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PAULO GONZAGA MIBIELLI DE CARVALHOJORGE BRITTOCARMEM FEIJÓFERNANDO CARLOS G. DE CERQUEIRA LIMAMARCOS TOSTES LAMONICA

ORGANIZAÇÃO DURVAL CORRÊA MEIRELLES

1ª ediçãorio de janeiro 2014

Economia: o que você precisa saber

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Comitê editorial externo carmem aparecida do valle costa feijó, fernando carlos greenhalgh

de cerqueira lima e jorge nogueira de paiva britto

Comitê editorial interno durval corrêa meirelles, paulo gonzaga mibielli de carvalho e ronald

castro paschoal

Organizador do livro durval corrêa meirelles

Autores dos originais paulo gonzaga mibielli de carvalho (capítulos 1 e 2), jorge britto

(capítulo 3), carmem feijó (capítulo 4), fernando carlos de cerqueira lima (capítulo 5) e marcos

tostes lamonica (capítulo 6)

Projeto editorial roberto paes

Coordenação de produção rodrigo azevedo de oliveira

Projeto gráfico paulo vitor fernandes bastos

Diagramação paulo vitor fernandes bastos e andré renato fernandes lage

Supervisão de revisão aderbal torres bezerra

Redação final e desenho didático roberto paes

Revisão linguística pricilla basilio e katia souza

Capa thiago lopes amaral

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por quais-

quer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou

banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2014.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

E17 Economia: o que você precisa saber

Durval Corrêa Meirelles [organizador].

— Rio de Janeiro: Editora Universidade Estácio de Sá, 2013.

160 p

isbn: 978-85-60923-08-3

1. Economia. 2. Macroeconomia. 3. Microeconomia. 4. Desenvolvimento. I. Título.

cdd 330

Diretoria de Ensino – Fábrica de Conhecimento

Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa

Rio Comprido – Rio de Janeiro – rj – cep 20261-063

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Sumário

Apresentação 7

1. Conceituação Básica 9

A importância de se estudar Economia 10Mas por que os economistas divergem? 12O objeto de estudo da Economia 13Questões econômicas fundamentais: escassez e necessidades 14Quanto produzir? 15Como produzir? 15Para quem produzir? 16Isso nos leva a outra questão: como definir as necessidades? 16A curva de possibilidades de produção e custo de oportunidade 18Bens e serviços 21Recursos naturais 22Fatores de produção, agentes econômicos e o fluxo circular 24Fluxo circular 25Economia, sociedade e meio ambiente 26A relação entre economia, sociedade e meio ambiente 26Próximos capítulos 26

2. Contextualização da Ciência Econômica 29

Uma introdução à História do Pensamento Econômico 30Os Economistas Clássicos 30Mão invisível 30Divisão do trabalho 31A reação alemã 35A Economia Neoclássica 37A Escola Austríaca 38A economia keynesiana 39Monetarismo 41Estruturalismo 42Economia Capitalista (de mercado) versus Economia Planificada 43Economia: divisões e relação com as diferentes profissões 45Economia e sua relação com Administração e Contabilidade 46Economia e sua relação com Comunicação 46Economia e sua relação com Direito 46

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Economia e sua relação com Geografia 47Economia e sua relação com História 47

3. A Abordagem microeconômica 49

Método de análise 51A Teoria do consumidor e da demanda 53A Teoria da Produção 56Equilíbrio de mercado e bem-estar 58Análise de estruturas de mercado 58Falhas de mercado 63Da microeconomia tradicional para a organização industrial 65

4. Abordagem macroeconômica 69

O sistema de contas nacionais e os agregados macroeconômicos — Parte 1 70Fluxo e estoque 71Produto Interno Bruto (PIB) 72Fluxo, Estoque, Produto Interno Bruto e Produto Interno Líquido 73As diferentes óticas de mensuração do produto da economia 74

Ótica do produto 74Ótica da renda 75Ótica da despesa 75

PIB e PIB per capita 76Renda Nacional Bruta e demais agregados 78Medindo as transações com o resto do mundo: Balanço de Pagamentos 81Os determinantes do nível de produto e emprego na economia: conceitos de teoria macroeconômica — Parte 2 84Crescimento no curto prazo: flutuações do PIB 84Emprego e desemprego 89O que determina os preços, sua variação,e sua relação com a moeda 91O que é moeda, as funções da moeda, moeda e inflação 92Inflação ou desemprego: o dilema de economias modernas 94Como medir a inflação 95

5. Políticas Macroeconômicas 97

Política macroeconômica: definição e objetivos 98Política monetária: definição e objetivos 99

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Metas intermediárias 100Meta intermediária (I): moeda 100Meta intermediária (II): taxa de juros 104Meta de inflação 106

Instrumentos de política monetária: introdução 107Depósito compulsório 107Taxa de redesconto 108Operações de mercado aberto (ou open market) 109

Instrumentos diretos de política monetária 109Política cambial 110Regimes cambiais: vantagens e desvantagens 111Taxa de câmbio fixa 111Taxas de câmbio flutuantes 113Taxa de câmbio administrada 114Acumulação de reservas internacionais:vantagens e desvantagens 115Política de comércio exterior 116Política Fiscal 116Definição e objetivos 117Déficit primário e déficit nominal 117Dívida bruta e dívida líquida 118

6. Noções sobre Crescimento e Desenvolvimento Econômico 121

Crescimento econômico versus desenvolvimento econômico 122Crescimento econômico de longo prazo 123Acumulação de Capital (K) 124Crescimento da força de trabalho (L) 125Nível de desenvolvimento tecnológico (T) 125Desenvolvimento econômico 126Os principais indicadores sociais: índice de Gini e índice de desenvolvimento humano (IDH) 127Índice de Gini 127

Explicando o índice de Gini 128Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) 129Desenvolvimento sustentável 130Políticas públicas para a promoção do desenvolvimento 131Política de incentivo à acumulação de capital 132Política de incentivo à Educação 134Política de garantia ao Direito de Propriedade 135Política de incentivo ao livre comércio 136Política de incentivo à Pesquisa e Desenvolvimento 137Globalização 138

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Origem 139Características da globalização 140Globalização produtiva 141Globalização financeira 142

Apêndice — Como fazer e interpretar gráficos e tabelas 145

Como fazer 1461) Gráficos 146

Cuidados com o gráfico 1462) Tabelas 147

Cuidados com uma boa tabela 147Como interpretar 148O que nos diz esse gráfico? Várias coisas: 150

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capítulo 1 • 7

Apresentação

Amaiorpartedoqueumapessoanecessitanasuavidanãoéproduzidaporelaprópria,de

modoindividual.Algumasdasnecessidadeshumanassãosatisfeitasnoentornoimediato

dafamília–comoaeducaçãonãoformaleatrocadeafeto–,outras,tantomateriaisquanto

espirituais,oudequalquernatureza,sãosatisfeitaspeloconjuntodeindivíduosorganiza-

dosemumasociedade.

Umaquestãoimportantequedaídecorreécomocadasociedadesupreasnecessidades

deseusmembros,ouseja,comoelaorganizaaproduçãoeadistribuiçãodosbenseserviços

produzidos.Emsociedadesmenoscomplexascomo,porexemplo,nastribais,essaorgani-

zaçãoocorredemodotradicionalpelaproduçãocoletivaepeladistribuiçãomaisoumenos

igualitáriadosbens.Nessassociedades,emborapossamosidentificarumlocalondeeventu-

almentetrocassejamfeitas,oquechamaríamosdemercado,estenãoocupaumlugarfun-

damentalnaorganizaçãoeconômica.Mesmoemsociedadesondeocomércioassumepapel

relevantenageraçãoderiquezas,comoocorreucomacivilizaçãofenícia,naAntiguidade,a

distribuiçãodosrecursosmateriaisnãoerainteiramentereguladapelomercado.

Apenasna sociedadedotipocapitalista,quesedesenvolveu apartir doséculoXVIII,

encontraremosumaeconomiaconstruídaemtornodomercado.Umaeconomiademer-

cadopodeserdefinidacomoumsistemaautorreguláveldemercados,istoé,umaecono-

miaondebens,serviçosefatoresdeprodução(recursosnaturais,trabalhoecapital)são

distribuídosealocados,exclusivamente,pelatroca.Naverdade,issonãoseaplicademodo

absolutoanenhumasociedade,poisexistemimperfeiçõesemtalsistemaqueexigemin-

tervençõesexternasaele,como,porexemplo,atravésdaaçãogovernamental.

Quandopagamosimpostos,esperamosqueoEstadoosutilizebem,gerandoumacon-

trapartidaemtermosdeproteçãoedeprestaçãodeserviçospúblicos.Contamoscomisso

porqueoEstado,pormeiodessasatividades,desempenhaopapelnecessáriodeorganizar

ofuncionamentodeumasociedade.Assim,osmercadossupremasnecessidadeseconô-

micasdosindivíduosedasempresas,cabendoaoEstadoasmúltiplasfunçõesquegaran-

tamomelhordesempenhodasociedadecomoumtodo,atravésdaspolíticasquepropi-

ciemascondiçõesdevidaaoindivíduoededesenvolvimentosocialeeconômicoaopaís.

Acompreensãodessesaspectos,fundamentaisparaonossodiaadia,sãooobjetodas

CiênciasEconômicas,umconjuntodedisciplinasqueprocuramentendercomoassocie-

dadesorganizamaproduçãoeadistribuiçãodariqueza.Asrespostasàsquestõesquedaí

decorrem–Oqueequantoproduzir?Comoproduzir?Paraquemproduzir?–constituemo

principalobjetivodoestudodaEconomia.

Afinalidadedestelivroépropiciaraosalunosdediversoscursosumavisãointrodutó-

ria,porémabrangente,dosprincipaisproblemaseconômicosquenosafetamnosdiasde

hoje.Paratal,procuramosabordardeformasimples-masnãoexcessivamentesimplifica-

da,poisaíperderiaefetividade-osinstrumentosdequeaEconomiadispõeparaentender

eatuarsobrenossarealidade.

Esperamosquealeituradestelivrosejaagradáveleútilaoleitor,contribuindocomo

baseefetivaparaasuaatuaçãoprofissionaledecidadão.

ronald castro paschoal

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Conceituação Básica

paulo gonzaga mibielli de carvalho

1

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10 • capítulo 1

A importância de se estudar Economia

ÉimportanteestudarEconomiaparamelhorentenderomundoque

noscerca.Conheceraquestãododesempregoéimportante,porexem-

plo,paraseentenderoqueédiscutidonosjornais,natelevisãoenas

redes, mas também porque isso ajuda o indivíduo em questões tais

comodecidirqualamelhorhoradetrocardeempregoepediraumen-

todesalário...

OutrasquestõesqueaEconomiaestuda,presentesnamídiaeque

afetamoconsumidor,otrabalhadoreoempresário,entreoutros,são:

Porqueainflaçãoestáalta?PorqueaEconomiacrescepouco?Acrise

econômicamundialjáacabou?Aimportaçãodeprodutoschinesesvai

acabar com a indústria nacional? Paga-se muito imposto no Brasil? É

necessáriaumareformanaPrevidência?ArendanoBrasilémuitocon-

centrada?Oqueédesenvolvimentosustentável?OestudodaEconomia

nosajudaaresponderatodasessasperguntas.

Apesar dessa relevância, é muito comum ouvir dos estudantes co-

mentáriosrelacionadosàdificuldadedeseestudarecompreenderEco-

nomia.Sendoassim,vamoslevantarosquestionamentosmaiscomuns

eprocurarrespondê-losdeformaprática.

REFLEXÃO

Economia é uma matéria muito complicada, pois exige muito conhecimento

de matemática...

UmeconomistaprecisaterumaboabaseemMatemática,masnão

énecessáriograndeconhecimentodelaparaseentenderosprincípios

básicosdeEconomia.Estelivropretendedemonstrarisso.

Os economistas só trabalham com modelos, por isso o que eles dizem

é incompreensível.

Nemtodososeconomistastrabalhamcommodelosmatemáticos,mas

seuusomuitasvezeséimprescindível.Modelosnadamaissãodoqueuma

simplificaçãodarealidade,oqueénecessário,jáquearealidadeémuito

complexa.Porexemplo,umeconomistapodeafirmarqueonívelderenda

daspessoaséconsequênciadasuaescolaridadeeidade(experiência).Issoé

1 Conceituação Básica

COMENTÁRIO

Outras questões

Neste livro não vamos abordar todas

essas questões, mas esperamos des-

pertar em você o interesse pela Econo-

mia, possibilitando que continue seus

estudos da forma que lhe for mais con-

veniente, em um curso formal ou não.

Uma forma simples de fazer isso é lendo

a editoria de economia de um jornal de

grande circulação, pois esses têm a pre-

ocupação de explicar os fatos econômi-

cos em uma linguagem mais simples.

COMENTÁRIO

Economista

Deve-se desconfiar dos economistas

que só conseguem se expressar por

meio de fórmulas matemáticas e não

conseguem apresentar suas ideias sem

economês (aquelas palavras difíceis

que só os economistas conhecem).

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capítulo 1 • 11

umasimplificaçãodarealidade,poisoutrasvariáveistêmimpactosobreo

nívelderenda.Masparaquecomplicardemais?Seopoderexplicativodes-

sasduasvariáveis(escolaridadeeidade)forelevado,podemosficarporaqui.

Claroquehámodelosdedifícilcompreensão,algunsnãopodemser

testados por falta de dados. Diferentes escolas de pensamento econô-

micoirãoutilizardiferentesmodelosparaexplicaromesmofenômeno,

masousodemodeloséinevitável.

EXEMPLO

Um bom exemplo de como a simplificação é necessária para a compreensão da

realidade são os mapas. No google maps de uma cidade, todas as ruas transversais

às grandes avenidas só surgem quando se aplica um bom zoom. Com pouco zoom,

apenas as grandes avenidas são visíveis, mas isso é exatamente o mais relevante.

Se nessa escala aparecessem também as ruas transversais, ficaria difícil visualizar o

mais importante, que são as avenidas. Detalhe demais atrapalha.

REFLEXÃO

O conhecimento de Economia de pouco adianta no dia a dia.

ConhecimentodeEconomiaémuitoútilnodiaadia.Étãoútil,que

váriosdessesconhecimentosvocêjátemenãosedeucontadisso.Veja-

mosumexemplo:

EXEMPLO

Seu time de futebol, que tem uma grande torcida, vai ter um jogo decisivo no sába-

do. Você vai deixar para comprar o ingresso no próprio sábado um pouco antes da

partida? Claro que não. Pois nesse caso você iria comprar de cambista e pagar muito

caro. O cambista vende caro, porque a essa altura não há mais ingresso disponível

nas bilheterias, mas ainda existem pessoas querendo comprar. Dito de outra forma,

há pouca oferta de ingressos – o que tem está com os cambistas – mas há procura

por ingressos. Os cambistas sabem disso e por isso vendem caro. Se você entende

a lógica de situações desse tipo, você conhece os princípios básicos da chamada

lei da oferta e da demanda. Foi a escola da vida que te ensinou, não foi um curso de

Economia. Ensinou e você aprendeu, porque é algo útil no dia a dia.

Masaescoladavidanãoensinatudo,casocontrário,ninguémestu-

darianemfariafaculdade.Vejamosagoraumtipodesituaçãoemqueo

conhecimentodeEconomiaéimportante.

COMENTÁRIO

Simplificação da realidade

Em uma segunda etapa, podemos sofis-

ticar um pouco mais e agregar outras va-

riáveis. Portanto, um economista iria criar

uma relação matemática entre essas

variáveis, formulando assim um mode-

lo econômico, para em seguida testá-lo

com os dados existentes (supondo que

não seja um modelo apenas teórico). No

capítulo 3 veremos mais sobre a constru-

ção de modelos teóricos na microecono-

mia e o uso do método lógico-dedutivo e

de hipóteses simplificadoras.

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12 • capítulo 1

EXEMPLO

Suponha que você queira comprar uma televisão nova e existam duas opções: à vista ou

em 24 vezes com juros de 2% ao mês, mas com uma prestação baixa. Suponha também

que a inflação seja de 0,5% ao mês e a caderneta de poupança renda 0,6% ao mês. A

maioria das pessoas optaria por pagar a prazo, afinal a prestação é baixa e cabe bem

no salário. Essa solução é a mais cômoda, mas não é a melhor. Você estará pagando

de juros o equivalente a quatro vezes o valor da inflação, e durante 24 meses! Não é

necessário fazer cálculos para confirmar, é evidente que nesse caso o barato sai caro.

Para chegar a essa conclusão você comparou a taxa de juros com a taxa de inflação

e rendimento da caderneta de poupança e (implicitamente) confrontou o preço à vista

com o preço a prazo. Com noções de economia é mais fácil fazer esse tipo de raciocínio.

REFLEXÃO

Os economistas não se entendem, cada um diz uma coisa diferente. É tudo muito confuso.

Oseconomistastêmdiscordânciasentresi,masdivergênciasexis-

tememváriasciênciaseprofissõesesãopartedavida.Aindamaisna

Economia,queéumaciênciasocialenãoumaciênciaexata.Vocêcon-

cordacomtodasasideiasdeseuspais,deseufilhos,irmãosouamigos?

Comcertezanão,eisso,namaioriadasvezesnãoimpedeaconvivência.

Mas por que os economistas divergem?

Emprimeirolugarexistemdiferentesescolasdepensamentodentroda

CiênciaEconômica.FazendoumaanalogiacomaMedicina,ummédico

comformaçãotradicionaleoutrocomformaçãoemMedicinaChinesa

vãoolharopacientedeformamuitodiferentee,portanto,odiagnóstico

e,principalmenteaterapia,serãodivergentes.

Comparandoumeconomistaneoliberaleumeconomistakeynesia-

no(maisadiantefalaremosmaisdetidamentedessascorrentesdepen-

samento),veremosqueoprimeiroacreditaqueaintervençãodoEstado

sóatrapalhaofuncionamentodaeconomia.Jáosegundo,acreditaquea

economiasóvaifuncionaradequadamentecomintervençãodoEstado.

REFLEXÃO

Os economistas vinculados a essas correntes nunca vão se entender, caso se ati-

verem rigidamente a seus princípios, pois partem de premissas e teorias diferentes.

A situação se complica ainda mais se esses economistas estiverem vinculados a

partidos políticos ou associações de classe divergentes.

COMENTÁRIO

Divergências

Veja o caso dos médicos que, no dia a

dia, para todos nós, são mais importan-

tes que os economistas. Em muitas si-

tuações, não é incomum consultar três

médicos sobre uma operação e ter três

diagnósticos diferentes: a) não precisa

operar; b) não precisa operar agora, mas

talvez precise operar no futuro; c) tem

de operar e tem de ser agora. Se algum

deles for homeopata ou praticante da

medicina chinesa, as divergências se-

riam ainda maiores.

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capítulo 1 • 13

Podehaverdivergênciastambémporqueumdosladosusoudeformainadequadauma

teoriaouummodelo,porexemplo,deixandodeladovariáveisimportantes.Podehavertam-

bémdivergênciasdeordemempírica.

EXEMPLO

Por exemplo, se há falta de dados e informações, qualquer avaliação fica muito subjetiva e, portanto, as

divergências são grandes. Se há dados suficientes, pode haver divergência quanto à escolha da base

de dados – por exemplo, a do IBGE ou do Ministério da Agricultura para estimativas de safra – e no

tratamento/uso desses dados.

Dequeladoficaremumapolêmica?Háduasalternativas.Pode-seassumirumapostu-

rasectária(eequivocada)esempreconsiderarqueestãocorretasasposiçõesdefendidas

peloseconomistascomosquaisvocêsimpatizaequeasdemaisestãoerradas.Ouadotar

umaposturaabertaedemocráticaouvindooquetodostêmadizeredepoisseposicionar.

Essaéaposturacorreta.

REFLEXÃO

É só assim, com o livre debate de ideias, que o conhecimento avança, não só na Economia como em todas

as áreas do saber. É mais trabalhoso, sem dúvida, mas ser guiado por preconceitos é muito pior.

O objeto de estudo da Economia

Masafinal,doquetrataaEconomia?Qualéoseuobjetodeestudo?Adefiniçãomaistra-

dicional,formuladaem1932porLionelRobbins,afirmaque“aeconomiaéumaciência

queestudaocomportamentohumano,comoumarelaçãoentremeiosefins.Sendoos

meiosescassosecomusosalternativos”.Ditodeoutraforma,aeconomiaestudacomo

se usa a racionalidade (do comportamento humano) para solucionar problemas como

orçamentoapertado.

EXEMPLO

Por exemplo, temos um fim — pagar as contas, ter algum lazer e, se possível, poupar —, mas o salário é

curto (meio escasso). O dinheiro pode ser utilizado de diferentes formas, pois há várias contas a pagar –─

algumas podem ser adiadas com pouco custo e outras não –, há diferentes tipos de lazer e de aplicações

financeiras. Qual seria a escolha racional a se fazer nessa situação? Essa escolha seria a que daria maior

satisfação (maximizaria o bem-estar).

Tendo as informações necessárias, a teoria econômica indica o caminho a tomar. Situações desse tipo

não ocorrem apenas com consumidores e famílias, mas também com empresas, governos, instituições etc.

Notequeessadefiniçãopressupõequeoagenteeconômico(basicamentefamíliase

empresas)ajacomracionalidade.Masapropagandanoslevaaagircomracionalidade?

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14 • capítulo 1

Nointuitodeobtermaioresganhos,asfamíliaseempresasagemsem-

precomracionalidadeoumuitasvezessãootimistasemexcessoein-

fluenciadasporboatos?

AdefiniçãodeRobbinstambémrestringeaEconomiaaoestudoda

PsicologiaHumana,quando,naverdade,elaémuitomaisdoqueisso.

Nãoháreferênciaàhistóriaouàsociedade,portanto,ateoriaeconômi-

cadariacontadequalquersituaçãodemeiosescassosefinsalternativos

queenvolvamsereshumanos.Masumatriboindígenaeohomemmo-

dernotêmamesmaracionalidade?

Umadefiniçãoalternativaseria:AEconomiaéaciênciasocialquees-

tudaaprodução,distribuiçãoeconsumodebenseserviços.Asprincipais

diferençasfrenteàdefiniçãoanteriorsãoamençãodaEconomiacomo

ciênciasocial,enãosefazerreferênciaaocomportamentohumano.

REFLEXÃO

Cabe destacar dois pontos. Em nenhuma das duas definições há valores éticos ou

morais envolvidos. Portanto, a Economia pode ser utilizada para o bem (exemplo: para

a paz) ou para o mal (exemplo: para a guerra). Os agentes econômicos, porém, no dia

a dia, têm valores éticos e morais e fazem suas escolhas também com base nisso.

Nãosefalounadaatéagorasobrequaisseriamosfins.Essesseriam,

pelo enfoque tradicional, tornar máximo (maximizar) o lucro das em-

presaseasatisfaçãodosindivíduos.Entretanto,osagenteseconômicos

(famílias,empresas)procuramfazeroqueémelhorparaelesindividu-

almente,oquenãonecessariamenteéomelhorparaacoletividadeou

paraopaís,comovocêveránocapítulo2.

Questões econômicas fundamentais: es-cassez e necessidades

Asquestõeseconômicasfundamentais,dopontodevistadoagentein-

dividual,são:

ATENÇÃO

O que e quanto produzir — quais os produtos a serem produzidos e em

que quantidades;

Como produzir — que tecnologia utilizar;

Para quem produzir — que mercado consumidor se pretende atingir.

Essasquestõessóexistemporqueháescassezenecessidadesase-

rem atendidas. Estamos tratando aqui apenas dos bens econômicos,

COMENTÁRIO

Otimistas

Uma das causas da crise financeira

internacional de 2008 foi uma combi-

nação de endividamento elevado com

otimismo desmesurado sobre ganhos

financeiros.

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capítulo 1 • 15

quesãoaquelesrelativamenteescassosequeprecisamserproduzidos,

e,portanto,nãosãoabundanteseoferecidosgratuitamentepelanature-

za,comoéocasodosbenslivres.Asnecessidadesvãodefinirotamanho

domercadoconsumidordeumproduto.

Quanto produzir?

Oquantoproduzirvaidependerdotamanhodomercadoedacapaci-

dade da empresaematendê-lo.Suponhaqueemumpaíscom10mi-

lhõesdehabitantes,metadedelestenhaalgumtipodedeficiênciavisual

(miopia,astigmatismoetc.)enecessitemdeóculos.Suponhaquetodos

tenhamrecursosparacompraróculos.Nessecaso,omercadoconsumi-

dordeóculosseriade5milhõesdepessoas.Atéaquijáestãodefinidos

para quem produzir (pessoas com deficiência visual), o que produzir

(óculos)equantoproduzir(5milhõesdeóculos).

Como produzir?

Noexemplodosóculos,váriasempresasvãodisputaressemercado.Ven-

derámaisquemutilizarumatecnologiaquepossibiliteproduziróculos

deboaqualidade,comumpreçoatrativoparaoconsumidor(bomeba-

rato).Estamosfalando,portanto,docomoproduzir,ouseja,refere-seà

tecnologiautilizadanoprocessoprodutivo.Aquestãodaescassezentra

naescolhadatecnologia.Asmatérias-primasmaisescassassãoasmais

carasedeterminamaescolhadatecnologia.Osempresáriosvãofugir

datecnologiaquetemaltoscustosdeprodução,poisissosignificapreço

elevadoepoucosconsumidores.

REFLEXÃO

Não se pode produzir sem que haja alguém ou alguma máquina trabalhando em

algum lugar. Portanto, precisamos para produzir, pelo menos, de trabalho, capital

e recursos naturais. Esses são os fatores de produção, que são os recursos indis-

pensáveis para viabilizar um processo produtivo. Alguns avaliam que capacidade

empresarial e capacidade tecnológica também devem ser consideradas fatores

de produção. Para simplificar, trabalharemos nesse capítulo apenas com os dois

fatores produtivos mais utilizados pelos economistas nos seus estudos, que são

capital e trabalho.

Hásemprediferentesformasdeseproduzirummesmoproduto,

apartirdediferentescombinaçõesdosfatoresprodutivos.Porexem-

plo, no passado as agências bancárias faziam seu serviço de atendi-

mentoaopúblicoutilizandomuitofatortrabalho(muitoscaixashu-

COMENTÁRIO

Bens livres

Exemplos de bens livres são o ar, água,

luz solar etc. Como você já deve ter pen-

sado, alguns bens livres, devido ao mau

uso feito pelo homem, já estão se tornan-

do escassos, como é o caso da água.

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16 • capítulo 1

manos) epoucofator capital.Hoje éo inverso,poispredominamos

caixaseletrônicos.

Para quem produzir?

Asquestõeseconômicasfundamentaisnãosãofáceisdeseremrespondi-

das.Opontodepartidadetudoéoparaquemproduzir.Sófazsentidopro-

duziralgoquevenhaasercompradopelosconsumidores.Seforumprodu-

toouserviçojáestabelecidonomercado,nãohámuitocomoerrar,masse

forumprodutonovoousubstancialmentemodificado,comoosconsumi-

doresvãoreagir?Bastaapropagandaparasolucionaresseproblema?Com

propagandasecriamercadoparaqualquerproduto?Comcertezanão.

EXEMPLO

Por exemplo, no início dos anos 1990, no Brasil, houve muito propaganda dos carros

da marca Lada, que eram importados da antiga União Soviética. Essa marca era des-

conhecida aqui, mas com a propaganda muitos carros foram vendidos, até porque

o preço era convidativo. O problema é que em pouco tempo ficou claro que o carro

não era adaptado às ruas, estradas e ao clima brasileiro. As vendas despencaram e

o Lada deixou de ser importado. Moral da história: propaganda não faz milagre; se o

produto é ruim, não vende.

Vejamos o caso do telefone celular. Qualquer pesquisa junto aos

consumidoresnosanos1980diriaqueelesnãonecessitavamdessepro-

duto.Oquetodosqueriameraumtelefonefixoemcasa,oquenãoera

fácildeconseguir.Comtelefonenotrabalho,emcasaecabinestelefô-

nicas(orelhões)narua,qualanecessidadedeumtelefoneportátil?Mas

o produto foi introduzido no mercado e aos poucos foi conquistando

espaço,aindasemosrecursosqueexistemhoje.Atualmente,paramui-

tos,jáéumprodutodeprimeiranecessidade.Moraldahistória:asne-

cessidadespodemsercriadas.Todoprodutoquetornaavidamaisfácil,

porsermaisprático,porexemplo,levavantagem.

Isso nos leva a outra questão: como defi-nir as necessidades?

Asnecessidadesindividuaispodemserdivididasemcorporais,espiritu-

aisedeconsumosuntuário(deluxo).Asnecessidadescorporaispodem

serbiológicas,quesãoasrelativasaovestuário,alimentação,reprodu-

çãoehabitação,esociais,quesãodadaspelavidaemsociedade.

COMENTÁRIO

Comprado pelos consumidores

Estamos nos referindo aqui apenas ao

que é produzido com fins de lucro, pois

o governo, por exemplo, pode oferecer

serviços gratuitos para a população.

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capítulo 1 • 17

EXEMPLO

Por exemplo, certas empresas exigem que seus funcionários trabalhem de terno,

pois isso é uma norma social; logo, é forçoso adquirir esse tipo de roupa.

Asnecessidadesespirituaissãoasreferentesaoconhecimento,cria-

çãoartísticaeareligião.Oconsumodeluxotemservidohistoricamente

paradiferenciarclassessociais,poisopreçodeseusprodutoscostuma

sermuitoelevado.

Vivemosemsociedadee,portanto,temostambémnecessidadescole-

tivas,quesãoaquelasderivadasdavidaemcomunidadeequesópodem,

namaioriadasvezes,seratendidas,deformacoletiva.Esseéocasodos

serviçosdetransporte,habitação,saúde,educação(CANO,2007).

ATENÇÃO

O atendimento das necessidades básicas depende, em boa parte, dos indivíduos.

Tendo um bom emprego podemos pagar por uma boa alimentação, comprar roupas

etc. Já as necessidades sociais dependem, em boa medida, do governo e suas polí-

ticas públicas, pois é ele que constrói grande parte das estradas, hospitais, escolas e

grandes espaços de lazer (estádios, por exemplo).

As necessidades das pessoas são diferentes (região, classe social,

sexoetc.)emudamaolongodetempo.Esseéumgrandedesafio,seo

objetivoforalcançarodesenvolvimentosustentável,quepodeserde-

finido como o desenvolvimento que visa atender às necessidades da

geraçãopresente,semcomprometeroatendimentodasnecessidades

dasfuturasgerações.

ATENÇÃO

Esse já é um problema do presente, nosso planeta não suporta o atendimento de nos-

sas necessidades atuais. Um bom exemplo disso é o problema das mudanças climá-

ticas. A temperatura do nosso planeta tem aumentado, em boa medida, por causa do

aumento do consumo de combustíveis fósseis (exemplos: carvão e derivados do petró-

leo). Em virtude disso, o clima está ficando cada vez mais instável e a altura dos mares

aumentando. Para enfrentarmos esse problema não basta trocarmos combustíveis

fósseis por fontes de energia renováveis (energia hidrelétrica, solar, eólica — ventos

etc.), precisamos mudar nosso padrão de consumo e, portanto, nossas necessidades.

Nãoénadafácil,dadooconsumismodasociedadeemquevivemos.So-

mosconsumistasquandocompramosmaisdoquenecessitamos.Todasas

necessidadesatuaispodemseratendidas?Comcertezanão,poisnãoha-

veriarecursosnaturaissuficientes,nemcapacidadedeabsorverosdejetos

geradospelapoluiçãodoar,daágua,deresíduossólidos(lixo).Setodosos

COMENTÁRIO

Consumismo

Com certeza você já comprou produtos

que nunca utilizou ou utilizou muito pou-

co, o que não justificaria a compra. Se

isso acontece com frequência você é um

consumista. Responda com sinceridade:

você consegue viver sem consumir pro-

dutos supérfluos (não essenciais)? Para

você é fácil definir o que é um produto

supérfluo? O telefone celular é um pro-

duto supérfluo? Sua resposta se refere

a todos os celulares ou só para alguns

tipos de celulares? Essas não são ques-

tões fáceis de serem respondidas.

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18 • capítulo 1

habitantesdoplanetativessemomesmopadrãodevidadeumnorte-americanodeclassemé-

dia,seriaocaos.Sótendooutrosplanetasparaimportarmatérias-primaseexportarpoluição.

Nasociedadeemquevivemos,édifícilnãoserconsumistadealgumaforma.Oconsu-

mismoéalgosobreoqualsedeverefletirenãoapenasaceitarpassivamente.

A curva de possibilidades de produção e custo de oportunidade

Odilemaentrerecursoslimitadosversusfinsalternativosémuitobemapresentadonacur-

vadepossibilidadedeprodução(tambémchamadadecurvadefronteiraprodutivaoude

transformação da produção). Essa curva, que é uma representação simplificada de uma

economia,ésemprecôncavaeemcadaeixoháumproduto.Vejamos:

4

2

3

1

00 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5

8

9

10

Quan

tidad

e pr

oduz

ida

de C

anhõ

es

Quantidade produzida de Manteiga

7

6

5

ATENÇÃO

A área delimitada pela curva é a de possibilidades de produção para aquela Economia em relação aos

dois produtos, que são os únicos produzidos, no caso, manteiga (em toneladas) e canhões (quantidade).

Isso significa que qualquer ponto além da curva é impossível de ser alcançado. A produção máxima é

alcançada quando a economia está em algum ponto da borda da curva. Esse é o seu limite, o limite das

possibilidades de produção.

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capítulo 1 • 19

AáreadelimitadapelacurvaédadapelacapacidadeprodutivadaEconomia,quepor

suavez,dependedadisponibilidadedefatoresprodutivos(capitaletrabalho).Portanto,

quantomaiorapopulação,onúmerodemáquinasefábricasnopaís,ouquantomaiora

produtividadedosoperáriosoudasmáquinas,maiorasuacapacidadeprodutiva.Haven-

domaiorprodutividadeoudisponibilidadedefatores,acurvasedeslocaparaadireita

(parafora).Havendomenorprodutividadeoudisponibilidade,odeslocamentoéparaa

esquerda—paradentro.

0 0,5 1 1,5

Produto A

Prod

uto

B

2 2,5 3 3,50

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

ATENÇÃO

Por exemplo, a curva irá se deslocar para a direita se a população crescer ou se, com o progresso téc-

nico, as máquinas velhas forem substituídas por novas, que são mais produtivas. Se a população do país

diminuir em razão da emigração, queda da taxa de natalidade ou por guerras ou terremotos, a curva irá

se deslocar para a esquerda.

AcurvaexpressaodilemaclássicodaEconomia.Nãohárecursosparaseproduzirtudo

oquesedesejaeénecessáriofazerescolhas.Paraseproduzirmaisdeumprodutoéneces-

sário,sempre,seproduzirmenosdeoutro,atéasituaçãolimite,emquetodaacapacidade

produtivadaEconomiaestávoltadaparaaproduçãodeapenasumproduto.

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20 • capítulo 1

0 0,5 1 1,5

Quantidade produzida de Manteiga

Quan

tidad

e pr

oduz

ida

de C

anhõ

es

2 2,5 3 3,50

1

2

3

4

5C

A

B

D

6

7

8

9

10

Noexemplodado,9éaquantidademáximaquesepodeproduzirde

canhões;e3toneladas,omáximodemanteiga.Suponhaqueseestejano

pontoA(8canhõese1toneladademanteiga)esepasseparaopontoB(5

canhõese2toneladasdemanteiga).Nessecaso,aproduçãodemantei-

gaaumentoude1toneladapara2toneladas,mas,emcompensação,a

produçãodecanhõescaiude8para5.Paraseproduzir1toneladaamais

demanteigafoinecessárioabrirmãode3canhões.Esses3canhõesque

deixaramdeserproduzidosrepresentamocustodeoportunidade.

NotequeopontoDéimpossíveldeseratingido.Essenãoéocaso

dopontoC.Esseúltimopontorepresentaumasituaçãoemqueseestá

produzindomenosdoquepoderia,poisestamosdentrodacurvaenão

nasuaborda.NopontoCestamosproduzindo1toneladademanteiga,

masapenas5canhões,quandopoderíamosproduzir8.Issoocorrepor-

que,poralgummotivo,nãoestamosutilizandotodososrecursosque

temose,portanto,estamoscomrecursosociosos.

Em nosso exemplo, os dois produtos selecionados foram canhões e

manteigaparadestacarumdilemaeconômicoclássico.Aosedesviarmui-

tosrecursosparaaguerra(canhões),asnecessidadesdapopulação(man-

teiga)ficamemsegundoplano.Esseéumdosmuitoscustosdeumaguerra.

EXEMPLO

Durante a Segunda Guerra Mundial, a venda de manteiga nos Estados Unidos foi ra-

cionada, havendo um limite máximo de manteiga que as famílias podiam comprar por

mês. A venda de automóveis para civis chegou a ser proibida, exceto em situações

especiais — exemplo: médicos podiam comprar automóveis por ser considerado ne-

cessário para o exercício de sua profissão. As fábricas de automóveis passaram a

fabricar tanques e diversos tipos de armamentos.

COMENTÁRIO

Custo de oportunidade

É o de que se abre mão ao se fazer uma

escolha. É o custo de uma escolha. À

medida que se avança na produção de

manteiga, o custo de oportunidade au-

menta. Para mais uma tonelada de man-

teiga, abre-se mão de 5 canhões.

O conceito de custo de oportunidade se

aplica a várias situações. Em um filme

do cineasta Domingos de Oliveira, o per-

sonagem principal — um conquistador

inveterado — afirma que o difícil não é

escolher uma mulher, o difícil é deixar de

lado todas as outras mulheres do mundo.

Nesse caso, o custo de oportunidade são

todas as outras mulheres do mundo. O

filme se chama Todas as mulheres do

mundo e foi estrelado por Paulo José e

Leila Diniz, em 1966. É considerado um

clássico do cinema brasileiro.

COMENTÁRIO

Recursos ociosos

Um exemplo seria a situação de desem-

prego. Parte da mão de obra não está

trabalhando, e, por isso, a produção é

menor do que poderia ser.

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capítulo 1 • 21

Bens e serviços

NumaEconomiasãoproduzidosbenseserviços.Benssãoprodutosque

têmformafísica—comoferro,automóvelesapato,porexemplo—e

existemparasatisfazeralgumanecessidade.Osserviçosnãotêmforma

física — como uma consulta médica, o serviço de um eletricista, uma

auladeprofessor.

AproduçãoprovémdostrêssetoresquecompõemumaEconomia:

primário(agriculturaepecuária),secundário(indústria)eterciário(co-

mércioeserviços).

EXEMPLO

Quando um país é pobre, é o setor primário o mais importante, quase não existe in-

dústria, e o terciário tem pouco peso. O Brasil era assim até o século XIX. Com o de-

senvolvimento, a indústria ganha peso e, em seguida, o setor terciário. A economia,

portanto, se diversifica. Em 2013, no Brasil, a agropecuária representava apenas

5,7% da produção do país, a indústria 24,9% e o terciário 69,4% (Fonte: indicadores

do IBGE - Contas Nacionais trimestrais, outubro/dezembro 2013).

Os bens podem ser de dois tipos: bens finais ou bens intermediá-

rios.Osbensintermediáriossãomatérias-primas(insumos)queserão

transformadasemumproduto,pormeiodeumprocessoprodutivo.Por

exemplo:oferroecarvãotransformadosemaço;madeirasetornaum

móvel;couroviraumcalçado.

Osbensfinaissãoosquenãosofremtransformaçõesesãoutilizadosna

formacomoseapresentam.Porexemplo,vocêpodesairdasapatariajácom

seusapatonovonopé.Omóvel,logoquechegaràsuacasa,vocêiráutilizar.

Jáoferro,temapenasumuso,queésertransformadoemoutroproduto.

Os bens de produção ou bens de capital são aqueles utilizados na

produçãodeoutrosbens,comomáquinas,equipamentosouconstru-

ções.Máquinaspodem,commaioroumenorintervençãohumana,pro-

duzir sapatos, refrigerantes, automóveis etc. Também se incluem nos

bensdecapitaltodasasconstruçõeseinfraestruturadeumpaís,pois

contribuemparaaproduçãodebens.

Nemsempreéfácilclassificarumbemouserviçonessasdiferentes

categorias, pois isso depende do uso que se dá. Por exemplo, para a

maioriadaspessoasoautomóveléumbemdeconsumodurável.Mas

paraumtaxistaéumbemdecapital,poisproduzumserviço,otrans-

portedepassageiros.Damesmaforma,umalaranjaéumbemdecon-

sumonãodurávelquandocompradanafeiracomoobjetivodefazer

sucodelaranjaparatomarnocafédamanhã.Maséuminsumo,seé

uma empresa que compra a laranja com o objetivo produzir suco de

laranjaparaexportação.

COMENTÁRIO

Bens finais

Os bens finais podem ser de dois tipos:

bens de consumo e bens de capital. Os

bens de consumo, como o próprio nome

diz, são os utilizados no consumo das fa-

mílias. Por exemplo, o móvel e o sapato.

São subdivididos em bens duráveis, bens

não duráveis e bens semiduráveis. Su-

pondo que sejam utilizados com frequên-

cia, os bens duráveis duram muitos anos

(exemplos: geladeiras e televisores), os

semiduráveis, poucos anos (exemplos:

roupas) e os não duráveis, menos de um

ano (exemplos: alimentos e bebidas).

COMENTÁRIO

Bens de capital

Por exemplo, para produzir automóveis

não bastam máquinas, é necessário ter

uma fábrica, que é uma construção. Da

mesma forma, para produzir transporte

marítimo, não basta ter navios, é necessá-

rio ter portos e também estradas, sem as

quais a produção não chega até o porto.

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22 • capítulo 1

Ossetoressãointerdependentes,poiscompramevendementresi.

PorissoémuitocomumquandoestudamosaEconomiapormeiodeca-

deiasprodutivaseseincorporamosadimensãoambiental,chegamos

aociclodevidadoproduto.

O conceito de cadeia produtiva, incorporando a preocupação am-

biental,evoluiuparaodeciclodevidadoproduto.Nessecaso,seinclui

umapenúltimaetapa,queéadodescarte(mortedoproduto),eaetapa

finaléareciclagem,quandooprodutoretornaaumaetapaanterior.

EXEMPLO

Por exemplo, sucata de automóvel pode ser utilizada na fabricação de aço. Latas

de cervejas usadas podem ser utilizadas na fabricação de novas latas de cerveja.

Outra diferença com relação ao ciclo de produto é que agora há uma preocu-

pação com a mensuração dos impactos ambientais e sociais em cada uma das

etapas. Por exemplo, um automóvel não gera poluição apenas quando é utilizado.

Gera também quando é produzido e quando é descartado de forma inadequada.

De forma indireta, é responsável pela poluição produzida na produção de aço

e ferro e no transporte entre essas etapas. No caso da extração do minério de

ferro, ainda há a questão de se estar diminuindo o estoque de um recurso natural

não renovável.

Recursos naturais

Recursosnaturaispodemserdefinidoscomooconjuntoderiquezasna-

turaisemestadobrutodeumpaís.Éportanto,tudoqueanaturezafor-

neceedádesuporteàvidahumananaterra.Inclui,portanto,recursos

taiscomoterra,água,ar,minerais,florestas,peixesedemaisrecursos

marinhos, flora, fauna e clima. Os recursos naturais são tradicional-

mentedivididosemrenováveisenãorenováveis.

COMENTÁRIO

Recursos naturais renováveis são aqueles repostos pela natureza em um curto espa-

ço de tempo, tais como ar e água. Recursos naturais não renováveis são aqueles que

não são repostos pela natureza em um curto espaço de tempo, tais como petróleo e

minério de ferro. O petróleo é produzido pela natureza, mas são necessários milhões

de anos para isso.

A partir das definições anteriores, poderíamos pensar que deverí-

amosnospreocuparapenascomosrecursosnaturaisnãorenováveis.

Ledoengano.Devemosnospreocuparcomambos.Hárecursosnaturais

COMENTÁRIO

Cadeias produtivas

Cadeia produtiva é um conjunto de eta-

pas consecutivas pelas quais passam e

vão sendo transformados e transferi-

dos os diversos insumos (PROCHNIK,

2002). Por exemplo, o minério de ferro é

extraído da natureza (primeira etapa), em

seguida se transforma em aço (segunda

etapa), o qual é utilizado na fabricação do

automóvel (terceira etapa). Nesse caso,

foram três etapas consecutivas. Entre

elas houve transporte e, em cada uma

delas, pagamento de impostos.

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capítulo 1 • 23

nãorenováveisquedificilmenteirãoseesgotar,poissãopoucoutilizados,comoourânio.

Masomesmonãosepodedizerdopetróleo.

Aáguaéumrecursorenovável,mas,nahistóriarecentedoBrasil,emváriosmomentos,

oabastecimentodeáguaeofornecimentodeenergiaelétricaforammotivodesériaspre-

ocupações,devidoàfaltadechuvas.Situaçãoquetendeaseagravarcomasmudançascli-

máticas.Temosaindaoproblemadaqualidadedaágua.NoBrasil,amaiorpartedoesgoto

residencialnãoétratada,antesdeserdespejadanosrios,lagos,lagoasoumar.Porsinal,

poucossabemqueoquepagamosdecontadeáguaébasicamenteparacobriroscustos

comtransporteelimpezadaágua.Ocustodaáguaemsi,épróximoazero.

Ford versus General Motors e o início da sociedade de consumo(ou não se fazem bens de consumo duráveis como antigamente)

Muitos pesquisadores consideram a disputa entre a Ford e a General Motors (GM), nos anos 20

do século passado, como o marco inicial da chamada sociedade de consumo, por ter populariza-

do a prática de obsolescência planejada.

Até o início dos anos 1920, a Ford dominava amplamente o mercado de automóveis nos Estados

Unidos, devido ao sucesso do Ford Modelo T. Esse carro era barato e durável. A ideia da Ford era

que fosse um carro para a vida inteira. Mas tinha um inconveniente, era considerado feio pelos

consumidores, devido ao design e, principalmente, por ser preto. A GM, para concorrer, lançou

um carro que tinha muitas das características do Ford Modelo T, mas com duas importantes

diferenças: havia modelos em diferentes cores e, a cada ano, seria lançado um modelo novo — o

carro do ano —, com mudanças em relação ao modelo do ano anterior. Com essa política, no final

dos anos 1920, a GM já vendia mais carros que a Ford. Não houve jeito, a Ford teve que ceder

e passou a lançar novos modelos de carros.

Com essa prática, em apenas um ano, um carro fica velho, pois já é fabricado um modelo novo.

Isso induz o consumidor a trocar de carro todo ano e, portanto, a comprar vários carros ao longo

de sua vida, e não um só, como queria Ford. Isso impulsionou o mercado de carros usados e

gerou um enorme desperdício de recursos naturais e muito lixo, pois são produzidos muito mais

carros do que o necessário. Um produto com obsolescência planejada é elaborado para ter uma

vida curta, levando o consumidor a comprá-lo várias vezes.

Um produto pode ter uma vida curta por vários motivos: saiu um novo modelo com pequenas mudan-

ças; saiu um novo modelo com grandes mudanças, pois houve um salto tecnológico (por exemplo,

TVs com telas LED e LCD); saiu de moda; ou simplesmente não funciona direito e os consertos são

frequentes. Em outras palavras, os bens de consumo duráveis são cada vez menos duráveis.

ATENÇÃO

Algumas perguntas para reflexão. Qual a geladeira mais durável, a sua ou a da sua avó? Qual o critério

que você usa para definir que um conserto vai sair caro e é hora de comprar um produto novo? Há quanto

tempo você tem seu atual telefone celular e o que te levou a fazer a última compra?

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24 • capítulo 1

Fatores de produção, agentes econômi-cos e o fluxo circular

Acontrapartidadautilizaçãodosfatoresdeproduçãonoprocessopro-

dutivo é a sua remuneração. No caso do trabalho, a contrapartida são

ossaláriose,nocasodocapital,sãooslucros(considerandoapenaso

trabalhoassalariadoeocapitalprodutivo).

REFLEXÃO

Supondo-se uma economia onde existam apenas famílias e empresas (retiramos

propositadamente o governo e relações com o exterior), os proprietários dos fatores

de produção são as famílias, que emprestam esses fatores produtivos às empresas,

para que essas viabilizem a produção de bens. Os agentes econômicos são, portanto,

as famílias e as empresas, que são as entidades que viabilizam o processo produtivo.

Asfamíliaseempresasinteragememdoismercados,odefatorese

odeprodutos.Nomercadodefatores,asfamíliasemprestamcapitale

trabalhoparaasempresasutilizaremaproduçãoemtrocadeumare-

muneração,nocaso,salárioselucros/dividendos.

Ovalordaremuneraçãoénegociadoentreaspartes.Atenção!Trata-

seapenasdeempréstimo,comregrasdefinidas,dosfatoresprodutivos,

enãovendadessesfatores.Sefossevenda,nocasodotrabalho,estaría-

mosnoregimedeescravidãoenãodetrabalhoassalariado.Otrabalha-

dorpodepedirdemissãonahoraquequiser,eoacionistapodevender

suasaçõesquandodesejar.

Nomercadodeprodutos,asempresasvendemseusprodutosàsfamí-

liasque,paracomprá-los,utilizamarendaobtidanomercadodefatores.

Portanto,osdoismercadosestãointerligados,emumfluxocircular.

Essavinculaçãodosmercadosmostraquepagarbaixossalários,se

porumladodiminuiocustodeproduçãodasempresas,poroutrolado

diminui seu mercado consumidor, pois as famílias ficam com menos

dinheiroparagastar.Essasrelaçõesestãosintetizadasnofluxocircular,

quemostracomo,paracadafluxoreal,háumacontrapartidamonetá-

ria.Afinal,aEconomiatratadeacompanhartransaçõesqueocorremem

valores,emmoeda.

COMENTÁRIO

Lucros/dividendos

Quando se compram ações de uma em-

presa que está na Bolsa de Valores (em-

presa de capital aberto), se tem direito a

receber dividendos caso essa empresa

tenha lucro. Dividendos é parcela do lu-

cro que é distribuída aos acionistas.

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capítulo 1 • 25

Fluxo circular

Empresas

Mercado deprodutos

Mercado de fatores de produção

Famílias

Renda

FLUXO MONETÁRIO

(DINHEIRO)

FLUXO REAL

(BENS, SERVIÇOS E FATORES)

Gastos

Salários e lucros

Empréstimo de capital e trabalho

Receitas

Capital e trabalho

Bens e serviços comprados Bens e serviços vendidos

Ford e o salário de 5 dólaresNo início de 1914, a Ford, empresa produtora de automóveis, estava enfrentando um sério pro-

blema. Tinha acabado de introduzir uma técnica produtiva revolucionária, a linha de montagem,

mas a produção não crescia como o desejado. O ritmo mais acelerado do processo produtivo

tinha aumentado a insatisfação entre os trabalhadores. Com isso, a dedicação ao trabalho e a

produtividade eram baixas e, portanto, frequentes as demissões e contratações de substitutos

com consequentes gastos em seleção e treinamento.

Para enfrentar esse problema, a empresa tomou uma decisão inteiramente inusitada para a épo-

ca. Resolveu dobrar o salário dos operários para US$5 ao dia e diminuir a jornada de trabalho

para 8 horas por dia, cinco dias por semana. Parecia uma decisão suicida de um empresário ex-

cessivamente paternalista, e foi um choque na opinião pública e no meio empresarial. Mas fazia

todo sentido, do ponto de vista econômico.

Pagando salários acima da média do mercado, a Ford podia cobrar dedicação dos operários, e

conseguiu isso. Todos queriam trabalhar na Ford e quem estava dentro não queria sair. A rotati-

vidade diminuiu drasticamente. Com maior dedicação, aumentou a produtividade (produção por

operário). Com a jornada de 8 horas, a fábrica podia trabalhar 24 horas com três turnos de 8

horas e sempre com operários descansados. Se fossem dois turnos de 12 horas, isso não seria

possível. A produção por fábrica aumentou. Gastou mais com os operários, mas em compen-

sação, o rendimento por operário e por fábrica aumentou muito e mais do que compensou. Em

outras palavras, o custo por operário aumentou, mas o custo de produção caiu, com isso pode-se

reduzir o preço dos carros e vender mais.

Havia também outro motivo para o aumento dos salários. Ford queria que os operários ganhas-

sem o suficiente para comprar seus automóveis, e conseguiu isso. Ford não via os salários só

como custo de produção, via também como demanda para seus produtos. Portanto, percebia que

o mercado de fatores e o de produtos estavam interligados.

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26 • capítulo 1

Economia, sociedade e meio ambiente

Comovimos,aEconomiaéumaciênciasocial,portanto,umpré-requisitoparasuaexis-

tência é uma sociedade minimamente organizada, ou pelos menos com algumas regras

sociaisestabelecidas.Talvezarelaçãoeconômicamaisantigasejaatroca,eelapressupõe

queosdoisladosconfiemnaqualidadedoproduto.Mesmonosprimórdiosdaraçahuma-

na,quandosepraticavaoescambo,valiaoprincípiodatrocadeprodutosdefeituosos,ou

seja,seacarnequerecebiestiverestragada,tenhodireitodereceberaminhalançadevolta.

ATENÇÃO

Os economistas não podem fazer o que querem — embora esse seja o desejo de muitos —, pois tem que

se submeter à sociedade. A economia é limitada pela sociedade, pois está contida nela. Não existiria socie-

dade se não existisse vida na terra, e, para isso, certas condições ambientais foram necessárias. Também

não se pode produzir sem recursos naturais. A sociedade é limitada pelo meio ambiente, do qual faz parte.

Comovimosanteriormente,ofluxocirculardeveserentendidocomoumarepresenta-

çãosimplificadaelimitadadaeconomia,masnãodarealidade.Afiguraaseguirétambém

utilizadapararepresentarodesenvolvimentosustentáveleaeconomiaecológica.

A relação entre economia, sociedade e meio ambiente

ECONOMIA

SOCIEDADE

MEIO AMBIENTE

Próximos capítulos

EstelivroestáestruturadoparacobrirosprincipaisconceitosintrodutóriosdaEconomia.

Nestecapítulo,abordamosoobjetodeestudodaEconomiaeasnoçõesbásicasdecustode

oportunidadeefluxocircular.Ospróximoscapítulostratarão,emlargamedida,deapro-

fundaressasnoções.

Ocapítulo2édedicadoaosprincipaisteóricosemEconomia,ouseja,procurou-sesitu-

araquelescujascontribuiçõespermitirammudançasqualitativasimportantesnamaneira

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capítulo 1 • 27

comoaanáliseeconômicapassouaserrealizada.Nessesentido,áreasdeconhecimento

dentrodaEconomia,comoaMicroeconomiaeaMacroeconomia,guardamrelaçãocoma

evoluçãodopensamentoeconômico.Nocapítulo2tambémtratamosdeapresentarbreve-

menteosprincípiosdeorganizaçãodedoissistemaseconômicos—aEconomiadeMerca-

doeaEconomiaPlanificada.

Ocapítulo3introduzosconceitosdeanáliseemMicroeconomia,cujoobjetivoémos-

trar,atravésdoequilíbrioparcialdosmercados,atendênciadaEconomiadeatingiroes-

tadodebem-estar.Nessecapítuloéfeitaumaintroduçãosobreométododeanáliseem

Economiaquesupõeagentesracionaismaximizadores(famíliasefirmas)desuasfunções

eobjetivo.Apartirdacaracterizaçãodosagenteseconômicossãoapresentadasasanálises

sobreoequilíbrionosdiferentestiposdemercado.Noçõesdeorganizaçãoindustrialsão

apresentadasaofinaldocapítulo.

Ocapítulo4apresentaoutraperspectivadeanáliseemEconomia,queéamacroeconô-

mica.Inicia-seocapítulocomadescriçãodasmedidasutilizadasemanálisesagregadas

—osagregadosmacroeconômicos—para,emseguida,mostrarcomoaanálisedocom-

portamentodestesagregadosajudaaexplicarodesenvolvimentodaEconomiaemcurto

prazo.Temascomodesempregoeinflaçãoconcluemocapítulo.

Ocapítulo5apresentaosinstrumentosdepolíticaeconômicaàdisposiçãodosgover-

nosparaintervirnaEconomia.Comoeconomiasdemercadosãopropensasaflutuações,

osgovernosdispõemdemecanismosdeintervençãoparacontrabalançarosmovimentos

desubidasedescidasdoproduto,doempregoedospreços,quesãopercebidosreduzindo

oníveldebem-estarsocial.

Ocapítulo6édedicadoàanálisedelongoprazo,contrapondoasnoçãodedesenvol-

vimentoeconômicoedecrescimentoeconômico.Políticaspúblicasparaapromoçãodo

desenvolvimento econômico são apresentadas, bem como medidas de desenvolvimento

social.Umtópicosobreglobalizaçãoconcluiocapítulo.

Porfim,olivroapresentaumapêndicesobrecomoelaborargráficosetabelaseconômi-

cas.Entende-sequeousodegráficosetabelasérecursobastantedifundido,sendoútilo

treinamentodoalunonaleituradestasferramentasestatísticas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRESSER-PEREIRA, L. Os dois métodos e o núcleo duro da teoria econômica. Revista de Economia Política, 2009,

vol. 29, nº 2 (114). Disponível em: <http://www.bresserpereira.org.br/papers/2008/08.06.DoisMetodos-REP.pdf>.

Acesso em: 5 abr. 2014.

CANO, W. Introdução à Economia — uma abordagem crítica. 2. ed. São Paulo: UNESP, 2007.

PROCHNIK. V. Cadeias produtivas e Complexos Industriais - seção do capítulo Firma, Indústria e Mercados, In:

Hasenclever, L. e Kupfer, D. Organização Industrial, São Paulo: Campus, 2002. Disponível em: <http://www.ie.ufrj.br/

cadeiasprodutivas/pdfs/cadeias_produtivas_e_complexos_industriais.pdf>. Acesso em: 1 mar. 2014.

Leituras Sugeridas:

MAY, PETER (Org.) Economia do Meio Ambiente – Teoria e Prática. São Paulo: Campus, 2010.

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28 • capítulo 1

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2 Contextualização da Ciência Econômica

paulo gonzaga mibielli de carvalho

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30 • capítulo 2

Uma introdução à História do Pensamen-to Econômico

AEconomia,comotodaciência,temumahistóriaeescolasdepensamen-

to.Destacaremosaquiapenasosprincipaiseconomistaseescolas,com

ênfasenoqueémaispertinenteparaoentendimentododebateatual.

Os Economistas Clássicos

AEconomiacomoumaciênciaespecíficanascecomoseconomistasde-

nominadosclássicos.Oprimeiroeomaisimportantedoseconomistas

clássicos,eporissoconsideradoopaidaEconomia,foiAdamSmith.

Smitheraadeptodopensamentoiluminista,quesetornariaabase

intelectualdaRevoluçãoFrancesa(1789).Portanto,acreditavaquepara

oconhecimentodarealidadeetransformaçãodasociedade,erafunda-

mentalousodarazão,enãodatradiçãooudareligião.Duasideiasde

RiquezadasNaçõesestãopresentesatéhojenodebateeconômico,asa-

ber:amãoinvisíveledivisãodetrabalho.

Mão invisível

SegundoSmith,somostodosegoístaseprocuramos,nomundoeconô-

mico,sempreoqueémelhorparanós.Masfazendoisso,mesmoquede

formaintencional,comoqueguiadosporuma“mãoinvisível”,estamos

realizandooqueéomelhorparaasociedade.

EXEMPLO

Se o padeiro procura produzir o melhor pão pelo melhor preço, o açougueiro, a me-

lhor carne pelo melhor preço, e assim por diante, a sociedade ganha, pois o que

todos nós queremos são produtos bons e baratos. O padeiro e o açougueiro agem

dessa forma devido à pressão da concorrência e porque querem ser bem sucedidos

ter lucro. Esses agentes econômicos estão se relacionando e cooperando entre si

no mercado de produtos e fatores, sem nenhum plano prévio ou orientação externa.

OquevimosnoexemploéoqueSmithchamou,metaforicamente,

demãoinvisível.Portanto,cadaumprocurandoomelhorparasi,chega-

AUTOR

Adam Smith

Adam Smith (Escócia, 1723-1790) é

considerado o fundador da Ciência Eco-

nômica, pois, até então, a Economia era

parte da Filosofia ou da Política, e não

uma disciplina autônoma. Começou sua

carreira acadêmica como filósofo moral

e seu primeiro livro, de 1759, se intitula-

va Teoria dos sentimentos morais. Seu

segundo livro é o clássico Riqueza das

Nações, de 1776.

2 Contextualização da Ciência Econômica

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capítulo 2 • 31

seaumasituaçãoqueéamelhorparaasociedade.SegundoSmith,se

todosagissempormotivosaltruístas,visandoobemcomum,oresulta-

doseriamuitopior.Issosóépossível,segundoSmith,quandohálivre

concorrência,seminterferênciadogoverno.

COMENTÁRIO

Interferência do governo

Ainda hoje, todos os economistas que defendem pouca intervenção do governo na

Economia usam como justificativa a mão invisível de Smith. Costumam dizer: deixe

o mercado em paz, não intervenha governo, pois a mão invisível vai solucionar os

problemas econômicos.

Smith,noentanto,nãoeraafavordequeaatuaçãodogovernona

Economiafosseamenorpossível.Ogovernotinhaumpapelimportan-

te,porexemplo,nasáreasdeinfraestruturaeeducação.Portanto,impli-

citamente,aceitavaqueamãoinvisívelnãosolucionavatodososproble-

masdasociedadee,paraobemcomum,eranecessáriaaintervençãodo

Estadoemalgumasáreas.

Divisão do trabalho

A segunda ideia é a divisão do trabalho, tanto dentro da sociedade —

hojechamadadedivisãosocialdotrabalho—,comodentrodafábrica

—quehojeseriaadivisãotécnicadotrabalho.Adivisãodotrabalhotraz

aespecialização,comelamaiorprodutividade(maiorproduçãoportra-

balhador) e, portanto, barateamento do produto, pois se produz mais

comomesmonúmerodetrabalhadores.Ocrescimentodomercadoéo

queimpulsionaaespecialização.

Outro economista clássico evocado aqui é David Ricardo. A maior

contribuiçãodeRicardoàTeoriaEconômicafoi,provavelmente,ateoria

das vantagens comparativas, apresentada no livro Princípios de Econo-

mia Política e Tributação,que,atéhoje,estánaordemdodia.

Noqueserefereaocomérciointernacional,opõe-seàteoriadevan-

tagens absolutas, de Adam Smith. Segundo essa última teoria, o im-

portante no comércio internacional é ter menores custos e, portanto,

vendermaisbarato.Ouseja,paísescomcustoselevadosoumuitoinefi-

cientesestãofadadosaofracassonastrocasinternacionais.

Para Ricardo, isso não seria verdade, pois no comércio internacio-

naloimportantesãoasvantagenscomparativas,enãoasabsolutas.Um

paístemvantagemcomparativaemumproduto,quandoooutro,com

quem compete, tem alto custo de oportunidade ao fabricar produto,

mesmosendomaiseficientenaprodução.Opaísdeveriaseespecializar

noprodutoquetemmaioresvantagenscomparativas.

COMENTÁRIO

Produtividade

Como vimos no capítulo anterior, Ford

sabia disso, pois para poder aumentar

sua produção, deu um aumento de salá-

rio aos trabalhadores. O objetivo, que foi

plenamente conseguido, era aumentar a

dedicação dos trabalhadores e, conse-

quentemente, sua produtividade.

AUTOR

David Ricardo

David Ricardo (Londres, 1772-1823),

juntamente com Adam Smith e Thomas

Malthus, é considerado um dos funda-

dores da escola clássica inglesa de Eco-

nomia Política. Sua obra mais consagra-

da é Princípios da economia política e

tributação (1817).

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32 • capítulo 2

EXEMPLO

Com um exemplo fica mais fácil de entender a ideia de Ricardo. Vamos supor que em

uma cidade do interior de Minas Gerais existam apenas duas confeiteiras, a Eloisa e a

Mariana, que fazem apenas dois bolos, de laranja e de chocolate. Eloisa faz os dois bolos

mais baratos, pois seu pai tem uma fazenda de onde vêm a laranja, os ovos e o leite. Além

disso, foi muito bem treinada no ofício por Ethel, sua mãe. Mariana deve então desistir e

mudar de ramo? Claro que não, pois a diferença de preços é grande no bolo de laranja,

mas pequena no bolo de chocolate. O motivo é que o chocolate não é produzido em

fazenda, mas importado do Rio de Janeiro. Eloy, o pai de Eloisa, experiente empresário,

percebeu isso. Ele orientou a filha a deixar de lado o bolo de chocolate e ficar só com o

de laranja. Pois como esse bolo era bom e barato, podia atender à demanda da cidade e

também das localidades próximas. Não valia a pena perder tempo produzindo o bolo de

chocolate, que não era tão barato e, portanto, não conseguiria vender muito.

REFLEXÃO

Ou seja, o custo de oportunidade para se produzir o bolo de chocolate era grande,

pois quanto mais bolo de chocolate Eloisa fazia, menos tempo e matérias-primas

tinha disponível para produzir o de laranja. Mariana, portanto, pode continuar a pro-

duzir seus bolos de chocolate, que eram comprados inclusive por Eloisa. Segundo

a teoria de Ricardo, Eloisa tinha vantagens comparativas na produção do bolo de

laranja e, portanto, Mariana no bolo de chocolate.

Adiscussãosobrevantagenscomparativasestánaordemdodiano

Brasildesdeopós-guerra,quandoa industrializaçãodopaíspassoua

serumprojetodeváriosgovernos,comodeGetúlioVargaseJuscelino

Kubitschek.Muitosquestionaram(eaindaquestionam)aopçãodoBra-

sil.OseconomistasliberaisàépocadeVargas,DutraeJuscelinodiziam

maisoumenososeguinte:paraqueoBrasildeveperdertempoprodu-

zindoautomóveis,senuncavamosconseguircompetircomosEUAnes-

saárea?Émelhornosconcentrarmosnaproduçãodecafé,ondesomos

muitomelhoresqueosamericanos.

Nessedebate,deumladoficaramoseconomistasliberaisedeoutro

osdesenvolvimentistas,ligadosaopensamentodaComissãoEconômi-

ca para a América Latina e o Caribe das Nações Unidas — Cepal, que

defendiamaindustrialização.

ATENÇÃO

Se dependesse da teoria de Ricardo, o Brasil nunca iria se industrializar. Hoje não ven-

demos carros para os EUA, mas vendemos para a Argentina. Para os EUA, vendemos

aviões da Embraer — inclusive para as Forças Armadas —, dentre outros produtos.

COMENTÁRIO

Economistas liberais à época

Para eles, o Brasil tinha uma vocação

agrícola, e, portanto, vantagens compa-

rativas nessa área, e não na indústria.

Mesmo porque a agricultura precisa de

terra e mão-de-obra não qualificada, e

tínhamos ambas em abundância, e a in-

dústria precisa de capital e mão-de-obra

qualificada, que tínhamos pouco (lembre-

se, falamos da realidade daquela época).

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capítulo 2 • 33

OproblemaéqueateoriadeRicardoéestática,éumafotografiadeum

determinadomomento.Masarealidadeédinâmica,podemudar.Pen-

sando-searealidadedoBrasildosanosde1940comoalgoimutável,não

fariasentidoumaindustrialização.Masconsiderandoaindústriacomoo

motordeumprocessodedesenvolvimento,eque,porcontadisso,oBra-

silseriadiferente,décadasàfrente,faziasentidoaindustrialização.Ou

seja,opensamentotemdesedescolarnopresenteeselançarnofuturo.

O custo Brasil

O custo Brasil é uma expressão muito utilizada nas discussões econô-

micas do Brasil e que tem como base a teoria das vantagens absolutas.

Segundo essa tese, nosso país seria pouco competitivo no comércio in-

ternacional porque teríamos um custo de produção elevado. O custo de

produção é entendido aqui no sentido amplo, abarcando, além do custo do

salário, matérias-primas e juros, também custos legais (exemplo: encargos

trabalhistas), institucionais (exemplos: burocracia em excesso, deficiências

na educação), tributários (impostos elevados), de infraestrutura (estradas

precárias) e corporativos —sindicatos de trabalhadores resistindo à mo-

dernização (SANDRONI, 2005).

Um exemplo do custo Brasil foi um estudo feito pelo Banco Mundial. Essa

pesquisa ordenou os países segundo a facilidade de se fazer negócios.

Nesse ranking o Brasil ficou na posição 116ª, bem abaixo do Chile (34ª),

o melhor da América Latina nesse quesito.

Para os defensores dessa tese no Brasil, como a Confederação Nacional

da Indústria (CNI), o país para se tornar competitivo e entrar numa trajetó-

ria sustentável de crescimento, deveria promover profundas reformas nas

áreas que afetam o custo Brasil.

Continuando nosso passeio histórico, evocamos Thomas Robert

Malthus. A tese que ele apresentou, no Ensaio sobre o Princípio da

População, é que a produção de alimentos cresceria em progressão

aritmética (PA), e a população, em progressão geométrica (PG). Em

decorrênciadisso,senãofossemtomadasmedidascabíveis,afome

e,nolimite,ocolapsodasociedadeseriaminevitáveis.Malthuserao

quehojesechamadecatastrofista.

Acatástrofenãoaconteceu,poistantoaproduçãoagrícolaaumen-

tou—devidoà incorporaçãodemaisterrasedenovastecnologias—

comoapopulaçãopassouacrescermenos,emrazãodemaiseducação,

urbanizaçãoenovosmétodoscontraceptivos.

A preocupação de Malthus então não faz mais sentido no mundo de

hoje?FazmuitosentidoparaaChina,opaísmaispopulosodoplaneta,e

AUTOR

Thomas Robert Malthus

Malthus (1766-1834), um pastor pro-

testante, foi o primeiro economista a dar

destaque ao tema crescimento popula-

cional. Sua fama vem até os dias de hoje,

onde vez por outra, no debate econômico,

é usada a expressão ideias malthusianas.

É considerado o pai da demografia.

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34 • capítulo 2

tambémasegundamaioreconomiadomundo,queadotapolíticas(agora

umpoucomenosrígidas)decontrolepopulacional.Fazsentidoparavários

paísesafricanos—exatamenteosmaispobres—ondeapopulaçãocresce

exponencialmente.Talvezfaçasentidoparaorestantedomundotambém.

REFLEXÃO

A população do planeta está crescendo menos, mas, segundo alguns analistas, a produ-

ção de alimentos não está aumentando no ritmo desejado (as mudanças climáticas con-

tribuem para isso), e há o risco de termos um descompasso no futuro. A FAO, por exem-

plo, tem essa preocupação (agência das Nações Unidas para alimentação e agricultura).

FalaremosagorasobreKarlMarx.OnomedeMarxésemprelembra-

doquandoascoisasvãomal,oumelhor,quandovãomuitomal,comofoi

ocasodacrisede1929e,emmenormedida,dacrisefinanceirade2008.

Marx,detodososeconomistasclássicos,foiquemestudoucommaispro-

fundidade o funcionamento de uma economia capitalista, como atesta

suaprincipalobra,OCapital.Issosedeve,sobretudo,adoismotivos.

Primeiramente,MarxescreveunoséculoXIX,quandoocapitalismo

industrial, jáconsolidado,caminhavaparaumanovafase,commaior

concentraçãodocapitalemaior interligaçãoentrecapitalprodutivoe

financeiro.Smith,queviveuumséculoantes,aindanoiníciodarevolu-

çãoindustrial,nãotinhacomoanalisaressecapitalismo—queémais

próximodanossarealidadeatual.Marxpôdesebeneficiardomuitoque

foiescritosobreofuncionamentodocapitalismo,inclusiveoqueosde-

maiseconomistasclássicosescreveram.

O segundo motivo é a necessidade de se conhecer o adversário se

vocêquervencê-lo,eesseeraoobjetivodeMarx.Comrelaçãoaocapita-

lismo,Marxtinha,aomesmotempo,admiraçãoeódio.

ParaMarx,aburguesia—e,portanto,ocapitalismo—eraprofunda-

menteinjusta,poisexploravaapopulação,emespecialosoperários,e

porissodeveriaserderrubada.Nessesistemaosricosficariamcadavez

maisricoseospobrescadavezmaispobres.

Derrotado o capitalismo, seria implantada uma economia cujos

meiosdeproduçãoseriampropriedadedogoverno(socialismo).Sendo

bemsucedidaaimplantaçãodosocialismo,sealcançariaocomunismo,

queseriaumasociedadeigualitária,semclassesesemgoverno.

ParaMarx,ocolapsodocapitalismoerainevitávelpordoismotivos:

pressãodosoperáriosexplorados(lutadeclasses)eascontradiçõesin-

ternas do funcionamento próprio do capitalismo. Essa é a razão pela

qualMarxésemprelembradoemépocasdegrandescrisesdocapitalis-

mo,comoem1929e2008.

AUTOR

Karl Marx

Karl Heinrich

Marx (1818 -

1883) foi fun-

dador da doutri-

na comunista

moderna, e de-

nomina-se mar-

xismo o conjun-

to de ideias e teorias dele, as quais você

verá de forma mais extensa durante

este capítulo.

COMENTÁRIO

Admiração

No Manifesto do Partido Comunista, che-

ga a afirmar que a burguesia, durante seu

domínio de classe, apenas secular, criou

forças produtivas mais numerosas e mais

colossais que todas as gerações passa-

das em conjunto (Marx e Engels, 1848).

COMENTÁRIO

Socialismo

Na época de Marx, o socialismo era ne-

cessariamente revolucionário e incom-

patível com o capitalismo. Posterior-

mente o movimento socialista se dividiu

entre socialistas revolucionários e não

revolucionários (reformistas), que luta-

vam por um regime capitalista com mais

justiça social, incorporando algumas

ideias socialistas. Essa última corrente,

também chamada de Social Democrata,

acabou predominando na Europa.

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capítulo 2 • 35

REFLEXÃO

Esses eventos de crise sempre nos recordam de que as economias de mercado (ca-

pitalismo) não funcionam bem e isso pode acarretar consequências sociais sérias, tal

como índices elevados de desemprego.

Se as economias de mercado não funcionam adequadamente, os

marxistasdiriam:nãoseriaocasodemudardesistemaeimplantaroso-

cialismo?Aseconomiasdemercadotêmsobrevividoàssuascrisescom

baseemreformaseintervençãodogoverno.Poroutrolado,asecono-

miasditascomunistaseseguidorasdasideiasdeMarx,fracassaramem

maioroumenorgrau.AChinaéumsucessoeconômico,maspode-sedi-

zerqueaChinaéumpaíscomunista?Comcertezanão.Apesardevários

paísesteremseintituladocomunistas—comoaantigaUniãoSoviética

—,nuncasealcançouocomunismoconformeconcebidoporMarx.

OmaiorlegadodeMarxépoucoassociadoaoseunome.Suaspre-

visõesfracassaram,masseusideaiscontribuíramparamudarocapita-

lismoaofortalecerossindicatoseaolevaràcriaçãodepartidosdees-

querda.Comoconsequência,estasinstituiçõeslevaramosgovernosde

diferentesmatizespolíticasaadotarempolíticassociais.

OchamadoEstadodeBem-Estar,noqualaspolíticassociais tor-

nam-semaisabrangentesearticuladas,surgenaInglaterradepoisda

Segunda Guerra Mundial, por iniciativa do Partido Trabalhista, um

partido de esquerda moderado. Esse modelo é atualmente adotado,

emmaioroumenorgrau,pormuitaseconomias,noBrasilinclusive.

Umaprovadequeocapitalismomudouéoapoioàexistênciadepo-

líticassociais,queéhojeumconsensonoespectropolítico.Pode-sedis-

cutirquetipodepolíticaequalsuaextensão,masnãosuanecessidadee

importânciaemdistintasáreas.

REFLEXÃO

Por exemplo, hoje é consenso que a Educação Básica deve ser gratuita, e que o

trabalho de crianças em fábricas deve ser proibido. Essas são duas das propostas de

Marx e Engels no Manifesto Comunista. O tempo mostrou que políticas educacionais

e de proteção às crianças eram necessárias, e que não é preciso um governo revolu-

cionário que queira implantar o comunismo para colocá-las em prática.

A reação alemã

Friedrich List, jornalista e político, foi um dos críticos das ideias de

Adam Smith na Alemanha. Muitas vezes quando se aborda a história

dopensamentoeconômico,seunomenãoélembrado.Noentanto,List

COMENTÁRIO

Políticas sociais

As políticas sociais são as voltadas

para a melhoria das condições de vida

da população. Otto Bismarck, primeiro-

ministro do império alemão no final do

século XIX, um político conservador e

visionário, adotou uma gama de pro-

gramas sociais — pensões, aposenta-

dorias, auxílio-desemprego, seguro de

acidentes de trabalho, dentre outros

— por conta do crescimento dos parti-

dos de esquerda, notadamente o Social

Democrata.

COMENTÁRIO

Friedrich List

Friedrich List (1789-1846) defendia a

tese de que as empresas nacionais não

conseguiriam se desenvolver se o mer-

cado já estivesse ocupado por empresas

de países estrangeiros economicamente

mais avançados. Nessas circunstâncias,

para ele, justificava-se um protecionismo

educador, com a finalidade de proteger,

por um período de tempo, o mercado

nacional para assegurar a consolida-

ção das indústrias nacionais, ou seja,

para que tivessem condições análogas

para disputar mercados num ambiente

de livre concorrência. List morou mui-

to tempo nos EUA, e até se naturalizou

americano, onde políticas protecionistas

eram defendidas desde o século XVII por

Alexander Hamilton (Secretário do Te-

souro de George Washington, o primeiro

presidente dos EUA), e começaram a ser

adotadas em 1789.

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36 • capítulo 2

temespecialimportânciaparanós,quevivemosnaAméricaLatina,pois

suaprincipalobra—OSistema Nacional de Economia Política,de1841

—tevegrandeinfluêncianopensamentodaCepal—ComissãoEconô-

micaparaaAméricaLatinaeoCaribe.AsideiasdeListserviramdebase

paraconcepçãodasZollvereins—uniõesaduaneirasquecriaramzonas

delivrecomércioentreosváriosreinosindependentesdaAlemanha.

ATENÇÃO

Adam Smith seria inteiramente contra medidas protecionistas, pois representavam

uma intervenção indevida do governo no livre mercado, onde não devia haver favo-

recimento. Que na disputa entre empresas, valha a livre concorrência, e que vença

o melhor, sem privilégios para ninguém, diria Smith (e muitos pensam assim hoje).

Aquestãoéquesenãohouveralgumtipodeproteção,adisputaserá

sempreDavideGolias,ouseja,muitodesequilibrada.Issosignificaque

aInglaterra,quefoioprimeiropaísapassarporumarevoluçãoindus-

trial, tinhaumaenormevantagemsobreseusconcorrentes.Ospaíses

deveriamabrirmãodeseindustrializareaceitarqueprodutosmanufa-

turadosdeveriamsercompradosdaInglaterra?

OsEUAresponderamnegativamenteaessaperguntaeadotarampo-

líticasprotecionistas,sendoesseumdosmotivospelosquaisessepaís

setornouumagrandepotência.Porsinal,seDavidRicardofosseanali-

saraeconomiadosEUAnoiníciodoséculoXIX,diriaqueopaísdeveria

se especializar na produção de algodão e outros produtos agrícolas, e

importarmanufaturadosdaInglaterra.

RESUMO

Políticas protecionistas visam proteger um setor econômico, normalmente a indús-

tria, no caso da América Latina, e, para esse fim, fazem uso de medidas que deses-

timulam ou impedem a importação de produtos concorrentes. Isso pode ser feito,

por exemplo, por meio da criação de cotas de importação, impostos elevados sobre

importados, câmbio desfavorável para a importação.

Casoapolíticadogovernovisenãosóproteger,mastambémdesen-

volver um setor, serão adotadas medidas de política industrial. Essas

medidasobjetivamestimularaproduçãolocal,pormeio,porexemplo,

de:créditoemcondiçõesfavoráveis;isençãodeimpostos;câmbiofavo-

rável paraimportaçãodeinsumosemáquinasnecessáriasparaode-

senvolvimentodosetor.

No início do século XIX, o que hoje chamamos de Alemanha não

existiae,emseulugar,haviaumconjuntodepequenospaíses(reinos).

Foicriada,em1833,umauniãoaduaneira(Zollverein)entreessespaí-

ses,queconsistianaaboliçãodastarifasaduaneirasnocomércioentre

COMENTÁRIO

Grande potência

Segundo Ha-Joon Chang (2013), a

grande maioria dos países hoje desen-

volvidos adotaram políticas protecionis-

tas; e políticas de livre mercado raramen-

te fazem os países pobres ficarem ricos.

COMENTÁRIO

Câmbio favorável

A política cambial, que trata do valor

das moedas estrangeiras, será tratada

mais adiante neste livro. Neste momen-

to basta o entendimento de que câmbio

— no nosso caso, dólar — desfavorável

à importação significa dólar caro. Inver-

samente, o dólar caro é favorável para

quem exporta, pois a receita do exporta-

dor é em dólar.

COMENTÁRIO

Zollverein

O Zollverein era claramente protecio-

nista e inspirado nas ideias de List, e

seu sucesso levou à criação de outras

uniões aduaneiras. O Mercado Comum

Europeu, que depois se transformou em

União Europeia, teve como ponto de

partida a união aduaneira. O Mercosul

tem o objetivo de se tornar uma união

aduaneira entre seus países membros.

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capítulo 2 • 37

elesecriaçãodetarifasúnicasparaocomérciocomosdemaispaíses.

Osucessodessamedidacontribuiudeformadecisivaparaaunificação

políticadaAlemanhaem1871.

A Economia Neoclássica

Comooobjetivodestecapítuloéapresentarapenasosprincipaiseco-

nomistas, optamos por nos restringir a um economista da corrente

neoclássica,tambémchamadademarginalista—queabarca,agros-

somodo,operíodo1870-1910—,eescolhemosAlfredMarshall,um

professordeCambridge(Inglaterra),quecostumaserchamadoopai

daMicroeconomia.

ATENÇÃO

A Microeconomia é o ramo da Economia que estuda a interação, no mercado, entre

empresas e consumidores. Vários economistas pesquisaram nessa área (como Je-

vons, Menger, Walras), mas Marshall não só incorporou muito do que seus anteces-

sores e contemporâneos escreveram, como deu importantes contribuições próprias.

No século XX o âmbito da Microeconomia se expandiu passando a abarcar também,

por exemplo, a relação entre empresas que concorrem em um mesmo mercado e do

governo com empresas e consumidores. Para maiores informações, veja o capítulo

3, que tratará da Microeconomia.

A partir de Marshall, a ciência econômica, até então conhecida

comoEconomiaPolítica,se tornouEconomia,queéadenominação

usada até hoje. Seu livro — Princípios de Economia — teve (e ainda

tem,masdeformaindireta)enormeinfluênciaeéconsideradoopri-

meirolivro-textodeEconomia.

RESUMO

A principal diferença entre os economistas clássicos e os neoclássicos é que os

primeiros utilizavam a teoria do valor trabalho e, os segundos, a do valor utilidade.

Para os clássicos, o preço de um produto tinha como base a quantidade de horas

de trabalho necessária para sua fabricação, e para os neoclássicos, a base do preço

é a sua utilidade. Para os neoclássicos não importa quanto trabalho se despendeu

para a fabricação de um produto, se não conseguir vendê-lo — portanto não sendo

útil para ninguém — seu preço é zero. O preço da mercadoria, portanto, não é deter-

minado quando a mesma é produzida (valor trabalho), e sim no mercado, quando é

vendida/consumida (valor utilidade).

AUTOR

Alfred Marshall

Alfred Marshall (Londres, 1842-1924)

exerceu forte influência na Economia,

em especial pelo livro Princípios de Eco-

nomia (1890), uma compilação em dois

volumes de todo o pensamento econô-

mico à época.

COMENTÁRIO

Princípios de Economia

Vários conceitos que são fundamen-

tais na Microeconomia têm como refe-

rência o livro Princípios de Economia,

bem como sua formulação matemática

e apresentação gráfica — por exemplo,

utilidade marginal (originalmente for-

mulado por Jevons), oferta, demanda,

elasticidade, custos fixos e variáveis. As

duas curvas mais conhecidas da ciência

econômica — as de oferta e demanda

— foram formuladas por Marshall. Não

vamos aqui nos deter em explicar esses

conceitos, pois os mesmos serão abor-

dados no capítulo seguinte deste livro.

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38 • capítulo 2

A Escola Austríaca

AmaioriadoseconomistasdachamadaEscolaAustríaca,comoMenger

e Böhm-Bawerk, poderia ser classificado como neoclássicos, mas um

delesfugiuàregrae,paramuitos,éumestudiosodedifícilenquadra-

mentoemqualquercategoria,chegouatéadarorigemaumaescolade

pensamento. Esse economista foi Joseph Schumpeter. Seus principais

livrosforamA Teoria do Desenvolvimento EconômicoeCiclos Econômicos.

Schumpeter criou uma expressão muito presente nas discussões

econômicasdessaárea,queéadestruiçãocriativa,tendocomoponto

departidaosestudosdeMarx.ParaSchumpeter(eparaMarx),ocapi-

talismo é extremamente dinâmico e, para abrir espaço para o novo, é

necessáriodestruirovelho.Aoselançarumnovoproduto(oumeiode

produção,detransporteetc.)estásesubstituindo(destruindo)produtos

antigos.ParaSchumpeter,oscicloseconômicossãoinerentesaofuncio-

namentodeumaeconomiacapitalista.

Osciclosdelongaduração,chamadosciclosKondratieff(emhome-

nagem ao economista russo Nikolai Kondratieff, que foi o primeiro a

estudar o tema dos ciclos longos), estariam sempre associados a uma

ondadeprogressotécnico.Segundooseconomistasneo-schumpeteria-

nos,FreemaneSoete(1997),teriamocorridocincociclosdeKondratie-

ff.Estamosatualmentenociclodamicroeletrônica.

Ondas sucessivas de progresso técnico Adaptado de Freeman e Soete (1997) p.19

Período Ondas de Krondratieff

1780-1840 Revolução industrial

1840-1890 Era da máquina a vapor e das ferrovias

1890-1940 Era da eletricidade e do aço

1940-1990 Era da produção em massa

1990 - ? Era da microeletrônica

Schumpeterdámuitodestaqueaopapeldosempresáriosnoproces-

sodeinovaçãotecnológica.Porcontadisso,crioumaistardeaexpressão

“empresárioschumpeteriano”,paradesignarosquesãoespecialmente

inovadores.Hojeéconsensoentreoseconomistasqueoprogressotéc-

nicoéoprincipalmotordocrescimentoeconômiconolongoprazo.

Emcontrapartida,oprogressotécnico,aodestruirsetoreseconô-

micoseprocessosprodutivos,tambémdestróiseusrespectivospos-

tos de trabalho, gerando o que depois foi chamado de desemprego

estrutural, ou seja, a perda de emprego porque a ocupação corres-

pondentenãoexistemais.

AUTOR

Joseph Schumpeter

Schumpeter (Morávia, atual República

Tcheca, 1883 -1950) notabilizou-se pelo

estudo dos ciclos econômicos e, princi-

palmente, do progresso técnico. Foi o

primeiro economista a dar destaque ao

tema tecnologia e, ainda hoje, é uma re-

ferência na área. Vários economistas se

consideram seus seguidores, dando ori-

gem à escola Neo-schumpeteriana.

CONCEITO

Ciclos econômicos

São flutuações da atividade econômica em

que a uma fase de expansão da produção

se segue uma de contração, ou uma fase

de grande expansão é seguida por uma de

baixo crescimento. Os ciclos poderiam ser

de curta, média ou longa duração.

COMENTÁRIO

Desemprego estrutural

Quem trabalhava na indústria de

máquinas de escrever perdeu seu

emprego para sempre, pois esse

produtonãoémaisfabricado.Foi

substituído pelo computador. Em

longo prazo, os empregos perdi-

dossãomaisdoquecompensados

pelos empregos criados. Mas, no

curtoemédioprazo,serádifícilen-

contrarocupaçõesparaaspessoas

desempregadas, e políticas públi-

cas são importantes para minimi-

zaresseinevitávelcustosocial.

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capítulo 2 • 39

Produtos que morrem e renascem

É interessante notar que alguns produtos dados como mortos acabam por

renascer algum tempo depois. Schumpeter nunca deve ter pensado nisso.

Um caso conhecido são os discos de vinil, que sofreram um golpe mortal

com o aparecimento dos CDs e teriam sido definitivamente enterrados

com o surgimento do MP3, downloads e, por fim, da música alugada por

streaming. Mas o vinil está de volta, não como produto de massa e, sim,

para um nicho de mercado composto pelos DJs e aficionados. Virou um

produto cult. Muitos fãs de rock consideram a qualidade de som do vinil

insuperável — mas há controvérsias se isso é mesmo verdade. Com a volta

do vinil, voltou também o toca-disco.

Um produto que pode voltar é a máquina fotográfica Polaroid, cujas fotos

são reveladas, em papel, na mesma hora. Alguns empresários já percebe-

ram que há demanda por fotos em papel e não apenas digitais.

E você, o que acha? Na sua opinião, este livro vai ser substituído pelo tablet

ou pelo e-reader?

OutroeconomistadaescolaaustríacaquesenotabilizoufoiFriedri-

chHayek,queéconsideradoopaidoquehojeéchamadoneoliberalis-

mo.ParaHayek,osistemadelivremercadoéumaordemespontânea,

tão importante para a humanidade quanto o desenvolvimento da lin-

guagem.Defendequeasociedadesejaorganizadaemtornodomercado

equeaatuaçãodogovernosejaamenorpossível.Aregulamentaçãoda

vidaeconômica,consequentemente,deveriasermínima.

Hayektambémseopunhaapolíticasquetivessemcomoobjetivoa

justiça social, por ser uma interferência indevida nas liberdades indi-

viduais.Masaceitavaalgumasexceçõesàregradenãointervençãodo

Estado,poiserafavorávelaqueogovernoajudasseaquemfosseextre-

mamentepobre,pormeiodagarantiadeumarendamínima,apoiava

ainstituiçãodesegurosocialparaatenderaindivíduosdoentesouaci-

dentados,bemcomoregulamentaçõesnaáreaambiental.

A economia keynesiana

SeMarshalléopaidaMicroeconomia,nãohádúvidasdequeKeynesé

ocriadordaMacroeconomia,queéoestudodocomportamento,prin-

cipalmente no curto prazo, do desempenho da Economia de um país

noqueserefereàprodução,renda,emprego,preçosetc.Curiosamente,

KeynesseconsideravaumseguidordeMarshall,dequemfoidiscípulo.

AUTOR

Friedrich Hayek

Friedrich Hayek (Viena, Áustria, 1899-

1992) foi reverenciado, com medalhas,

pelos dois mais importantes políticos

neoliberais, o Presidente Reagan, dos

EUA, e a Primeira-Ministra Margaret

Thatcher, da Inglaterra. Por conta disso,

sua principal obra — O caminho da ser-

vidão —, considerada um libelo contra

o socialismo, tem tido sucessivas edi-

ções. Hayek ganhou o prêmio Nobel de

Economia, em 1974, em conjunto com

Gunnar Myrdal. O curioso é que ambos

têm posições diametralmente opostas.

Hayek é um crítico da intervenção do

governo na Economia e Myrdal um de-

fensor. Alguns interpretaram essa pre-

miação como uma demonstração da fal-

ta de critérios na premiação. No entanto,

a maioria dos analistas entendeu que a

premiação expressava o reconhecimen-

to da diversidade de pensamento dentro

da Economia.

AUTOR

Keynes

John Maynard Keynes (Inglaterra, 1883-

1946) opôs-se ao pensamento econô-

mico neoclássico. Especialmente após a

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40 • capítulo 2

Suaprincipalobra—Teoria geral do emprego, juro e moeda—éuma

críticaradicalaopensamentoeconômicodominantedaépoca,sinteti-

zadonachamadaLeideSay.

Keynes pensava de forma diametralmente oposta. Para Keynes, o

capitalismoéinerentementeinstávele,portanto,oplenoempregoéa

exceçãoenãoaregra.Paraalcançá-losócomintervençãodogoverno,a

mãoinvisívelnãodarácontadessatarefa.Aquedadesaláriosnuncairá

levaraoplenoemprego,poisoníveldeempregonãoédeterminadono

mercadodetrabalho,esimpelademanda.

REFLEXÃO

Os empresários não contratam mais operários que não precisam simplesmente porque

agora os salários estão mais baixos. Eles vão contratar os operários que necessitam

para atender a sua expectativa de demanda (de venda) para seus produtos. Além dis-

so, seria difícil rebaixar valor dos salários, pois os sindicatos não aceitariam isso.

Se excluirmos importação e exportação, a demanda da economia é

compostapeloconsumodasfamílias,oinvestimentoeosgastosdogo-

verno.Oconsumovariacomarenda.Oinvestimentodependedataxade

juros—quantomenor,maioroestímuloparainvestiremmáquinas,equi-

pamentosenovasfábricas—edaexpectativadelucrodosempresários.

Essesegundocomponente,porsersubjetivo,émuitoinstável.Emépocas

derecessão(dequedadaproduçãodaeconomia),arendacaie,comela,

oconsumo.Osempresáriosnãoinvestem,poisaeconomiavaimal.Cabe,

portanto,aogoverno,gerarademandaatravésdegastospúblicos.

ParaKeynes,aconcorrênciaeofuncionamentodosmercadossãofun-

damentaisemumaeconomiacapitalista,masnamãoinvisívelnãofariam

sentido.Aocontrário,entendiaque,emmuitoscasos,quandoaspessoas

buscamomelhorparasimesmos,essecomportamentolevaaumasitu-

açãoqueéapiorparatodos.Issoéchamadodefaláciadacomposição.

EXEMPLO

Por exemplo, se há um boato de que um banco está em má situação financeira e vai

quebrar — algo que ninguém deseja —, todos os correntistas irão rapidamente ao

banco para sacar seu dinheiro. Se todos fizerem isso, o banco quebra. Se todos, du-

rante uma crise econômica, resolverem poupar dinheiro para fazer frente a um futuro

incerto, isso vai diminuir ainda mais o consumo e agravar a crise.

Essaterapiaparaenfrentararecessão,umagrandenovidadenaépoca,

jávinhasendopostaemprática,nosanos1930,poralgunsgovernos—na

SuéciaenosEUA,comoNew DealdopresidenteRoosevelt—,paraenfren-

taradepressãocausadapelacrisede1929,massemumafundamentação

nateoriaeconômica.OlivrodeKeynes,portanto,surgiunahoracerta.

Segunda Guerra, suas ideias foram ado-

tadas por praticamente todos os países

ocidentais de maior poder econômico.

Sua influência sofreu declínio a partir de

1970; entretanto, por conta da crise fi-

nanceira de 2007, renovou-se o interes-

se pelas ideias de Keynes e as críticas

aos defensores do livre mercado.

CONCEITO

Lei de Say

Formulada pelo economista francês Jean

-Baptiste Say, segunda a qual toda oferta,

ao produzir renda, gera sua demanda. Por-

tanto, desequilíbrios na economia seriam

apenas momentâneos e solucionados

pelo sistema de preços, e o pleno empre-

go da mão de obra não seria uma situa-

ção de exceção e, sim, a regra. O pleno

emprego seria alcançado, pois se a oferta

de trabalhadores for superior à demanda,

haverá queda de salários e se chegará a

uma situação de equilíbrio, com todos em-

pregados, porém com salários menores.

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capítulo 2 • 41

ATENÇÃO

As ideias de Keynes provocaram o que ficou conhecido como revolução keynesiana,

pois mudaram a forma de se pensar o funcionamento da Economia e seu pensamen-

to foi hegemônico entre os economistas até os anos 1970. Nessa época, a inespe-

rada combinação de baixo crescimento da economia com a inflação — chamada de

estagflação (estagnação da economia com inflação) — colocou em xeque o pen-

samento keynesiano. Até então se achava que a inflação estaria necessariamente

associada a mais emprego e produção.

Monetarismo

Keynesfoioeconomistamaisinfluentedaprimeirametadedoséculo

XX,eMiltonFriedmanficacomessepostonametadeseguinte.Elere-

presentouareaçãodopensamentoneoclássicoàrevoluçãokeynesiana.

FriedmanadvogaqueopapeldamoedanaEconomiaéneutro,ou

seja,nãopodeafetaroladoreal.Issoquerdizerquegovernantespodem,

pormotivoseleitoreiros,tentarmanipularataxadedesempregonaEco-

nomia emitindo mais moeda e induzindo a população a gastar mais.

Mesmoqueataxadedesempregopossadiminuirnocurtoprazo,para

osmonetaristasoefeitoemlongoprazoseráodegerarmais inflação

(vercapítulos4e5,referênciaàcurvadePhillips).

RESUMO

Friedman defendia ideias próximas às de Hayek, de não intervenção do governo na Eco-

nomia e de defesa do livre mercado. Os gastos públicos deveriam se ater ao mínimo.

ParaFriedman,existeumlimiteinferiorparaoníveldataxadede-

semprego,chamadodetaxanaturaldedesemprego.Seodesemprego

ficarabaixodessenível,iráprovocarinflaçãoviaelevaçãodossalários.A

hipótesedataxanaturaldedesempregoseriaequivalenteàtaxadeple-

noempregodaEconomia,que,comoKeynesjáhaviaobservado,uma

vezatingida,provocariainflação.

ATENÇÃO

A divergência entre Keynes e Friedman estaria no fato de que, para o primeiro, a ten-

dência da economia de mercado era funcionar abaixo do pleno emprego, com ociosi-

dade de fatores de produção (ver capítulo 4); e, para o segundo, economias de merca-

do funcionariam próximas ao pleno emprego, ou seja, à taxa natural de desemprego.

AUTOR

Milton Friedman

Milton Friedman (Nova Iorque, 1912-

2006) foi ganhador do prêmio Nobel em

1976, e seu nome é associado à corren-

te de pensamento chamada monetarista.

As principais obras de Friedman foram

Capitalismo e Liberdade e Uma história

Monetária dos Estados Unidos.

CONCEITO

Taxa natural de desemprego

A taxa natural de desemprego é um con-

ceito normativo, ou seja, serve como uma

referência para a discussão de política

econômica, pois não há como saber, de

fato, qual é a taxa natural para uma Eco-

nomia em um determinado momento.

Economistas monetaristas trabalham com

a hipótese de que existe uma taxa natural.

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42 • capítulo 2

Apersistênciadodesempregoinvoluntário,ouseja,aexistênciade

trabalhadores dispostos a trabalhar por qualquer salário e mesmo as-

sim não encontrando emprego, diagnosticado por Keynes como uma

possibilidade real em economias descentralizadas (não planificadas,

verpróximotópico),desaparecenaliteraturamonetarista.

REFLEXÃO

Economistas da corrente monetarista sofrem muitas críticas, assim como keynesia-

nos, nos anos 1970, por não terem previsto a estagflação, ou seja, o movimento de

alta de preços e queda do produto, verificado após o primeiro choque do petróleo, em

1973, em praticamente todas as economias.

Apartirdaísurgeumanovaescoladepensamento,aNovoClás-

sica, que tem Robert Lucas, ganhador do prêmio Nobel em 1995,

um de seus maiores nomes. A partir da revolução Novo Clássica, o

grau de sofisticação técnica em Economia aumenta bastante, com

aincorporaçãocadavezmaisintensadetécnicaseconométricasna

construçãodemodelos.

REFLEXÃO

A escola Novo Clássica atualmente encontra-se com menos prestígio, porém o lega-

do técnico foi incorporado pela corrente mais atual, a chamada escola Novo Keyne-

siana, que busca uma nova síntese do pensamento macroeconômico, como a que

prevaleceu após a revolução keynesiana.

Estruturalismo

A contribuição mais expressiva da América Latina (portanto também

doBrasil)àhistóriadopensamentoeconômicodeu-sepormeiodacor-

renteestruturalistadaCepal,daqualCelsoFurtadofoiumadasfiguras

maisproeminentes.

Essa escola de pensamento surgiu na Cepal inspirada pelos traba-

lhosdeRaulPrebisch,seuprimeiropresidente.Segundoessaescola,o

desenvolvimentoeconômicodaAméricaLatinadependiadaindustria-

lização.Omodelodecrescimento,atéentãovigentenaregião—base-

adonaexportaçãodeprodutosprimários(café,cobre,carneetc.)echa-

mado de primário-exportador — estava fadado ao fracasso devido aos

preços desfavoráveis desses produtos no mercado internacional, em

relaçãoaospreçosdosprodutosimportados.Empoucotemponossas

exportaçõesnãoteriamcomogerarasdivisas(dólares)necessáriaspara

cobrirnossasimportações,eaEconomiaentrariaemcolapso.

AUTOR

Celso Furtado

Celso Furtado (1920-2004) escreveu

obras fundamentais, como Formação

Econômica do Brasil (1959) e De-

senvolvimento e Subdesenvolvimento

(1961), e seu nome integra a lista dos

grandes economistas mundiais que, nos

anos 1940 e 1950, criaram a nova te-

oria do desenvolvimento. Esta teoria é

conhecida como a teoria estruturalista

do desenvolvimento, e tem os trabalhos

e relatórios desenvolvidos pela CEPAL

— Comissão Econômica para América

Latina e Caribe — a sua principal refe-

rência. Ver também capítulo 6.

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capítulo 2 • 43

REFLEXÃO

A saída seria a industrialização e para isso seria necessária a adoção de políticas

protecionistas e industriais, o que ficou conhecido como modelo de substituição de

importações. O objetivo seria o de mudar a estrutura da Economia, alterando o eixo

dinâmico, da agricultura para a indústria.

EssemodelopredominounaAméricaLatinaatéosanos1980,quan-

do a crise econômica e o pensamento neoliberal levaram à mudança

para um modelo de economia aberta tanto para importações quanto

paraexportações.

Economia Capitalista (de mercado) ver-sus Economia Planificada

UmaEconomiacapitalistaseestruturaapartirdomercado,queéores-

ponsávelpelaalocaçãodosrecursosedistribuiçãodarenda,viamerca-

dodeprodutose fatores.EmumaEconomiaplanificada(comunista),

essepapelcabeaogoverno,queéquemdetémosmeiosdeprodução.

Eleéquemdefineoque,quanto,comoeparaquemvaiserproduzido.

EXEMPLO

Em uma Economia capitalista, por exemplo, se há muita procura por determinado

tipo de telefone celular, seu preço vai aumentar e, com isso, vai sinalizar ao produtor

que a produção precisa aumentar. Na Economia planificada, por meio de um estudo,

o governo define quais e quantas pessoas devem ter telefone celular e produz o

necessário para atender a essa meta fixada. Em uma Economia capitalista, o con-

sumidor vai a uma loja para comprar um produto. Em uma Economia planificada, vai

para receber o produto a que tem direito, mostrando sua caderneta. Esta relaciona

que produtos tem direito a receber, e o que já foi retirado da loja.

EmumaEconomiaplanificadacontinuamexistindopreçosepagamen-

todesalários.Masospreçostêmvaloresarbitrárioseservem,basicamente,

paraviabilizaracontabilidade.Ossaláriossãomuitobaixos,poisosprodutos

nãosãocompradosesimdistribuídospelogoverno.Ossaláriosservempara

gastarnorestritomercadolivre,muitasvezesilegal,ondetudoémuitocaro.

Dopontodevistasocial,supondoqueoplanejamentosejafeitocorre-

tamente,osistemadeplanejamentocentralizadoéomaisjusto,poistodos

vãoteracessoaosprodutosquenecessitam—segundoaavaliaçãodogo-

verno.EmumaEconomiademercado(capitalista),sótemacessoamerca-

dorias,dofeijãoaocelular,quempodepagarporelas.Portanto,quemtem

rendabaixa,podeconsumirmuitopoucoepassarnecessidades.

COMENTÁRIO

Contabilidade

Sem preços seria impossível calcular o

valor da produção, pois esse pressupõe

a existência de preço e quantidade para

cada produto.

COMENTÁRIO

Acesso aos produtos

No primeiro momento, no início da im-

plantação do socialismo, o critério da

distribuição de produtos seria para cada

um, segundo sua contribuição à produ-

ção da sociedade. No segundo momen-

to, com o socialismo já implantado, o cri-

tério seria para cada um, segundo suas

necessidades.

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44 • capítulo 2

O grande problema da economia planificada é que ela fracassou

nos diferentes países que a adotaram. Milhões de pessoas morreram

defomenaUniãoSoviéticaeChina,porexemplo,emrazãodepolíticas

equivocadasqueadotaramoplanejamentocentralizado.

Vários são os motivos para esse fracasso, destacamos alguns:

1) Sempre foi posto em prática por regimes autoritários, portanto eram ar-

bitrárias, em maior ou menor grau, as escolhas sobre o que, quanto, como

e para quem produzir;

2) É muito difícil para o governo ter todas as detalhadas informações necessá-

rias para viabilizar adequadamente o planejamento. O processo dessas informa-

ções é extremamente trabalhoso e complexo;

3) Não há concorrência entre empresas, portanto não há estímulo para se

aperfeiçoar ou baratear os produtos, bem como gerar novos produtos e

processos. O progresso técnico — principal motor do crescimento a longo

prazo — fica, portanto, comprometido;

4) A maioria da população não aceita receber apenas o que o governo

considera que é o justo e quer ter acesso a mais produtos, alguns tidos

como supérfluos.

Porcontadisso,quandoospaísesdolesteeuropeusedemocratiza-

ram,namesmahora,abandonaramoregimevigenteparaabraçaroca-

pitalismo.ARússia,quetinhaumparqueindustrialmuitodiversificado

naépocadaantigaUniãoSoviética,agoraseconcentranaproduçãoe

exportaçãodepetróleoegás.Boapartedesuaindústrianãosuportoua

concorrênciacomasmercadoriasimportadas.Aseconomiasdemerca-

dopodemsersocialmenteinjustas,masissopodeserminimizadopor

meiodepolíticassociais.

EXEMPLO

Hoje o planejamento central puro é adotado apenas pela Coréia do Norte. Cuba, Laos

e a China, em especial, combinam planejamento central com economia de mercado.

Osgovernosdaseconomiascapitalistaspodemterplanosdedesen-

volvimentoefazerplanejamento.Maséoplanejamentoindicativo.No

Brasil, por exemplo, tivemos o II Plano Nacional de Desenvolvimento

Econômico(IIPND),duranteoGovernoGeisel.AEuropateveumambi-

ciosoplanodereconstruçãodepoisdaSegundaGuerraMundial(Plano

Marshall).OgovernodosEUApraticouplanejamentoduranteaSegun-

daGuerraMundial,poiseranecessárioadministrarbemosrecursosdo

paísparadarcontadasnecessidadesadvindasdeumconflitomundial,

e,aomesmotempo,atenderaomercadointerno.

CONCEITO

Planejamento indicativo

Por meio de uma série de instrumentos

fiscais, creditícios, compras públicas

etc., bem como negociações com o em-

presariado, o governo procura que suas

metas de produção sejam cumpridas

pelo setor privado.

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capítulo 2 • 45

Capitalismo x Comunismo – a corrida espacial

Durante o período da Guerra Fria (1947-1989), quando em vários momentos pareceu iminente

uma guerra nuclear entre EUA e União Soviética (URSS), houve uma disputa que foi apenas

tecnológica — a corrida espacial (1955-1972). Era disputa (não declarada oficialmente) de

quem levaria o primeiro homem à Lua. A URSS saiu na frente com o primeiro satélite a orbitar

a Terra (Sputnik), seguido do primeiro astronauta (Yuri Gagarin) e da primeira nave espacial,

não tripulada, a pousar na Lua (Lunik 9). Mas os EUA recuperaram o atraso ao colocarem o

primeiro homem na Lua com a missão Apollo 11, e, com isso, venceram a corrida. Em 1972, os

dois países resolveram não mais concorrer e iniciaram a cooperação na área espacial. A corrida

espacial mostrou de forma inconteste a superioridade tecnológica dos EUA em relação à URSS.

Esse evento deixou um legado que vem até hoje, como o desenvolvimento da tecnologia da

comunicação por satélites, da robótica e da energia solar. O país que mais se beneficiou desse

progresso tecnológico foi os EUA.

Economia: divisões e relação com as diferentes profissões

Emlinhasgerais,aEconomiasedivideemMicroeconomia,Macroeconomia,HistóriaEco-

nômicaeEconometria—quetratadotestedemodeloseconômicospormeiodoinstru-

mentalestatístico.Comovimosanteriormente,aMicroeconomiatratadofuncionamento

dosmercadoseaMacroeconomia,daEconomiacomoumtodo.TantoaMacroeconomia

quantoaMicroeconomiapodemsesubdividiremváriassubáreas.

RESUMO

Principais subáreas da Economia

- Economia internacional, que trata das relações econômicas com o exterior;

- Economia do setor público, que estuda o papel do Estado na Economia, a evolução e composição das

receitas e despesas do governo, bem como as principais políticas públicas;

- Economia monetária e financeira, que estuda a oferta de moeda na Economia e o funcionamento do

setor financeiro;

- Economia do trabalho, que trata do mercado de trabalho e suas instituições;

- Economia regional e urbana, que investiga como as atividades produtivas se distribuem e se relacionam

no espaço;

- Desenvolvimento econômico, que estuda os modelos de crescimento e como as economias se desenvolvem;

- Economia do meio ambiente, que estuda as relações entre Economia e o meio ambiente e o desenvolvi-

mento sustentável;

- Economia do bem-estar, que trata das políticas públicas voltadas para o bem-estar da população, tais

como política de saúde, educacional, previdenciária.

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46 • capítulo 2

Economia e sua relação com Administração e Contabilidade

AdministraçãoeContabilidadesãoprofissõesmuitopróximasdaEco-

nomia, pois há muitas cadeiras em comum entre os cursos, em espe-

cialcomodeAdministração.Nãosepodeanalisarumbalançodeuma

empresasemlevaremcontaasituaçãoeconômicadomercadoemque

atua,bemcomodopaís(edomundo).Omesmovaleparaagestãode

umaempresa,nassuasdiferentesáreas.Maisainda,aanálisefinancei-

radasempresasapresentamuitasinterfacescomaEconomia.

REFLEXÃO

Deve-se mencionar ainda que uma das áreas que mais tem ganhado espaço nas últi-

mas décadas, com o avanço da globalização econômica e financeira, é a de finanças,

que reúne economistas e administradores especializados em mercado financeiro.

Economia e sua relação com Comunicação

OjornalistanecessitadeconhecimentosdeEconomia,nãosóojornalista

econômico.Pode-seentenderapolítica,sementenderdeEconomia?Com

certezanão.MuitosanalistasconsideramqueodesempenhodaEconomiaé

umavariáveldecisivanaseleiçõesmajoritárias(parapresidente,governador

esenador).AEconomiaéimportante,inclusive,paraentenderosesportes.

ArelaçãocomEconomiaétambémmuitoestreitanasáreasdepu-

blicidade, propaganda e marketing, e produção cultural, de modo ge-

ral,poisenvolvemestudosdemercado,preferênciasdosconsumidores,

captaçãoderecursosetc.

EXE MPLO

Na elaboração de um estudo de comunicação para um empreendimento imobiliário,

por exemplo, é inevitável fazer uso de variáveis econômicas, tais como referenciais

para financiamento (como índice da inflação, taxa de juros, taxa de câmbio), analisar

o valor do salário mínimo frente ao público-alvo, entre outros.

Economia e sua relação com Direito

OconhecimentodeEconomiaéútilparaosadvogadosporqueaativida-

deeconômicaéregidaporcontratosmonetárioscomamparoemleis.

CONCEITO

Esportes

Muitas vezes um clube de futebol tem

um mau desempenho no campeonato,

porque teve que vender seus melhores

jogadores para pagar dívidas.

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capítulo 2 • 47

Muitasleistêmimplicaçõeseconômicas,comoadefesadoconsumidoredaconcorrência,

direitodepropriedade,dentreoutras.

EXEMPLO

A relação entre Direito e Economia é estreita em várias áreas tais como o Direito do Trabalho (indenizações

trabalhistas, por exemplo), Direito Tributário (valor e cobrança de impostos), Direito Comercial (fusões e

aquisições de empresas).

Economia e sua relação com Geografia

HáumarelaçãodiretacomaGeografiaEconômicaecomváriosramosdaEconomia:Plane-

jamentoUrbanoeRegional,EconomiadosTransportes,EconomiadoMeioAmbienteetc.

EXEMPLO

A Geografia foi muito importante, por exemplo, para o desenvolvimento das cidades de Salvador e Rio

de Janeiro. Se esses locais não oferecessem boas condições naturais favoráveis para a instalação de

um porto, nunca teriam sido capitais do Brasil. Brasília foi escolhida para a nova capital em razão da sua

localização, no centro do país.

ValemencionaraquionomedePaulKrugman,ganhadordoprêmioNobelem2008,por

suacontribuiçãoemestudossobrepadrõesdecomércioealocalizaçãodaatividadeeconômica.

Economia e sua relação com História

AHistóriaEconômicaéumadasbasesdocursodeEconomia.NãosepodeentenderaHis-

tóriasementenderaEconomia,damesmaformaquenãosepodeentenderaEconomia

sementenderaHistória,poisaHistóriaéolaboratóriodaEconomia.

Nãoépossívelentendermomentosdecisivosdahumanidade,comoaRevoluçãoFran-

cesa,RevoluçãoRussaeaSegundaGuerraMundial,semlevaremcontaascondiçõeseco-

nômicasvigentesnaépoca.

EXEMPLO

O Plano Real, de 1994, não teria sido bem-sucedido se seus formuladores não tivessem estudado tanto

as experiências fracassadas dos planos de controle da inflação adotados no Brasil nos anos 1980, quanto

as experiências exitosas de combate à hiperinflação, como a da Alemanha nos anos 1920. O economista

Gustavo Franco, um dos formuladores do Plano Real, havia estudado profundamente a hiperinflação alemã

dos anos 1920, por exemplo.

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48 • capítulo 2

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHANG, H. 23 coisas que não nos contam sobre o capitalismo. São Paulo: Cultrix, 2013.

DANA. S. Entenda o que compõe o chamado custo Brasil. Folha de S. Paulo, São Paulo, 4 nov. 2013.

FREEMAN, C. e SOETE, L. The economics of industrial innovation. Londres: Third Edition Pinter, 1997.

SANDRONI, P. Dicionário de economia do século XXI. São Paulo: Record, 2005.

Leituras Sugeridas:

HEILBRONER, R. A História do pensamento econômico. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

HUNT, E. e SHERMAN, H. História do pensamento econômico. Petrópolis: Vozes, 1977.

HUBERMAN, L. História da riqueza do homem. São Paulo: LTC, 2011.

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3 A Abordagem Microeconômica

jorge nogueira de paiva britto

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50 • capítulo 3

3 A Abordagem Microeconômica

O objetivo deste capítulo é apresentar os conceitos básicos de análise a nível microeco-

nômico. O surgimento da Microeconomia como ramo autônomo da Ciência Econômica

remontaaoúltimoquartodoséculoXIX,refletindoumamudançanadefiniçãodospro-

blemas econômicos fundamentais, que se desloca da determinação geral das causas do

desenvolvimentodariqueza,comoemAdamSmith(vercapítulo2),nosentidodeumen-

foqueutilitaristaqueprivilegiaadiscussãodoprocessodealocaçãodosrecursosescassos

entreusosalternativos,comofimdemaximizardeterminadosobjetivosdosagentesenvol-

vidosnoprocesso,basicamenteconsumidoreseprodutores.

NaMicroeconomiaasanálisessãoelaboradasapartirdoestudodasescolhasedecisões

realizadasporfamílias,firmasegovernos,edecomoessasescolhasafetamosdiferentes

mercados de produtos e serviços. Assim, a Microeconomia estrutura-se como um corpo

teóricointegrado,queprocuradescreverquatrofenômenosfundamentais:

1) a forma como os indivíduos ou as famílias determinam sua procura de bens e serviços, que

resulta na elaboração de uma Teoria da Demanda ou Teoria da Procura;

2) a forma como as empresas decidem o que e quantos bens e serviços produzirão, e qual a

combinação de fatores de produção a ser utilizada, que resulta na elaboração de uma Teoria

da Oferta, e abrange a Teoria da Produção, que estuda o processo de produção em uma

perspectiva econômica, a Teoria dos Custos de Produção, que classifica e analisa os custos e

tomada de decisões de produzir baseada em princípios de maximização de lucro;

3) a forma como os mercados determinam o preço e quantidade de equilíbrio, a partir da

articulação entre a oferta e a procura, discutida com base na caracterização de estruturas de

mercado e da análise dos impactos da sua operação sobre os níveis de eficiência econômica

e bem-estar;

4) a forma como as articulações existentes entre diferentes mercados influenciam o processo

de alocação de recursos, que resulta na elaboração de uma Teoria do Equilíbrio Geral e do

Bem-Estar, que estuda a interação de todos os mercados, simultaneamente, e seu impacto em

todos os agentes.

AconsolidaçãodaMicroeconomiacomocampoautônomodaCiênciaEconômicare-

fleteacontribuiçãodediversosautoresfundamentais.DestacamosKarlMenger,que,em

1871,formulouumateoriadovalordetrocabaseadanoprincípiodautilidadedecrescente,

simultaneamentecomoinglêsStanleyJevons(1871)eofrancêsLéonWalras(1874).

Como vimos, a contribuição de Alfred Marshall avança no sentido da explicação de

comoospreçosdebensefatoressãodeterminadosemmercadosconsideradosisolada-

mente,possibilitandoautilizaçãodoreferencialnoesclarecimentodeproblemaspráticos,

atravésdeumaanáliseelaboradadeformasimples,pormeiodareduçãodonúmerode

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capítulo 3 • 51

variáveisedacriaçãodeummétododedutivodeanálisedocomporta-

mentodosagentes,baseadoemmotivaçõesobjetivasemensuráveis.

Poroutrolado,acontribuiçãodeLeonWalrasvaiaumadireçãodis-

tinta,desenvolvendoumaanálisedoequilíbriogeralparaoproblemade

determinaçãodospreços,elaborandoumsistemamatemáticosofistica-

doqueindicaainterdependênciadasunidadesdeproduçãoeconsumo

nointeriordosistemaeconômico.

ATENÇÃO

A Microeconomia desenvolve uma visão microscópica dos fenômenos econômicos,

direcionando-se ao estudo do comportamento das unidades individuais responsáveis

por decisões no plano do consumo e produção, distinguindo-se da Macroeconomia

na medida em que esta se interessa pelo estudo de agregados, como a produção, o

consumo e a renda da população como um todo. A Microeconomia preocupa-se em

explicar como se determina o preço dos diferentes bens e serviços, bem como dos

fatores de produção.

O problema básico analisado pela Microeconomia refere-se ao fe-

nômeno da escassez, associado à dotação de recursos disponíveis em

cadasociedade,equeacabaporgerarumproblemadedisponibilidade

limitadadebens,quesetornambens econômicosjustamenteemfunção

dessacaracterística.

Método de análise

O desenvolvimento da Microeconomia implicou no desenvolvimento

deummétodoparticularparatratardoproblemadaalocaçãoderecur-

sosemumcontextodeescassez.Essemétodoédesenvolvidoapartirde

umaconcepçãoutilitaristadaciênciaeconômica,quedeveriafornecer

um instrumental prático para a alocação daqueles recursos da forma

maiseficientepossível.

Demodoaatingiresseobjetivo,aMicroeconomiadesenvolvesuas

análisesapartirdeummétodológico-dedutivo,noqualprocuratratara

complexidadeeentrelaçamentodeinfluênciassubjacentesàssituações

reaisquesãoobjetodeseuestudo.

Aformadedesenvolvimentodeanálisesapartirdeumaperspectiva

lógico-dedutivanocampodaMicroeconomiasedáatravésdaconstru-

ção de modelos,concebidoscomoconstruçõescompostasporumasérie

dehipóteses,apartirdasquaisasconclusõessãoextrapoladas.

Nessesmodelos,sãoselecionadasvariáveismaissignificativaspara

a compreensão de fenômenos associados ao mundo real, permitindo

que a complexidade desse mundo real seja manipulada. A ênfase na

construçãodemodelosmatemáticoséparticularmentecomumnaMi-

COMENTÁRIO

Escassez

Por causa da escassez, os indivíduos e

a sociedade devem fazer escolhas difí-

ceis, que implicam privilegiar uma ne-

cessidade e a alocação de recursos a

ela vinculada, em detrimento de outras.

Como visto no capítulo 1, o conceito

de custo de oportunidade é designado

para representar a melhor alternativa na

escolha da alocação ótima de recursos.

CONCEITO

Método lógico-dedutivo

O caráter dedutivo é realçado pelo fato

de que muitas das variáveis considera-

das pela Microeconomia não podem ser

observadas ou mensuradas, como, por

exemplo, o grau de utilidade que os con-

sumidores auferem ao dispor de certos

bens ou serviços. Nessa perspectiva

metodológica, a partir de uma situação

do mundo real, são selecionadas as va-

riáveis mais relevantes para compreen-

der o fenômeno analisado, o que permi-

te reduzir e manusear as complexidades

do mundo real. Desenvolve-se, assim,

um modelo lógico, a partir do qual são

inferidas conclusões de natureza abs-

trata, as quais, convenientemente inter-

pretadas, tornam possível o retorno ao

mundo real.

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52 • capítulo 3

croeconomia,resultandonaidentificaçãodefunçõesqueestabelecem

relaçõesentrevariáveisdependenteseindependentes,equerecorrem,

deformasistemática,arepresentaçõesalgébricasegráficas.

ATENÇÃO

Na construção de modelos de análise, a Microeconomia se vale de forma recorrente

à hipótese de que tudo o mais permanece constante (em latim, coeteris paribus).

O foco de estudo é dirigido apenas à determinada variável cujo efeito se pretende

investigar, supondo-se que outras variáveis interfiram muito pouco no fenômeno, ou

que não interfiram de maneira absoluta no período considerado.

Adotando-seessahipótese,torna-sepossíveloestudodeumdeter-

minado fenômeno, selecionando-se apenas as variáveis que influen-

ciammaisdiretamenteocomportamentodomercado,oqueenvolve,

em algum grau, uma hierarquização da importância das variáveis uti-

lizadasnomodelo.Comoexemplo,épossívelmencionarsituaçõesnas

quais a procura de uma mercadoria é normalmente mais afetada por

seupreçoepelarendadosconsumidores.

Outro princípio metodológico geral importante no campo da Mi-

croeconomia refere-se a pressupostos comportamentais baseados em

uma racionalidade estritamente maximizadora por parte dos agentes.

Esse homem econômico maximizadornão éreal, masnecessário paraa

construção lógica de um modelo de análise. A concepção do homem

econômicocomoagenteracionalmaximizadoréelaboradademodoa

oferecerumasoluçãoparaoproblemadealocaçãoderecursosemuma

perspectivaessencialmenteestática.

Poroutrolado,essetipodeprocedimentotambémenvolveumasim-

plificaçãodaracionalidadeedospadrõesdecondutadosagentes.No

caso das firmas, por exemplo, assume-se que a firma sempre busca a

maximizaçãodolucrototal,otimizandoautilizaçãodosrecursosdeque

dispõe.Emcontraste,épossívelconsiderarcorrentesalternativas,ela-

boradascomocríticaàMicroeconomiatradicional,queassumemque

aracionalidadedosagentespodeseressencialmentecomplexa,envol-

vendomúltiplosobjetivoserestriçõesdediversostipos.

OutracaracterísticaimportantedaMicroeconomiaésuanaturezaestá-

tico-comparativa,atravésdaqualelatendeaconfrontarduasoumaissitua-

çõesdeequilíbrio,semsepreocuparcomoperíodointermediárioentreas

situaçõesinicialefinal.Dessemodo,nãosãoconsideradososajustamen-

tosentreambassituaçõesnemaextensãodoperíododetempoemsi.

EXEMPLO

Como exemplo, é possível considerar o impacto do lançamento de um tributo,

comparando-se a situação de equilíbrio presente antes da decisão governamen-

COMENTÁRIO

Pressupostos comportamentais

Define-se, assim, um homem econômi-

co essencialmente utilitarista, dotado

de desejos e vontades, cujo compor-

tamento poderia ser explicado por au-

tointeresses sujeitos às leis empíricas.

O indivíduo maximizador é caracteri-

zado como unidade básica do sistema

econômico, de tal forma que os pressu-

postos relativos aos comportamentos

individuais seriam capazes de explicar

os fenômenos econômicos e sociais

gerais, evidenciando uma perspectiva

assentada na noção de individualismo

metodológico.

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capítulo 3 • 53

tal de lançar o tributo e aquela situação de equilíbrio após o tributo haver surtido

todos os seus efeitos.

Dopontodevistadarepresentaçãográficadosmodelos,essaênfase

em análises de natureza estático-comparativa reflete-se, por exemplo,

nacomparaçãoentreduassituaçõesdeequilíbriodefinidasemfunção

doposicionamentodascurvasquerepresentamasforçasqueinfluen-

ciamofenômenoinvestigado(ofertaedemanda,porexemplo).

Porfim,umacaracterísticaimportantedasformulaçõesnocampo

daMicroeconomiarefere-seàênfaseem análisesdeequilíbrioparcial.

Apesar do caráter simplificador desse tipo de procedimento, ele apre-

senta uma série de vantagens, pois exige uma menor disponibilidade

deinformaçõesdoqueumaanálisedeequilíbriogeral,possibilitando

o desenvolvimento de uma análise que, apesar de menos complexa, é

maisdidáticaemaisfácildesercompreendida.

Alémdisso,essetipodeabordageméoperacionalmentemaisexe-

quíveldoqueaanálisedeequilíbriogeral,cujodesenvolvimentoquase

semprerequerautilizaçãodeuminstrumentalmatemáticocomplexo,

dadaaquasetotalimpossibilidadedeconduzi-lagraficamente.

A Teoria do consumidor e da demanda

Osagentesdademanda—osconsumidores—sãoaquelesquesediri-

gemaomercadocomointuitodeadquirirumconjuntodebenseser-

viços.Aoexplicarocomportamentodoconsumidor,aMicroeconomia

baseia-senapremissafundamentaldequeaspessoasescolhembense

serviçoselhesatribuemmaisvaloremfunçãodautilidadeproporciona-

dapelosbens.

REFLEXÃO

A noção de utilidade articula-se ao conhecimento dos consumidores acerca da sa-

tisfação subjetiva proporcionada pelo consumo, que lhes permite hierarquizar bens

e conjuntos de bens (cestas de consumo). Apesar dessa utilidade não necessaria-

mente poder ser medida de forma absoluta, ao comparar e hierarquizar alternativas

de consumo, visando maximizar a sua utilidade, o consumidor estaria escolhendo o

conjunto de bens de consumo que mais lhe agrada.

Definindo-se aprioristicamente um intervalo qualquer para o perí-

ododeconsumo,épossívelperceberque,aoaumentar-seprogressiva-

menteoconsumodobemnaqueleintervalo,oaumentodasatisfação

proporcionadapeloconsumotendeaserprogressivamentemenor.Isso

significa que a utilidade total derivada do consumo do bem cresce na

medidaemqueseelevaaquantidadeconsumida,masqueovaloracres-

COMENTÁRIO

Análises de equilíbrio parcial

Uma análise de equilíbrio parcial, con-

trariamente a uma de equilíbrio geral,

pressupõe a abordagem de fenôme-

nos econômicos de forma isolada ou

individual; considerando que os ajusta-

mentos que ocorrem no interior de um

mercado específico podem ser com-

preendidos isolando esse mercado em

relação aos demais.

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54 • capítulo 3

cidoàutilidadetotalpelaúltimaunidadedebemconsumidaétãome-

norquantomaiorforototalconsumidodebens.

Autilidadequeaúltimaunidadeconsumidaacrescentaàutilidade

totalédenominadadeutilidademarginal.Estabelece-seassim,aLei da

utilidade marginal decrescente.NaTeoriadoConsumidor,opreçomáxi-

moqueumconsumidorestádispostoapagarporumaunidadeadicio-

naldeumbemcorrespondeaopreço marginal de reserva.

Comoopreçomarginaldereservaémaiorquantomaiorforautilidade

acrescentadaporumaunidadeadicionaldobem,ouseja,quantomaiorfor

autilidademarginal,conclui-sequeopreçomarginaldereservacorrespon-

deaumamedidadautilidademarginal.Ofatodeopreçomarginaldereser-

vaserdecrescentedecorredalei da utilidade marginal decrescente.

Umaabordagemcomplementaràdescritaenvolveatentativadere-

presentarascaracterísticasdautilidadedoconsumidoratravésdeum

modelopassívelderepresentaçãomatemáticaougráfica.

Dopontodevistamatemático,esseesforçodemodelizaçãoimplica

nadefiniçãodeumafunção utilidadequerelacionaumamedidaqual-

querdeutilidadecomaquantidadeconsumidadosdiferentesbens.As

propriedadesdessafunçãorefletemascaracterísticasdocomportamen-

todoconsumidoranteriormentedescritas,comautilidade marginal de

cadabemestandoassociadaàvariaçãodautilidadetotalgeradaporva-

riaçõesnasquantidadesconsumidasdobemrespectivo.

Dopontodevistadasescolhasdoconsumidor,estassebaseiamem

umesforçoparamaximizarafunção utilidadesujeitaarestriçõesdefini-

daspelarendadisponívelepelospreçosdosbensaseremadquiridos.

EXEMPLO

Um exemplo simples é o de uma família decidindo sobre seus gastos em um perío-

do de tempo. Definem-se, assim, escolhas de equilíbrio, referentes à composição da

cesta de consumo com os diversos bens, baseadas na hipótese de que esse equilíbrio

requer que o acréscimo de utilidade por unidade monetária direcionada à aquisição

de cada bem seja equivalente para todos os bens.

Noprocessodeescolha,oconsumidorconfrontaecompatibilizaa

taxapelaqualdesejasubstituirbens,deformaaobtermaiorsatisfação

doconsumo,comataxapelaqualeleefetivamentepodesubstituiresses

bensnoprocessodeaquisiçãodosbens,dadososrespectivospreçose

asualimitaçãoderenda.Osfatoresdescritospermitemidentificaros

elementosqueinterferemnaconstruçãodademandaindividual.

Dessemodo,afunçãodemandacorrespondeaumarelaçãoentrequan-

tidades desejadas e diferentes níveis de preço de um determinado bem,

considerandooutroselementosquepoderiamafetaraquelasdecisões.

COMENTÁRIO

Utilidade marginal

Do ponto de vista formal, a utilidade mar-

ginal do consumo de um bem corres-

ponde ao crescimento da utilidade total

decorrente do consumo de uma unida-

de adicional desse bem. De uma forma

geral, a utilidade marginal de um bem di-

minui na medida em que aumenta o seu

consumo. Estabelece-se assim, a lei da

utilidade marginal decrescente.

COMENTÁRIO

Demanda individual

Basicamente, corresponde a um con-

junto de escolhas do consumidor no

intuito de maximizar a sua utilidade, ou

satisfação, quando ocorrem variações

autônomas do preço de um bem parti-

cular. Assim, a demanda individual cor-

responde a um desejo, ou a um plano,

representando o máximo a que o consu-

midor pode aspirar em termos da aqui-

sição de um bem, quando confrontado

com um nível particular do preço daque-

le bem, dada sua renda e os preços dos

demais bens.

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capítulo 3 • 55

REFLEXÃO

Em particular, a demanda pode ser associada a um conjunto mais amplo de fatores

ou variáveis que influenciam a decisão de consumo de um bem particular, tais como:

o nível de riqueza do consumidor (relativamente independente de sua renda nomi-

nal), a sua renda nominal, o preço dos outros bens, fatores climáticos e sazonais, a

intensidade da propaganda e disponibilidade de informações sobre o bem, os hábi-

tos, gostos, preferências dos consumidores, expectativas sobre o futuro que afetam

as decisões de consumo e facilidades de crédito.

Aanálisedademandaindividualbaseia-senahipótesedequeocor-

rem variações no preço do bem em questão e que os demais fatores

permanecem constantes. A função (ou curva) de demanda individual

éconstruídaapartirdaidentificaçãodasescolhasrealizadaspelocon-

sumidorparacadaníveldepreçosdobem,considerandoahipótesede

queesseconsumidorbuscamaximizarasatisfaçãoouutilidadepropor-

cionadapeloconsumo.

Dessemodo,osimpactosdevariaçõesdopreçodobemsãocapta-

dospordeslocamentosaolongodacurvadedemanda.Poroutrolado,

osimpactosdevariaçõesdosoutrosfatoresconsideradosconstantesna

análise(preçosdosdemaisbens,rendadoconsumidoregostoseprefe-

rências)sãocaptadosatravésdedeslocamentosdacurvadedemanda.

ATENÇÃO

Cada consumidor tem uma curva de demanda ao longo da qual a quantidade deman-

dada pode ser relacionada com o preço, que apresenta uma inclinação para baixo e

para a direita. A curva da demanda de um bem para a totalidade do mercado, por sua

vez, é obtida pela soma das quantidades demandadas por todos os consumidores.

Paraobterumamedidaquantitativadosefeitosdevariaçõesdepre-

ços e rendimento sobre as decisões de consumo, é usual avaliar-se a

elasticidadedademandadeumbem.

Aelasticidade-preçodademandamedeavariaçãoproporcionalda

quantidadedemandadadeumbemquandooseupreçovaria.Umade-

finição precisa dessa elasticidade é dada pela variação percentual da

quantidadedemandadadivididapelavariaçãopercentualdopreço.As

elasticidades-preçodosbens,querefletemasuasensibilidadeemrela-

çãoàsvariaçõesdopreço,sãomuitodiversificadas.

ATENÇÃO

Quando a elasticidade-preço de um bem é elevada, dizemos que o bem tem uma

procura elástica, o que significa que a quantidade da sua procura responde for-

temente às variações do preço. Quando a elasticidade de um bem é fraca, diz-se

CONCEITO

Elasticidade

O estudo da elasticidade é amplamen-

te utilizado na Microeconomia, pro-

curando quantificar as relações entre

duas variáveis. Especificamente, esse

estudo envolve a relação entre as va-

riações proporcionais (ou percentuais)

das variáveis investigadas. Dentre es-

sas aplicações destaca-se a noção de

elasticidade-preço da demanda, que

tem um papel importante na análise da

demanda do consumidor e das deci-

sões empresariais.

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56 • capítulo 3

que a demanda é inelástica, pois a quantidade demandada responde fracamente

às variações do preço.

Naanálisedocomportamentodoconsumidoréimportanteconside-

rarosfatoresqueinfluenciamaelasticidade-preçodaprocura.Umprimei-

rofatorrefere-seàessencialidadedoconsumodobem.Nestesentido,ob-

serva-sequeaprocuradebensdeprimeiranecessidadecomoalimentos

básicos,energiaemedicamentos,tendeaserrígida,e,portanto,inelás-

tica,poisnãosepodefacilmenteprescindirdelesquandoosseuspreços

aumentam.Poroutrolado,outrosbenspodemsubstituirartigosdeluxo

nãoessenciais,quandoestessobemdepreço,oquetornaasuademanda

maiselástica.Alémdisso,osbensquetêmsubstitutosimediatostendem

aterdemandasmaiselásticasdoqueosquenãotêmsubstitutos.

EXEMPLO

Por exemplo, a gasolina é um bem com demanda inelástica, pois é difícil ser substi-

tuída, principalmente no curto prazo.

A Teoria da Produção

OdesenvolvimentodaTeoriadaProduçãorequer,deinício,aespecifi-

caçãodealgunsconceitosfundamentaisquelhedãosustentação.Um

primeiroconceitobásicorefere-seàconcepçãode empresaoufirma.

NaTeoriadaProdução,asformascomoosinsumossãocombinados

constituem os métodos ou técnicas de produção, que podem ser inten-

sivosemmãodeobra(utilizammaismãodeobraemrelaçãoaoutros

insumos),intensivosemcapitalouintensivoemrecursosnaturais,de-

pendendodofatordeproduçãoutilizadoemmaiorquantidade,relati-

vamenteaosdemais.

ATENÇÃO

No âmbito da teoria da produção, é possível distinguir também os conceitos de tecnolo-

gia e de método de produção. A tecnologia corresponde a um inventário dos métodos de

produção conhecidos, representando o estado das artes em termos de conhecimentos

na esfera da produção. Em geral, supõe-se tecnologia dada e possível de ser acessada

pelos diversos produtores. Já os Métodos ou Técnicas de Produção envolvem diferentes

combinações dos fatores de produção, a um dado nível de tecnologia.

Aescolhadométodoouprocessodeproduçãodependedesuaefici-

ência,quepodeseranalisadatantodopontodevistatécnicooutecno-

lógico,comodopontodevistaeconômico.Ummétodoétecnicamente

CONCEITO

Empresa ou firma

Basicamente, a concepção de firma da

Microeconomia tradicional é elaborada

a partir de uma perspectiva funcional do

processo de alocação de recursos. A fir-

ma é vista como uma instância interme-

diária que compra insumos (inputs, fato-

res de produção), combina-os segundo

um processo de produção escolhido, e

vende produtos (outputs) no mercado,

procurando maximizar seus resultados

em termos de produção e lucro.

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capítulo 3 • 57

eficientequando,comparadocomoutrosmétodos,utilizamenorquanti-

dadedeinsumosparaproduzirumaquantidadeequivalentedoproduto.

REFLEXÃO

Na análise microeconômica padrão, assume-se que é sempre possível, ao produtor,

utilizar a maneira mais eficiente de combinar os fatores e, consequentemente, obter

a maior quantidade produzida do produto.

Naórbitadaprodução,oprodutortemcomoobjetivoaminimizaçãodo

custodacontrataçãodefatores,dadaarestriçãotécnicadafunçãodepro-

dução,ouamaximizaçãodaprodução,dadaarestriçãodospreçosdosfato-

res.Aocontratarfatores,oprodutordeveconfrontarasalternativastécnicas

deproduçãocomospreçosefetivamentepraticadosnessacontratação.

Umavezdefinidasasquantidadescontratadasdefatores,definem-seos

custosdeproduçãoqueirãoorientarasdecisõesempresariais.Arelevância

daanálisedoscustosdecorredainfluênciaqueosmesmosexercemnasde-

cisõesempresariaisrelativasapreços,níveisdeproduçãoelucro.

REFLEXÃO

Nesse sentido, é importante considerar que os economistas e contadores têm for-

mas diferentes de considerar os custos. No plano contábil, os custos referem-se às

despesas correntes somadas às despesas ocasionadas pela depreciação dos equi-

pamentos de capital. Já os custos econômicos têm como referência o contexto de

escassez, que faz com que, ao alocar recursos de uma determinada maneira, se es-

teja abrindo mão de alocações alternativas que poderiam, eventualmente, apresentar

um rendimento superior. Desse modo, os custos econômicos devem levar em conta

os custos de oportunidade que estão associados às oportunidades que são deixadas

de lado, caso a empresa não empregue seus recursos da maneira mais rentável.

A empresa retratada pela Microeconomia é uma organização que

combinaeorganizaosrecursoscomafinalidadedeproduçãodebensou

serviços.Ateoriadafirmabaseia-senasuposiçãodequeasdecisõespro-

dutivasdafirmaestãobaseadasemprincípiosdemaximizaçãodelucro.

Osganhosdoprodutorseoriginamporqueovalormínimoqueeles

exigiriamparaofertaresseprodutopodesermenordoqueovalorefetiva-

menteobtidonomercado(istoé,opreçodoproduto).Define-se,assim,a

noçãodeexcedentedoprodutor,dadopeladiferençaentreopreçomíni-

moqueoprodutorrequerparaproduzirumadeterminadaquantidadede

produtoeoqueeleefetivamenterecebepelovendadomesmo.

Oexcedenteverifica-sequandooprodutorrecebemaisdoquegasta

comfatoresvariáveis,representandoocomprometimentodiretodere-

cursoscomaprodução.

CONCEITO

Excedente do produtor

Do ponto de vista formal, o excedente

do produtor equivale à diferença entre

a receita total obtida com a produção e

os custos variáveis totais em que a firma

incorre para viabilizar a produção.

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58 • capítulo 3

Equilíbrio de mercado e bem-estar

Asinteraçõesentredemandaeofertademercadodefinemo equilíbrio de mercadoparaumbem

ouserviçoparticular,demonstrandoqueaquantidadequeosconsumidoresdesejamcomprar

éexatamenteigualàquantidadequeosprodutoresdesejamvender.Dessemodo,anoçãode

equilíbriodemercadocorrespondeàcoincidênciadedesejosentreconsumidoreseproduto-

res,evidenciandoumasituaçãoondenãoháexcessoouescassezdeofertaoudedemanda.

Esseequilíbriopodesercaracterizadocomoestável,pois,supondoumaeconomiade

mercado,omecanismodepreçoslevaautomaticamenteaoequilíbrio.Noentanto,quando

ocorreexcessodeoferta,osvendedorescomestoquesnãoplanejadosterãoquediminuir

seuspreços,concorrendopelosescassosconsumidores.Jáquandoocorreumexcessode

demanda,osconsumidoresestarãodispostosapagarmaispelosprodutosescassos.Essas

açõesresultamemajustesdepreços.

ATENÇÃO

A igualação entre demanda e oferta de mercado, de modo a definir o equilíbrio de mercado para um

bem ou serviço particular, representa um retrato estático do mercado em um determinado intervalo, su-

postamente abstrato, de tempo. Na realidade, os mercados são dinâmicos e sofrem tanto a influência de

mudanças de parâmetros e fatores supostamente constantes, que afetam as funções (curvas) demanda e

oferta, como uma série de influências do ambiente externo, decorrentes de ações do governo, mudanças

em outros mercados, e, também, de eventos fortuitos e imprevisíveis, como uma geada, uma guerra etc.

Algumaspossíveisperturbaçõespodemserconsideradasparaentenderessesimpac-

tosnoequilíbrio.Umaelevação da renda real(aumentodopoderaquisitivo)dosconsumi-

dores,porexemplo.Emfunçãodoaumentodepreços,gera-seumexcessodedemanda

que vai progressivamente se reduzir em função do aumento de preços, até acabar, no

novoequilíbrio.

Tambémservedeexemploadiminuição dos preços das matérias-primasusadasnapro-

duçãodobem.Deformaanálogaàsituaçãoanterior,égeradoumexcessodeofertaaopre-

çoanterioreumatendênciaàreduçãodopreço,atéqueseatinjaumnovopontodeequilí-

brioapreçoinferioreemumaquantidademaior.

Análise de estruturas de mercado

Aanálisemicroeconômicapadrãodoequilíbriodemercadoéelaboradaemumcontexto

deforteatomizaçãodonúmerodeprodutoreseconsumidores,quecaracterizaadenomi-

nadasituaçãodeconcorrência perfeitaoudemercados competitivos.

Aestruturademercadocaracterizadaporconcorrênciaperfeitaéumaconcepçãoideal

(ou abstração), pois os mercados altamente concorrenciais existentes, na realidade, são

apenasaproximaçõesdessemodelo.

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capítulo 3 • 59

ATENÇÃO

Hipóteses básicas de um mercado que opere em regime de concor-rência perfeita:

1) existência de um grande número de compradores e vendedores, refletindo uma

situação de mercado atomizado;

2) produtos homogêneos, ou seja, substitutos perfeitos entre si, fazendo com que

não possa haver preços diferentes no mercado;

3) completa informação e conhecimento sobre o preço do produto, refletindo uma

situação de transparência do mercado;

4) livre entrada e saída de firmas no mercado, refletindo uma situação de ausên-

cia de barreiras possibilitando uma livre mobilidade, que permite às firmas menos

eficientes saírem do mercado, e que as firmas mais eficientes se desloquem para

o mesmo;

5) racionalidade forte (ou substantiva) por parte dos agentes, que faz com que as

empresas sempre maximizem o seu lucro e os consumidores maximizem a satisfa-

ção ou utilidade derivada do consumo de um bem.

Em condições de concorrência perfeita, os agentes operam, funda-

mentalmente,comotomadoresdepreço(price-takers).Emoutrostermos,

o preço de mercado é um dado fixado para empresas e consumidores.

Umaempresaperfeitamenteconcorrencialvendeumprodutohomogê-

neo,eétãopequenaemrelaçãoaoseumercado,quenãopodeinfluenciar

opreçodemercado;apenaspodeaceitarestepreçocomoumdado.

ATENÇÃO

Essas hipóteses ideais refletem um mercado sem barreiras, sem interferências e

sem poder de mercado, sendo, de certo modo, pouco realistas. Quando algumas

dessas condições não são verificadas, observamos outras estruturas de mercado

(monopólio, oligopólio, entre outras), e as decisões de empresas e consumidores

tornam-se mais complexas.

Outroaspectoimportanterefere-seaosníveisdeeficiênciaebem-es-

tarproporcionadosporumsetorqueopereemcondiçõesdeconcorrên-

cia perfeita. Nesse sentido, uma das principais conclusões de análise

microeconômicatradicionaléqueaalocaçãoderecursosemmercados

perfeitamenteconcorrenciaiséeficiente.

REFLEXÃO

Assume-se que qualquer sociedade ou organização alcançará uma melhor alocação (ou

o máximo de eficiência) de seus recursos, na medida em que o preço se iguale ao custo

marginal, operando, nesse caso, na fronteira das possibilidades de produção.

COMENTÁRIO

Concepção ideal

Do ponto de vista metodológico é

mais útil construir inicialmente mode-

los simples, e depois incorporar novos

detalhes, do que construir diretamente

modelos com todos os detalhes da rea-

lidade, que é muito complexa, que pode

encobrir algumas relações básicas.

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60 • capítulo 3

Aanálisedeoutrostiposdeestruturasdemercado,naMicroecono-

miatradicional,érealizada,inicialmente,contrapondo-seàsituaçãode

concorrênciaperfeitaaoseuoposto,asituaçãodemonopólio.

Umahipóteseimplícitanocomportamentodomonopolistaéque

ele não acredita que os lucros elevados que obtém no curto prazo

possamatrairconcorrentes,ouqueospreçoselevadospossamafu-

gentarosconsumidores(namedidaemqueofertaumprodutosem

substitutospróximos).

Contudo, isto não significa que o monopolista possa cobrar o pre-

çoquedesejarpeloseuproduto,poisessepreçoencontra-se limitado

pela sua demanda (que corresponde à própria demanda do mercado)

ou,maisespecificamente,pelaelasticidade-preçodessademanda.As-

sim,seomonopolistaresolveroferecermais,opreçocairá,eseproduzir

menos,opreçosubirá.

Algunsfatorespodemserdestacadoscomorazõesparaosurgimen-

toeamanutençãodemonopólios.Essencialmente,trabalharemosno

quadroaseguircomtrêsdeles,enacontinuaçãocomoquartofator:

Causa Descrição

PATENTE

Pode conferir a uma determinada firma uma

posição monopolista, dependendo do tempo de

duração da patente no mercado em que opera.

ACESSO EXCLUSIVO

À MATÉRIA-PRIMA

O acesso exclusivo a determinada matéria-prima

essencial confere à firma uma posição de monopó-

lio no processo de fabricação.

EXPERIÊNCIA DA EMPRESA

Pode levar à consolidação de posições de mono-

pólio, devido à dificuldade que novos produtores

teriam para convencer os consumidores a adquirir

os seus produtos

Porfim,acausamaiscomumdemonopóliorefere-seàssituaçõesca-

racterizadascomomonopólionatural.Elesurgeondeaseconomiasdees-

calasãoimportantes,como,porexemplo,nocasodasempresasdetrans-

missãodeenergiaelétricae,principalmente,quandoessaseconomiasse

combinamcomummercadodedimensõeslimitadas.

Os resultados do monopólio são preços maiores e menores quanti-

dadesparaosconsumidores,oquesignificaqueomonopólioéumaes-

truturademercadoineficienteparaasociedade.Nestesentido,ateoria

microeconômicatradicionalargumentaqueapresençadeumaestrutura

CONCEITO

Monopólio

O monopólio, por si só, corresponde à

situação na qual uma empresa detém

100% das vendas de um determinado

mercado. Na condição de único produtor,

o monopolista encontra-se em posição

privilegiada, pois não concorre com ou-

tras firmas e absorve todo o mercado. O

monopólio puro também é uma situação

de mercado dificilmente encontrada no

mundo real, particularmente no caso de

mercados rentáveis operados pela ini-

ciativa privada. Situações de monopólio

puro tendem a ser mais comuns no setor

público, principalmente em setores de

serviços básicos de infraestrutura.

CONCEITO

Monopólio natural

Corresponde à situação na qual uma

única empresa pode produzir e ofertar

para todo o mercado, com um custo

médio inferior ao que existiria em uma

situação em que houvesse duas ou mais

empresas. Nessas condições, é mais

eficiente e melhor para a sociedade dei-

xar que a empresa atenda ao mercado

sozinha do que deixar outras empresas

entrarem no mercado para competir.

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capítulo 3 • 61

monopolistaimpõecustossociais.Dessemodo,supondoqueumsetor

operandoemregimedeconcorrênciaperfeitafossemonopolizado,oefei-

todiretoseriaaelevaçãodopreçoeareduçãodaprodução.

REFLEXÃO

A eficiência econômica sob monopólio não é máxima, porque o monopolista não

utiliza necessariamente uma planta de produção ótima ou não produz a quantidade

ótima, dada a escala de planta existente. Por outro lado, em termos do nível de bem

-estar, é possível demonstrar que o efeito líquido do aumento do preço e da redução

da quantidade produzida, na passagem de uma situação competitiva para uma situ-

ação de monopólio, é a redução do nível geral de excedente econômico, repartido

entre excedente do consumidor e excedente do produtor.

Asduassituaçõesdistintasdeestruturasdemercadodiscutidasaté

omomento—concorrênciaperfeitaemonopólio—apresentam-seex-

cessivamente estilizadas, constituindo um quadro de referência geral

quepodeserutilizadoparaauxiliaroestudodeestruturasdemercado

maispróximasdarealidade.

Ooligopólioéumaestruturademercadointermediáriaentreacon-

corrênciapuraeomonopóliopuro,caracterizadopelaexistênciadeum

reduzido número de produtores e vendedores, produzindo produtos

quesãosubstitutospróximosentresi.

OssetoresoligopolistassãobastantecomunsnaEconomia,abran-

gendodesdebensdeconsumoduráveis,comooseletrodomésticosem

geraleosautomóveis,atébensdeconsumonãoduráveis,estandoparti-

cularmentevinculadosàmarcadoproduto.

Ainterdependênciaestratégicaentreasdecisõesdasfirmasatuan-

tesemoligopóliofazcomqueaaçãodeumaempresapossaproduzir

efeitos diretos, e muitas vezes deletérios, sobre as empresas concor-

rentes, resultando em uma possibilidade de concorrência, em algum

grau,predatóriaentreelas.Poroutrolado,hámomentosnosquaisduas

empresaspodemoptarpornãocompetire,sim,cooperar,visando,por

exemplo,evitarumaguerradepreçosentreelas.

Emparticular,quandooperampoucasempresasemummercado,

as mesmas tendem a reconhecer a interdependência estratégica e a

buscaralgumtipodecoordenaçãodassuasdecisões,visandominimi-

zaracompetição.

ATENÇÃO

A noção de conluio em oligopólio corresponde a uma situação em que duas ou mais

empresas estabelecem em conjunto os seus preços ou as quantidades produzidas,

repartindo entre si o mercado ou tomando em conjunto outras decisões produtivas.

Quando as empresas estabelecem algum tipo de conluio, em geral, elas tendem a fixar

CONCEITO

Oligopólio

O termo oligopólio significa poucos pro-

dutores, mas esse número pode ser va-

riável. O reduzido número de produtores

faz com que as ações de uma empresa

afetem diretamente as demais, carac-

terizando uma situação de interdepen-

dência estratégica entre os produtores.

Como todos os produtores são impor-

tantes, ou possuem uma parcela de

mercado (market share) significativa, as

decisões sobre o preço e a produção de

equilíbrio são interdependentes.

COMENTÁRIO

Interdependência estratégica

A interação estratégica característica

do oligopólio inspirou o desenvolvimen-

to da teoria dos jogos, uma forma de

representação das decisões das firmas

na qual a estratégia de cada empresa,

e o retorno proporcionado, depende do

comportamento dos concorrentes.

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62 • capítulo 3

preços idênticos elevados, aumentando os lucros e diminuindo o risco da atividade.

Em geral, as empresas de um oligopólio tendem a estabelecer conluios no intuito de

estabelecer um preço que maximize o conjunto dos seus lucros. Na literatura microe-

conômica costuma-se atribuir a denominação de cartel a esse tipo de conluio.

Outrostiposdeestruturasdemercadoestãomaisdiretamenteasso-

ciadosàorganizaçãodosmercadosdefatores.Nocasodomonopsônio,

a estrutura de mercado é caracterizada pela existência de muitos ven-

dedoreseumúnicocomprador.Nocasodaorganizaçãodomercadode

trabalho,porexemplo,ouostrabalhadoresempregam-senomonopsô-

nio,ouprecisamtrabalharemoutraatividade.

É possível também caracterizar uma situação de oligopsônio, na

qualseobservaumpequenonúmerodefirmascompradorasdeumde-

terminadoproduto,como,porexemplo,nocasodacompradeautope-

çaspelosetorautomobilístico.

Jáasituaçãodemonopóliobilateralcorrespondeàquelanaqualse

defrontam no mercado um único produtor (monopolista) e um único

comprador (monopsonista). Nessas condições, o monopolista deseja

vender uma dada quantidade de produto por um preço relativamente

alto,eomonopsonistapretendecompraramesmaquantidadeporum

preçoomaisbaixopossível.Comoambasasposiçõessãoconflitantes,

somente a negociação recíproca permite a definição do preço. Desse

modo,opreçofinaldependerádopoderdebarganhaenegociaçãode

cadaumdosoponentes.

Seumaempresapodeinfluenciaropreçodemercadodosbensque

produz,entãoaempresaéclassificadacomoumconcorrente imperfeito.

Umacaracterísticabásicadaconcorrênciaimperfeitaéapresençadeal-

gumpoderdemercadoporpartedosprodutores,relacionadoaograude

controlequeumaúnicaempresaouumpequenonúmerodeempresas

têmsobreumpreçoeasdecisõesdeproduçãodeumramodeatividade.

No entanto, deve-se considerar, também, que o poder de mercado

poderepresentarumestímuloparaqueasgrandesempresasvenhama

explorareconomiasdeescalaeaintensificaraintroduçãodeinovações

nomercado,podendogerarganhosdeprodutividadequeimpulsionam

ocrescimentoeconômiconolongoprazo.

REFLEXÃO

Nesse sentido, uma das principais justificativas para se aceitar algum grau de con-

corrência imperfeita refere-se à constatação de que as grandes empresas são

responsáveis por grande parte dos esforços em pesquisa, desenvolvimento e inova-

ção em uma Economia moderna. Por outro lado, a concorrência imperfeita, em geral,

conduz a preços que estão acima dos custos marginais.

CONCEITO

Poder de mercado

Pode ser definido como o poder de uma

empresa de fixar preços, significativa e

persistentemente, acima do nível com-

petitivo, com efeito lucrativo. Os consu-

midores compram menos produtos do

que fariam em concorrência, pelo que a

satisfação do consumidor é diminuída.

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capítulo 3 • 63

Alémdisso,àsvezes,semoincentivodaconcorrência,aqualidadedo

produtoeserviçotendeasedeteriorare,tantoopreçoelevadocomoafra-

caqualidade,sãoresultadosindesejados.Cabedestacar,também,queo

exercíciodopoderdemercadonãoselimitaàelevaçãodepreços,poden-

doenvolver,dopontodevistajurídico,oabusodaposição dominanteda

firmanomercado(contraconsumidores,empresasmenoresetc.),através

decondutasconsideradasanticompetitivasdediversostipos.

ATENÇÃO

Essas características estimulam o monitoramento dessas estruturas pela política go-

vernamental, de modo a evitar possíveis efeitos danosos sobre os níveis de eficiência

e bem-estar, através da denominada política de defesa da concorrência.

Falhas de mercado

AsanálisesdaMicroeconomiatradicionalsãoelaboradas,inicialmente,

emumcontextoondenãoháimperfeiçãonosmercados,caracterizados

deformabastanteestilizada.Noentanto,essasanálisestambémavan-

çamnosentidodaidentificaçãodealgumasfalhasdemercadoquere-

queremqualificaçõesdaquelasanálises.

Além da concorrência imperfeita, caracterizada ela própria como

falha de mercado,épossíveldestacartrêstipostradicionaisdefalhas:

externalidades,benspúblicoseassimetriasdeinformações.

Asexternalidades(oueconomiasexternas)representaminfluênciasde

fatoresexternosnoscustosdasfirmasenasatisfaçãodosconsumidores.

EXEMPLO

Por exemplo, uma empresa industrial pode emitir poluentes, causando prejuízo em

moradias da vizinhança e prejudicando a saúde das pessoas. Se a empresa não

paga por esses impactos prejudiciais, a poluição será ineficientemente elevada e o

bem-estar dos consumidores prejudicado.

Observa-se também que nem todas as externalidades são prejudi-

ciais.Algumassãobenéficas,comoasquederivamdeprogramasedu-

cacionais,daatividadededesenvolvimentocientíficooudeprogramas

desaúdepública.Aeducaçãosedestacacomocasodegeraçãodeexter-

nalidadespositivas,poisnãotrazbenefíciossomenteparaaquelesindi-

víduosquearecebemdiretamente,masparatodaacoletividade,pois

indivíduosmaiseducadoscuidammelhordasaúde,dirigemcommais

cuidado,sãomaisprodutivosetc.

CONCEITO

Falhas de mercado

Essas falhas ocorrem quando o merca-

do, por si mesmo, fracassa em alocar

recursos de forma eficiente e os preços

podem não estar refletindo os reais inte-

resses da sociedade. Quando o merca-

do falha, o governo pode intervir a fim de

promover eficiência e o bem-estar geral.

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64 • capítulo 3

ATENÇÃO

De uma forma geral, na presença de externalidades negativas, o governo deverá agir

de modo a provocar desestímulos às atividades causadoras de perda de bem-estar.

Já no caso de externalidades positivas, o governo deverá agir no sentido de estimu-

lar a atividade produtora de melhorias de bem-estar.

Um segundo tipo de falha de mercado refere-se à provisão de bens

públicos.Essaprovisãoéconsideradaumafalhademercadoporenvol-

verumaclassedebensquenãopodesergarantidapelomercado,em

função de determinadas características, tornando sua oferta possível

somentepeloEstado.Nessesentido,duascaracterísticasdosbenspú-

blicospodemserdestacadas:

1) o seu caráter não exclusivoIdentificado quando seu consumo não pode ser impedido, mesmo para

aqueles indivíduos que eventualmente não pagaram por ele, como no

caso da segurança, justiça e iluminação pública.

2) o seu caráter não disputável (ou não rival)Identificado quando o seu consumo não repercute na indisponibilidade

do mesmo bem para outras pessoas, possibilitando que o mesmo seja

consumido por vários indivíduos simultaneamente, como também ocorre

nos casos da iluminação pública e da segurança.

Nessascondições,torna-seimpraticávelqualquertentativadeimpe-

dirquedeterminadaspessoasnãousufruamobemouserviçoemques-

tão,poisocustodeexclusãodonãopaganteseriaextremamenteeleva-

do.Poroutrolado,aprincipaldificuldadeencontradapelomercadona

provisãodebenspúblicosrefere-seaoproblemadofree rider(carona),

identificadocomoumindivíduoqueusufruiumbemdeformadescon-

trolada, mesmo não tendo pago por ele, cuja exclusão do mercado se

mostraextremamentedifícileonerosa,oquedesestimulaoprovimento

dessesbenspelosetorprivadoejustificaseufornecimentopeloEstado.

Umterceirotipodefalhademercadorefere-seaumcontextodeinfor-

maçãoimperfeita,quesecontrapõeàvisãotradicionaldequeoscompra-

doresevendedorestêminformaçãocompletaacercadosbenseserviços

quecompramevendem.Emparticular,aassimetriadeinformaçõescons-

tituiemumaviolaçãodahipótesedequetodososagenteseconômicos

possuemplenoconhecimentodomercado(ouinformaçõessimétricas).

Nessescasos,umadasfunçõesdogovernoéidentificaraquelasáreasem

queasdeficiênciasdeinformaçãosãoeconomicamentesignificativas-como

nocasodemedicamentoseseguro-saúde-eencontrarsoluçõesapropriadas.

CONCEITO

Assimetria de informações

A assimetria de informações reflete os

diferentes graus de conhecimento entre

compradores e vendedores, que pode

resultar em um maior benefício para

uma das partes envolvidas em uma tran-

sação ou um contrato, em detrimento da

outra. Quando isso ocorre, identifica-se

a possibilidade de perdas de eficiência.

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capítulo 3 • 65

Da Microeconomia tradicional para a organização industrial

AOrganizaçãoIndustrialestrutura-secomodesdobramentodaMicroeconomiatradicio-

nal,tendocomofocoaanálisedasestruturasdemercadosapartirdeumforteembasa-

mentoempíricoedatentativadecaptardeformamaisfidedignaacomplexidadedasdeci-

sõesempresariaiseascondiçõesconcretasdaconcorrênciaquevigoramemcadacontexto.

Nessesentido,elapodeserdefinidacomoaaplicaçãodaMicroeconomiaàanálisedasfir-

mas,mercadoseindústrias.

ATENÇÃO

Envolve, portanto, o estudo dos fatores determinantes da formação de diferentes estruturas industriais e

de suas transformações ao longo do tempo, bem como o estudo das decisões e estratégias empresariais,

em um ambiente caracterizado por incerteza e informação imperfeita (limitada).

Umaspectocentraldessetipodeabordagemrefere-seàbaseempíricadateoria,discu-

tindo-secomoocomportamentoeaperformancedasfirmasemercadospodemserexpli-

cadoseprevistoscombaseemdadosobservados.Emparticular,asanálisesnessecampo

buscamaplicarateoriamicroeconômicaeoinstrumentaleconométricoparaanalisarfir-

masemercados,assumindoqueasformulaçõesteóricaseotrabalhoempíricosãoigual-

menteimportantesparagerarresultadosrelevantes.Observa-setambémumapreocupação

particularcomaformacomoaintervençãogovernamentalinfluenciaocomportamentoda

firmaeaperformancedomercado.

REFLEXÃO

Em termos do objeto e escopo da Organização Industrial, verifica-se uma ampliação do foco em

relação à Microeconomia tradicional, abandonando-se a ênfase em mercados de competição pura

e voltando-se para o estudo de situações onde os mercados apresentam falhas relativamente gene-

ralizadas, em um contexto no qual os mercados oligopolizados constituem a regra e não a exceção.

Além disso, como os oligopólios variam substancialmente, seria importante considerar e descrever as

características estruturais dessas indústrias.

Nessasanálises,asfirmasapresentam-seheterogêneasentresi,nãoapenasemtermos

detamanhoerentabilidade,comotambémemtermosdediversasoutrasdimensões,como

tiposdeprodutos,processosprodutivos,formasorganizacionais,marcas,localização,redes

dedistribuiçãoetc.Alémdisso,observa-sequedeterminadasfirmassãocapazesdesustentar

lucrosacimadamédiadaindústria,apresentandoumavantagem competitivaemrelaçãoaos

concorrentes,cujafonteétipicamentealgumrecursooucompetênciadifícildeimitar(tec-

nologiasparticulares,segredosdemercados,marcasetc.).

AelaboraçãodeanálisesqueutilizamcomoreferênciageralodenominadomodeloEs-

trutura-Conduta-DesempenhoébastantecomumnocampodaOrganizaçãoIndustrial.

Aestruturademercadodepende,incialmente,dascondiçõesessenciaisdademanda

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66 • capítulo 3

edaoferta.Nocasodascondiçõesdademanda,destacam-seaelasti-

cidade-preço,aselasticidadescruzadaseatendênciadecrescimento

domercado,entreoutros.Nocasodaoferta,épossíveldestacaralo-

calização e posse de fontes de matérias-primas, as características da

tecnologia,aaçãodossindicatos,easpectoslegais,políticoseéticos

vinculadosàprodução.

ATENÇÃO

Na análise estrutural de um mercado, particular ênfase é atribuída ao grau de

concentração da oferta, ao grau de diferenciação do produto e à natureza das

barreiras à entrada.

Notocanteàcondutadosagentes,procura-sediscutircomoospreçossão

fixados,aestratégiadedesenvolvimentodoprodutoemarketing,ocompor-

tamentolegaldasempresasesuasestratégiasdecrescimento,inclusiveno

queserefereàexpansãoparanovosmercados,viadiversificação.

Emtermosdodesempenho,apreocupaçãorecainaanálisedaefici-

ência,equidade,criaçãodeempregosequalidadedoproduto.

Emespecial,asanálisesdesenvolvidasnocampodaOrganizaçãoIndus-

trialatribuemparticularimportânciaaoimpactodapresençadebarreiras

àentrada sobreascondiçõesefetivasdaconcorrênciaemcadamercado.

ATENÇÃO

As principais fontes de barreiras à entrada, de natureza estrutural, mencionadas pela

literatura são as seguintes:

1) economias de escala de natureza técnica ou pecuniária;

2) vantagens absolutas de custos;

3) vantagens de diferenciação de produtos;

4) requisitos mínimos de capital;

5) economias de escopo.

Poroutrolado,alémdasbarreirasestruturais,relacionadasàscondi-

çõesobjetivasdaproduçãoemdeterminadaindústria,comparativamen-

teàsfirmasentrantes,épossívelmencionartambémbarreirasàentrada

de natureza estratégica, baseadas principalmente em sinalizações das

firmasestabelecidasnotocanteaoseupadrãoderesposta,oureação,à

possibilidadedeentradadenovasfirmasnomercadoemqueoperam.

No âmbito da Organização Industrial, a análise do processo de to-

mada de decisões da firma, em mercados oligopolistas, recai, neces-

sariamente,nadiscussãodoambienteemqueelaseinsere,poisasua

interpretaçãodesseambiente,edeseusconcorrentes,condicionaoseu

processodetomadadedecisões.

COMENTÁRIO

Barreiras à entrada

Essas barreiras são relacionadas a fa-

tores que dificultam a entrada de novas

empresas em uma determinada indús-

tria. Quando essas barreiras são eleva-

das, uma indústria tende a ter um núme-

ro pequeno de empresas e uma pressão

reduzida para competirem. A presença

de barreiras à entrada de concorrentes

potenciais em um mercado oligopolista

permite às empresas mais bem situadas

praticarem preços acima do nível com-

petitivo, embora, em geral, abaixo do ní-

vel de maximização de monopólio.

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capítulo 3 • 67

ATENÇÃO

Dependendo do modelo de análise, o ambiente econômico em que ocorre o processo de tomada de

decisões pode ser considerado como uma variável endógena, na medida em que uma decisão da firma

poderá resultar em mudanças nesse ambiente em que atua.

Aspectos políticos, institucionais, legais e sociais se somam às características específi-

casdomercadodeformaadelimitaroambienteconcorrencialnoqualafirmaopera.Desse

modo,oambienteconcorrencialéconstituídohistoricamenteapartirdasinteraçõesentre

agentesedamediaçãodeinstituições,validandoasdecisõestomadasnopresenteepropor-

cionandoumabaseparaaformaçãodeexpectativaquantoaofuturo.

Nessecontexto,asdecisõesdasempresas,aocontráriodopropostopelaMicroecono-

mia tradicional, não são uniformes, baseando-se em uma racionalidade essencialmente

complexa,quelhespermitaidentificar,hierarquizareinterpretaroambientecompetitivo

emqueoperam,combasenassuasexpectativaseconsiderandoasincertezasinerentesao

processoconcorrencial.

REFLEXÃO

A empresa traduz esse processo na sua estratégia, procurando, a partir da mesma, se posicionar no ambiente

em que opera, visando explorar oportunidades que surgem em função de mutações econômicas. Desse

modo, a estratégia competitiva da firma pode ser definida como a sua capacidade de estabelecer formas de

ações planejadas e deliberadas a partir da compreensão do seu objetivo e de suas características, aliada à

flexibilidade para compreender o ambiente e a sua estrutura de mercado.

Nessaperspectiva,aestratégiacompetitivanãoéumconceitoestanque,alterando-see

adaptando-seaoambienteevariandodeempresaparaempresa,emfunçãodesuascapa-

citaçõesecompetências.Acapacitaçãodafirmaéentendidacomoumconceitoabsoluto,

estandoassociadaàshabilidadesparaproduzirumproduto.Jáanoçãodecompetência

consideraashabilidadescomoalgorelativo,sendodeterminadaapartirdeumpadrãopar-

ticulardeproduçãodemercado.

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4 A Abordagem Macroeconômica

carmem aparecida feijó

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70 • capítulo 4

4 Abordagem macroeconômica

Por que precisamos de uma teoria macroeconômica? A ideia intuitiva é

simples:resultadosagregados,ouseja,paratodaaEconomia,nemsempre

correspondemàquiloqueagenteseconômicosindividuaisplanejaram.

Justamenteporquedesapontamentosemrelaçãoaoqueseriaespe-

rado ocorrem, a teoria econômica identifica a Macroeconomia como

umcampodeestudopróprio,cujoobjetoéexplicarcomoosdesdobra-

mentosdedecisõesindividuaisnoagregadoresultamemflutuaçõesdo

níveldeproduto,preçoseempregonocurtoprazo.

ATENÇÃO

Entende-se que flutuações reduzem o bem-estar da população; portanto, devem ser

evitadas ou, no mínimo, suavizadas.

Neste capítulo, vamos apresentar os principais conceitos e relações

paraentenderofuncionamentodeumaEconomiademercadonocurto

prazo.Comoomecanismodefuncionamentodessaseconomiasapresen-

taimperfeições,háespaçoparagovernosatuaremnosentidodepromo-

verocrescimentocomestabilidadedepreçosecomgeraçãodeempregoe

renda.Nocapítulo5serãodiscutidaspolíticasmacroeconômicas.

Estecapítuloestáorganizadoemduaspartes.Iniciamoscomaapre-

sentação das principais estatísticas das contas nacionais, ou seja, os

agregados macroeconômicos, incluindo os registros da Economia na-

cionalcomorestodomundo.Nasegundapartetratamosteoricamente

dosprincipaistemasdateoriamacroeconômica:oquedeterminaoní-

veldeproduto,empregoeinflação.

O sistema de contas nacionais e os agregados macroeconômicos — Parte 1

ParaoestudodaMacroeconomiaénecessárioconstruirestatísticas

que agreguem informações sobre variáveis de interesse. Essas esta-

tísticassãoobtidas,emgrandeparte,atravésdosistemadecontabi-

lidadenacional(SCN).

Comoumafotografia,oSCNpermitequeseanaliseoobjetoretrata-

dosobváriosânguloseemváriosgrausdedetalhamento.Umângulode

análisebastanteusualéacomparaçãodedesempenhodegrandesseto-

resdeatividade,comoagropecuária,indústriaeserviços,porexemplo.

CONCEITO

Sistema de contabilidade nacional

O SCN é, como o próprio nome sugere,

um sistema contábil que apresenta uma

espécie de fotografia bem detalhada da

Economia em um determinado período

de tempo. Esse sistema é elaborado, em

geral, pelo órgão central de estatística

dos países, no caso do Brasil, o IBGE.

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capítulo 4 • 71

ATENÇÃO

Em termos de detalhe, neste ângulo é possível comparar, dentro de cada setor de

atividade, ramos produtivos específicos, como a produção de algodão, o refino de

petróleo etc.

Outroângulodeanálise importanteéacomparaçãododesempenho

degruposdeagenteseconômicosdenominadossetoresinstitucionais(em

contraposição a setores de atividade), para identificar qual é o que mais

contribuiparaocrescimentoemdeterminadoperíododetempo.Emter-

mosdedetalhe,nessecaso,épossívelsaberquantoasfamíliasrecebemde

salário,quantotransferemnaformadeimpostosparaogovernoetc.

Fluxo e estoque

Osregistroscontábeisdascontasnacionaisacompanhamvariáveis(por

exemplo: salários pagos, receitas auferidas, riqueza, dentre inúmeras

outras)quepodemserdefluxooudeestoque.

Para entender a distinção entre ambas basta considerar que vari-

áveisdeestoquesãoaquelasreferenciadasaumpontonotempo,por

exemplo,em31dedezembro.Alteraçõesemvariáveisdeestoqueentre

umperíodoeoutroocorremporvariáveisdefluxo.

EXEMPLO

Por exemplo, a renda que uma pessoa (economistas referem-se a agentes econô-

micos) recebe, como a remuneração por seu trabalho, corresponde a um fluxo. Se

o fluxo de renda ao longo do período é maior do que os seus gastos, então é de se

esperar que o seu estoque de riqueza (patrimônio) em uma data ao final do período,

quando comparado com a data de final do período anterior, aumente.

Outro exemplo é a variação no fluxo de investimento produtivo em

umperíodo,porumaempresa,pelacompradenovasmáquinaseequipa-

mentos.Ofluxodeinvestimentoprodutivoaolongodotempodeveimpli-

car,aofinaldeumperíodo,umavariaçãonoseuestoquedecapital.

ATENÇÃO

A importância da distinção entre variável de fluxo e de estoque ficará clara quando

entendermos que o Produto Interno Bruto, o principal agregado macroeconômico, é

uma medida de fluxo.

COMENTÁRIO

Setores institucionais

Por exemplo, famílias, governo, empre-

sas e setor externo.

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72 • capítulo 4

Produto Interno Bruto (PIB)

AprincipalmedidaestatísticaderivadadoSCNéoProdutoInternoBruto

(PIB).Estadefinição,mesmoresultandonaformamaiscompletaeabran-

gentedesemediroportedeumaEconomia,excluidocálculodoproduto

agregado,pelomenos,osseguintesaspectosdaatividadeeconômica:

ATENÇÃO

Aspectos da atividade econômica excluídos do cálculo

a) produção de bens e serviços para consumo próprio, pois não se atribui valor de

mercado a ela (por exemplo, se um agente faz suas refeições em casa, não entra no

cálculo do PIB; porém, se faz em um restaurante, entra);

b) transações de compra e venda envolvendo a transferência de bens produzidos em

períodos anteriores, como, por exemplo, a venda de bens de segunda mão, pois não

agregam valor no período;

c) esgotamento de recursos naturais não renováveis, que são utilizados na produção

de bens, ou seja, não se considera a produção de recursos naturais dentro da fron-

teira de produção (ver Capítulo 1).

Ascontasnacionaistambémapresentaminformaçõessobreestatísticas

econômicasapreços constantes.Issoénecessárioporque,deumperíodo

aoutro,nãosóasquantidadesproduzidasvariam,mastambémospreços.

REFLEXÃO

Quando se faz comparação entre períodos de tempo, por exemplo, o aumento do

PIB em 2013 em relação a 2012, o interesse maior é pelo aumento em termos de

quantidades (na expressão das contas nacionais, em volume). Ou seja, o efeito da

variação dos preços deve ser descontado.

DadaadefiniçãodePIB,devemoscompararestamedidacomoconceito

deriqueza.SeráqueumaumentonoPIB(desconsiderandoainflação)sem-

prerepresentaumavançodaEconomianosentidodetorná-lamaisrica?

Observeque,pelaformacomooPIBémedido,nemsempreumau-

mentonessamedidaimplicaqueaEconomiatenhadefatoprogredido

noperíodo.ParaqueumaumentonoPIB,umavariáveldefluxo,repre-

senteumaumentoderiquezadopaís,sendoariquezaumavariávelde

estoque,énecessárioqueoestoquetambémaumenteemrelaçãoaope-

ríodoanterior.Nemsempreissoocorre.

EXEMPLO

Suponha que ocorra uma catástrofe natural na Economia, como um terremoto de

grandes proporções. O PIB no período deverá aumentar pelo aumento das obras de

CONCEITO

Produto Interno Bruto

O PIB de um país ou região representa

a produção de todas as unidades pro-

dutoras da economia (empresas públi-

cas e privadas produtoras de bens e

prestadoras de serviços, trabalhadores

autônomos, governo etc.), em um dado

período (ano ou trimestre, em geral), a

preços de mercado.

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capítulo 4 • 73

reconstrução, dos serviços gerados pelo apoio e reconstrução etc. Esses registros correspondem a um

aumento no fluxo de produção de bens e serviços para atender a uma demanda atípica, gerada em conse-

quência do terremoto. No entanto, no caso do terremoto, o estoque de riqueza terá diminuído em relação

ao período anterior, pela destruição causada em construções já existentes, por exemplo.

Outroexemplopodeserdadoemrelaçãoaoestoquedasriquezasnaturais.Nestecaso,

comooPIBnãoconsideraaexaustãoderecursosnãorenováveis(porexemplo,exaustão

dasminasdeumrecursomineralouaextraçãonãomanejadademadeiraemflorestasna-

tivas),aEconomiadeumpaíspodecrescerporqueaumentaaexploraçãodessesrecursos.

Porém,comooestoquedessariquezaestádiminuindo,ocrescimentofuturodaEconomia

estáameaçado(verCapítulo6paraoconceitodedesenvolvimentosustentável).

RESUMO

Em resumo, as transações econômicas, objeto de acompanhamento sistemático para a construção da con-

tabilidade de um país ou região (as contas nacionais), são as que têm origem na atividade de produção de

bens e serviços em um período de observação aos quais se possa atribuir um valor monetário (um preço).

Fluxo, Estoque, Produto Interno Bruto e Produto Interno Líquido

Na mensuração do Produto Interno Bruto não se considera o desgaste do estoque de

riquezadaEconomia.QuandodefinimosamedidadoPIB,incluímostodososbense

serviçosproduzidosemumperíodo.Noentanto,hábens,comoasmáquinas,osequi-

pamentos,emresumo,oschamadosbensdecapital,quetêmumadurabilidademaior

doqueoperíododeobservação.

RESUMO

Ou seja, são utilizados no processo de produção hoje, mas foram produzidos em períodos anteriores e

continuarão sendo usados em períodos futuros.

Nessescasos,apenasumapartedessesbensépassadaaoprodutofinal,querepresenta

oseudesgastepelouso.Essedesgastereduzovalordobemdecapitale,portanto,oesto-

quederiquezadoseuproprietário.

Assim,omelhorconceitoparaseavaliarodesempenhodaEconomiaemumperíodo

éoproduto agregadolíquido,quelevaemcontaodesgastefísicodoestoquedecapitale,

também,aobsolescênciadasmáquinaseequipamentos.

ATENÇÃO

Assim, os estoques de bens acumulados ao final de um determinado período só podem ser conside-

rados como adição de riqueza à Economia como um todo, quando tratados em termos de variações

líquidas em relação ao período anterior. Se ocorre uma variação negativa nos estoques, ou seja, o

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74 • capítulo 4

que houve de desgaste foi superior à adição de novos bens de capital, é porque houve uma perda de

riqueza, diminuindo a renda da Economia no período.

As diferentes óticas de mensuração do produto da Economia

PelaenormedificuldadeemsecalcularodesgastedoestoquedecapitaldaEconomia,a

medidapadrãoparaseacompanharaevoluçãodaEconomia(eparacomparaçõesinterna-

cionais)éoPIB.OPIB,porserderivadodeumsistemacontábil,podesermedidoportrês

óticasdiferentes:óticadoproduto,óticadarendaeóticadadespesa.

Ótica do produto

OPIB,pelaóticadoproduto,medeovaloragregado,ouvalor adicionado,emcadaetapado

processodeproduçãodebenseserviços.Pelanaturezadamedida,asinformaçõesextraí-

dasparaaconstruçãodesseagregadovêmdasunidadesprodutoras(firmas).Entretanto,

ovaloradicionadonãoéumamedidaobservadadiretamentedacontabilidadedasfirmas.

Paraentenderamedidadovaloragregado,ouadicionado,vamosdarumexemplo.

Cenário

Considere a produção de massas alimentícias por uma firma industrial. A quantidade de massa

produzida em um ano, multiplicada pelo preço de venda de mercado, fornece a medida do valor da

produção da firma no ano.

Situação

Suponha que a firma produziu 500 quilos de massas no ano, ao preço médio de R$2,00 o quilo.

Logo, o valor da produção da firma no ano será de (500*R$2,00) R$1.000,00.

Problema

Como medir a contribuição da firma para o PIB do país? Se considerarmos a medida de valor da

produção (R$1.000,00), ao somarmos os resultados do valor de produção de todas as firmas,

estaremos incorrendo em dupla contagem. A razão é simples: na produção de bens são utilizados

insumos, ou seja, bens que são produzidos por outras firmas para serem processados na fabrica-

ção de outros bens.

Explicação do problema

Por exemplo, para produzir massas alimentícias, utiliza-se farinha de trigo, dentre outros insumos

que devem ser adquiridos de outra firma. Assim, se simplesmente somarmos o valor de produção de

todas as firmas na economia (no exemplo, produtora de massas e produtora de farinha de trigo) para

se estimar o quanto foi produzido em um período, a produção total do país estará superestimada.

ParachegarmosàrealcontribuiçãodecadafirmanoPIBdaEconomia,devemosdes-

contardovalordaproduçãodecadafirmaoquefoiadquiridodeoutrasfirmas,ouseja,o

consumointermediário.Dessaforma,estaremosconsiderandoaquiloquecadafirmaagre-

gadevalorduranteoseuprocessodeprodução.

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capítulo 4 • 75

EXEMPLO

Prosseguindo no exemplo, suponha que a firma compre o equivalente a R$300,00 de farinha de trigo

para produzir os 500 quilos de massa. Logo, o valor adicionado (ou agregado) da firma produtora de

massas alimentícias no ano terá sido de R$700,00 (R$1000,00 menos R$300,00). Essa é a sua

contribuição ao PIB, e não R$1.000,00.

Chegamosentãoaumaconclusãoimportante:amedidarelevanteparaavaliaroesforço

produtivodeumpaísemumperíodoéasomadovaloradicionadoouvaloragregadodas

firmas,ouseja,asomadoquecadafirmaagregadevalornoseuprocessodeprodução.As-

sim,paraaEconomiacomoumtodo,asomadosvaloresadicionadosdecadafirmatotaliza

oagregadoPIBpelaóticadoproduto.

RESUMO

ÓTICA DO PRODUTO VALOR DA PRODUÇÃO VALOR DOS CONSUMOSINTERMEDIÁRIOS

Ótica da renda

Comotodaproduçãoempregarecursosprodutivos(simplificadamente,podemoscitarcapi-

taletrabalho),essesrecursosdevemserremunerados.Sesomarmostodosospagamentos

efetuadosatítuloderemuneraçãodosfatoresdeproduçãonaEconomia,chegamostambém

aumamedidadoesforçodeproduçãodaEconomiaemumperíodopelaóticadarenda.

RESUMO

Ou seja, a medida do PIB, pela ótica da renda, consiste em somar todos os pagamentos efetuados, como

lucro (remuneração ao capital de risco), juros (remuneração ao capital de empréstimo), aluguéis (remune-

ração pela propriedade) e salários (remuneração pelo trabalho).

Ditodeoutraforma,porestaóticaépossívelvercomosedáarepartiçãodoprodutoem

umperíodo,entreosparticipantesdoprocessodeprodução.Porexemplo,qualaparcela

apropriadapelostrabalhadorescomsalários,pelosempresárioscomlucrosetc.

RESUMO

ÓTICA DA RENDA SOMA DAS REMUNERAÇÕES DOS FATORES DE PRODUÇÃO

Ótica da despesa

Porfim,amensuraçãodoPIBpelaóticadadespesaconsideraque,emcontasnacionais,

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76 • capítulo 4

todaproduçãodebenseserviçosédestinadaparagastocorrente(con-

sumo)ougastoemformaçãodecapital(investimento).

AmedidadePIBpodeserobtida,então,pelasomatotaldosgastosdos

agentes econômicos em consumo de bens e serviços e em investimento

paraampliaçãodecapacidadeprodutivaoumanutençãodoequipamento.

RESUMO

ÓTICA DA DESPESA SOMA DOS GASTOS COM BENS DE

CONSUMO FINAL E BENS DE INVESTIMENTO EM CAPITAL

Combasenestaprimeiraapresentação,podemosconcluirque,em

contasnacionais:

RESUMO

PRODUTO RENDA DESPESA

Arigor,paraqueissosejaobservadonaprática,énecessárioqueamen-

suraçãopelas3óticassejafeitaaosmesmospreços.Considereaóticada

renda,queéasomadasremunerações.Sobreestasincidemimpostosdife-

rentesdosqueincidemsobreosbenseserviçostransacionadosnomerca-

do.Assim,énecessárioqueajustesemtermosdosimpostossejamconside-

radosparaseobteromesmovalordoPIBporcadaumadas3óticas.

PIB e PIB per capita

Umadasformasdeseinferirsobreopadrãodevidadapopulaçãode

umpaísépormeiodo PIBpercapita,obtidoquandodivididooPIB

do ano pela população residente no mesmo período (considera-se a

populaçãoem1dejulho).

Apesardebastantedivulgada,essamedidapodenãoserconsidera-

daumarepresentaçãosatis-

fatória do nível de qualida-

de de vida, pois o conceito

de PIB, sendo uma medida

devaloragregadoqueresul-

ta da atividade produtiva,

desconsidera,porexemplo,

otempogastocomolazer.Assim,seashorasdelazersereduzem,o

PIBpodeaumentar,masaqualidadedevidanão.

CONCEITO

PIB per capita

É uma medida de renda média da po-

pulação, bastante utilizada em compa-

rações entre países e regiões para se

classificar as economias segundo o

grau de desenvolvimento. Também é

muito utilizada para avaliar o progresso

dos países ao longo do tempo.

Será que um aumento no PIB (desconsiderando a inflação) implica que os habitantes da Economia estão mais ricos?

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capítulo 4 • 77

EXEMPLO

Outra razão está ligada à medida estatística que o PIB per capita representa. O PIB per capita mede a ren-

da média da população. Por exemplo, suponha a população de um país composta por uma pessoa ganhan-

do R$2000,00 por ano, e nove ganhando R$100,00 por ano, que corresponde ao salário mínimo do país.

Observe que a renda média neste caso é de R$290,00 (R$2000,00+9*R$900,00)/10) e está bem acima

do salário mínimo, portanto, pode ser considerada elevada. Porém, claramente, a renda média está longe

de revelar alguma coisa sobre as condições de vida da maioria da população dessa Economia hipotética.

AEconomiabrasileiraapresentaumadistribuiçãoderendamuitoconcentrada,e,por-

tanto,oPIBper capitaestálongederepresentarumpadrãodevidatípicodobrasileiro.Isto

querdizer,porexemplo,quepaísescomrendasper capitapioresdoqueadoBrasilpodem

oferecerumpadrãodevidamelhorparasuapopulação,seasuadistribuiçãoderendafor

menosdesigual.Essetemaseráretomadonocapítulo6,comaapresentaçãodoíndicede

Ginieoíndicededesenvolvimentohumano(IDH).

REFLEXÃO

Mesmo com as limitações conceituais apontadas anteriormente, a taxa de crescimento do PIB per capita

é uma medida importante para qualificar o crescimento do PIB ao longo do tempo.

ObservenaTabelaaseguirqueataxadecrescimentodoPIBpodeserpositiva,masa

taxadecrescimentodoPIBper capita,negativa,seocrescimentodoprodutodaEconomia

forinferioraocrescimentodapopulaçãonoano.

Brasil: Taxa de crescimento real do PIB, população residente e PIB per capita %

PIB Pop. Residente PIB per capita

2001 1,3 1,5 -0,2

2002 2,7 1,5 1,2

2003 1,1 1,5 -0,3

2004 5,7 1,5 4,2

2005 2,9 1,4 1,5

2006 4,0 1,2 2,7

2007 6,1 1,1 4,9

2008 5,2 1,1 4,1

2009 (-)0,3 1,0 -1,3

Fonte: IBGE, Contas Nacionais, 2011.

Essasituaçãoindica,possivelmente,queataxadedesempregoaumentouaolongo

doperíodo.Assim,sucessivosperíodosdebaixocrescimentodoPIBpodemsignificar

umempobrecimentodapopulaçãodeumpaísouregião.ObservetambémqueoPIBde

umpaíspodecaireoPIBper capitaaumentar,seapopulaçãoestiverdecrescendomais

rápidodoqueaquedanoPIB.

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78 • capítulo 4

Renda Nacional Bruta e demais agregados

OPIB,comovimos,medeoesforçodeproduçãoemumpaísemdeter-

minado período de tempo. No entanto, a remuneração aos fatores de

produçãocorrespondenteaoesforçodeprodução(medidadoPIBpela

ótica da renda) pode não ficar no país, se a propriedade dos recursos

produtivosfordenãoresidentes.

AlémdoPIBedoPIBper capita,outroagregadodegrandeinteresseé

aRenda Nacional Bruta(RNB).Assim,oPIBdeumpaísconsideratoda

aproduçãoemumterritório, independentedaorigemdorecurso,ea

RNBconsideraaremuneraçãoàproduçãoapenasaosresidentes.Dessa

forma,paradistinguiroconceitodePIBdodeRNB,énecessáriointro-

duziranoçãoderesidência.

EXEMPLO

Por exemplo, suponha uma firma de engenharia brasileira que realize uma obra em

país estrangeiro. Os pagamentos de rendas a brasileiros (salários, lucros) dessa firma

no exterior são contabilizados na conta da RNB do Brasil, porém não no PIB do Brasil.

AregraparadoPIBsechegaràRNBdeumpaísé,primeiro,calcular

adiferença,ouseja,osaldoentreospagamentosderendas recebidas do

exterior e o pagamento das rendas enviadas ao exterior.Emseguida,pro-

cederaoajustedaseguinteforma:seosaldoforpositivo,ouseja,seo

paísrecebemaisrecursoscomorendadoquepaga,entãosesomaao

PIBparaseobteraRNB;seosaldofornegativo,ouseja,opaísenviaao

exteriormaisrecursoscomorendadoquerecebe,entãosubtrai-sedo

PIB,e,nestecaso,aRNBserámenordoqueoPIB.

REFLEXÃO

Esse é o caso do Brasil em quase toda sua história, assim como da larga maioria dos

países em desenvolvimento. Economias desenvolvidas, como a americana, ao con-

trário, apresentam RNB maior do que o PIB, pois o saldo das rendas líquidas (rendas

recebidas menos rendas enviadas) é positivo.

Oagregadodarendanacionaldevesofrermaisumajusteparasede-

duzira Renda DisponívelBruta (RDB).Assim,depoisdefeitooajuste

noPIBparaseobteraRNB,énecessárioaindaconsiderarrecebimentos

epagamentosrealizadosatítulodetransferências unilaterais correntes,

entreresidentesenãoresidentes,parasechegaràRDB.

São consideradas transferências correntes toda movimentação de

recursosentrepessoas(agenteseconômicos)epaíses,semcontraparti-

dacomoprocessodeprodução(porexemplo,remessaerecebimentode

recursosentregovernoseresidentes,remessadeimigrantesparasuas

CONCEITO

Residência

Em linhas muito gerais, são conside-

rados residentes aqueles que têm seu

foco de interesse econômico em um

país ou região. Na prática, isto impli-

ca que a produção de estrangeiros no

Brasil conta no PIB, mas não na RNB.

A produção de brasileiros no exterior

conta como PIB do país estrangeiro e

na Renda Nacional do Brasil.

CONCEITO

Renda Disponível Bruta

É a RDB que informa quanto os residen-

tes do país ou região, de fato, dispõem

para gastar em consumo final (conceito

importante para o modelo teórico ma-

croeconômico, a ser visto mais adiante),

no final de um período.

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capítulo 4 • 79

famíliasnopaís,doações,herançasetc.).Paísesouregiõesmuitopobres

recebemmuitastransferências,sendo,muitasvezes,essefluxomonetá-

rioquemovimentaaEconomialocal.

EXEMPLO

Para dar um exemplo em relação ao efeito de transferências de renda em uma

região, considere um município brasileiro muito pobre cuja maioria da população

receba transferência de renda do governo pelo programa Bolsa Família. Muito pro-

vavelmente, os gastos de consumo das famílias nesse município, ou seja, o que mo-

vimenta a atividade de comércio, serão realizados em maior escala com os recursos

do Bolsa Família, e não com recursos gerados pela atividade produtiva da região.

Paradaroutroexemplo,considereumaEconomiaouregiãomuitopo-

bre,ondeosjovensseachemsemperspectivasedecidambuscarmelho-

resoportunidadesemoutrolugar,ouseja,queemigrem.Suponhaainda

que,umavezestabelecidosemregiõesmaisricas,comecemaajudarsuas

famíliasqueficaramnaregiãodeorigem(transferênciasentrepessoas).Da

mesmaformaquenoexemploanterior,asajudasfinanceirasenviadascor-

respondematransferênciasderenda,queirãoinfluirnoníveldeconsumo

dasfamíliasrecebedorasenasdespesasdeconsumoefetuadasnaregião.

Conhecidososprincipaisagregadosdeprodutoerenda,oSCNper-

mitecalcularaPoupançaBrutadaEconomianoperíodo.APoupança

BrutaéobtidapeladiferençaentreaRDBeoConsumoFinal.Oresulta-

dodessasequênciadeagregados,considerandoaEconomiadeumpaís,

échegarnamedidadapoupançacomoumresíduo,queéoquesobra

darendadisponíveldepoisdedescontadososgastoscomoconsumo.

RESUMO

Para fixar os conceitos vistos até agora, podemos escrever considerando a Econo-

mia de um país:

PIB Valor da produçãoValor dos consumos

intermediários

RNBSoma das remunerações dos

fatores de produção pagas a residentes

RDB menos Consumo (Famílias e Administrações Públicas)

RDB RNBTransferências

correntes

Recursos disponíveis para consumo final

(Famílias e Administrações Públicas)

POUPANÇABRUTA

CONCEITO

Poupança Bruta

O conceito de Poupança Bruta revela

o quanto da renda gerada pelo esfor-

ço produtivo da economia em um dado

período não foi consumido imedia-

tamente, ou seja, não foi destinado a

gastos correntes.

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80 • capítulo 4

APoupançaBrutadeve,porfim,sercomparadacomoquefoigasto

paraampliaracapacidadedeproduçãonofuturopróximo,ouseja,com

aFormaçãoBrutadeCapital(FBC).

CasoaPoupançaBrutasejamaiordoqueaFBC,diz-sequeaEco-

nomiaécredoralíquidaemrelaçãoaorestodomundo,poisgerouum

excedentequepodeemprestaraoutraseconomias.Nessecaso,aEco-

nomiaapresentaumaCapacidade Líquida de Financiamento.Casocon-

trário, Poupança Bruta menor que a FBC, a Economia deve absorver

poupançadorestodomundo,istoé,poupançaexterna,ediz-sequetem

umaNecessidade Líquida de Financiamento,estando,portanto,emuma

posiçãodedevedoralíquidaemrelaçãoaorestodomundo.

RESUMO

Assim, podemos escrever:

FBCCAPACIDADE DE

FINANCIAMENTO LÍQUIDO

FBCNECESSIDADE DE

FINANCIAMENTO LÍQUIDO

POUPANÇABRUTA

POUPANÇABRUTA

A igualdade contábil entre poupança (interna + externa) e investi-

mento(FBC),considerandoaorigemdapoupança,éespecialmenteim-

portanteparaaanálisemacroeconômica,poisrevelaaposiçãodaEco-

nomiaemrelaçãoàsdemaisdorestodomundo.

Economias que sistematicamente apresentam necessidade de ab-

sorver poupança externa (Necessidade de Financiamento Líquido), em

algum momento terão de empreender esforços adicionais no sentido

de gerar recursos na moeda do credor internacional para saldar seus

compromissos.Emmomentosdeestabilidadenocenáriofinanceiroin-

ternacional,Economiascombompotencialdecrescimentonãodevem

enfrentardificuldadesparahonrarseuscompromissosexternos.

Emgeral,durantecrisesouturbulências,opaísdeverecorreraorganis-

mosfinanceirosinternacionais.OmaisimportantedeleséoFundoMone-

tárioInternacional(FMI),queestabeleceumprogramadeprovimentode

recursos financeiros para a restauração do equilíbrio da Economia, mas

medianteasubmissãodopaísaajustesmacroeconômicosrigorosos.

REFLEXÃO

Vale lembrar que países da América Latina, o Brasil inclusive, viveram, na década de

1980, experiências de elevado constrangimento externo que limitaram o seu cresci-

mento, e geraram profundos desequilíbrios manifestados em descontrole inflacionário.

COMENTÁRIO

Formação Bruta de Capital (FBC)

A FBC é uma medida que expressa o

montante de investimento em capital

físico na economia. O montante da pou-

pança pode se situar acima ou abaixo

do montante da FBC.

COMENTÁRIO

Momentos de estabilidade

No entanto, em momentos de turbulên-

cia nos mercados financeiros interna-

cionais (como na crise financeira inter-

nacional de 2008), ou em momentos

de instabilidade interna, a obtenção de

financiamento externo pode vir condi-

cionada a exigências que implicam de-

saceleração no crescimento e aumento

do desemprego.

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capítulo 4 • 81

Medindo as transações com o resto do mundo: Balanço de Pagamentos

DamesmaformaqueascontasnacionaisdescrevemaEconomiaemdeterminadoperíodo,

osregistrosdoBalançodePagamentos(BP)tambémpermitemqueseanaliseadinâmica

daEconomia.Istoporque,comojádissemos,aformacomoaEconomiaserelacionacom

asdemaisEconomiasrevelacomoseinserenaEconomiamundial.

Economiasmuitodependentesdepoucosprodutosdeexportaçãoedeprodutospri-

mários,porexemplo,sãosujeitasaapresentarmaiorvariaçãonocrescimentodoseuPIB,

poisodesempenhodesuaEconomiairádependerdademandaexternaporseusprodu-

tos,variávelquefogeaoseucontrole.

Economias mais diversificadas e especializadas na exportação de bens de alto valor

agregado,exportadorasdetecnologia,sãoEconomiasqueapresentamgraudedesenvol-

vimentomaiselevado,comumapopulaçãocommelhorgraudeescolaridadee,provavel-

mente,tendemaapresentartrajetóriadecrescimentomaisestável,poisosganhosgerados

pelosetorexportadortendemasermaioresemenosinstáveis.

RESUMO

Em poucas palavras, Economias ditas em desenvolvimento apresentam tendência a absorver poupança

externa, ou seja, uma contribuição do resto do mundo ao seu crescimento.

AscontasdoBalançodePagamentossãodivididasemduaspartesprincipais:Ba-

lanço de Transações CorrenteseConta Capital e Financeira,quesãosubdivididasemvá-

riascontas.CadapartedoBalançodePagamentos,assimcomocadaconta,podeapre-

sentarresultadopositivoounegativo.Oimportanteéque,acadaperíodo,nocômputo

geraldosregistrosdoBalançodePagamentos,opaístenhageradorecursossuficien-

tesemmoedaestrangeiraparapagarseuspróprioscompromissos,esegerourecursos

alémdonecessárioparasuasnecessidades,podeemprestaradevedoresinternacionais

e/ouaumentarsuasreservasinternacionais.

ATENÇÃO

A primeira parte do BP é o Balanço em Transações Correntes, que apresenta todos os registros (fluxos)

que afetam diretamente a geração do produto (PIB) e da renda nacional (RNB) no período. Associado

como um fenômeno macroeconômico, o Balanço em Transações Correntes guarda uma relação estreita

com os grandes agregados das contas nacionais.

NoBalançodeTransaçõesCorrentesdestacamostrêscontasprincipais.Asprimei-

rasduassão:Balanço Comercial–oregistrodeexportações(vendasexternas)eimpor-

tações (compras externas) de bens e serviços; o Balanço de Rendas – corresponde ao

fluxodepagamentoderendasdepropriedadeentreresidentes(entradasderecursos,

ouseja,asrendasrecebidasdoexterior)enãoresidentes(saídaderecursos,ouseja,as

rendasenviadasaoexterior).

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82 • capítulo 4

EXEMPLO

Lembrando o exemplo citado previamente, se uma firma de engenharia brasileira

presta serviço em outro país, o lucro auferido no empreendimento ao ser repa-

triado é lançado como uma entrada no Balanço de Rendas. Da mesma forma,

se uma empresa estrangeira envia para sua matriz o lucro auferido em território

nacional, é registrado como uma saída de recursos. Tradicionalmente, esta conta

é negativa no BP do Brasil.

Porfim,háacontadeTransferências Unilaterais Correntes,ondesão

registradastodasasentradasesaídasderecursossemcontrapartidaem

termosdeproduçãonopaís.

EXEMPLO

Exemplo: remessa de imigrantes para suas famílias no país, ajudas governamentais

ou privadas na forma de doações a países que enfrentam uma catástrofe natural,

doações de instituições privadas e governos para causas humanitárias etc.

AContaCapitaleFinanceiraésubdivididaemduaspartes:a Con-

ta Capital, ondesãoregistradasTransferências Unilaterais de Capital

(observequeseseparamtransferênciascorrentes,registradasnoBa-

lançodeTransaçõesCorrentes,detransferênciasdecapital,ouseja,

de ativos de capital) e a Conta Financeira, que registra todo o fluxo

financeiroentreospaíses.

Na Conta Financeira estão os registros de Investimento Direto

(capitalderisco),comoaaberturadefiliaisdeempresasestrangei-

ras,porexemplo,ouaquisiçãodefirmasjáexistentes,tantoporre-

sidentes(saídaderecursos)comopornãoresidentes(entradadere-

cursos).Destacam-senestarubricaosinvestimentosemcarteira,que

sãoinvestimentosemaçõeseoutrostítulosderendafixaouvariável,

porexemplo.

Doconjuntoderecursosfinanceirosregistradosemumperíodo

noBP,devem-sedistinguiraquelesquesãocaracterizadoscomoca-

pitaisautônomos,ouvoluntários,istoé,entramnopaís,poisacham

oinvestimentoatrativofinanceiramente;oscapitais compensatórios,

ou de regularização, sendo estes últimos constituídos pelas transa-

çõesconduzidaspelosgovernosnacionais,comafinalidadedefazer

oacertofinaldoBP.

NaTabelaaseguirestãocasoshipotéticosesimplificadosparafixar

osconceitos.Oobjetivoéretratarsituaçõesdiferentesdascontasexter-

nasquedevemlevaramedidasdepolíticaeconômicadiferentes.

COMENTÁRIO

Investimento direto

Essa modalidade de investimento im-

plica uma demonstração de interesse

por parte do investidor em permanecer

no país por um período considerado

longo. As demais rubricas de investi-

mento registram o movimento financei-

ro de capitais de curto prazo, ou seja,

que não caracterizam um interesse de

longo prazo entre o investidor e o tipo

de investimento realizado (ativo).

COMENTÁRIO

Capitais autônomos

Os capitais autônomos são também

identificados com investimento de por-

tfólio, ou seja, o investimento em títulos

e ações negociados no país. O fluxo

desses capitais no curto prazo, quando

muito acentuado, pode fazer variar a

taxa de câmbio dos países (ver capítulo

5 sobre a taxa de câmbio).

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capítulo 4 • 83

Principais contas do Balanço de Pagamentos (em US$ bilhões, em um período)

Caso I Caso II Caso III

Balanço Comercial (BC= X-M) 30 5 -10

• Exportações de Bens e Serviços (X) 150 60 50

• Importações de Bens e Serviços (M) (-)120 (-)55 (-)60

Transferências Unilaterais Correntes (TUR) (-)10 1 2

A. Balanço de Transações Correntes (BC + TUR) 20 6 -8

B. Conta Capital e Conta Financeira (TUC+ID+IC) 10 50 6

• Transferências Unilaterais de Capitais (TUC) 0 1 0

• Investimento Direto (ID) (-)25 25 2

• Investimentos em carteira e demais (IC) 35 24 4

Saldo do Balanço de Pagamentos (A+B) 30 56 (-)2

OcasohipotéticoIapresentaumaEconomianaqualoBalançodeTransaçõesCorrentesé

positivoemU$$20bilhões.EsseresultadoéobtidopelosaldopositivodoBalançoComercial

(US$30bilhões)eosaldodasTransferênciasUnilateraisCorrentesnegativo(US$10bilhões).

Nessecaso,opaístransferemaisrecursosparaoexterior(realizoumuitasdoaçõesno

período,porexemplo)doquerecebeu.AsegundapartedoBPmostraqueopaísatraicapi-

taldecurtoprazo(US$35bilhões)eéuminvestidorlíquidonoexterior(saldonegativode

US$25bilhões).OresultadodoBP,últimalinha,épositivoemUS$30bilhões,sinalizando

queopaísacumuloureservasinternacionaisnestemontantenoperíodo.

REFLEXÃO

Os registros do caso I apontam para uma Economia com uma posição folgada em termos das contas

externas, pois é capaz de gerar um saldo comercial expressivo e ainda atrair capital internacional. O saldo

positivo em transações correntes implica que esta Economia hipotética é uma credora internacional, ou

seja, é emprestadora de recursos a outras Economias.

OcasohipotéticoIIapresentaumaEconomiacomsaldo,emtransaçõescorrentes,relativa-

mentebaixo,comparadoaocasoI(US$6bilhões),porémacontaCapitaleFinanceiraapresen-

taexpressivosaldopositivo(US$50bilhões),poisaEconomiaatraitantocapitalderisco(Inves-

timentoDiretonomontantedeUS$25bilhões)comocapitaldecurtoprazo(US$24bilhões).

REFLEXÃO

Essa Economia exibe um resultado positivo de US$56 bilhões, aumentando o volume de reservas inter-

nacionais. Esta Economia é um caso intermediário em relação ao primeiro, pois acumula reservas interna-

cionais, mas às custas do capital de portfólio, isto é, de curto prazo, que pode deixar o país rapidamente,

podendo reverter a posição relativamente confortável do país.

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84 • capítulo 4

OcasohipotéticoIIIéodeumaEconomiaquenoperíodoregistrasaldocomercialne-

gativo(-US$10bilhões)e,mesmocomomaiorsaldoemtermosdeTransferênciasUnila-

teraisCorrentesemrelaçãoaosoutrosdoiscasos,temumsaldonegativoemtransações

correntes(-US$8bilhões).

REFLEXÃO

Nesse caso, a Economia deve financiar esse saldo com os movimentos financeiros da Conta Capital e Fi-

nanceira. Em comparação com o caso II, esta Economia atrai menos capital, relativamente, e assim, o saldo

do BP é negativo. Nesta situação, em que a saída de recursos externos no período foi superior à entrada,

a Economia deve desacumular reservas internacionais.

Tendovistoosdoisprincipaissistemascontábeisderegistrodeestatísticaseconômi-

cas,nossopróximopassoéintroduzirconceitosteóricosdeMacroeconomiaquepermitam

interpretarasinformaçõesestatísticasdisponíveis.

Os determinantes do nível de produto e emprego na Economia: conceitos de teoria macroeconômica — Parte 2

Acontabilidadenacional,assimcomoasdemaisestatísticaseconômicas,ofereceoinsumo

principalparaosespecialistasanalisaremumaEconomia.Porémasestatísticasagregadas

nãoexplicamcomoaEconomiasemovenocurtoprazo,apenasinformamsobreodesem-

penhodosagregados.Énecessáriorecorreràteoriamacroeconômicaparaentendermos

comovariamosagregadosmacroeconômicos.

Aprimeiraperguntaquefazemosé:oquedeterminaoníveldeproduto(PIB)esuavaria-

çãonocurtoprazo(ataxadecrescimentodoPIB,ouseja,flutuaçõesdecurtoprazo)?Ouseja,

porqueaEconomiaapresentaperíodosemquecrescemaiseoutrosemquecrescemenos?

Oqueocrescimentodoprodutotemavercomocrescimentodoemprego?Edainflação?

Crescimento no curto prazo: flutuações do PIB

AMacroeconomiasurge,nosanos1930,comoumramodaEconomiaapósaobraseminal

doeconomistainglêsJohnMaynardKeynes,Teoria Geral do Emprego do Juro e da Moeda,

comovistonocapítulo2.Nessaobra,KeynesapresentaoargumentodequeEconomiasde

mercadonãooperamnecessariamentenoseunívelmáximotodootempo,ouseja,podem

funcionardurantelargosperíodosdetempoemumaposiçãonaqualrecursosprodutivos

sãodeixadosociosos,dentreeles,amãodeobra.

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capítulo 4 • 85

REFLEXÃO

A partir desta constatação, Keynes observou que o comportamento da Economia, para ser bem entendido,

necessitava de um instrumental analítico distinto da teoria microeconômica, o que ele se propôs a desenvolver.

QuandoKeynesescreveusuaobramaior,odesempregonasEconomiasdesenvolvidas

eraelevadoepersistente,oquecolocavaumproblemasocialgrave,poisrecursosproduti-

vosociosossinalizamperdadebem-estarparaapopulação.Porqueumtrabalhador,dis-

postoatrabalharporqualquerremuneração,nãoencontraocupação?

REFLEXÃO

A explicação oferecida por Keynes para a persistência do desemprego, e que responde a pergunta inicial, é

que o produto gerado em uma Economia de mercado em um período de tempo é determinado pelos gastos

que os agentes econômicos estão dispostos a fazer.

Quandoempresascontratam,compraminsumos,contraemempréstimosjuntoaoban-

coparacapitalgiro,emsuma,iniciamoprocessodeprodução,ofazemcomumaexpectativa

deatenderaumademandaedeauferirumlucromonetário.Emgeral,asempresasacertam

emsuasexpectativas,maspodemtambémsedesapontar,poisoresultadoesperadodepende

demuitasvariáveis,quefogemaocontroledeumaempresaouagenteindividual.

ATENÇÃO

São os desencontros entre o que é esperado por agentes individuais e o que é realizado no agregado que

levam a flutuações no curto prazo na Economia.

Assim,KeynescolocouofocodaexplicaçãodadeterminaçãodomontantedoPIBede

suavariaçãonocurtoprazonademandaagregada.AdemandaagregadadaEconomiacor-

respondeaoPIBmedidopelaóticadadespesa.Comovimos,pelaóticadedespesaemcon-

tasnacionais,podemosescrever:

PIB

GASTOS CORRENTES (DAS FAMÍLIAS E DAS ADMINISTRAÇÕES PÚBLICAS COM CUSTEIO)

INVESTIMENTO (FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL PELAS EMPRESAS PÚBLICAS E PRIVADAS E ADMINISTRAÇÕES PÚBLICAS)

VENDAS PARA O EXTERIOR DE BENS E SERVIÇOS (EXPORTAÇÃO) MENOS AS COMPRAS DO EXTERIOR DE BENS E SERVIÇOS (IMPORTAÇÃO).

Aceitando-seessaexplicaçãosobreadeterminaçãodoPIBdeumaEconomia,apróxima

questãodeinteresseéconhecercomosecomportamoscomponentesdademandaagregada.

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86 • capítulo 4

REFLEXÃO

Lembre que este é o objeto de estudo da Macroeconomia — explicar flutuações de

curto prazo — e, ao se observar que nem sempre a Economia é capaz de ocupar seus

recursos produtivos permanentemente, cabe aos gestores de política econômica in-

tervir para promover ajustes que levem a um crescimento forte e sustentável, com

vistas a aumentar o bem-estar da população.

Vamosobservaroquadroaseguir,queapresentaadistribuiçãoem

percentualdosdadosdademandaagregada,segundoascontasnacio-

nais do Brasil para três anos. As informações exibem o quanto cada

componentedademandaagregadacontribuiuparaoPIB.

Brasil: Participação percentual dos componentes da demanda agregada no PIB (2010-2012)

Anos 2010 2011 2013

Consumo das Famílias 59.6 60.3 62.6

Consumo das Administrações

Públicas21.1 20.7 21.3

Formação Bruta de Capital 20.2 19.7 17.5

Exportações Líquidas (Exportações

menos Importações-1.0 -0.7 -1.4

PIB 100.0 100.0 100.0

Fonte: IBGE, Contas Trimestrais.

O Consumo das Famílias é sempre a parcela de maior peso da de-

mandaagregadadospaíses.NocasodoBrasil,noperíodoobservado,

esteveemtornode60%.Asexportaçõeslíquidasnoperíodo(penúltima

linha) tiveram uma contribuição negativa na formação da demanda

agregada,poisasimportaçõesforammaioresdoqueasexportações.

O peso desta parcela no PIB brasileiro não é muito alto (importa-

ções).OBrasil,comsuaextensãocontinental,temnomercadointerno,

emcontraposiçãoaomercadoexterno,suaprincipalfontededemanda

agregada.Istonãoquerdizerqueademandaexternanãosejaimportan-

te,poiscomovimosnaseçãosobreBalançodePagamentos,édosetor

externoqueopaísobtémrecursosemmoedaestrangeiraparahonrar

compromissosemmoedaexterna.Porém,nocasodoBrasil,nãoéade-

mandaexternaquepuxaocrescimentonamaiorpartedotempo.

OpercentualdasAdministraçõesPúblicaspermaneceurelativamen-

teestável,emtornode20%noperíodo.Porfim,aFormaçãoBrutade

Capital, que representa o investimento em acumulação de capital na

Economia,namédia,ficouabaixode20%.

Mesmo o Consumo das Famílias sendo o componente de maior

peso,nãoéelequemmaisexplicaasflutuaçõesdoPIBnocurtoprazo.

COMENTÁRIO

Consumo das Famílias

Em teoria, o consumo das famílias de-

pende, dentre outros fatores, da renda

disponível. Lembre-se que já vimos que,

pelas contas nacionais, a Poupança Bru-

ta é obtida subtraindo-se do agregado

RDB os gastos com consumo corrente

(Famílias e Administrações Públicas).

COMENTÁRIO

Administrações Públicas

O Consumo das Administrações Públi-

cas corresponde à produção de bens e

serviços que são disponibilizados para

a população pelo governo, como ser-

viços de educação, saúde, segurança

pública, defesa, justiça etc. Para dar

conta destas despesas, o governo ar-

recada impostos. Os impostos reduzem

a renda disponível das famílias e em-

presas para gasto.

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capítulo 4 • 87

AvariávelchavenestecasoéaFormação Bruta de Capital,associadaaoinvestimentoem

estoquedecapital.

ATENÇÃO

Esse componente da demanda agregada corresponde a um tipo de gasto que é mais sensível às expecta-

tivas dos agentes (firmas, bancos e instituições financeiras em geral, e o público), pois pode ser adiado ou

antecipado, de acordo com as perspectivas percebidas sobre o futuro desempenho da Economia. Esta ca-

racterística o difere dos gastos de consumo, por exemplo, que podem flutuar, mas tendem a ser mais rígidos.

O gráfico a seguir mostra como as variações do PIB de um ano para outro acompa-

nhamdepertoasvariaçõesnaFormaçãoBrutadeCapital.Maisdoqueisso,observeque

quandoaevoluçãodaFormaçãoBrutadeCapitalépositiva(acimadalinhadozero),a

variação do PIB é sempre positiva. O inverso nem sempre é verdadeiro, pois os outros

componentes podem segurar a variação positiva do PIB, quando a Formação Bruta de

Capitalficaabaixodalinhadozero.

Brasil: Taxa de variação do PIB e da Formação Bruta de Capital (FBC) – 1971-2012

PIB FBC

Fonte: IBGE, Contas Nacionais, Apud, Ipeadata.

REFLEXÃO

Na década de 1970, o PIB brasileiro cresceu muito, impulsionado pelo investimento. Compare com os

anos 2000, quando a variação da Formação Bruta de Capital apresenta resultados negativos (abaixo

de zero) em muitos anos, e a variação do PIB registra percentuais de crescimento mais baixos, com-

parativamente aos anos 1970.

Assim,asinformaçõesanterioresoferecemumapistaparaentenderocomportamento

dos componentes da demanda agregada: os gastos em consumo, apesar de serem os de

maiorpeso,nãosãoosquetendemaapresentarmaiorvariação.Oinvestimento,medido

pelaFormaçãoBrutadeCapital,porsuavez,conferedinamismoaoPIBnocurtoprazo.

RESUMO

Conclusão: como o investimento é sensível em relação às expectativas sobre oportunidades de lucro dos

investidores, se as perspectivas de crescimento da Economia são percebidas como boas, então as empre-

sas investem mais, os bancos disponibilizam mais crédito, o país atrai mais capital externo para investimen-

to, e mais emprego é criado, gerando o pagamento de mais salários, o que impacta, consequentemente

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88 • capítulo 4

em mais gastos de consumo. Enquanto a Economia mantiver o clima de otimismo, a

expansão do PIB se sucede a cada período. É o investimento que dá o impulso para

o crescimento, e o consumo propaga o impulso inicial pela Economia como um todo.

É possível que, em determinado momento, uma Economia com um

baixocrescimentoeociosidadederecursosprodutivosvenhaaterumim-

pulsoinicialparacrescer,provocadopeloaumentodoconsumo(porexem-

plo,umapolíticadecréditoaoconsumoataxasdejurosmaisbaixas,e/ou

umaumentodosaláriomínimomaisgeneroso)acimadoinvestimento.

Contudo,paraadinâmicadocrescimentosersustentávelaolongo

dotempo,emalgummomentonofuturopróximo,aformaçãodecapital

temdeseexpandirmaisparaatenderàdemandamaiorporconsumo.

EXEMPLO

Veja o exemplo da Economia brasileira depois da crise financeira internacional de

2008, quando em 2009, o PIB registrou queda de (-) 0,3% e em 2010, por força de

fortes incentivos do governo para a população gastar e o próprio governo expandir

seus gastos, a Economia cresceu 7,5%. No entanto, nos anos seguintes, como o

investimento não respondeu positivamente, as taxas de crescimento do PIB foram

pífias (2,7% em 2011; 0,9% em 2012%; 2,3% em 2013).

Observequeasexportaçõestambémtêmafunçãodeindutorado

crescimento.Issoporqueademandadorestodomundoporbense

serviçosproduzidosporumpaístambémcriaoportunidadesnovas

de expansão dos negócios, o que abre a perspectiva de criação de

novosempregos,geraçãodemaisrenda,econsequentementemais

consumo,eassimpordiante.

Resta comentar sobre os gastos de consumo das administrações

públicas.Osbenseserviçosofertadospelogoverno,pordefinição,não

sãoproduzidoscomoobjetivodeauferirlucro.Assim,benseserviços

públicosnãosãovendidosnomercado.Paracobrirasdespesascoma

produçãodosbenseserviçospúblicos,ogovernoarrecadaimpostosda

população.Dentrodalógicadademandaagregada,aatuaçãodogover-

noimplicadoismovimentosemsentidoscontrários.

REFLEXÃO

Quanto mais o governo gastar, ou seja, empregar trabalhadores, comprar insumos,

contratar serviços de terceiros, mais recursos estará injetando na Economia, e, as-

sim, produzindo um impulso para o PIB crescer. Quanto mais o governo arrecadar

de impostos, mais estará retirando do setor privado, e, se não destinar os recursos

arrecadados para gastos na mesma proporção, sua atuação estará sendo no sentido

de reduzir a demanda agregada.

COMENTÁRIO

Exportações

As exportações têm também a impor-

tante função de gerar divisas externas,

necessárias para cobrir os gastos com

importações e para saldar compromissos

em moeda externa, como já mencionado.

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capítulo 4 • 89

ArecomendaçãodaMacroeconomiakeynesianaédequeogoverno

administreseusgastosacompanhandooqueacontecenosetorprivado

daEconomia.SeaEconomiaestámuitoaquecida,crescendomuitorá-

pido,arecomendaçãoéqueogovernosejamaiscomedidoemsuasdes-

pesasparanãosuperaqueceraEconomia,que,comoveremosnoúltimo

itemdestecapítulo,temconsequênciassériassobreoníveldepreços.

Ovolumedearrecadaçãodeimpostosdeveaumentaremumacon-

junturadecrescimentorápido.SeaEconomiaestácomexcessodere-

cursosociosos,combaixocrescimento,ogovernodeveaumentarseus

gastosereduzirosimpostosparadarumimpulsoaocrescimento.

RESUMO

Em suma, a atuação do governo deve ser para contrabalançar, compensar tendências

de mercado no curto prazo. Acredita-se que suavizando as flutuações econômicas, o

governo estará contribuindo para aumentar o bem-estar da população (ver capítulo 5).

Ao introduzirmos a atuação do governo, devemos chamar a atenção

paraofatodequeagestãodascontaspúblicas,assimcomodamoedaeda

inflação,mexemcomasexpectativasdosinvestidores,e,portanto,éuma

áreasensíveldaadministraçãodapolíticaeconômica.Comojádissemos,o

investimento,parcelamaisimportanteaexplicaraflutuaçãodoPIB,émui-

tosensívelàsexpectativassobreofuturodesempenhodaEconomia.

Emprego e desemprego

A análise da Macroeconomia pela ótica da demanda agregada, como

explanadoacima,estabeleceumarelaçãoclaraentreageraçãodepro-

dutoerendaeacriaçãodeemprego.Oprodutoparacrescer,emalgum

momento,iráaumentarademandapormãodeobra.Ressaltamosoem

algum momento,poisoajustedoempregopassatambémpeloajustedas

horastrabalhadas.

Contudo,éclaroperceberqueháumlimitesuperiorparaoaumento

dashorastrabalhadas.

RESUMO

Assim, dado esse ajuste, o aumento do produto deve se manifestar em aumento de

emprego. Por sua vez, a queda no produto, dado um ajuste das horas trabalhadas,

deve se refletir em queda no emprego.

Feitaestaressalva,identificamosqueoproblemadodesempregona

Economiapodeserentendidocomoumproblemamacroeconômico,ou

seja,umproblemadeinsuficiênciadedemandaagregada.

COMENTÁRIO

Desemprego

Há uma vasta literatura que estuda o de-

semprego do ponto de vista microeconô-

mico, ou seja, no âmbito do mercado de

trabalho. Em Keynes, o mercado de tra-

balho não se equilibra como o mercado

de produto. Para uma discussão sobre o

equilíbrio em mercado de concorrência,

ver capítulo 3.

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90 • capítulo 4

Comosemedeodesemprego?Parasechegaraumamedidadede-

sempregoénecessáriocalcularprimeiroapopulaçãoemidadedetra-

balhar,ouseja,dototaldapopulaçãoexclui-sequemnãoestáemidade

deformaçãoescolarbásica (abaixode14anos,pelanovapesquisado

IBGE),osidosos,incapacitadosaotrabalhoetc.Desseconjuntoretira-se

aforçadetrabalho(FT).

Amedidadataxadedesemprego,outaxadedesocupação,éapro-

porçãodaspessoasquenãoestavamocupadas(masqueprocuraram

empregonosúltimos30diasemrelaçãoàdatadaentrevista)sobreo

totaldaFT.Agrossomodo,podemosafirmarqueapopulaçãoocupa-

dadáumamedidadademandaportrabalhoeaFT,umamedidada

ofertadetrabalho.

RESUMO

TAXA DE DESOCUPAÇÃO (%)(PESSOAS DESOCUPADAS/PESSOAS

NA FORÇA DE TRABALHO)*100

Aspesquisasempíricassobreocomportamentodomercadodetra-

balhoclassificamváriostiposdedesemprego,sendoataxadedesocu-

pação a de maior interesse, pois revela quantos estavam procurando

emprego em um determinado período e não encontraram colocação,

mesmoaceitandoumaremuneraçãomenor.

Observeque,aofalarmosemtaxadedesempregooudedesocupação,

nadadissemossobreaqualidadedoemprego,ouseja,secomousemcar-

teiraassinada,porexemplo,ouquantoaonúmerodehorastrabalhadas.

REFLEXÃO

Assim, um trabalhador que não seja formalizado, mas se declare trabalhando,

mesmo que poucas horas por semana, não é considerado desempregado, apesar

de estar em uma posição precária de trabalho e, possivelmente, com uma remu-

neração mais baixa do que um trabalhador formal (com carteira assinada), com

os direitos trabalhistas assegurados.

Aanálisedaevoluçãodataxadeocupaçãoedesocupaçãodevelevar

emcontatambémaevoluçãodaremuneraçãomédiadapopulaçãoem-

pregada.Considerequeataxadedesocupaçãoestejacaindoeaevolu-

çãodorendimentomédiodapopulaçãoempregadanãoestejasubindo

muito.Épossívelqueotipodeempregoqueestejaaumentandosejao

depiorqualidadeemtermosdeproteçãosocial.Outrasituaçãopodeser

adequeoaumentonoempregoestejaocorrendomaisentrejovens,que

porteremmenorexperiência,entramnomercadodetrabalhoreceben-

doumaremuneraçãomaisbaixa.

CONCEITO

Força de trabalho

Define-se como força de trabalho de

uma economia o contingente de pes-

soas em idade de trabalhar e disponível

para o trabalho. Da FT, então, calcula-se

quantos estão efetivamente trabalhando

em uma data (pessoas com ocupação —

PO) e quantos desejam trabalhar, mas

não encontram ocupação (pessoas de-

socupadas — PD). Até a reformulação

recente das pesquisas de emprego iden-

tificava-se força de trabalho como popu-

lação economicamente ativa (PEA).

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capítulo 4 • 91

NavisãodaMacroeconomia,osmovimentosnomercadodetraba-

lhoafetamosagregadosmacroeconômicosdeváriasmaneiras.Porum

lado,oníveldeempregoestáassociadoaumnívelderenda,queéim-

portanteparaexplicarocomportamentodoconsumodasfamílias,um

doscomponentesdademandaagregada.Logo,podemosdizerqueem-

pregogerarenda,quegerademandaagregada.Poroutrolado,onível

deempregotambémexplicaoquantodaforçadetrabalhoestásendo

ocupada,equantomaispertodaocupaçãoplena,maiordeveserapres-

sãoporaumentodesalários.

Umaconsequênciadoníveldeocupaçãoestarpertodolimitedople-

no emprego é que gera pressão de custo de produção. Desta forma, o

esgotamento da oferta de trabalho, se por um lado aquece a demanda

agregada,tambémcolocaumapressãosobreocrescimentodaEconomia,

que é a escassez de recursos no curto prazo. Em geral esta pressão se

transformaemaumentononíveldepreços,ouseja,inflação,nossoúlti-

motópiconestecapítulo.

O que determina os preços, sua variação, e sua relação com a moeda

Ainflaçãoédefinidacomosendoumaumentocontínuo,generalizado

edesigualdonívelgeraldepreços,ouseja,umaperdaprogressivado

poderdecompradamoeda(éesteosentidode imposto inflacionário).

EmumaEconomiacominflaçãoénecessáriocadavezmaismoedapara

secompraramesmaquantidadedebenseserviços.

Comoditonoiníciodaseção,nainflaçãooprocessodesubidade

preços não se verifica em todos os bens e serviços ao mesmo tempo

nemnamesmaproporção.Emdeterminadomomento,algunspreços

podemtersubido,masoutrosaindanão.Comisso,arelaçãoentreos

preços,queéafontedeinformaçãomaisrelevanteparaocálculoeco-

nômicoemumaEconomiademercado,ficacompletamentedistorcida.

Como saber que uma cadeira deve custar menos que uma mesa

feitadomesmomaterial,nomesmoperíodo,seopreçodacadeirati-

versubidoantesdopreçodamesa?Essadistorçãoatrapalhaocálculo

econômicodosagentes,interferindoemsuasdecisõessobreoquanto

produzir,oquantocobrarporumproduto,oquantoexigirderemune-

ração,oquantogastaretc.

ATENÇÃO

Mais problemáticas ainda são as decisões de investimento, que por envolver maior

planejamento, com um horizonte de tempo mais longo, podem ter o cálculo de viabi-

lidade econômica muito prejudicado.

COMENTÁRIO

Crescimento da Economia

Há muitas outras fontes de restrições

de crescimento no curto prazo. Uma

bastante importante, que não será trata-

da aqui, refere-se à restrição de Balanço

de Pagamentos.

COMENTÁRIO

Inflação

Ela se torna um problema não só prá-

tico, sentido por toda a população, que

vê, no dia a dia seu poder de compra

diminuir, mas também um problema te-

órico, na medida em que a teoria eco-

nômica entende que preços traduzem o

valor de troca entre os bens e serviços,

ou seja, os valores relativos das merca-

dorias e serviços.

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92 • capítulo 4

Enfim, a inflação persistente é um problema grave em Economias

demercado,enamedidaemquecorróiopoderdecompradaspessoas,

impõecustos sociaiselevados,principalmenteàpopulaçãomaiscaren-

te.Nãoraro,quandoainflaçãoatingepatamaresmuitoelevadosenão

retrocede,umperíododeconvulsãosocialpodeeclodir.Ahistóriaeco-

nômicaregistravárioscasos.

O que é moeda, as funções da moeda, moeda e inflação

Comoainflaçãoéumfenômenomonetário,éimportanteesclarecero

queéamoedaequaisassuasfunções.Define-semoedacomoqualquer

coisaaceitageneralizadamenteparaintermediarastrocas.

A moeda cumpre, basicamente, três funções: unidade de medi-

da(oudeconta),meiodetroca(oudepagamento)ereservadevalor.

Como unidade de medida, a moeda, sendo um referencial comum

paraoestabelecimentodovalordosbenseserviços,permiteaavalia-

ção do valor relativo de uns em relação aos outros (preços relativos).

Comomeioouintermediáriodetrocas,amoedaéumfacilitadorpara

astrocas.Porfim,comoreservadevalor,amoeda,aosepararaope-

raçãodevendadaoperaçãodecompra,dáaoseudetentorumdireito

sobreapossefuturadebenseserviços.

REFLEXÃO

Em processos inflacionários crônicos, os agentes procuram se livrar rapidamente da

posse da moeda, exatamente porque ela deixa de cumprir, inicialmente, as funções

de reserva de valor e de unidade de conta; em casos mais graves, de meio de troca.

Emhiperinflação,quandoháfugadamoeda,oregistrohistóricoéo

dequeosagenteseconômicospassamausaroutramoeda,sejaparade-

nominarovalordosbenseserviçosouparafazertransações;outrocam,

imediatamente,moedapormercadoriaouporoutramoeda(estrangei-

raouindexada),comoformaderetervalor.

A teoria mais antiga sobre a causa da inflação atribui a alta con-

tínuadepreçosaumexcessodemoedaemcirculaçãonaEconomia.

Esta teoria é conhecida como teoria quantitativa da moeda — TQM

(vertambémcapítulo5),etemsuaorigemmaisformalizadadesenvol-

vidanoséculoXVIII.

Oqueateoriaestabeleceéque,paraaexpansãodamoedadepaga-

mentosseracausadainflação,supõe-sequeaEconomiaestáproduzin-

donoseulimitemáximo,ouseja,ageraçãodoPIBimpõeousodeto-

dososrecursosprodutivosdisponíveis(oualgopróximoaisso).Seisso

éverdade,entãoumaumentodemoedaemcirculação,queéatribuição

dogoverno,deveserdestinadoàcompradebenseserviços(aumentoda

COMENTÁRIO

Moeda

Define-se moeda como qualquer coisa

aceita generalizadamente para interme-

diar as trocas. A moeda é uma conven-

ção social, ou seja, aceita-se moeda em

troca do que se produz porque se acre-

dita que os demais membros da socie-

dade a aceitarão também em troca dos

seus bens e serviços.

CONCEITO

Teoria quantitativa da moeda

A TQM estabelece uma relação entre o

lado monetário da Economia (poder de

compra) e o lado real da Economia (dis-

ponibilidade de bens e serviços). Trata-

se de uma equivalência entre o fluxo de

bens e serviços produzidos em um de-

terminado período de tempo (PIB a pre-

ços de mercado) e o montante de recur-

sos monetários disponível (quantidade

de moeda em circulação na Economia).

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capítulo 4 • 93

demandaagregada),que,naimpossibilidadedeserexpandidanocurto

prazo,provocaaltanospreços.

Uma decorrência lógica do raciocínio anterior é que a expansão

monetárianãotemnenhumainfluênciasobreoníveldeprodutoem

volumedaEconomia(PIBapreçosconstantes).Seoaumentonaoferta

demoedalevasseaumaumentoproporcionaldoPIBemvolume,não

haveriainflação,supondoqueospreçospodemseajustarlivremente.

Sóhaveráinflaçãoseoaumentodademandaagregada,oriundodeum

aumentonaquantidadedemoedaemcirculação,prevalecersobreo

aumentodoproduto.

Ocontroledaquantidadedemoedaemcirculaçãoéresponsabilidade

dogoverno,atravésdesuasinstituições,sendoamaisimportanteoBanco

Central.OBancoCentraldispõedediversosinstrumentosdepolíticamo-

netáriaparainjetareretirarmoedadecirculação(vercapítulo5).

REFLEXÃO

Aqui vale uma menção ao que já foi dito no item de equilíbrio fiscal: como o governo

pode se endividar junto ao público e é também emissor de moeda, é importante

que seu endividamento não provoque pressão inflacionária (emitir moeda para cobrir

despesas públicas). Neste sentido, o endividamento deve ser financiado através da

emissão de títulos da dívida pública.

Seaúnicaconsequênciadoaumentodaofertademoedaforaeleva-

çãodospreços,nãohavendonenhumefeitosobreoladorealdaEcono-

mia(produçãodebenseserviços),diz-sequeamoedaéneutra.

Entretanto,sesupusermosqueaEconomiapodefuncionarcom

recursosociosos,comoéahipótesedeKeynes,osefeitosdeumaex-

pansãodamoedanaEconomiapodemterimpactonoladoproduti-

vo,poispodedinamizarademandaagregada,que,comovimos,pro-

moveacontrataçãodemãodeobrae,consequentemente,aumentaa

ofertadebenseserviços.

Indo mais além, Keynes viu também que os agentes econômicos,

para se defenderem em relação ao futuro desconhecido, podem reter

moeda(enãogastá-la),oquereduzademandaagregadadaEconomia.

EstapossibilidadeampliamuitoosefeitosdamoedasobreaEconomia,

enestecasoelaéconsideradanãoneutra.

RESUMO

Em resumo, deve ficar claro que a inflação é um fenômeno monetário. Aumentos

na oferta de moeda acabam por elevar os preços. Porém, a oferta de moeda é

causa ou consequência da inflação? Não há consenso sobre este ponto entre os

economistas. Entretanto, em relação aos efeitos da inflação, o entendimento hoje

entre analistas econômicos é que há também sobre o lado real da Economia, ou

COMENTÁRIO

Moeda é neutra

Nesse caso, a moeda teria apenas a fun-

ção de facilitar as trocas e de servir para

se fixarem os preços em uma unidade

comum de valor. Esta hipótese é asso-

ciada à escola de pensamento macroe-

conômico conhecida como monetarista,

e tem em Milton Friedman seu maior ex-

poente, como visto no capítulo 2.

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94 • capítulo 4

seja, o aumento da oferta de moeda pode estimular a atividade econômica, podendo provocar ao mesmo

tempo, crescimento e inflação.

Inflação ou desemprego: o dilema de Economias modernas

Asrelaçõesentreataxadecrescimentodospreçoseataxadeocupaçãodemãodeobra

(queserelacionacomoníveldeatividadedaEconomia,ouseja,comoníveldeproduto,

conformemencionadonoiníciodoitemsobreempregoedesemprego)sempreforamob-

jetodemuitadiscussão,issoporquenemsempresãoconciliáveisosobjetivosdecontrole

inflacionárioemanutençãodeelevadoníveldeemprego.

Nadécadade1950,emumtrabalhoempíricodesenvolvidoparaverificarasrelações

historicamenteobserváveisentretaxadedesempregoetaxadeinflação,naInglaterra,ob-

servou-seoqueficouposteriormentedenominadodeCurva de Phillips,ouseja,umarela-

çãoinversaentretaxadeinflaçãoetaxadedesemprego.

Issosignificaquetaxasmaisaltasdeinflaçãoestavamassociadasataxasmenoresde

desemprego,etaxasmaisbaixasdeinflação,amaiorvolumededesemprego.Muitasinter-

pretaçõesforamapresentadasparaexplicaressefenômeno.

Umainterpretação,ligadaaosmonetaristas,colocaênfasenapressãodedemandaque

aumentos salariais impõem no curto prazo. Na inflação de demanda, os preços sobem

quandoopoderdecompra(demanda)émaiordoqueadisponibilidadedebenseserviços.

REFLEXÃO

Fatores que podem fazer aumentar a demanda agregada incluem excesso de moeda em circulação, re-

dução de impostos, aumento de gastos públicos e aumento de empréstimos aos consumidores. A proba-

bilidade de inflação de demanda aumenta quanto mais próxima do pleno emprego a Economia estiver,

porque não se pode aumentar substancialmente a oferta de bens e serviços a curto prazo.

Umainterpretaçãomaisligadaàescolakeynesianacolocaênfasenaspressõesdosdi-

versostiposdecustosdeprodução,dentreeles,ocustodosalário.Assim,nocasodainfla-

çãodecusto,ospreçossobempelosseguintesmotivos:aumentossalariaisacimadaprodu-

tividade,resultantesdeescassezdemãodeobraoupressãodesindicatosfortes,aumento

decustodasmatérias-primas(encarecimentodasimportaçõesemrazãodadesvalorização

damoedaouumaumentonospreçosdascommodities)etc.

REFLEXÃO

A inflação de custos tem como causas as condições de oferta de bens e serviços na Economia, ou seja,

o nível de demanda permanece o mesmo, mas os custos de certos insumos importantes aumentam e eles

são repassados aos preços dos produtos.

Vemosassimqueoprocessoinflacionário,independentedesuaorigem,resultaem

umconflito distributivo,ouseja,resultadepressõesdosváriosgruposdeagenteseco-

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capítulo 4 • 95

nômicosatuandonaEconomiaparagarantirseupoderdecompra.Aquelesgruposque,

porsuainserçãonaestruturaprodutiva,têmmaiorpoderdebarganha,conseguemga-

rantir um poder de compra em termos de bens e serviços maior do que aqueles com

menorpoderdebarganha.

EXEMPLO

Veja, por exemplo, o caso de uma empresa que seja a única fornecedora de um produto essencial. O seu

poder de mercado lhe permite reajustar o preço de seu produto acima dos seus custos de produção, por

exemplo, e com isso ela consegue auferir uma margem de lucro maior. O mesmo ocorre com categorias de

trabalhadores mais bem organizadas do que outras, só para citar poucos exemplos.

Napráticasereconhecequemúltiplascausasatuamaomesmotempoparageraropro-

cessoinflacionáriodaEconomiaacadamomento.

Como medir a inflação

Comomencionadonaparteumdestecapítulo,seexisteinflação,precisa-sefazeruma

distinção fundamental entre valores nominais (ou a preços correntes) e valores reais

(ouapreçosconstantes).Issoporque,paraseacompanharestatísticaseconômicasao

longodotempo,éimportantedistinguirosefeitosdainflaçãoeasmudançasnonível

realdaatividadeeconômica.

Valores a preços de mercado, ou preços correntes, ou ainda na denominação preços

nominais,incluemoefeitodainflação.Estatísticasemvolume,preçosconstantesouainda

nadenominaçãodepreçosreais,excluemasinfluênciasinflacionárias.Comoissoéfeito?

ATENÇÃO

A prática de deflacionamento, ou seja, excluir a variação de preços, implica se dispor de um índice de

preços que permita se descontar a variação dos preços da estatística em valores correntes. Os índices de

preço mais utilizados pelos países são os índices de preço ao consumidor. No Brasil, a inflação oficial é

medida pelo IPCA — Índice de Preço ao Consumidor Ampliado, divulgado mensalmente pelo IBGE.

Muitosucintamente,pode-sedescreverumíndicedepreçoaoconsumidorcomosendo

umíndicequerevelaaevoluçãomédiadepreçosdeumconjuntodebenstípicosdecon-

sumodeumafamíliarepresentativadeumalocalidade.Parasechegaràconstruçãodesse

índice,muitasetapasdevemserpercorridas.

Inicialmente,énecessárioumlevantamentoperiódicojuntoàsfamíliasparasecoletar

informaçãosobresuacestadeconsumo;emseguida,investigam-seoslocaisdecomprae,

porfim,procede-seaolevantamentomensaldospreçosdosbensdacestadeconsumonos

locaisdeconsumoselecionados.

Parafinalizarestecapítulo,selecionamosumaleituraeumaprovocaçãoaofinal,para

vocêaplicaralgunsdosconhecimentosobtidosaqui.

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96 • capítulo 4

ATIVIDADE

Como calcular a sua inflação

Cada pessoa pode calcular sua própria inflação comparando o quanto os preços de sua cesta de consumo

variam, em média, ao longo do tempo. O primeiro passo é listar os gastos com todos os bens e serviços

consumidos (especificando as quantidades) em um período de tempo de referência. Some o que foi gasto

neste período e calcule a participação percentual de cada item no total de gastos. Assim, obtém-se o peso

de cada item de consumo que representa a sua importância relativa em relação aos demais. A cada mês,

acompanhe como tem variado o gasto (supondo a mesma quantidade consumida) de cada item. Por exem-

plo, suponha que seus gastos se dividam em aluguel (50% das despesas), alimentação (30%) e despesas

diversas (20%). Suponha agora que o aluguel aumente 10% e os itens de alimentação também aumentem

10%. O que pesa mais no seu bolso? Claro que é o item de aluguel, pois é o de maior peso. De quanto

aumentou sua inflação, supondo que o item de despesas diversas não sofreu aumento? Basta multiplicar a

variação de preço de cada item pelo peso correspondente e somar: 0.5*0.1+0.1*0.1+0.1*0=0.06, ou 6%.

Compare esse resultado com o aumento da sua renda e avalie se você está tendo ganho ou perda

de poder de compra em relação ao período de referência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FEIJO; RAMOS (org). Contabilidade social: a nova referência das contas nacionais do Brasil, 4ª ed. São Paulo:

Campus-Elsevier, s/d.

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5 Políticas Macroeconômicas

fernando carlos lima

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98 • capítulo 5

5 Políticas Macroeconômicas

Política macroeconômica: definição e objetivos

Políticas macroeconômicas são medidas adotadas pelo governo com

oobjetivodeatingirdeterminadasmetasconjunturais,relacionadasa

agregadosmacroeconômicoscomoarendanacional,taxadeinflação,

níveldedesemprego,balançodepagamentos,entreoutros.

Osmeiosutilizadosparaatingirtaisobjetivossão,principalmente,

alteraçõesemvariáveismacroeconômicas,comotaxadejuros(política

monetária),taxadecâmbio(políticacambial)egastospúblicos(política

fiscal).Atravésdessasalterações,asautoridadesesperamreduzirasflu-

tuaçõescíclicasquesãotípicasdaseconomiascapitalistas.

REFLEXÃO

Nesse sentido, as políticas macroeconômicas analisadas neste capítulo são distintas

das políticas econômicas de caráter setorial (política industrial, política agrícola, po-

lítica salarial etc.) e daquelas de caráter regional, cujos horizontes temporais são de

prazo mais longo, como você verá no Capítulo 6.

Oseconomistasacreditamque,quandoaEconomiaestácrescendo

ataxasconsideradasexcessivamenteelevadas,crescemaspressõesin-

flacionárias,entreoutrasrazões,porqueaumentaoníveldeemprego,

como explica a curva de Philips (Cap.4); nesses momentos, o governo

adotapolíticasmacroeconômicascontracionistas.

Por outro lado, quando a Economia encontra-se em recessão, ou

mesmocomritmodecrescimentoabaixodaqueleconsideradoadequa-

do — e, portanto, quando o nível de emprego cai —, o governo adota

políticasmacroeconômicasexpansionistas.

Destacaremostrêstiposdepolíticamacroeconômicaadotadosem

economiascomoabrasileira:políticamonetária,políticacambialepo-

líticafiscal.Emcadaumadelasdoisaspectosserãorealçados:

ATENÇÃO

Aspecto 1 – A impossibilidade de atingir todos os objetivos finais ao mesmo tempo

De fato, os objetivos podem ser contraditórios. Talvez o exemplo mais discutido no

Brasil seja o da determinação da taxa de juros: a autoridade monetária eleva a taxa

COMENTÁRIO

Objetivo

Os objetivos finais das políticas ma-

croeconômicas incluem a obtenção de

taxas de crescimento econômico ele-

vadas, baixas taxas de inflação, baixo

nível de desemprego, balanço de pa-

gamento equilibrado, contas públicas

equilibradas etc.

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capítulo 5 • 99

de juros quando entende que deve conter pressões inflacionárias; por outro lado, quando reduz a taxa de

juros, alguns analistas econômicos apontam para o impacto positivo da medida em termos de crescimento

da Economia e melhoria do nível de emprego, enquanto outros economistas mostram preocupação com o

futuro comportamento da inflação.

Portanto,emlinhasgerais,oseconomistasconcordamcomaideiadequeumaelevação

dataxadejurosajudanocombateàinflação,masrepresentaumentraveaocrescimento

econômicoevice-versa.Comoveremosnestecapítulo,omesmotipodediscussãoseaplica

amudançasnataxadecâmbioenosgastosdogoverno.

ATENÇÃO

Aspecto 2 – Interdependência entre as políticas macroeconômicas em razão dos efeitos de um tipo de política sobre mais de uma variável

Um caso clássico é o da escolha de regime cambial e a política monetária adotada pelo Banco Central

(BC). Por exemplo, a opção por um regime de taxa de câmbio fixo semelhante ao adotado no Brasil, duran-

te a primeira fase do Plano Real (1994-1998), significa atrelar a política monetária — isto é, as decisões

quanto à determinação da taxa de juros básica — ao comportamento do mercado de câmbio, como será

explicado mais adiante neste capítulo.

Política monetária: definição e objetivos

Políticamonetáriaéoconjuntodemedidasquepodemseradotadaspelasautoridades

monetárias (geralmente, o Banco Central) com objetivo imediato de controlar a oferta

demoeda,dealterarataxadejurospraticadanomercadofinanceiroederestringirou

expandirocréditobancário.

ATENÇÃO

O aumento da oferta de moeda, a redução da taxa de juros e a expansão do crédito, que geralmente

ocorrem concomitantemente, representam um aumento da liquidez, ou seja, uma política monetária expan-

sionista. Por outro lado, o aperto de liquidez ocorre quando o Banco Central atua no sentido de reduzir a

oferta de moeda, elevar a taxa de juros e restringir o acesso ao crédito bancário, significando uma política

monetária contracionista.

Essasmedidasvisamatingiremparticulardoisobjetivosúltimos:crescimentoeconô-

micomaisaceleradoetaxadeinflaçãomaisbaixa.Entretanto,comomencionadoanterior-

mente,considera-sequetaisobjetivossejamconflitantes,ouseja,queapolíticamonetária

devaserorientadanosentidodeobtermaiorcrescimentooumenortaxadeinflação,de

acordocomasoscilaçõesdaconjunturaeconômica.

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100 • capítulo 5

Metas intermediárias

Diferentescorrentesdeeconomistastêmdiscutidoamaneiracomoo

comportamentodaofertademoeda,dataxadejurosedaofertadecré-

ditobancário,ouseja,oschamadosmecanismosdetransmissãodapo-

líticamonetária,afetaaatividadeeconômica.

Caso considere que o mecanismo de transmissão seja a oferta de

moeda,oBancoCentraldeveestabelecermetasdecontroledaquanti-

dadedemoedaofertada.Casoconsiderequesejaocréditobancário,o

BancoCentralpodetentarinfluenciaraatividadedosbancosatravésda

administraçãodopreçodamoeda,istoé,dataxadejuros.

Meta intermediária (I): moeda

A importância do conceito de oferta de moeda está associada à capa-

cidade de consumo que representa: quanto mais dinheiro possuímos,

maiorénossacapacidadedeadquirirbenseserviços.

Vimos no capítulo anterior que a Teoria Quantitativa da Moeda

(TQM)prevêqueumaumentodaofertademoedaacarretaumaumento

donívelgeraldepreços,ouseja,dainflação.Aformulaçãomaistradi-

cionaldaTQMé:

FÓRMULA

MV = PQ

M é quantidade de moeda

V é a velocidade de circulação da moeda (o número de vezes que a moeda

troca de mãos)

P é o nível geral de preços

Q a quantidade de bens e serviços transacionados

SegundoaTQM,adotadapeloseconomistasmonetaristas,seosal-

dodemeiosdepagamentoaumentaeaquantidadedebenseserviços

disponíveis na Economia permanece constante, os preços dos bens e

serviçostendemaaumentar,gerando,portanto,inflação.Ainda,quanto

maiorocrescimentodaofertadamoeda,maiorainflação,jáque,segun-

doosmonetaristas,aofertadebenseserviçosnãopodecrescernocurto

prazo.Segue-sequeaúnicaformadedebelarainflaçãoseriarestringir

oaumentodaofertademoeda,sendoesteopapelmaisimportanteque

devedesempenharoBancoCentral.

REFLEXÃO

Outra maneira de interpretar o mecanismo pelo qual um aumento da oferta de mo-

eda é transmitido aos preços é a seguinte: mais moeda em circulação implica maior

COMENTÁRIO

Mecanismos de transmissão

Os dois mecanismos de transmissão

tradicionalmente mais mencionados

na literatura são o da moeda e o do

crédito bancário.

COMENTÁRIO

Teoria Quantitativa da Moeda

A TQM considera que V e Q sejam

estáveis e que as variações em M de-

terminam as variações, na mesma pro-

porção, de P.

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capítulo 5 • 101

liquidez, ou seja, a moeda é mais facilmente negociada. Com isso, o preço da mo-

eda, que é a taxa de juros, se reduz. A menor taxa de juros induz os empresários

a aumentarem os investimentos produtivos e a contratarem mais mão de obra; os

consumidores aumentarão suas compras, porque haverá menor incentivo a manter o

dinheiro em aplicações financeiras etc.

Tudoissofaráaumentarademandaagregadae,supondoqueaoferta

debenseserviçosnãoaumentedeimediato,ospreçostenderãoasubir.

Oesquemaaseguirmostraoefeitodeumapolíticamonetáriaexpansiva.

Assim, se considera que o

mecanismo de transmissão é

a moeda, a autoridade mone-

táriatemcomometainterme-

diária o controle da oferta de

moeda. Em outras palavras,

se a inflação é causada pelo

aumento da oferta de moeda,

a política monetária deve ser

exercidaatravésdocontroleda

ofertademoeda.

Um dos problemas apontados pelos economistas críticos da visão

monetaristaécomosedevemensurarofertademoeda,queéavariável

asercontrolada.Entretanto,oferta de moedaéumconceitocontroverso.

Comoépossívelmensurarmoeda?

ATENÇÃO

Tradicionalmente, a oferta de moeda está associada ao conceito mais restrito de

meios de pagamento (M1), que é composto pelo saldo de papel-moeda em poder do

público, emitido pelo Banco Central, mais o saldo dos depósitos à vista (ou depósitos

em conta-corrente) emitidos pelos bancos comerciais. Estes seriam os dois ativos

financeiros que possuem maior liquidez e são aceitos, legalmente, em pagamentos.

ParaentendercomooBancoCentralexercecontrolesobreaoferta

demoeda—definidacomoM1—éprecisodistinguir,inicialmente,ou-

traformademoeda.AmoedaemitidadiretamentepeloBancoCentral

é chamada de base monetária (M0), que é constituída pelo somatório

dopapel-moedaemitido—quefazpartedoconceitodeM1—edasre-

servasbancárias,quesãoumaespéciedeconta-correntequeosbancos

mantêm,atémesmoporobrigaçãolegal,noBancoCentral.

FÓRMULA

M0 = papel-moeda em poder do público + reservas bancárias

M1 = papel-moeda emitido + depósitos à vista

COMENTÁRIO

Controle de oferta da moeda

Milton Friedman propunha que um

determinado percentual de aumento

anual da oferta de moeda deveria ser

matéria constitucional.

COMENTÁRIO

Papel-moeda emitido

A diferença, portanto, entre M1 e base

monetária é que M1 inclui o saldo dos

depósitos à vista, enquanto a base

monetária inclui o saldo das reservas

bancárias. O Banco Central só é capaz

de controlar diretamente as reservas

bancárias, já que é ele quem as emite;

mas só controla indiretamente os de-

pósitos à vista. Como veremos a seguir,

este controle de M1 é feito através das

variações nas reservas bancárias.

AUMENTO DA OFERTA DE MOEDA

REDUÇÃO DA TAXA DE JUROS

AUMENTO DO INVESTIMENTO E DO CONSUMO

MAIOR DEMANDA AGREGADA

AUMENTO DO NÍVEL GERAL DE PREÇOS

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102 • capítulo 5

Antes,porém,valerealçarofatodequeopapel-moeda(asnotasde

real e as moedinhas que usamos no dia a dia) é emitido apenas para

atender nossas necessidades de pagamentos, geralmente, de pequeno

valor,eessaemissãonãotemqualquerimportânciaparaapolíticamo-

netária, já que depende inteiramente da demanda por papel-moeda:

nãoseconcebequeaspessoastenhamestedireitonegadonocaixados

bancos,poissetalfatoocorressehaveriaumacrisefinanceira.

Atabelaaseguirmostraqueosaldodopapel-moedaemitidotemse

expandidotodososanos,oquesejustificapelacrescentedemandado

públicoporpapel-moedaemtermosabsolutos.

Brasil: Base Monetária. Saldos em final do período (R$ bilhões)

PeríodoPapel-moeda

emitidoReservas bancárias

Total

2009 131,9 34,2 166,1

2010 151,1 55,7 206,8

2011 162,8 51,5 214,3

2012 187,4 45,9 233,4

Fonte: Banco Central do Brasil

AformacomooBancoCentraltentacontrolaraofertademoedaé

através do controle das reservas bancárias, cujo saldo varia ano a ano

(comovocêobservanatabela).OBancoCentralaumentaaofertadere-

servasbancáriascreditandonacontadosbancosovalorcorresponden-

tedoativoqueadquiriudosbancos.

EXEMPLO

Por exemplo, quando compra dólares que estejam em poder de um banco, o Banco

Central deposita o equivalente em reais na conta reserva bancária deste banco. Nes-

se sentido, é um mecanismo semelhante ao utilizado pelos bancos ao concederem

empréstimos a seus clientes: o banco deposita o dinheiro emprestado na conta-cor-

rente do cliente. Por outro lado, quando quer reduzir o montante de reservas bancá-

rias disponível para os bancos, o BC vende um ativo (dólares, títulos do governo etc.)

para os bancos, que pagam ao BC sacando sobre sua conta de reservas bancárias.

Aoprovocarumaumentoouumareduçãodasreservasbancárias,o

BancoCentralesperaaumentaroureduziromontantededepósitosà

vistanosbancos. Istoporqueosbancospodem multiplicar,naforma

dedepósitosàvista,amoedacriadapeloBancoCentral—ouseja,as

reservasbancárias.

SuponhamosqueoBancoCentralaumenteaofertadereservasban-

cáriasdosbancos,porexemplo,aocomprartítulospúblicosqueeste-

jamempoderdessesbancos.Osbancospodememprestarpartedessas

COMENTÁRIO

Necessidades de pagamentos

A tendência é que, com o uso cres-

cente de cartões de crédito e de débi-

to em operações de pequeno valor, o

uso de papel-moeda seja gradualmen-

te reduzido.

COMENTÁRIO

Multiplicar

Esse mecanismo é chamado de multipli-

cador de moeda bancária, que parte do

princípio de que apenas parte dos depó-

sitos à vista é sacada na forma de papel-

moeda pelos correntistas dos bancos.

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capítulo 5 • 103

reservas a seus clientes. Ao fazê-lo, os bancos criam depósitos à vista.

Qualaproporçãodasreservasbancáriasqueosbancosirãoemprestar?

EXEMPLO

Vamos novamente supor que os bancos, por conta própria ou por decisão do Ban-

co Central, decidam manter 20% do saldo em conta-corrente de seus clientes (ou

seja, dos depósitos à vista) em seu caixa (ou seja, como reserva bancária). Se agora

eles têm mais 100 unidades monetárias nas suas reservas (o que pode ocorrer,

por exemplo, quando o Banco Central compra dólares que estejam em poder dos

bancos), eles podem emprestar um total de 500 unidades monetárias a mais, o que

fazem depositando esta quantia na conta-corrente dos tomadores de empréstimo.

RESUMO

Dessa forma, os bancos estarão emitindo 500 em depósitos à vista, mas mantendo

100 em reservas (20% dos depósitos à vista são mantidos em suas reservas), ou

seja, os bancos terão multiplicado as reservas bancárias por 5 ao criarem 500 uni-

dades monetárias na forma de depósito à vista.

Esse mecanismo do multiplicador bancário ajuda a entender um

dosinstrumentosdepolíticamonetáriaàdisposiçãodoBancoCentral,

queéodepósitocompulsório.

Umdosprincipaisproblemasdeusarocontroledaofertademoe-

dacomometa intermediáriadepolíticamonetáriaéque,nasúltimas

décadas,osbancos criaramdiversas formasdecaptação derecursos

alternativas ao depósito à vista, como os fundos de investimento de

curtoprazo,depósitosdepoupança,depósitosaprazoetc.,depósitos

estesquepossuíamliquidezsemelhanteàdosdepósitosemconta-cor-

rente.Comisso,emtodosospaísesquepossuemumsistemafinancei-

rodesenvolvido,comoéocasodoBrasil,aparticipaçãodeM1nototal

dosmeiosdepagamentodiminuiu.

REFLEXÃO

Essa talvez seja uma das principais razões que expliquem o fato de os bancos cen-

trais não mais estabelecerem metas de expansão monetária como faziam nas déca-

das de 1970 e 1980. Desde então, estudos elaborados por diversos bancos centrais

e economistas acadêmicos mostravam que não havia relação entre o aumento da

oferta de moeda (M1) e o comportamento da inflação.

Defato,noBrasil,acadernetadepoupançaéumexemplodeativo

financeirocomgraudeliquidezquaseigualàdosdepósitosemconta-

corrente.Omesmosepodedizerdosrecursosaplicadosemfundosde

COMENTÁRIO

Depósito compulsório

Ainda no mesmo exemplo, se o Banco

Central determina, por exemplo, que

os bancos devam manter em reserva

bancária o equivalente a 50% dos de-

pósitos à vista de seus clientes, eles

só poderão emprestar 200 unidades

monetárias e, portanto, só poderão

emitir 200 unidades monetárias adi-

cionais de depósitos à vista para seus

clientes a partir da um aumento de

100 unidades monetárias de suas re-

servas bancárias. Neste caso o multi-

plicador bancário é igual a 2.

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104 • capítulo 5

investimento:aqualquermomento,essesrecursospodemsersacadose

transferidosparaosdepósitosàvista.

Assim,seoBancoCentraldesejassecontrolaraoferta de moeda,ele

teriadesercapazdecontrolartambémosdepósitosdepoupança,osal-

dodasaplicaçõesemfundosdeinvestimentoetc.Eissonenhumbanco

central é capaz de fazer, direta ou indiretamente, assim como não há

evidências de que o comportamento desses outros componentes dos

meiosdepagamentotenharelaçãocomasvariaçõesdeM1.

AtabelaaseguirregistradiferentesmaneirascomooBancoCentral

doBrasilcontabilizaosaldodosmeiosdepagamento,ouseja,aoferta

demoeda.AtabelarevelaqueosaldodeM1,sobreoqualoBancoCen-

tral temalgumcontrole,émenosdeumdécimodototaldemeiosde

pagamentoemumsentidomaisamplo(M4),equeasoutrasformasde

moedatêmaumentadomaisrapidamentequeotradicionalM1.

Brasil: Haveres Financeiros. Saldos em final do período (R$ bilhões)

Período M1 M2 M3 M4

2009 248,1 1164,9 2203,8 2602,3

2010 280,1 1347,3 2535,9 3055,3

2011 285,4 1617,5 3030,3 3550,2

2012 324,5 1763,9 3518,2 4103,2

M2 = M1 + Depósitos de poupança e depósitos a prazo

M3 = M2 + Quotas de fundos de investimento

M4 = M3 + Títulos públicos

Fonte: Banco Central do Brasil

Emresumo,aofertademoedaéumavariávelextremamentedi-

fícildecontrolar(quandonãoimpossível).Portanto,desdeadécada

de1990,osbancoscentraisabandonaramocontroledaquantidade

demoedaemcirculaçãoepassaramacontrolaropreçodamoeda,ou

seja,ataxadejuros.Aindanessecaso,comoveremosaseguir,ataxa

dejurossobreaqualoBancoCentralteminfluênciadiretaéapenas

ataxadejurosdomercadodamoedaqueele,BancoCentral,emite,

quesãoasreservasbancárias.

Meta intermediária (II): taxa de juros

Desdemeadosdosanos1980,osbancoscentraisdeixaramdeestabele-

cermetasdeofertademoeda,epassaramausarasvariaçõesdataxade

jurosdecurtoprazocomoprincipalmeiodeexercerinfluênciasobreo

ritmodaatividadeeconômicae,consequentemente,sobreocomporta-

mentodataxadeinflação.

COMENTÁRIO

Taxa de juros de curto prazo

A taxa de juros que pode ser adminis-

trada diretamente pelo Banco Central

é a taxa de juros praticada no mercado

de reservas bancárias — a taxa de juros

básica. Como vimos anteriormente, as

reservas bancárias são depósitos que

os bancos mantêm no Banco Central.

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capítulo 5 • 105

RESUMO

As reservas bancárias são, na prática, a moeda utilizada pelos bancos quando fazem

negócios entre eles. Suponhamos dois bancos, Banco A e Banco B. Quando o clien-

te do Banco A deposita no seu banco o cheque de um cliente do Banco B, o Banco

B transfere ao Banco A o equivalente em reservas bancárias. Reservas bancárias

são também a moeda usada pelos bancos comerciais nas suas transações com o

Banco Central. Por exemplo, quando compra dólares que estão em poder de um ban-

co comercial, o Banco Central faz o pagamento depositando os reais equivalentes

na conta reservas bancárias do banco comercial. Se o Banco Central quer diminuir

o saldo de reservas bancárias dos bancos, ele geralmente o faz vendendo títulos do

Tesouro Nacional para os bancos, que pagam ao Banco Central com reservas ban-

cárias, ou seja, reduzindo seu saldo naquela conta.

Portanto,osbancosestãoatodoomomentodemandandoouofertan-

doreservasbancárias.Nessemercado,conhecidocomointerbancário,as

reservasbancáriastêmumpreço,queéataxadejuros—noBrasiléataxa

Selic.Acada45dias,oComitêdePolíticaMonetária(COPOM)sereúne

paradecidirqualseráametadesejada.

OBancoCentralutilizaseusinstrumentos de política monetáriapara

fazercomqueataxadejurosefetivamentepraticadanomercadointer-

bancáriosejaamaispróximapossíveldametaporeleestabelecida.A

determinação,peloBancoCentral,deumametaparaataxaSelicé,por-

tanto,opontocentraldapolíticamonetária.Vejaoquadroaseguirno

qualháumcomparativodevariaçãodataxa:

Taxa Selic (1996 - 2013)

0

26

/06

/96

26

/06

/97

26

/06

/98

26

/06

/99

26

/06

/00

26

/06

/01

26

/06

/02

26

/06

/03

26

/06

/04

26

/06

/05

26

/06

/06

26

/06

/07

26

/06

/08

26

/06

/09

26

/06

/10

26

/06

/11

26

/06

/12

26

/06

/13

510

% a.a.

1520253035404550

Fonte: Banco Central do Brasil

AtaxaSelicéataxamínimadecaptaçãodosbancos.Quandoaumen-

taametaparaataxaSelic,oBancoCentralestáexecutandoumapolítica

monetáriacontracionista,poisastaxasdeoutrostítulosfinanceiros(por

exemplo,CertificadosdeDepósitoBancário,quesãodepósitosaprazo)

tambémdevemsubir,ouseja,odinheiroficamaiscaroparaosbancos.

COMENTÁRIO

Taxa Selic

Selic é sigla de Sistema Especial de

Liquidação e Custódia, um sistema

administrado pelo Banco Central, que

registra as negociações com títulos do

Tesouro Nacional.

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106 • capítulo 5

ATENÇÃO

A expectativa da autoridade monetária é de que os bancos, para poderem manter

seus ganhos com a intermediação financeira, elevem os juros cobrados nos emprés-

timos a seus clientes.

Esseaumentodataxadejurosreduzademandaporempréstimos,

tantoparainvestimentosprodutivoscomoparaoconsumo,levandoa

umaretraçãodaatividadeeconômica(oudoritmodecrescimentoda

demandaagregada).Oobjetivoúltimodetalmedidaéreduzirpressões

inflacionáriasquesejamentendidascomoprovenientesdeumexcesso

dedemandaagregada.

Oesquemaaseguirretrata,resumidamente,umexemplodepolí-

ticamonetáriaexpansionista.Oobjetivoúltimoéestimularocresci-

mentoeconômico.

REDUÇÃO DA TAXA DE JUROS DO MERCADO INTERBANCÁRIO

AUMENTO DOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS

AUMENTO DA DEMANDA AGREGADA

AUMENTO DA ATIVIDADE ECONÔMICA

Meta de inflação

NoBrasil,apartirde1999,foiadotadooregimedemetasdeinflação,

quesubstituiuametacambialestabelecidaduranteaprimeirafasedo

PlanoReal.Em2013,ocentrodametadeinflaçãoerade4,5%,comin-

tervalodetolerânciade2,0(vertabelaaseguir).

Histórico de Metas para a Inflação no Brasil

Ano Meta(%) Banda (p.p.)Limites Inferior e Superior (%)

Inflação Efetiva (IPCA % a.a.)

1999 8 2 6-10 8,94

2000 6 2 4-8 5,97

2001 4 2 2-6 7,67

2002 3,5 2 1,5-5,5 12,52

2003 4 2,5 1,5-6,5 9,30

2004 5,5 2,5 3-8 9,60

2005 4,5 2,5 2-7 5,69

COMENTÁRIO

Demanda agregada

Como veremos mais adiante, a eleva-

ção da taxa de juros também é uma

forma de influenciar o comportamento

da taxa de câmbio, porque pode atrair

dólares do exterior para serem aplica-

dos no mercado financeiro brasileiro.

COMENTÁRIO

Metas de inflação

A meta de inflação é definida pelo

Conselho Monetário Nacional, com-

posto pelos ministros da Fazenda e do

Planejamento, além do presidente do

Banco Central.

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capítulo 5 • 107

Ano Meta(%) Banda (p.p.)Limites Inferior e Superior (%)

Inflação Efetiva (IPCA % a.a.)

2006 4,5 3,5 2-7 3,14

2007 4,5 2 2,5-6,5 4,46

2008 4,5 2 2,5-6,5 5,90

2009 4,5 2 2,5-6,5 4,31

2010 4,5 2 2,5-6,5 5,91

2011 4,5 2 2,5-6,5 6,50

2012 4,5 2 2,5-6,5 5,84

2013 4,5 2 2,5-6,5 5,91

Fonte: Banco Central do Brasil

RESUMO

Ao predeterminar limites toleráveis para a inflação, o governo procura mostrar para

a sociedade que prioriza o combate à inflação, e sinaliza como o Banco Central deve

executar a política monetária. Se a taxa de inflação se aproxima do limite superior, o

Banco Central deve executar uma política monetária contracionista, elevando a taxa

de juros. Caso a taxa de inflação esteja próxima ao limite inferior, isto significaria

maior espaço para executar uma política monetária expansionista.

Instrumentos de política monetária: introdução

Osinstrumentosdepolíticamonetáriapodemseracionadostantopara

estimular a concessão de crédito (política monetária expansionista),

como para reduzir o ritmo da atividade bancária (política monetária

contracionista). Os instrumentos clássicos de política são o depósito

compulsório,ataxaderedescontoeasoperaçõesdemercadoaberto.

Depósito compulsório

Comovimos,todososbancosmantêmumacontadereservas bancárias

noBancoCentral,atravésdaqualosistemabancário(inclusiveoBanco

Central) faz suas movimentações financeiras. Todos os bancos comer-

ciais(quesãoaquelesautorizadosaemitirdepósitoàvista)sãoobriga-

dosamanterumsaldomínimonestaconta,queéumaproporçãodo

saldodedepósitosàvistadosseusclientes.

Estaproporçãomínimaéchamadadedepósito compulsório,tendo

duas funções. A primeira é garantir que os bancos tenham recursos

parasatisfazeràsdemandasdeseusclientesquequeiramsacarpapel-

moedanoscaixasoutransferirrecursosdesuacontaparaoutrobanco.

COMENTÁRIO

Bancos comerciais

Bancos autorizados a emitir depósito

à vista.

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108 • capítulo 5

Asegundafunçãoéregularacapacidadedosbancosdeconcederempréstimos:quanto

maioraproporçãodereservasbancáriasemrelaçãoaosdepósitosàvista,ouseja,quanto

maiorodepósitocompulsório,menoracapacidadedosbancosdeemprestarparaseus

clientesatravésdomultiplicador bancário.

RESUMO

Portanto, quando eleva o percentual de depósito compulsório, o Banco Central está adotando uma política

monetária contracionista; e vice-versa, se reduz a obrigatoriedade de manter reservas dos bancos, está

praticando uma política monetária expansionista.

AUMENTO DA ALÍQUOTA DO DEPÓSITO COMPULSÓRIO

DIMINUIÇÃO DO MULTIPLICADOR BANCÁRIO

REDUÇÃO DO CRESCIMENTO DOS EMPRÉSTIMOS E DOS DEPÓSITOS À VISTA

MENOR LIQUIDEZ

AUMENTO DA TAXA DE JUROS

Taxa de redesconto

Umadasfunçõesmaisimportantesdequalquerbancocentraléadeserumempresta-

dor de última instância para os bancos. Ao longo da história, esse tem sido um papel

fundamental desempenhado pelos bancos centrais, que tradicionalmente emprestam

recursosparabancoscomproblemasdeliquidez,e fazemissocreditandonacontare-

servas bancárias(mencionadaanteriormente).Essetipodeempréstimoéoredescontoou

assistência financeira de liquidez.

ATENÇÃO

O Banco Central cobra juros nesses empréstimos. Alterar a taxa de juros das operações de redesconto é

uma forma de influenciar a atuação dos bancos, ou seja, é um instrumento de política monetária.

Se o Banco Central aumenta a taxa de redes-

conto, os bancos devem atuar mais comedida-

mente na concessão de crédito, porque pagarão

maiscaroparaobterreservasbancárias,casone-

cessitem.Poroutrolado,quandoreduzataxade

redesconto,oBancoCentralestásinalizandoque

osbancospodemaumentarosempréstimoscon-

cedidosaseusclientes.

REDUÇÃO DA TAXA DE REDESCONTO

EXPANSÃO DO CRÉDITO BANCÁRIO

REDUÇÃO DA TAXA DE JUROS

AUMENTO DA LIQUIDEZ

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capítulo 5 • 109

Operações de mercado aberto (ou open market)

O instrumento de política monetária mais utilizado são as operações

demercadoaberto,atravésdasquaisoBancoCentralcompraouvende

títulosdadívidapúblicaparaosbancoscomoobjetivode,respectiva-

mente,aumentaroureduziraliquidezdomercadointerbancário.

RESUMO

O interbancário, como mencionado antes, é o mercado onde os bancos negociam

reservas bancárias entre eles, e em que o Banco Central atua comprando (venden-

do) títulos do TN para aumentar (diminuir) o saldo de reservas bancárias e, com isso,

influindo na taxa de juros desse mercado (basicamente, a taxa Selic).

Quandoademandaporreservasbancáriasémaiorqueaoferta,ataxa

Selictendeaseelevaracimadameta.Nessemomento,oBancoCentral

podecomprartítulosqueestejamempoderdosbancos,oqueprovoca

umaimediataelevaçãodosaldodereservasbancáriase,portanto,uma

tendênciaàquedadataxaSelicemdireçãoàmeta.Poroutrolado,seé

identificadoumexcessodeliquideznomercadodereservasbancárias—

oquepodefazercomqueataxaSelicpraticadafiqueabaixodameta—,o

BancoCentralvendetítulosdadívidapúblicaparaosbancos,reduzindo,

dessamaneira,asreservasbancáriasdisponíveisparaosbancos.

BANCO CENTRAL COMPRA TÍTULOS DO TN EM PODER DOS BANCOS

AUMENTAM AS RESERVAS BANCÁRIAS

AUMENTO DA LIQUIDEZ

DIMINUI A TAXA DE JUROS DO MERCADO DE RESERVAS BANCÁRIAS (TAXA SELIC)

Instrumentos diretos de política monetária

Aeficáciadapolíticamonetáriatemsemostradoreduzidadesdeaeclosão

dacrisefinanceiraem2008.NosEUA,porexemplo,ataxadejurosdomer-

cado de reservas bancárias — a chamada FED funds — foi reduzida para

0,25% ao ano, mas não se verificou uma elevação dos empréstimos ban-

cários.Obancocentralamericanopassouentãoautilizarumnovoinstru-

mento, não tradicional, chamado afrouxamento monetário (quantitative

easing).OBancodaInglaterrae,emmenormedida,oBancoEuropeu,têm

adotadomecanismosemelhante.Emtodosessespaíses,nemmesmoes-

sesinstrumentosdeintervençãodiretasurtiramosefeitosdesejados.

Também no Brasil o governo adotou políticas monetárias não

convencionais como forma de enfrentar a crise. Em particular, foram

CONCEITO

Afrouxamento monetário

É um programa de compras de ativos

que, entre setembro de 2008 e feverei-

ro de 2013, elevou o saldo de reservas

bancárias (cerca de US$40 bilhões),

que vinha sendo mantido nesse ní-

vel durante muitos anos, para mais de

US$2 trilhões. O Banco da Inglaterra

e, em menor medida, o Banco Europeu,

têm adotado mecanismo semelhante.

Em todos esses países, nem mesmo es-

ses instrumentos de intervenção direta

surtiram os efeitos desejados.

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110 • capítulo 5

usadososbancospúblicos—BancodoBrasil,CaixaEconômicaeBancoNacionaldeDe-

senvolvimentoEconômicoeSocial—paraincrementarosempréstimosbancários,oque

forçouosbancosprivadosaseguiremoexemplo,paranãoperderemmercado.Consequen-

temente,contrastandocomaexperiênciadeoutrospaíses,foiregistradofortecrescimento

docrédito—entre2008e2012,osaldodosempréstimosbancárioscomoproporçãodoPIB

elevou-sede40,5%para53,8%.

Política monetária e preço de ativos

Desde a crise financeira de 2007-2008, tem aumentado a preocupação dos economistas com as

oscilações dos preços dos ativos em geral. Quando o Banco Central mantém por muito tempo uma

política monetária expansionista, por exemplo, para incentivar o crescimento econômico, a taxa de ju-

ros dos ativos financeiros de renda fixa torna-os pouco atraentes para os investidores, que passam a

preferir assumir riscos adquirindo ativos de renda variável (tipicamente ações de empresas) e também

imóveis residenciais e comerciais. Tem lugar, portanto, uma inflação de ativos, isto é, uma elevação do

valor das ações (mercado de capitais) e dos imóveis (mercado imobiliário). O aumento excessivo dos

valores praticados nesses dois mercados pode configurar a formação de uma bolha especulativa, que

pode ser definida como uma elevação anormal (ou, como preferem alguns economistas, irracional) do

preço de um ativo. A capacidade do Banco Central de atuar nessa situação tem sido muito discutida:

se o Banco Central não intervém furando a bolha (isto é, aumentando a taxa de juros), pode levar a

uma contaminação da inflação de ativos para o resto da Economia; por outro lado, se fura a bolha, pode

ocasionar uma súbita reversão dos preços e, portanto, precipitar uma crise financeira.

Política cambial

Políticacambialpodeserdefinidacomooconjuntodemedidasgovernamentaisvisan-

doinfluenciarocomportamentodataxadecâmbio,istoé,opreçodamoedanacional

em relação às moedas estrangeiras mais utilizadas no comércio internacional — no

casodoBrasil,odólaramericano.

ATENÇÃO

A política cambial inclui a escolha, pelo governo, da forma como é determinada a taxa de câmbio oficial

— se a taxa de câmbio é fixada pelo governo ou livremente pelo mercado, ou uma solução intermediária.

Ataxadecâmbionominaléovalordamoedanacionalmedidoemoutramoeda.No

Brasil,ataxadecâmbionominaldivulgadadiariamentepeloBancoCentraléarelaçãodo

realcomodólaramericano.

EXEMPLO

Por exemplo, em 17 de março de 2014, a cotação do dólar no mercado doméstico de câmbio no fecha-

mento do dia era de R$2,3513 (compra) e de R$2,3528 (venda). Quando a moeda nacional se desvaloriza,

ou seja, quando se verifica uma subida no câmbio, o valor da moeda de referência medido em moeda na-

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capítulo 5 • 111

cional aumenta. Assim, se o valor do dólar passa de R$2,00 para R$2,20, diz-se que

o real se desvalorizou (neste caso, em 10%). Por outro lado, se a cotação do dólar

diminui, diz-se que há uma valorização do real.

Empaísesquenãoemitemmoedadeamplaaceitaçãointernacional,a

taxadecâmbioéumavariávelfundamental.Essespaísestêmumarestri-

ção externa:paraadquirirbenseserviçosnoexterior,necessitamdemoe-

daforte(dólares,euros,ienesetc.).UmpaíscomooBrasilnãopodegastar

maismoedaestrangeiradoquerecebecomsuasexportações,ouseja,não

podemanterumbalançocomercialdeficitárioporperíodosprolongados.

Regimes cambiais: vantagens e desvantagens

Porregime(oupadrão)cambialentende-seaformacomoédeterminada

ataxadecâmbio:taxasdecâmbioflutuantes,taxadecâmbiofixaoutaxa

decâmbioadministrada.Cadaumdessesregimestemsuasvantagens

edesvantagens,eoseconomistassedividemquantoàmelhoropção.

Taxa de câmbio fixa

Emumextremo,temososistemadetaxadecâmbiofixa,emqueogo-

vernosecomprometeacomprarevenderdólaraumvalorporelepré

-estabelecido,oqualdevepermanecerconstanteporlongosperíodos.

Aolongodahistória,foioregimecambialmaisutilizado.

O Sistema de Bretton-Woods (taxa fixa) foi dissolvido em 1971,

quandoosEUAabandonaramaconversibilidadedoourocomdólar.

Desde então, os países centrais adotam, oficialmente, o regime de

taxasdecâmbioflutuantes.

REFLEXÃO

Nos anos 1980 e 1990, muitos países emergentes seguiram um regime de taxas de

câmbio fixas, ou quase fixas. A Argentina foi um exemplo clássico, tendo adotado,

entre 1989 e 2002, a conversibilidade do peso em relação ao dólar, mantendo fixa a

paridade de um dólar igual a um peso. O Brasil, na primeira fase do Plano Real, esta-

beleceu um regime cambial que mantinha o dólar dentro de uma variação estreita (a

chamada banda cambial) e, nesse sentido, seu regime cambial possuía as vantagens

e desvantagens atribuídas a um regime de taxa de câmbio fixa.

Parapaísescomhistóricodetaxasdeinflaçãoelevadas,afixaçãoda

taxadecâmbiocontribuiparaocombateàinflaçãoe,poressarazão,

éconsideradaumaâncora cambial.Defato,aestabilidadedataxade

câmbiopoderealmenteajudaradebelarainflação.

COMENTÁRIO

Balanço comercial

No capítulo anterior, através do caso

hipotético III sobre o Balanço de Pa-

gamentos, vimos que, se déficits co-

merciais não forem financiados pela

Conta de Capital e Financeira, haverá

perda de reservas internacionais.

COMENTÁRIO

Ao longo da história

Até o início da década de 1930, quan-

do se iniciou a Grande Depressão, a

maioria dos países (inclusive o Brasil)

adotava o padrão-ouro: a emissão de

moeda estava lastreada em ouro e

a taxa de câmbio era fixa. Os países

desenvolvidos voltaram a adotar um

regime de taxa de câmbio fixa a partir

do fim da Segunda Guerra Mundial (o

chamado Sistema de Bretton-Woods),

que admitia que a taxa de câmbio, em

determinadas situações, pudesse ser

alterada pontualmente.

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112 • capítulo 5

EXEMPLO

Suponhamos que o governo fixe o valor do dólar em R$2,00 (desconsiderando impostos e tarifas). Se um

produto custa US$1,00, ele poderá ser importado por R$2,00. Como a inflação nos EUA é muito baixa,

daqui a um ano esse produto poderá estar custando o mesmo em dólar. Se a taxa de câmbio permanecer

US$1,00 = R$2,00, o produto continuará sendo importado pelos mesmos R$2,00, e ninguém conseguirá

vender tal produto acima desse valor no país. Note-se que, para que esse raciocínio faça sentido, é preciso

que haja plena liberdade de importação (abertura comercial).

Entretanto,aescolhadoregimecambialinfluenciaasdecisõessobrepolíticamonetá-

ria.Aadoçãodeumregimedetaxadecâmbiofixatendearestringiracapacidadedogover-

nodegerirataxadejuroseseusgastoscomoobjetivodeestimularaatividadeeconômica.

Suponhamos que o valor da moeda americana seja fixado em R$2,00. Neste caso, o

BancoCentralassumeocompromissodecomprarqualquerquantidadededólarporesse

valor.Seocorreumacrisefinanceirainternacional,ascondiçõesdomercadocambialse

deterioram,porquenessesmomentososinvestidoresestrangeirosprocuramretirarseus

recursosdopaís;paraisso,compramdólaresnomercadodecâmbio,levandoaumaten-

dênciaàvalorizaçãodamoedaamericana.

REFLEXÃO

Para impedir que o valor do dólar suba, o Banco Central seria então forçado a vender dólares, sempre a

R$2,00. A capacidade do banco central brasileiro de vender dólares está limitada à quantidade de divisas

acumuladas (ou seja, das reservas internacionais).

Namedidaemquevendedólares,asreservasinternacionaisdiminuem,oqueprovavel-

mentelevaráosinvestidoresademandaremaindamaisdólares.Nessasituação,oBanco

Centralsevêobrigadoapraticarumapolíticamonetáriacontracionista,elevandoataxa

dejuros,comoobjetivodeatrairdólaresdoexterioredetentarconvencerosinvestidores

estrangeirosamanteremseusdólaresnopaís.

Nesseexemplo,aelevaçãodataxadejurosnãoestariaexplicadaporumapercepçãode

quehaveriaalgumtipodepressãoinflacionária,massimcomoobjetivodemanterapari-

dadecambialpré-estabelecida.Pelomesmoraciocínio,oBCnãopoderiareduzirataxade

jurosparaestimularaatividadeeconômica,seentendessequeessareduçãolevariaauma

pressãosobreataxadecâmbio.

RESUMO

A elevação da taxa de juros visando manter o equilíbrio do mercado cambial acaba refletindo também

na política fiscal. O aumento dos juros, como vimos, provoca uma elevação do déficit nominal. Para

mostrar aos investidores sua capacidade de honrar o pagamento dos juros da dívida pública, o governo

se veria forçado a praticar uma política fiscal contracionista, independentemente da situação em que

se encontrasse a Economia.

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capítulo 5 • 113

Portanto, uma grande desvantagem do regime de taxa de câmbio

fixaéquandoocorreumacriseinternacional,comoasqueocorreram

noMéxico(1994-1995),naÁsia(1997)enaRússia(1998),quandoseveri-

ficouumafugadecapitais,ouseja,osinvestidoresestrangeirosretiram

seusdólaresdepaísescomooBrasil.

Afixaçãodataxadecâmbiopodetambémserconsideradaprejudi-

cialporoutromotivo.Noexemplocitadoanteriormente,umdetermina-

doprodutonãopodecustarmaisdeR$2,00noBrasil.Masesenenhum

produtor nacional puder produzir tal produto por esse valor? Nesse

caso,oconcorrenteexternopoderáeliminaroprodutorbrasileiro,oque

gerariadesempregoentrenós.

Taxas de câmbio flutuantes

Muitoseconomistasacreditamque,emumregimedetaxadecâmbio

flutuante,ataxadecâmbiopraticadapelomercadoseráaquelaquepro-

moverá o equilíbrio das contas externas. Se houver déficit nas transa-

çõescorrentes,amoedanacionalirásedesvalorizar(ovalordodólarvai

aumentar)porquehaverámenosdólaresdisponíveisnomercadocam-

bial(vercapítulo4).Consequentemente,asexportaçõesaumentarãoe

as importaçõescairão,restabelecendo-seassimoequilíbrio.Agrande

desvantagem é que a desvalorização poderá ter efeitos inflacionários,

porqueencareceráospreçosdosprodutosimportados.

EXEMPLO

A desvalorização da moeda aumenta a competitividade dos produtores nacionais.

Suponhamos que uma empresa brasileira possa produzir um determinado produto

por R$10,00, e que o preço internacional deste produto seja US$5,00. Se a taxa de

câmbio for US$1,00 = R$2,00, este produtor não terá lucro ao exportar. Entretanto,

se o real se desvalorizar para US$1,00 = R$4,00, o produtor receberá R$20,00 pelo

produto exportado. Alternativamente, poderá se tornar mais competitivo ao oferecer

o produto por US$4,00, e ainda assim obter lucro.

Nocasocontrário,ouseja,dequeumsuperávitdascontasexternas

promovaumavalorizaçãocambial(opreçododólarcai),avantagemserá

umareduçãonapressãosobreainflação;entretanto,avalorizaçãosigni-

ficaráumareduçãodasexportações,menorníveldaatividadeeconômica.

Umavantagemadicionaldoregimedetaxadecâmbioflutuanteéque

eleofereceaoBancoCentralaoportunidadedeexecutarpolíticasmonetá-

riasvisando,exclusivamente,reduzirasflutuaçõeseconômicas,semseim-

portarcomnenhumametacambial;assim,quandoocorreumacrisefinan-

ceirainternacionalqueprovocasaídadedivisase,portanto,desvalorização

damoedanacional,oBancoCentralnãoéobrigadoaelevarataxadejuros.

COMENTÁRIO

Países como o Brasil

Por ocasião das crises acima mencio-

nadas, a taxa de juros do mercado de

reservas bancárias no Brasil chegou a

alcançar 50% ao ano, em uma época

em que a inflação era muito baixa, o

que contribuiu para reduzir o ritmo da

atividade econômica.

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114 • capítulo 5

EXEMPLO

Por exemplo, por ocasião da crise financeira de 2008, diferentemente do que ocorreu nas crises verifica-

das na década de 1990, o Banco Central pôde atuar de maneira a reduzir os impactos negativos da crise

internacional sobre o nível da atividade econômica no Brasil, o que não teria sido possível caso tivesse

como missão a manutenção de uma taxa de câmbio predeterminada.

Nosperíodosdecriseinternacionaladesvalorizaçãonãonecessariamenterepresenta

umaameaçaàsmetasdeinflação,porqueaatividadeeconômicatendeasecontrair.

Taxa de câmbio administrada

Emnenhumpaísasautoridadesmonetáriasdeixamdeatuarparaevitarflutuaçõesconsidera-

dasexcessivasnataxadecâmbio.Nessesentido,emboraoregimecambialseja,emtese,ode

taxadecâmbioflutuante,naprática,oregimecambialédetaxadecâmbioadministrada(tam-

bémchamadodeflutuação suja).Quandoconsideranecessário,oBancoCentraladotamedi-

dasvisandoinfluenciarocomportamentodomercadodecâmbio,queéondesãorealizadasas

operaçõesdecompraevendademoedaestrangeira(dólares,euros,ienes,librasesterlinasetc.).

REFLEXÃO

Se as autoridades consideram que o câmbio está desvalorizado, ou seja, que o valor do dólar está acima do

que seria ideal — o que poderia estar dificultando o combate à inflação —, o Banco Central pode atuar no

sentido de induzir uma redução da cotação do dólar no mercado de câmbio.

OBancoCentralpodeintervirdiretamente,vendendodólaresdesuasreservasinterna-

cionais,aumentandoassimaofertadedólaresnomercado,oquetendearesultaremque-

dadovalordodólar.OimpactosobreasreservasbancáriasdavendadedólarespeloBanco

Centralseráidênticoaodavendadetítulospúblicosemumaoperaçãodemercadoaberto,

istoé,reduziráosaldodereservasbancárias.

A política monetária também influencia o comportamento do mercado de câmbio. Por

exemplo,quandooBancoCentralpraticaumapolíticamonetáriacontracionista,elevandoa

taxadejuros,aumentaonúmerodeinvestidoresestrangeirosinteressadosemaplicardinheiro

emtítulospúblicosnoBrasil,ediminuiointeressedosinvestidoresbrasileirosemaplicarseus

recursosnoexterior.Poroutrolado,aumentaointeressedebancoseempresassediadosno

Brasilemtomardinheiroemprestadonoexterioreaplicá-losnoBrasil(éochamadoganhode

arbitragem).Comisso,aumentaaentradademoedaestrangeiranoBrasile,portanto,aliqui-

deznomercadodecâmbio,provocandopressãopelavalorizaçãodamoedanacional.

ATENÇÃO

Se o Banco Central não intervém no mercado de câmbio comprando o excesso de dólares, o preço da

moeda americana, de fato, se reduz. Como vimos, essa redução (que significa a valorização do real) con-

tribui para reduzir o preço dos produtos importados e, portanto, a taxa de inflação. Mas, por outro lado,

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capítulo 5 • 115

incentiva o aumento das importações e diminui a capacidade de exportação das

empresas brasileiras, o que tende a levar a uma deterioração da balança comercial.

Portanto, outra forma de tentar evitar desvalorizações cambiais é

elevarataxadejuros,atraindorecursos(dólares)parasereminvestidos

nopaísemtítulosdadívidapública.PorocasiãodascrisesdoMéxico

(1995)edaÁsia(1997),oBancoCentralelevouataxaSelicparacercade

45%aoano,paraevitaradesvalorizaçãodoreal(vejanovamenteográfi-

cocontidonaseção“taxaSelic”).

POLÍTICA MONETÁRIARESTRITIVA

AUMENTO DA TAXA DE JUROS QUEDA DO VALOR DO DÓLAR

VALORIZAÇÃO DO REALQUEDA NO PREÇO

DOS PRODUTOS IMPORTADOSMENOR PRESSÃOINFLACIONÁRIA

VALORIZAÇÃO DO REALAUMENTO DAS IMPORTAÇÕES

E DIMINUIÇÃO DAS EXPORTAÇÕESDETERIORAÇÃO DA

BALANÇA COMERCIAL

Acumulação de reservas internacionais: vantagens e desvantagens

Desdequeabandonouoregimedeâncoracambial,noiníciode1999,o

BancoCentraldeixoudeteraobrigaçãodeacumularreservasinterna-

cionais,jáque,comaadoçãodoregimedelivreflutuaçãocambial,não

teriamaisrazão,emtese,paraintervirnomercadodecâmbio.

REFLEXÃO

Nos últimos anos, o Brasil, assim como diversos países emergentes, acumulou reser-

vas internacionais em ritmo acelerado. Parte desse acúmulo foi proposital: manter

um elevado saldo de moeda estrangeira representa uma proteção na eventualidade

de uma crise financeira internacional.

Brasil: Reservas Internacionais e Dívida ExternaSaldos em fim de período (em US$ bilhões)

Ano Reservas Internacionais Dívida Externa Bruta

2002 37,8 227,7

2004 52,9 220,2

2006 85,8 199,4

2008 193,8 262,9

2010 288,6 351,9

Fonte: Banco Central do Brasil

COMENTÁRIO

Atraindo recursos

Exemplificando, um investidor pode

tomar um empréstimo no exterior pa-

gando 5% de juros e aplicá-los no país

recebendo 10% — são os chamados

ganhos de arbitragem. Se não houver

desvalorização superior a 5%, o inves-

tidor obterá lucro.

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116 • capítulo 5

Acrisede2008-2009,emboraconsideradaamaisgravedesdeade

1929,nãoafetoutãoprofundamenteospaísesemergentesporessara-

zão,emcontrastecomoqueocorreraporocasiãodascrisesdemenor

intensidadedosanos1990(México,ÁsiaeRússia).

Entretanto,partedoacúmulodereservassedeveàpolíticacambial

dosgovernos(porexemplo,doBrasiledaChina),queadquiriramreser-

vasparaimpedirumavalorizaçãoexcessivadesuasmoedas.

ATENÇÃO

A manutenção de elevados níveis de reservas internacionais representa um custo fi-

nanceiro para o governo. Ao adquirir dólares, o BC emite reservas bancárias, aumen-

tando a liquidez do mercado monetário. Para impedir que esse aumento de liquidez

acarrete uma diminuição da taxa Selic, o BC vende títulos do TN, aumentando assim

a dívida pública. O governo paga juros da dívida em volume superior ao que recebe,

aplicando os dólares que compra. O custo de manutenção das reservas internacionais

é, portanto, maior quanto mais elevada for a taxa de juros dos títulos da dívida pública.

Política de comércio exterior

Comovimos,asalteraçõesnataxadecâmbio,emboravisemprimordial-

menteequilibrarascontasexternas,tendematrazerrepercussõessobre

outras variáveis. Assim, para obter resultados desejados em relação à

balançacomercial,osgovernostradicionalmenteadotampolíticaspara

incentivarasexportaçõesereduzirasimportações,independentemente

dasvariaçõesquevenhamaocorrernataxadecâmbio.

No Brasil, tais medidas incluem a concessão de financiamentos

subsidiados através dos bancos oficiais e de incentivos fiscais. Tais

medidasdevemserentendidascomopartedapolíticaindustrial,isto

é,nocontextodadiscussãomaisgeralsobredesenvolvimentoeconô-

mico,comodestacadonocapítulo6.

Política Fiscal

Nocapítulo4,vimoscomoosgastosdogovernoeaarrecadaçãode

impostos influenciam a demanda agregada e a renda. Esta seção

apresentaumabrevediscussãosobrepolítica fiscalesuarelaçãocom

aspolíticasmonetáriaecambial.

COMENTÁRIO

Importações

Do lado das importações, o governo

pode impor barreiras protecionistas

através da elevação das alíquotas e do

estabelecimento de quotas para limitar

a importação de determinados produtos.

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capítulo 5 • 117

Definição e objetivos

Apolíticafiscalérealizadapelogovernoaoadministrarseusgastoseao

decidircomovaifinanciartaisgastos.Idealmente,nosperíodosemque

aEconomiaestáseexpandindodemaneirasustentável,ogovernodeve

cobrirseusgastosatravésdacobrançadeimpostosetarifas.

ATENÇÃO

Quando o total de gastos é igual ao da receita com impostos, temos um orçamento

equilibrado. Entretanto, quando a receita supera os gastos, temos superávit orçamen-

tário. Quando as despesas do governo superam suas receitas (quando há déficit públi-

co ou orçamentário), a diferença pode ser financiada através do lançamento de títulos

de dívida. Pode ainda financiar seus gastos emitindo títulos de dívida. Por fim, pode sim-

plesmente emitir dinheiro, prática muito comum ao longo da história. Desde a Constitui-

ção de 1988, o Banco Central do Brasil está proibido de financiar diretamente o governo.

Oaumentodosgastosdogovernocontribuiparaelevarademanda

agregadadaEconomiae,portanto,representaumestímuloàatividade

econômica.Ocorte(acontenção)dosgastos,porsuavez,acarretaefeito

oposto,reduzindoademandaagregada.

O uso da política fiscal como instrumento de administração do

níveldaatividadeeconômicaéaconselhadoprincipalmenteporeco-

nomistaskeynesianos,queadvogamaideiadeque,emmomentosde

crise econômica e aumento do desemprego, o governo deve lançar

mãodosgastospúblicoscomomaneiradecompensarareduçãodos

investimentosprivados.

Déficit primário e déficit nominal

Comomencionadonocapítuloanterior,aexpressãodéficit públicocom-

preendedoisconceitos.Oprimeiroéodedéficit primário,queseverifi-

caquandoaarrecadaçãodogovernoatravésdacobrançadeimpostos

e contribuições não é suficiente para cobrir seus gastos correntes (no

pagamento dos salários dos seus funcionários, nos gastos com obras

públicas,manutençãodeescolasehospitaisetc.).

ATENÇÃO

Como o governo não deve mais emitir dinheiro, ele só pode gastar mais do que ar-

recada, se endividando.

Paraisso,ogovernoemitetítulosdedívida,quesãocompradosporin-

vestidoresinstitucionais,bancosetc.,equegeraadívidapública.Ogoverno

COMENTÁRIO

Investidores

No Brasil, a aquisição de títulos públi-

cos está disponível também para pes-

soas físicas, através do Tesouro Direto.

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118 • capítulo 5

pagajurosporessadívida(osfamososjuros da dívida pública),sendoqueo

totalpagodejuroséfortementeinfluenciadopelataxa de jurosdostítulosda

dívidapública.Esta,porsuavez,estáemgrandepartevinculadaàtaxaSelic.

Osomatóriododéficitprimáriocomototalpagodosjurosdadívi-

dapúblicaéodéficit nominal.Nasestatísticasdogoverno,estedéficité

chamadodenecessidade de financiamento do setor público(NFSP).Parte

docrescimentodadívidamobiliáriadaUniãotemsidocausadapelane-

cessidade de rolagem da dívida pública, ou seja, o governo precisa de

recursosparapagarosjurosdadívida.

Exemplificando,atabelaaseguirmostraque,em2011e2012,ogover-

noobtevesuperávitsprimáriosequivalentesa3,1%e2,4%doPIB,respec-

tivamente.Entretanto,ocustoderolagemdadívida—osjurosdadívida

—foramsuperioresaessessuperávits,levandoaumdéficitnominal.

Brasil: Necessidades de Financiamento do Setor Público

Discriminação2011 2012

R$ bilhões % PIB R$ bilhões % PIB

Primário -128,7 -3,1 -105,0 -2,4

Juros 236,7 5,7 213,9 4,8

Nominal 108,0 2,6 108,9 2,4

Fonte: Banco Central do Brasil

Dívida bruta e dívida líquida

Ofinanciamentododéficitnominalsedá,portanto,atravésdacoloca-

çãodemaistítulospúblicosnomercado,elevando,dessamaneira,adí-

vidapública.Adívidapúblicapodesermensuradadediversasmaneiras.

Atabelaaseguirapresentatrêstiposdedados:adívidapúblicabruta,

queincluiadívidainternaeexterna;adívidapúblicalíquida,queéigual

àdívidabrutamenososcréditosdogoverno,oqueincluiasreservasin-

ternacionaisdoBancoCentral;eosaldototaldostítulosdogovernoem

poderdomercado,queéadívidamobiliária.

Brasil: Dívida pública (em % do PIB)

2010 2011 2012

Dívida líquida do Setor Público -128,7 -3,1 -105,0

Dívida pública mobiliária do Governo Federal

236,7 5,7 213,9

Dívida bruta do Governo Geral 108,0 2,6 108,9

Fonte: Banco Central do Brasil, Relatório Anual

COMENTÁRIO

Superávits primários

O montante de recursos obtidos com o

superávit primário reduz a necessidade

de financiamento do governo; por isso,

aparece com sinal negativo na tabela.

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capítulo 5 • 119

Éimportantenotarqueocomportamentodataxadecâmbiopodeafetarasituaçãodas

contaspúblicas.Umadesvalorizaçãodocâmbio,porexemplo,impactanegativamentenas

contasdogovernoaoelevarovalordostítulosdadívidapúblicaindexadosaodólar,ouà

outramoedaestrangeira.Todavia,adesvalorizaçãoaumentaovalordasreservasinterna-

cionaismedidoemreais,reduzindo,assim,osaldodadívidalíquidadosetorpúblico.

OfatodeoBrasilterregistradoexpressivocrescimentodesuasreservasinternacionais

nosúltimosanose,desde2011,amoedanacionaltersedesvalorizado,temcontribuído

paraareduçãodadívidalíquida,emboraadívidamobiliária,istoé,osaldototaldetítulos

dogovernoempoderdopúblico,tenhaseelevado.

Determinação da taxa de juros, déficits e dívida pública

Haveria uma relação entre a dívida pública e a taxa de juros dos títulos do governo? Este é um

tema que tem sido muito debatido no Brasil desde os anos 1980, e mais recentemente a partir da

chamada crise do Euro. Alguns economistas afirmam que quando a dívida pública é considerada

elevada, os agentes econômicos desconfiam da capacidade do governo de honrar seus compro-

missos financeiros, e por isso exigem um prêmio de risco, ou seja, juros mais altos para compen-

sá-los pelo risco de calote do governo. A solução seria o governo cortar seus gastos para produzir

um superávit nominal, para, aos poucos, ir reduzindo o saldo da dívida pública.

Outros economistas argumentam não haver uma relação direta entre a dívida e os juros. No caso do

Brasil, por exemplo, nossa situação fiscal não seria pior que a de outros países onde a taxa de juros

é consideravelmente mais baixa. No Brasil, a política adequada seria reduzir a taxa de juros, o que

naturalmente reduziria a NFSP e permitiria maior crescimento econômico. O aumento da atividade

econômica eleva a capacidade de arrecadação de impostos e reduz a relação dívida/PIB. Nos países

da periferia europeia mais afetados pela crise, como Grécia, Espanha e Portugal, a solução incluiria

um aumento dos gastos públicos para permitir o crescimento econômico no curto prazo.

ATIVIDADE

Quer explorar o assunto visto neste capítulo? Recomendamos uma visita ao site do Banco Central do

Brasil, em especial nas seções:

•  Glossário

•  O que é o COPOM

•  Perguntas frequentes

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FEIJÓ, Carmem (et al.). Para entender a conjuntura econômica. Capítulos 7 e 8. Barueri, São Paulo: Manole, 2008.

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6Noções sobre Crescimento e Desenvolvimento Econômico

marcos tostes lamonica

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122 • capítulo 6

6 Noções sobre Crescimento e Desenvolvimento Econômico

Comovimosnocapítulo4,sobreMacroeconomia,oestudodocresci-

mentoedodesenvolvimentoeconômicoéfeitoemtermosagregados.

Enquantooscapítulos4e5sãodedicadosàinterpretaçãomacroeconô-

micadecurtoprazo,estecapítuloseocupadolongoprazo.

Nestecapítuloaprenderemosnoçõessobreocrescimentoeode-

senvolvimento, que envolvem estratégias de longo prazo para que o

desempenhodeambossejaconsistenteeduradouro.Aopossuirtais

noções, seremos capazesde intuirsobreascausasdasdiferençasde

rendaedeníveldedesenvolvimentoentreasnaçõesesobreaexistên-

ciadedisparidadesnadistribuiçãoderendaeriqueza.

NaEconomia,crescimentoedesenvolvimentonãotêmomesmosig-

nificado,emboraumpossaestarsempreassociadoaooutro.

ATENÇÃO

Crescimento econômico é o aumento contínuo da renda ou PIB, em termos ab-

solutos, descontada a inflação, e per capita, ao longo do tempo. Já o conceito de

desenvolvimento econômico, é mais amplo: é o aumento contínuo do bem-estar.

Odesenvolvimentolevaemcontaasalteraçõesdacomposiçãodo

produtoedaalocaçãodosrecursospelosdiferentessetoresdaeco-

nomia,deformaamelhorarobem-estareconômicoesocial.Ouseja,

alémdosindicadoreseconômicosdecurtoprazo,eleincluitambém

indicadores sociais, tais como os níveis de pobreza, desigualdade e

indicadoresdequalidadedevida,comoacessoaserviçosdesaúdee

educação,moradiadecenteetc.

Agoravamosnosaprofundarumpoucomaissobreessadistinção

entre crescimento, desenvolvimento e as variáveis que contribuem

para o aumento da riqueza e da melhoria da qualidade de vida dos

habitantesdeumanação.

Crescimento econômico versus desenvol-vimento econômico

No campo da Economia, o crescimento e o desenvolvimento econô-

mico podem aparecer frequentemente associados, mas ambos têm

significadoseimplicaçõesdiferentes.Porexemplo,podehavercresci-

mentoeconômicosem,necessariamente,ocorrerodesenvolvimento.

COMENTÁRIO

Disparidades

Uma pequena parcela da população vi-

vendo realmente muito bem, e a maio-

ria com níveis de renda bem abaixo do

nível de renda média.

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capítulo 6 • 123

Nessecaso,ocrescimentoestariaocorrendo,massempromovermudançasnosproces-

sosdeproduçãoenadistribuiçãodarendaquelevassemaumamaiorinclusãosociale

reduçãodasdesigualdadesderendaeriqueza.

REFLEXÃO

O inverso é menos comum, mas também pode ocorrer, ou seja, uma Economia que promova melhoria no

bem-estar da população sem, contudo, apresentar evolução positiva nos indicadores de crescimento. Neste

caso, a riqueza acumulada estaria sendo mais bem distribuída, sem que a riqueza futura esteja aumentando.

Éclaroqueoidealseriaqueosdoismovimentosocorressemnamesmadireção:cresci-

mentodecurtoprazoassociadoàmelhorianaalocaçãoderecursos,queleveaumamelho-

rianadistribuiçãoderendaeriqueza,e,maisainda,queesteprocessosejacumulativo,ou

seja,maiscrescimentogerandomaisdesenvolvimento.

Assim, podemos entender que o crescimento econômico ocorre através do aumento

contínuodoProdutoInternoBruto(PIB)emtermosabsolutos,descontadaainflação,ou

porhabitante(per capita),aolongodotempo.Jáodesenvolvimentoeconômicorefere-sea

umestágioeconômico,socialepolíticodasociedade,representado,dentreoutrosindica-

dores,peloníveldeprodutividade(produtoportrabalhador),pelaevoluçãodadistribuição

derenda,peloníveldeescolaridadeetc.Vejamosaseguircomooseconomistasinterpre-

tamdistintamenteocrescimentoeodesenvolvimentoeconômico.

Crescimento econômico de longo prazo

Diferentementedosdoiscapítulosanteriores,ainterpretaçãododesempenhoeconômico

aolongodemuitosanos,porexemplo,10,20,50anos,nosmostraqueasflutuaçõesdapro-

duçãoedoempregoqueocorremnocurtoprazoperdemsuaimportânciarelativa.

ATENÇÃO

É o crescimento econômico que se sobressai, isto é, o aumento contínuo da produção real nacional, em

termos absolutos e per capita, ao longo do tempo.

Agora,podemosnosperguntar:oqueexplicaocrescimentodaproduçãonolongoprazo?

Ateoriaeconômicainiciaessaexplicaçãoapresentandoumafunçãodeproduçãoagregada,

quepodeserrepresentadadaseguinteforma:

FÓRMULA

Y = f(K, L, T)

K – estoque de capital

L – quantidade de mão de obra

T – conhecimento tecnológico disponível

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124 • capítulo 6

O estoque de capital representa a capacidade produtiva de uma

Economia,istoé,aquantidadedebenseserviçosqueelapodepro-

duzir a cada período de tempo. A variação do estoque de capital é

determinada pelo fluxo de investimento, ou seja, para se acumular

capital(paraoestoquedecapitaldeumaEconomiaaumentar)épre-

cisoinvestir.

Paralelamente,aforçadetrabalhoédeterminadapelocrescimento

dapopulação.Quantomaiorapopulação,maioraforçadetrabalho.O

níveldeconhecimentotecnológicodisponíveldependedetodoprogres-

sotécnicodisponívelatéosdiasdehoje.Noentanto,quantomaisnos

dedicarmos à pesquisa científica, mais rápido surgirão novas tecnolo-

giasque,empregadasnaprodução,irãoaumentaraquantidadedepro-

dutofinalporfatoradicionado.

ATENÇÃO

Assim, quanto maior for o volume de capital e trabalho que uma Economia possuir, e

quanto mais rápido se der o desenvolvimento do progresso tecnológico que a mes-

ma possa empregar na produção ao longo do tempo, tanto maior será o crescimento

da produção e, consequentemente, da renda e da renda per capita.

Contudo,éfundamentalquetantoasfirmasquantoogovernosai-

bam planejar os acréscimos de capital e trabalho na Economia, bem

comoestimularoprogressotécnico,paraqueocrescimentosejacon-

tínuo. O planejamento do crescimento em longo prazo evita desequi-

líbrios no emprego dos fatores de produção, bem como a redução do

crescimento(oudecrescimento,ouestagnação).

REFLEXÃO

Já sabemos que o crescimento econômico a longo prazo ocorre devido ao aumento

contínuo dos fatores de produção: capital, trabalho e tecnologia. Agora, vamos en-

tender um pouco mais sobre esses fatores de produção.

Acumulação de Capital (K)

Aacumulaçãodecapitalfísico,assimcomoamãodeobra,éessencial

paraocrescimento.Aacumulaçãodecapitalrepresentaadiçõesdeca-

pitalfísicoaoestoquedecapital,fazendocomqueesteaumente.Assim,

a acumulação de plantas industriais, de obras de infraestrutura (tais

comoemestradaseenergiaelétrica),doinvestimentoemrecursoshu-

manos,eamelhorpreparaçãodemãodeobra,entreoutros,irãocontri-

buirparaumcrescimentoeconômicoconsistenteeduradouro.

COMENTÁRIO

Fluxo de investimento

Como visto no capítulo 4, o investimen-

to a cada período é um dos componen-

tes da demanda agregada da Econo-

mia. Como componente da demanda,

explica em grande parte a flutuação

na produção no curto prazo. Mas, em

longo prazo, ou seja, quando o fluxo

de investimento novo é incorporado ao

estoque de capital já existente, o inves-

timento torna-se acréscimo de capaci-

dade de produção. Ou seja, em longo

prazo, o investimento vai influenciar a

produção pelo lado da oferta.

COMENTÁRIO

Novas tecnologias

Repare que o principal atributo da nova

tecnologia é o aumento da produtivida-

de agregada (produto por trabalhador

mais produto por capital).

COMENTÁRIO

Estoque de capital

O estoque de capital físico é formado

pela existência de máquinas, equipa-

mentos, instrumentos e edificações.

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capítulo 6 • 125

Aqualificaçãodamãodeobrapodeseratribuídaàacumulaçãode

capitalhumano,queconjuntamentecomaacumulaçãodecapitalfísi-

co,éindispensávelaocrescimentoeconômico.

Crescimento da força de trabalho (L)

Ocrescimentodaforçadetrabalhoédadopelocrescimentopopulacio-

nal.Se,porumlado,aforçadetrabalhocresceàmedidaqueapopula-

çãoaumenta,poroutro,oconsumoagregadotambém,implicandouma

maiordemandaporbenseserviços.

REFLEXÃO

Uma medida para saber o quanto a população contribui para a geração de riqueza é

o produto por habitante (per capita), que é a relação entre o Produto Interno Bruto

(PIB) e o total de habitantes a cada período de tempo.

Se, em um determinado período, a taxa de crescimento do PIB

for maior que a taxa de crescimento da população, o PIB per capita

crescerá. Isso significa que neste período a população ou, mais es-

pecificamente, seus trabalhadores conseguiram produzir de forma

eficientemaisbenseserviços.

Portanto,nessestermos,paraquearendaper capitasuba,épreciso

queocorraumamelhorianaqualidadedamãodeobra(obtidaatravés

damelhorianosníveiseducacionais,detreinamentoeespecialização),

melhoriatecnológica(atravésdoaumentodaeficiêncianautilizaçãodo

estoquedecapital)eeficiênciaorganizacional(maximizaçãonautiliza-

çãodosrecursosdisponíveis).(PASSOSeNOGAMI,2003,p.544).

Nível de desenvolvimento tecnológico (T)

Oníveldedesenvolvimentotecnológicoéumconceitointerpretado

peloseconomistascomoumestágiodeprogressotecnológico,oqual

seexpressanamodernidadedoestoquedecapitalenaqualificação

damãodeobra.

Oprogressotecnológicopoderáserconsideradocomoneutroquando

nãoalteraarelaçãoentretrabalhadoresemáquinas.Poderáserpoupador

decapital,quandooconhecimentotécnicoforempregadodeformaauti-

lizarmaistrabalhoquecapitalnaprodução,casoocapitalsejaofatores-

casso.Eserápoupadordetrabalhoquandoocapitalforofatorabundante.

Ospaísesdesenvolvidostêmumataxadecrescimentodapopula-

çãorelativamentemaisbaixa,seustrabalhadoressãomaisinstruídos

eossaláriossãomaisaltos.Issofazcomqueospaísesdesenvolvidos

COMENTÁRIO

Capital humano

O capital humano é o conjunto de co-

nhecimentos e habilidades que os tra-

balhadores adquirem por meio da edu-

cação, treinamento e experiência.

COMENTÁRIO

Taxa de crescimento do PIB

Inversamente, se a taxa de cresci-

mento do PIB for menor que a taxa de

crescimento da população, o produto

per capita reduzirá, representando uma

perda de eficiência na produção, ou

seja, mais habitantes produziram me-

nos bens e serviços.

COMENTÁRIO

Progresso tecnológico

É a tecnologia disponível, incorporada

aos fatores de produção, que permite

significativas mudanças de processos

e técnicas que resultam em uma pro-

dução mais eficiente.

COMENTÁRIO

Poupador de capital

Segundo Gremaud (et al. 2006), os

países em desenvolvimento, como têm

o fator trabalho em abundância, devem

enfatizar um processo produtivo pou-

pador de capital, que é o fator escasso.

O contrário acontece nos países de-

senvolvidos (op.cit., pág. 484).

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126 • capítulo 6

sepreocupememinvestirmaisrecursosnodesenvolvimentodemáquinaseequipamen-

tos,doqueempouparmãodeobra.

Crescimento de curto prazo e o equilíbrio macroeconômico

As escolhas que governantes enfrentam ao estabelecer estratégias de crescimento e desenvolvi-

mento para suas economias, obviamente, não são simples. Se o crescimento econômico alcançado

por determinada Economia é compatível com sua capacidade produtiva, ou seja, se o padrão de

consumo de sua população pode ser adequadamente satisfeito pela sua estrutura produtiva, o país

em questão pode crescer sem incorrer em desequilíbrios, tanto externos quanto internos, como por

exemplo, excesso de endividamento público. No entanto, se um país apresenta baixa taxa de investi-

mento e decide acelerar seu crescimento, apoiado no crescimento do consumo privado ou no gasto

público, por exemplo, incorrerá, no médio prazo, em desequilíbrios orçamentários e, possivelmente, no

setor externo (como visto no capítulo 4), os quais acabarão interrompendo tal modo de crescimento.

Logo, o crescimento é macroeconomicamente sustentável quando não se incorre em desequilíbrios

progressivos (inflação, déficit público ou déficit externo).

Desenvolvimento econômico

Oprincipalobjetivododesenvolvimentoeconômicoéatenderaumademandafundamen-

taldassociedadesmodernas,istoé,obem-estar.Paratal,osistemaeconômicoeogoverno

devemperseguirbasicamentequatroobjetivosparasatisfazerademandaporbem-estarde

umasociedade,asaber:segurança,justiçasocial,liberdadeepreservaçãodomeioambiente.

Odesenvolvimentoeconômicovaialémdeumaumentonaquantidadedebenseser-

viçosproduzidos,emtemosabsolutosouper capita,emumdeterminadoperíodo.Por-

tanto, na análise do desenvolvimento econômico, incluem-se as mudanças de caráter

quantitativoequalitativo.

ATENÇÃO

De acordo com Gremaud (op.cit., 2006), para ocorrer o desenvolvimento econômico devemos observar se

o crescimento econômico que acontece ao longo do tempo está provendo:

a) crescimento do produto por habitante;

b) redução dos níveis de pobreza, desemprego e desigualdade social;

c) melhoria nas condições de vida, tais como: saúde, nutrição, educação, moradia e transporte.

Poressarazão,ressaltamPassoseNogami(2003),odesenvolvimentoeconômiconão

deve ser analisado ao tomar-se por base só os indicadores de crescimento econômico,

como a taxa de crescimento do PIB e do PIB per capita, mas por outros indicadores que

reflitammudançasnaqualidadedevidadapopulaçãodeumaEconomia(op. cit.,p.545).

EmmeadosdoséculoXX,muitosgovernos,inclusivelatino-americanos,viamnode-

senvolvimentoeconômicoumprocessodetransformaçãodaestruturaprodutiva,como

ummeiodesuperaroatrasohistóricoemqueseencontravamospaísessubdesenvolvi-

dosealcançarrapidamenteoníveldebem-estardospaísesconsideradosdesenvolvidos.

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capítulo 6 • 127

Nesseprocesso,muitospaísesadotarampolíticasqueincentivavamo

avanço da industrialização como política de aumento de emprego e

renda,trazendoareboqueamelhoriadaqualidadedevida.

Oprocessodedesenvolvimentodasnaçõesnãoérecente,e,mesmo

assim,nemtodosospaísespossuemnosdiasdehojeumpadrãodevida

comparadoaodoeuropeu,norte-americanooujaponês.Assim,oestu-

dosobredesenvolvimentoeconômico,noâmbitoeconômicoesocial,é

importante,hajavistaasdiferençasexistentesentreaseconomiasde-

senvolvidaseasemdesenvolvimento.

Os principais indicadores sociais: índice de Gini e índice de desenvolvimento humano (IDH)

OsíndicesdeGinieIDHsãocomumenteutilizadosparamedireava-

liaraevoluçãodaqualidadedevidadapopulaçãoemfunçãodocres-

cimentoeconômico.Avaliaentão,seocrescimentodaprodução,dari-

quezaedapopulaçãoestásendoacompanhadopelodesenvolvimento

econômico—istoé,damelhorianaqualidadedevida,melhordistri-

buiçãoderenda,entreoutros,quesãoosindicadoresmaisutilizados

comoinstrumentosparaessaavaliação.

RESUMO

O aumento da renda per capita não é, como já mencionado no capítulo 4, a melhor

tradução da melhoria do bem-estar da população. O índice de Gini mede o nível de

concentração de renda, e o IDH mede o nível de desenvolvimento.

Índice de Gini

O índice de Gini é o instrumento comumente utilizado para medir o

grau de concentração de renda de um país. Por meio dele, podemos

compararosdiferentesgrausdeconcentraçãoderendaentrepaísesjá

reconhecidamente ricos (Estados Unidos, Japão, Alemanha etc.), em

desenvolvimento(Brasil,Rússia,Chinaetc.)eosreconhecidamentepo-

bres(Etiópia,Nigéria,ElSalvadoretc.).

OíndicedeGinimostraadiferençaentrearendadosmaispobres

edosmaisricosdeummesmopaísevariaemumaescaladezeroa

um. O valor zero representa a situação de igualdade, ou seja, todos

têmamesmarenda.Ovalorumestánoextremooposto,istoé,uma

sópessoadetémtodariqueza.

COMENTÁRIO

Avanço da industrialização

No pós-guerra, os vários países que

promoveram um processo de indus-

trialização acelerada como forma de

superar o atraso econômico e social

perseguiram estratégias diferentes.

Por exemplo, no Brasil, a industrializa-

ção teve como foco maior atender o

mercado interno. Em países asiáticos,

como a Coreia do Sul, o processo de

industrialização teve como foco aten-

der à demanda externa.

COMENTÁRIO

Em desenvolvimento

São atualmente classificadas como

economias de renda baixa (que con-

tinuam muito atrasadas em relação

às desenvolvidas) e as de renda mé-

dia (chamadas também de economias

emergentes, pois estão em vias de

convergir com as desenvolvidas).

COMENTÁRIO

Índice de Gini

Leva o nome de seu criador, o estatísti-

co italiano Corrado Gini (1884-1965),

e foi desenvolvido com o objetivo de

medir a desigualdade de renda em uma

sociedade. Gini também realizou impor-

tantes trabalhos no campo da Demo-

grafia e da Sociologia.

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128 • capítulo 6

Dessaforma,quantomaispróximodezeromenorseráaconcentraçãoderendaedesi-

gualdade.Equantomaispróximodaunidade,maiorseráaconcentraçãoderenda,mos-

trandoquetalpaístemumadesigualdadederendamuitoelevada.Quandoumpaísseen-

contranestaúltimasituação,amaiorpartedapopulaçãorecebeamenorpartedarenda.

REFLEXÃO

Países com uma alta concentração de renda têm uma classe média reduzida e salários médios muito bai-

xos. É amplamente reconhecido que países com uma desigualdade de renda muito alta são considerados

países pobres, menos desenvolvidos.

OíndicedeGiniéumamedidautilizadaparaorientaraelaboraçãodepolíticaspúblicas,

mostrandoemquaisextratosderendaestáafraçãodapopulaçãoqueprecisarecebersubsí-

dios,políticasderedistribuiçãoderendaeumamaiorofertadeserviçospúblicos,comoin-

tuitodeaumentaraparticipaçãodessapartedapopulaçãonaapropriaçãodarendanacional.

Explicando o índice de Gini

OíndicedeGinisebaseiana curva de Lorenz(veremosumexemploaseguir),quemos-

traaproporçãoderendanacionalrecebidaporumadadaporcentagemdapopulação.

Essasproporçõessãocumulativas,dasfamíliasmaispobresparaasmaisricas.Aárea

resultantedadiferençaentreasduascurvas,divididaportodaaáreaàdireitadalinha

diagonal,éoíndicedeGini.

A linha diagonal (com ângulo de 45º) denota a linha de igualdade perfeita. Quando

a curva de Lorenz, que retrata a distribuição de renda real, é igual à linha diagonal, não

háconcentraçãoderenda.Poroutrolado,quantomaisacurvadeLorenzestiverafastada

(paradireita)dalinhadiagonal,maisdesigualeconcentradaéadistribuiçãoderendado

país.Vejamosumexemplo:

PERFEITA DISTRIBUIÇÃO

DE RENDA

CURVA DELORENZ

PRIMEIRO 25%TEM 5% DA RENDA

NACIONAL

RENDA

POPULAÇÃO

100%

0% 100%

SEGUNDO 25%TEM 10% DA RENDA

NACIONAL

TERCEIRO 25%TEM 15% DA RENDA

NACIONAL

QUARTO 25%TEM 70% DA RENDA

NACIONAL

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capítulo 6 • 129

EXEMPLO

A figura apresenta um cenário de elevada concentração de renda. Os 25% mais

pobres ficam com apenas 5% da renda, enquanto os 25% mais ricos apropriam-se

de 70% da renda. A partir desse panorama, um governo preocupado em diminuir

a desigualdade, pode elaborar políticas públicas apropriadas para essa faixa da

população. Por exemplo, pode implantar um programa de transferência de renda à

população mais carente, para elevar seu padrão de vida, oferecendo maiores opor-

tunidades para o desenvolvimento humano (como o Bolsa Família, por exemplo);

pode aumentar a oferta e o acesso à educação e serviços de saúde de qualidade;

pode reduzir a carga de impostos de produtos de primeira necessidade (de maior

consumo das populações mais carentes); pode subsidiar moradia etc.

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

Diferentementedaperspectivadocrescimentopuramenteeconômico,

a abordagem do desenvolvimento humano procura olhar direta-

mente para o potencial de desenvolvimento das pessoas, aumen-

tandooacessoaosrecursosnecessáriosparaseobterumpadrãode

vidamelhor,considerandoumavidalongaesaudável,comacesso

a educação de qualidade e com a preocupação de preservação das

geraçõesfuturas.

OIDHéumindicadorsocioeconômicocomoobjetivodemediro

graudedesenvolvimentoeconômicoeaqualidadedevidaoferecidaà

populaçãodequasetodosospaísesdomundo.Assimédiretamente

empregadoparacompararoníveldedesenvolvimentoentreospaíses.

Esseprogramapartiudopressupostodeque,paraconhecereaferir

oavançonaqualidadedevidadeumapopulação,serianecessárioum

indicador que avaliasse progressos sociais, ou seja, um indicador que

avaliasse o desenvolvimento das capacidades humanas de progresso.

AssimoIDHconsidera,alémdarendaper capita,outrascaracterísticas

queinfluenciamaqualidadedevida.

REFLEXÃO

Segundo o PNUD, a renda é uma variável importante, mas como um meio para

alcançar o desenvolvimento, e não o seu fim. Ao introduzir a ideia de desenvolvi-

mento humano na perspectiva do desenvolvimento econômico, o foco é transferido

da renda para o ser humano.

OconceitodedesenvolvimentohumanodifundidopeloPNUDpres-

supõeumprocessodeampliaçãodasescolhasdaspessoas,paraquete-

nhamcapacidadeeoportunidadeparaseroquedesejarem.

COMENTÁRIO

Crescimento puramente econômico

Avalia a evolução do bem-estar de uma

população somente através dos recursos

que ela possui, pela renda ou riqueza que

ela pode gerar.

COMENTÁRIO

IDH

Elaborado pelo Programa das Nações

Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),

em 1990. Seu desenvolvimento do IDH

está associado ao nome do economista

Amartya Sen, ganhador do prêmio Nobel

de Economia em 1998.

COMENTÁRIO

Desenvolvimento humano

De acordo com Passos e Nogami

(2003), o desenvolvimento humano pro-

cura aumentar as opções das pessoas,

não apenas aumentando a capacidade

de consumir bens e serviços, mas as op-

ções criadas para aumentar a capacida-

de ou condição humana.

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130 • capítulo 6

OIDHécalculadopeloPNUD,queavalia3dimensõesdodesenvolvimentohumano:

renda,longevidadeeeducação.Assim,éobtidocombaseemdadoseconômicosesociais,

asaber:PIBper capita,expectativadevida,anosdeestudoeanosesperadosdeestudo.

OIDHvariaemumaescaladezero(nenhumdesenvolvimentohumano)aum(desen-

volvimentohumanototal).Assim,inversamenteaoíndicedeGini,opaísémaisdesenvol-

vidoquandoseuIDHémaispróximode1(ametodologiadesteíndicetambéméutilizada

paraaferirodesenvolvimentodecidades,estadoseregiões).Vejamosumatabela:

IDH 2012 (países selecionados)

Ranking País IDH Ranking País IDH

1º Noruega 0,955 20º França 0,893

2º Austrália 0,938 26º Reino Unido 0,875

3º Estados Unidos 0,937 40º Chile 0,819

4º Holanda 0,921 45º Argentina 0,811

5º Alemanha 0,920 51º Uruguai 0,792

6º Nova Zelândia 0,919 61º México 0,775

7º Irlanda 0,916 85º Brasil 0,730

8º Suécia 0,916 91º Colômbia 0,719

9º Suíça 0,913 173º Etiópia 0,388

10º Japão 0,912 185º Moçambique 0,327

Fonte: PNUD

Apesar dos avanços recentes, podemos ver na tabela que o Brasil se encontra em

uma posição intermediária em relação aos países do globo. Segundo o PNUD (2013),

o Brasil saltou de um IDH de 0,522 em 1982, para 0,730 em 2012. No índice de Gini,

passoude0,6356,em1989,para0,5299em2012.Istopodeserinterpretadocomoum

processodeconvergência,aindaquelento,aosníveisderendaequalidadedevidados

paísesdesenvolvidos.

REFLEXÃO

Contudo, vale ressaltar que outros países latino-americanos, como Chile, Argentina, Uruguai e México,

embora tenham uma geração de riqueza absoluta inferior à brasileira, possuem, segundo o PNUD de 2012,

um desenvolvimento humano melhor que o do Brasil.

Desenvolvimento sustentável

Aquestãodasustentabilidadedodesenvolvimentoeconômicofoiotemadedebatenafamo-

saConferênciadasNaçõesUnidasde1972,emEstocolmo.Oconceitodedesenvolvimento

sustentávelpassouaserdisseminadoapósorelatóriodaBrundtland Commission,de1987.

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capítulo 6 • 131

ATENÇÃO

Esse conceito define como sustentável o desenvolvimento econômico que atenda

às necessidades da geração corrente sem comprometer a capacidade das gera-

ções seguintes atenderem suas próprias necessidades. Dessa forma, o cresci-

mento e o desenvolvimento econômico deveriam ser perseguidos levando-se em

conta o equilíbrio entre o que é socialmente desejável, economicamente viável e

sem danos irreversíveis ou não ao meio ambiente.

Dessa forma, para o desenvolvimento ser sustentável é necessário

queocrescimentoeconômicoeamelhoriadaqualidadedevidaocor-

ramrespeitandoaconservaçãodomeioambiente.

Aacumulaçãodelixonãoorgânico,poluiçãodosrecursoshídricosedo

ar,bemcomoautilizaçãoeficientederecursosnaturaisfinitos,expõemo

desafio,paraasgeraçõesatuaiseseguintes,quantoàmanutençãodoatual

ritmodecrescimentodaproduçãoeconsumo,àmedidaqueamelhoriade

vidaemmuitassociedadespermiteumaumentonopadrãodeconsumo.

Odesenvolvimentosustentável,dopontodevistaambiental,requer

oequilíbrioentreproteçãodomeioambienteeseusrecursos,eouso

destesrecursosdeformaagarantirumaqualidadedevidaaceitável(de-

senvolvimentohumano)paraoshabitantesnãosódealgumasnações,

mas para todo planeta. Portanto, o crescimento e o desenvolvimento

econômicodevemocorrerdentrodoslimitesdoqueéecologicamente

possível,epromoveroacessoarecursoseoportunidadesparaoaumen-

todaprosperidadeatodos.

Políticas públicas para a promoção do desenvolvimento

Vimosqueopadrãodevidadasociedadedependedesuacapacidade

deproduzirbenseserviços,equesuaprodutividadedependedocapi-

talfísico,docapitalhumano,dosrecursosnaturaisedoconhecimento

tecnológico. Mas o que os formuladores de política podem fazer para

estimularoaumentodoprodutoportrabalho,quetrazefeitospositivos

sobrearendaeacontínuamelhoriadopadrãodevidadasociedade?

REFLEXÃO

Nesta seção destacaremos algumas políticas públicas que os governos têm implementado

para promover o desenvolvimento econômico nos países. Primeiramente, trataremos do

incentivo à Acumulação de Capital; em seguida, da Educação e do Direito de Propriedade;

depois do Livre Comércio, e, finalmente, dos estímulos à Pesquisa e Desenvolvimento.

COMENTÁRIO

Conservação do meio ambiente

Recursos naturais e ambientais são

empregados ao longo do processo de

crescimento econômico, mas devem ser

usados com consciência para evitar a

exaustão acelerada de recursos não re-

nováveis, a degradação do meio ambien-

te e a poluição. Caso contrário, o cresci-

mento e o próprio desenvolvimento não

serão sustentáveis.

COMENTÁRIO

Ecologicamente possível

Novas tecnologias devem ser persegui-

das para que o uso dos recursos ambien-

tais pelo progresso econômico não de-

gradem o meio ambiente, prejudicando

o desenvolvimento e a qualidade de vida

das gerações futuras.

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132 • capítulo 6

Política de incentivo à acumulação de capital

Oincentivoàacumulaçãodecapitalprodutivoconsisteemestimularoin-

vestimentonaformaçãodecapitalfixo.Issopodeserfeitopormeiodees-

tímulosàexpansãodeumaindústriadebensdecapital,aqualvenhapro-

duzirbensdecapitalmaisavançados,contribuindoparaoaumentodo

produtodaeconomiaedarendaportrabalhador.Investirmaisrecursos

naproduçãodebensdecapitalproporcionaráumaumentonoestoque

decapitaldopaís,permitindoaomesmoproduzirmaisbenseserviços.

EXEMPLO

Suponha que o Congresso Nacional aprove uma mudança tributária que tenha por

objetivo tornar o investimento mais atraente, através da criação de uma espécie de

crédito tributário para o investimento. Essa política concederia uma vantagem tribu-

tária — uma dedução do imposto devido — a qualquer empresa que construa uma

nova fábrica ou compre um novo equipamento, com impacto positivo na geração de

novos postos de trabalho. Isso, na prática, representaria uma recompensa às empre-

sas que tomam empréstimos e investem em novo capital, alterando o investimento

para qualquer nível da taxa de juros.

Arelaçãoentrecrescimentoeinvestimentoéforte,emboranãoseja

perfeita.Ospaísesquededicamsistematicamenteumagrandeparcela

doseuPIBaoinvestimento,tendemateraltastaxasdecrescimentodo

PIBnolongoprazo.OsquededicamparcelaspequenasdoPIBaoinves-

timento,ouapresentamumcomportamentodoinvestimentoevoluin-

dodeformamuitovolátil(oraoinvestimentoseexpandemuitorápido,

oramuitodevagar),tendematerbaixastaxasdecrescimentonolongo

prazo,quandocomparadoaoprimeirocaso.

Noentanto,àmedidaquearendaagregadaaumenta,oinvestimento

tambémaumenta,conotandoumafortecorrelaçãoentreestasduasva-

riáveis.Comovimosnocapítulo4,oinvestimentoexpandeademanda,

queporsuavez,expandeaprodução,oempregoearenda.

O financiamento do investimento em capital fixo e a poupança

Para a expansão da acumulação de capital, é essencial o desenvolvimento

de um sistema de financiamento (concessão de empréstimos bancários em

prazos e condições razoáveis ou o desenvolvimento de um mercado de títu-

los) que viabilize projetos de imobilização de capital, envolvendo longo perío-

do de tempo para gerar fluxos de renda que permitam saldar dívidas contra-

ídas. Na ausência de um sistema financeiro que atenda a esta necessidade,

o governo pode adotar, por exemplo, políticas que aumentem a taxa de pou-

pança da nação, reduzindo o consumo privado. Esta política, no entanto,

COMENTÁRIO

Forte correlação

Como o consumo das famílias e a arre-

cadação tributária aumentam, podendo

induzir a um aumento nos gastos do

governo, as firmas, em um clima de ex-

pectativas otimistas, podem elevar seus

investimentos para ampliar a capacidade

produtiva e, com isso, satisfazer a de-

manda crescente devida ao crescimento

da renda nacional.

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capítulo 6 • 133

só será bem sucedida se a poupança aumentada significar que haverá mais recursos disponíveis

para produzir bens de capital. Caso a poupança aumentada seja dirigida à especulação financeira,

diz-se que ocorre um vazamento de recursos que não ampliam a demanda agregada.

O governo também poderá estimular o investimento em capital produtivo através das operações

dos bancos públicos de desenvolvimento, que visam financiar o investimento de longo prazo. Os

bancos públicos têm um papel distinto dos bancos privados. O papel dos bancos públicos é basi-

camente atender à demanda de crédito não suprida pelo setor financeiro privado. Eles concedem

crédito para grandes, médios e pequenos produtores e empreendedores, projetos de infraestrutura

e investimentos que têm por objetivo o desenvolvimento regional, por exemplo, que é relevante no

desenvolvimento econômico.

Devido à natureza do investimento que envolve sempre um horizonte de longo prazo — no qual o

risco, a incerteza, o volume de recursos solicitados e os prazos de financiamento são maiores —,

em muitos casos, o banco privado pode não ter interesse em financiá-lo. Além disso, em países

em desenvolvimento, o mercado de títulos é geralmente insuficiente para atender ao volume de

demanda de recursos das empresas para financiamento de longo prazo. Portanto, a escassez de

financiamento desse investimento produtivo pode ser abreviada pela atuação dos bancos públicos

de desenvolvimento.

No caso do Brasil, entre os bancos públicos, destacamos o Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES), o qual financia investimentos que contribuem para o crescimento

econômico do país, concedendo empréstimo de longo prazo com taxa de juros abaixo das taxas de

mercado. Entre os projetos que requerem um grande volume de recursos, o BNDES tem financiado

investimentos nas áreas de petróleo e gás, energia elétrica, logística, agronegócio etc. Entre os princi-

pais objetivos do BNDES, está a promoção das potencialidades produtiva e inovadora, com impactos

na exportação de bens e serviços, na geração de emprego e renda, e qualidade de vida (através dos

financiamentos a investimentos em infraestrutura, transporte, saúde, educação, cultura e lazer).

Oaumentodacapacidadeprodutivapodeocorrerpeloinvestimentodosresidentese

dosnãoresidentes,ouseja,oinvestimentoestrangeiro.Oinvestimentoestrangeiropode

assumirváriasformas.Porexemplo,amontadoraHyundaipoderiaconstruirumafábrica

decarrosnoBrasil.Comoesseinvestimentoseriadiretamentenaprodução,eleéchamado

deinvestimentoestrangeirodireto.

Alternativamente,seumnãoresidenteadquiriraçõesdeumaempresabrasileira(com-

prarumaparticipaçãonapropriedadedaempresa),elepoderiausarosrecursosobtidos

comavendadeaçõesparaconstruirumanovafábrica.Noentanto,oinvestimentoestran-

geiroindiretosóocorrecomaprimeiravendadaação.

ATENÇÃO

Um investimento financiado com dinheiro de não residentes, mas operado por residentes, é chamado de

investimento estrangeiro indireto. Dessa forma, o resto do mundo poderá proporcionar os recursos neces-

sários (poupança) para aumentar o estoque de capital da Economia nacional.

Oseconomistasacreditamqueoinvestimentoestrangeiropodetrazerumagrandecon-

tribuiçãoparaocrescimentoeodesenvolvimentoeconômicodospaíses.Mesmoqueparte

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134 • capítulo 6

dosbenefíciosdesseinvestimentoretorneaoproprietárioestrangeiro,

o investimento aumenta o estoque de capital da Economia, gerando

maior produtividade e maiores salários. Além disso, o investimento

estrangeiroéumamaneirapelaqualospaísespobrespodemabsorver

partedastecnologiasavançadasusadaspelospaísesricos.

Banco de desenvolvimento internacional e

o desenvolvimento econômico

O Banco Mundial é uma organização que procura incentivar o fluxo de capital

para os países pobres ou em desenvolvimento, como Brasil, Chile, Panamá, Áfri-

ca do Sul etc. Essa organização internacional capta recursos dos países avan-

çados, como os Estados Unidos, Alemanha e Suíça, e os utiliza para conceder

empréstimos a países menos desenvolvidos, de forma que eles possam investir

em estradas, saneamento básico, escolas e outros tipos de capital que possam

promover o desenvolvimento econômico e a melhoria do padrão de vida, princi-

palmente das camadas mais carentes da população. O Banco Mundial também

oferece a esses países assessoria para auxiliar os países que estão em vias de

desenvolvimento a empregar melhor os recursos disponíveis na nação.

Política de incentivo à Educação

Outromeiofundamentalparaodesenvolvimentodeumpaíssãoaspo-

líticaspúblicasqueelevamoníveldeeducaçãodapopulação.Ogasto

públicoemeducaçãorepresentainvestimentoemcapitalhumano.Para

umpaíscresceresedesenvolveraolongodotemponãobastaacumular

capitalfísico,mastambémcapitalhumano.

Assim,apolíticadegovernopodeaumentaropadrãodevidadesua

populaçãooferecendoboasescolaseincentivandoasuaplenautiliza-

ção.Ogovernopodeoferecerbolsasdeestudosaalunos(ouàsuafamí-

lia),paramantê-lonaescola,eassimevitaraevasãoescolar,queaindaé

altanospaísesmenosdesenvolvidos.

Oinvestimentoemcapitalhumanoimplicadeixardetrabalhar(para

auferirumarenda)esededicaraumestudo:profissionalizante,espe-

cialização ou de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias ou

conhecimento.Portanto,assimcomooinvestimentoemcapitalfísico,

oinvestimentoemcapitalhumanotemumcustodeoportunidade.

Investimento em capital humano

Para os economistas estudiosos do crescimento de longo prazo, o investi-

mento em capital humano é particularmente importante, pois propaga exter-

nalidades positivas. Uma externalidade é o efeito das ações de uma pessoa

COMENTÁRIO

Capital humano

Em países em vias de desenvolvimento,

especialmente onde o capital humano é

mais escasso, a diferença entre os salá-

rios dos trabalhadores instruídos e não

instruídos é muito elevada. O baixo nível

de instrução e qualificação é uma das

fontes da concentração de renda.

COMENTÁRIO

Investimento em capital humano

Quando os estudantes estão na escola,

abrem mão dos salários que podem ga-

nhar. Em países menos desenvolvidos,

as crianças frequentemente abando-

nam as escolas muito jovens, ainda que

o benefício da educação seja muito alto,

simplesmente porque seu trabalho é ne-

cessário para ajudar a manter a sua fa-

mília. É nessa situação que as bolsas de

estudos governamentais têm um papel

essencial e fundamental no desenvolvi-

mento socioeconômico da nação.

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capítulo 6 • 135

sobre o bem-estar de outra pessoa. A externalidade pode também ser cau-

sada pelas empresas e pode afetar quem está perto ou longe dela. Uma pes-

soa instruída, por exemplo, poderia gerar novas ideias sobre a melhor forma

de produzir bens e serviços. Se estas ideias entrarem para o conjunto de

conhecimento de uma sociedade, de modo que todos possam usá-las, então

essas ideias serão uma externalidade da educação. Nesse caso, o retorno

da instrução para a sociedade é maior do que o retorno para o individuo.

Esse argumento justificaria grandes subsídios ao investimento em capital

humano que observamos sob a forma de educação pública.

Mankiw (2005) chama a atenção para a fuga de cérebros. Muitos países en-

frentam a emigração de muitos trabalhadores mais instruídos para países ricos

e desenvolvidos, onde eles podem desfrutar de um padrão de vida mais eleva-

do. Como o capital humano gera externalidade positiva, essa fuga de cérebros

deixaria as pessoas que permanecem, no país, ainda mais pobres do que antes.

Esse problema cria um dilema para os formuladores de política. Os países ricos

têm os melhores sistemas de educação superior, sendo natural que os países

pobres enviassem seus melhores alunos para o exterior a fim de melhorar sua

instrução. No entanto, esses alunos que passaram algum tempo fora podem

decidir não voltar para seus países de origem, e essa fuga de cérebros reduziria

ainda mais o estoque de capital humano. (MANKIW, 2005, p. 374).

Política de garantia ao Direito de Propriedade

Umprodutodeconsumodasfamílias,assimcomomuitosinsumosem-

pregadosnoprocessodeprodução,passaporváriasetapasdeprodução

atéquefiquemprontosparaseremconsumidos.Essadivisãodeprodu-

çãoentremuitasempresaspermitequefatoresdeproduçãodaEcono-

miasejamusadosdamaneiramaiseficazpossível.

RESUMO

Como vimos no capítulo 3, as economias de mercado se auto ajustam por meio dos

preços de mercado, o que equilibra a oferta e a demanda.

Mas para o sistema de preços funcionar, é necessário um respeito

amplonaEconomiapelodireitodepropriedade.Umaempresadoramo

doagronegócionãoiráinvestirnaproduçãodegrãosseodireitoasua

propriedadenãoforgarantido,ouseja,nãoiráinvestirseelaacreditar

quesuapropriedadepodeserconfiscadapeloprópriogovernoouapro-

priadaindevidamenteporoutrosindivíduos.

Elasóiráoperarsetivercertezadequesebeneficiarádavendasubse-

quentedesuaprodução.Porisso,ostribunaisdejustiçadesempenham

umpapelimportantenaseconomiasdemercado.

CONCEITO

Direito de propriedade

O direito de propriedade refere-se à

capacidade das pessoas de exerce-

rem autoridade sobre os recursos que

possuem.

COMENTÁRIO

Tribunais de justiça

O Estado deve garantir o direito de pro-

priedade. Os tribunais fazem com que os

direitos de propriedade sejam cumpri-

dos. Por meio da justiça penal, os tribu-

nais desencorajam o roubo. Além disso,

por meio da justiça civil, os tribunais ga-

rantem que compradores e vendedores

respeitem os contratos.

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136 • capítulo 6

Apolíticadegovernodevepromoveraeliminaçãodosobstáculosao

bomfuncionamentodomercado,comogarantirosdireitosdeproprie-

dadedetodososresidentesenãoresidentesnopaís.Aineficiênciado

sistemadejustiça,porexemplo,poderiadesestimularageraçãodein-

vestimentodomésticoeestrangeiro.

REFLEXÃO

Sem os direitos de propriedade, o país não cresce nem se desenvolve, principalmen-

te, porque isso desestimularia o investimento privado.

Política de incentivo ao livre comércio

As políticas econômicas que permitem o livre comércio da Economia

com as demais nações são vistas como um meio de desenvolvimento

econômico.Segundoseusdefensores,permitemqueopaísempregue

seusrecursosdisponíveisnaproduçãodaquiloemqueémaiseficiente,

e troque-os, por meio das exportações, pelos bens sobre os quais não

temosconhecimentooutecnologiaparafazê-los.

Entreofinaldosanos1940einíciodosanos1980,muitospaísesem

desenvolvimento,inclusiveoBrasil,adotaramumapolíticaqueinibiao

livrecomérciocomomedidadeestímuloàindustrializaçãonacional.

REFLEXÃO

Como os países pobres tinham poucas indústrias, o livre comércio naquele momento

poderia impedir que muitos setores industriais nascessem e progredissem. Nesse ce-

nário, os países ricos e industrializados exportariam bens mais sofisticados para os pa-

íses mais pobres e estes exportariam produtos básicos e primários para os primeiros.

Essapolíticadeindustrializaçãoaceleradacombaseemproteçãota-

rifáriaenãotarifária,quepropiciouumrápidocrescimentoemmuitas

economiasmenosdesenvolvidasnopós-guerra,atéosanos1980,éco-

nhecidacomopolíticavoltadaparadentro.

Essaabordagemobtémoapoiodealgumasempresaslocaisquerei-

vindicam proteção contra concorrentes estrangeiros para competir e

crescer.OBrasilfoiumpaísqueperseguiuapolíticadeindustrialização

aceleradacomoformadereduzirsuadistânciaemrelaçãoàseconomias

desenvolvidas.Muitoseconomistasderenomecontribuíramparaesta

estratégia,devendo-semencionaronomedeCelsoFurtado.

A partir dos anos 1990, a corrente que propõe o livre comércio

comomeiodedesenvolvimentopassouapredominar.Essapolíticain-

centivouasempresasinstaladasemterritórionacionalaseremmais

COMENTÁRIO

Políticas econômicas de livre comércio

Os governos podem retirar obstáculos

ao livre comércio, tais como tarifas so-

bre os produtos importados ou exigên-

cia de cotas de importação.

COMENTÁRIO

Política voltada para dentro

Tem por objetivo aumentar a produtivida-

de e os padrões de vida dentro do país,

evitando que os bens produzidos inter-

namente entrem em competição com

os estrangeiros no mercado doméstico.

Opõe-se à política voltada para fora.

AUTOR

Celso Furtado

Celso Furtado (1920-2004) é uma re-

ferência no pensamento econômico

brasileiro, além de ter sido um renoma-

do intelectual, imortalizado pela Acade-

mia Brasileira de Letras em 1997.

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capítulo 6 • 137

eficientes e competitivas em relação àquelas instaladas no resto do

mundo;issoporqueasempresasdomésticas—sejamelasderesiden-

tesounãoresidentes—concorremcomasestrangeirastantonomer-

cadointernoquantoexterno.

REFLEXÃO

Para o livre comércio cooperar com o desenvolvimento econômico de um país ou re-

gião em desenvolvimento, é preciso que a tecnologia (ou know-how) disponível seja

igualmente acessível a todos os países. Caso contrário, os países mais avançados

tecnologicamente sempre estarão em vantagem sobre os países menos avançados

no comércio internacional.

Dessemodo,olivrecomércioestariacontribuindoparaamelhoria

daqualidadeeaumentandoaquantidadedeprodutonacional,gerando

maisempregoerendaparaseushabitantes,bemcomoocomércioin-

ternacionalpodemelhorarobem-estardoscidadãosdeumpaís.

Política de incentivo à Pesquisa e Desenvolvimento

OutrapolíticapúblicaéoapoioàPesquisaeDesenvolvimento(P&D).O

avançodoconhecimentotécnicoaolongodotempopodeserconsidera-

doaprincipalrazãoparaaevoluçãodaqualidadedevidaemrelaçãoaos

padrõesde20,50ou100anosatrás.

EXEMPLO

O telefone, a penicilina, o motor elétrico, os computadores e o laser estão entre as

inovações que no último século contribuíram para melhorar a capacidade de produzir

bens e serviços, e também o padrão de vida.

Assim,ogovernopoderáadotarpolíticasqueestimulemodesen-

volvimentotecnológico,nãosócriandoincentivosparaqueainicia-

tivaprivada(empresaseuniversidadesprivadas)incrementeaspes-

quisas, como também estimulando o desenvolvimento tecnológico

pormeiodasinstituiçõespúblicas(comoosinstitutosdepesquisae

asuniversidadespúblicas).

Todapesquisatemoobjetivodedesenvolverconhecimentoaplica-

dooucientífico.E,demodogeral,oconhecimentoéumbempúblico,

istoé,todavezquealguémtemoudesenvolveumaideia,elaentrapara

oconjuntodeconhecimentodasociedadee,assim,outraspessoaspo-

demfazerlivreusodela.

Umgrandeestímuloàpesquisaeaodesenvolvimentodenovastec-

nologiaséosistemadepatentespropiciadopelogoverno.Porexemplo,

COMENTÁRIO

Bem público

A disseminação desse conhecimento

livre é que vai tornar possível a criação

de novas tecnologias que serão aplica-

das tanto no crescimento da produção

quanto na melhoria da qualidade de vida.

A evolução da internet é um exemplo.

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138 • capítulo 6

quandouminventorouempresadesenvolveumnovoproduto,comoumcircuitoeletrô-

nico(chip),porexemplo,seuinventorsolicitaumapatente.Seoprodutoforconsiderado

realmente original, o governo concede a patente, dando ao inventor direito exclusivo de

fabricaçãodoprodutoporumdeterminadoperíododeanos,quepodechegaraomáximo

de20ou25anos,dependendodaespecificidadedoproduto.

RESUMO

Na prática, a patente dá ao seu inventor o direito de propriedade sobre sua invenção. A patente concede

um direito de monopólio sobre o qual, durante o seu período de vigência, o proprietário poderá explorá-lo lu-

crativamente, inclusive como meio de ressarcimento dos custos envolvidos na pesquisa que gerou o invento.

Aopermitirqueosinvestidoreslucremcomseusinventos,mesmoquesejaporumpu-

nhadodeanos,osistemadepatentesaumentaoincentivoparaqueindivíduoseempresas

sedediquemàpesquisa.Assim,apesquisaeodesenvolvimentodenovosconhecimentose

tecnologiasvãoaumentandoacapacidadedasfirmasedasfamíliasdeelevaremsuarique-

zaequalidadedevida,utilizandomaiseficientementeosrecursosescassosedegradando

cadavezmenosomeioambiente.

Gastos do governo em Pesquisa e Desenvolvimento

O governo dos Estados Unidos, há algum tempo, desempenha um papel importante na criação e

disseminação do conhecimento tecnológico. Há mais de um século, o governo americano vem pa-

trocinando pesquisas de métodos de produção agrícola, bem como aconselhando os agricultores

sobre como usar a terra de forma mais produtiva. Mais recentemente, por meio do seu departa-

mento de defesa e da NASA (Administração Nacional de Aeronáutica e do Espaço), tem financia-

do a pesquisa aeroespacial; como resultado, os Estados Unidos tornaram-se líderes na produção

de foguetes e aviões. O governo continua a incentivar o avanço do conhecimento com bolsas de

pesquisa através da Fundação Nacional de Ciência e do Instituto Nacional da Saúde, além das de-

duções de impostos para as empresas que se dedicam à pesquisa e ao desenvolvimento científico

(cf. MANKIW, 2005, p. 376).

As guerras também influenciam a Pesquisa e Desenvolvimento. O departamento de defesa nacio-

nal americano, assim como aqueles de outros países, estimula o desenvolvimento tecnológico e

científico com objetivos de defesa. Mas essa tecnologia acaba transbordando para a sociedade na

forma de bens e serviços de uso civil, em tempo de paz. A difusão do transporte aéreo comercial

intercontinental, o desenvolvimento de radares sofisticados e das telecomunicações, são alguns

exemplos de subprodutos das políticas voltadas para o desenvolvimento tecnológico e científico

em prol da defesa nacional.

Globalização

Dopontodevistaeconômico,aglobalizaçãopodeserentendidacomoumaintegraçãoglo-

baldasrelaçõeseconômicasefinanceiras.Istoé,aseconomiastornamseusmercadosde

bens,serviçosefinanceirosintegradosàsdemaiseconomias,criandoumúnicomercado

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capítulo 6 • 139

global.Nesseprocesso,asempresasperdemsuacaracterísticanacional

ou multinacional para assumir uma postura global. Por exemplo, um

mesmoprodutopodeserproduzidoemescalamundial.

REFLEXÃO

Segundo a teoria econômica, ao longo da globalização, o sistema capitalista de pro-

dução desenvolveu-se em escala mundial, isto é, o mercado, as forças produtivas, a

nova divisão internacional do trabalho e a reprodução ampliada do capital expandi-

ram suas fronteiras globalmente.

Origem

Muitoseconomistas,aoexplicarasorigensdoprocessodeglobalização

(queteveinícionofimdosanos1980),reportamqueesseprocessoéde-

correntedeumfenômenoeconômicodoséculoXV,devidoàexpansão

marítimaeuropeia.

A acumulação de riqueza com as trocas ultramarinas criou con-

diçõesparaoutrofenômenoeconômico:aRevoluçãoIndustrial,em

meados do século XVIII, que trouxe desenvolvimento econômico e

principalmentetecnológico.

REFLEXÃO

A produção aumentou e, com isso, as exportações. Agora, os países poderiam

comprar produtos que não fabricavam de outros países e se especializar na pro-

dução daqueles em que são mais eficientes, ou seja, aqueles que fabricam a um

custo mais baixo.

No século XX, o mundo sofreu outra mudança com a criação das

corporaçõesmultinacionais(umaempresacomsedesefábricasespa-

lhadaspelomundo),criandoumanovafasedocapitalismoepromo-

vendo uma expansão da produção em escala mundial ainda não vis-

ta.Nessemesmoséculo,oprogressotecnológicocriaedesenvolveos

meiosdecomunicação.

Através da ascensão das ideias neoliberais dos anos 1980, houve

umaondadedesregulamentaçãodasatividadesfinanceiras,quejáse

observavanospaísesdesenvolvidosdesde1970.Assim,ocapitalfinan-

ceiropoderialivrementefluirparaoutrosmercadosembuscadeuma

rentabilidademaior.Issocorroboradopeloprogressotecnológicoas-

sociadoàevoluçãodainformáticaedastelecomunicações.Oresulta-

dofoiaextraordináriareduçãodoscustosoperacionaisedoscustosde

transaçãoemescalaglobal.

COMENTÁRIO

Expansão marítima europeia

O início das grandes navegações e a

descoberta da América, em 1492, pro-

piciou um intercâmbio cultural e mer-

cantil entre os mercados então conhe-

cidos: Europa, Ásia e América. Com a

organização mercantilista dessa época,

surgiram novas rotas comerciais que

expandiram as trocas entre os países,

gerando um maior crescimento e de-

senvolvimento de suas economias.

COMENTÁRIO

Meios de comunicação

Sua rápida expansão, a partir dos anos

de 1950, com a popularização do telefo-

ne, do rádio e do telégrafo, foi o alicerce

para a nova fase da globalização que se

inicia ainda nos anos 1980.

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140 • capítulo 6

REFLEXÃO

Assim, as operações financeiras tornaram-se significativamente mais baratas, ao mesmo tempo em

que se reduziram os custos de coleta de informações e de monitoramento dos mercados financeiros

espalhados pelo mundo.

Umaconsequênciadissofoioaumentodofluxodecapital,tantoprodutivoquan-

tofinanceiro,parapaísesemdesenvolvimento(principalmenteofinanceiro).Ospaí-

sesdaAméricaLatinaedaÁsiaforamosquemaisreceberamessesfluxosdecapital,

emboranãotenhamaindaatingidoonívelderendaper capitaebem-estarsocialdos

paísesdesenvolvidos.

Sealiberalizaçãoeconômicatrouxebenefíciospelaexpansãodocomércio,também

tornou as economias mais sujeitas a crises. Nos anos 1990, as economias asiáticas e

latino-americanassofreramgrandevolatilidadenascontasexternas,levandooregime

decâmbiofixoaoabandonoemquasetodoomundo.Acrisenospaísesdesenvolvidos,

entre2005e2010,élargamenteatribuídaàdesregulamentaçãodosmercadosfinancei-

rospromovidapelaliberalizaçãoeconômica.

Liberalismo e globalização

Segundo Gonçalves (2002), a ascensão das ideias neoliberais foi um determinante da globa-

lização. A liberalização representou a redução das barreiras comerciais de acesso aos mer-

cados nacionais. A desregulamentação envolveu a eliminação ou afrouxamento das normas

reguladoras da atividade econômica. Em outras palavras, o Estado, através do seu governo,

passou a ser orientado pela política neoliberal, a qual objetiva diminuir a intervenção e a influ-

ência do Estado na Economia. Assim, a intervenção estatal nos mercados, como planejador e

regulador, dá lugar às decisões da iniciativa privada, pois as decisões de mercado seriam as

melhores para alocar os recursos na Economia; no lugar das barreiras comerciais para pro-

teger a produção nacional está a liberalização da importação de bens e serviços, mesmo que

isso signifique perda de postos de trabalho e diminuição da renda como contrapartida de pre-

ços mais baratos; e o controle do fluxo de capital externo dando lugar à abertura do mercado

doméstico, visto como meio de atingir um crescimento econômico maior do que poderíamos

ter, caso não pudéssemos contar com o investimento financeiro externo. A crise financeira

internacional de 2007 tem colocado em cheque estas ideias.

Características da globalização

Oprocessodeglobalizaçãoeconômicaatualrepresentaumamudançanasestratégias

dos investidores institucionais (bancos, fundos de investimentos, fundos de pensão

etc.) e das empresas transnacionais que operam em escala global. Dessa forma, uma

dascaracterísticasdaglobalizaçãoéumamaiordispersãogeográficadosrecursosfi-

nanceiroseprodutivos,aomesmotempoemqueosmercados,ondeseoperamesses

recursos,tornaram-semaisintegrados.

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capítulo 6 • 141

RESUMO

Seguindo essa lógica, a globalização econômica aconteceu porque ocorreu simul-

taneamente: um crescimento extraordinário dos fluxos internacionais de produtos

e capital entre países; um aumento da concorrência internacional; um avanço na

internacionalização da produção e maior integração entre as estruturas produtivas.

Essas são as principais características da globalização.

Para um melhor entendimento, separamos a globalização em pro-

dutiva(queabordaosaspectosenvolvendoaproduçãoeofluxodebens

eserviços)efinanceira(queenvolveofluxodemoedaeobrigaçõesfinan-

ceirasentreospaíses).

Globalização produtiva

Ainternacionalizaçãodaproduçãoocorresemprequeresidentesdeum

paíspodemadquirirbenseserviços(incluindooperaçõesfinanceiras)

comorigemestrangeira:issosignificaaexistênciadefluxosinternacio-

naisdebens,serviçosecapitalfinanceiro.Hátrêsformasbásicasdein-

ternacionalizaçãodaprodução:comércio,investimentoexternodireto

erelaçõescontratuais.

Osserviços,demodogeral,sãoprodutosintangíveisenãoarmaze-

náveise,portanto,ocomérciointernacionaldeserviçosexigeodeslo-

camentodoconsumidor(turismo,porexemplo)oudoprodutorcoma

presençadepessoafísica(consultoria,porexemplo).

No entanto, a principal forma de internacionalização da produção

deserviçoséapresençacomercialestrangeiranopaís(naformadepes-

soasjurídicas).Nessecaso,ocorreoestabelecimentodesubsidiáriase

filiaispormeiodoinvestimentoexternodireto(IED).Esteúltimoéoin-

vestimentoqueasempresasestrangeirasfazemsomentenosetorpro-

dutivodaeconomiadoméstica.

Ainternacionalizaçãodaproduçãotambémpodeocorrerpormeio

derelaçõescontratuais,pelasquaisosresidentesdeumpaís(A)transfe-

rem,pararesidentesdeumpaís(B),umconjuntodeativosespecíficos

desuapropriedade(tecnologia,capacidadegerencial,organizacionale

mercadológica),queviabilizamaproduçãodebensouserviçosnopaís

(B),porumaempresadeorigemdopaís(A).

RESUMO

Trata-se, então, da transferência de know-how (tecnologias de processo, tecnolo-

gias de produto, assistência técnica etc.) ou de direitos de propriedade (marcas,

patentes, copyrights, franquias etc.), por meio de relações contratuais.

CONCEITO

Investimento externo direto

O IED é todo fluxo de capital com o intui-

to de controlar a empresa receptora do

investimento. O principal agente de reali-

zação do IED é a empresa transnacional

empresa de grande porte que controla

ativos em pelo menos dois países. Essas

empresas têm, geralmente, a sua matriz

localizada nos países desenvolvidos e,

por meio do investimento externo direto,

elas controlam subsidiárias e filiais em

outros países.

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142 • capítulo 6

A rede de fast food McDonald’s é, entre muitos, considerada uma

marcasímbolodaglobalização.Suaproduçãodesanduíchesemsérie,

por meio de processos rigidamente padronizados, está instalada nos

quatrocantosdoplaneta,rompendobarreirasculturais.Oprocessode

multiplicação da rede McDonald’s nos países se dá basicamente pela

compradefranquiaspeloresidente.

Nesseprocessodeglobalização,omercadolocalpassouafazerparte

deummercadoglobal,contribuindoparaumaumentodaconcorrência

entreempresasnomercadomundial.Nessenovocenário,umaumento

dasexportaçõesdependeriadaestratégiadevendasnoexterior,alémde

umataxadecâmbiofavoráveledeumarendamundialcrescente.

Outrofatoéqueosgovernosnacionaisconferemestímuloseincen-

tivosfiscaisàsempresasdomésticasparaqueestasaumentemcadavez

maisassuasexportações.

REFLEXÃO

Do ponto de vista da nação, a política de estímulo e incentivo pode contribuir, inicialmen-

te, para o aumento do emprego, da produção e da renda; posteriormente, para a melhoria

do bem-estar social, se este crescimento, derivado do aumento do comércio exterior, for

acompanhado do desenvolvimento econômico, conforme discutido anteriormente.

Valenotaraindaqueodesenvolvimentodoe-commerceedalogística

globaltemtornadopossívelaimportaçãodebensdeconsumopelopró-

prioconsumidor,atravésdesitesinternacionaiscomoEbayeAmazon,

paramencionaralguns.

Globalização financeira

A dimensão financeira abrange os fluxos internacionais de capital de

empréstimo, financiamento e investimento externo indireto, também

conhecidocomoinvestimentodecarteira.Comessatransação,oagen-

tepodecomprarativosfinanceiros,taiscomoações,quotasdeempre-

sasoudefundosdeinvestimento,títulosdedívidadogoverno,títulos

dedívidaprivados,entreasprincipaisformas,quedispensamocontro-

lesobreoagenteeconômicoqueestárecebendoesseinvestimento.

Agorapodemosimaginaroquantoumaentradaabundantedecapital

emumaEconomiaemdesenvolvimentopodesetraduziremcrescimento

e,principalmente,desenvolvimentoeconômico.Épormeiodoaumento

doinvestimento,doempregoedoPIBquesentimososefeitosiniciais.

Masaentradadecapitaisfinanceirosexternos,incluindooinvestimen-

toexternodiretamentenaprodução,representaumpassivoparaopaísna

formadepagamentodejuros,lucroseamortizaçõesaosinvestidoresinter-

nacionais.Seascondiçõesnomercadofinanceirointernacionalforemfavo-

IMAGEM

McDonald's

Loja McDonalds em Setagaya-ku,

Tokyo, Japão.

COMENTÁRIO

Desenvolvimento

O governo, com uma maior arrecada-

ção devido ao aumento da renda, po-

derá aumentar o investimento público

(escolas, hospitais, segurança, justiça,

defesa etc.) e a quantidade e quali-

dade dos serviços públicos, trazendo

efeito positivo sobre a qualidade de

vida da população.

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capítulo 6 • 143

ráveis,opaíspoderácontinuartomandoempréstimoserecebendocapitalfinanceiro,através

doinvestimentoexternodiretoeindireto,parafinanciarseucrescimentoedesenvolvimento.

REFLEXÃO

Mas se as condições deteriorarem, como ocorreu na crise financeira internacional de 2008, o país sofrerá

uma saída de recursos financeiros em massa de forma muito rápida. Os agentes financeiros, em um mer-

cado globalizado, começam a vender rapidamente seus ativos mais arriscados, por exemplo, os títulos de

dívida e ações nominados em moedas de países em desenvolvimento, para adquirirem os mesmos ativos

em moedas fortes como o Euro e o Dólar.

Caso as reservas internacionais domésticas não sejam suficientes para fazer frente a

essaelevadademandapormoedaexterna,ogovernodeverápromoverajustesmacroeconô-

micosparareduzirogastoagregadoeaumentarapoupança,gerandorecursosparapagar

oscompromissosinternacionais.Issotraráreduçãodoritmodegeraçãodeempregoeuma

reduçãonoritmocomqueaqualidadedevidamelhorava.

Portanto,seaentradadecapitalfinanceiropermiteumamaiordisponibilidadede

recurso,oqueequivaleaumapoupançamaior(quepermiteuminvestimentoagregado

maior),geraaquiloqueoseconomistaschamamdevulnerabilidadeexterna,querepre-

sentaabaixacapacidadedaEconomiaderesistiramudançasnascondiçõesdefinan-

ciamentodevidoàcriseoufatoresdesestabilizadoresprovenientestantodaEconomia

domésticaquantoexterna.

EXEMPLO

No setor produtivo, podemos dar o exemplo da cidade de Macaé, no estado do Rio de Janeiro. Essa cidade

é uma espécie de base das operações de petróleo da Bacia de Campos. Além da Petrobras e de algumas

empresas nacionais, a extração de petróleo atraiu também empresas estrangeiras, que investiram seu ca-

pital na cidade. Isso permitiu que o investimento no setor fosse maior, trazendo, tanto para a cidade quanto

para o estado, mais emprego, geração de renda e tributação. Mas os lucros das empresas estrangeiras,

não investidos, poderão ser enviados para suas matrizes no exterior, já que seus proprietários são não re-

sidentes (vide capítulo 4). Em algum momento, as mesmas empresas poderão remeter o capital investido,

produzindo uma saída desse capital.

Portanto,adespeitodosbenefíciosdaentradadecapitalfinanceiro,sejaparainvestir

no mercado financeiro ou no setor produtivo, gerando crescimento e até mesmo desen-

volvimentoeconômico,énecessáriooconhecimentodaspolíticasmacroeconômicaspara

administrarasentradaseassaídasdecapital.Essapolíticateriacomoobjetivoevitardese-

quilíbriosmacroeconômicosqueviessemareduzir,oumesmointerromper,oprocessode

crescimentoedesenvolvimentopeloqualopaísestivessepassando(videcapítulo5).

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144 • capítulo 6

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAUMANN, R. CANUTO, O. GONÇALVES, R. Economia Internacional: teoria e experiência brasileira. São Paulo:

Elsevier, 2004.

GREMAUD, A.P. et all. Manual de Economia. Org: Pinho, D.B., Vanconcelos, M.A.S. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

GONÇALVES, R. Globalização Econômica, In: O Nó Econômico, primeiro capítulo. São Paulo: Record, 2002.

MANKIW, N.G. Introdução à Economia: edição compacta. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.

PASSOS, C.R.M. e NOGAMI, O. Princípios de Economia, 4ª ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Relatório de Desenvolvimento Humano. 2013. Disponível em:

<www.pnud.org.br>. Data de acesso: 03/06/2014

IMAGENS DO CAPÍTULO

p. 74 McDonald's Paul Vlaar · Wikimedia . gnu

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Como fazer e interpretar gráficos e tabelas

Apêndice

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146

Como fazer

1) Gráficos

Osgráficossãorepresentaçõesvisuaisderelaçõesentrevariáveis.Uma

variáveléumamedidadealgoqueassumediferentesvaloresoucate-

gorias.Portanto,asvariáveispodemsernuméricasoucategóricas.Por

exemplo,rendaéumavariávelnuméricaesexoécategórica,poissóexis-

tesexomasculinoefeminino.

Podem-sefazergráficoscomváriospropósitos;trataremosaquiape-

nasdosquevisamapresentarresultados.Osgráficosmaisutilizadossão

delinhas,colunasepizzas.

Osgráficos de linhasãousadosprincipalmenteparamostraraevo-

luçãodeumavariávelaolongodotempo.Osgráficos de barratambém

sãousadosparamostraraevoluçãodeumavariávelaolongodotem-

po, mas, nesse caso, o período tem que ser curto. Por exemplo, para

representaraevoluçãodoempregoaolongodeumano,deve-seusaro

gráficodelinha.Pararepresentaraevoluçãodoempregoaolongode

seismeses,deve-seusarográficodebarras.

Osgráficosdebarrassãomuitousadostambémparacompararcatego-

rias.Porexemplo,onívelsalarialdoshomensversusodasmulheresouvo-

tosrecebidospeloscandidatosemumaeleiçãopresidencial.Nãodevemser

usadasmuitascategorias,casocontrário,avisualizaçãoficaprejudicada.

Osgráficosdebarraspodemserjustapostosounãojustapostos.

No último caso, o mais comum, haveria, por exemplo, uma coluna

parahomenseoutraparamulheres.Nojustapostohaveriaumaco-

lunasó,divididaemduaspartes,umapararepresentaronúmerode

homenseoutraonúmerodemulheres.

Os gráficos de pizza são partições de uma variável. Por exemplo,

comooseuorçamentodomésticosedivideemdiferentestiposdegas-

tos:alimentação,transporte,habitaçãoetc.

Cuidados com o gráfico

1) Todográficotemqueterumtítulo.Otítulovaidizerdoquetrata

o gráfico, deixando clara a variável, como a mesma é mensurada, o

período de tempo, as categorias e o recorte geográfico — exemplo:

evolução da renda (R$) de homens e mulheres, de 1990 a 2012, na

RegiãoMetropolitanadoRiodeJaneiro;

Como fazer e interpretar gráficos e tabelas

CURIOSIDADE

Gráficos de pizza

Na língua inglesa o gráfico de pizza é

chamado de gráfico de torta (pie chart).

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147

2) Todográficotemqueterumafonte,queédeondeforamobtidososdados—exemplo:

Fonte:IBGE—PesquisaMensaldeEmprego;

3) Seográficotrabalhacomcategorias,devehaverumalegendaparacadaumadelas,

identificandoqualacurvaoucolunaque,porexemplo,éarelativaahomensequaléa

relativaamulheres;

4) Seográficotratardaevoluçãodevariáveisaolongodotempo,aescalatemporal(anos,

meses,trimestresetc.)deveestarnoeixovertical;

5) Gráficos com muitas curvas devem ser evitados. Quanto maior o número de curvas,

maiorachancedeográficoficarincompreensível.Émuitocomumissoacontecerquando

setrabalhacommaisdetrêscurvas;

6) Gráficosemtrêsdimensõesdevemserevitados.Podemsermuitobonitos,massãopou-

copráticos,poisdificultamacompreensão;

7) Seasériefordedadoscomintervalotemporaldemenosdeumano—sériemensal,

trimestraletc.—,éimportanteficaratentoparaaquestãodasazonalidade.Essepontoserá

detalhadomaisadiante;

8) Regrabásica:umbomgráficoécomoumaboapiada;entende-senamesmahora.Gráfico

queexigemuitasexplicaçõesperdeemcomunicação.

2) Tabelas

Atabelaéumaformadeapresentardadosemlinhasecolunas.Ainterseçãodeumalinha

comumacolunaéchamadadecélula.Porexemplo,umatabelacom2linhase2colunas

terá4células.

Cuidados com uma boa tabela

1) Todatabelatemqueterumtítulo.Otítulovaidizerdoquetrataatabela,deixandoclara(s)

a(s)variável(eis)apresentada(s),comoé(são)mensurada(s),operíododetempo,ascatego-

riaseorecortegeográfico—exemplo:evoluçãodarendaedoníveldeemprego(R$)deho-

mensemulheres,de1990a2012,naRegiãoMetropolitanadoRiodeJaneiro;

2) Todatabeladeveterumafonte,queédeondeforamobtidososdados—exemplo:Fon-

te:IBGE—PesquisaMensaldeEmprego;

3) Ascolunaselinhasdatabeladevemestaridentificadas;

4) Quanto maior o número de linhas e colunas, mais difícil será o entendimento do

conteúdodatabela;

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148

5) Seosdadosforemnuméricos:

a.nãousemaisdeumacasadecimal;

b.utilizeponto(.)parasepararosmilhares—exemplo:1.230,5;

c. mude a escala se o número tiver mais de 5 dígitos — exemplo: 1.230.523 se torna

1.230,5mil;

d.aescaladeveestarindicadanotítulodatabelae,seforocaso,tambémnotítulo

dalinhaoucoluna;

6) Sehouvertotais,osmesmosdevemestaremnegritoparadestacar;

7) Ostítulosdascolunaselinhasdevemestar,depreferência,emnegritoparadestacar;

8) Nãoconfundirtabelascomquadros.Nesseúltimo,oconteúdodascélulaséconstituído

apenasdetexto,semnúmeros.Porexemplo,nomesdealunosdeacordocomasturmas.

Como interpretar

Todográficoetabelapermiteduasleituras.Aprimeiraéadotodoeasegundaéadaspartes¹.

Portanto,acorretaanáliseexigeatenção.Vejamosoexemploaseguir.

Gráfico 1 - Produção Industrial - Índice de base fixa com ajuste sazonal (base: média de 2002=100) - Brasil 1994-2014

80

90

100

110

120

130

140

jan/

94

jan/

95

jan/

96

jan/

97

jan/

98

jan/

99

jan/

00

jan/

01

jan/

02

jan/

03

jan/

04

jan/

05

jan/

06

jan/

07

jan/

08

jan/

09

jan/

10

jan/

11

jan/

12

jan/

13

Fonte: IBGE – Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física (PIM-PF)

Oqueprimeirochamaaatençãonográfico1éatrajetóriaascendentedaproduçãoindus-

trialnoperíodo.Seolharmoscommaisatençãoveremosquepodemosdividiressatrajetó-

riaemquatrofases:

1) De1994a1999,ocrescimentodaindústriafoipequeno;

2) De1999ameadosde2008oaumentodaproduçãoindustrialfoigrande,quaseexponencial;

3) Demeadosde2008a2009háumabruscaquedadaproduçãoeumarecuperação.Se

olharmoscomatenção,veremosqueaquedafoimaisrápidaquearecuperação;

4) De2009a2013,aproduçãoindustrialestáemumatrajetóriadequeda.Oúltimoperí-

odoémuitoirregular.Hádeinícioestagnação,depoisdecréscimodaprodução,segue-se

umarecuperaçãoparciale,porfim,novacontração.

Comasfasesdelimitadasficamaisfácilencontrarumaexplicaçãoparaoquehouve.

¹ Essa é uma

regra que vale

também para

analisar obras de

arte.

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149

Nãoénecessáriopesquisarmuitoparadescobrirque,emlinhasgerais,afase1correspon-

deaoperíododoPlanoReal,afase2aogovernoLula,eafase3éoperíododeaugedacrise

financeirainternacional,queteveimpactonoBrasileemtodosospaísesdomundo,ainda

duranteogovernoLula.AúltimafasecorrespondeaogovernoDilma.

O passo seguinte será analisar o contexto econômico nacional e internacional, bem

comoapolíticaeconômicadecadagoverno,paraentenderasdiferenças.Isso,noentanto,

extrapolaospropósitosdesseapêndice,mesmoporqueessetipodeanáliserequerumco-

nhecimentomaiordeEconomia.Oimportanteaquiédestacarcomoumaanáliseatentade

umgráficonostrazmuitainformaçãosobreaEconomia.

Valor de referência

Toda vez que se qualifica uma comparação — exemplo: cresceu muito, percentual elevado —, é

importante ter um valor de referência. Por exemplo, ao se afirmar que o crescimento da Economia

foi elevado, pois foi acima da média dos últimos cinco anos, o uso da qualificação elevado está

correto, pois há uma justificativa: foi acima da média dos últimos cinco anos, que é o valor de refe-

rência, nesse caso, dado pelas taxas de crescimento alcançadas no passado.

Muitas vezes a valor de referência é dado pela literatura internacional sobre o tema ou por uma

meta de política pública. No caso da taxa de mortalidade infantil (a cada 1.000 nascimentos, quan-

tas crianças morrem antes de completar um ano de idade), a Organização Mundial de Saúde (OMS)

tem parâmetros que são amplamente utilizados. Segundo a OMS, a mortalidade infantil é considera

alta se morrem 50 crianças ou mais por cada 1.000 nascidas vivas; média, se for de 20 a 49 por

mil; e baixa se for menor que 20 por mil. Com base nesses parâmetros, pode-se afirmar que, em

2010, a mortalidade infantil em nosso país era baixa, pois nosso índice era de 15,6 por mil.

Digamos que o governo fixe como meta reduzir a mortalidade infantil ao nível da do Canadá (5

por mil) ². Com base nesse novo parâmetro, nossa mortalidade infantil está elevada, pois estamos

muito acima da meta fixada pelo governo.

No caso da inflação, no Brasil, utiliza-se como parâmetro a meta de inflação fixada pelo governo.

Se o governo estabelece que a inflação não possa ultrapassar a 6,0%, e o índice alcançado foi de

7,0%, pode-se afirmar que inflação está elevada.

Vejamosagoraumexemplodegráficosdebarra.Essecasoéumasituaçãohipotética,

trata-sedonúmerodedownloadsdemúsicasdequatroduplassertanejas.

Gráfico 2 - Número de downloads de músicas, segundo dupla sertaneja - Janeiro-Junho - 2013

Jan Fev Mar Abr Mai Jun

Mário e Mariano

Alberto e Roberto

Pedro e Paulo

Júlio e Juliano

0

500

1000

1500

2000

2500

Fonte: Associação de cantores de duplas sertanejas com nomes parecidos

² Os parâmetros

da OMS e as

estatísticas sobre

mortalidade

infantil foram

obtidas da

publicação

do IBGE

Indicadores de

Desenvolvimento

Sustentável

2012.

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150

O que nos diz esse gráfico? Várias coisas:

1) MarioeMarianoeAlbertoeRobertoestãopresentesemtodososmeses.Asdemaisdu-

plassóapartirdefevereiro;

2) MarioeMarianoéaduplaquemaisvende.Superaasdemaisduplasemtodososmeses,

excetoemmaio,quantoempatacomPedroePaulo;

3) JúlioeJulianoePedroePauloestãoemtrajetóriaascendente.Acadamêsquepassa,

vendemmais;

4) AduplaAlbertoeRobertoestáquasenasituaçãoinversa.Crescemosdownloadsdeja-

neiroparafevereiro,masdepoisésóladeira abaixo.Emjunhojáestãoemúltimolugar;

5) AdisputapeloprimeirolugarpareceserentreMárioeMarianoePedroePaulo,com

vantagemparaosúltimos,poisestãoemascensão,enquantoMarioeMarianoestãopara-

dosnafaixade1700a2100downloads.

Nográfico2,diferentementedosseguintes,optou-sepornãoseinserirrótuloscomos

valoresdasvariáveis,poisosnúmerosiriamficarmuitopróximos,oquedificultariaaleitura.

Ográficodebarrasnessecaso,dadoocurtoperíododetempoeonúmerorestritode

categorias,foiomaisindicado.Paraanalisaraevoluçãodedownloads por dupla sertaneja,

ográfico2éoideal;parasevisualizaramudançadacomposição do mercado,ográfico3,

decolunasempilhadas,éomaisadequado,comovemosabaixo.

Gráfico 3 - Distribuição de downloads de músicas, segundo dupla sertaneja - Janeiro-junho - 2013

Mário e Mariano

Alberto e Roberto

Pedro e Paulo

Júlio e Juliano

55,3

48,2

39,2

35,0

34,3

37,6

44,7

43,5

30,4

24,3

20,2

12,8

5,9

25,5

31,1

34,3

33,0

2,4

4,9

9,7

11,1

16,5

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

Jun

Fonte: Associação de cantores de duplas sertanejas com nomes parecidos

Vejamosaapresentaçãodosmesmosdadosnaformadeumatabela(tabela1).Avanta-

geméqueagorasabemos,comprecisão,onúmerodedownloads,eadesvantagem,queé

considerável,équeperdemosemtermosdorápidoentendimento.Émuitomaisfácilperce-

beroqueestáacontecendonomercadodedownloadsdemúsicasertanejapormeiodeum

gráfico(adequado)doquepormeiodeumatabela.Poisumbomgráficovale por mil palavras.

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151

Tabela 1 - Número de downloads de músicas, segundo dupla sertaneja - Janeiro-Junho - 2013

Meses Mário e Mariano Alberto e Roberto Pedro e Paulo Júlio e Juliano

jan 2100 1700

Fev 2050 1850 250 100

Mar 2000 1550 1300 250

Abr 1800 1250 1600 500

Mai 1700 1000 1700 550

Jun 2050 700 1800 900

Fonte: Associação de cantores de duplas sertanejas com nomes parecidos

O uso de gráficos de barras sobrepostas é indicado para comparar grandezas que

têmomesmototal,comoéocasodepercentuais,cujasomaésempre100%.Porexem-

plo,nográfico4comparamoscomosedistribuiapopulaçãobrasileiraentreáreasur-

banaseruraisem2010.

Como toda comparação deve ter um parâmetro, utilizaremos, para isso, a média

brasileira. Comparando os estados de Piauí e do Rio de Janeiro em relação à média

nacional,ficaevidentequeoPiauítemumabaixaproporçãodapopulaçãovivendoem

áreasurbanas,próximode65%,contra85%damédiabrasileira.JánoestadodoRiode

Janeiro,aocontrário,équasetotalmenteurbanizado.Temumaelevadaproporçãoda

populaçãovivendoemáreasurbanas.

Gráfico 4 - Percentual de população que vive em áreas urbanas e rurais - Piauí, Rio de Janeiro e Brasil - 2010

84,4

65,8

96,7

15,6

34,2

3,3

Brasil Piauí Rio de Janeiro0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

população urbana população rural

Fonte: IBGE – Sinopse do Censo Demográfico de 2010

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Ográfico5mostraacolunaBrasilapresentadacomográficodepizza.Emtermosvisuais,

aapresentaçãoficamelhor,masacomparaçãoémaisdiretacomascolunassobrepostas.

84,4

15,6

população urbana

população rural

população urbana

população rural

população urbana

população rural

65,8

34,2

96,7

3,3

Gráfico 5 - Percentual de população que vive em áreas urbanas e rurais - Piauí, Rio de Janeiro e Brasil - 2010

Piauí Rio de JaneiroBrasil

Fonte: IBGE – Sinopse do Censo Demográfico de 2010

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