USO DO “AGORA” COMO MARCADOR CONVERSACIONAL EM ENTREVISTA COM O EX-PRESIDENTE LULA - Cellip 2011

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O USO DO “AGORA” COMO MARCADOR CONVERSACIONAL EM ENTREVISTA COM O EX-PRESIDENTE LULA Kátia Elaine de Souza BARRETO (PG-UFMS) 1 Patrícia Elena Moura BATISTA (PG-UFMS) 2 Letícia Jovelina STORTO (UTFPR/ UFMS) 3 Resumo: Este trabalho tem como objetivo averiguar o uso do advérbio de tempo “agora” e suas correlações funcionais com a conjunção coordenada sindética adversativa “mas” e com a marcação conversacional empregada na fala do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Utilizam-se como corpus de pesquisa ocorrências extraídas de entrevistas com Lula em período de campanha eleitoral. Ao adotar uma abordagem funcionalista da linguagem, pretendemos mostrar que as pressões comunicativas podem afetar o funcionamento da gramática, como, por exemplo, a classe dos advérbios e das conjunções, que podem sofrer mudanças gramaticais e semânticas, em determinados contextos, uma vez que a necessidade de se criar novas formas para atender às expectativas do usuário da língua é essencial. Isso porque, em uma perspectiva funcionalista, a gramaticalização ocorre pela regularização do uso da língua, que acontece a partir da criação de expressões novas e de arranjos feitos pelos interlocutores para atender a seus propósitos comunicativos. Nesse contexto, observamos que o comportamento funcional do termo em análise, como marcador conversacional, é introduzir uma discordância e, ao mesmo tempo, corrigir ameaças à imagem do falante. Palavras-Chave: Marcador conversacional. Entrevista. Luiz Inácio Lula da Silva. Introdução Este estudo propõe um exame da mudança semântica de “agora” no português falado no Brasil: de advérbio de tempo nos trames da Gramática Tradicional (doravante GT) para conjunção adversativa. Isso com o intuito de fornecer uma descrição sintático-semântica e pragmática desse tipo de construção e analisar o seu comportamento como elemento de coesão, a fim de que esse fenômeno possa ser observado e explicado dentro de uma perspectiva funcionalista, mas ao mesmo tempo elencado com a GT. Desse modo, este artigo parte dos fundamentos teóricos do funcionalismo, o qual, segundo Neves (2006, p.17), afirma que o funcionalismo é “uma teoria que se liga acima de tudo aos fins que servem as unidades lingüísticas” sendo assim “se ocupa das funções dos 1 Universidade Federal de mato Grosso do Sul, campus Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, Brasil. Endereço eletrônico: [email protected] 2 Universidade Federal de mato Grosso do Sul, campus Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, Brasil. Endereço eletrônico: [email protected] 3 Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus Londrina, Paraná, Brasil. Endereço eletrônico: [email protected] , [email protected] .

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O USO DO “AGORA” COMO MARCADOR CONVERSACIONAL EM ENTREVISTA COM O EX-PRESIDENTE LULA (Kátia Elaine de Souza BARRETO; Patrícia Elena Moura BATISTA; Letícia Jovelina STORTO)

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O USO DO “AGORA” COMO MARCADOR CONVERSACIONAL EM

ENTREVISTA COM O EX-PRESIDENTE LULA

Kátia Elaine de Souza BARRETO (PG-UFMS)1

Patrícia Elena Moura BATISTA (PG-UFMS)2

Letícia Jovelina STORTO (UTFPR/ UFMS)3

Resumo: Este trabalho tem como objetivo averiguar o uso do advérbio de tempo “agora” e suas correlações funcionais com a conjunção coordenada sindética adversativa “mas” e com a marcação conversacional empregada na fala do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Utilizam-se como corpus de pesquisa ocorrências extraídas de entrevistas com Lula em período de campanha eleitoral. Ao adotar uma abordagem funcionalista da linguagem, pretendemos mostrar que as pressões comunicativas podem afetar o funcionamento da gramática, como, por exemplo, a classe dos advérbios e das conjunções, que podem sofrer mudanças gramaticais e semânticas, em determinados contextos, uma vez que a necessidade de se criar novas formas para atender às expectativas do usuário da língua é essencial. Isso porque, em uma perspectiva funcionalista, a gramaticalização ocorre pela regularização do uso da língua, que acontece a partir da criação de expressões novas e de arranjos feitos pelos interlocutores para atender a seus propósitos comunicativos. Nesse contexto, observamos que o comportamento funcional do termo em análise, como marcador conversacional, é introduzir uma discordância e, ao mesmo tempo, corrigir ameaças à imagem do falante. Palavras-Chave: Marcador conversacional. Entrevista. Luiz Inácio Lula da Silva.

Introdução

Este estudo propõe um exame da mudança semântica de “agora” no português falado

no Brasil: de advérbio de tempo nos trames da Gramática Tradicional (doravante GT) para

conjunção adversativa. Isso com o intuito de fornecer uma descrição sintático-semântica e

pragmática desse tipo de construção e analisar o seu comportamento como elemento de

coesão, a fim de que esse fenômeno possa ser observado e explicado dentro de uma

perspectiva funcionalista, mas ao mesmo tempo elencado com a GT.

Desse modo, este artigo parte dos fundamentos teóricos do funcionalismo, o qual,

segundo Neves (2006, p.17), afirma que o funcionalismo é “uma teoria que se liga acima de

tudo aos fins que servem as unidades lingüísticas” sendo assim “se ocupa das funções dos

1 Universidade Federal de mato Grosso do Sul, campus Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, Brasil. Endereço eletrônico: Ká[email protected] 2 Universidade Federal de mato Grosso do Sul, campus Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, Brasil. Endereço eletrônico: [email protected] 3 Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus Londrina, Paraná, Brasil. Endereço eletrônico: [email protected], [email protected].

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meios lingüísticos de expressão”. Para tanto, fundamenta-se nas teorias funcionalistas de

Givón (1979), Dik (1989, 1997) e Neves (1997; 2000; 2006) e nos postulados teóricos da

Gramaticalização. Segundo Neves (1997, p.25), “a gramática funcional constitui uma teoria

de componentes integrados, uma teoria funcional da sintaxe e da semântica, a qual, entretanto,

só pode ter um desenvolvimento satisfatório dentro de uma teoria pragmática, isto é, dentro de

uma teoria da interação verbal”.

Justifica-se a escolha da abordagem funcional nesta pesquisa pela necessidade de se

encontrar uma teoria que considere a língua em suas reais condições de uso. Nessa perspectiva

da teoria funcional da gramaticalização, ressaltamos também a interface com a Análise da

Conversação, a qual possibilita a descrição do termo “agora” como gramaticalizado e

também como marcador oracional.

Para o exame do emprego do advérbio de tempo “agora” e suas correlações

funcionais com a conjunção coordenada sindética adversativa “mas”, elencou-se como objeto

de estudo a marcação conversacional empregada na fala do ex-presidente brasileiro Luiz

Inácio Lula da Silva. Assim, o corpus desta pesquisa é composto de três entrevistas do ex-

presidente a telejornais e um discurso político. As duas primeiras entrevistas foram obtidas

por meio da gravação do Jornal Nacional no ano de 2002 em dois momentos: quando o ex-

presidente disputava a presidência da República; e no final de seu primeiro mandato em

disputa pela reeleição. Já a terceira é uma entrevista de Lula concedida ao Jornal da TV

Record aos 21/07/2010, já no fim do seu segundo mandato. E discurso ocorreu no Porto

nacional de Tocantins, durante a inauguração de 256Km da Ferrovia Norte-Sul, aos 21/

09/2010.

Referencial teórico

De acordo com o modelo de interação verbal de Dik (1989), falante e ouvinte dispõem

de um conjunto de informação pragmática, que inclui crenças, conhecimento de mundo e da

situação comunicativa. Quando o falante elabora um enunciado, seu objetivo é produzir

algum tipo de modificação na informação pragmática de seu ouvinte; para isso, ele elabora

uma intenção comunicativa relacionada à modificação que deseja causar em seu destinatário.

Mas o maior desafio do falante é formular sua expressão linguística, a qual é entendida como

resultado da interação que ocorre entre falante e ouvinte. Assim, ela atua como mediadora da

interação entre os indivíduos.

Podemos observar que a intenção do falante e a interpretação do ouvinte, de acordo

com o modelo de interação verbal de Dik (1989), são mediadas pela expressão linguística.

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Para isso, o falante deve ter uma intenção comunicativa, a fim de modificar de algum modo a

informação pragmática de seu ouvinte. Desse modo, ao buscar uma melhor maneira de ser

entendido, enfático, persuasivo ou outros, o sujeito “molda” a língua aos seus propósitos de

comunicação. Dessas adaptações surgem processos como o da gramaticalização, a qual pode

ser entendida como a mudança na passagem de um item lexical a um item gramatical ou na

passagem de um item menos gramatical a um item mais gramatical (TRAUGOTT, 2003).

A gramaticalização é explicada como um tipo de mudança linguística marcada por

alterações, principalmente de ordem sintático-semântica. É uma forma pela qual a gramática

de uma língua adapta-se ao contexto. Nesses moldes, investiga-se a formação de conjunções e

um ganho de novos significados, ou seja, alenta-se que “traços semânticos podem não

desaparecer, mas ser substituídos por traços pragmáticos” (NEVES, 1997, p.138). O

neogramático Paul (1986 apud LONGHIN–THOMAZI, 2004, p.216) afirma que as

conjunções (“palavras de ligação em sua terminologia”) nascem a partir de mudanças

sofridas por palavras autônomas. Historiadores da Língua Portuguesa, como Bueno (1967) e

Câmara (1975) (apud LONGHIN–THOMAZI, 2004, p.217) consideram que houve a

necessidade de se criar novas conjunções reutilizando material da própria língua, o que reunia

fenômenos entendidos como casos de gramaticalização. Isso porque “o termo

gramaticalização associa-se a palavras como transformação, evolução e processo”

(GONÇALVES; HERNANDES; CASSEB-GALVÃO, 2007, p.160). O que se pretende

ressaltar é: existe uma relação do sistema gramatical diacrônico com a gramática funcional–

discursiva, pois se considera que a estrutura gramatical procura estabelecer propósitos

comunicativos. Sendo assim, assume-se que pressões comunicativas podem afetar unidades

do sistema linguístico, contribuindo, portanto, para a ocorrência do processo de

gramaticalização. Processo esse que tem sua “motivação nas necessidades comunicativas não

satisfeitas pelas formas existentes, bem como na existência de conteúdos cognitivos para os

quais não existem designações lingüísticas adequadas” (NEVES, 2006, p.258). Nesse sentido,

elabora-se uma pressuposição de que o advérbio “agora”, quando inserido em um contexto

pragmático, pode assumir características de outro valor gramatical.

Heine et alii (1991 apud NEVES, 1997, p.132) voltam-se para o princípio que Werner

e Kaplan (1963) chamaram de “princípio da exploração de velhos meios para novas funções”,

o qual é empregado para explicar os fenômenos da gramaticalização. Neves (1997, p.132) traz

a seguinte colocação:

Por esse princípio, conceitos concretos são empregados para entender, explicar ou descrever fenômenos menos concretos, e entidades claramente

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delineadas/claramente estruturadas conceptualizam entidades menos claramente delineadas/menos claramente estruturadas: experiências não-físicas são entendidas em termos de experiências físicas, tempo em termos de espaço, causa em termos de tempo, relações em termos de processos cinéticos ou de relações espaciais, etc.

Numa perspectiva funcionalista, a gramaticalização ocorre pela regularização do uso

da língua, o que acontece a partir da criação de expressões novas e de arranjos feitos pelo

falante para atender aos seus propósitos comunicativos (NEVES, 1997). De acordo com a

autora, “ver a língua em seu funcionamento implica vê-la a serviço das necessidades dos

usuários, e a partir daí, em constante adaptação” (1997, p.117). Desde o século XIX,

desenvolvem-se estudos a respeito da gramaticalização que, tratada como um processo

contínuo, atua lenta e gradativamente na língua. É por isso que as discussões acerca da

coexistência de novos valores/ usos ao lado das antigas propriedades lexicais devem ser

retomadas em um amplo estudo acerca do “problema da transição” (WEINREICH; LABOV;

HERZOG, 1968 apud LOPES, 2003).

De acordo com Meillet (1912), a gramaticalização é um processo interminável e de

grande importância para as línguas, uma vez que o “desgaste funcional das palavras da língua

é um acontecimento frequente” (SOUZA, 2009, p.64). Desse modo, há necessidade de se criar

novas formas para atender às expectativas e às necessidades comunicativas do usuário da

língua. A gramaticalização é definida, segundo Souza (2009), como um processo de mudança

linguística que pode envolver tanto perdas quanto ganhos de funcionalidade. Para o autor, um

aspecto importante na proposta de gramaticalização de Meillet é a trajetória unidirecional que

uma palavra principal percorre até “funcionar’ como uma palavra gramatical.

Assim como Meillet (1912), Heine, Claudi e Hünnemeyer (1991) também acreditam

que são as necessidades comunicativas do falante que desencadeiam, nas línguas, os processos

de gramaticalização. Essas necessidades, segundo os autores, explicariam a busca constante de

formas linguísticas mais adequadas para expressar ideias mais abstratas.

Nesse contexto, descrever o comportamento funcional do termo “agora” de valor

temporal em comparação à conjunção adversativa “mas” pressupõe a consideração de vários

elementos contextuais/ pragmáticos, os quais são extremamente importantes e imprescindíveis

para a devida descrição desse termo, o que justifica, portanto, a opção por um modelo

funcionalista de descrição linguística (DIK, 1997; NEVES, 1997; 2000; TRAUGOTT, 1982;

TRAUGOTT; HOPPER, 1993).

Assim, sob a perspectiva da gramaticalização, o item “agora” é discutido em dois

aspectos: “agora” enquanto advérbio de tempo na classificação da GT e também como

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conector de valor, essencialmente, adversativo cuja classificação não se encontra em gramáticas

tradicionais.

Outros estudos a respeito de tal fenômeno vêm sendo realizados, todavia nos chama a

atenção o modo como o “agora” tem sido utilizado espontaneamente por interlocutores, não

somente para contrapô-lo ao seu interlocutor, mas também numa tentativa de preservar a

imagem positiva do falante.

De acordo com Gonçalves, Hernandes e Casseb-Galvão (2007, p.15), “não há gramática

como produto acabado, mas sim constante gramaticalização”. Daí a importância de se rever

outros casos do uso de “agora” e descrever seu funcionamento no português falado no Brasil,

buscando entender a sua classificação nas ocorrências de textos falados e escritos.

Salientamos os estudos diacrônicos do termo “agora” nas pesquisas de Câmara Jr.

(1979). Para esse autor, o latim clássico apresentava a forma “nunc”, a qual significava “neste

momento”. Essa forma foi substituída pela locução ablativa “ac hora” e, em outros contextos,

pelo ablativo “hora”. As duas variantes originaram “agora” e “hora”. Duque (2009, p.943-

944 apud PHILIPPSEN, 2011, p.70) diz o seguinte:

Admitindo-se que a origem do elemento agora remonte à noção de espaço, inclusa no pronome demonstrativo hac, poder-se-ia afirmar que o item em estudo vem cumprindo a trajetória espaço> tempo> texto, proposta por Heine et alii (1991). Essa trajetória, por si só, deve ser considerada um indício de que o elemento agora vem se gramaticalizando, desde a sua formação da locução latina hac hora.

A priori, o termo “agora”, classifica-se, segundo a GT, como advérbio. Celso Cunha

(1972, p.499) afirma que o advérbio pode ser visto como “palavras que se juntam a verbos

para exprimir circunstâncias em que se desenvolve o processo verbal, e os adjetivos para

intensificar uma qualidade”. Para Sacconi (1994, p.252 apud CALMON, 2009, p.1376), o

advérbio “é palavra invariável que modifica o verbo, exprimindo uma circunstância de tempo,

modo, lugar etc.” Apesar de ser considerado um gramático de abordagem tradicional, esse

autor afirma que o item agora pode ser apresentado com o mesmo valor da conjunção

adversativa “mas” na seguinte sentença: “gosto muito de Cristina, agora beijar os pés dela eu

não vou não”. Segundo Bechara (1999), o advérbio é constituído por palavra de natureza

nominal ou pronominal e refere-se, geralmente, ao verbo, ou ainda, dentro de um grupo

nominal unitário, a um adjetivo e a um advérbio (como intensificador) ou uma declaração

inteira. Para Lins (2007, p.135 apud CALMON, 2009, p.1384), o item “agora” “é um

amarrador textual de porções de informação progressivamente liberadas ao longo da fala”.

Assim, a respeito da classificação do “agora” não há total consenso entre os pesquisados.

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Em relação ao “mas”, de acordo com a tradição gramatical, ele se classifica como

conjunção coordenativa adversativa. As conjunções coordenativas estabelecem relações entre

duas orações independentes e classificam-se, em geral, como: alternativas, conclusivas,

aditivas, adversativas ou explicativas. As orações coordenativas são aquelas que “ligam

palavras ou orações do mesmo valor ou função” (BECHARA, 1980). Porém, o “mas”

desempenha várias outras funções. De acordo com Neves (2000), a conjunção coordenativa

“mas” marca uma relação de desigualdade entre os segmentos coordenados, conforme as

condições contextuais. Exemplo disso é: “Ela estava doente, mas não faltou às aulas”.

No dicionário Michaelis, a conjunção adversativa “mas” significa: oposição ou

restrição e é utilizada como repetição para dar ênfase: "Tirano injusto, mas forte, mas audaz". Segundo

Sacconi (1995, p.135 apud CALMON, 2009, p.1384), “mas é um item que ressalva

pensamentos, podendo indicar idéia de oposição, retificação, restrição, compensação,

advertência ou contraste”.

Cunha (2001, p.585 apud CALMON, 2009, p.1384) afirma que “mas é uma partícula

que apresenta, além da idéia básica de oposição, valores de contraste e afetivos – atenuação,

adição, restrição, retificação e mudança na sequência de assunto”. Koch (2010, p.35-36), por

seu turno, define “mas” como “operador que contrapõe argumentos orientados para

conclusões contrárias”. Ainda segundo Koch, do ponto de vista semântico, os operadores do

grupo “mas” (embora, todavia, contudo, entretanto e outros) opõem argumentos enunciados

de perspectivas diferentes, que orientam, portanto, para conclusões contrárias. A autora

salienta que, para Ducrot (apud KOCH, 2010), o “mas” é o operador argumentativo por

excelência.

O termo “operador argumentativo” é explicado por Koch como “elemento da gramática

de uma língua que tem por função indicar a força argumentativa dos enunciados e o sentido

para o qual apontam” (2010, p.30). Fávero, Andrade e Aquino (1999, p.48) apresentam os

marcadores conversacionais como “elementos que auxiliam no desenvolvimento interacional

da atividade em pauta”. De acordo com as autoras, esses marcadores “promovem a condução

e a manutenção do tópico discursivo, instaurando a solidariedade conversacional entre os

interlocutores”. No caso do “agora”, discorrido neste artigo, assinalamos o seu uso como um

marcador conversacional que introduz discordância.

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Análise dos dados

Com base nos pressupostos teóricos apresentados, fazemos um estudo sincrônico do

“agora” a fim de analisar seu emprego no português contemporâneo, observando a semântica

e a pragmatização do significado que acompanham a gramaticalização. Isso em ocorrências

que foram observadas na fala do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ressaltamos que os exemplos analisados são apresentados em blocos de perguntas e

respostas retirados de transcrições de entrevistas do ex-presidente ao Jornal Nacional da TV

Globo e ao Jornal Record em períodos de campanha eleitoral nos anos de 2002, 2006 e 2010 e

de um discurso.

Jornal Nacional: Entrevista presidenciável com Luiz Inácio Lula da Silva no ano de 2002. (O trecho trata

do não pagamento da dívida externa – questão temida na época por muitos eleitores).

Entrevistador: O Brasil pode::....é ter a garantia de que... o partido não vai mudar de iDÉIA depois da eleição com relação a esse assunto(..)

Entrevistado: NÃO::...o PT tem um programa Boner...o que nós queremos na verDAde é construir um país um pouco mais justo...sabe... sabe o que acontece... não é mais possível... o povo .... a::.... a classe média brasileira... o pequeno empresário... paGArem as contas de tudo o que acontece no Brasil... e quando as coisas melhoram... que tem um banquete... essa mesma gente não é convidada para participar do banquete... e depois quando fracassa... é convidado...a PAGAR a conta... veja o que ta acontecendo agora... nós temos os chamados preços controlados... né... que é o... preço da energia... o preço do gás... o dólar aumenta... aumenta esses preços... agora... quando o dolár baixa... não baixa os preços... ou seja é SEMpre a parte pobre da população... que está sendo convoCAda... a arCAR... com a IRRESponsabilidade...daQUEles... que governam o nosso país.

Nessa entrevista, Willian Bonner questiona o candidato a respeito do temor dos

brasileiros com relação ao não pagamento da dívida externa, uma antiga proposta partidária,

caso Lula viesse a ser eleito.

O candidato, na ocasião, assinala que não há justiça nos chamados preços controlados.

Ele inicia essa afirmação com o termo “agora” com valor, em primeiro momento, de dêitico-

temporal, ou seja, no papel de situar o evento em certo período de tempo. Nesse caso tem-se

“agora” com noção de “no momento presente”.

Em seguida, o entrevistado emprega o item “agora” desempenhando uma função não

adverbial, porém parece conferir ao termo valor adversativo. Tem-se aí ganho de outro valor

gramatical que é o da conjunção, de modo que esse “agora” seja equivalente a um “mas”,

com o qual se obtém o mesmo resultado. Isto é, o texto poderia ser enunciado com esse ou

aquele elemento que seu sentido não se alteraria significativamente.

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No ano de 2006, em entrevista ao jornal Nacional:

Entrevistador: o senhor afastou(...).... o ex... ministro... da casa... civil?

Entrevistado: FOI afasTAdo....

Entrevistador: o senhor o afastou?

Entrevistado: (...)... FOI afasTAdo...eu o afastei... afastei o Zé Dirceu... afastei o Paloci... afastei ouTROS funcionários... que estavam... envolvidos... e vou continuar afastando... agora....quando se trata de punir...wilian... punir significa... você respeitar o Estado de direito...eu quero pra todo mundo o que eu quero pra mim... o direito de provar que eu sou inocente e o meu acusador provar que eu sou culpado.

Na entrevista registrada acima, o candidato é desafiado a explicar sua tolerância ou

conivência com a corrupção dos seus ministros. Ao apresentar sua atitude de tê-los afastado

de seus respectivos cargos, o entrevistado vai estabelecendo uma sequência de eventos.

Assim, o “agora” traz o efeito de um conectivo que, além de garantir a coesão sequencial do

texto por meio dos acontecimentos, a saber, os referidos afastamentos, também marca a

função contrastiva, de modo a ser facilmente substituído por “mas”.

Concomitantemente, percebemos no uso do item “agora” um marcador discursivo que

salienta a autodefesa do político, de maneira que o uso espontâneo do termo “agora” vem a

reforçar a preservação da imagem do falante: de um presidente que não tolera os corruptos.

Assinalamos o uso do “agora” de forma defensiva e percebemos nesse emprego certo valor

expresso de irritação.

Entrevista realizada por Adriana Araújo ao Jornal da Record pela repórter aos 21/07/2010, fim do seu

segundo mandato do ex-presidente. Entrevistadora: O senhor tem um plano... um sonho... de volTAR presidente em 2014 (...) ou depois? Entrevistado: Não...não...não ...não...não tenho...não tenho... eu te falo de coração... porque qualquer coisa que eu falar cê vai dizer que... não é verdade agora também em política a gente nunca pode dizer não...sabe? nunca mais eu vou fazer isso...a gente nunca pode dizer...eu se tiver juízo e tiver os meus neurônios perfeitos sabe... eu me contentarei em ser um bom ex-presidente da república sem dar palpite na vida de quem tá governando.

Nesse trecho, Lula fala acerca de voltar a ser candidato, empregando o item “agora”

sem função adverbial, mas como elemento coesivo, já que une orações por meio de valor

adversativo e protege a imagem positiva do falante, uma vez que ele se isenta da

responsabilidade de assumir que não mais será candidato à presidência.

Observamos também no uso do termo a intenção de denotar humildade do falante, o

qual minimiza o valor do seu discurso, de modo a não enfatizar uma ação que pode não

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ocorrer. Assim, o locutor protege-se de futuras objeções que podem vir a surgir caso ele venha

a se candidatar novamente em momento posterior ao da entrevista. Ou seja, não se pode

afirmar com convicção algo de que não se tem total certeza. Além disso, com essa explicação

o ex-presidente deixa em aberto talvez a possibilidade de voltar a concorrer a presidência.

Nesse ínterim, consideramos, mais uma vez, a preocupação proposital do ex-presidente em

preservar a sua face positiva perante a imprensa e os telespectadores.

Discurso político do ex-presidente Lula no Porto Nacional/TO, na inauguração de 256 km da Ferrovia

Norte-Sul, aos 21/09/2010; em palanque, critica adversários políticos e suas atuações de governo.

Lula: Quando eu criei o Bolsa Família acharam que era esmola...quando essas pessoas não conheciam isso essas pessoas ficavam dizendo que era assistencialismo, que era demagogia, que era populismo...”agora”...essas mesmas pessoas estão indignadas...como é que eles são tão sabidos...tão sabidos...e precisou chegar ao governo um não tão sabido como eles pra fazer o que os sabidos deveriam ter feito e não fizeram nesse país.

Nesse trecho, o item “agora” parece, a priori, manter o seu valor dêitico-temporal

porque veicula uma relação de proximidade temporal do momento presente “agora” com um

momento passado: “quando eu criei...”

Ao mesmo tempo, observamos uma organização transitória de locativo temporal para

marcador discursivo que estabelece coesão entre os termos e que reforça a imagem de um

político competente que governa em favor dos menos favorecidos e realiza projetos que

outros políticos não conseguiram realizar.

Há um traço transitório também porque, no que concerne mudança de categoria

gramatical nos âmbitos da Gramaticalização, percebemos o processo de transformação do

advérbio para conjunção ao observar que o item “agora”, nesse discurso, parece conferir uma

característica de adversidade. Ou seja, além da equivalência semântica de “agora” com “no

momento presente”, o mesmo termo parece indicar função de contraste, podendo ser

substituído por “no entanto”, “só que”, “mas”, numa instável oscilação classificatória

gramatical que ora o valor se dá por meio de advérbio temporal, ora se dá por conjunção

adversativa.

Dessa forma, podemos perceber o uso do “agora”, que caracterizamos como

gramaticalização, também usado como um componente desarmador, cuja função é rebater e

neutralizar a crítica ou a desmoralização do entrevistado, fazendo com que ele se coloque de

modo defensivo. Sendo assim, compreende-se que seu emprego é uma estratégia que visa à

preservação da face positiva.

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Considerações finais

Neste artigo, procuramos descrever e explicar a mudança gramatical no uso do item

“agora” no discurso político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com base na teoria

dos processos de gramaticalização.

Essa mudança pela qual vem passando o item ao longo do tempo passa por uma

trajetória que vai desde a sua origem etimológica, “hac hora”, cujo valor é o de locativo

temporal até o valor de conjunção adversativa. Nesse sentido, admitimos que, segundo

Hopper e Traugott (1993), “o surgimento de novos sentidos não põe fim ao mais antigo,

podendo coexistir e interagir, dentro de um contexto determinado”.

Nosso corpus, formado por três entrevistas e um discurso do ex-presidente Lula,

contém análises do item “agora” com função temporal, conforme caracterizado pela GT,

também na função gramaticalizada como conjunção adversativa e também na função

discursiva, sendo esses dois últimos valores comuns à conversação.

Pudemos verificar, com base na análise das entrevistas que o uso do “agora” encontra-

se em estágio de gramaticalização, porém o uso como advérbio de tempo não é descartado,

mas a ele é dado novos sentidos, de forma que ele se adapta às intenções comunicativas no

discurso.

Nesse caso, salientamos que o sentido temporal presente na origem de “agora” é tão

evidente no português brasileiro quanto as mudanças semânticas que o termo tem assumido, o

que vale dizer, do ponto de vista sincrônico, que as gramáticas da língua portuguesa não

apresentam uma análise satisfatória e abrangente do item “agora”, pois não descrevem as

diversas funções do termo, mas limitam-se apenas à classificação dos advérbios.

Por meio das análises, verificamos que o termo “agora” funciona, em alguns

momentos, como marcador oracional usado na fala do ex-presidente, o qual, de forma

voluntária, emprega-o para contrapor-se a questões que feririam a preservação da sua imagem

positiva frente aos eleitores. Assim, o termo “agora” foi usado como estratégia de defesa

pelo falante para marcar discordância sem “arranhar” a face de seus interlocutores.

Além de modificador do verbo, adjetivo e do advérbio, o “agora” pode, dependendo

do contexto discursivo e da intenção do falante, funcionar como conjunção. Observamos

também que ele, em seu processo de gramaticalização, vai perdendo características de sua

categoria gramatical de advérbio, passando à função de conjunção adversativa ou operador

discursivo.

Neste artigo, detemo-nos não somente às considerações do uso do “agora” como

advérbio de tempo, procuramos também descrever o ganho de um novo valor gramatical no

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item analisado, bem como sua marcação discursiva usada na preservação da imagem do

entrevistado. Não houve pretensão de se esgotar o assunto, mas apenas constatar, por meio

das análises, o comportamento do item “agora” no discurso político contemporâneo.

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