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A NOVA ESCRAVIDÃO: ESTUDO SOBRE A INFLUÊNCIA HISOTÓRICA NA ATUAL SITUAÇÃO, O CASO DE CAMPINAS-SP
Gabriel Aparecido da Silva
Pontifícia Universidade Católica – PUC/Campinas [email protected]
Otávio Augusto Frederico
Pontifícia Universidade Católica – PUC/Campinas [email protected]
Resumo O presente artigo tem como principal interesse demonstrar como a cidade de Campinas-SP mesmo se tratando de uma cidade que detem uma alta luminosidade e uma expressividade na produção tecnologica ainda mantem fincado em suas raizes determinadas “tradições”, as quais estão presentes e acabam muias vezes nem sem percebida devido a forma como que ocorreu o processo de formação e produção do territorio, Temos a imersaõ de um grande centro urbano em praticas que muitos associam apenas a área rural que é a utilização de mão de obra em formas analogas a escravidão. Palavras chave: Campinas. Nova Escravidão. Não Abolição. Introdução Para iniciarmos o presente artigo e para que possamos entender a relação existente entre
a formação do território com algumas praticas presentes ate os dias atuais, temos a
necessidade antes de qualquer coisa ver e analisar a forma com que ocorreu todo o
desenvolvimento e de que como se deu o crescimento da cidade de Campinas até o
ponto que temos hoje, onde não apenas se trata apenas de uma cidade do interior
paulista, mas sim um polo de desenvolvimento que exerce uma centralidade
significativa.
Desenvolvimento
A história do município de Campinas percorre desde o período colonial passando pelo
império a republica até chegar aos dias atuais. Sua formação se deu inicialmente como
um bairro rural da Vila de Jundiaí. Campinas tem sua origem ligada à abertura de
caminhos que percorriam até o sertão de Mato Grosso e Goiás. A formação do município de Campinas faz parte de um contexto de formação urbana que é comum a uma significativa parcela das cidades brasileiras, nas quais, muitas cidades surgiram para atender as economias agro-exportadoras: como a cana-de-açúcar, que teve papel fundamental na formação dos núcleos urbanos nordestinos e do sudeste nos séculos XVI, XVII e XVIII; o ciclo do ouro em Minas Gerais, no qual Campinas surge como “caminho” para as terras de Minas Gerais e de Goiás; e os posteriores ciclos da borracha na região Norte
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e do café na região Sudeste, no qual Campinas, efetivamente, deixa de ser somente uma “parada para tropeiros” ou uma “passagem” e torna-se uma cidade. (Pedroso, 2005, p.05).
O surgimento da cidade campineira se deu através de um povoado no século XVIII que
era utilizada como local de abastecimento e pouso para tropeiros que estavam em busca
de riquezas pelo interior do Brasil. O Caminho dos Goiases, rústica picada, que ligava São Paulo às novas jazidas de ouro, interceptava em territórios da Vila de Jundiaí, densa mata que se estendia do Ribeirão dos Pinheiros até os campos de Mogi. Três campinhos com regatos, em meio do caminho, única oportunidade de descanso e alimentos verde para as tropas, justificariam a construção de um pouso, a concessão de sesmarias e o desenvolvimento do bairro rural. (BADARÓ, 1986, p.11).
Localizado nas margens de uma trilha aberta por paulistas do Planalto de Piratininga
entre 1721 e 1730 (trilha que seguia em direção às recém-descobertas minas dos
Goiases), o povoamento do "Bairro Rural do Mato Grosso" teve início com a instalação
de um pouso de tropeiros nas proximidades da "Estrada dos Goiases". O pouso das
"Campinas do Mato Grosso" (erguido em meio a pequenos descampados ou
"campinhos", em uma região de mata fechada) impulsionou o desenvolvimento de
várias atividades de abastecimento e promoveu uma maior concentração populacional,
reunindo-se neste bairro rural em 1767, 185 pessoas.
Campinas oferecia as condições necessárias para a implantação de um pouso, possuía boa pastagem para os animais (os chamados campinhos) e água em abundância. Essas condições propiciaram a formação de um bairro rural em 1745, pertencente à Vila de Jundiaí, chamado de Bairro do Mato Grosso das Campinas, que teve como população inicial pessoas que se estabeleceram para praticar agricultura de subsistência e atender a demanda dos tropeiros que por aqui paravam em busca de pouso e alimentos. (BATTISTONE FILHO, 1996).
A figura 1 apresenta uma possível rota traçada que seguia do estado de Goiás passando
pelo Triângulo Mineiro cortando todo o território paulista de norte a sul, até a chegada
ao litoral do estado de São Paulo. Na figura está em destaque a cidade de Campinas, que
surgiu devido a essa rota ser percorrida por tropeiros que seguiam em direção as minas
dos Goiases (SERVILHA, 2003).
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Figura 1: Caminho do Sertão – Estrada dos Goiases
Assim como a cidade de Campinas nasceu a partir do Caminho dos Goiases, outras
várias cidades surgiram no interior do estado de São Paulo, Minas Gerais e em Goiás. Campinas nasceu, como outras tantas cidades de um pouso à beira do Caminho dos Goiases, rota secundária e tardia do ciclo de mineração, aberta em 1722 pelos paulistas que, evitando as Minas Gerais - palco ainda de diversos conflitos remanescentes da Guerra dos Emboabas - haviam descoberto ouro em Mato Grosso e Goiás. O caminho dos Goiases, rústica picada, que ligava São Paulo às novas jazidas de ouro, interceptava em territórios da Vila de Jundiaí, densa mata que se estendia do Ribeirão dos Pinheiros até os campos de Mogi. Três campinhos com regatos, em meio do caminho, única oportunidade de descanso e alimentos verde para as tropas, justificaram a construção de um pouso, a concessão de sesmarias e o desenvolvimento do bairro rural. (BADARÓ,1986:10-11).
Estado de Goiás
Triângulo mineiro
Estado de São Paulo
Campinas
Ilha de São Sebastião
Oceano Atlântico
Fonte: Barreto, 1995: 16
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A população que vivia em Campinas naquela época era totalmente dependente da Vila
de Jundiaí, pois Campinas não possuía até então uma sede administrativa, cemitério e
nem mesmo igreja.
Os moradores daquela região, por volta do ano de 1772 reivindicam a construção de
uma igreja. No ano de 1773, é concedida a licença para a construção da Igreja Matriz,
mas devido as dificuldades nas obras, foi construída uma capela. Em 14 de julho de
1774 é inaugurada a Capela provisória “[...] situada na época, onde se acha erguido o
monumento a Carlos Gomes – e o local da demarcação da Matriz definitiva – onde está
situada hoje, a Matriz do Carmo [...]” (BADARÓ, 1986, p. 13).
No mesmo ano de 1774, Francisco Barreto Leme recebe o título de fundador e
administrador do núcleo urbano que seria Campinas. Francisco de Barreto Leme como fundador e diretor da sesmaria tinha o compromisso de incentivar a urbanização e povoamento da freguesia de acordo com as prerrogativas do governo da capitania, definindo dimensões de quadras, de ruas e disposição das casas. Desta forma, Barreto Leme doou parte de suas terras situadas no “campinho do meio” (atual Praça Bento Quirino, onde está o “marco zero” de Campinas) local onde já havia sido construída a capela provisória e já estava demarcada a área para a Matriz. (CAMPOS JUNIOR, T., 1952).
Durante a segunda metade do século XVIII, houve a chegada de vários fazendeiros
oriundos de diversas partes do estado de São Paulo, como da cidade de Taubaté, Itú,
Porto Feliz entre outras. A intenção dos fazendeiros que ali se instalavam, era a procura
por terras para a cultura de lavouras de cana e engenhos de açúcar, utilizando mão-de-
obra escrava (BADARÓ, 1986).
Devido a interesses desses fazendeiros e do governo da Capitania de São Paulo, que o
bairro rural do Mato Grosso se transformou em Freguesia de Nossa Senhora da
Conceição das Campinas do Mato Grosso, no ano de 1774. Após freguesia foi elevada à
categoria de vila denominada Vila de São Carlos em 1997.
Com o declínio da mineração e conseqüentemente a diminuição do fluxo no Caminho
dos Goiases, fez com que a fixação de famílias na Vila se intensificasse. A elevação do
preço do açúcar na Europa, transformou a até então pequena economia da Vila de São
Carlos. Grandes latifúndios foram se constituindo devido a união de pequenas
propriedades e a concessão de novas sesmarias, aonde se instalavam os engenhos
voltados para a produção de açúcar para exportação, e com a utilização de mão-de-obra
escrava (BADARÓ, 1986). Assim, [...] despontava a vida na cidade, onde os senhores de Engenho construíam casas casa para fins de semana, desempenhavam suas atribuições
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administrativas e religiosas, dispunham de um incipiente comércio de tecidos, roupas e utensílios domésticos, importados de Portugal e contavam com artífices dedicados à arte de construir e equipar suas moradias. Médicos, músicos, advogados e professores completariam, nos anos seguintes, a população da cidade, que aumentaria significativamente. (BADARÓ, 1986,p. 17).
Em 1842 a Vila de São Carlos é elevada à categoria de município e retoma a
denominação de Campinas, porém não há uma explicação encontrada para a mudança
do nome (CABRAL, 1952).
Nessa época a produção cafeeira em Campinas se expande rapidamente, devido a
utilização de escravos na produção. Com o fim do tráfico negreiro, imposto pela
Inglaterra em 1850, devido as pressões da burguesia que necessitava ampliar o mercado
consumidor, também para os países colônias ou ex-colônias [...] Quando a cessação do tráfico ameaçou comprometer as lavouras de café, no Sudeste do país, desenvolveu-se o chamado tráfico interprovincial de escravos, sendo particularmente significativo o que drenou do Nordeste, mesmo do Nordeste açucareiro, para as fazendas de café do Rio de Janeiro e São Paulo. (MARTINS, 2010, p. 118 e 119).
Vemos nitidamente que a decisão pelo abolicionismo na utilização de escravos como
mão de obra nas fazendas não partiu daqui, o que ocorreu foi apenas uma reprodução do
que o mercado externo ditava. Houve uma redução na disponibilidade de escravos, e
levou o Brasil a promover a entrada de imigrantes europeus para trabalhar nas lavouras
de café, como assalariados.
Em meados do ano de 1868 acontece uma queda na produção mundial de café, com isso
o Brasil e a região de Campinas tiveram uma vantagem e um poder ainda maior nos
preços no mercado mundial de café (BADARÓ, 1986). “Na década de 1870, o café já
estava implantado no município e na região, uma vez que a elevação do preço no
mercado internacional, a partir de 1870, havia estimulado o cultivo do produto”.
(SEMEGHINI, 1988, apud BAENINGER, 1996, p.28).
Uma nova fase é marcada em Campinas, cidade a qual irá experimentar o
desenvolvimento na parte urbana devido às riquezas que foram propiciadas pelo café:
A partir de 1860, Campinas ampliou suas funções urbanas para atender às novas demandas da economia e da população, tornando-se importante pólo regional de comércio e de prestação de serviços. O núcleo urbano de Campinas destacava-se, nesse período, pela antiga função de centro comercial e de comunicação da antiga rota de Goiás e da região do açúcar, aumentando o número de estabelecimentos comerciais e já fazendo emergir um forte setor de serviços. (BAENINGER, 1996, p.28).
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A mudança ocorrida em relação a mão-de-obra escrava para a assalariada, transformou
a economia do município de Campinas, com a ampliação do mercado consumidor de
produtos e serviços (PEDROSO, 2007).
O café propiciou para a cidade de Campinas, no ano de 1872, a inauguração dos trilhos
da Cia. Paulista de Vias Férreas, ligando Campinas ao município de Jundiaí. Com isso
era feita a ligação entre Campinas a São Paulo e Santos. (BADARÓ, 1986).
A presença do café e sua necessidade de escoamento para exportação permitiram a implantação de uma rede de ferrovias que ligou o interior do estado a capital, e adensou a formação de uma rede de cidades com fluxos comercias e de comunicação estruturados, na qual Campinas serviu de entroncamento destas importantes ligações por seu destaque na produção econômica, localização e prestígio comercial que vinham sendo conquistados ao longo de seu desenvolvimento. (PEDROSO, 2007, p.22).
As diversas melhorias em relação a infra-estruturas na cidade, fez com que o Campinas
se tornasse uma referência no interior paulista. O município de Campinas se torna um
ponto de entroncamento dos trens. Consequentemente da rede de circulação de
mercadorias, pessoas, rede de comunicação, e com isso tornou-se um ponto densamente
desenvolvido pelo comércio, e despontou como um centro de distribuição para todo o
interior paulista. (PEDROSO, 2007).
A concentração de capital e a oferta de mão-de-obra no município se tornaram um
atrativo para a instalação de indústrias em Campinas. No inicio o município abrigou
fábricas de velas, fundição, equipamentos agrícolas entre outras.
Em 1852 foi fundada uma fábrica de velas de cera por G.F. Vasconcelos na região central de Campinas, em 1853 uma marcenaria da família Krug também no centro, e mais tarde, em 1857 a empreitada da família Bierrembach que fundou uma fábrica de chapéus no bairro de Santa Cruz (atual Cambuí) empregando por volta de 60 operários referenciando o setor industrial em Campinas. (MENDES, 1951). Enfatizando ainda a industrialização de Campinas com a implantação das primeiras unidades, destaca-se em 1858 a implantação no bairro do Bonfim da Fundição Faber & Irmãos por imigrantes alemães que atendiam, por meio da fundição, a produção de equipamentos agrícolas, como enxadas, arados, serras etc. (PEDROSO, 2007, p.23).
Assim como outras cidades que atualmente possui grande população, o município de
Campinas apresentou um rápido crescimento em extensão e população, ao final do
século XIX. Com isso Campinas apresentou graves problemas devido a urbanização
rápida e sem planejamento, a inexistência de saneamento básico em várias localidades
do município, falta de coleta de lixo.
As conseqüências de todos esses problemas apresentados contribuíram para que de 1889
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a 1897, a população campineira sofresse com surtos consecutivos de febre amarela. Isso
fez com que grande parte da população urbana se deslocasse para a área rural ou para
outros municípios, além das muitas mortes causadas, reduzindo a população urbana de
20.000 habitantes para 5.000, no final do período. (BADARÓ, 1986).
Após diversas medidas tomadas pelos governos nacional, provincial e municipal, foi
possível controlar as epidemias de febre amarela.
Em 1892 foi criada a Companhia Campineira de Águas e Esgotos para cuidar do abastecimento de água encanada e promover a coleta de esgotos municipal. Em 1896 é feito um código de obras para o perímetro urbano no qual proibia a construção em terrenos pantanosos e exigia ligação de água e esgotos em todas as construções (BADARÓ, 1986). O governo estadual implantou em Campinas o Centro de Comissão Sanitária do Estado, dirigido pelo engenheiro sanitarista Saturnino de Brito, que elaborou os planos para abastecimento de água, planos para a coleta e destinação do lixo e do esgoto, pavimentação das ruas centrais e da canalização da rede de drenagem urbana. Foram canalizados os córregos que atravessavam o Centro de Campinas, o Tanquinho, o Serafim e o Anhumas, sendo construídas galerias subterrâneas para os trechos centrais e canais a céu aberto para os trechos periféricos dos córregos. Também foram planejadas avenidas marginais a esses córregos (Avenida Anchieta e Orozimbo Maia). (PEDROSO, 2007, p.24).
A epidemia sofrida no município além de causar danos a população, consequentemente
afetou a até então crescente economia que Campinas vinha apresentando. Os anos seguintes à grande epidemia de febre amarela não tiveram um ritmo de desenvolvimento intenso. A área urbana de 1900 a 1925 pouco se expandiu, poucas fábricas foram instaladas, ainda que destacava-se entre as efetivadas a Cervejaria Columbia, implantada em 1908 na Avenida Andrade Neves, no centro, e a Cia. Curtidora de Campinas, em 1910, na Vila Industrial. (BADARÓ, 1986, p.120).
Aos poucos a cidade foi se recuperando das consequências dos surtos de epidemia, e já
nas primeiras décadas do século o município apresenta crescimento na sua população.
Em 1912 chegou a ter 38.346 habitantes passando para 50.000 habitantes no ano de
1920. (BADARÓ, 1986).
Os problemas causados pela epidemia de febre amarela, fez com que o município
tomasse algumas atitudes em relação à questão urbanística de Campinas. Em 1933, o
então prefeito de Campinas, Perseu Leite de Barros, deu inicio o que seria o Plano
Urbanístico Prestes Maia. O mesmo Prestes Maia que foi o responsável pelo Plano de
Avenidas no município de São Paulo, idealizado em 1924, plano este que acabou por
consolidar o “modelo rodoviarista”, modelo este que já havia sido implementado na
capital paulista. Dessa forma, configura-se na cidade a opção pelo modelo rodoviarista do transporte sobre pneus. A implantação efetiva das avenidas propostas por
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Prestes Maia só ocorre quando este assume a prefeitura no início dos anos 40. Nove de Julho, 23 de Maio, Radial Leste: todas fazem parte do plano que acabou por definir, até os dias de hoje, a estrutura urbana básica da cidade. (ROLNIK, 2003, p.33).
Com a crise na economia cafeeira, a partir de 1930, o município de Campinas até então
com a economia voltada para o café, assumiu uma postura voltada para a indústria e
serviços.
A cidade passou a receber muitos migrantes de outros municípios e estados e imigrantes
procedentes de várias partes do mundo, atraídos pela instalação de indústrias no
município. As décadas pós 1940 marcou Campinas pela implantação de importantes
rodovias que ligavam a cidade a capital paulista, como a Rodovia Anhanguera (1940),
posteriormente Rodovia dos Bandeirantes (1978), além das rodovias que seguiam em
direção ao interior como a Santos Dummont (1980), Ademar de Barros, Dom Pedro I
(1972).
A implantação das rodovias, fez com que o município de Campinas se tornasse um
entroncamento rodoviário, e isso atraiu diversas indústrias para o município de região.
Juntamente com essa complexa malha rodoviária, Campinas dispõe do aeroporto de
Viracopos, responsável pelo segundo maior volume em transporte de cargas do país, a
afirmação foi feita durante entrevista de Walter Américo, superintendente de
Planejamento Aeroportuário e de Operações da Empresa Brasileira de Infraestrutura
Aeroportuária (INFRAERO) em 29/08/2011.
A interiorização da indústria no estado paulista, fez com que o meio técnico-científico-
informacional se manifeste intensamente, através da existência de centros de pesquisas,
pólos de alta tecnologia e universidades existentes em Campinas. (SANTOS e
SILVEIRA, 2008). [...] o território ganha novos conteúdos e impõem novos comportamentos, graças às enormes possibilidades de produção, sobretudo, da circulação dos insumos, dos produtos, do dinheiro, das idéias e informações, das ordens e dos homens. É a irradiação do meio técnico-científico-informacional (M. Santos, 1985, 1994b, 1996) que se instala sobre o território, em áreas contínuas no Sudeste e no Sul ou constituindo manchas e pontos no resto do país. (SANTOS e SILVEIRA, 2008, p.52 e 53).
Todo esse processo fez com que houvesse um adensamento populacional e produtivo,
gerando a metropolização da cidade de Campinas e a conurbação com as cidades
adjacentes. A partir da Lei Complementar nº 870 do dia 19 de junho de 2000 e instalada
pelo Decreto nº 46.057 de 27 de Agosto de 2001 é instituída a Região Metropolitana de
Campinas (RMC), de acordo com a Agência Metropolitana de Campinas
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(AGEMCAMP, 2011).
A Região Metropolitana de Campinas é composta por 19 municípios, do qual a cidade
de Campinas é a principal e a que exerce influências econômica, social, cultural nas
demais cidades da RMC.
Atualmente a cidade de Campinas tem a sua economia voltada para a área de serviços
conforme informa a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FISEP), e
apresentado na figura 2.
Como podemos analisar após esse relato bem detalhado sobre o surgimento da cidade,
os ciclos econômicos por qual o território passou e o mais importante como ocorreu a
transição entre cada um deles. Vimos também como uma foi a transição de uma
pequena vila que se configurava basicamente apenas como parada rumo as Minas
Gerias até o presente momento onde temos uma cidade que age com uma
representatividade econômica imensa.
Foi relatado durante o texto acima que a cidade de Campinas começou a ter uma
importância econômica graças a produção de café, produção essa que se utilizava de
mão de obra escrava e que apenas deixou de utilizar tal forma e mudou para a produção
assalariada devido a existência de pressões externas que fizeram primeiramente com
que o preço do escravo subisse e depois se tornou proibido a vinda de navios com novas
60%31%
0%
9%
Participação dos Setores no PIB
Serviços
Indústria
Agropecuária
Administração Pública
Figura 2: Participação dos setores no PIB de Campinas
Fonte: Fundação SEADE - 2009
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remessas, logo a presença desse acabou por se extinguir devido a uma imposição
externa e não pelo desejo dos fazendeiros nacionais.
Vivemos imerso em um território que for produzido visando atender apenas os
interesses externos, temos um não sentimento de brasilidade, “Nunca houve aqui um
conceito de povo, englobando todos os trabalhadores e atribuindo-lhes direitos”
(RIBEIRO, 1995, p.404).
O ciclo do café foi causador da territorialização das técnicas e da especialização do
lugar, através disto inúmeras trans(formações) modificaram nosso país e a inserção
definitiva de algumas áreas na DIT (Divisão Internacional do Trabalho).
Como consequência desse não sentimento de nação e um processo abolicionista que não
foi apoiado pelos brasileiros e sim apenas por uma elite estrangeira (inglesa) , houve a
não ruptura com a percepção de praticas escravistas.
No caso de Campinas temos a existência de casos que se assemelham ao regime
escravocrata que se achava ter se extinto, Parte das teses defendidas por Martins (2010)
e Santos (2008), sendo que a primeira obra nos relata a forma como se deu a passagem
do trabalho escravo para o trabalho livre, envolto até os dias atuais em inúmeras
contradições e, a segunda, nos alicerça quanto à discussão da formação e produção do
território brasileiro, destacando que o desenvolvimento técnico-científico-
informacional, aprofunda ainda mais as desigualdades sócio-espaciais brasileira.
Encaramos tal assunto como algo de suma importância, já que vemos o trabalho
análogo ao escravo como uma herança que consome a população que se encontra a
margem do desenvolvimento e crescimento econômico. Tal situação sempre foi
alarmante em nossa sociedade, porém junto com o intenso crescimento que vem sendo
apresentado tais práticas exploratórias tem apresentado um crescimento igual ou até
mesmo maior. É preocupante tal como nos alerta Bourdieu (2000). Talvez não exista pior privação, pior carência, que a dos perdedores na luta simbólica por reconhecimento, por acesso a uma existência social reconhecida, em suma, por humanidade (BOURDIEU, 2000, p.242)
Conclusão
Temos a instauração de práticas de trabalho abusivo, já que vivemos em um território
extremamente fluído e altamente imerso nos padrões consumistas impostos pelo sistema
global e explicitamente encorpado pela DIT. Com isso a demanda por mão de obra,
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sobretudo em áreas onde a qualificação exigida é muito pouca ou nula como na
construção civil vem se tornando frequente na região. Inúmeros postos de trabalho são
criados buscando suprir a necessidade de desenvolvimento econômico, mas a qualidade
que se visa a oferecer aos trabalhadores é cada vez menor. O outro lado dessa situação é
que: “se a configuração metropolitana da região reforça seu papel de centralidade no
Estado, por outro lado, a ausência ou ineficácia das políticas sociais vem acentuando,
cada vez mais, a deterioração das condições de vida da população”. (BAENINGER,
1992, p.112).
O que presenciamos na cidade de Campinas é apenas a reprodução de práticas abusivas
de trabalho, práticas essas que apenas refletem a forma com que o território se formou e
apenas temos a mudança de senhor de escravo para empresário.
Ao mesmo tempo em que a região de Campinas é prosperamente desenvolvida,
irradiando luminosidade, a exclusão e a pobreza se evidenciam em camadas expressivas
da população, desprovidas de recursos básicos para uma vida digna.
[...] Mas, esta cidade é, também, o lugar das concentrações e dos contrastes, nela se concentram a riqueza e a pobreza, a saúde e a doença, é onde se desenvolvem possibilidades concretas de redução rápida dos índices de natalidade, mortalidade, analfabetismo, dada a concentração dos setores de prestação desses serviços, mas é onde estes índices podem voltar a crescer rapidamente. É o lugar dos grandes contrastes, por exemplo, entre a crescente acumulação de capital feita de forma concentrada e o aumento da pobreza, contrastes entre lugares - o dos pobres e o dos ricos, outrora diríamos entre centro e periferia. (SANTOS, R. 2010).
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