumas diferenças entre os dois apresentadores:

1. No primeiro programa o apresentador é mais ativo, ela incentiva o

telespectador a participar do programa. Ele divide o programa com outro

apresentador, também pastor, que possui uma linguagem mais coloquial e que

também fala ao público, incentivando a participação.

Quanto à produção, é fraca e isso pode ser percebido pela estrutura do

programa, que não possui blocos fechados e premeditados, não há roteiro nem

espelho pela forma como se desenvolve o programa.

2. No segundo programa o apresentador é mais sério, não se envolve com o

público e isso pode ser percebido pela forma de condução, uma vez que a sua

primeira aparição no programa não chega a ter duração de um minuto e só

vem após quase oito minutos de programação rodando no ar e a próxima e

última participação no programa é após 24 minutos de material interruptos no

ar.

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A produção deste programa também é fraca e aparenta ser mais fraca do que a

produção do programa 1, onde ainda há uma singela diversidade no material.

Apesar de neste programa terem sido utilizadas produções gravadas em

externa, elas ficaram perdidas no programa, ao entrarem de repente no ar, sem

vinheta, sem abertura. Faltou composição. E também falta roteiro e espelho

assim como no outro programa, a falta de estrutura é muito visível.

As estratégias de publicidade aplicadas no programa são seguindo a lista dos

10 sintomas de possessão. Uma vez que a reunião (produto) que está sendo

vendida é a Reunião de Libertação que resolve o problema dos 10 sintomas,

ou seja, quem sofre com qualquer um desses sintomas constitui o público. As

estratégias são bem usadas, chegando muitas vezes a serem maçantes

principalmente no 2º programa onde entram 14 VTs com depoimentos

seguidos de pessoas que se livraram desses sintomas.

Quanto à linguagem visual e verbal aplicada nos programas, vamos pontuar

alguns tópicos para fazer essa análise:

1. Nos dois programas a linguagem visual é muito parecida. O cenário é o

mesmo e ambos possuem temas específicos de reuniões no cenário, na TV de

plasma. Os depoimentos seguem a mesma linguagem, com a diferença de que

no primeiro programa os depoimentos alternam sendo na Catedral e em igrejas

de outros bairros, mas a linguagem é a mesma.

2. Quanto à linguagem verbal, no primeiro programa o Pr. Alexandre é mais

imperativo, ele mostra a preocupação em falar da reunião que vai acontecer,

de que maneira essa reunião pode mudar a vida de quem está assistindo o

programa e desafia o telespectador a fazer parte, a visitar.

No segundo programa, o Bispo Wagner Negrão se limita mais a passar

informações, não sendo tão imperativo, não usando de muitas repetições e

quase não se envolvendo com o telespectador.

É possível perceber isso no encerramento dos dois programas, vamos

acompanhar:

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Encerramento do primeiro programa:

“Nesta sexta nós vamos fazer este trabalho especial de libertação, eu tenho

certeza que você será livre definitivamente! Procure a Igreja Universal mais

próxima, no litoral, toda Curitiba e região metropolitana e também nos campos

gerais, aonde quer que você esteja, o senhor e a senhora têm a oportunidade

de mudar a sua vida. Tenha um ótimo dia e até amanhã!”

Encerramento do segundo programa:

“Sete de Setembro, 3.341, no centro aqui de Curitiba, nessa quarta-feira. No

Alto Maracanã, Rua Abel Scuissiato, 413 no mesmo horário. Bom, a nossa

rádio, 24 horas a programação, 88,5. Ponta Grossa... é Curitiba e

metropolitana. Em Ponta Grossa é 93,1 é isso? 93,1. Aliás, vamos estar sexta-

feira agora dia 3 em Ponta Grossa com a Caravana da Fé no ginásio Oscar

Pereira, na Rua Balduíno Taques, número 1717. Sexta-feira agora então, a

Caravana da Fé em Ponta Grossa e na outra sexta-feira em Paranaguá, no

ginásio Albertina Salmón, Rua João Estevão, do lado ali do aterro se não me

falha a memória. Sete e meia da noite nesses dois lugares. Tá (siq) bom? Que

Deus abençoe a todos então e até logo mais.

Vemos que no primeiro programa o Pastor Alexandre convida o telespectador a

ir à reunião, ele conversa com o público, apresenta a possibilidade de uma

mudança de vida. Ele é imperativo, não tem dúvida de que o produto

apresentado dá resultados. Ele encerra com a proposta de uma vida nova.

No segundo programa, o Bispo não fala os horários da reunião nem de que

forma essa reunião pode mudar a vida do telespectador, uma vez que a reunão

de quarta-feira não é Libertação, mas de Busca pelo Espírito Santo, são

focos diferentes. Ele não chega nem a convidar o telespectador para a

Reunião de Libertação que foi trabalhada durante todo o programa com

testemunhos intermináveis de pessoas que foram libertas de um daqueles 10

sintomas. Em sua maior aparição o Bispo se preocupa mais em informar onde

ele estará nas próximas semanas do que chamar o público a estar presente na

reunião em Curitiba.

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Dessa maneira, vemos que o programa não possui um padrão na linguagem

verbal, os apresentadores o conduzem conforme a sua própria desenvoltura e

postura. O que significa que o próximo pastor ou bispo que assumir o programa

pode ter uma linguagem parecida com a de um desses apresentadores ou

totalmente diferente e assim, fazer um programa com outro tipo de condução e

isso faz com o que esses programas acabem perdendo qualquer identidade

que possam ter.

Quanto a composição dos personagens que fizeram parte dos dois programas,

podemos ver que eles seguem um padrão. Todos eles falam sobre um dos

sintomas, tem começo meio e fim, é quase um texto pronto: “Eu era viciado/ via

vultos/ nervoso... cheguei à IURD, frequentei as Reuniões de Libertação e

hoje eu estou liberto.” Todos os depoentes usam a mesma linguagem e contam

a história de uma mesma maneira, assim, conclui-se que há um padrão na

composição e criação dessas personagens, provavelmente com alguma

orientação interna.

É importante analisarmos também a forma de argumentação utlizada em

ambos os programas, quando falamos em retórica.

Existem três tipos de argumentação: Ethos, que determina o caráter do orador,

ou melhor, o caráter a ser adotado pelo orador, a fim de adquirir a confiança do

seu público. O segundo tipo de argumentação é o Pathos, que se resume ao

conjunto de emoções que o orador deve criar, para impactar e sensibilizar o

público: ódio, revolta, alegria, tristeza, justiça etc. E por último, o Logos, que é a

elaboração do raciocínio. A argumentação propriamente dita.

Estabelecidas as argumentações, é preciso então explorar a linguística, para

desenvolver o discurso. Que seja convincente e claro. Há um destaque para as

frases de efeito e bom uso da oratória.

Usando-se da oratória, começa o processo de convencimento, que é o falar à

razão do outro. É o raciocínio lógico, com provas objetivas e substanciais que

justificam racionalmente a necessidade de adquirir o produto que está sendo

apresentado a um consumidor em potencial, no caso àqueles que precisam de

ajuda, que estão sofrendo, no caso da IURD, os desesperados, nos vícios, com

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o casamento destruído pela traição. Eles trabalham com depoimentos de

pessoas que já viveram o problema que está sendo apresentado e

conseguiram vencer. É a prova substancial de que se necessita. Como diz o

autor Antônio S. Abreu:

Convencer é construir algo no campo das idéias. Quando convencemos alguém, esse alguém passa a pensar como nós. Persuadir é construir no terreno da ação: quando persuadimos alguém, esse alguém realiza algo que desejamos que ele realize. (p. 9, 1999)

Para persuadir alguém, é preciso aproximação, por meio da linguagem, que

deve ser prática, simples, pessoal e informal (MACHADO, 2010). Isso pode ser

verificado quando analisamos a Igreja Universal em seu tratamento com os

fiéis e o tratamento dado nos programas, o que seria a primeira impressão.

Dentro da igreja o tratamento é extremamente respeitoso, as pessoas não se

tratam por “você”, apenas “senhor e senhora”. Os jovens e adolescentes

também são tratados destra forma. Essa é a forma de tratamento da Igreja. Na

televisão, vê-se uma alteração proposital nessa forma, onde os

apresentadores/pastores, muitas vezes, trabalham apenas com um tratamento

simples e direto. A linguagem do povo, tais como: “Você que não agüenta mais

sofrer!”, “Nós sabemos que você é uma pessoa inteligente!”, “Você precisa

levantar e tomar uma atitude!”, “O que você vai fazer diante desta situação?”.

Diante de tudo o que foi exposto nesta pesquisa, podemos enumerar algumas

características constantes no desenvolvimento dos programas religiosos da

IURD.

1. A Igreja não demonstra cuidado com sua produção, enquanto as outras

Igrejas estão melhorando, como é o caso dos programas do Pr. Silas Malafaia,

com o programa Vitória em Cristo, e que tem investido em qualidade de

produção e conteúdo; o programa Show da Fé, do Missionário R.R. Soares,

que também busca fazer um programa agradável, com boas imagens e

qualidade, o próprio Pr. Marcos Feliciano que investiu em cenário e programas

bem produzidos mesmo sendo um programa na web. Enquanto a Igreja do

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líder da segunda maior rede de telecomunicação do Brasil tem deixado muito a

desejar em suas produções religiosas.

2. Ao invés da Igreja Universal - e citamos o Bispo Edir Macedo como principal

responsável - melhorar a sua programação, investindo em qualidade de

produção e qualidade de imagem para seus programas, a fim de alcançar uma

boa audiência, considerando que grande parte dos programas são exibidos na

madrugada, ela luta por outros caminhos, comprando emissoras e espaços em

outras emissoras, enfatizando ainda mais a sua triste realidade: programas mal

produzidos, com deficiência de qualidade e produção.

Os programas possuem muitas falhas, falta de produção, de direção, de

criação, falta uma equipe para modelar o programa e formatar o seu conteúdo.

E na verdade o que se vê é uma ausência de visão, pois há equipamentos e há

pessoal, falta apenas um melhor investimento em capacitação e

profissionalismo.

13 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um dos fatores que nos levaram a iniciar esta pesquisa foi dentre outros, a

necessidade de compreender a importância que a IURD dá aos seus

programas televisivos tendo em consideração a sua magnitude e o poder de

conhecimento em mídia do seu fundador, o empresário e Bispo Edir Macedo.

Encontramos algumas dificuldades em analisar os programas devido à sua

própria falta de estrutura, foram necessárias muitas horas de programas

assistidos ao vivo e participação nas reuniões durante meses para

compreender o perfil do programa e da Igreja.

Não houve dificuldade em encontrar bibliografia que favorecesse o conteúdo da

pesquisa, pois muito já tem se falado sobre a Igreja universal do Reino de Deus

e sua relação com o tele-evangelismo, assim, ao associarmos essas pesquisas

ao nosso estudo de caso, pudemos chegar à composição final deste projeto.

Os resultados obtidos pela análise desta pesquisa nos leva à compreensão de

que faltam percepção e visão de mercado aos líderes da IURD. A TV tem

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evoluído junto com a tecnologia e precisa evoluir, caso contrário, seu destino

será a extinção. Contudo, nos programas da IURD, o que vemos é regressão.

Enquanto todos avançam em qualidade, eles retrocedem e isso uma hora vai

prejudicar, considerando que os seus concorrentes possuem maior qualidade e

melhor produção em seus programas.

A Igreja Universal em Curitiba possui programas diários em 4 emissoras: RIC,

BAND, CNT e Rede Mercosul. Possuem aproximadamente cinco horas de

programação diária na RIC, onze horas de programação diária na CNT, seis

horas de programação diária na Rede Mercosul e uma hora de programação

na Bandeirantes. Ou seja, a Igreja tem aproximadamente vinte e três horas de

programação diária nas quatro emissoras. O que representa um total de 162

horas de programação semanal.

Pode-se assinalar o descuido, onde comprar e manter o poder de uma

produção é inversamente proporcional. Para 23 horas diárias existe uma

produção de oito horas diárias, o que é muito pouco para tanto volume de

material. Assim, repetem-se programas e repetem-se erros e espalha-se ainda

mais a desorganização desse material.

O mesmo programa que vai ao ar em uma emissora vai ao ar nas outras três, e

a sua repetição por muitas vezes é exaustiva.

É contraditório que o dono de uma emissora de televisão como a Rede Record,

que passa uma imagem de qualidade para o público, não atente para as

necessidades da Igreja da qual é o fundador, no que diz relação aos programas

de TV. Por que são tão mal produzidos e tão falhos?

Essas e outras são questões ficam abertas para serem analisadas em uma

próxima pesquisa, afinal, é controverso que o líder de uma emissora como a

Rede Record, considerada uma das mais respeitadas redes de

telecomunicação no país trate com tanto descaso e invista quase nada em

qualidade nos programas da própria Igreja, que é a que mantém todo o

trabalho, pagando salários e financiando todos os seus projetos.

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universal-ocupara-grade-diaria-da-emissora-62073.php

http://www.tudosobretv.com.br/produ/