VISÃODOALTO: CINECLUBISMO, CINEMA E EDUCAÇÃO NA COMUNIDADE - Isis Dequech e Victorhugo...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL ISIS CARDOSO DEQUECH VICTORHUGO PASSABON AMORIM VISÃODOALTO: CINECLUBISMO, CINEMA E EDUCAÇÃO NA COMUNIDADE VITÓRIA - ESPÍRITO SANTO 2012

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Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social. Orientador: Professor Mestre Cleber José Carminati. Alunos: Isis Dequech (Publicidade e Propaganda) e Victorhugo Passabon (Jornalismo)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE ARTES

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

ISIS CARDOSO DEQUECH

VICTORHUGO PASSABON AMORIM

VISÃODOALTO: CINECLUBISMO, CINEMA E EDUCAÇÃO NA COMUNIDADE

VITÓRIA - ESPÍRITO SANTO

2012

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ISIS CARDOSO DEQUECH VICTORHUGO PASSABON AMORIM

VISÃODOALTO: CINECLUBISMO, CINEMA E EDUCAÇÃO NA COMUNIDADE

VITÓRIA - ESPÍRITO SANTO

2012

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Universidade Federal

do Espírito Santo, como requisito

parcial para obtenção do grau de

bacharel em Comunicação Social.

Orientador: Professor Mestre Cleber

José Carminati.  

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AGRADECIMENTOS

Nossos agradecimentos vão para todos aqueles que nos fizeram enxergar, que nos

colocaram algum tipo de óculos no nosso rosto, ampliando nosso campo de visão. Afinal,

tudo o que fizemos nesses quatro/cinco anos, foi aprender. Aprender que existem outras

possibilidades de se viver nesse mundo que é um tanto hostil com aqueles que sonham.

Oferecemos nossa gratidão àqueles que nos ajudaram, apoiaram e colaboraram com

este projeto. Àqueles que iluminaram nosso caminho com uma lanterninha ou ativando

nossa intuição e também àqueles que nos criticaram, buscando nos fazer evoluir.

Ao Jadir Feliciano (Coordenardo da "Casa de Cultura É o Benedito!") por ter cedido o

espaço da Casa e por ter ajudado durante todo o desenvolvimento do projeto, com suas

críticas e sua presença nas oficinas, ao nosso professor orientador, Cléber Carminati, pela

sua orientação, tanto na vida, quanto no desenvolvimento do projeto.

Aos colaboradores das oficinas, incluindo aqueles que estiveram presentes no

segundo semestre: Guilherme Rebêlo, pela amizade e disposição no projeto, acompanhou

bem de perto o nosso TCC, atuando como oficineiro com a primeira turma e fazendo suas

críticas para melhoria delas; Bruno Rebequi, pela amizade, carinho e atenção com a gente,

acompanhou todo o processo e contribui sendo oficineiro nas duas turmas, ajudou a editar

alguns vídeos, levou a gente de carro algumas vezes e ministrou a oficina em que

trabalhamos com o ritmo e os sons; Henrique de Oliveira - namorado da Isis -, que foi o

mestre na oficina de stopmotion do segundo semestre e sempre nos apoiou durante todo o

processo; Mayra Amorim - irmã do Victorhugo -, por ser tão doce e carinhosa com as

crianças e conosco, sempre disposta a nos ajudar e ministrou duas oficinas durante o

projeto (uma com cada turma); Ramon Zagoto ou "Marrom", para as crianças, participou

como oficineiro no dia em que trabalhamos os movimentos de câmera; Gisele Bernardes,

esteve presente na oficina de storyboard, no primeiro semestre, ajudando nos registros das

filmagens; Esther Radaelli, pelas boas intenções e sugestões que nos auxiliaram muito com

a segunda turma e, também, pela sua presença em duas oficinas; Drieli Volponi e Lucas

Schuína, que foram maravilhosos e nos acompanharam em uma das oficinas do segundo

semestre.

Ao Lindonor, pelo cuidado e carinho pela casa, e por sempre ter deixado tudo muito

organizado para que as oficinas acontecessem.

À Escola Paulo Roberto Vieira Gomes e toda a sua equipe (diretor, coordenadora,

professoras e funcionários), por ter aceitado a nossa parceria e ter contribuído no

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desenvolvimento do projeto, liberando as duas turmas e, também, deixando a gente utilizar

alguns materiais deles, como a xerox.

Ao Grav - Grupo de Estudos Audiovisuais -, que emprestou os DVDs do seu acervo

para as nossas exibições e dois livros da nossa bibliografia.

À Aline Canabarro, amada amiga da Isis, que revisou nosso texto e à Ana Oggioni,

nossa querida colega de trabalho, que nos ajudou na tradução do resumo para o inglês.

À nossa banca, Orlando Lopes e Alexandre Curtiss, que aceitaram nosso pedido e

foram solícitos às nossas mudanças de data. Em 2010, Orlando e Curtiss acompanharam

de perto o projeto de implantação do cineclube na "Casa É o Benedito!", desenvolvido pelo

Grav. Curtis acompanhou como o coordenador do Grav e o Orlando foi quem ajudou o

grupo a escrever o projeto. Por essa afinidade deles com o espaço é que a gente os

escolheu como integrantes da nossa banca.

Às nossas amizades que fizemos na UFES, inclusive à nossa amizade!

Agradecemos, também, a nossa família, que sempre esteve ao nosso lado em todos

os momentos durante o TCC e da nossa vida acadêmica e foram as principais pessoas que

nos colocaram os óculos e nos fizeram enxergar o potencial que existe dentro de nós.

E por último, agradecemos ao São Benedito, que nos recebeu de braços abertos e

nos acolheu com os sorrisos das crianças. Fortificou nossa vontade para cumprir bem

nossos deveres.

E adeus.

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claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. Via os grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas passeando no chão de uma distância. E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo... O senhor tinha retirado dele os óculos, e Miguilim ainda apontava, falava, contava tudo como era, como tinha visto. Mãe esteve assim assustada; mas o senhor dizia que aquilo era do modo mesmo, só que Miguilim também carecia de usar óculos, dali por diante. O senhor bebia café com eles. Era o doutor José Lourenço, do Curvelo. Tudo podia. Coração de Miguilim batia descompasso, ele careceu de ir lá dentro, contar à Rosa, à Maria Pretinha,

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RESUMO

Iniciamos este trabalho falando um pouco sobre a história do cinema e como se deu

a formação da indústria cinematográfica. Explanamos também sobre a linguagem do cinema

e como o público interage com ele. Falamos sobre a importância do cinema na prática

pedagógica e como ferramenta de educação, adentrando na prática de cineclubismo e seus

princípios, o que também diz respeito a este trabalho de conclusão de curso. Nosso projeto tem como base experienciar oficinas do entendimento da linguagem

audiovisual para crianças entre dez e quatorze anos. Dividimos o conteúdo entre doze

oficinas que objetivam apresentar as técnicas e buscar o entendimento através de

atividades lúdicas. No entanto, não utilizamos nenhuma prática pedagógica, mas sim, a

educação não formal, na qual o educador social compartilha experiências num espaço de

ação coletiva, no caso, a Casa de Cultura É o Benedito! Todos os dias as atividades foram filmadas e editadas durante a semana para serem

exibidas aos alunos na oficina seguinte. O que gerou um total de treze vídeos que estão

disponíveis na internet, no canal do projeto no Youtube. Em anexo, está o DVD com os

vídeos produzidos em todas as oficinas.

Palavras chave: cinema, cineclubismo, educação, criança, periferia.

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ABSTRACT

We begin this work by talking a bit about the history of cinema and how was the

formation of the film industry. Also explain about the language of cinema and how the public

interacts with it. We talk about the importance of cinema in pedagogical practice and as a

tool for education, entering the practice of cineclubism and its principles, which are related to

this course completion work too.

Our project is based on workshops experience to the understanding of the

audiovisual language for children between ten and fourteen years old. We divide the

contents between twelve workshops that aim to introduce the techniques and seek

understanding through playful activities. However, we don't use any pedagogical practice,

but the non-formal education, where the social educator shares experiences at the space of

collective action. In this case, at the "Casa de Cultura É o Benedito!".

Everyday activities were filmed and edited during the week to be displayed to the

students at the following workshop, what spawned a total of thirteen videos that are available

on the Internet at the Youtube's project channel. A DVD is attached to this work with the

videos produced in all workshops.

Keywords: cinema, cineclubism, education, child, periphery.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO __________________________________________________________ 10

CAPÍTULO 1 - ALGUMAS REFLEXÕES TEÓRICAS ____________________________ 12

1.1 - O Cinema como entretenimento/indústria _______________________________ 12

1.2 - Ler o cinema _______________________________________________________ 15

1.3 - O público do cinema _________________________________________________ 17

1.3.1 - O histórico _______________________________________________________ 17

1.3.2 - A visão do público _________________________________________________ 18

1.4 - Cinema e Educação __________________________________________________ 19

1.5 - Cineclubismo _______________________________________________________ 20

CAPÍTULO 2 - VISÃODOALTO _____________________________________________ 23

2.1 Cinema é coisa de gente grande? _______________________________________ 23

2.2 O São Benedito: Subir o morro pra quê? _________________________________ 24

2.3 O Cineclube É o Benedito! _____________________________________________ 25

2.4 As crianças e a escola ________________________________________________ 26

2.5 Como a turma percebe o cinema ________________________________________ 26

2.6 Os prós e os contras __________________________________________________ 27

CAPÍTULO 3 - MEMÓRIA DAS OFICINAS ____________________________________ 29

3.1 - Som e Trilha ________________________________________________________ 29

3.1.1 - Cinema Mudo ____________________________________________________ 29

3.1.2 - Expressando o Som que o Corpo produz e o Som do Cotidiano _____________ 31

3.1.3 - Ritmo e Som: A trilha na cena _______________________________________ 32

3.2 - Movimentos de Câmera ______________________________________________ 33

3.2.1 - Um Zoom e uma Panorâmica na Cultura Afro-Brasileira ___________________ 33

3.2.2 Nos Trilhos do Travelling e na Trilha dos Personagens ___________________ 34

3.2.3 - Movimentos de Câmera no Começo, Meio e Fim: O Enredo de Uma História __ 35

3.3 - Enquadramento _____________________________________________________ 36

3.3.1 - Storyboard ______________________________________________________ 36

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3.3.2 - Esquizodrama: Criando Histórias _____________________________________ 37

3.3.3 - Enquadrando na Moldura ___________________________________________ 38

3.4 - Edição _____________________________________________________________ 38

3.4.1 - Video-Poetizando _________________________________________________ 39

3.4.2 - Stopmotion ______________________________________________________ 39

3.4.3 - Encerramento/O que queremos para o mundo? _________________________ 40

CONSIDERAÇÕES PESSOAIS _____________________________________________ 42

ANEXO 1 - CRONOGRAMA DAS OFICINAS __________________________________ 45

ANEXO 2 PLANOS INICIAIS DAS OFICINAS ________________________________ 46

ANEXO 3 - PLANOS EXECUTADOS DAS OFICINAS ___________________________ 49

ANEXO 4 - FOTOS _______________________________________________________ 60

ANEXO 5 MODELO DE PEDIDO DE LIBERAÇÃO DE USO DE IMAGEM E SAÍDA DA ESCOLA _______________________________________________________________ 64

ANEXO 6 CERTIFICADO DAS OFICINAS ___________________________________ 65

ANEXO 7 ATIVIDADE DE STORYBOARD ___________________________________ 66

ANEXO 8 ATIVIDADES ENQUADRANDO NA MOLDURA ______________________ 68

ANEXO 9 ATIVIDADE VIDEO-POESIA ______________________________________ 71

ANEXO 10 DVD VÍDEOS DAS OFICINAS ___________________________________ 73

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS __________________________________________ 75

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INTRODUÇÃO

No dia-a-dia das crianças o audiovisual está presente, através dos filmes, desenhos

animados e personagens da televisão, por exemplo. Elas convivem diariamente com essa

linguagem. Entretanto, as estruturas cinematográficas/audiovisuais raramente são

apresentadas a essas crianças numa didática escolar. Rosália Duarte afirma que a experiência e convívio das pessoas diariamente com a

linguagem cinematográ

códigos audiovisuais para entender a história narrada. Rosália ainda complementa que esse

contato não é o suficiente para entender a linguagem. Segundo ela,

de que o cinema se utiliza para dar sentido às suas narrativas aprimora nossa competência para ver e nos permite usufruir

Trazer para o universo das crianças uma didática da linguagem cinematográfica

como forma de aprendizagem é uma maneira de estimular o aperfeiçoamento da

compreensão do audiovisual. Além disso, o cinema é um instrumento integral que contribui

na reflexão cotidiana, podendo ser utilizado para ensinar outros assuntos e lidar com outras

questões tanto na sala de aula ou fora dela. Foi pensando nisso que surgiu a ideia deste trabalho. O espaço que escolhemos

para desenvolver essas atividades foi a "Casa de Cultura É o Benedito!". A Casa, localizada

no Bairro São Benedito, é um espaço de atividades culturais que vem atuando em caráter

de trabalho voluntário e é mantida e coordenada pelos Professores Jadir Feliciano e Cleber

Carminati, há nove anos. Lá são desenvolvidas atividades no local junto ao grupo da terceira

idade e crianças em idade escolar. O nosso contato com a Casa foi em 2010, quando, em parceria com o Grupo de

Estudos Audiovisuais - Grav -, projeto de extensão do curso de Comunicação Social da

UFES, foi criado o "Cineclube É o Benedito!", através do edital de núcleos do programa

Rede Cultura Jovem da Secretaria Cultura do Estado do Espírito Santo. O nosso Trabalho de Conclusão de Curso, que agora apresentamos, então, tem o

objetivo de trabalhar cinema e educação com as crianças, da Escola Municipal de Ensino

Fundamental Paulo Roberto Vieira Gomes, localizada próximo à "Casa É o Benedito!",

realizando sessões cineclubistas com debates sobre os temas e, além disso, apresentar as

estruturas do cinema em oficinas após as sessões, como por exemplo stopmotion,

storyboard, ritmo e percussão, etc. Pensamos em uma forma de expor essas estruturas de

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maneira lúdica e didática para as crianças poetizarem, fruirem e conhecerem a arte

cinematográfica. A partir deste projeto, busca-se saber como desenvolver o entendimento da

linguagem cinematográfica para crianças das séries iniciais, entre 10 e 14 anos, de forma

lúdica e interativa, onde elas possam se expressar e praticar o que aprenderam. É possível, no "Cineclube É o Benedito!", incentivar as crianças a absorverem o

audiovisual como linguagem didática através de sessões cineclubistas e oficinas lúdicas que

trabalhem a estrutura da produção audiovisual? Aqui neste trabalho, encontra-se o memorial descritivo de como funcionaram essas

12 oficinas, com as atividades propostas, os objetivos e os resultados que tivemos. Além

disso, aqui também está o DVD com todos os vídeos produzidos nas oficinas.

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CAPÍTULO 1 - ALGUMAS REFLEXÕES TEÓRICAS

1.1 - O Cinema como entretenimento/indústria

A projeção do filme

Lumiére, realizada no dia 28 de novembro de 1895, em Paris, foi um fato marcante para a

história do cinema. A sétima arte, entretanto, não teve o seu início aí. Em 1893, Thomas A.

Edson registrou nos EUA a patente do seu invento: o quinetoscópio. No aparelho inventado

por Edson, podia-se assistir uma pequena tira de filme em looping. Além disso, dois meses

antes da exibição dos irmãos Lumiére, os irmãos alemães, Max e Emil Skladanowsky,

exibiram um filme de 15 minutos com o seu aparelho bioscópio em um teatro de Berlim. Segundo Flávia Cesarino Costa "não existiu um único descobridor do cinema, e os

aparatos que a invenção envolve não surgiram repentinamente num único lugar"

(CESARINO, 2006, p. 18). O cinema surge, então, de uma série de experimentações

científicas, no final do século XIX, na busca da projeção de imagens em movimento:

"(...) o aperfeiçoamento nas técnicas fotográficas, a invenção do celulóide (o primeiro suporte fotográfico flexível, que permitia a passagem por câmeras e projetores) e a aplicação de técnicas de maior precisão na construção dos aparatos de projeção" (Ibid, p. 18).

O cinema, dos primórdios até 1906-1907, não possuía uma narrativa estruturada. As

primeiras projeções de filmes aconteciam dentre outras atrações, nos Vaudevilles, parques

de diversão, feiras e shows itinerantes. "Os primeiros filmes tinham herdado a característica

de serem atrações autônomas, que se encaixavam facilmente nas mais diferentes

programações desses teatros de variedades" (Ibid, p. 20). Nessa época denominada de

"cinema de atrações", o público esperava mais um espetáculo de imagens nas projeções do

que uma história. A família Lumiére era de comerciantes e soube fazer o marketing do seu invento. O

foco principal deles eram os cafés e os vaudevilles. O Cinematógrafo, dos Lumiéres,

funcionava como câmera ou projetor, era possível fazer cópias a partir dos negativos, não

necessitava de luz elétrica, era leve e podia ser transportado facilmente para além do

estúdio.

Quando os irmãos Lumière mostraram ao público o seu cinematógrafo em Paris, Edison ainda não tinha conseguido aperfeiçoar um projetor que funcionasse satisfatoriamente. Mas, em janeiro de 1896, diante da notícia de que o cinematógrafo Lumière estava chegando aos Estados Unidos, Edison começou a fabricar o vitascópio, um projetor que tinha sido inventado em Washington por

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Thomas Armat e Francis Jenkins. Norman Raff e Frank Gammon, vendedores exclusivos do quinetoscópio desde setembro de 1894, também se tornaram os únicos licenciados para a venda de vitascópios e filmes. (Ibid, p. 20)

Mesmo com as tentativas de Edson de enfraquecer o domínio dos Lumiéres nos

EUA, os irmãos franceses criaram um modelo de exibição nos vaudevilles que ficou forte até

a década seguinte. Os serviços das produtoras dos Lumiére adiaram, assim, o crescimento

da indústria cinematográfica norte-americana. Na França, os Lumiére tinham como concorrentes a produtora "Star Film" do

ilusionista George Meliès e a Companhia Pathé. Entre 1896 e 1912, Meliès produziu

centenas de filmes. Foi considerado o pai dos efeitos especiais, produzindo filmes de ficção

bastante fantasiosos. Ele aliou as suas técnicas de ilusionismo com a câmera

cinematográfica. Além disso, s importante foi libertar o tempo na tela

p.37).

Um de seus filmes mais con

estúdio de filmagem, considerado um dos primeiros estúdios do mundo. "Mas seus filmes

passaram a perder público quando o cinema encontrou uma forma narrativa própria, na

segunda década, e Méliès foi à falência em 1913" (CESARINO, 2006, p.21). Já a Companhia Pathé, fundado por Charles Pathé, se estabeleceu como produtora

e distribuidora de filmes, e dominou o mercado mundial de cinema até a Primeira Guerra

Mundial. Pathé comprou as patentes dos Lumiéres e depois as do Meliés. O cinema foi se voltando cada vez mais para uma indústria de entretenimento, que

superou suas limitações iniciais e se transformou em arte ao descobrir a sua linguagem

(montagens, enquadramento, movimentos de câmera) como elemento fundamental da

narrativa. D. W. Griffith é considerado como o elaborador da forma narrativa

cinematográfica. Falaremos mais sobre isso no próximo ponto deste capítulo. A linguagem cinematográfica, a forma de exibir e a própria tecnologia do cinema foi

construída ao longo desses anos e apreendida pelo público. O uso das cores, em detrimento

do preto e branco, em uma determinada época, por exemplo, fazia o espectador fugir da

realidade. Enquanto os programas televisivos utilizavam preto e branco, o cinema se

apropriou do colorido para dar ideia de artifício e ornamentação, isso porque o público

estava acostumado com a "realidade" reproduzida em preto e branco. Somente depois da

conversão da televisão em cores é que se padronizou os longas-metragens para colorido.

A medida que a cor tornava-se parte dos programas sobre temas do dia-a-dia e dos noticiários de televisão, perdia sua associação com a fantasia e o espetáculo. As situações especiais em que se via cor lembram de uma maneira útil como as nossas

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leituras do cinema podem ser condicionadas. Agora que a cor perdeu muitas de suas

Outra mudança significativa no cinema foi a introdução do som no filme. Isso surgiu

como demanda do mercado consumidor. A primeira companhia a utilizar o som óptico foi a

Warner Bros. Para acompanhar essa demanda, as produtoras americanas tiveram que

buscar financiamento com os banqueiros e com as indústrias de comunicação. A dominação da indústria cinematográfica pelos EUA começa durante a Primeira

Guerra Mundial. Com a Guerra, as indústrias de cinema europeias decaíram na sua

produção. Enquanto isso, os Estados Unidos aproveitaram os mercados desses

fornecedores e passaram a exportar para eles. "Até o final da guerra, os Estados Unidos

estavam produzindo, segundo se dizia, 85% dos filmes de todo o mundo e 98% daqueles

exibidos na América" (Ibid, p. 24) A indústria norte-americana percebeu que seus filmes poderiam ter uma maior

garantia de disseminação e dominação no mercado se todos os processos de produção,

distribuição e exibição de um filme fossem realizados pelas produtoras, o que foi

denominado de Integração Vertical. Isso surtiu efeito para o enriquecimento dos estúdios de Hollywood, pois essa

integração permitia que os estúdios decidissem em qual cidade e sala de cinema o filme

seria exibido. Os estúdios também tinham dominação de atores e diretores a partir de

contratos exclusivos. Logo, quem trabalhasse de maneira alternativa aos dominantes, teria

grande dificuldade de inserção no mercado cinematográfico. Ainda hoje, alguns filmes tem

dificuldade de exibição em salas comerciais, em seu próprio país de origem, por conta da

dominação norte-americana. Uma forte característica dos filmes comerciais produzidos em Hollywood é a fácil

compreensão, a forma linear da narrativa e o final feliz. Isso criou um padrão de gosto e de

preferência para o grande público. Segundo Rosália Duarte, mais do que conquistar o público através de suas

icção passariam a inventar os costumes, criar modos e difundir

hábitos, tornando-se o entretenimento número um de milhões de pessoas em todo o mundo

O cinema ganhou proporções enormes e passou a ser uma grande indústria, que

difunde modas e movimenta a venda de produtos relacionados aos filmes. Os filmes se

tornaram grandes fenômenos de marketing e bilheteria. Os EUA souberam desenvolver

essa indústria, que vende principalmente a sua cultura e o seu estilo de vida.

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1.2 - Ler o cinema

Atribui-se a D. W. Griffith o desenvolvimento da narrativa cinematográfica, através do

uso da montagem paralela. Ele dirigiu mais de 400 filmes, entre 1908 e 1913. Era uma

época em que o cinema estava conquistando público e, por isso, queria cada vez mais se

aproximar ao estilo de narrar dos romances burgueses e das peças de teatro da época.

"Há exemplos isolados de montagem paralela antes de 1908, principalmente na Europa, mas nos EUA são raros antes de Griffith. Ele teve um papel único ao utilizar a montagem paralela não apenas para misturar diferentes linhas de ação, de modo a criar suspense e emoção, mas também para construir contrastes dramáticos, delinear o desenvolvimento psicológico de personagens e criar julgamentos morais" (CESARINO, 2006, p. 46)

A montagem paralela ou alternada é caracterizada por colocar diferentes cenas

acontecendo simultaneamente. Além dessa técnica, deve-se a Griffth o desenvolvimento do

insert: "esse primeiro plano de detalhe que, na dinâmica de uma cena, dá uma informação

importante ao espectador, ao mesmo tempo que sublinha seu impacto dramático" (GOLIOT-

LÉTÉ, 2002, p.26). Essa forma de narrar de Griffth serviu de modelo ao classicismo

hollywodiano. "As técnicas cinematográficas empregadas na narrativa clássica serão, portanto, no conjunto, subordinadas à clareza, à homogeneidade, à linearidade, à coerência da narrativa, assim como, é claro, a seu impacto dramático" (Ibid, p.27).

Em 1914, o modelo de cinema americano invade o mundo inteiro. Na Europa, em

contrapartida, surgem formas contrárias à narrativa clássica. Na Rússia, a partir de

investimento do governo em propagandas que estimulassem a cultura soviética, o cinema

recebeu destaque por também ser um meio de se contrapor ao modo de vida norte-

americano. Dessa forma, os cineastas soviéticos, engajados no movimento revolucionário

da Rússia, recusaram o modelo de narrativa hollywoodiana. Na França, surgiram movimentos no cinema contrários a submissão ao teatro e ao

romance imposta pela narrativa clássica: o impressionista, dadaista e surrelista. E na

Alemanhã, surge o expressionismo no cinema.

"Todo esses movimentos - é o destino dos movimentos estéticos - apagaram-se em seu tempo por motivos diversos (ideológicos e políticos, econômicos). Contudo, por um ou outro de seus aspectos, infiltraram-se no cinema clássico e não cessaram de influenciar todo o cinema ulterior" (Ibid, p.33).

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Ainda hoje vemos influências desses movimentos nos filmes atuais. O cinema foi

aprimorando sua linguagem e desenvolvendo técnicas e convenções para criar significados

e modos de ver e entender o filme, de maneira que passasse a mensagem para o

inclui todos aqueles sistemas dos quais se podem selecionar e combinar elementos para

linguagem estão a iluminação, a edição, a sonora, os movimentos de câmera e o

enquadramento. Falando de um modo geral, vamos explicitar um pouco das características desses

elementos. A iluminação é utilizada de maneiras diferentes, podendo dar um ar realista ou

expressivo à cena. Na edição, as cenas são montadas, cortadas e colocadas em posições e

combinação das tomadas que criam a i

Ibid, p.

39). O som no cinema acompanha as cenas, levando a elas emoção em seus momentos

cruciais. Podendo também ser um mecanismo para aumentar o realismo da cena, ao

reproduzir os sons do ambiente. Os movimentos de câmera e enquadramento estão relacionados aos olhos do

espectador. A câmera se movimenta no próprio eixo, horizontal (panorâmica) e

verticalmente (tilt). E fora do próprio eixo, em cima de um trilho (travelling) e nas mãos do

cinegrafista (dolly, steady cam). O zoom é considerado um movimento de lente, podendo

aproximar (zoom in) ou afastar (zoom out) de um objeto sem movimentar a câmera. Já o

enquadramento, é usado para encaixar a cena dentro do quadro da tela, buscando

ambientar ou dar importância a alguma situação. Dentre alguns enquadramentos estão:

Plano Geral, Plano Conjunto, Plano Americano, Plano Médio, Primeiro Plano ou Close e

Plano Detalhe. Esses elementos criam a linguagem utilizada no cinema e que muitas vezes serão

os sistemas significadores de que o cinema se utiliza para dar sentido às suas narrativas

aprimora nossa competência para ver e nos permite usufruir melhor e mais prazerosamente

O cinema se utiliza dessas linguagens para criação de significados, reprodução da

cultura e criação de convenções. De um lado, os espectadores se vêem representados e

representam o que estão vendo, ambos sofrendo influência mútua. Mas, por outro lado,

esses padrões e valores do romance burguês dificultam o surgimento de modos de vida

mais plurais e democráticos.

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O cinema sempre esteve ligado ao contexto social e cultural nos quais vive a

sociedade, portanto, os filmes representam mais no imaginário das pessoas do que o

simples prazer de assistir a uma história. Os personagens, as cenas e a narrativa estão de

uma forma ligadas aos costumes, culturas, desejos, medos e modos de vida de um povo.

1.3 - O público do cinema

1.3.1 - O histórico

Nos Estados Unidos, na década de 50, o público do cinema sofreu uma considerável

queda devido à popularização da televisão, ao encarecimento das sessões e às mudanças

de hábito das famílias norte-americanas. As produtoras, entretanto, passaram a produzir

filmes para a televisão, aproveitando esse novo mercado. A partir de então, o cinema foi se aprimorando para ficar cada vez mais atrativo e

tecnológico, buscando sair na frente da competição com a televisão. Houve várias

mudanças para atingir o público: o cinema 3D, o Cinemascope, o Aromarama (utilizava

odores do filme na sala), o Cinerama, a modernização do som e a incorporação da cor no

filme. Algumas dessas táticas deram certo, outras não. Uma outra estratégia, no entanto, foi

segmentar o público e produzir filmes voltados para os jovens com idade entre 14 e 24 anos,

sugestivamente eram as pessoas que mais se interessavam por novidades naquela época.

ilme não pode mais agradar a toda a família - e as causas não se limitam à indústria cinematográfica - nem se pode esperar que com apenas uma sala se possa pagar os altos custos de exibição de um filme. O resultado tem sido uma definição mais clara dos novos subgêneros, narrativas desenvolvidas para um segmento do mercado: Star Wars/Guerra nas Estrelas foi talvez o exemplo mais claro de filme Kidult1, destinado a dois mercados distintos - as crianças e seus pais

Essa estratégia comercial funcionou e sua prática se dá até hoje. Filmes que

dialogam com adultos e crianças e possuem muita inserção na mídia, conseguem alcançar

altos lucros na bilheteria e vender produtos relacionados a ele. Como por exemplo, Avatar

(2009), do diretor James Cameron e Os Vingadores (2012), do diretor Joss Whedon. As salas de exibição segmentaram o público exibindo determinados filmes que

agradam espectadores diferentes. Uma sala que deseja atingir a grande massa exibe filmes

                                                                                                                     1 Uma combinação das palavras Kid (criança) com Adult (adulto). (TURNER, 1997, p.31)

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mais comerciais, outras que fogem do convencional atingem espectadores mais alternativos,

exibindo filmes de países fora do eixo comercial e com propostas diferentes na sua estética. Apesar do grande fluxo de produção cinematográfica e grande variedade de filmes, o

alcance do

indicam que 79% do público de cinema no Brasil é constituído por estudantes universitários

Isso se deve ao encarecimento das sessões, à expansão da pirataria, a questão

cultural envolvendo as camadas populares, que não têm o costume de ir ao cinema, e até

mesmo o fato de eles não se sentirem representados na maioria dos filmes.

a um filme e o entendemos, olhamos para os gestos, ouvimos os sotaques ou observamos o estilo do vestuário a fim de identificar as personagens, por exemplo, com determinada classe, grupo de preferência ou subcultura. E se os gestos, sotaques e estilos não forem aqueles da nossa sociedade, nós os entendemos mediante nossa experiência com eles em outros filmes, ou construindo analogias entre a sociedade que aparece no filme e a nossa

- sistemas pelos quais os signos são

Hollywood, entretanto, conseguiu se inserir em vários países com a cultura norte-

americana em seus filmes e foi aceito pelo público, dominando grande parte desse mercado.

Por conta disso, a maioria das produções locais tem encontrado dificuldade em se inserir,

mesmo estando contextualizados com o ambiente.

1.3.2 - A visão do público

público para que façam sentido. E esse aceite depende, intrinsecamente, dos padrões

culturais, valores, costumes e normas sociais em que estão imersos os filmes e seus

com o público, o filme precisa estar inserido no contexto social ou no imaginário das

pessoas, além de ser aceito culturalmente. Por detrás do espectador/receptor existe um sujeito dotado de valores, crenças e

culturas que interferem na formação de significados. Aquilo que o realizador propõe nem

sempre é enxergado por quem assiste, e muitas vezes é interpretado diferente. Isso se deve

porque o espectador traz consigo uma bagagem cultural, ou seja, seu olhar nunca é neutro. Filmes produzem, num primeiro momento, apenas imagos - marcas, traços,

impressões, sentimentos que são decodificadas por cada espectador a partir do seu

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conhecimento de vida e da sua experiência com a linguagem do audiovisual. Isso não

significa que a pessoa que vê um filme precise ser um expert em técnicas do audiovisual. A

imagem do filme é sedutora a ponto de prender a sua atenção e aflorar sua intuição no

entendimento da linguagem.

1.4 - Cinema e Educação

Há uma demanda muito forte de estudo das linguagens audiovisuais nas escolas,

principalmente por conta da vontade de modernizar a forma atrasada de comunicação e

expressão acumulada em salas de aula. O cinema é considerado um espaço de sociabilidade, ou seja, uma forma de

interação entre pessoas de diversas classes sociais e culturas, em função de uma mesma

finalidade, assistir ao filme. Muito além de uma forma de entretenimento, o cinema é uma

arte, apesar de muitos terem dificuldade de reconhecê-lo como tal. Assim, ele pode ser

utilizado no meio educacional, para transmitir conhecimento de um conteúdo de história, por

exemplo, para aprendizado de culturas de diferentes povos, para estimular debates sobre

determinado tema, ou até mesmo para aprendizado da linguagem audiovisual, enquanto

arte e comunicação. Segundo Rosália Duarte (2002), o uso do cinema em sala de aula está ligado em

sua maioria, apenas como ilustração de conteúdos didáticos.

diversão, a maioria de nós, professores, faz uso dos filmes apenas como recurso didático de segunda ordem, ou seja, para 'ilustrar', de forma lúdica e atraente, o

p. 87). Reconhecer o cinema como arte é possibilitar que ele seja aceito nas escolas como

instrumento de formação e educação dos alunos. Abrindo caminho para esses conhecerem

a sua história e sua linguagem, aprenderem a ler essa arte e poder experimentá-la

produzindo vídeos. Para isso é necessário que o educador esteja preparado. E, numa

sessão de um filme, por exemplo, é importante que o professor assista antes de exibi-lo,

obtenha informações sobre ele (história, diretor, gênero) e elabore um roteiro de discussão

para a turma com um foco definido. De acordo com o artigo 32, inciso II, das leis de diretrizes básicas da educação

nacional (nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996), o ensino fundamental terá por objetivo a

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formação básica do cidadão, mediante "a compreensão do ambiente natural e social, do

sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade".

A utilização do cinema em sala de aula, então, é uma forma de proporcionar o conhecimento

desses valores da sociedade. Existem estudos que indicam que o cinema se compara aos nossos sonhos. Apesar

de não acontecerem de fato, podemos ainda assim experenciá-los. Assim é o cinema,

embora não fazermos parte daquela história, por aquele momento fomos inseridos na

narrativa. Como os sonhos, nessa imersão dentro da narrativa, nossos pensamentos são

transformados em imagens e muitas vezes nosso psicológico é analisado através de

temáticas escolhidas pelos filmes. Logo, podemos perceber que muitos filmes atingem seus públicos por transformarem

em imagens aquilo que está registrado no inconsciente do espectador. Com isso, a

identificação do público com o filme facilita o processo de discussão sobre as temáticas

narradas. Por exemplo, exibir um filme com temática da adolescência e seus dramas

vividos, para os jovens dessa idade, facilita o processo de debate e aprendizado sobre

algum conteúdo que tenha tratado o filme. O filme age como um elo entre os jovens e o

professor, ou o facilitador do debate. Segundo Antonio Costa (2003), o cinema atua no processo de produção do visível,

ajudando na compreensão de um objeto de estudo.

omo expressão do momento mais avançado do processo de pode constituir um objeto de estudo, de conhecimento e de

informação válido por si próprio, mas também pelo confronto que permite estabelecer entre disciplinas institucionais (língua, literatura, história, história da arte, etc.) e todas aquelas manifestações que hoje contribuem para a formação

Sonhar, produzir filmes ou debater, são maneiras de expressar sentimentos. Em sala

de aula, portanto, trabalhar com o audiovisual aguça a sensibilidade de cada um,

amadurecendo sua maneira de vivenciar situações cotidianas e expressão de ideias.

1.5 - Cineclubismo

O Movimento Cineclubista surgiu na França na década de 20 e logo chegou ao

Brasil, se iniciando no Rio de Janeiro com o cineclube ChaplinClub. O movimento surgiu

buscando suprir as necessidades que vieram com o cinema comercial. Havia grande

demanda de pessoas que queriam fazer da prática de assistir a filmes, um momento de

socialização e discussão sobre cinema. Alguns cineclubes chegaram a oferecer cursos

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profissionalizantes, pois na época ainda não existiam escolas de cinema. Aqueles que

assistir às produções do circuito alternativo, que eram mais difíceis de encontrar. Esses

espaços foram responsáveis por formar grandes cineastas como Glauber Rocha, Cacá

Diegues, Jean-Luc Godard, entre outros. Hermano Figueiredo em seu livro Cineclube -

Organização e Funcionamento reflete:

espectador crítico, o jovem realizador, o crítico de cinema e, assim, contribui para a renovação e re-

Isso se deve porque são propícios para uma aprendizagem informal do audiovisual,

neles acontecem trocas de saberes e informações e podem ser usados, inclusive, como

ações pedagógicas em escolas. Os cineclubes, hoje, encontraram uma forma de organização única e exclusiva que

detém de princípios, conselhos e organizações que discutem o movimento no Brasil e no

mundo. Seus princípios são a ausência de fins lucrativos, estruturas democráticas e

compromissos culturais ou éticos. Entretanto, os cineclubes precisam ser auto-sustentáveis

e para isso é preciso realizar ações para arrecadar recursos.

diretoria e/ou grupo conduz as finanças, planeja, capta recursos para que seja possível ter a Ibid, p.33)

Sabe-se que trabalhos sem fins lucrativos encontram dificuldades para se manter,

porém, ter o lucro como principal objetivo sacrifica a qualidade da atividade, uma vez que

uma experiência lucrativa tende a se repetir buscando mais e mais o lucro, podando a

criatividade daqueles que trabalham. Além disso, a apropriação do lucro por um grupo de

pessoas é a base para uma sociedade desigual, uma sociedade de classes e hierarquias.

Todo alcance financeiro conseguido pelo cineclube é revertido para suas atividades. As estruturas hierárquicas de um cineclube são formadas através de avaliações e

seus dirigentes são trocados periodicamente. Isso dá uma característica orgânica à

estrutura, que se mantém em rotatividade e em readaptação. Sendo assim, os cineclubes não se caracterizam como instituições capitalistas, seus

principais compromissos estão voltados para a cultura, ética, política e qualquer bem que

interfira na comunidade na qual está presente. Os cineclubes podem estar presentes em

uma comunidade, empresa, escola, universidade. Sua contribuição é na mudança de

consciências e formação de opiniões.

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Em uma escola de ensino fundamental ou médio, pode-se criar com os alunos o

hábito de ver filmes com um projeto de cineclube, seja em horário da aula ou em um outro

horário. Assim como em qualquer ambiente, o cineclube pode ser aplicado na escola, desde

que haja alguém para orientar. Esse cineclube, além de contribuir com a formação de

público, contribui para o aprendizado do aluno.

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CAPÍTULO 2 - VISÃODOALTO

O projeto VisãodoAlto surgiu de nossas pesquisas acerca de oficinas de audiovisual

para crianças. No meio dessas pesquisas, encontramos o trabalho de conclusão de curso

da pedagoga Natália Cunha, desenvolvido na Universidade Santa Cecília - UNISANTA, com

inspirou no formato de nossas oficinas. Dividimos em 4 conteúdos gerais: Som e Trilha,

Enquadramento, Movimentos de Câmera e Edição. Como j

tivemos a ideia de desenvolver essas oficinas naquele espaço. Pensamos também, que

seria interessante uma parceria com a EMEF Paulo Roberto Vieira Gomes, a escola do

bairro, localizada próximo à Casa de Cultura. Além da proximidade, o projeto realizado em

2010 teve uma excelente parceira com a escola. Buscamos uma conversa com o diretor da escola e alguns professores e dela foi

decidido realizar o VisãodoAlto com apenas uma turma de alunos durante todas às quintas-

feiras do primeiro semestre no horário das duas primeiras aulas, ou seja, das 13h às 15h,

totalizando um total de 24 horas de oficinas realizadas. Foi escolhido o 5º ano B, composto

por 23 alunos com faixa etária entre 10 e 12 anos. Digitalizamos e imprimimos uma autorização de uso da imagem para postagem na

internet e para saída da escola nos dias e horários definidos. As crianças levaram para casa

e os pais fizerem ciência do projeto assinando as autorizações.

2.1 Cinema é coisa de gente grande?

Nossa escolha pelo público infantil se deu a partir da nossa vontade de experimentar

e ensinar as técnicas do audiovisual de maneira lúdica voltada para esse público. Sabemos

que as crianças estão diretamente ligadas ao audiovisual, seja através das telenovelas

voltadas para adolescentes, filmes, desenhos animados e até mesmo propagandas.

Entendemos que elas são capazes de ler essas linguagens. As oficinas, então, buscam

desenvolver essa leitura da linguagem audiovisual nas crianças. Dessa forma, levamos o cinema como uma maneira de socialização e interpretação,

buscando um diálogo entre as comunidades populares e o audiovisual, escolhendo filmes

que tratassem das temáticas sociais.

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O audiovisual possui uma linguagem complexa e repleta de códigos. Na

universidade aprendemos a decifrar esses códigos através de um estudo acadêmico. Uma

criança também é capaz de entender essa linguagem, só que o entendimento dela parte da

sua percepção e da sua sensibilidade, diferentemente de um estudo de ensino superior. Por

isso é preciso abordá-la de uma forma mais lúdica e envolvente. Escolhemos trabalhar a linguagem audiovisual com as crianças por conseguirmos

através do cinema, o processo de sociação2, interação entre seres desiguais em função de

um objetivo comum, e acreditamos que esse processo possa ajudar no desenvolvimento

das crianças no ambiente escolar também.

2.2 O São Benedito: Subir o morro pra quê?

O bairro de São Benedito encontra-se localizado entre os Bairros da Penha,

Consolação, Bonfim e Itararé. Tem como limites as avenidas: ao norte Maruípe, ao sul

Vitória, a leste Marechal Campos e ao oeste Leitão da Silva, avenidas bastante

movimentadas e com muito comércio. A ocupação do bairro teve início na década de 60.

Sargento Carioca foi quem liderou a ocupação e o agrupamento de pessoas para iniciar os

assentamentos. A maioria dos ocupantes era de outros estados, como Minas Gerais, Rio de

Janeiro e Bahia. A falta de dinheiro para comprar um imóvel ou um terreno, e a vinda de

pessoas do interior em busca de emprego foram alguns dos motivos que fizeram com que

essas pessoas fossem morar nos assentamentos. Hoje o São Benedito passa por momentos difíceis envolvendo a questão da

violência. O bairro encontra-se ocupado por policiais armados. Por várias vezes aconteceu

confrontos e tiroteios entre a polícia e aqueles que praticam a venda de drogas ilícitas,

envolvendo o Bairro da Penha e São Benedito, que brigam pela conquista do comércio de

drogas. Além disso, a ausência do poder público faz com que os moradores convivam com

falta de estrutura. Construções irregulares, escola do bairro pequena, com poucos espaços

para lazer, são problemas enfrentados. Um quadro que vem sendo mudado pela prefeitura.

O que vemos, entretanto, na nossa experiência lá na comunidade, essa mudança está

sendo feita em um processo muito lento. A escola, por exemplo, que já se falava em

aumentar há alguns anos e ter um espaço para refeitório e para recreio, por exemplo, só

agora a prefeitura está desapropriando casas próximas à escola para poder começar a fazer

a reforma.                                                                                                                      2 Termo de Rosália Duarte (2002)

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A presença de projetos sociais dentro do bairro se dá de maneira pontual, sendo que

alguns particularmente são vinculados à Igreja Católica. De acordo com a Pesquisa

-2008), realizada nos

Bairros Floresta, Da Penha, Jaburu, Bonfim, Itararé, Consolação, Engenharia, São Benedito,

pela Associação Ateliê de Idéias em parceria com o Fórum Bem Maior de Vitória-ES, foi

constatado que nessas comunidades são poucas as atividades culturais realizadas

(principalmente na área do audiovisual) que não estejam relacionadas às Igrejas. Por meio desses dados relacionados ao envolvimento da comunidade com o

audiovisual que pensamos em nosso projeto como alternativa para modificar esse quadro.

Foi então, que fizemos a parceria com a "É o Benedito!", para atuar no Cineclube do

espaço, e com a EMEF Paulo Roberto Vieira Gomes, para trabalhar com a turma do 5º ano.

2.3 O Cineclube É o Benedito!

O Cineclube É o Benedito! foi inaugurado no dia 17 de Julho de 2010, através do

projeto "Cinema e Literatura na Comunidade", aprovado pelo Programa Rede Cultura Jovem

no Edital de Núcleos da Secretaria de Cultura do Espírito Santo. O projeto foi uma parceira

do Grupo de Estudos Audiovisuais (Grav) com a "Casa de Cultura É o Benedito!". O "Cinema e Literatura na Comunidade" teve o objetivo de elaborar e experimentar

propostas de difusão da literatura e do cinema em ambientes diversos daqueles

normalmente constituídos pelos espaços acadêmicos e profissionais. O projeto deu suporte

técnico para que o Cineclube tivesse continuidade e autonomia no Bairro, comprando um

datashow e equipamento de som (mesa e 2 caixas de som). Durante os cinco meses de

parceria, o Cineclube realizou sessões para grupos de escolas da Grande Vitória e sessões

abertas para os moradores do bairro e de comunidades próximas. Além disso, nesse

período, também aconteceu a oficina de Infantozines da designer Juliana Lisboa, além das

atividades de leitura e escrita do Professor Jadir Feliciano. A "Casa de Cultura É o Benedito!" tem como base a leitura e a escrita. Coordenada

pelo Professor Jadir, a Casa, além do cineclube, tem uma biblioteca, um jardim e,

atualmente, uma pequena horta. A Casa localizada na rua Tenente Setúbal, nº 600, no

Bairro São Benedito, foi onde cresceu o coordenador do espaço. A constituição dela como

espaço cultural tem origem nos encontros familiares e comunitários.

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2.4 As crianças e a escola

A escola do bairro, EMEF Paulo Roberto Vieira Gomes, se localiza na mesma rua

em que a "Casa de Cultura É o Benedito!". Sua estrutura é pequena e a maioria dos

espaços apertados, não há refeitório e os alunos merendam em sala de aula, não há quadra

para a prática de esportes e aula de educação física, por isso os alunos tem que ir para fora

da escola para praticar essas atividades. A obra de expansão está paralisada por conta da

necessidade de desapropriação de algumas áreas. Não existe uma biblioteca na escola,

algo fundamental para incentivar a prática de leitura e o laboratório de informática é

pequeno, o que faz as crianças ter pouca intimidade com as mídias digitais. De acordo com o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que avalia

o fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações, a EMEF Paulo Roberto Vieira

Gomes atingiu a nota de 4,5 pontos, que representa um aumento em relação ao seu

primeiro ano de funcionamento em 2005, cujo Ideb foi de 2,2 pontos. Entretanto, o índice

abaixo de 6 representa que a escola ainda não atingiu o valor referência, mas que precisa

manter o crescimento para atingir suas metas propostas pela Secretaria de Educação. Essas carências, junto com as condições dadas aos professores, que também

sofrem com a precariedade do ensino e desvalorização da profissão, faz com que os alunos

não se interessem pelos estudos e enxerguem a escola como uma obrigação a ser

cumprida e não como algo agradável. Além disso, percebemos que elas sentem

necessidade de espaço para brincar, correr e conviver com os colegas. Isso é reflexo da

falta de estrutura da escola e também do bairro, que tem poucos espaços de lazer. Ao

ramado grande e

espaçoso, toda a turma já pede pra poder brincar.

2.5 Como a turma percebe o cinema

Nas experiências das oficinas do projeto com as crianças, pudemos entender um

pouco de como elas percebem o audiovisual. O nosso objetivo era fazer com que elas

conhecessem, através das oficinas, a linguagem do cinema, poetizassem nas atividades,

fruíssem de todas as vivências e se expressassem através dos exercícios propostos. Mesmo que muitas crianças da turma não tenham o costume de ir regularmente ao

cinema e mesmo que muitas delas não tenham ouvido falar da linguagem técnica da sétima

arte, aqueles que estiveram presentes nas oficinas demonstraram facilidade em entender os

códigos dessa linguagem.

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Além disso, algumas coisas que falávamos nas oficinas elas já conheciam ou já

tinham ouvido falar. Quando falamos de stopmotion, por exemplo, um dos alunos já

conhecia essa técnica e explicou para a turma. Falar de uma linguagem técnica para crianças, como os movimentos de câmera

(panorâmica, travelling), tipos de enquadramento e o que é uma edição, pode ser

complicado. Se nós propomos, entretanto, atividades lúdicas para a experimentação e

compreensão dessas técnicas, as crianças se sentem mais familiarizadas com esses

códigos. Foi o que fizemos quando falamos de enquadramento, por exemplo, realizando

uma atividade na qual a moldura de papel representava o quadro da câmera. Percebemos que as crianças se sentem a vontade ao manusear o equipamento, ao

se verem projetadas na tela e ao falar dos filmes que já viram e daqueles que gostariam de

assistir. Alguns curtas que exibimos elas pediam para assistir novamente e expressavam

claramente se gostavam ou não dos vídeos. Vimos também que aqueles vídeos que não

possuem muitos diálogos, músicas ou movimentação, não agradam tanto as crianças.

2.6 Os prós e os contras

Tivemos uma ótima parceria com a "Casa de Cultura É o Benedito!", que além de

ceder o espaço, os equipamentos e um faxineiro, o coordenador da casa acompanhou as

oficinas e ajudou todo o processo como oficineiro, registrando em fotos, orientando os

alunos, realizando algumas atividades e orientando a gente em alguns momentos. Além da Casa, a Escola Paulo Roberto também foi uma forte parceria na execução

do projeto. Na nossa primeira reunião com o diretor da escola, eles se mostraram abertos

para receber o projeto. Nesse primeiro encontro, já saímos com os dias, horários e a turma

que iria ser trabalhada definidos. Durante a execução do projeto a escola sempre esteve

disponível no que fosse preciso. Quando precisamos tirar xerox ou imprimir alguma coisa,

fazíamos na escola. A turma sempre ia da escola para a Casa É o Benedito! com um

professor para acompanhar a oficina. Nos meses de execução do nosso projeto, entretanto, encontramos algumas

dificuldades. Muitas vezes o Bairro estava em conflito entre a polícia e aqueles que praticam

o narcotráfico. Esse foi um fator para que as nossas oficinas demorassem a começar.

Apenas um dia, entretanto, depois do início do projeto, que o conflito coincidiu com um dos

dias da nossa oficina. Nesse dia, ficamos sabendo da situação do bairro pelos jornais de

manhã e, por isso, decidimos cancelar a oficina.

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Outra dificuldade que tivemos foi o fato de que essa era a nossa primeira experiência

de fazer oficinas para crianças. Já tínhamos uma noção que não seria fácil lidar com eles

por ser uma turma de 23 alunos. Em vários momentos eles se desconcentravam, mas isso

não interferiu muito no desenvolvimento das atividades, e nós conseguimos despertar o

interesse deles. Além de nós, do Coordenador da Casa e do Professor que acompanhava a

turma, recebemos a colaboração de alguns amigos, o que fazia com que tivéssemos uma

média de quatro oficineiros por dia de projeto. Em nossas reuniões, percebemos que

tínhamos um número significativo de oficineiros para deixar as atividades bem dinâmicas e

conseguir dialogar com todos os alunos, evitando, inclusive, a desconcentração deles. Dos

professores que foram acompanhar a turma nas oficinas, apenas o professor de Educação

Física ficou alheio às oficinas. Isso dificultou a gente em alguns momentos. Dos nossos colabores os que estiverem presentes em grande parte das oficinas

foram: Guilherme Rebêlo, aluno de Comunicação Social da Ufes, e Bruno Rebequi, aluno de

bacharel em Música da Ufes. Além deles, recebemos a presença de outros colabores que

foram apenas em uma oficina: Ramon Zagoto, jornalista e videomaker, que nos ajudou na 4ª

oficina; Mayra Amorim, terapeuta ocupacional, que ministrou a 8ª oficina; e Gisele

Bernardes, estudante do curso de audiovisual da Ufes, que nos ajudou na oficina de

storyboard.

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CAPÍTULO 3 - MEMÓRIA DAS OFICINAS

De abril até agosto de 2012, foram 12 oficinas realizadas divididas em 4 conteúdos

gerais: Som e Trilha, Enquadramento, Movimentos de Câmera e Edição. Para cada

conteúdo separamos 3 oficinas. Antes de iniciar as atividades planejamos as oficina,

selecionando os curtas e programando as atividades. Não ficamos fechados no nosso

projeto inicial. Na medida em que íamos realizando o projeto, adaptávamos as atividades

programadas de acordo com o interesse e o perfil da turma. No final de cada oficina

avaliávamos as atividades realizadas, se deram certo ou não, e, dessa maneira,

reprogramávamos as próximas oficinas.

3.1 - Som e Trilha

Esse primeiro módulo é dividido em três oficinas. No primeiro encontro,

apresentamos à turma um pouco dos primórdios do cinema e da época do Cinema Mudo,

conversamos com a turma sobre como era fazer filmes sem o recurso do som e

perguntamos pra eles o que eles viam de diferenças nos filmes mudos para os de hoje. No

segundo encontro, provocamos nas crianças a percepção do som a partir daquilo em que

elas estão mais familiarizadas: o som do corpo e o som do seu cotidiano. Já no terceiro e

último encontro desse módulo, trabalhamos a percepção da trilha sonora em diferentes

gêneros cinematográficos e, também, propomos para as crianças produzirem trilhas com

instrumentos de percussão feitos com sucatas.

3.1.1 - Cinema Mudo

1ª Oficina - 12/04/2012 No dia 12 de abril de 2012, dezenove alunos do 5º ano assistem, no "Cineclube É o

Benedito!", às imagens de "A Chegada do Trem à Estação" feitas pelos irmãos Lumière.

Esse vídeo foi exibido pela primeira vez no dia 28 de novembro de 1895, em Paris, para 33

espectadores. A data mostra claramente uma diferença nessas duas exibições, enquanto os

33 espectadores parisienses se espantaram com as projeções, os alunos da 5º ano não

tiveram espanto algum. Para o público de 1895, imagens em movimento era novidade. Hoje,

ao contrário, as crianças nascem em um mundo em que o audiovisual está muito presente.

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Essa famosa exibição feita pelos irmãos Lumière entrou para a história do cinema como

uma das primeiras exibições públicas e pagas de cinema. Nessa oficina, procuramos mostrar um pouco de como foi o início do primeiro cinema

- através da projeção da filmagem dos irmãos Lumière -, que tinha como finalidade o registro

e as experimentações. Depois comentamos sobre a época do Cinema Mudo, destacando o

ator Charles Chaplin e o seu personagem Carlitos. Exibimos trechos de alguns filmes do

Chaplin: "O Garoto" de 1921; "A Corrida do Ouro" de 1925; e "Luzes da Cidade" de 1931.

Durante a exibição, as crianças se mostraram atentas e curiosas pra saber como cada

história terminaria. A cena em que Chaplin participa de uma luta de boxe, do filme "Luzes da

Cidade", por exemplo, teve duração de aproximadamente 6 minutos e em nenhum momento

eles ficaram distraídos. Pelo fato de ser cinema mudo, a gente não esperava que os filmes

de Chaplin poderiam despertar tanto a atenção das crianças. Não podemos deixar de

considerar, entretanto, que a linguagem cômica do personagem Carlitos é universal e cativa

pessoas de qualquer idade. Após exibir os vídeos, conversamos com a turma sobre o que

eles acharam e entendiam da história. Exibimos nesse dia, também, curtas de animação atuais: "Os Olhos do Pianista"

(2005), de Frederico Pinto, que narra a história de um senhor idoso cego que toca a trilha

sonora ao vivo no cinema de filmes de Cinema Mudo com a ajuda da sua neta; "A noite do

Vampiro" (2006) de Alê Camargo, com uma referência ao filme Nosferatu (1920) de F.W.

Muarnau, a animação feita no estilo de cinema mudo mostra um vampiro em São Paulo

sendo atacado por um mosquito; "Primeiro Movimento" (2006) de Érica Valle, animação que

mostra um delicado encontro amoroso ao som do 1º Movimento do concerto de Bach em ré

menor para rabeca e flauta; e "Roubada!" (2000), de Maurício Vidal, Renan de Moraes e

Sérgio Yamasaki, que conta a história de uma velhinha de cadeira de rodas que persegue o

ladrão que roubou a sua bolsa. Em seguida, realizamos uma atividade de produção de um vídeo com a turma, com a

seguinte temática: as crianças vão ao cineclube assistir a um filme. Construímos o roteiro

em conjunto com os alunos: crianças chegam ao cineclube; menina faz movimento na

cadeira; todas as crianças riem; uma delas faz sinal com o dedo na boca, indicando silêncio;

todas ficam em silêncio; a partir de então segue uma sequência de expressão das crianças

em conjunto com as imagens do filme que elas assistem, ora as crianças estão alegres, ora

ficam espantas, outra momento elas demonstram medo, e por último demonstram

expressão de apaixonados. Essa atividade foi bem produtiva e contamos com a participação de todos os alunos,

que se mostraram interessados e se envolveram nela. Após a filmagem, os alunos

decidiram o nome do vídeo: "Todos Amigos no Cinema". Vale deixar claro que no vídeo

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editado tem a gravação das expressões das crianças intercaladas com o filme "Tempos

Modernos" de Charles Chaplin, entretanto, nesse dia elas não assistiram nenhum trecho

desse filme. A coerência da expressão delas com as cenas que estavam passando ficou por

conta da nossa montagem na edição. Voltaremos a esse tópico mais a frente. É importante registrar, também, que antes de começar esse primeiro dia de oficina, o

Professor Jadir Feliciano, coordenador da "Casa de Cultura É o Benedito!", passou as fotos

e vídeos das atividades desenvolvidas na Casa em 2010, com a parceria do Grav. O

interessante é que os alunos da turma da oficina tinham participado das atividades

desenvolvidas naquele ano. Eles se viram nas fotos e lembraram dos filmes que assistiram.

3.1.2 - Expressando o Som que o Corpo produz e o Som do Cotidiano

2ª Oficina - 19/04/2012 Nossa intenção com esta oficina foi iniciar a experiência de aprendizado do ritmo

através do próprio corpo. E com isso, começar a leitura sobre a linguagem da trilha sonora

como item essencial no audiovisual. De início, houve exibição do vídeo produzido a partir da oficina #01. Percebemos o

quanto as crianças gostaram de ver suas imagens sendo reproduzidas na tela. Exibimos

também alguns exemplos de sonoridade produzida no corpo com os vídeos do conjunto

Barbatuques. Fundado pelo músico Fernando Barba, em 1996, o grupo produz música

orgânica utilizando o próprio corpo como instrumento de música. Conversamos com as

crianças e brincamos com a sonoridade de nosso corpo para descontrair e fazer com que

elas se soltassem para participar da atividade que vinha a seguir. Nos colocamos em roda e pedimos para cada um circular pelo ambiente sentindo os

sons que o corpo fazia ao caminhar. Após isso, nos colocamos novamente em roda e

fizemos um breve aquecimento com alongamento e posturas de yoga. Eles se mostraram

bastante interessados no alongamento e participaram bem. Ainda em roda, propusemos

uma atividade na qual falamos com batidas no nosso corpo qual o nosso nome e

guns ficarem tímidos. Para

exercitar a audição, na próxima atividade nos colocamos em silêncio e de olhos fechados

para ouvir o som do nosso corpo. Tivemos dificuldade em manter o silêncio entre as

crianças, todos os sons que elas ouviam, elas reproduziam. Pedimos para imaginar quais os

sons elas ouvem ao acordar no bairro, ao tomar café, ao irem para a escola, no recreio,

quando brincam e quando vão dormir. À medida que pedíamos para imaginar, elas iam ao

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32

mesmo tempo falando sobre os sons e a partir daí começamos a criar ritmos em cima

desses sons reproduzindo-o através do coro das crianças. Para isso, separamos a turma em grupos e então o Bruno Rebequi, um dos

oficineiros do projeto, passou a conduzir o coro colocando cada som em um tempo do ritmo.

As crianças tiveram facilidade em acompanhar o ritmo dado para cada grupo. Porém, as crianças se cansavam da repetição e queriam fazer outros sons, sendo

que era exigida bastante concentração para cada grupo entrar no ritmo. Pensamos que a

atividade que tínhamos planejado era muito complexa para o grupo e nos faltou tempo para

realizá-la por inteiro.

3.1.3 - Ritmo e Som: A trilha na cena

3ª Oficina - 26/04/2012 Como de costume, começamos exibindo o vídeo do registro da oficina da oficina

anterior. A turma adora se ver na tela grande do datashow. Ao final do vídeo, as crianças

Com o objetivo de trabalhar a sensibilidade na turma, em traduzir uma música em

sentimentos, realizamos a primeira atividade dessa terceira oficina. Passamos algumas

músicas e pedimos para a turma fechar os olhos e, em silêncio, ouvir a música e pensar

quais sentimentos elas passaram. A turma, entretanto, foi além da nossa expectativa. Eles

não só falaram quais os sentimentos que vieram na cabeça deles ao ouvirem as músicas,

mas também falaram das cenas que eles imaginaram e as cenas que eles lembraram que

haviam vivenciado. Da música, que muitos consideraram triste, o aluno Gustavo, por

exemplo, disse que imaginou uma cena de uma mulher dentro do trem e um rapaz do lado

de fora, na estação, o trem parte e a mulher e o rapaz se despedem com tristeza. De

repente ele já tenha visto em algum filme essa imagem ou, simplesmente, imaginou.

Independentemente disso, é visível a semelhança a um roteiro de cinema. Nessa mesma

música, a aluna Marcela lembrou-se da cena do enterro do tio dela. A trilha do filme "Psicose" passou às crianças a sensação de medo e algumas

lembraram de cenas de pessoas fugindo ou se escondendo. Quando ouviram um Rap, os

alunos lembraram de cenas dos conflitos que aconteceram na comunidade, entre polícia e

narcotraficantes. Uma das alunas disse que imaginou uma cena em que a guerra estava

acontecendo e as crianças foram proibidas de brincar na rua por conta do medo. Foram

várias trilhas e várias sensações e histórias imaginadas. Uma falha da nossa parte foi o fato

de não termos registrado em vídeo esse momento das conversas.

Page 34: VISÃODOALTO: CINECLUBISMO, CINEMA E EDUCAÇÃO NA COMUNIDADE - Isis Dequech e Victorhugo Passabon

33

Na segunda atividade, exibimos cenas do filme "Kiriku e A Feiticeira" (1998) de

Michel Ocelot. Dividimos a turma em dois grupos e cada grupo ficou com a função de criar

uma trilha para uma daquelas cenas exibidas. Nós levamos alguns instrumentos de

percussão que produzimos com material reciclável coletados em nossas casas, cantinas e

restaurantes, como latas e garrafas pet e nos reunimos para a produção coletiva. Foi daí

que saiu o som das trilhas que eles criaram para as cenas. Num primeiro momento as

deixamos livres para tocar e conhecer os intrumentos, depois fomos organizando para a

criação da trilha musical. Depois da criação, cada grupo apresentou a sua trilha. A nossa ideia era que eles

tocassem a música junto com a exibição da cena escolhida do filme de "Kiriku", só que, por

problemas técnicos na gravação do DVD, não deu para fazer isso. Então, nós gravamos a

apresentação deles e, na edição, juntamos com as cenas escolhidas. O vídeo com a trilha

tocada junto com a cena foi exibido na oficina da semana seguinte. Um fato engraçado que vale a pena registrar aqui é que, nesse dia, a calça do

Victorhugo rasgou e ele só foi reparar depois de todas as crianças terem visto. Isso tirou um

pouco a concentração da turma, entretanto, não atrapalhou na atividade.

3.2 - Movimentos de Câmera

Esse segundo módulo também é dividido em três oficinas. No primeiro encontro

apresentamos a Panorâmica, que é um movimento de câmera, e o Zoom, que é um

movimento de lente. Nesse dia, fizemos, ainda, uma atividade de dança circular e deixamos

a câmera em um tripé, na varanda da casa, para que cada aluno pudesse manuseá-la

fazendo os movimentos de Zoom e de Panorâmica, além de outros movimentos que eles

faziam sem a gente ter explicado, como o tilt (movimentar a câmera verticalmente no próprio

eixo). No segundo encontro apresentamos à turma o movimento com travelling, como não

tínhamos nenhum travelling, improvisamos com um carrinho de compras. Nesse mesmo dia,

trabalhamos a caracterização de personagens com a turma e fizemos um desfile desses

personagens, o desfile foi filmado com o nosso travelling improvisado. No último encontro,

saímos um pouco dos movimentos de câmeras, dividimos a turma em 3 grupos e cada

grupo criou um história.

3.2.1 - Um Zoom e uma Panorâmica na Cultura Afro-Brasileira

4ª Oficina - 03/05/2012

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Para esta oficina, pensamos em trabalhar a temática da cultura afro-brasileira e para

Tivemos uma conversa após o filme sobre seu roteiro e as crianças recontaram a história do

curta. Após isso, demos uma explicação sobre os movimentos de câmera e lente, com

ênfase no zoom e na panorâmica. Perguntamos a eles se já conheciam esses nomes ou se

já tinham escutado alguma vez. Alguns já conheciam o zoom. Dividimos a turma em dois grupos. O primeiro grupo permaneceu na parte de baixo

da casa e o outro grupo foi para o terceiro andar. O grupo que ficou embaixo participou da

atividade de dança circular com a Isis e puderam aprender uma dança africana com uma

música chamada Kawaheri e experimentaram outras danças com músicas brasileiras. Enquanto isso, o outro grupo participou de uma atividade com o manuseio da

câmera fazendo os movimentos de zoom e panorâmica, junto com Ramon Zagoto, que foi

nosso colaborador neste dia, e Victorhugo. Eles fizeram essa atividade na varanda da casa

e de lá apontavam a câmera para vários ângulos do morro, inclusive para o bairro vizinho,

Jaburu. Alguns reagiram com agressividade fazendo xingamentos aos moradores do

Jaburu, numa espécie de competição, dizendo que o São Benedito era melhor que lá.

Percebemos que esse espírito de competição já é inerente aos moradores desde a infância.

O grupo que estava em cima desceu e o grupo que estava embaixo subiu para ambos

participarem das duas atividades. Fizemos uma avaliação e vimos que ambas atividades entusiasmaram as crianças. A

dança circular envolveu a maioria e até aqueles que não mostraram interesse no começo,

depois também entraram na roda para dançar. Nas outras atividades eles também se

sentiram bastante a vontade para manusear a câmera e fizeram imagens muito bonitas do

bairro e da cidade.

3.2.2 Nos Trilhos do Travelling e na Trilha dos Personagens

5ª Oficina - 10/05/2012 O travelling é todo o movimento em que a câmera se desloca no espaço,

diferentemente da panorâmica em que a câmera se movimenta apenas no próprio eixo.

Steady cam, câmera na mão, gruas, dolly são chamados de movimentos de travelling.

Também se considera como travelling o carrinho mais o trilho em que se coloca a câmera

para se movimentar.

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Nessa oficina apresentamos à turma esse movimento de câmera e trabalhamos com

a construção de personagens. Primeiro lemos, em conjunto com a turma, o livro "A

Chapeuzinho Amarelo" de Chico Buarque de Holanda. Depois exibimos os curtas: "Disfarce

Explosivo" (2000) de Mário Galindo e "Picolé, Pintinho e Pipa" (2007) de Gustavo Melo.

Nesse último curta, há uma cena em que a câmera é colocada em cima de uma kombi e

caminha pelas ruas da comunidade anunciando para a criançada a troca de picolé, pintinho

e pipa por garrafas de vidros. A gente utilizou essa cena para exemplificar o movimento de

travelling, também, levamos para o Cineclube um travelling improvisado, que consistia em

um carrinho de mercado com um tripé em cima. Além disso, conversamos sobre os

personagens das histórias dos curtas, como são as características dos personagens dos

vídeos e como caracterizar um personagem. Depois da conversa partimos para a atividade de criação e caracterização de

personagens. Cada aluno criou um personagem com as roupas e adereço e, também, se

caracterizou através do jeito de falar e dos gestos. Com os personagens criados, fizemos

um desfile. Para gravar utilizamos o nosso travelling improvisado. A turma gostou bastante

de usar roupas para se caracterizar. Foi uma das oficinas que eles não paravam de

comentar nas semanas seguintes.

3.2.3 - Movimentos de Câmera no Começo, Meio e Fim: O Enredo de Uma História

6ª Oficina - 17/05/2012 Esta oficina tem como objetivo principal, trabalhar a narrativa e o roteiro das

histórias. Para isso, exibimos primeiramente o vídeo produzido na oficina passada e depois

o curta- -

da terra. Pedimos para as crianças recontarem para nós a história do curta. Dividimos a turma em três grupos e cada grupo criou coletivamente uma história e

escreveu numa folha que seria apresentada e dramatizada para a turma. Senti que eles

tiveram muita dificuldade em criar e tivemos que ajudá-los a construir a narrativa. Foi

trabalhoso manter a concentração dos alunos durante toda a atividade. Cada grupo foi à frente e apresentou a história criada, seja dramatizando ou através

da contação de história, na qual cada um contava uma parte. Muitos sentiram vergonha perante a turma, o que dificultou a apresentação. Um

grupo criou uma história a partir de um filme que eles já haviam assistido e também do curta

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36

-

fizemos, na qual os alunos imitavam o cinema-mudo.

3.3 - Enquadramento

O terceiro módulo das nossas oficinas tem a temática do enquadramento. Assim

como os outros dois, esse módulo é divido em três encontros. No primeiro trabalhamos com

a turma a construção de um storyboard, cada aluno pegou uma folha e desenhou cenas em

sequência nos espaços dos quadrinhos do storyboard que tinha na folha. O storyboard dá a

noção de espaço do enquadramento da tela. No segundo encontro fugimos um pouco dessa

questão de enquadramento e realizamos uma oficina a partir das técnicas do Esquizodrama,

ministrada pela Terapeuta Ocupacional Mayra Passabon Amorim. E no último encontro,

voltamos ao enquadramento. Primeiro, mostramos um slides com imagens para exemplificar

os diferentes tipos de planos (plano geral, plano conjunto, plano americano, plano médio,

primeiro plano ou close, plano detalhe). Depois, realizamos uma atividade de moldura, em

que cada aluno recebia uma moldura, feita de cartolina, para enquadrar o ambiente e

desenhar o enquadramento que elas faziam.

3.3.1 - Storyboard

7ª Oficina - 24/05/2012 Para complementar a oficina passada, pensamos em trabalhar a técnica de

storyboard com as crianças. Essa técnica consiste em desenhar quadro-a-quadro as cenas

de uma história. Exibimos o curta Leonel Pé de Vento, que contém cenas que imitam a

produção de storyboard. Pudemos mostrar isso como exemplo do que é a técnica e como é

feita. Comparamos com história em quadrinhos e isso facilitou o entendimento deles. Logo após, levamos a turma para o quintal da casa, no qual estavam montadas as

mesas e cadeiras para eles se dividirem e criarem seus storyboards. Todos os alunos

participaram e alguns criaram até mais de uma história. Filmamos eles narrando suas

histórias e mostrando seus desenhos. Muitos se inspiraram na própria personalidade para

criar. Como a mãe do Jadir, uma senhora idosa, estava presente neste dia e se sentou

junto às crianças, houve grande respeito a ela, e até aqueles que possuíam dificuldade de

disciplina se comportaram diante dela, como se representasse uma avó para eles.

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37

3.3.2 - Esquizodrama: Criando Histórias

8ª Oficina - 31/05/2012

Nessa oficina recebemos a Terapeuta Ocupacinal Mayra Passabon Amorim, para

ministrar a oficina. A Mayra fez um estudo em sua pós-graduação de esquizoanálise, e

propôs pra gente aplicar esse estudo em uma das nossas oficinas. Nós aceitamos, por

vermos que isso ajudaria bastante a vencer a timidez de alguns alunos e também estimular

o trabalho em equipe. O esquizodrama -se da

montagem de dispositivos técnicos que tem por objetivos uma esquizoanálise praticada com

recursos tomados da arte, do teatro, da pedagogia, da música, da dança, entre outros.

Trata-se de um procedimento que pode ser utilizado em todo tipo de organização,

estabelecimentos, grupos e também com indivíduos, com finalidades terapêuticas,

pedagógicas e organizativas, consubstanciadas em um propósito inventivo. Aos dispositivos

com os que o esquizodrama trabalha se denomina Klínicas, por referência a Klinamen,

palavra grega que significa desvio e invenção. Iniciamos essa oficina exibindo o vídeo de duas oficinas anteriores - do dia 17 e do

(2005) de Victor-Hugo Borges. Após a sessão conversamos sobre a história do curta. Logo

depois da conversa, começou a atividade de esquizodrama com a Mayra. Primeiro colocamos as cadeiras no canto da sala e fizemos um aquecimento com o

corpo. Fizemos uma caminhada de várias maneiras pela sala: em formas geométricas, na

ponta dos pés, agachados, em pé, deitados, em câmera lenta, olhando nos olhos do colega.

Durante a caminha pedimos para que eles sentissem o corpo, o pé, o calcanhar, o

um momento de relaxamento. Todas as crianças deitaram, ficaram de olhos fechados e

fizeram uma respiração profunda e lenta. Dividimos a turma em dois grupos. Cada grupo propôs uma cena para representar,

sendo que cada aluno teria que ser um animal, fazendo o seu som e agindo da maneira dele

na cena. Os grupos se apresentaram e nós filmamos esse momento. Os alunos participaram

bem da atividade e, no final, conversamos com eles sobre como cada um se sentiu sendo

um animal. Nesse dia vieram menos crianças, os alunos que costumam comandar a bagunça na

turma faltaram, entretanto outros assumiram a postura deles. Percebemos que os alunos

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estavam ficando mais a vontade na hora de falar. Alguns alunos que eram tímidos para

falar, por exemplo, na atividade se expressaram muito bem como os "animais". Só que

quando o foco da turma vai para determinada criança, ainda tem aquelas que ficam tímidas. Na nossa reunião depois da oficina, conversamos que nós não podemos fazer o

papel da escola, ou seja, a escola tem que estar presente acompanhando os alunos e

fazendo as crianças retomarem a atenção para as atividades.

3.3.3 - Enquadrando na Moldura

9ª Oficina - 14/06/2012

personagens feitos de Lego e que se aproximavam bastante da realidade das favelas. Conversamos sobre os curtas e sobre as gírias faladas neles. Após essa conversa,

expomos na tela através de fotos, os tipos de enquadramentos existentes e falamos sobre

Para eles absorverem o que foi falado, pensamos em uma forma lúdica para facilitar

o entendimento das crianças. Fizemos uma atividade na qual cada um recebeu uma

moldura feita de cartolina, que serviria como base para eles enquadrarem uma cena, como

se fosse o campo de visão de uma câmera. Pedimos que eles desenhassem aquilo que estavam vendo através da moldura.

Durante essa atividade, íamos em cada grupo dando orientações e ajudando a pensar em

enquadramento. Muitos brincavam de enquadrar um amigo e até mesmo nós, os oficineiros.

Mostramos a eles que ao aproximarem o quadro, diminuía o campo de visão e ao afastar, o

campo se ampliava. Praticamos os diversos planos com eles, mas, o que eles mais se

identificaram foi com o Close. Estimulamos a percepção de enquadrar determinado objeto,

pessoa ou paisagem. Percebemos também que alguns se mostraram verdadeiros artistas,

ao desenharem no papel a natureza, as flores e árvores do quintal.

3.4 - Edição

Como ensinar edição para crianças do 5º ano? Essa foi a nossa grande dúvida. Uma

coisa era certa, não iríamos ficar preocupados em ensiná-los a manusear softwares de

edição. A nossa maior intenção, assim como em todos os módulos dessas oficinas é fazer

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39

com que eles compreendam a linguagem cinematográfica. Dessa forma que aconteceu

essas três oficinas restantes. No nosso primeiro encontro desse módulo, trabalhamos a

leitura de poemas de Cecília Meireles e de um poema do poeta capixaba Gabriel Ramos.

Nesse dia, a noção da edição é apresentada na atividade de filmagem, em que combinamos

com a turma que iríamos dividir eles em duplas e que cada dupla iria ler uma estrofe do

poema "A Língua do Nhem" de Cecília Meireles e filmaríamos. Na edição juntaríamos as

filmagens e então o poema estaria completo. No nosso segundo encontro, realizamos uma

atividade de stopmotion a partir de dois poemas da Cecília Meireles. A atividade de

stopmotion também é uma boa maneira para explicar a edição, pois é através de várias

fotos que, depois que colocadas em sequência, você dá o sentido e o movimento à cena. E

no nosso último encontro deixamos para fazer o encerramento das oficinas.

3.4.1 - Video-Poetizando

10ª Oficina - 28/06/2012

A "Casa de Cultura É o Benedito!" tem como base a leitura e a escrita, a gente

sempre tentou ligar esses dois pontos às nossas oficinas. Na 10ª oficina, portanto, não foi

diferente. Trabalhamos com a leitura dos poemas do livro "Ou isto, ou aquilo" de Cecília

Meireles e do Poema "Como caber num quadrado" do livro "Longevo Quando" do poeta

capixaba Gabriel Ramos. Depois da leitura, fizemos uma atividade em que os alunos

escolhiam os poemas do livro da Cecília para desenhá-los em um papel. Essa atividade

tinha como objetivo estimular a sensibilidade das crianças em traduzir poemas em

desenhos. Enquanto acontecia essa atividade, separamos a turma em duplas para a gente

filmar cada dupla lendo uma estrofe do poema "A Língua do Nehm", também de Cecília

Meireles. Na edição juntamos as filmagens que fizemos das duplas, para formar o poema

completo e exibimos na semana seguinte. Foi uma maneira de eles terem a noção de gravar

algo pensando na edição.

3.4.2 - Stopmotion

11ª Oficina - 05/07/2012 "Animação de stopmotion é conseguida quando se fotografam objetos quadro a

quadro que exibidos na velocidade normal de projeções, criam a ilusão de movimento. Isso

pode ser feito com bonecos, objetos, brinquedos, pessoas, etc..." (MIRANDA, 2009, p. 13)

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A oficina desse dia tinha como objetivo principal apresentar e trabalhar a técnica do

stopmotion. Para isso, escolhemos dois poemas do livro "Ou isto ou aquilo" de Cecília

Meireles: "O Passarinho do Sapé" e "As Meninas". Trabalhamos a leitura desses dois

poemas com os alunos, dividimos a turma em dois grupos, cada grupo ficou com a tarefa de

adaptar aquele poema para um vídeo de stopmotion. O grupo que ficou com o poema "O Passarinho no Sapé" foi para o espaço da grama

da casa. A gente trouxe um passarinho de brinquedo para essa atividade. Os alunos fizeram

o stopmotion com esse passarinho subindo uma árvore para pegar uma comida e depois

descendo a árvore para levar a comida para o ninho. Nesse grupo, depois de um certo

momento, alguns alunos foram brincar na grama estimulando os outros a irem também. Foi

um momento que tirou a atenção deles da atividade, entretanto, logo tentamos fazer com

que eles voltassem a atenção para a atividade. Já o grupo que ficou com o poema "As Meninas" foi para uma das janelas da casa e

lá fez o stopmotion, em que as próprias meninas do grupo encenavam na janela, a partir do

poema. Nesse grupo, não houve muito problema de desconcentração por parte dos alunos. Como essa já era a nossa 11ª oficina com essa turma, percebemos que já tínhamos

mais intimidade com eles, até mesmo para orientá-los. Acreditamos que conseguimos atingir

o nosso objetivo nessa oficina, pois vimos que ficou um trabalho de stopmotion muito

bacana, até por que foi feito em conjunto com a turma. Vale registrar aqui, que esses dois vídeos produzidos na oficina foram exibidos em

três cidades da região serrana do estado - Marechal Floriano, Domingos Martins e Venda

Nova do Imigrante - por uma mostra promovida pelo projeto "Audiovisual Intinerante"

aprovado no edital de núcleos (2012) do Programa Rede Cultura Jovem da Secretaria de

Cultura do Espírito Santo. O projeto é formado por amigos nossos do curso de Audiovisual

da Ufes. Segundo eles, nas mostras, os espectadores adoraram os stopmotion produzidos

pelos nossos alunos.

3.4.3 - Encerramento/O que queremos para o mundo?

12ª Oficina - 09/08/2012

O que queremos para o mundo?

mineiros Igor Amin e Vinicius Cabral. O projeto consiste em perguntar às crianças de todo o

Brasil sobre aquilo que elas desejam para o mundo, incluindo também o mundo particular

delas. Esse projeto teve início em Belo Horizonte, Minas Gerais e se espalhou para o resto

do país através de uma rede colaborativa de criação. Hoje virou uma série exibida no canal

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Gloob, o canal infantil da Globo. Decidimos colaborar com o projeto por conhecermos os

realizadores e vermos a possibilidade de reflexão com as crianças a respeito daquilo que

todos nós queremos de melhor para o mundo, para o bairro e para nossas vidas. De início, exibimos os stopmotion produzidos na última oficina, do qual eles

O

que queremos para o mundo?

melhor que deseja para o mundo. Muitos demonstraram que queria paz, uma vez que o

bairro passava por momentos de muita violência e confrontos. Depois de eles expressarem no papel aquilo que queriam, iniciou-se uma oficina de

origami com Jadir Feliciano. A intenção era que eles aprendessem a fazer um Tsuru,

pássaro de origem japonesa que simboliza a paz. Como não deu tempo de finalizar o

origami antes do recreio, liberamos as crianças para o lanche para que depois retornassem

para a oficina. Após o lanche, retornaram à Casa e continuamos com a produção do Tsuru. Muitos

tiveram dificuldade, por ser uma dobradura complexa, mas todos finalizaram com nossa

ajuda. Pedimos para que eles descessem para a grama e na escada, na medida em que

eles desciam, perguntávamos para cada um o que ele desejava para o mundo e filmamos

esse processo. Lá embaixo, fizemos uma dança circular em homenagem a terra com a

corpo, água meu sangue, ar meu sopro e fogo meu es

de concentração pois estavam muito empolgadas com o último dia de oficina e com o

recebimento do certificado. Ao final, fizemos uma cerimônia de entrega dos certificados na qual Jadir Feliciano

chamava pelo nome as crianças, assinava os certificados e entregava-os. Elas ficaram

felizes com os resultados e demonstraram isso nos abraçando e dizendo que sentiriam

muita falta.

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CONSIDERAÇÕES PESSOAIS

Nosso projeto surgiu de uma vontade conjunta, ainda que de alunos de habilitações

diferentes (publicidade e propaganda e jornalismo), de construir um projeto que

experimentasse uma maneira de trabalhar o entendimento da linguagem audiovisual com

crianças. Vimos que o audiovisual perpassa por ambas habilitações e em nossa

Universidade há um foco muito grande no estudo do audiovisual, o que nos incentivou a

pensar nesse projeto. Nós dois passamos por experiências que nos despertaram o interesse na produção

coletiva de vídeos. Uma delas aconteceu na Mostra de Cinema de Tiradentes, na qual

fizemos uma oficina de Processos Audiovisuais Cocriativos, que nos fez perceber a

importância da coletividade no processo de criação. Através dessa e outras experiências

relacionadas à periferia e ao cinema, pensamos em conjunto este projeto. Juntamos a prática cineclubista com a produção. Mais do que assistir, estudar e

debater os filmes, a nossa proposta foi experimentar as linguagens e produzir com as

crianças. Por estar em uma grade escolar, nosso projeto adentrou um espaço desconhecido

por nós, comunicadores: a pedagogia. Nós, enquanto educadores sociais, ficamos no limiar

entre a comunicação e a educação. Na prática das oficinas, não tivemos a preocupação de

fundamentar na linha pedagógica, houve apenas a aproximação entre os campos de estudo.

em avaliar os alunos. Nosso interesse maior era fazer com que todos participassem das

atividades. E como estávamos em um ambiente fora da sala de aula e com métodos

diferentes, foi mais fácil conseguir a aproximação e a aceitação das crianças para com o

projeto. Como a educação não formal se dá numa mão-dupla, onde se aprende e se ensina

ao mesmo tempo, o diálogo foi ao longo do projeto o nosso meio de comunicação. Ainda

assim, houve dificuldade de se entender e captar a cultura local, a cultura do outro. Uma

cultura que faz parte da cidade, mas ao mesmo tempo não apreendemos tão facilmente.

os indivíduos a se tornarem cidadãos do mundo, no mundo. Sua finalidade é abrir janelas de conhecimento sobre o mundo. Seus objetivos não são dados a priori,

(GOHN, 2010, p.19)

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Longe de ser um estudo pedagógico, nós não nos preocupamos em realizar

questionários de verificação científica para averiguar os resultados das oficinas. Em vez

disso, o nosso feedback se deu por conversas informais com os alunos, professores e entre

nós, após as oficinas. Vimos através das atividades práticas, que o entendimento do

conteúdo era alcançado. Como dito anteriormente, a cada oficina era produzido um vídeo. Ficamos

responsáveis pela edição de todo material e mantivemos uma rotina em que cada semana

era editado um vídeo. O produto audiovisual, então, representa o foco principal de cada

atividade realizada, pelo nosso ponto de vista. A oficina, entretanto, foi muito além do que o

vídeo editado. Cortamos imagens em que os alunos se dispersavam das atividades, ou

momentos em que eles se desentendiam, por exemplo. Porém, o material bruto está

guardado como registro. Para dar continuidade a este projeto, nos inscrevemos em editais de cultura. Um

deles foi o Agente Jovem, do Ministério da Cultura, no qual não passamos pela etapa de

documentação. Outro edital foi o de Manutenção de Cineclubes, da Secretaria de Estado da

Cultura, no qual ficamos como suplentes. Acreditamos que um dos pontos para nossa não-

classificação deve-se ao fato de propormos um cineclube que também produz vídeos. Ainda

vemos aqui no Estado um pensamento tradicional quanto às práticas cineclubistas. Os

cineclubes mais atuantes e dinâmicos são os que agregam pessoas jovens, que possuem

pensamento mais aberto, produzindo e estudando audiovisual. Nossa aprovação em edital se deu através do Programa Rede Cultura Jovem, da

Secretaria de Estado da Cultura, pelo edital de Núcleos de Criação, no qual recebemos uma

verba de 5.000 (cinco mil) reais e demos continuidade ao projeto por mais 5 meses com a

outra turma do 5º ano da escola. Vimos que eram turmas muito diferentes e tivemos o desafio de integrar crianças

com faixas etárias diversas. Dessa forma, adaptamos as oficinas a essa nova realidade.

Tentamos construir junto com eles um espaço de convivência que representasse uma

alternativa aos meios tradicionais de aprendizagem, onde eles pudessem se expressar e

lidar de maneira espontânea com o que propusemos. Ao final deste projeto proposto como trabalho de conclusão de curso, podemos

refletir sobre como aconteceram as trocas de experiências e com elas podemos aprender

bastante junto às crianças. Vimos que os laços criados com o tempo de convivência com

elas são muito significativos para adquirir confiança e respeito e de certa forma, conseguir

uma maior participação dos alunos nas atividades. Aprendemos também que às vezes é

preciso ceder às vontades das crianças para conseguir que o trabalho flua e que essa

educação de mão-dupla se concretize. Nem sempre uma proposta engessada funcionará.

Page 45: VISÃODOALTO: CINECLUBISMO, CINEMA E EDUCAÇÃO NA COMUNIDADE - Isis Dequech e Victorhugo Passabon

44

Ficamos muito satisfeitos com os resultados alcançados e pretendemos continuar

nossos estudos e nossas práticas acerca de cinema e educação envolvendo crianças e até

mesmo outras idades. .

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ANEXO 1 - CRONOGRAMA DAS OFICINAS

12/ 04 19/04 26/04

1ª Oficina - Cinema Mudo

2ª Oficina - Expressando o Som que o Corpo produz e o Som do Cotidiano

3ª Oficina - Ritmo e som: A trilha na cena

03/05 10/05 17/05

4ª Oficina - Um Zoom e Uma Panorâmica na Cultura Afro Brasileira

5ª Oficina - Nos Trilhos do Travelling e na Trilha dos Personagens

6ª Oficina - Movimentos de Câmera no Começo, Meio e Fim: O Enredo de Uma História

24/05 31/05 07/06

7ª Oficina - Storyboard 8ª Oficina - Esquizodrama: Criando Histórias

FERIADO CORPUS CRISTHI

14/06 21/06 28/06

9ª Oficina: Enquadrando na Moldura

OPERAÇÃO POLICIAL - Não teve oficina neste dia

10ª Oficina: Vídeo- Poetizando

05/07 12/07 19/07

11ª Oficina: Stopmotion RECESSO ESCOLAR Organização da Mostra

26/07 02/08 09/8

Organização da Mostra Organização da Mostra 12ª Oficina: Mostra dos vídeos produzidos

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ANEXO 2 PLANOS INICIAIS DAS OFICINAS

1 - SOM E TRILHA

1º Dia: 12/04/2012 Cinema Mudo Atividades - Fazer uma introdução comentando como era o cinema sem som;

- Mostrar cenas de filmes do cinema mudo, (Charles Chaplin, Buster Keaton) e dos primórdios do cinema (George Meliés e dos irmãos Lumière); - Produzir um roteiro em conjunto com as crianças no estilo de cinema mudo, com a seguinte temática: As crianças vão ao cineclube assistir a um filme; - Fazer o vídeo com as crianças a partir do roteiro produzido.

   

2º Dia: 19/04/2012 Expressando o som que o corpo produz e o som do cotidiano Atividades - Exibir o filme feito na aula anterior;

- Exibir curtas que trabalhem o som do corpo/o som do cotidiano (vídeo do grupo Barbatuques e animação do Pateta no trânsito); - Jogo de percepção do som: Falar os nomes de cada um fazendo um som com o corpo (Qual é o som que o seu nome tem?); Caminhar pelo ambiente, com os olhos fechados, ficar em silêncio, ouvir os sons internos e externos, o som do seu corpo e o som do ambiente; Pedir para as crianças imaginarem o som quando acorda no São Benedito, o som que elas ouvem na casa delas e na escola; Pedir para cada um se espreguiçar; Pedir para cada um dar gargalhada; Em roda, falar para elas expressarem um som do corpo, um dos sons que elas ouviram, durante a atividade, do São Benedito e da escola. - Montar com as crianças um coro de ritmos. No primeiro momento deixa-las livres para buscarem o ritmo. No segundo momento, criar junto com elas um roteiro para narrar o dia-a-dia delas (acordar, tomar café, estudar, almoçar, brincar, dormir) com os sons do corpo. Filmar o coro de crianças narrando o seu dia-a-dia.

   

3º Dia: 12 Ritmo  e  som:  A  trilha  na  cena  

Atividades   - Exibir o vídeo da aula anterior; - Exibir um curta que trabalhe trilha sonora. Curta que trabalhe a cultura brasileira, capoeira, congo... Depois do curta, conversar as crianças sobre trilha sonora (Para que serve a trilha?). - Pedir para as crianças fecharem os olhos e passar para elas uma música. Em seguida, pedir para elas comentarem o que essa música passou para elas, quais imagens vieram à mente delas. - Fazer instrumentos com sucata. - Trabalhar sons de terror, o som de amor, sons de suspense nas cenas: Colocar cenas de filmes de diferentes gêneros na tela sem áudio e fazer com que eles façam a trilha das cenas com os instrumentos criados. Fazer um vídeo da trilha ao vivo que as crianças farão enquanto a cena está passando.

     

 

 

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2 - MOVIMENTOS DE CÂMERA 1º Dia: 03/05/2012

Uma panorâmica e um Zoom na Cultura Brasileira  

Atividades - Exibir o vídeo feito na aula anterior - Exibir um curta, que trabalhe a cultura afro-brasileira. - Fazer (ciranda) e maculelê, para falar a cultura do brasil. Enquanto que algumas crianças estão fazendo as atividades de ciranda, outras crianças ficam registrando com o movimento do Zoom e da Panorâmica.

   

2º Dia: 03/05/2012 Nos  Trilhos  do  Travelling  e  na  trilha  dos  personagens  

Atividades   - Exibir um curta com a temática de natureza/meio ambiente; - Em roda, conversar sobre os personagens da história; - Pedir para as crianças criarem os seus próprios personagens e desenharem no papel; - Fazer uma dança circular as crianças. Enquanto que algumas crianças estão fazendo a dança circular, outras crianças ficam trabalhando o movimento do travelling. Para essa atividade desenvolver uma maneira de trabalhar o travelling com elas utilizando um skate ou um carrinho de mão.

   

3º Dia: 10/05/2012 Movimentos de Câmera no Começo, Meio e Fim: O enredo de uma história Atividades -

dias anteriores, explicando os movimentos de câmera); - Exibir um curta que trabalhe com a história de uma fábula; - Em roda, conversar sobre o enredo da história. Pedir para as crianças criarem personagens e desenharem.

   

3 - O ENQUADRAMENTO

1º Dia: 17/05/2012 O  Storyboard  e  os  Planos  do  Filme  

Atividades   - Exibir um curta e explicar um pouco da importância do posicionamento da câmera com alguns exemplos. - Comentar sobre os planos e enquadramento, a partir do curta exibido; - Criar um storyboard com os alunos.

   

2º Dia: 24/05/2012 Stop motion Atividades - Exibir curtas de animação em stop motion;

- Dividir as crianças em grupo e, cada grupo, fará um stop motion com sucatas, a partir de uma ideia criada por elas.

   

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3º Dia: 31/05/2012 Enquadrando na Moldura Atividades - Assistir aos vídeos do Stop motion produzidos na aula anterior;

- xplicar os enquadramentos) - - Cada criança fará uma moldura com cartolina e irá apontar para um local, enquadrando da maneira que elas escolherem e depois desenhará numa folha o enquadramento feito.

   

4 EDIÇÃO

1º Dia: 06/06/2012 Vídeo-­‐Poetizando  

Atividades   - Ler poemas (a escolher) em conjunto com os alunos; - Exibir vídeos-poesias; - Dividir a turma em quartetos. Cada grupo irá escolher um poema para interpretar desenhando-o. Filmar o processo do desenho das crianças.

   

2º Dia: 14/06/2012 Editando  imagens  

Atividades   - Gravar a voz das crianças recitando os poemas. - Dar imagens de uma cena para as crianças e pedirem para elas colocarem as imagens na ordem.

   

3º Dia: 21/06/2012 O que queremos para o mundo Atividades - Entrevistar as crianças, perguntando o que elas querem para o mundo

- Exibir os vídeos realizados das oficinas

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ANEXO 3 - PLANOS EXECUTADOS DAS OFICINAS

Dia: 12/04/2012 1ª Oficina: Cinema Mudo Atividades Realizadas - Exibição das fotos e vídeo do projeto do "Cineclube É o Benedito!" desenvolvido

em 2010; - Exibição do vídeo "A Chegada do Trem" dos Irmãos Lumière e comentário sobre

os primórdios do cinema; - Exibição de cenas de filmes de Charles Chaplin: "O Garoto" de 1921; "A Corrida

do Ouro" de 1925; e "Luzes da Cidade" de 1931; - Conversa com a turma sobre as cenas exibidas e sobre o personagem Carlitos; - Conversa sobre a época do Cinema Mudo; - Exibição dos curtas: "Os Olhos do Pianista" (2005), de Frederico Pinto; "A noite

do Vampiro" (2006), de Alê Camargo; "Primeiro Movimento" (2006), de Érika

Valle; e "Roubada!" (2000), direção de Consequência, Maurício Vidal, Renan de

Moraes e Sergio Yamasaki; - Criação coletiva de um roteiro para ser gravado; -

Avaliação - As atividades foram dinâmicas; - Conseguimos realizar a oficina no tempo de 2 horas; - Tivemos uma ótima participação dos alunos, tanto na conversa sobre os

filmes, quanto na atividade da gravação do vídeo; - Não tivemos problemas com dispersão dos alunos. - Poderíamos ter explorado mais na variedade de filmes do Primeiro Cinema e

do Cinema Mudo;

Objetivos - Apresentar à turma o início do cinema e um pouco da época do cinema mudo; - Apresentar o ator Charles Chaplin e o seu personagem Carlitos; - Conversar com a turma sobre como era fazer filmes sem o recurso do som; - Questionar quais as diferenças desses filmes para os de hoje; - Trabalhar a construção de um roteiro coletivo para a produção de um vídeo; - Gravar o roteiro produzido; - Trabalhar a expressão corporal dos alunos no vídeo.

Recursos Utilizados - Trechos dos filmes de Charles Chaplin e seleção de curtas; - Câmera Filmadora (Handycam); - Datashow; - Computador; - Som.

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Dia: 19/04/2012 2ª Oficina: Expressando o Som que o Corpo produz e o Som do Cotidiano Atividades Realizadas - Exibição do vídeo "Todos Amigos no Cinema", vídeo feito na oficina anterior com

a turma; - Exibição dos vídeos: "Barbatuques - Apresentação de Baianá" e "Barbatuques -

Percurssão Corporal"; - Conversa com as crianças sobre os sons que o corpo produz; - Jogo de percepção de som: no primeiro momento os alunos ficaram livres para

buscar os sons do seu corpo andando pelo ambiente do cineclube; no segundo

momento a gente fez um aquecimento corporal com os alunos; no terceiro

momento a gente realizou o jogo "qual é o som que o seu nome tem?"; no quarto

momento colocamos as crianças em roda e pedimos que elas de olhos fechados

ouvissem o som do corpo delas, do ambiente, do acordar no São Benedito, da

Escola, de quando elas estão almoçando, de quando eles estão brincando, e de

quando eles vão dormir; depois disso pedimos para que elas falassem o que elas

ouviram nesses momentos e, na medida em que elas iam falando, a gente ia

colocando o ritmo nesses sons e criando um coro de ritmos com todo o grupo; - Com o coro de ritmos formado fizemos apenas o som "do acordar" e "da escola",

registramos a atividade para a produção de mais um vídeo.

Avaliação - Foi difícil conseguir disciplina; - A atividade de ritmo foi massante; - Faltou tempo e concentração por parte dos alunos; - O que tínhamos planejado era muito complexo (criar um roteiro do dia-a-dia a

partir dos sons e colocar um ritmo); - As crianças pegaram o ritmo com facilidade; - Podíamos inverter a ordem dos vídeos do Barbatuques (Exibir primeiro o vídeo

em que eles destacam mais os sons do corpo e depois exibir o vídeo da

apresentação deles); - Pensar em uma atividade mais livre e mais simples com som do corpo, sem se

prender a criar um roteiro específico; - Vieram mais alunos (a turma toda) e talvez isso tenha dificultado a

concentração deles; - Para as próximas atividades podemos dividir a turma em dois grupos, para

trabalhar separadamente; - O professor de Educação Física avaliou como positiva a presença de mais

adultos presentes na oficina.

Objetivos - Iniciar a experiência de aprendizado do ritmo através do próprio corpo; - Começar a leitura sobre a linguagem da trilha sonora como item essencial no

audiovisual; - Apresentar o grupo Barbatuques;

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- Estimular a memória através da atividade de fazê-los lembrarem dos sons do

bairro; - Fazer as crianças refletirem da importância desse som para o dia-a-dia; - Construir um coro de ritmos com os sons que vieram das lembranças deles.

Recursos Utilizados - Vídeos do Grupo Barbatuques; - Câmera Filmadora (Handycam); - Datashow; - Computador; - Som.

Dia: 26/04/2012 3ª Oficina: Ritmo e Som: A trilha na cena Atividades Realizadas - Exibição do vídeo da atividade da oficina anterior;

- Passamos algumas músicas e pedimos para as crianças ouvirem com os olhos

fechados e depois comentassem quais eram as sensações que elas sentiram

enquanto escutavam as músicas; - Exibição de cenas do filme "Kiriku e A Feiticeira" (1998) de Michel Ocelot; - Dividimos a turma em dois grupos; - Colocamos os grupos em contato com os instrumentos de sucatas e deixamos

um momento livre para eles se identificarem com os instrumentos; - Cada grupo fez uma trilha a partir das cenas que eles viram do filme de "Kiriku"; - Os grupos se apresentaram com a trilha que eles produziram.

Avaliação - É preciso otimizar o tempo; - Foi muito bom dividir a turma em dois grupos; - A turma participou bastante da atividade de escutar a música e dizer o que

sente, todos quiseram falar e a maioria imaginava cenas; - A trilha de Psicose passou, para as crianças, a sensação de medo e algumas

imaginaram cenas de pessoas fugindo ou se escondendo; - A gente falhou por não ter registrado com a câmera de filmar os sentimentos e

a imagens que eles comentaram sobre as músicas; - Reparamos que alguns alunos se destacam mais na atividade de comentar

sobre as músicas do que na atividade de tocar instrumentos e criar as trilhas,

enquanto que outros foram mais tímidos para comentar, só que na hora de tocar

ficaram bem espertos. - Com a competição estimulada, entre os dois grupos, na hora da apresentação,

um grupo ficou vaiando o outro, isso foi ruim, pois atrapalhou na gravação; - Não deu para os grupos se apresentarem com as trilhas produzidas ao mesmo

tempo em que a cena passava, por um problema de leitura do arquivo do DVD.

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Objetivos - Trabalhar a sensibilidade na turma em traduzir uma música em sentimentos; - Conversar sobre o quê e como as trilhas transmitem algo para os expectadores; - Buscar em instrumentos de sucatas os sons que eles produzem; - Construir com a turma dividida em dois grupos, duas trilhas para cenas do filme

"Kiriku e a Feiticeira"; - Gravar a trilha construída pelos grupos.

Recursos Utilizados - Cenas do Filme "Kiriku e a Feiticeira"; - Músicas selecionadas; - Sucatas, utilizadas como instrumento de percussão; - Câmera Filmadora (Handycam); - Datashow; - Computador; - Som.

Dia: 03/05/2012 4ª Oficina: Um Zoom e uma Panorâmica na Cultura Afro-Brasileira Atividades Realizadas - Exibição do vídeo da atividade da oficina anterior;

- Conversa sobre Capoeira para introduzir o filme (dois alunos foram na frente e

gingaram capoeira, enquanto que os outros batiam palmas); - Exibição do curta "Maré Capoeira" (2005) de Paola Barreto; - Conversa sobre a história do curta; - Conversa sobre Zoom e Panorâmica (Perguntamos para eles sobre quem já

tinha ouvido falar sobre esses movimentos de câmera e explicamos como são

esses movimentos); - Dividimos a turma em dois grupos; - Um grupo ficou no local onde acontece as sessões para realizar a atividade de

dança Circular com a Isis; - O outro grupo foi para a varanda para fazer a atividade de filmagem com os

movimentos de Zoom e Panorâmica; - Os grupos se revezaram.

Avaliação - Apontamos a câmera para o bairro vizinho (Jaburu), e alguns alunos quando

iam utilizar a câmera para fazer os movimentos, ficavam xingando os moradores

do Jaburu, numa espécie de competição, falando que o São Benedito era

melhor que o outro bairro. É interessante notar que desde cedo as crianças já

tem esses pensamentos de competição entre os bairros; - A turma assistiu com bastante atenção ao curta "Maré Capoeira"; - A turma gostou de poder manusear a câmera; - As crianças se envolveram bastante na atividade da dança circular;

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Objetivos - Conversar um pouco da cultura afro-brasileira, a partir do curta "Maré Capoeira; - Movimentar a câmera (com Zoom e a Panorâmica) e, também, o corpo (com a

atividade de dança circular); - Apresentar os movimentos de zoom e panorâmica.

Recursos Utilizados - Curta "Maré Capoeira"; - Câmera Filmadora (Handycam); - Tripé; - Datashow; - Computador; - Som.

Dia: 10/05/2012 5ª Oficina: Nos Trilhos do Travelling e na Trilha dos Personagens Atividades Realizadas - Leitura do livro "A Chapeuzinho Amarelo" de Chico Buarque de Holanda;

- Exibição do vídeo da oficina da semana anterior; - Conversa sobre o que é um travelling; - Exibição dos curtas: "Disfarce Explosivo" (2000) de Mário Galindo e "Picolé,

Pintinho e Pipa" (2007) de Gustavo Melo; - Conversa sobre os personagens dos curtas e sobre como caracterizar um

personagem; - Criando Personagens: Cada uma das crianças construiu um personagem com as

roupas e adereços do acervo de fantasias da "Casa de Cultura É o Benedito!" e

depois elas fizeram um desfile que foi filmado com um traveilling improvisado por

nós.

Avaliação - A primeira atividade de leitura do livro junto com a turma foi muito boa; - Foi um pouco complicado deixar claro o que é um travelling; - A turma participou muito bem na atividade de caracterização dos personagens; - Eles gostaram muito de utilizar as roupas para se caracterizar; - Foi uma das oficinas que todos se divertiram e não paravam de comentar nas

semanas seguintes.

Objetivos - Estimular a leitura através do livro "A Chapeuzinho Amarelo"; - Apresentar o movimento de travelling; - Conversar sobre os personagens de uma história e como eles caracterizam-se; - Trabalhar a caracterização de um personagem (na fala, no andar e nas roupas); - Fazer um desfile dos personagens criados por cada um e utilizar o travelling

improvisado para filmar. Recursos Utilizados - Livro "A Chapeuzinho Amarelo";

- Seleção de Curtas;

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- Fantasias e Adereços; - Carrinho de compras (para improvisar o travelling); - Câmera Filmadora (Handycam); - Tripé; - Datashow; - Computador; - Som.

Dia: 17/05/2012 6ª Oficina: Movimentos de Câmera no Começo, Meio e Fim: O Enredo de

Uma História Atividades Realizadas - Exibição do vídeo registro da atividade da semana anterior;

- Exibição do curta "Tainá-Kan" (2006) de Adriana Figueiredo; - Conversa sobre o enredo da história do curta com as crianças; - Dividimos a turma em 3 grupos; - Cada grupo criou uma história e escreveu em um papel; - No final, os grupos apresentaram as suas história para a turma por meio da

dramatização e da leitura. A atividade foi filmada.

Avaliação - Foi trabalhoso manter a concentração dos alunos em alguns momentos da

atividade, tanto na hora de criar a história quanto na hora de apresentar; - Um grupo criou a partir da história do curta assistido anteriormente; - Nesse dia um menino ficou implicando com uma menina, mas antes de

começar uma confusão maior a gente chamou a atenção deles. O professor que

acompanhava a turma não fez nada no momento. A gente achou muito estranho

a atitude dele;

Objetivos - Construir três histórias em conjunto com a turma; - Conversar cobre o enredo de uma história (começo, meio e fim); - Apresentar a história criada para a turma;

Recursos Utilizados - Curta "Tainá-Kan" (2006) de Adriana Figueiredo; - Câmera Filmadora (Handycam); - Datashow; - Computador; - Som.

Dia: 24/05/2012 7ª Oficina: Storyboard Atividades Realizadas - Exibição do curta "Leonel Pé de Vento" (2006) de Jair Giacomini;

- Conversa sobre o que é storyboard, com exemplo de cenas do curta exibido;

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- A turma foi para o espaço da grama e lá, nas mesas, criaram os seus

storyboards; - A medida que iam terminando de desenhar, cada criança contava a sua história

na frente da câmera.

Avaliação - Comparamos a técnica de storyboard com uma história em quadrinhos,

portanto, os alunos não tiveram tantas dificuldades em entender; - Alguns alunos fizeram mais de uma história; - Percebemos que muitas das histórias criadas tinham a ver com a própria

personalidade deles;

Objetivos - Apresentar e trabalhar a técnica do storyboard; - Estimular a percepção do quadro na tela do cinema; - Criar histórias com desenhos no storyboard;

Recursos Utilizados - Curta "Leonel, pé de vento"; - Folhas A4, com espaços de quadrados, indicando storyboard; - Câmera Filmadora (Handycam); - Datashow; - Computador; - Som.

Dia: 31/05/2012 8ª Oficina: Esquizodrama: Criando Histórias Atividades Realizadas - Exibição do vídeo registro da atividade dos dias 17 e 24/05;

- Exibição do curta "Historietas Assombradas para crianças mal criadas" (2005) de

Victor-Hugo Borges; - Conversa sobre a história do curta; - Atividade de Esquizodrama: -Aquecimento; - Caminhada pela sala: sentir o corpo pensar o que vem primeiro o pé ou o

calcanhar; sentir a cintura com o movimento realizado; caminhar em formas

geométricas; caminhar na ponta dos pés; caminhar usando vários planos - alto

médio e baixo; caminhar em câmera lenta; olhando nos olhos da pessoa ao lado;

correr e intensificar a corrida, até o comando de ficar em "Estátua"; - Relaxamento: Todas as crianças ficaram deitadas no chão de olhos fechados

com a respiração lenta e profunda; - Dividimos as crianças em dois grupos, cada grupo propôs uma cena, sendo que

cada aluno teria que representar um animal, fazendo o seu som e agindo da

maneira dele nessa cena; - Os grupos apresentaram as cenas; - No final, conversamos o que cada um sentiu sendo animal.

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Avaliação - Vieram menos crianças; - Os alunos já estão ficando mais a vontade na hora de falar; - A turma participou ativamente das atividades; - Alguns alunos que eram tímidos para falar, nessa atividade se expressaram

muito bem como os "animais" que eram para ser; - Percebemos que as crianças ficam mais tímidas quando o foco da turma ficam

nelas; - Os que comandavam a bagunça da turma faltaram nesse dia, entretanto

outros assumiram a postura deles; - Na nossa reunião depois da oficina, conversamos que a gente não pode fazer

o papel da escola, ou seja, a escola tem que estar presente acompanhando os

alunos e fazendo as advertências necessárias; - Pensamos em propor às crianças à criação de regras para as próximas

oficinas;

Objetivos - Estimular o trabalho em equipe; - Tirar a timidez de alguns alunos; - Criar histórias a partir do jogo da ativiade em que cada um será um animal.

Recursos Utilizados - Câmera Filmadora (Handycam); - Datashow; - Computador; - Som.

Dia: 14/06/2012 9ª Oficina: Enquadrando na Moldura Atividades Realizadas - Exibição do vídeo registro da oficina anterior;

- Exibição dos curtas "Acadêmicos do Morrinho 1", "Acadêmicos do Morrinho 2" e

"Saci no Morrinho"; - Conversa sobre os curtas; - Conversa sobre o que é enquadramento, com exemplo de imagens/slides;

- ATIVIDADE DE MOLDURA: Cada aluno recebeu uma moldura de cartolina. A

turma foi para o espaço da grama e lá eles fizeram enquadramentos com a

moldura de cartolina. Cada enquadramento que eles faziam, eles desenhavam na

folha de ofício; - Durante essa atividade a gente acompanhava cada um e conversava sobre os

enquadramentos.

Avaliação - Percebemos que as imagens dos slides não eram muito atrativas para os

alunos e, além disso, eram imagens que estava um pouco fora da realidade

deles;

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- Os curtas que exibimos foram assistidos com bastante atenção; - Na atividade de moldura alguns alunos se mostraram verdadeiros artistas;

Objetivos - Desenvolver a noção do espaço do quadro na tela do cinema; - Praticar os diversos tipos de planos (geral, conjunto, médio, americano, close,

detalhe); - Estimular a percepção em enquadrar determinado ambiente/coisa/objeto/pessoa;

Recursos Utilizados - Molduras de Cartolina; - Folhas A4, lápis, borracha, canetinha; - Slides com imagens dos diferentes tipos de planos; - Seleção de Curtas; - Câmera Filmadora (Handycam); - Datashow; - Computador; - Som.

Dia: 28/06/2012 10ª Oficina: Video-Poetizando Atividades Realizadas - Exibição do vídeo registro da oficina anterior;

- Leitura de poemas do livro "Ou isto, ou aquilo" de Cecília Meireles e do poema

"Como caber num quadrado" do livro "Longevo Quando" de Gabriel Ramos; - Cada aluno escolheu um dos poemas do livro "Ou isto, ou aquilo" de Cecília

Meireles para desenhá-lo; - Atividade de vídeo: Filmamos, na biblioteca, cada aluno lendo uma parte do

poema "A Língua do Nhem" de Cecília Meireles, para depois, na edição,

juntarmos todas as partes.

Avaliação - Estimular a leitura através dos poemas escolhidos; - Ler os poemas em conjunto com a turma; - Estimular a sensibilidade em traduzir os poemas em desenhos; - Produzir um vídeo em que duplas lêem estrofes diferentes de um mesmo

poema.

Objetivos - Trabalhar a leitura de poemas; - Apresentar os poemas de Cecília Meireles e do poeta capixaba Gabriel Ramos; - Trabalhar a sensibilidade a partir da atividade de reproduzir os poemas em

desenhos; - Gravar um vídeo em conjunto com a turma lendo o mesmo poema.

Recursos Utilizados - Poemas;

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- Câmera Filmadora (Handycam); - Datashow; - Computador; - Som.

Dia: 05/07/2012 11ª Oficina: Stop Motion Atividades Realizadas - Exibição do vídeo da oficina anterior;

- Exibição de curtas de stop motion; - Conversa sobre o que é stop motion; - Leitura dos poemas "O Passarinho do Sapé" e "As Meninas" de Cecília Meireles;

- Dividimos a turma em dois grupos; - Um grupo foi para a grama e fez um stop motion inspirado no poema "O

Passarinho do Sapé" e o outro grupo foi para dentro da casa e fez um stop motion

inspirado no poema "As Meninas".

Avaliação - Tentamos ter atenção com os equipamentos. Trabalhamos com duas câmeras

de fotos. - Num certo momento alguns alunos perderam a concentração na atividade e

foram brincar na grama, entretanto, a gente logo fez com eles voltassem a

atenção para a atividade; - A turma mostrou sua criatividade na adaptação dos poemas para stop motion; - Como essa já era a nossa 11ª oficina com essa turma, percebemos que já

tínhamos mais intimidade com eles, até mesmo para chamar a atenção.

Objetivos - Apresentar e trabalhar a técnica de stop motion; - Estimular a leitura de poemas; - Criar um roteiro coletivo; - Produzir dois stop motions.

Recursos Utilizados - Poemas selecionados; - 2 Câmeras Nikon D60; - Tripé; - Datashow; - Computador; - Som.

Dia: 09/08/2012 12ª Oficina: Encerramento /O que queremos para o mundo? Atividades Realizadas - Exibição dos stop motions produzidos na última oficina;

- Exibição dos vídeos registros das oficinas dos dias 12/04 e 10/05; - Exibição dos vídeos do projeto "O que queremos para o mundo?";

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- Cada aluno escreveu no papel o que eles queriam para o mundo; - Oficina de origami, com Jadir Feliciano; - Intervalo (A turma foi para a escola lanchar e depois retornou para a Casa);

- Continuação da oficina de origami; - Atividade "O que queremos para o mundo?": Cada aluno falou para a câmera o

que eles queriam para o mundo; - Fizemos uma dança circular com eles na grama; - No final, entregamos o certificado de participação do projeto para cada.

Avaliação - Alguns alunos preferiram escrever/falar o que eles não querem para o mundo,

ao invés do que eles querem; - Percebemos que no final da oficina os alunos ficaram demonstraram tristeza,

pois era a última oficina que tivemos com eles.

Objetivos - Estimular eles pensarem o que querem para o mundo; - Ensinar a fazer o Tsuru (origami); - Fazer um momento de integração e despedida com os alunos;

Recursos Utilizados - Papel para fazer origami; - Seleção de vídeos do projeto "O que queremos para o mundo?"; - Câmera Filmadora (Handycam); - Datashow; - Computador; - Som.

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ANEXO 4 - FOTOS

1ª OFICINA 12/04/2012 - Cinema Mudo

2ª OFICINA 19/04/2012 Expressando o Som que o Corpo e o Som do Cotidiano

3ª OFICINA 26/04/2012 Ritmo e Som: A Trilha na Cena

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4ª OFICINA 03/05/2012 Um Zoom e Uma Panorâmica na Cultura Afro-brasileira

5ª OFICINA 10/05/2012 - Nos Trilhos do Travelling e na Trilha dos Personagens

6ª OFICINA 17/05/2012 Movimentos de Câmera no Começo, Meio e Fim: O Enredo de Uma História

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7ª OFICINA 24/05/2012 Storyboard

8ª OFICINA 31/05/2012 Esquizodrama: Criando Histórias

9ª OFICINA 14/06/2012 - Enquadrando na Moldura

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10ª OFICINA 28/06/2012 - Video-poetizando

11ª OFICINA 05/07/2012 - Stop Motion

12ª OFICINA 09/08/2012 Encerramento/O que queremos para o mundo?

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ANEXO 5 MODELO DE PEDIDO DE LIBERAÇÃO DE USO DE IMAGEM E SAÍDA DA ESCOLA

Termo de Autorização para Uso de Imagem e Som e Liberação de saída da Escola. Eu, (NOME DO RESPONSÁVEL) ______________________________________ __________________________________, portador de carteira de identidade _____________________________ autorizo o(a) aluno(a) (NOME DO ALUNO) __________________________________ _________________ para a utilização de sua imagem e som para fins educativos do projeto Cinema e Educação na Casa de Cultura É o Benedito. Como também, a liberação do(a) aluno(a) para saída da Escola Paulo Roberto Vieira Gomes e ida à Casa de Cultura É o Benedito às quintas-feiras de 13h às 15h.

A autorização, gratuita e espontânea, é mediante a garantia de uso exclusivo e restrito a fins educativos, de divulgação do projeto, sendo vetado o uso para fins comerciais. Telefone para contato: ___________________________

O Projeto

A Casa de Cultura É o Benedito (Rua Tenente Setubal, nº 600, Bairro São

Benedito) é um espaço de atividades culturais que vem atuando em caráter de

trabalho voluntário, mantida e coordenada pelos Professores Jadir Feliciano e

Cleber Carminati.

Nesse ano, os alunos Isis Dequech e Victorhugo Passabon do curso de

Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), realizarão o

projeto Cinema e Educação com os alunos da Escola Municipal Paulo Roberto Vieira

Gomes, com sessões cineclubistas, debates e oficinas.

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ANEXO 6 CERTIFICADO DAS OFICINAS

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ANEXO 7 ATIVIDADE DE STORYBOARD

 

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ANEXO 8 ATIVIDADES ENQUADRANDO NA MOLDURA

 

 

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ANEXO 9 ATIVIDADE VIDEO-POESIA

 

 

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ANEXO 10 DVD VÍDEOS DAS OFICINAS

Os vídeos do projeto também podem ser encontrados no canal: www.youtube.com/eobenedito

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO ATELIÊ DE IDEIAS. adores . Vitória: Fórum Comunitário Bem Maior, Associação Ateliê de

Ideias. 2008.

BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96. Brasília DF. 1996.

CESARINO, Flávia Costa. Primeiro Cinema. In MASCARELLO, Fernando (org). História do Cinema Mundial. Campinas: Papirus, 2007.

COSTA, Antonio. Compreender o cinema. Rio de Janeiro: Globo, 2003. DUARTE, Rosália. Cinema & educação: refletindo sobre cinema e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

FIGUEIREDO, Hermano. Cineclube Organização e funcionamento. Alagoas: Ideário

Comunicação e Cultura, 2006.

GOLIOT-LÉTÉ, Anne; VANOYE, Francis. Ensaio sobre a análise fílmica. Campinas, Papirus Editora, 4ª edição, 2002.

GOHN, Maria da Glória. Educação não formal e o educador social. Atuação no desenvolvimento de projetos sociais. São Paulo: Cortez. 2010.

MIRANDA, Carlos. Guia do Stop Motion. Belo Horizonte: Editora 2AB, 2009.

TURNER, Graeme. Cinema Como Prática Social. São Paulo: Summus Editorial, 1997.

REFERÊNCIAS CONSULTADAS

PROJETO LANTERNINHA. "O que é um Cineclube?" Disponível em:

<http://www.projetolanterninha.com.br/main2009/comendo_letra/artigos_ensaios_d.aspx?nid

=81>. Acesso em: 20/08/2012.

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PREFEITURA DE VITÓRIA. São Benedito. Disponível em:

<http://legado.vitoria.es.gov.br/regionais/bairros/regiao4/saobenedito.asp>. Acesso em:

20/08/2012.

"CASA DE CULTURA É O BENEDITO!". Disponível em:

<http://casaeobenedito.blogspot.com.br/>. Acesso em: 07/11/2012.

Comissão de Educação de Vitória. EMEF Paulo Roberto Vieira Gomes. Disponível em:

<http://cecmv.wordpress.com/2010/11/03/emef-paulo-roberto-vieira-gomes-2/>. Acesso em:

20/08/2012.

PORTAL IDEB. Ideb e seus componentes. Escola Paulo Roberto Vieira Gomes.

Disponível em: <http://www.portalideb.com.br/escola/162007-emef-paulo-roberto-vieira-

gomes/ideb>. Acesso em: 20/08/2012.

PORTAL IDEB. Metodologia. Disponível em:

<http://portalideb.inep.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=44&Itemid=4>

. Acesso em: 20/08/2012.

PECHI, Daniele. A História da África em Sala de Aula. Disponível em:

<http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/brasil-pais-todas-cores-643758.shtml>.

Acesso em: 13/03/2012.

PLANOS DE AULAS CONSULTADOS

MEDEIROS, Teresa Régia Araújo de. Corpos Sonoros. Disponível em:

<http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=25510>. Acesso em:

13/03/2012.

REVISTA NOVA ESCOLA. Os Sons do Cotidiano. Disponível em:

<http://revistaescola.abril.com.br/arte/pratica-pedagogica/sequencia-didatica-429819.shtml>.

Acesso em: 13/03/2012.

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GONZAGA, Elaine Cristine. Cinema Mudo: a criança cria a história. Disponível em:

<http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=9764>. Acesso em:

13/03/2012.

PORTAL DO PROFESSOR.Coleção de Aulas: Música e Cinema. Disponínel em:

<http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaColecaoAula.html?id=26>. Acesso em:

13/03/2012.