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Presidente: Pastor João Adair Ferreira Dirigente e Consultor Doutrinário: Pastor Argileu Martins da Silva Superintendente: Presbítero Jorge Luiz Rodrigues Barbosa Lição 08 22 de Maio de 2011

A luta contra as heresias e os falsos mestres Texto Áureo "Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a

tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo". Cl 2.8 Verdade Aplicada O ensino falso perverte a fé cristã e produz divisões dolorosas no meio do povo de Deus. Objetivos da Lição ► Mostrar que os falsos mestres aproveitam as oportunidades. ► Conscientizar que o cristão deve conferir na Palavra de Deus todos os ensinos

recebidos. ► Deixar claro que precisamos crescer na graça e no conhecimento do Senhor Jesus

Cristo. Textos de Referência 2 Pe 2.1 Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias

destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo

sobre si mesmos repentina destruição. 2 Pe 2.2 E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade; 2 Pe 2.3 Também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme.

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Heresia (2 Pe 2:1-3) As similaridades entre o segundo capítulo desta epistola e a epístola de Judas são tão grandes e óbvias, que quase todos os eruditos admitem que um deles copiou do outro. Alguns creem que Judas copiou de 2 Pedro; mas, a maioria afirma que o presente capitulo foi tomado por empréstimo da epístola de Judas. "O livro de Judas era peça literária conveniente como base, porquanto o autor sagrado desta epístola desejava mostrar que os falsos profetas, referidos no A.T., podem ser reputados como progenitores espirituais dos hereges gnósticos da Ásia Menor; o material da epístola de Judas, que também ataca o gnosticismo, contém muitas declarações que se adaptam bem a esse tema. Posto que na antiga dispensação havia profetas falsos, não é de surpreender que encontremos, na igreja moderna, elementos falsos, que procuram introduzir doutrinas perniciosas no cristianismo. O capítulo segundo desta epístola é uma exposição sobre a depravação, a falsidade e a natureza destruidora da heresia gnóstica. 2:1: Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá faltos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras, negando até e Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.

O sistema gnóstico era a suposta descrição de um meio de salvação. Pintava o homem como criatura decaída, necessitada de ajuda para retornar a Deus. Mas o caminho de retorno era, pelos gnósticos, tido como possível por uma sucessão quase interminável de seres angelicais secundários, todos eles mediadores de alguma maneira. Os gnósticos esperavam que, mediante o «conhecimento», os homens pudessem ser salvos. Mas o conhecimento deles vinha mesclado com o ascetismo, com a licenciosidade, com as artes mágicas e com os ritos secretos de um misticismo falso. Este versículo e Cl 1:20 e ss. mostram que quase todos os gnósticos negavam a doutrina da «expiação» de Cristo como algo que tem valor para o retorno do homem a Deus. Para eles, Cristo não era um Salvador todo-suficiente. Ele seria apenas um outro dos «aeons», que contribuiria com os demais para a salvação do homem. Alguns gnósticos viam em Cristo o mais elevado dos «aeons» e também o Deus criador deste mundo, havendo, naturalmente, muitos outros mundos, com outros tantos deuses e salvadores. Mas alguns gnósticos nem ao menos atribuíam tão elevada posição a Cristo. Eis por que passagens como Jo 1:1-3; Cl 1:15 e ss.; e Ef 1:19 e ss. afirmam tão incisivamente que somente Cristo é o criador de todos os mundos possíveis. E é também por esse motivo que Cl 1:20 e ss. mostra que Cristo é o único Salvador. E é também por isso que 1 Tm 2:5 declara que há «um só Deus» e também «um só mediador» entre Deus e os homens. Os gnósticos negavam a ambas essas proposições. Todas as passagens mencionadas rebatem declarações dos mestres gnósticos. Essa heresia assediou a igreja cristã pôr cerca de cento e cinqüenta anos.

«...falsos profetas...» O autor sagrado passa agora a mostrar que não nos devemos surpreender se falsos mestres surgirem no cristianismo. No antigo Israel também surgiram falsos profetas entre o povo. Isso subentende que, em qualquer era, a comunidade religiosa contará com elementos radicais e falsos, destruidores da fé e do bem-estar espiritual. (Ver Dt 13:1-5; 18:20; Jr 5:31; Ez 13:3 e Lc 6:26 quanto a referências a tais indivíduos, que viveram nos tempos vetotestamentários). Balaão é especificamente mencionado no décimo quinto versículo deste capítulo, fazendo paralelo com a referência em Jud. 11. Ele é um exemplo de profeta falso; e o autor sagrado assevera que haverão muitos iguais a ele nas igreja do N.T. «...entre vós falsos mestres...», a saber, como os gnósticos que provocavam dificuldades nas igrejas da Ásia Menor. Esses eram «filhos espirituais» dos profetas falsos do A.T., e

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eram tão depravados e perniciosos como aqueles. Indiretamente, o autor sagrado vincula as comunidades religiosas da antiga e da nova dispensação, dando a entender que a nova é a continuação da antiga. Ora, isso os gnósticos também negavam. Alguns deles admitiam que vários dos profetas do A.T. seriam homens «psíquicos», isto é, dotados de espiritualidade secundária, passíveis de um baixo grau de redenção e glória; mas os gnósticos se imaginavam os «pneumáticos», isto é, homens espirituais em elevado grau, capazes de receber a mais elevada redenção, a saber, a reabsorção na própria essência, com a perda da personalidade, em que o ego se tornava então o superego. Os «psíquicos» seriam remidos através da «fé», ao passo que os «pneumáticos» o seriam através do «conhecimento», o que, na concepção dos gnósticos, era superior à fé. E à maioria dos homens os gnósticos classificavam como «hílicos», isto é, «terrenos», totalmente incapazes de serem remidos, porquanto estavam assoberbados pela «matéria», o «princípio do mal», nunca podendo desvencilhar-se dela, pelo que deveriam perecer juntamente com a matéria, em meio a grande conflagração.

A passagem de 1 Tm 1:4 contradiz essas ideias gnósticas, mostrando-nos que a vontade de Deus é que todos os homens sejam salvos. Daí se infere que todos os homens podem ser remidos. Pelo que se tem dito aqui, pode-se ver que razões há para chamar os gnósticos da Ásia Menor de «falsos mestres». Além de seus erros doutrinários, eles se mostravam ascetas ou libertinos, ou seja, negavam o bom senso da ética cristã. A variedade gnóstica que perturbava as igrejas da Ásia Menor era a variedade libertina, conforme este capítulo passa a mostrar. «...dissimuladamente heresias destruidoras...» Alguns tradutores preferem dizer aqui «secretamente»; e outros dizem «em particular». Os métodos de ensino dos gnósticos eram subversivos. Nunca entravam em uma comunidade declarando em que criam. Mostravam-se astutos, procurando firmar o pé, antes de dizerem sua posição. O termo grego «pareisago» indica «trazer secretamente», «trazer maliciosamente». A metáfora tencionada é a de um «espião» ou «traidor», cujo propósito é o de prejudicar ou destruir, que oculta o seu verdadeiro intento. (Comparar com o quarto versículo da epístola de Judas—os falsos mestres «...se introduziram com dissimulação...», isto é, sem serem percebidos ou temidos da parte de pessoas simples e inocentes, que confiavam demais nos outros).

«...heresias...» O vocábulo grego «airesis» vem do verbo que significa «escolher», ou seja, indica, basicamente, «selecionar uma doutrina ou uma atividade». (Ver At 5:17; 15:5 e 26:5). No grego antigo, essa palavra era usada para indicar qualquer «seita», como a dos fariseus, a dos saduceus, etc., dando-lhe um sentido em coisa alguma negativo. Gradualmente, porém, o sentido negativo foi sendo atribuído ao termo. Ficou assim subentendido que tal «escolha» diferia da escolha normal dos cristãos. O primeiro uso da palavra, no N.T., descreve homens «facciosos» na igreja, por razão de busca pessoal de poder e egoísmo. Muitos existem que possuem credos ortodoxos, mas que, de acordo com o ponto de vista do N.T., são «hereges». Todos quantos causam divisões, criando denominações e erigindo para si mesmos pequenos reinos, difamando a outros em suas prédicas e se envolvendo em «lutas de poder» na igreja ou suas organizações, de acordo com essa definição, são «heréticos». (Ver 1 Co 11:19 e Gl 5:20).

No presente versículo, porém, certamente está também em foco um sentido que essa palavra adquiriu posteriormente. Os gnósticos ver significado em ebdareiabranca ajuda, causavam divisões, mas também «preferiam» um sistema doutrinário contrário ao do cristianismo moral, sendo assim «hereges» no exato sentido em que esse vocábulo tem na atualidade. Defendiam doutrinas não-ortodoxas, criando uma mensagem que não era a boa mensagem cristã.

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«...destruidoras...» Essencialmente por causa da vil posição a que reduziam a pessoa e a obra de Cristo. Para os gnósticos, em sentido algum Cristo era «ímpar», como «o Filho de Deus», pois seria apenas uma, dentre muitas emanações angelicais ou «aeons», um, dentre muitos mediadores e salvadores. A obra de Cristo seria significativa, mas não sem-par. Evidentemente, não viam valor em sua morte como expiação definitiva pelo pecado. Imaginavam que a destruição do corpo físico é que os libertaria do pecado, e de que agora a alma é libertada de seus maus resultados através de ritos mágicos. Quanto à ética, os gnósticos combatidos nesta epístola se mostravam totalmente licenciosos. Eles «puniam» o corpo com a depravação, pois imaginavam que tal ação cooperaria com o desígnio do sistema do mundo, que visaria destruir eventualmente o corpo, a fim de libertar a alma, permitindo-lhe o seu vôo para a realidade última. Portanto, suas doutrinas éticas transtornavam a conduta cristã apropriada, levando os homens para longe de Deus, e não para perto do Senhor, pois «sem a santificação, ninguém verá a Deus» (Hb 12:14).

«...renegarem o Soberano Senhor que os resgatou... » Os gnósticos negavam que Cristo é «soberano» no sentido afirmado pelo cristianismo normal, fazendo dele apenas um dos «aeons». Para eles, Cristo não era «Senhor» em qualquer sentido veraz, porque seria apenas um senhor entre muitos. Mas o trecho de Cl l:15 e ss. expõe vários pontos da superioridade de Cristo, e essa passagem foi escrita especificamente para definir o «senhorio» de Cristo, em contraste com a posição secundária que os gnósticos atribuíam a ele. O termo aqui usado no grego é «despotes», traduzido aqui por «Senhor». E esse era o vocábulo que os gnósticos davam ao governante absoluto. Dentro do sistema deles, havia muitos senhores angelicais, as emanações divinas ou «aeons», muitos dos quais tinham áreas sobre as quais governavam. E os gnósticos não tinham Cristo como o Senhor dos anjos, conforme se aprende em Ef 1:19 e ss. e Cl 1:16. Esse vocábulo é usado por dez vezes no N.T.; por cinco vezes com o sentido de «senhor de uma casa», o governante absoluto de um clã. Ao referir-se a Deus, indicava Deus como o dirigente absoluto do universo. (Ver Lc 2:29 e At 2:24 quanto a esse vocábulo usado para indicar «Deus». Comparar com Cl 2:19 quanto ao fato que os gnósticos não reputavam Cristo como «o Cabeça»).

«...os resgatou...» O grego diz aqui «agoradzo», «comprar». (Comparar com 1 Pe 1:18,19, onde se vê que é o «sangue de Cristo» que compra, embora ali tenha sido usado um termo grego diferente do daqui. Assim sendo, a negação feita pelos gnósticos tinha algo a ver com a rejeição da expiação de Cristo como elemento de valor no plano de redenção. Eles pensavam que poderiam livrar-se do pecado abusando do corpo, promovendo a fuga da alma para o campo da realidade final, mediante ritos mágicos, conhecimento para os iniciados—um falso misticismo. Tudo isso, segundo a concepção deles, eliminava a necessidade de expiação pelo pecado, segundo o N.T., ensina. A maioria dos gnósticos tinham o ponto de vista «docético» sobre Cristo, isto é, que a sua natureza humana seria ilusória; sua vida como homem seria apenas um «ato» fingido da parte de um «aeon» qualquer; e os sofrimentos de Cristo não teriam sido reais, o que eliminava mais ainda qualquer valor em sua expiação. Essa é a idéia de expiação, subentendida no presente versículo. Cristo torna os homens propriedades suas, mediante o valor de seu sangue vertido.

Não precisamos estender a metáfora a ponto de perguntar «para quem» foi pago o preço. Alguns têm imaginado que o preço foi pago para «Satanás», e outros pensam que o foi para «Deus», como que para aplacá-lo e tirar-lhe da mente a idéia de julgar aos homens. A metáfora usada não precisa ser desenvolvida a esse ponto; e, se assim o fizermos, cairemos em problemas teológicos. (Ver Hb 10:29; onde são mencionados aqueles que pisavam ao Filho de Deus e profanavam o sangue do pacto, através do qual tinham sido consagrados).

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«...repentina destruição...» O fim de tais heréticos é a perdição, e não a salvação, embora totalmente imaginassem que seu sistema, por eles mesmos criado, pudesse levá-los à salvação. (Comparar isso com Judas 4,15,17). A condenação dos hereges é certa e terrível, sendo pintada como algo que subitamente lhes sobrevirá. (Ver Cl 3:6). No presente versículo, mui provavelmente, o autor pensava sobre a «parousia» como aquele acontecimento que trará súbita perdição para os hereges; e ele esperava tal acontecimento para seu próprio período de vida terrena, conforme fica demonstrado no terceiro capítulo desta epístola. Seja como for, conforme Deus computa o tempo (ver 2 Pe 3:8), esse acontecimento e a subsequente perdição eterna dos heréticos não podem estar mesmo longe.

«Há um melancólico humor na advertência que todo aquele que introduz heresias destruidoras na igreja, traz súbita perdição para si mesmo, 'reservados para o dia do juízo e destruição dos homens ímpios' (2 Pe 3:7). O jogo de palavras com o termo grego 'apoleia' (perdição) é intencional e eficaz». (Barnett, in loc).

Se este versículo não ensina outra coisa, pelo menos ensina que Cristo soluciona, em favor do crente, o problema de lealdade. Ser alguém cristão é ter a Jesus como seu Senhor; e ninguém tem a Cristo como seu Salvador se também não o tem como seu Senhor e vive de modo a ser uma comprovação desse fato. 2:2: E muitos seguirão as suas dissoluções e por causa deles será blasfemado o caminho da verdade;

É impossível alguém salientar em demasia o imperativo moral do evangelho. Ele nos ensina que a verdadeira santidade, produzida pelo processo santificador, é imprescindível para a salvação. (Ver 2 Ts 2:13, que declara exatamente isso; e ver 1 Ts 4:3 quanto a «santificação»). Na vida do crente, a santidade deve ser algo mais do que meramente «forense», ou seja, envolve mais do que o decreto divino que nos declara santos em Cristo. Também deve tornar-se uma realidade vivida diariamente. O trecho de Rm 3:21 mostra que o crente deve vir a participar da própria santidade de Deus. E isso não é mero ideal teológico; é mister que se torne uma realidade na vida do crente. Por essa razão é que o Senhor Jesus ordenou-nos ser «santos como é santo vosso Pai celestial» (Mt 5:48). De fato, não pode haver salvação sem essa santidade. (Ver Hb 12:14). A salvação pode ser comparada a uma corrente com vários elos. Acha o homem em qualquer lamaçal onde ele se encontra submerso. Desce até qualquer nível de depravação. É nesse ponto em que o indivíduo pode começar a confiar em Cristo, experimentando a conversão. Porém, a corrente de ouro da salvação não nos abandona ali e nem meramente declara que somos santos, se de fato não o somos. Pelo contrário, o homem sai da masmorra e segura firme o elo da santificação. Por intermédio disso ele é levado até à «glorificação», ao elo da corrente de ouro que atinge a realidade final, aos lugares celestiais (Ef 1:3). Sem esse elo da santificação interrompe-se a corrente e a salvação não pode tornar-se uma realidade.

Exatamente nesse ponto é que os gnósticos tanto falhavam. Transformavam a santidade cristã em licenciosidade. Imaginavam que toda a forma de depravação corporal ajudaria a destruir o corpo; e eles pensavam que o corpo físico é a sede do pecado, por participar da matéria, o princípio pecaminoso, segundo eles pensavam. Daí supunham tolamente que um homem pode abusar de seu corpo mediante várias depravações, especialmente de natureza sexual, sem que a alma em nada fosse prejudicada. Portanto, os gnósticos não entendiam que tanto a alma como o corpo são santos, e que tanto a primeira como este último serão finalmente remidos (ver 1 Co 15:20,35,40). Portanto, o trecho de Rm 12:1,2 retrata a santidade como algo obtido mediante a apresentação do «corpo» a Deus, como um sacrifício vivo.

O que sucedia no sistema gnóstico é que a antiga ética paga veio a ser aceita como prática oficial, através dessa distorção teológica. O vício e o pecado se tornaram a prática

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oficial e aceita, mediante o truque sofista que a depravação ajuda na destruição do corpo, e que isso é recomendável. Os gnósticos, por conseguinte, haviam desistido da batalha moral, tendo divorciado a santificação da inquirição espiritual. (Isso pode ser confrontado com o trecho de 2 Tm 3:6, que afirma: «Pois entre estes se encontram os que penetram sorrateiramente nas casas e conseguem cativar mulherinhas sobrecarregadas de pecados, conduzidas de várias paixões»). Os «falsos mestres» incluíam, em suas doutrinas, que a licenciosidade sexual é benéfica para o progresso espiritual do indivíduo; sempre conseguiam encontrar certas mulheres, nas igrejas, dispostas a se submeterem a toda a forma de atos depravados, tendo aceito a posição gnóstica.

«...será infamado o caminho da verdade...» Os próprios mestres falsos haveriam de difamar a ética cristã e sua doutrina de santidade. Mas os de fora, contemplando a igreja conduzir-se como um bordel, e seus «líderes» agindo como se fossem os gerentes do mesmo, haveriam de «zombar» do «caminho cristão», e com razão.

Na epístola de Judas, a lassidão em questões sexuais (perversão focalizada acima de todas, neste versículo), é tratada como um correlato de heresia. (Ver Jd 4,6,8,13,18 e 23). Notemos que aqui o grego usa uma forma plural da palavra aqui traduzida por «práticas libertinas», o que provavelmente indica que os falsos mestres se ocupavam de grande variedade de depravações sexuais, juntamente com outros hábitos morais duvidosos. Seus atos eram variados e freqüentemente repetidos. «...caminho...»A fé cristã veio a ser conhecida como «o Caminho». (Ver At 9:2; 22:4; 24:14 sobre isso). O «Caminho» seria ridicularizado por estranhos ao virem que tornava os homens ainda mais paganizados que antes. Tudo isso negaria o poder de Cristo, o qual é «...o Caminho...», no dizer de João 14:6, transformando-o em agente de depravação, e não de santidade. (Isso pode ser confrontado com o trecho de Rm 2:24, onde se vê que Paulo acusou os judeus de fazer Deus ser blasfemado entre os pagãos, devido à sua conduta, em contradição à doutrina judaica. Comparar também com 2 Co 6:3, onde Paulo exorta os líderes da igreja a terem cuidado com sua conduta, para não ser «censurado» o ministério). Se fazemos parte da igreja, e especialmente se ocupamos posição de liderança, o que fazemos afeta a avaliação de outras pessoas acerca de Cristo e da fé que ele ensinou. Somos os únicos representantes de Cristo com que algumas pessoas contam. Eles o julgam, com a sua fé, por nosso intermédio. De nada adianta dizer: «Não deveria ser assim». Esse é um fato inegável, que não se pode mudar.

«A semelhança de Pied Pipers, suas palavras suaves engodam os que buscam o novo ensinamento, conduzindo os inocentes à lenta mas firme desintegração de suas mentes, afetos e vontades». (Homrighausen, in loa). Os falsos mestres transmutam «o Caminho» no «caminho de Balaão» (ver 2 Pe 2:15).

«...verdade...» Temos aqui o evangelho em sua verdade ética, representado nos escritos e na predica apostólicos. Provavelmente os gnósticos exageravam e pervertiam a doutrina cristã (especialmente paulina) da «liberdade» acerca de questões indiferentes, transformando-a em libertinagem. Desse modo é que eles «deturpavam» o sentido dos escritos paulinos (ver 2 Pe 3:16). Assim também Ecumênio descreveu os nicolaitas e os gnósticos como «extremamente profanos em suas doutrinas e em sua conduta». Clemente de Alexandria fala acerca das «vidas despudoradas» dos falsos mestres, o que trazia «infâmia» contra o bom nome do cristianismo. 2:3: também, movidos pela ganância, e com palavras fingidas, eles faraó de vos negócio; a condenação dos quais já de largo tempo não tarda e a sua destruição não dormita.

Este versículo é paralelo a Jd 11 e 16. Os falsos mestres abandonam o juízo correto e o senso espiritual, em troca da «obtenção» do erro de Balaão, tornando-se lisonjeadores, a fim de obterem vantagens financeiras. Os falsos mestres, se utilizam da «religião» para

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obterem vantagens pecuniárias. Aproveitam-se dos sentimentos religiosos de outros a fim de promoverem seu próprio enriquecimento. Jesus repreendeu os líderes religiosos do judaísmo, devido ao seu hábito de «roubarem» as casas das viúvas. Obtinham as propriedades das viúvas por meios ilegais, ou então encorajavam-nas a doarem as mesmas ao templo; e daí, o passo era bem curto, até cair tudo nas mãos deles. (Ver Mt 23:14). Quantos líderes das igrejas evangélicas ortodoxas de nossos dias tiram proveito dos sentimentos de mulheres idosas e as encorajam a «lembrarem da igreja» em seus testamentos, assim furtando a família dessas viúvas? Outros se têm enriquecido através de campanhas de evangelização e de curas, que atraem muitos milhares de pessoas. Mais de um «evangelista» de nossa época se tem feito um milionário. Portanto, é possível que pessoas «ortodoxas» se envolvam na «comercialização» da fé cristã.

Os falsos mestres tiravam bom proveito de suas «atividades religiosas». Eles anelavam por satisfazer seus desejos físicos; cobiçavam dinheiro. A acusação de avareza é lançada contra os falsos mestres mediante os termos «...palavras fictícias...» O evangelho gnóstico, que parecia tão bom e atrativo, uma vez apanhada a atenção dos símplices, para os falsos mestres se transformava em um meio de vida, em uma fonte de ganhar dinheiro ilicitamente. O autor sagrado, pois, contrasta essa corrupta mensagem com a «verdade» (o evangelho pregado pelos apóstolos, ver o segundo versículo deste capítulo). Assim, também Paulo falou sobre homens sinceros em contraste com OS que «mercadejam» com a Palavra de Deus (ver 2 Co 2:17; comparar também com Tg 4:13). Os falsos mestres exploravam o sexo e as aventuras financeiras. Eram exploradores do corpo das mulheres que de nada suspeitavam, bem como exploradores financeiros dos discípulos que conseguiam fazer. Não admira que epístolas como as de Colossenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, 2 Pedro, Judas e as três epístolas de João tivessem sido escritas contra tais homens. É triste a situação quando homens supostamente espirituais se tornam «comerciantes, e não profetas».

«...para eles, o juízo lavrado há longo tempo não tarda...» Isso concorda com outras passagens bíblicas que pintam o pecado como algo que Se acumula, envolvendo uma condenação necessária, até que o cálice encha e transborde, na forma de um severo e final julgamento. A acumulação de pecado não pode resultar em julgamento «tardio». Espumeja e ferve, até que resulta em julgamento.

«O juízo é representado como algo vivo, desperto e expectante. Desde há muito o juízo deu início à sua carreira, em sua vereda destruidora; e a sorte dos anjos que caíram, e o dilúvio e a destruição de Sodoma e Gomorra foram apenas ilustrações incidentais de seu poder; e desde então não se tem mostrado tardio... “Continua avançando, forte e vigilante como quando a princípio saltou do peito de Deus, e não deixará de atingir o alvo que lhe foi apontado desde a antigüidade». (Salmond e Lillie).

«O juízo foi proferido desde a antigüidade no caso de muitos pecadores similares; não é letra morta, e também sobrevirá prontamente a esses homens». (Bigg, in loc).

O autor sagrado tinha em mente o julgamento que será inaugurado pela «parousia», um fato que ele não via como distante. Então é que o julgamento será levado à sua plena fruição (ver o nono versículo). O presente versículo ensina, como o N.T. o faz por toda a parte, que o «julgamento» terá lugar quando da «parousia» ou segundo advento de Cristo, e não quando da morte física do individuo. embora, sem dúvida, algumas formas preliminares de julgamento se verifiquem no «mundo intermediário», tal como sucede até mesmo neste mundo. O que fica implícito em 1 Pe 4:6, em vinculação com 1 Pe 3:18-20, é que, até ao tempo da «parousia», a redenção é possível, embora sempre por intermédio de Cristo e da fé nele.

«...não dorme...» Trata-se o julgamento de algo como que vivo, que tem um desígnio e um propósito inevitáveis. O termo aqui traduzido por «dorme» é o mesmo aplicado às

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virgens imprudentes da parábola de Mt 25:5. No dizer de Strachen, in loc, em Is 5:27 essa palavra «...é usada para indicar os instrumentos da ira de Deus, utilizados contra aqueles que são culpados de abusos sociais». (Este versículo pode ser comparado com 1 Tm 6:5, onde a obtenção de dinheiro é vinculada à «impiedade», como se a profissão religiosa falsa fosse meio de iniquidade).

A justiça é inevitável. A demora aparente não é prova de que a justiça foi esquecida neste mundo. Precisamos postular uma justiça eventual, que trará a retribuição ou o galardão. É óbvio que isso não ocorre plenamente neste mundo. Contudo, confiamos em Deus, de que ele trará isso eventualmente. De outro modo, este mundo seria governado caoticamente. Moralmente falando, deve existir Deus, porquanto somente a «divindade» pode ter inteligência e poder suficientemente profundos para saber como julgar e galardoar. Por conseguinte, a imortalidade também deve ser um fato, pois neste mundo isso não se cumpre. Assim, pois, a concretização da justiça deve esperar o mundo posterior, e os homens deverão sobreviver à morte física, a fim de poderem ser julgados. Há uma eterna lei da colheita, segundo a semeadura, a qual se aplica a todos os homens. (Ver Gl 6:7,8). Até mesmo os crentes receberão aquilo que tiverem praticado «...por meio do corpo», no dizer de 2 Co 5:10. Bibliografia R. N. Champlin

Acautelai-vos dos falsos mestres (2:1-3)

O pensamento de Pedro ainda demora-se nas profecias do Antigo Testamento. Em Israel no meio do povo surgiram falsos profetas além dos verdadeiros; e agora a história estava se repetindo. Seus leitores tinham falsos mestres no seu meio. Ao descrevê-los neste capítulo, oscila entre o tempo presente e o futuro, conforme faz Paulo num contexto semelhante em 1 Timóteo 4:1 ss. Sem dúvida, isto é porque vê que cumprem as profecias tanto do Antigo Testamento quanto de Jesus (Dt 13:2-6; Mt 24:24, etc.). Sempre tem havido falsos mestres entre o povo de Deus, e sempre os haverá. Que esta é a interpretação correta da mudança de tempo verbal, e não, conforme alguns sustentam, a falta dalgum escritor do século II de ser consistente nos seus arcaísmos (i. e., continuamente deslisa para o tempo presente) é sugerido por uma passagem em Justino Mártir (m. 165 d.C.) que cita esta passagem. Diz ao judeu Trifão: "E assim como havia falsos profetas contemporâneos com vossos profetas santos, assim também há muitos falsos mestres entre nós, contra os quais nosso Senhor nos advertiu a precaver-nos. Muitos deles ensinaram doutrinas ímpias, blasfemas e profanas, falsificando-as em nome dEle; ensinaram, também, e continuam ensinando, aquelas coisas que procedem do espírito imundo do diabo." Falsos profetas podem significar que falsamente alegavam ser profetas, ou que profetizavam coisas falsas; provavelmente os dois. Os homens eram tão indignos de confiança quanto a mensagem. Mayor fez uma coletânea interessante das características dos falsos profetas que estavam marcantemente presentes na situação à qual Pedro se dirige. Seu ensino era bajulação; suas ambições eram financeiras; suas vidas eram dissolutas; sua consciência era amortecida, e seu alvo era o logro (ver Is 28:7; Jr 23:14; Ez 13:3; Zc 13:4). Povo traduz laos, palavra esta que é empregada para o povo de Deus na LXX bem como no Novo Testamento. Conforme os discursos atribuídos a ele em Atos, e conforme o ensino em 1 Pedro também, Pedro declara que os cristãos foram incorporados no verdadeiro Israel de Deus; não há nenhuma dicotomia entre o Antigo Testamento e o Novo. Estes falsos mestres (note-se a rápida mudança de pseudoprophetai para pseudodidaskaloi, o que sugere que talvez os falsos mestres não fizeram, afinal das

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contas, muitas pretensões quanto a serem profetas) são o tipo de homens (hoitines) que sempre serão achados introduzindo dissimuladamente ou sub-repticiamente pontos de vista heréticos. O verbo introduzir (pareisagein) tem duas implicações: significa "trazer para dentro lado a lado com" (sc. o ensino verdadeiro) e também "introduzir secretamente" (cf. Gl 2:4). Heresias destruidoras (lit. "de destruição" — outro hebraísmo) significa opiniões que destroem a verdadeira fé. A palavra hairesis (lit. "escolha") era aplicada a um partido ou seita (cf. At 5:17; 15:5) ou aos pontos de vista sustentados por semelhante seita. Nos escritos paulinos, a tendência a divisões (Gl 5:20; 1 Co 11:18-19) e a independência arrogante (Tt 3:10) são as ênfases heréticas relevantes, mas já nos tempos de Inácio (c. de 110 d.C.) a palavra é usada em nosso sentido de "falsa doutrina."

O efeito do seu ensino foi que foram até ao ponto (kai) de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou. Esta frase fascinante nos mostra algo daquilo que a cruz significava para nosso autor, porque resgatou enfatiza tanto a seriedade da triste situação do homem quanto o alto custo do livramento efetuado por Cristo (cf. Mc 10:45; 1 Tm 2:6; Ap 5:9). A palavra agorazõ é empregada para a redenção de Israel para fora do Egito (cf. 2 Sm 7:23). Na cruz, como no Êxodo, vemos a intervenção pessoal de Deus em prol do Seu povo, não somente para livrá-lo de um triste destino de escravidão e morte, mas também para redimi-lo "para ser seu povo", conforme Samuel 7:23 continua. Deus redime o homem afim de que o modo de vida transformado deste seja um crédito ao seu Salvador; a fim de que, conforme a expressão em 1 Pedro 4:2, "já não viva de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus".

Ora, estes falsos mestres entendiam, sem dúvida, a libertação oferecida pela cruz de Cristo; a liberdade era um dos seus brados de guerra (2:19). Mas não reconheciam o viver santo imposto pelo Crucificado. Mediante suas vidas negavam o Senhor que os comprou. O cristianismo é, realmente, uma religião de liberdade; mas também exige amoroso serviço totalmente dedicado a Jesus, o Redentor. Paulo, Judas, Tiago e outras personalidades de destaque no Novo Testamento deleitavam-se em chamar-se Seus douloi, "escravos". Os falsos mestres não eram assim. É interessante que um movimento libertino semelhante em Corinto elicitou uma resposta semelhante, em palavras semelhantes, de Paulo (1 Co 6:19, 20; 7:23).

Nosso autor está em harmonia com o restante do Novo Testamento (ver Rm 6 e Hb 10) ao asseverar claramente que o homem não pode correr com a caça e também com os caçadores. O homem que procura servir a Deus e também ao seu próprio-eu está na estrada larga para a repentina destruição, pois ou a morte ou a parusia o cortará no meio da sua carreira. (Para um uso semelhante de tachinē, "repentino", "dentro em muito breve", para a morte do próprio Pedro, ver 1:14).

A negação do Senhor que os resgatou é primariamente ética, e não intelectual. Tem dois efeitos. Primeiramente, espalha-se para infeccionar outras pessoas, razão por que Pedro, neste capítulo, é tão veemente nas suas condenações. Em segundo lugar, traz descrédito à causa cristã. O tema de o nome de Deus ser blasfemado por causa da vida insatisfatória do Seu povo é um lugar-comum na Bíblia (ver Rm 2:24; e Is 52:5, que influenciou tanto a ideia geral quanto a forma específica de expressão aqui; o tempo futuro é devido a esta alusão). Pedro, não sem justo motivo, já se mostrara muito sensível neste assunto em 1 Pedro 3:16; 4:14-15. Os relatos confusos dos excessos cristãos que se acham em escritores pagãos tais como Tácito, Suetônio e Celso mostram quão necessário era para os cristãos viverem vidas inculpáveis (ver Tg 2:7; At 19:9; Tt 2:5; Rm 2:24).

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Aselgeia (práticas libertinas) é uma palavra forte para a imoralidade temerária e endurecida, a própria antítese do caminho da verdade (ou "o caminho verdadeiro", NEB, se o genitivo tēs alētheias for um hebraísmo). Existe um só caminho da verdade, o próprio Jesus Cristo (Jo 14:6); é por isso que a negação dEle é a mesma coisa que o afastamento da verdade. NEle, pois, os aspectos éticos e cognitivos da verdade (enfatizados, respectivamente, pelo pensamento hebraico e grego) estão coerentes. A frase o caminho da verdade advém de Salmo 119:30, e ocorre na literatura do início do século II, não somente na Apologia de Aristides, como também no Apocalipse de Pedro. As duas citações parecem ser alusões a esta passagem, pois a frase não se acha em qualquer outra parte do Novo Testamento. São alusões casuais como estas que fortalecem a causa em prol de uma data recuada para esta Epístola, visto que a data da Apologia bem como do Apocalipse é de c. de 130 d.C.

O comentário de Calvino sobre este versículo é muito apto: "Nada há que perturbe as mentes piedosas tanto quanto a apostasia... Para evitar que ela destrua nossa fé, Pedro interpõe a predição tempestiva de que esta mesma coisa acontecerá."

Se v. 2 fala da imoralidade dos falsos mestres, v. 3 diz respeito à sua ganância e à sua condenação. É instrutivo contrastá-la com 1 Tessalonicenses 2:5, onde Paulo nega que é um mestre deste tipo, como os sofistas do mundo greco-romano, cuja preocupação principal não era a verdade, mas, sim, o sucesso no argumento. Este fato explica a referência às palavras fictícias, ou argumentos falsos, que tinham o propósito, não de ajudar os ouvintes, mas, sim, de espoliá-los (daí a menção da avareza). O verbo emporeuomai, fazer comércio de, tem um fundo comercial, "explorar" (RSV), "fazer dinheiro com". Como os falsos mestres em 1 Timóteo 6:5, estes homens pensavam que o cristianismo pudesse ser fonte de ganho comercial para si mesmos.

Os termos em que Pedro retrata a perdição dos hereges, neste versículo e no seguinte, parecem afetados e estereotipados a Käsemann. "O inimigo", ele alega, "é posto fora de combate de modo muito primitivo; primeiramente, por meio de acusá-lo de depravação moral, depois, por meio de fazer chover sobre ele provérbios bem escolhidos (como no v. 22.), e, em terceiro lugar, por meio de pintar o castigo dos heréticos em termos lúgubres." Sem dúvida, condenações rigorosas tais como aquela que Pedro pronunciou parecem antiquadas e inapropriadas aos leitores no século XX, porque, em grande medida, perdemos qualquer sentido do perigo diabólico do falso ensino, e ficamos tão embotados quanto à distinção entre a verdade e a falsidade como ficamos quanto à distinção entre o certo e o errado no comportamento. Mas é impossível estar sensível, como estava Pedro, à importância ética e intelectual do "caminho da verdade" (i.e., o próprio Jesus) sem ficar enfurecido quando aquele caminho é desconsiderado, mormente pela igreja. Pedro reitera que o juízo, pronunciado há muito tempo no Antigo Testamento, está iminente (lit. "desde a antiguidade não tem sido ocioso", RSV). Para o pensamento, ver sobre Judas 4 (cf. 1 Pe 4: 17). Termina, dizendo que sua destruição (é a terceira vez em três versículos que apōleia foi usada) não está "começando a dormitar." NEB interpreta bem: "a perdição os aguarda com olhos insones." A única outra ocorrência no Novo Testamento desta palavra vivida é aplicada às virgens sonolentas em Mateus 25:5. Fonte: http://www.ebdareiabranca.com/Pedro/PedroLicao11Ajuda1.htm

Falsos Mestres "Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema" (Gl 1.9).

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O cristão não deve jamais perder de vista as diretrizes da Palavra de Deus em todos os sentidos, porque elas, por serem divinas, são completas, finais e imutáveis. A lição deste semana trata de um assunto muito atual: a propagação de falsos mestres na igreja. O apóstolo Pedro comparou os falsos mestres que assolavam a igreja em sua época, aos falsos profetas que, no antigo Israel, perturbavam o povo de Deus com seus desvios e mensagens mentirosas. Aqueles hereges, como os de hoje, aproximam-se do rebanho apenas com interesses pessoais e escusos, sem qualquer compromisso com a vida santa que deve caracterizar os homens de Deus. A condenação desses homens malignos é certa e terrível. Todo aquele que introduz heresias destruidoras na igreja, traz súbita destruição para si mesmo. Tais pessoas em breve serão julgadas por tudo o que praticam contra o próprio Deus. Desde os primórdios da igreja, falsos mestres têm perturbado o povo de Deus disseminando heresias e feito desviar dos caminhos do Senhor muitos crentes incautos. É necessário e urgente que o povo santo de Deus esteja de "olhos abertos" para não ser ludibriado por esses emissários do Inferno. É mister que os salvos tenham discernimento e conheçam suas principais características e modo de atuação. Geralmente os falsos mestres têm enorme interesse pela popularidade. Vivem à procura de benesses e mantêm um modo de vida caracterizado pela luxúria, além de serem atrevidos, arrogantes e blasfemos. Sua mensagem é fingida e, normalmente, negam o Senhor Jesus, que os resgatou. A Igreja do Senhor não pode se deixar levar por esses ardilosos inimigos da obra. Precisamos combatê-los e refutá-los severamente com a Palavra de Deus. São homens astuciosos que dizem ser autênticos porta-vozes de Deus. Todavia, sua mensagem prova que são impostores procurando desarraigar e desviar o santo rebanho para longe da verdade e do Sumo Pastor, suscitando dúvidas e desordens de todo o tipo. Deus não se deixa escarnecer. Esses obreiros da iniquidade receberão no juízo do Todo-Poderoso o galardão da injustiça, e perecerão na sua própria corrupção. Características dos falsos mestres Assim como no Antigo Testamento surgiram diversos falsos profetas que desviavam o povo de Deus, muitos falsos mestres infiltraram-se na igreja no início da era cristã, conturbando-a e causando grande estrago. Hoje a situação não é diferente. Há falsos obreiros espalhados por todos os lugares. Precisamos estar alertas para não sermos engodados por ensinos errôneos. No intuito de advertir-nos, a Palavra de Deus nos apresenta várias características que facilitam a identificação dos falsos profetas ou falsos mestres. 1. Interesse na popularidade. Os falsos profetas descritos no Antigo Testamento estavam mais interessados em serem pessoalmente populares. Não era do seu interesse dizerem a verdade. Eles falavam para agradar o povo. Anunciavam e tinham visões de paz quando Deus dizia que não haveria paz (Ez 6.14; 13.16). Nos tempos do rei Acabe, Zedequias (o falso profeta) afirmou que Israel venceria os sírios. Micaías, o profeta de Deus, predisse o desastre se Acabe fosse à guerra. Como Zedequias era popular e sua mensagem agradável, Acabe não se intimidou, saiu à guerra contra os sírios e pereceu tragicamente (1 Rs 22). Algo parecido aconteceu nos tempos de Jeremias (Jr 28). Uma das características dos falsos mestres é dizer aos homens o que lhes agrada, e nunca

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mostrar-lhes a verdade de Deus de que precisam. Sua meta é a popularidade, e seu critério, o aplauso. 2. Busca de benefícios pessoais. "Seus sacerdotes ensinam por interesse e os seus profetas adivinham por dinheiro" (Mq 3.11). Ensinam "o que não convém, por torpe ganância" (Tt 1.11). Divulgam a piedade como causa de ganho, fazendo do Cristianismo uma atividade comercial (1 Tm 6.5). Os falsos mestres procuravam tirar proveito de suas atividades religiosas. Apanhavam os incautos com seu "evangelho corrupto", e do fruto disso eles tornavam em uma fonte para ganhar dinheiro ilicitamente. Epístolas como Colossenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, 2 Pedro, Judas e as três epístolas de João foram escritas contra estes falsos ensinadores (Sl 14.4). 3. Tinham vida dissoluta (v.2). Em 2 Pe 2.2, o termo "dissoluções" equivale a "práticas libertinas". Isso indica que os falsos mestres entregavam-se às depravações sexuais e outras práticas e hábitos abomináveis. Por causa da imoralidade deles e de seus muitos seguidores, o Cristianismo estava sendo difamado. O mesmo acontece hoje, quando vemos na televisão e nos jornais, falsos obreiros sendo acusados de imoralidade. Os não-crentes, ao tomarem conhecimento disso, acabam generalizando e por causa do procedimento imoral de alguns todos são difamados. A Bíblia relata que em diversas circunstâncias o nome de Deus foi blasfemado por causa da vida indigna de muitos dentre o seu povo (ver Rm 2.24). Pedro já havia abordado esse assunto em sua primeira epístola. Ver 1 Pe 3.16; 4.14,15; Tg 2.7; Tt 2.5. 4. Eram atrevidos, arrogantes e blasfemos (v.10). Os falsos mestres não tinham o menor respeito por ninguém. Blasfemavam das coisas celestiais e não respeitavam as autoridades eclesiásticas. Eram presunçosos e não hesitavam em desafiar os homens ou até mesmo a Deus. Andavam arrogantemente pelos seus próprios caminhos, não importando qual fosse o resultado dos seus atos pecaminosos. É possível que você já tenha se deparado com pessoas com essas características. Fuja imediatamente delas! A mensagem dos falsos mestres 1. Mensagem fingida (vv.1-3). Os falsos mestres nunca entravam numa comunidade dizendo aberta e claramente quem eram e em que criam. Mostravam-se astutos, procurando firmar o pé antes de dizerem sua posição. O termo original usado no versículo 1 corresponde a "agir secretamente com malícia". Isso implica que não agiam publicamente, mas ensinavam em cultos particulares, clandestinos, inclusive nos lares. Paulo também advertiu-nos a respeitos daqueles que entram nas casas dos crentes para ensinarem outras doutrinas e desviarem famílias inteiras da verdade (2 Tm 3.62). É assim que age o espião e o traidor, com os propósitos de prejudicar e destruir, ocultando a sua verdadeira intenção. Aqueles eram mestres que, por um espírito de ganância, comercializavam o evangelho: transmitiam ensinamentos atraentes mas errôneos, em troca do dinheiro de suas vítimas, a fim de promover ainda mais seus ministérios e sustentarem seu luxuoso padrão de vida. Eles não se apresentam como adversários do Cristianismo; pelo contrário, aparecem como os mais refinados frutos da igreja cristã. De forma insidiosa, inconsciente e imperceptível, as pessoas vão sendo seduzidas e afastadas da verdade de Deus. Oremos insistentemente ao Senhor pedindo-lhe que nos guarde desses mensageiros do Inferno.

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2. Negavam o Senhor que os resgatou. Não viam valor algum na morte de Cristo como expiação definitiva pelo pecado. Muitos deles afirmavam que a natureza humana de Cristo era ilusória; sua vida como homem era apenas uma ficção, e os sofrimentos de Cristo não foram reais, invalidando assim o valor da expiação por Ele efetuada. Natureza humana de Cristo (O Filho de Deus reuniu as naturezas divina e humana. Sendo homem, sentiu o peso que aflige os mortais; sem cometer, porém qualquer pecado (Jo 1.14; Gl 4.4; Hb 2.14,17,18)). Refutando a mensagem dos falsos mestres 1. A expiação de Cristo. Os Falsos mestres negavam a doutrina da expiação de Cristo como algo que tem valor para o retorno do homem a Deus. Para eles, Cristo não era um Salvador todo-suficiente, mas era apenas um dos que contribuiriam para a salvação da humanidade. Não viam qualquer valor em sua morte como expiação definitiva pelo pecado. Sua mensagem contrasta com a do Novo Testamento, que apresenta Cristo como o Salvador de todos os homens (Cl 1.20; 1 Tm 2.5). 2. A santificação. O evangelho nos ensina que a santidade é imprescindível para a salvação (2 Ts 2.13; 1 Ts 4.32). Na vida do crente a santificação deve ser uma realidade diária. Não pode haver salvação sem esta santidade (Hb 12.14). Os falsos mestres ensinavam que a depravação moral ajudaria a destruir o corpo, sem que a alma fosse prejudicada. Ora, o que a Palavra ensina é que tanto a alma quanto o corpo são santos e que ambos serão finalmente remidos (1 Co 15.20,35,42,43). O fim dos falsos mestres 1. A destruição deles não dorme. O julgamento dos falsos mestres tem um desígnio e um propósito inevitáveis, por causa de sua natureza hipócrita. A demora aparente não é prova que o juízo foi esquecido. Há uma lei espiritual eterna da colheita, segundo a semeadura, que se aplica a todos os homens (Gl 6.7,8). O pecado não perdoado se acumula, até que, como cálice, transborde, trazendo um severo e final julgamento divino (Rm 2.5; Ap 18.5,6; Is 51.17,22). 2. A misericórdia divina em meio ao juízo (vv.5-7). Vemos aqui a misericórdia de Deus em meio ao juízo. Assim como aconteceu com Noé e sua família e Ló, haverá livramento para os que permanecerem fiéis ao Senhor. Concluindo Os falsos profetas estão hoje infiltrados por toda parte, procurando desviar os crentes incautos, da verdade. Embora declarem-se líderes espirituais, sua real preocupação é com as coisas materiais; seu único desejo é satisfazer os apetites da carne. Devemos saber identificá-los e refutar seus nefastos ensinos, divorciados da Palavra de Deus. Para isto é mister que estejamos em perfeita comunhão com o Todo-Poderoso, caso contrário, seremos confundidos e enganados com seus erros. "O amor e a lealdade do crente a Cristo e à Palavra de Deus devem levá-lo a rejeitar e considerar inimigo do evangelho de Cristo qualquer crente professo (ministro ou leigo) que não for zeloso da 'doutrina de Cristo' e dos apóstolos (v.9). Todos aqueles que distorcem a doutrina bíblica e a ela se opõem, não devem ser recebidos na comunhão da igreja".

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1) Deus adverte o crente a ter cuidado, para não aceitar os falsos ensinos (v.8). É preciso cuidado, porque 'já muitos enganadores entraram no mundo' (v.7). 2) O crente deve classificar todos os enganadores que não permanecem na doutrina de Cristo, como mestres sem Deus (v.9) e sob condenação divina (Gl 1.9). 3) Deus proíbe o crente de apoiar ou sustentar financeiramente o trabalho de tais mestres e de participar do mesmo. Isso seria participar com eles na oposição dos ensinadores que transigem com a verdade (v.11). 4) Essas palavras solenes de João, inspiradas pelo Espírito Santo, são uma ofensa para muitos na igreja hoje. Acham que a admoestação de João está destituída de amor ou espírito de união. Porém, o ensino de João parecerá errado somente para quem não tem interesse pela glória de Cristo, pela autoridade da Palavra de Deus e para as pessoas que se destroem pelo seu repúdio à verdade de Deus". (Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, pág. 1968). "O estado dos crentes que se misturam com os falsos mestres. O pecado é verdadeiramente uma servidão, e traz consigo o próprio castigo. Haja vista o que acontece com os falsos profetas e suas vítimas. Terminam num estado simplesmente lastimável; pior que antes (2 Pe 2.20). Os pecadores que jamais ouviram o Evangelho têm maior esperança de arrependimento do que aqueles que, embora tendo-o um dia conhecido, apostataram de fé. São cães que voltaram ao próprio vômito (2 Pe 2.22). Essa ilustração pode não ser agradável, mas descreve muito bem o estado de quem abandona a verdade de Cristo. Pedro insta-nos a que nos afastemos dos falsos mestres, para que não sejamos vítimas de suas manobras. Estejamos, pois, sempre prontos para apresentarmos as razões da esperança que há em nós" (Sempre Prontos, CPAD, pág. 98). Bibliografia E. Lira

JESUS CRISTO É SENHOR Quero colocar esta ajuda como uma forma de aumentar o conhecimento dos professores em relação ao significado do Senhorio de Jesus; surgiu quando falei sobre o Arianismo; sou professor da extensão do IBE, e dando a matéria Historia Eclesiástica e falando do concilio de Nicéia em 325 sobre a controvérsia ariana, achei o texto abaixo de John Stott muito interessante para a nossa lição 8, Principalmente na dimensão moral. Leiam.

O evangelho dos apóstolos não se ateve ao fato e ao significado da cruz e da ressurreição, mas foi mais além, concentrando-se no seu propósito: "Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor, tanto de mortos como de vivos"(Rm 14.9). E fato conhecido que o mais primitivo, mais curto e mais simples de todos os credos cristãos era a afirmação "Jesus é Senhor". Aqueles que reconheciam este senhorio eram batizados e recebidos na comunidade cristã. Afinal, como escreveu Paulo, sabia-se muito bem, por um lado, que: "Se com tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo"(Rm 10.9); e, por outro lado, que "ninguém pode dizer: Senhor Jesus! senão pelo Espírito de Deus"(1 Co 12.3). A primeira vista, pode parecer muito estranho que duas palavras gregas - Kyrios lesous "Senhor Jesus" (pois não existe nenhum verbo conectivo em nenhum dos versículos citados no parágrafo anterior) - pudessem servir como base satisfatória para se

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identificar e acolher alguém como cristão genuíno. Não seriam estas palavras terrivelmente inadequadas? Ou, pior ainda, não seria isto um reducionismo teológico? A resposta a estas perguntas é "não". Afinal de contas, as duas palavras em questão, que soam como uma confissão cristã mínima, são impregnadas de significado. Elas têm enormes implicações, tanto para a fé cristã como para a vida cristã. Elas expressam, primeiro, uma profunda convicção teológica acerca do Jesus histórico, e, segundo, um radical comprometimento pessoal com ele, como consequência disso. É esta convicção e este compromisso que eu proponho explorarmos neste capítulo. Convicção teológica Talvez a melhor forma de analisar as implicações doutrinárias de se chamar Jesus de "Senhor" seja olhar novamente para Filipenses 2.9-11. Estes versículos constituem o clímax do que às vezes é chamado de carmen Christi, "o cântico de Cristo". O que Paulo está citando é provavelmente um hino cristão primitivo acerca de Cristo. E, ao fazê-lo, ele dá a esse cântico o seu imprimátur apostólico. Ele afirma que Cristo, embora compartilhasse da natureza de Deus e gozasse de igualdade com ele, mesmo assim esvaziou-se de sua glória e se humilhou para servir, tornando-se obediente a ponto de morrer numa cruz (versículos (5 a 8). E continua (versículos 9 a 11):

Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.

Como um hino cristão, usado pela igreja e endossado pelo apóstolo, ele indica o que os cristãos primitivos pensavam de Jesus. Há aqui três pontos a destacar. Primeiro, Paulo deu a Jesus um título divino. Isto é, referiu-se a ele como "Senhor". É bem verdade que o termo kyrios era usado com diferentes significados, dependendo do contexto. Às vezes significava simplesmente "senhor", como quando Maria Madalena pensou que o Jesus ressuscitado fosse o jardineiro(Jo 20.15) e quando os sacerdotes pediram a Pilatos que o sepulcro fosse guardado com segurança(Mt 27.62-63). Mas quando usado pelos discípulos em relação a Jesus, kyrios era mais do que uma forma educada de tratamento; era um título, como quando eles o chamavam de "o Senhor Jesus" ou "o Senhor Jesus Cristo". Isto fica bem claro no contexto do Antigo Testamento. Quando o Antigo Testamento veio a ser traduzido para o grego em Alexandria, cerca de 200 a.C, os devotos estudiosos judeus não sabiam como lidar com o nome sagrado Javé ou Jeová. Eles eram reticentes demais em pronunciá-lo; não sentiam liberdade para traduzi-lo ou mesmo para transliterá-lo. Portanto, eles colocavam em seu lugar a paráfrase ho kyrios ("o Senhor"), razão pela qual "Javé" ainda aparece, na maioria das versões, como "o Senhor". (Aos amantes da numerologia bíblica talvez interesse saber que isto ocorre 6.156 vezes na Septuaginta. Pelo menos é o que já li em algum lugar; eu nunca tive vontade nem paciência para conferir...) O que é realmente impressionante é que os seguidores de Jesus, sabendo que, pelo menos em círculos judaicos, ho kyrios era o título tradicionalmente dado a Javé, Criador do universo e o Deus da aliança de Israel, não tinham escrúpulos de aplicar o mesmo nome a Jesus, nem viam nenhum mal em fazê-lo. Era a mesma coisa que dizer que "Jesus é Deus".

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Segundo, Paulo transferiu para Jesus um texto divino. Em Isaías 45.23 Javé fizera um solilóquio:

Por mim mesmo tenho jurado; da minha boca saiu o que é justo, e a minha palavra não tornará atrás. Diante de mim se dobrará todo joelho, e jurará toda língua.

Agora Paulo (ou o autor do hino que ele está citando) tem a audácia de extrair este texto de Isaías e reaplicá-lo a Jesus. A implicação é inevitável. A honra que o profeta disse ser devida a Javé, o apóstolo diz ser devida a Cristo; além disso, era para ser universal, envolvendo "todo joelho" e "toda língua". Um exemplo similar é o uso que o Novo Testamento faz de Joel 2.32. O profeta havia escrito que "todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo". No Dia de Pente-costes, porém, Pedro reaplicou esta promessa a Jesus, exortando seus ouvintes a crerem em Jesus e a serem balizados em seu nome(At 2.21, 38). Da mesma forma, mais tarde, Paulo escreveu que o Senhor Jesus "é o Senhor de todos, rico para com todos que o invocam", pois "todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo"(Rm 10.12-13). Assim, o poder salvador de Javé para com Israel tornou-se o poder salvador do Jesus, tanto para os crentes judeus como para os gentios. Em terceiro lugar, Paulo reivindicou para Jesus uma adoração divina. Qualquer que seja a nossa interpretação sobre a confissão da língua de que ele é Senhor, o dobrar os joelhos é certamente um culto. Na verdade, no Novo Testamento a oração é, com frequência, dirigida a Jesus, especialmente quando Paulo relaciona "Deus, nosso Pai" com "nosso Senhor Jesus Cristo" como sendo, ao mesmo tempo, a fonte de graça e o objeto da petição(Por exemplo, 1 Ts 1.1; 3.11; 2 Ts 1.2, 12; 2.16). Convém lembrarmos também Hebreus 1.6: "E todos os anjos de Deus o adorem." Nos documentos do Novo Testamento assume-se que graça brota de Cristo e que a ele são devidas a oração e a adoração. De fato, a cristolatria (adoração a Cristo) precedeu a cristologia (a doutrina desenvolvida de Cristo). Mas, se Cristo não é Deus, então cristolatria é idolatria, como Atanásio percebeu claramente no século IV ao argumentar contra a heresia ariana que dizia ser Cristo um ser criado. Eis aqui, portanto, três importantes dados contidos no hino cristão que Paulo estava citando: os cristãos primitivos deram a Jesus um título divino ("Senhor"), transferiram para ele textos divinos (concernentes à salvação que ele confere e à honra que ele merece) e lhe renderam culto divino (o dobrar dos joelhos). Estes fatos são indiscutíveis e são ainda mais impressionantes por serem naturais e quase casuais. Além disso, convém notar que os autores do Novo Testamento nem argumentaram se era certo ou não identificar tão ousadamente Jesus como Deus, pois não havia necessidade alguma de o fazerem. Paulo defendeu, e com toda ousadia, o evangelho da justificação pela graça por meio da fé, porque ele estava sendo desafiado. Mas o senhorio divino de Jesus (a verdade de que "há um só Senhor, Jesus Cristo"), isso ele não debateu(1 Co 8.6), o que deve significar que o assunto não estava em discussão. Assim, poucos anos depois da morte e ressurreição de Jesus, sua divindade já fazia parte da fé universal da igreja. A confissão de que "Jesus é Senhor" tem uma segunda inferência teológica, a saber, que ele tanto é Salvador como é Deus. A tradição em alguns círculos evangélicos é distinguir claramente entre Jesus como Salvador e Jesus como Senhor, e até sugerir que a conversão implica em crer nele como Salvador, sem necessariamente submeter-se a ele como Senhor. A motivação para este ensinamento até que é boa, pois visa salvaguardar a verdade da justificação somente pela fé, sem introduzir pela porta dos fundos a justiça

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pelas obras (obedecer a Cristo como Senhor). No entanto, esta posição é biblicamente indefensável. Jesus não só é "nosso Salvador e Senhor", único e indivisível, como também seu senhorio implica sua salvação e, na verdade, a proclama. Ou seja, seu título de "Senhor" é um símbolo de sua vitória sobre todas as forças do mal, que foram postas debaixo de seus pés. O próprio fato de podermos ser salvos deve-se a esta vitória. E precisamente por ser Senhor que ele é capaz de ser Salvador(Cf. At 2.33-39). Não pode haver salvação sem senhorio. As duas afirmações, "Jesus é Senhor" e "Jesus salva", são virtualmente sinônimos. Compromisso radical Conforme já vimos, a palavra kyrios podia ser usada simplesmente como uma designação respeitosa. Mas era mais comum empregá-la referindo-se a proprietários de terras ou de escravos. A posse trazia consigo o pleno controle e direito de disponibilidade. É com essa compreensão que Paulo, Pedro e Tiago começam suas cartas, designando-se a si mesmos "servo de Jesus Cristo". Eles sabiam que ele os havia comprado à custa de seu próprio sangue, e que, por isso mesmo, pertenciam a ele e estavam inteiramente a seu serviço. Este ser possuído pessoalmente por Cristo e estar pessoalmente comprometido com ele vai impregnar cada parte da vida de seus discípulos. E tem pelo menos seis dimensões. A primeira é a dimensão intelectual. Eu começo com a mente porque ela é a cidadela central da nossa personalidade e efetivamente governa nossas vidas. Apesar disso, ela é muitas vezes a última fortaleza a render-se ao senhorio de Jesus. A verdade é que nós preferimos pensar nossos próprios pensamentos e ponderar nossas próprias opiniões; e se os dois entrarem em conflito com o ensino de Jesus, pior para ele! Mas Jesus Cristo reivindica autoridade sobre nossas mentes. "Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim", disse ele(Mt 11.29). Seus ouvintes judeus o teriam compreendido imediatamente. Afinal, eles estavam acostumados a falar sobre o "jugo da Tora" (a lei), a cuja autoridade se submetiam. Agora Jesus falava de seu ensino como sendo um jugo. Seus seguidores tinham que tornar-se seus pupilos, seus discípulos, sujeitar-se a suas instruções, aprender com ele. Não precisavam ter medo disso, pois, por um lado, ele mesmo era "manso e humilde de coração"; e, por outro lado, o jugo era "suave" e sob sua leve disciplina eles encontrariam "descanso" para suas almas. Em outras palavras, o verdadeiro "descanso" reside em submeter-se ao jugo de Cristo (e não em resistir a ele). O apóstolo Paulo, posteriormente, iria escrever algo similar, ao expressar sua decisão de "levar cativo todo pensamento à obediência de Cristo"(2 Co 10.5). Mas o cristão contemporâneo, na sua ânsia por reagir com sensibilidade aos desafios do mundo moderno, não pode, para tanto, tentar livrar-se da autoridade de Jesus Cristo a fim de fazê-lo. Um discípulo não tem a liberdade de discordar de seu divino mestre. O que nós cremos acerca de Deus e do ser humano, seja homem ou mulher, criado à sua imagem, ou sobre a vida e a morte, os deveres e o destino, a Escritura e a tradição, a salvação e o juízo, e muito mais ainda, tudo isso nós aprendemos com ele. Existe em nossos dias, tão cheios de especulações estranhas e loucas, uma urgente necessidade de retomarmos nossa posição correta aos pés de Cristo. "Só quem obedece sem reservas à ordem de Jesus", escreveu Dietrich Bonhoeffer, "e submete-se sem resistências ao seu jugo, acha leve o seu fardo e sob sua doce pressão recebe o poder de perseverar no caminho certo. A ordem de Jesus é difícil, insuportavelmente difícil, para quem tenta resistir a ela. Mas para quem se submete voluntariamente, o jugo é suave e o fardo é leve."(Dietrich Bonhoeffer, The Cost of Discipleship (1937; ET SCM, 1948), p. 31) Segundo, o compromisso radical com Jesus Cristo tem uma dimensão moral. Por todo

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lugar ao nosso redor os padrões morais estão desabando. As pessoas estão confusas, sem saber se ainda resta algum absoluto moral. O relativismo permeou o mundo e tem se infiltrado na igreja. Até certos crentes evangélicos deturpam a Escritura no que se refere à lei. Eles citam as conhecidas declarações do apóstolo Paulo, de que "o fim da lei é Cristo"( Rm 10.4) e "não estais debaixo da lei"( Rm 6.14) e, fazendo vista grossa ao contexto, distorcem o seu sentido, dizendo que a lei já foi abolida, que nós já não temos mais a obrigação de obedecer a ela, mas somos livres para desobedecer-lhe. Mas o que Paulo quis dizer foi algo completamente diferente. Ele estava se referindo ao caminho da salvação, não ao caminho da santidade. Ele estava insistindo em que, para sermos aceitos por Deus, nós "não estamos sob a lei, mas debaixo da graça", já que somos justificados somente pela fé e não por obras da lei. Mas nós ainda estamos sujeitos à lei moral no que tange à nossa santificação. Como Lutero sempre dizia, a lei nos conduz a Cristo para sermos justificados, mas Cristo nos manda de volta para a lei a fim de sermos santificados. O apóstolo é bem específico quanto ao lugar da lei na vida cristã. Ele insiste em dizer que tanto a obra expiatória de Cristo como o fato de o Espírito habitar em nós têm em vista a nossa obediência à lei. Por que foi que Deus enviou seu Filho para morrer por nossos pecados? Resposta: "A fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós que... andamos... segundo o Espírito"(Rm 8.3-4). E por que Deus colocou o seu Espírito em nossos corações? Resposta: a fim de escrever ali a sua lei(2 Co 3.3, 6). Portanto, a promessa de Deus encontrada no Antigo Testamento quanto à nova aliança poderia se expressar igualmente como: "Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei"(Jr 31.33) e "Porei dentro em vós o meu Espírito, e farei... que guardeis os meus juízos e os observeis"( Ez 36.27). Portanto, Jesus nos conclama à obediência. "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama, será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele."( Jo 14.21) A maneira de provarmos nosso amor por Cristo não é, nem fazendo altos protestos de lealdade, como Pedro, nem entoando cantilenas sentimentais na igreja, mas, sim, obedecendo aos seus mandamentos. A prova do amor é a obediência, disse ele, e o galardão do amor é o fato de Cristo revelar-se a nós. Em terceiro lugar, o compromisso cristão tem uma dimensão vocacional. Isto significa que ele inclui nossa vida de trabalho. Dizer "Jesus é Senhor" nos compromete a servir a vida inteira. Nós não deveríamos hesitar em dizer que cada cristão é chamado a ministrar, ou melhor, dar a sua vida em ministério. Se para você isto parece uma declaração chocante demais, provavelmente é porque está pensando em "ministério" como sinônimo de ministério pastoral ordenado. Mas o que eu estou dizendo é que nós somos chamados a ministrar ou servir (diakonia) de alguma forma. A razão por que se pode dizer isso é que nós somos seguidores de alguém que assumiu "a própria natureza de um servo"( Fp 2.7), que declarou que não tinha vindo "para ser servido, mas para servir"( Mc 10.45) e acrescentou: "no meio de vós, eu sou como quem serve"( Lc 22.27). Portanto, se nós nos dizemos seguidores de Jesus, é inconcebível que gastemos nossa vida de outra forma que não seja servindo. E isto significa que devemos ser capazes de ver nosso emprego ou profissão em termos de serviço. Nosso trabalho diário tem de ser uma esfera mais ampla em que Jesus exerça o seu senhorio sobre nós. Além do nosso empregador terreno, e por detrás deste, temos que ser capazes de enxergar o nosso Senhor celestial. Então poderemos estar "trabalhando para o Senhor, e não para homens", já que "a Cristo, o Senhor, é que estamos servindo"( Cl 3.23-24). Em novembro de 1940 a cidade de Coventry foi devastada por um bombardeio aéreo, que destruiu inclusive sua catedral do século XIV. Depois da guerra, as ruínas da velha

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catedral foram preservadas, construindo-se uma nova ao lado dela. Desde os tempos medievais havia, dispostas em volta das paredes da velha catedral, uma série de capelas corporativas (por exemplo, para os ferreiros, para os vendedores de tecidos, os cortineiros e os tintureiros) simbolizando a íntima ligação entre a igreja e o trabalho. Estas capelas foram destruídas, mas em seu lugar foram dispostos "santuários" ao redor das paredes em ruínas, expressando as implicações da oração "Santificado seja o teu nome": Na indústria, ó Deus, que estejas tu em minhas mãos e em meu fazer. Nas artes, Deus, que estejas tu em meus sentidos e em meu criar. No lar, ó Deus, que estejas tu em meu coração e em meu amar. No comércio, que estejas, Deus, no meu balcão e em meu vender. Na cura, ó Deus, que estejas tu em minha habilidade e em meu tocar. No governar, que estejas, Deus, nos planos e em meu decidir. Na educação, que estejas, Deus, em minha mente e em meu crescer. Na recreação, que estejas, Deus, em meus membros e em meu lazer. Em quarto lugar, o senhorio de Cristo tem uma dimensão social. Isto significa, em parte, que os seguidores de Jesus têm responsabilidades, tanto individuais como sociais — por exemplo, para com a família, a firma, a vizinhança, o país e o mundo. Porém significa muito mais que isso. Em certo sentido, confessar "Jesus como Senhor" é reconhecê-lo como Senhor da sociedade, mesmo daquelas sociedades ou segmentos da sociedade que não reconhecem explicitamente o seu senhorio. Consideremos este dilema que o Novo Testamento coloca diante de nós. Por um lado, diz-nos que Jesus é Senhor. Ele destronou e desarmou os principados e potestades, triunfando sobre eles na cruz ().Deus o exaltou à sua mão direita e colocou tudo debaixo de seus pés(Ef 1.20-22). Consequentemente, ele pode reivindicar para si toda autoridade(Mt 28.18). Por outro lado, nós continuamos lutando contra os principados e potestades das trevas. Eles podem ter sido derrotados e até privados de poder; mas continuam ativos, influentes e sem escrúpulos(Ef 6.11-18). O após-tolo João vai ainda mais longe ao declarar que "o mundo inteiro jaz no maligno"(1 Jo 5.19). De fato, este dilema está bem resumido no Salmo 110.1, que foi citado por Jesus e por vários autores do Novo Testamento: "Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés." Dentro do compasso deste único versículo, o Messias é descrito como alguém que reina à mão direita de Deus e também como quem aguarda a derrota de seus inimigos. Como é que podemos conciliar estas duas perspectivas? Quem é Senhor: Jesus ou Satanás? Está Cristo reinando sobre seus inimigos, ou ele está esperando que se rendam? A única resposta possível para estas questões é "as duas coisas". Temos que distinguir entre o que é de jure (por direito) e o que é de facto (de fato ou na realidade). De jure Jesus é Senhor, pois Deus o elevou ao lugar mais sublime. De facto, porém, é Satanás que reina, pois ainda não foi declarado derrotado nem foi destruído. Como é que esta tensão afeta o nosso discipulado? Já que Jesus é Senhor por direito, isto é, por determinação divina, nós não podemos ser condescendentes em nenhuma situação que negue isso. Nós bem que gostaríamos que aquele que é Senhor fosse reconhecido como tal; esta é a nossa tarefa evangelística. Entretanto, mesmo em uma sociedade que não reconhece especificamente o seu senhorio, ainda nos preocupa que os seus valores prevaleçam, que os povos de todas as raças e religiões tenham respeitados os direitos e a dignidade humana, que mulheres e crianças sejam tratados com honra, que se garanta justiça para os oprimidos, que a sociedade se torne mais justa, compassiva, livre e serena. Por quê? Por que nos preocupamos com estas coisas? Porque Jesus é, por direito, o Senhor da sociedade, e porque ele se preocupa com elas. Isto não seria ressuscitar o velho "evangelho social" do liberalismo teológico, que cometeu o

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equívoco de confundir uma sociedade compassiva com o reino de Deus? Pelo contrário, é levar a sério a verdade de que Jesus é Senhor da sociedade e, portanto, tentar torná-la mais ao gosto dele. Foi durante sua palestra inaugural na abertura da Universidade Livre de Amsterdã, em 1880, que Abraham Kuyper, que mais tarde viria a tornar-se Primeiro Ministro da Holanda, disse: "Não existe uma única polegada de toda a área da vida humana sobre a qual Cristo, que é Soberano de tudo, não declare 'É minha!'" De igual maneira, o Dr. David Gill, do New College, Berkeley, escreveu: "Jesus é Senhor, não só da vida íntima, da vida futura, da vida familiar e da vida da igreja, mas também da vida intelectual e política — tudo é seu domínio."( David W. Gill, The Opening of the Christian Mind (IVP USA, 1989), p. 131) Em quinto lugar, um compromisso radical com Cristo tem uma dimensão política. Não podemos esquecer que Jesus foi condenado tanto por uma ofensa política quanto por uma ofensa religiosa. Na corte judaica ele foi considerado culpado de blasfêmia, por ter chamado a si mesmo Filho de Deus, enquanto que na corte romana ele foi condenado por sedição, por se haver declarado rei, e Roma não reconhecia outro rei além de César. Portanto, as reivindicações de Jesus tinham implicações políticas inevitáveis. Sua declaração de que nós temos que dar "a César o que é de César e a Deus o que é de Deus"( Mc 12.17) pode ter sido deliberadamente enigmática. Mas ela certamente implicava que existem áreas sobre as quais Deus é Senhor e nas quais César não deve se intrometer. Os cristãos primitivos enfrentavam um constante conflito entre Cristo e César. Durante o primeiro século, a megalomania dos imperadores era cada vez maior. Eles mandavam construir templos em sua própria honra e exigiam que seus súditos os reverenciassem como deuses. Estas exigências acabaram entrando em choque direto com o senhorio de Cristo, a quem os cristãos honravam como rei(At 17.7), ou melhor, como "o soberano dos reis da terra"( Ap 1.5). Plínio, que foi governador da Bitínia no século II, descreveu em uma carta para o Imperador Trajano como ele fazia trazer à sua presença na corte os cristãos que suspeitava serem desleais, e como libertava somente aqueles que "ofereciam invocação com vinho e incenso a vossa [sc. o Imperador] imagem"( Epistles, 10:96). Mas como é que os crentes podiam dizer "César é Senhor" se eles haviam confessado que "Jesus é Senhor"? Antes ir para a prisão e a morte do que negar o senhorio de Cristo! A divinização do estado não acabou com o fim do Império Romano. Ainda hoje existem regimes totalitários que exigem de seus cidadãos uma lealdade incondicional, que os cristãos simplesmente não podem prestar. Os discípulos de Jesus devem respeitar o estado e, dentro dos limites, submeter-se a ele; nunca, porém, irão adorá-lo nem dar-lhe o apoio acrítico que ele exige. Por isso é que às vezes o discipulado implica em desobediência. Aliás, a desobediência civil é uma doutrina bíblica, e existem na Escritura uns quatro ou cinco exemplos notáveis disso(Êx 1.15-17; Dn 3 e 6; At 4.19; 5.29). Ela nasce naturalmente da afirmação de que Jesus é Senhor. O princípio é claro, mesmo que sua aplicação possa envolver os crentes em agonias de consciência. É isso aí. Nós temos que nos submeter ao estado, pois sua autoridade provém de Deus e seus oficiais são ministros de Deus(Rm 13.1-7). Mas há um limite: quando a obediência ao estado implica em desobediência a Deus. Neste ponto nosso dever, como cristãos, é desobedecer ao estado a fim de obedecer a Deus. Pois, afinal de contas, se o estado abusa de sua autoridade dada por Deus e tem a presunção, seja de ordenar aquilo que Deus proíbe, seja de proibir aquilo que Deus ordena, nós precisamos dizer "não" ao estado a fim de dizer "sim" a Cristo. Como diz Pedro, "Antes importa obedecer a Deus do que aos homens"( At

5.29). Ou, em palavras de Calvino, "obediência aos homens não deve transformar-se em desobediência a Deus"( Walter Bauer, A Greek-English Lexicon ofthe New Testament and Other Early Christian Literature,

traduzido e adaptado para o inglês por W. F. Arndt e F. W. Gingrich (University of Chicago Press, 2 ed. 1979)).

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Vejamos um exemplo bem recente, da África do Sul. Em 1957, Hendrik Verwoerd, então Ministro dos Negócios Nacionais, anunciou um projeto de lei cuja "cláusula referente à igreja" impediria qualquer associação racial em "igreja, escola, hospital, clube ou qualquer outra instituição ou lugar de lazer". O arcebispo anglicano da Cidade do Cabo na época era um gentil académico chamado Geoffrey Clayton. Ele e seus companheiros de clero, embora com relutância e apreensão, resolveram desobedecer. Então ele escreveu ao Primeiro Ministro, dizendo que, se o projeto se transformasse em lei, ele seria "incapaz de obedecer-lhe ou de aconselhar nosso clero e pessoal a fazê-lo". Na manhã seguinte ele morreu, talvez sob a dor e o sofrimento do desafio da desobediência civil. O projeto foi aprovado, de uma forma que não chegaria a prejudicar os líderes da igreja mas que iria penalizar os adoradores negros. Depois que se transformou em lei, foi lida em todas as igrejas anglicanas uma carta convocando tanto o povo como o clero a desobedecerem a ela. Em sexto lugar, o compromisso com Cristo tem uma dimensão global. Afirmar que "Jesus é Senhor" é reconhecer seu senhorio universal. Afinal, Deus o "exaltou sobremaneira"(Fp

2.9), assim como nós deveríamos prestar-lhe hyperypso - uma palavra que não ocorre em nenhum outro lugar no Novo Testamento e que pode até ter sido cunhada por Paulo. Ela significa que Deus o elevou "à mais elevada das alturas". E o propósito de Deus ao fazer isto foi que todo joelho se dobrasse e toda língua o confessasse como Senhor. Nós não temos liberdade alguma de impor qualquer limite à repetição da palavra "todo". Portanto, se Deus deseja que todo o mundo reconheça a Jesus, este deve ser também o nosso desejo. Os hindus falam sobre "o Senhor Krishna" e os budistas do "Senhor Buda", mas nós não podemos aceitar essas reivindicações. Só Jesus é Senhor. Ele não tem rivais. Não existe incentivo maior para a missão mundial do que o senhorio de Jesus Cristo. Missão não é, nem uma interferência impertinente na vida privada de outras pessoas, nem uma opção dispensável que pode ser rejeitada. Pelo contrário, missão é uma dedução inevitável do senhorio universal de Jesus Cristo. A princípio a afirmação dessas duas palavras - Kyrios Iesous - parecia completamente inofensiva. Mas nós vimos que ela tem ramificações que vão muito longe. Além de expressar nossa convicção de que ele é Deus e Salvador, ela também indica nosso radical comprometimento com ele. Esse compromisso tem dimensões intelectuais (submeter nossas mentes ao jugo de Cristo), morais (aceitar seus padrões e obedecer às suas ordens), vocacionais (gastar nossas vidas em seu serviço libertador), sociais (procurar impregnar a sociedade com os seus valores) e globais (zelar pela honra e glória de seu nome). Bibliografia John Stott

A SUTILEZA DE SATANÁS NO FIM DOS TEMPOS "Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo" (Cl 2.8). Firmes na Palavra, poderemos desmascarar as sutilezas e os ataques de Satanás contra a Igreja de Cristo. Portanto, lembre-se do ensino de Paulo em 1 Timóteo 4.1 "Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios".

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O cerne da presente lição encontra-se no versículo 8. Neste, há um divisor entre a compreensão positiva e negativa da doutrina de Cristo demonstrada por três expressões: "segundo os homens" (kata anthrõpõn); "segundo o mundo" (kata tou kosmou); e "segundo Cristo" (kata Christon). As duas primeiras, não apenas opõe-se a última, mas a combatem. Fazem parte daquilo que Paulo denominou de "filosofias" e "vãs sutilezas". Estas, procedem de fontes humanas e malignas, enquanto a terceira, fundamenta-se na revelação divina em Cristo. "Segundo os homens", refere-se à crença em um conjunto de tradições orais ou lendárias que, pela sua antiguidade, parecia ser merecedora de crédito e aprovação. Contudo, não passava de sutileza ou engodo (apatè). "Segundo o mundo", difere da primeira, pois enquanto a expressão "segundo os homens" baseia-se nas lendas artificiosas, esta, na adoração aos espíritos ou "aeons". Portanto, a religião professada em Colossos era constituída de um fundamento teórico antigo que formava a doutrina e fortalecia a crença na adoração a espíritos intermediários entre Deus e os homens. Estas tradições e sutilezas opunham-se ao corpo de doutrina apostólico e a adoração ao Deus único e verdadeiro. Desde os tempos bíblicos, Satanás vem usando os seus agentes a fim de levar o povo de Deus a desacreditar na Bíblia, na divindade e na obra redentora de Cristo. Temos de estar devidamente preparados para detectar e desmascarar suas sutilezas. Sem dúvida, esse é um dos maiores desafios da Igreja de Cristo nestes últimos dias. OS ARDIS DE SATANÁS 1. Seus disfarces. Desde a fundação da Igreja, os falsos mestres vêm disfarçando-se entre os filhos de Deus para disseminar suas heresias. Jesus disse que os mestres do erro apresentam-se "vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores" (Mt 7.15). A Bíblia classifica os tais como "falsos apóstolos" e "obreiros fraudulentos", identificando-os como agentes de Satanás que se transfiguram "em ministros da justiça" (2 Co 11.13-15). Devemos, por isso, acautelar-nos deles. 2. Suas estratégias. Os expositores sectários preocupam-se com a aparência, pois costumam apresentar o seu movimento como um paraíso perfeito (2 Tm 3.5). Infeliz-mente, muitos são os que caem nessas armadilhas. Uma vez fisgados por eles, dificilmente conseguem libertar-se, uns por causa da lavagem cerebral que recebem, outros, em razão do terrorismo psicológico e da pressão que sofrem de seus líderes. Seus argumentos são recursos retóricos bem elaborados e persuasivos, para convencer o povo a crer num Jesus estranho ao Novo Testamento (2 Co 11.3). A PERÍCIA DOS HERESIARCAS 1. "Palavras persuasivas" (v.4). Os falsos mestres, a quem o apóstolo se refere, estavam envolvidos com o legalismo judaico: circuncisão (Cl 2.11), preceitos dietéticos e guarda de dias (Cl 2.16). Há também várias referências ao gnosticismo (Cl 2.18, 23). O verbo grego pâralogizomai, "enganar, seduzir com raciocínios capciosos", descreve com precisão a perícia dos falsos mestres na exposição de suas heresias. O nosso cuidado deve ser contínuo para não nos tornarmos presas desses doutores do engano. 2. O Jesus que recebemos (vv.6,7). O apóstolo insiste que devemos andar de acordo com o evangelho, a fim de ficarmos arraigados, edificados e firmados na Palavra de Deus. Entretanto, a mensagem dos agentes de Satanás é sempre contra tudo o que cremos, pregamos e praticamos. Às vezes, há alguns pontos aparentemente comuns entre nós e eles, e nisso reside o perigo, visto que é por onde tais ensinos se introduzem. 3. A simplicidade do evangelho. A mensagem do evangelho é simples e qualquer ser humano, independentemente de seu preparo intelectual e origem, é capaz de entender;

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basta dar lugar ao Espírito Santo, que convence o homem "do pecado, da justiça e do juízo" (Jo 16.8). A conversão ao cristianismo não é resultado de estratégia de marketing, nem de técnicas persuasivas (1 Co 2.4). Não é necessário, portanto, um "curso de lógica" para alguém ser salvo ou entender os princípios da fé cristã. AS SUTILEZAS DO ERRO 1. "Ninguém vos faça presa sua" (v. 8a). O significado de "presa" revela o que acontece, ainda hoje, com os adeptos das seitas. O verbo grego sylagõgeõ, "levar como despojo, prisioneiro de guerra, sequestro, roubo", descreve o estado espiritual dos que seguem os falsos mestres. Um dos objetivos dos promotores de heresias é escravizar as suas vítimas para terem domínio sobre elas (2.18; Gl 4.17). Hoje, muitos estão nos grilhões das seitas como verdadeiros escravos. 2. "Por meio de filosofias" (v. 8b). Não há indícios de que o apóstolo esteja fazendo alusão às escolas filosóficas da Grécia. O estoicismo e o epicurismo eram as filosofias predominantes do mundo romano na era apostólica e são mencionadas em o Novo Testamento (At 17.18). As "filosofias" de que Paulo trata são conceitos mundanos, con-trários à doutrina e à ética cristã. Qualquer sistema de pensamento, ou disciplina moral, era, naqueles dias, chamado de "filosofia". 3. "Vãs sutilezas" (v. 8c). Engano e sutileza, nesse contexto, significam a mesma coisa. A palavra grega usada para sutileza é apaté, isto é, "engano" (Ef 4.22), "sedução" (Mt 13.22). É usada para referir-se a pessoas de conduta enganosa e embusteira que levam outras ao engano. É mediante tais recursos que os mestres do erro conduzem suas víti-mas ao desvio. Tais sutilezas impedem as pessoas de verem a verdade e, como consequência, tornam-se cativas das astúcias de Satanás. 4. "Segundo a tradição dos homens" (v. 8d). Não é a tradição apostólica nem judaica, mas um sincretismo de elementos cristãos, judaicos e pagãos: angelolatria e ascetismo, por exemplo. Eram práticas que se opunham ao evangelho. Trata-se de tradição humana(Crença em um corpo de tradições lendárias que, pela sua antiguidade, era merecedora de

crédito e anuência.) ao passo que o evangelho veio do céu (Gl 1.11, 12). OS RUDIMENTOS DO MUNDO 1. O significado de "rudimentos" (v. 8). A expressão "rudimentos do mundo", literalmente é: "elementos do universo", ou "rudimentos do mundo", em nossas versões. A palavra stoicheion, "fundamento, elemento", aparece na filosofia grega para os quatro elementos da natureza: terra, água, ar e fogo que, segundo ensinavam os físicos gregos, compõem a totalidade do mundo (2 Pe 3.10, 12). Para outra escola filosófica da Grécia, significava "elementos espirituais", ou "espírito vivo", que se difundia por toda a natureza como força vivificante. 2. O apóstolo se refere a que "rudimentos"? Essa palavra é usada, também, com o sentido de "princípio básico" (Hb 5.12) e de "elementos judaicos" ou "adoração cósmica" do sincretismo helênico (Gl 4.3, 9). O termo deve ser analisado à luz do contexto e, aqui, mostra que são uma referência aos poderes demoníacos que se opunham a Cristo. Veja que o apóstolo contrapõe esses rudimentos a Cristo: "segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo". 3. A deidade de Cristo em jogo. Cristo é superior a todos os poderes (Ef 1.21). Os crentes, portanto, não precisam dos stoicheia, ou poderes demoníacos, apresentados pelos falsos mestres. As vãs filosofias são oriundas dos homens e do reino das trevas e não de Cristo. Há uma diferença abissal entre Cristo e os rudimentos do mundo. Não se

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trata, por conseguinte, de um demiurgo dos gnósticos, nem dos poderes cósmicos dos adeptos da Nova Era (v. 9). 4. O significado de "toda a plenitude da divindade" (v.9). Temos, neste contexto, o Deus verdadeiro com toda a sua plenitude. O sentido de "divindade", no texto original, é "deidade". Um conceituado dicionário de grego afirma: "deidade, difere de divindade, como a essência difere da qualidade ou atributo". Na Tradução do Novo Mundo, as Testemunhas de Jeová diluíram o v. 9, traduzindo-o por "qualidade divina", para adaptar à Bíblia as suas crenças, atitude própria dos falsos mestres. CONCLUINDO O povo de Deus vive em constante batalha espiritual. O inimigo sempre trabalhou para desviar os crentes da vontade divina, induzindo-os a crenças falsas e práticas que desonram ao Criador. Por isso, devemos estar atentos quando um movimento religioso apresenta-se com persuasão e argumentos aparentemente convincentes. Trata-se, geralmente, de alguém que pretende mostrar-nos algo que não está de acordo com a Palavra de Deus. "O que Significa 'Seita'? 1. Etimologia. O historiador Flávio Josefo e muitos outros escritores antigos usaram a palavra hairesis com o sentido de 'escola' de pensamento, 'doutrina' ou 'religião', sem conotação pejorativa. O verbo grego haireõ, de onde vem o substantivo em foco, significa 'escolher'. Na literatura clássica tem o sentido de escolha filosófica ou política. Todavia, o Novo Testamento traz essa palavra com o sentido de 'divisão, dissensão', pois lemos: 'E até importa que haja entre vós heresias, para os que são sinceros se manifestem entre vós' (1 Co 11.19). A versão Almeida Atualizada traduziu por 'partido'; a NVI, por 'divergências'; a Tradução Brasileira, por 'facção'. A mesma palavra aparece em Gálatas 5.20 sendo traduzida por 'dissensão'. [...] Convém salientar que a palavra grega para 'heresias' em o Novo Testamento, é a mesma para 'seita', hairesis. O termo 'herege', que aparece em Tt 3.10, hairetikos, é adjetivo que vem do referido substantivo grego. O sentido de erro doutrinário, como 'heresia', no campo teológico que nós conhecemos hoje, aparece pela primeira vez em 2 Pedro 2.1. É nessa acepção que refutamos tais heresias. 2. Conceituação. Atualmente a palavra 'seita' é usada para designar as religiões heterodoxas ou espúrias. É uma palavra já desgastada, trazendo em si, muitas vezes, um tom pejorativo. São grupos que surgiram de uma religião principal e seguem as normas de seus líderes ou fundadores e cujos ensinos divergem da Bíblia nos principais pontos da fé cristã. São uma ameaça ao cristianismo histórico e um problema para as igrejas. 3. Problemas. [...] As heresias afetam os pontos principais da doutrina cristã, no que diz respeito a Deus: Trindade, o Senhor Jesus Cristo e o Espírito Santo; ao homem: natureza, pecado, salvação, origem e destino; aos anjos, à igreja e às Escrituras Sagradas. O mais grave erro é quando diz respeito à Divindade. Errar em outros pontos da fé cristã pode até não afetar a salvação, mas a doutrina de Deus é inviolável. Negar 'o Senhor' é trazer sobre si repentina destruição. Os novos movimento internos como a Confissão Positiva e o G-12 não devem ser classificados como seitas, pois além de não afetarem os pontos salientes da fé cristã, seus ensinos e práticas não são necessariamente heresias, mas aberrações doutrinárias. O efeito destrutivo pode ser pior do que os movimentos externos, pois Satanás se utiliza, muitas vezes, da arrogância ou da ignorância dos mentores dessas inovações para

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causar divisões nas igrejas." (SOARES, Esequias. Manual de apologética cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 25-7.) Bibliografia E. Soares

A Cidade de Colossos Colossos era uma cidade importante, situada nas proximidades do rio Meander, no vale do Lico e,

por isso, acompanhava a principal rota comercial que ligava as cidades da Frígia, no leste, com Éfeso, no oeste. Os registros históricos indicam que essa cidade desfrutava de imensa riqueza e prestígio, nos tempos antigos (anterior a 400 a.C.). Graças a seus interesses comerciais, Colossos havia sido uma cidade cosmopolita importante, que incluía diferentes elementos religiosos e culturais. A população judaica devia-se em parte a Antíoco III, que fixou cerca de dois mil judeus da Mesopotâmia e da Babilônia nessa área, em torno do ano 200 a.C. Observa G.L. Munn que "ao redor de 62 a.C. os judeus do vale do Lico eram tão numerosos que o governador romano proibiu a exportação de dinheiro destinado a pagar o imposto do templo." Conforme Cícero, haveria uns dez mil judeus residentes naquela área da Frígia.

A importância de Colossos como cidade diminuiu nos períodos helenístico e romano. Na época do apóstolo Paulo, era a cidade menos importante da área. Registram os historiadores que ela havia sido severamente devastada por um terremoto em 61 d.C. e, diferentemente das cidades vizinhas de Laodicéia (cerca de dezesseis quilômetros a oeste), e Hierápolis (cerca de vinte e cinco quilômetros), Colossos jamais foi reconstruída. O local havia sido completamente abandonado em torno do século oitavo d.C, e até hoje nenhuma obra arqueológica foi realizada em suas ruínas.

A Igreja em Colossos Pouco se sabe a respeito da fundação da igreja colossense. O livro de Atos não registra

especificamente uma visita que Paulo houvesse realizado a Colossos, embora alguns eruditos como Bo Reicke tenham sugerido que o apóstolo poderia ter ido a essa cidade e a outras do vale do Lico, em sua terceira viagem missionária. Teria sido quando Paulo passou "sucessivamente pela província da Galácia e da Frígia" (18:23) e "pela estrada do interior" a caminho de Éfeso (19:1). Para Reicke, isto significa os vales do Lico e do Meander, que teriam sido acessíveis pela estrada comercial que ligava Colossos à Antioquia da Pisídia.

Se isto for verdade, Paulo poderia ser considerado o fundador da igreja. Ele conhece vários membros da congregação (4:7-17; Filemom); os que não o conhecem pessoalmente (2:1) poderiam ser novos convertidos. As evidências internas da epístola induzem o leitor a crer que os colossenses haviam ouvido as boas-novas pela primeira vez da parte de Epafras (1:7), que era de Colossos (4:12), e se tornara um dos colaboradores de Paulo no vale do Lico (4:13). É possível que Epafras tenha ouvido o ensino de Paulo em Éfeso, tenha-se convertido ao cristianismo e voltado para sua terra a fim de fundar ali uma igreja. De acordo com esta reconstrução, Paulo estaria relacionado — indiretamente — à fundação dessa igreja. Dir-se-ia o mesmo a respeito de outras igrejas que foram fundadas como resultado de seu ministério em Éfeso ("de modo que todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, tanto judeus como gregos", Atos 19:10).

Os Falsos Ensinos Os falsos ensinos que estavam ameaçando a igreja colossense são melhor descritos como um sistema

religioso sincrético, isto é, uma mistura de elementos religiosos e filosóficos diversificados, provenientes de culturas orientais, gregas, romanas e judaicas. A Frígia, área em que se localizava a cidade de Colossos, era a terra de Cibele, a grande mãe e deusa da fertilidade. Certas descrições das características das heresias colossenses podem relacionar-se às crenças e costumes dessa seita popular.

Visto que Paulo não enquadra a heresia colossense de maneira sistemática, temos que reconstruí-la com base em algumas palavras e idéias que ele emprega, bem como em nossa compreensão dos sistemas religiosos de seus dias. Os leitores de Paulo já conheciam os pontos básicos de seu ensino, pelo que se tornava desnecessário que o apóstolo os descrevesse em minúcias. É possível que a complexidade do sistema herético teria induzido os cristãos colossenses a crer que ali estava uma solução melhor para as esperanças e temores religiosos do povo, em vez do evangelho simples que haviam ouvido da parte de Epafras.

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Os falsos ensinos tinham vários componentes principais, todos interligados de várias maneiras: Astrologia. Na carta, Paulo adverte seus leitores a respeito de "os rudimentos do mundo" (stoicheia

tou kosmou, 2:8), "os principados e as potestades" (2:15), e "culto aos anjos" (2:18). No pensamento antigo, Moicheia eram os princípios básicos ou fundamentais do conhecimento e da criação, constituindo a totalidade do mundo. Sob a influência do sincretismo helenístico, inclusive a filosofia de Pitágoras, estes "rudimentos do mundo" foram promovidos ao status de "espíritos", personificados como governantes cósmicos, e divinizados de acordo com todos os demais corpos astrais do universo.

Um dos princípios básicos da astrologia é que existe correspondência entre os movimentos dos deuses lá em cima, e as alterações que ocorrem aqui em baixo, na terra. As pessoas acreditavam que suas vidas eram controladas por essas divindades estelares, e por isso procuravam aplacá-las mediante adoração, ou diminuir-lhes o poder mediante a feitiçaria, os rituais mágicos, despachos, e assim por diante. Certas crendices e costumes que Paulo expõe em sua carta relacionam-se à astrologia. Até mesmo o culto aos anjos pode ter vindo da idéia de que eles são poderes que controlam os destinos das pessoas (a sorte), e precisam ser venerados. Lohse sugere que em alguns meandros da especulação judaica, "as próprias estrelas eram consideradas como um tipo distinto de anjos."

Gnosticismo. Este componente da heresia colossense pode explicar algumas referências como "filosofias e vãs sutilezas" (2:8), "tradição dos homens" (2:8), julgamentos "pelo comer, ou pelo beber" (2:16, 20-22), pessoas enfatuadas "sem motivo algum na sua mente carnal" (2:18), "humildade fingida" (2:23), e "severidade para com o corpo" (2:23).

Gnosticismo é o nome que se dá a um sistema religioso complexo, sincrético, em cujo ensino o conhecimento (gnosis) assume importância crucial. Visto que o gnosticismo subsiste numa grande variedade de formas, não há um movimento unificado que possa ser apropriadamente chamado de gnosticismo. Grande parte do debate erudito de hoje centraliza-se ao redor da datação e das doutrinas desta heresia, que confrontou a Igreja em seus primórdios históricos.

Pode-se encontrar em Colossenses alguns traços de cosmologia, soteriologia (teorias concernentes à salvação), e de ética. Os gnósticos aceitavam a idéia grega de um dualismo radical entre o espírito (Deus) e a matéria (o mundo). Ensinavam que a humanidade estaria separada de Deus por uma variedade de esferas cósmicas (usualmente sete), habitadas e governadas por todo tipo de governadores, principados e poderes espirituais. Estas são as regiões em que devemos penetrar, se quisermos obter acesso ao céu.

A salvação, que consiste basicamente da ascensão da alma da terra ao céu, torna-se possível mediante o gnosis. Este conhecimento salvífico está a nossa disposição mediante alguns meios, tais como a instrução doutrinária, ritualismo, a profecia, a iniciação sacramental e a descoberta de si próprio; tudo isso capacita a pessoa a voltar ao reino da luz, onde a alma de novo se une a Deus.

A vida ética dos gnósticos tomou duas direções principais. Alguns partiram para um ascetismo rígido. Por acreditar que o mundo é mau, separaram-se da "matéria" com o objetivo de evitar maior contaminação. Todos os apetites do corpo tinham que ser severamente restringidos. Entretanto, outros gnósticos praticavam a libertinagem, raciocinando que à vista de ser o corpo mau por natureza, a indulgência maior nas práticas imorais não teria quaisquer conseqüências sérias. Além disso, achavam que possuíam um gnosis sobrenatural de sua "verdadeira" natureza, pelo que pouco importava o modo por que viviam.

Os falsos mestres de Colossos apegavam-se a um sistema rígido de leis e regulamentos que julgavam necessário para controlar seu comportamento. Tais regras, combinadas com certas formas de legalismo judaico, explicam "manifesto da liberdade cristã" de Paulo, em 2:16-23. Basicamente ele ensina que tais dogmas são transitórios (2:17), causam divisões (2:18), escravizam (2:20), são temporários (2:22) e inúteis (2:23). Para Paulo, trata-se de "preceitos e ensinamentos dos homens" (2:22), nada tendo que ver com o verdadeiro evangelho que vem de Cristo (2:8).

Religiões de Mistério. O termo religião de mistério é nome dado a uma diversidade de credos e

práticas que existiram em certa época, entre o oitavo e o quarto século a.C. Chamam-se de mistério porque grande parte de seu ensino e atividades ritualísticas se faziam em segredo.

Em Colossenses, pode haver uma alusão aos mistérios nas frases "plenitude da divindade" (2:9), "afetando humildade" e "baseando-se em visões" (2:18). Os iniciados nos mistérios receberiam conhecimento e visões especiais sobre os segredos do universo. Isto, por sua vez, separaria tais pessoas dos não-iniciados, criando divisões na sociedade.

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Judaísmo Helenístico. As referências à circuncisão (2:11), a dias santificados, à festa da lua nova, ao sábado (2:16) e ao culto aos anjos (2:18), definitivamente são elementos judaicos. Entretanto, não se trata do judaísmo ortodoxo da Palestina; antes, é o judaísmo que sofreu o processo da helenização. Assim, faz parte da "filosofia" sincrética (2:8) que ameaçava os cristãos de Colossos. Paulo não seleciona esse elemento judaico, mas ataca-o juntamente com todo o sistema.

A solução paulina para a heresia colossense encontra-se na aplicação do hino a Cristo (1:15-20), que estabelece a preeminência de Cristo no universo (cosmicamente), e na Igreja (eclesiasticamente). Visto ser Cristo superior a todo e qualquer poder do cosmos (1:15-17; 2:10) e ter, efetivamente, derrotado esses poderes na cruz (2:15), por que continuariam os crentes a viver como se ainda se lhes estivessem sujeitos? Os cristãos foram libertados de tais poderes por causa de sua união com Cristo no batismo (2:20).

Grande parte disso aplica-se à vida espiritual do crente. O crescimento, a maturidade e a integridade dos membros do corpo advêm de seu relacionamento com Cristo, a Cabeça (2:19), excluindo o retorno às regras e regulamentos escravizadoras, legalísticos, que Cristo anulou mediante sua morte (2:14). O propósito da exortação de 3:1, e versículos seguintes, é lembrar a esses crentes de que precisam viver eticamente aquilo que lhes pertence, segundo a teologia, visto serem membros do Corpo de Cristo.

O Propósito da Carta Se a razão por que Colossenses foi escrita liga-se ao relatório de Epafras a respeito dos falsos ensinos

que ameaçavam a igreja, daí se segue que o propósito da carta foi advertir seus leitores contra essas heresias, e fazê-los lembrar-se da verdade do evangelho que já haviam recebido, e na qual agora viviam (1:5). Basicamente Paulo está dizendo-lhes que Cristo derrotou os poderes do mal mediante sua morte na cruz (2:15). Isto significa que os falsos ensinos e as leis escravizadoras provenientes da sabedoria humana, e dos espíritos que governam o universo (2:8), nenhuma autoridade exercem sobre os crentes (2:10); a prisão em que antigamente atormentavam as pessoas, na forma de débitos não-pagos, foi cancelada (2:14). Paulo quer que seus leitores entendam esta verdade, pelo que os leva a lembrar-se de que devem andar na luz das tradições que receberam sobre Cristo e o evangelho.

Este fato explica as muitas referências à verdade do evangelho (1:5, 6, 25-27; 2:8, 9, 12, 13), e as admoestações a que se compreenda e se viva tal esperança (1:9, 10, 12, 23, 28; 2:2, 3, 5-7). As exortações éticas (3:1ss.) constituem um lembrete adicional aos colossenses, para que vivam em união com Cristo, e sob a autoridade do Senhor exaltado.

Segundo o modo de Paulo entender o evangelho, não há lugar para nenhum tipo de exclusivismo. Seu conceito do "mistério" que ele foi chamado para proclamar é que judeus e gentios, bem como o universo inteiro, foram incluídos no plano de Deus de redenção (1:20, 25-29). Assim é que ele se regozija porque "em todo o mundo este evangelho vai frutificando" (1:6, 23). O desejo de Paulo é que durante seu encarceramento — e também depois — ele possa continuar sua proclamação desse mistério (4:3, 4).

Um dos perigos dos falsos ensinos em qualquer congregação é que eles distorcem o plano de Deus, transformando-o em exclusivismo. Os que seguem as "tradições dos homens" colocam-se no topo, como elite espiritual iluminada, crendo que sua sabedoria e legalismo tornam-nos diferentes dos demais membros do corpo de Cristo. Em oposição ao exclusivismo, Paulo é inspirado a escrever que os crentes já foram circuncidados na união com Cristo (2:11, 12) e, como resultado de tal união, "não há grego nem judeu" (3:11; observe GNB: "deixa de existir quaisquer distinções entre gentios e judeus").

Autoria A autoria paulina de Colossenses foi aceita universalmente até o erudito alemão E. Meyerhoff vir a

questioná-la em 1893, em grande parte por causa dessa carta depender muito de Efésios. Seguiu-se-lhe F.C. Baur, que ensinava que a heresia descrita em Colossenses só poderia pertencer ao segundo século. A partir de então, alguns eruditos têm entendido que Colossenses é carta paulina, ou se trata de uma das epístolas deutero-paulinas, isto é, seria uma carta escrita por alguém que usa o nome de Paulo.

As questões sobre a autoria centralizam-se nos pontos usuais do vocabulário, estilo e teologia. Colossenses possui um número inusitadamente elevado de hapax legomema, a saber, contém trinta e quatro palavras que não aparecem em nenhuma outra parte do NT. Além disso, há vinte e oito palavras que aparecem no NT, não porém nos escritos de Paulo. Certo número de eruditos questionam se isto poderia ocorrer, não fosse Colossenses obra de outro autor.

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O estilo da carta é algo diferente das outras atribuídas indiscutivelmente a Paulo. Os eruditos observaram que Paulo geralmente trata dos problemas teológicos de maneira vigorosa, ou polêmica (cf. Gálatas, Coríntios, Filipenses). Em Colossenses, o tratamento é amenizado e menos argumentativo. O estilo possui uma qualidade litúrgica, como se fosse um hino, e a carta toda mostra uma quantidade considerável de material tradicional, isto é, ensinamentos cristãos que eram comuns na igreja primitiva, usados por Paulo e outros escritores do NT.

A despeito das diferenças de vocabulário e de estilo, entretanto, quase todos os eruditos concordam em que esses fatores, por si mesmos, não podem decidir a questão da autoria. Alguns acham que "as circunstâncias especiais do contexto e dos propósitos da carta" explicam tais diferenças; outros afirmam que por causa da alta porcentagem de material não-paulino na carta, a saber, material tradicional, torna-se impossível fazer quaisquer comparações confiáveis com as demais cartas de Paulo."

E. Lohse, que declara com firmeza que Colossenses é uma carta deutero-paulina, reconhece que os estudos sobre linguagem e estilo não podem resolver essa questão. Para ele, é o ensino teológico que coloca Colossenses à parte de Paulo, e leva-nos à conclusão de que essa carta é obra de uma escola paulina que usa as cartas de Paulo a fim de dirigir um novo desafio à Igreja.

Em seu minucioso e útil trabalho intitulado "A Carta aos Colossenses e a Teologia Paulina", Lohse examina a Cristologia (o ensino sobre Cristo), a Eclesiologia (o ensino sobre a Igreja), a Escatologia (o ensino sobre o fim dos tempos), e o Sacramentalismo (o estudo sobre o batismo como sacramento) de Colossenses, e chega à conclusão de que em todas essas áreas há diferenças substanciais em relação à teologia de Paulo, conforme o ensino refletido em suas cartas genuínas. É verdade que a situação histórica precisava de algumas formulações teológicas novas, mas as diferenças são divergentes demais, segundo Lohse, para dar-se apoio à autoria paulina.

Entretanto, nem todos os eruditos estão convencidos de que a teologia de Colossenses não seja paulina. Alguns acreditam que a ameaça dos falsos ensinos exigia que Paulo declarasse e aplicasse seu evangelho de modos diferentes, mas negam que o apóstolo o houvesse mudado ou apresentado uma contradição. G. Cannon acusa Lohse de negligenciar o interrelacionamento dessas categorias, e deixar de enxergar o fato de que muitas das idéias que ele rotula de deutero-paulinas podem ser encontradas nas principais cartas de Paulo, e nas declarações teológicas do material tradicional usado em Colossenses.

Outro argumento a favor da autoria paulina é a íntima conexão existente entre Colossenses e Filemom. Visto que a autoria paulina de Filemom raramente é questionada, segue-se que Colossenses também veio da mão de Paulo. Ambas as epístolas contêm o nome de Timóteo (Colossenses 1:1; Filemom 1), e incluem saudações das mesmas pessoas (Colossenses 4:10-14; Filemom 23, 24). Além disso, Onésimo, assunto da carta a Filemom, é mencionado como membro do grupo em Colossos (4:9).

Conquanto todas as evidências contrárias precisem ser avaliadas cuidadosamente, parece razoável concluir com G. Cannon "que o autor de Colossenses foi Paulo, o apóstolo, e que ele escreveu às igrejas do vale do Lico a fim de adverti-las a respeito de ensinos que advogavam costumes que os colocariam numa situação pré-cristã, ensinos que contradiziam tudo que haviam recebido a respeito de Cristo, no evangelho, e nas instruções batismais."

Origem Se Colossenses não foi escrita por Paulo, deve ter sido produto da escola paulina que provavelmente

estava relacionada com Éfeso. Contudo, se Paulo é seu autor, ela pertence então à categoria das "cartas do cativeiro." Há três lugares de origem que normalmente são propostos — Roma, Cesaréia e Éfeso.

Roma. O ponto de vista tradicional, retraçado a partir do livro de Atos, é que Paulo escreveu as cartas

do cativeiro enquanto estava na prisão em Roma (At 28:16-31; veja-se também a obra Ecclesiastical History de Eusébio, 11.22.1, que identifica o lugar do encarceramento de Paulo em Colossenses 4:10 como sendo Roma). A relativa liberdade que Paulo usufruía na prisão, e o companheirismo de seus colaboradores, fazem de Roma um lugar provável. É muito possível, também, que Onésimo, o escravo fugitivo, teria procurado o anonimato de uma grande cidade como Roma.

Todavia, há alguns fatores que pesam contra a aceitação demasiado rápida de Roma como a origem da carta aos Colossenses. Por um lado, a distância entre Roma e Colossos é de cerca de mil e novecentos quilômetros. Teria Onésimo tentado uma viagem tão longa, havendo tão grande risco de ser apanhado? Por outro lado, de acordo com Filemom 22, Paulo esperava ser libertado logo, a fim de visitar Colossos. Seu pedido que se lhe apronte um quarto deixa a impressão de que essa libertação está bem próxima. R.P. Martin

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observa também que uma viagem de Roma na direção do leste, para Colossos, representaria uma mudança na estratégia missionária de Paulo que, segundo Romanos 15:28, significaria partir para o ocidente, para a Espanha.

Cesaréia. Depois de Paulo ser preso em Jerusalém (At 21:27ss.), ele passou dois anos na prisão de Cesaréia, antes de ser levado a Roma (At 23:33-26:32). Bo Reicke, que é um dos principais proponentes deste ponto de vista, argumenta que Cesaréia é o lugar mais propício como origem dessa carta.

Há vários argumentos que apóiam esta opinião. Primeiro, o número de amigos que acompanharam Paulo a Jerusalém, e que estiveram com ele na prisão na Ásia (At 20:4; 24:23; cf. Cl 4:7-14 e Fm 23,24). Segundo, as atividades missionárias que Paulo planejava, ao escrever Colossenses e Filemom, e a remessa dessas cartas para Colossos, por meio de Tíquico, fazem sentido se o ponto de partida é Cesaréia. Terceiro Onésimo teria vindo a Cesaréia porque tinha amigos dessa área, e teria voltado, depois, a Colossos com Tíquico. Estas considerações, ao lado de outras, induziram Bo Reicke a entender que "Filemom e Colossenses foram enviadas de Cesaréia a Colossos cerca de 59 d.C."

Éfeso. Os argumentos segundo os quais houve um encarceramento de Paulo em Éfeso, de onde o apóstolo teria escrito certas cartas como a dirigida aos Colossenses, em grande parte são argumentos derivados do silêncio. Atos não registra nenhuma prisão do apóstolo em Éfeso. Tudo que se pode dizer é que as lutas que Paulo sofreu em Efeso (At 19:23-41) podem ter-se refletido na correspondência dele com os Coríntios (1 Co 4:9-13; 2 Co 1:8-10; 4:4-12; 6:4,5; 11:23,25). A referência a uma luta contra "bestas selvagens" em Efeso (1 Co 15:32) pode ser uma expressão metafórica indicativa de confronto verbal com seus adversários, em vez de luta de caráter físico com animais, como ocorria na arena dos gladiadores. Para Bo Reicke, "trata-se de pura imaginação falar-se de um cativeiro paulino em Éfeso."

A despeito de falta de evidências diretas, um número surpreendente de eruditos apóia a tese do encarceramento efésio, e uma origem efésia para Colossenses. A proximidade entre Éfeso e Colossos, a forte probabilidade de os colaboradores de Paulo (mencionados na carta aos Colossenses e em Filemom) estarem com o apóstolo em Éfeso, mais a gravidade do tumulto ocasionado pela pregação de Paulo, são mencionados como fatores merecedores de consideração. R.P. Martin examinou a maior parte das teorias atuais e concluiu que a carta aos Colossenses "pertence àquele período tumultuado da vida de Paulo, representado em Atos 19-20, quando seus labores missionários foram interrompidos momentaneamente por um período de prisão, como détenu [prisioneiro] perto de Éfeso."

Embora todas estas sugestões a respeito da origem de Colossenses contenham pontos fortes e pontos fracos, não parece haver nenhuma evidência decisiva que nos leve a abandonar a opinião tradicional: Roma. O encarceramento em Éfeso é hipotético e inconclusivo; tal fato, aliado à cristologia cósmica adiantada de Colossenses, fazem que fique mais plausível que a carta tenha surgido num período posterior da vida de Paulo (cerca de 60 d.C), e de um ambiente como o de Roma.

Bibliografia G. Patzia

A SUPERSTIÇÃO RELIGIOSA "Porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele Dia" (2 Tm 1.12b). Superstição religiosa é um conjunto de crendices apoiadas na ignorância, no desconhecido e no medo. Nada tem a ver com a fé que professamos. É provável que você conheça algumas pessoas que apregoam "certas verdades" baseadas em crenças infundadas ou que até mesmo utilizem amuletos e usem expressões com o fim de afastarem maus espíritos. Muitas destas pessoas agem assim por temerem aquilo que desconhecem ou ignoram, ou seja, são supersticiosas. Superstições são crenças alicerçadas sobre sentimentos irracionais, que levam as pessoas, em razão de sua credulidade excessiva, a temerem o desconhecido, sobrenatural. Quem é supersticioso acredita em presságios, encantamentos, sinais, ritos específicos e tantos outros elementos que repousam sobre a fé em coisas irracionais. A

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Palavra de Deus reprova vigorosamente as superstições. Atos dos Apóstolos registra um episódio em que Paulo e Barnabé, quando pelo poder de Cristo curaram a um coxo em Listra, quase foram idolatrados como Júpiter e Mercúrio pelos habitantes daquele país. Os servos de Deus protestaram com veemência contra o ato supersticioso. No Antigo Testamento, eram proibidas as adivinhações (Lv 19.31), a bruxaria, os augúrios a feitiçaria e magia (2 Rs 21.6). Temos de ter muito cuidado para que essas práticas não solapem nossa fé e assolem nossas igrejas; tais como amuletos, pé de coelho, galho de arruda, ferradura de cavalo, dias especiais, crendices, simpatias e magias. A superstição está presente em todas as religiões, novas e velhas. É nociva à fé cristã em razão de levar o indivíduo a temer coisas inócuas e depositar a fé em coisas absurdas. Quem já não viu alguém procurar se proteger com um galho de arruda, com ferradura de cavalo na porta de casa, ou usar uma figa esperando obter sucesso? Os supersticiosos estão inclinados a acreditar em tudo, menos na Palavra de Deus. ETIMOLOGIA 1. O termo grego. O substantivo grego empregado no Novo Testamento correspondente à palavra superstição é deisidaimoniâ. Essa palavra aparece apenas em At 25.19. De modo semelhante, o adjetivo procedente do original significa "piedosos, supersticiosos ou religiosos" (At 17.22). O termo procede de duas palavras gregas cujo sentido é "temor aos demônios, aos espíritos malignos ou as divindades pagãs". Portanto, o vocábulo "superstição" designa um sentimento religioso fundamentado na ignorância, no medo de coisas sobrenaturais e na confiança em coisas ineficazes. Trata-se, por conseguinte, de uma crendice popular baseada em crenças infundadas. 2. O termo em nossas versões. A versão Almeida Atualizada e a Tradução Brasileira traduziram os vocábulos originais por "religião" e "religioso", enquanto a Almeida Cor-rigida, por "superstição" e "supersticioso". Agripa na qualidade de judeu, embora desconhecendo a natureza da questão sobre a ressurreição de Jesus, jamais chamaria essas coisas de mera superstição (At 25.19). O apóstolo Paulo, no areópago em Atenas, como disse alguém, empregou o termo com "amável ambiguidade" (At 17.22). 3. O termo latino. Jerônimo, na Vulgata Latina, traduziu os referidos termos por superstitio, (At 25.19) que significa "superstição, religião, culto, excessivo receio dos deuses, adivinhação, arte de predizer o futuro" e superstitiosus, "supersticioso" (At 17.22). 4. O termo no mundo romano. Havia diferença entre religião e superstição no mundo romano. O cristianismo, mais tarde, adotou essa distinção. Segundo Agostinho de Hipona, o homem supersticioso distingue-se do religioso, citando Varrão (Marco Terêncio

Varrão [Marcus Terentius Varro], 116 a.C. – 27 a.C., filósofo e enciclopedista romano), afirma que o supersticioso teme os deuses como inimigos, e o religioso reverencia-os como pais. A ideia dessa palavra no mundo romano é uma forma antiquada de culto, como deterioração ou algo ultrapassado, rejeitado pela religião oficial. Podemos resumir superstição como a crendice do medo (Jr 10.2). CARACTERÍSTICAS ANIMISTAS 1. Animismo. Apesar da superstição estar presente em todas as religiões, é no animismo que ela praticamente se confunde. Animismo é a crença que atribui vida espiritual ou alma a coisas inanimadas. Os animistas acreditam que plantas e animais possuem alma, que a natureza está carregada de seres espirituais e que o espírito dos mortos vagueia pelos lugares onde as pessoas viviam ou costumavam frequentar (Is 34.14). É consequência da Queda no Éden (Rm 1.23, 25, 28).

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2. Fetiches. Os ídolos representam divindades ao passo que o fetichismo se caracteriza por atribuir propriedades mágicas ou divinas a certos objetos. Em muitos casos, os fetichistas dispensam, a tais objetos, reverência, adoração, gratidão e oferendas, esperando receber graças ou vinganças dessas divindades ou espíritos. SUPERSTIÇÕES DO COTIDIANO 1. Amuletos e talismãs. É a crença no afastamento dos maus espíritos apenas pelo uso de certos objetos como galho de arruda, ferradura de cavalo na porta de casa, pé-de-coelho etc. Muitas vezes, são usados como objetos de adornos. O profeta Isaías incluiu os amuletos na lista de adornos femininos, traduzido por "arrecadas" na Versão Almeida Corrigida (Is 3.20). A palavra hebraica, aqui, é lahash, também usada para encantamento (Ec 10.11; Jr 8.17). Talismã consiste em letras, símbolos ou palavras sagradas, nomes de anjos ou demônios com o objetivo de afastar o mal de quem os usa. 2. Rogos do espirro. "Saúde!", "Deus te crie!", ou, expressão mais erudita como Dominus caetuml, "o Senhor te crie!", hayiml, "vida!", em Israel; são expressões que ouvimos no dia-a-dia quando alguém espirra. Por que não acontece o mesmo quando alguém tosse? Os antigos acreditavam que o espírito do homem residia na cabeça, e um bom espirro era o suficiente para sua fuga e, ao fazer uma pequena prece, ele permanecia na pessoa que espirrou. Hoje, isso já virou etiqueta social. 3. Sexta-feira 13. O número 13 é tido por alguns como bom agouro e para outros como infortúnio. Há até edifícios em que passam do 12° para o 14° andar temendo desgraças. A sexta-feira 13 é considerada um dia de azar. Uns atribuem a superstição sobre o número 13 aos vikings ou a outros normandos. Há também os que atribuem ao cristianismo, já que sexta-feira foi o dia em que Jesus morreu e 13 é uma referência a Judas Iscariotes que, segundo os supersticiosos, era o décimo terceiro homem da reunião da Última Ceia. Mas, não há indício algum para confirmar essa versão. SUPERSTIÇÕES SUPOSTAMENTE BÍBLICAS 1. Segunda-feira azarada. Os judeus não consideram a segunda-feira um bom dia para negócios, porque no relato da criação, em Gênesis 1, não consta o registro "e viu Deus que era bom", como aparece nos demais dias. Mas, no dia terceiro, aparece duas vezes a expressão "e viu Deus que era bom" (Gn 1.10, 12), por isso é o dia tradicional de cerimônia de casamentos e, também, o dia em que se celebram grandes negócios em Israel. O costume baseia-se na interpretação incorreta de uma passagem bíblica. A bênção divina para o sucesso, todavia, não depende do dia em que o evento é realizado, e sim na confiança em Deus (Sl 37.3-5). 2. Mezuzá. Palavra hebraica que significa "portal, umbral, ombreira" (Êx 12.7). Esse termo é usado hoje para identificar o pequeno tubo metálico que os judeus usam no umbral direito da porta, seguindo o prescrito na Lei de Moisés (Dt 6.4-9). Isso não deve ser considerado superstição, pois tem fundamento bíblico, como não é superstição um cristão colocar em seu lar quadros com versículos bíblicos e outros motivos cristãos como identificação de sua fé. Mas os judeus cabalísticos da Idade Média transformaram a mezuzá em amuletos e talismãs, como objetos de proteção. 3. O perigo da inversão de valores. Não confundir o Cristo da cruz com a cruz de Cristo. Os hebreus consideravam a simples presença da arca da aliança na guerra como garantia de vitória (1 Sm 4.4-11). Ainda hoje, alguns crentes creem estar protegidos de infortúnio e mau augúrio só porque mantêm a Bíblia aberta no salmo 91. Isso significa

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transformar a fé viva no Deus todo-poderoso em mera superstição ou amuleto. A proteção vem da confiança em Deus e na obediência à Sua Palavra (Js 1.8; 1 Jo 5.4). 4. Fé cristã não é superstição. Os filhos de Ceva, tendo em vista o misticismo de Éfeso, cuidaram fosse o apóstolo Paulo um mágico com uma nova fórmula: o nome de Jesus (At 19.13). Mas eles se equivocaram. Ainda hoje há os que transformam elementos cristãos em superstições. Baseados em lendas de vampiros, muitos supõem que, exibindo uma cruz, podem expulsar os espíritos maus. Jesus disse: "em meu nome expulsarão demônios" (Mc 16.17). Ele conferiu essa autoridade aos seus servos (Mt 10.8). Todos os que usarem o nome de Jesus como amuletos poderão ter a mesma decepção dos filhos de Ceva (At 19.16). C0NCLUINDO As superstições, independentemente de sua origem, são nocivas à fé cristã. Crer em coisas triviais, ou nas aparentemente bíblicas, é rejeitar a fé em Deus ou acrescentar algo além dEle. Nós cremos num Deus que pode guardar-nos de todos os males (2 Tm 1.12).

Não seria o uso de elementos como galhinho de arruda, sal grosso e copo d'água na liturgia uma volta ao misticismo medieval, tão condenado pelos reformadores? A teologia da maldição hereditária não seria um vilipendio à doutrina da graça e uma superstição religiosa em sua essência? Lamentavelmente, é nítida a existência de casos de superstição entre evangélicos, mas isso é resultado da ausência de orientação bíblica. Nas igrejas onde o povo recebe o ensino sistemático e sadio da Palavra de Deus raramente existe isso.

Alguns casos de supersticiosidade entre evangélicos são menores, outros são mais graves. Alguns exemplos do primeiro tipo são deixar a Bíblia aberta no Salmo 91 para afastar desgraças; utilizar a expressão Tá amarrado!' de forma séria, como uma espécie de precaução espiritual; abrir a Bíblia aleatoriamente para 'tirar um versículo' que funciona como a orientação de Deus para tomarmos uma decisão; trocar a leitura sistemática e regular da Bíblia pela 'caixinha de promessas'; reputar que a oração no monte tem mais eficácia do que a feita dentro do quarto ou na igreja; dormir empacotado para que Deus, ao nos visitar à noite, não se entristeça; e acreditar que objetos ou algum suvenir de Israel (pedrinhas, água do Rio Jordão, folhas) têm algum poder especial.

O protestantismo foi um dos grandes catalisadores do fim da superstição da Idade Média, que havia sido implementado por um catolicismo cada vez mais decadente. É só reexaminarmos a história e veremos que, antes da Reforma, o mundo medieval era cheio de fantasmas, duendes, gnomos, demônios, anjos e santos. O povo era ignorante, extre-mamente supersticioso e não tinha acesso à leitura. A própria Igreja Católica Romana fomentava e explorava isso. Foram os evangélicos que combateram tudo isso, inclusive apoiados pelos humanistas da época.

Um exemplo de caso grave de superstição é o caso da teologia da maldição hereditária, que declara insuficiente a obra de Cristo na vida da pessoa, pois afirma que, depois de salvo por Jesus, o cristão deve desenterrar o seu passado e o de seus familiares para quebrar uma a uma todas as possíveis maldições que acometeram seus antepassados e que ainda repousariam sobre ele, se não a libertação não será completa. Além de não ter base bíblica (2 Co 5.17), essa teologia defende um princípio quase reencarnacionista, estabelecendo um carma na vida da pessoa a partir de seus parentes. (...) Fujamos de toda a sorte de superstição. Que nossa fé seja absolutamente bíblica. Bibliografia E. Soares Fonte: http://www.ebdareiabranca.com/2011/3trimestre/sumario.htm