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 X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                            p.1         O currículo disciplinar na educação integral e em tempo integral: a proposta da educação de tempo integral em turno único na rede estadual de educação do Paraná     Resumo O presente artigo tem como objeto as políticas e programas de educação em tempo integral para as redes públicas de educação. O foco é a descrição e análise da proposta de Educação em Tempo Integral em Turno Único idealizada e implementada pelas equipes pedagógica e disciplinares do Departamento de Educação Básica da Secretaria de Estado de Educação do Paraná no ano de 2012. Diferente de outras iniciativas que ampliam o tempo escolar, a proposta em foco parte da necessária qualificação desse tempo com vistas à possibilidade de efetivação do ideal de formação omnilateral e à efetivação da função social precípua da escola, identificada como locus de socialização do conhecimento.  Palavraschave: Palavraschave: educação integral, educação em tempo integral, currículo disciplinar.    Ana Carolina C Morello Secretaria de Estado da Educação do Paraná [email protected]   Valéria Arias SEED [email protected]         

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.1 

 

 

 

 

    O currículo disciplinar na educação integral e em tempo integral: a proposta da educação de tempo integral em turno único na rede estadual de educação do Paraná    

 

Resumo O presente artigo tem como objeto as políticas e programas de educação em  tempo  integral para as  redes públicas de educação. O  foco  é  a  descrição  e  análise  da  proposta  de Educação em Tempo  Integral em Turno Único  idealizada e implementada pelas equipes pedagógica e disciplinares do Departamento de Educação Básica da Secretaria de Estado de Educação do Paraná no ano de 2012. Diferente de outras iniciativas  que  ampliam  o  tempo  escolar,  a  proposta  em foco  parte  da  necessária  qualificação  desse  tempo  com vistas  à  possibilidade  de  efetivação  do  ideal  de  formação omnilateral  e  à  efetivação  da  função  social  precípua  da escola,  identificada  como  locus  de  socialização  do conhecimento.  Palavras‐chave: Palavras‐chave: educação integral, educação em tempo integral, currículo disciplinar.   

 Ana Carolina C Morello 

Secretaria de Estado da Educação do Paraná [email protected] 

  

Valéria Arias SEED 

[email protected]  

 

 

 

 

 

 

 

O currículo disciplinar na educação integral e em tempo integral: a proposta da educação de tempo integral em turno único na rede estadual de educação do Paraná  Ana Carolina C Morello ‐ Valéria Arias 

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Educação em tempo integral e educação integral  

Atualmente  o  termo  educação  integral1  é  utilizado  nos  meios  jornalísticos, 

políticos,  e mesmo  educacionais,  de maneira  imprecisa. Apesar  de,  historicamente,  na 

cultura  ocidental,  a  educação  integral  apontar  para  um  ideal  de  formação  humana, 

incluindo‐se  aí,  conhecimentos  científicos,  filosóficos,  artísticos,  etc.,  valores  e 

comportamentos entendidos como necessários ao homem intelectualmente autônomo e 

humanamente  pleno,  no  dia  a  dia  das  práticas  e  políticas  educacionais  no  Brasil 

contemporâneo,  o  termo  educação  integral,  cuja  realização,  a  rigor,  não  necessita  da 

instituição  escolar,  é  tomado  como  sinônimo de  jornada  escolar  em  tempo  integral. A 

confusão  não  é  exatamente  ingênua,  uma  vez  que  no  entendimento  das  massas 

populacionais  e,  também,  de  muitos  dirigentes  educacionais,  naturalizou‐se  como 

verdade  que,  independente  das  condições,  as  jornadas  escolares  maiores,  iguais  ou 

superiores a sete horas diárias, são melhores que as jornadas de “apenas” quatro horas. 

Dessa forma, a qualidade da formação e o tempo de formação são conceitos que cumpre 

definir e qualificar, quando  se  trata das  iniciativas de educação em  tempo  integral nas 

redes públicas de educação. Observa‐se que, para a maioria das redes públicas, o tempo 

de permanência na escola é o critério determinante para a definição de “escola integral”, 

sendo  que  o  conteúdo  desse  tempo  ampliado  torna‐se  secundarizado.  Nessa 

compreensão, a função social da escola, se tomada no sentido humanista e republicano, 

torna‐se mera retórica. 

Parte do  anseio da  sociedade brasileira  em  relação  à  concretização de políticas 

públicas  que  ofertem  educação  em  tempo  ampliado  pode  ser  explicado  pela  própria 

fragilidade  do  país  em  termos  do  conjunto  das  políticas  sociais,  tais  como  segurança 

pública,  saúde,  moradia,  de  acesso  aos  bens  culturais,  de  infraestrutura  urbana,  de 

atendimento à infância, etc. No Brasil, sobretudo a partir da democratização do acesso ao 

ensino  fundamental  nos  anos  de  1990,  a  função  social  da  escola  pública,  por  nós 

entendida  como  a  de  socialização  do  conhecimento  sistematizado  com  vistas  à 

emancipação  do  estudante,  vem  sendo  confundida  com  atribuições  de  cunho 

                                                            1 Neste artigo usaremos o termo educação em tempo integral para nos referirmos às ofertas educacionais 

formais com jornadas diárias de sete ou mais horas de duração. 

O currículo disciplinar na educação integral e em tempo integral: a proposta da educação de tempo integral em turno único na rede estadual de educação do Paraná  Ana Carolina C Morello ‐ Valéria Arias 

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assistencialista. Tal inversão influencia muito nas definições das políticas de educação em 

tempo  integral,  as  quais  só  podem  ser  entendidas  se  analisadas  em  face  do  caráter 

societário  que  as  jornadas  escolares  ampliadas  assumem  no  país.  É  preciso,  então,  ao 

analisar  o  fenômeno  da  pressão  estatal  e  social  pela  assim  popularmente  chamada 

“educação  integral”,  considerarem‐se  as  determinações  que  a  afetam,  tais  como:  as 

ausências do poder público quanto ao conjunto das políticas sociais, os discursos político‐

partidários  que  imputam  à  instituição  escolar  responsabilidades  sobre  problemas 

estruturais que esta, de  fato, não tem o poder de equacionar e,  finalmente, às grandes 

expectativas  da  população  quanto  à  escola  que,  ao  mesmo  tempo,  educa,  cuida, 

alimenta, prepara para o mercado de trabalho e impede que os estudantes permaneçam 

expostos aos riscos das ruas.  

A  partir  de  meados  dos  anos  2000,  proliferam,  no  Brasil,  as  iniciativas  de 

implementação  de  escolas  em  tempo  integral. Da  parte  do Governo  Federal,  foram,  e 

seguem  sendo,  propostos  uma  série  de  programas  que,  por  diversas  lógicas,  ampliam 

(ram)  a  jornada  escolar  nas  escolas  públicas.  Em  2007,  com  a  formalização  do  PDE 

(Programa de Desenvolvimento Educacional)2, todos os programas para a educação em 

tempo  integral e/ou ampliação de  jornada passam a  integrar o Compromisso Todos Pela 

Educação. Desde então, estados e municípios, ao aderirem ao Compromisso, passam a ter 

acesso aos recursos financeiros e aos sistemas de planejamento vinculados ao PAR (Plano 

de Ações Articuladas), o qual,  também  figura entre o  leque de Programas do PDE. Do 

mencionado  leque, os que objetivam a ampliação do  tempo de permanência na escola, 

tanto nas etapas iniciais da Educação Básica ‐ EB, quanto na final, têm especial destaque. 

Contam,  por  exemplo,  com  linhas  de  recursos  descentralizados  para  remuneração  de 

pessoal,  aquisição  de  equipamentos  e  de materiais  didáticos. Além  desses montantes, 

repassados diretamente às escolas  conforme número de alunos atendidos, há, para os 

sistemas de ensino, via FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação 

Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), um acréscimo per capita de 0,25% 

                                                            2  O  PDE  foi  lançado  pelo  Governo  Federal  em  abril  de  2007  e  constitui‐se  em  um  grande  programa educacional,  focado  prioritariamente  na  Educação  Básica,  com  prazo  de  execução  de  15  anos.  Prevê  a pactuação de estados e municípios às suas ações por  intermédio da adesão ao plano Compromisso Todos Pela Educação, o qual, por sua vez, prevê metas a alcançar pelos entes federados. O PDE é uma ação setorial que congrega dezenas de ações/programas educacionais.  

O currículo disciplinar na educação integral e em tempo integral: a proposta da educação de tempo integral em turno único na rede estadual de educação do Paraná  Ana Carolina C Morello ‐ Valéria Arias 

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por matrícula em turno ampliado. Não é  raro que as escolas participantes dos programas 

federais  de  ampliação  de  jornada  recebam mais  recursos  do  governo  federal  para  a 

execução dos programas do que as verbas repassadas, para custeio e aquisição de bens, 

das  próprias  instâncias mantenedoras  diretas  –  Secretarias Municipais  e  Estaduais  de 

Educação. 

Dos programas federais de ampliação de  jornada escolar, o mais conhecido, com 

maior número de matrículas informadas ao Censo Escolar e maior apelo político, é o Mais 

Educação  (PME), programa, que  se  auto define  como  indutor da  educação  em  tempo 

integral e encontra‐se disseminado em todo o território nacional.  

Antes de nos determos na análise de um dos pontos mais preocupantes do PME, 

relacionado  ao  fundamento  da  sua  arquitetura  curricular,  é  necessário  contextualizar 

brevemente as tentativas de institucionalização de escolas em tempo integral no Brasil. 

 

Educação em tempo integral: aspectos históricos 

A educação em tempo  integral é, antes de tudo, um compromisso. Compromisso 

esse que não condiz com políticas assistencialistas, mas que traz maior “possibilidade” de 

que a escola persiga e atinja a integralidade da formação omnilateral3 dos estudantes.  

Partindo  desse  pressuposto,  é  importante  contextualizar  historicamente 

momentos do processo da educação em tempo integral brasileira.  

O  início desse processo  localiza‐se nas décadas de 1920 e 1930, quando houve as 

primeiras tentativas de democratização da escola “primária”. Nesse período, a educação 

escolar começa a romper com a tradição de atender exclusivamente à classe dominante e 

passa  a  ser  ofertada,  também,  à  classe  trabalhadora.  Desse  movimento,  surge  a 

necessidade de se construir novos modelos educativos, pois 

a escola já não poderia ser a escola parcial de simples instrução dos filhos das  famílias  de  classe média  que  ali  iam  buscar  a  complementação  à educação  recebida  em  casa,  em  estreita  afinidade  com  o  programa 

                                                            3 Conceito originalmente proposto por Gramsci porém revisto por Mészaros (2002); diz respeito à Educação 

que possibilite uma formação que integre as dimensões fundamentais da vida na práxis social, incluindo as dimensões do desenvolvimento intelectual, físico, moral e técnico. 

O currículo disciplinar na educação integral e em tempo integral: a proposta da educação de tempo integral em turno único na rede estadual de educação do Paraná  Ana Carolina C Morello ‐ Valéria Arias 

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escolar,  mas  instituição  destinada  a  educar,  no  sentido  mais  lato  da palavra,  as  crianças  de  todas  as  classes,  desde  as  de  classe  média  e superior  até  as muito mais  numerosas  das  classes  populares,  às  vezes não tendo sequer casas e quase nunca trazendo da família a experiência e os hábitos da instrução que iam receber. Por isto mesmo a escola já não poderia ser a escola dominantemente de instrução de antigamente, mas fazer  as  vezes da  casa, da  família, da  classe  social  e por  fim da  escola propriamente  dita,  oferecendo  à  criança  oportunidades  completas  de vida, compreendendo atividades de estudo, de trabalho, de vida social e de recreação e  jogos. Para esta escola, precisava‐se, assim, de um novo currículo, um novo programa e um novo professor. A escola popular para uma  sociedade  subdesenvolvida  e  com  acentuada  estratificação  social, longe de poder ser mais simples, faz‐se a mais complexa e a mais difícil das escolas. (TEIXEIRA, 1962, p. 21‐33)  

Passou‐se, então, a se constituir culturalmente a  ideia da escola não excludente, 

pautada na  intenção da garantia do acesso universal à educação, o que, na essência, se 

configura como o princípio do ideal democrático da educação contemporânea.  Evidente 

que  tal  ideal,  naquela  época,  embora  defendida  por muitos,  estava  longe  de  ser  uma 

prioridade para governos e elites locais. Porém, por iniciativa de educadores, intelectuais 

e mesmo alguns membros do, então em  formação, corpo empresarial nacional,  foram, 

aos poucos, construídas alternativas que procuravam expandir o acesso da população à 

educação  formal. Nesse  processo,  destacam‐se  os  “pioneiros  da  escola  nova”  e, mais 

especificamente, Anísio Teixeira. 

Como  forma  de  integrar  a  população,  independente  de  sua  classe  social,  uma 

primeira  ideia de educação em tempo  integral, chamada de Escola‐ Parque, foi proposta 

por Anísio Teixeira. Essa escola estava  localizada em Salvador e foi  inaugurada em 1950 

com  o  nome  de  Centro  Carneiro  Ribeiro.  Nela,  os  alunos  recebiam  os  conteúdos 

“formais”, chamados de “atividades convencionais de  instrução  intelectual”  (TEIXEIRA, 

1962), nas escolas‐classe pela manhã , e à tarde  

na  escola‐parque,  nome  que  se  conferiu  ao  conjunto  de  edifícios  de atividades de trabalho, sociais, de educação física e de arte, predomina o sentido  de  atividade  completa,  com  as  suas  fases  de  preparo  e  de consumação,  devendo  o  aluno  exercer  em  sua  totalidade  o  senso  de responsabilidade e ação prática, seja no trabalho, que não é um exercício mas a  fatura de algo completo e de valor utilitário, seja nos  jogos e na recreação,  seja  nas  atividades  sociais,  seja  no  teatro  ou  nas  salas  de música e dança, seja na biblioteca, que não é só de estudo mas de leitura e de fruição dos bens do espírito. (TEIXEIRA, 1962, p. 21‐33) 

O currículo disciplinar na educação integral e em tempo integral: a proposta da educação de tempo integral em turno único na rede estadual de educação do Paraná  Ana Carolina C Morello ‐ Valéria Arias 

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Assim, a escola de tempo integral se configurava como turno (educação formal) e 

contraturno (atividades diversificadas), que se preocupava com a formação  integral dos 

indivíduos  e  que,  apesar  de  primar  pela  “igualdade  de  oportunidade  educativa”  para 

pobres e  ricos  (TEIXEIRA,  1962, p.  21‐33), ainda mantinha atividades desconexas e uma 

proposta curricular que traduzia os movimentos pedagógicos da época (escolanovista e 

tecnicista). 

Além  da  tentativa  de  implementação  da  Escola  Parque,  também  temos  como 

exemplo os “Ginásios Vocacionais” em São Paulo, dos anos de 1960 e os CIEPs (Centros 

Integrados  de  Educação  Pública),  instituídos  no  Rio  de  Janeiro,  nas  gestões  do 

governador Leonel Brizola (1983/1986 e 1991/1994), entre outros (GIOLO, 2012, p. 94).  

Tais  experiências  de  educação  em  tempo  integral  “foram  truncadas,  ou 

descaracterizadas,  (...)  sob  a  alegação  principal  de  que  eram muito  onerosas  para  os 

cofres  públicos  e,  de  qualquer  modo,  nunca  fizeram  parte  das  políticas  gerais  da 

educação brasileira”.  (GIOLO, 2012, p. 94) 

Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) 9394/96, a educação 

em tempo integral é mencionada no Art. 34:  

“A  jornada  escolar  no  ensino  fundamental  incluirá pelo menos quatro  horas de 

trabalho  efetivo  em  sala  de  aula,  sendo  progressivamente  ampliado  o  período  de 

permanência na escola.” E ainda nesse mesmo artigo, o parágrafo segundo reforça: “O 

ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo  integral, a critério dos 

sistemas de ensino”. (BRASIL, 1996) 

Somente  após  a  publicação  da  LDBEN  9394/96,  ou  seja,  quase  cinquenta  anos 

depois  à  experiência  do  Centro  Carneiro  Ribeiro,  começou‐se,  ainda  que  de maneira 

bastante  imprecisa, a se discutir a Educação em Tempo  Integral no âmbito das políticas 

públicas. 

Imprecisa  porque,  apesar  de  ser  mencionada  na  Lei,  a  Educação  em  Tempo 

Integral fica “a critério dos sistemas de ensino”, dando‐lhes, assim, a opção de ofertá‐la 

ou não e, também, a liberdade de como ou quando fazê‐lo. 

O currículo disciplinar na educação integral e em tempo integral: a proposta da educação de tempo integral em turno único na rede estadual de educação do Paraná  Ana Carolina C Morello ‐ Valéria Arias 

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O Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado em 2001, abordou várias vezes  o  tema  da  educação  de  tempo  integral.  Reivindicou  essa modalidade  para  as  crianças  oriundas  das  camadas  sociais  mais necessitadas  (não  só para o ensino  fundamental, como  faz a LDB, mas também  para  a  educação  infantil),  que  seja  desenvolvida preferencialmente na mesma escola e que cumpra uma  jornada escolar de, no mínimo, sete horas. O PNE, por certo, foi muito mais enfático do que a LDB ao estabelecer a necessidade de educação em tempo integral, mas  também  foi  incapaz  de  impor  à  nação  um  conjunto  de  ações concretas. Continuou preso à  ideia de uma  implementação progressiva, se definir metas e responsabilidades precisas (GIOLO, 2012, p. 96).    

Já o Projeto de Lei nº 8035/10 que pretende aprovar o PNE 2011‐2020, tem como 

uma das metas “Oferecer educação em  tempo  integral em 50% das escolas públicas de 

educação básica”, sendo sua primeira estratégia  

Estender  progressivamente  o  alcance  do  programa  nacional  de ampliação  da  jornada  escolar,  mediante  oferta  de  educação  básica pública em tempo integral, por meio de atividades de acompanhamento pedagógico e  interdisciplinares, de  forma que o tempo de permanência de crianças, adolescentes e jovens na escola ou sob sua responsabilidade passe  a  ser  igual  ou  superior  a  sete  horas  diárias  durante  todo  o  ano letivo”.   

Partindo do fundamento que a formação integral pela via da escola formal não se 

restringe  ao  aumento do  tempo, mas  tem  como  condição  a perseguição da qualidade 

político‐pedagógica  relacionada  diretamente  à  função  social  da  escola,  gerou‐se  a 

proposta  de  Educação  em  Tempo  Integral  em  Turno Único  (ETI)  na Rede  Estadual  de 

Educação  do  Paraná  (REE  PR).  Pensada  a  partir  daquilo  que  é  fundamental  que  uma 

escola pública seja, um local, antes de mais nada, de conhecimento mas, também, espaço 

de desenvolvimento social, físico, social e político, com vistas à emancipação dos sujeitos 

que dela participam, consideradas sua história e sua cultura.  

  Antes de descrevermos  as  linhas gerais da proposta de ETI,  é necessária 

uma análise da proposta curricular do Programa Mais Educação, visto que a ETI pode ser 

considerada, ao mesmo  tempo, como política que se constitui como evolução histórica 

desse Programa e um contraponto a ele.  

 

 

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O Programa Mais Educação e sua concepção curricular 

O PME,  instituído pela Portaria  Interministerial nº  17/2007 e  regulamentado pelo 

decreto nº 7.083/2010 tem, conforme descrição em seus documentos legais, o objetivo de 

ampliar  as  oportunidades  de  aprendizagem  e  contribuir  para  a  formação  integral  de 

crianças e jovens. 

O artigo 6º, inciso III da Portaria Interministerial, ainda afirma que o Programa tem 

a  finalidade  de  “integrar  as  atividades  aos  Projeto  Político  Pedagógicos  das  redes  de 

ensino e escolas participantes”. 

A  proposta  curricular  das  atividades  a  serem  ofertadas  no  PME  parte  de  uma 

organização em macrocampos, a saber: (a) acompanhamento pedagógico; (b) educação 

ambiental e desenvolvimento sustentável;  (c) esporte e  lazer;  (d) educação em direitos 

humanos;  (e) cultura, artes e educação patrimonial;  (f) cultura digital;  (g) promoção da 

saúde;  (h)  comunicação  e  uso  de  mídias;  (i)  investigação  no  campo  das  ciências  da 

natureza; e (j) educação econômica/economia criativa.  

A  partir  dos  macrocampos  disponíveis,  a  escola  organiza  seu  “Plano  de 

Atendimento” e deve escolher entre três a quatro macrocampos para a oferta de quatro 

atividades  a  serem  distribuídas  ao  longo  da  semana,  sendo  o  acompanhamento 

pedagógico, o único macrocampo de oferta obrigatória. Caso a escola opte em ofertar a 

quinta atividade, esta obrigatoriamente deverá ser a atividade esporte na escola/atletismo 

e múltiplas vivências esportivas. 

É  importante  ressaltar  que  as  escolas,  ao  aderirem  ao  PME,  via  sistema 

denominado  PDDE  Interativo4,  precisam  apenas  indicar  o  número  de  alunos  que  irão 

participar  do  Programa,  selecionar  o  macrocampo  e  escolher  as  atividades  a  serem 

ofertadas entre o  cardápio disponível,  sem  se preocuparem ou  sequer mencionarem  a 

Proposta Pedagógica para cada atividade, assim como os conteúdos a serem trabalhados 

e os objetivos almejados com tal ação educativa. 

                                                            4 Este sistema integra o leque do PDE e faz parte da lógica de repasses financeiros diretamente às escolas. 

PDDE significa Programa Dinheiro Direto na Escola. 

O currículo disciplinar na educação integral e em tempo integral: a proposta da educação de tempo integral em turno único na rede estadual de educação do Paraná  Ana Carolina C Morello ‐ Valéria Arias 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.9 

 

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Outro  aspecto  diretamente  relacionado  à  intencionalidade  político‐partidária  do 

Programa,  são  os  critérios  de  “seleção”  dos  estabelecimentos  de  ensino,  que  entre 

diversos  itens, consiste em beneficiar escolas públicas que apresentem:  IDEB abaixo ou 

igual a 4.2  (séries  iniciais) e 3.8  (séries  finais);  localizadas nos  territórios prioritários do 

Plano Brasil  Sem Miséria  e  que  possuam  índice  igual  ou  superior  a  50%  de  estudantes 

participantes do Programa Bolsa Família.  Isso nos remete a uma passagem  interessante 

de  um  livro  de  Demerval  Saviani  denominado  Escola  e  Democracia.   Nele  se  aborda  a 

educação compensatória, que objetiva a equalização social por meio de “um conjunto de 

programas  destinados  a  compensar  deficiências  de  diferentes  ordens:  de  saúde  e 

nutrição,  familiares, emotivas,  cognitivas”  (2008, p.  27), entre outras. Esses programas 

acabam  atribuindo  à  educação  uma  série  de  papéis  relacionados  à  política  social  cuja 

consequência  “é  a  pulverização  de  esforços  e  recursos  com  resultados  praticamente 

nulos do ponto de vista propriamente educacional”. (SAVIANI, 2008, p. 27) 

Não se objetiva, aqui, a crítica ou mesmo negar a  importância do PME como um 

programa de ação compensatória, mas considerá‐lo como programa educativo “implica 

um afastamento ainda maior, em lugar da aproximação que se faz necessária em direção 

à compreensão da natureza específica do fenômeno educativo” (SAVIANI, 2008, p. 28). 

A  execução  do  PME  se  distancia  dos  objetivos mais  nobres  de  uma  educação 

integral  integrada  que  possibilite  articulação  entre  as  disciplinas  curriculares  e  as 

atividades  desenvolvidas  no  contraturno  escolar.  Isso  porque,  apesar  do  Programa 

financiar ações e atividades que possibilitam a permanência de estudantes no período de, 

no mínimo  7  horas  diárias,  não  garante  que  essas  atividades  sejam  desenvolvidas  por 

profissionais  com  formação para  atuarem na  educação básica. A  esse  respeito, o PME 

justifica a    falta de profissionalização no desenvolvimento das atividades no Programa,  

pela  suposta  necessidade  do  “compartilhamento  da  tarefa  de  educar  entre  os 

profissionais da educação e de outras áreas, as famílias e diferentes atores sociais, sob a 

coordenação da escola e dos professores”.  (Manual Operacional de Educação  Integral, 

2013, p. 4).  Visão que se contrapõe a uma concepção onde o “currículo é o conjunto das 

atividades nucleares desenvolvidas pela escola”. (SAVIANI, 2012 p. 15)  

 

O currículo disciplinar na educação integral e em tempo integral: a proposta da educação de tempo integral em turno único na rede estadual de educação do Paraná  Ana Carolina C Morello ‐ Valéria Arias 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.10 

 

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A  proposta  da  Educação  em  Tempo  Integral  em  Turno  Único  (ETI)  e  a concepção disciplinar do currículo 

No Paraná, a Educação em Tempo  Integral começou a ser organizada no ano de 

2009, mais especificamente no Colégio Estadual Manoel Ribas,  localizado na Vila Torres 

no município  de  Curitiba.  A  iniciativa  partiu  de  uma medida  do Ministério  Público  do 

Paraná. Na época, a decisão de manter as crianças e adolescentes em tempo integral foi 

tomada devido à situação de vulnerabilidade social da comunidade escolar. 

Partindo das discussões realizadas em 2009, uma primeira  ideia de Educação em 

Tempo Integral foi implementada, no  início do ano letivo de 2010. Nessa época, a matriz 

curricular da instituição de ensino contava, além das disciplinas da Base Nacional Comum 

(BNC),  com  uma  série  de  atividades  de  complementação  curricular  desenvolvidas  no 

contraturno, por meio do PME. Em abril de 2010, a Resolução nº 832/2010 – GS/SEED foi 

publicada com o  intuito de normatizar os procedimentos para a criação de  ‘Escolas de 

Tempo Integral’. Essa legislação, apesar de publicada no mês abril, foi aplicada a partir do 

início do ano letivo de 2010. 

No final de 2011, o documento Orientações para Implantação da Oferta de Educação 

em  Tempo  Integral  foi  divulgado  com  a  intenção  de  organizar  essa  oferta.  De  forma 

sucinta,  determinava  a  ampliação  da  jornada  escolar  com  um  currículo  integrado  e 

pressupunha a articulação da escola com outros espaços e equipamentos sociais. 

Com  relação às especificidades da Proposta Pedagógica, o documento orientava 

que  a  organização  da matriz  curricular  incluísse  a BNC  e  uma  Parte Diversificada  (PD) 

constituída de  tal modo que  se estabelecesse  relação entre as áreas do  conhecimento 

(PARANÁ, 2011, p. 4) concentradas em três eixos: 

a)  Obrigatórias:  Língua  Estrangeira  Moderna,  aprofundamento  da Aprendizagem  de  Língua  Portuguesa  e  Matemática;  b)  Prioritárias: experimentação e pesquisa  científica e preservação do meio ambiente; Ciências  Humanas  e  afirmação  da  cultura  dos  direitos  humanos; Tecnologias  da  Comunicação  e  Informação;  c)  Eletivas:  Cultura,  Arte, Esporte e Lazer. (PARANÁ, 2011, p.4)  

No ano de 2012, mais quatro escolas começaram a ofertar a Educação em Tempo 

Integral, a partir da organização orientada no final de 2011.  

O currículo disciplinar na educação integral e em tempo integral: a proposta da educação de tempo integral em turno único na rede estadual de educação do Paraná  Ana Carolina C Morello ‐ Valéria Arias 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.11 

 

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Houve,  também,  uma  mudança  na  coordenação  da  ação  na  SEED,  o  que 

possibilitou que uma nova equipe, signatária de concepção de educação distinta do grupo 

que propôs a primeira proposta, visitasse as cinco escolas para avaliar as condições de 

implantação e a organização pedagógica das atividades desenvolvidas. 

Deu‐se,  então,  início  a  um  processo  de  pesquisa  e  elaboração  do  Documento 

Orientador  da  Educação  em  Tempo  Integral  em  Turno  Único  (ETI),  o  qual  parte  da 

concepção disciplinar do currículo assumida pelo estado do Paraná e retoma as Diretrizes 

Curriculares Orientadoras para a Educação Básica (DCEs).  

Enfrentando  o  desafio  de  se  constituir  um  currículo  disciplinar  integrado,  as 

equipes  do  Departamento  de  Educação  Básica  da  SEED,  organizaram  propostas  de 

disciplinas para a PD com ementários construídos a partir da epistemologia própria das 

disciplinas que compõem a BNC.  

Ao se analisar o significado pedagógico do conjunto das disciplinas na educação 

em tempo integral, conforme a proposta da SEED, é necessário, ressaltar que se trata de 

concepção  e  organização  que  não  encontra  parâmetros  de  comparação  nas  muitas 

experiências de escola de tempo integral na história recente da educação brasileira. 

  A  literatura  consultada  e  a  análise  de  diversos  programas  e  projetos  de 

ampliação de  jornada  já executados e em andamento em várias partes do país, permite 

que se depreenda que a proposta do Paraná tem potencial de dirimir o grande entrave da 

escola  em  tempo  integral,  a  saber:  o  problema  da  organização  pedagógica  integrada, 

expressa  num  currículo  cujos  elementos  sejam  todos,  sem  exceção,  constituídos  por 

conteúdos de ensino  substantivos e, portanto, basilares para uma  formação  integral e 

politécnica. (FRIGOTTO, 2000) 

  A diferença fundamental da ETI em relação aos programas de ampliação de 

jornada refere‐se à integração das matrizes das escolas com jornada de nove horas diárias 

se dá no bojo do currículo disciplinar.  

 As DCEs (PARANÁ, 2009), e os demais registros que lhe dão suporte, são claros no 

que concerne ao entendimento a respeito da necessária unidade da EB considerando seu 

objetivo: garantir as plenas condições para os estudantes atendidos, de fato, realizem o 

O currículo disciplinar na educação integral e em tempo integral: a proposta da educação de tempo integral em turno único na rede estadual de educação do Paraná  Ana Carolina C Morello ‐ Valéria Arias 

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direito  à  apropriação  dos  conhecimentos  científicos,  filosóficos  artísticos  e  culturais 

fundamentais  para  prepará‐los,  enquanto  partícipes  de  uma  realidade  complexa  e 

contraditória.  

Antes de apresentarmos os elementos que caracterizam uma disciplina curricular 

na EB, é preciso notar que a proposta de ETI da SEED respeita as orientações legais e os 

preceitos pedagógicos que definem o papel da PD do currículo, concebida para atender 

as peculiaridades das diversas unidades escolares e suas respectivas comunidades.  

  Embora  longe  de  haver  unanimidade  em  relação  à  conceituação  das 

disciplinas escolares da EB, já que a literatura especializada se concentra mais em análises 

referentes à história das disciplinas no âmbito acadêmico (SACRISTÁN e GÓMEZ, 1998), 

há elementos característicos que são comuns na grande maioria dos estudos históricos e 

pedagógicos disponíveis.  

1. As disciplinas escolares possuem um  corpo  teórico e  conceitual  referendado 

por conhecimentos tradicionais e/ou com valor cultural  identificável e são passíveis de 

explicitar seus objetos e objetivos ou de demonstrar seus pressupostos e finalidades. 

O atendimento a esta peculiaridade  implica em que todas as disciplinas escolares 

contem  com  materiais  disponíveis  acerca  dos  conteúdos  que  englobam,  tais  como: 

acervos  bibliográficos,  estudos  técnicos  e/ou  científicos  e  publicações  de  diversas 

naturezas,  inclusive de  cunho didático‐pedagógico.  Implica,  também, que  as disciplinas 

possam  ter  sua  presença  no  currículo  devidamente  justificada,  o  que  só  é  possível  se 

tiverem um rol de conteúdos próprios e socialmente relevantes. 

 2.    As  disciplinas  escolares  têm  conteúdos  e  conceitos  possíveis  de  serem 

ensinados e aprendidos.  

Esta  característica  é  fundamental  no  que  respeita  à  relação  intrínseca  entre  os 

conteúdos  disciplinares,  sua  importância  formadora  e  o  tratamento  metodológico 

adequado ao público a quem  se destinam  tais  conteúdos. Ou  seja,  todas as disciplinas 

escolares que historicamente  tornaram‐se  tradicionais ou são consideradas socialmente 

relevantes,  permitem  que  os  professores  realizem  a mediação  didática  dos  conteúdos 

O currículo disciplinar na educação integral e em tempo integral: a proposta da educação de tempo integral em turno único na rede estadual de educação do Paraná  Ana Carolina C Morello ‐ Valéria Arias 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.13 

 

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que  as  compõem,  expressando‐os  em  propostas  metodológicas  coerentes  com  as 

objetivos de aprendizagem e com os critérios de avaliação definidos no currículo escolar. 

3.  As disciplinas escolares requerem profissionais capacitados para ministrá‐las.  

Não  há  como  falar  em  disciplina  curricular  sem  considerá‐la  como  campo  que 

apresenta  determinado  nível  de  especialidade,  caso  contrário,  sua  existência  seria 

irrelevante. Dessa condição resulta que a disciplina escolar requeira a disponibilidade e a 

atuação de professores que dominem seu campo epistemológico, assim como detenham 

e pratiquem o saber didático‐pedagógico concernente a ela. Espera‐se, portanto, que os 

profissionais agreguem, tanto o conhecimento dos conteúdos da disciplina que ensinam, 

quanto os conhecimentos requeridos pelo ato pedagógico do ensino. 

4.    As  disciplinas  escolares  devem,  individualmente,  constituir  um  sentido 

pedagógico para o  currículo e  seu  conjunto deve expressar  a  concepção da proposta 

pedagógica da escola. 

Essa característica significa que cada uma das disciplinas têm uma finalidade e uma 

importância social bem estabelecida e o seu conjunto, ou seja, a matriz curricular, deve 

estar em consonância com o diagnóstico e as particularidades da escola, incluindo‐se aí, o 

perfil  dos  estudantes  e  dos  professores,  a  região  onde  se  localiza  a  escola,  suas 

fragilidades  e  suas  potencialidades.  Essa  articulação  entre  os  conhecimentos  da 

totalidade das disciplinas e, ao mesmo tempo, de respeito às especificidades de cada uma 

delas, é fundamental para que se realize o diálogo interdisciplinar substantivo 

Note‐se que para as matrizes nas escolas de ETI, as possibilidades de diálogo entre 

as  disciplinas  ganham  naturalmente mais  visibilidade,  uma  vez  que  o  tempo  ampliado 

suscita que o elenco de disciplinas seja pensado de forma a constituir‐se em todo coeso e 

significativo para os estudantes. 

Outro fundamento que baliza o entendimento pedagógico e a prática escolar em 

relação  às  disciplinas  curriculares  diz  respeito  à  atuação  da  instituição  de  ensino  no 

processo  de  produção  do  conhecimento.  Parece  ser  amplamente  aceita  entre 

pesquisadores a ideia de que na escola e a partir da escola se produzem saberes. (LOPES 

e MACEDO, 2002) É aceito, também, que a escola intervém na forma como a sociedade se 

O currículo disciplinar na educação integral e em tempo integral: a proposta da educação de tempo integral em turno único na rede estadual de educação do Paraná  Ana Carolina C Morello ‐ Valéria Arias 

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apropria  e  transforma  o  conhecimento  sistematizado.  Porém,  tais  saberes  e 

conhecimentos são de ordem diferente dos produzidos pelas instâncias especializadas, já 

que a escola é uma instituição que tem por objetivo socializar o conhecimento.  Noutras 

palavras: à escola não é atribuída a função de produzir conhecimento sistematizado, mas 

de  garantir  o  direito  de  todos  os  cidadãos  à  apropriação  de  conhecimentos  que  as 

ciências, a filosofia, a arte, a literatura, enfim, que os vários campos de produção cultural 

e científica historicamente produzem, organizam e  referendam mediante metodologias 

rigorosas e demais critérios amplamente aceitos.  

 A  autonomia  da  escola,  embora  seja  fundamental,  não  se  exerce  pela  livre 

proposição  de  disciplinas,  o  que,  conforme  se  observou,  não  pode  ser  atribuição  dos 

profissionais  da  escola,  pois  ela  não  detém  as  condições  concretas  de  pesquisa, 

elaboração  e  validação  de  conhecimentos  gerais  e  específicos,  tais  como:  condições 

técnicas, acadêmicas e físicas; tempo disponível para estudo, escrita, experimentações e 

para participação nos canais de diálogo (congressos, seminários, grupos de trabalho) com 

os grandes centros nacionais e internacionais de produção de conhecimentos; condições 

para a publicação de propostas e resultados, etc. (JAPIASSÚ, 1992) 

Dessa forma, considerando os limites sistêmicos e a responsabilidade específica da 

escola, a autonomia  legal e  legítima da  instituição escolar pública, se exerce a partir da 

elaboração e execução, pelos segmentos escolares, de forma coletiva e democrática, das 

suas respectivas propostas pedagógicas.  

Diante das  reflexões  e  constatações  apresentadas,  as  equipes  técnicas do DEB, 

elaboraram um rol de ementas de disciplinas, coerentes com a concepção,  justificativa e 

conteúdos  da  proposta  de  educação  integral  de  tempo  integral  que  se  pretendia 

implementar no Paraná.   

As  ementas  foram  elaboradas  de  modo  a  contemplar  um  leque  amplo  de 

possibilidades  pedagógicas.  Todas  podem  ser  caracterizadas  como  conjuntos  de 

conteúdos  passíveis  de  ser  conceituados  como  disciplinas,  pois  possuem:  (a)  corpo 

teórico  e  metodológico  referendado,  a  partir  do  campo  epistemológico  ao  qual 

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pertencem; (b)  justificativa pedagógica que explicita sua relevância curricular; (c) objeto 

de estudo definido e/ou forma peculiar de expressão. (SEVERINO, 2000) 

Como se trata de disciplinas que  integram a PD do currículo, outro elemento que 

balizou  a  elaboração  desses  ementários  relaciona‐se  à  centralidade  em  conteúdos  e 

conhecimentos  que  aliam  a  relevância  pedagógica  à  diversidade  de  possibilidades  de 

tratamento didático‐metodológico. Experiências  científicas, aulas de  campo,  iniciação à 

pesquisa social, amplo uso de ferramentas e recursos midiáticos, exploração pedagógica, 

de forma organizada e orientada, de locais conhecidos e situações do cotidiano, debates 

diversos,  etc.  estão  entre  as  ferramentas  e  os  encaminhamentos  passíveis  de 

incorporação nos planos de trabalho docente.   

As 24 ementas elaboradas com o  intuito de organizar a PD do currículo, fornecer 

subsídios  à  prática  docente  e  possibilitar  a  oferta  de  formação  continuada  para  os 

professores, partiram dos seguintes critérios: (a) estar  integrada às disciplinas da BNC e 

às DCEs; (b) possibilitar práticas pedagógicas diferenciadas e (c) partir de conteúdos de 

interesse dos estudantes, cujo aprofundamento pelo professor, seja difícil por conta da 

carga horária reduzida na matriz curricular de tempo parcial. 

O  quadro  1  refere‐se  às  disciplinas  da  Parte Diversificada  elaboradas,  conforme 

disciplinas às quais estão vinculadas. 

Disciplina vinculada  Título da Disciplina 

Arte 

Educação Musical 

Audiovisual na Arte 

Dança 

Ciências 

Educação Científica e Cidadania 

Atividades Experimentais 

Astronomia 

Educação Física  Aprofundamento Esportivo 

O currículo disciplinar na educação integral e em tempo integral: a proposta da educação de tempo integral em turno único na rede estadual de educação do Paraná  Ana Carolina C Morello ‐ Valéria Arias 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.16 

 

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Fonte: Versão preliminar do Documento Orientador para Implementação da Educação em Tempo Integral 

em Turno Único 

As  disciplinas  para  a  PD  são  compostas  com  o  título  da  disciplina,  ementa, 

justificativa,  conteúdos,  recursos  (bibliográficos,  audiovisuais,  eletrônicos, 

materiais/manipuláveis),  perfil  do  professor,  organização  pedagógica  da  disciplina, 

sugestões metodológicas e de aprofundamento para o professor. 

As ementas funcionam como orientações de organização dos conteúdos, já que as 

unidades partem dessa proposta para formular suas Propostas Pedagógicas Curriculares 

Vivência Corporal 

L.E.M. 

Leitura e Informação em Língua Espanhola 

Inglês Online 

O Inglês na Literatura e no Cinema 

Língua Portuguesa Literatura Infantojuvenil 

Mídia e suas Linguagens 

Matemática Laboratório de Matemática 

Matemática Financeira 

Sociologia Noções Sociológicas: Identidade, Juventude e Sociedade 

Mídia e Sociedade 

Geografia Dinâmica Climática 

Espaço Cultural Paranaense 

História Arqueologia e Patrimônio Histórico 

Narrativas Históricas Audiovisuais 

Filosofia Conhecimento e Lógica 

Iniciação ao Pensar Filosófico 

Língua; Linguagens e Códigos  Libras 

O currículo disciplinar na educação integral e em tempo integral: a proposta da educação de tempo integral em turno único na rede estadual de educação do Paraná  Ana Carolina C Morello ‐ Valéria Arias 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.17 

 

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(PPC), de acordo com sua realidade e prevendo, também, a discussão e abordagem dos 

desafios sócioeducacionais contemporâneos, considerando os conteúdos propostos. 

A  avaliação  dessas  disciplinas  deve  seguir  o  sistema  de  avaliação  definido  pela 

escola e estar descrito na PPC. 

Além  das  disciplinas  propostas,  a  PD  da  Matriz5  também  é  composta  por 

Componentes Curriculares6. Cada unidade escolar que oferta a ETI  tem o equivalente a 

três horas aulas semanais por turma para organizar atividades mais flexíveis que possam 

enriquecer o  currículo e  atender  às expectativas,  as necessidades e  aos  interesses dos 

estudantes. Esses componentes podem ser ofertados para grupos de alunos do mesmo 

ano ou anos distintos, conforme especificidade da realidade escolar. 

O  quadro  2  expressa  a  organização  dos  componentes  curriculares,  por  área,  e 

possibilidades de atividades. 

 

Áreas  Componente Curricular 

Acompanhamento/ Aprofundamento Pedagógico 

Ciências 

História e Geografia 

Língua Portuguesa 

Matemática 

Esporte e Lazer 

Iniciação ao Desporto (esportes individuais e coletivos) 

Lutas 

Ginástica artística e/ou Rítmica 

Recreação e Lazer 

                                                            5  A Matriz  Curricular  para  a  oferta  da  ETI  para  as  séries  finais  do  Ensino  Fundamental  deve  prever  a distribuição de 45 horas semanais, sendo 28 horas aulas para a BNC,  três horas aula destinadas à Língua Estrangeira Moderna e três horas aula destinadas a organização de atividades referentes aos componentes curriculares,. A distribuição do  restante das onze horas aula da PD é definida de acordo com as ementas selecionadas pelas escolas.  6 Os componentes curriculares são atividades dirigidas e planejadas, mas não atendem aos critérios para se 

constituírem como disciplinas. 

O currículo disciplinar na educação integral e em tempo integral: a proposta da educação de tempo integral em turno único na rede estadual de educação do Paraná  Ana Carolina C Morello ‐ Valéria Arias 

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Temas Sociais Contemporâneos 

Educação em Direitos Humanos 

Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável 

Promoção da saúde e Prevenção de Doenças 

Cultura, Arte e Educação Patrimonial 

Artes Visuais 

Música 

Expressão Corporal 

Cultura e Patrimônio 

Comunicação e Uso de Mídias 

Tecnologias da Informação e Comunicação 

Jornal Escolar 

Rádio Escolar 

Fonte: Versão preliminar do Documento Orientador para Implementação da ETI. 

 

Ressaltamos  que  as  atividades  desenvolvidas  nos  componentes  curriculares 

devem ter características lúdicas e práticas, com metodologias diferenciadas, pois mesmo 

não disciplinares, devem ser consoantes com os objetivos globais da escola. 

Por serem optativos e com organização flexível, os componentes curriculares não 

precisam passar pelo mesmo processo de avaliação das disciplinas da parte diversificada, 

mas é necessário que as atividades sejam constantemente acompanhadas. 

No início de 2012, as cinco escolas de ETI, participaram de formação com técnicos 

da SEED e convidados. Nessa formação, além de uma série de reflexões sobre a função 

social da escola pública, os limites ente educação escolar e assistencialismo e os tempos e 

os espaços escolares, foram realizadas oficinas com as propostas teórico‐metodológicas 

das disciplinas desenvolvidas pelas equipes disciplinares. Após essa formação, passou‐se 

à  fase de  reelaboração de matrizes e  retomada dos documentos orientadores de  cada 

unidade. 

O currículo disciplinar na educação integral e em tempo integral: a proposta da educação de tempo integral em turno único na rede estadual de educação do Paraná  Ana Carolina C Morello ‐ Valéria Arias 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.19 

 

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Em 2013 as escolas de ETI somavam 29. Em 2014, houve uma desistência e, devido 

aos custos elevados dessa  forma de oferta, não  foram autorizadas novas adesões pela 

SEED.  

 

Concluindo 

A política da ETI comprovou várias hipóteses  iniciais dos mentores da proposta. 

Entre elas que a ocupação do tempo ampliado com atividades pedagógicas substantivas 

e metodologias  adequadas  é  fundamental  para  que  a  escola  de  tempo  integral  reúna 

maior  possibilidade  de  contribuir  com  a  formação  integral  dos  estudantes.  Assim,  a 

qualidade do tempo ampliado não pode ser contraditório à função social da escola.  

Entendemos que educação em  tempo  integral é, ao mesmo  tempo,  integrada e 

integradora.  Integrada porque  requer  intencionalidade educativa planejada e articulada 

com  o  Projeto  Político  Pedagógico  da  escola.  Integradora  porque  sua  proposta  é 

construída no coletivo, na busca constante da superação das dificuldades enfrentadas e 

na ampliação das condições de aprendizagem.  

De  forma mais  aguda do que ocorre na organização  curricular desenvolvida em 

turno parcial, na organização curricular para a educação em tempo integral prescinde de 

intencionalidade educativa a ser desenvolvida  integralmente, ou seja,  todo o  tempo de 

permanência  do  estudante  na  escola  deve  ser  povoado  de  atividades  pedagógicas 

voltadas à “razão de ser” da educação formal pública. Nesse sentido, a ETI confronta‐se 

com  os  inúmeros  programas  que  ampliam  o  tempo  escolar  mas,  devido  às  suas 

fragilidades  epistemológicas  e  aos  seus  ímpetos  marcadamente  assistencialistas  e 

populistas, descaracterizam  justamente o que deveriam fortalecer: a função educativa e 

emancipadora da educação formal pública.  

O currículo disciplinar na educação integral e em tempo integral: a proposta da educação de tempo integral em turno único na rede estadual de educação do Paraná  Ana Carolina C Morello ‐ Valéria Arias 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.20 

 

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Referências 

BRASIL. MEC. SEB. Manual operacional de educação integral. Brasília, 2012. 

 

BRASIL. Decreto nº 7.083/2010.  

 

______. Projeto de Lei nº 8035/2010. Aprova o Plano Nacional de Educação –PNE e dá outras providências.   

 

______. Lei nº 9394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.  

 

BRASIL. Portaria Interministerial nº 17/2007.  

 

FRIGOTTO, G. Educação e a crise do capitalismo real. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2000. 

 

GIOLO, J. Educação em tempo integral: Resgatando Elementos Históricos e Conceituais para o Debate. In: MOLL, J. Caminhos da educação integral no Brasil: Direito a Outros Tempos e Espaços Educativos. Porto Alegre: Penso, 2012. 

 

JAPIASSÚ, H. A atitude interdisciplinar no sistema de ensino. Tempo Brasileiro, nº 108, p. 83‐94, jan. –mar., 1992, Rio de Janeiro.  

 

LOPES, A. C. e MACEDO, E (Org). Disciplinas e integração curricular: história e políticas. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.  

 

MÉSZAROS, I. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. São Paulo: Boitempo, 2002.  

 

PARANÁ. SEED. DEB. Documento Orientador para Implementação da Educação em Tempo Integral em Turno Único (Versão Preliminar). Curitiba, 2012.  

 

______ Orientações para implantação da oferta de educação em tempo integral. Curitiba, 2011. 

 

______ Diretrizes curriculares orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual de Educação do Paraná.  Curitiba, 2008. 

 

SACRISTÁN, G. J. e  PÉREZ GÓMEZ  A. I. Compreender e transformar o ensino. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. 

 

SAVIANI, D. Escola e democracia. Campinas: Autores Associados, 2008. 

 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.21 

 

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SEVERINO, A. J. Educação, trabalho e cidadania: a educação brasileira e o desafio da formação humana no atual cenário histórico.  São Paulo: Perspectiva, vol.14 n. 2. São Paulo Apr./June: 2000.