UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone...

75
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunes MECANISMOS DE VIABILIDADE DE PROJETOS CULTURAIS NO SEGMENTO MUSICAL NO SUL DO BRASIL CURITIBA 2014

Transcript of UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone...

Page 1: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunes

MECANISMOS DE VIABILIDADE DE PROJETOS CULTURAIS NO SEGMENTO MUSICAL NO SUL DO BRASIL

CURITIBA

2014

Page 2: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

MECANISMOS DE VIABILIDADE DE PROJETOS CULTURAIS NO SEGMENTO MUSICAL NO SUL DO BRASIL

Page 3: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

Simone Nunes

MECANISMOS DE VIABILIDADE DE PROJETOS CULTURAIS NO

SEGMENTO MUSICAL NO SUL DO BRASIL Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

curso de Pós Graduação em Gestão e Produção

Cultural da Universidade Tuiuti do Paraná, como

requisito parcial para obtenção do título de

especialista.

Orientador: Nilton Cordoni Júnior

CURITIBA

2014

Page 4: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho às pessoas especiais que fizeram ou fazem parte da minha

vida e que muito contribuíram e incentivaram para que eu chegasse até aqui. Aos

meus pais e a toda minha família, ao meu companheiro Cesar Augusto Boguchevski

e principalmente ao meu professor de matemática do primeiro grau, Paulo Renato

Kuster, e à minha professora e orientadora do curso de graduação Simone Calistro

Fortes Bortolossi, pela insistência de que eu poderia mais.

Page 5: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

AGRADECIMENTO

Agradeço ao meu orientador, Nilton Cordoni Júnior, aos professores e colegas do

curso de Gestão e Produção Cultural, a todos os produtores que responderam à

pesquisa, aos demais profissionais da cultura e aos órgãos governamentais, que

cederam informações e contatos e foram envolvidos neste projeto de alguma forma.

Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle Girardello,

Minom Pinho e a todos os artistas brasileiros.

Page 6: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 2 O FOMENTO A PROJETOS CULTURAIS NO BRASIL..................................

2.1 O FOMENTO A PROJETOS CULTURAIS NO BRASIL................................

2.2 PROJETO CULTURAL X NEGÓCIO CULTURAL.........................................

2.3 AS FONTES DE RECURSOS........................................................................

3 MECANISMOS DE VIABILDADE DE PROJETOS CULTURAIS....................

3.1 PERMUTA......................................................................................................

3.2 APOIO............................................................................................................

3.3 PATROCÍNIO DIRETO..................................................................................

3.4 PATROCÍNIO INCENTIVADO.......................................................................

3.5 MERCADO.....................................................................................................

3.6 DOAÇÃO........................................................................................................

3.7 INVESTIMENTO SOCIAL PRIVADO - ISP....................................................

3.8 EDITAIS DE FUNDOS PÚBLICOS................................................................

3.9 PRÊMIO.........................................................................................................

3.10 CONVÊNIOS................................................................................................

3.11 COLETIVO - CROWDFUNDING..................................................................

4 O SEGMENTO MUSICAL.................................................................................

4.1 A GESTÃO E A PRODUÇÃO........................................................................

4.2 A DISTRIBUIÇÃO.......................................................................................... 5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS......................................................... 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................

6.1 DA SITUAÇÃO DO SEGMENTO MUSICAL NO SUL DO PAÍS....................

6.2 PERFIL DOS AGENTES CULTURAIS..........................................................

6.3 SOBRE OS PROJETOS VIABILIZADOS E OS MECANISMOS...................

6.4 MECENATO X EDITAIS DE FUNDOS..........................................................

7 CONCLUSÃO................................................................................................... 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. REFERÊNCIAS.................................................................................................... APÊNDICES E ANEXOS.....................................................................................

09

11

11

13

15

18

18

19

19

21

26

27

27

28

30

30

31

33

33

34

37

39

39

40

41

43

45

50

51

54

Page 7: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

RESUMO

A partir das dificuldades existentes no ramo da produção e marketing cultural

no Brasil, especificamente no segmento musical, pode-se identificar uma grande

carência em informações organizadas a respeito da atividade de captação de

recursos, das fontes, meios e procedimentos disponíveis para tal, bem como

informações atualizadas sobre o segmento musical no sul do país.

O objetivo principal desta monografia é elencar e discutir os principais

mecanismos de viabilização de projetos culturais no segmento musical, disponíveis

atualmente em território sul brasileiro.

A pesquisa vai coletar informações importantes para que se possa traçar um

desenho do cenário cultural musical do sul do país, no que diz respeito à captação

de recursos. Entre os objetivos específicos estão:

- Encontrar, na bibliografia específica sobre administração, gestão, marketing

cultural e música, elementos que contribuam para uma reflexão sobre a viabilidade

de projetos culturais no segmento musical;

- Mapear modelos contemporâneos comuns na viabilização de projetos culturais e

musicais no Brasil;

- Mapear quais modelos são mais ou menos utilizados pelos produtores do sul do

país, procurando identificar características que expliquem as razões de escolha de

determinados mecanismos;

- Identificar aspectos positivos e negativos dos mecanismos em questão.

Palavras-chave: marketing cultural; captação de recursos; mecanismos de

viabilização; projetos culturais; segmento musical.

Page 8: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Cidade sede de atuação.....................................................................

Tabela 2 – Três principais cidades de atuação....................................................

62

63

Page 9: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Modelo do questionário, página 1........................................................

Figura 2 - Modelo do questionário, página 2........................................................

Figura 3 - Modelo do questionário, página 3........................................................

Figura 4 - Modelo do questionário, página 4........................................................

Figura 5 - Modelo do questionário, página 5........................................................

Figura 6 – Faixa etária.........................................................................................

Figura 7 – Tempo de atuação na área musical....................................................

Figura 8 – Tempo de atuação na VIABILIDADE de projetos musicais................

Figura 9 – Formação musical...............................................................................

Figura 10 – Formação em produção cultural.......................................................

Figura 11 – Forma de trabalho ou prestação de serviços....................................

Figura 12 – Principal estado de atuação..............................................................

Figura 13 – Quantidade de projetos musicais viabilizados nos últimos três

anos......................................................................................................................

Figura 14 – Quantidade de projetos musicais viabilizados nos últimos 3 anos,

quanto ao seu porte.............................................................................................

Figura 15 – Mecanismos já utilizados para a viabilização de projetos musicais..

Figura 16 – Mecanismos mais utilizados para cada projeto, quanto ao seu

porte.....................................................................................................................

Figura 17 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – PERMUTA.......

Figura 18 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – APOIO.............

Figura 19 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – PATROCÍNIO

DIRETO................................................................................................................

Figura 20 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – PATROCÍNIO

INCENTIVADO.....................................................................................................

Figura 21 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – AÇÕES

MERCADOLÓGICAS...........................................................................................

Figura 22 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – DOAÇÕES......

Figura 23 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – ISP...................

Figura 24 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – EDITAIS DE

FUNDOS PÚBLICOS...........................................................................................

54

55

56

57

58

59

59

60

60

61

61

62

64

64

65

66

67

67

68

68

69

69

70

70

Page 10: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

Figura 25 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – CONVÊNIOS

COM PODER PÚBLICO......................................................................................

Figura 26 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte –

INVESTIMENTO PRÓPRIO.................................................................................

Figura 27 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – EMPRÉSTIMO

BANCÁRIO...........................................................................................................

Figura 28 – Quantidade de produções feitas com as respectivas leis de

incentivo fiscal (Municipal, Estadual e Federal), nos últimos 3 anos...................

Figura 29 – Projetos confeccionados e efetivamente encaminhados para

algum mecanismo de viabilidade, nos últimos 3 anos, que não foram

realizados por falta de recursos...........................................................................

71

71

72

72

73

Page 11: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

9

1 INTRODUÇÃO

Quais os mecanismos de viabilidade de projetos culturais no segmento

musical no sul do Brasil?

A atividade de captação de recursos para a viabilização de projetos culturais

no Brasil é cercada de especificidades que, muitas vezes, complicam e tornam

moroso todo o processo pela busca de recursos. O conhecimento e o acesso aos

mecanismos e formas disponíveis para captar recursos também são limitados. Estas

dificuldades são apontadas por muitos produtores culturais como sendo grandes

obstáculos que impedem maior desenvolvimento do setor. Apesar do crescimento da

indústria e do mercado cultural nos últimos vinte anos, fato apontado por Rômulo

Avelar em seu livro “O Avesso da Cena: notas sobre produção e gestão cultural”, o

setor ainda carece de incremento financeiro, de estudo sobre formas de se alcançar

os recursos e também da melhoria do acesso às estas informações.

O segmento musical, por sua vez, vem sofrendo drásticas modificações nas

duas últimas décadas, especialmente depois da criação de novas tecnologias como

o “mp3”, que vem revolucionando as tradicionais formas de comercialização e

distribuição no mercado fonográfico. Tecnologias como esta têm impulsionado o

desenvolvimento de mercados de nicho, fazendo com que artistas desconhecidos,

em oposição aos conhecidos hits, tenham mais ferramentas à sua disposição para

produzir e distribuir seu trabalho. Esta é uma nova dinâmica de marketing e vendas,

através de mercados fragmentados, também chamada de “Cauda Longa”, que muito

influencia nos mecanismos utilizados pelos produtores culturais atualmente na

viabilização de seus projetos.

O trabalho da produtora cultural Simone Nunes nos últimos seis anos

espelha esta realidade. Prestando serviços para organizações do terceiro setor,

especificamente no segmento musical, Simone constatou na prática os obstáculos

existentes no longo caminho para a aquisição de verbas, sejam elas públicas ou

privadas. Atuando recentemente junto à iniciativa privada, teve mais contato com o

lado mercantil da produção cultural, mas ainda restam dúvidas sobre as fontes de

financiamento existentes, os mecanismos adequados para ter acesso a estas fontes,

e as respectivas vantagens e desvantagens de cada uma.

Ao buscar informações na bibliografia específica de administração,

marketing ou marketing cultural, o profissional cultural depara-se com outro

Page 12: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

10

problema: A falta de informações mais aprimoradas no assunto da captação de

recursos e das fontes de financiamento. O assunto é pouco ou nada abordado e,

quando é, muitas vezes segue somente ou demasiadamente a abordagem das leis

de incentivo fiscal existentes no país. Ao profissional que deseja instruir-se no

assunto resta buscar conhecimento junto aos artigos e teses publicados por

acadêmicos recentemente, ou aos cursos e palestras que se proliferam em várias

localidades do país, mas ainda concentrados no eixo Rio de Janeiro – São Paulo.

A pesquisa por informações a respeito dos métodos e dispositivos

disponíveis no mercado brasileiro com relação à viabilização de projetos culturais, e

sua consequente depuração e disponibilização de resultados, pode contribuir para o

desenvolvimento do setor de gestão e produção cultural. Uma abordagem ampla de

todos os aspectos da captação de recursos, não se restringindo somente aos

monetários ou somente às leis de incentivo fiscal, pode ajudar a ampliar os

horizontes dos profissionais em busca de informações categorizadas e atualizadas.

O objetivo principal desta monografia é elencar e discutir os principais

mecanismos de viabilização de projetos culturais no segmento musical, disponíveis

atualmente em território sul brasileiro. A pesquisa vai coletar informações

importantes para que se possa traçar um desenho do cenário cultural musical do sul

do país, no que diz respeito à captação de recursos. Entre os objetivos específicos

estão:

- Encontrar, na bibliografia específica sobre administração, gestão, marketing

cultural e música, elementos que contribuam para uma reflexão sobre a viabilidade

de projetos culturais no segmento musical;

- Mapear modelos contemporâneos comuns na viabilização de projetos culturais e

musicais no Brasil;

- Mapear quais modelos são mais ou menos utilizados pelos produtores do sul do

país, procurando identificar características que expliquem as razões de escolha de

determinados mecanismos;

- Identificar aspectos positivos e negativos dos mecanismos em questão.

Page 13: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

11

2 O FOMENTO A PROJETOS CULTURAIS NO BRASIL

2.1 O FOMENTO A PROJETOS CULTURAIS NO BRASIL

Entender como se dá e como se desenvolveu o cenário cultural brasileiro é

crucial para entendimento do processo de viabilização de projetos culturais

atualmente. O Brasil apresenta fortes tradições em seu passado recente, que muito

influenciam o tempo de hoje, e que por isso merecem ser mencionadas. Segundo

Antonio Rubim, em seu texto “Políticas Culturais no Brasil: Trajetória e

Contemporaneidade” (2008), o governo federal possui um lamentável itinerário no

que diz respeito às ações públicas para a cultura: Grande ausência de ações e de

planejamento marca o período do Brasil Colônia até o Segundo Império e a

República Velha. Uma fase seguinte, a partir da década de 30 do século XX, marca

a inauguração de políticas culturais no país, mas é seguida por novo período de

ausência e autoritarismo, durante a ditadura militar. A partir de 1985, inicia-se o

problema de “privatização” do poder de decisão sobre investimentos culturais

públicos no país, com a criação da Lei Sarney e de sua sucessora, a atual e vigente

Lei Rouanet. Por muito tempo o termo “política cultural” ficou resumido e/ou

entendido como a viabilização de leis de incentivo em grande parte do país.

Paralelamente a estas iniciativas de políticas governamentais, artistas e

produtores sempre procuraram formas de executar o seu trabalho, com maior ou

menor sucesso, nas respectivas fases citadas por Rubim. Porém, nunca se viu

mudanças tão drásticas como as ocorridas nos últimos 20 anos, em face de uma

crescente intensificação do contexto cultural brasileiro, como confirma Romulo

Avelar:

As duas últimas décadas foram de grandes transformações no cenário cultural brasileiro. Até meados dos anos 1980, a produção e a gestão em níveis profissionais se concentravam, de forma acentuada, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Os outros estados assistiam a tudo pela mídia ou eram receptores passivos daquilo que circulava pelo país. O quadro de indigência cultural das demais regiões fazia crer que as cores locais seriam reduzidas a um padrão global único, pasteurizado e homogeneizado. Aos artistas, produtores e gestores locais com maiores aspirações, restava a alternativa de migrar para um dos dois grandes centros, salvo raras, honrosas e corajosas exceções. De lá para cá, entretanto, muita coisa mudou. Por todo o país, começaram a florescer iniciativas de valorização dos traços locais e de mobilização das comunidades pela preservação de seus saberes e fazeres. A cultura passou a gerar postos de trabalho num ritmo cada vez mais acelerado. Embora ainda não se possa falar da

Page 14: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

12

existência de mercados consolidados, grandes foram os avanços nesse sentido. O êxodo compulsório de intelectuais e profissionais da cultura diminuiu consideravelmente em cidades como Fortaleza, Recife, Salvador Belo Horizonte, Brasília, Belém, Curitiba e Porto Alegre. (2010, p. 28 - 29)

Mas mesmo Avelar reconhece as dificuldades de viabilização de ações no

setor, principalmente as de longo prazo, como manutenção de grupos artísticos ou

entidades.

As dificuldades para a manutenção de entidades culturais no Brasil são velhas conhecidas daqueles que atuam na área. A priorização dos eventos e das ações de curto prazo é uma tônica na maioria das políticas públicas traçadas para o setor, o que torna complexa a obtenção de recursos para programas de continuidade. (2010, p. 457)

Programas públicos e privados de apoio a iniciativas de continuidade são

ainda poucos, o que torna difícil a busca de patrocínios de manutenção. Embora o

país tenha observado um crescimento no setor, os reflexos das políticas

governamentais federais, cujo modelo de financiamento foi vagarosamente seguido

por estados e municípios, fez com que muitos artistas e produtores tivessem que

adaptar suas ideias ao formato de projetos, com datas pré-definidas para início e

fim, para que pudessem concorrer a verbas públicas de fomento à cultura. Aos

poucos e em muitos casos, este modelo foi sendo seguido inclusive pela iniciativa

privada.

Mas, como qualquer atividade econômica, a captação de recursos está em

constante modificação, podendo sofrer influência não somente do segmento

econômico, mas também do político, jurídico e muito fortemente do social, entre

outros. Com a evolução da Internet e das novas mídias, um dos maiores fenômenos

sociais da atualidade, novos mecanismos surgem como ferramenta de trabalho,

muito úteis na busca por recursos. Um dos mais recentes e melhores exemplos é o

crowdfunding, que vem revolucionando o setor. Este e outros métodos, que de tão

recentes são ainda poucos estudados em profundidade, podem vir a ampliar e

democratizar o acesso a recursos de viabilização, pois são baseados em

ferramentas sociais em rede, através da Internet. A Internet proporcionou uma

queda de barreiras geográficas e sociais nunca vista antes pela humanidade, e este

fenômeno cultural, controverso obviamente, vem gerando frutos a olhos vistos,

principalmente no que diz respeito a muitas atividades econômicas.

Page 15: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

13

2.2 PROJETO CULTURAL X NEGÓCIO CULTURAL

Ao iniciar uma pesquisa que pretende elencar dispositivos viabilizadores de

projetos culturais no Brasil, é necessário primeiro conceituar a palavra projeto, bem

como suas diferenças para com o negócio cultural, que caminha paralelamente

neste amplo e complexo segmento social e mercadológico.

Segundo Paul Campbell Dinsmore, “um projeto é um empreendimento com

começo e fim definidos, dirigido por pessoas, para cumprir metas estabelecidas

dentro de parâmetros de custo, tempo e qualidade” (1992, p. 19). Outro conceito

interessante é o da autora Heloísa Lück que afirma que “no escopo de instituições

financeiras, um projeto constitui o conjunto integrado de ações que dependem de

financiamento ou alocação de recursos especiais, geralmente externos, para a sua

execução” (2003, p. 22). O que se observa é que a ferramenta projeto é amplamente

utilizada no segmento cultural, visto que vários mecanismos de financiamento

existentes, como veremos em maior profundidade nos próximos capítulos, baseiam-

se neste modelo de ação temporária para auferir recursos a seus requerentes.

Por sua vez, a palavra negócio está relacionada à estratégia competitiva,

mercado, marca, entre outros fatores, de acordo com Cassaroto Filho (2002, p. 15).

O negócio também é chamado de empresa ou empreendimento, uma “organização

econômica destinada à produção ou venda de mercadorias ou serviços, tendo em

geral como objetivo o lucro” (FERREIRA, 1999, p. 742). Ou seja, um negócio é

entendido como um comércio ou empresa, que é administrado por pessoa(s) para

captar recursos financeiros para gerar bens e serviços, e por consequência

proporciona a circulação de capital de giro entre os diversos setores. Em apertada

síntese, podemos dizer que, entende-se por negócio toda e qualquer atividade

econômica com o objetivo de gerar lucro. Ao criar um negócio, espera-se que, além

de lucro, o empreendimento seja duradouro. Isso caracteriza seu caráter contínuo,

talvez não eterno ou infindável, mas com certeza mais duradouro que um projeto.

Outra forma de explicitar essa diferença temporal é a de que o projeto é algo de

realização de curto prazo, enquanto negócio é algo de médio a longo prazo.

Entende-se, portanto, que a principal diferença entre as duas formas de

concepção abordadas, projeto e negócio, tem relação com o tempo de duração de

cada uma. Enquanto o projeto tem vida limitada, o negócio tende a ter continuidade.

A viabilidade, portanto, de projetos e negócios culturais se dá de maneiras distintas,

Page 16: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

14

visto às diferenças em suas concepções. Os mecanismos de financiamento de

ambos são distintos, mas podem-se cruzar-se ao longo do tempo.

Outro aspecto importante em relação à caracterização de um projeto cultural

é o seu porte. Não é possível encontrar definições específicas sobre este assunto e

provavelmente cada produtor cultural tem sua própria opinião a respeito do que seria

um projeto de pequeno porte e o que seria um projeto de grande porte. Mas há

algumas noções de senso comum: Para os produtores da empresa Incentive Cultura

(2014), projetos de grande porte são aqueles cujo valor ultrapassa um milhão de

reais, projetos de médio porte tem valor acima de 500 mil reais, projetos de pequeno

porte tem valor acima de 100 mil e projetos cujo valor é inferior a 100 mil são

chamados de micro projetos. Levando em consideração a experiência da produtora

Simone Nunes e a opinião de alguns produtores no teste da pesquisa, na questão

da pesquisa que aborda justamente esta divisão, procurou-se dar mais duas opções

de valores, ainda abaixo de 100 mil reais.

O quadro abaixo, apresentado pela palestrante Minom Pinho no curso

“Fontes de Financiamento”, promovido pela empresa Mercado Cultural entre os dias

09 e 10 de março de 2013, demonstra alguns dispositivos principais de

financiamento, divididos entre negócio e projeto cultural.

PROJETOS NEGÓCIOS Patrocínio direto Investimento próprio Patrocínio Incentivado Investimento anjo Crowdfunding FINAME – Equipamentos Mercado BNDES – Empréstimo Solidário e Colaborativo Investimento Colaborativo Doação e ISP Empréstimo Bancário Editais e Convênios Investidores em geral Prêmios e outros Incubadoras

Dos dispositivos acima, alguns são mais comuns e tradicionais, mas outros

são extremamente contemporâneos e atuais. O quadro influenciou este projeto de

pesquisa, que pretende apresentar dispositivos de financiamento a projetos,

analisando-os em maior profundidade, com base nas informações acima, mas com

algumas adaptações, conforme proposta abaixo:

Page 17: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

15

PROJETOS NEGÓCIOS Permuta Investimento próprio Apoio Investimento anjo Patrocínio direto FINAME – Equipamentos Patrocínio Incentivado BNDES – Empréstimo Mercado Investimento Colaborativo Doação Empréstimo Bancário Investimento Social Privado - ISP Investidores em geral Editais de Fundos Públicos Incubadoras Prêmio --- x --- Convênios --- x --- Crowdfunding --- x ---

2.3 AS FONTES DE RECURSOS

A palavra recurso é geralmente associada, por muitas pessoas, a cifras e

valores monetários. Porém, o conceito de recurso é consideravelmente mais amplo

e pode compreender pessoas, bens, materiais, entre outros. Keeling aborda um

conceito de recurso que contempla esta afirmação e que parte diretamente para

uma classificação em sete grupos:

Dinheiro – Financiamento para o projeto e suas atividades de apoio (todos os projetos). Materiais – Matérias-primas e produtos manufaturados (a maioria dos projetos). Mercadorias – Bens manufaturados de diversos tipos, inclusive alimentos (muitos projetos). Maquinário – Incluindo equipamento, seja parte do resultado do projeto (a especificação do projeto inclui o fornecimento ou instalação de equipamento), ou para uso no curso de seu trabalho, como, por exemplo, infraestrutura, construção, engenharia e alguns projetos técnicos. Força de trabalho – Pessoas com níveis adequados de habilidade para desenvolver, conceber, ou realizar trabalho específico (não limitado a projetos de uso intensivo de mão de obra). Administração, profissionais e especialistas – Para administrar o projeto, conduzir atividades, fornecer experiência e aconselhamento especializados ou executar trabalho sobre questões delicadas ou complexas (todos os projetos em graus variáveis). Movimento – Transporte de pessoas, maquinário e equipamento, materiais, correspondência e outros itens essenciais, do e para o (os) local(s) do projeto e dentro dessa área, não comumente incluído no planejamento de recursos empresariais, mas, mesmo assim, importante no planejamento de projetos e recursos. (KEELING, 2012, p. 164)

O movimento social intitulado Fora do Eixo, que recentemente ganhou

destaque no país, é um bom exemplo de como é possível trabalhar com recursos

Page 18: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

16

distintos. Além de ter criado moeda própria, o grupo trabalha fortemente com o

recurso da força de trabalho de seus colaboradores, além de permutarem diversos

dos outros recursos citados, com empresas, governos, instituições e pessoas físicas,

a fim de dar viabilidade a suas ideias.

No ambiente da produção cultural, mais especificamente no departamento

responsável pela captação e recursos, existe certa confusão entre as expressões

“fonte de financiamento” ou “fonte de recursos” e seus respectivos “mecanismos de

viabilidade”. O que seria a fonte e o que seria o mecanismo? Segundo o Senado

Federal, fonte de recursos possui a seguinte definição:

As fontes de recursos constituem-se de determinados agrupamentos de naturezas de receitas, atendendo a uma determinada regra de destinação legal, e servem para indicar como são financiadas as despesas orçamentárias. Entende-se por fonte de recursos a origem ou a procedência dos recursos que devem ser gastos com uma determinada finalidade. (SENADO..., 2014)

Relacionada à sua procedência, e pensando-se no desenho desta relação,

a fonte pode ser alocada na figura de emissora de um recurso, enquanto o

mecanismo torna-se o instrumento através do qual o recurso chega ao seu destino,

ao seu recebedor. A figura abaixo mostra, de forma simplificada, o papel do

recebedor do recurso, geralmente chamado de proponente, e na outra ponta, a fonte

de financiamento. É claro no desenho que ambos são agentes da situação,

enquanto o mecanismo é o instrumento através do qual a atividade do financiamento

ocorre.

Page 19: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

17

Durante sua palestra “Montando um departamento de Captação de

Recursos”, no 1º Festival Latino Americano de Captação de Recursos, ocorrido em

São Paulo em 2009, Marcelo Estraviz afirma que as fontes de recursos podem ser

divididas entre quatro grupos:

- Governos

- Pessoas Físicas

- Empresas

- Fundações

Cada tipo de fonte obviamente possui organização, objetivos e

funcionalidades diferentes, mas é importante mencionar que estes grupos utilizam

dos vários mecanismos existentes para direcionar recursos para projetos culturais de

sua preferência. Especificamente os grupos governamentais, as empresas e as

fundações, por serem institucionalizadas, organizadas através de CNPJ e terem a

necessidade de planejamento estratégico, usam também dos mecanismos para

definição de suas políticas de patrocínio.

Page 20: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

18

3 MECANISMOS DE VIABILIDADE DE PROJETOS CULTURAIS

A partir deste ponto, serão abordados os mecanismos empregados na

viabilização de projetos culturais. Alguns são tradicionais e muito utilizados,

enquanto outros são extremamente recentes e pouco conhecidos pelos agentes

culturais em geral.

3.1 PERMUTA

Um projeto cultural é geralmente constituído com base numa ideia de ação

artístico-cultural, que precisa ser delineada segundo alguns conceitos como

justificativa, objetivo geral, objetivos específicos, público-alvo, entre outros. Definidos

todos os aspectos deste planejamento conceitual, é necessário evoluir para um

conceito financeiro, através da planilha de custos de todos os produtos e serviços

necessários para a realização da ação, seja ela um livro, um CD, um espetáculo

musical ou uma exposição de artes plásticas. Ao final desta tarefa, de acordo com a

experiência na área, é possível sugerir que o idealizador da ação cultural, o

proponente, venha saber qual o montante total de recursos necessários para a

viabilização de sua ação cultural.

E também é justamente a partir de uma observação do comportamento dos

profissionais da área, que se pode sugerir a primeira ferramenta aplicável na análise

de viabilização, que é a de permuta. De acordo com o Novo Dicionário Aurélio

(1999), permuta é troca, comunicação recíproca. Produtores e artistas geralmente

possuem uma rede de contatos, entre governos, iniciativa privada e pessoas físicas,

que pode interessar-se por uma ideia cultural e vir a colaborar através da sessão de

algum produto ou serviço, sem custos e em troca de algum benefício a ser acordado

entre as partes. Permuta é um tipo de contrato onde uma das partes é obrigada a

dar algo em troca de alguma coisa, que não seja em moeda financeira. Permuta é

um tipo de contrato muito comum na área da publicidade, e em vários outros tipos

de transações comerciais. No qual uma das partes se vê obrigado a dar algo que lhe

pertence para adquirir um bem.

No universo jurídico o termo permuta possui um significado similar:

Page 21: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

19

É o contrato pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por outra que não seja dinheiro. É contrato bilateral, oneroso, cumulativo, translativo de propriedade no sentido de servir como titulus adquirendi, gerando, para cada contratante a obrigação de transferir para o outro o domínio da coisa objeto de sua prestação. São suscetíveis de troca todas as coisas que puderem ser vendidas, não sendo necessário que os bens sejam da mesma espécie ou tenham igual valor. (PERMUTA..., 2008)

Em sua aula sobre Captação de recursos aos alunos da pós-graduação em

Gestão e Produção Cultural na Universidade Tuiuti do Paraná, o professor André

Aloísio Toledo aborda que esta ferramenta deve ser a primeira aplicada ao projeto

cultural, por dois motivos: Primeiro porque, se confirmada permuta de um serviço, há

uma redução na planilha de custos e a consequente redução do valor em aberto a

ser captado, e em segundo lugar demonstra aos possíveis futuros financiadores o

empenho do proponente do projeto na redução dos custos, algo muito valorizado

principalmente entre gestores da iniciativa privada. (TOLEDO, 2012)

3.2 APOIO

Muitos captadores de recursos consideram o apoio como sendo o patrocínio

de baixo valor, que não chega a alcançar uma cota mínima de sua proposta de

patrocínio. Não é dispensável, pois nenhum recurso o é, mas não pode receber o

mesmo status de um patrocínio. “Auxílio financeiro e/ou de outra natureza; subsídio,

prestígio. Tudo o que serve de sustentável, de suporte. Auxílio, socorro, amparo

(FERREIRA, 1999, p. 168).

Como não há uma diferenciação muito clara entre apoio e patrocínio direto,

e até mesmo a permuta em muitos casos, uma forma que pode ser aplicada é a de

estipulação de um limite de valor, relacionado às cotas de patrocínio. Valores acima

da quantia mínima especificada podem ser classificados como patrocínio e valores

abaixo desta quantia podem ser classificados como apoio, independentemente de

sua natureza ser em forma de permuta de bem ou serviço, ou vir na forma de

moeda.

3.3 PATROCÍNIO DIRETO

Configura-se pelo repasse direto de recursos financeiros de uma empresa,

entidade ou pessoa física a um determinado projeto, julgando haver nesta relação

Page 22: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

20

algum interesse da parte cedente nos resultados da ação cultural. Neste

mecanismo, há benefícios explícitos aos patrocinadores, traduzidos pelo marketing

cultural e que geralmente são divididos em cotas de patrocínio, não havendo

nenhum incentivo fiscal ao patrocinador. Segundo Machado Neto, o patrocínio é

uma “ação de viabilizar (na maioria das vezes financeiramente) ações culturais,

esportivas, educativas, ecológicas e sociais” (2005, p. 58) que vem crescendo

exponencialmente, ganhando cada vez mais impulso com os veículos de

comunicação eletrônica, notadamente a televisão.

A Instrução Normativa nº 01/2009 da Secom/PR, de 08/05/2009, conceitua

patrocínio como o “apoio financeiro concedido a projetos de iniciativas de terceiros,

com o objetivo de divulgar atuação, fortalecer conceito, agregar valor à marca,

incrementar vendas, gerar reconhecimento ou ampliar relacionamento do

patrocinador com seus públicos de interesse” (CORREIOS..., 2013)

Alguns autores, como Reis, adotam conceitos que mesclam a questão da

permuta com a do patrocínio direto:

O patrocínio nem sempre é concedido de forma financeira. Também pode ocorrer pelo fornecimento de produtos ou pela prestação de serviços gratuitos, como impressão de material gráfico, transporte, seguro, hospedagem, alimentação, iluminação, sonorização, refrigeração por ar-condicionado, criação ou veiculação de propaganda e material promocional. Pode ainda envolver o fornecimento de espaço para a realização do projeto (auditório, saguão) ou de recursos humanos (consultores, peritos em restauração, administradores de um espaço cultural, até mesmo “empréstimo” de funcionários para trabalhar na bilheteria ou na recepção). Há, enfim, toda uma miríade de possibilidades de patrocínio para empresas com os mais diversos graus de envolvimento, orçamento, estrutura e disponibilidade. (REIS, 2009, p. 15)

Em suma, na área cultural existe certo entendimento, por uma parcela

significante de agentes culturais, de que este tipo de patrocínio vem caindo, devido

às vantagens fiscais concedidas pelas leis de incentivo. Pretende-se verificar esta

questão através da pesquisa que será aplicada junto aos agentes culturais do sul do

país. Deve-se levar em consideração também o fato de que como as leis de

incentivo fiscal não beneficiam a todos os tipos de empresas, ainda há uma parcela

grande de organizações para as quais este pensamento não pode ser aplicado e

que merecem ser consideradas como mercado alvo a se oferecer a modalidade de

patrocínio direto.

Page 23: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

21

3.4 PATROCÍNIO INCENTIVADO

O patrocínio incentivado segue a premissa básica do patrocínio, com

repasse de recursos a um projeto. Porém, neste caso o patrocinador, além dos

benefícios do marketing cultural, ainda tem benefícios fiscais traduzidos no

abatimento de impostos. Na prática, a empresa não deixa de pagar qualquer valor

de imposto, apenas pode destinar parte do valor devido do imposto correspondente

à lei de incentivo com a qual está lidando, para um projeto cultural. São as

chamadas leis de incentivo fiscal.

Os incentivos fiscais são soluções criadas pelos governos para o estímulo de determinados setores de interesse estratégico da economia. Sempre que há necessidade de investimento maciço em determinado setor, cria-se um estímulo tributário para que recursos sejam canalizados para o segmento específico. A cultura pertence a um desses setores que têm precisado de estímulo governamental para conseguir seu impulso inicial. A partir dela, a sociedade adquire consciência de sua importância e passa a contribuir voluntariamente. O voluntariado nessas áreas, no entanto, dificilmente surge sem um estímulo paralelo dado pelo Estado. (CESNIK, 2012, p. 1)

A utilização do incentivo fiscal é frequente em nosso país. Na cultura este

mecanismo nasceu através da Lei Sarney, hoje extinta e substituída pela atual Lei

Rouanet, nossa atual lei de incentivo fiscal federal. Através da Lei Rouanet, grandes

empresas, tributadas no regime de lucro real, podem aplicar parte de seu Imposto de

Renda (IR) devido a projetos previamente aprovados pelo Ministério da Cultura.

Estabelecida como Lei nº 8.313 de 23 de dezembro de 1991, abrange todo o

território nacional: Restabelece princípios da Lei n° 7.505, de 2 de julho de 1986, institui o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

CAPÍTULO I Disposições Preliminares

Art. 1° Fica instituído o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), com a finalidade de captar e canalizar recursos para o setor de modo a: I - contribuir para facilitar, a todos, os meios para o livre acesso às fontes da cultura e o pleno exercício dos direitos culturais; II - promover e estimular a regionalização da produção cultural e artística brasileira, com valorização de recursos humanos e conteúdos locais; III - apoiar, valorizar e difundir o conjunto das manifestações culturais e seus respectivos criadores; IV - proteger as expressões culturais dos grupos formadores da sociedade brasileira e responsáveis pelo pluralismo da cultura nacional;

Page 24: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

22

V - salvaguardar a sobrevivência e o florescimento dos modos de criar, fazer e viver da sociedade brasileira; VI - preservar os bens materiais e imateriais do patrimônio cultural e histórico brasileiro; VII - desenvolver a consciência internacional e o respeito aos valores culturais de outros povos ou nações; VIII - estimular a produção e difusão de bens culturais de valor universal, formadores e informadores de conhecimento, cultura e memória; IX - priorizar o produto cultural originário do País. (COLLOR, 1991)

A Lei Rouanet institui o Programa Nacional de Apoio à Cultura (PRONAC),

que canaliza recursos para o desenvolvimento do setor cultural, com as finalidades

de estimular a produção, a distribuição e o acesso aos produtos culturais (CDs,

DVDs, espetáculos musicais, teatrais, de dança, filmes e outras produções na área

Audiovisual, exposições, livros nas áreas de Ciências Humanas, Artes, jornais,

revistas, cursos e oficinas na área cultural, etc.); proteger e conservar o patrimônio

histórico e artístico; estimular a difusão da cultura brasileira e a diversidade regional

e étnico-cultural, entre outras.

Consequentemente a uma legislação nacional, estados como o Acre, a

Bahia, o Ceará, o Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio

Grande do Norte, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo já possuem

legislação de incentivo fiscal em instância estadual, segundo pesquisa de Cesnik

(2012). O objetivo é o da ampliação do número e variedade de ações culturais a

serem desenvolvidas em suas localidades e consequentemente ofertadas à

população, bem como a valorização dos fazeres locais, entre tantos outros

benefícios. Neste caso, o abatimento é realizado através do Imposto sobre

Circulação de Mercadorias e Serviços, o ICMS.

Dos três estados da região sul do país pode-se observar que somente o Rio

Grande do Sul está com sua lei de incentivo estadual em pleno funcionamento

desde 2010. O Pró-cultura RS LIC (Lei de Incentivo à Cultura) é um mecanismo de

fomento indireto que oferece benefício fiscal para as empresas que patrocinem os

projetos culturais aprovados. Fica condicionado ao repasse, pelo patrocinador, do

percentual de 5%, 10% ou 25%, conforme o projeto, para o Fundo de Apoio à

Cultura, conforme tabela decrescente de alíquotas, dependendo do montante do

ICMS a recolher. LEI Nº 13.490, DE 21 DE JULHO DE 2010:

Art. 1º - Fica instituído, no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul, o Sistema Estadual Unificado de Apoio e Fomento às Atividades Culturais – PRÓ-CULTURA, com a finalidade de promover a aplicação de recursos financeiros decorrentes de incentivos a contribuintes e do Fundo de Apoio à

Page 25: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

23

Cultura, em projetos culturais, na forma estabelecida por esta Lei. (Vide Lei n.º 14.028/12) Parágrafo único - A aplicação dos recursos financeiros do Sistema de que trata esta Lei deverá observar as seguintes diretrizes: I - distribuição dos recursos entre os diversos segmentos culturais e áreas de interesse cultural; II - distribuição dos recursos a projetos culturais das várias regiões do Estado; III - transparência, através da divulgação à sociedade, por intermédio de sítio próprio na Rede Mundial de Computadores, com atualização bimestral, de todas as informações referentes à utilização dos recursos financeiros e sua efetiva aplicação na realização de atividades culturais; IV - estímulo a novas iniciativas culturais; V - promoção e facilitação do acesso à cultura pelos diversos segmentos da sociedade riograndense. (PROCULTURA, 2010)

Com 717 projetos aprovados entre 2010 e 2013, a LIC apresenta um quadro

crescente de investimento e acréscimos no orçamento neste período. Cerca de 163

destes projetos são da área da música (representando 22% do total) e destes 93

com captação de recursos realizada, estando o restante em situação de captação

em aberto ou arquivados.

2011 2012 2013

Orçamento Anual para

a Lei de Incentivo

R$ 2.500.000,00 R$ 4.200.000,00 R$ 6.400.000,00

Investimento em

projetos na área de

música

R$ 550.000,00 R$ 924.000,00 R$ 1.408.000,00

Percentual de música

em relação ao total

22% 22% 22%

O estado de Santa Catarina já teve uma lei de incentivo fiscal com sistema

de captação ativo entre os anos de 2005 e 2008, no qual o percentual de captação

estava limitado até 5% dos débitos produzidos pelas empresas em relação ao ICMS.

Durante este período, recursos na ordem de R$ 133.374.303,48 foram investidos em

projetos de áreas diversas e R$ 35.954.301,40 foram destinados especificamente

para projetos na área de música, divididos anualmente conforme a tabela a seguir.

Também fica visível no caso desta lei o crescimento do orçamento ao longo dos

anos nos quais ela vigorou.

Page 26: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

24

2005 2006 2007 2008 Orçamento Anual

para a Lei de

Incentivo

R$ 24.644.576,00 R$ 29.261.375,80 R$ 39.816.774,68 R$ 39.651.577,00

Investimento em

projetos na área

de música

R$ 7.686.264,00 R$ 7.670.627,40 R$ 11.846.473,00 R$ 8.750.937,00

Percentual de

música em

relação ao total

31% 26% 30% 22%

Embora tenha havido crescimento do orçamento anual, o percentual para a

área de música diminui consideravelmente de 31% para 22% entre 2005 e 2008.

Este fato se deve à uma melhor organização e distribuição dos recursos entre as

demais manifestações culturais presentes no estado. Abaixo segue o texto de

instituição da Lei 13.336, que institui tanto o FUNCULTURAL, o FUNDESPORTE

quanto o FUNTURISMO, que funcionaram administrativamente sob a mesma

secretaria, a Secretaria da Organização do Lazer:

Lei n° 13.336, de 2005, que institui o Fundo Estadual de Incentivo à Cultura - FUNCULTURAL, o Fundo Estadual de Incentivo ao Turismo - FUNTURISMO, e o Fundo Estadual de Incentivo ao Esporte - FUNDESPORTE, no âmbito do Sistema Estadual de Incentivo à Cultura, ao Turismo e ao Esporte - SEITEC, e estabelece outras providências.Art. 1º Fica instituído, no âmbito do Estado de Santa Catarina, o Sistema Estadual de Incentivo à Cultura, ao Turismo e ao Esporte - SEITEC, com objetivo de estimular o financiamento de projetos culturais, turísticos e esportivos especialmente por parte de contribuintes do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação - ICMS, na forma e nos limites estabelecidos nesta Lei. (GOVERNO DE SANTA CATARINA, 2014)

Vale ressaltar que embora não seja mais possível ao empreendedor

catarinense captar recursos via a lei de incentivo à cultura estadual, o fundo estadual

catarinense continua existindo e ainda é possível às empresas repassarem 5% de

seu ICMS a pagar para este fundo, mas não lhes é dada a opção de escolher em

qual projeto o recurso será aplicado, ação que fica a cargo dos conselhos regionais

e estaduais da cultura, para projetos inscritos em editais.

O Paraná, recentemente, criou a sua, que está em processo de implantação,

Page 27: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

25

O Paraná agora tem a sua Lei de Incentivo à Cultura. Com a criação do Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura (PROFICE) e do Fundo Estadual de Cultura (FEC), instituídos pela Lei n.º 17.043/11, sancionada pelo governador Beto Richa, o Paraná passa a contar com mais uma importante ferramenta para estimular e promover a cultura do Estado. O decreto assinado concretiza um trabalho feito durante todo o ano de 2011, pela SEEC, em parceria com as secretarias do Planejamento e Fazenda e representantes da Assembleia Legislativa e do Fórum das Entidades Culturais. A realização de 15 audiências públicas em 14 cidades possibilitou que os paranaenses também pudessem conhecer e contribuir para a elaboração dessa Lei, que cria mecanismos para descentralizar a cultura e incentivar o trabalho dos artistas do nosso Estado. (LEI, 2012)

Com a existência da lei de incentivo fiscal federal e de várias leis estaduais,

um efeito dominó surge no país, no qual muitos municípios passam a criar suas

próprias leis de incentivo, com base na dedução fiscal do Imposto Predial e

Territorial Urbano, o IPTU, e também através do Imposto Sobre Serviço, o ISS.

Hoje, as leis municipais têm participação significativa no montante total concedido em incentivos culturais no Brasil. O primeiro município, antes mesmo da lei federal, a implantar o apoio a atividades culturais com abatimento em impostos foi São Paulo. Posteriormente, surgiu um grande número deles, tais como: São José dos Campos (SP), Americana (SP), Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Contagem (MG), Cabedelo (PB), Curitiba (PR), Goiânia (GO), Londrina (PR), Maceió (AL), Rio de Janeiro (RJ), Santa Maria (RS) e Vitória (ES). (CESNIK, 2012, P. 220)

A questão das leis de incentivo fiscal no país é delicada. Ao mesmo tempo

em que se deve a elas grande parte da produção cultural realizada nos últimos anos,

observa-se muitos problemas que vão desde a desproporção entre as regiões que

mais tem projetos incentivados, até mesmo certo desentendimento do tipo de projeto

merecedor de benefícios e em que quantidade, para citar apenas alguns. O governo

federal procura, nos últimos anos, implantar uma nova Lei Federal para a cultura, a

Nova Lei da Cultura, através do PROCULTURA. Esta lei, que deverá substituir a Lei

Rouanet, prevê mudanças nos percentuais de isenção:

A principal mudança da lei Rouanet para o Procultura diz respeito ao percentual de isenção fiscal de um determinado projeto. A lei deve separar o grande do pequeno proponente. Este último passa a contar com 100% de isenção fiscal para o projeto. Já o grande proponente passará por critérios de pontuação como: acessibilidade, formação profissional, preservação de patrimônio, benefícios sociais entre outros. São 19 pontos onde o proponente deverá cumprir ao menos 12 para que o projeto tenha 100% de isenção fiscal. Projetos que tenham uma ótica totalmente mercadológica terão apoio através de outro mecanismo, o FICART. Um tipo de financiamento parecido com as linhas de crédito do BNDES, onde o banco operador do fundo entrará como sócio econômico do projeto. Terá controle e regulamentação da CVM, Câmara de valores Mobiliários. Isso deverá tirar

Page 28: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

26

da renúncia os projetos polêmicos com forte viabilidade econômica, mas que necessitam de capital de risco para acontecerem. Grandes eventos como o Rock in Rio, por exemplo, entrariam no FICART, que terá como meta fortalecer o empreendedorismo na área cultural. (Mudanças, MENEZES, citado por GALVÂO, 2012).

O objetivo do Ministério com esta ação é justamente fomentar o patrocínio

direto por parte do empresariado, fazendo com que as empresas injetem um

percentual mínimo de recursos próprios nos projetos por elas patrocinados.

Apesar de alguns aspectos negativos gerados pelas leis de incentivo no

Brasil, evidencia-se que as mesmas são de suma importância para a produção

cultural do país. O maior problema identificado é a dependência existente, por parte

dos projetos, dos recursos estatais.

Entretanto, a despeito desses efeitos positivos, depois de duas décadas de experiência com as leis de incentivo, a produção cultural brasileira chegou a um ponto em que se vê refém desse modelo. Hoje, a aprovação dos projetos em, pelo menos um dos mecanismos de renúncia fiscal se estabeleceu como condição básica para a sua concretização. Raros são os casos de patrocínios viabilizados integralmente com verbas próprias das empresas. (AVELAR, 2010, p. 100)

3.5 MERCADO

“Mercado: Conjunto de atividades de compra e venda de determinado bem

ou serviço, em certa região, comércio” (FERREIRA, 1999, p. 1.319).

Trata-se de venda de mercadorias e serviços relativos ao projeto ou ao

proponente, objetivando o acréscimo de receita. Configura-se como uma boa

alternativa de fonte de financiamento, mas quando está relacionada à venda de

produtos derivados do projeto, como ingressos para eventos, CDs, camisetas e

afins, o recurso depende da execução do projeto para se concretizar. Neste caso,

seria talvez mais apropriado nominar esta ação de agregadora de recursos do que

viabilizadora.

Ações mercadológicas são uma fonte de recurso comum para muitos

produtores, mas ainda pouco habitual para tantos outros, em geral cujo trabalho não

possui o chamado apelo mercadológico. É uma ação que, se bem planejada e

administrada, pode ajudar a resolver o problema da dependência em leis de

incentivo fiscal, visto que busca no mercado a solução financeira para viabilização

de ações culturais.

Page 29: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

27

3.6 DOAÇÃO

A doação configura-se como um repasse de recursos ao projeto, sem que

haja retorno ao doador, principalmente no que se refere à divulgação de marcas. O

artigo 538 do código civil brasileiro tem um conceito específico para doação, como “o

contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou

vantagens para outra.” Os artigos seguintes do código tratam de disposições gerais

sobre o mesmo tema.

Embora este código trate a questão da doação como uma ação exclusiva de

pessoas físicas, sabe-se que podem ser executadas também por organizações

jurídicas.

Apesar de, conceitualmente a doação não prever retorno ao doador,

organizações sem fins lucrativos preveem benefícios aos seus doadores regulares,

objetivando mantê-los e também conquistar novos.

3.7 INVESTIMENTO SOCIAL PRIVADO – ISP

Muito similar ao patrocínio direto e ao patrocínio incentivado, sua principal

diferenciação não está na forma de repasse ou no objeto que está sendo repassado

ao projeto, mas sim nos objetivos que este projeto possui, em relação às premissas

do Investimento Social Privado.

Investimento social privado é o repasse voluntário de recursos privados de forma planejada, monitorada e sistemática para projetos sociais, ambientais e culturais de interesse público. Incluem-se neste universo as ações sociais protagonizadas por empresas, fundações e institutos de origem empresarial ou instituídos por famílias, comunidades ou indivíduos. Os elementos fundamentais - intrínsecos ao conceito de investimento social privado – que diferenciam essa prática das ações assistencialistas são: • preocupação com planejamento, monitoramento e avaliação dos projetos; • estratégia voltada para resultados sustentáveis de impacto e transformação social; • envolvimento da comunidade no desenvolvimento da ação. O Investimento Social Privado pode ser alavancado por meio de incentivos fiscais concedidos pelo poder público e também pela alocação de recursos não financeiros e intangíveis. (O INVESTIMENTO, 2013)

No Brasil, uma das maiores referências ao termo está relacionada ao GIFE.

O GIFE é uma instituição brasileira, sem fins lucrativos, que reúne organizações de

Page 30: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

28

origem empresarial, familiar, independente e comunitária, que investem em projetos

com finalidade pública. Sua missão é aperfeiçoar e difundir conceitos e práticas do

uso de recursos privados para o desenvolvimento do bem comum, contribuindo

assim para a promoção do desenvolvimento sustentável do Brasil. A organização

fornece em seu sítio eletrônico dados de um senso bianual com informações

detalhadas sobre o investimento social privado realizado pelos seus associados, o

que se constitui numa rica fonte de pesquisa aos captadores de recursos para

projetos que se encaixem neste perfil.

3.8 EDITAIS DE FUNDOS PÚBLICOS

Edital é um ato oficial, que deve se manifestar de forma escrita, em que há

determinação, aviso, postura, entre outras coisas. Deve ser afixado em lugares

públicos, bem como anunciados através da imprensa para conhecimento geral, ou

de alguns interessados. Um edital pode ser produzido por um órgão público, mas

também por empresas privadas. No segmento cultural, o número de editais lançados

nos últimos anos vem crescendo exponencialmente, tanto do setor público como do

setor privado, para destinação de verbas diretas aos projetos, mas também para

destinação de verbas a projetos aprovados em leis de incentivo fiscal.

Ato escrito oficial em que há determinação, aviso, postura, citação, etc., e que se afixa em lugares públicos ou se anuncia na imprensa, para conhecimento geral, ou se alguns interessados, ou, ainda, de pessoa determinada cujo destino se ignora. (FERREIRA, 1999, p. 718)

Dos três estados da região Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul

possuem fundos públicos instituídos oficialmente e promovem editais constantes

para destinação de recursos através dos respectivos fundos. O orçamento do Fundo

Estadual da Cultura de Santa Catarina para os últimos três anos está descrito na

tabela a seguir, sendo que os recursos específicos para a área de música estão

destacados na segunda linha. É notável o declínio do orçamento anual para a

cultura neste estado, tanto quanto o percentual de investimentos em projetos na

área da música, que caíram de 20% para 14% entre 2011 e 2013.

Page 31: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

29

2011 2012 2013

Orçamento Anual

Fundo de Cultura de

Santa Catarina

R$ 27.004.862,00 R$ 2.882.749,00 R$ 19.170.093,00

Investimento em

projetos na área de

música

R$ 5.401.811,21 R$ 1.320.000,00 R$ 2.597.131,56

Percentual de música

em relação ao total

20% 45% 14%

Já o Rio Grande do Sul, através do FAC – Fundo de Apoio à Cultura, possui

um orçamento inferior ao de Santa Catarina para a cultura, e também apresenta um

percentual de destinação para o segmento musical bem inferior ao estado vizinho,

percentual que vem caindo, inclusive. A tabela abaixo mostra estes valores, mas não

contabiliza valores referentes a editais de artes integradas, pois não seria possível

identificar os valores destinados especificamente para a música. Infelizmente o sítio

eletrônico que fornece todos estes dados não possui informações sobre o ano de

2011 e nem contatos diretos com a Secretaria responsável forneceram estas

informações.

2011 2012 2013

Orçamento Anual

Fundo de Cultura do

Rio Grande do Sul

Não informado R$ 8.910.000,00 R$ 8.560.000,00

Número de projetos

aprovados

Não informado 17 7

Investimento em

projetos na área de

música

Não informado R$ 775.000,00 R$ 345.000,00

Percentual de música

em relação ao total

Não informado 8% 4%

Embora o Fundo Estadual de Cultura do estado do Paraná ainda não esteja

consolidado, permitindo assim sua aplicação em editais frequentes, o estado aplicou

recursos em alguns editais e programas nos últimos anos, conforme quadro abaixo

informado pela Secretaria Estadual de Cultura do Paraná.

Page 32: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

30

EDITAIS/PROGRAMAS

RECURSOS (R$) 2011 2012 2013

Conta Cultura (01 Edital por ano) R$ 4.544.000,00 R$ 4.329.000,00 R$ 3.500.000,00

Prêmio Estadual de Cinema e Vídeo (01 Edital) R$ 1.540.000,00

Salão Paranaense (01 Edital) R$ 200.000,00

Prêmio Paraná de Literatura (01 Edital) R$ 120.000,00 R$ 120.000,00

Edital de Festivais de Artes no Paraná (01 Edital) R$ 1.000.000,00

CulturAção (01 Edital) R$ 1.500.000,00

TOTAL R$ 4.544.000,00 R$ 6.189.000,00 R$ 6.120.000,00

Destaque para os investimentos Edital de Festivais de Artes no Paraná e do

CulturAção, únicos listados que contemplam a área musical. O Conta Cultura, citado

no início da tabela, embora gerido pelo governo estadual, é um edital para

direcionamento dos recursos federais de empresas de economia mista que em parte

pertencem ao Governo do Estado do Paraná.

3.9 PRÊMIO

Modalidade na qual o proponente ganha um prêmio por algum trabalho já

realizado, reconhecido. Segundo o Novo Dicionário Aurélio, prêmio pode ser um

“bem material ou moral recebido por um serviço prestado, por um trabalho

executado, ou por méritos especiais; recompensa, galardão” (1999, p. 1.629). Sua

diferença em relação a outras modalidades de financiamento pode estar também no

fato de que neste caso, muitas vezes, não há necessidade de prestação de contas

do recurso recebido. Afinal, é um prêmio.

3.10 CONVÊNIOS

“Contrato entre dois ou mais órgãos públicos. Contrato de prestação de

serviço ou outro entre um órgão público e uma instituição particular” (FERREIRA,

1999, p. 547).

Page 33: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

31

Modalidade de financiamento geralmente ligada ao terceiro setor. Uma

organização sem fins lucrativos pode fazer um convênio com o poder público, a fim

de receber recursos determinados. Muitas vezes são recursos destinados à

manutenção destas entidades.

3.11 COLETIVO – CROWDFUNDING

Trata-se de um financiamento coletivo, colaborativo dirigido a pessoas

físicas. Crowd, em inglês, significa multidão e funding, financiamento. Portando, um

financiamento pela multidão. Está intimamente ligado à Internet e ao uso de

plataformas digitais, que possibilitam que milhares de pessoas visualizem ações

abertas para receber recursos financeiros, e escolham a ação que melhor lhe convir,

conforme afinidade ou plano de benefícios.

Crowdfunding, traduzido para o português como Financiamento coletivo ou Financiamento colaborativo, é a obtenção de capital para iniciativas de interesse coletivo através da agregação de múltiplas fontes de financiamento, em geral pessoas físicas interessadas na iniciativa. O termo é muitas vezes usado para descrever especificamente ações na Internet com o objetivo de arrecadar dinheiro para artistas, jornalismo cidadão, pequenos negócios e start-ups, campanhas políticas, iniciativas de software livre, filantropia e ajuda a regiões atingidas por desastres, entre outros. (FINANCIAMENTO, 2013)

O sítio eletrônico Ideiame se intitula o “maior site de crowdfunding da

América Latina”, enquanto o portal Catarse propaga ser “a maior comunidade de

crowdfunding do Brasil”. O Catarse, que também afirma ser a primeira plataforma

brasileira do gênero, apresenta estatísticas impressionantes, conforme quadro

abaixo, que contém informações coletadas da plataforma em 15 de maio de 2013:

Apoiadores 65.934

Apoios 86.683

Valores arrecadados R$ 7.496.056,00

Usuários 145.493

Projetos bem-sucedidos 524

Projetos no ar agora 105

Page 34: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

32

Este é um modelo de financiamento extremamente atual no Brasil, com

registros dos primeiros sítios eletrônicos sendo implantados entre 2010 e 2011, mas

que realmente se tornaram conhecidos e difundidos a partir de 2012. Por ser muito

recente, não possui menção na literatura ainda, e especialistas como Minom Pinho

afirmam que é necessário aos produtores culturais testarem opções como esta, para

verificar sua efetividade. Ressalta-se que já existem, inclusive, plataformas de

crowdfunding para captação de recursos via renúncia fiscal, das mais variadas leis

de incentivo existentes pelo país, como por exemplo, o Quero Incentivar.

Page 35: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

33

4 O SEGMENTO MUSICAL

4.1 A GESTÃO E A PRODUÇÃO

As mudanças ocorridas no mercado musical nas últimas décadas são

notáveis, tanto no Brasil quanto no exterior. Uma das mais marcantes foi a

adaptação da música para o formato digital, permitindo algo que viria a revolucionar

a forma de consumo nos anos seguintes, gerando tanto aspectos positivos quanto

negativos. O ramo da produção musical observou a queda nas vendas das mídias

tradicionais, como o CD, e a consequente ascendência da venda de música em

formato digital, também com elevado crescimento da pirataria on-line. Grandes

gravadoras e artistas hits parecem ter descido um pouco do pedestal onde ficavam,

para uma situação na qual precisam competir, dadas as devidas proporções, com

qualquer banda ou artista iniciante ou independente, que com poucos equipamentos

são capazes de gravar suas próprias músicas.

O desenvolvimento da produção musical independente no país é marcado tanto por uma crise generalizada da indústria quanto por uma inédita organização da cena independente. Essa crise, que se vincula ao contexto geral da economia e a fatores específicos da indústria (como a pirataria digital e de formatos), parece estar afetando a capacidade das grandes gravadoras de atuar nos múltiplos segmentos do mercado, ampliando assim os espaços para a produção independente. (VICENTE, 2012, p. 2)

Sempre foi muito caro produzir e lançar um disco, e por isso ha pouco tempo

atrás existia uma dependência considerável, para não dizer quase total, do artista

em relação à grande corporação musical: gravadoras, emissoras de TV e rádio. O

crescimento da cena independente, muitas vezes com o auxílio de editais de fundos

públicos, leis de incentivo fiscal, ações mercadológicas e de crowdfunding, além de

muita criatividade, dentre outros mecanismos citados neste trabalho, faz perceber

que talvez haja maneiras de sobrevivência além do mainstream.

O número de estúdios, bons, baratos ou até mesmo gratuitos, também

cresceu exponencialmente, a partir do anos 90. Ao apresentar o cenário de uma

indústria que, após a grande crise da Era Collor, iniciava em 1994 um processo que

a levaria a uma significativa expansão, a revista Backstage apontava que:

Page 36: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

34

Terceirização é a palavra-chave quando falamos em estúdios e gravadoras. Há vinte anos este quadro poderia ser loucura, com os altos preços dos equipamentos. Mas os preços baixaram, multiplicaram-se os estúdios e, com isso, as chances de acesso a gravação.

Paralelamente, surgia um amplo leque de produtores e selos independentes

que, em função da existência de empresas especializadas como estúdios, fábricas

de CDs e firmas de editoração eletrônica, podiam operar a partir de estruturas cada

vez mais reduzidas. É esse o contexto em que uma ressurgida cena independente

mostra-se vigorosa o suficiente para substituir a grande indústria nas tarefas de

prospecção, formação e gravação de novos artistas.

“Modificar áudio no computador deixou de ser coisa apenas para os

profissionais há muito tempo.” Declara a UOL Tecnologia (2012), num texto on-line

que sugere 10 programas que auxiliam a edição de áudios. Programas como o

Audacity e o Power Audio Editor, com suas interfaces simples, permitem aos

usuários tradicionais de computador, sem qualquer conhecimento mais específico

em música, conseguir realizar uma empreitada de simples edição. Estes tipos de

programas afinam notas musicais, imitam uma execução de orquestra, convertem

áudios de vídeos para simples áudios, entre várias outras funções. É a tecnologia a

serviço dos artistas e dos criativos de plantão, popularizando e democratizando o

acesso aos modos de se fazer cultura.

Outro ponto importante a ser mencionado é o surgimento dos cursos

especializados, tanto de graduação quanto especialização ou pós-graduação, em

gestão e produção cultural. Fica mais claro ao setor nos últimos anos a necessidade

da existência de profissionais com conhecimentos específicos em administração e

marketing, mas que não precisam necessariamente ser músicos. Isto se deve ao

fato de que a atuação deste profissional se dá muito mais na esfera executiva do

que na artística, diferença gritante em comparação com esta mesma figura de

agente cultural que há pouco tempo atrás tinha que assimilar estas múltiplas

funções.

4.2 A DISTRIBUIÇÃO

Mudanças profundas também vêm ocorrendo na distribuição fonográfica no

Brasil: A queda nas vendas de mídias físicas, como o CD e o DVD, juntamente com

Page 37: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

35

a pirataria online que começou a se proliferar a partir de programas como o Napster,

E-mule, Torrent, entre outros, parecia indicar que o mercado fonográfico sofreria

grandes perdas e muitos achavam que o formato físico da venda de músicas estaria

condenado à inexistência em pouco tempo, assim como alguns pensam sobre o livro

impresso. Entretanto, as estatísticas da Associação Brasileira de Produtores de

Discos em seu relatório a respeito do ano de 2012 indica um crescimento de 5,13%

do faturamento decorrente das vendas, somados os dois formatos.

Ao analisarmos os dados da pesquisa mais detalhadamente, podemos

observar que apesar da redução de 10,04% nas vendas de CDs, DVDs e Blu-Rays

do atacado ao varejo musical em relação ao ano anterior, o aumento de 83,12% nas

receitas da área digital em 2012 foi mais do que suficiente para compensar e, de

fato, ultrapassar esta oscilação do mercado físico, pela primeira vez no Brasil, o que

foi determinante para o mercado de música gravada no Brasil apresentar

crescimento pelo segundo ano consecutivo (em 2011 o setor já havia crescido em

torno de 8%). O faturamento decorrente das diversas modalidades de negócios

digitais atingiu a marca de R$ 111,4 milhões, e ultrapassou as receitas com as

vendas físicas de vídeos musicais em DVD e Blue Ray.

As vendas físicas diminuíram sim, mas não tão drasticamente quanto se

imaginava e talvez o formato digital tenha vindo tanto para impulsionar quanto se

beneficiar da venda de novos formatos físicos criados, como a volta do LP. “A

expectativa é de que o mercado digital continue apresentando crescimento

significativo, impulsionado por variados modelos de negócio e diferentes

modalidades de oferta de música ao público.” (MERCADO BRASILEIRO DE

MÚSICA, 2012).

Importante abordar também a questão das práticas de consumo de conteúdo

musical gerado através de plataformas sociais de distribuição, classificação,

recomendação e divulgação de música na Web. Plataformas sociais de música

online, como o Last.fm, MySpace e Blip.fm permitem ao usuário, através da criação

de um perfil, uma série de atividades ligadas aos seus gostos musicais, como

classificação e recomendação de músicas, por exemplo. Algumas ações são

gratuitas e outras não. Se para o usuário o tipo de serviço é interessante, sob o

ponto de vista de quem produz música estas plataformas são extremamente válidas

na medida em que apresentam ao produtor uma audiência segmentada em termos

de identidade on-line.

Page 38: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

36

Os perfis online em redes de relacionamento tem se mostrado eficientes e vigilantes no sentido de constituição de um banco de dados de consumo, de memória musical, de organização social em torno da música, de crítica musical e classificação de gêneros, de constituição de reputação de conhecimento sobre o assunto (AMARAL, 2009, p. 149).

Mais do que acondicionar um banco de dados pronto para ser usado, estas

plataformas atuam ainda como uma interface entre artistas e seus públicos, e podem

ser consideradas o boca-a-boca da era digital.

Page 39: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

37

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa foi desenvolvida nos anos de 2013 e 2014, a partir do

município de Curitiba, Paraná, abrangendo os três estados do sul do País: Paraná,

Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A abordagem escolhida para alcançar os

objetivos propostos contemplou tanto a pesquisa qualitativa quanto a quantitativa. A

pesquisa qualitativa “explora as características dos indivíduos e cenários que não

podem ser facilmente descritos numericamente. O dado é frequentemente verbal e é

coletado pela observação, descrição e gravação”, e por isso foi usada para coletar

informações na bibliografia existente, na Internet, em eventos afins com o tema,

órgãos de governos, entidades de classe, entre outros. O objetivo principal foi

identificar, mapear o que existe sobre o assunto na bibliografia da área.

Já a pesquisa quantitativa permitiu uma coleta de dados diretamente junto

aos agentes culturais do sul do país. O objetivo foi, além de traçar um perfil básico

destes agentes culturais, identificar quais dos modelos de financiamento mapeados

eram mais ou menos utilizados por eles.

As principais etapas concentraram-se em:

- Coleta de dados e realização da pesquisa teórica;

- Confecção e aplicação de teste do questionário;

- Aplicação do questionário;

- Análise dos dados coletados;

- Redação do texto final e publicação dos resultados.

A aplicação do questionário se deu entre 01/09/2013 e 10/03/2014, através

da ferramenta Google Forms. Foram pesquisadas listas com endereços de e-mails

dos agentes, comunidades no Facebook e Linkedin, além de produtores conhecidos.

Como não se tem nenhum dado mais preciso sobre o quantitativo de agentes

culturais do sul do Brasil, muito menos na área da música, não se pode traçar um

universo de pesquisa mais próximo da realidade, apenas fazer suposições. A única

secretaria estadual de cultura que apresentou um cadastro mais completo foi a do

Paraná, na qual estão cadastrados cerca de 4.500 agentes culturais, sendo que em

torno de 20% são do segmento musical, ou seja, em torno de 900. Se

considerarmos em média a mesma quantidade para cada um dos outros dois

estados, teríamos um universo de 2.700 agentes no segmento musical. Pretendia-se

alcançar uma amostra de 10%, ou seja, 270 respondentes, mas o número final de

Page 40: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

38

respondentes ficou em 80 pessoas, ou seja, uma amostra de 2,96%. Embora menor

do que o desejado, considera-se ainda ser este um bom número, capaz de prover

respostas verídicas e confiáveis. Observou-se certa relutância por parte dos agentes

em responder à pesquisa, mesmo que não fosse necessário identificar-se, e também

por este motivo a pesquisa quantitativa levou mais tempo que o previsto

inicialmente.

Importante salientar também que se procurou equiparar o número de

respondentes de cada estado, principalmente para ter-se uma análise igualitária com

relação aos resultados apresentados na figura 12. Também se procurou enviar o

questionário para as cidades do interior, para que não ficasse concentrado nos

agentes atuantes nas capitais dos estados.

Os dados foram compilados e transformados em gráficos e tabelas,

disponíveis em anexo.

Page 41: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

39

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1 DA SITUAÇÃO DO SEGMENTO MUSICAL NO SUL DO PAÍS

A música vem logo atrás do teatro quando se trata do número de projetos

viabilizados através da Lei Rouanet no Brasil, segundo os dados do relatório

PRONAC 2013. Dentre as práticas culturais mais comuns às pessoas das principais

capitais do país, “ouvir música” lidera as estatísticas com aproximadamente 50% de

votos em todas as cidades pesquisadas.

Através de dados fornecidos pelo Ministério da Cultura, e que constam no

anuário Cultura em Números 2010 (a última edição lançada), pode-se perceber

como está estabelecido o cenário musical no sul do Brasil. Os estados do Paraná,

Santa Catarina e Rio Grande do Sul figuram entre os 10 estados cujo percentual de

municípios que realizam festivais ou mostras de música é de mais de 40%. Existem

diversos outros indicadores, como existência de cursos de graduação em música,

existência de lojas de CD, DVD e afins, quantidade de bandas, orquestras e demais

grupos musicais, etc. que, via de regra, mostra uma situação similar, aparentemente

positiva se comparada a outras regiões de extremos do país.

A tabela abaixo foi extraída da página 178 deste relatório. Ela apresenta a

participação de cada esfera de governo nos gastos públicos com cultura no Brasil,

no período de 2003 a 2005. Claramente os investimentos municipais ocupam

posição de destaque, fato que pode ser comprovado pela pesquisa desta

monografia e destacado na figura 28, que mostra que mais projetos são viabilizados

através de lei de incentivo fiscal municipal no sul do país: 35% dos entrevistados

afirmam ter viabilizado pelo menos de 1 a 3 projetos através de lei de incentivo fiscal

municipal, enquanto apenas 16 % viabilizam este mesmo número de projetos via lei

de incentivo fiscal estadual e 28% o fizeram através de lei federal. Entretanto existe

divergência entre a pesquisa e o quadro no que tange aos investimentos estaduais,

que segundo o MINC viriam em segundo lugar, mas a pesquisa mostra que mais

projetos são viabilizados no sul do país através de lei federal de incentivo. Há que se

ponderar que enquanto o MINC fala de investimento em valores, a pesquisa mostra

resultado em número de projetos viabilizados, que são grandezas diferentes.

Também é importante destacar que ambas as pesquisas foram feitas em períodos

distintos. Mas, em virtude da constatação feita neste trabalho de que tanto o estado

Page 42: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

40

do Paraná como o de Santa Catarina não possuem leis de incentivos fiscal ativas,

possuindo apenas editais de fundos, pode-se concluir que a situação de participação

das esferas esteja mudando ao longo dos últimos anos, principalmente no que tange

à situação no sul do país.

6.2 PERFIL DOS AGENTES CULTURAIS

Infelizmente o Governo Federal não possui dados mais aprofundados a

respeito do perfil dos agentes culturais atuantes no país, e os governos estaduais do

sul também não detém dados desta natureza. A pesquisa realizada ajuda a

relacionar algumas características importantes:

- 29,8% tem menos de 34 anos (nasceram depois de 1980) e 59,6% tem mais de 34

anos (nasceram antes de 1980). Isto quer dizer que a maioria destas pessoas

presenciou várias gestões de governos, viram a implantação da Lei Rouanet,

assistiram às diversas mudanças culturais mencionadas neste trabalho. Importante

salientar que 39% atuam na área cultural há mais de 10 anos.

- Sobre atuação na viabilidade de projetos, comparativamente com a pergunta

anterior, a pesquisa mostra que esses profissionais, provavelmente por

necessidade, se viram obrigados a trabalhar na busca por recursos, pois 38%

passaram a atuar na viabilidade de projetos entre 1 e 5 anos atrás.

- Metade não tem formação musical, que não é uma necessidade para se trabalhar

no mercado musical executivo, mas preocupa sim o fato da maioria não ter formação

em produção cultural. Os cursos de graduação e pós-graduação nesta área são

Page 43: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

41

recentes e concentrados em algumas regiões do país, mas esta falta de

profissionalização em gestão e produção pode gerar enormes dificuldades no setor.

- A maioria é empresário ou autônomo, mas 19% respondeu que trabalha no regime

CLT, um número considerado alto para um setor ligado à informalidade. Fato que

gera curiosidade sobre o tipo de contratante, se empresa ou instituição do terceiro

setor.

- 38% dos respondentes trabalham e tem como sede capitais dos estados do sul,

fato que evidencia uma grande concentração dos profissionais do setor ainda em

torno da infraestrutura cultural de uma capital de estado.

6.3 SOBRE OS PROJETOS VIABILIZADOS E OS MECANISMOS

A maioria dos entrevistados, 36%, conseguiu viabilizar apenas entre 1 e 3

projetos nos últimos 3 anos, enquanto 29% viabilizou de 4 a 7 e 26% viabilizou de 8

a 10. A pergunta seguinte se referia ao número de projetos viabilizados quanto ao

seu porte, e pode-se observar que a quantidade de projetos efetivamente realizados

diminui conforme aumenta o valor necessário para sua viabilização.

Salta aos olhos a quantidade de pessoas que apontaram o mecanismo

”apoio” como um dos mais utilizados. Isto nos indica a necessidade de uma leitura

delicada, mais apurada da nomenclatura utilizada na pesquisa, pois essa palavra em

especial pode ter gerado certa confusão. Vários municípios ou governos utilizam a

palavra apoio para designar suas leis de incentivo fiscal ou editais de fundos

públicos, e isto pode ter gerado equívoco do entrevistado ao responder o

questionário.

A pesquisa nos mostra também que o mecanismo crowdfunding é pouco

difundido no sul do país. Embora os números das plataformas de financiamento

coletivo estejam crescendo, conforme mencionado anteriormente, eles ainda se

concentram em outras regiões do Brasil, principalmente no estado de São Paulo.

O mecanismo ISP é ainda menos popular no sul do país. Não se sabe se

pelo desconhecimento do termo ou se realmente não é tão praticado. Como este

está mais ligado ao terceiro setor, acredita-se que o baixo número de respostas

relativas a esta prática é porque a maioria de agentes culturais não está diretamente

ligada à viabilidade de projetos sociais.

Page 44: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

42

Outro ponto importante levantado pela pesquisa foi o alto número de

pessoas que responderam usar o mecanismo empréstimo bancário para viabilidade

de projetos. Talvez possa ser explicado como sendo a situação de músicos

autônomos, que usam esta estratégia para financiar sua própria carreira, com

valores mais baixos de empréstimo. Este e outros fatos geram certa curiosidade

para traçar um perfil mais detalhado destes viabilizadores e de seus projetos.

Embora vários autores destaquem que existe hoje no Brasil uma significativa

parcela de produtores dependentes de leis de incentivos fiscal e editais de fundos

públicos, a pesquisa mostra que pelo menos a metade dos entrevistados parece não

trabalhar com estes mecanismos. As leis municipais de cultura são mais utilizadas

que as estaduais e federais, talvez por facilitar a proximidade entre proponente e a

fonte de recurso, ou seja, a prefeitura. A captação de recursos também se torna

mais fácil, visto que as empresas potenciais patrocinadoras localizam-se dentro do

perímetro do município. Mas a questão do porque tantas pessoas não usam estes

mecanismos pode ter várias explicações e destaca-se a seguinte hipótese: Em

geral, os músicos de nicho, que não tem tanto apelo comercial e são maioria dentre

os agentes culturais do setor musical, e a eles faltam conhecimentos e/ou vontade

de dedicar-se à tarefa de entendimento e uso destas leis.

Procurando saber quantos projetos estes agentes não conseguiram viabilizar

nos últimos 3 anos, 33% responderam “nenhum”, 32% responderam de 1 a 3, 16%

de 4 a 6, e o percentual vai caindo à medida que aumenta o número de projetos.

Constatou-se certo equilíbrio nestas respostas, mostrando que o número de projetos

não viabilizados não é tão expressivo.

Nas respostas às perguntas abertas, os entrevistados mencionaram dois

tipos de mecanismos de viabilidade, considerados diferentes dos mencionados no

questionário:

Endorsement – “É uma relação frequente entre artistas e fabricantes de

equipamentos que tem interesse em associar o nome de seu produto a um

determinado artista”. Normalmente o artista recebe a doação dos equipamentos para

usar e possui uma agenda de compromissos anuais remuneradas para promoção da

marca. Essa remuneração também pode vir em forma de apoio a algum projeto do

artista”.

Underground – “quem viabiliza são os participantes: a comunidade local e

alguns empresários”

Page 45: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

43

A primeira delas, o endorsement, pode ser relacionada diretamente com a

permuta, pois existe aí a cessão de um objeto, em troca de divulgação de marca,

mas também teria relação com ações mercadológicas, diretamente com o

merchandising. Já a segunda, underground, menciona as fontes de recursos ao

invés do mecanismo em si, o que mostra na prática a confusão que muitos agentes

fazem a respeito de fontes e mecanismos, conforme já foi mencionado

anteriormente.

Alguns agentes também utilizaram as perguntas abertas para expressar-se

livremente sobre as dificuldades que são encontradas em geral para a viabilização

de seus projetos. Como nenhuma destas colocações mostrou-se diretamente

relacionada ao problema desta pesquisa, não considerou-se válido citá-las.

6.4 MECENATO X EDITAIS DE FUNDOS

Questões importantes vêm sendo discutidas recentemente a respeito dos

mecanismos de mecenato subsidiado em comparação com editais de fundos

públicos. Uma das discussões mais atuais e relevantes vem acontecendo na cidade

de Curitiba, onde um significado número de agentes culturais solicita, através de

conferências oficinais do setor, o fim da modalidade mecenato subsidiado na cidade

e a realocação de seus recursos para os editais de fundos públicos. Este trabalho

não pretendo discutir em profundidade o mérito desta questão, mas alguns dados

apontados pela pesquisa tem relação direta com o assunto e merecem ser

destacados.

O estado de Santa Catarina pode ser tomado como exemplo de região na

qual uma lei de incentivo fiscal funcionou durante um período considerável, que

disponibiliza dados estatísticos suficientes para serem estudados. Conforme tabela

da página 25, é possível verificar o montante de recursos disponível e efetivamente

captado para a área da cultura no estado durante os anos de 2005, 2006, 2007 e

2008, que somam R$ 133.374.303,48. Estes valores são muito diferentes dos

demonstrados respectivamente nos anos de 2011, 2012 e 2013, conforme tabela da

página 30, que somam apenas R$ 49.057.704,00, período no qual somente editais

de fundos públicos vigoraram. O grande declínio das verbas pode ter diferentes

motivações, mas uma delas é relativamente óbvia: Enquanto na modalidade de lei

de incentivo fiscal existem diversos proponentes de projetos trabalhando

Page 46: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

44

efetivamente no mercado para captar estes recursos, na modalidade de editais de

fundos públicos, somente funcionários do governo assumem esta função, diminuindo

assim consideravelmente a capacidade de captação das verbas.

Entende-se que a situação de Santa Catarina é bastante específica no que

diz respeito à funcionalidade deste tipo de mecanismos de viabilidade, mas pode e

deve ser estudada pelos demais governos, principalmente quando há uma

discussão acerca da extinção de determinada modalidade de incentivo à cultura.

Page 47: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

45

7 CONCLUSÃO

Concluindo este trabalho, propõe-se o quadro abaixo, através do qual

podem ser elencados pontos positivos e negativos de cada mecanismo de

viabilidade pesquisado, levando em consideração as informações qualitativas e

também as quantitativas coletadas junto aos agentes culturais e que permitem

conhecer um pouco mais do ambiente musical do sul do país. A proposta do quadro

não é a de um guia a ser seguido à risca, mas sim um manual inicial, que pode ser

complementado com as reflexões de cada leitor, e que pode ajudar na compreensão

destas ferramentas de captação de recursos.

FERRAMENTA ASPECTOS POSITIVOS ASPECTOS NEGATIVOS

Permuta 1 - Ajuda a diminuir os custos do projeto, dispensando necessidade de parte dos recursos financeiros; 2 - Maior aceitação pelo empresariado.

1 – Dificilmente viabilizará o projeto inteiro.

Apoio 1 – Pode ser útil para se conseguir pequenas quantias de dinheiro;

1 – Aos olhos do patrocinador, mesmo as pequenas quantias doadas significam muito, então pode haver anseio por parte dele em mais benefícios do que os que se pode ceder nesta categoria.

Patrocínio Direto 1 – Quantias maiores são mais difíceis de captar; 2 – Este tipo de patrocínio tem ficado mais escasso por parte de empresas grandes, da categoria lucro real, que podem patrocinar através da dedução de impostos.

1 – Se alcançado, ajuda a diminuir a dependência das leis de incentivo fiscal e editais de fundos públicos; 2 – A prestação de contas ao patrocinador é menos burocrática que ao governo.

Patrocínio Incentivado

1 – É relativamente fácil ao proponente, com conhecimentos básicos em confecção de projetos e leis de incentivo conseguir a aprovação de seu projeto (principalmente na Lei Rouanet); 2 – A Lei Rouanet já conta com uma plataforma

1 – E relativamente difícil captar recursos de projetos incentivados se faltar ao proponente conhecimentos mínimos em marketing cultural, principalmente na Lei Rouanet, na qual a concorrência é grande e o número de empresas propensas a patrocinar é

Page 48: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

46

eletrônica on-line, chamada Salicweb, como meio oficial para encaminhamento dos projetos, o que facilita e torna economicamente mais viável o envio de vários projetos; 3 – Se bem utilizado, pode ajudar a alavancar ações mercadológicas.

bastante limitado; 2 - A plataforma digital mencionada ao lado exclui do processo a parcela da população que ainda não está habituada ou não tem acesso às ferramentas digitais; 3 – Para as leis que ainda exigem que o envio do projeto seja via correios, geralmente SEDEX, os custos iniciais inibem o envio de várias ideias;

Mercado 1 – Ajuda muito a diminuir a dependência das leis de incentivo fiscal e editais de fundos públicos; 2 – Pode ter papel fundamental no planejamento da carreira de um grupo ou artista a médio e longo prazo.

1 – É necessário conhecimento mais aprofundado de Administração e Marketing, temas que muitos artistas fogem ou não estão habituados, necessitando então do trabalho de terceiros. Pode ser encarado como um ponto negativo num primeiro momento, mas também como motivador de crescimento; 2 – Muitos artistas enxergam a questão do mercado como algo que venha a extrair a essência de seu trabalho artístico, poluindo-o com as exigências do mercado.

Doação 1 – Ajuda muito a diminuir a dependência das leis de incentivo fiscal e editais de fundos públicos; 2 – Existe “prestação de contas burocrática” mas é necessário prestar contas aos doadores do trabalho realizado com a doação.

1 – Quando se pensa na doação contínua de pessoas físicas, esta ferramenta implica no planejamento de campanhas bem estruturadas, fazendo-se valer novamente de profissionais especializados; 2 – É difícil de conseguir para um projeto artístico-cultural qualquer, sem que haja um forte apelo de trabalho social em conjunto.

Investimento Social Privado

1 – Pode render mais frutos a médio e longo prazos.

1 – Mais burocrático e voltado ao terceiro setor.

Edital 1 – Mais prático em relação à lei de incentivo, visto que

1 – Grande concorrência, principalmente em editais

Page 49: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

47

nesta comparação através do edital o recurso chega diretamente ao proponente, dispensando a captação de recursos junto às empresas, comum a outros mecanismos. 2 – Se bem utilizado, pode ajudar a alavancar ações mercadológicas.

federais. 2 – Tem limitação de ideias: O proponente precisa adequar sua ideia ao que está sendo proposto no edital.

Prêmio 1 – Não é necessário apresentar prestação de contas.

1 – Grande concorrência, principalmente em prêmios federais.

Convênio 1 – Pode garantir verbas mais regulares.

1 – Mais burocrático; 2 – Voltado ao terceiro setor.

Coletivo - Crowdfunding

1 – Ajuda muito a diminuir a dependência das leis de incentivo fiscal e editais de fundos públicos; 2 – Pode ser encarado como uma ferramenta de divulgação do projeto antes mesmo que ele tenha sido executado. 3 – Facilidade em extrapolar fronteiras, pois através das plataformas digitais é possível captar recursos em outros países com mais facilidade.

1 – Necessita de forte campanha de divulgação. 2 – O aporte de recursos via esta ferramenta ainda é insipiente, se comparado com sua potencialidade.

Cada empreendedor ou proponente precisa estudar estas ferramentas

detalhadamente, analisar exemplos e meditar a respeito de quais delas, bem como

suas fontes, são mais adequadas para a ideia a ser viabilizada. Um mix de

mecanismos certos pode ser estratégico para o alcance do sucesso.

Importante mencionar que uma das questões mais polêmicas a respeito das

leis de incentivo fiscal no Brasil é o fato de que estas leis deixam com os

empresários e geralmente seus profissionais da área de marketing a decisão e o

poder sobre quais projetos merecem ou não os recursos, sendo que o dinheiro é

originalmente parte do orçamento público. Como estes profissionais visam muito

mais a visibilidade da marca das empresas para as quais trabalham, muitas vezes

em detrimento do valor cultural dos projetos, não é incomum que projetos de artistas

famosos recebam mais recursos, entre vários outros problemas que isso acarreta.

Page 50: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

48

Mas também é possível ver um outro lado desta situação. Após 20 anos de

implantação deste sistema no Brasil, várias das empresas que utilizam esta

ferramenta para apoiar projetos estão comprometidas sim com a qualidade dos

mesmos, com os impactos sociais e com muitas outras questões importantes. Como

forma de incentivo, pode-se dizer que estas leis tem sim cumprido seu papel. O que

precisa acontecer é o próximo passo, o incremento dos orçamentos de marketing

das empresas com recursos próprios. Supunha-se no início deste projeto, que a

modalidade de patrocínio direto estava em declínio no país, mas o que se observa é

que, passo a passo, na medida em que gestores e produtores se aperfeiçoam, estes

vêm conseguindo mostrar ao empresariado as vantagens do marketing cultural.

As estatísticas fornecidas pela instituição GIFE comprovam o crescimento do

volume de investimento quem vem sendo realizado pela iniciativa privada em

projetos de interesse social. O Censo GIFE é uma pesquisa quantitativa, realizada a

cada dois anos, que tem como objetivo apresentar um amplo panorama do

investimento social privado no Brasil, tendo como base a rede de cerca de 140

organizações associadas ao GIFE. As tabelas abaixo contém informações sobre os

anos de 2009 e 2011.

Page 51: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

49

A primeira tabela mostra claramente o crescimento do investimento social

privado no Brasil, desde 2009, mas é a segunda tabela que traz uma informação

importante: Na medida em que o volume de investimentos de recursos incentivados

acima de R$ 500 mil cresce, o investimento de valores abaixo deste entram em

declínio a partir de 2011. Embora as pesquisas da instituição não forneçam dados

de acompanhamento sobre investimento de patrocínio direto, estes dados indicam o

crescimento notável do patrocínio incentivado, principalmente para valores mais

substanciais, e comprovam a necessidade de incremento da modalidade patrocínio

direto.

Page 52: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

50

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Espera-se que este trabalho tenha contribuído para a conceptualização de

vários termos relativos ao marketing cultural e que possa servir como material de

pesquisa a agentes e produtores culturais. A pesquisa resultou em informações

preciosas, mas também abriu campo para novas hipóteses e questionamentos e foi

enviada para o Edital Rumos, da organização Itaú Cultural, com o objetivo de ser

ampliada (abrangendo outros estados do país, bem como outras manifestações

culturais além da música), e posterior publicação de um livro. Outros mecanismos

serão testados na viabilização deste projeto, pois a disponibilização dos resultados

para a classe cultural será através deste livro.

Constatou-se na prática quanto que o segmento cultural necessita de

pesquisas, ainda mais no campo de marketing. Foram contatadas outras

universidades e cursos, procurando por projetos semelhantes e pouco foi

encontrado. A maioria dos acervos ainda existe somente em formato físico para

consulta no local, sendo uma enorme barreira ainda a ser vencida em tempos de

modernidade digital.

Page 53: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

51

REFERÊNCIAS

ABPD - Associação Brasileira dos Produtores de Discos. Mercado Brasileiro de

Música 2013, 2013. ABPD, 2014.

AMARAL, Adriana. Plataformas de música online: Práticas de Comunicação e

consumo através de perfis. Belo Horizonte: 2009.

AVELAR, Romulo. O avesso da cena: notas sobre produção e gestão cultural. 2 ed.

Belo Horizonte: DUO Editorial, 2010.

BRANT, Leonardo. O poder da cultura. São Paulo: Petrópolis, 2009.

CALABRE, Lia. Políticas culturais no Brasil: dos anos 1930 ao século XXI. Rio de

Janeiro: Editora FGV, 2009.

CASAROTTTO FILHO, Nelson. Projeto de negócio: estratégias e estudos de

viabilidade: redes de empresas, engenharia simultânea, plano de negócio. São

Paulo: Atlas, 2002.

CATARSE. Disponível em: http://catarse.me/pt/projects. Acesso em: 15 mai. 2013.

CESNIK, Fábio de Sá. Guia do Incentivo à Cultura. 3 ed. Barueri, SP: Manole, 2012.

COELHO, Teixeira. Dicionário crítica de política cultural: cultura e imaginário. 2 ed.

São Paulo: Iluminuras, 2012.

CONTRATO de troca ou permuta. Disponível em:

http://www.centraljuridica.com/doutrina/85/direito_civil/contrato_de_troca_ou_permut

a.html. Acesso em: 14 mai. 2013.

CORREIOS. Disponível em:

http://www.correios.com.br/institucional/conheca_correios/acoes_culturais/esp_cult_r

j/patrocinio/Conteudo/edital.cfm?edital=Cultural

Acesso em: 02 mar. 2014.

COSTA, Ivan Freitas da. Marketing Cultural: o patrocínio de atividades culturais

como ferramenta de construção de marca. São Paulo: Atlas, 2004.

DINSMORE, Paul Campbell. Gerência de programas e projetos. São Paulo: Pini,

1992.

ESTRAVIZ, Marcelo. I Festival Latino Americano de Captação de Recursos:

Montando um departamento de Captação de Recursos. Notas de palestra. São

Paulo, 2009. Não publicado.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da

língua portuguesa. 3 ed. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1999.

Page 54: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

52

FINANCIAMENTO coletivo. Disponível em:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Financiamento_coletivo. Acesso em: 15 mai. 2013.

FLORIDA, Richard. A ascensão da classe criativa. Porto Alegre, RS: L&PM 2011.

GALVÃO, Marino Jr. Mudanças próximas na Lei Rouanet. Jornal Gazeta do Povo:

2012. Disponível em:

http://www.gazetadopovo.com.br/blog/quanto-vale-show/?id=1257190&tit=nova-lei-

rouanet. Acesso em: 15 mai. 2013.

GARCIA, Euclides Lucas. Lei Rouanet concentra 70% dos recursos no eixo Rio-São

Paulo. Jornal Gazeta do Povo: 2012. Disponível em:

http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?id=1214333&tit=Lei-

Rouanet-concentra-70-dos-recursos-no-eixo-Rio-Sao-Paulo. Acesso em: 15 mai.

2013.

GIFE. Disponível em: http://www.gife.org.br/. Acesso em 22 mai. 2014.

HELENA, Raul Santa; PINHEIRO, Antonio Jorge Alaby. Muito além do merchan!:

como enfrentar o desafio de envolver as novas gerações de consumidores. Rio de

Janeiro: Elsevier, 2012.

IDEIA-ME. Disponível em:

http://idea.me/?gclid=CLCpnsmQm7cCFYFQ7AodGCIAUw. Acesso em: 15 mai.

2013.

INCENTIVE cultura. Disponível em: http://www.incentivecultura.com.br/?p=817.

Acesso em: 24 fev. 2014.

KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração de Marketing. 12 ed. São

Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.

LEI de Incentivo à Cultura do Paraná. Disponível em:

http://.cultura.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1007. Acesso

em: 18 abr. 2013.

LEI no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 15 mai. 2013.

LEI nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8313cons.htm. Acesso em: 14 mai. 2013.

MACHADO NETO, Manoel Marcondes. Marketing cultural: das práticas à teoria. 2

ed. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna Ltda., 2005.

MÚSICA LTDA. Disponível em:

Page 55: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

53

http://www.musicaltda.com.br/2013/07/o-mercado-fonografico-brasileiro-em-2012/

Acessado em 15 ago. 2013

NEGÓCIO. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Neg%C3%B3cio. Acesso em:

18 abr. 2013.

O Investimento Social Privado. Disponível em:

http://www.gife.org.br/ogife_investimento_social_privado.asp. Acesso em: 15 mai.

2013.

PINHO, Minom. Fontes de financiamento. Palestra proferida em Escola Imaginarium,

São Paulo: Mercado Cultural, 2013. Não publicado.

PROCULTURA. Disponível em: http://www.procultura.rs.gov.br/index.php. Acesso

em: 20 mai. 2014.

REIS, Ana Carla Fonseca. Marketing cultural e financiamento da cultura: teoria e

prática em um estudo internacional comparado. São Paulo: Cengage Learning,

2009.

SENADO federal. Disponível em:

http://www12.senado.gov.br/orcamento/glossario/fonte-de-recursos.

Acesso em 02 mar. 2014.

SIGNIFICADO de Permuta. Disponível em: http://www.significados.com.br/permuta/.

Acesso em: 14 mai. 2013.

THE CROWDFUNDING revolution. Disponível em:

http://www.thecrowdfundingrevolution.com. Acesso em 28 jul. 2013.

TOLEDO, André Aloísio. Captação de recursos. Notas de Aula. Curitiba:

Universidade Tuiuti do Paraná, 2012. Não publicado.

UOL notícias: Tecnologia. Disponível em:

http://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2012/04/24/conheca-dez-programas-

para-facilitar-a-edicao-de-musicas.htm

Acesso em: 03 mar. 2014.

Page 56: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

54

APÊNDICES E ANEXOS

Figura 1 - Modelo do questionário, página 1

Page 57: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

55

Figura 2 - Modelo do questionário, página 2

Page 58: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

56

Figura 3 - Modelo do questionário, página 3

Page 59: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

57

Figura 4 - Modelo do questionário, página 4

Page 60: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

58

Figura 5 - Modelo do questionário, página 5

Page 61: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

59

Figura 6 – Faixa etária

Figura 7 – Tempo de atuação na área musical

10%

31%

35%

14%

10%

Faixa Etária

Entre 18 e 25 anos

Entre 26 e 35 anos

Entrre 36 e 45 anos

Entre 46 e 55 anos

Acima de 56 anos

1%

13%

16%

70%

Tempo de atuação na área musical

Menos de 1 ano

Entre 1 e 5 anos

Entre 6 e 10 anos

Mais de 10 anos

Page 62: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

60

Figura 8 – Tempo de atuação na VIABILIDADE de projetos musicais

Figura 9 – Formação musical

5%

37%

23%

35%

Tempo de atuação na VIABILIDADE de projetos musicais

Menos de 1 ano

Entre 1 e 5 anos

Entre 6 e 10 anos

Mais de 10 anos

51%49%

Formação musical

Sim

Não

Page 63: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

61

Figura 10 – Formação em produção cultural

Figura 11 – Forma de trabalho ou prestação de serviços

42%

58%

Formação em produção cultural

Sim

Não

16%

33%35%

10% 6%

Forma trabalho ou prestação de serviços

CLT - Registrado em Carteira deTrabalho

Autônomo

Empresário

Funcionário Público

Cachê

Page 64: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

62

Figura 12 – Principal estado de atuação

Estado Cidade Quantidade Paraná Curitiba 20 Ponta Grossa 1 Maringá 1 Colombo 1 Londrina 1 Toledo 1 Araucária 1 Santa Catarina Florianópolis 16 Blumenau 3 Itajaí 1 Joinville 1 Biguaçu 1 Laguna 1 Brusque 1 Concórdia 1 Lages 1 Balneário Camboriú 1 Rio Grande do Sul Porto Alegre 17 Arapoti 1 Pelotas 2 Caxias do Sul 1 Canela 1 Itaqui 1 São Leopoldo 1 Cidreira 1 São Borja 1 Rio Grande

Tabela 1 - Cidade sede de atuação

33%

31%

31%

5%

Principal estado de atuação

Paraná

Santa Catarina

Rio Grande do Sul

Todos os estados do sul

Page 65: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

63

Estado Cidade Quantidade

Paraná

Curitiba 27 Londrina 7 Maringá 5 Ponta Grossa 3 Cascavel 2 Araucária 2 Paranavaí 2 São José dos Pinhais 1 Ilha do Mel 1 Marialva 1 Ubiratã 1 Juranda 1 Colombo 1 Rio Negro 1 Jaguariaíva 1 Arapoti 1 Piraí do Sul 1 Pinhais 1 Piraquara 1 Toledo 1 Lapa 1

Santa Catarina

Florianópolis 13 Blumenau 11 Joinville 5 Itajaí 5 Indaial 5 Balneário Camboriú 4 Jaraguá do Sul 2 São José 2 Timbó 2 Pomerode 2 Chapecó 1 Biguaçu 1 Alto Bela Vista 1 Piçarras 1 Rio do Sul 1 Criciúma 1 Palhoça 1 Brusque 1 Itapema 1 Lages 1 Correia Pinto 1 São José do Cerrito 1 Gaspar 1 Laguna 1 Tubarão 1 Imbituba 1 Concórdia 1 Peritiba 1 Camboriú 1

Rio Grande do Sul

Porto Alegre 20 Caxias do Sul 6 Pelotas 5 São Borja 3 Canoas 2 Uruguaiana 2 Itaqui 2 Santa Cruz do Sul 2 Rio Grande 2 Bagé 2 Canela 1 Erechim 1 Lajeado 1 Cidreira 1 Balneário Pinhal 1 Tramandaí 1 Garibaldi 1 Santa Maria 1 Novo Hamburgo 1 Lageado 1 Cidreira 1

Tabela 2 – Três principais cidades de atuação

Page 66: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

64

Figura 13 – Quantidade de projetos musicais viabilizados nos últimos três anos

Figura 14 – Quantidade de projetos musicais viabilizados nos últimos 3 anos, quanto

ao seu porte

36%

29%

9%

26%

Quantidade de projetos musicais viabilizados nos últimos 3 anos

De 1 a 3

De 4 a 7

De 8 a 10

Mais de 10

010203040506070

Até 30 mil Entre R$31 e R$ 70

mil

Entre R$71 e R$100 mil

Entre R$101 e R$250 mil

Entre R$251 e R$500 mil

Acima deR$ 500 mil

Nenhum 26 43 57 54 70 67De 1 a 3 25 26 18 20 6 9De 4 a 6 15 6 3 2 2 2De 7 a 10 3 3 0 1 1 1Mais de 10 11 2 2 3 1 1

Qua

ntid

ade

de p

roje

tos

Quantidade de projetos viabilizados nos últimos 3 anos, quanto ao seu porte

Page 67: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

65

Figura 15 – Mecanismos já utilizados para a viabilização de projetos musicais

30

60

44

48

32

18

4

42

20

24

10

42

8

0 10 20 30 40 50 60 70

Permuta

Apoio

Patrocínio Direto

Patrocínio Incentivado

Ações Mercadológicas

Doações

ISP

Ediatais de Fundos Públicos

Prêmios

Convênios com Poder Público

Crowdfunding

Investimento Próprio

Empréstimo Bancário

Page 68: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

66

Figura 16 – Mecanismos mais utilizados para cada projeto, quanto ao seu porte.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Não Utilizado

Acima de R$ 500 mil

De R$ 251 a R$ 500 mil

De R$ 101 a R$ 250 mil

De R$ 71 a R$ 100 mil

De R$ 31 a R$ 70 mil

Até R$ 30 mil

Page 69: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

67

Figura 17 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – PERMUTA.

Figura 18 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – APOIO.

0 10 20 30 40 50

Não utilizado

Acima de R$ 500 mil

De R$ 251 a R$ 500 mil

De R$ 101 a R$ 250 mil

De R$ 71 a R$ 100 mil

De R$ 31 a R$ 70 mil

Até R$ 30 mil

Permuta

0 10 20 30 40 50 60

Não utilizado

Acima de R$ 500 mil

De R$ 251 a R$ 500 mil

De R$ 101 a R$ 250 mil

De R$ 71 a R$ 100 mil

De R$ 31 a R$ 70 mil

Até R$ 30 mil

Apoio

Page 70: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

68

Figura 19 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – PATROCÍNIO

DIRETO.

Figura 20 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – PATROCÍNIO

INCENTIVADO.

0 5 10 15 20 25 30 35

Não utilizado

Acima de R$ 500 mil

De R$ 251 a R$ 500 mil

De R$ 101 a R$ 250 mil

De R$ 71 a R$ 100 mil

De R$ 31 a R$ 70 mil

Até R$ 30 mil

Patrocínio Direto

0 5 10 15 20 25 30 35

Não utilizado

Acima de R$ 500 mil

De R$ 251 a R$ 500 mil

De R$ 101 a R$ 250 mil

De R$ 71 a R$ 100 mil

De R$ 31 a R$ 70 mil

Até R$ 30 mil

Patrocínio Incentivado

Page 71: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

69

Figura 21 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – AÇÕES

MERCADOLÓGICAS.

Figura 22 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – DOAÇÕES.

0 10 20 30 40 50 60

Não utilizado

Acima de R$ 500 mil

De R$ 251 a R$ 500 mil

De R$ 101 a R$ 250 mil

De R$ 71 a R$ 100 mil

De R$ 31 a R$ 70 mil

Até R$ 30 mil

Ações Mercadológicas

0 10 20 30 40 50 60

Não utilizado

Acima de R$ 500 mil

De R$ 251 a R$ 500 mil

De R$ 101 a R$ 250 mil

De R$ 71 a R$ 100 mil

De R$ 31 a R$ 70 mil

Até R$ 30 mil

Doações

Page 72: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

70

Figura 23 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – ISP.

Figura 24 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – EDITAIS DE

FUNDOS PÚBLICOS.

0 10 20 30 40 50 60 70

Não utilizado

Acima de R$ 500 mil

De R$ 251 a R$ 500 mil

De R$ 101 a R$ 250 mil

De R$ 71 a R$ 100 mil

De R$ 31 a R$ 70 mil

Até R$ 30 mil

ISP - Investimento Social Privado

0 5 10 15 20 25 30 35

Não utilizado

Acima de R$ 500 mil

De R$ 251 a R$ 500 mil

De R$ 101 a R$ 250 mil

De R$ 71 a R$ 100 mil

De R$ 31 a R$ 70 mil

Até R$ 30 mil

Editais de Fundos Públicos

Page 73: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

71

Figura 25 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – CONVÊNIOS COM

PODER PÚBLICO.

Figura 26 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – INVESTIMENTO

PRÓPRIO.

0 10 20 30 40 50

Não utilizado

Acima de R$ 500 mil

De R$ 251 a R$ 500 mil

De R$ 101 a R$ 250 mil

De R$ 71 a R$ 100 mil

De R$ 31 a R$ 70 mil

Até R$ 30 mil

Convênios com Poder Público

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Não utilizado

Acima de R$ 500 mil

De R$ 251 a R$ 500 mil

De R$ 101 a R$ 250 mil

De R$ 71 a R$ 100 mil

De R$ 31 a R$ 70 mil

Até R$ 30 mil

Investimento Próprio

Page 74: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

72

Figura 27 – Mecanismos mais utilizados quanto ao seu porte – EMPRÉSTIMO

BANCÁRIO.

Figura 28 – Quantidade de produções feitas com as respectivas leis de incentivo

fiscal (Municipal, Estadual e Federal), nos últimos 3 anos.

0 10 20 30 40 50 60 70

Não utilizado

Acima de R$ 500 mil

De R$ 251 a R$ 500 mil

De R$ 101 a R$ 250 mil

De R$ 71 a R$ 100 mil

De R$ 31 a R$ 70 mil

Até R$ 30 mil

Empréstimo Bancário

0

10

20

30

40

50

60

70

Lei Municipal Lei Estadual Lei Federal

Nenhum

De 1 a 3

De 4 a 7

De 8 a 10

Acima de 10

Page 75: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Simone Nunestcconline.utp.br/media/tcc/2015/10/MECANISMOS-DE-VIABILIDADE-DE... · Aos profissionais Péricles Varella Gomes, Daniel Bortolossy, Danielle

73

Figura 29 – Projetos confeccionados e efetivamente encaminhados para algum

mecanismo de viabilidade, nos últimos 3 anos, que não foram realizados por falta de

recursos.

0 5 10 15 20 25 30 35

Mais de 20

De 16 a 20

De 10 a 15

De 7 a 10

De 4 a 6

De 1 a 3

Nenhum

Projetos NÃO viabilizados nos últimos 3 anos