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Por Daniel John Furuno Andrej Troha Você em FOCO Esqueça as comparações e conheça a si mesmo: seguindo esse simples conselho, é possível melhorar sua auto-imagem e, conseqüentemente, acumular vitórias na vida acadêmica S em ter ao menos uma idéia da carreira que deseja seguir, o adolescente se vê diante do desafio do vestibular. Alguns de seus colegas conseguiram ser aprovados logo na primei- ra tentativa, mas ele não se julga capaz disso. Matricula-se, portanto, em um cursinho preparatório. O pai, médico, torcendo para que o primogênito siga seus passos, comenta que o filho de um amigo foi aprovado em uma grande universidade pública. Tentando incentivar, a mãe diz que pode até ser uma faculdade privada, o que importa é passar. O adolescente não diz nada, mas sente seu estômago doer ao pensar que, se não fosse pelas aulas particulares, nem mesmo teria conseguido se formar no Ensino Médio. Situações com a descrita no parágrafo acima, infelizmente, retratam a realidade de inúmeros jovens. A comparação de resultados é algo constante em nossas vidas e, até certo ponto, pode ser considerada um hábito saudável. “Na busca do sucesso pessoal e da satisfação, é comum escolher um amigo, um atleta ou um empresário bem-sucedido como referência. Mas é bom ressaltar que o excesso de foco em outra pessoa tira o foco de nós mesmos. Além disso, o caminho que cada um vai percorrer para alcançar o que deseja será totalmente diferente, porque nós somos únicos”, afirma Heloísa Yoshida, psicóloga, pedagoga, coach de carreira e diretora da Sistêmica Desenvolvimento de Pessoas. Parece óbvio, mas é difícil fugir das tais comparações, que, muitas vezes, levam as pessoas a se sentirem em desvantagem. Isso pode decorrer tanto da mera consciência de se estar, de fato, menos preparado, como de um problema um pouco mais grave. Sentir-se constantemente em uma situação inferior à dos outros pode ser fruto de distorções relacionadas ao autoconceito. “Trata-se de um conjunto de sentimentos, idéias e opiniões que a pessoa tem de si. Está totalmente Comportamento 10 10-11-REV.indd 010 10-11-REV.indd 010 26/2/2008 12:55:19 26/2/2008 12:55:19

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Por Daniel John FurunoA

ndre

j Tro

ha

Você em FOCOEsqueça as

comparações e conheça a si mesmo:

seguindo esse simples conselho, é

possível melhorar sua auto-imagem e, conseqüentemente,

acumular vitórias na vida acadêmica

Sem ter ao menos uma idéia da carreira que deseja seguir, o adolescente se vê diante do

desafi o do vestibular. Alguns de seus colegas conseguiram ser aprovados logo na primei-

ra tentativa, mas ele não se julga capaz disso. Matricula-se, portanto, em um cursinho

preparatório. O pai, médico, torcendo para que o primogênito siga seus passos, comenta

que o fi lho de um amigo foi aprovado em uma grande universidade pública. Tentando incentivar,

a mãe diz que pode até ser uma faculdade privada, o que importa é passar. O adolescente não diz

nada, mas sente seu estômago doer ao pensar que, se não fosse pelas aulas particulares, nem mesmo

teria conseguido se formar no Ensino Médio.

Situações com a descrita no parágrafo acima, infelizmente, retratam a realidade de inúmeros jovens.

A comparação de resultados é algo constante em nossas vidas e, até certo ponto, pode ser considerada

um hábito saudável. “Na busca do sucesso pessoal e da satisfação, é comum escolher um amigo, um

atleta ou um empresário bem-sucedido como referência. Mas é bom ressaltar que o excesso de foco

em outra pessoa tira o foco de nós mesmos. Além disso, o caminho que cada um vai percorrer para

alcançar o que deseja será totalmente diferente, porque nós somos únicos”, afi rma Heloísa Yoshida,

psicóloga, pedagoga, coach de carreira e diretora da Sistêmica Desenvolvimento de Pessoas.

Parece óbvio, mas é difícil fugir das tais comparações, que, muitas vezes, levam as pessoas a

se sentirem em desvantagem. Isso pode decorrer tanto da mera consciência de se estar, de fato,

menos preparado, como de um problema um pouco mais grave. Sentir-se constantemente em

uma situação inferior à dos outros pode ser fruto de distorções relacionadas ao autoconceito.

“Trata-se de um conjunto de sentimentos, idéias e opiniões que a pessoa tem de si. Está totalmente

Comportamento10

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baseado em seus valores e crenças individuais

e é construído ao longo da história de vida

pessoal, escolar e familiar, fruto das comu-

nicações, interlocuções, interações sociais e

experiências”, explica Heloísa Yoshida.

Espelho distorcidoO autoconceito refl ete diretamente na con-

duta de uma pessoa diante da vida, incluindo

o estudo e o trabalho, o que signifi ca que dis-

torções na idéia que a pessoa faz de si mesma

podem comprometer seu desempenho em

uma prova ou em uma entrevista de emprego,

por exemplo. “Há diversos casos de jovens que

dizem que não gostam de estudar ou que não

se sentem capazes, mas que, simplesmente,

não estão sendo colocados diante de algo

de seu interesse ou não estão recebendo o

estímulo correto. Já vi muitos professores de

Ensino Médio que, em vez de estimularem

seus alunos, destacando o que eles podem

conseguir, apontam apenas o que eles têm a

perder”, explica Walkyria Maria Coelho, psicó-

loga, psicoterapeuta e instrutora da Sociedade

Brasileira de PNL.

Não é difícil imaginar que a infância e a

adolescência desempenham papel importante

na formação do autoconceito. “Um compor-

tamento inseguro geralmente está associado

a um autoconceito negativo que a pessoa tem

sobre suas habilidades e competências. Pode

ter origem, por exemplo, em rótulos recebidos

na infância, que foram internalizados pela

pessoa”, diz Heloísa Yoshida. “A adolescência

já é uma fase complicada, pois o jovem está

preocupado com sua imagem e suas relações

sociais. Some-se a isso o fato de que, muitas

vezes, os pais projetam suas expectativas em

seus fi lhos ou, então, os matriculam em es-

colas disciplinadoras, para tentar resolver os

problemas com os quais não conseguem lidar

dentro de casa. Além disso, há nosso sistema

Solução possívelApesar de, geralmente, terem sua origem

ligada aos anos de formação, as distorções no

autoconceito podem ser solucionadas mesmo

quando a pessoa já se encontra na fase adulta.

“Na verdade, acaba sendo mais difícil trabalhar

essas questões com crianças e adolescentes, pois

o processo envolve mais gente – os pais e os

professores, notadamente. Adultos dependem

apenas de si mesmos e, em muitos casos, o

tratamento é bastante rápido, uma vez que é

basicamente uma questão comportamental”,

aponta Walkyria Coelho. “Em primeiro lugar,

é preciso que a pessoa busque a mudança,

porque nenhum terapeuta, professor ou coach

poderá ajudá-la se ela não quiser. Em seguida, é

necessário iniciar um processo de autoconhe-

cimento e de ressignifi cação de sua estória de

vida, rótulos e frustrações, entre outros. Nesse

sentido, a PNL ajuda a pessoa a desenvolver

estratégias mentais e elaborar um plano de

ação para guiá-lo até onde ele quer chegar. Por

ser uma ciência que estuda o refl exo de nossas

experiências em nosso comportamento, ela

nos habilita a organizar o pensamento, a ad-

ministrar as emoções e a agir com objetividade

e assertividade. Ela nos ensina a mudar formas

de pensamento negativas e a desconstruir cren-

ças que limitam a nossa vida e nos impedem

de dar passos na direção de nossos desejos”,

conclui Heloísa Yoshida.

Há casos de jovens

que dizem que não

se sentem capazes,

mas que apenas não

estão recebendo o

estímulo correto

de ensino, que valoriza apenas o resultado fi -

nal, e não o processo, o esforço – daí vem toda

a cultura da ‘cola’ e das pessoas que pagam

para que outros façam suas monografi as ou

trabalhos de conclusão de curso”, completa

Walkyria Coelho.

11INTELIGÊNCIA & APRENDIZAGEM

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