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 X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                            p.1         A formação de professores e os currículos das licenciaturas dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia     Resumo Esta pesquisa buscou identificar no currículo de 63 Projetos Pedagógicos de Curso (PPCs) de licenciaturas dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs) do Brasil, características da formação de professores, como: características gerais, as práticas como componente curricular e a relação entre os conteúdos da área específica e pedagógica. Guiandose pela análise documental e quantitativa, analisouse 20 PPCs de Química, 20 de Matemática, 13 de Física e 10 de Biologia. Após as informações coletadas, percebeuse que mesmo os Institutos Federais tendo uma organização pedagógica diferenciada, as características dos currículos destes cursos não diferem das demais instituições de ensino superior. Observouse a predominância da carga horária das disciplinas relacionadas aos conhecimentos específicos da área em detrimento aos conhecimentos relativos aos fundamentos da educação e da formação para docência. Os conhecimentos relativos às modalidades e níveis de ensino específicos ficam praticamente restritos à disciplina de Libras. Ainda, a carga horária das disciplinas relacionadas a outros saberes é mais expressiva nas áreas de Química e Física; e a Prática como Componente Curricular em 74% dos cursos apresentase diluída nas disciplinas.  Palavraschave: Formação docente. Currículo. Licenciatura. Institutos Federais.   Marcelo Eder Lamb Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha [email protected]   Graciele Hilda Welter Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha [email protected]   Analice Marchezan Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha [email protected]       

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.1 

 

 

 

 

    A formação de professores e os currículos das licenciaturas dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia    

 

Resumo Esta pesquisa buscou identificar no currículo de 63 Projetos Pedagógicos de Curso (PPCs) de licenciaturas dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia  (IFs) do Brasil, características  da  formação  de  professores,  como: características  gerais,  as  práticas  como  componente curricular e a relação entre os conteúdos da área específica e  pedagógica.  Guiando‐se  pela  análise  documental  e quantitativa,  analisou‐se  20  PPCs  de  Química,  20  de Matemática,  13  de  Física  e  10  de  Biologia.  Após  as informações  coletadas,  percebeu‐se  que  mesmo  os Institutos  Federais  tendo  uma  organização  pedagógica diferenciada, as características dos currículos destes cursos não  diferem  das  demais  instituições  de  ensino  superior. Observou‐se  a  predominância  da  carga  horária  das disciplinas  relacionadas  aos  conhecimentos  específicos  da área  em  detrimento  aos  conhecimentos  relativos  aos fundamentos da educação e da formação para docência. Os conhecimentos relativos às modalidades e níveis de ensino específicos  ficam  praticamente  restritos  à  disciplina  de Libras. Ainda, a carga horária das disciplinas relacionadas a outros  saberes  é mais  expressiva  nas  áreas  de Química  e Física; e a Prática como Componente Curricular em 74% dos cursos apresenta‐se diluída nas disciplinas.  Palavras‐chave: Formação docente. Currículo. Licenciatura. Institutos Federais.  

 Marcelo Eder Lamb 

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha 

[email protected]   

Graciele Hilda Welter Instituto Federal de Educação, Ciência e 

Tecnologia Farroupilha [email protected] 

  

Analice Marchezan Instituto Federal de Educação, Ciência e 

Tecnologia Farroupilha [email protected] 

    

 

 

A formação de professores e os curriculos das licenciaturas dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia  Marcelo Eder Lamb ‐ Graciele Hilda Welter ‐ Analice Marchezan 

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Contextualização 

Sempre esteve no debate da educação brasileira a  formação de professores. Os 

índices,  a  demanda  por  profissionais  qualificados,  as  expectativas  sociais,  políticas 

públicas,  reorganizações curriculares: são algumas pautas das discussões. Atualmente a 

ampliação de vagas para  formação de professores nos  Institutos Federais de Educação, 

Ciência  e  Tecnologia  (IFs)  tem  intensificado  a  necessidade  de  discutir  questões 

relacionadas à formação de professores. Os 63 Projetos Políticos Pedagógicos de Cursos 

(PPCs) são constituídos no contexto dos IFs após 2008. 

Com base em dados do  INEP, Moura  (2010) afirma que nas escolas públicas que 

oferecem  ensino  fundamental  e  médio  no  Brasil,  há  um  déficit  de  mais  de  235  mil 

professores,  principalmente  nas  disciplinas  de  física,  matemática,  química  e  biologia, 

áreas prioritárias para  formação de professores nos  IFs  (BRASIL,  2008). O  autor  ainda 

destaca  que  na  área  de  Física,  ao  compararmos  a  demanda  e  o  número  de  docentes 

formados por ano, podemos concluir que, se mantivermos essa tendência, o déficit será 

suprido somente daqui a 80 anos.  

Além do Programa Institucional de Incentivo a Docência (PIBID); o Plano Nacional 

de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR); o Financiamento do Ensino 

Superior  (FIES);  a  Expansão  das Universidades  Federais  (REUNI);  é  com  a  criação  dos 

Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia que há uma expansão na rede de 

Educação  Profissional  e  Tecnológica  (EPT)  que  visa  suprir  a  demanda  de  professores 

formados nas áreas prioritárias.  

Os  Institutos  Federais  foram  criados  pelo  Estado  Brasileiro  por meio  da  Lei  nº 

11.892.  Estabelece  o  Art.  7º,  inciso  VI,  letra  b,  a  finalidade  de  ministrar  “cursos  de 

licenciatura,  bem  como  programas  especiais  de  formação  pedagógica,  com  vistas  na 

formação de professores para a educação básica” (BRASIL, 2008), garantido para esses 

curso, no mínimo, 20% de suas vagas. Desta forma, uma das atribuições principais dos IFs 

é oferecer formação de professores para Educação Básica, prioritariamente nas áreas de 

Ciências e Matemática.  

A formação de professores e os curriculos das licenciaturas dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia  Marcelo Eder Lamb ‐ Graciele Hilda Welter ‐ Analice Marchezan 

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Esta  finalidade dos  IFs deve  se ampliar ainda mais nos próximos anos. Segundo 

Trindade  (2011)  ao  apresentar  dados  da  Secretaria  de  Educação  Profissional  e 

Tecnológica,  na  XXXV  Reunião  de  Dirigentes  das  Instituições  Federais  de  Educação 

Profissional e Tecnológica  ‐ REDITEC, aponta que no período compreendido entre 2011 e 

2014 está previsto que o número de matrículas das  licenciaturas dos  Institutos Federais 

chegue próximo ao número de matrículas das Universidades Federais.  

Se esses dados se concretizarem e, considerando o percentual mínimo de 20% das 

vagas dos  IFs destinadas aos cursos de  licenciatura,  teremos em 2014 cerca de 200 mil 

matriculados em licenciatura nos IFs.  

Por  tudo  isso,  esta  pesquisa  analisa  a  organização  dos  currículos  descritos  nos 

Projetos  Pedagógicos  de  Cursos  de  63  Cursos  de  Licenciatura  desenvolvidos  nos 

Institutos  Federais  de  Educação,  Ciência  e  Tecnologia  do  Brasil.  Compreender  a 

organização  e  algumas  características  dessas  Licenciaturas  é  necessário  para  a 

construção de outras diretrizes e políticas no  sentido de  consolidar essa  ampliação na 

oferta da educação pública, especialmente na formação de professores.  

A busca e a análise das fontes documentais ocorreram em 2012 e 2013. Inicialmente 

através  do  Sistema  Nacional  de  Informações  da  Educação  Profissional  e  Tecnológica 

(SISTEC), mapeou‐se todos os  Institutos que desenvolvem cursos de  licenciatura, o ano 

de  início  e  o  câmpus  onde  é  desenvolvido.  Em  seguida  identificou‐se  os  cursos  e 

formalizou‐se aos Institutos a solicitação de acesso aos Projetos Pedagógicos dos Cursos 

de  Licenciatura. Concomitante  a  isso, pesquisou‐se nos  sítios  institucionais os Projetos 

Pedagógicos de Cursos a fim de obter o documento na íntegra. 

Nesta pesquisa identificou‐se 63 Projetos Pedagógicos de Cursos de Licenciaturas. 

Desses, 20 de Química, 20 de Matemática, 13 de Física e 10 de Biologia. Realizou‐se uma 

análise quantitativa e qualitativa de  características  concentrando‐se o estudo  sobre: as 

Práticas como Componente Curricular  (PCC); a distribuição das cargas horárias em uma 

relação  com  os  conteúdos  da  formação  específica  e  da  formação  pedagógica; 

características  operacionais  (como:  número  de  vagas  e  de  turmas,  turnos  de 

funcionamento);  e  algumas  possíveis  relações  dessas  características  com  as  de  outras 

A formação de professores e os curriculos das licenciaturas dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia  Marcelo Eder Lamb ‐ Graciele Hilda Welter ‐ Analice Marchezan 

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Instituições de Ensino Superior pesquisadas por Gatti e Nunes (2009) que possam não só 

ampliar, mas também, qualificar a formação de professores.  

 

1 As licenciaturas nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia 

No  segundo  ano  após  a  criação  dos  IFs  e  com  o  propósito  de  construir  uma 

identidade  para  as  licenciaturas  dos  Institutos  Federais  e  definir  o  objetivo  e  as 

características destas, o  Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) organiza o  I Seminário 

Nacional das Licenciaturas dos Institutos Federais (SENALIF), realizado em 2010 em Ouro 

Preto. Também, nesse ano, o Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) organiza o I 

Fórum  Nacional  das  Licenciaturas  dos  Institutos  Federais  (FONALIFES):  “Em  busca  de 

uma identidade”. 

 Esses dois eventos se constituem os primeiros momentos de discussão nacional 

sobre as Licenciaturas nos IFs. Procurando construir uma proposta de curso de formação 

docente em nível de  licenciatura, o FONALIFES gera um documento chamado “Carta de 

Natal”, que estabeleceu que as licenciaturas nos IFs deveriam considerar:  

 a)  Concepção  do  processo  de  formação  pedagógica  que  fortaleça  a indissociabilidade das ações teórico ‐ práticas nas licenciaturas.  b)  Compreensão  da  formação  pedagógica  como  componente indispensável à formação dos alunos dos cursos de licenciatura dos IFs.  c)  Adequação  dos  Projetos  Pedagógicos  dos  cursos  de  licenciatura  a partir da vocação de cada IF.  d)  Definição  da  essência  das  licenciaturas  (não  constituir  licenciaturas que estejam mascarando bacharelado).  e) Formar professores que tenham em mente a tríade ensino, pesquisa e extensão na prática docente.  f) Cursos de licenciaturas que fomentem a crítica aos arranjos produtivos locais, que  respondam às demandas da educação profissional e que  se vinculem efetivamente às ciências.  g)  Redefinição  do  estágio  como  processo  contínuo  de  reflexão  e diagnóstico da realidade onde o  licenciado  irá atuar, confrontando com as teorias produzidas no curso e produzindo novos conhecimentos.  h)  Superação  da  visão  tradicional  de  formação  docente,  através  da valorização da prática, do estágio e dos demais referenciais necessários para o exercício da docência na perspectiva da transformação social.  i) Fomento ao desenvolvimento de projetos que articulem a participação dos discentes nos espaços educativos formais e não formais.  

A formação de professores e os curriculos das licenciaturas dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia  Marcelo Eder Lamb ‐ Graciele Hilda Welter ‐ Analice Marchezan 

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j)  No  Projeto  Pedagógico  dos  cursos  de  licenciatura,  devem  ser considerado(a)s:  ‐  formação  de  professores  que  privilegie  a  práxis  e  a  autonomia,  a criticidade  e  a  criatividade,  através da pesquisa  como princípio político educativo;  ‐ domínio de conhecimentos específicos de cada curso e sua articulação com  as  demais  áreas  do  conhecimento  e  do  processo  ensino‐aprendizagem;  ‐ percepção da pesquisa científica como princípio orientador na formação do professor;  ‐ articulação de conhecimentos específicos com os conhecimentos e as práticas pedagógicas desde o início dos cursos;  ‐ conhecimentos específicos trabalhados de maneira mais abrangente;  ‐  inclusão de componente curricular de produção de  imagem, pensando na redação em vídeo necessária aos surdos.  ‐  inclusão nos componentes curriculares das orientações étnico‐raciais e as minorias sociais (EJA, EAD, Libras); ‐  atendimento  à  relação  professor/aluno  de  acordo  com  as especificidades dos cursos. (FONALIFES, 2010) 

 Analisando‐se as proposições da Carta de Natal, percebe‐se a preocupação de que 

as  licenciaturas  nos  IFs  superem  os  problemas  históricos  dos  cursos  de  formação  de 

professores,  buscando  constituir‐se  num  espaço  singular  da  formação  de  uma  nova 

identidade profissional do professor e da constituição de saberes docentes. Para esses, é 

importante que os cursos de formação  inicial propiciem ao futuro docente contato com 

os diferentes meios de atuação profissional.  

Observação  importante  descreve  André  (1999,  p.  309)  quando  pesquisa  a 

formação de professores. Descreve:  “o  silêncio quase  total em  relação  à  formação do 

professor para o  Ensino  Superior, para  a  educação de  jovens  e  adultos, para o  ensino 

técnico e rural, para atuar nos movimentos sociais e com crianças em situação de risco”. 

Com  isso  se observa a necessidade de desenvolver uma  formação de professores mais 

voltada  a  essas  realidades  ainda  afastadas  dos  saberes  desenvolvidos  nos  cursos  de 

formação inicial de docentes.  

Neste sentido, os  Institutos Federais tornam‐se um  lócus privilegiado à formação 

de professores, devido a  sua  singularidade enquanto  rede de educação profissional de 

abrangência regional. Também por atuar com diversos níveis e modalidades de educação, 

como por exemplo: educação de  jovens e adultos (PROEJA); no ensino médio  integrado 

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ao  curso  técnico;  projetos  de  pesquisa  e  de  extensão;  formação  continuada  de 

professores.  

André (1999, p. 309) destaca ainda que em suas pesquisas percebe “um excesso 

de discurso sobre o tema da formação docente e uma escassez de dados empíricos para 

referenciar práticas e políticas educacionais”. Nesse sentido, acredita‐se que o contexto 

de  formação  docente  possibilitado  pelo  diverso  ambiente  de  atuação  dos  IFs,  pode 

tornar‐se um  espaço  rico para  a  formação de professores.  Entretanto,  são necessárias 

muitas discussões e pesquisas que venham ao encontro de significar essa formação inicial 

de professores. Por  isso, esta busca  levantar parâmetros para avaliar a  repercussão da 

política de implementação das Licenciaturas nos Institutos Federais. 

 

2 A Formação de licenciados no Brasil  

Por orientação da LDB, Lei nº 5.692/71, no Brasil os cursos de Licenciatura  foram 

criados seguindo o modelo 3 + 1. Nesse modelo ganhavam ênfase e um tempo maior as 

disciplinas  de  natureza  específica  e,  no  quarto  ano,  trabalhavam‐se  as  disciplinas  de 

natureza pedagógica. Embora esse  formato de curso não exista mais, a construção das 

licenciaturas  teve  essa  origem  e,  por  isso,  implicitamente,  ainda  há  uma  forte 

predominância dos conteúdos específicos em detrimento aos da área pedagógica.  

O modelo  inicial  de  formação  docente  ainda  está  presente  nas  licenciaturas  e, 

segundo Pereira  (1999), ele  tem  sido a base para a “racionalidade  técnica” que  tem‐se 

mostrado  inadequada  às demandas da  realidade da prática profissional docente  atual. 

Além da ênfase da teoria, essa concepção acredita que basta o conhecimento específico a 

quem vai ensinar.  

O autor descreve ainda que esse modelo não  foi  superado, principalmente pela 

departamentalização  existente  nas  instituições  de  Ensino  Superior,  em  que  as 

disciplinas/áreas não “conversam” entre si. Entretanto,  já é possível perceber  iniciativas 

concretas  de  construir  itinerários  formativos  para  cursos  de  licenciatura  que  buscam 

articular  os  conhecimentos  teóricos  com  a  prática,  tendo  esta  última  como  eixo  da 

preparação  do  futuro  professor.  Além  de  que,  as  orientações  legais  da  LDB,  lei  nº 

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9394/96, e especialmente, o Parecer 9/2001 do Conselho Nacional de Educação/Conselho 

Pleno,  que  estabelece  as  Diretrizes  Curriculares  Nacionais  para  as  Licenciaturas, 

enfatizam  a  necessidade  da  prática  profissional  desde  o  início  da  formação  inicial  de 

professores,  articuladas  com  as  diferentes  áreas  de  formação  e  com  os  contextos 

profissionais, bem como, fundamentada pelo princípio da pesquisa que atribui autonomia 

ao profissional docente.  

Paralelo  a  esse movimento  legal,  resultados  de  pesquisas  sobre  a  formação  de 

professores vem fortalecendo a discussão acadêmica. Um dos referenciais para o estudo 

da  “formação  de  professores”  é Antônio Nóvoa.  Ele  utiliza  os  5Ps  (Prática,  Profissão, 

Pessoa, Partilha e Público) e, defende que a formação de professores deve: 

a) assumir uma forte componente prático, centrada na aprendizagem dos alunos e 

no estudo de casos concretos (Prática);  

b) passar para ‘dentro’ da profissão, isto é, basear‐se na aquisição de uma cultura 

profissional, concedendo aos professores mais experientes um papel central na 

formação dos mais jovens (Profissão);  

c) dedicar uma atenção especial às dimensões pessoais, trabalhando a capacidade 

de relação e de comunicação que define o trato pedagógico (Pessoa);  

d) valorizar o trabalho em equipe e o exercício coletivo da profissão (Partilha);  

e)  estar  marcada  por  um  princípio  de  responsabilidade  social,  favorecendo  a 

comunicação  pública  e  a  participação  dos  professores  no  espaço  público  da 

educação (Público). (NÓVOA, 2009). 

Parecem‐nos oportunas e pertinentes ao contexto educacional contemporâneo as 

orientações de Nóvoa. Porém, Gatti e Nunes  (2009) destaca que algumas das questões 

pontuadas por Nóvoa (2009) ainda não fazem parte da maioria dos cursos de formação 

de professores.  

Gatti  e Nunes  (2009),  ao  analisar  os  currículos  dos  cursos  de  Licenciaturas  em 

Letras,  Ciências  Biológicas  e  Matemática,  escolhidas  por  serem  as  áreas  que  mais 

absorvem  carga  horária  na  Educação  Básica,  constatou  grande  dissonância  entre  os 

A formação de professores e os curriculos das licenciaturas dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia  Marcelo Eder Lamb ‐ Graciele Hilda Welter ‐ Analice Marchezan 

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projetos pedagógicos obtidos e a estrutura do conjunto de disciplinas e  suas ementas, 

com  uma  carga  horária  elevada  para  os  conhecimentos  disciplinares  das  áreas  em 

detrimento dos conhecimentos dedicadas à formação para a docência, espelhando mais a 

ideia de um bacharelado do que de licenciatura. 

Além  disso,  constatou  a  falta  de  articulação  entre  as  disciplinas  de  formação 

específica  (conteúdos da  área disciplinar) e  a  formação pedagógica  (conteúdos para  a 

docência);  que  os  saberes  relacionados  a  tecnologias  no  ensino  estão  praticamente 

ausentes  e  a  existência  de  uma  carga  horária  expressiva  nos  currículos  dedicadas  a 

atividades complementares, seminários, ou atividades culturais, entre outras, porém sem 

uma definição clara de como estas são desenvolvidas. 

Observou ainda que raras instituições especificam em que consistem os estágios e 

sob que forma de orientação são realizados, não encontrando uma explicitação clara de 

como acontecem as práticas exigidas pelas diretrizes curriculares. 

Ainda segundo Gatti e Nunes (2009), a análise dos conteúdos trabalhados aponta 

para  uma  especialização  precoce  de  conteúdos  que  deveriam  ser  abordados  em  pós‐

graduações, demonstrando visar a formação de outro profissional que não o professor. 

As  discussões  postas  revelam  o  contexto  complexo  em  que  a  formação  de 

professores está  inserida. Há muitos “dilemas” que a  formação de professores precisa 

discutir,  compreender  e,  se  entender  necessário,  superar.  Cabe  saber  se  os  Institutos 

Federais,  criados  nesse  contexto,  conseguirão  se  organizar  para  administrar  essas 

questões pois,  conforme o Ministério da  Educação  (2010)  a organização  curricular dos 

Institutos Federais traz para os profissionais da educação que neles atuam 

 um espaço ímpar de construção de saberes, por terem a possibilidade de, no mesmo espaço  institucional, construir vínculos em diferentes níveis e modalidades  de  ensino;  em  diferentes  níveis  da  formação  profissional, assim como buscar metodologias que melhor se apliquem a cada ação, estabelecendo  a  indissociabilidade  entre  ensino,  pesquisa  e  extensão. (2010, p. 27). 

 

A formação de professores e os curriculos das licenciaturas dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia  Marcelo Eder Lamb ‐ Graciele Hilda Welter ‐ Analice Marchezan 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.9 

 

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Considerando  isso,  a  análise  a  seguir  discute  alguns  pontos  entendidos  como 

importantes  na  formação  inicial  de  professores  materializados  nos  currículos  das 

licenciaturas dos IFs. 

 

3 Resultados e discussões 

Como  a  pesquisa  avaliou  três  características  essenciais  na  formação  de 

professores: características gerais; a  relação entre as disciplinas  teóricas e práticas e as 

práticas como componente curricular.  

 

3.1 Características gerais dos cursos analisados  

Os 63 cursos investigados são das diferentes regiões do Brasil. 17 da região sul, 17 

da nordeste, 18 da sudeste, 6 da norte e 5 da região centro‐oeste.  Considerando que os 

PPP sejam documentos públicos e que todos os IFs apresentam site institucional, apenas 

40%  dos  cursos  de  licenciatura  em  ciências  dos  IFs  disponibilizam  os  documentos  na 

íntegra  no  site.  A maior  parte  das  Instituições  disponibiliza  apenas  dados  básicos  do 

curso, como por exemplo: nº de vagas, turno de funcionamento, período de  ingresso, o 

perfil do egresso e a matriz curricular.  

Em  relação  à  carga  horária  total  destes  cursos  observamos  que,  em  média, 

trabalham com uma carga horária  total cerca de  10% maior que a carga horária mínima 

indicada na Resolução CNE/CP 02/2002. Os cursos que apresentam uma média de horas 

maior em relação ao mínimo indicado pela Resolução, que é de 2800 horas, são os cursos 

de Química,  aproximadamente  13% e perfazendo  362 horas,  isso  significa praticamente 

um semestre a mais de curso.    

Os  cursos  possuem  em média,  o  número  de  disciplinas  variando  entre  40  e  43 

disciplinas. Relacionando a carga horária total ao número de disciplinas, sem as 400 horas 

de estágios e as 200 horas de atividades complementares, constatamos que a média para 

cada disciplina está em 60 horas.  

A formação de professores e os curriculos das licenciaturas dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia  Marcelo Eder Lamb ‐ Graciele Hilda Welter ‐ Analice Marchezan 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.10 

 

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Sobre o  turno de  funcionamento,  72% dos  cursos  são noturnos, oferecendo  em 

média 36,2 vagas por turma e, 87% deles oferece apenas um ingresso anual. Os outros 13% 

apresenta dois  ingressos no ano. Com  isso a média de vagas ofertadas por ano  fica em 

40,7 alunos. 

Sobre  a oferta de disciplinas optativas ou  eletivas  constatou‐se que,  em média, 

não chegam a 2 disciplinas por curso. A média ficou em 1,72 nos cursos de Química; 1,52 

nos  cursos  de  Matemática;  1,9  nos  cursos  de  Física;  e  1,66  nos  cursos  de  Biologia. 

Entende‐se que essa pode ser uma possibilidade de flexibilizar o currículo, oferecendo a 

possibilidade  de  os  alunos  ampliarem  os  conhecimentos,  enriquecendo  e 

contextualizando  temas  relevantes  em  determinado  período  da  formação.  Porém,  os 

dados nos mostram que esta estratégia de  flexibilização e enriquecimentos curricular é 

pouco utilizada nos cursos. 

  

3.2 Sobre a Prática como Componente Curricular ‐ PCC 

A  Diretriz  Curricular  Nacional  para  as  licenciaturas,  o  Parecer  CNE/CP  9/2001, 

descreve  que  a  PCC  tem  como  objetivo  buscar  superar  a  “justaposição  de  etapas 

fragmentadas” e da prática como “espaço  isolado” (BRASIL, 2001, p. 08). O documento 

nos  fornece  orientações  quanto  aos  porquês  da  PCC  e  discute  o  desenvolvimento  de 

competência docente afirmando que:  

 As competências tratam sempre de alguma forma de atuação, só existem ‘em  situação’  e, portanto, não podem  ser  aprendidas  apenas no plano teórico nem no estritamente prático  [...]. A  aquisição de  competências requeridas  do  professor  deverá  ocorrer  mediante  uma  ação  teórico‐prática,  ou  seja,  toda  sistematização  teórica  articulada  com  o  fazer  e todo fazer articulado com a reflexão. (BRASIL, 2001, p. 30, grifo nosso).  

 Com  isso  observa‐se  que  não  é mais  dever  único  do  estágio  a  relação  teoria‐

prática, muito menos, deve‐se deixar que os licenciandos desenvolvem esta relação sem 

uma orientação dos docentes formadores. O que o Parecer sugere é que nos momentos 

da  sistematização  teórica  devem  ser  feitas,  de  forma  articulada,  a  prática  do  fazer 

docente. Isso é perceptível quando a DCN cita: 

A formação de professores e os curriculos das licenciaturas dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia  Marcelo Eder Lamb ‐ Graciele Hilda Welter ‐ Analice Marchezan 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.11 

 

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Assim, a prática na matriz  curricular dos  cursos de  formação não pode ficar  reduzida a um espaço  isolado, que a  reduza ao estágio como algo fechado em  si mesmo e desarticulado do  restante do curso.  [...] Nessa perspectiva,  o  planejamento  dos  cursos  de  formação  deve  prever situações didáticas em que os futuros professores coloquem em uso os conhecimentos  que  aprenderam,  ao  mesmo  tempo  em  que  possam mobilizar  outros,  de  diferentes  naturezas  e  oriundos  de  diferentes experiências, em diferentes tempos e espaços curriculares [...]. (BRASIL, 2001, p. 57). 

 Ademais,  o  Parecer  CNE/CES  15/2005  retifica  e  expõe  que  “a  prática  como 

componente  curricular  é  o  conjunto  de  atividades  formativas  que  proporcionam 

experiências de aplicação de conhecimentos ou de desenvolvimento de procedimentos 

próprios ao exercício da docência.” (BRASIL, 2005, p. 03).  

Tendo por base essas orientações, observou‐se que a Prática como Componente 

Curricular se encontra em todos os projetos de cursos analisados. Desses, 74% distribuem 

a  carga  horária  nas  disciplinas  relacionadas  à  formação  específica  e  nas  de  formação 

pedagógica. 23% dos cursos criam uma disciplina para a PCC e distribuem a carga horária 

nos  semestres.  Ainda,  3%  dos  cursos  distribuem  a  carga  horária  com  uma  disciplina 

específica para este fim junto com outras disciplinas do currículo. 

Ambas as  formas são previstas na  legislação, pois o Parecer 09/2001 explica que 

“os cursos de formação devem prever situações didáticas em que os futuros professores 

coloquem em uso os conhecimentos que aprenderem”, além de, “mobilizar outros, de 

diferentes  naturezas  e  oriundos  de  diferentes  experiências,  em  diferentes  tempos  e 

espaços  curriculares”  (BRASIL,  2001,  p.  57).    Para  isso  sugere  que  a  prática  seja 

trabalhada: 

 a)  No  interior  das  áreas  ou  disciplinas.  Todas  as  disciplinas  que constituem  o  currículo  de  formação  e  não  apenas  as  disciplinas pedagógicas  têm  sua  dimensão  prática.  É  essa  dimensão  prática  que deve estar sendo permanentemente trabalhada tanto na perspectiva da sua  aplicação no mundo  social  e natural quanto na perspectiva da  sua didática. b)  Em  tempo  e  espaço  curricular  específico,  aqui  chamado  de coordenação da dimensão prática. As  atividades deste espaço  curricular de atuação coletiva e integrada dos formadores transcendem o estágio e têm  como  finalidade  promover  a  articulação  das  diferentes  práticas numa  perspectiva  interdisciplinar,  com  ênfase  nos  procedimentos  de 

A formação de professores e os curriculos das licenciaturas dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia  Marcelo Eder Lamb ‐ Graciele Hilda Welter ‐ Analice Marchezan 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.12 

 

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observação  e  reflexão  para  compreender  e  atuar  em  situações contextualizadas,  tais  como  o  registro  de  observações  realizadas  e  a resolução  de  situações‐problema  características  do  cotidiano profissional.  Esse  contato  com  a  prática  profissional,  não  depende apenas da observação direta: a prática contextualizada pode “vir” até a escola  de  formação  por meio  das  tecnologias  de  informação  –  como computador e vídeo –, de narrativas orais e escritas de professores, de produções dos alunos, de situações simuladas e estudo de casos. c) Nos estágios a serem feitos nas escolas de educação básica. O estágio obrigatório deve ser vivenciado ao longo de todo o curso de formação e com tempo suficiente [...].(BRASIL, 2001, p. 57).  

Constatou‐se que os cursos apresentam, em média, 451,5 horas de Prática como 

Componente  Curricular,  ou  seja,  12,8%  a  mais  que  o  mínimo  exigido.  Mesmo  assim, 

encontramos três cursos que não atendem a carga horária mínima exigida pela legislação. 

 

3.3  A  distribuição  da  carga  horária  entre  as  áreas  de  formação  específica  e 

pedagógica 

Para  buscar  conhecer  como  estão  organizadas  as  disciplinas  nos  currículos  por 

temas  que  desenvolvem,  utilizou‐se  a mesma  categorização  usada  por Gatti    e Nunes 

(2009) quando  fez uma  investigação sobre os cursos de  licenciatura nas Universidades. 

Essa  categorização  permite  relacionar  os  dados  encontrados.  Para  isso,  as  disciplinas 

foram agrupadas segundo as categorias respeitadas algumas especialidades.  

Na categoria 1: fundamentos teóricos da educação, foram agrupadas as disciplinas 

que  oferecem  uma  base  teórica  ao  estudante,  a  partir  de  diferentes  áreas  do 

conhecimento: Antropologia, História, Psicologia, Didática Geral,  Sociologia,  Estatística, 

entre outras, e suas correlatas no campo da educação. 

A  segunda  categoria:  conhecimentos  relativos  aos  sistemas  educacionais,  inclui 

disciplinas de conhecimento pedagógico que objetivam dar uma formação ampla da área 

de  atuação  do  professor  e  de  outros  profissionais  da  educação,  abrangendo  assim 

disciplinas  relacionadas  à  estrutura  e  funcionamento  do  ensino;  ao  currículo;  à  gestão 

escolar e ao ofício docente.  

A formação de professores e os curriculos das licenciaturas dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia  Marcelo Eder Lamb ‐ Graciele Hilda Welter ‐ Analice Marchezan 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.13 

 

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Na categoria 3: os conhecimentos específicos da área de formação,  agregaram‐se 

conteúdos  disciplinares  específicos  das  respectivas  áreas,  ou  seja,  saberes  que 

apresentam  um  nível  de  aprofundamento mais  elevado,  para  atuação  do matemático, 

químico, biólogo, físico. 

Caracterizou‐se  como  categoria  4:  conhecimentos  específicos  para  a  docência,  

concentrando  as  disciplinas  que  fornecem  instrumental  para  atuação  do  profissional 

docente  referente  a  cada  área  específica.  Compõem  esta  categoria  conteúdos  do 

currículo  dirigidos  à  escola  básica;  didáticas  específicas,  metodologias  e  práticas  de 

ensino  e  saberes  relacionados  à  tecnologia,  com  enfoque  de  utilização  dos 

conhecimentos das áreas específicas. 

A  categoria  5:  conhecimentos  relativos  às  modalidades  e  níveis  de  ensino 

específicos.  Reúnem  as  disciplinas  relativas  às  áreas  de  atuação  junto  a  segmentos 

determinados  como  a  educação  especial  e  educação  de  jovens  e  adultos  (EJA)  ou 

Educação Profissional. 

Na  categoria  6,  os  outros  saberes  que  congregam  disciplinas  que  ampliam  o 

repertório  do  professor,  como  por  exemplo:  temas  transversais;  novas  tecnologias; 

religião  etc.;  bem  como  outras  disciplinas  que  são  base  ou  complementação  do 

conhecimento  específico  como  a Matemática  para  o  curso  de  Física  e  a  disciplina  de 

Química para o curso de Biologia.  

Por  último,  na  categoria  7,  a  pesquisa  e  trabalho  de  conclusão  de  curso  (TCC). 

Agrupam as disciplinas que abordam a ciência e seus fundamentos, as metodologias de 

pesquisa  e  a  elaboração  dos  trabalhos  de  conclusão  de  curso,  bem  como,  a  sua 

orientação. 

Após  estudo,  análise  e  tabulação  de  dados  apresentados  nos  PPCs  dos  cursos, 

percebeu‐se que a maior parte da carga horária das disciplinas dos currículos dos cursos 

de  licenciatura  é  destinada  a  disciplinas  específicas  da  área  –  categoria  3.  Os 

conhecimentos  relativos aos  fundamentos da educação e à  formação específica para a 

docência – categorias  1 e 4 – apresentam carga horária  inexpressiva em se  tratando de 

A formação de professores e os curriculos das licenciaturas dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia  Marcelo Eder Lamb ‐ Graciele Hilda Welter ‐ Analice Marchezan 

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um curso de formação docente, pois  juntas representam cerca de 20% do total da carga 

horária dos cursos(Gráfico 1). 

Em dois PPCs de licenciatura em Biologia não há nenhuma disciplina que trabalhe 

especificamente  com  conhecimentos  da  formação  específica  para  docência.  E  três 

projetos de curso não há nenhuma disciplina que aborda especificamente a estrutura e o 

funcionamento do ensino.  

Constatou‐se  também  em  relação  à  carga  horária  destinada  às  disciplinas 

relacionadas aos Fundamentos Teóricos da Educação – categoria 1 –circula em torno de 

10%. Já nas disciplinas relacionadas a conhecimentos relativos aos sistemas educacionais – 

categoria 2 –, o percentual,  também semelhante nos diferentes cursos, a carga horária 

chega próxima de 5%. 

Com  relação  às  disciplinas  específicas  da  área  –  categoria  3  –,  em  todas  as 

licenciaturas  elas  predominam  sobre  as  demais,  variando  entre  40%  e  60%  da  carga 

horária. Essa predominância é mais expressiva nos cursos de Biologia e, em seguida nos 

cursos de Matemática, ambos ultrapassam 50%.  

No que diz respeito à carga horária das disciplinas relacionadas a outros saberes – 

categoria  6  –,  percebemos  que  são  mais  expressivos  nas  áreas  de  Química  e  Física, 

principalmente pela necessidade do conhecimento da matemática como base para estas 

áreas (Gráfico 1). 

Com  relação  aos  conhecimentos  relativos  às  modalidades  e  níveis  de  ensino 

específicos  –  categoria  5  –,  praticamente  se  restringe  à  oferta  da  disciplina  de  Libras, 

sendo que em alguns cursos nem esta disciplina aparece, o que contraria a legislação que 

exige a oferta de Libras em cursos de licenciatura. 

 

 

 

 

A formação de professores e os curriculos das licenciaturas dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia  Marcelo Eder Lamb ‐ Graciele Hilda Welter ‐ Analice Marchezan 

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Gráfico  1  –  Comparação  entre  a  distribuição  da  carga  horária  nas  disciplinas  organizadas  por categoria. 

 Fonte – dados da pesquisa. 

A  intenção  de  contemplar  todos  os  conhecimentos  específicos  da  área  de 

conhecimento demanda um aumento na duração dos cursos, “inflando” os currículos das 

licenciaturas  com  disciplinas  específicas,  em  muitos  casos,  aproximando‐se  de  um 

bacharelado,  crítica  desenvolvida  por  vários  pesquisadores  da  área  de  formação  de 

professores quando analisam essas características nos cursos de formação docente. 

No  contexto  escolar da  educação básica, percebe‐se muitas  críticas  a  formação 

recebida pelo estudante, principalmente pelos  índices de aproveitamento desse período 

escolar.  Analisando  os  dados  da  pesquisa  e,  relacionando  a  referencias  teóricos 

estudados, pensamos que pode  ter  relação a  falta de  conhecimentos disciplinares que 

permitem  ao  professor  entender  os  processos  de  aprendizagem  e  desenvolver 

adequadamente a transposição didática necessária para que essa aconteça.  

Conforme os PCNs  

 A  formação  de  professores  da  Educação  Básica  precisa  ser  revista;  os cursos de  licenciatura, em geral não  têm dado conta de uma  formação profissional adequada; formam especialistas, em áreas do conhecimento, sem  reflexões  e  informações  que  dêem  sustentação  à  sua  prática pedagógica,  ao  seu  envolvimento  no  projeto  educativo  da  escola,  ao 

A formação de professores e os curriculos das licenciaturas dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia  Marcelo Eder Lamb ‐ Graciele Hilda Welter ‐ Analice Marchezan 

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trabalho  com  outros  professores,  com  pais  e  em  especial,  com  seus alunos. (BRASIL, 1998, p. 35). 

 Formar  professores  capazes  de  reconhecer  os  conhecimentos  historicamente 

produzidos  pela  humanidade  e  sua  importância  para  a  vida  cotidiana  e  do mundo  do 

trabalho, capazes de agir enquanto seres históricos, produtores de conhecimentos e não 

somente consumidores, demanda uma formação que permita ao acadêmico conhecer as 

estratégias  e  ferramentas  pedagógicas  que  lhes  permitam  transposições  didáticas 

necessárias às transformações no conhecimento que leve os alunos da educação básica a 

aprenderem.  

Enquanto  houver  um  desequilíbrio  tão  grande  entre  as  áreas  necessárias  à 

formação de professores, priorizando uma e minimizando o tempo destinado ao estudo 

das outras, sempre haverá  lacunas na formação dos professores. Não bastam somente, 

ou  quase  exclusivamente,  os  conteúdos  específicos.  Se  os  licenciandos  não  se 

apropriarem de estratégias e ferramentas necessárias ao desenvolvimento minimamente 

adequado  de  transposições  didáticas,  relacionando  teoria‐prática  pedagógica,  sempre 

haverá  lacunas  expressivas  na  formação  docente  e,  consequentemente,  nas 

aprendizagens da educação básica.  

  

3.4 Comparação entre os dados obtidos e os resultados apresentados por Gatti e 

Nunes (2009) 

A  relação  que  propomos  considera  duas  pesquisas  semelhantes, mas  em  dois 

contextos diferentes. Esta que avalia os IFs, instituições jovens e que podem ter um perfil 

diferenciado para a  formação de professores. A outra, publicada por Gatti e Nunes, em 

2009, quando estudaram a formação de professores para o ensino fundamental através 

dos currículos das licenciaturas em Pedagogia, Língua Portuguesa, Matemática e Ciências 

Biológicas.  Em  uma  análise  geral,  percebem‐se  poucas  diferenças  entre  a  organização 

curricular nas instituições pesquisadas.  

Uma avaliação que surpreende, é a relação entre os conhecimentos específicos da 

área com os de formação para a docência no curso de matemática. Nos estudos de Gatti e 

A formação de professores e os curriculos das licenciaturas dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia  Marcelo Eder Lamb ‐ Graciele Hilda Welter ‐ Analice Marchezan 

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Nunes (2009), a diferença de carga horária entre os conhecimentos específicos da área e 

as  relacionadas  à  formação para docência  é de  apenas  3,4%. Porém,  essa diferença  se 

acentua nos  curso de Matemática dos  IFs  chegando  a 40%  (Gráfico  2).  Isso  revela que 

houve  um  aumento,  ainda  maior,  da  predominância  da  formação  específica,  em 

detrimento da formação para a docência.  

 

Gráfico  2  –  Comparação  da  Distribuição  das  Disciplinas  por  Categoria  dos  Cursos  de  Licenciatura  em Matemática Analisados com o estudo de Gatti e Nunes (2009).   

 Fonte – dados da pesquisa. 

Outro  dado  que  se  apresentou  com  destaque  é  a  ênfase  dada  aos  conteúdos 

específicos nos cursos de Biologia em ambas as pesquisas. No estudo da Gatti e Nunes 

(2009) chegam a 65% da carga horária total do curso e no IFs a 61%.  

 

 

 

 

 

 

A formação de professores e os curriculos das licenciaturas dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia  Marcelo Eder Lamb ‐ Graciele Hilda Welter ‐ Analice Marchezan 

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Gráfico 3 – Comparação da distribuição das disciplinas por categoria dos cursos de licenciatura em Biologia com o estudo de Gatti e Nunes (2009). 

 Fonte – dados da pesquisa. 

Esses dados certamente diferenciam a formação dos professores destes cursos de 

licenciatura dos  IFs  e devem  refletir  na  constituição de  seus  saberes docentes,  na  sua 

atuação profissional.  

 

4 O que permitem pensar as primeiras análises 

Por  meio  desta  pesquisa,  buscou‐se  analisar  projetos  e  observar  possíveis 

alternativas  diferenciadas  à  organização  curricular  da  formação  inicial  docente.  Um 

estudo que permitisse avaliar algumas lacunas históricas na formação e, talvez, encontrar 

novas estratégias diante do novo  contexto dos  IFs. Essa pesquisa, em  análises  iniciais, 

produz um conjunto de reflexões e remete a (re)pensar questões sobre o currículo das 

licenciaturas nos Institutos Federais.  

Ao  analisarmos  a  carga  horária  das  disciplinas  dos  cursos  de  licenciaturas  dos 

Institutos  Federais, percebemos que há uma  clara predominância da  carga horária das 

disciplinas  relacionadas  aos  conhecimentos  específicos  da  área,  em  detrimento  aos 

conhecimentos relativos aos fundamentos da educação e da formação para docência.  

Embora dentro dos parâmetros de carga horária sugeridos pela legislação e pelas 

diretrizes dos cursos de Licenciaturas, foi possível constatar em alguns projetos de curso 

A formação de professores e os curriculos das licenciaturas dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia  Marcelo Eder Lamb ‐ Graciele Hilda Welter ‐ Analice Marchezan 

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a  ausência  de  disciplinas  que  trabalham  com  conhecimentos  relativos  aos  sistemas 

educacionais ou de fundamentos teóricos da educação.  

No que diz respeito a Prática como Componente Curricular constatamos que 74% 

dos  cursos  analisados  apresentam  esta  prática  diluídas  nas  disciplinas  envolvendo 

disciplinas  de  conhecimento  específicos  das  áreas  e  disciplinas  com  conhecimentos 

pedagógicos. 

Na  comparação  com  o  estudo  de  Gatti  (2009),  os  currículos  dos  cursos  de 

licenciaturas nos  Institutos Federais, embora estes  tendo uma organização pedagógica 

diferenciada,  as  características  dos  currículos  destes  cursos  não  diferem  das  demais 

instituições  de  ensino  superior,  ou  seja,  enfatizam  os  conhecimentos  específicos  das 

áreas de formação em detrimento dos conhecimentos pedagógicos e de formação para 

docência. 

Compreender a organização curricular com vistas à formação docente nos IFs não 

é tarefa simples e nem pequena, pois se trata de um contexto novo e diferente. Contudo, 

acredita‐se que  foram  contemplados neste ensaio alguns dados que  cabem a  temática 

proposta e que apontam características que identificam as licenciaturas dos IFs.    

Ademais, é necessário estabelecer um ponto de partida para essa compreensão e 

fortalecer um  alicerce das  análises e  reflexões  sobre  a  formação  inicial de professores 

nessa  Instituição,  a  partir  da  compreensão  de  que  a  formação  de  professores  da 

Educação  Básica  precisa  ser  revista;  os  cursos  de  licenciatura,  em  geral  tem  formado 

especialistas, em áreas do conhecimento, e deixam de lado conhecimentos que preparam 

o futuro professor para a prática pedagógica, para envolver‐se na construção do projeto 

educativo da escola, para trabalhar coletivamente com outros professores, com os pais e 

em especial, com os alunos.  

 

 

 

 

A formação de professores e os curriculos das licenciaturas dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia  Marcelo Eder Lamb ‐ Graciele Hilda Welter ‐ Analice Marchezan 

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Referências Bibliográficas 

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BRASIL. Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Brasília, 2008.  

 

_____. Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Acesso em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5692.htm>. Acesso em: 10 jun. 2012.  

  

_____. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Acesso em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 10 jun. 2012.  

  

_____. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais – Matemática (5ª a 8ª séries). Brasília: MEC/SEF, 1998. 

 

BRASIL, CNE/CP. Parecer 15/2005. Solicitação de esclarecimento sobre as Resoluções CNE/CP nºs 1/2002, que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena, e 2/2002, que institui a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior. Disponível em 

<http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pces0015_05.pdf> Acesso em: 10 jun. 2012.  

 

_____. Parecer nº 9/2001, de 08 de maio de 2001. Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/009.pdf>. Acesso: 10 jun. 2012.  

 

______. Resolução 02/2002 de 19 de fevereiro de 2002. Institui a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de Formação de Professores da Educação Básica em nível superior. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CP022002.pdf>. Acesso: jun. 2012.  

 

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GATTI, Bernadete A. e NUNES, Maria Muniz Rossa (org). Formação de professores para o ensino fundamental: estudo de currículos das licenciaturas em pedagogia, língua 

A formação de professores e os curriculos das licenciaturas dos institutos federais de educação, ciência e tecnologia  Marcelo Eder Lamb ‐ Graciele Hilda Welter ‐ Analice Marchezan 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.21 

 

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MOURA, Dante Henrique. A Licenciatura nos IFs em busca de uma Identidade. Palestra proferida no Fórum Nacional das Licenciaturas nos Institutos Federais – FONALIFE. Natal, 2010.  

 

NÓVOA, Antônio. Para una formación de profesores construida dentro de la profesión. In: Revista de Educación, Ministerio de Educación, 350, p. 173‐202, 2009. Disponível em: <http://www.revistaeducacion.educacion.es/re350_09.html>. Acesso em: 10 out. 2011.  

 

PEREIRA, Júlio Emílio Diniz. As licenciaturas e as novas políticas educacionais para a formação docente. Educação & Sociedade, ano XX, n. 68, p. 109‐125, dez. 99.  Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v20n68/a06v2068.pdf>. Acesso: 10 out. 2011. 

 

TRINDADE, Aléssio, Expansão e Reestruturação da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Palestra proferida na XXXV Reunião de Dirigentes das Instituições Federais de Educação Profissional e Tecnológica ‐ REDITEC.  Poços de Caldas, 2011.