I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
“Oportunidades e Entraves para a Pecuária de Corte Brasileira”
Luciano da Silva Cabral1, Cláudio Luiz Barbosa de Toledo1, Deivison Novaes Rodrigues1, Leni Rodrigues Lima1, Welton Batista Cabral1, Inácio Martins da Silva Neto1, Rosemary Lais Galati1, Kamila Moura de Andrade1, Isabela de Ceni1, Laura Barbosa de Carvalho1, Adjanine de Oliveira Alves1
1 Faculdade de Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso, [email protected] , [email protected], [email protected], [email protected]
1 – INTRODUÇÃO
Os bovinos, por serem animais ruminantes, desempenham papel
fundamental na geração de alimentos e outros produtos para a humanidade
desde a pré-história. No caso da bovinocultura de corte, destaca-se a
importância da carne, do couro, vísceras e esterco, como alimentos e produtos
de valor agregado, sendo a carne o produto de maior destaque, pela sua
importância nutricional, econômica e social. Pois, além de ser componente
fundamental da dieta humana, gera receitas, impostos e mantêm as pessoas
no campo. Adicionalmente, considerando-se toda a cadeia da bovinocultura de
corte brasileira, cerca de 7,0 milhões de empregos são gerados diretamente
pelo setor (Corrêa et al., 2001), e estima-se que mais de 21 milhões de
empregos indiretos sejam gerados.
Destaque deve ser dado ainda ao fato de que a geração desses
produtos oriundos da bovinocultura de corte ocorre basicamente a partir do uso
de forragem (principalmente no Brasil), substrato esse rico em fibra e, portanto,
não integrante da dieta humana, bem como de vários outros animais, tais como
aves e suínos. Mesmo considerando que em alguns países os sistemas de
produção incluem grãos na dieta de ruminantes, como também verificado em
sistemas mais intensivos no Brasil, o uso desses representa apenas 37% de
todos os grãos utilizados na produção dos animais domésticos, embora os
produtos gerados pelos animais ruminantes representam no mundo cerca de
60% da energia consumida pelos seres humanos, comparado aos 39% da
energia oriunda de alimentos derivados de aves e suínos, os quais consomem
cerca de 59% dos grãos destinados aos animais domésticos (Oltjen e Beckett,
1996).
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Atualmente o Brasil detém, em números absolutos, o segundo maior
rebanho mundial de bovinos, e o maior rebanho comercial, e a partir do ano de
2003, tornou-se o maior exportador de carne bovina, aproveitando a perda de
mercados de seus concorrentes (Estados Unidos e Austrália). Só para dar uma
idéia de quanto a exportação de carne bovina avançou na última década, cita-
se que no início dos anos 1990 as exportações representavam apenas 5% da
produção total, enquanto que na atualidade correspondem à 25%. Os fatores
que contribuíram para essa conquista foram à desvalorização cambial do real
frente ao dólar e o trabalho de erradicação da febre aftosa, associado ao preço
competitivo do nosso produto, bem como a ocorrência de encefalopatia
espongiforme bovina (BSE) em países exportadores. Além disso, a
competitividade decorrente do baixo custo de produção, e a imagem positiva
que a carne brasileira apresenta, por ser produzida a pasto em comparação
com os sistemas de produção com alta inclusão de grãos, faz do Brasil
referência mundial na produção de carne bovina, com baixo custo e segurança
alimentar.
Apesar disso, a cadeia produtiva da carne bovina no Brasil é muito
complexa e dependente da atuação de vários segmentos, cuja articulação é
necessária para tornar o setor mais produtivo, eficiente e competitivo. Embora
seja elevado o potencial brasileiro para se consolidar como maior exportador
de carne bovina, ingressando em mercados até então inacessíveis, existem
problemas que precisam ser sanados, os quais envolvem aspectos que
acontecem na fazenda, bem como os que dependem de ações dos vários
componentes da cadeia produtiva da carne bovina, apoiado por ações
governamentais. Esses problemas têm sido apontados por vários especialistas
do setor como os principais limitantes à cadeia produtiva da carne bovina
brasileira.
Com a expectativa de aumento da população mundial para os próximos
20 anos, bem como pelo aumento de poder aquisitivo das populações em
várias partes do mundo, espera-se que a demanda por carne bovina seja
aumentada de forma expressiva, tendo o Brasil, grandes potencialidades para
atender boa parte desta demanda. Merece destaque o fato de que o
crescimento da população mundial corresponde com 70% do aumento do
consumo de alimentos, enquanto que o aumento do poder aquisitivo com
apenas 30% (Buainain e Batalha, 2007).
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Entretanto, o desafio da cadeia produtiva de carne bovina nacional é de
produzir uma carne que atenda as expectativas dos diversos mercados
consumidores, cujo grau de exigência tem se elevado de forma expressiva nos
últimos anos. Pois, o consumidor atual tem exigido uma carne de melhor
qualidade, considerando aspectos ligados à sua maciez, suculência, sabor e
aparência, bem como aspectos ligados à ausência de substâncias químicas e
contaminantes microbianos; que seja produzida com o mínimo de impacto
ambiental, proporcionando condições adequadas de bem-estar aos animais e
garantia de aspectos legais e sociais à mão-de-obra utilizada.
Desta forma, o presente texto foi elaborado com o intuito de discorrer
sobre os principais aspectos favoráveis da pecuária de corte brasileira que a
colocam como destaque no mercado mundial, os quais devem ser objeto de
intensificação, reforçados e enaltecidos, assim como destacar as principais
fragilidades e pontos que merecem atenção. Investimentos e preocupação do
setor produtivo e governamental, a fim de possibilitar que o nosso potencial
seja atingido, ou seja, a soberania mundial no abastecimento dos vários
mercados de carne bovina, por intermédio de uma carne produzida de forma
competitiva, respeitando os princípios de bem-estar animal, ecológicos e
sociais, com qualidade nutricional e segura do ponto de vista sanitário.
2 – CARNE BOVINA E SAÚDE HUMANA: HAVERÁ FUTURO PARA A
CARNE VERMELHA NA DIETA?
O ser humano consome carne desde a pré-história, quando por
intermédio da caça conseguia capturar e abater os animais para satisfazer as
suas necessidades em energia e proteína. Há indícios de que o homem mais
primitivo tinha dieta baseada em alimentos vegetais e, que o fato de tornar-se
onívoro, ou seja, incluir a proteína de origem animal (carne e leite) na sua dieta
tenha sido fato decisivo para sua evolução, no que diz respeito à sua estatura e
intelecto. Desta forma, presume-se que a inclusão da proteína animal foi de
vital importância para o homem tornar-se uma espécie diferenciada das
demais. Dentre as proteínas de origem animal que compuseram a dieta do ser
humano desde muito tempo atrás, destaca-se a carne bovina, em decorrência
do seu valor nutritivo e sabor e cheiro inigualáveis.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Do ponto de vista nutricional, a carne bovina é uma das principais fontes
de proteína (de elevado valor biológico), energia, ferro e zinco e vitaminas do
complexo B (cianocobalamina – vitamina B12; riboflavina – vitamina B1, e
niacina ou ácido nicotínico) na dieta humana sendo, portanto, considerada
necessária para uma saúde adequada. Esse perfil de nutrientes, notadamente
em aminoácidos essenciais, encontrado na carne bovina não é verificado em
nenhuma proteína de origem vegetal.
Apesar disso, nos últimos 50 ou 60 anos, a imagem da carne bovina tem
sido arranhada constantemente por conta de pesquisas conduzidas na área da
Medicina Humana, as quais são até o presente momento, inconclusivas sobre
a sua ligação com doenças cardiovasculares. Pois, todas as tentativas de
estabelecer uma relação de causa e efeito do consumo de carne bovina, a qual
contém gordura animal, com essas doenças, foi percebido que as doenças
cardiovasculares ocorrem por causas multifatoriais, incluindo os fatores
genéticos, sedentarismo, estresse, obesidade, hipertensão arterial e
alimentação (Varella, 2001).
De fato, os níveis séricos de colesterol, particularmente da lipoproteína
de baixa densidade (LDL) são positivamente correlacionados com as doenças
cardiovasculares, mas o simples fato de retirar a gordura animal não promove
redução significativa nos níveis de LDL (apenas 10%). De modo geral, a
redução da carne da dieta humana foi compensada pelo aumento do consumo
de carboidratos, notadamente de açúcares e amido, sendo essa troca
considerada mais nefasta, pois predispõe à obesidade, hiperglicemia,
resistência à insulina, hipertensão arterial e, conseqüentemente, às doenças
cardiovasculares (Varella, 2001).
Apesar da falta de evidências da relação do consumo de carne bovina
com as doenças cardiovasculares, nas 4 ou 5 últimas décadas foi grande o
impacto da mídia e falsas pesquisas sobre o consumo de carne bovina em
vários países. Tal efeito predispôs o fortalecimento da cadeia produtiva de
outras carnes, consideradas mais “saudáveis”.
Mais recentemente, aproximadamente no início da década de 1990,
alguns pesquisadores descobriram que um ácido graxo poliinsaturado, o ácido
linoléico conjugado (CLA), encontrado exclusivamente nos produtos gerados
pelos animais ruminantes (carne e leite), apresentava elevada atividade anti-
carcinogênica e de combate ao câncer (IP et al., 1994). Tal fato pode causar
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
uma grande revolução no consumo de carne bovina no mundo, considerando
os casos crescentes de câncer em seres humanos.
Essa discussão não foi criada com o objetivo de apoiar o consumo
indiscriminado de carne bovina, pois sabe-se das suas conseqüências, as
quais incluem a incidência de ácido úrico, sobrecarga hepática e renal
relacionada ao excesso de N no organismos, etc. Mas, acredita-se que dentro
de uma dieta balanceada, típico do brasileiro, composta por arroz, feijão,
verduras, legumes e um bife por teriam pouca chance de predispor às doenças
cardiovasculares. A menos que fossem associadas ao fumo, estresse,
sedentarismo e fatores genéticos. Neste sentido, Varella (2001) destaca a
importância de reduzir o consumo de calorias totais, a fim de retardar o
envelhecimento e aumentar a longevidade e, que apesar disso, o corpo exige
um número mínimo de calorias diárias, não interessa se retiradas da cenoura
ou do bacon.
Considerando esses aspectos há a necessidade urgente de
propagandas de esclarecimento sobre esses conceitos equivocados sobre a
carne bovina, no sentido de trazer a verdade à tona, pois os dados científicos
não sustentam as informações mal intencionadas que foram divulgadas sobre a
proteína animal de maior preferência pelos seres humanos em várias partes do
mundo.
3 – EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA DE CORTE NACIONAL
A pecuária é praticada em todas as regiões do Brasil, tendo o seu início
ocorrido pela introdução do gado bovino no país nos séculos XV e XVI.
Entretanto, como atividade econômica, a pecuária de corte avançou no final do
século XIX e início do século XX, com a introdução do gado Zebu (Peixoto,
2010), notadamente da raça Nelore, a qual equivale atualmente a
aproximadamente a 80% do gado de corte criado no país (Peixoto, 2010).
A bovinocultura de corte nacional atravessou algumas décadas
mantendo baixos índices de produtividade, em decorrência de crises na
economia, limitado consumo de carne pela população, falta de estímulo do
governo e incertezas sobre o mercado. Nesta época, o investimento em gado
representava uma forma segura de reserva de capital e, desta forma, o
desempenho produtivo do animal e por área não tinha tanta importância, de
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
modo que, mesmo mantendo elevadas idades de abate (acima de 5 anos),
avançada idade ao primeiro parto, reduzida natalidade (menor que 50%) e
reduzida taxa de abate dos animais, permitia retorno satisfatório do capital
investido.
De acordo com De Zen e Barros (2010), a elevada liquidez, o baixo
custo de manutenção e a flexibilidade temporal nas negociações explicam
grande parte da história da bovinocultura de corte brasileira até a década de
1980.
Da década de 1950 a 2010 o rebanho bovino passou de 58 milhões para
206 milhões de animais, o que representa um crescimento de 255% no período
compreendido (Figura 1). Adicionalmente ao aumento do número de animais,
houve também nos últimos anos expressiva melhora do desempenho da
pecuária de corte brasileira, notadamente a partir dos anos 70, pela introdução
de gramíneas exóticas nas áreas de pastagens nativas, menos produtivas.
Neste sentido, merece destaque a introdução dos capins do gênero Brachiaria,
os quais não apenas permitiram o aumento da taxa de lotação (de 0,25 para
1,0 UA/ha) das pastagens, mas também proporcionaram incremento no
desempenho produtivo dos rebanhos de bovinos de corte nas mais diversas
regiões do Brasil.
Nas décadas de 70 e 80 as indústrias frigoríficas passaram por grandes
instabilidades de mercado, as empresas nasciam e desapareciam em larga
escala, deixando a inadimplência espalhada com os produtores rurais. Nesse
período de economia instável, poucas empresas mantiveram uma situação
equilibrada (De Zen & Barros, 2010).
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
0
50
100
150
200
250
1950 1960 1970 1980 1990 200 2010
Ano
Milh
ões
de
cab
eças
Figura 1 – Evolução do rebanho bovino nacional nas últimas sete décadas
(Adaptados de Anualpec (2009) Euclides Filho e Euclides (2010).
No ano de 1994, o novo comportamento da economia entrou no mais
longo período de estabilidade e os preços do boi gordo passam a ser moldados
pela oferta e procura. O equilíbrio entre oferta e demanda deve-se a fatores
inerentes à produção, merecendo destaque as condições climáticas,
tecnológicas, e a rentabilidade, como variáveis que influem na oferta; já a
demanda é condicionada por fatores como renda, exportações e credibilidade
das empresas (De Zen & Barros, 2010).
Os frigoríficos então iniciaram sua organização financeira, pois, somente
desta forma poderiam efetuar a contratação de empréstimos de bancos de
investimentos, como o BNDES. Posterior a organização e aos financiamentos,
vem o indicativo de que a empresa tem condições para receber novos
investimentos, abrindo caminho para os financiamentos de bancos
internacionais e autorização da Comissão de Valores Mobiliários para abertura
de capital. Tais adequações levaram ao crescimento e internacionalização das
indústrias, passando a ter maior abrangência dos mercados de acordo com
cada local, causando uma assimetria de informação.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
A pecuária de corte representa atualmente importante setor da economia
que contribui de forma decisiva para o equilíbrio da balança comercial do país.
Conforme já salientado, nas últimas décadas passou por profundas mudanças
no ponto de vista organizacional e estrutural, o que tem possibilitado o
incremento dos índices zootécnicos nos últimos anos. Pois, houve expressivo
aumento na taxa de desfrute do rebanho, passando de 16 para 23%,
proporcionado pelo aumento dos abates de animais em comparação ao
aumento do rebanho (Figuras 1 e 2), ou seja, a taxa de abate cresceu mais que
(36%) a taxa de crescimento do rebanho (20%), no período de 1995 a 2007
(Euclides Filho e Euclides, 2010). Deve ser comentado que parte do aumento
do abate no período citado envolve o aumento dos índices produtivos e parte
relacionada ao abate de matrizes. No que se refere ao aumento da
produtividade, pode-se inferir que a mesma se deve ao aumento da aplicação
de tecnologias relacionadas ao melhoramento genético, reprodução, sanidade,
manejo de pastos e nutrição dos animais. É importante destacar a dificuldade
na obtenção de dados acurados sobre o rebanho nacional, pois, trata-se de um
país com elevada extensão territorial e dificuldades de acesso em alguns locais
mais longínquos.
Tabela 1. Índices zootécnicos da pecuária bovina de corte brasileira de 1990 a
2010
Item 1990 1995 2000 2005 2010
Rebanho bovino (milhões de
cabeças)
156 159 171 189 196
Natalidade (%) 50 53 55 58 60
Abate (milhões de cabeças) 29 31 34 38 43
Taxa de abate (%) 16,0 18,7 19,2 21,5 23,0
Produção de carne (mil toneladas) 5.820 6.270 6.900 7.700 8.750
Consumo per capita (kg/hab./ano) 35,8 35,3 35,3 36,4 36,7
Consumo interno (mil toneladas) 5710 5.793 6.091 6.463 6.700
Adaptados de Anualpec (2009) Euclides Filho e Euclides (2010)
2 Dados estimados;
3 em equivalente-carcaça.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
(a)
(b)
Figura 2 – Abate de bovinos no Brasil, expresso em número de animais (a) e toneladas (b) nos últimos anos. Fonte: Adaptados de Anualpec (2009) Euclides Filho e Euclides (2010)
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Adicionalmente, houve redução da idade de abate, a qual foi reduzida de
48-50 meses para 30-36 meses, a qual deve-se, principalmente, ao maior
desempenho observado pelos animais, em decorrência da aplicação de
técnicas relacionadas ao manejo do pasto, à suplementação na época seca,
bem como o uso do confinamento e semi-confinamento (Euclides Filho e
Euclides, 2010). Ressalta-se também a melhora na eficiência reprodutiva do
rebanho, a qual passou de 40 para 63%, proporcionando elevado impacto
sobre a produção de carne no país, pois aumentou a disponibilidade de
animais para a engorda.
Nas últimas duas décadas houve expressivo aumento da participação
nacional no mercado mundial de carne bovina, chegando a permitir desde 2004
que o país se tornasse o maior exportador, ultrapassando a Austrália. Os
fatores que contribuíram para esse incremento foram a desvalorização cambial
do real frente ao dólar e o trabalho de erradicação da febre aftosa, associado
ao preço competitivo do nosso produto, bem como a ocorrência de
Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE) em países exportadores.
Ao mesmo tempo em que o Brasil apresenta-se como maior exportador
de carne bovina, aumenta-se a competição pelos mercados consumidores, o
grau de exigência dos consumidores no que se refere à qualidade e segurança
alimentar, bem como as preocupações com questões sociais, ambientais e de
bem-estar animal (Euclides Filho e Euclides, 2010). Essas pressões internas e
externas, em que pesa o aumento da eficiência de uso do solo, da água,
nutrientes e da energia, têm exercido elevado impacto para a intensificação dos
sistemas de produção de bovinos de corte no Brasil, o que tem sido
evidenciado pelo aumento dos índices de produção observados nas duas
últimas décadas, assim como deslocamento da produção e de frigoríficos para
as regiões Norte e Centro Oeste.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
35606
27861
33688
24575
51457
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste
Região
Bo
vin
os
de C
orte
(n
)
Figura 3 – Rebanho de bovinos de corte nas diferentes regiões brasileiras (Fonte: Adaptados de Anualpec (2009) Euclides Filho e Euclides (2010).
Cabe ressaltar que nesse processo de transformação da pecuária de
corte brasileira ocorrido nos 20 anos mais recentes, houve migração para as
regiões Centro Oeste e Norte, em busca de terras mais baratas, condições
climáticas favoráveis e menor preço dos grãos para os sistemas mais
intensivos (semi-confinamento e confinamento), bem como pela forte pressão
exercida pela agricultura, gerando elevada concorrência com a pecuária
tradicional de baixo uso de tecnologias. Esse deslocamento da pecuária deu-se
em função da pressão exercida pela agricultura praticada no Brasil,
notadamente da soja, milho, algodão e cana-de-açúcar, as quais pelo uso
intensivo de tecnologia têm proporcionado maiores desempenhos produtivos e
econômicos que a pecuária tradicional, na qual se aplica pouca tecnologia
(Euclides Filho e Euclides, 2010; Peixoto, 2010).
Desta forma, estados como São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul
tiveram os seus rebanhos de bovinos de corte estabilizados ou reduzidos,
enquanto que em Mato Grosso, de 1990 a 2005, o rebanho bovino aumentou
em 200%, e no Pará e Rondônia 200 e 600%, respectivamente, comparado ao
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
do estado da São Paulo que cresceu apenas de 9% no mesmo período (Tabela
2).
Acompanhando o deslocamento do rebanho bovino para as regiões
supracitadas, houve o estabelecimento de indústrias frigoríficas nestas regiões.
Atualmente, dos 100 frigoríficos habilitados para exportação de carne bovina no
Brasil, 70% das unidades estão instaladas nas regiões Centro Oeste e
Sudeste, e na região Norte concentra-se 10% deste total.
Tabela 2. Rebanho bovino (milhões de cabeças) dos principais estados de
cada região
Estado 1990 1995 2000 2005 2009
Mato Grosso 9,0 14,2 18,9 22,0 28,0
Mato Grosso do Sul 19,6 22,3 22,6 24,5 25,0
Minas Gerais 20,4 20,1 20,2 21,4 22,5
Goiás 17,6 18,9 18,4 20,7 21,0
Pará 6,2 8,1 11,0 18,1 18,2
Rio Grande do Sul 13,7 14,3 13,9 14,2 14,4
São Paulo 12,3 13,1 13,3 13,4 13,5
Rondônia 1,7 3,9 6,6 11,3 11,5
Bahia 11,5 9,8 9,9 10,5 11,0
Paraná 8,6 9,4 9,8 10,2 10,5
Fonte: Adaptados de Anualpec (2009), Euclides Filho e Euclides (2010)
Atualmente o Brasil detém o segundo maior rebanho mundial de bovinos
e projeta-se como maior exportador de carne, viabilizado pelo seu numeroso
rebanho e, principalmente pela competitividade decorrente do baixo custo de
produção dos animais em sistemas de pastejo. Soma-se a isso, a imagem
positiva que a carne brasileira apresenta em alguns mercados internacionais,
por ser produzida sob condições naturais (pastagem) em comparação com os
sistemas de produção em confinamento que geralmente não garantem os
princípios de bem-estar animal.
Embora em fase de transformação, a pecuária de corte brasileira está
sendo penalizada coma forte descapitalização do produtor, em função de
queda continuada no preço do boi gordo e aumento expressivo do custo de
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
produção, pois de 2003 a 2007 o preço do boi gordo variou apenas 4,5%, ao
passo que o custo operacional total variou 43,82%. Este fato tem colaborado
para o expressivo abate de matrizes ocorrido na última década e desestímulo a
novos investimentos (Euclides Filho e Euclides, 2010).
É importante destacar o incremento do uso de tecnologias relacionadas
ao manejo das pastagens, incluindo espécies forrageiras mais adaptadas e
adequação no seu manejo, tais como adubação de manutenção e calagem e
orientação do manejo com base na altura adequada do pasto. Adicionalmente,
a adoção da inseminação artificial tem trazido benefícios significativos para o
aumento da eficiência reprodutiva do rebanho, pelo seu controle mais efetivo,
no sentido de manter no rebanho, vacas mais eficientes e descartar aquelas
que não parem com regularidade, efetuando desta forma, uma seleção para a
eficiência reprodutiva.
Da mesma forma, pode-se citar o árduo trabalho do setor de vigilância
sanitária vinculado aos governos federal e estadual, os quais têm trabalhado de
forma eficiente para o controle e erradicação de importantes enfermidades, tais
como: febre aftosa, tuberculose, rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR), diarréia
viral bovina (BVD), brucelose, etc., as quais têm sido fator limitante para que a
carne bovina conquiste de fato importantes mercados consumidores, tais como
aqueles dos Estados Unidos, Japão, Coréia do Sul e Comunidade Européia.
Apesar do aumento dos índices zootécnicos nos últimos anos, a
pecuária de corte ainda se depara com índices abaixo do potencial em função
de alguns fatores, tais como: o gado ainda é visto como reserva de capital por
alguns produtores, o que fazia sentido em épocas de inflação elevada, como
aquelas verificadas na década de 1970 e 1980; na pecuária, em certas regiões,
ser chamado de pecuarista e detentor de grande rebanho ainda é status social,
mesmo que aspectos ligados ao desempenho produtivo e econômico não
sejam contemplados.
Quanto ao sistema de produção adotado, embora predomine a produção
de animais em pastejo, este pode ser conduzido pelo uso de sistemas
extensivos, onde verifica-se a predominância de gramíneas naturais e/ou
exóticas como recurso alimentar, com baixo uso de tecnologias; assim como
sistemas de pastejo intensivos, com a utilização de gramíneas dos gêneros
Brachiaria e Panicum sob adubação e/ou irrigação, associadas ao uso da
suplementação protéica e/ou energética na seca ou durante todo o ano; bem
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
como o semi-confinamento ou o confinamento total dos animais. Esses
sistemas variam de acordo com a região e com o custo relativo da terra, sendo
os sistemas mais intensivos adotados em regiões cujo custo da terra é mais
elevado.
Dentro destas variações de sistemas de produção dos animais, estão
inclusas fazendas destinadas à cria, recria e engorda, às que realizam apenas
a cria e a recria, enquanto outras trabalham apenas com a terminação dos
animais. Neste aspecto, deve ser mencionada à tendência da especialização
da atividade, com produtores tendendo a trabalhar em parceria no sentido de
desempenharem apenas uma das fases, ou seja, apenas a recria/recria,
recria/engorda ou engorda apenas.
Adicionalmente aos sistemas de produção, outro componente que
merece destaque na pecuária de corte nacional é o relacionado à genética
animal utilizada, onde verifica-se a predominância de animais zebuínos,
notadamente da raça Nelore, nas regiões Centro Oeste, Norte, Nordeste e
Sudeste, enquanto que na região Sul predominam as raças Simental, Hereford,
Angus e Charolês. Ainda merecem destaque as diferenças relacionadas quanto
ao material forrageiro utilizado entre as regiões do país, em que naquelas
consideradas tropicais, predominam gramíneas tropicais (C3) associadas ou
não às leguminosas, enquanto que na região considerada sub-tropical (região
sul do país), predominam pastos nativos e gramíneas temperadas (azevém,
aveia) e/ou leguminosas (trevo).
No custo de produção os itens que mais pesam são os salários, insumos
para pastagem e suplementação mineral. Geralmente os custos de produção
são afetados pela economia como um todo, por exemplo, o aquecimento do
mercado de grãos tende a elevar o preço dos fertilizantes e corretivos, assim
como o aumento das exportações de carne aumenta os custos dos insumos
importados. No geral, o processo de elevação contínuo do custo reflete
também na absorção de tecnologia, que eleva a produtividade.
De acordo com De Zen & Barros (2010) as imperfeições do mercado com as
restrições ao livre comércio, explicam as diferenças dos preços em níveis
superiores daqueles esperados. Se os mercados funcionassem sem restrições,
haveria um equilíbrio entre os preços dos diversos países, e o custo, também
se equilibraria em patamares diferentes daqueles observados.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Em todos os segmentos do processo produtivo da carne, a competência
é o sinônimo de sucesso na conquista dos objetivos de toda a cadeia produtiva.
Todavia, a comercialização dos animais nos frigoríficos é cercada por uma
série de problemas que geram riscos e contrastam com o elevado grau de
profissionalismo que tem limitado o sucesso da cadeia produtiva. O produtor
rural tem acesso a informações e mercado local, enquanto o frigorífico tem
acesso ao mercado de várias regiões.
A relação comercial produtor-frigorífico é extremamente dinâmica e
complexa, pois ocorre dentro de um ambiente rico em concorrência. Seqüentes
modificações vêm interferindo nessa relação nos últimos anos, em decorrência
do aumento de exportações, que favoreceu o desenvolvimento de grupos
frigoríficos, com estruturas em diversas regiões e munidos de planejamento
estratégico. O produtor tem condições de controlar os custos, mas os preços
são formados pelo equilíbrio entre a oferta e a demanda.
O Brasil conta atualmente com cerca de 205 milhões de bovinos, dos
quais aproximadamente, 175 milhões são representados pelo rebanho de
corte, destacando-se como o segundo maior rebanho do mundo e desde 2004
como o maior exportador de carne bovina.
Embora os animais abatidos oriundos dos confinamentos representem
cerca de 5% apenas do total de animais abatidos ao ano no Brasil, esse
número aumentou expressivamente nos últimos anos, motivado pela relativa
valorização da arroba do boi, particularmente para os animais destinados à
exportação e pela estabilização da economia. O confinamento de bovinos de
corte no Brasil ocorre entre os meses de abril a novembro e tem como principal
característica a duração de apenas 80-90 dias, comparado ao confinamento
praticado em outros países, e a utilização de vários lotes ao ano (dois a três)
por unidade confinadora (Almeida et al., 2010). Esse sistema de produção de
animais para o abate possui as seguintes vantagens: maior ganho de peso dos
animais, requer menor área, desocupação dos pastos por animais em
terminação e a sua liberação para animais mais eficientes (recria).
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
4 – PANORAMA ATUAL DA PECUÁRIA DE CORTE NO MUNDO
Índia, Brasil, China, Estados Unidos e Argentina (em ordem de
importância numérica) concentram cerca de 50% do rebanho mundial de
bovinos, sendo que na última década, dentre estes 5 países, apenas os
rebanhos brasileiros e chineses tiveram aumento, com os demais
apresentando declínio (Tabela 3). Mas, considerando o rebanho geral de
bovinos, o mesmo cresceu cerca de 4,2% no período de 1995 a 2006,
passando de 1,325 para 1,376 bilhões de animais.
Tabela 3. Maiores rebanhos bovinos do mundo.
País 2007 2008 2009 2010 2011(1)
Índia(2) 297,7 304,4 309,9 316,4 320,6
Brasil 173,8 175,4 179,5 185,1 206
China 104,7 105,9 105,7 105,4 104,8
Estados
Unidos 96,6 96,0 94,5 93,8 92,6
União
Européia 88,5 89,0 88,8 88,3 87,3
Argentina 55,7 55,7 54,2 49,0 48,5
Colômbia 29,3 30,1 30,7 31,1 31,8
Austrália 28,4 28,0 27,3 27,9 28,0
México 23,3 22,8 22,6 22,1 21,5
Rússia 21,6 21,5 21,0 20,6 20,0
Venezuela 13,8 13,5 13,2 13,1 12,8
Outros 88,6 82,5 71,8 53,3 52,0
Total 1.021,9 1.020,5 1.019,6 1.006,5 1.010,7
Fonte: Adaptados de Anualpec (2009) Euclides Filho e Euclides (2010) (1)
Estimativa (2)
Rebanho não comercial
A produção de carne bovina, no período de 1995 a 2006, aumentou de
48 para 53 milhões de t de equivalente carcaça, sendo os Estados Unidos,
Brasil, China, União Européia e Argentina os países que se destacam como
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
maiores produtores (Tabela 4). Vale ressaltar que os maiores rebanhos não
necessariamente implicam em maiores produções de carne, pois os Estados
Unidos cujo rebanho bovino é apenas o quarto maior do mundo, em
decorrência da utilização de sistemas intensivos de produção, é o maior
produtor de carne bovina do mundo.
Tabela 4. Produção mundial de carne bovina (toneladas equivalentes carcaça).
País 2007 2008 2009 2010 2011(1)
Estados
Unidos 12.097 12.163 11.891 12.048 11.946
Brasil 9.303 9.024 8.935 9.115 9.365
China 6.134 6.132 5.764 5.600 5.500
União
Européia 8.188 8.090 8.200 7.870 8.000
Argentina 3.300 3.150 3.380 2.600 2.500
Índia(2) 2.413 2.552 2.514 2.830 2.960
México 1.600 1.667 1.700 1.751 1.775
Paquistão 1.344 1.388 1.457 1.486 1.450
Austrália 2.172 2.159 2.129 2.087 2.140
Rússia 1.430 1.490 1.460 1.435 1.400
Canadá 1.278 1.289 1.252 1.272 1.275
Outros 9.359 9.496 8.961 9.014 9.047
Total 58.618 58.600 57.356 56.323 57.358
(1) Estimativa (2) Rebanho não comercial
No tocante à exportação de carne bovina, Brasil, Austrália, Índia, Nova
Zelândia e Estados Unidos se destacam. Até 2002 e 2003, Austrália e Estados
Unidos eram os maiores exportadores mundiais de carne bovina, mas com a
ocorrência de encefalopatia espongiforme bovina (BSE) nos Estados Unidos
nesse período, houve expressiva restrição de compra de carne bovina deste
país pelos países importadores, o que possibilitou a inserção da carne bovina
brasileira, em função de sua disponibilidade (rebanho) e preço competitivo
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
(animais criados em pastejo). É importante destacar que no período de 1995 a
2006 a exportação de carne bovina brasileira saltou de 228 mil toneladas para
2.160 mil toneladas de equivalente carcaça, representando na atualidade,
aproximadamente 25% de toda a carne produzida no país.
Figura 4 - Exportações de carne bovina pelo Brasil. Fonte: Adaptados de Anualpec (2009), Euclides Filho e Euclides (2010)
O mercado de exportação da carne bovina pode ser subdivido em:
mercado do oceano pacífico, em que Japão e Coréia do Sul são os principais
importadores, tendo como países principais fornecedores a Austrália, Estados
Unidos e Nova Zelândia; enquanto que o mercado do oceano atlântico tem
como principais importadores a Comunidade Européia, Rússia e Oriente Médio,
sendo abastecidos pelos países do Mercosul.
O maior investimento em produção e infra-estrutura voltada à exportação
ocorreu no início dos anos 90, com a implantação do plano real houve
desvalorização da moeda nacional frente ao dólar, o que impulsionou as
exportações. A partir de então, houve expressivo investimento no agronegócio
de exportação, incluindo aspectos ligados ao manejo dos animais nas
fazendas, seu rastreamento, transporte e processamento, no sentido de
atender as legislações impostas pelos países importadores.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Da carne bovina exportada pelo Brasil, os principais clientes são os
países de Comunidade Européia, Rússia e países do oriente médio.
Adicionalmente, 11% são destinados aos Estados Unidos, caracterizados
principalmente por carne industrializada; 26% para o Norte da África, 9% para a
América do Sul. A exportação de carne bovina do Brasil para a Rússia
aumentou de forma significativa recentemente, e acredita-se que com o
aumento do poder aquisitivo daquele país, em decorrência da estabilidade da
sua economia, promova ainda maiores incrementos nessa demanda.
Importantes mercados de carne bovina, como o japonês e sul-coreano
continuam fechados à carne brasileira, em decorrência de problemas de ordem
sanitária, sendo os Estados Unidos e Austrália os principais fornecedores dos
produtos para os países supracitados.
Figura 5 – Participação de machos e fêmeas no abate brasileiro de bovinos. Fonte: Adaptados de Anualpec (2009), Euclides Filho e Euclides (2010)
Conforme já mencionado o Japão mantêm elevado rigor quanto às
barreiras sanitárias para a importação de carne bovina de vários países,
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
incluindo a brasileira, mas representa um mercado altamente consumidor desta
carne e com preços bem acima da média do mercado internacional. Como
exemplo deste fato, o preço pago pelos japoneses pela carne importada dos
Estados Unidos é de U$ 3.770,00/t, enquanto o valor médio pago pela carne
bovina brasileira no mercado externo é de U$ 2.240,00/t. Desta forma, esforços
devem ser feitos no país para que a carne bovina seja aceita por esses
mercados, os quais são grandes importadores e propiciam elevado valor de
pagamento pela carne.
Nos últimos anos, também houve expressivo aumento da exportação da
carne brasileira para a China, com incremento de 37,5% no volume exportado,
num mercado que aumentou o seu consumo de carne bovina em 29% em
apenas dois anos. A demanda aumentada de carne bovina na China deve-se
as mudanças de hábito de consumo por uma população extremamente
numerosa, motivada pelo aumento do poder de compra em decorrência do
crescimento econômico do país. Além da China, outros países emergentes, tais
como Índia, Rússia e México apresentam-se como países cuja atenção deve
ser aumentada, em decorrência do mais rápido crescimento da população
associado às maiores taxas de crescimento econômico, o que certamente
afetará a demanda por alimentos, incluindo a carne bovina.
Tabela 5. Mundo: exportações de carne bovina e de vitelo, principais países
(mil toneladas equivalente-carcaça)
País 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Brasil 2.134 2.405 2.534 2.163 1.926 2.600
Austrália 1.388 1.430 1.400 1.407 1.390 1.350
Índia 617 681 678 672 675 700
Nova Zelândia 577 530 496 533 525 517
Canadá 596 477 457 494 475 490
Argentina 754 552 534 422 560 390
Uruguai 417 460 385 361 310 360
Paraguai 193 240 206 233 210 230
EU-27 253 218 140 203 160 160
Nicarágua 59 68 83 89 90 95
Estados Unidos 316 519 650 856 785 837
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Outros 300 244 353 419 375 207
Total 7.304 7.580 7.563 7.433 7.106 5.129
Fonte: Adaptados de Anualpec (2009), Euclides Filho e Euclides (2010)
As expectativas de exportação da carne bovina brasileira dependerão
nos próximos anos de aspectos relacionados ao comportamento dos
concorrentes do Brasil e dos resultados das negociações que vem sendo feitas
com países da Comunidade Européia relativas às cotas, tarifas e às exigências
de certificação e rastreabilidade. Soma-se a isso, os efeitos decorrentes do
expressivo abate de matrizes nos últimos anos, o qual poderá afetar a
disponibilidade de animais para o abate. Ressalta-se que no período de 2000 a
2005 o abate de matrizes aumentou de 26 para 37% do total de abates
ocorridos, o que cria certa preocupação do ponto de vista de afetar o número
de ventres disponíveis na fazenda para a geração de bezerros e animais para
terminação, ou seja, pode comprometer o crescimento do rebanho nacional
para o atendimento das exportações e de possíveis incrementos na demanda
interna.
Tabela 6. Mundo: exportações de carne bovina – maiores exportadores para
maiores importadores em 2004 (percentagem)
Destino
EU
A
Méxic
o
Japã
o
Extrem
o
Oriente
Canad
á
Coréi
a do
Sul
EU
-25
Norte
da
Áfric
a
Améric
a do
Sul
Rússi
a Fornecedo
r
Canadá 83 15 - - - - - - - -
Austrália 39 - 36 8 - - - - - -
N.
Zelândia
50 - - 16 11 6 - - - -
Brasil 11 - - - - - 28 26 9 -
Argentin
a
18 - - - - - 24 13 - 16
EUA - 14 70 - - 3 - - - -
Fonte: BUAINAIN e BATALHA (2007)
Deve ser salientado que o aumento do consumo de carne pelo brasileiro
pode afetar a geração de excedentes exportáveis, assim como o aumento das
exportações podem afetar o preço do produto no mercado interno. Caso as
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
duas situações ocorram simultaneamente, ou seja, aumento das exportações e
da demanda interna, uma rápida alternativa para evitar a excessiva elevação
dos preços seria o aumento do rebanho, e para isso, volta-se a discussão
sobre o abate de matrizes.
Com relação ao consumo da carne bovina, Estados Unidos, União
Européia, China e Brasil são os quatro primeiros relacionados, com valores de
ordem de 12,8; 8,3; 7,4; 6,9 e 2,6 milhões de t de equivalente-carcaça,
respectivamente, representando 68% do consumo de carne bovina no mundo.
Deve-se destacar o expressivo incremento no consumo de carne bovina na
China, que foi de 80% no período de 1995 a 2006, justificado pelo aumento do
poder aquisitivo da população e de mudanças de hábito de consumo.
Entretanto, quando se avalia o consumo per capita, nota-se que
Argentina, Estados Unidos, Austrália, Brasil e Canadá destacam-se com
valores de 65, 42 e 36 kg/habitante/ano. Percebe-se (Tabela 8) que a maioria
dos países teve a manutenção ou declínio do consumo de carne bovina,
justificado pela ocorrência da doença da vaca louca, maior preocupação com a
saúde, considerando a idéia que é vinculada sobre os possíveis efeitos
negativos da carne vermelha e sua gordura com a saúde humana e, possíveis
alterações periódicas do consumo, em decorrência de variações do preço da
carne bovina em relação à outras carnes. De modo geral, países de maior
renda da população mantêm maior consumo de carne bovina por habitante.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Tabela 7. Mundo: consumo de carne bovina e de vitelo, principais países
(milhões de toneladas equivalente-carcaça)
Países 1996 1998 2000 2002 2004 2006
EUA 11,9 12,1 12,5 12,7 12,7 12,8
EU-25 nd nd 8,1 8,2 8,3 8,3
China 3,5 4,7 5,3 5,8 6,7 7,4
Brasil 6,1 5,9 6,1 6,4 6,4 6,9
Argentina 2,1 2,3 2,5 2,4 2,5 2,6
México 1,9 2,1 2,3 2,4 2,4 2,5
Rússia 3,5 2,9 2,2 2,5 2,3 2,4
Índia 0,7 1,3 1,4 1,4 1,6 1,6
Japão 1,4 1,5 1,6 1,3 1,2 1,2
Canadá 0,9 1,0 1,0 1,0 1,1 1,1
Outros 14,4 14,6 6,5 6,2 4,8 4,9
Mundo 46,4 48,5 49,5 50,3 49,9 51,7
Fonte: BUAINAIN e BATALHA (2007)
O aumento do consumo de alimentos depende do crescimento da
população e/ou do seu poder aquisitivo, do preço do produto (carne bovina) e
de outros alternativos (carne de frango, suína, etc.). Desta forma, considerando
as projeções para o aumento da população mundial para 2030-2040 (9,0
bilhões de habitantes), associado à estabilidade econômica e melhoria do
poder de compra em vários países do mundo (China, Rússia, etc.), bem como
à limitação de áreas e condições para produção de carne nesses países, o
Brasil passa a ser o centro das atenções para o atendimento destas demandas
por carne bovina.
O lento crescimento do consumo de carne bovina no Brasil nos anos
mais recentes pode ser devido ao aumento do preço do produto no mercado
nacional, influenciado pelas exportações, bem como pela estabilização do
poder de compra da população, embora tenha havido melhora expressiva do
poder aquisitivo do brasileiro, comparado a 20 anos atrás.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Tabela 8. Mundo: consumo per capita de carne bovina, países selecionados (Kg/habitante/ano)
País 1996 1998 2000 2002 2004 2006
Argentina 58,6 63,6 67,8 61,6 64,2 65,2
Estados Unidos 44,1 43,6 44,3 44,3 43,2 42,9
Austrália 38,4 38,0 33,7 35,6 34,8 36,9
Brasil 42,2 38,0 36,2 36,0 37,5 36,5
Canadá 30,3 31,1 31,7 31,0 32,5 32,2
México 20,1 21,6 23,1 23,5 22,4 23,1
EU-25 18,4 19,6 17,9 17,9 18,2 18,0
Rússia 23,4 19,2 15,7 16,5 15,7 15,7
África do Sul 13,6 12,8 14,8 14,7 15,0 15,5
Coréia do Sul 10,0 9,6 12,5 12,7 9,6 8,6
Fonte: BUAINAIN e BATALHA (2007)
Deve ser salientado que durante algumas décadas, a carne bovina
sofreu elevada pressão da mídia, relacionando o consumo desta à incidência
de doenças cardiovasculares, o que de certa forma, contribui para manter
estável o consumo desta em vários países, permitindo com isso, que outras
carnes, consideradas “mais saudáveis”, como a carne de frango, tivessem o
seu consumo aumentado, aliado ao preço mais acessível. Entretanto, mais
recentemente, com as novas descobertas relativas à presença de importantes
componentes que apresentam propriedade anti-cancerígena na carne bovina,
tais como o ácido linoléico conjugado (CLA), espera-se que ocorra uma
reversão nessa imagem negativa criada sobre a carne bovina.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
5 – OPORTUNIDADES PARA A PECUÁRIA DE CORTE BRASILEIRA:
Na Tabela 9 são listadas as principais potencialidades da pecuária de
corte nacional e suas implicações favoráveis para o Brasil, as quais têm sido
fundamentais para colocar o país em lugar de destaque no cenário mundial.
Tabela 9. Principais potencialidades da pecuária de corte brasileira
Item Vantagens
Disponibilidade de áreas maior que outros países concorrentes.
Produção baseada no uso do pasto: menor custo de produção;
elevada competitividade;
ecologicamente correta;
bem-estar animal;
maior concentração de CLA.
Clima e gramíneas tropicais elevada produção de forragem.
Ausência de mal da vaca louca: elevado potencial para exportação.
Crescimento do consumo interno aumento da demanda interna.
Crescimento da população mundial aumento da demanda externa.
Aumento do poder aquisitivo aumento da demanda externa.
Potencial para confinamento no
Centro Oeste do Brasil
disponibilidade de alimentos de baixo
custo.
5.1.1 – Sistema de produção baseado em pastagens
A pecuária de corte brasileira baseia-se no uso de sistemas de produção
de animais em condições de pastejo, sendo que somente 5% dos animais
destinados ao abate são oriundos dos confinamentos. Considerando a elevada
dimensão territorial do país e, com isso, a elevada disponibilidade de áreas de
pastagens (170 milhões de ha), associadas ao clima predominantemente
tropical, o que possibilita a utilização de forrageiras tropicais (mais produtivas
que as de clima temperado), bem como ao fato do nosso rebanho de bovinos
de corte ser representado basicamente por animais zebuínos (Nelore), torna-se
possível imaginar o nosso potencial de produção de carne de animais em
sistemas de pastejo.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Em países da Europa, nos Estados Unidos e na Austrália, o custo da
arroba produzida é elevado, pois o sistema de produção de animais em
confinamento é a base da produção de carne bovina, pois são elevados os
investimentos em instalações, alimentos conservados e concentrados, bem
como em máquinas, diesel e mão-de-obra. Desta forma, o Brasil tem grande
poder de barganha e de conquistar novos mercados, pois o animal em pastejo
colhe a forragem por si só, reduzindo os investimentos decorrentes do
confinamento. Com isso, a carne brasileira custa cerca de 30% daquela
verificada nos Estados Unidos e 50% da produzida na Austrália, o que reforça
a idéia da nossa elevada competitividade.
Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 80% dos bovinos de corte
produzidos são provenientes de sistemas que utilizam dietas com elevada
proporção de grãos (Lawrence e Ibarburu, 2008), o que impacta o preço da
arroba, bem como denota a dependência desse país pelos grãos, aliado ao fato
da sua vulnerabilidade em decorrência de crises mundiais que venham a
ocorrer relativas à produção de milho e soja.
O território brasileiro compreende uma área de 851 milhões de hectares,
dos quais 51% são ocupados por florestas nativas e 47% são áreas
agricultáveis. Destas últimas, cerca de 172,3 milhões de hectares são
destinados às pastagens, dos quais 129 milhões de hectares encontram-se no
Cerrado, onde 54 milhões de hectares são de pastagens cultivadas (Sano et
al., 2008).
A Figura 6 ilustra a relação entre a área total de vários países e a área
disponível para a agricultura e, nota-se que, o Brasil destaca-se neste sentido,
pois a maioria dos países de agropecuária desenvolvida ou com grandes
mercados consumidores, a relação entre a área potencialmente utilizável e
atualmente usada pela agropecuária é muito reduzida. Esse fato tem colocado
o Brasil no foca das discussões sobre o potencial de produzir alimentos para a
humanidade no futuro, reconhecido esse capacidade pela FAO.
Apesar disso, essa questão precisa ser melhor discutida, pois salientar
esse fato pode permitir a sua associação com o desmatamento da Amazônia, o
que deve ser coibido de forma incisiva, se quisermos que a carne bovina no
Brasil seja aceita nos mercados mais exigentes. Portanto, apesar de dispormos
de elevada proporção de terras ainda não utilizadas, assumindo que as áreas
de pastagens degradadas no Brasil central sejam reformadas ou renovadas,
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
não precisaremos dispor dessas áreas ainda não utilizadas para aumentar o
nosso rebanho e sua produtividade.
A região do Cerrado comporta atualmente 60 milhões de cabeças de
bovinos, mas estima-se que da área total de pastagem cultivada (50 milhões),
aproximadamente 50% encontra-se em algum grau de degradação, mantendo
na média, cerca de 1,0 UA/ha. Desta forma, a reforma ou renovação destas
áreas poderia permitir aumentar a capacidade de suporte para, para no mínimo
2,0 UA/ha, o que possibilitaria aumentar o rebanho em 30 milhões de cabeças.
0
100
200
300
400
Bra
sil
USA
Rús
sia
Índia
China E
U
Con
go
Aus
trália
Can
adá
Arg
entin
a
País
áre
a t
ota
l (m
il k
m2)
área não utilizada
área utilizada
FIGURA 6. Relação entre o total de área utilizada e não utilizada pela agropecuária em vários países
Outra grande vantagem pertinente à pecuária de corte nacional se refere
à maior concentração de ácido linoléico conjugado (CLA) em produtos (carne e
leite) provenientes de animais mantidos em pastejo comparado aos mesmos
produtos oriundos de animais confinados. Pois, em várias pesquisas realizadas
no final dos anos 80 e inicio dos anos 90 compravam a elevada habilidade em
prevenir e combater o câncer do CLA. Desta forma, a carne bovina brasileira
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
agregaria valor considerando o fato de conter de 2 a 5 vezes mais CLA que a
carne produzida em confinamento.
Deve ser destacado que a sociedade, de modo geral, tem estado alerta
aos aspectos relacionados ao modo que os animais são criados e, neste
sentido, alguns mercados mais exigentes e com maior poder de compra, como
o europeu, negam-se a comprar produtos animais oriundos de sistemas que
não empregam práticas de manejo adequadas e/ou que não propiciam bem-
estar aos animais. Neste aspecto, os sistemas de produção naturais, ou seja,
que mantêm os animais em seu ambiente natural, o pasto, são muito bem
vistos por esses consumidores, o que favorece a pecuária bovina brasileira,
sendo esse aspecto, fator muito importante para a divulgação e propaganda
sobre a carne produzida em nosso país.
5.1.2 – Ausência de “Mal da Vaca Louca”:
A pecuária de corte brasileira ainda apresenta vantagens considerando
os casos de encefalopatia espongiforme bovina (BSE – “mal da vaca louca”),
ocorridos na Europa e Estados Unidos em 2000, os quais são países
consumidores e exportadores de carne bovina, pois, até o presente momento,
não foram verificados casos da doença no Brasil e, certamente, não haveremos
de presenciar. Esses problemas sanitários proporcionaram grande espaço para
a carne bovina nacional, possibilitando tornar-se o maior exportador em 2003.
Ao mesmo tempo, a ocorrência de gripe aviária (influenza aviária) na Europa
criou uma crise no mercado da carne de aves em vários países, incluindo no
Brasil, o que por receio dos consumidores em consumir carne de aves
contaminada, acabou promovendo o aumento de consumo da carne bovina,
tendo impacto favorável à pecuária de corte mundial.
Embora vários países utilizem severas barreiras sanitárias, considerando
principalmente a ausência de febre aftosa com vacinação em alguns países e
sem vacinação em países mais rigorosos (EUA, Japão e Coréia do Sul), deve
ser salientado que essas restrições sanitárias servem também, na maioria dos
casos, como barreiras comercias disfarçadas, no sentido de conter as
importações nesses países e proteger a produção local. Apesar disso, com a
expectativa de aumento da demanda mundial de alimentos e com a capacidade
limitada em vários países de atender essa demanda, por questões de
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
limitações de áreas e por terem esgotado o seu limite tecnológico, pode-se
inferir, em uma análise otimista, que essas barreiras sanitárias possam deixar
de existir, ou pelo menos, se tornarem mais flexíveis, em um futuro não muito
distante.
5.1.3 – Aumento da Demanda de Carne no Mundo: crescimento das
exportações e do consumo interno
Com a expectativa de crescimento da população mundial em alguns
países (desenvolvimento) e de aumento do poder aquisitivo desta, as
perspectivas são muito boas para a pecuária bovina nacional, considerando
que a carne bovina apresenta o seu consumo pela espécie humana
influenciado pelo poder aquisitivo da mesma e, desta forma, sofre pressão e
concorrência com outras carnes, tais como a de frango e a suína. Entretanto,
conforme já mencionado anteriormente, o Brasil é tido como o país que
apresenta maior potencial para suprir boa parte desta demanda, seja em
países desenvolvidos ou emergentes.
De acordo com a FAO até 2050 a produção de alimentos para atender a
população mundial crescente deverá ser o dobro da atual. Pois, a população
crescerá a uma taxa de 1,25% ao ano e, desta forma, deverá ser de mais que
10 bilhões de habitantes. Soma-se a isso, o aumento médio da renda per
capita em vários países, a qual deverá passar de US$ 1.080,00 para US$
2.217,00 em 2020, bem como a elevada taxa de crescimento da economia de
países com elevada densidade demográfica, tais como China (1,3 bilhões de
habitantes) e Índia (1,1 bilhões de habitantes), os quais cresceram 9,5 e 9,2%
nos últimos 20 anos (ANUALPEC, 2009).
Quanto ao mercado interno, o mesmo raciocínio pode ser mantido, pois
considerado as expectativas de crescimento da economia brasileira, o que
obrigatoriamente afeta favoravelmente o poder aquisitivo da mesma, pode-se
esperar aumento da demanda de carne bovina pelos brasileiros. Na Tabela 10
é apresentada simulação do crescimento da economia brasileira em três taxas
diferentes e o seu reflexo sobre a demanda de carne bovina. Obviamente,
precisa ser destacado que o aumento da demanda de carne bovina pelo
mercado interno pode afetar as exportações e preço da carne bovina e, vice-
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
versa. Ou seja, o aumento das exportações tende a reduzir a disponibilidade de
carne no mercado nacional, aumentando o preço do produto.
Para o Brasil, a elasticidade média encontrada para a carne bovina de
primeira foi de 0,538. Significa que, a elevação em 10% da renda aumentará
em 5,38% a despesa com este tipo de carne. Já para a carne bovina de
segunda, percebe-se menor elasticidade-renda média para o País, pois o
aumento da renda do consumidor eleva muito pouco a demanda por este tipo
de carne (BUAINAIN e BATALHA, 2007).
Tabela 10. Brasil: projeções1 de consumo de carne bovina, segundo cenários
de crescimento do PIB2 (mil toneladas equivalente-carcaça).
Ano Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Consumo
observado
2000 6.328 6.452 6.577 6.158
2001 6.429 6.619 6.812 6.091
2002 6.532 6.790 7.055 6.395
2003 6.636 6.965 7.307 6.463
2004 6.742 7.145 7.568 6.549
2005 6.849 7.329 7.838 6.700
2006 6.959 7.519 8.118 6.780
2007 7.070 7.713 8.408 6.880
2008 7.182 7.912 8.708
2009 7.297 8.117 9.019
2010 7.413 8.326 9.342
2011 7.509 8.477 9.543
2012 7.617 8.664 9.819
2013 7.726 8.851 10.095
2014 7.834 9.039 10.371
2015 7.943 9.226 10.647
1 Projeções elaboradas no ano de 2000;
2 Cenário 1: crescimento de 2% a.a., Cenário 2:
crescimento de 4% a.a.; Cenário 3: crescimento de 6% a.a. Fonte: BUAINAIN e BATALHA (2007)
Embora a demanda de carne bovina no mercado nacional tenha
crescido de forma discreta nos últimos anos, mantendo-se estável nos anos
2000, sendo parte desse efeito ocorrido pela competição com carnes de menor
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
custo, como a de frango, pode-se esperar que o aumento do poder aquisitivo
da população brasileira em função do crescimento da economia exercerá uma
forte pressão sobre a demanda de carne bovina no país. Pois, sabe-se que a
carne bovina apresenta elevada elasticidade de consumo em função da
variação da renda da população, seu consumo nas classes de menor poder
aquisitivo afetadas diretamente pela variação do poder de compra,
diferentemente da classe alta, a qual possivelmente já tenha atingido a sua
máxima capacidade de consumo de carne bovina.
Adicionalmente, com base no fato de que nos últimos dez anos houve a
inclusão de aproximadamente 30 milhões de brasileiros na chamada nova
classe média, fomentada pelo aumento da oferta de emprego no país e melhor
remuneração de uma mão-de-obra melhor qualificada, espera-se repercussão
deste incremento sobre o consumo e demanda por carne bovina no mercado
nacional, o qual deve ser valorizado e reconhecido a sua importância. Pois, em
momentos críticos, tais como quando são feitos embargos da importação da
carne brasileira por importantes mercados consumidores internacionais, tais
como, o da Rússia ou da Europa, o mercado nacional passa a ter maior
representatividade e importância no sentido de evitar que ocorra maior oferta
de carne em relação à sua demanda e, consequentemente, queda do preço do
produto. Então, aliada ao fato de que devem ser envidados esforços para
fortalecer o mercado de exportação, não se pode esquecer da importância de
incentivar o consumo de carne bovina pelo consumidor brasileiro e, neste
sentido, são de tamanha importância a produção de uma carne com preço
competitivo e acessível, produzida dentro de rigores de segurança alimentar.
5.1.4 – disponibilidade de grãos, co-produtos e sistemas de produção
integrada
Considerando que o Brasil se destaca na produção de grãos (milho,
soja, algodão) e cana-de-açúcar, nas diversas regiões do país, há elevada
disponibilidade desses em preços acessíveis, bem como de seus co-produtos,
os quais têm sido utilizados na alimentação animal, notadamente na dieta de
ruminantes (bovinos, caprinos e ovinos). Com isso, evita-se o acúmulo destes
nas unidades produtoras, o que representaria forte risco de promover impactos
ambientais, assim como possibilita a sua transformação em alimentos nobres
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
ao homem (carne), conciliando ainda a redução dos custos da dieta, uma vez
que substituem ingredientes de maior custo, tais como o milho e o farelo de
soja. Neste aspecto, o estado de Mato Grosso destaca-se como maior produtor
de soja, segundo maior produtor de algodão e maior produtor de milho,
disponibilizando ao setor de produção de bovinos de corte uma diversidade de
produtos aproveitáveis, com elevada concentração de energia e/ou proteína.
Especificamente no estado de Mato Grosso, pode-se citar que os de
25,8 milhões de ha de pastagem comportam atualmente um rebanho de 28
milhões de cabeças de bovinos (IMEA, 2011). As perspectivas para o estado
são formidáveis, considerando o clima propício, a elevada produção das
forrageiras tropicais (Brachiaria e Panicum) quando bem manejadas; a elevada
disponibilidade de grãos (milho, sorgo, soja, algodão) com reduzido custo e
seus co-produtos, comparado a outras regiões do país, o que possibilita a sua
utilização em suplementos para animais em pastejo, bem como viabilizam os
confinamentos. Adicionalmente, a produção de bovinos se mescla a produção
de grãos, nos sistemas de integração lavoura-pecuária, uma vez que o estado
é importante produtor de milho, soja, algodão, além de girassol e mamona,
possibilitando intensificar a produção de carne sob pastejo ou favorecer os
confinamentos, bem como propiciar a diversificação das atividades na fazenda,
por meio de rotações e e/ou sucessões entre pasto e lavoura, aumentando a
receita e os lucros, sob menor risco para ambos os segmentos.
Uma estratégia de aumento da produtividade com sustentabilidade são
os sistemas de integração entre lavoura e pecuária e/ou destas com a
silvicultura, nos chamados sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) ou
integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Nestes sistemas, pela rotação de
culturas anuais (grãos) com a pastagem, ocorre interrupção do ciclo de pragas
e invasoras, promovendo maior sustentabilidade, produtividade e a redução de
riscos (Kluthcouski et al., 1991).
A degradação das pastagens é de longe o problema mais importante da
produção pecuária no Brasil. Mais de 100 milhões de ha de pastagens
cultivadas estão em exploração no país hoje, mas cerca de 60%, estima-se que
em diferentes graus de degradação (Macedo et al. 2000). Degradação é
comumente associado com diminuição da produção animal, a fertilidade do
solo e de sua conservação, invasão de ervas daninhas, ocorrência de pragas e
doenças, problemas ambientais e de declínio da sustentabilidade.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Procedimentos comuns para a recuperação direta de pastagens, tais
como práticas de manejo animal, aplicação de fertilizantes e de novas
cultivares estão disponíveis, mas a tradição, os custos e preços finais dos
produtos têm desencorajado alguns agricultores. Mais recentemente, uma
alternativa eficiente, mas que consiste em um sistema agrícola mais complexo,
tem sido utilizado, a fim de recuperar as pastagens: trata-se de uma série de
sistemas de integração lavoura e pecuária (ILP). Os custos de fertilizantes,
preparo do solo, sementes, etc., usados para recuperar pastagens e melhorar a
fertilidade do solo podem ser compensados quando a ILP é utilizada. Um
benefício complementar é observado, pois a fertilização de culturas anuais,
melhoram os níveis de fertilidade do solo e, por outro lado, as profundas raízes
das gramíneas tropicais melhoram as propriedades físicas do solo, diminuindo
a sua compactação, densidade e taxa de infiltração de água. Muitos estudos
feitos com ILP, na região do Cerrado do Brasil, têm mostrado melhora na
produção animal e vegetal, como demonstrado pelo aumento das taxas de
lotação, ganho de peso e rendimento de grãos, em direção a novos limiares
das condições de produção e meio ambiente, portanto, na direção da
sustentabilidade. Além disso, lucros mais elevados, aumento no emprego, uso
de produtos e utilização eficiente de máquinas e de trabalho, também são
outras vantagens relacionadas com a ILP.
Culturas e sistemas de produção animal são definidas como sistemas de
produções de grãos, fibras, carne, leite, lã e outros, que são cultivadas na
mesma área, em plantio simultâneo ou seqüencial, de forma rotativa. Os
objetivos são os de maximizar os ciclos biológicos dos animais, das plantas e
seus resíduos, melhorar a utilização dos efeitos residuais dos fertilizantes,
tentativa de minimizar o uso de pesticidas, herbicidas, etc., para melhorar a
eficiência de máquinas, equipamentos e do trabalho, proporcionando, aumento
da renda e condições sociais na zona rural, com a perspectiva da proteção do
ambiente e sustentabilidade. Tecnologias associadas, tais como cultivo mínimo
(plantio direto), juntamente com as culturas e pastagens, rotação e ILP têm
impulsionado ainda mais. Cultivo mínimo foi implementada em mais de 60% do
preparo do solo no Brasil (Macedo et al. 2000). A adoção deste sistema em
larga escala, abrangendo várias regiões, com diferenças de clima e solo, é
altamente dependente das culturas que produzem grandes quantidades de
resíduos e palha para uma melhor cobertura do solo.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
A ILP pode ser utilizada com diversas culturas, tais como: soja, milho,
milheto, sorgo, girassol, etc. e, especialmente gramíneas tropicais perenes
como o capim Brachiaria brizantha, consorciadas ou não. Assim, a ILP tornou
se uma alternativa importante para a recuperação de pastagens degradadas e
melhoria da sustentabilidade da produção animal no Brasil.
Uma das vantagens de adoção da ILP é a possibilidade de semeadura
simultânea das culturas e pastagens, na mesma operação, independente do
período de plantio. O plantio simultâneo de milho e forrageiras tropicais é uma
prática antiga e comum entre os agricultores. No entanto, esta prática foi
melhor definida e organizada como um processo ou como pacote tecnológico e
que foram relatados: Sistema "Barreirão" (Kluthcouski et al,. 2003) tinha arroz e
Brachiaria como cultura companheira, e uma preparação do solo definidos no
sistema e o “Sistema Santa Fé” (Cobucci et al., 2001) que consistia na
produção de palhada para solos que seriam cultivados para a produção de
grãos.
Uma nova tendência é a incorporação de um novo componente na ILP:
as árvores. Os resultados obtidos na Embrapa Gado de Leite por Carvalho et
al. (1997), com o objetivo de selecionar diferentes forrageiras tropicais
adaptadas a níveis de sombreamento, e as estratégias propostas para os
sistemas agro-florestais. Estudos com arranjos entre espaçamentos entre
árvores, diferentes espécies de árvores, forrageiras adaptadas ao
sombreamento e espaço suficiente para produção de grãos já estão
disponíveis, como descrito por Macedo et al. (2000).
Vários estudos com variação diferente da cultura, floresta, pastagem, e
sistemas integrados indicam que o componente florestal proporciona diversos
benefícios, que por sua vez, melhoraram a eficiência do uso da terra (Macedo
et al., 2000). Portanto, as possibilidades de aumentar o uso desses sistemas
sob cenários de mudanças climáticas globais são reforçadas por sua
capacidade de produzir impactos positivos sobre as variáveis microclimáticas e
também para aumentar o seqüestro de carbono. Sistemas integrados com 250
a 350 árvores de eucalipto / ha, que estará pronto para o corte após oito a doze
anos, podem produzir 25 m3 ha-1 ano de madeira (Ofugi et al., 2008). Isto
representa um seqüestro de carbono anual de cerca de 5 t C ha-1 ou de 18 t ha-
1 equivalente de CO2, O que significa uma neutralização de emissões de GEE
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
(gases do efeito estufa) semelhante à 12 bovinos adultos (Euclides Filho et al.,
2010).
Em 2009, como resultado da COP-15 (Conferência da ONU sobre
Mudanças Climáticas), realizada em Copenhague, capital da Dinamarca, os
representantes do Brasil destacaram-se, apresentando propostas voluntárias
para a mitigação da emissão de gases de efeito estufa relacionadas com a
agricultura e pecuária, com alguns importantes objetivos a serem alcançados
até 2020: redução de 83-104 milhões de toneladas de equivalente CO2 com a
recuperação de pastagens, 18-22 Mt equivalente CO2 com utilização de
sistemas integrados, 16-20 milhões de toneladas de equivalente CO2 com a
fixação biológica de nitrogênio (Brasil, 2009). Esses objetivos demonstram a
necessidade de melhorar a eficiência dos sistemas brasileiros de produção de
bovinos visando à mitigação de GEE e aqui, revela-se um importante papel a
ser desempenhado pela bovinocultura de corte. Segundo Cerri et al. (2010)
esses objetivos podem ser atingidos com as tecnologias já disponíveis, no
entanto, há uma necessidade de incentivos governamentais e investimentos
para o estimulo do uso correto deles por sistemas de produção.
Ainda como potencialidade da pecuária nacional destaca-se a produção
de animais em confinamento, cujo número de animais confinados aumentou
em 38% de 2000 a 2009 (Figura 7), particularmente na região Centro Oeste,
em função da elevada disponibilidade de co-produtos da agroindústria com
reduzido custo (caroço de algodão, tortas das oleaginosas, casca de soja,
bagaço de cana, resíduo de soja, glicerina, etc.). Essa estratégia de terminação
de animais apresenta grandes vantagens aos pecuaristas, pois permite retirar
do pasto bois de maior peso e menos eficientes, liberando espaço para animais
com maior eficiência de ganho de peso (bezerros desmamados).
Adicionalmente, permite terminar os animais na entressafra, produzir carne e
carcaça de melhor qualidade, aproveitando alimentos de baixo custo, em
algumas regiões do Brasil.
No Brasil, o número de animais confinados por ano é dependente da
relação entre o peso do boi magro e o do boi gordo, bem como do preço dos
ingredientes que compõem tradicionalmente as dietas de confinamento.
Adicionalmente, questões relacionadas ao efeito das variações do clima
também podem afetar a intenção de confinar o gado. Pois, em anos em que
ocorre término do período chuvoso mais cedo, a menor oferta de pasto mais
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
precocemente pode forçar os pecuaristas a venderem animais da fazenda para
reduzir a pressão de pastejo ou buscarem pelo confinamento. Em 2011, de
acordo com o IMEA (2011), o confinamento de bovinos de corte em Mato
Grosso deve aumentar em 30%, em decorrência dos motivos citados
anteriormente.
Figura 7 – Evolução do número de animais confinados no Brasil de 2000 a
2009.
Ainda relativo aos GEE merece referência o trabalho de Monteiro (2009),
o qual por intermédio de modelos matemáticos e simulação estimou a emissão
desses gases provenientes de bovinos de corte em três sistemas de produção:
tradicional (extensivo), intensivo a pasto e intensivo a pasto (recria) +
confinamento (terminação). O autor concluiu que a adoção de técnicas de
manejo que melhorem a eficiência de uso do pasto (produção mais intensiva)
permite reduzir a emissão de metano (kg/kg de carcaça) em 29% comparado
ao sistema convencional e, que o sistema misto (intensivo a pasto +
confinamento) possibilitava redução de 39,6% da emissão de metano
comparado ao tradicional. Esses dados são de suma importância para
fortalecer a imagem positiva da carne bovina brasileira no mercado
internacional, pois a pecuária de corte nacional está a cada dia se
intensificando, o que contribui para a redução das emissões de GEE,
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
contrariamente ao que tem sido veiculado em artigos científicos ou meios de
comunicação sobre a pecuária do Brasil.
Certamente o aumento da produtividade representa o principal meio de
reduzir a emissão de metano entérico pelos bovinos de corte, pois de acordo
com Barioni et al. (2007) se a eficiência produtiva crescer até 2025 em 25%, os
níveis de emissão de GEE crescerão apenas 3%, o que significa uma redução
de 18% na relação kg CH4/ kg de carne produzida. Desta forma, apesar de
grande contribuidora para emissão de metano, com 16% do total produzido, a
pecuária mostra ter um grande potencial de seqüestro de carbono, através da
aplicação de tecnologias que melhorem o manejo dos pastos. Atualmente, a
emissão de metano nacional é um pouco maior que 1Mg CO2 eq/ha, enquanto
o seqüestro pode atingir 0,78 Mg CO2 eq/ha.
Este conhecimento científico-tecnológico é estratégico para o Brasil,
uma vez que contribuirá para uma melhor compreensão sobre a gestão
adequada dos sistemas de produção animal, a fim de minimizar os impactos e
obter benefícios ambientais, econômicos e sociais. Além disso, seria esclarecer
a sociedade brasileira sobre os verdadeiros benefícios e as desvantagens da
produção animal e fortalecer a posição do país para as negociações
internacionais, bem como fornecer argumentos para neutralizar eventuais
embargos.
Merece destaque ainda o trabalho da Associação Brasileira de Criadores
de Zebu (ABCZ), a qual proporcionou um grande avanço na seleção e no
melhoramento genético de animais da raça Nelore, o que tem contribuído de
forma decisiva, juntamente com aplicação de tecnologias relacionadas ao
manejo dos pastos, nutrição, reprodução e sanidade, incrementar o
desempenho produtivo, reduzir a idade de abate e, com isso, aumentar a
apreciação e aceitação da carne bovina brasileira em marcados mais
exigentes.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
6 – ENTRAVES PARA E PECUÁRIA DE CORTE BRASILEIRA:
A cadeia de carne bovina ocupa posição de destaque no contexto da
economia rural brasileira, ocupando vasta área do território nacional e
respondendo pela geração de emprego e renda de milhões de brasileiros. O
conjunto de agentes que a compõe apresenta grande heterogeneidade: de
pecuaristas altamente capitalizados a pequenos produtores empobrecidos, de
frigoríficos com alto padrão tecnológico, capazes de atender a uma exigente
demanda externa, a abatedouros que dificilmente preenchem requisitos
mínimos da legislação sanitária.
Considerando essa complexidade, a cadeia produtiva da carne bovina
foi ilustrada na Figura 8, a qual permite perceber que esta é representada por
componentes que participam dentro e fora da porteira, sendo ainda, afetada
por fatos históricos, econômicos e políticos que marcam a atividade ao longo
dos tempos. Desta forma, torna-se necessária uma melhor articulação entre os
seus componentes (subsistemas), no sentido de tornar a produção de carne
mais competitiva e eficiente.
Figura 8. Estrutura da cadeia produtiva da carne bovina (extraído de Buainain e Batalha, 2007).
Na Tabela 11 são apresentados os principais entraves da pecuária de
corte nacional, que ocorrem dentro e/ou fora da porteira, e os impactos
decorrentes deles. Considerando a importância desses fatores, os principais
foram discutidos de forma breve, no texto que segue, onde são realizadas
ainda, possíveis caminho para contorná-los.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Tabela 11. Principais entraves para a pecuária de corte brasileira.
Local Item Implicações
Dentro da
porteira:
baixos índices zootécnicos. Aumento dos custos
Limita a taxa de abate
Limita as exportações
Limita o consumo interno
degradação das pastagens
e
Morte dos pastos
Impacto ambiental
Redução dos índices
produtivos
Imagem negativa
desmatamento de florestas Impacto ambiental
Imagem negativa
ocorrência de febre aftosa Mercados exigentes se
tornam inacessíveis
Fora da porteira: Falta de Organização da
cadeia produtiva
Ações governamentais
Qualidade ainda questionada Não aceita pelos
consumidores dos EUA,
Japão e Koréia do Sul
6.1 - Dentro da porteira:
6.1.1 – Índices zootécnicos:
O número total de vacas na fazenda, a porcentagem dessas que estão
em condição reprodutiva e a freqüência com ocorrem os partos determinam o
número de animais (bezerros ou novilhos) disponíveis para a engorda e abate.
Desta forma, depreende-se a importância que exerce a eficiência reprodutiva
das vacas de corte sobre a produção de carne bovina.
No Brasil, a taxa de natalidade (60%) na pecuária de corte aumentou
nas duas últimas décadas, mas ainda continua bem abaixo do potencial ou das
metas consideradas adequadas para uma pecuária de corte eficiente (85%).
Adicionalmente, outras variáveis precisam ter os seus índices melhorados na
pecuária nacional assim como o intervalo de partos, a idade de abate, a taxa
de abate e a taxa de lotação das pastagens (Tabela 12).
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Considerando que o principal objetivo do pecuarista de corte é produzir
animais para o abate, sejam esses terminados por ele ou não, para que haja a
produção desses animais é preciso que as vacas do rebanho de cria tenham
saúde e condição corporal adequada, para apresentarem cios férteis, a
gestação e parirem bezerros viáveis. Para isso, há a necessidade de propiciar
a esses animais condições nutricionais, sanitárias, reprodutivas e de conforto
ambiental.
Tabela 12. Índices zootécnicos atuais da pecuária de corte e metas a serem
atingidas
Item Atual
(média nacional)
Meta
Natalidade 60% >85%
Idade à primeira cria 4 anos 1,7 a 2,6
Intervalo de partos 15 meses 12 meses
Idade de Abate 36 – 40 meses < 30 meses
Taxa de abate 23% 30-35%
Taxa de lotação 1 UA/ha > 2,0 UA/ha
Adaptado de Oliveira et al. (2006)
Na Figura 9 são relacionados os fatores que afetam a taxa de desfrute
na pecuária de corte e, desta forma, a busca pela melhora de apenas um dos
fatores pode ser diluída pelo elevado efeito dos demais. Portanto, como meta,
deve-se buscar atingir eficiência reprodutiva acima de 75% (meta 80%),
mortalidade menor que 5%, idade ao primeiro parto próxima a 30 meses e
idade de abate menor que 36 meses (Tabela 12).
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Figura 9. Variáveis que interferem na taxa de desfrute do rebanho de corte nacional (Folz, 2002, citado por Corrêa et al., 2009).
Uma vez satisfeitas essas necessidades, será possível produzir bezerros
de qualidade, o que no Brasil ainda não tem sido conseguido, pois as
condições as quais vacas são submetidas não permitem ao bezerro ambiente
adequado para apresentarem rápido desenvolvimento. Deve ser lembrado que
a qualidade da carne obtida no frigorífico depende da produção de um bezerro
de qualidade, no sentido de que este último consiga de forma eficiente atingir o
peso de abate considerado adequado, bem como ter acabamento e carne
macia e suculenta conforme exige o consumidor final.
No tocante à eficiência reprodutiva da vaca merece destaque a
contribuição dos touros e, neste sentido, pode-se inferir que devem ser
mantidos touros com libido e fecundidade comprovados, bem como mantidos
em adequada proporção do número de vacas do lote (relação touro/vaca).
6.1.1 – Problemas Sanitários:
Igualmente importante, pode ser dada ênfase à cura de umbigo, que
embora pareça uma coisa impraticável e dispensável em grandes rebanhos,
pode trazer grandes prejuízos à pecuária de corte, tanto pelo aumento da
mortalidade de animais jovens, quanto por afetar o desempenho de animais
adultos.
A necessidade urgente de erradicação da febre aftosa é determinante
para que o Brasil conquiste mercados mais exigentes, como o americano,
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
japonês e sul coreano, os quais não permitem a entrada de carne fresca de
países que não tenham a chancela de livre de aftosa sem vacinação.
Neste aspecto, pode-se dizer que houve um expressivo avanço no país,
fomentada por meio de campanhas de vacinação e o papel da vigilância
sanitária federal e estadual. Entretanto, ainda como fatores limitantes à
erradicação da febre aftosa em território nacional, pode-se destacar a
resistência de produtores pelo desconhecimento sobre a doença ou mesmo
irresponsabilidade dos próprios; a elevada extensão do país e do elevado
rebanho bovino, o que limita um trabalho mais eficiente da vigilância sanitária;
as fronteiras do país e os nossos vizinhos, o que possibilita o trânsito de
animais de forma clandestina e, com isso, a entrada de animais que não foram
devidamente imunizados contra a doença, o que reforça o papel da vigilância
sanitárias junto a essas regiões de fronteira, bem como exige das autoridades
da área a busca de parcerias nos países vizinhos a fim de que nesses, a
erradicação da doença seja também priorizada.
Atualmente, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais,
Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe, Rondônia, Tocantins e o Distrito
Federal são reconhecidos pela OIE (Organização Mundial de Sáude Animal)
como livres de aftosa com vacinação. Ou seja, doze unidades da federação de
um total de 27, o que representa que metade dos estados brasileiros ainda se
encontra em status de zona infectada.
Dos estados que têm status de livre com vacinação, alguns estão na
expectativa de obterem o status de livre sem vacinação, o que pode ser
bastante interessante para o Brasil, na perspectiva de conquistar os mercados
dos EUA, Japão e Coréia do Sul, com carne in natura. A OIE reconheceu a
grande dimensão do país e emite o status por estado, considerando as
particularidades do país. Desta forma, isso evita que a um surto da doença em
um estado possa afetar outro estado cuja causa não foi detectada e o controle
é efetivo.
Só a título de ilustração da importância e impacto das questões
relacionadas às barreiras sanitárias exercem no comércio internacional de
carnes, na época em que o presente texto foi elaborado ocorreu um embargo
pela Rússia sobre 19 frigoríficos brasileiros, cujo argumento baseia-se no do
não atendimento a questões de vigilância sanitária e segurança alimentar por
parte desses. Apesar disso, acredita-se que os motivos envolvam barreiras
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
comerciais, mas espera-se que rapidamente o problema seja resolvido, em
função do empenho de técnicos nacionais que estão comprometidos em
resolver tal impasse. Esse fato destaca a importância de fortalecer o mercado
nacional e, desta forma, quem pode fazê-lo é o governo federal, por meio de
medidas políticas que aumentem o crescimento econômico do país.
Se a intenção dos diferentes atores que compõem a cadeia produtiva da
carne bovina nacional, bem como de autoridades e governantes, é de tornar o
Brasil maior produtor e conseguir conquistar os mercados mais bem pagadores
da carne bovina (EUA, Japão e Coréia do Sul), eliminar a febre aftosa do
rebanho nacional é meta primordial. E, enquanto isso não ocorre, pode-se fizer
que se constitui no principal entrave para a pecuária nacional melhorar a sua
imagem nesses mercados consumidores.
6.1.2 – Manejo dos pastos e sua degradação:
Um importante problema que acomete a pecuária de corte, dentro da
porteira, refere-se ao manejo do pasto, pois a grande maioria dos pecuaristas
ainda não encara o pasto como cultura e, desta forma, a reposição de
nutrientes ao sistema, notadamente N, P e K não tem sido implementada.
Adicionalmente, merece destaque a falta de utilização de técnicas para
adequar o número de animais, ou melhor, kg de peso corporal em função da
quantidade de forragem disponível (ou oferta de forragem) e deixar de
considerar apenas o conceito de taxa de lotação (n. de animais/ha).
A forragem exerce elevada influência sobre os animais em termos de
permitir a expressão do genótipo para a produção, na sua saúde e
desempenho reprodutivo, uma vez que o pasto representa a principal fonte de
nutrientes aos animais por maior período de tempo ao longo do ciclo produtivo.
Com isso, a oferta de forragem e seu valor nutritivo aliado à estrutura do pasto,
exercem elevada influência sobre o comportamento dos animais em pastejo,
afetando a taxa de bocados, o tempo de pastejo, a ingestão de forragem e a
sua digestibilidade, determinando, portanto, o suprimento de nutrientes para
mantença e produção. Apesar da pouca adoção de tecnologias relacionadas ao
manejo do pasto pelos pecuaristas ao longo da história da pecuária de corte
nacional, onde apenas a troca da espécie forrageira representava o principal
meio de promover melhorias no manejo do pasto, mas era limitado por 4 ou 5
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
anos, pois não havia adoção de técnicas de manejo adequadas, na última
década tanto houve aumento expressivo do conhecimento gerado nas
universidades e centros de pesquisa (EMBRAPA), aliado ao melhor
esclarecimento dos produtores no que se refere à adoção destas práticas.
Partindo do princípio de que 95% dos animais abatidos no Brasil são
oriundos de sistemas baseados no uso de pastagens e, que, no Brasil Central,
é sabido que cerca de 65% destas áreas se encontram em algum grau de
degradação, há a necessidade urgente de que as áreas ainda não degradadas
sejam adequadamente manejadas para evitar o processo de degradação e
que, aquelas já degradadas sejam recuperadas ou renovadas (Macedo, 2009).
A degradação das pastagens pode ser definida como um processo
gradativo de perda de vigor e produtividade, bem como da capacidade de
suporte do pasto decorrente da falta da reposição de nutrientes ao solo,
notadamente de N, P e K; do manejo inadequado do mesmo no que se refere à
adequação da sua lotação animal em função da disponibilidade de forragem;
da inadequação da espécie forrageira ao tipo de solo (Macedo , 2009).
Um dos principais fatores que explicam, em parte, a não reposição de
nutrientes ao solo é o aspecto cultural dos pecuaristas, que não encaram o
pasto como uma cultura; ao elevado custo dos adubos, particularmente os
nitrogenados e fosfatados e a baixa resposta das gramíneas à aplicação dos
adubos, causado pelo manejo, dose e modos de aplicação incorretos.
Durante muito tempo, o manejo das áreas de pastagens baseou-se no
uso do conceito da taxa de lotação (número de unidades animais – UA/ha), o
que não mantêm nenhuma relação com a quantidade ou oferta de forragem
aos animais, que consiste no método mais recomendado para o manejo de
áreas de pastagens com animais. Desta forma, o uso da taxa de lotação tem
causado, pelo menos em parte do ano, excessivo número de animais em
relação à quantidade de forragem disponível, o que além de afetar
negativamente o desempenho animal, pela baixa oferta de forragem e o efeito
desta sobre o consumo, limita a perenidade da planta forrageira, pois não
permite a essa manter ou recuperar a sua área foliar após o pastejo exercido
pelos animais.
Desta forma, a melhora no manejo dos pastos no sentido de ofertar aos
animais forragem em quantidade adequada e com bom valor nutritivo, deve ser
prioridade para os rebanhos de cria, recria e engorda, diferentemente da
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
cultura atual de que as terras de pior qualidade sejam destinadas às fazendas
de cria. Essa mentalidade, sem qualquer sombra de dúvida, tem causado
grande prejuízo ao produtor de bezerros desmamados, pois a manutenção de
um elevado número de vacas improdutivas no rebanho reduz a eficiência
econômica da atividade, pelos gastos decorrentes de energia e proteína para
mantença desses animais.
6.1.3 – Morte dos pastos na região Centro Oeste:
Adicionalmente ao problema da degradação das pastagens, que é um
processo progressivo de perda de produtividade e capacidade de suporte, em
todas as regiões do estado de Mato Grosso tem sido verificado recentemente
um fenômeno denominado de “morte das pastagens”, que tem preocupado os
pecuaristas, técnicos e pesquisadores, por ser um problema multifatorial. O
primeiro episódio de morte de pastagens ocorreu em 2004, em fazendas
localizadas na região Oeste do estado, com expressivas áreas de capim
Marandu completamente mortas. Na época, pesquisadores da EMBRAPA
(CNPGC) e técnicos da região identificaram a causa do problema como
relacionado à ocorrência de fungos no pasto pela excessiva umidade em solos
com drenagem deficiente, bem como o feito direto da umidade excessiva no
solo sobre o capim Marandu, reconhecidamente intolerante a solos com baixa
drenagem; e ao ataque de cigarrinhas das pastagens.
Em 2010-2011, o problema retornou, acometendo todas as regiões do
estado, que de acordo com levantamentos feito pelo IMEA (2011), cerca de
57% dos produtores entrevistados citaram a ocorrência do problema. De
acordo com o levantamento, dos 25,8 milhões de há de pastagens no estado
de Mato Grosso, cerca de 8,6%, ou seja, 2,23 milhões de há foram acometidos
em 2011, sendo a região sudeste com maior incidência do problema, com 15%
da área total de pastagem. Em termos absolutos, a região Nordeste registrou a
maior área afetada, com cerca de 705 mil ha. As causas do problema tem sido
associadas excesso de água nos solos, à incidência de pragas e ao efeito da
seca, com proporções de 4, 43 e 53%, respectivamente, de contribuição para o
problema, segundo os produtores.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Além do efeito direto sobre a produção do pasto e, conseqüentemente,
sobre a capacidade de suporte da pastagem e o desempenho animal, a morte
do pasto tem um impacto econômico considerável, decorrente do custo relativo
à recuperação da área de pastagem. O custo médio estimado por há para
replantar o pasto é de R$ 1.190,00 e, desta forma, o estrago econômico da
morte dos pastos apenas sobre a recuperação das áreas pode ser estimado
em 2,63 bilhões de reais.
Tanto do ponto de vista de efeito sobre o desempenho produtivo dos
animais, quanto pela limitação da conquista de mercados mais exigentes, o
controle e erradicação de algumas enfermidades se faz necessária para que a
pecuária de corte brasileira se torne mais eficiente e competitiva. Neste
aspecto, pode-se iniciar com o controle de infecções causadas por
endoparasitas em animais jovens (bezerros e novilhos) que são mais
susceptíveis e sensíveis aos vermes gastrintestinais.
Em vários países do hemisfério norte a pecuária de corte nos trópicos
tem sido tachada de ser dependente do uso de extensas áreas de pastagens,
geralmente atrelando essas áreas a florestas que teriam sido derrubadas, com
conotações de baixa eficiência produtiva. O argumento para esse raciocínio
reside no fato da elevada produção de carne por ha apresentada pela pecuária
de corte nesses países, mantida em decorrência do elevado uso de alimentos
concentrados nos sistemas de confinamento e semi-confinamento. Entretanto,
o que não se contabiliza são as extensas áreas de lavouras necessárias para a
produção de grãos, os quais são usados nos confinamentos, geralmente
produzidos em outros países, notadamente os em desenvolvimento.
Um dos fatores considerado limitante à introdução de novas tecnologias
de produção na pecuária de corte, no que se refere às atividades que se dão
dentro da porteira é a baixa qualificação do trabalhador rural e, com isso, a
dificuldade e resistência do mesmo em absorver novas informações e técnicas
de manejo (Pires, 2002). Entretanto, considerando a importância do trabalhador
rural na adequada aplicação da tecnologia para que ocorra o desenvolvimento
do setor pecuário, faz-se necessário a sua capacitação e conscientização, bem
como a valorização do seu trabalho, no sentido de garantir a eficiência das
técnicas adotadas na fazenda. Portanto, é imprescindível a difusão de
conhecimento e tecnologia por meio de agentes multiplicadores (Pires, 2002).
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
6.1.4 – Administração da propriedade e planejamento:
Um aspecto de elevada relevância que afeta a eficiência produtiva e
econômica da pecuária de corte diz respeito à administração da propriedade e
do planejamento das ações. Pois, considerando que em elevada freqüência
não existe nas fazendas brasileiras pessoal com treinamento para exercer tais
atribuições, pode-se inferir que a pecuária de corte é caracterizada por
sistemas gerencial e econômico deficitários. Desta forma, é um tema de grande
importância, pois determina as ações a serem tomadas para alcançar
determinados objetivos, os quais dependem de fatores técnicos e econômicos
(Vale, 2002).
Segundo Vale (2002), no processo administrativo, a tomada de decisão
necessita da identificação do problema; da coleta de dados, fatos e
informações relevantes; da identificação de soluções alternativas e sua análise;
da tomada de decisão propriamente dita, escolhendo a melhor alternativa; a
implementação desta última e da avaliação dos resultados. Infelizmente na
maioria das fazendas brasileiras, tanto não existe pessoal treinado para
conduzir tal processo, bem como a falta de coleta de dados produtivos do
rebanho dificulta a implementação de tal sistemática. Mas, assumindo que o
objetivo com a produção de bovinos de corte seja a obtenção de lucro, faz-se
necessária a contratação de mão-de-obra qualificada para conduzir a gestão e
o planejamento, os quais podem determinar o aumento da eficiência produtiva
e econômica.
No item planejamento, envolve o planejamento tático e o estratégico, os
quais são determinantes para reduzir os riscos e evitar surpresas decorrentes
de intempéries ou oscilações de preços de insumos ou do mercado regional,
nacional ou internacional.
Considerando que nos últimos 20 anos as Universidades e Centros de
Pesquisa Nacionais (EMBRAPA) geraram uma quantidade extraordinária de
conhecimento relativa ao setor pecuário, publicados na forma de
dissertações/teses e/ou artigos científicos, crê-se que este conhecimento já
permita grande avanço da pecuária de corte nacional, como já tem acontecido
durante a última década. Portanto, basta que essas informações sejam
adaptadas e aplicadas em cada condição particular para que as
transformações ocorram de forma mais rápida e eficaz.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Dentro do enfoque de melhorar o manejo do rebanho de corte, no
sentido de permitir a produção de carne que atenda os mercados mais
exigentes do mundo, há a necessidade de se produzir alimentos seguros, de
qualidade reconhecida e proveniente de sistemas de produção sustentáveis.
Com esses objetivos, o Centro Nacional de Pesquisa em Gado de Corte
(CNPGC – EMBRAPA) lançou em 2002 (Euclides et al. 2002) a primeira edição
do Manual de Boas Práticas Agropecuárias, também conhecido como Brazilian
GAP (GAP = good agropecuarian production), o qual foi reeditado em ampliado
por Valle (2011), que segundo os autores, tem os seguintes objetivos:
“proporcionar um manual de procedimentos em boas práticas que orienta o
produtor rural na utilização adequada das tecnologias sustentáveis disponíveis
a cada região produtora, em consonância com os requisitos econômicos,
sociais e ambientais que devem ser seguidos, de modo a permitir a habilitação
(certificação) das propriedades rurais, dos processos de produção e dos
produtos obtidos”.
6.2 - FORA DA PORTEIRA:
De acordo com Buainain e Batalha (2007), os principais obstáculos a
serem vencidos pela pecuária de corte nacional para se consolidar de forma
definitiva como maior exportador e, no futuro próximo, como maior produtor de
carne bovina do mundo são a falta diferenciação de produtos; as barreiras
sanitárias mantidas por alguns países tendo como critério a necessidade de
atingir o status de livre de febre aftosa sem vacinação; a falta de um padrão de
qualidade e a desorganização da cadeia produtiva.
6.2.1 – rastreabilidade e qualidade da carne bovina
A intenção e o desafio de conquistar mercados consumidores
importantes de carne bovina colocam a pecuária de corte nacional em um
grande conflito, pois exige maior diversificação da produção da carne bovina
nacional. Junto a isso, tornam-se fundamentais os trabalhos de tipificação e
padronização de carcaças, com vistas à melhoria da qualidade da carne
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
bovina, traduzida particularmente pelos aspectos ligados à sua maciez, cor e
suculência. Pois, considerando que os animais abatidos no Brasil são oriundos
de sistemas de produção baseados em pastagens, as quais exclusivamente da
forma que são manejadas em sua maioria, não permitem o abate de animais
precoces, que reconhecidamente apresentam carne mais macia e suculenta do
que animais mais tardios (Luchiari Filho, 2006).
Neste aspecto, merece destacar as limitações do sistema de produção a
pasto com gado Nelore em atender os mercados americanos e japonês, os
quais demandam carnes provenientes de animais confinados e com elevado
grau de marmoreio. Adicionalmente, a carne do gado zebu é considerada
pouco macia e suculenta, bem como com pouco grau de marmoreio, o que vai
exigir muito empenho e dedicação da cadeia produtiva da carne bovina para
reverter essa imagem e para promover alterações significativas nos sistemas
de produção a fim de atender esses mercados, caso eles se abram à carne
bovina brasileira.
O mercado da carne bovina no Brasil e no mundo é e será ditado por
aspectos relacionados ao crescimento da população e seu poder aquisitivo,
bem como pelo grau de exigência do consumidor relacionados às questões
nutricionais, segurança alimentar, bem-estar animal e aspectos ambientais e
sociais. Com isso, para o atendimento destas reivindicações, há a necessidade
urgente de que sejam estabelecidas as chamadas alianças mercadológicas, as
quais podem ser definidas como uma integração organizada entre os diversos
componentes da cadeia produtiva de bovinos de corte. Nestas alianças, os
diferentes componentes trabalham em conjunto com objetivos comuns, dentro
de suas atribuições, a fim de proporcionar o atendimento de metas previamente
estabelecidas, ou seja, ofertar aos consumidores produtos diferenciados,
assegurando a esses atributos de qualidade intrínseca e extrínseca do produto
ao longo do processo de produção.
Apesar dessa questão o conceito de qualidade é dependente do
mercado consumidor em questão, influenciado por questões culturais, sócio-
econômicas, político-religiosas, etc. Neste aspecto, deve-se destacar que o
conceito de qualidade aplicado à carne bovina pode ganhar diferentes
conotações e interpretações e, desta forma, define o conceito de qualidade a
partir de uma série de componentes:
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
- rendimento e composição – mensurada pela quantidade de produto
comercializável, proporção de carne magra e gordura e, o tamanho e a forma
dos músculos;
- aparência e características tecnológicas – cor e textura da gordura,
quantidade de marmorização no tecido magro, cor e capacidade de retenção
de água e composição química do músculo;
- palatabilidade – textura, maciez, suculência, sabor e aroma;
- integridade do produto – qualidade nutricional, segurança química e biológica;
- qualidade ética – questões relacionadas ao bem estar animal.
Dentro dessa problemática a qual parece ser iminente, certamente a
utilização de cruzamentos do gado zebu com raças taurinas parece ser uma
opção extremamente interessante em curto prazo para proporcionar rápido
impacto na maciez, no marmoreio e suculência exigida pelos mercados
supracitados. Adicionalmente, o confinamento provavelmente aumente a sua
importância e participação no total de gado abatido no Brasil para atender
esses mercados específicos.
No caso da carne bovina, o conceito de qualidade incluem a
Rastreabilidade; as Boas Práticas Agrícolas (GAP) e a APPCC (Análise de
Perigos e Pontos Críticos de Controle), os quais precisam ser absorvidos por
toda a cadeia produtiva da carne bovina, a fim de garantir segurança,
confiabilidade, qualidade e a redução de riscos. Desta forma, considerando os
problemas sanitários ocorridos na Europa e os diferentes sistemas de
rastreabilidade estabelecidos em alguns países, mas tendo como referência o
sistema europeu, o MAPA (2006) visando estabelecer normas para a produção
de carne bovina com garantia de origem e qualidade, publicou então a
Instrução Normativa n° 17, em 14/07/2006, com nova estrutura operacional
para o Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos
– SISBOV (BRASIL, 2006). O novo sistema é de adesão voluntária,
permanecendo a obrigatoriedade de adesão apenas para os mercados que
exijam a adesão. Apesar do avanço, acredita-se que apenas rastrear o rebanho
e a sua carne para os mercados de exportação que exigem tal procedimento,
de certa forma, desmerece o mercado interno e outros mercados externos,
apesar do custo inerente da adesão ao sistema.
Embora muito pouco utilizada no Brasil, tem ocorrido nos últimos anos a
criação de determinadas marcas ou programas para estabelecer qualidade da
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
carne bovina no Brasil, no sentido de identificar para o consumidor além da
qualidade do produto apresentado, todo um sistema de produção,
processamento e distribuição que atribuem e agregam valor ao produto.
Exemplos de tais iniciativas são as marcas: Programa de Qualidade Nelore
Natural (PQNN), Programa Carne Angus Certificada, Friboi Quality Farms,
“Brazilian Beef - Naturally Healthy”.
O PQNN na verdade representa um conjunto de normas e
procedimentos que visam garantir o padrão de produção de carcaças bovinas,
bem como dos sistemas de cria e engorda, além do uso orientado de
reprodutores da raça. Tem como meta proporcionar ao mercado consumidor
uma carne diferenciada pela sua padronização e qualidade controlada. O
programa está baseado na simplicidade e praticidade, de forma que qualquer
criador, recriador ou invernista pode participar, independentemente do tamanho
de seu rebanho, aliados às indústrias frigoríficas e estabelecimentos varejistas,
os quais devem ser habilitados pelo Programa. Como foco principal, o sistema
de criação dos animais deve ser baseado em uso de pasto e sal mineral. Os
animais podem receber suplementação estratégica, inclusive a terminação dos
animais em confinamento, desde que com produtos de origem vegetal e por
períodos limitados.
Igualmente importante, foi a criação do Programa Carne Angus
Certificada, por intermédio de parceria entre a Associação Brasileira de Angus
(ABA) a indústria frigorífica, no sentido de produzir carne de qualidade
certificada, com o uso de animais da raça Angus e suas cruzas. Esta iniciativa
visa valorizar a carne desses animais por meio de pagamentos por qualidade,
bem como fortalecer a integração da cadeia produtiva da carne bovina.
Com o mesmo objetivo anteriormente descrito, foi proposto pela
EMBRAPA Gado de Corte o “Programa Embrapa Carne de Qualidade”,
caracterizado por ser um programa abrangente, audacioso e pretensioso, pois
tem como meta englobar todos os elos da cadeia produtiva até o consumidor,
promovendo interações entre produtores, e os demais segmentos, tais como, a
indústria frigorífica, redes de distribuição, no sentido de estruturar as chamadas
alianças mercadológicas. Ainda, podem ser citado os sistemas PAS (produtos
alimentos seguros) e a produção de carne orgânica como estratégias muito
importantes para estimular o consumo de carne bovina associada ao aspectos
de qualidade e segurança alimentar.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Sem dúvida alguma, a falta de conquistas ainda mais expressiva pelos
mercados internacionais deve-se ao pouco investimento nesses programas de
criação de marcas de qualidade da carne bovina, o que precisa ser fomentado.
Para isso, há a necessidade que empresas frigoríficas e produtores
reconheçam os benefícios desta iniciativa e promovam maior integração entre
si.
A carne bovina foi e tem sido motivo de muita discussão pela sociedade
e pela mídia, sendo na maioria das vezes, feita uma análise equivocada sobre
a sua importância como componente da dieta humana. Neste sentido, desde a
década de 1970 que tem sido associada à carne bovina (carne vermelha) a
causa de doenças cardiovasculares, causada pela presença de gordura
saturada nesta. Entretanto, precisa ser salientado que isso constitui num mito,
pois os trabalhos de pesquisa não evidenciaram até o presente momento uma
relação de causa e efeito direta entre o consumo de carne bovina dentro de
uma dieta equilibrada e a ocorrência destas dietas. Pois, é sabido que além de
fatores relacionadas à dieta, essas doenças ocorrem pela soma de fatores
genéticos e aqueles relacionados ao estresse, sedentarismo, etc.
Recentemente, o consumidor tem dado muito valor aos aspectos
relacionados aos efeitos dos alimentos sobre a sua saúde e, desta forma, a
carne bovina foi muito penalizada e teve o seu consumo afetado por
propagandas e reportagens infundadas divulgadas nos mais diversos meios de
comunicação. Com base nisso, outras carnes tidas como mais saudáveis
tiveram incremento elevado de consumo se beneficiando destas informações
equivocadas sobre a carne bovina. Apesar disso, a carne bovina ainda é
bastante consumida, é fundamental na dieta do homem pelas suas
propriedades nutritivas, bem como pelas suas características organolépticas
incomparáveis (cheiro, sabor, textura, maciez, etc.) de tal forma que há uma
necessidade premente de que seja revertida essa imagem, por meio de
esclarecimentos e divulgação do seu valor nutritivo, tanto para a sociedade,
quanto para os formadores de opinião, incluindo mídia, médicos e
nutricionistas. Neste sentido, cabe destacar a criação do Serviço de Informação
da Carne (SIC), em 1999, com o objetivo de divulgar aspectos da importância
da carne bovina, desmistificar conceitos equivocados que relacionam o seu
consumo com a saúde humana, e estimular o consumo da mesma no mercado
nacional e internacional.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
6.2.2 – impactos ambientes da pecuária:
Infelizmente, a pecuária de corte nacional tem sido associada ao uso de
áreas de florestas e, mais especificamente, a abertura da floresta amazônica, o
que tem criado uma imagem negativa dos produtos gerados em importantes
mercados consumidores, como o Europeu, que está preocupado com questões
relacionadas aos sistemas de produção, envolvendo além destes, aspectos
sociais e de bem-estar proporcionados aos animais, adicionalmente à
segurança alimentar. De certa forma, a pressão exercida pela agricultura sobre
a pecuária em áreas de maior valor e com maior aptidão agrícola, proporcionou
mudanças e uma migração da pecuária nacional para as regiões Centro Oeste
e Norte, o que incidiu sobre áreas de cerrado e florestas.
Entretanto, considerando que nos últimos anos houve expressiva
aplicação de tecnologia associada ao manejo de pastagens e à nutrição dos
animais mantidos nestas áreas, notadamente o uso de suplementação de
animais na época seca e, até mesmo no período das águas, tem sido estimado
que a área destinada à pecuária nas regiões Norte e Centro Oeste tenha sido
reduzida em pelo menos 2% nos últimos cinco anos e, que o aumento da
produção de carne ocorreu pelo aumento da produtividade nas áreas de
pastagem existentes. Esse fato destaca as mudanças que vêm ocorrendo com
a pecuária de corte nacional, sendo essas promovidas pela aplicação de
tecnologias e pela mudança de consciência dos produtores, o que evidencia a
pujança do Brasil para a produção de alimentos (tal como a carne) para a
população do mundo num futuro próximo.
Também precisa ser acrescentado à essa discussão a necessidade de
melhor caracterização do que se chama de área da floresta amazônica,
daquela área onde a pecuária tem sido mantida, o que tem sido
equivocadamente aceita pela sociedade urbana desconhecedora e divulgada
pela mídia sensacionalista. Soma-se a isso, o empenho das instituições
federais (IBAMA) e estaduais (SEMA) de fiscalização para reprimir a abertura
de novas áreas, o que certamente tem colaborado para evitar tal tipo de
ocorrência.
Outra questão bastante relevante inerente à discussão sobre os
impactos ambientais da pecuária decorre das superestimativas da contribuição
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
dos animais ruminantes (incluindo os bovinos de corte) para a emissão de
gases de efeito estufa (GEE) para a atmosfera, notadamente o metano, dada a
sua relação com o chamado aquecimento global. Deve ser salientado que o
metano é um gás natural decorrente do processo fermentativo nos
compartimentos digestivos do trato digestório dos animais ruminantes, cuja
intensidade pode ser reduzida pelo aumento da eficiência de utilização dos
nutrientes no rúmen, decorrentes do uso de forrageiras de melhor valor nutritivo
(maior % de PB e menor % de FDN) e de técnicas mais intensivas de produção
(lotação rotacionada, suplementação, aditivos, etc.). Considerando que a
pecuária de corte brasileira sofreu um processo de intensificação nos anos
mais recentes, caracterizada pelo aumento do rebanho e de sua produtividade,
mas sem que ocorresse aumento da área de pastagens, pode-se afirmar que
naturalmente as emissões de metano dos sistemas pecuários nacionais estão
em declínio, concomitante à intensificação da pecuária de corte. Entretanto,
deve ser ressaltado que o saldo da emissão de carbono total pela pecuária
nacional tem sido reduzido, tanto pelo aumento da intensificação da produção
animal, quanto pelo aumento da eficiência de produção das forrageiras
tropicais, as quais marcadamente apresentam elevada eficiência fotossintética
e, neste aspecto, propiciam um saldo favorável, pois fixam elevada quantidade
de CO2 atmosférico através da fotossíntese via C4. Desta forma, dentro do
conceito de agricultura de baixo carbono (ABC), programa lançado pelo MAPA,
objetiva-se tornar os sistemas agrícolas mais produtivos e sustentáveis, por
meio de recursos e iniciativas que fomentem a utilização de práticas agrícolas
que sejam mais eficientes e com baixa emissão de carbono para a atmosfera
(GEE).
6.2.3 – Desorganização da cadeia produtiva, falta de alianças
mercadológicas e ações governamentais:
De acordo com Rocha et al. (2001) citados por Pineda e Rocha, (2002)
aliança mercadológica ou parceria vertical pode ser definida como uma
iniciativa conjunta de supermercados, frigoríficos e pecuaristas objetivando
proporcionar ao consumidor uma carne de origem conhecida e com qualidade
assegurada. Precisa ser enfatizado que as alianças mercadológicas devem
beneficiar, primeiramente, o consumidor, por intermédio da oferta de um
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
produto que atenda aos seus anseios; assim como a todos os componentes da
mesma. Neste caso, para o pecuarista, participar de um programa de qualidade
possibilita incrementar o giro de capital na propriedade, em função de trabalhar
com uma matéria-prima mais precoce (animal) que adicionalmente, permite
uma remuneração extra pela qualidade de seu produto. No caso da indústria, o
seu benefício decorre da garantia do fornecimento regular de uma matéria-
prima padronizada em quantidade e qualidade (Pineda e Rocha, 2002).
Ainda, de acordo com Pineda e Rocha, (2002), as alianças
mercadológicas estabelecem um programa de qualidade que leva em
consideração uma redefinição do comportamento de todos os agentes da
cadeia produtiva da carne bovina. Neste aspecto, merece ser destacado que a
formação de alianças mercadológicas pode proporcionar o extermínio da
histórica relação de oportunismo entre os componentes da cadeia da
bovinocultura de corte, a qual compromete as relações comerciais entre os
agentes econômicos do setor e representa um impedimento à melhoria da
eficiência econômica dos diversos elos que a compõem. Entretanto,
considerando a complexidade de toda a cadeia produtiva da carne bovina,
existem peculiaridades inerentes à cada componente da mesma que dificultam
o estabelecimento da integração.
Ao longo dos últimos anos, os produtores enfrentaram situações críticas
em função da relação receita e custo na produção de bovinos de corte,
entretanto, com a retomada dos preços da carne, outras exigências impostas
pelos consumidores expõe as necessidades e os benefícios oriundos de uma
produção integrada, de forma que todos os setores da cadeia produtiva
funcionem em sincronia, representando uma estrutura única e organizada.
Essa organização não deve ser estabelecida somente para o aumento
da eficiência na produção de carne, mas também para fornecer produtos
diferenciados que venham a competir e suprir diferentes nichos do mercado
consumidor (Euclides Filho e Euclides, 2010).
Todas essas mudanças passam a ser determinadas pelo consumidor
final que apresenta crescentes demandas por alimentos seguros e de
qualidade nutricional superior. As alianças mercadológicas, por viabilizarem a
interação entre os vários segmentos da cadeia produtiva de forma organizada,
disponibilizam ao consumidor produtos diferenciados, assegurando atributos de
qualidade intrínseca e extrínseca ao longo de todo o processo de produção.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
Tal estratégia não somente possibilita o atendimento por qualidade do
alimento, mas também possibilita que os diversos setores compartilhem o lucro
adicional, resultante da agregação de valor. É evidente que essa
implementação não depende somente dos fabricantes de insumos, produtores,
indústrias frigoríficas, governo e instituições de pesquisa, mas também da
qualificação da mão de obra disponível aos segmentos da cadeia produtiva.
Embora a cadeia produtiva da bovinocultura de corte necessite de
articulação e empenho para dirimir os problemas que lhe competem, há a
necessidade de que ocorram ao mesmo tempo ações governamentais, no
sentido de apoiar ou facilitar todo o empenho dos integrantes do sistema de
produção de carne. Neste sentido, entende-se que uma importante ação do
governo federal deve envolver a utilização de esforços para o fortalecimento da
economia e o investimento em novas fontes de trabalho, pois, sabe-se do efeito
positivo que a geração de empregos e do aumento do poder aquisitivo da
população exercem sobre o consumo de carne bovina no Brasil.
Da mesma forma, crê-se que políticas de créditos e financiamentos a
juros mais acessíveis e a desburocratização dos sistemas vigentes seriam
fundamentais no sentido de possibilitar tanto aos produtores como aos demais
componentes da cadeia produtiva da carne bovina maiores investimentos no
setor, a fim de promoverem aumento da produção e produtividade, aliada ao
aumento da qualidade e agregação de valor à carne bovina.
Também de fundamental importância seria o aumento da política de
crédito e apoios fiscais à política da exportação da carne bovina, no sentido de
possibilitar ao nosso produto maior poder de concorrência nos mercados
externos.
Um tópico que merece uma discussão mais extensa do que a que será
aqui apresentada se refere aos investimentos e infra-estrutura de transporte
dos produtos agropecuários no Brasil, o qual é considerado deficiente e, desta
forma, aumenta as perdas e os custos do deslocamento dos produtos,
incluindo a carne bovina, das regiões produtoras para os centros consumidores
e, principalmente, das zonas portuárias de exportação. Neste sentido, há a
necessidade de investimentos pesados em melhoria de várias rodovias
federais e estaduais, bem como a construção de rodovias estratégicas que
permitam o escoamento da produção de forma mais rápida, segura, eficiente e
de menor custo. Dentro desse assunto, destaca-se a necessidade urgente de
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
investimentos em ferrovias, as quais permitiriam aumentar de forma mais
expressiva e eficiente à redução dos custos de transporte.
Entende-se que também seja relevante o investimento por parte dos
governos em estrutura portuária, pois as condições dos portos brasileiros são
consideradas deficitárias por especialistas do setor. Tal situação compromete a
rapidez do atendimento das entregas nos países importadores, assim como a
qualidade do produto, aumenta os custos e reduz a confiança no Brasil como
país que se apresenta para ser o grande celeiro da humanidade nos séculos
vindouros.
A saúde e bem-estar da população moderna têm sido atribuídos
principalmente à alimentação, tanto no quesito qualidade quanto aos seus
aspectos de conveniência, acessibilidade, higiene, apresentação (embalagem),
funcionalidade e de segurança do alimento consumido (Euclides Filho e
Euclides, 2010). Dessa forma o consumidor torna-se mais exigente com a
melhoria dos níveis de educação e de informação, e com o aumento da renda.
Perpendicular a tais exigências, o consumo de alimentos é também
influenciado por outros fatores, como: a taxa de crescimento da população; a
estrutura e tamanho da família; a estrutura de emprego; e a etnia.
Segundo Euclides Filho e Euclides (2010), a produção integrada é
definida como sendo um sistema de exploração agrária que produz alimentos e
outros produtos de alta qualidade mediante ao uso dos recursos naturais e de
mecanismos reguladores, para minimizar o uso de insumos e contaminantes e
para assegurar produção sustentável.
O consumo da carne bovina e a conseqüente expansão de mercados
são influenciados principalmente pelo aumento das exigências por parte dos
consumidores em relação à qualidade e com relação à segurança dos
alimentos. No entanto, o atendimento a essas exigências pode ser facilitado
pelo desenvolvimento de marcas, que por sua vez, pode caracterizar-se de
estratégia viável para a implantação de programas integrados, via alianças
estratégicas.
Para que ocorra a sincronia por parte de cada segmento da cadeia
produtiva, faz-se necessário o acompanhamento do produto durante todo o
processo de produção, industrialização, na distribuição, sendo ainda pertinente
o acompanhamento da produção e utilização dos insumos, possibilitando que
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
esse rastreamento do produto final apresente certificação, ou seja, da fazenda
a mesa do consumidor.
O segmento, geração de conhecimento e tecnologia, também deve ser
considerado como componente da cadeia produtiva, com o objetivo de
fundamentar e possibilitar a identificação eficiente de seus principais entraves e
de suas oportunidades mais relevantes, além de estruturação e condução dos
projetos de pesquisa, de viabilização da transferência tecnológica e da
capacitação de pessoal.
Nesse contexto integrado, a participação da pesquisa requer o
estabelecimento de parcerias sólidas, fortalecendo um modelo de pesquisa
focado em inovação, sem inviabilizar o desenvolvimento científico.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pecuária de corte brasileira ocupa lugar de destaque na economia
nacional, colaborando de forme efetiva na geração de empregos e para o saldo
positivo da balança comercial. A partir da década de 1980 houve expressiva
aplicação de tecnologias ao setor que associado à estabilização da economia
promoveu incremento nos índices produtivos. A partir de 2003, em função do
seu elevado rebanho, preço competitivo e da ocorrência de problemas
sanitários na Europa e Estados Unidos, o Brasil tornou-se o maior exportador
de carne bovina do mundo. Em decorrência dos fatores associados
anteriormente, a pecuária de corte nacional possui elevada capacidade de
manter-se como maior exportador e ainda, conquistar mercados mais exigentes
e que remuneram melhor. Entretanto, por questões relacionadas à aplicação de
tecnologias, problemas de ordem sanitária, de organização da cadeia
produtiva, da qualidade e diversificação da carne e questões que dependem de
ações governamentais, a pecuária de corte bovina do Brasil ainda encontra
dificuldades em acessar esses mercados, tornando necessária a articulação
dos diversos segmentos que compõem a cadeia produtiva no sentido de
implementar essas transformações, as quais certamente poderão colocar a
pecuária de corte em condição privilegiada no cenário internacional, compatível
com o nosso potencial.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, R.; MEDEIROS, S. R.; CALEGARE, L.; ABERTINI, T. Z.; LANNA, D. P. D. Fazendas de terminação. In: Alexandre Vaz Pires. (Org.). Bovinocultura de Corte. 1 ed. Piracicaba: FEALQ, 2010, v. I, p. 183-199.
ANUALPEC - Anuário da pecuária brasileira. 2009.
BARCELLOS, A.O.; VILELA, L., LUPINACCHI, A.V. Desafios da pecuária de corte na região do cerrado. EMBRAPA, Planaltina – DF, 2001.
BARIONI, L.G.; LIMA, M.A.; ZEN, S. et al. A baseline projection of methane emissions by the brazilian beef sector: preliminary results. In: GREENHAUSE GASES AND ANIMAL AGRICULTURE CONFERENCE, 2007, Christchurch. Proceedings… Christchurch, New Zealand, 2007. p.32-33.
BRASIL, MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Inventário brasileiro das emissões e remoções antrópicas de gases de efeito estufa. 2009.
BRASIL – MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Cartilha do novo Serviço da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos – SISBOV. 2006. 20p.
BUAINAIN, A.M. e BATALHA, M.O. Cadeia Produtiva da Carne Bovina. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Brasília, MAPA/SPA, 2007. 86p.
CARDOSO, E.G. Sistemas de qualidade para carne bovina. In: VI Simpósio de Produção de Gado de Corte – SINCORTE. Ed.: Valares Filho, S.C. et al. Viçosa: UFV, 2008. p.365-390.
CARVALHO, M.M.; SILVA, J.L.O.; CAMPOS JR., B.A. Produção de matéria seca e composição mineral da forragem de seis gramíneas tropicais estabelecidas em um sub-bosque de angicovermelho. Revista Brasileira de Zootecnia. v.26, p.213-218, 1997.
CERRI, C.C.; BERNOUX, M.; MAIA, S.M.F. et al. Greenhouse gas mitigation options in Brazil for land-use change, livestock and agriculture. Scientia Agricola, v.67, p.102-116, 2010.
COBUCCI, T.; KLUTHCOUSKI J.; AIDAR, H. ANGHINONI, I.; SANTOS, D. T. dos; FLORES, J.Sistema Santa Fé: produção de forragem na entressafra. WORKSHOP INTERNACIONAL PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO AGRICULTURA E PECUÁRIA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DAS SAVANAS TROPICAIS SULAMERICANAS, 2001, Santo Antonio de Goiás. Anais... Santo Antonio de Goiás: 2008. Embrapa Arroz e Feijão, 2001. p. 125-135. (Embrapa Arroz e Feijão. Documentos, 123).
CORRÊA, C.C.; VELOSO, A.F.; LIMA, B.M.; COTA, R.G.; FIGUEIREDO, L.F. Gerenciamento da pecuária de corte no brasil: cria, recria e engorda de bovinos a pasto. In.: 47 Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. Porto Alegre – RS, 2009. 18p.
CORRÊA, E.S.; ALVES, R.G.O.; EUCLIDES FILHO, K.; VIEIRA, A. desempenho reprodutivo em um sistema de produção de gado de corte. CNPGC – EMBRAPA, Campo Grande, 2001.
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
DE ZEN, S.; BARROS, G.S.C. Evolução do mercado brasileiro da carne bovina. In: Bovinocultura de Corte. Ed. Pires, A.V. – Piracicaba: FEALQ, 2010, v.1, p.41-52.
EUCLIDES FILHO, K.; EUCLIDES, V. P. B.; CORRÊA, E. S. Campo Grande, MS: Embrapa Gado de Corte, 2002. 25p. (Embrapa Gado de Corte. Documentos, 129).
EUCLIDES FILHO, K.; EUCLIDES, V. P.B. Desenvolvimento recente da pecuária de corte brasileira e suas perspectivas. In: Bovinocultura de Corte. Ed. Pires, A.V. – Piracicaba: FEALQ, 2010, v.1, p.11-40.
FELÍCIO, P.E. Novos conceitos em qualidade de carne bovina. In.: Simpósio de Alimentos da Região Sul, UPFRS, 2005. 9p.
FRANCO, G. L., BRUMATTI, R. C. Cadeia produtiva da carne bovina. In.: Bovinocultura de corte: desafios e tecnologias. Ed.: Oliveira, R.L. e Barbosa, M.A.A.F. Salvador: EDUFBA, 2007, p.9-22.
Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária – IMEA. Relatório do levantamento sobre a morte de pastagem em Mato Grosso. Março, p1-4, 2011.
IP, C.; SCIMECA, J.A.; THOMPSON, H.J. Conjugated linoleic acid - A powerful anticarcinogen from animal fat sources. Cancer Research, v.74, p.1051-1054, 1994.
KLUTHCOUSKI, J.; PACHECO, A.R.; TEIXEIRA, S.M. et. al. Renovação de pastagens de Cerrado com Arroz 1- Sistema Barreirão. Goiânia: Embrapa-CNPAF, 1991. 20p. (Documentos, 33).
KLUTHCOUSKI, J. STONE, L.F. AIDAR, H. Integração Lavoura Pecuária. Ed. Embrapa Arroz e Feijão. EMBRAPA, 2003, 570p.
LAWRENCE, J. D.; IBARBURU, M. Understanding the United States cattle and beef production industries: structure, costs and emerging issues. In: VI Simpósio de Produção de Gado de Corte – SINCORTE. Ed.: Figueiredo, F.C. et al. Viçosa: UFV, 2008. p. 1-20.
LUCHIARI FILHO, A. produção de carne bovina no Brasil: qualidade, quantidade ou ambas? In.: II SIMBOI - Simpósio sobre desafios e novas tecnologias na bovinocultura de corte, 2006.
MACEDO, M.C.M.; KICHEL, A.N.; ZIMMER, A.H. Degradação e alternativas de recuperação e renovação de pastagens. Comunicado Técnico n. 62, CNPGC – EMBRAPA. 2000, p1-4.
MACEDO, M.C.M. Integração lavoura e pecuária: o estado da arte e inovações tecnológicas. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, p.133-146, 2009 (supl. especial).
MONTEIRO, R. B. N. C. Desenvolvimento de um modelo para estimativas da produção de gases de efeito estufa em diferentes sistemas de produção de bovinos de corte. Dissertação (ESALQ), Piracicaba, 2009, 75p.
OFUGI, C.; MAGALHÃES, L.L.; MELIDO, R.C.N. et al. Integração lavoura-pecuária (ILPF), sistemas agroflorestais (SAFs). In: TRECENTI, R. (Ed.). Integração lavoura-pecuáriasilvicultura. Brasília: MAPA/SDC, 2008. p.20-25.
OLIVEIRA, R.L.; BARBOSA, M.A.A.F.; LADEIRA, M.M.; SILVA, M.M.P.; ZIVIANI, A.C. Nutrição e manejo de bovinos de corte na fase de cria. In.: II
I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
SIMBOI - Simpósio sobre desafios e novas tecnologias na bovinocultura de corte, 2006. 54p.
OLTJEN, J. W., BECKETT, J. L. Role of ruminant livestock in sustainable agricultural systems. Journal of Animal Science. v.74, n. 6, p.1406-1409.
PEIXOTO, A. M. Evolução histórica da pecuária de corte no Brasil. In: Bovinocultura de Corte. Ed. Pires, A. V. – Piracicaba: FEALQ, 2010, v.1, p.3-10.
PINEDA, N. R.; ROCHA, J. C. M. Estratégias de marketing e alianças mercadológicas na cadeia produtiva da carne bovina. In: III Simpósio de Produção de Gado de Corte – SINCORTE. Ed.: Figueiredo, F.C. et al. Viçosa: UFV, 2002. p. 1-22.
PIRES, J. A. A. A cadeia produtiva de carne bovina no Brasil: mercado internacional e nacional. In.: II Simpósio de Produção de Gado de Corte – SINCORTE. Ed.: Bittencourt, A. et al. Viçosa: UFV, DZO, 2001. p. 1-17.
PIRES, P. P. Planejamento sanitário estratégico (aftosa, brucelose, botulismo...): políticas públicas e comprometimento dos agentes privados. In: III Simpósio de Produção de Gado de Corte – SINCORTE. Ed.: Figueiredo, F.C. et al. Viçosa: UFV, 2002. p. 391-394.
SANO, E. E.; ROSA, R.; BRITO, J. L. S.; FERREIRA, L. G. Mapeamento semidetalhado do uso da terra do Bioma Cerrado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 43, n. 1, p.153-156, 2008.
VALE, S. M. L. R. Gerenciamento dos sistemas de produção: monitoramento econômico-financeiro da propriedade. In.: In: III Simpósio de Produção de Gado de Corte – SINCORTE. Ed.: Figueiredo, F.C. et al. Viçosa: UFV, 2002. p. 35-59.
VALLE, E. R. Boas Práticas Agropecuárias – Bovinos de Corte (Manual de Orientações). 2º Edição revista e ampliada. Campo Grande, MS: Embrapa Gado de Corte, 2011.69 p.
VARELLA, D. Os prazeres da carne vermelha - verdade ancestral, Gazeta Mercantil – caderno fim de semana de 3/agosto/2001, disponível em: www.drauziovarella.com.br/artigos/carne_introdução.
Top Related