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VAMPIRISMO DA REBELDIA: A EVOCAÇÃO DE JAMES DEAN NA IMAGEM FOTOGRÁFICA DO ASTRO DO FILME CREPÚSCULO Fabio Henrique Ciquini (UEL) Miguel Luiz Contani (UEL) INTRODUÇÃO: A facilidade de comunicação por meio do signo visual é marcante: o olhar identifica, e quase instantaneamente seu protagonista é acometido de uma impressão oriunda de comparação, seguida de um julgamento do que observa. “Aquela loira lembra Marylin Monroe, aquele ator parece Clark Gable”. Quando um filme versa sobre um tema que já fora tratado anteriormente como, no caso, vampirismo, é natural que sensações de uma experiência anterior sejam evocadas, venham à tona, explica-se; ao assistir ao filme Crepúsculo, lançado em 2008 e que trata de temas vampirescos, pode-se lembrar de uma referência no gênero, o Drácula. São evocações relativas a este, surgem, espontaneamente comparações por similaridade. Um é parecido com outro em alguns aspectos; ambos protagonistas são pálidos, por exemplo. O signo visual, uma fotografia, do ator Robert Pattison alinhada à outra de James Dean traz, como nos mostra Panichi e Contani 1 , um conjunto de sensações e inferências similares ao astro do filme Rebelde sem causa. Transmutam-se formas, porém preservam-se sensações, e estas podem estar suavizadas 2 Sobre a ciclicidade do signo, tem-se que este se atualiza sempre, sofre processo de semiose, ou seja, tende sempre a ser outro signo, pois é sempre imperfeito e se recicla em outro signo 3 . A rebeldia que emana da imagem de James Dean expressa o espírito de uma época; gangues de motoqueiros, jovens saindo da casa dos pais e indo morar sozinhos e rock&roll. Dean iconiciza uma época e a expressa visualmente em suas atitudes e caracteres como um penteado diferente e uma jaqueta de couro, por exemplo. Pattinson, nos dias de hoje expressa também rebeldia – mesmo que seu personagem no filme seja um ‘vampiro vegetariano e do bem’. Considera-se, para efeito de análise, que, muitas vezes, características dos personagens nos filmes estão também na vida privada dos atores, o que vale a dizer que Norma Jean realmente incorporou a III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR 1195

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VAMPIRISMO DA REBELDIA: A EVOCAÇÃO DE JAMES DEAN NA

IMAGEM FOTOGRÁFICA DO ASTRO DO FILME CREPÚSCULO

Fabio Henrique Ciquini (UEL) Miguel Luiz Contani (UEL)

INTRODUÇÃO:

A facilidade de comunicação por meio do signo visual é marcante: o

olhar identifica, e quase instantaneamente seu protagonista é acometido de uma

impressão oriunda de comparação, seguida de um julgamento do que observa. “Aquela

loira lembra Marylin Monroe, aquele ator parece Clark Gable”. Quando um filme versa

sobre um tema que já fora tratado anteriormente como, no caso, vampirismo, é natural

que sensações de uma experiência anterior sejam evocadas, venham à tona, explica-se;

ao assistir ao filme Crepúsculo, lançado em 2008 e que trata de temas vampirescos,

pode-se lembrar de uma referência no gênero, o Drácula. São evocações relativas a este,

surgem, espontaneamente comparações por similaridade. Um é parecido com outro em

alguns aspectos; ambos protagonistas são pálidos, por exemplo. O signo visual, uma

fotografia, do ator Robert Pattison alinhada à outra de James Dean traz, como nos

mostra Panichi e Contani 1, um conjunto de sensações e inferências similares ao astro do

filme Rebelde sem causa. Transmutam-se formas, porém preservam-se sensações, e

estas podem estar suavizadas2

Sobre a ciclicidade do signo, tem-se que este se atualiza sempre, sofre

processo de semiose, ou seja, tende sempre a ser outro signo, pois é sempre imperfeito e

se recicla em outro signo3. A rebeldia que emana da imagem de James Dean expressa o

espírito de uma época; gangues de motoqueiros, jovens saindo da casa dos pais e indo

morar sozinhos e rock&roll. Dean iconiciza uma época e a expressa visualmente em

suas atitudes e caracteres como um penteado diferente e uma jaqueta de couro, por

exemplo. Pattinson, nos dias de hoje expressa também rebeldia – mesmo que seu

personagem no filme seja um ‘vampiro vegetariano e do bem’. Considera-se, para efeito

de análise, que, muitas vezes, características dos personagens nos filmes estão também

na vida privada dos atores, o que vale a dizer que Norma Jean realmente incorporou a

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femme fatale Marylin Monroe o rebelde sem causa James Dean é, de fato, um jovem em

conflito.

Procura-se responder a questão central: De que forma o ator Robert

Pattinson evoca rebeldia similar a de James Dean? Um dos caminhos propostos é o

entendimento do funcionamento do signo, como ele se atualiza e de que forma

sensações são suavizadas. O signo visual da rebeldia está presente no astro da saga

Crepúsculo, ele contém caracteres semelhantes aos presentes na imagem de James

Dean, e mesmo com algumas suavizações, não expulsa as sensações emanadas de

rebeldia. O signo se transmuta preservando algumas propriedades.

BREVE HISTÓRICO DO FILME

A obra Crespúsculo, originalmente lançada em livro pela escritora norte

americana Stephenie Meyer, no ano de 2005, obteve sucesso imediato entre os jovens

daquele país, foi agraciada com prêmios literários e integrou listas dos livros mais

vendidos do ano em importantes jornais como o The New York Times e USA Today. A

obra foi adaptada para o cinema em 2008 pela diretora Catherine Hardwick e estreiou

nos cinemas no final do mesmo ano.

Os atores Robert Pattinson e Kristen Stewart vivem respectivamente os

protagonistas Edward Cullen (o vampiro da saga) e Isabella Swan (a garota que se

apaixona por ele). Ela, que inicialmente morava em uma cidade no estado do Arizona,

muda-se para a pequena Forks onde conhece na escola o misterioso Cullen, de poucos

amigos e inicialmente antipático com ela. Em meio a situações de perigo, ele a salva de

acidentes, quando por exemplo um caminhão está prestes a atropelá-la, o que faz com

que ela se intrigue com a velocidade e força de seu pálido herói. A aproximação e

encantamento mútuo dos jovens é proporcional ao estranhamento inicial que sentem.

Num dos diálogos do filme Isabella pergunta a Cullen que tipo de herói ele é, e este

responde que, na verdade, não é um herói, mas sim um vilão, o que parece suscitar tenra

e adolescente curiosidade sexual na mocinha.

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O vilão representado na obra filmica é suavizado. É vampiro, mas

segundo ele próprio não se alimenta de sangue humano, mas só de animais, o que o

categoriza entre os vampiros como vegetariano. Possui caracteres vampirescos como a

palidez, a frieza da pele e a aversão à luz do sol, mas é sensível e jovem, o oposto de

caracterizações de vampiros como o Drácula, de Bram Stoker, que é velho e impiedoso

com suas vítimas e o horrendo Nosferatu, clássico do expressionismo alemão e

posteriormente relembrado na obra de Herzog. Edward Cullen é um herói byroniano:

109 anos, mas com aparência eterna de 17, possui magnetismo e sedução ao mesmo

tempo em que tenta se manter isolado de todos.

SIGNO E O PROCESSO DE SEMIOSE

Criador da teoria geral dos signos, o filósofo americano Charles Sanders

Peirce oferece distintas definições de signo e, no que até o momento foi organizado e

publicado, o autor erigiu uma teoria no sentido de compreender como funcionam as

coisas, de que forma a mente age, os meandros e nuances da ação do signo, seus

componentes e derivados, e além disso criou uma sistemática para elucidar qualquer

fenômeno. Tão vasta e oceânica obra do pensamento ocidental já mereceu estudos

importantes em todo o mundo.

Representar algo para alguém (sem que esse alguém seja necessariamente

uma pessoa), estar no lugar de algo, criar mentalmente em um ente um signo

equivalente ou mais desenvolvido, o signo está para uma outra coisa, ele pode ser

análogo ao seu objeto, indicá-lo ou representá-lo simbolicamente. Pode-se dizer,

exemplificando, que uma maçã pode ser um signo de Nova York, ou remeter,

biblicamente ao pecado original. A funcionalidade do signo reside em representar seu

objeto, mesmo que apenas parte dele. O signo não é uma entidade autônoma, ele se

mantém numa relação triádica, com seu objeto e o interpretante. O objeto determina o

signo que aponta para um interpretante.

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Sendo o signo definido como “qualquer coisa que” ou “alguma coisa

que”, a palavra “coisa” não deve ser tomada como uma entidade necessariamente

existente, visto que conforme Ransdell apud Santaella4 enfatiza, entidades ficcionais,

imaginárias, sonhadas, míticas, meramente concebidas, e assim por diante, são tão

capazes de ser signos quanto o são entidades que identificamos como sendo, digamos,

de caráter físico ou histórico.

Sendo o signo uma representação, manifestação, revelação, há nele

características do objeto, que numa via de mão dupla também possui características do

signo. O signo age como procurador do objeto. O termo objeto aqui, não deve ser

compreendido como um ser existente e concreto pode ser de natureza imaginária, uma

abstração ou ideia. O signo continua a ação do objeto, é mediador, tem relação

imprescindível e é vicário do objeto na mente, ou seja, é seu delegado. O interpretante

segundo Santaella5, terceiro ente na relação, é aquilo que é determinado pelo signo, ou

pelo próprio objeto através da mediação do signo. Pode-se dizer, a fim de explicitar os

papéis na trama triádica, que o signo ou representamen é o primeiro correlato na tríade,

o objeto é o segundo, e o interpretante, o terceiro. Esse posicionamento teórico – tendo

em vista que a ação do signo é ininterrupta – não é fixo. O interpretante que é o terceiro

correlato pode ocupar, numa posterior cadeia sígnica, o papel de primeiro, sendo o

objeto de um signo que caminha para um outro interpretante.

Esse processo de mediação do objeto realizado pelo signo e sua chegada

a um interpretante, é denominado de semiose ou ação do signo. Ressalta-se que, o signo

representa seu objeto e gera um interpretante e, esse interpretante, pode ser o objeto de

uma outra ação sígnica, pois herda do signo o vínculo de representação6. Ou seja, a

semiose é intermitente, um processo ad infinitum, um signo sempre se desenvolve num

outro signo, o que mostra o caráter de incompletude e insuficiência com relação ao

objeto, pois, se possuísse todas as qualidades do seu objeto, o signo não seria ele

mesmo, mas o próprio objeto. O desenrolar dos interpretantes é causado, pois, pela

incompletude do signo, que sempre necessita de uma ampliação, desenvolvimento e

continuidade num outro signo.

Sobre esse status quo do signo Santaella7 (2000 p.31) afirma: “O longo

curso do tempo (the long run, diria Peirce) sempre demonstrará que aquilo que foi

tomado como completo não passava de apenas um dos aspectos parciais do objeto, visto

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que este, na sua inteireza ou totalidade, não pode ser capturado nas malhas dos signos.

Por mais que a cadeia sígnica cresça, o objeto é aquilo que nela sempre volta a insistir

porque reside na sua diversidade”.

O signo representa o objeto e cria algo na mente do intérprete. Esse algo,

como já mencionado é o interpretante, signo equivalente, que pode servir de objeto para

outro signo, é o terceiro correlato na tríade peirceana, sendo o primeiro o fundamento do

signo ou representamen e o segundo, o objeto. O interpretante é um signo que foi

desenvolvido por meio de outro signo. A única maneira de compreender o signo

(primeiro) é através do interpretante (terceiro) que também é outro signo. Objeto-signo-

interpretante, num processo de semiose, são todos de natureza sígnica, pois tudo aquilo

que pode ser representado, também apresenta natureza representativa, logo, justifica-se

classificar o interpretante como signo e compreender a infinitude e o devir da semiose.

Figura 1 – Quadro esquemático da semiose, ou ação do signo Elaborado pelo autor

Sendo o signo incompleto e falível, natural, pois, que ele se desenvolva

num outro signo como demonstra o processo de semiose. Afirmar, portanto, que o ator

Robert Pattinson retoma, evoca e emana a mesma sensação de rebeldia presente em

James Dean torna palpável essa afirmação. Ambos são signos de uma época, iconicizam

o frescor e a rebeldia intrínseca a essa faixa etária. Pattinson é a atualização do signo

Dean, retoma-o com caracteres e atitudes semelhantes que mantém sensações parelhas

àquelas observadas no ator de Rebelde sem causa. Por conta dessas similitudes, um dos

possíveis procedimentos para a verificação do propósito nessa pesquisa é o alinhamento

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das imagens lado a lado, metodologia adotada por Panichi e Contani8 para analisar

elementos extraídos dos arquivos do memorialista Pedro Nava utilizados na construção

de seus textos.

ALINHAMENTOS POR SIMILARIDADE E CONTIGUIDADE

Dois são os eixos de associação ou organização em linguagem: o eixo da

similaridade (ou paradigma) e o sintagma - eixo da combinação. As locadoras de filmes

costumam separar os DVD’s por gênero, na seção de filmes policiais há vários títulos

que estão agrupados por semelhança, assim ocorre com os filmes de aventura, western e

comédia, cada gênero é agrupado de acordo com a semelhança temática. Uma pessoa

que vai a locadora e escolhe, por exemplo, um filme (paradigma) de cada seção está

compondo um sintagma, que é o conjunto de filmes; está combinando. Em um menu de

restaurante; como lembra Pignatari9 (2004), os pratos estão agrupados por semelhança:

há as entradas, os pratos principais, sobremesas, sucos. Quando o cliente escolhe uma

certa entrada, um prato principal e uma sobremesa, ele está compondo um sintagma

gastronômico a partir de vários paradigmas. Para Barthes10 (1979), cada peça de roupa

pode ser chamada de paradigma: calça, blusa, jaqueta, vestido, chapéu são exemplos de

paradigmas, que compõe um sintagma, reunião das peças escolhidas, combinação de

uma camisa X com uma calça Y, e assim por diante. Quando esse sintagma está no

canal de veiculação da mensagem, que é o corpo do usuário, ele comunica, informa, é a

expressão de algo. Dessa forma, quando o ator Pattinson compõem um vestuário

despojado e postura semelhante a de James Dean na fotografia, há similitude

paradigmática, pois elementos como o penteado e uma camisa são semelhantes,

configurando iconicidade. Há também parecença sintagmática, pelo compósito visual

como um todo, transparecendo equivalência simbólica. Em termos peirceanos, tem-se

que a similaridade ocorre por analogia e são ícones, enquanto a contiguidade é

representada pelos símbolos.

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Uma possível exemplificação é descrita nas imagens alinhadas que se

seguem:

Figura 2: Charge Dilma Roussef Figura 3: Foto Dilma Roussef

Folha de São Paulo, junho 2008 Folha de São Paulo, junho 2008

Pelo mesmo princípio do símbolo em Peirce, a charge à esquerda recebe

simbolização proveniente da fotografia à esquerda. O eixo da similaridade, por outro

lado, está presente, e as duas imagens estabelecem uma relação icônica. As formas são

transmutadas (de uma fotografia para um desenho) e a carga de sentido e sensação é

transferida da fotografia para a charge, e isso é o que torna esta última particularmente

expressiva.

SUAVIZAÇÃO E PERMANÊNCIA DE SENSAÇÕES

Instaurar possível equivalência icônica e simbólica requer, como uma

possibilidade analítica já mencionada, alinhamento das imagens e verificação dos

paradigmas (ícones) e sintagmas (símbolos) presentes nelas. Outro ponto importante

nessa pesquisa é a aplicação dos chamados fatores de suavização

Uma fotografia pode apresentar elementos que suavizam o que nela está

presente, quando comparada com uma outra imagem, atingindo diretamente a questão

icônica (interpretante emocional). A imagem tende a apresentar características diversas

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quando comparada com uma figura referência, porém evocando sensações semelhantes

que se instalam e se perenizam. Na moda dos dias de hoje, é trivial encontrar peças com

referência aos hippies da década de 1960; há camisetas com estampas parecidas,

adornos corporais semelhantes e volta e meia penteados daquela época são imitados,

evocando sensações de liberdade e hedonização presentes outrora. As drogas, as roupas

sujas e a libertinagem de lá, no entanto, são suprimidas. Compra-se apenas o que se

quer dos hippies, suavizam-se padrões, conceitos e estéticas de um período. Paga-se um

preço X pela sensação de ser um hippie suavizado.

A apresentação de tipos rebeldes “lançados” por filmes e programas nos

dias de hoje traz à tona a frase do comunicador Abelardo Barbosa, o popular Chacrinha,

de que “nada se cria, tudo se copia”, tendo em vista a ampla reutilização de paradigmas

já conhecidos. Pattinson evoca a mesma sensação de rebeldia que Dean, porém numa

outra forma. As roupas do astro contemporâneo já não precisam ser aquelas de gangues

de motoqueiros que Dean utilizava, o cigarro, que ainda hoje é ícone de rebeldia, fora

abandonado em nome do politicamente correto e o cabelo do vampiro juvenil é

propositadamente desalinhado, provavelmente em um cabeleireiro caro. A lista de

elementos suavizados pode ser longa, mas a sensação que permanece é a do ícone, ou

seja, Pattinson é como Dean, só que atualizado. Mudam-se formas, preservam-se

sensações.

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VAMPIRISMO DA REBELDIA E ELEMENTOS DE SUAVIZAÇÃO

Para delimitar os elementos icônicos (similitude) entre os atores,e as

possibilidades simbólicas estabelecidas utiliza-se o método descrito por Panichi e

Contani, de alinhamento das imagens.

Figura 4: Fotografia James Dean Figura 5: Fotografia Robert Pattinson Disponível em: <http://blog.pop.com.br/> Disponível em:< http://crashpop.files. Acesso em janeiro de 2011 wordpress.com> Acesso em janeiro de 2011 11 Tabela 1: Similaridade entre as figuras 4 e 5

Ícon

e/S

imil

arid

ade Roupas informais

Postura não ereta Posicionamento braço/mãos Penteado capilar12 Sorriso discreto Aparência física atlética

Sím

bolo

/Con

tigu

idad

e Despreocupação com peças tradicionais, informalidade Enfrentamento de padrões do bom comportamento, rebeldia Informalidade, relaxo, displicência Desalinho, anticonvencionalismo, desobediência aos padrões sociais Sedução, ironia, desafio Sedução, sex appeal, força

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Os elementos de suavização, quando considerados, produzem o quadro a

seguir, esclarecendo que S maiúsculo refere-se aos fatores de suavização e (Sn) O

elemento n significa um número ilimitado. Aqui foram levantados cinco.

A reutilização de padrões e a ciclicidade de fenômenos encontram sua

morada no processo, já mencionado, de semiose, ou ação do signo. A rebeldia contida

na imagem do astro juvenil Pattinson é similar à presente na fotografia de James Dean.

Aspectos distintos, no entanto, estão presentes, sendo descritos como elementos de

suavização, responsáveis pela sofisticação e repaginação do signo de rebeldia. Como a

indústria apresentaria ainda hoje um James Dean que já morrera e quase sempre com

Fatores de Suavização (Sn) Figura 4 Figura 5S1. Impacto de recebimento das atuações de “rebeldia” dos atores nos filmes

Alto. James Dean chocou a sociedade da época, pois foi um dos pioneiros a incorporar a rebeldia

Baixo. Robert Pattinson é um vampiro vegetariano e romântico em Crepúsculo

S2. Background da fotografia Sujo. O ator provavelmente está sentado no capô do automóvel, fumando um cigarro e não olha para a câmera fotográfica, denotando ironia e contrariedade

Clean. Pattinson está sentado, não está fumando, olha direto para a câmera, evocando sedução de suas fãs e a iluminação na foto sugere uma luz mais difusa, tornando o sujeito na imagem plácido

S3. Fator de sofisticação das roupas

Ausente. Peças aparentando desgaste e rusticidade, tecidos pesados como couro e jeans

Presente. Peças mais leves como uma camiseta e a calça jeans rasgada nos joelhos, provavelmente já compradas dessa maneira

S4. Tipo de mediatização veiculada dos atores

Negativa. Dean ficou conhecido como rebelde sem causa, morreu de acidente automobilístico, por excesso de velocidade.

Positiva. Pattinson é vampiro na saga, mas não deixa de ser um byroniano sedutor, que faz de tudo para ficar com a mocinha. È também modelo e músico

S5. Ícones prevalecentes nas imagens dos atores

Negativo. Sempre com cigarro, carros envenenados e buscando se encontrar, James Dean ainda hoje é a personificação da rebeldia. Quando morreu, o médico legista encontrara marcas de cigarros apagados pelo corpo todo

Positivo. Romântico, educado, bonito, ídolo da juventude. Em uma de suas atuações recentes, no filme Remember me ele também é um rebelde tentando se encontrar, o que acontece quando se apaixona pela “mocinha” do enredo.

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um cigarro no canto da boca? As formas se transmutam, o signo se recicla, porém a

essência é mesma, é o que nos diz a imagem do ator Robert Pattinson, sempre com o

cabelo desgrenhado propositalmente e o olhar sedutor. Há elementos de suavização

presentes em sua constituição como os mencionados na tabela acima, que conferem

sofisticação ao signo de rebeldia. James Dean é ícone de décadas passadas, enquanto o

ator de Crepúsculo é ícone atual, que vende livros, chaveiros, pôsteres e camisetas da

saga, tendo como um dos pressupostos a sua rebeldia.

CONCLUSÃO

O “vampirismo” sígnico proposto quando da reutilização de paradigmas

anteriores, indica esse aproveitamento, essa transferência de iconicidade observada

entre imagens de períodos diferentes. A indústria do entretenimento e Pattinson (e aí já

com poética proposital) “vampirizou”, sugou e se alimentou da rebeldia de James Dean,

que outrora lhe conferiu fama e estrelato e a aplicou em um ator cujo conhecimento

massivo veio com o papel do vampiro Edward Cullen. Este é a atualização daquele,

sendo que Pattinson traz consigo também elementos que torna sua rebeldia mais branda

e menos chocante do que a de Dean. Os mencionados elementos de suavização podem

variar em quantidade, mas observa-se que estão presentes e conferem diferenciações

quando se pensa na caracterização do elemento semiótico ícone. A semiose percorre

uma ampla teia de fenômenos sociais como a moda e o comportamento, e esses

elementos de suavização podem servir como ornamentos que disfarçam e agregam

lapsos de originalidade. Pattinson é similar na iconicidade a James Dean, porém os

elementos de suavização lhe conferem um frescor, um quê de inovador.

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NOTAS

1 PANICHI, Edina Regina Pugas; CONTANI, Miguel Luiz. A visualidade produzida na palavra e os fatores que conferem relevância e destaque na construção do texto em Pedro Nava. Íkala, revista de lenguaje y cultura, Medelin: Vol. 12, N.º 18 p 145-161, 2007 2 CIQUINI, Fabio. Suave rebeldia: como a visualidade na moda contemporânea se apropria da estética do movimento punk Dissertação de mestrado acadêmico (Mestrado em Comunicação) Universidade Estadual de Londrina p.69 3 SANTAELLA, Lucia. A teoria geral dos signos: como as linguagens significam as coisas1º edição, São Paulo: Cengage, 2000 4 Idem, ibidem 5 Idem, ibidem 6 Idem, ibidem 7 (SANTAELLA, 2000, p.31) 8 PANICHI, Edina Regina Pugas; CONTANI, Miguel Luiz. A visualidade produzida na palavra e os fatores que conferem relevância e destaque na construção do texto em Pedro Nava. Íkala, revista de lenguaje y cultura, Medelin: Vol. 12, N.º 18 p 145-161, 2007 9 PIGNATARI, Décio.O que é comunicação poética. 8º edição. Cotia, SP: Ateliê editorial, 2004 10 BARTHES, Roland. Sistema da moda. São Paulo: Nacional, 1979. 11 Tabela descritiva de elementos similares entre as figuras 4 e 5. as relações icônicas (parte superior) e possíveis simbologias evocadas (parte inferior)

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BIBLIOGRAFIA

BARTHES, Roland. Sistema da moda. São Paulo: Nacional, 1979. CIQUINI, Fabio. Suave rebeldia: como a visualidade na moda contemporânea se apropria da estética do movimento punk Dissertação de mestrado acadêmico (Mestrado em Comunicação) Universidade Estadual de Londrina PANICHI, Edina Regina Pugas; CONTANI, Miguel Luiz. A visualidade produzida na palavra e os fatores que conferem relevância e destaque na construção do texto em Pedro Nava. Íkala, revista de lenguaje y cultura, Medelin: Vol. 12, N.º 18 p 145-161, 2007 PIGNATARI, Décio.O que é comunicação poética. 8º edição. Cotia, SP: Ateliê editorial, 2004. SANTAELLA, Lucia. A teoria geral dos signos: como as linguagens significam as coisas1º edição, São Paulo: Cengage, 2000.

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