Universidade Federal de Minas Gerais Programa de Formação de Conselheiros Nacionais
Curso de Especialização em Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais
Dinorá Couto Cançado
Leitura, Cidadania e Transformação Social
Brasília/Distrito Federal 2010
I
Dinorá Couto Cançado
Leitura, Cidadania e Transformação Social
Monografia apresentada para a banca examinadora do Curso de Especialização Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais do Centro de Educação à Distância, Universidade Federal de Minas Gerais, como exigência parcial para a obtenção do grau de Especialista no Programa de Conselheiros Nacionais, sob orientação da Professora Dra. Teresa Cristina de Souza Cardoso Vale.
Brasília/Distrito Federal 2010
CANÇADO, Dinorá Couto Leitura, Cidadania e Transformação Social/Dinorá Couto Cançado –
Brasília, 2010. 50 p. Monografia de Conclusão de Curso de Especialização em Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais – Universidade Federal de Minas Gerais, 2010.
II
III
TERMO DE APROVAÇÃO
Dinorá Couto Cançado
Leitura, Cidadania e Transformação Social
Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista do Curso de Especialização Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais, da Universidade Federal de Minas Gerais, como exigência parcial, pela seguinte banca examinadora.
Brasília/ Distrito Federal - 2010
Componentes da banca examinadora 1ª. Teresa Cristina de Souza Cardoso Vale (Orientadora) –UFVJM _____________________
2ª. Natália Satyro – UFMG __________________________________________________
IV
Dedico este trabalho ao público-alvo desta pesquisa – os atores sociais
(autores, executores e beneficiários) – a razão de ser do Fórum
“Brasília, capital das leituras”, início de um movimento social, ainda
tímido na luta por mais leituras no Distrito Federal, permitindo-me
concluir com êxito esta etapa tão importante em minha vida, com mais
conhecimento, amor e entusiasmo às ações que envolvem leituras.
V
Agradecimentos
Inspirada em atividades que tomam conta da capital brasiliense, envolvendo leitura,
agradeço a todos que, direta ou indiretamente, colaboraram nesta jornada:
Aos deficientes visuais de todo o DF e entorno de Brasília, público com quem convivo
há 15 anos, procurando auxiliar na sua socialização, por meio de projetos literários;
Aos meus familiares que facilitaram e me ajudaram nessa trajetória de voluntariado,
uma das razões de participação no curso que me inspirou esta pesquisa;
As instituições (relacionadas a seguir) do DF que deram todo apoio necessário, nesta
jornada de 15 anos:
• À Secretaria de Estado de Educação do DF, destaque para a Gráfica, a DRET...
• À Secretaria de Estado de Cultura, destaque para a Diretoria de Bibliotecas...
• À Administração Regional de Taguatinga, com a Gerência de Educação e
Cultura...
• À mídia do DF – falada, televisionada e escrita, sempre presente nos eventos
de inclusão social que envolvem leituras.
Aos amigos de informática da DRET: Marcelo Gontígio e equipe.
À Mestra Aparecida Cléia Gerin a valiosa ajuda, não apenas no Abstract deste
trabalho, mas no incentivo, acompanhamento e revisão do mesmo.
À Professora Dra. Teresa Cristina de Souza Cardoso Vale, orientadora desta
monografia, que não mediu esforços no sentido de contribuir e exigir o melhor apuro na
prática e relato desta pesquisa científica.
VI
“A educação do ser humano, seja ela formal ou informal (sistemática ou
assistemática), sempre envolve dois fatores fundamentais: formação e
informação. Mais especificamente, o processo educativo exige que às novas
gerações sejam transmitidos conhecimentos, sejam trabalhados determinados
valores e costumes de modo que ocorra a sobrevivência e a convivência
social e de modo que não pereça a linha evolutiva da cultura.”
Ezequiel Theodoro da Silva
VII
Resumo
Analisar a atuação de projetos sociais, envolvendo leituras, no Distrito Federal, contribuindo com práticas de cidadania foi o objetivo principal deste estudo que buscou respostas para o seguinte problema: projetos sociais vivenciados por meio de práticas de leituras contribuem com os princípios da cidadania, gerando transformação social? A abordagem metodológica contou com uma pesquisa de campo e com aplicação de questionários em cem participantes (autores, executores e beneficiários dos projetos) envolvidos com leituras; além de observações em evento intitulado “Fórum Brasília, capital das leituras”. Após análise qualitativa dos dados coletados, apresentada por meio de quadro e depoimentos, foi possível concluir que a leitura é um poderoso instrumento de cidadania e contribui com a inclusão social; que é importante trabalhar a leitura, pois só assim os cidadãos se tornam capazes de buscar e questionar seus direitos e deveres; que todo e qualquer movimento em busca de conhecimento e informação contribui para a formação de um cidadão consciente e participativo; que as escolas precisam incentivar mais a leitura para que promovam mais avanços na educação e alcancem difundir os princípios da cidadania; que os que se beneficiam de projetos literários estão à frente, em termos de cidadania.
Palavras- chaves: leitura, cidadania, projetos de leitura, transformação social, educação.
VIII
Abstract
To analyse social projects and its actions, being involved within readings, in Distrito Federal, contributing with citizenship, was the main goal of this research that was seeking for answers to the following problem: do social projects that are applied with readings practice may contribute to increase citizenship principles, resulting in social changes? The methodology approach were developed by a local research and the aplication of semi-closed questionaries with one hundred persons, that are envolved within the projects (authors, appliers, benefiters), besides the participation and observation of the actions in event named “Fórum Brasília, capital das leituras”. After qualitative analyses of the data collected, shown by frames and deposition, it was possible to conclude that reading is a powerful instrument of citizenship and contributes to get social inclusion; that it is important to work reading because it is the only way to citizens to become capable to search and questionate their rights and obligations; that every and each movement in knowledge and information search contributes to participative and conscious citizen development; that the schools need to incentivate more the reading act in order to promote more education progress and reach diffusion of citizenship principles; that people who are benefited by literary projects feel that they are beyond in citizenship skills.
Palavras- chaves: reading practice; citizenship; literary projects; social changes; education.
IX
Índice de Quadro e Gráficos
Quadro 1 – Dados dos Projetos de Leituras .............................................................................24 Gráfico 1 – Aspectos significativos nos Projetos de Leituras .................................................30 Gráfico 2 – Vantagens dos Projetos de leituras........................................................................31
X
Lista de abreviaturas e siglas ANJ – Associação Nacional de Jornais BBDN – Biblioteca Braille Dorina Nowill CEF – Centro de Ensino Fundamental DF – Distrito Federal DVs – Deficientes visuais DRET - Diretoria Regional de Ensino de Taguatinga EC – Escola Classe GDF – Governo do Distrito Federal IPL – Instituto Pró-Livro MEC – Ministério da Educação MinC – Ministério da Cultura PCNEM – Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio PELLs – Plano Estadual do Livro e Leituras PLAB – Projeto Luz & Autor em Braille PMLLs – Plano Municipal do Livro e Leituras PNLL – Plano Nacional do Livro e Leitura SEE – Secretaria de Estado de Educação UnB – Universidade de Brasília Unicamp/SP – Universidade de Campinas/São Paulo
XI
Sumário 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................12
1.1 Projetos de acesso à leitura: campo fértil para a ousadia e a criatividade ....................12
1.2 A captura do leitor permite-lhe a leitura do mundo?.....................................................15
2. SOBRE LEITURA E LEITORES: UMA VIAGEM COM OS TEÓRICOS ...................................17
2.1. Cidadania, Educação e Leituras....................................................................................17
3. SOBRE OS PROJETOS: APLICABILIDADE E FORMATO .........................................................24
4. SOBRE OS PROJETOS: EFETIVIDADE E PERTINÊNCIA NAS AÇÕES...................................37
5. HÁBITO DE LEITURA: PORTA ABERTA PARA DISSEMINAR CULTURA ...........................40
Referências Bibliográficas .....................................................................................................................43
Apêndices .................................................................................................................................46
Apêndice A - Brasília, capital das leituras ...........................................................................46
Apêndice B - Pesquisa de Opinião “Leitura, prática social e cidadania”.............................47
12
1. INTRODUÇÃO 1.1 Projetos de acesso à leitura: campo fértil para a ousadia e a criatividade
O tema leitura, de grande relevância na busca pela qualidade em educação, foi o
escolhido para a pesquisa que foi realizada e que está relatada neste trabalho. Com o foco
voltado para o fomento do hábito de ler, o estudo buscou respostas para a maneira como as
ações acontecem e cumprem a tarefa de ajudar a implementar políticas voltadas para a
aquisição desse hábito, nas escolas do Distrito Federal (DF). Para tanto, buscou-se analisar
projetos específicos, desenvolvidos em escolas, bibliotecas e os de iniciativas da sociedade
civil. Porque há muito de ousadia e criatividade na prática de dinamização voltada para a
leitura. Tudo isso foi percebido, observado, registrado e analisado – ao longo de 35 anos de
vida dedicada à educação – pela pesquisadora, a responsável pela ideia de pesquisar projetos
que têm como objetivo fomentar o hábito de ler.
Hábito que, com certeza, é ajuda valiosa na renovação do cotidiano da sala de aula,
contribuindo para a concretização dos objetivos propostos por professores em busca de
educação de qualidade.
A máxima a ser considerada ao enfocar o tema escolhido é a de que o indivíduo
que lê e que desenvolve sua criticidade é um cidadão participativo, está à frente de
outros, torna-se mais bem informado e mais sábio no que se refere a seus direitos e
deveres. Portanto, é aquele que caminha em busca da cidadania plena.
À proporção que se constatava que mais e mais ações eram criadas e levadas a
efeito, nessa caminhada educacional, a percepção da necessidade de se fazer pesquisa
sobre o tema deu lugar à concretude da ação e resultou nesta monografia que relata sobre
abordagens diferenciadas que incentivam e disseminam o hábito da leitura. Leitura
disseminada por meio de movimentos sociais, em forma de projetos, com atores sociais à
frente das ousadas realizações, na maioria das vezes informais, cumprindo a sua função
de responsabilidade social, de maneira autônoma. O local onde as ações se realizam é o
Distrito Federal (DF), com trinta regiões administrativas (cidades), sendo Brasília a
capital.
Por serem muitas as ações, espalhadas e sem reconhecimento, surgiu a
necessidade da criação de um Fórum para congraçamento das pessoas e conhecimento
dos projetos. Que surgiu com o nome de Fórum “Brasília, capital das leituras”. O fato
motivador para a escolha do título do Fórum se deu em virtude de uma manchete em
13
conceituado jornal do DF. A manchete incomodou e provocou a pesquisadora. O título:
“Brasília, a capital dos endividados” gerou um momento de reflexão. Na mesma hora,
sem ao menos ler todo o teor da reportagem, outro texto foi produzido, com o título:
“Brasília, capital das leituras”.
Com base no que afirma Silva “a leitura crítica sempre leva à produção ou
construção de um outro texto, o texto do próprio leitor [...] a leitura crítica deve ser
caracterizada como um projeto, pois se concretiza numa proposta pensada pelo ser-no-
mundo” (SILVA, 1991, p. 81)1. Dessa forma, foi construído um texto que destacou
alguns projetos em prol da leitura (Apêndice A) e foi, a partir daí, que a iniciativa
cresceu.
Por ocasião de aniversário da inauguração de Brasília, em 2007, um canal local de
TV criou um concurso que, via internet, divulgava como o cidadão participante
demonstrava o seu amor pela capital. Cabia aos internautas eleger o depoimento que
melhor correspondesse ao exigido. O texto “Brasília, capital das leituras” foi inscrito e
obteve 336 votos, classificando-se, entre os três primeiros.
Foi esse fato que facilitou efetivar a ideia de implantar o Fórum, lançado na 26ª
Feira do Livro de Brasília2, em 2007. De início, um projeto simples, mas que prometia, e
veio a ser de largo alcance. Consistiu em que cada ator social, à frente de seu projeto,
fosse avaliado pelo público presente em vários quesitos, com premiação dos três com
maior pontuação, ao final do Fórum. Concorreram todos os projetos, divulgados no texto
que inspirou o Fórum, mas com os participantes apresentando sua ação social. Começava,
assim, um evento que se repetiria nos anos seguintes. Passaram a ser apresentados os
mais variados tipos de ação coletiva, focando leituras. Foi, portanto, aberto mais um
espaço para a divulgação de movimentos sociais (sem o caráter reivindicatório presente
na maioria deles), oportunizando-lhes mostrarem suas características: como surgiram,
quem se envolve, como acontecem e os resultados alcançados.
1 Um dos maiores mestres de leitura e biblioteca, com dezenas de livros publicados e autor do maior Congresso de leitura do País (o COLE) - Ezequiel Theodoro da Silva. 2 O maior evento literário do Centro-Oeste, já em sua 28ª edição, realizado pela Câmara do Livro do Distrito Federal.
14
O Fórum “Brasília, capital das leituras” pode ser relatado como um encontro especial
de celebração entre atores sociais multiplicadores de leituras, responsáveis por 25 ações
coletivas, já mapeadas em Brasília.
De acordo com Aguiar (2002, p. 120), “o potencial criativo é inerente ao ser humano;
na maior parte das vezes, o que se precisa é oferecer oportunidades”. A oferta de espaços, no
caso desse Fórum, é a oportunidade fundamental para a inclusão.
Foram realizadas, portanto, até o ano de 2009, três edições do Fórum e o foco desta
pesquisa está centrado nos três, observando que projetos foram divulgados; o desempenho dos
mesmos; o perfil dos executores e dos participantes; o acolhimento aos projetos; os resultados
de cada Fórum; o alcance das ações desenvolvidas e a verdade sobre o apoderamento do
hábito de ler, por parte dos participantes.
Concluiu-se que, ao todo, vinte e cinco projetos se apresentaram nas três edições do
Fórum “Brasília, capital das leituras”. São esses os projetos-alvo desta pesquisa. A
consciência da importância do evento, por parte da pesquisadora, instigou-a a buscar, junto ao
público-alvo, os resultados e a relevância dessas ações que têm como objetivo disseminar a
leitura como agente de transformação social e cidadania, por meio desses projetos sociais
apresentados.
Este relato de estudo sobre leitura, cidadania e transformação social está
apresentado em seções.
A introdução aborda a apresentação do tema escolhido para a monografia, que é
leitura, cidadania e transformação social e traz a justificativa da escolha e relevância do
mesmo. Trata ainda do Fórum “Brasília, capital das leituras”, uma prática de estímulo a
projetos literários e, explicita a situação-problema e os objetivos da pesquisa.
A segunda seção traz a fundamentação teórica, com uma breve exploração dos
autores e pesquisas que abordam o tema, ajudando a delimitar o problema e também com
citação de estudos sobre cidadania, educação e leitura.
Na seção seguinte, encontram-se os dados colhidos com base nos projetos
pesquisados. Dados que foram gerados por meio de aplicação de questionários
15
respondidos pelos responsáveis pela implantação e implementação dos projetos,
possibilitando proceder à descrição dos resultados.
A quarta seção refere-se às considerações finais e traz um mapeamento que
permitiu traçar o perfil dos atores sociais, seguido da análise dos dados coletados, de
quadros ilustrativos e o que resultou desses dados analisados e discutidos.
E, como conclusão, a última seção traz relatos sobre a análise que os dados
permitiram aquilatar. Constatou-se que a conquista de leitores é um desafio contínuo, o
caminho é longo e os executores têm esse conhecimento, referente ao tamanho da
empreitada, mas não se intimidam. Porque, tanto os que estão à frente – autores e
executores – dessas ações, quanto os participantes que usufruem das atividades, são
beneficiários e vivenciam aspectos de cidadania presentes em todas as propostas dos projetos
investigados. Constatou-se ainda que as principais descobertas nos projetos, dos mais simples
aos mais abrangentes são: igualdade de oportunidades para todos, inclusão social,
solidariedade, criticidade e compreensão leitora, democratização do livro e leitura, ludicidade,
inclusão cultural, e parceria entre estado e sociedade civil.
1.2 A captura do leitor permite-lhe a leitura do mundo?
Após a escolha do tema e dos atores sociais, a pergunta-problema foi definida
como: Projetos sociais vivenciados por meio de práticas de leituras contribuem com os
princípios da cidadania, gerando transformação social?
Portanto, além do público-alvo, que são os participantes beneficiários de cada
projeto, a intenção também se volta para saber se esses específicos indivíduos, que atuam
na função de atores sociais, à frente das mais diversas ações em prol de leituras,
vivenciam aspectos de cidadania, da mesma forma que os beneficiários dos projetos.
Para maior clareza quanto ao que se pretende investigar, foram definidos os
objetivos.
Como objetivo geral tem-se:
Analisar a atuação de projetos sociais, envolvendo leituras, no Distrito
Federal, contribuindo com práticas de cidadania.
16
E como objetivos específicos:
Analisar os aspectos inovadores dos projetos sociais envolvidos;
Analisar o perfil dos atores sociais que estão à frente dos projetos
brasilienses;
Descrever atuações relevantes para o alcance da consciência da cidadania,
alcançados com os projetos;
Estimar, com base no relato dos beneficiados, em que medida a leitura
pode ser considerada fator de transformação social para uma cidadania mais
plena.
17
2. SOBRE LEITURA E LEITORES: UMA VIAGEM COM OS TEÓRICOS
2.1. Cidadania, Educação e Leituras
A relevância de um estudo se sustenta, tomando por base a leitura da literatura sobre o
tema, com consulta a fontes que tratam da abordagem proposta. No elenco das referências
bibliográficas que embasaram este trabalho constam vários autores. Em destaque, Ezequiel
Theodoro da Silva. Seu livro Criticidade e leitura destaca que “a presença de leitores críticos
é uma necessidade imediata de modo que os processos de leitura e os processos de ensino da
leitura possam estar vinculados a um projeto de transformação social” (SILVA, 1998, p. 12).
Outras autoras-pesquisadoras como Walda Antunes (2000) e Carol Kuhlthau (2002),
responsáveis por ações dinâmicas motivadoras de leituras, complementaram essa palavra-
chave da pesquisa - leitura. Além, é claro de inúmeros planos de leituras do governo local e
federal, em documentos elaborados pela Secretaria de Estado de Educação (SEE) do DF,
Ministério da Educação (MEC) e Ministério da Cultura (MinC). Documentos escritos ou
pesquisas eletrônicas, parâmetros, currículos, diretrizes e programas recentes sobre o tema
deram todo o suporte necessário.
Para inserir o tema no contexto atual foram requeridas outras leituras. As
pesquisadoras Úrsula Blattmann e Noeli Viapiana (2005) discorreram, em artigo denominado
Leitura instrumento de Cidadania sobre os aspectos que servem de estímulo para a
proposição de projetos que sejam essenciais ao desenvolvimento educacional e, com esse
artigo, fortaleceram a definição do problema de investigação proposto nesse trabalho.
Dentre os inúmeros temas apresentados pela coordenação do curso Democracia
Participativa, República e Movimentos Sociais, para decidir qual seria o foco da pesquisa a
ser feita, tornou-se claro que Cidadania era o mais apropriado, uma vez que o tema
acompanha a pesquisadora há tempos, em atividades de leitura.
O conceito de cidadania que era tido como conjunto de direitos e deveres de um
cidadão na literatura pertinente (DEWEY, 1959; MARSHALL, 1967; BENDIX, 1996;
PINSKY, 2003) ampliou-se, mostrando que cidadania é luta, é processo. Somente com
educação, com muitos livros e muitas leituras, ocorre o processo de construção cidadã que,
“[...] numa perspectiva contemporânea, compreende todos os direitos de uma só vez: os
fundamentais, os políticos, os civis, os sociais, os econômicos, os culturais, os ambientais
18
[...]” (MATOS, 2009, p. 24). Portanto, há toda uma preparação para que o indivíduo se sinta
imbuído de seus direitos e deveres e possa exercê-los em toda sua abrangência. Com educação
de qualidade, pode-se alcançar esse desejado estágio de formação, pois “[...] de nada adianta
ser titular de liberdade de expressão se não se possui a educação mínima para a manifestação
crítica das próprias ideias (MATOS, 2009, p. 24). Cabe aos educadores, portanto, buscar
formas de minimizar a falta do gosto por leitura, que é a base de sucesso do processo ensino-
aprendizagem, criando estratégias para solucionar o problema. Cabe à educação cumprir a
função de socialização e permitir que o indivíduo se apodere do conhecimento, integrando-se
à sociedade.
Segundo Gonzales (2002, p.16 e 17) essa socialização é entendida como “um processo
dirigido à integração das pessoas na sociedade, para conseguir sua participação na cultura”. E
é com o livro nas mãos de cada indivíduo que é possível dar condições para que a educação
seja democratizada, que a aprendizagem se faça de forma atrativa, contribuindo com uma
cidadania mais plena, tanto para a juventude, como para todos os que sentem necessidade e
prazer em ler.
A população jovem, compreendida na faixa de 15 a 29 anos, correspondendo a 1/5
da população total do país, é um público que causa preocupação, devido à falta do hábito
de ler, muitas vezes por dificuldade de acesso a locais de leitura. A maioria dos jovens
ainda não consegue chegar ao Ensino Médio e ao Superior, mesmo com a melhora
relativa nos índices da escolaridade e mesmo com os projetos sociais de leituras bem
sucedidos, não só no DF, mas no país.
Dayrell (2003) preocupa-se em apontar o jovem como aquele que mais precisa ter
acesso ao conhecimento trazido pela leitura, pois ele entende que a juventude “[...] é parte de
um processo mais amplo de constituição de sujeitos com suas especificidades [...]” A
juventude é um momento em que todo processo de formação “[...] é influenciado pelo
meio social concreto no qual se desenvolve e pela qualidade das trocas que este
proporciona” (DAYRELL, 2003, p. 42).
É crucial, portanto, que a educação se faça com qualidade, dando incentivo à
juventude para sempre se valer da leitura. A capacidade dos indivíduos de se beneficiar,
de se apropriar “[...] dos bens socialmente criados, de atualizarem todas as potencialidades
de realização humana abertas pela vida social em cada contexto [...]” chama-se cidadania
19
(REIS, 1997). Potencializar o indivíduo para beneficiar-se da leitura é, pois, permitir-lhe
atingir o status de cidadão.
E cidadania não é condição que se conquista de uma vez. É processo de dedicação e
[...] resultado de uma luta permanente, travada quase sempre a partir de baixo, das classes subalternas, implicando um processo histórico de longa duração. Um dos conceitos que melhor expressa essa reabsorção dos bens sociais pelo conjunto dos cidadãos é, precisamente, o conceito de cidadania [...] (COUTINHO, 2005).
Para se garantir o futuro da nação, não há dúvida que o tripé deve ser formado pela
educação, pela leitura e pela conquista da cidadania.
A cidadania é o âmbito dinâmico de construção das lutas sociais por direitos, onde são
os seres humanos os atores e atrizes que agem politicamente para efetivar suas demandas na
forma da consolidação do direito. Paulo Freyre (citado por ARROYO, 2009) já enfatizava que
a educação está além da instrução, sendo um processo longo, por toda a vida. A leitura é a
base para que a educação e a cidadania sejam uma conquista concreta. Projetos de ação social,
projetos de ação voluntária se proliferam, reformulando os movimentos de Mobilização
Social. Diversos atores sociais, hoje, são mobilizadores, fazem trabalhos coletivos, pois a
construção de uma democracia participativa exige ações de mobilização e esta passa a ser
fundamental para o exercício da cidadania. Para que os direitos avancem e incluam mais do
que excluam, torna-se necessário expandir a cidadania. Como? Promovendo e fortalecendo o
processo da leitura e, consequentemente, promovendo o debate e permitindo a reflexão.
Assim como reiteram as palavras de Blattmann & Viapiana (2005, p. 2): “As ações leitoras
precisam acontecer em espaços educacionais, desde o ambiente familiar aos ambientes de
ensino fundamental e também no ensino profissionalizante, indiferente se para crianças,
jovens, adultos e idosos”.
Com base na leitura, a sociedade passa a interagir e a fomentar a busca de
compreensão e reflexão de cada um, em prol de si e de todos, pois a leitura “[...] é a mola
propulsora na libertação do pensamento e possibilita desencadear reflexões e desenvolver
ações para melhoria da cidadania e desenvolvimento do ser humano” (BLATTMANN e
VIAPIANA, 2005, p.6).
Pode-se definir movimento social como prática que visa à transformação. Pode-se
definir um projeto de leitura como ação que leva à transformação, mesmo sem ser esse o
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caráter reivindicatório próprio dos movimentos sociais, já tradicionais no país. Um
movimento bem mais poderoso, sutil, é o que se propaga por meio do livro e das leituras que
dele advêm. É movimento que desenvolve a criticidade das pessoas, fortalecendo-as e
induzindo-as a partirem para a defesa de seus direitos, caracterizando um avanço na cidadania
e com isso gerando novos movimentos sociais.
O livro e a leitura têm efeitos multiplicadores, contribuindo assim com a sociedade,
incitando o profissional bibliotecário a
[...] desenvolver ações leitoras e promover o acesso às fontes de informação para a coletividade”. E acrescentam que “a maior parte dos programas e projetos de leitura estão vinculados a instituições públicas de ensino. As organizações privadas começam a desenvolver projetos com foco na responsabilidade social (BLATTMANN & VIAPIANA, 2005, p. 5)
Um exemplo da importância de dar fomento a ações que deflagrem o hábito de ler está
no fato de o Programa Nacional do Livro e Leitura – PNLL ter realizado, em Brasília, um
Fórum, dia 07/10/09, em que foi feita a orientação para que Estados e Municípios criem
também os seus Planos de Leituras – PELLs e PMLLs. Construído a partir de muitas
experiências que fizeram a história da luta pela leitura no Brasil, o PNLL teve sua origem em
mais de 150 reuniões públicas em todo o país nos anos de 2005 e 2006 (CASTILHO, 2009).
Organizado em quatro eixos, o documento expressa a vontade unívoca de qual política de
Estado para o livro e para a leitura o PNLL quer consolidar: democratização do acesso,
fomento à leitura e à formação de mediadores, valorização da leitura e da comunicação,
desenvolvimento da economia do livro. Esses quatro eixos foram construídos em torno de
princípios fundamentais para se obter uma política de Estado para o livro e a leitura.
A preocupação com o tema já atinge as esferas federais e a soma de esforços, nesse
sentido, trará benefícios à cidade, ao país. A leitura é uma ferramenta fundamental para a
educação e, sobretudo, um instrumento de transformação social e de construção da cidadania,
ideia que inicia o Guia para elaboração e implantação dos Planos Estadual e Municipal.
Mobilizar estados e municípios será um marco para transformar o Brasil em um país de
leitores e na conquista de melhores índices de desenvolvimento humano e social.
Autoras consagradas em bibliotecas - lugares apropriados para leituras - abordam a
cidadania em suas publicações, como, Antunes, uma grande pesquisadora e mestra na área de
bibliotecas. De acordo com ela, a biblioteca pode potencializar o professor e a escola para que
a grande revolução na escola aconteça. No seu livro Curso de Capacitação para dinamização
21
e uso da biblioteca pública propõe uma diretriz básica, renovadora, no trabalho com
bibliotecas: “é preciso que exista a biblioteca viva, dinâmica, centro ativo de informação, de
frequência livre, da leitura de lazer, um centro de cultura, de participação” (ANTUNES, 2002,
p.11).
Karol Kuhlthan3 (2002) oferece um programa de atividades para expandir os interesses
pela leitura. Suas ideias inovadoras e práticas podem ser vislumbradas na primeira publicação
traduzida para o português de seu livro: Como usar a biblioteca na escola. Para ela, “o
exercício da cidadania só é possível se garante à pessoa o acesso aos saberes elaborados
socialmente. Esses saberes constituem instrumentos para o desenvolvimento da socialização
e, consequentemente, da cidadania democrática” (KUHLTHAN, 2002, p. 9).
Espaços públicos de leitura podem ser desde bibliotecas públicas e escolares, ou
espaços mais reservados em entidades sociais como asilos, creches, favelas, centros
comunitários e de bairros, locais de acesso e frequência de grande público como em
rodoviárias, terminais urbanos, entre outros. Estes ambientes precisam oferecer informação
segura, objetiva e clara, conforme Blattmann e Viapiana (2005) informam no seu artigo
Leitura, instrumento de cidadania.
Ceccon e Oliveira (2002) acrescentam que a sociedade são também todos aqueles que,
até agora, não tiveram vez nem voz; “[...] a sociedade somos todos nós e ela pode e deve
mudar, mas somos nós que temos que provocar essas mudanças e elas só virão se os
principais interessados se mexerem” (CECCON e OLIVEIRA, 2002, p. 82).
Ler é uma questão de cidadania e essa questão passa tanto pela inclusão social
quanto pela inclusão escolar. Segundo o Ministério da Educação, o conceito de cidadania,
em sua plena abrangência, engloba direitos políticos, civis, econômicos, culturais e
sociais. “A exclusão ou limitação em qualquer uma dessas esferas fragiliza a cidadania,
não promove a justiça social e impõe situações de opressão e violência” (MEC, 2002,
p.9). Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio - PCNEM (MEC) facilitam
e sugerem meios de melhorar a educação como um todo, com destaque para um trecho: [...] significa preparar para a vida, qualificar para a cidadania e capacitar para o aprendizado permanente, seja no prosseguimento dos estudos, seja no mundo do trabalho. Num mundo como o atual, de tão rápidas transformações e de tão difíceis contradições, estar formado para a vida significa mais do que reproduzir dados, denominar classificações ou identificar símbolos. Significa: participar socialmente, de forma prática e solidária; adquirir uma atitude de permanente aprendizado, e, com
3 Autora de “Como usar a biblioteca na escola”. traduzido e adaptado por vários bibliotecários da UFMG, 2002
22
isso, participar de um convívio social que lhes dê oportunidades de se realizar como cidadãos e tomar gosto pelo conhecimento, aprender a aprender (PCNEM, 2002, p.8-9).
Uma das preocupações dos PCNEM (p. 52) é a de que “o conhecimento
acadêmico não desfigure as práticas sociais. Ao sair da escola, o aluno deve ter construído
uma sólida competência de analisar criticamente informações e saberes”.
A pessoa, para poder interagir na comunidade em que reside ou trabalha, necessita de
informação. A informação pode auxiliar direta ou indiretamente o ser humano, seja, para o
desenvolvimento da sua identidade, cidadania e desempenho profissional. A leitura torna-se
mola propulsora de seu auto-desenvolvimento. Segundo Souza (2007) [...] continuar perseverando no objetivo maior de conscientizar a sociedade para a relevância da leitura para a formação de uma sociedade consciente e estimular bibliotecários e professores para a criação de programas de leitura e reflexão sobre a qualidade dos programas e projetos existentes com adaptação às demandas informacionais da sociedade atual. São necessárias boas condições de trabalho para a formação de leitores, bibliotecas com acervos atualizados, material escolar nas escolas, profissionais da área em seus devidos espaços de trabalho – seja professor, seja bibliotecário (incentivando os discentes para o hábito e o gosto pela leitura com a metodologia através de leituras individuais e coletivas; orientando a leitura com análise e reflexão dos conteúdos) boa infra-estrutura tecnológica no que diz respeito a computadores, treinamento destes e Internet; informação confiável e nítida. (SOUZA, 2007, p.4).
O Currículo de Educação do Distrito Federal aponta estratégias, mostrando a
importância de estimular a leitura. Todos citam a leitura, referem-se à cidadania, mas falta
mapear e divulgar iniciativas com esse propósito, relatando conquistas e dificuldades. O
PNLL já faz isso, em nível nacional e agora a intenção é cobrar dos governos estaduais e
municipais um Plano próprio, com recursos apropriados à causa. Inclusive, um dos projetos
respondentes dessa pesquisa em questão foi escolhido para compor um vídeo mobilizador da
campanha do Ministério da Cultura, instituição responsável pelo PNLL e
incentivadora/realizadora dos outros, a serem criados. A educação deve ser prioridade de
todos os governos, pois por meio dela as pessoas se aperfeiçoam e obtêm elementos para
serem mais úteis à coletividade. Segundo Dallari (2004) [...] dando-se bastante apoio à educação, muitos problemas desaparecerão, porque as pessoas estarão mais preparadas para a convivência, e haverá maior participação no estudo e na decisão dos assuntos de interesse comum. É necessário e justo que os recursos da sociedade sejam utilizados para estender a todos, de modo igual, o direito à educação (DALLARI, 2004, p. 72).
Para integrar o indivíduo à sociedade, nada melhor que a cultura e para o acesso
ao conhecimento, a leitura é o eficiente instrumento. E “[...] o gosto pela leitura é um
hábito que se consolida a partir da prática cotidiana, devendo, portanto, ser estimulado
desde a infância, até tornar-se uma necessidade” (ALQUÉRES, 2008, p. 11).
23
Para Amorim (2008, p.18) “[...] ler para o outro é um ato de amor. Já ler para si
próprio é, mais do que uma ação intuitiva que busca prazer, conhecimento e
desenvolvimento da própria inteligência, é uma atitude de cidadania”.
Para Castilho4 (2008, p. 127), “[...] propor, buscar ou debater uma nova agenda
para o livro e a leitura é sempre um exercício essencialmente político e, principalmente,
de análise da atuação da política pública que vem sendo aplicada na área da cultura e da
educação”. O autor destaca que a implementação de ações na área de livro e leitura
dentro do Programa+Cultura será de fundamental importância, pois é necessário
estimular a leitura, em suas diversas formas de exercício, para que essa seja vivenciada
como atividade cotidiana em nosso país. E é isso que os projetos de leituras mapeados
procuram fazer, tornar a leitura uma prática cotidiana.
4 Responsável pela área do livro no país, atualmente, secretário executivo do Plano Nacional do Livro e Leitura – PNLL, do Ministério da Cultura.
24
3. SOBRE OS PROJETOS: APLICABILIDADE E FORMATO
Segundo Dewey (1959, p. 94), citado por Rocha (2006, p. 1) “[...] é indubitável que
uma sociedade [...] deve procurar fazer que as oportunidades intelectuais sejam acessíveis a
todos os indivíduos, com iguais facilidades para os mesmos”. Num regime democrático, a
primazia se faz em função de dar a todos os mesmos direitos e isso é cidadania.
Os Projetos, dados a conhecer no quadro a seguir, são a matéria prima desta pesquisa.
A pretensão de saber sobre os resultados colhidos, com base na aplicabilidade deles,
ocasionou a elaboração de questionário (Apêndice B) com perguntas voltadas à busca por
respostas embasadoras sobre estes Projetos serem, ou não, instrumentos que permitem,
efetivamente, que os beneficiários sejam levados à aquisição da consciência de que lendo são
mais capazes de fazer análises das situações, de serem mais justos, críticos e donos do seu
próprio destino.
Quadro 1 – Dados dos Projetos de Leituras
Nome dos Projetos de
Leituras
Ano de implantação
Instrumento principal Local do Projeto Público
beneficiado Faixa etária
1.A Boneca Bela Aparecida 2008 Livros infantis e
infanto-juvenis Escola rural de
Sobradinho Entre 101 e
500 Crianças e
pais 2.Baú de Histórias 2004 Livros infanto-
juvenis Espaços culturais de
Brasília Mais de
4000 Crianças e
adolescentes 3.Beija-Flor e os Livros 2007 Livros infantis Creche de Taguatinga Menos de
100 Crianças e voluntários
4.Brincando de Biblioteca com Programa Literário
2003 Livros infantis Escolas públicas do DF Entre 2001 a 4000
Crianças e adolescentes
5.Café com Letras 2000 Livros infanto-juvenis
Escola rural de Planaltina
Entre 901 a 2000 Adolescentes
6.Casas do Saber 2007 Livros gerais: literatura,didáticos...
Comunidade de todo o DF
Mais de 4000
Crianças à adultos
7.Chocolate Literário 2004 Livros infantis Escola pública de
Ceilândia Entre 501 a
900 Crianças
8.Descobrindo o encanto da leitura 2009 Livros infantis Escola pública de
Sobradinho Entre 101 a
500 Crianças
9.Hemerotecas Criativas 2007 Revistas Escolas públicas do DF Entre 2001
a 4000
Crianças, adolescentes e professores
10.Jornal e Educação 1995 Jornais Sede de jornais e
escolas do DF e do paísMais de
4000 Todas as
faixas etárias
25
11.Ledor Interativo 2008 Livros didáticos,
apostilas... Biblioteca Braille de
Taguatinga Menos de
100 Jovens e adultos
12.Leitura: uma janela aberta para o mundo
2004 Livros infanto-juvenis
Escola pública de Taguatinga
Entre 501 a 900 Adolescentes
13.Ler e Criar 2006 Livros infantis e juvenis
Comunidade: instituição de saúde
Entre 101 a 500
Crianças à 3ª idade
14.Luz & Autor em Braille 1995 Livros de literatura
brasiliense Biblioteca Braille de
Taguatinga Mais de
4000
Jovens, adultos e
idosos dvs; escritores
15.Mala do Livro 1990 Literatura de modo geral, técnicos
Secretaria de Cultura, Comunidade: todas as
cidades do DF
Mais de 4000
Todas as faixas etárias
16.Manhã e Tarde Cultural 2009 Livros infantis Escola pública de São
Sebastião Entre 101 a
500 Crianças
17.Os Craques da Educação Fiscal 2006 Livros
temáticos/didáticos
Escolas públicas, Biblioteca Braille e
Feira do Livro
Entre 101 a 500
Adolescentes, jovens e adultos
18.O escritor no meio da gente 2004 Livros infantis e
infanto-juvenis Bibliotecas públicas do
DF Entre 501 a
900
Adolescentes, jovens e adultos
19.O livro na rua 2004 Minilivros de literatura editados
Centro editorial em Brasília
Entre 2001 a 4000
Todas as idades
20.Revista Pensamento Livre 2005 Revista Penitenciária Mais de
4000 Jovens e adultos
21.Roedores de Livros 2006 Livros infantis e
infanto-juvenis Comunidade – creche
em Ceilândia Entre 101 a
500 Crianças e
adolescentes 22.Sacola Literária 2007 Livros infantis e de
histórias Escola particular de
Ceilândia Entre 101 a
500 Crianças
23.Servidor Solidário 2006 Livros infanto-
juvenis Escolas rurais e
Biblioteca do Planalto Entre 501 a
900 Todas as idades
24.Solidários da Visão 2007 Livros didáticos,
jornais, computadorBiblioteca Braille de
Taguatinga Entre 101 a
500 Jovens e Adultos
25.Teatro Infantil em ação 2007 Livros infantis
Escolas públicas, Biblioteca Braille,
Feira do Livro
Entre 501 a 900
Crianças e adultos
Fonte: Pesquisa de Campo no DF/2009
Portanto, todos estes projetos são voltados para a leitura e para a conscientização da
cidadania. Por meio das atividades com leituras, os participantes interagem e se desenvolvem
enquanto pessoas e cidadãos. Por meio da leitura, o cidadão se apropria de conhecimentos
relevantes para dispor de argumentos e ideias para lutar por uma sociedade mais justa.
Questionários semi-abertos foram aplicados em 100 executores e/ou participantes dos
projetos investigados para buscar respostas sobre a viabilidade da aplicação deles. A descrição
26
dos resultados colhidos, ou seja, o relato dos dados colhidos com base na aplicação desses
questionários vem a seguir.
Em relação ao perfil dos entrevistados, a maioria dos respondentes é do sexo feminino,
representando 84% do total. Destas mulheres destacam-se 36% beneficiárias dos projetos, 24
executoras e a mesma percentagem (24%) para outras funções como: colaboradoras,
coordenadoras, cooperadoras, divulgadoras, gerente, parceiro, promotor, voluntária, escritora,
guardadora de livros, observadora.
Os dados apontam duas faixas etárias predominantes: 43% entre 25 a 40 anos e 45
45% entre 41 a 60 anos. Portanto, a maioria se encontra em idade adulta. Correlacionando a
faixa etária com a função desempenhada no projeto, constata-se que, na faixa entre 10 e 15
anos há apenas um beneficiário; subindo para 3 na faixa de 16 a 24 anos; para 16 entre 25 e
40 anos; declinando para 9 entre 41 e 60 anos; e para 2 acima de 60 anos.
Quanto à profissão, independente da função que cada um executa nos projetos
analisados, as que mais se destacaram foram: professor regente correspondendo a 26%; e
estudante correspondendo a 11%, seguidas de outras funções, totalizando 62%, dentre elas:
direção de escola, jornalista, coordenadora de programa, empresária, editor, supervisor,
voluntário, etc. Cruzando a profissão do entrevistado com a função que ele exerce no projeto,
na categoria estudante foram encontrados 9 beneficiários, correspondendo a 81,8% de 11
estudantes pesquisados. Quanto ao professor regente, destacam-se 10 executores,
correspondendo a 38,5%. Em outras profissões e/ou outras funções citadas pelos respondentes
o índice foi de 36,4%. Vários entrevistados marcaram mais de uma opção, pois alguns são
autores e executores, acumulando funções no projeto.
Ao perguntar qual o instrumento mais utilizado nos projetos, a opção “Livros Infantis”
foi a mais assinalada, totalizando 47%, sendo que vários projetos de leituras utilizam-se de
outros suportes também, como revistas, jornais, livros didáticos e literatura, de modo geral.
Percebe-se que a primeira infância e as séries iniciais do ensino fundamental são básicas para
o estímulo a leituras.
Outros instrumentos presentes em projetos específicos que envolvem tais materiais
tiveram uma marcação significativa, como: jornais, revistas e livros didáticos (esses três
citados no questionário). Na opção outros, apareceram gibis, computador, literatura em geral,
livros adultos e qualquer conteúdo escrito.
27
Quanto à duração dos projetos, desde a sua data de implantação, citada pela maioria
dos respondentes, percebe-se que 54% estão na faixa de 1 a 3 anos; 28% entre 4 a 6 anos; 6
6% de 7 a 10 anos e 12% com mais de 10 anos. Uns em plena ascensão, com inúmeras
atividades dinamizadoras, outros já consolidados, bem reconhecidos, mas sempre alimentados
e bem vivos, contrastando com apenas um adormecido ou até mesmo extinto. Mudanças
políticas com troca de chefias abalaram a continuidade deste projeto. De um total de 25
projetos, apenas 1 estagnado, demonstra uma realidade bastante positiva no foco em questão,
que é a leitura em Brasília e demais regiões administrativas que compõem o Distrito Federal.
Cruzando as duas variáveis: faixa etária e tempo de duração do projeto, constatou-se
que 71 respostas se referem a novos projetos, com duração de 1 a 3 anos e os seus
beneficiários estão na faixa acima de 60 anos. Aqui cabe ressaltar que, com o acesso aos
livros sendo facilitado, mais se abre o leque de pessoas que buscam a leitura. O questionário
não teve essa abertura para decifrar se a busca é por lazer, por interação em ambientes de
fomento à leitura, ou por conhecimento. O que se comprovou aqui é que a faixa de idade mais
avançada, acima de 60 anos como relatado, tomou a frente em assiduidade e participação, em
projetos que contemplam essa faixa etária, muitas vezes considerada excluída da sociedade.
Com acompanhamento, visibilidade, incentivos e reconhecimentos, a tendência é o
aprimoramento dos projetos existentes e o aparecimento de novas ações que se transformam
em projetos, inspirados em outros, inclusive, até fora do país. Um dos projetos apresentados
em worhshop, em Portugal, deu origem a novo projeto. O comentário de um respondente
confirma essa constatação, evidenciando que há carência e muito interesse por ações de
incentivo à leitura: “A apresentação do projecto Brincando de Biblioteca no I Fórum de Literacias, em Portugal, inspirou-me a criar um projecto de promoção da leitura, motivou-me, encorajou-me. Sinto-me, portanto, dinamizadora de novas atitudes. Sinto que motivo os alunos para a leitura e para o desenvolvimento da sua criatividade” (Ator 16).
Na pergunta Qual o local/sede de seu projeto, observa-se, pelas respostas marcadas,
que muitos extrapolam a sede do mesmo, alcançando outras comunidades. No caso do DF, o
alcance chega às 30 regiões administrativas existentes. Outros extrapolam estados e até
países. Todos os locais – sala de aula, biblioteca, escola, comunidade e outros foram bem
assinalados. O local Escola teve 30% das respostas que identificam como individuais,
acrescidos de mais 8% agrupados com outros locais. Biblioteca com 21% individuais, mais
9% agrupados; comunidade com 13% mais 11% agrupados. Já em outros locais, onde o
próprio respondente completou a questão (questionamento aberto), computou-se 12%, dentre:
28
empresa, jardim de creche, grupo de educação fiscal, centro editorial, diversos lugares como,
bibliotecas públicas, escolares e comunitárias. Um exemplo de projeto desenvolvido em
Centro Editorial é o Livro na Rua, com edição de minilivros, já com ampla distribuição.
Ao perguntar, em termos quantitativos, qual o público beneficiado por cada projeto
entrevistado, constatou-se que os entrevistados não tiveram dificuldades de marcar, pois
foram oferecidas seis opções, com faixas bem abrangentes. Nem todos têm a preocupação de
registrar a quantidade de pessoas que já foram beneficiadas, principalmente os que extrapolam
fronteiras de suas sedes. Quanto aos que são desenvolvidos dentro de escolas, seja em sala de
aula ou bibliotecas, a mensuração é perfeitamente possível. A opção entre 101 e 500 contou
com 27%, seguida da opção mais de 4000 com 24%. O restante ficou distribuído em mais 4
alternativas. A questão fez os autores /ou executores, que, normalmente, não têm essa prática
de registro, repensarem, pois é importante que se tenha esse controle estatístico. Um ator
social entrevistado afirma que “[...] o empréstimo de livros na biblioteca, passou de 400, em 2006 para quase 3000, em 2008 e há um acompanhamento bimensal dos índices quantitativos do uso dos livros e da biblioteca pelos alunos” (Ator 91).
Quanto à faixa etária, as crianças de até 11 anos foram as mais assinaladas com 28%
de marcações individuais e mais 36% agrupadas com outras faixas, totalizando 64%. É
fundamental que se invista nessa faixa etária, pois é na infância que é despertado e
desenvolvido o gosto por leituras e diversos valores que acompanharão essas crianças, ao
longo da vida. Alquéres afirma que “o gosto pela leitura é um hábito que se consolida a
partir da prática cotidiana, devendo, portanto, ser estimulado desde a infância, até tornar-
se uma necessidade” (ALQUÉRES, 2008, p. 11).
As outras idades também foram contempladas com leituras para adolescentes, jovens,
adultos e, com menor concentração, também, na terceira idade.
Cruzando dados, o público beneficiado correspondente ao quantitativo entre 101 e 500
obteve 33,3% na faixa entre 41 e 60 anos e, na faixa, com menos de 100 beneficiados,
constatou-se 42,9% na faixa etária acima de 60 anos.
Para conhecer cada projeto e começar a perceber como ele pode ser um instrumento de
cidadania foi perguntado Quais atividades são oferecidas pelo projeto, oferecendo oito
opções, com o direito de assinalar as três mais significativas. Com relação a alguns projetos,
foram marcadas todas as oferecidas, inclusive citando outras, completando a última opção. As
29
atividades mais presentes em todos os projetos foram: oficinas, cursos; debates, discussões;
pesquisas. Outras marcadas, dependendo das características de cada projeto, foram: encontro
com escritores; visitas às instituições; rodas de leituras; produção de textos. Nas que foram
escritas pelos entrevistados na opção outras, especificando quais, destacam-se: apresentações
teatrais, atividades lítero-musicais, recitais, concursos culturais, contação de histórias, criação
de jornais, desenhos, dramatizações, mediação de leituras, empréstimo de livros, leitura
compartilhada, álbum seriado, fantoches, tenda da leitura ao ar livre, etc. Cada um desses
projetos, de acordo com suas metas e seus objetivos, planeja atividades e utiliza estratégias
que geram bons resultados ao que se propõe, indo ao encontro do que Karol Kuhlthan (2002)
propôs ao desenvolver um programa de atividades para expandir os interesses pela leitura,
com ideias inovadoras e práticas destacadas na primeira publicação, traduzida para o
português, de seu livro Como usar a biblioteca na escola. Para ela, “o exercício da cidadania
só é possível se garante à pessoa o acesso aos saberes elaborados socialmente. Esses saberes
constituem instrumentos para o desenvolvimento da socialização e, consequentemente, da
cidadania democrática” (KUHLTHAN, 2002, p.9).
As atividades desenvolvidas pelos projetos expandem o interesse pela leitura,
promovendo a socialização e a cidadania democrática. Com o propósito de confirmar o que
cada projeto faz em sua área de atuação, foi dado um quadro para que avaliassem os aspectos
positivos do projeto, marcando com um X, a coluna do sim, ou do não, ou do às vezes, com 8
afirmativas para avaliação. Os resultados foram:
Gráfico 1 – Aspectos significativos nos Projetos de Leituras
30
1. Projeto inovador, busca sempre novas ações 2. Apresenta vários princípios da cidadania 3. Contribui para uma cultura cidadã 4.Provoca transformações sociais relevantes 5. Democratiza a leitura com vários recursos 6. Mudanças políticas podem abalar o projeto 7. Consolida a igualdade de oportunidades para todos 8. Favorece uma vida social de forma mais crítica
De acordo com o que se pode ler no quadro, todos os aspectos significativos dos
projetos literários evidenciaram, com valores superiores a 80%, que há consistência, certeza
de princípios democráticos e de cidadania agregados aos projetos, com exceção de Mudanças
políticas podem abalar o projeto que teve 35% de sim e 44% de não. Pode-se atribuir como
fator predominante para a inconsistência o fato de ter ocorrido mudanças de chefia, sendo que
novos condutores dos projetos assumem sem muita interação ou comprometimento com
projeto de gestão anterior.
Ler é uma questão de cidadania e essa questão passa tanto pela inclusão social quanto
pela inclusão escolar.
O item 13, contendo sete afirmativas, orientava para que as respostas fossem dadas a
partir da utilização de uma escala com 5 opções: a opção 5. concordo totalmente, seguida do
número 4. concordo em parte obtiveram respostas significativas. As outras opções 3.
indiferente, 2. discordo em parte e 1. discordo totalmente não obtiveram indicações
representativas. A seguir, as propostas e o quantitativo referentes a cada resposta, no gráfico
abaixo:
31
Gráfico 2 – Vantagens dos Projetos de leituras
Fonte: Pesquisa de Campo /2009
1 Os métodos empregados no projeto podem ser utilizados em outros contextos e isso já acontece.
2 Disponibiliza a informação por meio de ações que motivam a leitura, as atividades são contínuas.
3 Amplia o acesso para as pessoas aos recursos culturais dentro e fora da comunidade, promove a socialização.
4 Estimula a criação de novas bibliotecas e a dinamização das bibliotecas existentes, com inúmeras estratégias.
5 Incentiva práticas culturais, o conhecimento da produção literária local e outras obras nacionais.
6 Contribui com os direitos e deveres do cidadão, fortalecendo uma cidadania que busca, que constrói.
7 Desenvolve parcerias e a responsabilidade social dos envolvidos, enriquecendo os participantes.
32
De acordo com o gráfico, prevaleceu a opção concordo plenamente, em todos os
aspectos citados, obtendo menos percentagem na afirmativa Estimula a criação de novas
bibliotecas, com 42%, pois, poucos dos projetos pesquisados é que tem esse foco
determinado, de criar bibliotecas. Vale destacar como reforço às respostas que vários projetos
já extrapolaram fronteiras, destacando o Programa da Mala do Livro, que foi também
implantado em outros países. O Projeto Casas do Saber é o exemplo-destaque por ter
estimulado e criado 50 bibliotecas em todo o Distrito Federal. O Projeto Luz & Autor em
Braille que é voltado para os deficientes visuais é um exemplo pioneiro no DF, já foi
apresentado em Cuba, Peru e Portugal.
Seu destaque é, sem dúvida, o da socialização que Tardif (2007, p.71) descreve como
“um processo de formação do indivíduo que se estende por toda a história de vida e comporta
rupturas e continuidades”. Isso representa que o desempenho e a capacidade social e cultural
dos indivíduos tornam-se variados graças às oportunidades de acesso aos saberes que lhes
permitem compreender melhor o mundo socializado, para que possam construir, em interação
com os outros, a própria identidade pessoal, enriquecendo a identidade coletiva.
A biblioteca pode potencializar o professor e a escola, de acordo com Antunes (2002)
para que a grande revolução na escola aconteça. De acordo com a autora, “[...] é preciso que
exista a biblioteca viva, dinâmica, centro ativo de informação, de frequência livre, da leitura
de lazer, um centro de cultura, de participação [...]” (ANTUNES, 2002, p.11). Encontra-se,
também, um número bem significativo de atividades dinamizadoras, no seu livro-curso,
destacando-se as ações a partir de livros de histórias que podem gerar atividades artísticas.
Sant’Anna (2009), em seu artigo Bibliotecas: alguns prefeitos são contra, diz que
“[...] leitura é uma vacina. E há quem tenha medo dela, preferindo amarelar ignorantemente”.
O autor revela que uns três prefeitos haviam se recusado a aceitar bibliotecas em suas cidades:
[...] possivelmente tais prefeitos nunca viram um livro e temem que o livro morda. Estão certos, o livro morde mesmo. Transforma as pessoas e as comunidades. Portanto, se eles continuarem recalcitrantes, acho que se deveria fazer reportagens com esses espécimes raros, e mais: desencadear um plebiscito nessas prefeituras. Ou então apresentar um livro a eles, quem sabe até gostem (SANT’ANNA, 2009, p. 8).
Todos os projetos se encaixam na afirmação Incentiva práticas culturais, o
conhecimento da produção literária local e outras obras nacionais. Com certeza, o destaque
fica por conta do Projeto Brincando de Biblioteca com Programa Literário. Pode-se inferir,
portanto que a atuação baseada nos projetos vai ao encontro das Diretrizes Nacionais para a
Educação Especial na Educação Básica que determinam que é necessária a “construção de
33
práticas pedagógicas que respeitem as diferenças entre os alunos e que, ao mesmo tempo,
considerem essas diferenças como elementos ricos de trabalho, promovendo uma constante
integração entre os pares” (2009/2013, p. 14).
Vale destacar também o Programa de Jornal e Educação com 62 projetos
desenvolvidos no país. Conforme Relatório de Responsabilidade Social 2006/2008 o
Programa é a principal iniciativa de responsabilidade social da Associação Nacional de
Jornais – ANJ; o programa quer que as pessoas leiam o mundo, leiam-se no mundo,
posicionem-se no mundo e possam assumir com firmeza seu papel como agente de
transformação.
Já a questão seguinte, a de número 13, subdividida em três partes, (a), (b) e (c),
inquiriu sobre: (a) 3 aspectos inovadores do projeto; (b) 3 características do ator social à
frente do projeto; e (c) um resultado relevante do projeto. Tratava-se de pergunta com
respostas abertas.
As respostas referentes ao quesito “a” (três aspectos inovadores do projeto) merecem
destaque e foram: a diretora contando história, a interação de todos os elementos no grupo, a
intercompreensão e aceitação da diferença de aptidões; desenvoltura da expressão do aluno;
acesso à informação para famílias carentes; atingimento de todas as idades sem custo algum
para leitores e voluntários; assessoria pedagógica e especializada nos municípios parceiros;
possibilidade de aplicação em vários ambientes, com baixo custo, abrangendo larga faixa
etária: crianças, jovens e adultos; envolvimento e interesse dos pais pela leitura, em zona
rural; crescimento crítico dos alunos, participação, socialização, conscientização, valorização;
fiscalização de ações de contribuintes, instigando a responsabilidade social; atividades de
arte-educação, como a mediação de leitura, artes plásticas, visuais e música, oferecendo
atividades para as crianças, num horário em que a escola não as atende; dinamismo,
ludicidade, interdisciplinaridade, diversificação de temas a cada ano, diferentes oficinas,
diversidade de subprojetos; estudo aprofundado e permanente, inserção e respeito ao
planejamento escolar; inclusão de alunos em prisões na participação e construção do projeto;
inclusão social, transversalidade do tema cidadania fiscal, diversidade; iniciativa de setor
privado (combustíveis), com envolvimento de bibliotecários em áreas sociais; aplicação
teórica e prática da educomunicação; metodologia fácil de ser empregada, por meio de
atuação de voluntariado e desdobramentos para demandas específicas; oficinas preparatórias,
releitura, a partir de outras artes, encontro intimista com o autor; atingimento das mais
variadas comunidades do DF, socializando totalmente o acesso à leitura, em todas as camadas
34
da população; trabalho com temas atuais sugeridos pelos professores, manutenção de diálogo
permanente, projetos de ações voltados para a internet; valorização do conto popular, da
narrativa, facilidade de apresentação em vários e diferentes espaços; possibilidade de ida até a
comunidade, com abertura à participação de quem se interessar, sem discriminação.
De acordo com Souza (2007), é preciso [...]continuar perseverando no objetivo maior de conscientizar a sociedade para a relevância da leitura para a formação de uma sociedade consciente e estimular bibliotecários e professores para a criação de programas de leitura e reflexão sobre a qualidade dos programas e projetos existentes com adaptação às demandas informacionais da sociedade atual (SOUZA. 2007, p. 4).
Sem dúvida, o que se destacou em relação ao que o quesito “a” inspirou, evidencia a
abrangência dos resultados e a satisfação dos participantes por se beneficiarem desses
projetos.
Foram respostas para “b” (três características do ator social à frente do projeto): antes,
mais um peso à margem da sociedade; depois, mais um estudante cheio de planos e sonhos;
apaixonada por livros, inquieta por ler tudo ao redor, sonhadora por mundos melhores; busca
constante de informações e ações, postura de pesquisador e de aprendiz constante;
comprometida, empolgada, envolvida; comprometimento com os resultados, motivação e
esperança em um futuro melhor; crença na mudança, reconhecimento dos valores e talentos
individuais dos envolvidos; criticidade, gosto pela leitura, visão de mundo; curiosidade, amor
à diversidade e o entusiasmo; dinamismo, amor pelas pessoas, disponibilidade para o
voluntariado; incentivador de leituras, semeador de idéias e gerador de conhecimentos;
iniciativa, abertura e formadora de lideranças; inovador, crítico e participativo;
responsabilidade como sujeito social, participação na melhoria de uma sociedade mais justa e
consciência da valorização do patrimônio público; sonhadora, entusiasmada, perseverante; um
leitor apaixonado por livros, por crianças.
Foram respostas para “c” (um resultado relevante do projeto): a descoberta de talentos
literários, a evolução no processo de compreensão dos textos lidos pelos alunos, a
participação ativa da família, a participação efetiva de toda a escola, a abertura para novos
contratos relacionados à temática da revista, a abrangência do projeto, a aquisição de mais
cultura, agora gosto de ler e de escrever, ajuda na alfabetização dos alunos; além de melhorar
a auto-estima, passei a focar meu potencial no sentido de alcançar um nível superior e uma
possível especialização em história ou geografia; além dos vários trabalhos de graduação e
pós-graduação produzidos a partir do Diário na Escola, outros projetos desenvolvidos nas
35
escolas a partir da leitura do jornal se destacam; ampliação do universo lingüístico e cultural
da comunidade local; as pessoas beneficiadas com o projeto se sentem mais socializadas,
interagindo de forma mais consciente como cidadãs; dar oportunidades aos cidadãos de
crescimento; democratização do livro nas comunidades carentes do DF; melhoria no
desenvolvimento cognitivo do aluno e na sua formação cidadã; os educandos demonstram
avanços significativos nos aspectos intelectuais, sociais e culturais; possibilita a compreensão
em relação à sociedade e à pessoa, pois colabora para a formação de cidadãos responsáveis e
cumpridores de seus direitos e deveres; sensibilização com relação à educação fiscal, de
atores internacionais – autoridades; trabalha questões sociais, econômicas e culturais, de
forma lúdica e interessante; vários alunos – adultos e idosos, que haviam desistido de estudar
ganharam novo ânimo, retomando os estudos.
Para que ocorra desenvolvimento educacional, é necessária a democratização do
conhecimento, de acordo com Blattmann e Viapiana (2005, p. 2), pois isso acarretará ser
possível “[...] promover a integração do cidadão através de canais que facilitem sua
participação e produção do conhecimento”.
A questão 14 obteve quase 100% das respostas confirmando que numa mesma
cidade, no caso Brasília, diferentes movimentos sociais envolvendo leituras contribuem
para uma cultura cidadã, solidária. A resposta de um ator social, deficiente visual, ao dizer
sim, confirma a proposição: “Brasília por ser uma cidade jovem, está cada dia criando e descobrindo novos mecanismos de leituras. E é por meio disso que gera um povo mais esclarecido capaz de ser solidário e exercer com maturidade sua cidadania” (Ator 54).
Outro respondente afirmou que “Sim, quanto maior for o número de projetos envolvendo leituras, maior será a oportunidade de formação de pessoas conscientes do seu exercício de cidadania, e, consequentemente, uma cidade mais solidária” (Ator 68 ).
Valem ser destacadas outras mais: “Com certeza, todas as iniciativas para promover o livro e a leitura são bem vindas para construir uma cultura cidadã, com menos injustiça social” (Ator 58). “Acredito, especialmente, se esses movimentos trabalharem juntos e, junto com a leitura, trabalharem conceitos como democratização da informação, criticidade, autoria, noção da responsabilidade que temos com o ambiente em que vivemos” (Ator 37). “Concordo, a leitura é, sem dúvida, um grande indicador da consolidação dos conceitos cidadãos de uma sociedade que envolve, entre várias outras medidas, o bem-estar social e o grau de desenvolvimento de um povo. Estimular programas
36
que envolvem e promovam a leitura é uma obrigação não somente do Estado, mas da sociedade, como um todo” (Ator 35).
Na questão 15 cada ator se posicionou e avaliou se a leitura é fator de transformação
social para uma cidadania mais plena. O resultado foi quase unânime, com 95% afirmando
que sim, outros 4% em branco, sem se manifestarem e 1% informou que “[...] a leitura por si só, não seria um fator. Para se alcançar a cidadania plena seria necessário que o Estado propiciasse uma formação digna a todos os cidadãos: salas de aula em condições mínimas para o aprendizado; professores com formação e salários compatíveis às suas responsabilidades, avaliações permanentes e, por fim, que a Educação, além de estar garantida pela Constituição Federal, deveria ser a principal política de estado e de todos os governos” ( Ator 91).
A seguir, algumas das muitas respostas que merecem ser destacadas:
“Como já dizia Paulo Freire, a leitura do mundo precede a leitura da palavra. Sem a leitura da palavra não há transformação social, nem o exercício pleno da cidadania” (Ator 58).
“Transformar um indivíduo em um cidadão participativo só pode acontecer por meio da leitura, sim. Estudos recentes comprovam que a leitura é um grande meio de transformação social” (Ator 86). “Ler liberta e atua como mola propulsora para o desenvolvimento da consciência de ser humano, seus direitos e deveres, no leitor. Isso contribui para a criação e o entendimento da importância de uma cultura cidadã plena para o desenvolvimento de uma sociedade” (Ator 35). “Quando conseguimos ler para além do que está escrito, quando conseguimos ler nas entrelinhas, entender o processo de produção de uma notícia, aprender que o texto só tem sentido quando o ressignificamos, quando aprendemos a ler a palavra, a imagem e o mundo passamos a ser capazes de exercer nossa cidadania. Passamos a ter a possibilidade de agir no mundo e sobre ele de forma consciente e crítica” (Ator 37).
Esses depoimentos evidenciam que, por existirem pessoas que se preocupam em
aprender e precisam de incentivo para ficarem à frente das ferramentas de apoderamento
dessa aprendizagem, é que existem pessoas que se voltam para abrir essas portas. São eles os
idealizadores e dinamizadores de projetos, que dão acesso a ambientes de fomento à leitura e
marcam vidas com marcas de cidadania.
Porque ler é viagem que se faz só ou em companhia de sonhos que unem as pessoas e
mudam a realidade para melhor. Quem lê se apropria de condições de reflexão e
pertencimento e descobre que a capacidade de cada um depende de sua própria busca por
mudanças. Os depoimentos listados, escolhidos dentre muitos outros de igual teor,
comprovaram que os caminhos estão abertos para que essas mudanças aconteçam.
37
4. SOBRE OS PROJETOS: EFETIVIDADE E PERTINÊNCIA NAS AÇÕES
Pesquisadores na área de leituras e bibliotecas (ANTUNES, 2002;
BLATTIMAN/VIAPIANA, 2005; SILVA, 1998) afirmam que mesmo que a ação para
fomentar a leitura pareça consolidada, é preciso buscar inovações, pois há sempre novos
desafios: um novo leitor que surge e deve ser conquistado, ou uma nova ferramenta de leitura
que aparece e precisa ser dominada; ou alguma situação crítica a ser enfrentada, exigindo
formação e informação.
Estratégias utilizadas com leituras, tanto em bibliotecas como em salas de aula,
sempre relatadas como ações de sucesso, oralmente e sem registro formal, careciam de
divulgação e o Fórum, Brasília, capital das leituras, foi criado pra divulgar essas ações que
se espalham no DF e evidenciar que a aplicabilidade delas permite que os participantes se
sintam incluídos socialmente. A criação deste Fórum foi inspirada no mestre de leitura e
biblioteca, Ezequiel Theodoro da Silva, autor do Congresso de Leitura do Brasil - COLE (que
já existe há 30 anos). Vários depoimentos vieram a confirmar o resultado, de acordo com
os dados colhidos no questionário aplicado, elaborado com base nos objetivos definidos
anteriormente.
Segundo Silva (1998): [...] a educação do ser humano, seja ela formal ou informal (sistemática ou assistemática), sempre envolve dois fatores fundamentais: formação e informação. Mais especificamente, o processo educativo exige que às novas gerações sejam transmitidos conhecimentos, sejam trabalhados determinados valores e costumes de modo que ocorra a sobrevivência e a convivência social e de modo que não pereça a linha evolutiva da cultura (SILVA, 1998, p. 15).
Tanto na formação quanto na informação, o processo educativo exige muita leitura. E
é nos primeiros anos de estudo que o indivíduo se apodera do hábito de ler. Portanto, o
desenvolvimento prazeroso do ato de ler é um dos desafios que a escola precisa abraçar.
Nesta pesquisa foi possível constatar que a literatura passou a ser presença constante na
vida de todos os que se beneficiam desses projetos literários desenvolvidos em escolas,
bibliotecas, centros culturais, comunidades. Bastante entrosados e dispostos a evidenciar o
trabalho resultante da leitura, a maioria dos beneficiários relatou ações voltadas para a
necessidade de disseminar o vivenciado, por meio de representações, tentando repassar a
outrem a emoção gerada pelo texto trabalhado.
38
A disseminação de redes de cooperação que potencializam suas ações e interferem
positivamente na realidade social (HENRIQUES, 2005) tem sido resultado de mobilização de
agentes diversos, envolvendo o Estado, empresas ou a sociedade civil, permitindo
estabelecimento de formas de colaboração e solidariedade entre esses agentes, beneficiando
os menos favorecidos, disseminando meios de conhecimento e alargando horizontes. O
Fórum, Brasília, capital das leituras pretendeu, desde seu início, servir como veículo de
divulgação de atividades em cooperação. Ao listar projetos para apresentação nas três edições
do evento/Fórum, foi solicitada uma página-síntese com os principais tópicos do projeto a
cada ator responsável pelo mesmo. Por meio de análise dos depoimentos, constatou-se que,
mesmo iniciantes, alguns já possuíam resultados bastante compensadores e inseriram,
visivelmente, princípios de cidadania no discurso e na prática dos participantes.
Cerca de 13 (54%) dos projetos pesquisados, como constatam os resultados dos
questionários, estão na faixa de 1 a 3 anos de atuação, são inovadores e buscam, sempre,
novas ações.
Os aspectos inovadores citados em cada projeto reforçam que “as atividades que
conquistam e levam as crianças a adquirirem o gosto por leitura devem se desenvolver em
quaisquer locais, seja em bibliotecas, salas de aula, comunidades, ou outras” (KUHLTHAU,
2002, p. 9). Um incentivador de leituras, principal atribuição dos que se colocam à frente de
projetos que acabam auxiliando os dirigentes a encararem uma melhor cidadania por meio de
leituras, tem um perfil diferenciado dos demais profissionais: pois ele faz a ação acontecer por
paixão, por acreditar mesmo que a educação, contando com mais leituras, é a solução para
dificuldades vivenciadas, não só por crianças, mas também por adultos que não tiveram
chances de serem despertados para o poder que a leitura tem na vida de cada um.
Na pesquisa, a grande maioria comentou, positivamente, sobre os temas propostos. A
leitura envolve e acolhe o indivíduo na sua malha e permite que o leitor se sinta incluído, de
várias formas diferentes, com pertencimento e prazer. A importância da leitura nas escolas e
bibliotecas é um tema que exige atenção e assiduidade na sua abordagem: é tema a ser
trabalhado árdua e criativamente, sempre. Pode-se destacar o enfoque maior no que se refere
aos professores de português, especialmente no ensino médio, que precisam gerar interesse
maior e mais acentuado em relação à literatura, propiciando incentivo para que os alunos
consigam se expressar, com coesão e repertório, na hora da redação, quando prestam contas
de suas leituras nos vestibulares. Principalmente se são alunos que não desenvolveram, no
39
início de sua vida escolar, o hábito e o gosto pela leitura. Mas não tem como deixar de fora
qualquer outra disciplina, pois todas dependem da leitura para alcançar o alvo do
entendimento e compreensão exigido como fim e meio para uma educação de qualidade.
A compreensão leitora em todas as disciplinas ainda é deficiente, as dificuldades,
diante de questões que exigem interpretação de gêneros literários variados, são
preocupantes. Esse trabalho pode incentivar muitos outros referentes a leituras,
contemplando necessidades especiais ou outros temas mais abrangentes, como a
criticidade da leitura ou a conquista da leitura como prática social e instrumento de
cidadania, o foco principal dessa pesquisa.
Ler bem garante o êxito, não só nos estudos, mas na vida, enfim. Percebe-se isto,
claramente, nos depoimentos dos entrevistados. As escolas, por meio de suas bibliotecas,
ou de professores comprometidos, procuram meios de incentivar leituras, criando
projetos e desenvolvendo inúmeras atividades que conquistam os alunos para a leitura,
fidelizando-os, para essa prática.
Nem as bibliotecas públicas, nem as escolares estão aparelhadas, suficientemente,
para atender a todas as necessidades dos cidadãos no Distrito Federal. Por isso, as
iniciativas que democratizam o livro e a leitura revestem-se de importância. As questões
propostas, na pesquisa realizada, mostram isso, comprovando que a cidadania é
vivenciada e que a leitura é uma ação que está presente na vida dos entrevistados.
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5. HÁBITO DE LEITURA: PORTA ABERTA PARA DISSEMINAR CULTURA
Na realização desta pesquisa, para respaldar o objetivo geral, foram definidos
quatro objetivos específicos. Um deles envolveu a análise dos aspectos inovadores dos
projetos sociais envolvidos e, após a coleta de dados, apurou-se que a inovação é a marca
fundamental da maioria dos 25 projetos pesquisados, que não se acomodam com as
atividades realizadas, sempre buscando novas alternativas para cativar e fidelizar os
leitores.
Buscou-se ainda relatar o perfil dos atores sociais que estão à frente dos projetos
brasilienses. Este objetivo permitiu conhecer e apreciar os envolvidos nessas ações que
fazem a diferença, pessoas imbuídas de solidariedade que extrapolam suas atividades por
divisar que se pode conquistar além, desde que haja empenho e boa vontade.
Também fez parte da pesquisa, como objetivo específico, a busca pelo
entendimento das ações, a descrição das atuações relevantes para o alcance da
consciência da cidadania, que são permitidos a partir dos projetos. Um leque de ações
evidencia a criatividade e pertinência dos responsáveis por esses projetos, inseridos no
contexto da sociedade atual, carente de benefícios e que não se atêm à necessidade de dar
prioridade à educação e à cultura. A criatividade e empenho dessas pessoas envolvidas
somam-se aos anseios dos que se beneficiam dos projetos, evidenciando interação e
oportunizando crescimento bilateral.
Para saber o alcance dos benefícios, o quarto objetivo específico buscou estimar,
com base no relato dos beneficiados, em que medida a leitura pode ser considerada fator
de transformação social, para uma cidadania mais plena. Após a análise dos dados
obtidos, concluiu-se que os projetos sociais voltados para a disseminação de hábito de
leitura contribuem para o alcance da consciência da cidadania, no Distrito Federal, pois
os beneficiários que vivenciam a leitura são mais sociáveis, entusiasmados e com mais
habilidades, demonstrando maior compreensão leitora, pois a prática da leitura contribui
com o êxito nos estudos, torna as aulas mais prazerosas e os alunos mais realizados.
Portanto, as escolas precisam incentivar mais a leitura para que seus alunos cresçam e a
sociedade avance com a disseminação dos princípios da prática da cidadania. Sem
dúvida, os que se beneficiam de projetos literários relatam que se sentem inseridos na
sociedade e que têm consciência de que estão à frente em termos de cidadania.
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Ao analisar as respostas dadas em referência aos aspectos avaliados de cada
projeto, verificou-se que todos possuíram boa avaliação, ressaltando os projetos Casas do
Saber, Jornal e Educação e Mala do Livro, que tiveram a maioria das respostas
indicadoras de aprovação, sendo mais abrangentes em termos de beneficiários, pelas
características apresentadas, em cada um deles. Esses projetos envolvem governo e
sociedade civil, parceria exitosa que, por ser interativa garante o sucesso dos projetos. O
projeto de Jornal e Educação envolve empresa privada com escolas públicas, cumprindo,
muitas vezes, a responsabilidade social para ações educativas e de cidadania.
Os resultados foram positivos, em sua totalidade, confirmando a hipótese que a
leitura é realmente, fator de cidadania. Mesmo os projetos de menor alcance, realizados
em salas de aula, como é o caso do Projeto Leitura, uma janela aberta para o mundo; ou
em creche infantil, como é o caso do Projeto Beija-Flor e os Livros; ou em uma única
comunidade, como é o caso dos alunos de uma creche, beneficiados com o Projeto
Roedores de Livros evidenciaram sua importância e alcance. Todos demonstram
transformação social muito acentuada nos beneficiários.
Alguns projetos que tiveram início em 2009, data desta pesquisa, dão testemunho
de continuidade nas suas ações e comprovam princípios democráticos; uma cidadania que
preocupa em oferecer oportunidades mais consistentes de educação, em escolas públicas,
carentes de livros, bibliotecas. Um dos que se destacam por ter esse perfil iniciante e
inovador é o Projeto Descobrindo o encanto da leitura e também o Projeto Manhã e Tarde
Cultural.
A solidariedade, acrescida da inclusão social, características fundamentais em
projetos específicos, gerando uma transformação que se expande em todo o DF, foram e
são detectadas em vários dos projetos pesquisados, destacando-se: Luz & Autor em
Braille, Ledor Interativo, Solidários da Visão, Servidor Solidário.
Temas transversais, como ética e cidadania e outros sugeridos nos parâmetros
curriculares do MEC, como saúde, meio-ambiente, pluralidade cultural, são abordados
em vários dos projetos pesquisados, por meio dos livros trabalhados, destacando-se: Os
Craques da Educação Fiscal, Teatro Infantil em Ação, Hemerotecas Criativas.
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Transformações sociais, perseguidas e atingidas de forma lúdica, são absorvidas
pelos participantes dos projetos que trabalham com contação de histórias, interagindo
autores/executores com os beneficiários, de forma educativa, prazerosa. Exemplo desse
tipo de atuação se faz presente em: Projeto A Bela Boneca Aparecida; Projeto Baú de
Histórias; Projeto Ler e Criar; e Projeto Sacola Literária.
No Projeto Brincando de Biblioteca; Projeto Café com Letras; e Projeto Chocolate
Literário a atuação dos atores sociais na dramatização das obras lidas permite que
apresentem os resultados de suas leituras, em espetáculos educativos e culturais.
O Projeto O Livro na rua e o Projeto Revista Pensamento Livre destacam-se como
exemplos de desempenho voltado à democratização do livro e leitura, com materiais
acessíveis, nas mais diversas realidades sociais; um com milhares de livros distribuídos e
outro com produção de revista em sistema prisional.
A conquista de leitores é um desafio contínuo e o caminho é longo. Esta pesquisa
acadêmica, relatada em forma de monografia, tem a pretensão de revelar a influência real da
leitura como fator de cidadania, além de permitir-se ser um passo adiante na tão sonhada
Educação de qualidade, levando incentivos para que aconteçam mais leituras entre os alunos,
que têm o status de incluídos, e merecem sê-lo, realmente. Com todas as iniciativas
envolvendo diferentes atores sociais, em ações de leituras, tanto os que estão à frente –
autores e executores, como os participantes que usufruem das atividades são beneficiários e
vivenciam aspectos de cidadania presentes em todos eles. As principais descobertas nos
projetos, dos mais simples aos mais abrangentes são: igualdade de oportunidades para todos,
inclusão social, solidariedade, criticidade e compreensão leitora, democratização do livro e
leitura, ludicidade, inclusão cultural, parceria entre estado e sociedade civil. O caminho
percorrido, até aqui, por todos esses projetos sociais evidencia que serão colhidos frutos que
disseminarão sementes e beneficiarão mais e mais envolvidos. Também é latente a certeza
que há muito mais a ser feito. Depende de cada um que se empenha e que só faz a diferença
por ter se apoderado da leitura e da consciência de que é cidadão todo indivíduo que sabe ser
responsável por si e pelo próximo.
43
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46
Apêndices
Apêndice A - Brasília, capital das leituras Base de êxito do processo ensino-aprendizagem
Realmente, encontramos na leitura esta digna função,
Assim é Brasília, se revelando no fazer literário,
Satisfazendo ao gosto de criança, adulto e jovem.
Inúmeras ações que despertam o gosto por leitura
Lideradas por escritores brasilienses e amantes desta prática
Invadem as escolas, bibliotecas, comunidades e espaços de cultura,
Assim é Brasília, amada e sonhada por todos que a procuram...
Com Academias de Letras em várias cidades do Distrito Federal
A se somarem com Brasília, fortalecendo o autor local.
Projetos literários se multiplicam, com resultados compensadores,
Iguais no objetivo de estimular leituras, mas com ações diferenciadas,
Tudo se aplica com criatividade, no intuito de conquistar leitores,
Amigos do Verde, projeto da Academia Taguatinguense de Letras,
Luz & Autor em Braille, da Biblioteca Dorina Nowill, em Taguatinga.
Do FAC/Secretaria de Cultura o Brincando de Biblioteca,
A formar alunos-multiplicadores de leituras nas escolas públicas,
Sim para O Livro na Rua, da Thesaurus Editora, em nossa capital.
Leituras de jornais, apoiadas por programa de Jornal & Educação,
E Hemerotecas Criativas, pela Pacta Consultoria, com leitura de revistas,
Interagindo com os projetos pedagógicos desenvolvidos nas escolas
Tudo em harmonia, até Os Craques da Educação Fiscal,
Unindo apoios de Secretarias do Distrito Federal
Rumo a uma Educação Básica de Qualidade
Atendendo ao ODM - Objetivo de Desenvolvimento do Milênio
Sonho com diferentes leituras e o nosso Mundo cada dia Melhor!
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Apêndice B - Pesquisa de Opinião “Leitura, prática social e cidadania” Este questionário faz parte de uma pesquisa de conclusão da Especialização “Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais, parte do Programa de Conselheiros Nacionais, promovido pela Presidência da República, na UFMG. Responda à pesquisa sobre o seu Projeto de Leitura (veja-o, na nota de rodapé)5. SUA PARTICIPAÇÃO É MUITO IMPORTANTE PARA ESTE TRABALHO. Obrigada! 1. Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino 2. Sua idade 1. ( ) Menos de 10 3. ( ) 16 a 24 5. ( ) 41 a 59 2. ( ) 10 a 15 4. ( ) 25 a 40 6. ( ) 60 ou mais 3. Sua profissão atual: ( ) Estudante ( ) Bibliotecário ( ) Aposentado ( ) Professor regente ( ) Professor atuante em biblioteca ( ) Outra.
Qual?__________ 4. Sua função no Projeto.................................................(tire o nome na nota de rodapé) 1. ( ) Autor(a) 3. ( ) Beneficiário(a) 2. ( ) Executor(a) 4. ( ) Outra(a)
Qual?___________________ 5. Qual o instrumento (principal) de seu projeto? 1. ( ) Livros infantis 3. ( ) Livros didáticos 5. ( ) Outro. Qual? 2. ( ) Livros infanto-juvenis 4. ( ) Jornais/Revistas _________________ 6. Qual o período de duração do projeto? Qual é a data de implantação ___/____/____ 1. ( ) 1 a 3 anos 3. ( ) 7 a 10 anos 2. ( ) 4 a 6 anos 4. ( ) Mais de 10 anos
7. Qual o local/sede de seu projeto? 1. ( ) Sala de aula 3. ( ) Escola 2. ( ) Biblioteca 4. ( ) Comunidade 5. ( ) Outro.
Qual?________________________
51.Brincando de Biblioteca 2.Luz & Autor em Braille 3.Café com Letras 4.Mala do Livro 5.O Escritor no meio da Gente 6. Leitura: Uma Janela Aberta para o Mundo 7.Os Craques da Educação Fiscal 8.Beija Flor e os Livros 9.Hemerotecas Criativas 10.Revista Pensamento Livre 11.Casas do Saber 12.Solidários da Visão 13.Ler e Criar 14.Jornal e Educação 15.Sacola Literária 16.Baú de histórias 17.Descobrindo o Encanto da Leitura 18.Teatro Infantil em ação 19.Livro na Rua 20.A Boneca Bela Aparecida 21.Roedores de Livros 22.Manhã e Tarde Cultural 23.Servidor Solidário 24.Ledor Interativo 25. Chocolate Literário
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8. Qual o público beneficiado? 1. ( ) menos de 100 4. ( ) entre 901 a 2000 2. ( ) entre 101 a 500 5. ( ) entre 2001 a 4000 3. ( ) entre 501 a 900 6. ( ) mais de 4000 9. Qual a faixa etária do público atendido? 1. ( ) Crianças (até 11 anos) 4. ( ) Adultos (22 a 60) 2. ( ) Adolescentes (12 a 18) 5. ( ) Terceira idade (acima de 60) 3. ( ) Jovens (19 a 21) 10 . Quais dessas atividades são oferecidas pelo Projeto? (marque as três mais significativas) 1. ( ) Oficinas, cursos 5. ( ) Visitas a instituições 2. ( ) Debates/discussões 6. ( ) Rodas de leitura 3. ( ) Encontro com escritores 7. ( ) Produção de textos 4. ( ) Pesquisas 8. ( ) Outras* 11. Avalie os aspectos positivos do projeto, marcando um X, em sim, não ou às vezes:
SIM NÃO ÀS VEZES
1. Projeto inovador, busca sempre novas ações
2. Apresenta vários princípios da cidadania
3. Contribui para uma cultura cidadã
4. Provoca transformações sociais relevantes
5. Democratiza a leitura com vários recursos
6. Mudanças políticas podem abalar o projeto
7. Consolida a igualdade de oportunidades para todos
8. Favorece uma vida social de forma mais crítica
*Quais? Excluído: <sp>¶
49
12. Utilizando a escala, responda às afirmações, colocando o número, no quadrinho, à frente da frase: 5. Concordo totalmente 4. Concordo em parte 3. Indiferente 2. Discordo em parte 1. Discordo totalmente 1. Os métodos empregados no projeto podem ser utilizados em outros contextos e isso já acontece.
2. Disponibiliza a informação por meio de ações que motivam a leitura, as atividades são contínuas.
3. Amplia o acesso para as pessoas aos recursos culturais dentro e fora da comunidade, promove a socialização.
4. Estimula a criação de novas bibliotecas e a dinamização das bibliotecas existentes, com inúmeras estratégias.
5. Incentiva práticas culturais, o conhecimento da produção literária local e outras obras nacionais
6. Contribui com os direitos e deveres do cidadão, fortalecendo uma cidadania que busca, que constrói.
7. Desenvolve parcerias e a responsabilidade social dos envolvidos, enriquecendo os participantes.
13. Analise o projeto que você responde por ele e complete alguns aspectos: a. cite 3 aspectos inovadores do projeto: ___________________________________________________________________________ b. cite 3 características de você, como ator social, à frente ou beneficiado pelo projeto: ___________________________________________________________________________ c. descreva um resultado relevante alcançado com o projeto ___________________________________________________________________________ 14. Você concorda que numa mesma cidade, Brasília, diferentes movimentos sociais contribuem para uma cultura cidadã, solidária? Justifique ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 15. Avalie se a leitura é fator de transformação social para uma cidadania mais plena. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Opcional Nome:__________________________________________________ Fone:_______________ E-Mail:_____________________________________________________________________ MUITO OBRIGADA POR SUA PARTICIPAÇÃO! Um abraço e boas leituras Dinorá Couto Cançado
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