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O impedimento de trocas de materiais e de coletas fez com que o crescimento das coleções zoológicas sofressem um atraso que nunca poderá ser dimensionado LUCIANE MARINORI Medida provisória, que legisla sobre acesso ao patrimônio genético brasileiro, não faz distinção entre pirataria e trabalho científico micos, que dependem de troca mútua de material. Marinori critica o exces- so de zelo na MP em tentar evitar a biopirata- ria, que não fez distin- ção, naquele momento, entre trabalho cientíco e crime ambiental. Ela informa que, atualmen- te, a comunidade cientí ca se esforça junto a algumas áreas do governo para que as coleções possuam destaque nas instituições que as abrigam e sejam reconhecidas pelo valor de seu material. “Há uma ten- tativa de instituir políticas próprias de gerenciamento e utilização da informação depositada”, naliza. jornal do 29˚ congresso brasileiro de zoologia 7 de março de 2012 n. 3 salvador /ba BUROCRACIA NA CIÊNCIA N os últimos anos, a importância das coleções zoológi- cas tem sido evidenciada devido à crise ecológica em que o mundo se encontra. Em todo o planeta, apenas um quarto das espécies são conhecidas. Desta forma, as cole- ções – além de docu- mentar a biodiversidade e serem registros, tanto da atualidade como do passado, sendo muitas vezes o único conheci- mento sobre espécies extintas e raras – re- presentam importantes bancos genéticos para a realização de análises moleculares e para a biotecnologia. Contudo, qual é a real situação da propriedade do material zoológico no país? Quais são os principais entraves para a coleta? Estas e outras questões serão aborda- das na mesa-redonda Propriedade do Material Zoológico, no dia 7 de março, das 8h às 10h, no Auditório Iemanjá. De acordo com a coor- denadora do Programa de Pós-graduação em Entomologia da Uni- versidade Federal do Paraná, Luciane Mari- noni, que irá presidir a mesa-redonda, após a instituição, em 2001, da Medida Provisória 2186- 16, que legisla sobre acesso ao patrimônio genético brasileiro, alguns entraves têm acontecido. “Apesar da boa intenção, a MP trou- xe muitos problemas à ciência em biodiversida- de no Brasil. Por outro lado, sua instituição é importante para a economia e soberania nacionais”, analisa. Embora esteja em constante discussão e reformulação, a medida resultou no aumento da burocracia para a coleta, armazenamento e transporte de animais, principalmente em nível internacional. Segundo a pesquisadora, na época, a instauração da medida foi um desastre para os estudos taxonô-

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O impedimento

de trocas de

materiais e

de coletas fez

com que o

crescimento

das coleções

zoológicas

sofressem

um atraso

que nunca

poderá ser

dimensionado

LUCIANE MARINORI

Medida provisória, que legisla sobre acesso ao patrimônio genético brasileiro, não faz distinção entre pirataria e trabalho científi co

micos, que dependem de troca mútua de material.

Marinori critica o exces-so de zelo na MP em tentar evitar a biopirata-ria, que não fez distin-ção, naquele momento, entre trabalho científi co e crime ambiental.

Ela informa que, atualmen-te, a comunidade científi ca se esforça junto a algumas áreas do governo para que as coleções possuam destaque nas instituições que as abrigam e sejam reconhecidas pelo valor de seu material. “Há uma ten-tativa de instituir políticas próprias de gerenciamento e utilização da informação depositada”, fi naliza.

jornal do 29˚ congresso brasileiro de zoologia7 de março de 2012 – n. 3 – salvador / ba

BUROCRACIANA CIÊNCIA

Nos últimos anos, a importância das coleções zoológi-

cas tem sido evidenciada devido à crise ecológica em que o mundo se encontra. Em todo o planeta, apenas um quarto das espécies são conhecidas.

Desta forma, as cole-ções – além de docu-mentar a biodiversidade e serem registros, tanto da atualidade como do passado, sendo muitas vezes o único conheci-mento sobre espécies extintas e raras – re-presentam importantes bancos genéticos para a realização de análises moleculares e para a biotecnologia.

Contudo, qual é a real situação da propriedade do material zoológico no país? Quais são os principais entraves para a coleta? Estas e outras questões serão aborda-das na mesa-redonda Propriedade do Material Zoológico, no dia 7 de março, das 8h às 10h, no Auditório Iemanjá.

De acordo com a coor-denadora do Programa de Pós-graduação em Entomologia da Uni-versidade Federal do Paraná, Luciane Mari-noni, que irá presidir a mesa-redonda, após a instituição, em 2001, da Medida Provisória 2186-16, que legisla sobre acesso ao patrimônio

genético brasileiro, alguns entraves têm acontecido. “Apesar da boa intenção, a MP trou-xe muitos problemas à ciência em biodiversida-de no Brasil. Por outro lado, sua instituição é importante para a economia e soberania nacionais”, analisa.

Embora esteja em constante discussão e reformulação, a medida resultou no aumento da burocracia para a coleta, armazenamento e transporte de animais, principalmente em nível internacional. Segundo a pesquisadora, na época, a instauração da medida foi um desastre para os estudos taxonô-

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das exposições, apresen-tar a dimensão processual da ciência, fornecendo aos visitantes informações so-bre as controvérsias que caracterizam a produção do conhecimento científi co.

As parcerias entre os museus e as escolas, por exemplo, devem ser pau-tadas na perspectiva de conhecer essas especifi ci-dades pedagógicas, além de reconhecer a importância do acervo que possuem, pois é especialmente na perspecti-va da ampliação da cultura que os museus podem au-xiliar na alfabetização cien-tífi ca dos cidadãos.

Martha MarandinoFaculdade de Educação da [email protected] Texto adaptado do artigo Museus de Ciências, Coleções e Educação: relações necessárias. Museologia e Patrimônio. , v.2, p.1 - 12, 2009.

As exposições e as co-leções dos Museus de História Natural podem ser consideradas testemu-nhos do desenvolvimento das Ciências Naturais e através delas podem ser compreendidas suas his-tórias, seus conteúdos e procedimentos científi cos. Além disso, os Museus de História Natural são instituições fundamentais para o estudo das políticas científi cas e podem auxiliar no entendimento da ciência como parte da cultura das sociedades.

A preocupação educati-va esteve desde muito tem-po presente nos museus. No caso dos Museus de História Natural, a pers-pectiva didática das expo-sições surge, inicialmente, como foco no ensino de suas coleções para espe-cialistas. É no século XIX, com o rompimento entre as coleções científi cas e sua apresentação pública, que estes museus assu-mem com maior ênfase a preocupação com seus visitantes, por meio de ex-posições temáticas.

Atualmente, a dimensão educacional vem se am-pliando nesses museus, junto com a incorporação das novas tecnologias de comunicação. Esta ênfase tem caminhado no sentido de perceber que o conheci-mento científi co não é apre-sentado em seu estado puro nas exposições e nas ações educativas desenvolvidas.

Os conceitos, ideias e

Na continuidade do 29º CBZ, o terceiro dia do congresso traz uma diversa programação científi ca com o intuito de fornecer a todos os congressistas muitas opções de mesas redondas e simpósios. As duas mesas redondas tratarão de “Pesquisa e Pós-Graduação” e de “Propriedade do Material Zoológico”, assuntos de grande importância a todos os estudantes e profi ssionais da Biologia. Os participantes também poderão assistir aos simpósios que abordarão a diversidade zoológica tratando desde esponjas até mamíferos por meio de muitas linhas de estudo, incluindo temas sobre animais peçonhentos, bioinvasões, museus e coleções zoológicas. Como vice-coordenador do simpósio “Peixes Costeiros do Brasil: Diversidade e Estado da Arte do Estudo de Peixes Estuarinos no Brasil”, tenho a satisfação de convidar-lhes a participar desse evento que reunirá, aqui em Salvador, pesquisadores representantes de várias regiões do Brasil dedicados ao estudo de peixes estuarinos. Para hoje, ainda vale lembrar que teremos o segundo dia de apresentações de paineis e que, em seguida, às 18h, será realizada a Assembleia da Sociedade Brasileira de Zoologia.Que todos tenhamos um bom dia de congresso!

André Luis da Cruz Membro da comissão

organizadora do 29º cbz

editorial artigo

E X P E D I E N T E

ZnZOOnews

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Zoo News Informativo ofi cial do XXIX Congresso Brasileiro de Zoologia Tiragem: 1000 exemplares Endereço: Rua Barão de Geremoabo, 147, Campus de Ondina, Instituto de Biologia. Cep.: 40.170-290 – Salvador/BA Tel.: (71) 3283-6549 E-mail: [email protected] Site: www.cbz2012.com.br Blog: cbznabahia2012.wordpress.com Foto Capa: www.sxc.hu Presidente: Rejâne Maria Lira da Silva Presidente da Comissão Científi ca: Carla Menegola Presidente de Honra: Tania Kobler Brazil Primeira Secretária: Favízia Freitas de Oliveira Segunda Secretária: Rita Farani Assis Primeira Tesoureira: Marlene Campos Peso de Aguiar Segundo Tesoureiro: André Luís da Cruz Assessoria: Maria Dulcinéia Sales dos Santos Design gráfi co: David Lira Marques Assessoria de Comunicação/Imprensa Jornalista responsável: Mariana Alcântara DRT-BA 2962 Estagiária de Jornalismo: Mariana Sebastião Monitores: Fernanda Barreto e Gabriel Rocha Webdesign: Daniel Amorim Projeto Gráfi co / Paginação: Jonas Santos Colaboração: Raíza Tourinho

EDUCAÇÃO E MUSEUS: DA COLEÇÃO PARA O PÚBLICO

objetos, ao serem expostos, passam por transformações as quais implicam na sim-plifi cação, na reorganização e na produção de novos conhecimentos, necessá-rios para levar o público a compreender a ciência apresentada nos museus. Esse processo ocorre por variadas razões, entre elas a valorização cada vez maior do visitante e da necessida-de de promover ações que garantam qualidade na sua relação com o conhecimen-to científi co divulgado nas exposições.

Nesse sentido, os mu-seus devem não só fazer suas exposições contarem as histórias por detrás dos objetos das coleções, como desenvolver ativida-des educativas e culturais que revelem não somente os conceitos envolvidos, mas também o processo de produção de conhecimen-tos com base nos objetos.

Acreditamos que as ex-posições são estratégias ricas para o desenvolvi-mento de atividades educa-tivas nos museus. Por meio delas, por exemplo, é pos-sível realizar comparações entre seres e ambientes, compreendendo suas re-lações, estudar comporta-mentos, entender como os espécimes são coletados, conservados, pesquisa-dos e classifi cados, tendo acesso assim as informa-ções de caráter teórico e procedimental relacionado às Ciências Naturais. É possível também, através

foto: divulgação

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educação

A exposição Museus e Ani-mais: Memória do Brasil já despertou a curiosidade de muitos participantes do 29º CBZ. É a primeira vez que o congresso abre as portas de parte de sua programa-ção para o público geral. No segundo piso do Centro de Convenções, local onde estão montados os acervos de dezessete museus de ci-ência e história natural das cinco regiões do país, cir-culam centenas de crianças e adolescentes ávidos por conhecimento. É um ver-dadeiro show de educação científi ca e ambiental!

O evento tem como ob-jetivo despertar na socieda-de o entendimento sobre a importância destas institui-ções para a preservação do patrimônio e da memória da biodiversidade nacio-nal, indispensáveis pra o desenvolvimento científi co e tecnológico.

Durante a visita à ex-posição, o público pode conferir o universo macro e micro da fauna brasileira, animais vivos e taxidermi-zados como cobras, abe-lhas, borboletas, aranhas, tartarugas, baleias, escor-piões, macacos, aves, pei-xes, crustáceos, esponjas e corais. Jogos, brincadeiras e teatro de fantoches tam-bém são atividades da ex-posição e prometem fazer a alegria de crianças e apren-dizes de todas as gerações.

A professora do Ibio/Ufba e presidente do 29º CBZ, Rejâne Lira, expli-ca que a exposição tem o compromisso de valo-rizar os museus univer-sitários como institui-ções prioritárias para a

Exposição Museus e Animais promove educação científi ca e ambiental

acervos e instalações e as condições de trabalhos dos cientistas que trabalham neles”, afi rma.

Segundo ela, essas

ações são importantes para evitar perdas irreparáveis como as ocorridas com o incêndio do Instituto Bu-tantã, ocorrida em maio de 2010, com a destruição de cerca de 80 mil espécimes de serpentes e cerca de 450 mil aranhas e escorpiões reunidos por pesquisado-res e colaboradores nos últimos 120 anos.

A presidente do 29º CBZ informa que, na Bahia, os museus universitários po-deriam ser melhor explora-dos, mas o entendimento do conceito desses “museus científi cos” parece ser mal interpretado pelos órgãos responsáveis pela gestão da cultura, da educação e da ciência e tecnologia do esta-do. “Será que existe alguma parceria entre as secretarias de Educação, Ciência e Tec-nologia e Cultura para que possam pensar em uma política pública em comum para estas três pastas do governo?”, questiona.

Integrante da Comissão Organizadora do 29º CBZ e uma das coordenadoras da exposição, a professora do Ibio/Ufba, Favízia Oliveira, também dá o seu recado: “Já temos algumas iniciati-vas pontuais como os pro-jetos de popularização da ciência e semana de ciência e tecnologia. Entretanto, precisamos de ações mais concretas. A verba dos es-tados para educação e ciên-cia, incluindo a manutenção dos museus, deveria ser maior”, diz. “Todos os es-tados brasileiros deveriam ter seu Museu de História Natural, a exemplo do que acontece nos Estados Uni-dos e na Europa”, fi naliza.

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Precisamos

preservar

nossos museus,

melhorando

seus acervos e

instalações e

as condições

de trabalhos

dos cientistas

que trabalham

neles”

divulgação das pesquisas produzidas no âmbito das universidades. “Pre- cisamos preservar nossos museus, melhorando seus

Foto destque: as curadoras da exposição, Favízia Oliveira e Rejâne Lira. Detalhe da coleção de borboletas do Museu de Zoologia do Ibio/Ufba

fotos: fernanda barreto

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Todo mundo que vem a Salvador quer conhecer o Forte de Santo Antônio da Barra, popularmen-te conhecido como Farol da Barra. Este é um dos principais pontos turísticos da capital baiana. Tam-bém é lá que está o Museu Náutico da Bahia, que reúne um valioso acervo de achados arque-ológicos submari-nos, uma coleção de instrumentos de navegação e sinaliza-ção náutica, além de maquetes e miniatu-ras de embarcações.

O Museu Náutico é o único do gênero na Bahia. O seu acer-vo apresenta uma mostra da geografi a, história e cultura da Baía de Todos-os-San tos. O Forte de

Museu Náutico da Bahia revela histórias de naufrágios na Baía de Todos-os-Santos

ORGANIZADORA E OPERADORA DE TURISMOOFICIAIS:

REALIZAÇÃO: APOIO:

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zoo dicas homenagem póstuma

JESUS SANTIAGO MOUREDescendente de espanhóis, Jesus San-tiago Moure, o Padre Moure, nasceu em Ribeirão Preto, em 1912. É graduado em Filosofi a e Teologia Pelo Seminário Maior Claretiano de Rio Claro, São Paulo. Teve contato, ainda nesta cidade, com textos entomológicos após conhecer pesquisa-dores do Museu Paulista. Seus principais estudos foram relacionados à taxono-mia de abelhas, resultando em mais de duzentas publicações no Brasil e exterior. Doutor honoris causa pela UFPR. Foi um dos pesquisadores mais antigos do CNPq, além de ter participado da funda-ção SBPC, Capes, Sociedades Brasileira de Entomologia e Zoologia. Faleceu aos 97 anos no dia 10 de julho de 2010, em Batatais/SP.

RENATO CONTIN MARINONINasceu dia 26 de março de 1939 em Curitiba. Graduou-se em 1962 no Curso de História Natural, oferecido, na época, pela Faculdade de Filosofi a, Ciências e Letras da UFPR. A trajetória do professor Renato nesta universidade e na Zoologia teve início quando o Padre Moure o indi-cou como auxiliador do professor Hans Jakobi, no Laboratório de Fisiologia Ani-mal. Fez trabalhos, também, na área de sistemática e taxonomia de Cerambyci-dae (Coleóptera). Foi presidente da SBZ e responsável pela informatização de dados desta sociedade em sua vigência. Faleceu dia 29 de junho de 2011.

SOLANGE PEIXINHO E SILVASolange Peixinho graduou-se no curso de História Natural da Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 1970. Realizou mes-trado em Zoologia pela Universidade de São Paulo, em 1973, e Doutorado em His-tologia e Citologia da Université de Paris VI, em 1980. Durante sua vida, enfatizou o estudo dos Porífera com a fi nalidade de ampliar o conhecimento da biodi-versidade de esponjas marinhas. Além do legado científi co, Solange também é reconhecida pela ocupação de cargos administrativos de destaque no Instituto de Biologia da UFBA, onde atuou de março de 1974 a março de 2007. Faleceu dia 11 de novembro de 2010.

Santo Antônio da Barra foi construí-do antes mesmo da própria cidade de Salvador. Justamente pela sua localização, de onde se tem uma linda vista do oceano e principalmente pela beleza da sua arquitetura militar, o Farol chama a atenção de todos que passam por perto.

Os objetos em exposição no Mu-seu Náutico são resultado de uma pesquisa submarina em embarcações naufragadas. Grande parte do acervo fi cou submerso por cerca de trezentos anos: moedas, selos, boti-jas, materiais bélicos, louças, dentre outros. Estes objetos permi-tem que o visitante tenha contato direto

com a secular histó-ria do país e vivencie aspectos importantes da vida cotidiana dos primeiros brasileiros.

O local pode ser visitado das terças-fe iras aos domingos, das 8h30 às 19 horas. O ingresso custa R$ 10,00. Estudantes, professores e idosos pagam meia entrada. Se visitar este cartão postal da cidade já fazia parte de seu roteiro turístico em Salvador, agora, não faltam motivos!

ZOO DICA DO DIA

MUSEU NÁUTICODA BAHIA Largo do Farol da Barra, S/N, Forte de Santo Antô-nio da BarraR$ 10 e R$ 5 (meia)

foto: jota freitas