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4 1. INTRODUÇÃO Atualmente, a cultura da cana-de-açúcar ocupa cerca de 10% das áreas agricultáveis no Brasil. Segundo a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), a área cultivada com cana-de-açúcar destinada para colheita foi de 9.130.100 hectares no Brasil, sendo o estado de São Paulo o maior produtor do país. No processo de produção, destacam-se os elevados custos de formação de lavoura e, dentro do custo de formação, estão os adubos e corretivos agrícolas, que representa uma parte considerável destes custos. A cana-de-açúcar tem uma elevada demanda por nutrientes devido ao elevado acúmulo de biomassa em sua parte aérea. Como grande parte dessa massa vegetal é exportada no processo de colheita, um bom manejo da fertilidade do solo se torna fator determinante para a exploração do potencial de produtividade da cultura. Segundo experimentos realizados por Oliveira et al. (2010) em 11 variedades de cana sob irrigação plena, a exportação média por hectare é de: 92 kg de N (Nitrogênio); 15 kg de P (Fósforo); 188 kg de K (Potássio); 187 kg de Ca (Cálcio); 66 kg de Mg (Magnésio). No momento do planejamento da adubação do canavial, a grande preocupação dos produtores está relacionada às dosagens e aos custos dos fertilizantes. Como o açúcar e o álcool são Commodities (produtos cujo mercado determina o preço), os produtores precisam focar na redução dos custos de produção para manter o lucro na atividade. O emprego de subprodutos provenientes da fabricação do açúcar e álcool colabora com a redução dos custos, aumento da fertilidade do solo e controle ambiental dos resíduos da produção. Dentre os subprodutos gerados e utilizados como fertilizantes, a vinhaça e torta de filtro se destacam por conter altos teores de M.O. (matéria orgânica) e nutrientes essenciais para as plantas. De acordo com Alcarde (2007), a torta de filtro é um resíduo da filtração mecânica do lodo na fabricação do açúcar e também do álcool direto, quando o caldo é submetido à clarificação. Esta clarificação pode ser dividida em 5 etapas: Caleação ou calagem uso de cal virgem (CaO); Sulfitação uso de anidrido sulforoso (SO2); fosfatação uso de acido fosfórico (P2O5); Carbonatação uso de anidrido carbônico (CO2); e o uso óxido de magnésio (MgO). A composição da torta de filtro pode variar de acordo com a variedade da cana, tipo de solo, maturação, processo de clarificação do caldo entre outros, contendo geralmente macronutrientes com N, P, K, Ca, Mg e S (Enxofre) e micronutrientes como B (Boro), Cu

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1. INTRODUÇÃO

Atualmente, a cultura da cana-de-açúcar ocupa cerca de 10% das áreas agricultáveis

no Brasil. Segundo a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), a área cultivada com

cana-de-açúcar destinada para colheita foi de 9.130.100 hectares no Brasil, sendo o estado de

São Paulo o maior produtor do país.

No processo de produção, destacam-se os elevados custos de formação de lavoura e,

dentro do custo de formação, estão os adubos e corretivos agrícolas, que representa uma parte

considerável destes custos.

A cana-de-açúcar tem uma elevada demanda por nutrientes devido ao elevado

acúmulo de biomassa em sua parte aérea. Como grande parte dessa massa vegetal é exportada

no processo de colheita, um bom manejo da fertilidade do solo se torna fator determinante

para a exploração do potencial de produtividade da cultura. Segundo experimentos realizados

por Oliveira et al. (2010) em 11 variedades de cana sob irrigação plena, a exportação média

por hectare é de: 92 kg de N (Nitrogênio); 15 kg de P (Fósforo); 188 kg de K (Potássio); 187

kg de Ca (Cálcio); 66 kg de Mg (Magnésio).

No momento do planejamento da adubação do canavial, a grande preocupação dos

produtores está relacionada às dosagens e aos custos dos fertilizantes. Como o açúcar e o

álcool são Commodities (produtos cujo mercado determina o preço), os produtores precisam

focar na redução dos custos de produção para manter o lucro na atividade. O emprego de

subprodutos provenientes da fabricação do açúcar e álcool colabora com a redução dos custos,

aumento da fertilidade do solo e controle ambiental dos resíduos da produção.

Dentre os subprodutos gerados e utilizados como fertilizantes, a vinhaça e torta de

filtro se destacam por conter altos teores de M.O. (matéria orgânica) e nutrientes essenciais

para as plantas.

De acordo com Alcarde (2007), a torta de filtro é um resíduo da filtração mecânica do

lodo na fabricação do açúcar e também do álcool direto, quando o caldo é submetido à

clarificação. Esta clarificação pode ser dividida em 5 etapas: Caleação ou calagem – uso de

cal virgem (CaO); Sulfitação – uso de anidrido sulforoso (SO2); fosfatação – uso de acido

fosfórico (P2O5); Carbonatação – uso de anidrido carbônico (CO2); e o uso óxido de

magnésio (MgO).

A composição da torta de filtro pode variar de acordo com a variedade da cana, tipo de

solo, maturação, processo de clarificação do caldo entre outros, contendo geralmente

macronutrientes com N, P, K, Ca, Mg e S (Enxofre) e micronutrientes como B (Boro), Cu

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(Cobre), Fe (Ferro), Mn (Manganês) e Zn (Zinco).A composição média da torta de filtro

expressa em % da matéria seca, sendo 77 a 85 de matéria orgânica; 1,1 a 1,4 de N; 1,04 a 2,55

de P2O5; 0,3 a 0,96 de K2 O; 4,07 a 5,46 de CaO; 0,15 a 0,56 de MgO; e 2,70 a 2,96 de SO3

(FERREIRA et al., 1986).

Para suprir a necessidade nutricional do solo, pode-se fazer uma compostagem de torta

de filtro enriquecida com outras fontes de nutrientes, como gesso, cinzas, vinhaça e adubos

fosfatados. Essa compostagem pode substituir totalmente a adubação convencional no plantio

da cana-de-açúcar e, para um melhor aproveitamento, recomenda-se a aplicação no fundo do

sulco devido a baixa mobilidade de alguns nutrientes no solo, como o fosforo e o cálcio

(KROTH, 1998).

Outra importante vantagem do uso da torta de filtro no fundo do sulco seria a

possibilidade de prolongar a época de plantio durante o inverno (período de estiagem

prolongada), consorciado com fertirrigação com vinhaça, devido alto teor de matéria orgânica

e capacidade de retenção de umidade de ambos (COLETI et al. 1980).

1.1. OBJETIVO

Com base nessas informações, objetivou-se, com este experimento, avaliar o ganho de

produtividade da cana-de-açúcar plantada de inverno, em função da adubação com torta de

filtro enriquecida com fosfato solúvel, no fundo do sulco de plantio.

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2. DESENVOLVIMENTO

2.1. A CULTURA DA CANA-DE-AÇÚCAR

Planta perene da família das Poaceas e pertencente ao gênero Saccharum spp. com

pelo menos 6 espécies catalogadas (CRONQUIST,1981).

O primeiro ciclo da cultura é denominado cana planta e pode ser classificado como

cana de ano (12 meses) ou cana de ano e meio (18 meses). Após a primeira colheita, passa a

ser denominada cana soca e permanece nessa nomenclatura nas demais colheitas até sua

reforma. Após cada colheita, devido à alta exportação de nutrientes da cultura, devem ser

realizados os tratos culturais para manter e produtividade potencial, como aplicação de

fertilizantes e controle de plantas daninhas, (UNICA, 2004). Alguns fatores ambientais

apresentam fortes impactos na produtividade dos canaviais, como intensidade de luz,

temperatura e disponibilidade de nutrientes, (AFONSI et al., 1987).

O desenvolvimento da planta de divide em duas etapas distintas: primeiramente um

intenso crescimento vegetativo seguido de gradual produção de sacarose. Após essa primeira

etapa, ocorre um intenso acúmulo de sacarose estimulada por algum estresse ou escassez de

fatores relacionados ao desenvolvimento vegetativo, como temperatura e agua disponível

(MAGALHÃES, 1987). O objetivo principal da agroindústria de açúcar e álcool é elevar a

produtividade dos canaviais e manter altos teores de ATR (açúcares totais recuperáveis). Para

isso, é importe o planejamento e manejo varietal para cada ambiente de produção (NUNES,

1987).

A época de plantio tem forte influencia na produtividade da cana-de-açúcar (RICAUD

e COCHRAN, 1980). De maneira geral, recomenda-se o plantio em duas épocas, sendo uma

maior quantidade plantada no verão (cana planta 18 meses), devido às condições mais

favoráveis de temperatura e umidade, (VILLA, 1977) e uma menor no inicio da primavera

(cana planta 12 meses), (MARCHIORI, 2004).

2.2. HISTÓRIA DA CANA-DE-AÇÚCAR

A cana-de-açúcar é proveniente do Sul e Sudeste asiático e sua chegada às Américas

ocorreu durante a expansão marítima, onde foi cultivada em países como Brasil, Cuba,

México, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela. A introdução no Brasil foi no inicio do século

XVI pelo colonizador português Martim Afonso e Souza na cidade de São Vicente, litoral do

estado de São Paulo, na época dos engenhos e, em sua maioria, com o emprego de mão-de-

obra escrava (SHARPE, PETER, 1998). Com o passar dos anos, novas lavouras foram

implantadas em varias regiões do litoral. Atualmente a produção concentra nas regiões

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Centro-sul (MS, MT, GO, SP, PR) e Nordeste do Brasil, destacando-se o estado de São Paulo

como maior produtor nacional (IBGE, 2013).

2.3. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA

A cana-de-açúcar é cultivada em mais de 20 milhões de hectares distribuídos em mais

de 90 países, sendo os seus principais produtos o açúcar e álcool (FAO, 2008). O Brasil se

destaca com a maior área plantada e segundo maior produtor de etanol do mundo. A produção

da safra 2014/15 foi de mais de 632 milhões de toneladas de cana processada, mais de 35

milhões de toneladas de açúcar e mais de 28 milhões de m³ de etanol anidro e hidratado

(UNICA, 2015). O estado de São Paulo se destaca como maior produtor de cana-de-açúcar

com 53% da área plantada do país, Ribeirão Preto como maior produtor com 24% da área

plantada do estado e São João da Boa Vista com 1,8% da área plantada, (IBGE, 2013).

Atualmente o país dispõe de 430 unidades produtoras, responsável pela geração de 1,2

milhão de empregos diretos, PIB setorial de 48 bilhões de dólares e 15 bilhões de dólares em

exportações (UNICA, 2015).

A cana-de-açúcar tem papel-chave na matriz energética brasileira, onde mais de 47%

de toda energia utilizada no país vem de fontes renováveis e destas, 38% provém do setor

sucroenergético. Além do fator econômico, o fator ambiental impulsionou o cultivo. Com a

fabricação de automóveis movidos à álcool e gasolina (bicombustível) e a mistura de etanol

anidro à gasolina, a cana-de-açúcar tem importante colaboração na redução da emissão de

gases causadores do efeito estufa e redução da dependência de derivados do petróleo,

(FIGUEIRA, 2005).

2.4. SUBPRODUTOS

2.4.1. BAGAÇO

O bagaço da cana de açúcar é um subproduto da extração do açúcar, consiste na parte

solida da planta. Na atualidade o bagaço de cana vem sendo utilizado para a queima em

caldeiras gerando vapor para aquecimento e para a geração de energia elétrica, para o

consumo nas próprias usinas e venda de seu excedente para as concessionárias de energia

elétrica, (UNITAU, 2013).

Essa cogeração de energia elétrica através de biomassa é vista como alternativa para o

desabastecimento nos períodos secos onde as hidrelétricas atingem seus menores níveis de

agua em seus reservatórios. Isso tem atraído o interesse de grandes distribuidores

internacionais, (NOVACANA, 2013).

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O bagaço da cana de açúcar esta sendo utilizado também na produção de etanol

celulósico, que é a hidrólise de resíduos vegetais para a produção de etanol, (ÚNICA, 2012).

Outra aplicação de grande interesse comercial é a hidrólise do bagaço para a

alimentação de gado em confinamento. Nesse processo eleva a temperatura quebrando a

lignina transformando em material digestível para os animais. Com isso a digestibilidade

desse material passa de 23% para 69%, tendo um grande aproveitamento desse material

(CPACT, EMBRAPA, 2002).

2.4.2. CINZA

A cinza é um resíduo proveniente da queima do bagaço da cana de açúcar. Esse

resíduo pode ser rico em nutrientes e, quando aplicado no solo, consegue-se obter grande

melhoria físico-química (MALAVOLTA, 2001). Atualmente é aplicada nos solos como

forma de descarte sem levar em conta seu valor nutricional (FREITAS, 2005). Esse material

quando aplicado no solo como insumo é ambientalmente e economicamente viável, levando

em conta que com esse material no solo ele tem a capacidade de reter mais água diminuindo o

uso da irrigação com isso reduzimos os impactos ambientais e mantendo a cultura bem

desenvolvida (BRUNELLI E PISANI JR., 2006).

2.4.3. VINHAÇA

Também conhecida como vinhoto, tiborna, restilo, é o resíduo proveniente da

destilação do caldo fermentado para a obtenção do etanol. Esse subproduto tem uma

característica física pastosa e mal cheirosa, (NETO, 2005). Há usinas que utilizam em maior

parte de suas áreas chegando até 70% de suas áreas totais, outras bem menos (NETO, 2005).

As usinas de modo geral vêm utilizando doses cada vez menores em suas áreas, com

isso conseguindo aumentaras áreas aplicadas diminuindo os riscos de contaminação do lençol

freático e melhorando as propriedades nutricionais de uma maior área a custo bem mais

acessível (CNPTIA EMBRAPA, 2008).

Juntamente com a vinhaça são descartadas águas de resíduos de limpeza de chão de

condensados remanescentes, tornando assim uma pratica ambientalmente correta por reciclar

parte dos resíduos industriais. Mesmo assim o controle ambiental em relação a aplicação de

vinhaça como fertirrigação é rigorosamente fiscalizada, para garantir as boas praticas

ambientais respeitando as distâncias mínimas das nascentes córregos e rios (DE SOUZA,

2005).

2.4.4. TORTA DE FILTRO

A torta de filtro é resultante da clarificação do açúcar com bagaço de cana moído,

(ALVARENGA E QUEIROZ, 2008). Em relação ao seu valor nutricional, segundo a UDOP

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(União dos Produtores de Bioenergia) citado por Alvarenga e Queiroz (2008) a torta de filtro

e a vinhaça pode substituir a adubação química, com isso reduzindo significativamente os

custos de produção. A substituição da adubação química pela orgânica com utilização de

subprodutos da agroindústria é viável e não provocam perdas de qualidade dos produtos

(açúcar e álcool) ou redução da produtividade da cultura (ANJOS et. al, 2007).

A torta de filtro é basicamente um composto orgânico muito rico em nutrientes se

dando destaque para o fósforo, nitrogênio, cálcio e ainda teores consideráveis de potássio e

magnésio. Com uma dose de 20 ton./ha com base úmida ou 05 ton./ha base seca, a torta é

capaz de suprir 100% do nitrogênio; 50% do fósforo; 15% do potássio; 100% do cálcio e 50%

do magnésio (NUNES JUNIOR, 2005), podendo ser aplicada em área total, em linha ou no

sulco de plantio, não há necessidade de incorporar a torta de filtro quando se aplicada em

áreas colhida sem palha, (NUNES JUNIOR, 1999).

Em relação ao fósforo é muito importante a localização da deposição do adubo devido a

sua baixa mobilidade, aumentando a sua concentração de solo fertilizado próximo das raízes,

assim ocorrera uma maior absorção desse nutriente, (SLEIGT et. al, 1984).

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

O experimento foi conduzido a campo, no município de Vargem Grande do Sul-SP, em

área de produção comercial da Fazenda Jacuba sob coordenadas latitude 21°54’22.94515’’S e

longitude 46°57’30200’’W, no período de julho de 2014 á agosto de 2015. O clima da região,

de acordo com IBGE, é quente e temperado (média entre 15°C e 18°C em pelo menos 1 mês),

úmido com 1 a 3 meses secos e precipitação média anual dos últimos 17 anos de 1.200 mm. A

classificação do solo foi Argissolo Vermelho Amarelo Hiperdistrófico textura média,

horizonte A moderado, (EMBRAPA, 2006). Coleta de amostra de solo foi realizada com

trado holandês em 10 pontos simples que foram misturados num balde e retirado uma amostra

de 300 gramas e encaminhado ao laboratório para analise química.

O preparo de solo foi convencional seguindo as seguintes operações: Reforma dos

carreadores, curvas, camaleões e sistematização do terreno; aplicação de calcário; aplicação

de gesso; gradagem pesada com grade 18X32’ tracionada por um trator Case Puma 225 cv;

gradagem intermediaria com grade 24X28’ tracionada por um trator Case Puma 225 cv;

subsolagem em profundidade de 40 cm com subsolador 5 hastes e rolo destorroador

tracionado por um trator Case Puma 225 cv;

A escolha da variedade levou em consideração o planejamento de colheita em blocos de

safra da unidade processadora e o ambiente de produção onde o experimento foi instalado e,

de acordo com a recomendação expressa no catálogo de variedades do CTC (Centro de

Tecnologia Canavieira) a variedade mais adequada foi a CTC4.

Recomendação de calagem foi de acordo com o método de saturação por bases, com

recomendação de V% 60%, (VITTI & MAZZA, 1998) aplicado no dia 19/05/2014. A

produtividade esperada para a variedade escolhida em plantio de 12 meses é de 120 toneladas

por hectare e a recomendação de adubação por hectare com base no resultado da amostra de

solo é de 30 kg de N, 120 kg de P2O5 e 150 kg de K2O, de acordo com a recomendação

citada por Raij et. al (1996). Para a necessidade de adubação obtida com base na necessidade

do solo, a fórmula recomendada e disponível foi 05-25-25 na dosagem de 545 quilos por

hectare. As quantidades de nutrientes por tonelada de matéria seca do composto, de acordo

com a análise foram de: 26,3% de N, 15,11% de P2O5, 8,95% de K2O. Para atender a

necessidade de P2O5 para o plantio, são necessários 8 toneladas de matéria seca do composto.

O teor de umidade da torta na data do plantio era de 38%, portanto, de acordo com os teores

de N, P2O5 e K2O por tonelada de matéria seca da torta, a necessidade de aplicação do

composto foi de 13 toneladas/ha.

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O experimento foi dividido em duas parcelas amostrais, sendo uma de 3,3 hectares para o

plantio com adubo mineral e outra de 3,45 hectares para o adubo composto de torta de filtro

enriquecido com P28 (28% de P2O5).

O plantio com o composto foi realizado no dia 28/07/2014 com a execução das

seguintes operações: Sulcação com sulcador de 2 linhas da marca DMB tracionado por um

trator Valtra 180; em seguida foi feito a distribuição no fundo do sulco da trota de filtro

enriquecida na dosagem de 15 toneladas/ha; Após a distribuição da torta, realizou-se a

distribuição da muda obedecendo os padrões de qualidades expresso no manual de qualidade

CONSECANA, com o total de 17 toneladas de muda por hectare e 17 gemas viáveis por

metro; em seguida foi feito a cobrição mecânica com um cobridor de 2 linhas da marca DMB,

tracionado por um trator Valtra A 850 que aplicou simultaneamente o inseticida Fipronil 800

WG na dosagem de 0,25 kg/ha numa calda de 100 litros/ha; por fim, foi realizado uma

recobrição manual das cana que ficaram descobertas após a cobrição mecânica. Após o

plantio, foi realizado a fertirrigação com Vinhaça à uma lamina de 20mm para suprir a

necessidade restante de K2O. Dois dias após a fertirrigação, realizou-se uma irrigação com

agua residuária da estação de tratamento de agua da indústria (ETA) à uma lamina de 30mm,

que se repetiu 5 após dias.

O plantio com o adubo mineral foi realizado no dia 30/07/2014 com a execução das

seguintes operações: Sulcação com sulcador de 2 linhas da marca DMB tracionado por um

trator Valtra 180 que aplicou simultaneamente o adubo mineral; distribuição da muda

obedecendo os padrões de qualidades expresso no manual de qualidade CONSECANA; em

seguida foi feito a cobrição mecânica com um cobridor de 2 linhas da marca DMB, tracionado

por um trator Valtra BM 80 que aplicou simultaneamente o inseticida Fipronil 800 WG na

dosagem de 0,25 kg/ha numa calda de 100 litros/ha; por fim, foi realizado uma recobrição

manual das cana que ficaram descobertas após a cobrição mecânica. Após o plantio, foi

realizada a irrigação com agua residuária proveniente das caldeiras da usina a uma lamina de

30mm, que se repetiu após 6 dias.

Para evitar estresse e fitotoxidade com o uso de herbicidas (ROSSETO, 2005), o

controle de plantas daninhas foi feito através de capina manual, no total de 4, realizadas nos

dias 20/08/2014, 15/09/2014, 10/10/2014 e 05/11/2015. No dia 09/12/2014 foi realizado o

quebra lombo para nivelamento do terreno para possibilitar a colheita mecanizada e que

consequentemente eliminou grande parte das plantas daninhas. A partir desse período as

entrelinhas foram fechadas pela vegetação da cana não havendo mais necessidade de controle

das plantas daninhas.

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A contagem dos perfilhos foi realizada no dia 04/11/2014 em quatro pontos de cada

parcela do experimento, onde cada ponto era composto por cinco linhas consecutivas de 10

metros cada. No dia 26/06/2015 foi realizada a coleta de amostra do experimento com

adubação mineral para estimativa de produtividade e analise de ATR onde foi obtido os

seguintes resultados: Produtividade estimada de 150,2 toneladas por hectare, média de 16,5

entrenós por colmo, colmos com média de 265 centímetros e ATR de 117,24 quilos por

tonelada de cana. No mesmo foi realizada a coleta de amostra do experimento com adubação

com torta de filtro onde foi obtido os seguintes resultados: Produtividade estimada de 185,3

toneladas por hectare, ATR de 110,5 quilos por tonelada de cana, média 18,7 entrenós por

colmos e colmos com média de 301 centímetros.

A colheita do experimento foi feita mecanicamente com uma colhedora Case 8800, a

uma velocidade de 2 km/h e as perdas calculadas de acordo com o método descrito no manual

CONSECANA.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No plantio com o composto, a cana-de-açúcar apresentou uma germinação mais rápida e

maior número de perfilhos (média de 29 perfilhos/metro) em relação ao adubo mineral (média

de 23 perfilhos/metro).

Os dados obtidos na biometria demonstram que o sistema convencional apresentou maior

número de canas/metro, porém no plantio com torta, o ganho de peso por plantas foi

consideravelmente maior, devido apresentar comprimento da planta e dos entrenós maiores

que o plantio com adubo mineral, o que impacta diretamente na produtividade do canavial.

Após a colheita foram obtidos os seguintes resultados para a adubação mineral: 135,13

toneladas de cana por hectare, 150,4 quilos de ATR por tonelada de cana, 20,27 toneladas de

ATR por hectare. No plantio com a torta de filtro enriquecida foram obtidos os seguintes

resultados: 157,31 toneladas de cana por hectare, 144,7 quilos de ATR por tonelada de cana,

23,28 toneladas de ATR por hectare. Apesar do ATR/tonelada de cana plantada com

composto apresentar uma pequena redução (cerca de -4%), o ganho de ATR/ha foi de 13% a

mais.

Outra notável vantagem comprovada com o experimento foi a redução dos custos com

fertilizantes no plantio com torta de filtro. O custo da torta enriquecida com fosfato solúvel foi

de R$ 18/tonelada (dados obtidos pelo fechamento anual de custos da empresa). O custo do

composto por hectare foi de R$ 234. Já na adubação com o fertilizante 05-25-25

(R$1338/tonelada), o custo do adubo por hectare foi de R$730/ha.

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5. CONCLUSÃO

A torta de filtro enriquecida com fosfato solúvel possibilitou uma enorme redução nos

custos com fertilizantes no plantio por ser um subproduto da produção do açúcar e a

produtividade e perfilhamento do canavial foram fortemente influenciados pela dose aplicada

no fundo do sulco, sem alterar a qualidade da matéria-prima. Algumas questões podem ser

levantadas, como curva dose-resposta, resistência da cana á pragas e doenças quando utilizado

o composto orgânico no plantio, mineralização da matéria orgânica e liberação mais lenta do

N e K2O no auxílio à redução das perdas de nutrientes por lixiviação.

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6. REFERÊNCIAS

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16

ROSSETTO, R. A cultura da cana-de-açúcar – da degradação `a conservação. Visão

Agrícola. Piracicaba, v.1, n.1, p. 86-87, 2004.

VITTI, G. C., MAZZA, J. A. Planejamento, estratégias de manejo e nutrição da cultura

de cana-de-açúcar. Piracicaba-SP: POTAFOS, 2002. 16p. (Encarte técnico/Informações

Agronômicas, 97)

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7. ANEXOS

FIGURA 1 – Resultado da análise química da torta de filtro

Fonte: Tech Solo. Laboratório de análises químicas.

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FIGURA 2 – Resultado da análise de solo

Fonte: Tech Solo. Laboratório de análises químicas.

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FIGURA 3 – Distribuidora de torta

Fonte: Próprio autor.

FIGURA 4 – Torta depositada no fundo do sulco de plantio.

Fonte: Próprio autor.

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FIGURA 5 – Perfilhamento na área plantada com o composto.

Fonte: Próprio autor.

FIGURA 6 – Coleta de amostras de cana para biometria.

Fonte: Próprio autor.

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FIGURA 7 – Gráfico dos resultados da biometria.

Fonte: Próprio autor.

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FIGURA 8 – Precipitação pluviométrica de 2015 até Agosto (Mês da colheita)

Fonte: Próprio autor.

FIGURA 9 – Precipitação pluviométrica de 2014

Fonte: Próprio autor.

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FIGURA 10 – Resultado da análise da vinhaça

Fonte: Tech Solo.