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XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis Análise semiótica do design de infográficos: um estudo de caso com infográfico “A água que você não vê” Lilian Landvoigt da Rosa Mestranda em Design Centro Universitário Ritter dos Reis [email protected] César Steffen Doutor em Comunicação Social Centro Universitário Ritter dos Reis [email protected] Wilson Pires Gavião Neto Doutorado em Computação Centro Universitário Ritter dos Reis - Uniritter [email protected] Resumo: Os infográficos são importantes aliados na compilação de grandes volumes de dados, a exemplo dos gerados e disseminados pela internet. Integrando diferentes elementos gráficos, verbais e não-verbais, estes recursos têm o potencial de transformar dados em informações que possam ser utilizadas pelas pessoas de forma mais eficiente. Este estudo tem como objetivo a análise do infográfico “A água que você não vê”, do Planeta Sustentável, uma iniciativa que visa a difusão de conhecimentos e a conscientização a respeito de questões de sustentabilidade ambiental, social e econômica. O infográfico, objeto deste estudo, apresenta dados sobre a água virtual consumida nos processos de produção de alimentos comuns ao cotidiano. Com o objetivo de proporcionar maior compreensão acerca do uso de recursos do design gráfico como ferramentas de síntese de informações e reforço dos objetivos comunicacionais em infográficos, a publicação será analisada sob a perspectiva da Semiótica Peirceana, que aqui será utilizada como ciência e método. Esta análise será, também, fundamentada na revisão bibliográfica de dos recursos gráficos encontrados no infográfico, delimitados por este estudo em composição, tipografia e cor. Palavras-chave: Visualização de dados; Infográficos; Semiótica. 1 Introdução Os avanços tecnológicos que facilitam a difusão do conhecimento e dão acesso a um volume gigantesco de dados e informações, também se refletem em práticas de leitura que demandam cada vez mais agilidade na identificação de conteúdos relevantes. Destaca-se aqui o papel do design de informação, que “vai se estabelecendo como um campo que conjuga determinados conhecimentos, traduzindo-se em uma disciplina cujo objetivo é organizar e apresentar dados, transformando-os em informação válida e significativa” (PORTUGAL, 2013, p. 48). XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015

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Análise semiótica do design de infográficos: um estudo de caso cominfográfico “A água que você não vê”

Lilian Landvoigt da RosaMestranda em DesignCentro Universitário Ritter dos [email protected]

César SteffenDoutor em Comunicação SocialCentro Universitário Ritter dos [email protected]

Wilson Pires Gavião NetoDoutorado em ComputaçãoCentro Universitário Ritter dos Reis - [email protected]

Resumo: Os infográficos são importantes aliados na compilação de grandes volumes de dados, aexemplo dos gerados e disseminados pela internet. Integrando diferentes elementos gráficos,verbais e não-verbais, estes recursos têm o potencial de transformar dados em informações quepossam ser utilizadas pelas pessoas de forma mais eficiente. Este estudo tem como objetivo aanálise do infográfico “A água que você não vê”, do Planeta Sustentável, uma iniciativa que visa adifusão de conhecimentos e a conscientização a respeito de questões de sustentabilidadeambiental, social e econômica. O infográfico, objeto deste estudo, apresenta dados sobre a águavirtual consumida nos processos de produção de alimentos comuns ao cotidiano. Com o objetivode proporcionar maior compreensão acerca do uso de recursos do design gráfico comoferramentas de síntese de informações e reforço dos objetivos comunicacionais em infográficos, apublicação será analisada sob a perspectiva da Semiótica Peirceana, que aqui será utilizadacomo ciência e método. Esta análise será, também, fundamentada na revisão bibliográfica de dosrecursos gráficos encontrados no infográfico, delimitados por este estudo em composição,tipografia e cor. Palavras-chave: Visualização de dados; Infográficos; Semiótica.

1 IntroduçãoOs avanços tecnológicos que facilitam a difusão do conhecimento e dão acesso a um

volume gigantesco de dados e informações, também se refletem em práticas de leitura quedemandam cada vez mais agilidade na identificação de conteúdos relevantes. Destaca-seaqui o papel do design de informação, que “vai se estabelecendo como um campo queconjuga determinados conhecimentos, traduzindo-se em uma disciplina cujo objetivo éorganizar e apresentar dados, transformando-os em informação válida e significativa”(PORTUGAL, 2013, p. 48).

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Combinando a linguagem verbal e não-verbal, os infográficos se apresentam comouma opção “...sempre que se pretende explicar algo, de uma forma clara e, sobretudo,quando só o texto não é suficiente para fazê-lo de maneira objetiva” (TEIXEIRA, 2007, p.112). Trata-se de um recurso que se apresenta como facilitador da compreensão dainformação.

Diversas instituições e marcas vêm crescentemente utilizando infográficos comoforma de apresentar informações de forma concisa e atraente. É o caso do PlanetaSustentável, uma iniciativa patrocinada pela Editora Abril, Bunge, Caixa, CPFL Energia ePetrobras, que visa a difusão de conhecimentos sobre questões de sustentabilidadeambiental, social e econômica. Dentre os tópicos ambientais mais recorrentes e relevantes,a questão hídrica ganhou destaque nos últimos anos, e é tema frequente das ações deconscientização da marca.

Em 2012, o Planeta Sustentável divulgou o infográfico “A água que você não vê”,baseado no termo “água virtual”, criado em 1993 pelo professor britânico John AnthonyAllan, e que representa “um modo de calcular a água efetivamente envolvida nos processosprodutivos, que antes não era contabilizada” (GIACOMIN; OHNUMA, 2012, p.128). Oinfográfico, definido como objeto deste estudo, utiliza dados da Sabesp1 para apresentar ovolume de água potável consumido indiretamente em itens do cotidiano, quandoconsiderados os recursos hídricos necessários para a produção de bens de consumo.

Tem-se por objetivo identificar como os recursos gráficos de cor, tipografia ecomposição são utilizados na publicação para transmitir ideias de forma individual erelacionada. A análise será realizada sob a perspectiva da Semiótica Peirceana, aplicadacomo ciência e método, e que categoriza todas as formas dos fenômenos impactarem aspessoas em três momentos: primeiridade, secundidade e terceiridade.

2 Infográficos e a comunicação visualDentre os aspectos do design que compõe o infográfico, foram considerados para

este estudo a composição, cor e tipografia. Suas bases teóricas serão apresentadas abaixoe irão, na sequência, fundamentar a análise. Complementando os conteúdos base doestudo, têm-se uma breve fundamentação teórica acerca de infográficos.

2.1 A informação em forma de gráficosSegundo Koosminsky e Giorgio (2004, p.84), o termo infográfico tem origem na

palavra do inglês que sintetiza a expressão “informational graphic”, e podem ser definidos como recursos do design gráfico que integram elementos de linguagem verbal e não-verbal

1 Sabesp é a empresa responsável pelo fornecimento de água, coleta e tratamento de esgotos de 364 municípios do Estado de São Paulo. É considerada uma das maiores empresas de saneamento do mundo em população atendida. http://site.sabesp.com.br/site/Default.aspx

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como desenhos, fotos, gráficos e pequenos blocos de texto. O objetivo é a sintetização de conteúdos complexos ou de grande volume de dados, transformando-os em blocos de informação com o objetivo de otimizar a compreensão.

Um dos primeiros infográficos a ganharem destaque na história, foi o de FlorenceNightingale, em 1858. A enfermeira montou um diagrama durante a Guerra da Criméia quepermitiu o governo inglês identificar que os soldados morriam mais nos leitos do que nasbatalhas. Como consequência desta informação, as condições sanitárias dos hospitaisforam melhoradas e a mortalidade de soldados foi então reduzida de 42% para 2,2%.

Figura 1: Diagrama de Nightingale, com legenda auxiliar.

Fonte: PAIZ et. al., 2014, p. 945.

Apesar de serem utilizados na mídia há muito tempo, os infográficos sepopularizaram com o avanço tecnológico dos programas de animação e editoraçãoeletrônica e sofrem constantes mudanças quando às técnicas e suportes para suaelaboração. Dentre diversas categorizações existentes, e nomenclaturas utilizadas, paraeste estudo consideramos a classificação dos tipos de infográficos segundo Cirne (2010,p.4), conforme abaixo:

• Relação com o texto: complementares (ao servirem de suplemento ao texto) ouindependentes (quando não estão vinculados a nenhum texto);

• Estrutura: individuais (quando possuem estrutura simples) ou compostos (quandopossuem recursos multimídias);

• Conteúdo: jornalísticos (ao aparecerem em matérias jornalísticas e se fixarem auma singularidade do tema) ou enciclopédicos (quando um assunto é tratado mediantecaráter totalizante).

• De acordo com o que oferecem: não-interativo, multimídia, interativo

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No jornalismo, este recurso pode “melhorar substancialmente a narrativa jornalísticae torná-la mais compreensível aos leitores, além de ser atrativo” (TEIXEIRA, 2007, p. 114).Para Caixeta (apud MÓDOLO, 2008, p. 24) o infográfico vai ao encontro de uma novageração de leitores que é predominantemente visual e busca um entendimento rápido eprático das coisas.

2.2 Elementos do design gráficoOs infográficos têm como característica a combinação de elementos de linguagem

verbal e não-verbal. Na delimitação deste estudo, buscou-se priorizar a análise doselementos de linguagem verbal na tipografia, técnica de composição e impressão de tipos,representações gráficas de letras de um alfabeto.

Os elementos não-verbais serão analisados sob a perspectiva das cores aplicadas eda composição, suas formas (ponto, linha, massas) e efeitos psicológicos dos padrões decomposição destas formas (Gestalt). As cores, apesar de serem também parte dacomposição, assim como os tipos quando vistos também como massas, ganham umdetalhamento um pouco maior pela relevância na peça a ser analisada.

2.2.1 TipografiaRibeiro (2003, p. 37) contextualiza o surgimento das letras como uma evolução da

comunicação humana, passando dos desenhos rudimentares do homem primitivo, àrepresentação gráfica dos sons de uma língua. O conjunto dessas representações é o quese denomina alfabeto. No desenvolvimento das tecnologias de reprodução de textos, emtempos da prensa de Gutenberg, surgem os primeiros tipos móveis, bases com o relevo dasletras que podiam ser empregadas e reutilizadas na reprodução de textos. A tipografia eradefinida, então, como “a arte de compor e imprimir em tipos.

Diferentes estilos gráficos foram surgindo e elementos de composição dostipos deram origem a variadas classificações. O conjunto de caracteres representados emum mesmo estilo gráfico, são denominados famílias de tipos. Os grupos de famílias comcaracterísticas semelhantes são um exemplo de classificação, sendo os grupos de estilomais conhecidos, segundo Ribeiro (2003, p. 56-58): gótico (que imita a escrita dos copistas),cursivo (ligeiramente inclinada para a direita), romano (característicos da escrita italiana),bastão (também chamada de grotesca, por seus traços simples e retos, que remetiam àsinscrições nas cavernas) e escritura (reflexo da caligrafia em voga na região).

Ribeiro (2003, p. 71) ainda salienta a ação psicológica dos caracteres, que podemvariar de acordo com a sua forma fundamental. Por isso a relevância da seleção de umafamília que esteja alinhada com a natureza do texto e o sentimento que ele evoca.

Certos caracteres dão a impressão de positivos, ponderados, racionais. Outros, pelocontrário, dão a impressão de rigidez, peso. Outros, finalmente, de natureza

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maleável, fluída, flexível, leve, persuasiva, podem ir até o ponto de evocar a alegria efrivolidade. (RIBEIRO, 2003, p. 71)

O uso da tipografia em meios digitais deve levar em consideração a menor unidadede representação do ciberespaço, o pixel. “A resolução de 72 pontos por polegada (DPI)continua sendo uma tecnologia pobre se comparada a outras tecnologias de representação”(ROYO, 2008, p.138). A busca por maior legibilidade levou ao desenvolvimento de fontesexclusivas para o digital.

2.2.2 ComposiçãoAlém dos textos expressos pela tipografia utilizada, a composição de um infográfico

também é constituída de formas. O ponto, sendo a mais básica de todas, é o pixel domundo físico, por assim dizer. Base de toda a geometria, sozinho ele “nos dá pouco efeitodecorativo, mas repetido ou combinado com outras figuras, ele pode nos oferecer uminteressante motivo de decoração” (RIBEIRO, 2003, p. 151). Os pontos, quando alinhadossucessivamente, formam uma linha, que pode ser classificada em três espécies: segmentode reta, curva e quebrada.

Ainda segundo Ribeiro, a disposição da linha por si só, já evoca sentimentos.Quando reta, “produz uma impressão de tranquilidade, de solidez, de serenidade”. Estareta, na vertical, atrai o olhar para cima, na horizontal remete a repouso, e curva, transmitemovimento, instabilidade, e até alegria. O peso das linhas também transmitem ideias: finas– delicadeza, grossas – energia, carregada – resolução e violência.

Figura 2: Sentimentos e linhas.

Fonte: RIBEIRO, 2003, p. 152.

Outro elemento citado por Ribeiro (2003, p. 153) é a massa, um “negro de notávelexpansão” que é tão grande quanto o número de pontos e linhas a ela adicionadas. Suasilhueta ou contorno é denominado forma, e esta pode ser regular ou irregular de acordo

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com sua uniformidade e simetria. A disposição dessas massas, linhas e pontos édenominado composição gráfica.

É intrínseco ao ser humano a busca por harmonia, equilíbrio e clareza visual. Estacaracterística, que se reflete na sua percepção das coisas, é tema de estudo da Gestalt,escola austríaca de psicologia experimental. “A teoria da Gestalt, extraída de uma rigorosaexperimentação, vai sugerir uma resposta ao porquê de umas formas agradarem mais eoutras não” (GOMES FILHO, 2009, p. 18). Ainda segundo o autor, os principais princípiosextraídos dos estudos da Gestalt são:

• Unidade: agem em virtude da igualdade de estimulação, ainda que uma paraformação de uma unidade a descontinuidade seja necessária.

• Segregação: ocorre por uma desigualdade na estimulação. • Fechamento: tendência de unir intervalos e estabelecer ligações. • Continuidade: tendência de prolongar direção e movimento. • Proximidade: elementos próximos tentem a ser vistos juntos.• Semelhança: a igualdade de forma ou cor tende ao agrupamento.• Pregnância da forma: princípio que abrange os demais, pois é a tendência das

forças de organização se manterem tanto quando permitidas as condições de clareza,unidade e equilíbrio.

2.2.3 CorA cor, assim como os demais elementos gráficos já citados, tem forte relevância no

design e grande impacto na percepção humana. Pedrosa (2010, p.20) as cores, por suaforma de estímulo, podem ser cores-luz ou cores-pigmento. Tratando-se de um objeto deestudo disseminado no meio digital, este artigo terá foco nos conceitos relacionados à cor-luz.

A classificação das cores apontada pelo autor, por suas características e formas demanifestação são:

• Cores primárias: são cores indecomponíveis a partir das quais se produzem todasas demais cores do espectro.

• Cores secundárias: é a cor formada por duas cores primárias em equilíbrio ótico.• Cores terciárias: cor intermediária entre uma secundária e qualquer uma das

primárias que lhe deram origem.• Cor complementar: são as cores que, quando misturadas, produzem o branco.

Estão em lados opostos no círculo de cores.

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As cores podem ainda ser classificadas como quentes ou frias. As cores quentes sãoaquelas nas quais predominam o vermelho e o amarelo. Nas frias, a predominância é doazul e do verde.

Bastos et al. (2011, p.96) aborda o significado cultural e psicológico das cores,confirmando seus “estímulos psicológicos para a sensibilidade humana, influindo noindivíduo para gostar ou não de algo”. A definição de como esta dinâmica se dá, no entanto,é uma discussão ampla e objeto de estudos desde a Antiguidade, pois depende de umapercepção individual imersa em fatores de contexto sociocultural. O branco, por exemplo, “étanto um signo de paz e harmonia, quanto de tristeza e morte (no oriente, particularmentena Índia)” (BASTOS et al., 2011, p.96).

3 Semiótica Peirceana: ciência e metodologiaApesar dos estudos na área da linguagem serem antigos, sendo abordados em

tempos remotos pelos gregos, o seu despontamento como ciência humana, proveniente danecessidade de compreender o universo dos fenômenos de linguagem, se deu a partir daRevolução Industrial (SANTAELLA, 1983, p. 14). A Semiótica “surge” nesta época,simultaneamente desenvolvida por autores distintos em diferentes lugares do mundo.

Para este estudo, será aplicada a linha semiótica do Charles Sanders Peirce.Definida por Santaella (1983, p. 9 e 10) como a ciência que estuda toda e qualquerlinguagem, sejam elas verbais ou não-verbais, a Semiótica Peirceana buscou conceitosgeneralistas, que pudessem servir como base para qualquer ciência e fossem aplicáveis àqualquer assunto.

Devemos começar por levantar noções diagramáticas dos signos, das quais nósretiramos, numa primeira instância, qualquer referência à mente, e depois quetivermos feito aquelas noções tão distintas como o é a nossa noção de númeroprimitivo, ou a de uma linha oval, podemos então considerar, se for necessário, quaissão as características peculiares de um signo mental... (Peirce, apud Santaella,1984, p.56)

Desta forma, Peirce chega à tricotomia que se compõe: do signo em si mesmo (quali-signo, sin-signo e legi-signo), sendo o signo um conjunto de sinais/sentimentos puros; osigno com seu objeto (ícone, índice e símbolo), relacionando o signo com o seu significante;e o signo com seu interpretante (rema, dicente e argumento), onde a intelectualizaçãoacontece, resultando em um valor, significado.

A tricotomia Peirceana também se aplica no estudo sobre como os signos atingemnossos sentidos. Peirce estruturou uma fenomenologia também baseada em três categoriase diretamente relacionada à tríade mencionada acima. Mantendo seu viés generalista, são“três modalidades possíveis de apreensão de todo e qualquer fenômeno” (SANTAELLA,1983, p. 42): a Primeiridade (o sentimento ou estímulo puro), Secundidade (aconscientização destes sinais e sentimentos, sem atribuição de valor) e Terceiridade (queacontece quando se dá o sentido e valor em uma síntese intelectual).

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Santaella (1983, p.42) aponta a que as três camadas possuem infinitas gradações esão na maioria das vezes, simultâneas. Ainda assim, reforça que é possível distingui-lasqualitativamente. Desta forma, a tricotomia pode ser também utilizada como método deanálise, uma aplicação que fica mais clara na exemplificação de Santaella:

Por exemplo: o azul, simples e positivo azul, é um primeiro. O céu, como lugar etempo, aqui e agora, onde se encarna o azul, é o segundo. A síntese intelectual,elaboração cognitiva – o azul no céu ou o azul do céu –, é um terceiro.(SANTAELLA, 1983, p. 51)

Utilizando, então, o modelo fenomenológico de Peirce, como metodologia na análisede infográficos, o presente artigo se utilizará dos conceitos de primeiridade, secundidade eterceiridade na identificação e análise dos elementos do design gráfico que compõe o objetode estudo.

4 A água que você não vêOs objeto de análise foi delimitado em um infográfico do Planeta Sustentável

referente à sustentabilidade hídrica que apresentasse uma compilação de dados. Foramencontrados diversos conteúdos referentes ao tema na seção de infográficos no site damarca, porém muitos com conteúdos mais descritivos de processos, como “O clico da águana cidade” ou “Como prevenir a seca”.

Em “A água que você não vê”, os resultados de um complexo cálculo que estipula oconsumo hídrico indireto de nove itens cotidianos é apresentado. A denominada “aguavirtual” considera, segundo Carmo (2007), “a água envolvida em toda a cadeia de produção,assim como, as características específicas de cada região produtora, além dascaracterísticas ambientais e tecnológicas”.

Para análise do infográfico, foram considerados que os conceitos de primeiridade esecundidade chegam à conscientização dos sentimentos e estímulos ao nível deidentificação de formas de maneira isolada. Deixa-se à terceiridade a criação de sentido apartir das relações criadas em uma síntese intelectual que invariavelmente refletem critériossubjetivos e de contexto do analisador.

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Figura 3: A água que você não vê.

Fonte: Site Planeta Sustentável. Disponível em <http://planetasustentavel.abril.com.br/download/stand2-painel4-agua-virtual.pdf>. Acesso em setembro de 2015.

O infográfico, sob a luz dos conceitos de primeiridade e secundidade de Peirce seapresenta em um único bloco horizontal, delimitado pela cor de fundo azul claro. Estásubdividido por uma mancha gráfica composta por texto na parte superior, onde seapresenta o título e subtítulo. Em seguida, outra mancha é composta por textos, figuras,linhas e formas que representam torneiras, gotas e os itens do cotidiano selecionados paraapresentação. Esta segunda mancha tem seus elementos separados por linhas pontilhadasverticais que terminam sobre uma linha tracejada que contorna uma sequencia de figurascirculares, como em uma correia. Predominância do uso da cor azul e do preto, com poucositens em branco.

A classificação por tipo de infográfico, já se dá na terceiridade, ao passo que aintelectualização do seu contexto é essencial à esta categorização. Pode-se dizer que oinfográfico analisado é independente, pois seu entendimento não necessariamente precisade contextualização textual além do subtítulo que já o compõe. Foi considerado uminfográfico individual, pois possui estrutura simples e não contempla outros recursosmultimidiáticos. Não-interativo, o objeto analisado depende somente da navegação dousuário, não reagindo às ações do mesmo. Foi também, categorizado como jornalístico, ao

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passo que se fixa uma singularidade do tema ainda que não seja parte te uma matériajornalística.

Na análise em terceiridade dos elementos gráficos dispostos, primeiramentereferente à tipografia: foram utilizados tipos de estilo bastão, com desenho mais retilíneo,com eixo racionalista (vertical) e sem a presença de serifa. Entende-se que a intenção destaescolha foi a de transmitir simplicidade, disciplina e contemporaneidade. Apresentandotodos os textos em fontes de uma mesma família, porém com espessuras de letras distintas,transmite-se graduações de força, onde as mais grossas ganham destaque na composição.Neste destaque estão o título do infográfico e os números apresentados. Aqui se observa aintencionalidade de destacar resultados, a compilação da análise de dados expressos emnúmeros, reforçando a sua relação com o impacto ambiental.

A escolha da frase de título, “A água que você não vê” em tamanho e peso maior,atrai a atenção e intriga o leitor. O subtítulo, logo abaixo, reforça inicialmente a ideia contidano título, de uma falha na percepção, para posteriormente esclarecer o tema a ser discutido.

A composição segmenta claramente o texto introdutório dos itens analisados. Apósum espaçamento abaixo do bloco de texto inicial, cada item de consumo é apresentado emum espaço vertical delimitado por linhas pontilhadas onde, abaixo da sua titulação há umatorneira, da qual se desprende uma gota que vai em direção à figura iconográfica desteitem. A relação gota, torneira, pode também remeter a vazamento ou desperdício. Estandosobre os alimentos pode ser interpretado como o peso do impacto no consumo de águapotável sobre cada produto final. A unidade encontrada no uso da composição torneira egota, se segrega na diferenciação do tamanho da gota, ressaltando em primeira instância osprodutos com maior consumo de água potável para sua produção: manteiga e carne de boi.

A repetição das estruturas verticais incorporam os conceitos de pregnância econtinuidade, pelos quais, mais itens poderiam ser adicionados na sequencia. Ligadas pelabase na representação de uma correia transportadora, a ideia de sequencialidade éreforçada pela finalização em curva da linha, e pelas formas circulares de eixos, remetendoao movimento de esteira.

As cores utilizadas foram o azul, preto e branco. O azul, cor predominante noinfográfico, é uma cor fria e comumente relacionada à representação da água. Tambémpode ser usada para atrair e incitar permanência, ao passo que “é a mais profunda dascores, o olhar penetra sem encontrar obstáculo e se perde no infinito” (PEDROSA, 2010,p.126), além de instigar a busca, sendo também, segundo o autor, uma analogia aoinatingível.

O preto tem papel de levar seriedade ao mesmo tempo que remete à falta de corassociada aos processos industriais. Usado em volumes menores, funciona também comobase e ponto de equilíbrio em algumas das representações gráficas. Segundo Pedrosa(2010, p.130), seu oposto, o branco, é fisicamente a “soma das cores; psicologicamente, a

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ausência delas”. É ainda, a cor da pureza, que no caso do objeto de estudo, poderepresentar água limpa e potável despendida nos processos de produção.

5 ConclusõesPercebeu-se o uso dos recursos do design gráfico na compilação das informações e

reforço das ideias que se desejou transmitir. Por meio desses recursos, o conteúdo doinfográfico torna-se atrativo pelo apelo visual, ao mesmo tempo que cumpre seu papel deinformar o leitor e também instigar a conscientização sobre o uso da água potável noprocesso de produção de bens de consumo comuns ao cotidiano.

Foi proposta aqui, uma das infinitas interpretações semióticas possíveis. É importanteressaltar que a fenomenologia Peirceana como método de análise tem como característicauma parte de seu viés composto de uma interpretação que é individual. Outros indivíduos,ainda que seguindo a mesma metodologia, podem chegar a outros resultados einterpretações.

Ainda assim, considera-se que o estudo do infográfico conseguiu explicitar de formasatisfatória como os recursos gráficos são usados na transmissão da informação e podem,também, subjetivamente, transmitir conceitos, conforme estratégias de comunicação. Nestecaso a colocação de dados disposta como uma história contada, tem potencial deengajamento maior, e por consequência possibilidade maior de conscientização acerca dotema proposto

O resultado desta análise pode contribuir com estudos futuros, seja como material decomparação, ou como referência mais aprofundados nos conceitos teóricos abordados ousob a perspectiva de outros elementos gráficos à luz da semiótica.

ReferênciasCARMO, Roberto Luiz do; OJIMA, Andréa Leda Ramos de Oliveira; OJIMA, Ricardo;NASCIMENTO, Thais Tartalha do. Água virtual, escassez e gestão: O Brasil como grande“exportador” de água. Revista Ambiente & Sociedade, Campinas, v. 10, n.1., jul./dez.2007. Disponível em <http://dx.doi.org/10.1590/S1414-753X2007000200006>

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GIACOMIN, George Scarpat; OHNUMA JR, Alfredo Akira. A pegada hídrica como subsídioa ações de educação ambiental. Revista Ambiente & Educação, Rio Grande, v. 17, n.1., p.125-139, jan./jun. 2012.

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XI Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-GraduaçãoSEPesq – 19 a 23 de outubro de 2015