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VETERINRIA EM FOCORevista de Medicina Veterinria Vol. 5 - No 1 - Jul./Dez. 2007 ISSN 1679-5237Conselho editorial Prof. Dr. Adil K. Vaz (Univ. Estadual de Lages) Prof. Dr. Angelo Berchieri Jr. (UNSSP- Jaboticabal) Prof. Dr. Antonio Bento Mancio (UFMG) Prof. Dr. Carlos Tadeu Pippi Salle (UFRGS) Prof. Dr. Emerson Contesini (UFRGS) Prof. Dr. Francisco Gil Cano (Univ. Murcia/ Espanha) Prof. Dr. Franklin Riet-Correa (UFPEL) Prof. Dr. Joaquim Jos Ceron (Univ. Murcia/Espanha) Prof. Dr. Julio Otvio Jardim Barcellos (UFRGS) Prof. Dr. Luiz Alberto Oliveira Ribeiro (UFRGS) Prof. Dr. Luiz Cesar Fallavena (ULBRA) Profa. MSC Maria Helena Amaral (CRMV/RS) Prof. Paulo Ricardo Centeno Rodrigues (ULBRA) Dra. Sandra Borowski (FEPAGRO) Prof. Dr. Victor Cubillo (Univ. Austral do Chile) Prof. Dr. Waldyr Stumpf Junior (EMBRAPA) Secretaria do Curso de Medicina Veterinria ULBRA - Av. Farroupilha, 8001 - Canoas - Prdio 14 - Sala 125 CEP: 92425-900 - Fone/fax: 3477.9284 E-mail: [email protected] Carlos Gottschall: [email protected] Sergio Oliveira: [email protected] Editora da ULBRA Diretor - Valter Kuchenbecker Coordenador de peridicos - Roger Kessler Gomes Capa - Everaldo Manica Ficanha Editorao - Roseli Menzen Endereo para permuta Universidade Luterana do Brasil Biblioteca Central - Setor Aquisio Av. Farroupilha, 8001 - Prdio 05 CEP: 92425-900 - Canoas/RS, Brasil E-mail: [email protected] Solicita-se permuta We request exchange On demande l'change Wir erbitten Austausch Matrias assinadas so de responsabilidade dos autores. Direitos autorais reservados. Citao parcial permitida com referncia fonte.

Presidente Delmar Stahnke Vice-Presidente Joo Rosado Maldonado

Reitor Ruben Eugen Becker Vice-Reitor Leandro Eugnio Becker Pr-Reitor de Administrao Pedro Menegat Pr-Reitor de Graduao da Unidade Canoas Nestor Luiz Joo Beck Pr-Reitor de Graduao das Unidades Externas Osmar Rufatto Pr-Reitor de Pesquisa e Ps-Graduao Edmundo Kanan Marques Pr-Reitor de Desenvolvimento Institucional e Comunitrio Jairo Jorge da Silva Pr-Reitora de Ensino a Distncia Sirlei Dias Gomes Capelo Geral Gerhard Grasel Ouvidor Geral Eurilda Dias Roman VETERINRIA EM FOCO Disponvel eletronicamente no site www.editoradaulbra.com.br ou www.ulbra.br/veterinaria INDEXADORES AGROBASE - Base de Dados da Pesquisa Agropecuria (BDPA), CAB Abstracts, LATINDEX

Comisso editorial Prof. Ms. Carlos Santos Gottschall Profa. Dra. Norma Centeno Rodrigues Prof. Dr. Srgio Jos de Oliveira

Dados Internacionais de Catalogao na Publicao - CIP V586 Veterinria em foco / Universidade Luterana do Brasil. Vol. 1, n. 1 (maio/out. 2003). Canoas : Ed. ULBRA, 2003- . v. ; 27 cm. Semestral. ISSN 1679-5237 1. Medicina veterinria peridicos. I. Universidade Luterana do Brasil. CDU 619(05)

Setor de Processamento Tcnico da Biblioteca Martinho Lutero

Sumrio2 3 Editorial Artigos cientficos Parasitos gastrintestinais em veados (Mazama gouazoubira) de reas nativas no planalto de Santa Catarina, Brasil Sandra Mrcia Tietz Marques, Rosilia Marrinho de Quadros, Marcelo Mazzolli, Jairo Ramos de Jesus Enteroparasitos de ces: prevalncia e conhecimento dos proprietrios sobre fatores epidemiolgicos Luciane Dubina Pinto, Sandra Mrcia Tietz Marques, Lorena Eva Bigatti, Flvio Antnio Pacheco de Araujo Melanoma oral maligno em cadela - relato de caso Silvio Henrique de Freitas, Renata Gebara Sampaio Dria, Marco Aurlio Molina Pires, Fbio de Sousa Mendona, Lzaro Manoel de Camargo, Joaquim Evncio Neto Condrossarcoma nasal em co - relato de caso C. Gomes, E. Neuwald, E. B. Santos Junior, A. Pppl, M. P. Ferreira, J. Leal, E. A. Contesini, K. Magano Analgesia ps-operatria em descompresso medular cervical em ces reviso Viviane Shervesnquy Dubal, Jussara Zani Maia, Viviane Machado Pinto, Paulo Ricardo Centeno Rodrigues, Beatriz Guilhembernard Kosachenco Caracterizao das propriedades rurais para o risco da introduo do vrus da febre aftosa no rebanho gacho Maria da Graa Becker Dutra, Diego Viali dos Santos Criopreservao de smen bovino utilizando diluente base de PBS com trs diferentes percentuais de gema de ovo Paulo Ricardo Loss Aguiar, Juliana Brunelli Moraes, Eduardo Malschitzky, Anderson C. Silva Efeito da suplementao em pastagem de azevm sobre o desempenho reprodutivo de novilhas acasaladas aos 24 meses de idade Carlos Santos Gottschall, Leonardo Canali Canellas, Eduardo Tonet Ferreira, Pedro Rocha Marques, Hlio Radke Bittencourt Miopatia ps-anestsica em um eqino Renato Silvano Pulz, Karine Gehlen, Lizzie Dietrich, Daniela D. Delmor, Luis Antnio Scotti, Thase Lawall, Flvia Facin, Carla Pontali Sndrome metablica eqina: resistncia insulina Fernando Andrade Souza, Vicente Ribeiro do Vale Filho, Anali Linhares Lima, Igor Frederico Canisso, Erotides Capistrano Silva Normas editoriais

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EditorialO ano de 2007, em que a Universidade Luterana do Brasil completa seus 35 anos, se faz ainda mais especial para o Curso de Medicina Veterinria da Instituio. Afinal, este tambm o ano em que nosso curso inicia as comemoraes referentes ao seu 15 ano de implantao. Desde 1992, quando teve incio a preparao do projeto pedaggico, passando pelos anos de 1993 (primeiro vestibular), 1996 (inaugurao do Hospital Veterinrio), 1997 (primeira turma de formandos) e 2003 (lanamento da revista Veterinria em Foco) at o momento, so 20 turmas de Mdicos Veterinrios egressos de nossa Instituio, o que representa em torno de 500 profissionais atuando no mercado de trabalho. Neste ano, o Hospital Veterinrio da ULBRA recebeu o prmio DESTAQUE, concedido pela Sociedade de Veterinria do Rio Grande do Sul (SOVERGS), por sua atuao na comunidade e pela qualidade de seus servios. Na mesma ocasio, um dos professores do Curso de Medicina Veterinria, prof. Dr. Srgio J. de Oliveira, tambm membro do corpo editorial da revista Veterinria em Foco, recebeu a mesma premiao, por sua reconhecida contribuio profisso. As celebraes dos 35 anos da ULBRA e do 15 ano de implantao do Curso de Medicina Veterinria, comemorando as conquistas ao longo desse perodo, so motivos de orgulho para todos ns, professores e alunos, que acompanhamos essa trajetria. A revista Veterinria em Foco, que nos ltimos cinco anos acompanhou com periodicidade essas conquistas, sada a Universidade Luterana do Brasil e o Curso de Medicina Veterinria.

Comisso Editorial

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Parasitos gastrintestinais em veados (Mazama gouazoubira) de reas nativas no planalto de Santa Catarina, BrasilSandra Mrcia Tietz Marques Rosilia Marrinho de Quadros Marcelo Mazzolli Jairo Ramos de JesusRESUMO Relata-se pela primeira vez, em cervdeos de zona rural do Estado de Santa Catarina, Sul do Brasil, a ocorrncia de parasitos trematdeos do gnero Paramphistomum e protozorios do gnero Eimeria. Os parasitos foram identificados pelas tcnicas de Sheather e de Giro e Ueno. Os dados apresentados so preliminares para a verificao geral dos parasitos de cervdeos nesta rea geogrfica. Palavras-chave: Cervidae. Mazama gouazoubira. Veado-vir. Parasitos. Paramphistomum. Eimeria.

Gastrintestinal parasites in gray brocket deer (Mazama gouazoubira) from rural areas in planalt region to Santa Catarina, BrazilABSTRACT This is the first report of occurrence of Paramphistomum and Eimeria in gray brocket deer (Mazama gouazoubira) in a rural region in Santa Catarina, southern Brazil. The parasites were detected by the methods of Sheather and Giro and Ueno. The results regarding the detection of parasites in deer in this geographic region are still preliminary. Key words: Cervidae. Mazama gouazoubira. Gray brocket deer. Parasites. Paramphistomum spp. Eimeria.

INTRODUOO desenvolvimento de diversos modelos para mapear doenas nas espcies animais tem evoludo nos ltimos anos. Sistemas de informao geogrfica,

Sandra Mrcia Tietz Marques Mdica Veterinria, Profa. MSc, Dra. Laboratrio de Protozoologia da Faculdade de Veterinria da UFRGS Porto Alegre/RS. Rosilia Marrinho de Quadros Mdica Veterinria e Biloga Profa. MSc. Centro de Cincias Biolgicas e da Sade UNIPLAC/Lages/SC. Marcelo Mazzolli Bilogo, Prof. MSc, Dr. Centro de Cincias Biolgicas e da Sade UNIPLAC/Lages/SC. Jairo Ramos de Jesus Mdico Veterinrio, MSc em Doenas Parasitrias, Clnico Autnomo Porto Alegre/ RS. Endereo para correspondncia: Sandra Mrcia Tietz Marques, Rua Aneron Corra de Oliveira, 74, ap. 201, Bairro Jardim do Salso, Porto Alegre/RS. CEP: 91410-070. E-mail: [email protected]

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sensoriamento remoto e anlise espacial representam novas ferramentas para o estudo da epidemiologia. Sua aplicao na parasitologia tem avanado, em particular para estudar o padro temporal e espacial de doenas parasitrias, com a utilizao de captura de dados, mapeamento, anlise e caracterizao do meio ambiente que influenciam na distribuio dos parasitos, predio de ocorrncia e/ou sazonalidade, alm de tcnicas de modelagem especficas para o entendimento da ecologia destas doenas (PAOLINI et al., 2005). O objetivo deste trabalho foi identificar a presena e as espcies de cervdeos de ocorrncia no Planalto Serrano do Estado de Santa Catarina e iniciar um estudo sobre a ocorrncia de indicadores de doenas parasitrias de ruminantes domsticos e silvestres, com a utilizao do modelo GPS Geographic Position System. As coordenadas geogrficas foram obtidas na projeo mtrica de UTM, SAD 69 de latitude e longitude 6911976 e 576122, respectivamente. Estas coordenadas corresponderam fazenda Chapada Bonita, localizada no Municpio de Lages, Santa Catarina, situada na ecorregio da Floresta de Araucria, mas dominada sobretudo pela presena de campos nativos e indicativos da presena de cervdeos. Os cervdeos constituem um grupo de animais pertencentes Ordem Artiodactyla, Famlia Cervidae e encontram-se dispersos mundialmente em florestas, cerrados, campos, desertos e pntanos. Encontram-se distribudos em todo o territrio nacional, embora atualmente apresentem uma retrao em vrias reas de ocorrncia natural (BECHARA et al., 2000) Apesar disso, as perspectivas de explorao zootcnica dos cervdeos so promissoras, devido a sua facilidade de adaptao ao cativeiro, bem como possurem carne e produtos derivados do couro de excelente qualidade e de bom valor comercial (NASCIMENTO et al., 2000). Mazama gouazoubira ou veado-vir ou veado catingueiro como conhecido, um cervdeo de colorao marrom acinzentada, apresentando a cauda com colorao branca no lado inferior. Os chifres so pequenos e simples, com cerca de sete cm de altura, sendo que estes animais possuem, atrs dos olhos e nos garres, glndulas de cheiro caracterstico. As seis espcies do gnero Mazama encontradas primariamente nos bosques e florestas so distribudas atravs da Amrica Central e do Sul, onde fazem parte da cadeia alimentar de diversos felinos selvagens e inclusive do homem (EISENBERG e REDFORD, 1999; DEEM et al., 2004). Nesta regio geogrfica de estudo convivem ruminantes, bovinos e ovinos criados de forma extensiva, em reas de pasto nativo e rodeados de florestas nativas preservadas. Os poucos estudos de status sanitrio nestas espcies limitam-se a observaes em zoolgicos e em parques conservacionistas ou parques criatrios (BARRY et al., 2002). As maiores causas de doenas e mortalidade em cervdeos so as doenas parasitrias. Diversas espcies de helmintos e protozorios so capazes de parasitar muitas espcies de mamferos e ruminantes domsticos e silvestres, distribudos ao redor do mundo, com altas freqncias registradas em regies tropicais e subtropicais (RHEE et al., 1987; DEEM et al., 2004).

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Das parasitoses de importncia em ruminantes de explorao comercial, a paramfistomase, causada pelo trematdeo Paramphistomum cervi (P. cervi), considerada uma doena importante, com ampla distribuio geogrfica (RHEE et al, 1987; YILMA e MALONE, 1998). A distribuio espacial da paramfistomase uma funo da interao entre fatores ambientais biticos e abiticos. Para Nascimento et al. (2000), a concentrao de animais domsticos e silvestres em reas restritas de pastagens facilita o aumento da tenso ambiental de contaminao (ovos e larvas de helmintos), onde as condies ambientais so adequadas ao desenvolvimento e a sobrevivncia de formas prparasitrias, e facilitam a transmisso das infeces causadas por helmintos, principalmente nos animais silvestres. Hoeve et al. (1988), corroborativamente, sugeriram que a fauna parasitria do alce americano (Alces alces) pode ter sido influenciada pela presena de ruminantes domsticos nas mesmas reas de pastagem. Entretanto, relatos de helmintos e protozorios em cervdeos so escassos na literatura. Zajicek et al. (1976) detectaram P. cervi em um veado vermelho (Cervus elaphus), em rea de preservao na regio da Boemia, na repblica Tcheca. Pav et al. (1975), na mesma regio, relataram a ocorrncia de infeco associada de helmintos e protozorios gastrintestinais em cabrito montans (Roe deer) e gamo (Fallow deer), abatidos em estao de caa. Tendo sido observada a presena de Paramphistomum spp. e Eimeria alburnensis (E. alburnensis), E. faurei e E. ninaekoliakinovae. Em estudo sobre fauna helmntica de cervdeos na Bielorussia, Shimalov e Shimalov (2002) identificaram P. cervi e P. ichikawai infectando nove hospedeiros mamferos, dos quais seis eram alces (Alces alces) e trs eram veados vermelhos (Cervus elaphus). Com relao aos coccdeos, Conlogue e Foreyt (1984) relataram a inoculao experimental de oocistos de E. mccordocki em veado de rabo branco (Odocoileus virginianus), evidenciando um grande nmero de oocistos nas fezes aps a inoculao, inclusive nos animais assintomticos. As espcies E. mccordocki e E. madisonensis , foram isoladas por Abbas et al. (1987) de fezes de veado-mula (Odocoileus hemionus) na regio de Fort Collins, no Colorado, Estados Unidos. Alm dessas espcies, Forrester (1988) identificou em rea de preservao nacional no Sul da Flrida a espcie E. odocoilei, causando infeco simultnea com outras espcies, porm de baixa prevalncia. Outros estudos de infeco experimental por eimeirdeos em cervdeos, incluem as espcies Eimeria zuernii e E. wapiti. Com relao identificao de outros gneros de parasitos, foram detectados trematdeos, cestdeos, nematdeos e carrapatos em cervdeos do gnero Alces alces, abatidos no Canad, levantando a possibilidade da fauna parasitria dos cervdeos sofrerem influncia da fauna de outros cervdeos selvagens ou at mesmo de carnvoros (FOREYT e LAGERQUEST, 1994; HOEVE et al., 1988). Algumas novas espcies de eimerdeos foram detectadas em cervdeos, como a Eimeria ivensae e E. odocoilei, descritas por Lindsay et al. (1999) em veado do rabo branco, no Alabama, USA.

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MATERIAL E MTODOS Local do experimentoAtravs do monitoramento por GPS, foi selecionada como ponto de partida ao estudo a Fazenda Chapada Bonita, no Municpio de Lages, na regio do planalto serrano, Estado de Santa Catarina (Figura 1). Esta regio de clima subtropical, cuja temperatura mdia anual no passa de 16C; a altitude de 904m acima do nvel do mar. As coordenadas geogrficas so: latitude 27 e 48 sul e longitude 50 e 20 oeste.

FIGURA 1 Localizao das cidades plos regionais do Estado de Santa Catarina.

A mata araucria a vegetao predominante no Planalto Serrano. A floresta araucria freqentemente entrecortada por extensas reas de pastagens nativas. composta tambm de campos limpos, campos sujos e campos de inundao. A maior parte da vegetao formada por pastagem nativa, associada s espcies arbreas como vassouras e carqueja. A mata de araucria ocupa um espao superior, sendo as laurceas as espcies mais importantes no segundo extrato arbreo.

AmostrasAs coletas de fezes aconteceram nos locais de aparecimento do Mazama gouazoubira, indicados pelas armadilhas fotogrficas (Figura 2). O material biolgico (fezes) foi acondicionado em saco plstico, mantido em isopor com gelo e encaminhado ao Laboratrio de Parasitologia da Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC),6 Veterinria em Foco, v.5, n.1, jul./dez. 2007

em Lages. As fezes foram processadas pelas Tcnicas de Willis-Mollay (com soluo hipersaturada de cloreto de sdio), Sheather (centrfugo-flutuao com soluo hipersaturada de sacarose) e Giro e Ueno (Tcnica dos Quatro Tamises), descritas por Hoffmann (1987).

FIGURA 2 Foto de veado-vir obtida com armadilhas fotogrficas na Fazenda Chapada Bonita, Lages, SC. Foto de Marcelo Mazzolli.

RESULTADOS E DISCUSSONa visita fazenda, em 2005 foram identificados os cervdeos Mazama gouazoubira. Pela Tcnica de Sheather foram identificados oocistos de protozorios do gnero Eimeria spp e pela Tcnica de Giro e Ueno identificados ovos de trematdeos do gnero Paramphistomum (Figura 3). A Tcnica de Willis-Mollay apresentou resultado negativo para as amostras fecais examinadas.

FIGURA 3 Microfotografia de oocisto de Eimeria spp. e ovo de Paramphistomum spp (aumento 40X).

A identificao dos parasitos, tanto os protozorios como os trematdeos, comum em cervdeos de todo o mundo, bem como em ruminantes domsticos. Embora o presente estudo evidenciasse a presena de ovos e oocistos de parasitos

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gastrintestinais nas fezes de veados-vir, as fotografias mostraram animais em bom estado geral e as fezes apresentaram consistncia normal. Hoeve et al. (1988) sugeriram que a fauna parasitria do alce americano pode ter sido influenciada pela presena de ruminantes domsticos nas mesmas reas de pastagem. Nascimento et al. (2000) relataram que a possibilidade de parasitismo cruzado por helmintos de cervdeos para ruminantes domsticos controvertida. Enquanto Prestwood et al. (1975) destacaram que helmintos de cervdeos e de bovinos so distintos, McKenzie e Davidson (1987) relataram que espcies de helmintos de cervdeos so capazes de parasitarem ruminantes e muitas outras espcies de mamferos. Shimalov e Shimalov (2002), relataram que cervos das espcies Alces alces, Cervus elaphus e Capreolus capreolus, de ocorrncia na Bielorussia, apresentaram P. cervi, com prevalncia total de 92% para helmintos, onde quase todas as espcies registradas nestes cervdeos, tambm so conhecidas como parasitos de humanos, animais domsticos, como ces e gatos; e animais de produo, como bovinos, caprinos, ovinos e coelhos. Amparados e estimulados pelos relatos acima citados, outros estudos esto sendo executados, na populao do estudo, para obteno de dados sobre a prevalncia e a patogenicidade dos parasitos nesses cervdeos, alm de dados da fauna parasitria em ruminantes domsticos para avaliao de infeces cruzadas.

CONCLUSOForam identificados os mesmo parasitos, helmintos e protozorios, j descritos em cervdeos em outras regies do planeta. Entretanto, uma avaliao a partir de um plano amostral mais amplo corroboram para a importncia de novos trabalhos no local, para se conhecer a patogenicidade e a dinmica da transmisso destes parasitos de animais silvestres para o gado e vice-versa, tanto para auxiliar no manejo e conservao de populaes de cervdeos, quanto para a aprimorar a produo pecuria.

REFERNCIASABBAS, B.; POST, G.; MARQUARDT, W.C. Merogony and gametogony of Eimeria mccordocki (Protozoa-Eimeriida) in the mule deer, Odocoileus hemionus. Veterinary Parasitology, v.24, n.1-2, p.1-5, 1987. BECHARA, G. H. et al. Ticks associated with wild animals in the Nhecolndia Pantanal, Brazil. Annals of The New York Academy of Science, v.916, p.289, 2000. BARRY, T. N.; HOSKIN, S. O.; WILSON, P. R. Novel forages for growth and health in farmed deer. New Zeland Veterinary Journal, v.50, n.6, p.244-251, 2002. CONLOGUE, G. C.; FOREYT, W. J. Experimental infections of Eimeria mccordocki (Protozoa, Eimeriidae) in white-tailed deer. Journal of Wildlife Diseases, v.20, n.1, p.31-33, 1984. DEEM, S. L. et al. Disease survey of free-ranging grey brocket deer (Mazama gouazoubira) in the Gran Chaco, Bolivia. Journal of Wildlife Diseases, v.40, n.1, p.92-98, 2004.

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EISENBERG, J. F.; REDFORD, K. H. Mammals of the neotopics, the central neotropics, v.3, Equator, Peru, Bolivia, Brazil. University of Chicago Press, Chicago, Illinois, 1999, 609p. FOREYT, W. J.; LAGERQUEST, J. E. Experimental infections of Eimeria wapiti and E. zuernii-like oocysts in Rocky Mountain elk (Cervus elaphus) calves. Journal of Wildlife Diseases, v. 30, n. 3, p. 466-469, 1994. FORRESTER, D. J. Intestinal coccidian of white-tailed deer in southern Florida. Journal of Wildlife Diseases, v.24, n.2, p.369-370, 1988. HOEVE, J.; JOACHIM, D. G.; ADDILSON, E. M. Parasites of moose (Alces alces) from a agricultural area of eastern Ontario. Journal of Wildlife Diseases, v.24, n.2, p.371-374, 1988. HOFFMANN, R. P. Diagnstico de parasitismo veterinrio. 1.ed, Sulina ed., Porto Alegre, 1987, 156p. LINDSAY, D. S.; UPTON, S. J.; HILDRETH, M. B. Descriptions of two new species of coccidia (Protozoa:Eimeriidae) and redescriptions of Eimeria ivensae and Eimeria odocoilei from captive white-tailed deer, Odocoileus virginianus. Journal of Parasitology, v.85, n.6, p.1120-1125, 1999. McKENZIE, M. E.; DAVIDSON, W. R. Helminths parasites of intermingling axis deer, wild swine and domestic cattle from the island of Molokai Hawaii. Journal of Wildlife Diseases, v.25, n.2, p.253-257, 1987. NASCIMENTO, A. A. et al. Infeces naturais em cervdeos (Mammalia: Cervidae) procedentes dos Estados do Mato Grosso do Sul e So Paulo, por nematdeos Trichostrongyloidea Cram, 1927. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science. [online]. 2000, v.37, n.2 [citado 04 jun. 2006], p.00-00. Disponvel em: . PAOLINI, L.; SEBILLO, M.; CRINGOLI, G. Geographical Information Systems and on-line GIServices for health data sharing and management . Parassitologia, v.47, n.1, p.171-175, 2005. PAV, J.; ZAJICEK, D.; DVORAK, M. Clinical examination of the blood of roe deer (Capreolus capreolus L.) and fallow deer (Dama dama L.) naturally invaded by parasites. Veterinary Medicine (Praha), v.20, n.4, p.215-221, 1975. PRESTWOOD, A. K. et al. Helminths parasitisms among intermingling insular papulations of white-tailed deer, feral cattle and feral swine. Journal of American Veterinary Medicine Association, v.166, n.1, p.787-789, 1975. RHEE J. K; KIM Y. H.; PARK B. K. The karyotype of Paramphistomum cervi (Zeder, 1790) from Korean cattle. Kisaengchunghak Chapchi., v. 25, n. 2, p.154-158, 1987. SHIMALOV, V. V.; SHIMALOV, V. T. Helminth fauna of cervids in Belorussian Polesie. Parasitology Research, v.89, p.75-76. Springer-Verlag. 2002. Disponvel em: http:// springerlink.com.media. Acesso em 05/05/2007. YILMA J. M.; MALONE J. B. A geographic information system forecast model for strategic control of fasciolosis in Ethiopia. Veterinary Parasitology, v.78, n.2, p.103-127, 1998. ZAJICEK, D. et al. Clinical examination of the blood of red deer (Cervus elaphus L.) naturally infected with parasites. Veterinary Medicine (Praha), v.21, n.1, p.27-33, 1976. Recebido em: jun. 2007 Aceito em: set. 2007

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Enteroparasitos de ces: prevalncia e conhecimento dos proprietrios sobre fatores epidemiolgicosLuciane Dubina Pinto Sandra Mrcia Tietz Marques Lorena Eva Bigatti Flvio Antnio Pacheco de AraujoRESUMO Este trabalho determinou a prevalncia de parasitos gastrintestinais de ces e o conhecimento dos proprietrios sobre tpicos relacionados verminose. Foram aplicados 72 questionrios para a enqute epidemiolgica e 53 proprietrios enviaram fezes de seus ces para exame parasitolgico. A anlise das fezes mostrou uma prevalncia de 52,8% (28/53) de parasitos gastrintestinais com 74,2% (23/31) em filhotes e 22,7% (5/22) em adultos e predomnio de Isospora spp. e Giardia sp., alm de Dipylidium sp. e Ancylostoma sp. A anlise do questionrio mostrou que 75,9% (54/72) dos proprietrios de ces transitam com eles em locais pblicos; 87,9% (63/72) tem informaes sobre transmisso de endoparasitoses; 97,6% (70/72) executam tratamento anti-helmntico prescrito por mdico veterinrio e 77,1% (55/72) recolhem as fezes dos ces; 83,1% (58/72) sabem da transmisso de ovos ou larvas parasitrias pela gua, alimentos e solo e 50,6% (36/72) por outros animais, 31,3% (22/72) por pessoas e animais, 20,5% (14/72) por insetos e 2,4% (2/72) desconhecem como ocorre a transmisso de verminose. Do total, 2,4% (2/72) oferecem carnes cruas, alm de rao e comida caseira para os ces. Campanhas informativas e a realizao peridica de exames parasitolgicos, com determinao de espcies e cargas parasitrias mais prevalentes, so necessrias para o controle destas enfermidades. Palavras-chave: Helmintos. Protozorios. Ces. Proprietrios. Epidemiologia.

Enteroparasites in dogs: Prevalence and owners knowledge about epidemiological factorsABSTRACT This study determined the prevalence of gastrointestinal parasites in dogs and the owners knowledge about worm infections. A total of 72 questionnaires were applied for the

Luciane Dubina Pinto Mdica Veterinria, Mestranda Faculdade de Medicina Veterinria, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Sandra Mrcia Tietz Marques Doutora, Mdica Veterinria, Faculdade de Medicina Veterinria, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Lorena Eva Bigatti Mdica Veterinria Autnoma, MSc., Porto Alegre, RS. Flvio Antnio Pacheco de Araujo Professor Doutor Faculdade de Medicina Veterinria, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Endereo para correspondncia: Dra. Sandra Mrcia T. Marques Rua Aneron Correa de Oliveira, 74/201, Bairro Jardim do Salso, Porto Alegre/RS. CEP: 91410-070. E-mail: [email protected]

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epidemiological survey and 53 owners collected stool samples from their dogs and sent them for parasitological examination. Stool examination showed a prevalence of 52.8% (28/53) of gastrointestinal parasites with 74.2% (23/31) in puppies and 22.7% (5/22) in adults and predominance of Isospora spp. and Giardia sp., in addition to Dipylidium sp. and Ancylostoma sp. The survey revealed that 75.9% (54/72) of owners walk their dogs in public places; 87.9% (63/72) have information about the transmission of endoparasitic infections; 97.6% (70/72) treat their dogs with anthelmintics prescribed by a veterinarian doctor and 77.1% (55/72) pick up the stools of their dogs; 83.1% (58/72) are aware of the transmission of eggs or larvae by the water, foods and soil and 50.6% (36/72) by other animals, 31.3% (22/72) by people and animals, 20.5% (14/72) by insects, whereas 2.4% (2/72) do not know how transmission occurs. Among all owners, 2.4% (2/72) feed their dogs raw meat, in addition to dog food and homemade food. Informational campaigns and regular parasitological tests, with the identification of the most prevalent species and parasitic loads are necessary for the control of these diseases. Key words: Helminths. Protozoa. Dogs. Owners. Epidemiology.

INTRODUOO nmero crescente de ces de companhia, principalmente nas grandes cidades, tem estreitado o contato entre homem e animais, aumentando a exposio a agentes de zoonoses como bactrias, fungos e parasitos, com muitas delas de carter emergente (McCARTHY; MOORE, 2000; SANTOS et al., 2002). Ces so importantes reservatrios de parasitos contaminando locais pblicos, entre estes aqueles freqentados por crianas, como parques e caixas de areias, expondo outros animais e o homem a um maior risco de infeco (MUNDIM et al. 2003). Os parasitos gastrintestinais de ces domsticos so importantes como espoliadores de nutrientes, constituindo uns dos principais fatores de atraso no seu desenvolvimento. Os parasitos adultos vivem fixados na mucosa do intestino delgado e grosso, provocando sinais clnicos como diarria sanguinolenta, anemia, anorexia, vmitos, convulses, desidratao e se no tratados levam os animais ao bito. So de importncia em Sade Pblica como agentes causadores de zoonoses: Toxocara canis, responsvel pela larva migrans viceral; Ancylostoma braziliense, causador da larva migrans cutnea e Giardia sp. responsvel pela diarria dos viajantes (MUNDIM et al., 2003; ARRUDA et al., 2005). Bartmann et al. (2004) relataram uma frequncia de 38% de ces positivos para giardase, 22% deles menores de 12 meses, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Capuano et al. (2006), em Ribeiro Preto, So Paulo, avaliaram a ocorrncia de parasitos em fezes de ces , constatando uma positividade para Isospora spp. de 3,3%. Arruda et al. (2005) relataram prevalncia de 26% de Giardia sp. em crianas de uma escola de educao bsica municipal, determinando tambm que 19% de seus ces apresentaram giardase nas amostras de fezes processadas. Em cans do Japo, Itoh et al. (2005) obtiveram de 361 amostras de fezes de ces, uma positividade de 37,4% para Giardia intestinalis, com prevalncia em filhotes de 54,5% e de 30,9% em adultos, sem diferena entre machos e fmeas e entre filhotes de mes positivas e negativas.

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Lopez et al. (2006) relataram que de 972 amostras fecais de ces, 22% foram positivas para Giardia intestinalis; 11% para Toxocara canis; 9% para Isospora spp.; 2% para Dipylidium caninum e 2% para ancilostomdeos, constatando que 48% destes parasitos tem um alto potencial zoontico. Fontanarrosa et al. (2006) detectaram em 2.193 amostras de fezes caninas, prevalncia de 52,4%, com 13% de positivos para Ancylostoma caninum, 12% para Isospora ohioensis; 11% para Toxocara canis; 9% para Giardia duodenalis; 3% para Isospora canis; 0,8% para Dipylidium caninum, sem diferena entre machos, fmeas e as vrias raas examinadas. Entre ces filhotes (1 ano) a diferena foi significativa com 62,7% e 40,8%, respectivamente para filhotes e adultos. Este trabalho avalia a prevalncia de parasitos gastrintestinais de ces atendidos em clnicas veterinrias na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul e o conhecimento dos proprietrios sobre tpicos relacionados epidemiologia das parasitoses.

MATERIAL E MTODOSNo perodo de 3 meses, compreendido entre os meses de abril a junho de 2006, 72 proprietrios de ces que levaram seus animais para consulta de rotina, concordaram em responder um questionrio sobre parasitoses. As questes eram do tipo abertas e fechadas, permitindo respostas dicotmicas e respostas mltiplas. O questionrio avaliou informaes sobre os seguintes critrios: conhecimento sobre parasitoses dos animais, vias de transmisso, tratamento anti-helmntico, tipo de alimentao e ambientes freqentados pelos animais. Dos 72 proprietrios, 53 enviaram amostras de fezes dos ces para investigao parasitolgica, no mesmo perodo das entrevistas. As amostras fecais foram encaminhadas a laboratrios de anlises clnicas conveniados e processadas pelas tcnicas de WillisMollay; Dennis, Stones e Swanson; tcnicas de Sheather e de Faust e cols.

RESULTADOS E DISCUSSODe 72 questionrios respondidos, a prevalncia foi de: 75,9% (54/72) dos proprietrios de ces transitam em locais pblicos com seus animais; 87,9% (63/72) tem informaes sobre transmisso de endoparasitoses; 97,6% (70/72) executaram tratamento anti-helmntico receitado pelo mdico veterinrio e 77,1% (55/72) recolhem as fezes dos animais. Quanto s formas de transmisso, 83,1% (58/72) de donos de ces relataram ter informaes da veiculao de formas parasitrias (ovos ou larvas) pela gua, alimentos e solo, principalmente em praas pblicas; 50,6% (36/72) relataram conhecimento da transmisso de parasitos por outros animais; 31,3% (22/72) por pessoas e animais; 20,5% (14/72) por insetos e 2,4% (2/72) relataram desconhecer qualquer forma de transmisso de verminoses. Do total, 2,4% (2/72) oferecem carnes cruas, alm de rao e comida caseira.

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As anlises das fezes mostraram uma prevalncia geral de parasitos gastrintestinais de 52,8% (28/53). Para os filhotes a prevalncia foi de 74,2% (23/31) e para os adultos 22,7% (5/22). Os gneros parasitrios encontrados foram: Isospora spp.; Giardia sp.; Toxocara sp.; Dipylidium sp.; Ancylostoma sp. Na Tabela 1 observase os percentuais de parasitos encontrados, por faixa etria, nos caninos domiciliados.TABELA 1 Prevalncia de parasitos gastrintestinais em ces, clientes de clnicas veterinrias, da cidade de Porto Alegre, RS, no perodo de abril a junho de 2006.Parasitos Ces < 1 ano (n=31) N absolutos Isospora spp. Giardia sp. Toxocara sp. Ancylostoma sp. Dipylidium caninum Poliparasitados Isospora spp. + Toxocara sp. Isospora spp. + Giardia sp. Giardia sp. + Toxocara sp. Negativo 8 25,8 1 2 3,22 6,45 1 17 4,54 77,28 6 10 2 1 1 % 19,35 32,25 6,45 3,22 3,22 Ces > 1 ano (n=22) N absolutos 3 1 % 13,64 4,54 -

A freqncia encontrada neste estudo equivalente a de outras regies do Brasil. O resultado encontrado para Giardia sp. em ces filhotes (< 1 ano) semelhante ao determinado por Mundim et al. (2003), porm superior ao trabalho de Lopes et al. (2001) que relataram prevalncia de 6,6% para Giardia sp.. Rosez et al. (2002) observaram prevalncias de Giardia sp. em animais jovens, variando de 26 a 50%. Lopez et al. (2006) e Fontanarrosa et al. (2006) relataram prevalncia entre 9% a 12% para Isospora spp., valor inferior ao detectado nesta investigao. Do mesmo modo, Capuano et al. (2006) constataram prevalncia de 3,3% para Isospora spp. Vrios autores demonstraram no Brasil altos ndices de infeco por helmintos, que alcanaram valores de at 70%. Castro et al. (2005) relataram, na regio de Praia Grande, So Paulo, ndices de 46% para Ancylostoma sp. e 1% para Toxocara sp.. Blazius et al. (2005) mostraram uma prevalncia de 70,9% para Ancylostoma spp., 14,5% para Toxocara canis, 6,3% para Isospora spp. e 1,9% para Dipylidium caninum. Vasconcellos et al. (2006), demonstraram uma positividade de 34,8% para Ancylostoma caninum, 8,8% para Toxocara canis, 3,4% para Dipylidium caninum e 1,5% para Giardia sp.

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CONCLUSESO resultado do presente trabalho demonstrou que, apesar de sua amostra ser pequena, a prevalncia foi elevada para Giardia sp. e Isospora spp. O ndice de infeco em filhotes foi alto, observando que os ces aqui analisados vivem em ambientes fechados, propiciando uma fonte de auto-infeco permanente. A orientao dada pelo clnico aos proprietrios de ces de que filhotes de at quatro meses de idade no possuem o sistema imune ainda bem desenvolvido, devendo, portanto, evitar passeios e contatos com outros animais, por isso pouco saem rua para defecar. Neste caso, eles so obrigados ao convvio maior com suas fezes e, conseqentemente autocontaminao. Diferentemente, os ces com mais idade, que saem com seus proprietrios rua, no tem um contato prolongado com suas fezes, como foi demonstrado neste trabalho, onde 77,1% dos donos recolhem os dejetos de seus animais. A prtica higinica da coleta de fezes em reas pblicas concorre positivamente na reduo da contaminao ambiental. Entretanto, 22,9% (16) no recolhem as fezes de seus ces, o que acarreta risco sade pblica, alm da ocorrncia de grande nmero de ces vadios encontrados nas cidades brasileiras. Estes ces tornam-se fonte constante de parasitos e outras doenas infecciosas. A maioria dos proprietrios de ces tem informaes sobre verminoses. Campanhas informativas e a realizao peridica de exames parasitolgicos, com determinao de espcies e cargas parasitrias mais prevalentes, so necessrias para o controle destas enfermidades.

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Melanoma oral maligno em cadela relato de casoSilvio Henrique de Freitas Renata Gebara Sampaio Dria Marco Aurlio Molina Pires Fbio de Sousa Mendona Lzaro Manoel de Camargo Joaquim Evncio NetoRESUMO Um melanoma oral maligno foi diagnosticado aps exames clnico, radiogrfico, bipsia e histopatologia em uma cadela de 10 anos de idade. Aps 14 dias da exrese cirrgica da massa tumoral houve recidiva e aps eutansia verificou-se metstase em vrios rgos. Palavras-chave: Co. Melanoma oral maligno. Metstase.

Malignant oral melanoma in a bitch case reportABSTRACT A malignant oral melanoma was diagnosed after clinical, radiological, biopsy and histopathological exams in a 10 years old bitch. After 14 days of the tumoral mass surgical exeresis there was observed return and multifocal metastasis were found after euthanasia. Key words: Dog. Oral malignant melanoma. Metastasis.

INTRODUOMelanoma oral maligno a neoplasia mais diagnosticada da cavidade bucal do co (CHENIER, 1999), sendo a gengiva o local de maior incidncia (JONES et al., 1997; SMITH, 1997; FONSSUM, 1997; RAMOS-VARA, 2000). Os tecidos sseos adjacentes normalmente so infiltrados pelo tumor, resultando em lise e consequentemente perda

Silvio Henrique de Freitas Professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinria da Universidade de Cuiab UNIC. Renata Gebara Sampaio Dria Professora do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinria da Universidade de Cuiab UNIC. Marco Aurlio Molina Pires Professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinria da Universidade de Cuiab UNIC. Fbio de Sousa Mendona Professor do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina Veterinria da Universidade de Cuiab UNIC. Lzaro Manoel de Camargo Professor do Departamento de Clnica da Faculdade de Medicina Veterinria da Universidade de Cuiab UNIC. Joaquim Evncio Neto Professor do Departamento de Morfologia e Fisiologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco UFRPE. Endereo para correspondncia: Hospital Veterinrio UNIC. Rua Itlia S/N. Cuiab, MT. Bairro Jardim Europa. CEP 78065-420. Silvio Henrique de Freitas. E-mail: [email protected]

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de dentes (SMITH, 1997; FONSSUM, 1997). Os melanomas orais malignos normalmente acometem animais de pequeno porte, do sexo masculino, adultos e principalmente os com mucosa bucal pigmentada (HOWARD, 1998; RAMOS-VARA, 2000). uma neoplasia altamente metasttica, com predileo pelos linfonodos regionais, pulmes e raramente em outros rgos (LODDING et al., 1990; MACEWEN, 1990; SMITH, 1997; HOWARD, 1998; KLAUSNER e HARDY, 1998; MODIANO et al., 1999; RAMOSVARA, 2000; FONSSUM, 1997; SPUGNINI et al., 2006). Apresenta colorao que pode variar do branco (melanoma amelantico) ao marrom escuro, tendendo a preto (melanoctico), consistncia firme e bastante vascularizado (SMITH, 1997; FONSSUM, 1997; SULAIMON e KITCHELL, 2001), sendo os diagnsticos diferenciais carcinoma, fibrossarcoma, sarcoma, linfoma e outros tumores osteognicos (PATNAIK, 1986; NAKHLEH et al., 1990; HOWARD, 1998; KLAUSNER e HARDY, 1998; RAMOS-VARA, 2000). O exame histopatolgico fundamental para definir o diagnstico e estabelecer o protocolo teraputico (SMITH, 1997; RAMOS-VARA, 2000). A exrese cirrgica continua sendo o tratamento eletivo (HOWARD, 1998; SMITH, 1997). O prognstico do melanoma oral maligno bastante desfavorvel, sendo alta a taxa de mortalidade (HOWARD, 1998). Relata-se a ocorrncia de melanoma oral maligno em cadela, com recidiva e metstase em vrios rgos.

RELATO DE CASOUma cadela sem raa definida, 10 anos de idade, pesando 11,5 kg foi atendida no Hospital Veterinrio da Universidade de Cuiab/MT, apresentando inapetncia e aumento de volume na regio lateral esquerda da face. Ao exame fsico da cavidade oral observou-se uma massa de colorao avermelhada, com reas enegrecidas, de consistncia firme, localizada na regio da maxila esquerda (Fig. 1A). Aps exame radiogrfico do trax, o animal foi submetido biopsia incisional. O fragmento de tecido neoplsico foi encaminhado para exame histopatolgico, que revelou melanoma oral maligno (Fig. 2). Decidiu-se pela exrese cirrgica do tumor. No 14 dia do pscirrgico, o proprietrio informou que no local da cirurgia havia surgido um novo tecido, de colorao avermelhada e que o animal apresentava dificuldade de se alimentar. No 43 dia aps a cirurgia, foi realizada eutansia do animal. necropsia, no exame macroscpico, notou-se aumento de volume na regio maxilar esquerda, com massa esbranquiada superficial, de consistncia firme, formato irregular, colorao avermelhada com reas acinzentadas e focos de necrose e que ao corte apresentava mltiplas reas enegrecidas irregulares infiltrando estruturas sseas adjacentes e reas de necrose contendo material enegrecido. O tumor primrio media aproximadamente 6,0 x 3,0 x 2,0 cm. Ao microscpio ptico, a neoplasia constitua-se de clulas extremamente pleomrficas, variando de fusiformes a clulas redondas. Tambm se observou uma variao na quantidade de melanina no citoplasma das clulas neoplsicas (fig. 2), onde se evidenciam clulas amelanticas. A tonsila esquerda apresentava-se com mltiplos ndulos de aproximadamente 2,5 x 1,0 x 0,5 cm, com reas esbranquiadasVeterinria em Foco, v.5, n.1, jul./dez. 2007 17

e enegrecidas (Fig.1 B). Os pulmes apresentavam-se com mltiplos ndulos enegrecidos, variando de 0,5 a 1,5 cm de dimetro na superfcie pleural e que ao corte penetravam ao parnquima (Fig. 1C). O fgado apresentava-se tambm com mltiplas reas brancas e enegrecidas com superfcie irregular, que ao corte se aprofundavam no parnquima. Observou-se na superfcie cortical do rim esquerdo uma massa enegrecida, circular, slida, medindo aproximadamente 1,0 x 0,8 x 0,6 cm (Fig. 1D). O exame microscpico evidenciou a presena de melancitos neoplsicos, exibindo figuras de mitoses atpicas, variao quanto quantidade de melanina citoplasmtica e pleomorfismo celular.

FIGURA 1 Massa neoplsica slida e de aspecto irregular do lado esquerdo da maxila (A); metstases sob a forma de neoplasias nodulares enegrecidas em tonsila esquerda (B); ndulos enegrecidos nos pulmes (C) e ndulo na crtex renal (D).

FIGURA 2 Fotomicrografia de corte histolgico de melanoma maligno pouco diferenciado, mostrando melancitos amelanocticos, anaplsicos, exibindo algumas figuras de mitoses (H&E, 40X).

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RESULTADOS E DISCUSSONeoplasias malignas derivadas dos melancitos da cavidade oral ocorrem comumente em ces, mas so raros em gatos (JONES et al., 2000). Os ces de raas Pointer, Weimaraner, Boxer e Cocker Spaniel possuem uma maior predisposio pelo melanoma oral maligno (GOLDSCHMIDT, 1985; DELVEDIER et al., 1991; RAMOSVARA et al., 2000), porm animais sem raa defendida tambm podem ser acometidos, como no caso relatado. Os animais geritricos e os de mucosa oral pigmentada so mais susceptveis ao melanoma oral maligno, que pode originar-se de vrios locais da cavidade bucal, sendo a gengiva o local mais comum (SMITH, 1997; JONES et al., 1997; HOWARD, 1998; MERCHANT, 1999), como evidenciado no animal em estudo. Neste relato de caso, no estgio em que a neoplasia foi notada pelo proprietrio, j havia ocorrido infiltrao dos tecidos adjacentes, lise de tecido sseo e metstase (LUCAS et al., 1994; KLAUSNER & HARDY, 1998; CHENIER & DORE, 1999; NARDI, 2001, SULAIMON & KITCHELL, 2001). Embora no pr-operatrio no tenha sido observada metstase pulmonar atravs de radiografia torcica, sabe-se que um resultado radiogrfico negativo do trax no elimina a possibilidade de disseminao tumoral, pois pequenos ndulos normalmente no so radiograficamente notados (KLAUSNER e HARDY, 1998). No presente caso, o melanoma oral maligno, foi confirmado atravs de exame histopatolgico do tecido neoplsico, onde foram observadas clulas tumorais caractersticas na massa oral, tonsila, fgado, pulmes e rim (NAKHLEH et al., 1990; SMITH, 1997; HOWARD, 1998; RAMOS-VARA, 2000). Scott et al. (1996) e Willensen (1998) relatam que nos melanomas as principais caractersticas histopatolgicas so assimetria da arquitetura nvica, margens irregulares, variao no tamanho, variao de pigmentao, apresentando tonalidades do preto ao castanho, vermelho e cinza e em certas ocasies so observadas zonas de hipopigmentao. Jones et al. (2000) descreve que as clulas tumorais observadas nos melanomas podem conter tanta melanina no citoplasma, que todas as caractersticas microscpicas, tanto do ncleo quanto do citoplasma, ficam preenchidas ou podem ser amelanticas. importante ressaltar que neste caso relatado, as metstases da tumorao amelantica primria originaram tumores melanticos, fato pouco relatado na literatura cientfica. Sendo assim, o aspecto microscpico pode variar de caso para caso e, no mesmo melanoma, de zona para zona (BRASILEIRO FILHO, 2006), portanto, tumores amelanticos e melanticos podem ser observados num mesmo animal (MARCELLINI et al., 2006). Outro aspecto interessante, ao contrrio do que foi observado no presente caso, os melanomas malignos, altamente agressivos e capazes de originar metstases, so com freqncia paradoxalmente pequena. Em ces, o melanoma oral maligno geralmente apresenta um prognstico mais sombrio do que os melanomas ocorrentes na pele (SMITH, 1997; HOWARD, 1998;

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LUCAS et al., 1994; MERCHANT,1999; JONES et al., 2000; SPUGNINI et al., 2006), sendo o tratamento mais efetivo a exciso cirrgica, que deve ser realizada com margem de segurana durante a fase inicial, pois medida que o tumor prolifera, aumenta seu poder metastsico (SULAIMON e KITCHELL, 2001), como pode ser observado no presente estudo onde ocorreu recidiva, infiltrao, lise dos tecidos adjacentes e metstase em vrios rgos.

CONCLUSOOs melanomas orais so neoplasias malignas de tratamento cirrgico precoce fundamental por serem altamente invasivos, metastticos e recidivantes.

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Condrossarcoma nasal em co relato de casoC. Gomes E. Neuwald E. B. Santos Junior A. Pppl M. P. Ferreira J. Leal E. A. Contesini K. MaganoRESUMO Tumores intranasais representam aproximadamente 1% de todos os tumores em ces. Geralmente ocorrem em animais velhos, mas no podem ser excludos do diagnstico diferencial em ces jovens. Os sinais clnicos geralmente so crnicos e refletem a natureza invasiva desses tumores. O presente relato descreve um caso de condrossarcoma nasal em um co sem raa definida, de 13 anos de idade, com histrico de aparecimento de massa nasal 1 ms antes, hiporexia, dispnia e sncopes. Aps contnuos episdios de desmaios, optou-se por exciso cirrgica na poro afetada, seguida de reconstruo com o uso de enxerto sseo autgeno de costela. O animal apresentou melhora significativa no quadro clnico, entretanto, no ps-operatrio foi a bito. necropsia, no se observaram metstases, entretanto os rins apresentavam alteraes, com um quadro compatvel com insuficincia renal crnica. Histopatologicamente foi firmado o diagnstico de condrossarcoma nasal. Palavras-chave: Tumor nasal. Oncologia. Reconstruo nasal.

Nasal chondrosarcoma in dog case reportABSTRACT Intranasal tumors account for approximately 1% of all neoplasms in dogs. These tumors are more common in old animals, but they cannot be excluded of the differential diagnosis in young dogs. The signs are usually chronic and they reflect the local invasive nature of those tumors. The present report describes a case of nasal chondrosarcoma in a mixed dog, 13 years old, with report of nasal mass about 1 month ago, hiporexy, dyspnea and syncope. After continuous syncope episodes, the surgical excision followed by reconstruction with the use of autogenous bony graft of rib was indicated. The animal presented significant improvement in the clinical signs in the next 4 days of the surgicalC. Gomes, E. Neuwald, A. Pppl, M. P. Ferreira e J. Leal so Mestrandos Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E. B. Santos Junior Doutorando Universidade Federal de Santa Maria. E. A. Contesini Docente Universidade Federal do Rio Grande do Sul. K. Magano Graduando Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Endereo para correspondncia: Av. Bento Gonalves, 9090; Porto Alegre/RS. E-mail: [email protected]

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procedure, however he had a sudden death in the fifth day. Metastasis was not founded, but the kidneys presented alterations, like chronic renal disease. The histophatologic exam detected nasal chondrosarcoma. Key words: Nasal tumor. Oncology. Nasal reconstruction.

INTRODUOCondrossarcomas nasais so neoplasias malignas cujas clulas produzem matriz cartilaginosa (COUTO, 2006). Os tumores nasais, geralmente, ocorrem em animais velhos, mas nenhuma predisposio racial foi consistentemente comprovada (FOX; KING, 1998; MORRIS; DOBSON, 2001; WHITE; LASCELLES, 2003; COUTO, 2006). Dentre os principais tumores nasais malignos esto os melanomas, linfomas, sarcomas e carcinomas, sendo que os ltimos representam aproximadamente dois teros das neoplasias nasais malignas, enquanto os sarcomas representam quase um tero delas (KING, BERGMAN; HARRIS; 1997; TUREK; LANA, 2007). Secreo nasal, espirros e obstruo da cavidade nasal so sinais clnicos associados a essa enfermidade que refletem a natureza invasiva desses tumores. Alm disso, pode ocorrer deformao dos ossos faciais, do palato duro ou da arcada dentria maxilar. Sinais neurolgicos, exoftalmia ou incapacidade de retrao do olho tambm podem ocorrer em conseqncia do crescimento do tumor para dentro do crnio ou rbita, respectivamente (FOX; KING, 1998; MORRIS; DOBSON, 2001; WHITE; LASCELLES, 2003; TUREK; LANA, 2007). A sobrevida sem tratamento, com cirurgia ou quimioterapia varia de 2 a 6 meses e freqentemente necessria a eutansia, em virtude de epistaxe persistente, anorexia e problemas neurolgicos ou respiratrios. A radioterapia pode fornecer melhor qualidade de vida para muitos animais, associado ou no a outras modalidades teraputicas. Alm disso, uma terapia bem tolerada pela maioria dos ces (KING, BERGMAN; HARRIS; 1997; KLEIN, 2003; MALINOWSKI, 2006; TUREK; LANA, 2007). Este trabalho tem o objetivo de relatar um caso de condrossarcoma nasal em um co.

RELATO DO CASOUm canino, macho sem raa definida, com 13 anos de idade foi atendido no Hospital de Clnicas Veterinrias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul com histrico de massa nasal h cerca de 1 ms (Figura 1), hiporexia, dispnia e sncopes. Ao exame clnico as mucosas estavam plidas e sua temperatura retal era 36,6C, entretanto, palpao abdominal e ausculta cardaca e pulmonar no foram detectadas alteraes. O paciente apresentava aumento de volume nasal de aproximadamente 4cm.

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FIGURA 1 Canino, macho, sem raa definida, com 13 anos de idade apresentando aumento de volume nasal.

O co ficou internado para a realizao de exames e para a estabilizao do quadro, com o uso de fluidoterapia (ringer lactato 40ml/kg/h), transfuso sangnea e antibioticoterapia (enrofloxacina 5mg/kg BID). No exame radiogrfico de trax e no eletrocardiograma no foram observadas alteraes, enquanto o exame sangneo revelou anemia e um leve aumento da creatinina srica. O animal continuou tendo episdios de sncope, quando se optou pela interveno cirrgica como nica alternativa de tratamento tentando estabilizar os episdios freqentes de sncope. Para a realizao do procedimento cirrgico, o paciente recebeu meperidina na dose de 3 mg/kg por via intramuscular como medicao pr-anestsica, sendo procedida a venclise, tricotomia da regio nasal e das ltimas cinco costelas do lado direito. A induo anestsica foi feita com propofol na dose de 3,5 mg/kg por via endovenosa, seguida de intubao orotraqueal e manuteno anestsica com isofluorano ao efeito. Primeiramente, foram coletados enxertos sseos da 11 e 12 costelas direita de aproximadamente 7cm com a inciso dorso ventral da pele e divulso do tecido subcutneo ao redor das costelas, sem perfurar a pleura (Figura 2). A osteotomia para remoo e para inciso longitudinal das costelas causando uma diviso em forma de dobradia moldada foi realizada com uma serra oscilatria. A musculatura foi suturada e o espao morto foi reduzido com fio inabsorvvel sinttico monofilamentar 3-0 em padro contnuo simples e na sutura da pele utilizou-se o mesmo fio com sutura interrompida simples. Removeu-se os tecidos adjacentes do enxerto com o auxlio do bisturi e o mesmo foi submerso em soluo de cloreto de sdio 0,9% at o momento de sua utilizao.

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FIGURA 2 Coleta do enxerto autgeno da 11 e 12 costela direita.

Aps, procedeu-se a remoo do tumor com inciso ao longo da linha mdia dorsal nas reas nasal e sinusal frontal e divulsionou-se o tecido ao redor do tumor. Como j havia lise ssea, foi realizada a osteotomia do osso nasal com o auxlio de uma goiva, proporcionando uma margem de segurana de 1cm em todas as direes. Depois de lavagem abundante com soluo salina com cloreto de sdio a 0,9%, iniciou-se a reconstruo no osso nasal com o enxerto de costela.

FIGURA 3 A) Divulso do tecido ao redor do tumor. B) Aspecto da cavidade nasal aps a resseco tumoral. C) Aparncia final aps a fixao do enxerto da costela. D) Aspecto do paciente aps a cirurgia.

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Foi colocado um enxerto em cada lateral da falha ssea e uma pequena poro removida do maior enxerto entre eles, para a ocluso do defeito. A fixao foi procedida com fio inabsorvvel sinttico monofilamentar 2-0. Aps foi realizada a reduo de espao morto com fio inabsorvvel sinttico monofilamentar com sutura contnua simples. A pele foi suturada com o mesmo fio e com padro simples interrompido (Figura 3). Aps o trmino da cirurgia, foi procedida a traqueostomia no co e administrado enrofloxacina na mesma dose e via anteriormente citada, cloridrato de tramadol na dose de 2 mg/kg por via subcutnea. O tratamento com enrofloxacina foi continuado durante os 5 dias no intervalo de 12 horas e o cloridrato de tramadol foi administrado durante 3 dias num intervalo de 8 horas. O paciente apresentou uma melhora clnica significativa, sem sncopes, voltando a se alimentar normalmente, porm cinco dias aps a cirurgia, o paciente teve morte sbita. A necropsia no revelou metstases, entretanto os rins apresentaram alteraes, com um quadro compatvel com insuficincia renal crnica. O exame histopatolgico do tumor revelou condrossarcoma nasal.

DISCUSSO E CONCLUSOOs tumores nasais acometem, geralmente, ces machos de mdio a grande porte, assim como relatado neste caso (FOX e KING, 1998; MORRIS e DOBSON, 2001; TUREK e LANA, 2007). Entretanto, h referncias de que condrossarcomas ocorram em animais mais jovens (FOX e KING, 1998; MALINOWKI, 2006), diferente do animal em questo. Os sinais clnicos presentes neste paciente, tais como, deformidade nasal, dificuldade respiratria e hiporexia, condizem com os sinais descritos na literatura (FOX e KING, 1998; MORRIS e DOBSON, 2001; WHITE e LASCELLES, 2003; TUREK e LANA, 2007). As metstases em ces so raras, entretanto elas podem ocorrer principalmente nos linfonodos e nos pulmes (MALINOWKI, 2006). Tambm citada metstase bilateral renal em um co com condrossarcoma nasal (HAHN, MacGAVIN, ADAMS, 1997). A utilizao da cirurgia isoladamente no aumenta a sobrevida do animal, pois a invaso ssea do tumor ocorre muito cedo e a obteno de margens de segurana ao redor da neoplasia raramente alcanada. A mdia de sobrevida de ces tratados somente com cirurgia de 3 a 6 meses (MALINOWKI, 2006; TUREK e LANA, 2007). Neste caso, optou-se pela cirurgia por ser a nica opo de tratamento disponvel. Alm disso, as freqentes sncopes ocasionadas pelo tumor levaram a necessidade de uma interveno cirrgica como tentativa de amenizar o quadro do paciente. O tratamento mais efetivo para este tipo de tumor a radioterapia isoladamente ou em associao com a cirurgia com uma sobrevida mdia de 8 a 25 meses (KING, BERGMAN e HARRIS; 1997; KLEIN, 2003; MALINOWKI, 2006; TUREK e LANA, 2007).26

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O animal apresentou uma melhora imediata do quadro aps o procedimento cirrgico. Entretanto foi a bito devido provavelmente a complicaes decorrentes de insuficincia renal crnica identificada na necropsia. Por esta razo, no foi possvel avaliar o prognstico do tumor, a viabilidade do enxerto sseo e sua integrao com o tecido. Com relao reconstruo nasal, no ocorreu complicao decorrente da coleta dos enxertos da costela, e a mesma proporcionou um bom preenchimento da falha no osso nasal. Entretanto, outros estudos clnicos devem ser realizados para verificao da aplicabilidade desta tcnica em falhas nasais em ces. A fixao do enxerto com fio de nylon facilitou o manuseio e forneceu uma boa fixao do mesmo com o osso remanescente, como descrito por Santos Junior (2005).

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Analgesia ps-operatria em descompresso medular cervical em ces revisoViviane Shervesnquy Dubal Jussara Zani Maia Viviane Machado Pinto Paulo Ricardo Centeno Rodrigues Beatriz Guilhembernard KosachencoRESUMO As descompresses cervicais so procedimentos cirrgicos que provocam intensa algia no ps-operatrio devido manipulao da musculatura epaxial, ligamentos, vrtebras, medula espinhal e razes nervosas. A dor intensa caracterizada por alteraes comportamentais, como latido e/ou gemido, automutilao, apatia, hiporexia/anorexia, e, quando no aliviada, ocasiona efeitos prejudiciais ao organismo, podendo retardar a cicatrizao tecidual. O protocolo de controle da dor dos pacientes neurocirrgicos deve iniciar com a analgesia preventiva, evitando que os estmulos de dor cheguem ao sistema nervoso central. A analgesia deve ser mantida com monitoramento constante no trans e no ps-operatrio. Os frmacos mais utilizados so os opiides, geralmente associados a drogas tranqilizantes e/ou sedativas, ou a relaxantes musculares. A terapia multimodal que consta de associaes de frmacos com diferentes modos de ao facilita o planejamento do protocolo analgsico, pois reduz os efeitos adversos das drogas e com o efeito sinrgico, potencializam a analgesia. Fisioterapia ps-operatria com eletroterapia e laserterapia esto indicados como alternativas no farmacolgicas para analgesia. Palavras-chave: Analgesia. Co. Descompresso medular. Dor. Opiide.

Post-operative analgesia in cervical spinal decompression in dogs reviewABSTRACT The cervical decompressions are surgical procedures that provoke intense pain in the post-operative period due to the manipulation of the epaxial musculature, ligaments, vertebrae, spinal cord and nervous roots. The intense pain is characterized by disturbances on the mood as bark or whine, self-mutilation, apathy, hiporexia or anorexia and when it is not diminished causes harmful effects to the organism, being able of delaying the tecidual cicatrization. The

Viviane Shervesnquy Dubal Mdica Veterinria, Especialista, Residente Mdica Veterinria R2, ULBRA/RS. Jussara Zani Maia Mdica Veterinria, MSc., Professora de Anestesiologia Veterinria, ULBRA/RS. Viviane Machado Pinto Mdica Veterinria, MSc., Professora de Anestesiologia Veterinria, ULBRA/RS. Paulo Ricardo Centeno Rodrigues Mdico Veterinrio, Especialista, Professor de Anestesiologia Veterinria, ULBRA/RS. Beatriz Guilhembernard Kosachenco Mdica Veterinria, MSc., Professora de Cirurgia Veterinria, ULBRA/RS. Endereo para correspondncia: Av. Farroupilha 8001, Prdio 14, Sala 125. Bairro So Jos, Canoas/RS. CEP: 92425-900. E-mail: [email protected]

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protocol of the pain control on neurosurgical patients should begin with the preventive analgesia, avoiding that the pain reaches the central nervous system. The analgesia should be maintained with constant control in the trans and post-operative. The pharmacs often used are the opium derivatives, usually associated with tranquilizer or sedative and also muscular relaxing drugs. The multimodal therapy that consists on the drugs associations with different action mecanisms, facilitates the planning of the analgesic protocol, because it reduces the adverse effects of the drugs and as a result of the sinergic effect, they potentiate the analgesia. Post-operative physiotherapy with electrotherapy and lasertherapy are indicated as non pharmacological alternative for analgesia. Key words: Analgesia. Dog. Spinal cord decompression. Pain. Opioid.

INTRODUOAs descompresses cervicais em ces esto indicadas em casos de discopatias cervicais como hrnia de Hansen tipo I ou tipo II, presena de neoplasias em vrtebras cervicais, cordo espinhal e razes nervosas, casos de espondilomielopatia cervical, instabilidade atlanto-axial e fraturas e luxaes da espinha cervical (SEIM III, 2002). Segundo Seim III (2002) e Pellegrino et al. (2003), dentre as possibilidades cirrgicas para descompresso esto a laminectomia dorsal, hemilaminectomia, fenda ventral e fenestrao. Conforme Podell (2003), os procedimentos cirrgicos que envolvem musculatura da regio vertebral, ligamentos, vrtebras, medula espinhal e razes nervosas provocam intensa algia no ps-operatrio. Sendo assim, a analgesia ps-operatria destes procedimentos inclui o uso de opiides como a morfina ou fentanil, que podero ser associados com drogas tranqilizantes como a acepromazina ou o diazepam a fim de obter-se efeito sinrgico (PADDLEFORD, 2001; CRUZ, 2002). Landoni (2005) refere a utilizao de antiinflamatrios no esterides (AINEs) em combinao com analgsicos opiides para analgesia ps-operatria em cirurgias de descompresso cervical. Outra opo efetiva para reduzir a algia ps-operatria a aplicao de adesivos de fentanil (OTERO, 2005b). O objetivo deste trabalho fazer uma reviso de literatura e atualizao no que concerne dor e analgesia ps-operatria nas cirurgias de descompresso medular cervical em ces.

DORA fisiologia da dor est centrada no sistema nervoso que se destina a captar estmulos que se convertem em impulsos at o sistema nervoso central (SNC), sendo que o efeito final a produo de uma resposta comportamental do organismo (PELLEGRINO, 2005). Dentro do SNC a informao transita pelas vias sensitivas que chegam medula espinhal e h tambm o crtex sensitivo com grande afluncia de neurnios do tlamo, sendo o responsvel pela percepo consciente da dor e pelo seu comportamento motivacional e afetivo (PELLEGRINO, 2005). De acordo com Hansen (1993), as fibras nervosas delta A so denominadas

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rpidas e so responsveis pela dor aguda decorrente da leso, permitindo ao animal a localizao do local da dor. As fibras nervosas C so denominadas fibras lentas, sendo responsveis pela dor secundria e menos intensa (PADDLEFORD, 2001). Segundo o mesmo autor, tambm h fibras nervosas beta A que apresentam menor limiar de estmulo que as anteriores e conduzem sensaes tteis incuas (formigamento, ccegas). Conforme Paddleford (2001) e Cruz (2002), o reconhecimento da dor nos animais difere dos humanos j que sua manifestao no verbal, apresentandose como alteraes comportamentais a serem interpretadas. Os sinais fisiolgicos indicativos de dor incluem alteraes cardiopulmonares como taquicardia, taquipnia, superficializao da respirao e palidez das mucosas ocasionada pela vasoconstrio. Tambm possvel incluir midrase, salivao e hiperglicemia. Os sinais comportamentais da dor so vocalizao com latido e/ou gemido, proteo do local dolorido, automutilao, inquietao, apatia e perda de apetite (HANSEN, 1993). A dor patolgica est associada s cirurgias ou processos patolgicos que provocam leses em rgos ou tecidos, apresentando vrios graus de intensidade (PADDLEFORD, 2001). Cruz (2002) e Luttgen (2003) relatam que a presena de dor no perodo ps-operatrio pode contribuir para a elevao da concentrao de cortisol srico e assim levar ao retardamento da cicatrizao, sendo de fundamental importncia o conhecimento sobre a identificao da dor e seus mecanismos por parte do mdico veterinrio (ALMEIDA et al., 2006). Pisera (2005) cita que a dor pode ser de trs tipos: fsica e aguda com durao curta proporcional a sua causa, prolongada e subaguda com durao de horas a dias podendo ser relacionada a procedimentos cirrgicos doloridos, e dor crnica relacionada a leses teciduais cirrgicas ou no. A dor pode ser discreta quando facilmente tolerada, no levando a alteraes comportamentais. A dor moderada se origina quando o animal submetido a um procedimento cirrgico, manifestando-se com alteraes comportamentais. A dor intensa leva o paciente a vocalizao constante, automutilao e comportamento totalmente anormal (PADDLEFORD, 2001). Para Almeida et al. (2006), o reconhecimento do comportamento adotado pelo animal frente ao estmulo doloroso auxilia no diagnstico atravs da classificao da dor (Figura 1). Fantoni et al. (2005) referem que procedimentos cirrgicos que causem muita algia como cirurgias ortopdicas e de coluna esto com pontuao 2 a 3. Bonafine e Pellegrino (2005) classificam a dor em uma escala crescente de 1 a 5, sendo que a algia resultante de cirurgia de descompresso medular recebe classificao 4 ou 5.

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DOR PSOPERATRIA(EM PONTUAO)

0 SEM DOR- ANALGESIA COMPLETA - SEM MAL-ESTAR - SEM REAO A MANIPULAO DO LOCAL LESIONADO

1 DOR LEVE- BOA ANALGESIA - SEM MAL-ESTAR - REAO MANIPULAO DO LOCAL LESIONADO

2 DOR MODERADA- ANALGESIA MODERADA - COM MAL-ESTAR - REAO MANIPULAO DO LOCAL LESIONADO

3 DOR INTENSA- SEM ANALGESIA - SINAIS CLAROS DE MAL-ESTAR PERSISTENTE

FIGURA 1 Pontuao utilizada para avaliao da dor ps-operatria segundo Fantoni et al. (2005).

Em casos de patologias compressivas da medula espinhal cervical as possibilidades cirrgicas incluem a laminectomia dorsal, hemilaminectomia, fenda ventral e fenestrao (SEIM III, 2002). Estes procedimentos apresentam psoperatrio muito doloroso pela manipulao exercida no canal medular, na regio prxima s razes nervosas e por envolver a musculatura paravertebral, ligamentos e tecido sseo, exigindo uma terapia analgsica eficiente (PELLEGRINO et al., 2003; PODELL, 2003). Os procedimentos neurocirrgicos geralmente causam grande sensao de dor para os pacientes da espcie humana (WHEELER e SHARP, 1999b).

ANALGESIA PS-OPERATRIAA abordagem farmacolgica do controle da dor no perodo ps-operatrio deve incluir diferentes frmacos a fim de se obter os efeitos mximos de proteo (MASSONE, 2003; RANKIN, 2004), pois a combinao de drogas proporciona a potencializao da analgesia, como no uso de tranqilizantes fenotiaznicos associados aos opiides (OTERO, 2005b). Andrade (2002) e Hellebrekers (2002b) relatam que os diferentes modos de ao dos frmacos no controle da dor favorecem a combinao dos mesmos, a fim de obter sinergismo no uso (Tabela 1).

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TABELA 1 Modo de ao dos diferentes frmacos no manejo da dor.

Modo de ao dos diferentes frmacos no manejo da dor Modo de ao Inibio da percepo da dor Frmacos Anestsicos gerais, Opiides, Benzodiazepnicos, Fenotiaznicos Opiides, AINEs Corticosterides, opiides, AINEs

Inibio da sensibilizao central Inibio da transduo (sensibilizao perifrica dos nociceptores)Fonte: Andrade (2002).

Modo de ao dos diferentes frmacos no manejo da dorHellebrekers (2002a) e Fantoni et al. (2005) relatam que a analgesia preventiva uma medida de preveno ou reduo da dor ps-operatria realizada com a administrao de analgsicos antes que os estmulos nocivos cheguem ao SNC. Isto ocorre atravs do controle da hipersensibilidade dos neurnios do corno dorsal da medula espinhal causada pela sensibilizao central. A administrao de narcticos pr ou intra-operatrios reduz as necessidades de analgesia ps-operatria (WHEELER e SHARP, 1999b). A preveno da dor no est relacionada apenas com a administrao de drogas analgsicas em perodo conveniente, como na pr-anestesia, mas tambm tem implicaes evidentes no planejamento do protocolo para tratamento da dor aps a cirurgia (HELLEBREKERS, 2002b). As cirurgias de descompresso cervical exigem muitos cuidados a serem tomados no ps-operatrio dos pacientes. Estes incluem o repouso absoluto, controle da mico, troca de decbito freqentemente, manuteno do animal em local acolchoado e o controle da dor ps-operatria (BAGLEY e WHEELER, 2001; LUTTGEN, 2003). Segundo Fenner (1995), nas primeiras 24 horas aps a cirurgia, o animal deve ter sua respirao monitorada, pois a manipulao da medula espinhal cervical pode predispor parada respiratria e convulses, principalmente, se o paciente tiver sido submetido mielografia antes da cirurgia. Conforme Seim III (2002), a algia pode induzir aerofagia, sendo importante a observao quanto dilatao-vlvulo gstrica no ps-operatrio de cirurgias de descompresso cervical a fim de avaliar tambm o grau de dor do paciente. A analgesia ps-operatria neste tipo de procedimento cirrgico inclui o uso de opiides de ao longa, sendo indicados para as primeiras 12-24 horas do psoperatrio (WHEELER e SHARP, 1999a; FANTONI et al., 2002; OTERO, 2005b). Estes frmacos promovem analgesia e sedao, podendo levar a depresso respiratria e cardiovascular (BENSON, 2004). Desta maneira se torna to importante o monitoramento das arritmias no perodo ps-operatrio como no trans-operatrio, exigindo controle constante (STAUFFER, 1998).

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A morfina um opiide que oferece eficiente poder analgsico sendo um agonista opiide, no entanto sua potncia menor que outros frmacos do mesmo grupo (Tabela 2) (TRANQUILI et al., 2005), e causa mais efeitos colaterais. A dose dependente de depresso respiratria varia, sendo que ela deve ser usada com grande cuidado em animais com diminuio do potencial da funo ventilatria, tais como pacientes com leses das pores cervicais craniais da medula espinhal (WHEELER e SHARP, 1999b).TABELA 2 Potncia analgsica dos opiides.

Potncia analgsica dos opiides Opiide Morfina Butorfanol BuprenorfinaFonte: Tranquili et al. (2005).

Potncia analgsica 1 4-7 30

Wheeler e Sharp (1999b) e Paddleford (2001) citam o uso de morfina na dose de 0,1-0,8 mg/kg, a cada 4 horas, por via intramuscular (IM), sendo que este frmaco exige o controle da freqncia cardaca j que pode ocasionar bradicardia. A utilizao de atropina na dose de 0,022-0,044 mg/kg, via endovenosa (IV) ou subcutnea (SC) est indicada para o controle da freqncia cardaca. Paddleford (2001) indica como dose ps-operatria 0,05-0,25 mg/kg por via IV, com intervalo entre as doses de 1 a 4 horas. Andrade (2002) preconiza a morfina na dose de 0,2-1mg/kg no intervalo de 2-6 horas via SC ou IM, e por via oral (VO) na dose de 0,3-3mg/kg a cada 4-8h. A morfina pode ser associada ao uso de antiinflamatrios no esterides como carprofeno, meloxican e cetoprofeno em situaes de dor grave (OTERO, 2005b). A morfina epidural tem sido utilizada extensivamente em animais e tem comprovado seu valor em pacientes neurocirrgicos, podendo ser administrada no perodo pr-operatrio, visto que possui efeito retardado para incio entre 20 e 60 minutos. A analgesia tem durao de dez a 24 horas sendo efetiva em segmentos craniais de medula espinhal na dose de 0,1mg/kg diluda em soluo salina aquecida para o volume de 1ml/5 kg, injetada no espao epidural lombo-sacro (WHEELER e SHARP, 1999b). Valverde et al. e Dodman et al. apud Wheeler e Sharp (1999b) citam no ter encontrado complicaes e depresso respiratria com o uso da morfina epidural em animais. Andrade (2002) relata o uso de butorfanol, um agonista antagonista, para analgesia na dose de 0,05 0,2 mg/kg por via IV, IM ou SC a cada uma a quatro horas, sendo a freqncia de administrao uma desvantagem para uso. A opo pela administrao por via oral na dose 0,1 a 0,5 mg/kg reduz a freqncia, pois os intervalos de uso esto entre quatro e seis horas. A dose de 0,2 a 0,4mg/kg por via IV ou IM a cada 4 horas ou33

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como necessrio indicada por Seim III (2002). J Wheeler e Sharp (1999b) indicam 0,2 a 0,6mg/kg a cada 2 a 4 horas, por via IM ou SC. A buprenorfina um opiide agonista parcial com potente analgesia e depresso respiratria menor que a possivelmente causada pela morfina, sendo que a dose varia de 3 a 10mg/kg por via IM a cada 4 a 8h (MASSONE, 2003). Seim III (2002) cita o uso deste frmaco com dose de 5 a 15g/kg a cada 6 horas, e Wheeler e Sharp (1999b) indicam 0,005 a 0,02 mg/kg. Pascoe (1993) cita como principal vantagem a ao por 8 a 12 horas. Wheeler e Sharp (1999b) citam que a oximorfona um opiide agonista puro que ocasiona menores efeitos respiratrios e gastrintestinais do que a morfina, mas apresenta como desvantagem ser uma droga de maior custo. Possui durao semelhante da morfina e dez vezes mais potente (PASCOE, 1993). A indicao de administrao de oximorfona na dose de 0,02 a 0,1mg/kg via IV a cada 2 a 4 horas relatada por Hansen (1996). Wheeler e Sharp (1999b) indicam dose de 0,02 a 0,08mg/kg em intervalos de 4 a 6 horas, e Seim III (2002) cita a dose de 0,05 a 0,1mg/kg, via IV ou IM e ressalta que a analgesia ps-operatria com baixa dose de opiides reduz o risco de depresso cardiorrespiratria. O tramadol um opiide agonista parcial usado com sucesso no tratamento da dor no ps-operatrio e com poucos efeitos adversos (OTERO, 2005a). A dose indicada de 2 mg/kg a cada 6 horas nas primeiras 24 a 48 horas, administrada por via subcutnea, intramuscular ou via oral. Posteriormente a cada 8 horas na dose de 1mg/kg (OTERO, 2005b). A Tabela 3 resume as diversas dosagens de opiides indicadas pela literatura consultada, oferecendo a dose mnima e mxima, vias de administrao e intervalo mnimo e mximo.TABELA 3 Opiides para analgesia ps-operatria de descompresso cervical em ces.

Frmaco Buprenorfina Butorfanol

Dose 5-20 g/kg 0,05 a 0,5 mg/kg 0,1 a 0,5mg/kg 0,1 a 1,0 mg/kg 0,3 a 3mg/kg 2mg/kg 0,02 a 0,1 mg/kg

Via de aplicao IV, IM IV, IM, SC V IM V SC, IM, VO IV, IM

Freqncia 4 a 8 horas 1 a 4 horas 4 a 6 horas 2 a 6 horas 4 a 8 horas 6 em 6 horas 2 a 6 horas

Morfina Tramadol Oximorfona

Os adesivos de fentanil so uma opo de analgesia, pois estes apresentam uma liberao prolongada do produto quando aplicados na pele tricotomizada do paciente, atingindo nveis plasmticos adequados em cerca de 24 horas e durando at 72 horas. Existem apresentaes que liberam 25 g/hora para ces de at 10 quilos, 50 g/hora entre 10-25 quilos, 75 g/hora para ces entre 20-30 quilos e 100 g/hora para pacientes com mais34 Veterinria em Foco, v.5, n.1, jul./dez. 2007

de 30 quilos (OTERO, 2005b). Benson (2004) refere a colocao do adesivo na noite anterior cirurgia e ressalta que o mesmo no pode garantir nveis plasmticos teraputicos. De acordo com Andrade (2002), os benzodiazepnicos fornecem relaxamento muscular e podem ser utilizados em associao com os opiides, na dose indicada de 0,5 1mg/kg via IV. O diazepam deve ser administrado de forma lenta por via endovenosa devido presena do propilenoglicol na diluio o qual acarreta hipotenso, bradicardia e apnia (RANKIN, 2004). Seim III (2002) relata que no deve ser ultrapassada a dose de 20mg/dia. Wheeler e Sharp (1999b) citam o metocarbamol para o relaxamento da musculatura esqueltica, na dose de 55 a 132mg/kg por via oral e em doses divididas, aps fenestrao de disco intervertebral ou outros procedimentos neurocirrgicos. As drogas antiinflamatrias no esterides (DAINEs) somente aliviam as dores de baixa a moderada intensidade, porm podem ser teis nos casos em que os narcticos no esto disponveis. Agem atravs da inibio da enzima ciclooxigenase (COX), temse a COX-1 encarregada de mediar processos de proteo gstrica e renal e a COX-2 encarregada de interferir no processo inflamatrio (LANDONI, 2005). Entre as DAINEs no seletivas esto includos o cetoprofeno e o carprofeno, e entre os inibidores preferenciais de COX-2 est o meloxicam (HANSEN, 1993; LANDONI, 2005). Wheeler e Sharp (1999b) relatam que as DAINEs devem ser usadas por no mais que 24 horas, pois os pacientes neurocirrgicos apresentam a tendncia de desenvolverem distrbios gastrintestinais. So contra-indicados para animais que receberam recentemente alta dose de corticosteride em virtude da possibilidade de sangramento e perfurao gastrintestinal (WHEELER e SHARP, 1999b), assim como para animais que j apresentem leses gastrointestinais, hipotenso, hipovolemia e desidratao (ANDRADE, 2002). A fisioterapia de reabilitao est indicada no ps-operatrio de neurocirurgias com objetivo de proporcionar analgesia. Dentre as alternativas encontra-se a eletroterapia que utiliza a corrente eltrica para promover analgesia (STERIN e GALLEGO, 2005). Com a utilizao da eletroanalgesia transcutnea ou TENS (Transcutaneal Eletrical Nerve Estimulation) obtm-se a reduo da dor por meio da inibio nociceptiva pr-sinptica do corno dorsal da medula espinhal, limitando sua transmisso para o crebro. O TENS pode ser usado no ps-operatrio imediato e nos dias subseqentes em tempo integral. A analgesia e o relaxamento muscular impedem a formao do ciclo dor-contratura-dor determinado pelo processo inflamatrio. O uso do laser teraputico de Arseneto de Glio (AsGa) ou Hlio-Neon (HeNe) est indicado com o objetivo antilgico, alm de antiedematoso, bioestimulante do trofismo tecidual, normalizador da microcirculao atravs da remoo de substncias inflamatrias e da melhora da oxigenao tecidual (STERIN e GALLEGO, 2005). Matera e Pedro (2006) indicam seu uso de forma pontual em toda a extenso ferida cirrgica, durante o mesmo perodo da aplicao do TENS. Paddleford (2001) sugere opes como a acupuntura e a massagem nas quais o estmulo das fibras nervosas beta A promovem reduo do estmulo nociceptor das fibras delta A e C. Lorenz e Kornegay (2006) citam a importncia da abordagem no farmacolgica da dor que inclui manter o paciente seco e limpo, mant-lo aquecido em local confortvel, e em ambiente tranqilo sem barulhos.Veterinria em Foco, v.5, n.1, jul./dez. 2007 35

CONCLUSOOs procedimentos neurocirrgicos so extremamente traumticos aos tecidos moles, ossos e articulaes ocasionando intensa algia ps-operatria. Para evitar efeitos deletrios ao processo cicatricial e recuperao do paciente, o protocolo analgsico deve ter incio no perodo pr-operatrio atravs da administrao de drogas e/ou associaes medicamentosas com efeitos sinrgicos que evitem que os estmulos de dor cheguem ao SNC. A algia deve ser monitorada durante o perodo ps-cirrgico devendose recorrer utilizao de frmacos opides associados aos relaxantes musculares e/ou sedativos para proporcionar comportamento normal e movimentao adequada do paciente. Do mesmo modo, alternativas no farmacolgicas que auxiliem na analgesia, como o uso do TENS e do laser devem ser utilizadas a favor da recuperao do paciente.

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