COMO CITAR:
FONTANA, Mónica G. Zoppi. Argu(meme)ntando Argumentação, discurso digital e modos de dizer.
[Apresentação em Power point]. In: III Seminário Internacional de Estudos sobre Discurso e Argumentação (III
SEDiAr). Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão, 2016. Disponível em:
<http://octeventos.com/sediar/programacao-minicursos.php>. Acesso em: 4 jul. 2016.
ARGUMENTAÇÃO E DISCURSO
Pensar a argumentação de uma perspectiva materialista, tendo a
língua, a enunciação e o discurso como objetos, é pensar os modos
pelos quais a linguagem verbal (e outras materialidades significantes)
permitem direcionar o dizer para uma conclusão, inscrevendo-o nos
conflitos ideológicos que constituem uma sociedade.
A argumentação se dá, assim, numa relação entre:
• as formas da língua,
• a textualização das mesmas em determinadas condições de
produção
• a memória do dizer, ou interdiscurso, no qual se inscrevem as
contradições ideológicas presentes na sociedade.
ARGUMENTAÇÃO E ENUNCIAÇÃO
É no acontecimento da enunciação que a argumentação é produzida
e pode ser observada, como um efeito da relação entre língua, texto e
discurso, a partir da inscrição do dizer de um sujeito em posições
discursivas ideologicamente marcadas e em condições de produção
historicamente determinadas.
Sem referir os enunciados ao acontecimento de sua enunciação e à
memória de dizer que atravessa as formulações, não é possível
interpretar o movimento argumentativo nem os efeitos de sentido
nele produzidos.
FORMA MATERIAL E CIRCULAÇÃO DOS SENTIDOS
FORMA MATERIAL (Orlandi, 2001) linguístico-histórica, nem substância
empírica (o fenômeno observável na sua singular existência) nem forma
abstrata (uma pura relação opositiva na estrutura). A forma material é efeito
de uma praxis, ou seja, das práticas simbólicas de sujeitos na história.
Três movimentos constitutivos do processo de produção de sentido:
• A constituição: a inscrição dos enunciados na memória do dizer pela
filiação do sujeito a posições-sujeito no interdiscurso, na sua contradição
constitutiva
• A formulação: a textualização das formas linguísticas e de outras
materialidades significantes
• A circulação: o modo de existência histórica dos enunciados em condições
de produção concretas, seu modo de circulação na sociedade afetado pelas
relações desiguais de poder.
MARCELA TEMER: BELA, RECATADA E “DO LAR”
A quase primeira-dama, 43 anos mais jovem que o marido,
aparece pouco, gosta de vestidos na altura dos joelhos e sonha
em ter mais um filho com o vice
Por: Juliana Linhares18/04/2016 às 19:14 - Atualizado em 18/04/2016 às 19:14
Marcela é uma vice-primeira-dama do lar. Seus dias consistem em levar e trazer Michelzinho da escola, cuidar da casa, em São Paulo, e um pouco dela mesma também (nas últimas três semanas, foi duas vezes à dermatologista tratar da pele).
"Marcela sempre chamou atenção pela beleza, mas sempre foi recatada", diz sua irmã mais nova, Fernanda Tedeschi. "Ela gosta de vestidos até os joelhos e cores claras", conta a estilista Martha Medeiros.
V E J A
H T T P : / / V E JA. AB R I L . C O M . B R / N O TI C I A/ B R AS I L / B E L A -
R E C ATAD A - E - D O - L AR
MEMES
ARGU(MEME)TANDO: DISCURSO LÚDICO + POLÊMICO
MEME: é um gesto de interpretação frente a memória metálica, filiado à memória discursiva da chamada cultura dos memes. (COELHO, 2015)
CONDENSAÇÃO: textos curtos, elementos visuais simples
REPETIÇÃO- RÉPLICA(BILIDADE): elementos repetidos em série. Sites para produção de memes. Os sentidos, através da replicação, se espalham e transbordam, e é através deste gesto que o meme se altera, e se ressignifica.
HUMOR: Um dos objetivos primários na criação de memes – o humor.
IMBRICAMENTO DE DIFERENTES MATERIALIDADES SIGNIFICANTES: imagem (estática ou em movimento) – escrita - som
ORLANDI , (1983) D ISCURSO LÚDICO: DOMINÂNCIA DA
POLISSEMIA, REVERSIBIL IDADE NAS RELAÇÕES
INTERLOCUTIVAS , REFERÊNCIA SUSPENSA
ÍCONES HISTÓRICOS E MEMÓRIA FEMINISTA
SUBVERSÃO DO SENTIDO NA REPETIÇÃO FORMAL
Repetição formal, com deslocamento ideológico. Repete a
formulação, deslocando o sentido.
MEME “BELA RECATADA E DO LAR” Há um trabalho sobre o texto
e sobre processo discursivo, pela filiação a diferentes posições-
sujeito na memória discursiva.
Retoma a memória horizontal-metálica da rede, ao reproduzir
elementos já estabilizados na construção de MEMES; repete o
enunciado-manchete da VEJA, porém desloca e inverte seu
sentido.
IMAGEM e TEXTO em contradição. Há incongruência entre eles.
Imagem representa um elemento que contradiz o dizer.
TUMBLR BELA, RECATADA E DO LAR - SELFIES-MEMES
Tudo bem ser bela, recatada e do lar. Tudo bem ser o completo oposto disso.
Porque ao contrário do que a Veja gostaria de impor, as mulheres vão ser
o que elas bem entenderem!
Manas, muito obrigada pelas contribuições! Aos poucos vamos autorizando
tudo, colocando legendas nas fotos que estão sem e publicando. mande
sua foto
H T T P : / / B E L AR E C ATAD A E D O L AR . T U M B L R . C O M
Práticas de resistência ancoradas no lugar de enunciação do eu
Corpo = espaço simbólico de resistência
EU = SUJEITO POLÍTICO CONTEMPORÂNEO
SELFIES: ENUNCIAÇÃO DO EU + INSCRIÇÃO NO CORPO
→ CIRCULAÇÃO NAS REDES
SELFIES-MEMES = FORÇA CUMULATIVA
Pessoas anônimas = não há identificação pelo nome mas pelo corpo
A singularidade de um corpo simbolicamente significado por um
dizer mostrado em sua ancoragem enunciativa no eu.
A força dessa modo de argumentar na rede pelos MEMES está no
acúmulo, no efeito de série (#hashtags), na repetição, um
funcionamento pelo excesso.
É o inverso a um modo de argumentar por autoridade, que se
sustenta na legitimação prévia do locutor.
O dizer do meme se fortalece na sua capacidade de repetição.
HASHTAG PRODUZ O EFEITO DE SÉRIE, DÁ
VISIBILIDADE À REPETIÇÃO = EFEITO DE REFORÇO
Hashtags são palavras-chave
antecedidas pelo símbolo "#", que
designam o assunto que está
sendo discutido em tempo real no
Twitter.
As hashtags viram hiperlinks
dentro da rede e indexáveis pelos
mecanismos de busca. As
hashtags mais usadas no Twitter
ficam agrupadas no
menu Trending Topics.
HASHTAG = ETIQUETAGEM/CLASSIFICADOR
O P E RAM CO M O UM A I NS TRUÇÃO DE
R E L E I T U R A E R E I N T E R P R E TAÇ Ã O
M O S TR AD A P E L O L O C U TO R - T U I TE I R O, Q U E
P R O J E TA U M C E R TO M O D O D E D I Z E R P O R
M E I O D E U M A E T I Q U E TA D E I N D E X AÇ Ã O
DESLOCAMENTOS E SUBVERSÃO NA FORMULAÇÃO DO ENUNCIADO
CARICATURAS E CHARGES
IRONIA - DESCONSTRUÇÃO DO LUGAR COMUM
Pela ironia, colocamos em jogo nossas convicções, ou seja, nossas
"suposições prévias" que garantem o funcionamento do senso-
comum.
Suspendemos a relação com o senso-comum em vários domínios.
A menção ecoica, a distância crítica, se faz sobre o senso-comum.
Para ter efeito irônico, o discurso deve instaurar alguma coisa de
insólito, de incongruente, pressupondo a congruência e solidez
do senso-comum. Essa incongruência pode ser observada em
sua função de ruptura, de destruição. (Orlandi, 2012)
INCONGRUÊNCIA ENTRE DISCURSOS DESTRUIÇÃO
E DERIVA DO SENTIDO
DESLOCAMENTOS, INVERSÕES, TRANGRESSÕES
TEXTUALIZAÇÃO NA CONTRADIÇÃO DE MATERIALIDADES
SIGNIFICANTES
Efeito de releitura reinterpretação na rede, retoma um enunciado por repetição e o confronta a novas CP e novo processo de textualização.
Imagem é fundamental na produção e interpretação dos deslocamentos ideológicos.
Contradição interna ao texto , incongruência, que impede seu fechamento, abre para a indeterminação.
Uma modalidade de argumentar própria do discurso digital. MEME é um objeto paradoxal por excelência. Legitima uma réplica, pelo excesso de repetição.
Desestabiliza lugar comum e estabiliza novos sentidos transgressivos ou melhor o próprio movimento de transgressão, dado que os sentidos são divergentes e dispersos.
MODALIZAÇÃO AUTONÍMICA
Menção ecoica = reproduz o enunciado do locutor cujo dizer e posição
discursiva serão ridiculizados.
É a incongruência entre imagem e texto que produz o modo de dizer
irônico.
Imagem funciona como uma glosa metaenunciativa que afeta o sentido do
enunciado reproduzido, que aparece assim modalizado
autonimicamente.
Há um desdobramento do dizer, que suspende, desmonta o sentido do
enunciado comentado, pórém , deixando a interpretação em aberto.
Não há substituição de um discurso pelo outro, mas sobreposição,
releitura e reinterpretação no imbricamento de materialidades
significantes e na contradição de posições-sujeito no interdiscurso.
Efeito irônico. Discurso lúdico e polêmico.
DAS REDES SOCIAIS PARA OS TEXTOS JORNALÍSTICOS
BRASIL 247 Eduardo Guimarães é responsável pelo Blog da Cidadania
Um golpe “belo, recatado e do lar”
5 de Maio de 2016
O golpe encabeçado por Michel Temer, assim, assume as supostas
qualidades atribuídas pela mídia amiga à sua mulher. O Brasil está
sofrendo um golpe travestido, com carinha de recatado, todo
envergonhado. Um golpe belo, recatado e do lar, como convém a
esses grupos hipócritas que apoiam esse ato criminoso.
HTTP : / / WWW.BRAS I L 2 4 7 .COM/PT /COLUNIS TAS / E DUARDO G UI M ARAE S / 2 3
0 2 5 8 / UM -GOL P E - %E 2 %8 0 %9 C B E L O - R E C ATAD O - E - D O -
L AR %E 2 %8 0 %9 D . H T M
ENTRE O CINISMO E O ABSURDO
MEME Efeito de humor, a partir do funcionamento do discurso lúdico, que abre para a
polissemia. Ao incorporar um modo de dizer irônico, se inscreve também no
funcionamento polêmico das relações entre interlocutores e discursos.
Produz no embate discursivo uma desqualificação e uma contra-argumentação pelo
absurdo. Destruição da evidência produzida por um discurso cínico.
A razão cínica, conceito proposto por Sloterdijk, vai mais no sentido de uma
impostura, como se passássemos, no nível ideológico, da célebre formulação de
Marx (“eles não o sabem, mas o fazem”) para um “eles sabem muito bem o que
estão fazendo, mas mesmo assim o fazem”. Uma subjetivação assumida apenas
para ser parodiada (Baldini, 2012)
ARGU(MEME)NTAR como prática de resistência, potencializada pelo
excesso da memória metálica
A EFICÁCIA DE UM MODO DE DIZER QUE DENUNCIA O
ABSURDO NA ENUNCIAÇÃO DO SUJEITO CÍNICO
CONTEMPORÂNEO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BALDINI, L.J (2012) Discurso e cinismo. In: Mariani, B. & V. Medeiros (orgs.) Discurso e...
Rio de Janeiro, 7Letras-Faperj, p. 103-112.
COELHO, André L. P. F. Brace yourselves, memes are coming : formação e divulgação de
uma cultura de resistência através de imagens da internet . Dissertação de Mestrado.
Campinas-SP, Labjor-UNICAMP, 2014.
ORLANDI, Eni Discurso em Análise. Sujeito, sentido, ideologia. Campinas, Pontes, 2012
_______. Destruição e Construção Do Sentido: Um Estudo Da Ironia. In: Revista
WEBdiscursividade, Edição n° 09 - Janeiro/2012 - Maio/2012 -
www.discursividade.cepad.net.br
VASCONCELOS, J. Cláudio. Análise Discursiva dos Comentários: Textualização e
Historicidade do / sobre o Marco Civil da Internet. Dissertação de Mestrado. São
Carlos-SP, UFSCAR, 2015.
ZOPPI FONTANA, M. e S. ELIAS DE OLIVEIRA. Tá Serto! Só Que Não... Argumentação,
Enunciação, Interdiscurso. (no prelo)
OBRIGADA
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