ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DO PORTO
Mestrado em Sistemas de Informao em Enfermagem
SISTEMAS DE INFORMAO EM ENFERMAGEM: CONTRIBUTOS
PARA A DEFINIO DE UM PAINEL DE INDICADORES DO EXERCCIO
PROFISSIONAL DOS ENFERMEIROS NUM DEPARTAMENTO DE
MEDICINA
Dissertao
Dissertao orientada pelo Professor Doutor Filipe Miguel Soares
Pereira e coorientada pelo Mestre Ernesto Jorge Almeida Morais.
Francisco Guilherme de Magalhes Peres Pinto Leite
Porto, 2016
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Doutor Filipe Pereira pelo exemplo, disponibilidade,
rigor, competncia e dedicao orientao.
Ao Mestre Ernesto Morais pela colaborao e conselhos preciosos
durante o percurso.
Ao Conselho de Administrao do Centro Hospitalar de So Joo, EPE
pelo interesse demonstrado e pela disponibilizao das condies ideais
para realizao do estudo.
Ao servio de Medicina do CHSJ, EPE, suas chefias e enfermeiros
participantes no estudo, sem o seu empenho este estudo no seria possvel.
Aos Professores Paulino Sousa e Abel Paiva pelo exemplo, inspirao e
pelos inmeros conhecimentos que me transmitiram.
Aos meus colegas de mestrado Rui, Nuno, Joana, Snia, Vnia, Marta e
Antnio Pedro pelos inmeros contributos, partilha de opinies e incentivo.
Enfermeira Supervisora Helena Mota pelo incentivo, ajuda e
disponibilidade.
minha famlia pelo apoio, disponibilidade e pela fora.
Aos meus amigos pela compreenso e pelo seu apoio incondicional.
Patrcia, o meu pilar, por nunca ter desistido de mim.
A todos o meu agradecimento.
SIGLAS E ABREVIATURAS
ACSS Administrao Central do Sistema de Sade;
CHSJ Centro Hospitalar de So Joo;
CIPE Classificao Internacional para a Prtica de Enfermagem;
EPE Entidade Pblica Empresarial;
ESEP Escola Superior de Enfermagem do Porto;
ICN International Council of Nurses;
NVIVO - Programa de anlise qualitativa de dados;
OE Ordem dos Enfermeiros;
OLAP On-line Analytical Processing;
P. Pgina;
RNCCI Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados;
RMDE Resumo Mnimo de Dados em Enfermagem;
SCLNICO Sistema de Apoio Prtica de Enfermagem;
SIE Sistemas de Informao em Enfermagem;
SI Sistema de Informao;
SPMS Servios Partilhados do Ministrio da Sade;
SPSS - Programa Statistic Package for Social Sciences
SQL Structured Query Language;
UAG Unidade Autnoma de Gesto;
NDICE
0. INTRODUO ........................................................ 15
1. PROBLEMTICA EM ESTUDO ...................................... 19
1.1. Contributo dos Sistemas de Informao em Enfermagem
para a gesto da qualidade dos cuidados ............................... 19
1.2. Da Matria-Prima dados gesto dos cuidados
baseada em informao vlida ............................................ 23
1.2.1. O SIE como repositrio de dados necessrios
viabilizao de indicadores relativos ao exerccio profissional
dos enfermeiros ........................................................ 25
1.2.2. Requisitos dos dados necessrios produo de
indicadores.............................................................. 28
1.2.3. A natureza dos indicadores relativos ao exerccio
profissional dos enfermeiros ......................................... 34
1.2.4. Desafios e contributos dos indicadores para a gesto
inteligente dos cuidados de enfermagem ....................... 41
1.3. Justificao do estudo .......................................... 46
2. MATERIAL E MTODOS ............................................. 49
2.1. Finalidade e Objetivos do estudo ............................. 49
2.2. Contexto do estudo .............................................. 50
2.3. Desenho do estudo ............................................... 51
2.4. Procedimentos de recolha de dados .......................... 52
2.4.1. Focus Group ................................................... 52
2.4.1.1 Finalidade ............................................... 53
2.4.1.2 Funcionamento ......................................... 54
2.4.2. Anlise Documental .......................................... 54
2.4.2.1 Populao ................................................ 56
2.4.2.2 Amostra .................................................. 56
2.4.3. Entrevistas com informantes-chave ....................... 57
2.4.3.1. - Participantes ........................................... 57
2.5. Procedimentos de anlise de dados ........................... 58
2.6. Consideraes ticas ............................................. 61
3. APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS ............ 63
3.1. Os indicadores relevantes para a gesto da qualidade dos
cuidados de enfermagem escala da Unidade Autnoma de Gesto
Medicina do Centro Hospitalar de So Joo ............................ 64
3.1.1. Propsitos dos indicadores .................................. 64
Dar visibilidade Intensidade dos cuidados de enfermagem
65
Tornar evidentes os contributos dos cuidados de enfermagem
para a preveno de complicaes ........................... 67
Avaliar os ganhos em sade no domnio do autocuidado.. 69
3.1.2. Natureza dos indicadores ................................... 71
3.2. Potencial de viabilizao dos indicadores atravs da
parametrizao em uso ..................................................... 78
3.3. O que os dados documentados e os indicadores indicam? 80
3.3.1. Sobre a intensidade dos cuidados de enfermagem ...... 81
3.3.2. Sobre os ganhos em capacidades de desempenho no
autocuidado ............................................................. 84
3.3.3. Sobre a preveno das complicaes ...................... 89
4. CONCLUSO ......................................................... 93
5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................. 99
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: DURAO DO INTERNAMENTO ........................ 80
TABELA 2: DURAO DO INTERNAMENTO POR PERODO ...... 81
TABELA 3: FREQUNCIAS RELATIVAS DOS CASOS COM
DEPENDNCIA NOS VRIOS DOMNIOS DO AUTOCUIDADO .. 81
TABELA 4: INTENSIDADE GLOBAL DAS INTERVENES
AUTNOMAS DE ENFERMAGEM IMPLEMENTADAS ................ 82
TABELA 5: EVOLUO DA DEPENDNCIA NO AUTOCUIDADO:
VESTIR-SE ............................................................... 85
TABELA 6: EVOLUO DA DEPENDNCIA NO AUTOCUIDADO:
TRANSFERIR-SE ........................................................ 86
TABELA 7: EVOLUO DA DEPENDNCIA NO AUTOCUIDADO:
POSICIONAR-SE ......................................................... 86
TABELA 8: EVOLUO DA DEPENDNCIA NO AUTOCUIDADO:
LEVANTAR-SE .......................................................... 87
TABELA 9: EVOLUO DA DEPENDNCIA NO AUTOCUIDADO:
HIGIENE .................................................................. 87
TABELA 10: EVOLUO DA DEPENDNCIA NO
AUTOCUIDADO:ALIMENTAR-SE ...................................... 88
TABELA 11: INDICADORES RELATIVOS PREVENO DE
COMPLICAES - LCERA DE PRESSO .......................... 89
TABELA 12: INDICADORES RELATIVOS PREVENO DE
COMPLICAES - QUEDA ........................................... 90
TABELA 13: INDICADORES RELATIVOS PREVENO DE
COMPLICAES - ASPIRAO .................................... 91
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: FRMULA DE CLCULO DE FREQUNCIAS RELATIVAS
DOS DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM (EPISDIO DE
INTERNAMENTO = CASO) ........................................... 73
FIGURA 2: FRMULA DE CLCULO DA FREQUNCIA DE
IMPLEMENTAO DAS INTERVENES ............................. 73
FIGURA 3: FRMULA DE CLCULO DA INTENSIDADE GLOBAL
DAS INTERVENES IMPLEMENTADAS ............................. 73
FIGURA 4: FRMULA DE CLCULO DOS INDICADORES
RELATIVOS EVOLUO DOS DIAGNSTICOS FOCADOS NO
AUTOCUIDADO ......................................................... 75
FIGURA 5: FRMULA DE CLCULO DOS INDICADORES
RELATIVOS A GANHOS NA DIMENSO DO CONHECIMENTO
RELATIVO AO AUTOCUIDADO ........................................ 76
FIGURA 6: FRMULA DE CLCULO DA EFETIVIDADE
DIAGNSTICA DO RISCO ............................................. 77
FIGURA 7: FRMULA DE CLCULO DA EFETIVIDADE NA
PREVENO DE COMPLICAES ................................... 78
RESUMO
Introduo: Definir e operacionalizar estratgias de promoo da
qualidade de cuidados de enfermagem, a partir de informao vlida, um
eixo fundamental nas polticas de gesto e governo dos servios de sade.
Os contributos dos SIE para estas estratgias podem ser entendidos como
um dos planos em que, de acordo com DeLone e McLean (2003), pode ser
avaliado o sucesso dos Sistemas de Informao. A investigao aqui
relatada situa-se no domnio da gesto da informao em enfermagem e
visa, sobretudo, a rentabilizao dos dados documentados nos SIE, tendo
em vista a melhoria dos processos de gesto e governao dos servios.
Material e Mtodos: Foi realizada uma investigao de tipo
exploratrio e descritivo, em duas fases. A primeira, com recurso a Focus
group, orientada para a construo de consensos em torno de um painel
de indicadores entendidos como teis, pelos enfermeiros gestores, para
uma Unidade Autnoma de Gesto (UAG) de Medicina, de um Hospital do
Grande Porto. A partir da anlise documental, na segunda fase do estudo,
procedeu-se explorao do potencial de produo do painel de
indicadores consensualizado, a partir da documentao de enfermagem
disponvel nos Sistemas de Informao de Enfermagem (SIE) em uso na
UAG, tomando por amostra 114 episdios de internamento do ano 2012.
Resultados: O painel de indicadores consensualizado centra-se na
medio da intensidade dos cuidados de enfermagem, assim como em
mtricas orientadas para os ganhos em capacidade de desempenho no
autocuidado (ICN, 2013) e na preveno de complicaes. Verificou-se que
a parametrizao em uso permitia a produo automatizada da larga
maioria dos indicadores desejados. Os indicadores calculados evidenciam
uma grande intensidade dos cuidados de enfermagem, substanciada no
elevado nmero de doentes dependentes nos diferentes domnios do
autocuidado. A incipiente documentao de intervenes de enfermagem,
inviabiliza o clculo de muitos dos indicadores de processo definidos na
primeira fase da investigao. No que se refere aos ganhos em capacidade
de desempenho nos autocuidados, a quase ausncia de intervenes
documentadas limitou o seu clculo nos termos formulados. No domnio da
preveno de complicaes, aquilo que os indicadores indicam so taxas de
efetividade na preveno de complicaes bastante aceitveis. A melhoria
da efetividade no diagnstico dos fenmenos de risco daquelas
complicaes , por sua vez, algo em que devem apostar.
Concluses: Os enfermeiros gestores priorizam como indicadores mais
necessrios aqueles que radicam em mtricas tradutoras da intensidade
da carga de trabalho dos enfermeiros e na preveno de complicaes.
O SIE em uso SClinico - viabiliza a produo automatizada de grande
parte dos indicadores identificados como prioritrios. Existe, escala do
contexto estudado, um claro fenmeno de subdocumentao de
intervenes autnomas de enfermagem.
Palavras-chave: Sistemas de Informao; Enfermagem; Indicadores de
qualidade
ABSTRACT
Introduction: The definition and operationalization of strategies
aimed at promoting the quality of nursing care on the basis of valid
information constitute a fundamental axis of health services management
and governance policies. The contributions of Nursing Information Systems
(NIS) to those strategies can be considered as one of the levels at which the
success of information systems can be evaluated, according to DeLone e
McLean (2003). The research dealt with in this paper is in the field of
nursing information management and aims, in particular, at the
optimisation of the data recorded in the NIS, with a view to improving
services management and governance processes.
Material and Methods: An exploratory and descriptive research was
carried out in two phases. The first one using a Focus group, and geared at
building up consensus around a scorecard that the managing nurses
considered useful for an Autonomous Management Unit (AMU) of the
Medicine Department of a hospital in the Grande Porto area. In the
second phase of the study, on the basis of a documentary analysis, we
explored the possibility of producing the scorecard agreed upon, by using
the nursing documentation available in the NIS available at the AMU, and
taking as a sample 114 cases of hospitalisation in 2012.
Results: The scorecard agreed upon focuses on measuring the
intensity of nursing care and on metrics targeted at performance gains in
self-care (International Council of Nurses ICN, 2013) and prevention of
complications. We noted that the parameter setting in use allowed for the
automated production of the vast majority of desired indicators. The
calculated indicators show a highly intensive nursing care, substantiated by
the high number of dependent patients in the different fields of self-care.
The practically inexistent documentation on nursing interventions prevents
the calculation of many of the process indicators defined in the first phase
of the research. As for the performance gains in self-care, the near
absence of documented interventions restricted their calculation in the
terms initially formulated. In the field of prevention of complications, the
indicators show rather acceptable effectiveness rates in the prevention of
complications, but we should seek to improve effectiveness in the diagnosis
of risk phenomena of those complications.
Conclusions: The managing nurses consider as most necessary the
indicators based on metrics that reveal the nurses workload and the
prevention of complications. The NIS in use SClinico - allows for the
automated production of most of the indicators considered as a priority. On
the scale of the studied context, there is a clear underdocumentation of
autonomous nursing interventions.
Keywords: Information Systems; Nursing; Quality Indicators
15
0. INTRODUO
A necessidade de definir e operacionalizar estratgias capazes de
promover a qualidade de cuidados de enfermagem tem sido reconhecida
como um dos eixos estruturantes das polticas de gesto dos sistemas de
informao de enfermagem. Pereira (2007) refere que no podemos
desperdiar um recurso estratgico como a informao documentada
relativa aos cuidados de Enfermagem. Nesse sentido, devemos encarar a
informao documentada nos Sistemas de Informao em Enfermagem (SIE)
como um instrumento que ultrapassa as questes da documentao legal da
assistncia ou at mesmo da mera promoo de continuidade dos
cuidados (Pereira, 2007).
A informao , tal como definido por Marin et al (2001, p1), um
elemento central na tomada de deciso clnica e constitui-se como
fundamental na gesto de cuidados de sade. Por outro lado, os contributos
dos SIE para as estratgias de gesto e governo dos cuidados de
enfermagem podem ser entendidos como um dos planos em que, de acordo
com DeLone e McLean (2003), pode ser feita a avaliao do sucesso e
efetividade dos Sistemas de Informao e, por essa via, o valor e eficcia
da manuteno de Sistemas de Informao, assim como o investimento
feito nestas reas. O estudo de Moreira (2014), feito escala do Centro
Hospitalar de So Joo, torna bem evidente que um dos aspetos em que os
enfermeiros esto menos satisfeitos com os SIE em uso , exatamente, a
gerao de indicadores relativos aos cuidados de enfermagem.
O aproveitamento da grande quantidade de dados disponveis nos SIE
em uso constitui-se como um meio que deve ser utilizado na melhoria da
qualidade garantindo, assim, que o contributo dos cuidados de enfermagem
16
para os ganhos em sade no passe despercebido nas bases de dados da
sade. No entanto, a grande quantidade de dados no constitui, partida,
garantia de matria-prima de qualidade para a produo de indicadores
sensveis aos cuidados de enfermagem, como ficou evidente no trabalho de
Pereira (2007) e, mais recentemente, no relatrio de Anlise
parametrizao nacional do Sistema de Apoio Prtica de Enfermagem
SAPE (Silva et al, 2014).
Acreditamos que a Investigao em Enfermagem o fator potenciador
do aumento de conhecimentos no campo de estudos especfico da
disciplina, tendo como finalidade ltima, proporcionar aos clientes,
cuidados de Enfermagem que respondam efetivamente s suas
necessidades. Assim, devemos encarar os processos de otimizao e gesto
da informao como prioridades no atual contexto da investigao, uma
vez que
a manifesta carncia de informao, especialmente orientada para os resultados, relativa ao exerccio profissional dos enfermeiros, coloca-nos a todos perante a necessidade de se criarem instrumentos capazes de auxiliar a promoo de climas favorveis consolidao de sistemas de melhoria contnua da qualidade em sade. (Pereira, 2007, p.75)
Partindo do modelo proposto por Delone e McLean em 2003,
pretendemos desenvolver um estudo cuja problemtica recair na
avaliao de sistemas de informao, na vertente dos benefcios da
utilizao do sistema. O interesse nesta rea surge devido a vrias
premissas.
O estudo realizado por Pereira (2007) demonstrou as possibilidades de
gerar indicadores relativos aos cuidados de enfermagem, a partir da
informao documentada nos SIE. O Centro Hospitalar de So Joo-EPE fez
um forte investimento na rea dos SIE nos ltimos anos. Desde 2003, o
sistema de informao em enfermagem em uso o Sistema de Apoio
Prtica de Enfermagem (anterior SAPE agora SClnico). Ainda, a direo de
enfermagem do Centro Hospitalar de So Joo-EPE assume como prioritrio
o desenvolvimento de estruturas que possibilitem definir um resumo
17
mnimo de dados de enfermagem que permitam produzir um painel de
indicadores de qualidade de cuidados de enfermagem.
O estudo que apresentamos situa-se nos domnios da gesto da
informao em enfermagem e pretende constituir-se como um contributo
para o desenvolvimento de uma estratgia de gesto de dados til ao
contexto da prtica, em concreto escala da Unidade Autnoma de Gesto
de Medicina do Centro Hospitalar de So Joo, EPE. Visa, sobretudo, a
rentabilizao dos dados documentados pelos enfermeiros no SIE em uso,
tendo em vista melhorar os processos de gesto e governao dos servios,
com uma forte orientao para a promoo da qualidade dos cuidados de
enfermagem, com base em informao vlida (Machado, 2013).
O relatrio apresentado resulta de um percurso de investigao
realizado no mbito do 1 Mestrado em Sistemas de Informao em
Enfermagem da Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP).
Est organizado em 4 captulos. No primeiro delimitada a
problemtica do estudo e so abordadas as motivaes para a realizao do
mesmo.
O segundo captulo apresenta as opes metodolgicas que
suportaram o processo de investigao. Partindo da explicitao relativa
organizao e desenho do estudo, passando por questes como as
estratgias de recolha e anlise de dados.
A apresentao e discusso dos resultados corresponde ao terceiro
captulo, que est organizado em funo dos resultados apurados.
O ltimo captulo corresponde s concluses, onde so apresentadas
as snteses do estudo e se sugerem os contributos emergentes para a
problemtica, vislumbrando-se ainda, potenciais desenvolvimentos futuros.
19
1. PROBLEMTICA EM ESTUDO
O estudo apresentado centra-se na problemtica da gesto da
informao disponvel nos SIE, tendo em vista a gerao de snteses
informativas/indicadores teis para a gesto da qualidade do exerccio
profissional dos enfermeiros. Os conceitos que surgem associados
problemtica e que relevam para este percurso de investigao relacionam-
se com os contributos dos SI para a gesto inteligente da qualidade dos
cuidados e a produo de indicadores.
1.1. Contributo dos Sistemas de Informao em Enfermagem
para a gesto da qualidade dos cuidados
Na ltima dcada a rea da sade, incluindo a educao, pesquisa,
administrao e atendimento ao cliente, passou a ser inundada com
avanos da tecnologia da informao e comunicao. Como afirma Pizarro
(2011),
as tecnologias de informao e comunicao esto a alterar, de modo rpido e profundo, a prtica das organizaes de sade e o paradigma da relao entre os profissionais e os utilizadores dos servios de sade (p.7).
20
Estes avanos tecnolgicos, ao permitirem uma ampla utilizao e
partilha da informao, tm tornado mais inteligvel o acesso ao
conhecimento na rea da sade e, em particular, da enfermagem (Goulart
et al, 2006; Sousa, 2006; Marin, 2010).
Para este processo evolutivo e dinmico em muito tem contribudo o
facto de, atualmente, a informtica e as tecnologias de informao e
comunicao fazerem parte da atividade diria dos profissionais da sade
(ACSS, 2009). Estas mudanas na rea da sade devem ser encaradas como
um desafio e no um risco para a enfermagem, uma vez que o acesso
rpido e facilitado aos dados, atravs da partilha de informao, tem
permitido melhorar o processo de tomada de deciso (Silva, 2001; Sousa,
2005; Pereira, 2007).
H mais de um sculo que os enfermeiros se preocupam com a
problemtica da documentao da assistncia. J no tempo de Florence
Nightingale, de forma a garantirem a continuidade e melhoria dos
cuidados, a preocupao dos enfermeiros recaa na necessidade de
documentar de forma fiel a sua prtica clnica (Silva, 2006; Pereira, 2007;
Cunha, 2010; Mota, 2010; Jesus e Sousa, 2011). consensual afirmar que,
atualmente, os enfermeiros processam e documentam muita informao.
Para alm de garantir a prova documental da assistncia, esta
documentao constitui-se como recurso para os processos de gesto,
formao e investigao, e o garante da continuidade dos cuidados
prestados ao cliente.
A quantidade e complexidade da informao produzida em
Enfermagem tm aumentado nos ltimos anos, o que obriga a que os
sistemas de informao sejam capazes de lidar com esta nova realidade.
Neste processo tem sido importante ir de encontro s alteraes que a
prpria documentao em Enfermagem tem sofrido, uma vez que a forma e
contedos que hoje os enfermeiros documentam so substancialmente
distintos, quando comparados com a documentao realizada h vinte ou
trinta anos atrs (Hovenga, 2001; Silva, 2001; Mota, 2010).
A documentao, gesto e armazenamento da informao tm vindo a
assumir um papel cada vez mais importante no seio das organizaes de
21
sade. Vrios investigadores na rea dos sistemas de informao em sade
e, em particular, na rea dos sistemas de informao em enfermagem,
defendem que a informao em sade essencial para a excelncia dos
cuidados prestados, sendo um dos recursos fundamentais para o sucesso das
instituies de sade (Silva, 2001; Sousa, 2005; Pereira, 2007; Cunha, 2010;
Mota, 2010; Silva, 2010). Devido a este facto, os debates sobre
desenvolvimento de sistemas de informao em sade tm revelado uma
crescente preocupao com o aproveitamento que se faz da informao
disponvel nos repositrios dos servios de sade. Desta forma, a
otimizao e rentabilizao da informao resultante da documentao dos
cuidados vista como uma componente essencial para o sucesso das
organizaes.
A grande quantidade e riqueza informativa resultante do exerccio
profissional dos enfermeiros representam um desafio para o
desenvolvimento de sistemas de informao, devendo estes ser capazes de
rentabilizar e maximizar a utilizao deste poderoso recurso. Felizmente,
temos assistido no nosso pas a um aumento da sensibilizao e
consciencializao da importncia de se desenvolverem solues de
sistemas de informao em enfermagem capazes de promover a
comunicao e continuidade dos cuidados, da gesto, da investigao e da
formao (Silva, 2001; Sousa, 2006; Ordem dos Enfermeiros, 2007; Pereira,
2007). Fruto desta sensibilizao e consciencializao, os sistemas de
informao em sade tm sofrido grandes alteraes ao longo das ltimas
dcadas. A sua evoluo permanente influenciada por variadas mudanas.
Este aspeto torna inevitvel a criao e desenvolvimento de sistemas de
informao que se constituam como instrumentos de gesto e otimizao
da informao (Pereira, 2009). Assim, esta evoluo deve centrar-se na
congregao de um conjunto de dados, informaes e conhecimentos
utilizados na rea da sade, de forma a sustentar o planeamento e o
processo de deciso dos mltiplos profissionais envolvidos no atendimento
aos clientes (Marin, 2010), bem como ao nvel dos diferentes nveis de
gesto e governo dos servios.
22
Os sistemas de informao em sade podem ser definidos como um
conjunto de componentes inter-relacionados que recolhem, processam,
armazenam e distribuem a informao de forma a apoiar o processo de
tomada de deciso e auxiliar no controlo e gesto das organizaes de
sade (Marin, 2010).
O Sistema de Informao todo o conjunto de dados e informaes que so organizados de forma integrada, com o objetivo de atender demanda e antecipar as necessidades dos usurios. Portanto, sistemas de informao para apoio deciso so sistemas que coletam, organizam, distribuem e disponibilizam a informao (Guimares e vora, 2004, p. 75). O facto da informao de sade no estar disponvel no momento e
local em que se torna necessria, cada vez mais um conceito
incompreensvel e anmalo (ACSS, 2009). S compreendendo o facto de que
esta necessidade de informao de qualidade seja disponibilizada de forma
simples, uniforme e segura que compreendemos qual o novo desafio
imposto ao desenvolvimento de sistemas de informao em sade e em
particular aos sistemas de informao em enfermagem.
Desta forma, emergem como necessrios sistemas de informao em
sade que se configurem como estruturas slidas, capazes de garantir
processos eficientes de recolha, processamento, organizao e gesto dos
dados resultantes dos processos assistenciais (Marin et al, 2001; Gomes,
2011). O desafio passa, ainda, por criar sistemas de informao que
contribuam para a melhoria da qualidade, eficincia e eficcia do
atendimento dos profissionais da sade e que, por outro lado, possibilitem
a realizao e rentabilizao de processos de investigao que forneam
evidncia que auxilie os processos de deciso (Marin, 2010).
A atual conjuntura poltico-econmica, cada vez mais, aponta para
uma racionalizao na gesto em sade, o que obriga as instituies a
implementar restries nos recursos fsicos e financeiros.
A necessidade, cada vez mais sentida, de gerir bem os recursos, vai acelerar o movimento da informatizao na sade. Hoje, o primeiro recurso a gerir a informao, e assim, os SIE tm de ser alvo de
23
investigao e reflexo, por forma a que a natureza peculiar dos cuidados de enfermagem no fique invisvel. (Silva, 2006, p. 123) Pretende-se por isso que os sistemas de informao em enfermagem
cumpram na ntegra os objetivos para os quais foram projetados, devendo
ser capazes de servir de suporte legal dos cuidados de enfermagem
prestados, facilitar os processos de gesto e formao, promover a
investigao, promover a continuidade de cuidados e dar visibilidade aos
contributos dos cuidados de enfermagem prestados, nomeadamente
mostrando os ganhos em sade para as populaes (Sousa, 2006; Ordem dos
Enfermeiros, 2007; Jesus e Sousa, 2011).
Contudo, os resultados observados so ainda incipientes, uma vez que
ainda h margem para uma maior maximizao do potencial dos registos
eletrnicos de sade, sobretudo quando abordamos questes como o
aproveitamento dos dados para a produo de indicadores, o
desenvolvimento de investigao, a monitorizao da qualidade dos
cuidados, a formao contnua, o financiamento dos servios de sade, ou a
tomada de deciso nas polticas de sade (Silva, 2006; Sousa, 2006;
Pereira, 2009; Gomes, 2011; Machado, 2013).
assim legtimo afirmar que os sistemas de informao em sade cada
vez mais ocupam um lugar de destaque nas organizaes, e esta uma
realidade qual os servios de sade no devem ficar alheios. Assim, os
sistemas de informao em sade so hoje importantes recursos nas
estratgias de ao e governao em sade (Friedman e Wyatt, 2006; Silva,
2006; Sousa, 2006; Ximenes, Filho e Fell, 2008; Silva, 2010; Marin, 2010;
Mota, 2010).
1.2. Da Matria-Prima dados gesto dos cuidados
baseada em informao vlida
Os sistemas de informao em enfermagem geram e armazenam uma
enorme quantidade de dados relativos aos cuidados prestados. Porm,
24
compreender e utilizar este recurso de forma a promover a qualidade dos
cuidados ainda uma realidade incipiente (Pereira, 2007; Machado, 2013),
o que traduz, de alguma forma, uma incapacidade de gesto da
informao (Pelletier e Diers, 2004).
A ideia de que a utilizao dos sistemas de informao benfica,
largamente partilhada e aceite, na medida em que facilmente se percebe
que estes acrescentam valor s organizaes e que criam vantagens
competitivas para os seus utilizadores. Mas, por vezes, o retorno do
investimento feito nos SI no corresponde s expectativas geradas. Torna-
se, neste quadro, primordial definir, criar e implementar estruturas que
permitam avaliar o sucesso e eficcia dos sistemas de informao, para que
estes se adaptem s necessidades expectadas e que realmente se
transformem em ferramentas teis aos processos de gesto. O grande
objetivo da utilizao da tecnologia e sistemas de informao em
enfermagem aumentar a qualidade dos cuidados prestados (Lee et al.,
2005).
A avaliao do sucesso de um sistema de informao crtica quando
se pretende perceber o valor desse mesmo sistema, assim como justificar o
investimento feito nesta rea (Delone e McLean, 2003). Torna-se tambm
indispensvel na medida em que se constitui como garante para a
continuidade da sua utilizao (Sousa, 2006). A avaliao dos sistemas de
informao na rea da sade permite uma ampla evidncia dos benefcios
potenciais das tecnologias de informao e comunicao na melhoria da
eficcia, eficincia e adequao dos cuidados de sade. Assim, as questes
relacionadas com a operacionalizao dos processos de avaliao e
monitorizao de sistemas de informao em enfermagem devem ser uma
prioridade no paradigma atual.
Sabemos que os enfermeiros constituem o maior grupo profissional da
sade e que a quantidade de informao clnica que, atualmente, gera, em
particular no nosso contexto, enorme (Silva et al, 2014), em linha com
aquilo que est descrito na literatura (Ogorovichea et al, 2007). A riqueza
informativa resultante do exerccio profissional dos enfermeiros crucial
25
para os servios de sade, at porque muita da informao que
documentam consumida por outros profissionais (Mota, 2010).
Para os enfermeiros, as principais vantagens que advm/podem advir
da implementao e utilizao de SIE relacionam-se com:
A mudana nos processos de interao e comunicao,
que emergem do processo de implementao do sistema em uso
(Sousa, 2006);
A criao de uma prtica reflexiva sobre os cuidados,
apoiando os enfermeiros na procura da adequao dos cuidados
prestados melhor evidncia, potenciando o aumento da sua
eficincia e eficcia (Silva, 2001; Sousa, 2006; Ordem dos
Enfermeiros, 2007; Pereira, 2007);
A transformao dos dados disponveis nos repositrios
da sade em indicadores que funcionem como ferramentas de apoio
gesto e governo, possibilitando aferir e promover a qualidade
dos servios (Pereira, 2007; Machado, 2013).
Neste contexto, conceber os SIE como repositrios de dados (matria-
prima) para a produo de indicadores (produto) capazes de apoiar os
processos de gesto e governo dos cuidados crucial e estratgico, assim
como uma oportunidade, ultrapassado o desafio da informatizao dos
registos clnicos (Silva, 2001).
1.2.1. O SIE como repositrio de dados necessrios viabilizao de
indicadores relativos ao exerccio profissional dos enfermeiros
O foco desta nossa investigao est na rentabilizao da informao
disponvel no SIE, para efeitos da produo de indicadores relativos ao
exerccio profissional dos enfermeiros e, por fora de razo, aos cuidados
de enfermagem. Perceber em que medida os dados disponveis no SIE
permitem gerar indicadores relativos aos cuidados de enfermagem
26
proceder, luz de DeLone e McLean (2003), a um processo de avaliao do
SI, aps a estabilizao da sua utilizao e em total workload.
Neste contexto, nossa convico que um processo de avaliao de
sistemas de informao em enfermagem, que assuma como postulado o
aproveitamento da informao documentada, traduz um benefcio
importante para a utilizao de sistemas de informao. A satisfao dos
enfermeiros com a produo de indicadores relativos ao seu exerccio
profissional, a partir dos dados disponveis nos SIE. um dos aspetos em
que, no nosso contexto, os diferentes estudos relevam nveis de satisfao
mais fracos (Campos, 2012; Moreira, 2014).
A possibilidade de reutilizar e disponibilizar dados documentados sob
forma de indicadores sensveis aos cuidados de enfermagem demonstra o
papel e a importncia dos cuidados de enfermagem nos servios de sade e
a garantia de que, tal como defende Pereira (2007), os contributos da
profisso e disciplina para a sade das populaes, no ficam esquecidos
nas bases de dados da sade. Ainda, a possibilidade de fazer um eficaz
aproveitamento dos dados produzidos e a sua utilizao, nesta perspetiva,
confere aos sistemas de documentao em enfermagem um carimbo de
excelncia (Ogorovichea, Elliott e Watson, 2007). Acreditamos, ainda, que
a avaliao dos sistemas de informao deve acompanhar a implementao
e o desenvolvimento dos sistemas de informao em enfermagem,
preocupando-se com a sua integrao nos sistemas mais amplos de
melhoria contnua da qualidade.
Quando se implementa um sistema de informao numa organizao
prestadora de cuidados de sade espera-se que, em ltima instncia, dessa
utilizao advenham melhorias, tambm, na gesto dos cuidados.
Recorrendo ao modelo preconizado por DeLone e McLean (2003),
foram desenvolvidos vrios estudos centrando a avaliao dos sistemas ao
nvel das dimenses tcnicas, sendo frequente encontrar resultados que
contemplam avaliaes da qualidade da informao, da qualidade do
servio e da qualidade do sistema. Por outro lado, estudos orientados para
a satisfao dos utilizadores so tambm frequentes. Contudo aspetos
27
relacionados com a utilizao, inteno de usar ou benefcios so mais
descurados, sendo ainda pouco estudados.
Quando abordamos as questes relacionadas com a avaliao dos
benefcios de um determinado sistema fulcral definir o foco de ateno
do investigador (Delone e McLean, 2003). Na rea da sade,
tradicionalmente, a avaliao dos benefcios de um sistema de informao
centra-se fundamentalmente nos benefcios proporcionados pela introduo
de determinado sistema, utilidade da implementao na reduo dos
custos, na inovao, nos ganhos globais de produtividade e na qualidade do
produto, descurando algumas questes centrais como a aferio da
qualidade do exerccio profissional, ou a qualidade dos cuidados de sade
prestados.
Com efeito, um dos benefcios dos SIE a constituio de extensos
repositrios de dados, que podem ser vistos como a matria-prima para a
gerao de indicadores. Todavia, como vimos, grandes quantidades de
dados no garantem, por si s, matria-prima com requisitos para a
gerao automatizada de indicadores, como est bem evidente na
realidade portuguesa (Pereira, 2007; Machado, 2013; Silva et al, 2014),
apesar da utilizao massiva de SIE em suporte eletrnico e com base em
linguagem classificada (CIPE).
O relatrio de anlise parametrizao nacional em uso no SClnico,
produzido por um grupo de investigadores da ESEP tornou bem evidentes os
problemas e desafios que se colocam rentabilizao dos dados
disponveis nos SIE em uso. Como fica claro naquele relatrio, impe-se
como necessrio desenvolver estratgias que garantam a interoperabilidade
e comparabilidade dos dados escala nacional, de forma a otimizar a (re)
utilizao da matria-prima (dados documentados).
Com efeito, em 2007, Pereira dissertou sobre os requisitos tidos como
necessrios produo de indicadores, a partir da documentao de
enfermagem. S matria-prima (dados) de qualidade garantir produtos
(indicadores) fiveis.
28
1.2.2. Requisitos dos dados necessrios produo de indicadores
Desde os tempos em que a enfermagem se assumiu como uma
disciplina do saber que a evoluo da profisso tem refletido o desejo de
demonstrar o conhecimento produzido. Neste sentido, a rigorosa
documentao dos cuidados de enfermagem, enquanto atividade reflexiva
que constitui a prova documental da assistncia, tem sido um importante
aliado.
A atualidade aponta-nos para uma necessidade imprescindvel de se
criarem instrumentos de trabalho que traduzam os ganhos em sade,
associados ao exerccio profissional dos enfermeiros (Pereira, 2007;
Petronilho, 2009). Hoje, as necessidades em sade ultrapassam o simples
cuidar e centram-se tambm na justificao desse mesmo cuidar. A melhor
forma de garantirmos este pressuposto garantir que a documentao dos
cuidados de enfermagem incorpora informao significativa que permita
esta justificao.
A ideia de que nem sempre uma grande quantidade de dados fornece
uma grande quantidade de informao til e significativa hoje
amplamente defendida (Marin, Barbieri e Barros, 2010; Silveira e Marin,
2006; Sousa, 2006; Pereira, 2007). Um dos maiores desafios que
apresentado enfermagem moderna a necessidade de estabelecer a sua
base de conhecimento. Esta base no mais do que um conjunto
organizado de informaes que descrevem o contributo da enfermagem
para a sade da populao (Marin, Barbieri e Barros, 2010).
A anterior perspetiva de que a informao resultante do exerccio
profissional era algo inerente aos cuidados prestados e que apenas
suportava a sua continuidade , tal como temos vindo a defender, um
conceito ultrapassado. hoje consensual que esta mesma informao serve
diferentes propsitos e que, otimizar esta matria-prima um dos
caminhos para a melhoria gradual do exerccio profissional dos enfermeiros
e, consequentemente, para o aumento da qualidade em sade.
29
Este aspeto, ligado gesto da informao, refora a necessidade dos
enfermeiros repensarem a integrao de um conjunto de elementos que
traduzam ganhos sensveis aos cuidados prestados nos seus processos
documentais, representando a singularidade do conhecimento da disciplina
de enfermagem. Esta necessidade centrada na melhoria da qualidade do
exerccio profissional tem resultado, em diversas tentativas, na criao de
meios e estratgias que permitam essa mesma melhoria. Assim, o
aproveitamento dos dados produzidos atravs de um sistema de informao
em enfermagem constitui-se como um recurso que deve ser utilizado para
promover a melhoria dessa mesma qualidade, mas tambm para garantir
que o conhecimento formal da disciplina no fica perdido nas bases de
dados da sade (Pereira, 2009). Neste contexto, faz sentido questionarmo-
nos sobre que tipo de elementos so essenciais para, por um lado, garantir
a continuidade de cuidados e, por outro, demonstrar os resultados que
advm desses mesmos cuidados.
O desenvolvimento de estratgias que contribuam para aumentar a
visibilidade dos cuidados de enfermagem e que demonstrem o real
contributo que os enfermeiros aportam s instituies, pessoas, famlias e
comunidades, deve ser visto como uma prioridade no desenvolvimento de
sistemas de informao. Neste sentido, desenvolver sistemas de informao
em enfermagem com a possibilidade de incorporar, no mnimo, um
conjunto de dados - um resumo mnimo de dados de enfermagem - poder
ser o ponto de partida para atingirmos este grande objetivo.
Os Resumos Mnimos de Dados em Enfermagem (RMDE) e na sade
foram, h cerca de trinta anos, pensados como uma estratgia de garantir
um mnimo de dados de qualidade nos sistemas de sade. Os RMDE eram
vistos como um conjunto mnimo de itens de informao relativos a aspetos
ou dimenses especficas da sade, que visavam responder a necessidades
especficas dos seus utilizadores (Werley et al, 1991; Health Information
Policy Council, 1983, cit. por Pereira, 2009). No caso da enfermagem, os
resumos mnimos de dados so particularizados como itens de informao
relativos a aspetos e dimenses especficas da enfermagem (Werley et
al, 1991).
30
Apesar de existirem diversas vises sobre se os resumos mnimos de
dados em enfermagem devem representar a totalidade ou parte da
documentao de enfermagem, assumo a definio de Pereira (2009, p.45),
como a que melhor reflete a viso atual: um RMDE, como parte dos
contedos dos SI, recolhida, analisada e interpretada com sistemtica e
regularidade e que visa responder s necessidades especficas de
informao de enfermagem de mltiplos utilizadores.
Atualmente, a melhor forma de garantir dados de qualidade e
semanticamente interoperveis atravs de arqutipos ou Modelos
clnicos de dados.
Os arqutipos podem ser entendidos como modelos de
informao/conhecimento, sustentados no conhecimento substantivo de
uma disciplina, traduzindo a estrutura das relaes e restries necessrias
expresso de um conceito clnico, estando ligados s terminologias a que
recorrem para assegurar e atribuir um significado slido aos diferentes
conceitos modelados.
Os arqutipos podem ser entendidos como Maximal Data Sets, na
medida em que cada um inclui todos os atributos clnicos passveis de
serem descritos acerca de um conceito clinicamente til (Leslie e Heard,
2008). Neste quadro, podem ser vistos como recursos muito vlidos para
definir e modelar a forma como pedaos de informao clnica os dados -
devem ser organizados e armazenados (Wollershein, Sari e Rahayu, 2009).
O que resulta do exposto nos pargrafos anteriores algo muito
estimulante: possvel ter todos os dados relativos ao domnio da
disciplina em estruturas interoperveis/comparveis e, por isso, com
potencial de agregao, para efeitos da produo de indicadores. Todavia,
como nos dizia Pereira (2007), no necessrio gerar indicadores sobre
tudo, mas sobre aquilo que o core business de cada servio ou
departamento.
No mnimo, os dados relativos quele core business devem ser
interoperveis; pelo que a ideia de um RMDE subsiste. Assim, resumos
mnimos de dados em enfermagem so parte da documentao de
enfermagem que serve os interesses de diversos agentes. Sob o ponto de
31
vista clnico, a sua estrutura substantiva corresponde a um conjunto de
diagnsticos, intervenes e resultados de enfermagem (Ordem dos
enfermeiros, 2007). De referir, ainda, que a natureza destes contedos
clnicos deve estar orientada para os Enunciados Descritivos dos Padres
de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem definidos pela Ordem dos
Enfermeiros (2002) Core da atividade de enfermagem -, sendo capazes
de, por um lado, disponibilizar informao que suporte os programas locais
de promoo e melhoria contnua da qualidade do exerccio profissional dos
enfermeiros e, consequentemente, da qualidade dos servios de sade bem
como, por outro lado, permitam obter informao que se revele til aos
processos de tomada de deciso dos diferentes nveis de gesto e
governao em sade.
Diferentes autores tm apresentado mltiplas finalidades ou
utilidades associadas aos resumos mnimos de dados em enfermagem,
dentro das quais destacamos: representar o contributo dos cuidados de
enfermagem para a sade, aumentando a sua visibilidade a nvel local,
nacional e internacional; apoiar a alocao eficiente de recursos; auxiliar o
processo de tomada de deciso e a investigao em enfermagem, atravs
do acesso/constituio de grandes bases de dados sobre os cuidados de
enfermagem, que permitam a comparao de dados de enfermagem entre
diferentes populaes, locais e momentos; demonstrar tendncias dos
cuidados de enfermagem; facilitar a integrao da informao relativa aos
cuidados de enfermagem com a restante informao de sade (Clark e Lang
1991; Werley et al. 1991; Sermeus e Delesie, 1994; Goossen et al. 1998;
Goossen, 2000, cit. por Pereira 2009; Sermeus et al., 2005; Pereira, 2009;
Welton e Sermeus, 2010; Westra et al, 2010).
Atendendo s diferentes finalidades que emergem da reviso da
literatura e, tendo em conta os propsitos da investigao em curso,
entendemos como objetivo da definio de um resumo mnimo de dados em
enfermagem, a produo de informao acerca da qualidade do exerccio
profissional dos enfermeiros. A importncia de definir qual o propsito de
um resumo mnimo de dados, tendo em vista a produo de indicadores
32
numa lgica de matria-prima/produto, est associada relao com as
diferentes leituras que podem ser feitas dos dados (Pereira, 2009).
Bittar (2001, p.1) refere que
informaes so imprescindveis (), principalmente quando transformadas em indicadores que se prestam a medir a produo de programas e servios de sade bem como estabelecer metas a serem alcanadas para o bem-estar da populao. Partimos desta afirmao para refletirmos a importncia de se
diferenciar os conceitos de resumos mnimos de dados em enfermagem e
indicadores em enfermagem. O facto de definirmos um resumo mnimo de
dados no constitui, partida, um painel de indicadores, confere-nos,
antes, a possibilidade de extrair indicadores a partir desse conjunto de
dados. Assim, entendemos um painel de indicadores como um produto
resultante de um resumo mnimo de dados em enfermagem (Ordem dos
Enfermeiros, 2007).
Quando falamos em indicadores, a nossa preocupao recai
necessariamente no conceito de qualidade do indicador. A qualidade de um
indicador em sade depende de um conjunto de propriedades dos
componentes e processos utilizados na sua formulao e, tal como refere
Pereira (2007), adota como pressupostos alguns atributos:
Validade - Corresponde capacidade que um indicador
tem de medir aquilo a que se prope. Este deve ser capaz de
discriminar corretamente um fenmeno de todos os outros e
ainda, ser capaz de detetar mudanas verificadas ao longo do
tempo nesse mesmo fenmeno.
Fiabilidade - A fiabilidade de um indicador de sade
prende-se com duas importantes caractersticas comuns a
qualquer outro instrumento de medida: a sensibilidade e a
especificidade. A sensibilidade a capacidade de medir as
alteraes no fenmeno em estudo e o seu potencial para
identificar todos os casos relativos a esse fenmeno enquanto, a
33
especificidade a capacidade de medir apenas determinado
fenmeno ou os casos em que ele se verifica.
Representatividade - A representatividade de um
indicador tem uma relao direta com a matria-prima utilizada
no seu clculo, ou seja, com a populao de origem dos dados.
Um indicador torna-se mais representativo quando obtido a
partir de dados relativos totalidade da populao em estudo.
Simplicidade - A simplicidade refere-se facilidade de
clculo e anlise, sem levantar dvidas nos utilizadores.
Custo - Este atributo est diretamente relacionado com
os recursos (humanos, financeiros e tcnicos) que so necessrios
para obter determinado indicador. Quando um indicador exige
demasiados recursos, mesmo tendo inegvel mrito terico, ter
provavelmente fraca utilizao.
tica - O desenvolvimento de indicadores em sade
deve respeitar os princpios fundamentais da tica, a no
maleficncia, a beneficncia e a justia. assim primordial
fazer-se uma reflexo sobre a real necessidade de se produzirem
determinados indicadores. Alm deste aspeto ainda
fundamental salvaguardar a proteo de dados pessoais.
Os requisitos que os dados necessrios produo de indicadores
devem cumprir, nos termos propostos por Pereira (2007), so:
disponibilidade; comparabilidade e fiabilidade.
Com efeito, como j referimos, existem muitos dados relativos aos
cuidados de enfermagem, nos repositrios dos SI da sade. Os dados
disponveis padecem, no entanto, de alguns problemas de comparabilidade
ou interoperabilidade semntica, escala do pas. Contudo, escala de um
departamento, tal comparabilidade pode ser controlada localmente, na
34
medida em que, no particular do SClnico SIE em uso no contexto onde
este estudo foi realizado possvel customizar ou parametrizar os
contedos enunciados dos diagnsticos (resultados) e intervenes de
enfermagem (Silva, 2001). neste quadro que o nosso esforo de
investigao se insere, quando pensamos na gerao de indicadores para
um departamento especfico de um determinado hospital. Na ausncia de
uma estratgia nacional e centralizada de gesto dos dados (que se deseja
e exige), so de louvar as iniciativas locais de otimizao da informao,
tendo em vista a gerao de indicadores relativos aos cuidados de
enfermagem (Machado, 2013).
Sendo possvel controlar localmente a interoperabilidade dos dados
(locais), contribui-se para a sua (dos dados) fiabilidade. A fiabilidade dos
dados, tal como ressalta Pereira (2007), radica, em grande medida do facto
dos dados serem, antes de tudo, registados com a inteno de representar
de forma fiel a natureza particular dos cuidados prestados a cada cliente,
constituindo, em primeira instncia a prova documental da assistncia.
Quer isto dizer que os dados no so gerados apenas para produzir
indicadores, o que lhes aporta fiabilidade. Estamos a falar de contedos
que so processados cabeceira do doente.
1.2.3. A natureza dos indicadores relativos ao exerccio profissional dos
enfermeiros
Em 2007 foi publicado por Pereira um estudo relativo Informao e
Qualidade do Exerccio Profissional dos Enfermeiros que, ainda hoje,
referncia para a reflexo desta temtica em Portugal. Sendo esta
temtica base para a investigao em curso, alguns dos contributos
apresentados por Pereira (2007) so referncia para o desenvolvimento de
estratgias que permitam a construo de um modelo de agregao e
gesto de dados. Destes salientamos algumas condies identificadas como
35
necessrias produo de indicadores, assim como, a reflexo sobre que
tipo de indicadores possvel/desejvel gerar.
No estudo realizado por Pereira (2007), um dos pressupostos que
emergiu referia-se ao facto de s ser possvel viabilizar indicadores se
existirem dentro da estrutura dos sistemas de informao determinados
requisitos, como referimos atrs. Existem quatro requisitos fundamentais
para viabilizar a recolha de dados, para efeitos da produo de indicadores:
a disponibilidade dos dados, a sua comparabilidade, fiabilidade e proteo
(Pereira, 2007).
O mesmo estudo demonstrou que possvel gerar indicadores relativos
aos cuidados de enfermagem a partir da informao documentada nos
sistemas de informao em enfermagem, uma vez que os mesmos esto
armazenados em estruturas arquitetnicas e tcnicas slidas.
Uma das dificuldades referidas por Pereira (2007) passava por garantir
a comparabilidade ou interoperabilidade dos dados. A utilizao dos termos
de uma classificao - a CIPE - para construir os diagnsticos,
intervenes e resultados s assegurava um primeiro nvel de
comparabilidade. Para se obter uma efetiva comparabilidade de dados
apontado, tambm, como fundamental a comparabilidade do resultado da
concatenao dos termos usados para construir os enunciados dos
diagnsticos, intervenes e resultados (Pereira, 2007).
Garantidos, ento, os requisitos necessrios produo de
indicadores, importa, para efeitos da reflexo, percebermos que
indicadores (produto) e dados (matria-prima) so necessrios
viabilizao dos indicadores que forem considerados teis.
Definidos os requisitos necessrios produo de indicadores, a partir
dos dados documentados cabeceira do doente, importa ter claro que a
natureza dos indicadores tidos como teis depende dos seus eventuais
utilizadores e, essencialmente, da sua posio na escala de governao em
sade. Como nos dizia Pereira (2007), os indicadores necessrios aos
programas locais/departamentais de gesto da qualidade so,
necessariamente, diferentes daqueles que podem auxiliar a gesto de topo,
36
onde se definem, por exemplo, as polticas de sade para uma regio ou
pas.
As iniciativas que tm acompanhado a definio de indicadores em
enfermagem tm-se preocupado em garantir que possvel agregar dados
desde um nvel de cabeceira do doente at aos mais altos nveis de
governao em sade (Pereira, 2009). O mesmo autor aponta para uma
lgica de agregao em escada, em que cada degrau representa um nvel
diferente de agregao. Neste processo degrau a degrau podero ser
otimizadas as possibilidades de utilizao da mesma informao para
atender s necessidades dos diferentes nveis de gesto e administrao em
sade (Pereira, 2009). Estes nveis no concorrem, sendo antes pelo
contrrio complementares, uma vez que o mesmo dado introduzido apenas
uma vez pode ser utilizado de forma infinita. Assim, diferentes modelos de
anlise ou padres de leitura dos mesmos dados podero produzir
indicadores diferentes, mantendo na base o princpio de que diferentes
decises requerem indicadores diferentes.
Partindo do percurso de investigao realizado por Pereira entre 2003-
2006, reconhecemos que a visibilidade dos cuidados de enfermagem nas
estatsticas, nos indicadores e nos relatrios oficiais de sade , de algum
modo, incipiente, impossibilitando a descrio e a verificao do impacto
dos mesmos nos ganhos em sade das populaes. Perante este facto, a
Ordem dos Enfermeiros (2007) publicou um documento intitulado Resumo
Mnimo de Dados e Core de Indicadores de Enfermagem para o Repositrio
Central de Dados da Sade, tendo como objetivo definir as linhas gerais
do modelo, dos contedos e dos requisitos de comparabilidade para o
Resumo Mnimo de Dados em Enfermagem Portugus (Ordem dos
Enfermeiros, 2007).
No mesmo documento foi, ainda, defendido que este resumo mnimo
de dados deveria viabilizar a produo automtica de um conjunto de
indicadores de enfermagem para diferentes nveis e utilizadores, devendo
estes indicadores ser concebidos como marcadores especficos do estado da
sade das populaes, capazes de traduzir o contributo singular do
37
exerccio profissional dos enfermeiros para os ganhos em sade da
populao (Ordem dos Enfermeiros, 2007).
Normalmente, quando se aborda a temtica de indicadores em sade,
encontramos referncia a indicadores de estrutura, processo e resultado
(Bittar, 2001; Donabedian, 2003; Pereira, 2007). Da mesma forma, e tal
como j tinha sido proposto por Pereira (2007), a Ordem dos Enfermeiros
assume no seu documento que os indicadores a produzir, sem prejuzo da
produo de outros, devem respeitar a organizao dos indicadores das
componentes de avaliao da qualidade propostos por Donabedian (2003),
aos quais se associam indicadores do tipo epidemiolgico.
Nos indicadores de estrutura so avaliadas as condies em que os
cuidados de sade so prestados (Donabedian, 2003). Este tipo de
indicadores procuram medir aspetos relacionados com os recursos
disponibilizados para a assistncia, sejam eles materiais ou humanos. So
teis ainda para medir caractersticas organizacionais, como por exemplo
metodologias de organizao e distribuio do trabalho ou o nmero de
camas hospitalares. Nesta componente a Ordem dos Enfermeiros (2007)
define os seguintes indicadores:
E1 Horas de cuidados de enfermagem prestados
(HCP/D) por dia - Consiste no nmero de horas de cuidados de
enfermagem que efetivamente foram prestados em cada dia,
excluindo-se as horas prestadas pelo enfermeiro-chefe e o tempo
regulamentar para almoo, jantar, amamentao, formao em
servio e outras situaes legalmente estipuladas (Ordem dos
Enfermeiros, 2007).
E2 Outros indicadores do sistema de classificao de
doentes - Definidos de acordo com os nveis de dependncia em
cuidados de enfermagem hospitalar, sendo estes constantes do
quadro de referncia para a construo de indicadores de
qualidade e produtividade na enfermagem (Ordem dos
Enfermeiros, 2007).
38
E3 Satisfao dos enfermeiros - Adota a definio
constante no instrumento utilizado para a medio (Ordem dos
Enfermeiros, 2007).
Os indicadores de processo avaliam as atividades que constituem os
cuidados de sade e que so executadas por profissionais da sade
(Donabedian, 2003). Nesta dimenso esto includos aspetos relativos s
atividades de diagnstico, tratamento e reabilitao, preparao do
cliente em termos cognitivos, teraputicas mdicas e cirrgicas (Pereira,
2007).
Em relao a esta componente, a Ordem dos Enfermeiros (2007)
destaca o seguinte indicador:
P1 Taxa de efetividade diagnstica do risco - Este
indicador baseia-se na relao estabelecida entre as entidades
diagnstico potencial (risco) e diagnstico real, na relao entre
o nmero total de casos que desenvolveram um determinado
problema ou complicao, tendo previamente documentado o
risco e a totalidade de casos que desenvolveram esta mesma
ocorrncia, num certo perodo de tempo (Ordem dos
Enfermeiros, 2007).
Quando se pretende avaliar se modificaes (desejadas ou
indesejadas) nos indivduos ou populaes podem ser atribudas aos
cuidados de sade, estamos a reportar-nos a indicadores de resultado
(Donabedian, 2003). Relativamente a esta componente, a Ordem dos
Enfermeiros (2007) define, em linha com Pereira (2007), a produo de
indicadores sensveis aos cuidados de enfermagem, sendo estes os
seguintes:
R1 Taxa de efetividade na preveno de
complicaes - Este tipo de indicador assenta na relao entre
39
as entidades diagnstico potencial (risco) e diagnstico real,
baseando a sua avaliao na relao entre a totalidade de casos
com risco documentado, de um determinado problema ou
complicao, e que acabaram por no desenvolver a
complicao, tendo pelo menos uma interveno de enfermagem
implementada, e o universo dos casos que tiveram previamente
documentado o risco deste mesmo problema ou complicao,
num determinado perodo de tempo (Ordem dos Enfermeiros,
2007).
R2 Modificaes positivas no estado dos diagnsticos
de enfermagem (reais) - Baseia-se na relao entre o nmero
total de casos que resolveram um determinado
fenmeno/diagnstico de enfermagem, tendo intervenes de
enfermagem implementadas, e o universo dos que apresentaram
este fenmeno/diagnstico, num determinado perodo de tempo
(Ordem dos Enfermeiros, 2007).
R3 Taxas de ganhos possveis/esperados de
efetividade - Este tipo de indicador apresenta uma natureza
diferente dos anteriores e resulta da comparao entre o que
esperado conseguir-se, em funo do julgamento profissional
acerca do estado, potencial e recursos do utente, famlia ou
grupo, e aquilo que efetivamente conseguido, ou seja, baseia-
se na relao entre o nmero total de casos em que o resultado
esperado de um determinado fenmeno/diagnstico, com
intervenes de enfermagem implementadas, foi realmente
conseguido, e o universo dos que apresentaram este
fenmeno/diagnstico, num determinado perodo de tempo
(Ordem dos Enfermeiros, 2007).
A estes indicadores centrados na estrutura, processo e resultados, tal
como nos apresenta Donabedian (2003), a Ordem dos Enfermeiros (2007)
40
identifica tambm uma outra dimenso que se refere a indicadores
epidemiolgicos. Estes baseiam-se em trs conceitos comuns na
epidemiologia e representam indicadores relacionados com incidncia,
prevalncia e frequncias relativas. Assim, para esta dimenso a Ordem dos
Enfermeiros (2007) define os seguintes indicadores:
Epd 1 Taxas de incidncia - Estes indicadores
relacionam o nmero total de novos casos de um determinado
foco/diagnstico de enfermagem surgidos num determinado
perodo, com a totalidade da populao existente nesse mesmo
momento (Ordem dos Enfermeiros, 2007).
Epd 2 Taxas de prevalncia - Neste indicador
efetuada a relao entre a totalidade de casos de um
determinado foco/diagnstico de enfermagem num determinado
perodo de tempo, com a totalidade da populao existente
nesse mesmo momento (Ordem dos Enfermeiros, 2007).
Epd 3 Taxas de frequncia relativa - As taxas de
frequncia relativa estabelecem um paralelismo entre o nmero
de casos de ocorrncia de um determinado foco/diagnstico e o
total de casos (episdios de internamento) no mesmo perodo
temporal (Ordem dos Enfermeiros, 2007).
Resta-nos apenas recordar que, sendo os indicadores em enfermagem
um Output dos processos documentais dos enfermeiros, s poderemos
produzir indicadores que demonstrem o contributo particular do nosso
exerccio profissional se garantirmos que os enfermeiros documentam as
suas atividades, ou seja, se estiverem garantidos os Inputs de dados
(Pereira, 2007; Petronilho, 2009).
Como se percebe do descrito, natural que, atualmente, os discursos
profissionais estejam impregnados de posies ou exposies em torno da
necessidade de termos disponveis indicadores que tornem visveis os
41
cuidados de enfermagem e que nos ajudem a tornar evidentes as
necessidades de cuidados. Tm sido imensas as posies em fruns,
seminrios e conferncias acerca da necessidade de termos indicadores que
mostrem a necessidade de enfermeiros e os ganhos em sade que
resultam da sua ao profissional.
Em sntese, podemos afirmar que, atualmente, so claros os requisitos e
modelos que urge implementar para garantir uma gesto competente dos
dados disponveis nos SIE, em favor dos processos de gesto e governo dos
servios de sade. Todavia, a otimizao do capital informao relativa
aos cuidados de enfermagem ainda incipiente, essencialmente devido
ausncia de uma estratgia nacional de gesto de dados de enfermagem.
Neste quadro, ou aguardamos que aquela estratgia nacional seja definida
ou, entretanto, escala local, avanamos com iniciativas para uma gesto
mais inteligente dos cuidados de enfermagem, com base em informao
vlida.
1.2.4. Desafios e contributos dos indicadores para a gesto inteligente
dos cuidados de enfermagem
Temos assistido a uma mudana relevante no significado atribudo
informao. O que antes era apenas um custo ou obrigao legal para as
organizaes visto agora como um recurso (Sousa, 2006). Por outro
lado, como temos vindo a defender, as tecnologias de informao
desempenham um papel importante nas organizaes e suportam o seu
desenvolvimento. A proliferao de sistemas de informao nas
organizaes dotou-as de bases de dados de uma riqueza informativa
considervel que, face ao paradigma atual, se assume como indispensvel
aos processos de gesto. Contudo, o constante aumento da quantidade de
dados que armazenada nas bases de dados das organizaes pode tornar
os processos de tomada de deciso mais confusos e difceis (Sousa, 2006).
Para que todos estes dados possam efetivamente ser teis, importante
42
que estejam disponveis no momento e altura em que so necessrios e
devem ser especficos para cada situao (Sousa, 2006).
Esta realidade obriga os gestores a repensarem os seus sistemas, de
forma a identificarem solues que possibilitem potenciar este recurso.
Nesse sentido, as solues de Business Intelligence so hoje um importante
aliado para a gesto das organizaes.
Podemos definir solues de Business Intelligence como estruturas que
utilizam os dados existentes nas organizaes e os disponibilizam sob forma
de informao til aos processos de tomada de deciso (Caldeira, 2008;
Santos e Ramos, 2009). Estas solues combinam tcnicas de recolha e
armazenamento de dados e tcnicas de gesto do conhecimento com
ferramentas de anlise, de forma a proporcionar melhores decises
(McKnight, 2003; Negash, 2004; Santos e Ramos, 2009).
Os sistemas de Business Intelligence tm a capacidade de agregar
milhes de dados, cruzando os dados provenientes de mltiplos sistemas e
analisando-os sobre todas as perspetivas possveis, com o objetivo de
melhorar a qualidade da informao disponibilizada. Proporcionam o acesso
a informao e conhecimento no local e momento certo, disponibilizando-
a, nomeadamente sob a forma de indicadores, para que possa ser
rentabilizada para os processos de apoio tomada de deciso (McKnight,
2003).
Quando abordamos as solues de Business Intelligence
tradicionalmente referimo-nos a trs tipos de tecnologias: Data
Warehouses, On-Line Analytical Processsing (OLAP) e Data Mining (Negash,
2004; Santos e Ramos, 2009).
As solues de Business Intelligence tm sido utilizadas com o objetivo
de melhorar a funcionalidade dos atuais sistemas gestores de bases de
dados e para isso recorrem construo de armazns de dados (Data
warehouses) que posteriormente so analisados com tcnicas de On-Line
Analytical Processing e de Data Mining (Santos e Ramos, 2009).
O conceito de Data Warehouse corresponde a um armazm de dados,
isto , um repositrio integrado que permite o armazenamento da
43
informao relevante para os processos de tomada de deciso (Caldeira,
2008; Santos e Ramos, 2009).
Este tipo de aplicaes no so mais do que ferramentas construdas
com o nico propsito de armazenarem dados e se capitalizarem como um
instrumento de apoio gesto. Um Data Warehouse um repositrio
construdo especificamente para consolidao da informao, permitindo a
anlise seletiva dos dados l contidos (Fortulan e Gonalves Filho, 2005;
Caldeira, 2008; Santos e Ramos, 2009). No fundo corresponde a uma outra
base de dados que mantida de forma autnoma relativamente s bases de
dados operacionais da organizao (Fortulan e Gonalves Filho, 2005;
Santos e Ramos, 2009).
Este grande armazm de dados permite uma centralizao num s
local de dados que podem ter mltiplas origens, e organiza-os para que
sejam mais facilmente encontrados e utilizveis (Caldeira, 2008). Ao
contrrio das restantes bases de dados relacionais de nvel operacional,
estas novas bases de dados so apenas de leitura, no permitindo a edio
dos dados l contidos (Caldeira, 2008; Santos e Ramos, 2009).
Pelas suas caractersticas, estes armazns de dados facilitam o acesso
dos gestores informao contida nos seus repositrios, proporcionando a
utilizao deste importante recurso estratgico. Data Warehouses so
sistemas orientados por assuntos, integrados, catalogados temporalmente,
e que permitem apenas dois tipos de operaes, o carregamento inicial dos
dados e o acesso aos dados para processamento de consultas (Fortulan e
Gonalves Filho, 2005; Caldeira, 2008; Santos e Ramos, 2009).
As tecnologias de anlise de dados (Data Mining, OLAP) associadas s
solues de Business Intelligence possibilitam a transformao dos dados
armazenados em conhecimento que apoia os processos de deciso e gesto.
Quando se pretende a procura e identificao de relacionamentos, padres
ou modelos implcitos nos dados armazenados em grandes repositrios, o
Data Mining um dos processos mais eficazes (McKnight, 2003; Santos e
Ramos, 2009).
Data Mining uma tecnologia que utiliza conceitos provenientes da
estatstica e da inteligncia artificial entre outros, com o objetivo de
44
identificar padres, ou tendncias nos dados, que de outra forma
dificilmente seriam evidenciados (Fortulan e Gonalves Filho, 2005; Santos
e Ramos, 2009). Para este processo normalmente aplicado em dados
armazenados em Data Warehouses, os processos de Data Mining recorrem a
tcnicas sofisticadas de procura, como por exemplo algoritmos de
inteligncia artificial, redes neuronais artificiais, rvores de deciso, regras
de induo, regresso linear, ou ainda, combinaes entre as diferentes
tcnicas (Fortulan e Gonalves Filho, 2005; Santos e Ramos, 2009).
O resultado que advm da utilizao da tecnologia de Data Mining
deve atender a algumas caractersticas que permitam a obteno rpida do
conhecimento. Assim, o resultado obtido atravs da aplicao do Data
Mining deve ser compacto, legvel, interpretvel e ser o reflexo fiel dos
dados que lhe deram origem (Fortulan e Gonalves Filho, 2005).
A tecnologia de On-Line Analytical Processing uma das tecnologias
mais utilizadas para explorao de Data Warehouses (Santos e Ramos,
2009). Estes servidores OLAP permitem efetuar uma anlise
multidimensional dos dados armazenados num repositrio de dados (Base
de dados relacional, Data Warehouse, etc.), independentemente do local
onde esto guardados (Santos e Ramos, 2009). So normalmente aplicadas
em Data Warehouses e permitem obter uma viso multidimensional dos
dados, realizar clculos complexos, criar agregaes e consolidaes, fazer
previses e anlise de tendncias, construir cenrios a partir de suposies,
fazer clculos e manipular os dados atravs de diferentes dimenses
(Fortulan e Gonalves Filho, 2005).
Quando transportamos estes conceitos para o paradigma da
investigao em curso, importa refletir em que medida todo este
conhecimento relacionado com os domnios das tecnologias da informao
e gesto empresarial tem influncia na gesto e governao em sade e em
particular em enfermagem.
Recuperando uma ideia anterior de que a informao um elemento
central na tomada de deciso clnica e um requisito fundamental para a
gesto dos cuidados de sade (Marin, et al., 2001, p. 1), sendo tambm
um dos recursos fundamentais para o sucesso das instituies de sade,
45
revelando-se essencial para a excelncia dos cuidados prestados (Silva,
2001; Sousa, 2005; Pereira, 2007; Cunha, 2008; Mota, 2009), legtimo
afirmarmos que, desenvolver estratgias que permitam uma gesto eficaz
da informao e que possibilitem o desenvolvimento de processos de
melhoria contnua, assume um papel primordial face ao atual modelo de
gesto dos cuidados de sade.
Outra ideia em que pertinente refletir prende-se com a excessiva
dependncia a que esto sujeitos os enfermeiros com papel na gesto,
quando pretendem obter informao que consta nas bases de dados dos
seus aplicativos, como o caso do SClinico e a Data Warehouse que
sua paralela.
A maioria das empresas e organizaes da nossa sociedade utilizam
sistemas de gesto de informao baseados em sistemas de bases de dados
relacionais (Caldeira, 2008). Na sade, muitos dos sistemas de informao
so tambm baseados neste tipo de bases de dados. O SClinico comporta
na sua estrutura inmeras tabelas ligadas entre si por campos comuns.
Normalmente a explorao da informao que est armazenada numa
base de dados deste tipo feita atravs de linguagem SQL (Structured
Query Language), comummente chamada de Queries. Este tipo de
programao um processo complexo e, como tal, de difcil acesso para os
utilizadores das bases de dados (Caldeira, 2008). Este aspeto limita o
acesso aos dados, a um conjunto restrito de queries pr-programadas, pois
aceder a dados diferentes obrigaria o gestor (e para o nosso exemplo, o
enfermeiro gestor) a dominar a programao em SQL e ao mesmo tempo a
conhecer em profundidade o esquema da base de dados que utiliza, ou
seja, saber em que tabelas se encontram os dados que necessita e conhecer
tambm as relaes entre as tabelas (Caldeira, 2008).
Numa sociedade em que cada vez mais os gestores dependem do
aproveitamento eficaz da informao que produzem, esta dependncia dos
informticos para aceder e explorar os seus dados bastante limitadora.
Desenvolver solues de Business Intelligence baseadas em tecnologias
como o Data Warehousing, por exemplo, poder ser a possibilidade de
acabar com a dependncia crnica em quem sabe de informtica
46
(Caldeira, 2008). Para os Enfermeiros, o desenvolvimento de solues de
Business Intelligence poder ser a oportunidade de rentabilizar a
informao documentada pelos pares nos seus sistemas de informao,
beneficiando os processos de gesto e governao dos servios e, por outro
lado, o caminho para a independncia na gesto da informao.
Do estudo de Pereira (2007) resultou, tal como descrito no captulo
quarto daquela tese, um conjunto especfico de queries pr-programadas
orientadas para a produo dos diferentes tipos de indicadores que a OE
acabou por adotar como recomendao para a gesto da qualidade dos
cuidados de enfermagem. Ora, daqui resulta que o desafio, antes de tudo,
escala de cada realidade local passa por definir o que monitorizar, com
que tipo de indicadores e para qu. Aps, impe-se verificar se a realidade
dos contedos parametrizados nos SI viabiliza aqueles indicadores e, caso
seja necessrio, proceder aos necessrios ajustes. S desta forma
poderemos evoluir para uma gesto inteligente dos cuidados de
enfermagem, baseada em informao vlida, precisa e adequada s
necessidades de diferentes utilizadores.
1.3. Justificao do estudo
A necessidade de promover a qualidade dos cuidados tem resultado,
em diversas tentativas, na criao de meios e estratgias que permitam
essa melhoria. Pereira (2007) refere que no podemos desperdiar um
recurso estratgico como a informao relativa aos cuidados de
Enfermagem, nomeadamente aquela disponvel nas bases de dados da
sade. Nesse sentido, devemos encarar a informao documentada nos
Sistemas de Informao em Enfermagem (SIE) como um
instrumento/recurso que vai para alm das questes legais da
documentao da assistncia ou, at mesmo, da promoo de continuidade
dos cuidados (Pereira, 2007).
47
A informao , tal como definido por Marin (2001, cit. por Pereira,
2009, p. 34), um elemento central na tomada de deciso clnica e
constitui-se como fundamental na gesto de cuidados de sade. Por outro
lado, entendemos a avaliao do sucesso e efetividade dos Sistemas de
Informao como fundamental para se perceber o valor e eficcia da
manuteno de Sistemas de Informao, assim como o investimento feito
nestas reas (Delone e McLean, 2003).
O aproveitamento dos dados processados e armazenados nos SIE
constitui-se como um recurso que deve ser rentabilizado na melhoria da
qualidade dos cuidados. No entanto, a diversidade desses dados no se
constitui, partida, como uma garantia para que se possa fazer um
aproveitamento efetivo dessa matria-prima de forma eficiente (Pereira,
2009).
Acreditamos que a Investigao em Enfermagem o fator potenciador
do aumento de conhecimentos no campo de estudos especfico da
disciplina, tendo como finalidade ltima, proporcionar aos clientes,
cuidados de Enfermagem que respondam efetivamente s suas
necessidades. Assim, devemos encarar os processos de otimizao e gesto
da informao como prioridades no atual contexto da investigao, uma
vez que
a manifesta carncia de informao, especialmente orientada para os resultados, relativa ao exerccio profissional dos enfermeiros, coloca-nos a todos perante a necessidade de se criarem instrumentos capazes de auxiliar a promoo de climas favorveis consolidao de sistemas de melhoria contnua da qualidade em sade. (Pereira, 2007, p. 75).
Partindo do modelo proposto por Delone e McLean em 2003,
pretendemos desenvolver um estudo cuja problemtica recair na
avaliao de sistemas de informao, na vertente dos benefcios da
utilizao do sistema, naquilo que se reporta viabilizao de indicadores
teis gesto da qualidade dos cuidados de enfermagem. O interesse nesta
rea surge devido a vrias premissas.
48
O estudo realizado por Pereira (2007) demonstrou as possibilidades de
gerar indicadores relativos aos cuidados de enfermagem, a partir da
informao documentada nos SIE. O Centro Hospitalar de So Joo, EPE fez
um forte investimento na rea dos SIE nos ltimos anos. Desde 2003, o
sistema de informao em enfermagem em uso o Sistema de Apoio
Prtica de Enfermagem (SAPE) atual SClinico. Ainda, a Direo de
Enfermagem do Centro Hospitalar de So Joo, EPE assume como
prioritrio o desenvolvimento de estruturas que possibilitem definir um
resumo mnimo de dados de enfermagem que permitam produzir
indicadores de qualidade de cuidados de enfermagem, resultantes da
tomada de deciso dos enfermeiros.
Neste quadro, nossa convico que importa refletir sobre as
possibilidades de produzir, de forma regular e sistemtica, indicadores
sensveis aos cuidados de enfermagem. Aliada a esta convico, o interesse
demonstrado pelo Centro Hospitalar de So Joo, EPE (CHSJ) em
desenvolver estratgias de otimizao de dados constitui-se como ponto de
partida para o desenvolvimento desta investigao.
49
2. MATERIAL E MTODOS
Neste captulo damos conta das questes metodolgicas em que se
alicerou o estudo que desenvolvemos; estudo que se inscreve na
problemtica da gesto da informao disponvel nos sistemas de
informao e documentao dos cuidados de enfermagem.
2.1. Finalidade e Objetivos do estudo
Tendo em conta os domnios da investigao em que nos centramos,
definimos como finalidade, contribuir para a otimizao do Sistema de
Informao em Enfermagem em uso e, por esta via, promover o seu
desenvolvimento, bem como a qualidade dos cuidados de enfermagem.
Os objetivos que definimos derivam da finalidade exposta e remetem
para a rentabilizao da informao disponvel no SIE em uso escala da
unidade de gesto autnoma de Medicina do Centro Hospitalar de So Joo,
EPE:
Identificar um painel de indicadores teis aos processos de
gesto dos cuidados de enfermagem.
Avaliar o potencial de produo dos indicadores teis aos
processos de gesto dos cuidados de enfermagem, a partir dos
dados disponveis no SIE em uso.
50
2.2. Contexto do estudo
O estudo aqui reportado decorreu no Centro Hospitalar de So Joo,
EPE, plo So Joo. O CHSJ, com o estatuto jurdico de Entidade Pblica
Empresarial (EPE), resultado da fuso de duas unidades hospitalares do
grande Porto: o Hospital So Joo e o Hospital Nossa Senhora da Conceio
- Valongo.
Em termos especficos, o nosso estudo desenvolveu-se na Unidade
Autnoma de Gesto (UAG) Medicina, que integra os servios de Medicina
Interna, Dermatologia, Cardiologia, Endocrinologia, Gastrenterologia,
Hematologia Clnica, Medicina Fsica e de Reabilitao, Nefrologia,
Neurologia, Pneumologia, Imunoalergologia, Oncologia, Reumatologia e
Doenas Infeciosas. Para efeitos de operacionalizao, foram selecionados
os servios de Medicina Interna do plo So Joo, totalizando os servios de
Medicina A e B.
Nos servios de Medicina, como em quase todos os servios do CHSJ, a
documentao dos cuidados de Enfermagem processa-se na ferramenta
informtica SClnico.
O Servio de Medicina Interna do Plo So Joo integra 4 unidades,
A1, A2, B1 e B2, situadas nos pisos 3, 4 e 8 da ala Nascente do CHSJ, com
uma lotao mxima de 120 camas.
No que respeita gesto dos cuidados de enfermagem, a equipa de
enfermeiros afeta a estes servios depende funcionalmente de quatro
enfermeiros-chefe, encarregues da gesto do servio e cuidados, e detm
tambm oito enfermeiros especialistas que os coadjuvam nestas funes.
So estes enfermeiros, afetos gesto dos servios, as figuras que
garantem a superviso dos cuidados prestados pela equipa de enfermagem,
de acordo com a viso organizacional da instituio.
51
2.3. Desenho do estudo
O estudo insere-se numa tipologia exploratrio-descritiva, uma vez
que pretende proceder descrio de um fenmeno, explorando elementos
que o definem e delimitam. Segundo Fortin (2003), um estudo exploratrio
visa denominar, classificar ou descrever uma situao. Polit e Hungler
(1995, p.14) referem que a pesquisa exploratria visa, mais do que a
observao e a descrio do fenmeno, explorar as dimenses desse
fenmeno, a maneira pela qual ele se manifesta e os outros fatores com os
quais se relaciona. neste contexto que nos colocamos, pretendendo
compreender quais os indicadores tidos como teis aos processos de gesto
dos cuidados de enfermagem e, em que medida, podem ser viabilizados.
A investigao realizou-se em duas fases distintas. A primeira visou a
obteno de consensos relativos ao painel de indicadores teis escala dos
servios de Medicina do CHSJ, EPE Plo So Joo. A segunda referiu-se
explorao do potencial de produo dos indicadores consensualizados, a
partir dos dados documentados pelos enfermeiros, assim como
identificao de necessidades de melhoria nos processos de documentao,
bem como definio de solues capazes de garantir a produo
sistemtica do referido painel de indicadores.
Para a primeira fase e, de forma a operacionalizar a obteno do
referido painel de indicadores, foram delimitadas as seguintes questes de
partida:
Que indicadores relativos aos cuidados de enfermagem
sero teis aos processos de gesto dos cuidados de
enfermagem, nos servios de Medicina Interna do Centro
Hospitalar de So Joo, EPE Plo So Joo?
Qual a matriz e a estrutura de dados necessrios
viabilizao do referido painel de indicadores?
Para a concretizao da primeira fase do estudo recorremos, em
52
termos metodolgicos, realizao de Focus Group (grupos focais),em que
os participantes foram os enfermeiros com responsabilidades de gesto dos
servios.
Na segunda fase e, dado pretender-se explorar o potencial de
produo de indicadores de forma sistemtica, delinearam-se as seguintes
questes de partida:
Qual o potencial de produo dos indicadores definidos
a partir dos dados documentados pelos enfermeiros no SIE em
uso?
Quais as necessidades de melhoria nos processos e
contedos da documentao dos cuidados de enfermagem a
implementar de forma a viabilizar a produo dos indicadores
definidos?
Na segunda etapa da investigao, recorremos a um estudo de perfil
quantitativo, com base numa amostra de 114 episdios de internamento,
ocorridos no ano de 2012. Nesta etapa procedeu-se anlise documental
dos registos de enfermagem daqueles episdios de internamento, assim
como da parametrizao do SIE em uso. Aps, procedemos a entrevistas
com 4 informantes-chave, que nos ajudaram a interpretar os resultados
apurados na anlise documental.
2.4. Procedimentos de recolha de dados
2.4.1. Focus Group
Quando existe pouco conhecimento sobre um fenmeno, como no tipo
de estudo que pretendemos implementar, o investigador visa acumular uma
maior diversidade de informao possvel, a fim de abarcar os vrios
53
aspetos do fenmeno (Fortin, 2003). Mediante o objeto de estudo
apresentado, os focus group afiguram-se como o mtodo de colheita de
dados mais adequado, de forma a apreender a complexidade do mesmo.
Este mtodo possibilita a compreenso de significados, comportamentos,
preferncias, sentimentos, expectativas e atitudes que os participantes
atribuem a determinado fenmeno (Hbert, Goyette e Boutin, 1994; Fortin,
2003). Trata-se de um instrumento que exige dos que o executam uma
grande disciplina (Fortin, 2003).
Podemos definir o focus group como ... um grupo de indivduos
selecionados e reunidos pelo investigador com o intuito de discutir e
comentar, a partir da sua experincia e conhecimento pessoal, tpicos de
interesse para a investigao. (Powell e Single, op. cit., p. 499 cit. por
Pereira, 2007 p. 121). De acordo com Debus (2004), o focus group uma
das principais tcnicas de investigao que, recorrendo s dinmicas de
grupo, permite a um pequeno nmero de participantes ser guiado por um
moderador
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