USP - IFSC - Ac stica de Salas de... · 2012. 11. 8. · textos: ”Fisica ” de Tipler & Mosca e...

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FCM0208 Física (Arquitetura) Acústica de salas Prof. Dr. José Pedro Donoso Universidade de São Paulo Instituto de Física de São Carlos - IFSC

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  • FCM0208 Física (Arquitetura)

    Acústica de salas

    Prof. Dr. José Pedro Donoso

    Universidade de São Paulo

    Instituto de Física de São Carlos - IFSC

  • Agradescimentos

    Os docentes da disciplina gostariam de expressar o seu

    agradecimento as editoras LTC (Livros Tecnicos e Científicos),

    Cengage Learning e E. Blucher pelo acesso às figuras dos livros

    textos: ” Fisica ” de Tipler & Mosca e “ Fundamentos de Física ” de

    Halliday, Resnick e Walker (LTC), “ Principios de Física ” de Serway

    & Jewett (Cengage Learning) e “ Acústica Aplicada ao Controle do

    Ruído ” (Blucher).

  • Reflexão do som

    A reflexão do som pode dar origem ao reforço , à reverberação ou ao eco ,

    dependendo do intervalo de tempo entre a percepção do som direto e do refletido.

    O ouvido humano só consegue distinguir dois sons que chegam a ele com um

    intervalo de tempo superior a um décimo de segundo (0.1 s). Se em algum ponto de

    uma sala a diferença de caminhos entre o som direto e o refletido for muito grande, a

    audição será confusa

    Beranek, Music, acoustic and architecture (Wiley, 1962)

  • Utilização de superfícies refletoras no

    forro, com orientação tal que as ondas

    refletidas atinjam os ouvintes, com

    intervalos de tempo reduzidos em

    relação ao som direto.

    Ref: Ennio Cruz da Costa, Acústica

    Técnica (Editora Blücher, 2003)

  • Reflexões : na acústica geométrica, todo acontece como

    se o som refletido fosse gerado por uma fonte imagem S`

    que é simétrica da fonte S em relação a superfície.

    Ref: Fischetti, Initiation a l`acoustique (Belin, Paris, 2003)

    Reflexão em duas paredes :

    Raios sonoros da fonte S até M

    (1) determinamos a fonte imagem S`

    (simétrica de S em relação a parede 1).

    (2) determinamos a simétrica de S`em

    relação a parede 2, obtendo S``.

    (3) traçamos a reta S``M para determinar o

    ponto P, que dá a posição da reflexão na

    parede 2, e traçamos a reta S`P para obter

    o ponto Q, que dá a reflexão na parede 1.

  • Raichel, The science and applications of acoustics (Springer, 2006)

  • Painéis refletoresAula Magna, Ciudad Universitaria de

    Caracas (Venezuela)

    O auditório não tem as colunas,

    lustres ou ornamentos que difundiam

    o som e impediam os ecos nas salas

    antigas. Os painéis foram planejados

    por um técnico em acústica e

    concebidos pelo escultor Alexandre

    Calder, os painéis suspensos do teto

    e paredes difundem o som que, de

    outro modo, poderia repercutir dentro

    do vasto e curvo auditório.

    F. Daumal I Domènech: La arquitectura del sonido. Tectonica vol. 14 (ATC, Madrid, 1995)S.S. Stevens, F. Warshofsky, Som e Audição (Biblioteca Life, Ed. Jose Olympio, 1982)

  • G.R. Vilarroig, J.M. Marzo DiezTectónica, vol. 14: Acústica

    (ATC ediciones, Madrid, 1995)

    Concentrações sonoras numa sala hemisférica com teto refletivo. As focalizaçoes

    se produzem quando o som refletido se concentra numa região, provocando uma

    excessiva energia sonora no local. A causa principal é a existência de superfícies

    côncavas: cúpulas parabôlicas ou circulares.

    Focalização do som

  • Espelhos acústicos

    As superfícies esféricas podem causar

    perturbações acústicas importantes

    porque elas atuam como verdadeiros

    espelhos acústicos , concentrando as

    ondas sonoras refletidas.

    Exemplo : área de esportes na forma de um domo (abóbada) com raio de curvatura R =

    35 m, montada numa base cilíndrica de 23 m de raio e 9.2 m de altura.

    A altura da abóbada é 17.7 m. Como o ponto

    focal do espelho acústico fica na altura do chão,

    todo o ruído dos espectadores é focalizado no

    centro do campo, de forma que os jogadores de

    hockey não conseguiam comunicar-se nem

    escutar a voz do árbitro.

    Fogiel, Physics Problems Solver (REA, 1995)

  • Ondas sonoras no campo aberto

    A fonte S, radia o som de forma

    uniforme em todas as direções. A

    intensidade do som a 100 pés é a

    metade de que a 30 pés. O vento e

    os ruidos afetaram a audição.

    Uma concha acústica melhora o

    resultado. A intensidade dobra em

    relação ao caso anterior. A concha

    acústica favorece também os

    músicos, permitindo escutar-se

    entre eles. O tempo ruim e o ruido

    ambiente ainda afetam a audição.

    Beranek, Music, acoustic and architecture (Wiley, 1962)

  • Acústica na presença de audiência.

    No primeiro caso a audiência’está

    posicionada horizontalmente. Como as

    pessoas absorvem som, a intensidade

    do som decai rapidamente com a

    distância, e nas últimas fileiras a

    intensidade cai para a quarta parte em

    relação ao caso anterior.

    A figura mostra uma forma muito pobre

    de acomodar a audiência. Como o som

    não se curva facilmente, a intensidade do

    som nas ultimas fileiras acaba sendo a

    quarta parte do caso anterior.

  • Colocar as cadeiras na forma escalonada

    (1) reduz o ruído originado atrás da

    audiência e (2) aumenta a intensidade do

    som porque os ouvidos das pessoas não

    estarem mais bloqueadas pelas cabeças na

    frente. O ruído atrás do palco pode ser

    eliminado com um muro, mais o ruido

    ambiente segue atrapalhando.

    Para proteger o auditório do ruído

    ambiente, do sol e da chuva, é necessário

    construir sobre toda a área, cobrindo as

    paredes e o teto com materiais absorventes

    de som.

    Beranek, Music, acoustic and architecture

  • Acústica de salas e auditórios

    A percepção sonora em uma sala depende da intensidade e da relação temporal

    entre o som direto e o som indireto refletido pelas paredes da sala.

    Considera-se que uma diferênça de tempo entre o som direto e o indireto menor

    que 0.5 seg. é acusticamente favorável. Neste caso, as reflexões não incomodam

    para entender a voz falada pois elas aumentam a intensidade do som que chega

    ao ouvido.

    No caso de música, estas reflexões favorecem a mistura (amalgama) dos soms

    contribuindo para o colorido musical.

    Quando o som é refletido de forma reiterativa, se tem a reverberação .

  • A figura mostra as trajetórias

    do som direto e do som

    refletido até o espectador,

    numa sala de concerto.

    O som direto chega primeiro

    no espectador. A seguir

    chegam os sons refletidos

    das superfícies mais

    próximas e, finalmente, as

    reflexões das superfícies

    mais afastadas.

    Leo L. Beranek, Music, acoustic and architecture (Wiley, 1962)

  • Em acústica, define-se a reverberação

    como a persistência do som no ambiente.

    Ela é parametrizada pelo tempo de

    reverberação . Por definição, este tempo

    corresponde ao decaimento em 60 dB na

    intensidade do som reverberante.

    Rigden. Physics and the sounds of musicRossing. The Science of sound

  • Tempos de reverberação

    Depende do volume da sala e da absorção das paredes

    J.S. Rigden. Physics and the sounds of music

  • Tempos de reverberação em função da frequência de gr andes salas

    e Teatros do mundo

    Fischetti. Initiation a l`acoustique (Belin, Paris, 2003)

  • A

    VTR 16.0=

    mVA

    VTR

    += 16.0

    W.A. Sabine propuz em 1896 uma relação empírica para o tempo de reverberação TR

    (em seg), proporcional ao volume V da sala (m3) e inversamente proporcional a

    absorção da superfície (A, em m2 ou sabins):

    Como o ar também contribui para a absorção do som em altas f, o tempo de

    reverberação para um auditório será:

    onde m representa a absorção do ar (m = 0.12 para o ar a 2000 Hz, 20 oC e 30% de

    umidade relativa). Esta formula de Sabine é válida se absorção for pequena.

    Tempo de reverberação

    Rossing. The Science of sound (Addison Wesley, 1990)

  • A formula de Eyring (1930) para o tempo de reverberação TR resulta de uma

    aproximação estatística que supõe que a energia reverberante está uniformemente

    distribuida na sala:

    Onde a absorção da superfície é A = αS, onde αααα é o coeficiente de absorção e S é a área da superfície. Esta formula funciona bem se os coeficientes de

    absorção das paredes, o teto e o piso não forem muito diferentes.

    Tempo de reverberação

    Rossing. The Science of sound (Addison Wesley, 1990)

    −−=

    )1ln(

    16.0

    αSV

    TR

  • Os tempos de reverberação podem ser calculados com as relações de Sabine

    ou de Eyring a partir da absorção A da superfície de área S: A = αααα S

    0.990.990.830.93Telha acústica

    0.450.200.100.05Piso de carpete

    0.060.070.100.11Piso de madeira

    0.020.010.010.01Piso de pedra

    0.390.290.310.44Bloco de concreto

    0.050.050.070.09Argamassa

    0.070.120.180.25Janela de vidro

    0.090.070.060.05Concreto pintado

    2000 Hz1000 Hz500 Hz250 Hz

    Coeficientes de absorção (αααα)

  • Tempos de reverberação para auditórios destinados a palestras

    F.A. Everest, MasterHandbook of Acoustics4th ed. McGraw Hill, 2001

    Tempos de reverberação (em segundos) recomendados para

    estudos de gravação e auditórios destinados a palestras.

    Conversão de volume: 10.000 pés 3 = 280 m3.

  • Critérios de Acústica

    Dependendo do uso para o qual um auditório foi projetado (palestras, sala de aula, sala

    de concertos, etc) é necessário otimizar parâmetros como o tempo de reverberação (τ) e o nível do som reverberante.

    Otimizar o tempo de reverberação de uma sala exige um compromisso entre:

    • definição , o que requer τ curtos• intensidade do som , o que exige um nível reverberação alto

    • vivacidade (liveness), que requer τ longos

    Um tempo de reverberação depende do tamanho do auditório e do uso para o qual foi

    planejado. O valor típico do tempo de reverberação para salas de aula é de 0.5 – 0.6 s.

    Em salas grandes há que cuidar também que o tempo entre o som direto e a primeira

    reflexão não seja maior que 50 ms pois de outra forma os dois sons não se misturam

    senão que se escutaram como sons separados.

  • As principais atributos subjetivos de uma sala são:

    • Intimidade (intimacy) sensação acústica de se estar perto da fonte sonora

    • Vivacidade (liveness) tempo de reverberação para médias e altas frequências

    • Calor (warmth) relacionado a riqueza dos sons graves (75 a 350 Hz)

    • Brilho (brilliance). Boa percepção de altas frequências

    • Intensidade do som direto (loudness)

    • Nível de som reverberante Deve ser o mesmo em todo o auditório

    • Clareza (definition, clarity). Mede o grau de percepção de todos os detalhes

    musicais ou o grau de definição com que os sons são percebidos como distintos

    • Envolvimento e difusão (diffusion, uniformity). Boa distribuição do som

    • Equilíbrio tímbrico (balance). Igualdade na recepção de todos os tipos de sons

    • Ruído de fundo (background noise) deve ser menos de 24 dB a 1000 Hz

    T.D. Rossing,The Science of sound (Addison Wesley, 1990)Luis Henrique, Acústica Musical (Fundação Gulbenkian, Lisboa, 2002)

  • Clareza (definition, clarity )Mede o grau de definição com que os sons são percebidos como distintos

    Nas crianças no primário, que estão formando vocabulário e formando as

    conexões cerebrais, o problema de acústica das salas de aula se torna grave

    (podem levar a perda de 30 a 40% das sílabas faladas, gerando assim uma

    deficiência no aprendizado). O tempo de reverberação nessas salas chega a

    3 segundos, quando o recomendado pela O.M.S. é de 0.6 s.

    Ref: Laboratório de Acústica Ambiental, LAA, Unversidade Federal do Paraná

  • O espectro sonoro da voz humana tem seu

    máximo em 500 a 1000 Hz.

    A duração de cada sílaba de uma palavra é da

    ordem de 0.13 seg. e o intervalo entre sílabas

    é – em média – 0.1 seg.

    Beranek e colaboradores, analisaram a

    inteligibilidade das palavras levando em

    consideração o mecanismos de audição.

    Acima do ruído ambiente, mais por debaixo da

    linha de saturação (figura), todas as sílabas

    das palavras faladas serão audíveis para o

    ouvinte. Quando o ruído cobrir a região

    sombreada central, o índice de articulação

    será menor que 100%.

    L. Beranek, Acustica (1969)

  • A inteligibilidade é caracterizada pelo índice

    P de sílabas corretamente compreendidas

    do total de sílabas pronunciadas.

    P = 96%: excelente

    P = 85%: bom

    P = 75%: satisfatório

    Com P = 80%, o ouvinte compreende todas

    as frases sem grande esforço.

    Manuel Recuero Lopez, Acondicionamento Acustico

    ( ) TL KKP 96% =Para uma sala rectangular:KL depende da pressão sonoraKT depende da reverberação

    Exemplo: sala de 11.200 m2: a inteligibilidade máxima se obtem no ponto B (figura),

    no qual o tempo de reverberação é ótimo para esse volume.

  • Exemplo: C80 = 3 dB significa que o nível de energia de reverberação é 3 dB superior

    a energia de reverberação tardia.

    Para que a clareza seja satisfatória: - 6 dB ≤ C80 ≤ + 6 dBSe C80 ≤ - 5 dB, a acustica da sala é “confusa”. Se C80 >+ 6 dB, ela é muito “seca”

    Clareza: criterio C80

    A. Fischetti, Initiation à l’ Acoustique (Ed. Belin, Paris, 2003)

    As reflexões de som que seguem o som direto

    em até 80 ms se consideram integradas a ele.

    Para medir a distribuição temporal da energia

    sonora se define o criterio C80

    msapóssonoraenergia

    mssonoraenergiaC

    80___

    800__log1080

    −=

  • Para expressar a inteligibilidade da fala se utiliza o índice RASTI (rapid assesment of

    speech transmission index). Como a fala é um sinal modulado, a inteligibilidade exige

    que as modulações sejam bem percebidas. Quando a definição é boa, os picos do

    sinal sonoro se destacam bem em relação aos vales. A reverberação reduz a

    modulação e afeta a inteligibilidade. O índice RASTI é um número entre 0 e 1.

    Inteligibilidade boa ⇒ RASTI entre 0.6 e 1.

    Índice RASTI

    A. Fischetti, Initiation à l’ acoustique (Ed. Belin, Paris, 2003)

  • Atenuação sonora no ar livre

    Bistafa, Acústica Aplicada ao Controle de Ruído

    ( ) 11log20 −−= rLL WPNível de intensidade:onde LW é a intensidade da fonte, e r é a distância fonte - receptor

  • Reduçaõ de ruído por

    uma barreira

    A fonte de ruído está localizada a

    uma distância r de uma parede

    fixa. Parte da onda sonora é

    refletida pela barreira, parte é

    difractada .

    A atenuação sonora da barreira

    pode ser expressada em termos

    do número de Fresnel.

    Raichel, The Science and Applications of Acoustics

  • Difração das ondas por uma barreira

    Raichel, The Science and Applications of Acoustics

    λd

    N2=

    Número de Fresnel:

    d : diferença entre a

    trajetoria direta C e a

    trajetoria difratada (A+B)

    λ : comprimento de onda

    Para a geometria da figura: ( ) ( )sv

    fCBACBAN

    −+=−+= (22λ

    Atenuação sonora da barreira: ( )Na π2log205+=

  • Referências bibliográficas

    • Acústica Aplicada ao Controle de Ruído, Sylvio Bistafa (ed. Blucher, 2011)

    •Acústica Tecnica, Ennio Cruz da Costa (ed. Edgard Blucher, 2003)

    • The Science of sound. Th. D. Rossing, 2nd ed. (Addison Wesley, 1990)

    • Physics and the sound of music, J.S. Rigden, 2nd edition (Wiley 1985)

    • Initiation à l’acoustique, A. Fischetti (Editions Belin, Paris, 2003)

    • Acoustique et Batiment. B. Grehant (Ed. Tec Doc, Paris, 1994)

    • Acústica. L. Beranek (Ed Hispano Americana, 1969)

    • Acusttica Musical. Luis L. Henrique (Fund. Calouste Gulbenkian, 2002)

    • Introducción a la acústica arquitectónica. G.Roselló Vilarroig, J.M. Marzo

    Diez. Revista Tectonica , vol. 14: Acústica (ATC Ediciones, Madrid, 1995)

    • Master Handbook of Acoustics. F.A. Everest (4th ed., McGraw Hill, 2001)