FACULDADE SÃO CAMILO
PÓS-GRADUAÇÃO EM NEUROCIÊNCIAS E PSICANÁLISE
APLICADAS À EDUCAÇÃO
A IMPORTÂNCIA DO TREINO COGNITIVO PARA A MELHORIA
DO DESEMPENHO ACADÊMICO EM CRIANÇAS E
ADOLESCENTES COM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
Trabalho de Conclusão de curso
apresentado à coordenadoria de Pós-
graduação da Faculdade São Camilo,
como requisito parcial para obtenção do
título de Especialista em Neurociências e
Psicanálise aplicadas à educação.
Orientadora: Dra. Maria Amin de Oliveira
Belo Horizonte
Maio
2014
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar um trabalho de intervenção de treino
cognitivo em crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizagem. A abordagem
parte de pesquisas da área de Neurociências, com foco na relação entre o
desenvolvimento de funções executivas e desempenho cognitivo. A princípio, foi
realizado um levantamento da abordagem teórica sobre a definição de funções
executivas e sua associação com alguns transtornos de aprendizagem e análise de
programas de treino cognitivo, que possuem como objetivo a estimulação de habilidades
cognitivas. Em seguida, foi desenvolvido um protocolo de intervenção para treino
cognitivo, com um viés neuropedagógico, para estimular habilidades de atenção
alternada, memória de trabalho, planejamento, percepção, raciocínio lógico,
flexibilidade cognitiva e regulação emocional. A bibliografia utilizada aborda as
contribuições de diversos autores que trazem considerações importantes sobre o tema
como Cosenza (2011), Capellini et al (2010); Rotta et al (2006); Seabra (2013); Barkley
(1997), entre outros. Observa-se a necessidade de propor intervenções mais flexíveis
que atendam a necessidade específica do sujeito, em contraposição ao formato de
programas que possuem atividades engessadas que dificultam o olhar sobre a real
necessidade do paciente ou aluno.
Palavras chave: Treino cognitivo - funções executivas - neurociências
INTRODUÇÃO
Para uma melhor compreensão do processo da aprendizagem, sob a perspectiva das
neurociências, é necessário conhecer o funcionamento do cérebro humano e as partes
mais ligadas á cognição. Não é pretensão deste trabalho analisar mais detalhadamente as
estruturas cerebrais.
O cérebro é responsável pela execução de respostas do organismo ao ambiente externo.
É através das sinapses que as informações sensoriais chegam até o Sistema nervoso
central, que é responsável por processar as mesmas e enviar respostas na forma de
comportamento. O cérebro é constituído por diversas partes que possuem funções
específicas. É dividido entre os hemisférios esquerdo e o direito sendo conectados por
um feixe de fibras nervosas chamado corpo caloso. O lobo frontal está associado ao
planejamento da atividade motora, articulação da fala, pensamento, organização,
planejamento, tomada de decisões, enfim tudo o que nos torna seres racionais,
diferenciados das outras espécies animais. O lobo parietal responde pela interpretação
das sensações e pela orientação do corpo. O lobo occipital interpreta a visão. Nos lobos
temporais a audição, as emoções e a memória são trabalhadas, fornecendo ao indivíduo
a capacidade de identificar e interpretar objetos ao recuperar informações passadas.
Cada lobo especializa-se numa dada função e nenhum consegue trabalhar isoladamente
(CONSENZA,2011).
A parte do cérebro responsável pela cognição é o córtex pré frontal, onde ocorre a
tomada de decisão e as orientações para que o organismo possa responder aos estímulos
do meio ambiente. É também responsável pelo planejamento e por funções complexas
como memória, atenção, consciência, linguagem, percepção e pensamento. Há também
um órgão muito importante para a aprendizagem, o sistema límbico, responsável pelos
comportamentos instintivos, pelas emoções e pelos impulsos básicos ligados à
sobrevivência. Suas fibras nervosas se conectam a outras áreas do encéfalo, em especial
ao córtex frontal inferior interferindo na expectativa, sistema de recompensa e na
tomada de decisões.
O nosso cérebro está em constante mudança. Esse processo é definido como a
neuroplasticidade, ou seja, a propriedade de modificar as conexões entre os neurônios.
A aprendizagem se dá através de experiências que permitem a reorganização da
estrutura do nosso cérebro. A plasticidade cerebral, ou seja, o conhecimento de que o
cérebro continua a desenvolver-se, a aprender e a mudar, até à senilidade ou à morte
também altera nossa visão de aprendizagem e educação.A cada experiência novas redes
se formam, estruturando a capacidade mental do indivíduo, para produzir mecanismos
comportamentais importantes para a sobrevivência ou o sucesso nas interações com
diversos ambientes (Guerra, 2010).
Pressupõe-se, então, que para estimular o aprendizado é necessário considerar o bom
funcionamento do cérebro, tendo em vista a capacidade do indivíduo de exercer bem
algumas habilidades que interferem diretamente na memorização e articulação de
informações necessárias para o bom desempenho acadêmico. É necessário que o
professor ou o profissional que lida com o conhecimento observe a funcionalidade
cognitiva da criança ou adolescente para assim trabalhar com o potencial específico de
cada aluno e criando estratégias para estimular habilidades comprometidas.
Com base nas explicações acima o presente trabalho tem por objetivo esclarecer sobre a
importância da utilização do treino cognitivo, que consiste em estimular habilidades
cognitivas e a autorregulação emocional, para fomentar o potencial intelectual de
crianças e adolescentes que possuem transtornos ou dificuldades de aprendizagem. A
elaboração do artigo parte de experiências clínicas, em atendimentos com um programa
específico de mediação neurocognitiva, em pacientes que apresentam algum grau de
disfunção executiva, devido a fatores neurológicos, como é o caso de pessoas com o
TDAH - transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, ou ainda, fatores emocionais
e comportamentais, com a presença de prejuízos acadêmicos, apesar de possuírem
capacidade intelectual adequada.
O trabalho de treino cognitivo consistiu em realização de atividades lúdicas e exercícios
direcionados para estimular habilidades como atenção, memória, organização e
planejamento, funções executivas essenciais para que o aluno possa aprender de forma
eficiente e autônoma. A partir dessa prática buscou-se organizar um pequeno protocolo
de atividades que orientem profissionais da área clínica ou escolar a estimular
habilidades específicas, a fim de diminuir os prejuízos causados por estas inabilidades
no cotidiano escolar.
1. FUNÇÕES EXECUTIVAS E APRENDIZAGEM
Estudos relacionados a Neurociências e aprendizagem apontam para a necessidade do
conhecimento do funcionamento do cérebro, visando assim, articular metodologias de
ensino com as estruturas neurológicas específicas. O ato de aprender não se resume
simplesmente na absorção de informações e memorização. Há outros processos
importantes nas etapas da aprendizagem que devem ser considerados. Estudos
acadêmicos sobre a relação entre Funções Executivas e desempenho escolar apontam
para a importância em considerar a relação direta entre o desempenho de ambos. Lima
et al (2009), juntamente com outros autores, apresenta um trabalho em que avalia
crianças e adolescentes sem dificuldades de aprendizagem em testes padronizados de
Funções executivas e compara com as habilidades escolares. Em sua explicação sobre o
trabalho ele alega que:
O desenvolvimento das habilidades escolares (leitura, escrita, cálculo) está relacionado diretamente com a organização de diferentes funções corticais, tais como a atenção e as funções executivas. Por exemplo, a leitura pressupõe inicialmente a capacidade de selecionar uma área específica do campo visual, o processamento de informações relevantes e o filtro das informações irrelevantes dos distratores. Isto é, a atenção visuoespacial age como filtro que acentua as informações do alvo (facilitação) e suprime informações dos objetos distratores (inibição) ou ambos. Dessa maneira, no processo de leitura é necessária a integração das informações do processamento visual (discriminação, organização visual e visuo-espacial) dos símbolos gráficos (grafemas/letras),auditivo/linguístico (decodificação fonológica, conversão grafema-fonema) e requerem capacidade e controle atencional e a mediação das funções executivas.
Portanto pode-se inferir que para o bom aprendizado é necessário atentar para todas as
partes do cérebro envolvidas na execução de tarefas acadêmicas. Tanto a habilidade de
leitura quanto a de cálculos matemáticos, funções básicas para o desenvolvimento
escolar, estão relacionadas a outras funções, sendo que a atenção é a primordial. Um
estudante que não consegue manter a atenção, provavelmente vai falhar em várias
tarefas, mesmo que não possua dificuldades para aprender.
A atenção pode ser definida como capacidade de direcionamento dos processos mentais, de modo que o indivíduo atende aos estímulos que são considerados relevantes e ignora os irrelevantes à tarefa desempenhada. Esta função pode ser dividida em: seletiva, sustentada, alternada e dividida (LIMA et al 2009).
O artigo em questão prioriza o trabalho de estimulação de Funções executivas (FEs),
que são componentes específicos do nosso cérebro, possibilitando nossa interação com
o mundo externo, frente às mais diversas situações que vivenciamos. Por meio delas o
pensamento é organizado, levando em conta as experiências e conhecimento prévios
armazenados na memória, assim como as expectativas em relação ao futuro, sempre
respeitando o contexto individual. Dessa forma, pode-se estabelecer estratégias
comportamentais e dirigir as ações de uma forma objetiva, mas flexível, que permita,
ao final, chegar ao objetivo desejado.
Há uma gama de definições para as FEs. Segundo Seabra “as funções executivas podem ser definidas como um conjunto de processos cognitivos e metacognitivos que, juntos, permitem que o indivíduo possa se envolver (com sucesso) em comportamentos complexos e direcionados a metas” (SEABRA & DIAS, 2013, p.9).
A definição mais comum é a de Fuster (1997) que define as FEs “como um conjunto de
funções responsáveis por iniciar e desenvolver uma atividade com objetivo final
determinado.”
Segundo Seabra & Dias (2013) as principais habilidades que integram o conjunto das
funções executivas são: planejamento, flexibilidade cognitiva, memória de trabalho,
atenção seletiva, controle inibitório e monitoramento ou metacognição.
Em relação aos transtornos de aprendizagem e sua associação com as funções
executivas o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é a doença
neurológica mais comum em que se verifica claramente os prejuízos acadêmicos
decorrentes da dificuldade em sustentar a atenção em tarefas que exigem esforço
mental. Alguns autores associam o TDAH a uma síndrome disexecutiva, (BARKLLEY,
1997), ou seja, apresenta um conjunto de prejuízos relacionados a dificuldade em
utilizar as funções que incluem raciocínio, lógica, estratégias e tomada de decisões,
além de manter ações permanentes de controle mental. Este conjunto de funções tem um
papel central na organização e no planejamento de todas as nossas ações, pois auxiliam
na manutenção de iniciativa, estabelecimento de objetivos, monitoramento de tarefas
por meio do autocontrole através da revisão das estratégias de acordo com o plano
original (modulação do comportamento).
O TDAH é um dos transtornos mais conhecidos e discutidos na atualidade,
principalmente na esfera escolar. O diagnóstico só pode ser realizado por uma equipe
multidisciplinar, composta de neuropsicólogos, fonoaudiólogos, pedagogos e o
neurologista ou psiquiatra para fechamento do laudo. Apesar disso, o professor possui
um papel muito importante na descoberta do transtorno, pois a observação da criança ou
adolescente em sala de aula, comparando-o com seus pares, fornecem claras evidências
dos prejuízos que denunciam uma disfunção neurológica.
Estudiosos apontam alguns aspectos do transtorno com o gene da dopamina tipo 2 e o
gene transportador da dopamina e o D4RD. Dessa forma pode-se esperar que aqueles
indivíduos que apresentam uma maior vulnerabilidade ao transtorno possam apresentar
sintomas significativos apenas a partir do momento em que a demanda ambiental passa
a ser maior. Em crianças, por exemplo, esse fato pode ocorrer apenas a partir de uma
terceira ou quarta série do ensino fundamental, em que as habilidades relacionadas à
função executiva, como planejamento, organização e persistência de foco atencional,
tornam-se ainda mais imprescindíveis para a realização de tarefas escolares (CAPELLINI
et al, 2010,p.22).
No tratamento do TDAH além da terapia medicamentosa há indicação para
acompanhamento de terapias comportamentais e cognitivas. Também orientação para os
pais e adaptações na escola, com o objetivo de montar uma estrutura que atenda as
especificidades da criança ou adolescente.
A disfunção executiva não é exclusividade do TDAH. Há outros transtornos como o
autismo e a esquizofrenia em que se verificam dificuldades significativas nas funções
cognitivas. Pessoas sem nenhum problema neurológico também podem apresentar
falhas na utilização das funções executivas. Por essa razão faz-se necessário recorrer a
avaliações padronizadas para mensurar o funcionamento do sistema nervoso em pessoas
que apresentam queixas com relação à execução de tarefas diárias.
As avaliações das funções executivas são realizadas por profissional capacitado,
geralmente o neuropsicólogo que utiliza baterias padronizadas. Segundo Seabra & Dias
(2012) os objetivos principais são: auxiliar na identificação de lesão, avaliar a extensão
e a natureza de dificuldades em crianças com lesões conhecidas de modo a sugerir
intervenções, avaliar resultados de intervenção ou reabilitação, auxiliar no diagnóstico
de transtornos de aprendizagem, compreender o perfil cognitivo do paciente, etc.
Após a indicação de problemas cognitivos há a necessidade de intervenções
direcionadas para melhorar as funções prejudicadas por fatores neurológicos ou sociais.
O treinamento das habilidades comprometidas em pessoas com distúrbios deve ser feito
por profissional capacitado para tal função, sendo importante que se estabeleça um
vínculo afetivo e de confiabilidade com o paciente. A complexidade dos materiais
utilizados, bem como das exigências, seguem uma progressão do mais simples para o
mais elaborado, respeitando-se as características pessoais. O objetivo é capacitar o
indivíduo ou expandir as competências já existentes para a determinação de objetivos,
como planejá-los e executá-los, como conferir os vários momentos intermediários desse
processo, avaliar a possibilidade de modificações e, finalmente, obter o produto
desejado.
Os programas de treinamento de habilidades cognitivas foram criados para responder às
demandas escolares e clínicas de métodos alternativos para desenvolvimento do
potencial intelectual em indivíduos que apresentam ineficiência no processo de
aprendizagem. Nestes programas procura-se promover uma forma de aprendizado em
que o aluno não é tratado como mero receptor de conteúdos, mas um indivíduo capaz de
interagir de forma autônoma com o conhecimento.
Segundo Leandro Almeida, autor de um dos programas de desenvolvimento cognitivo e
estudioso sobreo assunto:
Para aprender, o aluno precisa entender, organizar, armazenar e evocar a
informação. São processos cognitivos básicos a qualquer aprendizagem e
realização cognitiva. Um aluno com dificuldades de atenção, de permanência
na tarefa, de visualização dos pormenores numa gravura ou de comparação
de diferenças e semelhanças entre duas situações verbais ou escritas,
certamente apresentará grandes dificuldades na captação da informação que
lhe é apresentada e na sua apreensão. Assumindo-se aprendizagem não como
mero registro de informação, mas como construção de conhecimento, certo
que sem esse registro não se avança no conhecimento.nesse sentido importa
ajudar o aluno a atender, a percepcionar e a organizar a informação
(ALMEIDA, 2002, p. 157).
2. PROTOCOLO DE ATIVIDADES DE TREINO COGNITIVO
Com o intuito de atender a necessidade de se pensar em um programa de atividades que
compreenda a especificidade do sujeito e uma melhor interação entre terapeuta e
paciente propõe-se uma nova abordagem de treino cognitivo.
Para esclarecer melhor sobre a estrutura do trabalho realizado em contexto clínico com
pessoas da faixa etária de 6 a 20 anos, foi organizado um protocolo apresentando o
material, a habilidade que é trabalhada e o objetivo da utilização do mesmo nas sessões
que giram em torno de 50 minutos semanais e em programas que variam entre 18 a 22
sessões, para verificação de resultados pontuais, conferidos na melhora do desempenho
escolar e/ou na reavaliação a partir de testes padronizados.
O protocolo está subdividido em subitens de acordo com as áreas trabalhadas, a saber,
habilidades cognitivas, leitura e escrita, cálculo matemático e verificação de resultados.
Tal organização se justifica pela necessidade de facilitar o acompanhamento e o
controle do que é desenvolvido na sessão.
2.1 Jogos para estimular habilidades cognitivas
Habilidade Material *
Atenção alternada:
capacidade de intercalar a
atenção entre duas
informações.
Colortec – jogo em que é solicitado articular a atenção em 3 comandos
intermitentes.
Atenção seletiva –
capacidade de selecionar a
informação principal e
resistir a distratores
externos.
Mancala – propõe uma série de comandos e exige atenção na elaboração de
estratégias para atacar o adversário.
Lince – consiste em procurar uma figura em cartas contendo várias
imagens.
Atenção sustentada –
capacidade de manter a
atenção por um período
prolongado
Jogo da velha 3D. Consiste em articular 3 bolinhas da mesma cor em uma
linha reta imaginária em uma estrutura em 3 planos do tradicional jogo da
velha.
Percepção visuoespacial- capacidade de perceber a posição de dois ou mais objetos em relação uns aos outros ou em relação ao seu
próprio eu.
Dominó sensorial
Atividades direcionadas para percepção de formas diversas. Quadrados
coloridos, Percepção visual 5 pinos,Percepção visual bolinhas,Percepção
visual cruzes
Tangram
Memória de trabalho –
capacidade de manter a
informação em mente e
também transformá-la ou
integrá-la com outras
informações
Jogo Imobiliário de cartaz. Consiste em articular as cartaz considerando os
objetivos e as regras propostos no início do jogo
Planejamento – habilidade
de elaborar e executar um
plano de ação e de estipular
os passos necessários para
se atingir um objetivo
Mancala, xadrez, Torre de Hanói, Ta te ti, Hora do Rush
Regulação emocional –
capacidade de reconhecerr e
nomear as próprias emoções
e modular sua expressão de
forma adaptativa ao
contexto
Atividades direcionadas a regulação da emoção do programa de intervenção
em funções executivas PIAFEX
Flexibilidade cognitiva –
capacidade de mudar o foco
e de considerar diferentes
alternativas para a resolução
de problemas.
Mancala
Percepção visual 5 pinos
Torre de Hanoi
Jogo Travessia do rio
Controle inibitório –
capacidade de controlar o
comportamento quando ele
é inadequado
Atividades direcionadas do PIAFEX
Raciocínio Lógico Jogos Boole – Atividades que estimulam a lógica pela dedução e
organização das informações.
* Os materiais apresentados são apenas uma pequena amostra para exemplificar como
exercitar determinada habilidade. Há muitos outros jogos que podem ser usados com a
mesma finalidade.
2.2 Material lúdico para estimular leitura e escrita
Material para alfabetização Alfabeto de madeira, bingo de letras, Soletrando, domínó de letras
e figuras.
Dominó fonêmico Jogo para estimulação da consciência fonológica
Livros de histórias Coleção Estrelinha – Apresenta histórias contendo sílabas simples
quanto as complexas. As frases são curtas; há predomínio de
períodos simples, com ocorrência eventual de coordenação.
Dados de histórias Dados com figuras para estimular a escrita de frases.
2.3 Material lúdico para o cálculo matemático
Bingo matemático Dados com números de 1 a 10 e um tabuleiro com vários números
aleatórios.
Cartas de multiplicação Cartas com operações de multiplicação e resultados
Dominó de multiplicação soma e
subtração
Peças com operações diversas: multiplicação, divisão, soma e
subtração e respostas para serem associadas
Histórias matemáticas Construção de Histórias lúdicas contendo cálculos diversos com o
objetivo de trabalhar a linguagem matemática
Trilha para resolução de cálculos Jogo de trilhas com problemas e cálculos matemáticos.
Quadro para auxiliar nas
dificuldades matemáticas
Quadro grande imantado e peças com números, sinais e incógnitas
coloridas com o objetivo de trabalhar procedimento matemático
Tábua de Pitágoras em madeira
Jogo “Mais Um” Tabuleiro que permite a compreensão do procedimento matemático
para resolver cálculos de adição com unidades, dezenas e centenas.
2.4 Técnicas específicas para estimular a leitura*
Cloze Consiste em exercícios de compreensão da leitura a partir de omissões
de palavras ou vocábulos para serem preenchidos de forma a dar
coerência ao sentido do texto.
Imagem mental Consiste em estimular a construção de imagem mental a partir leitura
de um texto com o objetivo de se produzir significado particular sobre
a informação recebida.
Mapa Mental É a formatação de diagramas sistematizados para auxiliar na
organização de informações e auxiliar na memorização de conteúdos.
Leitura Compartilhada Técnica de leitura em que o leitor levanta hipóteses durante o
processo da compreensão do texto.
Técnica das cores Técnicas de colorir informações de forma sistematizada com o
objetivo de memorização.
* Algumas técnicas são resultados de práticas no atendimento clínico ou de
informações recebidas em cursos de capacitação.
2.5 Apostila de exercícios para verificação do resultado da intervenção
Coleção Manual Papaterra
Fernanda Papaterra Limongi)
Livros de exercício que têm como objetivo ativar habilidades
cognitivas como: raciocínio lógico, atenção, memória, criatividade e
compreensão.
Aprender a Compreender
Organizadoras: Carmem Silva,
Estela Marques, Quézia
Bombonato e Thaís H.F.
Pelliccioti.
Exercícios de Linguagem e cognição. Possui aspectos cognitivos
como seriação,, raciocínio ou habilidades numéricas.
Programa de Neurociência –
lntervenção em Leitura e Escrita
Rafael Silva Pereira (2011)
Atividades para estimulação cerebral com o objetivo de melhorar a
capacidade de memória, atenção, linguagem, raciocínio lógico e visão
espacial.
3. DISCUSSÃO DOS DADOS
Repensando-se as propostas de intervenções sob uma perspectiva menos técnica e mais
voltada para o sujeito, foi organizado um protocolo de atividades a partir de um trabalho
multidisciplinar (pedagogia, fonoaudiologia, psicologia e neurologia) na organização de
materiais específicos para atender diversos casos de dificuldades de aprendizagem no
espaço clínico.
Sendo assim, buscou-se materiais que despertassem o interesse dos pacientes pelo
tratamento. Os jogos de estratégias foram adaptados para atender a especificidade dos
usuários e alguns materiais foram produzidos pela equipe. Paralelamente, foram
utilizados outros materiais encontrados em congressos e já em uso por outros
profissionais.
O conjunto de atividades lúdicas tem como objetivo principal perceber a funcionalidade
cognitiva do paciente e o perfil psicológico, pois o jogo possibilita a interação do
paciente com o mediador e também permite conhecer as respostas espontâneas do
paciente diante de situações problema.
A organização das intervenções consiste na verificação e estimulação de habilidades e
depois um momento de auxílio com estratégias diversas para a memorização de
conteúdos escolares. No final de cada sessão é sugerido utilizar exercícios para
verificação de respostas à intervenção.
As intervenções de treino cognitivo em clínicas são também uma forma de auxílio para
o fechamento de diagnóstico – após avaliações com testes padronizados é indicado a
intervenção e após algumas sessões já pré determinadas é analisado a resposta a esta
intervenção (RI). De acordo com o resultado obtido o diagnóstico de transtorno
específico de aprendizagem é consolidado ou afastado.
Há que se observar que a programação não é fixa, visto que a demanda é subjetiva.
Observa-se ainda, que frequentemente são trabalhadas diferentes habilidades cognitivas
em um mesma situação de intervenção, uma vez que uma habilidade está subjacente à
outra, conforme o material utilizado. Cada material lúdico, portanto, é utilizado para o
desenvolvimento de habilidades cognitivas específicas, de acordo com o objetivo do
mediador.
Ressalta-se que a utilização de materiais lúdicos contribui para estabelecer uma
interação entre mediador e paciente, desenvolvendo, com isso, habilidades de forma
espontânea, as quais são posteriormente verificadas através de exercícios que buscam o
desenvolvimento da compreensão e do raciocínio.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Protocolo de atividades de Treino cognitivo é um trabalho que comprovou sua
eficácia, tanto no ambiente escolar, através da melhora do desempenho acadêmico,
quanto nas reavaliações das funções executivas de pessoas que apresentaram resultados
significativos de prejuízos nas habilidades cognitivas.
Há casos de crianças e adolescentes que apresentavam, inicialmente, baixa auto-estima
e, ou resistência a qualquer forma de aprendizado e que, quando estimulados a
desenvolver habilidades cognitivas, através de jogos ou atividades lúdicas, aprenderam
a reconhecer o potencial que possuem, sentindo-se mais estimulados a lidar com tarefas
acadêmicas. Observa-se que o trabalho de estimulação de habilidades cognitivas pode
contribuir para auxiliar a pessoa a criar estratégias compensatórias, para lidar com suas
limitações. A utilização do protocolo sugerido acima resultou em experiências positivas
na intervenção de pacientes com diagnóstico de TDAH, Dislexia e Deficiência
intelectual.
O papel do mediador, como observador da especificidade do paciente ou aluno, é
crucial para o bom resultado do trabalho, pois cada pessoa possui características ou
condições específicas para aprender ou lidar com o outro.
Ressalta-se que a intervenção na reeducação de funções executivas também podem
contribuir para preparar crianças e adolescentes a lidar com situações de conflito, já que
interferem em habilidades importantes para auxiliar no comportamento adaptativo,
como a flexibilidade cognitiva, o controle inibitório e a regulação das emoções.
O protocolo de atividades é apenas um esboço que serve de direcionamento para
elaborar programas de abordagem Neuropedagógica para estimulação, reeducação ou
reabilitação de funções executivas. Observa-se que o presente tema abordado requer
mais pesquisas que se dediquem ao estudo de atividades que abarquem as necessidades
ora apresentadas, no que se refere às habilidades cognitivas, assim como ao
acompanhamento de seus resultados. Propõe-se, com isso, dar continuidade ao presente
trabalho, com o objetivo de acompanhar sua aplicabilidade e resultados.
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