Last sacrifice academia de vampiros

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Livro 6

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VAMPIRE ACADEMY 6 LAST SACRIFICE

Por Richelle Mead

(ARQUIVO TRADUZIDO POR N-C & REVISADO POR CAAH)

Comunidade Vampire Academy Oficial http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=53433754

e

Traduções de Livros http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=25399156

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UM

EU NÃO GOSTO DE PRISÕES. Eu nem vou ao zoológico. A primeira vez que fui em um, eu quase tive um

ataque de claustrofobia olhando para aqueles pobres animais. Eu não conseguia imaginar nenhuma criatura vivendo desse jeito. Às vezes eu me sentia um pouco mal pelos criminosos, condenados a viver a vida numa cela. Eu certamente nunca esperei passar minha vida em uma.

Mas ultimamente, a vida parece estar me jogando muitas coisas que eu

nunca esperei, porque aqui estou eu, presa. “Hey!” eu gritei, agarrando as barras de ferro que me isolavam do mundo.

“Quanto tempo vou ficar aqui? Quando é meu julgamento? Vocês não podem me manter nessa masmorra para sempre!”

Ok, não era exatamente uma masmorra, não daquele jeito escuro e cheio

de correntes. Eu estava dentro de uma pequena cela com paredes comuns, chão comum... tudo comum. Impecável. Estéril. Frio. Na verdade era mais deprimente do que qualquer masmorra que eu já tinha visto. As barras na porta eram frias contra minha pele, duras e inflexíveis. Luzes florescentes faziam o metal brilhar de um jeito que parecia duro e irritava meus olhos. Eu podia ver o ombro de um homem parado ao lado da entrada da cela e sabia que provavelmente havia mais quatro guardiões no corredor fora da minha vista. Eu também sabia que nenhum deles ia me responder, mas isso não me impediu de constantemente exigir respostas deles, nos últimos dois dias.

Quando o silêncio usual continuou, eu suspirei e voltei para a cama fria da

cela. Como tudo na minha nova casa, a cama não era sem cores e dura. Yeah. Eu realmente estava começando a desejar que eu estivesse numa masmorra de verdade. Ratos e teias pelo menos me dariam algo para ver. Eu olhei para cima e imediatamente tive uma sensação desorientadora que eu sempre tinha aqui: que o teto e as paredes estavam se fechando ao meu redor. Como se eu não conseguisse respirar. Como se a lateral das celas viessem em minha direção até não sobrar mais espaço, empurrando todo o ar...

Eu sentei abruptamente, ofegando. Não encare as paredes e o teto, Rose, eu

disse a mim mesma. Ao invés disso, olhei para minhas mãos e tentei entender como me meti nessa confusão.

A resposta inicial era óbvia: alguém tinha armado e me acusado de um

crime que eu não cometi. E não era qualquer crime. Era assassinato. Eles tiveram a audácia de me acusar do maior crime que um Moroi ou dhampir

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podem cometer. Agora, isso não significava que eu não matei antes. Eu matei. Eu já tinha quebrado minha cota de regras (e até leis). Assassinato a sangue frio, no entanto, não estava no meu repertório. Especialmente o assassinato da rainha.

Era verdade que a Rainha Tatiana não era minha amiga. Ela foi a fria e

calculista governante dos Moroi – uma raça de vampiros vivos que utilizam mágica e que não matam suas vítimas para conseguir sangue. Tatiana e eu tivemos uma relação tortuosa por vários motivos. Um deles era porque eu estava saindo com seu sobrinho-neto, Adrian. O outro era minha desaprovação de suas policias e como lutar com um Strigoi – os malignos vampiros mortos vivos que nos perseguiam. Tatiana tinha me enganado várias vezes, mas eu nunca a quis morta. Alguém aparentemente queria, no entanto, e eles deixaram um rastro de evidência que levava diretamente até mim, o pior deles, as minhas digitais por toda a estaca que tinha matado Tatiana. É claro, era minha estaca, então, naturalmente, tinha minhas digitais. Ninguém parecia pensar que isso era relevante.

Eu suspirei de novo e tirei meu amassado pedaço de papel do bolso. Meu

único material de leitura. Eu o apertei em minha mão, sem necessidade de ler as palavras. Eu já as tinha memorizado. O conteúdo do bilhete me fez questionar o que eu sabia sobre Tatiana. Me fez questionar muitas coisas.

Frustrada com meus próprios arredores, eu sai deles e fui para outro: para

os da minha melhor amiga Lissa. Lissa era uma Moroi, e partilhamos uma ligação psíquica, uma que me permitia entrar na sua mente e ver o mundo através dos olhos dela. Todos os Moroi tem algum tipo de mágica elementar. Lissa era espírito, um elemento ligado a poderes psíquicos e de cura. Era raro entre os Moroi, que normalmente usavam elementos mais físicos, e nós mal entendíamos suas habilidades – que eram incríveis. Ela usou espírito para me trazer dos mortos alguns anos atrás, e foi isso que formou nossa ligação.

Estar na mente dela me libertava dessa jaula, mas oferecia pouca ajuda para

meu problema. Lissa tem trabalhado duro para provar minha inocência, desde a audiência que demonstrou todas as provas contra mim. Minha estaca ser usada em um assassinato foi apenas o começo. Meus oponentes foram rápidos em lembrar a todos sobre meu antagonismo sobre a rainha e também tinham encontrado uma testemunha para comentar sobre meu paradeiro durante o assassinato. Esse testemunho tinha me deixado sem álibi. O Conselho tinha decidido que havia evidências o bastante para me mandar para um julgamento – onde eu receberia meu veredicto.

Lissa esteve tentando desesperadamente chamar a atenção das pessoas e

convencê-las de que armaram para mim. No entanto, ela tem tido problemas

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em encontrar alguém que escute, porque toda a Corte da Realeza Moroi estava consumida com os preparativos para o elaborado funeral de Tatiana. A morte de um monarca era um grande acontecimento. Moroi e dhampir – meio-vampiros, como eu – estavam vindo de toda parte do mundo para ver o espetáculo. Comida, flores, decorações, até músicos... o negócio todo. Se Tatiana tivesse se casado, eu duvidava que o evento seria tão elaborado. Com tanta atividade e correria, ninguém se importava comigo agora. Até onde a maioria das pessoas se interessava, eu estava seguramente presa e incapaz de matar de novo. O assassino de Tatiana tinha sido encontrado. Justiça estava feita. Caso encerrado.

Antes de eu poder ver claramente os arredores de Lissa, uma comoção na

cadeia me fez voltar a minha própria cabeça. Alguém tinha entrado na área e estava falando com os guardas, pedindo para me ver. Era minha primeira visita há dias. Meu coração bateu mais forte, e eu corri até as grades, esperando que fosse alguém que me diria que isso foi tudo um terrível engano.

Meu visitante não era exatamente quem eu esperava. “Velho,” eu disse. “O que você está fazendo aqui?” Abe Mazur estava diante de mim. Como sempre, ele era alguém a ser

contemplado. Estávamos no meio do verão – quente e úmido, já que estávamos no meio da rural Pensilvânia – mas isso não o impediu de usar um terno. Era um reluzente, perfeitamente cortado e adornado com uma gravata brilhante de seda púrpura e um cachecol combinando que parecia um exagero. Joias douradas se destacavam contra sua pele, e ele parecia como se recentemente tivesse feito sua barba negra recentemente. Abe era um Moroi, e embora não fosse da realeza, ele tinha muita influência entre eles.

Ele também era meu pai. “Sou seu advogado,” ele disse alegremente. “Estou aqui para te dar

conselhos legais, é claro.” “Você não é meu advogado,” eu o lembrei. “E seu último conselho não

funcionou tão bem.” Isso foi maldade minha. Abe – apesar de não ter nenhum treinamento legal – tinha me defendido na minha audiência. Obviamente, já que eu estava presa e pronta para julgamento, o resultado não foi muito bom. Mas, em toda minha solidão, eu percebi que ele tinha razão sobre algo. Nenhum advogado, não importasse o quão bom fosse, poderia ter me salvado na audiência. Eu tinha que dar crédito a ele por pegar uma causa perdida, embora, considerando nossa relação, eu ainda não tinha certeza do porque que

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ele tinha feito isso. Minha maior teoria era que ele não confiava na realeza e que ele sentia uma obrigação paternal. Nessa ordem.

“Minha performance foi perfeita,” ele argumentou. “Enquanto seu discurso,

no qual você disse ‘se eu fosse a assassina’ não nos ajudou. Colocar essa imagem na cabeça dos juízes não foi a coisa mais inteligente que você possa ter feito.”

Eu ignorei o comentário e cruzei os braços. “Então, o que você está fazendo

aqui? Eu sei que não é apenas uma visita paternal. Você nunca faz algo sem motivo.”

“É claro que não. Porque fazer algo sem razão?” “Não comece com seu círculo de lógica.” Ele piscou. “Não tem porque ter ciúmes. Se você trabalhar duro e colocar

sua cabeça nisso, você pode herdar minha brilhante habilidade logística algum dia.”

“Abe,” eu avisei. “Anda logo.” “Ok, ok,” ele disse. “Vim te dizer que o seu julgamento pode ser adiantado.” “O-o que? Isso são ótimas notícias!” Pelo menos, eu pensava que era. A

expressão dele dizia ao contrário. Da última vez que ouvi, meu julgamento poderia estar a meses de acontecer. A mera ideia disso – de ficar nessa cela por tanto tempo – fazia eu me sentir claustrofóbica de novo.

“Rose, você entende que seu julgamento será quase idêntico a sua

audiência. As mesmas provas e o veredicto de culpada.” “Yeah. Mas deve haver algo que podemos fazer antes disso, não é?

Encontrar provas para me inocentar?” De repente, eu tive uma boa ideia de qual era o problema. “Quando você disse ‘adiantada’, o quão logo você estava falando?”

“Idealmente, eles gostariam de fazê-la depois que o novo rei ou rainha fosse

coroado. Você sabe, parte das festividades pós-coroação.” O tom dele era irreverente, mas enquanto eu o encarava, eu percebi o real

significado. Números pairavam em minha mente. “O funeral é essa semana, e as eleições são logo depois... você está dizendo que eu poderia ir a julgamento e ser condenada em que... praticamente duas semanas?”

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Abe concordou. Eu voei em direção as barras de novo, meu coração batendo contra meu

peito. “Duas semanas? Você está falando sério?” Quando ele disse que o julgamento tinha sido adiantado, eu achei que seria

em um mês. Tempo o bastante para encontrar novas evidências. Como eu teria conseguido isso? É incerto. Agora, o tempo estava correndo de mim. Duas semanas não era o bastante, especialmente com tantas atividades na Corte. Momentos atrás, eu estava chateada com o enorme tempo que eu tinha. Agora, eu tinha pouco tempo, e a resposta para minha próxima pergunta podia fazer as coisas piorarem.

“Quanto tempo?” eu perguntei, tentando controlar o tremor na minha voz.

“Quanto tempo após o veredicto até eles... cumprirem a sentença?” Eu ainda não tinha certeza o que herdei do Abe, mas parecíamos partilhar

um claro traço: uma enorme habilidade de dar más notícias. “Provavelmente imediatamente.” “Imediatamente,” eu me afastei, quase sentei na cama, e então senti uma

nova onda de adrenalina. “Imediatamente? Então, duas semanas. Em duas semanas, eu posso estar... morta.”

Porque era isso – a coisa que pairava sobre minha cabeça no momento que

se tornou claro que alguém tinha armado as evidências para armar contra mim. Pessoas que matam rainhas não são enviadas a prisão. Elas são executadas. Poucos crimes entre os Moroi e dhampirs tinham esse tipo de punição. Nós tentamos ser civilizados em nossa justiça, mostrando que somos melhores que os Strigoi. Mas certos crimes, nos olhos da lei, merecem a morte. Certamente as pessoas merecem também – digamos, como assassinos traidores. Enquanto o total impacto do futuro caia sobre mim, eu me senti tremer e lágrimas ficaram perigosamente perto de saírem dos meus olhos.

“Isso não está certo!” eu disse a Abe. “Isso não é certo, e você sabe disso!” “Não importa o que eu acho,” ele disse calmamente. “Estou simplesmente

dizendo os fatos.” “Duas semanas,” eu repeti. “O que podemos fazer em duas semanas? Eu

quero dizer... você tem alguma pista, certo? Ou... ou... você pode encontrar alguém, até lá? Essa é sua especialidade.” Eu estava tagarelando, e eu sabia que

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soava histérica e desesperada. É claro, isso era porque eu me sentia histérica e desesperada.

“Vai ser difícil conseguir muita coisa,” ele explicou. “A Corte está

preocupada com o funeral e as eleições. As coisas estão desorientadas – o que é tanto bom quanto ruim.”

Eu sabia de toda preparação, por ter observado Lissa. Eu vi o caos.

Encontrar alguma evidência nessa bagunça, seria difícil. Poderia muito bem ser impossível.

Duas semanas. Duas semanas, e eu poderia estar morta. “Eu não posso,” eu disse a ele, minha voz se partindo. “Eu não... estou

destinada a morrer assim.” “Oh?” ele arqueou uma sobrancelha. “Você sabe como deveria morrer?” “Numa batalha.” Uma lágrima conseguiu escapar, e eu rapidamente a

limpei. Eu sempre vivi minha vida com a imagem de durona. Eu não queria isso quebrado, não agora, quando mais importava. “Lutando. Defendendo aqueles que eu amo. Não... não por uma execução.”

“Isso é um tipo de luta,” ele brincou. “Só não física. Duas semanas ainda são

duas semanas. É ruim? Sim. Mas é melhor que uma semana. E nada é impossível. Talvez uma nova evidência apareça. Você simplesmente terá que esperar para ver.”

“Eu odeio esperar. Esse lugar... é tão pequeno. Eu não consigo respirar. Vai

me matar antes que qualquer executor.” “Eu duvido.” A expressão de Abe ainda era legal, com nenhum sinal de

simpatia. Amor durão. “Você sem medo lutou contra grupos de Strigoi, mas não consegue lidar com um espaço pequeno?”

“É mais do que isso! Eu tenho que esperar todos os dias nesse buraco,

sabendo que tem um relógio passando, até minha morte, e quase nenhum jeito de impedir isso.”

“Algumas vezes, os maiores testes de força são situações que não parecem

tão obviamente perigosas. Às vezes, sobreviver é a coisa mais difícil.”

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“Oh. Não. Não.” Eu me afastei, andando em pequenos círculos. “Não comece com essa merda nobre. Você parece o Dimitri quando ele costumava me dar essas lições de vida profundas.”

“Ele sobreviveu a essa situação. Ele sobreviveu a outras coisas também.” Dimitri. Eu respirei fundo, me acalmando antes de responder. Até essa confusão de

assassinato, Dimitri era a maior complicação na minha vida. Um ano atrás – embora pareça uma eternidade – ele foi meu instrutor no colégio, me treinando para ser um dos dhampirs guardiões, que protegem os Moroi. Ele conseguiu isso – e muito mais. Nós nos apaixonamos, algo que não era permitido. Nós lidamos com isso do melhor jeito que podíamos, até finalmente bolando uma forma de ficarmos juntos. Aquela esperança desapareceu quando ele foi mordido e se tornou um Strigoi. Foi um pesadelo para mim. Então, através de um milagre que ninguém acreditou ser possível, Lissa usou espírito para transformar ele de volta em um dhampir. Mas as coisas, infelizmente, não voltaram a ser como eram antes do ataque dos Strigoi.

Eu encarei Abe. “Dimitri sobreviveu a isso, mas ele estava horrível

deprimido! Ele ainda está. Com tudo.” Todo o peso das atrocidades que ele cometeu como Strigoi o assombravam.

Ele não conseguia se perdoar e jurou que nunca mais poderia amar alguém. O fato de eu ter começado a sair com Adrian não ajudou. Depois de inúmeros esforços, eu aceitei que Dimitri e eu tínhamos terminado. Eu segui em diante, esperando ter algo real com Adrian agora.

“Certo,” Abe disse secamente. “Ele está deprimido, mas você é a alegria e

felicidade em pessoa.” Eu suspirei. “Às vezes falar com você é como falar comigo mesma: bem

irritante. Tem algum outro motivo pra você estar aqui? Além de dar essa terrível noticia? Eu estaria mais feliz vivendo na ignorância.”

Não posso morrer desse jeito. Eu não deveria ser capaz de prever. Minha

morte não é algo circulado num calendário. Ele deu de ombros. “Eu só queria ver você. E seus aposentos.” Sim, ele queria de fato, eu percebi. Os olhos de Abe sempre voltavam até

mim, quando ele falava, eu percebi: não havia duvidas que eu tinha a atenção dele. Não havia nada em nossa ironia que preocupava os guardas. Mas de vez

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em quando, eu via o olhar de Abe passar ao redor, observando o corredor, minha cela, e qualquer outro detalhe que ele achava interessante. Abe não tinha ganho sua reputação de Zmay – a serpente – a toa. Ele sempre era calculista, sempre buscando uma vantagem. Parece que minha tendência para planos malucos vem de família.

“Eu também queria te ajudar a passar o tempo.” Ele sorriu e debaixo do seu

braço, ele me entregou algumas revistas e um livro através das barras. “Talvez isso ajude.”

Eu duvidava que distrações iriam fazer a minha contagem regressiva mortal,

de duas semanas, parecer mais suportável. O livro era O Conde de Monte Cristo. Eu o ergui, precisando fazer uma piada, precisando fazer qualquer coisa para tornar isso menos real.

“Eu vi o filme. Seu simbolismo subentendido não é tão subentendido assim.

A não ser que você tenha escondido algum arquivo dentro dele.” “O livro sempre é melhor que o filme.” Ele começou a se afastar. “Talvez

tenhamos uma discussão literária da próxima vez.” “Espera.” Eu joguei o material de leitura na cama. “Antes de ir... em toda

essa confusão, ninguém comentou sobre quem de fato matou ela.” Quando Abe não respondeu imediatamente, eu o olhei afiadamente. “Você acredita que eu não fiz isso, não é?” Até onde eu sabia, ele achava que eu era culpada e só estava tentando me ajudar mesmo assim. Não seria tão improvável.

“Eu acredito que minha doce filha é capaz de assassinato,” ele disse

finalmente. “Mas esse não.” “Então quem fez isso?” “Isso,” ele disse antes de se afastar, “é algo em que estou trabalhando.” “Mas você acabou de dizer que estávamos ficando sem tempo! Abe!” Eu

não queria que ele partisse. Eu não queria ficar sozinha com meu medo. “Não tem como consertar isso!”

“Só lembre-se do que eu disse na audiência,” ele respondeu. Ele partiu, e eu sentei na cama, pensando no dia da audiência. No final, ele

me disse – bem fortemente – que eu não seria executada. Nem iria a julgamento. Abe Mazur não era de fazer promessas sem sentido, mas eu estava

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começando a achar que até ele tinha seus limites, especialmente já que o prazo tinha sido reajustado.

Eu de novo peguei o pedaço de papel e o abri. Ele também tinha vindo da

audiência, entregue a mim por Ambrose – o servo de Tatiana.

Rose, Se você está lendo isso, então algo terrível aconteceu. Você provavelmente

me odeia, e não te culpo. Eu posso apenas pedir que você confie que o que eu fiz com o decreto de idade foi melhor para o seu povo do que o que os outros planejaram. Tem alguns Moroi que querem forçar todos os dhampirs a servir, querendo ou não, usando compulsão. O decreto de idade vai atrasar essa facção.

No entanto, eu escrevo a você com um segredo que você deve consertar, e

um segredo que você deve partilhar com o menor número de pessoas possíveis. Vasilisa precisa de sua vaga no Conselho, e isso pode ser feito. Ela não é a última Dragomir. Outro vive, o filho ilegítimo de Eric Dragomir. Não sei de mais nada, mas se você puder encontrar esse filho ou filha, você dará a Vasilisa o poder que ela merece. Não importa suas faltas e temperamento perigoso, você é a única que sinto que pode cumprir essa tarefa. Não perca tempo em cumpri-la.

- Tatiana Ivashkov.

As palavras não haviam mudado desde as últimas cem vezes que as li, nem

as perguntas que elas sempre disparavam. O bilhete era verdadeiro? Tatiana realmente o tinha escrito? Ela tinha – apesar de sua atitude hostil – confiado a mim essa perigosa informação? Havia doze famílias reais que faziam decisões para os Moroi, mas para todas intenções e propósitos, poderia muito bem ter apenas onze. Lissa era a última de sua linhagem, e sem outro membro da família Dragomir, a lei Moroi dizia que ela não tinha poder para votar com o Conselho que tomava nossas decisões. Algumas leis bem ruins já tinham sido feitas, e se o bilhete era verdade, mais viriam. Lissa lutaria contra essas leis – e algumas

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pessoas não iriam gostar disso, pessoas que já tinham demonstrado sua ânsia de matar.

Outro Dragomir. Outro Dragomir significa que Lissa poderia votar. Mais um voto no Conselho

poderia mudar tanta coisa. Poderia mudar o mundo Moroi. Poderia mudar meu mundo – digamos, tipo, se eu seria condenada ou não. E certamente, poderia mudar o mundo de Lissa. Todo esse tempo ela acreditou estar sozinha. Ainda sim... eu me perguntava se Lissa daria as boas vindas a um meio irmão. Eu aceitei que meu pai era um canalha, mas Lissa sempre pôs o dela em um pedestal, acreditando que ele era o melhor. Essa notícia viria como um choque, e embora tenha treinado toda minha vida para manter ela segura de ameaças físicas, eu estava começando a pensar que havia outras coisas de que ela precisava ser protegida também.

Mas primeiro, eu precisava da verdade. Eu precisava saber se esse bilhete

realmente tinha vindo de Tatiana. Eu tinha certeza que poderia descobrir, mas envolvia algo que eu odiava fazer.

Bem, porque não? Não era como se eu tivesse outra coisa para fazer agora. Levantando da cama, eu dei minhas costas para as barras e encarei a

parede, usando-a como um ponto para me focar. Preparando, me lembrando que sempre era forte o bastante para manter o controle, eu soltei as barreiras mentais que eu sempre, inconscientemente, mantinha em minha mente. Uma grande pressão se ergueu, como se o ar estivesse saindo de um balão.

E de repente, eu estava cercada de fantasmas.

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DOIS

COMO SEMPRE, ERA DESORIENTADOR. Rostos e crânios, translúcidos e luminescentes, todos pairando ao meu redor. Eles se atraiam a mim, pairando em uma nuvem como se desesperadamente precisassem de algo. E na verdade, eles provavelmente precisavam. Os fantasmas que permaneciam nesse mundo não tinham descanso, almas que tinham motivos para voltar. Quando Lissa me trouxe dos mortos, eu permaneci conectada ao mundo deles. Tinha sido preciso muito trabalho e autocontrole para aprender a bloquear os fantasmas que me seguiam. As wards mágicas que protegiam a Corte Moroi na verdade mantinham a maior parte dos fantasmas longe de mim, mas dessa vez, eu queria eles aqui. Dar a eles acesso, atraí-los... bem, era algo perigoso.

Algo me disse que se havia algum espírito sem paz, seria a rainha que tinha

sido assassinada em sua própria cama. Eu não vi nenhum rosto familiar neste grupo, mas não perdi a esperança.

“Tatiana,” eu murmurei, focando meus pensamentos no rosto da rainha

morta. “Tatiana, venha até mim.” Uma vez fui capaz de convocar um fantasma facilmente: meu amigo Mason,

que foi morto por um Strigoi. Embora Tatiana e eu não fossemos tão próximas quando Mason e eu tínhamos sido, certamente tínhamos uma conexão. Por um tempo, nada aconteceu. O mesmo borrão de rostos estava diante de mim, na cela, e eu comecei a me desesperar. Então, de repente, ela estava ali.

Ela estava com as roupas que havia sido assassinada, uma camisola e um

roupão cobertos de sangue. Suas cores estavam fracas, piscando como a tela de uma TV funcionando mal. Mesmo assim, a coroa em sua cabeça dava a ela o mesmo ar de realeza que eu lembrava. Assim que ela materializou, ela não disse ou fez nada. Ela simplesmente me encarou, seu olhar negro praticamente perfurando minha alma. Várias emoções passaram pelo meu peito. Aquela reação que eu sempre tinha quando estava perto de Tatiana – raiva e ressentimento – aumentaram. Então, foi silenciada pela surpreendente onda de simpatia. A vida de ninguém deveria terminar como a dela.

Eu hesitei, temendo que os guardas me ouvissem. De alguma forma, eu

tinha a sensação que o volume da minha voz não importava, e nenhum deles poderia ver o que eu vi. Eu ergui o bilhete.

“Você escreveu isso?” eu suspirei. “Isso é verdade?”

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Ela continuou a encarar. O fantasma de Mason tinha se comportado de forma similar. Convocar os mortos era uma coisa; se comunicar com eles era outra bem diferente.

“Eu preciso saber. Se tem outro Dragomir, eu vou encontrá-lo.” Não tinha

porque dizer que eu não estava em posição para encontrar ninguém. “Mas você tem que me dizer. Você escreveu essa carta? É verdade?”

Apenas aquele olhar louco me respondeu. Minha frustração cresceu, e a

pressão de todos aqueles espíritos começou a me dar dor de cabeça. Aparentemente, Tatiana era tão irritante morta quanto tinha sido viva.

Eu estava prestes a trazer minhas proteções de volta e afastar os fantasmas

quando Tatiana fez o menor dos movimentos. Foi um pequeno aceno, quase indetectável. Seus olhos duros então foram do bilhete em minha mão, e, do nada – ela desapareceu.

Eu coloquei de volta minhas proteções, usando toda minha vontade para

me fechar aos mortos. A dor de cabeça não desapareceu, mas os rostos sim. Eu afundei de volta na cama e encarei o bilhete sem vê-lo. Ali estava minha resposta. O bilhete era real. Tatiana o tinha escrito. De alguma forma, eu duvidava que o fantasma dela tivesse motivos para mentir.

Esticando-me, eu descansei minha cabeça no travesseiro e esperei aquela

terrível sensação passar. Eu fechei meus olhos e usei o laço de espírito para retornar e ver o que Lissa estava fazendo. Desde minha prisão, ela esteve ocupando, implorando e discutindo em meu nome, então esperei encontrar mais do mesmo. Ao invés disso... ela estava comprando um vestido.

Eu quase fiquei ofendida pela frivolidade da minha melhor amiga, até que

percebi que ela estava procurando por um vestido para o funeral. Ela estava em uma das lojas da Corte, uma que servia as famílias reais. Para minha surpresa, Adrian estava com ela. Ver seu rosto familiar e bonito, acalmou um pouco do medo dentro de mim. Uma rápida vasculhada em sua mente, disse por que ele estava lá: ela o convenceu a ir, porque não queria que ele ficasse sozinho.

Eu podia entender por que. Ele estava completamente bêbado. Era

surpreendente que ele conseguisse ficar de pé, na verdade, eu suspeitava que a parede em que ele estava inclinado era tudo que o mantinha erguido. O cabelo castanho dele estava uma confusão – e não da forma proposital que ele geralmente arrumava. Seus olhos verdes profundos estavam vermelhos. Como Lissa, Adrian era um usuário de espírito. Ele tinha uma habilidade que ela ainda não tinha: ele podia visitar os sonhos das pessoas. Eu esperei que ele me visitasse desde que fui presa, e agora fazia sentido o porquê dele não ter feito.

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Álcool atordoava espírito. De certa forma, isso era algo bom. O espírito em excesso criava uma escuridão que levava os seus usuários a insanidade. Mas passar a vida eternamente bêbado também não era muito saudável.

Ver ele através dos olhos de Lissa disparou uma confusão emocional quase

tão intensa quanto a que eu tinha experimentado com Tatiana. Eu me sentia mal por ele. Ele estava obviamente preocupado e chateado por mim, e os eventos da última semana o tinham ocupado tanto quanto o resto de nós. Ele também perdeu sua tia a quem, apesar de sua atitude brusca, ele gostava.

Ainda sim, apesar de tudo isso, eu me senti... desprezada. Isso era injusto,

talvez, mas não conseguia evitar. Eu gostava tanto dele e entendia o porquê dele estar chateado, mas havia formas melhores de lidar com sua perda. Seu comportamento era quase covarde. Ele estava se escondendo de seus problemas com uma garrafa, algo que ia contra toda minha natureza. Eu? Eu não podia deixar meus problemas ganharem sem lutar.

“Veludo,” a lojista disse a Lissa com certeza. A mulher Moroi ergueu um

volumoso vestido de gala. “Veludo é uma tradição entre a corte real.” Junto com o resto da fanfarra, o funeral de Tatiana ia ter uma escolta

cerimonial andando junto com o caixão, com um representante de cada família. Aparentemente, ninguém se importava que Lissa cumprisse aquele papel pela sua família. Mas votar? Esse era outro assunto.

Lissa olhou o vestido. Parecia mais uma fantasia de Halloween do que um

vestido de funeral. “Está 32 graus lá fora,” disse Lissa. “E úmido.” “Tradição exige sacrifícios,” a mulher disse de forma dramática. “Assim

como a tragédia.” Adrian abriu sua boca, sem duvidas para dizer algum comentário

desapropriado de gozação. Lissa deu a ele um olhar afiado que o manteve quieto. “Não tem, eu não sei, alguma opção sem mangas?”

Os olhos da vendedora se alargaram. “Ninguém nunca usou manga curta

para um funeral real. Não seria certo.” “Que tal shorts?” perguntou Adrian. “Tem algum problema se usarmos com

uma gravata? Porque é com isso que eu vou.” A mulher parecia horrorizada. Lissa deu a Adrian um olhar de desdém, não

por causa do comentário – que ela achou divertido – mas porque ela também estava enojada com seu constante estado de intoxicação.

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“Bem, ninguém me trata como alguém realmente da realeza,” disse Lissa, se

voltando para o vestido. “Não tem porque agir como uma agora. Mostre-me o que você tem de manga cavada e manga curta.”

A vendedora fez uma careta, mas obedeceu. Ela não tinha problemas em

aconselhar a realeza sobre moda mas não se atreveria a ordenar que fizessem ou usassem qualquer coisa. Isso era parte das classes do nosso mundo. A mulher andou pela loja e encontrou os vestidos requisitados, assim que o namorado de Lissa e sua tia entraram na loja.

Christian Ozera, eu pensei, era como Adrian deveria estar agindo. O fato de

que eu sequer podia pensar assim era surpreendente. As coisas realmente mudaram, já que estou vendo Christian como um modelo a se seguir. Mas era verdade. Eu observei ele com Lissa a última semana, e Christian esteve determinado e firme, fazendo o que podia para ajudar ela a lidar com a morte de Tatiana e minha prisão. Pela sua cara agora, era óbvio que ele tinha algo importante a dizer.

Sua tia, Tasha Ozera, era outra que permanecia forte e com graça sobre

pressão. Ela o criou depois que seus pais se tornaram Strigoi – e atacaram ela, deixando Tasha com cicatrizes em um lado de seu rosto. Moroi sempre confiaram em guardiões para defendê-los, mas depois desse ataque, Tasha decidiu tomar providências com as próprias mãos. Ela aprendeu a lutar, treinou com todo tipo de corpo a corpo e armas. Ela era bem fodona e constantemente insistia que outros Moroi deveriam aprender combate também.

Lissa soltou o vestido que estava examinando e foi até Christian ansioso.

Depois de mim, ela não confiava em mais ninguém no mundo, tanto quanto ele. Ele tinha sido sua pedra durante tudo isso.

Ele olhou ao redor, não parecendo muito alegre por estar cercado de

vestidos. “Vocês estão fazendo compras?” ele perguntou, olhando de Lissa para Adrian. “Tirando um pouco de tempo para garotas?”

“Hey, você tem benefícios em mudar seu guardar roupa,” disse Adrian.

“Além do mais, eu aposto que você ficaria ótimo em uma bata.” Lissa ignorou a conversa de homem e se focou nos Ozeras. “O que você

descobriu?” “Eles decidiram não agir,” disse Christian. Seus lábios curvados em desdém.

“Bem, nenhum tipo de punimento.”

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Tasha acenou. “Estamos tentando forçar a ideia de que ele apenas pensou que Rose estava em perigo e pulou antes de perceber o que estava acontecendo.”

Meu coração parou. Dimitri. Eles estavam falando de Dimitri. Por um momento, eu não estava mais com Lissa. Eu não estava mais na

minha cela. Ao invés disso, eu estava de volta ao dia da minha prisão. Eu estava discutindo com Dimitri na cafeteria, xingando ele por sua recusa contínua de conversar comigo, muito menos continuar nossa antiga relação. Naquele instante eu decidi que tinha terminado tudo, que as coisas realmente tinham acabado e que eu não ia permitir que ele continuasse a partir meu coração. Foi quando os guardiões vieram atrás de mim, e não importava o que Dimitri dizia sobre seu tempo como Strigoi tornar impossível ele me amar, ele reagiu como um raio para me defender. Ele estava em menor número, mas não se importou. O olhar em seu rosto – e meu próprio entendimento dele – me disseram tudo que eu precisava saber. Eu estava enfrentando uma ameaça. Ele tinha que me proteger.

E ele o tinha feito. Ele lutou como o deus que ele foi na Academia St.

Vladimir, quando me ensinou a lutar contra Strigoi. Ele incapacitou mais guardiões naquela cafeteria do que um homem deveria ser capaz. A única coisa que terminou tudo – e eu realmente acredito que ele teria lutado até seu último suspiro – tinha sido minha intervenção. Eu não sabia, naquela hora, o que estava acontecendo e porque uma legião de guardiões queria me prender. Mas eu percebi que Dimitri corria sério risco de prejudicar seu já frágil status na corte. Um Strigoi restaurado não era algo conhecido, e muitos ainda não confiavam nele. Pouco eu sabia do que estava guardado para mim.

Ele foi a minha audiência – escoltado – mas nem Lissa nem eu o tínhamos

visto desde então. Lissa esteve trabalhando duro para inocentar ele de qualquer coisa, temendo que eles o prendessem de novo. E eu? Eu estive tentando dizer a mim mesma para não pensar demais no que ele tinha feito. Minha prisão e potencial execução tinham precedentes. Ainda sim... eu ainda me preocupava. Porque ele tinha feito isso? Porque ele tinha arriscado sua vida pela minha? Foi uma reação instintiva a ameaça? Ele o tinha feito como um favor a Lissa, a quem ele jurou ajudar por tê-lo libertado? Ou ele tinha o feito porque ainda tinha sentimentos por mim?

Eu ainda não tinha a resposta, mas ver ele assim, como o poderoso Dimitri

do meu passado, tinha remexido sentimentos que eu estava desesperadamente tentando superar. Eu continuei tentando assegurar a mim mesma que se recuperar de uma relação leva tempo. Sentimentos que demoram a sumir são

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naturais. Infelizmente, levava mais tempo superar um cara quando ele se joga no perigo por você.

Independentemente, as palavras de Christian e Tasha me deram esperança

sobre o destino de Dimitri. Afinal de contas, eu não era a única andando por uma linha tênue entra a vida e a morte. Aqueles convencidos que Dimitri ainda era um Strigoi queriam empalar seu coração.

“Eles estão mantendo ele confinado de novo,” disse Christian. “Mas não

numa cela. Só em seu quarto, com alguns guardas. Eles não o querem solto pela Corte até tudo se acalmar.”

“Isso é melhor que prisão,” admitiu Lissa. “Ainda é um absurdo,” respondeu Tasha, mais para ela mesma do que para

os outros. Ela e Dimitri foram amigos por anos, e uma vez ela quis levar a relação a outro nível. Ela se conformou com amizade, e seu ultraje pela injustiça feita com ele era quase tão grande quanto o nosso. “Eles deveriam ter o deixado ir assim que se tornou um dhampir novamente. Assim que as eleições forem feitas, vou me certificar que ele seja liberto.”

“E é isso que é estranho...” os olhos azuis de Christian se estreitaram

pensativos. “Nós ouvimos que Tatiana disse a outros antes dela – antes dela –” Christian hesitou e olhou agitado para Adrian. A pausa não era característica de Christian, que geralmente falava o que pensava sem pestanejar.

“Antes dela ser assassinada,” disse Adrian, sem olhar para nenhum deles.

“Continue.” Christian engoliu. “Um, yeah. Eu acho – não em público – ela anunciou que

ela acreditava que Dimitri era realmente um dhampir novamente. O plano dela era ajudar ele a ser mais aceito assim que as outras coisas se acalmassem.” As ‘outras coisas’ era a lei da idade mencionada no bilhete de Tatiana, aquela que dizia que dhampirs que fizessem 16 anos seriam forçados a se formar e defender os Moroi. Isso tinha me enfurecido, mas como tantas outras coisas agora... bem, isso estava meio que deixado em espera.

Adrian fez um estranho som, como se estivesse limpando sua garganta. “Ela

não fez isso.” Christian deu de ombros. “Muitos dos conselheiros dela disseram que ela

fez. Esse é o rumor.”

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“Eu tenho dificuldades em acreditar também,” Tasha disse a Adrian. Ela nunca aprovou a política de Tatiana e veementemente falou contra eles mais de uma ocasião. Mas a descrença de Adrian não era política. A dele simplesmente vinha das ideias que ele sempre ouviu de sua tia. Ela nunca deu qualquer indício de que queria ajudar Dimitri a recuperar seu antigo status.

Adrian não fez mais nenhum comentário, mas eu sabia que o assunto estava

acendendo faíscas de ciúmes dentro dele. Eu disse a ele que Dimitri estava no passado e que eu estava pronta para seguir em frente, mas Adrian – como eu – deve ter sem duvidas imaginado quais as motivações por trás da defesa galante de Dimitri.

Lissa começou a especular como eles poderiam tirar Dimitri de sua prisão

domiciliar quando a vendedora voltou com um vestido sem mangas que ela claramente não aprovava. Mordendo os lábios, Lissa ficou em silêncio. Ela pensou na situação de Dimitri como algo para lidar depois. Ao invés disso, ela se preparou para experimentar roupas e seguir seu papel como uma boa garota da realeza.

Adrian se animou ao ver o vestido. “Tem algum cabresto aí?” Eu voltei a minha própria cela, revolvendo os problemas que pareciam se

acumular. Eu estava preocupada tanto com Adrian como Dimitri. Estava preocupada comigo mesma. Eu também estava preocupada com o tal Dragomir perdido. Eu estava começando a acreditar que a história poderia ser real, mas não podia fazer nada sobre isso, o que me frustrava. Eu precisava fazer algo quando se tratava de ajudar Lissa. Tatiana tinha me dito na sua carta para ter cuidado com quem eu falava sobre o assunto. Eu deveria passar essa missão para outra pessoa? Eu queria cuidar disso, mas as grades e as paredes sufocantes ao meu redor diziam que eu talvez não fosse capaz de cuidar de nada por um tempo, nem mesmo da minha própria vida.

Duas semanas. Sem precisar de mais nenhuma distração, eu desisti e comecei a ler o livro

de Abe, que era o conto de uma prisão injusta, como eu esperava que fosse. Era muito bom e me ensinou que fingir minha própria morte aparentemente não funcionaria como um método para escapar. O livro inesperadamente revolvia a antigas memoras. Um calafrio passou pela minha espinha quando me lembrei da leitura de Taro que uma Moroi chamada Rhonda tinha feito. Ela era tia de Ambrose, e uma das cartas que ela tirou para mim mostrava uma mulher amarrada a espadas. Um aprisionamento errado. Acusações. Calúnia. Merda. Eu estava realmente começando a odiar aquelas cartas. Eu sempre insisti que era uma fraude, ainda sim, elas tinham a irritante tendência a se tornarem

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realidade. O fim de sua leitura tinha me mostrado uma jornada, mas onde? Uma prisão de verdade? Minha execução?

Perguntas sem respostas. Bem vindo ao meu mundo. Sem opções por

agora, eu achei que seria melhor descansar. Esticando-me na cama, eu tentei afastar aquelas constantes preocupações. Não era fácil. Toda vez que eu fechava meus olhos, eu via um juiz, segurando um martelo, me condenando a morte. Eu via meu nome nos livros de história, não como uma heroína, mas como uma traidora.

Deitada ali, sufocando meus próprios medos, eu pensei em Dimitri. Eu

imaginei seu olhar firme e praticamente podia ouvir ele me dando sermão. Não se preocupe agora com o que você não pode mudar. Descanse quando puder para estar pronta para as batalhas de amanhã. Esse conselho imaginado me acalmou. O sono veio, finalmente, pesado e profundo. Eu me revirei muitas vezes essa semana, então um verdadeiro descanso foi bem vindo.

Então – eu acordei. Eu sentei na cama, meu coração batendo. Olhando ao redor, eu procurei

perigo – qualquer ameaça que poderia ter me arrancado do meu sono. Não havia nada. Escuridão. Silêncio. O fraco barulho de cadeiras pelo corredor me disseram que os guardas ainda estavam por perto.

O laço, eu percebi. O laço tinha me acordado. Eu senti uma afiada, intensa

sensação de... o que? Intensidade. Ansiedade. Uma onda de adrenalina. Pânico passou por mim, e eu me afundei dentro de Lissa, tentando encontrar o que tinha causado essa emoção dentro dela.

O que eu encontrei foi... nada. O laço se fora.

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TRÊS BEM, NÃO SE FORA EXATAMENTE. Ficou mudo. Meio como eu tinha me sentido imediatamente depois dela

restaurar Dimitri de volta a um dhampir. A mágica tinha sido tão forte ali que tinha “queimado” nossa ligação. Não havia uma onda de magia agora. Era quase como se a escuridão fosse intencional por parte dela. Como sempre, eu ainda sentia Lissa: ela estava viva, ela estava bem. Então o que me impedia de senti-la mais? Ela não estava dormindo, porque eu podia sentir uma sensação de alerta consciência do outro lado da parede. Espírito estava ali, escondendo ela de mim... e ela estava fazendo isso acontecer.

O que diabos? Era um fato de que nosso laço só funcionava de um lado. Eu

podia sentir ela; ela não podia me sentir. Do mesmo jeito, eu podia controlar quando ia na mente dela. Geralmente, eu tentava me manter longe (excluindo-se o tempo de cativeiro na prisão), numa tentativa de proteger sua privacidade. Lissa não tinha tanto controle, e sua vulnerabilidade a enfurecia às vezes. De vez em quando, ela podia usar seu poder para se proteger de mim, mas era raro, difícil, e requeria um considerável esforço de sua parte. Hoje, ela estava conseguindo, e conforme a condição persistia, eu podia sentir a força dela. Me manter de fora não era fácil, mas ela estava conseguindo. É claro, eu não me importava como. Eu queria saber por que.

Era provavelmente meu pior dia de aprisionamento. Medo por mim mesma

era uma coisa. Mas por ela? Isso era agonizante. Se fosse minha vida ou a dela, eu teria andando até a execução sem hesitar. Eu precisava saber o que estava acontecendo. Ela tinha sabido de algo? O Conselho decidiu pular o julgamento e me executar? Lissa estava tentando me proteger daquela notícia? Quanto mais espírito ela usava, mais ela colocava em perigo sua vida. Essa parede mental exigia muita magia. Mas por quê? Porque ela estava se arriscando?

Eu fiquei surpresa, naquele momento, por perceber o quanto eu dependia

do laço para saber dela. Verdade: eu nem sempre dava boas vindas ao pensamento de outra pessoa em minha mente. Apesar do controle que aprendi, sua mente às vezes ainda entrava na minha em momentos que eu preferia não experimentar. Nada disso era uma preocupação agora – apenas sua segurança era. Ser bloqueada era como ter um membro removido.

O dia todo eu tentei entrar na sua mente. Toda vez, eu ficava de fora. Era

enlouquecedor. Nenhuma visita apareceu, e o livro e as revistas a muito tinham perdido seu objetivo. A sensação de um animal enjaulado estava me preenchendo de novo, e eu passei uma enorme quantidade de tempo gritando

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com meus guardas – sem resultado. O funeral de Tatiana era amanhã, e o relógio para o meu julgamento estava batendo alto.

A hora de dormir veio, e a parede no nosso laço finalmente caiu – porque

Lissa foi dormir. O link entre nós era firme, mas sua mente estava fechada inconsciente. Eu não encontraria respostas ali. Deixada sem mais nada, eu também fui dormir, me perguntando se seria cortada novamente pela manhã.

Não fui. Eu e ela estávamos ligadas de novo, e eu fui capaz de ver o mundo

pelos olhos dela mais uma vez. Lissa acordou cedo, preparando-se para o funeral. Eu não vi nem senti nenhum sinal do porque fui bloqueada um dia antes. Ela estava permitindo que eu voltasse a sua mente, como normalmente. Eu quase me perguntei se tinha imaginado ser cortada da mente dela.

Não... ali estava. Fraco. Dentro da sua mente, eu senti os pensamentos que

ela escondia de mim. Eles eram escorregadios. Cada vez que eu tentava alcançar um, eles caiam de minhas mãos. Eu fiquei surpresa dela ainda conseguir usar mágica para isso, e também era uma clara indicação que ela me bloqueou intencionalmente ontem. O que estava acontecendo? Porque diabo ela precisaria esconder algo de mim? O que eu poderia fazer, presa nesse buraco dos infernos? De novo, minha agitação cresceu. Que coisa terrível eu não sabia?

Eu observei Lissa se aprontar, sem ver qualquer sinal de qualquer coisa

anormal. O vestido que ela escolheu tinha mangas curtas e ia até seus joelhos. Preto, é claro. Mal era um vestido inapropriado, mas ela sabia que ia chamar atenção de alguém. Em circunstâncias diferentes, isso teria me deixado maravilhada. Ela escolheu usar seu cabelo solto, seu loiro pálido brilhando contra o preto do vestido quando ela se olhou no espelho. Christian encontrou Lissa lá fora. Ele também se arrumou, eu tinha que admitir, usando uma camisa e gravata. Ele desenhou a linha de uma jaqueta, e sua expressão era uma estranha mistura de nervosismo, segredo, e uma típica arrogância. Quando ele viu Lissa, no entanto, seu rosto momentaneamente se transformou, ficando radiante e focado totalmente no olhar dela. Ele deu a ela um pequeno sorriso e a pegou nos braços para um breve abraço. O toque dele a trouxe contentamento e conforto, acalmando sua ansiedade. Eles voltaram recentemente, depois de terminarem, e aquele tempo separados foi agonizante para ambos.

“Vai ficar tudo bem,” ele murmurou, seu olhar de preocupação retornando.

“Isso vai funcionar. Podemos fazer isso.” Ela não disse nada mas apertou seus braços nele antes de se afastar.

Nenhum deles falou enquanto entravam no início do procedimento do funeral.

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Eu decidi que isso era muito suspeito. Ela pegou a mão dele e se sentiu fortalecida.

Os procedimentos do funeral para monarcas Moroi era o mesmo há séculos,

não importa se a Corte era na Romênia ou nessa nova casa na Pensilvânia. Esse era o jeito Moroi. Eles misturam tradição com o modernismo, magia com tecnologia.

O caixão da rainha seria carregado por portadores de fora do palácio e

levado com grande cerimônia através da Corte, até alcançar a Catedral. Lá, um grupo selecionado entraria para a missa. Depois, Tatiana seria enterrada no cemitério da igreja, tomando seu lugar ao lado de outros monarcas e importantes membros da realeza.

A rota do caixão era fácil de ver. Postes vermelhos e pretos marcavam cada

lado. Pétalas de rosas foram colocadas no chão por onde o caixão passaria. Nas laterais, as pessoas se amontoavam juntas, esperando ver a antiga rainha. Muitos Moroi tinham vindo de todas as partes, alguns para ver o funeral e alguns para ver as eleições do monarca que aconteceria na próxima semana.

A família real – a maioria usando o vestido preto de veludo – já estava

tomando seu lugar no prédio. Lissa parou do lado de fora para se separar de Christian, já que ele nunca esteve na disputa para representar sua família num evento tão honrado. Ela deu a ele outro abraço apertado e um leve beijo. Assim que se afastaram, houve um brilho de sabedoria naqueles olhos azuis – aquele segredo que estava escondido de mim.

Lissa passou pela multidão, tentando chegar à entrada e encontrar o ponto

de partida da procissão. O prédio não parecia como o antigo palácio ou castelo da Europa. Suas grandes pedras e janelas combinavam com a estrutura da Corte, mas algumas características – seus grandes e largos degraus de mármore – se distinguiam de outros prédios. Um puxão no braço de Lissa impediu o progresso, quase fazendo ela dar um encontrão num senhor Moroi.

“Vasilisa?” Era Daniella Ivashkov, a mãe de Adrian. Daniella não era tão

ruim, e ela não se importava que eu e Adrian estivéssemos saindo – ou pelo menos, ela não se importava antes de eu ser acusada de assassinato. A maior parte da aceitação de Daniella se baseava no fato de que ela acreditava que Adrian e eu nos separaríamos de qualquer forma assim que eu recebesse minha missão de guardiã. Daniella também tinha convencido um de seus primos, Damon Tatus, a ser meu advogado – uma oferta que rejeitei quando escolhi Abe a me representar no lugar dele. Eu ainda não tinha certeza se tomei a melhor decisão, mas provavelmente queimou a forma como Daniella me via, o que eu me arrependia.

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Lissa deu um nervoso sorriso. Ela estava ansiosa para se juntar a procissão e

acabar com tudo isso. “Oi,” ela disse. Daniella estava vestida de veludo preto e até tinha pequenos diamantes

colocados em seu cabelo negro. Preocupação e agitação marcavam seu rosto bonito. “Você viu Adrian? Não o encontrei em lugar algum. Nós checamos seu quarto.”

“Oh,” Lissa desviou o olhar. “O que?” Daniella quase sufocou ela. “O que você sabe?” Lissa suspirou. “Eu não tenho certeza de onde ele está, mas o vi ontem à

noite quando estava voltando de uma festa.” Lissa hesitou, como se estivesse muito envergonhada para contar o resto. “Ele estava... muito bêbado. Mais do que já vi. Ele estava saindo com algumas garotas, e eu não sei onde. Desculpe, Lady Ivashkov. Ele provavelmente... bem, desmaiou em algum lugar.”

Daniella soltou suas mãos, e demonstrou sua descrença. “Eu espero que

ninguém note. Talvez possamos dizer... que ele estava sobrecarregado de dor. Tem tanta coisa acontecendo. Certamente ninguém vai notar. Você vai dizer a eles, certo? Você vai dizer o quão chateado ele estava?”

Eu gosto de Daniella, mas essa obsessão com a imagem realmente estava

começando a me incomodar. Eu sabia que ela amava o filho, mas sua principal preocupação parecia ser menos sobre o último descanso de Tatiana e mais sobre o que os outros vão pensar sobre a quebra de protocolo. “É claro,” disse Lissa. “Eu não iria querer que alguém... bem, eu odiaria que isso se espalhasse.”

“Obrigado. Agora vá.” Daniella gesticulou para as portas, ainda parecendo

ansiosa. “Você precisa tomar seu lugar.” Para surpresa de Lissa, Daniella deu um gentil tapinha em seu braço. “E não fique nervosa. Você vai se sair bem. Só mantenha sua cabeça erguida.”

Guardiões que estavam parados na porta reconheceram Lissa como alguém

com acesso e a deixaram entrar. Lá, no foyer, estava o caixão de Tatiana. Lissa franziu, de repente sobrepujada, e quase esqueceu o que estava fazendo ali.

Só o caixão já era uma obra de arte. Ele era feito de madeira preta, polido

até brilhar. Elaborados jardins foram pintados em cores metálicas de cada lado. Ouro brilhava em toda parte, incluindo as hastes que os portadores iriam segurar. Aquelas hastes estavam decoradas com rosas cor da malva. Parecia que

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os espinhos e folhas iriam dificultar o aperto firme dos portadores, mas isso era problema deles.

Lá dentro, descoberta e deitada numa cama de mais rosas cor de malva,

estava Tatiana. Era estranho. Eu vejo corpos o tempo todo. Diabos, eu os crio. Mas ver um corpo que foi preservado, deitado pacificamente e ornamentado... bem, era arrepiante. Era estranho para Lissa também, particularmente já que ela não tinha que lidar com a morte tanto quanto eu.

Tatiana usava um vestido de seda que era de um tom púrpura – a cor

tradicional para um enterro real. O vestido tinha mangas longas que eram decoradas com um elaborado design de pequenas pérolas Eu geralmente via Tatiana de vermelho – uma cor associada à família Ivashkov – e eu estava feliz com o púrpura tradicional. Um vestido vermelho seria um lembrete muito forte das fotos ensanguentadas dela que eu vi na audiência, fotos que eu tentava bloquear. Fios de gemas e mais pérolas estavam em seu pescoço, e uma coroa de ouro cheia de diamantes e ametistas estava em seu cabelo. Alguém tinha feito um bom trabalho com a maquiagem de Tatiana, mas nem eles puderam esconder a brancura de sua pele. Moroi já são naturalmente brancos. Mortos, eles são como carvão – como Strigoi. A imagem atingiu Lissa tão vividamente que ela se balançou e teve que desviar o olhar. O cheiro de rosas enchia o ar, mas havia um cheiro de apodrecimento misturado em toda aquela doçura.

O coordenador do funeral viu Lissa e mandou que ela fosse a sua posição –

depois de fazer uma careta pela escolha do vestido de Lissa. As palavras afiadas fizeram Lissa voltar à realidade, e ela foi para linha com cinco outros membros da realeza do lado direito do caixão. Ela tentou não olhar muito para o corpo da rainha, e direcionar seu olhar para o outro lado. Os portadores logo apareceram e ergueram o caixão usando as hastes de rosas para colocar o caixão em seus ombros e devagar o carregaram para a multidão. Todos os portares eram dhampirs. Eles usavam ternos formais, o que me confundiu a princípio, mas então percebi que todos eram guardiões da Corte – a não ser. Ambrose. Ele parecia tão lindo como sempre e encarava a frente enquanto fazia seu trabalho, o rosto em branco e sem qualquer expressão.

Eu me perguntei se Ambrose estava em luto por Tatiana. Eu estive tão

fixada em meus próprios problemas que fico esquecendo que uma vida foi perdida, uma vida que muitos amaram. Ambrose defendeu Tatiana quando eu fiquei com raiva por causa da lei da idade. Observando ele pelos olhos de Lissa, eu desejei estar lá para falar com ele pessoalmente. Ele deveria saber algo mais sobre a carta que ele me deu no dia da audiência. Certamente ele não era apenas o entregador.

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A procissão seguiu em frente, interrompendo meus pensamentos sobre Ambrose. Antes da frente do caixão havia outras pessoas. Pessoas da realeza com roupas elaboradas, fazendo uma demonstração. Guardiões uniformizados carregavam bandeiras. Músicos com flautas andavam atrás, tocando um tom fúnebre. Por sua parte, Lissa era muito boa em aparecer em público e conseguiu seguir o passo lento e firme com elegância e graça, seu olhar firme e confiante. Eu não podia ver seu corpo, é claro, mas era fácil imaginar o que os espectadores viam. Ela era linda e própria da realeza, digna de herdar o legado Dragomir, e com sorte mais e mais pessoas iam perceber isso. Nos pouparia de muitos problemas se alguém mudasse a lei pelo procedimento normal, para não termos que depender de uma busca por um irmão perdido.

Andar pela rota do funeral levou muito tempo. Mesmo quando o sol estava

começando a afundar no horizonte, o calor do dia ainda estava no ar. Lissa começou a suar mas sabia que seu desconforto não era nada comparado ao dos portadores. Se a multidão que observava sentia o calor, eles não demonstraram. Eles erguiam seus pescoços para ter um último deslumbre do espetáculo passando diante deles. Lissa não prestou muita atenção nas pessoas ao redor, mas em seus rostos, eu vi que aquele caixão não era seu único foco. Eles também observavam Lissa. O rumor do que ela tinha feito por Dimitri tinha passado pelo mundo Moroi, e embora muitos aqui ainda estivessem sépticos sobre sua habilidade de curar, havia muitos que acreditavam. Eu vi expressões de maravilha e temor na multidão, e por um segundo, eu me perguntei quem eles realmente vieram ver: Lissa ou Tatiana?

Finalmente, a catedral apareceu à vista, o que era uma boa notícia para

Lissa. O sol não matava Moroi como Strigoi, mas o calor e a luz do sol ainda era um desconforto para muitos vampiros. A procissão estava quase no fim, e ela, sendo uma daquelas que tinha permissão para entrar na igreja, logo iria aproveitar o ar condicionado.

Enquanto eu estava nos arredores, eu não conseguia parar de pensar que

círculo de ironia minha vida era. Dos lados da igreja havia duas gigantes estátuas de monarcas Moroi, um rei e uma rainha que tinham ajudado os Moroi a prosperar. Embora eles estivessem a uma distância considerável da igreja, as estátuas brilhavam luminosas, como se estivessem examinando tudo. Perto da estátua da rainha, havia um jardim que eu conhecia bem. Eu fui forçada a limpá-la em punimento por fugir para Las Vegas. Meu verdadeiro propósito naquela viajem – que ninguém sabia – tinha sido libertar Victor Ivaskov da prisão. Victor era um inimigo antigo, mas ele e seu irmão Robert, um usuário de espírito, sabiam o que precisávamos para curar Dimitri. Se algum guardião descobrisse que eu libertei Victor – e depois o perdi – meu castigo seria muito pior do que cortar grama e limpar estátuas. Pelo menos fiz um bom trabalho com o jardim,

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eu pensei amargamente. Se eu fosse executada, eu deixaria uma marca duradoura na Corte.

Os olhos de Lissa pairaram em uma das estátuas por um bom tempo antes de voltar sua atenção à igreja. Ela estava suando muito agora, e eu percebi que uma parte disso não era apenas calor. Ela também estava ansiosa. Mas por quê? Porque ela estava tão nervosa? Isso era apenas uma cerimônia. Tudo que ela tinha que fazer era seguir a onda. Ainda sim... ali estava de novo. Outra coisa estava a incomodando. Ela ainda estava mantendo alguns pensamentos longes de mim, mas alguns vazaram em sua preocupação.

Muito perto, muito perto. Estamos nos movendo muito rápido. Rápido? Não pela minha estimativa. Eu nunca teria conseguido lidar com

esse passo lerdo e firme. Eu me sentia especialmente mal pelos portadores. Se eu fosse um, eu teria ido pro inferno com a propriedade e tinha começado a correr até meu destino final. É claro, isso poderia ter remexido o corpo. Se o coordenador do funeral estava chateado com o vestido de Lissa, não tinha como saber como ela reagiria se Tatiana caísse do caixão.

Nossa vista da catedral estava ficando clara, seus domos brilhando em

âmbar e laranja com o sol que se punha. Lissa ainda estava há muitos metros de distância, mas o padre parado na frente estava claramente visível. Suas vestes eram quase cegantes. Elas eram feitas de fios de ouros, longas e cheias. Um chapéu com uma cruz, também de ouro, estava em sua cabeça. Eu achava que era de mal gosto para ele brilhar mais que as roupas da rainha, mas talvez essa fosse a roupa normal dos padres em ocasiões formais. Talvez chamasse a atenção de Deus. Ele ergueu seus braços dando boas vindas, mostrando mais daquele rico tecido. O resto da multidão e eu não podíamos nos impedir de ficar deslumbrados com aquela linda visão.

Então, você consegue imaginar minha surpresa quando as estátuas

explodiram.

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QUATRO E QUANDO EU DIGO QUE ELAS explodiram, eu quero dizer que elas

explodiram. Chamas e fumaça se desdobraram como pétalas de uma flor recém

brochada enquanto aqueles pobres monarcas explodiam em pedaços de rocha. Por um momento, eu fiquei atordoada. Era como ver um filme de ação, a explosão passando pelo ar e fazendo o chão tremer. Então, o treinamento dos guardiões tomou conta. Observação crítica e calculista tomou conta. Eu imediatamente notei que a carga explodiu em direção ao outro lado do jardim. Pequenos pedaços de pedra e pó choviam na procissão funerária, mas nenhum grande pedaço de rocha atingiu Lissa nem ninguém parado por perto. Assumindo que as estátuas não tinham entrado em combustão espontânea, quem quer que fosse que as tinha explodido o fez de uma forma precisa.

Deixando de lado a logística, enormes pedaços de pilares de fogo ainda

eram bem assustadores. Caos tomou conta enquanto todos tentavam se afastar. Só que, todos tomaram rotas diferentes, então colisões e embaraços ocorreram. Até os portadores soltaram sua preciosa carga e se mandaram. Ambrose foi o último a fazer isso, sua boca aberta e olhos esbugalhados enquanto ele encarava Tatiana, mas outro olhar nas estátuas o fez sair correndo. Alguns guardiões tentaram manter a ordem, fazendo as pessoas voltarem pelo caminho, mas não deu muito resultado. Cada um estava por si, muitos aterrorizados e em pânico para pensar razoavelmente.

Bem, todos exceto Lissa. Para minha surpresa, ela não estava surpresa. Ela estava esperando a explosão. Ela não correu, apesar das pessoas a empurrando para o lado. Ela ficou

parada onde estava quando as estátuas explodiram, as estudando e a confusão que elas causaram. Em particular, ela parecia preocupada com qualquer um na multidão que poderia ter se machucado com a explosão. Mas, não. Como eu já tinha observado, não parecia haver feridos. E se haviam, ia ser por causa da correria.

Satisfeita, Lissa virou e começou a andar para longe com os outros (Bem, ela

estava andando, eles corriam). Ela só se afastou um pouco quando ela viu um enorme grupo de guardiões irem em direção à igreja, os rostos preocupados. Alguns pararam para ajudar os que fugiam da destruição, mas a maioria estava indo ver o que tinha acontecido.

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Lissa parou de novo, fazendo o cara atrás dela bater em suas costas, mas ela

mal sentiu o impacto. Ela observou os guardiões, contando quantos eram, e então mais uma vez voltou a andar. Seus pensamentos escondidos estavam começando a se revelar. Finalmente, eu comecei a ver partes do plano que ela escondeu de mim. Ela estava contente. Nervosa também. Mas no geral, ela se sentia –

Uma comoção na cadeia me fez voltar a minha própria mente. O silêncio

usual na área de prisão foi interrompido e agora estava cheio de grunhidos e exclamações. Eu pulei de onde estava sentada e me pressionei contra as grades, tentando ver o que estava acontecendo. Esse prédio estava prestes a explodir também? Minha cela só tinha vista para uma parede no corredor, sem vista para a entrada. Eu, no entanto, vi os guardiões que normalmente ficavam no final do corredor passando rapidamente por mim, em direção ao que quer que fosse que estava ocorrendo.

Eu não sabia o que isso significava para mim e me preparei para tudo, amigo

ou inimigo. Até onde eu sabia, poderia ser um grupo político lançando um ataque na Corte para deixar claro seu desprezo contra o governo Moroi. Olhando ao redor, eu xinguei silenciosamente, desejando ter algo para me defender. O mais próximo que eu tinha era o livro de Abe, que não servia pra nada. Se ele era o fodão que ele fingia ser, ele realmente teria me entregado o livro com algum documento dentro. Ou me entregue algo maior, como Guerra e Paz.

O barulho morreu e passos vinham em minha direção. Fechando meus punhos, eu dei alguns passos pra trás, pronta para me defender contra qualquer um.

“Qualquer um” acabou sendo Eddie Castile. E Mikhail Tanner. Rostos amigos não eram o que eu esperava. Eddie era um amigo de longa

data de St. Vladimir, outro guardião como eu e alguém que me ajudou em várias aventuras, incluindo a fuga de Victor Dashkov. Mikhail era mais velho que nós, vinte cinco anos, e tinha nos ajudado a restaurar Dimitri na esperança que Sonya Karp – uma mulher que Mikhail tinha amado que se tornou Strigoi – pudesse ser salva também. Eu olhei de um para o outro.

“O que está acontecendo?” eu exigi. “É bom ver você também.” Eddie disse. Ele estava suando e agitado com o

fervor da batalha, algumas marcas rochas em seu rosto demonstrando que ele encontrou o punho de alguém hoje à noite. Em sua mão ele tinha uma arma que

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parecia ser do arsenal dos guardiões: um negócio que parecia um bastão usado para incapacitar sem matar. Mas Mikhail tinha algo muito mais valioso: a cartão e a chave usados para abrir minha cela.

Meus amigos estavam me ajudando a fugir. Inacreditável. Loucuras

normalmente eram minha especialidade. “Vocês...” eu franzi. A ideia de escapar me encheu de alegria, mas a logística

era um problema. Claramente, eles eram os responsáveis da luta com meus guardiões que eu tinha acabado de ouvir. Chegar aqui também não era tão fácil. “Vocês derrubaram todos os guardiões do prédio?”

Mikhail terminou de destrancar a porta, e eu não perdi tempo em sair.

Depois de me sentir tão oprimida e sufocada por dias, era como sair da beira de uma montanha, o vento e espaço ao meu redor.

“Rose, não tem guardiões nesse prédio. Bem, talvez um. E esses três caras.”

Eddie gesticulou na direção da luta, onde eu assumi que meus guardas estavam inconscientes. Certamente meus amigos não tinham matado ninguém.

“O resto dos guardas estão todos checando a explosão,” eu percebi.

Pedaços começaram a se juntar – incluindo a falta de surpresa de Lissa. “Oh, não. Vocês fizeram Christian explodir os artefatos Moroi antigos.”

“É claro que não,” disse Eddie. Ele parecia chocado por eu ter sugerido tal

atrocidade. “Outros usuários de fogo iriam saber se ele o fizesse.” “Bem, isso é algo,” eu disse. Eu deveria ter tido mais fé na sanidade deles. Ou talvez não. “Usamos explosivos,” explicou Mikhail. “Onde diabos vocês –” Minha língua trancou quando eu vi quem estava parado no fim do corredor.

Dimitri. Não saber como ele estava foi frustrante. O relatório de Christian e Tasha

foi pouco. Bem, aqui estava a resposta. Dimitri estava parado perto da entrada do corredor em todo seu 1.90 de glória, tão imperial e intimidante como qualquer deus. Seus olhos castanhos afiados avaliavam tudo, e seu corpo forte estava tenso, pronto para qualquer ameaça. Seu rosto estava tão focado, tão cheio de paixão, que eu não conseguia acreditar que alguém podia pensar que

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ele era um Strigoi. Dimitri exalava vida e energia. Na verdade, olhando para ele agora, eu estava me lembrando como ele me defendeu quando fui presa. Ele tinha a mesma expressão. Verdade, era a mesma de várias vezes. Era a única que as pessoas temiam e admiravam. Era aquela que eu amava.

“Você está aqui também?” eu tentei me lembrar que minha história

romântica não era a coisa mais importante no mundo pra variar. “Você não está em prisão domiciliar?”

“Ele fugiu,” disse Eddie. Eu entendi o real significado: ele e Mikhail tinham

ajudado Dimitri a escapar. “É o que as pessoas esperariam de alguém violento e provável Strigoi fazer, não é?”

“Você também esperava que ele viesse te resgatar,” acrescentou Mikhail,

brincando junto. “Especialmente considerando como ele lutou por você semana passada. Na verdade, todo mundo vai pensar que ele sozinho soltou você. Não com a gente.”

Dimitri não disse nada. Seus olhos, enquanto ainda cuidadosamente

observavam os arredores, também me avaliavam. Ele estava se certificando que eu estava bem e não estava ferida. Ele parecia aliviado de eu não estar.

“Anda,” disse Dimitri finalmente. “Não temos muito tempo.” Isso era dizer o

óbvio, mas tinha uma coisa me incomodando com o ‘brilhante’ plano dos meus amigos.

“De jeito nenhum eles vão pensar que ele fez tudo sozinho!” eu exclamei,

percebendo onde Mikhail estava querendo chegar. Eles iam culpar Dimitri pela fuga. Eu gesticulei para os guardiões inconscientes nos nossos pés. “Eles viram seus rostos.”

“Não mesmo,” uma nova voz disse. “Não depois de uma amnésia conduzida

por espírito. Quando acordarem, a única pessoa que vão lembrar ter visto era o inconfundível cara russo. Sem ofensa.”

“Não me ofendi,” disse Dimitri, conforme Adrian entrava. Eu encarei, tentando não gritar. Eles estavam juntos, os dois homens da

minha vida. Adrian dificilmente parecia que poderia ir para uma luta, mas ele estava tão alerta e sério como todos aqui. Seus adoráveis olhos estavam claros e cheios daquela astúcia que eu sabia que possuíam quando ele tentava. Foi então que entendi: ele não mostrava qualquer sinal de intoxicação. O que eu vi no outro dia foi um truque? Ou ele se forçou a tomar controle? De qualquer forma, eu senti um sorriso aparecendo no meu rosto.

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“Lissa mentiu para sua mãe mais cedo,” eu disse. “Você deveria estar

desmaiado de bêbado em algum lugar.” Ele me recompensou com um sorriso. “Bem, sim, isso provavelmente seria a

coisa mais inteligente – e agradável – de se fazer agora. E com sorte, isso é o que todos vão pensar que estou fazendo.”

“Precisamos ir,” disse Dimitri, ficando mais agitado. Viramos em direção a ele. Nossas piadas sumiram. Essa atitude que notei

sobre Dimitri, a que dizia que ele poderia fazer tudo e sempre nos levaria a vitória, fazia as pessoas segui-lo incondicionalmente. A expressão no rosto de Mikhail e Eddie – conforme ficavam mais sérios – mostrava que era exatamente assim que eles se sentiam. Parecia natural para mim também. Até Adrian parecia que acreditava em Dimitri, e naquele momento, eu admirei Adrian por deixar de lado qualquer ciúmes – e também se arriscar fazendo isso. Especialmente já que Adrian tinha deixado bem claro em mais de uma ocasião que ele não queria se envolver com nenhuma aventura perigosa ou usar espírito para acobertar. Em Las Vegas, por exemplo, ele simplesmente nos acompanhou. É claro, ele também estava bêbado na maior parte do tempo, mas isso provavelmente não fazia diferença.

Eu dei alguns passos pra frente, mas Adrian de repente me impediu.

“Espere – antes de ir conosco, você precisa saber algo.” Dimitri começou a protestar, os olhos brilhando de impaciência. “Ela precisa,” discutiu Adrian, encontrando o olhar de Dimitri. “Rose, se você escapar... você vai ter confirmado sua culpa. Você será uma fugitiva. Se os guardiões te encontrarem, eles não vão precisar de um julgamento ou sentença para te matar.”

Quatro pares de olhos pararam em mim quando o total significado daquelas

palavras me atingiu. Se eu fugisse agora e fosse pega, eu estava morta. Se eu ficasse, eu tinha uma pequena chance que em meu breve tempo antes do julgamento, pudéssemos encontrar alguma evidência para me salvar. Não era impossível. Mas se nada aparecesse, eu também certamente estaria morta. Qualquer das opções era uma aposta. Qualquer uma delas tinha uma forte possibilidade de eu não sobreviver.

Adrian parecia tão conflitado quanto eu me sentia. Nós dois sabíamos que

eu não tinha uma boa chance. Ele estava simplesmente preocupado e queria que eu soubesse qual meu risco. Dimitri, no entanto... para ele, não havia debate. Eu podia ver em seu rosto. Ele seguia regras e fazia coisas adequadas. Mas nesse caso? Com chances ruins? Era melhor arriscar viver como fugitiva, e se a morte viesse, era melhor encará-la lutando.

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Minha morte não vai estar marcada no calendário de alguém. “Vamos embora,” eu disse. Saímos correndo do prédio, ansiosos para andar logo com o plano. Eu não

pude evitar de comentar com Adrian, “Você deve estar usando muito espírito para usar aquelas ilusões com os guardas.”

“Estou,” ele concordou. “E não tenho o poder de fazer isso por muito

tempo. Lissa provavelmente faria uma dúzia de guardas pensar que viram fantasmas? Eu? Mal consigo fazer eles esquecerem Eddie e Mikhail. É por isso que eles precisam lembrar de alguém, e Dimitri é o ideal.”

“Bem, obrigado.” Eu o apertei gentilmente. Conforme calor passava entre

nós, eu não me incomodei de dizer que estava longe de estar livre ainda. Iria diminuir seu jeito heroico. Tínhamos muitos obstáculos à frente, mas eu ainda o apreciava assumindo dessa forma e respeitando minha decisão de seguir com o plano de fuga.

Adrian me olhou lateralmente. “Yeah, bem, eu deveria ser louco, não é?”

Um flash de afeição brilhou naqueles olhos. “E não tem muita coisa que eu não faria por você. Quanto mais estúpido, melhor.”

Chegamos no andar principal, e eu vi que Eddie estava certo sobre a

segurança. Os corredores e salas estavam desertos. Sem olhar de novo, corremos para fora, e o ar fresco pareceu renovar minhas energias.

“E agora?” eu perguntei a meus salvadores. “Agora vamos te levar para o seu carro de fuga,” disse Eddie. As garagens não eram longe, mas também não eram próximas. “Isso é

muito terreno aberto para cobrir,” eu disse. Eu não levantei o problema óbvio: eu ser morta assim que fosse vista.

“Estou usando espírito para nos manter vagos e discretos,” disse Adrian.

Mais uso de mágica. Ele não podia aguentar muito mais. “As pessoas não vão nos reconhecer a não ser que parem e nos encarem diretamente.”

“O que provavelmente não farão,” disse Mikhail. “Se alguém sequer nos

notar. Todos estão preocupados demais consigo mesmo para prestar atenção nos outros em todo esse caos.”

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Olhando ao redor, eu podia ver que ele tinha razão. A cadeira era longe da igreja, mas agora, as pessoas que estavam perto da explosão tinham passado para essa parte da Corte. Alguns corriam para suas residências. Alguns procuravam guardiões, esperando por proteção. E alguns... alguns estavam indo na mesma direção que nós, para as garagens.

“As pessoas estão assustadas o bastante para tentar sair da Corte,” eu

percebi. Nosso grupo estava se movendo tão rápido quanto podíamos com Adrian, que não estava em forma como os dhampir. “As garagens vão estar lotadas.” Tanto os veículos oficiais da Corte quanto dos visitantes ficavam estacionados na mesma área.

“Isso pode nos ajudar,” disse Mikhail. “Mais caos.” Com tantas distrações, eu não conseguia entrar completamente na mente

de Lissa. Um resquício do laço dizia que ela estava segura, no palácio. “O que Lissa está fazendo durante tudo isso?” eu perguntei. Acredite em mim, eu estava feliz por ela não se envolver nessa loucura de

fuga. Mas, como Adrian tinha notado, sua habilidade com espírito poderia ir muito mais longe aqui. E agora, olhando para tudo, era óbvio que ela sabia desse plano. Esse era seu segredo.

“Lissa precisa parecer inocente. Ela não pode ser ligada a nada da fuga ou

da explosão,” respondeu Dimitri, os olhos fixos à frente, em seu objetivo. Seu tom era firme. Ele ainda a via como sua salvadora. “Ela tem que se manter visível para outros da realeza. Assim como Christian.” Ele quase sorriu. Quase. “Aqueles dois certamente seriam meu primeiros suspeitos se algo explodisse.”

“Mas os guardiões não vão suspeitar deles quando perceberem que a

explosão não foi causada por mágica,” eu disse. As palavras sérias de Mikhail de antes voltaram pra mim. “E hey, onde vocês conseguiram os explosivos? Explosivos militares são meio extremos, até pra vocês.”

Ninguém me respondeu por que guardiões de repente pularam em nosso

caminho. Aparentemente, não estavam todos na igreja. Dimitri e eu tomamos a frente do nosso grupo, se movendo como um, como sempre fazíamos em batalha. Adrian disse que a ilusão que ele criou não funcionaria se alguém nos encarasse diretamente. Eu queria me certificar que Dimitri e eu éramos os primeiros da fila de contato com aqueles guardiões, na esperança deles não reconhecerem os outros atrás de nós. Eu me joguei na luta sem hesitar, os instintos defensivos tomando conta. Mas naqueles milisegundos, a realidade do que eu estava fazendo tomou conta.

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Eu lutei com guardiões antes e sempre me senti culpada. Eu derrubei alguns

na prisão Tarasov, assim como os guardas da rainha quando fui presa. Mas não conhecia nenhum deles. Só perceber que eles eram meus colegas já era ruim o bastante... mas conhecer? Agora eu estava enfrentando um dos desafios mais difíceis da minha vida, embora parecesse tão pequeno. Afinal de contas, três guardiões eram fáceis de enfrentar entre eu e Dimitri. O problema era – eu conhecia esses guardiões. Dois deles encontrei várias vezes depois da formatura. Eles trabalhavam na Corte e sempre foram gentis comigo.

O terceiro não era só alguém que eu conhecia – ela era minha amiga.

Meredith, uma das garotas da minha turma em St. Vladimir. Eu vi o flash de agitação nos olhos dela, um sentimento que espelhava o meu. Isso parecia errado para ela também. Mas ela era uma guardiã agora, e como eu, ela tinha o dever acima da sua vida. Ela acreditava que eu era uma criminosa. Ela podia ver que eu estava livre e em modo de ataque. O procedimento exigia que ela me derrubasse, e honestamente, eu não esperaria nada diferente. E é isso que eu teria feito se nossos papéis estivessem invertidos. Isso era vida ou morte.

Dimitri estava em cima dos dois caras, tão rápido e fodástico como sempre.

Meredith e eu atacamos uma a outra. Há principio, ela tentou me derrubar com o seu peso, provavelmente esperando me prender contra o chão até me agarrar. Só que, eu era mais forte. Ela deveria saber disso. Quantas vezes tínhamos lutado no ginásio da escola? Eu quase sempre vencia. E isso não era um jogo, nenhum treinamento. Eu me afastei do ataque dela, a socando na lateral de sua mandíbula e desesperadamente tentando não quebrar nada. Ela continuou consciente. Eu não sabia se deveria ficar agradecida ou não. Mantendo meu aperto, eu a sufoquei, esperando até que seus olhos se fechassem. Eu a soltei assim que ela apagou, o coração batendo forte no meu peito.

Olhando ao redor, eu vi que Dimitri também tinha derrubado seus

oponentes. Nosso grupo continuou se movendo como se nada tivesse acontecido, mas eu olhei para Eddie, sabendo que havia pesar em meu rosto. Ele parecia chateado também mas procurou me tranquilizar enquanto continuávamos.

“Você fez o que precisava,” ele disse. “Ela vai ficar bem. Abalada, mas bem.” “Eu bati com muita força.” “Os médicos podem lidar com uma concussão. Diabos, quantas tivemos

quando praticávamos?”

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Eu esperava que ele estivesse certo. As linhas entre certo e errado estavam ficando confusas. A única coisa boa, eu suponho, era que Meredith esteve tão ocupada me enfrentando que ela provavelmente não notou Eddie e os outros. Eles ficaram longe da luta, no véu de espírito de Adrian enquanto Dimitri e eu tomávamos as atenções.

Finalmente chegamos às garagens, que estavam de fato mais cheias que o

normal. Alguns Moroi já tinham ido embora. Alguém da realeza estava histérico porque o seu motorista tinha as chaves do seu carro, e ela não sabia onde ele estava. Ela estava gritando com quem passava, para ver se alguém podia fazer uma ligação direta em seu carro para ela.

Dimitri nos levou pra frente, sem se abalar. Ele sabia exatamente onde

estávamos indo. Tinha havido muito planejamento, eu percebi. A maioria dele provavelmente aconteceu ontem. Porque Lissa tinha mantido segredo de mim? Não seria melhor para mim saber o plano?

Passamos pelas pessoas, indo em direção ao ponto mais longe da garagem.

Lá, parado e pronto para partir, estava um Honda Civic cinza. Um homem estava perto, braços cruzados enquanto examinava o para-brisa. Ouvindo nossa aproximação, ele virou.

“Abe!” eu exclamei. Meu ilustre pai virou e deu um daqueles sorrisos charmosos que poderia

tirar os condenados do seu destino. “O que você está fazendo aqui?” exigiu Dimitri. “Você vai estar na lista de

suspeitos também! Você deveria ter ficado com os outros.” Abe deu de ombros. Ele parecia incrivelmente despreocupado com a

expressão irritada de Dimitri. Eu não iria querer aquela fúria direcionada para mim. “Vasilisa irá se certificar que algumas pessoas no palácio jurem que me viram durante essa hora suspeita.” Ele virou seus olhos negros em minha direção. “Além do mais, eu não podia partir sem dizer adeus, podia?”

Eu balancei minha cabeça em exaspero. “Isso foi tudo parte do seu plano

como meu advogado? Eu não me lembro de uma fuga explosiva ser parte do treinamento legal.”

“Bem, tenho certeza que não foi parte do treinamento legal de Damon

Tarus.” O sorriso de Abe nunca se abalou. “Eu te disse, Rose. Você nunca vai enfrentar uma execução – ou sequer um julgamento, se eu puder impedir.” Ele pausou. “O que, é claro, eu posso.”

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Eu hesitei, olhando para o carro. Dimitri estava com as chaves, parecendo

impaciente. As palavras de Adrian ecoaram na minha memória. “Se eu fugir só vou fazer parecer que sou culpada.”

“Eles já acham que você é culpada,” disse Abe. “Você ficar numa cela não

vai mudar isso. Isso apenas nos assegura mais tempo, sem sua execução sendo um fantasma para você.”

“E o que você vai fazer, exatamente?” “Provar sua inocência,” disse Adrian. “Ou, bem, que você não matou minha

tia. Sabemos a algum tempo que você não é tão inocente.” “O que, vocês vão destruir as evidências?” eu perguntei, ignorando o

comentário. “Não,” disse Eddie. “Temos que encontrar quem realmente a matou.” “Vocês não deveriam se envolver nisso, agora que estou livre. É problema

meu. Não é por isso que vocês me soltaram?” “É um problema que você não pode resolver enquanto estiver na Corte,”

disse Abe. “Você precisa ficar segura.” “Yeah, mas –” “Estamos perdendo tempo discutindo,” disse Dimitri. O olhar dele foi para

os outros na garagem. A multidão ainda estava um caos, muito ocupada com seus próprios medos para nos notar. Isso não afetou a preocupação de Dimitri. Ele tinha me entregue uma estaca de prata, e eu não questionei o motivo. Era uma arma, algo que eu não podia recusar. “Eu sei que tudo parece desorganizado, mas você vai ficar surpresa com o quão rápido os guardiões podem restaurar a ordem. E quando o fizerem, eles vão trancar todo esse lugar.”

“Eles não precisam,” eu disse devagar, minha mente girando. “Já vamos ter

problemas pra sair da Corte. Vamos ser parados – se pudermos sequer chegarmos até o portão. Vão ter carros na fila por quilômetros!”

“Ah, bem,” disse Abe, estudando seus dedos. “Eu tenho certeza de que vai

haver um ‘novo’ portão aberto logo no lado sul do muro.”

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A verdade me surpreendeu. “Oh deus. É você que está lidando com os explosivos.”

“Você faz soar tão simples,” ele disse com um franzido. “Esse negócio é

difícil de adquirir.” A paciência de Dimitri terminou. “Todos vocês: Rose precisa partir agora. Ela

está em perigo. Eu vou arrastá-la pra fora se precisar.” “Você não tem que ir comigo,” eu respondi, meio ofendida com a

presunção. Memórias de nossa recente discussão voltaram, de Dimitri dizendo que ele não podia me amar e nem que queria ser amigo. “Eu cuido de mim mesma. Mais ninguém precisa se meter em problemas. Me dê as chaves.”

Ao invés disso, Dimitri me deu um daqueles olhares que dizia que eu estava

sendo ridícula. Poderíamos ter voltado às aulas em St. Vladimir. “Rose, eu não posso me meter em mais problemas. Alguém tem que ser

responsável por te ajudar, e eu sou a melhor escolha.” Eu não tinha tanta certeza disso. Se Tatiana tinha realmente feito algum progresso em convencer as pessoas que Dimitri não era uma ameaça, essa fuga iria arruinar tudo.

“Vá,” disse Eddie, me surpreendendo com um rápido abraço. “Vamos ficar

em contato através de Lissa.” Eu percebi então que eu estava lutando uma batalha perdida com esse grupo. Era realmente hora de partir.

Eu abracei Mikhail também, murmurando em seu ouvido, “Obrigado. Muito

obrigado pela ajuda. Eu juro, que vou encontrá-la. Eu vou encontrar Sonya.” Ele me deu aquele sorriso triste e não respondeu.

Adrian foi o mais difícil de deixar pra trás. Eu percebi que era difícil para ele

também, não importava o quão relaxado ele parecia. Ele não poderia estar feliz por eu estar fugindo com Dimitri. Nosso abraço durou um pouco mais do que os outros, e ele me deu um beijo breve e suave nos lábios. Eu quase comecei a chorar com a bravura dele hoje à noite. Eu queria que ele pudesse ir comigo, mas eu sabia que ele não estaria seguro.

“Adrian, obrigado por –” Ele ergueu sua mão. “Não é adeus, pequena dhampir. Te vejo em seus

sonhos.” “Se você ficar sóbrio o bastante.”

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Ele deu uma piscadela. “Por você eu posso ficar.” Um barulho de explosão alto nos interrompeu, e vimos um flash de luz a

minha direita. As pessoas perto das garagens gritaram. “Ali, viu?” perguntou Abe, muito satisfeito consigo mesmo. “Um novo

portão. Hora perfeita.” Eu dei a ele um abraço relutante também e fiquei surpresa quando ele não

se afastou. Ele sorriu para mim... carinhosamente. “Ah, minha filha,” ele disse. “Dezoito anos, e já foi acusada de assassinato, ajudar fugitivos, e já matou mais do que a maioria dos guardiões que já viu.” Ele pausou. “Não podia estar mais orgulhoso.”

Eu virei os olhos. “Adeus, velho. E obrigado.” Eu não me incomodei em

perguntar pra ele sobre a parte do fugitivo. Abe não era idiota. Depois que eu perguntei a ele sobre uma prisão que mais tarde foi invadida, ele provavelmente descobriu quem ajudou Victor Dashkov a escapar.

E então, Dimitri e eu fomos para o carro acelerando em direção ao “novo

portão” de Abe. Eu me arrependi por não poder dizer adeus a Lissa. Nunca estivemos realmente separadas por causa do nosso laço, mas isso não substituía a comunicação cara a cara. Ainda sim, valia a pena saber que ela estaria segura e livre de qualquer conexão com minha fuga. Eu esperava.

Como sempre, Dimitri dirigiu, o que eu ainda achava injusto. Era uma coisa

quando eu era estudante, mas agora? Ele nunca ia me deixar pegar o volante? Mas agora não parecia a hora para discutir – particularmente já que eu não planejava que ficássemos juntos por muito mais tempo.

Algumas pessoas saíram para ver o muro explodido, mas ninguém oficial

tinha aparecido ainda. Dimitri correu através da abertura tão impressionantemente quanto Eddie quando ele dirigiu através do portão da prisão Tarasov, só que o Civic não aguentou as batidas e o terreno cheio de obstáculos tão bem quanto o SUV no Alasca. O problema de fazer sua própria saída é que ela não saia numa estrada. Até mesmo isso está além do alcance de Abe.

“Porque nosso carro de fuga é um Civic?” eu perguntei. “Não é muito bom

em off-roading.” Dimitri não olhou para mim mas continuou a navegar através dos terreno

arredios em direção a uma área mais dirigível. “Porque Civics são um dos carros mais comuns lá fora e não chamam atenção. E essa deve ser a única viagem fora

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da estrada que a gente vai fazer. Assim que chegarmos na estrada, vamos tomar o máximo de distância possível entre nós e a Corte – antes de abandonar o carro, é claro.”

“Abandonar –” eu balancei a cabeça, deixando pra lá. Chegamos numa

estrada de terra que parecia a superfície mais suave depois do início. “Olha, agora que estamos fora, eu quero que você saiba que falei sério: você não tem que vir comigo. Eu agradeço a ajuda na fuga. Mesmo. Mas ficar comigo não vai te ajudar em nada. Eles vão me caçar mais do que você. Se você sair fora, você pode viver em algum lugar com os humanos e não ser tratado como algum tipo de rato de laboratório. Você pode até ser capaz de voltar pra Corte. Tasha iria lutar por você.”

Dimitri não respondeu por um longo tempo. Isso me deixava louca. Eu não

era o tipo de pessoa que lida muito bem com o silêncio. Isso me fazia querer preencher o silêncio. Além do mais, quanto mais eu ficava ali, mais eu entendia que estava sozinha com Dimitri. Tipo, realmente e verdadeiramente sozinha com ele desde que ele voltou a ser dhampir. Eu me sentia uma tola, mas apesar do perigo que ainda sofríamos... bem, eu ainda estava sobrepujada com tudo. Havia algo tão poderoso em sua presença. Até quando ele me deixava com raiva, eu ainda o achava atraente. Talvez a adrenalina passando por mim estivesse prejudicando meu cérebro.

O que quer que fosse, eu estava consumida por mais do que os aspectos

físicos – embora eles certamente fossem distrativos. O rosto, o cabelo, o fato dele estar tão perto, seu cheiro... eu sentia tudo, e isso fazia meu sangue queimar. Mas o Dimitri anterior – o Dimitri que tinha acabado de derrubar um pequeno exército para escapar da prisão – me cativava tanto quanto. Eu levei um momento para perceber porque isso era tão poderoso: eu estava vendo o velho Dimitri de novo, aquele que me preocupei ter desaparecido para sempre. Ele não tinha. Ele estava de volta.

Finalmente, Dimitri respondeu, “Não vou deixar você. Nenhum dos seus

argumentos lógicos a La Rose vão funcionar. E se você tentar fugir de mim, vou te encontrar.”

Eu não duvidava que ele pudesse, o que fazia a situação ser ainda mais

confusa. “Mas por quê? Eu não quero você comigo.” Eu ainda sentia uma atração por ele, sim, mas isso não mudava o fato que ele me machucou ao terminar as coisas entre nós. Ele tinha me rejeitado, e eu precisava ajeitar meu coração, particularmente se eu quisesse seguir em frente com Adrian. Limpar meu nome e viver uma vida normal parecia algo distante agora, mas se acontecesse, eu queria ser capaz de voltar para os braços abertos de Adrian.

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“Não importa o que você quer,” ele disse. “Ou o que eu quero.” Ouch. “Lissa me pediu para te proteger.”

“Hey, eu não preciso que ningu –” “E,” ele continuou, “Eu falei sério com ela. Eu jurei que eu a serviria e a

ajudaria para o resto da minha vida, qualquer coisa que ela pedisse. Se ela quer que eu seja seu guarda costas, é isso que eu serei.” Ele me deu um olhar perigoso. “De jeito nenhum você vai se livrar de mim tão cedo.”

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CINCO

Sair de perto de Dimitri não era só por causa do nosso passado romântico tortuoso. Eu falei sério quando disse que eu não queria que ele se metesse em problemas por minha causa. Se os guardiões me encontrassem, meu destino não seria tão diferente do que eu já estava enfrentando. Mas Dimitri? Eles estiveram dando passos de bebê para aceitá-lo. Claro, isso estava destruído agora, mas a chance dele por uma vida não estava acabado. Se ele não queria viver na Corte ou com humanos, ele poderia voltar para Sibéria e voltar para sua família. Lá no meio do nada, seria difícil encontrar ele. E com a proximidade daquela comunidade, eles iriam escondê-lo se alguém tentasse caçá-lo. Ficar comigo definitivamente era a opção errada. Eu só precisava convencê-lo disso.

“Eu sei o que você está pensando,” Dimitri disse, depois de estarmos na

estrada a cerca de uma hora. Não falamos muito, nós dois perdidos em nossos pensamentos. Depois de

mais algumas estradas de chão, finalmente chegamos na interestadual e estamos fazendo um bom tempo para ir em direção... bem, eu não fazia ideia. Eu estive olhando pela janela, ponderando todos os desastres ao meu redor e como eu poderia consertá-los sozinha.

“Huh?” eu olhei pra ele. Eu pensei que havia um pequeno sorriso em seus lábios, o que parecia um

absurdo considerando que essa provavelmente era a pior situação que estivemos desde que ele voltou do seu estado Strigoi.

“E não vai funcionar,” ele acrescentou. “Você está planejando como fugir de

mim, provavelmente quando pararmos para a gasolina. Você está pensando que talvez tenha uma chance.”

O mais louco era que eu estava, eu estive pensando muito sobre isso. O

velho Dimitri era um bom parceiro de estrada, mas eu não tinha certeza se queria suas velhas habilidades adivinhando meus pensamentos de novo, também.

“Isso é uma perda de tempo,” eu disse, gesticulando em direção ao carro. “Oh? Você tem coisas melhores para fazer do que fugir de pessoas que

querem te prender e executar? Por favor não me diga de novo que é perigoso demais para mim.”

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Eu o encarei. “É mais do que só você. Fugir não deveria ser minha única preocupação. Eu deveria estar ajudando a limpar meu nome, não me escondendo em qualquer lugar remoto que você pensou em me levar. As respostas estão na Corte.”

“E você tem muitos amigos na Corte que estão trabalhando nisso. Seria

mais fácil para eles se soubessem que você está segura.” “O que eu quero saber é porque ninguém me falou nada sobre isso – ou,

quero dizer, porque Lissa não me disse. Porque ela escondeu? Você não acha que eu seria mais útil se já soubesse?”

“Nós fizemos a luta, não você,” Dimitri disse. “Tínhamos medo que se você

soubesse, você pudesse contar alguma coisa.” “Eu nunca teria dito nada!” “Não intencionalmente, não. Mas se você estivesse tensa e ansiosa... bem,

seus guardas poderiam captar esse tipo de coisa.” “Bem, agora que estamos fora, pode me dizer onde estamos indo? Eu

estava certa? É algum lugar remoto maluco?” Sem resposta. Eu cerrei meus olhos para ele. “Eu odeio ficar no escuro.” Aquele pequeno sorriso em seus lábios ficou maior. “Bem, eu tenho minha

própria teoria que quanto mais você não souber, mais sua curiosidade é capaz de certificar que você fique comigo.”

“Isso é ridículo,” eu respondi, embora realmente, não era uma teoria

absurda. Eu suspirei. “Quando diabos as coisas sairam do controle? Quando que vocês começaram a ser as mentes brilhantes por trás dos planos? Sou eu que bola esses planos descuidados e impossíveis. Eu deveria ser o general. Não um soldado.”

Ele começou a dizer algo mas então congelou por alguns segundos, seu

rosto instantaneamente tomando a forma guardião letal. Ele xingou em russo. “Qual o problema?” eu perguntei. Sua atitude era contagiante, e eu

imediatamente esqueci todos os meus planos malucos.

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Nos flash´s dos faróis vindos do transito, eu podia ver os olhos dele presos no retrovisor. “Temos alguém nos seguindo. Eu não achei que fosse acontecer tão cedo.”

“Tem certeza?” Tinha ficado escuro, e o número de carros na estrada

aumentou. Eu não sabia como alguém podia ver um carro suspeito entre tantos, mas bem... ele era Dimitri.

Ele xingou de novo e de repente, em uma manobra que me fez agarrar o

painel, ele foi para os gramados, passando por pouco por uma minivan que expressou sua irritação buzinando. Havia uma saída ali, e ele conseguiu por pouco sem subir na rampa de saída. Eu ouvi mais buzinas, e quando olhei para trás, eu vi os faróis de um carro que tinha feito um movimento maluco para nos seguir a saída.

“A Corte deve ter espalhado as notícias bem rápido,” ele disse. “Eles tem

alguém observando as estradas principais.” “Talvez devêssemos pegar as estradas secundárias.” Ele balançou a cabeça. “Muito lento. Nada disso será um problema quando

mudarmos de carro, mas eles nos encontraram cedo demais. Temos que conseguir um novo aqui. Essa é a maior cidade que vamos chegar até chegarmos à fronteira de Maryland.”

Uma placa dizia que estávamos em Harrisburg, Pensilvânia, e enquanto

Dimitri dirigia por uma estrada comercial agitada, eu podia ver o que nos seguia fazendo tudo que fazíamos também. “Qual exatamente é seu plano para conseguirmos um carro novo?” eu perguntei.

“Escute cuidadosamente,” ele disse, ignorando minha pergunta. “É muito,

muito importante que você faça exatamente o que eu disser. Nada de improvisos. Nem discussão. Tem guardiões naquele carro e agora, eles alertaram todos os guardiões por aqui – possivelmente até a polícia humana.”

“A policia não nos pegar não criaria alguns problemas?” “Os alquimistas resolveriam tudo e se certificariam que estivéssemos de

volta com os Moroi.” Os alquimistas. Eu deveria saber que eles se envolveriam. Eles são uma

sociedade secreta de humanos que ajudam a proteger os interesses de Moroi e dhampirs, nos mantendo longe do público humano. É claro, os alquimistas não faziam isso por bondade. A ideia de que éramos malvados e nada naturais, fazia

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com que eles quisessem se certificar que ficássemos longe da sociedade deles. Um ‘criminoso’ fugitivo como eu certamente seria um problema que eles iriam querer ajudar os Moroi.

A voz de Dimitri era dura e mandona quando ele falou de novo, embora

seus olhos não estivesse em mim. Eles estavam ocupados observando as laterais da estrada. “Não importa o que você acha da escolha que todos estão fazendo por você, não importa o quão infeliz você está com essa situação, você sabe – eu sei que você sabe – que eu nunca falhei quando nossas vidas estão em risco. Você confiou em mim no passado. Confie em mim agora.”

Eu queria dizer a ele que o que ele disse não era totalmente verdade. Ele

tinha falhado comigo. Quando ele foi derrubado por um Strigoi, quando mostrou que não era perfeito, ele falhou quando manchou a imagem de deus que eu tinha dele. Mas minha vida? Não, ele sempre manteve a minha segura. Mesmo quando Strigoi, eu nunca fiquei totalmente convencida de que ele poderia me matar. Na noite do ataque a Academia, quando ele foi transformado, ele me disse para obedecer sem questionar também. Isso significou deixar ele para lutar com Strigoi, mas eu fiz mesmo assim.

“Ok,” eu disse quieta. “Vou fazer o que você disser. Só lembre de não me

rebaixar. Não sou mais sua estudante. Somos iguais agora.” Ele tirou os olhos da lateral da estrada tempo o bastante para me olhar de

forma surpresa. “Você sempre foi minha igual, Roza.” O uso do apelido russo afetuoso me deixou idiota demais para responder,

mas não importava. Momentos mais tarde, ele estava todo ocupado de novo. “Lá. Você consegue enxergar o cinema?”

Eu olhei para estrada. Havia tantos restaurantes e lojas que suas placas

faziam a noite brilhar. Finalmente, eu vi o que ele se referiu. CINEMA WESTLAND.

“Sim.” “É lá que vamos nos encontrar.” Íamos nos separar? Eu queria me separar, mas não assim. Encarando o

perigo, se separar de repente parecia uma terrível ideia. Eu prometi não discutir, então continuei ouvindo.

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“Se eu não estiver lá em meia hora, você liga para esse número e vai sem mim.” Dimitri me entregou um pequeno pedaço de papel do bolso de seu casaco. Tinha um número escrito que eu não reconheci.

Se eu não estiver lá em meia hora. As palavras eram tão chocantes que eu

não consegui me impedir de protestar dessa vez. “O que você quer dizer se você não – ah!”

Dimitri fez outra virada abrupta, uma que fez ele passar um sinal vermelho e

não bater em vários carros por pouco. Mais buzinas, mas o movimento foi muito repentino para o carro que nos seguia fazer o mesmo. Eu vi nosso perseguidor freiar bruscamente, enquanto ele procurava outro lugar para virar.

Dimitri nos levou para o estacionamento de um shopping. Estava cheio de

carros, e eu olhei para o relógio para ter noção do horário humano. Quase 8 da noite. Cedo para o dia Moroi, horário de entretenimento para os humanos. Passamos por algumas entradas do shopping e finalmente selecionamos uma, parando numa vaga para deficientes. Ele estava fora do carro num segundo, comigo seguindo tão rápido quanto.

“É aqui que nos separamos,” ele disse correndo em direção as portas. “Se

mova rápido, mas não corra quando estivermos lá dentro. não chame atenção. Se misture. Passeie um pouco; então saia por qualquer saída menos esta. Ande perto de um grupo de humanos e então vá para o cinema.” Nós entramos no shopping. “Vá!”

Como se estivesse com medo demais para me mexer, ele me deu um

pequeno empurrão em direção à escada rolante enquanto ele saia para o andar principal. Havia uma parte de mim que só queria ficar parada ali, que se sentia idiota com a repentina onda de pessoas e suas atividades leves. Eu logo passei por esse estado e comecei a me dirigir para a escada rolante. Reflexos rápidos e reações instintivas era parte do meu treinamento. Eu as aprendi na escola, nas minhas viagens e com ele.

Tudo que aprendi sobre fugir de alguém voltou a minha mente. O que eu

queria fazer mais do qualquer coisa era olhar ao redor para ver se eu estava sendo seguida, mas isso chamaria atenção. Eu tinha que imaginar que, no máximo, tínhamos alguns minutos de vantagem. Eles teriam que fazer uma volta para chegar ao shopping e então dar voltas para encontrar o carro, presumindo que eles tivessem descoberto que fomos para o shopping. Eu não achava que Harrisbug tinha presença de Moroi suficiente para chamar muitos guardiões em tão pouco tempo. Os que tinham provavelmente iriam se separar, alguns procurando pelo shopping e alguns guardando as entradas. Esse lugar

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tinha portas demais para os guardiões observarem todas, minha escolha de fuga teria de ser pura sorte.

Eu andei tão rápido quanto possível, passando por casais, famílias com

carrinhos, e adolescentes rindo. Eu invejei aquele último grupo. As suas vidas pareciam tão fáceis comparadas a minha. Eu também passei pelas lojas normais de shopping, seus nomes registrados mas nem tanto: um Taylor, Abercrombie, Forever 21... à minha frente, eu podia ver o centro do shopping onde abriam vários corredores. Eu tinha uma escolha pra fazer logo.

Passando por uma loja de acessórios, eu entrei e fingi olhar uma pulseira.

Conforme eu o fazia, eu olhei para a sessão principal do shopping. Eu não vi nada óbvio. Ninguém tinha parado; ninguém me seguiu pra loja. Além havia uma caixa cheia de tiras de cabelo que obviamente mereciam minha atenção. Um item era um boné feminino rosa, com uma estrela na frente. Era horrível.

Eu o comprei, agradecida pelos guardiões não terem tomado meu dinheiro

quando me prenderam. Eles provavelmente acharam que não era o bastante para subornar ninguém. Eu também comprei um atilho pra prender o cabelo, enquanto mantinha os olhos na saída da loja. Antes de sair, eu prendi meu cabelo tão alto quanto pude e botei o boné. Tinha algo bobo em ser reduzida a um disfarce, mas meu cabelo me fazia facilmente identificável. Ele era de um profundo castanho e minha falta de qualquer corte recente o deixava no meio das minhas costas. Na verdade, entre isso e a altura de Dimitri, faríamos um par muito suspeito andando por aqui.

Eu voltei aos corredores e logo cheguei no centro do shopping. Sem esperar

ou hesitar, eu peguei a esquerda na Macy. Quando entrei, eu me senti levemente embaraçada com o boné e desejei ter tempo para encontrar um mais bonito. Minutos mais tarde, quando vi um guardião, eu fiquei feliz por ter feito uma escolha tão rápida.

Ele estava perto de uma daquelas lojas que você sempre vê no centro dos

shoppings, fingindo estar interessando em estojos para celular. Eu o reconheci por causa da sua postura e o jeito dele fingir estar interessado na textura de zebra enquanto observava simultaneamente os arredores. Além do mais, dhampirs sempre conseguem se distinguir dos humanos. Na maior parte, nossas duas raças parecem idênticas, mas eu conseguia identificar a minha.

Eu me certifiquei de não olhar direto para ele, e senti seus olhos passarem

por mim. Eu não o conhecia, o que significava que ele provavelmente também não me conhecia. Ele provavelmente viu uma foto e esperava que meu cabelo me revelasse. Mantendo um ar tão usual quanto possível, eu passei por ele, olhando para janela observando minhas costas pra ele sem mandar qualquer

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mensagem óbvia que eu estava fugindo. Enquanto isso, meu coração batia firme no peito. Guardiões poderiam me matar assim que me vissem. Isso se aplicava se eu estava no meio do shopping? Eu não queria descobrir.

Quando eu estava livre, eu acelerei um pouco. Macy teria sua própria porta

de saída, e agora era só esperar pra ver se fiz uma boa decisão ao vir nessa direção. Eu entrei na loja, fui para a escada rolante, e fui em direção a saída – passando por várias boinas e chapéus. Eu parei perto deles, não porque eu planejava trocar meu boné, mas porque me permitiu parar atrás de um grupo de garotas que também estava saindo.

Saímos da loja juntas, e meus olhos rapidamente se ajustaram a mudança

de luz. Havia muitas pessoas ao redor, mas de novo não vi nada ameaçador. Minhas garotas pararam para conversar, me dando uma oportunidade para me orientar sem parecer totalmente perdida. A minha direita, eu vi a rua lotada que Dimitri e eu tínhamos passado, e na minha frente, eu sabia que estaria o cinema. Eu exalei aliviada e passei pelo estacionamento, observando meus arredores.

Quanto mais eu me afastava do shopping, menos lotado ficava o

estacionamento. Postes de luz impediam o escuro total, mas ainda havia uma sensação inquietante com as coisas ficando cada vez mais silenciosas. Meu impulso inicial foi de pegar a direita e ir pela calçada até o cinema. Ele era iluminado e tinha pessoas. Mas segundos depois, eu decidi que era perigoso demais. Eu tinha certeza que poderia cruzar o estacionamento muito mais rapidamente e chegar ao cinema.

Isso se provou verdadeiro – mais ou menos. Eu vi o cinema quando percebi

que eu fui seguida afinal de contas. Não muito longe, a sombra de um poste não estava certa. Era grande demais. Algo estava atrás do poste. Eu duvidava que um guardião tivesse coincidentemente escolhido esse lugar na esperança de Dimitri e eu aparecermos. Era mais provável que fosse um batedor que me viu e estava esperando para dar a volta e me emboscar.

Eu continuei andando, tentando não diminuir a velocidade muito

obviamente, embora todos os músculos do meu corpo tivessem ficados tensos prontos para o ataque. Eu precisava ser aquela que atacaa primeiro. Eu tinha que estar em controle.

Meu momento veio, segundos antes de eu suspeitar que meu seguidor iria

agir. Eu pulei, me jogando nele – que acabou sendo um dhampir que eu reconheci – contra um carro. Yup. Eu o surpreendi. É claro, a surpresa foi mutua quando a alarme do carro disparou pela noite. Eu recuei, tentando ignorar o

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barulho quando soquei meu seguidor na mandíbula. Eu tinha que aproveitar que ele estava preso.

A força do meu golpe fez a cabeça dele bater contra o carro, mas ele ficou

firme, prontamente lutando para tentar se soltar. Ele era forte, e eu tropecei um pouco, mas não o bastante para perder o equilíbrio. O que eu não tinha de força, eu tinha de velocidade. Eu desviei de cada tentativa dele, o que me trouxe uma certa satisfação. O alarme idiota do carro ainda estava forte, e eventualmente ia chamar a atenção dos guardiões ou da polícia humana.

Eu passei ao redor do carro, e ele foi para o outro, parando quando

estávamos em lados opostos. Era como dois garotos brincando de pega-pega. Nós espelhávamos o movimento um do outro enquanto tentávamos antecipar a direção que o outro ia. Na luz fraca, eu vi algo surpreendentemente enfiado em seu cinto: uma arma. Meu sangue ficou frio. Guardiões eram treinados para usar armas mas raramente as carregavam. Estacas eram nossas armas de escolha. Estávamos no negócio de matar Strigoi, afinal de contas, e armas não eram eficazes. Mas contra mim? Yeah. Uma arma simplificaria seu trabalho, mas eu tinha o pressentimento que ele hesitaria antes de usar. O alarme do carro poderia disparar por alguém se aproximar de mais, mas uma arma? Isso iria chamar atenção da polícia. Ele não iria atirar se pudesse evitar – mas atiraria se ficasse sem opção. Isso precisava terminar logo.

Finalmente em me movi em direção à frente do carro. Ele tentou me

interceptar, mas então eu o surpreendi passando por cima do capô do carro (porque honestamente, nesse ponto, não era como se o alarme pudesse ficar mais alto). Em meu meio segundo de vantagem, eu me joguei pra fora do carro e em cima dele, o derrubando no chão. Eu pousei em cima do seu estômago e o segurei no chão com todo meu peso enquanto minhas mãos foram para o seu pescoço. Ele lutou, tentando me derrubar, e quase conseguiu. Finalmente, a falta de ar o ganhou. Ele parou de se mover e ficou inconsciente. Eu o soltei.

Por um breve momento, eu tive um flash da minha fuga da Corte, quando

eu usei a mesma técnica com Meredith. Eu a vi deitada no chão e senti a mesma culpa. Meredith ficou bem. Meredith não estava aqui. Nada disso importava. Tudo que importava era que esse cara estava fora de serviço, e eu tinha que sair daqui. Agora.

Sem olhar para ver se outros vinham, eu passei pelo estacionamento em

direção ao cinema. Eu parei assim que eu tomei alguma distância entre eu e o carro com alarme, usando outro carro para me cobrir. Eu não vi ninguém próximo ao cara ainda, mas perto da entrada do estacionamento, próximo do shopping, parecia haver alguma atividade. Eu não fiquei por perto para olhar mais. O que quer que fosse, não era nada bom.

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Eu cheguei ao cinema alguns minutos depois, sem ar mais por medo do que

exaustão. Ter resistência para correr era algo que eu tinha bastante, graças a Dimitri. Mas onde estava Dimitri? Pessoas estavam ao redor, alguns me dando olhares estranhos, conforme ou iam comprar ingressos ou discutiam o filme que tinham acabado de ver. Eu não vi sinal de Dimitri em parte alguma.

Eu não tinha relógio. Quanto tempo fazia desde que nos separamos?

Certamente não meia hora. Eu andei ao redor do cinema, ficando obscura na multidão, buscando qualquer indício de Dimitri ou meus perseguidores. Nada. Os minutos passaram. Inquieta, eu botei a mão no bolso e toquei o pedaço de papel com o telefone. Vá embora, ele me disse. Vá e ligue para o número. É claro, eu não tinha telefone celular, mas esse era o menor dos meus problemas agora –

“Rose!” Um carro parou na curva onde outras pessoas desciam. Dimitri estava no

lado do motorista, e eu quase caí em alívio. Bem, ok, não quase. Na verdade eu não perdi tempo em correr para ele e sentar no lado do passageiro. Sem outra palavra, ele apertou o acelerador e nos levou o mais longe possível do cinema, de volta a estrada.

Não falamos nada a princípio. Ele ainda estava agitado, e parecia que a

menor provocação faria ele surtar. Ele dirigiu tão rápido quanto pode sem chamar atenção da polícia, enquanto olhava o espelho retrovisor.

“Tem alguém atrás de nós?” eu perguntei finalmente, enquanto voltávamos

para autoestrada. “Acho que não. Vai levar um tempo para perceberem que carro estamos.” Eu não tinha prestado muita atenção quando entrei, mas estávamos num

Accord Honda – outro carro comum. Eu também notei que não havia uma chave na ignição.

“Você fez uma ligação direta nesse carro?” então refiz minha pergunta.

“Você roubou esse carro?” “Você tem uma moral interessante,” ele observou. “Fugir da prisão não tem

problema. Mas roube um carro, e você fica ultrajada.”

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“Só estou mais surpresa do que ultrajada,” eu disse, me inclinando contra o assento. Eu suspirei. “Eu estava com medo... bem, por um momento eu tive medo que você não viesse. Que eles tivessem te pegado ou algo assim.”

“Não. A maior parte do tempo eu passei fugindo e procurando um carro

apropriado.” Alguns minutos de silêncio caíram. “Você não perguntou o que aconteceu

comigo,” eu apontei, um pouco desapontada. “Não preciso. Você está aqui. Isso que conta.” “Eu me meti numa briga.” “Percebi. Sua manga está rasgada.” Eu olhei para baixo. Yup, rasgada. Eu também perdi o boné. Não foi uma

grande perda. “Você não quer saber nada da briga?” Os olhos dele encararam a estrada. “Eu já sei. Você derrubou seu inimigo.

Você foi rápida, e foi bem. Porque você simplesmente é boa demais.” Eu ponderei as palavras dele por um momento. Elas tinham um tom muito

‘de fato’, só negócios... e ainda sim, o que ele disse me trouxe um pequeno sorriso nos lábios.

“Ok. E agora, General? Você não acha que eles vão buscar denuncias de

carros roubados e conseguir nossa placa?” “Provavelmente. Mas então teremos um novo carro – um do qual eles não

farão ideia de qual é.” Eu franzi. “Como você está conseguindo isso?” “Vamos encontrar alguém em algumas horas.” “Merda. Eu realmente odeio ser a última a saber de tudo. “ ‘Algumas horas’ nos levou para Roanoke, Virgínia. A maior parte da viagem

passou sem problemas até aquele ponto. Mas quando a cidade apareceu à vista, eu notei que Dimitri observava as placas até que encontrou a que queria. Virando a interestadual, ele continuou a cuidar se não estávamos sendo seguidos, mas não viu ninguém. Chegamos em outra rua cheia, e ele passou pelo McDonald´s, que se destacava do resto dos negócios.

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“Eu não suponho,” eu disse, “que isso seja uma parada pra comer?” “Isso,” ele respondeu, “é onde conseguimos nosso próximo carro.” Ele dirigiu ao redor do estacionamento do restaurante, seus olhos buscando

algo, embora eu inicialmente não sabia o que. Eu vi uma fração de segundo antes dele. No canto mais distante do estacionamento. Eu vi uma mulher parada contra uma SUV, suas costas para nós. Eu não conseguia ver muito dela a não ser que usava uma camisa preta e tinha cabelo loiro que quase tocava seus ombros.

Dimitri parou perto do seu veículo, e eu desci assim que ele apertou o freio.

Eu a reconheci antes dela virar. “Sydney?” O nome saiu como uma pergunta, mas eu tinha certeza que era

ela. A cabeça dela virou, e eu vi o rosto familiar – um rosto humano – com olhos

castanhos que podiam ficar âmbar no sol e uma fraca tatuagem dourada em sua bochecha.

“Hey, Rose,” ela disse, um sorriso aparecendo em seus lábios. Ela ergueu

uma sacola do Mc’Donalds. “Achei que você estaria com fome.”

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SEIS Realmente, quando você pensava no assunto, Sydney aparecer não era

muito mais esquisito do que metade das coisas que aconteciam comigo regularmente. Ela era uma Alquimista, uma que eu conheci na Rússia enquanto tentava encontrar e matar Dimitri. Ela tinha a minha idade e odiou ser designada para lá, mas eu certamente apreciaria sua ajuda. Conforme Dimitri havia observado antes, os Alquimistas iriam querer ajudar os Moroi a me encontrar e capturar. Ainda assim, a julgar pela tensão dela e de Dimitri no carro, ficou óbvio que ela estava auxiliando nessa fuga.

Com grande esforço, eu tirei meus questionamentos da cabeça por aquele

meio tempo. Ainda éramos fugitivos, sem sombra de dúvidas ainda estávamos sendo perseguidos. O carro de Sydney era um Honda CR-V novo em folha com placas de Louisiana e um adesivo de aluguel.

“Que diabos?” eu perguntei. “Nossa fuga ousada está sendo patrocinada

pela Honda?” Quando não obtive resposta, eu pulei para a próxima pergunta óbvia. “Estamos indo para New Orleans?” Esse era o novo posto de Sydney. Turismo era a última coisa na minha cabeça naquele momento, mas se você ia fugir, podia aproveitar e fugir para um lugar bom.

“Não,” recuando do ponto. “Estamos indo para West Virginia.” Lancei um olhar afiado para Dimitri, que estava sentado no banco de trás,

na esperança de que ele negaria isso. Ele não fez. “Eu espero que, por ‘West Virginia’, você queira dizer ‘Hawaii’,” eu disse.

“Ou outro lugar igualmente excitante.” “Honestamente, acho que você faria melhor se evitasse excitação por

enquanto,” Sydney observou. O GPS do carro a indicou seu próximo retorno, nos levando de volta à I-81. Ela fez uma pequena careta. “E West Virginia é bem bonita, na verdade.”

Eu lembrei que ela era de Utah e provavelmente não conhecia nada melhor.

Tendo desistido de ter algum controle nessa trama de fuga há muito tempo, eu passei para o próximo conjunto de perguntas óbvias.

“Por que está nos ajudando?” Eu tinha a sensação de que Sydney estava com uma carranca no escuro.

“Por que você acha?”

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“Abe.” Ela suspirou. “Eu estou me perguntando se New Orleans valia tudo isso.” Eu havia descoberto recentemente que Abe – com sua inexplicável

influência de longo alcance – havia sido o responsável por tirar Sydney da Rússia. Como ele fez, eu não sabia. O que eu sabia é que isso deixou Sydney com uma dívida em aberto com ele, uma que ele continuava usando para conseguir favores. Às vezes, eu me perguntava se ele havia feito algo mais que uma transferência de emprego, algo que nenhum dos dois havia me contado. Independentemente disso, eu comecei a criticá-la novamente, já que ela devia ter esperado por isso quando fez um pacto com o diabo, mas parei. Com um bando de guardiões me caçando, não era uma ideia muito boa irritar a pessoa que estava me ajudando. Eu fiz uma pergunta diferente.

“Ok. Então, por que estamos indo para West Virginia.” Sydney abriu sua boca para responder, mas Dimitri a interrompeu. “Ainda

não.” Eu me virei para ele e o encarei. “Estou cheia disso! Já estamos fugindo há

seis horas e eu ainda não tenho todos os detalhes. Eu entendo que estamos escapando dos guardiões, mas estamos mesmo indo para West Virginia? Nosso centro de operações vai ser alguma cabana? Como uma no lado da montanha que não tem encanamento?”

Sydney deu um de seus suspiros exasperados que eram sua marca

registrada. “Você sabe qualquer coisa sobre West Virginia?” Eu não gostava dela e Dimitri se juntando para me manter no escuro. Claro

que, com Sydney, suas reticências podiam ser por um número de razões. Ainda podiam ser ordens do Abe. Ou ela simplesmente não queria falar comigo. Como a maioria dos Alquimistas considerava dhampirs e vampiros como os filhos do inferno, eles não costumavam ficar amigos nossos. Passar o tempo comigo na Sibéria mudou um pouco a sua visão das coisas. Assim eu esperava. Às vezes, eu achava que ela simplesmente não era o tipo de pessoa sociável.

“Você sabe que nós fomos acusados injustamente, né?” eu perguntei para

ela. “Não fizemos nada. Eles me acusam de ter matado a rainha, mas –” “Eu sei.” Sydney interrompeu. “Eu ouvi falar nisso. Todos os Alquimistas

sabem. Vocês dois estão no topo da nossa lista de mais procurados.” Ela tentou manter um tom de negócios, mas não conseguia esconder seu desconforto. Eu tinha a sensação de que Dimitri estava deixando ela mais nervosa do que eu

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estava, o que era compreensível, já que ele também causava esse efeito em alguns dos nossos.

“Não fui eu,” eu insisti. Por alguma razão, era importante para mim que ela

soubesse disso. Sydney não deu atenção ao meu comentário. Ao invés disso, ela disse, “você

devia comer. Sua comida está esfriando. Temos mais de três horas até chegar lá e não vamos parar para nada além de gasolina.”

Eu reconheci o finalismo em sua voz, assim como sua lógica. Ela não queria

mais falar. Dentro da sacola, eu achei dois pedidos gigantes de fritas e três cheeseburgers. Ela ainda parecia me conhecer muito bem. Precisei de toda a minha resistência para não enfiar as fritas goela abaixo naquele instante. Ao invés disso, eu ofereci um cheeseburger para Dimitri.

“Quer um? Precisa manter suas forças.” Ele hesitou vários segundos antes de pegar. Ele parecia tomar aquilo com

uma certa admiração, e eu percebi que consumir comida ainda era uma coisa nova para ele após esses meses. Strigoi subsistiam somente com sangue. Eu lhe entreguei umas fritas também e então me virei para devorar o resto. Não me preocupei em oferecer nada para Sydney. Ela era notória por sua falta de apetite e, além do mais, eu supus que ela já teria comido alguma coisa se quisesse enquanto ficou nos esperando.

“Eu acho que isso é para você,” Dimitri disse, me entregando uma pequena

mochila. Eu abri e achei algumas mudas de roupa, assim como artigos para higiene básica. Eu examinei bem as roupas.

“Shorts, camisetas e um vestido. Não posso lutar com isso. Preciso de

jeans.” Eu tinha que admitir que o vestido era bonito: um vestido de verão longo e transparente com tons aquarelas de preto, branco e cinza. Mas não era nada prático.

“E aí está a sua gratidão,” disse Sydney. “Isso aconteceu meio rápido. Só

teve um tanto que eu consegui juntar.” Espiando atrás de mim, eu vi Dimitri abrindo sua própria mochila. Tinha

vestimentas básicas como a minha e também... “Um espanador?” eu exclamei enquanto assistia a Dimitri tirar o casaco

longo de couro. Como aquilo sequer cabia ali dentro desafiava a física. “Você conseguiu um espanador pra ele, mas não podia me arranjar um par de jeans?”

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Sydney parecia ultrajada com o meu ultraje. “Abe disse que era essencial.

Além do quê, se tudo for como deve ir, você não terá que lutar.” Eu não gostei de como aquilo soava. Seguro e remoto.

Visto que eu tinha aqueles que pareciam ser potencialmente os

companheiros de carro mais quietos do mundo, eu sabia melhor do que esperar qualquer conversação pelas próximas três horas. Imaginei que isso também estava bom, porque me deixava checar Lissa. Eu ainda estava muito agitada por causa da minha própria fuga para passar muito tempo em sua mente, então foi só uma checada rápida na vida na Corte.

Conforme Dimitri previra, os guardiões restauraram a ordem bem rápido. A

Corte estava fechada, e qualquer um que tivesse qualquer conexão comigo estava sendo extensivamente questionado. O negócio era que todos tinham álibis. Todos tinham visto meus aliados no funeral – ou, no caso de Abe, pensavam que tinham visto. Um par de garotas jurou que estiveram com Adrian, o que eu só podia imaginar que fosse o resultado de mais compulsão. Eu podia sentir a satisfação de Lissa através do elo à medida que a frustração dos guardiões crescia mais e mais.

Embora ela não tivesse uma forma de saber quando eu estaria na mente

dela, ela me mandou uma mensagem através de nossa ligação. Não se preocupe, Rose. Eu vou tomar conta de tudo. Vamos limpar o seu nome.

Eu afundei de volta, sem saber como me sentir nessa situação. Durante toda

a minha vida, eu tomei conta dela. Eu protegi ela do perigo e saí do meu caminho para mantê-la longe de ameaças. Agora, os papeis estavam trocados. Ela intercedeu por mim para salvar Dimitri, e eu – e, aparentemente, todo mundo – estava nas mãos dela nessa fuga. Isso ia contra todos os meus instintos e me incomodava. Eu não estava acostumada a ser protegida pelos outros, muito menos por ela.

Os interrogatórios continuavam, e Lissa ainda não passara pelo dela, mas

algo me dizia que meus amigos iam sair livres dessa. Eles não seriam punidos pela minha fuga e, no momento, eu era a única em perigo – o que eu preferia.

West Virginia podia ser bonita como Sydney afirmava, mas eu não podia

saber já que chegamos no meio da noite. Na maior parte do tempo, eu tinha a sensação de estarmos andando de carro através das montanhas, sentindo as subidas e descidas enquanto íamos por retornos e túneis. Após quase exatamente três horas, entramos num pequeno buraco de uma cidade que tinha um semáforo e um restaurante marcado simplesmente como ALMOÇO.

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Não havia tráfego na estrada por mais de uma hora, entretanto, o que era a coisa mais importante. Não havíamos sido seguidos.

Sydney nos levou até um prédio com uma placa dizendo MOTEL.

Aparentemente, essa cidade gostava de se manter básica no que se referia a nomes. Eu não ficaria surpresa se ela se chamasse simplesmente CIDADEZINHA. Enquanto caminhamos pelo estacionamento do motel, me surpreendi em sentir como minhas pernas estavam doloridas. Cada parte de mim ardia, e dormir parecia fantástico. Já havia se passado mais da metade de um dia desde que essa aventura começou.

Sydney nos registrou sob nomes falsos e o secretário sonolento não fez

perguntas. Passamos por um corredor que não era exatamente sujo, mas também não era nada que um membro da realeza passaria perto. Um carrinho de limpeza estava encostado contra uma parede, como se alguém tivesse desistido e o abandonado ali. Sydney parou de repente diante de uma porta e nos deu a chave. Eu percebi que ela estava indo para um quarto diferente.

“Não vamos ficar todos juntos?” “Ei, se vocês forem pegos, eu não quero estar em nenhum lugar perto de

vocês,” ela disse sorrindo. Eu também suspeitava que ela não quisesse dormir no mesmo quarto que ‘criaturas malignas da noite’. “Eu estarei perto mesmo assim. Nós conversaremos de manhã.”

Isso me fez perceber outra coisa. Eu olhei para Dimitri. “Vamos dividir um

quarto?” Sydney deu de ombros. “É melhor para vocês se defenderem.” Ela nos deixou daquela maneira abrupta dela, e eu e Dimitri olhamos

brevemente um para o outro antes de entrarmos no quarto. Como o resto do motel, não era chique, mas ia servir. O tapete estava gasto porem intacto, e eu apreciava a fraca tentativa de decorar com uma péssima pintura de peras. Uma pequena janela parecia triste. Havia uma cama.

Dimitri passou o ferrolho e a corrente na porta e então se sentou na única

cadeira do quarto. Era de madeira com um encosto reto, mas ele parecia considerá-la a coisa mais confortável do mundo. Ele ainda tinha seu olhar perpetuamente vigilante, mas eu podia ver a exaustão. Também foi uma longa noite para ele.

Eu sentei na beira da cama. “E agora?”

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“Agora, nós esperamos,” ele respondeu. “Pelo quê?” “Por Lissa e os outros limparem seu nome e nós descobrirmos quem matou

a rainha.” Eu esperava mais explicações, mas tudo que recebi foi silêncio. Descrença

começou a nascer dentro de mim. Eu fiquei tão paciente quanto pude esta noite, sempre assumindo que Dimitri estivesse me levando para a missão misteriosa para ajudar a solucionar o assassinato. Quando ele dizia que íamos esperar, certamente ele não queria dizer que iríamos simplesmente... bem, esperar?

“O que nós vamos fazer?” eu exigi. “Como vamos ajudá-los?” “Eu já disse isso antes: você dificilmente poderia sair para procurar por

pistas na Corte. Você precisa ficar longe. Ficar a salvo.” Meu queixo caiu enquanto eu indicava o quarto enfadonho com um gesto.

“O quê, e é isso? É aqui que vamos nos esconder? Eu achei... achei que íamos fazer outra coisa. Algo para ajudar.”

“Estamos ajudando,” ele disse, naquele jeito cretinamente calmo dele.

“Sydney e Abe pesquisaram esse lugar e decidiram que era fora do caminho o bastante para evitar chamar atenção.”

Eu pulei da cama. “Okay, camarada. Tem um problema sério com a sua

lógica. Vocês caras agem como se ficar fora do caminho fosse ajudar.” “O que tem um problema sério somos nós repetirmos essa conversa de

novo e de novo. A resposta de quem matou Tatiana estão na Corte, e é lá que seus amigos estão. Eles vão descobrir isso.”

“Eu não entrei em uma perseguição em alta velocidade e passei por

fronteiras estaduais para me enfiar num motel de merda! Por quanto tempo você pretende ficar ‘fora do caminho’ aqui?”

Dimitri cruzou os braços na frente do peito. “O quanto nós precisarmos.

Temos fundos para ficar aqui indefinidamente.” “Eu devo ter troco no meu bolso para ficar aqui indefinidamente! Mas não

vai acontecer. Nós não vamos fazer do jeito mais fácil e ficar sentados esperando.”

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“Sobreviver não é tão fácil quanto você pensa.” “Ah, Deus,” eu rugi. “Você andou com o Abe, não é? Sabe, quando você era

um Strigoi, me falou para ficar longe dele. Talvez, você devesse seguir seus próprios conselhos.”

Eu me arrependi daquelas palavras assim que elas saíram da minha boca e

vi nos olhos dele que eu havia causado um sério dano. Ele pode ter agido como o velho Dimitri durante a fuga, mas seu tempo como Strigoi ainda o atormentava.

“Sinto muito,” eu disse. “Eu não quis –” “Não iremos mais discutir isso,” ele disse rudemente. “Lissa diz que

ficaremos aqui, então nós ficaremos aqui.” A raiva varreu minha culpa para longe. “É por isso que você está fazendo

isso? Porque Lissa mandou?” “Claro. Eu jurei que iria servir e ajudar ela.” Foi aí que eu estourei. Foi ruim o bastante que, quando Lissa o transformou

de volta em um dhampir, Dimitri pensou que estava tudo bem em ficar junto com ela e me desprezar ao mesmo tempo. Apesar do fato de que fui eu quem foi até a Sibéria e eu que descobri que Robert, o irmão de Victor, sabia como curar Strigoi... bem, aparentemente, essas coisas não importavam. Só que Lissa ter fincado a estaca parecia importar, e Dimitri agora a considerava como uma espécie de deusa angelical, uma a quem ele fez um voto arcaico de servir como um cavaleiro.

“Esqueça,” eu disse. “Eu não vou ficar aqui.” Eu cheguei à porta em três passos e consegui tirar a corrente mas, dentro

de segundos, Dimitri havia saído de sua cadeira e me jogou contra a parede. Na verdade, aquela era uma reação bem lenta. Eu esperaria que ele me impedisse antes que eu desse dois passos.

“Você vai ficar aqui,” ele disse calmamente, as mão apertando meus pulsos.

“Quer você queira, quer não.” Agora, eu tinha poucas opções. Eu podia ficar, é claro. Eu podia passar dias

– meses, até – nesse motel até que Lissa limpasse meu nome. Isso, é claro, presumindo que Lissa pudesse limpar meu nome e que eu não morresse de

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envenenamento alimentar do almoço do ALMOÇO. Essa era a opção mais segura. Também era a mais chata para mim.

Outra opção era lutar contra Dimitri para escapar. Isso não seria seguro nem

fácil. Seria particularmente difícil porque eu ia precisar lutar de um jeito que me permitisse fugir sem matá-lo ou causar a qualquer um de nós ferimentos sérios.

Ou, eu poderia simplesmente jogar a precaução para o alto e não me

segurar. Diabos, o cara enfrentou Strigoi e metade dos guardiões da Corte. Ele podia suportar eu dando tudo de mim. Nós certamente tivemos uns encontros bem duros em St. Vladimir. Será que o meu melhor seria o bastante para escapar? Hora de descobrir.

Eu dei uma joelhada no estômago dele, o que ele claramente não esperava.

Seus olhos se arregalaram em choque – e um pouco de dor – me dando a oportunidade de me libertar do seu aperto. Essa abertura foi o bastante apenas para que eu pudesse tirar o ferrolho da porta. Antes que eu pegasse a maçaneta, Dimitri me segurava de novo. Ele me agarrou com força e me atirou na cama de barriga, me prendendo sob seu peso e prevenindo meus membros de dar mais chutes surpresa. Esse era o meu maior problema em lutas: oponentes – geralmente homens – com mais força e peso. Minha velocidade costumava ser meu maior trunfo nessas situações, mas estar presa não fazia das esquivas e evasão uma opção. Ainda assim, cada parte de mim brigava, fazendo difícil me manter embaixo.

“Pare,” ele disse no meu ouvido, seus lábios quase tocando ali. “Seja

razoável ao menos uma vez. Você não pode passar por mim.” Seu corpo era quente e forte contra o meu, e eu prometi ao meu quarto

uma bela bronca mais tarde. Desista, eu pensei. Foque em sair daqui, e não em como ele a faz sentir.

“Não sou eu quem está sendo irrazoável,” eu grunhi, tentando virar meu

rosto na direção do dele. “É você quem está preso em uma promessa nobre que não faz sentido. E eu sei que você não gosta de ficar sentado fora da ação mais do que eu. Me ajude. Me ajude a achar o assassino e fazer alguma coisa de útil.” Eu parei de brigar e fingi que nossa discussão havia me distraído.

“Eu não gosto de ficar sentado, mas também não gosto de me meter em

uma situação impossível!” “Situações impossíveis são a nossa especialidade,” eu apontei. Enquanto

isso, tentei analisar a forma como ele me segurava. Ele não havia relaxado seu aperto, mas eu tinha a esperança de que a conversa o estivesse distraindo.

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Normalmente, Dimitri era bom demais para perder o foco. Mas eu sabia que ele estava cansado. E talvez, só talvez, ele estivesse um pouco descuidado já que era eu e não um Strigoi.

Não. Eu açoitei abruptamente, tentando me soltar e escapar de debaixo dele. O

máximo que consegui foi rolar na cama antes que ele me agarrasse de novo. Estar tão perto dele... seu rosto, seus lábios... o calor de sua pele na minha. Bem, parecia que tudo o que eu havia conseguido foi me colocar em uma desvantagem maior ainda. Ele certamente não parecia afetado pela proximidade de nossos corpos. Ele tinha aquela típica resolução de aço dele, e mesmo que fosse estupidez minha, mesmo que eu soubesse que não devia me importar, que ele tinha me superado... bem, eu me importava.

“Um dia,” ele disse. “Você não consegue esperar nem um dia?” “Talvez se fôssemos para um hotel melhor. Com TV a cabo.” “Isso não é hora para brincadeirinhas, Rose.” “Então, me deixe fazer alguma coisa. Qualquer coisa.” “Eu. Não. Posso.” Dizer aquelas palavras obviamente lhe doía, e eu percebi uma coisa. Eu

estava tão irritada com ele, tão furiosa por ele tentar me fazer ficar parada e agir de forma segura. Mas ele também não gostava disso. Como eu pude me esquecer de como éramos parecidos? Nós dois queríamos ação. Nós dois queríamos ser úteis, ajudar aqueles com quem nós nos importávamos. Só sua resolução em ajudar Lissa o mantinha ali com esse trabalho de babá. Ele afirmava que eu correr de volta para a Corte era descuidado, mas eu sentia que, se ele não estivesse mandando em mim – ou, ao menos ele pensava que estava – ele também iria voltar correndo.

Eu o estudei, os olhos escuros determinados e a expressão amaciada pelo

cabelo castanho que escapava do laço de seu rabo de cavalo. Estava dependurado ao lado de seu rosto agora, por pouco não tocando o meu. Eu podia tentar me soltar também, mas estava perdendo as esperanças de que isso funcionasse. Ele era muito durão e muito decidido em me manter segura. Eu imaginei que declarar minhas suspeitas de que ele também queria voltar à Corte não ajudaria. Verdadeiro ou não, ele estaria esperando que eu argumentasse com lógica-de-Rose. Ele era o Dimitri, afinal de contas. Ele estaria esperando qualquer coisa.

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Bem, quase. Uma ideia me atingiu tão rápido que eu não tive tempo de analisar. Eu só

agi. Meu corpo podia estar restringido, mas meu pescoço e cabeça tinham liberdade o bastante para se erguer – e beijar ele.

Meus lábios encontraram os dele, e eu aprendi algumas coisas. Uma era

que era possível pegá-lo totalmente de surpresa. Seu corpo congelou e se fechou, chocado com a mudança súbita dos eventos. Eu também percebi que ele beijava tão bem quanto eu me lembrava. Da última vez que nos beijamos, ele era um Strigoi. Tinha havido uma sensualidade sinistra naquilo, mas não se comparava no calor e energia de estar vivo. Seus lábios eram exatamente como eu me lembrava da nossa época em St. Vladimir, macios e famintos ao mesmo tempo. Eletricidade cruzou o resto de meu corpo quando ele beijou de volta. Era ao mesmo tempo confortante e emocionante.

E essa foi a terceira coisa que eu descobri. Ele estava retribuindo o beijo.

Talvez, só talvez, Dimitri não estava tão decidido como ele afirmava. Talvez, sob toda aquela culpa e certeza de que não podia amar de novo, ele ainda me quisesse. Eu teria gostado de descobrir. Mas eu não tinha tempo.

Ao invés disso, eu soquei ele. É verdade: eu soquei vários caras que estavam me beijando, mas nunca um

que eu quisesse continuar beijando. Dimitri ainda me segurava com firmeza, mas o choque do beijo havia abaixado sua guarda. Meu punho se soltou e atingiu o lado de seu rosto. Sem perder um instante, eu o empurrei de cima de mim tão rápido quanto pude e saltei para fora da cama e fui em direção à porta. Eu o ouvi ficar de pé enquanto eu a abria. Saltei para fora do quarto e bati a porta atrás de mim antes que pudesse ver o que ele faria a seguir. Não que eu precisasse. Ele estava vindo atrás de mim.

Sem hesitar um segundo, eu coloquei o carrinho de limpeza abandonado

diante da porta e corri pelo corredor. Alguns segundos depois, a porta se abriu, e eu ouvi um grito irritado – uma palavra muito, muito feia em russo – enquanto ele dava um encontrão com o carrinho. Só levaria alguns momentos para ele se livrar do mesmo, mas era tudo o que eu precisava. Eu havia descido as escadas em um piscar de olhos e então no lobby vagabundo onde o atendente entediado lia um livro. Ele quase pulou da cadeira quando eu vim correndo.

“Aquele cara está me perseguindo!” eu disse enquanto ia para a porta.

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O atendente não se parecia com alguém que realmente tentaria parar Dimitri, e eu sentia que Dimitri não pararia de qualquer maneira se o cara pedisse. No caso mais extremo, o homem chamaria a polícia. Nessa cidadezinha, POLÍCIA provavelmente consistia de um cara e um cachorro.

Independente disso, não era mais da minha conta. Eu havia escapado do

motel e estava agora no meio de uma cidade sonolenta da montanha, as ruas escurecidas pelas sombras. Dimitri podia estar logo atrás de mim, mas enquanto eu entrava no bosque próximo, eu sabia que seria fácil para mim escapar dele na escuridão.

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SETE O PROBLEMA, É CLARO, foi que logo me perdi na escuridão.

Depois de viver nas montanhas de Montana, eu estava acostumada com a

forma que a escuridão podia nos engolir assim que você se afastava um pouco da civilização. Eu até estava acostumada em perambular nas florestas. Mas o terreno de St. Vladimir era familiar. As florestas de West Virginia eram novas e estranhas, e me perdi completamente.

Assim que eu tive certeza que tinha me distanciado o bastante do motel, eu

parei para olhar ao redor. Os insetos da noite zumbiam, e a opressiva umidade de calor estava ao meu redor. Olhando ao redor das árvores eu pude ver um céu brilhante de estrelas, totalmente intocado de qualquer sinal de civilização. Sentindo-me como uma sobrevivente da natureza de verdade, eu estudei as estrelas até ver a Ursa Maior e descobri que lado era o norte. As montanhas as quais Sydney tinha nos trazido ficavam no leste, então eu certamente não queria ir nessa direção. Parecia razoável caminhar em direção ao norte, eventualmente encontrando a interestadual e pegar uma carona lá, no meu caminho de volta a civilização. Não era um plano maravilhoso, mas não era o pior que já tive, nem de longe.

Eu não estava vestida para caminhar, mas conforme meus olhos se

ajustavam a escuridão, eu consegui evitar a maioria das árvores e outros obstáculos.

Seguir um caminho para sair da minúscula cidade teria sido mais fácil – mas

também era o que Dimitri esperava que eu fizesse. Caí em um ritmo subconsciente enquanto me dirigia ao norte. Eu decidi que

era uma boa hora para checar Lissa, agora que eu tinha tempo e nenhum guardião tentando me prender. Eu entrei na mente dela e a encontrei no QG dos guardiões, sentada num corredor cheio de cadeiras. Outro Moroi estava sentado ali perto, incluindo Christian e Tasha.

“Eles vão te pressionar muito,” Tasha murmurou. “Especialmente você.”

Isso foi dirigido para Christian. “Você seria minha primeira escolha se algo ilícito surgisse.” Essa parecia ser a opinião de todos. Pelo jeito perturbado de seu rosto, eu podia ver que Tasha ficou tão surpresa quanto eu por minha fuga. Se meus amigos não tinham contado a ela tudo ainda, ela provavelmente tinha juntado as peças – no mínimo, quem estava por trás de tudo.

Christian deu a ela um charmoso sorriso, como um garoto tentando escapar

de um castigo. “Eles já devem saber que a explosão não foi causada por

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mágica,” ele disse. “Os guardiões vasculharam todos os centímetros das estátuas.” Ele não elaborou, não em público, mas a mente de Lissa estava trabalhando nas mesmas linhas dele. Os guardiões sabiam que os explosivos não eram mágicos. E mesmo que meus amigos fossem os principais suspeitos, as autoridades teriam que se perguntar – assim como eu – como adolescentes conseguiriam explosivos.

Lissa acenou concordando e colocou sua mão na mão de Christian.

“Estaremos bem.” Seus pensamentos se voltaram para Dimitri e eu, se perguntando se

conseguimos seguir o plano. Ela não podia se focar em encontrar o assassino de Tatiana até ela saber que estávamos seguros. Como eu, a fuga tinha sido uma difícil escolha: libertar me colocava em mais perigo do que continuar presa. Suas emoções estavam à flor da pele, e um pouco mais selvagens do que eu gostaria. Tanto espírito, eu percebi. Ela está usando demais. Na escura ela conseguia lidar com isso usando remédios e mais tarde, se controlando. Mas em algum ponto, conforme nossa situação foi ficando mais complicada, ela se permitiu usar mais e mais. Recentemente, ela usou uma incrível quantidade e desvalorizamos isso. Mais cedo ou mais tarde, a dependência de Lissa em espírito iria ter consequências para ela. Para nós.

“Princesa?” Uma porta abriu, e os guardiões saíram. “Estamos prontos para

você.” O guardião foi para o lado, e dentro da sala, Lissa ouviu uma voz familiar

dizer, “Sempre um prazer falar com você, Hans. Deveríamos fazer isso de novo algum dia.” Abe então apareceu, cheio da sua arrogância usual. Ele passou pelo guardião na porta e deu a Lissa e os Ozera um sorriso vencedor. Sem uma palavra, ele passou por eles e foi em direção à saída do corredor.

Lissa quase sorriu mas se conteve, usando um olhar sóbrio enquanto ela e

seus companheiros entravam. As portas se fecharam, e ela se encontrou encarando três guardiões sentados na mesa. Um deles ela nunca tinha visto. Eu acho que seu sobrenome era Steele. Os outros dois eu conhecia bem. Um era Hans Croft, que comandava as operações na Corte. Ao lado dele – para minha surpresa – estava Alberta, que era encarregada dos guardiões e novatos em St. Vladimir.

“Ótimo,” rosnou Hans. “Uma comitiva inteira.” Christian tinha insistido em

estar presente quando Lissa fosse questionada, e Tasha insistiu em estar com Christian. Se Abe soubesse da hora dos interrogatórios, ele provavelmente teria se juntado ao grupo também, sem duvidas seguido por minha mãe... Hans não percebeu que ele escapou de uma festa inteira.

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Lissa, Christian, e Tasha estavam sentados em frente aos guardiões.

“Guardiã Petrov,” disse Lissa, ignorando a desaprovação de Hans. “O que você está fazendo aqui?”

Alberta deu a Lissa um pequeno sorriso mas manteve o modo profissional

de guardiã. “Eu vim para o funeral, e os guardiões decidiram que queriam uma opinião de fora para essa investigação.”

“E também alguém conhecido de Hathaway e seus, uh, associados,”

acrescentou Hans. Hans era o tipo de cara que ia direto ao ponto. Normalmente, sua atitude me incomodava – essa era minha reação normal com a maioria das figuras autoritárias – mas eu respeitava a forma como ele comandava as coisas aqui. “Essa reunião era apenas para você, princesa.”

“Não vamos dizer nada,” disse Christian. Lissa acenou e manteve o rosto educado, embora houvesse um tremor em

sua voz. “Eu quero ajudar... eu estive tão, eu não sei. Estou tão atordoada com tudo que aconteceu.”

“Tenho certeza,” disse Hans com a voz seca. “Onde você estava quando as

estatuas explodiram?” “Com a procissão funerária,” ela disse. “Eu era parte da escolta.” Steele tinha uma pilha de papéis na frente dele. “Isso é verdade. Tem

muitas testemunhas.” “Muito conveniente. E depois?” perguntou Hans. “Onde você foi quando a

multidão entrou em pânico.” “De volta para o prédio do Conselho. Era lá que todos estavam se reunindo,

e eu achei que seria seguro.” Eu não conseguia ver seu rosto mas podia sentir que ela estava tentando parecer intimidada. “Eu estava com medo que as coisas fossem ficar malucas.”

“Também temos testemunhas para confirmar isso,” disse Steele. Hans passou seus dedos na mesa. “Você tinha algum conhecimento anterior

a tudo isso? As explosões? A fuga de Hathaway?” Lissa balançou a cabeça. “Não! Não fazia ideia. Eu nem achava que era

possível sair das celas. Eu pensei que havia segurança demais.”

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Hans ignorou o comentário. “Vocês tem aquele laço, não é? Você não

captou nada através dele?” “Eu não a escuto,” explicou Lissa. “Ela vê meus pensamentos mas não

funciona ao contrário.” “Isso,” disse Alberta, falando finalmente, “é verdade.” Hans não a contradisse mas ainda não estava caindo na inocência dos meus

amigos. “Você entende, que se for pega escondendo informações – ou acobertando ela – você vai enfrentar consequências quase tão sérias quanto as dela. Todos vocês. Realeza não afasta você de traição.”

Lissa baixou seu olhar, como se a ameaça dele a tivesse assustado. “Só não

consigo acreditar... não consigo acreditar que ela pudesse fazer isso. Ela é minha amiga. Eu achei que a conhecia. Eu não pensei que ela fosse capaz de fazer todas aquelas coisas... nunca pensei que ela fosse matar alguém.” Se não fosse os sentimentos pelo laço, eu poderia ter me ofendido. Mas eu sabia a verdade. Ela estava fingindo, tentando se distanciar de mim. Era inteligente.

“Mesmo? Porque não muito tempo atrás, você estava dizendo que ela era

inocente,” apontou Hans. Lissa olhou para cima com olhos esbugalhados. “Eu achei que ela fosse! Mas

então... então ouvi sobre o que ela fez com aqueles guardiões na fuga...” Seu estresse não era totalmente falso dessa vez. Ela ainda precisava fingir que ela achava que eu fosse culpada, mas as notícias sobre a condição de Meredith passaram por ela – o que realmente a chocou. Isso chocava nós duas, mas pelo menos eu sabia que Meredith estava bem.

Hans olhou cético para a mudança de Lissa. “E quanto a Belikov? Você jurou

que ele não era mais um Strigoi, mas obviamente algo saiu errado aí também.” Christian se remexeu ao lado de Lissa. Como um advogado para Dimitri,

Christian ficava tão irritado quanto nós com as suspeitas e acusações. Lissa falou antes de Christian poder dizer algo.

“Ele não é um Strigoi!” o remorso de Lissa sumiu, e sua antiga fúria em

defender Dimitri tomou controle. Ela não esperava essas perguntas sobre ele. Ela esteve se preparando para me defender e a seus álibis. Hans parecia contente com a reação e observava de perto.

“Então como você explica o envolvimento dele?”

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“Não foi porque ele é um Strigoi,” disse Lissa, forçando a se controlar. Seu

coração batia com força. “Ele voltou ao normal. Não tem nada de Strigoi nele.” “Mas ele atacou vários guardiões – em mais de uma ocasião.” Parecia que Tasha queria interromper agora e defender Dimitri também,

mas ela visivelmente mordeu seu lábio. Era incrível. Os Ozeras gostavam de falar o que pensam, nem sempre sendo inteligentes.

“Não foi porque ele é um Strigoi,” Lissa repetiu. “E ele não matou nenhum

daqueles guardiões. Nenhum. Rose fez o que ela fez... bem, não sei por que. Ela odiava Tatiana, eu suponho. Todos sabem disso. Mas Dimitri... estou te dizendo, ser um Strigoi não tem nada a ver com isso. Ele a ajudou porque ele era seu professor. Ele achou que ela estava com problemas.”

“Isso é bem extremo para um professor, particularmente um que – antes de

se tornar Strigoi – era conhecido por ser centrado e racional.” “Yeah, mas ele não estava pesando racionalmente porque –” Lissa ficou quieta, de repente pega em uma má situação. Hans parecia ter

percebido rapidamente nessa conversa que se Lissa estava envolvida nos eventos recentes – e eu não acho que ele tinha certeza disso ainda – ela teria um álibi. Conversando com ela, no entanto, ele teve a chance de seguir outra linha de questionamento: o envolvimento de Dimitri. Dimitri tinha se sacrificado para levar a culpa, mesmo que isso significasse que os outros não iriam mais confiar nele. Lissa Lissa pensou que poderia fazer as pessoas pensarem que as ações dele foram por um instinto protetor de professor, mas aparentemente, nem todo mundo estava caindo nessa.

“Ele não estava pensando racionalmente por quê?” disse Hans, os olhos

afiados. Antes do assassinato, Hans tinha acreditado que Dimitri realmente havia se tornado um Dhampir de novo. Algo me disse que ele ainda acreditava nisso mas sentia que algo estava diante dele.

Lissa ficou em silêncio. Ela não queria que as pessoas achassem que Dimitri

era um Strigoi. Ela queria que as pessoas acreditassem em seus poderes para restaurar os mortos vivos. Mas Dimitri ajudar um estudante não parecia convincente o bastante, toda aquela desconfiança iria ressurgir.

Olhando para seus interrogadores, Lissa de repente encontrou os olhos de

Alberta. A guardiã mais velha não disse nada. Ela tinha aquela expressão neutra que os guardiões são excelentes em manter. Ela também tinha um ar de

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sabedoria, e Lissa brevemente permitiu que o espírito mostrasse a aura de Alberta. Tinha cores firmes e energia, e nos olhos de Alberta, Lissa jurava poder ver uma mensagem, um brilho de sabedoria.

Diga a eles, a mensagem parecia dizer. Vai criar problemas – mas não serão

tão ruins quanto os atuais. Lissa a encarou, se perguntando se ela apenas estava projetando seus próprios pensamentos em Alberta. Não importava quem teve a ideia. Lissa sabia que ela tinha razão.

“Dimitri ajudou Rose por que... porque eles estavam envolvidos.” Como imaginei, Alberta não estava surpresa, e ela parecia aliviada pela

verdade ter sido revelada. Hans e Steele, no entanto, estavam muito surpresos. Eu só vi Hans chocado algumas vezes.

“Quando você diz ‘envolvidos’, você quer dizer...” Ele parou para formular

as palavras. “Você quer dizer romanticamente envolvidos?” Lissa acenou, se sentindo terrível. Ela revelou um enorme segredo, um que

ela jurou manter em sigilo para mim, mas eu não a culpava. Não nessa situação. Amor – eu esperava – iria defender as reações de Dimitri.

“Ele a ama,” Lissa disse. “Ela o ama. Se ele realmente a ajudou a fugir –” “Ele a ajudou a fugir,” interrompeu Hans. “Ele atacou guardiões e explodiu

estátuas antigas sem preço, trazidas da Europa!” Lissa deu de ombros. “Bem, como eu disse. Ele não estava agindo

racionalmente. Ele queria ajudá-la e provavelmente achou que ela era inocente. Ele faria qualquer coisa por ela – e isso não tem nada a ver com ser um Strigoi.”

“Amor só justifica até certo ponto.” Hans claramente não era romântico. “Ela é menor de idade!” exclamou Steele. Essa parte não escapou dele. “Ela tem dezoito anos,” corrigiu Lissa. Hans a cortou. “Eu sei fazer contas, princesa. A não ser que eles

conseguiram ter um lindo e tocante romance nas últimas semanas – enquanto ele estava isolado – então havia coisas acontecendo na sua escola que deveriam ter sido reportadas.”

Lissa não disse nada, mas pelo canto do olho, ela podia ver Tasha e

Christian. Eles estavam tentando manter suas expressões neutras, mas era

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óbvio que essa notícia não era uma surpresa para nenhum deles, sem dúvidas confirmando as suspeitas de Hans que coisas ilícitas estiveram acontecendo. Eu não sabia que Tasha sabia sobre Dimitri e eu, e me senti um pouco mal. Ela sabia que parte do motivo dele a ter rejeitado era eu? E se ela sabia, quantos outros sabiam? Christian provavelmente a tinha avisado, mas algo me disse que mais pessoas provavelmente estavam começando a descobrir também. Depois do ataque a escola, minha reação foi uma enorme pista sobre meus sentimentos por Dimitri. Talvez contar a Hans não fosse uma grande coisa afinal de contas. O segredo não seria segredo por muito mais tempo.

Alberta limpou sua garganta, falando finalmente. “Acho que temos coisas

mais importantes para nos preocupar agora do que um romance que pode ou não ter acontecido.”

Steele deu a ela um olhar incrédulo e bateu sua mão contra a mesa. “Isso é

bem sério. Você sabia sobre isso?” “Tudo que eu sei é que estamos saindo do ponto aqui,” ela respondeu, se

desviando da questão. Alberta era cerca de 20 anos mais velha que Steele, e seu olhar durão disse a ela que ela era uma criança fazendo ela perder tempo. “Eu pensei que estávamos aqui para descobrir se a Srta. Hathaway tinha cúmplices, não para falar sobre o passado. Até agora, a única pessoa que temos certeza que a ajudou é Belikov, e ele o fez por uma irracional afeição. Isso o torna um fugitivo e um tolo, não um Strigoi.”

Eu nunca pensei na minha relação com Dimitri como uma “irracional

afeição”, mas Alberta tinha razão. Algo no rosto de Hans e Steele me fez pensar que logo o mundo todo saberia sobre nós, mas isso não era nada comparado a assassinato. E se limpava Dimitri de ser um Strigoi, então isso significava prisão ao invés de ser empalado. Pequenas bênçãos.

O interrogatório de Lissa continuou um pouco mais antes dos guardiões

decidirem que ela estava livre de qualquer suspeita em minha fuga (que eles pudessem provar). Ela fez um bom trabalho bancando a surpresa e confusa o tempo todo, até dando algumas lágrimas sobre como ela pode ter me julgado tão errado. Ela também usou um pouco de compulsão – não o bastante para controlar ninguém, mas o bastante para o ultraje de Steele se tornar simpatia. Hans era difícil de ler, mas conforme meu grupo partiu, ele lembrou Tasha e Christian que ele iria falar com cada um deles mais tarde, preferencialmente sem a comitiva.

Por agora, a próxima pessoa a ser interrogada, esperando no corredor:

Eddie. Lissa deu a ele o mesmo sorriso que ela dava a qualquer amigo. Não havia qualquer indício de que eles eram parte de uma conspiração. Eddie

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acenou em resposta quando foi chamado para seu interrogatório. Lissa estava ansiosa por ele, mas eu sabia que seu autocontrole de guardiões se certificaria que ele ia ficar firme em sua história. Ele provavelmente não choraria como Lissa, mas ele ia agir tão chocado com minha “traição” quanto ela.

Tasha deixou Christian e Lissa assim que sairam, primeiro avisando a ele

para ter cuidado. “Vocês chegaram até aqui, mas eu não acho que os guardiões liberaram totalmente vocês. Especialmente Hans.”

“Hey, eu posso cuidar de mim mesmo,” disse Christian. Tasha virou os olhos. “Sim. Eu vi o que acontece quando você é deixado por

conta própria.” “Hey, não fique irritada porque não contamos para você,” ele exclamou.

“Não tínhamos tempo, e só havia um número limitado de pessoas que podiam se envolver. Além do mais, você já fez sua quota de planos malucos antes.”

“Verdade,” Tasha admitiu. Ela dificilmente era um modelo em seguir as

regras. “É só que tudo ficou tão mais complicado. Rose está fugindo. E agora Dimitri...” ela suspirou, e eu não precisei que ela terminasse para poder adivinhar seus pensamentos. Havia um profundo olhar de tristeza em seus olhos, um que me fazia sentir ainda mais culpada. Como o resto de nós, Tasha queria que a reputação de Dimitri fosse restaurada. Ao libertar a assassina da rainha, ele danificou seriamente qualquer chance de ser aceito. Eu realmente desejei que ele não tivesse se envolvido e esperava que minha fuga tivesse valido a pena.

“Tudo vai funcionar,” disse Christian. “Você vai ver.” Ele não parecia tão

confiante quando falou, e Tasha deu a ele um pequeno sorriso divertido. “Só tenha cuidado. Por favor. Eu não quero te ver preso também. Eu não

tenho tempo para visitas na cadeia com tudo que está acontecendo.” Sua diversão sumiu, e seu ativismo tomou conta. “Nossa família está sendo ridícula, sabe. Dá pra acreditar que eles estão pensando em indicar Esmond? Meu Deus. Já tivemos uma tragédia após a outra aqui. No mínimo deveríamos tentar salvar alguém dessa confusão.”

“Eu não acho que conheço Esmond,” disse Chrisitian. “Idiota,” ela disse. “Ele, eu quero dizer. Não você. Alguém tem que botar

alguma razão na nossa família antes deles se envergonharem.” Christian sorriu. “E me deixe adivinhar: você quer fazer isso?”

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“É claro,” ela disse, um brilho maligno nos olhos.” Eu já fiz uma lista de

candidatos ideais. Nossa família só precisa de uma persuasão para ver o quão ideal eles são.”

“Eu me sentiria mal por eles se eles não estivessem ainda sendo idiotas

conosco,” Christian respondeu, observando sua tia partir. O estigma de seus pais virarem Strigoi ainda permanecia depois de todos esses anos. Tasha aceitava mais graciosamente – apesar de suas reclamações – apenas para participar mais das decisões dos Ozera. Christian não fazia tais tentativas de ser civilizado. Era terrível o bastante ser tratado menos do que um Moroi, não ter guardiões e outras coisas que a realeza tinha. Mas de sua própria família? Era especialmente duro. Ele se recusava a fingir que era aceitável.

“Eles vão mudar de ideia eventualmente,” disse Lissa, soando mais otimista

do que se sentia. Qualquer resposta de Christian foi engolida quando um novo companheiro

apareceu: meu pai. Sua abrupta aparição assustou ambos, mas não fiquei surpresa. Ele provavelmente sabia sobre o interrogatório de Lissa e esteve esperando fora do prédio, querendo falar com ela.

“Está bom para sair,” disse Abe, olhando ao redor para as árvores e flores

como se estivesse dando uma volta para apreciar a natureza na Corte. “Mas vai ficar ruim quando o sol nascer.”

A escuridão que estava me dando tantos problemas na floresta de West

Virginia era um agradável “meio dia” para aqueles que seguem os horários vampiricos. Lissa olhou Abe de forma lateral. Embora seus olhos se ajustassem com pouca luz, ela não teve dificuldades em enxergar a camisa brilhante que ele usava por debaixo da jaqueta. Uma pessoa cega provavelmente poderia distinguir aquela cor.

Lissa reprovou a casualidade de Abe. Era um hábito dele, começar a

conversar com conversa furada antes de passar para tópicos mais sinistros. “Você não está aqui para falar do tempo.” “Tentando ser civilizado, só isso.” Ele ficou quieto quando algumas garotas

Moroi passaram. Assim que elas se distanciaram, ele perguntou baixo. “Eu assumo que tudo saiu bem?”

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“Bem,” ela disse, sem se incomodar em contar a ele sobre a ‘irracional afeição’. Ela sabia que ele se importava mais com a não implicação dos associados.

“Os guardiões estão com Eddie agora,” disse Christian. “E querem falar

comigo depois, mas acho que vão falar com todos nós.” Lissa suspirou. “Honestamente, eu tenho a sensação que o interrogatório

foi a parte fácil, comparado com o que está por vir.” Ela quis dizer descobrir quem realmente matou a rainha.

“Um passo de cada vez.” Murmurou Abe. “Não tem porque deixar tudo

parecer demais. Vamos começar pelo começo.” “Esse é o problema,” disse Lissa, chutando irritada um galho que estava no

chão. “Eu não faço ideia de por onde começar. Quem quer que tenha matado Tatiana fez um bom trabalho em cobrir seus rastros e passar para Rose.”

“Um passo por vez,” repetiu Abe. Ele falou naquele tom bobo que me irritava às vezes, mas para Lissa, hoje,

era ótimo. Até agora, toda energia dela ficou focada em me tirar da prisão e levar a algum lugar seguro. Esse era o objetivo que a guiou e a manteve seguindo em frente.

Agora, depois que um pouco da poeira baixou, a pressão de tudo estava a

afetando. Christian colocou um braço ao redor dos ombros dela, sentindo sua resignação. Ele virou para Abe, sério.

“Você tem alguma ideia?” Christian perguntou a Abe. “Certamente não

temos nenhuma evidência real.” “Temos palpites razoáveis,” Abe respondeu. “Como, quem quer que tenha

matado Tatiana teria acesso a seus quartos particulares. Não é uma lista muito longa.”

“Não é curta também,” Lissa estalou um dos seus dedos. “A guarda real,

seus amigos e família... isso assumindo que os guardiões não alteraram a lista de seus visitantes. E até onde sabemos, algumas visitas nem eram registradas. Ela provavelmente tinha reuniões secretas o tempo todo.”

“Dificilmente ela ia ter reuniões secretas no seu quarto, de camisola,”

brincou Abe. “É claro, depende do tipo de negócios, eu suponho.”

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Lissa tropeçou, entendendo. “Ambrose.” “Quem?” “Ele é um dhampir... muito bonito... ele e Tatiana estavam, um...” “Envolvidos?” disse Christian com um sorriso, ecoando o interrogatório. Agora Abe parou. Lissa fez o mesmo, mas seus olhos negros encontraram os

dela. “Eu o vi. Um tipo de limpador de piscina.” “Ele tinha acesso ao quarto dela,” disse Lissa. “Mas eu só não consigo – eu

não sei. Eu não consigo imaginar ele fazendo isso.” “Aparências enganam,” disse Abe. “Ele estava terrivelmente interessado em

Rose no dia do julgamento.” Mais surpresas para Lissa. “Do que você está falando?” Abe coçou seu queixo num estilo de vilão. “Ele falou com ela... ou deu

algum tipo de sinal. Não tenho certeza, mas definitivamente houve algum tipo de interação entre eles.”

Inteligente, observador Abe. Ele notou Ambrose me dando o bilhete mas

não entendeu o que aconteceu. “Deveríamos falar com ele então,” disse Christian. Lissa acenou. Sentimentos conflituosos passaram dentro dela. Ela estava

excitada com a pista – mas chateada por isso significar que o gentil Ambrose seria um suspeito.

“Eu vou cuidar disso,” disse Abe. Eu senti o olhar dela pesado nele. Eu não podia ver sua expressão, mas eu vi

Abe dando um passo involuntário para trás, o fraco brilho de surpresa em seus olhos. Até Christian recuou. “E eu vou com você,” ela disse, sua voz firme. “Não tente algum tipo de tortura maluca sem mim.”

“Você quer estar lá para ver tortura?” perguntou Abe, se recuperando. “Não vai haver nenhuma. Vamos falar com Ambrose como pessoas

civilizadas, entendeu?” Ela o encarou, e Abe finalmente deu de ombros, como

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se tivesse sido superado por uma mulher com metade da idade dele não fosse nada demais.

“Ok. Vamos fazer isso juntos.” Lissa achou um pouco suspeito a falta de resistência, e ele deve ter captado

isso. “Nós vamos,” ele disse, continuando a andar. “Essa é uma boa hora – bem,

tão boa quanto qualquer outra – para uma investigação. A corte vai estar um caos enquanto as eleições monárquicas estiverem a caminho. Todos aqui estarão ocupados, e novas pessoas vão aparecer.”

Uma brisa, pesada e úmida, passou pelo cabelo de Lissa. A promessa de

calor estava ali, e ela sabia que Abe tinha razão sobre o amanhecer. Seria melhor ir pra cama mais cedo.

“Quando as eleições vão ocorrer?” ela perguntou. “Assim que eles colocarem a querida Tatiana para descansar. Essas coisas

vão rápido. Precisamos de nosso governo restaurado. Ela será enterrada amanhã na igreja com uma cerimônia, mas não vai haver uma nova procissão. Eles ainda estão inquietos.”

Eu me senti meio mal por ela não receber um funeral de rainha no final,

mas então, se isso significava que seu assassino seria encontrado, talvez ela preferisse assim.

“Assim que ela for enterrada, as eleições começam,” Abe continuou,

“qualquer familiar que quiser colocar um candidato para coroa o fará – e é claro que todos irão querer. Você nunca viu a eleição de um monarca, viu? É um espetáculo. É claro, antes da votação ocorrer, todos os candidatos terão que ser testados.”

Havia algo sinistro na forma como ele disse ‘testados’, mas Lissa não

pensava assim. Tatiana foi a única rainha que ela já conheceu, e o impacto da mudança de regime era grande. “Um novo rei ou rainha pode mudar tudo – para melhor ou pior. Eu espero que seja alguém bom. Um dos Ozeras, talvez. Uma das sugestões de Tasha.” Ela olhou para Christian, que só deu de ombros. “Ou Adriana Szelsky. Eu gosto dela. Não que importe quem eu quero,” ela acrescentou amargamente. “Já que não posso votar.” Os votos do Conselho determinam o vencedor das eleições e, de novo, ela estava presa no processo legal dos Moroi.

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“Muito trabalho vai passar pelas nominações,” Abe explicou, evitando aquele último comentário. “Cada família vai querer alguém para manter seus interesses mas também uma chance de votar do –”

“AI!” Eu fui arrancada do mundo calculista das políticas Moroi e de volta a West

Virginia – muito dolorosamente. Algo sólido e bravo me derrubou contra a terra, galhos e folhas cortando

meu rosto e mãos. Mãos fortes me seguraram no chão, e a voz de Dimitri falou em meu ouvido.

“Você deveria ter se escondido na cidade,” ele disse, um pouco divertido.

Sua altura e posição o permitiam espaço para se mover. “Seria o último lugar que eu iria procurar. Ao invés disso, eu sabia exatamente para onde você ia.”

“Tanto faz. Não aja como se fosse tão esperto,” eu disse através dos dentes

cerrados, tentando me soltar. Merda. Ele era inteligente. E mais uma vez, a pouca distância entre ele e eu era desorientadora. Mais cedo, parecia ter afetado ele também, mas ele aparentemente aprendeu sua lição. “Você fez um palpite de sorte, só isso.”

“Eu não preciso de sorte, Roza. Eu sempre vou te encontrar. Então, cabe a

você dizer o quão difícil vão ser as coisas.” Havia um quase tom de conversa em sua voz, o que tornava a situação que estávamos ainda mais ridícula. “Podemos fazer isso de novo e de novo, ou você pode fazer a coisa razoável e ficar com Sydney e eu.”

“Não é razoável! É um desperdício.” Ele estava suando, mas o cheiro natural de Dimitri e sua pele quente

também eram intoxicantes. Era incrível que eu pudesse continuar a notar essas coisas – e me sentir atraída a ele – mesmo quando eu estava brava por ele me manter presa. Talvez raiva fosse o que me excitava.

“Quantas vezes vou ter que explicar a lógica por trás do que você está

fazendo?” ele perguntou exasperado. “Até você desistir.” Eu o empurrei para trás, tentando me soltar, mas tudo

que eu fiz foi fazer ele se aproximar mais. Eu tinha a sensação de que o truque do beijo não ia funcionar dessa vez.

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Ele me levantou, mantendo meus braços e mãos presos atrás das minhas costas. Eu tinha um pouco mais de espaço para me mexer, mas não o bastante para me soltar. Devagar, ele começou a tentar me levar de voltar à direção que eu tinha vindo.

“Eu não vou deixar você e Sydney arriscarem se meterem em problemas por

mim. Eu vou cuidar de mim mesma, só me solte!” eu disse, literalmente sendo arrastada. Vendo uma árvore alta, eu enfiei meu pé em uma raiz, nos fazendo parar completamente.

Dimitri rosnou e mudou seu aperto para me libertar da árvore. Eu quase

tive a oportunidade de fugir, mas eu nem consegui dar dois passos antes dele me prender de novo.

“Rose,” ele disse. “Você não pode vencer.” “Como está seu rosto?” eu perguntei. Eu não conseguia ver nenhuma marca

mas eu sabia que o soco deixaria uma marca amanhã. Era uma pena manchar o rosto dele assim, mas ele ia se curar, e talvez isso ensinasse a ele uma lição sobre Rose Hathaway.

Ou não. Ele começou a me arrastar de novo. “Estou a segundos de te jogar

por cima do meu ombro,” ele avisou. “Eu gostaria de ver você tentar.” “Como você acha que Lissa vai se sentir se você for morta?” Seu aperto

ficou mais firme, eu tenho a sensação que ele ia cumprir sua ameaça de me por no ombro, e eu também suspeitava que ele queria me chacoalhar. Ele estava muito irritado. “Dá pra imaginar o que isso faria com ela se ela te perdesse?”

Eu sabia que ele tinha razão. Lissa ficaria devastada se algo acontecesse

comigo. E ainda sim... era um risco que eu ia ter que tomar. “Tenha um pouco de fé, camarada. Eu não serei morta,” eu disse

teimosamente. “Eu vou ficar viva.” Não era a resposta que ele queria. Ele mudou seu aperto. “Tem outras

formas de ajudá-la ao invés dessa insanidade que você está pensando.” Eu de repente fiquei mole. Dimitri tropeçou, pego de surpresa com minha

repentina falta de resistência. “Qual o problema?” ele perguntou, tanto surpreso quanto cheio de suspeitas.

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Eu encarei a noite, meus olhos não se focavam em nada. Ao invés disso, eu estava vendo Lissa e Abe na Corte, lembrando do sentimento de frustração de Lissa e o desejo de poder votar. O bilhete de Tatiana voltou a minha memória, e por um momento, eu podia ouvir sua voz em minha cabeça. Ela não é a última Dragomir. Outro vive.

“Você tem razão,” eu disse finalmente. “Sobre o que...?” Dimitri estava totalmente perdido. Era uma reação

comum para pessoas quando eu concordava com algo razoável. “Voltar para a Corte não vai ajudar Lissa.” Silêncio. Eu não conseguia ver a expressão dele, mas provavelmente estava

cheia de choque. “Eu vou voltar para o Motel com você, e eu não vou fugir para a Corte.”

Outro Dragomir. Outro Dragomir precisando ser encontrado. Eu respirei fundo. “Mas eu não vou ficar parada sem fazer nada. Eu vou fazer algo por Lissa – e você e Sydney vão me ajudar.”

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OITO

Acabou que eu estava errada sobre o departamento de polícia local compreender um cara e um cachorro. Quando eu e Dimitri andamos de volta para o motel, nós vimos luzes vermelhas e azuis no estacionamento e alguns curiosos tentando ver o que estava acontecendo.

“A cidade inteira apareceu,” eu disse. Dimitri suspirou. “Você tinha que dizer alguma coisa para o recepcionista,

não tinha.” Nós tínhamos parado um pouco longe, escondidos na sombra de um edifício

degradado. “Eu pensei que isso desaceleraria você.” “Isso irá nos fazer diminuir o ritmo agora.” Os olhos dele varreram a cena,

pegando todos os detalhes no piscar das luzes. “O carro de Sydney se foi. Isso já é algo, pelo menos.”

Minha ousadia inicial murchou. “Se foi? Nós acabamos de perder nossa

carona!” “Ela não nos deixaria, mas ela foi esperta o bastante para se mandar antes

que a polícia viesse bater na porta dela.” Ele se virou e inspecionou a rodovia principal da cidade. “Vamos. Ela tem que estar perto, e há uma boa chance da polícia realmente começar a procurar ao redor se eles pensam que alguma garota indefesa estava sendo perseguida.” O tom que ele usou para “indefesa” dizia tudo.

Dimitri tomou a decisão de voltar andando para a estrada que tinha nos

levado a cidade, assumindo que Sydney iria querer se mandar de lá agora que eu tinha destruído nossa história. Envolver a polícia tinha criado complicações, mas eu não sentia quase nenhum remorso sobre o que tinha feito. Eu estava excitada com o plano que eu tinha pensado na mata e queria, como sempre, começar agir logo de cara. Se eu conseguisse nos tirar desse buraco de cidade, melhor ainda.

Os instintos de Dimitri sobre Sydney estavam certos. Mais ou menos meio

quilometro fora da cidade, nós avistamos um CR-V parado no acostamento da rodovia. O motor estava desligado, as luzes apagadas, mas eu podia ver bem o suficiente para identificar a placa de Luisiana. Fui até a janela do motorista e bati no vidro. Na parte de dentro, Sydney se contraiu. Ela abaixou a janela, rosto incrédulo.

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“O que você fez? Deixa pra lá. Não se incomode. Apenas entre.” Eu e Dimitri obedecemos. Eu me senti como uma criança mal criada sob um

olhar de desaprovação. Ela ligou o carro sem uma palavra e começou a dirigir na direção que nós tínhamos vindo originalmente, eventualmente saindo em uma pequena rodovia estadual que levava de volta para a interestadual. Aquilo estava prometendo. Só que, depois que dirigimos alguns quilômetros, ela foi para o acostamento de novo, desta vez em uma escura saída que não parecia ter nada dentro.

Ela desligou o carro e se virou para olhar para mim no banco traseiro. “Você

fugiu, não foi?” “Sim, mas eu tenho este –” Sydney levantou a mão para me silenciar. “Não, não, ainda não. Eu gostaria

que você tivesse realizado sua ousada fuga sem atrair as autoridades.” “Eu também,” disse Dimitri. Eu olhei feio para eles dois. “Ei, eu voltei, não voltei?” Dimitri arqueou uma

sobrancelha para aquilo, questionando aparentemente o quão voluntariamente aquilo tinha sido. “E agora eu sei o que nós temos que fazer para ajudar Lissa.”

“O que nós temos que fazer,” Sydney disse, “é encontra um lugar seguro

para ficar.” “Só volte para a civilização e escolha um hotel. Um com serviço de quarto.

Nós podemos fazê-lo de nossa base de operação enquanto nós trabalhamos no próximo plano.”

“Nós pesquisamos aquela cidade especificamente!” ela disse. “Nós não

podemos ir para um lugar aleatório – pelo menos não perto daqui. Eu duvido que eles tenham pego minha placa, mas eles podem fazer um alerta para procurar por esse tipo de carro. Se eles tiverem isso e nossas descrições, e isso chegar a poliícia estadual, vai acabar chegando aos alquimistas e então vai –”

“Relaxe,” Dimitri disse, tocando o braço dela. Não havia nada de íntimo

nisso, mas eu ainda senti uma pontada de inveja, particularmente depois do amor agressivo que tinha quase me arrastado pelas arvores. “Nós não sabemos se isso vai acontecer. Porque nós não só ligamos para Abe?”

“É,” ela disse mal humorada. “Isso é exatamente o que eu quero. Dizer a ele

que eu estraguei o plano em menos de 24 horas.”

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“Bem,” eu disse. “Se isso te faz sentir melhor, o plano estava prestes a

mudar de qualquer forma –” “Calada,” ela rebateu. “Vocês dois. Eu preciso pensar.” Eu e Dimitri trocamos olhares, mas ficamos calados. Quando eu disse a ele

que sabia um modo de realmente ajudar Lissa, ele tinha ficado intrigado. Eu sabia que ele queria mais detalhes agora, mas nós dois tínhamos que esperar por Sydney.

Ela acendeu a luz dentro do carro e pegou um mapa do estado. Depois de

estudá-lo por um minuto, o dobrou de volta e simplesmente olhou para a frente. Eu observei enquanto ela digitava Altswood, West Virginia no seu GPS.

“O que tem em Altswood?” Eu perguntei, desapontada por ela não ter

digitado algo como Atlantic City. “Nada,” ela disse, voltando para a estrada. “Porém esse é o lugar mais

próximo que nós estamos indo que o GPS pode achar.” Os faróis de outro carro iluminaram brevemente o perfil de Dimitri, e eu vi

curiosidade em seu rosto também. Então. Eu não era mais a única por fora da história. O GPS dizia quase uma hora e meia para o nosso destino. Ele não questionou a escolha dela, entretanto, e virou de volta para mim.

“Então, o que está havendo com Lissa? Qual é esse seu grande plano?” Ele

lançou uma olhar para Sydney. “Rose disse que há algo importante que nós temos que fazer.”

“Percebi,” Sydney disse secamente. Dimitri olhou de volta para mim

esperançosamente. Eu respirei fundo. Era hora de revelar o segredo que eu vinha guardando

desde a minha audiência. “Tipo, isso, um, acabou que Lissa tem um irmão ou irmã. E eu acho que nos devíamos encontrá-lo.”

Eu conseguia soar tranquila e casual enquanto falava. Por dentro, meu

coração disparava. Mesmo que eu tenha tido muito tempo para processar o bilhete de Tatiana, dizer as palavras em voz alta as tornava reais de uma maneira que elas não eram antes. Isso me chocava, me acertando com todo o impacto do que essa informação realmente significava e como ela mudava tudo o que nós viemos a acreditar.

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Claro, meu choque não era nada comparado com o dos outros. Um ponto para Rose e o elemento surpresa. Sydney não fez nenhuma tentativa de esconder seu assombro e arfou. Mesmo Dimitri parecia meio mexido.

Assim que eles se recuperaram, eu pude vê-los preparando seus protestos.

Eles poderiam demandar evidências ou simplesmente desconsiderar a ideia como ridícula. Eu imediatamente entrei em ação antes que os argumentos pudessem começar. Eu peguei o bilhete de Tatiana, lendo-o em voz alta e depois deixando Dimitri olhá-lo. Eu contei a eles sobre meu encontro fantasmagórico, onde o espírito confuso da rainha me fazia acreditar que isso era verdade. Apesar de tudo, meus companheiros continuavam céticos. “Você não tem nenhuma prova que Tatiana escreveu esse bilhete,” Dimitri disse.

“Os alquimistas não tem nenhuma documentação de outro Dragomir,”

Sydney disse. Cada um deles disse exatamente o que eu pensei que diriam. Dimitri era o

tipo de cara sempre pronto para um truque ou armadilha. Ele suspeitava de tudo sem uma prova concreta. Sydney vivia em um mundo de fatos de dados e tinha fé total nos alquimistas e suas informações. Se os alquimistas não acreditavam nisso, ela também não. Evidência fantasmagórica não convencia nenhum dos dois.

“Eu realmente não sei por que o fantasma de Tatiana iria querer me

enganar,” eu argumentei. “E os alquimista não são os sabe-tudo. O bilhete dizia que esse é um segredo fortemente guardado dos Moroi – faz sentido que isso seria um segredo para os alquimistas também.”

Sydney zombou, não gostando do meu comentário “sabe-tudo”, mas

tirando isso ficou em silêncio. Foi Dimitri que continuou insistindo, recusando ter fé em qualquer coisa sem mais evidências.

“Você já disse antes que nem sempre fica claro o que os fantasmas estão

tentando dizer,” ele apontou. “Talvez você a entendeu mal.” “Eu não sei...” eu pensei de novo sobre a fase solene e translucida dela. “Eu

acho que ela realmente escreveu esse bilhete. Meu instinto diz que foi ela.” Eu estreitei meus olhos. “Você sabe que ele já esteve certo antes. Você pode confiar em mim nisso?”

Ele me encarou por alguns momentos, e eu mantive seu olhar firmemente.

Daquele nosso jeito estranho, eu podia adivinhar o que estava acontecendo. A situação toda era absurda, mas ele sabia que eu estava certa sobre meus instintos. Eles tinham se provado verdadeiros no passado. Não importava pelo

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que ele tivesse passado, não importava o atual antagonismo entre nós, ele ainda me conhecia bem o suficiente para confiar nisso.

Vagarosamente, sempre relutantemente, ele acenou. “Mas se nós

decidimos procurar por esse alegado irmão, nos estaríamos indo contra as instruções de Lissa de ficar onde estamos.”

“Você acredita neste bilhete?” Sydney exclamou. “Você está considerando

dar ouvidos a isso?” Uma faísca de raiva ascendeu dentro de mim, uma que trabalhava para

esconder. Claro. Claro que esse seria o próximo obstáculo: a inabilidade de Dimitri de desobedecer Lissa. Eu respirei fundo. Contar a ele o quão ridículo eu achava que ele estava se comportando não iria alcançar o que eu precisava.

“Tecnicamente, sim. Mas se nos pudéssemos realmente provar que ela não

é a ultima em sua família, isso a ajudaria muito. Nós não podemos ignorar a chance, e se você conseguir me manter fora de encrencas enquanto nós fazemos isso” – eu tentei não fazer cara feia para aquilo – “então não haverá um problema.”

Dimitri considerou isso. Ele me conhecia. Ele também sabia que eu usaria

lógicas distorcidas se fosse preciso para fazer o que queria. “Ok,” ele disse afinal. Eu vi uma mudança em suas feições. A decisão estava

feita, e ele se prendia a ela agora. “Mas onde nós começamos? Você não tem outras pistas, aparte do bilhete misterioso.”

Um deja vu me lembrou da conversa anterior de Lissa e Christian com Abe

quando eles estavam tentando descobrir por onde começar a investigação deles. Eu e ela vivíamos vidas paralelas, parecia, as duas perseguindo um quebra-cabeça impossível com uma pista incompleta. Enquanto eu repassava a discussão deles, eu tentei a mesma argumentação que Abe tinha usado: sem pistas, comece a trabalhar através de conclusões óbvias.

“Obviamente, isso é um segredo,” eu disse. “Um dos grandes. Alguém

aparentemente quis acobertá-lo – tanto que eles tentaram roubar os registros sobre isso e manter os Dragomir longe do poder.” Alguém tinha arrombado o prédio dos alquimistas e levado papéis que indicavam que Eric Dragomir tinham realmente estado dando dinheiro a uma mulher misteriosa. Eu indiquei a meus companheiros que isso parecia muito provável para mim que essa mulher fosse a mãe do seu amado filho. “Você poderia olhar um pouco mais o caso.” Essas últimas palavras foram faladas para Sydney. Talvez ela não se importasse com

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outro Dragomir, porém os alquimistas ainda queriam saber quem tinha roubado deles.

“Whoa, ei. Como foi que eu nem fui parte da discussão desse processo?” Ela

ainda não tinha se recuperado da nossa conversa de repente ter continuado adiante sem ela. Depois do modo como a nossa noite tinha ido até agora, ela não parecia muito feliz em ser colocada em outro dos meus desvairados cenários. “Talvez quebrar as ordens de Lissa não seja grande coisa para vocês dois, mas eu estaria indo contra Abe. Ele pode não ser tão indulgente.”

Esse era um ponto justo. “Eu irei usar um favor de filha,” eu assegurei a ela.

“Além do mais, o velho adora segredos. Ele estaria de acordo com isso, acredite em mim. E você já até encontrou a maior pista de todas. Quero dizer, se Eric estava dando dinheiro para alguma mulher anônima, então porque isso não seria para seus secretos filho e amante. Os documentos roubados não dizem isso?”

“Anônimo é a palavra chave,” Sydney disse, ainda claramente cética da

indulgência de Zmey. “Se sua teoria está certa – e isso é meio que um chute – nós ainda não temos ideia de quem é essa amante. Os documentos roubados não dizem.”

“Há alguns outros registros que se liguem aos roubados? Ou você poderia

investigar o banco para o qual ele estava mandando dinheiro?” A preocupação inicial dos alquimistas tinha simplesmente sido que alguém tinha roubado cópias concretas de seus registros. Os colegas dela tinham descoberto quais itens tinham sido levados mas não tinham dado muita importância ao conteúdo. Eu estava disposta a apostar que eles não tinham procurado por nenhum documento relacionado ao mesmo tópico. Ela tinha acabado de confirmar isso.

“Você realmente não tem ideia de como se faz uma “pesquisa de registros”,

tem? Não é assim tão fácil,” ela disse. “Poderia durar algum tempo.” “Bem... eu suponho que é bom nós estarmos indo para algum lugar, um,

seguro, certo?” eu perguntei. Percebi nesse momento que nós poderíamos precisar de tempo para alcançar o próximo passo juntos, eu podia meio que ver a desvantagem de termos perdido nosso esconderijo fora do caminho.

“Seguro...” ela balançou a cabeça. “Bem, nós veremos. Eu espero não estar

fazendo algo estúpido.” Com essas palavras sinistras, silêncio caiu. Eu queria saber mais sobre onde

nos estávamos indo mas eu sentia que não deveria pressionar a pequena vitória que tinha conseguido. A vitória que achava que tinha conseguido, pelo menos.

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Eu não estava totalmente certa de Sydney estar 100 por cento dentro mas sentia certeza que Dimitri tinha sido convencido. Melhor não agitar ela agora. Eu olhei o GPS. Quase uma hora. Tempo suficiente para checar Lissa.

Levei um minuto para reconhecer onde Lissa estava provavelmente porque

eu tinha esperado que ela voltasse para seu quarto. Mas não, ela estava em um local em que eu só estive uma vez: a casa dos pais de Adrian. Surpresa. Em pouco tempo, entretanto, eu li o raciocínio na mente dela. A atual suíte dela era no quarto de hospedes, e no subsequente pânico pela minha fuga, o prédio dela entupido de visitantes agora tentando partir. A casa na cidade dos Ivashkiv, situada em uma permanente área residencial, era um pouco mais calma – não que não houvesse alguns poucos vizinhos fugindo lá também.

Adrian sentado em uma poltrona, pés despreocupadamente repousando

em uma cara mesinha de café que algum designer de interior tinha provavelmente ajudando a mãe dele a escolher. Lissa e Christian tinham acabado de chegar, e ela sentiu um leve cheiro de cigarro no ar que a fazia pensar que Adrian estava fazendo algo escondido anteriormente.

“Se nós tivermos sorte,” ela estava dizendo a Lissa e Christian, “a unidade

de pais estará presa por algum tempo e nos dará um pouco de paz e sossego. O quão duro foi seu interrogatório?”

Lissa e Christian sentaram no sofá que era mais bonito que confortável. Ela

se aconchegou nele e suspirou. “Não tão ruim. Eu não sei se eles estão totalmente convencidos que nós não temos nada haver com a fuga de Rose... mas eles definitivamente não tem nenhuma prova.”

“Eu acho que nós tivemos mais problemas com Tia Tasha,” Christian disse.

“Ela está bem zangada que nós não dizermos a ela o que estava havendo. Eu acho que ela provavelmente que explodir as estátuas ela mesma.”

“Eu acho que ela está mais zangada por nós termos envolvido Dimitri,”

apontou Lissa. “Ela acha que nós arruinamos para sempre as chances dele ser aceito novamente.”

“Ela está certa,” Adrian disse. Ele pegou um controle remoto e ligou uma

grande TV de plasma. Ele colocou no mudo e ficou passando a esmo os canais. “Mas ninguém o forçou.”

Lissa fez que sim com a cabeça mas secretamente ela se perguntou se ela

tinha forçado Dimitri inadvertidamente. O dedicado voto dele de proteger ela não era segredo. Christian pareceu perceber a preocupação dela.

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“Ei, por tudo que sabemos, ele nunca teria –” Uma batida o interrompeu. “Merda,” Adrian disse, levantando-se. “Tanto por paz e sossego.” “Seus pais não bateriam na porta,” Christian disse. “Verdade, mas é provavelmente um dos amigos deles esperando para beber

vinho do porto e fofocar sobre o estado terrível do jovem assassinado hoje,” Adrian respondeu.

Lissa ouviu a porta abrir e uma conversa abafada. Momentos depois, Adrian

retornou com um jovem garoto Moroi que Lissa não reconhecia. “Olhe,” o cara foi falando, olhando ao redor desconfortável, “eu posso

voltar –” Ele avistou Lissa e Christian e congelou. “Não, não,” Adrian disse. A transformação dele de irritado para cordial tinha

acontecido tão rapidamente como um interruptor de luz sendo ligado. “Tenho certeza que ela estará de volta a qualquer minuto. Vocês se conhecem?”

O cara afirmou com a cabeça, olhos pulando de rosto para rosto. “Claro.” Lissa franziu a testa. “Eu não te conheço.” O sorriso nunca deixou o rosto de Adrian, mas Lissa captou rapidamente

que algo importante estava acontecendo. “Este é Joe. Joe é o zelador que me ajudou testemunhando que eu não estava com Rose quando Tia Tatiana morreu. O que estava trabalhando no prédio da Rose.”

Tanto Lissa quando Christian de endireitaram. “Foi uma sorte você ter

aparecido antes da audiência,” Christian disse cuidadosamente. Por um tempo, houve um certo medo que Adrian pudesse ser implicado comigo, mas Joe tinha aparecido no momento certo para testemunhar sobre quando ele tinha visto eu e Adrian no meu prédio.

Joe retrocedeu alguns passos em direção à entrada. “Eu realmente deveria

ir. Apenas diga a Madame Ivashkov que eu passarei por aqui – e que eu estou deixando a Corte. Mas que tudo está acertado.”

“O que está acertado?” Perguntou Lissa, levantando devagar.

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“Ela – ela irá saber.” Lissa, eu sabia, não parecia intimidante. Ela era fofa e magra e bonita, mas pelo medo no rosto de Joe – bem. Ela deveria estar olhando para ele de forma assustadora. Isso me lembrava do meu encontro anterior com Abe. “Realmente,” ele adicionou. “Eu tenho que ir.”

Ele começou a se mover de novo, mas de repente, eu senti explosão de

Espírito queimar por Lissa. Joe parou bruscamente, e ela marchou até ele. “Sobre o que você precisa falar com Madame Ivashkov?” Ela demandou. “Calma, prima,” murmurou Adrian. “Você não precisa de tanto Espírito para

conseguir respostas.” Lissa estava usando compulsão em Joe, tanto que ele poderia muito bem

ser um fantoche controlado por fios. “O dinheiro?” Joe arfou, olhos esbugalhados. “O dinheiro combinado.” “Que dinheiro?” ela perguntou. Joe hesitou, como se eles estivesse resistindo, mas logo cedeu. Ele não

conseguiria lutar contra tanta compulsão, não vindo de um usuário de Espírito. “O dinheiro... o dinheiro para testemunhar... sobre onde ele estava.” Joe inclinou sua cabeça em direção a Adrian.

A calma expressão de Adrian vacilou um pouco. “O que você quer dizer com

onde eu estava? Na noite em que minha tia morreu? Você está dizendo...” Christian continuou de onde Adrian não conseguiu. “Madame Ivashkov está

te pagando para dizer que você viu Adrian?” “Eu realmente o vi,” Joe guinchou. Ele estava visivelmente suando. Adrian

estava certo: Lissa estava usando Espírito demais. Estava fisicamente machucando Joe. “Eu apenas... eu apenas... eu não lembro a hora... eu não lembro de nenhuma das vezes. Foi isso que eu disse ao outro cara, também. Ela me pagou para colocar uma hora em quando você esta lá.”

Adrian não gostou daquilo, de forma alguma. Para o crédito dele, continuou

calmo. “O que você quer dizer com ‘disse ao outro cara’?” “Quem mais?” Lissa repetiu. “Quem mais estava com ela?”

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“Ninguém! Madame Ivashkov só queria ter certeza que o filho dela estava limpo. Eu fraudei os detalhes para ela. Foi o cara... o outro cara que veio depois... que queria saber quando Hathaway estava por lá?”

Houve um click vindo da entrada, o som da porta da frente abrindo. Lissa se

inclinou para frente, aumentando a compulsão. “Quem? Quem era ele? O que ele queria?”

Joe parecia estar com sérias dores agora. Ela tragou. “Eu não sei quem ele

era! Ninguém que eu tenha visto. Algum moroi. Só queria que eu declarasse sobre quando eu tinha visto Hathaway. Me pagou mais que Madame Ivashkov. Sem dano...” Ele olhou para Lissa desesperadamente. “Nenhum dano em ajudar os dois... especialmente depois do que Hathaway fez...”

“Adrian?” A voz de Daniella surgiu no hall. “Você está aqui?” “Se afaste,” Adrian advertiu Lissa em voz baixa. Não havia nenhum tom de

brincadeira nela. A voz dela estava tão suave quanto a dele, a atenção dela ainda em Joe.

“Como ele se parecia? O Moroi? Descreva ele.” O som de salto altos batendo no chão de madeira no hall. “Como ninguém!” ele disse. “Eu juro! Comum. Normal. Exceto a mão... por

favor me deixe ir...” Adrian empurrou Lissa para o lado, quebrando o contato entre ela e Joe. Joe

quase caiu no chão e então ficou rígido enquanto trocava olhares com Adrian. Mais compulsão – mas bem menos do que Lissa tinha usado.

“Esqueça isso,” disse Adrian com desaprovação. “Nós nunca tivemos essa

conversa.” “Adrian, o que você está –” Daniella parou na porta para a sala de estar, absorvendo a estranha cena.

Christian ainda estava no sofá, porém Adrian e Lissa estava a centímetros de Joe, que estava com a camisa encharcada de suor.

“O que está acontecendo?” exclamou Daniella.

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Adrian se afastou e deu a sua mãe um daqueles sorrisos charmosos que cativam tantas mulheres. “Esse cara apareceu para ver você, mãe. Nós dissemos a ele que esperaríamos até você voltar. Nós estávamos de saída agora.”

Daniella olhou entre seu filho e Joe. Ela estava claramente desconfortável

com o cenário e também confusa. Lissa estava surpresa com o comentário de “saída” mas seguiu a liderança de Adrian. Christian também.

“Foi bom ver você,” Lissa disse, tentando dar um sorriso que combinasse

com o de Adrian. Joe pareceu totalmente encantado. Depois do último comando de Adrian, o pobre zelador tinha esquecido também como ele foi parar na casa dos Ivashkov.

Lissa Christian rapidamente seguiram Adrian para fora antes que Daniella

pudesse dizer mais alguma coisa. “Que diabos foi aquilo?” perguntou Christian, uma vez que eles estavam do lado de fora. Eu não estava certa se ele se referia a assustadora compulsão de Lissa ou o que Joe tinha revelado.

“Não tenho certeza,” Disse Adrian, com uma expressão sombria. Sem mais o

alegre sorriso. “Mas nós devíamos falar com Mikhail.” “Rose.” A voz de Dimitri era gentil, me trazendo de volta para ele, Sydney, e o carro.

Ele tinha sem duvida reconhecido a expressão em meu rosto e sabia onde eu estava.

“Está tudo bem por lá?” ele perguntou. Eu sabia que “por lá” significava a Corte e não o banco de trás. Eu confirmei

com a cabeça, apesar de “certo” não ser bem a resposta certa para o que eu tinha acabado de testemunhar. O que eu tinha acabado de testemunhar? Uma admissão de falso testemunho. Uma admissão que contradiz algumas das evidências contra mim. Eu não me importava tanto que Joe tivesse mentido para manter Adrian seguro. Adrian não tinha se envolvido no assassinato de Tatiana. Eu queria ele livre e limpo. Mas e sobre a outra parte? Um Moroi “comum” que tinha pago Joe para mentir por onde eu tinha andado, me deixando sem um álibi durante a investigação do assassinato?

Antes que eu pudesse processar completamente as implicações, eu notei

que o carro tinha parado. Forçando a informação de Joe para a parte de trás da minha mente, eu tentei avaliar nossa nova situação. A tela do laptop de Sydney brilhava no banco da frente enquanto ela olhava algo.

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“Onde nós estamos?” eu espiei pela janela. Através da luz dos faróis, eu vi um triste, fechado posto de gasolina.

“Altswood,” disse Dimitri. Pelas minhas estimativas, não havia mais nada que o posto de gasolina. “Faz

com que nossa última cidade pareça com Nova York.” Sydney fechou seu laptop. Ela o estendeu para trás e eu o coloquei no

banco de trás ao meu lado, perto das mochilas que ela tinha milagrosamente pego quando deixou o motel. Ela colocou o carro na estrada e saiu do estacionamento. Não muito distante, eu conseguia ver a autoestrada e esperava que ela virasse em direção a ela. Ao invés, ela passou o posto de gasolina, mas fundo na escuridão. Como o último lugar, nós estávamos cercados por montanhas e florestas. Nós nos rastejamos em um passo de lesma até Sydney avistar uma minúscula estrada de pedras desaparecendo por entre as árvores. Ela só era grande o suficiente para um carro passar, mas de alguma forma, eu não esperava que fôssemos pegar algum tráfico por aqui. Uma estrada similar nos levou cada vez mais fundo, e apesar de eu não poder ver o rosto dela, a ansiedade de Sydney era palpável no carro.

Minutos pareciam horas até nosso estreito caminho se abrir em uma larga,

e empoeirada clareira. Outros veículos – bem antigos – estavam estacionados lá. Era um lugar estranho para um estacionamento, considerando que tudo que eu podia ver ao redor era floresta negra. Sydney desligou o carro.

“Nós estamos em um camping?” eu perguntei. Ela não respondeu. Ao invés, ela olhou para Dimitri. “Você é tão bom

quanto eles dizem que é?” “O que?” ele perguntou, espantado. “Lutando. Todo mundo vive falando sobre como você é perigoso. É

verdade? Você é assim tão bom?” Dimitri considerou. “Muito bom.” Eu zombei. “Bastante bom.” “Eu espero que seja o suficiente,” Sydney disse, alcançando a maçaneta. Eu também abri minha porta. “Você não vai perguntar sobre mim?”

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“Eu já sei que você é perigosa,” ela disse. “Eu já vi.” O elogio dela ofereceu pouco conforto enquanto nós atravessávamos o

estacionamento rural. “Porque tivemos que parar?” “Porque nós temos que ir a pé agora.” Ela ligou uma lanterna e iluminou ao

redor do perímetro do estacionamento. Finalmente, ela tremeluziu por uma trilha serpenteando pelas árvores. A trilha era pequena e fácil de perder porque ervas daninhas e outras plantas estavam invadindo ele. “Lá.” Ela começou a se mover em direção à trilha.

“Espere,” Dimitri disse. Ele se moveu para frente dela, liderando o caminho,

e eu imediatamente tomei a posição de trás no nosso grupo. Essa era um formação padrão dos guardiões. Nós estávamos flanqueando ela da maneira que faríamos com um Moroi. Todos os pensamentos de mais cedo sobre Lissa saíram da minha mente. Minha atenção estava totalmente na situação do agora, todos os meus sentidos alertas para um perigo em potencial. Eu podia ver Dimitri no mesmo modo, ambos segurando nossas estacas.

“Onde estamos indo?” eu perguntei enquanto cuidadosamente

desviávamos de raízes e buracos ao longo do caminho. Galhos arranhavam meus braços.

“Para pessoas que eu garanto que não irão te denunciar,” ela disse, voz

severa. Mais perguntas estavam na ponta da minha língua quando uma luz

brilhante me cegou. Meus olhos tinham se acostumado com a escuridão, e a claridade inesperada foi uma mudança muito abrupta. Houve um farfalhar nas árvores, um sentimento de muitos corpos ao nosso redor, e enquanto minha visão retornava, eu vi rostos vampirescos em todo lugar.

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NOVE FELIZMENTE, ERAM OS ROSTOS DE MOROIS. Isso não me impediu de erguer minha estaca e me mover mais para perto

de Sydney. Ninguém estava nos atacando, então mantive minha posição – não que importasse. Enquanto eu absorvia mais e mais do lugar, eu vi que estávamos completamente cercados de pessoas. Nós falamos a Sydney que éramos bons, e era verdade: Dimitri e eu poderíamos provavelmente derrubar um grupo desses, embora os pobres alojamentos de combate fossem dificultar as coisas. Eu também percebi que esse grupo não era totalmente de Moroi. Os mais próximos eram, mas ao redor deles havia dhampirs. E a luz que eu pensei sair de tochas ou lanternas na verdade vinha de uma bola de fogo segurada na mão de um Moroi.

Um homem Moroi foi para frente, ele tinha cerca da idade de Abe, com

uma barba marrom e uma estaca de prata na mão. Uma parte de mim notou que a estaca era muito mal feita comparada a minha, mas trazia a mesma ameaça. O olhar do homem passou entre Dimitri e eu, e a estaca baixou. Sydney se tornou o objeto de desgosto do cara, e ele repentinamente foi em direção dela. Dimitri e eu nos movemos para impedi-lo, mas outras mãos se esticaram para nos pegar. Eu poderia ter lutado com eles mas parei quando Sydney disse, “espere.”

O Moroi barbudo agarrou o queixo dela e virou sua cabeça para que a luz

iluminasse sua bochecha, iluminando a tatuagem dourada. Ele a soltou e se afastou.

“Garota Lírio,” ele rosnou. Os outros relaxaram um pouco, embora tenham mantido sua estaca erguida

e ainda pareciam prontos para atacar. O líder Moroi voltou sua atenção de Sydney para Dimitri e eu.

“Vocês estão aqui para se juntar a nós?” ele perguntou. “Precisamos de abrigo,” disse Sydney, tocando sua garganta. “Eles estão

sendo perseguidos por – pelos Tainted.” A mulher segurando a chama parecia cética. “Devem ser espiões dos

Tainted.” “A Rainha Manchada está morta,” disse Sydney. Ela acenou em minha

direção. “Eles acham que foi ela.”

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A parte inquisitiva de mim começou a falar mas prontamente se calou, sábia

o bastante para saber que essa reviravolta bizarra estava melhor nas mãos de Sydney. Eu não entendi o que ela estava dizendo. Quando ela disse que os Tainted estavam nos perseguindo, eu pensei que ela estava tentando fazer esse grupo achar que havia Strigoi atrás de nós. Agora, depois que ela mencionou a rainha, eu não tinha certeza. Eu também não tinha certeza se me identificar como uma assassina em potencial era inteligente. Até onde eu sabia, o barbudo podia me entregar para ganhar a recompensa. Pelo jeito das roupas dele, ele podia precisar da grana.

Para minha surpresa, isso trouxe um sorriso em seu rosto. “Então outro

usurpador passa adiante. Já tem um novo?” “Não,” disse Sydney. “Eles vão fazer eleições logo e escolher.” Os sorrisos do grupo foram substituídos por olhares de desdém e

desaprovação em relação às eleições. Eu não consegui me impedir. “De que outra forma eles iriam escolher um novo rei ou rainha?”

“No verdadeiro jeito,” disse um dhampir. “Como costumava ser, muito

tempo atrás. Em uma batalha até a morte.” Eu esperei pela frase de efeito, mas o cara estava falando sério. Eu queria

perguntar a Sydney no que ela nos meteu, mas nesse ponto, nós aparentemente tínhamos passado pela inspeção. O líder deles virou e começou a andar pela trilha. O grupo seguiu, nos movendo junto. Ouvindo suas conversas, eu não consegui me impedir de dar um pequeno franzido – e não só porque nossas vidas podiam estar em risco. Eu estava intrigada com seus sotaques.

O recepcionista do motel tinha tido um forte sotaque sulista, exatamente

como se espera nesta parte do país. Esses caras, enquanto soavam parecido tinham algumas pronúncias misturadas. Quase me lembrava um pouco o sotaque de Dimitri.

Eu estava tão tensa e ansiosa que eu mal conseguia me concentrar

enquanto andavamos. Eventualmente, a trilha nos levou até o que parecia ser um acampamento. Uma enorme fogueira com várias pessoas sentadas ao redor. Ainda sim, haviam estruturas espalhadas por todos os lados, se esticando pelo agora espaçoso caminho. Ainda não era na estrada, mas dava uma ilusão de cidade, ou pelo menos um vilarejo. As construções eram pequenas e desleichadas, mas pareciam permanentes. Do outro lado da fogueira, o terreno se erguia até os Apalanches, bloqueando as estrelas. Na luz fraca, eu podia ver

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uma montanha com pedras afiadas e árvores, aqui e ali marcadas como buracos negros.

Minha atenção voltou para o lugar. A multidão reunida ao redor da fogueira

– algumas dezenas – ficaram em silêncio conforme nossa escolta nos carregava. A principio tudo que vi eram números. Essa era a parte guerreira em mim, contando oponentes e planejando atacar. Então, como eu tinha feito antes, eu olhei para os rostos. Mais Moroi misturados com dhampirs. E – uma chocante descoberta – humanos.

Eles não eram alimentadores. Bem, não como eu conhecia alimentadores.

Mesmo no escuro eu conseguia ver deslumbres de marcas de mordida no pescoço de alguns humanos, mas a julgar por suas expressões curiosas, eu podia sentir que aquelas pessoas não davam sangue regularmente. Eles não estavam chapados. Eles estavam entre os Moroi e dhampirs, sentados, de pé, conversando, sociabilizando – o grupo todo claramente era algum tipo de comunidade. Eu me perguntei se esses humanos eram alquimistas. Talvez eles tivessem algum tipo de relação comercial com minha raça.

A formação ao redor de nós começou a se espalhar, e eu me movi mais para

perto de Sydney. “O que em nome de Deus é isso?” “Os Keepers,” ela disse baixo. “Keepers? O que isso significa?” “Signica,” respondeu um Moroi, “que diferentemente de suas pessoas,

ainda mantemos as antigas tradições, como realmente deveriamos.” Eu olhei esses “Keepers” com suas roupas e sujeira, e crianças descalças.

Refletindo sobre o quão longe estávamos da civilização – e baseado no quão escuro estava longe da fogueira – eu estava disposta a apostar que eles não tinham eletricidade. Eu estava prestes a dizer que eu não achava que era assim que alguém deveria viver. Então, lembrando do jeito casual como essa gente falou sobre lutas até a morte, eu decidi manter minhas opiniões para mim mesma.

“Porque eles estão aqui, Raymond?” perguntou a mulher sentada perto da

fogueira. Ela era humana mas falou com o Moroi barbudo de um jeito perfeitamente ordinário e familiar. Não era a forma sonhadora como os alimentadores normalmente falam com Moroi. Não era nem o tipo de conversa que Alquimistas tem com minha gente. “Eles vão se unir a nós?”

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Raymond balançou sua cabeça. “Não. Os Tainted estão atrás deles por terem matado sua rainha.”

Sydney me cotovelou antes de eu poder negar. Eu cerrei os dentes,

esperando ser rechaçada. Ao invés disso, fiquei surpresa por encontrar uma multidão olhando para mim numa mistura de admiração e surpresa, assim como nosso grupo de boas vindas tinha tido.

“Vamos dar a eles refugio,” explicou Raymond. Ele sorriu para nós, embora

eu não soubesse se sua aprovação era do fato de sermos assassinos ou se ele simplesmente gostava da atenção que estava tendo. “Embora, vocês sejam bem vindos para se juntar a nós e viver aqui. Temos espaço nas cavernas.”

Cavernas? Eu virei minha cabeça em direção aos penhascos além da

fogueira, percebendo o que eram aqueles buracos negros. Mesmo enquanto eu observava, algumas pessoas se retiravam e desapareciam nas profundidades da montanha.

Sydney respondeu enquanto eu trabalhava para tirar a expressão de horror

do meu rosto. “Só precisamos ficar aqui...” Ela hesitou, o que não era surpreendente considerando o que nosso plano tinha se tornado. “Alguns dias, provavelmente.”

“Você pode ficar com minha família,” disse Raymond. “Até você.” Isso foi

dirigido para Sydney, e ele fez soar como se estivesse fazendo um favor. “Obrigado,” ela disse. “Ficamos agradecido por passar a noite na sua casa.”

A ênfase na última palavra era para mim, eu percebi. As estruturas de madeira dispostas pelo caminho não pareciam luxuosos e saídos da imaginação, mas eu preferia um a uma caverna a qualquer dia. O vilarejo ou comunidade ou o que fosse estava ficando cada vez mais excitado com as novidades. Eles nos bombardearam com um monte de perguntas, começando com coisas normais como nossos nomes e partindo para detalhes específicos sobre como exatamente eu matei Tatiana.

Eu fui poupada de ter que responder quando uma mulher humana que

tinha falado com Raymond mais cedo levantou e interrompeu. “Chega,” ela disse, cortando os outros. “Está ficando tarde, e tenho certeza que nossos convidados estão com fome.”

Eu estava faminta, na verdade, mas não sabia se eu estava bem o bastante

o suficiente para comer cozido de gambá ou o que mais que fizessem aqui.

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A proclamação da mulher foi encarada com uma certa decepção, mas ela assegurou os outros que eles poderiam falar conosco amanhã. Olhando ao redor, eu vi um fraco lampejo do que deveria ser o céu oriental. Nascer do sol. Um grupo de Moroi que seguia o “jeito tradicional” certamente iria seguir um horário noturno, o que significava que aquelas pessoas estavam há horas antes da hora de dormir.

A mulher disse que seu nome era Sarah e nos levou através do caminho de

chão. Raymond disse que logo se juntaria a eles. Conforme andávamos, vimos outras pessoas perto das casas, a caminho de suas camas ou provavelmente acordadas pela comoção.

“Você nos trouxe algo?” “Não,” disse Sydney. “Só estou aqui para escoltá-los.” Sarah parecia desapontada mas acenou. “Uma tarefa importante.” Sydney franziu e pareceu ainda mais inquieta. “Quanto tempo faz desde

que meu povo te trouxe algo?” “Alguns meses,” disse Sarah depois de pensar. A expressão de Sydney enegreceu depois disso, mas ela não disse mais

nada. Sarah finalmente nos levou para dentro de uma das melhores casas,

embora ainda fosse sem graça e feita de madeira. Lá dentro estava escuro, e esperamos enquanto Sarah acendia as lanternas. Eu estive certa. Não tinham eletricidade. Isso de repente me fez pensar sobre encanamento.

O chão era de madeira como as paredes e cobertos com enormes tapetes.

Parecia que estávamos em algum tipo de hibrido entre cozinha sala. Havia uma enorme lareira no meio, uma mesa de madeira e cadeiras na lateral, e enormes almofadas no outro lado que eu presumi que serviam como sofás. Pilhas de ervas estavam perto da lareira, enxendo o lugar com um cheiro de tempero que se misturava com o cheiro de madeira queimada. Havia três portas na porta de trás, e Sarah acenou em direção a uma.

“Você pode dormir no quarto das garotas,” ela disse. “Obrigado,” eu disse, sem ter certeza se eu realmente queria ver como

eram as acomodações para os hóspedes. Eu já estava sentindo falta do motel. Eu estudei Sarah com curiosidade. Ela parecia ser da idade de Raymond e usava

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um vestido azul. Seu cabelo loiro estava preso, e ela parecia baixa de uma forma que todos os humanos pareciam. “Você é a empregada da Raymond?” Era o único papel que eu podia encaixar para ela. Ela tinha algumas marcas de mordida mas obviamente não era uma alimentadora. Pelo menos não em tempo integral. Talvez por aqui, alimentadores também servissem de empregados.

Ela sorriu. “Sou sua esposa.” Era uma marca do meu autocontrole eu ter conseguido dar alguma

resposta. “Oh.” Os olhos afiados de Sydney caíram em mim, um aviso neles: Deixa pra lá. Eu

de novo cerrei minha mandíbula e dei a ela um breve aceno para mostrar que eu entendi.

Só que eu não entendi. Dhampirs e Moroi ficavam o tempo todo. Os

dhampirs precisavam. Mas laços permanentes eram escandalosos – mas não completamente inimagináveis.

Mas Moroi e humanos? Isso estava além de compreensão. Essas raças não

se misturam há séculos. Eles produziam dhampirs há muito tempo, mas conforme o mundo moderno progredia, Moroi desistiram completamente de se relacionar (intimamente) com humanos. Vivíamos entre eles, claro. Moroi e dhampirs trabalham com humanos em seu mundo, com casas perto deles, e aparentemente trabalhando com sociedades secretas como os alquimistas. E, é claro, Moroi se alimentam de humanos – e o problema é esse. Se você mantém um humano perto de você, é porque ele é um alimentador. Esse é nosso nível de intimidade.

Alimentadores são comida, pura e simplesmente. Comida bem tratada, sim,

mas comida não é amigo. Um Moroi transar com um dhampir? Picante. Um Moroi transar com um dhampir e bebendo sangue? Nojento e humilhante. Um Moroi transando com um humano – bebendo sangue ou não? Incompreensível.

Havia poucas coisas que me chocavam ou me ofendiam. Eu era bem liberal

quando se tratava de romance, mas a ideia de um humano e Moroi casados me espantava. Não importava se o humano era um tipo de alimentador – como Sarah parecia ser – ou alguém “acima” disso como Sydney. Humanos e Moroi não se misturavam. Era primitivo e errado, e era por isso que não era mais feito. Bem, pelo menos não de onde eu vinha.

Diferentemente do seu povo, nós ainda seguimos as antigas tradições.

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O engraçado é que não importava o quão errado eu achava que era, Sydney tinha que se sentir ainda mais estranha com seu preconceito sobre vampiros. Mas eu suponho que ela estivesse preparada, que é o motivo dela conseguir ter aquela expressão descolada. Ela não foi surpreendida como Dimitri e eu, porque eu tinha certeza que ele partilhava dos meus sentimentos. Ela só era melhor em esconder sua surpresa.

Uma comoção na porta me tirou do meu estado de choque. Raymond

chegou e não estava sozinho. Um garoto dhampir com mais ou menos 8 anos estava em seus ombros, e uma garota Moroi de cerca da mesma idade estava ao lado deles. Uma bonita mulher Moroi que parecia estar com seus vinte e poucos seguia, e atrás dela havia um dhampir fofo que não podia ser alguns anos mais velho que eu, se não exatamente a minha idade.

Apresentações seguiram. As crianças eram Phil e Molly, e a mulher Moroi se

chamava Paulette. Todos pareciam viver ali, mas eu não conseguia exatamente descobrir seus relacionamentos, a não ser o cara da minha idade. Ele era o filho de Raymond e Sarah, Joshua. Ele tinha um sorriso para nós – especialmente para mim e Sydney – e seus olhos me lembravam o azul cristalino dos Ozera. Só que a família de Christian tendia a ter cabelo escuro, e o de Joshua era uma cor de areia com mexas douradas. Eu tinha que admitir, era uma combinação atraente, mas a parte atordoada do meu cérebro me lembrou que ele nasceu de um humano e um Moroi, não um dhampir e Moroi como eu. O produto final era o mesmo, mas os meios eram bizarros.

“Vou colocar eles em seu quarto,” Sarah disse a Paulette. “O resto pode

dividir o loft.” Eu levei um momento para perceber o ‘o resto de vocês’ era Paulette,

Joshua, Molly e Phil. Olhando para cima, eu vi o que era de fato muito espaço cobrindo metade da casa. Ela não parecia grande o bastante para quatro pessoas.

“Não queremos atrapalhar,” disse Dimitri, partilhando dos meus

sentimentos. Ele ficou quieto a maior parte de nossa aventura na terra da madeira, poupando sua energia com ações não palavras. “Vamos ficar bem.”

“Não se preocupe,” disse Joshua, de novo me dando aquele bonito sorriso.

“Não nos importamos. Angeline também não vai se importar.” “Quem?” eu perguntei. “Minha irmã.”

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Eu reprimi uma careta. Cinco deles amontoados ali para podermos ter espaço. “Obrigado,” disse Sydney. “Agradecemos. E não vamos ficar muito tempo.” Deixando de lado seu desgosto pelo mundo dos vampiros, alquimistas podiam ser educados e charmosos quando queriam.

“Que pena,” disse Joshua. “Pare de flertar, Joshua,” disse Sarah. “Vocês querem comer algo antes de

dormir? Eu posso esquentar um ensopado. Comemos mais cedo com um pouco do pão de Paulette.”

Com a palavra ensopado, meu medo voltou. “Não precisa,” eu disse

rapidamente. “Eu fico satisfeita com o pão.” “Eu também,” disse Dimitri. Eu me perguntei se ele estava tentando reduzir

o trabalho deles ou partilhava dos meus medos. Provavelmente não era a última opção. Dimitri parecia o tipo de cara que poderia ser jogado na selva e ele sobreviveria com qualquer coisa.

Paulette aparentemente tinha assado muito pão, e eles nos deixaram fazer

um piquenique no nosso pequeno quarto com pão integral e uma tigela de manteiga que Sarah provavelmente tinha feito. O quarto era cerca de metade do tamanho do meu em St. Vladimir, com colchões enfiados no chão. Edredons os cobriam, que provavelmente não eram usadas há meses nessa temperatura. Mastigando um pedaço de pão que era surpreendentemente bom, eu passei minha mão pelas colchas.

“Me lembra algum tipo de designe que vi na Russia,” eu disse. Dimitri também estudou os padrões. “Similar. Mas não exatamente a

mesma coisa.” “É a evolução da cultura,” disse Sydney. Ela estava cansada mas não o

bastante para abandonar seu modo de livro ambulante. “Os padrões russos tradicionais eventualmente se difundiram com a cultura americana.”

Whoa. “Um, bom saber.” A família tinha nos deixado sozinhos enquanto se

preparavam para dormir, e eu olhei para a porta semi aberta. Com o barulho e atividade lá, parecia difícil eles ouvirem, mas baixei minha voz mesmo assim. “Você está pronta para explicar quem diabos são essas pessoas?”

Ela deu de ombros. “São os Keepers.”

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“Yeah, eu captei isso. E nós somos os Tainted. Parece um nome melhor para Strigoi.”

“Não.” Sydney se inclinou contra a parede de madeira. “Strigoi são os Lost.

Você é Tainted porque se juntou ao mundo moderno e deixou para trás as tradições antigas.”

“Hey,” eu respondi. “Não somos nós que temos macacões e banjos.” “Rose,” disse Dimitri, com um olhar para a porta. “Tenha cuidado. E além do

mais, só vimos uma pessoa de macacão.” “Se te faz sentir melhor,” disse Sydney, “eu acho que vocês são muito

melhores. Ver humanos misturados com isso...” O rosto agradável e profissional que ela mostrava aos Keepers se fora. Sua natureza confusa de volta. “É nojento. Sem ofensas.”

“Não me ofendi,” eu disse com um calafrio. “Confie em mim, eu me sinto da

mesma forma. Eu não consigo acreditar... eu não consigo acreditar que eles são assim.”

Ela acenou, parecendo agradecida por eu partilhar do seu ponto de vista.

“Eu gosto que vocês andem com sua própria gente. Só que...” “Só que o que?” eu disse. Ela parecia envergonhada. “Mesmo que as pessoas das quais vocês vieram

não casem com humanos, vocês ainda interagem com eles e vivem em suas cidades. Eles não.”

“O que os alquimistas preferem,” supôs Dimitri. “Você não aprova os

costumes desse grupo, mas você gosta que eles fiquem longe da sociedade.” Sydney acenou. “Quanto mais vampiros ficarem longe na floresta, melhor –

mesmo que seu estilo de vida seja louco. Esses caras não se misturam – e mantém outros fora.”

“Através de meios hostis?” eu perguntei. Fomos recepcionados por um

bando, e ela esperava por isso. Todos estavam prontos para brigar: Moroi, dhampir e humanos.

“Com sorte não hostil,” ela disse evasivamente.

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“Eles deixaram você passar,” disse Dimitri. “Eles conhecem os alquimistas. Porque Sarah perguntou sobre você trazer coisas?”

“Porque é isso que fazemos,” ela disse. “De vez em quando para grupos

como esses, deixamos suplementos – comida para todos, medicamentos para os humanos.” De novo, eu ouvi aquele tom de escárnio em sua voz, mas então ela virou inquieta. “O negócio é, se Sarah está certa, eles podem estar esperando a visita de um alquimista. Seria uma sorte estar aqui quando isso acontecer.”

Eu ia assegurar ela que só precisávamos ficar aqui alguns dias quando me

lembrei de algo. “Espera. Você disse grupos como esses. Quantas comunidades desses estão por ai?” eu virei para Dimitri. “Isso não é como os alquimistas, é? Algo que só alguns sabem?”

Ele balançou sua cabeça. “Estou tão surpreso com tudo isso quanto você.” “Alguns dos seus lideres provavelmente sabem um pouco sobre os

Keepers,” disse Sydney. “Mas não em detalhes. Não localizações. Esses caras se escondem muito bem e podem se movimentar sem serem notados. Eles ficam longe do seu pessoal. Eles não gostam deles.”

Eu suspirei. “E é por isso que eles não vão nos entregar. E porque eles

ficaram tão excitados por achar que eu matei Tatiana. Obrigado por isso, por sinal.”

Sydney não se desculpou. “Vai nos trazer proteções. Como essa.” Ela

segurou um bocejo. “Mas por agora? Estou cansada. Não vou ser capaz de seguir o plano maluco de ninguém – seu e de Abe – se não dormir um pouco.”

Eu sabia que ela estava cansada, mas só agora soube o quanto. Sydney não

era como nós. Precisávamos dormir mas tínhamos força e resistência para não dormir se preciso. Ela ficou acordada a noite toda e foi forçada a algumas situações que definitivamente estavam longe de sua zona de conforto. Ela parecia que ia cair no sono encostada contra a parede. Eu virei para Dimitri. Ele já estava olhando para mim.

“Turnos?” eu perguntei. Eu sabia que nenhum de nós iria permitir que

nosso grupo ficasse desprotegido nesse lugar, mesmo que fossemos supostos heróis por matar a rainha.

Ele acenou. “Você vai primeiro, e eu –”

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A porta abriu, e tanto Dimitri e eu quase pulamos para atacar. Uma garota dhampir estava parada ali, olhando para nós. Ela era alguns anos mais nova que eu, mais ou menos a idade da minha amiga Jill Mastrano, uma estudante de St. Vladimir que queria ser uma lutadora Moroi. Essa garota parecia ser uma também, baseado apenas na entrada dela. Ela tinha um corpo forte como a maioria dos dhampirs, todo seu corpo preparado como se fosse atacar um de nós. Seu cabelo ia até a cintura, de uma cor escura que tinha tons dourados e cobre por causa do sol. Ela tinha os mesmos olhos azuis de Joshua.

“Então,” ela disse. “Vocês são os grandes heróis que pegaram meu quarto.” “Angeline?” eu supus, lembrando de Joshua ter mencionado uma irmã. Ela cerrou os olhos, não gostando de eu saber quem ela era. “Sim.” Ela me

estudou e não pareceu aprovar o que viu. Aquele olhar afiado foi para Dimitri em seguida. Eu esperei que ela se suavizasse, esperei que ela caísse nas graças da beleza dele do jeito que a maioria das mulheres fazia. Mas, não. Ele recebeu as mesmas suspeitas. Sua atenção voltou para mim.

“Eu não acredito,” ela declarou. “Você é muito mole. Muito afetada.” Afetada? Mesmo? Eu não me sentia assim, não com meus jeans rasgados e

camiseta. Mas eu podia entender o por que daquela atitude. As roupas dela eram limpas, mas seus jeans estavam bem desgastados, ambos os joelhos em trapos. A camiseta era comum, branco e feita em casa. Eu não sabia se originalmente era branca. Talvez eu fosse afetada em comparação. É claro, se alguém merecia o titulo de afetada era Sydney. Suas roupas seriam próprias para uma reunião de negócios, e ela não esteve em muitas brigas recentemente.

Mas Angeline nem olhou duas vezes. Eu estava começando a ter a sensação

que alquimistas estavam em uma estranha categoria por aqui, um tipo diferente de humanos daqueles que se casavam com Keepers. Alquimistas traziam suprimentos e partiam. Eles eram quase um tipo de alimentadores para essas pessoas, o que realmente embolava minha mente. Os Keepers tinham mais respeito por esse tipo de humanos que a minha cultura.

“As aparências enganam,” eu disse. “Sim,” disse Angeline friamente. “Elas enganam.” Ela caminhou até um pequeno baú no canto e tirou uma pequena camisola.

“É melhor você não bagunçar minha cama,” ela me avisou. Ela olhou para

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Sydney, sentada no outro colchão. “Eu não me importo com o que você faz no da Paulette.”

“Paulette é sua irmã?” eu perguntei, ainda tentando entender a família. Não parecia haver qualquer coisa que eu dissesse que não ofendesse essa

garota. “É claro que não,” Angeline respondeu, batendo a porta quando saiu. Eu encarei surpresa.

Sydney bocejou e se esticou na sua cama. “Paulette provavelmente é... eu

não sei. Amante de Raymond. Concubina.” “O que?” eu exclamei. Um Moroi casado com uma humana e tendo um caso

com uma Moroi. Eu não tinha certeza do quanto mais eu podia suportar. “Vivendo com sua família?” “Não me peça para explicar. Eu não quero saber mais do que a tradição

bizarra deles do que as de vocês.” “Não é minha tradição,” eu respondi. Sarah apareceu logo depois para se desculpar por Angeline e ver se

precisávamos de mais alguma coisa. Nós asseguramos a ela que estávamos bem e agradecemos por sua hospitalidade. Assim que ela saiu, Dimitri e eu organizamos os turnos. Eu preferia que nós dois ficássemos em alerta, particularmente já que eu tinha certeza que Angeline iria cortar a garganta de alguém enquanto dormiam. Mas, precisávamos descansar e sabíamos que ambos iriam reagir se alguém passasse pela porta.

Então, eu deixei Dimitri ficar com o primeiro turno enquanto me deitei na

cama de Angeline e tentei não ‘bagunçar’ nada. Era surpreendentemente confortável. Ou, talvez eu só estivesse cansada. Eu fui capaz de abandonar as preocupações sobre minha execução irmãos perdidos, e vampiros caipiras. Um sono profundo me envolveu, e eu comecei a sonhar... mas não apenas qualquer sonho. Eu estava no meu mundo interior, a sensação de estar entrando e saindo da realidade. Eu estava sendo puxada por um sonho induzido por espírito.

Adrian! A ideia me excitou. Eu sentia falta dele e estava ansiosa para falar com

alguém diretamente depois do que aconteceu na Corte. Não teve muito tempo para conversar durante minha fuga, e depois desse bizarro mundo que entramos, eu realmente precisava de um pouco de normalidade ao meu redor.

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O mundo dos sonhos começou a se formar ao meu redor, ficando cada vez

mais claro. Era um local que eu nunca vi, um pátio formal com cadeiras e sofás cobertos com almofadas. Pinturas a óleo se alinhavam nas paredes, e havia uma enorme harpa no canto. Eu aprendi há muito tempo atrás que não havia como saber para onde Adrian me levaria – ou o que ele me faria usar. Felizmente, eu estava de jeans e camiseta, meu nazar azul no pescoço.

Eu virei ansiosa, procurando por ele para poder dar um abraço gigante.

Ainda sim, meus olhos procuraram, e não foi o rosto de Adrian que repentinamente eu me encontrei olhando.

Era o de Robert Doru. E Victor Dashkov estava com ele.

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DEZ Quando seu namorado caminha em sonhos, você aprende algumas lições.

Uma das mais importantes é que fazer coisas físicas no sonho é exatamente como no mundo real. Digamos, beijar alguém. Adrian e eu tivemos nosso número de beijos em sonhos para fazer meu corpo querer muito mais. Embora eu nunca tenha de fato atacado alguém em um sonho, tudo me levava a crer que um soco aqui seria tão doloroso quanto um de verdade.

Sem hesitação, eu saltei sobre Victor, incerta se deveria socá-lo ou esganá-

lo. Ambas pareciam boas ideias. No final das contas, não fiz nada disso. Antes que pudesse alcançá-lo, eu bati contra uma parede invisível – com força. Ela me bloqueou e me jogou para trás com o impacto. Eu cambaleei, tentando me reequilibrar, mas ao invés disso, caí dolorosamente no chão. É – sonhos são como a vida real.

Eu encarei Robert, sentindo uma mistura de raiva e desconforto. Tentei

esconder a última emoção. “Você é um usuário de espírito com telecinese?” Nós sabíamos que isso era possível, mas era uma habilidade que nem Lissa

nem Adrian dominavam até então. Eu não gostava da ideia de que Robert tivesse o poder de atirar objetos por aí e criar barreiras invisíveis. Era uma desvantagem da qual não precisávamos. Robert continuou enigmático. “Eu controlo o sonho.”

Victor estava me olhando com aquele ar arrogante e calculista no qual ele

se sobressaia. Percebendo a posição indigna na qual me encontrava, eu saltei de pé. Mantive uma postura dura, meu corpo tenso e pronto enquanto me perguntava se Robert podia manter a parede continuamente.

“Você acabou com seu tantra?” perguntou Victor. “Se comportar como um

cidadão civilizado vai fazer nossa conversa muito mais agradável.” “Eu não tenho interesse em conversar com você,” eu disparei. “A única

coisa que vou fazer é caçá-lo no mundo real e trazê-lo de volta às autoridades.” “Charmoso,” disse Victor. “Podemos dividir uma cela.” Eu me retorci. “Sim,” ele continuou. “Eu sei tudo sobre o que aconteceu. Pobre Tatiana.

Que tragédia. Que perda.”

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Seu tom zombeteiro e melodramático me despertou uma ideia alarmante. “Você... você não teve nada a ver com isso, teve?” A fuga de Victor da prisão tinha despertado medo e paranoia entre os Moroi. Eles estavam convencidos de que ele iria se vingar deles. Sabendo a verdade sobre a fuga, eu desconsiderei essas ideias e imaginei que ele estivesse simplesmente esperando a poeira abaixar. Agora, lembrando como ele tentou começar uma revolução entre os Moroi, eu imaginei se o assassino da rainha na verdade era o vilão mais maligno que conhecíamos.

Victor bufou. “Dificilmente.” Ele colocou as mãos atrás das costas enquanto

caminhava pela sala e fingia apreciar a arte. De novo, me perguntei até onde ia o escudo de Robert. “Eu tenho métodos muito mais sofisticados de atingir meus objetivos. Eu não me rebaixaria a algo desse nível – e nem você.”

Eu estava perto de mencionar que bagunçar a mente de Lissa não era nada

sofisticado, mas suas últimas palavras apanharam a minha atenção. “Você não acha que fui eu?”

Ele olhou de volta de onde ele estava estudando um homem de cartola e

bengala. “Claro que não. Você nunca faria algo que exigisse tamanha previsão. E, se o que ouvi sobre a cena do crime é verdade, você nunca deixaria tanta evidência para trás.”

Havia tanto insulto quanto elogio ali. “Bem, obrigada pelo voto de

confiança. Eu estava preocupada com o que você podia ter pensado.” Isso me conseguiu um sorriso, e eu cruzei os braços diante do peito. “Como vocês sabem o que está havendo na Corte? Vocês tem espiões?”

“Esse tipo de coisa se espalha através do mundo Moroi rapidamente,” disse

Victor. “Eu não estou tão distante. Eu soube do assassinato quase no mesmo momento em que ele ocorreu. E sobre sua escapada impressionante.”

Minha atenção se focava principalmente em Victor, mas eu dei uma olhada

rápida em Robert. Ele permanecia em silêncio, e pelo olhar vazio e distraído em seus olhos, eu imaginei se ele estava sequer ciente do que estava sendo dito ao seu redor. Vê-lo sempre me dava um arrepio na espinha. Ele era um exemplo proeminente do pior que o espírito podia causar.

“Por que se importa?” eu perguntei. “E por que diabos você veio me

incomodar nos meus sonhos?” Victor continuou a andar, parando para correr seus dedos pela superfície de

madeira lisa da harpa. “Porque tenho grande interesse na política Moroi. E eu gostaria de saber quem é o responsável pelo assassinato e qual o seu jogo.”

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Eu sorri. “Parece que você está com ciúmes porque alguém está puxando as

cordinhas além de você pra variar. Sem piada.” Sua mão caiu da harpa, de volta ao seu lado, e ele fixou seus olhos afiados

em mim, olhos do mesmo verde pálido de Lissa. “Seu comentário espertinho não vai levá-la a lugar nenhum. Você pode tanto nos deixar ajudá-la ou não.”

“Você é a última pessoa de quem eu quero ajuda. E eu não preciso.” “Sim. As coisas parecem estar indo muito bem para você, agora que é uma

fugitiva procurada com um homem que muitos ainda acreditam se tratar de um Strigoi.” Victor deu uma pausa calculada. “Claro, eu tenho certeza de que você não se importa muito com essa última parte. Sabe, se eu encontrasse vocês dois, eu provavelmente poderia atirar em vocês e ser recebido de volta como herói.”

“Não aposte nisso.” A raiva queimou dentro de mim, tanto com sua

insinuação quanto porque ele causou tantos problemas a Dimitri e a mim no passado. Com grande força de vontade, eu respondi em uma voz baixa e mortal. “Eu vou achar você. E você provavelmente não viverá para ver as autoridades.”

“Nós estabelecemos que assassinato não está na sua lista de habilidades.”

Victor sentou em uma das cadeiras acolchoadas, deixando-se confortável. Robert continuava de pé, aquela expressão fora daqui dele ainda em seu rosto. “Agora, a primeira coisa que nós precisamos fazer é determinar por que alguém iria desejar matar nossa ex rainha. Sua personalidade abrasiva dificilmente seria uma motivação, embora eu tenha certeza de que não atrapalhou. Pessoas fazem coisas assim por poder e vantagens, para avançar seus planos. Pelo que ouvi, a ação mais controversa de Tatiana nos últimos tempos foi a lei da idade – isso, aquela mesma. Aquela que faz você fazer essa carranca para mim. É razoável pensar que seu assassino se opunha a isso.”

Eu não queria concordar com Victor de forma alguma. Eu não queria ter

uma discussão razoável com ele. O que eu queria era algum indício de onde ele estava na vida real, e então, eu queria correr o risco de bater contra aquela parede invisível de novo. Valeria o risco se eu pudesse causar algum dano. Então, eu surpreendi a mim mesma quando me peguei dizendo, “Ou, quem quer que tenha feito isso queria forçar algo ainda pior – algo mais duro para os dhampirs. Eles acharam que seu decreto era muito leve.”

Eu admito, pegar Victor Dashkov despreparado era uma das maiores

alegrias da minha vida. Eu tinha a satisfação agora, vendo suas sobrancelhas se erguerem em surpresa. Não era fácil propor algo que um mestre planejador

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como ele ainda não tivesse considerado. “Interessante,” ele disse por fim. “Eu posso ter subestimado você, Rose. É uma dedução brilhante de sua parte.”

“Bem, é... isso não foi exatamente dedução minha.” Victor esperou pacientemente. Até Robert saiu de seu transe e focou em

mim. Era assustador. “Foi de Tatiana. Quer dizer, não foi dedução dela. Ela disse diretamente –

bem, o bilhete que ela me deixou diz.” Por que eu estava gaguejando na frente desses caras? Pelo menos, eu surpreendi Victor de novo.

“Tatiana Ivashkov deixou um bilhete para você com informação

clandestina? Com que objetivo?” Eu mordi meu lábio e voltei minha atenção para uma das pinturas. Essa

mostrava uma mulher Moroi elegante com aqueles olhos verdes de jade que a maioria dos Dashkovs e Dragomir compartilhavam. Eu me perguntei subitamente se Robert formou esse sonho em alguma mansão Dashkov de sua infância. Movimentos na minha periferia me fez voltar a atenção imediatamente para os irmãos.

Victor levantou e deu alguns passos em minha direção, curiosidade e

esperteza emanando dele. “Há mais. O que mais ela disse a você? Ela sabia que estava em perigo. Ela sabia que essa lei fazia parte disso... mas não era só isso, era?”

Eu permaneci em silêncio, mas uma ideia maluca começou a se formar na

minha cabeça. Eu estava realmente considerando deixar Victor me ajudar. É claro, em retrospecto, essa noção não era tão louca, considerando que eu já o livrara da prisão para conseguir sua ajuda.

“Tatiana disse...” eu devia dizer? Eu devia revelar o segredo que nem Lissa

sabia? Se Victor soubesse onde estava o último Dragomir, ele poderia usar esse conhecimento em um de seus esquemas. Como? Eu não tinha certeza, mas havia aprendido há tempo a esperar qualquer coisa vinda dele. Ainda assim... Victor sabia vários segredos Moroi. Eu teria gostado de ver ele e Abe disputando conhecimento. E eu não duvidava que muito do conhecimento interno de Victor envolvia Dragomirs e Dashkovs. Eu engoli. “Tatiana disse que há outro Dragomir. Que o pai de Lissa teve um caso e que, se eu pudesse achar essa pessoa, vai dar a Lissa poder no Conselho.”

Quando Victor e Robert trocaram olhares chocados, eu soube que meu

plano havia saído pela culatra. Victor não me daria nenhuma informação. Ao

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invés disso, eu tinha sido aquela a entregar informação valiosa. Droga, droga, droga.

Ele voltou sua atenção de novo para mim, sua expressão especulativa.

“Então. Eric Dragomir não era o santo que ele queria mostrar tão frequentemente.”

Eu cerrei meus punhos. “Não fale mal do pai dela.” “Não sonharia com isso. Eu gostava imensamente de Eric. Mas sim... se isso

for verdade, então Tatiana está certa. Tecnicamente, Vasilisa tem uma família por trás, e suas visões liberais certamente causariam alguma fricção na Corte que nunca parece mudar seus modos.” Ele riu. “Sim, eu definitivamente posso ver isso incomodando muita gente – incluindo um assassino que queira oprimir dhampirs. Eu imagino que ele ou ela não iria querer que esse conhecimento vazasse.”

“Alguém já tentou se livrar dos dados ligando o pai de Lissa a uma dama.”

Eu falei de novo sem pensar e me odiei por isso. Eu não queria dar mais informação aos irmãos. Eu não queria agir como se estivéssemos todos trabalhando juntos.

“E me deixe adivinhar,” disse Victor. “É isso que você está tentando fazer,

não é? Achar o Dragomir bastardo.” “Ei, não –” “É só uma expressão,” ele interrompeu. “Se eu conheço vocês duas – e eu

tenho confiança de que conheço – Vasilisa está tentando desesperadamente limpar seu nome na Corte enquanto você e Belikov estão em uma aventura sexualmente carregada para achar o irmão ou irmã dela.”

“Você não sabe nada sobre nós,” eu grunhi. Realmente carregada

sexualmente. Ele deu de ombros. “Seu rosto diz tudo. E realmente, não é uma má ideia.

Não é ótima também, mas não é ruim. Dê um quorum à família Dragomir, e você terá uma voz falando por você no Conselho. Eu suponho que vocês não tenham nenhuma pista?”

“Estamos trabalhando nisso,” eu respondi evasivamente. Victor olhou para Robert. Eu sabia que os dois não tinham nenhuma

comunicação psíquica, mas eles trocaram olhares. Eu tinha a impressão de que

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os dois estavam pensando a mesma coisa e confirmando um com o outro. Por fim, Victor aquiesceu e se voltou de novo para mim.

“Muito bem, então. Vamos ajudá-la.” Ele fez isso soar como se estivesse

concordando relutantemente em me fazer um imenso favor. “Não precisamos da sua ajuda!” “Claro que precisam. Você está fora da sua liga, Rose. Você está

caminhando para um ninho de políticas feias e complicadas – algo com que não tem experiência. Não existe vergonha em reconhecer isso, assim como eu não me envergonho em reconhecer que, em uma luta mano-a-mano irracional e mal planejada, você certamente se provaria superior.”

Outro elogio com insulto. “Estamos indo muito bem. Temos uma Alquimista

nos ajudando.” Aqui. Isso ia mostrar a ele quem estava fora da liga. E, para o meu crédito, ele pareceu impressionado. Bem pouco.

“Melhor do que eu esperava. Sua Alquimista já conseguiu alguma pista ou

localização?” “Ela está trabalhando nisso,” eu repeti. Ele exalou em frustração. “Vamos precisar de tempo então, não vamos?

Tanto para Vasilisa investigar a Corte e para você começar a buscar essa criança.”

“É você quem age como se soubesse de tudo,” eu analisei. “Eu imaginei que

você saberia algo sobre isso.” “Para meu desgosto, não.” Victor não soava tão chateado assim. “Mas assim

que tivermos alguma pista, eu asseguro a você, eu serei essencial em desvendá-la.” Ele caminhou até seu irmão e deu um tapinha confortante no braço dele. Robert olhou em adoração. “Vamos visitá-la novamente. Deixe-nos saber quando tiver algo de útil, e então nós vamos encontrar com você.”

Meus olhos se arregalaram. “Você não iria –” Eu hesitei. Eu deixei Victor

escapar em Las Vegas. Agora, ele se oferecia para vir até mim. Talvez eu pudesse consertar aquele erro e cumprir minha ameaça de mais cedo. Rapidamente, eu tentei recuperar meu lapso de palavras. “Como posso saber que posso confiar em você?”

“Você não pode,” ele disse sem meias palavras. “Você tem que por fé que o

inimigo do seu inimigo é seu amigo.”

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“Eu sempre odiei esse ditado. Você sempre será meu inimigo.” Eu fiquei um pouco surpresa quando Robert subitamente fez sinal de vida.

Ele me encarou e deu um passo para frente. “Meu irmão é um homem bom, garota das sombras! Se você machucar ele... se você machucar ele, vai pagar. E, da próxima vez, não vai voltar. O mundo dos mortos não desistirá de você uma segunda vez.”

Eu sabia melhor do que dar ouvidos a ameaças de um homem louco, mas as

últimas palavras dele me deixaram arrepiada. “Seu irmão é um psico –” “Chega, chega.” Victor deu outro tapinha calmante no braço de Robert.

Ainda me olhando feio, o irmão Dashkov mais novo deu as costas, mas eu preferia apostar que a parede invisível ainda estava lá. “Isso não nos faz bem algum. Estamos perdendo tempo – que é algo do qual não dispomos o bastante. Precisamos de mais. As eleições para monarca começarão a qualquer dia, e o assassino de Tatiana pode ter a mão nisso se ele realmente tem planos em andamento. Precisamos atrasar as eleições – não só para estragar os planos do assassino, mas também para nos dar tempo de cumprir nossas tarefas.”

Eu estava ficando cansada de tudo isso. “É? E como você propõe que

façamos isso?” Victor sorriu. “Colocando Vasilisa como candidata a rainha.” Vendo como estávamos lidando com Victor Dashkov, eu não devia me

surpreender com nada do que ele dizia. Era um atestado do seu nível de loucura a forma como ele me pegava constantemente despreparada.

“Isso,” eu declarei, “é impossível.” “Não realmente,” ele respondeu. Eu joguei minhas mãos para o ar em exasperação. “Você não estava

prestando atenção no que estamos falando? Todo o ponto de Lissa ter direitos de família plenos com os Moroi. Ela nem pode votar! Como poderia concorrer a rainha?”

“Na verdade, a lei diz que ela pode. De acordo com a política de nominação

escrita, uma pessoa de cada linha real pode concorrer à posição de monarca. Isso é tudo o que diz ali. Uma pessoa de cada linha pode concorrer. Não menciona quantas pessoas ela precisa ter na família, como tem para ela votar

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no Conselho. Ela só precisa de três nominações – e a lei não especifica de que família elas vem.”

Victor falou em uma maneira tão precisa que ele poderia estar recitando

um livro de lei. Perguntei-me se ele tinha todas as leis memorizadas. Eu imaginei que, se você ia levar sua carreira quebrando as leis, você bem que poderia conhecê-las.

“Quem quer que tenha escrito a lei provavelmente assumiu que o candidato

teria membros na família. Eles simplesmente não se preocuparam em colocar no papel. É isso que as pessoas vão dizer quando Lissa entrar nas eleições. Elas vão lutar contra isso.”

“Eles podem lutar o quanto quiserem. Os que lhe negam um espaço no

Conselho baseiam isso em uma linha nos livros da lei que menciona outro membro na família. Se esse é o argumento deles, que cada detalhe precisa contar, então eles precisam fazer o mesmo com as leis das eleições – a qual, como eu disse, não menciona suporte familiar. Essa é a beleza desse furo. Os oponentes dela não podem ter tudo o que querem.” Um sorriso surgiu nos lábios de Victor, com uma confiança suprema. “Eu asseguro a você, não há nada nesse mundo que a previna de fazer isso.”

“E quanto à idade dela?” eu lembrei. “O príncipe e a princesa que

competem sempre são velhos.” O título de príncipe ou princesa ia para o membro mais velho da família, e tradicionalmente, era essa a pessoa que concorria para ser rei ou rainha. A família podia decidir nominar alguém que se encaixasse melhor no cargo mas, mesmo assim – até onde eu sabia – era alguém mais velho e experiente.

“A única restrição de idade é ser adulto,” disse Victor. “Ela tem dezoito

anos. Ela se qualifica. As outras famílias tem muito mais possibilidades então, naturalmente, eles escolhem alguém que seja mais experiente. O caso dos Dragomir? Bem, isso não é opção agora, é? Além disso, monarcas jovens não são casos sem precedentes. Houve uma rainha muito famosa – Alexandra – que não era muito mais velha que Vasilisa. Muito bem amada, muito extraordinária. Sua estátua está nos jardins da igreja da Corte.”

Eu me mexi desconfortável. “Na verdade... ela, hm, não está mais lá. Ela

meio que explodiu.” Victor só ficou olhando. Ele parecia ter ouvido sobre minha fuga mas não

sobre todos os detalhes.

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“Não é importante,” eu disse apressadamente, me sentindo culpada por ser diretamente responsável por explodir uma rainha renomada. “Toda essa ideia de usar a Lissa é ridícula.”

“Você não será a última que vai pensar isso,” Victor disse. “Eles vão

argumentar. Eles vão lutar. No final, a lei vai prevalecer. Eles vão ter que deixá-la concorrer. Ela irá fazer os testes e provavelmente vai passar. Então, quando a votação vier, as leis que governam esses procedimentos fazem referência a um membro da família ajudando com voto.”

Minha cabeça estava girando agora. Eu me sentia mentalmente exausta por

ouvir sobre todos esses furos legais e tecnicalidades. “Diga isso de modo simples, por favor,” eu pedi. “Quando a votação vier, ela não será elegível. Ela não tem família para

cumprir o papel exigido para a verdadeira votação. Em outras palavras, a lei diz que ela pode concorrer e fazer os testes. Ainda assim, as pessoas não podem votar nela de verdade porque ela não tem família.”

“Isso é... idiota.” “De acordo.” Ele pausou. Eu acho que nenhum de nós havia esperado

concordar em alguma coisa. “Lissa odiaria isso. Ela nunca, nunca iria querer ser a rainha.” “Você não está acompanhando?” exclamou Victor. “Ela não vai ser a rainha.

Ela não pode. É uma lei mal escrita para uma situação que ninguém previu. É uma bagunça. E vai complicar tanto as eleições que teremos tempo extra para encontrar o irmão ou irmã de Vasilisa e descobrir quem realmente matou Tatiana.”

“Ei! Eu disse pra você: não há ‘nós’ aqui. Eu não vou –” Victor e Robert trocaram olhares. “Faça Vasilisa ser nomeada,” disse Victor abruptamente. “Vamos contatar

você em breve para a busca pelo Dragomir.” “Isso não é –” Eu acordei.

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Minha reação imediata foi xingar, mas então, lembrando onde eu estava, mantive meus palavrões dentro da minha cabeça. Eu podia distinguir a silhueta de Dimitri em um canto, alerta e vigilante, e eu não queria que ele soubesse que eu estava acordada. Fechando os olhos, eu fiquei em uma posição mais confortável, esperando por sono de verdade e por bloquear os irmãos Dashkov e seus esquemas ridículos. Lissa concorrendo para ser rainha? Isso era loucura. E, ainda assim... não era muito mais louco que a maioria das coisas que eu já fiz.

Deixando isso de lado, eu deixei meu corpo relaxar e senti o puxão de sono

de verdade começar a me derrubar. Ênfase em começar. Porque, subitamente, eu senti outro sonho de espírito se materializar ao meu redor.

Aparentemente, essa seria uma noite ocupada.

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ONZE

EU ME PREPAREI, EXPERANDO ver os irmãos Dashkov aparecerem novamente com algum “conselho” de ultima hora. Ao invés disso eu vi –

“Adrian!” Eu corri através do jardim que apareceu e joguei meus braços ao redor dele.

Ele me abraçou com tanta força quanto eu e me ergueu do chão. “Pequena Dhampir,” ele disse, assim que me soltou. Seus braços

permaneceram ao redor da minha cintura. “Eu senti sua falta.” “Também senti.” E falei sério. Os últimos dias e seus eventos bizarros

tinham bagunçado completamente minha vida, e estar com ele – mesmo em um sonho – era reconfortante. Eu fiquei na ponta dos pés e o beijei, aproveitando aquele pequeno momento de calor e paz quando nossos lábios se encontraram.

“Você está bem?” ele perguntou quando me afastei. “Ninguém me disse

muita coisa. Seu velho diz que você está segura e que os Alquimistas avisariam se algo estivesse errado.”

Eu não me incomodei em dizer a Adrian que isso provavelmente não era

verdade, já que Abe não sabia que estávamos na floresta com alguns vampiros. “Estou bem,” assegurei a Adrian. “Na maior parte apenas chateada.

Estamos num buraco de cidade. Não acho que alguém virá procurar por nós. Eu não acho que eles vão querer.”

Alívio se espalhou por seu bonito rosto, e me ocorreu o quão preocupado

ele estava. “Fico feliz. Rose, você não pode imaginar algo assim. Eles não só querem questionar você por seu envolvimento. Os guardiões estão fazendo todo tipo para te caçar. Tem uma conversa sobre ‘força letal’.”

“Bem, eles não vão me encontrar. Estou em um lugar bem remoto.” Muito

remoto. “Eu queria ter ido com você.” Ele ainda parecia preocupado, pressionei um dedo em seus lábios. “Não.

Não diga isso. É melhor que você esteja aí – é melhor não ser associado mais comigo do que você já é. Você foi interrogado?”

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“Yeah, eles não conseguiram nada útil comigo. Tinha um álibi muito bom. Eles me chamaram quando fui falar com Mikhail porque nós conversamos com –”

“Eu sei. Joe.” A surpresa de Adrian foi breve. “Pequena dhampir, você esteve

espionando.” “É difícil não espionar.” “Sabe, por mais que eu goste da ideia de ter alguém que sempre sabe

quando você está com problemas, eu ainda estou meio feliz que ninguém está ligado a mim. Não tenho certeza se eu gostaria de alguém olhando na minha cabeça.”

“Eu também não acho que alguém iria querer olhar na sua cabeça. Um

Adrian Ivashkov é difícil o bastante.” Diversão passou nos olhos dele, mas sumiu quando voltei aos negócios. “De qualquer forma, yeah. Eu ouvi Lissa... um, interrogando Joe. Isso foi sério. O que Mikhail disse? Se Joe mentiu, isso tira metade das evidências contra mim.” Eu também teoricamente matei o álibi de Adrian.

“Bem, não metade. Seria melhor se Joe dissesse que você estava no seu

quarto durante o assassinato ao invés de admitir que não lembra de nada. Também seria melhor se ele não tivesse dito isso por causa da compulsão de Lissa. Mikhail não pode reportar isso.”

Eu suspirei. Andando com usuários de espírito, eu comecei a superestimar

compulsão. Era fácil esquecer que entre os Moroi, era um tabu, o tipo de coisa que você se metia em problemas por usar. Na verdade, Lissa não se meteria em problemas por usar ilicitamente. Ela também seria acusada de simplesmente fazer Joe dizer o que quer que ela quisesse. Tudo que ele dissesse em meu favor seria suspeito. Ninguém acreditaria. “E também,” acrescentou Adrian, parecendo chateado, “se o que Joe disse vazar, o mundo saberia mais sobre o ato ilícito de amor da minha mãe.”

“Desculpe,” eu disse, colocando meus braços ao redor dele. Ele reclamava

dos seus pais o tempo todo mas se importava com sua mãe. Descobrir sobre a corrupção dela foi difícil para ele, e eu sabia que a morte de Tatiana ainda o afetava. Parecia que eu estava entre muitos homens angustiados ultimamente. “Embora eu fique realmente feliz por ter te liberado de qualquer conexão.”

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“Foi idiota da parte dela. Se alguém descobrir, ela vai se meter em sérios problemas.”

“Qual foi o conselho de Mikhail?” “Ele vai encontrar Joe e o interrogar sozinho. Partir daí. Por agora, não tem

muito mais coisas que possamos fazer com a informação. É inútil para nós... mas não para o sistema jurídico.”

“Yeah,” eu disse, tentando não me sentir para baixo. “Eu acho que isso é

melhor que nada.” Adrian acenou e então afastou seu humor negro naquele jeito fácil dele.

Ainda mantendo seus braços ao meu redor, ele se afastou levemente, sorrindo e olhando para mim. “Bonito vestido, por sinal.”

A mudança de assunto me pegou de surpresa, embora eu já devesse estar

acostumada. Seguindo o olhar dele, eu notei que estava usando um antigo vestido meu, o vestido preto sexy que eu usava quando Victor fez aquele feitiço de luxuria em Dimitri e eu. Já que Adrian não tinha me vestido para aquele sonho, meu subconsciente ditou minha aparência. Eu estava meio surpresa por ter escolhido isso.

“Oh...” eu de repente me senti constrangida mas não sabia porque. “Minhas

próprias roupas estão começando a me derrotar. Eu acho que queria algo para contradizer isso.”

“Bem, fica bem em você.” Os dedos de Adrian deslizaram pela manga.

“Muito bom.” Mesmo em um sonho, o toque dos seus dedos fazia minha pele formigar.

“Cuidado, Ivashkov. Não temos tempo para isso.” “Estamos dormindo. O que mais vamos fazer?” Meus protestos foram abafados por um beijo. Eu mergulhei nele. Uma das

mãos dele deslizou pela minha coxa, perto da beira do vestido, e eu precisei de muita energia mental para me convencer que ele tirar o vestido provavelmente não ia limpar meu nome. Eu relutantemente me afastei.

“Vamos descobrir quem matou Tatiana,” eu disse, tentando recuperar o

fôlego.

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“Não tem ‘nós’,” ele disse, ecoando o que Victor tinha dito. “Tem eu. E Lissa. E Christian. E o resto dos seus amigos desajeitados.” Ele acariciou meu cabelo e então me puxou para perto de novo, dando um beijo contra minha bochecha. “Não se preocupe, pequena dhampir. Você cuide de si. Fique onde está.”

“Não posso,” eu disse. “Não entende? Eu não posso fazer nada.” As palavras

estavam fora da minha boca antes de eu poder impedi-las. Era uma coisa protestar minha inatividade com Dimitri, mas com Adrian, eu precisava fazer ele e todos da Corte pensarem que eu estava fazendo a ‘coisa certa’.

“Você precisa. Vamos cuidar de você.” Ele não entendeu, eu percebi. Ele

não entendia o quanto eu precisava fazer algo para ajudar. Para crédito dele, suas intenções eram boas. Ele achou que cuidar de mim era algo importante. Ele queria me manter segura. Mas ele não entendia o quão agonizante era para mim ficar parada. “Vamos encontrar essa pessoa e a impedir de fazer o que quer que... ela queira. Pode levar muito tempo, mas vamos ajeitar as coisas.”

“Tempo...” eu murmurei contra seu peito, sem dizer nada. Eu não chegaria

à lugar nenhum o convencendo que eu precisava ajudar meus amigos, e de qualquer forma, eu tinha minha própria busca agora. Tanta coisa pra fazer, tão pouco tempo. Eu encarei a paisagem que ele criou. Eu notei que as árvores e flores mas só agora percebi que estávamos no quintal da Corte – como era antes de Abe atacar. A estátua da rainha Alexandra estava intacta, seu longo cabelo e olhos imortalizados em pedra. A investigação de assassinato realmente estava nas mãos dos meus amigos por agora, mas Adrian estava certo: podia levar um tempo. Eu suspirei. “Tempo. Precisamos de mais tempo.”

Adrian se afastou levemente. “Hmm? O que você disse?” Eu o encarei, mordendo meu lábio conforme um milhão de pensamentos

passava por minha mente. Eu de novo olhei para Alexandra e fiz minha decisão, me perguntando se eu estava pronta para estabelecer um novo Record de tolice. Eu virei de volta para Adrian e apertei sua mão.

“Eu disse que precisamos de mais tempo. E sei como conseguir... mas...

bem, tem algo que você precisa fazer por mim. E você, uh, provavelmente não deveria dizer para Lissa ainda...”

Eu tive tempo o bastante só para dar a Adrian minhas instruções – que

estava tão chocado quanto eu esperava – antes de Dimitri me acordar para o meu turno. Nós trocamos com pouca conversa. Ele tinha seu rosto durão usual, mas eu podia ver linhas de fadiga em suas feições. Eu não queria incomodar ele – ainda – com o encontro com Victor e Robert. Sem mencionar o que eu tinha

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acabado de dizer para Adrian fazer. Haveria muito tempo para contar tudo depois. Dimitri caiu no sono facilmente, e Sydney nunca se mexeu o tempo todo. Eu a invejei por sua noite de sono mas não consegui me impedir de sorrir conforme o quarto ficava cada vez mais iluminado. Ela inadvertidamente foi colocada no horário dos vampiros devido a todas as nossas noites de aventura.

É claro, Lissa estava no mesmo horário, o que significava que eu não podia

visitá-la durante meu turno. Tudo bem. Eu precisava manter atenção nessa coleção bizarra que nós trombamos. Esses Keepers podiam não querer nos entregar, mas isso não fazia deles inofensivos também. Eu também não tinha esquecido o medo de Sydney de uma visita surpresa dos Alquimistas.

Quando a tarde veio para o resto do mundo, eu ouvi barulhos na casa.

Gentilmente toquei o ombro de Dimitri, e ele acordou instantaneamente. “Calma,” eu disse, incapaz de esconder um sorriso. “Só estou te acordando.

Parece que nossos amigos estão acordados.” Dessa vez, nossas vozes acordaram Sydney. Ela foi em nossa direção, seus

olhos cerrados com a luz que saía pela janela. “Que horas são?” ela perguntou, se espreguiçando.

“Não tenho certeza.” Não tinha relógio. “Provavelmente passa do meio dia.

Três? Quatro?” Ela sentou quase tão rapidamente quanto Dimitri. “Da tarde?” A luz do sol

deu a ela a resposta. “Merda vocês e seus horários malucos.” “Você acabou de dizer ‘merda’? Isso não é contra as regras dos

alquimistas?” eu provoquei. “Às vezes é necessário.” Ela esfregou seus olhos e olhou para a porta. O

fraco barulho que eu ouvi no resto da casa estava mais alto agora, audível até para ela. “Eu suponho que precisamos de um plano.”

“Temos um,” eu disse. “Encontrar o irmão de Lissa.” “Eu nunca concordei totalmente com isso,” ela me lembrou. “E vocês ficam

achando que eu posso magicamente encontrar todas as respostas como uma hacker de filme.”

“Bem, pelo menos é um lugar para –” Uma ideia me ocorreu, uma que

podia seriamente bagunçar tudo. “Merda. Seu laptop nem vai funcionar aqui.”

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“Eu tenho um modem via satélite, mas é com baterias que temos que nos preocupar.” Sydney suspirou e levantou, alisando suas roupas. “Eu preciso de uma cafeteria ou algo assim.”

“Eu acho que vi uma na estrada,” eu disse. Isso quase a fez sorrir. “Tem que haver uma cidade próxima onde possa usar

meu laptop.” “Mas provavelmente não é uma boa idade levar o carro para qualquer lugar

nesse estado,” disse Dimitri. “Só para caso de alguém do motel ter anotado a placa.”

“Eu sei,” ela disse. “Eu estava pensando nisso também.” Nossa brilhante conversa foi interrompida por uma batida na porta. Sem

esperar resposta, Sarah enfiou sua cabeça para dentro e sorriu. “Oh, bom. Vocês estão acordados. Estamos preparando café da manhã se quiserem se juntar a nós.”

Através da porta, o cheiro de algo que parecia um café da manhã normal

entrou: bacon, ovos... o pão me fez passar a noite, mas eu estava pronta para comida de verdade e disposta a arriscar o que quer que a família de Raymond tinha para oferecer.

Na parte principal da casa, encontramos uma confusão de atividades

domésticas. Raymond parecia estar cozinhando algo na lareira, segurando uma grande bandeja de metal coberta com bacon. Um sorriso passou por seu rosto quando nos viu. Quanto mais eu via esses Keepers, mais eu notava algo. Eles não faziam tentativas de esconder suas presas. Desde criança meus Moroi eram ensinados a falar e sorrir de uma forma que não mostrasse muito as presas, caso estivessem em cidades humanas. Não havia nada assim aqui.

“Bom dia,” disse Raymond, cuidadosamente colocando o bacon em outra

bandeja na mesa. “Espero que estejam com fome.” “Você acha que aquilo, é tipo, bacon de verdade?” eu sussurrei para Sydney

e Dimitri. “E não tipo, esquilo ou algo assim?” “Parece real para mim,” disse Dimitri. “Eu digo o mesmo,” disse Sydney. “Embora, eu garanta que seja de seus

próprios porcos e não da mercearia.”

Page 121: Last sacrifice academia de vampiros

Dimitri riu da expressão que cruzou meu rosto. “Eu sempre adoro ver o que te preocupa. Strigoi? Não. Comida questionável? Sim.”

“O que tem Strigoi?” Joshua e Angeline entraram na casa. Ele tinha uma tigela de amoras, e ela

estava trazendo crianças. Pela sujeira de seus rostos, eles claramente queriam voltar lá pra fora. Quem fez a pergunta foi Angeline.

Dimitri me acobertou. “Só estamos falando sobre algumas derrotas de

Strigoi de Rose.” Joshua parou e me encarou, aqueles olhos azuis arregalados de surpresa.

“Você matou os Lost? Er – Strigoi?” Eu admirei a tentativa dele de usar ‘nosso’ termo. “Quantos?”

Eu dei de ombros. “Eu não sei mais.” “Você não usa as marcas?” Raymond perguntou. “Eu não achava que os

Tainted tinham abandonado elas.” “As marcas – oh. Yeah. Nossas tatuagens? Usamos.” Eu virei e ergui meu

cabelo. Eu ouvi um barulho de pés e então senti um dedo tocando minha pele. Eu me encolhi e virei, em tempo de ver Joshua baixando sua mão.

“Desculpe,” ele disse. “Eu só nunca vi algumas dessas. Só as marcas molnija.

É como contamos nossas matanças de Strigoi. Você tem... muitas.” “A marca em forma de S é única para eles,” disse Raymond desaprovador.

Aquele olhar foi rapidamente substituído por admiração. “As outras são zvezda.”

Isso ganhou ofegos de Joshua e Angeline um “O que?” de mim. “A marca da batalha,” disse Dimitri. “Não tem muitas pessoas que ainda a

chamam de zvezda. Significa estrela.” “Huh. Faz sentido,” eu disse. A tatuagem era, de fato, meio que na forma de

uma estrela e era dada a alguém que lutou numa batalha grande o bastante para perder a conta de quantos Strigoi foram mortos. Afinal de contas, só havia uma certa quantidade de marcas molnija que podíamos enfiar em nosso pescoço.

Page 122: Last sacrifice academia de vampiros

Joshua sorriu para mim de uma forma que fez meu estômago se remexer só um pouco. Talvez ele fosse parte de um culto pseudo-amish, mas isso não mudava o fato de que ele ainda era bonito. “Agora entendo como você pode ter matado a rainha Tainted.”

“Provavelmente é falsa,” disse Angeline. Eu estava prestes a protestar sobre a parte de ter matado a rainha, mas o

comentário dela me chamou atenção. “Não é! Eu a recebi quando Strigoi atacaram nossa escola. E então houveram muitos outros que matei depois disso.”

“A marca não pode ser tão incomum,” disse Dimitri. “Seu povo deve ter

grandes lutas com Strigoi de vez em quando.” “Na verdade não,” disse Joshua, seus olhos ainda em mim. “A maioria de

nós nunca lutou ou viu um Lost. Eles não nos incomodam.” Isso era surpreendente. Se havia algum alvo de Strigoi, um grupo de Moroi,

dhampirs e humanos no meio do nada seria minha aposta. “Porque não?” eu perguntei.

Raymond piscou para mim. “Porque nós lutamos.” Eu ponderei sobre aquilo conforme a família se sentava para comer. De

novo, eu pensei em toda disposição da comunidade para lutar quando chegamos. Era realmente o bastante para assustar Strigoi? Não tinha muita coisa que os assustava, mas talvez certas coisas fossem inconvenientes demais para se lidar. Eu me perguntei sobre a opinião de Dimitri em relação a isso. Sua própria família vinha de uma comunidade que se separou da vida Moroi, mas não era nada como isso.

Tudo passava pela minha cabeça enquanto comíamos e conversávamos. Os

Keepers ainda tinham muitas perguntas sobre nós e Tatiana. A única que não estava participando era Angeline. Ela comeu tão pouco quando Sydney e ficava me olhando de cara feia.

“Precisamos de suprimentos,” disse Sydney abruptamente, me

interrompendo no meio de uma história. Eu não me incomodei, mas os outros pareciam desapontados. “Onde fica a cidade mais próxima com uma cafeteria... ou algum restaurante?”

“Bem,” disse Paulette. “Rubysville fica à uma hora daqui. Mas temos muita

comida aqui pra você.”

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“Não é por causa da comida,” eu disse rapidamente. “A de vocês está

ótima.” Eu olhei para Sydney. “Uma hora não é ruim, certo?” Ela acenou e então olhou hesitante para Raymond. “Tem como... tem como

pegarmos emprestado um carro? Eu...” As próximas palavras claramente a causavam dor. “Eu vou deixar as chaves do meu até voltarmos.”

Ele arqueou uma sobrancelha. “Você tem um carro bonito.” Sydney deu de ombros. “Quanto menos dirigirmos por aqui, melhor.” Ele disse que poderíamos pegar sua caminhonete e que ele ‘provavelmente’

nem precisaria usar o sedam. Sydney deu a ele um sorriso de agradecimento, mas eu sabia que a imagem de vampiros mexendo em seu carro estava passando por sua mente.

Saímos logo depois, querendo voltar antes do sol se pôr. As pessoas

estavam na comunidade, fazendo suas tarefas o que quer que fosse que eles faziam de suas vidas. Um grupo de crianças estavam sentadas ao redor de um dhampir que lia um livro para eles, me fazendo imaginar que tipo de educação eles tinham por aqui.

Todos os Keepers paravam o que estavam fazendo quando passamos, nos

dando olhares de curiosidade e sorrisos. Eu sorria ocasionalmente mas na maior parte mantive meus olhos para frente. Joshua estava nos levando para o ‘estacionamento’ e conseguiu andar ao meu lado quando chegamos num espaço estreito.

“Espero que não demore muito,” ele disse. “Eu queria conversar mais.” “Claro,” eu disse. “Isso seria divertido.” Ele se alegrou e tirou do caminho um galho. “Talvez eu possa te mostrar

minha caverna.” “Sua – espera. O que? Você não mora com seu pai?” “Por enquanto. Mas estou conseguindo meu próprio lugar.” Havia orgulho

em sua voz. “Não tão grande, é claro, mas é um bom começo. Está quase toda limpa.”

“Isso é realmente, uh, ótimo. Definitivamente me mostre quando

voltarmos.” As palavras saíram facilmente dos meus lábios, mas minha mente

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estava ponderando o fato de que a casa de Raymond era aparentemente ‘grande’.

Joshua se separou de nós quando chegamos na caminhonete de Raymond,

uma picape vermelha com um assento que cabia nós três por pouco. Considerando que os Keepers não saiam muito da floresta, a caminhonete parecia ter muitos quilômetros. Ou talvez só muitos anos de desuso.

“Você não deveria falar com ele assim,” disse Dimitri, quando voltamos para

a estrada cerca de 10 minutos depois. Surpreendentemente, Sydney o tinha deixado dirigir. Eu acho que ela supôs que uma caminhonete máscula exigia um másculo motorista.

Agora que estávamos em movimento, minha mente se focou de volta na

tarefa que tínhamos a frente: encontrar o outro Dragomir. “Huh?” “Joshua. Você estava flertando com ele.” “Eu não estava! Estávamos só conversando.” “Você não está com Adrian?” “Sim!” eu exclamei, olhando feio para Dimitri. Os olhos dele estavam fixos

na estrada. “E por isso que não estava flertando. Como você pode achar tanto daquilo? Joshua nem gosta de mim desse jeito.”

“Na verdade,” disse Sydney, sentada entre nós, “ele gosta.” Eu virei incrédula em direção a ela. “Como você sabe? Ele passou um bilhete

para a turma ou algo assim?” Ela virou os olhos. “Não. Mas você e Dimitri são como deuses lá.” “Somos de fora,” eu a lembrei. “Tainted.” “Não. Vocês são matadores de Strigoi e rainhas. Pode tudo ter sido calmo e

cheio de hospitalidade lá, mas aquele povo pode ser selvagem. É muito importante ser capaz de bater nas pessoas. E, considerando o quanto a maioria deles é mal vestido, vocês são... bem... vamos apenas dizer que vocês são as coisas mais quentes que entram lá a algum tempo.”

“Você não é quente?” eu perguntei.

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“Sou irrelevante,” ela disse, ignorando meu comentário. “Alquimistas não estão no radar deles. Não lutamos. Eles acham que somos fracos.”

Eu pensei nos rostos e tinha que admitir que muitas daquelas pessoas tinha

um olhar desgastado. Quase. “A família da Raymond era bem bonita,” eu apontei. Eu ouvi um som de desaprovação de Dimitri que sem dúvidas aumentou as evidências de que estive flertando com Joshua.

“Yeah,” ela disse. “Porque provavelmente são as pessoas mais importantes

da cidade. Eles comem melhor, provavelmente não tem que trabalhar tanto no sol. Esse tipo de coisa faz diferença.”

Não havia mais conversa ou flerte conforme continuamos a dirigir.

Chegamos rápido em Rubysville, que parecia familiar a primeira cidade que estivemos. Quando paramos no posto de Rubysville, Sydney correu para dentro para fazer algumas perguntas. Ela voltou reportando que havia de fato uma cafeteria onde ela poderia ligar seu laptop e tentar procurar o que precisávamos.

Ela pediu café, e sentamos com ela, muito satisfeitos para pedir algo

substancial. Depois de alguns olhares feios de uma garçonete que parecia nos olhar como passantes, Dimitri e eu decidimos dar uma volta na cidade. Sydney pareceu quase tão contente quanto a garçonete com isso. Eu não acho que ela gostava de nos ter por perto.

Eu dei uma dura em Sydney sobre West Virginia, mas eu tinha que admitir

que o cenário era lindo. Árvores cheias de folhas, cercavam a cidade. Além delas, montanhas muito diferentes daquelas perto de St. Vladimir. Essas eram grandes e verdes, cobertas com mais árvores. A maioria das montanhas que cercava St. Vladimir era de pedra, geralmente com picos cheio de neve. Uma estranha sensação de nostalgia passou por mim, pensando em Montana. Havia uma boa chance de eu nunca mais a ver. Se eu passasse o resto da minha vida fugindo, St. Vladimir era o último lugar que eu iria. Se eu fosse pega, bem... então eu definitivamente não veria Montana de novo.

“Ou qualquer lugar,” eu murmurei, falando em voz alta sem querer. “Hmm?” perguntou Dimitri. “Eu só estava pesando se os guardiões nos encontrarem. Eu nunca percebi o

quanto eu quero fazer e ver. De repente, tudo está em jogo, sabe?” Fomos para a lateral da rua e uma picape laranja passou. Crianças de uma escola estavam rindo atrás. “Ok, supondo que meu nome não seja limpo e nunca encontremos o verdadeiro assassino. Qual a próxima melhor opção? Eu: sempre fugindo,

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sempre me escondendo. Essa será minha vida. Até onde sabemos, eu vou ter que ir viver com os Keepers.”

“Eu não acho que vai chegar a isso,” disse Dimitri. “Abe e Sydney iriam

ajudar a encontrar um lugar seguro para você.” “Existe lugar seguro? De verdade? Adrian disse que os guardiões estavam

aumentando seus esforços de nos encontrar. Eles tem alquimistas e provavelmente autoridades humanas procurando por nós também. Não importa onde formos, vamos correr o risco de sermos vistos. Então teremos que partir. Será assim para sempre.”

“Você vai estar viva,” ele apontou. “É isso que importa. Aproveite o que

você tem, cada detalhe de onde você estiver. Não se foque onde você não está.”

“Yeah,” eu admiti, tentando seguir seu conselho. O céu parecia um pouco

mais escuro, os pássaros um pouco mais escandalosos. “Eu suponho que eu não deveria reclamar sobre os lugares maravilhosos que eu não poderei ver. Eu deveria ficar agradecida por ver qualquer coisa. E por não estar vivendo numa caverna.”

Ele olhou para mim e sorriu, algo ilegível em seus olhos. “Onde você quer

ir?” “O que, agora?” eu olhei ao redor, avaliando minhas opções. Havia uma loja

de iscas, uma farmácia, e uma sorveteria. Eu tinha a sensação que aquele último seria uma necessária viagem antes de partirmos.

“Não, no mundo.” Eu o encarei. “Sydney vai ficar fula se a levarmos para Istambul ou algo

assim.” Isso o fez rir. “Não é o que eu estava pensando. Vamos.” Eu o segui em direção ao que parecia ser a loja de iscas e então notei um

pequeno prédio atrás dela. Naturalmente, os olhos afiados dele viram o que eu perdi – provavelmente porque eu estava fissionada na sorveteria. BIBLIOTECA PÚBLICA RUBYSVILLE.

“Whoa, hey,” eu disse. “Uma das poucas alegrias de se formar é evitar

lugares como esse.”

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“Provavelmente tem ar condicionado,” ele apontou. Eu olhei para a minha encharcada blusa e notei uma coloração rosada em

minha pele. Com meu complexo bronzeado, eu raramente me queimava, mas esse era um sol forte – mesmo tão tarde do dia. “Lidere o caminho,” eu disse a ele.

A biblioteca estava misericordiosamente fresca, embora fosse menor que a

de St. Vladimir. Com um sentido sobrenatural (ou talvez só um conhecimento do sistema decimal de Dewey), Dimitri nos levou até a sessão de viagens – que tinha dez livros, três sobre West Virginia. Ele franziu.

“Não era o que eu esperava.” Ele passou os olhos pela prateleira duas vezes

e então tirou um livro colorido chamado Os 100 melhores lugares para visitar no mundo.

Sentamos de pernas cruzadas no chão, e ele me entregou o livro. “De jeito

nenhum, camarada,” eu disse. “Eu sei que livros são uma jornada para imaginação, mas não acho que esteja disposta a isso hoje.”

“Só pegue,” ele disse. “Feche os olhos, e abra em uma página aleatória.” Parecia bobo considerando o resto da minha vida, mas o rosto dele estava

sério. Obedecendo, eu fechei meus olhos e selecionei uma página no meio. Eu abri.

“Mitchel, Dakota do Sul?” eu exclamei. Lembrando que eu estava numa

biblioteca, eu baixei minha voz. “De todos os lugares do mundo, isso está no top 100?”

Ele estava sorrindo de novo, e eu esqueci o quanto sentia falta disso. “Leia.” “Localizado há noventa minutos dentro das cataratas de Sioux, Mitchell é a

lar do Palácio de Milho.” Eu olhei para ele descrente. “Palácio de Milho?” Ele se mexeu ao meu lado, se inclinando para olhar as fotos. “Eu acho que é

feito de milho,” ele apontou. As fotos mostravam o que parecia o Oriente Médio – ou até a Rússia – um prédio estiloso, com domos redondos.

“Eu também,” relutantemente, eu acrescentei, “eu vou visitar. Eu aposto

que eles tem ótimas camisetas.” “E,” ele disse, um olhar bobo, “eu aposto que nenhum guardião iria nos

procurar lá.”

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Eu não tentei esconder meu riso, imaginando a gente vivendo como

fugitivos no Palácio de Milho o resto de nossas vidas. Minha diversão nos trouxe uma reprovação da bibliotecária, e ficamos quietos quando Dimitri tomou sua vez. “São Paulo, Brasil. Então minha vez: Honolulu, Hawaii. Folheamos o livro, e rapidamente estávamos ambos deitados no chão, lado a lado, partilhando reações diversas enquanto continuávamos nosso ‘tour global imaginado’. Nossos braços e pernas quase se tocavam.

Se alguém me falasse dezoito horas atrás que eu estaria deitada na

biblioteca com Dimitri, lendo um livro de viagens, eu diria que ele estava louco. Quase tão louco quando perceber que eu estava fazendo algo perfeitamente normal e casual com ele. Desde o momento que nos encontramos, nossas vidas foram cheias de segredos e perigo. E na realidade, isso ainda dominava nossas vidas. Mas naquelas poucas horas, o tempo parou. Estávamos em paz. Éramos amigos.

“Florença, Itália,” eu li. Fotos de elaboradas igrejas e galerias enchiam as

páginas. “Sydney quer ir lá. Ela queria estudar lá, na verdade. Se Abe conseguisse isso, eu acho que ela o serviria para o resto da vida.”

“Ela ainda é bem obediente,” Dimitri respondeu. “Eu não a conheço tão

bem, mas tenho certeza que Abe tem algo contra ela.” “Ele a trouxe da Rússia de volta aos EUA.” Ele balançou sua cabeça. “Tem que ser mais que isso. Alquimistas são leais a

suas ordens. Eles não gostam de nós. Ele esconde – eles são treinados para isso – mas cada minuto com os Keepers é uma agonia. Para ela nos ajudar e trair seus superiores, ela deve a ele por algum motivo sério.”

Nós dois paramos por um momento, nos perguntando que misterioso

negócio meu pai tinha com ela. “Mas é irrelevante. Ela está nos ajudando, que é o que importa... e nós provavelmente deveríamos voltar.”

Eu sabia que ele tinha razão mas odiei ir. Eu queria ficar aqui, nessa ilusão

de segurança e tranquilidade, me permitindo acreditar que eu podia realmente ir ao Parthenon ou ao Palácio de Milho algum dia. Eu entreguei o livro de volta para ele. “Mais um.”

Ele escolheu sua página aleatória e abriu o livro. O sorriso dele caiu. “São

Petersburgo.”

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Uma estranha sensação de sentimentos passou pelo meu peito. Nostalgia – porque a cidade era linda. Pesar – porque minha visita foi prejudicada pela terrível tarefa que eu tive quando fui lá.

Dimitri encarou as páginas por um longo tempo, saudade em seu rosto.

Então me ocorreu que, apesar da sua conversa de antes, ele tinha que estar experimentando o que experimentei com Montana: nossos antigos lugares favoritos estavam perdidos agora.

Eu o bati gentilmente. “Hey, aproveite onde você está, lembra? Não onde

você não pode ir.” Ele relutantemente fechou o livro e arrastou seus olhos para longe dele.

“Como você ficou tão sábia?” ele provocou. “Eu tive um bom professor.” Nós sorrimos um para o outro. Algo me

ocorreu. Todo esse tempo, eu achei que ele tinha me ajudado a fugir por causa das ordens de Lissa. Talvez houvesse mais nisso. “É por isso que você fugiu comigo?” eu perguntei. “Para ver as partes do mundo que pudesse?”

A surpresa dele foi breve. “Você não precisa ser sábia, Rose. Você está se

saindo bem sozinha. Sim, esse é parte do motivo. Talvez eu fosse bem vindo novamente eventualmente, mas havia um risco de eu não ser. Depois... depois de ser um Strigoi...” Ele tropeçou nas palavras um pouco. “Eu ganhei uma nova apreciação da vida. Levou um tempo. Eu inda não estou lá. Nós conversamos sobre se focar no presente, não no futuro – mas meu passado me assombra. Rostos. Pesadelos. Mas quanto mais eu entendo daquele mundo de morte, mais eu quero abraçar a vida. O cheiro desses livros e o perfume que você usa. A forma como as luzes passam pela janela. Até o gosto de café da manhã com os Keepers.”

“Você é um poeta agora.” “Não, só estou começando a perceber a verdade. Eu respeito a lei e o jeito

que a nossa sociedade se organiza, mas não tinha como eu arriscar perder minha vida em uma cela depois de encontrá-la de novo. É por isso que te ajudei. Isso e –”

“O que?” eu o estudei, desesperadamente desejando que ele não fosse tão

bom em esconder emoções do seu rosto. Eu o conhecia bem; eu o entendia. Mas ele ainda conseguia esconder coisas de mim.

Ele sentou, sem me encarar. “Não importa. Vamos voltar para Sydney e ver

se ela descobriu algo... embora, quanto mais eu odeie dizer, seja improvável.”

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“Eu sei.” Eu fiquei parada com ele, ainda me perguntando o que mais ele

diria. “Ela provavelmente desistiu e começou a jogar Campo Minado.” Voltamos para o café, parando brevemente para pegar sorvete. Comer

enquanto andávamos provou ser um desafio. O sol estava no horizonte, pintando tudo de laranja e vermelho, mas o calor permanecia. Aproveite, Rose, eu disse a mim mesma. As cores. O gosto de chocolate. É claro, eu sempre amei chocolate. Minha vida não precisava estar na linha para mim aproveitar sobremesa.

Alcançamos o café e encontramos Sydney em seu laptop, com um bolinho

meio comido e o que provavelmente era sua quarta taça de café. Sentamos ao lado dela.

“Como é que – hey! Você está jogando Campo Minado!” Eu tentei olhar a

tela, mas ela a virou para longe. “Você deveria estar procurando uma conexão com a amante de Eric.”

“Eu já encontrei,” ela disse simplesmente. Dimitri e eu trocamos olhares surpresos. “Mas não sei se será útil.” “Qualquer coisa será útil,” eu proclamei. “O que você descobriu?” “Depois de rastrear aqueles registros bancários e transações – e me deixe te

falar, isso não foi divertido – eu finalmente encontrei uma pequena informação. A conta bancária agora é nova. Ela foi retirada de outro banco cinco anos atrás. A velha conta ainda é desconhecida, mas tinha referências de um parente no caso de algo acontecer.”

Eu mal conseguia respirar. Transações financeiras eram perdidas para mim,

mas estávamos conseguindo algo sólido. “Um nome de verdade?” Sydney acenou. “Sonya Karp.”

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DOZE DIMITRI E EU CONGELAMOS com o choque que aquele nome nos trouxe. “Eu suponho que vocês saibam quem é?” “É claro,” eu exclamei. “Ela era minha professora. Ela ficou maluca e virou

um Strigoi.” Sydney acenou. “Eu sei.” Meus olhos se arregalaram ainda mais. “Ela não... não foi ela que teve um

caso com o pai de Lissa, foi?” Oh meu Deus. Essa seria uma das reviravoltas mais inesperadas nessa montanha russa que é minha vida. Eu nem conseguia começar a processar os efeitos disso.

“Dificilmente,” ela disse. “A conta foi aberta muitos anos antes dela acabar

como beneficiaria – o que foi logo quando ela fez 18 anos. Então, se supormos que a conta foi criada na época que o bebê nasceu, ela era jovem demais. Sonya provavelmente é uma parente.”

Minha surpresa estava dando lugar a excitação, e eu podia ver o mesmo

acontecendo com Dimitri. “Você deve ter registros da família dela,” ele disse. “Se não tiver, algum Moroi provavelmente tem. Quem era próximo a Sonya? Ela tinha uma irmã?”

Sydney balançou sua cabeça. “Não. Mas essa séria a opção óbvia.

Infelizmente, ela tem outros familiares – vários deles. Seus pais vieram de famílias gigantes, então ela tem muitos primos. Até algumas de suas tias tem a idade certa.”

“Podemos pesquisar, não é?” eu perguntei. Uma emoção estava passando

por mim. Eu honestamente não esperava tanta informação. Verdade, era pouco, mas era alguma coisa. Se Sonya Karp tinha laços com a amante de Eric, isso tinha que ser algo que poderíamos encontrar.

“Tem muitos deles.” Sydney deu de ombros. “Eu quero dizer, yeah,

poderíamos. Mas vai levar muito tempo para encontrar todos, e mesmo assim – especialmente se isso foi encoberto o bastante – teremos dificuldades de descobrir se alguma delas é a mulher que procurávamos. Ou até se algum deles sabe quem é ela.”

A voz de Dimitri era baixa e pensativa quando ele falou. “Uma pessoa sabe

quem é a Jane Doe.”

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Sydney e eu ambas olhamos para ele cheias de expectativa. “Sonya Karp,” ele respondeu. Eu joguei minhas mãos pra cima. “Yeah, mas não podemos falar com ela. Ela

é uma causa perdida. Mikhail Tanner passou mais de um ano procurando ela e não a encontrou. Se ele não conseguiu, então também não vamos conseguir.”

Dimitri se afastou de mim e encarou a janela. Seus olhos castanhos se

encheram de pesar, seus pensamentos momentaneamente diferente longe de nós. Eu não compreendia completamente o que estava acontecendo, mas aquele momento pacifico na biblioteca – onde Dimitri tinha sorrido e compartilhado seus sonhos de uma vida comum – tinha sumido. E não apenas o momento. Aquele Dimitri tinha sumido. Ele estava de volta em seu modo furioso, carregando o peso do mundo em seus ombros novamente. Finalmente, ele suspirou e olhou para mim de novo. “É porque Mikhail não tinha as conexões certas.”

“Mikhail era seu namorado,” eu apontei. “Ele tinha mais conexões do que

qualquer um.” Dimitri não se incomodou com meu comentário. Ao invés disso, ele ficou

pensativo de novo. Eu podia ver um furacão em seus olhos, uma guerra interior. Finalmente, ele deve ter decidido.

“Seu telefone tem sinal aqui?” ele perguntou a ela. Ela acenou, pegando em sua bolsa o telefone e entregando para ele. Ele o

segurou por um momento, parecendo como se causasse agonia toca-lo. Finalmente, com outro suspiro, ele levantou e foi para a porta. Sydney e eu trocamos olhares e então o seguimos. Ela estava atrás de mim, jogando dinheiro na mesa e pegando seu laptop. Eu saí quando Dimitri terminou de discar o número e colocou o telefone em seu ouvido. Sydney se juntou a nós, e um momento depois, a pessoa do outro lado da linha deve ter respondido.

“Boris?” perguntou Dimitri. Foi tudo que entendi porque o resto da conversa foi num rápido russo. Uma

estranha sensação se espalhou por mim quando ele falava. Era confuso, porque eu não entendia a língua... mas havia mais que isso. Eu senti um calafrio. Meu pulso acelerou de medo. Aquela voz... eu conhecia aquela voz. Era a voz dele e ainda sim não era a voz dele. Era a voz dos meus pesadelos, uma voz fria e cruel.

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Dimitri estava bancando o Strigoi. Bem, ‘bancando’ era uma palavra bem gentil. Bancando era melhor forma

de descrever. O que quer que fosse, era bem convincente. Ao meu lado, Sydney franziu, mas eu não acho que ela estava esperando o

que eu estava. Ela nunca o conheceu como Strigoi. Ela não tinha aquelas horríveis memórias. Sua mudança de comportamento era obvia, mas quando olhei para o rosto dela, eu percebi que ela estava focada em captar a conversa. Eu esqueci que ela sabia russo.

“O que ele está dizendo?” eu sussurrei. O franzido dela aumentou, ou da conversa ou por eu tê-la distraído. “Ele...

ele parece que está falando com alguém que não conversa há um tempo. Dimitri está acusando essa pessoa de vacilar enquanto ele não estava.” Ela ficou quieta, continuando a sua tradução mental. Em certo ponto, a voz de Dimitri se ergueu com raiva, e tanto Sydney quanto eu recuamos. Eu virei para ela. “Ele está com raiva porque sua autoridade foi questionada. Eu não sei dizer, mas agora... parecia que a outra pessoa está pedindo desculpas.”

Eu queria saber cada palavra, mas tinha que ser difícil para ela traduzir para

mim e ouvir ao mesmo tempo. A voz de Dimitri retornou ao nível normal – embora ainda estivesse dura e cheia de ameaça – e entre as palavras, eu ouvi “Sonya Karp” e “Montana.”

“Ele está perguntando sobre a Sr. Kar – Sonya?” eu murmurei. Ela não era

minha professora há tanto tempo. Era melhor chamar ela de Sonya agora. “Yeah,” disse Sydney, os olhos ainda em Dimitri. “Ele está perguntando – er, ordenando – que essa pessoa localize outra e veja se consegue encontrar Sonya. Essa pessoa...” Ela parou para ouvir de novo. “Essa pessoa que ele está perguntando parece conhecer muitas pessoas na área que ela foi vista pela última vez.”

Eu sabia que ‘pessoas’ nesse contexto era ‘Strigoi’. Dimitri aumentou de

rank rapidamente entre eles, colocando sua vontade e poder sobre outros. A maioria dos Strigoi opera sozinho, raramente trabalhando em grupos, mas até eles reconheciam a ameaça e Strigoi mais dominantes. Dimitri estava trabalhando com seus contatos, como ele tinha dito antes. Se algum Strigoi tinha ouvido sobre a transformação dele – e acredite em mim – eles não seriam capazes de passar a novidade rapidamente, não com sua desorganização. Assim, Dimitri já estava bancando o que não era para encontrar fontes que conhecessem outras fontes que soubessem a localização de Sonya.

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Dimitri ficou com raiva de novo, sua voz se tornando – se possível – ainda mais sinistra. Eu de repente me senti presa, e até Sydney parecia assustada agora. Ela engoliu.

“Ele está dizendo ao outro cara que se ele não encontrar respostas até

amanhã a noite, Dimitri vai encontrar ele e o fazer em pedaços e...” Sydney não se incomodou em terminar. Os olhos dela se arregalaram. “Use sua imaginação. É bem terrível.” Eu decidi então que eu estava feliz por não ter ouvido a conversa em inglês.

Quando Dimitri desligou e devolveu o telefone de Sydney, aquela máscara

de malícia desapareceu em seu rosto. Mais uma vez, ele era meu Dimitri, o Dimitri dhampir. Desanimo e desespero irradiava dele, e ele se apoiou contra a parede do café, encarando o céu. Eu sabia o que ele estava fazendo. Ele estava tentando se acalmar, ganhar controle das emoções que estavam dentro dele. Ele tinha acabado de fazer algo que podia nos dar as pistas que precisávamos... mas teve um terrível custo para ele. Meus dedos estalaram. Eu queria colocar um braço reconfortante ao redor dele ou pelo menos bater em seu ombro para que soubesse que não estava sozinho. Mas, eu me segurei, suspeitando que ele não iria gostar.

Finalmente, ele virou para nos olhar. Ele recuperou seu controle – pelo

menos por fora. “Eu mandei alguém perguntar sobre ela,” ele disse. “Pode não funcionar. Strigoi dificilmente são o tipo que mantém registros. Mas eles ocasionalmente ficam de olho uns nos outros, para sua própria preservação. Vamos descobrir logo se existe alguma pista.”

“Eu... wow. Obrigada,” eu disse, tropeçando nas palavras. Eu sabia que ele não precisava de agradecimentos, mas parecia necessário para mim.

Ele acenou. “Devíamos voltar aos Keepers... a não ser que você ache que

esse lugar é seguro para ficarmos?” “Eu prefiro ficar fora da civilização,” disse Sydney, se movendo em direção à

caminhonete. “Além do mais, eu quero as chaves do meu carro de volta.” A viagem de volta pareceu 10 vezes mais longa. O humor de Dimitri encheu

a cabine inteira, quase nos sufocando com desespero. Até Sydney conseguia sentir. Ela o deixou dirigir de novo, e eu não conseguia decidir se isso era bom ou ruim. A estrada podia distrair ele do seu tormento? Ou sua agonia iria o distrair da estrada e ele bateria o carro numa vala?

Felizmente, voltamos inteiros e encontramos dois Keepers esperando por

nós no estacionamento, uma mulher Moroi e um cara humano que pareciam

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fortes. Eu ainda não conseguia esquecer a estranheza de ver ambas as raças prontas para lutar. Eu me perguntei se esses dois eram um casal.

De volta ao acampamento, encontramos a fogueira acessa e as pessoas

sentadas ao redor dela, alguns comendo e alguns apenas conversando. Eu aprendi no café que essa fogueira sempre estava lá para aqueles que queriam conversar mas muitas famílias tinham sua própria fogueira.

Voltamos para a casa de Raymond, mas apenas Sarah e Joshua estavam. Ela

estava limpando os pratos, e ele estava sentando numa cadeira. Assim que ele me viu na porta, ele levantou, com um sorriso radiante.

“Rose! Você voltou. Estávamos começando a nos preocupar... eu quero

dizer, não que algo tivesse acontecido com você – não com suas matanças – mas que talvez você tivesse ido embora.”

“Não sem nosso carro,” disse Sydney, colocando as chaves da caminhonete

na mesa. As do sedam ainda estavam ali, e alivio passou pelo rosto dela quando ela as pegou.

Sarah nos ofereceu sobras, o que eu recusei, já que tinha pego um lanche

do posto de Rubysville. “Bem,” ela disse, “se você não vai comer, é melhor se juntar aos outros na fogueira. Jess McHale deve cantar hoje se eles conseguirem fazer ela beber o bastante, e bêbada e sóbria, aquela mulher tem a melhor voz que já ouvi.”

Eu brevemente encontrei os olhos de Dimitri e Sydney. Eu admito, eu estava

um pouco curiosa para ver o quão bem esse grupo estranho festejava, mesmo que o brilho da lua e músicas folclóricas não fosse minha primeira escolha de entretenimento. Dimitri ainda tinha aquele olhar assombrado.

Eu tinha uma suspeita que ele ficaria feliz em se isolar no quarto, mas

quando Sydney disse que iria até a fogueira, a resposta dele saiu automaticamente. “Eu também vou.” Eu soube instantaneamente o que ele estava fazendo. Os dias de Strigoi dele o atormentavam. E talvez – não, certamente – ele queria se esconder e tentar bloquear tudo isso, mas ele era Dimitri. Dimitri protegia aqueles que precisavam, e mesmo que ouvir músicas na fogueira não fosse exatamente um risco, era ainda uma situação meio perigosa para uma civil como Sydney. Ele não podia permitir isso. Além do mais, ele sabia que Sydney se sentiria mais segura com nós dois por perto.

Eu comecei a dizer que me juntaria a eles, mas Joshua falou antes que eu

pudesse. “Você ainda quer ver minha caverna? Tem um pouco de luz lá fora. Vamos ter uma vista melhor do que se usarmos apenas uma tocha.”

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Eu esqueci sobre minha conversa com Joshua e comecei a recusar sua

oferta. Mas então, algo passou nos olhos de Dimitri, algo desaprovador. Então. Ele não queria que eu fosse com um cara mais novo e bonito. Era uma preocupação legitima com os Keepers? Era ciúmes? Não, certamente não a última. Nós estabelecemos – muitas, muitas vezes – que Dimitri não queria uma conexão romântica comigo. Ele até defendeu Adrian mais cedo. Isso era alguma coisa de ex namorado? Em Rubysville, eu achava que Dimitri e eu poderíamos ser amigos, mas isso não aconteceria se ele achasse que poderia controlar eu e minha vida. Eu conhecia garotas com ex´s assim. Eu não seria uma. Eu podia sair com quem eu quisesse.

“Claro,” eu disse. A expressão de Dimitri se enegreceu. “Eu adoraria.” Joshua e eu saímos, deixando os outros para trás. Eu sabia que parte da

minha decisão era para provar minha independência. Dimitri tinha dito que éramos iguais, ainda sim ele tomou muitas decisões em seu plano de fuga sem mim. Era bom sentir que eu tinha a vantagem pra variar, e além do mais, eu gostava de Joshua e estava meio curiosa para saber mais sobre como eles viviam. Eu não acho que Sydney queria que eu partisse, mas Dimitri ia cuidar dela.

Conforme Joshua e eu andávamos, passamos por muitos Keepers. Como

mais cedo, eu fui muito encarada. Ao invés de nos levar pela estrada em que ficava a casa do seu pai, Joshua me levou para uma pequena montanha. Ainda tinha um bom tamanho, mas depois de viver perto de montanhas rochosas, tudo nos Apalaches parecia ‘menor’ para mim. Eu acho que eu era uma esnobe de montanha.

Ainda sim, a montanha se estendia para vários lados, e nós entramos mais e

mais fundo. A floresta ficou mais profunda, a luz rareando conforme o sol começava a afundar no horizonte.

“Estou tipo na periferia,” Joshua disse se desculpando. “Continuamos a

crescer, e não tem muito espaço no centro da cidade.” Eu pensei que ‘cidade’ era um termo otimista mas não disse nada. Yeah. Eu definitivamente era uma esnobe. “Mas as cavernas continuam, então ainda temos espaço.”

“Elas são naturais?” eu perguntei. “Algumas são. Algumas são cavernas abandonadas de mineração.”

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“É bonito aqui,” eu disse. Eu gostava das árvores. Eu podia sentir falta de Montana, mas as folhas aqui eram um bom contraste com os pinheiros de lá. “E hey, pelo menos você tem muita privacidade, não é?”

“Verdade.” Ele sorriu. “Eu achei que você acharia que é... eu não sei. Muito

rústico. Ou selvagem. Você provavelmente acha que todos somos.” A observação dele me surpreendeu. A maior parte dos Keepers estava tão

focada em defender sua própria vida que eu não achava que alguém iria questionar o pensamento de um estrangeiro – ou que qualquer Keeper fosse se importar com isso.

“É só diferente,” eu disse diplomaticamente. “Muito diferente do que estou

acostumada.” Eu senti uma pontada de saudades de casa e de todos os lugares que agora eu não podia ir. Lissa. Adrian. Meus outros amigos. Corte. St. Vladimir. Eu abandonei logo a sensação. Eu não tinha tempo para choramingar e podia checar Lissa mais tarde.

“Eu estive em cidades humanas,” continuou Joshua. “E outros lugares que

os Tainted vivem. Eu entendo porque você gosta deles.” Ele ficou um pouco envergonhado. “Eu não me importaria com eletricidade.”

“Porque vocês não usam?” “Usaríamos se pudéssemos. Mas estamos muito longe, e ninguém sabe que

estamos aqui. As pessoas do lírio dizem que é melhor para nos esconder.” Não tinha me ocorrido que eles simplesmente aguentavam essas condições

porque eles eram forçados a se esconderem. Eu me perguntei quanto de suas escolhas eram para manter as chamadas tradições... e o quanto era influenciado pelos alquimistas.

“Aqui estamos,” disse Joshua, parando. Ele gesticulou em direção ao buraco negro no nível do chão. A abertura era

grande o suficiente para um adulto entrar. “Bom,” eu disse. Eu notei mais cedo que algumas cavernas eram mais altas

nas montanhas e observei seus residentes subirem as rochas. Um acesso fácil parecia luxuoso.

Joshua pareceu surpreso com meu elogio. “Verdade?” “Verdade.”

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Acabamos perdendo muita luz do dia. Ele parou para acendeu uma tocha, e

então eu o segui para dentro. Tivemos que nos abaixar um pouco a princípio, mas conforme entramos mais fundo na caverna, o teto se expandiu e o buraco ficou maior. O chão estava sujo, as paredes de pedra duras e entalhadas. Essa era uma caverna natural, mas eu conseguia captar o esforço para fazê-la ficar habitável. O chão foi limpo e nivelado, e eu vi algumas pedras e rochas no canto que pareciam ter sido reunidas para limpar o espaço. Alguns móveis já tinham sido colocados: uma cadeira de madeira e um colchão que parecia mal caber uma pessoa.

“Você provavelmente acha que é pequeno,” disse Joshua. Era verdade. Mas era maior do que meu dormitório em St. Vladimir. “Bem...

yeah, mas eu quero dizer, quantos anos você tem?” “Dezoito.” “Igual a mim,” eu disse. Isso o pareceu deixar bem feliz. “Ter sua própria,

uhm, caverna, aos dezoito anos é bem legal.” Seria mais legal se tivesse eletricidade, internet e encanamento, mas não havia necessidade de dizer isso.

Os olhos azuis dele praticamente brilharam. Não consegui me impedir de

notar que bonito contraste eles faziam contra sua pele. Eu abandonei o pensamento imediatamente. Eu não estava aqui atrás de um namorado. Mas aparentemente, eu era a única que acreditava nisso. Joshua deu um passo para frente.

“Você pode ficar se quiser,” ele disse. “Os outros Tainted nunca te

encontrariam. Poderíamos nos casar, e então ter filhos, poderíamos construir um loft como meus pais e –”

A palavra casamento me fez ir em direção à entrada tão chocada e em

pânico quanto um ataque de Strigoi. Só que, eu geralmente tinha um aviso nesse caso.

“Whoa, whoa, devagar.” Não. Eu não tinha visto essa proposta chegando.

“Acabamos de nos conhecer!” Graças a Deus, ele não se aproximou. “Eu sei, mas às vezes é assim que

funciona.” “O que, casamento entre duas pessoas que mal se conhecem?” eu

perguntei incrédula.

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“Claro. Acontece o tempo todo. E sério, nesse pouco tempo eu já gosto de

você. Você é incrível. Você é bonita e obviamente uma boa lutadora. E o jeito como você leva a vida...” Ele balançou a cabeça, temor em seu rosto. “Eu nunca vi nada assim.”

Eu queria que ele não fosse tão fofo e gentil. Ter caras bizarros apontando

sua adoração era muito mais fácil de se lidar do que os que você gosta. Eu lembrei de Sydney comentando que eu era quente por aqui. Aparentemente, abrasadora era a palavra mais adequada.

“Joshua, eu gosto de você mas,” eu acrescentei rapidamente, vendo

esperança em suas feições, “sou jovem demais para me casar.” Ele franziu. “Você não disse que tem 18 anos?” Ok. Idade provavelmente não era um bom argumento por aqui. Eu vi o quão

jovens pessoas tinham filhos na cidade de Dimitri. Num lugar assim, eles provavelmente tinham casamentos com crianças. Eu tentei outro ângulo.

“Eu nem sei se quero me casar.” Isso não o desanimou. Ele acenou entendendo. “Isso é inteligente.

Poderíamos viver juntos antes, ver como nos damos.” A expressão séria dele voltou a dar um sorriso. “Mas sou bem fácil. Eu vou deixar você ganhar todas as discussões.”

Eu não consegui me impedir. Eu ri. “Bem, então, vou ter que ganhar esta e

te dizer que não estou pronta para... nada disso. Além do mais, eu já estou envolvida com alguém.”

“Dimitri?” “Não. Outro cara. Ele está na Corte Tainted.” Eu nem conseguia acreditar

que estava dizendo isso. Joshua franziu. “Porque ele não está aqui te protegendo então?” “Por que... não é assim que ele é. E eu posso cuidar de mim mesma.” Eu

nunca gostei da presunção de que eu preciso ser resgatada. “E olha, mesmo que ele não estivesse presente, vou partir logo de qualquer forma. Nunca ia funcionar entre você e eu.”

Page 140: Last sacrifice academia de vampiros

“Eu entendo.” Joshua parecia desapontando mas parecia estar aguentando bem a rejeição. “Talvez quando você resolver tudo, você volte.”

Eu comecei a dizer a ele para não esperar por mim e que ele deveria se

casar com outra pessoa (apesar da idade dele ser ridícula), mas então eu percebi que era inútil. Nas fantasias de Joshua, ele provavelmente poderia casar com outra agora e me acrescentar em seu harém depois. Meus olhos caíram na cadeira. “Isso é bem bonito.”

“Obrigado,” ele disse, se aproximando. Para meu alívio, ele não insistiu no

assunto. Ele passou sua mão pelos ornamentos. O design parecia com o de uma folha. “Eu mesmo fiz.”

“Mesmo?” eu perguntei surpresa. “Isso... isso é incrível.” “Se você gosta...” Sua mão se moveu, e eu temi que houvesse um beijo ou

abraço vindo. Ao invés disso, ele botou a mão no seu bolso e tirou um pequeno bracelete de madeira. Era simples, um design sinuoso, a verdadeira maravilha era o quão delicado era. A madeira foi polida até brilhar. “Aqui.” Ele me entregou o bracelete.

“Isso é para mim?” eu passei meus dedos pela superfície lisa. “Se quiser. Eu o fiz quando você estava fora hoje. Para que se lembre de

mim quando partir.” Eu hesitei, me perguntando se aceitar isso o encorajaria. Não, eu decidi. Eu

deixei minha visão de casamento adolescente bem clara, e de qualquer forma, ele parecia tão nervoso, eu não podia magoar seus sentimentos. Eu coloquei no meu pulso.

“É claro que vou lembrar. Obrigado.” Pelo seu olhar alegre, aceitar o bracelete fez minha recusa ser mais fácil. Ele

me mostrou alguns detalhes na caverna e então seguiu minha sugestão de seguir os outros para fogueira. Podíamos ouvir música ecoando pelas árvores muito antes de chegar, e embora dificilmente fosse meu estilo, havia algo quente e amigável na vida dessa comunidade. Eu nunca fui a um acampamento, mas eu imaginava que seria assim.

Sydney e Dimitri estavam sentados perto da beira do grupo. Eles estavam

quietos e observando, mas todos os outros cantavam, batiam palmas, e conversavam. De novo, eu fiquei surpresa com a facilidade que dhampir, humanos e Moroi podiam se envolver uns com os outros. Casais misturados

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estavam por toda parte, e – um humano e um Moroi – estavam se agarrando abertamente. De vez em quando, quando ele beijava o pescoço dela, ele também mordia e tomava um pouco de sangue. Eu tive que desviar o olhar.

Eu voltei a atenção aos meus amigos. Sydney me notou e pareceu aliviada.

A expressão de Dimitri era ilegível. Como sempre, outros olhos seguiram meu movimento, e para minha surpresa, eu vi inveja no rosto de alguns caras. Eu esperava que eles não achassem que Joshua e eu estivemos pelados na caverna. Essa dificilmente era a reputação que eu queria deixar para trás.

“Eu quero falar com Sydney,” eu disse a ele. Eu decidi que era melhor

manter distância antes dos rumores começarem, e na verdade, Sydney parecia que me queria ao lado dela. Joshua acenou, e eu me afastei. Eu dei dos passos quando um punho de repente foi em direção ao meu rosto.

Eu não estava pronta e consegui por pouco virar minha cabeça e receber o

golpe na minha bochecha, ao invés de acabar com um nariz quebrado. Depois da minha surpresa inicial, todo meu treinamento tomou conta. Eu rapidamente saí da linha de ataque e coloquei meu corpo em posição de ataque. A música e cantaria parou, e eu virei para ver meu atacante.

Angeline. Ela estava parada de um jeito similar ao meu, os punhos fechados e os olhos

completamente em mim. “Ok,” ela disse. “É hora de descobrir o quão durona você realmente é.”

Era hora de alguém digamos, um pai – aparecer a arrastar ela para fora e a

punir por socar um convidado. Incrivelmente, ninguém se moveu ou tentou impedi-la. Não – isso não era bem verdade. Uma pessoa levantou. Dimitri se pôs em ação no instante que viu que eu estava em perigo. Eu esperei que ele viesse arrastar Angeline para longe, mas um grupo de Keepers rapidamente se moveu em direção a ele, dizendo algo a ele que eu não pude ouvir. Eles não tentaram conter ele fisicamente, mas o que quer que seja que eles tenham dito, fez ele parar onde estava. Eu podia ter exigido saber o que eles disseram a ele, mas Angeline estava vindo para cima de mim de novo. Parecia que eu estava por conta própria.

Angeline era baixa, mesmo para um dhampir, mas todo seu corpo tinha

força. Ela também era bem rápida, embora não rápida o bastante para me acertar pela segunda vez. Eu desviei e mantive distância, não querendo partir para ofensiva com essa garota. Ela provavelmente poderia fazer algum dano numa luta, mas era descuidada – não, mas como grossa. Ela era alguém autodidata, que fez muito sem um treinamento formal.

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“Você está louca?” eu exclamei, saindo fora do caminho de outro golpe.

“Pare com isso. Eu não quero machucar você.” “Claro,” ela disse. “É isso que você quer que todos pensem, não é? Se você

não tiver que lutar, então todos ainda vão acreditar que suas marcas são reais.” “Elas são reais!” A insinuação de que eu forjei minhas tatuagens me deixou

irritada, mas eu me recusei a cair nesse truque. “Prove,” ela disse, vindo para cima de mim de novo. “Prove que você é o

que você diz que é.” Era como uma dança, me manter longe dela. Eu poderia ter feito aquilo à

noite inteira, e alguns gritos da multidão exigiam que nós ‘andássemos logo com isso’.

“Eu não tenho que provar nada,” eu disse a ela. “É uma mentira então.” A respiração dela estava pesada agora. Ela estava

trabalhando muito mais duro do que eu. “Tudo que vocês Tainted fazem é uma mentira.”

“Não é verdade,” eu disse. Porque Dimitri não estava fazendo nada? Com o

canto do meu olho, eu o vi, e por deus, ele estava sorrindo. Enquanto isso, Angeline ainda estava dando suas tiradas enquanto tentava

me bater. “Vocês todos mentem. Vocês são fracos. Especialmente vocês da ‘realeza’. Eles são os piores.”

“Você não conhece todos. Você não sabe nada sobre eles.” Ela podia ser capaz de continuar com a conversa, mas eu podia ver ela ficar

cada vez mais frustrada. Se não tivesse certeza que ela me bateu de costas, eu não teria problemas em me aproximar e simplesmente me afastar. “Eu sei o bastante,” ela disse. “Eu sei que eles são egoístas e mimados e não fazem nada por conta própria. Eles não se importam com ninguém. São todos iguais.”

Eu na verdade concordava com Angeline sobre alguns da realeza, mas não

gostei da generalização. “Não fale sobre coisas que você não entende,” eu disse. “Não são todos assim.”

“Eles são,” ela disse, contente com minha raiva. “Eu queria que todos

estivessem mortos.”

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Isso dificilmente era o bastante para me deixar em modo ofensivo, mas o

comentário me distraiu o suficiente para ela passar por minha guarda, só um pouco. Eu nunca teria deixado isso acontecer com um Strigoi, mas eu subestimei essa garota selvagem. Sua perna se ergueu o bastante para me bater no joelho, e foi como jogar gasolina numa faísca. Tudo explodiu.

Com aquele golpe, eu tropecei devagar, e ela aproveitou a vantagem. Meus

instintos tomaram conta, e eu não tive escolha a não ser bater nela antes que ela me acertasse. As pessoas começaram a torcer agora que a luta realmente estava ocorrendo. Eu estava na ofensiva, tentando subjugar ela, o que significava que o contato físico tinha aumentando exponencialmente. Eu ainda era melhor que ela, sem dúvidas, mas ao tentar chegar até ela, eu me coloquei ao alcance dela. Ela me acertou alguns golpes, nada sério, antes de eu ser capaz de derruba-la no chão. Eu esperei que aquele fosse o fim, mas ela me empurrou antes que eu pudesse prendê-la totalmente. Nós rolamos, e ela tentou ficar em posição dominante. Eu não podia permitir isso e soquei a lateral do rosto dela com muito mais força do que antes.

Eu achei que esse seria o fim da luta. Meu golpe a tirou de cima de mim, e

eu comecei a me levantar, mas então aquela vaquinha me pegou pelo cabelo e me empurrou para baixo. Eu saí do aperto dela – embora eu tenha certeza que ela levou um pouco do meu cabelo com ela – e dessa vez conseguindo prender ela totalmente, eu joguei todo meu peso e a prendi quando me pressionei para baixo. Eu sabia que tinha que ser dolorido mais não me importou. Ela começou. Além do mais, isso tinha ido além de qualquer defesa. Puxar o cabelo de alguém era jogo sujo.

Angeline fez algumas tentativas de se soltar, mas quando ficou claro que ela

não conseguia, aqueles ao nosso redor começaram a assoviar e torcer. Alguns momentos depois, aquele olhar negro e furioso saiu do rosto de Angeline, substituído por resignação. Eu a olhei com cuidado, sem querer baixar minha guarda.

“Tudo bem,” ela disse. “Está tudo bem. Vá em frente.” “Huh? O que está bem?” eu exigi. “Está tudo bem se você casar com meu irmão.”

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TREZE “Não é engraçado!” “Você está certa,” concordou Sydney. “Não é engraçado. É hilariante.” Estávamos de volta à casa de Raymond, na privacidade de nosso quarto.

Nos levou a vida inteira para sairmos das festividades ao redor da fogueira, particularmente após descobrirmos um fato terrível sobre um costume Keeper. Bem, eu achava terrível, pelo menos. Acontece que, se alguém quisesse casar com outra pessoa por aqui, o prospectivo noivo ou noiva teria que batalhar por essa pessoa com o parente do outro mais próximo do mesmo sexo. Angeline havia percebido o interesse de Joshua no momento em que ele chegou, e quando ela viu o bracelete, ela assumiu que alguma espécie de arranjo havia sido feito. Então recaiu sobre ela, sua irmã, certificar-se de que eu era digna. Ela não gostava ou confiava plenamente em mim, mas me mostrar uma lutadora capaz me fez subir no conceito dela, permitindo que ela consentisse com nosso “noivado”. Precisamos então de muita conversa rápida para convencer todo mundo – Joshua incluso – de que não havia noivado. Se tivesse havido, eu descobri, Dimitri teria que fazer o papel de meu parente e lutar contra Joshua.

“Pare com isso,” eu repreendi. Dimitri estava recostado em uma das

paredes, os braços cruzados, observando enquanto eu esfregava o ponto onde Angeline me atingiu na bochecha. Essa dificilmente poderia ser a pior ferida que já tive, mas definitivamente deixaria um roxo amanhã. Ele estava sorrindo.

“Eu lhe disse para não encorajá-lo,” veio a resposta calma de Dimitri. “Tanto faz. Você não previu isso. Você só não queria que eu –” eu segurei

minhas palavras. Eu não ia dizer o que estava na minha cabeça: que Dimitri estava com ciúmes. Ou possessivo. Ou qualquer coisa. Eu apenas sabia que ele ficou irritado em me ver sendo amigável com Joshua... e muito divertido com meu ultraje pelo ataque de Angeline. Eu me voltei abruptamente para Sydney, que estava tão entretida quanto Dimitri. Na verdade, eu tenho bastante certeza de que nunca a vi sorrindo tanto. “Você sabia sobre esse costume?”

“Não,” ela admitiu, “mas não me surpreende. Eu lhe disse que eles são

selvagens. Vários problemas comuns são resolvidos com lutas como essa.” “É estúpido,” eu disse, sem me importar por estar reclamando. Eu toquei o

topo da minha cabeça, querendo ter um espelho para poder ver se Angeline havia tirado um maço perceptível de cabelo. “Apesar de que... ela não era ruim. Impolida, mas não ruim. Eles são todos tão durões? Os humanos e os Moroi também?”

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“É assim que eu percebo.” Eu ponderei sobre isso. Eu estava incomodada e embaraçada pelo que

aconteceu, mas eu tinha que admitir que os Keepers subitamente se tornaram mais interessantes. Quão irônico era que um grupo tão interiorano tinha a visão de ensinar todos a lutarem, não importa a raça. Enquanto isso, minha própria cultura “iluminada” se recusava a ensinar autodefesa.

“E é por isso que os Strigoi não os incomodam,” eu murmurei, relembrando

do café da manhã. Eu não percebi o que havia dito até o sorriso de Dimitri cair. Ele olhou pela janela, o rosto sinistro.

“Eu devia falar com Boris e descobrir o que ele achou.” Ele se voltou para

Sydney. “Não vai demorar. Não precisamos ir todos. Eu poderia pegar seu carro, já que só preciso dirigir um pouco.”

Ela deu de ombros e pegou as chaves. Aprendemos antes que o telefone de

Sydney podia receber sinal a aproximadamente dez minutos da vila. Ele estava certo. Não havia mesmo razão para todos sairmos para um telefonema rápido. Após a minha luta, eu e Sydney estávamos razoavelmente a salvo. Ainda assim... eu não gostava do fato de Dimitri relembrar seus dias como Strigoi sozinho.

“Você devia ir mesmo assim,” eu disse a ela, pensando rápido. “Eu preciso

olhar a Lissa.” Não era uma completa mentira. O que meus amigos ouviram de Joe ainda mantinha seu peso em mim. “Eu costumo poder acompanhar o que acontece ao meu redor ao mesmo tempo, mas pode ser melhor se você estiver longe – especialmente se os Alquimistas aparecerem.”

Minha lógica era falhada, embora os colegas dela ainda fossem uma

preocupação. “Eu duvido que eles virão enquanto está escuro,” ela disse, “mas eu realmente não quero ficar por aqui se você vai ficar encarando o espaço.” Ela não admitiu, e eu não quis dizer nada, mas eu suspeitava que ela não quisesse outra pessoa dirigindo o seu carro.

Dimitri achava que ela vir junto era desnecessário e disse isso, mas

aparentemente, ele não se sentia como se pusesse mandar nela tanto quanto em mim. Então, os dois saíram, me deixando sozinha no quarto. Eu os assisti saudosa. Apesar do quão irritante sua gozação anterior tinha sido, eu estava preocupada com ele. Eu vi o efeito da última ligação e desejei que pudesse estar lá agora para confortá-lo. Eu sentia que ele não teria permitido isso, então eu aceitei a companhia de Sydney como uma pequena vitória.

Page 146: Last sacrifice academia de vampiros

Com eles saindo, eu decidi que realmente deveria checar Lissa. Eu disse isso mais como uma desculpa mas, na verdade, era melhor que a alternativa – sair de novo e socializar. Eu não queria mais gente me congratulando, e aparentemente, Joshua recebeu meu “talvez” e aceitação do bracelete como compromisso real. Eu ainda o achava devastosamente bonito, mas não podia aturar sua adoração.

Sentada de pernas cruzadas na cama de Angeline, eu me abri para o elo e o

que Lissa estava experimentando. Ela estava caminhando através dos halls de um prédio que eu não reconheci a princípio. Um momento depois, eu me orientei. Era um prédio na Corte que abrigava um grande spa e salão – assim como o esconderijo de Rhonda, a cigana. Parecia estranho que Lissa estivesse buscando ter sua sorte lida, mas assim que vi seus companheiros, eu soube que ela estava atrás de outra coisa.

Os suspeitos típicos estavam com ela: Adrian e Christian. Meu coração

saltou ao ver Adrian de novo – especialmente após o incidente com Joshua. Meu último sonho de espírito foi curto demais.

Christian estava segurando a mão de Lissa enquanto eles caminhavam, seu

aperto quente e reassegurador. Ele parecia confiante e determinado – embora com aquele típico sorriso zombeteiro dele. Era Lissa quem estava nervosa e claramente se preparando para alguma coisa. Eu podia sentir ela odiando sua próxima tarefa, embora sentisse que ela era necessária.

“É aqui?” ela perguntou, parando em frente a uma parte. “Eu acho que sim,” disse Christian. “Aquela recepcionista disse que era a

vermelha.” Lissa hesitou apenas por um momento e então bateu. Nada. Ou a sala

estava vazia ou ela estava sendo ignorada. Ela levantou a mão de novo, e a porta se abriu. Ambrose estava ali, deslumbrante como sempre, mesmo de jeans e uma camiseta casual azul. A roupa se agarrava no corpo dele de uma maneira que exibia cada músculo. Ele podia ter saído diretamente da capa da GQ.

“Ei,” ele disse, claramente surpreso. “Ei,” respondeu Lissa. “Estávamos nos perguntando se podíamos conversar

com você?” Ambrose inclinou muito levemente sua cabeça em direção ao quarto. “Eu

estou meio ocupado nesse instante.”

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Atrás dele, Lissa podia ver uma mesa de massagem com uma mulher Moroi

deitada. A metade inferior de seu corpo estava coberta por uma toalha, mas suas costas estavam nuas, brilhando na iluminação fraca pelo óleo. Velas perfumadas queimavam no quarto, e uma música New Age tocava levemente.

“Uau,” disse Adrian. “Você não perde tempo, não é mesmo? Ela só está na

cova há algumas horas, e você já conseguiu alguém novo.” Tatiana havia sido finalmente enterrada mais cedo naquele dia, logo antes do pôr-do-sol. O enterro teve muito menos fanfarra que a tentativa original.

Ambrose lançou um olhar afiado a Adrian. “Ela é minha cliente. É o meu

trabalho. Você esquece que alguns de nós trabalhamos para viver.” “Por favor?” pediu Lissa, pisando apressadamente na frente de Adrian. “Não

vai demorar.” Ambrose olhou para meus amigos por um momento e então suspirou. Ele

olhou para trás. “Lorraine? Eu tenho que sair. Já volto, certo?” “Ok,” disse a mulher. Ela se mexeu, voltando-se para ele. Era mais velha do

que eu esperava, na metade dos quarenta ou algo assim. Eu imaginei que, se você estava pagando por uma massagem, não havia razão para não ter um massagista com metade da sua idade. “Se apresse.”

Ele lhe deu um sorriso estonteante e fechou a porta, um sorriso que caiu

quando ele estava sozinho com meus amigos. “Ok, o que está havendo? Não gosto das caras que vocês estão fazendo.”

Ambrose podia se diferenciar radicalmente da vida normal de um homem

dhampir, mas ele teve o mesmo treinamento de qualquer guardião. Ele era observador. Estava sempre atento para possíveis ameaças.

“Nós, uh, queríamos falar sobre...” Lissa hesitou. Conversar sobre

investigações e interrogatórios era uma coisa. Fazê-los era outra. “Sobre o assassinato de Tatiana.”

As sobrancelhas de Ambrose subiram. “Ah, eu entendo. Não tenho certeza

do que posso dizer, exceto que não acho que Rose tenha feito isso. Eu imagino que você também não deve acreditar, apesar do que tem sido dito. Todos estão falando sobre quão chocada e incomodada você está. Você está ganhando muita simpatia por ter sido enganada por uma ‘amiga’ tão perigosa e sinistra.”

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Lissa sentiu suas bochechas corarem. Ao me condenar publicamente e renunciar à nossa amizade, Lissa estava se colocando longe de problemas. Foi a recomendação de Abe e Tasha, e Lissa sabia que fazia sentido. Ainda assim, mesmo sabendo que era mentira, ela se sentia culpada. Christian saltou em sua defesa.

“Para trás. Não é disso que viemos falar.” “Então, sobre o que é?” perguntou Ambrose. Lissa entrou no meio, preocupada que Christian e Adrian pudessem

incomodar Ambrose e tornar a obtenção de respostas mais difícil. “Abe Mazur nos disse que, na sala de audiência, você falou ou, uh, fez algo a Rose.”

Ambrose pareceu chocado, e eu tive que lhe dar pontos por parecer

convincente. “Fez algo? O que isso quer dizer? O Mazur pensa que eu, tipo, passei uma cantada nela na frente de todas aquelas pessoas?”

“Eu não sei,” Lissa admitiu. “Ele só viu alguma coisa. Isso é tudo.” “Eu lhe desejei boa sorte,” disse Ambrose, ainda parecendo ofendido. “Tudo

bem com isso?” “É, é.” Lissa fez questão de falar com Ambrose antes que Abe conseguisse,

temendo que os métodos dele envolvessem ameaças e muita força física. Agora, ela se perguntava se estava fazendo um bom trabalho. “Olha, só estamos tentando descobrir quem matou a rainha. Você era próximo a ela. Se tem alguma coisa – qualquer coisa – que você saiba que possa nos ajudar, nós iríamos gostar. Precisamos disso.”

Ambrose olhou curiosamente de um para outro deles. Então, ele entendeu

subitamente. “Você acha que fui eu! É disso que se trata.” Nenhum deles disse nada. “Não acredito nisso! Já ouvi isso de guardiões... mas de vocês? Achei que me conhecessem melhor.”

“Nós absolutamente não o conhecemos,” disse Adrian sem rodeios. “Tudo

que sabemos é que você tinha muito acesso à minha tia.” Ele apontou para a porta. “E, evidentemente, não demorou muito para você seguir em frente.”

“Você perdeu a parte onde eu disse que esse é o meu trabalho? Eu estou

massageando ela, é isso. Nem tudo é sórdido e sujo.” Ambrose balançou a cabeça em frustração e passou uma mão pelos seus cabelos castanhos. “Meu relacionamento com Tatiana também não era sujo. Eu me importava com ela. Nunca faria nada para machucá-la.”

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“As estatísticas não dizem que a maior parte dos assassinatos acontece

entre pessoas próximas?” perguntou Christian. Lissa encarou ele e Adrian. “Parem com isso. Os dois.” Ela olhou de novo

para Ambrose. “Ninguém está acusando você de nada. Mas você ficava muito perto dela. E Rose me disse que você ficou irritado com a lei da idade.”

“Quando ouvi falar nisso pela primeira vez, é,” Ambrose disse. “E mesmo

assim, eu disse a Rose que havia algum erro – algo que não sabíamos. Tatiana nunca teria colocado todos esses dhampirs em perigo sem um bom motivo.”

“Como fazer ela ficar bem na frente de toda aquela realeza aterrorizada?”

perguntou Christian. “Menos,” alertou Adrian. Lissa não conseguia decidir o que incomodava

mais: os dois se aliando contra Ambrose ou jogando farpas um contra o outro. “Não!” A voz de Ambrose ressoou pelo corredor estreito. “Ela não queria

fazer isso. Mas, se ela não fizesse, coisas piores iriam acontecer. Havia pessoas que queriam – ainda querem – pegar todos os dhampirs que não lutam e forçá-los a isso. Tatiana aprovou a lei de idade para atrasar isso.”

O silêncio caiu. Eu já sabia disso graças ao bilhete de Tatiana, mas eram

notícias chocantes para os meus amigos. Ambrose prosseguiu, vendo que estava ganhando espaço.

“Na verdade, ela estava aberta para muitas outras opções. Ela queria

explorar espírito. Ela aprovava que os Moroi aprendessem a lutar.” Isso tirou uma reação de Adrian. Ele ainda tinha aquela expressão irônica,

mas eu podia ver linhas fracas de dor e sofrimento em seu rosto. O enterro mais cedo deve ter sido difícil para ele, e ter outros revelando fatos que você não sabia sobre um ente querido devia machucar.

“Bem, eu claramente não dormia com ela tanto quanto você,” disse Adrian,

“mas eu também a conhecia bem. Ela nunca disse uma palavra sobre nada disso.”

“Não publicamente,” concordou Ambrose. “Nem privativamente. Só poucas

pessoas sabiam. Ela estava treinando um pequeno grupo de Moroi em segredo – homens e mulheres, de idades diferentes. Ela queria saber quão bem os Moroi podiam aprender. Era possível para eles aprender a se defenderem. Mas ela

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sabia que isso aborreceria as pessoas, então ela fez o grupo e seu treinador ficarem quietos.”

Adrian não deu resposta para isso, e eu sabia que seus pensamentos

estavam voltados para dentro. A revelação de Ambrose não era má notícia, exatamente, mas Adrian ainda estava magoado pela ideia de que sua tia escondeu tanta coisa dele. Lissa, enquanto isso, estava absorvendo as notícias, captando e analisando cada pedacinho de informação.

“Quem eram eles? Quem eram os Moroi sendo treinados?” “Eu não sei,” disse Ambrose. “Tatiana era quieta sobre isso. Eu nunca soube

seus nomes, só o de seu instrutor.” “Quem era...?” tentou Christian. “Grant.” Christian e Lissa trocaram olhares assustados. “Meu Grant?” ela perguntou.

“Aquele que Tatiana nomeou para mim?” Ambrose aquiesceu. “Foi por isso que ela o deu para você. Ela confiava

nele.” Lissa não disse nada, mas eu ouvi seus pensamentos alto e claro. Ela ficou

feliz e surpresa quando Grant e Serena – os guardiões que substituíram a Dimitri e a mim – se ofereceram para ensinar a Lissa e Christian movimentos básicos de defesa. Lissa pensou que ela havia simplesmente esbarrado com um guardião de pensamento progressista, sem perceber que ele era um dos pioneiros em ensinar combate aos Moroi.

Alguma parte disso era importante, ela e eu tínhamos certeza, mas

nenhuma de nós conseguia fazer a ligação. Lissa pensou nisso, sem protestar quando Adrian e Christian lançaram suas próprias perguntas. Ambrose ainda estava claramente ofendido com a inquisição, mas ele respondeu tudo com uma paciência forçada. Ele tinha álibis, e sua afeição por Tatiana nunca vacilou. Lissa acreditava nele, embora Christian e Adrian ainda estivessem céticos.

“Ninguém saiu de cima de mim depois da morte dela,” disse Ambrose, “mas

ninguém questionou Blake por muito tempo.” “Blake?” perguntou Lissa. “Blake Lazar. Alguém mais com quem ela estava...”

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“Envolvida?” sugeriu Christian, rolando os olhos. “Ele?” exclamou Adrian. “Sem chance. Ela não se rebaixaria tanto.” Lissa vasculhou em seu cérebro pela família Lazar mas não conseguia achar

um nome. Eram muitos. “Quem é ele?” “Um idiota,” disse Adrian. “Me faz parecer um membro que contribui para a

sociedade.” Isso fez Ambrose sorrir. “Concordo. Mas ele é um idiota bonito, e Tatiana

gostava disso.” Eu ouvi o afeto em sua voz quando ele falou o nome dela. “Ela estava dormindo com ele também?” Lissa perguntou. Adrian se

contraiu com a menção da vida sexual da sua tia-avó, mas todo um novo mundo de possibilidades havia se aberto. Mais amantes significavam mais suspeitos. “Como você se sente com relação a isso?”

A diversão no rosto de Ambrose sumiu. Ele lançou um olhar afiado a ela.

“Não enciumado o bastante para matar ela, se é aí que você quer chegar. Nós tínhamos um acordo. Ela e eu éramos próximos – sim, “envolvidos” – mas ambos víamos outras pessoas também.”

“Espera,” disse Christian. Eu tinha a sensação de que ele estava gostando

disso agora. O assassinato de Tatiana não era uma piada, mas uma novela estava definitivamente se desvendando diante deles. “Você também estava dormindo com outras pessoas. Isso está ficando difícil de acompanhar.”

Não para Lissa. De fato, estava ficando mais e mais claro que o assassinato

de Tatiana podia ter sido um crime passional, ao invés de algo político. Como Abe disse, alguém com acesso ao quarto dela era possivelmente um suspeito. E alguma mulher ciumenta em dividir um amante com Tatiana? Esse talvez fosse o motivo mais convincente até então – se ao menos conhecêssemos essa mulher.

“Quem?” Lissa perguntou. “Quem mais você estava vendo?” “Ninguém que mataria ela,” disse Ambrose duramente. “Eu não vou dar

nomes. Eu tenho o direito a alguma privacidade – assim como elas.” “Não se uma delas estava enciumada e matou minha tia,” grunhiu Adrian.

Joshua desprezou Adrian por não me “proteger” mas, nesse momento,

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defendendo a honra de sua tia, ele parecia tão feroz quanto qualquer guardião ou guerreiro Keeper. Era meio sexy.

“Nenhuma delas a matou, tenho certeza,” disse Ambrose. “E por mais que

eu o deteste, também não acho que tenha sido Blake. Ele não é esperto o bastante para fazer isso e colocar a culpa na Rose.” Ambrose fez um gesto em direção à porta. Seus dentes estavam cerrados, e linhas de frustração manchavam seu rosto belo. “Olha, eu não sei o que mais posso dizer para convencer vocês. Eu preciso voltar lá para dentro. Me desculpem se pareço difícil, mas isso tem sido complicado para mim, está certo? Acreditem em mim, eu amaria se vocês pudessem achar quem fez isso com ela.” Dor apareceu em seus olhos. Ele engoliu e olhou para baixo por um momento, como se não quisesse que eles soubessem o quanto ele se importava com Tatiana. Quando ele olhou para cima de novo, sua expressão estava feroz e determinada mais uma vez. “Eu quero que vocês consigam e vou ajudar se puder. Mas eu estou dizendo, procurem alguém com motivos políticos. Não românticos.”

Lissa ainda tinha um milhão de perguntas. Ambrose podia estar convicto de

que o assassinato estava livre de ciúmes e sexo, mas ela não. Ela realmente teria gostado do nome das outras mulheres deles, mas não queria forçar demais. Por um momento, ela considerou compeli-lo como fizeram com Joe. Mas não. Ela não cruzaria essa linha de novo, especialmente com alguém que ela considerasse um amigo. Ao menos, ainda não. “Ok,” ela disse relutante. “Obrigada. Obrigada por nos ajudar.”

Ambrose pareceu surpreso pela sua educação, e sua expressão se acalmou.

“Eu vou ver se consigo cavar algo que lhe ajude. Eles estão mantendo o quarto e as posses dela sob vigia, mas eu ainda poderia ser capaz de entrar lá. Deixarei você saber.”

Lissa sorriu, genuinamente grata. “Obrigada. Isso seria ótimo.” Um toque no meu braço me trouxe de volta para meu quarto vagabundo

em West Virgini. Sydney e Dimitri estavam olhando para mim. “Rose?” perguntou Dimitri. Eu tinha a sensação de que não era a primeira vez que ele tinha tentado chamar a minha atenção.

“Ei,” eu disse. Eu pisquei algumas vezes, me acostumando de novo nessa

realidade. “Você voltou. Ligou para o Strigoi?” Ele não reagiu visivelmente à palavra, mas eu sabia que ele odiava ouvi-la.

“Sim. Eu consegui o contato de Boris.”

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Sydney envolveu seus braços ao redor de si mesma. “Conversa maluca. Parte dela foi em inglês. Foi ainda mais assustadora que antes.”

Eu estremeci involuntariamente, grata por não ter estado presente. “Mas

você descobriu alguma coisa?” “Boris me deu o nome de um Strigoi que conhece Sonya e provavelmente

sabe onde ela está,” Dimitri disse. “Na verdade, é alguém que eu conheci. Mas ligações telefônicas só vão até aí com Strigoi. Não há um meio de contatá-lo – exceto pessoalmente. Boris só tinha o seu endereço.”

“Onde é?” eu perguntei “Lexington, Kentucky.” “Ah, pelo amor de Deus,” eu gemi. “Por que não Bahamas? Ou Corn

Palace?” Dimitri tentou esconder seu sorriso. Podia ser ao meu custo, mas se eu

havia melhorado seu humor, estava grata por isso. “Se sairmos agora, podemos alcançá-lo antes do amanhecer.”

Eu olhei em volta. “Escolha difícil. Deixar isso tudo por eletricidade e

encanamento?” Agora, Sydney sorriu. “E sem outras propostas de casamento.” “E nós provavelmente teremos que lutar contra Strigoi,” adicionou Dimitri. Eu saltei de pé. “Quão cedo podemos ir?”

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QUATORZE

OS KEEPERS TIVERAM REAÇÕES VARIADAS com nossa partida. Eles geralmente ficavam felizes por forasteiros irem embora, especialmente já que Sydney estava conosco. Mas depois da luta, eles me viam como algum tipo de super herói e ficaram encantados com a ideia de eu casar com sua ‘família’. Me ver em ação significou que algumas mulheres também começaram a olhar para Dimitri. Eu não estava com humor para observar elas flertando com ele – especialmente já que, de acordo com suas regras de cortejo, eu deveria ser aquela a ser desafiada se houvesse qualquer perspectiva de um noivado.

Naturalmente, não contamos nossos exatos planos para os Keepers, mas

mencionamos que provavelmente encontraríamos Strigoi – o que causou uma reação. A maior parte era excitação e temor, o que continuou a levantar nossa reputação como guerreiros ferozes. A resposta de Angeline, no entanto, foi totalmente inesperada.

“Me leve com você,” ela disse, agarrando meu braço, quando comecei o

caminho em direção ao carro. “Desculpe,” eu disse, ainda um pouco desconfiada depois da hostilidade

dela. “Temos que fazer isso sozinhos.” “Eu posso ajudar! Você me derrotou... mas viu o que posso fazer. Sou boa.

Eu poderia derrubar um Strigoi.” Por toda aquela ferocidade, eu sabia que Angeline não fazia ideia do que ela

enfrentaria se encontrasse um Strigoi. Os poucos Keepers que tinham marcas molnija falavam pouco dos encontros, seus rostos sérios. Eles entendiam. Angeline não. Ela também não entendida que qualquer novato em St. Vladimir no ensino médio provavelmente poderia derrubá-la. Ela tinha potencial, verdade, mas precisava de muito trabalho.

“Você pode ser capaz,” eu disse, sem querer ferir seus sentimentos. “Mas

não é possível para você vir conosco.” Eu teria mentido e dado um vago ‘talvez algum dia’, mas já que isso faria Joshua pensar que éramos seminoivos, eu decidi que era melhor não.

Eu esperei que ele gabasse mais de suas proezas em batalha. Soubemos que

ela era vista como uma das melhores lutadoras dali, e com sua aparência, ela tinha muitos admiradores também. Muito disso tinha lhe subido a cabeça, e ela gostava de dizer o quanto poderia bater em qualquer coisa ou qualquer um. De novo, me lembrei de Jil. Jill também tinha muito a aprender sobre o verdadeiro significado de batalha, mas ainda estava ansiosa para ir pra uma. Ela era quieta

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e mais cautelosa que Angeline, no entanto, então a próxima direção de Angeline me pegou de surpresa.

“Por favor. Não é só Strigoi! Eu quero ver o mundo. Eu preciso ver algo mais

além desse lugar!” A voz dela estava baixa, fora do alcance de outros. “Eu só estive em Rubysville duas vezes, e eles dizem que aquilo não é nada comparado a outras cidades.”

“Não é,” eu concordei. Eu nem a considerava uma cidade. “Por favor,” ela implorou de novo, dessa vez sua voz tremendo. “Me leve

com você.” De repente, senti pena dela. O irmão dela também tinha demonstrado um

pouco de desejo por ver o mundo exterior, mas nada como o dela. Ele brincou que eletricidade seria bom, mas eu sabia que ele estava feliz o bastante sem ver o mundo moderno. Mas quanto a Angeline, a situação era muito mais desesperadora. Eu também sabia como era se sentir presa numa vida e fiquei legitimamente triste pelo que tinha que dizer.

“Não posso, Angeline. Temos que partir sozinhos. Desculpe. Realmente

sinto muito.” Os olhos azuis dela brilharam, e ela correu para a floresta antes de eu poder

vê-la chorar. Eu me senti horrível depois daquilo e não conseguia parar de pensar nela quando nos despedimos. Eu estava tão distraída, que eu até deixei Joshua me dar um abraço de despedida.

Voltar para a estrada foi um alívio. Eu fiquei feliz por estar longe dos

Keepers e estava pronta para entrar em ação, e começar a ajudar Lissa. Lexington foi nossa primeira parada. Tínhamos uma viagem de 6 horas, e Sydney, como sempre, parecia inflexível quanto alguém dirigir seu carro. Dimitri e eu protestamos, finalmente desistindo quando percebemos que iríamos enfrentar Strigoi em breve, e era melhor descansar e conservar nossa energia. O endereço para Donovan – o Strigoi que supostamente conhecia Sonya – era apenas onde ele poderia ser encontrado a noite. Isso significava que tínhamos que chegar em Lexington antes do sol nascer, para não perdermos ele quando ele fosse para sua toca de dia. Também significava que íamos encontrar Strigoi no escuro. Certamente isso iria acontecer na estrada – especialmente enquanto estivéssemos em West Virginia – Dimitri e eu concordamos que poderíamos demorar um pouco, especialmente considerando que nenhum de nós teve uma noite de sono.

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Embora o barulho do carro fosse suave, eu tive um sono inquieto. Depois de algumas horas, eu simplesmente entrei em um estado que me trouxe até Lissa. Era uma boa coisa: eu tropecei em um dos maiores eventos que um Moroi enfrentava. O processo de nominação para eleger o novo rei ou rainha estava prestes a começar. Era o primeiro de muitos passos, e todo mundo estava ansioso, considerando o quão raras eram as eleições para um monarca. Esse era um evento que nenhum dos meus amigos esperou ver tão cedo, e considerando os eventos recentes... bem, todos tínhamos um interesse especial. O futuro dos Moroi estava em jogo.

Lissa estava sentada na ponta da cadeira em um dos salões, um enorme

espaço com tetos arqueados e detalhes em ouro por toda parte. Eu já estive ali antes, com seus murais e elaboradas molduras. Candelabros brilhavam acima. E o lugar era organizado como a câmara do Conselho, com uma enorme mesa de um lado e doze cadeiras. Do lado oposto havia fileiras e mais fileiras de cadeiras – onde a audiência ficava sentada quando o Conselho estava em sessão. Só que havia cerca de 4x mais cadeiras do que o normal, o que provavelmente explicava a necessidade de se fazer tudo ali. Cada cadeira estava ocupada. Na verdade, as pessoas estavam até de pé, se amontoando da melhor maneira possível. Guardiões agitados se moviam entre a horda, os mantendo longe das portas e se certificando que os que estavam de pé se arrumassem de um jeito que otimizasse a segurança.

Christian estava sentado ao lado de Lissa, e Adrian ao lado de Christian. Para

minha surpresa, Eddie e Mia estavam sentados perto também. Mia era uma amiga Moroi que frequentou St. Vladimir e era tão forte na crença que os Moroi deveriam se defender quanto Tasha. Meu amado pai não estava à vista. Nenhum deles falou. Conversas seriam difíceis no barulho de tantas pessoas, e além disso, meus amigos estavam prestando atenção no que estava para acontecer. Havia tanta coisa para ver nessa experiência, e nenhum deles tinha percebido o quão grande a coisa tinha ficado. Abe tinha dito que as coisas iam passar rápido quando Tatiana fosse enterrada, e ele estava certo.

“Você sabe quem sou?” Uma voz baixa chamou atenção de Lissa, mal saindo da confusão. Lissa

olhou para sua fileira, alguns assentos longe de Adrian. Dois Moroi, um homem e uma mulher, estavam sentados lado a lado e estavam olhando para uma mulher muito irritada. Suas mãos estavam em seus quadris, e seu vestido rosa parecia se destacar na multidão de jeans e camiseta. Ela também não ia aguentar muito bem, assim que saísse do ar condicionado.

Uma careta retorceu seu rosto. “Sou Marcella Badica.” Quando isso não

tirou nenhuma reação do casal, ela acrescentou, “O Princípe Badica é meu

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irmão, e sua falecida rainha era minha prima em terceiro grau. Não tem assentos sobrando, e alguém como eu não pode ficar de pé contra parede com o resto da multidão.”

O casal trocou olhares. “Eu suponho que você deveria ter chego mais cedo,

Lady Badica,” disse o homem. O casal parecia não estar afetado. “A sessão é aberta a todos, e não tem

assentos designados, da ultima vez que chequei,” disse a mulher. “Temos direito aos nossos tanto quanto você.”

Marcella virou para o guardião perto dela em ultraje. Ele deu de ombros. O

trabalho dele era proteger ela de ameaças. Ele não ia expulsar outros de seus assentos, particularmente já que não estavam quebrando nenhuma regra. Marcella resmungou alto antes de virar e se afastar, sem duvida para assediar outra pobre alma.

“Isso,” disse Adrian, “vai ser incrível.” Lissa sorriu e voltou a estudar o resto do salão. Conforme ela o fazia, eu me

tornei ciente de algo. Eu não conseguia distinguir exatamente quem era quem, mas a multidão não estava composta apenas da realeza – como a maioria das sessões do Conselho era. Havia muitos “plebeus”, como o casal sentado perto dos meus amigos. A maioria dos Moroi não se incomodava com a Corte. Eles estavam no mundo, vivendo suas vidas e tentando sobreviver enquanto a realeza ficava na Corte e fazia as leis. Mas hoje não. Um novo líder ia ser escolhido, e isso era de interesse de todos os Moroi.

O caos continuou por um tempo antes de um dos guardiões finalmente

declarar que o salão estava acima da capacidade. Os que ficaram de fora ficaram ultrajados, mas seus gritos foram rapidamente silenciados quando os guardiões fecharam as portas, fechando o salão. Logo depois, os onze membros do conselho tomaram seus lugares, e – para meu choque, o pai de Adrian, Nathan Ivashkov, tomou a décima segunda cadeira. O Heraldo da Corte gritou e chamou atenção de todos. Ele era alguém que foi escolhido por sua voz, embora eu sempre tenha me perguntando por que eles não usavam o microfone nessas situações. Mais tradições, eu suponho. Isso, e uma excelente acústica.

Nathan falou e o salão se aquietou. “Na ausência de nossa amada rainha...”

ele parou parecendo melancólico e dando uma pausa de respeito antes de continuar.

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Em qualquer outra pessoa, eu suspeitaria que seus sentimentos eram falsos, particularmente depois de ver ele gritar na frente de Tatiana. Mas, não. Nathan amava sua tia tanto quanto Adrian.

“E no amanhecer dessa terrível tragédia, eu serei o moderador dos testes e

eleições que estão por vir.” “O que eu te disse?” murmurou Adrian. Ele tinha um sentimento disperso

em relação a seu pai. “In-crível.” Nathan falou um pouco sobre a importância do que estava por vir e alguns

pontos sobre a tradição Moroi. Era óbvio, no entanto, que como eu, todos no salão realmente queriam ver o evento principal: as nominações. Ele pareceu perceber isso também, e acelerou as formalidades. Finalmente, ele foi para o ponto principal.

“Cada família, se escolherem, pode nominar um da multidão para quem vai

fazer os testes que todos os monarcas tem que passar desde o início dos tempos.” Eu pensei que ‘início dos tempos’ era um exagero, mas tanto faz. “A única exceção são os Ivashkovs, já que monarcas seguidos da mesma família não são permitidos. Por candidato, três nominações são requeridas de Moroi com sangue real e idade apropriada.” Ele então acrescentou algumas coisas sobre o que acontecia no caso de mais de uma pessoa ser nominada pela mesma família, e que isso envolveria a unificação de apenas um candidato.

Satisfeito por todos entenderem, Nathan acenou e gesticulou em direção a

audiência. “Que as nominações comecem.” Por um momento, nada aconteceu. Isso meio que me lembrou de quando

voltei para a escola, quando um professor dizia algo tipo ‘quem gostaria de apresentar seu trabalho primeiro?’ e todo mundo esperava alguém se apresentar e, então, finalmente acontecia.

Um homem que eu não reconhecia levantou. “Eu nomino Princesa Ariana

Szelsky.” Ariana, como princesa, estava sentada no Conselho e era uma escolha

esperada. Ela deu um gracioso aceno ao homem. Um segundo homem, presumivelmente de sua família, também levantou e deu a segunda nominação. A terceira e última veio de outro Szelsky – um inesperado. Ele era o irmão de Ariana, um viajante que quase nunca estava na Corte, e o homem que minha mãe guardava. Janine Hathaway muito provavelmente estava neste salão, eu percebi. Eu queria que Lissa olhasse ao redor e procurasse por ela, mas Lissa

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estava muito focada nos procedimentos. Depois de tudo que passei, eu de repente tive um desesperado desejo de ver minha mãe.

Com três nominações, Nathan declarou, “Princesa Ariana Szelsky entrou

como candidata.” Ele pegou um pedaço de papel na frente dele, e o preencheu. “Continuem.”

Depois disso, as nominações passaram rapidamente. Muitos eram príncipes

e princesas, mas alguns eram respeitados – e ainda importantes – membros de família. O candidato dos Ozera, Ronald, não era do membro do Conselho da família, e nem ninguém que eu conhecia. “Ele não é o candidato ideal da tia Tasha,” Christian murmurou para Lissa. “Mas ela admite que ele não é um idiota.”

Eu não sabia muito sobre os outros candidatos. Alguns, como Ariana

Szelsky, que eu tinha uma boa impressão. Alguns eu sempre achei apavorantes. O décimo candidato era Rufus Tarus, o primo de Daniella. Ela casou com os Ivashkovs vinda da família Tarus e parecia satisfeita por ver seu primo ser nominado.

“Eu não gosto dele,” disse Adrian fazendo uma cara. “Ele sempre está me

dizendo para fazer algo útil com minha vida.” Nathan escreveu o nome de Rufus e então rolou o pedaço de papel como

um pergaminho. Apesar da aparência e costumes antiquados, eu suspeitava que uma secretária na audiência estava digitando tudo que era dito num laptop.

“Bem, declarou Nathan, “isso conclui –” “Eu indico Princesa Vasilisa Dragomir.” Lissa ergueu sua cabeça, e pelos olhos dela, eu reconheci uma figura

familiar. Tasha Ozera. Ela levantou e falou as palavras alto e com confiança, olhando ao redor com aqueles olhos azuis, como se desafiasse qualquer um que discordasse.

O salão inteiro congelou. Nenhum sussurro, nem cadeiras se balançado. Só

um completo silêncio. A julgar por aqueles rostos, o indicado pela família Ozera era a segunda pessoa mais surpresa do salão por ouvir Tasha falar. A primeira, é claro, ´era a própria Lissa.

Levou um minuto para Nathan conseguir fazer sua boca funcionar. “Isso não

é –”

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Ao lado de Lissa, Christian de repente levantou. “Eu sou o segundo a nominar.”

E antes de Christian sequer sentar, Adrian estava de pé. “Eu confirmo a

nominação.” Todos os olhos do salão foram para Lissa e seus amigos, e então, como um,

a multidão virou para Nathan Ivashkov. De novo, ele parecia encontrar problemas para achar sua voz.

“Isso,” ele finalmente conseguiu dizer, “não é uma nominação legal. Em

razão das leis do Conselho, a linhagem dos Dragomir não é elegível para apresentar um candidato.”

Tasha, nunca com medo de falar na frente de uma multidão ou assumir

chances impossíveis, se ergueu. Eu podia ver que ela estava ansiosa. Ela era tão boa em fazer discursos e desafiar o sistema. “A nominação de um monarca não precisa de uma posição do Conselho ou um quorum para concorrer.”

“Isso não faz sentido,” disse Nathan. Houve um murmúrio de concordância. “Cheque as leis, Nate – eu quero dizer, Lord Ivashkov.” Sim, ali estava finalmente. Meu pai se juntou as conversas. Abe estava

inclinado contra a parede perto da porta, vestido com um terno preto com uma camisa e gravata que eram de um verde esmeralda. Minha mãe estava ao lado dele, um leve sorriso em seu rosto. Por um momento, eu fiquei cativada quando estudei os dois lado a lado. Minha mãe: a figura perfeita de excelência e decoro de um guardião. Meu pai: sempre capaz de alcançar seus objetivos, não importava o quão distorcido seus meios. Agitada, eu comecei a entender como herdei minha bizarra personalidade.

“Os indicados não tem pré-requisitos sobre quantas pessoas em sua família

eles tem,” continuou Abe jovialmente. “Eles só precisam de três nominações da realeza para serem confirmados.”

Nathan gesticulou com raiva em direção aonde seu próprio filho e Christian

sentavam. “Eles não são da família dela!” “Não precisam ser,” respondeu Abe. “Eles só precisam ser de uma família

real. Eles são. A candidatura dela está dentro da lei – desde que a princesa aceite.”

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Todas as cabeças viraram em direção a Lissa, como se de repente a tivessem notado. Lissa não tinha se mexido desde o início do evento. Ela estava chocada demais. Seus pensamentos eram tanto rápidos quando devagar. Parte dela nem conseguia começar a compreender o que estava acontecendo. O resto de sua mente estava cheia de perguntas.

O que estava acontecendo? Isso era piada? Ou talvez uma alucinação

induzida por espírito? Ela finalmente tinha enlouquecido? Ela estava sonhando? Era um truque? Se era, porque seus amigos o fariam? Porque fariam isso com ela? E pelo amor de Deus, porque todos não paravam de encarar ela?

Ela podia lidar com atenção. Ela foi nascida e criada para isso, e como Tasha,

Lissa podia falar com a multidão e dar um discurso ousado – quando os apoiava e estava preparada. Nenhum dos dois se aplicava a essa situação. Essa era a última coisa do mundo que ela esperava e queria. E também, ela não conseguia se fazer reagir ou considerar uma resposta. Ela ficou onde estava, quieta e em choque.

E então, algo a tirou do seu transe. A mão de Christian. Ele pegou Lissa,

envolvendo seus dedos ao redor dela. Ele deu um gentil aperto, e o calor e energia que ele enviou a trouxe de volta a vida. Devagar, ela olhou para o salão, encontrando os olhos daqueles que a observavam. Ela viu o olhar determinado de Tasha, o olhar arrogante de meu pai, e até a expectativa da minha mãe. O último se provou o mais surpreendente de todos. Como Janine Hathaway – que sempre fez o que era certo e mal conseguia contar uma piada – podia concordar com isso? Como os amigos de Lissa podiam concordar com isso? Eles não amavam nem se preocupavam com ela?

Rose, ela pensou. Eu queria que você estivesse aqui para me dizer o que

fazer. Eu também. Maldito laço que só funciona de um lado. Ela confiava mais em mim do que em qualquer pessoa no mundo, mas

então ela percebeu que confiava em todos os seus amigos também – bem, a não ser talvez Abe, mas isso era compreensível. E se eles estavam fazendo isso, então certamente – certamente – havia um motivo, certo?

Certo? Não fazia sentido para ela, ainda sim Lissa sentiu suas pernas se moverem

quando ela se ergueu. E apesar do medo e confusão que ainda estavam dentro dela, ela encontrou sua voz inexplicavelmente clara e confiante conforme passava pelo salão. “Eu aceito a nominação.”

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QUINZE

EU NÃO QUERIA VER a prova de que Victor Dashkov estava certo. Mas, oh, ele estava.

Com a proclamação de Lissa, o salão que esteve segurando seu fôlego

explodiu. Eu me perguntei se já tinha havido alguma sessão do Conselho pacifica na história dos Moroi ou se era apenas coincidência elas ficarem controversas. O que se seguiu hoje me lembrou muito o dia que o decreto de idade dos dhampir foi aprovado. Gritaria, argumentos, pessoas em suas cadeiras... Guardiões que normalmente se alinhavam nas paredes e observavam entre as pessoas, olhares de preocupação em seus rostos enquanto se preparavam para qualquer disputa que poderia ir além de palavras.

Tão rapidamente quanto Lissa ficar no meio de tudo, o salão pareceu

esquecê-la. Ela sentou, e Christian encontrou a mão dela de novo. Ela apertou com força, tanta que eu me perguntei se ele estava cortando a circulação dele. Ela olhou para frente, ainda absorvendo tudo. Sua mente não estava focada no caos, mas tudo que seus olhos e ouvidos captavam passavam por mim. Na verdade, a única atenção que meus amigos receberam foi quando Daniella veio e brigou com Adrian por ele nominar alguém que não era de sua família. Ele deu de ombros do jeito normal, e ela saiu, percebendo – como muitos de nós – que não havia sentido em tentar ser razoável com Adrian.

É de se imaginar que num salão onde todos estavam lutando para colocar

seus interesses familiares à frente, cada pessoa deveria estar discutindo que a nominação de Lissa foi inválida. Mas esse não foi o caso – particularmente porque nem todos eram da realeza. Como eu tinha notado antes, Moroi de toda mundo vieram testemunhar os eventos que determinaria seu futuro. E muitos estavam observando a garota Dragomir com interesse, essa princesa de uma linhagem que estava sumindo e que supostamente podia fazer milagres. Eles não estavam ferozmente chamando seu nome, mas muitos estavam discutindo, dizendo que ela tinha todo direito de assumir o lugar de sua família. Parte de mim suspeitava que alguns dos seus apoiadores ‘plebeus’ simplesmente gostavam da ideia da confusão nos planos da realeza. O jovem casal que foi perseguido por Lady Badica não eram os únicos a serem desprezados pelos ‘melhores’.

O mais surpreendente, havia alguns da realeza falando por Lissa também.

Eles podiam ser leais à suas próprias famílias, mas nem todos eram egoístas sem coração. Muitos tinham um sentido de certo e errado – e se Lissa tinha a lei ao seu lado, então ela estava no lado certo. Além do mais, muitos da realeza simplesmente gostavam e a respeitavam. Ariana foi uma que apoiou a nominação de Lissa, apesar da competição que criava. Ariana conhecia a lei bem

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e sem dúvidas percebeu que a brecha que permitia que Lissa fosse nominada cairia quando fosse hora das eleições. Ainda sim, Ariana permaneceu parada, o que me fez respeitar ela ainda mais. Quando a verdadeira votação chegasse, eu esperava que Ariana usasse a coroa. Ela era inteligente e justa – exatamente o que os Moroi precisavam.

É claro, Ariana não era a única que conhecia a lei. Outros entenderam a

brecha e argumentaram que a nominação de um candidato que ninguém poderia votar era inútil. Normalmente, eu teria concordado. O debate continuou enquanto meus amigos permaneceram sentados no olho do furacão. Finalmente, o assunto foi encerrado da forma que a maioria das decisões deveria terminar: através de votação. Com Lissa ainda não podendo sentar no Conselho, isso deixava 11 membros para determinar seu futuro. Seis deles aprovaram sua candidatura, fazendo oficial. Ela podia concorrer. Eu suspeitei que alguns daqueles que votaram por ela não a queriam concorrendo, mas seu respeito pela lei prevaleceu.

Muitos Moroi não se importaram com o que o Conselho disse. Eles

deixaram claro que eles consideravam esse assunto terminado, provando o que Victor tinha dito: isso iria permanecer por um tempo, ficando pior se ela de fato passasse nos testes e fosse até a votação. Por agora, a multidão se dispersou, parecendo aliviada – não apenas porque eles queriam sair daquela gritaria mas também porque queriam espalhar essa sensacional notícia.

Lissa continuou a dizer pouco quando ela e nossos amigos partiram.

Passando pelos portões, ela permaneceu educada e calma, como se já tivesse sido declarada rainha. Mas quando finalmente saiu de perto de tudo e voltou para seu quarto com os outros, todos aqueles sentimentos explodiram.

“O que diabos vocês estavam pensando?” ela gritou. “O que vocês fizeram

para mim?” Junto com Adrian, Christian, e Eddie, o resto dos conspiradores apareceu:

Tasha, Abe, e minha mãe. Todos ficaram tão surpresos com essa reação da doce Lissa que nenhum deles respondeu. Lissa se aproveitou do silêncio. “Vocês armaram pra mim! Vocês me colocaram no meio de um pesadelo político! Vocês acham que eu quero isso? Vocês realmente acham que eu quero ser rainha?”

Abe se recuperou primeiro, naturalmente. “Você não será rainha,” ele disse,

a voz suave. “As pessoas discutindo sobre a outra parte da lei tem razão: ninguém pode votar em você. Você precisa de uma família para isso.”

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“Então qual é o ponto?” ela exclamou. Ela estava furiosa. Ela tinha direito de estar. Mas aquele ultraje, aquela raiva... era abastecida por mais do que só a situação. Espírito estava vindo para recolher seu preço e a deixou ainda mais chateada do que ela teria ficado.

“O ponto,” disse Tasha, “é tudo maluco como você viu no salão do

Conselho. Para cada discussão, para cada vez que alguém pega o livro da lei de novo, temos mais tempo para salvar Rose e descobrir quem matou Tatiana.”

“Quem o fez deve ter interesse no trono,” explicou Christian. Ele descansou

sua mão no ombro de Lissa, e ela se afastou. “Ou por eles ou por alguém que conhece. Quanto mais atrasarmos seus planos, mais tempo teremos para descobrir quem fez isso.”

Lissa passou as mãos em seu cabelo longo em frustração. Eu tentei tirar

aquela fúria dela, absorvendo eu mesma. Eu consegui um pouco, o bastante para ela soltar as mãos nas laterais. Mas ela ainda estava fula.

“Como eu vou procurar pelo assassino quando estou presa fazendo aqueles

testes idiotas?” ela exigiu. “Você não vai procurar,” Abe disse. “Nós vamos.” Os olhos dela se arregalaram. “Isso nunca foi parte do plano! Não vou ir

para os braços da realeza quando Rose precisa de mim. Eu quero ajudar ela!” Era quase cômico. Quase. Nem Lissa nem eu conseguíamos lidar com o ‘ficar

parada’ quando achávamos que a outra precisava de ajuda. Queríamos estar lá fora, ativamente fazendo para consertar a situação.

“Você está ajudando ela,” disse Christian. As mãos dele se mexeram, mas

ele não tentou tocar ela de novo. “De uma forma diferente do que você esperava, mas no fim, vai ajudar ela.”

O mesmo argumento que todos usaram comigo. Talvez deixou ela com

tanta raiva quanto me deixava, e eu desesperadamente puxei a onda de instabilidade que o espírito continuava a mandar para ela.

Lissa olhou ao redor do quarto, olhando acusadoramente para cada rosto.

“Quem teve essa ideia?” Mais silêncio desconfortável se seguiu. “Rose,” disse Adrian finalmente.

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Lissa virou e o encarou. “Ela não deu! Ela não faria isso comigo!” “Ela deu,” ele disse. “Eu conversei com ela em um sonho. Foi ideia dela, e...

foi boa.” Eu não gostei da forma como isso pareceu ser uma surpresa para ele. “Além do mais, você também a colocou numa má situação. Ela ficou falando sobre o quanto a cidade que ela está é uma droga.”

“Ok,” surtou Lissa, ignorando a parte sobre minha reclamação. “Supondo

que isso seja verdade, que Rose passou essa ‘brilhante’ ideia para você, porque ninguém me disse? Vocês não acharam que um aviso seria bom?” De novo, era como eu reclamando sobre minha fuga ter sido mantida em segredo.

“Na verdade não,” disse Adrian. “Achamos que você ia reagir assim e ia

bolar um plano para recusar. Meios que jogamos que se você fosse pega desprevenida, você aceitaria.”

“Isso foi arriscado,” ela disse. “Mas funcionou,” Tasha respondeu. “Sabíamos que você ia aceitar por nós.”

Ela piscou. “E se tem algum valor, eu acho que você séria uma excelente rainha.”

Lissa deu a ela um olhar afiado, e eu fiz mais um tentativa de tirar um pouco

da escuridão. Eu me concentrei naquelas emoções, imaginando elas em mim ao invés dela. Eu não tirei tudo mais consegui o bastante para tirar a luta dela. Sua raiva de repente caindo em mim, me cegando momentaneamente, mas eu fui capaz de a empurrar para o fundo da minha mente. Ela de repente se sentiu exausta. Eu meio que me sentia também.

“O primeiro teste é amanhã,” ela disse quieta. “Se eu falhar, estou fora.

Todo o plano vai por água baixo.” Christian fez outra tentativa de colocar seus braços ao redor dela, e dessa

vez, ela deixou. “Você não vai.” Lissa não disse mais nada, e eu podia ver o alívio no rosto de todos.

Ninguém acreditou por um segundo que ela ia gostar disso, mas eles pareciam achar que ela não ia retirar sua nominação, que era o que eles esperavam.

Minha mãe e Eddie não falaram nada o tempo todo. Como era comum para

guardiões, eles ficaram no fundo, permanecendo como sombras enquanto assuntos de Moroi eram conduzidos. Com a tempestade inicial no fim, minha

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mãe foi para frente. Ela acenou em direção a Eddie. “Um de nós vai tentar ficar perto de você o tempo todo.”

“Por quê?” perguntou, LIssa assustada. “Porque sabemos que tem alguém que não tem medo de matar para

conseguir o que quer,” disse Tasha. Ela acenou em direção a Eddie e minha mãe. “Esses dois e Mikhail são os únicos guardiões que podemos confiar.”

“Tem certeza?” Abe deu a Tasha um olhar bobo. “Estou surpresa por você

não ter chamado seu guardião especial a bordo.” “Que amigo especial?” exigiu Christian, instantaneamente entendendo a

insinuação. Tasha, para minha surpresa, corou. “Só um cara que eu conheço.” “Que te segue com olhos de cachorrinho,” continuou Abe. “Qual nome

dele? Evan?” “Ethan,” ela corrigiu. Minha mãe, parecendo exasperada com uma conversa tão ridícula,

prontamente a terminou – o que foi bom porque parecia que Christian queria dizer algumas coisas. “Deixe ela em paz,” ela avisou para Abe. “Não temos tempo para isso. Ethan é um cara legal, mas quanto menos pessoas souberam sobre isso, melhor. Já que Mikhail tem um posto permanente, Eddie e eu vamos fazer a segurança.”

Eu concordei com tudo que ela disse, mas me atingiu o fato de que com a

minha mãe a bordo, alguém – provavelmente Abe – tinha contado todas as atividades ilícitas que ocorreram recentemente para ela. Ele foi realmente convincente ou ela me amava muito. De má vontade, suspeitei que ambos fossem verdade. Quando Moroi estão na Corte, seus guardiões não precisam acompanha-los por toda parte, o que significa que minha mãe ficaria livre de sua designação enquanto o Lord Szelsky ficasse ali. Eddie não tinha uma designação ainda, o que também dava a ele flexibilidade.

Lissa começou a dizer algo quando um forte choque em minha própria

realidade me puxou para longe dela. “Desculpe,” disse Sydney. Ela apertar os freios foi o que me trouxe de volta.

“Aquele idiota me cortou.”

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Não era culpa de Sydney, mas eu me senti irritada com a interrupção e queria gritar com ela. Respirando fundo, me lembrei que eu estava simplesmente sentido os efeitos do espírito e que eu não podia me permitir ficar irritada. Ele iria sumir, como sempre, mas uma parte de mim não podia continuar a tomar aquela escuridão de Lissa para sempre. Eu nem sempre seria capaz de controlar.

Agora que eu estava de volta a mim mesma, eu olhei para janela,

absorvendo nossos novos arredores. Não estávamos mais nas montanhas. Chegamos a uma área urbana, e enquanto o tráfico não estava pesado (já que ainda era noite para os humanos), definitivamente havia mais carros na estrada do que eu tinha visto há um tempo.

“Onde estamos?” eu perguntei. “Outskirts Lexington,” Sydney disse. Ela parou para abastecer e para

podermos colocar o endereço de Donovan no GPS dela. Ele estava 8 quilômetros de distância.

“Pelo que ouvi não é uma boa parte da cidade,” Dimitri disse. “Donavan tem

uma loja de tatuagens que só abre a noite. Alguns Strigoi trabalham com ele. Eles pegam garotos bêbados... o tipo de pessoa que pode facilmente desaparecer. O tipo que Strigoi amam.”

“Parece que a polícia eventualmente iria notar que toda vez que alguém

entra para uma tatuagem, ele desaparece.” Eu apontei. Dimitri deu uma risada. “Bem, o ‘engraçado’ é que eles não matam todos

que chegam. Eles de fato fazem tatuagens em alguns deles e os deixam partir. Eles também contrabandeiam drogas.”

Eu o olhei curiosamente, enquanto Sydney voltava para o carro. “Você com

certeza sabe bastante.” “Eu fiz ser da minha conta saber muito, e Strigoi também tem que ter um

teto sobre suas cabeças. Eu encontrei Donavan uma vez e conseguia a maior parte disso direto com a fonte. Eu não sabia exatamente onde ele trabalhava até agora.”

“Ok, então, conseguimos informações com ele. O que fazemos com ele?” “O atraímos. Enviamos um ‘cliente’ com uma mensagem minha dizendo que

preciso encontrar ele. Não sou o tipo de pessoa que ele pode ignorar – bem,

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que ele não costumava – esquece. Quando ele sair, vamos o colocar onde queremos.”

Eu acenei. “Eu posso fazer isso.” “Não”, disse Dimitri. “Você não pode.” “Por que não?” eu perguntei, imaginando se ele achava que era perigoso

demais pra mim. “Porque eles saberão que você é uma dhampir no momento que a virem.

Provavelmente, vão sentir o cheiro antes. Nenhum Strigoi teria uma dhampir trabalhando para si – só humanos.”

Houve um silêncio desconfortável no carro. “Não!” disse Sydneyu. “Eu não vou fazer isso!” Dimitri balançou a cabeça. “Eu também não gosto disso, mas não temos

muitas opções. Se ele pensar que você está trabalhando para mim, ele não vai machucá-la.”

“É? E o que acontece se ele não acreditar em mim?” ela exigiu. “Eu não acho que ele possa correr esse risco. Ele provavelmente vai com

você para examinar as coisas, com a ideia de que, caso esteja mentindo, ele só vai ter que matá-la.”

Isso não pareceu fazer ela se sentir melhor. Ela gemeu. “Você não pode mandar ela,” eu disse. “Eles vão saber que ela é uma

Alquimista. Uma dessas também não trabalharia para um Strigoi.” Para minha surpresa, Dimitri não havia pensado nisso. Ficamos quietos de

novo, e, inesperadamente, foi Sydney quem apareceu com uma solução. “Quando eu estava dentro do posto,” ela disse devagar, “eles tinham, tipo,

uma prateleira de maquiagem. Nós provavelmente poderíamos cobrir a maior parte da minha tatuagem com pó.”

E foi o que fizemos. O único pacote que o posto vendia não combinava bem

com o tom de pele dela, mas nós colocamos o bastante para obscurecer o lírio dourado na bochecha dela. Pentear seu cabelo para frente ajudou um pouco. Satisfeitos por termos feito o que podíamos, nós fomos até Donovan.

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De fato, era uma parte abandonada da cidade. Algumas quadras depois da

loja de tatuagem, nós vimos o que parecia ser uma boate mas, fora isso, a vizinhança parecia deserta. Entretanto, eu não me deixei enganar. Esse não era um lugar pelo qual você ia querer passear sozinha de noite. Tudo berrava “assalto”. Ou pior.

Nós vasculhamos a área até Dimitri achar um ponto que ele achasse ideal.

Era em um beco dois prédios atrás da loja de tatuagens. Havia uma cerca deformada de arame de um lado e um prédio baixo de tijolos do outro. Dimitri instruiu Sydney sobre como trazer o Strigoi até nós. Ela absorveu tudo, aquiescendo durante a explicação, mas eu podia ver o medo nos seus olhos.

“Você quer parecer abismada,” ele disse para ela. “Humanos que servem

Strigoi louvam eles – estão ansiosos para agradar. Como eles estão ao redor de Strigoi tanto tempo, eles não ficam tão espantados ou aterrorizados. Ainda um pouco assustados, é claro, mas não tanto quanto você parece agora.”

Ela engoliu em seco. “Eu não consigo evitar.” Eu me senti mal por ela. Ela acreditava fortemente que todos os vampiros

eram do mal, e nós estávamos mandando ela para um ninho do pior tipo, colocando-a em um risco imenso. Eu também sabia que ela só tinha visto um Strigoi vivo e, apesar das lições de Dimitri, ver mais podia apavorar ela completamente. Se ela congelasse diante de Donovan, todo o plano seria arruinado. Por impulso, eu dei um abraço nela. Para minha surpresa, ela não resistiu.

“Você vai conseguir,” eu disse. “Você é forte – e eles tem muito medo de

Dimitri. Beleza?” Depois de respirar fundo algumas vezes, Sydney concordou. Nós dissemos

mais algumas palavras de encorajamento e então ela virou pelo canto do prédio, caminhando em direção à rua, e sumiu da nossa vista. Eu olhei para Dimitri.

“Nós podemos ter acabado de mandar ela para a morte.” O rosto dele estava sinistro. “Eu sei – mas não podemos fazer nada agora. É

melhor você ficar em posição.” Com a ajuda dele, eu consegui sumir no telhado do prédio baixo. Não havia

nada íntimo no jeito que ele me levantou, mas eu não podia deixar de sentir aquela mesma eletricidade que todo aquele contato com ele causava ou notar

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como nós trabalhávamos junto facilmente. Uma vez que eu estava posicionada seguramente, Dimitri se encaminhou para o lado oposto do prédio onde Sydney virou. Ele espiou pelo canto, e não havia nada a ser feito a não ser esperar.

Era agoniante – e não só porque estávamos prestes a lutar. Eu continuava

pensando na Sydney, no que eu havia pedido para ela fazer. Meu trabalho era proteger os inocentes do mal – não jogá-los no meio dele. E se nosso plano desse errado? Vários minutos se passaram, e eu finalmente ouvi passos e vozes sussurradas ao mesmo tempo que uma onda familiar de náusea passou por mim. Nós havíamos atraído os Strigoi.

Três deles viraram pelo canto do prédio, com Sydney na frente. Eles

pararam e eu vi Donovan. Ele era o mais alto – um ex-Moroi – com cabelo escuro e uma barba que me lembrava a de Abe. Dimitri havia me dado uma descrição física para que eu não fosse (esperava-se) matar ele. Os capangas de Donovan pairavam ao seu redor, todos alertas e em guarda. Eu fiquei tensa, apertando a estaca com força na mão direita.

“Belikov?” chamou Donovan, a voz dura. “Onde você está?” “Aqui,” foi a resposta de Dimitri – naquela voz fria e terrível de Strigoi. Ele

apareceu por trás do canto oposto do prédio, mantendo-se nas sombras. Donovan relaxou levemente, reconhecendo Dimitri – mas, mesmo na

escuridão, a aparência verdadeira de Dimitri se materializou. Donovan ficou rígido, vendo uma ameaça repentina, mesmo sendo uma que o confundisse e desafiasse aquilo que ele sabia. “Dhampirs!” ele exclamou. Não foi a aparência de Dimitri que nos revelou. Foi nosso cheiro, e eu agradeci em uma reza silenciosa por ter demorado todo esse tempo para ele perceber.

Então, eu saltei do telhado. Não era uma distância fácil de se pular – mas

não ia me matar. Além do mais, minha queda foi amortecida por um Strigoi. Eu aterrissei em um dos caras de Donovan, derrubando ele no chão. Eu

mirei a estaca em seu coração, mas seus reflexos eram rápidos. Com meu pouco peso, foi fácil para ele se livrar de mim. Eu esperava por isso e me mantive de pé. Pelo canto do olho, eu vi Sydney se jogar no chão e sair o mais rápido que conseguia, conforme nossas instruções. Nós queríamos ela longe do fogo cruzado e dissemos para esperar no carro, ficando pronta para escapar se as coisas ficassem ruins.

Claro que, com Strigoi, as coisas estavam sempre ruins. Donovan e o outro

cara foram ambos para cima de Dimitri, considerando ele como sua maior ameaça. Meu oponente, a julgar pelo seu sorriso que revelava as presas, não

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parecia me considerar como ameaça alguma. Ele pulou para cima de mim e eu me esquivei, mas não sem antes acertar um chute que o acertou no joelho. Não pareceu que isso tinha machucado ele, mas serviu para desequilibrá-lo. Eu tentei empalar ele de novo com a estaca, mas fui de novo jogada para longe, caindo com força no chão. Minhas pernas nuas se arranharam no cimento áspero, rasgando a pele. Como meus jeans ficaram muito sujos e rasgados, eu fui forçada a vestir um par de shorts da mochila que Sydney havia me trazido. Eu ignorei a dor e fiquei de pé numa velocidade que o Strigoi não esperava. Minha estaca encontrou seu coração. O golpe não foi tão forte quanto eu queria, mas foi o bastante para deixá-lo enfraquecido, e então me permitindo forçar a estaca mais fundo e acabar com ele. Sem nem esperar para vê-lo cair, eu tirei a estaca e me voltei para os outros.

Eu não havia hesitado uma única vez na luta que eu havia acabado de

vencer, mas agora, eu parei com o que vi. O rosto de Dimitri era... aterrorizante. Feroz. Ele estava parecido como quando me defendeu da prisão – a expressão de deus guerreiro fodão que dizia que ele podia encarar o próprio inferno. A aparência dele agora... bem, ele estava levando aquela ferocidade a um novo nível. Isso era pessoal, eu percebi. Lutar contra esses Strigoi não servia só para encontrar Sonya e ajudar Lissa. Ele estava buscando redenção, tentando destruir seu passado ao destruir o mal diretamente em seu caminho.

Eu me movi para me juntar a ele, assim que ele empalou o segundo. Havia

poder naquele golpe, muito mais poder do que Dimitri precisava para empurrar um Strigoi contra uma parede de tijolos e perfurar seu coração. Era impossível, mas eu conseguia imaginar a estaca passando direto pelo coração e atingindo a parede. Dimitri deu mais atenção e esforço naquela morte do que ele deveria. Ele deveria ter respondido como eu e imediatamente virado para próxima ameaça, assim que o Strigoi morreu. Ao invés disso, Dimitri ficou tão fixado em sua vitima que ele não notou Donovan tomando vantagem da situação. Felizmente para Dimitri, eu cuidava de suas costas.

Eu bati meu corpo contra Donovan, empurrando ele para longe de Dimitri.

Quando o fiz, eu vi Dimitri tirar sua estaca e então bater o corpo contra a parede de novo. Enquanto isso, eu com sucesso chamei atenção de Donovan e agora estava tendo dificuldades em atrair ele sem matá-lo.

“Dimitri!” eu gritei. “Venha me ajudar. Preciso de você!” Eu não consegui ver o que Dimitri estava fazendo, mas alguns segundos

depois, ele estava do meu lado. Com o que quase pareceu um rugido, ele pulou em Donovan, a estaca pronta, e derrubou o Strigoi no chão. Eu respirei aliviada e me movi para ajudar a segurá-lo. Então, eu vi que a estaca de Dimitri estava alinhada ao coração de Donovan.

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“Não!” eu caí no chão, tentando tanto segurar Donovan quando afastar o

braço de Dimitri. “Precisamos dele! Não o mate!” Pelo olhar de Dimitri, era incerto se ele tinha me ouvido. Havia morte em

seus olhos. Ele queria matar Donovan. O desejo de repente tinha tido precedência.

Ainda tentando segurar Donovan com um braço, eu bati no rosto de Dimitri

com a outra mão – acertando o lado que eu não tinha socado da outra vez. Eu não achei que ele tinha sentido a dor em sua fúria, mas isso chamou atenção dele. “Não o mate!” eu repeti.

O comando passou por Dimitri. Nossa luta, infelizmente, deu a Donavan

espaço para manobrar. Ele começou a se soltar, mas então, como um, Dimitri e eu nos seguramos Donovan. Eu me lembrei da vez que interroguei Strigoi na Rússia. Foi preciso um grupo de dhampirs para segurar um Strigoi, mas Dimitri parecia ter uma força sobrenatural.

“Quando estávamos interrogando, costumávamos –” Minhas palavras foram interrompidas quando Dimitri decidiu usar seu

próprio método de interrogação. Ele agarrou Donavan pelos ombros e o chacoalhou com tanta força, que fez o Strigoi continuar a bater sua cabeça contra o cimento.

“Onde está Sonya Karp?” rugiu Dimitri. “Eu não –” começou Donovan. Mas Dimitri não tinha paciência com as

evasivas de um Strigoi. “Onde ela está? Eu sei que você a conhece!” “Eu –” “Onde ela está?” Eu vi algo no rosto de Donovan que eu nunca vi no rosto de um Strigoi

antes: medo. Eu achava que era uma emoção que eles simplesmente não possuíam. Ou, se tivessem, era apenas nas batalhas em que lutavam uns contra os outros. Eles não perderiam tempo temendo dhampirs.

Mas oh, Donovan estava com medo de Dimitri. E para ser honesta, eu

estava também.

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Aqueles olhos vermelhos estavam arregalados – arregalados, desesperados

e aterrorizados. Quando Donovan disse suas próximas palavras, algo me disse que elas eram verdade. Seu medo não deu a chance dele mentir. Ele estava chocando demais e despreparado para tudo isso.

“Paris,” ele ofegou. “Ela está em Paris!” “Deus,” eu exclamei. “Não podemos ir até Paris.” Donovan balançou sua cabeça (o tanto quanto podia com Dimitri

chacoalhado ele em resposta). “É uma cidade pequena – uma hora de distância. Tem um pequeno lago. Pouca gente. Uma casa azul.”

Uma direção vaga. Precisávamos de mais. “Você tem um endere –” Dimitri aparentemente não partilhou da minha necessidade por mais

informações. Antes de eu conseguir terminar de falar, sua estaca estava pra fora – e no coração de Donovan. O Strigoi deu um terrível grito que morreu quando a morte o levou. Eu recuei. Quanto tempo até alguém ouvir tudo isso e chamar a polícia?”

Dimitri tirou sua estaca – e então empalou Donovan de novo. E de novo. Eu

encarei em descrença e horror, congelada por alguns segundos. Então, eu agarrei o braço de Dimitri e comecei a chacoalhar ele, embora eu tenha sentido que seria mais eficaz chacoalhar o prédio atrás de mim.

“Ele está morto, Dimitri! Ele está morto! Pare com isso. Por favor.” O rosto de Dimitri tinha uma terrível, terrível expressão – raiva, agora

marcada com desespero. Desespero que disse a ele que se ele podia destruir Donovan, então talvez ele podia destruir tudo de ruim em sua vida.

Eu não sabia o que fazer. Precisávamos sair dali. Precisávamos fazer Sydney

desintegrar os corpos. O tempo estava passando, e eu ficava me repetindo. “Ele está morto! Solte-o. Por favor. Ele está morto!” Então, em algum lugar, de alguma forma, eu passei através de Dimitri. Suas

emoções devagar e finalmente pararam. A mão segurando a estaca caindo de lado enquanto ele encarava o que tinha sobrado de Donovan – o que não era bonito. A raiva no rosto de Dimitri deu lugar à desesperação.. e então isso deu lugar para desespero.

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Eu puxei seu braço gentilmente. “Acabou. Você fez o bastante.” “Nunca será o bastante, Roza,” ele sussurrou. O pesar em sua voz me

matava. “Nunca será o bastante.” “É por agora,” eu disse. Eu o puxei para perto de mim. Sem resistir, ele

soltou sua estaca e enterrou seu rosto no meu ombro. Eu também soltei minha estaca e o abracei, o trazendo mais para perto. Ele envolveu seus braços ao meu redor em resposta, buscando o contato de outro ser vivo, o contato que eu a muito sabia que ele precisava.

“Você é a única.” Ele se agarrou com mais força. “A única que entende. A

única que viu como eu era. Eu nunca poderia explicar a ninguém... você é a única. A única para quem posso contar isso...”

Eu fechei meus olhos por um momento, sobrepujada com o que ele estava

dizendo. Ele poderia ter uma forte aliança com Lissa, mas isso não significava que ele tinha revelado seu coração para ela totalmente. Por tanto tempo, ele e eu estivemos em perfeita sintonia, sempre entendendo um ao outro. Esse ainda era o caso, não importava se estávamos juntos, não importava se eu estava com Adrian. Dimitri sempre manteve seu coração e sentimentos guardados até me conhecer. Eu pensei que ele os tinha trancado de novo, mas aparentemente, ele ainda confiava em mim o bastante para revelar o que o estava matando por dentro.

Eu abri meus olhos, e encontrei seu olhar negro. “Está tudo bem,” eu disse.

“Está tudo bem agora. Estou aqui. Eu sempre estarei aqui por você.” “Eu sonho com eles, você sabe. Todos os inocentes que matei.” Seus olhos

se voltaram para o corpo de Donovan. “Eu fico pensando... talvez se eu destruir Strigoi o bastante, os pesadelos desaparecerão. Eu terei certeza que não sou um deles.”

Eu toquei o queixo dele, virando seu rosto em direção ao meu e para longe

de Donovan. “Não. Você tem que destruir Strigoi porque eles são malignos. Porque é isso que fazemos. Se você quer que os pesadelos desapareçam, você tem que viver. Essa é a única forma. Poderíamos ter morrido agora pouco. Não morremos. Talvez a gente morra amanhã, eu não sei. O que importa é que estamos vivos agora.”

Eu estava tagarelando nesse ponto. Eu nunca vi Dimitri tão baixo, desde que

foi restaurado. Ele alegou que ser um Strigoi tinha matado suas emoções. Não tinha. Elas estavam lá, eu percebi. Tudo que ele tinha sido ainda estava lá dentro, só que saía em explosões – como esse momento de raiva e desespero.

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Ou quando ele me defendeu quando fui presa pelos guardiões. O velho Dimitri não tinha desaparecido. Ele só estava preso, e eu não sabia como soltá-lo. Não era isso que eu fazia. Era sempre ele que tinha as palavras de sabedoria. Não eu. Ainda sim, ele estava ouvindo agora. Eu tinha sua atenção. O que eu podia dizer? O que poderia ter efeito nele?

“Lembra o que eu disse antes?” eu perguntei. “Em Rubysville? Viver está

nos detalhes. Você tem que apreciar os detalhes. É o único jeito de você derrotar o que Strigoi fez com você. O único jeito de trazer de volta quem você realmente é. Você mesmo disse: você fugiu comigo e sentiu o mundo de novo. É lindo.”

Dimitri começou a virar em direção a Donovan de novo, mas eu não permiti.

“Não tem nada lindo aqui. Apenas morte.” “Isso só é verdade se você deixar eles fazerem ser verdade,” eu disse

desesperadamente, ainda sentindo a pressão do tempo. “Encontre uma coisa. Uma coisa que é linda. Qualquer coisa. Qualquer coisa que te mostre que você não é um deles.”

Os olhos dele voltaram para mim, estudando meu rosto silenciosamente.

Pânico passou por mim. Não estava funcionando. Eu não podia fazer isso. Teríamos que sair daqui independentemente do estado que ele estava. Eu sabia que ele ia sair embora também. Se aprendi algo, era que os instintos de guerreiro de Dimitri ainda estavam funcionando. Se eu dissesse que o perigo estava vindo, ele responderia instantaneamente, não importa o quão atormentado ele se sentia. Mas eu não queria aquilo. Eu não queria que ele partisse desesperado. Eu queria que ele saísse daqui um passo mais próximo de ser o homem que eu sabia que ele podia ser. Eu queria que ele deixasse aqui um pesadelo a menos.

Mas estava além das minhas habilidades. Eu não era uma terapeuta. Eu

estava prestes a dizer a ele que precisávamos sair daqui, prestes a fazer seus reflexos de soldado tomarem conta, quando ele repentinamente falou. Sua voz mal era um sussurro. “Seu cabelo.”

“O que?” por um segundo, eu me perguntei se ele estava pegando fogo ou

algo assim. Eu toquei uma mecha. Não, nada estava errado fora o fato dele estar uma bagunça. Eu o amarrei para a luta para impedir que o Strigoi o segurasse, como Angeline tinha feito. Mas a maior parte se soltou na luta.

“Seu cabelo,” repetiu Dimitri. Seus olhos estavam largos, quase aterrados.

“Seu cabelo é lindo.”

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Eu não achava, não nesse estado. É claro, considerando que estávamos em um beco escuro cheio de corpos, as escolhas eram limitadas. “Você vê? Você não é um deles. Strigoi não veem beleza. Só morte. Você encontrou algo lindo. Uma coisa que é linda.”

Hesitante e nervosamente, ele passou seus dedos pela mecha que eu tinha

tocado antes. “Mas é o bastante?” “É por agora.” Eu pressionei um beijo em sua testa e o ajudei a levantou. “É

por agora.”

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DEZESSEIS

Considerando que Sydney destruía corpos mortos regularmente, era meio surpreendente ver ela chocada com nossas aparências pós-luta. Talvez Strigoi mortos fossem só objetos para ela. Dimitri e eu éramos pessoas vivas de verdade, e estávamos um desastre.

“Eu espero que vocês não manchem o carro,” ela disse, assim que os corpos

haviam sido eliminados e nós estávamos a caminho. Acho que era a melhor tentativa dela de fazer uma piada, em um esforço para disfarçar seu desconforto com nossas roupas rasgadas e ensanguentadas.

“Nós vamos para Paris?” eu perguntei, me virando para ficar de frente com

Dimitri. “Paris?” perguntou Sydney, assustada. “Ainda não,” disse Dimitri, descansando sua cabeça no assento. Ele havia

voltado a parecer com um guardião controlado. Todos os sinais de seu colapso anterior se foram, e eu não tinha a intenção de entregar o que aconteceu antes de buscarmos Sydney. Tão pequeno... ainda assim, tão monumental. E muito privado. Por ora, ele parecia mais cansado do que qualquer coisa. “Devíamos esperar até o amanhecer. Tínhamos que caçar Donovan imediatamente mas, se Sonya tem uma casa, ela deve ficar lá o tempo todo. Mais seguro para nós na luz do dia.”

“Como você sabe que ele não estava mentindo?” perguntou Sydney. Ela

estava dirigindo sem destino real, meramente nos tirando da vizinhança o mais rápido possível e antes que as pessoas reportassem gritos e sons de luta.

Eu lembrei do terror no rosto de Donovan e me arrepiei. “Eu não acho que

ele estivesse mentindo.” Sydney não fez mais perguntas, exceto sobre a direção para a qual devia

dirigir. Dimitri sugeriu que encontrássemos outro hotel para que pudéssemos nos limpar e descansar para a tarefa de amanhã. Por sorte, Lexington tinha uma seleção de hotéis muito maior que a nossa última parada. Não estávamos buscando luxo, mas o lugar grande e de aparência moderna que escolhemos era parte de uma rede, limpo e estiloso. Sydney nos registrou e então nos guiou para dentro por uma porta lateral, de modo que não assustasse algum hóspede que estivesse de pé no meio da noite.

Nós pegamos um quarto com duas camas duplas. Ninguém comentou isso,

mas todos nós compartilhávamos uma necessidade de ficar juntos após nosso

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encontro com Strigoi de mais cedo. Dimitri estava muito mais sujo que eu, graças a ter mutilado Donovan, então eu o deixei entrar no banho antes.

“Você foi ótima,” eu disse a Sydney enquanto esperávamos. Eu estava

sentada no chão (que era muito mais limpo que o do nosso último quarto) para não estragar as camas. “Aquilo foi muita bravura sua.”

Ela abriu um sorriso. “Típico. Vocês se arrebentam e quase morrem, mas eu

que recebo elogios?” “Ei, eu faço isso o tempo todo. Entrar lá sozinha como você fez... bem, foi

bem fodão. E eu não estou tão arrebentada assim.” Eu estava fazendo pouco caso dos meus ferimentos, assim como Dimitri

faria. Sydney, olhando para mim, também sabia disso. Minhas pernas estavam mais machucadas do que havia percebido, a pele aberta e sangrando de onde eu caí no concreto. Um dos meus tornozelos estava reclamando do pulo do telhado, e eu tinha um número de cortes e hematomas espalhados pelo resto de mim. Eu nem tinha ideia de onde a maioria tinha vindo.

Sydney sacudiu sua cabeça. “Como vocês não pegam gangrena mais

seguidamente está além da minha compreensão.” Entretanto, nós duas sabíamos o motivo. Era parte da resistência natural com a qual nasci como dhampir, recebendo o melhor dos traços de ambas as raças. Moroi também eram bem saudáveis, embora eles pegassem doenças únicas de suas raças às vezes. Victor era um exemplo. Ele tinha uma doença crônica e forçou Lissa a curá-lo uma vez. A magia dela o restaurou a sua saúde completa na época, mas a doença estava voltando lentamente.

Eu tomei banho depois que Dimitri terminou, e então Sydney forçou seu kit

de primeiros socorros em nós dois. Quando estávamos enfaixados e desinfectados de acordo com a satisfação dela, ela pegou seu laptop e puxou um mapa de Paris, Kentucky. Nós três nos amontoamos na frente da tela.

“Muitas enseadas e rios,” ela comentou, descendo a tela. “Não muito em

matéria de lagos.” Eu apontei. “Você acha que é esse?” Era um pequeno corpo de água,

marcado LAGOA APPLEWOOD. “Talvez. Ah, tem outra lagoa. Essa podia ser uma suspeita também ou – oh!

Aqui?” Ela tocou na tela sobre outro corpo de água, maior que as lagoas: LAGO MARTIN.

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Dimitri sentou para trás, passou uma mão sobre os olhos e bocejou. “Essa parece a opção mais provável. Se não, eu não acho que levará muito tempo para dirigir ao redor dos outros.

“Esse é o nosso plano?” perguntou Sydney. “Simplesmente sair dirigindo e

procurar uma casa azul?” Eu troquei olhares com Dimitri e dei de ombros. Sydney podia estar

mostrando sua bravura nessa viagem, mas eu sabia que sua ideia de “plano” era um pouco diferente da nossa. Os dela eram estruturados, bem pensados e tinham um propósito claro. Além do mais, detalhes.

“É mais sólido que a maior parte dos nossos planos,” eu disse por fim. O sol ia subir em uma hora ou algo assim. Eu estava louca para ir atrás de

Sonya, mas Dimitri insistiu em dormir até o meio dia. Ele pegou uma cama, e eu e Sydney dividimos a outra. Eu não achava realmente que precisava do descanso que ele reclamava, mas meu corpo discordou. Eu caí no sono quase instantaneamente.

E como sempre ultimamente, eu fui puxada para um sonho de espírito. Eu

esperava que fosse do Adrian, vindo para terminar nossa última conversa. Ao invés disso, o conservatório se materializou ao meu redor, completo com harpa e móveis acolchoados. Eu suspirei e encarei os Irmãos Dashkov.

“Ótimo,” eu disse. “Outra chamada para conferência. Eu realmente preciso

começar a bloquear seu número.” Victor me fez uma mesura suave. “Sempre um prazer, Rose.” Robert

meramente encarou o espaço de novo. Bom saber que algumas coisas nunca mudavam.

“O que você quer?” eu exigi. “Você quer o que queremos. Estamos aqui para ajudar com Vasilisa.” Eu não

acreditava naquilo nem por um instante. Victor tinha algum plano em mente, mas minha esperança era capturá-lo antes que ele pudesse causar mais danos. Ele me estudou com expectativa. “Já achou o outro Dragomir?”

Eu o encarei incrédulo. “Só se passou um dia!” Eu quase tive que refazer

meus cálculos naquilo. Parecia mais com dez anos. Não. Só um dia desde a última vez que falei com Victor.

“E?” Victor perguntou.

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“E, quão bons você acha que somos?” Ele considerou. “Bem bons.” “Bem, obrigada pelo voto de confiança, mas não é tão fácil quanto aparece.

E na verdade... considerando que isso tudo tem sido uma cobertura, não tem sido nada fácil.”

“Mas você achou alguma coisa?” Victor insistiu. Eu não respondi. Um brilho ansioso iluminou seus olhos, e ele deu um passo à frente. Eu

prontamente dei um para trás. “Você achou alguma coisa.” “Talvez.” De novo, eu tinha a mesma indecisão de antes. Será que Victor,

com todos os seus esquemas e manipulações, sabia algo que podia nos ajudar? Da última vez, ele não havia nos dado nada, mas agora, ele tinha mais informação. O que ele havia dito? Se déssemos uma pista, ele podia desvendá-la?

“Rose.” Victor estava falando comigo como se eu fosse uma criança, como

ele frequentemente fazia com Robert. Eu fiz uma careta. “Eu lhe disse antes: não importa se você confia nas minhas intenções. Por hora, nós dois temos interesse no mesmo objetivo de curto prazo. Não deixe suas preocupações futuras arruinarem sua chance aqui.”

Era engraçado, mas era similar ao princípio pelo qual operei pela maior

parte da minha vida. Viva no agora. Parta para a ação e se preocupe com as consequências depois. Agora, eu hesitei e tentei pensar nas coisas antes de tomar uma decisão. Por fim, eu decidi arriscar, novamente esperando que Victor pudesse ajudar.

“Nós achamos que a mãe... que a mãe do irmão ou irmã de Lissa... é

parente de Sonya Karp.” As sobrancelhas de Victor se levantaram. “Você sabe quem é essa?”

“Claro. Ela virou Strigoi – alegadamente porque enlouqueceu. Nós dois

sabemos que foi um pouco mais complicado que isso.” Eu aquiesci relutantemente. “Ela era uma usuária de espírito. Ninguém

sabia.”

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A cabeça de Robert se moveu tão rápido que eu quase pulei. “Quem é usuário de espírito?”

“Ex-usuária de espírito,” Victor disse, mudando instantaneamente para o

modo tranquilizador. “Ela virou Strigoi para escapar.” O olhar afiado que Robert havia dirigido para nós derreteu para um

sonhadorismo suave novamente. “Sim... sempre uma isca para isso. Matar para viver, viver para matar. Imortalidade e liberdade dessas correntes, mas ah, que perda...”

Eram divagações loucas, mas tinha uma semelhança sinistra com algumas

das coisas que Adrian dizia de vez em quando. Eu não gostei nada disso. Tentando fingir que Robert não estava na sala, eu me voltei para Victor. “Você sabe alguma coisa sobre ela? De quem ela é parente?”

Ele balançou a cabeça. “Ela tem uma família grande.” Eu joguei minhas mãos ao ar exasperada. “Você podia ser menos útil? Você

continua agindo como se soubesse muito, mas só está nos contando o que já sabemos! Você não está ajudando!”

“Ajuda vem em muitas formas, Rose. Você achou Sonya.” “Sim.” Eu reconsiderei. “Bem, não exatamente. Nós sabemos onde ela está.

Vamos ver ela amanhã e questioná-la.” O olhar no rosto de Victor dizia muito sobre o quão ridículo ele achava isso.

“E eu tenho certeza de que ela estará ansiosa em ajudar.” Eu dei de ombros. “Dimitri é bem persuasivo.” “Foi o que ouvi,” disse Victor. “Mas Sonya Karp não é uma adolescente

impressionável.” Eu preparei um soco, mas fiquei preocupado que Robert pudesse ter erguido seu campo de força de novo. Victor parecia ignorar meu ódio. “Me diga onde vocês estão. Eu vou até vocês.”

Mais uma vez, um dilema. Eu não achava que tivesse muito que os irmãos

pudessem fazer. Mas essa podia ser uma oportunidade para recapturá-lo. Além disso, se o tivéssemos em pessoa, talvez ele parasse de interromper meus sonhos.

“Estamos em Kentucky,” eu disse por fim. “Paris, Kentucky.” Eu dei a ele o

resto das informações que tínhamos sobre a casa azul.

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“Estaremos aí amanhã,” Victor falou. “Então, onde vocês estão agora –” E, como da última vez, Robert terminou o sonho abruptamente, me

deixando dependurada. No que eu tinha me colocado. Antes que eu pudesse considerar isso, eu fui levada imediatamente a outro sonho de espírito. Bom Jesus. Era mesmo um déjà vu. Todo mundo queria falar comigo dormindo. Por sorte, como da última vez, minha segunda visita foi com Adrian.

Esse era no salão de festas onde o Conselho tinha se reunido. Não havia

cadeiras ou pessoas, e meus passos ecoavam no chão de madeira sólida. O salão que parecia tão grande e poderoso antes agora passava uma sensação sinistra e solitária.

Adrian estava perto de uma das janelas altas em forma de arco, me dando

um sorriso malandro quando eu o abracei. Comparado a quão sujo e ensanguentado tudo estava no mundo real, ele parecia pristino e perfeito.

“Você conseguiu.” Eu lhe dei um rápido beijo nos lábios. “Você os fez indicar

Lissa.” Depois de nossa última visita nos sonhos, quando eu percebi que tinha havido mérito na sugestão de Victor, eu tive que trabalhar para convencer Adrian de que a indicação era uma boa ideia – particularmente porque eu também não tinha tanta certeza.

“É, colocar aquele grupo a bordo foi fácil.” Ele parecia gostar da minha

admiração, mas seu rosto foi ficando mais sinistro conforme ele ponderava sobre as minhas palavras. “Ela não gostou disso, entretanto. Cara, ela nos fez ouvir depois.”

“Eu vi. Você está certo, ela não gosta – mas tem mais que isso. É escuridão

do espírito. Eu tomei um pouco, mas é... foi bem ruim.” Eu lembrei como tomar sua raiva fez isso crescer brevemente em mim. Espírito não me atingia tão duramente como fazia com ela – mas isso era só temporário. Eventualmente, se eu puxasse ao longo dos anos, ia me dominar. Eu peguei a mão de Adrian e dei a ele um olhar tão implorativo quanto pude. “Você precisa cuidar dela. Eu farei o que puder, mas você sabe tão bem quanto eu como stress e preocupação podem agitar espírito. Eu estou com medo de que isso volte como costumava. Eu queria poder estar aí para cuidar dela. Por favor – ajude ela.”

Ele colocou um pedaço solto de cabelo atrás do meu cabelo, preocupação

em seus olhos verdes profundos. No começo, eu achei que a preocupação fosse

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só por Lissa. “Eu vou,” ele disse. “Eu farei o que puder. Mas Rose... vai acontecer comigo? É isso que eu vou me tornar. Como ela e os outros?”

Adrian nunca demonstrou os efeitos colaterais extremos do espírito como

Lissa tinha, principalmente porque ele não usava tanto espírito e porque ele fazia muita automedicação com álcool. Eu não sabia o quanto isso iria durar, entretanto. Pelo que eu tinha visto, só havia algumas coisas que podiam atrasar a insanidade: autodisciplina, antidepressivos, e se ligar com alguém que é beijado pelas sombras. Adrian não tinha interesse em nenhuma dessas opções.

Era estranho, mas nesse momento de vulnerabilidade, eu me lembrei do

que havia acabado de acontecer a Dimitri. Esses dois homens, tão fortes e confiantes de suas maneiras, cada um precisando de mim para suporte. Você é a forte, Rose, uma voz sussurrou dentro da minha cabeça.

O olhar de Adrian viajou. “Às vezes... às vezes eu posso acreditar que a

insanidade é só imaginada, sabe? Eu nunca senti como os outros... como Lissa ou o velho Vlad. Mas de vez em quando...” ele pausou. “Eu não sei. Eu me sinto tão perto, Rose. Tão perto de perder o limite. Como se, caso eu me permita dar um pequeno passo em falso, eu vou cair e nunca mais voltar. Como se eu fosse me perder.”

Eu o tinha ouvido falar coisas como essa antes, quando ele escapou para

uma tangente estranha que só fazia meio sentido. Foi o mais próximo que ele já chegou de mostrar que espírito podia estar mexendo com a sua mente, também. Eu nunca percebi que ele estava sabendo desses momentos ou do que eles poderiam significar.

Ele voltou a olhar para mim. “Quando eu bebo... eu não me preocupo com

isso. Não me preocupo em enlouquecer. Mas então, eu penso... talvez eu já seja. Talvez eu seja, mas ninguém perceba a diferença quando estou bêbado.”

“Você não é louco,” eu disse ferozmente, puxando ele para mim. Eu amava

o seu calor e a sensação que ele me passava com sua pele. “Você vai ficar bem. Você é forte.”

Ele apertou a bochecha contra minha testa. “Não sei,” ele disse. “Eu acho

que você é a minha força.” Era uma afirmação doce e romântica, mas algo nela me incomodava. “Isso

não é bem certo,” eu disse, me perguntando como botar meus sentimentos em palavras. Eu sabia que você podia ajudar outra pessoa em um relacionamento. Você podia fortalecer e dar suporte a ela. Mas você não podia fazer tudo por

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ela. Você não podia resolver todos os seus problemas. “Você tem que achar dentro do seu –”

O rádio relógio do quarto do hotel apitou e me arrancou do sonho, me

deixando frustrada tanto porque eu sentia saudades de Adrian e porque não tinha conseguido dizer tudo o que queria. Bem, não havia nada que eu pudesse fazer por ele agora.

Sydney e eu estávamos ambas preguiçosas e de olhos semicerrados. Fazia

sentido que ela estivesse exausta, já que todo o seu horário de sono – quando ela realmente conseguia dormir – havia sido bagunçado. Eu? Minha fadiga era mental. Tantas pessoas, eu pensei. Tantas pessoas precisavam de mim... mas era tão difícil ajudar todas.

Naturalmente, Dimitri estava de pé e pronto para ir. Ele havia acordado

antes de nós. O colapso de ontem à noite parecia nem ter acontecido. Descobrimos que ele estava louco por um café mas nos esperou pacientemente, não querendo nos deixar dormindo e indefesas. Eu o disse para ir e, vinte minutos depois, ele voltou com café e uma caixa de rosquinhas. Ele também havia comprado uma corrente de força industrial em uma loja de equipamentos “para quando encontrarmos Sonya”, o que me incomodou. Até aquela hora, eu e Sydney já estávamos prontas para ir, e eu decidi segurar minhas perguntas. Eu não era louca de usar shorts de novo, não com as minhas pernas naquele estado, mas estava muito ansiosa para encontrar Sonya para insistir em pararmos num shopping.

Eu decidi, entretanto, que era hora de deixar meus companheiros

atualizados. “Então,” eu comecei casualmente, “Victor Dashkov pode se juntar a nós em

breve.” Era um crédito para Sydney que ela não arrancou o carro da estrada. “O

quê? Aquele cara que escapou?” Eu podia ver pelos olhos de Dimitri que ele estava tão chocado quando ela,

mas se manteve calmo e sob controle, como sempre. “Por quê,” ele começou devagar, “Victor Dashkov vai se juntar a nós?”

“Bem, é uma história engraçada...” E com essa introdução, eu dei a eles o resumo mais rápido mas detalhado

que eu pude, começando com os fatos por trás de Doru e terminando com as visitas recentes dos irmãos aos meus sonhos. Eu passei por cima da fuga

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“misteriosa” de Victor algumas semanas atrás, mas algo me disse que Dimitri, daquela maneira misteriosa que ele tinha de adivinhar os pensamentos dos outros, estava juntando as peças. Tanto Lissa quanto eu havíamos dito a Dimitri que passamos por muita coisa para aprender a curá-lo, mas nunca explicamos toda a história – especialmente a parte de tirar Victor da prisão para que ele pudesse nos ajudar a encontrar seu irmão.

“Olha, quer ele possa nos ajudar quer não, essa é a nossa chance de

pegarmos ele,” eu acrescentei apressadamente. “Isso é bom, não é?” “É um problema com o qual teremos que lidar... depois.” Eu reconheci o

tom na voz de Dimitri. Ele usava isso muito em St. Vladimir. Geralmente, significava que eu teria uma conversa privativa no futuro, onde seria pressionada por maiores detalhes.

Kentucky se mostrou bem bonito enquanto íamos até Paris. A terra verde ia

passando à medida que saíamos da cidade, e era fácil imaginar alguém querendo viver em uma casinha aqui. Eu me perguntei se esse tinha sido o motivo da escolha de Sonya, e então me peguei. Eu tinha acabado de dizer a Dimitri que os Strigoi não viam beleza. Estava errado? Essa cena maravilhosa importava para ela?

Encontrei minha resposta quando o GPS nos levou a Martin Lake. Só havia

algumas casas espalhadas à sua volta, e dentre elas, só uma era azul. Parando a uma boa distância da casa, Sydney estacionou o carro o mais ao lado da pista que pode. Era estreita, coberta por grama alta e árvores. Nós três saímos do carro e caminhados um pouco, ainda mantendo distância.

“Bem, é uma casa azul,” declarou Sydney pragmaticamente. “Mas é dela?

Eu não vejo uma caixa de correio ou coisa assim.” Eu olhei mais perto do jardim. Arbustos de rosas, cheias de rosa e vermelho,

cresciam em frente à varanda. Cestas cheias de flores brancas cujos nomes eu não sabia desciam pelo teto e glórias-da-manhã azuis subiam uma cerca. Ao redor da casa, eu conseguia ver distinguir um pouco de uma cerca de madeira. Uma videira com flores laranja em forma de trompete.

Então, uma imagem surgiu em minha mente, sumindo tão rápido quanto

apareceu. Os vasos de água com flores da Srta. Karp nas suas salas de aula, flores que pareciam crescer impossivelmente rápido e altas. Como uma adolescente mais preocupada em escapar do dever de casa, eu não havia pensado muito nelas. Foi só depois, após assistir Lissa fazer plantas nascerem e crescerem em seus experimentos com espírito, que eu havia entendido o que

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acontecia nas salas da Srta. Karp. E agora, mesmo que privada de espírito e possuída pelo mal, Sonya Karp ainda criava suas flores.

“É,” eu disse. “Essa é a casa dela.” Dimitri se aproximou da varanda

dianteira, estudando cada detalhe. Eu comecei a seguir mas me segurei. “O que você está fazendo?” Eu mantive a voz baixa. “Ela pode ver você.”

Ele voltou ao meu lado. “Essas cortinas são black-out. Elas não deixam

entrar nenhuma luz, então ela não vai ver nada. Também significa que ela provavelmente passa a maior parte do tempo no piso principal, ao invés de um porão.”

Eu podia acompanhar facilmente sua linha de pensamento. “Isso são boas

notícias para nós.” Quando eu fui capturada por Strigoi no ano passado, eu e meus amigos ficamos presos em um porão. Não só era conveniente para os Strigoi querendo evitar o sol, também significava menos opções para entrada e fuga. Era fácil para um Strigoi prender a presa em um porão. Quanto mais portas e janelas tivéssemos, melhor.

“Vou vasculhar o outro lado,” ele disse, começando pelos fundos. Eu corri até ele e segurei seu braço. “Deixe eu ir. Eu vou sentir qualquer

Strigoi – não que ela esteja do lado de fora mas, bem, só como precaução.” Ele hesitou, e eu fiquei irada, pensando que ele não me achava capaz.

Então, ele disse, “ok. Tome cuidado.” Eu percebi que ele estava apenas preocupado comigo.

Eu me movi o mais suave e silenciosamente ao redor da casa quanto pude,

logo descobrindo que a cerca de madeira ia criar uma dificuldade em ver os fundos. Eu temi que escalar ela pudesse alertar Sonya de minha presença e ponderei sobre o que fazer. Minha resposta veio na forma de uma grande pedra perto da borda da cerca. Eu puxei a pedra e subi no topo. Não era o bastante para me deixar ver tudo, mas eu consegui facilmente colocar as mãos no topo da cerca e me erguer para uma espiada com barulho mínimo.

Era como se eu estivesse olhando para o Jardim do Éden. As flores na frente

eram só um aquecimento. Mais rosas, magnólias, macieiras, irises e um bilhão de flores que eu não reconhecia. Os fundos do jardim de Sonya era um paraíso de cores exuberantes. Eu espiei o que precisava e me apressei para voltar até Dimitri. Sydney estava perto do carro.

“Um pátio e duas janelas,” eu reportei. “Todas acortinadas. Também tem

uma cadeira de madeira, uma pá e um carrinho de mão.”

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“Infelizmente, não, mas tem uma pedra imensa do lado de fora da cerca.

Seria difícil colocar isso no jardim, entretanto. Seria melhor usarmos para nos ajudar a pular a cerca. Não tem portão. Ela fez uma fortaleza.”

Ele aquiesceu em compreensão, e sem nenhuma conversa, eu sabia o que

fazer. Nós pegamos a corrente do carro e entregamos a Sydney. Dissemos a ela para esperar lá fora – com a instrução estrita de ir embora se não voltássemos em trinta minutos. Eu odiava dizer esse tipo de coisa – e a cara de Sydney indicava que ela não gostava de ouvir isso – mas era inevitável. Se não tivéssemos subjugado Sonya nesse meio tempo, nunca o faríamos – ou sairíamos com vida. Se nós conseguíssemos derrotá-la, daríamos algum sinal para Sydney vir com a corrente.

Os olhos castanho-âmbar de Sydney estavam cheios de ansiedade enquanto

ela nos assistia voltando para a casa. Eu quase a provoquei por se importar com criaturas maléficas da noite, mas me impedi bem na hora. Ela podia detestar todos os outros dhampir e Moroi no mundo mas, em algum momento no meio do nosso caminho, ela passou a gostar de Dimitri e de mim. Isso não era algo para se zombar.

Dimitri subiu na pedra e vasculhou o jardim. Ele murmurou algumas

instruções de último minuto para mim antes de pegar minhas mãos e me passar por cima da cerca. Sua altura ajudava muito em fazer a manobra tão fácil e quieta – embora não silenciosa – quanto possível. Ele me seguiu logo depois, atrasando ao meu lado com um som abafado.

Depois disso, nós avançamos sem demora. Se Sonya tivesse nos ouvido, não

havia razão para perder tempo. Nós precisávamos de todas as vantagens que pudéssemos ter. Dimitri pegou a pá e a balançou com força contra o vidro. – uma, duas vezes. O primeiro impacto foi aproximadamente na altura da minha cabeça, o segundo, mais baixo. O vidro se rachava mais a cada impacto. Logo após o segundo golpe, eu vim para frente e empurrei o carrinho de mão contra a porta. Levantá-lo e atirá-lo contra o vidro teria sido mais legal, mas era muito imanuseável para levantar tão alto. Quando o carrinho acertou o vidro já enfraquecido, as partes rachada quebraram e despencaram juntas, criando um buraco grande o bastante para nós dois passarmos. Nós dois tivemos que nos abaixar – especialmente Dimitri.

Um ataque simultâneo pelos dois lados da casa teria sido ideal, mas não era

como se Sonya pudesse fugir pela porta da frente. A náusea começou a aparecer no meu estômago assim que chegamos perto do pátio, e a sensação me atingiu por completo quando chegamos à sala. Eu ignorei meu estômago do jeito que eu havia aperfeiçoado e me preparei para o que estava por vir. Nós

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invadimos bem rápido, mas não o bastante para superarmos os reflexos de uma Strigoi.

Sonya Karp estava bem ali, pronta para nós, fazendo tudo o que podia para

evitar a luz do sol que entrava na sala. Quando eu vi Dimitri pela primeira vez como Strigoi, eu fiquei tão chocada que congelei. Isso permitiu que ele me capturasse, então eu me preparei mentalmente dessa vez, sabendo que sentiria o mesmo choque quando visse minha antiga professora como uma Strigoi. E foi chocante. Como ele, tantas feições de Sonya eram as mesmas de antes: o cabelo ruivo, as bochechas altas... mas sua beleza estava distorcida por todas as outras condições terríveis: pele branca, olhos vermelhos, e uma expressão de crueldade que todos os Strigoi pareciam usar.

Se ela nos reconheceu, não deu sinal e sentou sobre Dimitri com um

rosnado. Era uma tática comum dos Strigoi eliminar a maior ameaça primeiro, e me incomodava que eles sempre pensavam ser o Dimitri. Ele havia colocado a estaca no cinto para carregar a pá para dentro consigo. A pá não mataria um Strigoi, mas com força e inércia o bastante, ela manteria Sonya ao alcance das mãos. Ele a acertou no ombro na primeira tentativa dela e, embora ela não tenha caído, ela definitivamente esperou antes de tentar mais um ataque. Eles circularam um ao outro, como lobos prontos para lutar, e ela examinou suas chances. Um ataque e sua força superior o derrubaria, com pá ou sem.

Tudo isso levou alguns segundos, e os cálculos de Sonya me deixaram de

fora da equação. Eu me atirei sobre ela, acertando com força seu flanco, mas ela me viu com o canto do olho e reagiu instantaneamente, me jogando no chão sem nunca tirar os olhos de Dimitri. Eu queria ter uma pá para acertar as costas dela a uma distância segura. Tudo que eu tinha era minha estaca, e eu precisava ser cuidadosa ao usar isso ou poderia matar ela. Eu dei uma rápida olhada na sua sala de estar sinistramente comum e não achei nenhuma arma em potencial.

Ela fez uma finta, e Dimitri caiu. Ele quase não conseguiu se corrigir quando

ela pulou para frente para se aproveitar da situação. Ela o empurrou contra a parede, segurando-o e tirando a pá de suas mãos. Ele lutou contra ela, tentando se soltar quando as mãos dela encontraram sua garganta. Se eu tentasse puxá-la, minha força combinada com a de Dimitri provavelmente o libertaria. Entretanto, eu queria resolver isso tão rápido quanto possível e decidi ir com tudo.

Eu corri na direção dela, estaca na mão, e a cravei na omoplata direita dela,

esperando não acertar perto do coração. A prata encantada, tão agonizante para a pele Strigoi, a fez gritar. Frenética, ela me jogou longe com uma força impressionante até mesmo para uma Strigoi. Eu caí para trás, cambaleando, e

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bati com a cabeça contra uma mesa de café. Minha visão se embaralhou um pouco, mas instinto e adrenalina me colocaram de pé mais uma vez.

Meu ataque deu a Dimitri o milésimo de segundo que ele precisava. Ele a

jogou no chão e pegou minha estaca, e ele a forçou contra a garganta dela. Ela gritou e se agitou, e eu fui em sua direção para ajudar, sabendo como era difícil segurar um Strigoi.

“Chame Sydney...” ele grunhiu. “A corrente...” Eu me mexi tão rápido quanto pude, estrelas e sombras dançando em

minha frente. Eu destranquei a porta e a abri com um chute como sinal, então voltei correndo para Dimitri. Sonya estava progredindo em tirar ele de cima dela. Eu me joguei de joelhos, trabalhando com Dimitri para manter ela presa. Ele tinha uma sede de batalha nos olhos de novo, um olhar que dizia que ele queria destruir ela aqui e agora. Mas tinha mais alguma coisa, também. Algo que me fez pensar que ele tinha mais controle, que minhas palavras no beco tiveram algum impacto. Ainda assim, eu dei um aviso.

“Precisamos dela... lembre-se, precisamos dela.” Ele aquiesceu brevemente enquanto Sydney vinha com a corrente. Ela

olhou a cena de olhos arregalados, pausando só por um momento antes de correr até nós. Ainda vamos fazer dela uma guerreira, eu pensei.

Dimitri e eu partimos para nossa próxima tarefa. Já havíamos achado o

melhor ponto para prender Sonya: uma cadeira reclinável pesada em um canto. Erguendo ela – o que era perigoso, já que ela ainda se agitava furiosamente – nós a enfiamos na cadeira. Então, mantendo a estaca no pescoço dela, Dimitri tentou mantê-la sentada enquanto eu pegava a corrente.

Não havia tempo para pensar em um sistema preciso. Eu simplesmente

comecei a enrolar ela, primeiro em volta das pernas, então o melhor que pude ao redor do torno, tentando prender os braços dela junto ao corpo. Dimitri comprou um monte de corrente, graças a Deus, e eu a amarrei ao redor da cadeira de uma forma louca, fazendo o possível para mantê-la bem presa.

Quando a corrente finalmente acabou, Sonya estava bem presa no lugar.

Era algo do qual ela pudesse se soltar? Claro. Mas, com uma estaca de prata contra ela? Não tão fácil. Com ambos no lugar... bem, nós a tínhamos presa por enquanto. Era o melhor que podíamos fazer.

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Dimitri e eu trocamos olhares breves e cansados. Eu me senti tonta mas lutei contra isso, sabendo que aquela tarefa estava longe do fim. “Hora do interrogatório,” eu falei de forma sinistra.

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DEZESSETE

O INTERROGATÓRIO NÃO foi muito bem. Oh, claro, fizemos muitas ameaças e usamos estacas como aparelhos de

tortura, mas não conseguimos muito. Dimitri ainda era assustador lidando com Sonya, mas depois do seu surto com Donovan, ele tomou cuidado para não cair naquela raiva descontrolada de novo. Isso era mais saudável para ele, mas não tão bom quando se tratava de conseguir respostas com Sonya. Não ajudava o fato de não termos uma pergunta concreta para dar a ela. Nós tínhamos uma linha para perguntar. Ela sabia sobre algum outro Dragomir? Ela era parente da mãe? Onde estavam a mãe e a criança? As coisas também ficaram ruins quando Sonya percebeu que precisávamos dela demais para matá-la, não importava o quanto a torturássemos com a estaca de prata.

Estávamos naquilo a mais de uma hora e estávamos ficando cansados. Pelo

menos, eu estava. Eu me inclinei contra uma parede próxima de Sonya, e embora eu estivesse com minha estaca pronta, eu estava contando com a parede um pouco mais do que gostaria de admitir para me manter de pé. Nenhum de nós falava há um tempo. Até Sonya tinha desistido de suas ameaças. Ela simplesmente esperou e se tornou observadora, sem dúvidas planejando sua fuga, provavelmente pensando que nós cansaríamos antes dela. Aquele silêncio era mais assustador do que qualquer palavra do mundo. Eu estava acostumada com Strigoi usando palavras para me intimidar. Eu nunca esperei tanto poder simplesmente ficando quieta e encarando de forma mais ameaçadora que eu podia.

“O que aconteceu com sua cabeça, Rose?” perguntou Dimitri, de repente

observando um deslumbre de algo. Eu estive um pouco desligada e percebi que ele estava falando comigo.

“Huh?” Eu coloquei a parte do meu cabelo que esteve tapando parte da minha testa, para o lado. Meus dedos ficaram cheios de sangue, acionando uma vaga memória de eu ter batido contra a mesa. Eu dei de ombros, ignorando a tontura que estive sentindo. “Estou bem.”

Dimitri deu um rápido olhar para Sydney. “Vá fazê-la deitar e a limpe. Não a

deixe dormir até conseguirmos descobrir se ela tem uma concussão.” “Não, eu não posso,” discuti. “Não posso te deixar sozinho com ela...” “Estou bem,” ele disse. “Descanse para poder me ajudar depois. Você não é

útil pra mim se você vai desmaiar.”

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Eu ainda protestei, mas quando Sydney gentilmente pegou meu braço, meu tropeço me traiu. Ela me guiou até o único quarto da casa, para meu desapontamento. Tinha algo bizarro em saber que eu estava na cama de um Strigoi – mesmo que estivesse coberto de uma colcha floral.

“Cara,” eu disse, deitando contra o travesseiro assim que Sydney limpou

minha testa. Apesar da minha recusa, foi ótimo descansar. “Eu não consigo me acostumar com a estranheza de ter um Strigoi vivendo num lugar tão... normal. Como você está?”

“Melhor que vocês,” disse Sydney. Ela envolveu seus braços ao redor de si e

olhou o quarto desconfortável. “Ficar perto de um Strigoi está começando a fazer vocês não parecerem tão ruins.”

“Bem, pelo menos algo bom saiu de tudo isso,” eu respondi. Apesar da

piada dela, eu sabia que ela devia estar apavorada. Eu comecei a fechar meus olhos e fui acordada repentinamente quando Sydney cutucou meu braço.

“Nada de dormir,” ela provocou. “Fique acordada e fale comigo.” “Não é uma concussão,” eu murmurei. “Mas suponho que possamos

repassar os planos para fazer Sonya falar.” Sydney estava sentada no pé da cama de cara feia. “Sem ofensas? Mas não

acho que ela vai revelar nada.” “Ela vai assim que passar uns dias sem sangue.” Sydney ficou branca. “Alguns dias?” “Bem, o que for preciso para –” Uma emoção passou pelo laço, e eu

congelei. Sydney se ergueu, seus olhos passando ao redor como se um grupo de Strigoi pudesse invadir.

“Qual o problema?” ela exclamou. “Eu preciso ir até Lissa.” “Você não pode dormir –” “Não é dormir,” eu disse. E com isso, eu saí do quarto de Sonya e fui para a

perspectiva de Lissa.

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Ela estava numa van com cinco outras pessoas que eu imediatamente reconheci como os outros indicados da realeza. Era uma van para oito pessoas incluindo o motorista guardião com outro passageiro que estava olhando para Lissa e seus companheiros.

“Cada um de vocês será largado em um local diferente da floresta e

receberá um mapa e um compasso. O objetivo é alcançar seu objetivo no mapa e esperar na luz do dia.”

Lissa e os outros indicados trocaram olhares e então, quase como um,

olharam para as janelas da van. Era quase meio dia, e a luz do sol estava forte. ‘Esperar na luz’, não iria ser agradável, mas também não impossível. Distraída, ela arranhou uma pequena bandagem em seu braço e rapidamente parou. Eu ouvi por seus pensamentos o que estava acontecendo: um pequeno e pouco notado ponto tatuado em sua pele. Era similar ao de Sydney: sangue e terra, misturados com compulsão. Compulsão pode ser um tabu entre os Moroi, mas essa era uma situação especial. O feitiço na tatuagem impedia os candidatos de revelarem os testes monarcas para outros envolvidos no processo. Esse era o primeiro teste.

“Para que tipo de terreno você vai nos mandar?” exigiu Marcus Lazar. “Não

estamos todos na mesma forma física. Não é justo quando alguns de nós tem vantagem.” Os olhos dele foram para Lissa quando ele falou.

“Tem muita caminhada,” disse o guardião, o rosto sério. “Mas não é nada

que qualquer candidato – de qualquer idade – não seja capaz de lidar. E, para ser honesto, parte dos requerimentos para um rei ou rainha é uma certa quantidade de histamina. A idade trás sabedoria, mas um monarca precisa ser saudável. Não atlético,” acrescentou rapidamente o guardião, vendo a boca aberta de Marcus. “Mas não é bom para os Moroi ter um monarca doente que vai morrer em um ano após ser eleito. Duro, mas verdade. E vocês também precisam ser capazes de suportar situações desconfortáveis. Se não conseguem lidar com a luz do sol, vocês não podem lidar com a reunião do Conselho.” Eu acho que ele pretendia que isso saísse como uma piada, mas era difícil dizer já que ele não estava sorrindo. “Mas não é uma corrida. Levem o tempo que precisarem. Marcados no mapa tem pontos onde certos itens estão escondidos – itens que farão as coisas ficarem mais suportáveis, se puderem decifrar as dicas.”

“Podemos usar nossa mágica?” perguntou Adriana Szelsky. Ela também não

era jovem, mas ela parecia durona e pronta para aceitar o desafio de resistência.

“Sim, vocês podem,” disse o guardião solenemente.

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“Estaremos em perigo lá?” perguntou outro candidato, Ronald Ozera. “Fora

o sol?” “Isso,” disse o guardião misteriosamente, “é algo que vocês precisam

descobrir sozinhos. Mas, se vocês quiserem desistir...” Ele tirou um saco de celulares e os distribuiu. Os mapas e os compassos seguiram. “Liguem para o número programado, e vamos buscar vocês.”

Ninguém teve que perguntar sobre a mensagem escondida por trás desta

afirmação. Ligar o número te tiraria do teste de resistência. Também significava que você tinha falhado no teste e fora da corrida pelo trono. Lissa olhou para seu telefone, meio surpresa por até ter sinal. Eles deixaram a Corte a cerca de uma hora e estavam longe da corte. Uma linha de árvores fez Lissa achar que estávamos perto de seu destino.

Então. Um teste físico de resistência. Não era bem isso que ela esperava. Os

testes que um monarca passava eram cheios de mistério, ganhando uma reputação quase mística. Esse era bem prático, e Lissa podia entender o porque, mesmo que Marcus não pudesse. Realmente não era uma competição esportiva, e o guardião tinha razão ao dizer que o monarca futuro deveria ter um certo nível de saúde. Olhando para o mapa, que tinha as pistas, Lissa percebeu que isso também testaria suas habilidades de raciocínio. Tudo coisas básicas – mas essenciais para governar uma nação.

A van liberou um por um em diferentes pontos. Com cada candidato que

descia, a ansiedade de Lissa crescia. Não tem nada para se preocupar, ela pensou. Eu só tenho que sentar no sol o dia todo. Ela foi a penúltima pessoa a sair, com apenas Ariana ficando para trás. Ariana deu uma batidinha no braço de Lissa quando a porta da van abriu.

“Boa sorte, querida.” Lissa deu a ela um rápido sorriso. Esses testes podiam ser tudo inúteis para

Lissa, mas Ariana era a coisa de verdade, e Lissa rezava para que a mulher mais velha pudesse passar por isso com sucesso.

Deixada sozinha quando a van se afastou, inquietude passou por Lissa. O

simples teste de resistência de repente parecia muito mais desafiador e difícil. Ela estava por conta própria, algo que não acontecia muito frequentemente. Eu estive presente por quase toda vida dela, e mesmo quando fui embora, ela tinha amigos ao seu redor. Mas agora? Era apenas ela, o mapa, e o celular. E o celular era seu inimigo.

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Ela andou até a floresta e estudou o mapa. Um desenho de um grande carvalho marcava o início, com direção para o noroeste. Escaneando as árvores, Lissa viu três macieiras, um abeto e – um carvalho. Indo em direção a ele, ela não conseguiu se impedir de sorrir. Se mais alguém tinha marcas botânicas e não conhecia plantas e árvores, eles poderiam perder sua candidatura bem ali.

A bússola era clássica. Nenhuma conveniência de GPS por aqui. Lissa nunca

tinha usado uma bússola assim, e a parte protetora de mim desejou que eu pudesse tomar conta e ajudar. Mas eu deveria saber mais. Lissa era inteligente e facilmente descobriu como usar. Indo para noroeste, ela entrou na floresta. Embora o caminho não estivesse livre, o chão da floresta não estava muito coberto de obstáculos.

A parte boa de estar na floresta era que as arvores bloqueavam um pouco o

sol. Ainda não era ideal para condição Moroi, mas era melhor do que ser largada no deserto. Pássaros cantavam, e o cenário era verde e luxurioso. Mantendo os olhos na próxima demarcação, Lissa tentou relaxar e fingir que estava simplesmente dando uma volta.

Ainda sim... era difícil fazer isso com tanta coisa em sua mente. Abe e

nossos outros amigos agora estavam responsáveis por fazer perguntas sobre o assassinato. Todos estavam dormindo agora – já que estávamos no meio da noite Moroi – mas Lissa não sabia quando ia voltar e não conseguia se impedir de ficar ressentida por esse teste tomar tanto tempo dela. Não, desperdiçar o tempo dela. Ela finalmente aceitou a lógica por trás da nominação dos seus amigos – mas ela ainda não gostava. Ela queria ajudar eles de forma mais ativa.

Seus pensamentos quase a fizeram sair do caminho: uma árvore que tinha

caído há muito tempo. Limo a cobria, e grande parte da madeira tinha apodrecido. Uma estrela no mapa marcava o lugar com uma pista. Ela virou o mapa e leu:

Eu cresci e fiquei pequeno. Eu corro e rastejo.

Siga minha voz, apesar de eu não ter nenhuma. Nunca saí daqui, mas eu já viajei por toda parte –

Eu flutuo pelo céu e me rastejo contra o chão. Mantenho meu dinheiro num cofre, embora não tenha riqueza.

Busque minha decadência para resguardar sua saúde. Um. Minha mente ficou em branco naquele momento, mas a de Lissa girava. Ela

leu de novo e de novo, examinando as palavras individualmente e como elas podiam completar umas as outras. Eu nunca saio daqui. Esse era o começo, ela

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decidiu. Algo permanente. Ela olhou ao redor, pensando nas árvores, então as deixou de lado. Elas sempre podiam ser cortadas e removidas. Tendo cuidado para não ficar longe da árvore caída, ela circulou a área em busca de mais. Tudo era teoricamente removível. O que ficava?

Siga minha voz. Ela parou e fechou seus olhos, absorvendo os sons ao seu

redor. Na maior parte eram aves. O barulho ocasional de folhas. E – Ela abriu os olhos e andou a sua direita. O som que ela ouviu ficou cada vez

mais alto. Ali. Uma pequena abertura entre as árvores, quase imperseptivel. De fato, parecia pequeno demais para entrar.

“Mas aposto que você cresce quando chove,” ela murmurou, sem se

importar dela estar falando com uma corrente. Ela olhou para a pista, e eu senti sua mente inteligente juntando tudo. A corrente era permanente – mas viajava. Ela mudava de tamanho. Tinha uma voz. Ficava mais funda, se amontoando quando havia obstáculos. E quando evaporava, flutuava pelo ar. Ela franziu, ainda colocando as peças da charada juntas. “Mas você não entre em decadência.”

Lissa estudou a área mais uma vez, pensando onde decadência podia se

aplicar a qualquer planta. Seu olhar passou para uma grande maçã e então voltou. Em sua base cresciam cogumelos marrons, tendo vários murchado e ficado pretos. Ela correu e se abaixou, e foi então quando ela viu: um pequeno buraco cavado na terra. Se inclinando mais para perto, ela viu algo colorido: um saquinho roxo.

Triunfante, Lissa o tirou e levantou. O saco era feito de lona e tinha longos

fios que permitiram que ela o pendurasse sobre os ombros conforme andava. Ela abriu o saco e espiou. Ali, enfiando junto com o fofo linho, havia a melhor coisa de todas: uma garrafa de água. Até agora, Lissa não tinha percebido o quanto ela tinha ficado com calor e desidratada – ou o quão desconfortável o sol era. Os candidatos receberam a informação de que era para usar sapatos e roupas práticas mas não puderam trazer mais nada. Encontrar essa garrafa era algo sem preço.

Sentada em um tronco, ela deu uma pausa, cuidadosa para conservar sua

água. Embora o mapa indicasse algumas outras pistas e “prêmios,” ela sabia que não podia contar necessariamente com mais mochilas úteis. Então, após vários minutos de descanso, ela guardou a água colocou a pequena carga no ombro. O mapa indicava o caminho oeste, então foi para lá que ela foi.

O calor a afetava enquanto ela continuava a caminhar, forçando-a a tomar

mais algumas (conservativas) pausas para beber. Ela continuou lembrando a si

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mesma que isso não era uma corrida e que ela devia ir com calma. Após mais algumas pistas, ela descobriu que o mapa não possuía uma escala exata, então não era sempre óbvio quão longa cada perna da caminhada era. Ainda assim, ela foi muito bem sucedida em resolver cada pista, embora os prêmios se tornassem cada vez mais e mais espantosos.

Um deles era um punhado de palitos em cima de uma pedra, algo que ela

teria jurado ser um erro, mas alguém civilizado havia claramente amarrado o pacote junto. Ela adicionou isso a sua bolsa, junto com uma lona de plástico verde cuidadosamente dobrada. Nessa hora, o suor estava escorrendo dela, e enrolar as mangas de sua camiseta abotoada de algodão fazia pouco para ajudar. Ela fazia pausas mais frequentes. Queimaduras do sol se tornaram uma preocupação séria, então foi um alívio quando a próxima pista a levou a uma garrafa de protetor solar.

Após algumas horas enfrentando o calor intenso de verão, Lissa ficou tão

quente e cansada que ela não tinha mais a energia mental para ficar incomodada em perder o que quer que estivesse acontecendo na Corte. Tudo o que importava era chegar ao final desse teste. O mapa mostrava mais duas pistas, o que ela encarava como um sinal promissor. Ela chegaria ao final logo e poderia simplesmente esperar até alguém vir buscá-la. Então, a iluminação lhe veio. A lona. A lona era um bloqueador solar, ela percebeu. Ela poderia usá-la no final.

Isso a animou, assim como seu próximo prêmio: mais água e um chapéu

frouxo de abas largas que ajudava a proteger seu rosto da luz do sol. Infelizmente, depois disso, o que parecia uma distância pequena se mostrou o dobro do que ela esperava. Quando ela chegou à próxima pista, ela estava mais interessada em tomar outra pausa para a água do que escavar o que quer que os guardiões tivessem deixado para ela.

Meu coração foi até ela. Eu queria tanto poder ajudar. Esse era meu

trabalho, proteger ela. Ela não podia ficar sozinha. Ou devia? Isso também era parte do teste? Em um mundo onde a realeza estava quase sempre cercada de guardiões, a solidão devia ser um choque completo. Moroi eram resistentes e tinham sentidos excelentes, mas eles não eram feitos para calor extremo e terreno desafiador. Eu provavelmente teria passeado por aquele curso facilmente. Reconhecidamente, eu não tinha certeza de que teria as habilidades dedutivas de Lissa para achar as pistas.

O próximo prêmio de Lissa era uma pederneira e aço, não que ela tivesse

ideia do que fossem. Eu os reconheci instantaneamente como instrumentos de um kit de fazer fogueira, mas não podia imaginar por que ela precisaria fazer

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uma num dia como esse. Dando de ombros, ela adicionou esses itens à sua bolsa e seguiu em frente.

E então, começou a ficar frio. Muito frio. Ela não processou isso por completo no começo, principalmente porque o

sol continuava brilhando tão forte. Seu cérebro dizia que o que ela sentia era impossível, mas os calafrios e dentes batendo discordavam. Ela desenrolou as mangas e apurou o passo, desejando que o frio súbito pudesse ao menos trazer uma nuvem junto. Caminhar mais rápido e se esforçar ajudou a aquecer seu corpo.

Até que começou a chover. Começou como uma névoa, então virou uma garoa e, finalmente, se

transformou numa cortina contínua de água. Seu cabelo e roupas ficaram ensopados, fazendo o frio muito pior. Mesmo assim... o sol ainda brilhava, sua luz era uma incomodação para sua pele sensível mas sem oferecer calor como compensação.

Magia, ela percebeu. Esse tempo é mágico. Era parte do seu teste. De

alguma forma, magia de usuários Moroi de ar e água foi unificada para desafiar o tempo quente e ensolarado. Era para isso que ela tinha uma lona – para bloquear o sol e a chuva. Ela considerou pegar ela e usá-la como capa, mas decidiu rapidamente esperar até chegar no ponto final. Entretanto, ela não fazia ideia de quão longe isso ficava. Vinte pés? Vinte milhas? O frio da chuva rastejava nela, infiltrando-se por baixo da sua pele. Era triste.

O celular em sua bolsa era seu bilhete para sair. Mal era o final da tarde. Ela

tinha um longo tempo a esperar até o fim do teste. Tudo que ela tinha que fazer era uma ligação... uma ligação, e ela estaria fora dessa bagunça e de volta a trabalhar no que ela devia na Corte. Não. Uma luz de determinação se acendeu dentro dela. Esse desafio não era mais sobre o trono Moroi ou o assassinato de Tatiana. Era um teste que ela aplicaria em si mesma. Ela levou uma vida suave e abrigada, deixando outros protegerem ela. Ela ia suportar isso por si mesma – e ela iria passar.

Essa determinação a levou até o fim do mapa, claramente circulado por

árvores. Duas delas eram pequenas e próximas o bastante para Lissa pensar que ela poderia amarrar a lona nelas para um abrigo razoável. Com dedos frios e entorpecidos, ela conseguiu tirá-la da lona e desenrolar ela em seu tamanho completo – que, por sorte, era melhor do que ela esperava. Seu humor começou a melhorar enquanto ela trabalhava com a lona e descobriu como

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criar um pequeno toldo. Ela se arrastou para baixo deste quando ficou pronto, feliz em estar fora da chuva.

Mas isso não mudava o fato de que ela estava molhada. Ou que o chão

estava molhado – e enlameado. A lona também não a protegia do frio. Ela sentiu amargura, lembrando dos guardiões dizendo que magia era permitida nesse teste. Ela não pensou que a magia seria útil naquela hora, mas agora, ela certamente via as vantagens em ser uma usuária de água capaz de controlar a chuva e mantê-la longe dela. Ou, melhor ainda: ser uma usuária de fogo. Ela desejou que Christian estivesse com ela. Ela teria dado boas vindas ao calor tanto de sua mágica quanto do seu abraço. Para esse tipo de situação, espírito era uma verdadeira merda – exceto, é claro, que ela tivesse uma hipotermia e precisasse se curar (o que nunca funcionava tão bem quanto em outras pessoas). Não, ela decidiu. Não havia dúvidas: usuários de água e de fogo tinham a vantagem nesse teste.

Então, ela se ligou. Fogo! Lissa se ajeitou. Ela não tinha reconhecido o aço e a pederneira pelo que

eram, mas agora, lembranças vagas de fazer fogo lhe vieram à mente. Nunca lhe ensinaram essas habilidades diretamente, mas ela tinha bastante certeza de que bater as pedras uma na outra faria uma fagulha – se ela tivesse madeira seca. Tudo lá fora estava encharcado...

Exceto pelos pedaços de pau na sua sacola. Rindo alto, ela desamarrou eles

e os colocou em uma parte protegida da chuva. Após arrumá-los no que parecia um padrão próprio de uma fogueira, ela tentou descobrir o que fazer com o aço e a pederneira. Nos filmes, ela pensou ter visto as pessoas simplesmente baterem com eles um no outro até as fagulhas voarem. Então, foi o que ela fez.

Nada aconteceu. Ela tentou mais três vezes, e sua animação de antes deu lugar a frustração

alimentada pela escuridão do espírito. Eu puxei um pouco daquilo dela, precisando que ela mantivesse o foco. Na quarta tentativa, faíscas voaram e desapareceram – mas foi o que ela precisou para entender o princípio. Logo, ela fazia fagulhas facilmente, mas elas não faziam nada na madeira seca. Para cima e para baixo: seu humor era uma montanha russa de esperança e desapontamento. Não desista, eu queria dizer enquanto puxava mais negatividade. Eu também queria lhe dar umas aulas sobre como fazer fogo, mas isso seria forçar meus limites.

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Assistindo ela, eu comecei a perceber o quanto eu subestimava a inteligência de Lissa. Eu sabia que ela era brilhante, mas eu sempre a imaginei desamparada nessas situações. Ela não era. Ela conseguia descobrir soluções com a razão. A faísca pequena não podia penetrar a madeira dos gravetos. Ela precisava de uma chama maior. Ela precisava de algo que as faíscas pudessem acender. Mas o quê? Certamente, nada nessa floresta encharcada.

Seus olhos caíram no mapa escapando de sua mochila. Ela hesitou só por

um instante antes de rasgar o papel e o amassar numa pilha sobre os gravetos. Supostamente, ela havia chegado ao fim da caminhada e não precisava mais de um mapa. Supostamente. Mas era tarde demais agora, e Lissa continuou com o plano. Primeiro, ela tirou um pouco do enchimento macio de sua mochila, adicionando alguns pedaços ao papel. Então, ela pegou a pederneira e o aço de novo.

Uma faísca saltou e atingiu o papel imediatamente. Ela brilhou laranja antes

de se apagar, deixando um fio de fumaça. Ela tentou de novo, se inclinando para soprar gentilmente no papel quando a faísca caiu. Uma chama pequena apareceu, pegou um pedaço próximo e então sumiu. Se preparando, Lissa tentou uma última vez.

“Vamos lá, vamos lá,” ela murmurou, como se pudesse compelir a chama a

existir. Dessa vez, uma faísca caiu e se manteve, tornando-se uma pequena chama,

então uma chama maior que consumiu o papel. Eu rezei para que pegasse no papel, ou ela estaria sem sorte. A chama cresceu mais e mais, devorando o resto do papel... e então atingindo os gravetos. Lissa soprou suavemente para manter a chama acesa e, sem demora, a fogueira estava queimando forte.

O fogo não podia mudar o frio penetrante mas, até onde ela se importava,

ela tinha o calor do sol nas mãos. Ela sorriu, e sentiu o orgulho que ela não havia sentido em algum tempo se espalhar nela. Finalmente capaz de relaxar, ela olhou para a floresta chuvosa e pegou fraquíssimos brilhos de cor na distância. Canalizando espírito, ela usou sua mágica para intensificar sua habilidade de ver auras. Com certeza – escondidas muito, muito longe entre as árvores, ela podia ver duas auras preenchidas com cores fortes e firmes. Seus donos estavam de pé, mantendo-se quietos e cobertos. O sorriso de Lissa cresceu. Guardiões. Ou talvez, os usuários de água e ar controlando o tempo. Nenhum dos candidatos estava sozinho lá fora. Ronald Ozera não precisava se preocupar – mas também, ele não saberia disso. Só ela sabia. Talvez espírito não fosse tão inútil no final das contas.

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A chuva começou a diminuir, e o calor do fogo continuou a confortá-la. Ela não podia determinar a hora pelo céu mas, de alguma forma, ela sabia que não teria problema em esperar o fim do dia e –

“Rose?” Uma voz me trouxe de volta da sobrevivência de Lissa na

selvageria. “Rose, acorde... ou seja lá o que for.” Eu pisquei, focando no rosto de Sydney, a alguns palmos de distância do

meu. “O quê?” Eu exigi. “Por que está me incomodando?” Ela estremeceu e se afastou, momentaneamente sem voz. Puxar a

escuridão de Lissa enquanto estava unida a ela não me afetou na hora, mas agora, consciente e em meu próprio corpo, eu senti raiva e irritação me invadirem. Não é você, não é Sydney, eu disse a mim mesma. É o espírito. Acalme-se. Eu respirei fundo, me recusando a deixar o espírito me dominar. Eu era mais forte que ele. Eu esperava.

Enquanto eu lutava para dominar esses sentimentos, eu olhei em volta e

lembrei que estava no quarto de Sonya Karp. Todos os meus problemas vieram correndo de novo. Havia um Strigoi amarrado no outro quarto, um que nós mal conseguíamos manter preso e que não parecia que iria nos dar respostas tão cedo.

Eu olhei de volta para Sydney, que ainda parecia com medo de mim. “Me

desculpe... eu não quis assustar você. Eu só estava assustada.” Ela hesitou por alguns momentos e aquiesceu, aceitando minhas desculpas. Conforme o medo sumia de seu rosto, eu podia ver que algo mais a estava incomodando. “O que há de errado?” eu perguntei. Enquanto estivéssemos vivas e Sonya ainda estivessem presas, as coisas não podiam estar tão ruins, certo?

Sydney deu um passo para trás e cruzou os braços. “Victor Dashkov e seu

irmão estão aqui.”

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DEZOITO

EU LEVANTEI DA CAMA, aliviada por não cair. Minha cabeça ainda doía, mas não me sentia mais tonta, o que com sorte significava que eu não tive uma concussão. Olhando para o relógio, quando saí do quarto de Sonya, eu vi que estive na cabeça de Lissa por algumas horas. Seu teste foi muito mais extensivo do que eu imaginava.

Na sala, eu tive uma visão quase cômica. Victor e Robert estavam parados

ali, carne e osso, observando os arredores. Até Robert parecia estar mentalmente presente dessa vez. Só que, enquanto Victor observava tudo em seu jeito calculista, a atenção de Robert estava fixa em Sonya. Seus olhos estavam arregalados em surpresa. Dimitri, enquanto isso, não saiu da sua posição perto de Sonya ou tirou a estaca de sua garganta. Era claro com seu olhar observador, no entanto, que ele considerava os irmãos como uma nova ameaça e estava tentando – impossivelmente – ficar em guarda em relação a tudo. Ele parecia aliviado por me ver e ter algum apoio.

Sonya ficou perfeitamente parada com suas correntes, o que eu não gostei.

Me fazia pensar que ela estava planejando algo. Seus olhos vermelhos se cerraram.

Toda a situação era tensa e perigosa, mas uma pequena parte de mim

observava Victor com satisfação quando o estudava mais de perto. Os encontros em sonhos foram enganadores. Como eu podia mudar minha aparência em sonhos, Victor se fez parecer mais forte e saudável naquelas visitas do que ele realmente estava na realidade. Idade, doença, e uma vida fugindo o acertaram. Sombras negras alinhavam-se abaixo de seus olhos, e seu cabelo grisalho parecia mais ralo do que um mês atrás. Ele parecia cansado, mas eu sabia que ele ainda era perigoso.

“Então,” eu disse, as mãos no quadril. “Você conseguiu nos encontrar.” “Só tem um lago nessa cidade,” disse Victor. “Uma casa azul. Talvez você

tenha problema com instruções, mas para o resto de nós não é tão difícil.” “Bem, se você é tão inteligente, qual seu plano agora?” eu perguntei. Eu

estava tentando enrolar enquanto freneticamente pensava qual era o meu plano. Eu queria prender Victor e Robert mas não sabia como. Já que ele tinha que dividir nossa atenção entre eles e Sonya, Dimitri e eu não podíamos nos juntar. Eu queria que tivéssemos mais correntes. Fora subjugar os irmãos fisicamente, nós também precisávamos prender suas mãos para reduzir sua habilidade mágica.

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“Já que você é tão inteligente,” respondeu Victor, “eu assumo que você já tenha obtido a informação necessária.”

Eu gesticulei em direção a Sonya. “Ela não é exatamente um poço de

colaboração.” Os olhos de Victor caíram nela. “Sonya Karp. Você mudou desde a última

vez que te vi.” “Vou matar todos vocês,” Sonya rosnou. “E consumi-los um por um.

Normalmente, eu começaria com o humano e iria até o Moroi, mas...” ela olhou para Dimitri e eu, seu rosto cheio de raiva. “Eu acho que vou deixar vocês dois por último e arrastar seu sofrimento.” Ela parou e quase comicamente acrescentou, “Você me irrita mais.”

“Todos os Strigoi vão a algum acampamento para aprender as mesmas

ameaças? É de se admirar que você não conte nada.” Eu virei para Victor. “Viu? Não é tão fácil. Tentamos de tudo. Bater, torturar. Sydney repassou todos os nomes dos parentes dela. Nenhuma reação.”

Victor estudou Sydney cuidadosamente dessa vez. “Então. Seu bichinho

Alquimista.” Sydney não se moveu. Eu sabia que ela deveria estar com medo de

enfrentar alguém que era tanto um vampiro quanto um criminoso perigoso. Eu tinha que dar a ela pontos por encontrar o olhar dele sem se esquivar.

“Jovem,” Victor brincou. “Mas é claro que ela seria. Eu imaginei que esse

seria o único jeito de você manipulá-la a participar desta fuga.” “Estou aqui por escolha,” respondeu Sydney. Sua expressão permaneceu

calma e confiante. “Ninguém está me manipulando.” A chantagem de Abe não era relevante no momento.

“Olha, se você quer continuar a me torturar com seus comentários nada

divertidos, vocês deveriam ter continuado a invadir meus sonhos.” Eu surtei. “Se você não tem nada útil para oferecer, então saia daqui e nós deixei

esperar até que a fome enfraqueça Sonya.” E por, sair daqui, eu queria dizer: totalmente achar que vocês vão partir para que eu possa bater a cabeça de vocês juntas e os arrastar de volta para os guardiões.

“Podemos ajudar,” disse Victor. Ele tocou levemente o braço de seu irmão.

Robert se encolheu, tirando seus olhos de Sonya e indo para Victor. “Seus

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métodos estão destinados a falhar. Se você quer respostas, só tem uma forma de –”

Sonya aproveitou sua chance. Dimitri ainda estava do seu lado, mas ele

também estava cuidando do resto de nós. E é claro, eu estava completamente focada no drama de Victor também. Provavelmente era a melhor abertura que Sonya podia ter esperado.

Com sua louca força Strigoi, ela levantou da cadeira. A corrente estava

muito enrolada ao redor dela, mas seus rápidos movimentos e força foram o bastante para partir a corrente em dois lugares. O resto ainda a prendia, mas eu sabia perfeitamente bem que até uma abertura era o bastante para ela escapar. Distraído ou não, Dimitri estava em cima dela em um segundo, e um segundo depois, eu também estava. Ela estava se balançando na cadeira, usando toda sua força e velocidade para quebrar as correntes. Se ela se soltasse, eu sabia que ela ia lutar. Os olhos de Dimitri e meu se moveram brevemente, e eu sabia que estávamos pensando a mesma coisa. Primeiro, como iríamos amarrar ela de novo? A corrente provavelmente poderia ser reutilizada, mas precisaríamos soltar ela e amarrá-la de novo, o que seria quase impossível. Nós também sabíamos que ele e eu talvez não conseguiríamos derrubá-la de novo, e agora tínhamos inocentes ao redor. Eles não podiam lutar, mas Sonya poderia usá-los para conseguir sua vantagem, de alguma forma.

Tudo que podíamos fazer era tentar derrubá-la. Segurá-la contra uma

superfície plana como o chão, seria muito mais fácil do que a prender de novo. Eu tremi quando ela lutou contra nós, e lutamos para conseguir uma boa posição na cadeira. Dimitri tinha sua estaca – e eu tirei a minha mais cedo – e ele a colocou contra a pele dela, nos dando alguma vantagem na luta. Ela gritou de raiva, e eu só consegui esperar que pudéssemos amarrar ela de novo. Provavelmente não. Nós íamos falhar antes. Minha cabeça doendo era prova o bastante de que eu não estava em plenas condições.

Eu vi um movimento com minha visão periférica, o que me mandou novos

alardes. Robert Doru estava vindo em nossa direção – e ele tinha uma estaca de prata na mão. A visão era bizarra demais e inesperada o bastante então eu e Dimitri e eu fomos lentos demais para reagir. Quando minha mente de repente voltou à vida, era tarde demais.

“Não!” eu gritei, vendo Robert erguer sua estaca. “Não mate ela!” Dimitri virou e então viu Robert, mas não havia nada que ele podia fazer.

Dimitri e eu criamos a oportunidade perfeita. Ainda estávamos segurando Sonya, e com seu peito vulnerável, Robert tinha uma visão limpa.

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Freneticamente, eu me perguntei o que fazer. Se eu o parasse, eu ia soltar Sonya. Se não, ele poderia matar nossa única chance de descobrir quem –

Tarde demais. A estaca acertou com uma força que me surpreendeu. Lissa

teve muita dificuldade de empalar Dimitri, e eu supus que o mesmo ocorreria com alguém como Robert, que era mais velho e parecia tão frágil. Mas, não. Ele ainda tinha que usar duas mãos, mas a estaca foi firme no peito de Sonya, perfurando seu coração.

Sonya deu um grito intenso. Uma luz brilhante de repente encheu a sala,

quando uma força invisível me empurrou para longe. Eu bati numa parede, meu cérebro mal registrando a dor. A pequena casa tremeu, e com uma mão, eu tentei agarrar algo e me preparei. Eu apertei meus olhos para fechá-los mas só consegui ver estrelas. O tempo ficou lento. Meu batimento cardíaco ficou mais devagar.

Então – tudo parou. Tudo. A luz. Os tremores. Eu respirei normalmente.

Tudo ficou quieto e parado, e tudo que eu pude era imaginar o que tinha acontecido.

Eu pisquei, tentando trazer meus olhos de volta a seu foco e avaliei a

situação. Eu fiz meu melhor para levantar e vi Dimitri fazer o mesmo. Ele parecia que também tinha sido derrubado mas tinha se apoiado na parede, ao invés de bater contra ela. Robert estava deitado no chão, e Victor correu para ajudá-lo. Sydney só estava parada congelada.

E Sonya? “Inacreditável,” eu sussurrei. Sonya ainda estava na cadeira, e pela forma como ela estava deitada para

trás, era óbvio que ela também foi derrubada com a mesma força que nos atingiu. As correntes ainda estavam ao seu redor, mas ela parou de lutar. Em seu colo estava a estaca de prata que Robert usou momentos atrás. Sonya conseguiu soltar uma mão, só o bastante para que seus dedos passassem contra a superfície da estaca. Seus olhos se arregalaram em admiração – olhos que eram de uma tonalidade rica de azul.

Robert tinha trazido Sonya Karp de volta a vida. Ela não era mais um Strigoi. Quando Lissa tinha salvo Dimitri, eu senti a mágica através do nosso laço,

me dando a total experiência de tudo. Testemunhar agora, sem ter o conhecimento em primeira mão vindo de Lissa, ainda era tão inacreditável quanto. Victor estava preocupado com Robert, mas o resto de nós não

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conseguia parar de encarar Sonya com admiração. Eu fiquei procurando por algo – qualquer coisa – que podia dar a leve impressão de sua antiga existência.

Não havia nada. Sua pele tinha a mesma palidez típica dos Moroi, mas ainda

estava cheia do calor da vida, com uma pouca cor – não como os Strigoi, que não tinham qualquer pigmento. Seus olhos estavam vermelhos, mas era por sua formação de lágrimas. Não havia um anel vermelho ao redor da íris. E o olhar daqueles olhos... não havia crueldade ou malícia. Não eram os olhos de alguém que tinha acabado de ameaçar todos nós. Seus olhos estavam todos cheios de choque, medo e confusão. Eu não conseguia tirar meus olhos dela.

Um milagre. Outro milagre. Mesmo depois de ver Lissa restaurar Dimitri,

uma parte secreta de mim tinha acreditado que eu nunca mais testemunharia algo assim de novo. Era assim que milagres funcionavam. Uma vez na vida. Tinha havido muita conversa sobre salvar Strigoi, conversas que pararam quando outro drama – como o assassinato da rainha – tomaram conta da Corte. Os poucos usuários de espírito também tinham feito a ideia não ser popular, e além do mais, todos sabiam as dificuldades de um Moroi empalar um Strigoi. Se guardiões treinados morriam lutando com Strigoi, como um Moroi podia empalar um? Bem, ali estava a resposta: subjugue o Strigoi. Um Moroi podia conseguir empalar um com duas mãos, especialmente com a ajuda de um guardião. A possibilidade me deixou inquieta. A mágica de Robert era forte, mas ele era velho e frágil. Ainda sim, se ele ainda conseguiu fazer isso, qualquer usuário de espírito poderia? Ele quase fez parecer fácil. Adrian poderia fazê-lo? Lissa poderia fazer isso de novo?

Um milagre. Sonya Karp era um milagre vivo. E de repente, ela começou a gritar. Começou com um choramingo baixo e rapidamente ficou mais alto. O

barulho chamou minha atenção, mas eu não sabia como responder. Dimitri sabia. Sua estaca caiu no chão, e ele correu para o lado de Sonya, onde ele começou a tentar soltá-la das correntes. Ela recuou com seu toque, mas seus esforços não tinham mais uma força sobrenatural de um monstro morto vivo buscando vingança. Aquelas eram emoções de alguém desesperado e terrivelmente com medo.

Eu prendi aquelas correntes com muita força, mas Dimitri as tirou num

segundo. Assim que Sonya estava livre, ele a colocou na cadeira e a puxou para perto dele, deixando-a enterrar seu rosto contra seu peito e chorar. Eu engoli. Dimitri também chorou quando ele voltou ao normal. Uma estranha imagem de um bebê recém nascido passou por minha mente. Chorar era a reação natural de todos que choravam – ou, nesse caso, renascia – no mundo?

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Um repentino movimento chamou minha atenção. Os olhos de Sydney

estavam arregalados, e ela continuou se movendo em direção a Dimitri – para impedi-lo. “O que você está fazendo?” ela gritou. “Não a solte!”

Dimitri ignorou Sydney, e eu a peguei, a puxando para trás. “Está tudo bem,

está tudo bem,” eu disse. Sydney era o fator mais centrado dessa operação. Eu não podia vê-a surtar. “Ela não é um Strigoi. Olha. Olhe para ela. Ela é um Moroi.”

Sydney devagar balançou sua cabeça. “Ela não pode ser. Eu acabei de ver

ela.” “É o que aconteceu com Dimitri. Exatamente a mesma coisa. Você não acha

que ele é um Strigoi, acha? Você confia nele.” Eu a soltei, e ela ficou parada, seu rosto cauteloso.

Olhando para os irmãos, eu percebi que a situação podia ser mais séria do

que eu pretendia. Robert, embora não fosse um Strigoi, parecia pálido o bastante para ser um. Seus olhos estavam vagos, baba saindo de sua boca parcialmente aberta. Eu avaliei novamente o que eu achava sobre Robert fazer parecer fácil restaurar um Strigoi. Ele a empalou como um profissional, mas obviamente, havia alguns efeitos colaterais. Victor estava tentando ajudar seu irmão e murmurava algo como palavras de encorajamento. E no rosto de Victor... bem, havia um olhar de compaixão e medo que eu nunca tinha visto antes. Meu cérebro não sabia inteiramente como conciliar com minha imagem de vilão dele. Ele parecia uma pessoa real demais.

Victor olhou para mim, seus lábios se curvando num sorriso. “O que, não vai

dar algum comentário espertinho? Você deveria estar feliz. Te demos o que você queria. Você precisa de respostas de Sonya Karp?” Ele acenou em direção a ela. “Vá pegá-las. Elas certamente vieram com um preço alto.”

“Não!” exclamou Dimitri. Ele ainda segurava Sonya contra ele, mas sua

expressão gentil ficou dura com as palavras de Victor. “Você está louco? Você não viu o que aconteceu?”

Victor arqueou uma sobrancelha. “Sim. Eu notei.” “Ela não está em condição de responder nada! Ela está em choque. Deixe-a

em paz.” “Não aja como se ela fosse a única sofrendo aqui,” surtou Victor. Virando

em direção a Robert, Victor ajudou seu irmão a levantar e ir até o sofá. Robert

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conseguiu por pouco, suas pernas tremendo e cedendo quando ele sentou. Victor colocou um braço ao redor de Robert. “Você vai ficar bem. Tudo vai ficar bem.”

“Ele vai ficar?” eu perguntei incerta. Robert não parecia estar bem. Meus

pensamentos anteriores sobre usuários de espírito salvarem Strigoi continuou a ficar irrealista. “Ele... ele fez isso antes e se recuperou, não é? E Lissa está bem.”

“Robert era muito mais jovem – como é Vasilisa,” respondeu Victor, dando

batidinhas no ombro de Robert. “E esse dificilmente é um feitiço simples. Fazer isso apenas uma vez é incrível. Duas? Bem, você e eu sabemos como espírito funciona, e essa façanha requer muito tanto do corpo quanto da mente. Robert fez um grande sacrifício por você.”

Ele tinha, eu suponho. “Obrigado, Robert,” eu disse. As palavras saíram

hesitantes dos meus lábios. Robert nem pareceu ouvir. Dimitri levantou, levantando Sonya facilmente com seus braços. Ela ainda

chorava, mas seus soluços estavam bem mais silenciosos agora. “Ela precisa descansar,” ele disse. “Acredite em mim, você não faz ideia do

que ela está passando agora.” “Oh, eu acredito em você,” eu disse. “Seus idiotas,” surtou Victor. “Ambos.” Era de se admirar que o olhar de Dimitri não tenha prendido Victor no chão.

“Nada de interrogatório ainda.” Eu acenei em concordância, sem saber o que mais fazer. Quando Lissa

mudou Dimitri, ela teve uma atitude protetora similar. Ele pode não ter mudado Sonya, mas ele era o único ali que tinha ideia do que estava acontecendo. Eu sabia que ele teve dificuldades em se ajustar e que os efeitos iniciais da restauração foram desorientadores. Sem falar na depressão subsequente.

Ele passou por nós, levando Sonya até seu quarto. Sydney observou eles

saírem e então olhou para o sofá, onde Victor ainda mantinha seus braços ao redor de seu irmão. A alquimista encontrou meus olhos se perguntando.

“Eu ouvi... mas não acreditei.” “Às vezes,” eu disse a ela, “eu ainda não acredito. Vai contra todas as regras

do universo.”

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Para minha surpresa, ela tocou a pequena cruz de ouro em seu pescoço.

“Algumas regras são maiores que o universo.” Victor se ergueu do sofá, aparentemente satisfeito por Robert estar

descansando. Eu fiquei tensa. Deixando milagre de lado, ele ainda era um criminoso, um que eu pretendia capturar. Ele deu um passo em minha direção, sua voz baixa.

“Desculpe interromper a aula de meta física 1, mas você precisa me ouvir,”

ele disse. “Tenha cuidado, Rose. Muito cuidado. Muito está em suas mãos agora. Não deixe seu amigo te impedir de descobrir o que Sonya sabe.”

“Mas ele tem razão,” eu exclamei. “Se passaram 5 minutos! O que ela

passou... o que os dois passaram... bem, é muita coisa. Literalmente coisas de mudar a vida. Ela tem que se recuperar também e se ajustar a ter sido salva. Quando ela o fizer, ela vai nos ajudar.”

“Tem certeza?” ele perguntou, cerrando seus olhos. “Ela vai achar que foi

salva? Você esquece: Belikov foi transformado contra sua vontade. Ela não.” “O – que você está dizendo? Ela vai tentar se tornar um Strigoi de novo?” Ele deu de ombros. “Estou dizendo para conseguir suas respostas agora. E

não a deixe sozinha.” Com isso, Victor virou e foi em direção à cozinha. Ele logo voltou com um

copo d’água. Robert bebeu e então caiu no sono. Eu suspirei e me inclinei contra a parede perto de Sydney, totalmente acabada. Ainda estava dolorida.

“E agora?” perguntou Sydney. Eu balancei minha cabeça. “Eu não sei. Vamos esperar, eu acho.” Dimitri voltou pouco depois e deu um pequeno olhar para Robert. “Ela está

dormindo também,” ele me disse. “A transformação... é difícil.” Eu podia ver um olhar fantasmagórico em seus olhos, e me perguntei que memória o atormentava agora. A memória de ser transformado? A memória de ser um Strigoi?

“Eu não acho que deveríamos deixar Sonya sozinha,” eu disse. Com o canto

do meu olho, eu vi Victor sorrir. “Alguém deveria ficar com ela caso ela acorde. Ela não vai saber o que está acontecendo.”

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Dimitri não respondeu por alguns segundos enquanto ele me avaliava. Ele me conhecia bem o bastante para sentir que podia haver algo mais na minha mente. Felizmente, ele não conseguiu encontrar uma brecha em minha lógica.

“Você tem razão. Você se importa de ficar com ela?” ele perguntou a

Sydney. Eu pensei em algo para dizer. Não, não. Não Sydney. Se Sonya nos traísse,

precisávamos de alguém para ficar de guarda – alguém que pudesse lutar. Sydney, provavelmente entendendo meu problema, me poupou de mentir para Dimitri – ou de dizer a verdade a ele sobre minhas preocupações.

“Ela não me conhece. Pode fazer as coisas piores quando ela acordar. Além

do mais...” Sydney colocou aquela expressão de nojo que os Alquimistas eram excelentes. “Eu não me sentiria tão confortável com alguém que era um monstro cinco minutos atrás.”

“Ela não é um Strigoi,” ele exclamou. “Ela é absolutamente um Moroi de

novo!” Até eu me senti um pouco acovardada com o tom de sua voz, mas não estava surpresa com sua reação. Ele teve dificuldades em convencer outros que ele mudou. Seu rosto suavizou um pouquinho. “Eu sei que é difícil acreditar, mas ela realmente mudou.”

“Eu vou ficar com ela então,” eu disse.

“Não, não.” Dimitri balançou sua cabeça. “Sydney tinha razão sobre uma

coisa: Sonya pode estar confusa. É melhor ter alguém lá que entende o que aconteceu.”

Eu comecei a discutir que eu era a única que Sonya realmente conhecia

então decidi que era melhor ficar com os irmãos. Eles pareciam inofensivos agora, mas eu não confiava neles. Dimitri aparentemente também não confiava. Ele deu alguns passos para frente e se abaixou, falando apenas um centímetro da minha orelha.

“Mantenha os olhos nele,” ele murmurou. “Robert está caído agora, mas

ele pode se recuperar antes do que você imagina.” “Eu sei.” Ele começou a virar, então olhou para mim. Seu rosto de comandante

suavizou em algo pensativo e cuidadoso. “Rose?” “Yeah?”

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“Isso... foi assim que aconteceu quando Lissa me mudou?” “Mais ou menos.” “Eu não percebi... foi...” Ele lutou com palavras. Não era característico dele.

“A forma como a luz encheu a sala, o jeito que ela mudou. Ver aquela vida emergir da morte... foi...”

“Lindo?” Ele acenou. “Vida assim... você não – não, você não pode desperdiçar.” “Não,” eu concordei. “Você não pode.” Eu vi algo mudar dentro dele. Era pequeno, como ocorreu no beco, mas eu

sabia que outro pedaço do trauma de Strigoi tinha desaparecido. Ele não disse mais nada, e eu observei enquanto ele andava pelo corredor.

Com mais nada para fazer, Sydney sentou de pernas cruzadas no chão, segurando um livro em seu colo. Estava fechado, seus pensamentos claramente em outro lugar. Enquanto isso, Victor sentou na cadeira e a reclinou. Ele não parecia tão mal quanto Robert, mas linhas de fadiga estavam claras em ambos os irmãos. Bom. Quanto mais eles estivessem fracos, melhor. Eu trouxe uma cadeira da cozinha para poder sentar e observar a sala. Tudo parecia tão pacífico.

Eu me senti como uma babá, o que eu suponho que eu fosse. Foi um longo

dia, e a noite logo deixou tudo escuro. Isso me preocupou. Até onde sabíamos, Sonya tinha algum amigo Strigoi que poderia dar uma passada. O fato de Donovan a conhecer certamente indicava que ela não era uma total isolada entre eles. Isso me deixou extravigilante, mas ao mesmo tempo, eu estava exausta. Os irmãos já estavam dormindo. Sydney, talvez numa tentativa de manter seus horários humanos, eventualmente encontrou um cobertor e travesseiro e se enrolou numa cama no chão.

E eu? Eu estava entre os horários humano e vampiro. Eu tinha a sensação

que Dimitri estava na mesma. Na verdade, estávamos num horário em que fazíamos o que era necessário, em que muito sono não era uma opção.

Uma excitação e surpresa de repente passou pelo laço. Eu não senti perigo

ou ameaça, mas curiosidade me fez checar Lissa de qualquer forma. Mesmo que eu estivesse em sua mente, eu sabia que meu corpo permaneceria cuidadoso, e eu queria saber como o resto do teste de Lissa tinha ido.

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Lindamente, é claro. Ela estava voltando para a Corte, exausta e orgulhosa

de si. Ela não era a única. O resto de seus companheiros tinham a mesma expressão... todos menos Ava Drozdov. Ela foi a única a ceder e usar o celular para pedir ajuda. Lissa estava surpresa por Ava não ter conseguido. Depois de sua reclamação de mais cedo, Marcus Lazar eram o mais provável a cair fora. Mas não, o velho tinha dado conta de alguma forma, o que significa que ele ainda estava nos testes de monarca. Ava se recusou a encarar alguém, ao invés disso encarando a janela enquanto voltavam para Corte. Ela ainda teria sua vaga no Conselho, mas sua chance de ser rainha já era.

Lissa se sentia mal por ela mas não se preocupou muito. Era como eram os

testes, a forma como eles determinavam os melhores candidatos. Além do mais, Lissa tinha seus próprios problemas. Ficar fora na luz do dia tinha contrariado seu horário vampiro. Agora, ela simplesmente queria voltar a Corte, encontrar seu quarto, e dormir por algumas horas. Ela queria um pouco de paz.

Ao invés disso, ela encontrou uma máfia esperando por ela.

Page 213: Last sacrifice academia de vampiros

DEZENOVE As vans estacionaram em uma parte semirremota da Corte, então ver a área

cheia de Moroi ansiosos foi um choque para Lissa. Guardiões se moviam entre as pessoas como fantasmas, assim como fizeram na sessão de nomeação, mantendo o máximo de ordem possível. A multidão continuava entrando no caminho enquanto as vans tentavam chegar às garagens e rostos tentavam espiar as janelas na esperança de ver os rostos dos candidatos.

Lissa olhou para as massas em choque, quase com medo de sair. Ariana lhe

deu um sorriso confortador. “Isso é normal. Todos querem saber quem conseguiu e quem ficou para trás. Eles especialmente querem saber.” Ela inclinou a cabeça em direção à frente da van. Olhando através do para brisas, Lissa espiou os outros seis candidatos. Porque o curso da floresta só podia acomodar tantas pessoas, o grupo foi dividido na metade. Os outros candidatos passariam pelo mesmo teste amanhã e não havia dúvidas de que estavam curiosos para saber quem entre seus competidores havia passado hoje.

Lissa estava acostumada com ordem e decoro entre os Moroi, então ela

estava espantada em ver tanta ansiedade e frenesi entre eles agora. E, claro, os Moroi “comuns” que chegaram na Corte estavam misturados na multidão também. Todos estavam se empurrando, espiando por cima das cabeças dos outros para descobrir o que aconteceu. As pessoas gritavam os nomes dos candidatos e eu até fiquei meio surpresa por ninguém ter feito músicas ou exibindo faixas.

Lissa e seus companheiros deixaram a van e foram recebidos com uma onda

de ovações que varreu a multidão. Ficou óbvio bem rápido quem passou e quem não. Isso agitou a multidão ainda mais. Lissa ficou enraizada no ponto, olhando em volta e se sentindo perdida. Uma coisa era discutir razoavelmente as vantagens de se candidatar a rainha com seus amigos. Outra totalmente diferente era ser subitamente atirada no meio de uma eleição de verdade.

Seu foco esteve limitado a algumas poucas coisas: minha segurança,

encontrar o assassino e sobreviver aos testes. Agora, conforme ela observava a multidão, ela percebeu que a eleição era maior do que ela, maior do que qualquer coisa que ela pudesse imaginar. Para aquelas pessoas, não era uma piada. Não era uma fraude para distorcer a eleição e ganhar tempo. Suas vidas estavam em jogo, falando figurativamente. Moroi e dhampir viviam em diversos países e obedeciam suas leis, mas eles também obedeciam esse governo, aquele que operava a partir da Corte. Ele se estendia pelo globo e atingia cada Moroi e dhampir que decidisse se manter na nossa sociedade. Nós tínhamos algumas votações, sim, mas o rei ou rainha definia o futuro.

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Os guardiões finalmente deram o OK para os membros das famílias abrirem caminho entre a multidão e pegar seus candidatos. Lissa não tinha ninguém. Tanto Janine quanto Eddie – apesar das alegações iniciais – ocasionalmente recebiam tarefas temporárias que os impediam de estar com Lissa 24 horas por dia, sete dias por semana, e ela certamente não tinha família para vir buscá-la. Sem rumo, ela se sentia sozinha naquele caos, ainda abalada por seu momento de claridade. Emoções conflitantes brigavam dentro dela. Enganar a todos a fez sentir-se indigna, como se ela devesse resignar à sua candidatura agora mesmo. Ao mesmo tempo, ela subitamente desejou ser digna das eleições. Ela queria erguer a cabeça e passar pelos testes com orgulho, mesmo que os estivesse prestando por motivos ocultos.

Uma mão forte finalmente agarrou o seu braço. Christian. “Venha. Vamos

cair fora daqui.” Ele a puxou para longe, abrindo caminho entre os observadores. “Ei,” ele chamou um par de guardiões na periferia da multidão. “Uma ajudinha aqui para a princesa?”

Era a primeira vez que eu o ouvia agir como realeza, atirando por aí a

autoridade de sua linhagem. Para mim, ele era o Christian cínico e sarcástico. Para a sociedade Moroi, aos dezoito anos, ele agora podia, tecnicamente, ser chamado de Lord Ozera. Eu havia esquecido disso. Os dois guardiões, não. Eles correram para o lado de Lissa, ajudando Christian a partir da multidão. Os rostos ao redor dela eram embasados, o barulho um rugido enfraquecido. Ainda assim, de vez em quando, algo chegava até ela. O chamado do seu nome. Declarações acerca do retorno do dragão, que era o símbolo da família Dragomir. Isso é real, ela continuava pensando. Isso é real.

Os guardiões a guiaram eficientemente para fora de tudo aquilo e através

dos terrenos da Corte até seu prédio. Eles a liberaram assim que a consideraram a salvo, e ela os agradeceu graciosamente por sua ajuda. Quando ela e Christian estavam em seu quarto, ela afundou na cama, entorpecida.

“Meu Deus,” ela disse. “Isso é loucura.” Christian sorriu. “Qual parte? A sua festa de boas vindas? Ou o próprio

teste? Parece que você acabou de... bem, eu não tenho certeza do que você acabou de fazer.”

Lissa deu uma olhada rápida em si mesma. Ela tinha recebido toalhas secas

no caminho de volta, mas sua roupa ainda estava úmida e amassada enquanto secava. Seus sapatos e jeans estavam cobertos de lama, e ela nem queria imaginar como estava seu cabelo.

“É, nós –”

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As palavras trancaram em sua garganta – e não porque ela tivesse

subitamente decidido não contar a ele. “Eu não posso dizer,” ela murmurou. “O feitiço realmente funcionou.” “Que feitiço?” ele perguntou. Lissa puxou a manga e levantou o curativo para lhe mostrar o pequeno

ponto tatuado no seu braço. “É um feitiço de compulsão para que eu não fale sobre o teste. Como o que os Alquimistas tem.”

“Uau,” ele disse, realmente impressionado. “Nunca pensei que esses

realmente funcionassem.” “Parece que sim. É bem esquisito. Eu realmente quero falar, só que não...

consigo.” “Está bem,” ele disse, colocando um pouco do cabelo úmido dela para o

lado. “Você passou. É isso que importa. Foque apenas nisso.” “A única coisa em que quero me focar agora é no banho – o que é irônico,

considerando o quão encharcada eu estou agora.” Entretanto, ela não se mexeu e, ao invés disso, encarou a parede distante.

“Ei,” disse Christian gentilmente. “O que há de errado? A multidão assustou

você?” Ela se virou de volta para ele. “Não, é isso. Eles eram intimidantes, sim. Mas

eu percebi... Não sei. Eu percebi que sou parte de um imenso processo, um que tem sido realizado desde –”

“O começo dos tempos?” provocou Christian, citando a afirmação sem

sentido de Nathan. “Quase,” ela respondeu, com um sorrisinho que logo desapareceu. “Isso vai

além da tradição, Christian. As eleições são uma parte central de nossa sociedade. Encravado. Nós podemos falar em mudar leis de idade ou coisa assim, mas isso é ancestral. E de longo alcance. Essas pessoas aí fora? Não são todos americanos. Eles vieram de outros países. Às vezes, eu esqueço que, mesmo a Corte estando aqui, ela controla Moroi em todos os lugares. O que acontece aqui afeta o mundo inteiro.”

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“Onde você quer chegar?” ele perguntou. Ela estava perdida em seus pensamentos e não podia ver Christian tão objetivamente quanto eu. Ele a entendia e amava. Os dois tinham uma sincronia parecida com aquela que eu e Dimitri possuíamos. Algumas vezes, entretanto, os pensamentos de Lissa iam para direções que ele jamais poderia imaginar. Ele nunca admitiria, mas eu sabia que parte da razão pela qual ele a amava era que – diferente de mim, que todos sabiam ser impetuosa – Lissa sempre parecia a imagem da calma e racionalidade. Então, ela faria algo completamente inesperado. Esses momentos o deliciavam – mas, às vezes, também o assustavam porque ele nunca sabia quanto daquilo se devia ao espírito. Agora, era uma dessas horas. Ele sabia que as eleições estavam estressando ela e, como eu, sabia que isso poderia trazer o pior à tona.

“Eu vou levar esses testes a sério,” ela disse. “É... é vergonhoso não o fazer.

Um insulto à nossa sociedade. Meu objetivo final é encontrar quem tramou para Rose, mas nesse meio tempo? Eu vou encarar os testes como alguém que quer ser a rainha.”

Christian hesitou por um momento, uma raridade para ele. “Você quer ser a

rainha?” Isso arrancou Lissa de sua filosofia sonhadora sobre tradição e honra. “Não!

Claro que não. Eu tenho dezoito anos. Ainda nem posso beber.” “Não que isso tenha impedido você,” ele lembrou, voltando ao seu modo

normal. “Estou falando sério! Quero ir para a faculdade. Quero Rose de volta. Eu

não quero comandar a nação Moroi.” Um olhar astuto iluminou os olhos azuis de Christian. “Sabe, Tia Tasha

sempre brinca dizendo que você realmente seria uma rainha melhor que os outros, exceto que algumas vezes... eu não acho que ela esteja brincando.”

Lissa grunhiu e se espreguiçou em sua cama. “Eu amo ela, mas temos que

manter um olho nela. Se alguém pudesse mudar essa lei, seria ela e seus amigos ativistas.”

“Bem, não se preocupe. A coisa sobre seus ‘amigos ativistas’ é que eles tem

tanto para protestar que eles geralmente não se concentram em uma só coisa ao mesmo tempo.” Christian se espreguiçou ao lado dela e a puxou mais para perto. “Mas, se posso dizer, eu acho que você seria uma grande rainha, Princesa Dragomir.”

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“Você vai se sujar,” ela alertou. “Já sou. Ah, você está falando das roupas?” Ele passou os braços ao redor

dela, negligente quanto ao seu estado úmido e enlameado. “Eu passei a maior parte da minha infância escondido em um sótão poeirento e possuo exatamente uma camisa social. Você acha que eu realmente me importo com essa camiseta?”

Ela riu e então o beijou, deixando sua mente livrar-se das preocupações por

alguns momentos e apenas saborear a sensação dos lábios dele. Considerando que eles estavam na cama, eu me perguntei se era minha hora de sair. Após vários segundos, ela se afastou e suspirou contente.

“Sabe, algumas vezes, eu acho que te amo.” “Algumas vezes?” ele perguntou em um falso ultraje. Ela bagunçou o cabelo dele. “Todas às vezes. Mas eu preciso manter você

no lugar.” “Considere-me mantido.” Ele levou seus lábios até os dela mas parou quando ouviu uma batida na

porta. Lissa se afastou do quase beijo, mas nenhum dos dois rompeu o abraço. “Não responda,” disse Christian. Lissa amarrou a cara, olhando na direção da sala de estar. Ela escapou dos

braços dele, levantou e caminhou até a porta. Quando ela ainda estava a vários pés dela, ela acenou a cabeça em compreensão. “É o Adrian.”

“Mais uma razão para não responder,” disse Christian. Lissa o ignorou e abriu a porta e, sem dúvidas, meu namorado

despreocupado estava ali. Por detrás de Lissa, eu ouvi Christian dizer, “Pior. Momento. Possível.”

Adrian estudou Lissa e então olhou para Christian esparramado na cama no

canto distante da suíte. “Hm,” Adrian disse, entrando. “Então, é assim que vocês vão resolver o problema da família. Dragomirzinhos. Boa ideia.”

Christian levantou e foi até eles. “Sim, é exatamente isso. Você está

interrompendo negócios oficiais da Corte.”

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Adrian estava vestido casualmente para quem ele era, jeans e uma camiseta preta, embora ele fizesse parecer roupas de grife. Na verdade, provavelmente era. Deus, eu sentia falta dele. Sentia falta de todos eles.

“O que está havendo?” perguntou Lissa. Enquanto Christian parecia

considerar a chegada de Adrian uma ofensa pessoal, Lissa sabia que ele não estaria ali sem um bom motivo – especialmente tão cedo no dia Moroi. Embora ele tivesse seu sorriso preguiçoso normal, havia um brilho excitado e ansioso em sua aura. Ele tinha novidades.

“Eu peguei ele,” disse Adrian. “Peguei com uma armadilha.” “Quem?” perguntou Lissa, preocupada. “Aquele idiota do Blake Lazar.” “O que quer dizer com armadilha?” perguntou Christian, tão perplexo

quanto Lissa. “Você colocou uma armadilha para urso nas quadras de tênis ou coisa assim?”

“Quem dera. Ele está no Burning Arrow. Eu comprei outra rodada, então ele

ainda deve estar lá se nos apressarmos. Ele acha que eu saí para pegar cigarro.” A julgar pelo cheiro que ela captava de Adrian, Lissa tinha a sensação de que

ele realmente havia saído para pegar um cigarro. E, provavelmente, também bebeu naquela rodada. “Você estava em um bar há essa hora?”

Adrian deu de ombros. “Não é cedo para humanos.” “Mas você não é –” “Vamos lá, prima.” A aura de Adrian não tinha a cor muda de quem estava

completamente bêbado, mas sim, ele definitivamente havia bebido. “Se o bonitão do Ambrose estava certo sobre a Tia Tatiana, então esse cara pode nos dar os nomes de outras mulheres ciumentas.”

“Por que você mesmo não perguntou?” Christian questionou. “Porque vasculhar a vida sexual da minha tia seria doentio e errado,” disse

Adrian. “Enquanto Blake estaria mais do que contente em falar com nossa princesa charmosa aqui.”

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Lissa realmente queria sua cama, mas descobrir qualquer coisa que me ajudasse lançou uma nova onda de energia nela. “Ok, me deixe ao menos trocar de roupa e escovar meus cabelos.”

Enquanto ela se trocava no banheiro, ela ouviu Adrian dizer a Christian,

“Você sabe, sua camiseta está meio fuleira. Você devia se esforçar mais, já que está namorando a princesa.”

Quinze minutos depois, o trio estava cruzando a Corte para chegar em um

bar dentro de um prédio administrativo. Eu já estive lá antes e, na época, achei aquele um lugar estranho para se ter um bar. Mas, depois de ter uma experiência preenchendo formulários, decidi que, se eu tivesse que viver trabalhando em um escritório, eu provavelmente também ia querer uma fonte rápida de álcool.

O bar era parcamente iluminado, tanto pelo ambiente quanto para dar

conforto aos Moroi. Apesar da piada de Adrian, era cedo para os Moroi e só havia alguns clientes. Adrian acenou brevemente para o bartender, o que eu presumi ser um sinal para pedir uma bebida, porque uma mulher veio e imediatamente servir uma bebida.

“Ei, Ivashkov! Onde você se meteu?” Uma voz chamou Lissa e os outros e, após alguns momentos, ela viu um

cara sentado sozinho em uma mesa de canto. Conforme Adrian os levava mais para perto, Lissa viu que o cara era jovem – praticamente da idade de Adrian, com cabelo preto encaracolado e olhos azuis brilhantes, quase como a última gravata de Abe. Era como se alguém tivesse pegado as cores estonteantes dos olhos de Adrian e Christian e misturado elas. Ele tinha um corpo elegantemente musculoso – praticamente tanto músculo quanto um Moroi consegue fazer crescer – e, mesmo com um namorado, Lissa podia admirar o quão gato ele era.

“Para arranjar companhia mais bonita,” respondeu Adrian, puxando uma

cadeira. O Moroi notou então os companheiros de Adrian e saltou de pé. Ele pegou

a mão de Lissa, se inclinou e deu um beijo nela. “Princesa Dragomir. É uma honra para mim enfim conhecê-la. Você é bonita à distância. De perto? Divina.”

“Esse,” disse Adrian grandiosamente, “é Blake Lazar.” “Prazer em conhecê-lo,” ela disse. Blake abriu um sorriso radiante. “Posso chamá-la de Vasilisa?”

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“Pode me chamar de Lissa.” “Você também pode,” acrescentou Christian, “soltar a mão dela agora.” Blake olhou para Christian, levando mais alguns momentos para soltar a

mão de Lissa – e parecendo muito orgulhoso desses segundos extras. “Eu o vi, também. Ozera. Crispin, certo?”

“Christian.” Corrigiu Lissa. “Certo.” Blake puxou uma cadeira, ainda bancando o super cavalheiro. “Por

favor. Junte-se a nós.” Ele não fez tal oferta para Christian, que fez questão de sentar bem perto de Lissa. “O que gostaria de beber? Por minha conta.”

“Nada,” disse Lissa. O bartender apareceu naquele momento, trazendo o drink de Adrian e

outro para Blake. “Nunca é cedo demais. Pergunte ao Ivashkov. Você bebe assim que sai da cama, certo?”

“Tem uma garrafa de scotch no meu criado-mudo,” disse Adrian, ainda

mantendo o tom de voz leve. Lissa abriu seus olhos para a aura dele. Ela tinha o dourado claro que todos os usuários de espírito possuíam, ainda levemente manchado pelo álcool. Ainda tinha uma fraquíssima mancha de vermelho – não raiva real, mas certamente incomodação. Lissa lembrou que tanto Adrian quanto Ambrose tinham uma opinião negativa sobre esse tal de Blake.

“Então, o que traz você e Christopher até aqui?” perguntou Blake. Ele

terminou um copo de alguma coisa cor de âmbar e o deixou ao lado da nova bebida.

“Christian,” disse Christian. “Estávamos falando sobre a minha tia antes,” disse Adrian. De novo, ele

conseguia soar muito aberto com o assunto, mas não importava o quanto ele quisesse limpar meu nome, aprofundar-se nos detalhes do assassinato de Tatiana obviamente o incomodava.

O sorriso de Blake diminuiu um pouco. “Que deprimente. Para vocês dois.”

Ele se dirigiu a Adrian e Lissa. Christian poderia nem existir. “Sinto muito por Hathaway também,” ele acrescentou somente para Lissa. “Eu ouvi dizer o quanto você ficou chateada. Quem teria imaginado isso?”

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Lissa percebeu que ele se referia a como ele fingiu estar magoada e com raiva de mim. “Bom,” ela disse amargamente, “acho que nós simplesmente não conhecemos as pessoas. Teve milhões de pistas antes. Eu só não prestei atenção.”

“Você também deve estar chateado,” disse Christian. “Ouvimos dizer que

você e a rainha eram próximos.” O sorriso de Blake voltou. “É... nós nos conhecíamos muito bem. Vou sentir

falta dela. Ela podia parecer fria para alguns, mas acreditem em mim, ela sabia se divertir.” Blake olhou para Adrian. “Você devia saber.”

“Não da mesma forma que você.” Adrian parou para dar um gole em sua

própria bebida. Eu acho que ele precisava restringir suas observações cretinas, e sinceramente, eu não o repreenderia por isso. Na verdade, eu admirava seu autocontrole. Se eu estivesse no lugar dele, já teria socado Blake há muito tempo. “Ou Ambrose.”

O sorriso de Blake se transformou em uma careta de desgosto. “Ele? Aquele

meretriz de sangue homem? Ele não merecia estar na presença dela. Eu nem acredito que o deixem ficar na Corte.”

“Ele acredita que você tenha matado a rainha.” Lissa acrescentou

apressadamente, “O que é ridículo quando todas as evidências provam que foi Rose.” Essas não foram às palavras exatas de Ambrose, mas ela queria ver se provocaria alguma reação. Ela conseguiu.

“Ele acredita no quê?” Sim. Definitivamente, nada de sorrisos agora. Sem

ele, Blake subitamente não parecia mais tão bonito quanto antes. “Aquele cretino mentiroso! Eu tenho um álibi, e ele sabe disso. Ele só está puto porque ela gostava mais de mim.”

“Então, por que ela o manteria por perto?” perguntou Christian, o rosto

quase angelical. “Você não era o bastante.” Blake o encarou fixamente e terminou sua bebida em um gole só. Quase por

mágica, o bartender apareceu com outro. Blake acenou a cabeça em agradecimento antes de continuar. “Ah, eu era mais que o bastante. Mais que o bastante para uma dúzia de mulheres, mas eu não fazia bagunça pelo lado como ele.”

A expressão de Adrian se tornava mais dolorida a cada menção da vida

sexual de Tatiana. Ainda assim, ele fez seu papel. “Suponho que esteja falando das outras namoradinhas de Ambrose?”

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“É. Mas nenhuma delas era ‘inha’. Todas eram mais velhas e, sinceramente,

eu acho que pagavam para ele. Não que sua mãe precisasse pagar alguém,” acrescentou Blake. “Quer dizer, na verdade, ela é bem gata. Mas sabe, ela não poderia ter estado com ele de nenhuma maneira real.”

Pareceu levar um momento para absorver a que Blake estava se referindo.

Adrian foi o primeiro a entender. “Que merda você falou?” “Ah,” Blake parecia legitimamente surpreso, mas era difícil dizer se era tudo

atuação ou não. “Eu pensei que você soubesse. Sua mãe e Ambrose... bem, quem poderia culpá-la? Com seu pai? Embora, cá entre nós, eu acho que ela podia ter conseguido melhor.” O tom de Blake indicava com quem exatamente Daniella ficaria melhor.

Na visão de Lissa, a aura de Adrian acendeu em vermelho. “Seu filho da

puta!” Adrian não era o tipo brigão, mas havia uma primeira vez para tudo – e Blake havia acabado de cruzar uma linha séria. “Minha mãe não estava traindo meu pai. E mesmo se estivesse... é claro que ela não teria que pagar por isso.”

Blake não parecia abalado, mas talvez as coisas tivessem sido diferentes se

Adrian tivesse realmente acertado ele. Lissa colocou a mão sobre o braço de Adrian e o apertou gentilmente. “Calma,” ela murmurou. Eu senti o mais fraco sinal de uma compulsão calmante indo dela até ele. Adrian reconheceu isso imediatamente e puxou o braço, lançando a ela um olhar que mostrava que ele não apreciava aquela “ajuda”.

“Pensei que não gostasse do seu pai,” disse Blake, ignorando

completamente o fato de que suas notícias poderiam ser incômodas. “Além disso, não fique todo irritadinho comigo. Eu não estava dormindo com ela. Só estou lhe contando o que ouvi. Como eu disse, se você quiser começar a acusar pessoas aleatórias, vá atrás de alguém como Ambrose.”

Lissa se adiantou para impedir Adrian de dizer qualquer coisa. “Quantas

mulheres? Você sabe com quem mais ele estava envolvido?” “Outras três.” Blake levantava um dedo para cada nome. “Marta Drozdov e

Mirabel Conta. Espere. São duas. Eu estava pensando em Daniella, aí são três. Mas aí, quatro com a rainha. Isso, quatro.”

Lissa não se incomodou com as habilidades falhas de Blake em matemática,

embora elas dessem suporte às afirmações anteriores de Adrian de que ele era um idiota. Marta Drozdov era um membro seminotória da realeza que começou a viajar pelo mundo em sua velhice. Pelas estimações de Lissa, Marta

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dificilmente estava nos EUA pela maior parte do tempo, muito menos na Corte. Ela não parecia investida o bastante para assassinar Tatiana. Quanto a Mirabel Conta... ela era notória de outro jeito. Ela era conhecida por dormir com metade dos homens da Corte, casados ou não. Lissa não a conhecia bem, mas Mirabel nunca pareceu muito interessada em qualquer homem em particular.

“Dormir com outras mulheres não daria a ele motivo para matar a rainha,”

Lissa apontou. “Não,” concordou Blake. “Como eu disse, é óbvio que foi a Hathaway quem

fez isso.” Ele pausou. “Uma pena, também. Ela é bem gostosa. Deus, aquele corpo. De qualquer forma, se Ambrose tivesse matado ela, ele teria feito por ter ciúmes de mim, porque Tatiana me preferia. Não por causa de todas as outras mulheres que ele estava pegando.”

“Por que Ambrose não iria preferir simplesmente matar você?” perguntou

Christian. “Faz mais sentido.” Blake não teve tempo de responder por que Adrian ainda estava no tópico

anterior, seus olhos brilhando de raiva. “Minha mãe não estava dormindo com ninguém. Ela não dorme nem com meu pai.”

Blake continuou ignorando os efeitos do que havia dito. “Ei, eu vi eles.

Estavam se agarrando e tudo. Eu falei quão gata a sua –” “Pare,” avisou Lissa. “Não está ajudando.” Adrian apertou seu copo. “Nada disso está ajudando!” Claramente, as coisas

não estavam indo como ele imaginava quando tirou Lissa e Christian do quarto dela. “E eu não vou ficar sentado e ouvir essa merda toda.” Adrian desceu a bebida e saltou de pé, virando-se abruptamente para a saída. Ele largou dinheiro no balcão antes de passar pela porta.

“Coitado,” disse Blake. Ele havia voltado para seu jeito calmo e arrogante.

“Ele passou por muita coisa com sua mãe, tia e namorada assassina. É por isso que, no final das contas, não se pode confiar nas mulheres.” Ele piscou para Lissa. “Exceto pela aqui presente, é claro.”

Lissa sentia tanto nojo quanto Adrian, e um rápido olhar no rosto

tempestivo de Christian mostrava que ele sentia a mesma coisa. Era hora de ir antes que alguém realmente socasse Blake. “Bem, foi ótimo falar com você, mas temos que ir.”

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Blake lançou um olhar de cachorro sem dono para ela. “Mas você acabou de chegar! Eu esperava que pudéssemos nos conhecer melhor.” Não era necessário colocar claramente em palavras o que ele queria dizer com aquilo. “Ah. E Kreskin também.”

Christian nem se incomodou em corrigi-lo dessa vez. Ele simplesmente

tomou a mão de Lissa. “Temos que ir.” “Sim,” concordou Lissa. Blake deu de ombros e acenou por outra bebida. “Bem, a qualquer hora que

você queira experimentar de verdade o mundo, venha me encontrar.” Christian e Lissa caminharam para a porta, ele murmurando. “Eu realmente

espero que a última parte era para você, não para mim.” “Não é esse o mundo que eu quero experimentar,” disse Lissa com uma

careta. Eles pisaram do lado de fora e ela olhou em volta, no caso de Adrian estar por ali. Não. Ele tinha ido e ela não o culpava. “Eu entendo por que Ambrose e Adrian não gostam dele. Ele é tão...”

“Cuzão?” tentou Christian. Eles se voltaram para o prédio dela. “Acho que sim.” “O bastante para cometer um assassinato?” “Honestamente? Não.” Lissa suspirou. “Eu meio que concordo com

Ambrose... não acho que Blake seja esperto o bastante para ser o assassino. Ou que o motivo esteja aí. Eu não posso dizer com certeza se as pessoas estão mentindo ou não pelas suas auras, mas ele não revelou nada extremamente desonesto. Você falou brincando mas, se alguém ia cometer um assassinato por ciúme, por que os homens não matariam um ao outro? Bem mais fácil.”

“Ambos tinham acesso fácil a Tatiana,” Christian lembrou a ela. “Eu sei. Mas, se tem amor e sexo envolvido aqui... parece que seria alguém

com ciúmes da rainha. Uma mulher.” Um silêncio longo e cheio de significado pairou entre eles, nenhum

querendo dizer o que ambos provavelmente pensaram. Finalmente, Christian quebrou o silêncio. “Como, sei lá, Daniella Ivashkov?”

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Lissa balançou a cabeça. “Eu não posso acreditar nisso. Ela não parece ser desse tipo.”

“Assassinos nunca parecem ser assassinos, por isso que eles escapam.” “Você tem estudado criminologia ou coisa assim?” “Não.” Eles alcançaram a porta de entrada do prédio, e ele abriu para Lissa.

“Só estou colocando alguns dos fatos. Sabemos que a mãe de Adrian nunca gostou da rainha por questões de personalidade. Agora, sabemos que elas dividiam o mesmo cara.”

“Ela tem um álibi,” disse Lissa convictamente. “Todos tem um álibi,” ele lembrou a ela. “Como aprendemos, esses podem

ser comprados. Na verdade, Daniella já pagou por um.” “Ainda não posso acreditar. Não sem provas. Ambrose jurou que isso era

mais político que pessoal.” “Ambrose também não está fora da lista.” Eles chegaram ao quarto de Lissa. “Isso é mais difícil do que eu pensei que

seria.” Eles entraram e Christian passou seus braços em volta dela. “Eu sei. Mas vamos fazer isso juntos. Vamos descobrir. Mas... podemos

querer manter parte disso para nós. Talvez eu esteja exagerando aqui, mas acho bom que nós nunca, nunca digamos a Adrian que a mãe dele tem um excelente motivo para matar a sua tia.”

“Ah, você acha?” Ela descansou a cabeça contra o peito dele e bocejou. “Hora da soneca,” disse Christian, levando ela até a cama. “Eu ainda preciso de um banho.” “Durma primeiro. Tome banho depois.” Ele puxou as cobertas. “Eu vou

dormir com você.” “Dormir ou dormir?” ela perguntou secamente, deslizando gratamente para

a cama.

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“Sono de verdade. Você está precisando.” Ele deslizou para o lado dela, se aconchegando junto dela e descansando a cabeça em seu ombro. “Claro, se você quiser conduzir negócios oficiais da Corte depois...”

“Eu juro, se você disser ‘Dragomirzinhos’, você pode dormir na sala.” Eu tinha certeza de que havia uma resposta patenteada de Christian vindo,

mas outra batida na porta o interrompeu. Ele olhou para cima exasperado. “Não responda. Sério dessa vez.”

Mas Lissa não podia se segurar. Ela saiu de seu abraço e levantou da cama.

“Não é Adrian...” “Então, não deve ser importante,” disse Christian. “Não sabemos disso.” Ela levantou e abriu a porta, revelando – minha mãe. Janine Hathaway entrou no quarto tão casualmente quanto Adrian fizera

antes, os olhos afiados enquanto ela estudava cada detalhe ao redor dela em busca de uma ameaça. “Desculpe-me por ter ficado distante,” ela disse a Lissa. “Eddie e eu queríamos colocar um sistema de alternância, mas nós dois fomos colocados para trabalhar mais cedo.” Ela espiou a cama bagunçada, com Christian deitado nela, mas sendo quem ela era, chegou a uma conclusão pragmática, não romântica. “Bem na hora. Imaginei que você fosse querer dormir após o teste. Não se preocupe – eu vou ficar vigiando e me certificar de que nada vai acontecer.”

Lissa e Christian trocaram olhares pesarosos. “Obrigada,” disse Lissa.

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VINTE “Você devia dormir.” A voz suave de Sydney quase me fez saltar longe, provando que, mesmo

estando na mente de Lissa, eu ainda podia me manter alerta. Eu voltei à sala escura de Sonya. Fora Sydney, tudo estava quieto e em paz.

“Você parece uma zumbi,” ela continuou. “E eu não estou brincando

quando digo isso.” “Eu tenho que fazer a minha ronda,” eu disse. “Eu faço a ronda. Você dorme.” “Você não é treinada como eu,” eu apontei. “Você pode deixar alguma coisa

escapar.” “Nem eu vou deixar escapar um Strigoi derrubando a porta,” ela respondeu.

“Olha, vocês são durões. Não precisam me convencer. Mas eu tenho a sensação de que as coisas vão ficar mais difíceis, e eu não quero ter você desmaiando em um momento crucial. Se dormir agora, você pode aliviar Dimitri depois.”

Só a menção de Dimitri me fez desistir. Nós íamos precisar aliviar um ao

outro eventualmente. Então, relutante, eu rastejei até a cama de Sydney no chão, dando a ela todo o tipo de instruções que eu acho que a fizeram rolar os olhos. Eu dormi quase instantaneamente e então acordei igualmente rápido quando ouvi o som de uma porta fechando.

Eu me sentei de imediato, esperando ver um Strigoi derrubando a porta. Ao

invés disso, encontrei a luz do sol entrando pelas janelas e Sydney me observando com uma expressão divertida no rosto. Na sala, Robert estava sentado no sofá, esfregando os olhos. Victor se fora. Eu me virei para Sydney alarmada.

“Ele está no banheiro,” ela disse, antecipando minha pergunta. Foi esse o som que eu tinha ouvido. Eu suspirei aliviada e levantei, surpresa

como poucas horas de sono haviam me energizado. Se eu tivesse comida, estaria pronta para qualquer coisa. Sonya não tinha nada, é óbvio, mas eu me contentei com um copo d’água na cozinha. Enquanto eu estava ali bebendo, eu notei que os irmãos Dashkov se sentiam em casa: casacos dependurados em cabides, chaves do carro na mesa. Eu peguei as chaves silenciosamente e chamei Sydney.

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Ela veio e eu lhe passei as chaves, tentando não fazer barulho. “Você ainda entende de carros?” eu murmurei. Em um olhar extraordinário, ela me disse que essa era uma pergunta

ridícula e insultante. “Ok. Você pode fazer um rancho? Vamos precisar de comida. E quando sair,

você podia, er, se certificar de que o carro deles tenha um problema no motor ou coisa assim? Qualquer coisa que o mantenha aqui. Mas nada óbvio, como pneus estourados.”

Ela guardou as chaves no bolso. “Fácil. Algum pedido específico de

comida?” Eu pensei nisso. “Algo com açúcar. E café para o Dimitri.” “Eu ia trazer café de qualquer jeito,” ela disse. Victor entrou na cozinha, sua típica expressão despreocupada me fazendo

pensar que ele não havia me ouvido instruir Sydney a sabotar seu carro. “Sydney vai comprar comida,” eu disse, esperando distraí-lo antes que ele notasse as chaves desaparecidas.

“Um alimentador seria bom. Fora isso, Robert gosta muito de Cheerios.

Aqueles de maçã e canela.” Ele sorriu para Sydney. “Nunca pensei que veria o dia em que uma Alquimista seria uma faz-tudo. É encantador.”

Sydney abriu a boca, sem dúvidas para fazer um comentário ofensivo, e eu

balancei a cabeça na mesma hora. “Apenas vá,” eu disse. Ela foi, e Victor voltou ao lado de Robert. Convencida de que os irmãos não

iriam a lugar algum em plena luz do dia sem um carro, eu decidi que era hora de verificar Dimitri. Para minha surpresa, Sonya estava acordada. Ela estava sentada de pernas cruzadas na cama com ele, e os dois falavam em tons sussurrados. O cabelo dela estava desgrenhado por causa do sono e da luta mas, fora isso, sem cortes ou hematomas da batalha. Com Dimitri, foi a mesma coisa após a transformação, e ele escapou de queimaduras terríveis. Com as minhas pernas raladas e pseudoconcussão, eu meio que queria que alguém me transformasse de Strigoi em gente também.

Sonya deixou de olhar para Dimitri quando entrei. Uma sequência de

emoções cruzou seu rosto. Medo. Espanto. Reconhecimento.

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“Rose?” Havia hesitação na palavra, como se ela temesse que eu fosse uma

alucinação. Eu forcei um sorriso. “É bom ver você de novo.” Eu escolhi não acrescentar,

“agora que não está tentando sugar minha vida.” Ela desviou os olhos para suas mãos, estudando seus dedos como se fossem

mágicos e maravilhosos. Claro, depois de ter sido um monstro, talvez ter suas “velhas mãos” de volta fosse mesmo maravilhoso. No dia após sua mudança, Dimitri não havia parecido tão frágil, mas ele certamente estava em choque. Também foi nessa época que ele ficou deprimido. Ela também estava? Ou ela queria se transformar de novo, como Victor sugeriu?

Eu não sabia o que dizer. Era tudo tão estranho e desconfortável. “Sydney

foi fazer compras,” eu disse a Dimitri toscamente. “Ela também ficou de pé para que eu pudesse dormir noite passada.”

“Eu sei,” ele disse com um sorrisinho. “Eu levantei uma vez para verificar

você.” Eu me senti corando, de alguma forma embaraçada por ter sido apanhada

em um momento de fraqueza. “Você também pode descansar,” eu disse a ele. “Tome um café da manhã que eu tomo conta de tudo. Eu tenho razões para afirmar que Victor terá problemas com o carro. E que Robert gosta muito de Cheerios então, se você quiser um pouco, está sem sorte. Ele não parece ser do tipo que gosta de dividir.”

O sorriso de Dimitri cresceu. Sonya levantou a cabeça de repente. “Tem outro usuário de espírito aqui,” ela disse, com voz agitada. “Eu posso

sentir. Lembro dele. “Ela olhou entre Dimitri e eu. “Não é seguro. Nós não somos seguros. Vocês não deviam nos ter por perto.”

“Está tudo bem,” disse Dimitri, sua voz tão, tão gentil. Esse tom era raro

dele, mas eu o ouvi antes. Ele usou comigo em alguns de meus momentos mais desesperadores. “Não se preocupe.”

Sonya balançou a cabeça. “Não. Você não entende. Nós... nós somos

capazes de coisas horríveis. A nós, a outros. Foi por isso que me transformei, para parar a loucura. E eu consegui, exceto que... era pior. Da sua própria forma. As coisas que eu fiz...”

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Ali estava, o mesmo remorso que Dimitri havia sentido. Com um pouco de medo que ele fosse começar a dizer para ela que ela também não tinha chances de redenção, eu disse, “Não era você. Você foi controlada por outra coisa.”

Ela enterrou o rosto nas mãos. “Mas eu escolhi isso. Eu. Eu fiz isso

acontecer.” “Isso foi o espírito,” eu disse. “É difícil de enfrentar. Como você disse, pode

obrigar você a fazer coisas horríveis. Você não estava pensando com clareza. Lissa luta contra a mesma coisa o tempo inteiro.”

“Vasilisa?” Sonya levantou os olhos e olhou para o espaço. Acho que ela

estava vasculhando suas memórias. Na verdade, apesar de suas divagações, eu não achava que ela estava tão instável agora quanto ela esteve logo antes de virar uma Strigoi. Sabíamos que curas podiam diminuir a loucura do espírito, e eu acreditava que a transformação feita por Robert podia ter diminuído parte da escuridão dentro dela por um tempo. “Sim, é claro. Vasilisa também tem.” Ela se virou para mim em pânico. “Você ajudou ela? Tirou ela de lá?”

“Sim,” eu disse, tentando imitar a gentileza de Dimitri. Lissa e eu fugimos de

St. Vladimir por um tempo, em parte graças aos avisos de Sonya. “Nós saímos e então voltamos e, hm, conseguimos parar o que estava caçando ela.” Eu achei que não seria uma boa ideia que Sonya soubesse que a coisa – ou melhor, a pessoa – caçando Lissa estava sentada na sala de estar agora. Eu dei um passo para frente. “E você também pode ajudar Lissa. Precisamos saber se –”

“Não,” disse Dimitri. Não havia gentileza agora no olhar de aviso que ele me

deu. “Ainda não.” “Mas –” “Ainda não.” Eu encarei ele de volta mas não disse mais nada. Eu apoiava completamente

a ideia de dar a Sonya tempo para se recuperar, mas não podíamos esperar para sempre. O relógio estava andando, e nós tínhamos que descobrir o que Sonya sabia. Eu tinha a impressão de que Dimitri poderia ter nos dado a informação imediatamente após ser transformado de volta. Claro, ele não tinha sido instável antes, então ele meio que tinha uma vantagem. Ainda assim. Não podíamos brincar de casinha em Kentucky para sempre.

“Posso ver as minhas flores?” perguntou Sonya. “Posso sair e ver as minhas

flores?”

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Dimitri e eu trocamos olhares. “Claro que sim,” ele disse. Todos caminhamos em direção à porta, e foi aí que eu tive que perguntar.

“Por que você plantou flores quando você estava... como você estava?” Ela parou. “Eu sempre plantei flores.” “Eu sei. Eu me lembro. Eram lindas. As daqui também são. É por isso... você

só queria um jardim bonito, mesmo como uma Strigoi?” A pergunta era inesperada e pareceu deixá-la sem resposta. Eu estava

quase desistindo de saciar aquela curiosidade quando ela finalmente falou, “Não. Eu nunca pensei em beleza. Elas eram... Eu não sei. Algo para fazer. Eu sempre plantei flores. Eu precisava saber se ainda conseguia. Era... um teste para as minhas habilidades, acredito.”

Meus olhos encontraram novamente os de Dimitri. Então. Beleza não era

parte do mundo dela. Era como eu havia dito a ele. Strigoi eram notoriamente arrogantes, e parecia que as flores eram apenas uma demonstração de proeza. Plantá-las também era um hábito familiar para ela, e eu lembrei de como Dimitri havia lido romances de faroeste como Strigoi. Ser um Strigoi podia custar o senso de bem e moral de alguém, mas comportamentos e hobbies antigos permaneciam.

Nós a levamos para a sala, interrompendo uma conversa entre Victor e

Robert. Sonya e Robert congelaram, examinando um ao outro. Victor nos deu um de seus sorrisos de compreensão.

“Indo e vindo. Já achamos o que precisamos?” Dimitri lançou-lhe um olhar parecido com o que recebi quando perguntei

sobre interrogatório. “Ainda não.” Sonya arrastou seu olhar de Robert e se moveu rapidamente para a porta

dos fundos, parando quando viu nosso remendo precário. “Vocês quebraram a minha porta.”

“Dano colateral,” eu disse. Na periferia, acho que Dimitri virou os olhos. Não precisando de nós para guiá-la, Sonya foi até a porta e pisou do lado de

fora. Com um arquejo, ela parou e olhou para cima. O céu estava perfeito, um azul sem nuvens, e o sol já havia cruzado o horizonte, iluminando tudo em dourado. Eu também pisei do lado de fora, sentindo o calor daquela luz na

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minha pele. Algo do frio da noite permanecia, mas um dia quente nos aguardava.

Todo mundo saiu também, mas Sonya não notou. Ela levantou as mãos,

como se pudesse agarrar o sol e segurá-lo em seus braços. “É tão bonito.” Ela finalmente desviou seus olhos e encontrou os meus. “Não é? Você já viu algo tão bonito?”

“Bonito,” eu reiterei. Por algum motivo, eu me sentia ao mesmo tempo feliz

e triste. Ela caminhou pelo seu jardim, examinando cada planta e flor. Ela tocou as

peles e inalou sua fragrância. “Tão diferente...” ela continuava dizendo para si mesma. “Tão diferente no sol...” Várias pegaram sua atenção em especial. “Essas não abrem durante a noite! Você vê? Vê as cores? Consegue sentir o cheiro?”

As perguntas não pareciam voltadas a ninguém em particular. Nós

assistimos, todos nós meio hipnotizados. Por fim, ela sentou na cadeira do pátio, olhando ao redor alegremente, perdida na sobrecarga sensorial – naquela beleza que foi negada a ela quando era uma Strigoi. Quando ficou óbvio que ela não ia sair dali por um tempo, eu me virei para Dimitri e repeti o conselho de Sydney sobre ele dormir enquanto esperávamos Sonya se recuperar. Para a minha surpresa, ele acabou concordando.

“Isso é esperto. Quando Sonya puder falar, vamos ter que sair daqui.” Ele

sorriu. “Sydney está virando um gênio no campo de batalha.” “Ei, não é ela quem manda aqui,” eu provoquei. “Ela é só uma soldada.” “Certo.” Ele passou os dedos levemente na minha bochecha. “Perdão,

Capitã.” “General,” eu corrigi, recuperando o fôlego depois daquele toque breve. Ele se despediu gentilmente de Sonya antes de desaparecer para dentro da

casa. Ela acenou com a cabeça, mas não sei se ela realmente ouviu. Victor e Robert trouxeram para fora duas cadeiras de madeira da cozinha e as colocaram na sombra. Eu escolhi um ponto no chão. Ninguém falou. Não era a coisa mais esquisita que eu já experimentei, mas certamente era estranho.

Sydney voltou mais tarde com as compras, e eu abandonei o grupo

rapidamente para ver as coisas com ela. As chaves de Victor estavam de volta

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na mesa, o que eu tomei como um bom sinal. Sydney descarregou uma seleção de comidas e me entregou uma caixa com uma dúzia de donuts.

“Espero que seja o suficiente para você,” ela observou. Eu fiz uma cara com a presunção dela mas peguei as donuts mesmo assim.

“Vem aqui fora quando estiver pronta,” eu disse a ela. “É como o churrasco dos malditos. Exceto... que não temos uma grelha.”

Ela pareceu confusa mas, quando se juntou a nós mais tarde, ela parecia

entender o que eu havia dito. Robert trouxe um balde de Cheerios, mas nem Sydney nem Victor comeram. Eu dei uma rosquinha para Sonya, a primeira coisa que desviou sua atenção do jardim. Ela segurou nas mãos, virando de um lado para o outro.

“Não sei se posso. Não sei se consigo comer isso.” “Claro que consegue.” Eu lembrei de como Dimitri também considerou a

comida com incerteza. “É coberto com chocolate. Muito bom.” Ela deu uma mordida tentativa, do tamanho da de um coelho. Ela mastigou

um bilhão de vezes e finalmente engoliu. Então, fechou seus olhos brevemente e suspirou. “Tão doce.” Devagar, ela continuou dando mordidas pequenas. Levou uma vida para ela comer metade da donut e, nesse ponto, ela finalmente parou. Eu havia descido três doces àquela altura, e minha paciência em conseguir alguma coisa estava crescendo. Parte disso ainda era a irritabilidade do espírito, e parte era só minha constante preocupação em ajudar Lissa.

“Sonya,” eu disse de uma maneira agradável, mas ciente do quão puto Dimitri ficaria por eu desafiar as suas instruções. “Queríamos falar com você sobre uma coisa.”

“Uhum,” ela murmurou, olhando para abelhas sobrevoando alguma

madressilva. “Tem algum parente seu... alguém que, hã, tenha tido um bebê há algum

tempo...?” “Claro,” ela disse. Uma das abelhas voou da madressilva para uma rosa, e

ela nunca desviou o olhar. “Vários.” “Articulada, Rosemarie,” observou Victor. “Muito articulada.” Eu mordi meu lábio, sabendo que me estourar ia deixar Sonya perturbada. E

Robert também.

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“Esse bebê seria secreto,” eu contei a ela. “E você foi a beneficiária de uma

conta bancária que tomou conta do bebê... uma conta paga por Eric Dragomir.” A cabeça de Sonya girou em minha direção, e não havia uma distração

sonhadora em seus olhos azuis agora. Uns poucos segundos se passaram antes que ela dissesse alguma coisa. Sua voz era fria e dura – não uma voz de Strigoi, mas definitivamente uma voz de cai fora. “Não. Eu não sei nada sobre isso.”

“Ela está mentindo,” falou Robert. “Eu não precisei de poderes para perceber essa,” zombou Sydney. Eu ignorei aqueles dois. “Sonya, nós sabemos que você sabe, e é mesmo

importante que nós achemos esse bebê... er, criança. Pessoa.” Nós fizemos suposições sobre a idade, mas não tínhamos cem por cento de certeza. “Você disse que estava preocupada com Lissa antes. Isso vai ajudar ela. Ela precisa saber. Ela precisa saber que tem outro membro na família.”

Sonya voltou sua atenção de novo para as abelhas, mas eu sabia que ela já

não estava mais assistindo elas. “Não sei de nada.” Havia um tremor na sua voz, e algo me disse que talvez eu não devesse forçar isso no final das contas. Eu não podia dizer se ela estava com medo ou à beira do ódio.

“Então, por que você estava na conta?” Isso veio de Victor. “Eu não sei de nada,” ela repetiu. Sua voz podia fazer estalactites surgirem

nas flores ornamentais. “Nada.” “Pare de mentir,” Victor perdeu a calma. “Você sabe de alguma coisa, e vai

nos dizer o que é.” “Ei!” Eu exclamei. “Fique quieto. Você não tem direitos de interrogar aqui.” “Você não parecia estar fazendo um trabalho muito bom.” “Simplesmente cale essa boca, ok?” Eu olhei de novo para Sonya,

substituindo minha carranca por um sorriso. “Por favor,” eu implorei. “Lissa está com problemas. Isso vai ajudar ela. Eu pensei que você tivesse dito antes que queria ajudá-la?”

“Eu prometi...” disse Sonya. Sua voz estava tão baixa que eu mal conseguia

ouvir.

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“Prometeu o quê?” eu perguntei. Paciência, paciência. Eu precisava me manter calma. Não podia arriscar que ela estourasse.

Ela fechou os olhos com força e puxou com força os próprios cabelos, como

uma criança prestes a ter um acesso de mal humor. “Prometi não contar. Prometi não contar...”

Eu tinha a vontade correr ali e sacudir ela. Paciência, paciência, eu repeti

para mim mesma. Não incomode ela. “Não iríamos pedir para você quebrar a sua promessa se não fosse importante. Talvez... talvez, você possa entrar em contato com essa pessoa...” Para quem ela havia prometido? Para a amante de Eric? “E ver se não tem problema em nos contar?”

“Ah, pelo amor de Deus,” disse Victor irritado. “Isso é ridículo e não está nos

levando a lugar algum.” Ele olhou para seu irmão. “Robert?” Robert não havia feito muita coisa hoje mas, ao ouvir a ordem de Victor, ele

se inclinou para a frente. “Sonya?” Ainda obviamente distraída, ela virou-se para olhar para ele... e seu rosto

ficou imóvel. “Conte-nos o que precisamos saber,” disse Robert. Sua voz não era tão

gentil quanto suave e embaladora, com um tom levemente sinistro. “Conte-nos quem é essa criança e onde ela está. Conte-nos quem é a mãe.”

Dessa vez, eu realmente saltei de pé. Robert estava usando compulsão nela

para conseguir respostas. Os olhos de Sonya se mantiveram fixos nele, mas seu corpo começou a tremer. Seus lábios se abriram, embora nenhum som tenha saído deles. Um emaranhado de pensamentos dançou pela minha mente. Compulsão nos daria o que precisávamos saber, mas alguma coisa me dizia que não era certo –

Sonya me impediu de pensar mais. Ela saltou de pé quase tão rápido quanto

eu. Ela ainda estava olhando para Robert, mas não mais em um estado transfixo, hipnotizado. Ela havia quebrado a compulsão, e agora... agora, ela estava puta da cara. As feições que tinham sido assustadas e frágeis estavam preenchidas com raiva. Eu não tinha sentidos mágicos mas, após estar com Lissa, eu conhecia espírito em fúria quando via. Sonya era uma bomba, prestas a explodir.

“Como se atreve...” ela sibilou. “Como se atreve a tentar me compelir?”

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Plantas e vinhas ao redor de Robert subitamente criaram vida, crescendo para alturas impossíveis. Eles se estenderam, enrolaram-se nas pernas de sua cadeira e puxaram. A cadeira virou, Robert junto com ela. Victor se moveu para ajudar seu irmão, mas Robert já estava tomando os problemas em suas próprias mãos. Recuperando-se incrivelmente rápido, ele apertou seus olhos na direção de Sonya, e ela foi lançada voando para trás, batendo contra a cerca de madeira. Usuários do ar podiam fazer esse truque às vezes, mas não era ar soprando ela para trás. Essas eram as habilidades telecinéticas do espírito. Aparentemente, ele também as possuía fora dos sonhos. Adorável.

Eu havia visto usuários de espírito lutarem antes, quando Avery Lazar e Lissa

foram uma contra a outra. Aquilo não tinha sido bonito, particularmente porque mais do que esse fenômeno psíquico exterior havia ocorrido. Avery havia, na verdade, penetrado na mente de Lissa – e na minha. Eu não conhecia o leque completo de habilidades de Robert ou Sonya, mas isso não podia acabar bem.

“Dimitri!” eu gritei, correndo na direção de Sonya. Eu não sabia exatamente

o que ia fazer, mas dar um encontrão nela soava como um bom plano. Pelo que eu havia observado, muito do espírito envolvia contato ocular com o alvo.

E com certeza, quando eu consegui jogar ela no chão, ela lutou sem

vontade, mas seu esforço estava mais voltando em manter o olhar em Robert. Ele gritou em um alarme súbito, olhando para seu próprio corpo em terror. Sonya estava plantando visões em sua cabeça. Sua expressão endureceu. Ele devia saber que era uma ilusão e, momentos depois, olhou para frente. Ele havia rompido as ilusões dela como ela havia feito com sua compulsão.

Dimitri veio pela porta momentos depois, enquanto Robert usava seu poder

para atirar uma cadeira em Sonya. Claro, eu estava em cima dela, então a cadeira me atingiu nas costas. Dimitri percebeu o que estava acontecendo bem rápido e correu em direção a Robert, tentando a mesma tática que eu. Victor, possivelmente pensando que seu irmão estava em perigo físico, tentou afastar Dimitri, o que era fútil. Mais vinhas começaram a alcançar Robert, e eu percebi que segurar Sonya não era tão útil.

“Coloque ele para dentro!” eu gritei para Dimitri. “Coloque ele longe dela!” Dimitri já havia percebido isso e começou a arrastar Robert em direção à

porta. Mesmo com Victor interferindo, a força de Dimitri era o bastante para tirar Robert dali e de volta na casa. Assim que seu alvo se foi, toda a energia pareceu abandonar Sonya. Ela não fez mais tentativas de me enfrentar e desabou no chão. Eu estava aliviado, pois tinha temido que ela fosse se voltar contra mim assim que Robert se fosse. Tentativa, ainda no chão, eu ajudei

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Sonya a se sentar. Ela se apoiou contra mim, fraca como uma boneca de pano, e chorou no meu ombro. Outro colapso.

Depois disso, era uma questão de controle de danos. Para manter os

usuários de espírito um do outro, Dimitri levou Robert para o quarto e deixou Victor com ele. Robert parecia tão cansado quanto Sonya, e Dimitri considerou os irmãos seguros o bastante para deixar sozinhos. Sonya caiu no sofá, depois que eu e Dimitri tentamos acalmá-la, nós nos afastamos enquanto Sydney segurava a mão da Moroi.

Eu recaptulei brevemente o que havia acontecido. O rosto de Dimitri ficou

mais e mais incrédulo conforme eu fazia isso. “Eu te disse que não era a hora!” ele exclamou. “No que estava pensando?

Ela está fraca demais!” “Você chama aquilo de fraca? E, ei, eu estava indo bem! Não foi até Victor e

Robert se envolverem que as coisas foram para o inferno.” Dimitri deu um passo em minha direção, raiva irradiando dele. “Eles nunca

deviam ter se envolvido. Isso é você, agindo irracionalmente mais uma vez, pulando dentro tolamente sem pensar nas consequências.”

Ultraje jorrou de mim em retribuição. “Ei, eu estava tentando progredir

aqui. Se ser racional é sentar e fazer terapia, então eu estou feliz em cruzar o limite. Não tenho medo de entrar no jogo.”

“Você não tem ideia do que está falando,” ele grunhiu. Estávamos mais

próximos agora, quase nenhum espaço entre nós enquanto entrávamos em nossa batalha de vontades. “Eles podem ter nos atrasado.”

“Isso nos deu um avanço. Descobrimos que ela sabe sobre Eric Dragomir. O

problema é que ela prometeu não contar a ninguém sobre esse bebê.” “Sim, eu prometi,” Sonya ergueu a voz. Dimitri e eu nos viramos como um

só, percebendo que nossa briga era perfeitamente visível e audível para Sonya e Sydney. “Eu prometi.” Sua voz era pequena e fraca, implorando para nós.

Sydney apertou sua mão. “Nós sabemos. Está bem. Está tudo bem em

manter suas promessas. Nós entendemos.” Sonya olhou para ela com gratidão. “Obrigada. Obrigada.”

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“Mas,” Sydney disse cuidadosamente, “eu ouvi que você se importa com Lissa Dragomir.”

“Eu não posso,” Sonya interrompeu, ficando amedrontada de novo. “Eu sei, eu sei. Mas e se houvesse uma forma de ajudá-la sem quebrar a sua

promessa?” Sonya encarou Sydney. Dimitri olhou para mim em questionamento. Eu dei

de ombros e também me voltei para Sydney. Se alguém tivesse me perguntado quem pudesse fazer a melhor intervenção com uma mulher louca que havia sido um monstro morta-vivo antes, Sydney Sage seria minha última aposta.

Sonya choramingou, toda a sua atenção em Sydney. “O-o que você quer

dizer?” “Bem... qual era, exatamente, a sua promessa? Não contar a ninguém que

Eric Dragomir tinha uma amante e um bebê?” Sonya concordou com a cabeça. “E não contar a ninguém quem eles eram?” Sonya concordou de novo. Sydney deu à Sonya o mais caloroso e amigável sorriso que eu já havia visto

em um Alquimista. “Você prometeu não contar a ninguém onde eles estão?” Sonya concordou, e o sorriso de Sydney diminuiu um pouco. Então, seus olhos se iluminaram. “Você prometeu não levar ninguém até onde elas estão?”

Sonya hesitou, sem dúvidas analisando cada palavra em sua mente.

Lentamente, ela balançou a cabeça de um lado para o outro. “Não.” “Então... você poderia nos levar até lá. Mas sem nos dizer onde eles

realmente estão. Você não estaria quebrando sua promessa dessa maneira.” Era a lógica mais retorcida e ridícula que eu havia ouvido em algum tempo.

Era algo que eu poderia ter imaginado. “Talvez...” disse Sonya, ainda incerta. “Você não estaria quebrando uma promessa,” Sydney repetiu. “E iria ajudar

muito, muito a Lissa.”

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Eu dei um passo à frente. “Ajudaria Mikhail também.” O queixo de Sonya caiu com a menção do nome de seu antigo amante.

“Mikhail? Você o conhece?” “Ele é meu amigo. Ele é amigo de Lissa também.” Eu quase disse que, se

encontrássemos o Dragomir perdido, poderíamos levar Sonya até Mikhail. Relembrando os sentimentos de desmerecimento de Dimitri, eu decidi não usar essa tática agora. Eu não sabia como Sonya reagiria a uma reunião com seu amado. “E ele quer ajudar Lissa. Mas não pode. Nenhum de nós pode. Não temos informação o bastante.”

“Mikhail...” Sonya olhou para suas mãos de novo, pequenas lágrimas

descendo por suas bochechas. “Você não vai quebrar sua promessa.” Sydney era tão convincente que ela

poderia ser uma usuária de espírito. “Só nos guie até lá. É o que Mikhail e Lissa iriam querer. É a coisa certa a se fazer.”

Eu não sei qual argumento convenceu Sonya mais. Podia ser a parte sobre

Mikhail. Ou podia ser a ideia de fazer “a coisa certa.” Talvez, como Dimitri, Sonya quisesse redenção por seus crimes como Strigoi e tivesse visto uma chance. Olhando para cima, ela engoliu e encontrou meus olhos.

“Eu vou levá-los até lá,” ela sussurrou. “Vamos cair na estrada de novo,” Sydney declarou. “Se arrumem.” Dimitri e eu ainda estávamos de pé um próximo ao outro, a raiva entre nós

começando a se desfazer. Sydney parecia orgulhosa e continuou fazendo o seu melhor para acalmar Sonya.

Dimitri olhou para mim com um pequeno sorriso que pareceu se mexer um

pouco quando ele percebeu o quão próximos nós estávamos. Eu não podia dizer com certeza, entretanto. O rosto dele entregava muito pouco. Para mim, eu estava muito consciente de nossa proximidade e me sentia intoxicada por seu corpo e cheiro. Droga. Por que brigar com ele sempre aumentava minha atração por ele? Seu sorriso voltou enquanto ele balançava a cabeça na direção de Sydney. “Você estava errada. Ela realmente é a nova general na cidade.”

Eu sorri de volta, esperando que ele não percebesse a reação de meu corpo

com a nossa proximidade. “Talvez. Mas está tudo bem. Você ainda pode ser o coronel.”

Page 240: Last sacrifice academia de vampiros

Ele ergueu uma sobrancelha. “Ah? Você se rebaixou? Coronel está logo abaixo de general. Isso faz de você o quê?”

Eu levei a mão ao bolso e tirei triunfante as chaves da CR-V que eu havia

roubado quando voltamos para dentro. “A motorista,” eu disse.

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VINTE E UM

EU NÃO PUDE DIRIGIR. “General,” Sydney também não, para seu ultraje, embora Dimitri tenha

explicado rapidamente por que. Tudo começou quando Victor descobriu que seu carro estava tendo

‘problemas no motor’. Ele não ficou muito feliz com isso. Ele não fez nenhuma acusação, mas eu acho que todos ali – até Sonya e Robert – sabiam que o mal funcionamento não foi acidental. Isso significou que todos tivemos que nos amontoar no sedam, que não foi feito para carregar tantas pessoas – e era por isso que Dimitri bolou uma solução criativa. É claro, um daqueles ‘assentos’ acabou sendo o porta malas. Tinha um bom tamanho, mas quando Sydney descobriu que era o assento dela, ela acusou Dimitri de insultá-la ainda mais do que só ter pego suas chaves.

Eu não ia dizer a ela, mas a colocar no porta malas pareceu uma escolha

boa. O mapa de assentos de Dimitri estava configurado para minimizar ameaças dentro do carro. Dimitri dirigia, com Robert na frente, e eu entre Victor e Sonya atrás. Isso colocou um guardião em cada fileira, separando os irmãos, e manteve os usuários de espírito separados também. Quando eu discuti que ele e eu podíamos trocar de lugar e ainda ter a mesma segurança, Dimitri apontou que se eu estivesse no volante não seria seguro se de repente eu tivesse que entrar na mente de Lissa. Era um ponto justo. E quanto a Sydney... bem, ela não era nem ameaça nem uma lutadora, então ela foi no porta malas. E falando em peso morto...

“Temos que nos livrar de Victor e Robert agora,” eu murmurei para Dimitri,

quando carregamos o sedam com compras e nossa bagagem (reduzindo ainda mais o espaço de Sydney, para seu ultraje ainda maior). “Eles fizeram o que precisávamos. Manter eles por perto é perigoso. É hora de os entregarmos para os guardiões.” Os irmãos queriam continuar conosco para encontrar o irmão de Lissa. Estávamos permitindo – mas não por generosidade. Simplesmente não podíamos deixa-los saírem das nossas vistas.

“Concordo,” Dimitri disse, franzindo levemente. “Mas não tem uma boa

maneira de fazer isso. Ainda não. Não podemos deixá-los amarrados na entrada. Eu acho que eles não fugiriam e pegariam uma carona. E nós também não podemos entregá-los nós mesmos, por motivos óbvios.”

Eu coloquei uma mala dentro do carro e me inclinei contra o para-choque.

“Sydney poderia entregá-los.”

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Dimitri acenou. “Essa provavelmente é nossa melhor chance – mas não quero me separar dela até chegarmos... bem, onde estamos indo. Podemos precisar da ajuda dela.”

Eu suspirei. “Então, vamos arrastá-los junto.” “Temo que sim,” ele disse. Ele me deu um olhar cuidadoso. “Sabe, quando

eles estiverem sob custódia, tem uma boa chance deles contarem uma bela história para as autoridades sobre nós.”

“Yeah,” estive pensando nisso também. “Suponho que esse seja um

problema para mais tarde. Temos que lidar com os problemas imediatos primeiro.”

Para minha surpresa, Dimitri sorriu para mim. Eu teria esperado algum

comentário sábio e prudente. “Bem, essa sempre foi nossa estratégia, não é?” ele perguntou.

Eu sorri em resposta, mas foi breve, pois logo estávamos na estrada.

Misericordiosamente, Victor não estava com sua conversa chata de sempre – o que eu suspeitava era porque ele estava fraco em razão da falta de sangue. Sonya e Robert deveriam estar se sentindo da mesma forma. Isso ia ser um problema se não arranjássemos um alimentador logo, mas eu não sabia como iríamos conseguir isso. Eu tinha a impressão que Sydney não tinha percebido nada disso ainda, o que estava ótimo. Ser humano entre um grupo de vampiros famintos certamente a deixaria nervosa. Ela provavelmente estava mais segura afastada de todo mundo.

As direções de Sonya eram vagas e muito misteriosas. Ela só nos deu

informações pela metade e geralmente não falava para virarmos até estarmos em cima da rua. Não tínhamos ideia de onde estávamos indo ou quanto tempo ia levar. Ela olhou o mapa e então disse a Dimitri parar seguir ao norte na I-75. Quando perguntamos quanto tempo ia levar, sua resposta foi: “Não muito. Algumas horas. Talvez mais.”

E com essa resposta misteriosa, ela sentou para trás e não disse mais nada.

Havia uma expressão pensativa e assombrada em seu rosto, e eu tentei imaginar como ela se sentia. Apenas um dia atrás ela era um Strigoi. Ela ainda estava processando o que aconteceu? Ela estava vendo os rostos de suas vítimas como Dimitri tinha? Ela estava se atormentando com culpa? Ela queria se tornar um Strigoi de novo?

Eu a deixei em paz. Agora não era hora para terapia. Lissa estava acordada.

Eu pisquei e olhei para o relógio no painel do carro. Era de tarde para os

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humanos. A corte Moroi deveria a muito estar dormindo agora. Mas não, algo a manteve acordada.

Dois guardiões estavam em sua porta, seus rostos passivos. “Você tem que

vir conosco,” um deles disse. “É hora do seu próximo teste.” Surpresa encheu Lissa. Ela sabia que o próximo teste estava ‘vindo logo’

mas não sabia de mais nenhum detalhe desde que voltou do seu teste de resistência. Aquela viagem ocorreu durante a noite Moroi também, mas pelo menos ela teve um aviso. Eddie estava por perto, no quarto dela, tendo substituído minha mãe na proteção de Lissa algumas horas atrás. Christian sentou na cama de Lissa, bocejando. Eles não tinham se pegado, mas Lissa gostava de ter ele por perto. Acariciar seu namorado enquanto Eddie estava no quarto não parecia tão estranho para ela quanto quando minha mãe estava no quarto. Eu não a culpava.

“Posso me trocar?” Lissa perguntou. “Seja rápida,” disse o guardião. Ela pegou a primeira roupa que pode e correu para o banheiro, se sentindo

confusa e nervosa. Quando ela saiu, Christian tinha colocado seus jeans e já estava pegando sua camiseta. Eddie, enquanto isso, estava avaliando os guardiões, e eu podia imaginar seus pensamentos, pois eu teria os mesmos. Essa chamada parecia oficial, mas ele não conhecia esses guardiões e não confiava totalmente neles.

“Posso escoltá-la?” ele perguntou. “Apenas até a área do teste,” disse o segundo guardião. “E quanto a mim?” perguntou Christian. “Apenas até a área do teste.” A resposta dos guardiões foi uma surpresa para mim, mas então eu percebi

que provavelmente era comum candidatos a monarquia irem a seus testes com uma caravana – mesmo para testes inesperados no meio da noite. Ou talvez não tão inesperados. A Corte estava virtualmente deserta, mas quando o grupo chegou a seu destino – uma pequena sessão em um prédio cheio de tijolos – ela teve que passar por vários grupos de Moroi inclinados contra as paredes. Aparentemente, as notícias se espalharam.

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Aqueles reunidos abriam espaço respeitosamente. Alguns – provavelmente apoiadores de outras famílias – faziam a ela caretas. Mas muitos outros sorriam e comentavam a ‘volta dos dragomirs’. Alguns até passavam suas mãos contra seus braços, como se absorvessem sorte ou poder dela. A multidão era muito menor que a recebeu depois do seu primeiro teste. Isso diminuiu a ansiedade mas não abalou sua resolução de levar esse teste a sério. O rosto dos espectadores brilhava com relutância e curiosidade, se perguntando se ela poderia ser a próxima a governá-los.

Uma porta no fim do corredor marcava a conclusão de sua jornada. Nem

Christian nem Eddie precisavam ouvir que eles poderiam ir até ali. Lissa olhou para os dois por cima do ombro antes de seguir os guardiões para dentro, se confortando com o rosto de apoio dos seus amados.

Depois da épica aventura do primeiro teste, Lissa esperava algo igualmente

intimidador. O que ela encontrou, ao invés disso, foi uma velha Moroi sentada confortavelmente em uma cadeira em uma sala quase vazia. Suas mãos estavam em seu colo, segurando algo envolvido numa capa. A mulher cantarolava, parecendo muito contente. E quando eu digo velha, eu quero dizer que ela era velha. Moroi podiam viver até seus 100 anos, e essa mulher claramente tinha cruzado essa marca. Sua pele pálida era um labirinto de rugas, e seu cabelo grisalho era ralo e fino. Ela sorriu quando viu Lissa e acenou em direção a uma cadeira vazia. Uma pequena mesa estava ao lado dela com uma taça de água. Os guardiões deixaram a mulher sozinha.

Lissa olhou ao redor. Não havia outros móveis, embora houvesse uma porta

comum do lado oposto que ela tinha entrado. Ela sentou e então virou em direção à velha. “Olá,” disse Lissa, tentando manter sua voz forte. “Sou Vasilisa Dragomir.”

O sorriso da mulher cresceu, mostrando seus dentes amarelos. Uma de suas

presas estava faltando. “Sempre tão educados em sua família,” ela riu. “A maior parte das pessoas vem aqui e exige que comecemos. Mas eu lembro do seu avô. Ele foi educado durante seu teste também.”

“Você conheceu meu avô?” exclamou Lissa. Ele tinha morrido quando ela

era muito, muito nova. Então, ela pegou outro significado nas palavras da mulher. “Ele concorreu para ser rei?”

A mulher acenou. “Passou em todos os seus testes. Eu acho que ele teria

ganho a eleição, se não tivesse se retirado no último momento. Depois disso, jogaram uma moeda para escolher entre Tatiana Ivashkov e Jacob Tarus. Muito perto, aquele lá. Os Taruses ainda estão ressentidos.”

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Lissa nunca soube de nada disso. “Porque meu avô desistiu?” “Porque seu irmão tinha acabado de nascer. Frederick decidiu que precisava

devotar sua energia para sua família, ao invés da nação.” Lissa podia entender isso. Quantos Dragomirs existiam naquela época? Seu

avô, seu pai, e Andre – e sua mãe, mas apenas por casamento. Eric Dragomir não tinha nenhum irmão ou irmã. Lissa sabia pouco de seu avô, mas em seu lugar, ela teria decidido que ela preferia passar seu tempo com seu filho e neto, ao invés de ouvir os discursos sem fim que Tatiana tinha que lidar.

A mente de Lissa vagou, e a velha mulher a observou cuidadosamente. “É...

isso é o teste?” perguntou Lissa, quando o silêncio ficou longo demais. “Isso é tipo, uma entrevista?”

A velha mulher balançou sua cabeça. “Não. É isso.” Ela desenrolou o objeto.

Era um copo – um cálice ou uma taça. Não tenho certeza de qual. Mas era lindo feito de prata que parecia brilhar com sua própria luz. Rubis vermelhos estavam espalhados nas laterais, brilhando cada vez que a taça era manuseada. A mulher o observou com carinho.

“Mais de mil anos, e ainda brilha.” Ela pegou a água e encheu o cálice

enquanto Lissa e eu processávamos as palavras. Mil anos? Eu não era uma expert em metal, mas até eu sabia que prata teria manchado neste tempo. A mulher ergueu a taça para Lissa. “Beba. E quando você quiser parar, diga pare.”

Lissa pegou a taça, mais confusa do que nunca com as estranhas instruções.

O que ela deveria parar? De beber? Assim que seus dedos tocaram o metal, ela entendeu. Bem, mais ou menos. Um formigamento passou por ela, um que ela conhecia bem.

“Isso está encantado,” ela disse. A velha mulher acenou. “Infundido com os quatro elementos e um feitiço a

muito esquecido.” Infundido com espírito também, pensou Lissa. Isso também deve ter sido

esquecido, e isso a deixou agitada. Talismãs elementares tinham efeitos diferentes. Talismãs da terra – como a tatuagem que ela recebeu – estavam ligados com pequenos feitiços de compulsão. A combinação dos quatro em um estaca ou ward dava uma explosão unificada de vida que bloqueava os mortos vivos. Mas espírito... bem, ela aprendeu rápido que talismãs de espírito tinham efeitos imprevisíveis. A água sem duvidas ativava o feitiço, mas Lissa tinha a sensação que espírito ia ter um papel fundamental. Embora fosse o poder que

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queimava em seu sangue, ainda a assustava. O feitiço na taça era complexo, muito além de suas habilidades, e ela temeu o que ele faria. A velha senhora encarou sem piscar.

Lissa hesitou apenas mais um segundo. Ela bebeu. O mundo desapareceu, então se materializou de novo em algo

completamente diferente. Ela e eu reconhecemos o que era isso: um sonho de espírito.

Ela não estava mais na sala comum. Ela estava na rua, o vento passando em

seu longo cabelo e rosto. Ela o tirou do rosto o melhor que pode. Outras pessoas estavam ao redor dela, todos usando preto, e ela reconheceu a Igreja e cemitério da Corte. Lissa também usava preto, junto com um casaco para protegê-la do frio. Todos estavam reunidos ao redor de um túmulo, e um padre estava perto, suas roupas oferecendo a única cor naquele dia cinzento.

Lissa deu alguns passos para frente, tentando ver o nome de quem estava

na lápide. O que ela descobriu chocou mais a mim do que ela: ROSEMARIE HATHAWAY.

Meu nome estava entalhado em granito, com uma fonte elaborada. Abaixo

do meu nome estava uma estrela de batalha, significando que eu matei mais Strigoi do que poderiam ser contados. Vai eu. Abaixo estavam três linhas escritas em russo, romeno e inglês. Eu não precisava da tradução para saber o que cada linha dizia por que era o padrão para a lápide de um guardião. “Serviço Eterno.”

O padre falou as palavras comuns de um funeral, me dando bênçãos de uma

religião que eu não tinha certeza se acreditava. Essa foi a coisa menos estranha, no entanto, já que eu estava vendo meu próprio funeral. Quando ele terminou, Alberta tomou seu lugar. Elogiar as conquistas do falecido também era normal no funeral de um guardião – e Alberta tinha muito a dizer no meu. Se eu estivesse ali, eu estaria em lágrimas. Ela concluiu descrevendo minha última batalha, como eu morri defendendo Lissa.

Isso na verdade não me pareceu tão esquisito. Eu quero dizer, não me

entenda errado. Tudo acontecendo aqui era maluco. Mas, falando razoavelmente, se eu estava vendo meu funeral, fazia sentido eu ter morrido para protegê-la.

Lissa não partilhou dos meus sentimentos. A notícia foi um tapa na cara

dela. Ela de repente ficou ciente da horrível sensação de vazio em seu peito, como se parte dela tivesse morrido. O laço só funcionava de um lado, ainda sim

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Robert tinha jurado que perder seu parceiro o deixou em agonia. Lissa entendia agora aquela terrível dor de solidão. Ela estava sentindo falta de algo que ela nem sabia que tinha. Lágrimas corriam por seus olhos.

Isso é um sonho, ela disse a si mesma. Só isso. Mas ela nunca teve um

sonho de espírito assim. Suas experiências sempre foram com Adrian, e os sonhos pareciam ligações telefônicas.

Quando aqueles que estavam de luto se dispersaram do cemitério, Lissa

sentiu uma mão tocar seu ombro. Christian. Ela se jogou nos braços dele agradecida, tentando segurar o choro. Ele parecia real e sólido. Seguro. “Como isso aconteceu?” ela perguntou. “Como pode ter acontecido?”

Christian a soltou, seus olhos azuis mais sérios e pesarosos do que eu já

tinha visto. “Você sabe como. Aqueles Strigoi estavam tentando matar você. Ela se sacrificou para te salvar.”

Lissa não tinha memórias disso, mas não importava. “Eu não posso... eu não

posso acreditar que isso está acontecendo.” Aquela agonizante solidão cresceu dentro dela.

“Eu tenho mais notícias ruins,” disse Christian. Ela encarou surpresa. “Como pode ficar pior?” “Estou partindo.” “Partindo... o que? Da corte?” “Sim. Deixando tudo.” A tristeza em seu rosto cresceu. “Deixando você.” Sua mandíbula quase caiu. “O que... o que foi? O que eu fiz?” “Nada.” Ele apertou sua mão e a soltou. “Eu te amo. Sempre te amarei. Mas

você é quem você é. Você é a última Dragomir. Sempre vai ter algo te levando pra longe... eu só vou ficar no seu caminho. Você precisa reconstruir sua família. Não sou o que você precisa.”

“É claro que é! Você é o único! O único com quem quero construir um

futuro.” “Você diz isso agora, mas espere para ver. Tem escolhas melhores. Você

ouviu a piada de Adrian. ‘Pequenos Dragomirs’? Quando você estiver pronta para ter filhos em alguns anos, você vai precisar de muitos. Os Dragomirs

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precisam ser sólidos de novo. E eu? Eu não sou responsável o bastante para lidar com isso.”

“Você será um grande pai,” ela discutiu. “Yeah,” ele disse, “e vou ser uma grande conquista para você – a princesa

que casou com o cara da família de Strigoi.” “Eu não me importo com nada disso, e você sabe!” Ela se agarrou na

camiseta dele, forçando-o a olhar para ela. “Eu te amo. Eu quero que você seja parte da minha vida. Nada disso faz sentido. Você está assustado? É isso? Você tem medo do peso do nome da minha família?”

Ele desviou o olhar. “Vamos apenas dizer que não é um nome fácil de

carregar.” Ela o balançou. “Eu não acredito em você! Você não tem medo de nada!

Você nunca recua.” “Estou recuando agora.” Ele gentilmente se afastou dela. “Eu realmente te

amo. É por isso que estou fazendo isso. É para o melhor.” “Mas você não pode...” Lissa gesticulou em direção ao túmulo, mas ele já

estava se afastando. “Você não pode! Ela se foi. Se você se for também, não vai...”

Mas Christian se fora, desaparecendo na névoa que não estava ali minutos

atrás. Lissa foi deixada sozinha com meu túmulo para companhia. E pela primeira vez em sua vida, ela estava realmente sozinha. Ela se sentiu sozinha quando sua família morreu, mas eu estava lá para apoia-la, sempre a protegendo. Quando Christian apareceu, ela manteve aquela solidão longe, enchendo o coração dela com amor.

Mas agora... agora ambos tínhamos partido. Sua família se fora. Aquele

buraco ameaçou consumi-la, e era mais do que a perda do laço. Ficar sozinha era uma coisa muito, muito terrível. Não havia ninguém a quem recorrer, ninguém que se importasse com o que acontece com você. Ela ficou sozinha na floresta, mas não era nada como isso. Nenhum um pouco.

Olhando ao redor, ela desejou poder afundar no meu túmulo e seu

tormento. Não... espere. Ela realmente podia terminar com ele. Diga ‘pare’, a velha mulher tinha dito. Era tudo que precisava para parar a dor. Uma palavra, e tudo isso terminaria.

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Olhando ao redor para a vazia Corte, ela quase disse a palavra. Mas... ela queria terminar as coisas? Ela jurou lutar para passar por esses testes. Ela ia desistir por causa de um sonho? Um sonho sobre ser deixada sozinha? Parecia uma coisa inferior, mas aquela fria verdade a atingiu de novo: Eu nunca estive sozinha. Ela não sabia se podia continuar por conta própria, mas então ela percebeu que se isso não era um sonho – e por Deus, parecia real – não haveria mágica para ‘parar’ a vida real. Se ela não podia lidar com solidão em um sonho, ela nunca seria capaz de lidar quando acordada. E por mais que a assustasse, ela decidiu que ela não ia dar para trás. Algo a fez querer passar pela névoa, e ela andou para dentro dela – sozinha.

A névoa deveria ter levado ela até o jardim da igreja. Ao invés disso, o

mundo se materializou de novo, e ela se viu na sessão do Conselho. Era uma aberta, com uma audiência Moroi observando. Diferentemente do usual, Lissa não estava sentada na audiência. Ela estava na mesa do Conselho, em sua décima terceira cadeira. A cadeira do meio, a do monarca, estava ocupada por Ariana Szelsky. Definitivamente um sonho, uma parte dela disse. Ela tinha uma vaga no Conselho e Ariana era rainha. Bom demais para ser verdade.

Como sempre, o Conselho estava em um debate caloroso, e o tópico era

familiar: o decreto de idade. Alguns membros do Conselho alegavam que era imortal. Outros que Strigoi eram uma ameaça grande demais. Tempos desesperados exigiam medidas desesperadas, aquelas pessoas diziam.

Ariana olhou para Lissa. “O que a família Dragomir acha?” Ariana não foi

nem tão gentil quanto tinha sido na van nem tão hostil quanto Tatiana tinha sido. Ariana era neutra, a rainha ministrando o Conselho e reunindo as informações que precisava. Cada par de olhos de virou em direção a Lissa.

Por algum motivo, cada ideia coerente que ela tinha sumiu de sua mente.

Sua língua ficou pesada em sua boca. O que ela achava? Qual era sua opinião sobre o decreto de idade? Ela desesperadamente tentou formar uma resposta.

“Eu... eu acho que é ruim.” Lee Zzelsky, que deve ter pego a vaga da família quando Ariana se tornou

rainha, fez uma careta de nojo. “Pode elaborar, Princesa? Lissa engoliu. “Baixar a idade dos guardiões não é a forma de nos proteger.

Precisamos... precisamos aprender a proteger nós mesmos.” Suas palavras foram encontradas com mais choque e desprezo. “E rezar

para contar,” disse Howord Zeklos, “como você planeja fazer isso? Qual sua

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proposta? Treinamento obrigatório para todas as idades? Começar um programa nas escolas?”

De novo, Lissa ficou sem palavras. Qual era seu plano? Ela e Tasha tinham

discutido várias vezes, fazendo estratégias sobre esse assunto e como implementar um treinamento. Tasha praticamente tinha entalhado aqueles detalhes na cabeça dela na esperança que Lissa pudesse fazer sua voz ser ouvida. Ali estava ela agora, representando sua família no Conselho, com a chance de mudar as coisas e melhorar a vida Moroi. Tudo que ela tinha que fazer era se explicar. Tantos contavam com ela, tantos esperando ouvir as palavras que ela sentia tanta paixão. Mas onde elas estavam? Porque Lissa não conseguia lembrar? Ela deve ter levado tempo demais para responder por que Howard jogou suas mãos para cima enojado.

“Eu sabia. Fomos idiotas por deixar uma garotinha entrar no Conselho. Ela

não tem nada útil para oferecer. Os Dragomirs se foram. Eles morreram com ela, e precisamos aceitar isso.”

Eles morreram com ela. A pressão de ser a última de sua linhagem tinha um

peso em Lissa desde o momento que o médico disse que seus pais e irmão tinham morrido. A última de uma linhagem que tinha fortificado os Moroi e produzido alguns dos maiores reis e rainhas. Ela jurou a si mesma de novo e de novo que ela não desapontaria sua linhagem, que ela veria o orgulho de sua família ser restaurado. E agora tudo estava indo por água abaixo.

Até Ariana, que Lissa considerava uma apoiadora, parecia desapontada. A

audiência começou a se zombar, ecoando a ideia de remover essa garota de língua presa do Conselho. Eles gritavam para ela partir. Então, o pior: ‘Os dragomirs estão mortos! Os dragomirs estão mortos!”

Lissa quase tentou fazer seu discurso de novo, mas então algo a fez olhar

para trás. Ali, o selo das doze famílias estava na parede. Um homem que apareceu do nada, estava tirando o escudo dos Dragomirs, com seu dragão e uma inscrição em romeno. O coração de Lissa se afundou conforme os gritos se tornavam cada vez mais altos a humilhação crescia. Ela se ergueu, querendo correr e se esconder de sua desgraça. Ao invés disso, seus pés a levaram até a parede com selo. Com mais força do que ela achava ter, ela tirou o selo de dragão das mãos do homem.

“Não!” ela gritou. Ela virou para encarar a audiência e ergueu o selo,

desafiando qualquer um deles a tentar tira-lo dela, ou negar seu lugar por direito no Conselho. “Isso. É. Meu. Vocês me ouviram? Isso é meu!”

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Ela nunca saberia se eles ouviram porque eles desapareceram, como no cemitério. Silêncio caiu. Ela agora estava em um dos consultórios médicos de St. Vladimir. Os detalhes familiares eram estranhamente reconfortantes: a piada com sabonete de mão laranja, armários super organizados e as gavetas, e mesmo os pôsteres informativos nas paredes. ESTUDANTES: PRATIQUEM SEXO SEGURO!

Igualmente bem vindo era o médico residente da escola: Dra. Olendzki1. A

médica não estava sozinha. Parado perto de Lissa – sentada na cama exame – havia uma terapeuta chamada Deirdre e... eu. Me ver ali era bem esquisito, mas depois do funeral, eu estava começando a me acostumar.

Uma surpreendente mistura de sentimentos passou por Lissa, sentimentos

fora do seu controle. Felicidade por nos ver. Desespero com a vida. Confusão. Suspeitas. Ela não conseguia se fixar em uma emoção. Era uma sensação muito diferente que a do Conselho, quando ela simplesmente não foi capaz de se explicar. Sua mente tinha estado organizada – ela só tinha perdido sua razão. Aqui, não havia nada para pensar. Ela estava numa confusão mental.

“Você entendeu?” perguntou Dra. Olendzki Lissa suspeitava que a médica já

tinha feito essa pergunta. “Está além do que podemos controlar. Medicamentos não funcionam mais.”

“Acredite em mim, não queremos que você se machuque. Mas agora que

tem outros em risco... bem, você entende porque temos que entrar em ação.” Essa foi Deirdre. Eu sempre pensei nela como um pouco presunçosa, particularmente já que seu método terapêutico envolvia responder perguntas com perguntas. Não havia um humor bobo agora. Deirdre estava bem séria.

Nenhuma de suas palavras fazia sentido para Lissa, mas a parte do se

machucar disparou algo nela. Ela olhou para seus braços. Eles estavam nus... e cheios de cortes. Os cortes que ela costumava fazer quando a pressão de espírito era grande demais. Eles eram sua única saída, um horrível jeito de se libertar. Estudando eles agora, Lissa viu que os cortes estavam maiores e mais profundos do que antes. O tipo de corte que beirava a suicídio. Ela olhou para cima.

“Quem... quem eu machuquei?” “Você não lembra?” perguntou a Dra. Olendzki.

1 No livro está no masculino, mas como nos outros volumes o (a) Olendzki é descrita como mulher, faz

de conta que a Richelle só digitou errado. @o@1

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Lissa balançou sua cabeça, olhando desesperada de rosto a rosto, buscando respostas. Seu olhar caiu em mim, e meu rosto estava tão sério e negro quanto o de Deirdre. “Está tudo bem Lissa,” eu disse. “Tudo vai ficar bem.”

Eu não estava surpresa com isso. Naturalmente, era o que eu diria. Eu

sempre traria segurança a Lissa. Eu sempre ia cuidar dela. “Não é importante,” disse Deirdre, a voz suave e calma. “O que é

importante é que ninguém mais vai se machucar. Você não quer ajudar ninguém, quer?”

É claro que Lissa não queria, mas sua mente partiu para outro lugar. “Não

fale comigo como se eu fosse uma criança!” O volume de sua voz encheu o lugar.

“Eu não queria,” disse Deirdre, um poço de paciência. “Só queremos te

ajudar. Queremos que você fique segura.” Paranoia cresceu entre as emoções de Lissa. Nenhum lugar era seguro. Ela

tinha certeza disso... nada mais. Só que havia algo sobre um sonho. Um sonho, um sonho...

“Eles vão poder cuidar de você em Tarasov,” explicou a Dra. Olendzki. “Eles

vão se certificar que você fique confortável.” “Tarasov?” Lissa e eu falamos juntas. Essa outra Rose cerrou seus punhos e

encarou. De novo, uma típica reação minha. “Ela não vai para aquele lugar,” rosnou Rose. “Você acha que queremos isso?” perguntou Deirdre. Era a primeira vez que

eu via sua cara de bacana ruir. “Não queremos. Mas o espírito... o que ele está fazendo... não temos escolha...”

Imagens da nossa viagem até Tarasov passaram pela mente de Lissa. Os

frios, frios corredores. Os gemidos. As pequenas celas. Ela lembrou da área psiquiátrica, a sessão que outros usuários de espírito estavam presos. Presos indefinidamente.

“Não!” ela gritou, pulando da mesa. “Não me mandem para Tarasov!” Ela

olhou ao redor procurando uma saída. A mulher estava entre ela e a porta. Lissa não podia fugir. Que mágica ela poderia usar? Certamente havia algo. Sua mente tocou espírito, e ela buscou algum feitiço.

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A outra Rose agarrou a sua mão, provavelmente porque ela sentiu o espírito na mente de Lissa e a queria impedir. “Tem outro jeito,” meu alter ego disse para Deirdre e Dra. Olendzki. “Eu posso pôr em mim. Eu posso tirar dela, como Anna fez por St. Vladimir. Eu posso tirar a escuridão e instabilidade. Lissa ficaria sã de novo.”

Todos me encararam. Bem, a outra eu. “Mas então será você, não é?” perguntou a Dra. Olendzki. “Não vai

desaparecer.” “Eu não me importo,” eu disse teimosamente. “Eu vou para Tarasov. Não

mandem ela. Eu posso fazer isso enquanto ela precisar.” Lissa me observou, mal acreditando no que ouviu. Seus pensamentos

caóticos se encheram de alegria. Sim! Fuga. Ela não ia ficar louca. Ela não ia para Tarasov. Então, em algum lugar na confusão de suas memórias...

“Ana cometeu suicídio,” murmurou Lissa. “Ela ficou louca por ajudar St.

Vladimir.” Meu outro eu se recusou a olhar para Lissa. “É só uma história. Eu vou pegar

a escuridão. Dê ela para mim.” Lissa não sabia o que fazer ou pensar. Ela não queria ir para Tarasov. Aquela

prisão dava pesadelos a ela. E aqui eu estava, oferecendo uma saída, oferecendo salvar a vida dela como eu sempre fazia. Lissa queria isso. Ela queria ser salva. Ela não queria ficar louca como todos os usuários de espírito. Se ela aceitasse minha oferta, ela estaria livre.

Ainda sim... no limite ou não, ela se importava demais comigo. Eu já tinha

feitos sacrifícios demais por ela. Como ela podia permitir que eu fizesse isso? Que tipo de amiga ela seria, me condenando a uma vida assim? Tarasov assustava Lissa. Uma vida presa assustava Lissa. Mas eu enfrentar isso a assustava ainda mais.

Não havia bom resultado aqui. Ela queria que tudo sumisse. Talvez se ela

fechasse seus olhos... espera. Ela lembrou de novo. O sonho. Ela estava em um sonho de espírito. Tudo que ela precisava era acordar.

Diga ‘pare’. Era fácil dessa vez. Dizer as palavras era o jeito mais simples de escapar, a

solução perfeita. Nada de Tarasov para nenhuma de nós, não é? Então, ela

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sentiu uma leve pressão em sua mente, um embaralhar daqueles pensamentos caóticos. Seus olhos se arregalaram quando ela percebeu que eu já tinha começado a pegar a escuridão. “Pare” ficou esquecido.

“Não!” Espírito queimou dentro dela, e ela fez uma parede no laço, me

bloqueando. “O que você está fazendo?” meu outro eu perguntou. “Salvando você,” disse Lissa. “Salvando a mim mesma.” Ela virou para Dra.

Olendzki e Deirdre. “Eu entendo o que vocês tem que fazer. Está tudo bem. Me levem para Tarasov. Me levem para onde eu não vou machucar ninguém.” Tarasov. Um lugar onde verdadeiros pesadelos andavam pelos corredores. Ela se preparou conforme o lugar desaparecia, pronta para a próxima parte do sonho: uma fria cela, com correntes nas paredes e pessoas onde as pessoas lamentavam...

Mas quando o mundo voltou ao normal, não havia Tarasov. Havia uma sala

vaia com uma senhora e um cálice de prata. Lissa olhou ao redor. Seu coração batia forte, e seu senso de horas estava errado. As coisas que ela viu duraram uma eternidade. Ainda sim, simultaneamente, parecia apenas que segundos haviam passado desde que a velha senhora tinha começado.

“O que... o que foi isso?” perguntou Lissa. Sua boca estava seca, e a água

parecia ótima agora... mas o cálice estava vazio. “Seu medo,” disse a senhora, os olhos brilhando. “Todos os seus medos,

enraizados dentro de si.” Lissa colocou a taça na mesa e balançou suas mãos. “Foi horrível. Era

espírito, mas... não era nada que eu já tenha visto antes. Invadiu minha mente, se dispersando nela. Era tão real. Às vezes eu acreditei que fosse.”

“Mas você não parou.” Lissa franziu, pensando em quão próximo ela tinha chego. “Não.” A velha senhora sorriu e não disse nada. “Eu... eu terminei?” perguntou Lissa, confusa. “Posso ir?” A velha senhora acenou. Lissa levantou e olhou entre as portas, a que ela

tinha entrado e a sem graça que ficava atrás. Ainda em choque, Lissa automaticamente virou em direção à porta que ela tinha chego. Ela não queria

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ver as pessoas alinhadas contra parede de novo, mas jurou que ia andar com uma cara de princesa. Além do mais, só havia um fração aqui, comparado ao grupo que a recebeu depois de seu último teste. Ela parou quando a velha senhora falou e apontou em direção a porta de trás.

“Não. Essa é para quem falha. Você passa por essa porta.” Lissa virou e se aproximou da porta simples. Ela parecia levar para um lugar

aberto, o que provavelmente era melhor. Paz e silêncio. Ela sentia como se deveria dizer algo para sua companhia mas não sabia o que. Então, ela simplesmente virou a maçaneta e saiu...

Em uma multidão torcendo pelos Dragomirs. VINTE E DOIS

“VOCÊ ESTÁ HORRIVELMENTE FELIZ.” Eu pisquei e encontrei Sonya me encarando. O sedam ainda viajava na

estrada I-75 ao nosso redor, revelando árvores e a paisagem do Centro Oeste. Sonya não parecia tão bizarramente bizarra quanto pareceu na escola ou até na casa dela. Na maior parte, ela só parecia assustada e confusa, o que era esperado. Eu hesitei antes de responder mas finalmente decidi que não havia motivos para me segurar.

“Lissa passou em seu segundo teste.” “É claro que passou,” disse Victor. Ele estava encarando a janela. O tom da

sua voz sugeria que eu tinha acabado de dizer algo óbvio. “Ela está bem?” perguntou Dimitri. “Ferida?” Antes, isso teria me deixado com ciúmes. Agora, era apenas um sinal de

nossa partilhada preocupação com Lissa. “Ela está bem,” eu disse, me perguntando se isso era verdade. Ela não

estava fisicamente ferida, mas depois do que viu... bem, isso tinha que deixar cicatrizes de um tipo diferente. A porta de trás também foi uma surpresa. Quando ela viu uma pequena multidão na primeira porta, ela achou que apenas algumas pessoas estavam acordadas tão tarde, para ver os candidatos. Nope. Acabou que todo mundo só estava esperando nos fundos para ver os vitoriosos.

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Verdadeira a sua promessa, Lissa não se deixou abater. Ela saiu com sua cabeça erguida, sorrindo para a multidão e fãs como se já tivesse ganhado a coroa.

Eu estava ficando com sono, mas o triunfo de Lissa me manteve sorrindo

por um longo tempo. Havia algo cansativo em uma rodovia que não terminava nunca. Victor tinha fechado seus olhos e estava inclinado contra o vidro. Eu não conseguia ver Sydney quando virei para checa-la, o que significa que ela também foi tirar um cochilo ou estava deitada. Eu bocejei, me perguntando se me atreveria a arriscar a dormir. Dimitri tinha me incentivado quando deixamos a casa de Sonya, sabendo que eu precisava de mais algumas horas além das que a Sydney havia me dado.

Eu descansei minha cabeça contra o assento e fechei meus olhos, caindo

nos sono instantaneamente. A escuridão do sono me deixou com a sensação de um sonho de espírito, e meu coração pulou tanto com pânico como alegria. Depois de viver pelo teste de Lissa, sonhos de espírito de repente tinham uma sensação sinistra. Ao mesmo tempo, essa podia ser minha chance de ver Adrian. E... foi.

Só que aparecemos em um lugar totalmente inesperado: O jardim de Sonya.

Eu encarei o céu azul e as brilhantes flores maravilhada, quando ignorando Adrian. Ele usava um suéter azul escuro de cashmere que o fazia se misturar a paisagem. Para mim, ele era mais bonito do que qualquer das maravilhas do jardim.

“Adrian!” Eu corri até ele, e ele me ergueu facilmente, me girando. Quando ele me

colocou no chão, ele estudou o jardim e acenou aprovando. “Eu deveria deixar você escolher os lugares mais frequentemente. Você tem bom gosto. É claro, já que você está saindo comigo, já sabíamos disso.”

“Como assim ‘escolher o lugar’?” Eu perguntei, envolvendo minhas mãos

atrás do pescoço dele. Ele deu de ombros. “Quando senti que você estava dormindo, eu convoquei

o sonho mas não estava com vontade de escolher o lugar. Então deixei a cargo do seu subconsciente.” Irritadiço, ele cutucou o cashmere. “Mas não estou vestido para a ocasião.” O suéter tremeu, logo substituído por uma camiseta cinza clara com um desenho abstrato na frente. “Melhorou?”

“Muito.”

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Ele sorriu e beijou minha testa. “Senti sua falta, pequena dhampir. Você pode espionar Lissa e a gente o tempo todo, mas o melhor que consigo são esses sonhos, e honestamente, não consigo descobrir em que fuso horário você está.”

Eu percebi que com minha ‘espionagem’, eu sabia mais sobre o que tinha

acontecido na Corte do que ele. “Lissa fez seu segundo teste,” eu disse a ele. Yup. Sua expressão confirmou. Ele não sabia sobre o teste, provavelmente

porque estava dormindo. “Quando?” “Agora. Foi difícil, mas ela passou.” “Para o deleito dela, sem duvidas. Ainda sim... isso nos dá mais tempo para

inocentar você e te trazer para casa. Mas não tenho certeza se iria querer voltar se eu fosse você.” Ele olhou para o jardim de novo. “West Virginia parece um lugar muito melhor.”

Eu ri. “Não estou em West Virginia – que não é ruim, por sinal. Aqui é onde

Sonya Karp –” Eu congelei, incapaz de acreditar o que eu quase disse. Eu fiquei tão feliz de

ver ele, tão calma... eu me permiti fazer besteira. O rosto de Adrian ficou muito, muito sério.

“Você disse Sonya Karp?” Várias opções apareceram em minha mente. Mentir era a mais fácil. Eu

podia alegar que era um lugar que estive a muito, muito tempo atrás, como se ela talvez tivesse nos levado a sua casa. Mas isso era bem fraco. Além do mais, eu acho que o meu rosto gritava culpa. Eu fui pega. Uma mentira bonita não enganaria Adrian.

“Sim,” eu disse finalmente. “Rose. Sonya Karp é um Strigoi.” “Não mais.” Adrian suspirou. “Eu sabia que estava bom demais para ser verdade. O que

aconteceu?” “Um, Robert Doru a restaurou.”

Page 258: Last sacrifice academia de vampiros

“Robert.” O lábio de Adrian se contraiu em desdém. Os dois usuários de espírito não tinham se dado muito bem. “E só porque eu sinto que estamos entrando no Território da Loucura – o que significa algo, vindo de mim – vou supor que Victor Dashkov também está com você.”

Eu acenei, desejando desesperadamente que alguém me acordasse para me

safar do interrogatório de Adrian. Merda. Como eu podia ter deixado isso escapar?

Adrian me soltou e andou ao redor em pequenos círculos. “Ok, então. Você,

Belikov, a alquimista, Sonya Karp, Victor Dashkov, e Robert Doru estão todos juntos em West Virginia.”

“Não,” eu disse. “Não?” “Nós estamos, uh, não em West Virginia.” “Rose!” Adrian parou de andar e voltou até mim. “Onde diabos vocês estão,

então? Seu velho, Lissa – todo mundo acha que você está segura.” “Estou,” eu disse. “Só não em West Virginia.” “Então aonde?” “Eu não posso... não posso te dizer.” Eu odiei dizer aquelas palavras para ele

e ver o olhar que elas traziam. “Parte disso é pela segurança. A outra parte é por que... bem, um, eu não sei.”

Ele pegou minhas mãos. “Você não pode fazer isso. Você não pode fazer

algum capricho maluco dessa vez. Você não entende? Eles vão te matar se te encontrarem.”

“Não tenho caprichos malucos! Estamos fazendo algo importante. Algo que

vai ajudar todos nós.” “Algo que você não pode me dizer,” ele sugeriu. “É melhor você não se envolver,” eu disse, apertando suas mãos com força.

“Melhor se você não souber os detalhes.” “E enquanto isso, eu posso ficar tranquilo sabendo que você tem um time

de elite para te proteger.”

Page 259: Last sacrifice academia de vampiros

“Adrian, por favor! Por favor confie em mim. Confie que eu tenho um bom

motivo,” eu implorei. Ele soltou minhas mãos. “Eu acredito que você acha que tem um bom

motivo. Só não consigo imaginar o que justifica você arriscar sua vida.” “É o que eu faço,” eu disse, surpresa com o quão séria eu soava. “Algumas

coisas valem a pena.” Estática passou pela minha visão, como a recepção de uma TV ficando ruim.

O mundo começou a sumir. “O que está acontecendo?” eu perguntei. Ele fez uma careta. “Alguém ou algo está me acordando. Provavelmente

minha mãe me checando pela centésima vez.” Eu tentei alcançá-lo, mas ele estava desaparecendo. “Adrian! Por favor não

conte a ninguém! Ninguém.” Eu não sei se ele ouviu meu apelo ou não porque o sonho desapareceu

completamente. Eu acordei no carro. Minha imediata reação foi xingar, mas eu não queria que ninguém soubesse a coisa idiota que eu tinha feito. Olhando ao redor, eu quase pulei de susto quando eu vi Sonya me observando com intensidade.

“Você estava tendo um sonho de espírito,” ela disse. “Como você sabe?” “Sua aura.” Eu fiz uma cara. “Auras costumavam ser legais, mas agora estão começando

a ficar irritantes.” Ela riu suavemente, a primeira vez que a ouvi fazer isso desde que foi

restaurada. “Elas são muito informativas se sabe como lê-las. Você estava com Vasilisa?”

“Não. Meu namorado. Ele também é um usuário de espírito.” Os olhos dela se arregalaram em surpresa. “Era com ele que você estava?” “Yeah. Por quê? Qual o problema?”

Page 260: Last sacrifice academia de vampiros

Ela franziu, parecendo surpresa. Alguns momentos depois, ela olhou para o banco da frente, onde Dimitri e Robert estavam, e então me estudou de uma forma que me enviou calafrios pela espinha.

“Nada,” ela disse. “Não há nada errado.” Eu fiz uma careta pra isso. “Qual é, certamente parece –” “Lá!” Sonya abruptamente virou, se inclinando para frente e apontando.

“Pegue aquela saída.” Quase estávamos passando ‘daquela saída’ e Dimitri teve que fazer uma

chique manobra – como a nossa fuga na Pensilvânia – para conseguir pegá-la. O carro balançou, e eu ouvi Sydney ganir atrás de mim.

“Um aviso da próxima vez ajudaria,” Dimitri disse. Sonya não estava ouvindo. Seu olhar estava totalmente fixo na estrada que

havíamos entrado. Chegamos em um farol vermelho, onde vi uma placa que dizia: BEM VINDO A ANN ARBOR, MICHIGAN. A faísca de vida que eu vi nela antes tinha desaparecido. Sonya havia retornado a seu tenso e quase robótico jeito. Apesar da inteligente negociação de Sydney, Sonya ainda parecia desconfortável com essa viagem. Ela ainda se sentia culpada e traidora.

“Onde estamos?” eu perguntei ansiosa. “E há quanto tempo estamos na

estrada?” Eu mal notei a viagem. Eu fiquei acordada na primeira parte, mas o resto foi um borrão entre Lissa e Adrian.

“Seis horas,” disse Dimitri. “Vire a direita no segundo farol,” disse Sonya. “Agora à direita na esquina.” A tensão cresceu no carro. Todo mundo estava acordado agora, e meu

coração batia rápido enquanto entrávamos cada vez mais no subúrbio. Que casa? Estávamos próximos? Era uma dessas? Era uma viagem rápida mais parecia não terminar nunca. Todos soltamos o fôlego coletivamente quando Sonya de repente apontou.

“Ali.” Dimitri parou na garagem de uma fofa casa de tijolos que tinha um jardim

perfeito. “Você sabe se seus parentes ainda vivem aqui?” eu perguntei a Sonya.

Page 261: Last sacrifice academia de vampiros

Ela não disse nada, e eu percebi que estávamos de volta no território da promessa. Em modo fechado. E achamos que tínhamos progredido. “Acho que só tem um jeito de descobrir,” eu disse, soltando meu cinto. “O mesmo plano?”

Mais cedo, Dimitri e eu tínhamos discutido quem iria e quem ficava para

trás se Sonya nos trouxesse para o lugar certo. Deixar os irmãos para trás não era alternativa. A pergunta era quem ficaria para guarda-los, e decidimos que Dimitri ficaria enquanto Sydney e eu íamos encontrar os parentes de Sonya – que sem duvidas iriam ter uma visita surpreendente.

“Mesmo plano,” concordou Dimitri. “Você vai até a casa. Você parece

menos ameaçadora.” “Hey!” Ele sorriu. “Eu disse ‘parece’.” Mas o raciocínio dele fazia sentido. Mesmo calmo, havia algo poderoso e

intimidador sobre Dimitri. Três mulheres na porta iria assustar essas pessoas menos – especialmente se os parentes de Sonya já tenham se mudado. Diabos, até onde sabíamos, ela propositalmente nos trouxe a casa errada.

“Tenha cuidado,” Dimitri disse, quando saímos do carro. “Você também,” respondi. Isso mereceu outro sorriso, um pouco mais

profundo e quente. Os sentimentos que isso despertou em mim desapareceram conforme

Sonya, Sydney e eu andávamos pela calçada. Meu peito se apertou. Era isso. Ou não era? Íamos chegar ao fim de nossa jornada? Tínhamos realmente encontrado a última Dragomir, contra todas as chances? Ou fui enganada desde o início?

Eu não era a única que estava nervosa. Eu podia sentir Sydney e Sonya

ficando tensas também. Chegamos ao degrau da frente. Eu respirei fundo e toquei a campainha.

Vários segundos depois, um homem atendeu – e ele era Moroi. Um sinal

promissor. Ele olhou para nossos rostos, sem duvidas se perguntando o que um Moroi,

um dhampir e um humano estavam fazendo na sua porta. Parecia o começo de uma piada ruim.

Page 262: Last sacrifice academia de vampiros

“Posso ajudar?” ele perguntou. Eu de repente estava solta. Nosso plano cobria o principal: encontrar a

amante de Eric e seu filho. O que diríamos quando chegássemos lá não estava tão claro. Eu esperei que minhas companheiras falassem, mas não havia necessidade. A cabeça do homem Moroi de repente pendeu para o meu lado quando ele olhou de novo.

“Sonya?” ele ofegou. “É você?” Então, eu ouvi uma jovem voz feminina e familiar o chamar. “Hey, quem

está ai?” Alguém se apertou ao lado dele, alguém alta e magra – alguém que eu

conhecia. Minha respiração parou quando em encarei aquelas ondas de cabelo castanho claro e olhos verdes – olhos que deveriam ter sido minha pista há muito tempo. Eu não consegui falar.

“Rose,” exclamou Jill Mastrano. “O que você está fazendo aqui?”

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VINTE E TRÊS Os poucos segundos de silêncio que se seguiram pareceram se estender por

toda a eternidade. Todo mundo estava confuso, cada um por razões totalmente diferentes. A surpresa inicial de Jill se misturou à excitação, mas enquanto ela olhava ao redor em cada rosto, seu sorriso sumiu e sumiu até que ela parecia tão desnorteada quanto o resto de nós.

“O que está acontecendo?” perguntou uma nova voz. Momentos depois,

Emily Mastrano apareceu ao lado de sua filha. Emily olhou para mim e Sydney com curiosidade e então arfou quando viu o terceiro membro do nosso grupo. “Sonya!” Emily empurrou Jill para trás, seu rosto preenchido por pânico. Emily não tinha a velocidade de uma guardiã, mas eu admirei sua resposta.

“Emily...?” A voz de Sonya era muito pequena, quase se quebrando. “Sou...

sou eu... eu de verdade...” Emily tentou empurrar o homem para dentro também, mas parou quando

deu uma boa olhada em Sonya. Como todo o resto, Emily precisava reconhecer o óbvio. Sonya não tinha as características óbvias de um Strigoi. Além disso, ela estava lá fora em plena luz do dia. Emily vacilou e abriu sua boca para falar, mas seus lábios não conseguiam fazer isso. Ela finalmente se virou para mim.

“Rose... o que está acontecendo?” Eu fiquei surpresa por ela me considerar uma autoridade, tanto por termos

acabado de nos conhecermos e por eu também não ter certeza do que estava acontecendo. Precisei de algumas tentativas para encontrar a minha voz. “Eu acho... acho que devíamos entrar...”

O olhar de Emily caiu novamente em Sonya. Jill tentou passar pra frente

para ver o que era todo esse drama, mas Emily continuava bloqueando a porta, ainda não totalmente convencida de que era seguro. Eu não podia culpá-la. Por fim, ela aquiesceu lentamente e saiu da frente para nos dar acesso.

Os olhos de Sydney foram na direção do carro, onde Victor, Robert e Dimitri

estavam esperando. “E eles?” ela me perguntou. Eu hesitei. Eu queria que Dimitri estivesse comigo quando eu largasse a

bomba, mas Emily podia ser capaz de aguentar só uma coisa de cada vez aqui. Os Moroi não tinham que estar nos círculos da realeza para saber quem era Victor Dashkov ou como ele se parecia. Nossa viagem à Las Vegas tinha sido a prova disso. Eu balancei minha cabeça para Sydney. “Eles podem esperar.”

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Nos ajeitamos na sala de estar da família e descobrimos que o cara que atendeu a porta era o marido de Emily, John Mastrano. Emily fez menção de nos oferecer bebidas, como se essa fosse uma visita completamente normal, mas um olhar em seu rosto confirmava que ela ainda estava em choque. Ela nos entregou nossos copos de água como um robô, seu rosto tão pálido que ela poderia ser uma Strigoi.

John colocou sua mão sobre a de Emily quando ela se sentou. Ele

continuava nos dando olhares cautelosos mas, para ela, era só afeição e preocupação. “O que está acontecendo?”

Os olhos de Emily ainda estavam espantados. “Eu... não sei. Minha prima

está aqui... mas eu não entendo como...” Ela olhou de mim para Sydney e então para Sonya, e voltou. “Como isso é possível?” Sua voz tremeu.

“Foi Lissa, não foi?” exclamou Jill, que sem dúvidas conhecia a história

sórdida dessa parente. Ela estava compreensivelmente chocada – e um pouco nervosa – mas animação começou a aparecer. “Eu ouvi o que houve com Dimitri. É verdade, não é? Lissa pode curar Strigoi. Ela salvou ele. Ela salvou...” Jill se virou para Sonya, o entusiasmo enfraquecendo um pouco. Me perguntei que tipo de histórias ela teria ouvido sobre Sonya. “Ela salvou você.”

“Lissa não fez isso,” eu disse. “Outro, hã, usuário de espírito fez.” O rosto de Jill se iluminou. “Adrian?” Eu tinha esquecido da paixonite que

ela tinha por ele. “Não... outro. Não é importante,” eu acrescentei apressadamente. “Sonya...

bem, ela é uma Moroi de novo. Mas está confusa. Não é bem ela mesma.” Sonya estava aproveitando a visão de sua prima mas agora se virou para

mim com um sorriso torto e conhecedor. “Eu posso falar por mim mesma, Rose.”

“Desculpa,” eu disse. Emily virou-se para Sydney e fez uma careta. Elas foram apresentadas e

mais nada. “Por que está aqui?” Emily não precisava dizer o que ela realmente queria saber. Ela queria saber por que uma humana estava aqui. “É uma alimentadora?”

“Não!” exclamou Sydney, pulando do seu lugar no sofá. Eu nunca tinha visto

ela tão ultrajada e enojada. “Diga isso de novo, e eu vou sair na mesma hora! Sou uma Alquimista.”

Page 265: Last sacrifice academia de vampiros

Ela foi respondida com olhares vazios, e eu puxei Sydney de volta para o seu

lugar. “Calma, menina. Eu acho que eles não sabem o que é uma Alquimista.” Eu estava secretamente feliz por isso. Quando eu descobri sobre os Alquimistas pela primeira vez, eu pensei que fosse a última pessoa no mundo a saber. Era legal saber que havia outros fora das notícias também. Mantendo as coisas simples por enquanto, eu expliquei para Emily, “Sydney está nos ajudando.”

Lágrimas surgiram nos olhos azuis de Emily enquanto ela se virava

novamente para sua prima. Emily Mastrano era uma das mulheres mais estonteantes que eu já conheci. Até as lágrimas eram bonitas nela. “É mesmo você, não é? Eles a trouxeram de volta para mim. Ah, Deus.” Emily levantou e caminhou até sua prima para segurá-la em um abraço firme. “Senti tanto a sua falta. Não acredito nisso.”

Eu quase senti vontade de chorar também, mas me lembrei severamente de

que estávamos em uma missão. Eu sabia o quão assustador isso era. Nós havíamos virado o mundo da família Mastrano de cabeça para baixo... e eu estava prestes a complicar as coisas mais ainda. Eu odiava ter que fazer isso. Eu desejei ter o tempo que eles precisavam para se ajustar, para celebrar o milagre de ter Sonya de volta. Mas os ponteiros do relógio na Corte – e na minha vida – estavam se mexendo.

“Trouxemos ela...” eu disse por fim. “Mas tem outro motivo para estarmos

aqui.” Eu não sei o que o tom de minha voz transmitia, mas Emily endureceu e se

afastou de Sonya, sentando-se junto de seu marido. De alguma forma, naquele momento, eu acho que ela sabia por que estávamos aqui. Eu podia ver nos seus olhos que ela estava com medo – como se ela estivesse odiando esse tipo de visita por anos, como se tivesse imaginado cem vezes.

Eu avancei. “Nós sabemos... nós sabemos sobre Eric Dragomir.” “Não,” disse Emily, sua voz uma mistura estranha de dureza e desespero.

Sua maneira obstinada era extraordinariamente parecida com a negativa inicial de Sonya em nos ajudar. “Não. Não vamos fazer isso.”

No instante em que eu vi Jill, no instante em que eu reconheci aqueles

olhos, eu soube que tínhamos achado o lugar certo. As palavras de Emily – mais importante, sua falta de negação – confirmaram.

“Precisamos,” eu disse. “Isso é sério.”

Page 266: Last sacrifice academia de vampiros

Emily se voltou para Sonya. “Você prometeu! Prometeu que não contaria!” “Eu não contei,” ela disse, mas seu rosto tinha aquela dúvida anterior. “Ela não contou,” eu disse com firmeza, esperando reassegurar as duas. “É

difícil de explicar... mas ela manteve a promessa.” “Não,” repetiu Emily. “Isso não pode estar acontecendo. Não podemos falar

sobre isso.” “O que... o que está acontecendo?” exigiu saber John. Havia raiva em seus

olhos. Ele não gostava de ver estranhos incomodando sua esposa. Eu dirigi minhas palavras para Emily. “Nós temos que falar sobre isso. Por

favor. Precisamos de sua ajuda. Precisamos da ajuda dela.” Eu indiquei Jill com um gesto.

“O que você quer dizer?” perguntou Jill. Seu tom ansioso havia sumido,

resfriado pela reação de sua mãe. “É sobre sua –” Eu parei. Eu corri nisso, tentando achar o irmão de Lissa –

ou melhor, sua irmã, como agora sabíamos – sem pensar no que isso implicava. Eu devia saber que isso seria um segredo guardado de todos – inclusive da criança em questão. Eu não havia considerado no choque que isso seria para ela. E não era só um estranho aleatório. Era Jill. Minha amiga. A menina que era como uma irmãzinha para todos nós, aquela que nós cuidávamos. O que eu estava prestes a fazer com ela? Olhando para John, percebi que as coisas eram ainda piores. Será que Jill pensava que ele era seu pai? Aquela família ia ser chacoalhada em seu âmago – e eu era a responsável.

“Não!” gritou Emily, saltando de pé mais uma vez. “Saiam daqui! Todos

vocês! Eu não quero vocês aqui!” “Senhora Mastrano...” eu comecei. “Você não pode fingir que isso não é de

verdade. Você precisa encarar.” “Não!” ela apontou para a porta. “Saia! Saia ou eu... eu vou chamar a

polícia! Ou os guardiães! Você...” Percepção brilhou na mente dela agora que o choque inicial de ver Sonya havia passado. Victor não era o único criminoso do qual os Moroi estavam se resguardando. “Você é uma fugitiva! Uma assassina!”

“Ela não é!” disse Jill, se inclinando para frente. “Eu já disse, mãe. Eu disse

que isso era um erro –”

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“Saia,” repetiu Emily. “Nos mandar embora não vai mudar a verdade,” eu disse, me forçando a

ficar calma. “Alguém poderia me dizer que diabos está acontecendo?” O rosto de John

estava vermelho, irritado e defensivo. “Se eu não tiver uma resposta em trinta segundos, vou chamar os guardiões e a polícia.”

Eu olhei para Jill e não consegui falar. Eu não sabia como dizer o que

precisava, não com tato. Sydney, entretanto, não tinha esse problema. “Ele não é seu pai,” ela disse curta e grossa, apontando para John. Houve uma leve pausa na sala. Jill parecia quase desapontada, como se

esperasse notícias mais excitantes. “Eu sei disso. Ele é meu padrasto. Bem, meu pai, até onde eu me importo.” Emily afundou de novo no sofá, afundando o rosto nas mãos. Ela parecia

estar chorando, mas eu tinha certeza de que poderia pular a qualquer momento e chamar as autoridades. Precisávamos fazer isso logo, não importaVA o quanto doesse.

“Certo. Ele não é seu pai biológico,” eu disse, olhando firmemente para Jill.

Os olhos. Como eu nunca percebi os olhos. “Esse seria Eric Dragomir.” Emily soltou um lamento baixo. “Não,” ela implorou. “Por favor, não faça

isso.” A raiva de John se transformou na confusão que parecia estar tão na moda

nessa sala. “Quê?” “Isso... não.” Jill balançou a cabeça lentamente. “Isso é impossível. Meu pai

é só... um cara que nos abandonou.” De certa forma, isso não deixava de ser verdade, eu imaginei. “Era Eric

Dragomir,” eu disse. “Você é parte da família deles. A irmã de Lissa. Você é...” eu espantei a mim mesma, percebendo como deveria olhar para Jill de uma forma completamente nova. “Você é da realeza.”

Jill estava sempre cheia de energia e otimismo, operando em um mundo de

esperança inocente e charme. Mas agora, seu rosto estava sinistro e sóbrio,

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fazendo ela parecer mais velha do que seus quinze anos. “Não. Isso é uma piada. Meu pai era um qualquer. Eu não... não. Rose, pare.”

“Emily.” Eu estremeci com o som da voz de Sonya, surpresa em ouvir ela

falar. Eu estava mais surpresa ainda com a expressão. Autoritária. Séria. Determinada. Sonya era mais nova que Emily por – por quanto? Dez anos, se eu tivesse que adivinhar. Mas Sonya fixou um olhar em sua prima que fez Emily parecer uma criança levada. “Emily, é hora de desistir disso. Você precisa contar para ela. Pelo amor de Deus, você tem que contar para John. Você não pode mais deixar isso enterrado.”

Emily olhou para cima e encontrou o olhar de Sonya. “Eu não posso contar.

Você sabe o que vai acontecer... eu não posso fazer isso com ela.” “Nenhum de nós sabe o que vai acontecer,” disse Sonya. “Mas as coisas vão

piorar se você não tomar o controle agora.” Após um longo momento, Emily finalmente desviou seu olhar, olhando para

o chão. Aquele olhar tão, tão triste em seu rosto partiu meu coração. E não só o meu.

“Mãe?” perguntou Jill, a voz tremendo. “O que está acontecendo? Isso tudo

é uma grande confusão, não é?” Emily suspirou e olhou para a sua filha. “Não. Você é a filha de Eric

Dragomir. Rose está certa.” John fez um som baixo e estrangulado, mas não interrompeu sua esposa. Ela apertou a mão dele de novo. “O que eu contei para vocês dois por anos... era verdade. A maioria. Nós tivemos só uma curta... relação. Não era exatamente barata. Mas breve.” Ela parou e olhou para John dessa vez, sua expressão se suavizando. “Eu disse a você...”

Ele aquiesceu. “E eu disse a você que o passado não me importava. Nunca

afetou como eu me sentia com relação a você, a Jill. Mas eu nunca imaginei...” “Nem eu,” ela concordou. “Eu nem sabia quem ele era quando nos

encontramos pela primeira vez. Era quando eu vivia em Las Vegas e tinha meu primeiro emprego, dançando em um show no Witching Hour.”

Senti meus olhos se arregalarem. Ninguém pareceu notar. O Witching Hour.

Meus amigos e eu tínhamos ido até esse cassino enquanto caçávamos Robert, e um homem havia feito piada sobre o pai de Lissa ter sido interessado nas dançarinas. Eu sabia que Emily trabalhava em uma companhia de balé em Detroit agora; era por isso que eles viviam em Michigan. Eu nunca teria imaginado que ela era uma dançarina coberta de penas e lantejoulas em um

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show de Las Vegas. Mas por que não? Ela tinha que começar em algum lugar, e seu corpo alto e gracioso poderia servir para qualquer tipo de dança.

“Ele era tão doce... e triste,” Emily continuou. “Seu pai tinha acabado de

morrer, e ele tinha ido para afogar as dores. Eu entendia como uma morte podia devastá-lo, mas agora... bem, eu realmente entendo. Era outra perda para sua família. Seus números estavam caindo.” Ela fez um muxoxo pensativa e deu de ombros. “Ele era um homem bom, e eu acho que realmente amava a sua mulher. Mas ele estava em um lugar escuro e baixo. Eu não acho que ele estava me usando. Ele se importava comigo, embora eu duvide que o que aconteceu conosco teria ocorrido em outras circunstâncias. De qualquer forma, eu estava bem com a forma como as coisas terminaram e contente em seguir adiante com a minha vida... até que Jill veio. Eu contatei Eric porque achei que ele devia saber – embora eu tenha deixado claro que não esperava nada dele. E, àquelas alturas, sabendo quem ele era, eu não queria nada. Se eu deixasse, eu acho que ele teria reconhecido você, teria um papel em sua vida,” os olhos de Emily estavam em Jill agora. “Mas eu vi como aquele mundo era. A vida na Corte é política e mentiras e traições. No final, a única coisa que eu aceitaria dele era seu dinheiro. Eu ainda não queria isso. Eu não queria me sentir como se estivesse chantageando ele – mas eu queria me certificar de que seu futuro estava seguro.”

Eu falei sem pensar. “Vocês não vivem como quem está usando o dinheiro.”

Eu me arrependi dessas palavras assim que elas saíram. A casa deles era perfeitamente boa, nada a ver com as profundezas da pobreza. Mas também não batia com os fundos que eu vi serem movidos naquelas contas bancárias.

“Eu não estou,” disse Emily. “Está lá para emergências, é claro, mas a

maioria eu separei para Jill, para o seu futuro. Para ela fazer qualquer coisa que ela queira.”

“Do que vocês estão falando?” perguntou Jill, apavorada. “De que dinheiro

vocês estão falando?” “Você é uma herdeira,” eu disse. “E da realeza.” “Eu não sou nada disso,” ela respondeu. Ela estava inquieta agora, olhando

em volta para todos nós. Ela me lembrava um cervo, pronto para fugir. “Tem um erro. Vocês todos cometeram um erro.”

Emily ficou de pé e caminhou até a cadeira de Jill, se ajoelhando no chão

diante dela. E então, ela agarrou a mão de sua filha. “Isso é tudo verdade. E sinto muito por você ter que descobrir assim. Mas isso não muda nada. Nossas vidas não vão mudar. Vamos seguir em frente como antes.”

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Um leque de emoções correu pelo rosto de Jill – especialmente medo e

confusão – mas ela se inclinou e enterrou o rosto no ombro da mãe em aceitação. “Ok.”

Era um momento tocante e, mais uma vez, eu estava quase chorando. Eu

tinha a minha quota de drama familiar e problemas com os pais. Como antes, eu queria que os Mastrano tivessem esse momento – mas eles não podiam.

“Você não pode,” eu contei a eles. “Vocês não podem continuar como

antes. Jill... Jill tem que ir até a Corte.” Os olhos de Emily saltaram de sua filha e fixaram-se em mim. Um segundo

atrás, Emily estava cheia de tristeza e confusão. Agora, eu via ódio intenso e ferocidade. Seus olhos azuis estavam tempestuosos, fixos em mim num encarar afiado. “Não. Ela não vai para lá. Ela nunca vai ir.”

Jill já havia visitado a Corte antes, mas tanto eu quanto Emily sabíamos que

eu não me referia a uma visita turística casual. Jill tinha que ir com a sua verdadeira identidade. Bem – talvez verdadeira não fosse a palavra certa. Realeza ilícita não era parte da realidade ela, ao menos ainda não. Ela era quem ela sempre foi, mas seu nome tinha mudado. Essa mudança tinha que ser reconhecida, e o mundo Moroi seria balançado.

“Ela precisa,” eu reafirmei. “A Corte está sendo corrompida, e a família

Dragomir tem que fazer a sua parte para consertar as coisas. Lissa não tem poder sozinha, não sem um quorum familiar. Todos os outros nobres... eles estão passando por cima dela. Eles vão forçar leis que não vão ajudar nenhum de nós.”

Emily ainda estava ajoelhada na frente da cadeira, como se quisesse

proteger Jill de nós. “E é exatamente por isso que Jill não pode ir. É a razão pela qual eu não deixei Eric reconhecer ela. Não quero Jill envolvida. Esse lugar é venenoso. O assassinato de Tatiana é a prova.” Emily parou e me lançou um olhar afiado, me lembrando que eu era a principal suspeita. Aparentemente, ainda não havíamos superado isso. “Todos esses nobres... eles são viciosos. Eles não querem Jill se tornando um deles. Eu não vou deixar ela se tornar um deles.”

“Nem todos os nobres são assim,” eu argumentei. “Lissa não é. Ela está

tentando mudar o sistema.” Emily deu um sorriso amargo. “E como você acha que os outros se sentem

com relação à reforma dela? Eu tenho certeza de que há nobres felizes em vê-la

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silenciosa – nobres que não querem ver a família se reerguer. Eu contei a você: Eric era um homem bom. Às vezes, acho que não foi coincidência a família toda ter morrido.”

Eu engasguei. “Isso é ridículo.” Mas, de repente, eu não tinha mais tanta

certeza. “É mesmo?” Os olhos de Emily estavam em mim, adivinhando as minhas

dúvidas. “O que vocês acham que eles iam fazer se outro Dragomir surgisse? As pessoas que se opõe a Vasilisa? O que você acha que eles fariam se uma única pessoa ficasse entre eles e o poder da família dela?”

Suas insinuações eram chocantes... mas, mesmo assim, não eram

impossíveis. Olhando para Jill, eu senti um vazio em meu estômago. A que eu estaria sujeitando ela? A doce, inocente Jill. Jill queria aventura em sua vida e mal conseguia falar com rapazes sem corar. Seu desejo em aprender a lutar era metade impulso juvenil e metade instinto em defender seu povo. Pisar no mundo nobre poderia tecnicamente ajudar seu povo também – mas não de uma forma que ela já tenha imaginado. E significava se envolver na natureza escura e sinistra que preenchia a Corte algumas vezes.

Emily pareceu entender meu silêncio como concordância. Um misto de

triunfo e alívio cruzou seu rosto, os quais sumiram imediatamente quando Jill subitamente falou.

“Eu vou fazer.” Todos nos viramos espantados. Até então, eu tinha tratado ela com

piedade, pensando nela como uma vítima. Agora, estava impressionada com o quão brava e resolvida ela parecia. Sua expressão ainda guardava um pouco de medo e choque, mas havia uma firmeza nela que eu nunca havia visto antes.

“O quê?” exclamou Emily. “Eu vou fazer isso,” disse Jill, voz mais firme. “Vou ajudar Lissa e... e os

Dragomirs. Eu vou voltar para a Corte com Rose.” Eu decidi que mencionar a miríade de dificuldades que eu teria em ir para

qualquer lugar perto da Corte não era importante naquele momento. Honestamente, eu havia alcançado um ponto em que tudo o que eu fazia ali era ouvir, embora fosse um alívio ver a fúria de Emily se desviar de mim.

“Você não vai! Eu não vou deixar você chegar perto de lá!”

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“Você não pode fazer essa escolha por mim!” gritou Jill. “Eu não sou uma criança.”

“Você certamente não é adulta,” devolveu Emily. As duas começaram a discutir, e John logo saltou para auxiliar sua esposa.

No meio da briga familiar, Sydney se inclinou em minha direção e murmurou, “aposto que você nunca pensou que a parte mais difícil em achar nosso ‘salvador’ seria fazer sua mãe deixá-la ficar de pé até tarde.”

A parte triste sobre a piada dela é que era meio que verdade. Precisávamos

de Jill, e eu certamente não antevi essa complicação. E se Emily recusasse? Obviamente, manter a linhagem de Jill em segredo foi algo em que ela foi bem inflexível por um tempo – algo como, digamos, quinze anos. Eu tinha a sensação de que de Jill não excluiria a possibilidade de fugir para a Corte se necessário. E eu não excluiria a possibilidade de ajudá-la.

Mais uma vez, Sonya entrou na conversa inesperadamente. “Emily, você

não me ouviu? Tudo isso ia acontecer eventualmente, com ou sem o seu consentimento. Se você não deixar Jill ir agora, ela vai semana que vem. Ou ano que vem. Ou em cinco anos. O ponto é, isso vai acontecer.”

Emily afundou de novo em sua cadeira, o rosto desabando. “Não. Eu não

quero isso.” O rosto bonito de Sonya se tornou amargo. “A vida, infelizmente, não

parece se importar com o que queremos. Aja agora enquanto pode realmente impedir isso de se tornar um desastre.”

“Por favor, mãe,” implorou Jill. Seus olhos cor-de-jade típicos de uma

Dragomir demonstravam seu afeto por Emily. Eu sabia que Jill podia mesmo desobedecer e fugir – mas ela não queria, não se não precisasse.

Emily olhou para o vazio, seus olhos de cílios longos vazios e derrotados. E,

embora ela estivesse atrapalhando meus planos, eu sabia que ela fazia isso por amor e preocupação legítima – traços que provavelmente atraíram Eric para ela.

“Está certo,” disse Emily enfim. Ela suspirou. “Jill pode ir – mas eu vou junto.

Você não vai encarar aquele lugar sem mim.” “Ou a mim,” disse John. Ele ainda parecia espantado mas estava

determinado a ajudar sua esposa e filha adotiva. Jill olhou para ambos com gratidão, me lembrando de novo que eu deixei desfuncional uma família funcional. Emily e John vindo conosco não fazia parte dos meus planos, mas eu

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não podia culpá-los e não via que mal eles podiam causar. E precisaríamos mesmo de Emily para contar a todos sobre Eric.

“Obrigada,” eu disse. “Muito obrigada.” John olhou para mim. “Ainda não lidamos com o fato de haver uma fugitiva

em nossa casa.” “Não foi a Rose!” Aquela firmeza ainda estava em Jill. “Tramaram para ela.” “Sim,” eu hesitei em dizer minhas próximas palavras. “Possivelmente pelas

pessoas que se opõe à Lissa.” Emily ficou pálida, mas eu sentia a necessidade de ser honesta, mesmo que

isso reafirmasse seus medos. Ela respirou fundo para se restabelecer. “Eu acredito em você. Acredito que não fez aquilo. Eu não sei por que... mas eu acredito.” Ela quase sorriu. “Não, eu sei por quê. É por causa do que eu disse antes, daquelas víboras na Corte. São eles que fazem esse tipo de coisa. Não você.”

“Tem certeza?” perguntou John desconfortável. “Essa confusão com a Jill é

ruim o bastante sem que nós abriguemos uma criminosa.” “Eu tenho certeza,” disse Emily. “Sonya e Jill acreditam em Rose, então eu

também. Você é bem vinda para passar a noite aqui já que dificilmente poderemos ir à Corte agora.”

Eu abri a boca para dizer que certamente poderíamos partir agora, mas

Sydney me deu uma cotovelada. “Obrigada, senhora Mastrano,” ela disse, invocando aquela diplomacia Alquimista. “Seria ótimo.”

Eu reprimi uma careta. O tempo ainda me pressionava, mas eu sabia que os

Mastranos iam precisar fazer preparações. Provavelmente, também seria melhor viajar durante o dia. Uma análise rápida no meu mapa mental dizia que ainda podíamos fazer toda a viagem até a Corte em um dia. Eu acenei a cabeça em concordância com a Sydney, me resignando a dormir na casa dos Mastrano.

“Obrigada. Nós apreciamos isso.” De repente, algo me ocorreu, convocando

de volta as palavras de John. Essa confusão com a Jill é ruim o bastante sem que nós abriguemos uma criminosa. Eu dei a Emily o sorriso mais convincente e reconfortante que consegui. “Nós, hã, também temos alguns amigos nos esperando no carro...”

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VINTE E QUATRO CONSIDERANDO SEU ANTAGONISMO ANTERIOR, eu estava um pouco

surpresa por ver Sonya e Robert combinarem seus poderes para criarem uma ilusão sobre os irmãos Dashkov. Obscureceu sua aparência, e combinando com nomes falsos, a família Mastrano só assumiu que os caras eram parte de nossa caravana. Considerando o estresse e revelações acontecendo na casa, algumas pessoas a mais não parecia ser a preocupação dos Mastranos.

Bancando os bons anfitriões Moroi, não foi o bastante só fazer o jantar.

Emily também conseguiu um alimentador – em um tipo de ‘serviço de entrega de sangue’. Normalmente, Moroi que viviam fora das áreas de abrigo e se misturavam com humanos tinham acesso a uma secreta sala de alimentadores. Normalmente, esses alimentadores tinham um guarda, um Moroi que fazia dinheiro com o serviço. Era comum para Moroi simplesmente aparecer na casa do dono do ‘alimentador’, mas nesse caso, Emily tinha feito arranjos para que o alimentador fosse trazido a sua casa.

Ela o fez como cortesia, o que ela faria para qualquer convidado Moroi –

mesmo aqueles que estavam trazendo notícias que ela temeu receber por quase toda sua vida. Pouco sabia o quão desesperadamente bem vindo foi o sangue trazido para os Moroi que trouxemos junto. Eu não me importava com os irmãos sofrendo por uma fraqueza, mas Sonya definitivamente precisava de sangue se ia continuar a se recuperar.

De fato, quando o alimentador e o guarda apareceram, Sonya foi a primeira

a beber. Dimitri e eu tivemos que ficar fora de vista no andar superior. Sonya e Robert podia usar apenas uma certa quantidade de ilusão por espírito, e esconder a identidade de Robert e Victor do alimentador dos Moroi era imperativo. Obscurecer Dimitri e eu seria demais, e considerando nosso status de procurados, era essencial que não nos arriscássemos.

Deixar os irmãos sem supervisão deixou Dimitri e eu nervosos, mas os dois

pareciam desesperados demais por sangue para tentar algo. Dimitri e eu queríamos nos limpar de qualquer forma, já que não tivemos tempo de tomar banho essa manhã. Jogamos cara ou coroa, e eu fui primeiro. Só que quando eu terminei e estava pegando minhas roupas, eu descobri que meu visual casual limpo tinha acabado e só tinha o vestido que Sydney tinha incluído na mochila. Eu fiz uma careta mas achei que não ia machucar usar um vestido por uma noite. Não íamos fazer muito mais do que esperar pela partida de amanhã, e talvez Emily me deixasse lavar roupas antes de partirmos. Depois de arrumar decentemente meu cabelo com o secador, eu finalmente me senti civilizada de novo.

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Sydney e eu tínhamos um quarto para dividir, e os irmãos ocupavam outro. Sonya ia ficar no quarto de Jill, e Dimitri no sofá. Eu não duvidei por um segundo que ele patrulharia os corredores da casa e que eu ia trocar de turno com ele. Por agora, ele ainda estava tomando banho, e eu fui para o corredor espiando pelo corrimão para checar o primeiro andar. Os Mastranos, Sonya, e os irmãos estavam reunidos com o alimentador e seu guarda. Nada parecia estranho. Aliviada, eu voltei para meu quarto e usei o tempo extra para checar Lissa.

Depois da excitação inicial por ter passado no teste, eu senti ela se acalmar

e assumi que ela estava dormindo. Mas, não. Ela não foi dormir. Ela levou Eddie e Christian até Adrian, e eu percebi que foi ela que o acordou do sonho que eu partilhei com ele no carro. Um deslumbre de suas memórias anteriores me deu um replay do que tinha acontecido desde que ela passou pela porta.

“O que está acontecendo?” ele perguntou, olhando cada um. “Eu estava

tendo um bom sonho.” “Preciso de você,” disse Lissa. “Eu ouço muito isso das mulheres,” disse Adrian. Christian fez um som de

engasgo, mas um fraco sorriso apareceu nos lábios de Eddie, apesar de sua entrada de guardião.

“É sério,” ela disse a ele. “Recebi outra mensagem de Ambrose. Ele tem algo

importante para nos dizer, e... eu não sei. Não tenho certeza do papel dele em tudo isso. Quero outro par de olhos nele. Eu quero sua opinião.”

“Isso,” disse Adrian, “não é algo que ouço com frequência.” “Só anda logo e se veste, ok?” ordenou Christian. Honestamente, era admirável que alguém ainda estivesse dormindo,

considerando o quão frequentemente éramos acordados. Adrian ainda sim se vestiu rapidamente, e apesar de seus comentários, eu sabia que ele estava interessado em qualquer coisa para limpar meu nome. O que eu não tinha certeza era se ele contaria a alguém sobre a confusão que me meti, agora que eu estraguei tudo e revelei uma parte das minhas verdadeiras atividades.

Meus amigos correram até o prédio que visitaram antes, o que Ambrose

vivia e trabalhava. A Corte tinha acordado e as pessoas estavam passando, muitas sem dúvidas querendo descobrir algo sobre o segundo teste do monarca. Na verdade, algumas pessoas vendo Lissa gritaram saudações.

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“Eu tive outro teste hoje à noite,” Lissa disse a Adrian. Alguém tinha acabado de parabenizá-la. “Um inesperado.”

Adrian hesitou, e eu esperei ele dizer o que já sabia disso por mim. Eu

também esperei ele revelar as chocantes notícias sobre minha atual companhia e paradeiro. “Como foi?” ele perguntou, ao invés disso.

“Passei,” ela respondeu. “É o que importa.” Ela não conseguia contar a ele sobre a torcida das pessoas, aqueles que não

simplesmente a apoiavam por causa da lei mas porque eles realmente acreditavam nela. Tasha, Mia, e alguns amigos surpresa da escola estavam entre a multidão, a parabenizando. Até Daniella, ali para esperar a vez de Rufus, parabenizou Lissa, parecendo surpresa por Lissa tem conseguido. Toda a experiência foi surreal, e Lissa simplesmente queria sair de lá.

Eddie foi chamado para ajudar outros guardiões, apesar de seus protestos

de que era a escolta de Lissa. Então, Christian e Tasha acabaram tendo que levar Lissa para casa sozinhos. Bem, na maior parte sozinhos. Um guardião chamado Ethan Moore se juntou a eles, o que Abe tinha provocado Tasha. Abe exagerava as coisas, mas ele tinha razão dessa vez. Ele a adorava. Ela claramente gostava dele também e foi flertando pelo caminho – para o desconforto de Christian. Eu achei fofo. Alguns caras provavelmente não se aproximariam de Tasha por causa de sua cicatriz. Era bom ver alguém que a apreciava por seu caráter, não importava o quão enojado estava Christian pela ideia de qualquer pessoa sair com sua tia. Eu na verdade gostei de ver Christian tão obviamente atormentado. Era bom pra ele.

Ethan e Tasha partiram assim que Lissa estava segura em seu quarto. Em

minutos, Eddie voltou, murmurando sobre como eles o atrasaram com uma ‘tarefa podre’ quando sabiam que ele tinha coisas a fazer. Ele aparentemente fez tamanha confusão que eles o finalmente deixaram ir, para poder voltar ao lado de Lissa. Ele chegou 10 minutos antes da chegada do bilhete de Ambrose, o que foi um tempo de sorte. Eddie teria surtado se chegasse em seu quarto e ela não estivesse. Ele ia achar que um Strigoi a tinha sequestrado.

Essa foi a série de eventos que os trouxe ao que estava acontecendo agora:

Lissa e três caras indo ter um encontro secreto com Ambrose. “Você chegou cedo,” ele disse, os deixando entrar antes de Lissa sequer

bater uma segunda vez. Eles estavam dentro do quarto de Ambrose, não um chique salão para clientes. Parecia um dormitório – um muito bom. Muito melhor do que o meu. A atenção de Lissa estava em Ambrose, então ela não notou, mas com o canto de seus olhos, Eddie rapidamente escaneou o quarto.

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Eu estava feliz por ele estar pronto e supus que ele não confiava em Ambrose – ou em qualquer um de fora do nosso circulo.

“O que está acontecendo?” perguntou Lissa, assim que Ambrose fechou a

porta. “Porque a visita urgente?” “Porque eu tenho que te mostrar algo,” ele disse. Em sua cama havia uma

pilha de papéis, e ele pegou o do topo. “Lembra quando eu disse que eles estavam guardando os pertences de Tatiana? Bem, agora eles estão fazendo o inventário e removendo tudo.” Adrian se remexeu desconfortável – de novo, algo que só eu notei. “Ela tinha um cofre onde mantinha documentos importantes – secretos, obviamente. E...”

“E?” disse Lissa. “E, eu não queria que ninguém os encontra-se,” Ambrose continuou. “E eu

não sabia o que era a maioria deles, mas se ela queria que eles fossem segredo... eu só senti que eles deveriam permanecer assim. Eu sabia a combinação, então... os roubei.” Culpa brilhou em seu rosto, mas não era a culpa de um assassino. Era a culpa pelo roubo.

Os olhos de Lissa se tornaram ansiosos. “E?” “Nenhum deles tem nada haver com o que você está procurando... a não

ser talvez um.” Ele entregou a ela um pedaço de papel. Adrian e Christian se aproximaram dela.

Querida Tatiana, Estou um pouco surpreso por ver como se desenrolaram as últimas

novidades. Achei que tínhamos um entendimento de que a segurança do nosso povo requer mais do que apenas trazer guardiões mais jovens. Deixamos muitos deles partir, em especial as mulheres. Se você tomar medidas e os forçar a voltar – e você sabe do que estou falando – a quantidade de guardiões aumentaria e muito. Essa atual lei é completamente inadequada, particularmente depois de ver como sua experiência de ‘treinamento’ falhou.

Estou igualmente chocado por saber que você está considerando soltar

Dimitri Belikov. Eu não entendo exatamente o que aconteceu, mas você não pode confiar nas aparências. Você pode estar libertando um monstro – ou no mínimo, um espião – em nosso meio, e ele precisa ficar numa guarda muito mais restrita do que a atual. Na verdade, seu suporte continuo do estudo de espírito é perturbador e sem duvidas levou a essa situação nada natural. Eu acredito que existe um motivo para esse elemento ter sido perdido por nós há tanto tempo: nossos ancestrais perceberam o quão perigoso e carimbado ele é. Abery Lazar é

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prova disso, e sua prodígio, Vasilisa Dragomir, certamente será a próxima. Ao encorajar Vasilisa, você encoraja a degradação da linhagem dos Dragomirs, uma linhagem que deveria poder desaparecer na história com honra e não em desgraça da insanidade. Seu apoio a ela também pode por seu próprio sobrinho-neto em risco, algo que nenhum de nós gostaria de ver acontecer.

Sinto muito por te enterrar em tanta condenação. Eu tenho uma enorme

consideração por você e não tenho nada a não ser respeito pela forma que você governou nosso povo nesses longos anos. Tenho certeza que você logo chegará na decisão apropriada – embora me preocupe que outros não partilhem de minha confiança em você. É dito que as pessoas podem tentar fazer as coisas com suas próprias mãos, e eu temo pelo que pode se seguir.

A carta foi digitada e não estava assinada. Por um momento, Lissa não

conseguiu processar tudo. Ela estava completamente consumida pela parte sobre a linhagem caída dos Dragomir´s partir em desgraça. Era muito parecido com o que ela tinha visto em seu teste.

Foi Christian que chamou sua atenção. “Bem. Parece que Tatiana tinha

inimigos. Mas acho que isso era óbvio nesse ponto do jogo.” “De quem é?” exigiu Adrian. Seu rosto estava negro, furioso com a ameaça

sobre sua tia. “Não sei,” disse Ambrose. “Foi assim que encontrei. Talvez nem ela

soubesse quem o enviou.” Lissa acenou concordando. “Certamente tem um ar de anônimo... e ainda

sim, ao mesmo tempo, eu sinto que deve ser alguém que Tatiana conhecia bem.”

Adrian deu a Ambrose um olhar suspeito. “Como saber se você mesmo não

simplesmente digitou e jogou isso para nós?” “Adrian,” reprovou Lissa. Ela não disse, mas ela estava esperando fazer

Adrian sentir a aura de Ambrose para qualquer coisa que ela pudesse não estar detectando.

“Isso é loucura,” disse Christian, dando um tapinha no papel. “A parte sobre

reunir dhampir e os forçar a serem guardiões. O que você acha que isso significa – as “ações” que Tatiana sabia?”

Eu sabia por que eu fui avisada muito mais cedo. Compulsão, o bilhete de

Tatiana dizia.

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“Não tenho certeza,” disse Lissa. Ela releu a carta para si mesma. “E quanto à parte do ‘experimento’? você acha que são as sessões de treinamento que Grant estava fazendo com os Moroi?”

“Foi o que pensei,” disse Ambrose. “Mas não tenho certeza.” “Podemos ver o resto?” perguntou Adrian, gesticulando em direção aos

papéis. Eu não sabia dizer se as suspeitas dele eram legitima desconfiança com Ambrose ou só o resultando do quão chateado o assassinato de sua tia o deixou.

Ambrose entregou os papéis, mas depois de passar pelas páginas, Lissa

concordou: não havia nada neles. Os documentos na maior parte consistiam em coisas jurídicas e correspondência pessoal. Ocorreu a Lissa – e a mim também – que Ambrose poderia não estar mostrando tudo que encontrou. Não havia como provar isso por enquanto. Segurando um bocejo, ela o agradeceu e partiu com os outros.

Ela estava querendo dormir, mas sua mente não conseguia se impedir de

analisar as possibilidades da carta. Se era legitima. “A carta deixa claro que alguém tinha muito mais motivos para estar

irritado com Tatiana do que Rose,” observou Christian quando estavam indo em direção a saída do prédio. “Tia Tasha disse uma vez que raiva baseada em motivos calculados é mais perigoso do que raiva baseado num ódio cego.”

“Sua tia é uma filosofa,” disse Adrian. “Mas tudo que temos ainda é

circunstancial.” Ambrose deixou Lissa ficar com a carta, e ela a dobrou e colocou no bolso

do seu jeans. “Estou curiosa com o que Tasha dirá sobre isso. E Abe também.” Ela suspirou. “Eu queria que Grant ainda estivesse vivo. Ele era um bom homem – e podia ter alguns comentários sobre isso.”

Eles chegaram na saída lateral do andar principal, e Eddie abriu a porta para

eles. Christian olhou para Lissa quando saíram. “O quão próximos eram Grant e Serena –”

Eddie se moveu numa fração de segundo antes de Lissa ver o problema,

mas é claro, Eddie já estava preparado para problemas. Um homem – um Moroi, na verdade – estava esperando nas árvores no jardim que separava o prédio de Ambrose do outro. Não era exatamente um lugar afastado, mas era longe o bastante dos caminhos principais que geralmente ficava deserto.

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O homem se moveu para frente e pareceu surpreso quando viu Eddie correndo em direção a ele. Eu fui capaz de analisar a luta de uma forma que Lissa não podia. A julgar pelo ângulo e movimento do homem, ele estava indo em direção a Lissa – com uma faca na mão. Lissa congelou de medo, uma reação esperada de alguém que não foi treinada para reagir nessa situação. Mas quando Christian a afastou, ela voltou a si e rapidamente foi para trás dele e Adrian.

O atacante e Eddie ficaram se encarando por um momento, cada um

tentando derrubar o outro. Eu ouvi Lissa gritar por ajuda, mas minha atenção estava nos lutadores. O cara era forte para um Moroi e suas manobras sugeriam que ele foi treinado para lutar. Eu duvidava, no entanto, que ele foi treinado desde o pré, ou que ele tivesse os músculos que os dhampir tem.

Certa o bastante, Eddie passou e forçou o cara no chão. Eddie se esticou

para prender a mão direita do cara e tirar a faca da equação. Moroi ou não, o homem era bem habilidoso com uma lâmina, particularmente quando eu (e provavelmente Eddie também) notamos a cicatriz e o que parecia ser um dedo dobrado em sua mão direita. O cara provavelmente tinha passado muito tempo afiando seus reflexos com a faca. Mesmo preso, ele ainda foi capaz de erguer a faca, mirando no pescoço de Eddie. Eddie era rápido demais para deixar isso acontecer e bloqueou o golpe com seu braço, que pegou o corte da lâmina. O bloqueio de Eddie deu ao Moroi um pouco mais de espaço para se mover, e ele se levantou, jogando Eddie para trás. Sem perder um segundo – sério, esse cara era impressionante – o Moroi foi para cima de Eddie de novo. Não havia duvidas sobre a intenção do Moroi. Ele não estava se segurando. Ele estava ali para matar. Aquela lâmina exigia sangue. Guardiões sabiam como subjugar e fazer prisioneiros, mas também fomos treinados para quando as coisas estavam acontecendo rápido demais, quando era uma situação nós-ou-eles – bem, nos certificamos que fossem eles. Eddie era mais rápido que seu oponente e estava sendo dirigido por instinto construído há anos: parar o que está querendo te matar. Eddie não tinha uma faca ou arma, não na Corte. Quando o homem foi para cima dele uma segunda vez, a faca mais uma vez apontada para seu pescoço, Eddie usou a única arma que sobrou para salvar sua vida.

Ele empalou o Moroi. Dimitri uma vez fez um comentário brincalhão que você não tem que ser

um Strigoi para se ferir com uma estaca passando por seu coração. E, vamos encarar, uma estaca no coração não dói. Mata. Tatiana era prova disso. A faca do homem fez contato com o pescoço de Eddie – e então caiu antes de cortar a pele. Os olhos do homem ficaram arregalados de choque e dor e então ele não viu mais nada. Ele estava morto. Eddie se inclinou, encarando sua vitima cheio

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de adrenalina pela batalha que seguia a qualquer situação. Gritos de repente chamaram sua atenção, e ele levantou, pronto para a próxima ameaça.

O que ele encontrou foi um grupo de guardiões, os que responderam os

gritos anteriores de ajuda de Lissa. Eles deram uma olhada na cena e imediatamente agiram concluindo o que seu treinamento os preparava. Havia um Moroi morto e alguém segurando uma arma ensanguentada. Os guardiões foram para cima de Eddie, jogando ele contra parede e tirando sua estaca. Lissa gritou com eles para avisar que eles entenderam errado, que Eddie tinha salvo sua vida e –

“Rose!” A voz frenética de Dimitri me trouxe de volta a casa dos Mastrano. Eu

estava sentada na cama, e ele ajoelhado diante de mim, o rosto cheio de medo enquanto ele agarrava meus ombros. “Rose, qual o problema? Você está bem?”

“Não!” Eu o empurrei para o lado e me movi em direção à porta. “Eu preciso – eu

preciso voltar a Corte. Agora. Lissa está em perigo. Ela precisa de mim.” “Rose. Roza. Calma.” Ele segurou meu braço, e não havia como me soltar

daquele aperto. Ele me virou para que eu pudesse encara-lo. Seu cabelo ainda estava molhado do banho, e o cheiro de sabão e pele molhada nos cercava. “Me diga o que aconteceu.”

Eu rapidamente repeti o que vi. “Alguém tentou matá-la Dimitri! E eu não

estava lá!” “Mas Eddie estava,” disse Dimitri quieto. “Ela está bem. Ela está viva.” Ele

me soltou, e eu me inclinei contra parede. Meu coração estava batendo forte, e mesmo que minha amiga estivesse segura, eu não conseguia afastar o pânico.

“E agora ele está com problemas. Os guardiões estavam fulos –” “Só porque eles não sabem de tudo. Eles viram um corpo e uma arma, só

isso. Assim que souberem dos fatos e testemunhos, tudo ficará bem. Eddie salvou um Moroi. Esse é seu trabalho.”

“Mas ele matou outro para fazer isso,” eu apontei. “Não podemos fazer

isso.” Soava óbvio – e até uma estúpida afirmação, mas eu sabia que Dimitri entendia o que significava. O propósito dos guardiões era proteger os Moroi.

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Eles vem primeiro. Matar um era inimaginável. Mas também era um deles tentar matar outro.

“Não era uma situação normal,” Dimitri afirmou. Eu joguei minha cabeça para trás. “Eu sei, eu sei. Eu só não consigo

aguentar deixar ela desprotegida. Eu quero tanto voltar e a manter segura. Agora.” Amanhã parecia anos de distância. “E se acontecer de novo?”

“Outras pessoas estão lá para protegê-la.” Dimitri andou até mim, e eu

fiquei surpresa por vir um sorriso em seus lábios, tendo em vista os eventos. “Acredite em mim, eu quero proteger ela também, mas arriscamos nossas vidas por nada se sairmos daqui agora. Espere mais um pouco e pelo menos arrisque sua vida por algo importante.”

Um pouco do pânico sumiu. “E Jill é importante, não é?” “Muito.” Eu me ajeitei. Parte do meu cérebro ficava tentando me acalmar do ataque

de Lissa enquanto a outra processava o que conseguimos aqui. “Conseguimos,” eu disse, sentindo um sorriso aparecer em meu próprio lábio. “Contra todas as chances... de alguma forma, encontramos a irmã perdida de Lissa. Você sabe o que isso significa? Lissa pode ter tudo que tem direito agora. Eles não podem negar nada a ela. Diabos, ela poderia ser rainha se quisesse. E Jill –” eu hesitei. “Bem, ela é parte de uma antiga família real. Isso tem que ser uma boa coisa, certo?”

“Eu acho que depende de Jill,” disse Dimitri. “E os efeitos posteriores que

isso trará.” Culpa por potencialmente arruinar a vida de Jill voltou, e eu encarei meus

pés. “Hey, está tudo bem,” ele disse, erguendo novamente meu queixo. Seus olhos castanhos eram quentes e cheios de afeição. “Você fez a coisa certa. Mais ninguém teria tentado algo tão impossível. Só Rose Hathaway. Você se arriscou por Jill. Você arriscou sua vida ao quebrar as regras de Abe – e valeu a pena. Tudo valeu a pena.”

“Eu espero que Adrian concorde,” eu brinquei. “Ele acha que eu deixar

nosso ‘esconderijo’ é a coisa mais idiota do mundo.” A mão de Dimitri caiu. “Você contou a ele sobre isso?”

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“Não sobre Jill. Mas eu acidentalmente disse a ele que não estávamos mais em West Virginia. Mas ele vai manter segredo,” eu acrescentei rapidamente. “Mais ninguém sabe.”

“Não consigo acreditar nisso,” disse Dimitri, tendo perdido um pouco do seu

calor. Era uma coisa tão de flerte. “Ele... ele parece bem leal a você.” “Ele é. Eu confio totalmente nele.” “E ele te faz feliz?” O tom de Dimitri não era duro, mas havia uma

intensidade nele que fazia parecer um interrogatório policial. Eu pensei sobre o tempo que passei com Adrian: a forma fácil como

conversávamos, as festas, os jogos, e, é claro, os beijos. “Yeah. Ele faz. Eu me divirto com ele. Eu quero dizer, ele me irrita às vezes – ok, muitas vezes – mas não se engane com todos os vícios. Ele não é uma má pessoa.”

“Eu sei que ele não é,” disse Dimitri. “Ele é um bom homem. Não é fácil para

todos verem, mas eu posso. Ele ainda está se recompondo, mas ele está a caminho. Eu vi na fuga. E depois...” As palavras ficaram presas na língua de Dimitri. “Depois da Sibéria, ele estava lá por você? Ele te ajudou?”

Eu acenei, surpresa com todas essas perguntas. Acabou que elas eram

apenas o aquecimento para a maior delas. “Você o ama?” Só havia algumas pessoas no mundo que poderiam me perguntar algo tão

insanamente pessoal sem levar um soco. Dimitri era uma delas. Conosco, não havia barreira, mas nossa complicada relação fazia esse tópico ser surreal. Como eu podia descrever amar outra pessoa ao homem que eu já amei? Um homem que você ainda ama, uma voz sussurrou na minha cabeça. Talvez. Provavelmente. De novo, eu me lembrei que ainda carregava sentimentos por Dimitri. Eles iriam sumir. Eles tinham que sumir, como os dele. Ele era o passado. Adrian era meu futuro.

“Yeah,” eu disse, levando mais tempo do que deveria. “Eu... eu o amo.” “Bom. Fico feliz.” O negócio é que o rosto de Dimitri não parecia feliz

enquanto ele encarava a janela. Minha confusão aumentou. Porque ele estava chateado? Suas ações e palavras não pareciam mais combinar ultimamente.

Eu me aproximei dele. “Qual o problema?”

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“Nada. Eu só quero me certificar que você está bem. Que você está feliz.” Ele virou de volta para mim, dando um sorriso forçado. Ele falou a verdade – mas não toda verdade. “As coisas estão mudando, só isso. Me fez reconsiderar tanta coisa. Desde Donovan... e então Sonya... é estranho. Eu achei que tudo havia mudado na noite que Lissa me salvou. Mas não. Havia tanta coisa mais, mais cura do que percebi.” Ele começou a ficar pensativo mas se impediu. “Todo dia descubro algo novo. Uma nova emoção que eu esqueci de sentir. Uma revelação que perdi. Uma beleza que não vi.”

“Hey, meu cabelo no beco não vai na lista, ok?” eu provoquei. “Você estava

em choque.” O forçado sorriso virou natural. “Não, Roza. Era lindo. É lindo agora.” “O vestido está apenas te desconcentrando,” eu disse, tentando fazer uma

piada. Na verdade, eu me sentia tonta sob o olhar dele. Aqueles negros, negros olhos olhando para mim – realmente olhando para

mim. Eu acho, que pela primeira vez desde que ele entrou no quarto. Uma mistura de expressões passaram por ele, o que não fazia sentido para mim. Eu conseguia entender o conteúdo das emoções, mas não sua causa. Cautela. Deslumbre. Tristeza. Arrependimento.

“O que?” eu perguntei agitada. “Porque você está me olhando assim?” Ele balançou sua cabeça, o sorriso pesaroso agora. “Porque às vezes, uma

pessoa pode ficar presa nos detalhes e perder o principal. Não é apenas o vestido ou o cabelo. É você. Você é linda. Tão linda que me dói.”

Eu senti uma estranha sensação no peito. Borboletas, ataque cardíaco... era

difícil dizer o que exatamente. Ainda sim, naquele momento, eu não estava mais no quarto de hóspede dos Mastrano. Ele disse essas palavras antes, ou algo bem próximo disso. Tão linda que me dói. Foi na cabana em St Vladimir, a única vez que transamos. Ele me olhou de uma forma muito similar também, só que havia mais tristeza. Mesmo assim, quando ouvi aquelas palavras de novo, uma porta que eu mantive fechada em meu coração de repente se abriu, e com isso saíram todos os sentimentos e experiências e sensações de unidade que sempre partilhamos. Olhando para ele, apenas por um segundo, eu tinha uma surreal sensação passando por mim, como se o conhecesse desde sempre. Como se estivéssemos ligados... mas não da forma como Lissa e eu estávamos, por um laço forçado.

“Hey, gente, vocês – oh.” Sydney parou na porta entreaberta e

prontamente deu dois passos para trás. “Desculpe. Eu – é que –”

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Dimitri e eu imediatamente nos afastamos. Eu me sentia quente e abalada e

então notei o quão próximo ele estava. Eu nem me lembrava de ter me movido, mas apenas alguns centímetros nos separavam. O que tinha acontecido? Era como um transe. Um sonho.

Eu engoli e tentei baixar minha pulsação. “Sem problemas. O que está

acontecendo?” Sydney olhou entre nós, ainda parecendo desconfortável. Sua vida de

namoros podia ser inexistente, mas até ela sabia o que tinha interrompido. Eu estava feliz por uma de nós saber. “Eu... é só que... e só queria ficar por aqui. Não consigo lidar com aquilo acontecendo lá embaixo.”

Eu tentei sorrir, ainda confusa com meus sentimentos. Porque Dimitri me

olhou daquela forma? Porque ele disse aquilo Ele não pode ainda me querer. Ele disse que não queria. Ele me disse para deixá-lo em paz.

“Claro. Só estávamos... conversando,” eu disse. Ela obviamente não

confiava em mim. Eu tentei convencê-la... e a mim mesma. “Estávamos falando de Jill. Você tem ideia de como podemos levar ela até a Corte – já que somos foragidos?”

Sydney pode não ser uma pessoa experiente em relacionamentos, mas

quebra cabeças era um território familiar. Ela relaxou, sua atenção se focando enquanto tentava dar um jeito em nosso problema.

“Bem, sempre podemos pedir que a mãe dela –” Uma batida alta vinda do andar de baixo abruptamente a cortou. Como um,

Dimitri e eu fomos para a porta, prontos para combater a confusão que fosse que Victor e Robert tinham causado. Ambos paramos no topo da escada quando ouvimos muitos gritos para todos se abaixarem.

“Guardiões,” Dimitri disse. “Tem guardiões cercando a casa.”

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VINTE E CINCO JÁ CONSEGUIAMOS OUVIR os passos passando pela casa e sabíamos que

estávamos há segundos de distância de um exército no andar debaixo vindo para o segundo andar. Nós três nos afastamos, e para minha surpresa, foi Sydney que reagiu primeiro.

“Fora. Eu vou distrair eles.” Sua distração provavelmente ia significar momentaneamente bloquear seu

caminho até que eles a colocassem de lado, mas aqueles segundos extras fariam uma enorme diferença. Ainda sim, eu não conseguia suportar a ideia de abandonar ela. Dimitri não tinha tais reservas, particularmente quando podíamos ouvir passos nas escadas.

“Venha!” ele gritou, agarrando meu braço. Corremos pelo corredor até o quarto mais distante, o de Victor e Robert.

Antes de entrarmos, eu gritei para Sydney, “Leve Jill para a Corte!” Eu não sei se ela me ouviu por causa de toda gritaria, os guardiões a tinham alcançado. Dimitri imediatamente abriu a porta do quarto que tinha uma enorme janela e olhou para mim sábio. Como sempre, não precisávamos de comunicação verbal.

Ele pulou primeiro, sem dúvidas querendo tirar todo o peso ou qualquer

perigo que esperava abaixo. Eu imediatamente o segui. Eu me abaixei no teclado do primeiro andar, deslizei para baixo, e então me joguei do lugar mais alto. Dimitri pegou meu braço, firmando meu pouso – mas não antes de um dos meus tornozelos torcer. Era o mesmo que tinha tomado o golpe na queda fora da casa de Donovan, e eu fiz uma careta quando a dor passou por mim, dor que eu imediatamente ignorei.

Figuras negras se moviam em nossa direção, emergindo das sombras da

tarde e pontos escondidos pelo jardim. É claro. Guardiões não iriam simplesmente vir passando pela porta. Eles também tinham o lugar vigiado. Com nosso ritmo natural, Dimitri e eu lutamos contra nossos atacantes. Como sempre, era difícil incapacitar nossos inimigos sem matá-los. Difícil, mas necessário se pudermos. Eu não queria matar minha gente, pessoas que só estavam fazendo seu trabalho de prender fugitivos. O vestido longo não ajudou. Minhas pernas ficavam se prendendo no tecido.

“Os outros vão sair a qualquer minuto,” Dimitri disse, derrubando um

guardião no chão. “Precisamos nos mover – lá. O portão.”

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Eu não conseguia responder mas o segui enquanto passávamos por uma porta e uma cerca enquanto ainda nos defendíamos. Tínhamos derrubado o esquadrão do jardim quando mais saíram da casa. Passamos pelo portão, emergindo em uma silenciosa rua a esquina da casa dos Mastrano, e corremos. Logo ficou claro, no entanto, que eu não conseguia acompanhar Dimitri. Minha mente podia ignorar a dor, mas meu corpo não conseguia fazer um tornozelo ferido funcionar direito.

Sem perder um segundo, Dimitri deslizou seus braços ao meu redor, me

ajudando a correr e tirando o peso do meu tornozelo. Saímos da rua, cortando caminho pelos jardins que iriam dificultar mais – mas não tornar impossível – para eles nos seguirem.

“Não podemos passar por eles,” eu disse. “Estou diminuindo a velocidade.

Precisamos –” “Não diga para eu te deixar,” ele interrompeu. “Vamos fazer isso juntos.” Bam, bam. Um vazo perto de nós de repente explodiu numa pilha de terra e

argila. “Eles estão atirando na gente,” eu disse incrédula. “Eles estão mesmo

atirando na gente!” Com tanto treinamento corpo a corpo, eu sempre senti que armas eram trapaça. Mas quando se tratava de caçar a assassina da rainha e seu cúmplice? Honra não era a questão. Resultados eram.

Outra bala passou, perigosamente perto. “Com um silenciador,” disse

Dimitri. “Mesmo assim, estão tendo cuidado. Eles não querem que a vizinhança pense que está sob ataque. Precisamos de abrigo. Rápido.” Podíamos estar literalmente desviando de balas, mas meu tornozelo não ia durar muito mais.

Viramos outra vez, completamente nos emergindo nos jardins do subúrbio.

Eu não pude olhar atrás de nós, mas ouvi gritaria que me disse que não estávamos livres ainda.

“Ali,” disse Dimitri. Na nossa frente havia uma casa com um enorme pátio que fazia lembrar do

de Sonya. A porta de vidro estava aberta, embora uma tela bloqueasse o caminho para dentro. Dimitri puxou a trava. Trancado. Mas uma tela dificilmente iria nos deter. Pobre família. Ele tirou sua estaca e a cortou, me segurando próximo a seu corpo, me protegendo em seu calor.

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Segundos depois, vimos guardiões se aproximando e procurando pelos quintais. Alguns continuaram a seguir em frente, caso tivéssemos corrido mais para longe. Outros permaneceram ali, investigando lugares que davam bons lugares para se esconder conforme a noite ficava cada vez mais negra. Eu olhei para a tela. O corte foi limpo, não um buraco óbvio, mas ainda era algo que nossos perseguidores podiam notar.

Sentindo isso também, Dimitri cuidadosamente entrou na sala, fazendo seu

melhor para evitar janelas e se mantendo fora de vista. Passamos pela cozinha e encontramos uma porta que dava para a garagem. Na garagem havia um Ford Mustang.

“Dois carros de família,” ele murmurou. “Eu estava esperando por isso.” “Ou eles saíram para dar uma volta ou estão prestes a vir para casa e notar

o time da SWAT na vizinhança,” eu sussurrei. “Os guardiões não vão se deixar serem vistos.” Ele começou a procurar em

lugares óbvios pela chave. Finalmente, eu encontrei uma pendurada no painel e a peguei.

“Peguei,” eu disse. Já que eu tinha as chaves, eu achei que Dimitri iria me

deixar pular no banco do motorista. Mas graças a meu tornozelo, eu joguei a chave para ele. O universo tinha um senso de humor doente.

“Eles vão nos ver nisso?” eu perguntei, conforme Dimitri abria a porta da

garagem e se afastava. “É, uh, um pouco mais chamativo do que nosso profile de carros roubados.” Também era incrível. Sydney em seu jeito nerd teria adorado. Eu mordi meu lábio, ainda me sentindo culpada por ter deixado ela para trás. Eu tentei afastar esse pensamento da minha cabeça, por enquanto.

“Realmente,” concordou Dimitri. “Mas haverão outros carros na rua. Alguns

guardiões estarão nos quintais, e alguns guardando os Mastranos. Mas eles não tem números infinitos. Eles não podem ver todos os carros de uma vez, embora certamente vão tentar.”

Eu segurei meu fôlego enquanto passávamos de carro pela subdivisão. Duas

vezes, eu pensei ter visto figuras na lateral da rua, mas Dimitri tinha razão: eles não podiam checar todos os carros em um subúrbio lotado. A escuridão também escureceu nossos rostos. Dimitri lembrou como tínhamos chego, porque algumas voltas depois, estávamos na estrada. Eu sabia que ele não tinha nenhum destino em mente, exceto por uma maneira. Com nenhuma indicação óbvia de que fomos seguidos, eu endureci meu corpo e estiquei minha perna

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bamba. Meu peito tinha aquela sensação leve e nebulosa que você tem quando adrenalina demais está passando por você.

“Eles nos entregaram, não é?” eu perguntei. “Victor e Robert nos

entregaram e então fugiram. Eu deveria saber.” “Eu não sei,” Dimitri disse. “É possível. Eu os vi antes de falar com você, e

tudo parecia bem. Eles queriam ir até nós e encontrar Jill, mas eles sabiam que certamente era uma questão de tempo antes de os entregarmos para as autoridades. Não estou surpreso por bolarem uma saída. Eles podem ter usado a alimentação como distração para ligar para os guardiões e se livrarem de nós.”

“Merda.” Eu suspirei e pus meu cabelo para trás, desejando ter minha

borracha para prendê-lo. “Deveríamos ter nos livrado deles quando tivemos chance. E agora?”

Dimitri ficou quieto por alguns segundos. “Os Mastranos serão

interrogados... extensivamente. Bem, todos vão na verdade. Eles vão prender Sonya para investigação, como eu, e Sydney será enviada para os Alquimistas.”

“E o que eles vão fazer com ela?” “Não sei. Mas suponho que ela ajudar vampiros fugitivos não vai ser bom

com os superiores dela.” “Merda,” eu repeti. Tudo estava desmoronando. “E o que vamos fazer?” “Tomar alguma distância entre aqueles guardiões. Nos esconder em algum

lugar. Enfaixar seu tornozelo.” Eu dei a ele um olhar lateral. “Wow. Você tem tudo planejado.” “Na verdade não,” ele disse, um pequeno franzido em seu rosto. “Essa é a

parte fácil. O que acontecer depois é que vai ser a parte difícil.” Meu coração afundou. Ele tinha razão. Desde que os Mastranos não fossem

indiciados pelas autoridades Moroi por ajudar criminosos, Emily agora não tinha ninguém forçando ela a reconhecer a herança de Jill. Se Sydney estava sendo levada para seu próprio pessoal – bem. Ela não podia ajudar também. Eu ia ter que contar a outra pessoa, eu percebi. A próxima vez que eu fizesse contato com Adrian, eu ia contar a verdade para que meus amigos pudessem fazer algo para Jill. Não podíamos manter isso em segredo por mais tempo.

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Dimitri pegou a próxima saída, e então voltei ao mundo. “Hotel?” eu perguntei.

“Não muito,” ele disse. Estávamos em uma área cheia e comercial, não

muito longe de Ann Arbor, eu pensei. Um dos subúrbios de Detroit. Restaurantes e lojas se alinhavam com a estrada, e ele parou em uma super loja que planejava ter tudo. Ele estacionou e abriu a porta. “Fique aqui.”

“Mas –” Dimitri olhou de forma significativa para mim, e olhei para baixo. Eu saí de

nossa luta com mais machucados do que percebi, e o vestido tinha rasgado. Minha aparência estrupiada atrairia sua atenção, assim como meus membros. Eu acenei, e ele saiu.

Eu passei o tempo repassando nossos problemas, me xingando por não ter

encontrado um jeito de entregar os irmãos assim que Robert restaurou Sonya. Eu estive me preparando para traição na forma de um ataque mágico. Eu não esperava algo tão simples como ligar para os guardiões.

Dimitri, sempre o eficiente comprador, voltou com duas bolsas grandes e

algo mole por cima do ombro. Ele jogou tudo no banco de trás, e eu olhei com curiosidade. “O que é isso?” era longo e cilíndrico, coberto com lona.

“Uma barraca.” “Porque nós –” eu gemi. “Nada de hotel, hein?” “Vai ser mais difícil nos encontrarem se estivermos acampados. O carro vai

ser especialmente difícil de encontrar. Não podemos nos livrar dele ainda, não com seu pé.”

“Aquelas pobres pessoas,” eu disse. “Eu espero que seu seguro cubra

roubo.” De volta na estrada, logo deixamos o aglomerado urbano, e não foi muito

tempo depois que vimos propagandas para acampamentos e parques. Dimitri estacionou em um lugar chamado Peaceful Pines. Ele negociou com o homem trabalhando e tirou várias notas. Esse era outro motivo do porque não podíamos ir para um hotel, eu percebi. A maioria exigia cartão de crédito, e Sydney tinha todos (com nomes falsos, é claro). Estávamos vivendo sem dinheiro agora.

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O homem nos deu direção que nos levou até um lugar do lado oposto do acampamento. O lugar estava cheio de famílias, mas ninguém prestou muita atenção em nós. Dimitri se certificou de estacionar perto de um amontoado de árvores, para obscurecer a placa do carro. Apesar dos meus protestos, ele não me deixou ajudar com a tenda. Ele alegou que faria mais rápido sem mim e que eu deveria ficar sentada. Eu comecei a discutir até que ele começou a montar a tenda. Minha mandíbula abriu um pouco enquanto observava o quão rápido ele montava. Ele nem precisava de instruções. Tinha que ser algum tipo de recorde.

A barraca era pequena e forte, nos dando espaço para ambos deitarmos,

embora tenhamos que nos abaixar um pouco quando estávamos sentados. Quando entramos, eu vi o resto de suas compras. Uma boa parte era kit de primeiros socorros. Também havia lanternas, um tipo de lâmpada improvisada.

“Deixe-me ver o tornozelo,” ele ordenou. Eu estiquei minha perna, e ele ergueu o vestido até meu joelho, os dedos

tocando levemente minha pele. Eu tremi com a sensação de déjà vu passando por mim. Isso parecia estar acontecendo muito ultimamente. Eu pensei nas vezes que ele me ajudou com seus outros ferimentos. Ele podia estar de volta no ginásio de St. Vladimir. Ele gentilmente testou meu tornozelo e ficou cutucando ele um pouco. Seus dedos nunca paravam de me surpreender. Eles podiam quebrar o pescoço de um homem, enfaixar um ferimento, e deslizar sensualmente pela pele nua.

“Não acho que esteja quebrado,” ele disse finalmente. Ele ergueu suas

mãos, e eu notei o quão quente eu estive quando ele me tocou. “Só torcido.” “Esse tipo de coisa acontece quando você insiste em pular de telhados,” eu

disse. Piadas era minha forma de esconder desconforto. “Sabe, nunca praticamos isso no treinamento.”

Ele sorriu e pegou as fachas, enrolando meu tornozelo até estar

estabilizado. Depois disso, ele pegou – “Um saco de ervilhas congeladas” Dimitri deu de ombros e pôs o saco no meu tornozelo. A frieza

instantaneamente me fez sentir melhor. “É mais fácil do que comprar um saco de gelo.”

“Você tem muitos recursos, Belikov. O que mais você tem escondido?”

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O resto do conteúdo da bolsa era cobertores e um pouco de comida. Eu dei um grande sorriso quando vi que ele comprou sorvete, batata frita, e uma barra de chocolate. Eu adorava ver que ele lembrava esses detalhes sobre mim. Meu sorriso caiu quando outro problema apareceu.

“Você não comprou roupas, comprou?” “Roupas?” ele perguntou, como se fosse uma palavra estrangeira. Eu gesticulei em direção a meu vestido rasgado. “Não posso usar isso muito

tempo. O que vou fazer? Uma toga de um cobertor? Você é um homem, nunca pensando nessas coisas.”

“Eu estava pensando em ferimentos e sobrevivência. Roupas novas são um

luxo, não uma necessidade.” “Nem mesmo seu casaco?” eu perguntei tolamente. Dimitri congelou por um momento e então xingou. Ele não tinha porque

usar seu casaco nos Mastranos – honestamente, ele não precisava usar do lado de fora também – e o deixou lá na confusão.

“Não se preocupe, camarada,” eu provoquei. “Tem muitos da onde aquele

saiu.” Ele espalhou os cobertos no chão da barraca e deitou neles. Havia um olhar

de aflição em seu rosto que era quase cômico. Batidas, balas, criminosos... sem problema. Um casaco perdido? Crise. “Vamos conseguir outro,” eu disse. “Sabe, quando encontrarmos Jill, limparmos meu nome e salvarmos o mundo.”

“Só essas coisas, hein?” ele perguntou, fazendo nós dois rirmos. Mas

quando me estiquei ao lado dele, nossos rostos ficaram sóbrios. “O que vamos fazer?” eu perguntei. A pergunta mais popular de hoje. “Dormir,” ele disse, desligando a lanterna. “Amanhã vamos contatar Abe ou

Tasha ou... alguém. Vamos deixar eles levarem Jill para onde ela precisa estar.” Eu estava surpresa por o quão pequena minha voz soou quando falei. “Eu

sinto como se tivéssemos fracassado. Eu estava tão feliz lá atrás. Eu pensei que tínhamos conseguido o impossível, mas foi tudo por nada. Todo esse trabalho para nada.”

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“Nada?” ele perguntou surpreso. “O que fizemos... é enorme. Você encontrou a irmã de Lissa. Outro Dragomir. Eu não acho que você entende o peso disso. Não tínhamos quase nada para seguir, mas você seguiu em frente e fez acontecer.”

“E perdi Victor Dashkov. De novo.” “Bem, o negocio sobre ele é que ele não fica longe por muito tempo. Ele é

uma daquelas pessoas que estão sempre em controle. Ele vai ter que fazer algo eventualmente e quando fizer – vamos pegá-lo.”

O sorriso voltou a meus lábios, embora eu soubesse que ele não podia ver.

“E eu achei que eu era a otimista.” “É contagioso,” ele respondeu. Então, para minha surpresa, a mão dele

encontrou a minha no escuro. Ele entrelaçou nossos dedos juntos. “Você fez bem, Roza. Muito bem. Agora durma.”

Não nos tocamos de nenhuma outra forma, mas sua mão trazia todo o calor

do mundo. Esse dificilmente era um momento perfeito, como na biblioteca, mas nossa familiar conexão e a compreensão entre nós brilhou ainda mais, e era bom. Certo. Natural. Eu não queria dormir. Eu só queria ficar ali e saborear estar com ele. Não era trair, eu decidi, pensando em Adrian. Eu só estava aproveitando essa proximidade.

Ainda sim, dormir era essencial. Nós fizemos um horário com turnos. Ele ia

ficar acordado enquanto eu descansava, e eu tinha a sensação que se eu não dormisse, ele não iria quando trocássemos de turno. Eu fechei meus olhos, e não foi o meu coração que tive que baixar a velocidade desta vez. Era minha mente, que continuava a tentar descobrir o que fazer em seguida. Só leve Jill até a Corte. Só leve Jill até a Corte. Era tudo que importava. Iríamos contatar alguém que poderia entrar em contato com Jill. Dimitri e eu íamos permanecer discretos, e tudo ia se consertar...

“Graças a Deus.” Eu virei, percebendo que caí em um sonho de espírito. Eu estava de volta no

jardim de Sonya com todo seu sol e cores, e ela estava de volta na cadeira, parecendo cheia de expectativa.

“Eu temi que você ficasse acordada a noite toda, sendo cuidadosa,” ela

continuou.

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“Eu iria se tivesse escolha,” eu respondi, andando até ela. Ela não era bem quem eu esperava ver em meus sonhos, mas pelo menos eu fiz contato com o mundo exterior. Eu usava o vestido preto e branco aqui, mas diferente da realidade, estava limpo e inteiro. “Dimitri acha que estamos em um lugar seguro – embora ele esteja acordado, é claro.”

“É claro.” Havia um brilho de divertimento em seus olhos, mas foi breve. “Onde você está?” eu perguntei. “Os guardiões te prenderam?” “Eles não me pegaram,” ela disse. “Você era prioridade deles, e um pouco

de compulsão se certificou que eles não me vissem. Eu saí... mas odiei deixar Emily.”

Eu simpatizei mas estava excitada demais pela fuga de Sonya. Boas notícias,

finalmente. “Mas você pode levar Jill para a Corte. Você está livre.” Sonya olhou para mim como se eu tivesse acabado de falar em francês.

“Não posso chegar até Jill.” Eu franzi. “Ela está sob tanta segurança?” “Rose,” disse Sonya. “Jill não está com os guardiões. Victor e Robert a

levaram.”

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VINTE E SEIS “Ela o quê?” Eu exclamei. Os pássaros de sonho cantando no jardim ficaram

em silêncio. “Com eles? Foi por isso que eles chamaram os guardiões?” A calma de Sonya continuou, mas os lábios dela se curvaram sutilmente

para baixo. “Victor e Robert não chamaram os guardiões. Por que eles teriam feito algo assim?”

“Por que... porque eles queriam se livrar de Dimitri e de mim...” “Talvez,” disse Sonya. “Mas não enquanto eles ainda estivessem na casa.

Victor é tão procurado quanto você aqui. Foi só a magia de Robert que permitiu a eles escaparem.”

“Então quem...” A resposta veio até mim. Eu grunhi. “John e Emily. Eu devia

saber que não teria sido tão fácil. Eles foram rápidos demais em aceitar fugitivos em sua casa.”

“Na verdade, eu acredito que tenha sido apenas John. Emily realmente

pareceu acreditar na sua inocência... mesmo não gostando das suas razões para estar lá. Eu também acredito que ela se preocuparia em chamar os guardiões pois isso traria ainda mais atenção à identidade de Jill. Não me surpreenderia se John nem tivesse avisado ela sobre chamá-los. Ele deve ter pensado que fez um favor a todo mundo.”

“E, ao invés disso, ele perdeu a filha postiça,” eu disse. “Mas por que Victor

e Robert a levariam? E como dois velhotes dominaram uma adolescente?” Sonya deu de ombros. “Eles devem ser mais fortes do que parecem. A

compulsão também deve ter tido alguma participação. E o motivo? É difícil dizer. Mas Victor quer poder e controle. Manter a Dragomir desaparecida com ele é uma boa maneira de conseguir isso.”

Eu me deixei cair contra o tronco de uma árvore. “Nunca vamos conseguir

levar ela para a Corte.” “Nós só precisamos encontrar ela,” disse Sonya. “O que eu devo ser capaz

de fazer assim que ela estiver adormecida.” “Caminhar nos sonhos de novo,” eu disse. Minha esperança começou a se

reacender. “Você devia ir até ela agora. Descubra –”

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“Eu tentei. Ela não está adormecida. E eu poderia apostar que eles estão deixando ela acordada por esse mesmo motivo, de modo que consigam colocar alguma distância entre nós. Mas vou continuar tentando.”

Não era o ideal mas era o melhor que podíamos esperar por enquanto. “E

Sydney e os Mastranos?” “Encarando várias perguntas.” O rosto de Sonya caiu. Eu sabia que ela se

sentia mal por abandonar sua prima, assim como eu me sentia mal sobre Sydney.

Eu toquei o braço de Sonya gentilmente. “Está bem. Eles vão ficar bem. O

que você fez vai ajudar a Jill.” Ela concordou com um aceno da cabeça. “Como vamos manter contato? Eu

não posso ficar sempre esperando até você cair no sono.” Silêncio. Muito bem lembrado. “Talvez possamos conseguir um celular hoje... Deus sabe que estivemos

precisando de um. E, bem... por que você simplesmente não vem conosco? Onde você está, de qualquer maneira?”

Eu me perguntei se estava cometendo um erro em convidá-la para vir

conosco. Dimitri e eu havíamos nos sacrificado muito para manter nosso paradeiro em segredo, e o encontro com os guardiões já foi um pouco mais perto do que eu teria gostado. Além dos problemas óbvios – prisão, execução, etc. – ser capturados nos tiraria de cena para ajudar Lissa. Ainda assim, eu estava bem convencida de que Sonya era uma das nossas aliadas, e, àquela altura, ela poderia ser nosso único elo com Jill.

Eu fiz uma aposta similar ao revelar onde estávamos para Victor. E, embora

tecnicamente eles tenham nos ajudado, essa ajuda obviamente se voltou contra nós. Apesar disso, eu contei à Sonya o nome do nosso local de acampamento e lhe dei as melhores direções que eu pude dar. Ela disse que iria chegar lá – eu não sabia como ela conseguiria, mas suspeitei que ela tivesse seus recursos – e iria continuar tentando contatar Jill.

“Sonya...” eu hesitei em falar, sabendo que eu devia simplesmente deixar

que ela encerrasse o sonho. Tínhamos problemas importantes, mais sérios do que eu estava prestes a perguntar. Ainda por cima, isso era pessoal. “O que você quis dizer no carro... quando eu disse que havia compartilhado um sonho com o meu namorado? Você pareceu surpresa.”

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Sonya me estudou por um longo momento, seus olhos azuis olhando mais fundo em mim do que eu teria gostado. Às vezes, ela parecia mais segura quando estava doida. “Auras dizem muita coisa, Rose, e eu sou muito boa em ler elas. Muito melhor do que seus amigos, provavelmente. Um sonho de espírito envolve sua alma em dourado, e foi assim que eu soube. Sua aura pessoal é única a você, embora ela flutue com seus sentimentos e sua alma. Quando as pessoas estão apaixonadas, elas mostram isso. Suas auras brilham. Quando você estava sonhando, a sua estava clara. As cores eram claras... mas não o que eu esperava de um namorado. É claro, nem todo o relacionamento é a mesma coisa. As pessoas tem fases diferentes. Eu poderia ter ignorado isso, exceto que...”

“Exceto o quê?” “Exceto que, quando você está com Dimitri, sua aura é como o sol. Assim

como a dele.” Ela sorriu quando eu simplesmente a olhei em um silêncio espantado. “Isso a surpreende?”

“Eu... quer dizer, nós terminamos. Nós costumávamos estar juntos, mas

depois da transformação dele, ele não me queria mais. Eu segui em frente.” Onde seguir em frente aparentemente significava segurar as mãos e ter momentos próximos e acalorados. “É por isso que eu estou com Adrian. Estou feliz com Adrian.” Essa última frase soou quase defensiva. Quem eu queria convencer? A ela ou a mim mesma?

“Atitudes e sentimentos raramente se alinham,” ela disse, soando muito

como o Dimitri em seus momentos zen. “Não leve isso a mal, mas você tem alguns problemas para resolver.”

Ótimo. Terapia por uma louca. “Ok, vamos supor que você tenha algo aí. Eu

só desisti de Dimitri algumas semanas atrás. É possível que eu ainda esteja agarrada a alguns sentimentos.” Possível? Eu pensei em quão agudamente ciente da presença física eu sempre estava no carro, na harmonia sem preocupações na livraria, como era bom trabalhar com ele da nossa maneira, ambos tão determinados e quase nunca discordando do outro. E há apenas algumas horas atrás, no quarto de hóspedes...

Sonya teve a audácia de rir. “Possível? Depois de apenas duas semanas?

Rose, você é sábia em tantas maneiras... e tão jovem em outras.” Eu odiava ser julgada pela minha idade, mas não tinha tempo para mal

humor. “Tá, tanto faz. Eu ainda tenho sentimentos. Mas ele não. Você não o viu depois que ele se transformou. Foi horrível. Ele estava deprimido. Ele disse que queria me evitar a qualquer custo, que nunca conseguiria amar alguém de novo.

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Não foi até essa loucura de fuga que ele sequer começou a agir como antigamente.”

“Ele e eu conversamos sobre isso,” ela disse, o rosto sério de novo. “Sobre a

depressão. Eu compreendo isso. Depois de ser um Strigoi... ter feito o que fizemos... você não se sente digno de viver. Existe só culpa e escuridão e as memórias esmagadoras de toda aquela maldade.” Ela estremeceu.

“Você... você agiu diferente dele. Quero dizer, você pareceu tão triste

algumas vezes, mas em outras... é como se nada tivesse acontecido. Você já voltou ao seu antigo eu. Praticamente. Por que a diferença entre os dois?”

“Ah, eu ainda sinto a culpa, acredite em mim. Depois que Robert me

transformou...” Havia um veneno quando ela falou o nome dele. “Bem, eu não queria deixar a minha casa, minha cama. Eu me odiava pelo que tinha feito. Queria que a estaca tivesse me matado. Então, Dimitri falou comigo... ele disse que a culpa era inevitável. O fato que eu posso senti-la prova que não sou uma Strigoi. Mas ele me disse que eu não posso deixar de abraçar a vida de novo. Nós recebemos segundas chances, ele e eu. Não podemos jogá-las fora. Ele também disse que levou um tempo até ele perceber isso e que ele não queria que eu cometesse os mesmos erros. Ele me disse para abraçar a vida e sua beleza e as pessoas que eu amo antes que fosse tarde demais – mesmo que isso fosse ser difícil. Me livrar desse passado Strigoi... é como um peso, sempre me pressionando. Ele jurou que não ia mais deixar isso controlá-lo – o que, acredite em mim, soa nobre mas é muito difícil de se fazer – e que ele não deixaria sua vida ser inútil. Ele já havia perdido algumas coisas para sempre mas se recusava a desistir das outras.”

“Ele disse isso tudo? Eu... eu nem tenho certeza do que metade disso quer

dizer.” Ele me disse para abraçar a vida e sua beleza e as pessoas que eu amo antes que fosse tarde demais.

“Algumas vezes, nem eu. Como eu disse, é muito mais fácil falar do que

fazer. Ainda assim, eu acho que ele me ajudou a me recuperar mais rápido do que eu teria conseguido sozinha. Estou grata. E quanto a vocês e suas auras...” Aquele sorrisinho voltou. “Bem, você tem que descobrir. Eu não acredito em almas gêmeas, não exatamente. Acho ridículo pensar que só existe uma pessoa lá fora para nós. E se nossa ‘alma gêmea’ vive no Zimbábue? E se ele morrer jovem? Eu também acho que ‘duas almas se tornarem uma’ é ridículo. Você precisa manter a sua individualidade. Mas eu acredito em almas que estão em sintonia, almas que refletem uma a outra. Eu vejo essa sincronia em auras. Eu também vejo amor. E eu vejo tudo isso na aura dele e na sua. Só você pode escolher o que fazer com essa informação – se é que acredita nela.”

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“Sem pressão,” eu murmurei. Ela parecia prestes a interromper o sonho, mas então parou e me deu um

olhar perfurante. “Uma coisa para se ter cuidado, Rose. Suas auras combinam, mas não são idênticas. A de Dimitri está manchada com pedaços de escuridão, sobras do trauma dele. Essa escuridão diminui a cada dia. Você também carrega escuridão – mas ela não está diminuindo.”

Eu estremeci. “Lissa. É a escuridão que eu estou tomando dela, não é?” “Sim. Eu não sei muito sobre elos, mas o que você está fazendo – mesmo

que ajude ela – é muito perigoso. Espírito nos rasga, sem dúvidas, mas em algumas maneiras... eu acho que seus usuários tem um pouco mais de resistência a isso. Isso nem sempre é óbvio,” ela acrescentou secamente. “Mas você? Não. E, se você tomar demais, eu não sei o que vai acontecer. Eu tenho medo de que isso se acumule e acumule. Tenho medo de que só vai precisar de um estímulo – um catalisador – para fazê-la explodir dentro de você.”

“O que acontece depois?” eu sussurrei. Ela balançou a cabeça negativamente devagar. “Eu não sei.” Com isso, o sonho desapareceu. Eu caí de novo em um sono sem sonhos, embora meu corpo – como se

soubesse a que horas assumir meu turno – acordou sozinho algumas horas mais tarde. A escuridão da noite me envolvia mais uma vez e, ali perto, eu podia ouvir a respiração regular e firme de Dimitri e sentir seu calor. Tudo o que eu discuti com Sonya voltou em um jorro para mim. Demais, era demais. Eu não sabia por onde começar a processar isso. E não, eu não sabia se podia acreditar naquilo, não com o que eu tinha visto na vida real. Atitudes e sentimentos raramente se alinham. Respirando fundo, eu me forcei a ser uma guardiã, não uma garotinha emocionalmente abalada.

“Sua hora de dormir, camarada.” A voz dele veio até mim como luz na escuridão, macia e baixa. “Você pode

descansar mais se precisar.” “Não, eu estou bem,” eu disse a ele. “E lembre, você não é –” “Eu sei, eu sei,” ele riu. “Eu não sou o general.” Ah, céus. Nós

completávamos as piadas um do outro. Eu acredito em almas em sincronia. Lembrando com severidade a mim mesma que a visita de Sonya não foi para

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falar sobre a minha vida amorosa, eu contei o resto do sonho para Dimitri, descrevendo a traição de John e sequestro de Jill. “Eu... eu fiz a coisa certa em contar para Sonya onde estamos?”

Vários momentos se passaram antes de ele responder. “Sim. Você tem

razão em que precisamos da ajuda dela – ela pode encontrar a Jill. O problema é, Victor e Robert também devem saber disso.” Ele suspirou. “E você está certa em que é melhor eu descansar para o que vem em frente.”

Então, daquele jeito eficiente dele, ele não disse mais nada. Logo, sua

respiração mudou e ele estava dormindo. Era incrível como ele conseguia fazer isso com tão pouco esforço. Claro, isso era algo que nos ensinam como guardiões: durma quando puder porque você não sabe quando isso será possível de novo. Era um truque que eu nunca aprendi. Olhando para a escuridão, eu mantive meus sentidos aguçados, ouvindo qualquer som que pudesse indicar perigo.

Eu podia não ter o talento de cair no sono instantaneamente, mas eu podia

manter meu corpo acordado alerta enquanto dava uma olhada em Lissa. Jill e nossa fuga haviam me ocupado hoje, mas os eventos na Corte ainda tinham um grande peso sobre mim. Alguém tinha tentado matar Lissa, e um grupo de guardiões tinha acabado de arrastar Eddie para longe.

Quando eu olhei através dos olhos dela, não foi surpresa ver a maioria dos

meus amigos juntos. Eles estavam em uma sala desconhecida e intimidadora, parecida com aquela onde ela foi interrogada sobre a minha fuga – exceto por ser maior. E por um bom motivo. Estava cheia com todo o tipo de gente. Adrian e Christian estavam junto de Lissa, e eu não precisava ler auras para saber que os rapazes estavam tão desconfortáveis quanto ela. Hans estava de pé atrás da mesa, as mãos sobre ela enquanto ele se inclinava para frente e encarava a todos. No lado oposto de Lissa, contra a parede distante, Eddie estava sentado em uma cadeira com uma expressão pétrea e um guardião de cada lado. Ambos os guardiões estavam tensos, preparados para agir. Eles pensavam que Eddie era uma ameaça, eu percebi, o que era ridículo. Mesmo assim, Hans parecia compartilhar de sua opinião.

Ele colocou o dedo em uma foto na mesa. Dando um passo para frente,

Lissa viu que a foto era do cara que tinha atacado ela – uma foto tirada após a morte dele. Seus olhos estavam fechados, sua pele pálida – mas ela fornecia um olhar detalhado em suas feições, comuns como elas eram.

“Você matou um Moroi!” exclamou Hans. Aparentemente, eu entrei no

meio da conversa. “Como isso pode não ser um problema? Você é treinado para protegê-los!”

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“Eu protegi,” disse Eddie. Ele estava tão calmo, tão sério que a parte de mim

que podia ter senso de humor pensou que ele era o Dimitri Junior. “Eu protegi ela. Que diferença faz se a ameaça vem de um Moroi ou de um Strigoi?”

“Você não tem provas de nenhum detalhe desse ataque,” rugiu Hans. “Você tem três testemunhas!” Christian gritou. “Está dizendo que o que

dissemos não vale nada?” “Estou dizendo que vocês são amigos dele, o que torna as suas afirmações

questionáveis. Eu gostaria de ter tido um guardião lá para verificar isso.” Agora, o temperamento de Lissa se esquentou. “Você tinha! Eddie estava

lá!” “E não tinha uma maneira de você proteger ela sem matar ele?” perguntou

Hans. Eddie não respondeu, e eu sabia que ele estava considerando seriamente a

pergunta, se perguntando se ele havia mesmo cometido um erro. Por fim, ele sacudiu a cabeça. “Se eu não tivesse matado ele, ele teria me matado.”

Hans suspirou, seus olhos cansados. Era fácil para mim estar irritada com

ele agora, mas eu tinha que me lembrar de que ele só estava fazendo o seu trabalho. Ele levantou a foto. “E nenhum de vocês – nenhum de vocês – viu esse homem antes?”

Lissa estudou o rosto do homem de novo, reprimindo um arrepio. Não, ela

não havia reconhecido ele durante o ataque e não o reconhecia agora. Não havia nada memorável nele – nenhuma característica notável que você pudesse indicar. Nossos outros amigos sacudiram suas cabeças, mas Lissa se sentiu fazendo uma carranca.

“Sim?” perguntou Hans, pulando imediatamente com aquela mudança sutil. “Eu não conheço ele...” ela disse devagar. A conversa com o zelador Joe

saltou em sua mente. “Como o cara se parece?” ela havia perguntado para Joe. “Sem graça. Comum. Exceto a mão.”

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Lissa olhou atentamente para a foto por mais um momento, que mal mostrava uma mão com cicatrizes e alguns dedos curvados. Eu também havia notado isso durante a luta. Ela levantou os olhos para Hans. “Eu não o conheço,” ela repetiu. “Mas eu acho que sei alguém que conhece. Tem um zelador... bem, um ex-zelador. O que testemunhou sobre Rose. Ele acha que viu esse cara antes. Eles tem uma relação de negócios interessante. Mikhail ia se certificar de que ele não deixasse a Corte.”

Adrian não parecia feliz em ter Joe trazido à tona, já que isso comprometia

sua mãe por suborno. “Eles vão ter dificuldades em fazê-lo falar.” Hans cerrou os olhos. “Ah, se ele sabe de alguma coisa, faremos ele falar.”

Ele deu um aceno aguçado em relação à porta, e um dos guardiões junto de Eddie foi até lá. “Ache esse cara. E mande nossos ‘convidados’ entrarem.” O guardião aquiesceu e deixou a sala.

“Que convidados?” perguntou Lissa. “Bem,” disse Hans, “é engraçado você mencionar Hathaway. Porque nós

acabamos de avistar ela.” Lissa ficou rígida, pânico jorrando dentro dela. Eles encontraram Rose. Mas

como? Abe havia assegurado a ela que ela estava segura em uma cidade em West Virginia.

“Ela e Belikov foram avistados fora de Detroit, onde eles sequestraram uma

garota.” “Eles nunca iriam –” Lissa parou. “Você disse Detroit?” Foi com grande

autocontrole que ela não lançou olhares questionadores para Christian e Adrian.

Hans concordou, e embora ele desse a impressão de só estar dando a

informação, eu sabia que ele estava vigiando por alguma reação reveladora de meus amigos. “Eles tinham algumas pessoas com eles. Alguns escaparam, mas nós pegamos uma.”

“Quem eles sequestraram?” perguntou Christian. Seu espanto também não

era falso. Ele também pensou que estávamos seguramente escondidos. “Mastrano,” disse Hans. “Alguma coisa Mastrano.” “Jill Mastrano?” exclamou Lissa?

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“Jailbait?” perguntou Adrian. Hans claramente não tinha sido informado do apelido mas não teve a

oportunidade de questionar isso porque, naquele momento, a porta se abriu. Três guardiões entraram, e com eles estava – Sydney.

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VINTE E SETE EU TERIA ENCARADO DE BOCA ABERTA SE estivesse lá, tanto pelo choque

de ver Sydney e um humano na Corte. Humanos, na verdade, porque havia dois outros com ela, um homem e uma mulher. O homem era jovem, apenas um pouco mais velho que Sydney, com cabelos e olhos castanhos. A mulher era mais velha e tinha aquele olhar durão de Alberta. Essa mulher tinha pele escura, mas eu podia ver a tatuagem dourada que ela e os outros humanos tinham. Todos os alquimistas.

E era óbvio que esses alquimistas não estavam felizes. A mulher mais velha

era uma boa atriz, mas seus olhos deixavam claro que ela queria estar em algum lugar – qualquer lugar – diferente. Sydney e o cara não esconderam seu medo. Sydney pode ter se acostumado comigo e Dimitri, mas ela e seus associados tinham entrado no covil do demônio, até onde sabiam.

Os alquimistas não estavam sozinhos em seu desconforto. Assim que

entraram, os guardiões não viam mais Eddie como a ameaça na sala. Seus olhos estavam nos humanos, encarando como se eles fossem Strigoi. Meus amigos pareciam mais curiosos do que temerosos. Lissa e eu vivemos entre os humanos, mas Christian e Adrian se expuseram bem pouco, a não ser os alimentadores. Ver os alquimistas em ‘nosso território’ acrescentava um elemento de intriga.

Eu certamente estava surpresa por ver Sydney ali tão cedo. Ou era cedo?

Horas passaram desde que fugimos da casa de Jill. Não tempo o bastante para ir de carro até a Corte, mas o bastante para ir voando. Sydney não havia mudado suas roupas desde a última vez que a vi, e havia olheiras sobre seus olhos. Eu tinha a sensação de que ela foi pressionada sem parar desde sua captura. O mistério era, porque trazer os alquimistas para a reunião sobre Eddie matar um Moroi desconhecido? Eram dois assuntos completamente diferentes.

Lissa estava pensando a mesma coisa. “Quem são eles?” ela perguntou,

embora ela tivesse uma excelente ideia de quem Sydney era. Ela ouviu descrições o bastante de mim. Sydney acenou para Lissa uma única vez, e eu suspeitei que ela tinha adivinhado a identidade de Lissa também.

“Alquimistas,” disse Hans duramente. “Sabe o que isso significa?” Lissa e meus amigos acenaram. “O que eles tem haver com Eddie e aquele

cara que me atacou?” ela perguntou. “Talvez nada. Talvez nada.” Hans deu de ombros. “Mas sei que tem algo

estranho acontecendo, algo que todos vocês estão envolvidos, e preciso

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descobrir o que. Ela” – Hans apontou para Sydney – “estava com Hathaway em Detroit, e eu ainda acho difícil acreditar que nenhum de vocês não sabe de nada.”

Adrian cruzou seus braços e se inclinou contra a parede, a imagem perfeita

de indiferença. “Continue acreditando nisso, mas não conheço nenhuma dessas pessoas. Os alquimistas não nos odeiam? Porque estão aqui?” Adrian, ironicamente, era o único dos meus amigos que sabia que eu não estava em West Virginia, mas nunca adivinharia por seu comportamento.

“Porque temos uma fugitiva assassina para lidar e precisamos interrogar

seus cúmplices em pessoa,” foi a resposta de Hans. Uma negação de minha culpa estava nos lábios de Lissa, mas a alquimista

mais velha foi mais rápida. “Você não tem provas de que a Srta. Sage era ‘cúmplice’ da sua criminosa. E ainda acho ridículo você não nos deixar fazermos nossas próprias perguntas e deixar nisso.”

“Em qualquer outra situação, iríamos, Srta. Stanton,” respondeu Hans. Gelo

estava se formando entre eles. “Mas aqui, como pode imaginar, é um pouco mais sério do que o normal. Nossa rainha foi morta.”

Tensão cresceu ainda mais entre guardiões e alquimistas. Sua relação de

trabalho não era feliz, eu percebi. Também me ocorreu que mesmo que os superiores de Sydney achassem que ela cometeu algum crime, eles nunca iriam admitir para o meu povo – o que significa que a paranoia de Hans não era totalmente descabida. Quando nenhum dos alquimistas respondeu, Hans pareceu entender isso como uma aprovação e começou a interrogar Sydney.

“Você conhece esses três?” Ele gesticulou para meus amigos, e Sydney

negou. “Já se comunicou com eles?” “Não.” Ele pausou, como se esperasse que ela mudasse sua resposta. Mas ela não

mudou. “Então como você se envolveu com Hathaway?” Ela o estudou intensamente, medo em seus olhos castanhos. Eu não tinha

certeza se era exatamente por causa dele. Na verdade, ela tinha muitos motivos para estar preocupada agora, como a eventual punição que os alquimistas infligiriam a ela. Então, é claro, havia Abe. Tecnicamente, ele era o motivo para ela estar nessa confusão. Tudo que ela tinha que fazer era falar dele, dizer que foi chantageada. Ela se safaria – mais atrairia sua ira. Sydney engoliu e forçou um olhar desafiador.

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“Eu conheci Rose na Sibéria.” “Sim, sim,” disse Hans. “Mas como acabou ajudando ela a fugir?” “Eu não tive nada haver com ela escapar daqui!” disse Sydney. Era meio

verdade, eu suponho. “Ela me contatou alguns dias atrás e pediu ajuda para chegar a uma casa em Detroit. Ela alegou que era inocente e poderia provar.”

“Os alquimistas sabem que ela é uma fugitiva,” apontou Hans. “Todos foram

ordenados a procurar por ela. Você poderia tê-la entregado.” “Quando conheci Rose, ela não parecia uma assassina – eu quero dizer, fora

matar Strigoi. O que não é assassinato, na verdade.” Sydney jogou um pouco de desdém dos alquimistas. Era um bom truque. “Então, quando disse que era inocente e podia provar, eu decidi ajudá-la. Eu dei a ela uma carona.”

“Já perguntamos a ela sobre isso,” Stanton disse irritado. “E já te falamos

que perguntamos. O que ela fez foi uma tolice – um ingênuo lapso de julgamento. É algo para nós lidarmos, não você. Você se preocupe com sua assassina fugitiva.” Suas palavras eram leves, como se fossem levar Sydney pra casa e castigar uma criança levada. Eu duvidava que fosse tão simples.

“Quem eram as pessoas com ela?” perguntou Hans, ignorando Stanton. O contentamento de Sydney cresceu. “Um era aquele cara... Dimitri Belikov.

O que vocês acham que foi ‘curado’. Não sei quem eram os outros. Dois caras e uma mulher. Eles nunca nos apresentaram.” Era uma ótima mentira, seu falso desgosto sobre Dimitri mascarava seu conhecimento do resto dos nossos associados.

Lissa se inclinou para frente ansiosa, falando antes de Hans. “O que havia

em Detroit? Como Rose ia limpar seu nome? Especialmente com Jill?” Hans não parecia feliz com a interrupção, mas eu sabia que ele deveria estar

curioso sobre Jill e Detroit também. Ele não disse nada, talvez esperando que alguém derrapasse e revelasse uma parte do seu conhecimento. Sydney, no entanto, continuou a bancar a distante e legal.

“Eu não tenho ideia. Jill também não parecia saber também. Rose só disse

que tínhamos que chegar até ela, então eu a ajudei.” “Cegamente?” perguntou Hans. “Você realmente espera que eu acredite

que você confia nela assim?”

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“Ela é minha –” Sydney mordeu seu próprio lábio e eu suspeitei que eu era

sua ‘amiga’. Ela voltou para seu modo profissional. “Havia algo ‘acreditável’ sobre ela, e eu achei que era um desperdício de recursos dos alquimistas eles ajudarem a caçar a assassina errada. Se eu decidisse que ela era culpada, eu sempre poderia traí-la. E eu pensei... eu pensei que se eu resolvesse isso, eu teria crédito e uma promoção.” Essa era uma boa, boa mentira. Uma garota ambiciosa tentando melhorar sua carreira? Muito bom. Bem, não para todos.

Hans balançou sua cabeça. “Eu não acredito em nenhum de vocês.” O alquimista deu um passo para frente e fez todos os guardiões ficarem

tensos e pularem para perto dele. “Se ela diz que foi isso que aconteceu, então foi isso que aconteceu.” Ele tinha a mesma fúria e desconfiança de Stanton, mas havia algo mais. Uma certa proteção em relação a Sydney que era tanto pessoal quanto profissional. Lissa também percebeu.

“Calma, Ian,” disse Stanton, ainda de olho em Hans. Sua compostura me

lembrava Alberta cada vez mais. Ela não podia estar calma em estar no mesmo lugar de vários guardiões, mas não estava demonstrando. “Não importa se acredita ou não. A questão continua: A Srta. Sage respondeu suas questões. Nós terminamos.”

“Os pais de Jill sabem de algo?” perguntou Lissa. Ela ainda estava em

choque por tudo que aconteceu – sem mencionar sua preocupação comigo por estar fora da cidade montanhosa – mas essa chance misteriosa de limpar meu nome era poderosa demais. Ela não podia ignorar.

Sydney virou para Lissa, e eu praticamente podia ler os pensamentos da

alquimista. Ela sabia o quão próximas Lissa e eu éramos e daria algum conforto a Lissa. Mas não havia como Sydney fazer isso com todas essas pessoas na sala. Ela também tinha que estar ciente dos fatos que eu não tinha dito nada a Lissa sobre Jill.

“Não,” disse Sydney. “Só fomos lá, e Rose disse que Jill tinha que ir com ela.

Os Mastranos não sabiam por que. E então – e então Rose a levou. Ou Jill foi com ela. Não tenho certeza do que aconteceu. Tudo acabou em caos.”

Nem os guardiões nem os alquimistas disputaram a guarda de Jill, o que me

fez pensar que foi a história que eles pegaram – uma aceitável – tanto dos pais de Jill quanto de Sydney. Tinha verdade o bastante para ser plausível – e explicar o desaparecimento de Jill. No entanto, não mencionava o segredo dos Dragomirs, o que Emily provavelmente ficou mais do que feliz de esconder por enquanto.

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“Aqui,” disse Stanton. “Isso é exatamente o que te falamos antes.

Precisamos partir agora.” Ela virou em direção à porta, mas os guardiões bloquearam o caminho.

“Impossível,” disse Hans. “Esse assunto é sério, e a Srta. Sage é o único link

que temos com a assassina – uma assassina da realeza. E um sequestro.” Stanton fez uma careta, e eu lembrei de Sydney dizendo uma vez que os

alquimistas pensavam que o sistema da realeza Moroi era tolo. “Ela não parece ter muito mais uso para você. Mas não se preocupe – vamos prendê-la. Nos contate se tiver mais perguntas.”

“Inaceitável,” disse Hans. “Ela fica aqui.” Ian, o outro alquimista, se juntou a discussão, se movendo de maneira

protetora para frente de Sydney. “Não vamos deixar um dos nossos aqui!” De novo, eu tinha uma sensação estranha sobre ele. Uma paixonite, era isso. Ele tinha uma paixonite por ela e estava tratando isso mais do que apenas negócios. Stanton deu a ele um olhar que dizia que ela podia lidar com esse assunto. Ele ficou quieto.

“Então podem ficar aqui,” disse Hans. “Não faz diferença para mim. Vou

conseguir para vocês, quartos.” “Isso é inaceitável.” Dalí, ela e Hans começaram a discutir. Eu não acho que

teria chego a socos, mas um dos guardiões se aproximou como precaução. Os olhos de Ian passavam entre Stanton e Sydney, mas ele não se meteu.

Uma vez, seu olhar passou pela mesa que Hans estava inclinado, e Ian de repente olhou novamente a foto. Foi apenas uma breve pausa, um leve arregalar de olhos... mas Lissa percebeu.

Ela deu um passo em direção de Ian e Sydney. Um dos guardiões,

percebendo o movimento, considerou que Lissa estava segura, e voltou a observar Stanton. “Você o conhece,” Lissa murmurou, mantendo a voz baixa. Na verdade, estava um pouco baixa demais porque ela recebeu olhares em branco de Sydney e Ian. Seus ouvidos não captavam o que um Moroi e dhampir teriam.

Lissa olhou agitada ao redor, sem querer chamar atenção. Ela ergueu o

volume levemente. “Você o conhece. O cara da foto.” Ian encarou Lissa, um pouco de admiração e cautela em seu rosto. Ele sem

duvidas tinha a mesma atitude reservada em relação aos vampiros, mas suas

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palavras o pegaram de surpresa. E, mesmo que ela fosse uma maligna criatura da noite, ela era muito bonita.

“Ian,” disse Sydney suavemente. “O que foi?” Havia uma nota de urgência

em sua voz, uma que inadvertidamente brincava com sua paixonite, eu acho. Ele abriu sua boca para falar, mas então, a ‘conversa’ entre os outros terminou. Sydney de novo se tornou o centro das atenções, e Ian desviou o olhar de Lissa.

O acordo que Stanton e Hans chegaram era exatamente esse – um acordo.

Nenhum deles estava feliz. Havia uma pequena cidade cerca de 45 minutos da Corte, e os Alquimistas iriam ficar lá – com vários guardiões por perto. Parecia como prisão domiciliar para mim, e a expressão de Stanton parecia concordar. Eu acho que ela apenas consentiu porque era uma cidade humana. Antes dele deixar todos partirem, Hans questionou meus amigos uma última vez, seus olhos estudando cada rosto cuidadosamente.

“E nenhum de vocês – nenhum de vocês – conhece essa garota alquimista

ou esteve em contato com ela? Ou sabe sobre seu envolvimento com Hathaway?”

De novo, Lissa e os outros negaram, Hans não teve escolha a não ser aceitar

a resposta. Todos se moveram em direção à porta, mas Hans não deixou Eddie sair. “Você não, Castile. Você fica aqui até outros assuntos serem resolvidos.”

Lissa arfou. “O que? Mas ele –” “Não se preocupe,” disse Eddie com um pequeno sorriso. “Tudo vai ficar

bem. Só cuidado.” Lissa hesitou, apesar do pequeno puxão que Christian deu em seu braço

para saírem. Embora tudo dissesse que Eddie estava defendendo a vida de Lissa, ele ainda matou um Moroi. Isso não seria lidado de forma leviana. Os guardiões tinham que estar 100% convencidos de que ele não teve escolha antes de soltá-lo. Vendo o olhar forte e calmo em seu rosto, Lissa sabia que ele estava preparado para lidar com o que viesse.

“Obrigado,” ela disse, passando por ele. “Obrigada por me salvar.” Sua resposta foi um leve aceno, e Lissa saiu para o corredor – para se

encontrar em mais caos. “Onde eles estão? Eu insisto em – ah.”

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Meus amigos e os alquimistas estavam indo em direção à saída enquanto um grupo de guardiões os escoltava. Enquanto isso, alguém entrou no corredor e agora estava sendo impedido e desafiado pelos guardiões. Era Abe.

Ele absorveu o bizarro cenário em menos de um segundo, seus olhos

passando por Sydney e os alquimistas como se nunca os tivesse visto antes. Através dos olhos de Lissa, eu vi Sydney ficar branca, mas ninguém mais notou. Abe sorriu para Lissa e foi falar com ela.

“Aí está você. Eles querem você para o último teste.” “E te mandaram?” perguntou Christian de forma cética. “Bem, eu fui voluntário,” respondeu Abe. “Eu ouvi que havia alguma, ah,

excitação. Assassinato, humanos religiosos fanáticos, interrogatórios. Todo tipo de coisa que me interessa, você sabe.”

Lissa virou os olhos mas não disse nada até o grupo todo sair do prédio. Os

alquimistas e sua escolta nada bem vinda foram para um lado enquanto Lissa e os outros foram para o outro. Lissa olhou para Sydney e Ian – e eu também – mas sabia que era melhor continuar indo em frente e seguir Abe, já que alguns daqueles guardiões estavam observando mais do que apenas os alquimistas.

Assim que o grupo de Lissa estava longe o bastante das autoridades, o

sorriso de Abe sumiu, e ele virou para meus amigos. “O que diabos aconteceu? Eu ouvi todo tipo de história maluca. Alguém

disse que você estava morta.” “Quase,” disse Lissa. Ela contou a ele sobre o ataque, expressando seu

medo por Eddie. “Ele vai ficar bem,” disse Abe. “Eles não tem nada para segurá-lo. O pior que

vai ter é uma marca em seu histórico.” Lissa ficou aliviada com a segurança de Abe, mas ainda se sentia culpada.

Graças a mim, o histórico de Eddie estava manchado. Sua reputação estava diminuindo a cada dia.

“Aquela era Sydney Sage,” disse Lissa. “Eu achei que eles estavam em West

Virginia. Porque ela não está com Rose?” “Essa,” disse Abe, “é uma excelente pergunta.”

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“Porque eles aparentemente sequestraram Jill Mastrano em Detroit,” disse Christian. “O que é estranho. Mas não é uma das coisas mais loucas que eu posso imaginar Rose fazendo.” Eu agradeci pelo apoio.

Abe ouviu sobre os novos desenvolvimentos, pelo menos até onde meus

amigos sabiam – o que era apenas uma fração da história toda. Abe entendeu imediatamente que foi enganado, e era óbvio por sua expressão raivosa que ele não gostava de ser mantido no escuro. Bem vindo ao clube, velho, eu pensei com uma pequena satisfação. Eu não tinha esquecido como ninguém me contou sobre a fuga. Minha presunção teve vida curta, porque eu estava preocupada com o que aconteceria com Sydney, agora que Abe estava na cola dela.

“Aquela garota estava mentindo para mim,” ele rosnou. “Todo dia, todos

aqueles relatórios sobre o quão quieto e chato era West Virginia. Eu me pergunto se eles sequer chegaram à cidade. Eu tenho que ir falar com ela.”

“Boa sorte,” disse Adrian, acendendo um cigarro. Aparentemente, em

minha ausência, o contrato que ele fez brincando de que ele iria ‘cortar’ seus vícios não se aplicava. “Eu não acho que seus amigos ou os guardiões vão deixar você se aproximar dela.”

“Oh, eu vou chegar até ela,” disse Abe. “Ela tem muitas respostas. Se ela as

escondeu daqueles idiotas, então bom para ela. Mas ela vai me contar.” Um repentino pensamento surgiu na mente de Lissa. “Você tem que

conversar com Ian. Aquele cara com os alquimistas. Ele conhece o cara da foto – er, quero dizer, o cara que Eddie matou.”

“Tem certeza?” perguntou Abe. “Sim,” disse Adrian, surpreendendo todos eles. “Ian definitivamente teve

uma reação. Ele também tem uma paixonite por aquela garota, Sydney.” “Eu também vi,” disse Lissa. “Ela parece meio nervosa.” Adrian franziu. “Mas talvez ele caia nessa.” “Aquela paixonite pode ser útil,” brincou Abe. “Vocês mulheres não sabem

o poder que tem. Você viu o guardião que sua tia namorada? Ethan Moore?” “Sim,” rosnou Christian. “Não me lembre.” “Tasha é bem quente,” disse Adrian.

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“Isso não é engraçado,” disse Christian. “Não fique tão defensivo,” disse Abe. “Ethan é um guarda do palácio. Ele

estava lá na noite do assassinato – o que pode ser muito útil para nós se ela puder manter ele interessado.”

Christian balançou sua cabeça. “Aqueles guardiões já testemunharam. Não

importa. Ethan contou o que sabe.” “Não tenho tanta certeza,” disse Abe. “Tem sempre coisas que ocorrem fora

do registro oficial, e tenho certeza que os guardas tiveram ordens estritas do que dizer ou não. Sua tia pode ser charmosa o bastante para descobrir algo para nós.” Abe suspirou, ainda parecendo muito descontente com o repentina virada na ordem dos seus planos. “Se Sydney fosse charmosa o bastante para se safar daquele interrogatório para que eu pudesse interrogá-la. Agora tenho que passar por aqueles alquimistas e guardiões para chegar até ela e descobrir onde Rose está. Oh, e você realmente tem que ir pro seu teste, princesa.”

“Eu achei que essa era apenas a desculpa para me encontrar,” Lissa disse. “Não, eles querem você.” Ele deu a ela instruções para chegar ao teste. Era

o prédio em que ela fez seu segundo teste. “Todos vocês vão juntos e então peguem um guardião para acompanhá-los de volta. Não deixe seu quarto até Janine ou Tad aparecerem.” Tad era um dos guarda costas de Abe. “Nada mais de ataques surpresa.”

Lissa queria alegar que ela certamente não ia se colocar em prisão

domiciliar, mas decidiu que era melhor deixar Abe ir embora, por enquanto. Ele saiu com pressa, ainda irradiando agitação, e ela e os caras foram em direção à área do teste.

“Cara, ele esta fulo,” disse Adrian. “Você o culpa?” perguntou Christian. “Ele acabou de perder a carteirinha de

membro do clube das mentes por trás dos planos diabólicos. Seu brilhante plano foi por água abaixo, e agora sua filha está desaparecida quando ele achou que ela estava em algum lugar seguro.”

Adrian ficou em silêncio. “Eu espero que ela esteja bem,” suspirou Lissa, um nó se formando em seu

estômago. “E o que diabos Jill tem haver com tudo isso?”

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Ninguém respondeu aquela. Quando chegaram à área de teste, Lissa se encontrou numa situação quase idêntica a antes. Muitos dos espectadores estavam no corredor. Guardiões bloqueavam a porta. Mais pessoas do que nunca gritavam seu nome conforme ela se aproximava, alguns que eram Moroi ‘comuns’ e outros da realeza cujos candidatos saíram. Várias indicados não passaram no teste do medo, então aquelas famílias tinham trocado sua torcida.

De novo, Lissa foi deixada em uma sala sozinha. Seu coração começou a

bater com força quando ela viu a mesma senhora. Mais imagens assustadoras estavam por vir? Lissa não conseguia ver o cálice, mas não havia garantias. Não havia uma cadeira extra, então Lissa simplesmente permaneceu na frente da senhora.

“Olá,” disse Lissa de forma respeitosa. “É bom ver você de novo.” A mulher sorriu, mostrando o dente que faltava. “Eu duvido disso, mas você

fala de forma convincente. Você tem política em seu sangue.” “Obriga... da...” disse Lissa, insegura se aquilo foi um elogio ou não. “O que

você quer que eu faça nesse teste?” “Só escute. Apenas isso. É fácil.” Um piscar do olho da mulher fez Lissa pensar que isso não seria fácil. “Tudo que tem que fazer é responder uma pergunta para mim. Responda

corretamente, e você pode ir para a votação. E não será divertido.” A senhora parecia dizer aquelas últimas palavras mais para ela do que pra Lissa.

“Ok,” disse Lissa inquieta. “Estou pronta.” A mulher observou Lissa e parecia gostar do que viu. “Aqui está, então: O

que uma rainha deve possuir para realmente governar seu povo?” A mente de Lissa ficou em branco por um momento, e então várias palavras

passaram por sua mente. Integridade? Sabedoria? Sanidade? “Não, não, não responda,” disse a mulher, observando Lissa com cuidado.

“Ainda não. Você tem até amanhã, há essa mesma hora, para pensar. Volte com a resposta certa, e você terá passado nos testes. E...” Ela piscou. “Você não vai falar com ninguém sobre isso.”

Lissa acenou, esfregando sua tatuagem no braço. Ela não teria a ajuda de

ninguém. Lissa saiu da sala, repassando a pergunta de novo e de novo em sua

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mente. Havia respostas demais para uma pergunta assim, ela pensou. Qualquer uma delas podia –

Movimento em minha realidade instantaneamente me trouxe de volta. Eu

meio que esperava Sonya entrar correndo na tenda, mas não, não foi isso que chamou minha atenção. Foi um movimento muito menor... e algo infinitamente mais poderoso.

Dimitri estava em meus braços.

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VINTE E OITO EU PAREI DE RESPIRAR. CADA um de nós tinha seu próprio cobertor, mas

mesmo no verão, a temperatura tinha caído durante a noite. Dimitri, dormindo, tinha virado contra mim, emergindo nossos cobertores em uma pilha e descansando sua cabeça no meu peito. Seu corpo estava contra o meu, quente e familiar, e ele até se aconchegou para mais perto.

Ele estava mais cansado do que percebi se estava fazendo isso dormindo. Afinal de contas, esse era o cara que dormia com um olho aberto. Mas sua guarda estava baixa agora, seu corpo inconscientemente procurando... o que? Calor? Eu? Merda. Porque eu não tinha feito a Sonya minha pergunta? Porque eu não conseguia continuar com meu papel fácil de namorada de Adrian e namorada de Dimitri? Porque honestamente, eu não estava fazendo um bom trabalho em nenhuma dessas coisas no momento.

Timidamente, com medo, eu me mexi levemente para poder colocar um

braço ao redor de Dimitri e trazê-lo mais próximo. Eu sabia que era um risco, um que poderia acordá-lo e fazer quebrar o encanto. Mas não. Se algo, ele pareceu relaxar ainda mais. Sentir ele assim... segurá-lo... trouxe muitas emoções em mim. A dor que eu senti desde que o perdi queimou dentro de mim. Ao mesmo tempo, segurá-lo assim também parecia preencher aquela ferida, como se uma parte de mim que estava desaparecida, tivesse sido restaurada. Eu nem tinha percebido que aquele pedaço estava faltando. Eu bloqueei tudo até as palavras de Sonya balançarem minha frágil nova aceitação da vida.

Eu não sei quanto tempo permaneci daquele jeito com Dimitri. Foi tempo o

bastante para o sol começar a iluminar o translúcido tecido da tenda. Essa foi toda a luz que eu precisava para ver Dimitri, para ver as finalmente entalhadas linhas do seu rosto e a suavidade de seu cabelo enquanto estava deitado contra mim. Eu queria tanto tocar aquele cabelo, ver se era como antes. Esse era um sentimento tolo, é claro. Seu cabelo não iria ter mudado. Ainda sim... a vontade estava ali, e eu finalmente cedi, gentilmente passando meus dedos por algumas mechas. Elas eram macias e sedosas, e o leve toque enviou calafrios por mim. Eu também o acordei.

Seus olhos se abriram, instantaneamente em alerta. Eu esperava que ele

pulasse para longe de mim, mas ao invés disso, ele apenas avaliou a situação – e não se moveu. Eu deixei minha mão onde estava do lado do seu rosto, ainda acariciando seu cabelo. Nossos olhares se prenderam, tanta coisa passando entre nós. Naqueles momentos, eu não estava na tenda com ele, ou fugindo daqueles que nos enxergavam como vilões. Não havia um assassino para pegar,

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nem um trauma de Strigoi para superar. Só havia eu e ele e os sentimentos que se enterram dentro de nós há tanto tempo.

Quando ele se moveu, não foi para se afastar. Ao invés disso, ele ergueu sua

cabeça para me olhar. Apenas alguns centímetros nos separavam, e seus olhos o traíram. Ele queria me beijar – e eu o queria também. Ele se inclinou por cima de mim, uma mão descansando contra minha bochecha. Eu me preparei para seus lábios – eu precisava deles – e então ele congelou. Ele se afastou e sentou, exalando em frustração enquanto desviava o olhar. Eu sentei também, minha respiração rápida e superficial.

“Qu- qual problema?” eu perguntei. Ele olhou para mim. “Escolha. Tem muitas escolhas.” Eu passei um dedo contra meus lábios. Tão perto, tão, tão perto. “Eu sei...

eu sei que as coisas mudaram. Eu sei que você está errado. Eu sei que você pode sentir amor de novo.”

Sua máscara estava de volta enquanto formulava uma resposta. “Isso não se

trata de amor.” O último minuto repassou na minha cabeça, a perfeita conexão, o jeito que

ele me olhou e fez meu coração bater. Diabos, Sonya alegou que nós até tínhamos algum tipo de conexão mística. “Se não é por amor, então o que é?” eu exclamei.

“É sobre fazer a coisa certa,” ele disse baixo. A coisa certa? Certo e errado eram tópicos presentes em St. Vladimir. Eu

não tinha dezoito anos. Ele era meu professor. Íamos ser os guardiões de Lissa e tínhamos que dar a ela toda nossa atenção. Todos esses eram motivos para ficarmos separados e era necessário naquele tempo. Mas isso passou faz tempo.

Eu teria o questionado mais – se alguém não tivesse aberto nossa porta. Nós dois levantamos e nos separamos, buscando as estacas as quais

dormíamos perto. Agarrar minha estaca era instintivo porque eu sabia que não havia nenhum Strigoi ali. Mas ultimamente, Strigoi tem sido a última de nossas preocupações.

“Rose? Dimitri?”

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A voz mal era audível – mas familiar. Relaxando um pouco, eu abri a tenda que revelou Sonya ajoelhada na frente. Como nós, ela usava as mesmas roupas de antes, mas seu cabelo estava uma bagunça. Fora isso, ela parecie ter escapado intacta. Eu fui para o lado, para que ela pudesse entrar.

“Aconchegante,” ela disse, olhando ao redor. “Vocês estão no lado mais

distante do acampamento. Levou um tempão para encontrar o carro que você descreveu.”

“Como chegou aqui?” eu perguntei. Ela piscou. “Você não é a única que pode roubar carros. Ou, no meu caso,

fazer as pessoas emprestá-los ‘por vontade própria’.” “Você foi seguida?” perguntou Dimitri. Ele estava sério de novo, sem

qualquer sinal do que havia passado um segundo atrás. “Não que tenha percebido,” ela disse, ficando de pernas cruzadas. “Alguns

guardiões me seguiram na vizinhança, mas os despistei há algum tempo. A maioria deles parecia mais interessado em vocês dois.”

“Imagine só,” eu murmurei. “Pena que Victor já tinha fugido – ele poderia

ser a prioridade.” “Ele não matou a rainha,” ela disse pesarosamente. Eventualmente

tínhamos que contar a ela porque Victor era procurado e que era ele que Sonya tinha sentindo perseguir Lissa em St. Vladimir. “Mas as boas notícias é que sei onde estão agora.”

“Onde?” perguntamos Dimitri e eu juntos. Um pequeno e sábio sorriso apareceu em seus lábios depois disso. “West

Michigan,” ela disse. “Eles fugiram para o lado oposto da Corte.” “Merda,” eu murmurei. Dimitri e eu fomos para o sul de Ann Arbor,

passando pelos subúrbios de Detroit e cruzando para Ohio. Escolhemos a direção errada. “Mas você viu Jill? Ela está bem?”

Sonya acenou. “Bem. Assustada, mas bem. Ela descreveu o terreno o

bastante, e eu acho que posso localizar seu motel. Eu a encontrei no sonho algumas horas atrás; eles tinham que descansar. Victor não estava se sentindo bem. Eles podem permanecer lá.”

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“Então precisamos ir agora,” disse Dimitri, instantaneamente entrando em ação. “Assim que estiverem em movimento, Jill estará acordada e fora de alcance.”

Juntamos nosso acampamento com uma incrível velocidade. Meu tornozelo

parecia melhor mas ainda estava dolorido. Notando que estava mancando, Sonya mandou pararmos logo antes de entrar no seu carro.

“Aguenta aí.” Ela se ajoelhou perante de mim, examinando o tornozelo inchado que

estava facilmente exposto com meu vestido rasgado. Respirando fundo, ela pôs sua mão em mim, e uma onda de eletricidade passou por minha perna, seguida por uma onda de calor e frio. Quando acabou e ela levantou, a dor e o inchaço sumiram, assim como os arranhões da minha perna. Provavelmente o corte na minha cabeça também. Usuários de espírito me curavam tão frequentemente que é de se achar que estou acostumada, mas ainda era um pouco surpreendente.

“Obrigada,” eu disse. “Mas você não deveria ter feito isso... não deveria

usar mágica...” “Você precisa estar em excelentes condições,” ela disse. Seu olhar se

afastou de mim, observando as árvores. “E a magia... bem, é difícil ficar longe dela.”

De fato era, e eu me senti culpada por ela estar usando em mim – e se

movendo mais próximo da insanidade. A restauração de Robert tinha curado sua mente um pouco, e ela precisava tomar vantagem disso. Não havia tempo para discursos, no entanto, e a expressão de Dimitri me dizia que ele também achava que era melhor eu voltar à forma.

Partimos para onde Sonya nos disse onde Jill estava, e dessa vez, suas

instruções eram tão específicas quanto ela podia. Nada mais de atitude vagas ou promessas vazias. Paramos uma vez para ‘adquirir’ um novo carro e um mapa. A informação que Sonya tinha conseguido com Jill nos levou até uma cidade chamada Sturgis. Embora fosse na metade ocidental de Michigan, também era ao sul – o que significa que a distância não era tão longe quanto esperávamos. Mesmo assim, Dimitri dirigiu pelo menos 80 quilômetros por hora acima do limite, o tempo todo.

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“Ali,” disse Sonya, enquanto entravamos na cidade de Sturgis – que não era bem uma cidade. Estávamos perto de um motel com aparência modesta em uma rua lateral. “Foi isso que ela descreveu. O Motel Sunshine2.”

Dimitri estacionou atrás do prédio, e todos ficamos sentados ali, encarando

o motel, que não parecia tão alegre quanto o nome. Como eu, eu presumi que meus companheiros estavam tentando descobrir como se aproximar. A informação no sonho de Jill nos trouxe aqui, mas Sonya não tinha nada mais para nos ajudar a encontrar seu quarto – se eles ainda estivessem aqui. Certamente não teriam feito a entrada com seus nomes verdadeiros. Eu ia sugerir que passássemos pelas portas e trouxéssemos que Sonya sentisse Robert.

“Aquele é o carro deles,” ela disse. “Eles estão aqui.” Certa o bastante. Ali estava o sedam que pegamos da casa de Jill. Em falar

em karma. Eu roubei as chaves de Victor e ele não agradeceu roubando as nossas. Nenhum de nós pensou muito sobre seu veículo de fuga, no caos.

“Descuidado,” murmurou Dimitri, os olhos cerrados pensativamente. “Eles

deveriam ter trocado de carro.” “Aquele é o de Sydney,” eu apontei. “Tecnicamente não é roubado, então

não está na lista da polícia. Além do mais, algo me diz que Victor e Robert não são profissionais como algumas pessoas.” Nós abandonamos inúmeros carros roubados pelo Midwest.

Dimitri acenou, como se eu tivesse acabado de elogiá-lo. “Qualquer que seja

o motivo, nos ajuda.” “Como vamos encontrá-los?” perguntou Sonya. Eu estava prestes a sugerir o plano de ler aura, mas abandonei. Robert

sentiria Sonya ao mesmo tempo, dando a ele um breve aviso. Além do mais, quando encontrássemos os irmãos, provavelmente haveria uma briga. Fazer isso num motel atrairia atenção. Esse estacionamento ficava atrás, longe da rua principal.

“Esperamos,” eu disse. “É surpreendente eles terem parado tanto tempo.

Se eles tem qualquer cuidado, eles vão partir logo.”

2 Luz do sol; felicidade, alegria

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“Concordo,” disse Dimitri, observando meu olhar. Almas em sincronia. A memória daquele quase beijo retornou, e eu desviei o olhar, temendo o que meu rosto trairia. “O estacionamento é mais fácil de defender também. Não tem muito espaço para fuga.” Era verdade. O motel estava de um lado, uma parede de concreto do outro. Não havia muitos prédios próximos também.

Ele moveu nosso carro para o ponto mais longe do estacionamento, nos

dando uma excelente vista para a saída do motel – mas nos mantendo meio escondidos. Consideramos ficar sentados no carro, mas Dimitri e eu decidimos sair, nos dando mais mobilidade. Deixamos Sonya dentro. Essa não era sua luta.

Parada atrás do carro com Dimitri, na sombras de um carvalho, eu fiquei

ciente de sua proximidade e sua ferocidade como guerreiro. Ele podia estar sem seu casacão, mas eu tinha que admitir que eu gostava da vista que eu tinha dele sem o casaco.

“Eu não suponho,” eu disse suavemente, “que vamos conversar sobre hoje

de manhã?” Os olhos de Dimitri estavam tão fixos no sedan, que ele podia estar

tentando fazer Jill e os irmãos materializarem dentro dele. Eu não fui enganada. Ele estava apenas evitando me olhar. “Não tem nada para conversar.”

“Eu sabia que você diria isso. Na verdade, estava entre isso e ‘eu não sei do

que você está falando’.” Dimitri suspirou. “Mas,” eu continuei, “tem algo para conversar. Como quando você quase

me beijou. E o que você quis dizer quando disse ‘a coisa certa’?” Silêncio. “Você queria me beijar!” Era difícil manter minha voz baixa. “Eu vi.” “Só porque queremos algo, não significa que seja certo.” “O que eu disse... é verdade, não é? Você pode amar, não pode? Eu percebi

agora depois da transformação, você não achava que podia. E provavelmente não podia. Mas as coisas mudaram. Você está voltando ao normal.”

Dimitri me olhou de lado. “Sim. As coisas mudaram... e algumas não.”

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“Ok, Sr. Enigma. Isso não ajuda a explicar o comentário sobre ‘a coisa certa’.”

Frustração preencheu suas feições. “Rose, fiz muitas coisas erradas, a

maioria eu nunca vou poder consertar ou me redimir. Minha única escolha agora, se quero recuperar minha vida, é seguir em frente, impedir o mal e fazer o que é certo. E o que não é certo é tirar uma mulher de outro homem, um homem que eu gosto e respeito. Eu roubo carros. Eu arrombo casas. Mas tem uma linha que eu não vou ultrapassar, não importa o que eu –”

A porta de trás do motel se abriu e chamou nossa atenção. Não era de se

admirar que minha vida amorosa estivesse tão confusa, já que nos momentos mais profundos e íntimos sempre eram interrompidos por essas situações. Nesse caso era bom porque eu nunca, nunca previ esse comentário chegando: o que não é certo é tirar a mulher de outro homem, um homem que eu gosto e respeito.

Novos dramas. Victor saiu, com Robert e Jill andando ao lado dele. Eu meio

que a esperava ver amarrada e fiquei surpresa por ela acompanhá-lo com tanta calma. Calma demais, eu logo percebi. Não era natural. Havia quase uma sensação robótica em seus movimentos: ela estava sendo compelida a agir docilmente.

“Compulsão,” disse Dimitri baixo, reconhecendo também. “Vá atrás de

Victor. Eu pego Robert.” Eu acenei. “Jill vai correr assim que a compulsão se quebrar. Eu espero.” Eu

não ignorei a probabilidade dela se juntar a nós, o que poderia causar mais confusão do que benefícios. Iríamos descobrir em breve.

Misericordiosamente, mais ninguém estava por perto. Ainda era bem cedo.

Dimitri e eu saímos dos nossos esconderijos, cruzando a distância do estacionamento em segundos. Dois dhampirs saudáveis podiam derrubar dois Moroi velhos a qualquer dia. E por mais habilidosos que eles fossem, os irmãos não nos esperavam.

Com minha visão periférica, eu vi Dimitri entrar no modo guerreiro,

poderoso e imbatível. Então, eu me foquei totalmente em Victor, jogando todo meu peso nele e o derrubando no chão. Ele bateu com força contra o asfalto, e eu o prendi no chão, batendo meu pulso eu seu rosto e fazendo seu nariz sangrar.

“Muito bem,” ele ofegou.

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“Eu estive querendo fazer isso há muito tempo,” eu rosnei. Victor sorriu através da dor e o sangue. “É claro que sim. Eu costumava

achar que Belikov era o selvagem, mas na verdade é você, não é? Você é o animal sem controle, sem qualquer razão a não ser lutar e matar.”

Eu agarrei sua camisa e o inclinei para perto de mim. “Eu? Não sou eu que

torturei Lissa para meus próprios benefícios. Não fui eu que transformei minha filha em Strigoi. E diabos, certamente não sou aquela que usou compulsão para sequestrar uma garota de quinze anos!”

Para meu nojo, ele manteve seu sorriso louco no rosto. “Ela é valorosa,

Rose. Tão, tão valorosa. Você não faz ideia do quanto.” “Ela não é um objeto para você manipular!” eu gritei. “Ela é – ah!” O chão de repente se enrolou abaixo de mim, um miniterremoto centrado

ao nosso redor. O asfalto se ergueu, dando a Victor uma chance de me afastar. Ele não me empurrou com força, e eu facilmente poderia ter recuperado o equilíbrio se o chão não estivesse se partindo e me cercando, rolando como ondas do oceano para me derrubar. Victor estava usando sua magia da terra para controlar a área onde eu estava. Fracos gritos de surpresa me falaram que os outros estavam sentindo um pouco, mas a magia estava claramente focada em mim.

Mas não sem custo. Victor era um velho – um velho que eu tinha acabado

de empurrar no asfalto e socado. Dor e fatiga estavam nele, e sua respiração pesada me dizia que usar uma mágica tão poderosa – algo que nunca vi um usuário de terra fazer – estava liquidando com todo o resto de sua força.

Um bom soco. Era tudo que eu precisava. Um bom soco iria derrubá-lo e o

tirar da luta. Só que, fui eu que fui derrubada. Literalmente. Por mais experiente que eu fosse, meu terremoto pessoal exigiu o máximo de mim, me derrubando de joelhos. Eu ainda estava usando aquele vestido idiota também, o que significa que minhas pernas recém curadas foram arranhadas de novo. E assim que caí, o asfalto se ergueu ao meu redor. Eu percebi que Victor ia me prender criando uma prisão de pedra. Eu não podia deixar isso acontecer.

“Toda essa conversa por nada,” ofegou Victor, suor derramando em seu

rosto. “Não te fez nenhum bem no final. O verdadeiro poder está na mente. Na astúcia. Ao controlar Jillian, eu controlo Vasilisa. Com Vasilisa, eu controlo os Dragomirs, e a partir daí – os Moroi. Isso é poder. Isso é força.”

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A maior parte da sua tirada, entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Mas uma parte permaneceu: Ao controlar Jillian, eu controlo Vasilisa. Lissa. Eu não podia deixa-lo machucá-la. Eu não podia deixa-lo usá-la. Na verdade, eu não podia deixa-lo usar Jill também. Lissa me deu um chotki, que era um cruzamento entre um bracelete e rosário. Era dos Dragomir, pertencente aqueles que protegiam a família. Esse era meu dever: proteger todos os Dragomirs. O velho mantra dos guardiões passava por minha mente: Eles vem primeiro.

Com habilidades que eu não sabia que possuía, eu avaliei o trêmulo terreno

e tentei levantar de novo. Eu consegui, praticamente dançando naquele estacionamento. Conforme encarava Victor, eu senti o que Sonya tinha me avisado: o catalisador. A faísca que iria dar ignição a escuridão que eu juntei e juntei de Lissa. Ao olhar para ele, eu vi todas as maldades da minha vida em um homem. Era verdade? Não, não exatamente. Mas ele machucou minha melhor amiga – quase a matando. Ele brincou com Dimitri e eu, complicando o que já era uma relação confusa. Ele agora tentava controlar outros. Quando ia acabar? Quando esse mal terminaria? Vermelho e preto mancharam minha visão. Eu ouvi uma voz chamar meu nome – Sonya, eu acho. Mas naquele momento, não havia mais nada no mundo a não ser Victor e meu ódio por ele.

Eu fui para cima dele, cheia de raiva e adrenalina, dando um pulo do

epicentro do tremor que ameaçava me prender. Mais uma vez, eu me joguei em cima dele, mas não batemos no chão. Mudamos levemente de posição, e ao invés disso, ele bateu no muro de concreto – com tanta força quanto eu teria jogado um Strigoi. Sua cabeça foi para trás com o impacto. Eu ouvi um estranho som de algo quebrando, e Victor caiu no chão. Eu imediatamente me abaixei, agarrando seus braços e o chacoalhando.

“Levanta!” eu gritei. “Levanta e luta comigo!” Mas não importava o quanto

eu o chacoalhava ou gritava, Victor não levantou. Ele não se movia sozinho. Mãos me agarraram, tentando me afastar. “Rose – Rose! Pare. Pare com

isso.” Eu ignorei a voz, ignorei as mãos. Eu estava cheia de raiva e poder,

querendo – não, precisando – que Victor me encarasse de uma vez por todas. De repente, uma estranha sensação passou por mim, como dedos cruzando minha pele. Solta ele. Eu não queria, mas por meio segundo, parecia uma ideia razoável. Eu soltei um pouco meu aperto, apenas o bastante para aquelas mãos me afastarem. Do nada, eu saí do deslumbre e percebi o que tinha acontecido. A pessoa que me afastou foi Sonya, e ela usou um pouco de compulsão para me afastar e soltar Victor. Ela era forte o bastante para nem precisar de contato

Page 324: Last sacrifice academia de vampiros

olho no olho. Ela me segurou, embora soubesse que era um desperdício de esforço.

“Eu tenho que pará-lo,” eu disse, me contorcendo de seu aperto. “Ele tem

que pagar.” Eu fui para cima dele de novo. Sonya desistiu de me segurar fisicamente, apelando para palavras ao invés

disso. “Rose, ele pagou! Ele está morto. Você não consegue ver isso? Morto. Victor está morto!”

Não, eu não vi isso – não a princípio. Tudo que vi foi minha cega obsessão,

minha necessidade de chegar até Victor. Mas então, suas palavras me atingiram. Quando agarrei Victor, eu senti seu corpo mole. Eu vi os olhos que olhavam sem expressão para o... nada. Aquela emoção louca em mim sumiu, se transformando em choque. Meu aperto se afrouxou enquanto eu o encarava e realmente entendia o que ela havia dito.

Entendia o que eu tinha feito. Então, eu ouvi um terrível som. Um baixo uivo quebrou o congelado

espelho de horror na minha mente. Eu olhei em alarme e vi Dimitri parado com Robert. Os braços de Robert estavam presos atrás das costas enquanto Dimitri sem esforço os segurava, mas o Moroi estava fazendo tudo em seu poder – e falhando – para se soltar. Jill estava parada perto, olhando agitada para todos nós, confusa e com medo.

“Victor! Victor!” Os apelos de Robert eram abafados por soluços tão inúteis quanto meus

próprios esforços para fazer Victor levantar. Eu arrastei meu olhar de volta ao corpo diante de mim, mal acreditando no que tinha acabado de fazer. Eu pensei que os guardiões estavam loucos em sua reação por Eddie ter matado um Moroi, mas agora, eu estava começando a acreditar. Um monstro como um Strigoi era uma coisa. Mas a vida de uma pessoa, mesmo uma pessoa que –

“Tire ele daqui!” Sonya estava perto de mim então aquela exclamação inesperada me fez

recuar. Ela também estava ajoelhada mas agora levantou, virando em direção a Dimitri.

“Leve ele daqui! Para o mais longe que puder!”

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Dimitri parecia surpreso, mas o poder no comando em sua voz fez ele agir instantaneamente. Ele começou a arrastar Robert para longe. Depois de alguns momentos, Dimitri simplesmente optou por jogar o homem por cima de seu ombro e o carregar para longe. Eu esperava gritos de protesto, mas Robert ficou mudo. Seus olhos estavam no corpo de Victor – seu olhar tão afiado, tão focado que pareciam que iam fazer um buraco através de alguém. Sonya, sem ter minha impressão, se colocou entre os irmãos e foi para o chão de novo, cobrindo o corpo de Victor com o seu.

“Tire ele daqui!” ela gritou de novo. “Ele está tentando trazer Victor de

volta! Ele será um shadow-kissed!” Eu ainda estava confusa e chateada, ainda apática com o que tinha feito,

mas o perigo do que ela disse me atingiu com força. Robert não podia trazer Victor de volta. Os irmãos eram perigosos o bastante sem um laço. Victor não podia convocar fantasmas como eu podia. Victor tinha que ficar morto.

“Ele não tem que tocar o corpo?” eu perguntei. “Para terminar o laço, sim. Mas ele estava acumulando muito espírito

agora, convocando a alma de Victor de volta e a mantendo por perto,” ela explicou.

Quando Dimitri e Robert se foram, Sonya me disse para ajudar a mover o

corpo. Fizemos barulho demais, e era de se admirar que ninguém tivesse aparecido ainda. Jill se juntou a nós, e eu me movi sem estar ciente do que estava fazendo. Sonya encontrou as chaves do sedan em Victor, e achatou os bancos traseiros, para aumentar o espaço. Nós entramos, nós três tendo que nos abaixar para ficar fora de vista. Logo ouvimos vozes, pessoas saindo para ver o que tinha acontecido. Não sei quanto tempo ficaram no estacionamento, só que misericordiosamente não vasculharam os carros. Honestamente? Eu tive poucos pensamentos coerentes todo o tempo. A raiva se fora, mas minha mente estava uma confusão. Eu não conseguia me prender em nada concreto. Eu me sentia enjoada e só seguia as ordens de Sonya, ficando abaixada enquanto tentava não olhar para o corpo de Victor.

Mesmo depois que as vozes se foram, ela nos manteve no carro.

Finalmente, ela exalou profundamente e se focou em mim. “Rose?” eu não respondi imediatamente. “Rose?”

“Yeah?” eu perguntei, a voz quebrada.

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Sua voz era suave e persuasiva. Eu senti aquele formigamento na minha pele de novo e uma necessidade de agradá-la. “Eu preciso que você olhe para os mortos. Abra sua mente para eles.”

Os mortos? Não. Minha mente ia sair do controle, e eu tinha consciência o

bastante para saber que trazer os fantasmas seria uma má ideia. “Não posso.” “Você pode,” ela disse. “Eu vou te ajudar. Por favor.” Eu não podia recusar sua compulsão. Expandindo meus sentidos, eu baixei

as paredes que eu mantinha ao meu redor. Eram as paredes que me bloqueavam do mundo dos mortos e fantasmas que me seguiam. Em segundos, os rostos translúcidos apareceram diante de mim, alguns como pessoas normais e outros terríveis e medonhos, querendo falar sem poder.

“O que você vê?” perguntou Sonya. “Espíritos,” eu sussurrei. “Você vê Victor?” Eu olhei ao redor dos rostos, procurando alguém familiar. “Não.” “Afaste eles,” ela disse. “Coloque as paredes de volta.” Eu tentei fazer o que ela disse, mas era difícil. Eu senti um encorajamento e

percebi que Sonya ainda estava me compelindo. Ela não conseguia fazer os fantasmas desaparecerem, mas sentir seu apoio e determinação me fortaleceu. Eu bloqueei os mortos.

“Ele se foi então,” Sonya disse. “Ou ele foi completamente consumido pelo

mundo dos mortos ou estava vagando como um espírito sem paz. Independentemente, qualquer ameaça se foi. Ele não pode voltar à vida.” Ela virou para Jill. “Vá buscar Dimitri.”

“Eu não sei onde ele está,” disse Jill, assustada. Sonya sorriu, mas ele não chegou a seus olhos. “Perto, tenho certeza. E

observando. Vá andar ao redor do motel, a quadra, tanto faz. Ele vai te encontrar.”

Jill partiu, sem precisar de compulsão. Quando ela se foi, eu enterrei meu

rosto em minhas mãos. “Oh Deus. Oh Deus. Todo esse tempo, eu neguei, mas é verdade: eu sou uma assassina.”

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“Não pense nisso ainda,” disse Sonya. Sua atitude de tomar controle era

quase reconfortante. Quase. Era mais fácil responder ordens do que assumir o controle. “Lide com sua culpa depois. Agora, temos que nos livrar do corpo.”

Eu cobri meus olhos e me forcei a olhar para Victor. Náusea passou por

mim, e aqueles sentimentos loucos saíram ainda mais de controle. “Sim. O corpo. Eu queria que Sydney estivesse aqui. Mas não temos poços mágicos. O sol não vai destruir ele. Estranho, não é? Strigoi são mais difícil de matar... mais difícil de matar, mais fácil de limpar.” Eu ri de novo porque havia algo familiar com essa tagarelice... era como Adrian ficava em seus momentos estranhos. Ou Lissa quando espírito a forçava demais. “É isso, não é?” eu perguntei a Sonya. “A inundação... a inundação que você me avisou. O espírito que sai de Lissa, mas finalmente me derrotou... como Anna... como no sonho... oh Deus. Isso é um sonho, não é? Mas eu não vou acordar...”

Sonya estava me encarando, seus olhos azuis arregalados de... medo?

Zombaria? Alarme? Ela se esticou e pegou minha mão. “Fique comigo, Rose. Nós vamos afastar isso.”

Uma batida na porta assustou nós duas, e Sonya deixou Jill e Dimitri

entrarem. “Onde está Robert?” perguntou Sonya. Dimitri olhou para Victor e então rapidamente desviou o olhar.

“Inconsciente, escondido em algum arbusto na esquina.” “Encantador,” disse Sonya. “Você acha que isso é inteligente? Deixar ele?” Ele deu de ombros. “Eu achei que não deveria ser visto carregando um cara

inconsciente nos ombros. Na verdade... sim, eu acho que deveríamos deixar ele lá. Ele vai acordar. Não é um fugitivo. E sem Victor... ele... bem, não é inofensivo. Mas uma ameaça menor. Não podemos continuar arrastando ele com a gente mesmo.”

Eu ri de novo, aquela risada que parecia confusa e histérica até para mim.

“Ele está inconsciente. É claro. É claro. Você pode fazer isso. Você pode fazer a coisa certa. Eu não.” Eu olhei para Victor. “Um animal, ele disse. Ele tinha razão. Sem qualquer razão...” eu envolvi meus braços ao meu redor, as unhas afundando na pele com tanta força que sangrou. Dor física para fazer a dor mental sumir. Não era isso que Lissa sempre disse?

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Dimitri me encarou e então virou para Sonya. “Qual o problema?” ele exigiu. Eu vi ele arriscar sua vida várias vezes, mas nunca, até agora, ele pareceu realmente temeroso.

“Espírito,” disse Sonya. “Ela acumulou e acumulou por tempo demais... e

conseguiu segurar. Mas esteve esperando. Sempre esperando...” Ela franziu levemente, talvez percebendo que ela estava começando a soar como eu. Ela virou para Jill. “Isso é prata?”

Jill olhou para seu medalhão em forma de coração, ao redor de seu

pescoço. “Eu acho que sim.” “Posso?” Jill o retirou e entregou. Sonya segurou entre suas palmas e fechou seus

olhos por um momento, franzindo os lábios. Alguns segundos depois, seus olhos se abriram, e ela me entregou o medalhão. “Coloque.”

Só de tocar eu tive um estranho formigamento na pele. “O coração...” Eu

olhei para Dimitri enquanto apertava com mais força. “Você lembra disso? Onde está o coração? Você perguntou. E aqui está. Aqui...”

Eu parei. As palavras de repente ficaram claras. Meus pensamentos

confusos devagar começaram a ficar lúcidos, formando algo que parecia mais racional. Eu encarei meus companheiros – os vivos – realmente os vendo agora. Eu toquei o medalhão.

“Isso é um talismã de cura.” Sonya acenou. “Eu não sabia se iria funcionar na mente. Eu não acho que é

uma cura permanente... mas entre ele e sua própria vontade, vai ficar tudo bem por um tempo.”

Eu tentei não me focar nas últimas palavras. Por um tempo. Ao invés disso,

eu tentei fazer sentido do mundo ao meu redor. Do corpo na minha frente. “O que eu fiz?” eu sussurrei. Jill colocou seus braços ao meu redor, mas foi Dimitri quem falou. “O que você precisava.”

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VINTE E NOVE

OS EVENTOS QUE SE SEGUIRAM eram confusos. Sonya podia ter mantido o toque do espírito na linha, mas isso não importava. Eu ainda estava em choque, ainda incapaz de pensar. Eles me colocaram no assento da frente, tão longe de Victor quanto fosse possível. Dimitri nos levou a algum lugar – não prestei atenção aonde – onde ele e Sonya se livraram do corpo. Eles não disseram o que fizeram, só que “haviam resolvido isso”. Eu não pedi detalhes.

Depois disso, nós estávamos de volta a caminho da Corte. Sonya e Dimitri

discutiram opções quanto a que fazer quando chegássemos lá. Como ninguém havia limpado meu nome até agora, o plano atual era que Sonya escoltasse Jill para a Corte. Jill perguntou se ela podia ligar para seus pais para avisar que estava bem, mas Dimitri considerou que esse seria um risco à nossa segurança. Sonya disse que tentaria alcançar Emily em um sonho, o que fez Jill se sentir um pouco melhor.

Eu me acalmei durante a viagem checando a mente de Lissa. Focar nela me

tirava da culpa e vazio horríveis que eu sentia, o horror do que fiz com Victor. Quando eu estava com Lissa, eu não era eu e, naquele momento, esse era meu maior desejo. Eu não queria ser eu mesma.

Mas as coisas também não estavam perfeitas para ela. Como sempre, um

número de questões estavam em seus ombros. Ela se sentia perto – tão, tão perto – de desvendar o assassinato de Tatiana. A resposta parecia ao alcance de suas mãos, se ela pudesse ir só um pouquinho mais fundo. Os guardiões haviam arrastado o zelador Joe para dentro e, com um pouco de coerção – eles possuíam métodos que não requeriam compulsão mágica – ele admitiu ter visto o Moroi de mão torta no meu prédio durante a noite do assassinato. Não havia quantidade de punição que faria Joe admitir que foi subornado – por Daniella ou pelo homem. O máximo que ele admitiu é que podia ter estado “um pouco desviado” nos seus horários naquela noite. Não era, de forma alguma, evidência sólida para me salvar.

Lissa também tinha a carta de Ambrose, que ameaçava Tatiana sutilmente.

O escritor havia se oposto à lei da idade por ser leve, desaprovou o apoio de Tatiana ao espírito e se ressentia com as seções de treinamento secretas. A carta podia ser perfeitamente polida, mas quem quer que a escreveu tinha um sério rancor contra a rainha. Isso dava apoio às teorias da motivação política.

Claro, ainda havia muitos motivos pessoais para um assassinato também. A

bagunça sórdida com Ambrose, Blake as mulheres envolvidas apontava qualquer um deles como o assassino. O fato de Daniella Ivashkov estar na lista era um ponto de estresse constante para Lissa, e ela não se atrevia a falar uma

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palavra sobre isso na frente de Adrian. A graça salvadora aqui é que o suborno de Daniella foi para tirar Adrian de confusão – não para solidificar minha culpa. O Moroi desconhecido pagou pelo suborno. Claro, se ela tivesse matado Tatiana, Daniella teria pago por ambas as mentiras de Joe.

E, é claro, havia o último teste fazendo pressão contra a mente de Lissa. A

charada. A charada que parecia ter tantas respostas – e, ao mesmo tempo, absolutamente nenhuma. O que deve uma rainha possuir para comandar verdadeiramente o seu povo? Em alguns modos, era mais difícil que os outros testes. Aqueles tinham um componente à mão, por assim dizer. Esse? Era o próprio intelecto dela. Sem fogueira para fazer. Sem medo para olhar nos olhos.

Ela também odiava levar a charada tão a sério. Ela não precisava de mais

incomodação, não com tudo o que vinha acontecendo. A vida seria mais simples se ela tivesse continuado a tratar os testes como uma farsa para comprar tempo. A Corte continuava cheia daqueles que vieram ver os testes, e muitos deles – para espanto dela – estavam lhe dando suporte. Ela tinha dificuldades em ir a qualquer lugar sem ouvir as pessoas falando sobre “o Dragão” ou “Alexandra renascida”. Os boatos sobre o ataque contra ela haviam se espalhado também, o que pareceu animar seus apoiadores ainda mais.

Mas, claro, Lissa ainda tinha bastante oposição. O maior caso contra ela era

o mesmo velho problema legal: que ela não seria elegível para os votos quando chegasse a hora. Outro marco contra ela era a sua idade. Ela era jovem demais, seus oponentes diziam. Quem ia querer uma criança no trono? Mas os admiradores de Lissa não davam ouvidos a isso. Eles continuavam a citar o governo da jovem Alexandra e os milagres que Lissa trouxe com sua cura. Idade era irrelevante. Os Moroi precisavam de sangue jovem, eles gritavam. Eles também demandavam que as leis de voto mudassem.

Sem surpresa alguma, seus oponentes também continuavam trazendo à

tona o fato de ela ser ligada a uma assassina de rainhas. Eu pensei que esse seria o maior obstáculo em sua candidatura, mas ela foi tão convincente sobre estar chocada e traída pelo que fiz que muitos começaram a pensar que ela ser a rainha corrigiria o erro que eu cometi. Ela usava um pouco de compulsão sempre que o assunto vinha à tona, o que também ajudava muito em fazer os outros acreditarem que ela agora estava completamente dissociada de mim.

“Estou tão cansada disso,” Lissa disse a Christian, de volta ao seu quarto. Ela

buscou uma fuga lá e estava deitada em sua cama nos braços dele. Minha mãe estava lá, de guarda. “Essa história de rainha foi uma ideia horrível.”

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Christian afagou seu cabelo. “Não é. Abe disse vai ser adiada por causa do tumulto. E, não importa o quanto reclame, eu sei que você está orgulhosa por ter chegado tão longe.”

Era verdade. O teste do cálice cortou os candidatos pela metade. Somente

cinco restavam. Ariana Szelsky era um deles, assim como o primo de Daniella, Rufus Tarus. Lissa era a terceira, com Marcus Lazar e Marie Conta fechando o grupo. Ronald Ozera não conseguiu ir tão longe.

Minha mãe falou, “Eu nunca vi algo assim – é incrível quanto suporte você

está recebendo. O Conselho e o resto da realeza não tem a obrigação de mudar a lei. Mas o povo fala alto... e ganhar o amor dos ‘comuns’ poderia beneficiar alguns nobres. Manter sua posição de competir certamente refletiria bem com algumas famílias que tem menos voz. O que está segurando elas é a ideia de que você poderia mesmo vencer. Então, eles vão continuar discutindo e discutindo.”

Lissa enrijeceu. “Vencer... isso não é realmente possível, é? Ariana selou

isso... certo?” Vencer nunca foi parte desse plano louco e agora, com tão poucos candidatos, a pressão era ainda maior para colocar Ariana no trono. Até onde Lissa sabia, os outros candidatos não traziam promessa de melhorar a vida dos Moroi. Ariana precisava ganhar.

“Eu diria isso,” disse Janine. Havia orgulho em sua voz, já que ela era

próxima da família Szelsky. “Ariana é brilhante e competente, e a maioria das pessoas sabe disso. Ela trataria os dhampirs com justiça – mais do que alguns dos outros candidatos. Ela já se pronunciou sobre reverter a lei de idade.”

A ideia de leis piores oprimindo os dhampirs fez o estômago de Lissa

afundar. “Deus, espero que ela ganhe. Não podemos ter mais nada dando errado.”

Uma batida na porta fez minha mãe entrar em modo guardião completo,

até que Lissa disse, “É Adrian.” “Bom,” murmurou Christian, “pelo menos o timing dele está melhor do que

normalmente.” E de fato, meu namorado entrou, envolto em seu cheiro agora usual de

bebida e cigarro. Verdade, seus vícios eram a menor de minhas preocupações, mas ainda me incomodava que ele precisasse de mim para estar lá em pessoa para manter seu bom comportamento. Me lembrava de quando ele disse que eu era a sua força.

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“Levantem, caras” ele disse. Parecia muito satisfeito consigo mesmo. “Temos uma visita a fazer.”

Lissa se sentou, confusa. “Do que você está falando?” “Eu não vou passear com Blake Lazar de novo,” avisou Christian. “Somos dois,” respondeu Adrian. “Eu consegui alguém melhor. E mais

atraente. Lembram como se perguntavam o quão próxima Serena era de Grant? Bom, parece que vocês podem perguntar para a própria. E sim, disponham.”

Uma careta cruzou o rosto da minha mãe. “Da última vez que eu ouvi falar,

Serena foi enviada para ensinar em uma escola. Uma na costa leste, acho.” Após o ataque Strigoi que matou Grant e vários outros, os guardiões decidiram tirar Serena das tarefas de guarda costas por um tempo. Ela foi a única guardiã a sobreviver.

“Ela foi, mas como é verão, eles trouxeram ela de volta para ajudar no

controle das multidões nas eleições. Ela está trabalhando nos portões da frente.”

Lissa e Christian trocaram olhares. “Temos que falar com ela,” disse Lissa

excitada. “Ela podia saber quem Grant estava ensinando secretamente.” “Isso não significa que um deles tenha matado Tatiana,” avisou minha mãe. Lissa concordou. “Não, mas há uma conexão, se a carta de Ambrose estiver

certa. Ela está lá agora? Nos portões?” “Isso,” disse Adrian. “E nós provavelmente nem vamos ter que comprar

uma bebida para ela.” “Então vamos.” Lissa levantou e foi até seus sapatos. “Tem certeza?” perguntou Christian. “Você sabe o que está esperando lá

fora.” Lissa hesitou. Era tarde da “noite” para os Moroi, mas isso não queria dizer

que todo mundo estava dormindo – especialmente nos portões, que estava sempre atolada de gente ultimamente. Limpar meu nome era muito importante, Lissa decidiu. “É. Vamos lá.”

Com minha mãe guiando, meus amigos foram para a entrada da Corte (A

“porta” que Abe havia feito tinha sido consertada). A Corte estava cercada por

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paredes de pedra altas e multicoloridas que ajudava a manter a imagem humana de que esta era, na verdade, uma escola de elite. Os portões de aço forjado na entrada estavam abertos, mas um grupo de guardiões bloqueava a estrada até os jardins da Corte. Normalmente, só dois guardiões estavam na cabine do portão. Os números extras eram tanto para interrogar mais carros e para controle de multidões. Espectadores estavam dos lados da pista, assistindo a chegada dos carros como se eles estivessem em um tapete vermelho. Janine sabia um caminho por volta que desviava de algumas pessoas – mas não todas.

“Não se encolha,” Christian disse a Lissa enquanto eles passavam por um

grupo particularmente barulhento, que havia notado ela. “Você é uma candidata à rainha. Aja como uma. Você merece isso. Você é a última Dragomir. Uma filha da realeza.”

Lissa deu a ele um olhar breve e espantado, surpresa em ouvir a firmeza em

sua voz – e que ele claramente acreditava naquelas palavras. Ficando ereta, ela se virou em direção aos seus fãs, sorrindo e acenando, o que os excitou muito mais. Leve isso a sério, ela lembrou a si mesma. Não desgrace a nossa história.

No final, passar pela multidão para chegar ao portão se mostrou mais fácil

do que conseguir tempo a sós com Serena. Os guardiões estavam cheios de serviço e queriam manter Serena para triagem, mas minha mãe teve uma conversa rápida com o guardião no comando. Ela o lembrou da importância de Lissa e se ofereceu para ficar no lugar de Serena por alguns minutos.

Serena havia se recuperado do ataque Strigou havia tempo. Ela tinha a

minha idade, era loira e bonita. Ela estava claramente surpresa em ver sua antiga protegida. “Princesa,” ela disse, mantendo as formalidades. “Como posso ajudá-la?”

Lissa puxou Serena do grupo de guardiões falando com os motoristas Moroi

que estavam no portão. “Você pode me chamar de Lissa. Você sabe disso. Afinal de contas, você me ensinou a esfaquear almofadas.”

Serena lhe deu um sorrisinho. “As coisas mudaram. Você pode se tornar

nossa próxima rainha.” Lissa fez careta. “Improvável.” Especialmente porque eu nem faço ideia de

como resolver aquela charada, ela pensou. “Mas eu preciso da sua ajuda. Você e Grant passaram muito tempo juntos. Alguma vez ele mencionou treinar Moroi para Tatiana? Algo como sessões de treinamento secretas?”

O rosto de Serena entregava a resposta, e ela desviou seus olhos. “Eu não

posso falar sobre isso. Ele nem podia falar nisso para mim.”

Page 334: Last sacrifice academia de vampiros

Lissa agarrou o braço da jovem guardiã excitada, fazendo Serena

estremecer. “Você precisa me contar o que sabe. Qualquer coisa. Quem ele estava treinando... o que eles achavam disso... quem foi bem sucedido. Qualquer coisa.”

Serena ficou pálida. “Eu não posso,” ela sussurrou. “Foi tudo em segredo.

Por ordem da rainha.” “Minha tia está morta,” disse Adrian duramente. “E você mesma disse que

pode estar falando com a futura rainha.” Isso lhe conseguiu uma encarada de Lissa.

Serena hesitou, então respirou fundo. “Eu posso conseguir uma lista de

nomes. Mas pode ser que eu não lembre de todos. E não faço ideia de como eles estavam indo – somente que vários se ressentiram disso. Grant sentia que Tatiana pegou de propósito aqueles que menos queriam isso.”

Lissa apertou sua mão. “Obrigada. Muito obrigada.” Serena ainda parecia pálida por ter revelado informações secretas. Eles vem

primeiro nem sempre funciona quando suas lealdades estão divididas. “Eu vou ter que lhe entregar depois, entretanto. Eles precisam de mim aqui.”

Serena voltou ao seu posto, trazendo minha mãe de volta até Lissa. Quanto

a mim, voltei à minha própria realidade no carro, que havia parado. Eu pisquei para limpar meus olhos e reconhecer meu entorno. Outro hotel. Devíamos ter status de membros de ouro agora. “O que está acontecendo?”

“Estamos parando,” disse Dimitri. “Você precisa descansar.” “Não, eu não preciso. Precisamos continuar indo para a Corte. Precisamos

colocar Jill lá em tempo para as eleições.” Nosso objetivo inicial em encontrar Jill era dar à Lissa poder de voto. Desde então, ocorreu para mim que, se a participação de Lissa estava estragando as eleições, a aparição surpresa de sua irmã ia criar tanta sensação e descrença. Um teste genético iria tirar quaisquer dúvidas e dar à Lissa poder de voto, mas a confusão inicial ia nos dar mais do tempo que precisávamos tanto para encontrar o assassino. Apesar das evidências aleatórias que meus amigos continuavam a encontrar, eles ainda não tinham teorias substanciais levando a um culpado.

Dimitri me deu um olhar de não minta para mim. “Você estava com Lissa

agora. As eleições já estão acontecendo?”

Page 335: Last sacrifice academia de vampiros

“Não,” eu admiti. “Então, você vai dar uma descansada.” “Eu estou bem,” eu estourei. Mas esses idiotas não me ouviam. Alugar um quarto foi complicado por que

nenhum de nós tinha cartão de crédito e era contra a política do hotel aceitar depósitos em dinheiro. Sonya compeliu o atendente a pensar que era a sua política e, logo, nós tínhamos dois quartos interligados.

“Me deixe conversar com ela sozinho,” Dimitri murmurou para Sonya. “Eu

posso lidar com isso.” “Tome cuidado,” Sonya alertou. “Ela está frágil.” “Caras, eu estou bem aqui!” eu exclamei. Sonya tomou o braço de Jill e a guiou para um dos quartos. “Vem cá, vamos

pedir o serviço de quarto.” Dimitri abriu a porta e me olhou com expectativa. Com um suspiro, eu

entrei e sentei na cama, meus braços cruzados. O quarto era cem vezes melhor do que aquele em West Virginia. “Nós podemos pedir serviço de quarto?”

Ele puxou uma cadeira e sentou de frente para mim, só alguns metros

afastado. “Precisamos conversar sobre o que aconteceu com Victor.” “Não há nada para conversar,” eu disse friamente. Os sentimentos negros

que eu estava segurando durante a viagem subitamente me invadiram. Eles me sufocaram. Eu me senti mais claustrofóbica do que quando eu estive na cela. A culpa era sua própria prisão. “Eu realmente sou a assassina que todos dizem. Não importa que fosse Victor. Eu o matei a sangue frio.”

“Aquilo não era sangue frio.” “O caralho que não era!” eu gritei, sentindo lágrimas surgirem em meus

olhos. “O plano era segurar ele e Robert para que pudéssemos pegar a Jill. Segurar. Victor não era uma ameaça para mim. Ele era um velho, pelo amor de Deus.”

“Ele parecia uma ameaça,” disse Dimitri. Sua calma era o oposto de minha

histeria crescente, como era comum. “Ele estava usando sua magia.”

Page 336: Last sacrifice academia de vampiros

Eu sacudi a cabeça, enterrando meu rosto nas mãos. “Isso não ia me matar. Ele provavelmente nem poderia mantê-la por muito mais tempo. Eu podia ter esperado acabar e escapado. Porra, eu escapei! Mas, ao invés de capturar ele, eu o soquei contra uma parede de concreto! Ele não era páreo para mim. Um velho. Eu matei um velho. É, talvez ele fosse um velho tramador e corrupto, mas eu não queria ele morto. Eu queria ele preso de novo. Eu queria que ele passasse o resto da vida na prisão, vivendo com seus crimes. Vivendo, Dimitri.”

Parecia estranho que eu me sentisse assim, considerando-se o quanto eu

odiava Victor. Mas era verdade: Não foi uma luta justa. Eu agi sem pensar. Meu treinamento sempre foi sobre defesa e atacar monstros. Honra nunca havia vindo a tona mas, de repente, ela tinha muito significado para mim. “Não havia honra no que eu fiz com ele.”

“Sonya disse que não foi sua culpa.” A voz de Dimitri ainda estava gentil, o

que me fazia sentir pior de alguma forma. Eu queria que ele me repreendesse, confirmando a culpa que eu sentia. Eu queria que ele fosse meu instrutor crítico. “Ela disse que foi um efeito colateral do espírito.”

“Foi...” Eu parei, relembrando a confusão daquela luta o melhor que pude.

“Eu nunca entendi realmente o que Lissa experimentava em seus piores momentos até então. Eu só olhei para Victor... e vi tudo de mal no mundo – um mal que eu tinha que parar. Ele era mal, mas não merecia isso. Ele nunca teve uma chance.” Honra, eu continuava me lembrando. Que honra havia nisso?

“Você não está ouvindo, Rose. Não foi culpa sua. Espírito é uma mágica

poderosa que nós não compreendemos bem. E seu lado sombrio... bem, nós sabemos que ele é capaz de coisas terríveis. Coisas que não podem ser controladas.”

Eu levantei meus olhos aos dele. “Eu devia ter sido mais forte que isso.” Ali

estava. O pensamento por trás de toda a minha culpa, todas aquelas horríveis emoções. “Eu devia ter sido mais forte que isso. Eu fui fraca.”

As palavras de conforto de Dimitri não vieram tão rápido. “Você não é

invencível,” ele disse por fim. “Ninguém espera que seja.” “Eu espero. O que eu fiz...” eu engoli. “O que eu fiz foi imperdoável.” Os olhos deles se arregalaram em choque. “Isso... isso é loucura, Rose. Você

não pode se punir por algo sobre o qual não tinha controle.” “É? Então por que você ainda –”

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Eu parei porque estava prestes a acusar Dimitri de continuar se punindo. Exceto... que ele não estava mais. Ele sentia culpa pelo que fez como Strigoi? Eu tinha certeza de que sim. Sonya havia admitido isso. Mas em algum ponto dessa jornada, ele havia assumido o controle de sua vida novamente, pedaço por pedaço. Ela havia me contado isso, mas eu só entendi verdadeiramente agora.

“Quando?” eu perguntei. “Quando mudou? Quando você percebeu que

podia continuar vivendo – mesmo com toda aquela culpa?” “Não tenho certeza.” Se a pergunta o surpreendeu, ele escondeu. Seus

olhos estavam nos meus, mas não estavam exatamente focados em mim. O desafio o ocupava. “Aos poucos, na verdade. Quando Lissa e Abe vieram a mim para libertar você, eu estava pronto para isso porque ela me pediu. Então, quanto mais eu pensava nisso, mais eu pensava que também era pessoal. Eu não suportava a ideia de ter você trancada em uma cela, separada do mundo. Não era certo. Ninguém devia viver assim, e me ocorreu que eu estava fazendo o mesmo – por escolha própria. Eu estava me cortando do mundo com culpa e autopenitência. Eu tinha uma segunda chance para viver, e estava jogando ela fora.”

Eu ainda estava tumultuada, ainda enraivecida e cheia de tristeza, mas sua

história me manteve quieta e transfixada. Ouvir ele derramar seu coração era uma oportunidade rara.

“Você me ouviu falar sobre isso antes,” ele continuou. “Sobre meu objetivo

de apreciar os pequenos detalhes da vida. E quanto mais continuávamos nossa jornada, mais eu lembrava quem eu era. Não só um lutador. Lutar é fácil. É por que lutamos que importa, e no beco naquela noite com Donovan...” ele estremeceu. “Esse foi o momento em que eu podia ter cruzado a linha e me tornado alguém que luta só pela matança sem sentido – mas você me trouxe de volta. Esse foi o ponto de mudança. Você me salvou... da mesma forma que Lissa me salvou com a estaca. Eu soube ali que, para deixar a minha parte Strigoi para trás, eu tinha que lutar para ser o que eles não são. Eu tinha que abraçar o que eles rejeitam: beleza, amor, honra.”

Naquele instante, eu era duas pessoas diferentes. Uma estava incrivelmente

feliz. Ouvir ele falar assim, perceber que ele estava lutando contra seus demônios e estava perto de vencer... bem, eu quase chorei de alegria. Era o que eu tinha querido para ele por tanto tempo. Ao mesmo tempo, suas palavras inspiradoras só me lembravam o quão longe eu tinha caído. Meu sofrimento e autopiedade tomaram conta de mim de novo.

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“Então, você devia entender,” eu disse com amargura. “Você disse: honra. Isso importa. Nós dois sabemos que importa. Eu perdi a minha. Eu perdi naquele estacionamento quando matei um inocente.”

“E eu matei centenas deles,” ele disse sem rodeios. “Pessoas muito mais

inocentes que Victor Dashkov.” “Não é a mesma coisa! Você não podia evitar!” Meus sentimentos

explodiram para fora de novo. “Por que estamos repetindo as mesmas coisas de novo e de novo?”

“Porque elas não estão entrando na sua cabeça! Você também não podia

evitar.” Sua paciência estava se desfazendo. “Sinta culpa. Lamente isso. Mas siga em

frente. Não deixe isso destruir você. Perdoe a si mesma.” Eu saltei de pé, pegando ele de surpresa. Me inclinei, nos colando cara a

cara. “Me perdoar? É isso que você quer? Você, de todas as pessoas?” As palavras pareceram escapar dele. Eu achei que tinha a ver com a

proximidade. Ele conseguiu acenar em concordância. “Então me diga isso. Você diz que venceu a culpa, decidiu aproveitar a culpa

e tudo mais. Eu entendo. Mas você conseguiu, no seu coração, realmente perdoar a si mesmo? Eu lhe disse um longo tempo atrás que eu o perdoei por tudo o que fez na Sibéria, mas e quanto a você? Você fez isso?”

“Eu só disse –” “Não. Não é a mesma coisa. Você está me dizendo para me perdoar e seguir

em frente. Mas você não vai fazer isso. Você é um hipócrita, camarada. Somos ambos culpados ou ambos inocentes. Escolha.”

Ele também levantou, olhando para mim do topo de toda a sua altura. “Não

é assim tão simples.” Eu cruzei meus braços sobre meu peito, me recusando a ser intimidada. “É

tão simples. Somos a mesma coisa! Até Sonya diz que somos. Nós sempre fomos a mesma coisa, e nós dois estamos agindo da mesma maneira estúpida agora. Nós nos colocamos num padrão mais alto que todos os outros.

Dimitri franziu o cenho. “Eu-Sonya? O que ela tem a ver com isso?”

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“Ela disse que nossas auras combinam. Ela disse que nos iluminamos quando estamos um perto do outro. Ela disse que isso significa que você ainda me ama e que estamos em sintonia, e...” eu suspirei e me virei, vagando pelo quarto. “Eu não sei. Não devia ter mencionado isso. Não devíamos acreditar nesse papo de aura quando vem de uma usuária de magia que já é meio-louca.”

Eu fui até a janela e encostei minha testa no vidro gelado, tentando decidir

o que fazer. Me perdoar. Eu podia? Uma pequena cidade se espalhava na minha frente, mas eu tinha perdido a noção de onde estávamos. Carros e pessoas se moviam lá embaixo, almas vivendo suas vidas. Eu respirei fundo. A imagem de Victor no asfalto ia ficar comigo por um longo, longo tempo. Eu tinha feito alto terrível, embora minhas intenções tivessem sido boas, mas todos estavam certos: eu não era eu mesma. Isso mudava o que aconteceu? Ia trazer Victor de volta? Não. E, honestamente, eu não sabia como ia superar o que eu tinha feito, como eu ia tirar as imagens sangrentas da minha cabeça. Eu só sabia que tinha que ir em frente.

“Se eu deixar isso me parar,” eu murmurei, “se eu não fizer nada... então

isso seria o mal maior. Eu vou bem sobrevivendo. Continuando a lutar e proteger os outros.”

“O que está falando?” perguntou Dimitri. “Estou dizendo... que eu me perdoo. Isso não faz tudo perfeito, mas é um

começo.” A ponta do meu dedo traçou a linha de uma pequena rachadura na superfície do vidro. “Quem sabe? Talvez aquela explosão no estacionamento fez sair parte daquela escuridão que a Sonya diz estar na minha aura. Cética como eu estou, eu tenho que dar a ela alguns pontos. Ela estava certa sobre o limite, sobre como tudo o que eu precisava era uma faísca.”

“Ela estava certa sobre outra coisa,” Dimitri disse após uma longa pausa.

Minhas costas estavam para ele, mas havia algo de estranho em sua voz que fez com que eu me virasse.

“O que seria isso?” eu perguntei. “Que eu ainda amo você.” Com essa frase, tudo no universo mudou. O tempo desacelerou para uma batida de coração. O mundo se tornou os

olhos dele, a voz dele. Isso não estava acontecendo. Não era real. Nada disso podia ser real. Eu me sentia como em um sonho de espírito. Eu resisti ao impulso de fechar meus olhos e ver se acordaria momentos depois. Não. Não

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importa o quão inacreditável tudo parecia, não era um sonho de espírito. Isso era real. Isso era a vida. Isso era carne e sangue.

“Desde... desde quando?” eu finalmente consegui perguntar. “Desde... sempre.” Seu tom sugeria que a resposta era óbvia. “Eu neguei

quando fui restaurado. Eu não tinha espaço para nada em meu coração exceto culpa. Eu me sentia especialmente culpado por você – pelo que fiz – e a afastei. Eu ergui uma parede para manter você a salvo. Funcionou por um tempo – até meu coração finalmente começar a aceitar outras emoções. E tudo voltou. Tudo que eu sentia por você. Isso nunca me abandonou; estava só escondido até que eu estivesse pronto. E de novo... o beco foi o ponto de mudança. Eu olhei para você... vi sua bondade, sua esperança e sua fé. São esses que a fazem bonita. Tão, tão bonita.”

“Então, não era o meu cabelo,” eu disse, sem saber como eu era sequer

capaz de fazer uma piada numa hora dessas. “Não,” ele disse gentilmente. “Seu cabelo também é bonito. Tudo em você.

Você estava incrível da primeira vez que nos encontramos e, de alguma maneira, inexplicável, você ficou ainda melhor. Você sempre foi energia pura e crua, e agora você controla isso. Você é a mulher mais incrível que eu já encontrei, e eu estou feliz por ter tido você como o amor da minha vida. Me arrependo de perder isso.” Ele ficou pensativo. “Eu daria qualquer coisa – qualquer coisa – no mundo para voltar e mudar a história. Para correr para os seus braços depois que Lissa me trouxe de volta. Para ter uma vida com você. É muito tarde, é claro, mas eu aceitei isso.”

“Por quê... por que é muito tarde?” Os olhos de Dimitri ficaram tristes. “Por causa de Adrian. Porque você

seguiu em frente. Não, escute,” ele disse, interrompendo meus protestos. “Você estava certa em fazer isso com a forma que lhe tratei. E, mais que qualquer coisa, eu quero que você seja feliz depois que limparmos seu nome e fizermos Jill ser reconhecida. Você mesma disse que Adrian a faz feliz. Que você o ama.”

“Mas... você acabou de dizer que me ama. Que você quer ficar comigo.”

Minhas palavras pareciam atrapalhadas, indignas da eloquência dele. “E eu disse a você: eu não vou perseguir a namorada de outro homem. Você

quer falar em honra? Aí está isso na sua mais pura forma.” Eu caminhei em direção dele, cada passo aumentando a tensão ao nosso

redor. Dimitri continuava dizendo que o beco era o ponto da virada. Para mim?

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Era agora. Eu estava no precipício de algo que mudaria a minha vida. Pela última semana, eu tinha feito um excelente trabalho em me afastar de qualquer coisa romântica com Dimitri. E, ainda assim... eu tinha? O que era o amor, na verdade? Flores, chocolate e poesia? Ou era alguma outra coisa? Era ser capaz de terminar as piadas de outra pessoa? Era ter fé absoluta de que alguém estava lá nas suas costas. Era conhecer alguém tão bem que eles sabiam instantaneamente por que você fez as coisas que fez – e compartilhavam das mesmas crenças.

Toda a semana, eu clamei que meu amor por Dimitri estava sumindo. Na

verdade, ele estava crescendo mais e mais. Eu não tinha percebido que isso estava acontecendo. Eu estive restabelecendo nossa antiga harmonia, fortalecendo nossa conexão. Reafirmando que de todas as pessoas no mundo – mesmo Lissa – Dimitri era o que realmente me entendia.

Eu era sincera: eu amava Adrian. Era difícil imaginar a vida sem ele, mas

minhas palavras na casa dos Mastranos tinham me traído: eu me divirto com ele. Agora, você deve se divertir com a pessoa que ama, mas essa não devia ser a primeira coisa que lhe vem à mente. Eu devia ter dito, Nós fortalecemos um ao outro. Ou, Ele me faz querer ser uma pessoa melhor. Talvez mais importante: Ele me entende perfeitamente.

Mas nada disso era verdade, então eu não disse nenhuma dessas coisas. Eu

tinha buscado Adrian por conforto. Sua familiaridade e humor eram uma parte importante do meu mundo. E se ele estivesse em perigo? Eu jogaria minha vida para proteger a dele, como faria com Lissa. Ainda assim, eu não o inspirava, não de verdade. Ele estava tentando. Ele queria ser uma pessoa normal mas, nesse momento da vida dele, suas motivações eram mais sobre impressionar os outros – impressionar a mim. Não era por ele mesmo. Isso não o fazia mal ou fraco, mas me fazia a sua muleta. Ele ia superar isso, eu tinha certeza. Eventualmente, ele ia fazer isso por si próprio e se tornar um homem incrível. Mas ele não estava no ponto de descobrir a si mesmo ainda. Eu estava.

Eu estava diante de Dimitri agora, olhando de novo naqueles olhos escuros,

os olhos que eu amava tanto. Eu coloquei minhas mãos no peito dele, sentindo seu coração bater forte e ritmado – e talvez um pouco mais rápido que o normal. O calor se espalhou pelas pontas dos meus dedos. Ele ergueu suas mãos e segurou meus pulsos, mas não me afastou. Os traços daquele rosto maravilhoso endureceram enquanto ele enfrentou algum conflito interno, mas agora que eu sabia – agora que eu sabia com certeza – eu podia ver seu amor por mim. Amor misturado com desejo. Era tão, tão óbvio.

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“Você devia ter me contado,” eu disse. “Você devia ter me contado há muito tempo. Eu amo você. Eu nunca parei de amar você. Você tem que saber disso.”

Sua respiração me atingiu quando eu disse eu amo você, e eu podia ver sua

luta interior por controle se tornar uma guerra. “Não teria feito diferença alguma. Não com Adrian envolvido,” ele disse. Os dedos ao redor de minha mão se apertaram levemente como se ele pudesse me afastar dessa vez. Ele não fez. “Eu estava falando sério. Não serei esse cara, Rose. Eu não vou ser o homem que toma a mulher de outro. Agora, por favor. Deixe ir. Não faça isso mais difícil.”

Eu ignorei o pedido. Se ele quisesse se afastar de mim, ele podia ter feito.

Eu espalhei meus dedos, tocando mais do peito dele, me deliciando na sensação do calor do contato que eu senti falta por tanto tempo.

“Eu não pertenço a ele,” eu disse em uma voz baixa, ficando mais perto de

Dimitri e movendo a cabeça para que pudesse ver o rosto dele claramente. Tanta emoção, tanto conflito enquanto seu coração tentava separar o certo do errado. Ficar pressionada junto dele parecia... me completar. Sonya disse que nenhum casal podia compartilhar uma aura ou uma alma, mas que as nossas não deviam ficar afastadas. Elas se encaixavam como um quebra-cabeças, dois indivíduos formando algo maior que eles mesmos. “Eu não pertenço a ninguém. Eu faço minhas próprias escolhas.”

“E você está com Adrian,” disse Dimitri. “Mas eu devia estar com você.” E isso decidiu tudo. Qualquer pretensão de controle ou razão que qualquer

um de nós possuía derreteu. As paredes desabaram e tudo que nós estávamos segurando um do outro nos inundou. Eu me estendi, nos aproximando para um beijo – um beijo que ele não interrompeu dessa vez. Um beijo que eu não terminei dando um soco nele. Seus braços me envolveram enquanto ele me carregava para a cama, uma mão logo deslizando pela minha coxa e para a perna, já seminua graças ao vestido esfarrapado.

Cada nervo de meu corpo se acendeu, e eu senti aquele desejo retribuído

por ele – e mais um pouco. Após um mundo de morte, ele parecia apreciar a vida mais. Não só isso, ele precisava disso. Ele precisava de vida – não só fisicamente, mas de uma maneira que meu coração e minha alma sempre pediram para ele. O que fizemos então, enquanto nossas roupas saíam e nós juntávamos nossos corpos se tornou mais do que só luxúria – embora tivesse bastante disso também.

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Estar com ele depois de tanto tempo, depois de tudo pelo qual passamos...

era como voltar para casa. Como finalmente estar onde – com quem – eu devia estar. Meu mundo, meu coração... eles se quebraram quando eu o perdi. Mas enquanto ele olhava para mim, enquanto seus lábios falavam meu nome e percorriam minha pele... eu sabia que essas peças podiam se juntar de novo. E eu sabia, com certeza absoluta, que esperar por isso – pela minha segunda vez fazendo sexo – foi a coisa certa a se fazer. Qualquer outra pessoa, em qualquer outro momento... teria sido errado.

Quando terminamos, era como se ainda não pudéssemos ficar perto o

bastante. Nos abraçávamos com força, nossos membros entrelaçados, como se talvez fechar a distância agora fosse compensar a distância que existiu entre nós por tanto tempo.

Eu fechei meus olhos, meus sentidos inundados com ele, e suspirei

sonhadora. “Estou feliz por você ter se entregado. Estou feliz que seu autocontrole não é tão forte quanto o meu.”

Isso fez ele rir, e eu senti isso bater em meu peito. “Roza, meu autocontrole

é dez vezes mais forte que o seu.” Eu abri meus olhos, me mexendo para olhar nos dele. Eu coloquei seu

cabelo para trás e sorri, certa de que meu coração ia se expandir e expandir até não restar nada de mim. “Ah, é? Não foi essa a impressão que eu acabei de ter.”

“Espere até a próxima vez,” ele avisou. “Vou fazer coisas que farão você

perder o controle em segundos.” Esse comentário estava pedindo por uma resposta espertinha de Rose

Hathaway. Ele também fez meu sangue queimar, que foi o motivo pelo qual nós dois ficamos surpresos quando eu disse abruptamente, “Talvez não haja uma próxima vez.”

A mão de Dimitri, traçando o rastro de meus ombros, congelou. “O quê? Por

quê?” “Temos algumas coisas para fazer antes que isso aconteça de novo.” “Adrian,” ele adivinhou. Eu acenei com a cabeça. “E isso é problema meu, então coloque seus

pensamentos sobre honra de lado. Eu tenho que encarar ele e responder por isso. E você...” eu não podia acreditar no que estava prestes a dizer. Eu não

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podia acreditar que eu queria mesmo dizer aquilo. “Você ainda precisa se perdoar se nós vamos ficar juntos.”

Sua expressão confusa se tornou dolorida. “Rose –” “Estou falando sério.” Eu encontrei os olhos dele sem pestanejar. “Você tem

que se perdoar. De verdade. Todos os outros já o fizeram. Se você não pode, então você também não conseguirá seguir em frente. Nós não vamos poder.”

Era uma das maiores apostas na minha vida. Houve um tempo em que eu

teria corrido para ele sem questionar, ignorando nossos problemas, extasiada só de estar com ele. Agora... depois de tudo pelo que passei, eu havia mudado. Eu amava ele. Eu o amava tanto, e eu esperei tanto por ele, e eu queria ele. Mas era por causa da força desse amor que eu precisava fazer isso. Se íamos ficar juntos, tínhamos que fazer isso da maneira certa. O sexo foi incrível, mas não era a cura mágica para tudo. Droga. Em algum lugar no meio do caminho, eu peguei um pouco de senso comum. Eu ainda pretendia confrontar Adrian. E se Dimitri não fizesse o que eu pedi, eu realmente ia me afastar. Eu ia perder os dois homens, mas era melhor estar sozinha com meu amor próprio do que sozinha no relacionamento errado.

“Eu não sei,” Dimitri disse por fim. “Não sei se posso... se estou pronto.” “Decida-se logo, então,” eu disse. “Não precisa ser nesse instante, mas

eventualmente...” Eu não forcei o assunto depois disso. Por enquanto, eu ia deixar passar,

embora eu soubesse que ele ia lembrar disso e entender sua importância. Eu sabia que estava certa em fazer isso, também. Ele não podia ser feliz comigo se não fosse feliz consigo mesmo. Me ocorreu então, enquanto eu me erguia por mim mesma, que nossos papéis de aluna e estudante se foram para sempre. Agora, éramos verdadeiramente iguais.

Eu descansei minha cabeça no peito dele e o senti relaxar. Íamos aproveitar

esse momento, mesmo que por pouco mais tempo. Sonya disse que precisávamos “descansar”, me fazendo pensar que ainda tínhamos algum tempo aqui antes que o relógio correndo nos levasse de volta à Corte. Enquanto eu e Dimitri continuávamos a nos manter próximos um do outro, eu me achei querendo dormir de verdade. Eu estava exausta da luta – a qual, eu percebi, tinha sofrido uma reviravolta muito inesperada. Minha culpa e desespero por Victor e a explosão de espírito também tomaram sua quota, não importa que houvesse um amuleto de cura ao redor do meu pescoço. E sim, eu pensei com um sorrisinho, eu estava simplesmente exausta pelo que eu e Dimitri tínhamos

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feito. Era meio legal usar meu corpo para algo que não resultasse em ferimentos sérios para variar.

Eu adormeci no seu abraço, escuridão me envolvendo tão calorosamente

quanto os braços dele. Devia ter sido assim tão simples. Devia ter sido um descanso pacífico e feliz. Mas, como normalmente, eu não tinha tanta sorte.

Um sonho de espírito me puxou das profundezas do sono e, por um

instante, eu pensei que talvez Robert Doru tivesse vindo vingar a morte do seu irmão.

Mas não. Nenhum Dashkov vingativo. Ao invés disso, eu me vi olhando um

par de olhos verde-esmeralda. Adrian.

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TRINTA

EU NÃO CORRI PARA SEUS BRAÇOS como geralmente fazia. Como poderia? Depois do que fiz? Não. Eu não podia fingir mais. Eu ainda não tenho certeza do que o futuro guardava para Dimitri e eu, não até ele responder meu ultimato. Eu, no entanto, sabia que tinha que soltar Adrian. Meus sentimentos por ele ainda eram fortes, e me perguntei se era remotamente possível nos tornarmos amigos. Independentemente, eu não podia ficar com ele depois de dormir com Dimitri. Não foi assassinato, não, mas certamente não foi honrado.

Ainda sim... eu não podia dizer nada disso para Adrian agora, eu percebi. Eu

não podia terminar com ele em um sonho. Isso era quase tão ruim quanto terminar por mensagem. Além do mais, eu tinha a sensação que... bem, eu provavelmente precisaria da ajuda dele. Lá se vai a honra. Logo, eu jurei. Logo vou contar para ele.

Ele não pareceu minha falta de abraço. Mas ele notou outra coisa. “Wow.” Estávamos na biblioteca de St. Vladimir, entre todos os lugares, e dei a ele

um olhar surpreso do outro lado da mesa de estudo diante de nós. “Wow, o que?”

“Sua... sua aura. É... incrível. Está brilhando. Quero dizer, sempre brilhou,

mas hoje... bem, eu nunca vi algo assim. Eu não esperava isso depois de tudo que aconteceu.”

Eu me mexi desconfortável. Se eu me iluminava ao redor de Dimitri

normalmente, o que diabos iria acontecer com minha aura depois do sexo? “Depois do que aconteceu?” eu perguntei, desviando o comentário.

Ele riu e se aproximou de mim. Suas mãos foram insconcientemente atrás

de cigarros, pararam, e então caíram. “Oh, qual é. Todo mundo está comentando. Como você e Belikov sequestraram a Jailbait – o que foi isso? – e coagir aquela alquimista. É a noticia mais quente daqui. Bem, fora as eleições. O último teste está por vir.”

“É verdade...” eu murmurei. Já fazia quase 24 horas desde que Lissa

recebeu a charada. Havia pouco tempo sobrando, e até onde eu sabia, ela não tinha respondido.

“Porque você está dormindo no meio do dia?” ele perguntou. “Eu não

esperava pegar você. Achei que estaria no horário humano.”

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“É... foi meio que uma noite difícil, tendo que escapar de uma legião de

guardiões e tudo mais.” Adrian pegou minha mão, franzindo levemente quando eu não apertei em

resposta. O franzido suavizou rapidamente em seu sorriso fácil. “Bem, eu me preocuparia mais com o seu velho do que com eles. Ele está fulo por você não ter ficado onde estava. E por não conseguir falar com os alquimistas. Acredite em mim, ele tem tentado.”

Isso quase me fez rir, só que não era o resultado que eu queria também.

“Então ele não é todo poderoso afinal de contas.” Eu suspirei. “É isso que precisamos. De Sydney. Ou, bem, o cara que está com ela. O que supostamente sabe de algo.” Eu recordei aquele momento, de novo vendo o reconhecimento no rosto de Ian. Ele conhece o cara que atacou Lissa e subornou Joe. “Precisamos dele.”

“Pelo que eu entendi,” disse Adrian, “os guardiões estão no hotel, na maior parte preocupados com os alquimistas fugirem. Mas eles estão controlando quem entra. Eles não vão deixar nenhum de nós – ou outros alquimistas – passarem. Tem muitos outros hóspedes humanos, e eu acho que Abe tentou se disfarçar – e falhou.”

Pobre Zmey. “Ele deveria ter mais fé nos guardiões. Eles não vão deixar

ninguém entrar e sair.” Minhas palavras me fizeram parar. “É isso...” Adrian me olhou com suspeitas. “Oh não. Eu conheço esse olhar. Algo

maluco está para acontecer.” Eu peguei sua mão, agora por excitação, ao invés de amor. “Chame Mikhail.

Faça ele nos encontrar...” eu pisquei. Eu vi a cidade que os alquimistas estavam. Como era a mais perto da Corte, passamos por lá muitas vezes. Eu esforcei meu cérebro, tentando pensar nos detalhes. “No restaurante com a placa vermelha. É o mais distante. Sempre fazendo propaganda dos buffets.”

“Mais fácil falar do que fazer, pequena dhampir. Eles estão usando todos os

guardiões da Corte para manter as eleições sob controle. Se Lissa não tivesse sido atacada, eles não teriam deixado sua mãe ficar com ela. Eu não acho que Mikhail pode escapar.”

“Ele vai encontrar um jeito,” eu disse confiante. “Diga a ele que isso é – é a

chave para o assassino. A resposta. Ele tem recursos.”

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Adrian parecia cético, mas era difícil para ele me recusar qualquer coisa. “Quando?”

Quando, de fato? Era quase meio dia, e eu não prestei muita atenção em

onde paramos. Quanto tempo levaria para alcançarmos a Corte? Pelo que eu sabia das eleições, aqueles que passaram no seu último teste davam discursos quando o dia Moroi começava. Em teoria, eles passavam direto para votação – só que, se nosso plano funcionasse, o envolvimento de Lissa ia atrasar isso durante dias. Desde que ela passasse.

“Meia noite,” eu disse. Se eu estava supondo corretamente, a Corte iria

estar completamente envolvida com o drama das eleições, facilitando para Mikhail sair. Eu esperava. “Vai dizer a ele?”

“Qualquer coisa por você.” Adrian se curvou de forma galanteadora.

“Embora, eu ainda ache perigoso para você se envolver diretamente nisso.” “Eu tenho que fazer isso eu mesma,” eu disse. “Não posso me esconder.” Ele acenou, como se entendesse. Eu não tinha certeza que ele entendia. “Obrigada,” eu disse a ele. “Muito obrigado por tudo. Agora vá.” Adrian me deu um sorriso arrogante. “Cara, você não perde tempo em

expulsar um cara da cama, huh?” Eu recuei, a piada sendo um pouco certeira demais. “Eu quero que Mikhail

esteja preparado. Eu também preciso ver o último teste de Lissa.” Isso deixou Adrian sóbrio de novo. “Ela tem alguma chance? Ela vai passar?” “Eu não sei,” admiti. “Esse é difícil.” “Ok. Vou ver o que posso fazer.” Ele me deu um pequeno beijo. Meus lábios

responderam automaticamente, mas meu coração não estava afim. “E Rose? Eu falei sério. Tenha cuidado. Você vai estar perto demais da Corte. Sem falar de vários guardiões que te tem em sua lista de mais procurados e provavelmente vão tentar te matar.”

“Eu sei,” eu disse, escolhendo não mencionar que não havia nenhum

‘provavelmente’ naquilo. Com isso, ele sumiu, e eu acordei. Estranhamente, o que encontrei em meu

próprio mundo parecia mais sonhador do que eu experimentei com Adrian.

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Dimitri e eu estávamos na cama, embaixo das cobertas, nossos corpos e membros ainda envolvidos ao redor um do outro. Ele dormia com um olhar raro de pacifismo e quase parecia sorrir. Por meio segundo, eu considerei acordá-lo e dizer a ele que tínhamos que cair na estrada. Uma olhada no relógio alegremente esmagou aquele pensamento. Ainda tínhamos tempo, além do mais o teste se aproximava. Eu tinha que ir até Lissa e confiava que Sonya iria aparecer se dormíssemos demais.

Certa o bastante, aferi o teste corretamente. Lissa estava passando pelos

jardins da Corte, marchando como alguém indo a um funeral. O sol, flores, e os pássaros passavam despercebidos por ela. Até suas companhias faziam pouco para alegrá-la: Christian, minha mãe e Tasha.

“Eu não posso fazer isso,” ela disse, encarando a frente do prédio que trazia

seu destino. “Eu não posso fazer esse teste.” A tatuagem a impedia de dar qualquer outra informação.

“Você é inteligente. Brilhante.” O braço de Christian estava em sua cintura,

e naquele momento, eu o amei por sua confiança nela. “Você pode fazer isso.” “Você não entende,” ela disse, com um suspiro. Ela não tinha nenhuma

resposta para a charada, o que significa que o plano estava em risco – e seu desejo de se provar.

“Para variar ele entende,” disse Tasha, um leve tom de provocação em sua

voz. “Você pode fazer isso. Você tem que fazer. Você tem tanto para percorrer ainda.” Sua confiança não fez Lissa ficar melhor. Se alguma coisa, acrescentava pressão. Ela falharia, como o sonho do Conselho que o cálice mostrou para ela. Ela não tinha nenhuma resposta aqui também.

“Lissa!” Uma voz a vez parar, e Lissa virou para ver Serena correndo em direção a

eles, suas longas pernas atléticas rapidamente fazendo a distância entre elas. “Oi, Serena,” disse Lissa. “Não podemos parar. O teste –”

“Eu sei, eu sei.” Serena estava corada, não pelo exercício, mas por

ansiedade. Ela trouxe um pedaço de papel. “Fiz sua lista. Tantos quanto pude lembrar.”

“Que lista?” perguntou Tasha. “Moroi que a rainha estava treinando, para ver o quão bem eles podiam

aprender a lutar.”

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As sobrancelhas de Tasha se ergueram em surpresa. Ela não estava por

perto quando eles discutiram isso da última vez. “Tatiana estava treinando lutadores? Nunca ouvi sobre nada assim.” Eu tinha a sensação que ela gostaria de ser um daqueles ajudando com as instruções.

“A maioria não sabia,” concordou Lissa, encarando o pedaço de papel. “Era

segredo.” O grupo se amontoou para ler os nomes, listados com a caligrafia bonita de

Serena. Christian soltou um assovio baixo. “Tatiana podia estar aberta a idade de defesa mas só para certas pessoas.”

“Sim,” concordou Tasha. “Isso definitivamente é uma lista classe A.” Todos os nomes eram da realeza. Tatiana não trouxe nenhum ‘plebeu’ para

seu experimento. Essa era a elite da elite, embora, como Ambrose tinha notado, Tatiana tenha saído do seu caminho para conseguir uma variedade de idades e sexo.

“Camille Conta?” perguntou Lissa surpresa. “Nunca imaginei essa. Ela

sempre foi ruim em ED. Física.” “E tem outro de nossos primos,” acrescentou Christian, apontando para Lia

Ozera. Ele olhou para Tasha, que ainda estava descrente. “Você sabia disso?” “Não. Eu não teria suposto que ela estava nessa também.” “Metade dos indicados também,” brincou Lissa. Rufus Tarus, Ava Drozdov, e

Ellis Badica. “Que pena que eles – oh meu Deus. A mãe de Adrian?” Certa o bastante: Daniella Ivashkov.

“Whoa,” disse Christian. Isso me surpreendeu também. “Tenho certeza que

Adrian não sabia sobre isso.” “Ela apoia os Moroi lutarem?” perguntou minha mãe, surpresa também. Lissa balançou sua cabeça. “Não. Pelo que sei dela, ela definitivamente está

a favor de deixar a defesa para dhampirs.” Nenhum de nós conseguia imaginar a linda e educada Daniella Ivashkov em uma luta.

“Ela já odiava Tatiana,” apontou Tasha. “Tenho certeza que isso fez

maravilhas para a relação. Aquelas duas brigavam todo tempo, atrás de portas fechadas.”

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Um desconfortável silêncio caiu. Lissa olhou para Serena. “Essas pessoas viam a rainha muito? Eles teriam

acesso a ela?” “Sim,” disse Serena inquieta. “De acordo com Grant, Tatiana observava as

sessões de treinamento. Depois que ele morreu... ela começou a acompanhar os estudantes individualmente, para ver o quão bem eles aprenderam.” Ela pausou. “Eu acho... eu acho que ela se encontrou com alguém na noite que morreu.”

“O progresso foi o bastante para eles aprenderem a usar a estaca?”

perguntou Lissa. Serena fez uma careta. “Sim. Alguns melhores que os outros.” Lissa olhou de volta para Lissa, se sentindo mal. Tantas oportunidades.

Tantos motivos. A resposta estava nesse pedaço de papel? O assassino estava diante dela? Serena disse que Tatiana tinha propositalmente escolhido pessoas resistentes para treinar, provavelmente para ver se os obstinados ainda podiam aprender. Ela foi longe demais com alguém? Um nome em particular permanecia na mente de Lissa.

“Eu odeio interromper,” disse minha mãe. Seu tom e comportamento

indicava que o tempo tinha acabado; estava de volta aos negócios. “Temos que seguir em frente, ou você vai se atrasar.”

Lissa percebeu que minha mãe estava certa e enfiou o pedaço de papel no

seu bolso. Se atrasar para o teste significava falhar. Lissa agradeceu Serena, assegurando a ela que foi a coisa certa a fazer. Então, meus amigos se moveram rapidamente, sentindo a pressão do tempo enquanto se apressavam em direção ao prédio do teste.

“Merda,” murmurou Lissa, em uma rara demonstração de xingamento. “Eu

não acho que aquela senhora vai tolerar qualquer atraso.” “Senhora?” Minha mãe riu, surpreendendo todos nós. Ela podia se mover

mais rápido que qualquer um e obviamente estava contendo seu passo por eles. “A que controla a maioria dos testes? Não sabe quem é ela?”

“Como poderia?” perguntou Lissa. “Eu achei que ela era só alguém que foi

recrutada.”

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“Não só alguém. Aquela é Ekaterina Zeklos.” “O que?” Lissa quase parou mas ainda tinha o tempo em sua mente. “Ela

era... ela era a rainha antes de Tatiana, certo?” “Eu pensei que ela tinha se aposentado e ido para alguma ilha,” disse

Christian, tão surpreso quanto. “Não tenho certeza se era uma ilha,” disse Tasha, “mas ela renunciou

quando achou que estava velha demais e foi viver no luxo – e longe da política – quando Tatiana estava no trono.”

Muito velha? Isso foi vinte anos atrás. Não era de se admirar que ela

parecesse uma anciã. “Se ela estava feliz por se afastar da política, então porque está de volta?” perguntou Lissa.

Minha mãe abriu a porta para todos quando chegaram no prédio, depois do

primeiro olhar buscando qualquer ameaça. Era tão instintivo para ela que ela continuou a conversa sem perder um segundo. “Porque é costume para o último monarca testar o novo – se possível. Nessa caso, obviamente não era, então Ekaterina saiu da aposentadoria para cumprir seu dever.”

Lissa mal conseguia acreditar que ela estava conversando casualmente com

a última rainha Moroi, uma rainha muito poderosa e amada. Assim que o grupo entrou no corredor, Lissa foi escoltada pelos guardiões e correu em direção a sala do teste. Seus rostos mostravam que eles não achavam que ela conseguiria. Vários espectadores, também aparentavam preocupação, torciam quando ela apareceu dando os gritos usuais sobre Alexandre e os Dragomirs. Lissa não tinha chance de responder ou até se despedir de seus amigos antes de ser praticamente empurrada para dentro da sala. Os guardiões pareciam aliviados.

A porta se fechou, e Lissa se encontrou mais uma vez encarando Ekaterina

Zeklos. Ver a senhora foi intimidador antes, mas agora... a ansiedade de Lissa duplicou. Ekaterina deu a ela um sorriso torto.

“Temi que você não conseguisse,” ela disse. “Deveria saber melhor. Você

não é o tipo que desiste.” Lissa ainda estava surpresa e quase sentiu a necessidade de tagarelar

alguma desculpa, explicar sobre a lista de Serena. Mas não. Ekaterina não se importava com isso agora, e as pessoas não inventavam desculpas para ela de qualquer forma, Lissa decidiu. Se você faz besteira, você pede desculpas.

“Sinto muito,” disse Lissa.

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“Não tem porque,” disse Ekaterina. “Você chegou. Sabe a resposta? O que

uma rainha deve possuir para realmente governar seu povo?” A língua de Lissa parecia grossa em sua boca. Ela não sabia a resposta. Era

realmente como o sonho do Conselho. Investigar o assassinato de Tatiana tomou seu tempo demais. Por um estranho momento, o coração de Lissa queimou com simpatia por aquela rainha. Ela fez o que achava melhor pelos Moroi e morreu por isso. Lissa se sentia mal até mesmo agora, encarando Ekaterina. Essa ex rainha provavelmente nunca esperou ser tirada de sua – ilha? – aposentadoria e ser forçada a voltar à vida na Corte. Ainda sim, ela havia retornado.

E bem assim, Lissa de repente sabia da resposta. “Nada,” ela disse suavemente. “Uma rainha não deve possuir nada porque

para reinar ela tem que dar tudo que tem para seu povo. Até sua vida.” O aumento do sorriso sem presa de Ekateria disse a Lissa que ela respondeu

corretamente. “Parabéns, minha querida. Você passou para votação de amanhã. Eu espero que você tenha um discurso pronto para ganhar o Conselho. Você terá que discursar pela manhã.”

Lissa balançou ligeiramente, sem ter certeza do que dizer agora, muito

menos em um discurso formal. Ekaterina parecia sentir o quão chocada Lissa estava, e o sorriso que sempre parecia enganador tornou-se gentil.

“Você ficará bem. Chegou até aqui. O discurso é a parte fácil. Seu pai estaria

orgulhoso. Todos os Dragomirs antes de você estariam.” Isso quase trouxe lágrimas aos olhos de Lissa, e ela balançou sua cabeça.

“Não sei quanto a isso. Todos sabemos que não sou realmente uma candidata. Isso foi só... bem, meio que uma farsa.” De alguma forma, ela não se sentiu mal em admitir diante de Ekaterina. “Ariana é quem merece a coroa.”

Os olhos anciões de Ekaterina penetraram Lissa, e o sorriso sumiu. “Você

não soube, então. Não, é claro que não saberia já que tudo passou tão rápido.” “Soube o que?” Simpatia passou pelo rosto de Ekaterina, e mais tarde, me perguntei se

aquela compaixão era pela mensagem que entregou ou pela reação de Lissa.

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“Ariana Szelsky não passou neste teste... ela não conseguiu resolver a charada...”

“Rose, Rose.” Dimitri estava me chacoalhando, e eu levei vários segundos para deixar o

choque tão grande quanto o de Lissa e voltar a ser Rose. “Temos que –” ele começou. “Oh meu Deus,” eu interrompi. “Você não vai acreditar no que acabei de

ver.” Ele ficou rígido. “Lissa está bem?” “Yeah, bem, mas –” “Então temos que nos preocupar com isso depois. Agora, temos que partir.” Eu notei então que ele estava vestido enquanto eu ainda estava nua. “O que

está acontecendo?” “Sonya apareceu – não se preocupe.” O choque que meu rosto deve ter

mostrado o fez sorrir. “Eu me vesti e não a deixei entrar. Mas ela disse que a recepção ligou. Eles estão começando a perceber que fizemos um check-in diferente. Precisamos sair daqui.”

Meia noite. Tínhamos que encontrar Mikhail a meia noite e passar esse

mistério que nos consumia. “Sem problemas,” eu disse, tirando as cobertas de cima de mim. Quando o fiz, eu vi os olhos de Dimitri em mim, e eu estava meio surpresa com a admiração e fome que vi ali. De alguma forma, mesmo depois de sexo, eu meio que esperava ele estar desapegado e usando seu rosto de guardião – particularmente considerando nossa repentina urgência em partir.

“Você viu algo que gosta?” eu perguntei, ecoando algo que disse para ele

muito tempo atrás, quando ele me pegou em uma posição comprometedora na escola.

“Muitas,” ele disse. A emoção queimando naqueles olhos era demais para mim. Eu desviei o

olhar, meu coração batendo em meu peito enquanto colocava minhas roupas.

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“Não esqueça,” eu disse suavemente. “Não esqueça...” eu não consegui terminar, mas não havia necessidade.

“Eu sei, Roza. Não esqueci.” Eu coloquei meus sapatos, desejando ser mais fraca para deixar de lado

meu ultimato. Mas eu não podia. Não importava o que tinha passado entre nós verbalmente e fisicamente, não importava o quão próximos estávamos de nosso final de contos de fada... não havia futuro até ele poder se perdoar.

Sonya e Jill estavam prontas e esperando quando saímos de nosso quarto, e

algo me disse que Sonya sabia o que tinha acontecido entre Dimitri e eu. Malditas auras. Ou talvez você não precisasse de poderes mágicos para ver esse tipo de coisa. Talvez o brilho apenas se mostrasse naturalmente em nossos rostos.

“Eu preciso que faça um talismã,” eu disse a Sonya, assim que pegamos a

estrada. “E temos que parar em Greenston.” “Greenston?” perguntou Dimitri. “Pra que?” “É onde os alquimistas estão sendo mantidos.” Eu já tinha começado a

juntar os pedaços. Quem odiava Tatiana – tanto por causa de sua personalidade e por ter Ambrose? Quem se ressentia dela por querer que Moroi lutasse contra Strigoi? Quem temia seu apoio ao espírito e seus perigosos efeitos nas pessoas, como, digamos, Adrian? Quem queria ver uma família diferente no trono para apoiar as novas crenças? E quem ficaria feliz por me ver presa e fora da questão? Eu respirei fundo, mal acreditando no que estava prestes a dizer.

“E temos que ir encontrar provas que Daniella Ivashkov matou Tatiana.”

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TRINTA E UM EU NÃO FUI A ÚNICA que chegou a essa surpreendente conclusão. Quando

a Corte Moroi acordou várias horas depois de estarmos na estrada, Lissa também estava juntando todos os pedaços em seu quarto enquanto se preparava para dar seu discurso pré eleição. Ela pensou em todos os argumentos que tinha, e mais alguns – como o quão frenética Daniella estava por Adrian ser implicado comigo, o que sem duvidas demonstrava um plano cuidadosamente pensado. Daniella também ofereceu seu primo advogado, Damon Tarus, para me defender. Isso teria ajudado? Ou Damon propositalmente me daria uma defesa fraca? O envolvimento surpresa de Abe podia ter sido uma benção.

A cabeça de Lissa martelava rapidamente enquanto ela torcia seu cabelo em

um coque. Ela o preferia solto mas achou que para o evento que estava a se seguir, ela deveria usar algo mais desafiador. Seu vestido era de seda marfim, com manga comprida e leve, que ai até seus joelhos. Alguns poderiam pensar que usar essa cor a faria parecer uma noiva, mas quando a vi no espelho, eu sabia que ninguém cometeria esse erro. Ela parecia luminosa. Radiante. Da realeza.

“Não pode ser verdade,” ela disse, completando o visual com brincos de

pérolas que tinham pertencido a sua mãe. Ela partilhou sua teoria com Christian e Janine, que estavam com ela agora, e tinha meio que esperado que eles falassem a ela que estava louca. Eles não falaram.

“Não faz sentido,” disse Christian, com nada de sua arrogância usual. “Só não temos provas ainda,” disse minha mãe, sempre prática. “Muitas

coisas circunstanciais.” “Tia Tasha está checando Ethan para saber se Daniella estava lá na noite do

assassinato,” disse Christian. Ele fez uma cara de nojo, ainda infeliz por sua tia ter um namorado. “Daniella não estava nas listas oficiais, mas tia Tasha acha que pode ter sido alterada.”

“Isso não me surpreenderia. Mesmo assim, colocar Daniella lá na hora certa

constrói uma casa mas ainda não é prova o bastante.” Minha mãe deveria ser advogada. Ela e Abe poderiam abrir sua firma de advocacia juntos.

“É tanta prova quanto eles tem contra Rose!” exclamou Lissa. “Fora a estaca,” Janine a lembrou. “E as pessoas estão mais dispostas a

acreditar nas evidências sobre Rose do que sobre Lady Daniella Ivashkov.”

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Lissa suspirou, sabendo que tudo era verdade. “Se Abe pudesse conversar

com os alquimistas. Precisamos do que eles sabem.” “Ele vai conseguir,” disse minha mãe confiante. “Só leva tempo.” “Não temos tempo!” A dramática virada de eventos estava dando ao

espírito uma chance de erguer sua cabeça feia, e como sempre, tentei tirar a escuridão de Lissa. É de se imaginar que eu teria aprendido minha lição depois de Victor, mas, bem... velhos hábitos são duro de matar. Eles vem primeiro.

“Marie Conta e Rufus Tarus são os únicos candidatos que sobraram! Se ele

ganhar, Daniella vai ter muita influência. Então nunca vamos provar a inocência de Rose.”

Ariana falhar no último teste foi um golpe forte para todos, esmagando o

futuro que Lissa pensou estar entalhado em pedra. Sem Ariana, o resultado não parecia bom. Marie Conta não era a pessoa favorita de Lissa, mas Lissa sentia que ela seria uma governante muito melhor que Rufus. Infelizmente, a família Conta estava fora das políticas nos últimos anos, os dando poucos aliados e amigos. Os números estavam perigosamente dirigidos para Rufus. Era frustrante. Se pudéssemos levar Jill para lá, Lissa poderia votar, e um Conselho de doze, mesmo um voto teria poder.

“Temos tempo,” minha mãe disse calmamente. “Não haverá uma votação

hoje, não com as controversas que você causa. E a cada dia que a eleição é atrasada, temos outra chance de construir um caso. Estamos próximos. Podemos fazer isso.”

“Não podemos contar a Adrian sobre isso,” avisou Lissa, se movendo em

direção à porta. Era hora de ir. O sorriso que era marca registrada de Christian retornou. “Isso,” ele disse,

“é algo que todos podemos concordar.” O elaborado salão de festas – que era um salão do Conselho por causa do

tamanho – parecia como um concerto de Rock. As pessoas estavam lutando por lugares. Alguns, percebendo que era inútil, estavam acampados do lado de fora do prédio, como se estivessem num piquenique. Alguns tiveram a brilhante ideia de ligar um sistema de som com alto falantes para aqueles que não conseguiriam ouvir os procedimentos. Guardiões se moviam pela multidão, tentando conter o caos – particularmente conforme os candidatos chegavam.

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Marie Conta apareceu logo antes de Lissa, e mesmo ela sendo a candidata mais improvável, haviam ainda torcidas e gritos de excitação da multidão. Guardiões rápidos – e duramente, se necessário – continuam a multidão para que ela pudesse passar. A atenção tinha que ser assustadora, mas Marie não demonstrou nada. Ela andava de maneira orgulhosa, sorrindo para seus apoiadores e não apoiadores da mesma forma. Tanto Lissa e eu lembramos das palavras de Christian: Você é uma indicada a rainha. Aja como tal. Você merece isso. Você é a última Dragomir. A filha da realeza.

Foi exatamente assim que ela se portou. Foi mais do que Christian pediu

também. Agora que ela passou nos três testes, a gravidade dos procedimentos antigos nos quais ela estava entrada continuou a crescer. Lissa entrou, sua cabeça erguida. Eu não conseguia ver todo seu corpo, mas eu reconheci a sensação de seu andar: graciosa, firme. A multidão adorou, e me ocorreu que esse grupo era particularmente vocal porque eles não eram da realeza. Aqueles reunidos do lado de fora eram Moroi normais, os que realmente vieram para amá-la. “A herdeira de Alexandra!”. “Trazendo de volta os Dragomirs!” Para alguns, era simplesmente o bastante gritar seu nome, acrescentando os títulos de uma antiga heroína russa que partilhava o mesmo nome: “Vasilisa a corajosa! Vasilisa a linda!”

Eu sabia que ninguém sabia do medo dentro dela. Ela era boa demais.

Christian e minha mãe, que inicialmente a escoltava, foram para trás como um, deixando Lissa andar alguns passos à frente. Não havia duvidas da posição e autoridade de Lissa. Ela dava cada passo com confiança, lembrando que seu avô também trilhou este caminho. Ela tentou dar um sorriso a multidão que era tanto digno quando genuíno. Deve ter funcionado porque eles ficaram ainda mais agitados. E quando ela parou para comentar sobre uma bandeira dos Dragomirs que um homem tinha pintado em apoio, o artista quase desmaiou por alguém como ela ter notado e o cumprimentado.

“Isso é sem precedentes,” comentou minha mãe, assim que estavam

seguros do lado de dentro. “Nunca houve esse tipo de situação. Certamente não durante as últimas eleições.”

“Porque tão grande dessa vez?” perguntou Lissa, que estava tentando

controlar sua respiração. “Porque tem muitas sensações, entre o assassinato e você emudecendo a

lei. Isso e... bem, o jeito que você está ganhando o coração de todos que não são da realeza. Os dhampirs também. Tem uma placa de um dragão em uma das salas de café, sabia. Eu acho que até alguns da realeza te amam, embora talvez seja só para trazer beneficio a qualquer que seja a família que representam. Mas sério? Se isso coubesse a todas as pessoas e não apenas ao Conselho – e

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bem, se fosse uma votação para qual você fosse elegível – eu acho que você ganharia.”

Lissa fez uma careta e então relutantemente acrescentou, “Honestamente?

Eu acho que deveríamos permitir que o povo vote para nossos lideres. Cada Moroi deveria dar um voto, não apenas um punhado das famílias de elite.”

“Cuidado, princesa,” provocou Christian, colocando seu braço ao redor dela.

“Esse é o tipo de conversa que vai começar outra revolução. Uma coisa de cada vez, ok?”

A multidão no salão não estava tão louca como as coisas estavam do lado

de fora – mas estava bem perto disso. Os guardiões estavam prontos para os números dessa vez e se certificaram de manter o controle desde o início. Eles contaram quantas pessoas eram permitidas no salão e paravam os da realeza e não realeza. Ainda era intimidador, e Lissa se lembrou de novo e de novo que bancar esse papel estava me ajudando. Por mim, ela suportaria qualquer coisa, até a fanfarra. Dessa vez, felizmente, Lissa foi levada rapidamente a frente do salão, onde haviam três cadeiras viradas em direção da multidão. Rufus e Marie já estavam sentados, falando baixo com alguns poucos membros selecionados de sua família. Guardiões estavam ao redor deles. Lissa estava sentada sozinha, é claro, mas acenou para os guardas ali perto quando Tasha se aproximou.

Tasha se abaixou ao lado de Lissa, falando baixo e mantendo um olhar

cauteloso em direção a Rufus enquanto ele conversava com alguém. “Más notícias. Bem, dependendo de como você vê. Ethan disse que Daniella estava lá aquela noite. Ela e Tatiana se encontraram sozinhas. Ele não percebeu que foi tirado dos registros. Alguém os fez em nome de todos os guardiões, mas ele jura que viu Daniella.”

Lissa fez uma careta. Secretamente, ela esteve torcendo – rezando, até

mesmo – que tivesse cometido um erro, que certamente a mãe de Adrian não pudesse ter feito isso. Ela deu um aceno duro para mostrar que entendeu.

“Desculpe,” disse Tasha. “Sei que gosta dela.” “Eu acho que estou mais preocupada com Adrian. Não sei como ele vai

reagir.” “Vai ser duro,” disse Tasha. Depois do que ela enfrentou com os pais de

Christian, ela sabia mais do que ninguém como era ter uma família que te traiu. “Mas ele vai superar. E assim que pudermos trazer a tona todas as evidências, vamos ter Dimitri e Rose de volta.”

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Aquelas palavras encheram Lissa de esperança, a fortalecendo. “Eu sinto tanta falta dela,” ela disse. “Eu queria que ela já estivesse aqui.”

Tasha deu um sorriso simpático e deu um tapinha em seu ombro. “Logo.

Eles voltam logo. Só passe por isso. Você pode fazer isso. Você pode mudar tudo.”

Lissa não estava tão certa disso, mas Tasha correu para se juntar a seus

‘amigos ativistas’ e foi substituída por – Daniella. Ela veio falar com Rufus, oferecer suporte e amor familiar. Lissa não

conseguia olhar para a mulher e se sentiu ainda pior quando Daniella falou com ela.

“Não tenho certeza em como você se envolveu nisso, querida, mas boa

sorte.” O sorriso de Daniella era sincero, mas não havia duvidas de que candidato ela apoiava. Sua expressão gentil ficou preocupada. “Você tem visto Adrian? Eu tinha certeza que ele estaria aqui. Eu sei que os guardiões o deixariam entrar.”

Excelente pergunta. Lissa não o via desde os últimos dias. “Não vi. Talvez

ele só esteja atrasado. Arrumando o cabelo ou algo assim.” Com sorte, não desmaiado em algum lugar.

Daniella suspirou. “Eu espero que sim.” Ela saiu, sentando na plateia. Mais uma vez, o pai de Adrian estava

presidindo a sessão, e depois de vários falsos começos, o salão se aquietou. “Na última semana,” Nathan começou, falando no microfone, “muitos

candidatos dignos fizeram testes requeridos para o governante do nosso povo. Diante de nós, estão sentados os últimos três: Rufus Tarus, Marie Conta e Vasilisa Dragomir.” O tom de Nathan foi desgostoso com o último nome, mas a lei permitiria que ela desse seu discurso. Depois disso, a inconsistência da lei tomava conta, e o inferno ia começar.

“Esses três mostraram que tem habilidade para reinar, e como seu último

ato, antes da votação, farão um discurso sobre seus planos para nosso povo.” Rufus foi o primeiro, dando exatamente o tipo de discurso esperado. Ele

brincou os medos dos Moroi, prometendo formas extremas de proteção – que envolvia os dhampirs, mas ele não entrou em detalhes.

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Ele também usou jogos políticos sujos, diminuindo seus rivais. Marie foi reprimida pela falta de atividade política de sua família. Lissa, no entanto, foi o maior alvo. Ele falou de sua idade, do perigo do espírito, e do fato dela sequer estar ali, como uma violação a lei.

O discurso de Marie foi muito mais pensado e detalhado. Ela explicou

explicitamente planos para todo tipo de questão, na maioria razoáveis. Não concordei com tudo que ela disse, mas ela claramente era competente e não se rebaixou para zombarias em seu discurso.

Infelizmente, ela não era tão carismática quanto Rufus, e era uma triste

verdade que aquilo não faria diferença. Seu tom sempre igual demonstrava não só seu discurso mas sua personalidade.

“Esses são os motivos pelos quais eu deveria ser rainha. Eu espero que

tenham aproveitado essa conversa e votem por mim quando chegar a hora. Obrigada.”

Ela abruptamente sentou. Finalmente chegou a vez de Lissa. Parada diante do microfone, ela de

repente viu o sonho do cálice, onde ela fraquejava na frente do Conselho. Mas não, isso era realidade. Ela não falharia. Ela seguiria em frente.

“Nosso povo está em guerra,” ela começou, a voz alta e clara. “Estamos

constantemente sob ataque – mas não só de Strigoi. De uns contra os outros. Estamos divididos. Brigamos uns com os outros. Família contra família. Realeza contra plebeus. Moroi contra dhampir. É claro que os Strigoi estão nos enfrentando. Eles pelo menos estão unidos sob um objetivo: matar.”

Se eu estivesse sentada naquela plateia, eu estaria inclinada para frente, a

boca aberta. E havia muitas pessoas ali que estavam fazendo a mesma coisa que eu. Suas palavras eram voláteis. Chocantes. E muito cativantes.

“Somos um povo,” ela continuou. “Moroi e dhampir igualmente.” Yeah, isso

teve alguns ofegos também. “E embora seja impossível que todos consigam o que querem, ninguém vai conseguir que algo seja feito se não nos unirmos e encontrarmos um meio termo – mesmo que isso signifique fazer escolhas difíceis.”

Então, extraordinariamente, ela explicou como seria feito. É verdade, ela

não tinha o tempo para dar detalhes em cada assunto do nosso mundo, mas ela partiu para os grandes. E ela conseguiu fazer de uma forma que não ofendeu ninguém muito. Afinal de contas, ela estava certa em dizer que nem todos iam

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conseguir o que queriam. Ainda sim, ela falou sobre como os dhampirs eram nossos melhores guerreiros – e seriam melhores com uma voz mais forte. Ela falou sobre como os plebeus precisavam de uma voz maior também – mas não ao custo de exaltar as linhagens da realeza que definiam nosso povo. Finalmente, ao falar sobre o assunto de treinar os Moroi para se defenderem, ela enfatizou a importância – mas não como algo obrigatório ou como o único método que precisava ser explorado.

Sim, ela deu algo para todos e o fez de forma linda e carismática. Era o tipo

de discurso que podia fazer as pessoas segui-la para qualquer parte. Ela concluiu com, “Sempre misturamos o antigo com o novo. Mantemos a mágica ao lado da tecnologia. Nos prendemos ao nosso passado e abraços o presente. Tiramos o melhor de tudo e ficamos mais fortes. É como sobrevivemos. É como todos nós iremos sobreviver.”

Silêncio seguiu a sua conclusão – e então os gritos começaram. Eu ouvi um

rugido do lado de fora, no gramado, antes começar do lado de dentro. As pessoas que eu jurava apoiar outros estavam praticamente em lágrimas, e eu não tinha esquecido que a maioria das pessoas que eu conseguia ver no salão era da realeza. A própria Lissa queria chorar mas ao invés disso manteve sua façanha de coragem. Quando finalmente sentou, e a multidão se aquietou, Nathan retomou seu papel.

“Bem,” ele disse. “Esse certamente foi um bonito discurso, um que todos

gostamos. Mas agora, a hora chegou para o Conselho votar em nosso próximo líder, e – por lei – apenas dois candidatos estão prontos para essa posição: Rufus Tarus e Marie Conta.” Dois Moroi, um de cada da família de Tarus e um de Conta, foram para frente e se juntaram a seus respectivos candidatos. O olhar de Nathan caiu em Lissa que tinha se levantado como os outros, mas estava sozinha. “De acordo com as leis para eleição – leis escrita desde o início dos tempos – cada candidato deve se aproximar do Conselho, escoltado por alguém de sua linhagem de sangue para poder mostrar a força e união de sua família. Você tem tal pessoa?”

Lissa encontrou seus olhos sem recuar. “Não, Lord Ivashkov.” “Então temo que seu papel nesse jogo terminou, Princesa Dragomir.” Ele

sorriu. “Você pode sentar.” Yup. Foi então que o inferno tomou conta. Eu sempre ouvi a expressão, “E a multidão vai a loucura!” Agora, eu vi

pessoalmente. Na metade do tempo, eu nem sabia quem estava gritando ou apoiando o que. As pessoas discutiam em grupos. Alguns Moroi de jeans

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desafiavam cada pessoa bem vestida que conseguiam encontrar, operando sobre a presunção que todos em boas roupas eram da realeza e que todos odiavam Lissa. Sua devoção a ela era admirável. Bizarra, mas admirável. Um grupo da família de Tarus levantou para encarar a família Conta, parecendo preparados ou para uma luta de gangues, ou uma fuga veloz. Esse foi um dos pares mais bizarros, já que aquelas duas famílias eram as únicas a ter que concordar completamente com isso.

E tudo continuou. As pessoas brigavam sobre a elegibilidade de Lissa. Eles

brigavam sobre ter uma sessão para mudar a lei naquele momento. Alguns lutavam por coisas que nunca ouvi antes. Uma onda de guardiões na porta me fez pensar que a multidão lá fora estava tentando invadir. Minha mãe estava entre os que defendiam, e eu sabia que ela estava certa: não haveria votação hoje, não com essa anarquia. Eles teriam que fechar a sessão e tentar amanhã de novo.

Lissa encarou a multidão, se sentindo atordoada e incapaz de acompanhar a

atividade. Seus estômago se retorceu quando algo se despertou dentro dela. Todo esse tempo, ela jurou que ela respeitaria a dignidade da tradição eleitoral. Ainda sim, era por causa dela que as coisas agora eram tudo menos dignas. Era tudo sua culpa. Então, seus olhos foram para alguém no canto mais afastado, longe da confusão. Ekaterina Zeklos. A antiga rainha captou os olhos de Lissa – e deu uma piscadela.

Eu saí do salão, sem precisar ver mais daquela confusão. Eu voltei para o

carro, um novo pensamento em minha mente. As palavras de Lissa queimavam em minha alma. Elas remexeram minha mente. E mesmo que ela tenha dado seu discurso para disfarçar, havia paixão nele – uma ardente crença. Se ela fosse elegível para ser rainha, ela teria suportado aquelas palavras.

E foi quando eu soube. Ela seria rainha. Eu decidi naquele instante que eu faria isso acontecer. Não levaríamos Jill

simplesmente para dar a Lissa o direito de votar no Conselho. Jill daria a Lissa o status que permitiria os Moroi votarem nela. E Lissa iria ganhar.

Naturalmente, eu mantive esses pensamentos para mim mesma. “Esse é um olhar perigoso,” disse Dimitri, me dando um breve olhar antes

de voltar a prestar atenção na estrada. “Que olhar?” eu perguntei inocentemente. “O que diz que você tem uma ideia.”

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“Eu não tive uma ideia. Eu tive uma ótima ideia.” Piadas assim faziam Jill rir, mas virando para olhar para ela no assento de

trás, eu vi que ela não achou nada engraçado. “Hey, você está bem?” eu perguntei. Aqueles olhos jade se focaram em mim. “Não tenho tanta certeza. Muita

coisa pode acontecer. E eu não entendo o que vai acontecer em seguida. Eu sinto como... como se algum tipo de objeto que vai ser usado para cumprir um plano. Como um peão.”

Um pouco de culpa me atingiu. Victor sempre usou as pessoas como parte

de um jogo. Eu era diferente? Não. Eu me importava com Jill. “Você não é um objeto ou peão,” eu disse a ela. “Mas você é muito, muito importante, e por sua causa, muitas coisas boas vão acontecer.”

“Mas não será tão simples, não é?” Ela soava sábia para sua idade. “As

coisas vão piorar antes de melhorar, não vão?” Eu não podia mentir para ela. “Yeah. Mas então você vai poder contatar sua

mãe... e bem, como eu disse, coisas boas vão acontecer. Guardiões sempre dizem ‘eles vem primeiro’ quando estamos falando dos Moroi. Não é exatamente a mesma coisa para você, mas ao fazer isso... bem...”

Ela me deu um sorriso que não parecia muito feliz. “Yeah, eu entendo. É

para o bem maior, certo?” Sonya passou muito tempo da viagem trabalhando em um talismã para

mim, usando um bracelete de prata que compramos em uma loja de presentes na estrada. Tinha um visual brega, mas era feito de prata de verdade, que era o que contava. Quando estávamos a cerca de meia hora de Greenston, ela terminou e me entregou. Eu o coloquei e olhei para os outros.

“E aí”? “Eu não vejo nada,” disse Sonya, “mas também, não veria.” Jill cerrou os olhos. “Você parece um pouco borrada... como se eu

precisasse piscar algumas vezes.” “O mesmo aqui,” disse Dimitri.

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Sonya ficou satisfeita. “É como deveria parecer para as pessoas que sabem que ela está com talismã. Com sorte para os outros guardiões ela estará com outro rosto.” Era uma variação do que Lissa fez quando tiramos Victor da prisão. Só que, esse precisou de menos magia porque Sonya só teve que alterar minhas feições levemente e não precisou esconder minha raça. Ela também era mais prática que Lissa.

O restaurante que escolhi em Greenston já tinha fechado há muito tempo

quando chegamos, as 23:30. O estacionamento estava quase negro, mas eu conseguia distinguir um carro no canto mais distante. Com sorte, era Mikhail tendo chego cedo – e não um esquadrão de guardiões.

Mas quando estacionamos ali perto, eu vi que de fato era Mikhail que saiu

do carro – junto com Adrian. Ele sorriu quando me viu, contente com a surpresa. Na realidade, eu deveria

ter previsto isso quando ele me disse que ia passar a mensagem para Mikhail. Adrian iria encontrar uma forma de vir junto. Meu estômago se revirou. Não, não. Isso não. Eu não tinha tempo para lidar com minha vida amorosa. Agora não. Eu nem sabia o que dizer para Adrian. Felizmente, eu não tive a chance de falar.

Mikhail veio em nossa direção com a eficiência de um guardião, pronto para

descobrir o que estava em minha mente. Ele parou bruscamente quando viu Sonya sair do nosso carro. Ela também. Os dois pararam congelados, os olhos mais arregalados do que parecia fisicamente possível. Eu soube então que o resto de nós tinha deixado de existir, como toda nossa intriga, missões, e... bem... o mundo. Naquele momento, apenas dois deles existiam.

Sonya deu um choro estrangulado e então correu para frente. Isso o fez

acordar, a tempo de colocar os seus braços enquanto ela se jogou contra ele. Ela começou a chorar, e eu podia ver lágrimas em seu rosto também. Ele pôs o cabelo dela para trás e segurou suas bochechas, a encarando e repetindo de novo e de novo, “É você... é você... é você...”

Sonya tentou limpar seus olhos, mas não pareceu muito bom. “Mikhail –

sinto muito – sinto tanto –” “Não importa.” Ele a beijou e a puxou para trás, apenas o bastante para ver

seus olhos. “Não importa. Nada importa a não ser que estamos juntos de novo.” Isso a fez chorar ainda mais. Ela enterrou seu rosto no peito dele, e seus

braços se apertaram com mais força ao redor dela. O resto de nós ficou congelado, como os amantes tinham estado antes. Parecia errado testemunhar

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isso. Era privado demais; não deveríamos estar aqui. Ainda sim... ao mesmo tempo, eu fiquei pensando que era como eu imaginava como seria meu encontro com Dimitri quando Lissa o restaurou. Amor. Perdão. Aceitação.

Dimitri e eu brevemente nos olhamos, e uma sensação me disse que ele

estava lembrando das minhas palavras: Você tem que se perdoar. Se não puder, então não podemos continuar. Não podemos. Eu desviei o olhar, olhando de volta para o casal feliz para que ele não me visse me encher de lágrimas. Deus, eu queria o que Mikhail e Sonya tinham. Um final feliz. Perdão pelo passado. Um brilhante futuro a frente.

Jill fungou ao meu lado, e eu pus um braço ao redor dela. O pequeno som

pareceu trazer Mikhail de volta a nosso mundo. Ainda segurando Sonya, ele olhou para mim.

“Obrigada. Obrigada por isso. Qualquer coisa que precisar. Qualquer coisa

mesmo –” “Pare, pare,” eu disse, com medo de ficar sem ar. Eu tinha acabado de

limpar meus olhos traidores cheios de lágrimas. “Fico feliz... feliz por ter feito, e bem... não fui eu.”

“Ainda sim...” Mikhail olhou para Sonya que estava sorrindo para ele,

através de suas lágrimas. “Você me devolveu meu mundo.” “Fico tão feliz por você... e quero que tenha isso, apenas aproveitar no

momento. Mas tenho um favor. Mais um favor.” Sonya e Mikhail trocaram olhares de uma forma sábia. Nunca adivinharia

que eles estiveram separados por três anos. Ela acenou, e ele voltou seu olhar para mim. “Eu achei que era por isso que ele me trouxe aqui.” Ele inclinou sua cabeça em direção a Adrian.

“Eu preciso que você me leve ao hotel onde os alquimistas estão.” O pequeno sorriso no rosto de Mikhail caiu. “Rose... não posso te levar para

aquele lugar. Você estar tão perto da Corte já é perigoso o bastante.” Eu tirei o bracelete do bolso. “Eu tenho um disfarce. Eles não saberão que

sou eu.” “Tem um motivo para você ter que ver os alquimistas?”

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Sonya permaneceu em seus braços, mas os olhos dele eram negros enquanto pensava. “Eles vão ter guardiões perto dos quartos. Provavelmente poderíamos nos disfarçar de apoio.”

Dimitri acenou em concordância. “Se for diferente demais dos horários de

troca de turno deles, vai chamar atenção... mas com sorte, já teremos entrado e descoberto o que precisamos saber. Os guardiões provavelmente vão estar mais preocupados com os alquimistas fugindo do que guardiões entrando.”

“Com certeza,” disse Mikhail. “Então é você e eu, Rose?” “Yup,” eu disse. “Quanto menos, melhor. Só o bastante para questionar

Sydney e Ian. Eu acho que todo o resto espera aqui.” Sonya o beijou na bochecha. “Não vou a lugar algum.” Adrian tinha ido para frente agora e dado a Jill um leve cutucão no braço. “E

eu vou ficar aqui e descobrir como diabos você se envolveu, Jailbait nisso.” Jill sorriu para ele. Ela tinha uma queda enorme por ele, e era um sinal de

seu estresse ela não ter corado e ficado com pernas bambas. Eles começaram uma conversa, e Dimitri gesticulou para eu segui-lo, dando a volta no carro, fora de vista.

“Isso é perigoso,” ele disse quieto. “Se o talismã falhar, você provavelmente

não vai sair daquele hotel.” Havia um não dito viva no fim de suas palavras. “Não vai falhar. Sonya é boa. Além do mais, se formos pegos, talvez eles me

levem de volta a Corte ao invés de me matar. Imagine o quanto isso ia atrasar as eleições.”

“Rose, estou falando sério.” Eu peguei sua mão. “Eu sei, eu sei. Será fácil. Vamos entrar e sair em menos

de uma hora, mas se não der...” Cara, eu odiava contingencias sombrias. “Se não, então mande Adrian e Jill para a Corte, e você e Sonya escondam-se em algum lugar até... eu não sei.”

“Não se preocupe com a gente,” ele disse. “Só tenha cuidado.” Ele se

abaixou e deu um beijo em minha testa. “Pequena dhampir, você –”

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Adrian chegou dando a volta no carro, em tempo de ver o pequeno beijo. Eu afastei minha mão da de Dimitri. Nenhum de nós disse nada, mas naquele momento, os olhos de Adrian... bem, eu vi todo o seu mundo ser despedaçado. Eu me senti mais enjoada do que quando eu sentia os Strigoi por perto. Eu me senti pior do que um Strigoi. Honra, eu pensei. Pra valer: os guardiões deveriam ensinar isso. Porque eu não aprendi.

“Vamos logo,” disse Mikhail, se aproximando, inconsciente do drama que

tinha acabado de explodir ao lado dele. “Sonya disse que vocês estão com tempo curto para a Corte também.”

Eu engoli, arrastando meus olhos para longe de Adrian. Meu coração se

revirou no meu peito. “Yeah...” “Vá,” disse Dimitri. “Lembre-se,” eu murmurei para ele. “Falar com ele é minha

responsabilidade. Não nossa.” Eu segui Mikhail até seu carro, colocando o bracelete encantando. Antes de

entrar, eu olhei rapidamente para trás. Jill e Sonya estavam conversando, Dimitri estava sozinho, e Adrian estava tirando um cigarro, de costas para eles.

“Eu sou uma merda,” eu disse, enquanto Mikhail ligava o carro. Era pouco

eloquente, mas era como eu me sentia. Ele não respondeu, provavelmente porque não era relevante a nossa tarefa.

Ou isso, ou ele ainda estava envolvido demais na renovação de sua própria vida amorosa. Bastardo sortudo.

Não levou muito tempo para chegarmos ao hotel. Havia guardiões por

perto, dispostos de forma inteligente, para não achar muita atenção dos humanos. Nenhum deles nos impediu quando entramos. Um deu um pequeno aceno de reconhecimento a Mikhail. Todos me olharam como... bem, como se não me reconhecessem. O que era bom. Com tantos guardiões ajudando na Corte, nossos rostos eram de ser esperados, e o meu não parecia como Rose Hathaway. Ninguém estava preocupado.

“Em que quartos estão?” Mikhail perguntou ao guardião parado no lobby.

“Devemos trocar de turno.” O comportamento de Mikhail era perfeitamente controlado, o bastante

para o guardião – com uma certa surpresa – parecer pensar que tudo estava bem.

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“Só vocês dois? Tem quatro lá em cima.” Eu nos salvei nessa. “Eles querem mais de volta na Corte. As coisas estão

saindo do controle, então apenas dois foram designados agora.” “Provavelmente é tudo que precisamos lá em cima,” concordou o guardião.

“Terceiro andar.” “Pensou rápido,” Mikhail me disse no elevador. “Isso não foi nada. Eu me tirei do pior.” Os quartos foram fáceis de ver porque um guardião estava ao lado deles. O

resto estão lá dentro, percebi, me perguntando se isso seria um problema. Mas, com a mesma atitude autoritária, Mikhail disse ao cara que ele e os outros foram chamados de volta a Corte. O guardião chamou seus colegas – um de cada quarto, embora não soubéssemos de quem o que – e nos deu um breve relatório antes de partir, incluindo os que estavam nos quartos.

Quando eles finalmente se foram, Mikhail olhou para mim. “Sydney,” eu

disse. Recebemos a chave e entramos direto no quarto de Sydney. Ela estava

sentada de pernas cruzadas em sua cama, lendo um livro e parecendo miserável. Ela suspirou quando nos viu.

“Bem, qual o problema agora?” Eu tirei meu bracelete, deixando a ilusão sumir. Sydney não ficou de boca aberta ou de sobrancelhas erguidas. Apenas um

olhar de sabedoria. “Eu deveria ter adivinhado. Você está aqui para me soltar?” Havia uma nota de esperança em sua voz.

“Um, não exatamente.” Eu odiava que Sydney fosse ser punida, mas mimá-

la não estava nos meus planos agora. “Precisamos falar com Ian, e é provavelmente melhor se você estiver junto. Ele sabe algo importante. Algo que precisamos.”

Isso a fez erguer as sobrancelhas. Ela apontou para a porta. “Eles não

deixam a gente falar uns com os outros.” “Eles não estão lá fora,” eu disse.

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Sydney balançou sua cabeça pesarosamente. “Rose, você realmente me

assusta às vezes. Só não pelos motivos que eu originalmente pensei que você iria. Vem. Ele está no quarto ao lado, mas acho que vai ter dificuldades em fazer ele falar.”

“É por isso que você vai ajudar,” eu disse, quando saímos para o corredor.

Eu coloquei o bracelete de novo. “Ele está totalmente afim de você. Ele vai ajudar se você pedir.”

Se eu adivinhei certo, Sydney era completamente inconsciente da queda de

Ian. “O que! Ele não –” Ela fechou sua boca quando entramos no quarto de Ian. Ele estava

assistindo TV mas pulou quando nos viu. “Sydney! Você está bem?” Eu dei a ela um olhar significativo. Ela me deu um olhar doloroso em troca e voltou sua atenção para Ian. “Eles

precisam de sua ajuda com algo. Uma informação.” Ele voltou seu olhar para nós, e imediatamente ficou frio. “Respondemos

suas perguntas centenas de vezes.” “Não todas,” eu disse. “Quando você estava na Corte, viu uma foto na

mesa. Um homem morto. Quem era?” Os lábios de Ian se viraram numa linha reta. “Eu não sei.” “Eu vi – er, quero dizer, sabemos que você o reconheceu,” eu argumentei.

“Você reagiu.” “Eu na verdade vi isso também.” Admitiu Sydney. Seu tom era implorador. “Qual é, não precisamos mais ajudá-los. Esse hotel

prisão já é ruim o bastante. Estou cansado de seus jogos.” Eu não o culpava, mesmo, mas precisávamos demais dele. Eu olhei de volta

para Sydney, dizendo a ela que ela era a única que podia conseguir isso. Ela se voltou novamente para Ian. “Qual é o negócio do cara na foto? É... é

tão horrível? Algo secreto?” Ele deu de ombros. “Não. Eu só não quero mais ajudá-los. É irrelevante.”

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“Você faria isso por mim?” ela perguntou docemente. “Por favor? Pode me

ajudar a me safar dessa.” Sydney não era uma mestre no flerte, mas acho que só o fato dela chegar perto o surpreendeu. Ele hesitou por vários segundos, olhando para nós e para ela. Ela sorriu para ele.

Ian cedeu. “Eu falei sério. Eu não sei quem ele é. Ele estava com uma

mulher Moroi em uma construção em St. Louis um dia desses.” “Espera,” eu disse, surpresa. “Moroi vão para os seus lugares?” “Às vezes,” disse Sydney. “Como nós vamos à de vocês. Algumas reuniões

acontecem em pessoas. Mas geralmente não prendemos seu pessoal.” “Eu acho que esse cara era um guarda costas ou algo assim,” Ian disse. “Ela

estava lá a negócios. Ele apenas seguia e permanecia em silêncio.” “Um guarda costas Moroi?” “Não é incomum para aqueles que não podem ter guardiões,” disse Mikhail.

“Abe Mazur é prova disso. Ele tem seu próprio exército.” “Eu penso neles mais como a máfia.” Deixando minha piada de lado, eu

estava ficando confusa. Apesar do seu desdém sobre aprender a lutar, alguns Moroi realmente tinham que contratar segurança Moroi porque não podiam obter guardiões. Alguém como Daniella Ivashkov não teria esse problema. Na verdade, eu tinha certeza que ela tinha direito a dois guardiões se saísse das fronteiras da Corte – e ela deixou claro o que pensava sobre os Moroi lutarem. Porque ela viajaria com proteção Moroi quando poderia ter guardiões treinados? Não fazia sentido. Ainda sim... se você mata a rainha, você provavelmente faz todo tipo de coisa maluca. Elas não tinham que fazer sentido. “Quem era ela?” eu perguntei. “A mulher?”

“Eu não a conheço também,” disse Ian. “Eu só passei por eles enquanto

estava indo fazer algo. Um encontro, talvez.” “Você lembra como ela parecia?” Algo. Precisamos de algo. Isso estava

prestes a se despedaçar, mas se Ian pudesse identificar Daniella, poderíamos estar prontos.

“Claro,” ele disse. “Ela é fácil de lembrar.” O silêncio me irritou. “Então?” perguntei. “Como ela parecia?”

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Ele me disse. A descrição não era o que eu esperava.

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TRINTA E DOIS SYDNEY E SEUS AMIGOS não estavam felizes por não levarmos eles conosco. “Eu iria,” disse a ela, ainda repassando o que aprendi com Ian. “Mas nos

fazer entrar e sair já será difícil o suficiente! Se sairmos com você, podemos ser pegos. Além do mais, logo não vai importar. Assim que contarmos a todos na Corte o que sabemos e limparmos meu nome, os guardiões não vão mais precisar de vocês.”

“Não é os guardiões que me preocupam,” ela respondeu. Ela usava seu tom

blasé, mas eu podia ver um brilho de medo legítimo em seus olhos – e me perguntei ao que ela estava se referindo. Aos alquimistas? Ou outra coisa?

“Sydney,” eu disse hesitante, apesar de saber que Mikhail e eu

precisávamos sair dali. “O que Abe fez por você? Tem que haver mais do que apenas uma transferência.”

Sydney me deu um pequeno e triste sorriso. “Não importa, Rose. Vou lidar

com o que vier. Só vá agora, ok? Vá ajudar seus amigos.” Eu queria dizer mais... descobrir mais. Mas a expressão de Mikhail me disse

que ele concordava com ela, e então, com breves despedidas, ele e eu partimos. Quando voltamos para onde os outros estavam esperando no estacionamento, eu vi que a situação não tinha mudado muito. Dimitri estava andando de um lado para o outro, sem dúvidas agitado por estar fora da situação. Jill estava perto de Sonya, como se buscasse proteção da senhora, e Adrian estava longe deles, mal olhando quando o carro de Mikhail parou.

Quando contamos ao grupo o que soubemos, no entanto, isso fez Adrian

reagir. “Impossível. Não posso acreditar nisso.” Ele apagou um cigarro. “Seu amigo

Alquimista está enganado.” Eu mal conseguia acreditar também, mas não tinha porque achar que Ian

mentiu. E honestamente, se Adrian estava tendo dificuldades com isso, não havia como saber o que ele ia pensar quem era nosso outro suspeito. Eu encarei a noite, tentando aceitar quem matou Tatiana e me acusou. Era difícil até pra mim acreditar. Traição era difícil.

“Os motivos são...” eu disse relutante. Assim que Ian descreveu quem viu,

vários motivos pelo assassinato apareceram na minha mente. “E eles são políticos, Ambrose tinha razão.”

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“A descrição de Ian é uma evidência sólida,” disse Dimitri, tão chocado

quanto o resto de nós. “Mas tem vários buracos, vários pedaços que não encaixam.”

“Yeah.” Um em particular ainda me incomodava. “Como, porque eu fui

acusada.” Ninguém tinha uma resposta para isso. “Precisamos voltar para a Corte,”

Mikhail disse finalmente. “Ou vão sentir minha falta.” Eu dei a Jill o que esperava ser um sorriso encorajador. “E você tem que

fazer sua estreia.” “Não sei o que é mais louco,” disse Adrian. “A identidade do assassino ou

Jailbait ser uma Dragomir.” Suas palavras para mim eram frias, mas o olhar que ele deu a ela era gentil. Por mais louco que fosse, Adrian não teve tantas dificuldades em acreditar no parentesco de Jill. Ele estava aborrecido o bastante para acreditar na infidelidade de Eric, e aqueles olhos selavam o negócio. Eu acho que ouvir o que Ian nos disse estava ferindo Adrian mais do que ele deixou transparecer. Descobrir que a pessoa responsável pelo assassinato de sua tia era alguém que ele conhecia tinha que aumentar a dor. Descobrir sobre eu e Dimitri também não ajudava.

Para a desanimo de Mikhail, Sonya se ofereceu para ficar para trás

enquanto nós iríamos para a Corte. Não podíamos levar ambos os carros, e o dele só tinha cinco lugares. Ela se considerou a menos útil de todos. Com muitos abraços, beijos e lágrimas, ela prometeu a Mikhail que eles se veriam de novo, assim que essa confusão se resolvesse. Eu esperava que ela tivesse razão.

Meu talismã esconderia meu rosto o bastante para passar pelo portão. Mas

Jill era um problema. Seu sequestro era notícia no mundo Moroi, e se ela fosse reconhecia por qualquer um dos guardiões no portão, seriamos parados naquele momento. Estávamos apostando que os guardas estariam muito ocupados para notar ela, assim como Dimitri e eu. Isso significou que Dimitri era uma prioridade para se disfarçar – requerendo a ajuda de Adrian. Adrian não era tão bom com ilusões quando Sonya, mas ele entendia o bastante para fazer a aparência de Dimitri ser alterada nos olhos dos outros. A pergunta era se Adrian iria ou não fazer isso por nós. Ele não tinha dito uma palavra para ninguém sobre o que viu entre eu e Dimitri, mas os outros devem ter percebido a repentina tensão.

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“Temos que ajudar Lissa,” eu disse a ele, quando ele não respondeu meu pedido. “O tempo está passando. Por favor. Por favor nos ajude.” Eu não me importava de implorar, se era isso que ele precisava.

Felizmente, não era. Adrian respirou fundo e fechou os olhos por um breve

instante. Eu tinha certeza que ele queria ter algo mais forte que cigarros. Finalmente, ele acenou. “Vamos.”

Deixamos Sonya com as chaves do segundo carro, e ela ficou parada ali seus

olhos brilhando, observando a gente se afastar. Dimitri, Mikhail e eu passamos a maior parte da viagem analisando nossas informações. A mulher que Ian descreveu não poderia ter feito tudo.

Eu estava sentada atrás com Adrian e Jill, me inclinei para frente e chequei

as coisas com cada dedo. “Motivo? Sim. Habilidade? Sim. Subornar Joe? Sim. Acesso aos aposentos de Tatiana...” Eu franzi, de repente pensando no que ouvi com Lissa. “Sim.”

Isso ganhou um olhar surpreso de Dimitri. “Mesmo? Essa era uma peça que

não conseguia encaixar.” “Tenho certeza que sei como ela fez isso,” eu disse. “Mas a carta anônima

para Tatiana não faz sentido. Sem contar falar mal da família de Lissa – ou tentar matar ela.” Ou tentar me culpar.

“Podemos estar lidando com mais de uma pessoa,” disse Dimitri. “Como uma conspiração?” eu perguntei, surpresa. Ele balançou sua cabeça. “Não, quero dizer, outra pessoa tinha raiva da

rainha. Mas não alguém que estava disposto a matar ela. Duas pessoas, dois planos. Provavelmente nem cientes um dos outros. Estamos misturando as provas.”

Eu fiquei quieta, repassando suas palavras. Fazia sentido, e eu entendi que

por alguém, ele se referiu a Daniella. Ele estava certo sobre os motivos dela não gostar de Tatiana – os treinamentos, a lei sobre idade não ser forte o bastante, encorajar espírito... mas isso não era o bastante para assassinato. Uma carta raivosa, suborno para salvar seu filho? Essas eram o tipo de ações que Lady Daniella Ivashkov tomava. Não perseguições.

E no silêncio, eu ouvi as palavras entre Jill e Adrian, que estavam

conversando enquanto nós bolávamos as estratégias.

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“O que eu faço?” perguntou Jill, baixo. Sua resposta foi dura e segura. “Aja como se merecesse estar lá. Não deixe

eles te intimidarem.” “E quanto a Lissa? O que ela vai pensar de mim?” Adrian hesitou apenas por um momento. “Não importa. Só aja como eu te

disse.” Meu estômago afundou, ouvindo ele dar a ela um conselho tão gentil.

Desordeiro, presunçoso e petulante... ele era todas essas coisas. Mas seu coração era bom. O coração que eu tinha acabado de quebrar. Eu sabia que tinha razão sobre seu potencial. Adrian era ótimo. Ele podia fazer ótimas coisas. Eu só esperava não tê-lo atrasado. Pelo menos eu não tinha que dizer a ele que sua mãe era uma assassina... mas ainda sim...

Todos nós ficamos quietos quando ele chegou ao portão. Os carros ainda

estavam ali, mas ficamos cada vez mais nervosos enquanto íamos para frente. Passando para a mente de Lissa soube que não estávamos perdendo nada no Conselho. A situação caótica era basicamente a mesma de antes, embora o olhar exasperado de Nathan me fizesse pensar que ele fecharia a sessão logo e continuaria amanhã. Eu não tinha certeza se isso era bom ou ruim.

Os guardiões reconheceram Mikhail, é claro, e embora permanecessem

vigilantes, seus instintos iniciais não suspeitaram dele ou de suas nefastas ações. Ele vagamente disse algo de ter sido enviado para pegar algumas pessoas. Os guardiões olharam o carro ignorando Dimitri, eu e – misericordiosamente – Jill. Adrian, uma figura conhecida, acrescentou respeito. Depois de uma busca obrigatória no porta malas, entramos.

“Oh meu Deus. Funcionou.” Eu exalei, enquanto Mikhail passava pela área

do estacionamento dos guardiões. “E agora?” perguntou Jill. “Agora restabelecemos a linhagem dos Dragomirs e expusemos um

assassino,” eu disse. “Oh, só isso?” O sarcasmo de Adrian era palpável. “Sabe,” respondeu Mikhail, “no instante que nossa ilusão cair, vocês dois

serão atacados por guardiões e jogados de volta na prisão. Ou pior.”

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Dimitri e eu trocamos olhares. “Sabemos,” eu disse, tentando ignorar as memórias daquela terrível e claustrofóbica experiência. “Mas se funcionar... não teremos que ficar lá por muito tempo. Eles vão usar o que descobrimos e então eventualmente nos soltar.” Eu soava mais otimista do que me sentia.

Assim que estacionamos, nosso grupo foi em direção aos prédios do salão,

que poderia ser visto há quilômetros de distância com todas as pessoas ao redor dele. Que estranho. Não muito tempo atrás, eu fiz esse mesmo caminho, com quase as mesmas pessoas, saindo da Corte. Também usávamos disfarces de espírito, e tentávamos fugir. Agora estávamos voltando de propósito. Eu estava convencida de que se pudesse entrar sem ser detectada e dar essas notícias, tudo iria dar certo. O talismã de Sonya funcionou perfeitamente quando vi os alquimistas. Não tinha motivos para duvidar, o medo ainda estava no fundo da minha mente: e se parasse de funcionar? E se o disfarce falhasse e eu fosse vista antes mesmo de entrar no prédio? Eles me prenderiam? Ou simplesmente atirariam primeiro?

As portas estavam cheias de espectadores, mas guardiões tinham acesso,

então, mais uma vez, Mikhail fez a gente entrar – usando Adrian como o motivo. O falecido sobrinho da rainha dificilmente poderia ser recusado, e com o caos lá dentro, mais guardiões – o que Dimitri e eu parecíamos ser – eram bem vindos. Adrian manteve um braço ao redor de Jill quando entraram, e os guardiões a deixaram passar.

Entramos no salão, completamente despercebidos. Eu tinha visto a

discussão pelos olhos de Lissa, mas era totalmente diferente ao vivo. Mais alto. Mais confuso. Meus amigos e eu trocamos olhares. Eu me preparei para o grande confronto com a plateia – diabos, não seria a primeira vez – mas esse era um teste até para minhas habilidades.

“Precisamos que alguém chame atenção do pessoal,” eu disse. “Alguém que

não tem medo de fazer um show – eu quero dizer, além de mim é claro.” “Mikhail? Onde esteve?” Viramos e vimos Abe parado diante de nós. “Bem, em falar no diabo,” eu disse. “exatamente o que precisávamos.” Abe olhou para mim e franziu. Era possível ver sobre os talismãs quando

outros sabiam que estávamos usando. Talismãs também tem menos eficácia se outros conheciam quem usa também. Era como Victor me reconheceu em Tarasov. Sonya era forte demais para Abe me reconhecer, mas ele sabia dizer que algo estava errado.

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“O que está acontecendo?” ele exigiu. “O de sempre, velho,” eu respondi alegre. “Perigo, planos malucos... sabe,

as coisas de nossa família.” Ele cerrou os olhos de novo, ainda incapaz de ver totalmente pelo talismã.

Provavelmente era um borrão. “Rose? É você? Onde esteve?” “Precisamos da atenção do salão,” eu disse. Perguntei-me se era assim que

era quando os pais pegam seus filhos depois do toque de recolher. Ele parecia muito desaprovador. “Temos uma forma de resolver essa briga.”

“Bem,” disse Adrian secamente, “pelo menos temos um jeito de começar

outra.” “Eu confiei em você na minha audiência,” disse a Abe. “Pode confiar em

mim agora?” A expressão de Abe ficou cautelosa. “Você aparentemente não se importou

comigo o bastante para ficar em West Virginia.” “Detalhes,” eu disse. “Por favor. Precisamos disso.” “E estamos sem tempo,” acrescentou Dimitri. Abe o estudou também. “Deixe-me adivinhar. Belikov?” Havia incerteza na

voz do meu pai – Adrian estava fazendo um bom trabalho em manter a ilusão sobre Dimitri – mas Abe era inteligente o bastante para deduzir quem estaria comigo.

“Pai, temos que correr. Temos o assassino – e temos Lissa...” Como

explicar? “Uma forma de mudar a vida de Lissa.” Pouca coisa surpreendia Abe, mas eu acho que chamá-lo de ‘pai’ funcionou.

Vasculhando o salão, seus olhos pararam em alguém, e ele virou levemente a cabeça. Vários segundos depois, minha mãe passou pela multidão e chegou até nós. Ótimo. Ele chama; ela vem. Eles estavam horrivelmente próximos ultimamente. Eu esperava que Lissa continuasse a única com um irmão surpresa...

“Quem são essas pessoas?” minha mãe perguntou.

Page 379: Last sacrifice academia de vampiros

“Adivinhe,” respondeu Abe. “Quem seria tolo o bastante para arrombar a Corte depois de escapar?”

Os olhos da minha mãe se arregalaram. “Como –” “Não temos tempo,” Abe disse. O olhar afiado que ele recebeu em resposta

dizia que ela não gostava de ser interrompida. Talvez nada de irmãos afinal de contas. “Eu tenho a sensação que metade dos guardiões desse salão vão vir para cima de nós logo. Você está pronta para isso?”

Minha pobre e seguidora de regras mãe parecia dolorida, percebendo o que

estava sendo pedido dela. “Sim.” “Eu também,” acrescentou Mikhail. Abe estudou todos nós. “Eu acho que existem piores chances.” Ele foi até onde Nathan Ivashkov estava inclinando contra seu palanque. Ele

parecia ansioso e derrotado – e perdido no que fazer diante da bagunça na frente dele. Ao nos aproximarmos, os candidatos a monarca olharam com curiosidade, e eu senti um repentino choque de surpresa através do laço. Lissa podia ver através do encanto do talismã. Eu vi sua respiração parar quando nos viu. Medo, choque, e alivio passou por ela. E confusão, é claro. Ela estava tão feliz de nos ver que esqueceu sobre as eleições e começou a levantar conforme nos aproximávamos. Eu dei um rápido aceno de cabeça, a fazendo permanecer onde estava, e depois de uma breve hesitação, ela sentou de novo. Ela estava preocupada e curiosa – mas confiava em mim.

Nathan voltou à vida quando nos viu, particularmente quando Abe

simplesmente o empurrou para fora do caminho e agarrou o microfone. “Hey, o que você –”

Eu esperava que Abe gritasse para todos calarem a boca ou algo assim. É

claro, Nathan estava tentando isso a algum tempo, sem resultados. Então, eu fiquei chocada – como todo mundo – quando Abe colocou seus dedos nos lábios e soltou o assovio mais agudo que eu já ouvi. Um assovio igual aquele em um microfone? Yeah. Machucou meus ouvidos. Tinha que ser pior para os Moroi, e o feedback dos alto falantes não ajudou.

O salão se aquietou o bastante para ele ser ouvido. “Agora que vocês

tiveram o senso de calarem a boca,” Abe disse, “nós temos... algo para dizer.” Ele estava usando sua voz confiante, mas eu sabia que ele estava confiando aqui. “Aja rápido,” ele murmurou, erguendo o microfone para nós.

Page 380: Last sacrifice academia de vampiros

Eu o peguei e limpei minha garganta. “Estamos aqui para, uh, resolver esse debate de uma vez por todas.” Isso trouxe murmúrios, e eu continuei alto antes do salão disparar de novo. “As leis podem ficar como estão. Vasilisa Dragomir tem o direito a seu voto no Conselho – e elegível para ser candidata ao trono. Tem outro membro de sua família. Ela não é a única Dragomir.”

Murmúrios e sussurros começaram, embora não fosse nada como os

rugidos de antes – na maior parte porque os Moroi adoravam intrigas, e eles tinham que saber como isso iria terminar. Com minha visão periférica, eu podia ver os guardiões formando um perímetro ao nosso redor. Sua preocupação era segurança, não escândalos.

Eu chamei Jill. Por um momento, ela congelou; então eu me perguntei se

ela lembrava as palavras de Adrian, no carro. Ela foi para o meu lado, tão pálida que eu me preocupei que ela fosse desmaiar. Eu quase sentia como se fosse também. A tensão e pressão aqui era demais. Não. Eu cheguei longe demais.

“Essa é Jillian Mastrano Dragomir. Ela é a filha ilegítima de Eric Dragomir –

mas ela é sua filha e oficialmente parte da linhagem sanguínea.” Eu odiava usar a palavra ilegítima, mas nesse caso, era um fato necessário.

No segundo do silêncio que se seguiu, Jill rapidamente se inclinou em minha

direção e do microfone. “Eu sou uma Dragomir,” ela disse claramente, apesar de suas mãos tremulas. “Nossa família tem seu quorum, e minha i-irmã, tem todos os seus direitos.”

Eu pude ver outra explosão seguindo, e Abe pulou entre Jill e eu, agarrando

o microfone. “Para aqueles que não acreditam nisso, um teste de DNA vai esclarecer as duvidas sobre sua herança.” Eu tinha que admirar a audácia de Abe. Ele só sabia dessa informação há alguns segundos, e já estava avocando com certeza, como se ele mesmo tivesse feito os testes necessários em seu laboratório genético caseiro. Mais fé – e uma vantagem que ele não podia ignorar. Meu velho amava segredos.

As notícias trouxeram as reação que eu esperava. Nossa plateia tinha

processado a informação, e a gritaria e comentários começou. “Eric Dragomir não teve nenhum outro filho, ilegítimo ou não!” “Isso é um golpe!” “Nos mostre provas! Onde estão seus testes?” “Bem... ele meio que estava...”

Page 381: Last sacrifice academia de vampiros

“Ele tinha outra filha.” O último grito calou a multidão, tanto porque falou com autoridade e

também porque veio de Daniella Ivashkov. Ela tinha levantado, e mesmo sem microfone, ela tinha uma voz que ressoava no salão. Ela também era uma pessoa importante o bastante em nossa sociedade para chamar atenção. Muitos entre a realeza estavam praticamente condicionados para ouvir ela. No agora quieto salão, Daniella continuou a falar.

“Eric Dragomir teve uma filha ilegítima, com uma mulher chamada Emily

Mastrano – uma dançarina, se me lembro direito. Ele queria manter segredo e precisava que certas coisas fossem feitas – coisas que não podia fazer sozinho – para ajudar. Fui eu quem ajudei.” Um sorriso amargo nada característico apareceu em seus lábios. “E honestamente, eu não teria me importado se continuasse em segredo, também.”

Peças se juntaram em minha mente. Agora eu sabia quem tinha invadido os

registros dos alquimistas. E por que. No silêncio do salão, eu não precisava de um microfone para responder também.

“O bastante para você fazer certos papéis desaparecerem.” Daniella fixou aquele sorriso em mim. “Sim.” “Porque se os Dragomirs sumissem, o espírito poderia sumir também. E

Adrian ficaria seguro. Espírito estava atraindo atenção demais e rápido demais, e você precisava se livrar das evidências sobre Jill para matar a credibilidade de Vasilisa.” A expressão de Daniella confirmou tudo. Eu deveria ter deixado nisso, mas minha curiosidade não permitiu. “Então porque admitir agora?”

Daniella deu de ombros. “Porque você tem razão. Um teste de DNA vai

mostrar a verdade.” Houve ofegos daqueles que tomavam sua palavra como lei e deslumbre sobre o que isso significava. Outras pessoas se recusaram a acreditar e tinham olhares de desprezo. Daniella, sem dúvida desapontada por a verdade ter vindo à tona, ainda sim parecia resignada e disposta a aceitá-la. Mas seu sorriso logo sumiu enquanto me estudava mais de perto. “O que eu gostaria de saber é: quem diabos é você?”

Uma boa parcela da audiência parecia querer saber o mesmo. Eu hesitei. O

disfarce do talismã de Sonya me trouxe bem longe. Tínhamos uma frágil aceitação de Jill e da linhagem dos Dragomirs. Se deixássemos as coisas seguirem seu rumo, e se Lissa ganhasse como eu queria – eu teria uma advogada rainha para me ajudar a limpar meu nome.

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Mas encarando a multidão – cheia de pessoas que eu conhecia e respeitava

e que ainda me condenavam sem hesitar – eu senti raiva queimar dentro de mim. Induzida por espírito, ou não, não importava. Eu ainda me sentia ultrajada pelo o quão fácil fui acusada e presa. Eu não queria esperar por tudo isso se acalmar em algum quieto escritório dos guardiões. Que queria encará-los. Eu queria que eles soubessem que eu era inocente – de matar a rainha, pelo menos.

E então, superando todos os meus comportamentos idiotas e perigosos, eu

tirei o bracelete de Sonya. “Sou Rose Hathaway.”

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TRINTA E TRÊS

CHOROS E GRITOS da plateia me disseram que meu disfarce se fora. Muitos olhos foram direto para Dimitri. Adrian baixou sua ilusão também,

assim que tirei a minha. E, como esperávamos, os guardiões que gradualmente estavam se posicionando se armaram com armas. Eu ainda achava que isso era trapaça. Felizmente, minha mãe e Mikhail se moveram rapidamente e bloquearam nossos atacantes e dissuadiram qualquer tiroteio.

“Não,” eu disse para Dimitri, que eu sabia que estava provavelmente

prestes a se juntar a nossos dois defensores. Era crucial que ele ficasse perfeitamente parado, para não sermos vistos como ameaças. Eu fui tão longe quanto levantar meus braços, e – relutantemente, eu suspeitava – Dimitri também. “Espere. Nos escutem primeiro.”

O circulo dos guardiões estava apertando, sem furos. Eu tinha certeza que

minha mãe e Mikhail eram às únicas coisas que os impedia de atirar na gente naquele instante. Guardiões sempre evitam lutar com outros guardiões, se possível. Mas os dois defensores eram fáceis de derrubar, e aqueles guardiões não esperariam para sempre. Jill e Abe de repente se moveram para frente, tomando posições ao nosso lado. Mais escudos. Eu vi um dos guardiões fazer uma careta. Civis complicam as coisas. Adrian não se moveu, mas o fato dele estar próximo do círculo ainda fazia dele um obstáculo.

“Nos prendam depois se quiserem,” eu disse. “Não vamos resistir. Mas tem

que nos ouvir antes. Sabemos quem matou a rainha.” “Nós também,” disse um dos guardiões. “Agora, o resto de vocês... se

afastem antes que se machuquem. Esses são perigosos fugitivos.” “Eles precisam falar,” disse Abe. “Eles tem provas.” De novo, ele exagerou com seu caso, agindo confiante sobre coisas que ele

não sabia. Ele estava confiando em mim. Eu estava começando a gostar dele. Era meio que infeliz que nossas provas não fossem 100% sólidas como eu esperava, mas como disse antes... detalhes.

“Deixe-os falarem.” Era uma nova voz, mas uma voz que eu conheci de cor. Lissa passou por

dois guardiões. Eles mantiveram sua posição, sua preocupação imediata de que não escapássemos. Isso a permitiu passar por entre eles – mas apenas para que um agarrasse seu braço e a impedisse de nos alcançar.

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“Eles chegaram até aqui. Eles tem razão sobre... Jill.” Cara, não era fácil para

ela dizer isso com a cara limpa, já que ela não tinha aceitado totalmente. Minha morte iminente provavelmente era a única coisa que a distraia de sua experiência de saber que tinha uma irmã em potencial. Ela também estava depositando muita fé nisso, confiante de eu estar dizendo a verdade. “Vocês os tem. Eles não podem ir a lugar algum. Só deixe eles falarem. Eu tenho provas para apoiar o caso deles também.”

“Eu seguraria isso, Lissa,” eu disse baixo. Lissa ainda acreditava que Daniella

era a assassina e não ia contar a verdade. Lissa me olhou de forma confusa, mas não protestou.

“Vamos ouvir então,” disse um dos guardiões – não qualquer um: Hans.

“Depois da fuga que conseguiram, eu realmente gostaria de saber o que os trouxe de volta.”

Hans estava nos ajudando? “Mas,” ele continuou, “eu tenho certeza que vocês dois vão entender que

temos que prendê-los antes de fazerem sua grande revelação.” Eu olhei para Dimitri que já tinha virado para mim. Nós dois sabíamos no

que estávamos nos metendo, e honestamente, esse era um cenário melhor do que eu esperava.

“Ok,” disse Dimitri. Ele olhou para nossos protetores. “Está tudo bem.

Deixe-os passar.” Minha mãe e os outros não se mexeram imediatamente. “Façam,” eu disse.

“Não terminem como nossos colegas de cela.” Eu achei que com certeza aqueles tolos adoráveis não iriam me ouvir. Mas

Mikhail se afastou primeiro, e então os outros também, praticamente em sincronia. Em um segundo, os guardiões pegaram todos, guiando o caminho. Dimitri e eu ficamos parados, e quatro guardiões se moveram para frente, dois para Dimitri, dois para mim. Adrian se afastou dos outros, mas Lissa ainda estava alguns metros de distância, toda sua confiança em mim.

“Vamos com isso,” disse Hans. Ele segurou meu braço direito com força. Eu encontrei os olhos de Lissa, odiando o que estava prestes a dizer. Mas,

não. Não era ela que eu estava preocupada por ferir mais. Olhando para a plateia, vi Christian, que estava compreensivelmente observando o drama com

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uma enorme atenção. Eu tive que desviar o olhar e encarar a multidão como um todo, me recusando a ver rostos individualmente. Só um borrão.

“Eu não matei Tatiana Ivashkov,” eu disse. Várias pessoas murmuravam

duvidando. “Eu não gostava dela. Mas não a matei.” Eu olhei para Hans. “Você interrogou um zelador que testemunhou sobre onde eu estava na hora do assassinato, não é? E ele identificou o cara que atacou Lissa como o cara que o pagou para mentir sobre onde eu estava?” eu soube por Mikhail que Joe eventualmente admitiu que aceitou dinheiro de um misterioso Moroi, e os guardiões mostraram a ele a foto.

Hans franziu, hesitou, e acenou para que eu continuasse. “Não havia registros de sua existência – pelo menos não com os guardiões.

Mas os alquimistas sabem quem é. Eles o viram em uma de suas construções – agindo como um tipo de guarda costas.” Meus olhos caíram em Ethan Moore, que estava com os guardiões perto da porta. “Um guarda costas para alguém que teve permissão de ver Tatiana na noite que ela morreu: Tasha Ozera.”

Não havia necessidade para gritos da plateia dessa vez, porque Tasha deu

conta sozinha. Ela estava sentada perto de Christian, e se levantou de sua cadeira.

“O que diabos está dizendo, Rose?” ela exclamou. “Você está louca?” Quando fiquei parada ali, desafiadora, pronta para enfrentar a multidão que

exigia justiça, eu estava cheia de triunfo e poder. Agora... agora eu estava apenas triste por alguém que sempre confiei, alguém que estava me encarando com tanto choque e dor.

“Eu queria estar... mas é verdade. Nós duas sabemos. Você matou Tatiana.” A descrença de Tasha cresceu, agora com um pouco de raiva, embora ela

parecesse estar me dando o beneficio da dúvida. “Eu nunca, nunca acreditei que você a matou – e lutei por você nisso. Porque está fazendo isso? Você está se aproveitando dos Strigoi que assombram nossa família? Eu achei que você estivesse acima desse tipo de coisa.”

Eu engoli. Eu achei que conseguir as evidências seria a parte difícil. Não era

nada comparado a revelá-las. “O que estou dizendo não tem nada haver com Strigoi. Eu queria que tivesse. Você odiava Tatiana pela lei da idade e a recusa dos Moroi lutarem.” Outra memória voltou para mim, quando Tasha soube sobre as sessões secretas de treinamento. Tasha ficou horrorizada com isso, e

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agora eu suspeitava que ela devia estar se sentindo culpada por julgar a rainha mal.

A multidão estava rebitada e atordoada, mas uma pessoa se manifestou:

um Ozera que eu não conhecia mas que aparentemente tinha a solidariedade de família em mente. Ele levantou, cruzando seus braços de maneira desafiadora. “Metade da Corte odiava Tatiana por aquela lei. Você entre eles.”

“Eu não fiz meu guarda costas comprar uma testemunha ou atacar Lis –

Princesa Dragomir. E não finja que você não conhecia o cara,” eu a avisei. “Ele era seu guarda costas. Vocês foram vistos juntos.” A descrição de Ian de quando ela visitou St. Louis foi perfeitamente clara: cabelo escuro longo, olhos azuis pálidos, e uma cicatriz na lateral de seu rosto.

“Rose, eu não acredito que isso está acontecendo, mas se James – se esse é

seu nome – fez o que você está falando, então ele agiu sozinho. Ele sempre teve ideias radicais. Eu sabia disso quando o contratei para proteção, mas nunca pensei que ele fosse capaz de assassinato.” Ela olhou ao redor, procurando por alguém no comando, e finalmente se conformou com o Conselho. “Eu sempre acreditei na inocência de Rose. Se James é o responsável por isso, então eu fico mais que feliz de contar o que sei para limpar o nome de Rose.”

Tão, tão fácil. O misterioso Moroi – James – esteve em quase toda parte

com Tasha. Ele também foi visto em situações suspeitas onde ela não estava – como o suborno de Joe e o ataque de Lissa. Eu poderia salvar Tasha e só culpar ele. Ele já estava morto. Tasha e eu poderíamos permanecer amigas. Ela agiu por princípios, certo? O que tinha de errado com isso?

Christian levantou ao lado dela, olhando para mim como se eu fosse uma

estranha. “Rose, como pode dizer isso? Você a conhece. Sabe que ela não faria isso. Pare de fazer cena e vamos descobrir como aquele cara James, matou a rainha.”

Tão, tão fácil. Culpe o morto. “James não poderia empalar Tatiana,” eu disse. “Ele tinha uma mão

machucada. É preciso as duas mãos para um Moroi empalar alguém. Eu já vi acontecer duas vezes agora. E aposto que você consegue tirar uma resposta concreta de Ethan Moore...” Eu olhei para o guardião que ficou pálido. Ele provavelmente entraria numa luta e mataria sem hesitar. Mas esse tipo de coisa? E um eventual interrogatório com seus companheiros? Eu não acho que ele iria aguentar. Provavelmente era o motivo de Tasha ter conseguido manipulá-lo. “James não estava lá na noite que Tatiana morreu, estava? E eu não acho que Daniella Ivashkov estava também, apesar do que foi dito para a

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Princesa Dragomir antes. Mas Tasha estava. Ela estava nos aposentos da rainha – e você não reportou.”

Ethan parecia que queria fugir, mas sua estranha fuga era tão provável

quando a minha e de Dimitri. Ele devagar balançou sua cabeça. “Tasha não mataria ninguém.” Não era exatamente a confirmação de onde ela estava que eu queria – mas quase. Os guardiões tirariam mais dele depois.

“Rose!” Christian estava puto agora. Ver ele me olhar com uma expressão

de dor e ultraje era pior que a expressão de Tasha. “Pare com isso!” Lissa deu alguns passos hesitantes para frente. Eu podia sentir em sua mente que ela não queria acreditar no que eu estava dizendo também... mas ela ainda confiava em mim. Ela pensou numa solução controvertida. “Eu sei que é errado... mas se pudéssemos usar compulsão nos suspeitos...”

“Nem sugira isso!” exclamou Tasha, virando seus olhos afiados para Lissa.

“Fique fora disso. Seu futuro está em jogo aqui. Um futuro que poderia te fazer grande e conquistar as coisas que nosso povo precisa.”

“Um futuro que você poderia manipular,” eu percebi. “Lissa acredita em

muitas reformas que você acredita... e você acha que poderia convencê-la daquelas que ela não acredita. Especialmente se ela estiver com seu sobrinho. É por isso que você lutou tanto para trocar a lei do quorum. Você quer que ela seja rainha.”

Christian começou a ir para frente, mas Tasha o segurou pelo ombro. Não o

impediu de falar. “Isso é idiota. Se ela queria que Lissa fosse rainha, porque fazer aquele cara James atacá-la?”

Isso era um mistério para mim também, um dos buracos que eu não

entendi completamente. Mas Dimitri entendeu. Consciente de seus dois guardas, ele se aproximou de mim.

“Porque ninguém deveria morrer.” A voz baixa ressoou maravilhosamente

na acústica do salão. Ele não precisava de microfone enquanto dirigia suas palavras para Tasha. “Você não esperava que um guardião estivesse com ela.” Ele tinha razão, eu percebi. Eddie foi chamado aquela noite e conseguiu voltar a tempo, por pouco, para ver Ambrose com Lissa. “James provavelmente ia fingir um ataque e fugir... o bastante para gerar simpatia e mais apoio para Vasilisa. O que certamente aconteceu – só um pouco demais.”

O ultraje no rosto de Tasha se transformou em algo que eu não consegui

entender imediatamente. Ela parecia ofendida com minhas acusações, mas de

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Dimitri – era mais. Ela parecia legitimamente magoada. Arrasada. Eu conhecia aquele olhar. Eu vi no rosto de Adrian algumas horas atrás.

“Dimka, você também não,” ela disse. Através dos olhos de Lissa, eu observei as cores da aura de Tasha mudarem,

queimarem um pouco mais brilhantes enquanto ela olhava para Dimitri. Eu podia ver exatamente o que Sonya tinha me explicado, como a aura muda com afeição.

“E é por isso que eu levei a culpa,” eu murmurei levemente. Ninguém a não

ser Dimitri e nossos guardiões nos ouviram. “Hmm?” Dimitri perguntou. Eu só balancei minha cabeça. Todo esse tempo, Tasha ainda estava

apaixonada por Dimitri. Eu sabia que ela estava ano passado, quando ela fez a ele a oferta de ficarem juntos e terem filhos – o que não é algo que muitos homens dhampirs tem a chance de ter. Ele recusou, e eu pensei que ela aceitou simplesmente ser amiga dele. Mas não. Ela ainda o amava. Quando Lissa revelou minha relação com Dimitri para Hans, Tasha já sabia. Mas há quanto tempo? Não tinha certeza. Ela obviamente sabia do relacionamento antes de matar Tatiana, e me culpar deixava Tasha livre e abria suas chances com Dimitri de novo.

Não havia porque comentar sobre seus motivos pessoais para me culpar. O

assassinato de Tatiana era o verdadeiro assunto em jogo. Eu só olhei para Hans. “Você pode me levar presa, sério. Mas você não acha que tem o bastante para levar ela – e Ethan – também?”

O rosto de Hans era ilegível. Seus sentimentos em relação a mim variavam,

desde o dia que nos conhecemos. Às vezes eu era uma bagunceira sem futuro. Outras vezes eu tinha o potencial para ser líder. Ele acreditava que eu era uma assassina, ainda sim, permitiu que me dirigisse à multidão. Ele não gostava dos meus amigos também. O que ele faria agora?

Ele ergueu seus olhos do meu rosto e olhou para onde vários guardiões

estavam parados na plateia, prontos para entrar em ação. Ele deu um curto aceno. “Levem a Lady Ozera. E Moore. Vamos interrogá-los.”

Já que Tasha estava parada entre outras pessoas, havia um pouco de medo

e pânico quando quatro guardiões se moveram em direção a ela. Eles evitariam machucar outros expectadores o máximo possível, mas havia muitos empurrões. O que foi uma surpresa total foi o quão furiosamente Tasha lutou.

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Ela foi treinada, eu lembrei. Não da mesma forma que os guardiões mas o bastante para dificultar eles a pegarem. Ela chutava e socava – e empalava rainhas – e até conseguiu derrubar um guardião.

Ela realmente poderia tentar lutar para sair daqui, eu percebi – embora não

tenha acreditado nem um segundo que ela fosse conseguir. Tinha gente demais e era caótico. Guardiões estavam indo em direção a confusão. Moroi aterrorizados estavam tendo de se afastar da luta. Todo mundo parecia estar na frente de todo mundo. De repente, um alto crack ecoou no salão. Um tiro. A maioria dos Moroi caiu no chão, embora os guardiões tenham continuado a seguir em frente. Segurando uma arma que ela deveria ter tirado do guardião que derrubou, Tasha agarrou o primeiro Moroi que conseguiu com a sua mão livre. Que Deus me ajude, era Mia Rinaldi. Ela estava sentada perto de Christian. Eu não acho que Tasha sequer notou a sua escolha de refém.

“Não se movam!” Tasha gritou para os guardiões. A arma estava na cabeça

de Mia, e eu senti meu coração parar. Como as coisas tinham terminado assim? Eu nunca previ isso. Minha tarefa deveria ter sido simples e fácil. Revelar Tasha. A prender. Pronto.

Os guardiões congelaram, menos por seu comando e mais por que

avaliavam o quão perigosa ela realmente era. Enquanto isso, Tasha começou a devagar – muito devagar – caminhar em

direção à saída, arrastando Mia junto. Seu progresso era lento e desajeitado, graças a todas as cadeiras e pessoas no caminho. O atraso deu aos guardiões tempo para resolver esse feio dilema. Eles vem primeiro. A vida de Mia – a vida de um Moroi – estava em risco. Os guardiões não queriam que Mia fosse morta, mas um guerreiro Moroi também não poderia ficar livre.

O problema era que Tasha não era a única guerreira Moroi do salão. Ela

provavelmente escolheu o pior refém possível, e eu podia ver pelo brilho nos olhos de Mia que ela não iria ir junto facilmente. Lissa percebeu isso também. Uma ou ambas iriam acabar mortas, e Lissa não podia deixar isso acontecer. Se ela conseguisse que Tasha olhasse para ela, ela podia compeli-la a submissão.

Não, não, não, eu pensei. Eu não precisava de outra amiga envolvida. Tanto Lissa quanto eu vimos Mia ficar tensa para se soltar do aperto de

Tasha. Lissa percebeu que tinha que agir agora. Eu podia sentir pelo laço. Eu podia sentir seus pensamentos, a decisão, até mesmo a forma como seus músculos do corpo e nervos se moviam para frente para chamar atenção de Tasha. Eu senti tão claramente, como se partilhássemos do mesmo corpo. Eu sabia para onde Lissa iria se mover, antes dela sequer o fazer.

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“Tasha, por favor não –” Lissa foi para frente, seu pedido interrompido quando Mia chutou Tasha e

se afastou, saindo do alcance da arma. Tasha, assustada com dois lados, ainda tinha a arma apontada. Com Mia fora de alcance e tudo acontecendo tão rápido, Tasha freneticamente atirou alguns tiros para a primeira ameaça que viu se movendo em direção a ela – que não eram os guardiões que se aproximavam rapidamente. Era uma figura magra usando branco que tinha gritado com Tasha.

Ou, bem, teria sido. Como eu disse, eu sabia exatamente para onde Lissa

pisaria e o que faria. E naqueles preciosos segundos antes dela agir, eu me soltei dos meus guardas e me joguei na frente de Lissa. Alguém pulou atrás de mim, mas era tarde demais. Foi quando a arma de Tasha disparou um tiro. Eu senti algo cortante e uma queimação em meu peito, e então não havia mais nada a não ser dor – uma dor tão forte e intensa que era quase além de qualquer compreensão.

Eu me senti caindo, senti Lissa me pegando e gritando algo – talvez para

mim, talvez para outra pessoa. Havia tanta confusão no salão que eu não sabia o que tinha acontecido com Tasha. Só havia eu e a dor que minha mente estava tentando bloquear. O mundo pareceu ficar cada vez mais silencioso. Eu vi Lissa me olhando, gritando algo que eu não conseguia ouvir. Ela era linda. Brilhante. Cercada de luz... mas havia escuridão se fechando ao redor dela. E naquela escuridão, eu vi rostos... os fantasmas e espíritos que sempre me seguiam. Mais consistentes, se aproximando. Acenando.

Uma arma. Eu fui derrubada por uma arma. Era praticamente cômico.

Trapaceiros, eu pensei. Passei minha vida me focando em combate corpo a corpo, aprendendo a desviar de presas e mãos fortes que poderiam quebrar meu pescoço. Uma arma? Era tão... bem, fácil. Eu deveria me sentir insultada? Eu não sabia. Importava? Também não sabia. Tudo que sabia naquele momento era que eu iria morrer, independentemente.

Minha visão estava ficando mais fraca, a escuridão e os fantasmas se

aproximando, e eu juro, era como se eu pudesse ouvir o sussurro de Robert em meu ouvido: O mundo dos mortos não vai te deixar uma segunda vez.

Logo antes da luz sumir completamente, eu vi o rosto de Dimitri se juntar a

Lissa. Eu queria sorrir. Eu decidi que se as duas pessoas que eu mais amava estavam seguras, eu podia deixar esse mundo. Os mortos podiam finalmente me ter. E eu realizei meu propósito, não é? Proteger? Eu consegui. Eu salvei

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Lissa, como jurei sempre que faria. Eu estava morrendo numa batalha. Nada marcado em um livro para mim.

O rosto de Lissa brilhou com lágrimas, e eu esperei que o meu estivesse

coberto com o quanto eu a amava. Com a última faísca de vida que me restava, eu tentei falar, tentei dizer a Dimitri que eu o amava também e que ele tinha que proteger ela agora. Eu não acho que ele entendeu, mas as palavras do mantra dos guardiões, foram meus últimos pensamentos coerentes.

Eles vem primeiro.

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TRINTA E QUATRO EU NÃO ACORDEI no mundo dos mortos. Eu nem acordei em um hospital ou algum tipo de centro médico – o que,

acredite em mim, eu fiz várias vezes. Não, eu acordei no luxo, um enorme quarto com móveis dourados. Céu? Provavelmente não, com o meu comportamento. Minha casa tinha um acolchoado vermelho e dourado, grosso o bastante para ser um colchão. Velas estavam acesas em uma pequena mesa no canto mais longe e enchiam o quarto com cheiro de jasmim. Eu não fazia ideia de onde estava ou como cheguei ali, mas conforme minhas últimas memórias de dor e escuridão passavam em minha mente, eu decidi que o fato de eu estar respirando era bom o bastante.

“A Bela adormecida, desperta.” Aquela voz... aquela maravilhosa voz melosa com um suave sotaque. Ela me

envolvia, e com ela veio a impossível verdade com todo seu impacto: eu estava viva. Eu estava viva. E Dimitri estava aqui.

Eu não conseguia vê-lo mas eu senti um sorriso surgir em meus lábios.

“Você é minha enfermeira?” Eu o ouvi levantar da cadeira e se aproximar. Ver ele parado daquele jeito

me lembrou o quão alto ele era. Ele me olhou com um sorriso próprio – um daqueles raros sorriso cheios. Ele tinha se limpado desde a última vez que o vi, seu cabelo castanho preso, embora ele não se barbeasse há alguns dias. Eu tentei levantar, mas ele me fez deitar.

“Não, não, você precisa deitar.” Meu peito dolorido me disse que ele tinha

razão. Minha mente poderia estar acordada, mas o resto de mim estava exausto. Eu não fazia ideia de quanto tempo havia passado, mas algo me disse que meu corpo esteve lutando uma batalha – não com Strigoi ou qualquer coisa como um, mas comigo mesma. Uma batalha para permanecer viva.

“Então se aproxime,” eu disse a ele. “Eu quero ver você.” Ele pensou sobre isso por um momento, e então tirou os sapatos. Virando

de lado – o que me fez fazer uma careta – eu consegui dar um pouco de espaço para dar espaço na beira da cama. Ele se amontoou ao meu lado. Nossos rostos descansaram no mesmo travesseiro, apenas alguns centímetros longe um dos outros enquanto nos olhávamos.

“Melhor?” ele perguntou.

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“Muito.” Com seus longos dedos graciosos, ele se esticou e tirou meu cabelo do rosto

antes de deslizar pela minha bochecha. “Como está?” “Com fome.” Ele riu suavemente e cuidadosamente deslizou sua mão para minhas costas,

em um tipo de abraço. “É claro que está. Eu acho que até agora eles só conseguiram te dar caldo até. Bem, isso e fluidos intravenosos. Você provavelmente está com carência de açúcar.”

Eu fiz uma careta. Eu não gostava de agulhas ou tubos e estava feliz por não

estar acordada para vê-las. (As agulhas de tatuagens são diferentes.) “Quanto tempo estive inconsciente?” “Alguns dias.” “Alguns dias...” Tremi, e ele colocou as cobertas mais para cima de mim,

achando que eu estava com frio. “Eu não deveria estar viva,” eu sussurrei. Tiros assim... ele foi rápido demais e perto demais do meu coração. Ou no meu coração? Eu pus minha mão no peito. Eu não sabia o quão precisamente fui atingida. Tudo doía. “Oh Deus. Lissa me curou, não é?” Seria necessário muito espírito. Ela não deveria ter feito isso. Ela não podia. Só que... por que eu ainda sentia dor? Se ela me curou, ela teria ido até o fim.

“Não, ela não te curou.” “Não?” eu franzi, incapaz de processar isso. Como mais eu teria

sobrevivido? Uma surpreendente resposta me veio a mente. “Então... Adrian? Ele nunca... depois de como o tratei... não. Ele não teria...”

“O que, você acha que ele teria te deixado morrer?” Eu não respondi. As balas podiam ter sumido a muito, mas pensar em

Adrian ainda fazia meu coração – figurativamente falando – doer. “Não importa como ele se sente...” Dimitri hesitou. Esse era um assunto

delicado, afinal de contas. “Bem, ele não teria deixado você morrer. Ele queria te curar. Mas ele não curou também.”

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Eu me senti mal por pensar tão pouco de Adrian. Dimitri tinha razão. Adrian nunca teria me abandonado apesar de tudo, mas eu estava rapidamente ficando sem opção aqui. “Então quem? Sonya?”

“Ninguém,” ele disse simplesmente. “Bem, você, eu suponho.” “Eu... o que?” “As pessoas podem se curar sem mágica, de vez em quando, Rose.” Havia

uma diversão em sua voz, embora seu rosto tenha permanecido sóbrio. “E seus ferimentos... eles eram ruins. Ninguém pensou que você sobreviveria. Você foi para cirurgia, e então todos esperamos.”

“Mas por que...” eu me senti muito arrogante, perguntando a próxima

questão. “Porque Adrian ou Lissa não me curaram?” “Oh, eles queriam, acredite em mim. Mas depois, no caos... a Corte foi

fechada. Ambos foram levados sobre forte proteção antes de poderem agir. Ninguém deixou eles se aproximarem de você, não quando ainda pensavam que você podia ser uma assassina. Eles tinham que ter certeza sobre Tasha antes, embora suas próprias ações fossem bem claras.”

Eu levei um segundo para superar a ideia que a medicina moderna e a

própria estamina do meu corpo me curaram. Eu me acostumei com o espírito. Isso nem parecia possível. Enquanto tentava compreender o conceito, o resto do que Dimitri disse me atingiu. “Tasha está... ainda viva?”

Seu rosto caiu ainda mais. “Sim. Eles a pegaram logo depois que atirou em

você – antes de mais alguém se machucar. Ela está presa, e mais provas tem aparecido.”

“Desmarcarar ela foi uma das coisas mais difíceis que já fiz,” eu disse. “Lutar

com Strigoi foi mais fácil que isso.” “Eu sei. É uma coisa difícil para mim ver, para acreditar.” Havia um olhar

saudoso em seus olhos, me lembrando que Dimitri a conhecia muito antes que eu. “Mas ela fez suas escolhas, e todas as acusações contra você foram retiradas. Você é uma mulher livre agora. Mais que isso. Uma heroína. Abe está se gabando que é tudo coisa dele.”

Isso trouxe meu sorriso de volta. “É claro que está. Eu provavelmente vou

logo receber uma conta dele.” Eu me senti tonta tanto de alegria como de surpresa. Uma mulher livre. Eu fui bombardeada com acusações e sentenças de morte pelo que parecia anos, e agora... agora tudo desapareceu.

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Dimitri riu, e eu queria ficar assim para sempre, só nós dois, doce e de

guarda baixa. Bem – talvez não exatamente assim. Eu podia viver sem a dor e as bandagens que eu sentia em meu peito. Ele e eu ficamos tantas poucas vezes sozinhos, momentos onde podíamos relaxar e abertamente reconhecer que estávamos apaixonados. As coisas que tinham recém começado a se acertar entre nós... e quase foi tarde demais. Poderia ainda ser.

“Então, e agora?” eu perguntei. “Não tenho certeza.” Ele descansou sua bochecha contra minha testa. “Só

estou tão feliz... tão feliz por você estar viva. Estive tão perto de te perder tantas vezes. Quando te vi no chão, e havia tanta comoção e confusão... eu me senti tão incapacitado. Eu percebi que você tinha razão. Desperdiçamos nossas vidas com culpa e autoaversão. Quando você me olhou daquele jeito no final... eu vi. Você realmente me ama.”

“Você duvidava?” eu falei brincando, mas elas soaram ofendidas. Talvez eu

estivesse, um pouco. Eu disse a ele que o amava muitas vezes. “Não. Eu quero dizer, eu soube naquele momento que você não apenas me

amava. Eu percebi que você me perdoou.” “Não havia nada para perdoar, não realmente.” Eu disse a ele isso antes

também.

“Eu sempre acreditei que havia.” Ele se afastou e me olhou de novo. “E era por isso que eu estava me segurando. Não importava o quanto você dissesse, eu não podia acreditar... eu não podia acreditar que você iria perdoar todas as coisas que fiz com você na Sibéria e depois que Lissa me curou. Eu achei que você estava se enganando.”

“Bem. Não seria a primeira vez que eu faria isso. Mas não, dessa vez não

estava.” “Eu sei, e com essa revelação... naquele segundo que eu soube que você me

perdoou e que realmente tinha o seu amor, eu finalmente fui capaz de me perdoar também. E todos aqueles fardos, todos aqueles laços com o passado... eles se foram. Foi como se...”

“Tivesse se libertado? Voando?” “Sim. Só que... veio tarde demais. Parece loucura, mas enquanto eu estava

te olhando, com todos aqueles pensamentos se formando em minha mente, foi

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como se... como se eu pudesse ver a mão da morte te pegando. E não havia nada que eu pudesse fazer. Eu estava indefeso. Eu não podia ajudar.”

“Você ajudou,” eu disse a ele. “A última coisa que vi antes de desmaiar

foram você e Lissa.” Bem, além dos rostos esqueléticos, mas mencionar isso mataria o momento romântico. “Eu não sei como eu sobrevivi ao tipo, como superou todas as chances... mas tenho certeza que seu amor – os dois – me deu força para lutar. Eu tinha que voltar para vocês. Só Deus sabe em que tipo de problemas vocês iriam se meter sem mim.”

Dimitri não tinha palavras para responder ao invés disso trazendo sua boca

até a minha. Nos beijamos, levemente a principio, e a doçura daquele momento superou qualquer dor que eu senti. A intensidade tinha aumentado só um pouco quando ele se afastou.

“Hey, o que foi?” eu perguntei. “Você ainda está se recuperando,” ele brincou. “Você pode achar que

voltou ao normal, mas não voltou.” “Isso é normal para mim. E sabe, eu pensei que com toda liberdade e

autodescoberta e expressão de amor e tudo mais, poderíamos finalmente parar com a sabedoria do mestre zen e merdas de conselhos práticos.”

Isso conseguiu outro sorriso. “Roza, isso não vai acontecer. É pegar ou

largar.” Eu dei um beijo em seus lábios. “Se significa ficar com você, eu pego.” Eu

queria beijar ele de novo e provar quem realmente não tinha autocontrole, mas isso exigia que uma coisa chamada realidade se firmasse. “Dimitri... sério, o que aconteceu com a gente?”

“Vida,” ele disse calmamente. “Continua. Nós continuamos. Somos

guardiões. Que protegem e talvez mudam o mundo.” “Sem pressão,” eu brinquei. “Mas o que é a parte do ‘somos guardiões’? Eu

tinha certeza que nossa carreira já era.” “Mhh.” Ele segurou meu rosto, e eu pensei que ele fosse dar outro beijo. Eu

esperei que ele desse. “Junto com nosso perdão, recebemos nosso status de guardião de novo.”

“Até você? Eles acreditam que você não é um Strigoi?” eu exclamei.

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Ele acenou. “Huh. Mesmo tendo limpo meu nome, meu futuro ideal era que

conseguíssemos trabalhos perto um do outro.” Dimitri se aproximou mais de mim, seus olhos brilhando com um segredo.

“Fica melhor: você é guardiã de Lissa.” “O que?” eu quase me afastei. “Isso é impossível. Eles nunca...” “Eles fizeram. Ela vai ter outros, então eles provavelmente acharam que

estava tudo bem em deixar você por perto se alguém te mantivesse na linha,” ele brincou.

“Você não...” Um calombo se formou em meu estômago, um lembrete de

um problema que discutimos muito tempo atrás. “Você não é um dos guardiões dela também, é?” Essa era uma preocupação constante, que conflitava com nossos interesses. Eu queria estar perto dele. Sempre. Mas como poderíamos cuidar de Lissa e colocar sua segurança na frente, se estivéssemos preocupados um com o outro? O passado estava retornando para nos atormentar.

“Não, tenho uma tarefa diferente.” “Oh.” Por algum motivo, isso me deixou um pouco triste também, embora

eu soubesse que era a escolha mais inteligente. “Sou o guardião de Christian.” Dessa vez eu sentei, com ou sem ordens médicas. Os pontos repuxaram no

meu peito, mas eu ignorei o afiado desconforto. “Mas isso... isso é praticamente a mesma coisa.”

Dimitri também sentou e pareceu gostar do meu choque, o que na verdade

era meio cruel, já que quase morri e tudo mais. “Um pouco. Mas eles não estarão juntos há todo momento, especialmente com ela indo para Lehigh. Ele não vai... mas eles vão ficar voltando para se encontrar. E quando o fizerem, nós também vamos. É uma boa mistura. Além do mais...” Ele ficou sério de novo. “Eu acho que você provou para todos que pode colocar a vida dela a frente da sua.”

Eu balancei minha cabeça. “Yeah, mas ninguém estava atirando em você.

Apenas nela.” Eu disse levemente, mas me fez perguntar: o que eu faria se ambos estivessem com problemas? Confie nele, uma voz em minha mente disse. Confie nele para cuidar de si. Ele fará o mesmo por você. Eu olhei Dimitri,

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lembrando da sombra em minha visão periférica no salão. “Você me seguiu quando pulei na frente de Lissa, não foi? Para quem você estava indo? Eu ou ela?”

Ele me estudou por vários longos segundos. Ele poderia ter mentido. Ele

poderia ter dado a resposta fácil dizendo que ele pretendia tirar nós duas do caminho – se isso fosse sequer possível, o que eu não lembrei. Mas Dimitri não mentiu. “Eu não sei, Roza. Eu não sei.”

Eu suspirei. “Isso não vai ser fácil.” “Nunca é,” ele disse, me colocando em seus braços. Eu me inclinei contra

seu peito e fechei meus olhos. Não, não seria fácil, mas valeria a pena. Desde que estivéssemos juntos, valeria a pena.

Ficamos daquele jeito por um longo tempo, até que uma discreta batida na

porta entreaberta nos separou. Lissa estava parada ali. “Desculpe,” ela disse, seu rosto brilhando de alegria quando me viu.

“Deveriam ter posto uma meia na porta. Não percebi que as coisas estavam ficando quentes.”

“Não tem como,” eu disse levemente, agarrando a mão de Dimitri. “As

coisas estão sempre quentes com ele por perto.” Dimitri parecia escandalizado. Ele nunca se segurou quando estávamos na

cama juntos, mas sua natureza privada não deixava nem uma pista sobre esse assunto para outros. Era maldade, mas eu ri e o beijei na bochecha.

“Oh, isso vai ser divertido,” eu disse. “Agora que nada mais é segredo.” “Yeah,” ele disse. “Eu recebi um olhar bem ‘divertido’ do seu pai no outro

dia.” Ele deu a Lissa um rápido olhar e então levantou. Se inclinando para baixo, ele beijou o topo da minha cabeça. “Eu deveria ir e deixar vocês conversarem.”

“Vai voltar?” eu perguntei quando ele se moveu para a porta. Ele pausou e sorriu para mim, e aqueles olhos escuros responderam minha

pergunta e muito mais. “É claro.” Lissa tomou o lugar dele, sentando na beira da cama. Ela me abraçou, sem

dúvidas preocupada com meus ferimentos. Então ela me repreendeu por sentar, mas eu não me importei. Felicidade exalava de mim. Eu estava tão feliz por ela estar bem, tão aliviada, e –

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E eu não fazia ideia de como ela se sentia. O laço se fora. E não como quando eu fugi da prisão, quando ela colocou

uma parede nele. Simplesmente não havia nada entre nós. Eu estava comigo mesma, completamente sozinha, como eu era anos atrás. Meus olhos se arregalaram, e ela riu.

“Me perguntei quando você notaria,” ela disse. “Como... como é possível?” eu estava congelada e atordoada. O laço. O laço

se fora. Eu sentia como se meu braço tivesse sido amputado. “E como você sabia?”

Ela franziu. “Parte é instinto... mas Adrian viu. Que nossas auras não se

conectam mais.” “Mas como? Como isso pode ter acontecido?” eu soava louca e

desesperada. O laço não podia ter sumido. Não podia. “Não tenho certeza,” ela admitiu, seu franzido se aprofundando. “Eu

conversei com Sonya e, uh, Adrian. Achamos que quando te trouxe da primeira vez, foi apenas o espírito que te tirou da terra dos mortos e te manteve amarrada a mim. Dessa vez... você quase morreu de novo. Ou talvez você tenha morrido por um momento. Só que, você e seu corpo lutaram. Foi você que escapou, sem ajuda de espírito. E quando isso aconteceu...” Ela deu de ombros. “Como eu disse, só estamos supondo. Mas Sonya acha que quando sua força se libertou, você não precisava mais de ajuda para se manter longe dos mortos. Você conseguiu sozinha. E quando se libertou do espírito, você se libertou de mim. Você não precisava de um laço para continuar viva.”

Era loucura. Impossível. “Mas se... se você está dizendo que escapei do

mundo dos mortos, eu não sou, tipo, imortal nem nada assim, sou?” Lissa riu de novo. “Não, temos certeza disso. Sonya explicou, disse que

qualquer coisa viva pode morrer, e desde que você tenha uma aura, você está viva. Strigoi são imortais mas não estão vivos, então eles não tem auras e –”

O mundo girou. “Eu vou acreditar em você. Eu acho que preciso deitar.” “Essa provavelmente é uma boa ideia.” Eu gentilmente me deitei. Desesperadamente precisando de uma distração

do que acabei de ouvir – porque ainda era surreal demais, ainda impossível de

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processar – eu olhei meus arredores. A luxuria do quarto era maior do que eu tinha percebido. Ela continuava a crescer, se espalhando para outros cômodos. Era uma suíte. Talvez um apartamento. Eu conseguia ver uma sala com móveis de couro e uma TV plana. “Onde estamos?”

“Em uma casa do palácio,” ela respondeu. “Casa do palácio? Como terminamos aqui?” “Como você acha?” ela perguntou secamente. “Eu...” eu não consegui fazer minha boca se abrir por um momento. Eu não

precisava do laço para perceber o que aconteceu. Outra impossibilidade havia ocorrido enquanto eu estava apagada. “Merda. Eles fizeram as eleições não é? Eles te elegeram rainha, assim que Jill estava lá para te apoiar como familiar.”

Ela balançou a cabeça a quase riu. “Minha reação foi um pouco maior do

que ‘merda’, Rose. Você tem alguma ideia do que fez?” Ela parecia ansiosa, estressada, e totalmente sobrepujada. Eu queria ser

séria e reconfortante para seu bem... mas eu podia sentir um sorriso bobo se espalhando nos meus lábios. Ela rosnou.

“Você está feliz.” “Lissa, você nasceu para isso! Você é melhor do que qualquer outro

candidato.” “Rose!” ela gritou. “Concorrer para rainha era pra ser uma distração. Só

tenho dezoito anos.” “Alexandra também tinha.” Lissa balançou sua cabeça em exaspero. “Estou tão cansada de ouvir as

pessoas falarem sobre ela! Ela viveu séculos atrás, sabe. Eu acho que as pessoas morriam quando chegavam aos trinta anos naquele tempo. Então ela provavelmente era uma idosa.”

Eu peguei a mão dela. “Você vai ser ótima. Não importa sua idade. E não é

como se você tivesse que fazer reuniões e analisar leis sozinhas, sabe. Quero dizer, eu certamente não vou fazer isso, mas tem outras pessoas inteligentes. Ariana Szelsky não passou no teste, mas ela vai te ajudar se você pedir. Ela ainda está no Conselho, e tem outros em quem você pode confiar. Só temos que encontrá-los. Eu acredito em você.”

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Lissa suspirou e olhou para baixo, seu cabelo pendurado para frente como

numa cortina. “Eu sei. E parte de mim está excitada, como se isso fosse restaurar a honra da minha família. Eu acho que foi isso que me salvou de entrar em parafuso. Eu não queria ser rainha, mas se preciso... então vou fazer certo. Eu sinto como... como se o mundo estivesse nos meus dedos, como se pudesse fazer tanta coisa boa. Mas tenho medo de estragar tudo.” Ela olhou para cima. “E não vou desistir do resto da minha vida também. Eu acho que serei a primeira rainha na faculdade.”

“Legal,” eu disse. “Você pode se reunir com o Conselho no campus. Talvez

você possa mandar as pessoas fazerem suas tarefas.” Ela aparentemente não achava minha piada tão engraçada quanto eu.

“Voltando a minha família. Rose... há quanto tempo você sabia sobre Jill?” Merda. Eu sabia que essa parte da conversa eventualmente iria acontecer.

Eu desviei o olhar. “Não há tanto tempo. Não queríamos te estressar até saber que era real,” acrescentei rapidamente.

“Não posso acreditar...” ela balançou sua cabeça. “Não consigo acreditar.” Eu tinha que confiar em seu tom, não no laço. Era tão estranho, como

perder um dos meus sentidos. Visão. Audição. “Você está chateada?” “Claro que estou! Como pode estar surpresa?” “Eu achei que você ficaria feliz...” “Feliz por descobrir que meu pai traiu minha mãe? Feliz por ter uma irmã

que mal conheço? Eu tentei falar com ela, mas...” Lissa suspirou de novo. “É tão estranho. Quase tão estranho do que de repente ser rainha. Não sei o que fazer. Não sei o que pensar do meu pai. E certamente não sei o que fazer com ela.”

“Ame ambos,” eu disse suavemente. “Eles são sua família. Jill é ótima, sabe.

Conheça ela. Fique feliz.” “Não sei se posso. Eu penso em você mais como irmã do que algum dia ela

será.” Lissa encarou o nada. “E de todas as pessoas... eu estava convencida por tanto tempo que havia algo acontecendo entre ela e Christian.”

“Bem, de todas as preocupações em nosso mundo, tem uma que você pode

deixar para trás porque não é verdade.” Mas em seu comentário havia algo negro e triste. “Como vai Christian?”

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Ela virou de volta para mim, seus olhos cheios de dor. “Ele está passando

por uma época difícil. Ele a visita. Tasha. Ele odeia o que ela fez, mas... bem, ela ainda é sua família. O machuca, mas ele tenta esconder. Você sabe como ele é.”

“Yeah.” Christian passou boa parte da sua vida escondendo seus

sentimentos com orgulho e sarcasmo. Ele era profissional em esconder o que realmente sentia dos outros.

“Eu sei que ele vai melhorar com o tempo... só espero poder estar lá por ele

o bastante. Tanta coisa está acontecendo. Faculdade, ser rainha... e sempre, sempre, tem o espírito aqui, me pressionando. Me sufocando.”

Alarme passou por mim. E pânico. Pânico por algo pior do que não saber os

sentimentos de Lissa ou onde ela estava. Espírito. Eu tinha medo de espírito – e o fato de não poder lutar por ela. “A escuridão... eu não posso absorver mais. O que vamos fazer?”

Um sorriso torto surgiu em seus lábios. “Você quer dizer, o que eu vou

fazer. É meu problema agora, Rose. Como sempre deveria ter sido.” “Mas, não... você não pode. St. Vladimir –” “Não é eu. E você pode me proteger de algumas coisas mas não tudo.” Eu balancei minha cabeça. “Não, não. Não posso deixar você enfrentar

espírito sozinha.” “Não estou exatamente sozinha. Conversei com Sonya. Ela é realmente boa

em talismãs de cura e acha que tem um jeito de me manter equilibrada.” “Oksana disse a mesma coisa,” eu lembrei, mal me sentindo segura. “E... tem sempre os antidepressivos. Eu não gosto deles, mas sou rainha

agora. Tenho responsabilidades. Farei o que for preciso. Uma rainha desiste de tudo, certo?”

“Eu suponho.” Eu não consegui me impedir de me sentir assustada. Inútil.

“Só estou tão preocupada com você, e não sei mais como te ajudar.” “Eu te disse: você não precisa. Vou proteger minha mente. Seu trabalho é

proteger meu corpo, certo? E Dimitri vai estar por perto também. Vai ficar tudo bem.”

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A conversa com Dimitri voltou até mim. Para quem você estava indo? Eu ou ela?

Eu dei o maior sorriso que pude. “Yeah. Vai ficar tudo bem.” Sua mão apertou a minha. “Fico tão feliz que tenha voltado, Rose. Você

sempre foi parte de mim, não importa o que. E honestamente... eu meio que estou feliz por você não poder mais ver minha vida sexual.”

“Somos duas,” eu ri. Nenhum laço. Nenhuma ligação mágica. Ia ser tão

estranho, mas na verdade... eu precisava? Na vida real, as pessoas formam laços de outra natureza. Laços de amor e lealdade. Iríamos superar isso. “Eu sempre estarei lá por você, sabe. Para qualquer coisa que precise.”

“Eu sei,” ela disse. “E na verdade... eu preciso que você faça algo agora...” “Manda,” eu disse. Ela mandou.

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TRINTA E CINCO Eu queria que Lissa tivesse “precisado” de mim para destruir um exército de

Strigoi. Eu teria me sentido mais confortável com isso do que com o que ela precisava fazer agora: encontrar Jill para discutir a coroação. Lissa me queria lá para dar apoio, como uma espécie de mediadora. Eu ainda não conseguia andar muito bem, então esperamos mais um dia. Lissa pareceu grata pelo atraso.

Jill estava nos esperando em uma pequena sala que eu nunca pensei que

veria de novo: o salão onde Tatiana me xingou por dar em cima de Adrian. Foi uma experiência bem bizarra na época, já que eu e Adrian não estávamos envolvidos na época. Agora, após tudo que ocorreu entre eu e ele, isso parecia... estranho. Confuso. Eu ainda não sabia o que aconteceu com ele desde a prisão de Tasha.

Caminhando ali, eu também me senti terrivelmente... sozinha. Não, não

sozinha. Desinformada. Vulnerável. Jill estava sentada em uma cadeira, suas mãos dobradas em seu colo. Ela olhava diretamente para frente com uma expressão ilegível. Ao meu lado, a expressão de Lissa era igualmente vazia. Ela sentia... bem, essa era a coisa. Eu não sabia. Eu não sabia. Quer dizer, eu podia notar que ela estava desconfortável, mas não havia pensamentos na minha cabeça para me direcionar. Eu não tinha nada específico. De novo, eu me lembrei de que o resto do mundo funcionava assim. Você funcionava sozinho. Você fazia seu melhor para administrar situações estranhas sem uma visão mágica da mente da outra pessoa. Eu nunca percebi o quanto eu tinha assumido os pensamentos de uma única pessoa por garantido.

A única coisa de que eu tinha certeza era de que Lissa e Jill estavam

apavoradas uma com a outra. Mas não comigo. Era por isso que eu estava aqui. “Ei, Jill,” eu disse sorrindo. “Como você está?” Ela saiu de quaisquer pensamentos que estivessem ocupando sua mente e

saltou da cadeira. Eu achei estranho, mas então fez sentido. Lissa. Você levantava quando uma rainha entrava na sala.

“Está bem,” disse Lissa, tropeçando nas suas palavras um pouco. “Sente-se.”

Ela se sentou na frente de Jill. Era a maior cadeira na sala – aquela em que Tatiana sempre sentava.

Jill hesitou por um momento, então olhou para mim. Eu devo ter

encorajado ela porque ela voltou ao seu assento. Eu sentei do lado de Lissa, gemendo quando uma dorzinha apertou em meu peito. Preocupação por mim distraiu Jill momentaneamente de Lissa.

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“Como você está se sentindo? Está bem? Você devia sequer estar fora da

cama?” A natureza bonitinha e confusa. Eu estava feliz em ver isso de novo. “Bem,” eu menti. “Como nova.” “Eu estava preocupada. Quando eu vi o que aconteceu... quer dizer, tinha

tanto sangue e tanta loucura e ninguém sabia se você...” Jill franziu o rosto. “Eu não sei. Foi tão assustador. Estou feliz por você estar bem.”

Eu continuei sorrindo, esperando fazer ela se sentir mais segura. O silêncio

caiu então. O salão ficou tenso. Em situações políticas, Lissa era uma especialista, sempre capaz de amaciar as coisas com as palavras certas. Era eu quem falava nos cenários desconfortáveis, dizendo as coisas que chocavam os outros. As coisas que ninguém queria ouvir. Essa situação parecia uma que requeria a diplomacia dela, mas eu sabia que devia ser eu a tomar a iniciativa.

“Jill,” eu disse, “nós queríamos saber se você gostaria de, bem, tomar parte

na coroação.” Os olhos de Jill saltaram brevemente para Lissa – ainda com o rosto pétreo

– e então de volta para mim. “O que esse ‘participar’ significa? O que eu teria que fazer?”

“Nada difícil,” eu assegurei a ela. “Eram só algumas formalidades feitas

comumente por membros da família. Coisas cerimoniais. Como você fez com a votação.” Eu não tinha testemunhado isso, mas parece que Jill só teve que ficar de pé ao lado de Lissa para mostrar a força da família. Uma coisa tão pequena para uma lei se apegar. “Na maior parte do tempo, é ficar a vista e ficar com uma cara boa.”

“Bem,” pensou Jill, “eu tenho feito isso a maior parte da semana.” “Eu tenho feito isso pela maior parte da minha vida,” disse Lissa. Jill parecia assustada. De novo, eu me sentia perdida sem o elo. O tom de

Lissa não fez o que ela quis dizer claro. Seria um desafio para Jill – que a garota não tinha encarado metade do que Lissa encarou? Ou era para ser simpatia pela falta de experiência de Jill?

“Você... você vai se acostumar,” eu disse. “Com o tempo.” Jill sacudiu a cabeça, um sorriso pequeno e amargo em seu rosto. “Não sei,

não.”

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Eu também não. Eu não tinha certeza de como alguém lidava com essa

situação em que ela foi jogada. Minha mente passou rapidamente por uma lista de mais coisas gentis e sem significado que eu poderia dizer, mas Lissa finalmente assumiu meu lugar.

“Eu sei quão estranho isso é,” ela disse. Ela encontrou com determinação os

olhos verdes de Jill – o único traço que as irmãs compartilhavam, eu decidi. Jill tinha os traços de uma futura Emily. Lissa carregava uma mistura dos traços de seus pais. “Isso também é esquisito para mim. Eu não sei o que fazer.”

“O que você quer?” perguntou Jill baixinho. Eu ouvi a pergunta real. Jill queria saber se Lissa queria ela. Lissa ficou

devastada com a morte do seu irmão... mas uma irmã ilegítima surpresa não era substituta para Andre. Eu tentei imaginar como seria estar no lugar de qualquer das garotas. Eu tentei e falhei.

“Eu não sei,” admitiu Lissa. “Eu não sei o que quero.” Jill aquiesceu, olhando para baixo, mas não antes que eu visse a emoção no

seu rosto. Desapontamento – ainda assim, a resposta de Lissa não foi completamente inesperada.

Jill fez a próxima grande pergunta. “Você quer... você quer que eu esteja nas

cerimônias?” A pergunta ficou no ar. Era boa. Era a razão pela qual viemos aqui, mas Lissa

queria mesmo isso? Estudando ela, eu não tinha certeza. Eu não sabia se ela estava apenas seguindo o protocolo, tentando fazer Jill assumir um papel esperado na sociedade nobre. Nesse caso, não havia lei dizendo que Jill precisava fazer qualquer coisa. Ela só precisava existir.

“Sim,” disse Lissa por fim. Eu ouvi a verdade em suas palavras, e algo dentro

de mim ficou mais leve. Lissa não queria Jill só pelo bem da imagem. Uma parte de Lissa queria Jill na sua vida – mas imaginar isso seria difícil. Ainda assim, era um começo, e Jill parecia reconhecer isso.

“Certo,” ela falou. “Me diga apenas o que eu preciso fazer.” Me ocorreu que

a juventude e nervosismo de Jill enganavam. Havia fagulhas de bravura e ousadia nela, fagulhas que eu tinha certeza de que cresceriam. Ela realmente era uma Dragomir.

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Lissa pareceu aliviada, mas eu achei que fosse porque ela deu um pequeno passo de progresso com sua irmã. Não tinha nada a ver com a coroação. “Outra pessoa vai explicar tudo. Eu não tenho certeza do que você faz, para ser honesta. Mas Rose está certa. Não vai ser difícil.”

Jill simplesmente concordou com um aceno da cabeça. “Obrigada,” disse Lissa. Ela levantou, e tanto eu quanto Jill levantamos com

ela. “Eu... eu realmente aprecio isso.” A estranheza retornou enquanto nós três ficamos ali. Teria sido um bom

momento para as irmãs se abraçarem, mas embora ambas parecessem felizes com seu progresso, nenhuma delas estava pronta para isso. Quando Lissa olhava para Jill, ela ainda via seu pai com outra mulher. Quando Jill olhava para Lissa, ela via sua vida completamente de cabeça para baixo – uma vida antes tímida e privada agora exposta para o mundo ver. Eu não podia mudar seu destino, mas podia dar abraços. Apesar dos meus pontos, eu pus meus braços ao redor da jovem menina.

“Obrigada,” eu disse, ecoando Lissa. “Vai ficar tudo bem. Você vai ver.” Jill assentiu mais uma vez, e sem mais nada a discutir, Lissa e eu fomos em

direção á porta. A voz de Jill nos fez parar. “Ei... o que acontece depois da coroação? Comigo? Conosco?” Eu olhei para Lissa. Outra boa pergunta. Lissa voltou-se de novo para Jill,

ainda sem fazer contato ocular direto. “Nós vamos... nós vamos nos conhecer melhor. As coisas vão melhorar.”

O sorriso que surgiu no rosto de Jill foi genuíno – pequeno, mas genuíno.

“Certo,” ela disse. Havia esperança naquele sorriso também. Esperança e alívio. “Eu ia gostar disso.”

Quanto a mim, tive que esconder uma careta. Aparentemente, eu podia

funcionar sem o elo porque eu podia dizer, com absoluta confiança, que Lissa não estava dizendo toda a verdade. O que ela não estava dizendo a Jill? Lissa queria que as coisas melhorassem, eu tinha certeza, mesmo sem ter certeza de como. Mas havia alguma coisa... algo pequeno que Lissa não estava revelando para nenhuma de nós, algo que me fez pensar que Lissa não acreditava de verdade que as coisas iam melhorar.

Do nada, um estranho eco de Victor Dashkov ressoou pela minha mente

sobre Jill. Se ela tiver bom senso, Vasilisa vai mandar ela para longe.

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Eu não sei porque lembrei disso, mas me fez ter um calafrio na espinha.

Ambas as irmãs estavam sorrindo, então eu fiz o mesmo, não querendo que qualquer uma delas percebesse minhas preocupações. Lissa e eu saímos depois disso, indo em direção ao meu quarto. Minha pequena caminhada tinha sido mais cansativa do que eu esperava e, por mais que eu odiasse admitir, eu mal podia esperar para me deitar de novo.

Quando alcançamos meu quarto, eu ainda não tinha decidido se devia

perguntar para Lissa sobre Jill ou esperar para ver a opinião de Dimitri. A decisão foi tomada de mim quando achamos um visitante inesperado ali: Adrian.

Ele estava sentado na minha cama, a cabeça caída para trás como se ele

estivesse completamente consumido em estudar o teto. Não me enganava. Ele saberia o instante em que nós chegássemos perto – ou, ao menos, o instante em que Lissa se aproximou.

Paramos na porta, e ele finalmente se virou na nossa direção. Ele parecia

não ter dormido há algum tempo. Havia sombras negras sob seus olhos, e seu rosto bonito estava endurecido por linhas de fadiga. Se era fadiga física ou mental, eu não podia dizer. Apesar de tudo, seu sorriso preguiçoso era o mesmo de sempre.

“Vossa Majestade,” ele disse grandiosamente. “Pare,” zombou Lissa. “Você devia saber melhor.” “Eu nunca soube melhor,” ele devolveu. “Você devia saber disso.” Eu vi Lissa começar a sorrir; então ela olhou para mim e ficou séria,

percebendo que essa não era uma hora de vamos-nos-divertir-com-Adrian. “Bom,” ela disse desconfortável, não parecendo nada com uma rainha. “Eu

tenho coisas a fazer.” Ela ia dar no pé, eu percebi. Eu fui com ela para sua conversa familiar, mas ela ia me abandonar agora. Mas me servia bem. Essa conversa com Adrian era inevitável, e eu a trouxe para mim mesma. Eu tinha que terminar isso sozinha, como eu disse para Dimitri.

“Tenho certeza de que você tem,” eu disse. O rosto dela ficou hesitante,

como se ela estivesse subitamente reconsiderando. Ela se sentia culpada. Ela estava preocupada comigo e queria ficar ao meu lado. Eu toquei levemente seu braço. “Está bem, Lissa. Vou ficar bem. Vai.”

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Ela apertou minha mão de volta, me desejando sorte com o olhar. Ela deu tchau para Adrian e saiu, fechando a porta atrás de si.

Era só ele e eu agora. Ele ficou na minha cama, me observando cuidadosamente. Ele ainda tinha o

sorriso que deu para Lissa, como se isso não fosse grande coisa. Eu sabia que não era assim e não tentei esconder meus sentimentos. Ficar parada me cansava, então eu sentei em uma cadeira próxima, me perguntando nervosamente o que dizer.

“Adrian –” “Vamos começar com isso, pequena dhampir,” ele disse cordialmente. “Isso

estava acontecendo antes de você deixar a Corte?” Levei um momento para acompanhar aquele formato abrupto de conversa

que Adrian tomara. Ele estava perguntando se eu e Dimitri havíamos voltado antes da minha prisão. Eu sacudi a cabeça devagar.

“Não. Eu estava com você. Só com você.” É verdade que eu estava numa

confusão de emoções, mas minhas intenções tinham sido verdadeiras. “Bem, isso é alguma coisa,” ele disse. Algo de seu jeito agradável estava

sumindo. Então, eu senti o cheiro, mesmo fraco: álcool e cigarro. “Melhor reacender algumas faíscas no calor da batalha ou de uma busca ou qualquer coisa do que você me traindo embaixo do meu nariz.”

Eu sacudi a cabeça mais urgentemente agora. “Não, eu juro. Eu não – nada

aconteceu então... não até –” eu hesitei em como dizer minhas próximas palavras.

“Depois?” ele adivinhou. “O que faz ficar tudo bem?” “Não! É claro que não. Eu...” Droga. Eu ferrei tudo. Só porque eu não traí Adrian na Corte não queria

dizer que eu não tivesse traído ele depois. Você podia colocar isso como quisesse, mas vamos encarar isso: dormir com outro cara em um quarto de hotel era traição se você tivesse namorado. Não importava se o outro cara fosse o amor da sua vida ou não.

“Desculpe,” eu disse. Era a coisa mais simples e mais apropriada que eu

podia dizer. “Desculpe. O que eu fiz foi errado. Eu não planejei. Eu pensei... eu

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realmente pensei que ele e eu tínhamos acabado. Eu estava com você. Eu queria estar com você. E então, eu percebi que –”

“Não, não – pare.” Adrian levantou uma mão, sua voz apertada e sua

máscara fria começando a cair. “Eu realmente não quero ouvir sobre a grande revelação que você teve sobre como vocês foram feitos um para o outro ou o que quer que tenha sido.”

Eu fiquei em silêncio porque, bem, aquilo meio que tinha sido uma

revelação. Adrian passou a mão pelo seu cabelo. “Verdade, foi minha culpa. Estava lá.

Cem vezes lá. Quantas vezes eu vi? Eu sabia. Sabia que estava acontecendo. De novo e de novo, você disse que tinha terminado com ele... e de novo e de novo, eu acreditei... não importava o que meus olhos mostrassem. Não importa o que meu coração me dissesse. Minha. Culpa.”

Era o falar levemente desconexo – não o tipo nervoso de Jill, mas aquele

jeito instável que me fazia pensar quão perto ele estava do limite da insanidade. Um limite para o qual eu podia muito bem estar empurrando ele. Eu queria ir até ele, mas tive o bom senso de ficar sentada.

“Adrian, eu –” “Eu amei você!” ele gritou. Ele pulou da cadeira tão rápido que eu nem vi.

“Eu amei você, e você me destruiu. Você pegou meu coração e arrancou ele fora. Você podia ter me empalado!” A mudança nas suas feições também me pegou de surpresa. Sua voz encheu o quarto. Tanta dor, tanto ódio. Tão diferente do Adrian de sempre. Ele veio em minha direção, a mão espalmada sobre seu peito. “Eu. Amei. Você. E você me usou o tempo inteiro.”

“Não, não. Isso não é verdade.” Eu não tinha medo de Adrian, mas diante

daquela emoção, eu percebi que estava me encolhendo. “Eu não estava usando você. Eu amava você. Eu ainda amo, mas –”

Ele parecia enojado. “Rose, qual é.” “Eu estou dizendo a verdade! Eu amo você.” Agora eu levantei, com dor ou

sem dor, tentando olhar para ele nos olhos. “Eu sempre vou, mas você não é... eu não acho que funcionamos como um casal.”

“Essa é uma mentira para terminar o namoro, e você sabe disso.”

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Ele estava meio que certo, mas eu pensei de volta naqueles momentos com Dimitri... quão bem nós trabalhávamos em sincronia, como ele sempre parecia entender exatamente como eu me sentia. Eu disse a verdade: eu amava Adrian. Ele era maravilhoso, apesar de suas falhas. Porque, de verdade, quem não tinha falhas? Eu e ele nos divertimos juntos. Havia afeto, mas não éramos feitos um para o outro do jeito que eu era com Dimitri.

“Eu não sou... não sou a pessoa para você,” eu disse fracamente. “Porque você está com outro cara?” “Não, Adrian. Porque... eu não sou. Eu não sei. Eu não...” eu estava me

complicando seriamente. Eu não sabia explicar como eu me sentia, como eu podia me importar com alguém e amar sair com essa pessoa – mas sem funcionar como um casal. “Eu não equilibro você como você precisa.”

“Que porra isso quer dizer?” ele exclamou. Meu coração apertava por ele, e eu me sentia culpada pelo que fiz... mas

essa era a verdade de tudo. “O fato de você ter que perguntar diz tudo. Quando você encontrar essa pessoa... você vai saber.” Eu não acrescentei que, com o histórico dele, ele teria um belo número de falsos começos antes de achar essa pessoa. “E eu sei que soa como outra mentira para terminar o namoro, mas eu gostaria mesmo de ser sua amiga.”

Ele me olhou por vários segundos pesados e então riu – embora não

houvesse muito humor nisso. “Sabe o que é o melhor? Você está falando sério. Olhe o seu rosto.” Ele acenou, como se eu pudesse mesmo me examinar. “Você realmente acha que é tão fácil, que eu posso sentar aqui e assistir ao seu final feliz. Que eu posso assistir você conseguir tudo o que quer e levar sua vida encantada.”

“Encantada!” A culpa e simpatia se agitando dentro de mim receberam uma

pequena dose de raiva. “Longe disso. Você sabe pelo que passei ano passado?” Eu assisti Mason morrer, lutei no ataque a St. Vladimir, fui capturada por Strigoi na Rússia e então vivi em fuga como uma assassina procurada. Isso não soava nada encantado.

“E, ainda assim, você triunfou sobre tudo isso. Você sobreviveu à morte e se

livrou do elo. Lissa é a rainha. Você ficou com o cara e seu ‘felizes para sempre’.”

Eu me virei de costas para ele e me afastei. “Adrian, o que você quer que eu

diga? Eu posso me desculpar para sempre, mas não tem mais nada que eu

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possa fazer aqui. Eu nunca quis machucar você; nunca poderei dizer isso o bastante. Mas o resto? Você espera que eu fique triste por todo o resto ter dado certo? Eu devia desejar ainda ser acusada de assassinato?”

“Não,” ele disse. “Eu não quero que você sofra. Muito. Mas, na próxima vez

que estiver na cama com Belikov, pare por um momento e lembre que nem todo mundo se deu tão bem quanto você.”

Eu me virei para encarar ele. “Adrian, eu nunca –” “Não apenas eu, pequena dhampir,” ele acrescentou silenciosamente.

“Teve muito dano colateral por aí enquanto você lutou contra o mundo. Eu fui uma vítima, obviamente. Mas e quanto a Jill? O que acontece a ela agora que você a abandonou aos lobos da realeza? E Eddie? Você pensou nele? E onde está a sua Alquimista?”

Cada palavra que ele direcionou a mim era uma flecha, atravessando meu

coração mais do que as balas tinham feito. O fato de ele se referir a Jill por seu nome, ao invés de “Jailbait”, carregava uma dor extra. Eu já estava carregando bastante culpa por ela, mas os outros... bem, eles eram um mistério. Eu ouvi rumores sobre Eddie mas não vi ele desde o meu retorno. Ele foi inocentado pela morte de James, mas matar um Moroi – enquanto outros ainda achavam que ele podia ter sido capturado vivo – carregava um estigma pesado. A insubordinação anterior de Eddie – graças a mim – também o amaldiçoava, mesmo que tudo tivesse sido feito pelo “bem maior”. Como rainha, Lissa só podia ir até certo ponto. Os guardiães serviam aos Moroi, mas era costumeiro que os Moroi se afastassem e deixassem os guardiães administrarem suas próprias pessoas. Eddie não estava sendo dispensado ou aprisionado... mas que tipo de tarefa eles lhe dariam? Era difícil dizer.

Sydney... ela era um mistério ainda maior. Onde está a sua Alquimista? Os

afazeres daquele grupo estavam além de mim, além do meu mundo. Eu lembrei do rosto dela da última vez que a vi, no hotel – forte mas triste. Eu sabia que ela e os outros Alquimistas tinham sido soltos desde então, mas sua expressão disse que ela não estava fora da encrenca ainda.

E Victor Dashkov? Onde ele se encaixava? Eu não tinha certeza. Mal ou não,

ele ainda era alguém que sofreu como resultado das minhas ações, e os eventos relacionados à sua morte ficariam comigo para sempre.

Dano colateral. Eu derrubei muitas pessoas comigo, intencionalmente ou

não. Mas, enquanto as palavras de Adrian penetravam lentamente em mim, uma delas me fez parar.

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“Vítima,” eu disse devagar. “Essa é a diferença entre você e eu.” “Hã?” Ele estava me observando de perto enquanto eu considerava os

destinos de meus amigos e foi pego com a guarda baixa. “Do que você está falando agora?”

“Você disse que é uma vítima. É por isso... é por isso que, no fim, você e eu

não somos feitos um para o outro. Apesar de tudo o que aconteceu, eu nunca pensei assim de mim mesma. Ser uma vítima significa que você não tem poder algum. Que não vai agir. Sempre... eu sempre lutei por mim mesma... pelos outros. Não importa o quê.”

Eu nunca vi tanto ultraje no rosto de Adrian. “É isso que pensa de mim?

Preguiçoso? Indefeso?” Não exatamente. Mas eu tinha a sensação de que, após essa conversa, ele

iria fugir para arrumar conforto em seus cigarros e álcool e talvez qualquer companhia feminina que ele conseguisse arranjar.

“Não,” eu disse. “Eu acho você incrível. Acho que você é forte. Mas eu não

acho que você tenha percebido – ou aprendido a usar qualquer uma dessas qualidades.” E, eu queria acrescentar, eu não era a pessoa que podia inspirar isso nele.

“Isso,” ele disse, indo em direção à porta, “foi a última coisa que eu esperei.

Você destrói minha vida e então me dá filosofia inspiracional.” Eu me senti horrível, e foi um desses momentos em que eu desejei que

minha boca não iria soltar a primeira coisa que viesse à mente. Eu aprendi um monte de controle – mas não o bastante.

“Só estou dizendo a verdade. Você é melhor que isso... melhor que seja lá o

que for que você vai fazer agora.” Adrian colocou a mão na maçaneta e me deu um olhar pesaroso. “Rose, eu

sou um viciado sem ética de trabalho que provavelmente vai enlouquecer. Não sou um super-herói.”

“Ainda não,” eu disse. Ele zombou, sacudiu a cabeça e abriu a porta. Antes de sair, ele me deu

mais um olhar. “O contrato está nulo e vazio, por acaso.”

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Eu me senti como se tivesse levado um tapa na cara. Em um daqueles raros momentos, Rose Hathaway ficou sem fala. Eu não tinha comentários espertinhos, nem explicações elaboradas e nem uma visão aprofundada.

Adrian partiu, e eu me perguntei se eu o veria de novo.

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TRINTA E SEIS

EU GERALMENTE SONHAVA EM acordar com Dimitri, acordar de uma forma que fosse... comum. Doce. Não porque estávamos com pressa de dormir antes de lutar com nosso próximo inimigo. Não porque estávamos nos recuperando do sexo que tínhamos que esconder, sexo com um milhão de complicações. Eu só queria acordar junto dele, em seus braços, e ter uma boa manhã.

Hoje era esse dia. “Há quanto tempo você está acordado?” eu perguntei sonolenta. Minha

cabeça estava em seu peito, e eu estava enrolada contra ele da melhor forma que consegui. Meus ferimentos estavam sarando rapidamente mas ainda tinham que estar enfaixados. Encontramos algumas formas criativas para desviar deles ontem à noite. A luz do sol agora entrava pelas janelas, enchendo o quarto de luz dourada.

Ele estava me olhando naquela forma quieta e solene dele, com aqueles

olhos negros que eu me perdia tão facilmente. “Há um tempinho,” ele admitiu, erguendo seu olhar para a janela. “Eu acho que ainda estou no fuso horário humano. Ou é isso, ou meu corpo só quer estar acordado quando o sol está. O ver ainda é incrível.”

Eu suprimi um bocejo. “Você deveria ter levantado.” “Eu não queria perturbar você.” Eu passei meus dedos sobre seu peito, suspirando em contentamento. “Isso

é perfeito,” eu disse. “Todos os dias vão ser assim?” Dimitri descansou sua mão em minha bochecha e então foi mais para baixo,

erguendo meu queixo. “Não todos os dias, mas a maioria.” Nossos lábios se encontraram, e o calor e a luz do quarto se empalideceram

em comparação ao que queimava dentro de mim. “Eu estava errada,” eu murmurei quando finalmente nos separamos no longo e languido beijo. “Isso é perfeito.”

Ele sorriu, algo que ele andava fazendo muito ultimamente. Eu amava. Isso

provavelmente iria mudar quando voltássemos para o mundo. Mesmo que estivéssemos juntos agora, o lado guardião de Dimitri sempre estaria ali, pronto e observador. Mas agora não. Não nesse momento.

“O que foi?” ele me perguntou.

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Com surpresa, percebi que comecei a franzir. Eu tentei relaxar meu rosto.

As palavras de Adrian espontaneamente voltaram a minha mente, que a próxima vez que eu estivesse na cama com Dimitri, eu deveria pensar sobre os outros que não tiveram tanta sorte.

“Você acha que eu arruíno vidas?” perguntei. “O que? É claro que não.” O sorriso virou choque. “De onde você tirou

isso?” Eu dei de ombros. “Tem muitas pessoas cujas vidas ainda estão uma

confusão. Meus amigos, quero dizer.” “Verdade,” ele disse. “E me deixe adivinhar. Você quer consertar os

problemas de todo mundo.” Eu não respondi. Dimitri me beijou de novo. “Roza,” ele disse, “é normal querer ajudar as

pessoas que você ama. Mas você não pode consertar tudo.” “É o que eu faço,” eu respondi, me sentindo petulante. “Eu protejo as

pessoas.” “Eu sei, e esse é um dos motivos pelos quais te amo. Mas por enquanto,

você só tem que se preocupar em proteger uma pessoa: Lissa.” Eu me espreguicei contra ele, notando que meu ferimento estava realmente

melhorando. Meu corpo seria capaz de fazer todo tipo de coisa em breve. “Eu acho que isso significa que não podemos ficar na cama o dia todo?” eu perguntei esperançosa.

“Temo que não,” ele disse, passando seus dedos levemente pelas curvas do

meu quadril. Ele nunca parecia se cansar de estudar meu corpo. “Eles vem primeiro.”

Eu trouxe minha boca de volta em direção à dele. “Mas não por um

tempinho.” “Não,” ele concordou. Sua mão deslizou pela minha nuca, emaranhando

meu cabelo quando ele se aproximou. “Não por um tempo.”

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Eu nunca fui a uma coroação antes, mas honestamente, eu esperava nunca mais ir. Eu só queria que houvesse apenas uma rainha reinando no meu tempo de vida.

Misteriosamente, a coroação era meio que o reverso do funeral de Tatiana.

Qual era o velho ditado? A Rainha está morta. Vida longa a Rainha. O costume dita que o monarca que será coroado passe a primeira parte do

dia da coroação na igreja, presumivelmente buscando um guia, força, e toda aquela coisa espiritual. Eu não tinha certeza o que dizia o costume caso o monarca fosse ateu. Provavelmente eles fingiam. Com Lissa, que era devotada, eu sabia que isso não era um problema e que ela provavelmente estava legitimamente rezando para fazer um bom trabalho como rainha.

Depois da vigília, Lissa e uma enorme procissão andou pela Corte até o

palácio, onde a coroação aconteceria. Representantes de todas as famílias reais se juntaram a ela, junto com músicos que estavam tocando em tons muito mais alegres do que aconteceu na procissão de Tatiana. Os guardiões de Lissa – ela tinha vários agora – andavam com ela. Eu estava entre eles, usando minha roupa preto e branca, incluindo um colarinho vermelho que me apontava como uma guardiã da rainha. Aqui, pelo menos, era notável a diferença entre o funeral. Tatiana estava morta: seus guardiões eram para demonstração. Lissa estava viva, e mesmo ela tendo vencido os votos do Conselho, ainda tinha inimigos. Meus colegas e eu estávamos em alerta máximo.

Não que a gente precisasse estar, não com o jeito que a multidão torcia.

Todos que acamparam durante os testes ficaram para festejar, e mais apareceram. Eu não tinha certeza quando veria novamente tantos Moroi em um lugar.

Depois da longa caminhada, Lissa chegou até o palácio e então esperou em

uma pequena antecâmara, que servia como o salão do trono Moroi. O salão quase nunca era usado atualmente, mas de vez em quando – como uma nova rainha ser coroada – os Moroi o utilizavam para seguir as antigas tradições. O salão era pequeno e não conseguiria suportar todas as testemunhas que estavam lá fora. Não tinha espaço nem para toda procissão. Mas, aqueles do Conselho, com maior prestígio na realeza estavam ali, junto com alguns convidados de Lissa.

Eu estava lá fora, observando o glamour se desenrolar. Lissa não tinha feito

sua grande entrada ainda, então havia um baixo barulho de conversa. O salão era verde e dourado, tendo sido remodelado nos últimos dias, já que o costume dita que as cores da família do monarca dominavam a sala do trono. O trono em si estava mais afastado, acessível com degraus. Entalhado em madeira que eu

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não conseguia mais identificar, eu sabia que o trono é carregado pelo mundo pelos monarcas Moroi há séculos. As pessoas estavam se enfileirando em suas posições, se preparando para quando Lissa finalmente entrasse. Eu estava estudando um dos novos lustres, admirando o quão realistas as ‘velas’ pareciam. Eu sabia que elas eram elétricas, mas seu fabricante fez um trabalho incrível. Tecnologia mascarada à antiga gloria, como os Moroi gostam. Uma pequena cutucada chamou minha atenção.

“Ora, ora, ora,” eu disse. “Se não são as pessoas responsáveis por trazer

Rose Hathaway para o mundo. Vocês tem muito a que responder.” Meus pais estavam diante de mim em seu típico contraste de roupas. Minha

mãe usava a mesma roupa de guardiã que eu, uma camisa branca com mangas pretas e jaqueta. Abe era... bem, Abe. Ele usava um terno preto, com uma camisa preta por baixo. Em contraste com o preto, havia uma gravata verde limão. Um lenço combinando estava em seu bolso. Junto com seus brincos de ouro e correntes, ele também usava um fedora preto, que era uma nova adição ao seu guarda roupa. Eu acho que ele queria vir com tudo para esse evento, e pelo menos não era um chapéu de pirata.

“Não nos culpe,” disse minha mãe. “Não explodimos metade da Corte,

roubamos uma dúzia de carros, expusemos assassinos no meio de uma multidão ou fizemos nossa amiga adolescente virar rainha.”

“Na verdade,” disse Abe, “Eu explodi metade da Corte.” Minha mãe o ignorou, sua expressão suavizou enquanto me estudava com

aqueles olhos de guardiã. “Sério... como está se sentindo?” eu os vi brevemente depois que acordei, só o bastante para todos termos certeza que estávamos bem. “Você está de pé há muito tempo hoje. E eu já disse para Hans não te colocar em serviço por um tempo.”

Era uma das coisas mais maternais que ouvi ela dizer. “Eu... estou bem.

Muito melhor. Eu podia entrar em serviço agora mesmo.” “Você não fará tal coisa,” ela disse, exatamente no tom que ela usava para

dar ordens aos guardiões. “Pare de dar moleza para ela, Janine.” “Não estou dando moleza para ela! Estou cuidando dela. Você a está

mimando.”

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Eu olhei para ambos surpresa. Eu não sabia se estava testemunhando uma briga ou uma preliminar. Eu não estava feliz com nenhuma das opções. “Ok, ok, menos gente. Eu sobrevivi, certo? É isso que conta.”

“É,” disse Abe. Ele de repente pareceu muito paternal, o que eu estranhei

ainda mais do que o comportamento da minha mãe. “E apesar dos danos e as leis que você quebrou, estou orgulhoso de você.” Eu suspeitava que, em segredo, ele estava orgulhoso porque eu fiz essas coisas. Meu comentário sínico interior parou quando minha mãe interrompeu.

“Também estou orgulhosa de você. Seus métodos foram... não ideais, mas

você fez uma enorme coisa. Grandes coisas, eu acho. Encontrar tanto Jill quanto a assassina.” Eu notei como ela falou ‘assassina’ cuidadosamente. Eu acho que ainda é difícil para todos nós aceitar a verdade sobre Tasha. “Muita coisa aconteceu por causa de Jill.”

Todos nós olhamos para o pé do trono. Ekaterina estava em um lado,

pronta com o livro pelos quais aqueles da realeza fazem suas juras. No outro lado estava os membros da família do monarca – mas havia apenas uma pessoa ali. Jill. Alguém tinha feito um bom trabalho em deixar ela arrumada. Seu cabelo estava preso de forma elaborada, e ela usava um vestido que ia até o joelho com um colar, mostrando um pouco de seus ombros. O corte do vestido a beneficiou, o cetim verde escuro combinava com suas feições. Ela estava ereta, queixo erguido, mas havia uma ansiedade nela, que deixava óbvio por ela ter sido deixada sozinha.

Eu olhei de volta para Abe, que encontrou meus olhos cheios de

expectativa. Eu tinha muitas perguntas para ele, e ele era um dos poucos que poderia me dizer a verdade. A decisão era: que pergunta fazer? Era como ter um gênio. Só tinha alguns desejos.

“O que vai acontecer com Jill?” eu perguntei finalmente. “Ela vai voltar para

a escola? Eles vão treiná-la para ser princesa?” Lissa não podia ser tanto rainha quanto princesa, então seu velho título foi para o próximo membro mais velho da família.

Abe não respondeu por vários segundos. “Até Lissa mudar a lei – e com

sorte, ela vai – Jill é tudo que permite a ela continuar no trono. Se algo acontecer com Jill, Lissa não será mais rainha. Então, o que você fará?”

“Vou mantê-la segura.” “Então você tem sua resposta.”

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“É meio genérica,” eu disse. “Segura, significa muitas coisas.” “Ibrahim,” avisou minha mãe. “Chega. Essa não é a hora nem o lugar.” Abe segurou meu olhar um pouco mais e então deu um sorriso. “É claro, é

claro. Essa é uma reunião de família. Uma celebração. E vejam só: aqui está nosso novo membro.”

Dimitri se juntou a nós usando a mesma roupa branco e preta que minha

mãe e eu. Ele estava ao meu lado, conspicuamente não me tocando. “Sr. Mazur,” ele disse formalmente, acenando e cumprimentando ambos. “Guardiã Hathaway.” Dimitri vários anos mais velho que eu, mas naquele instante, encarando meus pais, ele parecia ser um adolescente que estava prestes a me pegar para um encontro.

“Ah, Belikov,” disse Abe, apertando a mão de Dimitri. “Estava esperando

que nos encontrássemos. Eu quero te conhecer melhor. Talvez possamos sentar para conversar uma hora dessas, aprender mais sobre a vida, amor, etc. Você gosta de caçar? Você parece um caçador. É isso que deveríamos fazer uma hora dessas. Eu conheço um excelente ponto na floresta. Muito, muito longe. Podemos chegar num dia. Eu certamente tenho muitas perguntas para te fazer. Muitas coisas para te dizer também.”

Eu dei um olhar cheio de pânico para minha mãe, silenciosamente a

implorando para parar isso. Abe passou a maior parte do seu tempo conversando com Adrian quando estávamos saindo, explicando com vividos detalhes exatamente como ele esperava que a filha de Abe fosse tratada. Eu não queria Abe falando sozinho com Dimitri na selva, especialmente se armas estavam envolvidas.

“Na verdade,” disse minha mãe casualmente. “Eu gostaria de ir junto. Eu

também tenho muitas perguntas – especialmente sobre quando vocês dois estavam em St. Vladimir.”

“Vocês não tem algum lugar para ir?” eu perguntei rapidamente. “Estamos

prestes a começar.” Isso, pelo menos, era verdade. Quase todos estavam em formação, e a

multidão se aquietou. “É claro,” disse Abe. Para minha surpresa, ele deu um beijo em minha testa antes de se afastar. “Fico feliz por você ter voltado.” Então, dando uma piscadela, ele disse para Dimitri: “Estou ansioso para nossa conversa.”

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“Corra,” eu disse quando eles se afastaram. “Se você der no pé agora, talvez eles não notem. Volte para a Sibéria.”

“Na verdade,” disse Dimitri, “Eu tenho certeza que Abe notaria. Não se

preocupe, Roza. Não tenho medo. Eu vou suportar qualquer problema que eles tragam por eu estar com você. Vale a pena.”

“Você realmente é o homem mais corajoso que eu conheço,” eu disse a ele. Ele sorriu, seus olhos caindo na pequena comoção perto da entrada do

salão. “Parece que ela está pronta,” ele murmurou. “Eu espero estar,” eu sussurrei em resposta. Com grande estilo, o Heraldo chamou atenção do salão. Um silêncio

perfeito tomou conta. Dava até para ouvir um coração batendo. O Heraldo saiu de frente da porta. “Princesa Vasilisa Sabina Rhea Dragomir.” Lissa entrou, e embora eu a tivesse visto menos de meia hora atrás, eu

fiquei sem fôlego. Ela estava usando um vestido formal, mas mais uma vez tinha tirado as mangas. Sem dúvidas a costureira o tinha ajustado. O vestido arrastava no chão, com uma saia de seda e camadas de chiffon que se moviam ao redor de Lissa enquanto ela ia para frente. O vestido era da mesma cor de jade dos seus olhos, assim como a parte de cima dele, com um colarinho cheio de esmeraldas que davam a ilusão de ser um colar. Esmeraldas combinando cobriam o cinto do vestido, e braceletes completavam o visual. Seu cabelo tinha um longo e escovado brilho, uma perfeição platina, uma aura para si.

Christian andava ao lado dela, um afiado contraste com seu cabelo preto e

terno escuro. Os costumes estavam sendo modificados significativamente hoje, já que um membro da família normalmente escoltaria Lissa, mas... bem, ela estava ficando sem. Até eu tinha que admitir que ele estava incrível, e seu orgulho e amor por ela brilhavam em seu rosto – não importava o quanto os sentimentos dele ficaram confusos por causa de Tasha. Lord Ozera, eu lembrei. Eu tinha a sensação que esse título se tornaria cada vez mais importante agora. Ele deixou Lissa na base do trono e então se juntou a delegação dos Ozera na multidão.

Ekaterina fez um pequeno gesto em direção a uma grande almofada de

cetim no chão, em frente aos degraus. “Ajoelhe-se.” Houve uma breve hesitação por parte de Lissa, uma que eu acho que só eu

notei. Mesmo sem o laço, eu estava tão ligada em seu humor e ações que eu

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conseguia captar essas coisas. Seus olhos caíram em Jill. A expressão de Lissa não mudou, e era tão estranho não saber seus sentimentos. Eu podia dar um palpite. Incerteza. Confusão.

De novo – a pausa durou apenas um segundo. Lissa se ajoelhou, espalhando

sua saia ao seu redor quando o fez. Ekaterina sempre pareceu tão frágil e enrugada no teste, mas enquanto estava com o antigo livro de coroação Moroi, eu podia ver o poder na antiga rainha.

O livro era em romano, mas Ekaterina traduziu sem esforços enquanto lia

em voz alta, começando com um discurso sobre o que era esperado de um monarca e os votos a qual Lissa juraria.

“Você servirá?” “Você protegerá seu povo?” “Você será justa?” Haviam doze, e Lissa tinha que responder “eu vou” três vezes a cada uma:

em Inglês, russo, e romano. Não ter o laço para confirmar seus sentimentos ainda era estranho, mas eu podia ver em seu rosto que ela falou sério a cada juramento. Quando isso terminou, Ekaterina chamou Jill. Já que eu não tinha notado a garota, alguém tinha dado a ela a coroa para segurar. Foi feita sob medida para Lissa, uma obra de arte em ouro branco e amarelo com esmeraldas e diamantes. Complementava sua roupa lindamente, e eu notei com surpresa, a de Lissa também.

Outra tradição era que o monarca era coroado por um membro de sua

família, e era esse o papel de Jill. Eu podia ver suas mãos tremendo enquanto ela colocava a coroa na cabeça de sua irmã, e seus olhares se encontraram brevemente. Um flash de emoções perturbadas passaram nos olhos de Lissa mais uma vez, desaparecendo rapidamente conforme Jill se afastava e o peso da cerimônia continuava.

Ekaterina estendeu sua mão para Lissa. “Erga-se,” ela disse. “Você nunca

mais se ajoelhará a alguém.” Segurando a mão de Lissa, Ekaterina virou para que as duas encarassem o resto do salão. Com uma voz surpreendente para seu pequeno corpo, Ekaterina declarou, “Rainha Vasilisa Sabina Rhea Dragomir, primeira de seu nome.”

Todos no salão – exceto Ekaterina – se ajoelharam, suas cabeças baixas.

Apenas alguns segundos passaram antes de Lissa dizer, “Levantem-se.” Me

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falaram que isso cabia ao monarca. Alguns reis e rainhas gostavam de fazer os outros se ajoelharem por muito tempo.

Uma papelada para assinar se seguiu, que eu observei obedientemente

também. Basicamente, era Lissa assinando que ela virou rainha enquanto Ekaterina e algumas testemunhas assinavam que viram Lissa ser rainha. Três copias eram o que a realeza Moroi amava. Uma era normal, que iria para os Alquimistas.

Quando as assinaturas terminaram, Lissa tomou seu lugar no trono, e ver

ascender aqueles degraus era de tirar o fôlego, uma imagem que ficaria comigo para o resto da minha vida. O salão quebrou em aplausos e torcidas quando ela sentou na ornamentada cadeira. Até os guardiões, que normalmente ficavam sérios, se juntaram aos aplausos e celebração. Lissa sorriu para todos, escondendo a ansiedade que sentia.

Ela escaneou o salão, e seu sorriso aumentou quando viu Christian. Ela

então me procurou. O sorriso dela para ele foi cheio de afeição; o meu foi cheio de humor. Eu sorri em resposta, me perguntando o que ela diria para mim se pudesse.

“O que é tão engraçado?” perguntou Dimitri, me olhando com diversão. “Só estou pensando sobre o que Lissa diria se ainda tivéssemos o laço.” Em uma terrível quebra de protocolo guardião, ele pegou minha mão e me

trouxe para perto dele. “E?” ele perguntou, me envolvendo num abraço. “Eu acho que ela iria perguntar ‘No que nos metemos?’” “E qual é a resposta?” Seu calor me envolveu, assim como seu amor, e de

novo, eu me senti completa. Eu tinha aquela peça perdida do meu mundo de volta. A alma que completava a minha. Meu parceiro. Meu igual. Não apenas isso, eu tinha minha vida de volta – minha própria vida. Eu protegeria Lissa, eu iria servir, mas eu finalmente era eu mesma.

“Eu não sei,” eu disse, me inclinando contra seu peito. “Mas acho que vai

ser bom.”

FIM!!!

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(ARQUIVO TRADUZIDO POR R & REVISADO POR CAAH)

Comunidade Vampire Academy Oficial http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=53433754

e

Traduções de Livros http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=25399156