A Skol e o Público Feminino: diferentes abordagens com o passar do tempo1
Fernanda Politanski2
Recém formada no curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e
Propaganda pela ESPM-SP.
Resumo O presente artigo visa conhecer e contrastar parte da comunicação de uma marca ao longo do tempo. Como recortes temáticos, optamos por analisar a marca Skol, especialmente na ambiência digital. Para tanto, realizamos uma reflexão sobre marcas e o ambiente digital, selecionamos três campanhas e uma ação da marca e identificamos vetores de mudança. Desse modo, utilizamo-nos das seguintes estratégias metodológicas: pesquisa documental e pesquisa bibliográfica, mobilizando autores como Lévy e Lemos (2010), Recuero (2009) e Jenkins (2014) ao compreender a cibercultura e as redes sociais no ciberespaço; Semprini (2009) ao entender o fenômeno da marca e suas dimensões-chave. Palavras-chave: Cibercultura; Redes Sociais; Marcas; Skol; Campanhas Publicitárias.
INTRODUÇÃO Neste artigo, procuramos trazer reflexões acerca de parte de um capítulo (que estuda a
transformação da comunicação da Skol ao longo do tempo) do trabalho monográfico de conclusão de
curso3 para graduação de Comunicação Social com habilidade em Publicidade e Propaganda.
Julgamos o artigo interessante para o evento em questão, vez que aborda parte da comunicação de
uma marca com significativa capilaridade e relevância nacional, evidenciando mudança expressiva
na sua comunicação.
Selecionamos como objeto de estudo a marca de cervejas Skol e direcionamos nosso olhar
para a sua atuação na ambiência digital, considerando a transformação de sua comunicação a partir
de três momentos distintos nos anos de 2013, 2015 e 2017. Desta forma, o problema lançado para o
objeto foi: como se deu a transformação da comunicação da marca a partir de campanhas de 2013,
1 Trabalho apresentado no 3º Encontro de GTs de Graduação - Comunicon, realizado no dia 10 de outubro de 2018. 2 Recém formada no curso de Publicidade e Propaganda pela ESPM-SP, estudante do curso de Ciências Sociais da FFLCH-USP (atualmente cursando o 3o ano) e trabalha com pesquisa qualitativa de mercado na empresa Scoop&Co. E-mail: [email protected] 3 Trabalho intitulado Cibercultura, Marcas e Movimentos Sociais: aproximações da marca Skol ao público LGBT, orientado pela Prof. Ms. Rosilene Moraes Alves Marcelino e defendido em 05/08/2017.
2015 e 2017? Sendo assim, para tentar responder à nossa questão problema, estabelecemos como
objetivo conhecer e contrastar parte da comunicação da marca ao longo do tempo.
Para tanto, utilizamos como instrumentos metodológicos, em um primeiro momento, pesquisa
bibliográfica, mobilizando autores que discutem a ambiência digital e as marcas e, em segundo
momento, recorremos à pesquisa documental, como fonte de dados para observarmos a comunicação
da marca, considerando especialmente campanhas antigas (retiradas do YouTube).
PRESSUPOSTOS TEÓRICO-CONCEITUAIS
Lévy e Lemos (2010) apresentam a cibercultura como um conjunto de práticas, hábitos,
discursos e valores emergentes no fim do século XX. A cibercultura, de acordo com os autores,
consiste em três princípios: 1) liberação da palavra; 2) conexão e conversa mundial; e 3)
reconfiguração social, cultural e política.
Sobre o primeiro, os autores discutem como deixam de existir, separadamente, polos
distintos de emissão e de recepção de uma mensagem. Há, desse modo, dissolução e fusão de ambos,
de maneira que as pessoas passam a produzir e a transmitir seus próprios conteúdos, além de receber
de outras pessoas. Uma vez que diferentes internautas, conectados por meio de redes na internet,
começam a transmitir seus conteúdos, Lévy e Lemos (2010) explicam que se dá o segundo princípio,
isto é, cria-se conexão e conversa mundiais. Além disso, como consequência destes processos
anteriores, os autores afirmam que há reconfiguração social, cultural e política, classificado como o
terceiro princípio.
Lévy e Lemos (2010) entendem que, nesse cenário, os indivíduos adquirem condição de
protagonistas, sendo vistos como os principais nós da comunicação. Além disso, eles destacam o
desenvolvimento e a importância das redes sociais nesse contexto. Nesse sentido, julgamos
importante trazer as diferenciações conceituais que Recuero (2009) faz de redes sociais, redes sociais
na internet e sites de redes sociais.
As redes sociais, explica a autora, consistem nos atores e nas suas conexões, isto é, nos
indivíduos e nas pessoas que conhecem. Recuero (2009) afirma que as redes sociais existem antes da
internet, porque falam da capacidade dos indivíduos de estabelecerem vínculos sociais e afetivos. As
redes sociais na internet transportam a mesma lógica das redes sociais para o ambiente digital, em
que são estabelecidas novas formas e dinâmicas de relações sociais. Já os sites de redes sociais, como
Facebook, Instagram, Twitter etc, não são, em si, redes sociais. Recuero (2009) explica que eles são
espaços de expressão e exibição das redes sociais na internet, em que construímos uma persona (um
perfil) e nos engajamos nesses espaços, por meio de interações como comentários, curtidas e
compartilhamentos.
Ao refletirmos sobre compartilhamentos de conteúdos, trazemos Jenkins (2014), autor que
trata da propagabilidade dos conteúdos nos espaços digitais. Sob a máxima de que aquilo que não se
propaga, morre, o autor destaca a importância e a necessidade de um conteúdo se propagar, para que
seu valor e seu significado sejam alterados. Quanto mais gente discutir, propagar, compartilhar,
criticar, comentar, mais valor o conteúdo terá. A partir disso, Jenkins (2014) entende as mídias
digitais como catalisadoras para reconceituar outros aspectos da cultura, como as relações sociais, a
participação cultural e política, as expectativas econômicas e as estruturas legais.
Ao refletir sobre as marcas no contexto digital apresentado acima e a relação dos
consumidores nesses espaços, Sato (2015) nos conta que os consumidores estão cada vez mais
críticos e céticos aos discursos das marcas. Paralelo a isso, afirma que não há mais espaço para a
abstenção e, logo, é demandado que as marcas se posicionem. As marcas, por sua vez, devem ter
consciência disso, para garantir boas relações. Para tanto, acreditamos que precisam sempre ajustar as
três dimensões chave, apresentadas por Semprini (2009): semiótica, relacional e evolutiva.
Ao pensar sobre a dimensão semiótica, marcas devem lembrar que se trata de construir e de
veicular significados, considerando as narrativas publicitárias e comerciais mais explícitos. No
entanto, deve considerar, principalmente, as articulações discursivas que constroem ao longo do
tempo e que, na perspectiva do autor, são fundamentais. A natureza semiótica auxilia a marca a
escolher significados que estão presentes no espaço social, organizá-los em uma narrativa pertinente
e atrativa e os oferecer ao público.
Já a dimensão relacional privilegia a ideia que a marca deve considerar os diversos públicos
que são envolvidos por seu projeto, não apenas seu público alvo, não apenas aqueles que lucram com
isso, mas, além disso, público dos concorrentes, por exemplo. Semprini (2009) destaca, inclusive, a
internet como espaço de ampliação da audiência da marca, fazendo com que, novamente, precise
garantir formas de conversar com os internautas (consumidores e não consumidores). Por fim, a
dimensão evolutiva destaca o caráter mutável e dinâmico da marca, que a permite reagir e ser
sensível às mudanças que se passam no ambiente social em que se faz presente. Além disso, essa
dimensão privilegia a história da marca ao longo do tempo (considerando sua natureza semiótica e o
que construiu ao longo do tempo). De toda forma, Semprini (2009) atenta para o fato de que a marca
deve conseguir se adaptar às evoluções do sistema, permanecendo fiel a ela mesma, a sua história e
personalidade, mas com certa flexibilidade ao seu projeto original. A partir disso, o autor destaca a
inovação e a criatividade como fundamentais para a atualização e relevância da marca no espaço
social.
Considerando a dimensão evolutiva, que destaca as mudanças que se dão no ambiente,
podemos ver que parte da realidade atual é a presença no espaço digital. Isso é praticamente um
requisito de marcas que querem estar em sintonia com os consumidores e suas demandas. Tendo isso
em mente, julgamos importante destacar que as campanhas selecionadas para este artigo (assim como
as estudadas na pesquisa original) vêm todas do ambiente digital.
CAMPANHAS DA SKOL
Embora no trabalho monográfico original tenhamos analisado vinte campanhas ao todo, no
período de 2009 até julho de 2017, destacamos, aqui, três momentos específicos, porém importantes
para a história recente da marca que dizem respeito, de maneira mais direta, ao público feminino.
Considerando a extensão do projeto original e a limitação de espaço que o evento para o qual este
artigo é destinado coloca, fazemos esforço de reduzi-lo, destacando partes da pesquisa inicial que
consideramos interessantes para colocar em discussão.
Campanha Treino – Operação Skol Folia (2013)
O filme4 mostra um general, um homem negro que representa uma figura agressiva e
intimidadora, treinando seu exército de homens para a folia do carnaval. Dentre as atividades
retratadas – com a lata de Skol ou coolers de cerveja sempre presentes – há treinos com obstáculos
(como agarrar-se em cordas para passar sobre uma poça d’água), marchas de soldados, flexões com
cooler nas costas e com o general esguichando água no rosto, atravessar um rio com caixa de cerveja
sob a cabeça, escapar de “homens” desenhados em sacos de luta e beijar “mulheres” (Figura 1)
desenhadas nos sacos de mesmo tipo, arrastar-se pelo chão com uma lata de Skol na mão, sem deixar
bebida cair, beijar manequins femininos (Figura 2), fazer danças coordenadas. 4 Publicado no canal da marca no YouTube dia 6 de janeiro de 2013 e que obteve 791.901 visualizações (10/10/2017 às 19h39).
As cenas são dinâmicas, sempre curtas e retratam cada uma das atividades narradas acima. Ao
longo de todo o comercial só há homens, com a exceção de uma mulher que supervisiona os homens
na cena em que estão treinando como beijar mulheres (que são retratadas com manequins). Há, ainda,
cenas em que todo o grupo está na floresta e, novamente, precisa cuidar para que a cerveja não caia
no chão e, portanto, seja desperdiçada. A cena final mostra um soldado, vestido de roupas especiais
para homens que desativam bombas, andando em sentido de um manequim. Ele anda cautelosamente
e sua respiração é apreensiva. Ele chega ao manequim, que veste apenas um sutiã, com um alicate e
seu objetivo é tirar o alicate e, assim, tirar o sutiã. Quando ele encosta com o alicate no fecho do sutiã
para abri-lo, há um som de explosão, a tela fica preta e o comercial termina. Falas do comercial: General: tira o pé do chão. [Exército grita ao fundo]. General: vai até o chão. Mais animação. Beija, beija. Pede água. [Soldado responde: não senhor”]. Narrador: começou a operação Skol Folia, e esse ano você pode ser o general dos melhores carnavais do Brasil. Entre no site e aliste-se na promoção.5
Figura 1 - Desenho de mulher para ser beijado
Fonte: captura de tela do vídeo no YouTube.6
5 YOUTUBE. Campanha “Treino Operação Folia” da Skol. 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=-ghRd5DJnkE> Acesso em: 11 out. 2017. 6 Idem.
Figura 2 - Soldados treinando como beijar manequins femininos
Fonte: captura de tela do vídeo no YouTube.7
Ainda que o comercial prepare um grupo para uma folia, um evento animado, as cenas do
filme nos trazem algumas observações. Identificamos o caráter machista ao longo de todo o
comercial, ora de maneira menos explícita, ora de maneira evidente. Implicitamente, a ideia de que o
carnaval e toda a folia que ele promete está única e estritamente ligada a homens, que precisam ser
treinados, de forma dura, para cuidar da bebida, para estar em forma e para saber beijar mulheres é
machista. A partir disso, a mensagem que se segue, portanto, é de que o carnaval (e o protagonismo
no evento) está restrito a eles e, dessa maneira, é necessário treinar, sob a orientação de um general
duro e “macho”, para se tornar um soldado exemplar e farrear de maneira apropriada. Explicitamente,
fica evidente o desrespeito quando um dos próprios requisitos para que o soldado seja bem sucedido
durante sua atuação no carnaval é beijar mulheres, a ponto de ter que treinar para isso para obter
excelência. A representação da figura da mulher por meio de (1) sacos de luta com um desenho
feminino – que carrega o padrão de uma mulher de cabelos lisos, magra, com cintura fina, peitos e
quadris largos, com uma curvatura voluptuosa e, portanto, considerada sensual – que precisam ser
beijados e também por meio de (2) manequins – carecas, sem roupa, brancos e magros – que também
devem ser beijados é, no mínimo, desrespeitosa e irreal. Além disso, a única mulher humana que
aparece no comercial tem a função de observar os homens que beijam os manequins, garantindo que
eles façam um “bom trabalho”.
7 YOUTUBE. Campanha “Treino Operação Folia” da Skol. 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=-ghRd5DJnkE> Acesso em: 11 out. 2017.
Carnaval de 2015
Depois de direcionarmos nossa atenção para a comunicação mais antiga da Skol a partir da
campanha de 2013, continuamos com a nossa pesquisa documental. Buscamos, em seguida,
momentos que parecessem marcantes e/ou significativos para a mudança da comunicação da Skol.
Nesse sentido, identificamos o carnaval de 2015 e a campanha feita pela marca como um momento
importante. Dessa forma, compilamos, a seguir, algumas notícias que apareceram na mídia narrando
o ocorrido.
A notícia8, de fevereiro de 2015, do Pragmatismo Político destaca a reação de duas feministas
à campanha de carnaval divulgada pela Skol. Segundo a matéria, a publicitária e ilustradora Pri
Ferreira e a jornalista Mila Alves ficaram indignadas com o teor da mensagem da campanha – que
trazia frases machistas como “Esqueci o ‘não’ em casa.” e “Topo antes de saber a pergunta.” – e
fizeram uma intervenção nas peças da campanha da marca, acrescentando “e trouxe o NUNCA”.
Ambas postaram a intervenção nos sites de rede social Facebook (Figura 3) e Instagram, que tiveram
repercussão significativa a ponto de a marca anunciar a retirada dos anúncios. Além disso, a matéria
traz o comunicado oficial lançado pela Ambev, holding dona da Skol: “As peças em questão fazem
parte da nossa campanha ‘Viva RedONdo”, que tem como mote aceitar os convites da vida e
aproveitar os bons momentos. No entanto, fomos alertados nas redes sociais que parte da nossa
comunicação poderia resultar em um entendimento dúbio. E, por respeito à diversidade de opiniões,
substituiremos as frases atuais por mensagens mais claras e positivas, que transmitam o mesmo
conceito. Repudiamos todo e qualquer ato de violência seja física ou emocional e reiteramos o nosso
compromisso com o consumo responsável. Agradecemos a todos os comentários.”
8 PRAGMATISMO POLÍTICO. Ativistas criticam nova propaganda de carnaval da Skol. 2015. Disponível em: <https://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/02/ativistas-criticam-nova-propaganda-de-carnaval-da-skol.html> Acesso em: 26 jun. 2017.
Figura 3 - Publicação da Pri Ferrari no Facebook
Fonte: captura de tela da publicação no Facebook.
Em seguida, a notícia9, de fevereiro de 2015, do portal B9, conta que a Skol retirou peças
feitas para a campanha do carnaval de 2015 e as substituiu por peças que incentivassem o respeito
(Figura 4). De acordo com a notícia, o “barulho causado por mulheres deu resultado, e a marca
mudou o tom das mensagens”. Figura 4 - Peças colocadas depois dos protestos
Fonte: notícia da B9.10
9 B9. Skol volta atrás e troca peças de campanha de carnaval por opções que incentivam o respeito. 2015. Disponível em: <http://www.b9.com.br/55260/advertising/skol-volta-atras-e-troca-pecas-de-campanha-de-carnaval-por-opcoes-que-incentivam-o-respeito/> Acesso em: 26 jun. 2017. 10 B9. Skol esbanja diversidade em novo comercial viva a diferença. 2017. Disponível em: <http://www.b9.com.br/70151/skol-esbanja-diversidade-em-novo-comercial-viva-diferenca/> Acesso em: 7 out. 2017.
Percebemos, especificamente neste episódio, a relevância dos sites de redes sociais como
importantes meios de expressão e de contestação dos internautas (no caso de mulheres insatisfeitas
com o conteúdo entendido de uma campanha). Como Lévy e Lemos (2010) abordam, os indivíduos
adquirem condição de protagonistas e têm liberdade para, dentre outras coisas, circular quaisquer
conteúdos que julgarem pertinentes. Além disso, destacamos, como abordado por Jenkins (2014), a
capacidade e importância de propagação de mensagens desses sites, a ponto de uma publicação
alcançar milhares de pessoas no mesmo dia em que foi postada e, também, chegar rapidamente na
marca. Nesse sentido, reconhecemos, ainda, a movimentação da Skol de responder oficialmente ao
ocorrido com a nota, de entrar em contato com as mulheres que inicialmente denunciaram a
campanha e, finalmente, de trocar os materiais, produzir e veicular novos rapidamente.
Campanhas Carnaval de 2017 e Reposter
Depois do episódio acima relatado, percebemos uma mudança drástica na comunicação da
Skol, com um posicionamento claro voltado para a diversidade. Com esta mudança, os principais
públicos contemplados passaram a ser mulheres, pessoas portadoras de deficiências, pessoas negras,
pessoas com diferentes padrões de corpos e LGBTs11. Considerando nosso recorte para o presente
artigo, focamos nossa atenção ao público feminino. Sendo assim, vimos que a marca realizou duas
ações significativas relacionadas ao público feminino em 2017.
A primeira delas, chamada “Apito de Respeito” foi a reprodução de uma ação de um grupo de
São Luiz do Paraitinga. Três meninas decidiram distribuir apitos para mulheres no carnaval de sua
cidade para que, se a mulher se sentisse assediada, apitasse. Isso era uma forma de mostrar ao
assediador que ele estava exagerando, além de chamar a atenção de mulheres ao entorno para que
pudessem ajudar caso ela estivesse em uma situação de desconforto, ou até mesmo de perigo. A Skol
decidiu, assim, dar amplitude ao movimento dessas meninas e levou a ação para todas as praças em
que a marca patrocinou o carnaval: São Paulo, Belo Horizonte, Florianópolis, Salvador, Recife, entre
outras.
11 Sigla que designa pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneras e Transexuais.
A matéria12 da Revista Glamour anuncia que a marca amplia a iniciativa das meninas e traz a
fala da Maria Fernanda de Albuquerque, diretora de marketing da marca. “Há algum tempo, a Skol
vem incorporando essa mensagem de respeito, inclusão e valorização da diversidade. E estamos
aprendendo muito com esse processo. Desde a Parada LGBT de São Paulo, tem sido uma jornada
muito humana e que ainda irá render muito. O carnaval não poderia ficar de fora e queríamos fazer
algo. Quando soubemos do projeto da Lia, Marina e Amanda, quisemos entender como participar.
Junto com as meninas encontramos uma forma de começar a dar mais visibilidade à essa questão e
aproveitar para incentivar todas as pessoas a se divertir com mais respeito”.
A segunda ação diretamente relacionada ao público feminino foi a campanha Reposter, que
convidou seis ilustradoras, exibidas na Figura 6 a seguir, (Eva Uviedo, Criola, Camila do Rosário,
Elisa Arruda, Manuela Eichner e Carol Rosseti) para ressignificarem pôsteres antigos e machistas da
marca (Figura 5) sob seus olhares. O filme13 da campanha, postado na página do Facebook da Skol
no Dia Internacional da Mulher (celebrado oito de março) e no canal do YouTube da marca dia nove
de março obteve mais de 97 mil visualizações e, no Facebook, mais de 7,8 milhões de visualizações
(08/10/2017 às 21h).
O narrador fala: Essas imagens fazem parte do nosso passado. O mundo evoluiu e a Skol
também. E isso não nos representa mais. Em seguida, aparecem os textos: “Skol apresenta:
Reposter. Seis ilustradoras. Recriando pôsteres antigos de Skol. Sob um novo olhar.” As artistas
comentam, ao longo do vídeo: “Eu aceitei esse convite porque é importante desconstruir o
estereótipo, os preconceitos”. “Uma coisa que eu tive muita vontade de fazer foi tirar a mulher de ser
a pessoa que tá servindo a cerveja. Não. Ela tá tomando a cerveja.” “Que bom que a gente tá aqui pra
dialogar sobre isso, porque eu acho que o primeiro passo é o diálogo”.
O vídeo encerra fazendo um convite a todas as pessoas para avisarem a marca se virem algum
pôster antigo e machista. Além disso, criou um site14 para que outras mulheres pudessem
ressignificar cartazes antigos.
12 REVISTA GLAMOUR. Campanha contra assédio vai distribuir 50 mil apitos para mulheres em blocos de carnaval no país. 2017. Disponível em: <http://revistaglamour.globo.com/Lifestyle/Must-Share/noticia/2017/02/campanha-contra-assedio-vai-distribuir-50-mil-apitos-para-mulheres-em-blocos-de-carnaval-no-pais.html> Acesso em: 8 out. 2017.13 YOUTUBE. Campanha Reposter da Skol. 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=g_8fnMtbdso> Acesso em: 8 out. 2017. 14 SKOL. Site Reposter. 2017. Disponível em: <http://www.skol.com.br/reposter/> Acesso em: 8 out. 2017.
Figura 5 - Pôsteres antigos de campanhas Skol
Fonte: captura de tela do vídeo no YouTube.15
Figura 6 - Artistas da campanha Reposter
Fonte: captura de tela do vídeo no YouTube.16
Nesse sentindo, fica explícita a diferença de como a marca se relaciona com o público
feminino. As mulheres de Apito de Respeito e de Reposter são ouvidas pela marca, que lhes dá
espaço e protagonismo para suas atuações. Na primeira campanha, a Skol toma o cuidado de entender
que a causa era das meninas, mas demonstra preocupação em ampliar suas vozes e suas ações. Já na
segunda, a marca reconhece notadamente que errou e, por conta disso, pede ajuda a mulheres para
ressignificarem comunicações antigas com uma abordagem de respeito.
15 YOUTUBE. Campanha Reposter da Skol. 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=g_8fnMtbdso> Acesso em: 8 out. 2017. 16 Idem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Olhando para os momentos distintos das peças discutidas, podemos perceber, portanto, que
fica evidente que a marca se posiciona e se transforma, mudando seu tom de voz e a forma como
retrata e lida com mulheres. Ela chega, inclusive, a reconhecer que errou e afirma que as imagens do
passado não lhes representam mais (fazendo referência aos pôsteres antigos de Reposter, mas por que
não também às representações da campanha de 2013?). A partir disso, fala que redondo é sair do seu
passado, redondo é pensar em coisas novas, e convida, inclusive, as pessoas a entrarem em contato,
caso encontrassem algum daqueles cartazes antigos. Interessante destacar relação entre a postura da
Skol com a explicação de Semprini (2009) vista anteriormente sobre a necessidade da marca assumir
sua história e seu passado para, com inovação e criatividade, conseguir evoluir. O autor afirma que o
caráter inovador e criativo só é possível a partir de um projeto de marca que seja sólido e consistente,
mas que permita à marca adaptações. Vemos, assim, que a marca começa a demonstrar credibilidade
na sua mensagem de respeito à diversidade, visto que inicia a construção de uma narrativa para
estabelecer a confiança entre as pessoas, mostrando que seu projeto pretende ser sólido, consistente e
duradouro.
REFERÊNCIAS
JENKINS, Henry. Cultura da conexão: criando valor e significado por meio da mídia propagável./ Henry Jenkins, Sam Ford e Joshua Green; tradução Patrícia Arnaud. São Paulo: Aleph, 2014. LEMOS, André.; LÉVY, Pierre. O futuro da Internet: em direção a uma ciberdemocracia planetária. São Paulo: Paulus, 2010. RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009. SATO, Silvio. Koti. Mobilidade, comunicação e consumo: expressões da telefonia celular em Angola, Brasil e Portugal. São Paulo: S. Sato, 2015. SEMPRINI, Andrea. A Marca pós-moderna: poder e fragilidade da marca na sociedade contemporânea. Tradução Elisabeth Leone – 2. ed. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2009
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