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O buraco negro do capitalismo Roberta Traspadini Buracos negros Segundo os cientistas espaciais o buraco negro caracteriza- se por uma região no espaço cuja gravidade é tão intensa que até mesmo a luz não consegue escapar de sua força de sucção. Enigmático, misterioso e terrivelmente instigante o buraco negro nos permite ir além do já conhecido cientificamente e seguir nas trilhas da criatividade humana sobre o desvendar o ainda não conhecido. A terra também tem seu buraco negro. Ele é muito mais novo do que o buraco negro do espaço. No entanto, suas forças de sucção destrutivas são tão arrasadoras que o buraco negro terrestre - capitalismo - parece ter mais tempo de existência do que realmente tem. Ele é dissimulado, terrivelmente manipulador da consciência e se refere à destrutiva construção humana em sua relação com a natureza e os demais seres. Apesar de profundamente estudado pelos cientistas sociais, continua polêmico e questionável sobre seus bárbaros limites humanos e naturais, uma vez que mantém sua sucção sobre os frutos do trabalho e da natureza. Tem como característica a propriedade privada dos meios de produção. O que antes era livre e comum torna-se mercadoria com o fim de render altas margens de lucro a poucos indivíduos. Institui no lugar da igualdade, a desigualdade e sua superficial forma correlata, a liberdade condicionada pelo aparente direito à compra-venda dos corpos e da vida como um todo. Na atualidade, o buraco negro do capitalismo intensifica seus mutiladores mecanismos de sucção. Intensifica sua ação política sobre o Estado como corpo próprio, de classe, em sua histórica e indissociável força-tarefa de manutenção do poder capaz de reforçar legalmente a sucção realizada na estrutura da produção social de vida. A política do buraco negro des-monta direitos consolidados pelas lutas à luz das necessidades claras de manutenção obscura do poder pelos reais detentores do capital mundial, representados em cada

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O buraco negro do capitalismo

Roberta Traspadini

Buracos negros

Segundo os cientistas espaciais o buraco negro caracteriza-se por uma região no espaço cuja gravidade é tão intensa que até mesmo a luz não consegue escapar de sua força de sucção. Enigmático, misterioso e terrivelmente instigante o buraco negro nos permite ir além do já conhecido cientificamente e seguir nas trilhas da criatividade humana sobre o desvendar o ainda não conhecido.

A terra também tem seu buraco negro. Ele é muito mais novo do que o buraco negro do espaço. No entanto, suas forças de sucção destrutivas são tão arrasadoras que o buraco negro terrestre - capitalismo - parece ter mais tempo de existência do que realmente tem. Ele é dissimulado, terrivelmente manipulador da consciência e se refere à destrutiva construção humana em sua relação com a natureza e os demais seres. Apesar de profundamente estudado pelos cientistas sociais, continua polêmico e questionável sobre seus bárbaros limites humanos e naturais, uma vez que mantém sua sucção sobre os frutos do trabalho e da natureza. Tem como característica a propriedade privada dos meios de produção. O que antes era livre e comum torna-se mercadoria com o fim de render altas margens de lucro a poucos indivíduos. Institui no lugar da igualdade, a desigualdade e sua superficial forma correlata, a liberdade condicionada pelo aparente direito à compra-venda dos corpos e da vida como um todo.

Na atualidade, o buraco negro do capitalismo intensifica seus mutiladores mecanismos de sucção. Intensifica sua ação política sobre o Estado como corpo próprio, de classe, em sua histórica e indissociável força-tarefa de manutenção do poder capaz de reforçar legalmente a sucção realizada na estrutura da produção social de vida. A política do buraco negro des-monta direitos consolidados pelas lutas à luz das necessidades claras de manutenção obscura do poder pelos reais detentores do capital mundial, representados em cada país pelo aumento do número de sujeitos conservadores nas bancadas políticas nacionais.

O buraco negro do capitalismo nos possibilita entender e explicar os mais de 500 anos de sucção sobre América Latina e expõe o porquê de tanta riqueza popular e natural, resultar em tanta pobreza econômica e social. O continente latino, território de expressivas e milenares produções de vida e resistências, tem sido no tempo-espaço do buraco negro capitalista, um dos cenários de maior sangria social. Sua fragilidade advém de sua força; seus tristes corpos adoecem fruto da sucção alheia; suas crianças sonham com apenas sobreviver enquanto parte expressiva dos representantes políticos “democraticamente” eleitos, sentam para sua cotidiana santa ceia às custas do sangue latino.

Segundo o último relatório da PNUD 2014, 12% da população mundial passa fome crônica e 15% está vulnerável às várias formas de pobreza, para além da fome. Um bilhão e meio de pessoas vive com menos de U$1,25 dólares/dia, e 50% dos trabalhadores do mundo vivem com até US$2,50 dólares/dia. A PNUD/OIT reitera que existem 50 bilhões de trabalhadores que ganham menos de US$ 1,50 dólares/dias e 25 milhões ganham menos de US$1,25 dólares/dia. Explicita a pobreza eminente do Sul, mas esquece de relacioná-la com a riqueza concentrada e centralizada em poucas mãos

Autor desconhecido, 06/04/15,
Atualmente tais estudos estão em declínio...
Autor desconhecido, 06/04/15,
50% do quê?
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ao Norte, local em que territórios e povos também estão vulneráveis à sucção do buraco negro do capitalismo, ainda que a situação do mundo do trabalho e dos direitos sociais possam ser menos perversos no interior de alguns países.

O buraco negro puxa para o Norte. Agride o território do Sul através de suas formas-conteúdos de sucção das belezas/riquezas do Sul. Tal extração de valor(es) é o resultado histórico da vitória hegemônica dessa demoníaca força, cada vez menos oculta, da atrocidade humana sobre os territórios e povos: o capital. Assim, o que se vive nas reformas políticas de parte expressiva dos países da América Latina é o resultado histórico da vitória do buraco negro sobre a potencialidade humana criativa de pensar mecanismos para conter dita sucção.

Para além do buraco negro

As lutas dos povos latinos e do mundo foram nos últimos 515 anos determinadas pelas duras e desastrosas guerras orquestradas para as múltiplas mutilações, sucções do capital sobre o trabalho e sobre a terra. A trajetória histórica violenta de sucção evidencia, no século XXI, os limites de se disputar direitos sem se construir novos projetos societários, dada a condição dominante do capital de reverter as leis e projetar as idéias dominantes.

A luta por direitos protagonizada pelos povos tem perdido força exatamente porque a sucção do capital sobre o trabalho é muito maior. A fragilidade das lutas é o reverso da moeda da força do capital sobre elas. As armas da classe dominante possuem poder destrutivo massivo contra os povos (legislativo, executivo, judiciário, mídia, bancos, corporações).

O que de fato está em xeque é o projeto de sociedade, a consolidação de outra ordem que não a do progresso instituído pelos mentores do buraco negro do capital. Lutar por reformas - agrária, urbana, educativa e política -, exige revisitar o porquê de ditas lutas, demarcadas as mesmas pelo tipo de sociedade que se projeta no horizonte futuro, possível e realizável.

As reformas dentro da ordem mostram o quanto o capital ainda é capaz de sangrar o trabalho e a terra. É ante essa situação concreta de violência histórica que as lutas devem projetar outros caminhos necessários e possíveis em nossa América e no mundo. Em tempos de sucção, a única força centrífuga capaz de suportar a desordem histórica, é a organização, produção, coletiva e popular. Enquanto as lutas sociais estiverem centradas na disputa com o Estado do capital, por direitos, seu horizonte tende a ser a sucção já que sua força vai ser majoritariamente, despendida nisto. Legítimo, mas insuficiente. Em tempos de crises como o atual, é necessário ressignificar, nas lutas, o que é tático e o que é estratégico, tamanho o poder de sucção do capital sobre e contra o trabalho e a terra.

Para além do buraco negro do capital, há a criatividade coletiva dos trabalhadores do campo e da cidade, na América Latina e no mundo. É hora de recompor a tarefa coletiva de pensar sobre o que fazer frente ao que se tem, rumo ao que se necessita construir. É passada a hora de organizar coletivamente outro projeto que, irradiado nacionalmente, seja internacionalmente popular.

Autor desconhecido, 06/04/15,
Também existem ricos no Sul e pobreza no Norte.
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A ciência, ao criar respostas para determinados problemas, abre novas perguntas com base em novos pontos de partida investigativos. Como a política, a ciência e a vida cotidiana são espaços de disputa sobre o mundo que se tem e o que se quer. Todos estes espaços exigem uma releitura substantiva sobre os vários buracos negros existentes e a condição concreta dos seres sociais entenderem os limites e possibilidades de sua ação criativa sobre a natureza, os seres humanos e os demais seres vivos. É hora de contrarrestar a sucção com razão e sensibilidade postas em movimento para além do capital. O caminho é oo socialismo, única força centrífuga capaz de superar o buraco negro do capitalismo.