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B10 Economia DOMINGO, 23 DE OUTUBRO DE 2011 O ESTADO DE S. PAULO

RIO

Omodelodecrescimentopuxa-do pelo consumo e pelos servi-çospodeestarminandoocresci-mento da produtividade do tra-

 balhonoBrasil,paraSamuelPes-sôa, economista da consultoriaTendências. “O problema é que

aprodutividadenosetordeservi-ços no Brasil é muito baixa, e édifíciloPaíscrescerapenascomserviços”,diz Pessôa.

Pedro Cavalcanti Ferreira,economista da Escola de Pós-Graduação em Economia daFGV,fezumexercíciodecompa-raçãoentreaevoluçãodaprodu-tividade no Brasil e na Coreiaporsetoresda economia. A con-clusãodeleéque,apesardoespe-tacular crescimento da indús-tria coreana, a diferença entre atrajetória da produtividade dosserviços nos dois países explica

muitomaisdoqueaprodutivida-deindustrialporqueaCoreiadis-parouemrelaçãoaoBrasildesdeosanos70.

“A produtividade do trabalhodosserviçosnoBrasilhojeébemmenosdametadedaqueladain-dústria, enquanto no começodos anos 70 as duas eram maisou menos a mesma coisa”, dizFerreira.Segundosuasestimati-

 vas,aprodutividadedaindústriacresceucercade 50%entre1970emeadosdadécadapassada,eados serviços caiu quase 30% nomesmoperíodo.

Pessôa nota que, dos anos 50atéadécadade70,oBrasilcres-

ceu de forma parecida com a daChinaatualmente,com a migra-

ção de trabalhadores do setoragrícola de baixa produtividadeparaosetorurbanoeindustrial.

Masesseprocesso,continuaoeconomista,tevepouco fôlego eencerrou-se no fim dos anos70.

 Aescassapoupançabrasileira,ca-racterística constante da histó-ria econômica do País, limitou acapacidade de investimento,quefoi ainda maiscomprometi-danacrisedadívidadosanos80.

“Está bem documentado que,aolongodadécadade80,houveuma transição estrutural, naqual a indústria encolheu e osserviços aumentaram – isso ex-plicapartedaquedadaprodutivi-

dade na época”, diz Pessôa. Eleexplicaqueocrescimentopuxa-do pela poupança, pelo investi-mento e pela exportação é maisfavorávelàindústria,enquantoaexpansão ligada ao consumo eao mercado doméstico tende afavoreceros serviços.

O economista também vêuma relação entre reformas es-truturaispró-mercadoeaumen-to da produtividade,só queesseefeito é defasado no tempo. As-sim,asreformasdogovernoCas-teloBranco, coma duplaRober-toCamposeOctávioBulhões,te-

riampavimentadoaprodutivida-dedomilagreeconômico,eoes-tatismodaeraGeiselteriacausa-doareversãodosanos80e90.

Da mesma forma, eleacreditaqueasreformasdogovernoFer-nando Henrique Cardoso e doprimeiro mandato de Lula abri-ram caminho para uma alta da

produtividade brasileira de2003atéacriseglobalem2008.

Com a crise, a produtividadedespencourecuperando-serapi-damente em 2009.Mas, a partirde2010,parou decrescer,o quePessôa atribui à volta do inter-

 vencionismoestatale aopadrãodecrescimentopuxadopelocon-

sumo,pelosserviçosepelomer-cadointerno–tendênciasquega-nharam força a partir do segun-domandatodeLula.  / F.D.

Ênfase no consumoe nos serviços limita ganhos

THIAGO TEIXEIRA/AE-25/8/2011

FernandoDantas / RIO

OtrabalhonoBrasilnãosetor-nou mais produtivo ao longodosúltimos30anos.Aproduti- vidade do trabalho, fator fun-damentaldocrescimentoeco-nômico sustentado, caiu en-tre1980e2008.Deláparacá,oindicadorrecuouna crise glo-

bal, depois se recuperou rapi-damente, mas parou de cres-cera partirdo segundosemes-trede 2010.

“O Brasil é um país no qual,nãoimportacomosemeçaapro-dutividade, nadaparece aconte-cer”,dizJoséAlexandreScheink-man, economista brasileiro daUniversidadePrinceton.

Em 1980, um trabalhadorbra-sileiroproduziaemmédiaoequi-

 valenteaUS$21milporano.Em2008, esse número havia caídoparaUS$17,8mil.Houve,portan-

to,quedade15%noperíodo.Es-ses dados fazem parte da Penn

 WorldTable,bancodedadosdoCentroparaComparaçõesInter-nacionais de Produção, Renda ePreços da Universidade da Pen-silvânia,comindicadoreseconô-micosde189paíseseterritórios.

Osnúmerosvãoaté2008paraamaioriadospaíses,inclusivepa-ra o Brasil. Os valores da Penn

 WorldTablesobreaprodutivida-dedotrabalhosãotodosconver-tidos para dólares de 2005, comparidade de poder de compra(PPP). Isso significa que a dife-

rença de custo de vida entre osdiferentes países é eliminada.

Entre os 150 países da Penn WorldTablecomdadoscomple-tos de produtividade do traba-lho entre 1980 e 2008, o Brasilestá em 130.º em termos de de-sempenhoneste período.

OBrasilsóganhade21países,sendo11daÁfrica,incluindoCos-ta do Marfim, Malawi, Somália,

Camarões,TogoeZimbábue.To-dososoutrospaísesafricanosti- veram desempenho melhor doqueoBrasil.

NaAméricaLatina,aevoluçãoda produtividade do trabalho

 brasileira nas últimas três déca-das só não é pior do que a apre-sentada por Paraguai, Venezue-la,Nicarágua e Haiti.

Comparado a outras grandeseconomiasemergentes,ouapaí-sessul-americanoscomoArgen-tina e Chile, o Brasil tem o piordesempenho na produtividadedo trabalhoentre1980 e 2008.

 A Argentina saiu de US$ 21,2mil para US$ 24,8 mil (alta de17%). O Chile, de US$ 15,1 milpara US$ 27,5 mil (82%). A Chi-na,de US$1,2 milparaUS$ 10,9

mil (778%). A Índia, de US$ 2,8mil para US$ 7,8 mil (181%). E aCoreia, finalmente, de US$ 14 milpara US$50 mil (256%).

Scheinkman nota ainda que,comoproporçãodaprodutivida-de do trabalhodos Estados Uni-dos, o desempenho brasileironas últimas décadas também émuitoruim.“OsEstadosUnidossãoafronteira,eoBrasilnãoestá seaproximando”, elediz.

Naverdade,oBrasilconvergiuna direção dos Estados Unidosentre 1950 e 1980, e depois re-

cuou de novo até 1988. Assim, aprodutividade do trabalho noBrasil era 18% da americana em1950,avançouaté40%em1980e

 voltou para21% em 2008.Emcomparação,aCoreiasaiu

de 14% da produtividade do tra- balho americana em 1953 (pri-

meiro ano com dados na Penn World Table) para27% em1980e 60% em 2008. É interessantenotar que, entre 1950 e 1980, oBrasil avançou mais rápido doqueaCoreia.

TantoosdadosdoBrasilquan-to da Coreia do Sul são da Penn

 World Table, em PPP,e diferemdosvaloresdográficoaolado,doConferenceBoard,emboraaten-dência sejaa mesma.

Para Scheinkman, a má per-formance brasileira deve-se adeficiências de educação e in-

fraestrutura,à integraçãoainda baixa com a economia global, à  baixa absorção de tecnologia, à faltadeinovaçãoemmuitosse-torese às dificuldadesburocrá-ticasparaformalizarouaumen-taro tamanho dasempresas.

Elenota queprogramas comoo Simples,que aliviama tributa-ção para as pequenas empresas,ajudam na formalização mas se

tornamumdesincentivoaocres-cimento. “As empresas não ga-nhamaescalanecessáriaparasetornarem mais produtivas, tro-cando-se um problema pelo ou-tro.”

Scheinkmanressalva,porém,queaagriculturaéumsetoremque a produtividade teve gran-des avanços no Brasil. “As pes-soas reclamam da agricultura,mas não percebem que ela vaimuitomelhor queos outrosse-toresemtermosdeprodutivida-de”,elediz.

OeconomistaSamuelPessôa,da consultoriaTendências, achaque uma série de fatores inter-rompeu o bom desempenho daprodutividade do trabalho noBrasil a partir do início da déca-

dade80.Umdosmaisbásicosfoiaevo-lução da tecnologia a partir demeados dos anos 70, que come-çou a exigir trabalhadores commelhorqualidade educacional.

“Aquele milagre brasileiro nopós-guerra,emumpaísdebaixís-simaescolaridade,sem nenhuminvestimento em educação, sedissipou, porque a tecnologiamudounadireçãoderequererca-pitalhumano,queeraexatamen-te o que não tínhamos e aindanãotemos”,diz Pessôa.

Produtividadebrasileira está

parada há 30 anosDados daUniversidadedaPensilvâniamostramque, entre 151países, Brasil está em 130º, com recuo de 15% entre 1980 e 2008

●Resultados

Avançada. Máquinasfazem colheitaautomatizada de cana-de-açúcar no interiorde São Paulo: agricultura é um dossetoresem que a produtividade brasileira obteve avanços nosúltimosanos

●Mudança

PEDRO CAVALCANTIFERREIRAECONOMISTA

“A produtividade do trabalho dos

serviços no Brasil hoje é bem

menosda metade daquela da

indústria, enquanto no começo

dos anos 70as duaserammais

oumenosa mesma coisa.”

ParaSamuel Pessôa,intervencionismo da eraGeisele atual modeloeconômicofreiam oavanço da produtividade

US$ 21 milerao quanto

um trabalhador brasileiro

produzia porano,

em média, em1980

US$ 17,8 milera o quanto

um trabalhador brasileiro

produzia porano,

em média, em 2008

15%foi a queda da

produtividadedo

trabalhador brasileiro

entre 1980e 2008

18%era a porcentagem

da produtividadebrasileira

em relaçãoà americana

em 1950

40%eraa porcentagem da

produtividadebrasileira

em relaçãoà americana

em 1980

21%eraa porcentagem da

produtividadebrasileira

em relaçãoà americana

em 2008

QUEDA

l Produtividade do trabalho

no Brasil*

INFOGRÁFICO/AEFONTE:IBRE/FGV

*Evolução do PIB por hora trabalhada apreços de 2000; em número-índice, comprimeiro trimestre de 1992 igual a 100,**Projeção do Ibre/FGV

EM PORCENTAGEM POR TRIMESTRE

119,0

120,0

121,0

122,0

123,0

124,0

125,0

126,0

127,0

128,0

129,0

1º TRI2008

128,9

3º TRI**2011

2008

EM DÓLARES POR TRABALHADOR POR ANO

Coréia

Argentina

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

Chile

Brasil

ChinaÍndia

24.784

17.897

27.532

10.9397.801

50.989

1953

BRASIL EM RITMO LENTO

l Produtividade do trabalho

FONTE: PENN WORLD TABLE VERSÃO 7.0 (ALAN HESTON, ROBERT SUMMERS E BETTINA ATEN, CENTRO PARA COMPARAÇÕESINTERNACIONAIS DE PRODUÇÃO, RENDA E PREÇOS DA UNIVERSIDADE DA PENSILVÂNIA, MAIO DE 2011)

INFOGRÁFICO/AE

PRODUTIVIDADE DO TRABALHO

INFOGRÁFICO/AE

1960 2010EM NÚMERO ÍNDICE

Coreiado sul

Índia

China

Brasil

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6

O INDICADOREUA é igual a 1 neste

indicador. A produtividadecoreana, por exemplo,equivale a 60% dos EUA

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