Vetores no Ensino Médio: investigando contribuições à...

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Vetores no Ensino Médio: investigando contribuições à Matemática e à Física Rafael F. Novoa Vaz Magno Luiz Ferreira Instituto Federal do Rio de Janeiro & Projeto Fundão IM/UFRJ [email protected] Lilian Nasser Geneci A. de Sousa Marcelo A. A. Torraca José A. R. Pereira Bruno do E. S. Batista Alan J. Severo Juliana S. M. Coutinho Projeto Fundão IM/UFRJ Cidade Universitária, CT, sala C-108, Ilha do Fundão [email protected] RESUMO A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), lançada recentemente pelo MEC, apresenta diversas modificações em relação ao atual currículo do Ensino Médio. Conteúdos foram incluídos, como vetores e transformações lineares, enquanto outros foram excluídos, como polinômios, matrizes e determinantes [2]. Em relação aos vetores, constatamos que há uma carência de livros didáticos que tratem do tema, dificultando ao professor estudar e conduzir este assunto em aula. Neste minicurso, analisamos quais seriam as possíveis contribuições oriundas da reinserção de vetores no Ensino Médio proposta pela BNCC, sugerindo atividades de Matemática e aplicações à Física que possam ser resolvidas com uma abordagem vetorial. Como parte das ações de um grupo do Projeto Fundão (IM/UFRJ), foi realizada, no início de 2015, uma investigação sobre o nível de conhecimentos de vetores e Geometria Analítica com calouros do primeiro período do curso de Licenciatura em Matemática de um Instituto Federal do Rio de Janeiro [6]. Um dos nossos objetivos era verificar se havia conhecimento de vetores em uma abordagem mais relacionada à Matemática. Os resultados confirmaram os indícios de que o conhecimento de vetores está ausente dos currículos do Ensino Médio de Matemática, sugerindo que o conhecimento de vetores adquirido pelos estudantes foi obtido nas aulas de Física. O tópico de vetores, um dos pilares da Mecânica Newtoniana, está presente no currículo de Física do EM. É possível que este seja um dos motivos pelo qual o conteúdo de vetores venha sendo ensinado pelos professores de Física e não de Matemática, apesar de, em alguns casos, não fazer parte da própria grade curricular. As habilidades de compreender o significado e reconhecer as características de um vetor, por exemplo, não estão presentes, nem no currículo de Física, nem no de Matemática do Ensino Médio da SEEDUC-RJ. A BNCC sugere a inserção de vetores no currículo de Matemática no Ensino Médio, por meio dos seguintes objetivos: Compreender o conceito de vetor, tanto do ponto de vista geométrico (coleção de segmentos orientados de mesmo comprimento, direção e sentido) quanto do ponto de vista algébrico, caracterizado por suas coordenadas, aplicando-o em situações da Física. ([2], p.564) Estabelecer relações entre as transformações isométricas (reflexão, translação e rotação) e vetores no contexto do plano cartesiano, incluindo o uso de softwares de geometria dinâmica. ([2], p. 565) A inclusão de vetores nas aulas de Matemática do Ensino Médio não é novidade. Segundo as Orientações Curriculares Nacionais [3], este tema já deveria ter sido incorporado no currículo de Matemática no Ensino Médio. O fato de o trabalho com vetores exigir a utilização de registros gráficos e algébricos pode levar os alunos a uma aprendizagem mais efetiva. De acordo com a teoria dos registros de representação de Duval [4], um objeto pode ser representado utilizando diversos registros e a articulação desses diferentes registros é a condição para a compreensão em matemática, embora várias abordagens didáticas não levem em conta esse fato. Na prática,

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Vetores no Ensino Médio:

investigando contribuições à Matemática e à Física

Rafael F. Novoa Vaz Magno Luiz Ferreira

Instituto Federal do Rio de Janeiro & Projeto Fundão IM/UFRJ

[email protected]

Lilian Nasser Geneci A. de Sousa Marcelo A. A. Torraca José A. R. Pereira

Bruno do E. S. Batista Alan J. Severo Juliana S. M. Coutinho

Projeto Fundão IM/UFRJ

Cidade Universitária, CT, sala C-108, Ilha do Fundão

[email protected]

RESUMO

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), lançada recentemente pelo MEC, apresenta

diversas modificações em relação ao atual currículo do Ensino Médio. Conteúdos foram

incluídos, como vetores e transformações lineares, enquanto outros foram excluídos, como

polinômios, matrizes e determinantes [2]. Em relação aos vetores, constatamos que há uma

carência de livros didáticos que tratem do tema, dificultando ao professor estudar e conduzir este

assunto em aula. Neste minicurso, analisamos quais seriam as possíveis contribuições oriundas

da reinserção de vetores no Ensino Médio proposta pela BNCC, sugerindo atividades de

Matemática e aplicações à Física que possam ser resolvidas com uma abordagem vetorial.

Como parte das ações de um grupo do Projeto Fundão (IM/UFRJ), foi realizada, no início

de 2015, uma investigação sobre o nível de conhecimentos de vetores e Geometria Analítica com

calouros do primeiro período do curso de Licenciatura em Matemática de um Instituto Federal do

Rio de Janeiro [6]. Um dos nossos objetivos era verificar se havia conhecimento de vetores em

uma abordagem mais relacionada à Matemática. Os resultados confirmaram os indícios de que o

conhecimento de vetores está ausente dos currículos do Ensino Médio de Matemática, sugerindo

que o conhecimento de vetores adquirido pelos estudantes foi obtido nas aulas de Física.

O tópico de vetores, um dos pilares da Mecânica Newtoniana, está presente no currículo

de Física do EM. É possível que este seja um dos motivos pelo qual o conteúdo de vetores venha

sendo ensinado pelos professores de Física e não de Matemática, apesar de, em alguns casos, não

fazer parte da própria grade curricular. As habilidades de compreender o significado e reconhecer

as características de um vetor, por exemplo, não estão presentes, nem no currículo de Física, nem

no de Matemática do Ensino Médio da SEEDUC-RJ.

A BNCC sugere a inserção de vetores no currículo de Matemática no Ensino Médio, por

meio dos seguintes objetivos:

Compreender o conceito de vetor, tanto do ponto de vista geométrico

(coleção de segmentos orientados de mesmo comprimento, direção e

sentido) quanto do ponto de vista algébrico, caracterizado por suas

coordenadas, aplicando-o em situações da Física. ([2], p.564)

Estabelecer relações entre as transformações isométricas (reflexão,

translação e rotação) e vetores no contexto do plano cartesiano,

incluindo o uso de softwares de geometria dinâmica. ([2], p. 565)

A inclusão de vetores nas aulas de Matemática do Ensino Médio não é novidade. Segundo

as Orientações Curriculares Nacionais [3], este tema já deveria ter sido incorporado no currículo

de Matemática no Ensino Médio. O fato de o trabalho com vetores exigir a utilização de registros

gráficos e algébricos pode levar os alunos a uma aprendizagem mais efetiva. De acordo com a

teoria dos registros de representação de Duval [4], um objeto pode ser representado utilizando

diversos registros e “a articulação desses diferentes registros é a condição para a compreensão em

matemática, embora várias abordagens didáticas não levem em conta esse fato”. Na prática,

porém, o que se constata é que este conteúdo não está sendo ministrado nas aulas de Matemática,

talvez porque haja uma carência deste tópico nos livros didáticos.

Em nossas pesquisas encontramos duas instituições, cujos materiais didáticos

contemplam o estudo dos vetores no Ensino Médio. No Colégio de Aplicação da UFRJ os

estudantes utilizam uma apostila [1] elaborada pelos professores e no Colégio de Aplicação da

UERJ, as aulas são ministradas utilizando como referência um livro da autoria de dois de seus

professores [5]. Ventura e Almouloud [8] realizaram uma investigação sobre o conteúdo de

Geometria Analítica em sete livros didáticos do Ensino Médio, relatando que apenas o livro

Contextos e Aplicações, em três volumes, faz referência a vetores. A inserção de vetores no

Ensino Médio pode trazer muitos benefícios para o ensino de Matemática e o ensino de Física.

Em Matemática, alguns temas poderiam ser melhor explicados, ou justificados, com uma

abordagem vetorial. Consideremos, por exemplo, a condição de alinhamento entre três pontos no

plano cartesiano. Sem a utilização de vetores, esta pode ser desenvolvida utilizando proporção,

em uma abordagem geométrica. Entretanto, ao relacionar esta fórmula a um determinante, os

autores dos livros didáticos utilizam um caminho nada elegante. Há outros exemplos

interessantes: o cálculo das coordenadas do baricentro ou da área de um triângulo no plano

cartesiano a partir das coordenadas dos seus vértices. Neste último caso, a demonstração da

fórmula que associa esta área a um determinante é longa e cansativa ([7], p.122-123).

Em Física, pode-se destacar que o prévio conhecimento de vetores poderia contribuir, por

exemplo, para a melhor compreensão do cálculo do trabalho realizado por uma força, obtido a

partir do produto escalar entre o vetor força e o vetor deslocamento de um corpo ou a força

resultante, calculada a partir de uma soma vetorial. Muitos são os objetos matemáticos que

compõem pré-requisitos para o ensino desta disciplina, vetor é um deles.

Este minicurso pretende apresentar algumas atividades de Matemática e Física, utilizando

uma abordagem vetorial, e analisar como esta abordagem poderia contribuir para a melhor

compreensão de alguns conceitos, fórmulas e procedimentos utilizados nestas duas disciplinas.

Palavras-chave: Vetores; Geometria Analítica; BNCC.

Referências

[1] Assemany, D.; Akio, L.; Dias, P.; Dias, U.; Neto, C.; Rangel, L.; Spíller, L. & Villar, F. Módulo de

Vetores e Geometria Analítica. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 144 p., 2012.

[2] Brasil. Ministério da Educação e Cultura. Base Nacional Comum Curricular. 2016.

[3] Brasil. Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Brasília: MEC/SEB, 2006. v 2.

[4] Duval, R. Registros de Representações Semióticas e Funcionamento Cognitivo da Compreensão em

Matemática. In: MACHADO, Silvia D. A. (org.). Aprendizagem em Matemática: Registros de

Representação Semiótica. Campinas: Papirus, 2003. p.11-33.

[5] Julianelli, J. R., Cataldo, J. C. Vetores, Geometria Analítica e Álgebra. Matvest, 2004.

[6] Nasser, L., Vaz, R. & Torraca, M. Transição do Ensino Médio para o Superior: Investigando

Dificuldades em Geometria Analítica. Atas do VI Seminário Internacional de Pesquisa em Educação

Matemática (em CD). SBEM: Pirenópolis, GO, Brasil, 2015.

[7] Paiva, M.R. Matemática. Editora Moderna, 2010.

[8] Ventura, K. T. A.; Almouloud, S. A. Análise de Conteúdos de Geometria Analítica em Livros Didáticos

de Ensino Médio. In:VI Congresso Internacional de Ensino de Matemática-2013.