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Revista Você S/A 25jul18 Com trabalho, sem emprego 24 de julho de 2018 Thomas Case & Associados Norberto Chadad, Presidente da Thomas Case & Associados, em entrevista para a Revista Você S/A diz que ter um plano de partida determina o bom encaminhamento das demais estratégias para aumentar as oportunidades de ter sucesso. Por Luiza Dalmazo O avanço da tecnologia, a reforma trabalhista e a crise econômica levam mais de 34 milhões de pessoas a atuar sem carteira assinada no Brasil. Veja como sobreviver na era da informalidade — uma condição que deve crescer em todo o mundo. Camila Menezes, de 26 anos, aprendeu a fabricar vacinas na universidade e conseguiu serviço em um dos poucos lugares do estado de São Paulo ligados à sua formação, o Instituto Butantan. Desempregada há um ano, ela vende roupas online, trabalha de recepcionista em eventos e dá aula particular de biomedicina pela internet. Seu salário chega à metade do que recebia em tempos de estudante. A jovem de Santos (SP) faz parte dos 34,3 milhões de brasileiros que mantêm algum tipo de trabalho sem ter um emprego formal. De acordo com números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017 a quantidade de gente sem registro ultrapassou, pela primeira vez, a de quem tem carteira assinada, superando em quase 1 milhão o contingente de funcionários formais. Essa é uma condição que vem crescendo gradualmente desde 2014 e chegou a bater 37% da força de trabalho no país. 1

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Revista Você S/A

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Com trabalho, sem emprego 24 de julho de 2018 Thomas Case & Associados

Norberto Chadad, Presidente da Thomas Case & Associados, em entrevista para a Revista Você S/A diz que ter um plano de partida determina o bom encaminhamento das demais estratégias para aumentar as oportunidades de ter sucesso.

Por Luiza Dalmazo

O avanço da tecnologia, a reforma trabalhista e a crise econômica levam mais de 34 milhões de pessoas a atuar sem carteira assinada no Brasil. Veja como sobreviver na era da informalidade — uma condição que deve crescer em todo o mundo.

Camila Menezes, de 26 anos, aprendeu a fabricar vacinas na universidade e conseguiu serviço em um dos poucos lugares do estado de São Paulo ligados à sua formação, o Instituto Butantan. Desempregada há um ano, ela vende roupas online, trabalha de recepcionista em eventos e dá aula particular de biomedicina pela internet. Seu salário chega à metade do que recebia em tempos de estudante.

A jovem de Santos (SP) faz parte dos 34,3 milhões de brasileiros que mantêm algum tipo de trabalho sem ter um emprego formal. De acordo com números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017 a quantidade de gente sem registro ultrapassou, pela primeira vez, a de quem tem carteira assinada, superando em quase 1 milhão o contingente de funcionários formais.

Essa é uma condição que vem crescendo gradualmente desde 2014 e chegou a bater 37% da força de trabalho no país. Segundo dados do IBGE, dos 2,3 milhões de postos criados em 2017, apenas um quarto oferecia vínculo empregatício. Além disso, só no primeiro trimestre do ano, quase meio milhão de vagas formais deixaram de existir.

Por mais que a situação seja agravada pela recessão, alguns especialistas acreditam que a informalidade deve continuar, mesmo após a melhora econômica, impulsionada por alguns fatores. O principal seria o avanço da tecnologia, que possibilita a qualquer pessoa realizar as mais variadas tarefas de qualquer lugar. Outro seria a reforma trabalhista, que permite novas modalidades de contrato flexíveis, como o intermitente (em que o indivíduo só recebe quando é convocado) e o temporário (no qual a pessoa atua por um período predeterminado), sem falar na Lei da Terceirização, que liberou as companhias para contratar terceiros inclusive para as principais atividades do negócio. Ao que tudo indica, muitos brasileiros terão de se virar por conta própria para sobreviver.

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E engana-se quem pensa ser essa uma realidade apenas para os menos escolarizados. Com os diplomas perdendo a relevância e as habilidades comportamentais e mentais passando a valer o mesmo ou até mais do que o conhecimento técnico, todo mundo se torna candidato a operar dessa forma. Dados do IBGE apontam que, nos últimos cinco anos, a proporção de desempregados com ensino superior completo aumentou quase 50%.

São os casos de Camila, mestranda em engenharia bioquímica na Universidade de São Paulo, e de Ricardo Cuogui, engenheiro civil graduado pela USP com MBA pela Fundação Getulio Vargas (FGV) — duas das melhores universidades do país. Sem emprego formal há dois anos, ele paga parte das contas com o dinheiro que recebe de uma casa alugada e atua como corretor de imóveis, enquanto se estrutura para abrir a própria imobiliária.

O avanço do serviço sem carteira acende um sinal vermelho sobre os indicadores do Brasil. Segundo dados da FGV, a informalidade foi responsável por quase metade da perda de produtividade do país durante os anos de crise. Com menos assalariados registrados, há também menos consumidores. O comércio retrai, reduz custos e provoca mais desemprego. “Sem alternativa, boa parte das pessoas acaba migrando para ocupações como motorista de aplicativos ou vendedor autônomo”, diz Cimar Azeredo, coordenador da área de trabalho e rendimento do IBGE.

Nesse compasso, o Brasil caminha para se tornar uma África do Sul, um dos países recordistas em informalidade no mundo, com 80% da mão de obra se mantendo por conta própria. “Se nossa economia seguir no ritmo atual, atingiremos o patamar sul-africano em cinco anos”, afirma Ruy Braga, professor da USP especializado em sociologia do trabalho e autor de A Rebeldia do Precariado (Boitempo, 53 reais). O pior é que a falta de um contrato de trabalho pode levar à precarização das condições do profissional.

Estudos confirmam aquilo que Camila e Ricardo sentem na pele: os informais ganham até metade do que aqueles com carteira assinada. Sem a estabilidade financeira, a organização das contas é tortuosa. Muitas vezes, pressupõe acumular dois ou mais serviços, ultrapassando as jornadas estabelecidas por lei. O contador Marcio Bindandi, de 46 anos, sabe disso. Ele atua mais de 12 horas por dia como motorista de aplicativo para ganhar 3 000 reais a menos de quando era registrado em numa companhia de São Paulo. Sem o respaldo da lei trabalhista, os informais ficam entregues à própria sorte.

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Livre escolha

Apesar das dificuldades, há quem opte por esse modelo. Um grupo cada vez maior de pessoas, especialmente as mais jovens, desiste de ter um emprego dentro de uma estrutura corporativa e com um chefe no cangote a mandar e desmandar. Soma-se ao desejo de mais flexibilidade a facilidade dos aplicativos que possibilitam o compartilhamento de bens; das lojas virtuais que permitem a venda de produtos sem intermediários; e dos sites que conectam autônomos a quem busca prestadores de serviços. A tendência é que haja cada vez mais empreendedores digitais e profissionais qualificados realizando projetos pontuais de acordo com a necessidade do cliente. É a chamada gig economy, ou economia sob demanda, que deve se espalhar inclusive por países mais desenvolvidos. Segundo levantamento da consultoria americana Emergent Research, o número de gig workers nos Estados Unidos passará dos 4 milhões atuais para 7,7 milhões em 2020, chegando a 9,2 milhões no ano seguinte.

A quem refuta a ideia de permanecer 8 horas confinado dentro de um escritório, a notícia agrada. Significa autonomia, independência e liberdade. Significa também que a carreira sai das mãos do empregador; e tudo, absolutamente tudo, passa a ser responsabilidade do empregado: aonde se quer chegar, dias trabalhados, valor do serviço e planejamento da aposentadoria. Um modelo que exige disciplina, organização, determinação e criatividade. Para dar uma mão a quem já se encontra nessa situação ou para quem ainda vai passar por ela — seja por opção, seja por falta de opção —, VOCÊ S/A preparou um guia básico de sobrevivência na informalidade. Nas próximas páginas, você descobre desde como se preparar emocionalmente até a melhor maneira de programar a aposentadoria.

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Prepare-se para a carreira do futuro

Com o fim do registro em carteira, quase ninguém entrará numa corporação estagiário para sair CEO. A carreira deixará de ser linear para se tornar um ziguezague. Os vínculos serão formados por projetos, obrigando boa parte das pessoas a operar como freelancer. Nesse contexto, é importante se especializar, mas não ficar preso a uma indústria. Um advogado que entende tudo de regulamentação do setor farmacêutico, por exemplo, pode ficar para trás quando o segmento que estiver demandando serviços jurídicos for o de energia. O profissional vai se fortalecer se tiver uma visão holística da carreira, atuando em diversas frentes, em vários tipos de contrato.

Nesse novo contexto, as competências comportamentais, chamadas de soft skills, passam a ser tão importantes quanto o conhecimento técnico. É preciso aprender rápido e ter pensamento crítico, além de ser criativo e desenvolver inteligência emocional. Para obter essas aptidões, Anderson Sant’Anna, coordenador do núcleo de desenvolvimento de liderança da Fundação Dom Cabral, sugere que o trabalhador subverta seus costumes. Se gosta de frequentar bares, deve ir a museus. Se curte rock, deve ouvir

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MPB. Sair da zona de conforto amplia a visão e ajuda a enxergar as oportunidades enquanto elas estão começando. “O ideal é a pessoa se expor ao limiar de seus conhecimentos para, assim, identificar limites, desenvolver pontos fortes e exercitar a humildade”, afirma Anderson.

A capacidade de articular amplas redes de contatos e estreitar relacionamentos também conta demais. “A não ser que faça algo único, o indivíduo terá de se diferenciar da massa para conseguir contratos interessantes”, diz João Lins, professor na Fundação Getulio Vargas de São Paulo. “Se vou contratar alguém para montar o sistema de segurança de minha companhia, quero alguém que faça isso bem. Mas o que me fará escolher entre um e outro será a capacidade do profissional de se conectar ao meu time.”

Camila Menezes, jovem do começo da reportagem, redesenhou as possibilidades desde que perdeu o emprego no Instituto Butantan. Engatou, ao mesmo tempo, um mestrado em engenharia bioquímica na USP e uma pós-graduação em biomedicina estética. “Assim, posso tanto seguir carreira acadêmica quanto abrir uma clínica estética”, diz. Enquanto investe na profissionalização, ela se vira com “bicos” para pagar as contas. Atua como recepcionista em eventos, vende roupas em brechós online e dá aula particular de biomedicina pela internet.

 

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Enxergue as oportunidades

Outro segredo para ter sucesso sem ser CLT é diversificar o campo de atuação, identificando funções e setores aquecidos. Para evitar análises distorcidas, recorra a ex-chefes ou colegas, ou ainda considere contratar um especialista. Um coach, por exemplo, pode ajudar a enxergar seu perfil. Norberto Chadad, da consultoria de gestão de pessoas Thomas Case & Associados, sugere levantar pontos fortes e pontos fracos, assim como as áreas de interesse. “Ter um plano de partida determina o bom encaminhamento das demais estratégias adotadas”, afirma.

Definidos os caminhos, a dica dos especialistas é circular — e bastante. Pode ser como consultor, freelancer, empreendedor ou autônomo, o importante é o profissional frequentar palestras, cursos e eventos em espaços de coworking para conhecer gente nova e fazer networking. Também vale conversar com familiares, colegas e antigos clientes para detectar as chances de negócios — ou até para aprender com quem já sobrevive sem carteira assinada.

Essas interações abrem a mente e ajudam a entender o novo mundo do trabalho, derrubando antigas concepções. Foi batendo papo com parentes que o paulistano Marcio Bindandi, de 46 anos, percebeu um novo caminho. Formado em contabilidade, ele estava registrado numa companhia até dois anos atrás. Além da estabilidade, recebia um salário de 12 000 reais mais benefícios. Mas a empresa terceirizou seu departamento e demitiu todo o time. A forma encontrada por Marcio para pagar as contas foi virar motorista de aplicativo. “Mas a jornada, para que eu ganhe entre 8 000 e 9 000 reais, é de 12 horas”, diz. Enquanto sonha com um novo posto com carteira assinada, ele pesquisa cursos de pós-graduação em comércio exterior. “Descobri autônomos progredindo nessa área.”

Marcio está certo em voltar a estudar. Pesquisas apontam que especializações contribuem para um aumento de até 75% no pagamento dos informais. “Certificados são uma maneira de se diferenciar num mar de profissionais”, diz Guillermo Bracciaforte, presidente da Workana, plataforma que conecta freelancers a empresas em busca de gente em toda a América Latina. Dica: para quem deseja se capacitar, mas está sem dinheiro, há bons cursos gratuitos disponíveis na internet em plataformas de educação, como Udemy, Coursera, EduK e PrimeCursos.

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Organize as finanças

Não ter salário fixo nem os benefícios assegurados pelo registro de trabalho, como plano de saúde, vales transporte e alimentação, exige controle e uma rígida programação de despesas. Segundo Jacques Cohen, membro da Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar), o ideal é fazer cálculos anuais, pois isso ajuda a ter uma visão global de quanto, em média, será preciso pingar no banco mês a mês. “Um erro comum entre quem se vira por conta própria é superestimar os rendimentos. Estudos de psicologia mostram que a pessoa olha quanto ganha no mês e fica com o número na cabeça, ignorando impostos e custos para realizar o trabalho na profissão [como energia, internet e transporte]”, afirma Jacques.

Para definir os valores, inclua gastos com moradia, alimentação, lazer, transporte e saúde. Não esqueça de considerar uma quantia para depósito do INSS. Como a instabilidade é maior, os especialistas recomendam que o autônomo reserve o equivalente a seis meses de trabalho. Assim, se a demanda cair, não será preciso recorrer a empréstimos e contrair dívidas. Na hora de definir o ganho mensal, lembre-se de prever os impostos — autônomos não são isentos e precisam deixar para o leão até 30% dos proventos.

O próximo passo é separar despesas profissionais das pessoais — para analisar se há lucro na atividade. Se não sobra dinheiro, é hora de rever o orçamento. “O início de uma carreira liberal requer sacrifícios inclusive no estilo de vida”, diz Luiz Fernando Mendonça Schvartzman, sócio da Life Finanças Pessoais, consultoria de planejamento financeiro. Foi o que acabou fazendo Ricardo Cuogui, de 46 anos.

Demitido em 2016, o engenheiro civil formado pela USP e com MBA em gestão empresarial pela FGV teve de rever gasto por gasto. Antes de ser dispensado pelo antigo empregador, conseguiu juntar um pé-de-meia correspondente a dez meses de salário. Após a demissão, ele e a mulher cortaram a mensalista e a van que levava as duas filhas à escola. O dinheiro foi alocado para o plano de saúde da família, com mensalidade de 1 600 reais. “Saber economizar possibilita investir com calma em novas frentes de trabalho”, diz o engenheiro, que está vivendo do aluguel de uma casa em São José dos Campos (SP) que construiu com parte do dinheiro da rescisão. Ciente de que os tempos mudaram, Ricardo ensaia agora se tornar empreendedor. Está trabalhando como corretor de imóveis e planeja abrir a própria imobiliária.

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Fortaleça o lado emocional

Irvin Schonfeld, professor de psicologia na City University and College de Nova York e pesquisador do estresse nos trabalhadores, afirma que aqueles que não têm vínculo empregatício são naturalmente mais preocupados. Embora não enfrentem a competição por uma promoção, não tenham a obrigação de estar todos os dias na companhia nem encarem a pressão de bater metas, eles têm de lidar com o “monstro da insegurança”. “Em um de nossos estudos, descobrimos que o maior desafio dos autônomos é receber pelo serviço. Outro é conseguir serviço”, diz Irvin. “Às vezes, a pessoa que atua por conta gasta mais tempo prospectando negócios do que trabalhando.”

De acordo com o professor, uma tática simples pode minimizar o estresse emocional. “Sempre sugiro que autônomos cobrem metade do pagamento antes de iniciar o projeto”, diz. Basta um e-mail de resposta com um “aceito” ou “de acordo” para servir de proteção legal. Além de poupar dinheiro e ter organização, outro importante recurso para blindar o lado emocional é descobrir um propósito para seu trabalho.

Cristiane Barros Echeli, de 45 anos, trabalhava havia 13 como coordenadora de um posto de saúde da prefeitura de Castro, no interior do Paraná. Formada em enfermagem, fazia um tempo que ela estava insatisfeita com a inflexibilidade de horários e com a falta de reconhecimento do setor público. “Queria uma nova vida, sem vínculo, e me preparei”, diz. Durante três anos, ela levou uma jornada dupla: em paralelo ao emprego formal, atuava como consultora de uma marca de cosméticos nas horas vagas. Em 2009, quando contou a amigos e familiares que pediria exoneração do cargo para virar

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consultora de beleza, não encontrou apoio, mas foi em frente mesmo assim. Na época, ela já ganhava como informal o equivalente ao salário na prefeitura, cerca de 5 000 reais.

Para manter o psicológico à prova dos altos e baixos, Cristiane definiu uma rotina rigorosa. Todo começo de semana mapeia pelo menos seis tarefas prioritárias, como agendar aulas de beleza, fazer reuniões com outras consultoras, organizar exposições de produtos e entrar em contato com potenciais consumidores. Doze meses depois de sair do cargo público, Cristiane já tinha 200 clientes a mais. A nova ocupação rende à ex-enfermeira de 8 000 a 12 000 reais por mês. “Mesmo com essa variação, recebo mais do que antes, tenho tempo para meus filhos e estou mais feliz”, diz.

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Programe a aposentadoria

A paulistana Anelisa Macedo, de 51 anos, se formou em publicidade e propaganda, mas nunca atuou na área nem teve carteira assinada. Apaixonada pela língua inglesa e fluente no idioma desde a adolescência, escolheu dar aula particular em vez de ir para uma agência. Além da classe, ela presta consultoria a jovens que querem se inscrever em faculdades americanas — tarefa que exige não só domínio de inglês como também conhecimento do processo e das necessidades de cada universidade. Hoje, entre seus clientes e alunos estão diretores de bancos e até presidentes de empresas.

Apesar de bem-sucedida, Anelisa parou somente agora para planejar a aposentadoria. “Estou discutindo com meus filhos, que cursaram faculdade de negócios, e também com amigos da área financeira quais os melhores investimentos para meu perfil”, diz. “Percebi que não posso esperar mais.” Anelisa já está atrasada, na visão dos consultores financeiros.

Fabio Gallo Garcia, professor na Fundação Getulio Vargas e coautor de Como Planejar a Aposentadoria  (Publifolha, 19,90 reais), recomenda começar a poupar quanto antes. Se uma pessoa na faixa dos 40 anos quiser uma renda mensal de 7 000 reais aos 70 anos, precisará economizar 167 reais por mês. Mas, se deixar para guardar dinheiro aos 60 anos, terá de guardar 2 550 reais mensalmente. “O esforço fica muito maior quando se está mais perto da aposentadoria”, diz Fabio.

Em essência, a preparação não é tão diferente de quem trabalha em regime CLT. O teto máximo do INSS é de 5 645,80 reais. Quem quiser viver com mais terá de aplicar o dinheiro para que ele renda conforme as projeções de custo de vida. Até mesmo onde se pretende morar na velhice fará diferença nesse planejamento. Cidades pequenas, por exemplo, têm custo de vida menor do que capitais. De modo geral, Fabio diz que autônomos devem montar uma carteira com poucos investimentos de risco. Isso significa não colocar mais do que 20% em ações, especialmente se deixar para poupar depois dos 40 ou 50 anos de idade. As três principais alternativas seguras e rentáveis no longo prazo, segundo o professor, são os títulos de renda fixa, como Tesouro Direto, além de fundos e planos de previdência.

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Ao longo de 41 anos de atividades, nossos especialistas em Transição de Carreira, Outplacement, Coaching, Executive Search e Desenvolvimento contribuem com reportagens para diversos veículos de comunicação do país, por isso, a Thomas Case & Associados é considerada uma das principais fontes para consulta.

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