ESTUDO DA INCORPORAÇÃO DO EXTRATO DE GANODERMA
LUCIDUM EM NANOCÁPSULAS
Mayara Thereza Felix SILVA1; Silvia Maria Batista de SOUZA1
[email protected]; [email protected]
1Fundação Educacional do Município de Assis - FEMA.
RESUMO:
Nano/microcápsulas são sistemas do tipo reservatório onde um invólucro polimérico é
envolvido por um núcleo oleoso, a substância a ser encapsulada pode se alojar no
interior da nanocápsula e/ou estar envolvida na cadeia polimérica. O cogumelo
ganoderma lucidum pertence a família dos basidiomicetos e possui numerosos efeitos
farmacológicos. O objetivo deste trabalho foi produzir nano/microcápsulas de PLA
(ácido polilático)/PEG (polietileno glicol) e incorporação de extrato de ganoderma
lucidum. As nanopartículas poliméricas foram preparadas pelo método de deposição
interfacial do polímero pré-formado descrito utilizando PLA/PEG com e sem extrato de
ganoderma lucidum. Ao microscópio óptico observou-se formação de agregados da
ordem micro entre 8000-20000 nm. Pode-se concluir que a metodologia é viável para a
formação de microcápsulas.
PALAVRAS-CHAVE: nanocápsulas, microcápsulas, ganodema lucidum
ABSTRACT: Nano / microcapsules are of the reservoir type systems where a polymeric
shell is surrounded by an oily core substance to be encapsulated can be housed inside
the nanocapsule and / or be involved in the polymeric chain. Ganoderma lucidum
Mushroom belongs to family of basidiomycetes and have numerous pharmacological
effects. The objective of this work was to produce nano / microcapsules PLA (polylactic
acid) / PEG (polyethylene glycol) and incorporation of ganoderma lucidum extract. The
polymeric nanoparticles were prepared by interfacial deposition method of the
preformed polymer described using PLA / PEG with and without Ganoderma Lucidum
extract. An optical microscope was observed formation of micro order aggregates
between 8000-20000 nm. It can be concluded that the method is feasible for the
formation of microcapsules.
KEYWORDS : nanocapsule, microcapsule, ganodema lucidum
0. Introdução: As nanocápsulas são constituídas por um invólucro polimérico disposto
ao redor de um núcleo oleoso, podendo o princípio ativo estar dissolvido neste núcleo
e/ou adsorvido à parede polimérica (SHAFFAZICK, 2003, p.727). São estruturas
coloidais constituídas por vesículas de um fino invólucro de polímero biodegradável e
uma cavidade central com núcleo oleoso, no qual a substância ativa encontra-se
dissolvida, sendo, por isso, consideradas um sistema reservatório, o qual apresenta
diâmetro submicrométrico, variando entre 10 a 1000 nm (SCHMALTZ, 2005, p.83).
Um dos fatores limitantes ao uso de nanopartículas como sistemas de liberação
controlada de fármaco é quanto a sua estabilidade. Durante o armazenamento pode
ocorrer agregação das nanopartículas resultando em sua precipitação. Estes problemas
podem ser contornados por técnicas de secagem da suspensão coloidal tais como a
liofilização e a secagem por aspersão. O objetivo deste trabalho teve por objetivo
nanocápsulas de PLA (ácido polilático) e incorporação de extrato de ganoderma
lucidum.
1.Fundamentação Teórica: A técnica de liberação controlada tem-se destacado nos
últimos anos devido entre outros fatores a diminuição de dosagem do princípio ativo.
Atualmente, sistemas de liberação controlada, tem sido aplicados em diversas áreas tais
como em ciência cosmética e farmacêutica. Dentre os sistemas de liberação controlada
cita-se os lipossomas, as nanoesferas, as nano e microcápsulas.
Lipossomas (figura 1) são vesículas microscópicas formada por bicamada lipídica
concêntricas. Os lipossomas podem encapsular substâncias hidrofílicas e/ou lipofílicas,
as primeiras ficam concentradas no núcleo aquoso interno e as lipofílicas adsorvidas
entre a cauda apolar dos surfactante. Os lipossomas ainda podem conter uma única
bicamada lipídica e assim classificados como unilamelares ou possuírem múltiplas
bicamadas e assim classificados como multilameares (CHORILLI, et al, 2004, p.76)
Figura 1: Estrutura de lipossomas unicelular e multicelular (In: CHORILLI; OLIVEIRA;
SCARPA, 2004, p. 76).
Em liberação controlada é comum classificar as nanoparticulas como sendo partículas
com um diâmetro inferior a 1µm (1000nm) e micropartículas como sendo partículas
com um diâmetro entre 1µm a 1000µm (106 nm) (COIMBRA, 2010, p. 22). As
nanopartíulas podem ser classificadas de acordo com sua composição ou organização
estrutural em nanocápsulas ou nanoesferas (figura 2).
Nano/microcápsulas são sistemas do tipo reservatório onde um invólucro polimérico é
envolvido por um núcleo oleoso, a substância a ser encapsulada pode se alojar no
interior da nanocápsula e/ou estar envolvida na cadeia polimérica. Em
nano/microesferas não há núcleo oleoso e a substância ativa pode se encontrar
solubilizada no núcleo ou disperso na matriz polimérica (SCHAFFAZICK et al, 2003,
p. 730).
Figura 2: Desenho esquemático de nanocapsula (a) e nanoesfera (b)
O uso dos sistemas encapsulados possuem vantagens sobre o método tradicional para
disponibilização de princípios ativos tais como proteger substâncias sensíveis à radiação
da luz ultravioleta, sensíveis a variação de pH e proteger da degradação por temperatura
acima de 40 oC (KÜLKAMP, et al, 2009, p. 2079).
Existem inúmeros métodos para obtenção das nanopartículas, que em geral podem ser
classificados de duas formas: a primeira para obtenção das nanopartículas requer uma
reação de polimerização (polimerização in situ) e a segunda utiliza um polímero pré-
formado, como apresentado na figura 3 (JAGER, 2008, p. 12).
Figura 3: Representação esquemática de métodos de preparação de nanopartículas
poliméricas (In: JAGER, 2008, p. 13)
Dentre as técnicas descritas para a preparação de nanopartículas, destaca-se o método
descrito por Fessi et al. 1989, p.27 que se baseia na precipitação interfacial de polímeros
pré-formados. A este método se dá o nome de precipitação de polímero pré-formado
(JAGER, 2008, p. 15).
A precipitação de polímero pré-formado (figura 4) consiste na precipitação e formação
de vesículas de tamanho coloidal, formadas por uma fase oleosa revestida por uma
camada polimérica, em um ambiente aquoso (PEREIRA, 2006, p.21).
Figura 4: Métodos utilizados na preparação de nanopartículas poliméricas empregando
monômeros disperos ou polímeros pré-formados (In: SCHAFFAZICK et al., 2003,
p.727)
No preparo de nanocápsulas, pelo método do polímero pré-formado, o polímero e o
tensoativo lipofílico são dissolvidos em um solvente semipolar solúvel em água. Esta
solução é vertida em uma solução aquosa que contém tensoativo, como o polissorbato
80, em agitação magnética (JAGER, 2008, p. 17). O princípio ativo a ser encapsulado
deve ser solubilizado na fase orgânica, se houver caráter lipofílico ou na fase aquosa se
houver caráter hidrofílico.
Após a mistura das duas fases, o polímero precipita na interface pela redução da sua
solubilidade, uma vez que a difusão dos solventes favorece a formação de nanogotas de
óleo que servirão como núcleo para o precipitado do polímero. Há o surgimento
instantâneo de uma suspensão leitosa, que são as nano/microcápsulas.
(SCHAFFAZICK, 2003, p.727).
Uma grande variedade de polímeros sintéticos, naturais e semi-sintéticos são
investigados na produção de nano/micropartículas. Um requisito fundamental para que
o polímero seja escolhido é que ele e os produtos de sua degradação sejam atóxicos e
que sejam biocompatíveis. Outras propriedades importantes são quanto ao caráter
hidrofílico/lipofílico e também se o polímero é biodegradável (COIMBRA, 2010).
Um dos polímeros utilizados em produção de nanoparticulas poliméricos é o ácido
polilático que é um polímero biodegradável. O ácido polilático (figura 5) é produzido
por mecanismo que inclui a produção e o isolamento de um intermediário, dímero
cíclico de ácido lático, seguido pela polimerização (AJIOKA et al, 1995, p. 226;
KHAZIR E SHETTY, 2014, p. 37 ), como apresentado na figura 1.
Figura 5: Processo de produção do PLA, (In: KHAZIR E SHETTY, 2014, p. 37)
O polietileno glicol (PEG) tem sido investigado como estabilizador estérico, isto
provavelmente a maior flexibilidade de sua cadeia, ter caráter hidrofílico e neutralidade
elétrica pelo ausência de grupos funcionais em sua cadeia (MAINARDES, 2007, p. 20).
GRANADA et al., 2007 observou uma melhora na disponibilidade terapêutica do
fármaco camptotecina quando encapsulado em nanocápsula de PLA-PEG no efeito de
células tumorais.
O cogumelo ganoderma lucidum pertence a família dos basidiomicetos e possui
numerosos efeitos farmacológicos. Os constituintes farmacologicamente mais
importantes são triterpenóides e polissacarídeos. Triterpenóides foram relatados possuir
efeito hepatoprotetor, anti-hipertensivo anti-tumoral (BOH et al, 2007, 266). TAO E
FENG, 1990, avaliaram o efeito da agregação plaquetária da ganoderma lucidum em
pacientes com doença ateroscleróticas e concluiram que ser um agente inibidor das
plaquetas e eficaz na agregação.
2.Matériais e Métodos
2.1 Materiais
- Poli(butileno adipato cotereftalato) (PBAT)
- Ácido Poli (D,L lático) – (Natureworks – Cargill)
- Acetona P.A. (Dinâmica)
- Lecitina de soja (Artmagistral)
- Triglicerídeos de ácido cáprico e caprílico (Vital)
- Polissorbato 80 (Politecnico)
- Extrato alcoólico de Ganoderma lucidum (Juncal Brasil)
- Diestearato de polietilenoglicol 150, Mapric
-Água destilada
- Balança analítica (Marte, AX220)
- Agitador magnético (Tecnal, Te-085)
- Evaporador rotativo (Tecnal, Te-210)
-Microscópio (Opton, Tim 2005-B)
- Beker
- Funil
- Pipetas
- Provetas
-Bastão
2..2 MÉTODOS
2.2.1 Obtenção da nanocápsula de PLA
A obtenção das nanocápsulas de PBAT ou PLA foi realizado pelo método de deposição
interfacial do polímero pré-formado (FESSI et al., 1989, p.27), envolvendo uma mistura
de fase orgânica em outra mistura de fase aquosa. A fase orgânica foi constituída do
polímero PBAT ou PLA (100 mg), acetona (30 ml), lecitina de soja (40 mg) e
triglicerídeo de ácido cáprico e caprílico (200 mg) e diestearato de polietilenoglicol 150.
A fase aquosa foi constituída de água destilada (30ml) e polissorbato 80 ( 60 mg).
Os componentes da fase orgânica e aquosa foram colocados separadamente em um
béquer, mantidos em agitação constante a 40°C por uma hora e na temperatura de 30oC,
a fase orgânica foi vertida da fase aquosa e manteve-se agitação por mais 10 minutos.
Esta mistura foi concentrada a 10 ml, em evaporador rotatório para eliminação do
solvente orgânico.
2.2.2 Obtenção da nanocápsula PLA contendo extrato de ganoderma lucidum
Para a obtenção de nanocápsulas contendo extrato de ganoderma lucidum, realizou-se o
procedimento descrito no item 2.2.1 adicionando-se o extrato alcoólico de ganodema
lucidum (40 mg) no fim do aquecimento da fase aquosa
3. Resultados e Discussão
As nanopartículas poliméricas foram preparadas pelo método de deposição interfacial
do polímero pré-formado. Foi obtido emulsões contendo o polímero PBAT, entretanto a
emulsão mostrou-se instável, após 30 minutos ocorreu separação de fase (figura 6).
Figura 6: Emulsão contendo PBAT contedo 0,05g, 0,1g e 0,2g.
Foram produzidas emulsões com variações na concentração do polímero PLA. As
emulsões realizadas com o polímero PLA mostrou-se homogênea na concentração de
0,03g de tween 80 e 0,2g de PLA, como apresentado nas figura 7.
Figura 7: Emulsão contendo PLA contedo 0,05g, 0,1g e 0,2g.
A suspensão coloidal obtida com maior estabilidade foi a que continha 0,03g de tween
80 e 0,2 g de PLA esta suspensão foi analisada no microscópio com aumento de 400X e
pode-se observar a formação de agregados indicando a formação de microcapsulas,
figura 8.
Figura 8: Suspensão das partículas ao microscópio. 400x.
Segundo MAINARDES, 2007, o PEG associado ao PLA contribui para uma melhor
uniformidade das partículas. Aos experimentos com esta associação de polímeros foi
adicionado extrato de ganoderma, figura 9. Observou-se melhor homegeneidade e
estabilidade da emulsão com esta associação.
Figura 9: Emulsão contendo PLA/PEG com e sem extrato de ganoderma
Na figura 10 pode-se observar a formação de agregados com melhor uniformidade de
tamanho, isto se deve provavelmente a associação do PEG ao PLA.
.
Figura 10: Emulsão contendo PLA/PEG com extrato de ganoderma
Observou-se a suspensão com lamina de Neubauer ao microscópio No centro da lâmina
existem linhas com marcações em quadrantes. Pelo microscópio podem-se perceber três
tipos de quadrantes; as partículas foram medidas no quadrante de 0,0025 mm2 de área.
Tirando a raiz quadrada da área, obtemos o tamanho de 0,05 mm de lado e com isso
podemos calcular o tamanho médio das partículas.
Os resultados apresentados indicam que os tamanhos das partículas obtidas através
desta metodologia mostraram ter dimensões da ordem de micro. Os cálculos
demonstram uma população de partículas na casa de 8 a 20 mm, que, de acordo com a
literatura, evidencia a formação de microcápsulas (SANTOS; TRINDADE; GROSSO,
2005, p. 325).
4. Conclusão
Conclui-se com os resultados experimentais que a emulsão contendo PLA E PEG
mostrou-se mais estável e com maior homogeneidade estrutural dos agregados, obteve-
se a formação de microcápsulas.
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